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A ESCOLA DE CHICAGO
Esta é a primeira escola de Sociologia Americana, que revigorou entre 1892 e 1935,
John Dewey e George Mead. A segunda escola, que revigorou entre os anos 60 e 80,
teve como principais autores Blummer e Goffman.
Mead e Blummer (1ª fase da Escola de Chicago)
Saliente-se, antes demais, Herbert Blummer, importante sociólogo que deu nome à
Escola de Chicago.
Denote-se que Chicago, era (e é) uma grande metrópole com um grande número de
imigrantes de diferentes culturas, pelo que lhe era associado um conjunto de graves
problemas sociais. Além disso, Chicago torna-se um importante laboratório para a
Sociologia (nomeadamente devido a questões de segregação, de prostituição, de
crime...). Chicago foi ainda o local onde se fundou a primeira revista de sociologia e a
Associação Americana de Sociologia.
A EC passou por duas fases: uma que durou até aos anos 30/40, com enorme
influência de John Dewey e George Mead; outra, que foi importante no pós-Guerra,
salientando-se Goffman e Becker.
Pode-se estabelecer uma ligação entre Dewey com um clássico, Durkheim, dado que
segundo o primeiro autor, nao existe um pensamento mas sim um processo mental;
isto é, só existe realidade se esta existir na nossa mente e com um significado. Assim,
depreende-se que tudo o que é macro (sociedade, sistemas, etc...) existem mas não
determinam a consciência/comportamento do indivíduo. As normas, papéis, crenças
só existem porque os indivíduos as utilizam na interação, pelo que o importante é o
uso que estes lhes dão.
Segundo Blummer, a interacção existe por si própria e, ao estudarmo-la, desenvolve-
se e expressa-se a capacidade de pensar; defende também que os objectos, quer sejam
físicos ou abstractos, só existem se lhes dermos significado.
O behaviorismo social (George Herbert Mead) determina que o interesse se foca nas
respostas dadas pelo indivíduos, pelo seu significado e pela forma como estes
seleccionam a forma de resposta. Os estímulos provêm dos processos mentais dos
actores. Este behaviorismo distingue-se do behaviorismo biológico (de Watson), onde
o comportamento é interpretado através de um estímulo-reflexo (depende apenas de
fenómenos biológicos).
Conceitos:
Linguagem – conjunto de regras que se torna no principal mecanismo de
controlo internacional, ou seja, é um conjunto de símbolos que podem ser
agregados num infinito nº de formas permitindo a comunicaçã o do pensamento
abstracto sendo, por isso universal, no que respeita À sua existência em todo e
qualquer tipo de sociedade
“Outsiders”
O que é um desviante?
Um desviante pode ser um individuo que não cumpre as regras e as normas impostas
pela sociedade, isto é, um individuo que não segue convenções sociais; deve-se ter em
atenção que pode ser considerado desviante, mesmo que o seu comportamento não
seja considerado ilegal (ex.: homossexualidade).
Os grupos sociais constroem regras que podem ser reforçadas conforme as situações.
Há diferentes perspectivas sobre o que é ser desviante ou não (uma pessoa pode não
se considerar desviante). Aliás, os que quebram as regras podem considerar que
aqueles que constroem a moral são os outsiders.
Comportamento quebra-
Comportamento obediente
leis
Percebido como desviante Falsamente acusado Puro desviante
Não percebido como
Conformista Desviante secreto
desviante
O desvio é sempre o produto de uma interacção, é uma questão de quem tem o poder
e incorpora esse rótulo noutras pessoas, não sendo, portanto, uma questão de
patologia.
Músicos de jazz
Becker participa neste grupo, por ser um músico de jazz, e observa, fazendo por isso
observação participante com participação directa no grupo.
Aparentemente, este grupo parece um grupo dentro da lei, legal, mas são considerados
marginais porque o seu comportamento é anticonvencional; este comportamento é
duradouro e uma base sólida de sociabilidade. O grupo de músicos de jazz possui uma
visão própria do mundo e um estilo de vida muito próprio, partilhado pelos membros
desse mesmo grupo e que constroem um certo isolamento da restante sociedade.
Saliente-se o facto de possuírem linguagem/valores/etc próprios, pelo que a cultura se
torna identitária e diferenciadora (identificam-se com uma tábua comum de valores
sobre si mesmos, sobre os outros e sobre si próprios como desviantes. Tal permite
superar os juízos que a sociedade tem sobre eles – o facto de as pessoas os julgarem
bizarros, exóticos, diferentes… Os músicos de jazz definem-se segundo critérios
autónomos e não heterónimos porque criam formas de se tornarem
autónomos/independentes do resto da sociedade, desenvolvendo comportamento
próprios/não-convencionais/boémios.
Refiram-se três dimensões inerentes aos músicos:
1) Concepção sobre si mesmos – existe uma fronteira binária (nós VS outros),
tendo por isso, uma concepção sobre os que não são músicos de jazz.
Definem-se como pessoas dotadas de um dom inato (pretensão para tocar bem,
genialidade… - características carismáticas), considerando os outros
quadrados/aborrecidos/rotineiros.
2) Conflitos que se vão instaurar entre “músicos sérios” e “músicos
comerciais/vendidos” – músicos de jazz seguem a arte pura (arte pela arte) e
critérios artísticos; quando alguém muda os critérios extra-artísticos (ou seja,
tocar em lugares mais comerciais, mudança do seu reportório, etc) deixam de
fazer parte da cultura interna
3) Auto-segregação – sentimento de pureza que tenta inverter (ser puro não é ser
contaminado pela sociedade dominante); isolam-se quando tocam – ou seja,
nos cenários de interacção – e desenvolvem uma clara hostilidade
relativamente aos “quadrados” e dos que se vendem
Críticas a Becker
Alguns autores criticam a teoria da rotulagem pois acham que Becker coloca
uma enfase muito determinista nesta teoria (criticam o facto de Becker so
considerar o desvio) – Becker responde que o rótulo é um dos
mecanismos/uma das explicações para compreender o desvio, mas que tal faz
com que seja mais difícil para o actor comportar-se normalmente.
Critica a visão consensual do interaccionismo – actores sociais ajustam-se ao
comportamento que deles se espera (como se tivessem que preencher um
papel) – Becker responde que tem em conta que há conflitos/graus diferentes
de poder, que o ajustamento não é automático mas que as pessoas têm sempre
em conta tal ajustamento/etiqueta, acrescentado que o desvio é uma acção
colectiva (“as pessoas agem com um olho nas respostas dos outros que estão
envolvidos nessa acção” – Outsiders).
Há autores que consideram Becker perigosamente radical porque procura
destruir a ordem social segundo a sua teoria dos guardiães morais – Becker
afirma que apenas observa e que não há uma ordem social, apenas que o
desvio tem diferentes significados
Há quem afirme que Becker não tem em conta aspectos macro-sociais (classe,
etnia, etc) – Becker faz uma observação micro/meso e por isso não parte de
características macro.
Criticam o facto de Becker criticar os elementos das instituições sociais (por
não terem responsabilidades morais) – Becker diz que não são os médicos
psiquiatras que tem total responsabilidades; que é o hospital – enquanto
instituição – que tem responsabilidade total; é uma questão de escala de
observação.
Os mass media acabam por criar um nº de pessoas manipuladas, que não sabem que o
estão a ser e que são exploradas ao pensar que estão à procura pela busca da
felicidade. Reproduzem o sistema capitalista e a cultura é vista como uma mercadoria,
em que existe um dominador comum – como tal, não é crítica e não exige esforço.
As massas esta excluídas da participação, sendo encaradas como meros produtos e
consumidores passivos, pelo que parece que há a procura em juntar o objecto e o
sujeito num só. Procuram formar o individuo para o consumo e não para o
pensamento crítico.
Há ainda a irracionalidade da razão.
Este autor, socialista/marxista que parte para os EUA nos anos 30, tornou-se um
activista e foi um forte impulsionador dos movimentos juvenis. Vai demonstrar nesta
obra, três grandes influências: Marx (razão negativa – relacionada com o esquema
dialético), Freud (teoria da psicanálise) e a escola crítica.
Esta obra foi escrita nos anos 60, uma época de grande agitação por todo o mundo;
este autor defende que a civilização, no decurso da evolução social, tem vindo a
reprimir o desejo, o progresso e as necessidades humanas, contrastando com as ideias
defendidas pelos positivistas.
A sociologia tem um papel negativo porque aparece como uma engenharia social,
dado que serve para servir grandes organizações, onde as respostas são dadas em
função das encomendas (pelo que as questões de foro sociológico são postas de lado),
criando uma agenda crítica. Os cientistas fornecem informações que permitem que as
empresas/media/próprio poder controlem as pessoas acabando por criar uma
sociedade administrada (controlada por uma tecnocracia – os
investigadores/cientistas, que se dizem neutrais, acabam por ter um poder enorme, não
se preocupando com os efeitos/consequências/responsabilidade social e dando enfase
as causas e outras informações pedidas pelas grandes organizações).
Contudo, as pessoas não sentem a dominação, acabando por ser manipuladas ou
alienadas.
O poder actua em nome da liberdade, isto é, o controlo e a opressão são legitimadas
em nome da liberdade. Marcuse dá exemplos em que descreve a “Terra como um
inferno” no Vietname, na África do Sul, nos guetos. Contudo, afirma que esta lógica
se está a implementar pelo mundo, está a globalizar-se, espelhando uma ideia de
servidão voluntária.
A servidão voluntária é a ideia que de mesmo quando há uma consciência difusa de
que somos controlados/etc, não nos afecta o quotidiano porque já temos uma
realidade que nos foi imposta). Para combater a servidão é preciso “prescindir dos
heróis e das virtudes heróicas” (porque se não pode haver uma guerra, exaltações,
etc), “viver como um fim em si mesmo” (a nossa existência não pode ser um
consumo, não nos podemos tornar objectos), e também é necessário desenvolver uma
“sexualidade polimórfica” (seguimento das ideias de Freud; a sexualidade deve
significar uma significação plena das necessidades humanas e deve corresponder à
plenitude da sociedade humana – se a sexualidade não for reprimida, há a libertação
da servidão.
Marcuse dirigiu-se claramente aos estudantes, sendo criticado por isso porque a
Escola de Frankfurt defendia que se devia ser crítico na escrita e não enquanto actor
social. Destaca o conflito entre gerações, defendendo que se deve combater “falsos
pais, falsos professores e falsos heróis” porque propagam ideais e são detentores de
autoridade parental, educacional e nacional.
Como tal, defende a união dos oprimidos para alem das fronteiras (solidariedade
global), não descurando a necessidade dos indivíduos em se rebelarem contra os
aparelhos (“corpo contra máquina”).
Destaca ainda a diferença entre novos e velhos movimentos sociais; os primeiros são
movimentos em que há novas formas de expressão da subjectividade rebelde, onde o
individuo/subjectividade se sobrepõe a todo, existindo várias causas e não apenas uma
em que se dá importância à criatividade individual; os segundos movimentos
reportam-se a movimentos em que os indivíduos dependem dos colectivos.
Marcuse fala da junção da questão erótica (pessoal/intimo/subjectivo) com a questão
politica: a política passa a ser feita segundo a subjectividade de cada individuo – o
corpo e a linguagem podem ser usadas como arma de libertação não só de um grupo
mas como individuo.
Este autor refere ainda o contraste entre o eros e a morte. Procura distinguir as
verdadeiras necessidades (vão de encontro ao nosso bem-estar, ao nosso ser) e as
falsas necessidades (impulsionadas pelo consumo).
“Hoje, a luta pela vida, a luta pelo eros, é a luta política” → nã o se pode dissociar a luta
pessoal da luta politica; para um individuo se libertar politicamente tem que se libertar
pessoalmente.
O Homem torna-se útil para as estruturas e passa a ser assim considerado, tornando-se
sujeito de uma racionalidade limitada/instrumental (o trabalho não lhe dá satisfação
pessoal, ele apenas cumpre horários e segue regras.
O principio da realidade materializa-se num conjunto de instituições, onde os
indivíduos aprendem a lei e ordem e reproduzem-na, contribuindo para o
conformismo.
MAS afirma que a civilização não eliminou totalmente a fantasia (inspiração em
Freud), existindo o retorno do oprimido (espécie de regressão a um estado que nos
pode inspirar a ser diferentes) porque, por vezes, de forma fugidia, parece que
regressamos ao principio do prazer. A regressão externa (instituições, sociedades,
mercado…) foi sempre apoiada pela repressão interna (do próprio individuo). Como
tal, conclui que tem que haver libertação em ambas as direcções através de, por
exemplo, criticar e desmistificar os valores/normas/etc dessas instituições. Fazer
progressão é progredir, se soubermos o que foi o passado, podemos moldar o futuro,
tal não é só conseguido com a psicanálise mas também através de processos sociais.
Jürgen Habermas
Iniciou o seu percurso na EF, trabalhando nela depois da II Guerra Mundial. Mas, de
alguma forma, acabou por criar a sua própria escola quando publicou a obra “A
mudança estrutural na esfera pública” em 1962. Foi conhecido pela polemica contra
Popper. Continua a teoria critica porque dá 3 tipos de conhecimento (os positivistas só
dão um): conhecimento ligado ao controlo e à previsão dos fenómenos segundo os
métodos das ciencias exactas, conhecimento hermeneutico, ligado à fenomenologia,
conhecimento emancipatório.
Habermas vai-se preocupar muito com o conhecimento hermenêutico, com a forma
como os individuos transmitem as ideias e comunicam através da linguagem (foco
privilegiado de análise). Habermas pensa que o conhecimento cientifico do mundo
deve permitir a sua transformação – legado marxista, mas, enquanto Marx punha a
ênfase nas relações de exploração, Habermas punha o ênfase na comunicação e nas
formas como esta permitia a transformação. Habermas procura os mecanismos de
dominação através da comunicação e da linguagem.
Por outro lado, é um grande defensor do carácter incompleto da modernidade. Aponta
várias patologias à modernidade mas defende que tem um pontencial que não se
concretiza. É contra a ideia dos pós-modernos, que defendem que não há razão, nem
valores universais.
Habermas entra em debate com:
Popper por causa do seu positivismo
Pós-modernistas
Teóricos do sistema – para Habermas os sistemas não estão a funcionar bem
Influências de Habermas
Hegel (dialética)
Marx (separação da sociedade actual)
Teoria Crítica (EF) – crítica ao positivismo
Weber (burocratização; racionalidade formal)
Pragmatismo e fenomenologia social (importância do mundo-da-vida e das
práticas de dominação)
Teoria dos sistemas de Parsons (sociedade como um sistema auto-referencial –
a sua preocupação nao é com os indivíduo mas apenas com a estrutura – desta
forma, Habermas tem de perceber a actuação dos sistemas e depois aponta as
suas críticas)
Habermas inicia-se na EF, mas acaba por perceber que esta escola está num impasse e
é incapaz de resolver problemas. Assim, Habermas dá mais atenção à deterioração da
comunicação.
Esfera pú blica → terreno abstracto onde existe livre circulaçã o de ideias e onde se pode
contestar o poder. Cria uma razã o crítica (diferente da analítica)
A esfera pública forma-se num espaço autónomo onde se pode discutir o Estado; há
idea da competição entre os melhores argumentos, isto é, na esfera pública ganha que
demover os argumentos dos outros e convencer os outros indivíduos; requer a
existência de homens livres, porque tem que haver liberdade para argumentar e
contra-argumentar. Tem um sustentáculo na vida privada porque os homens tem que
ser independentes e ter capacidade para sobreviver – tem que ter protecção na vida
pública. É na esfera pública que há poder para críticar o Estado.