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ESCOLA SUPERIOR DE EDUCAÇÃO

JEAN PIAGET DE ALMADA

AUTISMO – UM SILÊNCIO RUIDOSO


PERSPECTIVA EMPÍRICA SOBRE O AUTISMO NO
SISTEMA REGULAR DE ENSINO

Aluna: Maria de Fátima Pereira Borges

Curso: Curso de Estudos Superiores Especializados em Educação Especial

Orientadora: Dra. Helena Filipe Santos

ALMADA
2000
MARIA DE FÁTIMA BORGES

AGRADECIMENTOS

Para a concretização de qualquer trabalho ou estudo, e de uma maneira muito

especial, quando este implica o trabalho com seres humanos, nada teria sido

possível sem o apoio essencial de pessoas e instituições que nos ajudaram a chegar

ao fim, mesmo perante tantos obstáculos.

Um obrigado muito especial, às crianças que com a patologia do Autismo e de

uma forma gratuita, serviram de base para o meu estudo.

Obrigado ao meu marido, pelos momentos que estando só, procurou nunca

deixar o barco naufragar.

Obrigada à minha colega Ana Arraia pela sua ajuda e saber.

À minha amiga e socióloga, Felisete Peixeiro, pela sua força interior

disponibilidade e incentivo. Sem ela deixava a água correr.

À minha orientadora, a psicóloga Helena Filipe, pela sua disponibilidade,

amizade e orientação no decorrer do meu trabalho.

Obrigado à terapeuta Carmelina Mota pelos seus conselhos, pela experiência

partilhada e sua disponibilidade em me facultar documentação importante para o

meu estudo.

Obrigado ao Prof. Doutor Edgar Gonçalves Pereira, pela sua disponibilidade

em receber-me, ter-me facultado documentação e ainda, por tão prontamente me ter

respondido a três questões primordiais para este trabalho.

Obrigado ao Prof. Doutor Pedro Caldeira, por me ter recebido, pela motivação

e ajuda e pelos conhecimentos que me transmitiu sobre o Método Floor Time.

Obrigada à Dr.ª Paula Sena, pelas palavras de conforto no momento certo.

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Obrigado a todas as colegas, educadoras e professoras, pela resposta pronta

ao meu questionário.

Obrigado aos meus amigos e, em especial, à Jú e à Zé, pela disponibilidade

demonstrada.

Estes agradecimento não têm ordem numérica, qualquer um deles poderia ser

o primeiro.

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Dedicatória

OBRIGADO ao meu pai

Choveu muito na
minha vida…
As lágrimas tropeçaram
no escuro, no dia que te perdi…
O silêncio apareceu sobre o
rosto do meu pai, como a
humildade o reconhecimento
e a dor no meu coração…

É neste coração que preservo


a lembrança de alguém de
coração cheio, e um enorme
colo…

É para ele que envio


deste lugar longínquo, um
beijo, que tu pai vais sentir
e reconhecer como um
Obrigado pela vida que me deste,
por tudo o que me ensinaste a ser
e a fazer…
NESTE MUNDO!!

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PREFÁCIO

"Todas as experiências que a vida nos pode dar nem

sempre as queríamos ter se pudéssemos escolher. Mas se nos

são impostas, a vivência de uma perda amarga pode dar-nos a

visão da vida e a maturidade demonstrada pela mãe de uma

criança deficiente, que afirma:

«Em que parte do mundo poderíamos ter aprendido estas

coisas nos livros – coisas que têm a haver com o sentido

profundo da vida. Com quem poderíamos ter aprendido tanto,

senão com quem sabe tão pouco?» "

(Martins, Manuela, 1996)

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RESUMO

Cada vez mais cabe à escola prever respostas educativas de forma a educar

com sucesso todas as crianças, incluindo as com patologias graves.

Este trabalho centrou-se na temática do Autismo, já que a experiência

profissional associada ao desconhecimento e às dificuldades sentidas no terreno,

desencadearam o interesse em aprofundar esta questão. Deste modo, sabendo que

são os professores e educadores os actores directamente implicados pergunta-se:

- Será que os professores/educadores dos Apoios Educativos são capazes

de lidar com crianças com a problemática do Autismo?

A partir desta questão foi levantada a hipótese orientadora da investigação:

- A maioria dos professores/educadores que trabalham com crianças Autistas

ou com traços autistas, não têm conhecimentos sobre a problemática,

devido à falta de formação nesta área,

e foram definidos os seguintes objectivos:

- Saber até que ponto os professores/educadores concordam com a inclusão

de crianças autistas na classe Regular.

- Constatar as dificuldades sentidas pelos professores/educadores que

trabalham com essa problemática.

- Compreender se os professores e educadores gostariam de aprofundar a

sua formação sobre a temática do Autismo.

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- Constatar se os professores/educadores estão de acordo com um espaço

estruturado e mais específico funcionando como sala de apoio para

crianças com a problemática do Autismo- Sala TEACCH.

- Saber o que sentem emocionalmente os educadores/professores quando se

deparam com uma criança com a problemática do Autismo.

- Constatar as diferenças e/ou semelhanças quanto às concepções entre os

educadores/professores que exercem funções no Ensino Público ou no

Particular sobre a problemática do Autismo.

Este trabalho sendo de natureza teórico-prático, tem por base uma análise

realizada através de dados recolhidos de um questionário, constituído por perguntas

abertas e fechadas e distribuído a professores/educadores do Ensino Especial do

concelho do Seixal.

Neste estudo foi utilizado o método quantitativo no tratamento dos dados

resultantes das perguntas fechadas do questionário. As perguntas abertas foram

submetidas a uma análise de conteúdo.

A amostra recolhida como representativa da população em questão foram 71

professores/educadores dos Apoios Educativos do concelho do Seixal.

Como análise conclusiva deste trabalho constatámos que:

A maioria dos professores/educadores não concordam com a inclusão de

crianças com todo o tipo de patologia no Sistema Regular de Ensino, uma vez que,

muitos dos professores/educadores que dizem concordar impõem condições, que o

Sistema Educativo ainda hoje não dá resposta.

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Constatámos ainda que a opinião dos professores/educadores incide sobre a

necessidade de formação inicial e contínua para lidar com crianças com

Necessidades Educativas Especiais.

Foi descrito por estes profissionais angústia, dúvidas e medo pelo

desconhecimento do saber como actuar com estas crianças.

Estes dados vieram confirmar a nossa hipótese de investigação.

Pensamos que estamos perante o desafio: Depende de todos nós a


construção de uma escola física e humana diferente,
onde todos se respeitem e preconizem os valores de
cada um.

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ÍNDICE

ÍNDICE....................................................................................................................... i
ÍNDICE DE QUADROS.............................................................................................. v
ÍNDICE DE GRÁFICOS ............................................................................................. vi

CAPITULO I INTRODUÇÃO ................................................................................. 1

CAPITULO II REVISÃO DA LITERATURA ........................................................... 8

1. AUTISMO INFANTIL ...................................................................................... 8


1.1 Definição................................................................................................ 8
1.2 Perspectiva Histórica do Autismo .......................................................... 11
1.3 Conceito e classificação das síndromas Autísticos................................ 13
1.3.1. O conceito segundo Kanner ........................................................ 18
1.3.2. O conceito segundo Asperger ..................................................... 21
1.3.3. O conceito segundo outros autores............................................. 24
1.3.4. Visão Actual ................................................................................ 29
1.4 Perspectiva sobre a Etiologia do Autismo.............................................. 31
1.4.1. Teorias Psicogenéticas ............................................................... 37
1.4.2. Teorias biológicas ....................................................................... 37
1.4.3. Teorias cognitivas ....................................................................... 38
1.4.4. Diagnóstico do Autismo............................................................... 40
2. AUTISMO, FAMÍLIA E SOCIEDADE.............................................................. 49
2.1 O papel dos intervenientes educativos na educação
da criança com Espectro Autista............................................................ 50
2.1.1. O papel do profissional de Saúde. .............................................. 54
3. ESCOLA INCLUSIVA..................................................................................... 58
4. A IDENTIDADE PROFESSOR/FORMAÇÃO ................................................. 64
5. PERFIL DE QUEM TEM DE LIDAR COM UMA
PESSOA AUTISTA ........................................................................................ 71
6. TIPOS DE INTERVENÇÃO............................................................................ 73
6.1 Modelo Floor-Time................................................................................. 75
6.2 Programa do vocabulário Makaton ........................................................ 77
6.3 Teacch ................................................................................................... 78
6.3.1. Os Princípios adoptados pelo Método TEACCH ......................... 85
6.3.2. Os Objectivos da Intervenção do Método Teacch....................... 88
6.3.3. Teacch, um ensino estruturado ................................................... 89
6.4 Estratégias úteis na integração de crianças com autismo. .................... 92

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CAPITULO III METODOLOGIA ............................................................................. 95

1. Opções metodológicas. .................................................................................. 95


1.1 Objectivos da investigação. ................................................................... 95
1.2 Definição da hipótese de investigação................................................... 96
1.3 Técnicas utilizadas................................................................................. 96
1.4 Amostra. ................................................................................................ 97
1.5 Procedimento de recolha de dados ....................................................... 97
1.6 Identificação e operacionalização das variáveis …………… ................. 97

CAPITULO IV RESULTADOS ................................................................................


100

1. Caracterização da amostra.
100
1.1 Sexo dos inquiridos.
............................................................................................................... 10
0
1.2 Categoria profissional dos inquiridos.
............................................................................................................... 10
0
1.3 Tipos de instituição onde os professores/educadores
desempenham funções.
............................................................................................................... 10
1
1.4 Atitude face à inclusão de crianças com todo
o tipo de problemas
............................................................................................................... 10
1
1.5 Crianças sinalizadas com Necessidades Educativas
Especiais ............................................................................................. 105
1.6 Caracterização das problemáticas dos alunos pelos
inquiridos. ............................................................................................ 106
1.7 Crianças autistas com relatório médico referindo
autismo ou traços autistas. .................................................................. 107
1.8 Número de crianças sinalizadas. ......................................................... 107
1.9 Professores/educadores que consideram que o relatório
médico ajuda no Plano de trabalho a realizar com as crianças. .......... 108
1.10 Interesse demonstrado pelos professores/
educadores em aprofundar a temática ................................................ 111
1.11 Opinião sobre um trabalho estruturado desenvolvido

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em sala de apoio para crianças autistas.............................................. 112


2. Relação entre categoria profissional e outras variáveis ............................... 112
2.1 Atitude face à inclusão de crianças com todo o tipo de
problemas por categoria profissional ................................................... 112
2.2 Problemática das crianças sinalizadas por categoria
profissional dos inquiridos.................................................................... 113
2.3 Crianças sinalizadas em que o relatório médico refere autismo
ou traços autistas por categoria profissional dos inquiridos................. 115

2.4 Número de crianças sinalizadas cujo o relatório médico


refere autismo ou traços autistas por categoria profissional. ............... 115
2.5 Contribuição do relatório médico para a elaboração
do Plano de trabalho por categoria profissional. .................................. 117
3. Relação entre o tipo de instituição onde os profissionais
inquiridos desempenham funções e outras variáveis. .................................. 117
3.1 Tipo de instituição onde os profissionais desempenham
funções por concordância com a inclusão de crianças
com todo o tipo de problemas.............................................................. 118
3.2 Tipo de instituição onde os profissionais desempenham
funções por problemáticas das crianças sinalizadas. .......................... 119
3.3 tipo de instituições onde os profissionais
desempenham funções por n.º de crianças com
relatório médico referindo autismo ou traços Autistas ......................... 120
3.4 Contribuição do relatório médico para a elaboração
do plano de trabalho por tipo de instituição
onde os profissionais desempenham funções. .................................... 121

CAPITULO V ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS........................... 125

CAPITULO VI Conclusão .................................................................................... 137

Referências Bibliográficas

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ANEXOS

A - Resposta a três questões sobre o autismo pelo Prof. Dr Edgar Pereira

B - C. A. R. S. - Escala de Avaliação e Detecção de Autismo infantil


(Childhood Autism Rating Scale)

C - C.H.A.T. – Escala de Avaliação e Detecção de Autismo para crianças


pré-escolar (Checklist for Autism in Toddlers)

D - Instrumentos de avaliação em várias áreas do desenvolvimento

E - Questionário, para recolha de dados sobre o numero de crianças com


necessidades especiais no concelho do seixal

F - Tratamento estatistico dos dados obtidos no questionário em SPSS

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ÍNDICE DE QUADROS

1. Sistema de diagnóstico do autismo........................................................ 42


2. Condições médicas associadas............................................................. 44
3. Infecções associadas com o Autismo infantil......................................... 44
4. Tipos de anormalidade orgânica (Gilberg et al., 1987) .......................... 45
5. Critérios de diagnóstico do Autismo segundo o D.S.M.-IV (1994) ......... 45

I. Atitude face à inclusão de crianças com todo o tipo de


problemática no sistema regular de ensino............................................ 99
II. Dificuldades/facilidades sentidas no trabalho desenvolvido
com crianças de sintomatologia Autista ...............................................106
III. Problemática das crianças sinalizadas por categoria
profissional dos inquiridos....................................................................110
IV. Tipo de instituição onde os profissionais desempenham
funções por problemáticas das crianças sinalizadas ...........................115
V. Palavra ou sentimento que expresse em relação ao Autismo .............118

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ÍNDICE DE GRÁFICOS

1. Categoria profissional dos inquiridos ....................................................... 97


2. Tipos de instituições onde os professores/educadores
desempenham funções............................................................................ 98
3. Atitude face à inclusão de crianças com todo o tipo de problemas.......... 98
4. Crianças sinalizadas com Necessidades Educativas Especiais ............ 102
5. Caracterização das problemáticas dos alunos pelos
professores/educadores......................................................................... 103
6. Crianças autistas com relatório médico referindo autismo ou
traços autistas........................................................................................ 104
7. Número de crianças sinalizadas por Professor/educador ...................... 104
8. Professores/educadores que consideram que o relatório médico
ajuda no Plano de trabalho a realizar com as crianças.......................... 105
9. Interesse demonstrado pelos professores/educadores em
aprofundar a temática ............................................................................ 108
10. Opinião sobre um trabalho estruturado desenvolvido em sala
de apoio para crianças autistas) ............................................................ 109
11. Atitude face à inclusão de crianças com todo o tipo de
problemas por categoria profissional ..................................................... 110
12. Crianças sinalizadas com relatório médico referindo autismo
ou traços autistas por categoria profissional dos inquiridos ................... 111
13. Número de crianças sinalizadas cujo o relatório médico refere
autismo ou traços autistas por categoria profissional............................. 112
14. Contribuição do relatório médico para a elaboração do Plano
de trabalho por categoria profissional .................................................... 113
15. Tipo de instituição onde os profissionais desempenham
funções por concordância com a inclusão de crianças com
todo o tipo de problemas........................................................................ 114

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16. Tipo de instituições onde os profissionais desempenham


funções por n.º de crianças com relatório médico referindo
autismo ou traços Autistas ..................................................................... 116
17. Contribuição do relatório médico para a elaboração do plano
de trabalho por tipo de instituição onde os profissionais
desempenham funções.......................................................................... 117

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CAPITULO I

INTRODUÇÃO

Por mais cépticos ou crédulos, certos ou dogmáticos, os homens têm a

companhia permanente das dúvidas, que o fazem um inquiridor nato, no entanto, se

as acções falam mais alto do que as palavras, como afirma o conhecido ditado,

então as primeiras e mais importantes palavras, vão no sentido de reconhecer as

práticas clínicas e as melhores pesquisas disponíveis que desde os anos quarenta

têm-se efectuado sobre a problemática do Autismo. Por outro lado, a sensibilidade

quanto às questões éticas, a capacidade de raciocínio e deliberação moral, a

descentração, a empatia, a coragem em defender posições, são competências

requeridas pelo exercício profissional daqueles que, diariamente, lidam com esta

patologia e que integram necessariamente a competência profissional permitindo,

nos dias de hoje, falar da evolução do conceito com mais convicção.

Tudo começa por ser o sonho de alguém… O nosso, começou há seis anos, no

Ensino Especial, onde acompanhámos de perto, barreiras e obstáculos que,

diariamente, a grande maioria das crianças e jovens com Necessidades Educativas

Especiais são forçados a enfrentar, na luta pela conquista de objectivos essenciais,

como sejam, a Qualidade de Vida e o Direito à Igualdade

de Oportunidades.

Foram momentos raros, muito nossos e empolgados, com uma consciência

sofrida e um estado de alma que não conseguimos fingir. A coragem, o eterno

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desejo de saber e o respeito pelo outro, foram os potenciadores que levaram a

debruçar-nos sobre uma temática tão complexa como a do Espectro Autista.

Já em 1986, a Lei de Bases do Sistema Educativo (Lei 46/86, de 14 de

Outubro), veio a definir como princípios primordiais, os direitos fundamentais à

Educação e à Igualdade de oportunidades, e, mais tarde, em 1990, estes princípios

foram reforçados na Conferência Mundial sobre a "Educação para todos".

Esta discussão que se iniciou no nosso país na década de oitenta e onde foram

dados passos significativos, no plano legislativo, não teve repercussões com a

dimensão esperada, na prática. Actualmente, o que se verifica, é que continuam a

existir dificuldades em se encontrar respostas às necessidades de algumas crianças,

principalmente, quando são portadores de patologias, como o Autismo, quer seja por

parte dos professores/educadores do regular ou do especial, dos pais ou a

comunidade em geral.

A Declaração de Salamanca refere (1994:6), " Uma escola para todos, ou

escola Inclusiva tem de ser capaz de desenvolver uma pedagogia centrada nas

crianças, susceptível de as educar a todas com sucesso". Este documento subscrito

por Portugal, entre outros 91 países, surge como marco orientador para acção na

área das Necessidades Educativas Especiais. Mas, de facto, para que o princípio da

Inclusão tenha sucesso em Portugal, pressupõe mudanças que devem ser

compreendidas e desejadas, não só pelos professores/educadores, pelos pais, mas

também por toda uma sociedade. Como afirma Correia (1997:41):

" Não basta criar um sistema de boas vontades, de bons relacionamentos e que

preveja uma formação adequada, requer como indispensável o apadrinhamento

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de toda a política social e o assumir das responsabilidades estatais para e

implementação de um «sistema inclusivo»".

A inclusão está efectivamente à mercê da boa vontade dos governos e da

sociedade em geral.

O Espectro do Autismo engloba perturbações muito graves do

desenvolvimento, que ainda hoje, não são muito claras, quer no seu diagnóstico,

quer no seu padrão típico e terapêutica.

Muitos são os autores que se têm dedicado ao estudo deste Espectro, no

entanto, este apresenta-se como um grande puzzle que, a pouco e pouco, se vai

construindo e entendendo.

Como se sabe, a patogenia do Autismo é obscura. Ela alimenta grandes forças

dialécticas de discursos de especialistas em detrimento da família tão experiente

face a um tal problema. Com efeito, todas as estruturas relacionais dentro da família

da criança autista encontram-se perturbadas, distorcidas e dramaticamente

desorganizadas face ao contexto.

Esta temática toca, particularmente, os profissionais de educação, pois, ao

longo da nossa actividade profissional, constatamos que apesar de todas as

modificações verificadas no ensino e a diversidade dos métodos utilizados, a falta de

recursos humanos, físicos e pedagógicos, continua a marcar de forma

estigmatizante, as crianças com Necessidades Educativas Especiais.

Conscientes que, para todo o trabalho, é necessário prazer, satisfação,

ambiente favorável para a troca de saberes, julgamos não poder

continuar a vestir os casacões de profissionais de

educação, em conformidade com regras estabelecidas,

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mas sim, mostrar sem vergonha, a cor da pele que cada

um tem, exibindo as nossas preocupações e limitações

face ao desconhecido, nunca esquecendo, que tudo

depende de como somos, como vivemos e como

descobrimos. Tal como nos diz Arno Gruen (1995:75), "o Ódio que sentimos

pelas mentiras que ocultamos é próprio da nossa sujeição em desrespeito pela

nossa própria vida e a dos outros".

Salienta-se, que as crianças com patologias mais graves, nomeadamente o

Autismo, que implicam práticas mais estruturadas e específicas, são aquelas cujas

respostas nem sempre são as mais adequadas, pois o número de profissionais

especializados é insuficiente e a formação inicial e contínua é exígua.

A pertinência da nossa temática e considerando a igualdade de oportunidades

e perspectivas de educação que têm em conta o desenvolvimento integral do

indivíduo, aceitando e valorizando o direito à diferença, equaciona-se a questão

central da seguinte forma:

- Será que os educadores/professores dos Apoios Educativos são capazes

de lidar com crianças com a problemática do Autismo

Partimos desta questão como referência para a posterior definição dos

objectivos da investigação:

- Saber até que ponto os professores/educadores concordam com a inclusão

de crianças autistas na classe Regular.

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- Constatar as dificuldades sentidas pelos professores/educadores que

trabalham com essa problemática.

- Compreender se os professores e educadores gostariam de aprofundar a

sua formação sobre a temática do Autismo.

- Constatar se os professores/educadores estão de acordo com um espaço

estruturado e mais específico funcionando como sala de apoio para

crianças com a problemática do Autismo.

- Saber o que sentem emocionalmente os educadores/professores quando se

deparam com uma criança com a problemática do Autismo.

- Constatar as diferenças e/ou semelhanças quanto às concepções entre os

educadores/professores que exercem funções no Ensino Público ou no

Particular sobre a problemática do Autismo.

Tendo como base a questão formulada e os objectivos norteadores deste

estudo tornou-se premente recorrer ao contributo de vários autores sobre o Espectro

Autista e, ainda a autores que desenvolveram trabalho no âmbito da formação de

professores/educadores, quadro teórico que integra o Capítulo II, deste trabalho.

Este quadro teórico constitui a base de construção do modelo de análise que

foi adoptado, desenvolvido no capítulo III intitulado "Metodologia". Neste capítulo

apresentam-se a hipótese de trabalho, os objectivos orientadores da investigação e

são dimensionadas as variáveis em estudo. Para recolher a informação recorremos

à técnica de inquérito por questionário, constituído por perguntas abertas e

fechadas, sendo a nossa amostra constituída por 44 professores do Ensino Básico e

37 educadores de infância, todos eles fazendo parte da equipa dos Apoios

Educativos do concelho do Seixal.

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No capítulo quarto "Apresentação dos Resultados" são retractados os quadros

organizados a partir dos dados recolhidos (cujo o tratamento encontra-se em

anexos) assim como a análise de conteúdo.

Segue-se a análise e discussão dos resultados que constituí o capítulo V e

termina com o capítulo VI onde se enunciam as conclusões do estudo bem como

são lançadas as questões para futuras investigações.

São feitas as referências bibliográficas, anexámos: Resposta a três questões

sobre o Autismo pelo Prof. Doutor Edgar Pereira; C.A.R.S.- Escala de avaliação e

Detecção de Autismo Infantil (Childhood Autism Rating Scale); C.H.A.T. – Escala de

Avaliação e Detecção de Autismo para Crianças em idade Pré-escolar (Checklist for

Autism in Toddlers); Instrumentos de Avaliação em várias áreas do desenvolvimento;

o modelo de questionário para a recolha de dados e o tratamento estatístico dos

dados obtidos no Questionário em S.P.S:S.

Este trabalho pretende ser um instrumento destinado a professores/educadores

interessados na temática do Autismo, patologia bem complexa que requer uma

intima conexão entre a pesquisa e a prática para que haja sucesso educativo.

Acreditamos que nunca haverá cansaço de saber, por isso é que somos o que

somos. No entanto, tempo virá em que a investigação diligente, cobrindo longos

períodos, esclarecerá coisas que hoje não estão codificadas; tempo virá em que os

nossos descendentes se surpreenderão por não sabermos coisas que são tão

óbvias para eles. O universo seria uma coisa insignificante se não houvesse sempre

nele algo a ser investigado por todas as gerações que vão surgindo, "A natureza não

revela os seus mistérios de uma só vez; há sempre um «mais além escondido» nos

bastidores do Mundo." (Pennington, B.F.,1997:65). Essa é a promessa da natureza

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ser sempre mais complexa do que a imaginação e ao mesmo tempo mais simples

que a todos surpreende.

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CAPITULO II

REVISÃO DA LITERATURA

1. AUTISMO INFANTIL

1.1 DEFINIÇÃO

Como define Tomatis (Setembro-Dezembro, 1994), a palavra Autismo vem do

grego Autos que significa eu ou próprio. Esta designação é usada porque as

crianças possuidoras do síndroma passam por um estádio em que se voltam para si

mesmas, e não se interessam pelo mundo exterior.

O Autismo infantil foi denominado como condição neuropsicológica, na década

de quarenta, por Kanner (1943), que o descreveu de forma magistral, prevalecendo

esta denominação até aos anos noventa. Segundo Frith, U. (1991), este autor

identificou, entre crianças "deficientes", algumas que se diferenciavam das demais

por um comportamento peculiar caracterizado, entre outros sinais e sintomas, por

uma dificuldade de estabelecer relações interpessoais. Diz ainda a autora que esta

perturbação severa de comportamento ocorre em cerca de 1/500 nascimentos,

sendo mais frequente no sexo masculino.

Como nos aponta Pennington, B. F. (1997), são afectadas pessoas com todos

os níveis de capacidades intelectuais, variando entre dificuldades profundas de

aprendizagem e capacidades médias ou superiores, de todas as raças e crenças.

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A questão do Autismo Infantil apresenta grandes dificuldades e é passível de

controvérsias uma vez que engloba, dentro dos actuais conceitos, uma gama

bastante variada de doenças com diferentes quadros clínicos que têm como factor

comum o sintoma autístico. Entretanto, apesar do grande número de pessoas que

sobre ele se debruçam, dos projectos e das pesquisas já realizadas, vários aspectos

do síndroma do Autismo Infantil permanecem obscuros.

Sabe-se já, sem sombra de dúvidas, que factores emocionais dinâmicos não

podem ser responsabilizados, de forma isolada, pelo quadro do Autismo Infantil.

Também, cada vez de forma mais clara, se conclui que factores biológicos estão

presentes em todos os casos de Autismo Infantil, muito embora não tenhamos

conseguido identificar um marcador biológico específico que esteja presente em

todos os casos da doença.

O Autismo Infantil é o termo usado para descrever um comportamento estranho

e/ou deficiências sérias de desenvolvimento nas áreas sociais e de comunicação.

Não há um acordo sobre o enquadramento destas crianças na categoria de distúrbio

emocional ou de distúrbio de comunicação mas, em qualquer categoria que sejam

colocadas, elas apresentam um conjunto difícil de problemas para os profissionais.

"É um distúrbio que incapacita severamente uma pessoa por toda a vida e que

geralmente aparece nos três primeiros anos de vida" (Kirk & Gallagher, 1997:421).

Segundo a National Society for Autistic Children (1979), para que na criança seja

diagnosticada o "Autismo Infantil ", a desordem deve ser manifestada antes dos

trinta meses de idade.

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Esta rara desordem que ocorre em cerca de 4 em cada 10.000 crianças tem

sido focalizada consideravelmente em vários estudos. Nas investigações de

Schwartz & Johnson (1981), verifica-se que a desordem é cerca de duas a quatro

vezes mais comum em homens do que em mulheres e que também existe influência

genética. Como foi observado por Folstein & Rutter (1977), citados por Pereira, E.

(1996), constata-se um risco de 2% de verificar-se o autismo nos irmãos de crianças

autistas.

Como referem Capute, Derivam, Chauvel et al (1975), citados por Batshaw &

Perret (1990), a importância destes estudos reflectem a preocupação pelo

comportamento bizarro das crianças autistas e a frequente confusão entre o Autismo

e as formas mais comuns de retardamento mental que têm características autisticas.

Muitos autores tem questionado se o Autismo é uma entidade distinta. Na

opinião de Baron-Colten & Botton (1994), citados por Pereira, E. (1996), as crianças

com Autismo não formam uma imagem mental do que se pode estar a passar na

mente dos outros. Este facto resulta da incapacidade de pensarem acerca dos seus

próprios estados mentais, assim como nos estados mentais dos outros. Deste modo,

a criança com Autismo, ao não desenvolver uma "Teoria da Mente", vai ter um

comportamento problemático, quer ao nível social, quer cognitivo, na medida em que

encara os outros como meros objectos.

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1.2 PERSPECTIVA HISTÓRICA DO AUTISMO

O ovo de um pássaro, contendo em si toda a matéria nutritiva


necessária ao novo ser… é exemplo claro de um sistema psíquico fechado
aos estímulos do mundo externo é capaz de satisfazer autísticamente até
as suas necessidades alimentares

Sigmund Freud (1911),citado por Bettelheim (1987:123)

O termo Autismo foi utilizado pela primeira vez pelo psiquiatra Bleuler, nos

princípios do século XX, para caracterizar um tipo de sintoma que ele julgou ser

secundário das esquizofrenias. Bleuler utilizou-se da palavra Autos, de origem grega

e que significa " si mesma ", aludindo ao tipo de esquizofrénicos, como é referido por

Bettelheim, " que vivem num Mundo muito pessoal e deixam de ter qualquer

contacto com o mundo " (1987:417).

Há cerca de cinquenta anos, em 1943, o psiquiatra americano Leo Kanner,

separou, pela primeira vez, um conjunto de comportamentos, aparentemente

característicos e que algumas das crianças que seguia manifestavam. Esse conjunto

de comportamentos, assim como as perturbações que lhes dava origem, ficaram a

ser conhecidos como Síndroma do Autismo, nome que prenunciava e vincava a

faceta mais típica das suas maneiras de estar.

Tal como é referido em Frith, U. (1991), Hans Asperger, pediatra austríaco,

independentemente de Kanner, descreveu em 1944, a sua experiência com um

grupo de rapazes a quem diagnosticou o mesmo sintoma, denominando-o de

"Psicopatia Autística". Este sintoma é descrito de uma forma análoga à de Kanner

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mas as discussões sobre se o síndroma de Asperger é igual ao síndroma de Kanner

têm sido muito intensas. Hoje existem opiniões bem diferentes.

Nos anos setenta, dúvidas foram levantadas sobre os critérios a serem

utilizados para a identificação clínica destes pacientes, ainda que vários esquemas,

questionários e tabelas tenham sido propostos. Apesar das dúvidas se manterem

avançou-se bastante no que respeita a conhecimentos fundamentais sobre factores

etiológicos, efeitos neuroquímicos, influências genéticas, tratamento farmacológico,

aspectos familiares e outros.

Gallagher & Kirk (1998), referem que Rutter (1978), um educador britânico de

grande influência, identificou quatro critérios para distinguir as crianças autistas das

outras crianças excepcionais:

1. Deficiência grave no relacionamento com os pais, membros da família

e outras pessoas.

2. Desenvolvimento atrasado e deficiente da linguagem, caracterizado

pelo uso inadequado da linguagem, quando existe, e inclusão de

padrões peculiares de fala, como a produção de ecos de palavras ou

frases.

3. Comportamento estereotipado, variando desde movimentos repetitivos

do corpo, até comportamentos ritualísticos, como a insistência de

alinhar os brinquedos ou a mobília numa determinada ordem.

4. Esses comportamentos aparecem cedo e apresentam desde o início da

vida, geralmente antes dos três anos de idade.

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Gallagher & Wiegerink (1976), citados ibidem (1998:422), ao reverem as

estratégias educacionais para a criança autista, resumiram, num estudo, todos os

conhecimentos existentes, até à época, sobre a temática do Autismo e as suas

conclusões continuam adequadas como se pode verificar nos pontos seguintes:

1. As crianças autistas são educáveis.

2. Suas características singulares de aprendizagem devem-se a

deficiências cognitivas básicas no processamento de informações.

3. Essas deficiências podem ser compensadas, em parte, por programas

educacionais cuidadosamente estruturados, com sequências

especificadas de aprendizagem desenvolvente e intensificação de

estímulos reforçadores.

4. Os programas educacionais estruturados devem começar desde cedo,

tendo os pais ou pais substitutos como primeiros professores.

5. Os programas de educação especial para essas crianças são

plausíveis e, a longo prazo, menos custosos do que os cuidados

institucionais.

6. O oferecimento de programas educacionais adequados para essas

crianças não é uma manifestação da generosidade pública, mas, ao

contrário, uma reflexão de que essas crianças também têm direito

evidente a educação adequada.

1.3 CONCEITO E CLASSIFICAÇÃO DOS SÍNDROMAS AUTÍSTICOS

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Segundo Frith, U. (1989), o Autismo é uma deficiência mental específica,

susceptível de ser classificada nas perturbações perversoras do desenvolvimento,

que afecta qualitativamente as interacções sociais recíprocas, a comunicação verbal

e não verbal, a actividade imaginativa e expressa-se através de um repertório

restrito de actividades e de interesses.

Esta variedade de comportamentos, inclui incapacidade para desenvolver

relações interpessoais, um atraso na aquisição de linguagem, ou mesmo, sem

linguagem (mutismo), a não utilização da fala para comunicar, ecolalia, inversão dos

pronomes, jogos e actividades estereotipadas e repetitivas, resistência à mudança,

falta de imaginação e criatividade, boa memória e reprodução, e uma aparência

física normal.

Conforme Cunha, M. I. (Janeiro/Abril, 1995), as desordens descritas

anteriormente vão caracterizar esta patologia e, deste modo, surge o conceito de

«Pervasive development disorder», classificação usada pela American Psychiatry

Association (1980), na D.S.M. lll (Diagnostic and Statistical Manual of Mental) para o

síndroma do Autismo. Esta definição, teve como razão fundamental o considerar

uma anormalidade no processo de desenvolvimento que é possível de ser detectada

muito precocemente. O termo «pervasive» pretende chamar a atenção para a

distorção alargada do processo do desenvolvimento mas não na sua globalidade. De

facto, a inteligência pode ser relativamente poupada, apontando que cerca de 50%

das crianças autistas possam apresentar uma realização a nível do Q.I. normal, o

que conduz à necessidade de separar o Autismo da Deficiência Mental.

Segundo Schwartzm et al. (1995), os critérios de diagnóstico das referidas

desordens definidos por Rutter (1978), A.P.A. (1980), e Garmezy (1983), são:

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1. Aparecimento antes dos trinta meses;

2. Uma forma particular de desvio do desenvolvimento social;

3. Uma forma particular de desvio do desenvolvimento da linguagem;

4. Comportamentos estereotipados, rotinas.

5. Ausência de alucinações.

Considerando o ponto três e ponto quatro como os mais relevantes para a

caracterização do síndroma, passamos assim à descrição destas problemáticas

específicas.

Relativamente ao ponto três, constata-se que as crianças autistas que falam

não mencionam o pronome "eu", como nos confirma Kanner (1946,1951,1952),

citado por Tustine, F. (1972), chamando a esse fenómeno "inversão pronominal".

Neste caso, a criança utiliza o pronome «tu» quando o termo gramaticalmente

correcto deveria ser «eu». O mesmo autor refere que, na linguagem da criança

autista, pode-se observar também a «ecolalia retardada» e a «afirmação por

repetição». Por exemplo, quando se pergunta à criança " você quer leite?" e ela

replica "você quer leite?" o que queria dizer "eu quero leite." Ou "sim, quero leite."

Sobre este assunto Bettelheim (1987:459), remete para as palavras de Despert

(1946), "a não utilização do eu é uma recusa total em se misturarem com o Mundo".

Para além da palavra «eu», Rimland (1964), ibidem , refere que essas crianças

evitam também a palavra «sim».

O «sim» ou o «eu» são conceitos que as crianças autistas levam muitos anos

para adquirir e são incapazes de os utilizar como símbolos gerais de concordância, o

que Bruno Bettelheim ao citar Rimland (1964), exemplifica, "uma criança aprendeu

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«sim» quando o pai lhe disse que a levaria de cavalinho se dissesse «sim». Então

essa palavra passou a significar apenas o desejo de ser levada aos ombros do pai"

(1987:457). O mesmo autor afirma que são necessários muitos meses para que a

criança seja capaz de separar a palavra «sim» da situação específica e muito mais

tempo ainda para que consiga utilizá-la como termo geral de afirmação.

A propósito do mesmo assunto, muitos foram os comentários de vários autores,

no entanto, foi Despert (1946), citado no estudo de Pereira, E. (1996), que diz ser

"altamente significativo" o que Kanner (1946), salienta em relação à linguagem

autistica.

Deste modo, Kanner (1946), referido por Cunha, M. I (Janeiro/Abril, 1995),

afirma estar convencido de que tal comportamento na linguagem é devido, não a um

distúrbio das relações afectivas da criança com o mundo, mas a uma lesão cerebral

orgânica. A sua dedução baseia-se no facto destas crianças decorarem

espontaneamente listas de canções e outros factos com grande facilidade.

Rimland (1964), apontado no estudo de Bettelheim (1987), ignora o facto

destas crianças dizerem "não" muito mais precocemente, comparado com o "sim".,

mas Bettelheim, no estudo acima referido, afirma que "se a dificuldade na

aprendizagem fosse organicamente determinada , seria tão difícil aprender «sim»

como a palavra «não», contudo a utilização mais pronta do «não», comparada com

o «sim», é um indício de negativismo extremo e deliberado" (1987:457).

Kanner (1944), esteve prestes a reconhecer que o que não estava ao alcance

dessas crianças seria a afirmação mas, no entanto, eram muito rápidas para utilizar

a negação.

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Pichon, nos seus estudos e citado por Bettelheim (1987), comenta que a

apetência pela linguagem manifestava-se em latentes muito antes desta se constituir

e de se formarem frases na sua forma rudimentar. Com efeito, pode-se dizer, que

precede as primeiras formas fonéticas e representa o primeiro estádio da fala como

meio de comunicação. "Essa apetência pela linguagem está manifestamente

ausente na criança autista e na esquizofrénica, mesmo quando, por coincidência, as

crianças tenham adquirido um vocabulário extremamente vasto" (ibidem:459).

No aspecto particular da ecolalia ( repetições em eco, palavras soltas, frases

ou expressões ouvidas no passado), esta faz parte normal da aquisição da

linguagem na criança autista. A ecolalia deve ser entendida como um acto de fala

que deve ser sempre estimulado e por isso se considera uma estratégia para a

criança manter o contacto social.

A ecolalia pode definir-se em dois tipos como nos afirma Pereira, Edgar (1996):

1. Ecolalia evolutiva ( a criança só repete o que não entende mas que

posteriormente virá a aprender)

2. Ecolalia selectiva (ajusta-se às regras que a criança sabe usar).

No que diz respeito ao comportamento motor, conforme o ponto quatro, os

distúrbios autísticos desafiam sua descrição em termos neurológicos clássicos e

tanto o girar objectos como o tapar os ouvidos com os dedos, podem parecer

prenúncio da sua «loucura».

No que se refere aos «movimentos giratórios»estes são característicos e

específicos do síndroma, sendo individuais e únicos para cada criança.

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Uma criança usa fundamentalmente, um único movimento com os dedos.

Quase todas as crianças autistas dão pancadinhas com os dedos e giram-nos mas,

cada uma à sua maneira, como nos refere Andersen, F. e chamando-lhe "dança

interactiva"(1996:15). A mesma autora assinala que muitas dessas crianças usam

um objecto que tem um significado pessoal associando-o ao movimento.

O girar dos dedos surge como sintoma da patologia ao qual, provavelmente, se

deveria acrescentar o balanço, o rolar e o bater com a cabeça. Sobre esse

movimento particular, o movimento giratório, Bettelheim, acentua: "Entre suas

possibilidades de utilização, poucas dúvidas temos de que a criança cria uma «teia

de sonho», na qual projecta uma «realidade privada»" (1967:182). É pois importante,

não interferir no girar dos dedos da criança, visto representar a sua capacidade

máxima para abordar a realidade. A criança deve ser ajudada e estimulada a

progredir, como mais tarde, encorajada a girar objectos reais.

Esses sintomas, segundo o mesmo autor, representam realizações

espontâneas da criança, a realização do seu Ego. Deve-se pois, respeitar a criança

tal como ela é e o seu esforço, porque se a obrigarmos a desistir desses

comportamentos, estamos a negar-lhe a sua evolução.

Muitas dúvidas poderão ser levantadas sobre estes comportamentos. No

entanto hoje, tudo o que se sabe, deve-se a muitos colaboradores que com o seu

conhecimento em várias áreas de actuação, nos deixaram descrições válidas e

insuperáveis do Autismo infantil e que passamos a descrever.

1.3.1. O conceito segundo Kanner

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Bettelheim (1987), descreve, no seu estudo que, antes de Kanner atribuir um

nome à doença, já Haslam (1809), tinha relatado o caso de um menino autista que

em 1799 tinha entrado para o asilo Bethelehem sendo este o primeiro caso

conhecido até à data.

No mesmo estudo Bettelheim acrescenta que, em 1921, uma criança autista de

quatro anos foi estudada no mesmo hospital, por John Hopkins, do qual, cerca de

vinte anos mais tarde, seria emitida a primeira descrição de Kanner sobre o Autismo

Infantil. Este autor, descrevia essas crianças como vivendo "fora do Mundo" num

extremo alheamento, já no início das suas vidas, não respondendo a estímulos

externos, mas mantendo uma relação inteligente com os objectos, que no entanto,

não alteravam o seu isolamento.

Kanner (1943), citado por Pennington (1997), no seu ensaio original que se

baseava num estudo de onze casos de crianças autistas, descreveu, sob o nome de

«Distúrbios Autísticos inato contacto afectivo», um quadro que ele caracterizou por

«Autismo extremo, obsessividade, estereotipias e ecolália» relacionando-o com

fenómenos da linha esquizofrénica.

Segundo Kanner, o alheamento na concepção do Autismo Infantil é de extrema

importância, uma vez que remonta à própria origem do termo e actualmente, envolve

as duas teorias existentes na compreensão do fenómeno.

Em 1949, o autor passou a referir-se ao quadro com o nome de «Autismo

Infantil Precoce», descrevendo-o a partir de uma dificuldade profunda no contacto

com as pessoas; um desejo obsessivo de preservar as coisas e as situações, como

a ligação aos objectos; a presença de uma fisionomia inteligente e alterações de

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linguagem que se estendiam do mutismo a uma linguagem sem função

comunicativa.

Aqui Kanner cita a palavra «síndroma» pela primeira vez, que é aceite como

um padrão psicopatológico com possibilidade de diagnóstico.

São então estabelecidos os seguintes critérios sobre o síndroma:

- Autismo Infantil Precoce é um síndroma bem definido passível de ser

observado com pequenas dificuldades no decurso dos dois primeiros anos

de vida da criança;

- Sua natureza básica é intimamente relacionada com a Esquizofrenia

Infantil;

- Autismo Infantil poderia ser uma manifestação precoce da Esquizofrenia

Infantil.

Kanner (1954), conforme Schwartzman et al (1995), considera então o Autismo

Infantil como uma psicose, referindo que os exames físicos e laboratoriais falharam

quanto a fornecer dados consistentes sobre as bases constitucionais do Autismo e

acrescenta a pobreza de quadros psicóticos em seus familiares.

Sobre este assunto, Kanner, ibidem, especulou abertamente sobre a

possibilidade do comportamento relacional dos pais poderem contribuir para o

desenvolvimento do distúrbio nos filhos, como resultado de um ambiente

psicossocial confuso ,complexo e nocivo. Utiliza então um termo que se tornou

importante o de «refrigeração emocional».

Segundo Schwartzman et al (1995), Kanner continuou a analisar a temática e

em 1955, considerou de fundamental importância o facto do Autismo ser

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considerado síndroma primário, o que permitia que este pudesse ser diferenciado

dos outros quadros, como por exemplo da afasia sensorial congénita ou demência

de Heller. No entanto referia divergências em relação à nosologia ou seja, à

classificação da mesma, não estando totalmente de acordo com Van Keevelen, para

quem o Autismo representava uma "Oligofrenia com déficit afectivo", já para Heller, o

Autismo é tal como refere Kanner uma «verdadeira Psicose».

Frith, U. (1989), descreve que, Kanner (1956), continua com os seus estudos e

considera o Autismo Infantil como um síndroma com história, início e curso clínico

distintos da Esquizofrenia Infantil, sendo o grau de isolamento de extrema

importância no estabelecimento de um prognóstico. Considera também que o

Autismo Infantil é um problema psicológico, frisando a necessidade de estudos

decisivos para a compreensão do fenómeno a nível biológico, psicológico e social.

Kanner (1968), continua referindo as falhas de se procurarem evidências

neurológicas para o síndroma e a importância de um diagnóstico diferencial da

patologia em relação a deficientes mentais e afásicos.

Poder-se-á dizer que após vários estudos de autores como Ajuriaguerra (1973),

Creack (1969), e Clancy (1969), mantém as características descritas por Kanner,

considerando o Autismo como um quadro típico sem relação com outras patologias

específicas.

1.3.2. O conceito segundo Asperger

Outro investigador, Asperger, referenciado por Gillberg (1985),sensivelmente

na mesma altura que Kanner faz referência a um grupo de crianças mais velhas e

adolescentes, que interagiam socialmente de forma inadequada, apresentando

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linguagem mas, recorriam a ela essencialmente na forma de monólogos e por

interesses pessoais, possuindo ao mesmo tempo fraca coordenação motora.

Também se observava que estas crianças tinham uma inteligência normal ou

superior à média. No entanto, demonstravam dificuldades específicas de

aprendizagem.

Shopher (1985), referenciado por Navarro (1998), salienta que Kanner e

Asperger sugeriram, entre 1943/1944, independentemente um do outro, a existência

de uma «perturbação de contacto» de natureza sócioafectiva. Pela coincidência das

observações e resultados das investigações paralelas ambos escolheram o mesmo

nome para a perturbação que descreveram nos seus registos

Segundo Reis, S. (1998), estes investigadores, embora coincidissem neste

aspecto, as designações efectuadas por Asperger revelam-se bem diferentes das de

Kanner a vários níveis. Enquanto que para este último nenhum caso que estudou

falava ou usava linguagem para comunicar, os estudos de Asperger referem

pacientes que falavam com uma certa fluência.

Kanner e Asperger citados por Pennington (1997), diferenciavam as suas

teorias também ao nível das capacidades motoras e de coordenação. O primeiro

afirmava que as crianças eram capazes de uma coordenação da sua motricidade

fina, o segundo, não acredita nas capacidades de coordenação e motricidade das

crianças com autismo.

Outra área de desacordo foi, em relação à capacidade destas crianças

aprenderem. Kanner considerava que, as crianças aprendiam mais facilmente a

partir de rotinas e mecanizações, ao que Asperger referia que os seus pacientes

aprendiam melhor se produzissem espontaneamente.

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Tanto o Autismo como o síndroma de Asperger são distúrbios evolutivos raros,

nos quais o principal sintoma é um déficit severo no contacto social que surge cedo

na vida e persiste na idade adulta. Enquanto pelo menos dois terços das amostras

autísticas são mentalmente retardados, a maioria dos casos relatados do síndroma

de Asperger não apresenta Q.I.s retardados.

As estimativas de incidência no caso do Autismo situam-se em torno de dois a

cinco casos para cada dez mil. A sua relação com o sexo Masculino/Feminino é de,

aproximadamente de 3:1 como confirmam Smalley, Asarnow & Spence (1988),

apontados por Pennington (1997). Esta diferença segundo o sexo mostra-se

confiável e pode ser de utilidade no que respeita a mecanismos etiológicos.

Há notícia de que dois estudos epidemiológicos do síndroma de Asperger,

como o de Wing (1981), citado por Tustin (1990), que relata uma incidência de 1,7

por dez mil, apoiado numa amostra de todas as crianças com problemas mentais e

físicos em uma área de Londres, mas realça que este índice é uma estimativa baixa

porque exclui casos mais benignos de Asperger que não chamaram a atenção

clínica.

O síndroma de Asperger é normalmente referido como um Autismo clássico

com menor gravidade, no entanto, é de consenso geral que as pessoas afectadas

por este síndroma fazem parte do espectro do Autismo (Autismo, síndroma de

Asperger, Http.//www.brasil-global.com /iew/ Autismo.html: 2000),.

Na perspectiva de Mykernan, T. & Morthlock, J. (1995), tais indivíduos estão

mais capacitados para comunicar em virtude das suas capacidades linguísticas mas,

todavia, sofrem também de problemas de comunicação e de inadaptação social

como as outras pessoas com problemas do espectro autista. É de salientar que

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apesar de possuírem uma inteligência normal ou superior, apresentavam

dificuldades específicas de aprendizagem.

De facto, como nos indica Frith (1989), referenciado por LeLord (1998),

pessoas com síndroma de Asperger são normalmente notadas pelos seus

interesses estranhos e circunscritos. Estes interesses constituirão, muitas vezes, os

seus únicos temas de conversa e insistirão em falar acerca deles,

independentemente da outra pessoa se interessar ou já tiver ouvido tudo

anteriormente. No entanto, segundo Mykernan & Morthlock (1995), têm focos de

interesse que conduzem muitas vezes a resultados notáveis, inteligência acima da

média e muito verbais, têm memorizações extraordinárias, salientando-se proezas

na Matemática, mostrando em contrapartida grande dificuldade no desenvolvimento

de actividades sociais ou de cooperação.

O síndroma de Asperger não foi alvo de grande atenção até à análise clínica do

Distúrbio feita por Lorna Wing (1996), e só muito recentemente em 1994, o D.S.M.

IV, reconhecem este síndroma como um distúrbio específico.

"Actualmente diz-se que, os portadores do síndroma de Asperger, apresentam

um Q.I. médio ou acima da média…Conhece-se casos de pessoas com este

distúrbio que concluíram o curso universitário, como o caso de Temple Gradin,

que se destacou pelos seus trabalhos na área da Ciência dos animais" (Autismo,

síndroma de Asperger, Http.//www.brasil-global.com /iew/ Autismo.html: 2000),.

1.3.3. O conceito segundo outros autores

Em 1966, o Grupo Para Avanço de Psiquiatria (GAP, 1990), apontado por

Schartzman et al (1995), define psicoses de primeira e da segunda infância. O

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Autismo infantil é colocado entre as primeiras e considerado problema primário que

deve ser diferenciado das formas secundárias seguidas a dano cerebral ou

retardamento mental. Assim se define para esta patologia, de forma clara, a ideia de

psicose na infância e, principalmente, o conceito de quadro autónomo, não

relacionado a outras patologias específicas.

Em 1967, baseado em conceitos da escola inglesa O'Gorman, citado ibidem,

organiza critérios de diagnóstico para o Autismo, caracterizados da seguinte forma:

• Retracção ou fracasso frente à realidade; dificuldades no relacionamento

com pessoas;

• Sério retardo intelectual com ilhotas de normalidade ou habilidades

especiais;

• Dificuldades na aquisição da fala ou na manutenção da já aprendida;

• Respostas pouco normais a estímulos sensoriais (sons);

• Distúrbios do movimento (incluindo tiques);

• Resistência psicológica à mudança.

Com base na escala de Creack, novos critérios de diagnóstico são formulados

por Clancy, Dougall & Rendle-short referenciados por Greenspan (1998):

• Grande resistência em agrupar-se;

• Age com se fosse surdo;

• Resistência a situações novas;

• Ausência de medo frente a perigos reais;

• Resistência a novas aprendizagens;

• Indicação das suas necessidades através de gestos;

• Ri sem motivo aparente;

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• Não abraça com afectividade;

• Hiperactividade acentuada;

• Evita olhar de frente;

• Roda ou vira objectos incansavelmente;

• Afecto especial a objectos especiais;

• Jogos de forma repetitiva;

• Comportamento indiferente, isolado, retraído, pouco participativo.

Rulter (1972), conforme pennington (1997), confirma o Autismo como sendo

uma perturbação absolutamente distinta, fornecendo em 1978 um modelo

importante para o diagnóstico ao incluir as seguintes características:

• Manifestações comportamentais até aos trinta meses;

• Desenvolvimento social e comunicativo perturbado, não apenas como

resultado de um atraso mental associado, mas também por outros

défices;

• Resistência às mudanças;

• Movimentos estereotipados

Na mesma linha, encontramos Francis Tustin (1986), que classifica o Autismo

em quatro tipos:

1/2 - Autismo primário Normal/Anormal

- Autismo Primário Normal (caracterizado como um estado natural, em que a

criança desde cedo não reconhece as características fundamentais dos

objectos externos);

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- Autismo Primário Anormal (consiste num prolongamento anormal do

Autismo, tendo como responsáveis os seguintes factores: ausência de

condições básicas essenciais para o desenvolvimento equilibrado da

criança autista; impedimentos intrínsecos à criança, mostrando lacunas na

estimulação sensorial, possivelmente devido a défices a esse nível; não

mantém a interacção iniciada com o adulto)

3 - Autismo Secundário em Carapaça (sobressai a resistência à mudança);

utilização de objectos «autísticos»; manifestam-se indiferentes quando se separam

das suas mães; ausência de contacto físico e olhar directo com as pessoas; ao nível

da comunicação, a utilização da ecolalia e/ou mutismo; gradualmente fecham-se em

si mesmo (isolam-se).

4- Autismo regressivo (esta patologia traduz uma repressão após um

período no desenvolvimento normal da criança. O autor salienta que esta regressão

poderá estar associada a diversos factores, nomeadamente, ao nascimento de um

irmão ou ao ingresso na escola. As crianças que apresentam este tipo de autismo

apresentam:

- Uso compulsivamente de objectos transitivos, agarrando-se a eles de forma

obsessiva;

- Manifestam, da mesma forma, o mesmo comportamento com as suas

mães;

- A sua postura (corpo) é desajeitada;

- A distinção que faz entre objectos e pessoas é confusa;

- A sua linguagem é confusa, pobre e sem sentido).

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Ajuriaguerra (1980), no seu célebre tratado, enquadra o Autismo dentro das

psicoses infantis caracterizadas como sendo um transtorno da personalidade

dependente de uma desordem da organização do «Eu» e da relação da criança com

o seu quotidiano. Partindo desta perspectiva, ele elabora uma listagem de

características, que se mantêm iguais às inicialmente descritas por Kanner,

caracterizando-o como um quadro típico sem relação com outras patologias

específicas.

Em 1976 ,surge o autor Ritvo citado por Schwatzman et al (1995),que publica

um livro sobre o Autismo e nele observa-se uma mudança radical no pensamento

sobre o Autismo. Neste livro, fala-se em problemas de desenvolvimento, afirmando

que muitos estudos já referiam as crianças autistas como possuidoras de déficits

cognitivos. A caracterização da patologia será então definida de acordo com a idade

de aparecimento (já no nascimento) e por suas características comportamentais. O

diagnóstico proposto por Ritvo já refere doenças específicas que podem ocorrer em

associação com o autismo, resultando que o síndroma autista seria decorrente de

uma patologia de Sistema Nervoso Central específica.

Na mesma altura Coleman (1976), focado por Carson, Galfinker & Weller

(1992), marca uma posição importante ao frisar que investigadores que vêem o

autismo como uma doença orgânica tinham identificado um grande número de

entidades clínicas que produziam na criança sintomas autistas.

A escola francesa, segundo Hoozel (1991), apontado por Schwatzman et al

(1995), enquadra o Autismo dentro da concepção do que foi o termo psicose, por

considerar existir um "defeito" de organização ou mesmo uma desorganização da

personalidade e classifica o Autismo da mesma forma que em 1990 a C.I.D.

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(Classificação Internacional de Doenças mentais) vindo a confirmar-se em 1993 com

a C.I.D.-10 (10ª Classificação Internacional de Doenças mentais). Assim, seguindo

os mesmos padrões descritos anteriormente, inclui o autismo na categoria

«Transtornos Invasivos de Desenvolvimento» que se caracterizam por factores de

interacção social recíproca, nos padrões de comunicação por actividades restritas,

repetitivas e estereotipadas.

Mais tarde C.I.D.-10 exclui alguns quadros que poderiam ser incluídos dentro

do mesmo diagnóstico como o síndroma de Rett e síndroma de Asperger.

1.3.4. Visão Actual

Hoje, e segundo a perspectiva de Gillberg (1990), citado por Schwatzman et al

(1995), poder-se-á considerar que o autismo é um síndroma comportamental com

etiologias múltiplas e curso de um distúrbio de desenvolvimento, caracterizado por

um déficit na interacção social, combinado com déficits de linguagem e alterações

de comportamento.

No D.S.M. - III R.(Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, 1989)

no estudo de Schwatzman et al (1995), é descrito como um quadro iniciado antes

dos três anos de idade com prevalência de quatro a cinco crianças em cada 10000,

com predominância em indivíduos de sexo masculino.

Em 1989 Wing, abordado por Pereira, Edgar (1996), apresenta também uma

noção de autismo com um espectro sintomatológico, dependente do comportamento

cognitivo. Essa abordagem reforça a tendência de abordar o autismo, não como

uma entidade única, mas sim como fazendo parte de um grupo de doenças, embora

implicitamente relacione, de forma primária, a noção de autismo a déficits cognitivos.

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Da consulta bibliográfica efectuada foram encontradas várias teorias que

procuram explicar o problema da etiologia ou causa do quadro clínico do Autismo: as

Teorias Psicogenéticas, as Teorias Biológicas e as Teorias Cognitivas que

passaremos, mais à frente, a descrever. Acrescente-se duas teorias, consideradas

das mais actuais, que mereceram o esclarecimento do fenómeno no ponto de vista

do diagnóstico: a Teoria Afectiva e a Teoria Cognitiva.

- Teoria Afectiva- Originalmente proposta por Kanner (1943), citado por

Pennington (1998), que mereceu no decorrer do tempo várias versões como

a de Hobson citado por Baron-Cohen (1988). Este considera que as

crianças Autistas têm déficit nas relações pessoais que envolvem afectos

que por sua vez se vão reflectir na constituição do seu mundo e na relação

que estabelece com os outros. Acrescenta também um déficit relativo no

reconhecimento dos outros como pessoas, considerando-as meros objectos

e um défice severo na capacidade de simbolizar.

- Teoria Cognitiva- Contrapondo-se à teoria afectiva e com base nos

postulados da Teoria da mente, Baron-Cohen (1989), e Frith (1989),

propõem que, no autismo, a capacidade de representações primárias e

secundárias está alterada o que implica alteração nos padrões pragmáticos

do autista.

Desta maneira e numa visão actual torna-se de extrema dificuldade a

construção do diagnóstico de autismo, uma vez que conforme foi dito, ele engloba

um grande número de patologias diferentes, bem como uma vasta concepção

teórica de grande influência.

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1.4 PERSPECTIVA SOBRE A ETIOLOGIA DO AUTISMO

A questão do Autismo Infantil apresenta grandes dificuldades e é passível de

controvérsias, uma vez que engloba, dentro dos actuais conceitos, uma gama

bastante variada de doenças com diferentes quadros clínicos tendo como factor

comum o síndroma Autístico. É uma questão complexa, controversa e sempre

incompleta, porque se entrecruzam aspectos de várias naturezas.

Apesar de diversos autores terem contribuído para a definição de Autismo,

existe ainda uma indefinição quanto à sua etiologia, embora se pense que o Autismo

Infantil se trata de uma desordem biológica manifestada por sintomas psiquiátricos

em crianças.

Jordan (1997), no seu estudo, refere que as perturbações do Espectro do

Autismo são definidas e diagnosticadas, em termos médicos, a partir do padrão dos

seus comportamentos característicos, mesmo que não exista qualquer

comportamento que, só por si, indique inequivocamente uma perturbação deste

espectro. Assim, possui anormalidades qualitativas no que respeita a interacções

sociais recíprocas e quanto a padrões de comunicação, ao que se junta um

repertório de interesses e de actividades restrito, estereotipado e repetitivo.

Assim, com base nos aspectos comportamentais, podem ser diagnosticados e

codificados separadamente categorias que fazem parte do espectro do Autismo com

base nos dados de Schwartzman, et al (1995)

1. Autismo Infantil

2. Autismo Atípico

3. Síndroma de Rett

4. Outros transtornos desintegrativos da Infância

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5. Transtorno de Hiperactividade, associado a retardo mental e

movimentos estereotipados

6. Síndroma de Asperger

7. Outros Transtornos Invasivos do desenvolvimento

8. Transtorno Invasivo do Desenvolvimento não especificado.

A American Psychiatric Association (1996), conforme Schwartzman et al

(1995), aponta no sentido das perturbações do Espectro do Autismo abrangerem

uma variedade de categorias diagnosticas, como o Síndroma de Asperger, o

Autismo Infantil e o Autismo Atípico, incluindo também a Perturbação Desintegrativa

da Segunda Infância e o Síndroma de Rett.

Na bibliografia consultada só foi possível caracterizar de uma forma mais

precisa os seguintes:

O Autismo Atípico "é diagnosticado quando não são preenchidos os critérios

do autismo de Kanner, devido a uma idade de início mais tardia, uma sintomatologia

atípica ou muito sublime, ou por todos estes factores em comum", (Melo,

A.,1998:13)."

Síndroma de Rett "Etiologia desconhecida", descrita em 1966 por Rett e como

se referem Schwartzman et al (1995), que pode ser

"diagnosticada entre os seis e os dezoito meses, com um quadro clínico

com baixos padrões de comunicabilidade, uso das mãos e de movimentos

estereotipados em período de desenvolvimento normal que gradativamente

verifica-se uma desaceleração do crescimento cefálico, anomalias de marcha,

convulsões, disfunção respiratória, escoliose, o nível mental e a linguagem serão

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também bastante comprometidos… Este síndroma ocorre exclusivamente em

crianças do sexo feminino" (Schwartzamn, Assumpção Júnior & al, 1995:129).

Síndroma de Asperger

"Etiologia descrita por Asperger em 1944 sob a designação de psicopatia

autística e sem possibilidade de diagnóstico antes dos três anos de idade,

caracterizado por déficit na sociabilidade com comportamentos inadequados e

rotinas estereotipadas e de difícil mudança, interesses circunscritos,

desenvolvimento de padrões gramaticais elaborados precocemente. Problemas

de compreensão e de comunicação não verbal , inteligência normal ou próxima

do normal." (Schwartzamn, Assumpção Júnior & al, 1995:128).

Apesar de diversos autores terem contribuído para a definição do Autismo,

existe ainda uma indefinição quanto à sua etiologia, embora se pense que o Autismo

Infantil se trata de uma desordem biológica manifestada por sintomas psiquiátricos

em crianças.

No caso do Síndroma de Asperger, tanto Wing (1981), como Gillberg,

Steffenbury & Jakobson (1987), e conforme Pennington (1997), relatam algumas

provas de vinculação familiar no que respeita aos traços da personalidade nas

crianças com Síndroma de Asperger. Gillberg (1985), nomeou um caso de Síndroma

de Asperger que apresentava aspectos depressivos cíclicos, nos quais podia-se

verificar uma predominante história familiar de enfermidade maníaco-depressiva.

É certo que as pesquisas feitas sobre a etiologia do síndroma de Asperger,

precisavam de mais esclarecimento a fim de se validar o síndroma. No entanto, um

facto importante nas taxas dos traços de personalidade de Asperger é a doença

Bipolar em famílias autistas. A doença Bipolar, é uma psicose maníaco-depressiva,

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que oscila entre dois pólos: a mania e a depressão. De Long & Dwyer (1988),

segundo Pennington (1997), verificaram que parentes em primeiro e segundo grau

de sujeitos autistas tinham taxas de 4,2% para doença Bipolar e 2,0% para

Síndroma de Asperger, taxas que, segundo os autores, em ambos os casos, são

consideravelmente mais elevadas do que as da população.

" A associação com o síndroma de Asperger foi muito maior nos parentes

de sujeitos autistas não retardados, enquanto as taxas da doença bipolar não se

mostraram significativamente diferentes. Em relação a sujeitos retardados versus

não retardados, 79% dos quais foram diagnosticados como Asperger"

(Pennington, P.H.D.,1987:147).

Assim, os resultados aqui mencionados confirmam a argumentação de que o

Autismo não retardado e Asperger são em boa parte equivalentes e ligados à

família.

Sobre o assunto, Plomin (1986), refere no estudo atrás citado, que "factores

genéticos como ambientais têm sido mencionados,…, e parece possível que um

efeito aditivo genótipo-ambiente se encontre envolvido na etiologia do Autismo"

(1997:148).

Smalley et al (1987), fizeram uma revisão recente das provas disponíveis

quanto à familiaridade do Autismo e encontraram uma taxa em irmãos de 2,9% que

é 50 a 100 vezes a taxa de incidência na população em geral o que indica

claramente familiaridade. Rutter e seus colegas (1990), conforme Pennigton (1997),

confirmam terem encontrado também uma taxa bastante semelhante, de 3% entre

irmãos.

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Numa perspectiva dos seguidores de Kanner admitiu-se como origem do

autismo uma perturbação afectiva precoce e primitiva que resultava nas

perturbações apresentadas normalmente e a nível cognitivo pelo quadro do Autismo.

Esta teoria é defendida por Rutter (1985), (ibidem), que considera existir uma

componente cognitiva e outra afectiva.

Por sua vez Luong, C. (1986), aceita a coexistência precoce de sintomas de

caracter afectivo, relacional e cognitivo, o que torna difícil realizar uma distinção

objectiva e clara.

Também vários autores admitem uma etiologia orgânica para o Autismo.

Segundo Loung, C. (1986), sem descurar a ideia da coexistência de factores

afectivos e cognitivos, consideraram-se outras hipóteses importantes dentro da

investigação organicista. Na perspectiva de Ritvo (1983), citado por Navarro (1995),

existem factores que vão afectar o cérebro do feto, do bebé ou da criança e

provocam alterações da estrutura do cérebro ou uma disfunção bioquímica que por

sua vez vão implicar problemas de desenvolvimento e de comportamento,

característicos do Autismo.

Sobre o assunto, Simon (1990), conforme Schwartzman et al (1995), propõe as

seguintes hipóteses:

a) O distúrbio neurológico presente no autismo resulta de uma patologia

similar à vista na encefalopatia de Wernicke.

b) O grau de severidade e a variabilidade observada no quadro do Autismo

podem decorrer de um comprometimento maior ou menor dos diferentes

núcleos do tronco cerebral e do córtex cerebral, em alguns casos.

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c) A patologia do tronco cerebral descrita pode resultar de causas múltiplas

tais como erros inatos de metabolismo, infecções virais, exposições a

substâncias tóxicas ou asfixia perinatal.

Um autor que tem-se dedicado muito ao estudo neurofisiológico do Autismo é

Ornitz (1968,1979,1985), referido ibidem,. Segundo alguns dos seus trabalhos, uma

elevada percentagem das investigações bioquímicas relacionadas com o Autismo

tem andado à volta dos neurotransmissores (mediadores bioquímicos relacionados

com as contracções musculares e actividade nervosa).

Young (1982), diz-nos que a alteração do comportamento pode ser provocada

pelo excesso ou carência destes neurotransmissores, assim como o desequilíbrio

entre um par de mediadores diferentes.

Temos como facto estudado, uma substância que se produz no organismo no

decorrer da metabolização do triptófano, a serotonina que é um importante

neurotransmissor. A relação entre o nível de serotonina e o Autismo foi estudada por

Anderson e Hoshino, mencionados por Reis, S. (1998), que observaram que os

indivíduos com autismo apresentam níveis de serotonina muito elevados.

O que de facto podemos concluir com Edgar Pereira (1996), é que a temática

da etiologia do Autismo é uma questão complexa e até controversa, sempre

incompleta porque se entre cruzam factores de natureza diferente.

No início da década de setenta, surgem as primeiras teorias da causalidade do

autismo: Teorias psicogenéticas, Teorias Biológicas e Teorias Cognitivas.

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1.4.1. Teorias Psicogenéticas

Têm as suas raízes nas teorias psicoanalíticas e defendem que as crianças

autistas eram normais no momento do nascimento, mas que, devido a factores

familiares (pais frios e pouco expressivos) teriam afectado o desenvolvimento

afectivo dessas crianças, desencadeando o quadro autista.

Cantweed, Baker & Rutter (1984), referenciados por Schwartzman et al (1995),

e segundo estas teorias, agrupam os factores intervenientes na génese do autismo

em quatro grupos:

• Perturbação psiquiátrica, parental ou características de personalidade

anómala dos pais.

• Quociente Intelectual e classe social dos pais.

• Interacção anómala entre pais e filhos.

• Stress intenso e acontecimentos traumáticos numa fase precoce da vida da

criança.

Estas teorias, no entanto, não têm uma base que as sustente e são defendidas

por poucos autores. Começou-se então a pensar numa origem biológica do autismo,

fundamentada na descoberta da relação autismo/epilepsia que aumentava o seu

risco com a idade e que segundo Volkmar (1990), referenciado por Greenspan et al

(1998), a epilepsia atinge cerca de 33% em autistas adultos.

1.4.2. Teorias biológicas

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Constata-se que o déficit cognitivo tem um papel crucial na génese do autismo.

Os avanços nas técnicas de estudo do cérebro permitem um desenvolvimento

progressivo nos estudos biológicos.

Entre as teorias biológicas destacam-se:

- Teorias genéticas (síndroma do cromossoma X frágil);

- Anomalias bioquímica (esclerose tuberculosa, fenilcetonúria não tratada);

- De tipo infeccioso (rubéula, encefalite);

- Teoria da disfunção cerebral do hemisfério esquerdo;

- Teorias imunológicas

O autismo não ocorre por bloqueio ou razões emocionais, como defendem os

psicanalistas, mas " as suas causas são múltiplas "(http//www.brasil-

global.com/iew/autismo.html 2000). Tem sido estudada a sua relação com,

- Fenilcetonúria não tratada;

- Viroses durante a gestação, principalmente durante os três primeiros

meses, p.e. citomegalovírus;

- Toxoplasmose;

- Rubéola;

- Anóxia;

- Traumatismo no parto;

- Património genético;

Ultimamente pesquisas mostraram evidências de aparecimento de autismo

após a aplicação da vacina Tríplice.

1.4.3. Teorias cognitivas

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Ritvo (1976), citado por Pennington (1997), foi um dos primeiros autores a

considerar o síndroma autístico como uma desordem do desenvolvimento causada

por uma patologia do Sistema Nervoso Central. Do mesmo modo, foi também um

dos primeiros a salientar a importância dos déficits cognitivos no autismo.

Rutter (1974), ibidem , salienta que o atraso intelectual manifestado por

indivíduos com autismo não era global, mas verificava-se que diversas funções

cognitivas encontravam-se alteradas, conforme discrimina:

- Défices da abstracção, sequencialização e compreensão de regras;

- Dificuldades na compreensão da linguagem oral e utilização do gesto;

- Défices na transferência de uma actividade sensorial para outra; dificuldade

para compreender um determinado estímulo multissensorial, pelo que

perante um estímulo complexo, respondem apenas a um aspecto desse

estímulo (super selectividade de estímulos), o que arrasta grandes

dificuldades nas aprendizagens em geral,

- Dificuldade em processar e elaborar sequências temporais;

- Dificuldade para perceber as contingências dos seus comportamentos e os

dos outros,

Assim perante o fracasso cognitivo verificava-se um aumento de estereotipias e

falta de responsabilidade social.

Em 1983, Rutter, segundo Pennington (1997), levanta a hipótese de que o

facto das crianças com autismo terem dificuldade na compreensão do significado

emocional ou social dos estímulos, não seria resultado de um défice no

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processamento desses estímulos de qualquer das modalidades sensoriais, mas só

poderia ter origem num défice cognitivo.

De facto observa-se grandes dificuldades inerentes à complexidade do quadro

do Autismo e, por isso, todas estas teorias têm sido importantíssimas para a

abordagem clínica da criança autista. No entanto, a tendência actual sobre a

etiologia do Autismo, centra-se mais nas teorias afectivas e cognitivas já

mencionadas anteriormente.

Independentemente destes conhecimentos, não menos importante é que seja

feita uma intervenção precoce, de modo a permitir um prognóstico mais avalizado e

não apenas uma suspeita da presença de qualquer condição associada.

1.4.4. Diagnóstico do Autismo

"O meu desenvolvimento não é absurdo, ainda que não seja fácil de
compreender. Tem a sua própria lógica e muitas das condutas a que
chamais «alteradas» são formas de enfrentar o mundo segundo a minha
maneira especial de ser e perceber. Faz um esforço para me
compreender."

(adaptado- Angel Riviére, 1996)

Em medicina, diagnosticar é reconhecer uma patologia em um indivíduo com

uma determinada enfermidade.

No que se refere à psiquiatria infantil ele é extremamente complexo,

considerando-se que corresponde à incidência de diversas patologias em um

organismo em pleno crescimento e evolução. Assim, a sintomatologia difere de caso

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para caso, podendo afirmar-se, sem receio, não existirem dois casos totalmente

iguais.

Sobre o autismo, este é um síndroma de etiologia puramente orgânica e para a

qual existem presentemente três definições que se podem considerar como

adequadas:

A definição segundo a A.S.A. (American Society for Autism);

Segundo a Organização Mundial de Saúde contida na C.I.D.- 10 (10ª

classificação Internacional de Doenças), em 1991;

Segundo a D.S.M. IV (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders),

da Associação Americana de Psiquiatria.(http://www.brasil-global.com/iew/autismo.

html, 2000)

Quanto ao diagnóstico, os seus sintomas causados por disfunções físicas do

cérebro são verificados pela anamnese ou presentes no exame ou entrevista com a

pessoa em causa.

Segundo Bruno Bettelheim (1987), a problemática incide mais no sexo

masculino e o seu diagnóstico só muito raramente é feito antes dos dois anos de

idade. No entanto, pode-se constatar que há alterações, sendo as mais importantes

relacionadas com a alimentação. De facto, as crianças têm dificuldade em se

alimentarem devido a movimentos deficientes na deglutição. Essa sintomatologia

melhora, ou mesmo desaparece entre os três e os quatro meses de idade.

Outros factores a considerar são o facto dos bebés autistas serem

normalmente calmos, mesmo com necessidade de alimentação, outros pelo

contrário, são difíceis, com hábitos irregulares de alimentação e de sono, com

períodos de choro incontrolável. O mesmo acontece com a sua postura corporal,

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pois se uns têm quase sempre o seu corpo rígido, outros mantêm-se no colo das

mães molemente, não reagindo ao carinho.

De acordo com as observações de Rutter (1978), alguns bebés parecem

afastar-se de estímulos como, por exemplo, o seio da mãe, numa reacção que

parece de rejeição, que Rutter explica ser uma "incapacidade inata" das crianças

autistas para responder aos cuidados e aos comportamentos dos seus pais. O

mesmo autor salienta uma alegada falta de resposta antecipatória ao ser tomado ao

colo.

Estes aspectos são confirmados por Riviere (1996), que observa também

nesses bebés medo anormal a pessoas e lugares estranhos e uma tendência

progressiva para evitar ou ignorar as pessoas

Com um ano e meio, a criança com esta patologia não se interessa pelos

objectos ou pelos brinquedos, e como assinala Wing, (1982), a sua exploração é

limitada sendo quase sempre os mesmos e utilizados de forma repetitiva.

Piaget (1954), citado por Bettelheim, B. (1987:478), refere "só quando a criança

consegue acreditar na permanência do objecto é que é bem sucedida na

organização do espaço, tempo e causalidade". Para a criança autista os objectos

apenas existem quando ele os vê ou quando se encontram facilmente ao seu

alcance e no seu lugar habitual. Eles deixam de existir quando mudam de lugar

(deixam de estar na sua órbita familiar).

Inicia-se também neste período o hábito de se balançarem, de baterem

ritmicamente com a cabeça na parede ou mesmo, arranharem superfícies ásperas.

Não choram, gritam mas sem lágrimas.

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É depois aos dois anos que o síndroma se estabelece, e é importante repetir

que antes da elaboração do D.S.M. II (1980), o Autismo não tinha um estatuto de

diagnóstico oficial, e só com o D.S.M. IV o distúrbio passa a ser classificado como "

perturbação pervasiva do desenvolvimento ", tendo passado por várias alterações do

sistema de diagnóstico como podemos observar no quadro 1.

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Quadro 1 - Sistema de diagnóstico do autismo

D.S.M. III (1980) D.S.M. -III- R(1987) D.S.M. IV (1994)

NOME DA DESORDEM

Autismo Infantil Distúrbio autista Distúrbio Autista


Início antes dos Três meses Início durante a 1ª ou 2ª infância Início antes dos três anos e
atraso ou Funcionamento
Anormal de pelo menos um
dos aspectos:
Interacção social,
Linguagem Comunicativa e
Jogo simbólico

COMPORTAMENTO SOCIAL

Ausência penetrante de Alteração qualitativa na Alteração qualitativa na


respostas para outra pessoa interacção social (5 critérios Interacção social
de exclusãomútua) (pelo menos 1 a 4 critérios)

LINGUAGEM E COMUNICAÇÃO

Grandes défices no desen- Alteração qualitativa na Alterações qualitativas na


volvimento da linguagem. comunicação verbal ou Comunicação
Fala, se presente, com não verbal e no jogo (pelo menos de 1 a 4
padrões peculiares simbólico critérios possíveis)

ACTIVIDADES E INTERESSES

Respostas bizarras a vários Repertório de actividades e Padrões de comportamento


aspectos do meio interesses marcadamente interesses e actividades
restrito repetitivos e estereotipados
(pelo menos 1 a 4critérios
possíveis)

CRITÉRIOS DE EXCLUSÃO

Ausência de delírios, Nada estabelecido Síndroma de Rett


Alucinações, imprecisão de Patologia Desintegrativa da
associação e incoerência como Infância
na esquizofrenia Síndroma de Asperger

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Extraído e adaptado de Trevarthen et al. (1996)

Segundo Bishop, D. (1989), o autismo não corresponde a uma única doença

mas sim a um complexo de síndromas das diversas etiologias. De uma grande

importância foi a definição de fronteiras entre o autismo e as perturbações a ele

relacionadas.

1.4.4.1 Autismo défice cognitivo ou doença Psiquiátrica?

Housel (1991), não dando resposta à questão põe a hipótese de um defeito de

organização ou uma desorganização de personalidade, construindo-se portanto num

"Distúrbio maciço do sentido da realidade". Esta concepção foi importante como

factor evolutivo no estudo da patologia, no entanto, a inclusão do autismo como

doença psiquiátrica ficou apenas como uma questão, perspectivando futuros

estudos e precisões diagnosticas.

1.4.4.2 Condições médicas associadas ao síndroma.

Nos estudos efectuados por Schwartzman et al (1995), a lista das condições

em que já foram registados casos de associação com o Autismo Infantil é muito

extensa. Podemos, sem dúvida, aceitar a eventualidade de tais associações, como

por exemplo, terem ocorrido por acaso; mas perante o que é descrito nos quadros 2

e 3 , a frequência com que os dois quadros estão presentes num mesmo indivíduo,

obriga-nos a aceitar a existência de algum factor comum a ambas as condições ou

que a presença de uma delas facilita o desenvolvimento da outra.

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Quadro 2 - Condições médicas associadas

ACIDOSE LÁCTICA SEQUÊNCIA DE MOEBIUS


ALBINISMO OCULOCUTÂNEO SÍNDROMA DE CORNÉLIA DE LANGE
ALTERAÇÕES DAS PURINAS SÍNDROMA DE DOWN
AMAUROSE DE LEBER SÍNDROMA FETAL ALCOÓLICA
DEFICIÊNCIAS AUDITIVAS SÍNDROMA DE GOLDENHAR
DISTROFIA DE DUCHENNE SÍNDROMA DE HURLER
EPILEPSIA SÍNDROMA DE JOUBERT
ESCLEROSE TUBEROSA SÍNDROMA DE MOON-BIEDL
FENILCETÚRIA NÃO TRATADA SÍNDROMA DE NOONAN
HIPOMELANOSE DE ITO SÍNDROMA DE RETT
HISTIDINEMIA SÍNDROMA DO X-FRÁGIL
DESORDEM MARFAN-LIKE OUTRAS CROMOSSOMOPATIAS
PROBLEMAS PRÉ E PERINATAIS SÍNDROMA DE WILLIAMS
RETARDO MENTAL SÍNDROMA DE TOURETTE

Fonte: Schwartzman et al (1995:20)

Quadro 3 - Infecções associadas com o Autismo infantil

TOXOPLASMOSE (PRÉ NATAL) RUBÉOLA (PRÉ-NATAL)


SÍFILIS (PRÉ-NATAL) CITOMEGALOVÍRUS (PRÉ-NATAL)
VARICELA (PRÉ-NATAL) HERPES SIMPLEX (PRÉ-NATAL)
CAXUMBA (PRÉ-NATAL)

Fonte: Schwartzman et al (1995:20)

Os autores deste estudo (fonte) mencionam a perspectiva defendida por

Gillberg (1990), no que se refere ao mecanismo patogenético implicado no Autismo

Infantil, admitindo pelo menos dois mecanismos dos mais importantes:

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- Um associado a inúmeras condições médicas ou condições genéticas

específicas, com lesão/disfunção cerebral.

- Outro relacionado com uma variação no funcionamento cerebral, com

défices associados à teoria da Mente.

Os mesmos autores mencionam o trabalho de Gilberg e col.(1987), numa

amostra de vinte crianças, dezassete com autismo Infantil e três com o síndroma de

Asperger, dezassete eram do sexo masculino, e todos os vinte apresentavam um

Q.I. acima de 65. As idades variavam de três a vinte e um anos. Neste estudo, foram

encontradas alterações neurobiológicas em quinze destes pacientes, conforme o

quadro 4.

Quadro 4 - Tipos de anormalidade orgânica (Gilberg et al., 1987)

FRA (x) 4/20


ESCLEROSE TUBEROSA 1/20
EPILEPSIA 2/20
ANORMALIDADES NA TOMOGRAFIA 3/18
ANORMALIDADES NO BERA 2/16
ANORMALIDADES NO EEG 3/19
SEM ANORMALIDADES DE MAIOR 5/20

Os critérios mais recentes de diagnóstico do autismo segundo o D.S.M. IV da

Associação de Psiquiatria Americana (A.P.A.) são referidos no quadro 5

Quadro 5 - Critérios de diagnóstico do Autismo segundo o D.S.M.-IV (1994)

CRITÉRIOS DE DIAGNÓSTICO DO SÍNDROMA DO AUTISMO

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É considerado um total de seis pontos ou mais, nos itens 1.2 e 3 ( com pelo menos dois pontos da
categoria 1, e um das categorias 2 e 3 ):

IMPEDIMENTOS QUALITATIVOS ACENTUADOS DA INTERACÇÃO SOCIAL,


MANIFESTADOS POR PELO MENOS, DOIS DOS SEGUINTES ITENS:

1. No uso de diversos comportamentos não verbais (Fixação visual, expressão facial, postura
corporal e gestos reguladores da interacção social);

2. No desenvolvimento de relações sociais com parceiros, adequadas ao nível de desenvolvimento;

3. Na expressão do prazer relativa á felicidade dos outros;

4. Na reciprocidade social e emocional;

IMPEDIMENTOS QUALITATIVOS DA COMUNICAÇÃO, MANIFESTADOS POR, PELO


MENOS, UM DOS SEGUINTES ITENS:

5. Atraso ou não aquisição da linguagem falada (não compensada através de outros modos de
comunicação alternativos como a mímica ou a gestual);

6. Na capacidade de iniciar ou manter uma conversação, em pessoas com linguagem adequada;

7. Uso repetitivo e estereotipado da linguagem ou uso de linguagem idiossincrática;

8. Falha no jogo social imitativo e de «faz de conta», adequados ao nível de desenvolvimento;

PADRÕES DE COMPORTAMENTO: INTERESSES E ACTIVIDADES REPETITIVOS:


RESTRITOS E ESTEREOTIPADOS; MANIFESTADOS POR, PELO MENOS, UM DOS
SEGUINTES ITENS:

9. Um ou mais padrões de interesse restritos e estereotipados, anormais tanto na intensidade, como


no objectivo;

10. Aderência aparentemente compulsiva a rituais ou a comportamentos não funcionais;

11. Maneirismos motores repetitivos e estereotipados (movimentos parciais ou globais, simples ou


complexos);

12. Persistente preocupação com partes de objectos.

13. « Um atraso ou funcionamento anormal, verificados antes do terceiro ano de vida em ,pelo
menos, uma das seguintes áreas:

14. INTERACÇÃO SOCIAL

15. LINGUAGEM TAL COMO É USADA NA COMUNICAÇÃO SOCIAL

16. JOGO IMAGINATIVO OU SIMBÓLICO

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Fonte: Adaptado da internet: http://www.brasil-global.com/iew/autismo/html 2000

O autismo é actualmente designado por "Espectro do Autismo" ou "Perturbação

Pervasiva do Desenvolvimento", que sugere o conjunto de patologias de

desenvolvimento infantil de foro idêntico, que se relacionam e têm fronteiras pouco

definidas entre si.

2. AUTISMO, FAMÍLIA E SOCIEDADE

Choveu hoje muito sobre

A minha infância

As sílabas tropeçaram no escuro

Assim o trigo

Cresceu sobre o rosto

De minha mãe

(Eugénio de Andrade)

Recentemente, com o termo "normalização", tem-se reforçado a importância do

papel social da pessoa, valorizando-a. Notari, A., citada por Peck et al (1993:17),

refere:

"Para que a pessoa com deficiência esteja efectivamente integrada, a

sociedade tem de encarar o seu papel e participação social como sendo

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socialmente válidos e terá de lhes facultar o acesso aos serviços e

oportunidades de Educação mais valorizados pela sociedade em que ela vive".

2.1 O PAPEL DOS INTERVENIENTES EDUCATIVOS NA EDUCAÇÃO DA


CRIANÇA COM ESPECTRO AUTISTA

A capacidade dos pais compreenderem os seus filhos, de os tratarem como

seres autónomos depende da relação precoce que estabeleceram com os seus

próprios pais, da forma como vivenciaram a sua infância, da imagem que criaram de

si próprios como pais.

Muitos desses pais tiveram Infâncias infelizes e vazias, chegando à idade

adulta sentindo-se rejeitados e pessoalmente incapazes ou indignos.

Segundo Rosa Araujo, M. (1999), é deste modo, que muitos dos

comportamentos são reciclados de geração para geração. Muitas das mensagens

silenciosas de alguns pais, podem ser observadas como sentimentos de medo e dor

visível nos seus olhares vagos ou de maneira "fria", enquanto ficam muito quietos,

ao observarem o ambiente que os rodeia, a ausência de choro e por vezes de

reacção até mesmo quando são abordados assuntos de certa complexidade

(dolorosos),.perante o profissional de educação, em reuniões de trabalho.

O medo da descoberta leva muitos pais a mentir e dar uma história compatível

com a natureza ou grau de problemática, ou tentaram confundir a equipa na

intervenção.

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A auto imagem influência decisivamente a percepção que as pessoas têm das

suas competências e do seu valor. Sabe-se que a presença da deficiência numa

família pode ter impacto na identidade da família e como diz Leitão (1993), referido

por Ramos (1999:41):

"Os pais das crianças e jovens com deficiência vivênciam muitas vezes,

dificuldades nos seus sentimentos de competência e de auto-estima como pais,

situação que em parte se deve ao facto de os filhos serem parceiros

comunicativamente menos competentes e menos responsivos ; proporcionando

menos experiências contingentes aos seus pais."

Constata-se que, se as actividades (família/escola/técnicos) forem

desenvolvidas em conjunto, através de programas educativos (apoio afectivo-

emocional), a deficiência não passará a ser a maior característica de identificação da

família.

Forest & Reynolds (1988), conforme Pereira, Edgar (1996), acentuam que, os

profissionais têm um grande papel, no sentido de ajudar a família a elevar o nível

das suas expectativas, quanto ao desenvolvimento global da criança

Tumbul & Tumbul (1988), ibidem, chamam a atenção para a necessidade de

profissionais e família começarem a dotar a criança com deficiência de "skills", na

área das tomadas de decisão , dando sistematicamente continuidade ao treino desta

área através de todo o programa educativo. Dizem ainda os autores que "…esta

aprendizagem e experiência dotá-la-á com «skills» que lhe permitirão tomar

decisões sobre a sua carreira educacional, transformando as suas expectativas em

realidades." (1996:42).

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Para que se verifique uma intervenção eficaz, os profissionais nunca devem

descurar,

• Como é importante termos em atenção a angústia sentida pelos pais, dar-

lhes ajuda e orientá-los.

• Ninguém quer ter um filho deficiente, todos queremos filhos saudáveis,

simpáticos e inteligentes que se saiam bem na sociedade competitiva em

que vivemos.

• A agonia dos pais é geralmente grave. No início, a sensação de culpa, de

vergonha, desespero e auto-piedade, podem ser opressivas.

• Isto pode levar à total rejeição da criança, ou à negação de que haja

qualquer coisa de errada com ela.

• O modo como os pais se ajustam a esta situação é crucial para o futuro

bem estar da criança e para toda a família.

• Por vezes, os pais que sofrem grave culpa podem aliviar a sua angústia a

tentar corrigir os erros feitos à sua criança, punindo-se, dedicando toda a

vida a uma incansável escravidão ao cuidado da criança ou podem

projectar a culpa sobre médicos, assistentes sociais e professores,

acusando-os de negligências ou erros.

Considera-se importante o papel de todos os técnicos no sentido de tentarem

que os pais aceitem a criança porque, de outro modo, a criança torna-se mais

problemática ainda, e a vida social da família é parcial ou totalmente destruída.

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É preciso que a criança seja amada e aceite como é, com as suas

incapacidades, quaisquer que elas sejam. A aceitação permitirá que a personalidade

da criança cresça no ambiente mais favorável.

Qualquer criança alcançará mais facilmente a felicidade, e uma satisfatória

função social de adulto, se crescer numa família feliz, satisfeita e unida.

Ambos os pais precisam aceitar a sua responsabilidade no cuidado dos seus

filhos. Devem lutar juntos, pai e mãe, apoiar-se mutuamente, quer nos problemas

quer nas alegrias.

A criança deficiente tem as mesmas necessidades emocionais que as outras

crianças. Ela necessita de amor, sem ser sufocada com cuidados ou ser sujeita à

supertolerância e, acima de tudo, deve ter oportunidades para realizações, auto-

controle e o direito de alcançar um lugar de adulto, independente, na sociedade.

É no grupo familiar que promovendo encontros de pais, relatos de actividades

educativas, planos e objectivos para a intervenção com a criança, o mais realistas

possíveis. Segundo John Wilei & Sons (1987), citado por Pereira, F. (1996), é

importante…

Dar aos pais uma noção realista daquilo que o seu filho poderá ser capaz de

conseguir distinguir os problemas importantes que necessitarão de intervenção, dos

menos importantes, ou que fazem simplesmente parte de um normal processo de

crescimento.

Ter acesso ao processo educativo/terapêutico desenvolvido.

Os pais devem ter acesso a grupos de pais promovidos informalmente, por

iniciativa dos técnicos ou por eles próprios.

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As boas relações entre os profissionais e as famílias promovem uma maior

participação destas na elaboração e consequente implementação de programas

educativos. Contudo, os pais sentem necessidade, não só no que diz respeito às

prioridades da criança, mas também, à planificação do seu futuro. Como nos diz

Faure (1972), citado por Pereira, F. (1996:243), "todo o ser humano é por essência

educavel". Não basta equacionar a educação de crianças deficientes, é necessário

planificar até à idade adulta ou mesmo, até à terceira idade. O mesmo autor salienta

que "para educar é necessário humanizar e para humanizar é necessário educar

tendo como máxima "o importante é sentir". (ibidem:243 ).

2.1.1. O papel do profissional de Saúde.

Desde a concepção da criança que a presença de um profissional de saúde se

torna imprescindível. Primeiro para garantir e zelar a sua recepção. Depois,

intervindo e incentivando o aleitamento materno que deverá ser rodeado de todo o

conforto, bem estar e carinho.

É de particular importância toda esta envolvência onde se dá a vinculação dos

laços afectivos mãe-bebé: o momento de prazer, do bem estar, da constituição do

Eu e do Tu, promovendo-se assim a auto-estima da criança que, desta forma se

sente amada.

Segundo o doutor Gomes Pedro, a aquisição da auto-estima e de sentido de

competência é algo de muito importante em determinados períodos sensíveis do

desenvolvimento, em todas as crianças, desde que haja satisfação das

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necessidades da criança nesses períodos críticos e sensíveis. Ainda este autor

acentua que o bem estar , a solidariedade, o contacto precoce, o sentido de

competência dos pais, são factores determinantes de resiliência da criança que se

revelam logo cedo, como o primeiro paradigma de visão dinâmica do ciclo da vida.

A criança precisa da experiência dos pais que a ajudarão a construir a

confiança em si própria. Mais tarde, na escola e através de técnicos lhe serão

ministrados os conhecimentos adequados a esta fase de aprendizagem. É pois

necessário, uma grande articulação e comunicação entre os profissionais, entre a

escola e a família e técnicos de saúde, para detectarem sinais de alerta e situações

de risco que possam ocorrer, deixando transparecer condições sócio-económicas e

afectivas menos propícias à aprendizagem.

Cabe a todos os intervenientes no processo educativo, em equipa, ajudar a

promover e desenvolver uma acção dinâmica, no sentido de englobar todos os que

participam na vida da criança, num projecto comum que é o seu bem estar.

É, no entanto, impensável falar na criança e nos seus equilíbrios , sem falar da

família e do contexto escolar onde a criança está inserida. Como afirma Bergé,

(1990:71), " tudo começa antes da criança nascer", e é numa fase precoce que todo

o processo clinico e emocional deverá começar.

Deve-se considerar que a escola constitui hoje um novo marco na vida da

criança, que a todos cabe transformar, de modo que ela possa reunir todas as

possibilidades para o seu desenvolvimento psíquico. Deve-se também pensar na

intervenção junto das famílias para que as crianças tenham na escola um clima

favorável ao seu desenvolvimento afectivo e social, e ainda, segundo Bergé

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(1990:75), "nunca descurar a decalage entre o estado afectivo da criança e o seu

rendimento escolar".

Nesta altura, os médicos escolares têm um papel muito importante pois podem

em equipa, com os professores, reconhecer, avaliar, ou testar qualquer

desfasamento ou imaturidade para depois encaminhar todo o processo para o psico-

terapeuta.

É importante reforçar que as crianças devem ser primeiro observadas através

duma equipa escolar, onde o médico escolar terá um papel importante na prevenção

dos problemas, estabelecendo uma ponte de ligação entre os pais e a escola, entre

estes, a criança e os serviços de saúde.

Na perspectiva de Bergé (1990), a saúde escolar deve ser resultado de um

trabalho de equipa, onde surgem dois aspectos distintos e independentes:

A saúde física- onde o médico escolar tem uma função de rastreio, de

organização da higiene, vacinas, despiste de situações anómalas e, na relação com

as famílias.

A preocupação pedagógica- englobando um outro aspecto que é o desafio da

Humanização da Escola.

Sabe-se que qualquer criança quando vai para a escola possui um saber,

resultante do seu olhar curioso e atento. Parece que não vê, não percebe, não liga,

mas ela já se apercebe do mundo em que vive.

É necessário existir um diálogo franco e permanente para que a criança vá

vencendo os seus medos, fobias, esclarecendo as suas dúvidas, apaziguando as

suas angústias, regozijando-se com as suas descobertas e conquistas, à medida

que vai formando a sua personalidade.

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Os profissionais de saúde e/ou o psicólogo têm um papel particular e

indispensável como apaziguadores desta angústia e ansiedade.

Sendo a escola um receptáculo de todas as perturbações e /ou equilíbrios das

crianças, os professores, médicos e psicólogos devem estar preparados e motivados

para ajudar a resolver algumas destas situações problemáticas.

A importância da Psicologia Comunitária, integrada nos cuidados de saúde

primários, tem particular relevância e interesse dados os problemas actuais,

Necessidades Educativas Especiais, casos disfuncionais, droga, alcoolismo, etc.,

que põe em risco o equilíbrio da criança. Esta especialidade, deverá dar assistência

a todos os indivíduos e familiares da comunidade, com uma metodologia que lhes

seja acessível e com custos possíveis de ser suportados por todos.

Quando os problemas são detectados serão os Serviços de Cuidados de

Saúde Materno-infantis ou as consultas de especialidade, para onde são

encaminhados prioritariamente pelos Serviços de Saúde Escolar, que darão

resposta adequada, quer em tratamentos, terapias, subsídios, medicamentos

essenciais, etc., nunca esquecendo que o primeiro acto da consulta é o acolhimento

da criança e como Santos, J. (1990:89), acentua "As reuniões de síntese que

existem entre técnicos das várias especialidades, são reuniões em que se

encontram também representantes das diferentes disciplinas para discutirem

conjuntamente, sob a presidência do médico que serve de coordenador da equipa,

certos casos que necessitam de atenção particular".

João dos Santos (1990), curiosamente, comenta, ser importante a

consciencialização de que é no diagnóstico precoce que a Saúde Escolar poderá dar

a sua colaboração, bem como orientar, controlar e fazer cumprir escrupulosamente

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os tratamentos aplicados. É na Escola Promotora de Saúde que deve existir a

interligação e interacção de uma equipa multidisciplinar e profissional, pois só assim

se poderá falar na já referida, mas tão urgente e indispensável, Humanização

da Escola, Escola que se pretende para todos.

3. ESCOLA INCLUSIVA

" O meu clã, grupo, bando, ou como lhe queiram chamar, é o dos
deficientes (também nos podiam chamar "suficientes", mas quiseram
baptizar-nos assim, assim seja)… Mas o pior foi quando entrei para a
escola primária… Sim foi aí que me apercebi da minha diferença quando
um engraçadinho me apelidou de «perna de pau» e «fraldinhas».
Conclusão eu era mesmo diferente… e aquelas crianças confundiam-me
com um E.T. que, vindo de plutão aterrara naquela escola"

Revista Educação, 1995:. 60)

A rotulagem das pessoas tem consequências imediatas na forma como estas

são vistas ou aceites pela sociedade. O jovem acima referido alerta: «Vejam as

nossas capacidades, em vez de estarem sempre a olhar para as nossas

incapacidades!»…(ibidem).

Partimos deste preâmbulo para darmos início à temática do autismo, no

entanto, falar sobre Autismo sem abordar a filosofia da Educação Especial, bem

como os pressupostos teóricos nos quais se enquadra a problemática principal, a

Integração/Inclusão das crianças com autismo, que tem sido objecto de debate e

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criado tanta controvérsia na última década, seria não respeitar a abrangência do

tema e as implicações que este assunto tem provocado na nossa sociedade, muito

especialmente no que se refere às atitudes e comportamentos dos adultos face à

Integração de crianças com Necessidades Educativas Especiais.

«Integração» significa o restabelecer de formas comuns de vida, de

aprendizagem e de trabalho entre pessoas deficientes e não deficientes. Integração

significa ser participante, ser considerado, fazer parte de, ser levado a sério e ser

encorajado. A Integração requer a promoção das qualidades próprias de um

indivíduo, sem estigmatização e sem segregação.

"…realizar pedagógicamente a Integração significa, seja no Jardim de

Infância, na Escola ou no trabalho, que todas as crianças e adultos (deficientes

ou não) brinquem, aprendam, trabalhem, de acordo com o seu nível de

desenvolvimento em cooperação com os outros.",(Steinemann, 1994:7)

Esta temática, tem conhecido nas últimas décadas, grandes transformações

resultantes de uma série de decisões históricas e da consequente revisão das

teorias educativas.

Sabe-se que ao longo da história da humanidade foram diversas as atitudes

assumidas pela sociedade para com as pessoas deficientes. Estas atitudes foram-se

alterando ao longo dos tempos por influência de factores sociais, económicos,

políticos e outros…

Na opinião de Birch (1974), referido por Bautista (1997), Integrar não é tarefa

fácil e torna-se, por vezes, um fenómeno complexo que vai muito para além de

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colocar as crianças com Necessidades Educativas Especiais (N.E.E.) no ensino

regular.

Os estudos que se têm efectuado não apresentam dúvidas sobre as vantagens

da integração, mas é preciso que toda a sociedade se organize no sentido de

possibilitar a todas as crianças com N.E.E. a melhor forma de serem educadas com

sucesso. Sucesso esse que depende, substancialmente, do ambiente educativo em

que estas estão.

O Warnok et al (1978), deu uma nova perspectiva sobre a Integração/Inclusão,

passando do modelo médico a um modelo ecológico (educativo), isto é, centrando

os problemas da criança não na deficiência mas nas dificuldades que estas

apresentam face ao currículo escolar, responsabilizando assim a escola pela

educação das crianças com N.E.E. Nesta perspectiva, Jimenez, R. (1997:30),

afirma:

" A integração pressupõe não uma simples integração física num ambiente

o menos restritivo possível, mas significa uma participação afectiva nas tarefas

escolares, que proporcionam à educação diferenciada, necessária, apoiando-se

nas adaptações e meios que forem mais pertinentes em cada caso".

A ideia da Integração/Inclusão não será só uma forma de pedagogia, mas

também um problema de ética, pois não pode existir educação sem valores éticos,

morais, sociais… O professor deve basear-se sempre em valores e, desse modo, o

professor de Educação Especial terá ainda uma maior responsabilidade ao partir de

conceitos como sejam a igualdade, justiça, direitos e a não uniformização, pois todos

nós somos diferentes.

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Para que se verifique uma Integração de sucesso é importante salientar a

atitude do professor da classe regular, bem como a Mudança nas escolas no sentido

da igualdade de oportunidades para todos os alunos, e juntos, Escola, Professores,

Família, isolar cada vez mais a palavra Exclusão, para benefício de todos.

As investigações recentes sobre "integração escolar" centram-se nos efeitos

que a integração pode ter nas crianças com deficiência, quando frequentam

estabelecimentos de ensino do regular.

Os últimos estudos realizados não oferecem dúvidas quanto às vantagens da

integração escolar, confome Correia (1997), com os argumentos de que ela vai

contribuir para o desenvolvimento dos skills cognitivos, sociais e afectivos das

crianças integradas.

Apesar das investigações recentes não levantarem dúvidas sobre as vantagens

da integração no que respeita ao desenvolvimento académico, social e emocional

das crianças integradas, o sucesso da integração vai depender quer dos programas

educativos, quer dos locais onde são executados. os programas de sucesso da

integração têm de preocupar-se com o currículo, a equipa de professores, o apoio,

os recursos e as atitudes.

Mas nos últimos anos o "processo integrativo" apresentou novas

características. Tal como nos indica Correia (1997),, por um lado é encarado para

um conjunto de crianças muito mais vasto, por outro, não decorre já de ensaios

próprios dum ou doutro estabelecimento de ensino, mas de uma política educativa

geral é um movimento que apresenta um carácter internacional.

Estes estudos efectuados sobre as práticas integradoras permitiram avançar

nas concepções e nas estratégias humanizadas e educativas da totalidade dos

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cidadãos, perspectivando a Escola Inclusiva (a fase da Inclusão na Educação para

todos), cujo o objectivo primordial é assegurar o direito à educação para todos os

indivíduos, independentemente das diferenças individuais. Deste princípio (re)vê-se

a "necessidade de reformular a escola de modo a que garanta educação e justiça

para todos" (Bernard da Costa, 1996:153). Esta mudança pressupõe uma

transferência de «uma perspectiva centrada na criança» para uma «perspectiva

centrada no currículo».

A educação de alunos com N.E.E. incorpora os princípios já comprovados de

uma pedagogia saudável, da qual todas as crianças podem beneficiar, assumindo

que as diferenças humanas são normais e que a aprendizagem deve ser adaptada

às necessidades da criança, em vez de esta ter de se adaptar a concepções pré

determinadas relativamente ao ritmo e à natureza do processo educativo.

Uma pedagogia deste tipo tenderá minorar a diferença, procurando a

igualdade. A igualdade e o respeito terão de ser pensados na perspectiva da

diferença das potencialidades do ser humano. Deve-se ter consciência da diferença

e encarar essa pessoa como também ela portadora de possibilidades. Como não é

possível entrar no mundo dessa pessoa, existirá um mundo que só é inferior na

nossa cabeça.

No mesmo estudo de Bernard da Costa salienta-se a necessidade de estimular

e desenvolver as capacidades que cada um tem e não pensar nos limites, "cada

pessoa tem limites mas ninguém gosta que lhos lembrem, logo na pessoa com

qualquer handicap haverá possibilidades limitadas, mas que não são as mesmas

que as nossas" (1996:153).

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O ser "Humano" significa ter dignidade e por sua vez merecer respeito. Assim,

a sua integração requer a promoção das qualidades próprias de um Indivíduo, sem

estigma e sem segregação,

"Realizar pedagogicamente a integração significa, seja no jardim de

infância, na escola ou no trabalho, que todas as crianças e adultos (deficientes

ou não) brinquem/aprendam/trabalhem de acordo com o seu nível próprio de

desenvolvimento em cooperação com os outros" (Steinmann, 1994:13).

Porém, sendo a integração um processo irreversível, em Portugal onde a

integração de crianças com deficiência (sobretudo com restrição de visão e

deficiências auditivas) tem sido levado a efeito com sucesso, segundo Fuentes

(1988), apenas se conhecem experiências pontuais na integração de crianças com

autismo.

O mesmo autor salienta que, atendendo às características destas crianças:

grandes dificuldades na comunicação (dificuldade em usar e compreender

linguagem oral e gestual), dificuldade em estabelecer relações sociais, padrões

estranhos de comportamento, resistência à aprendizagem e mudança, sendo à

partida, a dificuldade de estabelecer relações sociais o factor mais pertinente,

trazendo grandes limitações nas crianças com autismo nas classes regulares,

confirmando-se como uma razão de rejeição da implementação do programa de

integração

Nesta diversidade de Integração existe um consenso no que se refere à sua

pertinência porque, apesar do envolvimento nesta problemática, esta está longe

ainda de ficar devidamente estruturada e consequentemente optimizada no nosso

sistema educativo.

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Há fortes motivadores para acreditar na vida! Acreditar que ela é feita de

encontros e desencontros ( de ideias), cheia de caminhos e desafios que apenas a

coragem não rejeita…

4. A IDENTIDADE PROFESSOR/FORMAÇÃO

Educar não significa impor, educar é ajudar os alunos a desenvolver

capacidades de eleger e actuar de acordo com as suas metas e ideais… nunca

prendendo a a água que corre…

Muitas têm sido as questões levantadas sobre a condição de educar e de ser

professor, mas a maioria dos estudos sobre o assunto, têm tido como preocupação,

saber o que é um bom professor, quais as qualidades necessárias ao seu sucesso e

de que modo aumentar a sua eficácia.

Como resposta têm-se defendido por um lado, as chamadas qualidades

valorizadas pela sociedade, que Abraham, A. (1982), apontado por Pereira (1996),

enuncia: ser saudável, objectivo, ter tacto, dignidade, ter firmeza e inteligência, por

outro lado, defende-se as competências baseadas no saber, enquanto especialista

num determinado campo de conhecimento, e conhecedor de uma práxis

pedagógica-didática que lhe permita ensinar.

Mais recentemente, tem sido valorizada uma nova dimensão na actividade

docente, aquilo que Ferry (1988), ibidem, chamou de "saber ser", o que criaria um

clima adequado na aula, na linha da psicologia humanista.

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Aqui surge o sentimento do professor face à sua profissão, no entanto há muito

que se fala de um mal estar na profissão docente, embora haja quem a considere

uma profissão privilegiada, pois enriquece-se e renova-se através do contacto

humano permanente sendo ao mesmo tempo o responsável pela formação de

gerações futuras.

De facto, esta profissão é sentida com algum desencanto por parte de quem a

exerce e vários factores contribuem para esse desânimo, como sejam:

- Factores de ordem pessoal- Falta de vocação, imaturidade, problemas

relacionais (com colegas alunos, superiores, pais).

- Factores ligados à formação- Formação inicial inadequada, a falta de

orientação pedagógica nos primeiros anos e a falta de formação contínua.

- Factores de ordem sócio-económico- politicas economicistas que

condicionam a classe docente.

Como tal podemos mesmo questionar se os professores se identificam com o

seu «eu real» ou com o «eu ideal»?

Ninguém nega a importância da satisfação na vida, no entanto ela depende do

bem estar na profissão. É, para isso, necessária, uma reciclagem do

papel/professor, onde sejam valorizados os conceitos de igualdade de

oportunidades na relação pedagógica, rejeitando modelos autoritários de

socialização comportamental e normativa…

Pensamos que cabe às instituições formadoras de professores, dotarem os

estudantes de conhecimentos, competências e capacidades de análise e de crítica,

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que lhes possibilitem desempenhar um papel inovador na escola rejeitando o

conservadorismo e a passividade.

Tratando-se de uma mudança para os profissionais, é natural que surjam

dúvidas e questões que, por sua vez, poderão levar à necessidade de mudar as

práticas, ao mesmo tempo que traduzem a sua preocupação

Fuller, (1969:51), citado por Pereira (1996), sugeriu que "…as representações

que os professores têm acerca de uma prática ou procedimento pode influenciar a

sua disponibilidade para as aprender e para os utilizar".

Sobre este assunto, Hall & Loocks (1978), ibidem, propuseram um modelo que

se compunha de sete níveis no que respeita ao desenvolvimento de atitudes dos

professores perante a mudança nas práticas e a disponibilidade para as aprender e

as aplicar, e que passamos a referir,

Nível 0- Consciencialização- Os professores têm pouco contacto ou

envolvimento com a mudança das práticas.

Nível 1-Informação- A primeira atitude é querer saber mais acerca da

mudança das práticas.

Nível 2- Pessoalização- Os profissionais questionam-se sobre de que forma a

mudança das práticas os afectará pessoalmente.

Nível 3- Realização- Atitudes centradas na implementação das práticas como,

quando e onde devem ser implementadas.

Nível 4- Consequências- Os profissionais questionam-se acerca do impacto

que a mudança terá na criança e na família.

Nível 5- Colaboração- Os profissionais procuram a colaboração de outros

colegas para os ajudar na aplicação de novas práticas.

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Nível 6- Avaliação- Os profissionais avaliam as novas práticas e, se

necessário, procedem às mudanças necessárias para as tornar mais eficazes.

Relativo ao modelo, os seus autores (ibidem,1996:50), afirmaram "… este

modelo sublinha o princípio de que uma formação eficaz deve ser organizada de

forma a corresponder às necessidades e atitudes dos seus participantes."

A formação académica e pedagógica deve, portanto ser considerada como um

dos elos da educação permanente e sempre voltada para o futuro.

A formação do professor/educador de Educação Especial que a partir de 1976

era da competência do Instituto Aurélio da Costa Ferreira, sofreu uma restruturação

em 1986 com a abertura dos cursos de Educação Especial nas E.S.E.S de Lisboa e

Porto, centrando-se aí toda a formação do professor de Educação Especial.

Conceitos como Necessidades Educativas Especiais e Educação para todos

são introduzidos nos cursos.

A competência destes professores revelar-se-á em quatro grandes aspectos:

Observação e caracterização do aluno e da situação educativo-pedagógica em que

se insere; Planificação individual e para pequeno grupo; Intervenção junto dos

alunos e do contexto educativo; Avaliação da criança e do trabalho realizado.

De acordo com a Declaração de Salamanca (1994), o princípio fundamental

das Escolas Inclusivas consiste em todos os alunos aprenderem juntos, sempre que

possível, independentemente das dificuldades e diferenças que apresentam.

Muitos professores ainda pensam que as turmas são homogéneas. Em

qualquer sala com crianças, observam-se ritmos diferentes, interesses diferentes,

mesmo que nenhuma apresente Necessidades Educativas Especiais, o que nos

permite afirmar que a Homogeneidade é um mito.

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É, portanto, necessário reforçar a ideia de que as crianças que apresentam

Necessidades Educativas Especiais, devem ser apoiadas na classe do regular, pelo

seu professor e pelo professor de Apoio Educativo, este último apenas se for

considerado necessário. Os professores do Ensino Especial revelam as suas

competências nas áreas do Ensino/Aprendizagem e da Relação professor/aluno,

antecipando e acompanhando a criança nas áreas curriculares ou específicas.

Estes professores desenvolvem toda uma caracterização individual centrada

em aspectos do desenvolvimento e aprendizagem académica, elaborando o Plano

Educativo Individual, centrado no Ensino/Aprendizagem dos conteúdos básicos da

escola obrigatória e na resolução de problemas de ordem sócio-familiar, registando

e avaliando o trabalho realizado e as aquisições feitas.

Estes professores devem, paralelamente, intervir directamente na sala de aula

do Ensino Regular e na Comunidade, de forma pontual.

A Intervenção mais significativa do professor do Ensino Especial, situa-se junto

do professor da classe que integra o aluno com deficiência, em encontros informais,

secundado de reuniões mais elaboradas e calendarizadas, previamente centradas

nas problemáticas dos alunos- "Caso".

A passagem de formação e informação à volta dos problemas vividos e do

contexto em que os mesmos se desencadeiam, deve ser feita, de modo, a que se

verifique convergência e uniformidade no trabalho desenvolvido, nunca esquecendo

que "a formação do professor deve ser feita em contexto porque só assim é possível

ver as necessidades reais, de modo a poderem encontrar-se os mecanismos mais

apropriados para dar resposta aos problemas" (Benavente, A., 1993:164).

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De facto, Sanches, I. R. (1995), refere que, definir o que é um bom técnico de

Ensino Especial, não é tarefa fácil, dada a pouca investigação que existe do

assunto. Talvez uma resposta mais adequada encontra-se na dinâmica que se tenta

incutir à formação, ao colocar os seus formandos em situação de construírem a "sua

resposta" para o "seu caso", ou seja, formar professores reflexivos.

A mesma autora (1995:148), acrescenta

" Em termos gerais para ser feito um bom ensino-aprendizagem, que é

afinal o ponto de partida e de chegada para toda a Acção Pedagógica, haverá

que considerar as várias fases do processo educativo, tal como são enunciados

tanto na formação como na prática – Observação – Diagnóstico – Planificação –

Intervenção – Avaliação".

Deve também considerar-se, que a procura de resposta adequada a cada

caso, é outra das preocupações que deve traduzir-se numa

individualização/personalização da intervenção e gestão de recursos (meio, aluno,

professor) e de equilíbrio "ecológico".

Uma das vertentes fundamentais da Declaração de Salamanca (1994), sobre

os princípios, a política e prática, na área das Necessidades Educativas Especiais,

aprovada pelos representantes de 92 governos e 25 organizações internacionais em

Junho de 1994 (Unesco, 1994:X), refere que, no âmbito de orientação inclusiva as

escolas regulares são:

" Os meios mais capazes para combater as atitudes discriminatórias,

criando comunidades abertas e solidárias, construindo uma Sociedade Inclusiva

e atingindo uma educação para todos.

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Para além disso, proporcionam uma educação adequada à maioria das

crianças e promovem a eficiência, numa óptima relação custo-qualidade, de todo

o sistema educativo".

Os professores devem trabalhar em conjunto, tentando desenvolver estratégias

quer a nível de formação inicial, quer da formação contínua, ajudando os

professores a adoptar novas práticas, que tenham em conta todos os alunos da

classe, incluindo os que têm dificuldades de aprendizagem.

A este respeito, é importante a valorização profissional dos professores,

nomeadamente, ser-lhes dada a oportunidade de considerar novas possibilidades e

apoio à experimentação e reflexão.

Na perspectiva de Ainscow, Ponter & Wang (1997), a chave das estratégias,

situa-se na área do trabalho em equipa. Encorajando, especialmente os professores

a formarem equipas, em que os respectivos membros concordem em se ajudar

mutuamente, tornando a sua prática cada vez mais inclusa.

Assim, os mesmos autores afirmam que, sem margem de dúvida, as escolas

conseguem avançar com sucesso a sua prática, se houver uma auto-avaliação do

seu trabalho. Desta forma, a escola começa a adquirir algumas das características

daquilo que Senge (1990), citado por Sanches (1995:14), chama de uma

"organização da aprendizagem,…, uma organização que está permanentemente a

expandir a sua capacidade de criar o seu futuro". Tornando-se uma escola em

movimento que está continuamente à procura de desenvolver e aperfeiçoara as

suas respostas aos desafios que encontra.

" Mudar é o grande slogan do discurso educativo e mudar as práticas o

objectivo explícito do discurso de formação. Hoje, a perspectiva sistémica do real

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obriga a uma consciencialização forte da necessidade de interacção para haver

mudança; a sua ausência redundará em «continuidade e reprodução do

sistema».

«A pedagogia é a ciência do futuro»,…, se houver vontade política para

disponibilizar recursos e mudar mentalidades, a formação dos professores de

Educação Especial poderá ser diferente." (Sanches, I. R., 1995:168)

5. PERFIL DE QUEM TEM DE LIDAR COM UMA PESSOA AUTISTA

Falar de deficiência sem entender, antes de mais, o que é a Vida e qual é a

nossa relação com a Vida, é de todo impossível. "A vida não é nossa, nós é que

somos da Vida" (Almeida, 1999:291), e , se assim é, segundo a mesma autora, a

atitude mais racional será a de nos colocarmos ao serviço da Vida e não colocar a

Vida ao nosso serviço.

Servir é entre outras coisas cuidar, na sua essência, aceitar.

Aceitar entre os humanos, deve ser admitir, amar, compreender..

" Viver com a deficiência é, antes demais, viver como todos os outros seres

vivos, o que se vive é de outra forma, mas nunca uma forma menor de estar na

vida." (Almeida, F., 1999:291), por isso, o nosso confronto com os outros é o

julgarmo-nos diferentes dos diferentes… Claro que, neste caso, a eficácia de toda a

intervenção com as crianças com deficiência e suas famílias, é influenciada pela

dedicação, entrega e preparação dos profissionais para desenvolver trabalhos com

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base numa abordagem sistémica, sendo sensíveis à adopção de práticas

inovadoras.

Podemos considerar a perspectiva de Falcão, R. (Setembro, 1999), ao

defender que, sendo o autista uma pessoa extraordinária, deve-lhe corresponder um

técnico também extraordinário.

Embora a formação seja um aspecto positivo na intervenção, o que é

determinante, são as suas características pessoais. Estas podem fazer a diferença,

tornando possível a interacção num clima de estabilidade e de bem estar.

O mesmo autor frisa que "Dada a grande delicadeza e exigência da relação

que deve ser estabelecida com a pessoa autista, existe um certo número de

requisitos que o técnico deve preencher para melhor desempenhar a sua função"

(1999:64). Assim, ele considerou os seguintes requisitos:

• Gostar do diferente;

• Ter uma imaginação viva;

• Ser capaz de dar sem receber agradecimentos directos;

• Ter a coragem de trabalhar "só no deserto";

• Nunca estar satisfeito com o conhecimento adquirido;

• Aceitar que cada pequeno progresso implica um novo problema;

• Ter capacidade analítica e pedagógica bem desenvolvidas;

• Estar disposto a trabalhar em equipa;

• Ser humilde;

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Em síntese poder-se-á dizer que a aptidão para lidar com uma pessoa autista

não vai depender essencialmente da teoria, ou do estudo, ou compreensão de

vários postulados, esse perfil vai assentar, principalmente, na "aprendizagem em

contacto directo, no exercício da própria interacção e no juízo dos seus resultados",

(Falcão, R., Setembro:1999:65). Não menos importante Falcão no mesmo texto

acrescenta "a capacidade de pensar em pessoas muito diferentes de nós como

estando incluídos na esfera de «nós»- representa o progresso moral, o ideal da

solidariedade e de integração por que vale a pena lutar". (ibidem:65)

6. TIPOS DE INTERVENÇÃO

Antes de se falar de intervenções ou terapias educacionais possíveis para

melhorar a qualidade de vida das crianças autistas e suas famílias, julga-se

importante salientar o facto deste transtorno, atraso ou funcionamento anormal

afectar, antes dos três anos de idade, pelo menos uma das seguintes área:

1. Interacção social;

2. Linguagem usada na comunicação social;

3. Acção simbólica ou imaginária.

Partindo deste pressuposto poder-se-á perguntar se o Autismo tem cura?

Não se pode falar em cura para o Autismo. O indivíduo com este síndroma,

pode ser tratado e desenvolver as suas habilidades de uma forma muito mais

intensiva do que outra pessoa que não tenha esse diagnóstico, assemelhando-se

muito a essa pessoa, em alguns aspectos do seu comportamento, mas sempre

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existirá a sua dificuldade nas áreas caracteristicamente atingidas pela síndroma,

como a da comunicação, interacção social, etc.

De acordo com o grau de comprometimento, a possibilidade do autista

desenvolver a comunicação verbal, Integração social, alfabetização e outras

habilidades relacionadas, dependerá da intensidade e adequação do tratamento,

mas é intrínseca, a sua condição de autista, ou seja, ele terá maior dificuldades

nestas áreas do que uma pessoa "normal".

Segundo Schwartzman et al.(1995), superar a barreira que isola o indivíduo

autista do "nosso Mundo", não é um trabalho impossível. Apesar de manter as suas

dificuldades, dependendo do grau de comprometimento, o indivíduo autista pode

aprender os padrões "normais "de comportamento, exercitar a sua cidadania,

adquirir conhecimentos e integrar-se de maneira muito satisfatória na sociedade.

Sendo desconhecida a cura deste síndroma, e por se saber que não existe

tratamento específico, o grande empenho e o entusiasmo por este e aquele método

leva até a alguns resultados essenciais para a vida e harmonia familiar.

Estas são algumas das terapias utilizadas para o Autismo e outros atrasos de

desenvolvimento conforme AUTISMO@mrnet.com.br (1999).

- Escola convencional

- Método Teacch

- Natação

- Músicoterapia

- Equinoterapia

- Golfinoterapia

- Método Tomatis

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- Método Dolman

- Vitamina B15, Dmg, B6 e Magnésio

- Brincadeiras

- Softwares Educativos

- Modelo Floor Time- S. Greenspan M.D.- S. Weder, P.h:D:

- Makaton

Como se pode ver, tem sido variada a gama de modelos de intervenção e de

terapias, desde intervenções médicas, terapêuticas e psicológicas. No entanto, o

nosso trabalho irá abordar um programa que envolve as esferas de atendimento

educacional e clínico numa prática predominantemente psicopedagógica: O Modelo

TEACCH, e que foi o escolhido e desenvolvido no Projecto assessor deste trabalho.

Abordar-se-á também o modelo "Floor-time"- Intervenção em crianças com

perturbações de comunicação e da relação e o Vocabulário Makaton.

Embora fazendo também parte da pesquisa e prática do autor deste trabalho ,

eles irão ser abordados de modo a que pais/ profissionais e outros possam

beneficiar destas novas abordagens terapêuticas.

6.1 MODELO FLOOR-TIME

Conforme Greenspan (1998), o Modelo Floor-time é um modelo de intervenção

com crianças com perturbações de comunicação e de relação.

Este modelo, apresenta novas formas de compreensão e de intervenção com

crianças com diagnóstico de autismo. Foi desenvolvido nos Estados Unidos por S.

Greenspan e seus colaboradores(1998).

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É um modelo de intervenção intensivo, baseado nas diferenças individuais. e

na relação (D.I.R.), respectivamente:

R- Relação e afecto
I- Diferenças individuais
D- Níveis funcionais do desenvolvimento emocional.

Segundo o Dr. Pedro Caldeira e Dr.ª Claudia Eira, no simpósio realizado a 7 de

Fevereiro de 2000, os seus princípios básicos são:

• Seguir a criança.

• Entrar na actividade da criança no seu nível de desenvolvimento e

segundo os seus interesses.

• Abrir e fechar círculo de comunicação.

• Criar um ambiente de jogo.

• Aumentar círculos de comunicação:

• Interagir criando obstáculos

• Interagir para ajudar

• Alargar a gama de experiências interactivas da criança.

• Moldar as nossas interacções tendo em conta as diferenças individuais da

criança:

• Identificar diferenças.

• Trabalhar com as diferenças individuais

• Mobilizar simultaneamente os seis níveis de desenvolvimento

funcional/emocional.

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Todo o trabalho desenvolvido com cada criança é importante: Atenção mútua e

envolvimento; encorajamento; compreensão; auto-estima; muitas interacções e

desafios.

Todo o trabalho sobre o método Floor-time está, em Portugal, a ser

desenvolvido pelo Dr. Pedro Caldeira e seus colaboradores na U.P.I. (Unidade

Primeira Infância), em Lisboa, com resultados que superam as expectativas…

6.2 PROGRAMA DO VOCABULÁRIO MAKATON

Na perspectiva de Mota, C. e Bravo, P. ,do Centro de Estudo e Apoio à criança

e família (1995), é um programa de linguagem completa, que inclui um corpo de

vocabulário básico, ensinado com o recurso a gestos e símbolos, em simultâneo

com a fala e pressupõe a utilização de estratégias estruturadas de ensino.

Estes dados sobre o Programa, foram proferidos e adaptados para uma

comunicação, apresentada no 1º Congresso Nacional de Terapeutas da Fala,

realizado em Dezembro de 1995 na Fundação Calouste Gulbenkian em Lisboa.

Este programa foi originalmente desenvolvido em Inglaterra, nos anos setenta

por Margaret Walker citado pelas autoras já referidas. Mais tarde o programa foi

alargado de modo a ser usado com crianças e adultos com um vasto leque de

problemas. Hoje é utilizado em mais de trinta países.

Em 1976 realizou-se o primeiro curso de formação em Inglaterra.

Em Portugal, no princípio dos anos oitenta, a Linguista Isabel Prata, ibidem,

iniciou o estudo e .adaptação linguística e cultural deste programa.

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O vocabulário Makaton é composto basicamente, por um conjunto restrito de

aproximadamente 350 conceitos, especialmente organizados por oito níveis, de

acordo com a sua complexidade.

Este é um método que, pelas suas características, é muito utilizado nas

crianças com autismo, pois o uso do gesto/imagem e expressão facial vão estruturar

a linguagem falada ou a iniciação de aprendizagem para não falantes.

O autor deste trabalho participou em sessões deste método.

No Centro de Estudo e Apoio à Criança e Família, serão dados todos os

esclarecimentos sobre este programa, por técnicos especializados para avaliar

qualquer criança com Autismo ou traços Autistas ou outros problemas de

comunicação, e dar sequência a um programa devidamente elaborado.

6.3 PROGRAMA TEACCH

"Um ser humano nasce com capacidade para comunicar sentimentos,

interesses e intenções. É ao desenvolver estas capacidades inatas, através de

interacções coma a mãe (ou substituto) e outros, que um indivíduo se torna capaz

de partilhar ideias e usar códigos." ( Teresa Nunes Marques, 1997.)

TEACCH ( Treatment and Education of Autistic and related Communication

Handicapped children).

É um programa que teve origem em 1966, nos Estados Unidos, na

Universidade de Carolina do Norte, Escola de Medicina, Divisão de Psiquiatria, pelo

Dr. Eric Shopler e colaboradores conforme Schwartzman et al (1995). Desde então,

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esta Divisão tem servido como modelo Internacional, para a estruturação de Locais

de Atendimento a indivíduos Autistas, operando em seis Centros Regionais na

Carolina do Norte (U.S.A). Estes Locais de Atendimento abrangem áreas como:

Avaliação, desenvolvimento de currículo individualizado, treinamento de habilidades

sociais, de actividades vocacionais, aconselhamento para pais e formação sobre o

Programa TEACCH a profissionais de Educação Especial.

Os princípios deste método buscam associar a Terapia Comportamental e da

Psicolinguística.

A Psicoterapia Comportamental fundamenta a sua estrutura, na especificação

de repertórios básicos de condutas a desenvolver no indivíduo autista.

A Psicolinguística tem como base a INTERACÇÃO PENSAMENTO e

LINGUAGEM e a constatação de que a imagem visual é geradora de

COMUNICAÇÃO como sistema simbólico complexo. O profissional poderá envolver

o seu percurso interactivo, tendo como enfoque, como nos sugerem Lewis & Leon,

ibidem, "…

"a linguagem não verbal, pela qual o corpo passa ao gesto, a expressão facial, o

contacto, o olho a olho e a emoção vão ganhando significado nas acções e nos

objectos, ao mesmo tempo que a linguagem gestual vai consolidando a

linguagem interior" (1995:238).

A orientação principal do programa é desenvolver a AUTONOMIA da criança

com autismo nos três grandes meios sociais da sua vida, de forma qualitativamente

diferente:

A Interacção e organização no…

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meio familiar
meio escolar
Comunidade

• Podem desenvolver actividades em situações sociais que dizem respeito

a um melhor convívio na comunidade.

• Aprender a trabalhar frente a actividades académicas com organização e

entendimento.

• Podem fazer uso do computador como apoio à aprendizagem da leitura e

escrita e até como ocupação de tempo livre através de jogos.

• Podem realizar tarefas na área vocacional, factor integrante para a sua

vida futura.

O Programa TEACCH baseia-se num ensino estruturado que se centra nas

áreas fortes frequentemente encontradas nas crianças com autismo, como sejam:

processamento visual, memorização de rotinas e interesses especiais, devendo ser

adaptado às necessidades de cada criança.

É um sistema de organização de espaço, materiais e actividades, de forma a

facilitar os processos de aprendizagem e a independência das crianças, nunca

esquecendo dois aspectos básicos:

1. O desenvolvimento da criança;

2. A colaboração dos pais/ profissionais.

Na opinião de Shopler e seus colaboradores (1978, 1994), pensar e reflectir

sobre a prática remete-nos a algumas questões:

Qual a acção que observamos na criança?

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• que faz?

• Porque faz?

• quando faz?

• Qual o entendimento que temos de seus pensamentos e reacções?

Frente a estas reacções e respostas relativamente aos pais, irmãos, amigos,

aos profissionais e aos estímulos do ambiente,

• como reagimos?

Nesta interacção que se dá completamente fora dos padrões usuais,

• Qual o nosso papel?

O Modelo TEACCH tem procurado, desde o seu início, responder a estas

dúvidas. Uma vez que as dúvidas são fruto de muito percorrer, elas fazem parte de

todo o conhecimento que vai crescendo, na teoria e na prática, com a utilização de

um Método e de técnicas comportamentais,

• Observação;

• Registo;

• Diagnóstico funcional;

• Manipulação.

Só assim poder-se-ão realizar revisões periódicas aos comportamentos e

técnicas utilizadas.

Todas estas terapias comportamentais, procuram estudar as condições prévias

e posteriores a qualquer reacção emitida pela criança, afim de se atingir um nível

satisfatório nas aprendizagens da mesma. Cada profissional/pai deve comportar-se

e exprimir-se claramente, tornando-se acessível à criança e ajudando-a a

compreender.

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Shwartzman et al. (1995:236), recomenda aos profissionais que trabalham com

crianças autistas que, independentemente da causa, é importante conhecer a

extensão das diferenças, pois elas só se poderão desenvolver dentro de uma

estrutura, competência, ritmo e padrão particular de funcionamento. "ela deverá ter a

oportunidade para fazer o que está apta a realizar, de forma hierárquica e paulatina."

Segundo estudos realizados por Bijou & Baer (1955, 1957, 1958), ibidem, com

crianças autistas, foi demonstrado que os seus comportamentos verbais/

autoagressão/ estereótipos, podem ser atenuados através de técnicas operantes

que procuram treinar e agir na interacção complexa de todo o repertório básico de

condutas.

Assim, como diz Rogé, B. (1988:66), "As crianças autistas podem receber uma

educação apropriada, dado que as pequenas estruturas, especialmente previstas

para elas, permitem preparar-lhes um meio adequado, no qual poderão beneficiar de

uma pedagogia individualizada".

Facto importante é não esquecer que no TEACCH, os pais deverão dar

informações acerca das características e comportamentos do seu filho, explicando

se as actividades desenvolvidas em casa respondem ou não às necessidades

educativas da criança.

Os profissionais terão a função de transmitir aos pais as diferentes

modalidades do programa, orientando e aconselhando-os na gestão de

comportamentos e no ensino estruturado, nunca esquecendo que o programa

educativo para cada criança, deve ser elaborado conjuntamente por pais e

profissionais de acordo com as necessidades que ambos detectem. Do mesmo

modo, devem também, antes de começar qualquer método, estabelecer critérios

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esclarecedores quanto a este, de forma a que os pais possam escolher o modelo de

atendimento mais adequado para aquela criança com autismo ou dentro do espectro

autista .

Achámos interessante introduzir neste trabalho alguns critérios úteis para

escolher o modelo mais adequado para uma criança com autismo ou dentro do

espectro autista .

Critérios para escolher o modelo mais adequado para uma

criança com autismo ou dentro do espectro autista:1

Características da escola

• Devem escolher escolas pequenas e com um número reduzido de alunos,

em que não sejam necessárias interacções de excessiva complexidade

social. Devem evitar-se escolas excessivamente barulhentas e

«despersonalizadas».

• Devem preferir-se escolas bem estruturadas, com estilos didácticos

directivos e organizadas de forma a que se conheça antecipadamente

como vai decorrer o dia escolar.

• É imprescindível uma colaboração entre o professor da sala, o professor

dos apoios educativos e outros técnicos que trabalham com a criança.

• É imprescindível a existência de apoio por parte de um psicólogo com

funções de orientação e de um terapeuta da fala.

• É muito importante e conveniente proporcionar aos colegas da criança

1
Fonte: Associação Portuguesa de Protecção aos Deficientes autistas, coord. Marques,E.C.
(1995)

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com autismo, meios que lhe permitam compreender e apoiar as suas

aprendizagens e relações.

(1) O modelo de atendimento escolhido, para uma determinada idade do seu

desenvolvimento, não tem de ser definitiva, ainda que se devam evitar as

mudanças constantes. Há muitos casos em que temos que optar por

escolas especiais. Para outros a escola regular é a solução ideal. A

escolha de determinado modelo de atendimento, em determinada altura da

vida da criança, não deve entender-se como uma decisão para toda a

vida.

(2) As crianças com síndroma de Kanner, com um nível intelectual alto e os

que apresentam síndroma de Asperger, necessitam de uma integração em

que cumpram objectivos académicos. Contra o que se possa pensar, o

objectivo da integração não deve ser nestes casos, unicamente «que se

relacionem com crianças normais», embora esta possa ser uma meta

extraordinariamente difícil e que só se alcance após vários anos de

integração. Atingir os objectivos académicos pode estar ao alcance destas

crianças, o que será mais importante para o seu desenvolvimento, e,

porque compensará as suas limitações em termos sociais, inclusivamente,

poderá indirectamente diminuí-las parcialmente, através dos sucessos

educativos.

(3) No caso das crianças pequenas com autismo, o papel que a professora

desempenha é mais importante que o tipo de escola que frequenta.

Acontece que, muitas vezes, uma professora «envolvida» com a situação,

cria laços fortes com a criança, tem uma grande influência no seu

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desenvolvimento e quem poderá «abrir a porta» do mundo fechado da

criança autista, através de uma relação intersubjectiva, de que resultam

intuições educativas muito importantes.

(4) Todas as escolas e os professores que ensinam crianças com

perturbações profundas do desenvolvimento, necessitam de apoio e de

orientação de especialistas dos casos, porque é frequente a existência de

sentimentos de frustração, ansiedade e impotência dos professores, que

não têm esse apoio, para resolver a situação. É imprescindível o apoio de ,

por exemplo, psicólogos, com um bom nível de formação.

(5) Também é imprescindível uma estreita colaboração entre escola e a

família. Algumas investigações têm demonstrado que o envolvimento da

família é um dos factores mais importantes para o êxito dos programas

educativos e terapêuticos com crianças com autismo.

6.3.1. Os Princípios adoptados pelo Método TEACCH

O Método TEACCH assenta em seis princípios fundamentais para o sucesso

da sua implementação. Segundo Van Bourgondier (1991), citado por Shopler (1995),

consideram:

Primeiro princípio- Promover uma maior e melhor qualidade de vida de cada

criança, de duas formas interactuantes: a primeira é, melhorar todas as habilidades

para o viver através das melhores técnicas educacionais disponíveis; a segunda, na

medida em que exista um déficit envolvido, entender e aceitar esta deficiência,

planeando estruturas ambientais que possam compensá-la.

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Segundo princípio- Uma colaboração mútua (pais/profissionais), num nível de

trabalho activo, onde os profissionais aprendem com os pais. Estes últimos, usam

experiências particulares relativas ao seu filho, em contrapartida, os profissionais

oferecem aos pais, o seu conhecimento e experiência na área. Juntos definem as

prioridades dos programas na escola e na comunidade. ESSA UNIÃO É

POLITICAMENTE A MAIS POTENTE TANTO PARA O TRATAMENTO COMO

PARA A PESQUISA,

Terceiro princípio- Programas de tratamento que têm como base a Avaliação

e a Compreensão de quais são as habilidades actuais e emergentes da criança e o

que se deve ajudar a desenvolver.

A avaliação de cada indivíduo envolve tanto um programa de avaliação formal (

os melhores e mais adequados testes disponíveis) como informal (observações da

parte dos pais, professores e outras pessoas que estejam em contacto regular com

a criança).

Quarto princípio- Dos sistemas teóricos, as Teorias Cognitivistas e

Behavioristas são as mais úteis e guiam tanto a pesquisa quanto os procedimentos

educacionais desenvolvidos pelo TEACCH.

Quinto princípio- Um modelo generalista, no qual os profissionais

interessados em trabalhar com a população Autista, tenham uma habilidade

funcional de lidar com toda a gama de problemas provocados pelo Autismo,

independentemente das suas áreas de especialização. Isto permite que estes

assumam a responsabilidade pela criança como um todo cabendo à equipa a

decisão de consultar especialistas quando necessário.

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Com este modelo eles também aprendem a conhecer o ponto de vista dos

pais, pois deles se espera a função de generalistas em relação ao seu filho, tendo

este Necessidades Educativas Especiais ou não.

Sexto princípio- Os profissionais que trabalham com pessoas de Espectro

Autístico, devem ter capacidade para trabalhar em oito áreas cujos os conceitos e

questões têm dirigido a maior parte da actividade de pesquisa do TEACCH durante

os últimos anos::

- Avaliações da criança em diferentes situações;

- Envolvimento dos pais em colaboração com a família;

- Ensino estruturado;

- Manejo de comportamento;

- Desenvolvimento e aquisição de comunicação espontânea;

- Aquisição de habilidades sociais;

- Como ensinar, capacitando nas áreas da independência e vocacional;

- Desenvolvimento de áreas de lazer e recreação.

Schopler (1991,1992), afirma que consta no relatório sobre o Método TEACCH

que, muitos países que têm adoptado legislação dando direitos e oportunidades

educacionais para todas as crianças, têm tomado a proposta como modelo de

atendimento. O encargo financeiro é do Estado; o atendimento diário à criança é

encargo da escola (em média de sete horas por dia); os serviços individualizados, a

criança, os pais, professores e o centro TEACCH trabalham com o órgão de saúde,

para acompanhamento médico.

Salienta-se que em Portugal já existem doze salas a funcionar segundo o

método TEACCH, tendo a primeira surgido em Coimbra.

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6.3.2. Os Objectivos da Intervenção do Método TEACCH

Os objectivos da intervenção são basicamente:

- Promoção do desenvolvimento normal, investindo inicialmente no

estabelecimento de vínculos sociais, no desenvolvimento da comunicação e

da linguagem;

- Redução da rigidez dos estereótipos e da auto-mutilação.

- Pais como co-terapeutas e com apoios para alívio da tensão familiar.

- Trabalhar as áreas :

• Relacional.

• Coordenação sensório-perceptivo-motora (olhar, ouvir e fazer).

• Imitação

• Comunicação pela linguagem ou pelos sistemas alternativos.

Schopler & Lansing (1996), acentuam que, o apoio de qualquer criança com

autismo, pode e deve, ser orientada em muitas outras actividades de natureza

académica e de desenvolvimento psicomotor:

- Educadores especializados;

- Terapeutas ocupacionais;

- Terapeutas de fala;

- Professor de Educação física;

- Professor de Educação musical;

- Professores do ensino básico especializados.

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6.3.3. Teacch, um ensino estruturado

Pretende-se com o ensino estruturado através do método TEACCH que, como

podemos observar no esquema seguinte, que existe uma relação entre a

estruturação do ambiente e a diminuição dos problemas de comportamento.

ESTRUTURAÇÃO
DO
AMBIENTE

PREVISIBILIDADE
DO
MEIO

DIMINUIÇÃO
DE PROBLEMAS
DE
COMPORTAMENTO

O método TEACCH é um ensino estruturado que minimiza os problemas

comportamentais ao fazer com que o mundo pareça previsível e menos confuso

para a pessoa autista. Este método modifica e organiza o meio a favor da deficiência

da criança.

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A falta de estrutura aumenta a falta de objectivo na acção e no comportamento

estereotipado, por isso, é importante a interacção pais/terapêutas a fim de

determinar o quê/onde/quando/como e em que sequência as aprendizagens devem

ser realizadas.

Neste método é importante o conceito da independência uma vez que o

mesmo é necessário para a vida adulta. Este método investindo na autonomia da

criança é gerador de autoconfiança, resiliência e do desenvolvimento da auto-

estima.

A forma como o professor organiza cada área da sala de actividades, a

disposição do mobiliário e dos materiais é muito importante para o sucesso do

Método. A organização do meio ambiente é uma das prioridades do ensino

estruturado assim como as rotinas de horários e de trabalho pois, permitem às

crianças usarem as suas habilidades independentemente da intervenção do

professor.

Segundo as indicações de Vatavuk, M. de Castro encontradas na página

Http://www.ama.org.br/art-teacch.htm consultada em 1999, as delimitações físicas

devem ser usuais e muito claras. As delimitações ajudam a criança a compreender

onde cada área começa e termina. Do mesmo modo, ajudam a criança a

estabelecer contextos, segmentando o meio em que ela vive.

Na sala "TEACCH" podemos encontrar:

• Local para actividade individual com o terapeuta.

• Local para a actividade em grupo.

• Local para lanche.

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• Local para tempo livre, onde cuidadosamente é seleccionado tudo o que a

criança gosta de fazer. Neste local os terapeutas não devem interferir no

comportamento da criança, para que haja discriminação das actividades

por parte desta. É importante que a criança consiga discriminar,

momentos de actividades estruturadas e momentos livres.

Minimizar as distracções visuais e auditivas de forma a ajudar as crianças a

focalizar os conceitos em vez de o fazer nos detalhes, isto é, torna-se mais

importante que a criança se focalize mais nos conceitos, do que nos pormenores.

Na sala TEACCH desenvolvem-se áreas de trabalho básicas…

• Grupo

• Jogos

• Transição

• Trabalho (individual e independente)

e segundo os grupos etários, por exemplo, na pré-escola procura-se

desenvolver:

Imitação, coordenação motora ampla, coordenação motora fina, coordenação

óculo-manual, performance cognitiva, linguagem receptiva, linguagem expressiva,

condutas de auto cuidados, habilidades sociais, etc.

Na adolescência, privilegia-se:

Habilidades vocacionais, actividades de independência, actividades de lazer,

organização prática de rotinas, comunicação, habilidade social, etc.

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Como não se pode concluir o que está concluído, diremos que, a luta entre

vontades começa depois de cada nascimento, e que todo o ser humano tem direito à

educação. A Educação deve ter como objectivo o desenvolvimento das

potencialidades da criança, seja normal ou não.

Como cada caso envolve particularmente pessoas, o programa educacional

deverá:

1. Ser individual para se atingir melhores resultados.

2. O ambiente de ensino, não se restringir às instituições.

3. ser estendido ao lar da criança com a participação directa dos pais.

4. Ser avaliado. É imprescindível também, a utilização de um instrumento

de avaliação e acompanhamento, para se poder verificar a eficácia do

processo de aprendizagem.

"Nunca esquecendo que levar uma criança na direcção desejada é fácil se

ela for dócil e submissa, mas, se ela não tem outro desejo se não o de estar

sozinha, de se manter alheia e isolada, o desenvolvimento da atenção e do

reforço de obediência devem vir de mãos dadas", ( Young, Journal of autism and

developmental disorders. September ,1982).

6.4 ESTRATÉGIAS ÚTEIS NA INTEGRAÇÃO DE CRIANÇAS COM AUTISMO.

Segundo Fuentes (Junho, 1990), podemos concluir que a integração das

crianças com autismo pode tornar-se uma realidade em Portugal se forem

implementadas as seguintes estratégias:

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- Formação não só dos professores como também do resto da população

escolar.

- Flexibilidade em estabelecer diferentes contextos de Integração.

- Fomentar contactos positivos entre as crianças.

- Fornecer apoio afectivo e prático aos professores da classe regular,

redução do número de alunos, facilitar a sua participação em acções de

formação, etc. A preparação dos professores, bem como a cooperação

entre técnicos e professores é considerada indispensável.

- Sensibilizar os professores para os progressos da Integração, levá-los a

colaborar na definição de objectivos do programa individual de cada

criança.

- Estruturar os programas da escola de forma a permitir a integração.

- Sensibilizar e informar os alunos de forma a contribuírem para a educação

da criança.

- Adaptar o equipamento às necessidades educativas da criança.

- Implicar os pais na Integração, esclarecendo-os acerca do programa e

progressos.

Neste programa são desenvolvidas Escalas para Avaliação e Diagnóstico

que colaboram para…

• Identificar crianças com autismo.

• Classificar o nível de Acometimento da Problemática.

• Viabilizar o plano terapêutico.

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Essa Avaliação é feita com o CARS (Children Autism Rutting Scale),

instrumento com quinze itens comportamentais que devem ser observados

diariamente na criança, ver anexo B. Consideramos também importante anexar a

C.H.A.T., uma escala de avaliação de autismo para crianças com idade Pré-escolar

(Anexo C), que serve de instrumento para detecção ou não desta patologia.

Anexamos também instrumentos de avaliação (Anexo D) para despiste e análise da

patologia nas várias áreas de desenvolvimento.

Para terminarmos este ponto sobre o método TEACCH gostaríamos de

salientar e reforçar o ponto de vista de Perrenoud, P. (1993: 65), "Não se pode

mudar a escola mudando a letra do regulamento. É preciso que o espírito se

transforme também, e que os actores se apropriem das reformas, compreendam a

sua necessidade, vejam nelas o seu interesse."

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CAPITULO III

METODOLOGIA

1. OPÇÕES METODOLÓGICAS.

1.1 OBJECTIVOS DA INVESTIGAÇÃO.

- Saber até que ponto os professores/educadores concordam com a inclusão

de crianças autistas na classe do Ensino Regular.

- Constatar as dificuldades sentidas pelos professores e educadores que

trabalham com crianças com essa problemática.

- Compreender se os professores/educadores gostariam de aprofundar a sua

formação sobre a temática do autismo.

- Constatar se os professores/educadores estão de acordo com a criação de

um espaço estruturado é mais específico funcionando como sala de apoio

para crianças com a problemática do autismo- Método TEACCH

- Saber o que sentem emocionalmente os professores/educadores quando se

deparam com uma criança com a problemática do autismo.

- Constatar as diferenças e/ou semelhanças quanto às concepções entre

educadores/professores que exercem funções no Ensino Público ou no

Particular sobre a problemática do autismo.

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1.2 DEFINIÇÃO DA HIPÓTESE DE INVESTIGAÇÃO

A concretização dos objectivos analíticos, ou seja, analisar as opiniões dos

professores/educadores sobre a problemática do autismo, passou por uma hipótese

central de trabalho, que passamos a enunciar:

- A maioria dos profissionais que trabalham com crianças autistas, não têm

conhecimentos sobre a problemática do autismo devido à falta de formação

nesta área.

A hipótese apresentada é constituída por uma variável dependente

«conhecimento sobre a problemática do autismo» e uma variável independente

«formação sobre o autismo».

1.3 TÉCNICAS UTILIZADAS.

A técnica utilizada foi o inquérito por questionário, constituído por questões

fechadas e questões abertas. Estas últimas, surgem de modo a que o questionário

não se apresente totalmente directivo, conferindo alguma liberdade nas opiniões dos

inquiridos. Assim, procedeu-se a um tratamento estatístico em S.P.S.S. (Programa

Estatístico para Ciências Sociais) das questões fechadas que possibilitou quantificar

a multiplicidade de dados (Anexo F). Procedeu-se ainda à análise de conteúdo das

questões abertas, estabelecendo-se categorias e subcategorias dentro das quais se

reuniram e organizaram indicadores.

Após a elaboração do questionário (Anexo E), efectuámos um pré-teste a duas

professoras e duas educadoras, com o objectivo de podermos detectar alguns erros

ou limitações. Com efeito, e após a sua aplicação, constatámos que não existiam

ambiguidades que justificassem o seu aperfeiçoamento.

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1.4 AMOSTRA.

A amostra é constituída por profissionais de educação: Professores do primeiro

ciclo do Ensino Básico e Educadores de Infância a exercer funções nos Apoios

Educativos no Concelho do Seixal. Contudo, foi nossa preocupação inicial que esta

amostra fosse constituída pelo mesmo número de profissionais de educação em

cada nível de ensino de forma a não provocar enviesamentos na análise de dados, o

que não foi conseguido.

1.5 PROCEDIMENTO DE RECOLHA DE DADOS

Foram distribuídos 50 questionários a professores do primeiro ciclo do Ensino

Básico e 50 questionários a educadores de infância através de contacto pessoal

numa reunião de trabalho da E.C.A.E. (Equipa de Coordenação dos Apoios

Educativos).

Foram devolvidos um número reduzido de inquéritos o que nos obrigou a

recorrer a contactos telefónicos e presenciais, no sentido de sensibilizar para o

preenchimento e devolução dos inquéritos. Esta medida permitiu-nos obter 71

inquéritos ficando a amostra reduzida em 44 Educadores de Infância e 27

Professores do Primeiro Ciclo do Ensino Básico.

1.6 IDENTIFICAÇÃO E OPERACIONALIZAÇÃO DAS VARIÁVEIS.

Ao pretender conhecer as opiniões dos professores/educadores de infância

que trabalham directamente com crianças com patologias, nomeadamente crianças

autistas, tivemos necessidade de diferenciar um conjunto de variáveis que

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consideramos oportunas no sentido de confirmarmos ou infirmamos a nossa

hipótese de trabalho.

Deste modo, num primeiro momento, introduzimos duas variáveis que

identificam os inquiridos como professores do 1.º ciclo do Ensino Básico ou

educadores de infância e em que tipo de instituição desempenham funções, já que,

e de acordo com um conhecimento prévio, as educadoras de infância, para além de

desempenharem funções no Ensino Público também desempenham funções no

Ensino Particular.

Pretendemos perceber até que ponto os professores/educadores são a favor

da inclusão de crianças, com todo o tipo de problemática, no Sistema Regular de

ensino, o que remete para o conhecimento das razões apontadas pelos profissionais

que justificam a sua opção de resposta.

O conhecimento sobre o tipo de patologias que as crianças apresentam, surge

pela necessidade de identificarmos quais as problemáticas existentes nas escolas e,

sobretudo, a dimensão no que se refere ao Autismo.

Foi nossa preocupação, percebermos as dificuldades sentidas pelos

profissionais, no trabalho com crianças com esta patologia. Surgem, assim, três

variáveis que pretendem clarificar:

- se as crianças apresentam ou não relatório médico referindo autismo ou

traços autistas;

- se o relatório ajuda ou não na elaboração do plano de trabalho;

- Que grau de dificuldade sentem os educadores/professores ao trabalharem

com crianças com esta problemática.

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Esta última variável carece de uma análise de conteúdo, pela pertinência em se

perceber o que mais preocupa os profissionais que trabalham com a patologia do

autismo.

Surgem, consequentemente, três outras variáveis que analisaremos:

- Se o conjunto dos professores/educadores, gostariam ou não de aprofundar

a sua formação sobre o Autismo;

- Se consideram ou não que as crianças beneficiariam de um trabalho mais

estruturado e mais específico, desenvolvido em sala de apoio com o

método Teacch;

- Como os professores/educadores definem emocionalmente, numa só

palavra, a criança Autista.

Estas variáveis poderão levar-nos a constatar, até que ponto, os profissionais

sentem necessidade de formação específica para poder responder a este desafio, e

qual a sua opinião sobre o tipo de trabalho mais adequado com crianças com

Autismo.

A última variável, irá ser submetida a uma análise de conteúdo que, pela sua

pertinência e carácter abrangente, não nos pode remeter para uma categorização

dos indicadores que nos possibilite caracterizar os inquiridos, como profissionais que

se sentem potentes ou impotentes no desenvolvimento de um trabalho concreto,

com vista ao sucesso de crianças autistas.

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CAPITULO IV

RESULTADOS

1. CARACTERIZAÇÃO DA AMOSTRA.

1.1 SEXO DOS INQUIRIDOS.

A amostra desta pesquisa é constituída por 71 profissionais (educadores de

infância e professores do primeiro ciclo do ensino básico), todos do sexo feminino.

1.2 CATEGORIA PROFISSIONAL DOS INQUIRIDOS.

Gráfico I

Categoria Profissional dos Inquiridos

38%

62%

Professores
Educadores

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Como podemos constatar no Gráfico I, 38% (N=27) dos inquiridos são

professores do primeiro ciclo do Ensino Básico e 62% (N=44) são educadores de

infância.

1.3 TIPOS DE INSTITUIÇÃO ONDE OS PROFESSORES/EDUCADORES


DESEMPENHAM FUNÇÕES.

Gráfico II

Tipos de instituições onde os professores/educadores


desempenharam funções

1.4%

36.6%

Publico
62.0%
Particular

Nos Dois

Como se pode observar no Gráfico II 62% (N=44) dos professores/educadores


desempenham funções no Ensino Público, 36,6% (N=26) no Ensino Particular e
1,4% (N=1) nos dois tipos de Ensino.

1.4 ATITUDE FACE À INCLUSÃO DE CRIANÇAS COM TODO O TIPO DE


PROBLEMAS

Gráfico III

Atitude Face a inclusão de crianças com todo o tipo de problemas

47.9%
45.1%

Sim

7.0%
Não
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Sim e Não
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Em relação ao Gráfico III, podemos verificar que 47,9% (N=34) dos inquiridos

não são a favor da inclusão de crianças com todo o tipo de problemas, 45,1%

(N=32) são a favor e 7,0% (N=5) não formulam uma opinião concreta.

Quadro I - Atitude face à inclusão de crianças com todo o tipo de


problemática no sistema regular de ensino.

(1.ª Questão em aberto )

Categoria Subcategoria Frequência/total

Atitude desfavo- • Porque há diversos tipos de deficiência que só


rável face à prejudicam a si e aos outros.
inclusão pela • Para a deficiência o Ensino Regular não dá
inexistência de qualquer tipo de resposta.
inclusão total • As crianças acabam por estar excluídas do
processo de ensino.
• Por respeito pela condição humana e formação
profissional digo não.

• As crianças acabam por estar mais segregadas,


e não incluídas.

• "silêncio autista" será o mesmo, porque o nosso


olhar não é diferente!

• Destabilização do grupo regular.

• Inclusão "física" não é inclusão.

• Falta de respeito pela liberdade do ser humano. 20

Atitude desfavo- • Falta de espaços específicos.


rável face à in-
• Falta de escolas mais humanizadas.
clusão por falta
de condições • N.º elevado de alunos por sala.

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físicas e
• Falta de apoio individualizado.
humanas
• Falta de trabalho estruturado.

• Lacunas existentes.

• Falta de Ergonomia.
8

Atitude desfavo- • Ineficácia do Sistema Educativo ao nível da


rável face à formação.
inclusão por
• Necessidade de técnicos conhecedores da
falta de
temática.
formação
• Falta de informação inicial e contínua 12

Atitude favorá- • Desde que haja apoio pedagógico.


vel face à
• Se houver contacto físico e psicológico com
inclusão sob
padrões normais.
condições
• Sistema Regular de ensino deve estar preparado
para receber todas as crianças.

• Penso que não é a criança que se inclui no


sistema de ensino mas deve ser este a incluir a
criança, com condições.

• Se existirem condições para as crianças com


N.E.E. viverem em Sociedade.

• Desde que as estruturas o permitam.

• Desde que haja condições para a estimulação


nas diferentes áreas a trabalhar.

• Se a criança não estiver incluída apenas por


estar num grupo dito normal.
18

Atitude favorá- • Todos nós somos diferentes.


vel face à • Se houver respeito pela diferença.
inclusão por • Porque a diferença nunca deve ser motivo de
respeito à exclusão.

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diferença • Temos de olhar com "os olhos do coração".


• Porque todos temos direito a uma educação
igual.
• Como profissional e especialmente como pessoa,
penso que a inclusão não pode ser mais uma
utopia.
• Porque é positivo e gratificante para a pessoa
com N.E.E. 8

Atitude favorá- • Todas as crianças são portadoras de riquezas.


vel face à
• As ditas normais nada têm a perder, apenas a
inclusão por
ganhar, partilhando.
partilha
• Porque fazem aquisições importantes com os
outros.

• A criança cresce e aprende partilhando com as


outras crianças.

• A partilha, a gratidão, são valores que só se


aprendem com a aceitação dos outros.

• Há dimensões do desenvolvimento da criança


que só são contempladas através do contacto
com padrões normais do desenvolvimento. 5

Total=71

A análise de conteúdo conduz-nos a seis categorias: A atitude desfavorável

dos professores/educadores face à inclusão de crianças com todo o tipo de

problemas no Sistema Regular de ensino, pela inexistência de inclusão total (20); A

atitude desfavorável dos professores/educadores face à inclusão de crianças com

todo o tipo de problemas no Sistema Regular de ensino, por falta de condições

físicas e humanas (8); A atitude desfavorável dos professores/educadores face à

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inclusão de crianças com todo o tipo de problemas no Sistema Regular de ensino,

por falta de formação (12); A atitude favorável dos professores/educadores face à

inclusão de crianças com todo o tipo de problemas no Sistema Regular de ensino,

sob condições (18); A atitude favorável dos professores/educadores face à inclusão

de crianças com todo o tipo de problemas no Sistema Regular de ensino, pelo o

respeito à diferença (8); A atitude favorável dos professores/educadores face à

inclusão de crianças com todo o tipo de problemas no Sistema Regular de ensino,

pela partilha (6).

1.5 CRIANÇAS SINALIZADAS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS


ESPECIAIS

Gráfico IV

Crianças sinalizadas com Necessidades Educativas Especiais

94.4%

Sim

5.6% Não

Conforme o Gráfico IV, verifica-se que 94,4% (N=67) dos inquiridos trabalham

com crianças sinalizadas com N.E.E. e, apenas 5,6% (N=4) dizem que não

trabalham com crianças sinalizadas com N.E.E..

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1.6 CARACTERIZAÇÃO DAS PROBLEMÁTICAS DOS ALUNOS PELOS


PROFESSORES/EDUCADORES.

Gráfico V

Caraterização das Problemáticas dos Alunos pelos Professores/Educadores

70

60

50
Percentagem
de 40
Professores/
30
Educadores
20

10

Deficiência Visual Traumatismo Craniano Autismo

Multideficiência Sobredotadas Deficiência mental

Perturbações Emocionais Problemas de Comunicação Problemas Motores

Deficiência auditiva Outros Problemas

Como podemos observar no gráfico V, 53,% (N=38) do total dos

professores/educadores, referem que trabalham com crianças com perturbações

emocionais; 52,1% (N=37) referem problemas de comunicação, 45,1% (N=32)

mencionam deficiência mental; 35,5% (N=25) dizem que trabalham com crianças

autistas; 28,2% (N=20) trabalham com crianças com problemas motores;

26,8% (N=19) referem a deficiência auditiva e outros problemas de saúde;

19,7% (N=14) referem deficiência visual; 5,6% (N=4) traumatismo craniano e 2,8%

(N=2) dos inquiridos referem que trabalham com crianças sobredotadas

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1.7 PROFESSORES/EDUCADORES QUE TRABALHAM COM CRIANÇAS


AUTISTAS COM RELATÓRIO MÉDICO REFERINDO AUTISMO OU
TRAÇOS AUTISTAS.

Gráfico VI

Crianças Autistas com relatórios Médicos referindo autismo ou traços autistas

63.4%

32.4% Sim

4.2% Não

Não Responde

Constatamos pelo Gráfico VI, que 32,4% (N=23) dos professores/educadores

indicam que trabalham com crianças autistas que têm relatório médico referindo

autismo ou traços autistas.

1.8 NÚMERO DE CRIANÇAS SINALIZADAS POR PROFESSOR/EDUCADOR.

Gráfico VII

Numero de Crianças sinalizadas por Professor/Educador

2.8%
1.4%
Uma

7.0% Duas

Quatro

23.8% Mais de Quatro


64.9%
Não Responde

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Pelo gráfico VII constata-se que, 23,8% (N=17) dos professores/educadores

indicam que têm uma criança autista com relatório, 7,0% (N=5) indicam duas

crianças, 2,8% (N=2) dizem que trabalham com mais de quatro crianças autistas

com relatório médico e 1,4% (N01) dos inquiridos referem que trabalham com quatro

crianças autistas com relatório médico referindo traços autistas.

1.9 PROFESSORES/EDUCADORES QUE CONSIDERAM QUE O RELATÓRIO


MÉDICO AJUDA NO PLANO DE TRABALHO A REALIZAR COM AS
CRIANÇAS.

Gráfico VIII

Professores/Educadores que Consideram que o Relatório Médico


Ajuda no Plano de Trabalho

69.6%

Sim

Não

30.4%

Constata-se pelo gráfico VIII que, do total dos professores/educadores que

referem trabalhar com crianças cujo o relatório médico refere autismo ou traços

autistas (N=23), 69,6 % (N=16) indicam que o relatório médico ajuda na elaboração

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do plano de trabalho e 30,4% (N=7) indicam que o relatório médico não ajudou a

elaborar o plano de trabalho.

Quadro II- Dificuldades/facilidades sentidas no trabalho desenvolvido com


crianças de sintomatologia Autista

(2.ª Questão aberta)

categoria subcategoria Frequência/total

Dificuldades sentidas • As dificuldades residem no


pelos professores/ acompanhamento diário. O professor
educadores face ao não tem só esta criança, por isso não
trabalho desenvolvido consegue manter uma proximidade e
com crianças com dar uma continuidade de trabalho;
autismo • Desgaste físico e psicológico;
• Dificuldades em levar as crianças a
interagirem espontaneamente com o
adulto ou com os seus pares;
• É um trabalho complexo, exige uma
boa estruturação do trabalho em
sala(individual) a complementá-lo
socialmente em grupo (no
relacionamento com todas as outras
crianças).
• É um trabalho que exige muita
dedicação e sensibilidade. É o que eu
costumo dizer, "temos de saber esperar
para intervir".
• Captar a sua concentração para os
motivar nas suas tarefas, bem como
evitar comportamentos de auto-
agressão (numa 1.ª fase);
• Seguir rotinas, moderar as suas fobias,
estereótipos, estabelecer ambiente
harmonioso;

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• Tenho bastantes dificuldades e


sentimento de culpa, por não conseguir
os meus objectivos face à
11
problemática.

Dificuldades sentidas • Quer pelo desconhecimento de


pelos professores face metodologias a utilizar com crianças
à falta de formação com espectro autista quer por falta de
para trabalhar com apoio no exercício da função docente,
crianças autistas quer pelo falta de acções de formação,
abordagens temáticas, troca de
saberes e falta de materiais
específicos;

• Gostava de ter formação, pelo respeito


que tenho pelo que faço e pelo respeito
pela diferença;

• Nunca trabalhei, mas é necessário uma


fase de sensibilização ao nível de todos
os técnicos e auxiliares de educação;

• São crianças que não comunicam, o


que torna difícil a relação pessoal e
profissional. Há muita falta de
sensibilidade humana para um trabalho
com êxito e sobretudo formação;

• É necessário pessoal especializado no


apoio educativo, para as crianças com
N.E.E. e uma dualidade de trabalho
entre professor de apoio e regular de
modo a que haja um trabalho em
equipe; 20

Dificuldades sentidas • Aceitação dos pais e o seu


no trabalho pelos envolvimento nas propostas de
profissionais face ao trabalho;

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trabalho desenvolvido
• Dificuldade no trabalho a realizar com a
com a família com
família;
crianças com Autismo.
• Prefiro não comentar, estou contra o
sistema actual de ensino;
12

Facilidades sentidas • Não sinto dificuldades porque o meu


no trabalho com trabalho é com essas crianças. São
4
crianças Autistas crianças que devem estar em grupos
pequenos e serem inseridas no ensino
especial;

Total = 71

A análise de conteúdo conduziu-nos a quatro categorias: Dificuldades sentidas

pelos profissionais face ao trabalho desenvolvido com crianças com Autismo (11);

face à falta de formação para trabalhar com crianças Autistas (20); face ao trabalho

desenvolvido com crianças com Autismo (12); Facilidades sentidas no trabalho com

crianças com Autismo (4)

1.10 INTERESSE DEMONSTRADO PELOS PROFESSORES/EDUCADORES EM


APROFUNDAR A TEMÁTICA

Gráfico IX

Interesse demonstrado pelos professores/educadores em


aprofundar a temática

100.0%

Sim

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Constata-se pelo gráfico IX que todos os profissionais inquiridos 100% (N=71)

manifestam interesse em aprofundar a temática do autismo.

1.11 OPINIÃO SOBRE UM TRABALHO ESTRUTURADO DESENVOLVIDO EM


SALA DE APOIO PARA CRIANÇAS AUTISTAS.

Gráfico X

Opinião sobre trabalho estruturado desenvolvido em sala de apoio para crianças autistas

91.5%

Sim
5.6% 2.8% Não

Não Responde

Da leitura do gráfico X ressalta que 91,5% (N=65) dos professores/educadores,


concordam com o trabalho estruturado e desenvolvido em sala de apoio para
crianças autistas., 2,8% (N=2) não concordam e 5,6% (N=4) não responde a esta
questão.

2. RELAÇÃO ENTRE CATEGORIA PROFISSIONAL E OUTRAS VARIÁVEIS

2.1 ATITUDE FACE À INCLUSÃO DE CRIANÇAS COM TODO O TIPO DE


PROBLEMAS POR CATEGORIA PROFISSIONAL

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Em relação ao gráfico XI verifica-se que 51,9% (N=14) dos professores


concorda com a inclusão de crianças com todo o tipo de problemas; 44,4% (N=12)
não concorda e 3,7% (N=1) não emite uma opinião concreta (sim ou não). Cingindo-
nos aos educadores : 40,9% (N=18) concorda, 50% (N=22) não concorda e 9,1%
(N=4) não tem uma opinião concreta (sim ou não).
GráficoXI

Atitude face à inclusão de crianças com todo o tipo de problemas por categoria profissional

60%

50%

40%

30% 51.9% 50.0%


40.9% 44.4%

20%
9.1%
10% 3.7%

0%
Sim Não Sim/Não

Educadores Professores

2.2 PROBLEMÁTICA DAS CRIANÇAS SINALIZADAS POR CATEGORIA


PROFISSIONAL DOS INQUIRIDOS.

Quadro III

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E ducadores P rofessores
S im N ão S im N ão
n % n % n % n %
D eficiência m ental 20 45.5 24 54.5 12 44.4 15 55.6
P erturbações E m ocionais 21 47.7 23 52.3 17 63.0 10 37.0
P roblem as de C om unicação 24 54.5 20 45.5 13 48.1 14 51.9
P roblem as M otores 14 31.8 30 68.2 6 22.2 21 77.8
D eficiência auditiv a 10 22.7 34 77.3 9 33.3 18 66.7
D eficiência V isual 9 20.5 35 79.5 5 18.5 22 81.5
T raum atism o C raniano 2 4.5 42 95.5 2 7.4 25 92.6
O utros P roblem as de S aúde 12 27.3 32 72.7 7 25.9 20 74.1
A utism o 16 36.4 28 63.6 9 33.3 18 66.7
M ultideficiência 12 27.3 32 72.7 5 18.5 22 81.5
S obredotadas 0 0.0 44 100.0 2 7.4 25 92.6

No quadro III podemos observar que tanto professores como educadores

trabalham com crianças assinaladas com variadas problemáticas. Assim, no que

respeita aos educadores, 54,5% (N=24) dizem que trabalham com crianças com

problemas de comunicação; 47,7% (N=21) referem perturbações emocionais, 45,5%

(N=20) Deficiência mental; 36,4% (N=16) referem trabalhar com crianças autistas.

São apenas estas as quatro problemáticas mais mencionadas pelos profissionais.

Os professores apontam como problemáticas mais assinaladas as

perturbações emocionais (63,0% (N=17); Problemas de comunicação 48,1% (N=13);

Deficiência mental 44,4% (N=12), Deficiência auditiva e autismo o mesmo valor

33,3% (N=9)

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2.3 CRIANÇAS SINALIZADAS COM RELATÓRIO MÉDICO REFERINDO


AUTISMO OU TRAÇOS AUTISTAS POR CATEGORIA PROFISSIONAL
DOS INQUIRIDOS.

Gráfico XII
Através do gráfico XII verificamos que do total dos educadores que trabalham

Crianças Sinalizadas Com Relatório Médico Referindo Autismo ou Traços Autistas

100%
90%
80%
93.7%
70%
60%
89.0%
50%
40%
30%
20%
6,4% 11.0%
10%
0%
Sim Não Responde

Educadores Professores

com alunos autistas (N= 16), 93,7% (N= 15) indicam que o relatório médico refere

Autismo ou traços autistas.

No que respeita aos professores do Ensino Básico, dos 9 que referem ter

alunos autistas, 89% (N= 8) indicam que o relatório médico refere autismo ou traços

de autismo.

2.4 NÚMERO DE CRIANÇAS SINALIZADAS CUJO O RELATÓRIO MÉDICO


REFERE AUTISMO OU TRAÇOS AUTISTAS POR CATEGORIA
PROFISSIONAL.

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Gráfico XIII

Nº de Crianças Sinalizadas Com Relatório Médico Referindo Autismo ou Traços Autistas Por
Categoria Profissional

100%

90%

80%

70%

60% 100.0%

50%

40%
60.0%
30%

20% 20.0%
6.7% 13.3%
10%

0%
Uma Duas Quatro Mais de Quatro

Educadores Professores

Constata-se no gráfico XIII que do total das educadoras que trabalham com

crianças cujo o relatório médico refere traços autistas (N=15 como se pode verificar

no gráfico XII), 60% (N=9) referem que têm uma criança sinalizada com autismo e

relatório; 20% (N=3) refere que trabalha com duas crianças:6,7% (n=1) menciona

quatro crianças e 13,3% (N=2) trabalha com quatro crianças sinalizadas cujo o

relatório médico refere autismo ou traços autistas.

Do total de professores que trabalham com crianças sinalizadas cujo o relatório

médico refere autismo ou traços autistas (N=8. Gráfico XII), 100% (N=8) assinala

que trabalha com uma criança sinalizada cujo o relatório médico refere autismo ou

traços autistas.

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2.5 CONTRIBUIÇÃO DO RELATÓRIO MÉDICO PARA A ELABORAÇÃO DO


PLANO DE TRABALHO POR CATEGORIA PROFISSIONAL.

Gráfico XIV

Contribuição do Relatório Médico Para a Elaboração do Plano


de Trabalho por Categoria Profissional

90%

80%

70%

60%

50% 87.5%
40% 60.0%

30%
40.0%
20%
12.5%
10%

0%
Sim Não

Educadores Professores

Constata-se no gráfico XIV que do total dos educadores que trabalham com

crianças cujo o relatório refere traços autistas (gráfico XII), 60% (N=9) dizem que o

relatório ajudou na elaboração do seu plano de trabalho; 40% (N=6) afirmam que o

relatório não ajudou.

Do total dos professores que trabalham com crianças cujo o relatório refere

traços autistas (gráfico XII), 87,5% (N=7) dizem que o relatório ajudou na elaboração

do seu plano de trabalho; 12,5% (N=1) afirmam que o relatório não ajudou.

3. RELAÇÃO ENTRE O TIPO DE INSTITUIÇÃO ONDE OS PROFISSIONAIS

INQUIRIDOS DESEMPENHAM FUNÇÕES E OUTRAS VARIÁVEIS.

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3.1 TIPO DE INSTITUIÇÃO ONDE OS PROFISSIONAIS DESEMPENHAM


FUNÇÕES POR CONCORDÂNCIA COM A INCLUSÃO DE CRIANÇAS
COM TODO O TIPO DE PROBLEMAS.

Gráfico XV

Atitude face à inclusão de crianças com todo o


tipo de problemas por tipo de instituiçãoonde os
profissionais desempenham funções

100%
90%
80%
Pub lico
70% 100.0%
60% Particular
50%
80.8% Nos Dois
40%
63.6%
30%
20% 27.3%
15.4%
10% 9.1% 3.8%
0.0% 0.0%
0%
Sim Não Sim/Não

Pelo gráfico XV constata-se que 63,6% (N=28) dos profissionais que

desempenham funções no Ensino Público concordam com a inclusão de crianças

com todo o tipo de problemas; 27,3% (N=12) não concordam e 9,1% (N=4) não têm

uma opinião concreta (sim ou não).

15,4% (N=4) dos profissionais que desempenham funções no Ensino Particular

concordam com a inclusão de crianças com todo o tipo de problemas; 80,8% (N=21)

não concordam e 38% (N=1) não têm uma opinião concreta (sim ou não).

O profissional que trabalha nos dois tipos de ensino não concorda com a

inclusão.

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3.2 TIPO DE INSTITUIÇÃO ONDE OS PROFISSIONAIS DESEMPENHAM


FUNÇÕES POR PROBLEMÁTICAS DAS CRIANÇAS SINALIZADAS.

Quadro IV

Publico Particular N os Dois

Sim N ão Sim N ão Sim N ão

n % n % n % n % n % n %

D eficiência m ental 13 29.5 31 70.5 18 69.2 8 30.8 1 100.0 0 0.0

Perturbações Em ocionais 23 52.3 21 47.7 14 53.8 12 46.2 1 100.0 0 0.0

Problem as de Com unicação 21 47.7 23 52.3 16 61.5 10 38.5 0 0.0 1 100.0

Problem as M otores 8 18.2 36 81.8 12 46.2 14 53.8 0 0.0 1 100.0

D eficiência auditiva 11 25.0 33 75.0 8 30.8 18 69.2 0 0.0 1 100.0

D eficiência Visual 6 13.6 38 86.4 7 26.9 19 73.1 1 100.0 0 0.0

Traum atism o C raniano 0 0.0 44 100.0 3 11.5 23 88.5 1 100.0 0 0.0

O utros Problem as de Saúde 10 22.7 34 77.3 9 34.6 17 65.4 0 0.0 1 100.0

Autism o 14 31.8 30 68.2 11 42.3 15 57.7 0 0.0 1 100.0

C egossurdos 0 0.0 44 100.0 0 0.0 26 100.0 0 0.0 1 100.0

M ultideficiência 4 9.1 40 90.9 13 50.0 13 50.0 0 0.0 1 100.0

Sobredotadas 2 4.5 42 95.5 0 0.0 26 100.0 0 0.0 1 100.0

Da leitura do quadro IV realçamos as problemáticas mais referenciadas pelos

profissionais. Assim, verifica-se no Ensino Público que 52,3% (N=23) dos

profissionais refere perturbações emocionais; 47,7% (N=21) dos profissionais refere

problemas de comunicação e 31,8% (N=14) indica o Autismo.

No Ensino Particular a problemática mais referenciada é a Deficiência Mental

69,2% (N=18) dos profissionais seguindo-se com 61,5% (N=16) problemas de

comunicação; 53,8% (N=14) indicam perturbações emocionais; 46,2% (N=12)

indicam problemas motores e 42,3% (N=11) referencia o Autismo.

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3.3 TIPO DE INSTITUIÇÕES ONDE OS PROFISSIONAIS DESEMPENHAM


FUNÇÕES POR N.º DE CRIANÇAS COM RELATÓRIO MÉDICO
REFERINDO AUTISMO OU TRAÇOS AUTISTAS

Gráfico XVI

Tipos de Instituições onde os Profissionais Desempenham Funções por Nº de Crianças Com Relatório
Médico Referindo Autismo ou Traços Autistas

90%

80%

70%
83.3%
60%

50% 63.6%

40%

30%

20% 16.7% 18.2%


9.1% 9.1%
10% 0.0%
0.0%
0%
Uma Duas Quatro Mais de Quatro

Publico Particular

Constata-se no gráfico XVII que do total de profissionais que trabalham no

Ensino Público com crianças com relatório médico referindo autismo ou traços

autistas (N=12), 83,3% (N=10) diz que trabalha com uma criança;. 16,7% (N=2)

refere que trabalha com duas crianças.

Do total de profissionais que trabalham no Ensino Particular com crianças com

relatório médico referindo autismo ou traços autistas (N=11), 63,6% (N=7) diz que

trabalha com uma criança;. 9,1% (N=1) refere que trabalha com duas crianças.,

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9,1% (N=1) aponta quatro crianças e 18,2% (N=2) afirma que trabalha com mais de

quatro crianças nas condições referidas.

3.4 CONTRIBUIÇÃO DO RELATÓRIO MÉDICO PARA A ELABORAÇÃO DO


PLANO DE TRABALHO POR TIPO DE INSTITUIÇÃO ONDE OS
PROFISSIONAIS DESEMPENHAM FUNÇÕES.

Gráfico XVII

Contribuição do Relatório Médico Para a Elaboração do Plano de Trabalho por


Tipo de Instituição Onde os Profissionais Trabalham

100%

80%
91.7%
60% 54.5%

40%
45.5%
20%
8.3%
0%
Sim Não

Publico Particular

Dos dados do gráfico XVIII constata-se que do total de profissionais que

trabalham com crianças, no Ensino Público, cujo o relatório médico refere Autismo

ou traços autistas (N=12), 91,7% (N=11) referem que o relatório médico contribui

para a elaboração do plano de trabalho e 8,3% (N=1) afirmam que não ajuda.

Do total de profissionais que trabalham com crianças, no Ensino Particular, cujo

o relatório médico refere Autismo ou traços autistas (N=11), 45,5% (N=5) referem

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que o relatório médico contribui para a elaboração do plano de trabalho e 54,5%

(N=6) afirmam que não ajuda.

Quadro V- Palavra ou sentimento que expresse em relação ao


Autismo (3.ª Questão em aberto)

Subcategoria Frequência

Fechado 1
Muralha 1
Novelo 1
Casulo 1
Fascinação 1
Opacidade 1
Fortaleza 2
Impotência 2
Solidão 6
Tristeza 3
Silêncio 3
Inacessível 1
Imprevisibilidade 1
Estar sem estar 1
Incompreensão 1
Incapacidade 1
Profundidade 1
Prisão
Vulcão 1
Perturbação 1
Indiferença 1
Monólogo
Revolta 1
Emoção 1
Medo 3

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Pedra 1
Ave 1
Bicho 1
Vazio 1
Feio 1
Isolamento 1
Distanciamento 1
Desespero 2
Frustração 1
Agressividade 1
Dor 3
Luta 1
Diferença 2
Pessoa 3
Selvagem 1
Luto 1
Resistência 1
Complexidade 1
Vida 1
Noite 1
Frio 1
Máquina 1
Frieza 1
Insegurança 1
Natureza 1
Violência 1
Total 71

Parece-nos que, a pertinência das palavras ou expressões que integram o

quadro V, sentidas pelos dos professores e educadores que compõe a nossa

amostra, respondendo á questão aberta do nosso questionário: Palavra ou

sentimento que expresse em relação ao Autismo , carece de um tratamento

psicológico específico e aprofundado, que se torna impossível de realizar neste

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estudo, devendo o mesmo, na nossa opinião, ser remetido para uma futura

investigação.

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CAPITULO V

ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Pretendemos neste ponto do trabalho apresentar os aspectos mais pertinentes

da análise dos dados, considerando os objectivos e hipótese de investigação. Assim,

constatamos que a amostra é constituída por 44 educadores e 27 professores do 1º

ciclo do ensino básico, sendo a totalidade 71 profissionais, todos do sexo feminino.

Ainda, 62% desempenham funções no ensino público, 36,6% no ensino particular e

1,4% nos dois tipos de ensino.

Relativamente à atitude dos profissionais face à inclusão de crianças com todo

o tipo de problemáticas, apenas 45,1% são a favor. Parece-nos um valor bastante

baixo o que, em nosso entender, contraria o princípio da escola inclusiva que

“consiste em todos os alunos aprenderem juntos, sempre que possível,

independentemente das dificuldades e das diferenças que apresentam” (Unesco,

1994:11).

A atitude destes profissionais torna-se, para nós, ainda menos compreensível

ao verificarmos nos gráficos IV e V, que 94,4% trabalha com crianças sinalizadas

com diferentes patologias. Contudo, quando lhes é pedido para justificar a sua

opinião numa pergunta aberta (quadro I), surgem, no que se refere ao total dos

inquiridos, categorias que remetem para uma atitude favorável à inclusão de

crianças com todo o tipo de problemática no sistema regular de ensino:

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- uma sob condições por 18 professores/educadores: "Penso que não é a

criança que se inclui no Sistema de Ensino mas deve ser este a incluir a

criança com condições", "se a criança não estiver incluída, apenas por estar

num grupo dito normal"; "Se houver contacto físico e psicológico, com

padrões normais" (…);

- uma outra pelo respeito pela diferença por 8 professores/educadores:

"Porque a diferença nunca deve ser motivo de exclusão", "Como

profissional e especialmente como pessoa, penso que a inclusão não pode

ser mais uma utopia" " Porque todos temos direito a uma educação

igual"(…);

- ainda uma terceira que remete para a partilha por 5 profissionais: "Todas

as crianças são portadoras de riquezas! As ditas normais nada têm a

perder, apenas a ganhar, partilhando" , " A partilha, a gratidão são valores

que só se prender com a aceitação dos outros.", (…).

De acordo com esta análise, 25,3% (N=18) de professores/educadores que

indicam condições nas suas justificações não têm uma atitude favorável quanto à

inclusão na sua plenitude. Considerando os professores/educadores que não

concordam e aqueles que dizem concordar impondo condições, parece-nos que o

caminho rumo a uma escola inclusiva ainda está longe do que preconiza a

Declaração de Salamanca, onde todas as crianças devem ter lugar,

independentemente das suas diferenças. A este respeito, salienta Bautista que “Não

pretende converter em normal uma pessoa deficiente, mas aceitá-lo tal como ele é,

com as suas deficiências reconhecendo-lhe os mesmos direitos que aos outros e

oferecendo-lhe os serviços pertinentes para que possa desenvolver ao máximo as

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suas potencialidades e levar uma vida tão normal quanto possível”(1997:29). Ainda,

quanto à mesma pergunta aberta, (quadro I), surgem categorias que remetem para a

atitude desfavorável à inclusão de crianças com todo o tipo de problemática no

sistema regular de ensino:

- uma pela inexistência de inclusão total por 20 professores/educadores:

“As crianças acabam por estar excluídas do processo de ensino”," Falta de

respeito pela liberdade do ser humano", "Por respeito pela condição

humana, digo não" (…);

- uma segunda, por falta de condições físicas e humanas por 8

professores/educadores: “Falta de espaços específicos”, “Falta de escolas

mais humanizadas”, "N.º elevado de alunos por sala" " Falta de Ergonomia"

(…). Remetendo-nos a Bernard da Costa (1996:154), para que a escola

seja efectivamente inclusiva,

"É indispensável que (os professores) disponham de conhecimentos

que lhe permitam ensinar, na mesma classe, crianças diferentes, com

capacidades diferentes de aprendizagem e com níveis diferentes de

conhecimentos prévios; é preciso que os gestores escolares saibam como

modificar a organização do estabelecimento educativo e saibam fomentar a

auto-formação dos professores; é preciso que os responsáveis dos serviços

centrais, regionais e locais conheçam as tarefas que são necessárias

empreender e as suportem sobre o ponto de vista legal e financeiro"

- uma terceira categoria por falta de formação dos professores/

educadores, “Falta de formação inicial e contínua”; “Necessidade de

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técnicos especializados”, " Ineficácia do Sistema Educativo ao nível da

formação" (…). Com base no exposto e segundo Sanches (1995:168),

“Mudar o grande slogan do discurso educativo e mudar as práticas é

objectivo explícito do discurso da formação. Hoje a perspectiva sistémica do

real obriga a uma consciencialização forte de necessidade de interacção

para haver mudança; a sua ausência redundará em continuidade e

reprodução do sistema. A pedagogia é a ciência do futuro (...) se houver

vontade política para disponibilizar recursos e mudar mentalidades, a

formação dos professores será diferente” (…)

A caracterização das problemáticas dos alunos, surge pela necessidade de um

conhecimento da realidade escolar . No entanto, como o objectivo principal deste

trabalho é conhecer as dificuldades/necessidades dos profissionais que trabalham

com crianças com autismo ou traços autistas, constatámos que 35,5% dos

professores/educadores que trabalham com estes alunos (gráfico V), indicam , na

sua grande maioria (32,4%, gráfico VI), que as crianças têm relatório médico

referindo a patologia. Contudo, do total dos inquiridos que trabalham com crianças

que têm relatório médico, apenas 69,6% indicam que este ajuda na elaboração do

plano de trabalho. Sendo o relatório um documento descritivo da avaliação da

criança, feita por especialistas que discutem este assunto e, ainda, não encontraram

homogeneidade nas suas opiniões para explicar o problema, torna-se difícil para

estes transmitirem aos professores/educadores directrizes que lhes facilite o seu

trabalho.

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Remetendo-nos ao quadro teórico desenvolvido no Capítulo II, onde se

considera de primordial importância a relação estabelecida entre o técnico de saúde,

o docente dos apoios educativos e equipa pluridisciplinar, para que se realize um

trabalho importante com a criança e sua família. Podemos constatar nesta análise

que, essa relação privilegiada ainda não acontece em pleno. Mais se refere, que tal

circunstância se verifica significativamente ao nível do pré-escolar, pois para 40%

dos educadores o relatório médico não contribuiu para a elaboração do seu plano de

trabalho( Gráfico XIV) o que vem desencadear dificuldades ao lidar com crianças

com esta problemática. Temos no entanto de relevar, que são estes profissionais

que têm um papel chave na sinalização e na intervenção precoce das crianças com

Necessidades Educativas Especiais

Deste modo, foi pedido aos professores/educadores que descrevessem as

dificuldades sentidas no trabalho com crianças com a problemática do autismo

(quadro II), surgindo categorias que apontam:

- para as dificuldades sentidas face ao trabalho desenvolvido com

crianças com autismo por 11 profissionais: “Tenho bastantes dificuldades

e sentimentos de culpa por não conseguir atingir os objectivos face a esta

problemática”; “As dificuldades residem no acompanhamento diário. O

professor não tem só esta criança , por isso não consegue manter uma

proximidade e dar uma continuidade de trabalho” (...).

- Uma segunda, dificuldades sentidas face à falta de formação para

trabalhar com crianças autistas por 44 professores/educadores: “Gostava

de ter formação para o fazer pelo respeito que tenho pelo que faço, e o

respeito pela diferença”; “É necessário pessoal especializado nos apoios

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educativos para as crianças com N.E.E. e uma dualidade de trabalho entre

professor de apoio educativo e regular, para um trabalho em equipe” (...);

- Uma terceira categoria, dificuldades sentidas face ao trabalho

desenvolvido com a família de crianças com autismo por 12

professores/educadores: “A aceitação dos pais e seu envolvimento nas

propostas de trabalho”; “Dificuldade no trabalho a realizar com a família”

(…);

- Uma quarta categoria que remete para as facilidades sentidas no

trabalho com crianças autistas por 4 professores/educadores: “Não sinto

dificuldades porque o meu trabalho é com essas crianças, são crianças que

devem estar em grupos pequenos e serem inseridas no ensino especial”.

Pela frequência de respostas, podemos entender que a sintomatologia autista é

trabalhada nas nossas escolas de acordo com algumas capacidades , mas com

muitas limitações. Pelo respeito aos direitos e igualdades de oportunidades,

julgamos pela pertinência das respostas que só haverá sucesso se "olharmos com

os olhos da alma” para a formação dos técnicos que silenciando a sua solidão são

fortalezas do respeito.

Com base no exposto, podemos verificar que os professores sentem a

necessidade de formação, o que se confirma na análise do gráfico IX onde 100%

dos profissionais manifestam interesse em aprofundar conhecimentos sobre esta

temática.

É importante a informação, uma formação sólida, contudo, Sanches

(1994:27).aponta-nos: “A formação inicial não deve ser considerada como uma

vacina (desde que tomada uma vez actua por longo período de tempo) mas, sim

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como um estádio inicial de conhecimento que permite, ter acesso a instrumentos

que propiciam a aquisição de uma maior eficiência. A formação dos

professores/educadores só é eficaz se for permanente.” A grande maioria dos

professores/educadores inquiridos concordam com um trabalho estruturado,

desenvolvido numa sala de apoio, através do modelo TEACCH para crianças

autistas. Um trabalho desta natureza é hoje entendido por muitos autores, Fontes, J.

(1999); Pereira, E. (1996); Caldeira, P. (2000); como indispensável ao

desenvolvimento da criança autista, já que o primeiro passo para a inclusão é a

permanência em meio escolar, sem que para isso seja negligenciada a socialização

em contexto de sala de aula com todas as crianças que , que aparece como

hipótese paralela ao seu desenvolvimento global. É importante, neste momento

referir que 31,8% dos profissionais que trabalham no Ensino Público têm crianças

com autismo ou traços autistas e 42,3% dos profissionais que trabalham no Ensino

Particular têm crianças com autismo ou traços autistas (Quadro IV). Como

justificámos no quadro teórico a patologia do autismo requer pela sua especificidade

um trabalho estruturado que poderá ser aplicado numa sala de apoio com o Método

TEACCH, paralelamente à sala do regular. Como foi referido no quadro teórico deste

trabalho, existem 12 salas a trabalhar com este método, com sucesso, no nosso

país, o que não acontece, ainda, no distrito de Setúbal.

Dado que se pretende, neste trabalho, responder a objectivos e verificar a

hipótese de investigação, passamos a analisar os resultados dos cruzamentos entre

as variáveis mais pertinentes. Assim, relativamente à atitude face à inclusão de

crianças com todo o tipo de problemas por categoria profissional, (gráfico XI),

constatamos que são os professores que na sua maioria (51,9%) estão a favor da

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inclusão, sendo de 44,4% os educadores com a mesma atitude. Esta diferença pode

estar relacionada com o facto das dificuldades sentidas pelos

professores/educadores ao trabalharem em primeiro lugar com estas crianças e as

concepções e dificuldades que reconhecem da passagem destas crianças à escola

do 1º ciclo do ensino básico tal como está organizado.

Quanto à problemática das crianças sinalizadas por categoria profissional

(quadro III) verificamos que tanto professores como educadores trabalham com

alunos com idênticas problemáticas, o que é compreensível uma vez que a maioria

destes passam pelo jardim de infância onde são sinalizados. Contudo, as N.E.E.

mais referenciadas pelas educadoras são os problemas de comunicação (54,5%); as

perturbações emocionais (47,7%); a deficiência mental (45,5%) e autismo (36,4%).

Os professores salientam, na sua maioria (63%) as perturbações emocionais; os

problemas de comunicação (48,1%); a deficiência mental (44,4%) e o autismo

(33,3%). Esta semelhança nos resultados retracta o sistema actual de ensino no que

se refere à frequência do jardim de infância, que como todos sabemos ainda não é

prática comum da maioria dos portugueses. Observamos que a rede pré-escolar,

não sendo obrigatória mas gratuita, devia ser alargada para contemplar todas as

crianças que têm direito ao seu acesso.

Acerca do número de crianças sinalizadas com relatório médico referindo

autismo ou traços autistas por categoria profissional (gráfico XIII), constatamos que

o total dos professores só trabalham com uma criança com autismo. A maioria dos

educadores (60%), também só trabalham com um aluno com esta patologia,

contudo, há educadores a trabalhar com dois, quatro e mais de quatro alunos com

autismo. Na nossa opinião, estes dados são resultado do sistema actual de ensino e

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o crescendo de uma escola para todos, uma vez que estas crianças só agora estão

a chegar às escolas do 1º ciclo do ensino básico, pois antes eram encaminhadas

para outro tipo de instituições de ensino especial. Já Bernard da Costa (1996:156)

refere que: "A frequência da escola regular da área da residência ( o que não

implica, necessariamente, a frequência da classe regular a tempo pleno ) é um factor

da maior importância para o desenvolvimento destas crianças e para o seu apoio ao

longo da vida."

Quanto à contribuição do relatório médico para a elaboração do plano de

trabalho (gráfico XV), 87,5% dos professores dizem que os relatórios ajudam e só

60% dos educadores têm esta opinião. Segundo os autores consultados, o despiste

deve ser feito o mais precocemente possível para que as áreas emergentes sejam

trabalhadas, de forma a serem desencadeadas experiências educativas introduzidas

antes do pré-escolar, que proporcionem o benefício do desenvolvimento global da

criança. Segundo Sprinthall (1993:77), “O desenvolvimento intelectual processa-se

com um decréscimo de efeito positivo com o aumento da idade (...)”. Contudo,

quando a criança atinge a idade escolar já são visíveis resultados de um trabalho

anterior que dá pistas mais concretas para o trabalho a desenvolver na sala de aula.

A análise relativa à atitude dos profissionais face à inclusão de crianças com

todo o tipo de problemas no sistema regular de ensino, por tipo de instituição onde

os professores/educadores desempenham funções, leva a perceber até que ponto

as opiniões do Ensino Particular e do Ensino Público convergem ou se diferenciam.

Pela análise do gráfico V, verificamos que os professores/educadores do Ensino

Público, manifestam uma maior abertura à inclusão de crianças com todo o tipo de

problemáticas (63,6%), sendo da mesma opinião apenas 15,4% dos profissionais

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que exercem funções no Particular. Contudo, não foram aprofundadas as razões

que levam os professores/educadores que exercem funções no Ensino Particular à

não concordância (80,8%), o que nos suscita a hipótese deste facto estar

relacionado, com razões inerentes à organização institucional e consequentemente

a sua influência nas representações desses profissionais. Farr (1984:387) refere que

as representações são a preparação para a acção " A representação da doença

orienta a decisão de consultar um médico, a representação do corpo determina a

higiene pessoal e as regras que se observam para respeitar a boa forma física, a

representação social da infância do urbanista influenciará os seus projectos de jogo."

De acordo com exposto, a representação que os professores/educadores têm

da escola, no seu conjunto, orientará as suas opiniões e/ou práticas.

Em relação às problemáticas das crianças sinalizadas (Quadro III), surge como

relevante e mais pertinente para o nosso estudo, a referência das crianças autistas.

Deste modo, trabalham com estas crianças 31,8% dos professores/educadores, que

exercem funções no Ensino Público, e 42,3 % dos professores/educadores, que

exercem funções no Ensino Particular. A chegada de alunos com esta patologia e

outras, às escolas do Ensino Regular, como já foi referido, está numa fase de

crescimento, no entanto, é no Ensino Particular e, sobretudo, em escolas especiais,

que a maioria ainda permanece.

Apesar dos profissionais que exercem funções no Particular, na sua maioria,

não concordar com a inclusão de crianças com todo o tipo de patologias, pelo

Quadro IV, verificamos que nesta amostra, no Ensino Particular, encontramos todo o

tipo de problemáticas excepto cegos/surdos e sobredotados. Acrescenta-se que

54,5% dos profissionais que trabalham no Ensino Particular (GráficoXVIII)

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consideram que o relatório médico não contribui para o seu plano de trabalho e

verifica-se que é no Particular que os docentes trabalham com um maior número de

crianças com espectro autista. Perante estes factos, docentes pouco abertos à

inclusão de crianças com N.E.E. no Ensino Particular, trabalhar com um número

elevado de crianças e diferentes tipos de patologia, o que cria poucas condições de

trabalho, consideramos que dificilmente estarão reunidas condições para que exista

inclusão dentro dos princípios defendidos na Declaração de Salamanca (Unesco,

!994).

Embora o processo de inclusão seja irreversível, ainda há muito trabalho a

desenvolver neste campo, no entanto, Correia refere (1997:14),

"Quando as escolas públicas começarem a aceitar uma certa

responsabilidade na educação destas crianças, prevalece uma prática

segregacionista que se vai manter durante décadas. Classificadas de deficientes

e rotuladas de atrasadas, são marginalizadas das classes regulares e colocadas

em classes especiais separadas das outras crianças da escola".

Quanto à contribuição do relatório médico para a elaboração do plano de

trabalho (gráfico XVIII), são os professores/educadores que exercem funções no

Ensino Público que, na sua grande maioria (91,7%), referem que este documento os

ajuda no plano de trabalho. A maioria dos professores/educadores que exercem

funções no Ensino Particular, (54,5%) referem que o documento não contribui para a

elaboração do plano de trabalho. Relacionando estes dados com os relativos ao

Quadro XIV, verificamos que se situam nestas condições a maioria dos educadores,

logo podemos relacionar este facto com as práticas dos educadores de infância, ou

seja, serem estes profissionais a iniciarem precocemente o processo de

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acompanhamento destas crianças fazendo a sua sinalização e encaminhamento

para os técnicos de saúde que, por sua vez, fazem despistes das patologias e

enviam relatórios que, no nosso ponto de vista ainda são pouco esclarecedores e

escassos em darem pistas de trabalho para os profissionais de educação quer

sejam dos Apoios Educativos ou não.

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CAPITULO VI

CONCLUSÃO

Estamos convictas que este trabalho nos trouxe uma vida nova. Hoje,

acreditamos mais que, sem mudanças, nada se faz na vida - embora para alguns a

despedida do hábito custe sempre muito. No entanto, é importante pensar sempre

nas possibilidades fascinantes que nos oferece cada recomeço. Pegando nestas

palavras, diremos que começar este trabalho não foi fácil, no entanto, eis nos com

orgulho de profissionais nos apoios educativos a tempo inteiro a confirmar as nossas

dúvidas, os nossos medos, as nossas frustrações, mas também a repartir a alegria

por termos enriquecido quantitativa e qualitativamente. Através de uma

aprendizagem teórico-prática, foi nossa convicção que este trabalho fosse útil para

quem o consultasse e professores/ educadores, uma vez que ele dá um, panorama

geral sobre uma patologia tão complexa como o espectro autista.

Por não nos querermos repetir diremos:

Não olhes para a criança autista como um ser preso

no Mundo…

Convence-te antes do seguinte: o Mundo inteiro é

que está preso, numa prisão cujas paredes são as

paredes da tua, e és só tu que ainda anda à solta.

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Ser Autista é, acima de tudo, uma forma de ver e de compreender o Mundo.

Estas foram das muitas lições que tirámos de uma forma gratuita, ao lidar com

crianças com esta patologia, e das várias leituras, que ao longo de anos, fizemos.

Sobre este assunto somos solidários com as palavras de Angel Reviere

(1996:12), que individualiza o sentimento da criança Autista:

" Não sou só autista também sou uma criança, um adolescente ou um

adulto. Partilho das mesmas coisas que as crianças, adolescentes ou adultos a

quem chamais de normais. Gosto de brincar, de me divertir, gosto dos meus pais

e das pessoas próximas, sinto-me satisfeito quando faço as coisas bem. É mais

aquilo que partilhamos do que o que nos separa."

No entanto, para que haja uma verdadeira partilha é necessário que

professores/educadores tenham consciência de que esta patologia é

indubitavelmente uma das mais severas perturbações pervasivas do

desenvolvimento, que afecta o indivíduo para toda a vida. Afecta-o de forma tão

profunda que faz com que ele tenha dificuldade em compreender os diferentes

estímulos e sinais vividos no ambiente que o rodeia.

O Autismo é um espectro que jamais ocorre por bloqueios ou razões

emocionais como insistiam os psicanalistas. Por ser um espectro, torna-se ainda

uma questão mais incómoda não só para quem diariamente lida com estas crianças,

mas também para outros técnicos, pela multiplicidade de patologias associadas.

É de reforçar eticamente que todos nós profissionais de educação devemos

reexaminar os nossos conceitos de impulso, afecto, motivação, resiliência e conflito,

renunciando a uma teoria generalista de aprendizagem, de modo a definirmos com

eficácia o que é verdade, a ajudarmos a regulação de emoção e exploração no

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desenvolvimento global de qualquer criança, tendo sempre como base os equilíbrios

fundamentais da criança e sua família. Neste trabalho não esquecemos o papel dos

pais, que na sua dedicação aos seus filhos estão muitas vezes sozinhos, confusos e

mal informados, lutando com a desilusão, o desapontamento, o desespero e

obstáculos aparentemente intransponíveis. Os pais saem-se vitoriosos,

transformando a sua desilusão em vigor renovado, o desapontamento em coragem,

o desespero em esperança, descobrindo que o que parecera obstáculos

intransponíveis eram mais alguns degraus na sua caminhada.

Estas palavras levam-nos a pensar que todas as crianças autistas também

podem viver num, ambiente educativo, familiar e comunitário carregado de esforços

e de reforços, em que os interesses de todos quando lidam diariamente com ela

(pais, educadores, professores, colegas, comunidade) sejam interesses comuns.

Tal como diz João dos Santos: "A escola constitui hoje um novo marco na vida

de qualquer criança, à qual, todos nós profissionais cabe transformar de modo a que

ela reuna as possibilidades do desenvolvimento psíquico de todas as crianças,

nunca descurando a décalage entre o estado afectivo da criança e o seu rendimento

escolar".

Por outro lado, pensamos que muitas das atitudes negativas por parte de

professores/educadores inseridos no processo educativo de todas estas crianças, se

devem não só à falta de formação inicial e contínua, mas também às exigências que

a inclusão impõe. Esta falta de formação e também a falta de contacto com a

deficiência leva-os por vezes a uma atitude negativa face à inclusão e uma

resistência à mudança.

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Um dos factores, para que se verifique o sucesso da inclusão é o trabalho a

desenvolver em equipe com todos os técnicos intervenientes no processo educativo

da criança o que muitas vezes falha. Deve haver uma interpenetração dos

processos de diagnóstico/ avaliação e ensino em que prevaleça uma interacção

potenciadora da acção dos diferentes técnicos e se deixe de trabalhar de uma forma

individualizada. Só um trabalho que tenha um objectivo comum: a Mudança de

Atitudes dos adultos e da sociedade em geral face à diferença poderá conduzir a

uma verdadeira escola para todos.

Constatámos neste trabalho que é difícil abrir as portas à Inclusão na sua

plenitude, no entanto, aceitar como uma fatalidade a existência de crianças com

todo o tipo de patologias é nada fazer e esta não é, de forma alguma, o mais justo e

possível caminho para combater os mitos e minimizar os problemas humanos. Se

assim não for, nós os professores/educadores estamos perante um dilema " Se um

dia a alegria e o amor acabar por cruzar o nosso caminho recusamo-lo pensando,

quem poderá amar-nos se somos tão imperfeitos?" (Arno Gruen, 1995:27).

Perante o exposto e da análise apresentada, verificámos que a problemática do

Autismo suscita aos professores/educadores dúvidas, angústia e necessidade de

formação para lidar com as situações. Também obtivemos dados que nos permitem

dizer que a aceitação por parte dos educadores/professores da inclusão de crianças

com Necessidades Educativas Especiais incluindo a patologia do Autismo no

Sistema Regular de Ensino ainda está longe do referenciado na Declaração de

Salamanca (1994). Estes dados remetem para a confirmação da hipótese por nós

levantada neste trabalho ou seja, a maioria dos professores/educadores que

trabalham com crianças Autistas não têm conhecimentos sobre a problemática do

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Autismo devido à falta de formação nessa área, já que a totalidade dos inquiridos

manifesta interesse em adquirir essa formação.

Nas palavras do Prof. Doutor Edgar Pereira (Anexo A) e como sua opinião

como especialista desta temática, considera "desejável" um perfil adequado nos

profissionais de educação que trabalham com crianças com Necessidades

Educativas Especiais, sendo mais importante nas crianças de Espectro Autista,

pelas exigências específicas dos seus comportamentos. Tal como o perfil, não

menos importantes são os conhecimentos que estes profissionais devem ter sobre a

temática.

Num estudo tão vasto e de difícil investigação pelo facto da bibliografia

disponível ser de difícil acesso ficam sempre hipóteses que remetemos para futuras

investigações como sejam:

- A estrutura dos planos de estudo dos cursos de formação inicial e contínua

de forma a percepcionar resultados que conduzam nos

professores/educadores competências para trabalhar com crianças de

diversas problemáticas.

- Perceber porque é que os professores educadores que fazem cursos de

Ensino Especial não têm cadeiras específicas que lhes dê formação para

lidar com crianças com a patologia do Autismo e outras.

- Perceber a razão que leva o poder central conhecedor destas realidades a

não investir em programas específicos de formação e de acordo com os

interesses dos docentes que trabalham no terreno.

- Perceber as razões que induzem os professores/educadores dos Apoios

Educativos que trabalham no Ensino Particular, a terem concepções

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diferentes quanto à inclusão de crianças com todo o tipo de problemática no

Sistema Regular de Ensino.

- Investigar as razões que levam o Pré-escolar a não ser oficializado e

obrigatório de forma promover a igualdade de oportunidades a todas as

crianças.

- Perceber se a omissão do nome da patologia nos diagnósticos, feito por

técnicos especializados, tem subjacente a dúvida ou o receio do estigma.

Para concluir deixo as palavras de John Wing (1976), citado por Fay (1993),

traduzido e adaptado por Melo, A. F. (1998:41),:

" As crianças autistas têm, sim um fascínio que reside em parte no

sentimento de que dentro delas quem sabe onde, deve haver uma chave que

abrirá o tesouro escondido. O investigador hábil encontrará de facto um tesouro

(…) mas este tesouro será cada dia de trabalho e o humanismo que pomos nele,

nem sempre ouro! Em resposta à nossa dedicação estas crianças podem dar-

nos a chave para a linguagem humana, que é a chave para a própria

humanidade".

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