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Resumo
Introdução
1
Merleau-Ponty, M. Fenomenologia da percepção, 2011, p. 205.
próprio Merleau-Ponty afirma, “nosso corpo não está primeiramente no espaço: ele é no espaço”2. O
conhecer acerca do mundo surge de um corpo que não é um “ser pensante” mas um corpo que
percebe, que não é a extensão das coisas e nem mesmo uma coisa entre as coisas.
O papel fenomenológico que Merleau-Ponty atribui ao corpo é de uma profundidade em
conceitos e que se faz valer também de uma ruptura ou até mesmo de uma continuação do
pensamento cartesiano. A tradição cartesiana que traça por assim dizer, uma dualidade entre o
sujeito e as coisas no mundo, um pensamento que prima pela certeza e que se coloca acima do
sentido e das representações, acaba por destruir a relação originária entre o eu e o mundo e elimina a
experienciação efetiva do mundo. A relação sujeito-objeto na filosofia merleau-pontyana se dá pela
relação corpo-mundo, e o corpo se realiza enquanto tal a partir da sua espacialidade e do
desdobramento de seu ser no mundo.
O corpo constitui um “drama único”, “motricidade”, “visão”, “sexualidade”, que não está
contido no mundo por causalidades, mas por uma consciência que é no mundo corpo e está sempre
em direção às coisas. O corpo-próprio possui uma unidade, eu sou no mundo, sou no espaço e sou
meu corpo e ele me relaciona a tudo.
“O corpo é, para retomar a expressão de Leibniz, a “lei eficaz” de suas mudanças” 3, diz
Merlau-Ponty comparando o corpo a uma obra de arte, o corpo se desdobra em seus sentidos , um
certo “estilo dos gestos de minha mão” que acaba por implicar num conjunto de movimentos. Todas
2
Idem.
3
Ibidem, p. 208.
4
Merleau-Ponty, M. Fenomenologia da percepção, 2011, p. 212.
Há uma relação viva do corpo com o mundo, o sujeito da percepção mantém na experiência
não num processo de tomada de consciência mas pela constituição de um mundo que se dá por um
estilo de consciência. Como Merleau-Ponty enuncia no prefácio da sua fenomenologia, ela é um
estilo de pensamento que se deixa praticar e o corpo no mundo se reconhece dessa forma, por uma
relação vital e anterior às causalidades, por um estilo que antecede uma consciência de estado e que
não é um estado de consciência.
O mundo percebido aparece para o sujeito da percepção, o que percebe com o seu corpo-
próprio, aparecerá para aquele que percebe com o seu mundo.
Da mesma maneira, será preciso despertar a experiência do mundo tal como ele nos aparece
enquanto estamos no mundo por nosso corpo, enquanto percebemos o mundo com nosso
corpo. Mas, retomando assim o contato com o corpo, o corpo é um eu natural e como que o
sujeito da percepção.6
A subjetividade está na relação do homem com o mundo, a fim de mostrar isso, Merleau-
Ponty rejeita as ideias do racionalismo que visa o corpo como um objeto dentre outros no mundo.
Ao contrário de outras filosofias que consideram a consciência como algo que se abre para o mundo
5
Idem, p. 281.
6
Merleau-Ponty, M. Fenomenologia da percepção, 2011, p. 278.
ou como algo que se constitui, Merleau-Ponty coloca a noção de corpo-próprio como tema central
da relação entre o sujeito e o mundo.
A raiz da subjetividade está no corpo-próprio, no dado imediato do mundo pré-reflexivo, na
experiência do mundo percebido, a concepção de corpo-sujeito mostra a relação pré-objetiva ou pré-
consciente do homem com o mundo. Em contrapartida ao pensamento causal, Merleau-Ponty faz do
corpo o sujeito da percepção, a subjetividade ignorada pelo idealismo quando o mesmo aponta para
uma consciência de mundo que se constitui e apreende as coisas se mostra em seu pensamento.
À luz de Husserl, Merleau-Ponty concebe o mundo prévio e pré-existente que já está ali
antes de tudo, a consciência surge pela facticidade humana, isto é, pela sua existência e pelo eu ser-
no-mundo. A partir dessa reflexão que traz como tema o corpo no mundo, podemos dizer que a
subjetividade é necessariamente corporificada, somos corpo no mundo e somos no mundo enquanto
corpo. A relação entre consciência e mundo é mediada pelo corpo, cabe unir essas duas noções,
subjetividade e corporeidade, para compreender o olhar de uma fenomenologia que preza pela
experiência do sujeito.
Para Merleau-Ponty o subjetivo está relacionado com o mundo, ele não é um mundo
separado como concebemos constantemente, o subjetivo não é um “eu interior”, pois que, ele é o
entrelaçamento do sujeito com o mundo ou com o seu ser-no-mundo, (In-der-Welt-sein). Diferente
de Descartes que colocou o método da dúvida a fim de obter certezas acerca das nossas apreensões
7
Merleau-Ponty, M. Fenomenologia da percepção, 2011, p. 10.
8
Idem, p. 273.
9
Ibidem, p. 136.
7- Anais - Congresso de Fenomenologia da Região Centro-Oeste