A partir da conceituação de Merleau-Ponty de que cada percepção tem o seu horizonte (SILVA, 2015), talvez, com outras palavras remontasse o treinamento por trás de cada olhar, como é feita a leitura dos gestos, sobre o percurso trilhado a observar cada mínimo movimento e tomar nota do significante por trás desse. Impassível de não observação, o ato de cruzar os braços durante uma fala pode dizer mais que mil palavras diriam e de riso em momento descabido é feita a análise do que o sujeito quer dizer e enclausura no corpo. Do que pontua-se acerca do discurso humano se não o retorno das coisas as mesmas, do que ele é, como é feita a construção de sentido para si e como de maneira simbiótica o ser atue no mundo e o mundo atue de volta no ser, é inegável que isto é a unidade fundamental do ser humano, seja em psicanálise, Abordagem Centrada na Pessoa ou Terapia Cognitiva Comportamental, qualquer uma das abordagens da psicologia em si, nada é sem abordar o contexto social em que o sujeito está inserido. É de suma importância ressaltar como Merleau-Ponty traz a relação íntima do corpo e do mundo, onde o espaço revela-se a si mesmo através dos gestos corpóreos (SILVA, 2015), outras palavras, onde a sutileza do olhar deve repousar, logo que, cada corpo conta uma história, tem sua etnicidade descrita e da relevância desses trejeitos para a práxis psicológica, considerando que isso demonstra algo sobre certas fragilidades estruturais na sociedade. Ademais é retomado a teoria sócio-interacionista de Vygotsky a partir de que segundo Moreira (2009) aprende-se por meio da interação social e apesar de que Vygotsky aborde sobre o estágio do desenvolvimento infantil, o que é o ser humano sem a sociedade que o cerca, sem as trocas constantes de aprendizagem a partir dessa convivência, sobre os hábitos que compartilhamos e a linguagem ensinada, a troca cultural e diante disso, a influência do visão de mundo que nos atravessa, logo, “O mundo é aquilo que nós percebemos, não é aquilo que eu penso, mas aquilo que eu vivo” (MERLEAU-PONTY, 1999: 14). Toda compreensão é única e deve ser levada em consideração de tal maneira mesmo que exista fatores influenciadores desta, assim como nada se é experienciado da mesma maneira duas vezes, Merleau-Ponty (1999) pontua sobre a posição pela qual as coisas se torna possível, tudo é percebido de maneira como o corpo nos permite, de acordo com o conteúdo estabelecido previamente, com isso é dado a interpretação que nos convem da experiência no mundo e desde então, existe o ponto onde toca a psicologia, quais são essas interpretações e o que fez-se com essas, seriam estas possíveis demandas de amor? Como está a nossa relação com o outro? E os significantes construídos? São todas demandas do sujeito que devem ser captadas a partir da corporalidade, da sexualidade e da existência espacial partindo do pressuposto que somos seres além de pensantes e também atuantes. De acordo com o que conceitua a sexualidade do filósofo, jaz então nesse conceito a relação com o outro e como isso traz à tona certas emoções, o que poderia facilmente tornar-se alvo de estudos da psicologia, considerando que muitas as relações societais são adoecedores e resultam em afetos negativos. Pontuo que o melhor trecho de Merleau-Ponty é este onde ele compara o corpo a arte, onde me recordo dos esforços renascentistas para representar o corpo em toda a sua devida glória, devido ao movimento antropocêntrico. [...] um romance, um poema, um quadro, uma peça musical são indivíduos, quer dizer, seres em que não se pode distinguir a expressão do expresso, cujo sentido só é acessível por um contato direto, e que irradiam sua significação sem abandonar seu lugar temporal e espacial. É nesse sentido que nosso corpo é comparável à obra de arte. (MERLEAU-PONTY, 2006, p. 210).
Referências
MERLEAU-PONTY, Maurice. A fenomenologia da percepção. 2 ed. São Paulo: Martins
Fontes,1999. MOREIRA, Marco Antonio. Teorias de Aprendizagem. São Paulo: Epu, 1999. 195 p. REIS, Nayara Borges. O corpo como expressão segundo a filosofia de Merleau-Ponty. Kínesis - Revista de Estudos dos Pós-Graduandos em Filosofia. Marília. v. 3, n. 6, p. 137-153, dez. 2011. Disponível em: <https://doi.org/10.36311/1984-8900.2011.v3n06.4429>. Acesso em 16 out 2023. SILVA, Marcia Alves Soares Da. Por uma geografia das emoções a partir da proposta de Merleau-Ponty em “A fenomenologia da percepção”. In: SEMANA DE GEOGRAFIA, 22; SEMANA E JORNADA CIENTÍFICA DE GEOGRAFIA DO ENSINO A DISTÂNCIA DA UEPG, 4; JORNADA CIENTÍFICA DA GEOGRAFIA, 16; ENCONTRO DO SABER ESCOLAR E CONHECIMENTO GEOGRÁFICA, 9., 2015, Ponta Grossa. Anais [...]. Ponta Grossa, 2015. Disponível em: <https://sites.uepg.br/semanadegeografia/wp-content/uploads/2017/04/ANAIS-SEMAGEO-201 6-FINAL.compressed.pdf>. Acesso em 16 out 2023.