Você está na página 1de 6

08/03/2024, 15:51 · Processo Judicial Eletrônico

3ª Vara da Fazenda Pública - Comarca de Fortaleza


E-mail: for.3fazenda@tjce.jus.br

PROCESSO : 3003637-23.2024.8.06.0001

CLASSE : MANDADO DE SEGURANÇA CÍVEL (120)

ASSUNTO : [Dispensa]

POLO ATIVO : HELPMED SAUDE LTDA

POLO PASSIVO : SECRETÁRIA DA SAÚDE DO ESTADO DO CEARÁ, Sra. Tânia Mara Silva Coelho e outros (2)

DECISÃO

Trata-se de Mandado de Segurança Preventivo, com pedido liminar, impetrado por


HELPMED SAÚ DE LTDA, em face de iminente violaçã o à direito líquido e certo a ser
praticado pela autoridade coatora indicada como sendo GESTORA DA SECRETARIA DA
SAÚ DE DO ESTADO DO CEARÁ , objetivando tutela jurisdicional tal como formalizada em
exordial.

Recebo, no plano formal, emenda à inicial - ID 79988544.

https://pje-consulta.tjce.jus.br/pje1grau/ConsultaPublica/DetalheProcessoConsultaPublica/documentoSemLoginHTML.seam?ca=6b399ffd93fd86… 1/6
08/03/2024, 15:51 · Processo Judicial Eletrônico

Cinge-se a demanda a respeito de eventual ilegalidade na exigê ncia de habilitaçã o té cnico


profissional em Edital de Cotaçã o Eletrô nica (COEP) nº 2024/01239, promovida pela
Secretaria da Saú de do Estado do Ceará . Afirma a impetrante ser abusiva exigê ncia que
consta no item 8.2.2.4.7 do Termo de Referê ncia do Edital supra (ID 79988547), o qual
impõ e à empresa interessada que apresente relaçã o de profissionais (mé dicos) que estejam
regulares no Conselho Regional de Medicina do Estado do Ceará , com apresentaçã o da
certidã o negativa vá lida, bem como comprovaçã o do vínculo do profissional conforme a
categoria aplicada.

Com isso, requer, em sede de liminar, que seja determinada "possibilidade da Impetrada
participar da Edital de Cotação Eletrônica nº 2024/01239, com a suspensão imediata do Item
8.2.2.4.7 do Termo de Referência do referido Edital, até o julgamento final do presente writ –
impedindo a inabilitação da Impetrante por tal motivo. Requer-se especialmente a suspensão
liminar de todo e qualquer exigência pertinente à qualificação técnica profissional para fins de
habilitação técnica."

Documentaçã o acostada - ID 79900399 a 79900404.

É o breve relatório. Passo a decidir.

Para o deferimento da liminar, devem estar presentes os dois requisitos autorizadores


(fumus boni juris e periculum in mora), consoante o disposto na Lei nº 12.016/2009, em
seu artigo 7º, III, assim redigido:

Art. 7o Ao despachar a inicial, o juiz ordenará :

[…]

III – que se suspenda o ato que deu motivo ao pedido, quando


houver fundamento relevante e do ato impugnado puder resultar
a ineficácia da medida, caso seja finalmente deferida, sendo
facultado exigir do impetrante cauçã o, fiança ou depó sito, com o
objetivo de assegurar o ressarcimento à pessoa jurídica. (grifos
acrescentados)

Acerca da interpretaçã o da atual Lei do Mandado de Segurança, sobreleva-se o magisté rio


do Doutor em Direito Processual Civil, Cassio Scarpinella Bueno 1, que aborda com
propriedade o tema dos requisitos autorizadores da concessã o da liminar, in verbis:

[…]

https://pje-consulta.tjce.jus.br/pje1grau/ConsultaPublica/DetalheProcessoConsultaPublica/documentoSemLoginHTML.seam?ca=6b399ffd93fd86… 2/6
08/03/2024, 15:51 · Processo Judicial Eletrônico

Fundamento relevante” faz as vezes do que, no â mbito do “processo


cautelar”, é descrito pela expressã o latina fumus boni iuris e do que, no
â mbito do “dever-poder geral de antecipaçã o”, é descrito pela
expressã o “prova inequívoca da verossimilhança da alegaçã o”. Todas
essas expressõ es, a par da peculiaridade procedimental do mandado
de segurança, devem ser entendidas como significativas de que, para a
concessã o da liminar, o impetrante deverá convencer o magistrado de
que é portador de melhores razõ es que a parte contrá ria: que o ato
coator é , ao que tudo indica, realmente abusivo ou ilegal. Isto é tanto
mais importante em mandado de segurança porque a petição inicial,
com seus respectivos documentos de instrução, é a oportunidade
única que o impetrante tem para convencer o magistrado,
ressalvadas situações excepcionais como a que vem expressa no §1º
do art. 6º da nova Lei de que é merecedor da tutela jurisdicional.

A “ineficá cia da medida, caso seja finalmente deferida”, é expressã o


que deve ser entendida da mesma forma que a consagrada expressã o
latina periculum in mora, perigo na demora da prestaçã o jurisdicional.
No mandado de segurança, dado o seu comando constitucional de
perseguir in natura a tutela do direito ameaçado ou violado por ato
abusivo ou ilegal, é tanto maior a ineficá cia da medida na exata
proporçã o em que o tempo de seu procedimento, posto que bastante
enxuto, nã o tenha condiçõ es de assegurar o proferimento de sentença
apta a tutelar suficiente e adequadamente o direito tal qual venha a
reconhecer.

[…] (BUENO, Cassio Scarpinella. A Nova Lei do Mandado de Segurança.


São Paulo: Saraiva, 2009. p. 40-1)

Ultrapassadas essas consideraçõ es iniciais acerca dos requisitos do mandado de segurança,


no que diz respeito a documentaçã o relativa à qualificaçã o té cnica para fins de habilitaçã o, o
Edital da Cotaçã o Eletrô nica (COEP) nº 2024/01239, promovida pela Secretaria da Saú de do
Estado do Ceará , com objeto contrataçã o da prestaçã o de serviços em horas de
profissionais de saú de na á rea de mé dico pré -hospitalar mó vel para o Serviço de
Atendimento Mó vel de Urgê ncia (SAMU 192), exigia do licitante a apresentaçã o de, entre
outros documentos, lista dos profissionais que atendessem aos requisitos té cnicos exigidos
para a contrataçã o e que executariam o contrato (itens 8.2.2.4.7 e 8.2.2.4.7.1 do Termo de
Referê ncia).

In casu, partindo de aná lise perfunctó ria do contexto probató rio, dá-se razão a
argumentação da impetrante de que em fase de habilitação de procedimento
licitatório deve-se observar tão somente requisitos de habilitação técnico-operacional
da empresa, a exemplo de atestados de capacidade té cnica emitidos por ó rgã os
competentes, dentre outros documentos que demonstrem a expertise da empresa na

https://pje-consulta.tjce.jus.br/pje1grau/ConsultaPublica/DetalheProcessoConsultaPublica/documentoSemLoginHTML.seam?ca=6b399ffd93fd86… 3/6
08/03/2024, 15:51 · Processo Judicial Eletrônico

conduçã o do objeto de contrataçã o. Assim, resta suficiente, nesta fase do procedimento


licitató rio, a apresentaçã o de declaraçã o de disponibilidade de profissionais especializados
em momento de execuçã o contratual.

Demais disso, o inciso V do art. 72 da Lei nº 14.133/2021 faz alusã o apenas a comprovaçã o
que o contratado preenche os requisitos de habilitaçã o e qualificaçã o mínima necessá ria.

Logo, a priori, reconhece-se a inadequaçã o do documento exigido em item 8.2.2.4.7 do


Termos de Referê ncia, notadamente no tocante a exigê ncia de apresentaçã o de lista de
profissionais mé dicos registrados junto aos CRM-CE e que executaram o contrato, por
considerar ser desarrazoada exigê ncia nesta fase do procedimento licitató rio.

Nã o se deve olvidar que a habilitaçã o té cnica deve guardar adequaçã o ao objeto da licitaçã o,
sem se transformar em fator impeditivo ou discriminató rios dos participantes.

Sobre o tema, a liçã o de Marçal Justen Filho:

A sumariedade da disciplina legal, sobre o tema (da exigência de


capacitação técnica em Compras), não retrata proibição de constarem
requisitos de capacitação técnica nos instrumentos convocatórios de
licitação para compras. Aplicam-se os princípios acima expostos
(Capacitação técnica real, capacitação técnico-profissional em obras e
serviços) e qualquer excesso ou inadequação produzem a invalidade do
instrumento convocatório. Os limites e proibições atinentes a obras e
serviços podem ser aplicados, supletivamente, no caso de compras.
(Comentários à Lei de Licitações e Contratos Administrativos, São Paulo.
Dialética, 1998, p. 60).

Faz-se oportuno colacionar entendimento do Tribunal de Contas da Uniã o (TCU):

REPRESENTAÇÃ O. CONVÊ NIO PARA IMPLANTAÇÃ O DE SISTEMA DE


ESGOTO SANITÁ RIO. IRREGULARIDADES COMO A PRESENÇA DE
CLÁ USULAS RESTRITIVAS À COMPETITIVIDADE NA LICITAÇÃ O
REALIZADA. AUDIÊ NCIA DOS RESPONSÁVEIS. RAZÕ ES DE
JUSTIFICATIVA INSUFICIENTES PARA ESCLARECER A MAIORIA DAS
OCORRÊ NCIAS. CONHECIMENTO E PROCEDÊ NCIA PARCIAL. MULTA.
DETERMINAÇÃ O. 1. O rol de exigê ncias para habilitaçã o nas licitaçõ es
estabelecido na Lei 8.666/1993 é exaustivo. 2. Para comprovar a
capacidade té cnico-operacional das licitantes, guardada a proporçã o
com a dimensã o e a complexidade do objeto, pode-se exigir
comprovaçã o de execuçõ es de quantitativos mínimos em obras ou
serviços similares aos do objeto licitado, limitada, poré m, à s parcelas de
maior relevâ ncia e valor significativo, que devem ser devidamente

https://pje-consulta.tjce.jus.br/pje1grau/ConsultaPublica/DetalheProcessoConsultaPublica/documentoSemLoginHTML.seam?ca=6b399ffd93fd86… 4/6
08/03/2024, 15:51 · Processo Judicial Eletrônico

justificadas. 3. É ilegal a exigência, para participação em licitação,


de comprovação de vínculo empregatício do responsável técnico
com a empresa licitante. 4. Para fins de qualificaçã o econô mico-
financeira, a Administraçã o nã o pode exigir das licitantes, de forma
cumulativa, capital social mínimo, patrimô nio líquido mínimo ou
garantias que assegurem o adimplemento do contrato a ser celebrado,
nem a integralizaçã o do capital social mínimo. 5. A vistoria ao local da
obra só pode ser demandada da licitante se for imprescindível para
caracterizaçã o do objeto. 6. Compromete o cará ter competitivo do
certame o estabelecimento de vistoria prévia da obra em data e horá rio
comum a todos os licitantes

(TCU 01155620129, Relator: ANA ARRAES, Data de Julgamento:


17/07/2013)

Destarte, presente requisito legal autorizador da medida pretendida, a teor do que dispõ e o
inciso III do Art. 7º da Lei nº 12.016/2009 c/c Art. 300 do CPC, DEFIRO a LIMINAR
requestada, no sentido de suspender exigê ncia de habilitaçã o prevista nos itens 8.2.2.4.7 e
8.2.2.4.7.1 do Termo de Referê ncia, impedindo, por conseguinte, que a impetrante seja
inabilitada por tal exigência específica, até ulterior deliberação.

Publique-se.

Intime-se por MANDADO Francisca Amanda Martins do Couto - GESTORA DA SECRETARIA


DA SAÚ DE DO ESTADO DO CEARÁ , para que adotem as medidas cabíveis ao cumprimento.

Notifique-se as autoridades coatoras, para que prestem informaçõ es – Prazo: 10(dez)


dias.

Cientifique-se a Fazenda Estadual (ESTADO DO CEARÁ) – através da Procuradoria-Geral


do Estado do Ceará, para os fins do artigo 7º, inciso II, da Lei 12.016/09.

Decorrido o prazo, com ou sem informaçõ es, abra-se vista ao Ministério Público e, apó s,
tornem conclusos.

Expedientes Necessários. DE TODO MODO, FACE EXIGUIDADE DE TEMPO PARA


CIENTIIFCAÇ~ÇOES, FICA FACULTADO A APRESENTAÇÃO DO PRESENTE COMO
INSTRUMENTO A SER APRESENTADO AO CERTAME PELO PRÓRPIO CAUSÍDICO E/ OU
PREPOSTO INDICADO.

https://pje-consulta.tjce.jus.br/pje1grau/ConsultaPublica/DetalheProcessoConsultaPublica/documentoSemLoginHTML.seam?ca=6b399ffd93fd86… 5/6
08/03/2024, 15:51 · Processo Judicial Eletrônico

Data da assinatura digital.

Cleiriane Lima Frota


Juíza de Direito
(Assinado Eletronicamente)
Assinado eletronicamente por: CLEIRIANE LIMA FROTA
20/02/2024 13:26:12
https://pje-
consulta.tjce.jus.br:443/pje1grau/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam
ID do documento: 79993507

2402201326123370000007829277
IMPRIMIR GERAR PDF

https://pje-consulta.tjce.jus.br/pje1grau/ConsultaPublica/DetalheProcessoConsultaPublica/documentoSemLoginHTML.seam?ca=6b399ffd93fd86… 6/6

Você também pode gostar