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a
Edição
Circular Técnica

MANEJO DO NITROGÊNIO NA
CULTURA DO MILHO EM SOLO DE
TEXTURA MÉDIA E ARENOSA
Ed. 06 | JULHO/2023 NITROGÊNIO COMO NUTRIENTE ESSENCIAL
Tiragem: 700 exemplares

AUTORES O nitrogênio (N) é um dos elementos químicos demandados em maior quan-


André Somavilla tidade pelas plantas, juntamente com o fósforo (P) e o potássio (K). No planeta
Eng. Agr. Dr. Pesquisador em Solos Terra, mais de 98% do N está presente em rochas e magma, próximo a 1,9% na
e Consultor Raízes Consultoria e atmosfera e menos de 0,1% na matéria orgânica do solo (MOS). Embora uma
Agrodinâmica. somavillaa@gmail.com
pequena proporção do N total do planeta esteja na MOS, esta é fundamental para
Daniela Basso Facco o suprimento de N aos diferentes cultivos agrícolas.
Eng. Agr. Ma. Pesquisadora em Solos
do IAGRO-MT Nos vegetais o N é constituinte fundamental de aminoácidos, ácidos nucléicos e
daniela.facco@iagromt.org.br clorofila, por exemplo. Por isso, a deficiência de N resulta em sintomas de clorose geral
Leandro Zancanaro da planta (amarelecimento) e pouco desenvolvimento vegetativo (Figura 1). Sendo
Eng. Agr. Me. Pesquisador e Consultor estes sintomas facilmente encontrados em gramíneas. Por outro lado, o excesso de
Raízes Consultoria
leandrozancanaro@raizesconsultoria.com.br
N também pode ser prejudicial às culturas. Como exemplo, pode favorecer o aca-
mamento, retardar a frutificação e maturação, reduzir a translocação de carboidratos
Rodrigo K. Hammerschmitt e a produção de açúcares. Além disso, o excesso de N pode causar desbalanço
Eng. Agr. Me. Pesquisador em Solos e
Coordenador de Pesquisa do IAGRO-MT. nutricional e favorecer o ataque de pragas e doenças (Vilanova e Júnior, 2009).
rodrigo.knevitz@iagromt.org.br

Táimon Semler
Eng. Agr. Pesquisador e Consultor na
Raízes Consultoria.
taimonsemler@raizesconsultoria.com.br

Franklin W. V. de Oliveira
Eng. Agr. Especialista em Proteção de
Plantas. Coordenador de Projetos de
Defesa Agrícola da Aprosoja-MT.
franklin.oliveira@aprosoja.com.br

Gabriel Augusto da Silva


Eng. Agr. Analista de Projetos Defesa
Agrícola da Aprosoja-MT.
gabriel.silva@aprosoja.com.br

Jerusa Rech
Eng. Agr. Dra. Gerente de Defesa Agrícola
da Aprosoja-MT.
jerusa.rech@aprosoja.com.br

Karoline C. Barros
Eng. Agr. Ma. Analista de Projetos Defesa
Figura 1 . Deficiência de nitrogênio na cultura do milho. Foto: André Somavilla.
Agrícola da Aprosoja-MT.
karoline.barros@aprosoja.com.br
Dada a importância do N, a absorção e exportação de N pelas culturas é relativamente superior
aos demais nutrientes. Para a cultura da soja e milho, os valores de exportação de N via grãos giram
em torno de 57,2 e 14,7 kg por tonelada de grãos, respectivamente. Valores estes muito superiores
a exportação de P2O5 e K2O verificada para estas duas culturas (Figura 2). Para a cultura da soja e
outras leguminosas, felizmente, a fixação biológica de N (FBN) desempenha papel fundamental no
fornecimento de N e supre a demanda dessas culturas. Por outro lado, para gramíneas como o mi-
lho, o aporte de N via fertilizantes é fundamental para o ideal desenvolvimento das plantas na grande
maioria das áreas agrícolas.

No solo, o N possui grande versatilidade em


suas formas químicas, podendo estar presente
em formas reduzidas (como NH4+) ou oxidadas
(como NO3-), sendo as diferentes formas de N
equilibradas por fatores como presença ou au-
sência de oxigênio, microrganismos decompo-
sitores e carbono orgânico. Embora o N possa
apresentar-se em vários estados de oxidação, a
absorção pelas plantas se dá preferencialmen-
te nas formas nítrica (NO3-) e amoniacal (NH4+).
Porém, as saídas de N do sistema solo (lixivia-
ção e volatilização) também são maximizadas
quando há formas nítrica e amoniacal. Fato este
que confere grande preocupação ao se manejar
o suprimento de N às culturas.

DINÂMICA DO NITROGÊNIO
EM SOLOS DO CERRADO

A dinâmica do N no solo é complexa e pos-


sui relação intrínseca com o estoque e acúmulo
de C nos solos (MOS). Por este motivo, o ciclo
do N no solo está ligado diretamente a fatores
como disponibilidade e qualidade do material
orgânico, atuação de microrganismos decom-
positores e aeração do solo e está resumida
na Figura 3. As entradas de N no solo ocorrem
de três formas principais: aporte de material
orgânico ao sistema, FBN e fertilizantes indus-
trializados. Enquanto as saídas podem ocorrer
via produto (grãos e fibra), volatilização, escoa-
mento ou lixiviação.

Figura 2 . Valores médios de exportação de N, P2O5 e K2O pelas


culturas de soja e milho em função da produtividade. (Duarte et al.,
2019; Filippi et al., 2021)

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Circular Técnica 06 | JULHO/23
Figura 3. Dinâmica resumida do ciclo do nitrogênio em solos agrícolas. Adaptado de SBCS (2007).

Em se tratando de aporte de material orgâ- do material que está sendo decomposto, no-
nico ao solo, o fator quantidade é tão importan- tadamente a relação C/N do material. Ou seja,
te quanto a qualidade do material e vai definir o materiais que possuem relação C/N elevada
balanço entre mineralização e imobilização de (acima de 25-30) resultam em imobilização de
N no sistema e a taxa de acúmulo de MOS. Mi- N durante o processo de decomposição. Por
neralização, em resumo, é a transformação de outro lado, materiais com relação C/N baixa,
N orgânico em N inorgânico e resulta em dispo- resultam em mineralização e disponibilização
nibilização de N às plantas e em processos de do N para as plantas. Em se tratando de plan-
perdas de N do sistema, como lixiviação e/ou tas forrageiras utilizadas para cobertura de solo
volatilização. Imobilização é o caminho inverso e produção de palhada, de modo geral, gramí-
e representa a transformação de N inorgânico neas possuem relação C/N mais elevada em
em N orgânico pelos mesmos microrganismos comparação a leguminosas. Consequentemen-
que decompõem o material orgânico. Ambos os te, a decomposição de seus resíduos tende a
processos ocorrem simultaneamente durante a proporcionar imobilização de N no solo.
decomposição de resíduos vegetais/animais ou Em um primeiro momento, a imobilização de
fertilizantes orgânicos. Entretanto, há predomí- N durante a transformação de materiais orgâni-
nio de um deles em função das características cos em MOS pode parecer prejudicial pelo fato

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Circular Técnica 06 | JULHO/23
de reduzir a disponibilidade de N as culturas. eles Azospirilum, Azobacter e Acetobacter. Po-
De certo modo, a curto prazo, isso realmente rém ainda pouco explorados em comparação
pode ocorrer. Entretanto a longo prazo este fe- aos rizóbios utilizados na cultura da soja.
nômeno pode favorecer a redução de perdas Além das vias “biológicas” discutidas ante-
de N via volatilização ou lixiviação (principal- riormente, outra estratégia de fornecimento de
mente em solos arenosos onde a perda de N é N às culturas é por meio de fertilizantes prove-
mais intensa e o teor de MOS é, normalmente, nientes de processos industriais. No início do
baixo - Figura 4). Uma vez que o N é mantido século 20, Fritz Haber e Carl Bosh estabelece-
na forma orgânica (intrínseco ao corpo dos mi- ram um processo de síntese de NH3 a partir do
crorganismos) e facilmente mineralizável após a N2 atmosférico. Este processo ficou conhecido
morte dos microrganismos. como Haber-Bosh e marcou o início da agri-
Uma segunda maneira bastante conheci- cultura moderna pelo fato de o NH3 poder ser
da de entrada de N no sistema de produção utilizado diretamente como fertilizante, ou ser
é por meio da FBN (Figura 3). A FBN se refe- base para os demais fertilizantes nitrogenados.
re a conversão de N2 atmosférico em amônia A partir do NH3 são produzidas, especialmente,
(NH3) através da enzima nitrogenase produzida as formas: nitrato de amônio (NH4NO3), nitrato
por alguns microrganismos unicelulares, bac- de cálcio (Ca(NO3)2; sulfato de amônio (NH4)-
térias ou arqueias. Destes, algumas bactérias 2
SO4; DAP (NH4)2HPO4; MAP - NH4H2PO4; e a
denominadas genericamente de Rhizobium fo- ureia CO(NH2)2.
ram capazes de evoluir e estabelecer relação Embora a produção industrial de fertilizantes
endofítica simbiótica com plantas, em especial nitrogenados seja essencial para a produção
do gênero Fabaceae (leguminosas). Assim, a atual de grãos no mundo, uma série de fatores
fixação realizada pelos rizóbios potencializa a configuram desvantagem frente as demais en-
entrada de N reativo no sistema e supre grande tradas de N nos sistemas de produção. Dentre
parte da demanda da planta hospedeira pelo elas, os fertilizantes industrializados deman-
nutriente. Embora a FBN ocorra em uma ampla dam uma série de gastos energéticos para sua
gama de espécies do gênero Fabaceae (espé- síntese, transporte e utilização, uma vez que o
cies arbóreas, forrageiras e culturas de grãos), processo Haber-Bosh demanda muita energia
a interação mais conhecida e importante para a para conversão de N2 à NH3, em especial ener-
agricultura brasileira é, sem sombra de dúvida, gia fóssil não renovável. Além disso, o N prove-
a FBN que ocorre na cultura da soja (Hungria niente de fertilizantes industrializados pode ser
e Nogueira, 2022). A exemplo dos rizóbios, há facilmente perdido por processos de desnitrifi-
alguns resultados positivos da associação de cação, volatilização e lixiviação, causando re-
microrganismos com espécies gramíneas para dução da eficiência de uso, poluição de corpos
realização de FBN. Nesta esfera, outros micror- hídricos e emissão de gases de efeito estufa.
ganismos têm expressado potencial, dentre

DISPONIBILIDADE DE N E RECOMENDAÇÃO DE FERTILIZAÇÃO

Como discutido anteriormente, a MOS é o principal estoque de N e o primeiro fator diagnóstico


de suprimento de N às culturas agrícolas. Consequentemente, solos manejados em sistema plan-
tio direto e/ou argilosos, com maior capacidade de acúmulo e ciclagem de resíduos orgânicos tem
maior potencial de suprimento de N às culturas. Por outro lado, solos com baixos níveis de matéria
orgânica e/ou que sofrem revolvimento constante e/ou são solos arenosos (os quais naturalmente
possuem menores teores de MOS) possuem menor potencial de suprimento de N e necessitam
maior aporte antrópico de nitrogênio. Contudo, solos arenosos (menos de 15% de argila), mesmo
com manejo adequado de N, tem menor acúmulo de MOS em comparação a solos de textura
média (argila entre 15 e 35%) (Figura 4) o que lhes confere a necessidade de maior atenção no
manejo de nitrogênio.

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Circular Técnica 06 | JULHO/23
Figura 4. Relação entre matéria orgânica do solo e teor de argila nas camadas de 0-10 ou 0-20 cm em lavouras comerciais do Cerrado
brasileiro. Fonte: Sistema Raízes de Parcerias.

Solos de textura média ou arenosa merecem grande atenção no quesito fornecimento de N às


culturas por dois motivos principais:
1º Naturalmente possuem menores teores de MOS e grande dificuldade de incremento da mesma
devido, sobretudo, ao potencial de geração de material orgânico pelas culturas e às maiores taxas
de decomposição da MOS em virtude da baixa interação com a fração mineral do solo (Figura 4).
2º Maior velocidade de fluxo vertical de água favorecendo os processos de perdas de N por lixi-
viação do perfil do solo. Fato este que deve ser contornado pela escolha da fonte e da dose
de N a ser utilizada.
Além do solo e sistema de manejo adotado, a espécie vegetal manejada tem especial importân-
cia na definição de dose e época de aplicação da fertilização nitrogenada. Felizmente, para o cultivo
de espécies leguminosas – em especial a soja – o suprimento de N é realizado em sua maior parte
pela fixação biológica de N e o restante do N está presente no sistema solo. Com isso, não há reco-
mendação de aporte de fertilizantes nitrogenados para esta cultura.
Diferentemente, para gramíneas – em especial o milho – embora haja a possibilidade de utiliza-
ção de microrganismos com potencial de fixação de N, é indispensável a utilização de fertilizantes
de origem antrópica para o suprimento de N. A dose de N, época de aplicação e a fonte utilizada
variam consideravelmente em função do teor de MOS, textura, época do ano e regime hídrico.

A fertilização nitrogenada na soja, conforme discutido anteriormente, não é recomendada a


custas de redução da atividade simbiótica Rhizobium-soja e a não resposta da soja ao aporte de
N antrópico (Mendes et al., 2003). Entretanto, é recorrente a utilização de fertilizantes, em espe-
cial fosfatados, que contenham N na formulação na cultura da soja. Neste caso, exceto se a dose
for elevada e a aplicação realizada na linha de semeadura, a quantidade de N aportada não terá
influência negativa significativa sobre a nodulação da soja.

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Em situações de cultivo de soja sobre resíduos vegetais com elevada relação C/N (sobretudo
gramíneas) é possível que nos primeiros dias após a emergência as plantas apresentem certo
amarelecimento devido a imobilização de N durante a decomposição do material. Entretanto,
este sintoma desaparece assim que é iniciada a nodulação e a FBN (Hungria e Nogueira, 2022).
Assim, para a cultura da soja, a presença de N no fertilizante não deve ser fator decisivo na
escolha do fertilizante a ser utilizado.

FONTES INDUSTRIALIZADAS DE FERTILIZANTES NITROGENADOS

Atualmente no mercado brasileiro temos diversas fontes de N disponíveis para o agricultor


utilizar, desde fontes de N na forma amídica (ureia convencional) a fontes com base em nitrato e/
ou amônio, fontes estabilizadas e fontes de liberação controlada. Cada uma destas tecnologias
possui diferentes características e impacta diretamente na disponibilidade e eficiência de utiliza-
ção de N no sistema.
O N na forma amídica (ureia convencional) é, sem sombra de dúvida, o mais utilizado em fun-
ção da concentração de N e do custo por unidade de N no produto. Entretanto, é também uma
fonte com grande potencial de perdas tanto por volatilização, quanto por escoamento superficial
e lixiviação. As perdas de N por volatilização ocorrem quando a ureia é hidrolisada por ação da
enzima urease (amplamente presente no solo) e transformada em amônio. Este processo é ainda
mais intenso quando o fertilizante é aplicado superficialmente. Neste caso as perdas médias de
N podem ser de 30% do volume aplicado (Silva et al., 2017). Por outro lado, a ureia está sujeita a
lixiviação por ser um composto com alta solubilidade em água e não reativo no solo. Neste caso,
a ureia está mais sujeita a perdas por lixiviação em solos de textura média a arenosa em função
da própria reatividade do solo e do maior fluxo vertical de água no solo.
Os fertilizantes nitrogenados com base em nitrato de amônio, como o nitrato de amônio e
cálcio (CAN), tem sua vantagem por apresentar menor higroscopicidade e menor perda por vola-
tilização de N-NH3 do que ureia convencional, menor potencial explosivo do que nitrato de amô-
nio, além do fornecimento de cálcio (Ca) e magnésio (Mg) para a cultura (Otto et al., 2021). Já os
fertilizantes estabilizados ganharam grande destaque na última década pela utilização do inibidor
de urease N-(n-butyl) thiophosphoric triamide (NBPT), que diminui as perdas de N em relação a
ureia convencional (Cantarella et al., 2018), com valores de perdas em torno de 15% do valor de
N adicionado (Silva et al., 2017). Além disso, recentemente uma nova tecnologia foi desenvolvida
e associada ao NBPT sendo denominada Duromide + NBPT. Esta tecnologia pode ser 15 a 33%
mais eficiente em reduzir as perdas por volatilização de amônia que o NBPT isolado (Cassim et
al., 2021).
Outra tecnologia de liberação controlada, porém de ordem física, que tem ganhado espaço
no mercado é o recobrimento de grânulos de fertilizante. Neste caso, o N geralmente está na
forma amídica (ureia convencional) e é recoberto por diferentes materiais como resinas, políme-
ros, enxofre, entre outros. O material utilizado para recobrir o grânulo de ureia bem como a sua
espessura é o que controlará a liberação do N e consequentemente a disponibilidade para a
cultura. Estas fontes tem demonstrado grande potencial para melhorar a eficiência da adubação
nitrogenada (Zhao et al., 2013), entretanto, existem diferenças marcantes entre os fertilizantes
desta categoria, determinando assim, um amplo espectro de qualidade entre eles (Minato et al.,
2020).
Além da dose e fonte de N a serem utilizados, outro fator de grande importância para o supri-
mento de N às culturas diz respeito ao fracionamento e momento de aplicação dos fertilizantes.
Neste aspecto, na sequência será realizada discussão frente a dois protocolos instalados a cam-
po no Centro Tecnológico Aprosoja MT (CTECNO) em Campo Novo do Parecis-MT que possuem
como foco avaliar dose e época de aplicação de N na cultura do milho em solo de textura média
e arenosa.

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EFEITO DO PARCELAMENTO DO NITROGÊNIO NA CULTURA DO MILHO SAFRINHA
EM SOLO DE TEXTURA MÉDIA E ARENOSA

Até o momento foram abordados fatores muito importantes para o fornecimento e suprimento de
N às culturas, como a influência da MOS e da textura sobre a disponibilidade de N no solo, supri-
mento de N via FBN e disponibilidade de diferentes fontes de N no mercado brasileiro. Entretanto,
outro fator de extrema importância para o suprimento de N às culturas diz respeito ao regime de
disponibilidade do nutriente no solo. Ou seja, é necessário que haja disponibilidade satisfatória de
nutriente no solo quando houver demanda pelas culturas. Algo bastante óbvio, porém difícil de con-
ciliar no campo, uma vez que temos inúmeros fatores como precipitação e déficit hídrico, textura
e teor de MOS, capacidade operacional, custo e disponibilidade das diferentes fontes de N, que
contribuem para acelerar os processos de perda de N por volatilização, escoamento ou lixiviação.
Na tentativa de melhorar a compreensão e ter maior suporte para tomada de decisão quanto a
dose e época de aplicação de fertilizante nitrogenado na cultura do milho em sistema soja/milho,
foram instalados dois protocolos experimentais no CTECNO no município de Campo Novo do Pare-
cis-MT. Sendo o primeiro deles em solo de textura média (33% de argila) e teor de MOS de aproxi-
madamente 26,9 g/kg (camada 0-20 cm) e o segundo em solo de textura arenosa (9,4% de argila) e
teor de MOS de 18,4 g/kg (camada 0-20 cm) (ver item Metodologia e aquisição de dados dos proto-
colos). Ambos os cenários de solo necessitam atenção para um manejo adequado de fornecimento
de N via fertilizante industrial devido a sensibilidade do ambiente de produção. Estes protocolos
estão sendo conduzidos com uso de fertilizante nitrogenado a base de nitrato de amônio a quatro e
três safras, respectivamente, e os resultados são demonstrados na Tabela 1 e Figuras 5 e 6.
A partir dos resultados fica evidente a necessidade de suprimento de N via fertilizante industrial
para aumento da produtividade da cultura do milho. Uma vez que, em todas as safras avaliadas houve
resposta da cultura a fertilização nitrogenada. Por outro lado, não ocorreu diferenciação quanto a dose
de N aplicado (Tabela 1). Entretanto, nota-se que em ambos os solos, em menores doses de fertilizan-
te, as respostas positivas ficaram mais relacionadas ao momento da aplicação do N. Nestes casos, é
essencial que tenhamos fornecimento total do N até V3 ou em parcelamento. No caso específico de
solo de textura arenosa, o parcelamento do N ainda é a melhor opção. Haja visto potencial de perdas
por lixiviação e a baixa capacidade do solo suprir o fornecimento de N às culturas.
Outro ponto de destaque diz respeito ao menor potencial de produção de grãos em solos com
textura arenosa (Figura 6). Neste caso, ficou evidenciado que independente do momento da apli-
cação e da dose de N, no solo de textura arenosa a cultura do milho sempre respondeu menos.
Fato este muito atrelado a características intrínsecas do sistema, como o fornecimento de água
e dinâmica de nutrientes. Na segunda safra, como é o caso do cultivo de milho em sistema soja/
milho, o suprimento de água é, na maioria das vezes, mais limitante à produtividade do que o uso
de diferentes fontes ou doses de nutrientes. Com isso, o sucesso de menores doses de N é mais
incerto ainda e está atrelado, sobretudo, as condições climáticas durante o ciclo da cultura.
Tabela 1. Histórico de produtividade de milho em função da dose e parcelamento de nitrogênio em solo de textura
média e arenosa. CTECNO/ Campo Novo do Parecis – MT.
Época de --------------------------------------- Dose de N (kg/ha) ----------------------------------------
aplicação/ 0 80/60 100 120/140 Média 0 80/60 100 120/140 Média
Parcelamento -------------- Textura média -------------- --------------- Textura arenosa ---------------
Produtividade (sc/ha) – safra 2018/19
Controle 98,2
1x = Semeadura 135,3 * 127,1 * 133,6 * 132,0 a
1 x = V3 124,0 * 131,0 * 129,1 * 128,0 b
1 x = V7 129,6 * 119,0 * 121,3 * 123,3 b
2 x = Semeadura
128,9 * 127,1 * 136,9 * 131,0 a
+ V3
3 x = Semeadura
132,5 * 133,2 * 134,3 * 133,3 a
+ V3 + V7
Média 130,1 ns 127,5 131,0

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Época de --------------------------------------- Dose de N (kg/ha) ----------------------------------------
aplicação/ 0 80/60 100 120/140 Média 0 80/60 100 120/140 Média
Parcelamento -------------- Textura média -------------- --------------- Textura arenosa ---------------
Produtividade (sc/ha) – safra 2019/20
Controle 94,0 58,0
1x = Semeadura 108,4 110,1 * 108,9* 109,1 a 76,3 88,3 * 88,3 * 84,3 b
1 x = V3 107,9 109,8 * 106,4 108,0 a 90,9 * 83,8 * 90,4 * 88,4 a
1 x = V7 102,5 101,7 107,0 103,7 b 79,5 * 79,3 * 77,9 78,9 b
2 x = Semeadura
114,4 * 108,5 * 107,3 110,1 a 91,0 * 92,3 * 82,1 * 88,5 a
+ V3
3 x = Semeadura
105,3 108,5 * 109,9* 107,9 a 92,8 * 86,2 * 89,2 * 89,4 a
+ V3 + V7
Média 107,7 ns 107,7 107,9 86,1 ns 86,0 85,6
Produtividade (sc/ha) – safra 2020/21
Controle 65,1 23,7
1x = Semeadura 69,8 77,4 79,9 75,7 b 38,1 * 39,8 * 40,1 * 39,3 b
1 x = V3 79,8 81,7 * 80,1 80,5 a 48,6 * 49,3 * 53,3 * 50,4 a
1 x = V7 75,4 74,2 73,2 74,3 b 47,2 * 48,0 * 44,0 * 46,4 a
2 x = Semeadura
76,8 81,7 * 76,6 78,4 a 46,2 * 49,1 * 50,2 * 48,5 a
+ V3
3 x = Semeadura
80,0 78,9 81,1 * 80,0 a 44,6 * 51,1 * 55,6 * 50,4 a
+ V3 + V7
Média 76,4 ns 78,8 78,2 44,9 ns 47,5 48,6
Produtividade (sc/ha) – safra 2021/22
Controle 60,2 12,7
1x = Semeadura 74,5 * 75,6 * 81,7 * 77,3 c 12,9 cA 11,8 cA 16,7 dA 13,8
1 x = V3 91,9 * 94,0 * 104,7 * 96,9 a 20,9 bB 33,2 aA* 33,1 bA* 29,1
1 x = V7 81,7 * 89,0 * 83,5 * 84,7 b 28,9 aB* 36,6 aA* 24,8 cB* 30,1
2 x = Semeadura
93,0 * 96,0 * 98,5 * 95,8 a 17,2 bB 28,6 bA* 26,4 cA* 24,1
+ V3
3 x = Semeadura
96,2 * 96,5 * 98,9 * 97,2 a 30,4 aB* 28,4 bB* 42,2 aA* 33,7
+ V3 + V7
Média 87,5 B 90,2 B 93,5 A 22,1 27,7 28,6
1
Letras minúsculas iguais entre as épocas/parcelamento e letras maiúsculas iguais entre as doses não diferem estatistica-
mente pelo teste de Scott-Knott (p≤0,05); *média difere estatisticamente do controle pelo teste de Dunnett (p≤0,05); ns =
não significativo.

Figura 5. Produtividade média de milho em quatro safras para solo de textura média e três safras para solo de textura arenosa. CTECNO/
Campo Novo do Parecis – MT.

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Figura 6. Comparativo da média de produtividade de milho nas safras 2019/20 e 2020/21 em solo de textura média e arenosa com dife-
rentes doses e parcelamento da adubação nitrogenada. CTECNO/Campo Novo do Parecis – MT.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Sem dúvidas o nitrogênio é um dos principais nutrientes que determina o sucesso de uma lavou-
ra, seja ela de soja ou milho, semeada em área arenosa ou argilosa, na primeira ou segunda safra.
Para cultura da soja, o agricultor tem a fixação biológica de nitrogênio como uma grande aliada no
sucesso da lavoura. Entretanto para o milho, as opções são mais restritas e o fornecimento de nitro-
gênio via fertilizantes industrializados torna-se fundamental.
Em análise realizada neste documento a partir de dois protocolos conduzidos em solo de textura
média e arenosa, conseguimos evidenciar a necessidade de posicionar corretamente a aplicação do
fertilizante nitrogenado na cultura do milho, principalmente em menores doses de N (menor que 100
kg de N/ha). Nestes casos, a antecipação da dose até o estádio V3 ou mesmo o parcelamento dela
com fornecimento nos primeiros estádios de desenvolvimento do milho resulta em maiores produ-
tividades. Para doses maiores de 100 kg de N/ha, o agricultor tem maior flexibilidade de aplicação
desde que não deixe de aplicar nos estádios iniciais da cultura. Para solos de textura arenosa, o
parcelamento da dose de N é uma boa opção para evitar possíveis perdas de N, principalmente, por
lixiviação.
Finalmente, o agricultor deve estar ciente que solos com textura mais arenosa são mais frágeis e
merecem maior atenção. O sucesso dos cultivos é muito dependente do clima e dificilmente solos
arenosos irão produzir em patamares similares a solos com maior teor de argila. Nestas circunstân-
cias, o manejo adequado, não somente do nitrogênio, mas também do potássio, enxofre e boro, são
fundamentais para o sucesso da lavoura.

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METODOLOGIA E AQUISIÇÃO DE DADOS DOS PROTOCOLOS

CARACTERIZAÇÃO DO EXPERIMENTO

Os protocolos foram instalados no Centro Tecnológico Aprosoja MT em Campo Novo do Parecis-MT


nos anos 2018/19 (solo de textura média) e 2019/20 (solo de textura arenosa) e, atualmente, contam com
quatro e três anos de condução, respectivamente. No local, o solo possuía longo histórico de cultivo agrí-
cola e teores de disponibilidade de macronutrientes acima dos níveis considerados críticos. O clima da
região é classificado como Aw – Tropical com estação seca, sendo a distribuição mensal de precipitação
acumulada, durante o período de condução do presente protocolo, apresentada da Tabela 2.
Ambos os protocolos são conduzidos em esquema fatorial 3x5+1 com parcela adicional referente
ao controle em delineamento de blocos completos casualisados, com quatro repetições. Inicialmente,
as doses de N avaliadas foram 80, 100 e 120 kg de N/ha. Entretanto, a partir da safra 2020/21 as doses
de N foram alteradas para 60, 100 e 140 kg de N/ha, com intuído de dar mais amplitude aos tratamen-
tos. Atualmente, o protocolo está composto por 16 tratamentos e quatro repetições em parcelas de
80 m2 (8 x 10 m) (Tabela 3).
Tabela 2. Precipitação mensal acumulada durante o período de condução do protocolo. CTECNO/ Campo Novo
do Parecis – MT.
Precipitação mensal acumulada (mm)
Mês 2018/19 2019/20 2020/21 2021/22
Agosto 31 0 0 0
Setembro 42 21 1 79
Outubro 382 162 140 135
Novembro 256 157 99 146
Dezembro 114 141 152 344
Janeiro 299 225 156 240
Fevereiro 423 257 363 422
Março 247 143 324 438
Abril 61 20 171 7
Maio 21 41 0 0
Junho 0 2 0 0
Julho 0 0 0 0
Total anual 1.876 1.169 1.406 1.811

Tabela 3. Descrição dos tratamentos para a cultura do milho safrinha, nas safras 2018/19 e 2019/20. CTECNO/
Campo Novo do Parecis – MT.
Dose de N
Descrição dos
T Dose total Sem. V3 V7
tratamentos
kg/ha -------------------------- % -------------------------
1 Controle 0 - - -
2 Semeadura 80/60* 100 - -
3 V3 80/60 - 100 -
4 V7 80/60 - - 100
5 Semeadura + V3 80/60 50 50 -
6 Semeadura + V3 + V7 80/60 33,3 33,3 33,3
7 Semeadura 100 100 - -
8 V3 100 - 100 -
9 V7 100 - - 100
10 Semeadura + V3 100 50 50 -
11 Semeadura + V3 + V7 100 33,3 33,3 33,3
12 Semeadura 120/140 100 - -
13 V3 120/140 - 100 -
14 V7 120/140 - - 100
15 Semeadura + V3 120/140 50 50 -
16 Semeadura + V3 + V7 120/140 33,3 33,3 33,3
*Doses de nitrogênio de 80, 100 e 120 kg/ha nas safras 2018/19 e 2019/20; posteriormente as doses foram alteradas para 60,
100 e 140 kg de N/ha, respectivamente. Legenda: T – tratamento; Dose de N aplicado via Nitrato de amônio com 33% de N;

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VARIÁVEIS QUANTIFICADAS

A produtividade de grãos foi estabelecida pela média de produtividade de dois pontos por
parcela – cada ponto constituído de área igual a 5,4 m2 (3 linhas x 4 m). Após colheita, a massa
de grãos foi corrigida para teor de umidade igual a 13% e extrapolada para produtividade por
hectare.

ANÁLISES ESTATÍSTICA

As médias de produtividade foram submetidas a análise de variância e quando significativas,


as médias do fator “parcelamento de N” foram comparadas pelo teste de Scott-Knott (p ≤ 0,05).
Os tratamentos fatoriais e o tratamento controle foram comparados pelo teste de Dunnett (p ≤
0,05) de probabilidade.

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Cantarutti R.B. e Neves J.C.L. 2007. Rua Engenheiro Edgard Prado Arze, n°1.777
Edifício Cloves Vettorato, CPA
CEP 78.049-932 Cuiabá-MT

EDIÇÃO 06
Julho 2023

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