Você está na página 1de 43

FERTILIDADE DO SOLO

Unidades VI e VII
2021

FERTILIDADE DO SOLO

Unidade VI Estudo dos nutrientes utilizados pelas plantas

Unidade VII Avaliação da Fertilidade do Solo

Autores

Dr. Marcos André Piedade Gama (Prof. Fertilidade do Solo, UFRA – ICA Belém)

Dr. Gilson Sergio Bastos de Matos (Prof. Fertilidade do Solo, UFRA – ICA Belém)

Organizadores

Gabriel Pinheiro Silva (UFRA - Belém)

Antônio Anízio Leal Macedo Neto (Eng. Agrônomo, Mestre em Agronomia)

Foto da capa: Autores (Experimento - açaizeiro com e sem adubação na UFRA)


Sumário
1. NITROGÊNIO .................................................................................................. 3
2. FÓSFORO ....................................................................................................... 11
3. POTÁSSIO ...................................................................................................... 18
4. MACRONUTRIENTES SECUNDÁRIOS ................................................... 20
5. MICRONUTRIENTES .................................................................................. 23
6. INTRODUÇÃO ............................................................................................... 25
7. MÉTODOS DE AVALIAÇÃO DA FERTILIDADE DO SOLO ............... 25
7.1. DIAGNOSE VISUAL ...................................................................................... 25
7.2. ANÁLISE DE TECIDOS VEGETAIS............................................................. 25
7.3. ANÁLISE QUÍMICA DO SOLO..................................................................... 26
7.4. EXPERIMENTAÇÃO/ENSAIOS/TESTES (ADUBAÇÃO, MICROBIOLÓGICOS,
BIOQUÍMICOS). ............................................................................................................ 27
8. ETAPAS BÁSICAS RECOMENDAÇÃO DE CALAGEM E ADUBAÇÃO27
8.1. AMOSTRAGEM DO SOLO ............................................................................ 28
9. INTERPRETAÇÃO DA ANÁLISE DO SOLO........................................... 34
10. RECOMENDAÇÃO DE ADUBAÇÃO ........................................................ 38
3

Unidade VI – Macro e Micronutrientes no Solo

1. NITROGÊNIO

O nitrogênio (N) é o nutriente mais exigido entre as culturas e responsável por


participar de várias moléculas estruturais nas plantas. Por esse motivo o N é também o elemento mais
consumido na forma de fertilizante.
a) Ciclo do nitrogênio
O nitrogênio está presente em todas as partes do globo terrestre, nos solos, oceanos e
no ar, porém, será enfatizado apenas o ciclo do N no solo, pois do ponto de vista agrícola é o mais
importante.
A observação do ciclo de N (Figura 1) é necessária para demonstrar a importância de
dois fatores. O primeiro, é que a matéria orgânica é fundamental na disponibilização de N ao solo. O
segundo é que o processo de mineralização realizada por microrganismos do solo é uma ação
fundamental para transformação do N presente na matéria orgânica para formas inorgânicas
absorvíveis pelas plantas. O terceiro se refere a parte de N presente no solo, que é decorrente da
fixação simbiótica do N2 e por deposição atmosférica de formas combinadas de N. Um outro fator é
que o ciclo do N demonstra que esse elemento, dependendo das condições do meio, passa por
diferentes processos de transformação no solo. Essa dinâmica de transformação no solo é que justifica
o fato do N não ser comumente requisitado em análises químicas do solo.
Figura 1 - Ciclo resumido do nitrogênio no solo.

Fonte: Cantarella. (2007).


4

b) Formas e conteúdo de nitrogênio no solo


O N presente no solo pode ocorrer em duas formas principais, sendo a fração orgânica a que
corresponde à aproximadamente 95% do N total, e o restante é a fração inorgânica, compostas
principalmente por 𝑁𝐻 , 𝑁𝑂 e uma pequena parcela de 𝑁𝑂 .
Então resumidamente as principais formas de N no solo são:
N-orgânico (95 – 98%): Alfa-amínica (24 - 37%); Ácidos nucleicos (3-10%); Amino açúcares (5 –10%);
Complexo c/ lignina (40 – 50%);
N-mineral (~2%): N0-3, NH+4, NO-2

As formas de N no solo evidenciam que a principal fonte de N é a matéria orgânica. Então a


utilização de práticas que conservem ou aumentem o conteúdo de MO provavelmente proporcionarão
menor consumo de fertilizantes minerais.

c) Processos de aquisição de N do solo


Existem três formas ou processos de aquisição de N para o solo, as quais são:
 Biológica (figura 2), através de microrganismos fixadores de N atmosférico
 Atmosférica (figura 3)
 Industrial (figura 4)

Figura 2 - Nódulos radiculares de microrganismos fixadores de N.


5

Figura 3 - Aquisição do N atmosférico

Figura 4 - N na forma industrial (fertilizantes)

d) Processos de transformações de N no solo


Como já citado antes, o N do solo passa por diferentes processos de transformação em função
das condições edafoclimáticas, evidenciando enorme dinamismo, o que limita a determinação desse
elemento via análise de solo rotineira para determinação desse elemento.
Os principais processos de transformação do N no solo são:
Amonificação
N orgânico é transformado para forma amoniacal (figura 5). É um processo importante
porque libera uma das formas de N que podem ser absorvidas pelas plantas que é o 𝑁𝐻 (amônio).
Entre os fatores que podem facilitar a amonificação podem ser citados:
 Umidade – 50 a 75% do seu poder de embebição;
 pH - 5,5-6,5, pela melhor eficiência de bactérias.
 Temperatura – 25 a 30ºC; acima de 40oC as bactérias termófilas causam o
apodrecimento da MO – sem Humificação.
6

Então é possível notar que em solos mais ácidos o processo de amonificação é dificultado.

Figura 5 - Esquematização da amonificação.

Fonte: Autores

Nitrificação
Processo pelo qual o N-amoniacal é transformado em N-nítrico (Figura 6), que é outra
principal forma de absorção desse elemento pelas plantas. Fatores importantes para sua ocorrência
em solos e suas consequências que podem ser destacados:
 A presença de oxigênio é essencial. Por isso é um processo típico de solos bem
drenados. Ou seja, em ambientes com déficit de O2, como solos alagados,
dificilmente ocorre nitrificação.
 pH – solos mais ácidos prejudicam a proliferação de bactérias que atuam no processo;
as principais bactérias são as Nitrosomonas e Nitrobacter;
 A nitrificação proporciona acidificação do solo (formação de íons H+);
 O nitrato (𝑁𝑂 ) formado é um ânion de fácil lixiviação nos solos arenosos em
períodos de alta precipitação.
7

Figura 6 - Esquematização da nitrificação.

Fonte: Autores

Desnitrificação
É um processo de transformação no N − NO para formas de N2 para atmosfera
(Figura 7). Fatores importantes para sua ocorrência em solos e suas consequências que podem ser
destacados:
 Ocorre na ausência de O2. Logo, é típico de solos sujeitos a alagamento;
 Possibilita a perda de N − NO – por isso, recomendação básica é evitar a utilização
de adubações com fertilizantes nitrogenados nítricos em solos sujeitos a alagamento,
como, por exemplo, nos Gleissolos;
 Em função da desnitrificação é sempre aconselhável utilizar fontes amoniacais em
ambientes alagados.

Figura 7 - Equação da Desnitrificação.

Fonte: Autores

e) Perdas no solo
As principais perdas de nitrogênio no solo ocorrem por: lixiviação de nitrato,
volatilização de amônia, e a exportação pelas culturas.
Como os solos em geral possuem predominância de cargas eletronegativas nas
camadas superficiais, geradas pelos coloides do solo, o ânion nitrato (𝑁𝑂 ) não é atraído facilmente
aos coloides, ficando livre na solução do solo. Dessa forma, o nitrato é facilmente lixiviado para as
camadas mais profundas do solo, podendo contaminar lençóis freáticos. Portanto a pluviosidade da
8

região ou o manejo da irrigação de um cultivo, está intimamente ligado ao manejo da adubação


nitrogenada.
Em relação a volatilização de amônia, essa pode ser gerada a partir dos dejetos animais
que são facilmente volatilizadas, como também podem ser decorrentes do uso de fertilizantes.
Segundo Cantarella et al. (2007) as perdas por volatilização de amônia em solos
dependem do pH. Isso indica que em solos ácidos tem-se a predominância de NH4+ acarretando em
perdas de N amoniacal pois se tem o equilíbrio entre o íon amônio (𝑁𝐻 ) e a forma gasosa, amônia
(NH3), segundo a expressão:
𝑁𝐻 ↔ 𝑁𝐻 + 𝐻
Outro fato importante em relação à volatilização da amônia é que na utilização da ureia
(CO(NH2)2) em solos ácidos, predominantes em regiões tropicais, esse fertilizante por meio da
hidrolise enzimática também libera N amoniacal, como mostra a expressão:

𝐶𝑂(𝑁𝐻 ) + 2𝐻 + 2𝐻 𝑂 𝑢𝑟𝑒𝑎𝑠𝑒⃗ 2𝑁𝐻 + 𝐻 𝐶𝑂

Pelo fato da reação de hidrólise consumir íons H+, ela provoca elevação do pH ao redor
das partículas, com isso a ureia está sujeita a perdas de N pela volatilização de NH3 (tabela 1) sendo
que esse processo pode ser intensificado com a calagem recente e com altas temperaturas (Scheid,
1998).
Tabela 1 - Perdas anuais de nitrogênio por volatilização de amônia em pomar de
laranja adubado com ureia ou nitrato de amônio, aplicados na superfície do solo.
NH3 volatilizada
Fonte de N Dose de N
1995/96 1996/97 1998/99
kg ha-1 % do N aplicado
20 26 17 19
Ureia
100 31 16 25
260 44 17 33

Nitrato de amônio 260 2 2 4

Fonte: Cantarella et al. (2003)

A exportação pelas culturas para muitos não é considerada como uma perda, porém, se retirar
e não repor aquilo que a cultura utilizou, irá gerar um déficit no solo. Dependendo da necessidade da
cultura, esse valor de exportação pode variar (Tabela 2).
9

Tabela 2 - Quantidade média de macronutrientes exportadas pelos cultivos.


CULTURA Produtividade média N P K Ca Mg S
_____
t/ha/ano kg/ha/ano _____
Soja (grãos) 2,5 150 15 50 5 6 8
Milho (grãos) 6 130 30 40 1 11 13
Cana (colmos) 100 130 10 110 15 20 12
Tomate (frutos) 40 70 20 130 7 7 9
Eucalipto (tronco) 20 30 5 20 25 7 3

f) Fatores que afetam a disponibilidade no solo


Como 95% do N presente no solo é decorrente de fontes orgânicas, podemos afirmar
que o principal fator que afeta a disponibilidade desse nutriente nos solos é o teor de MOS. Leite et
al. (2010) mostram diretamente isso ao observarem um incremento de carbono orgânico e de N, em
sistema de plantio direto (SPD) com diferentes anos de implantação em comparação ao plantio
convencional (SPC) (tabela 3). No SPD há um grande incremento de MO decorrente da deposição da
palhada sobre o solo, acarretando diretamente nas quantidades de N presente no solo e na planta.

Tabela 3 - produtividade de grãos e estimativa dos aportes de C e N pela cultura da soja sob plantio
convencional e plantio direto com diferentes tempos de implantação no cerrado piauiense.
Aporte (kg ha-1)
Produtividade de
Sistema Raiz Parte aérea Total
grãos kg ha-1
C N C N C N
PC 2.733 b 1.041 52 2.603 130 3.644 b 182 b
PD2 3.203 a 1.220 61 3.051 153 4.271 a 214 ab
PD4 3.200 a 1.219 61 3.048 152 4.267 a 213 ab
PD6 3596 a 1.370 69 3.425 171 4.795 a 240 a
Fonte: Leite et al. (2010)

IMPORTANTE
Sistema de plantio convencional
Caracterizado pelo revolvimento do solo durante o preparo para plantio com uma aração, para
inversão de camadas, e duas gradagens, para destorroamento e nivelamento da área anualmente.

Sistema de plantio direto


Usa aração e gradagem somente na entrada do sistema, posteriormente ao longo dos anos o
revolvimento não é mais permitido, e o plantio das culturas é feito sobre os resíduos (camada de
palhada) do cultivo anterior. Pode utilizar implementos específicos para trituração e espalhamento
dos materiais orgânicos. Esse sistema é considerado conservacionista.

Além da matéria orgânica do solo e do sistema de cultivo adotado (plantio direto ou plantio
convencional) outros fatores podem afetar a disponibilidade de N no solo, como:
 Relações C/N do solo e dos resíduos orgânicos;
 pH do solo;
10

 Classe de solo
 Textura do Solo;
 Método de preparo de área
- Corte e queima da vegetação – menor conteúdo de MO.
- Corte e trituração da vegetação - maior conteúdo de MO.
 Tipo de fertilizante;
 Época de aplicação de fertilizantes;
 Temperatura.
 Umidade do solo;

g) Fertilizantes nitrogenados
Os fertilizantes nitrogenados minerais são adquiridos por meio de fixação sintética do
nitrogênio atmosférico em amônia, processados posteriormente em outros compostos (Scheid, 1998).
Os principais fertilizantes nitrogenados e seus teores, que estão disponíveis no mercado atualmente
estão listados na tabela 4.
Tabela 4 - Fertilizantes nitrogenados solúveis mais comuns.
Teor de nutriente
Fertilizante Forma de N
N P2O5 K2O S
%
Ureia amídica 45-46
Nitrato de amônio amoniacal e nítrica 33
Sulfato de amônio amoniacal 21 23
Nitrocálcio amoniacal e nítrica 21-28
DAP amoniacal 16-18 42-48
MAP amoniacal 11 52
Amônia anidra amoniacal 82
Uran amídica 28-32
Nitrato de sódio nítrica 16
Nitrato de cálcio nítrica 15-16
Nitrato de potássio nítrico 13 46
Nitrosulfato amoniacal e nítrica 26 15
Nitrofosfatos amoniacal e nítrica 13-26 6-34
Fonte: IFDC (1979); Raij et al. (1997). In: Cantarella et al. (2007)
11

2. FÓSFORO

O fósforo é o 11º elemento mais abundante da crosta terrestre e sua concentração total no
solo varia de 200 a 300 mg kg-1, porém na solução do solo é encontrado por volta de 0,1% desse total.
Outro fator agravante é que a aplicação de P via fertilizantes tem eficiência muito baixa, variando de
20 a 30%, em função da elevada retenção desse elemento na fase sólida do solo.
Em contrapartida sua importância para as plantas está em diversas reações que exigem um
elevado gasto de energia que são suportadas pelo fósforo como componente essencial do trifosfato
de adenosina (ATP). Além disso, o P é componente do DNA, RNA e fosfolipídios (Brady e Weil,
2009).
No Brasil a maioria dos solos possui alto grau de intemperismo, o que proporciona
problema na disponibilidade de P. Com o aumento no grau de intemperismo o solo passa por uma
mudança gradual nas suas características químicas, como a perda nas cargas negativas. Com o
intemperismo o solo se torna menos eletronegativo e mais eletropositivo, diminuindo assim a sua
capacidade de troca catiônica e aumentando a sua capacidade de adsorção aniônica (Novais et al.
2007). Tal processo aumenta a retenção de ânions como o fosfato, indisponibilizando o nutriente para
as plantas.
a) Ciclo do Fósforo
O ciclo do fósforo (Figura 8) evidencia uma forte interação solo – planta e também
demonstra que a matéria orgânica é um fator chave na disponibilidade deste elemento nos solos.
Evidencia ainda que o P possui forte interação com partículas minerais do solo, principalmente, com
os óxido e hidróxidos de Fe e Al, típicos dos solos de regiões tropicais.
12

Figura 8 – Ciclo do fósforo

Fonte: Scheid (1998)

b) Formas de fósforo no solo


O P pode ser encontrado nos solos na forma inorgânica e orgânica, ambas com forte interação
com as partículas do solo (Tabela 5).

Tabela 5 - Formas gerais de fósforo encontradas nos solos.


Fração Composto
Fósforo Inorgânico P-Fe
P-Al
P-Mn
P-Ca
P-disponível

Fósforo Orgânico P-inositol


P-fitina
P-biomassa
P-ácidos nucléicos
P-fosfolipídeos

O fósforo inorgânico é encontrado na solução do solo como íons ortofosfatos (Raij, 2011) e
esses em solução dissociam-se, como mostra a reação a seguir:
𝐻 𝑃𝑂 ↔ 𝐻 + 𝐻 𝑃𝑂
𝐻 𝑃𝑂 ↔ 𝐻 + 𝐻𝑃𝑂
𝐻𝑃𝑂 ↔ 𝐻 + 𝑃𝑂
Essas três formas podem ser absorvidas pelas plantas e ocorrem nos solos. No entanto,
o pH influencia na forma predominante nos solos e, portanto, na forma que é mais absorvida. Em
13

solos ácidos as plantas absorvem em maior proporção a forma 𝐻 𝑃𝑂 , que predomina nessa faixa.
Em solos alcalinos a principal forma de absorção é de 𝐻𝑃𝑂 , que predomina nessa faixa (figura 9).
Figura 9 - Formas de íons ortofosfato em relação ao pH.

Fonte: Novais et al. (2007)


O fósforo tem forte interação com alguns elementos do solo, formando compostos
pouco solúveis. A interação com Ca, geralmente em solos alcalinos, forma compostos como a
hidroxiapatita. E a interação com ferro e alumínio, (em solos ácidos, forma compostos como a
estreginta e a variscita, respectivamente) (tabela 6).
Tabela 6 - Minerais e compostos de fósforo que ocorrem em solos.
Mineral ou
Fórmula Ocorrência
composto

Estrengita FePO4.2H2O Solos ácidos


Vivianita Fe3(PO4)2.8H2O Solos ácidos
Vavelita Al3(OH)3(PO4)2.5H2O Solos ácidos
Variscita AlPO4.2H2O Solos ácidos
Fosfato dicálcico CaHPO4 Produto de reação de adubos
Fosfato octocálcico Ca4H(PO4)3 Produto de reação de adubos
Hidroxiapatita Ca10(OH)2(PO4)6 Solos neutros e alcalinos
Fluorapatita Ca10F2(PO4)6 Solos neutros e alcalinos
Fonte: Brady (1983). In: Raij (2011)
O fósforo orgânico do solo ocorre proporcionalmente aos teores de MO, tendo uma relação
C:P de aproximadamente 50:1 (Raij, 2011). Essa forma de P pode representar entre 20 a 80% do P
total nos horizontes superficiais do solo (Brady e Weil, 2009).

c) Retenção do fósforo no solo


Os processos de retenção de fósforo são a adsorção e a precipitação. A adsorção é o processo
mais importante de retenção de fósforo solo ocorrendo principalmente na superfície de óxidos de Fe,
Al e também Mn. A adsorção de P, assim como a do sulfato, é considerada específica (complexo de
esfera interna – sem presença de H2O entre ânion-coloide, ou seja, contato direto) mediante ligação
14

química (covalente), diferentemente da que ocorre para os outros íons, onde a adsorção é do tipo não
específica (complexo de esfera externa – com H2O entre ânion-coloide) mediante atração
eletrostática: Na+, K+, Ca2+, Mg2+ e Al3+. Os processos de retenção do fosfato podem ser resumido
assim:

Adsorção por oxidróxidos de Fe e Al


Ocorre em duas fases, na inicial a atração é eletrostática seguida por
adsoçorção específica.

Adsorção por aliminosilicatos (argilas)


Dependendo do pH do meio o fosfato é adsorvido nas bordas do coloide
pelos grupamento OH

Precipitação
Reação de P com Fe e Al (em solos ácidos) e Ca (solos alcalinos) formando
um novo composto definido. A precipitação ocorre do contato do P com
Fe, Al ou Ca livres em solução.

d) Disponibilidade de fósforo
A disponibilidade do fósforo inorgânico no solo pode ser representada também por três
formas usuais: o fósforo em solução, o fósforo lábil e o fósforo não lábil. De forma prática ao ser
aplicada uma fonte de fosfato solúvel, em cerca de horas maior parte passa para fase sólida (fósforo
lábil), com o tempo e mais lentamente (dias ou ano) o fósforo passa para a fração não lábil (Figura
10). Se estima que ao final de um ano após aplicação de fosfato cerca de 70 a 90% do fosfato solúvel
aplicado está na fase não lábil. É importante ressaltar que a forma lábil de P, principalmente, confere
a fertilização fosfatada uma característica residual, ou seja, de permanência do nutriente no solo por
um período maior.
15

Fósforo em solução
Fósforo prontamente acessível para as raízes dos vegetais, consiste no
menor compartimento (quantidade) de P no solo.

Fósforo Lábil
P retido por precipitação com Fe e Al que estavam livres na solução bem
como P adsorvido nos óxidos de Fe e Al sendo que essa adsorção (inicial) é
de forma eletrostática (relativamente reversível). O P-lábil esta em grande
parte em equilíbrio com o P-solução constituindo uma reserva de fosfato.

Fósforo Não Lábil


Nesse compartimento ocorre o envelhecimento da adsorção (final) de P
pelos óxidos que passa a ser por ligações covalentes (fortes). Ocorre
também penetração do fosfato na estrutura dos minerais oxídicos
(absorção). Esses dois processos tornam o fósforo fixado e nessas condições
dificilmente o P retornará ao compartimento de P-lábil. O P-não lábil ou
fixado representa o maior compartimento de P no solo, ou seja, insdiponível
aos vegetais.

Figura 10. Representação das fases e retenção de fósforo no solo.

Fonte: Autores adaptado de Isma (1978) e Raij (2011). Detalhe para a muda de açaizeiro.
16

Outra forma de entender disponibilidade de fósforo no solo perfaz os conceitos de Fator


Intensidade (I), Fator Quantidade (Q) e Fator Capacidade (FCP), definidos por Novais et al. (2007).
O “I” consiste no P na solução do solo, que pode ser aumentado racionalmente pela adição de
fertilizante. Já o “Q” é a capacidade do solo de resuprimento do “I”, ou seja, o P lábil, enquanto o
“FCP” é a resistência do solo a alteração no fator I, ou capacidade tampão de P.
e) Fatores que afetam a disponibilidade no solo
Em termos mais práticos, diversos fatores afetam diretamente ou indiretamente a
disponibilidade de P no solo, entre os quais destacam-se:
I. teor e tipo de argila predominante – O P tem forte interação com óxido-hidróxidos de Fe
e Al, e quanto maior o teor de argila, maior será a retenção de fósforo pelo processo de “adsorção de
P”, que indisponibiliza esse elemento às plantas;
II. Matéria orgânica do solo – o conteúdo de MO é importante na disponibilidade de P.
Alguns compostos orgânicos possuem a capacidade recobrir os óxido-hidróxidos de Fe e Al,
diminuindo a capacidade de adsorção de P nos solos;
III. A interação com alguns outros nutrientes – exemplo dos casos com Ca, Fe e Al, vistos
anteriormente. Além disso, a relação com o Zn também é importante, já que o zinco em altas
concentrações pode restringir a absorção de P;
IV. pH do solo - o fato do fósforo ser muito reativo com outros elementos (Fe, Al e Ca),
possibilita a formação de compostos que possuem solubilidade dependente do pH. A utilização de
fertilizantes fosfatos solúveis é mais eficiente quando no solo a faixa de pH está entre 5,5 e 7,0 (figura
11).
Figura 101 - Fixação de fósforo em função do pH.

Fonte: Scheid (1998).


17

f) Mobilidade do fósforo
No solo o fósforo é mobilizado pelo processo de difusão, que consiste do caminhamento do
elemento de um meio de maior concentração para um de menor contração. Esse movimento é lento e
depende de um gradiente de concentração, levando a necessidade da aplicação de fósforo via
fertilização ser localizada, na área de solo com maior concentração do sistema radicular, ou seja,
próximo a planta. Em função da sua baixa mobilidade do P (coeficiente de difusão D = 10-11 cm2 s-
1
), sua perda por lixiviação é mínima comparado ao 𝑁𝑂 e 𝑁𝐻 (D = 10-6 cm2 s-1) que são muito
móveis no solo.
g) Perdas no solo
Diferente do que ocorre com o nitrogênio, o fósforo não se perde no solo na forma
gasosa. Isso acontece devido à forte interação que o fosforo possui com as superfícies dos minerais
(Brady e Weil, 2009). A interação do P com minerais de argila é feita com ligações químicas fortes,
fazendo a adsorção ser um fator ou tipo de “perda” de disponibilidade do elemento às plantas, mas
não no solo. A perda do fósforo por lixiviação também é muito pequena devido a retenção do P nos
coloides, dessa forma a perda mais comum pelo processo de erosão do solo.

h) Fertilizantes fosfatados
As fontes industrializadas de maior solubilidade são: superfosfato simples,
superfosfato triplo, fosfato monoamônico (MAP), fosfato diamônico (DAP) e os termofosfatos, que
são obtidos a partir da fusão de fosfato natural com uma rocha magnesiana e posteriormente é
resfriado rapidamente. As concentrações (tabela 7), características e forma de obtenção desses e
outros fertilizantes fosfatados encontra-se em Raij (2001) nas páginas 311-315.

Tabela 7 – Fertilizantes fosfatados e suas concentrações.


Fertilizante Garantia mínima
Fosfato diamônico (DAP) 17% de nitrogênio e 45 % de P2O5

Fosfato monoamônico (MAP) 9% de nitrogênio e 48 % de P2O5


Fosfato monopotássico 51% de P2O5 e 33% K2O
Fosfato natural 24% de P2O5 e 16% de cálcio
Fosfato natural reativo 27% de P2O5 e 28% de cálcio
18% de P2O5, 16% de cálcio e 8% de
Superfosfato simples
enxofre
Superfosfato triplo 41% de P2O5, e 10% de cálcio
17% de P2O5, 7% de magnésio e 16% de
Termofosfato magnesiano
cálcio
Fonte: Adaptado de Raij (2011)
18

3. POTÁSSIO

O potássio possui diversas funções metabólicas nas plantas como ativador e regulador
de enzimas, regulação osmótica, bem como síntese de proteínas, carboidratos e de ATP, entre outras
funções. O K como fertilizante é o segundo nutriente mais utilizado no Brasil, ficando atrás somente
do fósforo. O principal adubo utilizado de fonte potássica é o cloreto de potássio (KCl) (Raij, 2011).
a) Ciclo do potássio
As principais formas de entrada de potássio no ciclo (Figura 12) são através dos
fertilizantes e dos minerais primários que contém o K na sua estrutura, como as micas (biotita e
muscovita) e os feldspatos potássicos. As principais formas de perda do K no solo são através da
lixiviação, erosão e a exportação pelas culturas, não ocorrendo perdas por formas gasosas como
ocorre com o nitrogênio (Brady e Weil, 2009).
Figura 112 - Ciclo do potássio no solo.

Fonte: Autores

b) Formas e disponibilidade no solo


O potássio é um nutriente abundante em rochas e solos, principalmente os que possuem
minerais primários com K em sua estrutura, o que pode permitir teores totais até maiores que 1%.
(Raij, 2011).
A maior parte do K do solo é encontrada na estrutura dos minerais primários e
secundários, e a menor parte (cerca de 2% do total) encontra-se prontamente disponível para as
plantas, que são aqueles ligados aos coloides do solo (K trocável) ou presentes na solução do solo
19

(Ernani et al. 2007). Portanto, a disponibilidade de K no solo, está intimamente ligada ao material de
origem e ao grau de intemperismo do solo.
Outra forma de potássio é aquele presente na matéria orgânica, porém a quantidade é
extremamente baixa, pois se restringe ao K na fração orgânica viva (Ernani et al. 2007).
Existe também o potássio fixado, presente nas entrecamadas dos minerais do tipo 2:1,
como a illita e a vermiculita. Porém ocorre também em baixíssimas quantidades.
A forma de potássio disponível para as plantas é a catiônica (K+), caracterizada por baixa
capacidade de adsorção aos coloides e, portando, facilmente perdida via lixiviação. De forma geral
na solução do solo, a concentração de bases trocáveis segue a ordem Ca2+ > Mg2+ > K+.
Portanto, várias formas de potássio podem ocorrer no solo, porém de grande
importância destaca-se apenas o K presente nos minerais, K trocável e o K em solução (figura 13).
Figura 13 - Formas de potássio no solo.

Fonte: Adaptado de Raij (1991). In: Raij (2011).

c) Fatores que afetam a disponibilidade


Fatores relacionados ao solo e ao clima afetam diretamente a disponibilidade de K para
as plantas.
Os principais fatores de solo são: a dinâmica do K no solo, sendo isso dependente das
cargas do solo, da formação do solo e do fator manejo, pois isso influencia na retenção de K nos
coloides do solo. O pH do solo é fator que sempre deve ser observado, pois em solos mais ácidos a
disponibilidade de bases trocáveis é sempre menor. A textura do solo é outro fator importante, já que
em solos arenosos a possibilidade de lixiviação é sempre maior, principalmente no período de maior
precipitação. A matéria orgânica influencia, principalmente, porque proporciona melhoria na CTC do
solo, contribuindo com a retenção de K.
Já em relação ao clima, os principais fatores são, umidade e temperatura. A elevação
de temperatura, aumenta a absorção de K pelas plantas, porque auxilia no processo de difusão no solo
20

e o processo de absorção. O aumento de umidade no solo, também favorece a absorção de K, pois


aumenta o transporte de potássio até as raízes (Ernani et al. 2007).
d) Perdas no solo
A principal forma de perda de potássio no solo é a lixiviação e a erosão. Isso é
intensificado em solos tropicais muito intemperizados, que possuem uma grande quantidade de
óxidos e hidróxidos de Fe e Al, além de acidez elevada, dificultando assim a retenção do K presente
em solução, sendo facilmente lixiviado. A erosão arrasta grandes quantidades de solo, geralmente
para leitos de rios, levando com isso elementos como o potássio. Esse processo é intensificado pela
falta de cobertura vegetal, ou pela falta de práticas conservacionistas.
e) Fertilizantes potássicos
Existem diversos métodos para a produção de fertilizantes potássicos, dentre eles cita-
se: método convencional, método contínuo, método de solução e o método de recuperação de
salmouras. Nesses métodos de produção os minerais mais utilizados são a silvinita, silvita, langbeinita
e a kainita (Scheid, 1998).
O cloreto de potássio (KCl) é o principal fertilizante potássico utilizado, contendo
cerca de 60 % de K2O.
Existem outros fertilizantes potássicos utilizados, porém, em menor quantidade, como
o Sulfato de potássio (K2SO4), sulfato de potássio e magnésio (K2SO4.2MgSO4) e o nitrato de potássio
(KNO3) (tabela 8).

Tabela 8 - Fertilizantes potássicos.


Garantia mínima
Fertilizante Observação
K2O Cálcio Magnésio Enxofre
Cloreto de potássio 58 - - -
Sulfato de potássio 48 - - 15 45% de cloro
Sulfato de potássio e
20 - 10 20
magnésio
13% de
44 - - -
Nitrato de potássio nitrogênio
Fonte: Raij, (2011).

4. MACRONUTRIENTES SECUNDÁRIOS

São conhecidos como macronutrientes secundários os elementos essenciais cálcio


(Ca), magnésio (Mg) e enxofre (S). Seus ciclos estão expostos nas figuras (14 e 15).
De forma geral o cálcio e o magnésio são elementos que no solo ocorrem nas formas
catiônicas Ca2+ e Mg2+. Já o enxofre por não ser um metal, apresenta comportamento inverso ao cálcio
e ao magnésio, sendo presente no solo na forma mineral mais comum do ânion SO42- (Raij, 2011).
21

A disponibilidade do cálcio no solo ocorre geralmente de três compartimentos: 1)


minerais contendo cálcio; 2) cálcio complexado com húmus do solo e 3) cálcio retido nos coloides
do solo (Brady e Weil, 2009).
O magnésio está disponível no solo a partir de três formas também, sendo essas a forma
de Mg trocável, que está ligada aos coloides do solo, a de minerais que contem Mg em sua estrutura
e a de minerais de argila do tipo 2:1 em algumas situações, podendo ser liberado com o intemperismo
(Brady e Weil, 2009). Magnésio e cálcio possuem características bem similares, porém uma diferença
para o Mg é que algumas formas não trocáveis podem ser transformadas em formas trocáveis, pela
liberação dos minerais (Raij, 2011).
O enxofre está presente no solo principalmente na sua fase orgânica (95 %) e apenas
5% na fração mineral. Ou seja, a maior parte de enxofre do solo, é decorrente da MO, ou da atmosfera,
através da poluição industrial e pela queima de materiais quem contenha enxofre (Raij, 2011).
22

Figura 124 – Ciclo do Cálcio e Magnésio.

Fonte: Brady e Weil. (2009)


Figura 135 – Ciclo do enxofre

Fonte: V. Alvarez et al. (2007)


As perdas dos elementos Ca, Mg e S, no solo, estão sempre relacionadas com
lixiviação dos elementos e erosão. Essas perdas ocorrem em decorrência da CTC baixa, e da falta das
práticas conservacionistas que evitam a erosão do solo.
Alguns fertilizantes que contem Ca, Mg e S, e suas respectivas concentrações são
apresentados na tabela 9. Em termos práticos, geralmente, Ca e Mg são fornecidos ao solo pela
aplicação de calcários durante as práticas de correção da acidez do solo. É a forma mais acessível
23

para fornecimento desses nutrientes. O Ca também pode ser fornecido ao solo a partir da utilização
de alguns fertilizantes fosfatados.
O S pode ser fornecido ao solo via utilização do gesso agrícola, que é um subproduto
da produção de fertilizante fosfatado. Outra alternativa é fornecer via utilização de alguns fertilizantes
que os contém em sua composição, como é o caso do Sulfato de amônio e superfosfato simples, que
são respectivamente, fontes nitrogenadas e fosfatadas.
Tabela 9 – Fertilizantes fontes de Ca, Mg e S.
Garantia mínima
Fertilizante
K2O Cálcio Magnésio Enxofre
Sulfato de cálcio - 16 - 13
Cloreto de cálcio - 24 - -
Sulfato de magnésio - - 9 11
Óxido de magnésio - - 45 -
Carbonato de magnésio - - 25 -
Enxofre - - - 95
Fonte: Raij (2011).
Para mais informações sobre os elementos Ca, Mg e S, recomenda-se (V. Alvarez,
2007); (Brady e Weil, 2009); (Raij, 2011).

5. MICRONUTRIENTES

Os micronutrientes, são assim denominados pelo fato de os vegetais precisarem deles


em pequenas quantidades, porém sem a presença de um deles a planta não completa seu ciclo. Os
micronutrientes são: Boro (B), Cobre (Cu), Cloro (Cl), Ferro (Fe), Manganês (Mn), Zinco (Zn),
Molibdênio (Mo) e Níquel (Ni). As funções dos micronutrientes nas plantas quase sempre está ligado
a reações enzimáticas.
O fato de cultivos sucessivos, produtividades crescentes, maior utilização de
fertilizantes químicos, maior aplicação de calcários tornará cada vez mais, os solos deficientes em
micronutrientes (Raij, 2011), isso porque, pelo fato de ser exigido em menores quantidades, os
produtores muitas vezes esquecem desses nutrientes, sendo que as plantas continuam utilizando.
Além disso, a principal fonte de micronutrientes para o solo é a matéria orgânica, sendo que a
adubação orgânica cada vez menos é utilizada, tornando assim um sistema desbalanceado no que diz
respeito ao fornecimento de micronutrientes para o solo.
As formas e disponibilidade dos micronutrientes serão citadas a seguir, com pouco
detalhamento. Para maiores informações recomenda-se a busca em Abreu et al. (2007) e Raij (2011).

a) Boro
24

O boro possui comportamento aniônico. Na solução do solo, a forma dominante é o ácido


bórico (H3BO3). Segundo Raij (2011), boa parte do Boro encontrado no solo, está relacionado ao
mineral turmalina, que possui alta resistência ao intemperismo, sendo, portanto, quase que na
totalidade todo boro advindo da MO.
Os principais fatores que afetam a disponibilidade do Boro são a falta de matéria orgânica e
a falta de umidade.
b) Cobre
Presente principalmente em rochas como sulfetos complexos. Liberando íons cobre por meio
do intemperismo dessas rochas, principalmente em meio ácido. A forma mais comum de cobre no
solo é Cu2+.
Entre os fatores que afetam a disponibilidade de Cu, a presença de MO é importante, pois
pode complexar o cobre, tornando-o indisponível para as plantas.
c) Cloro
Ocorre na sua forma iônica Cl-. É um elemento muito móvel no solo, por isso é muito
facilmente lixiviado. É originado de sais inclusos nas rochas, adições atmosféricas e pela água de
irrigações, além de adubações potássicas com cloreto de potássio (KCl) (Raij, 2011).
d) Ferro
É o micronutriente que ocorre em maior concentração, principalmente em solos de regiões
tropicais. Ocorre principalmente na forma de óxidos e hidróxidos de Fe e em solos ricos em MO, o
ferro aparece na forma de quelatos. Tem maior disponibilidade de Fe em faixas de pH entre 4,0 a 6,0.
A forma de absorção pelas plantas é através das suas formas iônicas (Fe2+ e Fe3+).
e) Manganês
Ocorre nas estruturas de diversos minerais, que pelas ações do intemperismo, os compostos
de manganês são oxidados e reprecipitados, formando minerais secundários. O Mn possui maior
disponibilidade em pH entre 5,0 a 6,5, e possui forma de absorção pelas plantas através da sua forma
catiônica Mn2+. Assim como outros cátions, o pH e a baixa CTC afeta sua disponibilidade.
f) Zinco
Encontra-se distribuídos em rochas (como sulfetos – ZnS) e sedimentos argilosos (Raij,
2011). Possui maior disponibilidade em pH entre 5,0 a 6,5. Sua forma de absorção pelas plantas se
dá por Zn2+.
g) Molibdênio
É o micronutriente menos abundante no solo. Em geral solos derivados de granitos e argilitos
possuem maior disponibilidade desse elemento (Raij, 2011). Ocorre na sua maior porção através do
mineral primário molibdenita (MoS2), sendo lentamente oxidado e transformado em molibdato
(MoO42- em meio alcalino e HMoO4- em meio ácido). Sua maior disponibilidade ocorre em pH 7,0.
25

A matéria orgânica também é fonte de molibdênio. Portanto, baixos teores de MO afetam a


disponibilidade.
h) Níquel
É o elemento mais recentemente identificado como essencial às plantas. Encontra-se
presente principalmente em rochas ígneas. Sua forma de absorção pelas plantas é na forma de cátion
(Ni2+). Em relação ao que afeta sua disponibilidade, pouco se sabe, porém, acredita-se que o que afeta
os outros metais, provavelmente também afeta a disponibilidade de níquel (Nachtigall e Dechen,
2007).
Unidade VII – Avaliação da fertilidade do solo e recomendações de calagem e
adubação

6. INTRODUÇÃO

A avaliação da fertilidade do solo tem como objetivo diagnosticar o estado atual dos
atributos químicos do solo e auxiliar no processo de recomendações técnicas de calagem e adubação
em ambientes agrícolas e florestais.
Embora pareça uma atividade simples, a avaliação da fertilidade do solo, no entanto,
envolve a capacidade do responsável técnico em inter-relacionar as informações químicas dos solos,
com outros aspectos importantes, como exigências e características das plantas, além das condições
ambientais envolvidas.

7. MÉTODOS DE AVALIAÇÃO DA FERTILIDADE DO SOLO

Os principais métodos para avaliação da fertilidade do solo são:


- Diagnose visual (observação dos sintomas visuais de deficiência ou toxidez);
- Análise de tecidos vegetais (Diagnose de folhas);
- Análise química de terra – método mais eficiente e mais utilizado;
- Experimentação/ensaios/testes (adubação, microbiológicos, bioquímicos).

7.1. Diagnose visual

É um método de análise visual das deficiências e excessos nutricionais nos plantios


estabelecidos. É um método complementar na avaliação da fertilidade do solo, sendo possível apenas
em áreas com plantios estabelecidos. Nunca deve ser utilizado como única metodologia de avaliação.
Maiores detalhes sobre esta metodologia estão descritos no “Módulo II” da disciplina
nutrição mineral de plantas, no item 1.1.

7.2. Análise de tecidos vegetais


26

A análise dos tecidos vegetais da planta, também utilizada para avaliação do estado
nutricional pode ser um método auxiliar na avaliação da fertilidade do solo, sendo aplicada apenas
para áreas com plantios estabelecidos. Além disso, é geralmente complementar a análise de solo.
Maiores detalhes estão descritos no “Módulo II” da disciplina nutrição mineral de plantas,
no item 1.2.

7.3. Análise química do solo

A análise química do solo é o principal método utilizado para avaliação da fertilidade dos
solos que podem ser utilizados para plantios de culturas agrícolas, florestais e formação de pastagens.
É importante porque pode influenciar diretamente o manejo químico do solo já que as
técnicas de calagem, gessagem e adubação dependem da adequada avaliação da fertilidade do solo.
A análise química do solo não deve ser considerada como a solução para todos os problemas
dos engenheiros, técnicos, agricultores e pecuaristas, isso porque o sucesso da avaliação da fertilidade
do solo depende de outras etapas e técnicas que devem ser aplicadas de forma específica para cada
cultura, propriedade e tipo de solo. No entanto, deve-se ter consciência de que sem a análise química
do solo, menores são as possibilidades de melhoria da fertilidade do solo em áreas produtivas.
Para análise química do solo é sempre importante considerar alguns aspectos, como
disponibilidade de laboratórios na região, qualidade das análises laboratoriais, uso de métodos
laboratoriais adequados às tabelas de interpretação dos resultados e de recomendações, qualidade do
sistema de amostragem e coleta de solos, além da existência de profissionais habilitados com a
interpretação dos resultados.
No Brasil os dois programas com ampla atuação na certificação de qualidade de análises
laboratoriais de amostras de solo para fins de avaliação da fertilidade são: Ensaio de proficiência IAC
para laboratórios de análises de Solos - Programa interlabotorial do IAC (Instituto Agronômico de
Campinas), e o Programa de análise de qualidade de laboratórios de fertilidade (Paqlf) da EMBRAPA
(Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária). Detalhes quanto a métodos de análises laboratoriais
utilizados no Brasil podem encontrados em trabalhos como os de Raij et al. (2001); Silva et al. (2009);
Raij (2011).
A análise química do solo é parte integrante de um programa de recomendação de calagem
e adubação (Figura 16), cuja qualidade dos resultados é dependente, por exemplo, do planejamento
inicial e do sistema de amostragem e coleta de solos.
27

Figura 16- Diagrama ilustrativo das etapas do programa de análise química do solo

1. Planejamento amostral 6. Interpretação dos resultados

2. Coleta da amostra 5. Análises laboratoriais

3. Embalagem da amostra 4. Envio ao laboratório

Fonte: Autores.

7.4. EXPERIMENTAÇÃO/ENSAIOS/TESTES (ADUBAÇÃO, MICROBIOLÓGICOS,


BIOQUÍMICOS).

A utilização de experimentos, ensaios ou testes envolvendo níveis de adubações, respostas


no comportamento das plantas e em produtividade são metodologias que também podem ser
utilizadas para avaliação da fertilidade do solo nas propriedades. No entanto, na prática, produtores e
mesmo técnicos extensionistas pouco utilizam essas ferramentas. Isso geralmente ocorre porque as
respostas demandam tempo e geralmente só serão utilizadas em outro ciclo de cultivo.

8. ETAPAS BÁSICAS RECOMENDAÇÃO DE CALAGEM E ADUBAÇÃO

Para que a avaliação da fertilidade do solo proporcione adequada recomendação de calagem


e adubação, com otimização dos recursos financeiros com corretivos e fertilizantes, é necessário que
haja atenção para algumas etapas básicas (figura 17).
Figura 147 - Grau de importância das etapas de diagnóstico da fertilidade do solo.

Risco de Tomada de
erros no decisão
projeto em
função da
operação
Interpretação
dos resultados

Análises
laboratoriais

Amostragem do
solo

Fonte: Autores
28

8.1. Amostragem do Solo

A etapa de amostragem do solo é considerada com umas das mais críticas, sendo fonte de
erros para o programa de avaliação da fertilidade do solo. Importante salientar que os laboratórios de
análise não conseguem corrigir os erros gerados na coleta. Envolve quatro fases (figura 18), que são
explicadas a seguir:
Figura 158 - Procedimentos importantes na elaboração do plano amostral.

1. Definição e 2. Definição da 3. Transporte e


3. Operação de
Reconhecimento geral metodologia preparo da
campo
da área amostral amostra

Fonte: Autores
Definição da Localização
Para iniciar o processo de amostragem, a identificação geral do terreno a ser avaliado deve
ser efetuada, preferencialmente mediante a visita e aplicação de questionário de reconhecimento do
local, junto ao responsável ou proprietário. Na visita prévia verificar coordenadas, clima
predominante, tipo de solo, vegetação, topografia e geologia. Alguns desses itens estão disponíveis
em literaturas da região. No formulário ou questionário levantar uso anterior do solo (floresta primária
ou secundária, pastagem, agricultura, manejo, etc.). Posteriormente, na posse da maior quantidade de
informações possíveis, é delineado o plano amostral
Estratégia de Amostragem do Solo
Após a definição do local de cultivo, este deverá ser dividido em áreas homogêneas de no
máximo 10 hectares cada uma. Estas áreas, dependendo da região, podem ser denominadas de glebas,
quadras ou talhão (Figura 19). O tamanho máximo (10 ha) poderá ser alterado (para mais ou para
menos) em função de condições específicas de cada propriedade.
Os critérios que podem ser utilizados para a divisão homogênea são:
- Tipo de Solo (textura, cor, topografia);
- Histórico da área (plantios ou usos anteriores)
- Histórico do plantio atual, quando for o caso (idade, espaçamento, variedade, produção) –
importante quando o objetivo são recomendações de manutenção de plantios perenes existentes.
29

Figura 169 - Separação de unidades amostrais homogêneas

Fonte: ATER, 2019


É essencial a utilização de um mapa (mesmo que feito manualmente) da propriedade, no
qual serão anotadas as divisões realizadas. Isso evita dúvida quanto aos locais de coleta de amostras
de solo anteriores e futuras.
Após a definição das glebas recomenda-se que as mesmas sejam indicadas, no próprio mapa,
por um número ou letra de identificação e em cada uma delas deverá ser coletada uma amostra
composta.
Coleta das Amostras de Solo
Definições básicas:
Amostra composta = resultante da homogeneização de amostras simples.
Amostras simples (também denominada de sub-amostras) – são coletadas individualmente
em diferentes profundidades do perfil do solo.
Importante
Solos são materiais dinâmicos e heterogêneos. Dessa forma a amostra de solo coletada (em geral, de
500 gramas) deve representar um todo que pode ser de 10 hectares, por exemplo. Isso indica que a
amostra deve ser retirada com cuidado para que possa representar adequadamente a área a ser
analisada.
Procedimentos básicos para coleta:
a) Número de sub-amostras por gleba: 15 a 30.
b) Localização das coletas das sub-amostras: Aleatoriamente e preferencialmente em
caminhamento tipo zigzag na gleba (Figura 20), buscando amostragem de toda a superfície. Em
alguns casos a amostragem do solo pode ser sistemática, pela qual o objetivo será criar mapas de
variabilidade espacial em cima de um grid ou grade amostral, com pontos georreferenciados. Esse
tipo de amostragem é muito usado para condições em que se deseja maior precisão (Figura 21) e em
avaliações ambientais.
30

Figura 20 - Amostragem de solo no esquema ziguezague em área a ser implantada (A e B) e local de


amostragem (coroa ou projeção da copa) em área com cultura perene já instalada (C).

Fonte: Autores
31

Figura 171 - Amostragem em grid (A) e variabilidade espacial de nutrientes (B) em cultivo de teca
(Tectona grandis L.f.) no estado do Pará.

Fonte: Autores
32

OBSERVAÇÃO

Em avaliações ambientais de contaminantes a análise de solo é uma ferramenta fundamental


na investigação confirmatória.
c) Acondicionamento
Sub-amostras: Baldes limpos ou sacos plásticos grandes e resistentes. Para cada
profundidade amostrada deve-se utilizar um dos recipientes citados. As sub-amostras são
homogeneizadas dentro desses recipientes.
Amostra Composta: acondicionadas recipientes ou sacos plásticos com capacidade para no
máximo 500 g (quantidade que deve ser enviada ao laboratório).
d) Coletores (Instrumentos):
Podem ser utilizados diversos instrumentos (Figura 22), como trados de diversos tipos
(holandês, caneca, sonda, etc.), sendo importante que se retire o mesmo volume de solo por sub-
amostra. Enxadão também pode ser utilizado, mas o cuidado deve ser redobrado, principalmente com
limpeza e uso diverso desse tipo de material.
Atualmente diversas técnicas têm sido desenvolvidas para aumentar o rendimento
operacional e reduzir o árduo trabalho de coleta de solo como mostra o vídeo no link:
https://www.youtube.com/watch?v=Qfzx9QaB2HA.
Figura 182 - Principais instrumentos utilizados em coleta de amostras de solo

Fonte: Silva et al. (2009)


33

e) Profundidade
A coleta de amostras de 0 a 20 cm de profundidade é a básica a ser realizada. Contudo, é
importante que na medida do possível e principalmente para culturas de sistema radicular profundo
(fruteiras, reflorestamento, etc.), sejam feitas coletas de amostras de 20 a 40, e até 40 a 60 cm de
profundidade (Figura 23). Neste caso deverá se carregar 2 ou 3 baldes ao mesmo tempo e depositar
em cada um deles as sub-amostras da respectiva profundidade.
Figura 193 - Recomendações para coleta de solo em função das culturas implantadas

Fonte: Autores

f) Procedimento
 Limpar a superfície de cada ponto escolhido retirando apenas o material orgânico ali
depositado;
 Retirar a sub-amostra;
 Caminhar e escolher um novo ponto para coleta;
 Ao final das 15-20 sub-amostras, misturar bem toda a terra coletada, retirando então
uma porção de 300 a 500g. Acondicionar em saquinho limpo. Identificar e enviar ao
laboratório.
IMPORTANTE: As amostras devem ser enviadas para laboratórios confiáveis e que
utilizem métodos analíticos compatíveis aos solos e com as tabelas de interpretação (quando houver)
de sua região.
34

OBSERVAÇÃO
Pontos georreferenciados podem ser tomados com uso de GPS portátil ou aplicativos gratuitos de
smartphones como o C7 GPS DADOS:
https://play.google.com/store/apps/details?id=com.crcampeiro.c7gps&hl=pt_BR

9. INTERPRETAÇÃO DA ANÁLISE DO SOLO

Coletar e analisar as amostras de um determinado tipo de solo pode não significar nada se
os resultados não forem interpretados de forma adequada.
A interpretação dos resultados da análise química do solo tem a função de diagnosticar o
nível de fertilidade do solo, ou seja, do observar potencial do solo em disponibilizar nutrientes
mediantes comparação com condições padrões locais, regionais ou nacionais.
A partir da interpretação dos resultados analíticos é possível a tomada de decisão sobre a
aplicação de fertilizantes. Outros usos desse diagnóstico é a avaliação ambiental de áreas degradadas
ou contaminadas. A interpretação da análise é composta por quatro passos descritos a seguir.
Passo 1: Obtenção do resultado analítico
Os resultados de s análises de solo são obtidos a partir de laudos (figura 24) emitidos por
laboratórios para os quais as amostras são enviadas. Importante sempre ter atenção a metodologia que
é utilizada pelo laboratório escolhido, garantido que seja a mesma considerada nos manuais de
calagem e adubação.
35

Figura 204 - Exemplo de resultado de análise da fertilidade do solo.

Fonte: Autores.

OBSERVAÇÃO
As análises de solo podem ser feitas em laboratórios sem certificação dos programas de qualidade, desde
que o estabelecimento seja de credibilidade.

Passo 2: Seleção dos valores de referência


A obtenção dos valores de referência é um passo importante para interpretação dos
resultados da análise química de amostras de solos. E é importante considerar que esses valores
referenciais tenham sido obtidos no mesmo método analítico utilizado para análise laboratorial das
amostras.
No Brasil, grande parte dos estados possuem tabelas padronizadas com os valores de
referência dos parâmetros da fertilidade do solo. Exemplos são o Estado de São Paulo, com o Boletim
Técnico 100, o Estado de Minas Gerais, com a 5ª Aproximação – recomendações para uso de
corretivos e fertilizante. No Pará há o manual de recomendações de calagem e adubação. Como
exemplo são apresentadas a seguir tabelas com valores de referência que podem ser utilizadas para
interpretação de resultados de análise de solo.
36

Tabela 10 - Classificação dos teores de pH em água


Classificação agronômica para pH em água
Muito Baixo Baixo Bom Alto Muito Alto
< 4,5 4,5 -5,4 5,5 -6,0 6,1 -7,0 > 7,0

Tabela 11 – Textura do solo em relação ao teor de argila

Argila (%) Textura


0 1- 15 Arenosa
15 -35 Média
> 35 Argilosa

Tabela 12 - Classes de interpretação da fertilidade do solo, com base na análise química de solo.
Muito
Parâmetro Unidade Baixo Baixo Médio Bom Muito Bom
Matéria orgânica % ou dag/kg ≤ 0,4 0,41 - 1,16 1,17 - 2,32 2,33 - 4,06 > 4,06

Cálcio trocável (Ca) cmolc/dm3 ≤ 0,4 0,41 - 1,20 1,21 - 2,4 2,41 - 4,0 > 4,0

Magnésio trocável (Mg) cmolc/dm3 ≤ 0,15 0,16 - 0,45 0,46 - 0,9 0,91 - 1,5 > 1,5
Potássio trocável (K) mg/dm3 ou ppm ≤ 15 16 - 40 41 - 70 71 - 120 > 120

CTC efetiva (t) cmolc/dm3 ≤ 0,8 0,81 - 2,3 2,31 - 4,6 4,61 - 8,0 > 8,0

CTC pH 7,0 (T) cmolc/dm3 ≤ 1,6 1,61 - 4,3 4,31 - 8,6 8,61 - 15 > 15
Saturação por bases (V) % ≤ 20 20,1 - 40 40,1 - 60 60,1 - 80 > 80

Tabela 13 - Classes de interpretação da acidez do solo, com base na análise química do solo.
Parâmetro Unidade Muito Baixo Baixo Médio Alta Muito Alta
Acidez trocável (Al) cmolc/dm3 ≤ 0,2 0,21 - 0,5 0,51 - 1 1,01 - 2 > 2,0
Acidez potencial (H+Al) cmolc/dm3 ≤ 1,0 1,01 - 2,5 2,51 - 5 5,01 - 9 > 9,0
Saturação por Al (m) % ≤ 15 15,1 - 30 30,1 - 50 50,1 -75 > 75

Tabela 14 – classes de interpretação da disponibilidade de fósforo em relação ao teor de argila do


solo.
Teor de Argila Disponibilidade de fósforo P (mg/dm3 ou ppm)
% Baixa Média Alta Muito Alta
Argilosa (> 35) <5 6 – 10 11 – 15 >15
Média (15 – 35) <8 9 – 15 16 – 20 >20
Arenosa (< 15) < 10 11 – 18 19 – 25 >25
37

Tabela 15 - Classes de interpretação da disponibilidade de enxofre, com base na análise química


do solo.

Interpretação Enxofre - S (mg/dm3)


Baixo ≤ 4
Médio 5,0 a 9,0
Alto ≥ 10,0

Tabela 16 - Classes de interpretação da disponibilidade de micronutrientes, com base na análise


química do solo
Micronutriente (mg/dm3) Muito Baixo Baixo Médio Bom Alto
Zinco disponível (Zn) ≤ 0,4 0,5 - 0,9 1,0 -1,5 1,6 -2,2 > 2,2
Manganês disponível (Mn) ≤2 3,0 - 5,0 6,0 - 8,0 9,0 - 12 > 12
Ferro disponível (Fe) ≤8 9,0 - 18 19 - 30 31 - 45 > 45
Cobre disponível (Cu) ≤ 0,3 0,4 – 0,7 0,8 – 1,2 1,3 – 1,8 > 1,8
Boro disponível (B) ≤ 0,15 0,16 - 0,35 0,36 - 0,6 0,61 - 0,9 > 0,9

Passo 3: Interpretação
Consiste em confrontar os resultados analíticos com as tabelas de referência, como mostra a
figura abaixo.
Figura 215 - Exemplo de interpretação de análise
38

Passo 4
Ao final da interpretação é possível gerar um relatório em tabelas ou gráficos com o
diagnóstico de todos os parâmetros avaliados, como demonstrado na figura 26.
Figura 226 - Interpretação dos parâmetros da fertilidade do solo com classificação e valores de
referência adaptados para localidade específica.

10. RECOMENDAÇÃO DE ADUBAÇÃO

Antes da recomendação de doses e tipos de fertilizantes, o primeiro passo é verificar, a partir


da análise de solo, a necessidade de correção de acidez do solo. Para alguns fertilizantes e
remineralizadores a melhor eficiência da utilização passa por essa correção prévia da acidez do solo.
Para outros materiais a correção da acidez não se faz necessário. Isso acontece, por exemplo, com a
maioria dos fosfatos naturais utilizados para fornecimento do fósforo.
39

Para recomendação de adubação, consideram-se os resultados da análise química do solo e


as tabelas de referência de cada região, para determinação das necessidades de nutrientes a serem
aplicados durante a adubação. A seguir será demonstrado como realizar a recomendação de tipos e
doses de fertilizantes1.
A seguir são demonstrados alguns exemplos de recomendação de adubação,
considerando utilização de fertilizantes simples e de formulações NPK:
Questão 1: Considerando a produtividade de uma cultura de milho e os resultados da análise
de solo é necessário aplicar das seguintes quantidades de N, P2O5 e K2O (kg ha-1): N= 30, P2O5= 90 e
K2O= 50.
Além disso, há a recomendação de aproximadamente 40 kg ha-1 de S, 4 kg ha-1 de Zn e
1,0 kg ha-1 de B.

Adubando com Fertilizantes Simples

Fertilizantes simples disponíveis: Ureia (45% de N)


Superfosfato triplo (45% de P2O5)
Cloreto de potássio (60% de K2O)

Cálculo para o N - necessidade de 30 kg ha-1


100 kg ureia ---------- 45 kg N
x ----------- 30 kg N

66,7 kg ha-1 de ureia

Cálculo para P e K (igual ao feito para N), têm-se:


Para o P – necessidade de 90 kg ha-1 = 200 kg ha-1 de SFT
Para o K – preciso de 50 kg ha-1 = 83,3 kg ha-1 de KCl

Fornecimento de S (40 kg ha-1): alternativa é fornecer junto com a fonte de N. Nesse caso é
só substituir a ureia pelo sulfato de amônio (20% de N e 24% de S).

Então ...necessidade de 30 kg ha-1 de N = 150 kg ha-1 de sulfato de amônio (SA)

1
Para detalhes sobre conceito e classificação geral dos tipos de fertilizantes, consultar material adicional no
portal.
40

Os 150 kg ha-1 SA fornecem 36 kg ha-1 de S.

Fornecimento de zinco (4 kg ha-1) – utilizar oxido-sulfato de zinco (20% de Zn).


Então aplicar 20 kg ha-1 de oxido-sulfato de zinco.

Fornecimento de 1 kg ha-1 de B – Utilizar elexita (10%B).


Então aplicar 10 kg ha-1 de ulexita.

Adubando com fórmulas NPK

A fertilização pode ser realizada com uso de fórmulas comerciais, tipo NPK.

Para demonstração se estima que as fórmulas disponíveis no mercado sejam:


4-14-8, 4-20-20, 20-5-20, 19-10-19, 4-30-10.

Passo 1 - estabelecer a relação entre nutrientes na necessidade e encontrar uma fórmula com
a mesma relação (ou próxima desta).

Necessidade: N = 30 kg ha-1; P2O5 = 90 kg ha-1 e K2O = 50 kg ha-1


Relação: 1 : 3,0: 1,6

fórmula comercial que melhor se aproxima é a 4-14-8 (relação 1 : 3,5 : 2)

Passo 2 - Calcular a quantidade necessária da fórmula para aplicação.

Quantidade = soma dos nutrientes recomendados x 100 = kg ha-1 da fórmula escolhida


soma dos nutrientes na fórmula

Quantidade= (30 + 90 + 50) x 100 = 170 x 100 = 650 kg ha-1 da fórmula 4-14-8
(4 + 14 + 8) 26
41

Passo 3 –
O S pode constar da fórmula (se o N for fornecido com sulfato de amônio ou o P como
superfosfato simples).

O Zn e B devem constar da fórmula.


Para determinar o teor: Quantidade formula -------- 100%
Quantidade requerida -------- X
Logo....
Necessidade de Zn (4 kg ha-1): 4 x 100 / 650 = 0,60% de Zn
Necessidade de B (1 kg ha-1 ): 1 x 100 / 650 = 0,15%B

Recomendação final: aplicar 650 kg ha-1 da fórmula 4-14-8 + 0,60% Zn + 0,15%B

OBSERVAÇÃO
Para detalhes em procedimentos operacionais de aplicação de corretivos e fertilizantes convencionais, onde os
princípios coincidem com a rochagem, vejam alguns vídeos:
Orientações calagem: correção de acidez do solo:
https://www.youtube.com/watch?v=ECGAzFgf4VU&list=PLofI9GrqIheFWYhCuRCGM3M73z3taE0_S&index=4
&t=81s
Correção e adubação na mandioca:
https://www.youtube.com/watch?v=i7kOgq2rcD8&list=PLofI9GrqIheFWYhCuRCGM3M73z3taE0_S&index=2
Adubação de cova em culturas perenes:
https://www.youtube.com/watch?v=87TI6G4ROrg&list=PLofI9GrqIheFWYhCuRCGM3M73z3taE0_S&index=5
Adubação de cobertura em culturas perenes:
https://www.youtube.com/watch?v=2GMt_FgE6As&list=PLofI9GrqIheFWYhCuRCGM3M73z3taE0_S&index=1
Correção e adubação em canteiros de hortaliças: https://www.youtube.com/watch?v=arVjUF-
zHUM&list=PLofI9GrqIheFWYhCuRCGM3M73z3taE0_S&index=3

Referências

ATER – ASSISTÊNCIA TÉCNICA RURAL: produtores – uma dica incrível para vocês, 2019.
Disponível em: http://ateragroambiental.com.br/sem-categoria/produtores-uma-dica-incrivel-para-
voces/

B. VAN RAIJ. Recomendações de adubação e calagem para o Estado de São Paulo. Campinas:
IAC, 1997.

CANTARELLA, H. Nitrogênio. In: NOVAIS, Roberto Ferreira. et al. Fertilidade do solo. Viçosa –
MG: Sociedade Brasileira de Ciências do Solo, 2007. p. 375-470

CANTARUTTI, R. B. et al. Avaliação da fertilidade do solo e recomendação de fertilizantes. In:


NOVAIS, Roberto Ferreira. et al. Fertilidade do solo. Viçosa – MG: Sociedade Brasileira de
Ciências do Solo, 2007. p. 770-845

CRAVO, M. da S.; VIÉGAS, I. J. M.; BRASIL, E. C. Recomendação de adubação e calagem para o


estado do Pará. Belém: Embrapa Amazônia Oriental, 2010.
42

DECHEN, A. R; NACHTIGALL, G. R. Elementos requeridos à nutrição de plantas. In: NOVAIS,


Roberto Ferreira. et al. Fertilidade do solo. Viçosa – MG: Sociedade Brasileira de Ciências do Solo,
2007. p. 91 – 132

EPSTEIN, Emanuel; BLOOM, ANND P. Princípios e perspectivas. Londrina. Editora planta,


2006.

ERNANI, P. R. et al. Potássio. In: NOVAIS, Roberto Ferreira. et al. Fertilidade do solo. Viçosa –
MG: Sociedade Brasileira de Ciências do Solo, 2007. p. 551 – 594.

JORGE, H. D. Amostragem de solo para analise química. Embrapa Rondônia-Circular Técnica


(INFOTECA-E), 1986.

LEITE, Luiz FC et al. Atributos químicos e estoques de carbono em Latossolo sob plantio direto no
cerrado do Piauí. Embrapa Meio-Norte-Artigo em periódico indexado (ALICE), 2010.

LOPES, Alfredo Scheid. Manual internacional de fertilidade do solo. Piracicaba: Associação


Brasileira para a Pesquisa da Potassa e do Fosfato, 1998.

NOVAIS, R. F. et al. Fósforo. In: NOVAIS, Roberto Ferreira. et al. Fertilidade do solo. Viçosa –
MG: Sociedade Brasileira de Ciências do Solo, 2007. p. 471 – 550

RAIJ, Bernado Van. Fertilidade do Solo e Manejo de Nutrientes. 1. ed. Piracicaba - SP: IPNI -
INTERNATIONAL PLANT NUTRITION INSTITUTE, 2011. p. 1-420.

RIBEIRO, Antonio Carlos. Recomendações para o uso de corretivos e fertilizantes em Minas


Gerais: 5. Aproximação. Comissão de fertilidade do solo do estado de Minas Gerais, 1999.

SILVA, I.R. MENDONÇA, E. S. Matéria orgânica do solo. In: NOVAIS, Roberto Ferreira. et al.
Fertilidade do solo. Viçosa – MG: Sociedade Brasileira de Ciências do Solo, 2007. p. 276-355.

SILVA, FABIO CESAR DA SILVA et al. (Ed.). Manual de análises químicas de solos, plantas e
fertilizantes. Brasília: Embrapa Informação Tecnológica; Rio de Janeiro: Embrapa Solos, 2009.

V. ALVAREZ, V. H. et al. Enxofre. In: NOVAIS, Roberto Ferreira. et al. Fertilidade do solo. Viçosa
– MG: Sociedade Brasileira de Ciências do Solo, 2007. p. 595 – 644

Você também pode gostar