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CICLO DO NITROGÊNIO

O nitrogênio é, depois do C, H e O o elemento mais demandado pelos vegetais. Cerca de 98% do N


existente encontra-se na litosfera. O segundo maior reservatório natural é a atmosfera terrestre, que é
composta, em média por 78 % de N. Nestes dois compartimentos o N ocorre em formas de pouca
importância biológica. Embora em quantidade infinitamente menor, o N acumulado na biosfera corresponde
ao maior reservatório de formas biologicamente ativas. Cerca de 96 % do N orgânico terrestre, encontra-se
na matéria orgânica morta e apenas 4% os organismos vivos, dos quais 96 % encontra-se nas plantas, 4 %
na microbiota e 2 % nos animais. Embora em termos globais as quantidades de N na matéria orgânica e
biomassa microbiana são extremamente pequenas, este reservatório é de grande significado biológico, por
ser o solo o meio de interface da biosfera.
O nitrogênio é um elemento vital para qualquer organismo vivo, pois é essencial para a formação de
biomoléculas, com destaque para proteínas e seus derivados (enzimas, peptídeos e aminoácidos) e ácidos
nucléicos (DNA e RNA). Sua importância é tamanha que a sua demanda para a formação da biomassa do
solo é somente menor do que a observada para o carbono, hidrogênio e oxigênio. Ao contemplarmos os
reservatórios de N em nossa biosfera, nos deparamos com a grande quantidade deste elemento na
atmosfera, onde ocorre predominantemente na forma de N2, o gás mais abundante do planeta, porém
quimicamente inerte e não disponível para o uso direto da maior parte dos seres vivos. Nos solos, a
disponibilidade biológica do nitrogênio, juntamente com o fósforo (P), enxofre (S) e potássio (K), tem relação
direta com a produtividade agrícola, sendo esses nutrientes normalmente limitantes ao desenvolvimento das
plantas. Os compostos de nitrogênio solúveis e biologicamente úteis [combinações amoniacais (NH 4+),
nítricas (NO3-) ou orgânicas (R-NH2)] são escassas nos ambientes naturais e, por essa razão, são
empregados de maneira muito econômica pela maioria dos organismos existentes nestas condições. Já em
áreas agrícolas, onde a demanda por nitrogênio é maior, a correção de seus níveis é feita em solos por meio
da adição do nitrogênio “combinado”, via adubações químicas ou orgânicas dos solos.
Conteúdo e formas do nitrogênio no solo
O nitrogênio está presente nos solos predominantemente sob a forma orgânica e inorgânica.
Formas orgânicas de nitrogênio: O N orgânico ocorre no solo na forma de proteínas, aminoácidos livres,
açúcares aminados e outros complexos, qualificados como compostos não identificados. O N ligado aos
aminoácidos (proteico) representa de 20 a 40 %, aquele ligado a amino açúcares 5 a 10 %, e ácidos
nucléicos menos que 1 % ou menos. Proteínas são comumente encontradas em combinação com argila,
lignina e outros materiais, o que aparentemente, confere a esses compostos maior resistência à
decomposição. Diante as proporções indicadas acima, deduz-se que uma grande proporção do N do solo
encontra entre os compostos não identificados. A maior parte deste N está ligado à estrutura da matéria
orgânica pesada, ou seja, as frações, substâncias húmicas, substâncias fúlvicas e huminas. Os compostos
nitrogenados nos restos animais e vegetais, têm, em sua maioria, natureza proteica. As formas orgânicas do
nitrogênio no solo são componentes da matéria orgânica do solo, sendo este elemento encontrado em
grandes quantidades principalmente na fração proteica da matéria orgânica, a qual é passível de grande
rapidez de mineralização.
Formas inorgânicas de nitrogênio: Algumas das formas inorgânicas de N são: amônio (NH 4+), nitrito (NO2-),
nitrato (NO3-), óxido nitroso (N2O), óxido nítrico (NO) e nitrogênio elementar (N 2). Em termos de fertilidade do
solo e nutrição das plantas o NH4+ e o NO3- são as mais importantes, sendo que o NH4+, NO3- e NO2-
representam de 2 a 5 % de N total do solo. O N inorgânico geralmente é mais alto em solos áridos ou semi-
áridos. Os teores das formas inorgânicas de N são bastantes variáveis e em curto período de tempo, como
resultado do complexo fluxo de transformações e de perdas que estas formas estão sujeitas.
Ciclagem do nitrogênio no solo
O ciclo do nitrogênio diz respeito ao fluxo do elemento entre os compartimentos do globo terrestre
(litosfera, ar, água, solo e o complexo biológico). Trata-se de um elemento muito dinâmico na natureza, onde
ocorre em várias formas químicas, com ampla variação de estado de oxidação. Do ponto de vista
agronômico, os fluxos de entradas, perdas e transformações no solo, assim como no sistema solo-planta é
de grande interesse.
Apesar de 98 % do N total da terra encontra-se na litosfera a atmosfera é o principal compartimento
que supri N para a biosfera. A fonte primária é o gás N 2, que constitui cerca de 78 % da atmosfera terrestre.
Contudo, para que o elemento seja utilizado biologicamente, ou seja absorvido por plantas e
microrganismos ele precisa ser fixado. A fixação se dá pela ação de microrganismos (fixação biológica), de
descargas elétricas na atmosfera (fixação atmosférica) ou quimicamente (processos industriais). Esses
processos são os responsáveis pela entrada do nitrogênio no sistema solo-planta.
Por outro lado, ocorrem perdas do N por processos de denitrificação, volatização da amônia e por
lixiviação, que constituem as vias de saída do nitrogênio do sistema solo. Na natureza, o elemento
encontra-se em equilíbrio dinâmico entre formas livres e fixadas. A compreensão do ciclo do nitrogênio no
solo é fundamental para a adoção de práticas que resultam no aumento da eficiência de utilização do
elemento pelas plantas.
Entradas de nitrogênio no Sistema Solo-Planta
Fixação biológica do nitrogênio: A entrada do nitrogênio no solo é dada principalmente pelo processo
conhecido como fixação de nitrogênio. Apenas alguns procariotos são capazes de fixar nitrogênio
atmosférico, sendo os principais as cianobactérias, que habitam os solos e as águas salgadas e doces,
outras espécies de bactérias de vida livre no solo, e ainda bactérias simbiontes, por exemplo, as que vivem
nos nódulos de raízes de plantas leguminosas. A fixação biológica de nitrogênio (FBN) envolve a redução do
nitrogênio atmosférico N2 a amônia, sendo esta capacidade ligada à presença e atividade do complexo
enzimático altamente conservado entre os fixadores de N conhecido como nitrogenase. A FBN é importante
para a produção de nitrogênio fixado em muitos hábitats terrestres e aquáticos.

Descargas elétricas: O N2 atmosférico pode combinar-se com o oxigênio e formar NO 3- mediante energia
gerada pelas descargas elétricas durante tempestades. Além disso, na atmosfera podem ocorrer outras
formas combinadas de N, como amônia e formas orgânicas em resíduos finamente subdivididos. As chuvas
carrearam para o solo o NH3, o NO3- e outras formas existentes na atmosfera, principalmente em áreas
industriais. O NH4+ e o NO3- podem ser prontamente absorvidos pelas plantas. Muitas vezes a proximidade
de um parque industrial pode proporcionar maior concentração de gases, ou mesmo de particulados, que
apresentam o nitrogênio em sua composição.
Fixação Industrial: Apesar de, quantitativamente, a fixação industrial do N ser muito menor do que a fixação
natural, sob o ponto de vista agrícola ela é de grande importância devido a necessidade do uso de
fertilizantes nitrogenados para atender a necessidade do N pelas culturas. Existem três processos básicas
pelos quais o N atmosférico é fixado industrialmente: oxidação direta, pelo processo de cianamida e pelo
processo Claude - Harber.
Síntese de Amônia
Para a produção de amônia três componentes são necessários: gás natural (metano - CH 4), vapor e
ar. O método atual de produção de amônia é uma combinação dos métodos de Harber e Claude, daí a
denominação Claude-Harber. Por este processo, o N reage com o H na presença de catalizadores (ósmio
ou ferro) sob alta temperatura (400 - 500ºC) e pressão (200 - 1000 atmosferas).

O processo que vem sendo utilizado atualmente pela Fábricas de Adubos e Fertilizantes
Nitrogenados - FAFEN (antiga NITROFERTIL, pertencente ao grupo PETROBRAS) apresenta pequenas
variações do processo anterior, mas basicamente o princípio é o mesmo, ou seja, parte da reação de gás
natural (basicamente o metano - CH4) com a água.

Os produtos dessa reação recebem a injeção de ar quente (N2 + O2) sob pressão (1000 ºC e 27 atm)
para formar a amônia.

A amônia pode ser usada para produzir vários fertilizantes nitrogenados, notadamente a ureia,
sulfato de amônia, monoamônio fosfato (MAP) e diamônio fosfato (DAP), bem como para a formulação de
rações para animais.
Mineralização
A mineralização de compostos orgânicos nitrogenados ocorre por meio das reações sucessivas de
aminação e amonificação, que são processadas por microrganismos heterotróficos que utilizam o substrato
orgânico como fonte de energia.
Aminação: por meio da ação de peptidases extracelualares microrganismos heterotróficos do solo
promovem a quebra de proteínas liberando pepítidios e aminoácidos. Tal processo é realizado por
numerosos grupos de bactérias e fungos, como alaternativa para obtenção de energia.

Amonificação: os peptídios e aminoácidos produzidos no processo de aminação são trasportados para o


interior das células microbianas, onde sofrem o ataque de amonificadores produzindo-se amônia (NH 3) e
compostos intermediários que incluem; álcoois, aldeídos, e ácidos orgânicos, que são empregados no
metabolismo energéticos dos decompositores. Nos micorganismos aeróbios isto se dá por meio do ciclo dos
ácidos tricarboxilicos e nos anaeróbios por meio da deeaminação e fermentação. A amonificação ocorre por
meio de diferentes reações de desaminação (desaminação hidrolítica, desaminação oxidativa, desaminação
redutiva e desaminação dessaturativa. O solo nas condições árida apresentam, em geral, maior CTC, o que
favorece a retenção de NH4+ e o regime de chuvas não favorece a lixiviação de NO3-.

Nesta etapa conclui-se o processo de mineralização. Parte da NH 3 produzida será assimilado pelos
microrganismos, isto é, sofrerá aminação e constituirá uma nova proteína. Isto se dá por meio da aminação
com ácido α-cetoglutárico ou fumarato do ciclo dos ácidos tricarboxílico formando ácido aspártico e
glutâmico, que serão empregados na síntese dos aminoácidos e proteínas das novas células. A porção do
NH3 que não é assimialada é excretada para o meio externo, onde em contato coma solução do solo
converte-se no íon amônio.
A molécula de ureia, que está presente nos resíduos animais, e excreções vegetais e microbianas,
contém o N forma orgânica (amídica). A mineralização desta forma orgânica do N se dá pela hidrólise da
ureia que é catalizada pela enzima urease, produzindo NH4+. O NH4+ formado pode ser: convertido para NO2-
e NO3- por meio da nitrificação; ser absorvido pelas plantas; adsorvido por forças eletrostáticas da fração
argila tomando parte do complexo sortivo do solo; fixado por minerais de argilas do tipo 2:1; ou imobilizado
por microrganismos heterotróficos na mineralização dos substratos orgânicos.
Nitrificação: corresponde a oxidação biológica do amônio, sendo realizada por diversos grupos de bactérias
quimiautotróficas. São bactérias da família Nitrobacterizaceae, também denominadas de bactérias
oxidadntes do N. Trata-se de um processo em duas etapas. Na primeira, denominada de nitritação, o NH 4+ é
convertido para NO2- por bactérias, por exemplo, do genero Nitrosomonas. Na segunda, denominada de
nitritação, o NO2- é oxidado para NO3- por bactérias do gênero Nitrobacter.

A nitritação produz 65 kcal por mol de NH 4+ oxidado e a nitritação 17,8 kcal por mol de NO 2- oxidado,
energia esta que é utilizada nos processos vitais dos microrganismos. Três aspectos devem ser ressaltados
sobre a nitrificação:
1) Por se tratar de um processo oxidativo requer oxigênio molecular, sendo, por tanto, mais intensa
em solos bem aerados;
2) A reação libera 4 mol de H+ cada molécula de NH4+ oxidado, sendo portanto, um processo
acidificante do solo;
3) O NH4+, que por sua interação com a CTC do solo é convertido em uma forma menos adsorvida
pelo solo, e por isso, maior mobilidade no solo.
Além de micorganismos quimiautotróficos, alguns quimiorganotróficos (heterotróficos) são capazes
de produzir NO3-, denominando-se assim nitrificação heterotrófica. São eles bactérias dos gêneros:
Pseudomonas, Bacillus, Corynebacterium e Achromobacter e os fungos Aspergillus flavus, assim como
espécies de Penicillium e Cephalosporium. Os heterotróficos além de produzir nitrato a partir do NH 4+, o
fazem a partir de substrato orgânico, o que ocorre em especial com fungos por meio da oxidação de aminas
ou amidas para hidroxilamina.
Entre os fatores que afetam a nitrificação destacam-se:
1) Condições ambientais: em termos de temperatura e umidade e aeração do solo. A nitrificação é
favorecida por temperatura entre 25-35ºC. A umidade do solo tem que ser suficiente para atender a
necessiade dos microrganismos, mas não comprometer a aeração do solo. Por se tratar de um processo
oxidativo ela é favorecida por uma adequada pressão de O 2. A umidade na condição da capacidade de
campo, portanto, é mais favorável à nitrificação.
2) Suprimento de NH4+ que é o substrato: intensa mineralização ou a aplicação de NH4+ na forma de
fertilizantes químicos são favoráveis a maior nitrificação;
3) Reação do solo: embora a nitrificação ocorra geralmente entre pH 5,5 a 10,0 a condição ótima
está em torno de pH 8,5. No entanto, verifica-se nitrificação em pH 3,8 a 4,5;
4) Adequado suprimento de Ca, P e um balanço adequado de Fe, Cu, Mn e outros nutrientes;
5) População de organismos nitrificantes: sob mesmas condições ambientais, a capacidade de
nitrificação dos solos pode ser diferente devido a uma variação na população.
Considerando que a atividade dos nitrificantes quimiautotróficos é comprometida em condições mais
ácidas, o processo de nitrificação por heterotróficos pode justificar a presença de teores de nitrato em solos
tropciais com elevada acidez.
Normalmente há correlação entre a concentração de NO 3- no solo, ao longo do ano, e a pluviosidade.
Durante o período seco, há baixa nitrificação, mas com o início das chuvas a concentração de NO 3- aumenta
no solo. Com a continuidade do período chuvoso, pode existir uma queda na concentração deste íon em
decorrência da sua lixiviação.
Balanço entre as formas orgânicas e inorgânicas do nitrogênio no solo
Este balanço depende do equilíbrio entre os fluxos de mineralização e imobilização. Sob o ponto de
vista da diponibilidade do N, o equilíbrio entre estes fluxos determina ou não a mineralização líquida do N.
A biomassa do solo, responsável pela mineralização dos substratos orgânicos (resíduos orgânicos e matéria
orgânica do solo), tem, em média uma relação C/N de 10:1. Com isto, têm-se a necessidade de uma
unidade de nitrogênio para cada 10 unidade de C asssimilado.
Assim, a relação C/N do substrato (resíduos orgânicos ou matéia orgânica do solo) é um dos fatores
que determinará se o fluxo líquido será de mineralização ou imobiliação de N. Relação igual ou menor que
20:1 condiciona, em termos gerais mineralização líquida de N. Por outro lado relação acima de 30:1 indica o
predomínio de imobilização e entre 20 e 30:1 predomina o equilíbrio entre imobilização e mineralização,
quando não haverá liberação de formas inorgânicas do N para o solo.
Além da relação C/N ser satisfatória, o N tem que estar em biologicamente disponível, o que nem
sempre ocorre. Quando a ligação entre o N no composto orgânico é muito estável os processos enzimáticos
dos microrganismos nem sempre são eficientes o suficiente para clivar esta ligação. Compostos fenólicos,
que são comuns nas plantas, por exemplo, podem complexar o N, mantendo-o em estado não biodisponível.
Os teores de polifenois, portanto, é um dos fatores, que junto com a relação C/N, determina a intensidade da
mineralização.
É também pela baixa biodisponibilidade que a mineralização líquida de N a partir da matéria orgânica
estabilizada (ácidos fúlvicos, ácidos humicos e huminas) é pequena. O teor nas frações humificadas é de 5-
5,5 % e o de C de 50-58 %, o que proporciona uma relação C/N entre 9 e 12. Embora seja favorável a bixa
biodisponibilidade do N limita a mineralização líquida de N. As ligações que o N estabelece nestes
compostos são extremamente estáveis, sendo, portanto, um fator importante para a formação desta matéria
orgânica estabilizada.
Outras relações também têm efeito sobre a mineralização das formas orgânicas do N, tais como
como lignina/N e (lignina + polifenois)/N. Tem se constatado estreita correlação com a taxa de mineralização
de N-orgânico. A relação C/N/S, que apresenta ampla variação entre os solos, ou de acordo com o manejo
do solo também afeta a decomposição da matéria orgânica e consequentemente a mineralização do N.
A taxa de decomposição do material orgânico será maior quando essas relações forem mais
estreitas. Na tabela abaixo pode ser observado o efeito da relação C/N na mineralização do N.
Incorporação de palha de milho isolada e em mistura com ureia na quantidade de N inorgânico no solo.
Após um mês de incubação, a aplicação isolada da palha (alta relação C/N) reduziu os teores de N
inorgânico no solo, ou seja, houve imobilização de N. Por outro lado, o suprimento adicional de ureia não
permitiu a ocorrência de imobilização e sim, provavelmente, o estímulo à mineralização. Com o passar do
tempo, a relação C/N se estreita, e os teores de N inorgânico aumentam, indicando aumento na
mineralização no solo incubado com apenas a palha de milho. A mineralização do N no solo sem palha
também foi relaivamente pequena.
A concentração total de N em resíduos orgânicos a serem adicionados ao solo é um fator a ser
considerado quanto à expectativa de imobilização ou de liberação de N. Concentrações de N entre 1,5 e 1,7
% são normalmente suficientes para minimizar a imobilização de N do solo.

Perdas do nitrogênio no solo


A formas inorgânicas do N no solo também estão sujeitas a processos de perdas, quer na forma
gasosa por meio da denitrificação (N2, NO, N2O) e pela volatização da amônia (NH3) ou por meio de
lixiviação e remoção na produção agrícola, florestal e animal. Em solos agrícolas as perdas podem atingir 70
% do N aplicado como fertilizante, embora na maioria dos casos, esses valores situem-se entre 25 e 30 %,
podendo representar de 30 a 200 kg/ha/ano, dependendo da cultura e do solo.
Desnitrificação: é a redução bioquímica não assimilatória do NO 3- sob condições anaeróbicas, ou de baixa
pressão de oxigênio. A desnitrificação é realizada por microrganismos desnitrificantes heterotróficos que em
sua maioria são anaeróbios facultativos, usam preferencialmente o oxigênio como receptor de elétrons, mas
também podem utilizar nitrato e nitrito como substitutos. Estes organismos anaeróbios facultativos
envolvidos na decomposição de matéria orgânica têm a capacidade de obter o seu oxigênio do NO 3- e do
NO2-, resultando na liberação de N e óxido nitroso.
A desnitrificação é, portanto, mais intensa quando há falta de oxigênio, como em condições de
excesso de água, no entanto, ela ocorre em condições de solo bem drenado, mas com intensa atividade
microbiana promovendo intesna atividade respiração, e consequente diminuição da pressão de O 2. Esta
condição é comum quando se adiciona ao solo resíduos orgânicos de fácil mineralização, como aqueles
com baixa relação C/N.
Estas etapas são, respectivamente, catalisadas pelas enzimas nitrato redutase, nitrito redutase,
óxido nítrico redutase e óxido nitroso redutase. A velocidade da desnitrificação depende dos fatores
edafoclimáticos, que interferem nas condições de arejamento do solo. A desnitrificação se processa em
condições em que há falta parcial de oxigênio. Nas condições extrema, ou de anerobiose, a perda se dá
efetivamente pela emissão de N2. Muitas das bactérias denitrificantes são sensíveis a baixo pH (< 5,0),
sendo o pH ótimo entre 6 e 8, no entanto ressalta-se que em condições anaeróbias o pH do solo tende a
subir porque as reações de redução consomem H+.
A formação natural do óxido nitroso (N 2O) por processos microbiológicos durante a desnitrificação e
a nitrificação, tem sido relacionada com problemas de ordem global. Existem algumas evidências que o N 2O
pode estar relacionado com a destruição catalítica da camada de ozônio da estratosfera. A produção e
evolução do N2O do solo e de fertilizantes depende de uma série de fatores decorrentes de práticas de
manejo agrícola e das condições ambientais.

Dada a importância desse processo para o ciclo geoquímico de N e sua dinâmica no sistema solo-
planta, os principais fatores que regulam a desnitrificação são comentados a seguir:
a) umidade e aeração do solo: a quantidade de água no solo regula sua disponibilidade de oxigênio
neste e, assim, a desnitrificação. A variação das taxas de desnitrificação no campo pode ser explicada pela
umidade, existindo forte relação entre o espaço poroso do solo, preenchido com água, e a desnitrificação,
como mostra a figura 7.18. A desnitrificação ocorre a partir de 60% de saturação do espaço poroso do solo
com água, acentuando-se a partir de 80%. A desnitrificação e a nitrificação na faixa de 60-90% ocorrem
devido à individualização de microssítios no solo. Assim, devido à existência de microssítios anaeróbios, a
desnitrificação pode ocorrer mesmo em solos aerados e vice-versa;
b) pH e temperatura: as bactérias desnitrificantes crescem melhor em pH 6 a 8. A desnitrificação é
lenta em pH menor que 5,0 e geralmente ausente em pH muito ácido, menor que 4,0. A temperatura do solo
afeta diretamente a desnitrificação. A temperatura afeta também O 2 solúvel e sua difusão na água. Em solos
com temperatura entre 15 e 20ºC, a relação temperatura e potencial de desnitrificação é mais linear que
exponencial, portanto, como acontece com a decomposição, esse processo também deverá ser acelerado
pelo aquecimento global. A temperatura mínima para que a desnitrificação ocorra é acima de 5ºC e, a
máxima, de 75ºC. Acima de 50ºC, pode haver decomposição química do nitrato, que se torna significativa
em regiões muito quentes;
c) teor de nitrato e de carbono: os principais desnitrificadores são os heterotróficos, com elevada
demanda por carbono, que atua de várias maneiras na desnitrificação. Esses utilizam NO 3- como aceptor
alternativo de elétrons, sendo mais limitante que o carbono para essas bactérias. Em geral, a taxa de
desnitrificação é tão influenciada pela quantidade de carbono disponível para o metabolismo quanto pelo
nível de NO3- no solo. Geralmente, existe alta correlação positiva entre o teor de carbono e o potencial de
desnitrificação do solo. Além de fornecer elétrons, a decomposição da matéria orgânica consome O2,
aumentando a necessidade de NO3- como aceptor de elétrons para o crescimento microbiano.
Volatilização: a volatilização de amônia a partir do amônio se deve a instabilidade deste cátion em condições
alcalinas. Assim, em solos com elevados valores de pH ou que sofreram uma calagem excessiva, a
existência de N-NH4+ ou sua aplicação como fertilizante resultará em considerável perda de N. A volatização
da amônia é influenciada por fatores do solo como pH, teor de carbonato de cálcio, CTC, concentração de
cátions trocáveis, textura, temperatura, umidade e espécies contendo amônia ou sais que formam amônia,
além de aspectos de manejo de adubação como taxa de aplicação de NH4+ e profundidade de
incorporação.

A utilização de fertilizantes como a ureia podem condicionar maiores perdas de N, especialmente se


aplicado na superfície do solo, por meio da volatilização da amônia resultante da reação do fertilizante com
enzimas do solo.
Lixiviação: em solos com boas condições de drenagem, a predominância da forma nítrica traz importantes
implicações para o manejo de adubação e controle da poluição local. A forma aniônica (NO 3-) apresenta
grande mobilidade no perfil do solo, e com isso, as perdas de N por lixiviação podem ser muito intensas.
Em função do NH4+ ser retido junto às cargas negativas na superfície dos colóides, a sua movimentação no
solo é muito menor que a de NO 3-. Em termos de manejo de adubação nitrogenada, devem evitar
adubações pesadas em períodos de baixa exigência do nutriente pela cultura. Um exemplo clássico é a
adubação de cobertura aos 45 dias após o plantio que tradicionalmente é realizada para a cultura do milho.
Uma adubação mais pesada de N no plantio aumenta muito o potencial de perdas do elemento, pois, além
de não existir sistema radicular para sua absorção, o pico de demanda do nutriente é observado a partir dos
45 dias de cultivo.
Exportação por culturas: a quantidade de N absorvida e exportada da área via produção agrícola varia com
uma série de fatores tais como, produtividade da cultura, tipo de colheita (se manual ou mecanizada), tipo
de produto, condições ambientais (solo, clima) etc. Considerando-se valores médios, a exportação de N em
algumas culturas, em oito anos ou ciclo de cultivo, é a seguinte, em kg/ha: cana-de-açúcar - 1025; milho -
910; café - 256; feijão - 807; soja - 2360; eucalipto - 282.

Fatores que afetam o teor de nitrogênio do solo


Ao longo das diferentes reações e transformações em que o N toma parte no solo, este nutriente
encontra-se numa concentração que expressa um equilíbrio entre as reações decorrentes da ação da
microbiota e das condições ambientais. Os fatores que atuam na disponibilidade de N são:
Clima: Por intermédio do binômio temperatura-umidade, o clima exerce grande influência no teor de
N do solo. Algumas estimativas reportam que para cada aumento de 10 ºC na temperatura do solo, ocorre
uma diminuição de duas a três vezes na concentração de N.
Tipo de vegetação: A vegetação pode exercer grande influência na concentração de N no solo.
Plantas que possuem um sistema radicular volumoso, como o observado para as gramíneas, fornecem mais
matéria orgânica ao solo, e, consequentemente, maior será a concentração de N no solo. Esse
comportamento torna-se evidente quando se comparam as quantidades existentes do nutriente, na camada
de 0 a 30 cm de profundidade, em solos sob mata e sob pastagem natural, por exemplo.
Topografia: A topografia pode exercer influência nas concentrações de N no solo por meio da
formação de micro-climas que podem condicionar o regime de evapotranspiração local. A declividade do
terreno que rege o escoamento superficial de água e a posição do lençol freático podem atuar na dinâmica
de água do solo, principalmente na geração de ambientes redutores que podem estimular as perdas do
nutriente.
Características físicas e químicas do solo: A grande reserva de N do solo encontra-se na matéria
orgânica, que para se tornar disponível para a planta é necessário que ocorra a amonificação e,
posteriormente, a nitrificação. Esses processos devem ser maximizados nos solos agrícolas quando houver
raízes crescendo para absorver o NO3-. Do contrário, eles devem ser reduzidos para evitar danos ambientais
e o empobrecimento do solo. A formação de complexos orgâno-minerais é um importante fator que contribui
para preservar o N do solo. Os minerais de argilas também exercem importante papel na preservação do
nitrogênio por meio da CTC, que retém o cátion amônio por forças eletrostáticas, e, no caso de argilas do
tipo 2:1, por meio da fixação inter-laminar do amônio. Mecanismos que agem com menor intensidade, mas
igualmente importantes na conservação de N no solo, devem ser considerados, tais como a adsorção de
aminoácidos e proteínas pelas argilas. As perdas por lixiviação tendem a ser mais intensas em solos
arenosos, fato que deve ser considerado num programa de adubação.
Organismos do solo: é evidente a importância da microbiota do solo na dinâmica do N no solo. A
transformação biológica do N, por meio dos processos de mineralização e imobilização, ocorre
simultaneamente, e se constitui no processo-chave do ciclo do N no sistema solo-planta. Outros processos
como a nitrificação e desnitrificação são igualmente importantes, principalmente no que se referem a
disponibilidade do nutriente para as plantas e às suas perdas.
Análise química do nitrogênio do solo
Em função da dinâmica do N no solo, a sua quantificação para recomendação de adubação, não tem
sido muito utilizada. Resultados obtidos em condições de campo, mostram, muitas vezes, não haver
correlação entre as quantidades de NO 3- encontradas no solo e a produção obtida, ou mesmo com o
conteúdo interno de nitrogênio na planta. Dentre os principais problemas com a interpretação dos resultados
obtidos com essa determinação, destacam-se:
1) Amostragem - devido alta solubilidade NO3- em água, a chuva pode arrastar o NO3- para camadas
mais profunda além camada amostrada;
2) A atividade microbiológica na amostra deve ser paralisada imediatamente após amostragem, a fim
de se evitar a nitrificação;
3) O NO3- medido num dia pode ser perdido no outro;
4) O NO3- de um determinado dia pode não se correlacionar com o NO 3- disponível no ciclo de uma
cultura. No entanto, não se pode descartar a avaliação do teor de nitrato como uma ferramenta útil no
processo de recomendação de adubação. Esse método é especialmente útil para culturas de ciclo curto e
de rápido crescimento, principalmente em cultivos em regiões climáticas onde não ocorrem excessivas
perdas por lixiviação antes do plantio e durante a fase de crescimento da cultura.
A determinação de amônio tem sido mais utilizada para solos que apresentam características que
determinam maior acúmulo dessa forma, ou sejam, alta umidade e temperatura, baixo pH e ambiente
redutor, condições que favorecem a amonificação mas não a nitrificação.
Como, a forma orgânica de N é aquela que se apresenta em maior quantidade no solo, alguns
métodos microbiológicos tem sido utilizados para predizer o potencial de fornecimento de N pelo solo. Esses
métodos baseiam-se na incubação do solo em condições de temperatura, pH, umidade e tempo
padronizados, na presença de populações capazes de mineralizar o N-orgânico. Por causa destas
dificuldades a recomendação de adubação com nitrogênio tem sido baseada principalmente no teor de
matéria orgânica do solo, na economicidade, na necessidade da cultura e no histórico da área.
Princípios da avaliação da disponibilidade de N no solo
• Emprego do teor de matéria orgânica do solo para se recomendar a adubação nitrogenada
Premissa:
• A mineralização ocorre durante todo o cultivo, numa taxa de 2%, em um tempo médio de 100 a 150
dias, com TºC 20 a 30oC, pH de 5,5 a 6,0 e umidade de 15 a 30%.
• 1% de MO supre 20Kg de N ha-1 cultivo-1
• Não há um método adaptado para análise de rotina.
•Análise química do tecido foliar (Clorofilômetro)
Adubação nitrogenada
Embora o teor de N total do solo seja relativamente elevado, somente uma porção muito reduzida
deste total se acha na forma inorgânica e, portanto, disponível para as plantas. Para um mesmo solo, a
quantidade de N disponível pode ser muito variável pois ela depende de todos os fatores determinantes da
mineralização da matéria orgânica. As formas de N no solo, ao contrário de elementos como o fósforo, não
estão em equilíbrio estável e as formas inorgânicas apresentam grande mobilidade no perfil, o que leva à
não observação do efeito residual.
Em razão desse comportamento geral, não existe até o momento um critério adequado para a
recomendação de adubação nitrogenada com base em análises do solo. Por isso, a recomendação é feita
levando-se em conta os resultados de experimentos, ou o tipo de cultura, histórico de uso da área etc.
Assim, por exemplo, em áreas recém-desmatadas a quantidade de adubo nitrogenado a ser aplicado deverá
ser menor do que em área já cultivadas por algum tempo, em razão da rápida decomposição dos resíduos
ou da matéria orgânica deixada pela floresta. Com o passar do tempo, a taxa de decomposição diminui e
tende a se estabilizar em níveis muito baixos.
Principais adubos nitrogenados
Os adubos nitrogenados podem ser divididos em orgânicos naturais e químicos.
Adubos orgânicos naturais
As fontes naturais orgânicas de N contêm entre 1 e 13 % de N. Até pouco tempo pensava-se que
estas fontes liberavam lentamente o N, evitando o consumo de luxo ou perdas excessivas por lixiviação ou
desnitrificação. No entanto, isto não é totalmente correto, pois a mineralização depende das condições
ambientais e da microbiota do solo. As fontes orgânicas originam-se de materiais orgânicos de plantas e
animais. Alguns exemplos são:
Esterco de curral = 0,5 % N; Torta de filtro de usina = 1,3 % N;
Torta de mamona = 6 % N Torta de amendoim = 8 % N
Esterco de galinha = 2 % N; Torta de algodão = 7 % N;
Farinha de carne = 10 % N Farinha de sangue = 8 a 14 %

Adubos químicos
As fontes químicas de N apresentam maiores vantagens no que se referem à sua concentração,
transporte, manuseio e aplicação, em relação as fontes orgânicas. A maior parte delas são derivadas da
amônia (NH3).
Amônia anidra - NH3 - (82 % N) - tem que ser armazenada sob pressão na forma líquida. Sua
aplicação no campo exige o uso de tanque sob alta pressão e é injetada diretamente dentro do solo. As
chances de perda do gás NH3 são elevadas. Este composto é tóxico e retarda a nitrificação e tem ação
acidificante no solo. Seu uso é pouco difundido no Brasil, embora na região canavieira de São Paulo
algumas usinas já façam uso dessa fonte de N.
Nitrato de amônio - NH 4NO3 - (33 % N) - é produzido pela reação do ácido nítrico com amônia. Tem
metade do seu N na forma amoniacal e metade na forma nítrica, ou seja, formas prontamente disponíveis
para as plantas. Como desvantagens para seu uso tem-se o difícil manuseio e armazenagem, devido sua
elevada higroscopicidade; ao tomar contato com a umidade do ar ou qualquer fonte de carbono oxidável,
forma mistura explosiva.
Sulfato de amônio - (NH4)2SO4 - (20 % N) - pode ser obtido pela reação do NH 3 com H2SO4 ou pode-
se reagir NH3 com CO2 para formar (NH4)2CO3, que é posteriormente combinado com gesso, obtendo-se
CaCO3 + (NH4)2SO4. O sulfato de amônio é pouco higroscópico e também boa fonte de enxofre, com 24 %
do elemento. Sua reação no solo é ácida, sendo desaconselhável para solos que sofreram calagem, além
de apresentar maior custo por kg de N, devido ao baixo teor do elemento.
Ureia - CO (NH2)2 - (45 % N) - é produzida pela reação do NH 3 com CO2 sob pressão e temperatura
elevadas. Para seu uso eficiente, é necessário o conhecimento de suas propriedades e de seu
comportamento no solo. Após sua aplicação no solo, a ureia é atacada pela enzima urease e se hidroliza
para a forma instável de carbonato de amônio, o qual se decompõem em NH 3 e CO2, formando, por fim,
NH4+.
Sua hidrólise é rápida em condições favoráveis para o crescimento de plantas. Temperaturas
maiores que 37 ºC favorecem a atividade da urease. Com sua reação alcalina, pode desenvolver microsítios
em torno da partícula de grande alcalinidade (pH 8 - 9,0), podendo criar condições desfavoráveis para a
atividade da urease (acúmulo de NH3+ livre; pH > 7,0), e favorecendo a volatização da amônia.
Alguns aspectos agronômicos: ureia seria mais interessante para solos ácidos, sua aplicação junto
com a calagem pode aumentar a NH3 livre. Solos com maior CTC podem reter a amônia. Como o maior
problema, tem-se a alcalinização após sua hidrólise. Para melhorar sua eficiência, a incorporação é
recomendada ⇒ sua reação alcalina na superfície do solo permite a volatilização da amônia, sua
incorporação minimiza. A sua forma granular seria mais eficiente.
Mono - e diamônio fosfato - MAP e DAP (11-48-0 e 18-48-0) - são considerados mais como fontes de
P do que de N, mas sob certas condições podem ser utilizados com vantagem para suprimento deste último
elemento.
Nitrato de sódio - NaNO3 - (16 % N) - existe uma fonte natural deste fertilizante no Chile e, por isso, é
também conhecido como salitre do Chile. O produto químico é obtido pela reação do ácido nítrico com o
cloreto de sódio ou carbonato de sódio.
Nitrato de potássio - KNO3 - (13 % N e 44 % K2O) - pode ser obtido pela reação de cloreto de
potássio com ácido nítrico ou nitrato de sódio.

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