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O ciclo do nitrogênio

corresponde às contínuas
transformações das formas
orgânicas e inorgânicas por meio
de processos físico-químicos e
biológicos. A atmosfera contribui
com o fornecimento do nitrogênio
gasoso e com pequena parcela de
nitrogênio combinado nas formas
de amônio (NH4+), originado de
queimas industriais, de atividades
vulcânicas e de incêndios florestais,
e de nitrato (NO3-), originado da
oxidação do N2 pelo O2 ou pelo ozônio (O3) na presença de descargas elétricas ou de
radiação ultravioleta. O amônio e o nitrato produzidos na atmosfera são transportados para o
solo pela chuva, podendo ser absorvidos pelas raízes.

O nitrogênio combinado no solo é o mais suscetível dos compostos às transformações


biológicas. As plantas geralmente o absorvem na forma de compostos altamente oxidados,
dos quais o nitrato é o principal deles. Após a absorção, esses compostos devem ser reduzidos
para que sejam incorporados nos diversos constituintes celulares. Portanto, nos animais e nas
plantas, o nitrogênio encontra-se, na sua maioria, na forma reduzida como íon amônio
(NH4+) ou amina (NH2-). No outro extremo, o nitrato, principal forma em que o nitrogênio é
encontrado no solo, é altamente oxidado, sendo necessária a adição de 8 elétrons para que se
converta em amina. O nitrogênio disponível para as plantas pode ser também oriundo
diretamente de fertilizantes industriais, representando uma parcela muito pequena em relação
ao total do nitrogênio fixado biologicamente.
Apesar de abundante na atmosfera, o nitrogênio molecular não pode ser absorvido
pelas plantas. Exceto pelos microrganismos fixadores ou via adubação nitrogenada, a
principal forma de obtenção desse elemento pelas plantas é o aproveitamento do nitrogênio
combinado na matéria orgânica. Em determinadas situações, como solos frios, ácidos e
deficientes em oxigênio, o amônio é a principal fonte de nitrogênio, sendo utilizado na
constituição de aminoácidos, uma vez que as bactérias nitrificantes não são abundantes e,
quando presentes, são menos eficientes. Em solos úmidos e quentes, o amônio é oxidado a
nitrito (NO2-) por bactérias nitrificadoras, como as Nitrosomonas, e este a nitrato (NO3-), por
bactérias como as Nitrobacter.
No solo, o íon encontra-se adsorvido nas partículas coloidais, enquanto o nitrato, por
ter carga negativa, torna-se componente da solução sendo facilmente lixiviado nessa
condição. A perda de compostos nitrogenados do solo para a atmosfera, ou mesmo para rios,
lagos ou mares, pode ocorrer de várias formas, principalmente por volatilização da amônia,
por denitrificação ou por lixiviação. A adubação excessiva com sais de nitrato, seguida de
chuva abundante, faz com que esses sais sejam carreados para lençóis freáticos, lagos ou rios,
constituindo fortes agentes poluidores. Além disso, os vegetais perdem, por lixiviação,
pequenas quantidades de NH3, N2O, NO2 e NO, principalmente quando recebem uma boa
adubação nitrogenada. Bactérias anaeróbicas utilizam o nitrato como aceptor de elétrons
durante o processo da respiração, formando N2, NO, N2O e NO2.
A incorporação do nitrogênio molecular (N2) encontrado na atmosfera em um
composto nitrogenado corresponde à sua fixação, sendo a principal forma de sua introdução
nos ecossistemas. Consideramos a fixação de nitrogênio como sendo sua redução para
formação de amônia (NH3).
A fixação biológica é realizada por alguns microrganismos procariontes que possuem
o maquinário enzimático necessário para reduzir o nitrogênio molecular a amônia. Esses
microrganismos podem ser de vida livre ou viver em associações com organismos
eucariontes de diversas categorias taxonômicas, geralmente vegetais superiores,
estabelecendo relações simbióticas (ou mutualísticas) em grau variado. A evolução da relação
simbiótica entre esses microrganismos e as raízes de fanerógamas levou ao desenvolvimento
de estruturas altamente eficientes na proteção do sistema: os nódulos. Para a maioria dos
procariontes fixadores de vida livre ou que vivem em associações, a energia para o processo
vem direta ou indiretamente da luz.
Os organismos fixadores de nitrogênio pertencem a três grupos: bactérias,
cianobactérias e actinomicetos. As bactérias podem ser de vida livre ou estabelecer relações
mutualísticas com plantas de diversas categorias taxonômicas. As bactérias de vida livre,
encontradas nos solos podem ser classificadas ainda como aeróbicas, bactérias anaeróbicas ou
bactérias anaeróbicas facultativas. Algumas bactérias de vida livre podem estabelecer
relações mutualísticas com plantas. Dentre as cianobactérias, destacam-se principalmente as
espécies filamentosas, as quais possuem, ocasionalmente, células não-clorofiladas, de paredes
espessas, conhecidas como heterocistos, onde ocorrem as produções de ATP por fosforilação
e o processo de fixação do nitrogênio.
Na maioria das angiospermas, leguminosas e não-leguminosas fixadoras de
nitrogênio, os microssimbiontes fixadores são bactérias genericamente denominadas rizóbio e
actinomicetos (bactérias filamentosas).
O processo da fixação de nitrogênio é similar entre os diferentes microrganismos que
realizam esse processo e envolve uma fonte variável de elétrons, em função do metabolismo
do microrganismo ou do hospedeiro, e a enzima nitrogenase.
Alguns microrganismos de vida livre dependem indiretamente das plantas, enquanto
outros são independentes, como é o caso das cianofíceas e bactérias fotossintetizantes. No
sistema simbiótico, o microssimbionte depende diretamente do hospedeiro para obter
suprimento de energia.
A fixação biológica do nitrogênio é considerada como o principal processo de adição
de nitrogênio exógeno aos diferentes ecossistemas, sendo de fundamental importância no
balanço desse elemento nos diferentes ambientes. No entanto, em ecossistemas naturais
equilibrados, onde ocorre o processo de decomposição da matéria orgânica com fluxo de
nutrientes em intensidade suficiente para sua manutenção, há menor necessidade de
nitrogênio exógeno. Além disso, a fixação do nitrogênio depende do genótipo do hospedeiro
e da estirpe de rizóbio, bem como da interação de ambos com as condições físico-químicas
do ambiente.
Nas leguminosas, a fixação de nitrogênio ocorre após a infecção da raiz pela bactéria
e o desenvolvimento do nódulo. Algumas espécies apresentam nódulos caulinares,
produzindo-os em grande quantidade, especialmente quando se desenvolvem em áreas
alagadas.
Os metabolismos do simbionte e do hospedeiro são complementares, e cada um
estimula o outro a produzir substâncias específicas. Ambos possuem genes envolvidos no
processo de formação e funcionamento do nódulo, e isso possibilita um grande campo de
pesquisa em várias áreas do conhecimento, especialmente na biologia molecular. O rizóbio
possui um grande número de genes que controlam vários aspectos da nodulação como
especificidade do hospedeiro, infecção e nodulação. Esses genes são ativados ou reprimidos
desde o início da associação até o desenvolvimento pleno do nódulo e pertencem a duas
categorias: genes estruturais e genes reguladores, que controlam a expressão dos primeiros.
Esses genes são também divididos em dois grupos: genes-nodulinas iniciais, ligados ao
processo de infecção e desenvolvimento do nódulo, e genes-nodulina tardios, associados ao
seu funcionamento, como, por exemplo, no transporte de oxigênio e assimilação do
nitrogênio. Exemplos de expressão dos genes-nodulina são o pigmento transportador de
oxigênio (leg-hemoglobina), enzimas (como uricase) e componentes da membrana
peribacteróide ou membrana-envelope.
Foram descobertas três formas básicas de penetração ou infecção da bactéria nas
raízes de leguminosas: na primeira, o processo se dá através de pêlo radicular com a
formação de uma estrutura tubular (corrente de infecção), no interior da qual as bactérias são
conduzidas até as células que formarão o tecido infectado do nódulo; na segunda (via
epiderme intacta), as bactérias penetram entre as células epidérmicas; e, na terceira, a
penetração se dá por rupturas da epiderme e do córtex provocadas pela emergência das raízes
laterais ou ferimentos. Normalmente, quando a
infecção se dá através da emergência das raízes
laterais, não há formação de pêlos absorventes. A
forma de infecção poderá vir a ser utilizada para
caracterizar grupos de leguminosas, auxiliando na
definição de suas categorias taxonômicas, uma vez
que é determinada pelo hospedeiro. Nas três formas
básicas de infecção, as bactérias atingem algumas
células do córtex radicular que darão origem ao
tecido infectado.
A invaginação da parede do pêlo radicular
origina a corrente de infecção que contém, em seu
interior, uma ou mais fileiras de bactérias e que
cresce entre as células corticais através destas. A
corrente de infecção consiste, portanto, em uma nova parede celular, sintetizada pelo
hospedeiro, contendo as células bacterianas, que ficam embebidas em uma matriz sintetizada
pelos microrganismos, mas que contém também glicoproteínas produzidas pela leguminosa.
A parede da corrente de infecção é similar às das demais células do córtex radicular, mas com
algumas diferenças, uma vez que enzimas hidrolíticas degradam estas últimas, mas não a
primeira. A estrutura toda é envolvida pela membrana plasmática da célula epidérmica.

A grande estabilidade da molécula de nitrogênio resultante de sua estrutura molecular


faz dela um gás não-reativo a temperaturas ambientes. Assim, considerável quantidade de
energia é requerida para quebrar a tripla ligação dessa molécula com a produção de amônia
(NH3). No processo de fixação, a tripla ligação que existe entre os átomos de nitrogênio é
rompida, e cada um se liga a três átomos de hidrogênio, utilizando energia despendida pelo
ATP, que, nos sistemas simbióticos é formado da queima dos produtos da fotossíntese.
Para que ocorra o processo, é necessária a presença imprescindível não só da enzima
nitrogenase, como também de redutores fortes, como ferredoxina e flavodoxina, de ATP, de
uma via assimilatória de NH3* e, em bactérias aeróbicas, de proteção do sistema de fixação
do nitrogênio da desnaturação
provocada pelo oxigênio. O
processo requer, portanto, uma
fonte de elétrons, prótons e de
ATP. Observa-se que a leg-
hemoglobina não é essencial
para a fixação ocorra em alguns
sistemas simbióticos.
Parece haver obrigatoriedade na
relação de um H2 formado para
cada N2 reduzido. A
nitrogenase catalisa não só a
redução do nitrogênio, mas
também a de vários outros compostos, incluída a redução do acetileno a etileno.

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