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As dimensões perspectivas do Eu

Publicado em 21/08/2012 culturais e condicionamentos sociais, demandando


O eu, consciência de si, vivência e conhecimento, uma autopoiese hermenêutica, da qual resultarão as
realidade anátomo-fisiológica de corpo e reações características críticas de nossa personalidade :
psíquicas, não pode ter, pela análise da ciência, uma obsessão pela sobrevivência, superestimação da
resposta supostamente simples, em virtude de que violência, simulação, exageros comportamentais,
aquilo que o constitui, não se enquadra num só indiferença.
paradigma, seja ele físico, social ou puramente
psicológico. Vamos denominar esta estrutura complexa as quatro
Dessa forma, podemos constatar que o primeiro dimensões da realidade do Eu, conforme
aspecto relevante da natureza do eu é a sua suposta especificamos abaixo:
autonomia, ou seja, a sua independência corporal ou
psíquica. As respostas respectivas que forem dadas a
qualquer desses dois aspectos vão distinguir 1) dimensão corporal do eu, produto de sua
consolidadas correntes de interpretação, fazendo do exterioridade física, esta obtida do intercâmbio
eu, ora dependente exclusivamente de seus permanente de nosso eu com o meio ambiente,
condicionamentos corporais (biologia, neurologia, através dos sentidos.
behaviorismo, desenvolvidos por Locke, Watson,
Skinner), ou, então, dependente sobretudo de sua 2) dimensão subjetiva do eu, ou seja, consciência e
subjetividade, como pensaram Freud, Jung, Piaget, vivência interior, fruto da introspecção, refúgio do eu
Buda etc). em sua substancialidade mais profunda.

Na continuidade, outro aspecto relevante do eu é a 3) dimensão social do eu, resultado de sua integração
sua dependência a valores coletivos (a família, a com as exigências coletivas, gerando
cultura, a religião) que, moldando a personalidade, comportamentos gregários.
fazem surgir no eu estereótipos sociais de grande
poder significativo. Com isto, fica claro que o eu
4) dimensão cultural do eu, fruto da vivência
pode tornar-se ou inteiramente dependente da
compreensiva do eu no mundo da cultura, fazendo
influência social que o condiciona (como pensaram
surgir valores reconhecidos, ideais políticos e
A. Comte, Marx, Lévi-Strauss, T. Parsons etc);
práticas religiosas.
outros, no entanto, acham que esta dependência não
destrói completamente a subjetividade, gozando
ainda o ser humano do poder de interiorizar a cultura, Através de um processo crítico, importa reconhecer
moldando-a segundo a sua liberdade (T.Khun, que a realidade do eu oscila permeio a essas
Dilthey, M.Weber, Gadamer, Habermas). dimensões diferenciadas, mas que se complementam.
Ora, com isso, torna-se claro que a realidade
substancial do eu (self) é sobretudo simbólica, um
As conseqüências imediatas dessas constatações nos
halo refratário de nossa presença no mundo da vida,
indicam que a integralidade do eu estará dependente,
que não deveria merecer qualquer outra preocupação,
portanto, não apenas de uma só dimensão, mas sim,
senão aquela de superar os atavismos inerentes às
também, de que nosso eu é sobretudo um suposto de
nossas condições…
natureza dinâmica e simbólica, produto do
intercâmbio possível que se estabelece entre reações
fisiológicas, autonomia subjetiva, influências https://www.filosofiaparatodos.com.br/artigos/as-
dimensoes-perspectivas-do-eu/

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