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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS - UFAL

INSTITUTO DE PSICOLOGIA

Bianca De Albuquerque Lima


Mônica Victória dos Santos Farias

FIGURAS DA INTERSUBJETIVIDADE NA CONSTITUIÇÃO SUBJETIVA:


DIMENSÕES DA ALTERIDADE.

MACEIÓ - AL
2022
Bianca De Albuquerque Lima
Mônica Victória dos Santos Farias

FIGURAS DA INTERSUBJETIVIDADE NA CONSTITUIÇÃO SUBJETIVA:


DIMENSÕES DA ALTERIDADE.

Trabalho de apresentação solicitado pela disciplina


de Processos Psicológicos Básicos 01 do curso de
graduação em Psicologia da Universidade Federal
de Alagoas, como requisito parcial de nota.

Docente: Ma. Luciana Carla Lopes de Andrade

MACEIÓ - AL

2022
FIGURAS DA INTERSUBJETIVIDADE NA CONSTITUIÇÃO SUBJETIVA:
DIMENSÕES DA ALTERIDADE.

Nelson Ernesto Coelho Junior, psicanalista, doutor em Psicologia Clínica (PUC-


SP) e professor do Instituto de Psicologia da USP, e Luís Cláudio Figueiredo, também
psicanalista, doutor em psicologia (USP), professor do Instituto de Psicologia da USP
e do Programa de Pós-graduação em Psicologia Clínica da PUC-SP procuram trazer
no artigo uma discussão acerca das várias matrizes da alteridade para a construção
da subjetividade e por conseguinte, a sua influência na constituição das
intersubjetividades.

Assim, o texto discorre uma crítica sobre a visão tradicional da filosofia moderna
desenvolvida por Descartes, na qual, a partir do cogito, faz um afastamento entre o
Eu e o Outro. Tal concepção é construída pelo racionalismo cartesiano, que cria a
desconfiança no externo, no “Não-eu”, sendo determinado como duvidoso, passível
de descrenças e negação. Em contraponto, o Eu é enaltecido, e, desse modo,
caracterizado como uma unidade autoconstruída independentemente da existência
do outro, autodeterminado e detentor da verdade. Outrossim, busca uma superação
do solipsismo e sua visão dicotômica, na qual só existe o Eu e suas sensações, o
Outro seria apenas impressões sem existência própria, uma vez que não reconhecem
a consciência do outro - base da construção da intersubjetividade.

Em contrapartida, a filosofia fenomenológica dá início ao estudo do conceito e


da experiência da intersubjetividade. Edmund Husserl, o criador da escola
fenomenológica, é o primeiro a fazer uma cisão com a filosofia moderna trazendo o
estudo da experiência intersubjetiva “para toda forma de conhecimento de si e do
outro” (COELHO JUNIOR; FIGUEIREDO, 2004, p.10). Assim, é fundamental
entender, a priori, o conceito de alteridade, de acordo com Homrich (2016), está
constituída no registro simbólico, na qual encontra-se o estranho que nos constitui e
que ressignifica a relação do sujeito com os seus significantes. Dessa forma
compreende-se que a alteridade é a relação entre as particularidades do Eu com
particularidades de Outros, inserindo-se na intersubjetividade como “elemento
constitutivo das subjetividades singulares” (COELHO JUNIOR; FIGUEIREDO, 2004,
p.10).
Por conseguinte, pode-se entender que a intersubjetividade é a condição da
vida social, é o estabelecimento da comunicação entre os sujeitos, permitindo a
partilha de sentidos, experiências e conhecimentos, na qual promove uma nova
concepção do eu e do mim, da consciência do mundo e de si, é uma forma que os
sujeitos usam para se interrelacionar, formando uma sociedade, comunidade ou
campo comum entre si (COELHO JUNIOR; FIGUEIREDO, 2004, p.11 - 13). Tal
comunicação é importante para a troca das consciências individuais, rompendo com
a ideia solipsista do outro como uma analogia ao que somos, e, segundo Sacarano e
Pertile (2021) tem sua total expressão por meio da linguagem, formando a
personalidade dos sujeitos a partir do contato das figuras presentes no meio em que
vive. Nesse sentido, essa interação depende das percepções de cada indivíduo, que
podem ser conscientes pré-conscientes e inconscientes (COELHO JUNIOR;
FIGUEIREDO, 2004, p.12).

Ademais, através da distância irreconciliável entre o eu e o outro, criada pela


limitada filosofia moderna de Descartes, surge a problemática da intersubjetividade de
como estabelecer as pontes entre os polos Eu e o Outro e a consciência e o mundo,
que tenta ser esclarecida pelas quatro matrizes da intersubjetividade.

A primeira matriz é a da intersubjetividade trans-subjetiva, com base nos


filósofos M. Scheler, M. Heidegger e M. Merleau-Ponty, que identificam a alteridade
como constituinte das experiências subjetivas por seu caráter de inclusão primordial
(COELHO E FIGUEIREDO, 2004, p.17). Assim, entende-se tais experiências com os
Outros como algo inicial e anterior ao próprio indivíduo, ou seja, o “Não-eu” tem caráter
formador e anterior ao Eu. Segundo Scheler, a primeira coisa que percebemos são as
expressões, posto que não é possível conhecer outro pelo seu corpo ou consciência,
para o filósofo a consciência é inseparável de sua expressão manifesta e nega, assim,
a diferença entre a consciência de si e do outro presente no cogito. Já Heidegger
compreende que somos lançados ao mundo sem escolha, no qual o Eu interage com
o Não-eu, e após isso se constitui nesses espaços de tradições, ou seja, o campo de
possibilidades exteriores ao sujeito desenvolve e define as possibilidades de
experiência e caminhos que os sujeitos tomam de acordo com suas ações. Por fim,
Merleau-Ponty traz o conceito de intercorporiedade para elucidar essas questões da
intersubjetividade, afirmando que não somos corpos isolados, mas sim corpos em
contato com o mundo e outros corpos. Para o filósofo o plano de experiências é o da
quase indiferenciação, ou seja, quase não existe o corpo sozinho de modo que as
particularidades são quase abolidas. Em síntese, essa intersubjetividade tem por
preceito a alteridade – o olhar do outro e suas interações- como ponto de partida para
a construção do Eu.

A segunda matriz do pensamento, a qual é denominada intersubjetividade


traumática, originou-se a partir do pensamento do filósofo Emmanuel Lévinas, para
ele o Outro não só precede o Eu, mas sim o excede. A forma que reconhece a
alteridade, foge da adequação ocorrendo assim, um certo deslocamento e uma
modificação na experiência subjetiva do indivíduo, consequentemente se distanciando
da adaptação entre o Eu e o Outro reconhecendo então que o outro sempre excede a
mim, em consequência disso será acometido o trauma. Esse trauma é gerado devido
a ultrapassagem da compreensão, a intersubjetividade traumática possui uma relação
com a intersubjetividade trans - subjetiva quando se diz respeito à alteridade do Outro
em relação ao Eu, no entanto a elaboração do Eu não se dá de maneira passiva, pois
é nessa constituição que ocorre o trauma em virtude da inaptidão de compreensão da
alteridade no seu todo. O Outro é idealizado como um radical alteridade, com isso as
relações intersubjetivas acabam modificando a prática subjetiva pessoal, já que a
nossa experiência subjetiva é baseada naquilo que escolhemos absorver ou renegar,
ação essa que difere o Eu do outro. Dessa maneira, observamos que esse trauma
ocorre uma vez que não existe uma relação de reciprocidade entre o Eu, o Outro e a
alteridade (COELHO JUNIOR; FIGUEIREDO, 2004, p.20 - 21).

A terceira matriz, denominada intersubjetividade interpessoal, parte do


reconhecimento entre os indivíduos. Refere- se a uma interação concreta entre o Eu
e o Outro, a partir dessa relação os gestos dão sentidos aos significados no processo
de interação entre os sujeitos, na medida que esses gestos têm algum sentido comum
para ambos não é possível ter acesso a si e a sua consciência, tal qual ninguém pode
se dotar de mim e de uma consciência senão pela mediação do outro e das suas
respostas. Podemos analisar essa situação em um exemplo prático, onde uma criança
faz um gesto que para ela é inofensivo, no entanto a mãe a repreende, uma vez que
esse gesto é ofensivo para ela a partir da sua herança simbólica formada por outros
seres. Destarte, após essa sinalização se criará um novo sentido para a criança a
respeito do gesto (COELHO JUNIOR; FIGUEIREDO, 2004, p.22).
Por fim, a intersubjetividade intrapsíquica, de S. Freud, M. Klein, W.D. Fairbairn
e D. Winnicott, discorre, principalmente, com base nas discussões freudianas acerca
do psiquismo e o inconsciente. Para essa, a experiência da alteridade é entendida
como o Outro presente e ausente ao mesmo tempo (COELHO JUNIOR;
FIGUEIREDO, 2004, p.23), ou seja, de forma induzida o Eu internaliza o Não-eu em
sua psique, que continua trabalhando para compor as particularidades do Eu, mesmo
que de forma inconsciente. Freud (1910) entende que o Eu necessita equilibrar a
tensão que o Outro carregado de afetos gera em si, e, assim, o absorve no
inconsciente. Para a matriz, é possível que a experiência intersubjetiva ocorra sem a
presença de um objeto da realidade externa, mas sim de um objeto interno que uma
vez foi internalizado.

Em suma, as matrizes intersubjetivas indicam dimensões de alteridade nas


quais nunca vão ocupar de forma pura e exclusiva o campo das experiências
humanas, fazem parte dos processos de construção da elaboração subjetiva
enfatizando a importância da lógica da suplementaridade, assim cada matriz
complementaria uma a outra no que às faltam ou as excede. Diante disso, surge uma
problemática até que situação iria ocorrer essa relação mútua, visto que nas matrizes
traumática e trans - subjetiva intercorre uma anulação de uma pela outra. Além disso,
existem algumas observações que podem ser questionadas, no artigo tentam definir
como ocorre o funcionamento e a comunicação entre as consciências pessoais, algo
que é complexo e não pode ser definido de uma única maneira.

Outrossim, o entendimento do texto apresenta entraves, uma vez que a


linguagem abordada é complexa, sendo assim necessário um conhecimento prévio
para que haja uma compreensão do conteúdo. Enquanto a escrita, os autores se
mostraram bastante repetitivos em suas ideias, e apesar de dominarem o tema, sua
leitura se torna cansativa e pesada pela quantidade de críticas demonstradas nele.
REFERÊNCIAS
COELHO JUNIOR, Nelson Ernesto; FIGUEIREDO, Luís Cláudio. Figuras da
intersubjetividade na constituição subjetiva: dimensões da alteridade. Interações,
São Paulo, v. 9, n. 17, p. 9-28, jun. 2004. Disponível em . Acesso em 20 mar. 2023.
HOMRICH, M. T. Alteridade e psicanálise: as modalidades de Outro em
Lacan. Barbarói, n. 46, p. 153-165, 9 mar. 2016. Disponível em
<https://doi.org/10.17058/barbaroi.v0i46.8670>. acessos em 22 mar. 2023.
SCARANO, Renan Cota Valle; PERTILE, Giovani Henrique. A questão da
identificação em O estádio do espelho e sua relação com a alteridade em Jacques
Lacan. Analytica, São João del Rei , v. 10, n. 19, p. 1-21, dez. 2021 . Disponível
em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2316-
51972021000200008&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 22 mar. 2023.
Cinco lições de psicanálise. ESB, v. XI, Rio de Janeiro: Imago,
1910a[1909]. (impressão 1996).

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