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Universidade Federal de Viçosa

Reitor Demetrius David da Silva


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Cultura
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Ficha catalográfica elaborada pela Seção de Catalogação e Classificação da Biblioteca


Central da Universidade Federal de Viçosa - Campus Viçosa

R382 Relações solo-planta [recurso eletrônico] : bases para a nutrição e produção


2021 vegetal / Herminia Emilia Prieto Martinez, Juan José Lucena Marotta,
Ildefonso
Bonilla Mangas editores. -- Viçosa, MG : Ed. UFV, 2021.
1 livro eletrônico (pdf, 9,74 MB). -- (Científica)
Requisitos do sistema: Adobe Acrobat Reader.
Disponível em: https://www.editoraufv.com.br
ISBN 978-65-5925-009-7

1. Plantas - Nutrição. 2. Plantas e solo. 3. Fertilidade do solo. 4.


Micorriza. 5. Solos - Fertilização. 6. Quelatos. I. Martinez, Herminia Emilia
Prieto,1956-. II. Marotta, Juan José Lucena, 1960-. III. Mangas, Ildefonso
Bonilla, 1950-.

CDD 22. ed. 631.8

Bibliotecária responsável: Alice Regina Pinto Pires CRB6 2523

Capa: Miro Saraiva

Revisão linguística: Luciano Cândido Abreu

Diagramação: José Roberto da Silva Lana


- A não citação de fonte em tabelas e figuras indica que os detentores dos seus direitos autorais
patrimoniais são os autores dos respectivos capítulos desta obra.
- As ideias e informações presentes nesta obra são de responsabilidade do(s) autor(es) e não
obrigatoriamente refletem a opinião da Editora UFV.

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Agradecimento
Os autores brasileiros agradecem às agências de fomento Conselho
Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq, Coordenação
de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - CAPES, Fundação de
Apoio à Pesquisa do Estado de Minas Gerais - Fapemig e Financiadora de
Inovação e Pesquisa - Finep pelo financiamento de suas pesquisas e pela
concessão de diferentes modalidades de bolsas a pesquisadores, técnicos e
estudantes de graduação e pós-graduação, cujo trabalho, em diferentes
momentos e níveis, garante o contínuo acúmulo de conhecimento em suas
respectivas áreas.
O Dr. Cesar Arrese-Igor agradece o apoio do Ministerio Espanol de
Economía y Competitividad (AGL2014-56561-P), e a Dra. Mariangela
Hungria agradece o apoio do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia -
INCT (465133/2014-2), bem como às sugestões valiosas de Estíbaliz
Larrainzar.
O Dr. José Miguel Barea agradece o apoio financeiro da Spanish
National - FEDER (Project REN2005-02584- GLO) e da Andalusian
Excellence (Project CVI1876). Agradece ainda a seus colegas Drs. Rosario
Azcón, Concepción Azcon-Aguilar, Nuria Ferrol, Juan Manuel Ruiz-Lozano,
María José Pozo e Ricardo Aroca por seus conhecimentos científicos, e a
Paqui Gonzalez pela assistência técnica.
O Dr. Juan José Lucena agradece o trabalho e aporte de conhecimento de
todos os membros atuais e passados do Grupo Micronutrientes na
Agricultura, da Universidad Autónoma de Madrid - UAM.
Os editores deste livro agradecem imensamente a confiança e o grande
empenho de todos os autores, sem os quais não seria possível entregar este
trabalho à comunidade acadêmica, engenheiros-agrônomos e demais
profissionais que atuam em Ciências Agrárias - Produção Vegetal. Agradecem
também o cuidadoso trabalho dos revisores, que muito contribuíram para o
aperfeiçoamento desta obra.
Destacamos, ainda, especial agradecimento à Editora UFV, a qual prima
pela competência e dedicação de todos seus servidores.
Lista de siglas
AMT Ammonium Transporter Family

AAO Atividade de ascorbato oxidase

AAP1 Amino Acid Permease Protein

ABA Ácido abscísico

ABC Agentes de biocontrole

AC Atividade de anidrase carbônica

ACC Atividade de aminase


AFD Água facilmente disponível

AIA Ácido indolacético

ALA Ácido delta-aminolevulínico

Ala Alanina

ALMT Aluminum Activated Malate Transporter

ANA Atividade da nitrogenase aparente


AND Água não disponível

ANT Atividade da nitrogenase total

APR Adenosina 5’-fosfosulfato redutase

APR APS redutase


APS Adenosina 5’-fosfosulfato

APX Ascorbato peroxidase

ARA Atividade de redução do acetileno

AS Sintetase da asparagina

Asn Asparagina

Asp Aspartato

ATF Amino Acid Transporter Family

ATPS ATP sulfurilase

AVA Algas verde-azuladas

BSF Bactérias solubilizadoras de fosfato

C/N Relação carbono:nitrogênio

C/P Relação carbono:fósforo

C/S Relação carbono:enxofre

CA Carbonic anhydrase

CA Capacidade de aeração

CAE Coeficiente de atribuição de elétrons

CAT Catalase

CDU Crotonilidendiureia

CE Condutividade elétrica

CEa Salinidade da água de irrigação


CEad Salinidade da água de drenagem

CEas Salinidade da água do solo

CEm Unidade de aumento da salinidade

CLC Chloride Channel

CMAP Capacidade máxima de adsorção de P

CO Carbono orgânico

CRA Capacidade de retenção de água

CTA Capacidade de troca aniônica

CTC Capacidade de troca catiônica

CTS Carga trocável de enxofre

D Coeficiente de difusão do íon (cm2 s-1)

Di Coeficiente de difusão do íon em água pura (cm2 s-1)


da Densidade da água

DCD Dicianodiamida

DHC Déficit hídrico controlado

DMPP 3,4 fosfato de dimetilpirazol


dp Densidade das partículas
ds Densidade do substrato

DTPA Ácido dietilenotriaminopentacético, C14H23O10N3

DUR3 Degradation of Urea


E0 Potencial eletroquímico padrão ou potencial de redução
padrão

EDDCHA Ácido etilenodiamino-N,N’-di[(5-carboxi-2-


hidroxifenil)acético] C20H20O10N2

EDDHSA Ácido etilenodiamino-N,N’-di[(2-hidroxi-5-


sulfofenil)acético] e seus produtos de condensação,
C18H20O12N2S2 + n*(C12H14O8N2S)

EDTA Ácido etilenodiaminotetracético, C10H16O8N2

ER Eficiência relativa

Eh Potencial eletroquímico ou potencial de redução

EROs Espécies reativas ao oxigênio

ETc Potencial de evapotranspiração da cultura


f Fator de impedância

F Constante de Faraday

FAD Flavina-adenina dinucleotídeo

FB Fosfato bicálcico

FBdi Fosfato bicálcico di-hidratado

FBN Fixação biológica do nitrogênio atmosférico

FCR Férrico redutase

Fd Ferredoxina

FL Fração de lixiviação
FMA Fungo micorrízico arbuscular

FMC Fosfato monocálcico

FOC Fosfato octacálcico

FT Fosfato tricálcico

GDH Desidrogenase do glutamato

Gln Glutamina

GS/GOGAT Glutamina sintetase/glutamato sintase

HA Hidroxiapatita

HATS High-A inity Transport System

HBED Ácido N.N’-bis(2-hidroxibenzil)-etilenodiamino-N.N’-


diacético C20H24O6N2

HEEDTA Ácido 2-hidroxietiletilenodiaminotriacctico, C10H18O7N2

HJB Ácido N.N’-bis(2-hidroxi-5-metilbenzil)-etilenodiamino-


N.N’-diacético C22H28O6N2

HPP His-Pro-Pro Motif Protein

Hup Hydrogenase uptake

I Fator intensidade, concentração do íon na solução

IA Índice de atividade

IBDU Isobutilendiureia

IDHA Ácido iminodissuccínico (C8H11O8N)


K0 Constante de equilíbrio em função das concentrações
molares

Ka Constante de acidez de um elemento ou constante de


dissociação do ácido

Kd Constante de dissolução

Kg Constante de Gapon ou coeficiente de seletividade

Ksp Constante de solubilidade termodinâmica

LATS Low-A inity Transport System

Lb Leg-hemoglobina

LHT1 Lysine/Histidine Transporter

LQC Locos de características quantitativas

LS Lignossulfonatos
ma Massa de água

MA Micorriza Arbuscular, Micorrízico Arbuscular

MATE Multdrug and Toxic Compound Extrusion

MIP Major Intrinsic Protein

MoCo Cofator molibdênio

MOS Matcria orgânica do solo

MP Metal pesado
mp Massa das partículas base seca

MPCV Microrganismos promotores de crescimento vegetal


MS Matcria seca

n Número de mols de elétrons transferidos

NBPT N-(n-butil) tiofosfatotriamida

NC Nível crítico

NiR Nitrito redutase

NPF Nitrate/Peptide Transporter Family

NR Nitrato redutase

NRT Nitrate Transporter Family

o,o-EDDHA Ácido etilenodiamino-N,N’-di[(orto-hidroxifenil)acético],


C18H20O6N2

o,o- Ácido etilenodiamino-N,N’-di[(orto-


EDDHMA hidroximetilfenil)acético], C20H24O6N2

o,p-EDDHA Ácido etilenodiamino-N-[(orto-hidroxifenil)acctico]-N’-


[(para-hidroxifenil)acético], C18H20O6N2

OAS O-acilserina

OASTL O-aciltransferase tiol liase

oct Octaedro

PAPS 3’-fosfoadenosina 5 ’-fosfosulfato


par Porosidade de aeração

PCO2 Pressão parcial de CO2

PEPC Fosfoenolpiruvato carboxilase


pH Potencial hidrogeniônico

Pi P-inorgânico

pKa Constante logarítmica da acidez de um elemento

pt Espaço poroso total

Q Fator quantidade, concentração do elemento adsorvido no


solo em forma disponibilizável

Q/I Fator capacidade

R Constante universal dos gases perfeitos

RA Reserva de água

RAS Razão de adsorção de sódio

Redox Reação de oxirredução

RFA Radiação fotossinteticamente ativa

RPCP Rizobactérias promotoras de crescimento de plantas

Rubisco Ribulose-bifosfato carboxilase oxigenase

SAT Serina acetiltransferase

SAT/OASTL Serina acetiltransferase/o-aciltransferase tiol liase

SCU Ureia recoberta com enxofre

SFP Specialty Fertilizer Products

SiR Sulfito redutase

SLAC/SLAH Slow Anion Channel-Associated Homologues


SOD Superóxido dismutase

SP Solubilização de fosfatos

SRI Resistência sistêmica induzida

SULTR Sulfate Transporter

T Temperatura absoluta
TAD Total de água disponível

tet Tetraedro

TIP Tonoplast Intrinsic Proteins

TPT Triose-Phosphate Transporter


Ug Conteúdo de água à base de massa
Uv Conteúdo de água à base volumétrica
V Volume total de água
Va Volume de água

VAM Endomicorrizas

VPT Volume de poros totais

VTP Volume total de poros


θ Conteúdo volumétrico de água no solo (cm3 cm-3)
Sumário
Apresentação

Parte I - Fundamentos

Capítulo 1 - O Sistema Solo


Introdução
Componentes do solo
Disponibilidade de nutrientes no solo
Dinâmica do nitrogênio, do fósforo, dos cátions trocáveis (Ca, Mg e
K) e do enxofre no solo
Referências

Capítulo 2 - Introdução à Nutrição Vegetal: Elementos Minerais


Introdução
Soluções nutritivas
Elementos essenciais
Elementos benéficos
Referências

Capítulo 3 - Metabolismo do Nitrogênio e do Enxofre em Organismos


Fotossintetizantes
Introdução
Nitrogênio
Enxofre
Conclusões e perspectivas
Referências
Capítulo 4 - Fixação Biológica do Nitrogênio
Introdução
Nitrogenase
Simbioses rizóbios-leguminosas
Avaliação da fixação de nitrogênio
Fixação do nitrogênio frente às limitações ambientais
Fixação do nitrogênio, agricultura e sustentabilidade
Desafios científicos e perspectivas
Referências

Capítulo 5 - Estresses Abióticos: Acidez, Salinidade, Deficiência Hídrica


Introdução
Acidez
Salinidade
Deficiência hídrica
Outros estresses abióticos
Referências

Parte II - Aplicações

Capítulo 6 - Diagnóstico do Estado Nutricional de Plantas e da


Fertilidade do Solo
Introdução
Diagnose visual
Diagnose com base na análise de tecidos
Relação entre o diagnóstico visual e a análise foliar
Determinação de frações ativas e solúveis
Métodos bioquímicos e enzimáticos
Avaliação da fertilidade do solo
Referências
Capítulo 7 - Substratos para o Crescimento de Plantas
Introdução
Propriedades de substratos importantes para o cultivo de plantas
sem solo
Caracterização do substrato
Tipos de substratos
Selecionando um substrato
Principais características de alguns substratos usados em cultivo sem
solo
Referências

Capítulo 8 - Fertilizantes Inorgânicos


Introdução
Fertilizantes nitrogenados simples
Fertilizantes de liberação lenta e controlada
Bioinibidores
Fertilizantes fosfatados simples
Fertilizantes potássicos
Fertilizantes inorgânicos compostos
Fertilizantes à base de macronutrientes secundários
Fertilizantes com micronutrientes
Referências

Capítulo 9 - Fertilização Biológica


Introdução
Inoculantes microbianos utilizados na agricultura
Produção e avaliação de inoculantes microbianos
A questão da competição
Biofertilizantes na agricultura orgânica
Referências
Capítulo 10 -Associação Micorrízica e Fertilidade Agrícola
Introdução
Conceito geral da associação micorrízica
Micorriza arbuscular: a micorriza da agricultura
Formação e funcionamento da simbiose MA
Contribuição da associação MA na aquisição de P pela planta
Contribuição da associação MA para aquisição de N e de outros
nutrientes pela planta
O papel dos FMA no auxílio do crescimento vegetal em condições
de estresse
Interações de FMA e rizobactérias benéficas para o
desenvolvimento agronômico
Manejo de FMA na agricultura
Referências

Capítulo 11 - Quelatos e Complexos na Agricultura


Introdução
Conceitos básicos, propriedades dos quelatos e dos complexos
Estruturas dos quelatos: produtos comerciais e métodos analíticos
Aplicação de quelatos na agricultura: eficácia
Complexos e agentes complexantes
Referências
Apresentação
A relação solo-planta implica a associação entre a matéria inorgânica e a
matéria viva. Essa complexa associação é, em última análise, responsável pelo
sustento de uma vasta cadeia de macro e microrganismos vegetais e animais,
incluindo o homem. Este livro busca explorar essas complexas relações que
são a base para a nutrição e produção vegetal e conta com um largo espectro
de tópicos que abrangem interfaces entre ciência do solo, fisiologia vegetal,
microbiologia e bioquímica.
Sabe-se que a agricultura impulsiona a economia da maioria das zonas
em desenvolvimento, e historicamente muito poucos países experimentaram
um crescimento econômico rápido que não tenha sido precedido ou
acompanhado por um significativo crescimento agrícola. Dados recentes
divulgados pela Organizações das Nações Unidas para as Alimentação e a
Agricultura - FAO indicam que 42% da humanidade está implicada nas
diversas tarefas agrícolas. Assim, cerca de 3 bilhões dependem diretamente da
agricultura para sua subsistência. No entanto, ainda hoje, existem pouco mais
de 850 milhões de pessoas malnutridas, a maioria delas nas zonas rurais, onde
a agricultura é a única forma de vencer a fome. A menos que produzam seus
próprios alimentos, essas populações não terão a segurança de poder consumi-
los e intercambiá-los.
Os “Objetivos das Nações Unidas para o desenvolvimento do milênio”
incluíam, em 2015, reduzir a fome e a pobreza extrema pela metade e garantir
a sustentabilidade do meio ambiente. E a principal ferramenta para seguir
lutando na consecução desses objetivos continua sendo a ampliação do
conhecimento, de modo a permitir a prática de uma agricultura eficaz e
amigável para com o meio ambiente. É esse o foco que guia este livro: fornecer
subsídios para uma agricultura embasada no conhecimento das propriedades e
interações solo- planta-microrganismos em harmonia com o meio ambiente, o
qual denota a perda de estabilidade dos ciclos estacionais devido às mudanças
climáticas.
Esta obra oferece uma série de 11 capítulos que podem ser de interesse
para estudantes de graduação ou pós-graduação, pesquisadores de distintas
áreas relacionadas com a agricultura - química agrícola, ciências ambientais,
microbiologia, fisiologia vegetal, interações planta-microrganismo, agronomia
etc. -, ou simplesmente para todos interessados em compreender o
funcionamento das plantas e suas interações com seu ambiente de
crescimento. Está, pois, dirigida a um amplo espectro de especialistas
envolvidos também nas possíveis soluções para esse problema universal, a
saber, dar alimento a uma população mundial que dobrou de forma
espetacular seu número em apenas 40 anos, entre 1960 e 2000.
Se as previsões da ONU estiverem corretas, prevê-se a existência sobre o
planeta de mais de 9,7 bilhões de habitantes em 2050, um terço a mais que na
atualidade. E, embora as perspectivas variem segundo diferentes pontos de
vista, não podemos esquecer que as mudanças climáticas não incidem
favoravelmente sobre a produção agrícola na maioria dos países, e que a
agricultura é, por sua vez, um poderoso produtor de gases determinantes do
efeito estufa, com seus efeitos negativos conhecidos por todos. Há de se
considerar, ainda, que a disponibilidade de novos solos com valor agrícola é
cada vez mais escassa e que, embora a eficácia da produção agrícola seja cada
vez maior, os processos de perda de fertilidade, erosão e salinização crescem
também de maneira exponencial, lastrando o resultado final.
Nosso intuito é disponibilizar conhecimento atualizado sobre a moderna
agricultura que permita ajustar a crescente pressão por aumento na produção
de alimentos com a preservação do ambiente e da biodiversidade. Para
alcançar esse objetivo, mais do que nunca, é fundamental a ideia de
multidisciplinaridade que integra o conhecimento de cada uma das partes que
concorrem nesse fato único e fundamental da produção agrícola, minimizando
o custo ambiental envolvido.
Assim sendo, os aspectos clássicos - conceitos básicos de nutrição
mineral das plantas, o papel essencial dos nutrientes e suas características, as
diversas formas de soluções nutritivas e o melhor conhecimento do solo e dos
substratos - devem ser complementados de forma adequada com esse novo
campo que se abriu nas relações planta-microrganismo, em que o
conhecimento e a compreensão dos sinais entre um e outro participante são
necessários para estabelecer uma relação eficaz e positiva. Conceitos como o
quorum sensing, que modificaram nossa visão dos microrganismos na
microbiologia atual, devem ser aplicados também neste terreno para
compreender como os microrganismos funcionam de forma coordenada na
hora de invadir uma planta e como utilizam uma linguagem de comunicação
entre eles, a qual a planta pode perceber e, por sua vez, alterar ou não segundo
suas necessidades. Essas relações, que começaram a ser conhecidas
primeiramente na fixação biológica do nitrogênio faz alguns anos, hoje se
generalizam a outras situações, por exemplo, nas associações micorrízicas.
O conhecimento da fisiologia do estresse constitui a base para que se
selecionem, via melhoramento convencional ou amparado pela biotecnologia,
plantas adaptadas a condições adversas de solo e clima em ambientes naturais
ou degradados pela ação antrópica.
Contudo, os estudos sobre fertilizantes inorgânicos são amplamente
tratados em um dos capítulos do livro. Menção especial merecem os
fertilizantes com micronutrientes, cujo conhecimento é essencial para uma
fertilização equilibrada. Enfatiza-se o estudo dos quelatos, que estão
solucionando enorme gama de problemas nutricionais no mundo, a exemplo
da clorose férrica em cultivos importantes como são os de citros e fruteiras
crescidas habitualmente sobre solos calcários. Existe também no mesmo
capítulo uma ampla resenha sobre os agentes complexantes. Os
biofertilizantes, cujo auge, com suas luzes e sombras, é de dramática
atualidade, são estudados de forma global e mais particularizada em diversos
capítulos do texto.
Consideramos, portanto, que este livro engloba aspectos de suma
importância para o desenvolvimento de uma agricultura compatível com as
necessidades futuras de alimentos, fibras e combustíveis renováveis.
Devido à abrangência dos temas alguma simplificação é indispensável,
no entanto o leitor poderá recorrer à ampla literatura citada sempre que
necessário.
Parte I
FUNDAMENTOS
Capítulo
1
O Sistema Solo
Juan José Lucena1, Alberto Masaguer2 e Luciana Aparecida Rodrigues3
Introdução
O solo tem sido definido como “uma pedra a caminho do mar”. Essa
definição poética implica conceitos importantes sobre a sua formação e
transformação. Ela indica que um solo está sempre mudando. Um solo está em
desenvolvimento de modo contínuo, primeiramente do material de origem (a
rocha) que, normalmente, formou-se em uma condição diferente (de
temperatura, pressão, potencial redox, teor de água) das vigentes perto da
atmosfera, formando novos compostos estáveis, e está sempre se dissolvendo e
transportando os sais dissolvidos para rios ou águas subterrâneas e, finalmente,
para o mar. O resultado dessas alterações, incluindo a ação das plantas e outras
ações dos organismos vivos em um determinado momento, é o que chamamos
de solo (Figura 1.1).

Figura 1.1 - Perfil do solo: (A) argissolo vermelho-amarelo distrófico, típico da


região de Bom Jesus, RJ, sob pomar de citros; e (B) cambissolo
háplico sódico gleico da Baixada Campista, em Campos dos
Goytacazes, RJ.
Fotos: Claudio Roberto Marciano.

O solo pode também ser definido como a parte superior da crosta


terrestre, em contato com a atmosfera, que pode ser distinguida da rocha e que
é capaz de suportar a vida.
É constituído das fases sólida, líquida e gasosa e dos organismos vivos que
nele vivem, podendo ser estudado pelos cientistas em diferentes aspectos. Neste
capítulo, o solo como substrato para as plantas será discutido somente em
relação às suas propriedades químicas mais importantes e que definem a sua
fertilidade, enquanto as propriedades físicas de substratos para cultivo de
plantas serão discutidas em seguida, no Capítulo 7, uma vez que as condições
físicas para o cultivo em substratos sólidos servem em sua maioria também
para os solos. A dinâmica do nutriente no solo será apresentada para os
macronutrientes N, P e S e para os cátions trocáveis Ca, Mg e K.
Componentes do solo
Os solos são materiais complexos resultantes da interação de gases,
líquidos e sólidos (Figura 1.1). Idealmente, como substrato vegetal, um solo
deve apresentar 50% do volume de sólidos (5% de material orgânico e 45% de
material inorgânico) e 50% de poros, o que permite uma distribuição igual de
líquidos e gases. Na Tabela 1.1 é apresentado um esquema com a classificação
dos componentes do solo.

Tabela 1.1 - Esquema de componentes do solo

1. Fase gasosa: atmosfera do solo: N2 (60–70%), O2 (0–20%), CO2 (0,04–


20%), água, gases nobres.

2. Fase líquida: solução do solo. Água e compostos dissolvidos.

3. Fase sólida

3.1. Compostos inorgânicos


a) Fração não coloidal, principalmente minerais primários com
partículas de maior diâmetro: cascalho (>  2  mm), areia (0,05–2
mm) e silte (0,002–0,05 mm).
b) Fração coloidal (< 0,002 mm), principalmente minerais
secundários (resultantes do intemperismo de minerais primários).
i) Silicatos e aluminossilicatos (argilas).
ii) Oxi-hidróxidos de Al, Fe, Mn e outros.
iii) Outros (partículas presentes em solos específicos ou presentes
em baixas quantidades): carbonatos, sulfatos, fosfatos.
3.2. Compostos orgânicos
a) Resíduos orgânicos: tecidos de plantas e animais e os seus produtos
parcialmente decompostos, e estruturas identificáveis em vários
estádios de complexidade e diversidade estrutural.
b) Húmus (matéria orgânica decomposta). Sem estrutura
identificável.
i) Substâncias não húmicas: carboidratos, peptídeos, aminoácidos,
lipídeos, ácidos orgânicos.
ii) Substâncias húmicas: fração orgânica mais estável do solo,
formada por reações secundárias e com diferente composição de
biopolímeros de vegetais ou microrganismos. De cor castanha
escura, de alta aromaticidade e acidez.
• Humina: fração insolúvel em meio alcalino.
• Ácidos húmicos: fração solúvel em meio alcalino, mas insolúvel
em soluções ácidas diluídas.
• Ácidos fúlvicos: fração que permanece solúvel após extração
alcalina e acidificação.

3.3. Carvões: provenientes da queima incompleta da matéria orgânica.


Importantes nos solos de cerrado e na terra preta de índio. Atua nas
propriedades química, física e biológica dos solos.

4. Microrganismos (biomassa do solo).

Atmosfera do solo
A fase gasosa é a atmosfera do solo. Ela apresenta composição variável e
semelhante à uma atmosfera livre em solos bem aerados. A ação de
microrganismos e o alagamento promovem o aumento de dióxido de carbono
(CO2) e a diminuição de oxigênio (O2). A composição atual do solo é
importante nas reações, uma vez que o CO2 é um ácido e o O2, o oxidante mais
relevante em ambientes naturais. Com isso, a tensão de O2 pode alterar as
reações de oxidação e redução (reações redox) de elementos químicos no solo
ee por consequênciae a disponibilidade de nutrientes.
O O2 é necessário para a respiração das raízes e dos microrganismos. A
disponibilidade de O2 vai depender do volume total dos poros, da fração de
poros ocupado pela atmosfera do solo, da percentagem de O2 e a difusão de O2
através da matriz do solo. A textura (proporções entre os teores de argila, areia
e silte) é um fator importante que afeta diretamente o tamanho dos poros e,
portanto, a difusão dos gases. Os solos argilosos apresentam poros de menor
volume, com maior retenção de água e com consequente redução do espaço
disponível para os gases. Entretanto, solos de textura arenosa apresentam
maior macroporosidade, permitindo maior difusão do O2.
A compactação e o adensamento do solo também atuam diretamente no
volume dos poros e, por consequência, na fase gasosa, com a redução acentuada
do fluxo de O2. Nas áreas agrícolas a compactação normalmente é proveniente
do tráfego intenso de máquinas, implementos agrícolas e de animais que
promovem a aproximação das partículas do solo ou pulverização de agregados
em solos secos. O adensamento pode ocorrer devido à dispersão das argilas
ocasionada pela desestabilização de agregados dos solos por ação biológica ou
em consequência da calagem. A compactação, o adensamento e ainda o interior
dos agregados e torrões do solo podem apresentar microssítios anaeróbios,
acarretando potenciais de oxirredução menores, assim como ocorre nos solos
alagados. As reações redox serão discutidas posteriormente neste capítulo.
A matéria orgânica é a principal fonte de elétrons para as reduções
microbianas. A aeração determina se a decomposição da matéria orgânica será
realizada por atividade microbiana aeróbica (condição óxica), facultativa
(condição hipóxica) ou anaeróbica (condição anóxica).
O potencial redox pode dar um indicativo da aeração do solo e a
tendência do substrato em doar ou receber elétrons, medida quantitativa da
energia livre envolvida na transferência de elétrons (MARSCHNER; RENGEL,
2012). O potencial de oxirredução (EH) indica o estado de oxidação ou redução
do solo, ou seja, o estado de equilíbrio, determinando a direção desses sistemas
quando fora do equilíbrio (BINI et al., 2016). O aceptor (oxidante) mais comum
é o O2, no entanto, na deficiência ou falta dele, os microrganismos facultativos
e anaeróbicos se proliferam e utilizam NO3–, MnO2, Fe(OH)3, SO42– (que se
encontram na forma oxidada) como aceitadores dos elétrons, sendo
transformados em formas reduzidas no solo (SPOSITO, 2008). De acordo com
Bini et al. (2016), em solo com potencial redox (expresso pelo EH) variando de
+100 a +300 mV ocorre a redução do NO3–, que passa para NO2–, NO, N2O e
N2. Em solos com potencial redox variando de +100 a –100  mV ocorre a
redução MnO2 para Mn2+ e FeO3 para Fe2+. Nesses solos os microrganismos
com respiração anaeróbia facultativa são estimulados. Em solos com potencial
redox variando de –100 a –200 mV, a ocorrência é dos microrganismos com
respiração anaeróbia obrigatória. Em solos com potencial redox menores que –
100 mV ocorre a redução de SO42– a S2–.
Na fertilidade do solo, o potencial redox é muito importante uma vez que
afeta diretamente a dinâmica dos nutrientes no solo – sua disponibilidade,
indisponibilidade e perdas. Por exemplo, em valores de EH próximo a zero, o
O2 e NO3– são pouco presentes no ambiente (BINI et al., 2016), o que indica
que o processo de denitrificação pode ter ocorrido propiciando as perdas do N
no solo na forma de N2. Nesse potencial redox, o Fe e o Mn podem ser
reduzidos, ficando em forma altamente disponível e podendo causar fitotoxidez
às plantas. Em solos mais aerados e com potencial redox mais alto (EH > 400), o
equilíbrio tende para a formação do NO3–, podendo este ser absorvido pelas
plantas; contudo, mantém também o Fe e o Mn na forma oxidada, que não é
uma forma prontamente disponível para a absorção pelas plantas. Assim,
manejos que propiciam a manutenção da estrutura dos solos, que é uma
característica física, são importantes porque estão associados às suas condições
químicas.

Fase líquida
A fase líquida é chamada de solução do solo. O status de água e de
nutrientes dissolvidos (e outros compostos) é importante para o crescimento
da planta. A solução do solo é o repositório imediato dos nutrientes para as
plantas. É o complexo sortivo do solo, no entanto, que abastece a solução do
solo tamponando os teores dos nutrientes. Assim, existe um equilíbrio
dinâmico entre a fase líquida e o complexo sortivo do solo, sendo a solução do
solo o ponto central na dinâmica de nutrientes, como será discutido nas seções
“Equilíbrios dinâmicos nos solos”, “Fenômenos de sorção – troca iônica”,
“Equilíbrios químicos nos solos que controlam a disponibilidade de nutrientes”
e “Ciclo do fósforo e seus processos no solo”, neste capítulo.

Fase sólida
Os componentes sólidos consistem em uma série de fases orgânicas e
inorgânicas. Enquanto os componentes inorgânicos originam inicialmente da
rocha matriz, os componentes orgânicos são consequência da decomposição
dos tecidos de organismos vivos.

Minerais da argila
Entre os componentes inorgânicos, os aluminossilicatos são, em média,
os minerais mais abundantes. Eles podem ocorrer em minerais primários
(provenientes da rocha original), principalmente nas frações cascalho, areia e
silte, ou em minerais secundários, sobretudo na fração argila (PRASAD;
POWER, 1997). Os aluminossilicatos secundários são chamados de minerais de
argila e a maioria deles pertence ao tipo dos filossilicatos (silicatos dispostos em
folhas ou lâminas).
A unidade básica para os filossilicatos está representada na Figura 1.2.
Unidades simples de tetraedro de SiO4 partilham oxigênios basais para formar
uma estrutura tetraédrica laminar. Similarmente, unidades simples de
octaedros (principalmente unidades AlO6) podem compartilhar oxigênios para
formar uma lâmina de unidade octaédrica. Lâminas tetraédricas e octaédricas
podem se unir e partilhar os oxigênios apicais da lâmina, formando a camada
1:1; já a camada 2:1 é formada quando duas lâminas tetraédricas e uma
octaédrica compartilham oxigênios. Cada oxigênio pertencente apenas à lâmina
octaédrica deve ter também ligação com um átomo de hidrogênio. Isto significa
que, na camada 1:1, um dos lados está cheio de grupos-OH capazes de
desenvolver pontes de hidrogênio com os oxigênios apicais dos outros
componentes da mesma camada, para formar o mineral 1:1. O mineral mais
comum desse tipo é a caulinita. Nesse mineral não há nada no espaço
intercamadas. Nas camadas 2:1, apenas os oxigênios estão presentes em ambos
os lados, de modo que as camadas podem ser ligadas somente por forças de
atração de Van der Waals (por exemplo, pirofilita). No entanto, podem ocorrer
substituições isomórficas (substituição de um átomo por outro semelhante em
tamanho), ocorrendo a formação dos minerais secundários. As substituições
mais comuns são de Al3+ por Si4+ nas unidades tetraédricas e Mg2+, Fe2+, Fe3+
(e também de Ni2+, Cu2+ ou Zn2+) por Al3+ nas unidades octaédricas. Em
ambos os casos, uma carga negativa líquida se desenvolve na camada, de modo
que, quando as camadas estão empilhadas, outros cátions podem ocupar o
espaço intercamadas a fim de neutralizar a carga negativa. Dependendo da
quantidade e tipo dos cátions nas substituições, e dos cátions que enchem o
espaço intercamadas, diferentes minerais de argila 2:1 podem se formar (ver
Tabela 1.2). Quando cátions hidratados ocupam as posições intercamadas, as
argilas podem ter propriedades de contração e expansão (por exemplo, as
esmectitas) (PRASAD; POWER, 1997).
Substituições isomórficas proporcionam cargas negativas permanentes
para as argilas. As cargas negativas variáveis (dependente do pH), por sua vez,
podem ser formadas como um resultado da desprotonação de grupos do silanol
(SiOH) e de aluminol (AlOH) presentes na extremidade das argilas (reações 1 e
2). Quanto maior for o pH, mais carregadas negativamente serão as bordas das
argilas. Os grupos aluminol são anfotéricos de maneira que a pH baixo eles
podem se ligar a um próton ou perder um grupo hidroxila para tornarem-se
positivos (reação 3):
argila ≡ Si - OH ↔ argila ≡ Si - O- + H+    (1)

argila = Al - OH ↔ argila = Al - O- + H+    (2)

argila = Al - OH + H+ ↔ argila = Al - OH2+ argila = Al+ + H2


O    (3)

UNIDADES BÁSICAS:

SiO4 (ou AlO4)


Tetraedro

AlO6 (ou MgO4)


Octaedro
Figura 1.2 - Estrutura e principais tipos de filossilicatos.

Tabela 1.2 - Principais tipos de argila

Carga da
camada
Tipos de argila e
Folhas por
exemplos de Substituição
ou metade das Intercamadas
fórmulas das isomórfica
camadas unidades
camadas
das
fórmulas
Caolinita (1:1) - ~0 -
Si(tet)2 Al(oct)2 O5 (tet-oct)
(OH)4

Mica (p. ex.,


muscovita) (2:1)
Si(tet)3 Al(tet) (tet-oct- Tet: Si → Al ~1 K+
Al(oct)2 O10 tet)
(OH)2–

llita
Si(tet)3,4 Al(tet)0,6
(2:1) Tet: Si → Al
Al(oct)1,53 Fe30,22 Principalmente
(tet-oct- Oct: Al → ~ 0,8
K+
Fe20,03 Mg0,28 O10 tet) Mg, Fe
(OH)20,73–

Vermiculita (p.
ex., dioctaedrica)
Si(tet)3,56
(2:1) Tet: Si → Al Principalmente
Al(tet)0,44 (tet-oct- Oct: Al → 0,6–0,9 Mg2+
Al(oct)1,4 Fe30,3 tet) Mg, Fe hidratado
Mg0,3 O10
(OH)20,74–

Esmectita (p. ex., (2:1) Tet: Si → Al 0,2–0,6 Principalmente


montmorilonita) (tet-oct- (pouco) cátions
Si(tet)4 Al(oct)1,67 tet) Oct: Al → hidratados
(Fe2,Mg)0,33 O10 Mg, Fe divalentes
(OH)20,33–

Pirofilita (2:1)
Si(tet)8 Al(oct)4 (tet-oct- - ~0 -
O20 (OH)4 tet)

Clorita (p. ex.,


cloreto de (2:1:1) Tet: Si → Al Camada de
magnésio) (tet-oct- Oct: Al → 0,3–1 octaedros de
Si(tet)3 Al(oct) tet) Mg, Li Al, Mg ou Li
Mg3 O10 (OH)2–

A carga variável é menos relevante do que a carga permanente e pode


resultar em uma carga líquida positiva (pH baixo) ou negativa (pH elevado).

Óxidos
Alguns óxidos podem ocorrer como minerais primários, tais como de
rutilo (TiO2) ou de quartzo (SiO2), mas a maioria dos óxidos, hidróxidos e
oxihidróxidos são formados durante o intemperismo do solo. Como o silício é
“lavado” para fora dos perfis dos solos, o Al, Fe e Mn podem formar óxidos
mais insolúveis em solos mais intemperizados. Normalmente eles são menos
abundantes do que as argilas em solos agrícolas, e estão associados a outros
minerais presentes no solo ou associados à matéria orgânica. Em decorrência
da elevada superfície específica e reatividade, os óxidos são muito importantes
em processos químicos do solo (TAN, 2011).
O óxido de alumínio mais importante e estável é a gibbsita (γ-Al (OH)3),
que ocorre em solos altamente intemperizados, como Oxisolos em áreas
tropicais e Ultisolos. A presença de gibbsita e pH baixos são as causas da baixa
fertilidade desses solos. Alguns problemas são encontrados, como a toxicidade
de Al3+ e de fixação de P.
Vários óxidos de ferro (III) podem estar presentes nos solos. O mais
estável é a goetita (α-FeOOH), de cor marrom, ocorrendo em solos
intemperizados, e a hematita (α-Fe (OH)3), de cor vermelha. A maghemita (γ-
Fe2O3) e a lepidocrocita (γ-FeOOH) são de estabilidade intermediária,
enquanto a ferrihidrita (Fe10O15.9H2O ou HFe5O8·4H2O) é o menos estável.
Comparando-se os óxidos de ferro, quanto maior estabilidade e maior
cristalinidade, mais lenta é a cinética de formação e dissolução, e menor a
solubilidade. Em condições redutoras, pode ser formada no solo a magnetita
(Fe3O4), com proporção de 2:1 entre o Fe (III) e Fe (II). Substituições
isomórficas nos óxidos de Fe por Cu, Zn e metais pesados podem controlar a
disponibilidade desses nutrientes e elementos tóxicos para as plantas.
Óxidos de Mn também estão presentes nos solos dependendo das
condições redox: pirolusita (β-MnO2), birnessita (δ-MnO2) e manganita
(MnOOH). Os óxidos amorfos também são importantes.
Uma característica importante dos óxidos é a carga de superfície.
Similarmente ao grupo aluminol em argilas, os grupos reativos na superfície
dos óxidos podem libertar prótons em pH elevado ou adquirir uma carga
positiva em pH baixo. Por exemplo, os óxidos de ferro:
óxido = Fe — OH ↔ óxido = Fe — O- + H+     (4)

óxido = Fe — OH + H+ ↔ óxido = Fe — OH2+ ↔ óxido = Fe+ +H2O


    (5)

Outros minerais
Carbonatos de cálcio (calcita e aragonita, CaCO3) são comuns em solos de
pH elevado, normalmente em regiões áridas e semiáridas, onde outros
carbonatos como dolomita (MgCa(CO3)2) também podem estar presentes.
Esses carbonatos proporcionam um elevado poder tampão de pH. Solos em
condições altamente redutoras (solos de várzea) também podem apresentar
siderita (FeCO3) e rodocrosita (MnCO3).
O principal mineral de sulfato é o gesso (CaSO4·2H2O). Os sulfatos são
muito solúveis, de forma que apenas podem estar presentes em regiões áridas,
proporcionando uma alta condutividade na solução do solo.
Fosfatos de alumínio e de ferro nos solos ácidos, assim como fosfatos de
cálcio em solos neutros e básicos, também são amplamente encontrados, porém
em pequenas quantidades.

Matéria orgânica e substâncias húmicas


Em se tratando de manejo da fertilidade do solo “a matéria orgânica do
solo – MOS é considerada como sendo a fração não vivente, representada
especialmente pelas frações orgânicas estabilizadas na forma de substâncias húmicas”
(SILVA; MENDONÇA, 2007, p. 281). Representa de 0,5 a 5% dos materiais
sólidos do solo (BRANDANI; SANTOS, 2016).
A constituição básica da MOS é de cerca de 58% de C, 6% de H, 33% de O
e de 3% para N, S e P, individualmente (SILVA; MENDONÇA, 2007). O
carbono da MOS é proveniente da fixação do C-CO2 atmosférico realizada por
organismos fotossintéticos, a exemplo das plantas, algas e bactérias
autotróficas, em que são sintetizados compostos orgânicos como os
carboidratos, proteínas, ácidos nucleicos, celuloses e hemiceluloses, ligninas,
óleos e outros. Esses compostos podem entrar na cadeia trófica e geram energia
por meio das reações de oxidação respiratória para o crescimento,
desenvolvimento e manutenção de diferentes organismos vivos. Nesse
processo, diferentes frações orgânicas e nutrientes que são essenciais para o
crescimento das plantas são liberados. A própria biomassa microbiana também
representa uma quantidade considerável de nutrientes potencialmente
disponíveis para as plantas, visto que a sua reciclagem é dez vezes mais rápida
em média que a fração orgânica vegetal morta no solo. Com isso os
microrganismos do solo podem atuar como fonte de nutrientes para as plantas
quando deixam de fazer parte da biomassa viva do solo (DICK et al., 2009). A
matéria orgânica proveniente das raízes das plantas apresenta taxa de
decomposição mais lenta que a da parte aérea por apresentar maior relação
lignina/N, sendo acumulada no solo por mais tempo, e por contribuir com o
C-orgânico em profundidade (ANGHINONI, 2007). A lignina tem alto peso
molecular e estrutura química tridimensional que lhe confere estabilidade, além
da alta relação C/N (MOREIRA; SIQUEIRA, 2006).
A MOS encontra-se no solo em diferentes compartimentos, e o potencial
de fornecimento de nutrientes a partir dela depende da forma como se
encontra no solo. A matéria orgânica química e fisicamente protegida
(proteção coloidal e estrutural, respectivamente) apresenta alto tempo de
ciclagem, e seus nutrientes não ficam disponíveis para as plantas, o que provoca
o acúmulo de C no solo. O estoque de C total no solo é importante no balanço
global de C e nas concentrações de CO na atmosfera, por sua vez relacionadas a
mudanças climáticas globais.
A biomassa microbiana, os resíduos vegetais e microbianos parcialmente
decompostos com os diferentes produtos gerados da sua decomposição parcial
são potencialmente disponíveis, apresentando alta ciclagem de nutrientes e são
considerados dentro da fração lábil. Também fazem parte da fração lábil os
nutrientes unidos por ligações eletrostáticas às diferentes frações da MOS.
A MOS atua nas propriedades físicas, químicas e biológicas do solo,
trazendo benefícios aos sistemas agrícolas e florestais nos solos tropicais. Por
essa razão tem sido utilizada como indicadora da qualidade desses solos. Os
efeitos positivos da adição da matéria orgânica no solo ocorrem em virtude do
aumento da atividade microbiana que acelera a mineralização de nutrientes,
tornando-os disponíveis para as plantas, levando à produção de húmus. Neste
processo são liberados compostos que são estimuladores do crescimento das
plantas e auxiliam na agregação das partículas do solo, proporcionando
proteção ao solo e redução da erosão.
O processo de decomposição da matéria orgânica pelos microrganismos
resulta em compostos orgânicos de alta superfície específica que fazem parte do
sistema coloidal do solo, do qual são substâncias húmicas. A dissociação de
grupos carboxílicos e fenólicos dessas frações orgânicas originam as cargas
negativas do solo. O aumento dessas cargas negativas eleva a CTC do solo
(Tabela 1.3) e possibilita, assim, maior retenção de cátions trocáveis, resultando
em menores perdas por lixiviação. Isso é particularmente importante em solos
arenosos em que a CTC é naturalmente menor e a drenagem da água, maior.
Nos solos tropicais cerca de dois terços das cargas negativas são originárias da
fração orgânica (GOEDERT; OLIVEIRA, 2007). A sustentabilidade desses
solos depende dessa fração orgânica, em especial para aqueles solos altamente
intemperizados e com fração argila composta por oxihidróxidos de Fe e Al e
também por caulinita (SILVA; MENDONÇA, 2007).
Os grupamentos carboxílicos e fenólicos possibilitam a complexação de
metais, como indicado mais adiante neste capítulo. A complexação de metais
pela matéria orgânica do solo é importante no controle da disponibilidade dos
micronutrientes catiônicos e na formação de complexos estáveis com Al3+,
reduzindo a sua toxidez para as plantas.
A matéria orgânica atua nas características físicas do solo, uma vez que
contribui para a agregação das partículas minerais na ligação de
microagregados, e atua ainda como agente cimentante de agregados e como
agente ligante, dando estabilidade a macroagregados. A formação dos
agregados altera a distribuição dos macro e microporos no solo e, por
consequência, a retenção de água. Uma parte dessa água permanece em formas
disponíveis para as plantas e outra parte, com baixa disponibilidade, fica retida
na estrutura interna dos agregados (SILVA; MENDONÇA, 2017).
Em sistemas de plantio direto, o acúmulo de matéria orgânica é
importante porque protege o solo e auxilia no controle da erosão. Ele também
aumenta o pH, diminuindo os efeitos nocivos da acidez e do alumínio, pela sua
complexação com ácidos orgânicos liberados. Se a planta de cobertura
pertencer a uma espécie que se associa a bactérias diazotróficas, o acúmulo de
matéria orgânica promove ainda o aumento de N no sistema proveniente da
fixação biológica do nitrogênio atmosférico. O alto teor de N e a baixa relação
C/N de algumas leguminosas utilizadas nesse sistema de plantio aumentam a
taxa de decomposição e podem proporcionar quantidade apreciáveis de N para
a cultura subsequente (ANGHINONI, 2007). Nos sistemas de cultivo mais
conservacionistas, o menor revolvimento do solo preserva os agregados, o que
permite a manutenção da matéria orgânica protegida fisicamente e o estoque
de C total do solo. A contribuição da matéria orgânica na retenção de água
nesse sistema ocorre não somente em virtude da preservação dos agregados,
mas também porque apresenta grupos funcionais hidrofílicos (SILVA;
MENDONÇA, 2017).
Podem, entretanto, ocorrer efeitos negativos pela adição da matéria
orgânica ao solo devido à possibilidade de imobilização de nutrientes, aumento
na liberação de gases de efeito estufa, anoxia temporária em microssítios do
solo e liberação de excesso de nutrientes que levam à eutrofização (MOREIRA;
SIQUEIRA, 2006).
A taxa de decomposição da matéria orgânica pode ser reduzida pela
presença de frações orgânicas altamente recalcitrantes (como algumas frações
húmicas) que podem permanecer por anos no solo, ou ainda pela redução
acentuada da biomassa microbiana por fatores ambientais adversos. Nesses
casos, o efeito priming pode ser utilizado para estimular o crescimento da
biomassa microbiana, a qual, por sua vez, aumenta a taxa de decomposição da
matéria orgânica com certa recalcitrância. Isso é obtido pela adição de fonte
disponível de N, podendo ser adubo nitrogenado, material orgânico de baixa
relação C/N e até exsudatos radiculares (CANTARELA, 2007)
Entre todos os componentes orgânicos do solo (ver Tabela 1.1), as
substâncias húmicas estão entre os compostos mais estáveis e menos
degradáveis (TAN, 2011). O peso molecular das substâncias húmicas pode
variar de 500–5000 para ácidos fúlvicos e de 3000–106 para ácidos húmicos. O
C é o elemento mais abundante nessas substâncias (em média, 55% nos ácidos
húmicos e 45% nos ácidos fúlvicos), seguido de O (35% nos ácidos húmicos e
45% nos ácidos fúlvicos, aproximadamente). Entre os elementos observados em
quantidades menores estão o H (3–7%) e, em quantidades variáveis, o N (0,7–
4,5%) e o S (0,1–3,5%).
As substâncias húmicas são consideradas um material complexo e
heterogêneo, com basicamente uma espinha dorsal de cadeias alifáticas e
componentes aromáticos distribuídos como numa rede tridimensional e com
grupos funcionais reativos. Entre eles, os grupos ácidos (carboxílicos e
fenólicos) são os mais abundantes, mas também existem os grupos básicos com
nitrogênio, que são de grande importância. Os grupos carboxílicos e outros
grupos ácidos podem se dissociar, conforme pH e pKa. Quando o pH está acima
da média do pKa, ocorrem mais formas desprotonadas que protonadas. Visto
que os pKa para os grupos carboxílicos estão no intervalo entre 2 e 5, eles
normalmente estão presentes como carboxilatos “negativos” (reação 6). O pKa
médio dos fenolatos é mais elevado e ocorre no intervalo de pH entre 8 e 12;
assim como na maioria dos solos, a presença de grupos fenolatos negativos é
pequena (reação 7).
R - COOH ↔ R - COO- + H+    (6)

    (7)
Devido à predominância de grupos ácidos, os ácidos húmicos são coloides
negativos com carga dependente do pH (não permanente).
Além dos prótons, O e N podem ligar-se a metais para formar complexos
e quelatos (ver a seguir as reações na solução de solo). Eles podem ser
complexos solúveis com ácidos fúlvicos ou complexos de superfície em
substâncias húmicas insolúveis. De acordo com a afinidade com os prótons ou
metais, a complexação compete com a protonação, por isso as substâncias
húmicas são mais capazes de complexar metais quando o pH sobe. Em pH
ligeiramente ácido e pH neutro, os metais de transição podem formar
complexos; entretanto, em pH elevado os metais tendem a precipitar-se na
forma de óxidos, assim predominantemente os metais mais solúveis (por
exemplo, Ca2+) formam complexos orgânicos.
As substâncias húmicas atuam como agentes de quelação e complexação
no solo, aumentando a agregação das partículas. Esses efeitos melhoram as
propriedades físicas do solo, a exemplo da aeração, retenção de umidade e
permeabilidade. Entre os efeitos sobre as propriedades químicas tem-se o
aumento da CTC e os reservatórios de nutrientes – principalmente N, P e S –
para as plantas e microrganismos.

Microrganismos do solo
A fase biológica corresponde à fração viva dos microrganismos do solo,
também chamada de biomassa microbiana do solo. Os microrganismos são
componentes do solo responsáveis por inúmeras reações bioquímicas
relacionadas não só com a transformação da matéria orgânica, mas também
com o intemperismo das rochas, ciclagem dos nutrientes, formação de húmus,
agregação das partículas do solo, estabilização dos agregados e formação do
perfil do solo. Esses organismos também podem promover associações
simbióticas ou assimbióticas com diferentes espécies vegetais, promovendo o
aumento na aquisição de nutrientes, e atuar no controle biológico de pragas e
doenças. Com isso, de diferentes formas, os microrganismos agem direta ou
indiretamente na fertilidade do solo e nutrição das plantas.
Os microrganismos do solo são encontrados em cinco grandes grupos:
bactérias, fungos, actinomicetos, algas e protozoários. O grupo das bactérias é o
que apresenta maior diversidade. A população microbiana no solo não é
estática: ela varia em quantidade e qualidade (considerando os diferentes
grupos e espécies de microrganismos) dependendo das variações climáticas e
das diferentes etapas do intemperismo do solo, ou do fracionamento do
componente orgânico ou inorgânico adicionado ao solo. Ainda neste capítulo
será discutido como os microrganismos afetam a disponibilidade de nutrientes
no solo e, por consequência, a nutrição das plantas.
Disponibilidade de nutrientes no solo

Disponibilidade de nutrientes
A quantidade total de um nutriente no solo não indica a quantidade que
pode estar disponível para as plantas. Um elemento pode estar presente no solo
em diferentes formas inorgânicas ou orgânicas; parte delas são mais facilmente
solúveis do que outras, e algumas dificilmente serão disponibilizadas às plantas.
Para a maioria dos nutrientes essenciais para elas, a fração solúvel representa
uma parte muito pequena quando comparada à trocável, que por sua vez é
menor que a não trocável, como indicado na Figura 1.3.
Fração solúvel: as raízes absorvem nutrientes solúveis na solução do
solo. Para o nutriente ser absorvido é preciso que ele se encontre na solução do
solo, na zona rizosférica. A rizosfera é a região do solo que é influenciada pela
raiz da planta. As raízes exsudam (rizodeposição) moléculas de alto e baixo peso
molecular; assim, atraem e aumentam o crescimento de microrganismos,
resultando em alta biomassa microbiana (ROMAGNOLI; ANDREOTE, 2016).
Esses microrganismos catabolizam o carbono desses exsudatos para a obtenção
de energia para o seu crescimento, mineralizando o material orgânico e
disponibilizando os nutrientes para a solução do solo. Também participam de
reações de oxirredução no solo que alteram a forma dos elementos no solo,
como ocorre com o nitrogênio. Promovem ainda a liberação de substâncias que
são reguladoras de crescimento das plantas. Esses microrganismos da rizosfera
também podem absorver esses os nutrientes, utilizando-os no seu metabolismo
(imobilizando) e tornando-os indisponíves temporariamente para as plantas.
Isso é um fator negativo quando se trata de nutrientes essenciais para plantas,
mas pode ser positivo quando se trata de elementos presentes na rizosfera em
quantidades potencialmente tóxicas para elas. No sistema solo-planta existe
uma interação estreita entre as raízes, o solo e os microrganismos rizosférios.
Figura 1.3 - Representação esquemática das diferentes frações de um elemento
no solo em relação à sua disponibilidade para as plantas.

Variações que ocorrem na rizosfera – pH, potencial redox, liberação de


compostos orgânicos, efluxo de nutrientes e fitorremediação de metais –
alteram a disponibilização de nutrientes no solo (FAGERIA et al., 2009).
Os nutrientes, mesmo na forma iônica na solução do solo, requerem
mecanismos para chegarem até a zona rizosférica e no rizoplano. As raízes, ao
crescerem no solo, na sua trajetória, se aproximam cada vez mais dos
nutrientes localizados na sua proximidade até que eles se encontrem na zona
rizosférica. Esse mecanismo é chamado de interceptação das raízes. A taxa de
crescimento, a arquitetura das raízes e a localização da adubação ou nutriente
alteram a taxa de absorção de nutrientes provenientes da interceptação
radicular. A contribuição desse mecanismo na aquisição de nutrientes pelas
plantas é muito pequena para alguns elementos. Entretanto a interceptação das
raízes pode suprir a planta de Ca de forma eficiente em alguma fase do seu
desenvolvimento em que se exige menos esse elemento. Outros mecanismos
responsáveis pelo transporte de nutrientes no solo são o fluxo de massa e a
difusão:
a) Fluxo de massa: é o transporte de nutrientes a partir do solo para as raízes
por meio do fluxo transpiracional da planta. Ocorre em consequência da
diferença do potencial de água no solo, raízes, folhas e atmosfera de forma
subsequente. A água vai do maior para o menor potencial hídrico, ou seja, do
solo (com maior potencial hídrico) para a raiz; da raiz para a parte aérea e da
parte aérea para a atmosfera (com menor potencial hídrico), estabelecendo o
fluxo de massa de água do solo em direção à raiz, arrastando nela íons que se
encontram em solução (NOVAIS; MELLO, 2007). Além disso, a raiz
acumula nutrientes e outros solutos em concentrações superiores ao lado
externo. A solução interna da raiz fica hipertônica, diminuindo o potencial
hídrico interno e causando mais entrada de água por osmose. É importante
na contribuição de Ca, Mg e N para a nutrição da planta, mas nem tanto para
P e K. Fatores que afetam a transpiração da planta, como o fechamento de
estômatos, podem prejudicar o fluxo de massa.
b) Difusão: é o transporte de nutriente no solo que ocorre devido a um
gradiente de concentração formado entre a raiz e o solo que a circunda,
ocasionado quando a absorção do nutriente pela raiz é superior à chegada do
elemento à superfície. No processo de difusão o nutriente sai de local de
maior concentração (solo que circunda a raiz) para local de menor
concentração (rizosfera), e o veículo é a água (solução do solo).
O coeficiente de difusão (cm2 s–1) de um nutriente no solo é definido pela
equação (NYE; TINKER, 1977 citados por NOVAIS; MELLO, 2007):
D = D1θƒ δI/δQ

Em que:
D1 = coeficiente de difusão do íon em água pura para cada elemento em
solução (em cm2 s–1);
θ = conteúdo volumétrico de água no solo (em cm3 cm–3);
ƒ = fator de impedância, ou fator de continuidade (em cm cm–1);
I = concentração do nutriente na solução do solo – fator intensidade;
Q = concentração do nutriente adsorvido no solo, mas em equilíbrio com
a solução (componente da fração lábil do solo) – fator quantidade.

O transporte por difusão é importante para elementos que são fortemente


adsorvidos ao solo, com baixo teor na solução do solo, como é o caso do P e do
Zn.
Os mecanismos e a intensidade do transporte dos nutrientes no solo são
diferentes para cada elemento, assim a zona – ou área – de depleção também é
diferente para cada um. A zona de depleção dos nutrientes é a região adjacente
às raízes onde os elementos podem, por algum desses mecanismos de
transporte, chegar até a superfície da raiz, ou seja, é a área em que as raízes
conseguem acessar os elementos minerais que se encontram em formas
disponíveis no solo.
Fração lábil e fração não lábil: a fração disponível de um elemento
pode ser definida como a quantidade dele que é solúvel ou presente em formas
facilmente solúveis e que pode ser oferecida para a planta em algum estádio de
crescimento (MARSCHNER; RENGEL, 2012) – é a chamada fração lábil
(Figura 1.3). São incluídos na fração lábil os nutrientes presentes em minerais
solúveis, precipitados e quelatados, em materiais orgânicos facilmente
degradáveis, e os íons fracamente retidos na superfície dos coloides do solo. Ao
contrário, elementos não disponíveis são aqueles presentes nas estruturas
internas de argilas, na matéria orgânica de difícil degradação (fração húmica do
solo), nos óxidos insolúveis ou em outros minerais fortemente retidos nos
coloides do solo – e esses elementos de difícil disponibilização para as plantas
são os componentes da fração não lábil do solo.
A disponibilização dos nutrientes para a solução do solo é realizada por
meio de diferentes processos que se relacionam direta ou indiretamente. Esses
processos são discutidos a seguir.
Equilíbrios dinâmicos nos solos
A composição da solução do solo é o ponto central para o movimento dos
nutrientes, uma vez que todos os processos passam pela fase líquida. Na Figura
1.4, em todos os processos, exceto quando a massa líquida de entrada ou de
saída é considerada, as setas presentes em ambas às direções indicam equilíbrios
dinâmicos. Reações importantes ocorrem na solução do solo, tais como a
hidrólise, a complexação e reações redox (processos 1, 2 e 3 na Figura 1.4), e
afetam a especiação dos componentes e, subsequentemente, as suas
reatividades.
A espécie refere-se a uma forma química específica de um elemento,
enquanto um componente inclui todas as formas nas quais o elemento está
presente. Por exemplo: Fe3+, Fe(OH)2+, Fe(OH)30, FeF4– e Fe2+ são diferentes
espécies do componente Fe em solução. Especiação é a distribuição de um
componente nas suas espécies.
1) Hidrólise e reação ácido-base: Al3+ + H2O ⇄ Al(OH)2 + H+, por exemplo; 2)
Complexação: Cu2 + MOS ⇄ Cu - MOS (MOS = matéria orgânica do solo),
por exemplo; 3) Reações redox em solução: Fe3 + e- ⇄ Fe2+ , por exemplo; 4)
Absorção de água e nutrientes pelas plantas; 5) Exsudatos de plantas; 6)
Remoção pela colheita; 7) Incorporação de fertilizantes líquidos; 8 e 9)
Solubilização de componentes inorgânicos do solo e fertilizantes solúveis;
precipitação de sólidos supersaturados; 10 e 11) Sorção e dessorção dos íons e
moléculas neutras ou a partir de componentes orgânicos e inorgânicos; 12 e 13)
Mineralização e formação da matéria orgânica; 14) Perdas de água e nutrientes
por lixiviação e percolação; 15) Transporte de soluto para cima devido à
evaporação; 16 e 17) Solubilização e liberação de gases e 18) Perdas por erosão.

Figura 1.4 - Equilíbrios dinâmicos e processos nos solos incluindo entradas e


perdas no sistema solo-planta.
Fonte: Adaptado de LINDSAY, 1979.

É a partir da solução do solo que as plantas absorvem os nutrientes nas


espécies químicas nas quais estão presentes (processo 4) e são liberados
exsudatos das plantas (5). Como uma consequência da remoção pela colheita
(6), há uma saída dos nutrientes do sistema solo-planta. As precipitações
pluviais, a irrigação e a aplicação de fertilizantes são consideradas entradas
líquidas de água e nutrientes. Os fertilizantes liberam nutrientes diretamente
para a solução do solo (7) ou aumentam as formas sólidas deles. A solubilidade
desses fertilizantes – sólidos – (8) é um dos fatores-chave que controlam a
concentração de um componente na solução do solo. Se uma partícula do
fertilizante estiver presente no solo, tende a estabelecer o equilíbrio entre o
sólido e os íons dele na solução de acordo com a constante de solubilidade
termodinâmica – Ksp. Se a solução do solo estiver supersaturada, a partícula
sólida se precipitará (9); se o sistema estiver “subsaturado”, se dissolverá (8).
As concentrações de nutrientes na solução do solo, tais como P, Fe, Mn,
Cu, Zn, Ni e Mo, e a maioria dos metais pesados são normalmente controladas
por meio de processos de solubilidade (SPOSITO, 2008). As fases coloidais no
solo apresentam cargas de superfícies que podem reter os íons (10 e 11). O
processo de sorção não determina a concentração de íons na solução do solo
como faz o processo de solubilização. Um fenômeno de sorção implica uma
partição dos íons entre a solução e a superfície, e é afetado pela quantidade de
cargas nas superfícies. As concentrações de K, Na e P em solos neutros e de Ca
e Mg em solos ácidos estão relacionadas com os processos de adsorção.
As reações que envolvem matéria orgânica (12 e 13) – apresentadas na
Figura 1.4 por linhas tracejadas – são normalmente mediadas por
microrganismos, de modo que são controladas por fatores diferentes dos
processos químicos normais (TAN, 2011). Não só S e P como também N,
podem ser liberados ou incorporados na matéria orgânica pela atividade
microbiana.
O processo 14 representa o fluxo de massa de água e dos nutrientes
devido à drenagem. A água drenada e os nutrientes – por exemplo, nitrato –
podem ser perdidos se a camada de solo for muito profunda ou se atingir o
lençol freático; a evapotranspiração e capilaridade, porém, podem conduzir a
água e os nutrientes até a rizosfera (15).
Os gases na atmosfera do solo podem se dissolver na solução do solo (16),
ou, quando supersaturada, podem ser liberados (17). Essa liberação resulta em
perdas do elemento no sistema solo-planta, assim como ocorre no processo de
erosão (18), em que a saída do solo e de matéria orgânica, principalmente por
questões de manejo inadequado das culturas, leva junto os nutrientes.

Fenômenos de sorção – troca iônica


As partículas coloidais do solo apresentam cargas elétricas negativas e
positivas que promovem a adsorção ou “retenção” por diferenças de cargas,
tanto de cátions como de ânions, denominada adsorção iônica. Quando as cargas
negativas da fração coloidal são neutralizadas por íons eletropositivos (cátions),
ocorre a adsorção catiônica. Do contrário, quando as cargas positivas da fração
coloidal são neutralizadas por íons eletronegativos (ânions), dá-se a chamada
adsorção aniônica (Figura 1.5).
As cargas elétricas negativas do solo são provenientes da substituição
isomórfica (originando as cargas permanentes), da dissociação de grupos OH
nas arestas das argilas silicatadas e da matéria orgânica (podendo ser devida à
presença dos grupos carboxílicos ou dos grupos fenólicos) (SPARKS, 1995).
A presença de sítios com cargas permanentes e de sítios de cargas não
permanentes nas superfícies coloidais é a base dos processos de troca dos íons
(principalmente eletropositivos). Quando a superfície apresenta excesso de
carga negativa, ela pode reter cátions, sendo “trocadora de cátions”. A
capacidade de troca catiônica – CTC define quantos cmolc de cátions podem ser
retidos por 1 kg de solo, e expressa a quantidade de cátions que pode
neutralizar as cargas negativas de um solo e que está em equilíbrio com os
cátions da solução do solo.

Figura 1.5 - Esquema da retenção de íons nas cargas negativas e positivas dos
coloides do solo, resultando na adsorção iônica.

Substâncias não polares podem ser retidas por forças de van der Waals
(por exemplo, pesticidas nas substâncias húmicas), enquanto as substâncias
polares podem ser retidas por atração física (interações eletrostáticas que
formam complexos na esfera externa) ou por ligação química (interações de
curto alcance, incluindo a troca de ligantes, ligação covalente e pontes de
hidrogênio) (SPARKS, 1995).
São exemplos:
A CTC pode ser influenciada por diferentes condições do solo, como
concentração do íon na solução, natureza da fase sólida, pH, características dos
cátions trocáveis (valência e raio iônico hidratado).
As cargas da fase sólida do solo se manifestam nas partículas coloidais,
por isso a área superficial dessas partículas tem correlação com os fenômenos
de troca. Na Tabela 1.3 são apresentados a CTC e a superfície específica
(superfície interna e externa) de alguns componentes do solo. Solos com alta
CTC (por exemplo, os argilosos e os com alto teor de matéria orgânica) podem
reter elevada quantidade de cátions disponíveis para as plantas, enquanto que
naqueles com baixa CTC (por exemplo, solos arenosos) a disponibilidade de
cátions solúveis pode ser severamente reduzida. A matéria orgânica,
normalmente, apresenta a maior contribuição para CTC nos solos tropicais.
Cátions trocáveis podem ser classificados como cátions básicos (Ca2+, Mg2+, K+
e Na+) e cátions ácidos (H+, Al3+, Al(OH)2+ etc.). Os cátions ácidos são
inadequados para a fertilidade do solo. A saturação de base é definida como a
percentagem de cátions básicos no que diz respeito à CTC total. Quanto maior
a saturação por bases, maior a fertilidade do solo.

Tabela 1.3 - Superfície específica e capacidade de troca catiônica – CTC na fase


sólida de diferentes solos
O processo de troca iônica: (a) envolve interações eletrostáticas; (b) uma
nuvem difusa de contraíons é formada em torno do coloide carregado; (c)
normalmente é um processo rápido e reversível; (d) é um processo
estequiométrico, de modo que o número de íons substituídos por outros íons
deve ser tal que o número de cargas permaneça constante (por exemplo, um
Ca2+ deve ser substituído por dois K+); (e) ocorre seletividade para alguns íons
com relação a outros pela superfície carregada, visto que há a atuação das forças
de Coulomb: quanto maior a carga e menor o raio de íon hidratado, maior será
a atração pela superfície (ordem de seletividade: Al3+ > Ca2+ > Mg2+ > K+ ≈
NH4+ > Na+ > H+).
Equações de coeficientes de seletividade têm sido propostas por vários
autores. Por exemplo, a equação de Gapon fornece a relação entre as
concentrações de metais em solução (em mol L–1), considerando as quantidades
retidas nas superfícies do solo (em mol kg–1). Como exemplo para Ca2+ - K+ e
Na+ - K+ trocáveis:
Equilíbrios químicos nos solos – minerais do
solo que controlam a disponibilidade de
nutrientes
Admite-se que o equilíbrio completo nunca é atingido no solo, mas é
igualmente verdade que as reações do solo são sempre no sentido de alcançar
esse equilíbrio (LINDSAY, 1979). O conhecimento do equilíbrio químico é
uma ferramenta importante para prever o comportamento do solo. As cinéticas
das reações podem ser bastante variáveis. Em geral, como as reações na solução
e a troca iônica são muito rápidas, pode-se então considerar que uma condição
de equilíbrio é atingida. Outras reações como as de sorção e dissolução de gases
podem durar horas ou mesmo dias. Os processos de precipitação e de
dissolução podem ser mais lentos, levando dias ou anos, enquanto
transformações minerais e cristalização de minerais são processos que devem
ser considerados no intervalo de tempo da formação do solo, e não na
agricultura (SPOSITO, 2008).

Reações na solução do solo


Reações de hidrólise e outras reações de ácido-base de Brönsted-Lowry
De acordo com a teoria de Brönsted-Lowry, uma reação ácido-base
consiste na transferência de um próton a partir de um ácido para uma base.
São exemplos:

Mg2+ +
↔ Mg(OH)+ + H+, em que Mg2+ é o ácido e Mg(OH)+, a base.
H2O

Fe3+ + ↔ Fe(OH)30 + 3H+, Fe3+ é a espécie ácida e a espécie aquosa


3H2O Fe(OH)30 a base.
H2CO3 ↔ HCO3– + H+, em que H2CO3 é o ácido e HCO3–, a base.

↔ CO32– + H+, em que HCO3– é o ácido (base na reação


HCO3–
anterior) e CO32–, a base.

A constante de equilíbrio permite conhecer a relação entre as espécies de


um componente. Se a concentração de uma das espécies é conhecida, a
especiação pode ser determinada; já a outra pode ser calculada se o pH ou soma
das espécies são conhecidas. Por exemplo:

Complexação e quelação – teoria ácido-base de Lewis


De acordo com a teoria de Lewis, em uma reação ácido-base “uma
substância básica pode compartilhar um par de elétrons isolado com um ácido,
o qual pode empregar esse par de elétrons isolado da base para estabilizar um
dos seus átomos”. As reações que usam a teoria ácido-base de Brönsted-Lowry
englobam também a teoria de Lewis, bem como a formação de complexos e
quelatos. Por exemplo:
Al3+ + SO2-4 ⇄ Al(SO4)+
Em que o Al3+ é um ácido que compartilha um par de elétrons oferecidos pelo
SO42–

E em que Cu2+ é o ácido que recebe dois pares de elétrons oferecidos por
um grupo carboxílico e fenólico de uma substância húmica.
De modo semelhante às reações ácido-base de Brönsted-Lowry, a
constante de equilíbrio permite conhecer a relação entre as espécies de um
componente (SPOSITO, 2008). Normalmente podem existir várias espécies de
um componente no solo [por exemplo, Al3+, Al(SO4)+, Al(OH)2+, Al(OH)2+,
Al(OH)30 Al(OH)4–, Al(PO4)0, Al(HPO4)+, AlF2+, Al(HCO3)2+ etc.], e o cálculo
da distribuição dos componentes entre as suas espécies torna-se mais difícil. A
utilização de programas de cálculo de concentração de cada espécie iônica, tais
como MINTEQA2, Windows© versão Visual Minteq e Geochem, ajuda a
resolver o problema.
A complexação e quelação com substâncias húmicas é uma situação mais
complexa. Os humatos podem ter diferentes sítios para complexar metais, com
os quais cada humato tem uma diferente afinidade (TAN, 2011). Quando a
relação substância húmica/metal é elevada, os metais ocuparão os sítios mais
estáveis, de modo que uma medição macroscópica da estabilidade do complexo
gerará uma alta constante de equilíbrio. No entanto, quando a relação
substância húmica/metal é baixa, a constante de equilíbrio não pode explicar o
processo corretamente porque todos os sítios de alta afinidade ficam ocupados
pelo metal, e novas ligações terão baixa estabilidade. Nesse caso a distribuição
de Gauss permite uma melhor descrição do processo de complexação para a
maioria dos modelos.
A complexação de metal por substâncias húmicas pode gerar complexos
solúveis (por exemplo, com ácidos fúlvicos), mas também pode gerar a
complexação na superfície dos coloides (ver fenômenos de adsorção) e até
mesmo a precipitação dos materiais orgânicos. De fato, os sais de Al3+ e Fe3+
são comumente usados para separar a matéria orgânica em estação de
tratamento de água.

Reações de dissolução de gases


Nestas reações a pressão parcial do gás e a temperatura devem ser consideradas.
Como exemplo:

Se a pressão parcial de CO2 for conhecida, então o H2CO3 pode ser facilmente
calculado.

Reações com a fase sólida

Transformações minerais
As transformações dos minerais no solo não são reações de equilíbrio,
uma vez que elas ocorrem somente em uma direção, de uma situação menos
estável para uma mais estável na fase sólida (LINDSAY, 1979). Por exemplo:

y — FeOOH (lepidocrocita) → a — FeOOH (goethita)

Al2Si2O5(OH)4 (caolinita) H20 → 2Al(OH)3(gibbsita) + 2SiO2 (quartzo)

Reação de dissolução-precipitação
Os processos de dissolução são regulados pela constante de solubilidade
do produto.
CaSO4.2H2O (gesso) ⇄ Ca2+ + SO2-4 + 2H2O KSP = (Ca2+)(SO2-4)
Quando o equilíbrio é atingido, se a concentração de um íon for
conhecida, a concentração do outro pode ser facilmente calculada.
Reações secundárias podem ocorrer com a formação de outros sólidos.
Por exemplo, a solubilidade de Ca, a partir da cal, é dependente da pressão
parcial de CO2 e pH; P é, em geral, menos abundante que Ca nos solos, dessa
forma o fosfato de cálcio pode se formar usando praticamente todo o P, mas
não Ca. A solubilidade de P será então controlada pela solubilidade de Ca, que é
controlada por CO2 e pH. Zn é menos abundante que P na maioria dos solos,
por isso, se ocorrer a formação de fosfato de zinco [Zn3(PO4)2 4H2O, hopeita],
a solubilidade de Zn2+ será controlada pela atividade do fosfato, que por sua vez
é controlada por Ca2+, que é, em última análise, controlado por CO2 e pH. Em
geral, os componentes do solo mais abundantes podem controlar a solubilidade
daqueles menos abundantes.

Reações redox
Reações redox (oxidação-redução) podem ocorrer entre as espécies em
solução e também com participação de sólidos ou gases. Em reações redox, um
ou mais elétrons são transferidos de um doador de elétrons (espécie que se
encontra reduzida) para um receptor de elétrons (que é a espécie que se
encontra oxidada). Diferentemente das reações estudadas, nas reações redox a
partícula transferida (o elétron) não pode ser encontrada livre no meio, de
modo que a reação que libera o elétron deve ocorrer ao mesmo tempo que a
reação que aceita o elétron (LINDSAY, 1979). Essas reações são conhecidas
como semirreações. Por exemplo, o Mn2+ pode ser oxidado no solo para formar
pirolusita (MnO2), e ao mesmo tempo um elemento oxidante (por exemplo,
O2) deve receber os elétrons:

Tradicionalmente as reações globais podem ser estudadas pelas


constantes termodinâmicas, como é feito em outros tipos de reações. Em
virtude da impossibilidade para a medição da atividade dos elétrons, contudo,
as semirreações são normalmente estudadas por meio da equação de Nernst,
derivada de conceitos eletroquímicos.

No entanto, E0 (o potencial de redução padrão) só pode ser determinado


utilizando como referência o potencial de um H2(gas)/H+(aq) em eletrodo padrão
de hidrogênio (solução em condição padrão com concentração de H+(aq) = 1 M;
pressão do H2 = 1 atm e temperatura = 25 oC).
Então na reação:
H2 ⇄ H+ + e-

por definição E0 = 0 mV. Se a constante de equilíbrio for considerada

K0 pode também ser definido como 1 (log K0 = 0) para as mesmas


condições de referência. Então:
Com essa definição as constantes de equilíbrio podem também ser usadas
nas semirreações, tornando os cálculos mais fáceis. Como exemplo, a constante
de equilíbrio da semirreação de oxidação de Mn2+ é log K0 = –41,89, de modo
que a concentração de Mn2+ pode ser calculada independentemente da
semirreação de redução [log (Mn2+) = 41,89 – 2(pe + pH) – 2pH)]. O pe + pH é
muito útil porque permite dar uma escala para as condições redox do solo,
semelhante à escala de pH (0–14). As condições mais redutoras são quando a
água é reduzida a hidrogênio (H2O + e– ⇄ H2 + OH–) impondo um pe + pH =
0, e nas condições mais oxidantes a água está em equilíbrio com O2 atmosférico

( O2 + 2e- + 2H+ ⇄ H2O e pe + pH, estabelecido em 20,6. Em solos bem


aerados pe + pH é alto (16–20), enquanto em solos de várzea, é baixo (4–9).
As reações redox podem ser lentas, dado que exigem a transferência dos
elétrons, mas a atividade microbiana pode acelerá-las. O cátion NH4+ se oxida
muito lentamente a nitrato quando o ar passa através de uma solução de sal de
amônio em laboratório. No entanto, em solos aerados (pe + pH > 16), a
oxidação é muito rápida devido à ação das bactérias dos gêneros Nitrosomona e
Nitrobacter.

Microrganismos que afetam a disponibilidade


de nutrientes no solo
A maior parte dos microrganismos do solo é heterotrófica, ou seja, usa a
energia de substâncias orgânicas pela oxidação de substratos reduzidos a partir
da respiração aeróbica ou anaeróbica. Os diferentes produtos da atividade
microbiana que atuam sobre as substâncias orgânicas e os elementos químicos
do solo são fontes de nutrientes para as plantas; além disso, causam alterações
às condições químicas e físicas importantes para a manutenção da fertilidade do
solo. Assim, a quantidade e a qualidade desses substratos afetam a população
microbiana e a disponibilidade de nutrientes no solo.
Os principais fatores que afetam o crescimento ou a permanência dos
microrganismos no solo, de acordo com Moreira e Siqueira (2006), estão
ligados às limitações físicas, químicas e biológicas que, por sua vez, também
atuam direta ou indiretamente na disponibilidade de nutrientes no solo.
Entre as limitações físicas encontram-se a disponibilidade de água e de ar
e a temperatura do solo. Os microrganismos, em especial os unicelulares,
necessitam de água para o seu metabolismo, para a absorção de nutrientes e
para o seu movimento. Ar e água estão estreitamente relacionados, uma vez
que ocupam os poros do solo. A aeração é importante por permitir a saída de
CO2 proveniente da respiração dos microrganismos e raízes; ela também
possibilita a entrada de gases como o O2, importante para os organismos
aeróbicos, e N2, para os fixadores de N atmosférico. Os microrganismos podem
ser aeróbicos, facultativos ou anaeróbicos. A baixa relação O2/CO2 prejudica a
atividade dos organismos aeróbicos e aumenta a atividade dos anaeróbicos,
alterando processos redox e a disponibilidade dos nutrientes, principalmente
para os elementos cujo número de oxidação varia mais, como é o caso do N e
do S.
Entre as limitações químicas ao crescimento microbiano estão os fatores
de crescimento, a disponibilidade de nutrientes essenciais para o crescimento e
metabolismo microbiano, a disponibilidade de elementos tóxicos, o pH, o
potencial redox do solo, a força iônica da solução, a qualidade dos substratos ou
matéria orgânica do solo.
Os fatores de crescimento são substâncias orgânicas ou estimulantes do
crescimento microbiano. Eles podem ser produzidos pelas raízes, pelos
próprios microrganismos ou provenientes de diferentes etapas da
decomposição de resíduos orgânicos.
A força iônica da solução do solo é dada pela presença de cátions e ânions
orgânicos e inorgânicos com diferentes valências. A força iônica da solução
atua sobre todos os processos químicos dos elementos no solo, na sua atividade
e, por consequência, sobre a sua utilização pelos microrganismos.
Os elementos C, O, H, N, P, K, Ca, Mg, S, Fe, Zn, Mn, Cu, Mo, Co, Na,
Cr, Ni, Se, W e V são constituintes de moléculas ou participam de reações
metabólicas nos microrganismos. Podem, ainda, ser fontes de energia ou
doadores de elétrons para alguns grupos de microrganismos edáficos. O pH
atua na disponibilidade desses elementos minerais no solo. Em solos com pH
menor que 5, Fe, Mn, e Al apresentam-se em formas solúveis, podendo atingir
níveis tóxicos. Em pH acima de 7, Fe, Mn, Zn e P ficam indisponíveis, podendo
ser um fator limitante para o crescimento microbiano (MOREIRA; SIQUEIRA,
2006). A maior disponibilidade dos nutrientes ocorre entre o pH 4 e 7, faixa em
que são realizados os cultivos agrícolas na maioria dos solos tropicais e em que
ocorre também o crescimento da maioria dos microrganismos do solo. Além da
atuação do pH sobre a disponibilidade de nutrientes, a alta acidez ou a alta
alcalinidade do meio afeta diretamente a atividade microbiana.
O C da matéria orgânica do solo é fonte de energia para a maioria dos
microrganismos. Estes promovem a oxidação de substâncias que se encontram
em forma reduzida, removendo os elétrons, e têm como aceptor final
principalmente o O2, para os microrganismos aeróbicos, ou formas de NO3–,
SO42–, entre outras, para anaeróbicos ou aeróbicos facultativos (MOREIRA;
SIQUEIRA, 2006). Como já discutido no item “Reações redox”, as mudanças na
tensão de O2 ou no pH do solo promovem a alteração do potencial de
oxirredução, da população microbiana e, por consequência, da disponibilidade
dos nutrientes no solo.
A quantidade, a qualidade e os teores de C, N, P e S da matéria orgânica
alteram a biomassa microbiana do solo. Em condições de baixa disponibilidade
de nutriente, os microrganismos competem com as plantas pelo nutriente
disponível no solo, assimilando-o na sua biomassa, o que é chamado de
imobilização de nutrientes. Entre outros fatores, a relação C/N regula a
velocidade de decomposição e a taxa de mineralização dos nutrientes da
matéria orgânica do solo (Figura 1.6).
A decomposição de material orgânico com alta relação C/N proporciona
condição de maior imobilização líquida do N na biomassa microbiana tendo
em vista o baixo teor de N para o metabolismo microbiano. Pode ser
considerada aqui como um dreno de N no solo. Em situação de baixa relação
C/N no material orgânico, ocorre maior disponibilização do N, favorecendo
a mineralização. Nesse caso, o teor de N é suficiente para o crescimento e
metabolismo dos microrganismos, e parte dele é liberado no solo, ficando
disponível para a planta (DICK et al., 2009).
A relação C/P e C/S, como demonstrado na Figura 1.6, também altera a
taxa de imobilização/mineralização de P e S no solo, respectivamente
(BRANDANI; SANTOS, 2016). O dreno de N, P e S pela imobilização na
biomassa microbiana, que reduz o teor desses nutrientes disponíveis para as
plantas, é temporário (BINI; LOPES, 2016), uma vez que a própria biomassa
microbiana representa uma quantidade considerável de nutrientes
potencialmente disponíveis para as plantas e com alta reciclagem (DICK et al.,
2009). Além da relação C/N, o teor de N total, o carbono solúvel e a relação
N/lignina do material orgânico também controlam a taxa de
imobilização/mineralização de nutrientes.
Figura 1.6 - Esquema do processo de imobilização e mineralização de
nutrientes pelos microrganismos em decorrência da relação C/N,
C/P e C/S na matéria orgânica em decomposição.

As limitações biológicas ao crescimento microbiano no solo são dadas


principalmente pelas interações entre as diferentes espécies dos
microrganismos do solo e interações microrganismos-planta. Durante o
processo de decomposição da matéria orgânica pelos microrganismos do solo
são liberados diferentes compostos metabólicos, como produtos da respiração,
que são utilizados pela comunidade microbiana, favorecendo ou não o
crescimento de algumas espécies em detrimento de outras.
As principais reações no solo que envolvem os microrganismos e alteram
a disponibilidade de nutrientes para as plantas e, por consequência, as entradas
e saídas desses elementos no sistema solo-planta são:
1) Reações de oxirredução: são reações que controlam a solubilidade de
nutrientes no solo; podem ser enzimáticas ou decorrentes de alterações no
pH e da tensão de O2 no solo - como já discutido anteriormente neste
capítulo. Os microrganismos do solo, notadamente os rizosféricos, estão
envolvidos na produção e excreção de enzimas e ácidos orgânicos e no
processo de respiração aeróbica e anaeróbica, alterando os processos de
oxirredução do solo.
2) Reações de quelação e complexação: são responsáveis pela solubilização
de nutrientes a partir de metabólitos produzidos e excretados pelos
microrganismos do solo ou a partir da produção de compostos provenientes
das diferentes etapas da decomposição da biomassa microbiana.
3) Redução bioquímica: promove a transformação do elemento cuja forma é
alterada no solo. Por exemplo, os processos de nitrificação, desnitrificação
(discutidos no próximo item), oxidação e redução de S.
4) Relações simbióticas: são caracterizadas pelo contato físico, troca de
metabólitos e/ou de nutrientes. Essas simbioses podem ocorrer tanto entre
os microrganismos como entre estes e as plantas.

Os microrganismos simbiônticos de plantas podem ser fungos (por


exemplo, as micorrizas) ou bactérias (por exemplo, as bactérias fixadoras de N2
atmosférico) que se associam à planta hospedeira, permutando compostos em
que ambos os organismos são beneficiados. A fixação biológica do N2
atmosférico e as micorrizas serão discutidas nos Capítulos 4 e 10,
respectivamente. As rizobactérias promotoras de crescimento vivem na
rizosfera sem estabelecer relações simbióticas com as plantas. As bactérias
fixadoras de N associativas, as produtoras de sideróforos e as solubilizadoras de
fosfatos também são consideradas rizobactérias promotoras de crescimento. Os
mecanismos responsáveis pela solubilização de minerais com P, Ca, K e Mg do
solo estão geralmente associados à excreção de ácidos orgânicos, pelos
microrganismos, com subsequente diminuição de pH. A solubilização de
fosfatos e a mineralização de fontes orgânicas de P pelos microrganismos do
solo é discutida posteriormente, na seção “Dinâmica do fósforo e seus processos
no solo”.
Dinâmica do nitrogênio, do fósforo, dos
cátions trocáveis (Ca, Mg e K) e do enxofre no
solo

Dinâmica do nitrogênio no solo


O N é o nutriente necessário em maior quantidade para as plantas (exceto
C, H e O). Nos solos ele está presente em quantidades relativamente baixas
(200–4000 mg kg–1) como componente da matéria orgânica. A sua dinâmica
está intimamente relacionada com a matéria orgânica e os microrganismos
junto com a dinâmica do S no solo (Figura 1.6).

Espécies de nitrogênio
O N é um elemento não metal que tem estrutura eletrônica 1s22s2p3. A
quantidade intermediária de elétrons permite perder, ganhar ou compartilhar
elétrons com outros átomos, possibilitando um excepcional número de estados
de oxidação.
A forma inorgânica mais oxidada é o íon nitrato (número de oxidação
+5). Devido ao deslocamento de elétrons ele é pouco reativo. O nitrato isolado,
sem participar de complexação ácido-base ou de reações de precipitação, é uma
espécie importante de N para a nutrição das plantas.
O amônio (NH4+) é a forma mais reduzida do N no solo (número de
oxidação –3). Ele é um ácido fraco (NH4 + 2H2O ⇄ NH4 OH + H+ , pKa = 9,2),
de modo que a principal espécie em solução é NH4+, enquanto o hidróxido de
amônio é importante apenas em solos básicos. O NH4+ pode ser retido nas
superfícies do solo e nos espaços intercamadas das argilas. Em solos bem
aerados, o NH4+ é oxidado a nitrato pelo processo de nitrificação (Figura 1.7).
O N, como grupo amina (-NH2), é uma base de Lewis capaz de complexar
metais. O N-orgânico pode também estar na forma de amida, nas ligações
peptídicas, heterociclos e assim por diante.
O nitrito (NO2–) é tóxico para os organismos vivos e sua presença é
bastante baixa nos solos. Ele existe como um intermediário do processo de
oxidação de amônio.
O N2 molecular (número de oxidação 0) e os óxidos gasosos também
podem ser formados nos solos. Como espécies gasosas eles podem se difundir
livremente para a atmosfera.
Figura 1.7 - Dinâmica do N no solo.

Processos que envolve o nitrogênio no solo


As principais entradas de N no sistema solo-planta são a fixação biológica
e industrial (fertilizantes) e a deposição dos óxidos de nitrogênio (produzidos
em tempestades, vulcões ou atividades humanas) (Figura 1.7). A fixação
industrial corresponde a mais de 50% do total do N fixado no mundo. Os
fertilizantes nitrogenados podem conter o N na forma nítrica, amoniacal ou
amídica (ureia).
As saídas no N, exceto pela remoção das culturas, indicam processo de
poluição – como é o caso da lixiviação de nitrato, da volatilização de amônio
[NH4OH ⇄ NH3 (gas) + H2O] ou da denitrificação, ou seja, redução de nitrato
para óxidos de nitrogênio ou dinitrogênio (PRASAD; POWER, 1997).
Os processos de transformação do N no solo são: mineralização,
imobilização, nitrificação, denitrificação, volatilização, percolação, sorção e
fixação biológica do N2 atmosférico. Os processos de sorção e percolação já
foram discutidos neste capítulo.
Mineralização: é a degradação microbiana da matéria orgânica,
transformando o N-orgânico –que se encontra na forma de proteínas,
peptídeos ácidos glucônicos – em aminas (aminação) e, em seguida, em amônio
(amonificação). Vários microrganismos podem promover a mineralização.

Nitrificação: é a oxidação de amônio para nitrato. A reação global é

NH4+ + 3 H2O ⇄ NO3- +8 e- + 10H+


O oxigênio é o principal receptor de elétrons nesse processo, que ocorre
em duas etapas principais: a nitritação por bactérias do gênero Nitrossomonas e a
nitratação (NO-2 ⇄ NO-3) por bactérias do gênero Nitrobacter:

2NH4+ + 3O2 ⇄ 2NO2- + 2H2O+ 4H+ + E

2NO2- + O2 ⇄ 2NO3- + E

Imobilização: o N-inorgânico pode ser usado por alguns


microrganismos para a construção dos seus componentes orgânicos; em
seguida, pode ser liberado para o solo. A imobilização é dependente da relação
C/N, como já esquematizado na Figura 1.6.
Denitrificação: redução microbiológica do NO3– a N2. Ocorre em solos
com baixo potencial redox onde algumas bactérias facultativas passam a utilizar
os íons de NO3– presentes no solo (podem ser produtos da nitrificação ou
adicionados ao solo via fertilização) no lugar do O2 como aceptor de elétrons
em seus processos metabólicos, formando N2O e N2.

Fixação biológica do N2 atmosférico – FBN: ocorre pela redução do


N2 a NH3 utilizando energia na forma de ATP, realizada por microrganismos
chamados de diazotró icos, que apresentam um complexo proteico (proteína Fe
e proteína Mo-Fe) conhecido como nitrogenase. Os microrganismos podem ser
de vida livre, associativos (incluindo os endofíticos) e simbiônticos. Incluem as
bactérias, cianobactérias e actinomicetos do gênero Frankia. O processo de
fixação biológica do N2 atmosférico é amplamente discutido no Capítulo 4.
A simbiose rizóbio-leguminosas tomou impulso no Brasil mediante os
estudos desenvolvidos pelo grupo liderado pela agrônoma Johanna Döbereiner,
da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – Embrapa. A associação de
bactérias diazotróficas com soja possibilitou uma redução significativa da
adubação nitrogenada para essa cultura. Com os estudos subsequentes, outras
espécies vegetais passaram a ser reconhecidas pela capacidade de manter
associação simbiótica ou endofítica com estirpes mais eficientes para a FBN.
Além disso, a utilização de adubos verdes e a rotação de culturas (com
leguminosas) proporcionaram outras opções de manejos para os cultivos de
plantas não associativas com os microrganismos diazotróficos.

Dinâmica do fósforo e seus processos no solo


A disponibilidade de P no solo é variável em função do pH, teor de
matéria orgânica e atividade microbiana, além dos fatores intensidade,
quantidade e capacidade tampão de P no solo. Neste capítulo serão discutidos
como esses processos ocorrem e as principais interações entre eles a partir da
Figura 1.8 (na qual os números estão relacionados às formas de P no solo).

P-Solução (1)
Refere-se ao P-inorgânico (Pi) que se encontra na solução do solo e que
está disponível para as plantas e microrganismos. As formas solúveis de P
predominantes e a sua concentração na solução do solo estão diretamente
ligadas ao pH do solo.
H3PO4 ocorre em solo com pH < 2;
H2PO4– ocorre em solos com pH > 2 e < 7;
HPO42– ocorre em solos com pH > 7 e < 12;
PO43– ocorre em solos com pH > 12 e < 14.

Quando a concentração de uma dessas formas de P na solução do solo está


aumentando de modo concomitante ao aumento do pH, a outra forma estará
diminuindo. Em valores de pH intermediários, é possível encontrar duas
formas de P disponíveis – por exemplo, em pH 2 as formas H3PO4 e H2PO4–
podem ser encontradas ao mesmo tempo, uma aumentando (H2PO4–) e a outra
diminuindo (H3PO4) a concentração na solução do solo. Próximo a pH 7 a
disponibilidade do H2PO4– estará diminuindo, enquanto HPO42–, aumentando
e atingindo o valor máximo em pH próximo a 10; em seguida, começa a
diminuir novamente. A maioria dos solos brasileiros apresenta pH entre 4 e 6,5
na camada arável, e a forma predominante de P na solução do solo é H2PO4–.
O transporte de P-solúvel no solo até a zona de depleção das raízes se dá
principalmente pelo processo de difusão (VAN RAIJ, 2011; MARSCHNER;
RENGEL, 2012). Nele o elemento sai de uma área de maior concentração para
uma área de menor concentração, tendo como veículo a água. Quando a raiz
absorve o P, a sua concentração diminui no solo próximo à sua superfície,
rizosfera, comparativamente ao seu entorno, criando um gradiente de
concentração – o chamado gradiente de potencial químico. Com isso, mais P chega
à zona de depleção radicular pelo processo de difusão.
O influxo corresponde à absorção do P pelas raízes, considerando a
passagem pela membrana plasmática, e requer que o elemento esteja em
solução na rizosfera. Já o efluxo corresponde à saída de P da célula. Considera-
se a absorção efetiva da planta quando o influxo é maior que o efluxo para o
mesmo elemento (MARSCHNER; RENGEL, 2012).
O P encontrado na solução do solo pode ser proveniente de várias fontes
que são as “entradas” de P no sistema solo-planta: fontes orgânicas (2), adubos
(fosfatos naturais ou fontes parcialmente aciduladas) (3), P da fração lábil do
solo (4) e, ainda, minerais fosfatados do solo de origem (5), conforme a Figura
1.8.
Figura 1.8 - Dinâmica do P e suas interações no solo. As setas indicam a direção
de equilíbrio entre as formas de P. I = fator intensidade, Q = fator
quantidade, NQ = fixado e (Q/I) = fator capacidade.
Fonte: Adaptado de NOVAIS; SMYTH, 1999.

Fonte orgânica de P (Po) (2)


A entrada de P a partir de fonte orgânica pode ocorrer pela deposição de
galhos, folhas e raízes mortas de culturas estabelecidas no solo, resíduos
vegetais de cultivos anteriores, deposição de adubo verde ou demais resíduos
vegetais provenientes de cultivos em outras áreas, aplicação de estercos,
compostos orgânicos ou matéria orgânica parcialmente humificada.
O acúmulo de formas orgânicas de P nos solos tropicais ocorre
principalmente na forma de ortofosfato de monoésteres (R-O-PO3), como os
fosfatos de inositol; ortofosfato diésteres (R-O-PO2-O-R), como os ácidos
nucleicos, fosfolipídeos e ácido teicoico; e os fosfonatos (R-PO4) (DICK et al.,
2009).
O P de fontes orgânicas (2) aplicadas no solo precisa ser mineralizado
para Pi para ser disponibilizado à planta. Isto requer a decomposição da matéria
orgânica. As fosfatases (nome genérico) são as enzimas que promovem a
hidrólise de formas orgânicas de P. Elas podem ser ácidas ou alcalinas,
dependendo do pH do meio, no caso, o solo. As fosfatases ácidas são produzidas
por plantas e microrganismos entre pH 4 e 6, enquanto as alcalinas são
produzidas por bactérias entre pH 9 e 11 (BINI; LOPES, 2016).
Alguns microrganismos produzem as fitases que atuam sobre o inositol-
fosfato. As nucleotidases (fosfatase ácida e alcalina) são produzidas pela maioria
dos microrganismos do solo, atuando sobre os ácidos nucleicos (DNA e RNA).
Algumas bactérias, fungos, actinomicetos e raízes produzem as fosfolipases que
atuam sobre os fosfolipídeos (ARAÚJO; MACHADO, 2006; MOREIRA;
SIQUEIRA, 2006). A utilização do P pela planta, após a hidrólise de formas
orgânicas de P (ou seja, já como Pi), dependerá da concentração de P no resíduo
orgânico. Os microrganismos que atuam na decomposição da matéria orgânica
requerem o P para o seu metabolismo, imobilizando-o na sua biomassa. A
concentração crítica de P no material orgânico, a partir da qual a mineralização
sobrepõe-se à imobilização, é de cerca de 2 g kg–1 de P na biomassa. O mesmo
ocorre na relação carbono:fósforo (C:P). Na relação C:P abaixo de 200:1
prevalece a mineralização do P para compor a fração solúvel (Figura 1.6). Na
relação C:P entre 200:1 e 300:1 a imobilização e a mineralização estão em
relativo equilíbrio. Na relação C:P acima de 300:1 prevalece a imobilização do P
na biomassa microbiana (MOREIRA; SIQUEIRA, 2006; DICK et al., 2009). No
entanto, a morte, seguida da decomposição dos microrganismos do solo,
também contribui para o aumento do Pi, ou seja, a imobilização do P é
temporária. Uma vez reduzido o teor de C no sistema, a atividade microbiana é
reduzida, e o P que compõe essa biomassa é mineralizado após a morte e
decomposição dos microrganismos, ficando também disponível para a planta
(BINI; LOPES, 2016).

Fertilizante mineral fosfatado (3)


Outra forma de introdução de P no sistema solo-planta é através da
aplicação de adubos minerais (Figura 1.4). As fontes minerais de P para as
plantas podem ser os fosfatos naturais e as fontes industrializadas de maior
liberação, superfosfato simples, superfosfato triplo, fosfato mono e diamônico,
termofosfatos, Bios-super. O P-mineral necessita ser solubilizado para compor
a fração solúvel do P no solo. Essa solubilização varia com a fonte mineral
adicionada em relação à reatividade dessas fontes e ainda devido às condições
de umidade, pH e teor de matéria orgânica do solo, absorção de nutrientes pela
espécie vegetal e pela presença de microrganismos solubilizadores de fosfato.
Os fosfatos naturais com maior reatividade têm maior solubilidade do
elemento, no entanto a maioria deles apresenta baixa reatividade, resultando na
liberação lenta de P para as plantas. Com isso as fontes solúveis (acidulados)
têm sido mais indicadas para aplicação visando ao aproveitamento mais rápido
pela planta. Esse rápido aproveitamento é importante porque diminui a
possibilidade de o elemento passar para formas fixadas no solo, tornando-se
indisponível (NOVAIS; SMYTH, 1999).
Para ocorrer a solubilização dos fosfatos naturais no solo é necessária a
presença de prótons, ou seja, é requerido pH mais ácido. Essa acidez pode ser
inerente ao próprio solo, como é o caso de grande parte dos solos tropicais
mais intemperizados. As plantas adubadas com N na forma amoniacal e as
leguminosas associadas ao rizóbio, promovendo a fixação biológica do N2
atmosférico, também acidificam a rizosfera, além da presença de
microrganismos solubilizadores de fosfato que são frequentes nas raízes das
plantas (MARSCHNER; RENGEL, 2012) e aumentam a solubilização dos
fosfatos naturais. A matéria orgânica tem um efeito tamponante de H+ no solo,
mantendo o pH mais baixo e proporcionando assim maior solubilização dos
fosfatos naturais. Ácidos orgânicos – cítrico, oxálico, glucônico, tartárico –
secretados pelos microrganismos e pelas plantas também diminuem o pH do
solo e consequentemente aumentam a solubilização do fosfato e de outros
elementos (BINI; LOPES, 2016).
O P-solúvel (1), proveniente ou não da adubação mineral, pode tornar-se
fonte mineral de P. Esse processo é chamado de retrogradação. O pH do solo é
um dos principais fatores responsáveis por esse processo. Em pH mais alcalino
(acima de 7) o fosfato se precipita com Ca, ficando na forma indisponível, uma
vez que apresenta baixa solubilidade [Ca10 (PO4)6(OH)2 apatita]. O tempo de
contato do fosfato natural com o solo também pode proporcionar a formação
de produtos mais estáveis e pouco solúveis juntamente com o Ca solubilizado
desse fosfato natural. Com isso, apesar de a solubilização do fosfato natural
ocorrer, se a planta não o utilizar rapidamente o solo passa a ser dreno desse P
solubilizado (NOVAIS; SMYTH, 1999).

P-lábil (Q)(4) e P-não lábil (NQ) (5)


O P-lábil corresponde à fração de P-trocável com a solução do solo,
enquanto o P-não lábil corresponde ao P-fixado no solo, não trocável (5).
Os mecanismos envolvidos na formação do P-lábil no solo podem
ocorrer pela retenção do P, que se dá por meio do processo de sorção
(comumente chamado de adsorção) ocasionado por reações químicas e/ou
físicas nas interfaces das frações sólidas do solo. Essa adsorção ocorre nos
óxidos hidratados de Fe e Al, nos aluminossilicatos ou na matéria orgânica do
solo (PINTO et al., 2013). Solos mais argilosos apresentam maior adsorção de P
comparativamente a solos arenosos. Os minerais de argila e as partículas
coloidais do solo apresentam maior superfície específica (Tabela 1.3) e
densidade de cargas elétricas manifestados nas suas superfícies, favorecendo a
adsorção iônica.
A adsorção do P na matéria orgânica pode ocorrer pela formação de
pontes de cátions (Al, Fe e Ca) adsorvidos à matéria orgânica (DICK et al.,
2009). Entretanto, a adição de matéria orgânica (principalmente esterco
animal) pode reduzir a adsorção do P no solo devido à adsorção dos ácidos
orgânicos aos oxihidróxidos, bloqueando os sítios de adsorção de P (SPOSITO,
2008).
A forma lábil (4) também está relacionada a algumas formas de P
precipitadas com Fe, Al e Ca. Em solos ácidos, a precipitação do P ocorre pela
reação desse elemento com as formas iônicas de Al e de Fe, formando
compostos de baixa solubilidade – FePO4·2H2O (estrengita) e AlPO4·2H2O
(variscita). Em solos neutros ou calcários, o Ca2+ precipita com o P, formando
CaHPO4·2H2O; Ca4 H(PO4)3·3H2O; Ca3(PO4)2; Ca10 (PO4)6(OH)2, compostos
de menor solubilidade que Fe e Al a esses pHs.
O P-lábil (4) encontra-se em equilíbrio com o P-solução (1), ou seja, à
medida que o P-solução diminui no solo (por absorção, imobilização ou
retrogradação) ele é suprido pelo P-lábil. Entretanto, com o aumento do tempo
de contato do elemento com as partículas do solo, o P-lábil pode também
passar para a forma não lábil (P-não lábil) (5). O P-não lábil, também chamado
de P- ixado, não se encontra em equilíbrio com o P-lábil e em sequência com o
P-solução.
A fixação do P a partir de fontes solúveis adicionadas ao solo ocorre em
sequência à adsorção do P no solo (P-lábil), em dois mecanismos:
1. Pela formação de uma ligação adicional à primeira nos oxidróxidos de Fe e
Al, ficando com duas ligações coordenadas com a superfície adsorvente.
2. Pela penetração ou difusão do P nas esferas internas (presentes nos próprios
óxidos ou entre os óxidos), o que caracteriza a fase lenta do processo
(NOVAIS; SMYTH, 1999; SPOSITO, 2008). Algumas formas precipitadas de
fosfato de cálcio em solos neutros e alcalinos também podem ser
consideradas formas não lábeis de P no solo, uma vez que apresentam baixa
disponibilidade para a maioria das plantas.
O P-fixado (5) pode ser considerado mecanismo de manutenção de P no
sistema, tendo em vista que alterações físico-químicas no solo podem
disponibilizar esse P posteriormente. A diminuição do potencial redox e o
acúmulo de matéria orgânica no solo podem reverter o P-não lábil em P-lábil.
Além disso, o acúmulo residual do P ao longo dos cultivos pode levar à redução
da fixação de fosfatos adicionados em adubações futuras (NOVAIS; SMYTH,
1999).
Os fatores intensidade (1), quantidade (4) e capacidade de P (Figura
1.8) estão relacionados à dinâmica do elemento no solo - capacidade do solo de
reter os nutrientes na fase sólida, de liberar para a solução do solo e de manter
o teor estável nessa solução.
O fator intensidade (I) corresponde à concentração ou, mais
precisamente, à atividade do elemento na solução do solo disponível para a
planta.
O fator quantidade (Q) representa o estoque do elemento no solo na
forma lábil (P-trocável) em equilíbrio com o elemento disponível na solução do
solo.
Quando há entrada de P na solução solo (por fertilização, por exemplo),
aumentando o I, ocorre rápido aumento na adsorção de P aos oxihidróxidos de
Fe e Al. Desse modo o elemento, que antes se encontrava na forma solúvel,
passa para a fração lábil e aumenta o Q, ou seja, incrementa o estoque de P no
solo. Quando a concentração do P na solução do solo diminui devido à
absorção pelas plantas, ocorre a passagem do elemento da forma lábil para a
forma solúvel, ou seja, ocorre o ressuprimento do fósforo para a solução do
solo a partir do Q, reestabelecendo o equilíbrio. O Q também pode diminuir
em virtude da fixação do elemento no solo, passando para as formas não lábeis.
O fator capacidade (Q/I) é a capacidade do solo em repor os nutrientes
para a solução do solo a partir daqueles que se encontram na fase lábil. É o
poder tampão do P na solução do solo quando ocorre a saída ou entrada do
elemento, estabelecendo a interdependência entre Q e I. Corresponde à
resistência do solo a mudanças no I (P em solução), expressa pela relação ΔQ/
ΔI (NOVAIS; SMYTH, 1999; NOVAIS et al., 2007).
Cada solo apresenta uma capacidade (sensibilidade) de ressuprimento do
elemento da fase lábil para a solução do solo e vice-versa. Nos mais argilosos,
quando ocorre a entrada de P na solução do solo (proveniente de diferentes
fontes de P), mesmo em presença de uma planta constituindo um dreno de P,
este elemento passa rapidamente para a fase lábil devido à alta capacidade de
adsorção de P nesses solos (PINTO et al., 2013). A concentração do P na
solução do solo (I) é, então, reestabelecida seguida do aumento no fator
quantidade (Q), proporcionando maior valor na relação Q/I (fator capacidade).
Os solos arenosos apresentam menor velocidade de adsorção de P. Em caso de
aumento do P na solução do solo por fertilização, por exemplo, maior
quantidade de P é mantida na solução do solo, aumentando I. Contudo, nesses
solos arenosos, verifica-se menor estoque de P na fração lábil (Q), assim a
relação Q/I apresenta valor menor, ou seja, menor fator capacidade.
A capacidade Máxima de Adsorção de P no solo – CMAP é a quantidade
máxima de P que o solo comporta, ou o máximo que Q pode atingir, seja por
reações de adsorção, seja por reações de precipitação. Os solos argilosos
apresentam maior CMAP comparativamente aos solos arenosos porque aqueles
apresentam maior capacidade e rapidez de adsorção do P, podendo
rapidamente aumentar o Q. O fator quantidade dá a ideia do quanto existe de
estoque de P na forma P-lábil, enquanto a CMAP indica a possibilidade
máxima do estoque de P possível para esse solo. Maiores valores no fator
capacidade de P são obtidos em solos com maior CMAP (PINTO et al., 2013).
Diante desses conceitos, verifica-se que o solo pode ser considerado tanto
fonte quanto dreno de P. Ele é considerado fonte de P quando a fração lábil
estiver suprindo o elemento para a solução do solo, em caso de saída do
elemento por absorção pela planta, por exemplo, mantendo estável o fator
intensidade. O solo, porém, pode ser considerado dreno de P quando a
passagem de P-solúvel para a forma lábil é mais rápida que a capacidade da
planta em adquirir esse elemento. Também são considerados drenos de fosfato
aqueles solos nos quais ocorre alta fixação de fosfato (fração não lábil),
impossibilitando o relativo equilíbrio com o P-solúvel. Solo-dreno ocorre
principalmente em solos tropicais mais intemperizados, a exemplo dos que são
encontrados em vários locais no Brasil (NOVAIS; SMYTH, 1999).
O solo também é considerado dreno de P quando ocorre sua imobilização
na biomassa microbiana devido à entrada de materiais orgânicos com alta
relação C:P. Nesse caso, o dreno é temporário. Uma vez reduzido o teor de C
nos substratos, a mineralização sobrepõe à imobilização (BRANDANI;
SANTOS, 2016) e o solo passa de novo a ser fonte do elemento, como já
discutido anteriormente.

Perdas de P no solo (6)


O P-fixado pode ser considerado uma forma de perda de P dada a
dificuldade da sua aquisição pela planta, ou seja, o solo passa a ser um dreno
desse nutriente; no entanto, em algumas circunstâncias o P pode ir para a
fração lábil.
A erosão e a lixiviação são consideradas perdas de fósforo no sistema
solo-planta. A lixiviação pode ocorrer com o P-solução em solos bastante
arenosos. Nos solos argilosos, a possibilidade de lixiviação de P é pequena em
razão da alta capacidade de adsorção do P no solo que compõe a fração lábil.
As perdas de P por erosão ocorrem sempre que a camada do solo com
maior teor do elemento – normalmente a superficial, arável – é retirada do
local por meio natural ou antropogênico. Nesse caso, além da saída do P-
solúvel, outras formas de P no solo também podem ser perdidas.

Micorrizas (7)
Micorrizas é o termo utilizado para definir a associação simbiótica entre
determinadas espécies de fungos que vivem no solo e as raízes da maioria das
espécies vegetais. O crescimento do micélio do fungo no solo (rede de hifas)
amplia o volume de solo explorado, aumentando a zona de depleção da raiz
para além da rizosfera. Isto é importante principalmente para aqueles
elementos que apresentam baixa mobilidade no solo, como é o caso do P, Cu e
Zn. Além disso, o pequeno diâmetro das hifas permite a sua entrada em locais
em que as raízes de maior diâmetro não conseguem penetrar (poros de menor
diâmetro), ampliando a área de contato com o solo e, por consequência, a
superfície de absorção desses nutrientes (BERBARA et al., 2006).
As micorrizas também produzem as polifosfatases, que proporcionam a
liberação de P de moléculas orgânicas para uma forma iônica que pode ser
absorvida pela planta e principalmente pelas próprias hifas do fungo
micorrízico (ARAÚJO; MACHADO, 2006). A liberação de ácido orgânico pelo
fungo também promove a diminuição do pH e aumenta a solubilização de
algumas formas de fosfato no solo (MARSCHNER; RENGEL, 2012).
A manutenção de Pi para a planta hospedeira ocorre pela remobilização
do P de moléculas polifosfatadas, por hidrólise, seguida da transferência do
elemento para as células das raízes da planta hospedeira (BERBARA et al.,
2006; MOREIRA; SIQUEIRA, 2006). Esse mecanismo é de fundamental
importância em casos de baixo suprimento de P ou de deficiência hídrica –
situações em que o transporte do nutriente no solo fica ainda mais limitado,
dificultando o acesso desse elemento pelas raízes.
A maior aquisição de P em plantas micorrizadas também aumenta a taxa
de fixação biológica do nitrogênio atmosférico – FBN em plantas associadas a
bactérias diazotróficas conhecidas como fixadoras de N. A FBN resulta em alta
demanda de P, que pode ser compensada pela ação dos fungos micorrízicos
sobre a absorção desse elemento.
As hifas dos fungos micorrízicos também podem interconectar plantas de
uma mesma espécie ou de diferentes espécies, idades ou estádios fisiológicos,
possibilitando a transferência de nutrientes entre elas. A interconexão, mediada
pelas hifas micorrízicas, pode ocorrer entre espécies de plantas associativas a
bactérias diazotróficas com outra espécie não associativa a essas bactérias. Essa
interconexão permite a transferência de N proveniente da FBN para a espécie
vegetal não associativa à bactéria diazotrófica. Rodrigues et al. (2003)
observaram não somente o aumento na aquisição de N em plantas de eucalipto
intermediada pelas hifas conectadas a plantas de Sesbânica virgata Cav.
associadas a bactérias fixadoras de N. Foi observado também incremento na
aquisição de P aliado a alteração das frações internas desse elemento nas folhas
(aumento no PST e Po) em comparação a plantas de eucalipto micorrizadas,
mas não interconectadas à Sesbânia virgata, indicando alterações no
metabolismo da planta.
Um estudo mais aprofundado da associação das plantas com fungos
micorrízicos é realizado no Capítulo 10.

Dinâmica dos cátions trocáveis no solo – cálcio,


magnésio e potássio
Os solos brasileiros são, em sua maioria, altamente intemperizados,
ácidos (pH < 5), com baixos teores de bases trocáveis e altos teores de Al
trocável. Esses solos podem ser ácidos devido à pobreza em bases do material
de origem, ou devido a processos de formação que favoreceram a remoção de
elementos básicos – K, Ca, Mg e Na –, como as chuvas intensas, acarretando a
lixiviação dessas bases. A acidez tem início com a dissociação do gás carbônico
na solução do solo.
CO2 + H2O ⇋ HCO3– + H+

A produção do H+ acelera o processo de intemperismo com a liberação


dos cátions de menor valência que são “lavados” do perfil, sendo lixiviados.
Permanecem no solo ocupando o lugar dos cátions básicos, o H+, Al(OH)2+ ,
Al3+ e outros elementos como o Fe e Mn.
A acidificação do solo também ocorre devido ao processo de nitrificação
ocasionado pela decomposição da matéria orgânica ou por ocasião da aplicação
de fertilizantes amoniacais. A absorção diferencial de íons pelas plantas
também promove a liberação de H+ pelas raízes, acidificando o solo quando
ocorre maior absorção de cátions que de ânions. Isto ocorre principalmente
com a adubação das culturas com N na forma catiônica (amoniacal).
Os cátions básicos também podem ser removidos do solo devido à
exportação pelas culturas em folhas, frutos, madeira, flores e raízes.
Os cátions trocáveis Ca2+, Mg2+ e K+ são elementos essenciais para o
crescimento e o desenvolvimento das plantas. A dinâmica desses cátions no
solo é bastante semelhante. As frações solúveis, trocáveis e não trocáveis estão
em equilíbrio dinâmico, de modo que qualquer alteração nos teores na solução
do solo também pode alterar as demais frações (Figura 1.9). A dinâmica do Ca e
do Mg é mais simples que a do K, uma vez que a ocorrência da fixação deste
elemento em alguns tipos de solos é importante, o que não é observado com os
demais cátions.
Figura 1.9 - Dinâmica do Ca, Mg e K e suas interações no solo.

Os principais fatores que afetam a disponibilidade dos cátions no solo


estão ligados à atividade do elemento na solução do solo, ao poder tampão do
solo em fornecer nutrientes para a solução, aos mecanismos de transporte
desses elementos até as raízes, à acidez, à CTC do solo e às perdas desses
elementos por lixiviação ou mobilidade vertical no perfil do solo.
O Ca, Mg e K são encontrados na solução do solo na forma iônica (Ca2+,
Mg2+ e K+), conforme a Figura 1.9. A absorção de cada um desses cátions pode
ser influenciada pela concentração dos outros presentes na solução do solo
porque depende da atividade do elemento, dada pela concentração dele e dos
demais íons e moléculas, os quais determinam a força iônica da solução
(ERNANI et al., 2007).
O K é o segundo elemento requerido em maior quantidade pelas plantas.
O Ca é requerido em menor quantidade, porém sua concentração na solução do
solo é dez vezes maior que a daquele elemento. Assim, o poder tampão da
fração lábil (trocável) é importante para manter os teores de K na fração
solúvel.

Fração lábil (trocável)


A fração lábil corresponde aos cátions trocáveis – Ca, K e Mg – que se
encontram ligados às cargas negativas na superfície das frações orgânicas
(fração húmica do solo) e inorgânicas (minerais das argilas silicatadas, óxidos e
hidróxidos de Fe e Al), mas em equilíbrio com a concentração do elemento na
solução do solo (Figura 1.5). O K e o Mg são adsorvidos nas cargas negativas da
fração coloidal por adsorção eletrostática e também na fração húmica. São
facilmente trocados por outros cátions na solução no solo.
Para os cátions a fração lábil está ligada à CTC do solo (discutida na seção
“Fenômenos de sorção”). A adição do íon no solo via fertilização, calagem ou
gessagem aumenta o teor do elemento na solução do solo, mas este entra em
equilíbrio com a fase sólida por meio da adsorção nas cargas negativas do solo.
Quando dois íons ou mais são disponibilizados na solução do solo, a
preferência da adsorção na superfície carregada depende da constante de
seletividade que já foi discutida e apresentada na seção supracitada. Na ordem
de seletividade a preferência para a adsorção do Ca2+ é maior do que para o
Mg2+, que é maior que para o K+. Assim, o K+ pode ser mais facilmente
lixiviado comparativamente ao Ca2+ e ao Mg2+.
A capacidade do solo de manter estável a concentração do elemento na
solução à medida que é adicionado ou retirado é o poder tampão do solo ou
fator capacidade, dado pela relação Q/I (fator quantidade/fator intensidade),
discutido na seção “Disponibilidade de nutrientes nos solos”. Para os cátions
trocáveis, principalmente o K, o ideal é que os solos apresentem não somente
bons valores no fator intensidade, mas também altos valores no fator
quantidade, ou seja, boas reservas na fração lábil do solo, garantindo um bom
poder tampão (ERNANI et al., 2007), o que está diretamente relacionado ao
teor de argila no solo. De acordo com Wiethölter (2007), quanto maior o teor
de argila maior quantidade de K2O é necessária para manter a alta produção de
trigo. O autor considera que o teor de argila (ou a sua CTC ou o poder tampão)
deveria ser incorporado no sistema de recomendação de K.
Para o Ca, o poder tampão no solo é importante principalmente porque
ele é um elemento imóvel internamente na planta e essencial para o
crescimento das raízes, o que indica uma alta dependência do Ca externo, ou
seja, do teor disponível no solo. Esse elemento também desempenha um papel
fundamental na proteção dos efeitos danosos causados por H+ e Al3+, que
prejudicam de forma intensa o crescimento das raízes. O poder tampão de Ca
na solução do solo depende do tipo de argila. Argila 2:1 requer saturação de Ca
acima de 70%; para a argila 1:1, o valor deve ser entre 40 e 50%, para manter
bons níveis do elemento na solução do solo.
Fatores que aumentam a CTC do solo, como a calagem e a adição de
matéria orgânica, alteram a adsorção de Ca, Mg e K. Este último, além da
adsorção nas cargas da matéria orgânica e dos coloides do solo, apresenta
outras ligações importantes para a fase trocável, principalmente nas argilas 2:1
(ilita e vermiculita), de acordo com a localização das cargas negativas nos
componentes sólidos em que ele se liga (ERNANI et al., 2007). A adsorção do K
nessas argilas pode ocorrer: a) na posição planar – nas superfícies externas das
argilas. Nesse caso os sítios de troca não têm especificidade com esse elemento,
ou seja, ele compete com outros cátions; b) na posição externa – o K é
adsorvido às cargas negativas nas margens mais externas dos espaços entre as
camadas das argilas; e c) na posição interna – nas cargas situadas nas posições
internas das camadas, apresentando, nesse caso, alta seletividade para K.
O K da posição planar fica em equilíbrio com o K da solução do solo,
sendo considerado trocável. Das duas outras posições, devido à limitada
liberação para a solução do solo, ele é considerado não trocável.
Alguns precipitados também fazem parte da fração lábil do solo. Na seção
“Reações com a fase sólida” são discutidas questões sobre a precipitação de íons
no solo. Os precipitados, por serem moléculas grandes, não são absorvidos
pelas plantas, necessitando ser dissolvidos. A formação e a dissolução de
precipitados depende do pH e da atividade na solução do solo do íon que
integram esses compostos em função da constante de dissolução (Kd) de cada
composto (ERNANI et al., 2007). O K precipitado com outros elementos é
pouco expressivo nos solos.

Formas na fração não lábil (não trocável)


Considera-se que o K não trocável (fração não lábil) é aquele fixado,
preso na posição interna das entrecamadas dos minerais 2:1, como a ilita e a
vermiculita (Tabela 1.2 e seção “Minerais da argila”). Também na fração não
trocável, está o K estrutural (componente da fração mineral), que é constituinte
dos minerais primários (principalmente micas e feldspatos) e dos secundários
(ilita e vermiculita). O K não trocável é particularmente importante em solos
temperados e menos expressivos em solos brasileiros mais intemperizados.
Cerca de 98% de K no solo refere-se ao estrutural, podendo ser liberados
após intemperismo, porém somente contribui com a nutrição das plantas em
longo prazo, por isso é considerado dentro da fração não trocável.
Em relação ao Ca, no Brasil, os solos ácidos, altamente intemperizados,
contêm pouco mineral primário em condições para liberar esse elemento. Os
principais minerais primários com Ca são a anortita, augita e hornblenda. A
maior fonte de Ca nas regiões áridas e semiáridas é a calcita. Nessas regiões
também estão presentes a dolomita e o gesso. A intemperização desses minerais
disponibiliza o Ca da fração não lábil para a solução do solo.
Os minerais primários biotita, dolomita, hornblenda, olivina e serpentina
apresentam Mg na sua composição e podem contribuir, mesmo que de forma
lenta, para a disponibilidade desse nutriente no solo.
Dentro da fração não lábil não são reportadas frações fixadas de Ca e Mg,
mas algumas formas precipitadas de Ca com P são consideradas devido à
indisponibilidade para as plantas e dificuldade de solubilização. A precipitação
de Ca com o P ocorre em pH mais alcalino, acima de 7 podendo formar a
apatita - retrogradação (discutido na seção “Reações com a fase sólida” e
também na seção sobre “Fertilizante mineral fosfatado”). Esses precipitados são
importantes no manejo da adubação fosfatada em solos mais argilosos que
receberam calagem.

Mecanismos de transporte no solo


Os principais mecanismos de transporte de nutrientes no solo são
discutidos na seção “Disponibilidade de nutrientes”.
Para o K, o mecanismo de transporte que mais contribui com a nutrição
das plantas é o processo de difusão, embora o fluxo de massa também colabore
de forma menos significativa. A difusão ocorre quando a taxa de absorção é
maior que a taxa de chegada de K na raiz, criando um gradiente de
concentração do elemento (FAGERIA et al., 2009). Ca e Mg são transportados
por fluxo de massa, mas a interceptação radicular é um processo que também
auxilia na nutrição das plantas em solos com concentrações elevadas desses
nutrientes.
A deficiência de Ca em algumas culturas, como a do tomate e da maçã,
apresenta desordens fisiológicas em frutos. O fundo preto nos frutos do
tomateiro ocorre, dentre outros fatores, devido à baixa taxa de transpiração
nessa parte da planta aliada a baixos teores de Ca no solo e/ou a déficit hídrico,
diminuindo o transporte desse elemento pelo fluxo de massa. O contínuo
fornecimento de Ca na planta é importante porque esse elemento não é
remobilizado internamente nela, apresentando sintomas de deficiência em
tecidos que apresentam menor transpiração, como nas partes jovens, brotos e
frutos (MARSCHNER; RENGEL, 2012).
O crescimento do sistema radicular é um fator que atua direta ou
indiretamente no acesso dos nutrientes no solo. O crescimento das raízes
aumenta a possibilidade de o nutriente ser interceptado por elas. Além disso, a
diminuição da distância entre a raiz e os nutrientes também possibilita a
chegada do elemento mais próximo à zona de absorção via processo de difusão
ou fluxo de massa.

Perdas das bases trocáveis no solo


A lixiviação das bases no solo, como discutido no início dessa seção,
carreia os nutrientes que se encontram em solução para a subsuperfície, fora do
alcance das raízes.
Em solo com baixa CTCefetiva, o K adicionado, via fertilização, permanece
em maior quantidade em solução, sujeito à lixiviação em áreas com alta
pluviosidade. A aplicação do calcário (aplicação de CaCO3 no solo) aumenta a
CTCefetiva e, por consequência, aumenta a retenção dos cátions trocáveis
diminuindo as perdas. No entanto, com a calagem é formado o Ca(HCO3)2 –
carbonato ácido de cálcio, altamente solúvel, sendo lixiviado no solo.
CaCO3 + CO2 + H2O → Ca(HCO3)2

A lixiviação de Ca é menos intensa que de NH4+, Mg2+ ou K+ porque é


mais fortemente adsorvido que os demais cátions na superfície carregada das
frações coloidais do solo, no entanto, para algumas culturas perenes, a descida
do Ca para camadas do solo abaixo da arável é importante para favorecer o
crescimento das raízes. A aplicação do gesso possibilita a troca de Ca, Mg e K
para a solução do solo e a lixiviação desses cátions para camadas mais profundas
ligadas ao sulfato (SO42–) como ânion acompanhante. O sulfato, cloreto e
nitrato (NO3–) são os principais íons acompanhantes dos cátions no solo.
O Mg apresenta maior lixiviação do que o Ca por ter maior raio iônico
hidratado, sendo adsorvido nas cargas negativas com menor força no solo.

Interações com outros elementos no solo


São observadas interações entre Ca2+, Mg2+ e K+ em solos ácidos, e Na+
em solos salinos em relação à absorção desses cátions. Alta concentração de um
deles na solução do solo afeta a absorção dos demais. O Ca apresenta interação
positiva com o NH4+.
Algumas recomendações sugerem relação Ca:Mg de 4:1, mas tem sido
observado que essa relação é variável entre as culturas, os diferentes tipos de
solo e de manejo. A relação Ca:Mg deve ser avaliada individualmente para cada
cultura, e cuidados devem ser tomados principalmente quando a concentração
de um desses elementos for muito baixa na solução do solo.
O Ca2+ apresenta interação com Al3+ em solos ácidos. O Ca2+ e Mg2+
promovem a diminuição da saturação por Al3+ na CTC do solo. O Ca2+
também diminui o efeito deletério do Al3+ na inibição da divisão celular, na
permeabilidade da membrana plasmática, dentre outros efeitos. O Al3+ é tóxico
para as raízes restringindo o crescimento e o desenvolvimento delas. As raízes
ficam curtas e grossas, com menor superfície de absorção comparativamente a
raízes de plantas cultivadas sem a presença de altas concentrações de Al3+. O
menor crescimento das raízes diminui a absorção de nutrientes pela menor
exploração do solo, menor superfície de absorção, menor possibilidade de
interceptação radicular e maior distância entre as raízes e os nutrientes a serem
transportados até a rizosfera. O Ca também apresenta inibição competitiva
com o Zn, pois competem pelo mesmo sítio ativo (MARSCHNER; RENGEL,
2012).

Formas de correção do K, Ca e Mg no solo


Correção do K no solo: ele pode ser corrigido no solo por meio da
adubação na forma cloreto de potássio (KCl); nitrato de potássio (KNO3),
sulfato duplo de potássio e magnésio (K2SO4; K2SO4.2MgSO4). No Brasil, o
principal adubo potássico utilizado para adubação das culturas é o KCl.
Correção do Ca e do Mg: a fertilização com Ca no solo pode ser
realizada com a aplicação de nitrato de cálcio e cloreto de cálcio, além da
calagem e da aplicação do gesso. O superfosfato simples, superfosfato duplo e
termofosfatos também têm Ca na composição. Em solos ácidos, o Ca
proveniente da aplicação dos adubos fosfatados, associados aos teores no solo,
pode ser suficiente para o suprimento desse nutriente para algumas culturas.
A fertilização com Mg pode ser realizada com sulfato de magnésio e
termofosfato magnesiano. O nitrato de cálcio e nitrato de amônio e cálcio
também apresentam Mg na sua composição.
A aplicação de calcário possibilita a entrada de Ca e Mg no solo e permite
também a correção da acidez do solo. Esta pode ser dividida em acidez ativa e
acidez potencial. A acidez potencial é subdividida em acidez trocável e não
trocável. Acidez ativa, medida com potenciômetro, corresponde aos íons H+
que se encontram na solução do solo e que podem ser neutralizados com o
calcário. A acidez trocável corresponde ao Al, H, Fe e Mn na forma trocável
que se encontram adsorvidas na superfície dos coloides do solo por forças
eletrostáticas. A elevação do pH pode corrigir a acidez trocável, eliminando os
efeitos tóxicos do Al. Na acidez não trocável ocorre a ocupação do H nas cargas
negativas variáveis e nos polímeros de Al por meio de ligação covalente. É
também chamado de acidez dependente de pH (SOUZA et al., 2007).
O poder tampão do pH é a resistência que o solo apresenta a mudanças
nesse índice quando a base é adicionada ao solo, por exemplo por ocasião da
calagem. O poder tampão é proporcionado pela acidez trocável com a liberação
do H+ o Al3+ do complexo de troca. Solos com elevados teores de matéria
orgânica têm alto poder tampão de pH requerendo maiores doses de calcário.
A aplicação do calcário promove as seguintes reações e as consequências
listadas a seguir (SOUZA et al., 2007):
CaCO3 + H2O → Ca2+ HCO-3 + OH-

HCO-3 + H2O → CO2 + OH- + H2O


a) O OH– formado corrige a acidez ativa do solo pela neutralização do H+.
b) Promove a troca iônica entre as bases adicionadas pela calagem e H+ e Al dos
sítios de troca da fração argila (retidos por ligações covalentes), e ainda do Al
da fração húmica do solo (correspondente à acidez trocável), aumentando a
CTCefetiva do solo. Com isso, o Ca e o Mg passam a ocupar os sítios de troca,
elevando a retenção no solo e diminuindo a lixiviação.
c) Ocorre a precipitação do OH– com o Al, levando à formação de Al(OH)3🠗;
ocorre o mesmo com Fe2+, Cu2+, Zn2+ e Mn2+. Esse efeito pode causar
deficiência de micronutrientes nas plantas.
d) Neutraliza os sítios de cargas positivas dos oxihidróxidos de Fe e Al,
diminuindo a adsorção e a fixação do P em solos ácidos.
e) Aumenta a disponibilidade de N, P, K, Ca, Mg, S e Mo em solos ácidos, uma
vez que a maior disponibilidade desses elementos no solo ocorre com pH
entre 5,5 e 6,8.
f) Aumenta a atividade microbiana e a liberação de nutrientes, tais como N, P,
S e B, provenientes da decomposição da matéria orgânica.
g) Melhora as propriedades físicas do solo (formação dos agregados),
proporcionando melhor aeração e circulação de água, e favorecendo o
desenvolvimento das raízes das plantas;
O cálculo da necessidade de calagem pode ser realizado com vistas a:
• Elevar a saturação de bases do solo para níveis desejáveis para a cultura. A
soma de bases varia de 40 a 70% para culturas menos e mais exigentes,
respectivamente;
• Elevar a soma dos teores de Ca e Mg no solo. A soma dos teores desses
elementos varia, dependendo da exigência da cultura, entre 1 e 3 cmolcdm–3;
• Aumentar o pH e eliminar níveis tóxicos de Al disponível. O cálculo é usado
para culturas menos exigentes em Ca e Mg, mas sensíveis ao Al em cultivo
em solos ácidos.
O calcário é obtido pela moagem da rocha que apresenta carbonato de
cálcio (CaCO3) e carbonato de magnésio (MgCO3) na sua composição. É
classificado como calcítico (com teor de MgCO3 inferior a 10%), magnesiano
(com teor mediano de MgCO3 entre 10 e 25%) e dolomítico (com teor de
MgCO3 acima de 25%). Outros produtos são: cal virgem agrícola, cal hidratado
agrícola ou cal extinta, calcário calcinado, escória de siderurgia, carbonato de
cálcio, entre outros.
Outra forma de aplicação do Ca no solo é por meio do gesso
(CaSO4·2H2O) proveniente da produção de ácido fosfórico. O gesso não altera
o pH em valores consideráveis como ocorre com o calcário, uma vez que na sua
composição não há bases químicas efetivas que corrigem a acidez do solo, que
são CO32–, OH– e SiO32– solúveis. No entanto, fornece S e diminui a atividade
do Al3+ tóxico pela formação de AlSO4+ e pela presença de Ca, que ameniza os
efeitos deletérios de Al nas raízes.
O sulfato, na solução do solo, se liga aos cátions disponíveis e são
lixiviados para a subsuperfície do solo. Ocorre assim a diminuição da saturação
de alumínio também em profundidade, melhorando o ambiente radicular. Esse
efeito é particularmente importante em culturas perenes que são sensíveis a
níveis tóxicos de Al no solo.

Dinâmica do enxofre no solo


O S é um elemento essencial para as plantas. Sua concentração na matéria
orgânica é em torno de 1 g kg–1 de matéria seca vegetal.
As principais entradas desse elemento no solo são:
• Intemperismo de minerais sulfatados provenientes da pirita (FeS2) e da
gipsita (CaSO4);
• Deposição atmosférica seca ou úmida. As deposições atmosféricas são altas; o
S atmosférico é principalmente proveniente de atividade vulcânica e de H2S
originário da decomposição da matéria orgânica e de pântanos marítimos. As
atividades industriais proporcionam grandes entradas de SO2 na atmosfera
pela queima de produtos com S. As chuvas ácidas decorrem da alta atividade
antrópica em áreas mais industrializadas;
• Adições de fertilizantes minerais ou orgânicos, ou incorporação de material
orgânico no solo e aplicação de pesticidas também constituem importantes
entradas do elemento no sistema solo-planta.
As principais saídas de S do solo são:
• Exportações pelas culturas;
• Lixiviação. Ocorre com o SO42– formando pares iônicos com Ca2+, Mg2+ e
principalmente K+ e Na+;
• Erosão;
• Emissão de gases sulfurados;
• Volatilização de H2S em solos alagados;
• Queima de combustíveis fósseis.
No solo, o S encontra-se principalmente armazenado na forma orgânica.
Esse nutriente na matéria orgânica está ligado a aminoácidos livres, peptídeos,
fenóis e carboidratos. A manutenção de teores adequados de matéria orgânica
garante o suprimento gradual dele às plantas através da mineralização.
A disponibilização do S no solo é semelhante à do P (Figura 1.8). Assim
como este, aquele pode ser encontrado na fração solúvel do solo, adsorvido na
fração lábil e na fração não lábil (não trocável), e ser encontrado
principalmente na fração orgânica do solo (imobilizado).
Os processos que correm com S dependem dos microrganismos do solo,
das formas desse nutriente e ainda das condições redox, assim como ocorre
com as formas do N no solo.
As frações orgânicas e o sulfato na solução do solo – como também as
frações de sulfato que o tamponam – são importantes para a fertilidade e o
manejo do solo. O sulfato ocorre em solos bem drenados; contudo, dependendo
do potencial redox e do pH, várias formas de S são encontradas, como sulfeto e
bissulfeto em solos e sedimentos mal drenados sob condições anóxicas.
Ocorrem ainda estados intermediários, menos comuns no solo, como sulfito,
dióxido de enxofre, ditionito, tiossulfato, monóxido de enxofre, enxofre
elementar, HS e polissulfetos (MELLO; PERES, 2009).

Enxofre na solução do solo


O elemento para ser absorvido pelas plantas precisa estar na solução do
solo na forma de SO42–. Essa forma ocorre em solos drenados. O S disponível
na solução do solo está relacionado ao fator intensidade. Na medida em que as
plantas utilizam o SO42–, reduzindo a concentração na solução do solo, o fator
intensidade pode ser suprido pela:
• Solubilização de fertilizantes que contêm S;
• Fração lábil através da dessorção do SO42–, que se encontra adsorvido às
cargas positivas dos óxidos de Fe e Al do solo. Existe um equilíbrio dinâmico
S-adsorvido com o S-solução que corresponde ao tamponamento do SO42–
na solução do solo;
• Mineralização da matéria orgânica.
O SO42– na solução do solo pode ser absorvido pela planta, pode ser
lixiviado (juntamente com cátions que se encontram na forma iônica na
solução do solo), pode ser imobilizado na biomassa microbiana e pode se ligar
às cargas positivas dos óxidos de Fe e Al por ligações eletrostáticas (processo de
adsorção).
Em solos em condições de anaerobiose (alagados ou microssítios
anaeróbios nos solos), o SO42– é utilizado como aceptor final na cadeia de
transporte de elétrons pelas bactérias como Desulfovibrio e
Desulfotomaculum, e é reduzido a H2S. O H2S em ambiente oxidante
(aerobiose) é convertido em SO42– novamente (ALVAREZ V. et al., 2007; BINI
et al., 2016).
O pH da solução do solo está também intimamente relacionado à
disponibilidade de SO42–. O aumento do pH do solo reduz a adsorção de SO42–
pelos coloides devido à competição das hidroxilas com os sítios de carga
positiva. Dessa forma a calagem proporciona diminuição na adsorção de SO42–,
aumentando a disponibilidade desse íon na solução do solo.
A disponibilidade do S para as plantas, assim como ocorre para o P,
depende do equilíbrio entre as suas formas solúveis e trocáveis.

Fração lábil de SO42–

A fração lábil (fator quantidade) está ligada a diferentes formas do SO42–


que se encontram em equilíbrio com a solução do solo (fator intensidade),
promovendo o tamponamento do S no solo (fator capacidade).
• Uma das formas da fração lábil corresponde ao SO42– adsorvido aos óxidos de
Fe e Al e minerais de argila (principalmente 1:1). Faz parte do complexo de
carga trocável do enxofre – CTS. A adsorção do SO42– pode ser proveniente
da solução do solo ou daquele liberado pelo intemperismo dos minerais que
contêm S (pirita, gesso). A dessorção corresponde à liberação do SO42–
adsorvido às cargas do solo para a solução, promovendo o tamponamento do
elemento na solução do solo;
• O S da matéria orgânica de fácil decomposição também pode ser considerado
fração lábil (ALVAREZ V. et al., 2007);
• Algumas formas precipitadas de S também são consideradas formas lábeis,
como é o caso do gesso.

Fração não lábil


Corresponde ao S ligado fortemente aos coloides inorgânicos ou
orgânicos que não estão em equilíbrio com o S da solução do solo. O SO42– que
forma ligações covalentes com a superfície das argilas (adsorção específica) faz
parte da fração não lábil. Esta fração não está prontamente disponível para as
plantas a não ser em médio ou em longo prazo (LOPES et al., 2016).
A disponibilização do S a partir de minerais primários requer o processo
de intemperismos que pode levar longos períodos (ALVAREZ V. et al., 2007).
É considerada, nesse componente da fração não lábil.

Transformações do S no solo
As transformações desse elemento no solo são controladas por processos
bióticos e abióticos.
Processos bióticos: estão relacionados à mineralização, imobilização,
oxirredução e assimilação de S pela planta.
Processos abióticos: ocorrem em razão da adsorção, dessorção,
precipitação e dissolução do S-inorgânico.
O S da biomassa microbiana e o de resíduos orgânicos correspondem de
85 a 90% do total do elemento no solo (LOPES et al., 2016), sendo uma fração
importante para a nutrição das plantas. A mineralização e imobilização regulam
o ciclo no solo e controlam a disponibilidade de S às plantas.
A imobilização corresponde a incorporação do elemento na biomassa
microbiana. Ocorre a assimilação de SO42– pelos microrganismos –
convertendo-o em aminoácidos e outras moléculas – e, em seguida, a formação
de proteínas. O S da biomassa microbiana pode ser mineralizado, constituindo
também uma reserva desse elemento no solo.
A mineralização corresponde à transformação do S-orgânico (da
biomassa microbiana ou de frações vegetais e animais) para a forma inorgânica
(SO42–) pela atuação de microrganismos heterotróficos.
A mineralização ocorre em condições aeróbicas e anaeróbicas. Enzimas
específicas atuam sobre aminoácidos que contêm S, como a cisteína e ésteres de
sulfato. Na primeira etapa da mineralização os compostos orgânicos com S
(proteínas, peptídeos etc.) são despolimeralizados a aminoácidos, tiossufatos e
tioureia, e chegam a H2S (LOPES et al., 2016), que é tóxico para plantas.
Uma parte do H2S é perdida por volatilização. Outra parte entra em
outros processos que dependem da situação de aerobiose ou anaerobiose.
a) Sob aerobiose (presença de O2) o H2S é transformado em SO42– mediado por
bactérias quimioautotróficas, finalizando o processo de mineralização.
b) Sob anaerobiose (solos inundados) o H2S é o produto final da mineralização
do S-orgânico. Ocorre em condições redox próximas a –150 mV. O H2S
pode precipitar com o Fe2+, formando a pirita (FeS2). Isso reduz as formas
tóxicas de Fe2+ e do H2S no solo (ALVAREZ V. et al., 2007).
A relação carbono:enxofre (C:S) é um dos fatores que regula a taxa de
mineralização e de imobilização do S. A relação C:S da matéria orgânica varia
de 100 a 200:1 (LOPES et al., 2016). Na relação C:S menor que 200:1
predomina a mineralização; maior que 400:1 predomina a imobilização e de
200 a 400:1 ocorre o equilíbrio entre a mineralização e a imobilização do S
(Figura 1.6) (BRADANI; SANTOS, 2016).

Adubação com S
O sulfato, por apresentar maior disponibilidade no solo que o fosfato, não
requer maiores preocupações em relação à adubação. No entanto, para culturas
que promovam grandes exportações do nutriente é indicada a recomendação da
adubação com S para a reposição no solo e para o suprimento das necessidades
dessas culturas.
A adubação é indicada também para os solos que apresentam baixo teor
de matéria orgânica. Manejos que preservam ou incrementam o teor de
matéria orgânica são importantes para manter e aumentar os níveis de S no
solo, constituindo uma reserva do elemento. Adubo verde e espécies usadas na
rotação de cultura com raízes profundas auxiliam na extração de S de camadas
mais profundas, repondo-o na camada arável.
As principais fontes de fertilizantes que contêm S são: sulfato de amônio,
superfosfato simples, e micronutrientes como sulfato de zinco. Nesses
fertilizantes, o S entra como nutriente secundário. O gesso como já estudado
neste capítulo, é a forma mais utilizada de reposição de S no solo.
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1 Departamento de Química Agrícola y Bromatología, Universidad Autónoma de Madrid –
UAM, Madri, Espanha. E-mail: juanjose.lucena@uam.es
2 Departamento de Producción Agraria, Universidad Politécnica de Madrid – UPM, Madri,
Espanha. E-mail: alberto.masaguer@upm.es
3 Laboratório de Solos, Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro – UENF,
Campos dos Goytacazes, RJ, Brasil. E-mail: lua@uenf.br
Capítulo
2
Introdução à Nutrição Vegetal: Elementos
Minerais
Ildefonso Bonilla4, Javier Abadía5, Luis Bolaños6 e Maribela Pestana7
Introdução
Os nutrientes necessários às plantas são habitualmente estudados em duas categorias:
orgânicos e inorgânicos. A primeira classe representa cerca de 90–95% do peso da matéria seca –
MS das plantas e inclui os elementos C, O e H, que são adquiridos do CO2 atmosférico e da água do
solo. Os restantes 5–10% do peso da MS correspondem à fração mineral, tema deste capítulo, que
aborda, em primeiro lugar, o papel desses minerais no metabolismo vegetal assim como as razões
para a sua essencialidade; em segundo lugar, o processo de absorção, assimilação e transporte de
cada um dos nutrientes vegetais. As relações entre os nutrientes e a produção agrícola, incluindo os
sintomas de deficiência nutricional e o diagnóstico de cada desequilíbrio nutricional, serão
abordados nos Capítulos 5 e 6. Os sintomas que as plantas apresentam são, obviamente, um aspeto
importante, e a pesquisa desenvolvida nesse campo, na segunda metade do século XX, forneceu
bases sólidas para o estudo da nutrição mineral das plantas.
Há mais de 2 mil anos que os agricultores sabem que o crescimento vegetal pode ser
melhorado, em algumas circunstâncias, por meio da adição de elementos minerais ao solo, tais
como cinzas ou calcário, e que outras substâncias, como sais, produzem efeito tóxico nas culturas.
No entanto, o papel essencial dos elementos minerais no crescimento vegetal foi controverso até
cerca de aproximadamente 150 anos. No final do século XVIII, De Saussure (1767-1845) introduziu
novas técnicas e metodologias muito precisas a partir do estudo da fotossíntese e da absorção de
nutrientes. Um dos pioneiros na análise mineral das plantas estabeleceu a ideia de que alguns
nutrientes, e não necessariamente todos, podem ser indispensáveis. Surgiu o conceito de elementos
essenciais para o crescimento vegetal.
Ainda no final do século XVIII, na Alemanha, Sprengel (1787-1859) propôs que os solos
agrícolas poderiam ser improdutivos, sob um ponto de vista agronômico, devido à ausência de um
elemento essencial, introduzindo assim a lei do mínimo. Ao mesmo tempo, Boussingault (1802-
1887) estudava na França os efeitos da fertilização do solo na absorção de nutrientes e na produção.
Ele descobriu que as leguminosas tinham capacidade de fixar o N atmosférico, fato que mais tarde
foi suportado pela identificação de bactéria nos nódulos fixadores de N (ver Capítulo 4). Foi só a
partir da metade do século XIX que a visão harmônica dos problemas nutricionais da planta
começou a ganhar forma. Surgiram cientistas como von Liebig (1803-1873), que redefiniu a lei do
mínimo. O famoso botânico alemão Sachs (1832-1897) mostrou, pela primeira vez, em 1880, que as
plantas eram capazes de crescer e completar o seu ciclo de desenvolvimento em solução nutritiva na
total ausência de solo. Essa descoberta desencadeou uma poderosa ferramenta de investigação que
permanece válida até os dias de hoje e permite estudar as necessidades nutricionais das plantas: o
cultivo hidropônico. No entanto, a definição da nutrição mineral das plantas como uma área
científica foi o principal resultado do trabalho de compilação e harmonização desenvolvido por von
Liebig, o qual recolheu, de modo estruturado, toda a informação disponível no seu tempo, o que foi
determinante para o abandono, em 1848, da teoria aristotélica do húmus. Seguiu-se um rápido
aumento do uso dos fertilizantes minerais, em especial por meio da aplicação de elevadas
quantidades de K e superfosfato no final do século XIX, seguida mais tarde pelas aplicações de N-
inorgânico na agricultura e horticultura na Europa com o objetivo de melhorar o crescimento e a
produtividade das culturas.
Liebig descobriu que os elementos minerais – N, P, K, Ca, Mg e Fe – são absolutamente
necessários para o desenvolvimento vegetal. No entanto, chegou a essa conclusão mais por mera
especulação do que por experiências de elevada precisão. O fato de a “teoria dos elementos
minerais” não ser suportada por bases sólidas é uma das razões pelas quais foi efetuado um elevado
número de estudos, no final do século XIX. Baseado nesse e noutros estudos alargados sobre a
composição mineral das espécies vegetais estabelecidas em diferentes solos, só no início do século
XX foi possível concluir que nem a presença nem a concentração de determinado elemento mineral
são critérios de essencialidade. Por exemplo, as plantas têm capacidade limitada de controlar a
entrada de elementos não necessários ao crescimento, e eles podem ser fitotóxicos se acumulados
em elevadas quantidades. Nesse contexto, a composição mineral de plantas estabelecidas em
diferentes solos não pode ser o critério que estabelece se um dado elemento mineral é essencial ou
não ao crescimento vegetal. Depois de reconhecido esse fato, as experiências passaram a ser
efetuadas em água ou areia, omitindo diversos elementos minerais. Com recurso a técnicas muito
simples foi possível caracterizar a essencialidade dos elementos minerais e conhecer o seu papel
específico no metabolismo vegetal.
Nesse campo o progresso foi – e continua a ser – extremamente relacionado com o
desenvolvimento de técnicas analíticas, em especial com a purificação de produtos químicos e
melhoramento das medições analíticas. É nítido que essa relação está estabelecida na cronologia das
descobertas sobre a essencialidade de diferentes micronutrientes ao longo da primeira metade do
século XX, contrariamente aos estudos isolados efetuados de preferência com Fe no século anterior.
O termo elemento mineral essencial (nutriente mineral é também usado como sinônimo neste
capítulo, apesar de nutriente ser, estritamente falando, a forma química de um elemento mineral
essencial que está disponível para a planta) foi proposto por Arnon e Stout (1939). Segundo esses
pesquisadores, para que um elemento seja considerado essencial deve-se cumprir três critérios
distintos:
1. Na ausência dele, as plantas não poderão completar o ciclo de vida delas.
2. A sua função na planta é específica e não pode ser substituída por outro elemento.
3. O elemento deve estar diretamente envolvido no metabolismo da planta. Por exemplo, como
componente essencial de uma molécula vegetal ou necessário para uma fase específica de um
processo metabólico, como uma reação enzimática.
De acordo com essa definição, aqueles elementos minerais que anulam o efeito de elementos
tóxicos, ou aqueles que simplesmente substituem nutrientes em algumas funções, a exemplo da
manutenção do potencial osmótico, não serão considerados essenciais, mas como alternativa
podem ser descritos como elementos bené icos, detalhados mais adiante neste capítulo.
Continua a ser difícil de indicar o número final de elementos essenciais para o crescimento
normal das plantas. Esse fato é particularmente óbvio quando se comparam as necessidades das
plantas superiores com as de outros organismos fotossintéticos, tais como algas, e não
fotossintetizantes, como fungos. Até agora estabeleceram-se 17 elementos como essenciais para as
plantas superiores. O Na e o Si, muito abundantes na biosfera, também são essenciais, mas só para
algumas espécies (Tabela 2.1).

Tabela 2.1 - Elementos essenciais e benéficos para plantas, algas e fungos

Elementos Plantas Algas e fungos


superiores

C, O, H, N, P, S, K, Mg, Ca + + Exceto o Ca para fungos

Fe, Mn, Zn, Cu, B, Mo, Cl, + Exceto o B para fungos e algas, salvo
+
Ni diatomáceas

Na, Si, Co, I, V… ± ±

Fonte: Adaptado de MARSCHNER, 2012.

Considerando as melhorias nas técnicas analíticas e no grau de purificação dos compostos


químicos, no futuro a lista de elementos poderá ser estendida e passar a incluir outros elementos
minerais que existem em concentrações muito baixas nas plantas e que não são atualmente
reconhecidos como essenciais. A maioria dos micronutrientes é necessária para o funcionamento
de enzimas, e apenas quantidades muito pequenas deles são requeridas. Pelo contrário, os
macronutrientes são elementos estruturais de biomoléculas, como as proteínas, lipídeos e hidratos
de carbono, ou atuam como osmólitos. Tais diferenças, motivadas pelo papel no metabolismo
vegetal, resultam em concentrações finais muito diferentes. Estas podem diferir bastante consoante
as espécies, a idade da planta, a parte da planta e também a concentração de outros elementos
minerais (Tabela 2.2).

Tabela 2.2 - Elementos essenciais para a maioria das espécies vegetais, formas absorvidas e
intervalo de concentrações considerado adequado. As formas que são preferencialmente
absorvidas estão assinaladas em negrito

Elementos Formas Peso Concentração em Número relativo de átomos em


absorvidas atômico peso de MS relação ao Mo

μmol g– mg %
1 kg–1
Macronutrientes

Silício – Si Si(OH)4 28,09 30 - 0,1 30

Enxofre – S SO42– 32,07 30 - 0,1 30

H2PO4–,
Fósforo – P 30,98 60 - 0,2 60
HPO42–

Magnésio –
Mg2+ 24,32 80 - 0,2 80
Mg

Cálcio – Ca Ca2+ 40,08 125 - 0,5 25.000

Potássio –
K+ 39,10 250 - 1,0 250
K

Nitrogênio NO3–,
14,01 1 - 1,5 1.000.000
–N NH4+

Oxigênio – O2, H2O 16,00 30 - 45 30.000.000


O

Carbono – CO2 12.01 40 - 45 40.000.000


C

Hidrogênio H2O 1.01 60 - 6 60.000.000


–H

Micronutrientes

Molibdênio MoO42– 95,95 0,001 0,1 - 1


– Mo

Níquel – Ni Ni2+ 58,70 ~ ~ 0,1 - 1


0,001

Cobalto –
Co3+, Co2+ 58,94 0,002 0,1   2
Co

Cobre – Cu Cu+, Cu2+ 63,54 0,10 6 - 100

Zinco – Zn Zn2+ 65,38 0,30 20 - 300

Sódio – Na Na+ 22,91 0,40 10   400

Manganês –
Mn5+ 54,94 1,0 50 - 1
Mn

Ferro – Fe Fe3+, Fe2+ 55,85 2,0 100 - 2

Boro – B H3BO3 10,82 2,0 20 - 2

Cloro – Cl Cl– 35,46 3,0 100 - 3


Soluções nutritivas
Depois de estabelecida a possibilidade de se usar soluções nutritivas em meados do século
XIX, J. Sachs formulou uma solução aquosa muito simples, com apenas seis sais inorgânicos, que
possibilitava o crescimento e maturação de plantas na ausência de solo. As variações desse sistema
conduziram a diferentes técnicas hidropônicas que determinaram a essencialidade dos nutrientes
vegetais (Tabela 2.3).

Tabela 2.3 - Composição mineral da solução nutritiva de Sachs (1860)

Sais Fórmula Concentração (mmol L–1)

Nitrato de cálcio KNO3 9,9

Fosfato de cálcio Ca3(PO4)2 1,6

Sulfato de magnésio MgSO4·7H2O 2,0

Sulfato de cálcio CaSO4 3,7

Cloreto de sódio NaCl 4,3

Sulfato ferroso FeSO4 Vestígios

Além disso, o elevado grau de pureza que se consegue hoje em dia na síntese de sais
inorgânicos, com concentrações muito baixas de impurezas, torna possível ter um controle elevado
na composição mineral das soluções nutritivas. Há um século, essas impurezas eram suficientes
para suprir as necessidades das plantas em micronutrientes, cujo metabolismo vegetal era mais
complicado de se estudar. As soluções nutritivas propostas por Hoagland e Arnon (1950) e por
Hewitt (1966) definiram um marco na investigação nesse campo (Tabela 2.4).
O método hidropônico mais comum atualmente consiste em colocar as plantas para
crescerem em meio inerte, tal como areia de quartzo, vermiculita ou perlite, que não fornecem
nutrientes para elas e apenas servem de suporte físico. Outro método consiste no cultivo puro, em
que não há substrato e as plantas crescem diretamente na solução nutritiva; nesse caso, as plantas
são suportadas por uma espuma ou numa superfície plástica perfurada, e as raízes estão imersas na
solução nutritiva – elas crescem muito mais no sistema de cultivo puro do que num substrato
sólido. No sistema puro é necessário um dispositivo de arejamento, como pequenas bombas de
aquário, de forma a evitar a anoxia radicular.

Tabela 2.4 - Composição de uma solução nutritiva ligeiramente modificada

Composto PM Concentração Volume da Elemento Concentração final por


da solução solução stock químico elemento
stock

g mol–1 mmol g L– mL μmol L–1 mg L–1


L–1 1

Macronutrientes

KNO3 101,10 1.000 101,10 6,0 N 16.000 224

Ca(NO3)2·4H2O 236,16 1.000 236,16 4,0 K 6.000 235

NH4H2PO4 115,08 1.000 115,08 2,0 Ca 4.000 160

MgSO4·7H2O 246,48 1.000 246,49 1,0 P 2.000 62

        S 1.000 32

        Mg 1.000 24

Micronutrientes

KCl 74,55 25 1,864   Cl 50 1,77

H3BO3 61,83 12,5 0,773   B 25 0,27

MnSO4·H2O 169,01 1,0 0,169 2,0 Mn 2.0 0,11

ZnSO4·7H2O 287,54 1,0 0,288   Zn 2,0 0,13

CuSO4·5H2O 249,68 0,25 0,062   Cu 0,5 0,03

H2MoO4(85%
161,97 0,25 0,040   Mo 0,5 0,05
MoO3)
NaFeDTPA 468,20 64 30,0 0,3–1,0 Fe 16,1–53,7 1,00–3,00
(10% Fe)

Opcional

NiSO4·6H2O 262,86 0,25 0,066 2,0 Ni 0,5 0,03

Na2SiO3·9H2O 284,20 1.000 284,20 1,0 Si 1.000 28

Fonte: HOAGLAND; ARNON, 1950; EPSTEIN, 1972.

Um outro grupo de métodos é o chamado de nutrient ilm technique – NFT. Nele o sistema
radicular é umedecido por um filme delgado de solução nutritiva que recircula continuamente. Não
há problemas de anoxia porque o oxigênio dissolvido é substituído sempre que a solução é
bombeada outra vez para o topo do sistema (Figura 2.1).

Figura 2.1 - Aspecto geral de uma estufa de Solar Oásis em Tucson, Arizona, Estados Unidos.
Alfaces crescem numa solução nutritiva pura sem substrato inerte.
Foto: ILDEFONSO BONILLA.
Elementos essenciais

Macronutrientes
Tradicionalmente os elementos essenciais dividem-se em duas categorias: macronutrientes e
micronutrientes. Os elementos dessas duas categorias são igualmente essenciais, mas encontram-se
em concentrações muito diferentes nos tecidos vegetais, dado que as quantidades necessárias no
meio de cultivo também diferem muito. Os macronutrientes incluem os seis elementos estudados
mais à frente – N, P, K, S, Ca e Mg), juntamente com C, O e H. Os macronutrientes estão de forma
majoritária, mas não exclusivamente, envolvidos na estrutura de biomoléculas, e são necessários em
quantidades elevadas. Eles estão sempre presentes nos tecidos vegetais em concentrações superiores
a 0,1% do peso total de matéria seca (Tabelas 2.2 e 2.5).

Tabela 2.5 - Intervalo de concentrações nutritivas em vegetais

Elemento Concentrações Observações


médias

Nitrogênio
5–6
(g/kg)

Fósforo (g/kg) 1,5–5

Enxofre (g/kg) 1–15

Potássio (g/kg) 8–80


Macronutrientes
Cálcio (g/kg) 1–60

Magnésio (g/kg) 0,5–10

Ferro (mg/kg) 20–600

Manganês
10–600
(mg/kg)

Zinco (mg/kg) 10–250 Micronutrientes

Cobre (mg/kg) 2–50


Níquel (mg/kg) 0,05–5

Boro (mg/kg) 0,2–800

Cloro (mg/kg) 10–80.000

Molibdênio
0,1–10
(mg/kg)

Cobalto (mg/kg) 0,05–10 Essencial nos sistemas fixadores de N

Sódio (g/kg) 0,01–80


Essencial para algumas plantas; quase essencial para
muitas plantas
Silício (g/kg) 1–100

Selênio (g/kg) 1–5 Pode ser essencial em plantas Se-acumuladoras

Fonte: BOULD et al., 1983; MENGEL; KIRKBY, 1987; EPSTEIN; BLOOM, 2005.

A essencialidade de todos os macronutrientes já era conhecida em meados do século XIX,


enquanto os micronutrientes só seriam estudados mais tarde (Tabela 2.6).

Tabela 2.6 - Elementos essenciais: funções e sintomas de deficiência

Elementos Funções Sintomas de deficiência

Macronutrientes

Clorose generalizada, em
especial das folhas velhas; em
casos severos, as folhas ficam
Componente de aminoácidos, proteínas,
Nitrogênio completamente amarelas,
nucleotídeos, ácidos nucleicos, clorofilas e
–N morrendo em seguida; algumas
coenzimas.
espécies ficam com a coloração
púrpura devido à acumulação de
antocianinas.

Fósforo – P Componente de compostos fosfatados Plantas verde-escuras que,


transportadores de energia (ATP e ADP), muitas vezes, acumulam
ácidos nucleicos, diversas coenzimas; antocianinas vermelhas ou
fosfolipídeos. púrpuras; caules atrofiados nos
estádios tardios de
desenvolvimento; folhas velhas
ficam castanho-escuras e
morrem.

Participa do balanço iônico e osmótico Folhas cloróticas ou com


responsável pela abertura e fechamento dos pequenas manchas de tecido
Potássio –
estomas; cofator de muitas enzimas (mais de necróticas, em especial nos
K
40). Cátion principal a estabelecer a turgência ápices e nas margens; folhas
celular e manter a eletroneutralidade da célula. velhas afetadas.

Os sintomas típicos de
Destacam-se seus papéis na estabilização de
deficiência de Ca são a
paredes celulares, extensão e divisão celular,
Cálcio – Ca desintegração das paredes
estabilização de membranas e modulação de
celulares e o colapso dos tecidos
enzimas.
jovens.

Folhas cloróticas e manchadas;


Componente da molécula de clorofila; cofator podem ficar avermelhadas, por
Magnésio – de muitas enzimas (necessário para as reações vezes com manchas necróticas;
Mg fotossintéticas que envolvem a liberação de ápices e margens foliares viradas
O2). para cima, sobretudo as folhas
velhas; caules delgados.

Constituinte de alguns aminoácidos e de


proteínas, como a coenzima A (componente da
cisteína, cistina, metionina e proteínas.
Enxofre – S Folhas jovens verde-pálidas.
Constituinte do ácido lipoico, tiamina
pirofosfato, glutationa, biotina, adenosina-5’-
fosfosulfato, e 3-fosfoadenosina).

Macrinutrientes

Boro – B Influencia a utilização do Ca2+, a síntese dos O primeiro sintoma é a cessação


ácidos nucleicos e a integridade da membrana de alongamento dos ápices
(complexos com manitol, manano, ácido radiculares; as folhas jovens
polimanurônico, e outros constituintes das ficam verde-claras na base; as
paredes celulares, como ramnogalacturonano folhas ficam distorcidas e há
II, RG II; envolvido na elongação celular). morte dos meristemas apicais da
parte aérea.
Envolvido no balanço iônico e osmótico;
Murcha foliar com manchas
essencial nas reações fotossintéticas que
cloróticas e necróticas; folhas
produzem oxigênio (envolvido com outros
muitas vezes com cor bronze;
Cloro – Cl cátions cofatores de enzimas; necessário para a
raízes atrofiadas em
atividade de algumas desidrogenases,
comprimento, mas ápices
descarboxilases, quinases, oxidases e
espessos.
peroxidases).

Cofator ou componente de algumas enzimas


envolvidas nos processos de oxidação e
Folhas jovens, verde-escuras,
redução (componente do ácido ascórbico
Cobre – Cu torcidas, disformes e com
oxidase, tirosinase, monoamina oxidase,
algumas manchas necróticas.
urease, citocromo oxidase, fenolase, lacase e
plastocianina).

Necessário para a síntese da clorofila e como


Clorose internervuras das folhas
Ferro – Fe constituinte dos citocromos e dos centros
jovens; caules finos e curtos.
ferro-enxofre (nitrogenase, por exemplo).

Cofator de algumas enzimas; necessário para a


Clorose internervuras das folhas
integridade da membrana do cloroplasto e para
jovens ou velhas, dependendo
a produção de oxigênio (necessário para a
das espécies, seguida de
Manganês atividade de algumas desidrogenases,
manchas necróticas
– Mn descarboxilases, quinases, oxidases e
internervuras, ou associada a
peroxidases. Envolvido com outras enzimas
tais manchas; desorganização
ativadas por cátions e com a evolução do O2
das membranas dos tilacoides.
fotossintético).

Internervuras: clorose que surge


primeiro nas folhas mais velhas
Necessário para a fixação e redução do nitrato e passa de forma progressiva
Molibdênio
(constituinte da nitrogenase, nitrato redutase e para as mais jovens; clorose
– Mo
xantina desidrogenase). seguida de necrose nas áreas
internervuras e posteriormente
nos tecidos restantes.

Zinco – Zn Cofator ou componente de muitas enzimas Redução da área foliar e do


(constituinte da álcool desidrogenase, anidrase comprimento dos entrenós;
carbônica etc.). folhas com margens, por vezes,
distorcidas; cloroses
internervuras; afeta
principalmente as folhas velhas.

Parte essencial do sistema enzimático do


Manchas necróticas nos ápices
Níquel – Ni metabolismo do N (constituinte da urease e de
foliares.
desidrogenases nas bactérias fixadoras de N2).

Fonte: MENGEL; KIRKBY, 1987; MARSCHNER, 2012.

Nitrogênio
Seguindo-se à água, o N é o nutriente mais importante para o crescimento das plantas porque
é constituinte da maioria das biomoléculas da matéria viva. O N também é um elemento-chave na
nutrição mineral, tal como P e K, porque na maioria das vezes os solos são mais deficientes nesses
elementos do que noutros quaisquer. As formas de N preferencialmente absorvidas pelas raízes são
os íons nitrato (NO3–) e amônio (NH4+). As leguminosas e algumas plantas de outras famílias
conseguem adquirir o N2 atmosférico através da simbiose com microrganismos, como Rhizobium e
Frankia (ver Capítulo 4). O amoníaco (gás) também pode ser absorvido pelos estomas. Não é fácil
determinar a reserva dos solos, no que diz respeito ao N, pois existem diversos fatores que
determinam a quantidade de amônio e nitrato disponível. Por exemplo, no caso do nitrato, a
desnitrificação para formas gasosas, a imobilização microbiana e a lixiviação são fatores
determinantes, enquanto, no caso do amônio, a volatilização na forma de amônia, a adsorção pela
fração coloidal argilo-húmica e a nitrificação são cruciais.
A maior parte do N nos solos está na fração orgânica que não pode ser assimilada pelas
plantas. Uma vez que o processo de mineralização do N é habitualmente controlado por
microrganismos, é difícil prever a disponibilidade potencial de N no solo, o que é dificultado se
considerarmos os processos acima mencionados: a desnitrificação e a lixiviação. As práticas
agrícolas comuns, por exemplo, a fertilização com nitrato, têm em geral um enorme impacto
ambiental devido à lixiviação de N e à poluição dos aquíferos.
Na planta, o N existe em três grupos de compostos: mais de 50% estão presentes em
compostos de elevado peso molecular (proteínas e ácidos nucleicos), enquanto os restantes 50%
ocorrem na forma de N-orgânico solúvel (aminoácidos, amidas, aminas etc.) e N-inorgânico
(principalmente os íons amônio e nitrato). O teor total de N varia entre 15 e 50 g/kg do peso total
de matéria seca.
Os sintomas da deficiência de N são característicos de um elemento muito móvel. Eles
incluem cloroses nas folhas velhas, que frequentemente caem antes de desenvolverem necroses. As
folhas de algumas plantas, como tomateiros e algumas variedades de milho, também apresentam
coloração púrpura causada pela acumulação de antocianinas. Na Figura 2.2A pode-se observar um
exemplo de deficiência de N em cafeeiros estabelecidos em campo.
Em excesso, o N resulta no desenvolvimento de folhagem excessiva, com baixa performance,
em espécies tão diversas como citrinos e tomateiros. De modo geral, o crescimento ocorre de
preferência na parte aérea, causando um aumento na razão parte aérea/raiz, exatamente o oposto
do que ocorre numa situação de deficiência de N. O excesso desse macronutriente origina ainda um
atraso na floração e na formação de sementes de algumas espécies.

Figura 2.2 - Sintomas foliares causados por deficiência de macronutrientes em cafeeiros (Co fea
arabica L.): (A) nitrogênio e (B) fósforo.
Fotos: HERMINIA E. PRIETO MARTINEZ.

Fósforo
O P está disponível nos solos na forma de íons fosfato. É absorvido pelas plantas
preferencialmente na forma H2PO4– em solos com pH inferior a 7, e como ânion divalente HPO42–
nos solos básicos, com pH superior a 7. Ao contrário do N, o P não está nas plantas na forma
reduzida porque permanece na forma livre ou em compostos inorgânicos, principalmente ésteres
fosfóricos com grupos hidroxilos, ou formando ligações anidras ricas em energia, como no ATP ou
ADP. O fósforo tem um papel fundamental na fotossíntese, na respiração e em todo o metabolismo
da energia.
O P também tem um papel estrutural importante em muitas moléculas e estruturas celulares,
como no caso das ligações diéster dos ácidos nucleicos nos fosfolipídeos, as quais são essenciais na
estrutura das membranas. No entanto, uma porção significativa dos fosfatos vegetais ocorrem na
forma iônica livre: 75% nos vacúolos e os restantes 25%, na matriz e nos organelos citoplásmicos,
em equilíbrio dentro dos ciclos metabólicos.
O fosfato é facilmente redistribuído entre órgãos na maioria das plantas, e acumula-se nas
folhas jovens, nas flores e nas sementes em desenvolvimento. Os sintomas de deficiência de P, no
entanto, ocorrem primeiramente nas folhas velhas. As plantas deficientes são ananicantes, e as
folhas têm coloração verde-escura, contrariamente ao que acontece com o N. Nessas plantas, a
maturidade é atrasada em comparação com as plantas do controle. No entanto, em muitas espécies
é a razão P/N que regula o processo de maturação: um excesso de N atrasa o processo, enquanto P
em abundância o acelera. Na Figura 2.2B é possível observar um exemplo de árvores com
deficiência em P. Quando em excesso, o P em geral promove o desenvolvimento radicular em
comparação com a parte aérea e, contrariamente ao N, causa um decréscimo na razão parte
aérea/raiz.
Um dos fatores muito importantes na absorção do P em condições naturais é a presença de
micorrizas, que são associações simbióticas entre fungos do solo e as raízes das plantas (para
detalhes ver Capítulo 10).

Potássio
Juntamente com P e N, o K é um dos principais constituintes dos fertilizantes comerciais
devido à importância destes três elementos. O comportamento do K, apesar da sua natureza
catiônica, é muito similar ao apresentado pelo P e N, uma vez que a sua redistribuição dos órgãos
maduros para os órgãos em desenvolvimento é muito fácil em virtude da elevada solubilidade e
baixa afinidade do K em relação aos compostos orgânicos. O K é o cátion mais abundante no
vacúolo e no citoplasma, em que pode atingir concentrações de 150 mmol/L, e no xilema (por
exemplo, de beterraba sacarina), no qual as concentrações podem ser superiores a 2000–5000 mg L–
1
. Esse macronutriente tem um papel-chave tanto na regulação do processo osmótico que ocorre
durante o mecanismo de abertura e fechamento dos estômatos como nos movimentos násticos.
Além disso, o K catalisa imensos sistemas enzimáticos, incluindo oxidorredutases,
desidrogenases, transferases e quinases. Em alguns casos, o K pode potencialmente ser substituído
por outros cátions, porque apenas é necessário para alteração da conformação de apoenzimas, mas é
difícil que in vivo haja outros cátions em concentrações suficientes.
A deficiência de K nas culturas resulta numa elevada suscetibilidade a ataques por agentes
patogênicos radiculares e a caules fracos, o que torna as plantas particularmente sensíveis ao vento,
chuva etc., em especial as monocotiledôneas. Nas dicotiledôneas, os sintomas iniciais de clorose
surgem primeiro nas folhas adultas, que mais tarde se tornam necróticas; ocorre atraso no
crescimento, perda de turgência e morte fulminante, especialmente quando há déficit de água
(Figura 2.3A, B).
Figura 2.3 - Sintomas foliares causados pela deficiência de K em cafeeiro (Co fea arabica L).
Fotos: HERMINIA E. PRIETO MARTINEZ.

Em condições de excesso, a concentração de K aumenta nas plantas, mas não nas sementes, e
o respectivo consumo de luxo pode interferir na absorção e na disponibilidade fisiológica de outros
elementos, como Ca e Mg.

Enxofre
As plantas absorvem o S na forma de ânion sulfato (SO42–), que também é transportado no
xilema nessas formas químicas. O S também pode ser absorvido pelos estômatos foliares como
dióxido de enxofre (SO2), um poluente atmosférico produto da combustão do carvão, da madeira e
do óleo. O óxido de enxofre reage com água dentro das células e forma bissulfito (HSO3–), o qual
pode remover o Mg da molécula de clorofila, resultando num decréscimo na fotossíntese. O S
ocorre como sulfato nos sulfolipídeos e heteropolissacarídeos, e na forma reduzida (a redução
ocorre preferencialmente nos cloroplastos) em aminoácidos, a exemplo da metionina e cisteína. Do
mesmo modo, está presente em diferentes coenzimas como a tiamina, biotina e coenzima A, um
elemento-chave na ativação dos ácidos orgânicos, nos processos de síntese e degradação dos ácidos
graxos e na respiração celular. Os grupos –SH são cruciais para diversas reações enzimáticas, pois a
atividade é controlada pelo estado de oxidação desse grupos, na forma reduzida ou oxidada.
Recentemente, descobriu-se a capacidade das fitoquelatinas – uma família de proteínas de baixo
peso molecular que contêm diversos aminoácidos com S (principalmente cisteína) – de
complexarem metais pesados (Cd, Cu, Pb etc.), constituindo, assim, relativamente, um dos
principais mecanismos de defesa das plantas contra esses elementos tóxicos.
As deficiências de S são frequentes em solos tropicais e noutros de pH ácido; pelo contrário,
não são muito comuns em solos de pH neutro ou básico porque os sulfatos existem, habitualmente,
em quantidades suficientes no solo. Quando as plantas crescem em condições de baixa
disponibilidade de S, surgem cloroses nas folhas e nos vasos condutores. Os sintomas dessa
deficiência surgem inicialmente nas folhas mais jovens porque, em muitas espécies, a redistribuição
do S dos tecidos maduros não é tão boa como a de P e K. As plantas deficientes de S apresentam um
decréscimo no crescimento e ficam hirtas e quebradiças, com os cloroplastos mais afetados em nível
celular. A concentração adequada de S, em muitas culturas, é de aproximadamente 1/15 da
concentração de N.

Cálcio
O Ca é absorvido como íon divalente Ca2+. Ele é abundante em grande parte dos solos, porém
constitui-se um fator limitante em solos tropicais ácidos a que sais de Ca, principalmente
carbonatos, precisam ser adicionados para aumentar o pH. Como o Ca é muito mais móvel no
apoplasto do que no simplasto, pode ser limitante nos órgãos vegetais que recebem água
prioritariamente por essa via. Em hidroponia, a deficiência de Ca é caracterizada pelo pobre
desenvolvimento radicular. Nas plantas, os sintomas da deficiência de Ca são sempre mais
evidentes nas partes jovens e nos tecidos meristemáticos das raízes, caules e folhas. Há duas razões
que justificam esse fato: primeiro, a divisão celular é afetada pela deficiência de Ca e o índice
mitótico desses tecidos é elevado; segundo, a lamela média que se forma entre duas células filhas é
afetada porque tem pectato de cálcio como um dos componentes principais.
A concentração intracelular de Ca é muito baixa, cerca de 1 µmol/L, apesar de ele ser
absorvido em elevadas quantidades e da sua concentração ser usualmente equivalente à do P, S ou
Mg, chegando por vezes a ser superior a 1% do peso de matéria seca – MS. A maioria do Ca
encontra-se nas membranas e também no exterior da parede celular, como ácido péctico na lamela
intermediária. No interior das células, o Ca existe nos vacúolos, nos quais, devido ao baixo pH,
pode se precipitar a partir de diferentes ânions, como oxalatos, fosfatos, carbonatos, sulfatos etc.,
dependendo das espécies vegetais. No entanto, a concentração do Ca no citosol permanece muito
baixa. Apesar de o Ca ativar enzimas, muitas outras são inibidas em concentrações desse
macronutriente acima de 1 µmol/L. As baixas concentrações de Ca são mantidas pela baixa
permeabilidade das membranas a esse íon e também pela existência de transportadores nas
membranas (principalmente Ca2+/H+-ATPases), bombas de Ca do citosol para o apoplasto, ou para
os compartimentos intracelulares, como os vacúolos, retículo endoplasmático e cloroplastos. Para
concentrações elevadas de Ca, é mínimo o fluxo (macronutriente) citoplásmico pelo qual ocorrem
sais insolúveis com o ATP e outros fosfatos orgânicos.
O Ca também é necessário para a integridade e a funcionalidade das membranas. Ele foi
recentemente identificado como mensageiro secundário, envolvido no funcionamento de
determinados hormônios e em respostas ambientais. Como mensageiro secundário, o Ca participa
na regulação da atividade de enzimas envolvidas nos processos de fosforilação. O Ca tem papel
importante na conformação de diferentes enzimas pela sua capacidade de se ligar reversivelmente,
no citosol, a uma proteína pequena, a calmodulina, a qual tem uma função-chave na sinalização e
no desenvolvimento de células vegetais, tal como já foi demonstrado para as células animais.
Nas últimas décadas, a investigação em Ca aumentou exponencialmente. Com o recurso a
tecnologias capazes de identificar e quantificar alterações mínimas na concentração intracelular de
Ca ([Ca2+]i), tem sido possível confirmar o envolvimento desse nutriente como mensageiro
secundário nas respostas de transdução, em cascata, que ocorrem nas plantas, em reação a uma
diversidade de sinais extracelulares. Nesse contexto surgiu o conceito da “assinatura- Ca2+”: as
pequenas variações na [Ca2+]i podem ser responsáveis, pelo menos em parte, pelos mecanismos de
resposta e adaptação a alterações de pH, luz e temperatura no ambiente.

Magnésio
Excetuando-se solos ácidos ou arenosos, a escassez de Mg não costuma comprometer o
crescimento das plantas. Ele é absorvido como íon divalente Mg2+ e comporta-se como um
elemento muito móvel tanto na planta como na célula.
Em situação de deficiência de Mg, os sintomas surgem nas folhas adultas, já que esse
macronutriente é remobilizado para as folhas mais jovens. Os sintomas são muito típicos e
caracterizam-se por uma clorose internervuras, já que, por alguma razão, a clorofila permanece por
mais tempo nas células do mesofilo em volta das nervuras. Aproximadamente 20% do total de Mg
das folhas encontra-se nos cloroplastos, enquanto só entre 10 e 20% desse elemento está nas
moléculas de clorofila. No escuro, o restante de Mg, existente no espaço intratilacoidal do
cloroplasto, está na forma iônica e solúvel no escuro. Quando se inicia a iluminação, o Mg é
transportado para o estroma do cloroplasto, no qual capta enzimas importantes, como a Rubisco, a
fosfoenolpiruvato carboxilase e a glutamato sintase.
A alocação fotossintética do C e do N depende em larga extensão da concentração de Mg2+ no
cloroplasto. O Mg também está envolvido no metabolismo energético da planta através dos
complexos que forma com o ATP, pois as ATPases usam o complexo Mg-ATP como substrato. O
processo de fosforilação do ADP em ATP também requer Mg2+.
O papel do Mg em processos-chave do metabolismo vegetal deve-se à sua capacidade de
estabelecer dois tipos de ligação: iônica e covalente (como no caso da clorofila). Por exemplo, o Mg
é crucial na conformação e estabilização das subunidades dos ribossomas, processo necessário para
que ocorra a biossíntese proteica, e também na ativação da RNA-polimerase, enzima necessária à
transcrição da informação genética. Por esse motivo, o aumento da proporção do N não proteico
solúvel pode ser usado como parâmetro de diagnóstico da deficiência de Mg.

Micronutrientes
Os restantes oito elementos essenciais – Fe, Mn, Zn, Cu, B, Mo, Cl e Ni – classificam-se como
micronutrientes. Eles são tão essenciais como qualquer macronutriente e têm, portanto, a mesma
importância. O nome do grupo refere-se à baixa concentração desses elementos nos tecidos
vegetais, que habitualmente estão abaixo de 0,01% – menos do que 3 µmol g–1 ou 0,1–100 µg g–1 do
peso de matéria seca (Tabela 2.2).
Contrariamente ao sucedido com os macronutrientes e com a exceção do Fe, a essencialidade
dos micronutrientes só foi estabelecida durante o século XX. Esse fato deveu-se às baixas
concentrações necessárias para as plantas atingirem o seu desenvolvimento normal. As impurezas
existentes nos sais usados com frequência na preparação das soluções nutritivas eram suficientes
para satisfazerem as necessidades em micronutrientes das plantas e de outros organismos
fotossintéticos. A lista de micronutrientes pode ainda estar inclusa, pois o desenvolvimento de
novas técnicas analíticas (o grau de sensibilidade para a detecção de elementos aumentou várias
ordens de magnitude) e a pureza extrema com que, atualmente, se obtêm os sais usados na
preparação de soluções nutritivas podem ajudar a descobrir, no futuro próximo, mais
micronutrientes essenciais. O último elemento aceito como micronutriente foi o Ni, em 1987.
No entanto, hoje em dia, os tópicos mais estudados vão além da procura de novos
micronutrientes e relacionam-se com a manutenção da homeostase dos micronutrientes nas
plantas. A homeostase é definida como a tendência para um equilíbrio relativamente estável entre
elementos interdependentes, em especial mantidos por processos fisiológicos. Os micronutrientes
são essenciais para as plantas, mas quando se acumulam em excesso – o que pode ocorrer muito
facilmente – podem ser fitotóxicos. De um ponto de vista fisiológico, a homeostase requer a
coordenação de pelo menos quatro processos fundamentais: mobilização dos micronutrientes na
rizosfera e absorção pelas raízes; translocação e transporte no xilema; aquisição, uso e
armazenamento na folha; e, finalmente, remobilização via floema. A maioria do conhecimento
atual sobre micronutrientes na planta relaciona-se com a sua aquisição pelas raízes e a localização e
mecanismos de armazenamento nas células e órgãos vegetais, e pouco se sabe sobre o transporte a
longa distância, tanto no xilema como no floema. De fato, a diferente tolerância que as espécies
vegetais apresentam a elevadas concentrações desses elementos pode estar relacionada com a
expressão diferencial de proteínas de transporte que poderão potenciar uma melhor alocação e
compartimentação do elemento.
A concentração de micronutrientes nas plantas tem um impacto elevado na produção e na
qualidade dos produtos agrícolas. Em consequência, nas últimas décadas o uso de fertilizantes com
micronutrientes aumentou, em especial nas culturas agronomicamente relevantes (Tabelas 2.5 e
2.6).

Ferro
O Fe é exigido em maiores quantidades pelas plantas e até foi considerado um macronutriente
em algumas espécies vegetais. O Fe pode ser absorvido pelas plantas como íon férrico [Fe(III) ou
Fe3+] e mais facilmente, devido à sua elevada solubilidade, como íon ferroso [Fe(II) ou Fe2+].
A deficiência de Fe em solos calcários é muito frequente em virtude da baixa solubilidade das
diferentes formas de Fe em pH básico. Na verdade, o Fe foi um dos primeiros elementos
estabelecidos como essenciais, não só pela observação frequente de deficiências, como também pela
especificidade dos sintomas de deficiência. As plantas, quando deficientes em Fe, apresentam
clorose internervuras das folhas jovens seguida, por vezes, de uma clorose foliar homogênea. Em
casos de deficiência extrema, a folha pode ficar quase branca, como acontece nos citrinos e em
outras árvores frutíferas.
O Fe acumula-se nas folhas velhas e, pensa-se, é relativamente imóvel no floema devido à
formação de óxidos e fosfatos férricos, assunto que ainda não está esclarecido o suficiente. Nos
cloroplastos acumula-se uma reserva abundante e estável; aproximadamente 80% do Fe foliar
localiza-se nesses organelos, como constituinte dos muitos compostos com atividade redox
existentes na membrana do tilacoide, e também armazenado na proteína fitoferritina. A deficiência
de Fe altera a estrutura do cloroplasto, induzindo a tão conhecida clorose férrica. Culturas como os
citrinos e outras fruteiras são particularmente sensíveis à deficiência de Fe porque é comum serem
cultivadas em solos com pH alto. Nessas culturas, a fertilização anual com quelatos de Fe
(complexos orgânicos com Fe, ver Capítulo 11) muitas vezes é a única maneira de controlar a
clorose (Figura 2.4A, B, C e D).
A importância do Fe nas plantas, assim como nos animais, reside principalmente em duas
funções:
• É constituinte do grupo catalítico heme, tipo-(ferro-porfirina) de muitas enzimas redox; inclui
citocromos (tanto mitocondrial como cloroplástico), catalases, peroxidases etc.;
• Está associado aos grupos tiol (cisteína). Essas proteínas são chave na fotossíntese (ferredoxina,
nitrito redutase e sulfito redutase), na fixação do N (nitrogenase) e na respiração. O Fe
desempenha um papel de transportador de elétrons nessas proteínas devido aos seus dois
estados redox (Fe3+/Fe2+).
Figura 2.4 - Clorose foliar motivada pela deficiência do micronutriente Fe em: (A)
pessegueiro (Prunus persica L.); (B) macieira (Malus domestica Borkh.); (C) oliveira (Olea europaea L.);
e em plantas de (D) soja (Glycine max L.). O pessegueiro, a macieira e a oliveira cresceram em
campo; as plantas de soja, em solução nutritiva.
Fotos: JAVIER ABADÍA.

Estratégias I e II desenvolvidas por raízes de plantas com deficiente absorção de Fe


A Estratégia I é um processo comum às dicotiledôneas e monocotiledôneas não gramíneas, e a
Estratégia II é frequente nas gramíneas. O processo de liberação dos fitosideróforos – FS ainda não
foi esclarecido. No entanto, os genes que codificam a enzima férrico redutase – FCR e os vários
transportadores da membrana são conhecidos em muitas espécies (ABADÍA et al., 2011).
Existem imensos dados sobre a cinética e a bioquímica da aquisição de micronutrientes pelas
raízes. Nesses processos estão envolvidos transportadores de baixa e alta afinidade, e muitos deles
são desconhecidos em nível molecular. Com exceção do B, que é absorvido de modo passivo, a
absorção de outros micronutrientes envolve proteínas de transporte de cátions e ânions, os quais
têm uma seletividade baixa. Salvo para o Cl, os mecanismos de absorção dos micronutrientes ainda
não estão totalmente identificados.
As plantas desenvolveram duas estratégias diferentes para adquirirem Fe da rizosfera: a
indução de uma FCR da membrana plasmática localizada nas células da epiderme radicular
(Estratégia I) e a indução da excreção de moléculas complexantes do Fe denominadas por
fitosideróforos.
Estratégia I: é característica das dicotiledôneas e das monocotiledôneas, não gramíneas. Essas
plantas, quando crescem em solos com baixas concentrações de Fe, induzem alterações
morfológicas na zona subapical das raízes, que incluem o aparecimento de células de transferência e
aumentos na atividade da FCR, que reduz o Fe(III) a Fe(II). Também se observa aumento da
atividade de uma ou mais ATPases, que levam à acidificação do apoplasto radicular e da rizosfera,
ampliando a solubilidade do Fe(III). Por sua vez, eleva a atividade do transportador de Fe(II) que
possibilita a entrada do Fe após a redução pela FCR na célula. Estes três sistemas são induzidos pela
deficiência de Fe no meio de cultivo: H+-ATPase, FCR e transportador da membrana.
As espécies da Estratégia I também acumulam e/ou excretam compostos fenólicos e
acumulam ácidos orgânicos, principalmente citrato e malato. Apesar de o motivo para a ocorrência
desses processos ser incerto, a acumulação de ácidos orgânicos tem sido associada ao aumento da
atividade da enzina fosfoenol piruvato carboxilase – PEPC, responsável pela fixação direta do C a
partir do bicarbonato nas raízes.
As espécies vegetais que desenvolvem a Estratégia I incluem beterraba, ervilha, tomate, soja e
árvores frutíferas.
Estratégia II: desenvolvida por espécies gramíneas, como arroz, aveia e trigo, que, quando
sujeitas à deficiência de Fe, excretam para o meio de cultivo fitosideróforos ou aminoácidos não
proteinogênicos, capazes de quelatar o Fe(III) tal como outros metais, presente no solo. A natureza
química dos fitosideróforos depende das espécies, e o mecanismo de excreção envolve o
transportador da membrana plasmática TOM1. Tem sido demonstrada a existência de uma relação
entre a quantidade de fitosideróforos liberados e o grau de severidade da clorose.
De modo subsequente, os complexos formados entre os fitosideróforos e o Fe(III) são
absorvidos através de um sistema de transporte de elevada afinidade, sem necessidade de uma
redução prévia. Assim que esse complexo atinge o citosol, o Fe(III) liberta-se, e o FS ou é
degradado, ou é novamente liberado para a rizosfera. A taxa de absorção desses complexos também
se relacionou, diretamente, com a gravidade da clorose. A Figura 2.5 ilustra o processo.
Adicionalmente, há outra razão para a essencialidade do Fe que só ocorre nas plantas: o seu
papel na biossíntese da clorofila, uma vez que regula a atividade do sistema enzimático responsável
pela formação do ácido delta-aminolevulínico – ALA. Esse ácido é um precursor das porfirinas e
pela conversão da Mg-protoporfirina em protoclorofilídeo.
Figura 2.5 - Estratégias de aquisição do Fe.
Fonte: Adaptado de MARSCHNER, 2012.

Manganês
O Mn tem vários estados de oxidação. No solo, ele está habitualmente na forma de vários
óxidos muito insolúveis. O Mn é principalmente absorvido como cátion divalente Mn2+ após
redução dos óxidos desse elemento próximo da superfície radicular.
A deficiência de Mn também origina cloroses, no entanto surgem com mais frequência nas
folhas desenvolvidas, e não nas mais jovens (esse aspecto pode ajudar a diferenciar o diagnóstico
entre a deficiência de Mn e a de Fe, já que esta ocorre em geral nas folhas mais jovens). Um
exemplo de deficiência de Mn em pessegueiro pode ser observado na Figura 2.6A. A clorose
também é internervuras e pode estar associada ao aparecimento de pequenas manchas necróticas. A
deficiência de Mn pode ser um fator limitante em solos muito ácidos com pH inferior a 6, em solos
com elevado teor de matéria orgânica e em solos calcários fertilizados com Fe.
Por meio da microscopia eletrônica foi possível observar que a deficiência de Mn induz uma
ruptura específica da membrana do tilacoide e efeitos menos pronunciados na membrana do núcleo
e da mitocôndria.
Apesar de ativar diversas enzimas, a presença do Mn só foi demonstrada em dois casos:
primeiro, numa proteína que quebra a molécula da água no fotossistema II e requer pelo menos
quatro átomos de Mn por local de reação. Como não há fotossistema II nos heterocistos – células
especializadas na fixação do N de algumas cianobactérias filamentosas – estes não têm Mn.
Segundo, como constituinte da Mn superóxido dismutase – Mn-SOD, uma das isoenzimas SOD
presentes na mitocôndria e nos peroxissomas, e, em algumas espécies (por exemplo, no tabaco, mas
não na ervilha), também nos cloroplastos. Essas enzimas, juntamente com outras formas de SOD
que contêm Cu e Zn, constituem um conjunto de enzimas envolvidas na defesa dos radicais livres
de superóxido )O2–) originados em diferentes reações enzimáticas.
O Mn também está envolvido como cofator de diversas enzimas do ciclo de Krebs
(descarboxilases e desidrogenases), apesar de poder ser substituído por outros cátions divalentes,
especialmente pelo Mg2+, tal como no caso da isocitrato desidrogenase. O Mn também está
envolvido na ativação da arginase, uma enzima-chave no ciclo da ureia que converte a arginina em
ornitina e ureia, e da enzima málica que é dependente da NAD- das plantas C4.

Figura 2.6 - Sintomas foliares induzidos pela deficiência de micronutrientes em árvores


implantadas em campo: (A) Mn em pessegueiro (Prunus persica L.); (B) Zn em cafeeiro
(Co fea arabica L.); e (C) Zn em laranjeira (Citrus sinensis L.).
Fotos: Pedro José Correia e Herminia E. Prieto Martinez.

As deficiências de Mn não são tão frequentes, pois, salvo as exceções acima mencionadas, o
Mn pode ser substituído pelo Mg. No entanto, um excesso de Mn pode causar deficiência de Fe
porque ambos os elementos partilham passos comuns na absorção e, possivelmente, no processo de
transporte nas plantas.

Cobre
A deficiência de Cu é menos comum nas plantas, pois ele é necessário em quantidades bem
pequenas e está muito disponível em solos de pH neutros ou básicos. A deficiência, porém, pode
ocorrer em solos ácidos. Os efeitos da deficiência de Cu são frequentemente estudados através de
experiências conduzidas com soluções nutritivas em ambiente controlado.
As plantas absorvem o Cu como cátion divalente ou cúprico (Cu2+) em solos arejados, e como
íon cuproso (Cu+) em solos pobres em oxigênio ou com elevado teor em água, como ocorre nos
solos alagados dos manguezais. A forma divalente é a mais facilmente quelatada por diversos
componentes orgânicos do solo, o que também pode acontecer em soluções nutritivas em que o
nível de Cu tem de ser monitorado para evitar a fitotoxicidade.
A essencialidade do Cu pode ser explicada pela sua presença em várias proteínas e enzimas
envolvidas em processos de oxidação/redução. Dois sistemas-chave nessas funções são a
plastocianina, proteína envolvida na cadeia transportadora de elétrons da fotossíntese, e a enzima
citocromo c oxidase, que catalisa o transporte de elétrons para o oxigênio nas cristas da membrana
interna da mitocôndria na respiração. O Cu é inclusive um componente da enzima fenolase, que
oxida os fenóis e está relacionada com a biossíntese da lignina, uma vez que participa da síntese de
alguns dos seus precursores. De fato, um dos primeiros sinais da deficiência de Cu é um decréscimo
da lignificação e uma acumulação de fenóis, o que também se observa na deficiência de B.

Zinco
O Zn é absorvido como cátion divalente (Zn2+) pelo menos nos casos em que está quelatado
com ligandos orgânicos. A disponibilidade de Zn pode ser baixa tanto em solos básicos como em
solos ácidos, sempre que o material originário for pobre nesse elemento. A deficiência de Zn induz
uma clorose internervuras, que se observa frequentemente em milho, feijão, sorgo e árvores
frutíferas, e se associa ao papel do Zn na estabilização da molécula de clorofila. Na Figura 2.6B é
possível observar os sintomas de deficiência de Zn em cafeeiro estabelecido em campo. Os sintomas
mais típicos dessa deficiência são a diminuição do crescimento foliar e a diminuição do
comprimento dos entrenós, em especial nas espécies lenhosas. A redução do crescimento do caule
tem sido associada à produção do ácido indolacético – AIA, uma das auxinas mais comuns. Há uma
relação direta entre os níveis de Zn e a concentração de auxinas, a qual decresce imediatamente
antes de os sintomas se tornarem visíveis. Existem evidências do papel do Zn na síntese do
triptofano, um aminoácido precursor desse hormônio.
O Zn é necessário para a atividade de pelo menos 80 sistemas enzimáticos e integra a
estrutura enzimática sem alteração do estado de oxidação. Alguns exemplos são a NADH-
desidrogenase, a álcool desidrogenase (que catalisa a passagem do etanol a acetaldeído na
fermentação alcoólica) e as cinco anidrases carbônicas já descritas, as quais aceleram a hidratação
reversível do dióxido de carbono a bicarbonato nos tecidos fotossintéticos. Todas as formas
conhecidas de anidrases carbônicas têm Zn como um componente estrutural. Juntamente com o
Cu, o Zn está presente em alguns tipos de superóxidos dismutase – SOD, enzimas que existem no
citoplasma e em diferentes organelos da célula e que estão envolvidas nos mecanismos de defesa
celulares contra os radicais superóxidos.
Finalmente, deve ser salientada a participação do Zn na estabilidade do ribossoma e a sua
presença na enzima RNA polimerase, tornando-o possível regulador da expressão genética.

Molibdênio
O Mo existe no solo principalmente na forma de molibdenite (MoS2) e de sais de molibdato
(MoO42– ou HMoO4–). A solubilidade do Mo aumenta com o pH. Na forma de molibdato, o Mo
tem valência de 6+, enquanto nos sais com S ocorre como Mo4+. O papel do Mo nas plantas está
relacionado sobretudo com as reações redox, como constituinte de sistemas enzimáticos essenciais
para as plantas superiores, algas e cianobactérias.
Devido à baixa demanda por Mo, o modo como é absorvido e transportado para as células
vegetais é pouco conhecido. De qualquer modo, o Mo é indubitavelmente essencial, apesar dos
valores muito baixos requeridos pelas plantas. A deficiência em Mo é pouco comum, destacando-se
em algumas áreas no leste do Brasil, no sul dos Estados Unidos e na Austrália, em culturas como a
da couve-flor e brócolis. O Mo é constituinte da nitrato redutase, enzima-chave na assimilação do
N e responsável pela redução do nitrato a nitrito. O Mo também é um cofator da enzima
nitrogenase, fundamental na fixação biológica do N atmosférico, e está presente em todos os
microrganismos capazes de efetuarem esse processo, livre ou simbioticamente (ver Capítulo 4). O
Mo também está envolvido na degradação – catabolismo – de purinas, como a adenina e guanina,
pois é constituinte da enzima xantina desidrogenase. Finalmente, parece estar envolvido na síntese
do ácido abscísico – ABA, como parte estrutural da enzima que origina esse ácido.

Boro
O B foi identificado como elemento essencial há mais de 80 anos, mas é o micronutriente cujo
papel fisiológico e bioquímico nas plantas é o menos compreendido. O B tem, possivelmente, com
exceção do C, a química mais interessante e diversa de todos os elementos. O B também parece ser
essencial nas plantas vasculares, diatomáceas e cianobactérias filamentosas fixadoras de N, mas a
necessidade para o B não é generalizada a todas as bactérias, algas verdes, fungos e animais, apesar
do aumento das evidências do papel desse elemento no desenvolvimento animal. Esses fatores
fazem com que o estudo do B como micronutriente seja extremamente interessante.
Nos últimos anos, o transporte de B na planta tem sido estudado sob um ponto de vista
molecular. Até agora considerava-se que o ácido bórico era a forma habitual de absorção e
transporte pela planta, pois, de acordo com as suas propriedades, podia atravessar a membrana
lipídica sem recorrer a canais nem a transportadores. Contudo, têm sido descobertas diferentes
formas de transporte, específicas para B, designadamente o transportador BOR1 para o
carregamento no xilema, e o canal N5P;1 para a captação desse micronutriente da rizosfera;
posteriormente foi também identificado o gene NIP;6-1, envolvido na distribuição preferencial do B
pelas partes jovens da planta. Por último, foi encontrado o gene BOX 4, responsável pela exclusão
de B quando em condições de toxicidade.
Atualmente foi verificado que a deficiência de B afeta a diferenciação celular nas regiões
próximas do ápice radicular, diminuindo o alongamento celular e induzindo o fenótipo “peludo”
associado à inibição da divisão celular e ao desaparecimento do centro quiescente – tudo na raiz de
Arabidopsis. Paralelamente a essas alterações meristemáticas, há acumulação de calose, lignina e
glicoproteínas em plantas deficientes em B, sem que esse micronutriente afete a síntese de tais
compostos. Deduz-se que tal acumulação se deve a uma alteração de endomembranas, fato
evidenciado pelo aumento significativo de vesículas intracelulares. Os mecanismos de glicosilação,
contudo, que também poderiam ser a causa dessa acumulação, não são alterados. As N-
glicoproteínas apresentam uma interação in vivo com o B e podem ter um papel-chave como sinais
de crescimento ou de diferenciação celular, não só em plantas como também em animais.
Uma vez que aproximadamente 95% do B está na parede celular, a função desse elemento nas
plantas parece ser, sobretudo, estrutural. As monocotiledôneas têm menores necessidades de B, e a
fração da pectina também é menor do que nas dicotiledôneas, sugerindo que o B está
preferencialmente afeto à sua importante função nas paredes celulares. A afinidade do B para
estabelecer ligações com os grupos éster cis-dióis pode explicar o papel desse micronutriente na
estabilidade da parede celular.
Julgava-se que o B não estaria diretamente envolvido em funções enzimáticas porque ele não
tem alterações de estado redox nem faz parte de nenhum cofator estrutural ou sistema enzimático.
No entanto, tem sido demonstrado que a deficiência de B induz uma inibição da glicose-6-fosfato
desidrogenase – G6PD, pois em déficit verifica-se um decréscimo na concentração dos complexos
formados entre o B e o 6-P-gluconato. Esse fato faz com que o metabolismo da glucose seja
conduzido de preferência por via da pentose em vez da glicólise, o que resulta na acumulação de
compostos fenólicos, os quais são muito tóxicos, na raiz e na parte aérea, mesmo a concentrações
inferiores a 1 µmol L–1, explicando o estresse verificado em plantas deficientes. Ademais, a
deficiência de B é acompanhada por um aumento nos níveis de auxinas AIA, pois a inibição da
enzima ácido indolacético oxidase é originada pela acumulação de fenóis, como dos ácidos cafeico e
clorogênico.
Para além disso, o B tem sido relacionado com os principais processos fisiológicos na planta:
divisão celular e crescimento, germinação, regulação hormonal etc. Em consequência, as plantas
deficientes em B apresentam um conjunto amplo de sintomas que dependem da idade e do tipo de
planta. Um dos primeiros sinais dessa deficiência é a inibição de crescimento e desenvolvimento
das raízes primárias e secundárias. A divisão celular para nos caules e nas folhas jovens, seguida
pelo aparecimento de necroses e pela morte de todo o meristema, possivelmente relacionado com o
papel do B na síntese do uracilo. Considerando que o B também estimula o alongamento do tubo
polínico, consegue-se perceber o porquê de os sintomas da deficiência em B serem tão espetaculares
(Figura 2.7A). Por exemplo, a tão conhecida “podridão do coração da raiz” em beterraba sacarina,
que corresponde à produção de raízes ocas que impedem a acumulação de sacarose. Atualmente
pensa-se que a razão B/Ca pode ter um papel importante não apenas na estrutura, mas também na
transdução de sinal.
Recentemente foi evidenciado que o B é essencial não só para as plantas e bactérias, mas
também animais, incluindo humanos. Tais ensaios mostraram que o B é um elemento muito
dinâmico que afeta um espectro muito amplo de funções biológicas, sugerindo um efeito
pleiotrópico.

Cloro
O Cl ocorre principalmente como íon cloreto (Cl–). Ele é ubíquo na natureza e tem alta
solubilidade. Essencial para as plantas como micronutriente, a sua presença está ligada a mais de
130 compostos orgânicos cujas concentrações atingem valores típicos de macronutrientes. A
maioria das plantas absorve de 10 a 100 vezes mais Cl– do que o necessário. A solubilidade do Cl– é
elevada, e o Cl é transportado nessa forma, quer no xilema, quer no floema. A elevada mobilidade
do Cl torna-o crucial para as plantas por duas razões principais:
1) Manutenção do gradiente de pH entre o citosol e o vacúolo, pela ativação de Mg, Mn-
ATPase.
2) Papel de soluto osmoticamente ativo. Por exemplo, pela função que tem, juntamente com o
K, no mecanismo de abertura e fechamento dos estômatos, e também noutros processos násticos.
No entanto, o papel principal do Cl– tem a ver com o seu envolvimento na fotólise da água e
na libertação de oxigênio no fotossistema II. Esse fato foi demonstrado por Warburg em 1944, mas
o mecanismo exato ainda não é totalmente conhecido. De qualquer modo, o Cl é imprescindível
para a estabilidade dos cloroplastos, provavelmente por ter um papel de proteção na oxidação dos
componentes lipoproteicos da membrana do tilacoide.
A deficiência de Cl não é comum na natureza porque a sua disponibilidade nos solos é
elevada; apenas pode ser observada quando induzida em ensaios, controlados, estabelecidos em
solução nutritiva. Quando surge, a deficiência está associada com elevadas diminuições no
comprimento radicular, apesar de as áreas subapicais se apresentarem engrossadas. As folhas
sofrem redução no crescimento, com manchas cloróticas e necróticas, e ficam muitas vezes
acastanhadas.
Figura 2.7 - A) Feijão (Phaseolus vulgaris L.) desenvolvido em condições de fixação de nitrogênio:
em (I) plantas controle e submetidas a 0,1 mg/L de B e deficientes com 28 dias de
crescimento; destaque para as raízes noduladas do controle (II) e das plantas
deficientes (III). B) Beterraba sacarina (Beta vulgaris L.) cultivada em solução nutritiva
com condições tóxicas (I) e adequadas do micronutriente (II).
Fotos: IDELFONSO BONILLA.
Níquel
O Ni foi recentemente incluído na lista dos elementos essenciais para as plantas. Ele é um
metal abundante na natureza e está sempre presente nos tecidos vegetais apesar das concentrações
muito baixas (0,05 a 5 mg kg–1 na matéria seca). Uma das dificuldades em definir o seu papel
essencial é a baixa quantidade necessária desse nutriente para planta – estima-se que
aproximadamente 200 µg de Ni são suficientes para ela completar o ciclo de vida; essa quantidade
de outros elementos pode ser encontrada, por exemplo, numa só semente. As quantidades
requeridas são tão mínimas que as impurezas existentes nos sais são suficientes para suprir as
necessidades das plantas, sendo desnecessário adicionar Ni aos meios de cultivo.
Os dados que demonstram a essencialidade do Ni provêm de estudos com cereais, pecaneiras
e leguminosas, principalmente das espécies com capacidade de desenvolver nódulos, como o feijão
e a soja. Nessas leguminosas, o NH4+ fixado pelas raízes é transportado via xilema para a parte aérea
e via floema das folhas velhas para as folhas em desenvolvimento e sementes, na forma de ureídeos,
principalmente de ácido alantoico e de citrulina. O metabolismo desses ureídeos envolve a
formação de ureia, que só poderá ser hidrolisada na presença de urease, uma enzima que contem
Ni. Se o Ni não estiver em quantidades suficientes, a concentração de ureia aumenta e acumula-se
em níveis tóxicos, originando necroses nos ápices foliares. Uma vez que a degradação das purinas
(adenina, guanina) ocorre em todas as plantas via ureídeos, o Ni será essencial para todas as
espécies vegetais, e não só para as leguminosas. A essencialidade do Ni foi demonstrada em ensaios
com cevada que cresceu num meio sem Ni: ao fim de três gerações, as sementes perderam a
capacidade de germinar e apresentaram anormalidades estruturais.
Em algumas microalgas azuis (cianobactérias), como as Oscillatoria, o crescimento ótimo só é
obtido quando há 0,05 µmol L–1 de Ni no meio de cultura. Várias bactérias têm uma dependência
nítida da presença de Ni, mas o caso mais bem conhecido é o das espécies de Rhizobium, nas quais o
Ni é constituinte da enzima hidrogenase que catalisa a oxidação reversível do H no processo de
fixação do N (ver Capítulo 4).
Elementos benéficos
Adicionalmente aos 17 elementos descritos, muitas plantas têm necessidades especiais. Como
esses elementos não são necessários a todas as espécies vegetais, não podem ser considerados
essenciais – são definidos, portanto, como elementos bené icos. Eles devem preencher, pelo menos
em parte, a falta de um elemento essencial ou aumentar a tolerância à absorção excessiva de outros
elementos. Por exemplo, o Si pode proteger as elevadas concentrações de Mn e Fe observadas em
solos ácidos e, desse modo, reduzir bastante os sintomas de toxicidade.

Sódio
O Na está habitualmente presente na forma de cátion monovalente. Algumas plantas, como as
halófitas, têm Na em concentrações típicas de um macronutriente. No entanto, esse fato deve-se a
um mecanismo adaptativo presente no controle osmótico, apesar de a maioria das plantas tender a
absorver de forma seletiva mais K do que Na. Nas plantas do gênero Atriplex e noutras C4, há
evidências da essencialidade do Na em teores equivalentes aos dos micronutrientes. Nessas plantas,
o Na parece estar acoplado ao transporte do ácido pirúvico entre as células do mesofilo e da bainha.
Nas plantas que apresentam metabolismo ácido das crassuláceas – CAM ocorre algo similar, mas o
Na não parece ser essencial para as espécies vegetais que, quanto à fotossíntese, são do tipo C3. Nas
cianobactérias (microalgas azuis) há uma necessidade específica de Na, o qual participa em
processos-chave, como a fotossíntese, o transporte de HCO3– e CO2, a absorção e assimilação de
nitratos e fosfato, e também a fixação do N nas espécies filamentosas com heterocistos.

Silício
O Si é o segundo elemento mais abundante na crosta terreste. Por essa razão, não é de se
surpreender que muitas plantas o absorvem em quantidades elevadas.
O Si contribui com 1–2% de matéria seca no milho, e até com quantidades superiores a 16%
em espécies como a Equisetum arvense. É muito difícil de efetuar ensaios de deficiência de Si porque
esse metal existe em todos os locais, incluindo nos vidros do laboratório, nos quais o silicato de
boro é comumente usado. Diversos estudos mostram a essencialidade do Si nas gramíneas, em cujas
paredes celulares se acumula na forma de óxido hidratado (SiO2·nH2O). Desse modo, a
impermeabilidade das paredes celulares e a resistência aos ataques fúngicos aumentam, não só por
constituir uma barreira física, mas também pelos compostos orgânicos com Si serem muito estáveis
para as enzimas dos patógenos. O aumento da resistência mecânica dos tecidos previne o
acamamento nos cereais. As algas diatomáceas também necessitam de Si para formarem a frústula
ou camada externa, que é dura e porosa.
Cobalto
Apesar de o Co ser essencial para os animais devido à sua presença na cianocobalina ou
vitamina B12, ele não parece ser essencial para as plantas, com exceção das leguminosas na fixação
simbiótica de N. Na verdade, são os microrganismos que recebem esse elemento, e não as plantas.
Nas algas Euglena, o Co também é essencial, pois, quando em deficiência, a síntese de RNA e de
DNA é afetada em razão de alterações na síntese da timina e da ribose. No passado, considerou-se
que era essencial para os organismos fixadores de N (ver Capítulo 4), particularmente
cianobactérias, mas hoje em dia não é tido como tal.

Alumínio
O Al é muito abundante na crosta terreste, mas a pH neutros ou básicos as formas solúveis
existem em concentrações muito baixas. No entanto, quando o pH do solo é inferior a 5, o Al é
bastante solúvel e pode afetar negativamente diversas espécies vegetais. Essa condição é frequente
em grandes extensões de solos tropicais dos quais as bases foram lixiviadas pela intensa
precipitação. Pode também ocorrer como consequência das chuvas ácidas, como em áreas da
Europa Central. No entanto, o Al pode ser benéfico em doses pequenas porque, tal como o Si, pode
reduzir a toxicidade causada pelo excesso de outros elementos, a exemplo de Ca, Mg ou P.

Selênio
O Se é absorvido na forma de ânion selenato (SeO42–), sendo depois transportado do xilema
para a parte aérea. Apesar de o Se, em geral, ser tóxico para a maioria das espécies vegetais, há um
grupo de plantas denominadas seleníferas – cujo gênero mais representativo é o Astragalus, que
pode acumular selenato nas células, por transporte ativo, contra um gradiente eletroquímico
potencial. No entanto, não está ainda estabelecido definitivamente que o Se seja essencial nessas
espécies. Esse gênero contempla centenas de espécies e têm sido registradas diferenças na
acumulação de Se entre elas. Espécies como a A. racemosus são capazes de acumular mais Se (acima
de 0,5% do peso de matéria seca) do que o existente e ser tóxicas para os animais herbívoros. O Se
substitui o S e leva ao aparecimento de aminoácidos com Se, como a selenometionina e a
selenocisteína. A selenometionina, na forma reduzida, é a principal forma de acumulação de Se nas
plantas. A presença de proteínas com Se nas bactérias foi observada nos processos de oxirredução e
é essencial tal como ocorre nos animais.

Titânio
O Ti não cumpre nenhum dos requisitos estabelecidos por Arnon e Stout (1939) para
elemento essencial. Entretanto, em algumas espécies como o pimentão (Capsicum annuum L.), o Ti,
na forma de Ti (IV), pode aumentar a absorção de nutrientes e consequentemente a produção de
biomassa. Ele também pode ter um efeito ativador dos pigmentos fotossintéticos. O efeito benéfico
pode estar associado ao estresse oxidativo moderado do Ti, que, por sua vez, induz diferentes
respostas nas plantas e as torna mais tolerantes a outros estresses.
Referências
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TAIZ, L.; ZEIGER, E. Plant physiology. 5th. ed. Sunderland: Sinauer Associates, 2012. 778 p.

4 Departamento de Biología, Facultad de Biología, Universidad Autónoma de Madrid – UAM, Madrid, Espanha. E-
mail: ildefonso.bonilla@uam.es
5 Departamento de Nutrición Vegetal, Estación Experimental Aula Dei – EEAD-CSIC, Zaragoza, Espanha. E-mail:
jabadia@eead.csic.es
6 Departamento de Biología, Facultad de Ciencias, UAM, Madrid, Espanha. E-mail: luis.bolarios@uam.es
7 Departamento de Ciências Biológicas e Bioengenharia, Faculdade de Ciências e Tecnologia, Universidade do Algarve
– UAlg, Faro, Portugal. E-mail: fpestana@ualg.pt
Capítulo
3
Metabolismo do Nitrogênio e do
Enxofre em Organismos
Fotossintetizantes
Vitor L. Nascimento8,; Carla G. S. Quinhones9; Marcelo Gomes Marçal Vieira Vaz10; Adriano Nunes-
Nesi11 e Wagner L. Araújo12
Introdução
O conhecimento dos processos biológicos que regulam as
transformações e fluxos de nutrientes é de suma importância não somente
pelas complexas interações biológicas associadas, mas também pelos inúmeros
benefícios ambientais e agronômicos. Tais benefícios podem ser alcançados a
partir de um correto manejo das diferentes culturas, haja vista a participação
de entes bióticos e abióticos nos mais diversos ciclos minerais.
No sistema solo-planta-atmosfera, processos bióticos e abióticos podem
interferir na disponibilidade de diferentes nutrientes. Nesse contexto, os
microrganismos estão diretamente associados, uma vez que podem
metabolizar nutrientes diversos, utilizando-os como constituintes da sua
biomassa ou simplesmente como doadores/aceptores de elétrons e poder
redutor. Essas reações metabólicas junto com processos abióticos definirão,
em última instância, a disponibilidade e potencial de assimilação de uma gama
de nutrientes pelas plantas.
A assimilação de nutrientes pode ser definida como a incorporação de
elementos minerais (compostos inorgânicos) em substâncias orgânicas (por
exemplo, pigmentos, lipídeos, ácidos nucleicos e aminoácidos). O N e o S são
absorvidos pelas plantas por meio de interações das raízes com o solo, ao passo
que a assimilação desses macronutrientes essenciais demanda mecanismos
morfológicos, fisiológicos e bioquímicos altamente desenvolvidos, foco
principal deste capítulo. De maneira particular, ambos os elementos são
encontrados no solo principalmente em suas formas oxidadas, nitrato (NO3–)
e sulfato (SO42–), sendo, portanto, necessária a redução (com alto custo
energético) a formas nas quais as plantas possam incorporá-los em
aminoácidos.
Assim, este capítulo apresentará, de forma sucinta e isolada, o ciclo do N
e do S, com foco particular nos fatores bióticos capazes de afetar a
disponibilidade desses nutrientes. Em seguida, atenção particular será dada à
absorção e transporte desses nutrientes pelas plantas e, por fim, seu
consequente metabolismo assimilativo e como essas vias podem ser reguladas.
Nitrogênio
O N é um macronutriente essencial para todos os organismos,
disponível para assimilação e/ou mobilizado nas suas formas orgânica e
inorgânica. Plantas e fungos são eucariotos capazes de assimilar o N-
inorgânico que, em solos florestais e agricultáveis, está disponível
principalmente nas formas nítrica e amoniacal (KRAPP, 2015). Cabe ressaltar
que o N é encontrado em diversas macromoléculas, como proteínas, ácidos
nucleicos e componentes da parede celular, bem como em muitos compostos
secundários e metabólitos de sinalização (hormônios e vitaminas, por
exemplo).
O ciclo do N envolve diferentes organismos, procariotos e eucariotos, e
permite a existência das formas oxidadas e reduzidas desse elemento. Assim,
diferentes organismos assimilam e metabolizam formas específicas de N, como
nitrato (NO3–), nitrito (NO2–), amônia (NH3 ou íon amônio NH4+) e N-
orgânico. A participação de agentes biológicos, em especial microrganismos
procariotos, é de fundamental importância para a ciclagem desse elemento, de
modo a torná-lo disponível para outros seres vivos. A fixação biológica do N
atmosférico (N2), por exemplo, só pode ser realizada por alguns grupos
procariotos. É importante mencionar que, por meio desse processo, o N2 é
reduzido a NH3, podendo ser então utilizado como fonte de N por plantas,
fungos e outros procariotos.
A assimilação do NO3– e de NH3 ou NH4+ e sua introdução em moléculas
orgânicas permitem que o N seja assimilado e assim metabolizado por outros
organismos, como os animais, que são incapazes de absorver esse nutriente em
suas formas inorgânicas. Adicionalmente, o N-orgânico pode ser
mineralizado, retornando ao sistema; desse modo, ele é novamente passível de
transformações bióticas e abióticas.
A demanda por N, principalmente pela agricultura intensiva, tem levado
a vários estudos que buscam a otimização não somente dos processos de
fixação biológica do nitrogênio – FBN, mas também da introdução de fontes
de N no sistema via fertilizantes (KANT et al., 2010; MASCLAUX-
DAUBRESSE et al., 2010). Apesar desses intensos esforços, a demanda por
fontes de N é ainda um grande limitante para a sustentabilidade da agricultura
com a capacidade de atender a demanda por esse elemento, visto que a adição
de adubação nitrogenada representa um alto custo em culturas agrícolas
(GILES, 2005; BI et al., 2007). Registre-se que por ano, são adicionados ao solo
cerca de 85–90 milhões de toneladas de fertilizantes nitrogenados, o que,
logicamente, gera despesas vultosas para a produção agrícola (GOOD et al.,
2004). No entanto, o aumento da fertilização e input de N não está,
necessariamente, associado a um aumento de produtividade (HIREL et al.,
2007). Ademais, estima-se que por volta de 50–70% do N adicionado ao solo
seja perdido em decorrência de processos de lixiviação do NO3–, perdas por
desnitrificação, entre outros (HODGE et al., 2000).
Observa-se, portanto, que um correto entendimento do ciclo do N e dos
fatores bióticos e abióticos envolvidos na mobilização e perda desse nutriente
é de fundamental importância para o seu correto uso. Além disso, o
conhecimento do ciclo e dos fatores que o afetam contribuirá de modo
significativo para a escolha adequada de práticas agrícolas mais sustentáveis e
que permitam um melhor aproveitamento desse elemento, principalmente
pelas plantas.

Ciclo biogeoquímico, fixação biológica e


simbiose/nodulação
O N é um importante constituinte da Terra, encontrado em rochas, no
fundo dos oceanos e nos sedimentos. Salienta-se que o N, em sua forma gasosa
(N2), corresponde a aproximadamente 78% dos gases encontrados na
atmosfera terrestre, de modo que os sedimentos e o N2 constituem os maiores
reservatórios desse elemento. Ao se analisar a biosfera, 3,0 – 6,5 × 1018 kg de
N-orgânico são encontrados, dos quais em torno de 96% estariam associados à
matéria orgânica morta, e apenas 4% presentes nos organismos vivos. Cabe
mencionar que o N presente nos seres vivos encontra-se, majoritariamente,
nas plantas (94%) e o restante, distribuído entre microrganismos e animais.
O solo constitui um importante reservatório de N. Nesse contexto, os
elementos vegetais presentes no solo têm uma relação carbono:nitrogênio
(C:N) em torno de 150, ao passo que essa relação se reduz para cerca de 10 na
matéria orgânica do solo. Essa drástica diminuição se deve, em larga escala, às
intensas transformações bioquímicas que os materiais vegetais sofrem no solo,
resultando em perdas significativas de C por respiração microbiana, por
exemplo.
Entre os elementos encontrados no sistema solo-planta-atmosfera e
utilizados como nutrientes pelas plantas, o N caracteriza-se por ser o que sofre
maior número de transformações bioquímicas (Figura 3.1). Em síntese, o N2
presente na atmosfera é incorporado ao sistema biológico via FBN, atuando
como substrato. Alternativamente, o N2 pode ser também produto, no fim do
processo de desnitrificação. Uma vez incorporado aos sistemas biológicos, via
FBN, o N em sua forma inorgânica, predominantemente NO3– e NH3, pode
ser transformado em compostos orgânicos nitrogenados. Por fim, esses
compostos podem ser mineralizados, resultando na metabolização do C-
orgânico e na produção de formas inorgânicas de N no solo. Cada um desses
processos será descrito a seguir, de maneira resumida, apresentando-se os
organismos e formas de N associadas a cada um.
Figura 3.1 - Modelo de absorção e assimilação de N e S em plantas.

A Figura 3.1 apresenta um esquema simplificado da absorção, transporte


e assimilação de N e S em plantas nas quais os íons são absorvidos nas raízes e
transportados até a parte aérea, em que então são assimilados, formando
inicialmente os aminoácidos glutamina e cisteína. Esses elementos podem ser
encontrados em diferentes formas para N, tais como hidroxilamina (NH2OH),
nitrito (NO2–), nitrato (NO3–), óxido nítrico (NO), óxido nitroso (N2O),
nitrogênio gasoso (N2) e íon amônio (NH4+). Já em consideração ao S, tem-se
sulfeto (S2–), enxofre elementar (S0), sulfito (SO32–) e sulfato (SO42–). Como
demonstrado no ciclo oxirredutivo do N, a redução desse nutriente ocorre no
sentido de NO3– para N-orgânico, passando pelo íon NH4+. Já em relação ao S,
como demonstrado em seu ciclo oxirredutivo, a sua redução ocorre no sentido
de SO42– para S-orgânico.
Fixação biológica do nitrogênio
O N2 é a forma mais estável na qual o N é encontrado. No entanto,
somente um reduzido número de organismos, todos procariotos (Bacteria e
Archaea), é capaz de, mediado pela FBN, utilizar esse gás como fonte de N em
seu metabolismo. A ciclagem de N envolve, predominantemente, as formas já
fixadas de N, como NH3 e NO3–, as quais são assimiladas em compostos
orgânicos, que são, em seguida, mineralizados. Apesar da predominância
desses processos, em muitos ambientes a baixa ou não disponibilidade de
formas já fixadas de N favorece a FBN.
O processo de FBN pode ser resumido na seguinte reação global:

8H+ + 8e– + N2 = 2NH3 + H2

Com o consumo de 16–24 ATPs para cada N2 fixado, essa reação é


catalisada por um complexo enzimático denominado nitrogenase (ESTEVES-
FERREIRA et al., 2017). Esse processo é altamente custoso do ponto de vista
energético, no entanto confere importante vantagem adaptativa aos
organismos capazes de realizá-lo, uma vez que esses organismos podem
crescer em ambientes com baixas concentrações e/ou ausência de N fixado.
A FBN pode ser realizada por microrganismos procariotos de vida livre
ou por aqueles que realizam associações simbióticas com plantas (ZAHRAN,
1999; SANTI et al., 2013). Um dos exemplos de associação simbiótica
mutualista mais estudado e de maior importância econômica e agronômica
ocorre entre plantas leguminosas e bactérias fixadoras de N2 (GUIMARÃES et
al., 2012). Nesse grupo de plantas estão culturas de grande importância
econômica: soja, trevo, alfafa, feijão e ervilha. No Brasil, em especial,
cultivares de soja capazes de realizar simbiose com bactérias fixadoras de N
têm se mostrado muito vantajosos economicamente, pois o uso de fertilizantes
nitrogenados se reduz e, consequentemente, os custos de produção diminuem
(HUNGRIA; VARGAS, 2000; HUNGRIA et al., 2005, 2006; PANKIEVICZ et
al., 2015).
Bactérias Gram-negativas do grupo das Alphaproteobacteria, como
Rhizobium, Bradyrhizobium, Sinorhizobium, Mesorhizobium, Azorhizobium e
Photorhizobium são genericamente conhecidas como rizóbios. Elas crescem
normalmente em diversos solos e são capazes de infectar plantas leguminosas
e estabelecer relações simbióticas (FRANCHE et al., 2009; REMIGI et al.,
2016). A infecção das raízes de uma leguminosa por essas bactérias leva à
formação de nódulos radiculares, fornecendo o ambiente adequado à
realização da FBN por parte dos rizóbios. De forma resumida, a formação do
nódulo radicular envolve seis etapas: (1) reconhecimento pela planta e
microrganismo do parceiro correto e associação deste aos pelos radiculares da
planta hospedeira; (2) produção e excreção, pelo procarioto, de fatores de
nodulação; (3) penetração do pelo radicular pelas bactérias; (4) transporte para
a raiz principal por meio do conduto de infecção; (5) formação de células
bacterianas modificadas, bacteroides, no interior das células vegetais e
desenvolvimento do estado fixador de N; e, por fim, (6) divisão continuada da
planta e da bactéria, formando o nódulo radicular maduro (FRANCHE et al.,
2009; REMIGI et al., 2016; SAVANA DA SILVA et al., 2016).
Muitas plantas leguminosas formam nódulos fixadores de N em suas
raízes; no entanto, poucas espécies desenvolvem tais estruturas em seus caules.
O modelo mais bem estudado dessa associação é entre a leguminosa aquática
tropical Sesbania, nodulada pela bactéria Azorhizobium caulinodans (JIANG et
al., 2016). Alguns rizóbios de nodulação caulinar produzem, ainda,
bacterioclorofila a, exibindo, desse modo, potencial para realização de
fotossíntese oxigênica (MOLOUBA et al., 1999; MASSON-BOIVIN et al.,
2009; MARTINS et al., 2015).
Existem ainda outras bactérias fixadoras de N que se associam com
plantas não leguminosas. Por exemplo, a samambaia aquática Azolla associa-se
com uma espécie de cianobactéria filamentosa heterocitada (forma
heterócitos, que são as células especializadas em fixar o N atmosférico)
fixadora de N2, denominada Anabaena azollae. Plantas de Azolla vem sendo
utilizadas, por séculos, para fertilizar os campos de arroz com N fixado. Antes
do plantio desse cereal, a superfície dos campos é recoberta por Azolla e, à
medida que o arroz cresce, a samambaia é levada à morte, com consequente
liberação do N fixado, o qual é então assimilado pelo arroz (KOBILER et al.,
1981; WATANABE, 1982; PETERS; MEEKS, 1989). Em adição, o carvalho
(gênero Alnus) apresenta nódulos radiculares fixadores de N formados pela
bactéria Frankia (filo Actinobacteria). O carvalho é uma árvore pioneira, hábil
em colonizar solos pobres em nutrientes provavelmente devido a sua
capacidade de estabelecer essa relação simbiótica (FRANCHE et al., 2009;
SANTI et al., 2013). Tomadas em conjunto, essas informações sugerem que a
capacidade de FBN mediada pela associação simbionte se traduz em grandes
vantagens adaptativas, possibilitando que plantas vivam nos mais distintos
hábitats e forneçam, inclusive vantagens agronômicas.

Mineralização/imobilização
No solo, a maior parte do N presente encontra-se na forma orgânica
como proteínas, peptídeos e outros componentes celulares. A mineralização
desse N associado à matéria orgânica envolve, numa primeira etapa, a ação de
enzimas extracelulares (por exemplo, as peptidases), que são responsáveis por
degradar proteínas, liberando, assim, peptídeos e aminoácidos. Esses
compostos orgânicos nitrogenados de menor massa molecular são
transportados ao interior celular e, a posteriori, metabolizados, levando à
produção de NH3 e outros compostos orgânicos intermediários, como ácidos
orgânicos e seus derivados. Dessa forma, o processo de mineralização nada
mais é do que a produção de NH3, ou amonificação, ou a conversão de N-
orgânico em NH3, mediante reações de desaminação. Por fim, a NH3,
produzida após essa etapa de mineralização e liberada na solução do solo, se
equilibra com a água presente, formando NH4+, que pode então ser absorvido
ou nitrificado. No ambiente ou em pH próximo à neutralidade, NH3 encontra-
se na forma de NH4+, e a maior parte da NH3 liberada nos processos derivados
do metabolismo aeróbico é rapidamente reciclada, assimilada e convertida em
aminoácidos nas plantas e microrganismos (MASSON-BOIVIN et al., 2009;
REMIGI et al., 2016).
O processo contrário à mineralização – a assimilação do N em
compostos orgânicos (cadeias carbônicas) – ocorre por duas vias metabólicas
principais que envolvem o 2-oxoglutarato e o aspartato/glutamato. O 2-
oxoglutarato transforma-se em glutamato que, por ação da glutamina sintetase
– GS, dá origem à glutamina (transaminação). Esses dois processos são os
responsáveis pela incorporação (imobilização biológica) do N nas moléculas
orgânicas, as quais são sequencialmente utilizadas na biossíntese de outras
substâncias nitrogenadas. Com o passar do tempo e a morte de células, tais
componentes celulares são liberados no solo, sendo alguns condensados ou
complexados a substâncias húmicas, nas quais o N se estabiliza quimicamente
e não é mais suscetível à mineralização (ZAHRAN, 1999; MASSON-BOIVIN
et al., 2009; REMIGI et al., 2016).

Nitrificação
Dando sequência ao ciclo do N, o produto da mineralização, NH3, é
convertido em NO3–, em um processo denominado nitri icação, em condições
aeróbicas. Esse processo de oxidação de NH3 a NO3– ocorre sem dificuldade
em solos bem drenados, com pH próximo à neutralidade, e é realizado por
bactérias nitrificantes. Logo, na nitrificação há produção de NO3–; o contrário
é a desnitri icação, na qual há o consumo de NO3–. Embora o NO3– seja
rapidamente assimilado pelas plantas, ele é ainda bem solúvel em água, sendo
lixiviado de modo rápido, portanto, ou desnitrificado em solos submetidos à
elevada precipitação ou irrigação. Por consequência, a nitrificação pode, em
última instância, não ser benéfica às práticas agrícolas (OGLE et al., 2015). De
forma distinta do NO3–, a NH3, por possuir carga positiva, é adsorvida pelos
solos ricos em argilas, negativamente carregados. A NH3 anidra é bastante
utilizada como fertilizante nitrogenado, ao qual produtos químicos são
adicionados com frequência para inibir o processo de nitrificação (ZAHRAN,
1999; CAMPO et al., 2009; FRANCHE et al., 2009; KOX; JETTEN, 2015;
NELSON et al., 2016). Em resumo, o processo de nitrificação ocorre com as
seguintes etapas:

NH3 → NH2OH → NO2– → NO3–

Os microrganismos procariotos quimioautotróficos são os principais


responsáveis pela nitrificação (HIRSCH; MAUCHLINE, 2015). No entanto,
esse processo pode ser mediado, de maneira heterotrófica, por fungos e
leguminosas fixadoras de N2 capazes de realizar a nitrificação na sua parte
aérea (HIPKIN et al., 2004). A nitrificação microbiana é realizada por bactérias
quimioautotróficas que oxidam a NH3, utilizando os elétrons e poder redutor
para a fixação de gás carbônico (CO2), sendo designadas como oxidantes do N
ou nitrificantes. Esse processo ocorre em duas etapas: nitritação e nitratação.
A primeira consiste na transformação da NH3 em NO2– mediada, por
exemplo, por bactérias do gênero Nitrosomonas; e a segunda, na transformação
de NO2– a NO3–, realizada por bactérias do gênero Nitrobacter (KOX; JETTEN,
2015; NELSON et al., 2016).
As formas inorgânicas de NH4+ e de NO3– presentes no solo podem
seguir destinos vários, os quais ajudam a explicar, ao menos em parte, os
fluxos de N no sistema. De forma geral, as condições predominantes na
maioria dos solos favorecem a nitrificação e, consequentemente, a formação
de NO3–, o qual pode: (i) ser absorvido, visto que é o íon nitrogenado
absorvido, de preferência, pela maioria das plantas cultiváveis; (ii) ser
reutilizado pelos microrganismos, caso ocorram condições favoráveis à
imobilização; (iii) ser lixiviado, em condições de alta umidade e fluxo
descendente de água, por ser altamente móvel no solo; e (iv) ser desnitrificado,
que é o processo de redução em baixas concentrações de O2 (KOX; JETTEN,
2015; NELSON et al., 2016).

Desnitrificação
O NO3– pode ser utilizado, como aceptor alternativo de elétrons, por
muitos microrganismos em condições de respiração anaeróbica. Na maioria
das condições, o produto final da redução do NO3– é o N2, NO ou N2O. Essa
redução do NO3– a compostos de N gasoso, denominada denitri icação ou
desnitri icação, é a principal maneira pela qual o N2 gasoso é formado por via
biológica. A desnitrificação é o processo mais conhecido de redução de formas
oxidadas de N, consistindo, bioquimicamente, na redução de formas oxidadas
a formas gasosas (N2 e N2O). Ademais, é constituída por quatro fases
redutivas, catalisadas por diferentes enzimas presentes no periplasma,
membrana e citoplasma de diferentes microrganismos, a saber:
2NO3– → 2NO2– → 2 NO → N2O → N2

A desnitrificação é realizada por várias bactérias anaeróbias facultativas.


Constitui-se, portanto, um processo de grande importância geoquímica e
ambiental principalmente por representar uma forma de perda de N. Durante
a desnitrificação, as formas oxidadas de N se tornam aceptoras finais de
elétrons oriundos da oxidação de substratos orgânicos e inorgânicos reduzidos
(KOX; JETTEN, 2015; NELSON et al., 2016).
Esse processo é a principal via de perda de N do solo para a atmosfera e,
embora seja associado a perdas diretas de N, pode ser considerado benéfico,
em termos globais, pois permite a remoção do excesso de N do solo antes que
atinja o oceano (OGLE et al., 2015). A produção de N2O e NO durante a
desnitrificação pode ter outras consequências ambientais. O N2O pode ser
oxidado quimicamente a NO na atmosfera, o qual reage com o ozônio na
atmosfera superior, formando NO2– que retornaria à Terra na forma de ácido
nítrico – HNO3. Assim, a desnitrificação contribui tanto para a destruição da
camada de ozônio quanto para as chuvas ácidas, o que possibilita maior
passagem de radiação UV até a superfície da Terra e formação de solos ácidos,
respectivamente. O aumento da acidez do solo pode, em última análise, alterar
a estrutura e função de comunidades microbianas e, consequentemente, a
fertilidade do solo, causando impactos na diversidade vegetal e na
produtividade agrícola (OGLE et al., 2015). Assim, o entendimento desses
processos é de suma importância para o manejo adequado do solo e de suas
características, de forma a possibilitar a maximização da produtividade
agrícola com potencial redução dos prejuízos ambientais.

Absorção e transporte
A disponibilidade de N no solo é normalmente baixa. Porém, essa
disponibilidade pode ainda variar tanto temporal quanto espacialmente
conforme condições edafoclimáticas. Em adição, as formas preferenciais de
absorção desse elemento estão associadas ao tipo de planta e à sua adaptação às
condições químicas e físicas do solo (MAATHUIS, 2009). Em solos aeróbicos,
a principal forma de N-inorgânico encontrada é o NO3–, enquanto em solos
ácidos é a NH3.
Na rizosfera, a raiz pode liberar O2 e exsudados que possuem grande
influência local no potencial redox, na densidade e na atividade de populações
microbianas, que por sua vez podem fazer a interconversão entre as diferentes
formas de N do solo, incluindo aquelas derivadas da fertilização. Por exemplo,
raízes de arroz em solos de várzea liberam grandes quantidades de O2 via
aerênquima e geram uma rápida nitrificação na sua superfície, absorvendo N
na forma nítrica numa taxa comparável com a de absorção de NH3 (KIRK;
KRONZUCKER, 2005; LI et al., 2006).
Além da arquitetura radicular, uma série de fatores pode afetar a
aquisição de N pelas raízes, uma vez que a atividade dos transportadores de
NH4+ e de NO3– é regulada pela forma e concentração nas quais o N se
encontra no solo, pelas flutuações diurnas ligadas à sua concentração e com a
influência da temperatura do solo (GLASS et al., 1992; GLASS, 2003;
GARNETT et al., 2009).
Várias proteínas de membrana têm função na absorção,
compartimentalização, translocação e remobilização de NO3–, conforme a
Figura 3.2 (DECHORGNAT et al., 2011). Em geral, essas proteínas são
transportadores de NO3– – denominados Nitrate/Peptide Transporter Family –
NPF, ou família de transportadores de nitrato e peptídeos; e Nitrate Transporter
Family – NRT, ou família de transportadores de nitrato – ou são
transportadores de NH4+, denominados Ammonium Transporter Family – AMT,
ou família de transportadores de amônio (LÉRAN et al., 2014). Cabe ressaltar
que os transportadores de nitrato e amônio estão envolvidos em diferentes
etapas de absorção de N do solo e de seu transporte por toda parte da planta
(YUAN et al., 2007, 2013; WANG et al., 2013).

Figura 3.2 - Etapas metabólicas em nível celular (transportadores e enzimas)


envolvidas na absorção e assimilação de N e S em plantas.

As formas preferenciais para absorção de N são nitrato (NO3–) e amônio


(NH4+), e para S, sulfato (SO42–). Outras formas de N e S encontradas nas
células são sulfeto (S2–), nitrito (NO2–) e sulfito (SO32– ). Na Figura 3.2 tem-se
em azul transportadores e enzimas envolvidos na assimilação do N e em
laranja, transportadores e enzimas relativos à assimilação de S. As principais
famílias de transportadores envolvidos na absorção de N são: Nitrate/Peptide
Transporter Family – NPF, ou família de transportadores de nitrato e peptídeos;
Nitrate Transporter – NRT, ou transportadores de nitrato; Ammonium
Transporter – AMT, ou transportadores de amônio; Chloride Channel – CLC,
ou canal de cloreto; Tonoplast Intrinsic Proteins – TIP, ou proteínas intrínsecas
do tonoplasto; e His-Pro-Pro Motif Protein – HPP, ou proteínas com motivos
histidina-prolina-prolina. Em relação ao S, as principais famílias são: Sulfate
Transporter – SULTR, ou transportador de sulfato, e Triose-Phosphate
Transporter – TPT, ou transportador de triose-fosfato.
As principais enzimas e intermediários envolvidos na assimilação de N e
S são: nitrato redutase – NR, nitrito redutase – NiR, glutamina
sintetase/glutamato sintase – GS/GOGAT, adenosina 5’-fosfosulfato redutase
– APR, sulfito redutase – SiR, serina acetiltransferase/o-aciltransferase tiol
liase – SAT/OASTL, ATP sulfurilase – ATPS, adenosina 5’-fosfosulfato – APS
e 3’-fosfoadenosina 5’-fosfosulfato – PAPS.

Nitrato
Entre as diversas formas de obtenção de N pelos organismos, o NO3– é a
principal fonte disponível no solo. Vale destacar que, além de ser um
importante componente nutricional, o NO3– funciona também como molécula
sinalizadora, tendo efeitos pronunciados no metabolismo e no crescimento
dos diversos organismos (KROUK et al., 2010).
A absorção de NO3– inicia-se pelo transporte através da membrana
plasmática, em que é geralmente absorvido da solução do solo pelas células da
epiderme, córtex e endoderme das raízes. Não obstante, pode também ocorrer
absorção foliar durante a fertilização ou em plantas epífitas (BOWMAN;
PAUL, 1992; INSELSBACHER et al., 2007; PEYVAST et al., 2009).
Frente à grande heterogeneidade e variações dinâmicas nas
concentrações de NH4+ e de NO3– no solo, em uma faixa abaixo de 100 μmol
L–1 até maiores que 10 mmol L–1 (MILLER et al., 2007), as raízes das plantas
têm sistemas de transporte que diferem pela sua afinidade à molécula
transportada: Low-A inity Transport System – LATS, ou sistema de transporte
de baixa afinidade, e High-A inity Transport System – HATS, ou sistema de
transporte de alta afinidade. Esses transportadores estão distribuídos em toda
a planta e atuam em conjunto, transportando NO3– para os mais diversos
tecidos das plantas (DANIEL-VEDELE et al., 1998; TSAY et al., 2007).
Uma vez absorvido pelas células radiculares, o NO3– pode ser
metabolizado diretamente nas raízes, estocado no vacúolo em diversos órgãos
(raízes, caule ou folhas, por exemplo) em altas concentrações (20–70 mmolL–
1
), ou pode ainda ser carregado no xilema para transporte a grandes distâncias
para a parte aérea. Em muitas espécies, a assimilação do NO3– é realizada
somente na parte aérea e, nesse caso, o NO3– é carregado para o interior dos
vasos do xilema nas raízes (ANDREWS, 1986). Embora a subsequente
distribuição na parte aérea dependa diretamente do processo de transpiração,
ela pode, no entanto, ser modificada pela interação entre xilema e floema
(KRAPP et al., 2014). Cumpre mencionar também que a maneira como esse
NO3– será alocado ou estocado é determinada por fatores genéticos,
fisiológicos e ambientais. A homeostase do NO3– citosólico é determinada pelo
balanço entre a absorção, efluxo e atividade da NR, bem como pela
remobilização e estocagem no vacúolo.
O transporte de NO3– a longas distâncias para diferentes partes da planta
é finamente regulado. Como exemplo, AtNRT1.5 e AtNRT1.8, dois
transportadores de NO3– de baixa afinidade (NRT1s) intimamente
relacionados em Arabidopsis thaliana (Arabidopsis), estão envolvidos no
carregamento e no descarregamento dentro das raízes ou do sistema vascular
da parte aérea (LIN et al., 2008; LI et al., 2010). Já o AtNRT1.9, presente em
células companheiras da raiz, facilita o carregamento de NO3– para o floema
da raiz e aumenta o transporte ascendente de NO3– nas raízes (WANG;
TSAY, 2011).
Em geral, transportadores da família gênica NRT1 são
constitutivamente expressos e responsáveis pelo transporte via LATS, com
exceção de AtNRT1.1. Este último, além de sensor dos níveis de NO3–, pode
funcionar tanto como transportador de baixa quanto de alta afinidade
dependendo de uma modificação pós-traducional mediada por uma proteína
cinase, CIPK23, responsável pela fosforilação desse transportador em
condições de baixa concentração de NO3– (WANG et al., 1998; LIU et al.,
1999; HO et al., 2009). Em contrapartida, genes da família NRT2 são expressos
em condição de baixa concentração de NO3– no solo e fazem parte do grupo
dos HATS. A expressão de NRTs é regulada por NO3–, metabólitos de N,
privação de N, sacarose e pH (DE ANGELI et al., 2006; HO et al., 2009).
Pelo menos quatro membros dos sete da família AtNRT2 agem como
HATS em raízes e permitem uma eficiente absorção quando NO3– encontra-se
em baixas concentrações no solo. Alguns NRT2s requerem uma proteína que
aja em conjunto para que o NO3– seja absorvido mesmo em condições de
baixas concentrações (FENG et al., 2011). Em tais condições, o transporte é
feito principalmente por AtNRT2.1, enquanto AtNRT2.2 participa
minoritariamente (LI et al., 2007). AtNRT2.4 e AtNRT2.5 são fortemente
induzidos na epiderme da raiz em condições de baixa quantidade de N no solo
(KIBA et al., 2011; LEZHNEVA et al., 2014; KOTUR; GLASS, 2015). Assim,
mutantes com perda de função para AtNRT2.1 tem seu crescimento reduzido
em baixas concentrações externas de NO3–, ao passo que o crescimento não é
afetado quando se analisa mutantes com perda de função para AtNRT2.2, 2.4 e
2.5.
Embora a “grande família NPF” compreenda 53 proteínas envolvidas no
transporte de aminoácidos, peptídeos, glucosinolatos, auxina e ácido abscísico,
somente dois deles estão envolvidos com a absorção de NO3– do solo (LÉRAN
et al., 2014). Em altas concentrações externas de NO3–, o transporte é mediado
principalmente por dois transportadores NPF: AtNPF6.2 é um transportador
de baixa afinidade, ao passo que AtNPF6.3 é de afinidade dupla, cuja afinidade
pelo NO3– é modificada via fosforilação proteica dependente da
disponibilidade desse íon no solo. Além de funcionar como receptor e sensor
de NO3–, o AtNPF6.3 pode também funcionar como transportador de auxina
(PARKER; NEWSTEAD, 2014; SUN et al., 2014).
Em adição aos transportadores da família NPF e NRT, evidências
recentes têm demonstrado que o NO3– pode também ser transportado por
proteínas Chloride Channel – CLC, e ainda via Slow Anion Channel-Associated
Homologues – SLAC/SLAH, ou canais aniônicos lentos/canais homólogos
associados lentos, capazes de facilitar o transporte de NO3– nas células (WEGE
et al., 2010; MAIERHOFER et al., 2014). Cumpre mencionar que, entre os
membros de CLC, CLCa é responsável por mediar o acúmulo de NO3– nos
vacúolos (DE ANGELI et al., 2006). Além disso, o NO2– é transportado para o
interior dos plastídeos pelo transportador His-Pro-Pro Motif Protein – HPP, que
é uma família proteica conservada entre cianobactérias e cloroplastos
(MAEDA et al., 2014).
Durante o estádio vegetativo, as folhas são dreno para N e, mais tarde,
durante a senescência foliar, esse N precisa ser remobilizado para então ser
prontamente reutilizado nas sementes em desenvolvimento, principalmente
na forma de aminoácidos (OKUMOTO; PILOT, 2011). Cerca de 95% das
proteínas existentes nas sementes são derivadas de aminoácidos exportados
para as sementes após a degradação de proteínas existentes nas folhas
(TAYLOR et al., 2010). Durante a senescência, aumentos nas concentrações
de asparagina e glutamina na seiva do floema sugerem um papel fundamental
desses aminoácidos na disponibilização de N a partir de folhas senescentes,
garantindo, assim, a completa remobilização do nutriente (MASCLAUX-
DAUBRESSE et al., 2010).
O efluxo de NH4+ e de NO3– para o meio externo também pode ocorrer
nas raízes das plantas (GLASS, 2003). Para o NO3–, um transportador para o
efluxo já foi identificado. Esse transportador pertence à família NRT1, o
NAXT1, que é eletricamente acoplado à atividade da bomba de próton (H+)
dependente de ATP (H+/ATPase) e possui um transporte passivo de baixa
afinidade (SEGONZAC et al., 2007). Salienta-se também que esse
transportador tem sua expressão positivamente regulada em nível pós-
transcricional (SEGONZAC et al., 2007). Por um lado, pouco se sabe ainda
acerca do papel fisiológico de tais transportadores; por outro, acredita-se que o
efluxo de NH4+ nas raízes ocorre até mesmo quando NO3– for a única fonte de
absorção de N (FENG et al., 1994).
O transporte de NO3– entre a raiz e a parte aérea ocorre via xilema, e,
durante o seu carregamento, NO3– é transportado das células do parênquima
para as células do xilema. Para tal, dois transportadores do tipo NTR1
(NAXT1 e AtNRT1.5) fazem a exportação de NO3–, sendo NRT1.5, altamente
expresso em células do periciclo próximo ao xilema da raiz, responsável pelo
carregamento do xilema.

Amônio
Embora os níveis de NH4+ nos solos não sejam tão altos como são os de
NO3–, o NH4+ é também uma forma de obtenção do N e, para algumas plantas,
pode até mesmo se tornar a principal fonte desse nutriente (MEYER; STITT,
2001). Apesar de o excesso de NH4+ ser reconhecidamente tóxico, vários
organismos desenvolveram mecanismos para regular sua absorção e expelir o
NH4+ ativamente em processos dependentes de energia (BRITTO;
KRONZUCKER, 2002; KUMAGAI et al., 2011). Por exemplo, as plantas usam
dois sistemas para a absorção de NH4+ dos solos: um não saturante ou LATS; e
um saturante ou HATS, descritos, em detalhes, abaixo.
A absorção de NH4+ pelas raízes é realizada por transportadores
localizados na membrana plasmática e envolve o sistema de alta afinidade de
absorção, mediado por transportadores AMT (KHADEMI et al., 2004), e a
utilização de potencial de membrana. Em Arabidopsis, AMT1.1, 1.2 e 1.3 são
HATS envolvidos na absorção de NH4+ pelas raízes, sendo AMT1.1 expresso
na rizoderme e no córtex da raiz, enquanto AMT1.2 é expresso nas células
endoteliais da raiz (GAZZARRINI et al., 1999; LOQUÉ et al., 2006;
NEUHAUSER et al., 2007). Já AMT1.3 tem uma função regulatória na
indução de raízes laterais induzidas por NH4+ (LIMA et al., 2010). Enquanto
AMT1.3 e AMT1.5 são expressos só em raízes, AMT1.1 é expresso de forma
mais ampla, incluindo raízes, folhas e sépalas – em contraste com AMT1.4,
que não é encontrado em raízes, mas especificamente em grãos de pólen
(VON WITTGENSTEIN et al., 2014).
É importante mencionar também que incertezas ainda existem acerca
das espécies químicas exatas que são transportadas pelos AMTs, as quais
podem estar na forma hidrofóbica NH3 ou NH4+ carregado (ORTIZ-
RAMIREZ et al., 2011). Por exemplo, em feijão (Phaseolus vulgaris L.) o
PvAMT1.1 atua como transportador simporte de H+/NH4+ mediando o
transporte saturante eletrogênico HATS de NH4+ (VON WITTGENSTEIN et
al., 2014). Os transportadores AMT são regulados tanto em nível
transcricional como pós-traducional. Nesse contexto, níveis de transcritos
para AMT1.1, AMT1.2, AMT1.3 e AMT1.5 são regulados positivamente
durante condições de deficiência em N, sendo AMT1.1 e AMT1.2 regulados
pós-traducionalmente. Através de um controle dependente de fosforilação e
em resposta a altas concentrações externas de NH4+, resíduos de treonina na
porção C-terminal de AtAMT1.1 e AtAMT1.2 são fosforilados, provocando
um rápido mecanismo de desativação que previne o acúmulo tóxico de NH4+ (
LOQUÉ et al., 2007; NEUHAUSER et al., 2007).
Moléculas de NH4+podem ser, pelo menos temporariamente,
acumuladas nos vacúolos (Figura 3.2) cujo transporte, através do tonoplasto, é
mediado por proteínas TIP. Essas aquaporinas parecem estar envolvidas no
carregamento de NH3 para o interior do vacúolo, no qual é então convertido
novamente à sua forma NH4+ (LOQUÉ et al., 2005). Logo, a acidificação
vacuolar seria o principal fator que justificaria acúmulos de NH4+ no vacúolo.
De maneira interessante uma organização espacial das proteínas AMT1
foi previamente reconhecida. Assim, as proteínas associadas a um transporte
de alta afinidade, AMT1.3 e AMT1.5, estão localizadas em células externas da
raiz ou em pelos radiculares em que são capazes de absorver NH4+ da solução
do solo. Já entre os transportadores de baixa afinidade, AMT1.1 localiza-se na
endoderme ao longo da região que contém pelos radiculares, sugerindo uma
função na recuperação do NH4+ que é liberado pelo córtex ou que entra na raiz
via rota apoplástica (YUAN et al., 2007).

Outras fontes de nitrogênio


A ureia é a principal forma de fornecimento de N como fertilizante,
incluindo aplicações tanto via solo como diretamente em folhas. No solo, a
ureia é rapidamente degradada a NH4+ e CO2 pela urease (POLACCO et al.,
2013). A adição de inibidores de urease em fertilizantes é rotineiramente
utilizada para retardar a quebra da ureia, minimizando assim sua perda nos
solos e aumentando a disponibilidade desse composto para ser absorvido pelas
raízes (MARSCHNER; RIMMINGTON, 1986). Nesse contexto, com relação à
absorção da ureia, existem proteínas localizadas na membrana plasmática,
como as proteínas da família Major Intrinsic Protein – MIP, ou principais
proteínas intrínsecas, e a Degradation of Urea – DUR3, ou de degradação de
ureia, que atuam no transporte de baixa e alta afinidade de ureia,
respectivamente (MERIGOUT et al., 2008). Embora evidências in vitro
tenham demonstrado que as MIPs são responsáveis pelo transporte passivo de
ureia (LIU et al., 2003), a função exata dessas proteínas em plantas ainda
permanece obscura, principalmente em condições de altas concentrações de
ureia. Adicionalmente, AtDUR3 é o principal HATS de ureia presente na
membrana plasmática de raízes cultivadas sob limitação de N (KOJIMA et al.,
2007). Além da absorção realizada pelas raízes, a ureia pode ser também
acumulada nas células das plantas como consequência do metabolismo
secundário associado ao N (MERIGOUT et al., 2008).
De acordo com a espécie, a absorção de N pode ser negativamente
regulada ou, até mesmo em alguns casos, totalmente inibida durante a
produção de sementes. Ademais, a transição entre os estágios vegetativo e
reprodutivo é caracterizada por drásticas mudanças na atividade de HATS e
LATS (MALAGOLI et al., 2004). Essas mudanças são correlacionadas com
uma forte repressão na expressão gênica de NRT2 nas etapas do florescimento
em Brassica napus (BEUVE et al., 2004). Em Arabidopsis, quando as plantas
crescem sob condição de N (10 mmol L–1 de NO3–), o influxo de NO3– é
reduzido em maior parte na fase reprodutiva do que na vegetativa, embora
continue ainda ativo durante a maturação da semente (DECHORGNAT et al.,
2011).
Pesquisas foram realizadas para identificar transportadores envolvidos
na absorção de aminoácidos pelas raízes (HIRNER et al., 2006;
SVENNERSTAM et al., 2007). Os estudos levaram à conclusão que o
Lysine/Histidine Transporter – LHT1, ou transportador de lisina/histidina,
pertencente à família Amino Acid Transporter Family – ATF, ou família de
transportadores de aminoácidos, é crucial para a absorção de aminoácidos
ácidos e neutros. A proteína Amino Acid Permease Protein – AAP1, ou proteína
permease de aminoácidos, também foi demonstrada como de fundamental
importância para o transporte de aminoácidos sem carga, mas apenas quando
fornecidos em concentrações elevadas no meio externo (LEE et al., 2007). A
absorção de aminoácidos catiônicos, como lisina ou arginina, parece ser
mediada pela proteína AAP5, que atua particularmente em concentrações
relevantes às condições de campo (SVENNERSTAM et al., 2007). A
localização precisa dos mRNAs desses transportadores em diferentes tipos de
células na raiz levantou a hipótese da absorção de aminoácidos pelas raízes em
plantas não micorrízicas (NÄSHOLM et al., 2009).
Assim, as fontes alternativas de N provam a importância de cada uma em
momentos específicos ao longo do ciclo de desenvolvimento de diferentes
espécies, e ainda mostram-se necessários mais trabalhos a fim de contribuir
para um maior conhecimento dessas fontes. Tomadas em conjunto, essas
diferentes localizações, associadas a variadas formas de absorção de N pelas
plantas, sugerem funções fisiológicas distintas na absorção radicular ou no
fornecimento de N para a parte aérea, evidenciando a grande complexidade
envolvida nesses sistemas.

Assimilação e regulação
Uma vez absorvido do solo para as células vegetais, principalmente nas
raízes, o N é transportado até a parte aérea, conforme explicado
anteriormente, e a completa assimilação desse macronutriente está quase
concluída. Duas importantes etapas ainda ocorrem, não exclusivamente, em
folhas: (i) a redução do NO3–; e (ii) a assimilação em aminoácidos. Esses dois
processos bem como os fatores que regulam essas vias serão discutidos a
seguir.

Redução
A redução do NO3– pode ocorrer tanto em raízes quanto na parte aérea,
sendo, no entanto, separada em nível celular, uma vez que a redução de NO3–
a NO2– ocorre no citoplasma e a redução de NO2– a NH4+, em plastídeos
(Figura 3.2). A enzima NR catalisa a redução de NO3– a NO2–. A NR é um
homodímero, em que cada monômero está associado a três grupos prostéticos:
flavina-adenina dinucleotídeo – FAD, um grupo heme e um cofator
molibdênio – MoCo. Através da caracterização de mutantes em Arabidopsis
demonstrou-se que duas classes de genes codificam a NR: genes Nia,
responsáveis pela apoenzima, e genes Cnx, que codificam o cofator MoCo
(MASCLAUX-DAUBRESSE et al., 2010).
Depois da ação da NR, o NO2– é transportado para o plastídeo no qual é
reduzido a NH4+ pela enzima nitrito redutase – NiR. Os genes Nii, que
codificam NiR, já foram analisados em diversas espécies, e foi demonstrado
que o número de genes varia entre uma ou duas cópias (MEYER; STITT,
2001).

Assimilação em aminoácidos
O NH4+, originado não apenas da redução do NO3–, mas também de
outros processos, como a fotorrespiração, a reciclagem de
aminoácidos/proteínas, ou mesmo da absorção direta do solo, é
principalmente assimilado em plastídeos (Figura 3.2) pela ação sequencial das
enzimas GS e glutamina 2-oxoglutarato aminotransferase, ou glutamato
sintase – GOGAT. A GS fixa o NH4+ em uma molécula de glutamato,
formando uma molécula de glutamina. Essa glutamina formada reage em
seguida com 2-oxoglutarato para regenerar duas moléculas de glutamato em
uma reação catalisada pela GOGAT.
Pelo menos duas outras enzimas participam da assimilação do NH4+ em
adição ao ciclo GS/GOGAT. Nesse contexto, o metabolismo do glutamato
envolve também a interconversão entre glutamato e 2-oxoglutarato pela
desidrogenase do glutamato – GDH, enzima esta que atua principalmente em
condições de deficiência de C (como condições de escuro), apresentando papel
central no fornecimento de intermediários do ciclo do ácido cítrico. Ademais,
a sintetase da asparagina – AS citosólica catalisa a transferência dependente de
ATP do grupamento amina da glutamina para um aspartato, gerando, dessa
meneira, glutamato e asparagina. Importante mencionar que AS pode também
utilizar NH3 como substrato. A asparagina é o principal doador de N para a
biossíntese de aminoácidos em tecidos fotossintéticos (MASCLAUX-
DAUBRESSE et al., 2010; KRAPP, 2015).
Em plantas terrestres, a isoforma cloroplastídica da enzima GS é
essencial para a regeneração de N em condições fotorrespiratórias. Já as
isoformas citosólicas são codificadas por vários genes, com distintos padrões
de expressão e afinidade por NH4+ e glutamato. Ademais, dois tipos de
GOGAT estão presentes em plantas, incluindo a forma dependente de
ferredoxina – Fd, Fd-GOGAT, mais relacionada com condições
fotorrespiratórias em folhas, e a forma dependente de NADH, NADH-
GOGAT, que atua na assimilação de NH4+ (KRAPP, 2015).

Regulação
Cada uma das enzimas NR, NiR e GOGAT requer poder redutor, seja na
forma de NADH, seja na de Fd, ao passo que GS e AS precisam de ATP.
Registre-se também que esqueletos de C, principalmente ácidos orgânicos, são
essenciais para a assimilação de N-orgânico em aminoácidos, e sua produção é
mediada pelas enzimas descritas acima. Além disso, a disponibilidade de
esqueletos de C para a condensação de NH4+ e o fornecimento de ATP, Fd e
NADH, como produtos do metabolismo energético (fotossíntese, respiração e
fotorrespiração), são essenciais para a assimilação de N (MASCLAUX-
DAUBRESSE et al., 2010).
A regulação das enzimas responsáveis pela assimilação do N ocorre em
níveis transcricionais, traducionais e pós-traducionais. A NR é regulada por
vários estímulos ambientais e fatores internos, como níveis de substrato e
produto. Um dos principais fatores ambientais responsáveis por essa regulação
é a luz, tanto em nível de transcrição quanto de tradução (LILLO;
APPENROTH, 2001). Com respeito à expressão gênica de NR, a regulação
pode ocorrer mediada por fitocromos, por produtos da fotossíntese ou pela
própria enzima, mas não em plantas superiores, sendo esse processo descrito
apenas em Chlorella saccharophila e em Neurospora crassa, em que NR atua como
um fotorreceptor localizado na membrana plasmática (LILLO; APPENROTH,
2001). Já em relação ao nível de tradução, a atividade de NR pode ser regulada
a partir da sua fosforilação por cinases específicas, principalmente as
dependentes de Ca, bem como por produtos da fotossíntese e pelo nível de
nutrientes da planta (LILLO; APPENROTH, 2001). Em condições de escuro
com suplementação de carboidratos, há acúmulo de NR, demonstrando uma
regulação independente da luz (VINCENTZ et al., 1993). A NiR, por sua vez, é
regulada transcricionalmente em coordenação com a regulação de NR
(HEATH-PAGLIUSO et al., 1984; VINCENTZ et al., 1993). Como o NO2– é
tóxico, as células vegetais precisam manter o conteúdo de NiR elevado para
reduzir todo o NO2– (MASCLAUX-DAUBRESSE et al., 2010). Os genes
responsáveis pelo ciclo GS/GOGAT são expressos com variação espaço-
temporal, e as enzimas apresentam diferentes propriedades cinéticas e
expressão em resposta ao conteúdo de N – sugerindo, pois, funções não
redundantes (DRAGICEVIC et al., 2016). Os principais reguladores da
expressão dos genes para GS/GOGAT são a luz, conteúdo de NO3– e NH4+,
aminoácidos e açúcares (ISHIYAMA et al., 2004).
A absorção e a assimilação de N também envolvem adaptações no
desenvolvimento de raízes. Nesse contexto, a absorção é dependente de
características relacionadas à morfologia e à organização das raízes, uma vez
que as plantas ajustam não somente seu metabolismo e expressão gênica, mas
também sua estrutura morfológica para otimizar o acesso e captação de
recursos. As principais alterações induzidas por variações no nível de N são o
crescimento primário, a iniciação e a elongação de raízes laterais. A iniciação
de raízes laterais é reprimida por altas razões C:N, e esse processo é
dependente do transportador NRT2 em Arabidopsis (VIDAL; GUTIÉRREZ,
2008). Altas concentrações de NO3– ocasionam uma inibição sistêmica no
desenvolvimento/elongação de raízes laterais, provavelmente causada por
intermédio dos conteúdos de auxina nas raízes (WANG et al., 2004; VIDAL;
GUTIÉRREZ, 2008, 2012). O NO3– e o glutamato se relacionam com o
crescimento de maneiras opostas, em que o primeiro estimula o crescimento
radicular ao mesmo tempo que o segundo, por sua vez, o inibe. O efeito do
glutamato parece envolver vias de sinalização de auxina enquanto NO3–
antagoniza o efeito do glutamato utilizando a ação dos transportadores NRT1
(CANALES et al., 2014).
O NO3– por si só atua como um forte regulador do metabolismo
assimilativo de N em plantas. Nelas, tanto os eventos associados com o
transporte, redução e assimilação de N quanto o metabolismo energético de
aminoácidos e assimilação de outros nutrientes também são regulados pelo
NO3– (WANG et al., 2004).
Enxofre
É um macronutriente essencial para todos os organismos e encontra-se
disponível na natureza nas formas orgânica e inorgânica. O sulfato (SO42–),
forma oxidada do S, é utilizado pelas plantas para sintetizar compostos
orgânicos e está presente como um ânion bivalente em solução aquosa do solo
(LEUSTEK; SAITO, 1999; SAITO, 2000, 2004). Embora as formas reduzidas
inorgânicas e S-orgânico – nas formas sulfatadas ou de compostos sulfonados
– existam no ambiente, em geral elas não são utilizadas pelas plantas. Dentro
do ciclo do S na natureza, os microrganismos geralmente realizam a
degradação hidrolítica de compostos sulfatados e a decomposição de
compostos sulfonados, gerando o SO42–. O sulfato pode ser então incorporado
e utilizado, mantendo, portanto, o balanço entre funções assimilativas e
catabólicas tanto em plantas quanto em microrganismos (LEUSTEK; SAITO,
1999; SAITO, 2000, 2004).
A assimilação do SO42– ocorre em plantas, fungos e bactérias; importante
mencionar que metazoários e parasitas celulares perderam a habilidade de
assimilá-lo SO42– e são, portanto, dependentes de aminoácidos que contêm S
através da sua dieta ou pelo hospedeiro. Nesse contexto, reações assimilativas
são as principais diferenças entre o metabolismo do S em plantas e animais. O
SO42– é para as plantas uma fonte de S que pode ser utilizado nas vias
assimilativas, depois de ter sido absorvido pelas raízes e distribuído para vários
órgãos, nos quais efetivamente ocorre a redução do SO42– (SAITO, 2000).
A essencialidade do S pode ser evidenciada por sua presença nos
principais componentes celulares e pela diversidade das atividades biológicas
com metabólitos que contêm S (LEUSTEK; SAITO, 1999; SAITO, 2000,
2004). O resíduo de tiol, formador das pontes dissulfeto nos aminoácidos
cisteína e metionina, tem papel importante na estrutura proteica. De modo
semelhante, resíduos tióis encontrados nas moléculas de glutationa,
ferredoxina e tiorredoxina funcionam como centro ativo em muitas reações
enzimáticas e no controle de reações de redução-oxidação nas células
(BUCHANAN; BALMER, 2005). Cumpre mencionar também que o S é
encontrado não apenas como constituinte de aminoácidos, proteínas e
enzimas, mas também nos sulfolipídeos – essenciais para manutenção das
membranas cloroplastídicas –, em vitaminas e em cofatores de várias enzimas.
Além do mais, esse macronutriente é parte estrutural de vários metabólitos
secundários.
Nesse contexto, serão descritas, a seguir, as diversas formas encontradas
na natureza, as funções dos transportadores de S, a regulação transcricional e
pós-transcricional dos sistemas transportadores de SO42–, bem como o
envolvimento de enzimas nas etapas assimilativas, demonstrando, assim,
como essas vias regulatórias são altamente organizadas para a manutenção da
absorção e estocagem do conteúdo de S em plantas.

Ciclo biogeoquímico
As transformações sofridas pelo S ao longo de seu ciclo são ainda mais
complexas do que aquelas associadas ao ciclo do N em razão da variedade de
estados de oxidação e pelo fato de várias transformações ocorrerem
abioticamente (Figura 3.1). O S existe em várias formas e estados de oxidação,
mas apenas três caracterizam-se por serem significativos na natureza: –2
(sulfidril = R-SH, e sulfeto = HS- ou S2–), 0 (enxofre elementar = S0) e +6
(sulfato = SO42–). Outras formas importantes são: sulfito (SO32–), tiossulfato
(S2O32– ou S-SO3–) e tetrationato (S4O62–) (ERIKSEN et al., 1998).
Embora a maior parte do S na Terra se encontre em sedimentos e rochas
– na forma de minerais de SO42–, sobretudo gesso (CaSO4) e minerais de
sulfeto (pirita, FeS2) –, os oceanos são o reservatório mais significativo de S na
biosfera, em particular na forma de SO42–. Esta última, por sinal, é a principal
forma inorgânica de S, encontrada em vários minerais e em altas
concentrações nos oceanos. O SO42– caracteriza-se ainda como fonte primária
de S nas plantas, entrando via raízes em um processo de assimilação ativo
(ERIKSEN et al., 1998).

Redução de sulfeto de hidrogênio e sulfato


Um dos principais gases quem contêm S é o sulfeto de hidrogênio (H2S).
Esse gás é emitido a partir de fontes geoquímicas com S2– e em vulcões, ou é
produzido pela redução bacteriana do SO42–, como demonstrado na equação
abaixo:

SO42– + 8H+ → H2S + 2H2O + 2OH–

Embora o H2S seja volátil, a forma de S2– presente em um ambiente


depende largamente do pH: o H2S predomina em pH abaixo de 7, ao passo que
HS– e S2–, acima desse valor. As bactérias redutoras de SO42– representam um
grupo altamente diverso e distribuído na natureza (ERIKSEN et al., 1998). No
entanto, o processo de redução do SO42– em ambientes anóxicos, incluindo
água doce e diversos solos, é limitado em razão das baixas concentrações desse
composto. Ademais, esse processo demanda a existência de doadores
orgânicos de elétrons para conduzir a redução do SO42– e, assim, a produção
de S2– ocorre somente na presença de quantidades expressivas de compostos
orgânicos. Em sedimentos marinhos, a redução do SO42– é muito limitada pelo
C, podendo ser aumentada de modo significativo pela adição de matéria
orgânica. Vale ressaltar também que o H2S é uma substância potencialmente
tóxica para diversas plantas e animais, pois, ao se combinar com o ferro
presente nos citocromos, bloqueia a respiração celular. Assim, a formação de
HS– como consequência da redução do SO42– é potencialmente prejudicial.
Não obstante, o S2– é detoxificado do ambiente ao se combinar com o Fe,
formando os minerais insolúveis FeS e FeS2 (ERIKSEN et al., 1998; RABUS et
al., 2013).

Oxidação/redução de sulfeto e de enxofre elementar


Em condições aeróbias e de pH neutro, o S2– é oxidado de forma
espontânea. As bactérias quimiolitotróficas, responsáveis pela oxidação do S,
podem também catalisar a oxidação do S2–. Como esse processo ocorre
rapidamente, quantidades significativas de S2– são oxidadas por bactérias
apenas em regiões anaeróbias onde existe excesso de produção de H2S e
também devido à presença de O2 em regiões óxicas. Ao mesmo tempo, a
oxidação anóxica do S2– pode também ser realizada na presença de luz por
bactérias fototróficas púrpuras e verdes (ERIKSEN et al., 1998; RABUS et al.,
2013).
Embora o S0 seja quimicamente estável, ele pode ser facilmente oxidado
por bactérias quimiolitotróficas, como as pertencentes aos gêneros Thiobacillus
e Acidithiobacillus (TANG et al., 2009). Considerando a insolubilidade do S0, as
bactérias capazes de oxidá-lo devem associar-se fisicamente aos cristais de S,
de modo a obter seu substrato. A oxidação do S0 resulta na formação de ácido
sulfúrico (H2SO4) e caracteriza-se, portanto, por acidificar o ambiente. De
maneira interessante, o S0 pode ser tanto reduzido quanto oxidado. Assim, a
redução de S0 a S2– – uma forma de respiração anaeróbica, tendo como aceptor
final de elétrons o S0 – é um importante processo ecológico, sobretudo dentro
de alguns grupos de Archaea (ERIKSEN et al., 1998; KOPACEK et al., 2013;
RABUS et al., 2013).

Compostos orgânicos sulfurados


Além das formas inorgânicas de S, vários compostos orgânicos podem
ser metabolizados por bactérias, tendo, portanto, participação no ciclo
biogeoquímico desse macronutriente. Muitos deles apresentam odor
desagradável e são bastante voláteis. O dimetilsulfeto (CH3-S-CH3) é o
composto orgânico sulfurado mais abundante na natureza, produzido
principalmente em ambientes marinhos como produto do catabolismo do
dimetilsulfoniopropionato, soluto osmorregulador presente em algumas algas
marinhas (TANG et al., 2009). O dimetilsulfoniopropionato é utilizado tanto
como fonte de C quanto de elétrons pelos microrganismos, sendo
metabolizado a dimetilsulfeto e acrilato. O dimetilsulfeto liberado sofre
imediata oxidação fotoquímica, levando à produção de sulfonato de metano
(CH3SO3–), SO2 e SO42– (ERIKSEN et al., 1998).
O maior estoque de N disponível para os processos biológicos está na
atmosfera, ao passo que o de S encontra-se na litosfera. Grande parte do S
também se encontra na atmosfera em consequência das atividades humanas,
como queima de fósseis e vegetação. Na atmosfera, a forma SO2 é
predominante e pode ser absorvida do ar pelas plantas ou carreada ao solo pela
chuva. Não obstante, esse gás combina-se com a água em condições úmidas,
formando ácido sulfuroso (H2SO3). Cumpre mencionar, no entanto, que esse
ácido é prontamente oxidado a H2SO4 por organismos oxidantes do S
(ERIKSEN et al., 1998; KOX; JETTEN, 2015).
As quantidades de S presentes na forma orgânica e inorgânica variam
consideravelmente em função de condições como pH do solo, drenagem,
composição mineralógica, teor de matéria orgânica, entre outros fatores.
Como já ressaltado anteriormente, a forma inorgânica predominante nos
solos é o SO42–, embora compostos de oxidação mais baixos sejam também
encontrados, como S2–, SO32–, S2O32– e S0. Em solos alagados e/ou menos
aerados, o S-inorgânico encontra-se, predominantemente, nas formas mais
reduzidas (ERIKSEN et al., 1998).
Em síntese, quando em seus estados reduzidos (S2–, S0), o S pode ser
fonte de energia para algumas bactérias quimiolitotróficas, sofrendo, pois,
oxidação. De forma oposta, em seu estado oxidado (SO42–), o S pode atuar
como aceptor de elétrons para o metabolismo respiratório de bactérias
redutoras de SO42–.

Mineralização e imobilização
Grande parte do S presente nos solos, em especial na camada arável,
encontra-se na forma orgânica, diretamente ligado ao C (C-S), como nos
aminoácidos, ou na forma de éster (C-O-S). Essas duas formas podem ser
mineralizadas com a consequente produção de SO42–. Ao ser assimilado na
matéria orgânica, o S associa-se diretamente à molécula de C ou O2 e N,
formando ésteres (fenol-sulfatos), glicosinolatos (açúcares sulfonados que
ocorrem em concentrações elevadas nas crucíferas), além de ser também parte
constituinte de aminoácidos, proteínas sulfonadas, antibióticos e vitaminas. É
importante considerar que os aminoácidos representam a principal forma de
ligação do S ao C-orgânico, respondendo por aproximadamente um terço do
S-orgânico encontrado no solo (TANG et al., 2009).
A atividade microbiana é de fundamental importância na regulação dos
fluxos entre as formas oxidadas e reduzidas de S, basicamente representadas
pelo SO42– inorgânico, S-orgânico lábil e S-orgânico não lábil. De modo geral,
em solos com boa aeração o ciclo do S compreende a
decomposição/mineralização de S-orgânico, com produção e imediata
imobilização do SO42– inorgânico (ERIKSEN et al., 1998; KOPACEK et al.,
2013).
A decomposição dessa matéria orgânica é realizada por microrganismos
heterotróficos que utilizam diversas rotas metabólicas, aeróbias e anaeróbias.
Essas reações envolvem enzimas do grupo das sulfatases presentes na parede
celular de fungos e bactérias (ERIKSEN et al., 1998). Uma vez mineralizado,
levando à formação de SO42–, o S-orgânico pode ser absorvido por plantas e
microrganismos em um processo denominado imobilização. As razões pelas
quais a mineralização e a imobilização ocorrem são dependentes de vários
fatores abióticos e, principalmente, do suprimento de substratos orgânicos. No
sistema solo-planta, a mineralização de S ocorre de forma mais intensa do que
em um sistema sem plantas, tendo em vista um maior crescimento de
microrganismos aptos a metabolizar substratos fosfatados na presença delas
(ERIKSEN et al., 1998; KOPACEK et al., 2013).

Absorção e transporte

Absorção
O S não é, em geral, um nutriente limitante, uma vez que (1) encontra-
se em relativa abundância no ambiente, e (2) sua absorção e assimilação são
rigidamente reguladas para manter a coordenação entre fornecimento de
SO42–, requerimentos para o crescimento de cada organismo e assimilação de
N.
As plantas adquirem o S principalmente via absorção radicular na forma
de SO42–. Como se trata de um íon negativamente carregado, essa absorção
ocorre contra um gradiente eletroquímico na membrana plasmática e é, assim,
realizado por um cotransporte ativo de H+ gerado pela H+/ATPase (LASS;
ULLRICH-EBERIUS, 1984; HAWKESFORD et al., 1993). O SO42– é
transportado para dentro do citosol pelo transporte do tipo simporte, que
exporta três H+ para cada SO42– que é importado ao citosol. Cabe mencionar
também que bactérias e cloroplastos de algas verdes não utilizam o transporte
simporte com H+ consumindo ATP na aquisição de SO42– (SIRKO et al., 1990;
LAUDENBACH; GROSSMAN, 1991), o que sugere a diversificação evolutiva
na aquisição de SO42– em organismos fotossintetizantes.
Múltiplos transportadores com distintas afinidades por SO42– estão
presentes em raízes, os chamados Sulfate Transporter – SULTR, ou
transportador de sulfato. Dos 14 genes que codificam transportadores de
SO42–, dois – SULTR1.1 e SULTR1.2, transportadores HATS que participam
da absorção de SO42– pelas células da epiderme do córtex radicular – têm
acúmulo de transcritos em resposta à limitação de S (TAKAHASHI et al.,
2000; VIDMAR et al., 2000; SHIBAGAKI et al., 2002; YOSHIMOTO et al.,
2002). Embora SULTR1.1 e SULTR1.2 tenham, aparentemente, função
redundante na absorção de SO42– nas raízes, algumas diferenças são
observadas. Em condições normais, maior expressão de SULTR1.2 é
observada, e a inibição da sua expressão reduz em 70% a absorção de SO42–
(MARUYAMA-NAKASHITA et al., 2003; YOSHIMOTO et al., 2007;
BARBERON et al., 2008). Em adição, duplos mutantes SULTR1.1/SULTR1.2
são capazes de sobreviver em meio suplementado com SO42–, sugerindo,
assim, a existência de uma outra via no sistema de absorção e transporte de
SO42– (YOSHIMOTO et al., 2007; BARBERON et al., 2008). Coletivamente,
esses resultados indicam que os HATS atuam em conjunto com outros
transportadores para garantir a absorção e transporte de SO42–.
Entre os LATS para SO42–, quatro – SULTR1.3, SULTR2.1, SULTR3.5
e SULTR2.2 – são expressos nas células do sistema vascular, ao passo que
SULTR4.1 e SULTR4.2 estão presentes em células do tonoplasto, facilitando o
transporte via efluxo de SO42– do vacúolo. Em contraste com a membrana
plasmática, o gradiente eletroquímico do tonoplasto favorece a difusão do
SO42– para dentro do vacúolo através de canais específicos. Cabe mencionar
que SULTR2.1 é capaz de restaurar o crescimento em mutantes para
transporte de SO42– em leveduras, bem como o influxo de SO42–
(TAKAHASHI et al., 1997, 2000). Esse transportador localiza-se
particularmente no periciclo e em células do parênquima do xilema nas raízes,
assim como em células do parênquima do xilema e floema da parte aérea
(TAKAHASHI et al., 1997, 2000).
Essa expressão espacial diferente sugere um processo de facilitação da
distribuição do SO42– nos diferentes tecidos em condições de limitação desse
nutriente. A indução na expressão de SULTR2.1 no cilindro central da raiz
previne a perda de SO42– das células do parênquima e contribui para a
manutenção do transporte simplástico de SO42– para o xilema nas raízes. No
entanto, a repressão de SULTR2.1 na parte aérea previne a recuperação do
SO42– das células do parênquima dos tecidos vasculares, permitindo também
que o SO42– seja distribuído de forma mais eficiente para as células do mesofilo
localizadas distante das células vasculares.
O SULTR3.5, um LATS, é expresso no periciclo e nas células do
parênquima do xilema da raiz (KATAOKA et al., 2004b). A sua expressão
sobrepõe-se com o acúmulo de transcritos para o gene SULTR2.1 em
condições de limitação de SO42– (TAKAHASHI et al., 1997, 2000). Não
obstante, os níveis dos transcritos para o gene SULTR3.5 não parecem ser
modulados pela concentração de SO42– (KATAOKA et al., 2004b), e,
consequentemente, a falta de SO42– pode limitar, até certo ponto, o transporte
desse íon da raiz para a parte aérea em condições de limitação de S.
Durante condições de limitada disponibilidade de S, o estoque vacuolar
de SO42– pode ser utilizado. Nessas circunstâncias, transportadores que
exportam SO42– dos vacúolos apresentam contribuição fundamental no
processo de remobilização. Em Arabidopsis, SULTR4.1 e SULTR4.2,
transportadores localizados na membrana vacuolar, o tonoplasto, são
expressos na parte radicular e na parte aérea, predominantemente
encontrados nos vasos (Figura 3.2). Nesses tecidos, em particular, a expressão
de SULTR4.2 é menos abundante e é fortemente induzida em condições de
limitada disponibilidade de S (KATAOKA et al., 2004a). O SO42– que se
encontra no citoplasma é transportado para dentro dos plastídeos pelas
proteínas Triose-Phosphate Transporter – TPT, ou transportador de triose-
fosfato (HAMPP; ZIEGLER, 1977).

Transporte

Xilema
O transporte de SO42– da raiz para a parte aérea inicia-se com a sua
absorção a partir dos pelos e epiderme radiculares, sendo transferido
horizontalmente através dos plasmodesmos para os vasos do xilema. Nas
células do córtex, SULTR1.1 e SULTR1.2 apresentam papel importante na
recuperação do SO42– presente no apoplasto para a via simplástica
(TAKAHASHI et al., 2000; SHIBAGAKI et al., 2002; YOSHIMOTO et al.,
2002). Uma vez que o SO42– tenha sido transferido para o cilindro central, a
distribuição para o periciclo e para as células do parênquima pode ocorrer
pelas conexões simplásticas com o xilema desempenhadas, provavelmente,
pelos transportadores SULTR2.1 e SULTR3.5 (KATAOKA et al., 2004b).
Assim como outros macronutrientes aniônicos, o SO42– é ativamente
acumulado pelas células da raiz. Embora a redução e a assimilação possam ser
realizadas nos plastídeos das raízes, a maior parte do processamento e da
demanda por S ocorre na parte aérea, em que os cloroplastos são os locais da
assimilação de SO42– em cisteína, glutationa e outros metabólitos. De forma
semelhante a outros minerais, o SO42– é transportado das raízes para o xilema,
e do xilema para as folhas, nas quais entra nas células mesofílicas, e é
transportado através do envelope cloroplastídico. Tanto nas raízes como na
parte aérea, o SO42– pode ser transportado através do tonoplasto e estocado
nos vacúolos (Figura 3.2). Nos tonoplastos, H+/ATPases e H+/pirofosfatases
bombeiam H+ de modo contínuo do citoplasma para o lúmem vacuolar,
fornecendo internamente um potencial elétrico positivo (MARTINOIA et al.,
2000, 2007). Em algumas condições, o SO42– pode ser transportado para o
interior dos vacúolos pelo tonoplasto por meio de canais iônicos ou
carreadores. Assim, estudos com vacúolos isolados dos mesofilos indicam uma
cinética bifásica para o influxo de SO42– para os vacúolos, sugerindo a
existência de componentes saturantes (KAISER et al., 1989). No caso do
efluxo de SO42– dos vacúolos, podem ser usadas H+/ATPases e
H+/pirofosforilases. De forma alternativa, um sistema de troca aniônica parece
facilitar o influxo e o efluxo de SO42– através da membrana do tonoplasto.
Além dos papéis na mobilização intracelular do pool de SO42– vacuolar,
SULTR4.1 e SULTR4.2 também controlam a quantidade de SO42– transferido
das células do periciclo e do parênquima para o xilema (KATAOKA et al.,
2004a). Tomadas em conjunto, essas informações sugerem que o transporte de
S no xilema seja governado por diferentes componentes cuja resposta
diferencial à deficiência de S mostra-se importante para o fluxo adequado de S
nas plantas e para a tolerância à limitada disponibilidade desse elemento.
Floema
Embora o S seja um elemento pouco móvel, no que diz respeito à sua
translocação no sentido fonte-dreno, certo aumento de sua mobilidade nos
elementos crivados do floema é comumente observado. A S-metilmetionina e
a glutationa são consideradas as formas de S transportadas via floema
(BOURGIS et al., 1999; HERSCHBACH et al., 2000; KUZUHARA et al.,
2000). O SO42– é encontrado na seiva do floema, pois SULTR2.1 está
localizado nas células do parênquima que envolvem os elementos crivados e as
células companheiras (TAKAHASHI et al., 2000). SULTR2.1 é expresso tanto
em células do xilema quanto em células do floema na parte aérea, e o nível dos
seus transcritos diminui na parte aérea em condições de limitação de S
(TAKAHASHI et al., 2000), sugerindo que a quantidade de SO42– entregue ao
floema possa diminuir quando o S é limitante. Quando as quantidades de
SO42– são favoráveis, seu transporte a partir das folhas mais velhas para as
novas ocorre, provavelmente, de modo ativo através de elementos crivados.
Entretanto, quando o SO42– é limitante, a distribuição local de SO42– dentro
das folhas parece ser mais importante que entregar fontes de S a longa
distância para outras folhas ou órgãos-dreno (YOSHIMOTO et al., 2002).
SULTR1.3 é expresso em células companheiras do floema, e a sua deleção
restringe a transferência de S a partir das folhas cotiledonares para o
meristema da parte aérea e da raiz (YOSHIMOTO et al., 2002). Em condições
limitantes de S sua expressão aumenta, sugerindo a importância na absorção
de SO42– e, assim, a manutenção do metabolismo de SO42– nas células
companheiras do floema em conjunto com a expressão de SULTR2.2.
Assimilação e regulação
A partir do momento em que o S é absorvido e transportado pela planta,
como anteriormente discutido, esse nutriente encontra-se disponível para, de
fato, ser incorporado em moléculas orgânicas. As principais etapas que
ocorrem nesse processo assimilativo serão discutidas a seguir.

Assimilação
A assimilação do S ocorre tanto em tecidos autotróficos quanto em
heterotróficos, havendo variação apenas na fonte de energia para tal processo,
com poder redutor derivado da fotossíntese ou da respiração,
respectivamente. Ocorrem duas grandes vias de assimilação do S em plantas:
uma em que o SO42– é reduzido a S2– e é então incorporado em cisteína, e
outra em que o SO42– é ativado na forma de 3’-fosfoadenosina 5’-fosfosulfato –
PAPS e adicionado em moléculas orgânicas (sulfonação). Tais vias podem
ocorrer tanto no citosol quanto em plastídeos (LEUSTEK; SAITO, 1999;
SAITO, 2004), e ambas compartilham o primeiro passo, a ativação do SO42–.
A assimilação por incorporação do S em cisteínas pode ser dividida em
três etapas: (1) ativação do SO42–, etapa compartilhada com a assimilação via
PAPS; (2) redução do SO42– a S2–; e (3) incorporação do S2– em cisteína. O
único compartimento celular em que podem ocorrer todas as três etapas são os
plastídeos; assim, a ativação pode ocorrer no citosol ou nos plastídeos e a
incorporação de S em cisteínas, em qualquer compartimento em que ocorra
síntese proteica (LEUSTEK, 2002; DROUX, 2004; TAKAHASHI et al., 2011).
O SO42– é quimicamente inerte e precisa ser ativado. Em plantas, a
redução do SO42– ocorre em apenas um passo de ativação, diferentemente do
descrito para microrganismos, em que são necessários dois passos de ativação.
A enzima ATP sulfurilase – ATPS hidrolisa a ligação entre os fosfatos alfa e
beta do ATP e adiciona o SO42– no fosfato alfa, produzindo a adenosina 5’-
fosfosulfato – APS (DROUX, 2004; TAKAHASHI, 2010; TAKAHASHI et al.,
2011).
Depois da produção de APS, dois caminhos são possíveis: a produção de
PAPS pela enzima APS cinase ou a continuação da redução a SO32– pela
enzima APS redutase – APR, que utiliza a glutationa como doador de elétrons.
A redução do SO42– ativado (na forma de APS) ocorre numa reação de duas
etapas em que há um ganho de oito equivalentes redutores (ou oito elétrons)
para produzir um átomo reduzido de S, na forma de S2–, e em seguida esse
SO32– é então reduzido a S2– pela SiR (DROUX, 2004; SAITO, 2004).
A etapa final da assimilação do SO42– é a incorporação do S no primeiro
aminoácido que contém o radical tiol, a cisteína. Duas enzimas estão
envolvidas nessa etapa: a serina acetiltransferase – SAT e a o-aciltransferase
tiol liase – OASTL, e os substratos são o S2– e o-acilserina – OAS. A enzima
SAT catalisa a síntese do precursor OAS a partir de acetil-CoA e serina; já a
enzima OASTL catalisa de fato a síntese de cisteína (LEUSTEK; SAITO, 1999;
DROUX, 2004; SAITO, 2004).

Regulação
Toda a via assimilativa do S em plantas pode ser regulada por flutuações
na concentração extracelular de SO42–. Desse modo, em condições com baixa
disponibilidade de SO42–, as plantas parecem se adaptar e modular a atividade
dos transportadores desse íon (TAKAHASHI et al., 1997).
A SiR é uma enzima dependente de ferredoxina – Fd e muito similar à
NiR quanto à estrutura, podendo até reduzir NO2–, mas numa magnitude
muito baixa; é possível que tenham se originado a partir de uma duplicação
gênica (IMAMURA et al., 2010). Diferentemente da ATPS e da APR, os níveis
de expressão de SiR não são afetados pela variação nutricional de S. O S2– é
um ânion tóxico que em excesso pode danificar as células. Por isso, a SiR é
mantida sempre em demasia, e uma redução significativa de seu conteúdo
resulta numa redução substancial do crescimento de plantas (KOPRIVA et al.,
2007, 2015).
A reação catalisada pela SAT se apresenta como uma conexão entre os
metabolismos do S e do N, e essa enzima tem função regulatória na
assimilação de S. A Arabidopsis possui cinco isoformas de SAT; dessas, três
atuam principalmente em condições normais de crescimento e são inibidas
alostericamente pela cisteína produzida ao fim da assimilação de S. As outras
duas isoformas são induzidas em condições de estresse (por exemplo,
deficiência nutricional e excesso de metais pesados) e parecem estar
relacionadas a respostas adaptativas a tais circunstâncias (SAITO, 2004).
Além disso, a formação de cisteína é controlada por um circuito
regulatório múltiplo que envolve SAT e OASTL. Ambas formam um
complexo enzimático e são as únicas enzimas da via assimilativa do S que se
encontram no citoplasma, em plastídeos e em mitocôndrias. A concentração
de OASTL é muito maior que a de SAT, o que sugere que apenas uma parte da
OASTL forma esse complexo. A quantidade de S2– e OAS controlam a
estabilidade do complexo de maneira inversa. A deficiência em S leva ao
aumento de OAS e a consequente dissociação do complexo. A SAT de forma
livre apresenta atividade muito reduzida e limitada; logo, há acúmulo de S2–, o
que induz a formação do complexo SAT/OASTL (SAITO, 2004).
Conclusões e perspectivas
Nas últimas décadas, foram obtidos progressos expressivos na
compreensão dos mecanismos básicos relativos à assimilação, absorção,
transporte e incorporação em compostos orgânicos em relação aos
macronutrientes N e S. Muitos avanços foram possíveis graças ao uso de
ferramentas moleculares e à utilização de plantas modelos, como a Arabidopsis
e seus mais variados mutantes. Ademais, tanto para o N quanto para o S, as
principais proteínas e genes responsáveis pela metabolização em plantas foram
previamente identificados. Tomadas em conjunto, essas informações,
associadas às interações ambientais e à compreensão dos ciclos
biogeoquímicos desses macronutrientes, fornecem o aporte básico necessário
para o desenvolvimento de cultivares e melhoramento genético de culturas de
interesse, no que tange ao aumento ou manutenção de produtividade. Além
disso, tem-se atualmente todas as ferramentas requeridas para aplicações
biotecnológicas com interesse nutra- e farmacêutico, e quanto à
sustentabilidade e eficiência no uso de N e S.
Não obstante, sabe-se que deficiências nos níveis de N e S geram
alterações no crescimento e no metabolismo vegetal. Limitações em ambos os
nutrientes não somente limitam a capacidade de sintetizar cisteína, mas
também reduzem a síntese de proteínas e, por consequência, a taxa com que
todos os aminoácidos são incorporados em proteínas (LEUSTEK, 2002).
Nesse contexto, o maior desafio atual reside na capacidade de melhorar a
eficiência de uso desses nutrientes, incluindo otimização no suprimento e
demanda, maximização nas taxas de absorção e assimilação, com perdas
mínimas, que culminem em maiores produtividades. Como discutido ao longo
deste capítulo, grandes oportunidades para investigar em profundidade tais
desafios por meio de técnicas agronômicas, melhoramento clássico e
molecular são evidentes. Embora muito do nosso conhecimento tenha sido
obtido em condições de laboratório com plantas modelo – como a Arabidopsis
thaliana –, existe ainda enorme necessidade de validação em condições de
campo sob diferentes ambientes, o que se espera que aconteça em um futuro
próximo. Assim, todos os avanços discutidos aqui, colocados em um contexto
de planta inteira e condições ambientais distintas, possibilitarão a identificação
de características de interesse cujas relações genótipo-ambiente-fenótipo serão
otimizadas, em larga escala, para produção sustentável.
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ZAHRAN, H. H. Rhizobium-legume symbiosis and nitrogen fixation under severe conditions


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v. 63, n. 4, p. 968-989, 1999.
8 Departamento de Biologia Vegetal, Universidade Federal de Viçosa – UFV, Viçosa, MG,
Brasil. E-mail: vitorlnasc@gmail.com
9 Departamento de Biologia Vegetal, UFV, Viçosa, MG, Brasil. E-mail:
carla.quinhones@gmail.com
10 Departamento de Biologia Vegetal, UFV, Viçosa, MG, Brasil. E-mail:
marcelogmvvaz@gmail.com
11 Departamento de Biologia Vegetal, UFV, Viçosa, MG, Brasil. E-mail: nunesnesi@ufv.br
12 Departamento de Biologia Vegetal, UFV, Viçosa, MG, Brasil. E-mail: wlaraujo@ufv.br
Capítulo
4
Fixação Biológica do Nitrogênio
Cesar Arrese-Igor13, Mariangela Hungria14 e Ildefonso Bonilla15

Este capítulo é dedicado à memória de Federico Sánchez, um


grande amigo, excelente pesquisador e um ser humano
excepcional. Sempre estará em nossas recordações.
Introdução
O N é um dos elementos mais abundantes na natureza. Ele é distribuído
em três reservatórios principais: na atmosfera, na litosfera da Terra e nos
organismos vivos, nos quais está presente como componente de compostos
orgânicos. As relações complexas entre esses três reservatórios são conhecidas
como ciclo de N.
O N na litosfera, apesar de representar quantitativamente o maior
reservatório desse elemento, tem apenas uma pequena participação nesse
ciclo, e a maior parte do N necessário para o crescimento das plantas é
derivada da atmosfera. O N gasoso (N2) é um gás relativamente inerte devido
à sua ligação covalente tripla, contudo, em certas condições, pode reagir com
outros compostos, resultando em produtos que podem ser assimilados pelas
plantas e outros organismos. A quantidade global de N2 fixada anualmente é
estimada em cerca de 250 Tg (Tg = 106 toneladas métricas).
Aproximadamente 13% desse total se deve à oxidação de N2 para ácido nítrico
na presença de O2 e vapor de água, provocada por descargas elétricas, e os 87%
restantes são fixados por organismos procariotos no processo conhecido como
fixação biológica do nitrogênio – FBN (Figura 4.1).
O N é um dos principais constituintes dos organismos vivos e compõe
diversas biomoléculas vegetais, tais como proteínas, ácidos nucleicos,
porfirinas e alcaloides. As plantas podem obter N pela absorção e assimilação
de nitrato (NO3–) e amônio (NH4+) dos solos (ver Capítulo 2). No entanto, a
disponibilidade de N-inorgânico no solo, em particular em terras agrícolas, é
bastante limitada em virtude da extração do solo pelo cultivo intensivo. Desse
modo, o N é normalmente fornecido sob a forma de fertilizantes
nitrogenados, uma vez que é requerido em grandes quantidades para a
produção agrícola. No entanto, o uso intensivo de fertilizantes nitrogenados
na agricultura tem implicações ambientais relevantes. Em primeiro lugar, a
crescente concentração de NO3 nas águas de superfície e subterrâneas pode
levar à eutrofização e, como consequência, a problemas de saúde pública,
incluindo a metemoglobinemia infantil e câncer relacionados à produção de
aminas secundárias. A eutroficação das águas também traz profundos reflexos
na vida animal e vegetal, pois favorece a proliferação de diversas algas,
formando uma camada espessa que impede a realização da fotossíntese, o que
acaba por resultar em mortalidade dos organismos fotossintéticos. Com isso,
proliferam bactérias decompositoras que consomem o oxigênio disponível,
resultando na morte de peixes e de outros organismos aquáticos. Em segundo
lugar, a produção de diversos compostos voláteis N (N2O, NOx, NH3) conduz
à poluição da atmosfera, processo conhecido como emissão de gases de efeito
estufa – GEE, impactando a camada de ozônio e a produção de chuva ácida.
Como comparação do impacto das formas gasosas de N, o potencial de
aquecimento global do N2O é 300 vezes superior ao do dióxido de carbono
(CO2).
Deve-se considerar, ainda, que a base para a produção de fertilizantes
nitrogenados reside na chamada reação Haber-Bosch, em que N2 é reduzido a
NH3, na presença de H2, sob condições de altas temperaturas e pressão (cerca
de 500 °C e 350 atm), portanto, com altos custos econômicos e energéticos, em
geral fornecidos por fontes de petróleo. Considerando esses problemas
ambientais e de saúde – juntamente com o maior custo energético necessário
para a produção de fertilizantes nitrogenados químicos –, existe claramente a
necessidade de utilizar fontes alternativas de N que sejam sustentáveis e
compatíveis com o meio ambiente. A FBN representa uma alternativa valiosa,
em particular para certas plantas que são capazes de estabelecer relações
simbióticas com algumas bactérias fixadoras de N2.
Este capítulo foca na FBN, com ênfase na catálise enzimática, na
distribuição dos microrganismos na natureza e na contribuição do processo
para o ciclo de N. São fornecidas também informações sobre como é o
processo de formação de nódulos, indicando a complexidade na sinalização
entre os parceiros dessa simbiose mutualista, parceiros estes que podem ter
coevoluído a partir de um processo patogênico. São discutidos ainda os
diferentes processos necessários para a manutenção do funcionamento dos
nódulos, contribuindo para um melhor entendimento de como esses processos
estão interligados e como respondem às mudanças ambientais. A importância
das leguminosas e de outras associações fixadoras de N2 é destacada neste
capítulo em razão da sua contribuição para a sustentabilidade do planeta.
Finalmente, discutem-se os desafios futuros e perspectivas para a FBN.

Figura 4.1 - Taxas globais de fixação e participação no ciclo de N.


Nitrogenase

A reação da nitrogenase
A FBN é catalisada por um complexo enzimático conhecido como
nitrogenase, presente apenas em organismos procariotos. Esses organismos são
chamados fixadores de N2, mas também diazotróficos ou diazotrofos. A reação
é altamente endergônica – cerca de 960 kJ mol–1 fixado de N2. Em condições
fisiológicas, os elétrons são usados para reduzir o N2 a NH4+ e, em menor
grau, o H+ a H2, de acordo com a seguinte estequiometria:

Reação 1: N2 + 16 ATP + 10 H+ + 8e– → 2 NH4+ + H2 + 16 + ADP + 16 Pi

O complexo enzimático da nitrogenase


O complexo da nitrogenase é composto por duas ferro-sulfo-proteínas
distintas. A Fe-proteína (ferro-proteína, ou redutase da dinitrogenase, ou
componente II) é um dímero com estrutura α2 e massa molecular de 62 kDa.
Ela contém um aglomerado [4Fe·4S] que acredita-se estar localizado na
interfase entre os dois monômeros. A FeMo-proteína (ferro-molibdênio-
proteína, ou dinitrogenase, ou componente I) é um tetrâmero com estrutura
α2β2 e massa molecular de 220 kDa, e contém cerca de 30 átomos de Fe, um
número equivalente de átomos de S ácido lábeis e dois átomos de Mo. A
maioria dos átomos de Fe e S formam aglomerados [8Fe·7S], os quais são
envolvidos na transferência de elétrons entre os dois componentes da
nitrogenase. A Fe-Mo-proteína também abriga dois outros centros que
contêm Mo e homocitrato, além de Fe e S. Esses dois centros são
denominados cofator FeMo, ou FeMoco – cuja estequiometria é [Fe7MoS9] –,
diretamente envolvido na catálise enzimática. Ambos os componentes são
extremamente sensíveis ao O2 e são irreversivelmente inativados pela
exposição ao ar.
Os mecanismos de reação do complexo nitrogenase foram estudados
principalmente nos organismos diazotróficos de vida livre, mas os modelos
propostos parecem ser válidos para a maioria das bactérias fixadoras de
nitrogênio. A Fe-proteína reduzida sofre uma alteração em sua conformação,
que torna o seu potencial de redox mais negativo (pelo menos 100 mV) pela
ligação de duas moléculas de ATP (sob a forma do complexo ATP-Mg),
podendo então reduzir a FeMo-proteína. Durante cada ciclo de transferência
de elétrons, a Fe-proteína associa-se e desassocia-se da FeMo-proteína, e duas
moléculas de ATP-Mg são hidrolisadas. Esse ciclo deve ser repetido oito vezes
para resultar na redução de uma molécula de N2.
A síntese do complexo da nitrogenase requer por volta de 20 genes, com
pequenas diferenças entre espécies, agrupados em cerca de sete operons. Os
genes ni H, ni D e ni K codificam as proteínas estruturais da nitrogenase, ou
seja, a única subunidade da Fe-proteína e as subunidades α e β da FeMo-
proteína, respectivamente. O complexo nitrogenase é regulado in vivo em
diferentes níveis: transcrição, tradução, disponibilidade de substratos,
modificação covalente e modulação alostérica. A expressão de genes é
controlada por genes nif da família ntr.

Eficiência relativa da nitrogenase


Como já mencionado na reação 1, o H2 é um subproduto obrigatório da
reação do complexo da nitrogenase. O termo eficiência relativa – ER ou
coeficiente de atribuição de elétrons – CAE foi definido como a proporção do
fluxo total de elétrons alocados para a nitrogenase e que são utilizadas
efetivamente na redução do N2, isto é, que não são utilizados na produção de
H2. A representação para essa eficiência é descrita como:

ER = 1 – (elétrons para a redução do H+ / elétrons para a redução de H+


e N2)
Um valor de ER igual a 1 indica que não há H2 envolvido no sistema. A
maioria dos sistemas apresenta valores de ER entre 0,3–0,6. Uma vez que o H2
é produzido em todos os sistemas conhecidos de FBN, um valor próximo a 1
indica um sistema enzimático capaz de reciclar todo o H2 produzido. A enzima
responsável por essa reciclagem, oxidando o H2, é conhecida como
hidrogenase (hydrogenase uptake – Hup). A hidrogenase tem massa molecular
de 100 kDa e consiste de duas subunidades de 63 e 33 kDa. Ela contém Ni e Fe
na razão aproximada de 01:10, e o Fe faz parte de um centro [Fe·S]. A enzima
tem um Km (H2) de 1 mmol L–1 e a sua meia-vida no ar é de 70 minutos.

Necessidades fisiológicas para a atividade da


nitrogenase
Para que microrganismos diazotróficos simbióticos ou de vida livre
tenham uma nitrogenase totalmente funcional é necessário: (a)
disponibilidade de um substrato energético, a fim de permitir a sua atividade,
que é altamente exigente em termos energéticos; (b) equilíbrio de O2
adequado que permita maximizar a uso de substratos produtores de energia
sem danificar o complexo da nitrogenase, que é altamente sensível ao O2; e (c)
manutenção de um status adequado de N, uma vez que a nitrogenase dos
diazotróficos é inibida ou danificada irreversivelmente quando existe N em
abundância. No entanto, como será visto a seguir, os mecanismos que
organismos diazotróficos simbióticos ou de vida livre adotam para lidar com
esses três requisitos podem divergir consideravelmente.

Organismos fixadores de nitrogênio


O potencial de um dado organismo para realizar a FBN pode ser
verificado pela capacidade de incorporar 15N2 em sua biomassa. A presença de
genes que codificam proteínas da nitrogenase (genes nif) também é
considerada sob a perspectiva genética. O espectro de organismos fixadores de
N2 é muito amplo, de forma que eles podem ser encontrados em quase todos
os hábitats.

Organismos diazotróficos de vida livre


A distribuição ecológica das diferentes espécies diazotróficas depende,
em grande parte, da estratégia de cada um no processo de evolução em relação
à proteção do complexo da nitrogenase contra o O2. Organismos diazotróficos
compreendem desde os anaeróbios estritos (Desulfovibrio e Clostridium),
anaeróbios facultativos, que só fixam N2 em condições anaeróbicas (Klebsiella e
Citrobacter), ou em condições microaeróbias ou microaerofílicas (Azospirillum e
Xanthobacter), até os aeróbios estritos (tais como Azotobacter e Beijerinckia).
Organismos anaeróbios facultativos não possuem sistemas relevantes
para proteger a nitrogenase contra o O2, e só fixam N2 quando O2 é quase ou
totalmente ausente. Em contrapartida, Azotobacter é uma das bactérias mais
tolerantes ao O2. A adaptação de Azotobacter a concentrações crescentes de O2
ocorre em dois níveis: primeiro, com mudanças no conteúdo de alguns
citocromos que provocam um aumento na atividade respiratória (“proteção
respiratória”); segundo, com a formação de um complexo entre a nitrogenase e
uma terceira ferro-sulfo-proteína, inativa mas estável (“proteção
conformacional”).
Um tema que tem recebido atenção crescente nos últimos anos é o da
FBN com organismos diazotróficos associativos e endofíticos com não
leguminosas, em especial gramíneas. Esses microrganismos diazotróficos são
conhecidos há muito tempo, mas a novidade reside no fato de que se localizam
na rizosfera ou no interior das plantas, identificados como nichos adequados
para o melhor desempenho da FBN. Isso pode estar relacionado com fatores
como menor disponibilidade de O2 no solo, ou com maior disponibilidade de
fontes de carbono. Existe um longo debate para definir se um microrganismo
diazotrófico pode ser denominado endófito – uma vez que, na maioria dos
casos, a colonização é restrita ao apoplasto – e sobre a transferência efetiva do
N fixado para a planta hospedeira. Em alguns casos, os efeitos positivos no
crescimento das plantas são atribuídos à produção de fitormônios, e não à
transferência efetiva do N fixado. Essas bactérias também são conhecidas
como rizobactérias promotoras do crescimento de plantas – RPCP. Com o avanço
nos estudos, tem-se hoje uma ideia mais clara sobre a contribuição de algumas
bactérias diazotróficas e endofíticas para a nutrição nitrogenada de plantas,
especialmente gramíneas. Embora a quantificação dessa contribuição seja
difícil, conforme será discutido neste capítulo, a FBN associada a bactérias
diazotróficas de vida livre é de grande importância ecológica, ainda que, no
contexto global de contribuição da FBN, contribua com menos de 25% do
aporte de N.

Cianobactérias diazotróficas
A FBN em cianobactérias é muito interessante, visto que vários
mecanismos de evolução foram exigidos para que esses organismos fossem
capazes de realizar fotossíntese aeróbica de uma forma semelhante à das
plantas e, portanto, disponibilizar O2. Consequentemente, é necessário não só
proteger a nitrogenase do O2 externo, mas também do O2 produzido pelo
próprio organismo. Entre cianobactérias diazotróficas, algumas são fixadoras
de N2 em condições aeróbias, enquanto outras realizam a FBN em condições
microaeróbicas.
Aquelas cianobactérias que realizam a FBN sob condições aeróbicas são
filamentosas e contêm, em adição às células vegetativas, um tipo particular de
célula denominado heterocisto, no qual está o complexo da nitrogenase.
Heterocistos têm uma parede celular mais espessa, com polissacarídeos
abundantes e glicolipídeos, que restringem a difusão de O2. Os heterocistos
também expressam a hidrogenase, mas não possuem o fotossistema II. Essas
duas características permitem manter a concentração de O2 intracelular em
um nível mínimo. Os heterocistos recebem dissacarídeos de células vegetativas
e, em troca, exportam o N fixado na forma de glutamina – Gln.
As cianobactérias que não possuem heterocistos só são capazes de fixar
N2 sob condições microaeróbicas (Plectonema, Phormidium), ou condições
aeróbicas, mas somente quando existe uma separação temporal entre a
fotossíntese e a FBN (Gloeothece, Oscillatoria). Assim, a fotossíntese ocorre
durante o dia – incluindo a fotólise da água e, consequentemente, a evolução
de O2 e a geração de ATP, enquanto a nitrogenase permanece inativa. Durante
a noite, a respiração mantém uma baixa concentração de O2, evitando danos à
nitrogenase pelo O2, de modo que a FBN é capaz de utilizar a energia
acumulada durante o período de luz.
Embora as cianobactérias sejam capazes de fixar N2 como organismos de
vida livre, algumas também realizam a FBN em simbiose com diversos
organismos: diatomáceas; endossimbiontes fúngicos com Geosiphon;
associações com fungos para formar líquens; fetos aquáticos, como Azolla;
cicadáceas; e a angiosperma Gunnera (Figura 4.2B).
A combinação de FBN e fotossíntese em cianobactérias foi crucial para o
desenvolvimento da vida tal como ela existe hoje na Terra. Heterocistos já
estavam presentes nos primeiros fósseis de organismos vivos, conhecidos
como estromatólitos. Estima-se que a fixação biológica do nitrogênio realizada
por cianobactérias possa representar mais de um terço da contribuição global
da FBN.

Plantas actinorrízicas
Frankia é uma actinobactéria (ou actinomiceto) capaz de formar
associações simbióticas com mais de 200 espécies pertencentes a oito famílias
de angiospermas não leguminosas. Essas plantas têm alguns tumores ou
nódulos nas raízes após a infecção com Frankia e são, assim, denominadas
plantas actinorrízicas (Figura 4.2A, B). Em geral, são arbustos ou árvores
pioneiras em solos pobres em N, ou em climas adversos; são, portanto, de
grande importância ecológica e florestal. Além disso, essas e outras espécies
actinorrízicas podem ser intercaladas ou utilizadas em rotações de culturas
intercalares com outras árvores a fim de enriquecer o solo em N. Plantas
actinorrízicas também têm sido usadas como espécies ornamentais (Eleagnus)
para produzir frutos para consumo humano (Hippophae) e como colonizadoras
de áreas de mineração ou de dunas costeiras (Casuarina).
O processo de infecção e desenvolvimento de nódulos nas raízes de
plantas actinorrízicas é pouco conhecido em comparação com o das
leguminosas. Em Alnus, a infecção dos pelos radiculares é precedida por uma
modificação estrutural das raízes e, em vez de encurvamento (ver próxima
seção), ocorre uma divisão desses pelos. Após a invasão por Frankia, as plantas
produzem abundante material de parede celular secundário que é colonizado
pelas hifas de Frankia, as quais progridem em direção à base, tanto em nível
inter como intracelular. Em Eleagnus, as hifas progridem entre as células da
epiderme, nos espaços intercelulares; em seguida, material vegetal é secretado
abundantemente em torno das hifas. Ao contrário das leguminosas, o endófito
(Frankia) está localizado no córtex nodular. Na maioria das plantas
actinorrízicas – sendo uma exceção aquelas pertencentes à Casuarinaceae –,
são desenvolvidas vesículas nas extremidades das hifas. Essas vesículas são, de
certo modo, equivalentes, do ponto de vista funcional, aos heterocistos das
cianobactérias, uma vez que contêm o complexo da nitrogenase, bem como
paredes de lipídeos em multicamadas, que limitam a difusão de O2. Além
disso, as paredes celulares também passam por mudanças pela deposição de
lignina e substâncias semelhantes à suberina, que tornam essas estruturas à
prova de água, e hemoglobinas actinorrízicas são sintetizadas nos nódulos
dessas plantas.

Figura 4.2 - Nódulos de diferentes organismos fixadores de nitrogênio. Na


linha superior: (A) isolado de Frankia; (B) nódulos actinorrízicos
de Coriaria; e (C) detalhes de um nódulo de soja seccionado,
evidenciando a coloração vermelha da leg-hemoglobina na região
central, infectada. Na linha inferior: (D) raiz nodulada de ervilha;
(E) nódulo de alfafa em detalhe; e (F) raiz de soja nodulada.
Fotos: Mariano Igual, Walid Sadok e Ruben Ladrera.
Simbioses rizóbios-leguminosas

Os parceiros simbióticos
A simbiose rizóbio-leguminosa não só representa a forma mais
difundida de FBN, como também a contribuição mais importante em termos
econômicos. As simbioses ocorrem entre as raízes de leguminosas, com
algumas exceções, e bactérias de diferentes gêneros, coletivamente
denominados rizóbios (Figura 4.3). Essas bactérias foram a princípio descritas
como Bacillus radicicola em 1888 por Beijerinck, tendo sido isoladas e
cultivadas a partir de nódulos de leguminosas. Mais tarde foram reclassificadas
como Rhizobium. Nos dias atuais, a taxonomia das bactérias capazes de formar
nódulos em leguminosas é constantemente revisada, mas o nome comum –
rizóbios – ainda permanece para indicá-las. Excepcionalmente, essas bactérias
também podem formar nódulos em simbiose com a não leguminosa
Parasponia, pertencente à família Ulmaceae. Além disso, embora na grande
maioria dos casos os nódulos sejam formados nas raízes, algumas espécies são
capazes de formá-los no caule (Sesbania, Aeschynomene), com cloroplastos. A
capacidade de nodulação foi verificada em cerca de 3.400 espécies, que
representam cerca de 57% dos gêneros de leguminosas. Contudo, há variação
entre as subfamílias de leguminosas: 25% em Caesalpinioideae, 90% em
Mimosoideae e 97% em Papilionoideae.
Figura 4.3 - Dendrograma das relações filogenéticas entre rizóbios e espécies
relacionadas (baseado na análise de 16S rDNA).

Rizóbios em geral apresentam forma de bacilos e não formam esporos.


Sua mobilidade se deve a um flagelo polar ou subpolar, ou entre dois e seis
flagelos peritríquios. As colônias são mucilaginosas por causa da presença de
polissacarídeos extracelulares. Rizóbios são bactérias aeróbicas, Gram-
negativas e podem usar uma variedade de fontes de C. Nos primórdios da
taxonomia, as classificações taxonômicas consideraram características
fenotípicas, tais como especificidade da planta hospedeira, morfologia das
colônias, crescimento em meio seletivo e propriedades metabólicas e
genéticas. Com um conjunto maior de informações, em 1984, foram
diferenciados dois gêneros: Rhizobium e Bradyrhizobium.
O gênero Rhizobium nodula leguminosas de clima temperado – alfalfa
(Medicago sativa), ervilha (Pisum sativum), trevo (Trifolium spp.) –, e
leguminosas subtropicais e tropicais – feijoeiro (Phaseolus vulgaris), leucena
(Leucaena spp.), gliricídia (Gliricidia spp.), entre outras –, e apresenta
crescimento rápido em meio de cultura que contém manitol como fonte de C,
o qual se torna acidificado após o crescimento das bactérias. Os genes
relacionados à FBN em Rhizobium em geral estão localizados em
megaplasmídeos.
O gênero Bradyrhizobium estabelece simbioses com plantas tropicais e
subtropicais – por exemplo, soja (Glycine max) e feijão-caupi (Vigna
unguiculata). Em meio de cultura que contém manitol como fonte de carbono,
apresentam crescimento lento e alcalinizam o meio. Os genes relacionados à
FBN estão localizado no cromossomo, em geral em uma ilha genômica
denominada ilha simbiótica, com poucas exceções.
Estudos mais recentes com base em critérios moleculares permitiram a
descrição de novos gêneros e a reclassificação de outros, dando origem aos
gêneros Azorhizobium, Allorhizobium, Mesorhizobium, Neorhizobium,
Pararhizobium, Sinorhizobium (Figura 4.3). Cabe salientar, porém, que, com os
avanços crescentes em novas metodologias, com ênfase em novas ferramentas
taxonômicas, são cada vez mais frequentes as alterações na classificação dos
organismos. Como exemplo, bactérias que nodulam a alfafa, originalmente
classificadas como Rhizobium, foram depois reclassificadas como Sinorhizobium,
sendo mais tarde sugerido que deveriam ser reclassificadas no gênero Ensifer.
Há várias discussões em curso no Subcomitê de Taxonomia de Agrobacterium e
Rhizobium e no Comitê Internacional em Sistemática de Procariontes16. Além
disso, cabe também destacar que existe uma discussão ainda mais profunda,
com base no conhecimento adquirido com o sequenciamento de genomas, no
qual se identificou uma quantidade enorme de genes que foram transferidos
entre bactérias por transferência horizontal. Esse mosaico que muitas vezes
representa os microrganismos levanta a dúvida sobre se realmente é aplicável
a definição de espécies para bactérias.
De grande interesse são também os novos gêneros de microrganismos
capazes de nodular leguminosas que foram descritas nas últimas duas décadas,
não somente entre as α-proteobacteria – Devosia, Methylobacterium,
Ochrobactrum, Phyllobacterium e mesmo no gênero patogênico Agrobacterium –,
mas também entre as β-proteobacteria – Burkholderia (recentemente
reclassificada para Paraburkholderia), Cupriavidus e Herbaspirillum (Figura 4.3).
Isso sugere que a capacidade de fixar N2 em simbiose com leguminosas pode
ser mais generalizada do que se acreditava. Além disso, deve-se notar que essas
novas espécies podem ter surgido através da transferência lateral de genes
simbióticos.
Atualizações sobre a taxonomia dos rizóbios podem ser encontradas em
vários websites (veja a lista nas Referências deste capítulo). Outra
característica interessante revelada por esses estudos moleculares é sobre a
relação taxonômica estreita entre as espécies classificadas de rizóbios clássicos
e agentes patogênicos, a exemplo da Agrobacterium, bem como patógenos de
mamíferos, como Brucella (Figura 4.3). Isso sugere que poderia ter havido uma
relação patogênica entre rizóbios e leguminosas que, mais tarde, coevoluiu
para uma simbiose mutualística mais sofisticada.

O reconhecimento entre os parceiros


simbióticos
Os rizóbios, quando em vida livre, são saprófitos do solo e competem
com as bactérias quimioheterotróficas. A densidade média da população de
rizóbios nos solos varia de 10 a 106 células por grama de solo, e a sua
sobrevivência parece estar relacionada à capacidade de utilizar compostos
orgânicos presentes em concentrações muito baixas. A multiplicação de
rizóbios na rizosfera, isto é, na porção do solo imediatamente adjacente às
raízes, é um fenômeno que precede o próprio processo de infecção. Embora a
rizosfera seja colonizada por uma vasta gama de microrganismos, a
composição química de exsudatos de raízes pode influenciar a seletividade de
certas bactérias.
A especificidade entre espécies leguminosas e estirpes de rizóbio envolve
uma troca intensa de sinais moleculares. Moléculas exsudadas em baixas
concentrações (nmol L–1) pelas raízes de leguminosas, em geral flavonoides –
luteolina, naringenina, genisteína, entre outros –, possuem propriedades
quimiotáticas, atraindo os rizóbios para a superfície da raiz (rizoplano). Os
mesmos flavonoides em concentrações maiores (µmol L–1) ativam os genes
bacterianos responsáveis pela nodulação – genes nod, noe e nol (Figura 4.4).
Para a maioria das simbioses estudadas até o presente momento, os produtos
dos genes nodA, nodB e nodC são necessários para a síntese de sinais
moleculares bacterianos, que são oligossacarídeos lipoquitínicos e representam
a espinha dorsal da molécula-sinal sintetizada pelo rizóbio. Essa molécula é
então acilada por produtos dos genes nodEFG, formando uma estrutura de
oligossacarídeo lipoquitínico, que é ainda modificada por genes específicos de
cada uma das espécies de bactérias, resultando em moléculas-sinal
denominadas fatores de nodulação, ou fatores Nod (Figura 4.4).
Os fatores Nod induzem o encurvamento do pelo radicular e, nas
camadas mais profundas de células, fixação do Ca, promovendo eventos de
retomada da divisão celular e formação de primórdios nodulares. Cabe
salientar, porém, que existem exceções: por exemplo, em estirpes de
Bradyrhizobium, microssimbiontes de Aeschynomene, o sequenciamento do
genoma indicou uma via independente dos genes nod para a nodulação. Nesse
ínterim, as bactérias aderem às raízes, invadem as células dos pelos radiculares
por meio de um cordão de infecção e se transformam em bacteroides,
formando os simbiossomas, capazes de fixar N (Figura 4.4).
Figura 4.4 - Sequência de eventos que conduzem à nodulação.
Fonte: Adaptado de HIRSCH, 1992.

A especificidade dos flavonoides da planta para atrair os rizóbios


específicos e induzir a síntese de fatores Nod, e as respostas que esses fatores
causam em uma determinada espécie, explicam o conceito utilizado há décadas
de grupo de inoculação cruzada, isto é, de espécies específicas de rizóbios para
cada leguminosa. Desse modo, em Ensifer meliloti, microssimbionte de alfafa, a
estrutura é convertida em uma forma sulfatada pelos produtos de genes nodH,
nodP e nodQ. Por inserção desses genes em certas estirpes rizobianas
pertencentes a outras espécies, é possível obter nódulos em alfafa. Da mesma
forma, a supressão dos genes nodHPQ em E. meliloti faz com que essa espécie
não seja mais capaz de reconhecer e nodular alfafa.
A adição de fatores Nod, mesmo na ausência de bactérias, em
concentrações nanomolares, induz a divisão de células do parênquima no
córtex interno (em nódulos indeterminados) ou externo (em nódulos
determinados). Há estudos que demonstram que, mesmo em quantidades tão
baixas como 1 pmol, essas moléculas são reconhecidas por raízes de
leguminosas. Também foi relatado que os fatores Nod têm efeitos
morfogenéticos em sistemas heterólogos, a exemplo das plantas de tabaco,
cenoura, milho e soja e dos embriões de peixes. Interessantes são também os
relatos de efeitos agronômicos da aplicação de fatores Nod em não
leguminosas, como milho e trigo, incrementando o rendimento das culturas.
Hoje já existem produtos comerciais que contêm fatores Nod destinados às
culturas da soja, feijão, milho, trigo, hortícolas, entre outras.
Com o nódulo formado, tem início o mecanismo de FBN em uma fina
sintonia de relações fisiológicas entre a planta hospedeira e o bacteroide, que
culminam com o aporte de compostos nitrogenados para a planta hospedeira
(Figura 4.5).

Figura 4.5 - Visão geral das relações fisiológicas entre a parte aérea e os
nódulos em leguminosa nodulada.
A formação do nódulo
A adesão das bactérias às raízes parece ser mediada por pelo menos dois
tipos de moléculas: lectinas, que são glicoproteínas (sem atividade enzimática)
produzidas pela planta, e polissacarídeos da parede da célula bacteriana. Uma
vez que o rizóbio esteja associado a um pelo radicular, ocorre uma mudança na
direção do crescimento apical do pelo radicular, conhecido como
encurvamento. Outros modos de invasão de rizóbios também foram descritos,
tais como entrada por feridas (fendas) – bactérias invadem os tecidos da planta
hospedeira por meio da área de emergência de raízes laterais, como em Arachis
e Stylosanthes, padrão esse relativamente comum na família Aeschynomeneae
– e infecções que ocorrem através do tecido epidérmico intacto, bastante
comuns em espécies arbóreas. Esses dois últimos processos parecem ser menos
evoluídos do que o encurvamento do pelo radicular. Com a crescente
diversidade de espécies de rizóbios que vem sendo descrita, resta verificar se
essa característica depende mais do macro ou microssimbionte.
O processo de nodulação mais comum e estudado até o presente
momento é o que ocorre pelo encurvamento dos pelos radiculares. No
contexto molecular, diversos estudos são conduzidos principalmente com o
uso da leguminosa modelo Medicago truncatula17 e Lotus japonicus18. Ao longo
dos últimos anos, ocorreram vários avanços na identi icação de genes e de proteínas
envolvidas na percepção e na transdução de sinais desencadeados por fatores Nod que,
em última instância, conduzem à entrada de Ca2+ e K+ e à saída Cl–, provocando a
despolarização da membrana dos pelos radiculares. As oscilações de Ca2+ ativam uma
proteína quinase dependente desse íon e de calmodulina, iniciando a cascata de
fosforilação da proteína e a indução de genes envolvidos na iniciação do nódulo, que
representa o crescimento do meristema dos tecidos vegetais.
Quando as células vegetais começam a desenvolver um primórdio nodular,
bactérias penetram na parede celular dos pelos radiculares por meio da secreção de
celulases. As bactérias são envoltas em uma estrutura tubular, conhecida como cordão
de infecção, que progride em direção à base do pelo radicular. Esse cordão de
infecção contém uma matriz de origem bacteriana e glicoproteínas de origem
vegetal. O cordão atinge o tecido vegetal com atividade meristemática, e a
diferenciação do nódulo começa.
O desenvolvimento de nódulos segue dois padrões básicos, de acordo
com a planta hospedeira. Em espécies que têm nódulos de crescimento
indeterminado (Figura 4.2 D, E), o cordão de infecção atinge as células
próximas do cilindro vascular e o processo de infecção pode continuar durante
toda a existência do nódulo, com meristemas persistentes. Em espécies com
nódulos de crescimento determinado (Figura 4.2 F), apenas algumas células
são infectadas, e tanto as células da planta como as da bactéria sofrem divisão
ativa até o desenvolvimento de um nódulo funcional, sem meristemas
persistentes.
Em ambos os tipos de nódulos, as células vegetais que contêm
bacteroides – bactérias diferenciadas capazes de fixar N2 – são denominadas
células infectadas, enquanto que aquelas que não contêm bacteroides são
chamadas de células intersticiais ou parênquima. Nódulos maduros possuem um
tecido central rodeado pelo córtex; esse tecido contém as células infectadas e
intersticiais. Nódulos de crescimento determinado normalmente têm uma
forma esférica, enquanto os de crescimento indeterminado tendem a ser
cilíndricos (Figura 4.6A).
Figura 4.6 - Esquema com (A) um nódulo de crescimento indeterminado e (B)
um nódulo de crescimento determinado, com terminações
vasculares fechadas.
Em algumas simbioses primitivas, cordões de infecção não são
devidamente formados ou, em caso afirmativo, bacteroides não são liberados.
Nos nódulos mais evoluídos, incluindo aqueles de plantas de importância
agronômica, a liberação dos bacteroides do cordão de infecção é um pré-
requisito para a FBN. Essa liberação do bacteroide para o citoplasma das
células infectadas da planta hospedeira é produzida por endocitose, e o
bacteroide permanece em uma vesícula denominada simbiossomo.
A membrana do simbiossomo (ou membrana peribacteroidal) contém
material de três fontes: do cordão de infecção, do retículo endoplasmático e da
membrana sintetizada de novo pelo aparelho de Golgi. A ocorrência da
membrana do simbiossomo foi ignorada até bem recentemente, embora seja
da maior importância, tanto em termos funcionais – uma vez que apresenta
alta seletividade para determinados compostos –, como em termos evolutivos.
Neste último caso, o desenvolvimento de uma membrana do simbiossomo
representa um ponto crucial na evolução de uma relação que, inicialmente,
poderia ser de patogenicidade, para uma simbiose mutualística, dado que as
membranas representam uma barreira altamente eficiente para conter as
bactérias.
Depois de sua liberação para os simbiossomos, as bactérias se
diferenciam de bacteroides, que apresentam diferenças morfológicas – de
bacilos para formas em Y e X – e alterações funcionais: bacteroides expressam
atividade da nitrogenase e certos citocromos que não estão presentes em
bactérias de vida livre. Além disso, podem acumular poli-β-hidroxibutirato,
que parece atuar como um reservatório de C.
Quando os primeiros nódulos são iniciados, a formação de nódulos
subsequentes é inibida, na sequência de um processo típico de autorregulação.
Essas respostas são de natureza sistêmica e controladas pela parte aérea, o que
foi confirmado em várias experiências de enxerto da parte aérea de uma planta
na raiz de outra. A remoção dos primeiros nódulos permite a formação de
novos. Em geral, a possibilidade de iniciar novos nódulos é limitada às regiões
em que os pelos radiculares estão presentes e cada segmento de raiz é
suscetível à formação de nódulos por apenas algumas horas. Esse processo
autorregulatório é muito dependente das espécies de leguminosas, e não das
bactérias.

Funcionamento do nódulo
Como já mencionado, a atividade da nitrogenase exige um substrato
energético, balanço adequado de O2 e manutenção de um status de N
satisfatório. O cenário que organismos diazotróficos de vida livre enfrentam é
bastante distinto daquele encontrado nos nódulos, pois, nessas estruturas,
bactérias que são incapazes de fixar N2 como células livres podem passar a
fixar N2 na forma de bacteroides. Foi estimado, experimentalmente, que em
nódulos de leguminosas uma média de 6 a 7 g de C são necessários por grama
de N reduzido, valor consideravelmente mais elevado do que o custo teórico
derivado da reação da nitrogenase (cerca de 1,5 vezes). As principais
características de funcionamento dos nódulos estão descritas abaixo.
Suprimento de carbono
A energia necessária para a FBN é fornecida a partir da fotossíntese pela
planta hospedeira. Fotoassimilados são transportados da parte aérea da planta
para os nódulos, pelo floema, em grande parte sob a forma de sacarose (Figura
4.5). Nos nódulos, a sacarose é potencialmente quebrada para entrar na via
glicolítica por duas enzimas diferentes: invertase alcalina, que produz glicose e
frutose, e sacarose sintase, que catalisa a reação reversível UDP + sacarose +
H+ ⇔ UDP-glucose + frutose, mas acredita-se que a enzima funciona, em
especial, na direção de quebra da sacarose em tecidos de plantas considerados
drenos, com amplo substrato de sacarose e demanda elevada de C nas vias
biossintéticas e respiratórias (Figura 4.7).
A invertase ácida, amplamente distribuída, não teve sua atividade
descrita como relevante em nódulos. Até recentemente, pensava-se que a
atividade de invertase alcalina era predominante, mas vários resultados
indicam que a sacarose é hidrolisada principalmente pela sacarose sintase. Esta
é conhecida por ser reversivelmente fosforilada, mas o significado fisiológico
disso ainda está em debate. Foi demonstrado, recentemente, que a sacarose
sintase pode ser regulada tanto em nível de transcrição como de pós-tradução,
pelo estado redox celular. Isso torna a atividade da sacarose sintase crucial na
regulação dos fluxos metabólicos em nódulos e tem sido sugerido que, dessa
forma, a planta pode exercer um controle rigoroso sobre a economia de C do
nódulo sob condições de limitações ambientais. Em condições nas quais as
plantas enfrentam a escolha entre a sobrevivência e a maximização do
crescimento, evitar que os nódulos se tornem uma carga excessiva frente aos
carboidratos reduzidos da planta pode representar um mecanismo que
resultou de seleção evolucionária, favorecendo a sobrevivência.
Os produtos da quebra da sacarose podem entrar na via glicolítica, cuja
atividade enzimática é altamente expressa nos nódulos. Como resultado, é
formado fosfoenolpiruvato. Em vez de ser quebrado para piruvato, como
ocorre na descrição clássica da glicólise, fosfoenolpiruvato é irreversivelmente
carboxilado a oxaloacetato pela fosfoenolpiruvato carboxilase (phosphoenol
pyruvate carboxylase – PEPC), uma reação que é relevante no sistema de
fotossíntese C4, embora seja uma enzima ubíqua que desempenha também
funções fisiológicas relevantes em plantas C3. A fosfoenolpiruvato carboxilase
requer HCO3–, que é disponibilizado via anidrase carbônica (carbonic anhydrase
– CA) muito ativa. Estima-se que a atividade CA-PEPC possa proporcionar
cerca de 30% do C total requerido para a FBN. O oxaloacetato é prontamente
reduzido a malato pela malato desidrogenase, que apresenta atividade muito
elevada, não limitativa, a fim de fornecer suprimento adequado de malato aos
bacteroides. Isso é importante porque o malato atua como fonte de C, tanto
para a produção de energia nos bacteroides como também para fornecer o
esqueleto de C para a síntese de novos compostos nitrogenados. A evidência
para a relevância do papel fundamental desempenhado pelo malato foi obtida
a partir de experimentos que demostraram que a membrana do simbiossomo é
altamente permeável ao malato e succinato, mas não a outros compostos, tais
como α-cetoglutarato, glutamato, piruvato, arabinose e, em particular,
sacarose e outras hexoses. Isso ocorre pela presença de um sistema de
transporte de dicarboxilato na membrana do simbiossomo com elevada
afinidade para malato (Km = 2 mmol L–1) e succinato (Km = 15 mmol L–1).
Bacteroides têm o seu próprio sistema de transporte de dicarboxilato,
chamado Dct, cuja deficiência abole a FBN (Figura 4.7).
Figura 4.7 - Metabolismo de C e N em células infectadas.

Uma vez incorporados, os ácidos carboxílicos são oxidados durante a


intensa respiração do bacteroide, que fornece ATP e poder redutor para a
atividade da nitrogenase. Essa oxidação ocorre por meio do ciclo do ácido
tricarboxílico em bacteroides de crescimento rápido, enquanto tem sido
sugerido que o ciclo completo do ácido tricarboxílico pode não ser essencial
para os rizóbios de crescimento lento.

Assimilação do nitrogênio fixado


Bacteroides fixam N2 segundo a reação 1. De um modo geral, as enzimas
de assimilação de N são expressas em níveis muito baixos, ou não são
expressas, em bacteroides (embora estejam presentes nas bactérias de vida
livre). Por conseguinte, a difusão de NH4+ ocorre dos bacteroides para o
espaço do simbiossomo, para o posterior transporte da membrana do
simbiossomo para o citosol da planta hospedeira. Ainda se discute se esse
movimento ocorre apenas através de difusão devido a um gradiente elevado
de concentração, ou se isso é facilitado pela ocorrência de um canal de cátions
não seletivo capaz de transportar NH4+, ou de NH3 através de um outro tipo
de canal.
Uma vez na célula da planta hospedeira, NH4+ é assimilado em Gln via
Gln sintetase/Glu (glutamato) sintase. A Gln sintetase catalisa a adição de
NH4+ para glutamato com o consumo de ATP, e a Gln sintase dependente de
NADH transfere o grupo amida do Gln para ácido α-cetoglutarato, com a
formação de duas moléculas de Glu. Em adição, o grupo amida da Gln pode ser
transferido para aspartato – Asp, a fim de tornar asparagina – Asn. A reação é
catalisada pela Asn sintetase e requer a hidrólise de ATP em AMP e
pirofosfato (Figura 4.7).
Junto com essa visão clássica de assimilação do N nos nódulos, foi
proposto um modelo de ciclagem de aminoácidos, entre a bactéria e a planta
hospedeira, o qual opera para uma posterior troca simples de malato/NH4+.
Essa sugestão é apoiada por duas evidências experimentais. Primeiro,
pequenas quantidades de alanina – Ala, Asp e outros aminoácidos parecem ser
secretadas por bacteroides isolados. Segundo, a mutação simultânea dos dois
grandes sistemas de transporte de aminoácidos das bactérias tem um efeito
dramático na FBN em plantas cujos nódulos abrigam esses bacteroides, um
fato que não pode ser facilmente explicado pelo modelo clássico de uma troca
simples.
Embora faltem evidências experimentais sobre quais aminoácidos são
realmente envolvidos, o modelo supracitado tem implicações importantes
para a simbiose rizóbio-leguminosa. Por um lado, o fato de os bacteroides
poderem depender de um fornecimento de aminoácidos da planta sugere que
o macrossimbionte exerceria um papel dominante na simbiose, regulando a
utilização de ácidos dicarboxílicos nos bacteroides através do fornecimento de
aminoácidos. Por outro, os bacteroides agiriam como organelas das plantas
para a síntese de Asp (ou outro aminoácido), com a óbvia dependência da
planta, favorecendo, assim, uma coevolução mútua. De acordo com esse
modelo, a interação entre os dois simbiontes seria mais complexa do que
anteriormente previsto, e ambos os parceiros teriam, aparentemente,
desenvolvido total dependência entre eles.
O N assimilado nos nódulos é exportado para a parte aérea da planta
pelo xilema, sob a forma de amidas ou ureídos. A maioria das leguminosas, em
particular as de origem temperada, exportam o N fixado sob a forma de
amidas, tais como Asn, Gln e, em muito menor extensão, 4-metileno-Gln. Há
vasta literatura a qual indica que as leguminosas de origem tropical e
subtropical exportam o N fixado na forma de ureídos, como alantoína, ácido
alantoico e citrulina. Na verdade, o transporte de ureídos como principal
produto está restrito a algumas espécies das tribos Phaseoleae, Desmodieae e
Psoraleae, embora alguns deles sejam altamente relevantes em termos de valor
econômico, como a soja e o feijoeiro. Ureídos são sintetizados a partir de
amidas, envolvendo a síntese de novo das purinas e a sua subsequente oxidação
para formar ureídos. Enzimas de plantas, tanto de células infectadas (síntese de
purinas) como intersticiais (oxidação de purinas) estão envolvidas. A xantina é
sintetizada a partir de Asp, um processo que requer dez atividades enzimáticas
distintas e, posteriormente, metabolizada a ácido úrico nas células infectadas.
O ácido úrico é, então, transportado para as células não infectadas e, nos seus
peroxissomas, é metabolizado a alantoína pela uricase. A conversão
subsequente do ácido alantoico a alantoína está associada com o retículo
endoplasmático.
O transporte de longa distância do N fixado na forma de ureídos
representa uma economia de C em termos de eficiência de transporte, uma vez
que eles apresentam uma razão C:N de 1, em comparação com razões de 2–2,5
em amidas. Contudo, ureídos são consideravelmente menos solúveis do que
amidas, o que pode explicar a razão pela qual eles são exportados sobretudo
em leguminosas tropicais, que têm nódulos de crescimento determinado com
um sistema vascular fechado que permite uma pressão hidrostática superior.
Em contraste, nódulos de crescimento indeterminado, típicos de leguminosas
de origem temperada, têm ramificações abundantes e, por conseguinte, uma
maior resistência ao fluxo de água, o que provavelmente impediria a
manutenção de ureídos em uma forma solúvel.

Balanço de oxigênio
Bacteroides requerem O2 para sintetizar o ATP necessário para os
processos metabólicos e, em particular, para fixar N2. No entanto, conforme já
comentado, o O2 inibe a síntese de nitrogenase e inativa irreversivelmente o
complexo da nitrogenase. Por causa do microambiente fornecido pela
estrutura dos nódulos, porém, a FBN pode ocorrer em solos aerados. O
balanço de O2 para mantê-lo a uma concentração baixa ou livre – enquanto se
permite um alto fluxo desse elemento – é conseguido pela combinação de três
mecanismos diferentes.
A leg-hemoglobina – Lb, uma proteína monomérica de 16 kDa, está
localizada exclusivamente no citoplasma de células infectadas, com um grupo
prostético de tipo IX protohemo que se liga de modo reversível ao O2. Em
condições fisiológicas, o Fe presente no grupo hemo está em seu estado
reduzido (forma ferrosa). A Lb tem elevada afinidade por O2 (Km = 48–60
nmol L–1), podendo-se calcular que a concentração de O2 ligado à Lb é cerca
de 50 mil vezes maior do que a concentração de O2 livre. Sob essas condições,
a Lb permite uma liberação elevada de O2 a partir da membrana plasmática
das células infectadas, adjacentes aos espaços intercelulares, para as
membranas dos simbiossomos. Em seguida, o O2 livre difunde-se através do
espaço peribacteroidal, que não tem Lb, para alcançar as oxidases terminais de
alta afinidade dos bacteroides. A difusão do O2 fornecida pela Lb e as elevadas
taxas de respiração do bacteroide asseguram que a concentração de O2 no
ambiente da nitrogenase pode ser mantida em torno de 20–100 nmol L–1,
evitando qualquer dano ao complexo.
No entanto, em baixa concentração de O2, a respiração do bacteroide
pode ser prejudicada. Na verdade, rizóbios de vida livre expressam citocromos
aeróbicos típicos aa3 e o, mas bacteroides são capazes de sintetizar o citocromo
cbb3, um produto dos genes ixNOPQ, cujo Km de O2 é tão baixo quanto 7
nmol L–1. Dessa forma, a respiração e a atividade da nitrogenase do bacteroide
podem ocorrer simultaneamente.
Além desses dois mecanismos, uma barreira variável de difusão do O2 foi
descrita em nódulos, em trabalhos pioneiros com microeletrodos, juntamente
com estudos fisiológicos que envolveram medições simultâneas de FBN e de
troca de O2 –como a produção de CO2 – e cálculos de resistência do O2 à
difusão com o uso9 de modelos matemáticos baseados na primeira lei de
difusão de Fick. Foi sugerido que alterações no conteúdo de água dos espaços
intercelulares podem alterar o caminho de O2 do solo para as células
infectadas, uma vez que a resistência à difusão de O2 é cerca de 10 mil vezes
mais elevada na água do que no ar. Essas alterações podem ser relacionadas
com alterações na conformação de glicoproteínas localizadas nos espaços
intercelulares que alteram sua afinidade por água, ou por alterações no
conteúdo de sacarose que, por sua vez, determina os fluxos de água a partir das
células adjacentes. No entanto, os mecanismos celulares e moleculares exatos
através dos quais o controle à barreira de difusão do O2 – BDO – opera ainda
não foram esclarecidos.
Avaliação da fixação de nitrogênio
Medições precisas de um determinado processo representam um
requisito para adequadamente quantificar, comparar e gerenciar o processo. A
FBN pode ser avaliada utilizando diferentes métodos:
a) A atividade da nitrogenase pode ser mensurada in vitro utilizando ATP,
Mg2+ e ditionito de sódio como um doador de elétrons não fisiológico. O O2
deve ser evitado no processo de extração a fim de impedir a inativação da
nitrogenase. Esse método é muito conveniente para estudos de cinética
enzimática; no entanto, é de valor muito limitado para a fisiologia da planta
e abordagens agronômicas.
b) A capacidade da nitrogenase de reduzir vários outros substratos além do N2,
tal como a redução de acetileno (C2H2) a etileno (C2H4), tem sido
amplamente utilizada desde o final dos anos 1960 e, certamente, contribuiu
para o sucesso da pesquisa sobre a FBN. Ambos os gases podem ser
prontamente detectados e quantificados por meio de cromatógrafo de gás,
um equipamento de baixo custo. Como consequência, o ensaio conhecido
como atividade de redução do acetileno – ARA representa uma medida
sensível da atividade da nitrogenase em um dado momento, o que pode ser
muito útil, por exemplo, para a detecção da FBN em culturas bacterianas, ou
em resíduos de plantas que podem ser portadores de bactérias fixadoras de
N2. No entanto, perturbações físicas do nódulo são quase inevitáveis e, além
disso, a substituição parcial de N2 por C2H2 é suficiente para provocar uma
diminuição da atividade. A obtenção de valores pontuais de redução de
C2H2 para fornecer um melhor panorama espacial ou temporal é difícil, e
não se recomenda a técnica em sistemas fechados. Existem, contudo,
sistemas abertos de fluxo contínuo em que a perturbação dos nódulos é
minimizada e várias dezenas de avaliações podem ser obtidas.
c) O hidrogênio é um produto obrigatório de FBN, e a sua medição também
pode ser utilizada para avalia-la. O método é altamente confiável e é
fortemente recomendado para estudos de fisiologia vegetal se a estirpe
bacteriana utilizada não possuir a enzima hidrogenase, sendo, portanto,
Hup– e incapaz de reciclar o H2. Para uma medição exata da FBN, a
atividade de nódulos de plantas não perturbadas deve ser mensurada no ar
por um sistema de fluxo para se obter a atividade da nitrogenase aparente –
ANA e, em seguida, medida sob Ar: O2 (79:21) para se obter a atividade da
nitrogenase total – ANT. A partir desses resultados, as taxas de FBN podem
ser calculadas como (ANT–ANA)/3 e a ER, 1– (ANA/ANT). No entanto, o
método não tem sido aplicado em ensaios rotineiros de campo devido a
dificuldades práticas.
d) O método dos ureídos explora o fato de que algumas das leguminosas
agronomicamente importantes de origem tropical exportam esses
compostos como produtos da FBN. Nessas leguminosas, a proporção de
ureídos em relação ao N total na seiva do xilema está bastante
correlacionada com a percentagem de N derivada da FBN. Os
procedimentos analíticos são simples e exigem equipamentos de baixo
custo, mas o método não é aplicável a todas as leguminosas.
e) O método de balanço de N total baseia-se no princípio de que o sistema
solo-planta o acumula ao longo do tempo se houver uma entrada de N da
FBN. Entretanto, as avaliações da FBN podem ser falhas por causa de perdas
ou adições externas desse elemento.
f) Uma variação simples do método de balanço de N para quantificar a FBN
consiste no método denominado diferença no N. Nele, o N total acumulado
pelas plantas fixadoras de N2 é comparado com o N de plantas vizinhas não
fixadoras. Em solos com fornecimento limitado desse nutriente, tal método
pode ser usado com sucesso considerável.
g) Protocolos experimentais com 15N fornecem estimativas precisas da FBN.
Esses procedimentos envolvem: (i) marcação do N2 na atmosfera que rodeia
15
as plantas fixadoras de N2, seguida de medição de N nas plantas; (ii)
crescimento das plantas em solo ou outro meio de crescimento enriquecido
com 15N (diluição isotópica de 15N) e cálculo da extensão da diluição de 15N
nas plantas pelo 14N atmosférico (fixo); (iii) uso do 15N natural enriquecido
de solos (abundância natural de 15N). Esses protocolos exigem a utilização
de isótopos estáveis e um espectrômetro de massa, o que torna essa
abordagem bastante cara.
h) Finalmente, para as condições em que o N do solo é negligenciável, ou que
a assimilação de N possa ser quantificada, a avaliação da FBN pode ser
conseguida pelo monitoramento do teor de N em um dado tecido e
biomassa da planta, normalizando esses resultados para a biomassa de
nódulos. Embora isso exija várias amostragens para minimizar o desvio
estatístico, bem como limitações para detectar mudanças em um período
muito curto, esse velho método fornece informações valiosas.
Em resumo, nenhum método é apropriado para todas as circunstâncias e
modelos experimentais. Contudo, as quantificações realizadas por variados
métodos permitem estimar a contribuição da FBN em diferentes leguminosas,
fornecendo dados importantes para o balanço de N nos diversos
agroecossistemas.
Fixação do nitrogênio frente às limitações
ambientais
A FBN é dramaticamente afetada por limitações ambientais, sendo mais
sensível do que a assimilação de carbono fotossintético e do que a assimilação
de nitrogênio mineral. Provavelmente o exemplo mais emblemático seja o da
seca, uma vez que as culturas são muito dependentes de um suprimento
adequado de água e, frente às mudanças climáticas globais, períodos
prolongados de estresse hídrico são cada vez mais frequentes. Mas as culturas
também são afetadas por outros fatores ambientais, como salinidade, altas
temperaturas e acidez.
A explicação clássica de inibição da FBN por limitações ambientais é
atribuída à falta de fotoassimilados, pela diminuição das taxas fotossintéticas.
Embora, em longo prazo, seja evidente que a falta de fotoassimilados contribui
para uma diminuição na FBN, é muito improvável que ela possa se recuperar
após reidratação sem que ocorra normalização da fotossíntese.
É importante considerar que o efeito negativo da seca sobre a FBN
representa a soma de quatro respostas diferentes: sobrevivência rizobiana nos
solos, infecção de leguminosas pelos rizóbios, crescimento e desenvolvimento
do nódulo e, finalmente, efeitos diretos sobre o seu funcionamento. Por sua
vez, limitações ao funcionamento do nódulo resultam de uma série de efeitos
sobre vários aspectos básicos da regulação:
a) O fechamento da barreira de difusão do oxigênio redunda em um
decréscimo na disponibilidade de O2 para os bacteroides e, por conseguinte,
em limitação energética para sustentar a FBN. Em fases posteriores, a
degradação da Lb altera o balanço de O2.
b) A deficiência hídrica prejudica o transporte de longa distância, inibindo a
exportação de compostos nitrogenados dos nódulos. O acúmulo desses
compostos conduz ao mecanismo de inibição por autorregulação da FBN.
c) A atividade da sacarose sintase em nódulos é infrarregulada – downregulated
–, levando ao colapso do fluxo glicolítico e a uma diminuição na
concentração de malato, que então não consegue sustentar o bacteroide.
d) Estresses oxidativos podem afetar várias funções dos nódulos,
particularmente a atividade da nitrogenase.
Algumas dessas respostas aos estresses abióticos são compartilhadas com
a senescência natural dos nódulos.
Pouco se sabe sobre os sinais envolvidos na inibição da FBN sob estresse
hídrico. Espécies reativas de O2 parecem desempenhar um papel crucial na
sinalização oxidativa em fases precoces de seca, diminuindo o fornecimento de
C. Em uma fase posterior, o ácido abscísico pode afetar a regulação de difusão
Lb/O2 da FBN. A Lb pode ser também alvo de danos oxidativos.
Embora represente uma das principais limitações à FBN, poucos
progressos foram atingidos para mitigar os efeitos de estresses hídricos na
simbiose. Os estudos conduzidos até o presente momento indicam que a
principal limitação reside na planta hospedeira, de modo que o caminho deve
residir no melhoramento visando à maior tolerância à seca. Em soja, por
exemplo, há resultados promissores de seleção de linhagens com essa
tolerância justamente por conseguirem manter a FBN nessas condições.
Fixação do nitrogênio, agricultura e
sustentabilidade

Leguminosas
Cereais e leguminosas representam as culturas mais importantes do
mundo em termos de distribuição e impacto na nutrição humana. Rotações de
culturas de cereais e leguminosas são utilizadas desde os primórdios da
agricultura, favorecendo a descontinuidade de pragas e doenças. O alto teor de
proteína das leguminosas é de importância fundamental para a alimentação
humana e animal: soja, feijão, ervilha, lentilha, amendoim e grão-de-bico
representam fontes alimentares básicas que fornecem 25–35% da ingestão de
proteínas em todo o mundo. As leguminosas também são essenciais para
melhorar a fertilidade do solo e a qualidade das terras agrícolas, assim como
para recuperar áreas degradadas ou estéreis. A FBN simbiótica contribui
diretamente para a produção de leguminosas destinadas à produção de grãos,
forragens, adubos verdes e árvores, podendo também resultar no
enriquecimento do solo em N. Na Tabela 4.1 podem ser visualizadas
estimativas da contribuição da FBN para algumas leguminosas de importância
econômica.
A adubação nitrogenada em cereais foi um importante aspecto da
Revolução Verde, contudo ainda não foi possível maximizar o rendimento de
várias leguminosas com base exclusivamente na FBN. Em geral, é aceito que
uma planta em simbiose bem adaptada pode ser tão eficiente quanto uma
leguminosa que recebe fertilizante nitrogenado. No entanto, nas primeiras
fases de desenvolvimento das leguminosas, antes do estabelecimento dos
nódulos, a planta tem como N disponível somente o N do solo e dos
cotilédones, e a fotossíntese pode ser limitada pelo N, por sua vez diminuindo
a disponibilidade de C para o desenvolvimento de nódulos. É comum que essa
situação conduza à prática agrícola de adubação no início da cultura, ou “dose
de arranque”. Sabe-se, porém, que a presença de N-inorgânico acarreta a
inibição da formação, desenvolvimento e funcionamento dos nódulos. Muitas
vezes, as leguminosas também são adubadas com N durante a floração, uma
vez que a competição por carboidratos entre as estruturas reprodutivas –
flores e vagens – e os nódulos pode privá-los de carboidratos, levando as
plantas à limitação de N. Vale reforçar que a oferta de fertilizantes
nitrogenados, contudo, conduz à senescência precoce dos nódulos.

Tabela 4.1 - Estimativas da contribuição da fixação biológica do nitrogênio –


FBN em algumas leguminosas de importância econômica

Nome científico Nome popular Estimativa (kg de N/ha)

Acacia spp. acácia 5–50

Arachis hypogaea amendoim 32–206

Cajanus cajan guandu 68–88

Centrosema spp. centrossema 41–280

Cicer arietinum grão-de-bico 0–141

Desmodium spp. desmódio 25–380

Gliricidia sepium gliricídia 26–75

Glycine max soja 0–450

Lens culinaris lentilha 5–191


Leucaena leucocephala leucena 98–274

Lupinus spp. tremoço 19–527

Medicago sativa alfafa 45–470

Phaseolus vulgaris feijoeiro 0–165

Pisum sativum ervilha 4–244

Vigna unguiculata feijão-de-corda 9–201

Fonte: Adaptado de ORMEÑO-ORRILLO et al., 2013.

Uma melhor compreensão sobre a forma como essas vias de assimilação


do N interagem pode ser de importância crítica para o gerenciamento das
culturas de leguminosas, quer para utilização agrícola, quer para o
desenvolvimento de fontes alternativas de energia. Neste último caso, por
exemplo, na produção de biomassa ou no uso como biocombustíveis, em que
N e água devem estar no cerne dos modelos para a exploração racional desses
recursos.

Fixação do N2 associativa e endofítica


Na FBN associativa, certas bactérias diazotróficas crescem na
proximidade das raízes ou podem ser encontradas na superfície das folhas, que
são nichos adequados para a sua sobrevivência e, em particular, para a FBN.
Essas bactérias podem usar exsudatos radiculares, secreções e células
descamadas como fonte de energia. Além disso, bactérias como Acetobacter
podem ocupar tecidos internos das raízes da cana-de-açúcar (Saccharum spp.).
O N fixado por essas bactérias é fornecido para as plantas principalmente de
forma indireta, estimando-se que 90% do N só esteja disponível depois da
morte delas.
Diversas espécies de bactérias têm sido classificadas como diazotróficas
associativas, mas os resultados encontrados para cana-de-açúcar são
particularmente marcantes. Evidências de FBN em cana-de-açúcar foram
relatadas em diversas variedades de cana brasileira. Estudos de balanço de N de
longo prazo, ou pela técnica de diluição isotópica do 15N, têm mostrado que
algumas variedades de cana-de-açúcar podem obter até 70% das suas
necessidades de N pela FBN. São números impressionantes, mas que
possivelmente exigem uma avaliação mais aprofundada e verificação em larga
escala. No caso da cana-de-açúcar, bactérias diazotróficas rizosféricas e
endofíticas parecem estar envolvidas, como Enterobacter cloacae, Erwinia
herbicola, Klebsiella pneumoniae, Azotobacter vinelandii, Paenibacillus polymyxa,
Azospirillum spp., Herbaspirillum spp. e Gluconacetobacter diazotrophicus.
Algumas dessas bactérias são capazes de fixar pelo menos 10 mg de N/g de C.
Organismos endofíticos obrigatórios, tais como G. diazotrophicus e
Herbaspirillum spp., parecem representar um grupo promissor em relação à
FBN associada com a cana-de-açúcar. Essas bactérias têm uma vantagem sobre
as diazotróficas associadas às raízes, como Beijerinckia spp. e Azotobacter spp.,
pois colonizam o interior, e não a superfície das plantas, e consequentemente
têm melhores possibilidades de explorar substratos de C fornecidos
diretamente pela planta.
Em geral, a FBN associativa e endofítica parece ser uma alternativa
promissora. No entanto, apesar de nos últimos anos vários estudos
moleculares tenham sido publicados, ainda há carência de estudos consistentes
em nível fisiológico e de campo, muito importantes para avaliar o impacto real
dessas associações na agricultura. Sem dúvida, a maior contribuição da FBN
em bactérias não simbióticas, todavia, tem sido relatada para espécies de
Azospirillum, que hoje são utilizadas em inoculantes comercias em vários
países para culturas como o milho, trigo e arroz, bem como para coinoculação
de leguminosas.
Desafios científicos e perspectivas
Já se passou um longo tempo desde que Hellriegel e Wilfarth
descreveram o processo da FBN pela primeira vez em plantas de ervilha, no
final do século XIX (1888). Desde então, o conhecimento sobre os processos
envolvidos na FBN avançou de maneira impactante. No entanto, ainda há um
longo caminho a percorrer para incrementar a contribuição da FBN em
leguminosas, permitindo altos rendimentos. Olhando para o passado, a
inoculação de plantas exóticas em áreas sem população de rizóbios
compatíveis foi um sucesso. Contudo, hoje já se sabe que mesmo em solos com
populações estabelecidas, mas submetidos com frequência a estresses
ambientais, também ocorre resposta à inoculação, denominada reinoculação.
Em compensação, há exemplos desafiadores, como o do feijoeiro, cultura de
grande importância alimentar, mas que em geral obtém apenas uma pequena
percentagem do seu N pelo processo de FBN.
Podem-se citar várias linhas de pesquisa que precisam ser conduzidas
para atender a demandas já identificadas:
a) Estirpes mais eficientes em FBN, mas também capazes de competir com
sucesso com as estirpes indígenas do solo, menos eficientes.
b) Aumento da eficiência relativa – ER. Isso pode ser conseguido pela ciclagem
do H2 evoluído por meio da hidrogenase (Hup+). Com isso, pode-se
melhorar o desempenho da FBN, aumentando a síntese de ATP e baixando
a concentração de O2 e H2 nos nódulos. De fato, incrementos significativos,
de até 10%, no N e biomassa de plantas e no rendimento de grãos já foram
descritos na comparação de mutantes Hup+ e Hup–. A possibilidade de
transferência e expressão dos genes codificantes para a hidrogenase entre
rizóbios já foi demonstrada, mas há necessidade de conduzir mais estudos.
c) Tolerância da bactéria a estresses abióticos. É amplamente conhecido que
existe diversidade na resposta de diferentes estirpes aos estresses abióticos.
No entanto, ainda não há evidências de que essa maior tolerância das
bactérias in vitro possa ser expressa quando em simbiose. Ao contrário das
bactérias diazotróficas de vida livre, a percepção das limitações ambientais
na simbiose rizóbio-leguminosa é realizada pela planta hospedeira, e não
pelo bacteroide.
d) Melhoramento de plantas. Somente o melhoramento de plantas,
considerando a capacidade de FBN, resultará em cultivares mais produtivos
e detentores de outras propriedades de interesse – resistência a pragas e
doenças, tolerância à seca, tolerância a agroquímicos. Hoje, poucos
programas de melhoramento de culturas de importância econômica
consideram a FBN prioridade, o que precisa ser revertido e pode
representar a chave para aumentar a contribuição do N via fixação
biológica.
e) Transferência da capacidade de FBN para não leguminosas. Esse tem sido
um objetivo há muito buscado. No entanto, quanto mais se conhece sobre a
genética, bioquímica e fisiologia da FBN, maiores parecem ser as
dificuldades para o sucesso por simples transferência de genes nif. Novas
estratégias, considerando um conjunto mínimo de genes para a síntese da
nitrogenase e técnicas de biologia sintética, podem resultar em novidades
nos próximos anos.
f) Senescência tardia dos nódulos, uma vez que uma alternativa viável para
aumentar a contribuição da FBN pode não ser a de tentar obter taxas mais
elevadas de fixação, mas sim de estender o período em que ela está ativa.
g) Melhores respostas aos estresses abióticos. Estudar os mecanismos
envolvidos na inibição da FBN sob limitações ambientais pode contribuir
para o desenvolvimento de estratégias destinadas a melhorá-la sob essas
condições.
Tecnologias recentes, como genômica, proteômica e metabolômica,
podem fornecer novas indicações para o conhecimento sobre a regulação da
FBN. Elas, entretanto, precisam ser adequadamente utilizadas a fim de obter
novas perspectivas, compreendendo o funcionamento dos nódulos dentro do
contexto de toda a planta. Nesse sentido, a descrição recente de um atlas de
expressão de genes no modelo M. truncatula representa um recurso sem
precedentes para a genômica funcional de leguminosas que, espera-se, possa
acelerar descobertas nesse campo. Além disso, o progresso no conhecimento
sobre a FBN é mandatório para melhorar o rendimento e a qualidade das
leguminosas e deve exigir integração científica multidisciplinar, o que pode
resultar em impactos consideráveis na alimentação humana e animal e na
sustentabilidade agrícola.
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13 Departamento de Ciencias del Medio Natural, Universidad Pública de Navarra – UPNA,


Pamplona, Espanha. E-mail: cesarai@unavarra.es
14 Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – Embrapa Soja, Londrina, PR, Brasil. E-
mail: mariangela.hungria@embrapa.br
15 Departamento de Biología, Facultad de Biología, Universidad Autónoma de Madrid –
UAM, Madrid, Espanha. E-mail: ildefonso.bonilla@uam.es
16 Disponível em: http://www.the-icsp.org.
17 Disponível em: http://www.medicago.org.
18 Disponível em: http://www.kazusa.or.jp/lotus.
Capítulo
5
Estresses Abióticos: Acidez, Salinidade,
Deficiência Hídrica
Francisco Garcia-Sanchez19, Francisco Rubio20, Vicente Martinez21 e Herminia Emilia Prieto
Martinez22
Introdução
O crescimento e a produtividade da planta são afetados negativamente
por diversos fatores de estresse abióticos. As plantas são expostas com
frequência a uma infinidade de condições de estresse, tais como acidez,
salinidade, seca, calor, inundações, toxidez de metais pesados, entre outras. As
várias atividades antropogênicas acentuaram os fatores de estresse existentes,
os quais raramente acontecem sozinhos, e as respostas fisiológicas a eles são
multifacetadas. No entanto, diferentes estresses podem demandar mecanismos
de tolerância semelhantes e, dessa forma, a exposição a um deles confere uma
tolerância melhorada para outro. Todos esses fatores são uma ameaça para as
plantas, impedindo-as de alcançar seu potencial genético completo e limitando
a produtividade agrícola em todo o mundo.
O estresse abiótico é a principal causa de perdas na agricultura. Ele
diminui os rendimentos médios da maioria das principais culturas em mais de
50%, causando perdas estimadas em centenas de milhões de dólares a cada ano
devido à redução da produtividade e o insucesso da safra. Este capítulo
descreve os efeitos de diferentes estresses abióticos sobre processos
fisiológicos das plantas e os mecanismos que permitem que elas cresçam ou
sobrevivam sob tais condições. Além disso, os aspectos relacionados à
melhoria do rendimento das plantas cultivadas em condições de estresse
abiótico também serão discutidos.
Acidez
A acidez dos solos é um problema disseminado ao redor do mundo. Em
geral, ele predomina em duas faixas: uma no Hemisfério Norte, cobrindo
regiões frias/temperadas úmidas, incluindo partes da América do Norte, Sul
da Ásia e Rússia; outra no Hemisfério Sul, em regiões tropicais úmidas com
altos índices de precipitação, incluindo o Sul da África, Sul da América,
Austrália e partes da Nova Zelândia (ESWARAN et al., 1997). Ao redor de
30% das terras agricultáveis e 70% das potencialmente agricultáveis
apresentam limitações de uso devido à acidez (SANCHEZ; SALINAS, 1981).
No Brasil, os solos ácidos de cerrado representam uma área de 1,8
milhões de km2, que se expandem da latitude de 24° até 4°S, com elevações que
variam de 500 a 1.400 m, e precipitação unimodal (outubro a março) que varia
de 900 a 1.800 mm anuais. A região se caracteriza por oxissolos e ultissolos,
com boas propriedades físicas, que sofreram forte lixiviação de bases
(BOURLAUG; DOWSWELL, 1997). Esses solos apresentam uma série de
problemas de ordem química, como acidez excessiva; baixa disponibilidade de
N; deficiência de P, Ca e, por vezes, Mg; toxidez de Al e Mn, os quais
interagem entre si e limitam o crescimento das plantas. Além do mais,
deficiências de S, K, Mo, Zn e Cu também podem ocorrer (GOEDERT et al.,
1997).
De modo geral pode-se dizer que, em valores de pH acima de 4, o baixo
pH (altas concentrações de H+), per se, não é o principal responsável pelo
limitado crescimento das plantas, e que a toxidez de Al livre ou trocável e de
Mn, além de deficiências múltiplas de nutrientes, têm papel preponderante
nessa limitação. Outro sério entrave ao uso agrícola desses solos é a acidez
subsuperficial que restringe o aprofundamento radicular e é técnica e
economicamente difícil de corrigir, em especial quando se cultivam plantas
perenes.

Solubilidade do alumínio e do manganês

Alumínio
Em solos com pH próximo de 4 predomina a espécie iônica Al3+, a qual
limita drasticamente o crescimento radicular. Em valores de pH superiores a 4,
a concentração de Al3+ reduz-se de forma considerável e torna-se negligível
em pH ao redor de 5,5.
Além dos efeitos diretos da toxidez de Al3+, em pH menor que 5,2 o Al
desloca outros cátions polivalentes como Ca2+ e Mg2+ dos sítios de troca dos
argilo-minerais, ocupando grande porção do complexo sortivo. Ao mesmo
tempo o fosfato é fortemente adsorvido, e formam-se complexos poliméricos
solúveis de Al e fosfato (ver Capítulo 1).
Como representado na Figura 5.1, à medida que o pH se eleva acima de
4, a concentração de Al3+ se reduz, e formam-se outras espécies iônicas de
hidroxialumínio, como Al(OH)2+ e Al(OH)2+. Concomitantemente, a carga
livre se reduz até a formação de Al(OH)3 insolúvel, o qual, em pH elevado, se
dissolve parcialmente como ânion Al(OH)4– (KINRAIDE, 1991). Existem,
ainda, dependendo da concentração de Al e pH, evidências da formação de
íons poliméricos, como Al2(OH)24+ e Al7(OH)174+, cuja máxima formação se
dá em pH 5.
A diversidade e complexidade dessas interações muitas vezes dificultam a
elucidação dos efeitos do Al no crescimento radicular, embora haja certo
consenso de que o Al3+ seja a espécie iônica mais tóxica.
A solubilidade do Al e a severidade da toxidez para as plantas são
afetados por vários fatores, tais como pH, tipo de argila predominante,
concentração de outros íons e conteúdo de matéria orgânica. Este último
merece destaque, pois adsorve íons hidrogênio produzidos na hidrólise do Al e
complexa também Al, reduzindo sua atividade em solução.

Figura 5.1 - Reações de hidrólise e formas iônicas de Al predominantes em


diferentes pH do solo.

Manganês
A toxidez de Mn ocorre em solos ácidos em proporções bem menores
que a de Al, e se deve ao aumento de sua solubilidade em pH menor que 5 nos
locais em que o material de origem é rico desse elemento. Ela pode ocorrer
também em solos de pH mais elevado se houver condições redutoras, tais
como alagamento, compactação ou acúmulo de matéria orgânica (FOY et al.,
1978). Nessas condições, as plantas absorvem e transportam Mn em
quantidades excessivas, resultando em acúmulo nas folhas.
A solubilidade do Mn é determinada pelo pH e potencial redox do solo
segundo a equação abaixo:
MnO2 + 4 H+ + 2e– ⇆ Mn2+ + 2 H2O
Assim sendo, solos ácidos com altas concentrações de Mn2+ rapidamente
reduzível – em combinação com alto teor de matéria orgânica, alta atividade
microbiana e anaerobiose temporária ou permanente – podem apresentar
limitações ao crescimento das plantas por toxidez de Mn.

Alumínio e crescimento das plantas


O Al é considerado um elemento tóxico às plantas, no entanto há na
literatura vários relatos de seu efeito benéfico quando em baixas
concentrações. Tais efeitos poderiam ser devidos a: (i) aumento na
solubilidade e disponibilidade de Fe em solos calcários pela hidrólise do Al e
redução do pH; (ii) deslocamento do Fe ligado a sítios metabolicamente
inativos dentro da planta, corrigindo e prevenindo sua deficiência; (iii)
competição com outros elementos potencialmente tóxicos, a exemplo de Fe,
Cu e Zn; (iv) aumento na atividade de enzimas antioxidantes, como SOD,
CAT e APX (BROADLEY et al., 2012); (v) ação fungistática que evita
podridões radiculares. Esses efeitos, no entanto, constituem exceções e não
têm importância agronômica evidente, já que grande parte das plantas
cultivadas é, em maior ou menor grau, sensível aos impactos do Al.
Quando em concentrações tóxicas, o Al acumula-se preferencialmente
no sistema radicular. As raízes tornam-se curtas, grossas, quebradiças, com
aparência coraloide e coloração amarelo amarronzada (Figura 5.2). A
elongação do eixo principal é inibida, há poucas ramificações laterais e o
sistema radicular fica desprovido de raízes finas. Com frequência o raio médio
e o volume radicular aumentam. A severidade da inibição do crescimento
radicular é um indicador de diferenças genotípicas na tolerância ao Al (FOY,
1974, 1988; KOCHIAN et al., 2004).
Os sintomas de toxidez de Al em geral não são claramente
diagnosticados na parte aérea, muito embora ela sofra acentuada restrição no
crescimento quando sob estresse por Al (Figura 5.3). Por vezes os sintomas
manifestam-se como atrofiamento generalizado com folhas verde-escuro e
aroxeamento de caules e nervuras, próprios da deficiência de P. Outras vezes
se manifestam como enrolamento de folhas novas e morte dos meristemas de
crescimento, característicos da deficiência de Ca. Clorose internerval típica da
deficiência de Fe também já foi observada (FOY, 1978; CALBO; CAMBRAIA,
1980).
Um dos efeitos primários do Al é a inibição da divisão celular nos
meristemas apicais radiculares poucas horas depois de sua exposição ao
elemento. Eliminado o estresse, a divisão celular se recupera, mas permanece
em nível mais baixo que nos controles não expostos à ação do Al, e diferenças
genotípicas na tolerância ao Al são refletidas pela taxa de recuperação após um
período de estresse (KOCHIAN, 1995).
A inibição da divisão celular pode derivar da ligação do Al ao DNA, o
que está de acordo com sua localização no núcleo das células da coifa após
curtos períodos de exposição. A inibição da elongação radicular pode ser
resultado da injúria causada às células da coifa que agem como sensores do
estresse ambiental. Há evidências de que, em seguida à percepção da toxidez
pelo ápice radicular, o sinal de transdução entre a zona distal de transição e a
zona de elongação se envolve na inibição do crescimento radicular pelo Al
(GEORGE et al., 2012), possivelmente via transporte basípeto de auxina.
Figura 5.2 - Raízes de cafeeiro submetidas a (A) 8 e (B) 16 mg L–1Al, em
solução nutritiva.
Figura 5.3 - Plantas de café da variedade Mundo Novo submetidas a doses de
Al. Da esquerda para a direita: 0; 0,5; 1; 2; 4; 8 e 16 mg L–1 Al.

Resultados de pesquisa obtidos nas últimas décadas indicam que, sob


estresse de Al, desenvolvem-se rupturas transversais na região subapical da
raiz e há separação entre o córtex externo e o córtex interno (DELHAIZE et
al., 2004). A síntese de calose no ápice radicular também foi observada e
parece ter como ponto de partida as interações do Al com lipídeos e proteínas
da membrana, que alteram sua permeabilidade e fluidez, associadas a um
aumento na atividade do Ca citosólico. O efeito do Al sobre as funções da
membrana deve-se também ao aumento da produção de espécies reativas de
oxigênio – EROS que levam à peroxidação de lipídeos e oxidação de proteínas
(GEORGE et al., 2012).
Avanços nas técnicas de biologia molecular indicam que a excreção de
ácidos orgânicos tem papel-chave na detoxificação do Al. Foram identificados
genes da família MATE, que codificam um transportador de citrato, e também
genes da família ALMT, que, por sua vez, codificam transportadores de
malato nas membranas (KOCHIAN et al., 2015).
Os danos causados ao crescimento radicular resultam em menor volume
de solo explorado pelas raízes, com consequente redução na absorção de
nutrientes e água. É importante, em particular, o efeito do Al sobre a absorção
de fósforo, que, adicionalmente ao menor volume de solo explorado, tem sua
absorção e transporte diminuídos pela precipitação como fosfato de Al na
superfície radicular e/ou nos espaços livres. Além disso, o Al no solo promove
forte adsorção de P aos minerais de argila com carga positiva. Inibição da
absorção de Ca e Mg também é observada com frequência. Ela resulta da
substituição de cátions por Al no complexo de troca do solo, e da competição
por cátions ou bloqueio dos canais de Ca e bloqueio dos sítios de ligação de
Mg na proteína transportadora. Desse modo, a deficiência de Ca nos
meristemas apicais é outro efeito bem documentado da toxidez de Al.
Em plantas não acumuladoras (a maior parte das plantas cultivadas), o Al
tem seu transporte restrito, acumulando-se nas raízes. Em plantas
acumuladoras, como o chá (Ilex paraguariensis St. Hil.), o Al é transportado
para a parte aérea na qual se acumula em folhas velhas, em concentrações
próximas ou até superiores aos 1.000 mg/kg (OLIVA et al., 2014).
Ma et al. (1998) relatam que na espécie tolerante Fagopyrum esculentum
Moench o Al é absorvido, provavelmente na forma de Al3+, sendo em seguida
quelatado pelo oxalato, formando-se um complexo Al-oxalato. Quando
descarregado no xilema há troca de ligand, e ele é transportado como Al-
citrato. Uma vez liberado nas células das folhas, ocorre nova troca de ligand,
formando-se um complexo Al-oxalato que é armazenado nos vacúolos.
A toxidez de Al reduz o crescimento – acúmulo de matéria seca –, a
nodulação e a fixação de N por leguminosas. Os efeitos do Al na nodulação são
creditados às reduzidas concentrações de Ca no ambiente radicular em
presença de altas concentrações de Al, já que o Ca é necessário à curvatura do
pelo radicular, na fase que antecede a infecção. Além disso, o Al em
concentrações elevadas promove a alterações na morfologia radicular e nos
sítios de infecção. O efeito direto do Al na sobrevivência do Rhizobium, é
frequentemente considerado de menor importância (GLENN et al., 1997).

Manganês e crescimento das plantas


Diferentemente do Al, o Mn é um elemento essencial ao crescimento das
plantas. Ele é absorvido como Mn2+, ativa descarboxilases e desidrogenases,
além de participar de sistemas redox. Desempenha ainda função na evolução
de O2 na fotossíntese e na síntese de carboidratos, e é componente da
superóxido dismutase. Sua concentração ótima nas plantas está em torno de
100 mg/kg. De modo distinto do Al, os sintomas de toxidez de Mn são
observados na parte aérea. Como os principais efeitos do excesso de Mn em
solos ácidos relacionam-se à inibição da absorção de Ca e Mg, a toxidez pode
manifestar-se como deficiência de Mg em folhas velhas ou de Ca em folhas
novas. Uma vez absorvido, o elemento é transportado para a parte aérea na
qual se acumula em folhas velhas, que podem apresentar pontuações
necróticas na lâmina (Figura 5.4).

Figura 5.4 - Sintomas de toxidez de Mn em planta de soja cultivada em solução


nutritiva.

Os pontos necróticos correspondem a locais de acúmulo do elemento.


Em soja, tais sintomas apareceram em folhas velhas com concentrações acima
de 600 mg kg–1 (FOY et al., 1988). Teores entre 1.155 e 2.380 mg kg–1
causaram redução na produção de matéria seca da parte aérea para essa espécie
(OLIVEIRA JUNIOR et al., 2000). O excesso de Mn afeta também a nodulação
e fixação de N por leguminosas, embora não de forma tão drástica quanto o
Al.

Mecanismos de tolerância à toxidez de


alumínio
As espécies de plantas e variedades dentro de espécies diferem
amplamente na tolerância ao excesso de Al. Os mecanismos de tolerância
resultam de absorção reduzida pelas raízes ou detoxificação após a absorção.
Assim, eles podem ser separados em: mecanismos de exclusão e mecanismos
de tolerância interna.

Mecanismos de exclusão
Quando atuam mecanismos de exclusão, o apoplasto das células
radiculares previne a entrada do Al no simplasto. Desse modo, o elemento não
alcança os sítios metabólicos sensíveis. Uma hipótese é que genótipos
tolerantes têm menor taxa de transporte de Al3+ através da membrana do que
os genótipos sensíveis.
O mecanismo mais efetivo para excluir o Al do simplasto é a liberação na
rizosfera de quelatos – ácidos orgânicos e fenóis – que formam complexos
estáveis com esse cátion, reduzindo a atividade das espécies tóxicas e
prevenindo sua absorção. O ácido cítrico, [Al3(OH)4citrato2]–, é
particularmente eficaz nessa complexação. A exsudação de ácidos orgânicos
em resposta a um estresse mineral tem sido relatada em várias espécies de
plantas (MA, 2000; MA et al., 2001). Adições de ácido cítrico, oxálico, málico e
tartárico na solução nutritiva atenuaram o efeito inibitório do Al sobre o
comprimento radicular de plantas de algodão (HUE et al., 1986). O citrato não
só reduz o Al livre nas células radiculares como também permite maior
transporte de P e Ca para a parte aérea das plantas. Cultivares mais tolerantes
ao Al exsudam mais citrato no meio de crescimento que cultivares sensíveis.
Cabe destacar que a matéria orgânica do solo contém complexantes tão
eficientes quanto o citrato, podendo mitigar o efeito de altas concentrações de
Al no ambiente radicular.
A excreção desses ácidos para o apoplasma se dá por canais aniônicos na
plasmalema, que são codificados por genes da família ALMT (malato) ou
MATE (citrato). Dois padrões de comportamento são observados nesses casos:
excreção imediatamente após a exposição ao Al – 15 a 30 minutos –, ou seja,
por um mecanismo constitutivamente expresso; ou após várias horas – mais
de quatro horas –, sugerindo dependência de expressão gênica e nova síntese
de proteínas (BIAN et al., 2013). O mecanismo de excreção ainda não está
esclarecido, mas sabe-se que o canal iônico que regula a secreção de ácidos
orgânicos das raízes é ativado pela presença de Al3+ (GEORGE et al., 2012).
Também a secreção de mucilagem pelas zonas apicais das raízes pode reduzir a
penetração de Al nos meristemas, sendo que há diferenças genotípicas na
quantidade de mucilagem secretada.
Outro fator de tolerância ou sensibilidade relaciona-se à quantidade de
sítios de ligação de Al presentes no apoplasto gerados pela densidade de cargas
negativas da membrana plasmática e da parede celular. Membranas muito
eletronegativas poderiam resultar em maior ligação com espécies carregadas
positivamente, como o Al, que nesse caso promoveria maior dano à sua
estrutura e funções dessas membranas. Em arroz, maior tolerância foi
associada à menor proporção de fosfolipídeos 5 Δ esterol, que promove a
menor eletronegatividade e permeabilidade (KHAN et al., 2009). Já a
eletronegatividade das paredes depende da concentração e do grau de
metilação das pectinas que as compõem. Plantas sensíveis apresentam menor
grau de metilação das pectinas das paredes celulares, acumulam mais Al e
consequentemente têm maior grau de injúria radicular que as tolerantes
(GEORGE et al., 2012).
Como a fitotoxidez de Al é altamente dependente do pH, as plantas
tolerantes podem apresentar mecanismos para criar barreiras de pH na
interface solo/raiz, ou diferenças de pH no apoplasto da ponta da raiz,
limitando sua entrada no simplasto. Pequenos aumentos do pH acima de 4
reduzem drasticamente a solubilidade de Al3+ e permitem a formação de
espécies poliméricas na superfície das raízes ou nos espaços intercelulares,
facilitando a absorção de fósforo. Uma das bases fisiológicas para essa resposta
pode ser a preferência relativa por NH4+ ou NO3–, que afetam o pH da
rizosfera e, por consequência, a solubilidade e expressão da tolerância ao Al
(KELTJENS, 1997).
Entre os mecanismos de tolerância devem ser considerados, ainda, o
efluxo ativo de fosfato pelas raízes que resulta na formação de fosfato de Al ou
outros complexos insolúveis com o elemento, atenuando efeitos tóxicos na
superfície da membrana e a presença, nela, de uma bomba de efluxo de Al.
Plantas tolerantes seriam capazes de manter baixa concentração de Al no
citosol pela ativação dessas bombas.

Mecanismos de tolerância interna


Considerando que o pH do simplasto é próximo de 7, nesse
compartimento a solubilidade do Al3+·6H2O é reduzida a concentrações da
ordem de 10–10 mol.L–1 pela formação de Al(OH)3·3H2O ou pela precipitação
de Al(OH)2H2PO4. No entanto, mesmo nessas baixas concentrações no
simplasto, o íon é potencialmente fitotóxico. Um mecanismo de proteção é a
produção de ácidos orgânicos, como ácido cítrico, oxálico, málico e tartárico,
que complexam o Al e evitam interrupções na síntese ou degradação
enzimática, e protegem a atividade enzimática interna da célula do efeito
deletério do Al (TAYLOR, 1991).
O Al pode ser, de forma ocasional, isolado em sítios insensíveis ao seu
efeito, como o vacúolo, acumulando-se na parte aérea. Entretanto, o acúmulo
de Al em folhas velhas, em geral, ocorre em plantas silvestres tolerantes. Esse
mecanismo normalmente não está presente em plantas cultivadas.

Mecanismos de tolerância ao Mn
Enxertias recíprocas entre genótipos tolerantes e sensíveis indicam que
os mecanismos de tolerância ao Mn localizam-se na parte aérea (HEENAN et
al., 1981). É o “cavaleiro”, e não o “cavalo”, quem confere a tolerância. Em
alguns casos a tolerância se manifesta por acúmulo do Mn em folhas velhas, o
que impede que altas concentrações do elemento sejam prejudiciais ao
crescimento nos meristemas. A tolerância pode estar relacionada também à
formação de oxalatos de Mn de grande estabilidade. A concentração foliar
crítica é variável, no entanto, observa-se que nas folhas maduras de cultivares
tolerantes o Mn se distribui uniformemente, enquanto que nas não tolerantes
há pontos de acúmulo do elemento, coincidentes com clorose ou necrose. O Si
parece promover melhor distribuição do Mn no tecido foliar, amenizando
seus efeitos deletérios (HORST, 1988).
A toxidez de Mn, bem como a tolerância ao excesso desse metal, varia
amplamente entre espécies de plantas e entre variedades da mesma espécie
(FOY et al., 1988). Diferenças genotípicas na absorção e transporte de Mn – e
também de Mg e Ca –, além da tolerância dos tecidos da parte aérea ao excesso
desse elemento, podem ser usadas para selecionar genótipos mais adaptados a
essa condição (HORST, 1988).

Seleção de plantas tolerantes à acidez dos solos


Devido aos múltiplos fatores que podem limitar o crescimento das
plantas em solos ácidos e suas interações, é difícil fazer a seleção em condições
de campo. Ademais, a tolerância verificada em experimentos em solução
nutritiva muitas vezes não se reproduz nessas condições.
Embora nos solos ácidos brasileiros a toxidez de Al seja o principal
problema, frequentemente a ela se associam a toxidez de Mn e a deficiência de
P, Ca, Mg e N. Com relação ao N, convém salientar que em solos muito ácidos
tem-se baixos níveis de N total e disponível. Em tais condições a nitrificação é
fortemente inibida, e NH4+ passa a ser a principal fonte de N. Desse modo,
plantas tolerantes à acidez do solo com frequência são tolerantes também a
altas concentrações de amônio.
A adaptação a solos ácidos compreende vários mecanismos que se
expressam independentemente, como a toxidez de Al e Mn, ou inter-
relacionados, como tolerância ao Al, eficiência na aquisição de P e tolerância
ao NH4+. Sempre que necessário é preciso selecionar plantas tolerantes a
ambas as condições.
Os procedimentos de seleção de plantas tolerantes ao Al em geral são
realizados em solução nutritiva, com concentrações de Al3+ contrastantes, e
envolvem a avaliação do comprimento de raízes, recuperação das taxas de
crescimento delas após o estresse, acúmulo de Al3+ nos ápices radiculares,
formação de calose, alteração do pH da rizosfera e excreção de ácidos
orgânicos e fenóis pelas raízes.
No que diz respeito aos procedimentos de seleção de plantas tolerantes
ao excesso de Mn, eles podem ser baseados em observações visuais dos
sintomas de toxidez ou em medidas de crescimento das plantas, como
produção de biomassa da parte aérea e raízes, área foliar, entre outras. Nem
sempre, porém, a tolerância observada na fase vegetativa implica tolerância na
fase reprodutiva.

Micorrizas e tolerância à acidez


Os fungos micorrízicos compreendem os ectotróficos e os arbusculares.
Nos fungos micorrízicos ectotróficos, as hifas formam uma bainha grossa ou
“manto” de micélio fungíco em volta das raízes. Eles se associam às raízes de
árvores e outras lenhosas e podem hidrolisar fósforo orgânico que transferem
para as raízes. Pesquisas sugerem que esses fungos são capazes de mobilizar,
também, o Ca, K e Mg diretamente dos minerais do solo por meio da excreção
de ácidos orgânicos. Os fungos micorrízicos arbusculares, por sua vez, se
associam às raízes de plantas herbáceas e gramíneas, incluindo a maioria das
espécies cultivadas. Eles produzem um arranjo de hifas menos denso ao redor
das raízes, porém as penetram pela epiderme ou por pelos radiculares,
alongando-as. Isso permite às plantas explorar maior volume de solo e
aumenta a absorção de água, P e outros íons, como Zn e Cu.
A capacidade de associação com fungos micorrízicos pode ser
considerada um mecanismo de adaptação a solos ácidos, já que promove
melhor adaptação a baixas concentrações de P e a altas concentrações de Al.
Além melhorarem o estado nutricional e metabólico das plantas, esses fungos
podem liberar ácidos orgânicos que complexam o Al (SIQUEIRA; MOREIRA,
1997).

Eficiência nutricional em ambientes ácidos


Os tópicos anteriormente abordados evidenciam que em solos ácidos a
limitação ao crescimento das plantas decorre de vários fatores, como a toxidez
de Al livre ou trocável, de Mn e deficiências múltiplas de nutrientes,
especialmente P, Ca, Mg e Mo. Logo, a adaptação de plantas a solos ácidos,
além de mecanismos mais ou menos eficientes de tolerância ao Al e Mn
tóxicos, requer alta eficiência na aquisição e utilização dos nutrientes
supracitados.
Define-se planta nutricionalmente e iciente como aquela que absorve,
transloca ou utiliza um nutriente específico mais e melhor que outra planta,
sob condições de disponibilidade relativamente baixa no solo ou no meio de
crescimento (SSSA, 2008). Dois componentes tomam parte na eficiência
nutricional: e iciência de aquisição, representada pela quantidade absorvida e
acumulada, e e iciência de utilização, que é a eficiência com que o nutriente
adquirido é usado na produção de massa seca pelo vegetal. A eficiência de
aquisição relaciona-se não só aos processos metabólicos de absorção e sua
regulação, mas também à morfologia e à atividade do sistema radicular
(MARTINEZ, 2016).
A absorção de nutrientes, em especial aqueles com baixa mobilidade no
solo, como o P, é marcadamente influenciada pelo diâmetro radicular,
densidade de pelos radiculares e comprimento das raízes. Assim sendo, são
desejáveis plantas que apresentam elevadas taxas de colonização por fungos
micorrízicos, capazes de desenvolver um longo micélio externo e transportar
P para dentro da hifa (detalhes no Capítulo 10).
Convém lembrar que os danos causados pelo Al ao crescimento das
raízes resultam em restrição do volume de solo explorado pelo sistema
radicular, o que por si só reduz a eficiência de aquisição de água e nutrientes, já
que o acesso das raízes a camadas mais profundas do perfil é comprometido.
Outra consequência da restrição do crescimento radicular é o potencial
aumento da lixiviação de nutrientes como Ca, Mg e NO3, que, fora do alcance
das raízes, deixam de ser absorvidos.

Correção da acidez
A melhor forma de corrigir a acidez do solo é a aplicação de corretivos
calcários. No Brasil o mais empregado é o calcário agrícola que pode ser
caracterizado como calcítico (40–45% CaO; 1–5% MgO), magnesiano (31–39%
CaO > 5–12% MgO) e dolomítico (25–30% CaO > 12–20% MgO). O produto
deve apresentar granulometria inferior a 2,4 mm. Em geral é aplicado na
superfície do solo, seguido ou não de incorporação (MALAVOLTA, 1981).
Os efeitos positivos da calagem incluem substituição do Al3+ e H+ por
Ca2+ e Mg2+ no complexo sortivo do solo; aumento da disponibilidade de Ca2+
e Mg2+; aumento do pH, que propicia melhor ação e desenvolvimento dos
microrganismos do solo; melhoria na disponibilidade de macro e
micronutrientes; melhoria na disponibilidade de P; melhoria na estruturação
de solos argilosos; melhoria no grau de contato raiz/solo devido ao maior
crescimento radicular (ver também Capítulo 1). A calagem excessiva, por sua
vez, promove a imobilização de micronutrientes como Fe, Cu, Zn, Mn e B.
Há várias maneiras de se quantificar a necessidade de calagem para
determinado solo e cultivo. As mais comuns baseiam-se na elevação do pH a
um valor considerado adequado para o cultivo em questão, na neutralização
do Al3+ trocável que exceda a tolerância do cultivo ou no aumento do grau de
saturação do solo por bases. Há autores que recomendam considerar a
neutralização do Al3+ trocável excedente ao tolerado pelo cultivo em conjunto
com a elevação dos teores de Ca2+ e Mg2+ trocáveis para valores adequados
preestabelecidos.
Convém destacar que, mesmo quando a superfície do solo tenha
recebido corretivos, sua baixa mobilidade no perfil resulta no confinamento
das raízes numa estreita camada corrigida, limitando o acesso aos nutrientes
das camadas mais profundas e aumentando a suscetibilidade a déficit hídrico
durante os “veranicos”, períodos secos que ocorrem com frequência durante a
estação chuvosa.
A correção da camada subsuperficial, quando indicada, deve ser realizada
com gesso agrícola, CaSO4·2H2O, subproduto da fabricação de fosfatos
solúveis. Da hidrólise do gesso resultam Ca2+ e SO42–. O Ca2+ participa de
reações de troca catiônica, podendo deslocar cátions como Al3+, Mg2+ e K+
adsorvidos aos coloides do solo. Os cátions em solução formam pares iônicos
neutros com o sulfato, o que lhes permite mover-se em profundidade,
enriquecendo de bases as camadas subsuperficiais e formando íons Al-sulfato,
como AlSO4+, de baixa toxicidade às raízes das plantas. A precipitação do Al
na forma de AlOHSO4·5H2O (jurbanita), KAl3(OH)6(SO4)2 (alunita) e
Al(OH)10SO4·5H2O (basalunita) também contribui para a redução da
saturação por Al e o aumento da participação do Ca na CTC do solo. Como
consequência, o sistema radicular alcança maiores profundidades, o que
melhora a tolerância das plantas a períodos secos (VITTI, 1987).
Devido ao fato de o gesso propiciar a mobilidade de cátions básicos para
camadas inferiores, não se recomenda seu uso quando a camada superficial
não tiver sido corrigida com calcário. Para avaliar a necessidade de gesso
devem ser consideradas as características da camada subsuperficial do solo
(20–40 ou 30–60 cm). Quando o teor de Ca for inferior a 0,4 cmolcdm–3 e/ou
teor de Al3+ superior a 0,5 cmolcdm–3 e/ou saturação por Al3+ superior a 30%,
a gessagem deve ser indicada. As doses de gesso – o qual não substitui o
calcário – podem ser calculadas considerando-se o teor de argila do solo ou o P
remanescente da agitação do solo com uma solução com 60 mg L–1 de P
(ALVAREZ V. et al., 1999; SOUSA et al., 2007). Doses de gesso acima do
recomendado poderão propiciar a lixiviação das bases para fora do alcance das
raízes e empobrecer o solo.
Salinidade
A salinidade é um problema da agricultura mundial que ameaça o
desenvolvimento socioeconômico dos países. A FAO estima que em todo o
mundo 34 Mha – 11% da área irrigada – são afetados em algum grau por ela;
Paquistão, China, Estados Unidos e Índia representam mais que 60% do total,
21 Mha. Adicionalmente, uma área de 60 a 80 Mha é afetada em algum nível
por alagamento e salinidade (FAO, 2011). Até 2050 prevê-se que a salinidade
causará sérios problemas em mais de 50% de todas as terras agriculturáveis.
A salinidade é um fenômeno natural característico de zonas áridas e
semiáridas, onde a evaporação excede a precipitação, e a escassez de chuvas faz
com que o uso da irrigação seja necessário para uma produção otimizada. Esse
problema, que está longe de ser resolvido, vem piorando, já que a urbanização
e a industrialização com uma busca mais enfática por água de melhor
qualidade e a exacerbada exploração de aquíferos subterrâneos aumentam a
intrusão da água do mar em poços. Mesmo a água de boa qualidade pode
conter entre 100 e 1.000 gramas de sal por m–3. Com uma aplicação anual de
10.000 m3 por ha–1, algo entre 1 e 10 t de sais são adicionados ao solo. Como
resultado da transpiração e evaporação de água, sais solúveis se acumulam
ainda mais no solo e devem ser removidos periodicamente por lixiviação e
drenagem. Entretanto, mesmo quando a tecnologia de sondagem é aplicada a
esses solos para a determinação precisa dos conteúdos de sal, eles contêm
concentrações que, muitas vezes, são limitantes ao crescimento das culturas
com baixa tolerância ao sal.

Razão entre a condutividade elétrica e a


adsorção de sódio
A salinidade é definida como a concentração total de sais minerais
dissolvidos presentes na solução do solo ou na água. Os minerais dissolvidos
constituem uma mistura de cátions e ânions. Os principais constituintes de
cátions na solução do solo são Na+, Ca2+, Mg2+ e K+; e os principais ânions,
Cl–, SO42–, HCO3–, CO32– e NO3–.
A condutividade elétrica da água é a característica utilizada para avaliar a
salinidade da água de irrigação – CEa. Como critério geral, a água com CEa <
0,7 dS/m (deciSiemens por metro) é considerada de boa qualidade e não tem
qualquer grau de restrição de uso. Entre 0,7 e 3 dS/m de CEa, o grau de
restrição varia de leve a moderado; já acima de 3 dS/m, o rendimento da
maioria das culturas é afetado pelo seu uso.
Os solos são considerados salinos se contiverem sais solúveis em
quantidade suficiente para interferir no crescimento da maior parte das
espécies agrícolas. Um solo é considerado salino se a condutividade elétrica do
extrato de saturação exceder 4 dS/m a 25 °C e se a percentagem da capacidade
de troca catiônica do solo ocupado pelo sódio for inferior a 15. O valor de 4
dS/m corresponde a cerca de 40 mEq/L de sal.
Outro conceito relacionado à salinidade é a sodicidade, que se refere a
íons de Na+, em particular na ausência do componente osmótico que é
característico da salinidade. O parâmetro mais comum para a estimativa da
sodicidade é a razão de adsorção de sódio – RAS. Ela representa a percentagem
da capacidade de troca catiônica do solo ocupada por íons de sódio, e é
calculada pela seguinte expressão:

Em que as concentrações de Na+, Ca2+ e Mg2+ são dadas em mEq/L.


Os valores de RAS > 15 indicam sodicidade. A partir da CEa, o potencial
osmótico do extrato de saturação também pode ser estimado da seguinte
forma:

Potencial osmótico (MPa) = CE × 0,036.


A adequação de uma água para irrigação é determinada não apenas pelos
montantes totais de sal presentes, mas também pelo tipo de sal. Vários
problemas de solo e de cultivo se desenvolvem à medida que o teor total de sal
aumenta. Práticas de manejo especiais podem ser necessárias para que o
rendimento das culturas seja mantido de forma aceitável. A qualidade ou
adequação da água é julgada de acordo com a potencial gravidade dos
problemas que podem ocorrer durante o uso em longo prazo.
Os problemas que ocorrem variam tanto em tipo quanto em grau, e são
modificados pelo solo, clima e safra, bem como pela perícia e conhecimento do
usuário da água. Como resultado, não há limite definido para a qualidade da
água; ao contrário, sua adequação é determinada pelas condições de uso, as
quais afetam o acúmulo de constituintes presentes na água que podem
restringir o rendimento da cultura. Os problemas de solo mais comumente
encontrados e utilizados como base para avaliar a qualidade da água são os
relacionados à salinidade, à taxa de infiltração, à toxidez e a um conjunto de
diversos outros problemas.

Manejo de irrigação para minimizar o impacto


adverso da água salina
A água de irrigação contém uma mistura de sais que ocorrem
naturalmente. Solos irrigados com essa água conterão uma mistura
semelhante, mas em geral numa concentração mais elevada do que na água
aplicada. A quantidade de sais que se acumula no solo dependerá da qualidade
da água de irrigação, do manejo da irrigação e da adequação da drenagem. Se
houver excesso de sal, perdas na produtividade acontecerão. Para evitar tal
perda, os sais no solo devem ser mantidos em concentrações inferiores às que
poderiam prejudicar a produtividade.
Os sais são adicionados ao solo a cada irrigação. Esses sais reduzirão a
produtividade das culturas se concentrações prejudiciais se acumularem na
profundidade do enraizamento. O plantio remove do solo grande parte da
água aplicada para atender à sua demanda de evapotranspiração, mas deixa a
maior parte do sal para trás para se concentrar no volume cada vez menor de
água no solo. A cada irrigação, mais sal é adicionado com a água aplicada, de
modo que a lixiviação da região radicular deve ser realizada antes que a
concentração afete a produtividade da cultura. Faz-se a lixiviação por meio da
aplicação de boa quantidade de água, de forma que uma parte se infiltre
através e por baixo de toda a área da raiz, levando consigo uma parte dos sais
acumulados. A fração de água aplicada, que passa por toda a profundidade de
enraizamento e se infiltra por baixo dela, é chamada de fração de lixiviação –
FL.

Depois de muitas irrigações consecutivas, os sais acumulados no solo


atingirão alguma concentração de equilíbrio com base na salinidade da água
aplicada e na fração de lixiviação. Uma alta fração de lixiviação (FL = 0,5)
resulta em menor acúmulo de sal do que uma baixa fração de lixiviação (FL =
0,1). Se CEa e FL são conhecidas ou podem ser estimadas, tanto a salinidade da
água de drenagem que se infiltra abaixo da profundidade de enraizamento
como a salinidade média na área da raiz também podem ser estimadas. A
salinidade da água de drenagem pode ser estimada a partir da equação:
Em que: CEad = salinidade da água de drenagem infiltrada abaixo da área da
raiz (igual à salinidade da água do solo – CEas); FL = fração de lixiviação.
Além da CEad, é também possível estimar o acúmulo de sais no solo
como uma função da salinidade da água de irrigação e da fração de lixiviação
(Figura 5.5). Dependendo da salinidade do solo e da tolerância das culturas,
será possível escolher as espécies apropriadas.

Figura 5.5 - Salinidade da água do solo – CEe como variável da salinidade da


água aplicada – CEa. A equação preditiva da salinidade do solo
(após vários anos de irrigação com água de salinidade CEa) = CEa
x fator de concentração. O fator de concentração é obtido usando
o padrão de 40, 30, 20 e 10% de extração de água pela cultura do
quarto superior ao quarto inferior da zona radicular.
Fonte: AYERS; WESTCOT, 1994.

Efeito osmótico da salinidade


Quando a concentração de sal na solução do solo é elevada, o potencial
osmótico da solução é reduzido. Dessa forma, a salinidade reduz o potencial
hídrico externo. Em salinidades altas, o potencial hídrico externo pode ser
reduzido e ficar abaixo do potencial hídrico da célula, resultando em secagem
osmótica – o chamado efeito osmótico de salinidade.
A maior parte das respostas rápidas em taxa de alongamento foliar para
salinidade do substrato é atribuível às mudanças no estado da água celular.
Com a remoção da salinidade da área da raiz, a taxa de alongamento foliar é
imediatamente retomada ao nível pré-salinizado, sugerindo que a deficiência
hídrica é a principal causa da redução do crescimento promovida pela
salinidade. A salinização do solo diminui a disponibilidade e a absorção de
água e consequentemente reduz a pressão radicular, que atua como força
motriz do transporte de água e de solutos no xilema.
Em solos salinos, Na+ e Cl– são em geral os íons dominantes. Apesar da
essencialidade do cloreto como nutriente para todas as plantas superiores e do
sódio para muitas halófitas e algumas espécies C4, a concentração de ambos os
íons em solo salino excede demasiadamente a sua demanda e leva a um efeito
específico em plantas não tolerantes à salinidade (Figura 5.6). A alta
concentração de alguns desses íons leva ao seu acúmulo no tecido da planta,
produzindo toxidez. Nessas condições, esses íons tóxicos interferem na
assimilação de outros nutrientes essenciais, resultando em desequilíbrio
nutricional. Finalmente, esse fato pode ainda produzir uma resposta de
estresse oxidativo geral.
As proporções desses íons em relação a outros podem ser bastante
elevadas e causar deficiências de nutrientes essenciais presentes em
concentrações muito mais baixas. As interações de Na+/K+, Na+/Ca2+,
Mg2+/Ca2+, Cl–/NO3– são bem conhecidas. Como o Na+ está quimicamente
relacionado com o K+, ele tem potencial para deslocar K+ em diversos sítios de
ativação enzimática que regulam a conformação das proteínas. A presença de
Na+ em alguns desses locais interrompe em vez de substituir as funções do K+.
Altas concentrações de Ca2+ no citoplasma comprometem ao menos
duas funções metabólicas. Em primeiro lugar, o Ca2+ pode precipitar-se com
fosfato e, portanto, interferir no metabolismo energético. Em segundo, a sua
função de sinalização seria interrompida porque grandes flutuações relativas
alterariam a homeostase química complexa essencial para o metabolismo
celular. A outra função relevante do Ca2+ está relacionada à necessidade de
concentrações elevadas de Ca2+ nas superfícies externas da membrana
plasmática para manter a integridade da membrana e uma elevada seletividade
de K+/Na+.

Figura 5.6 - Efeitos da salinidade nas plantas.

Dois tipos de evidências para o efeito específico da salinidade podem ser


observados. Um é que concentrações moderadas de Na+, Cl– ou SO42–, ou
outros íons, reduzem o crescimento ou causam uma lesão específica. O outro é
que as soluções iso-osmóticas de diferentes composições podem suscitar
respostas bastante diferentes. Como seria de esperar, diferentes genótipos
podem diferir nessas respostas, mesmo dentro de uma mesma espécie.
Toxidez proveniente de concentrações moderadas de alguns íons de solos
afetados por sais é mais comum em plantas lenhosas. Os efeitos secundários de
estresse por NaCl incluem interferência na aquisição de K+, disfunção da
membrana, deficiência na fotossíntese e em outros processos bioquímicos,
produção EROs e morte celular programada.

Fatores que afetam a tolerância das culturas à


salinidade
A tolerância de uma planta à salinidade pode ser definida como a
capacidade que ela tem de suportar os efeitos do excesso de sal no meio de
crescimento radicular. Nessa definição está implícita a ideia de que a planta
consegue tolerar uma quantidade exata de sal sem ter efeitos adversos. A
tolerância de uma planta ao sal não é um valor exato. Ela depende de diversos
fatores, condições e limites. De um ponto de vista agronômico, a tolerância de
uma certa cultura ao sal, em uma determinada salinidade do solo, é a resposta
relativa comparativamente ao desempenho dessa cultura, sem exposição à
salinidade.
Assim, a tolerância ao sal poderia ser afetada por uma série de fatores,
tais como os tipos de sais nas soluções do solo, condições de crescimento
(ambientais e de manejo), idade e variedade da planta. A Figura 5.7 mostra o
crescimento de diferentes espécies submetidas à salinidade em comparação a
controles sem salinidade. O Grupo IA é composto por Suaeda maritima Dum. e
Atriplex nummularia Lindl. Essas espécies demonstram estimulação do
crescimento com níveis de Cl– inferiores a 400 mmol L–1. O Grupo IB é
composto por Spartina townsendii H. & J. Groves e Beta vulgaris L. (beterraba),
que toleram o sal, mas têm seu crescimento retardado. O Grupo II inclui
halófitas, tais como Festuca rubra subsp littorallis (G.F.W. Meyer) Auquier e
Puccinellia peisonis (Beck) Jáv., e não halófitas, como algodão e cevada. Este
grupo também inclui tomate (intermediário) e soja, que são mais sensíveis. O
Grupo III contém espécies bastante sensíveis aos sais e inclui diversas árvores
frutíferas, a exemplo de cítrus, abacate e frutas com caroço.

Figura 5.7 - Classificação das plantas de acordo com sua resposta à salinidade.
Fonte: GREENWAY; MUNNS, 1980.

Campos de plantio irrigados são normalmente fertilizados para alcançar


a máxima produção. Entretanto, aplicações de fertilizantes são, por vezes,
inadequadas ou até mesmo negligenciadas devido aos altos custos ou
indisponibilidade. Culturas em solos de baixa fertilidade parecem ser mais
tolerantes aos sais do que aquelas cultivadas com fertilidade adequada, já que, a
princípio, a fertilidade, e não a salinidade, limita o crescimento das plantas.
Aplicações adequadas de fertilizantes aumentariam a produtividade
independentemente da salinidade do solo, mas com eficiência
proporcionalmente maior se o solo não fosse salino. Portanto, se a
produtividade for reduzida de forma acentuada por um fator mais do que pelo
outro, a atenuação das condições mais severas aumentará a produtividade mais
do que se as condições menos severas fossem atenuadas.
Propriedades físicas do solo também podem modificar a tolerância das
culturas à salinidade. Por exemplo, solos com uma estrutura pobre ou camada
impermeável poderiam restringir o crescimento de raízes, bem como
influenciar a distribuição da água e do sal no perfil. Em condições de campo, a
salinidade do solo raramente é constante ao longo do tempo ou uniforme no
espaço. De acordo com a extensão da lixiviação e da drenagem, a distribuição
de sal pode ser uniforme no solo e mudar um pouco de acordo com a
profundidade, ou pode ser muito irregular e variar de concentrações de sal
próximas à superfície do solo que sejam aproximadamente iguais às da água de
irrigação até concentrações na parte inferior da área da raiz, que são muitas
vezes maiores.
A tolerância de culturas ao sal também depende do tipo e frequência de
irrigação. À medida que o teor de água do solo diminui no intervalo entre as
irrigações, a concentração de sais aumenta. Se a água se torna limitante, as
plantas podem sofrer estresse osmótico. As plantas também respondem de
forma diferente à água salina, dependendo do método de irrigação
(gotejamento, aspersão ou sulco).
O clima é um dos fatores que mais afeta a resposta das plantas à
salinidade. Em geral, as plantas são mais sensíveis a ela em altas temperaturas e
em baixa umidade relativa.
A sensibilidade das culturas à salinidade do solo geralmente muda de
uma fase de crescimento para a seguinte. Conforme as espécies, elas podem ser
mais sensíveis durante o crescimento vegetativo inicial do que durante os
estágios reprodutivos de desenvolvimento. Em geral, a germinação é o estágio
mais tolerante à salinidade. A tolerância das variedades dentro de uma mesma
espécie pode diferir de modo significativo. Árvores frutíferas e videiras
modificam sua tolerância ao sal dependendo do porta-enxerto, e isso parece
estar relacionado com a capacidade de diferentes porta-enxertos em regular a
absorção e o transporte de Na+ e Cl– da raiz para a parte aérea.
A tolerância ao sal de uma cultura pode ser mais bem descrita ao traçar o
rendimento relativo como uma função contínua da salinidade do solo (Figura
5.8). Maas e Hoffman (1977) propuseram que a curva de resposta pode ser
representada por duas retas; uma é um platô de tolerância com inclinação de
zero e, a outra, uma linha dependente de concentração cuja inclinação indica a
redução da produtividade por unidade de aumento da salinidade.
Pr = 100 – b (CEe – a)
Em que: Pr = produtividade relativa; a = limite de salinidade expressa em
dS/m; b = inclinação expressa em % de redução da produtividade por dS/m;
CEe = condutividade elétrica média de um extrato de solo saturado retirado da
área da raiz.
Espécies de plantas têm demonstrado grande grau de variação em suas
habilidades para tolerar condições salinas. Os valores dos parâmetros de “a” e
“b” para algumas olerícolas e fruteiras são mostrados na Tabela 5.1. O feijão é
classificado como uma cultura sensível à salinidade, já que a produtividade
diminui em 19% para cada unidade de aumento da salinidade – CEe – além do
limiar de 1 dS/m, enquanto a cevada é considerada uma cultura tolerante à
salinidade com um limiar de CEe de 8 dS/m e uma inclinação de 5%.
Funções mais precisas para a resposta da planta seriam vantajosas para a
modelagem de simulação das culturas. Um dos modelos que mais
precisamente descrevem a resposta de crescimento sigmoidal de plantas à
salinidade é o desenvolvido por Van Genuchten e Hoffman (1984). Ele toma a
forma de:

Em que: Pr = produção em condições não salinas; C = salinidade média na


zona radicular; C50 = salinidade média na zona radicular que causa redução de
50% na produção; p = constante empírica.

Figura 5.8 - Parâmetros de tolerância a sais. Valor limiar (a) e inclinação (b),
derivados da relação entre salinidade do solo e produção relativa.

Tabela 5.1 - Tolerância a sais de algumas culturas

Cultivo Condutividade elétrica do extrato de


solo saturado
Nome comum Nome botânico Limiar Declividade (% por dS/m)

Feijão Phaseolus vulgaris L. 1 19

Alface Lactuca sativa L. 1.3 13

Amendoeira Prunus dulcis Mill. 1.5 19


Pimentão Capsicum annuum L. 1.5 14

Milho Zea mays L. 1.7 12

Prunus persica (L.)


Pessegueiro 1.7 21
Batsch

Citrus paradisi
Grapefruit 1.8 16
Macfad

Alfafa Medicago sativa L. 2 7.3

Lycopersicon
Tomate 2.5 9.9
esculentum Mill.

Brassica oleracea var


Brócolis 2.8 9.2
italica L.

Phoenix dactylifera
Tamareira 4 3.6
L.

Asparagus o icinalis
Aspargo 4.1 2
L.

Glycine max (L.)


Soja 5 20
Merr.

Trigo Triticum aestivum L. 6 7.1

Beterraba de
Beta vulgaris L. 7 5.9
açúcar 

Algodão Gossypium hirsutum 7.7 5.2


L.

Cevada Hordeum vulgare L. 8 5

Mecanismos de adaptação das plantas à


salinidade
As homeostases osmótica e iônica são necessárias para a tolerância da
planta ao sal (Figura 5.9). As plantas respondem ao efeito osmótico evitando a
perda de água e mantendo o potencial de turgescência, e devem ajustar-se
osmoticamente em resposta ao potencial hídrico inferior na solução do solo.
Elas fazem isso por meio do acúmulo de íons inorgânicos ou por síntese
de compostos orgânicos, de modo a diminuir o potencial osmótico da célula,
ou por uma combinação de ambos os métodos.
O equilíbrio osmótico no citoplasma é obtido pela acumulação de solutos
orgânicos que não inibem os processos metabólicos, chamados osmólitos
compatíveis. Estes são açúcares (principalmente sacarose e frutose), açúcares
álcoois (glicerol, inositóis metilados), açúcares complexos (trealose, rafinose,
frutanos), íons (K+), metabólitos carregados (glicina, betaína) e aminoácidos,
tais como prolina.
Figura 5.9 - Respostas e mecanismos de convívio com a salinidade. Espécies
excluidoras e acumuladoras: estas acumulam os sais nos vacúolos
de suas células; aquelas eliminam a absorção dos sais pelas raízes.

As halófitas podem acumular grandes quantidades de sais inorgânicos


em organelas celulares, como vacúolos, glândulas etc. A fim de prosperar em
meios salinos, as glicófitas – que podem tolerar concentrações de sal
relativamente baixas – têm de sintetizar osmólitos orgânicos em uma
quantidade maior do que as plantas que usam o sal como um dos seus
principais reguladores osmóticos. Esse processo tem um custo de energia
responsável, em parte, pela redução da produtividade.
A homeostase iônica intracelular requer mecanismos que controlem a
absorção de íons tóxicos e facilitem a sua compartimentalização no vacúolo.
Como o vacúolo é um compartimento central para a expansão das células, o
acúmulo de íons nessa organela facilita o ajuste osmótico que impulsiona o
crescimento com impacto deletério mínimo sobre o aparelho citosólico e as
organelas. O estabelecimento de homeostase iônica e osmótica após o estresse
salino é essencial não só para evitar a morte celular, mas também para manter
os estados fisiológicos e bioquímicos estáveis, necessários para o crescimento e
conclusão do ciclo de vida.
As proporções de Na+ e Cl– em relação a outros nutrientes essenciais
podem ser bastante elevadas e causar deficiências de elementos presentes em
concentrações muito mais baixas. Os requisitos de K+ para manter a taxa de
crescimento das plantas são mais elevados quando a planta está sob condições
salinas.
Plantas com uma alta seletividade de K+/Na+ demonstraram ser mais
tolerantes à salinidade do que outras com baixa seletividade de K+/Na+.
Elevadas concentrações de sulfato e em maiores proporções de Cl– diminuem
a taxa de absorção de nitrato. Foi demonstrado que íons de sódio causam
perturbações na nutrição com Ca2+. Desordens nutricionais que envolvem
outros elementos podem estar ligadas aos efeitos da salinidade sobre o
transporte e o metabolismo do Ca2+.
O estresse salino provoca aumento nas EROs. A menos que estas sejam
inativadas, podem ocorrer danos irreversíveis aos lipídeos da membrana,
proteínas e ácidos nucleicos. As plantas produzem uma baixa massa molecular
antioxidante, tais como ácido ascórbico, glutationa reduzida, tocoferol e
carotenoides, e para eliminar as EROs utilizam enzimas de desintoxicação, a
exemplo de superóxido dismutases, catalases, ascorbato peroxidases,
glutationa-S-transferases e glutationa peroxidases.

Aplicação da biotecnologia na seleção de


plantas tolerantes a sais
Como descrito, a tolerância à salinidade é um fenômeno complexo que
envolve aspectos osmóticos, toxidez direta dos sais e estresse oxidativo.
Portanto, é aceito que a tolerância à salinidade pode ser geneticamente
determinada por vários genes. Ao mesmo tempo, há também a hipótese de
que, se houver alteração de um número relativamente baixo desses genes, a
tolerância de culturas à salinidade poderá ser melhorada. Muitos grupos de
pesquisa em todo o mundo estão trabalhando na identificação de genes
cruciais que podem ser modificados para aumentar a tolerância à salinidade.
Além disso, a transferência de genes de espécies mais tolerantes, ou a partir de
halófitas, também pode aumentar a tolerância de culturas à salinidade, já que a
maioria delas são glicófitas.
Considerando-se as semelhanças químicas entre Na+ e K+, os efeitos
tóxicos do Na+ e o comprometimento da nutrição de K+ sob estresse salino,
uma homeostase adequada de K+/Na+ é crucial para a tolerância a sais. Para
manter a homeostase, os transportadores de K+ e Na+ são elementos-chave
nas diferentes membranas da célula e em diferentes tecidos da planta.
Em nível celular, a modificação dos transportadores para restringir o
influxo de Na+ na célula, o aumento da acumulação de Na+ no vacúolo ou um
maior efluxo de Na+ a partir do citoplasma podem contribuir para uma
tolerância aumentada à salinidade. As vias de influxo de Na+ na célula são mal
compreendidas, e mais pesquisas são necessárias para identificar as entidades
moleculares para esse processo. Canais catiônicos não seletivos ou canais de
voltagem independente são bons candidatos para mediar o influxo de Na+,
apesar dos genes que codificam esses canais não terem sido identificados ainda.
Sabe-se mais sobre os sistemas envolvidos no efluxo de Na+ ou sobre o
acúmulo no vacúolo que são mediados por antiportadores de Na+/H+.
Diversas famílias de genes que codificam esses antiportadores foram
identificadas. Dentro dessas famílias, o antiportador SOS1 Na+/H+ está
envolvido na extrusão de Na+ para a solução do solo e nos movimentos de Na+
entre o xilema e as células do parênquima do xilema, que determinam
definitivamente o transporte de Na+ para a parte aérea. Outros antiportadores,
como os NHXs, agem no tonoplasto e são importantes para o acúmulo de Na+
no vacúolo. Algumas aplicações biotecnológicas já foram desenvolvidas por
meio da utilização desses antiportadores tonoplásticos. A superexpressão de
um deles aumentou o acúmulo de Na+ vacuolar e tolerância à salinidade em
diversas espécies de plantas.
Para a planta, os transportadores envolvidos na distribuição de Na+ e K+
no seu interior podem também ser alvos importantes para melhorar a
tolerância à salinidade. Um LCQ (Locos de Características Quantitativas são
trechos de DNA que estão intimamente ligados aos genes que fundamentam a
característica em questão) para tolerância à salinidade foi descrito em arroz.
Esse LCQ codifica um transportador de sódio pertencente à família HKT o
qual opera em células do parênquima, que rodeiam os vasos do xilema.
A modificação de genes envolvidos na regulação desses transportadores
também fornece uma ferramenta poderosa para incrementar a tolerância à
salinidade. Assim, fatores de transcrição, proteínas-cinases e proteínas-
fosfatases e cascatas de transdução de sinal podem ser modificados para se
obter uma função mais eficiente dos transportadores de Na+ ou K+ em
condições de estresse salino. Numerosas pesquisas foram feitas a fim de
identificar tais transportadores, que são o ponto final do processo. No entanto,
atualmente, a caracterização dos sistemas de regulação envolvidos no controle
da função dos transportadores se faz necessária. Foi demonstrado
recentemente que a funcionalidade de um determinado transportador pode ser
diferente em espécies que diferem quanto à tolerância à salinidade. Os genes
que codificam os antiportadores de SOS1 Na+/H+ na glicófita Arabidopsis
thaliana L. e na halófita Thellungiella halophila são regulados de forma distinta.
A halófita demonstra níveis mais elevados de expressão do gene SOS1, que
pode contribuir para uma melhor homeostase do Na+ e tolerância à salinidade
mais elevada. Portanto, a identificação dos elementos-chave das vias de
regulação pode, no futuro, levar a ferramentas moleculares importantes para
aumentar a tolerância das plantas à salinidade.
Práticas para melhoria do ambiente radicular
em solos afetados por sais
Algumas práticas destinam-se a remover ou lixiviar os sais para uma
profundidade abaixo da zona radicular. Em geral são dispendiosas e nem
sempre permitem alcançar os objetivos, porém são de grande importância
para que áreas com problemas de excesso de sais possam continuar a ser
exploradas na produção de alimentos. Entre tais práticas destacam-se:
Lixiviação: consiste na eliminação dos sais via lixiviação e drenagem.
Se o solo afetado por sais não apresenta excesso de Na, deve ser feita após a
instalação de drenos, com abundante e frequente aplicação de água de boa
qualidade, permitindo que os sais solúveis sejam lixiviados do solo e drenados
mediante condutos. A água de irrigação deverá conter pequena quantidade de
sais, especialmente compostos de sódio, e silte. Esse método apresenta bons
resultados para solos cujos sais solúveis não são neutros e que têm
concentrações consideráveis de Ca e Mg, bem como concentrações de Na
trocável pouco elevadas. Já o tratamento de solos alcalinos e alcalino-salinos
com água com baixa concentração de sais poderá aumentar a alcalinidade em
virtude da remoção dos sais solúveis neutros, o que resultará num acréscimo
da concentração de Na, aumentando a concentração de hidroxilas na solução
do solo. Nesse caso, seriam mais adequadas aplicações maciças de S ou gesso,
que permitem a conversão do carbonato e do bicarbonato de sódio em sulfato
de sódio (FREIRE; FREIRE, 2007; PEDROTTI et al., 2015).
Aplicação de gesso: quando o solo tem elevadas concentrações de Na
trocável, é preciso que esse íon seja substituído por outro, em geral Ca, no
complexo de troca, e em seguida seja lixiviado e retirado via sistema de
drenagem. Por seu baixo custo, o gesso tem sido usado em tais situações,
embora outros sais, como o CaCl2, também se prestem a esse fim.
Em geral são necessárias doses elevadas de gesso, que deve ser aplicado
de forma superficial e, se possível, incorporado. O solo deverá ser mantido
úmido para acelerar a reação e, mais tarde, deverá ser submetido à lixiviação
para livrá-lo, ainda que parcialmente, do sulfato de sódio formado. O gesso
reage tanto com o Na2CO3 quanto com o Na adsorvido aos coloides do solo,
dos quais é deslocado pelo Ca. Ambos os casos resultam em Na2SO4, que é
lixiviável (FREIRE; FREIRE, 2007).
A necessidade de gesso pode ser calculada com a equação descrita a
seguir (VITTI et al., 1995):
NG = [(PSNai – PSNaf) × CTC × 86 × h × d]/100
Em que: NG = kg ha–1 gesso; PSNai = percentagem inicial de saturação
por sódio; PSNaf = percentagem de saturação por sódio que se deseja alcançar;
CTC = capacidade de troca catiônica do solo em cmolc dm–3; h = espessura da
camada que se deseja corrigir em cm; d = densidade global do solo em kg dm–
3
.
Adição de enxofre: pode ser realizada com S elementar, ácido sulfúrico
ou sulfato de ferro. Traz bons resultados, especialmente quando há
abundância de carbonato de sódio. Mediante oxidação, o S produz ácido
sulfúrico, que reage com o carbonato de sódio, resultando em sulfato de sódio,
ao mesmo tempo que, por seu caráter ácido, reduz a alcalinidade. Também
nesse caso é importante que o solo seja umedecido após a aplicação do
corretivo para incrementar a oxidação microbiana. A lixiviação deverá ser
promovida depois de pelo menos 30 dias, tempo necessário para a formação de
sulfato de cálcio (FREIRE; FREIRE, 2007; PEDROTTI et al., 2015).
Manejo adequado das práticas de irrigação: deve-se sempre evitar o
uso excessivo de água, a menos que se deseje promover a lixiviação dos sais.
Recomendam-se irrigações leves e frequentes, de modo a manter a
concentração de sais suficientemente baixa para permitir o crescimento das
plantas. Deve-se irrigar antes ou depois do plantio, já que plantas jovens são
mais sensíveis aos sais (PEDROTTI et al., 2015).
Fitorremediação: a fitorremediação tem sido preconizada como
alternativa não agressiva ao ambiente e de baixo custo para recuperação de
solos salinos. Porém, para que seja aplicada com sucesso, é preciso identificar
plantas tolerantes ao excesso de sais e plantas de elevada produção de biomassa
nessa condição. Essas plantas devem ser capazes de extrair os sais do solo, e
alocá-los preferencialmente na parte aérea para que possam ser retirados da
área com a colheita das plantas. Há poucas pesquisas que deem sustentação a
essa prática na região semiárida do Brasil, embora plantas como a algaroba –
Prosopis juli lora (Sw) DC – e a Atriplex – Atriplex sp. – sejam consideradas
promissoras (PEDROTTI et al., 2015).
Matéria orgânica: a adição de materiais orgânicos, sozinhos ou em
misturas, em geral promove a redução da densidade aparente do solo e
aumenta sua porosidade ao longo do perfil; tem efeito positivo na CTC e no
número e estabilidade de agregados. Essas alterações resultam em aumento da
capacidade de retenção de água, melhoria da condutividade hidráulica e da
infiltração da água. No entanto, em algumas situações, em solos sódicos, a
matéria orgânica pode promover efeito deletério. Esse fato é atribuído à maior
afinidade dos coloides orgânicos pelo Ca, de modo que mais Na ficaria em
solução, promovendo a dispersão (HUESO-GONZÁLEZ et al., 2018).
Deficiência hídrica
A disponibilidade de água é uma das principais limitações para a
produtividade da planta e é um dos fatores essenciais que regulam a
distribuição geográfica das diferentes espécies de plantas. Atualmente, mais de
41% da superfície terrestre é considerada árida ou semiárida, e recebe
precipitações inadequadas para a maioria dos usos agrícolas (SAFRIEL et al.,
2005). Essas regiões agrícolas afetadas pela seca podem passar por perdas de
produtividade de até 50% com relação a outras áreas que não são afetadas por
ela. O montante de superfícies terrestres que sofrem com a seca poderá
aumentar nos próximos anos devido às mudanças climáticas globais e também
por conta do aumento da população humana. Há consenso de que as mudanças
no clima alterarão o ciclo hidrológico, aumentando, pois, a possibilidade de
secas e inundações em todo o planeta. Projeta-se que os impactos serão mais
intensos na Ásia Central, África do Sul e países ao redor do Mar
Mediterrâneo. Além de mudanças climáticas, a população humana atingirá um
número entre 8–12 bilhões antes do final do século XXI, causando limitação
dos recursos hídricos na agricultura pela concorrência por água no consumo
agrícola, industrial e urbano. Assim, o maior desafio da agricultura é aumentar
a produção de alimentos com menos recursos hídricos e terrestres através da
promoção de técnicas, sistemas de cultivo ou novas variedades de maior
eficiência no uso da água.

O déficit hídrico, trocas gasosas, transporte de


água e morfologia das plantas
A primeira resposta de todas as plantas ao déficit hídrico agudo é o
fechamento dos estômatos para evitar a perda de água por transpiração. O
fechamento estomático pode resultar da evaporação direta da água das células-
guarda, sem envolvimento metabólico. Esse processo é conhecido como
fechamento hidropassivo e é controlado pela diminuição do potencial hídrico
foliar ou teor relativo de água foliar (sinalização hidráulica).
Esse mecanismo ocorre, com maior probabilidade, em baixa umidade
atmosférica, quando a perda direta de água das células-guarda ocorre muito
rapidamente para ser equilibrada pelo movimento da água nas células-guarda
das células epidérmicas adjacentes. O fechamento estomático também pode ser
metabolicamente dependente e envolver processos que resultam na reversão
dos fluxos de íons, que causam abertura estomática. Esse processo de
fechamento dos estômatos, que requer íons e metabólitos, e parece ser
regulado por ácido abscísico – ABA (sinalização química), é conhecido como
fechamento hidroativo (Figura 5.10). A sinalização química predomina durante
as fases iniciais de estresse, antes que a sinalização hidráulica seja produzida e
se torne menos importante em situação de seca severa quando o potencial
hídrico foliar é reduzido e as folhas murcham. Hormônios, em particular o
ABA, além de participarem no fechamento de estômatos, como mencionado
acima, têm sido envolvidos na sinalização química raiz-parte aérea.
A seca causa alcalinização da seiva do xilema em determinadas espécies de plantas. (A)
Planta bem irrigada com pH apoplástico 6; (B) planta sob condições de seca com pH
apoplástico 7. Nas plantas em que o pH da seiva do xilema aumenta quando o solo fica
seco, as concentrações apoplásticas de ABA se elevam, e o fechamento estomático é
induzido por ABA. Mudanças na composição da seiva do xilema são também
responsáveis pela redução na transpiração e pela inibição do crescimento foliar. Tais
mudanças incluem aumentos nas concentrações de malato e 1-aminociclopropano-1
carboxilato – ACC, decréscimos na taxa de fluxo e redução nas concentrações de
citocininas, zeatina e zeatina ribosídeo. Após a percepção do ABA pelas células-guarda, há
alterações nos fluxos de potássio (K+) e ânions (A–) que resultam no fechamento
estomático. (C) Fechamento estomático sob déficit hídrico. Os efeitos do ABA nas
células-guarda sob déficit hídrico sugerem a atuação de um receptor ligado à membrana
plasmática, como o identificado G-Protein Coupled Receptor 2 – GCR2, mas a atuação de
receptores intracelulares, como a Subunidade H da magnésio protoporfirina-IX quelatase
– CHLH, que está localizada no cloroplasto, não pode ser descartada. Outros receptores
na membrana plasmática poderiam ser importantes na transdução do sinal que leva ao
aumento das concentrações de ABA no apoplasto e consequentemente ao fechamento
estomático. Depois da percepção do ABA pelas células-guarda, o efluxo de potássio (K+) e
ânions (A–) leva ao fechamento dos estômatos. SLAC = canal lento de ânions; RAC =
canal rápido de ânions.
Figura 5.10 - Mudanças na composição da seiva do xilema sob estresse hídrico.
Fonte: Adaptado de SCHACHTMAN; GOODGER, 2008.

Cavitação e embolia são muito frequentes nas plantas em condições de


seca. A seiva do xilema é transportada sob tensão – isto é, pressão negativa –
em plantas, de acordo com a teoria de tensão-coesão. No entanto, quando a
tensão folha-raiz aumenta, a continuidade das colunas de água é quebrada
(cavitação). Além disso, a cavitação provoca uma embolia, isto é, uma
trombose que bloqueia o fluxo de água nos vasos condutores do xilema. Como
consequência, a condutividade hidráulica do xilema é reduzida, afetando o
abastecimento de água às folhas.
A seca é um dos principais fatores ambientais que limitam a fotossíntese,
a respiração e, por consequência, o crescimento das plantas. Atualmente, sabe-
se que um dos principais alvos fisiológicos responsáveis pela deficiência
fotossintética em seca é a difusão reduzida de CO2 da atmosfera para o local de
carboxilação do cloroplasto.
A redução da capacidade difusiva foliar se dá por, pelo menos, dois
componentes que são regulados quase que simultaneamente: fechamento
estomático e redução da condutância do mesofilo. Insuficiência metabólica
também pode ocorrer, em especial sob estresse severo, quando a condutância
estomática máxima diária cai abaixo de 0,05–0,10 mol H2O m–2 s–1.
Limitações não estomáticas da fotossíntese podem ocorrer a partir de
disfunções fotoquímicas e bioquímicas.
O efeito mais óbvio até mesmo do estresse moderado é a redução no
crescimento com o alongamento da célula, sendo particularmente sensível ao
déficit hídrico. A expansão celular é um processo dependente de turgescência
que pode ser descrita pela relação: TC = M * (P–Y), em que TC é a taxa de
crescimento, P é o potencial de turgescência, Y representa o limiar de
rendimento (a pressão abaixo da qual a parede celular resiste à deformações
plásticas ou irreversíveis) e M é a extensibilidade da parede (a capacidade de
resposta da parede à pressão). Portanto, uma diminuição da turgescência
celular por déficit de água provoca menor crescimento celular. Somando-se à
perda de turgescência, a redução no crescimento celular também pode ocorrer
devido aos sinais hormonais das raízes, tais como ABA, ou sinais químicos,
como o pH, que podem produzir alterações químicas na parede celular.
O estresse hídrico não somente limita o tamanho de folhas individuais
ao restringir a expansão de células, como também limita o número de folhas
de uma determinada planta, pois diminui o número e a taxa de crescimento
dos ramos. Além da inibição do crescimento, o estresse por déficit de água
pode modificar significativamente o desenvolvimento das plantas e sua
morfologia.
A sensibilidade diferencial das raízes e da parte aérea, com o crescimento
das raízes sendo menos sensível ao déficit hídrico, causa grande aumento na
relação raiz-parte aérea, na seca.

Mecanismos de tolerância à seca e estratégias


sustentáveis de irrigação
O termo tolerância à seca é usado para descrever todos os mecanismos
que tendem a manter a sobrevivência das plantas ou sua produtividade em
condições de seca. Em um contexto para agricultura ou horticultura, um
cultivar mais tolerante é aquele que tem maior rendimento de produtos
comercializáveis em condições de seca do que um menos tolerante. O
conhecimento dos processos fisiológicos das plantas em tais condições é de
suma importância na concepção de estratégias de irrigação que contribuam
para uma agricultura mais sustentável.
Embora existam diferentes maneiras de as plantas serem adaptadas ou
aclimatadas a condições de seca, as três principais adaptações genotípicas para
ambientes com limitação hídrica são: escape, evasão e tolerância à seca (Figura
5.11).

Figura 5.11 - Mecanismos de tolerância à seca e suas implicações no manejo


agronômico das culturas.

Estratégias de escape à seca estão presentes em plantas que concluem


seus ciclos de vida rapidamente ou, ao menos, seu ciclo reprodutivo, que
crescem durante o período de umidade favorável do solo. Essas estratégias são
típicas de plantas do deserto, mas podem ser encontradas em muitas plantas
cultivadas, cujos cultivares mais tolerantes à seca, pelo menos em ambientes
com uma estação seca marcada, são mais frequentes do que aqueles que
florescem e amadurecem mais cedo, evitando, assim, o pior momento dessa
estação. Pode-se citar como exemplo a floração precoce de genótipos de grão-
de-bico, que é uma forma de se beneficiar das chuvas de inverno em estações
chuvosas curtas, ou a seleção de genótipos de floração precoce, que também é
muito comum na cultura do arroz na Tailândia.
Uma técnica agrícola de escape à seca é a semeadura no outono. Essa
técnica é uma prática de manejo inovadora que se refere à semeadura, no
outono, de espécies típicas de primavera, antes de o frio intenso começar.
Nesse sistema, as sementes absorvem a umidade, mas permanecem dormentes
até a primavera. Com o aquecimento do solo na primavera as plântulas
começam a crescer, e a cultura se estabelece antes que a semeadura da
primavera esteja completa. A irrigação com déficit hídrico controlado – DHC
ou o racionamento de água no cultivo também são baseados na estratégia de
escape à seca.
O objetivo dessas técnicas é economizar água em parte ou em partes (que
são menos sensíveis à seca) do ciclo sazonal de desenvolvimento da planta,
para que haja recursos hídricos suficientes para enfrentar o período de
estiagem nas fases fenológicas mais sensíveis. As estratégias de irrigação com
déficit hídrico controlado são empregadas em regiões semiáridas em diversas
culturas mediterrâneas, incluindo azeitonas, amêndoas e frutas cítricas. O
racionamento no cultivo é usado principalmente na cultura de trigo, em que o
abastecimento de água é limitado na fase de crescimento vegetativo inicial,
mas não no enchimento de grãos ou antese, quando a eficiência do uso da água
para produção de grãos pode resultar em grave estresse hídrico.
A estratégia de “evasão” reúne mecanismos que permitem que as plantas
mantenham um status adequado de água, apesar da escassez hídrica no solo.
Esses mecanismos podem ser divididos em dois tipos: mecanismos de
adaptação, que minimizam a transpiração, e mecanismos que mantêm a
absorção de água. Mecanismos particulares que minimizam a transpiração
incluem uma cutícula espessa com uma correspondente baixa condutância
cuticular, folhas pequenas com uma superfície total de transpiração por planta
menor, uma alta refletividade e outras adaptações que minimizam a absorção
de radiação, uma baixa condutância estomática que pode ser atingida pelo
fechamento dos estômatos ou por estômatos muito pequenos, ou
escassamente distribuídos.
Mecanismos que permitem a manutenção de absorção de água em
condições de seca incluem a manutenção da turgescência e a absorção de água
eficaz. A manutenção da turgescência, em geral, eleva a concentração de
solutos das células, em resposta ao estresse hídrico generalizado, ocorrendo
em folhas, raízes e órgãos reprodutivos de muitas espécies. Esse processo é
comumente chamado de ajuste osmótico ou osmorregulação, e é
provavelmente o mecanismo mais importante para a manutenção das
atividades fisiológicas, uma vez que o potencial hídrico foliar decai. A
manutenção completa da turgescência ocorre se a diminuição do potencial
osmótico foliar for igual a qualquer queda no potencial hídrico foliar total, o
que mantém a turgescência constante. Tanto os íons inorgânicos –
especialmente K+ e Cl– – quanto os solutos orgânicos podem ser envolvidos
no ajuste osmótico das células, apesar de que as alterações em solutos
orgânicos tendem a ser muito mais importantes, sobretudo em condições não
salinas. Além do ajuste osmótico, muitas plantas bem sucedidas em ambientes
secos não têm adaptações específicas para controlar a perda de água, mas têm
absorção hídrica bastante eficaz devido a um sistema radicular profundo e
extenso, que capta água de um grande volume de solo ou de um lençol freático
profundo. Na agricultura, técnicas baseadas em mecanismos de prevenção de
seca incluem a escolha dos genótipos resistentes a ela, de plantas micorrizadas,
irrigação por secagem parcial do sistema radicular, entre outras.
A maioria das estratégias de prevenção à seca é baseada na escolha de
genótipos tolerantes a ela capazes de manter um melhor estado hídrico
interno, seja por captar mais água através de um sistema radicular melhor, seja
por meio da redução da taxa de uso de água na planta. Essa técnica tem sido
utilizada em frutas cítricas, amendoim, grão-de-bico etc.
O papel das micorrizas em plantas em condições de seca tem sido
amplamente estudado, salientando-se os efeitos benéficos desses organismos
no crescimento e na absorção de minerais por parte das plantas.
Fungos micorrízicos, também chamados de micorrizas – literalmente,
“fungos da raiz” –, são fungos que vivem em associação com as raízes das
plantas e estão presentes em quase todos os solos. As plantas micorrizadas
podem evitar a seca por meio dos seguintes mecanismos: i) desenvolvimento
de um sistema radicular profundo; ii) movimentos foliares para evitar sol
direto; iii) regulação sensível dos estômatos; e iv) habilidade das raízes
micorrizadas de absorverem uma maior quantidade de água do solo.
Uma estratégia de irrigação denominada secagem parcial das raízes – SPR
é também baseada em um mecanismo das plantas de evitar a seca. A teoria
básica dessa técnica é utilizar a resposta bioquímica ao déficit hídrico, sem os
efeitos fisiológicos de crescimento com disponibilidade de água reduzida.
Quando uma parte do sistema radicular seca ao mesmo tempo que as raízes
restantes são mantidas bem irrigadas, os sinais químicos produzidos nas raízes
em processo de desidratação, principalmente ABA, podem, hipoteticamente,
induzir o fechamento estomático, enquanto a raiz totalmente hidratada
mantém um estado da água favorável em toda a parte aérea das plantas. Essa
técnica é utilizada em culturas arbóreas, como frutas cítricas, amêndoas e
pêssego, ou em culturas hortícolas, como tomate e pimenta.
A estratégia de tolerância à seca é também chamada de tolerância à
dessecação, já que a sobrevivência ao baixo teor de água do tecido é tão
importante quanto a capacidade de continuar funcionando em baixos
potenciais hídricos. A notável tolerância à dessecação das plantas que possuem
esse tipo de estratégia pode envolver tanto a capacidade de manter a estrutura
subcelular e a integridade fisiológica, ou a capacidade de reparar os danos
rapidamente quando ocorre a reidratação. No entanto, a maioria das espécies
de plantas tem uma capacidade limitada para proteger a célula contra a
dessecação, embora exista grande variabilidade entre as espécies de plantas no
limiar de teor de água que causa morte celular.
Como visto, o mecanismo de ajuste osmótico é muito eficaz na proteção
das estruturas celulares já que evita a plasmólise provocada por danos
mecânicos às membranas. Além disso, uma variedade de solutos – açúcares
(trealose), açúcares álcoois (manitol e sorbitol), aminoácidos (prolina) e
betaínas – é particularmente eficaz na proteção de proteínas citoplasmáticas e
das membranas celulares contra a dessecação. Outras moléculas – incluindo
redutores solúveis em água (compostos que contêm tiol [gluthationa] e
ascorbato), vitaminas solúveis em gordura (tocoferol e caroteno) e
antioxidantes enzimáticos (catalase e superóxido dismutase) – são eficazes na
proteção da célula contra a produção de radicais de oxigênio que derivam da
dessecação.
As estratégias de irrigação baseadas nos mecanismos de tolerância de
plantas à seca dependem, principalmente, da aplicação exógena de solutos
compatíveis, incluindo silício, ácido salicílico, prolina ou glicina-betaína, entre
outros, que podem aliviar os danos nas células quando as plantas estão com
déficit hídrico. Tais aplicações, no entanto, são escassas no setor agrícola, uma
vez que elas ainda estão em fase experimental.

Práticas de manejo do solo para mitigar a


condição de déficit hídrico
Entre as práticas de manejo do solo com potencial de mitigar a condição
de seca destaca-se o emprego de material orgânico. Tal medida é capaz de
garantir o melhor estabelecimento de plantas em áreas sujeitas a estresse
hídrico. No curto prazo, esse efeito é o resultado do aumento da matéria
orgânica, porém, em longo prazo, a estrutura do solo se torna mais estável e a
capacidade de retenção de água, a permeabilidade e a infiltração são
melhoradas, enquanto o escoamento superficial e a erosão são reduzidos.
O nome material orgânico inclui uma gama de diferentes materiais cuja
característica comum é conter matéria orgânica. Podem ser citados o mulch,
definido como uma camada orgânica ou inorgânica aplicada na camada
superficial do solo; a biofertilização, definida como a adição extra ao solo de
microrganismos ou enzimas; o lodo de esgoto, subprodutos orgânicos da
atividade humana que podem ser adicionados ao solo; estercos de origem
animal – de aves, minhocas, suínos, bovinos ou caprinos; e composto, ou seja,
qualquer produto orgânico obtido como resultado de um processo de
compostagem.
Esses materiais sozinhos ou em misturas diversas frequentemente
reduzem a densidade aparente e aumentam a porosidade ao longo do perfil do
solo. Além disso, em geral aumentam a CTC e têm efeitos positivos sobre o
número de agregados e sua estabilidade. Tais alterações podem resultar em
aumento da capacidade de retenção de água do solo e ter efeitos positivos no
crescimento das plantas e na sobrevivência de sementes. Solos mais vegetados,
por sua vez, têm maior rugosidade e apresentam menor erosão por
escorrimento, além de aumento nas taxas de infiltração de água. Deve-se,
entretanto, ter cuidado com produtos instáveis ou imaturos, os quais podem
produzir efeitos adversos ao solo e às plantas (HUESO-GONZÁLEZ et al.,
2018).
O emprego de hidrogéis hidrorretentores, copolímeros de acrilato de
potássio e acrilamida é considerado prática promissora para melhorar a
eficiência de uso da água. No Brasil, eles têm sido usados no plantio do
eucalipto, porém há relatos que confirmam sua eficiência também no plantio
de café.
Quando secos apresentam-se em forma de pó, grãos ou fragmentos,
semelhantes a pedaços de plástico maleável. Quando hidratados absorvem a
água, adquirem consistência esponjosa ou gelatinosa e têm seu volume
aumentado em até 100 vezes. Retêm de 200 a 400 vezes o seu peso em água,
paulatinamente disponibilizada às raízes. Podem ser usados secos, em mistura
com o solo da cova no momento do plantio da muda, para que a hidratação
ocorra em seguida por ocasião de chuvas ou irrigações, ou alternativamente já
hidratado. Funcionam como reservatórios de água junto às raízes, e permitem
reduzir a frequência e o volume de água usado nas irrigações.
Convém destacar, entretanto, a necessidade de estudos dos hidrogéis em
diferentes culturas, solos e climas para estabelecer padrões seguros de
recomendação desses produtos (SOUZA, 2014; VASCONCELOS, 2017).

Novas tecnologias para melhorar a eficiência


do uso da água
Além de uma irrigação com base em mecanismos de tolerância de
plantas à seca, o aprimoramento dos sistemas de irrigação, que permite o
ajuste de distribuição de água no tempo e espaço, pode ser muito útil em
culturas agrícolas cultivadas em climas árido ou semiárido. Nas últimas
décadas, uma quantidade substancial de pesquisas sobre novas tecnologias de
irrigação e abordagens de programação mais eficientes tem sido realizada
(Figura 5.12). Mas, no geral, a introdução de microirrigação – gotejamento –
nos últimos dez anos abriu novas possibilidades para refinar o controle do
abastecimento de água em campos e estufas. Os sistemas de gotejamento têm o
potencial de melhorar a qualidade da colheita porque são uma forma de
irrigação de precisão por meio da qual se aplica água diretamente na região
radicular. Cada planta recebe a quantidade certa de água em intervalos
regulares, e menos água é perdida devido ao transporte. Métodos de irrigação
tradicionais, como a irrigação por inundação, muitas vezes tendem a irrigar as
culturas em excesso ou de forma limitada e não fornecem necessariamente o
montante que a cultura requer em um momento específico.
Figura 5.12 - Medições e técnicas que melhoram a eficiência de uso da água na
agricultura irrigada.

Em ambientes semiáridos, onde a água é escassa, é também necessário


determinar exatamente quais são as necessidades hídricas das culturas. A
quantidade de abastecimento de água às culturas é em geral baseada no seu
potencial de evapotranspiração – ETc, estimado por dados meteorológicos ou
por meio de medições de umidade do solo. Com base nesses dados, o ETc é
calculado como ETo*Kc, em que ETo é evapotranspiração de referência e Kc,
coeficiente de cultura. O Kc incorpora características da cultura e efeitos
médios de evaporação do solo.
Além de dados meteorológicos, a medição da umidade do solo também
pode ser utilizada para determinar as necessidades de água da planta. A sonda
de nêutrons – SN, com base na dispersão de nêutrons, ou sonda multissensor
de capacitância – SMC, com base na reflectrometria de domínio de frequência
– em vez da medição direta, que é trabalhosa e entediante –, pode mostrar
instantaneamente a quantidade de água no solo.
Considera-se que métodos baseados nas plantas têm grande potencial
para a programação de controle de irrigação. São importantes para o
desenvolvimento dessas técnicas conhecimentos científicos e práticos mais
elaborados sobre as respostas de plantas em conjunto com os avanços em
sensores eletrônicos e equipamentos automatizados para a monitoramento e
comunicação de dados (Figura 5.13). Medições de fluxo de seiva são
amplamente utilizados para determinações de consumo de água da planta in
situ. Mudanças na taxa de crescimento também fornecem uma medida
particularmente sensível do estresse hídrico da planta. O uso do encolhimento
máximo diário de tronco – MDS é uma abordagem promissora para o manejo
da irrigação automatizada. A medição da circunferência do tronco é realizada
por dendrômetros.
Figura 5.13 - (A) Sensores de fluxo de seiva do xilema e microdendrômetros;
(B) sonda de nêutrons para medir umidade do solo; (C) cultivo de
tomate irrigado com sistema de gotejamento; e (D) estação
meteorológica com anemômetro, pluviômetro, indicador de
neve, heliógrafo, piranômetro e pluviômetro de leitura direta.

Agricultura de precisão como uma nova


perspectiva
A agricultura de precisão é um conceito agrícola que conta com a
existência de variabilidade no campo. É sobre fazer a coisa certa, no lugar
certo, da forma correta, no momento certo. A agricultura de precisão é
baseada em uma abordagem de sistema inovadora que depende de uma
combinação de sistemas de informação geográfica – SIG, sistemas de
posicionamento global – GPS, sensores, modelagem de computador,
sensoriamento remoto multiespectral e hiperespectral com base terra, ar e por
satélites, tecnologia de taxa variável e processamento avançado de
informações para o manejo em tempo real da cultura, em determinada estação
do ano (Figura 5.14). A combinação desses sistemas pode ser útil para
operações, tais como fertilização, pulverização de pesticidas e manejo de
irrigação.

Figura 5.14 - O conceito de agricultura de precisão pode ser aplicado à maior


parte das práticas agronômicas baseadas na tecnologia da
informação.
Fonte: MCBRATNEY et al., 2000.

Melhoramento da tolerância de plantas à seca


Abordagens moleculares identificaram um vasto número de genes que
são induzidos em condição de seca. Esses genes, e as proteínas que eles
codificam, podem ser divididos em três categorias: (i) sinalização e controle de
transcrição; (ii) proteção de membranas e proteínas; e (iii) transporte de água
e íons.
Como resultado desses estudos, tem havido uma série de tentativas para
manipular geneticamente as plantas a fim de torná-las mais tolerantes ao
estresse de seca. Genes candidatos potenciais incluem os seguintes fatores de
transcrição de codificação: (i) síntese de solutos compatíveis; (ii) enzimas
antioxidantes e desintoxicantes; (iii) transporte de água e íons; e (iv) proteínas
abundantes da embriogênese tardia.
Outros estresses abióticos
Além de acidez, salinidade e estresse hídrico, o crescimento e a
produtividade das plantas são prejudicados por uma infinidade de outras
condições de estresse, tais como baixas temperaturas, inundações, calor e
toxidez de metais pesados. Nesta seção, serão delineados os efeitos desses
estresses em plantas.

Formação de gelo e danos causados pelo frio


Cada planta tem seu conjunto único de requisitos de temperaturas, que
são ideais para o seu crescimento e desenvolvimento adequados. Entretanto, o
que pode ser ideal para uma planta pode ser estressante para outra. Muitas,
especialmente aquelas nativas de hábitats quentes, apresentam sintomas de
lesão quando expostas a baixas temperaturas não congelantes. Essas plantas,
incluindo o milho (Zea mays L.), soja (Glycine max (L.) Merrill), algodão
(Gossypium hirsutum L.), tomate (Lycopersicon esculentum Mill) e banana (Musa
sp.), são particularmente sensíveis a temperaturas abaixo de 10 a 15 °C.
Sintomas fenotípicos em resposta ao estresse por resfriamento incluem a
redução da expansão foliar. Na agricultura de precisão, é possível citar murcha
e clorose – amarelecimento das folhas, que pode levar à necrose, ou seja, à
morte do tecido. A verdadeira causa da lesão induzida por congelamento nas
plantas é a formação de gelo, não as baixas temperaturas.

Alagamento, hipoxia e anoxia radicular


As inundações são um problema grave que afeta o crescimento e a
produtividade das plantas em solos que acumulam água acima de sua
capacidade de retenção, como resultado de transbordamento de rios,
abundância de chuvas, irrigação excessiva ou solos mal drenados. A principal
causa de danos por alagamento é a privação de oxigênio. O crescimento é
significativamente inibido na deficiência – hipoxia – ou ausência completa –
anoxia – desse elemento.

Estresse térmico, alterações fisiológicas e


anatômicas
O estresse térmico é geralmente definido como o aumento da
temperatura para níveis acima de um limiar durante um período de tempo
suficiente para provocar danos irreversíveis para o crescimento e
desenvolvimento da planta.
Em geral, uma elevação transitória de temperatura – normalmente entre
10 e 15 °C acima da temperatura ambiente – é considerada choque térmico ou
estresse térmico. No entanto, o estresse por calor é uma função complexa de
intensidade (temperatura em graus), duração e taxa de aumento da
temperatura. A proporção em que isso ocorre em zonas climáticas específicas
depende da probabilidade e do período de altas temperaturas que ocorrem
durante o dia e/ou noite.
O estresse térmico devido às altas temperaturas do ambiente é uma séria
ameaça para a produção agrícola em todo o mundo. Em temperaturas muito
altas, lesões celulares severas e até mesmo a morte celular podem ocorrer
dentro de minutos, o que poderia ser atribuído a um colapso completo da
organização celular. Em temperaturas moderadamente altas, lesões ou morte
podem ocorrer apenas após uma exposição de longo prazo. Lesões diretas
ligadas às altas temperaturas incluem desnaturação e agregação de proteínas,
além de aumento da fluidez da membrana lipídica. Lesões de calor indiretas ou
lentas abrangem a inativação de enzimas em cloroplastos e mitocôndrias, a
inibição da síntese proteica, a degradação da proteína e a perda de integridade
da membrana. O estresse por calor também afeta a organização de
microtúbulos, dividindo e/ou alongando seus fusos; formam-se ásteres de
microtúbulos em células mitóticas e ocorre ainda alongamento dos
fragmoplastos (microtúbulos). Essas lesões eventualmente levam à inibição de
crescimento, redução do fluxo de íons, produção de compostos tóxicos e de
EROs.
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19 Departamento de Nutrición de Plantas, Centro de Edafología y Biología Aplicada del
Segura – CEBAS-CSIC, Múrcia, Espanha. E-mail: fgs@cebas.csic.es
20 Departamento de Nutrición de Plantas, CEBAS-CSIC, Múrcia, Espanha. E-mail:
frubio@cebas.csic.es
21 Departamento de Nutrición de Plantas, CEBAS-CSIC, Múrcia, Espanha. E-mail:
vicente@cebas.csic.es
22 Departamento de Agronomia, Universidade Federal de Viçosa – UFV. Viçosa, MG, Brasil.
E-mail: herminia@ufv.br
Parte II
APLICAÇÕES
Capítulo
6
Diagnóstico do Estado Nutricional das
Plantas e da Fertilidade do Solo
Luis Romero23, Juan Manuel Ruiz24, Herminia Emilia Prieto Martinez25 e Reinaldo Bertola
Cantarutti26
Introdução
A história da humanidade esteve sempre intimamente relacionada às
plantas, de modo mais específico ao uso delas para a sobrevivência. O primeiro
grande progresso na civilização humana ocorreu no Neolítico com a mudança
do estilo de vida nômade dos caçadores-coletores para o sedentário, baseado
no cultivo de plantas cujos frutos e sementes eram colhidos do entorno.
Essa mudança nos costumes foi radical e promoveu um processo
evolutivo na sociedade humana, habilitando diferentes culturas a se
desenvolverem com estreita ligação a diferentes espécies de plantas. Pode-se
dar como exemplo a cultura chinesa, que usou e continua a usar o arroz como
seu alimento básico, o que requer extensivo suprimento de água dos rios,
como o Amur e o Amarelo. Enquanto isso, os rios Tigre e Eufrates
permitiram o crescimento da agricultura baseada em cereais, como trigo e
cevada, e o crescimento do Império Babilônico na antiga Mesopotâmia, hoje
Iraque e Iran. Também o Nilo e os campos férteis que o flanqueavam deram
aos faraós, e continuam a dar, altas produções de aveia e trigo. De modo
similar, os astecas e os maias, no México e na América Central,
respectivamente, usaram o milho e os feijões como seus alimentos básicos. Por
fim, o Império Inca sustentou-se, entre outros, com solanáceas, como o
tomate e a batata, que estão atualmente entre os alimentos preferidos no
mundo todo.
Os primeiros registros escritos sobre plantas foram feitos por Platão e
Aristóteles, e datam de 400 a 500 a.C. Esses filósofos gregos descreveram em
profundidade os sintomas relacionados ao fracasso no cultivo de cereais em
Atenas. Ambos sistematizaram uma série completa de mudanças cromáticas
do verde intenso ao amarelo, acompanhadas por baixa produção ou morte da
cultura. Eles descreveram a deficiência de N, pela qual, afirmaram, as plantas
perdiam suas almas.
Esse processo inteiramente empírico levou Aristóteles em 300 a.C a
elaborar um estudo sistemático baseado no modo como as plantas perdiam
suas almas, já que algumas espécies as perdiam antes que outras.
Quase 2 mil anos depois, em 1600, fez-se a primeira tentativa de estudar
cientificamente a composição das plantas. O cientista belga Jan van Helmont
plantou uma estaca de salgueiro de 2,5  kg, em um vaso com 150  kg de solo
seco, e irrigou-a durante cinco anos com água limpa. Após esse período, pesou
novamente o solo e a planta, encontrando diferenças de 180 g em relação ao
peso inicial do solo, e de 82  kg em relação ao peso inicial da planta. Ele
atribuiu a diferença no peso do solo a erro experimental e concluiu que as
plantas eram compostas de água. Nos duzentos anos seguintes uma série de
experimentos realizados por diversos cientistas foram aos poucos
desvendando a composição dos tecidos vegetais, de tal sorte que em 1804 o
francês De Saussure publicou o livro Pesquisas químicas sobre a vegetação,
expondo que as plantas são formadas por água e elementos químicos
provenientes do ar e do solo. A partir dessa compreensão foi lógico pensar que
a análise química da planta poderia ser utilizada para avaliar o suprimento de
nutrientes pelo solo. Naquela época parecia razoável sugerir, como foi feito
por Von Liebig em sua Lei da restituição, que a análise de plantas poderia ser
utilizada para determinar que nutrientes deveriam ser adicionados ao solo
para manter o adequado suprimento a elas.
Atualmente várias técnicas de diagnóstico do estado nutricional das
plantas são usadas para identificar deficiências, toxidez ou desbalanços
nutricionais no sistema solo-planta. A deficiência se manifesta quando o
nutriente está presente em quantidade insuficiente no meio de crescimento,
ou quando, mesmo presente, não pode ser absorvido ou incorporado
metabolicamente pelo vegetal devido a condições desfavoráveis do ambiente.
De modo similar, a toxidez ocorre por excesso, desbalanços ou também por
condições desfavoráveis do ambiente.
Quando a demanda metabólica por um determinado nutriente é maior
que seu suprimento pelo meio externo, diversos mecanismos são acionados
para a manutenção do equilíbrio bioquímico e fisiológico do vegetal.
Respostas de curto prazo incluem a mudança na taxa de turn-over de
carregadores específicos situados no tonoplasto e na plasmalema de células
radiculares, de modo a manter inalterada a concentração do nutriente no
citoplasma. Em longo prazo podem ocorrer alterações no número desses
carregadores. Mecanismos de ajuste que envolvem o transporte e
compartimentalização de íons em diferentes órgãos e relações fonte-dreno
também operam para que a concentração citoplasmática seja mantida. Da
mesma maneira, o vegetal apresenta mecanismos reguladores para limitar a
absorção e/ou acúmulo excessivo de nutrientes ou elementos tóxicos em
órgãos ou parte de órgãos em que o metabolismo é intenso. Tais ajustes
envolvem, no geral, gastos de energia e reduções no crescimento e na
produção. Se esses mecanismos falham, num primeiro momento a taxa de
crescimento é reduzida, posteriormente aparecem sintomas de carência ou
excesso relacionados aos distúrbios metabólicos provocados.
Por essa razão os sintomas de deficiência de nutrientes em diferentes
espécies mostram semelhanças e podem ser utilizados para diagnosticar o
estado nutricional de uma cultura. A essa técnica de diagnóstico dá-se o nome
de diagnose visual. No entanto, como foi mencionado acima, o aparecimento
do sintoma representa o estágio final de um processo no qual o crescimento e
a produção podem sofrer perdas irreversíveis.
Numa agricultura intensiva, o diagnóstico do estado nutricional visa
identificar carências e/ou excessos antes de se manifestarem por meio de
sintomas. Assim, seria possível corrigi-los previamente, sem representarem
risco para a produtividade das culturas. Para isso, além da diagnose visual,
empregam-se a análise do solo e dos tecidos vegetais, estando disponíveis na
literatura diversas técnicas de análise e interpretação de resultados.
Diagnose visual
A diagnose visual de desordens nutricionais pode ser usada para culturas
nas quais os sintomas específicos de deficiências e/ou toxidez tenham sido
descritos e ilustrados de forma minuciosa.
A observação de sintomas é uma forma rápida e pouco dispendiosa de
diagnóstico do estado nutricional, porém sua principal limitação refere-se ao
fato de que, quando há manifestação visível de sintomas de carência ou
excesso nutricional, uma expressiva parte da produção das plantas já está
comprometida. Outra limitação está ligada à comum associação de mais de um
sintoma de carência e/ou excesso em condições de campo, refletindo uma
situação complexa de infertilidade do solo ou do uso de correções e/ou
adubações inadequadas (MALAVOLTA et al., 1997). Como a água é o veículo
para absorção e transporte dos nutrientes, é habitual que em períodos secos
alguns sintomas se acentuem. Herbicidas, fungicidas, algumas pragas e
poluentes também desencadeiam sintomas visuais que podem ser confundidos
com desordens ou alterações nutricionais. Ademais, quando mais de um íon se
encontra deficiente os sintomas podem ser completamente diferentes daqueles
desenvolvidos com a carência de apenas um íon. Nessas circunstâncias, o
diagnóstico apenas visual pode resultar em interpretações equivocadas.
Uma anomalia sintomática da folha com várias deficiências de íons se dá
pela falta combinada de K e Mg nas folhas de groselheira Ribes nigrum L. A
falta de K (3,9 g/kg de matéria seca – MS) em associação a uma concentração
foliar de Mg normal ou alta (4,2 g/kg de MS) provoca clorose marginal, bem
como necrose das folhas maduras. As folhas deficientes em Mg (0,6 g/kg de
MS), quando associadas a concentrações normais ou altas de K (18,4 g/kg de
MS), mostram uma cor roxa nas folhas da haste média, com uma faixa
marginal verde estreita. No entanto, quando a planta está deficiente tanto em
K (5,9 g/kg de MS) como em Mg (0,9 g/kg de MS), os sintomas visuais são
completamente diferentes: as margens das folhas são marrom-avermelhadas,
enquanto as zonas adjacentes às principais nervuras permanecem vermelho-
escuras. Desse modo, enquanto as deficiências isoladas de K e Mg em folhas de
R. nigrum podem ser diagnosticadas por seus sintomas visuais com certo grau
de certeza, é duvidoso se a combinação das duas possa ser identificada sem o
auxílio de uma análise química das folhas (BOULD, 1969).
Pode-se exemplificar, ainda, que sempre é difícil diferenciar visualmente
a necrose marginal provocada por deficiência de K daquela provocada por
toxidez de Cl. Em plantas hortícolas a alteração promovida pelo excesso de Cl
desencadeia um tom bronzeado na folha e necrose marginal, sintomas típicos
em folhas senescentes. Posteriormente as folhas jovens desenvolvem clorose
intervenal com forte tendência à morte do tecido, surgindo áreas necrosadas
que evoluem para perfuração do tecido. Os sintomas de deficiência de K são
similares em seus aspectos gerais, mas além da necrose foliar as plantas
deficientes em K desenvolvem necrose dos pecíolos, e as folhas afetadas
morrem completamente. A análise química das folhas é a única forma de
diferenciar as duas causas da necrose da lâmina foliar. Folhas danificadas por
excesso de Cl podem conter mais do que 5 g/kg de Cl na MS, enquanto as
folhas normais contêm de 1 a 4 g/kg de Cl na MS. A suscetibilidade a lesões
causadas por Cl varia de acordo com o cultivar, e concentrações entre 4,7 e 6,8
g/kg de Cl na MS da folha representam uma zona de transição em que uma
pequena lesão foliar pode acontecer. Folhas deficientes em K contêm cerca de
12 a 17 g/kg de K, em comparação com o valor normal ao redor de 20 g/kg na
MS (MENGEL; KIRKBY, 1982; MALAVOLTA et al., 1997).
Certos sintomas virais podem ser semelhantes a distúrbios minerais em
algumas culturas, como no caso da beterraba em que a deficiência de Mn e o
amarelecimento viral induzem clorose nas folhas e podem ser confundidos.
Nesse caso, os dados da análise foliar permitem elucidar a causa. Folhas
atacadas por vírus podem ter mais de 30 mg/kg de Mn na MS, enquanto
plantas deficientes em Mn apresentam valores inferiores a 20 mg/kg, que
chegam a ser menores que 15 mg/kg quando o grau de deficiência do
nutriente é acentuado (HALE et al., 1946).
Fica claro que a prática da diagnose visual requer uma análise criteriosa
dos fatores bióticos e/ou abióticos que possam alterar o estado nutricional da
planta ou induzir padrões de danos similares à deficiência ou toxidez de
nutrientes. Destacam-se a deficiência ou excesso do suprimento de água,
variações bruscas de temperatura, textura e compactação do solo, reações
entre misturas de produtos fitossanitários, toxidez causada por herbicidas,
senescência natural de folhas, ataque de pragas e doenças, práticas de cultivo
inadequadas, entre outros fatores. As desordens nutricionais caracterizam-se
por não ocorrer em reboleiras, apresentar simetria e um gradiente de
intensidade das folhas velhas para as jovens em caso de nutrientes móveis no
floema, verificando-se o contrário para os imóveis (LUCENA, 1997;
MALAVOLTA et al., 1997).
A diagnose visual, na maioria dos casos, é pouco eficiente para a adoção
de medidas corretivas, subsidiando, entretanto, a escolha de análises químicas
ou bioquímicas que permitam a melhor caracterização do estado nutricional
da cultura. As Figuras 6.1 e 6.2 ilustram deficiências de macro e
micronutrientes em plantas cultivadas.
Figura 6.1 - Sintomas de deficiência de (A) N em alface, (B) P em tomate, (C)
K em cafeeiro, (D) Ca em alface, (E) Mg em tomate e (F) S em
alface.
Figura 6.2 - Sintomas de deficiência de (A e B) B e Cu em cafeeiro, (C) Fe em
mostarda, (D e E) Mn e Mo em couve-flor e (F) Zn em cafeeiro.
Diagnose com base na análise de tecidos
A análise de tecidos é caracterizada pela determinação da concentração
de um elemento ou de uma fração extraível desse elemento em uma amostra
tomada de uma porção particular de uma planta, num momento ou estádio de
desenvolvimento morfológico definido (LUCENA, 1997).
A análise de tecidos pode ser empregada no diagnóstico do estado
nutricional das plantas porque existe uma relação entre estado nutricional e
performance da planta, e entre composição foliar e estado nutricional
(REUTER; ROBINSON, 1988; MILLS; JONES JR., 1996).
A performance de uma planta ou cultura, seja medida em termos de
produtividade, seja de qualidade ou ambos, tem como limite o potencial
genético e é influenciada por fatores do ambiente de crescimento, tais como
luz, temperatura, suprimento de água e de nutrientes. Se todos os demais
fatores forem otimizados, o crescimento e o desenvolvimento serão
dependentes do suprimento de nutrientes. O incremento no crescimento da
planta, como resultado da elevação do suprimento de um nutriente, é, de
modo usual, acompanhado pelo aumento da absorção e acúmulo desse
elemento na planta, resultando em aumentos de sua concentração nos tecidos.
Assim, na análise de tecidos, o objetivo é estabelecer a relação entre
concentração de nutrientes e crescimento ou produção, e usar essa relação em
situações comparáveis para estabelecer o status nutricional de uma planta ou
cultura (LEECE; ENDE, 1975).
A relação entre suprimento de nutrientes e crescimento ou produção
pode ser estabelecida em experimentos de vasos, de campo, ou mesmo em
solução nutritiva, em que se aplicam doses crescentes de determinado
nutriente, avaliando-se o acúmulo de matéria seca ou produção da planta em
cada situação. A relação obtida usualmente é curvilínea, podendo ser afetada
por outros fatores limitantes que não o nutriente em estudo (BOUMA, 1983).
A relação entre crescimento ou produção e concentração de nutrientes
nos tecidos deriva dos mesmos experimentos e se caracteriza por uma curva
em que se distinguem cinco regiões (Figura 6.3). Na primeira região, parte
mais baixa da curva, verifica-se o chamado efeito de Steembjerg. A elevação
inicial do suprimento de determinado nutriente resulta em aumento no
crescimento ou produção; portanto, há um decréscimo na concentração do
nutriente nos tecidos, por efeito de diluição.
Outra explicação é que o severo estresse nutricional, causado pela
deficiência do nutriente, leva a um retardamento no desenvolvimento
fisiológico da planta. Plantas com o crescimento severamente retardado,
embora com a mesma idade, podem ser fisiologicamente mais jovens que
outras, nas quais o estresse e, por consequência, a restrição no crescimento
não foram tão intensos, e por isso apresentam teores mais elevados do
nutriente em estudo. Na segunda região, o aumento do suprimento de dado
nutriente é acompanhado pela elevação de seu teor nos tecidos da planta,
resultando em aumento no crescimento e produção. A primeira e a segunda
regiões são chamadas de regiões de de iciência (BOUMA, 1983; REUTER;
ROBINSON, 1988; MILLS; JONES JR., 1996).
Na terceira região, chamada de região de adequação, o aumento do
suprimento de um nutriente e de seu teor nos tecidos da planta não é
acompanhado por aumentos proporcionais no crescimento ou produção. Na
quarta região, denominada região de absorção ou acúmulo de luxo, o aumento do
suprimento do nutriente e de seu teor nos tecidos não é acompanhado por
aumento no crescimento ou produção. A quinta região, ou região de toxidez,
caracteriza-se por menor crescimento ou produção com o aumento do
suprimento de dado nutriente e de seu teor nos tecidos. O conhecimento dos
teores de nutrientes nos tecidos relacionados com cada uma dessas regiões
permite avaliar o estado nutricional das culturas (BOUMA, 1983; REUTER;
ROBINSON, 1988; MILLS; JONES JR.,1996).
O solo é heterogêneo e sujeito a reações complexas que envolvem os
nutrientes adicionados, os quais, muitas vezes, embora presentes em
quantidades adequadas, não estão disponíveis para a absorção pelas raízes, o
que limita o uso da análise do solo para prognosticar o estado nutricional das
plantas. Os tecidos da planta, por sua vez, mostram o status nutricional da
planta apenas no momento e na fase fisiológica em que foi tomada a amostra.
Como o crescimento da planta é um processo dinâmico, o diagnóstico com
base na análise de tecidos também é limitado, e, de modo geral, é preciso aliar
análise de planta e solo para uma avaliação mais eficiente do estado nutricional
da cultura e/ou das necessidades de redirecionamento do programa de
adubação. Com relação aos micronutrientes, o uso da análise de tecidos torna-
se mais importante em virtude da carência de valores de referência para
interpretar seus teores no solo e da falta de padronização dos métodos
analíticos empregados em sua determinação (WALWORTH; SUMNER,
1988; LUCENA, 1997)
A parte da planta geralmente usada para o diagnóstico do estado
nutricional é a folha, pois ela é a sede do metabolismo e reflete bem, na sua
composição, as mudanças nutricionais.
A diagnose com base na análise de tecidos tem sido usada nas seguintes
situações: avaliação do estado nutricional e da probabilidade de resposta às
adubações; verificação do equilíbrio nutricional; constatação da deficiência ou
toxidez de nutrientes; acompanhamento, avaliação e ajuste do programa de
adubação; e avaliação da ocorrência de salinidade em áreas irrigadas ou
cultivos hidropônicos.
Figura 6.3 - Relação entre crescimento ou produção e teores de nutrientes em
tecidos de plantas.
Fonte: Adaptado de MOORBY; BESFORD, 1983.

Para que a diagnose foliar seja utilizada com sucesso, é necessário que se
cumpram adequadamente três etapas: a primeira delas refere-se à obtenção de
padrões de referência; a segunda, à normatização da amostragem, preparo das
amostras e análise química do tecido; e a terceira, à interpretação dos
resultados analíticos (JONES, 1981; MILLS; JONES JR., 1996).

Fatores que afetam a relação entre teor de


nutrientes, crescimento e produção
A composição mineral dos tecidos vegetais pode ser influenciada por
uma série de fatores não nutricionais pertinentes à própria planta – espécie,
variedade ou porta-enxerto, estádio vegetativo e idade da planta, distribuição,
volume e eficiência do sistema radicular, produção pendente, estado
fitossanitário da planta – e ao ambiente – variações climáticas, disponibilidade
de água e nutrientes no solo, tipo e manejo do solo e interações entre
nutrientes, os quais influem na relação entre teor de nutrientes e crescimento
ou produção (BOUMA, 1983; REUTER; ROBINSON, 1988; WALWORTH;
SUMNER,1988; FAGERIA et al., 1991; MILLS; JONES JR., 1996).

Fatores pertinentes à planta


Todos os órgãos e tecidos da planta apresentam ao longo de seu
desenvolvimento fases de acúmulo, teor constante e exportação de nutrientes.
Por sua vez, o teor de cada nutriente apresenta também um padrão de
mudança durante o desenvolvimento, maturidade e senescência do tecido. Os
teores de N, P e K, em geral, diminuem com o envelhecimento do tecido,
enquanto os de B, Ca, Fe e Mn aumentam e os de Mg aumentam ou
permanecem constantes. Para folhas em rápida expansão, as variações diárias
no teor de nutrientes podem ser relativamente grandes, do mesmo modo que
em tecidos senescentes, nos quais ocorre grande remobilização de nutrientes
móveis. No período intermediário entre essas duas fases, os teores de
nutrientes são mais estáveis.
A idade fisiológica do tecido é, provavelmente, o fator mais importante
que afeta a composição mineral de uma dada espécie. É fundamental que a
idade fisiológica do tecido seja a mesma em cada planta, talhão ou terreno
amostrado, independentemente do grau de deficiência.
Se plantas de milho completamente deficientes em P fossem analisadas
em conjunto com as adequadamente nutridas, ambas semeadas ao mesmo
tempo, a idade fisiológica média do tecido de cada uma poderia ser muito
diferente. Como o nutriente P afeta a taxa de crescimento e desenvolvimento
da planta, a planta deficiente poderia ter três folhas; a não deficiente, cinco. As
folhas mais velhas das plantas de cinco folhas seriam fisiologicamente mais
velhas do que as das plantas de três folhas, dando como resultado uma média
de idades diferentes para as deficientes e não deficientes. Ocorre que a
concentração de P nas plantas diminui conforme a idade aumenta. Assim,
embora se pudesse esperar que a planta deficiente apresentasse P mais baixo
devido à deficiência, esta seria compensada pela idade fisiológica mais jovem
(ver efeito de Steembjerg neste capítulo).
A idade fisiológica é particularmente importante para o Ca e outros
nutrientes que não são transportados de forma fácil no floema. Quando doses
mais elevadas do que o necessário são fornecidas, o Ca se acumula no tecido.
Se, em seguida, o fornecimento de Ca é reduzido, o tecido novo pode ser
deficiente, enquanto no tecido mais antigo o teor do referido íon poderia até
estar em excesso. A menos que o fornecimento de Ca para a planta tenha se
mantido constante durante todo o crescimento, a análise de tecidos jovens, de
idade fisiológica semelhante, estaria melhor correlacionada com a
disponibilidade do nutriente e com sua possível deficiência. Essa prática é
eficaz para fornecer tecido de mesma idade fisiológica tanto em plantas
deficientes quanto nas que são adequadamente fertilizadas. Mesmo em tecidos
de idades fisiológicas iguais, mas coletados em datas diferentes, normalmente
há mudanças na concentração iônica conforme a estação de crescimento
avança. Em consequência, as concentrações de nutrientes nas amostras podem
ser interpretadas somente se a fase de crescimento da amostragem for
definida. Isso exigiria que a amostragem de plantas deficientes e normais fosse
feita em momentos diferentes. Em geral, sugere-se que, para uma melhor
interpretação, uma série de amostras deve ser colhida durante boa parte do
período de crescimento.
As mudanças nas concentrações foliares ao longo do ciclo de
desenvolvimento têm sido extensivamente estudadas em muitas culturas,
como maçã, pêssego, laranja, amora, nozes, castanha e hortaliças. Em geral,
existem três diferentes períodos de crescimento. No primeiro período, quando
as folhas estão se expandindo rapidamente, as alterações na concentração e as
variações de um dia para o outro podem ser muito grandes. Alterações
importantes também podem ocorrer no final do ciclo de crescimento, quando
o envelhecimento é normalmente acompanhado pela redistribuição de
elementos móveis para tecidos lenhosos. O período intermediário costuma ser
de relativa estabilidade e pode durar de três a seis meses. A maioria dos
padrões de diagnóstico para árvores frutíferas foi desenvolvida para folhas
nessa fase.
Os teores de nutrientes nos tecidos variam bastante entre espécies. Entre
variedades de uma mesma espécie, pode haver grande diferença na eficiência
de absorção dos nutrientes do solo, sem que essas diferenças influenciem
muito os teores internos observados. O mesmo não se aplica à toxidez, e os
teores nos tecidos que se mostram tóxicos podem variar bastante entre
variedades.
Variedades com ciclos de crescimento com duração diferente, avaliadas
numa mesma data, podem apresentar diferenças nos teores devidas à idade
fisiológica dos tecidos amostrados. Essas variações são importantes sobretudo
para plantas anuais, pois seu curto período de crescimento é acompanhado por
mudanças rápidas no desenvolvimento e, consequentemente, nos teores de
nutrientes nos tecidos. Essa é uma das razões pelas quais a diagnose foliar é
limitada para a correção de desordens nutricionais em culturas anuais, a
menos que o diagnóstico seja feito muito precocemente.
O estado nutricional influi na absorção e remobilização interna de
nutrientes na planta. Plantas deficientes em P, por exemplo, remobilizam
menos o nutriente de folhas velhas para folhas jovens que aquelas com
nutrição adequada.
Interações entre nutrientes que envolvem mudanças no teor de um deles
são comuns. Às interações positivas dá-se o nome de sinergismo e às negativas,
de antagonismo. O antagonismo pode ocorrer na absorção, translocação,
acúmulo nos tecidos ou no metabolismo. A competição entre cátions
exemplifica antagonismos na absorção, sendo bastante conhecidas as
interações K+ × Ca2+, K+ × Mg2+, Fe2+ × Mn2+, Cu2+ × Fe2+ e NH4+ × outros
cátions.
Na translocação, o antagonismo é frequentemente causado por
precipitações no tecido radicular ou em outro órgão. O excesso de P na raiz,
por exemplo, precipita Zn e Cu nos tecidos condutores, fazendo com que o
teor foliar seja menor. A interação Mn × Fe é um exemplo de antagonismo que
ocorre tanto na absorção quanto no metabolismo.
Os frutos são um forte dreno de carboidratos e de nutrientes, logo a
composição da folha depende da presença deles, bem como da posição dela
própria em relação a eles. De maneira geral, a presença de frutos reduz,
consideravelmente, os teores de K das folhas adjacentes. Por isso, na definição
dos padrões de referência, é preciso indicar se a amostra deve ser tomada de
ramos com ou sem frutos.
Efeito de diluição e concentração: a concentração de nutrientes nos
tecidos da planta é fortemente influenciada pela fase fenológica da cultura ou
pelo desenvolvimento dos frutos. Em geral, as concentrações de Ca e Mg
aumentam com a carga de frutos, enquanto as concentrações de N e K
normalmente diminuem. Os efeitos de P são variáveis. A queima de bordos
foliares provocada pela deficiência de K, como é relatado por diferentes
autores, se acentua com o desenvolvimento da cultura. Há que considerar
também os efeitos da adição de fertilizantes durante o ciclo de
desenvolvimento da cultura. Aplicações de N podem ser acompanhadas por
uma diminuição na concentração de K nas folhas, mesmo com o fornecimento
apropriado de K no solo. Isto é atribuído, pelo menos em parte, ao efeito de
diluição que se segue à resposta de crescimento da cultura com o maior
suprimento de N. O decréscimo da concentração de K em folhas de laranjeiras
Satsuma, ao longo do ciclo de desenvolvimento dos frutos, foi considerado
consequência da translocação de K das folhas para os frutos, que possuem
elevada demanda por esse nutriente (KOSEOGLU et al., 1995).
A composição de nutrientes das folhas depende também da sua posição
em relação ao fruto. Em laranjas, por exemplo, as concentrações de N e P
foram, em geral, mais baixas nas folhas próximas aos frutos do que nas pontas,
presumivelmente porque o fruto, como já mencionado, é um dreno para os
nutrientes disponíveis (SANZ et al., 1987).

Fatores exógenos
Temperatura, água, luz, ataque de pragas e incidência de doenças são
fatores que limitam o crescimento e a produção das plantas. Embora sejam,
muitas vezes, desconsiderados, eles afetam as curvas de resposta de
crescimento ou de produção em resposta ao teor de nutrientes.
As condições meteorológicas variam não só de uma área para outra, mas
em qualquer área de um ano para outro, de uma semana para outra e até
mesmo de um dia para outro. O clima e as variáveis acometidas por ele, como
a umidade do solo, afetam a composição química das plantas e como tal a
capacidade preditiva do diagnóstico do estado nutricional de duas maneiras.
Ele pode afetar a concentração de nutrientes no momento da coleta das
amostras e a resposta aos nutrientes aplicados. Nesse sentido, a análise da
planta é mais vulnerável do que a análise do solo, uma vez que a maioria das
análises de solo não é sensivelmente afetada pelas condições ambientais
durante a amostragem ou antes dela. O efeito das condições ambientais sobre
o teor de nutrientes numa determinada área é a principal causa da variação na
concentração de nutrientes em plantas uniformemente fertilizadas de um ano
para outro. Os efeitos das mudanças da umidade do solo nas concentrações de
nutrientes em tecidos vegetais são complexos. Efeitos óbvios de umidade
excessiva são a perda de nutrientes, por lixiviação e erosão, e a diminuição na
disponibilidade de certos elementos devido à baixa aeração. Alguns nutrientes
podem tornar-se mais disponíveis em razão do processo de redução no solo
em ambiente anóxico – por exemplo, o Fe e o Mn. A absorção de nutrientes,
particularmente de ânions, também pode ser reduzida pela falta de oxigênio
em solos saturados. Alterações no arejamento podem afetar a morfologia das
raízes. Em geral, todos esses fatores influenciam a concentração de nutrientes
de um tecido vegetal, dependendo da intensidade com que afetam a absorção e
a utilização de nutrientes, bem como o crescimento da planta.
Os efeitos da baixa umidade do solo em relação à concentração de
nutrientes na planta são conflitantes. Acredita-se que, para um determinado
nível de fertilidade, a diminuição da umidade do solo aumenta a concentração
de N no tecido da planta, diminui a concentração de K e cria uma tendência
variável de P, Ca e Mg (WADLEIGH; RICHARDS, 1951). Em contrapartida,
um grande número de pesquisadores verificou que a concentração de N em
tecidos de plantas aumenta com a elevação do teor de umidade. Já a
concentração de Ca em folhas de tabaco cai pela metade quando a umidade
passa de 45% para 95% (McMURTREY et al., 1947). No que diz respeito ao
oxigênio e à aeração do solo, respectivamente, sabe-se que a aeração do solo é
frequentemente uma função da umidade do solo e pode ter um forte impacto
sobre a absorção de nutrientes e as suas concentrações nas folhas.
Recomenda-se que amostras sejam coletadas das plantas quando a
umidade do solo e seu arejamento sejam apropriados. Essa recomendação, no
entanto, significaria não coletar amostras em anos de seca. A amostragem
durante seca prolongada provavelmente não fornecerá informações úteis para
previsões de necessidades em um ano com precipitação normal, uma vez que a
falta de umidade limita as necessidades de nutrientes por depressão de
crescimento. Isto poderia ser um problema grave no uso das análises das
plantas em áreas de umidade deficiente.
As taxas de crescimento da planta dependem de fatores ambientais, tais
como temperatura, luz e fornecimento de água. Quando estão presentes em
níveis subótimos, qualquer um deles se torna limitante e, portanto, causa uma
alteração na exigência de nutrientes pela planta. Como resultado, a
concentração de nutrientes na MS tende a aumentar. Em trevo subterrâneo,
cultivado com três temperaturas – dia/noite, 15/10 ºC, 21/16 ºC e 27/22 ºC –
e dois níveis de P, a resposta de crescimento ao elemento foi menor nas
temperaturas mais baixas. A concentração de P em toda a planta – folhas,
pecíolos, raízes – foi maior nas temperaturas mais baixas e caiu quando as
temperaturas subiram (MILLIKAN, 1953, 1957). Essa resposta depende da
intensidade relativa com que o crescimento e a absorção de nutrientes são
reduzidos quando a temperatura diminui. Foi verificado que as concentrações
de N, P e K de plantas de tomate a 12 ºC foram menores do que as das
cultivadas a 20 ºC. A 50 dias da colheita, houve uma diferença de quatro vezes
em relação ao peso da MS. Nesse caso, à temperatura de 12 ° C, a absorção de
nutrientes reduziu-se mais que a taxa de crescimento, resultando numa
concentração de nutrientes inferior (GOSSELIN; TRUDEL, 1983, 1984).
Em experimento com tremoço branco cultivado com duas concentrações
de P – suficiente 50 µmol L–1 e insuficiente 1 µmol L–1 P – e com intensidade
de luz de 200 e 600 µmol m–2 s–1, verificou-se que as concentrações de P na
parte aérea foram maiores com a menor intensidade luminosa tanto nas
plantas que receberam P suficiente como nas que receberam P insuficiente. No
entanto, a diferença nas concentrações entre os dois regimes de iluminação foi
maior para as plantas bem supridas com P. Essas respostas deveram-se à
grande redução no crescimento das plantas bem supridas quando cultivadas
com 200 µmol m–2 s–1 de intensidade luminosa (CHENG et al., 2014).

Padrões de referência ou normas


O sucesso da interpretação da análise de tecidos é totalmente dependente
da acurácia dos valores de referência usados para comparação. Por essa razão,
requer-se o estabelecimento prévio de padrões adequados para comparações,
ou seja, o conhecimento dos teores de nutrientes em plantas normais. São
consideradas normais as plantas que contêm em seus tecidos todos os
nutrientes em teores e proporções adequadas, sendo assim capazes de
apresentar altas produções, com aspecto visual semelhante ao encontrado em
lavouras muito produtivas. Dados obtidos de populações altamente produtivas
podem ser usados para gerar os padrões de referência. Como alternativa,
podem-se considerar normais plantas cultivadas em condições controladas de
nutrição, sem sofrerem restrições quanto à quantidade e proporção dos
nutrientes que recebem. Neste último caso, as normas derivam de
experimentos.
De todo modo, para o diagnóstico do estado nutricional, usando-se a
análise de tecidos, a definição de padrões apropriados é de fundamental
importância. Os padrões dizem respeito à época de amostragem, posição na
planta e quantidade de tecido – número de folhas – por talhão.

Escolha do tecido
A utilização da análise química da planta como método de diagnóstico
não é um procedimento novo. Foi usado pela primeira vez pelo químico
alemão Liebig há mais de 150 anos. Desde então, a análise química tem sido
amplamente utilizada para avaliar o estado nutricional de plantas. Cientistas
mais antigos usavam a planta inteira para tais análises, mas hoje preferem-se
determinadas partes da planta para a obtenção de informações a partir de sua
atividade metabólica. Folhas, pecíolos, cascas, raízes, frutos e gemas são usados
como amostras em certas fases de crescimento a fim de estabelecer escalas ou
níveis de atividade e concentração de íons nessas partes.
A escolha de um órgão ou tecido como padrão deve considerar dois
aspectos principais: (i) sensibilidade da resposta às variações no estado
nutricional da planta nesse órgão ou tecido e (ii) estabilidade da composição
desse órgão ou tecido em face de outros fatores não nutricionais.
Análise de folhas
Observa-se que em meio homogêneo, e sob as mesmas condições
externas, folhas fisiologicamente uniformes, de mesma idade, dão os mesmos
resultados analíticos. Entretanto, folhas de plantas de mesma espécie,
cultivadas em meios desiguais ou sujeitas a diferentes fatores externos, em
geral, têm diferentes concentrações foliares de nutrientes.
De modo geral, as folhas recém-maduras são consideradas os órgãos da
planta que mais bem refletem seu estado nutricional, ou seja, apresentam
maior variação no teor com a alteração do suprimento de nutrientes que
outros órgãos. Esse fato se justifica, pois, além de ser o local da produção de
carboidratos pela fotossíntese, as folhas desempenham importantes funções no
metabolismo de muitos constituintes e são também o principal local para onde
são transportados os nutrientes absorvidos pelas raízes (BOUMA, 1983;
REUTER; ROBINSON, 1988; WALWORTH; SUMNER, 1988; MILLS;
JONES JR., 1996).

Análise do pecíolo
Embora frequentemente a folha inteira seja utilizada, por vezes os
pecíolos são melhores indicadores do estado nutricional da planta. Isto, no
entanto, pode ser verdade para alguns elementos, mas não para outros. Em
geral, os pecíolos fornecem melhor índice do estado nutricional de K do que a
lâmina.
Convém salientar que a concentração de nutrientes na MS do pecíolo
pode diferir acentuadamente daquela da lâmina foliar. Portanto, é preciso ter
cuidado quando são amostradas folhas com pecíolos. A inclusão de pecíolos de
comprimentos diferentes pode gerar resultados discrepantes.

Análise de flores
A análise de flores tem sido aplicada com sucesso no diagnóstico de
desordens nutricionais em frutíferas cujas folhas se desenvolvem após a
floração (MONTAÑÉS et al., 1997). A avaliação precoce do estado nutricional
por meio da análise de flores pode ser de grande valia, pois possibilita iniciar o
ajuste do programa de adubação exatamente no início de crescimento, antes
que ocorram perdas irreversíveis em produtividade e qualidade. Além disso,
sendo órgãos de curta duração, em que não ocorrem reações metabólicas tão
complexas quanto nas folhas, as flores não apresentam diferenças acentuadas
entre o teor total do nutriente e a fração fisiologicamente ativa (SANZ;
MONTAÑÉS, 1995; SANZ; MACHÍN, 1999). Os resultados obtidos com
pereira (SANZ et al., 1993), macieira (SANZ; MACHÍN, 1999), pessegueiro
(SANZ; MONTAÑÉS, 1995; IGARTUA et al., 2000), cafeeiro (MARTINEZ et
al., 2003) e laranjeira (PESTANA et al., 2004) parecem promissores, embora
mais pesquisas sejam necessárias.

Análise de frutos
As alterações causadas pela deficiência de B e/ou Ca em frutas são
confirmadas de forma satisfatória pela análise dos frutos afetados. As manchas
da maçã, bitter pit, anomalia típica de falta de Ca, são caracterizadas por
depressões na casca associadas a áreas necrosadas sob a camada da cortical. Em
algumas variedades de maçãs, as áreas necrosadas podem ser encontradas a
uma grande profundidade; assim, os sintomas podem ser confundidos com
suberificação interna, anomalia causada por deficiência de B. A análise do
fruto ou da casca é utilizada para diferenciar esses dois transtornos
nutricionais.
Manchas em frutos maduros de maçã ocorreram quando eles continham
menos que 5 mg de Ca por 100 g de peso de matéria fresca, embora o limiar
tenha variado de acordo com o tamanho do fruto e com as concentrações de
Ca e Mg (BEN, 1995). A distribuição de Ca na maçã foi desigual, com um
máximo perto da casca e do pecíolo, e o mínimo na polpa e no cálice
(PERRING; PEARSON, 1986). Embora muitos pesquisadores utilizem
porções da fruta para a análise, foi demonstrado que a composição química da
casca da maçã está mais intimamente relacionada com a incidência da
formação de manchas do que a composição do núcleo e da polpa (KADIR,
2005). A podridão estilar, ou fundo preto, em tomate (Figura 6.4) é causada
por deficiência de Ca quando os frutos estão se desenvolvendo, embora possa
haver concentrações elevadas de Ca nas lâminas. A determinação de Ca nos
frutos afetados pode ser utilizada para confirmar a causa do distúrbio.
A deficiência de B em maçãs provoca suberificação do exterior e interior,
e graves distorções na fruta. Esses distúrbios estão associados com
concentrações de B no fruto entre 5 a 10 mg/kg de MS produzida, enquanto o
teor normal situa-se acima de 10 mg/kg na MS. A deficiência de B em peras
causa depressões na superfície da fruta que se estendem abaixo da polpa com
um enrijecimento deste tecido, causando ainda rachaduras (MEHERIUK et al.,
1994). Tais sintomas podem ser interpretados incorretamente, já que há um
vírus que causa efeitos semelhantes (KIENHOLZ, 1953). Entretanto, isso pode
ser confirmado por análise dos frutos e dosagem da concentração desse
nutriente.

Figura 6.4 - Deficiência de Ca em tomate: podridão estilar ou fundo preto.

Análise da casca de árvores


Quando as folhas estão ausentes, a casca das árvores pode ser analisada
para identificar a causa de certos distúrbios, como a necrose interna da casca
em macieiras causada por vírus, ou associada com excesso de Mn que provoca
fendas em forma de estrela; manchas internas em ramos novos de maçã e pera
devido à deficiência de Cu; formações císticas e pápulas causadas por
deficiência de B na parte aérea de macieiras jovens; protuberâncias granulosas
na parte aérea de damasco e ameixa por causa da toxicidade de B.
Alguns autores verificaram que Mn se acumula em zonas específicas da
casca dos ramos da macieira antes do aparecimento de necrose interna na
casca. Também se verificou que os valores médios de Mn em cascas de
macieira nem sempre refletem a gravidade dos sintomas. Quando a
concentração de Mn era de 1.750 mg/kg em peso de MS de casca, apareciam
pústulas seguidas de necrose no córtex; com uma concentração de 345 mg/kg
na MS, apenas as pústulas apareceram. Já a deficiência de Zn é geralmente
perceptível, pois as folhas são menores em tamanho e estão agrupadas em uma
roseta. Em macieira isso acontece quando a concentração de Zn na casca é
menor que 10 mg/kg na MS.

Análise da seiva (testes rápidos)


A diagnose por meio da análise da seiva – extraída de folhas ou tecidos
condutores, como os pecíolos – tem crescido. A análise da seiva é uma forma
adequada de quantificar os nutrientes que a planta recebe no momento da
amostragem, podendo informar de maneira precoce e rápida sobre o potencial
nutritivo do meio, o que permite ajustes e correções antes que o crescimento e
a produção sejam afetados. Ela tem sido usada para cultivos de ciclo
relativamente curto e em explorações intensivas, por exemplo, o cultivo
hidropônico de hortaliças (LUCENA, 1997).
Quando íons são absorvidos pela planta, uma parte deles permanece na
forma solúvel, ou seja, não imobilizada no tecido. Por exemplo, muitas plantas
acumulam NO3– no tecido de condução e assimilação se o fornecimento dessa
forma nitrogenada exceder a capacidade da planta de reduzir NO3–, quando
Mo é o fator limitante, ou em plantas com deficiências de Ca, Fe, Mn ou
outros nutrientes. Da mesma forma, o P-inorgânico se acumula quando o
suprimento de P excede a sua demanda pela planta. Pelo contrário, quando o
fornecimento de nutrientes é restrito, a concentração de íons solúveis em
tecidos de condução diminui.
Essas alterações podem ser verificadas por meio da análise da seiva
extraída dos tecidos, e as concentrações podem ser comparadas com os valores
normais ou ideais estabelecidos para a parte da planta em estudo e o seu
estágio de crescimento correspondente. Esse tipo de teste já foi usado para
avaliação do estado nutricional de P, K, Mg e Mn para plantas de milho e de
soja no campo. Para cada determinação, obteve-se uma quantidade de seiva e
extrato de células através da moagem da nervura central (milho) e pecíolo
(soja), que foi posteriormente depositada sobre tiras de papel de filtro
previamente impregnadas com o reagente de identificação do nutriente
correspondente. A cor resultante foi comparada com a cor padronizada em
ensaio de calibração. Testes rápidos têm sido utilizados para obter
concentrações de NO3–, P, K e Mn, porém não têm sido eficazes para os
demais nutrientes. Em café, os teores de K determinados com medidor
específico de íons Cardy Potassium meter, em discos foliares macerados com
adição de 1,0 mL de água deionizada, correlacionaram-se com as doses de K
recebidas pelas plantas (R2 = 0,70) e com os teores totais de K de folhas recém-
maduras (R2 = 0,78) (ZABINI, 2010).

Amostragem, preparo das amostras e análise


do tecido vegetal
Coleta das amostras
À semelhança da amostragem do solo para fins de avaliação da
fertilidade, a fase de amostragem do tecido vegetal é uma das mais críticas para
aumentar a probabilidade de sucesso no uso da análise foliar. Essa prática é
responsável por 50% da variabilidade observada entre resultados de análise de
plantas. Deve-se ter em mente que uma coleta errada gerará informações
falsas e que os métodos analíticos, por mais apurados que sejam, não corrigem
erros de amostragem. Erros pequenos ao longo do processo de amostragem,
preparo das amostras e análise química somam-se, gerando um erro final
considerável (BOUMA, 1983; REUTER; ROBINSON, 1988; WALWORTH;
SUMNER, 1988; FAGERIA et al., 1991; MILLS; JONES JR., 1996).
A parte amostrada deve ser representativa da planta toda, e a escolha,
como já discutido, em geral recai sobre as folhas. Em virtude da interferência
de fatores diversos sobre a composição delas, a amostragem deve ser realizada
em talhões homogêneos, em época apropriada, retirando-se folhas de posições
definidas na planta. Em geral, são suficientes de 50 a 100 por talhão. Para
espécies herbáceas, é comum amostrarem-se as folhas recém-maduras
completamente desenvolvidas; para as lenhosas, é comum usar folhas do terço
médio da brotação do ano, com posição bem definida em relação aos frutos.
Para nutrientes relativamente imóveis, que não migram com facilidade de
folhas velhas para folhas jovens, como Ca, Cu e S, pode-se optar pela coleta de
folhas jovens. A posição de amostragem ideal é aquela em que ocorrem
menores flutuações nas concentrações de nutrientes ao longo do ano. Para
espécies perenes, padroniza-se a época de menor flutuação estacional como a
mais indicada para o diagnóstico do estado nutricional (BOUMA, 1983;
WALWORTH; SUMNER, 1988; MILLS; JONES JR., 1996).
Alguns pontos relevantes devem ser mencionados, tendo em vista a
necessidade de padronização dos critérios de amostragem. Não se devem
coletar amostras sujas de terra, tecidos secos, doentes ou atacados por insetos.
Deve-se evitar tomar amostras antes da evaporação do orvalho, ou quando,
nos dias antecedentes, fez-se uso de adubação no solo ou nas folhas ou
aplicaram-se defensivos. Coletas após períodos de chuvas intensas podem
gerar concentrações foliares subestimadas para alguns nutrientes, como o K,
que lixiviam do apoplasto foliar com facilidade (REUTER; ROBINSON, 1988;
FAGERIA et al., 1991; MILLS; JONES JR., 1996).

Preparo das amostras e remessa ao laboratório


As fases de preparo, acondicionamento e remessa das amostras são
críticas e devem ser feitas com o maior cuidado. É importante parar ou
minimizar a respiração, transpiração e atividade enzimática nas amostras tão
logo quanto possível. Por essa razão, o ideal é que as amostras cheguem ao
laboratório ainda verdes, no mesmo dia da coleta, acondicionadas em saco
plástico e mantida a baixa temperatura. Caso não seja possível, recomenda-se
acondicioná-las em saco plástico, em refrigerador, a 5 oC (LUCENA, 1997).
No laboratório as amostras deverão ser lavadas – imersão rápida – com
água destilada e posteriormente acondicionadas em sacos de papel, em que
completarão a secagem em estufa de circulação forçada de ar a 70–75 °C até
atingirem peso constante. As amostras preparadas dessa maneira podem ser
armazenadas por pelo menos dois anos sem mudanças significativas na sua
composição iônica.
Secagem a temperaturas superiores a 80 °C promove decomposição
térmica e perda de compostos voláteis. A secagem mata o tecido, interrompe a
atividade metabólica e permite que o material seja armazenado sem sofrer
decomposição. Além disso, facilita a moagem e a homogeneização do material
(MALAVOLTA et al., 1997).
Se estiver contaminado com terra ou poeira, o material vegetal coletado
deve ser imerso em solução de HCl 0,1 mol L–1 e Tween a 0,1% por 10
minutos; a seguir, enxaguado com água destilada por 20 minutos, escorrido,
colocado para secar sobre papel toalha e, posteriormente, acondicionado em
saco de papel e seco em estufa de circulação forçada de ar (LUCENA, 1997).
Na impossibilidade de encaminhar as amostras frescas ao laboratório, é
aconselhável que as folhas sejam lavadas com água corrente e enxaguadas com
água filtrada ou destilada; em seguida, sejam acondicionadas em sacos de papel
e postas para secar ao sol antes do envio ao laboratório. Em qualquer caso, as
amostras devem ser identificadas com número, espécie, localidade, data da
coleta, nutrientes por analisar e endereço para resposta.
A amostra utilizada para análise de seiva deve representar
adequadamente a parcela cujo estado nutricional se deseja avaliar, sendo
necessária a tomada de subamostras para compor a amostra a ser analisada.
Em geral, são suficientes 10 mL de seiva, que poderão ser extraídos de 20 a 30
g de tecido fresco, para plantas herbáceas, e de 40 a 100 g desse tecido, para
plantas mais lenhosas. Essas amostras devem ser enviadas ao laboratório o
mais rápido possível. No laboratório, ela é limpa e o tecido condutor,
separado, fatiado, imerso em éter etílico e congelado à temperatura de –20 a –
30 °C. Após o congelamento, a amostra pode ser armazenada por tempo
indeterminado. A extração da seiva é realizada no momento da análise, depois
do descongelamento e separação do éter etílico em funil de decantação
(LUCENA, 1997).
No laboratório, o material vegetal seco é submetido à moagem em
moinhos de facas – os de aço inoxidável são mais recomendados. A seguir, faz-
se a mineralização por via seca em mufla a 450 °C, ou por meio de digestão
ácida. Os nutrientes são dosados nos extratos obtidos por colorimetria,
espectrofotometria de absorção atômica ou ICP. No caso da análise de seiva, a
mineralização pode ser dispensável, fazendo-se apenas as diluições adequadas
e dosando-se os nutrientes com eletrodos seletivos, cromatografia iônica,
colorimetria, espectrofotometria de absorção atômica ou ICP (FAGERIA et
al., 1991; MILLS; JONES JR., 1996; MALAVOLTA et al., 1997).
É importante que o laboratório seja confiável e disponha de um sistema
de acompanhamento e avaliação da qualidade. É de grande interesse que os
laboratórios de determinada região, ou mesmo do País, padronizem os
métodos de análise, evitando-se, assim, variações indesejáveis nos resultados.

Interpretação dos resultados da análise foliar


A terceira fase do diagnóstico do estado nutricional é a da interpretação
dos resultados. Os resultados analíticos são interpretados por meio da
comparação com padrões ou normas. Como já foi salientado, o ponto crítico
nessa fase é a escolha adequada das normas. A experiência do próprio
laboratório com dados de uma região específica pode ser de grande valia na
adoção de normas apropriadas.
Os métodos de interpretação dos resultados podem ser estáticos, quando
implicam uma mera comparação entre a concentração de um elemento na
amostra em teste e sua norma, ou dinâmicos, quando usam relações entre dois
ou mais elementos. O nível crítico, a faixa de suficiência, fertigramas e o
Desvio do Percentual Ótimo – DOP são exemplos do primeiro caso, e o
Sistema Integrado de Diagnose e Recomendação – DRIS e a Diagnose da
Composição Nutricional – CND, do segundo.

Nível crítico e faixa de suficiência


O teor de determinado nutriente, em dada parte da planta, que se associa
a 90% da produtividade ou crescimento máximo, denomina-se nível crítico –
NC. O método do NC compara o teor de determinado nutriente na amostra
com o valor aceito como norma. Se a amostra apresentar teor igual ou
superior ao da norma, considera-se que a planta amostrada esteja bem nutrida.
Se o teor apresentado for inferior ao preconizado pela norma, considera-se
que a planta poderá apresentar problemas nutricionais quanto ao elemento em
questão. As normas, em geral, derivam de experimentos com doses crescentes
de nutrientes (BOUMA, 1983; REUTER; ROBINSON, 1988; WALWORTH;
SUMNER, 1988; FAGERIA et al., 1991; MILLS; JONES JR., 1996).
O NC é um método de interpretação muito simples, por isso largamente
utilizado. Sua maior desvantagem é justamente a inabilidade de relacionar de
maneira adequada a variação no teor de nutrientes na matéria seca com a
idade da planta. Outra desvantagem advém do fato de os nutrientes serem
considerados de forma independente, desprezando-se interações que podem
ocorrer entre eles. O uso de padrões obtidos em outros países, com condições
de solo totalmente diferentes, é outra fonte de erros, sobretudo para aqueles
nutrientes cuja absorção e acúmulo são influenciados pelo fator capacidade do
solo, como P, S e Zn. Por fim, numa situação de carências múltiplas, o método
não permite saber qual é o nutriente mais limitante.
No método da faixa de suficiência, o mais utilizado, as normas podem ser
geradas de populações de plantas de alta produtividade, sendo a concentração
média da população de referência considerada o NC, e a faixa crítica FC = ȳ ±
ks ȳ, em que ȳ é a média da concentração do nutriente, sȳ é o desvio-padrão da
média e k um fator de correção relacionado com o coeficiente de variação.
Nesse caso, o teor observado na amostra é comparado com faixas de
concentrações consideradas insuficientes, adequadas ou tóxicas. Apresenta
praticamente as mesmas vantagens e limitações do NC, embora sua adoção
melhore a flexibilidade na diagnose – apesar de perda na precisão –,
principalmente quando os limites das faixas são muito amplos.
A determinação dos níveis críticos ou faixas de suficiência para os
diversos nutrientes em relação às diversas culturas é uma das fases da diagnose
foliar que demanda maior esforço por parte da pesquisa. Embora haja muito o
que fazer em relação a esse assunto, já existem informações sobre níveis
críticos e faixas de suficiência para as culturas mais importantes no País que
podem ser usadas como guia básico para a interpretação do estado nutricional
da planta.
No caso de culturas, para as quais não se estabeleceram, ainda, bases para
a interpretação dos resultados analíticos, é preferível comparar dados de
plantas aparentemente normais com os daquelas que têm algum sintoma de
deficiência nutricional. Comparações de grande valor também podem ser
obtidas de amostras coletadas em diferentes situações de nível tecnológico
adotado – por exemplo, alto, médio e baixo –, estabelecendo-se padrões para a
interpretação dos resultados.

Fertigramas
Fertigramas nada mais são que uma representação gráfica dos NC. São
gráficos construídos com círculos concêntricos, com tantas divisões radiais
quantos forem os nutrientes. Na interseção entre o círculo mediano e os
segmentos radiais, são alocados os valores dos NC determinados previamente
para a cultura em questão (MALAVOLTA et al., 1997).
As concentrações obtidas das análises foliares de determinada lavoura
são então plotadas no fertigrama no raio correspondente a cada nutriente.
Após a ligação dos pontos, origina-se um polígono pelo qual se interpreta o
estado nutricional da cultura. Picos a partir do círculo de NC indicam
excessos, e reentrâncias significam deficiência.
A utilização de fertigramas permite a análise visual da adequação das
concentrações de cada nutriente em particular e a análise do estado nutricional
da lavoura como um todo, tomando-se por base os NC preestabelecidos. A
visualização por meio de diagramas é útil principalmente onde ocorrem
problemas nutricionais agudos, tanto por deficiências quanto por excessos.
Nesse caso, é possível inferir de imediato a respeito da principal ou principais
limitações nutricionais de determinada lavoura. Nos demais, há as mesmas
vantagens e limitações do nível ou faixas críticas. Como exemplo, a Figura 6.5
apresenta os fertigramas construídos para três lavouras cafeeiras com
produtividades diferentes da região de Viçosa, MG. A relação entre estado
nutricional e produtividade é evidente.

Figura 6.5 - Fertigrama representativo do equilíbrio nutricional em lavouras


cafeeiras do município de Viçosa, MG, com produtividade de 11,
44 e 85 sc/ha de café beneficiado.

Desvio do Percentual Ótimo – DOP


Esse método proposto por Montañés et al. (1993) permite conhecer o
percentual de desvio do teor de um nutriente qualquer em relação à norma,
bem como a ordem de limitação nutricional em determinada amostra. É de
fácil aplicação e interpretação. Uma vez obtido o resultado da análise química
das plantas, calcula-se o índice DOP para cada nutriente analisado de acordo
com a seguinte expressão:
DOP = [(C × 100)/Cref] –100
Em que: C = teor do nutriente na amostra; Cref = teor do nutriente
preconizado pela norma para as mesmas condições de amostragem.

Um índice negativo indica deficiência e um índice positivo, excesso. Já


índice DOP igual a zero indica que o nutriente se encontra em concentração
ótima. Quanto maior o valor absoluto do índice, maior a severidade da
carência ou do excesso. O somatório dos valores dos índices DOP calculados
para todos os nutrientes analisados representa um índice de balanço
nutricional e permite comparar o estado nutricional de lavouras distintas
entre si, sendo maior o desequilíbrio naquelas em que o somatório se
apresentar maior.
Em linhas gerais, o diagnóstico pelo DOP é semelhante ao obtido pelo
método das faixas críticas. Nesse caso, porém, hierarquizam-se as deficiências
e os excessos.

Índices balanceados de Kenworthy


Da mesma forma que a técnica do desvio do percentual ótimo, os índices
balanceados de Kenworthy (KENWORTHY, 1961) permitem avaliar o estado
nutricional por meio da percentagem de desvio da concentração de dado
nutriente em relação à norma. A vantagem em relação ao DOP é que, na
obtenção dos índices, são considerados os coeficientes de variação observados
para cada um dos nutrientes na população de onde se obteve a norma. Quando
a concentração de dado nutriente na amostra for menor que a concentração
desse nutriente na norma, a influência da variabilidade é adicionada. Quando
essa concentração estiver acima da concentração da norma, a influência da
variabilidade é subtraída, obtendo-se, assim, índices balanceados. Para o
cálculo dos índices, consideram-se, então, duas situações:

a) Xi > X b) Xi < X
I = (P – 100) CV/100  I = (100 – P) CV/100
B=P–I B=P+I
Em que: Xi = teor do nutriente na amostra; X = teor padrão, norma; P =
Xi em percentagem de X; CV = coeficiente de variação do teor na norma; I =
influência da variação; B = índice balanceado de Kenworthy, em percentagem.

Os resultados obtidos são interpretados da seguinte maneira: faixa de


deficiência (17 a 50%); faixa marginal (50 a 83%); faixa adequada (83 a 117%);
faixa elevada (117 a 150%) e faixa excessiva (150 a 183%).
Sistema integrado de diagnose e recomendação – DRIS
O método DRIS, preconizado por Beaufils (1973), baseia-se no cálculo
de índices para cada nutriente, considerando sua relação com os demais.
Envolve a comparação das relações de cada par de nutrientes encontrados em
determinado tecido da planta com as relações médias correspondentes às
normas prestabelecidas a partir de uma população de referência. Essas relações
experimentam menores variações com a idade da planta, por exemplo, do que
com os níveis críticos ou as faixas de suficiência. Para o estabelecimento de
normas DRIS, é preciso ter grande quantidade de dados – da ordem de
centenas – de teores de nutrientes e produtividade, tomados ao acaso,
recomendando-se que pelo menos 10% da população amostrada componha o
grupo de alta produtividade. A população dividida em dois grupos, um de alta
e outro de baixa produtividade, propicia uma curva de distribuição normal
para os teores dos nutrientes (Figura 6.6). A subpopulação de alta
produtividade é que será usada como referência no estabelecimento das
normas DRIS.
O DRIS permite identificar casos em que desequilíbrios nutricionais
limitam a produtividade, mesmo quando nenhum dos nutrientes avaliados se
encontra abaixo de seu NC, além de hierarquizar os nutrientes quanto à
ordem de limitação. Uma das desvantagens do método é a maior dificuldade
nos cálculos dos índices o que, no entanto, se supera com o uso de aplicativos
computacionais; outra desvantagem é a dependência entre os índices, que faz
com que um muito elevado influencie negativamente os demais, podendo-se
diagnosticar deficiência para um nutriente que se encontra em concentrações
adequadas.
Figura 6.6 - Representação da relação entre nutriente na folha e produção para
estabelecimento da norma DRIS. As áreas sombreadas
representam amostras com insuficiência, excesso ou desequilíbrio
quanto ao nutriente em questão.
Fonte: Adaptado de MILLS; JONES JR., 1996.

Inicialmente, calculam-se as normas, ou seja, a média, o desvio-padrão e


o coeficiente de variação das relações diretas e inversas entre nutrientes, dois a
dois, para a população de referência (alta produtividade). Relação direta é
aquela em que o nutriente em questão aparece no numerador (N/P) e relação
inversa, no denominador (P/N). O número de relações possíveis (NR) é
obtido pela seguinte equação:
NR = n(n – 1)
Em que: n = número de nutrientes em estudo.
Se n = 11 (N, P, K, Ca, Mg, S, Cu, Fe, Zn, Mn e B); NR = 110, sendo
metade relações diretas e metade relações inversas.
Em seguida, fazem-se comparações entre as razões dos nutrientes na
amostra a ser diagnosticada com as razões (normas) da população de
referência, calculando-se os índices de DRIS, conforme a fórmula a seguir
(ALVAREZ V.; LEITE, 1999):

Em que: Índice A = Índice DRIS do nutriente.


Z(A/B) = [ (A/B) – (a/b) ] . k/s (JONES, 1981)
Em que: Z(A/B) = função da relação entre os nutrientes A e B da
amostra a ser diagnosticada; A/B = valor da relação entre nutrientes A e B,
para a amostra a ser diagnosticada (relação direta); a/b = valor da média obtida
para as relações A/B, oriundas da população de plantas de alta produtividade
(norma de referência); n = número de nutrientes envolvidos na análise; k =
valor constante (usualmente = 10); s = desvio-padrão dos valores da relação
A/B da população de referência.
O índice de balanço nutricional médio – IBNm é então calculado por
meio do somatório dos valores absolutos dos índices DRIS obtidos para cada
nutriente, conforme a equação:
IBNm = [ | índice A | + | índice B | + ... + | índice N | ] / n
O DRIS permite conhecer a ordem de limitação dos nutrientes e se essa
limitação ocorre por carência ou por excesso em determinada lavoura,
avaliando-se a adequação das relações entre nutrientes; contudo, não permite
o cálculo da quantidade de nutrientes que deve ser aplicada para corrigir uma
deficiência determinada. O suprimento do nutriente mais limitante não
significa que o segundo elemento passará a ser a maior limitação, pois as
relações podem ser alteradas.
Os índices DRIS podem assumir valores negativos quando ocorre
deficiência do nutriente considerado em relação aos demais. Valores positivos,
por sua vez, indicam excesso, e quanto mais próximo de zero estiverem, mais
perto estará a planta do equilíbrio nutricional para o nutriente em estudo.
Assim, é permitida a classificação dos nutrientes em ordem de importância na
definição da produção, e é fornecida, ao mesmo tempo, uma indicação da
intensidade de exigência de determinado elemento pela planta. A soma dos
valores absolutos dos índices DRIS determina o Índice de Balanço Nutricional
– IBN, que permite comparar o equilíbrio nutricional de diversas lavouras
entre si.

Diagnose da composição nutricional – CND


Enquanto níveis e faixas críticas são métodos univariados e o DRIS,
bivariado, o CND é um método multivariado de diagnóstico descrito por
Parent e Dafir (2001). Nesse caso, em vez das interações entre os nutrientes
dois a dois, são consideradas as interações de todos os nutrientes em
diagnóstico entre si. O diagnóstico é realizado por meio de índices, calculados
a partir de variáveis multinutrientes (Vi). As variáveis multinutrientes
consideram a média geométrica da composição nutricional da planta (G) e a
média aritmética das variáveis multinutrientes (vi) e seus desvios-padrão (si)
para a população de referência, ou seja, para a população de alta produtividade
usada para gerar as normas. Também, nesse caso, os índices que tendem para
zero denotam maior equilíbrio nutricional.
Como o teor inadequado de um nutriente pode apresentar antagonismo
ou sinergismo com os demais, pelo menos teoricamente, o CND apresenta
maior sensibilidade para diagnosticar desequilíbrios nutricionais.
Os índices multinutrientes Ivi são calculados de acordo com a seguinte
expressão:
Ivi = (Vi-vi)/si

Em que: Vi = variáveis multinutrientes para a amostra em teste; vi =


média das variáveis multinutrientes da população de referência ou norma; si =
desvio-padrão das variáveis multinutrientes da população de referência.
Sendo:
Vi = ln(Xi/G)
Em que: Xi = teor de um nutriente na folha; G = (XN. XP. XK. ...
XZn.R)1/(n+1); R = 1.000 – ∑Xi; n = número de nutrientes envolvidos no
diagnóstico.
Relação entre o diagnóstico visual e a análise
foliar
Um diagnóstico baseado em sintomas visuais e confirmado por análise
foliar é um dos métodos mais confiáveis para diagnosticar distúrbios
nutricionais. Alguns exemplos que ilustram esse método duplo são dados a
seguir. O trabalho realizado com groselheira Ribes nigrum mostra os sintomas
típicos da deficiência de K: entrenós curtos, clorose marginal das folhas basais
e necrose progressiva da margem da folha. A análise da folha indicou uma
baixa concentração de K (3 g/kg na MS) combinada com uma elevada
concentração de Mg (6,9 g/kg na MS) e Ca normal (20 g/kg na MS),
confirmando assim a deficiência de K. O efeito da deficiência de Mg foi
estudado em groselheiras-pretas. Essa deficiência foi caracterizada por uma
coloração vermelho-púrpura entre as nervuras das folhas senescentes, com
necrose marginal e uma ligeira redução no crescimento juvenil. Em algumas
variedades de groselheira-preta, os sintomas da deficiência de Mg (cor roxa da
folha) poderiam ser confundidos com deficiência de P, mas a análise foliar
diferencia claramente as duas deficiências: determinou-se que o Mg
apresentou baixa concentração (0,6 mg/g na MS) enquanto P, normal (0,6
mg/g na MS) (BOULD, 1969).
A análise foliar pode causar equívoco, especialmente quando se lida com
elementos imóveis do floema, tais como Ca, ou com o estresse temporário de
nutrientes, se uma folha inadequada for amostrada. Com nutrientes não
móveis, a deficiência e a suficiência podem existir simultaneamente em
diferentes partes da mesma planta. Uma breve interrupção no fornecimento
de nutrientes – Cu ou Ca – resultará em uma deficiência desses nutrientes nas
folhas novas. Trabalhos realizados com manchas necróticas em folhas de
morango – distúrbio por deficiência de Ca – têm indicado que a lesão é
produzida na fase de pré-emergência da folha. Quando a concentração de Ca
nas folhas emergentes excedeu 0,7 g/kg na MS, a necrose das pontas não foi
detectada. Quando as concentrações nas folhas estavam abaixo de 0,5 g/kg de
Ca na MS, a necrose foi grave. Após a emergência da folha, as concentrações
de Ca nas folhas afetadas aumentaram de forma rápida. A análise das folhas
velhas em relação ao Ca foi, consequentemente, insatisfatória para
diagnosticar a causa da necrose da ponta da folha em plantas de morango
(MASON; GUTTRIDGE, 1974).
Determinação de frações ativas e solúveis
As técnicas de análise de tecidos com fins de diagnóstico determinam,
em geral, os teores totais de nutrientes e não informam sobre a atividade
metabólica do elemento no tecido. A fração ativa é de grande importância para
aqueles elementos que podem apresentar uma grande fração de reserva ou
imobilizada, como ocorre com Fe e outros micronutrientes metálicos. Há
dificuldade em extrair as frações efetivamente ativas dos nutrientes, visto que
não existem normas nem métodos universalmente aceitos.
Algumas espécies acumulam N-NO3– ou S-SO42– como forma de reserva
de N ou de S, e a análise dessa fração solúvel pode ser um melhor indicador de
seu estado nutricional, bem como da disponibilidade fisiológica de ambos os
nutrientes no tecido. Nesses casos, em geral, os nutrientes são extraídos de
amostras de pecíolos com ácido acético diluído ou água, ou mesmo
macerando-se o material vegetal em cadinho de inox. Tampouco nesse caso
existem normas e métodos universalmente aceitos (LUCENA, 1997).
Muitas vezes, é o teor total do nutriente na MS que é determinado na
análise de plantas. A determinação, por exemplo, de apenas uma fração do
conteúdo que é solúvel em água, em ácidos diluídos ou em agentes quelantes,
por vezes, fornece uma melhor indicação do estado nutricional da planta. Em
espécies ou tecidos que possuem a capacidade de acumular N na forma de
nitrato (NO3–), a concentração dessa forma é, frequentemente, um indicador
ideal do estado nutricional referente a tal elemento (LUCENA et al., 1990).
A concentração de NO3– na base do caule do trigo, medida
semiquantitativa ou quantitativamente, bem como a concentração de NO3–
nos pecíolos das folhas completas e expandidas de beterraba, algodão, centeio,
girassol e quiuí são indicadores confiáveis para a nutrição de N. Durante
alguns anos, esse teste rápido foi utilizado com sucesso como base para ajustar
as recomendações de fertilizantes nitrogenados que devem ser aplicados
durante o período de crescimento. Em princípio, esse método é apropriado
para todas as espécies anuais, em que o NO3– é a principal forma de N
absorvida pelas raízes e transportada para a parte aérea. Em espécies que
reduzem o NO3– preferencialmente nas raízes – por exemplo, Rosaceae –, ou
quando o N é aplicado e absorvido na forma de íons de amônio (NH4+), o teste
rápido de certos aminoácidos ou amidas podem ser uma alternativa ao teste de
NO3–. As concentrações de formas solúveis de N presentes nas folhas ou em
outros órgãos muitas vezes mostram diferenças maiores associadas ao estado
nutricional do que o N total, como ocorre com compostos de guanidina em
abeto ou pessegueiro. O teor de SO42–, a principal forma de armazenamento
de S, é um indicador melhor do que o teor total de S para avaliar o estado
nutricional desse elemento na planta. No arroz pode-se usar a proporção
SO42– / S total (ISLAN; PONNAMPERUMA, 1982).
As plantas podem armazenar 85–95% do P nos vacúolos, em que é
encontrado na forma inorgânica (Pi), e não participa do metabolismo celular
(GLASS; SIDDQI, 1984). Por essa razão, concentrações de certos açúcares ou
de seus matabólitos podem relacionar-se ao estado nutricional de P, e não à
concentração desse nutriente no tecido.
Em variedades de tabaco, as diferenças de suscetibilidade à deficiência de
Ca não foram relacionadas ao Ca total, mas sim a uma fração solúvel presente
nas gemas. Elas se devem a diferenças varietais na taxa de síntese de ácido
oxálico e, por conseguinte, a diferentes taxas de precipitação de oxalato de
cálcio, que é muito pouco solúvel (BRUMAGEN; HIATT, 1966). De modo
similar, em algumas variedades de melancia o Ca inorgânico pareceu ser a
fração solúvel e mais relacionada ao estado nutricional (VARGAS et al., 1991).
O estudo das frações de Mg é mais recente. Todos os autores
identificaram três formas de Mg ligadas a compostos diferentes nas plantas
que foram estudadas, e cada uma delas foi extraída com um extrator: o Mg da
clorofila foi obtido na primeira extração com acetona; numa segunda extração
com água obteve-se Mg que estava nas células e na seiva; e a última fração foi
chamada de acetona insolúvel em água, e o Mg obtido foi sob a forma
encontrada nas fibras vegetais. Os pesquisadores concordam que o Mg
aplicado afeta as diferentes frações e que o desenvolvimento da planta altera
algumas frações do nutriente. Deve-se ressaltar que a maioria dos trabalhos
foram realizados com plantas forrageiras devido à importância do Mg no
metabolismo dos animais poligástricos.
Por diferentes razões, a concentração total de Fe foliar não é um
indicador confiável do estado nutricional desse nutriente. Portanto, os dados
sobre os níveis críticos de deficiência, ou sobre os níveis adequados, devem ser
considerados com reservas. Isso ocorre porque o teor de Fe nas folhas
cloróticas pode ser comparável ao das folhas verdes, ou até mesmo maior.
Acredita-se que o íon ferroso (Fe2+) seja a forma fisiologicamente ativa e sofra
oxidorredução reversível de Fe2+/Fe3+. A extração do Fe foliar com ácidos
diluídos para a caracterização da fração Fe2+ melhora consideravelmente a
correlação entre o teor de clorofila e o Fe (LUCENA et al., 1990).
Métodos bioquímicos e enzimáticos
Apesar dos progressos ocorridos nos últimos anos no campo da análise
de plantas, algumas lacunas ainda dificultam a aplicação dos avanços no
diagnóstico nutricional com base na concentração de nutrientes (totais ou
parciais) nos tecidos vegetais. Avaliações de alterações metabólicas enzimáticas
ou fisiológicas específicas, desencadeadas por deficiências e toxicidades de
nutrientes, podem, em certas situações, fornecer informações mais precisas.
Esses métodos dividem-se em três grupos: bioquímicos, fisiológicos ou
histoquímicos.
Uma das vantagens do diagnóstico metabólico é sua alta sensibilidade, já
que pequena variação na concentração do nutriente acarreta alta variação na
concentração do metabólito. A dificuldade em sua aplicação deve-se ao fato de
ser variação na concentração de determinado metabólito ou na atividade de
determinada enzima afetada por outros fatores que não o nutriente em estudo,
além de não existirem normas nem métodos universalmente aceitos (BAR-
AKIVA; STERNBAUM, 1965; LUCENA, 1997; MALAVOLTA et al., 1997).
O diagnóstico do estado nutricional quanto ao Mo e ao N pode ser
realizado por meio da medição da atividade da nitrato redutase, que catalisa a
redução de NO3– a NO2–. Com relação ao fosfato, a atividade da fosfatase é
aumentada pela deficiência de P, podendo ser usada para o diagnóstico do
estado nutricional quanto a esse elemento. O Zn é componente da anidrase
que catalisa a reação CO2 + H2O → H+ + HCO3–. Em muitas espécies – cítrus,
por exemplo – existe estreita correlação entre atividade da anidrase carbônica
e concentração de Zn. O Cu é componente da oxidase do ácido ascórbico,
sendo esta enzima um bom índice para Cu ativo no tecido. Para o Fe, cuja
deficiência é difícil de ser diagnosticada com base na análise dos tecidos, o
diagnóstico pode ser feito com base na atividade da peroxidase (BAR-AKIVA;
STERNBAUM, 1965; LUCENA, 1997; MALAVOLTA et al., 1997).
Nos métodos enzimáticos, a atividade enzimática é determinada no
tecido ou órgão após a sua extração ou então a enzima é incubada com o
nutriente em questão durante um ou dois dias, a fim de determinar as
atividades enzimáticas induzíveis. Por exemplo, nitrato redutase por Mo,
peroxidase por Fe, ascorbato oxidase por Cu e aldolase, anidrase carbônica ou
ribonuclease por Zn. A atividade induzível da redução de nitrato pode ser
utilizada como um indicador do estado nutricional de N. A atividade de
piruvato quinase, obtida a partir de extratos foliares, é dependente do teor de
K e Mg na folha. O aumento da atividade da fosfatase em tecidos deficientes de
P é um fenômeno fisiológica e bioquimicamente interessante, que pode ser
relacionado com o estímulo da mobilização de P (Tabela 6.1).
Nos métodos bioquímicos, a acumulação de putrescina em plantas
deficientes de K, por exemplo, é um indicador bioquímico da necessidade de
K.

Tabela 6.1 - Exemplos de enzimas e metabólitos que se relacionam ao estado


nutricional de macro e micronutrientes em plantas

Nutriente Metabólito

Nitrogênio    Redutase do nitrato, aminoácidos

Fósforo Fosfatase ácida, arginina

Putrescina e outras aminas, piruvato quinase, aceto


Potássio
tioquinase

Cálcio Fenóis, poligalacturonase

Magnésio Piruvato quinase, aminas


Boro Ácido cafeico, fenóis

Ferro Peroxidase, catalase

Cobre Polifenoloxidase, oxidase do ácido ascórbico

Manganês Peroxidase, xilose

Molibdênio Redutase do nitrato

Zinco Anidrase carbônica, aldolase, ribonuclease

Atividade enzimática específica

Macronutrientes
As enzimas de plantas podem ser divididas em dois grupos: aquelas em
que o íon específico é um componente integral e aquelas para as quais um ou
mais íons servem como ativadores.
Plantas jovens de toranja (grapefruit) foram cultivadas em solo com cinco
doses diferentes de sulfato de amônio, e verificou-se que a atividade de
redução do nitrato em folhas recém-destacadas incubadas por duas horas com
NO3– (atividade inicial) aumentou 4,5 vezes da dose mais baixa à mais alta de
N. A atividade enzimática foi também medida em amostras de folhas
incubadas com NO3– por 24 horas, antes do ensaio enzimático (atividade
induzível). Esse tratamento provocou um aumento considerável na atividade
da nitrato redutase de folhas deficientes, mas não na das folhas com N
suficiente. Como resultado, a diferença entre a atividade inicial e a induzível
apresentou valores que aumentaram de quase 0, para as folhas da dose mais
alta, até muito alta, para as folhas da dose mais baixa de N. O procedimento,
portanto, foi sugerido como ferramenta útil para avaliar o estado de N em
citros (BAR-AKIVA; STERBAUM, 1965). Também em plantas de joio, que
pode acumular quantidades consideráveis de NO3–, verificou-se que a
atividade da nitrato redutase pode ser induzida posteriormente, mesmo em
tecidos com concentrações normais de NO3–, e que a resposta foi
negativamente correlacionada com as aplicações de N na planta. A relação
entre a indução e a atividade endógena de valor 1,5, ou maior, indicou
deficiência de N. Esse resultado foi semelhante ao valor encontrado em frutas
cítricas e em Urtica dioica. No entanto, essa relação foi considerada
insatisfatória para plantas de couve-flor e poinsétia (WITT; JUNGK, 1974).
Outra abordagem foi feita com base no fato de que a atividade adicional
de redução de nitrato pode ser induzida através da incubação de tecidos
foliares com NO3– em presença de luz, comparando-se os resultados com o
mesmo processo no escuro. Sugeriu-se que essa relação forneceria uma boa
indicação do estado de N na planta. A atividade de redução de nitrato em
plantas jovens de trigo foi utilizada para prever as necessidades de N dessa
cultura. Encontrou-se uma boa correlação (r = + 0,90) entre a atividade dessa
enzima na folha superior completamente expandida e o desempenho final da
cultura (WITT; JUNGK, 1974). Trabalhos semelhantes foram realizados com
pepino holandês, tomate e melão.
Nos tecidos de muitas espécies de plantas, a atividade da fosfatase ácida
aumenta consideravelmente em deficiência de P. A enzima catalisa a hidrólise
dos ésteres de fosfato. Os diagnósticos baseiam-se na hidrólise do p-nitrofenil
fosfato pelos extratos de tecido, sendo a cor amarela do produto da reação do
p-nitrofenol proporcional à atividade enzimática. Tem sido demonstrado que,
em tomates, o aumento na atividade enzimática foi específico para a
deficiência de P. Em outras sete espécies, os ensaios enzimáticos deram um
índice rápido e sensível do estado de P nas plantas (BESFORD, 1979).
Em outro estudo, o mesmo autor verificou que a piruvato quinase e a
fosfatase, em folhas de tomate, poderiam ser utilizadas como indicadores do
estado nutricional de K e Mg, respectivamente. Quando as duas enzimas
foram ensaiadas de forma simultânea, o diagnóstico de K e Mg pôde ser
concluído no prazo de duas horas após o recebimento das amostras foliares
(BESFORD, 1978).
A análise de piruvato quinase permite o diagnóstico de concentrações
subótimas de K antes do aparecimento dos sintomas de deficiência visuais do
macronutriente. A fosfatase indica somente a concentração solúvel de Mg e
não quantifica o Mg ligado a estruturas orgânicas. Em experimentos com K e
Mg em plantas de tomate, a atividade de piruvato quinase foi medida no
extrato de limbo e na presença de concentrações ótimas desses nutrientes. Os
valores ótimos da atividade dessa enzima foram comparados com os valores
obtidos sob deficiência de ambos os íons. O ensaio distinguiu claramente as
plantas que receberam os suprimentos adequados ou inadequados de um
nutriente ou outro. O teste também detectou as concentrações subótimas na
folha antes que os sintomas de deficiência aparecessem. A conclusão final foi
de que a atividade de piruvato quinase reflete o estado nutricional de Mg em
tomateiros (BESFORD, 1978).

Micronutrientes
Os micronutrientes Fe, Zn, Cu e Mo foram claramente estabelecidos
como componentes específicos e integrais para determinados sistemas
enzimáticos, enquanto Mg e Mn com frequência são envolvidos como
ativadores. A utilização de atividade enzimática para determinar o nível de
nutrientes em plantas avança a hipótese de que, se um elemento é limitante
em nível iônico numa planta, a deficiência será evidente com uma alteração na
atividade de uma enzima que necessite desse elemento para o seu
funcionamento. Essa hipótese foi testada em plantas cultivadas com
quantidades variáveis de Fe e Cu, e medições de catalase, peroxidase e oxidase
de ácido ascórbico. Esta última enzima teve sua atividade limitada por
deficiência de Cu; a catalase teve atividade reduzida quando o fornecimento de
Fe foi limitado; e a atividade da peroxidase permaneceu constante. A
conclusão foi que a atividade enzimática pareceu oferecer uma maior
probabilidade de sucesso do que outros métodos no diagnóstico do estado
nutricional. Ademais, os sintomas de deficiências de Fe e Mn, por vezes, são
difíceis de diferenciar.
O Fe é um constituinte de várias metaloenzimas, oxidases e peroxidases,
nas quais forma um quelato com o grupo porfirínico. A atividade da
peroxidase foi medida em extratos de folha pela oxidação de pirogalol na
presença de peróxido de hidrogênio (BAR-AKIVA; LAVON, 1968). O
método é simples e mostrou estreitas relações entre a atividade enzimática e o
status de Fe de espécies tão diversas, como citros, aveia e tomate. A estimativa
da atividade da peroxidase e da catalase foi proposta também como um meio
para distinguir entre a deficiência de Fe e Mn (BAR-AKIVA, 1964), conforme
a Tabela 6.1. Em uma grande variedade de culturas – tomate, aveia, espinafre,
vagem, frutas cítricas, trigo, mostarda e milho – há uma estreita relação entre
a concentração de Zn no tecido foliar e a atividade de anidrase carbônica – AC
(DWEVIDI; RANDHAVA, 1974). Nas folhas de citrinos deficientes em Zn, as
atividades de AC diminuem para valores de apenas 25 a 30% em relação às de
folhas não deficientes (BAR-AKIVA et al., 1969).
Embora as deficiências de outros micronutrientes também causem
reduções nas atividades de AC, estas são relativamente pequenas. Vários
índices de AC, referidos como testes rápidos, foram comparados com um
procedimento de extração padrão para AC, e as correlações encontradas foram
superiores a 0,9. Tais testes envolveram a estimativa do CO2 liberado pelo
tecido foliar incubado na presença de NaHCO3. Apesar de os valores da
atividade de AC determinados por esses testes rápidos tenham sido menores
do que aqueles obtidos com a extração da enzima, a relação entre os valores foi
próxima o suficiente para permitir a utilização de testes rápidos para detectar a
deficiência de Zn antes do surgimento de sintomas visuais e antes da detecção
de concentrações inferiores do nutriente no tecido foliar.
A atividade de ascorbato oxidase – AAO é utilizada como um indicador
de Cu disponível em folhas de macieira (WANG; FAUST, 1992). O Cu é um
constituinte da ascorbato oxidase, a qual catalisa a oxidação do ácido ascórbico.
Muitas espécies agrícolas foram comparadas e verificou-se que AAO foi um
bom indicador do Cu disponível na maioria das plantas, havendo, ou não,
sintomas visuais de deficiência desse nutriente. Em limões, a relação entre o
crescimento e a concentração de Cu nas folhas foi ruim, mas entre o
crescimento e a atividade AAO o relacionamento foi muito bom (BAR-
AKIVA et al., 1969). Tal abordagem ultrapassa muitas das dificuldades da
análise da folha no diagnóstico da deficiência de Cu.
Não há indicações claras de que B seja um componente enzimático e há
pouca evidência de que a atividade de algumas enzimas seja estimulada ou
inibida por ele.
Concentrações elevadas de ácido indolacético foram encontradas em
plantas com baixas concentrações de B, além de acúmulo de certos fenóis, tal
como o ácido cafeico, o qual é um inibidor eficaz de oxidase de ácido
indolacético. Por conseguinte, parece mais provável que a acumulação de
fenóis em tecidos deficientes de B seja responsável pelas alterações metabólicas
e lesões celulares em tecidos de plantas. Clemente (2014) encontrou boa
correlação entre teor foliar de B e atividade polifenoloxidase em folhas-índice
de cafeeiro, concluindo que a atividade dessa enzima poderia ser usada como
indicador do estado nutricional do nutriente em Co fea arabica.
A atividade de redução de nitrato é baixa em folhas deficientes de Mo,
mas pode ser facilmente induzida em poucas horas por infiltração dos
segmentos foliares com o nutriente. Sabe-se que existe uma ligação estreita
entre o fornecimento de Mo, a atividade de redução de nitrato e o
desempenho final. Em pecíolos incubados durante duas horas com Mo, houve
aumento na atividade enzimática do tecido da planta deficiente desse metal.
Por conseguinte, a atividade induzida da enzima pode ser utilizada como um
teste para o estado nutricional de Mo.

Pigmentos
Clorofila e pigmentos acessórios são necessários para captar a energia
radiante no processo da fotossíntese, mas a clorofila é geralmente considerada
não limitante, a menos que as plantas estejam com alterações nutricionais
graves. As diferenças na síntese de clorofila são um sintoma comum de
fornecimento inadequado ou desequilíbrio nutricional, mas existem outros
fatores ambientais – como seca e baixas temperaturas – que podem também
diminuir a síntese de clorofila. Há também diferenças genotípicas na síntese de
clorofila e de outros pigmentos de folhas. A descoloração das folhas de
algumas coníferas no inverno, por exemplo, pode ser de origem genética;
logo, não há possibilidade de ser corrigida pelo uso de fertilizantes.
Existe uma relação direta entre o teor de clorofila e a concentração de
vários nutrientes inorgânicos, por exemplo, a relação entre o teor de N e a
clorofila em Pseudotsuga menziesii e Populus euroamericana (RIPULLONE et al.,
2003). As concentrações de outros íons – como P em Trifolium subterraneum
(BOUMA; DOWLING, 1982) e Mg em Zea mays (JEZEK et al., 2015) –
também podem estar diretamente correlacionadas com as concentrações de
clorofila. Uma estreita relação foi demonstrada entre clorofila e concentração
foliar de Fe em três clones de Populus euroamericana quando a concentração de
Fe estava entre 20 e 800 mg/kg (KELLER; KOCH, 1964). Quando a
concentração de Mn estava entre 2 e 20 mg/kg, essa relação com a clorofila foi
encontrada em Picea abies (LANGHEINRICH et al., 1992), e com Cu em Beta
vulgaris L. subsp. vulgaris (DROPPA et al., 1984) e Pinus radiata (LÓPEZ
GORGÉ et al., 1985).
Verifica-se que a clorofila é, apesar da forte correlação com a
concentração de nutrientes, um indicador não específico para o estado
nutricional. Portanto, é preciso ter cuidado ao utilizar a cor da folha como um
indicador do estado nutricional de uma planta. De qualquer forma, as ideias e
sugestões permanecem válidas, em princípio, entretanto requerem uma
investigação em cada caso; como exemplo, a concentração foliar de N, que é
condicionada pelo teor total de clorofila em berinjela, mas não em melão.

Produtos metabólicos como indicadores de


desequilíbrio iônico
A supressão ou a aceleração da atividade enzimática devido a deficiências
iônicas pode causar a acumulação ou desaparecimento de determinados
produtos metabólicos. O efeito das deficiências na composição de aminoácidos
é um tema amplamente estudado, mas, em virtude da falta de especificidade,
apenas alguns produtos nitrogenados podem ser utilizados para diagnosticar
deficiências.
O aumento do teor de triptofano em folhas de árvores, por exemplo,
parece ser específico para a deficiência de Mg; já o acúmulo de putrescina em
árvores frutíferas, para a deficiência de K. Entre compostos não nitrogenados,
o acúmulo de xilose em árvores frutíferas parece ser específico para a
deficiência de Mn (Tabela 6.1).
Verificou-se que as raízes de macieiras jovens cultivadas com níveis
muito diferentes de N proporcionam diferentes intensidades de coloração
quando o reagente ninidrina foi adicionado à superfície cortada das raízes, o
que indica a presença de aminoácidos livres. Posteriormente, esse teste foi
aplicado a diferentes partes da maçã, em que as concentrações de N variaram
(BAXTER, 1965). As maiores diferenças na concentração de aminoácidos
devido aos tratamentos foram encontradas nas raízes.
O teste de ninidrina é simples e pode ser realizado durante a estação de
crescimento ou durante a dormência. A possível desvantagem é que muitas
deficiências nutricionais aumentam a concentração de ácidos aminados, e o
teste não reflete adequadamente as alterações na concentração de arginina, que
é o principal composto de armazenamento em macieiras.
Vários autores encontraram elevados teores de arginina em folhas de
citros deficientes em P, relatando que, sob deficiência aguda, a arginina
constituía mais do que 60% dos aminoácidos livres e 40% do total de N, em
oposição a 8 e 2%, respectivamente, em árvores adequadamente supridas de P
(SRIVASTAVA; SINGH, 2005). Existem dúvidas se a arginina e as frações
solúveis de N podem ser consideradas indicadores confiáveis para quantificar a
nutrição de N ou não. No entanto, em pessegueiros, durante a dormência,
demonstrou-se que as concentrações de N solúvel, arginina N e N amínico
total nas raízes, brotações e gemas são índices muito sensíveis do estado
nutricional de N. Essas análises feitas durante a dormência permitem uma
estimativa do estado nutricional de N nas árvores como um passo preliminar
para prever a necessidade desse nutriente durante o período de crescimento na
primavera.
A deficiência de K leva a sintomas característicos de falta em muitas
culturas. Na cevada, a necrose bem definida que acompanha essa deficiência
parece ser causada pelo acúmulo das aminas putrescina e agmatina (SMITH;
RICHARDS, 1962). Verificou-se que a necrose pode ser induzida na folha, em
plantas de cevada que contêm altas concentrações de K, pelo fornecimento de
putrescina e/ou agmatina. Entretanto, o fornecimento de K promoveu o
desaparecimento da putrescina e agmatina acumulados na cevada deficiente.
Depois, ambas as aminas foram encontradas nas folhas de outras plantas
deficientes de K, e um método cromatográfico simples foi desenvolvido para
estimá-las e utilizado para avaliar o estado de tal nutriente em árvores
frutíferas.
Em folhas de uva, foi relatado que o teor de aminas serve como um
melhor indicador do nível de K do que a percentagem desse íon na folha. Na
maçã, o teor de aminas foi elevado nas folhas com deficiência de K, bem como
nas com excesso desse nutriente. Um exame das aminas em plantas com
deficiência de K, Zn, Fe, Mg e Mn indicou especificidade para a deficiência do
primeiro. O acúmulo de aminas em árvores frutíferas decíduas foi
quantitativamente relacionado tanto com a nutrição subótima de K quanto
com a supraótima.
Outros autores relacionaram o conteúdo de putrescina com o teor de K e
o desenvolvimento de sintomas de deficiência em folhas de Ribes nigrum. Os
resultados mostraram que a concentração de putrescina na folha teria pouca
probabilidade de ser um melhor indicador de K do que sintomas visuais,
porque os sintomas aparecem na mesma concentração foliar de K – ou em
concentração ligeiramente superior – do que a necessária para induzir um
acúmulo significativo de putrescina.

Indicadores histológicos
Distúrbios nutricionais são geralmente relacionados com alterações
típicas na estrutura fina dos tecidos, bem como nas suas células e organelas.
Estudos microscópicos demonstraram alterações anatômicas e morfológicas
nos tecidos do caule e da folha devido a deficiências de Cu, B e Mo, e tais
abordagens podem ser utilizadas para o diagnóstico.
Uma combinação de métodos histológicos e histoquímicos é útil no
diagnóstico de deficiência de Cu. Tais métodos para o Cu são bem conhecidos,
já que a deterioração da lignina nas paredes celulares é a mudança anatômica
mais comum induzida por deficiência de Cu em plantas superiores. Isto dá
origem à distorção característica de folhas jovens ou à dobra e torção de caules
e ramos, bem como ao aumento da suscetibilidade ao ataque de parasitas em
cereais, particularmente em combinação com o grande suprimento de N.
Como já foi demonstrado, o Cu exerce um efeito marcante sobre a formação e
composição química de paredes celulares. Em folhas deficientes, a relação
entre a massa de matéria fresca total e a massa de matéria seca diminui ao
mesmo tempo que a proporção de celulose aumenta e o teor de lignina
permanece próximo à metade do encontrado em folhas com Cu adequado.
Esse efeito de lignificação é ainda mais evidente nas células de esclerênquima
do tecido do caule. Em plantas com deficiências graves de Cu, os vasos do
xilema são também insuficientemente lignificados.
A lenhificação, ou lignificação, ocorre mesmo com uma deficiência leve
e serve, assim, como um índice do estado nutricional de Cu. Como a
lenhificação responde de forma rápida ao fornecimento de Cu, os períodos de
transição de deficiência desse nutriente durante o período de crescimento
podem ser facilmente identificados por variações no grau de lenhificação nas
seções do caule.
A princípio, esses métodos devem ser válidos se o teor total ou fração de
um nutriente forem pouco correlacionados com a sua disponibilidade
fisiológica. Nesse aspecto, se métodos enzimáticos podem ou não substituir a
análise foliar como a base para recomendar determinado fertilizante, ou a dose
a ser aplicada, dependeria da sua seletividade, precisão e, sobretudo, se o
processo é suficientemente simples para fazer uma avaliação direta ou não.
No caso de Fe com peroxidase, Cu com ascorbato-oxidase e peroxidase e
N com nitrato redutase, os métodos enzimáticos parecem cumprir esses
requisitos. No entanto, o estabelecimento de tais métodos continua a ser um
problema quando uma concentração iônica adequada não está disponível e
quando não há sintomas visíveis de deficiência. De qualquer maneira, ainda é
uma questão em aberto saber se métodos enzimáticos, especialmente para
micronutrientes em geral, se tornarão métodos complementares para avaliar o
estado nutricional das plantas, como é o teste rápido do NO3– para a
recomendação de fertilizantes nitrogenados.
Evidentemente, a análise foliar não é totalmente adequada como um
método de diagnóstico, mas é necessária. Ela deve, sempre que preciso, ser
acompanhada pela análise de nutrientes solúveis, frações iônicas e análise
enzimática.
Avaliação da fertilidade do solo
A fertilidade do solo tem sido conceituada como a capacidade que um
solo possui de ceder nutrientes para as plantas. De forma simplificada, pode-se
dizer que a fertilidade do solo se relaciona à quantidade de nutrientes que a
planta pode absorver durante o seu ciclo de vida, ou seja, à disponibilidade
deles no solo (ALVAREZ V., 1996). A quantidade disponível para a absorção
é, entretanto, uma fração das formas químicas dos nutrientes que alcançam,
via mecanismo de transporte, os sítios de absorção do sistema radicular.
A avaliação da fertilidade quantifica a capacidade dos solos de suprirem
nutrientes para o ótimo crescimento e desenvolvimento das plantas, e também
outros fatores químicos que limitam a produtividade, tais como acidez,
salinidade e elementos fitotóxicos.
Além de ser importante na produção agrícola, a avaliação da fertilidade é
indispensável à recuperação de áreas perturbadas pela atividade antrópica, por
exemplo, áreas afetadas pela mineração, construção de estradas e grandes
obras. Nesses últimos casos, o foco é a estabilidade da cobertura vegetal, o
aumento da atividade microbiana para a degradação de contaminantes
orgânicos e a fitorremediação para mitigação de contaminantes inorgânicos e
metais pesados (CANTARUTTI et al., 2007).
Embora não permita a avaliação do estado nutricional das plantas, a
avaliação da fertilidade do solo possibilita prognosticar a ocorrência de
carências nutricionais durante o cultivo. A vantagem da análise química do
solo é a possibilidade de predição da disponibilidade de nutrientes –
deficiência ou toxidez – antes do cultivo, de forma que ambos, análise do solo
e de tecidos, são necessários e complementares para o adequado manejo
nutricional dos cultivos.
Em geral, a avaliação da fertilidade usa a análise de solo como técnica de
diagnóstico e fundamenta-se na identificação da classe de fertilidade em que o
solo se enquadra, a qual serve de base para recomendar fertilizantes. A
avaliação da fertilidade envolve processos de amostragem, métodos de análise,
técnicas de diagnóstico dos resultados e modelos de interpretação e de
recomendação de corretivos e fertilizantes.

Amostragem
A avaliação por meio de análise química depende muito de uma
criteriosa amostragem, pois a partir de uma amostra não representativa nunca
se obterá uma adequada caracterização da fertilidade do solo. Em geral, a
variabilidade dos resultados advinda dos procedimentos laboratoriais é
pequena frente àquela resultante de amostragens inadequadas e não
representativas.
O solo é complexo e heterogêneo, variando em pequenas distâncias
horizontais e verticais. Essa variabilidade decorre de vários fatores, tais como
mineralogia, vegetação e topografia, e é intensamente afetada pela atividade
antrópica. Por isso, uma área a ser amostrada deve ser dividida em glebas ou
talhões homogêneos. Essa divisão deve-se basear em macrovariações do solo
facilmente perceptíveis, a exemplo da topografia, cobertura vegetal natural,
uso agrícola, textura, cor, condições de drenagem, histórico de manejo e de
produtividade agrícola. Tais características e suas combinações têm mais
importância que o tamanho da gleba ou talhão, embora não se recomende a
divisão em unidades superiores a 10 ha.
Devem ser coletadas de 10 a 20 amostras simples por gleba. Esse número
não deve ser inferior a 10 mesmo em glebas pequenas. Todas as amostras
simples devem ter o mesmo volume de solo e devem ser coletadas na mesma
profundidade, o que se consegue facilmente pelo emprego de trados ou sondas
específicas para amostragem de solo.
A profundidade de amostragem deve ser definida de acordo com a
cultura que é ou será cultivada na gleba. Deve-se amostrar a camada de solo
que será explorada pelo maior volume do sistema radicular da planta. Para
plantio de culturas anuais ou de pastagens, amostra-se a camada de 0–20 cm;
para pastagens já estabelecidas, a amostragem pode ser de 0–10 cm e, para
culturas perenes, a amostragem deve ser feita por camadas de 0–20, de 20–40 e
de 40–60 cm, segundo a necessidade (CANTARUTTI et al., 2007).
Recomenda-se que os pontos de coleta das amostras simples sejam
aleatoriamente distribuídos em toda a gleba, o que se obtém percorrendo-a em
zigue-zague. É importante evitar formigueiros, cupinzeiros e locais de
queimada e de deposição de fezes em pastagens. Ainda, os resíduos vegetais
sobre o solo devem ser removidos no ponto de coleta da amostra simples.
Em sistemas de plantio direto ou quando se faz fertilização localizada, a
variação da característica analisada pode não obedecer a uma distribuição
espacial aleatória, e os resultados da análise de uma amostra composta podem
não representar a fertilidade média da gleba. Nesses casos, recomenda-se usar
técnicas de geoestatística para definir a distância mínima entre amostras
simples para que elas sejam consideradas independentes.
As amostras simples devem ser misturadas e homogeneizadas, obtendo-
se uma amostra composta por gleba. Uma subamostra de cerca de 300 cm3
deverá ser encaminhada ao laboratório, no qual, após secagem, será tamisada
em peneira com malha de 2 mm.

Análise química
A análise química de solo fundamenta-se no uso de extratores químicos.
Extratores são soluções ou substâncias que removem do solo – por
complexação, desorção, solubilização, troca iônica ou hidrólise – formas
químicas dos nutrientes consideradas disponíveis para a planta, ou elementos
químicos promotores de salinização do solo ou potencialmente tóxicos às
plantas. Uma fração das quantidades extraídas encontra-se na solução do solo
– fração ativa ou fator intensidade. A maior fração, no entanto, encontra-se
integrada à fase sólida, em equilíbrio com a fração ativa, responsável pela
reposição do elemento na solução do solo quando sua concentração se reduz –
fração lábil ou fator quantidade.
O método de análise química do solo inclui, além do extrator, os demais
procedimentos que o caracterizam, como a relação entre a massa ou volume de
solo e o da solução extratora, a forma e o tempo de agitação – tempo de reação
ou de equilíbrio –, filtração ou decantação da suspensão solo-extrator e o
método de dosagem analítica do nutriente ou do elemento químico de
interesse.
O teor do nutriente extraído pelo método de análise química, ou seja, o
nutriente recuperado será indicador da disponibilidade se apresentar
correlação significativa com algum indicador da performance da planta. A
análise de correlação determina se as variações na produção ou no conteúdo
do nutriente na planta são proporcionais aos teores extraídos pelo método de
análise.
É desejável que os métodos de análise química do solo sejam aplicáveis a
solos com ampla variação em suas propriedades. Para isso, no processo de
seleção de métodos de análise, devem ser empregados solos com ampla
variação quanto à classe taxonômica, mineralogia, classe textural, teor de
matéria orgânica e, certamente, disponibilidade do nutriente em estudo.
A sensibilidade do método, que demonstra sua capacidade de recuperar o
nutriente diante do aumento de sua disponibilidade, é outra característica
importante. O aumento da disponibilidade é conseguido com a adição de doses
do nutriente em questão. A regressão estabelecida entre os teores do nutriente
extraído pelo método de análise e as doses do nutriente aplicadas possibilita
estimar a capacidade de recuperação do método.
Um método universal de extração foi proposto por Soltanpour e Schwab
(1977) para solos neutros e básicos. Ele consiste na extração durante 15
minutos (método cinético) com AB-DTPA (bicarbonato de amônio e agente
quelante DTPA) a pH 7,6 num sistema aberto. O íon amônio deslocará o K+,
Ca2+ e Mg2+ dos sítios de troca. O bicarbonato pode trocar com o fosfato dos
minerais lábeis do solo e nas superfícies de sorção. DTPA é um agente
quelante forte capaz de dissolver as formas lábeis de Fe, Mn, Cu e Zn, e
também metais pesados. O nitrato e B-solúvel em água também são extraídos.
No Brasil, os métodos de análise química de solo podem ser
categorizados em dois grupos: um fundamentado no uso do extrator ácido
Mehlich-1 e da solução salina de KCl; outro, no uso das resinas de troca iônica
e do extrator quelatante DTPA.
Uma vez extraídos e medidos os elementos, a concentração obtida deve
apresentar bom índice de sua disponibilidade para as plantas e ser comparada
com valores de referência tabelados, auxiliando nas tomadas de decisão quanto
às recomendações de adubação das culturas. A Tabela 6.2 resume os diferentes
extratores/métodos para análises de solo de rotina empregados no Brasil.
Além das análises descritas na Tabela 6.2, no resultado da análise de solo
também deve constar os valores estimados para a soma de bases – SB, a CTC
total (a pH 7), CTC efetiva, a percentagem de saturação por bases – V, a
percentagem de saturação por Al. A textura (distribuição do tamanho das
partículas do solo) determinada pelo estudo da sedimentação é uma análise
física comumente realizada, uma vez que é exigida em alguns manuais de
recomendação de adubação para a recomendação de nutrientes como o P.

Tabela 6.2 - Métodos de análises químicas utilizadas nas análises de rotina de


solos no Brasil para avaliação de fertilidade. Metodologia sugerida
pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – Embrapa e pelo
Instituto Agronômico – IAC

Características Métodos de extração


Embrapa IAC
pH H2O (1:1) ou H2O (1:2,5) CaCl2 0,01 mol
L–1 (1:2,5)

P disponível Mehlich-1(1) Resina(2)

K disponível Mehlich-1(1) Resina(2)

Ca2+ e Mg2+ KCl 1 mol L–1 Resina(2)

Al3+ KCl 1 mol L–1 KCl 1mol L–1

Na+ Mehlich-1(1) Resina(2)

H + Al Ca(OAc) 0,5 mol L–1 pH 7,0 SMP(3)

Fe, Mn, Cu e Zn
Mehlich-1(1) DTPA(4)
disponíveis

B disponível Água quente Água quente

C oxidável por Cr2O72– dosagem


Matéria orgânica Fotométrico
por titulometria

(1)
Duplo ácido: 0,0125 molL–1 de H2SO4 + 0,050 molL–1 de HCl. (2) Resina
mista catiônica e aniônica. (3) Solução mista de cloreto de cálcio, cromato de
potássio, acetato de cálcio e trietanolamina, com pH tamponado em 7,5. (4)
Ácido dietilenotriaminopentacético.
Fonte: VAN RAIJ et al., 2001; DONAGEMA et al., 2011.
Calibração do método de análise química do
solo
A calibração tem por objetivo definir níveis críticos, classes de fertilidade
ou de disponibilidade do nutriente e doses dos nutrientes para serem
aplicadas, quando necessárias. Com a calibração, busca-se o relacionamento
matemático do teor do nutriente extraído pelo método e a resposta da planta à
adição do nutriente (SIMS, 1993).
O NC é conceituado como o teor do nutriente no solo, extraído pelo
método de análise, que discrimina solos com baixa e alta probabilidade de
resposta à adubação, ou que determina 80 a 90% da produção máxima. Para
obter o NC a partir de curvas de respostas da produção, estima-se o teor do
nutriente no solo que proporciona 80 a 90% da produção máxima. O problema
do NC é que ele define apenas duas faixas ou classes de interpretação: baixa e
alta disponibilidade. No entanto, a produção relativa pode ser usada para
definir outras classes de fertilidade. Atribui-se classe de disponibilidade baixa
àquela que resulta em produções < 50% da máxima. A faixa de disponibilidade
média é aquela correspondente a produções entre 50 e 70% da máxima.
Produções entre 70 e 90% e entre 90 e 100% da máxima permitem definir,
respectivamente, as classes de disponibilidade média e alta.

Recomendação de adubação
O diagnóstico da fertilidade do solo se complementa com a definição das
doses dos nutrientes que serão recomendadas de acordo com a classe de
fertilidade. O foco é alcançar o NC de disponibilidade de nutrientes no solo e
restituir as quantidades de nutrientes exportadas pelas colheitas.
Os critérios de diagnóstico da fertilidade com base na análise química do
solo, assim como as orientações para fertilização das culturas, geralmente são
organizados em manuais em que as recomendações de fertilizantes para as
diferentes culturas são sistematizadas em tabelas de acordo com as classes de
disponibilidade dos nutrientes no solo e a produtividade esperada.
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23 Departamento de Fisiología Vegetal, Facultad de Ciencias, Universidad de Granada –


UGR, Granada, Espanha. E-mail: lromero@ugr.es
24 Departamento de Fisiología Vegetal, Facultad de Ciencias, UGR, Granada, Espanha. E-
mail: jmrs@ugr.es
25 Departamento de Agronomia, Universidade Federal de Viçosa – UFV, Viçosa, MG, Brasil.
E-mail: herminia@ufv.br
26 Departamento de Solos, UFV, Viçosa, MG, Brasil. E-mail: cantarutti@ufv.br
Capítulo
7
Substratos para o Crescimento de
Plantas
Alberto Masaguer27, Juan José Lucena28, Luciana Aparecida Rodrigues29, Claudio Roberto Marciano30
e Herminia Emilia Prieto Martinez31
Introdução
Substrato “é o produto usado como meio de crescimento de plantas”
(BRASIL, 2007). Concomitantemente ao desenvolvimento das técnicas
culturais, o uso dos substratos passou por um progresso importante na
horticultura, floricultura, jardinagem, paisagismo, campos desportivos e
florestais. É um mercado em crescimento, tendo em vista o aumento dos
cultivos em ambiente protegido e ainda a redução na extração da turfa na
Europa.
O termo substrato em horticultura aplica-se a qualquer material sólido –
como os naturais, sintéticos ou residuais, minerais ou orgânicos, diferente do
solo in situ colocado num recipiente que permita a ancoragem do sistema
radicular e, por conseguinte, que desempenhe um papel de sustentação para a
planta. Pode ser utilizado puro ou em mistura com outros materiais, ou ainda
com diferentes granulometrias, considerando um mesmo material.
O conhecimento das propriedades do substrato é importante para que ele
possa ser utilizado com sucesso em cultivos distintos. O cultivo em recipientes,
ou seja, em espaço e volume limitados, requer manejo diferente daquele do
cultivo no solo nas áreas agrícolas. Também é importante observar as
diferenças entre solo e substrato em relação aos conceitos tradicionais usados
em química e física do solo. Um material quimicamente ativo usado como
substrato pode participar na dinâmica dos nutrientes, mas os materiais inertes
servem apenas como um suporte físico para o cultivo, condicionando a
disponibilidade de nutrientes às plantas ao seu fornecimento pela adubação.
Para alcançarem máximo crescimento e máxima produção, as plantas
necessitam de água, nutrientes e oxigênio em quantidades e proporções
adequadas no ambiente radicular. O substrato presta-se à produção de plantas,
muitas vezes com vantagens em relação ao solo.
A vantagem do uso do substrato é que ele pode ser armazenado, usado
em recipientes diversos, manuseado, transportado e, além disso, melhorado
(MINAMI; SALVADOR, 2010). As raízes, entretanto, dispõem de volume
restrito de meio para a retirada dos recursos necessários ao crecimento da
planta, sendo importante o ajuste das características físicas e químicas
adequadas à sua necessidade.
A seguir serão discutidas as propriedades físicas, químicas e biológicas
ideais aos substratos sólidos para cultivo de plantas. Considerações para a
correta escolha do substrato também serão feitas neste capítulo.
Propriedades de substratos importantes para o
cultivo de plantas sem solo
O limitado espaço de crescimento das raízes faz com que as interações
sistema radicular-substrato sejam intensas e rápidas, por isso o conhecimento
das características físicas e químicas dos substratos é importante no sucesso do
cultivo. Nos recipientes com pequena altura, a dependência da irrigação é alta;
logo, é necessário que o substrato apresente boa capacidade de retenção de
água, liberando-a conforme a necessidade, mas que também apresente boa
permeabilidade. O poder tampão assume importância redobrada, já que as
constantes irrigações promovem o deslocamento dos nutrientes da fase sólida
do meio de cultivo para a água, na fase líquida (MINAMI; SALVADOR, 2010).

Propriedades físicas
As propriedades físicas são de primordial importância para a escolha de
um substrato. Durante o crescimento das plantas, os atributos do substrato são
muitas vezes modificados pela degradação física de seus componentes e pela
ocupação do espaço poroso pelas raízes. Conhecer as exigências das plantas e o
sistema de manejo a ser adotado é fundamental para definir, previamente,
quais propriedades físicas o substrato a ser utilizado deve apresentar. Além
disso, o conhecimento das propriedades físicas permite a melhor padronização
do substrato, auxilia os produtores na decisão da sua aquisição e uso, força as
indústrias a manter ou melhorar a qualidade e possibilita ao poder público
fiscalizar a veracidade das informações impressas nas embalagens (ZORZETO
et al., 2014).
Densidade do substrato, densidade das partículas e
porosidade
A densidade do substrato – ds é a proporção entre a massa das partículas
secas e o volume ocupado pelo substrato (incluindo o espaço poroso), em geral
dada em kg/m3. A densidade dos substratos para cultivo de plantas
normalmente é muito baixa porque eles são preparados a partir de materiais
“leves”, o que facilita seu manuseio. Nos casos em que é requerida maior
estabilidade do substrato, para que, por exemplo, as plantas possam enfrentar
correntes de vento sem sofrer tombamento, são selecionados materiais de
densidade média, ou um pouco mais “pesados”.
As espumas fenólicas, fibra de coco, lãs minerais, vermiculita e serragem
têm densidade muito baixa; argila expandida, pumita e cascas, densidade
mediana; já areia e cascalho, alta. Para produção de mudas, recomendam-se
substratos com densidade entre 100 e 300 kg/m3; para vasos com altura menor
que 20 cm, substratos com densidade entre 200 e 400 kg/m3. Vasos com
diâmetro entre 20 e 30 cm requerem substratos com densidade entre 300 e 500
kg/m3, e para vasos com maiores dimensões recomendam-se substratos com
densidade entre 500 e 800 kg/m3.
A densidade das partículas ou dos sólidos – dp é a relação entre a massa
das partículas e o seu volume (excluído o espaço poroso, inclusive aquele do
interior das partículas). O espaço poroso total (porosidade) do substrato – pt
pode ser obtido a partir da densidade de partículas e da densidade aparente, por
meio da equação pt = 1 – ds/dp. O volume dos poros é ocupado por quantidades
complementares de ar e de água, o que, em condições de cultivo, será regulado
pela quantidade de água adicionada pela chuva e/ou irrigação. Quanto maior o
tamanho das partículas, ou seja, quanto menos decomposto for o substrato,
menor será sua densidade.
O espaço poroso ocupado por ar é relevante porque dele dependem a
respiração do sistema radicular e da biomassa microbiana. A interconexão
entre os poros e a sua tortuosidade afeta o movimento de água no substrato e,
consequentemente, também afeta o desenvolvimento do sistema radicular.
Além disso, ao longo do tempo, com a reorganização das partículas no
recipiente, os poros maiores poderão ser preenchidos por pequenas partículas,
condicionando novas condições de aeração e de fluxo de água. Tal fato
demonstra que a distribuição das partículas quanto ao tamanho (ou
granulometria) precisa ser considerada como de grande importância para a
qualidade do substrato.

Composição granulométrica, estabilidade estrutural e


hidrofobicidade dos substratos
As partículas que compõem os substratos podem ter tamanhos muito
distintos, sendo a distribuição desses tamanhos expressa pela composição
granulométrica (ou granulometria). A importância de se conhecer o tamanho
das partículas é que elas, por sua vez, definem o tamanho dos poros do
substrato e, portanto, interferem na disponibilidade de água e ar para as
plantas. Quanto maior o tamanho das partículas, ou seja, quanto menos
decomposto for o substrato, menor será sua densidade e maior o volume total
de poros – VTP. A diferença entre o VTP estimado por meio da equação
pt = 1 – ds/dp e o VTP determinado através de saturação com água representa o
volume de poros ocluídos, o qual se relaciona com o grau de desintegração das
partículas. Quanto maior o volume de poros ocluídos, menor o grau de
desintegração e maior o risco de ocorrer desintegração e alteração na
porosidade durante o cultivo.
É importante manter certa homogeneidade no material e impedir uma
grande variação no tamanho das partículas, uma vez que essa variação pode
conduzir à redução do espaço poroso do substrato durante o cultivo de plantas.
Isso ocorre devido à redistribuição das partículas finas entre as partículas
grossas, levando a uma excessiva retenção de água e acarretando falta de
oxigênio para as raízes.
Alguns substratos orgânicos são bastante compressíveis, cuja redução do
volume pode ter origem na aproximação entre as partículas decorrentes da
aplicação de forças externas – por deformação ou por compactação – ou ser
devida à secagem durante o preenchimento dos vasos ou durante o cultivo.
Determinadas turfas ou fibra de coco perdem até 25% do volume, o que pode
ser um processo irreversível dependendo da afinidade da fase sólida do
substrato pela água. Muitas dessas partículas são naturalmente hidrofóbicas, de
modo que a hidratação inicial de alguns substratos pode ser muito lenta.
Mesmo vencida essa hidrorrepelência inicial, a posterior secagem excessiva do
substrato pode modificar suas propriedades relacionadas com a água, fazendo
com que volte a exibir a hidrofobicidade original.
É interessante utilizar substratos com tendência mínima à compactação,
permitindo um bom arejamento das raízes, e, ao mesmo tempo, evitar
substratos excessivamente hidrofóbicos. Isto é conseguido com a utilização de
materiais fibrosos e mistura de diferentes componentes, uma vez que alguns
retêm mais água do que outros e contribuem para manter a estrutura e as suas
propriedades relacionadas com a água.

Conteúdo e potencial de água nos substratos


Para um substrato colocado em um recipiente qualquer, a umidade é o
quociente entre a quantidade de água e a de substrato. A umidade (ou conteúdo
de água) à base de massa ou gravimétrica – Ug pode ser obtida a partir da
pesagem de uma amostra do material úmido e após secagem em estufa a 105
o
C, por meio da equação Ug = ma/mp, sendo mp a massa das partículas (obtida
com a pesagem da amostra seca) e ma a massa de água (obtida pela diferença
entre as duas pesagens). A umidade (ou conteúdo de água) volumétrica – Uv
pode ser obtida por meio da equação Uv = Va/V, em que V é o volume total de
uma amostra do substrato (incluindo o espaço poroso) e Va é o volume de água
(obtida a partir da equação Va = ma/da, sendo ma a massa e da a densidade da
água).
É preferível que a umidade do substrato seja expressa em termos
volumétricos, pois a partir de Uv pode-se, de forma inequívoca, quantificar a
água em um recipiente com um volume conhecido de substrato (Va = Uv  . V),
enquanto essa quantificação partir de Ug demanda que a densidade do substrato
– ds seja sempre considerada (ma = Ug . V . ds ou Va = Ug . V . ds/da). Além disso,
como no espaço poroso do substrato há quantidades complementares de água e
ar, a fração do volume do substrato ocupado por ar (ou porosidade de aeração
– par) em um dado momento pode ser facilmente obtido pela diferença entre
porosidade total e umidade volumétrica (par = pt – Uv ).
A curva de liberação/retenção de água de um substrato (Figura 7.1)
representa a variação de sua umidade volumétrica em função da tensão de água
à qual o material é submetido. Para entender essa relação é necessário
introduzir o conceito de potencial de água (Ψ), que indica a condição
energética da água em relação a uma condição padrão, por unidade de volume,
o que resulta que sua unidade de medida é equivalente à de pressão (Pascal;
altura de água etc.). O potencial pode apresentar componentes de naturezas
diversas – gravitacional, de pressão, matricial, osmótico etc. –, sendo a soma
desses correspondentes o potencial total.
Figura 7.1 - Curva de retenção de água do substrato, que indica a distribuição
de água e ar nos poros em função da tensão (cm de água).

Em geral, para fins práticos, considera-se que o potencial matricial (Ψm)


é o único componente que contribui para o potencial total, já que as dimensões
verticais dos recipientes que contêm substrato são, normalmente, muito
pequenas, tornando desprezível tanto o componente gravitacional quanto o de
pressão. Além disso, o componente de pressão só se manifestaria se o substrato
estivesse completamente saturado. O componente osmótico somente seria
relevante se, entre dois pontos no substrato, houvesse diferenças de
concentração de solutos e separação por membrana semipermeável, o que não
ocorre. O componente osmótico pode se tornar relevante para a absorção de
água pelas plantas caso a concentração salina do substrato seja excessiva. Esse
potencial matricial, que ocorre em condições de não saturação, é consequência
da sucção devido a forças capilares e de adesão entre a matriz sólida e a água,
sempre apresentando valores negativos. A mudança de sinal para positivo pode
ser usada, passando a variável a ser chamada de tensão.
A curva de retenção de água (Figura 7.1) a baixas tensões é a base para
saber exatamente o comportamento físico do substrato, pois ela sumariza a
disponibilidade de água e ar nas condições usuais de cultivo. Além disso,
conhecendo-se a curva de retenção, a relação água-ar – umidade-arejamento –
pode ser obtida através da medição da tensão da água com um tensiômetro ou
qualquer outro equipamento calibrado para esse fim.
É importante conhecer, como um índice crítico, o valor da porosidade de
aeração quando o substrato se encontra em uma tensão correspondente a 10
cm de coluna de água (1 kPa), uma vez que essa é uma altura frequente para
recipientes usados para o cultivo de plantas. Quando, sob essa sucção, o
substrato apresenta baixa porosidade de aeração – e se houver excesso de
irrigação –, é comum que as raízes se agrupem na parte superior do recipiente,
local mais arejado. Ali então elas crescem em profundidade, concentrando-se
ao longo da parede do recipiente e desenvolvendo-se onde há boa
disponibilidade de ar, na borda do substrato. A falta de ventilação deixa as
raízes fracas e afeta a sobrevivência da planta após o transplante ou mesmo
durante o cultivo. Como a base do recipiente é o ponto de referência para a
medida do potencial matricial (atingido, após uma generosa irrigação, valores
de tensão próximo a zero e valores de umidade próximo à saturação), um
recipiente alto terá, em sua porção superior, maior valor de tensão (valores
Ψm mais negativos) e, então, menor teor de água e maior aeração comparado a
um recipiente mais baixo. Ou seja, o conteúdo médio de água diminui com o
aumento da altura, de modo que um substrato pode reter mais ou menos água
dependendo da altura do recipiente.
Para estabelecer uma relação entre o potencial de água do substrato e a
disponibilidade de água para as plantas, De Boodt e Verdonck (1972)
introduziram alguns conceitos básicos, expressos em percentagem do volume
do substrato (Figura 7.1):
Capacidade de aeração – CA: diferença entre o espaço total de poros e o conteúdo
de água em 1 kPa de tensão (10 cm de coluna de água). Em um recipiente com
substrato inicialmente saturado, o valor de CA corresponde à percentagem de
água que drena da porção superior desse substrato em um recipiente com
altura de 10 cm, por ação do campo gravitacional da Terra.
Água facilmente disponível  –  AFD: percentagem de água liberada do substrato
quando a tensão aumenta de 1  para 5 kPa; pode ser facilmente extraída pelas
plantas ou mesmo perdida por evaporação.
Reserva de água  –  RA: percentagem de água liberada do substrato quando a
tensão aumenta de 5 para 10 kPa; pode ser extraída pelas plantas ou perdida
por evaporação com maior dificuldade (e de forma mais lenta).
Total de água disponível  –  TAD: percentagem de água liberada do substrato
quando a tensão aumenta de 1  para 10 kPa, correspondendo à soma da água
facilmente disponível e da reserva de água (TAD = AFD + RA).
Água não disponível – AND: percentagem de água ainda retida no substrato em
tensão superior a 10 kPa. É considerada não disponível às plantas em razão da
grande dificuldade para ser extraída por elas, nem tanto pela sua condição
energética, mas principalmente pelo fato de o ressecamento do substrato impor
grandes limitações ao fluxo da água dele para a raiz. Essa água pode, ainda que
lentamente, ser perdida por evaporação.

O valor máximo de 100 cm de coluna de água (10 kPa) é derivado do


trabalho de De Boodt e colaboradores, que, trabalhando com Ficus,
observaram redução na produtividade quando a tensão de água excedeu esse
valor. Os autores também propuseram para cada condição de crescimento o
conceito de substrato ideal. Tal conceito é atualmente considerado controverso,
uma vez que provém da ideia de que qualquer material misturado em
determinadas proporções pode levar a um substrato adequado, com uma curva
de liberação de água adequada. Isto não é completamente verdade, dado que,
como acima indicado, as pequenas partículas tendem a ocupar as posições entre
os poros maiores, alterando a retenção de água para os componentes
misturados.
Na verdade, além da curva de liberação de água, que é estática, existem
outras propriedades do substrato que afetam o equilíbrio da água, como a sua
permeabilidade. É por isso que a classificação dos substratos não pode ser feita
exclusivamente pelas características de retenção de água e de ar, mas também é
necessário considerar um conjunto de propriedades físicas, químicas e
biológicas.
Deve-se considerar também que a curva de retenção de água de um
substrato não apresenta comportamento único. Para um mesmo Ψm, o
conteúdo de água pode ser diferente se o substrato estiver em processo de
umedecimento ou secagem. Esse fenômeno, chamado de histerese, ocorre em
muitos materiais orgânicos e minerais, sendo característico de sistemas físicos
cujas propriedades dependem de sua história precedente. A histerese decorre
de várias causas, incluindo a diferença no ângulo de contato sólido-líquido
entre os processos de umedecimento (absorção) e secagem (dessorção) do
substrato, a falta de isotropia na geometria dos poros, a presença de bolsas
(bolhas) de ar ou de água aprisionados, respectivamente, durante os processos
de umedecimento e secagem, ou, ainda, a presença de compostos hidrofóbicos
após a secagem do substrato.

Afinidade da água pela fração sólida


Tem-se sugerido que ciclos alternados de molhamento e secagem podem
alterar significativamente, de forma reversível ou não, as propriedades da
interação entre a água e o substrato. Na prática verificou-se que o molhamento
completo de determinados produtos pode demorar muito tempo, e que a
secagem de um material pode alterar suas propriedades em relação à água,
especialmente se for um substrato orgânico. As propriedades de molhabilidade
de materiais recebem especial atenção desde o início da utilização de turfa na
horticultura.
Técnicas para avaliar essa molhabilidade têm sido desenvolvidas com
base no tempo de penetração de uma gota de água no material, no tempo de
flutuação do material na superfície de uma camada de água, na velocidade de
ascensão capilar da água e nas alterações das características de retenção de água
do material. O rigoroso manejo da irrigação para evitar o ressecamento do
substrato é, provavelmente, a melhor atitude. Para evitar problemas, o uso de
coadjuvantes adicionados ao substrato é recomendado, em geral surfactantes
ou aditivos, tais como areia e argila.

Fase gasosa
A fase gasosa, volumetricamente considerável em um substrato, é
essencial, pois permite tanto o fornecimento de oxigênio ao sistema radicular
quanto a remoção do dióxido de carbono produzido pela respiração de raízes e
microrganismos e pela degradação de compostos orgânicos. O sistema
radicular é sempre mais desenvolvido em locais de mais fácil circulação de ar.
A umidade relativa do ar nos poros de um substrato é próxima a 100%.
Como consequência da respiração, a concentração de CO2 é mais elevada e a de
O2, mais baixa que na atmosfera livre; se este ar não for renovado, reações de
redução podem ocorrer, formando gases como metano e etileno.
O movimento de gases em meios porosos é regido por dois processos
principais: a difusão e a advecção, tanto na fase gasosa quanto na fase líquida do
substrato. A difusão trata do deslocamento de um determinado componente –
no caso, gás – em relação à fase do sistema, líquida ou gasosa, em que está
inserido. A difusão ocorre de acordo com a Lei de Fick, em resposta ao
gradiente de concentração desse gás no meio em questão. Em se tratando da
fase gasosa, o mais comum é que o gradiente do gás de interesse – O2, CO2 etc.
– seja estabelecido não em termos de sua concentração, mas em termos de sua
pressão parcial.
A advecção, por sua vez, trata do deslocamento conjunto de todos os
componentes de uma determinada fase, líquida ou gasosa, do sistema – ou seja,
é o chamado luxo de massa. Esse processo de transporte ocorre de acordo com
a Lei de Darcy, em resposta ao gradiente de potencial total, para a fase líquida,
ou ao gradiente de pressão do ar, para a fase gasosa. Para este último (e mais
relevante) caso, o resultado é que o transporte de ar se dá no sentido de reduzir
eventuais desequilíbrios entre a pressão no espaço poroso do substrato e a
pressão atmosférica local. Esses desequilíbrios de pressão podem ter como
origem duas fontes principais: (i) a expansão térmica dos gases e (ii) as
variações de umidade do substrato.
O desequilíbrio de pressão relacionado à expansão térmica da fase gasosa
decorre das variações na disponibilidade e dinâmica de energia térmica ao
longo do tempo (dia e noite) e do espaço (superfície e interior do substrato),
que levam à contração e expansão térmica dos gases. A criação de gradientes de
temperatura no interior do substrato, e deste em relação ao ar atmosférico,
decorrentes do ganho e posterior perda de energia térmica do substrato,
determina sua expulsão ou sucção. Durante o aquecimento, por expansão,
parte do ar é expulsa do espaço poroso do substrato. Já durante o resfriamento,
o ar atmosférico é succionado para o interior dos poros em decorrência da
contração do ar ali presente previamente.
Desequilíbrios de pressão no ar podem decorrer de variações na umidade
do substrato. Quando água é adicionada ao substrato pela chuva ou irrigação, o
ar ali presente experimenta uma elevação de pressão e parte dele é expulso, ou
seja, é deslocado para fora substrato, similarmente ao que ocorre durante o
aquecimento. Em compensação, a redução da umidade por drenagem,
evaporação ou absorção pelas plantas tem efeito similar ao descrito no
resfriamento do substrato, com ar atmosférico sendo succionado para o
interior do substrato em virtude da redução da pressão de ar ali presente, uma
vez que este, com a saída de água, passa a ocupar um maior volume de poros.
Para pequenas dimensões, como em geral é o caso da zona radicular das
culturas, particularmente no cultivo em vasos, a contribuição da difusão
suplanta a da advecção. Enquanto a difusão é um processo contínuo, que
permite tanto o CO2 produzido pela respiração deixar o ar do solo quanto O2
consumido nesse processo ser reposto a partir da atmosfera, a advecção é um
processo eventual, dependente de fatores externos, a exemplo da oscilação da
temperatura e do conteúdo de água. Para o cultivo em vasos, em que variações
espaciais e temporais de temperatura e umidade no substrato podem ser muito
expressivas, a convecção pode ter um papel de maior destaque na renovação do
ar do espaço poroso.
Quanto menor o tamanho das partículas do substrato, maior a retenção
de água; porém, se as partículas forem extremamente pequenas, pode ocorrer
asfixia radicular. Substratos com predominância de partículas com diâmetro
menor que 1 mm tendem a apresentar problemas de aeração e compactação, e
substratos com predominância de partículas com diâmetro maior que 5 mm
tendem a ser excessivamente drenados e apresentar baixa disponibilidade de
água. De modo geral, recomenda-se que os substratos apresentem de 35 a 50%
v:v de capacidade de retenção de água, e de 25 a 40% v:v de espaço de aeração,
após drenagem.

Propriedades químicas
Semelhantemente ao solo, as propriedades químicas dos substratos
dependem das interações das fases sólida, líquida e gasosa.
As raízes absorvem os nutrientes da fase líquida do substrato, em que os
elementos podem, de forma mais ou menos intensa, estar interagindo com as
cargas livres da fase sólida do substrato. As cargas negativas estão relacionadas
à CTC (ver Capítulo 1). Com a adição de cátions – Ca, Mg, K – ao substrato
por meio de adubação, eles podem ficar retidos nas cargas negativas. Após a
redução de sua concentração na solução devido à absorção pelas plantas ou à
lixiviação, esses cátions se deslocam da fase sólida para a solução. Os elementos
aniônicos, adicionados pela fertilização, podem, por sua vez, ser adsorvidos às
cargas positivas do substrato. De modo similar ao que ocorre com os cátions,
os ânions podem ser liberados para a solução por ocasião do decréscimo na
concentração na solução depois de serem absorvidos. Na solução ocorrem
também reações de precipitação e complexação dos elementos, e ainda reações
de redução e oxidação, em que fatores como pH e difusão de O2 exercerão
influência direta ou indireta.
De acordo com a reatividade, química os substratos podem ser
classificados em dois grupos, representando condições extremas:
Substratos quimicamente inertes: são aqueles que não apresentam
degradação química ou bioquímica, não são capazes de liberar nutrientes e não
afetam a nutrição das culturas. Eles atuam apenas como suporte físico da
planta.
Substratos reativos ou não inertes: são aqueles que reagem liberando
nutrientes para a solução devido à degradação, dissolução, troca ou outras
reações.

Teor de nutrientes nos substratos


O teor total de nutrientes nos substratos é bastante variável, e convém
lembrar que aqueles que fazem parte da estrutura dos substratos nem sempre
estão disponíveis, mesmo em substratos compostos por material orgânico,
como fibra de coco, serragem e casca. Sua disponibilidade ocorre apenas com a
desintegração e desestruturação do material, características que são
indesejáveis em um bom substrato.
As características químicas dos substratos são determinadas pela extração
em água (1:5, v/v). Adota-se essa metodologia para que não sejam extraídos
nutrientes de frações do substrato que não estarão disponíveis para as plantas.
O teor de nutrientes disponíveis na maioria dos substratos é baixo ou até
nulo, levando à alta dependência de fertilização. A vantagem é que a
fertilização possibilita maior controle do oferecimento dos nutrientes em
função do crescimento e do desenvolvimento das plantas.
Cuidados devem ser tomados em relação à toxidez de determinados
elementos, como o sódio, que podem se acumular no substrato, ou resultar do
desbalanceamento em algumas relações entre os nutrientes, como na relação
Ca:Mg. Espécies vegetais podem ser sensíveis às variações nas relações entre
cátions, alterando o padrão de absorção das bases (Ca, Mg, K).
De acordo com Minami & Salvador (2010), existem produtores que
preferem os substratos enriquecidos com altos teores de nutrientes disponíveis,
o que diminui a dependência da adubação. Outros produtores, no entanto,
preferem substratos neutros pela possibilidade de um ajuste refinado da
fertilização.
A opção por substratos com maior ou menor teor de nutrientes
disponíveis dependerá do objetivo da cultura: cultivo de plantas ornamentais,
cultivo de hortaliças – para produção de folhas, frutos, flores, tubérculos,
vagens ou mudas – e produção de mudas de espécies florestais ou ornamentais.
Em cada caso são requeridas diferentes formas de manejo tanto no cultivo
quanto na comercialização, e nem sempre a utilização de substratos ricos em
nutrientes é vantajosa. Outra consideração é que a maior dependência do
fornecimento de nutrientes durante o cultivo requer maior tecnologia, além do
custo de mão de obra para realizar essa fertilização.

Relação C/N
A relação C/N do material de constituição do substrato é importante
porque influencia na taxa de decomposição desse material. Os materiais
orgânicos são fonte de carbono orgânico para os microrganismos
heterotróficos obterem energia. Nesse processo, denominado mineralização, os
elementos minerais constituintes da matéria orgânica passam para o meio em
formas disponíveis. A utilização desses nutrientes pelos microrganismos,
tornando-os novamente orgânicos e indisponíveis para as plantas, é chamada
de imobilização.
Um dos fatores que regula a taxa de mineralização da matéria orgânica,
no caso o substrato, é a relação C/N, como já discutido no Capítulo 1.
Materiais com baixa relação C/N (menor que 25) apresentam alta taxa de
mineralização, o que acelera o processo de decomposição do substrato. Relação
C/N acima de 50 promove a imobilização do N na biomassa microbiana. Nesse
caso, a atividade microbiana diminui devido à limitação no teor de N
disponível, e a taxa de decomposição do substrato também é reduzida. Assim, a
direção para onde os processos de mineralização-imobilização tendem depende
da relação C/N (CANTARELLA, 2007). Substratos com constituintes
orgânicos que têm baixa relação C/N tendem a sofrer decomposição,
acompanhada por redução de volume; logo, devem ser evitados. Materiais
orgânicos com alta relação C/N e aqueles com alta relação lignina/N são mais
estáveis, podendo ser utilizados na composição de substratos porque têm
menor alteração de volume durante o cultivo.

pH
O pH tem grande importância em substratos orgânicos, pois interfere em
sua CTC, disponibilidade de nutrientes e atividade biológica. O pH do
substrato deve ser adequado para o crescimento da planta, variando entre 5,5 e
6,5. As turfas normalmente são ácidas – pH próximo de 3 –, enquanto a perlita
ou vermiculita apresentam pH elevado – cerca de 8.
Conforme discutido no Capítulo 1, o pH altera a disponibilidade de
macro e micronutrientes. Em valores de pH mais alcalinos, acima de 7, o P
pode precipitar-se com Ca formando compostos de menor solubilidade como
Ca10(PO4)6(OH)2.
Além do pH original do material sólido que compõe o substrato, a
absorção diferencial de cátions e ânions pelas plantas também altera o pH da
solução do substrato. A maior absorção de cátions pelas raízes promove a
diminuição do pH, enquanto a maior absorção de ânions torna o meio mais
alcalino. O N pode ser fornecido, via fertilização, tanto na forma catiônica
(NH4+) como aniônica (NO3–). É um elemento requerido pelas plantas em
quantidades relativamente altas quando comparado aos outros elementos
essenciais. Quando fornecido como ânion (NO3–), aumenta o pH; como cátion
(NH4+), o reduz. Por isso deve-se ter o cuidado ao selecionar a fonte de N, ou
fazer uso das duas fontes com vistas a evitar alterações abruptas do pH; é
necessário, ainda, monitorar o pH do substrato.

Condutividade elétrica
A condutividade elétrica – CE em um extrato aquoso do substrato
permite inferir sobre a concentração de íons nesse substrato. Quanto maior a
CE, maior a concentração de íons, nutrientes ou não. CE elevada indica
acúmulo de sais. Em substratos a condutividade elétrica deve estar abaixo de 1
dS m–1. Quando há suspeita de presença de elementos potencialmente tóxicos,
por exemplo, o Na, é importante que além da medida da CE se determine a
concentração desses elementos.
O acúmulo de sais na superfície dos substratos ocorre principalmente
devido ao excesso de adubação, pela falta de lixiviação associada à alta
transpiração das plantas e à evaporação dentro da casa de vegetação. A redução
da salinidade nos substratos pode ser obtida com duas ou três irrigações
abundantes antes do plantio. Nesse caso, o conteúdo de nutrientes extraído
pela água deve ser descontado quando forem adicionadas soluções nutritivas
durante o cultivo. Outra técnica é a aplicação de gesso agrícola, que promove a
lixiviação de elementos químicos para camadas mais profundas ou para fora do
substrato junto com a água percolada.

Capacidade de troca catiônica


A CTC representa a capacidade do substrato em adsorver cátions às
cargas elétricas negativas das suas partículas; esses cátions podem ainda ser
trocados por outros que se encontram em solução (ver Capítulo 1). A CTC
desempenha papel fundamental na reserva de nutrientes para as plantas, e dela
dependerá o manejo da nutrição e adubação nos sistemas de cultivo que
empregam substratos. A CTC é bastante variável entre os substratos; nos
materiais orgânicos, especificamente, ela é alta.
A CTC é importante para definir a frequência na fertirrigação. Baixas
frequências são requeridas em substratos com CTC mais alta (> 20 cmolc kg–1),
enquanto a alta frequência deve ser realizada em substratos quimicamente
menos ativos, com baixa CTC.
A menor CTC proporciona menor tamponamento dos nutrientes na fase
líquida do substrato – da qual as plantas absorvem efetivamente os nutrientes
–, tornando maior a dependência de adubação. Além disso, com baixa CTC, o
parcelamento da adubação deve ser maior, principalmente para adubos muito
solúveis, como o N, K e Mg, tendo em vista a baixa retenção dos elementos
pela fase sólida do substrato. Tal limitação pode ser contornada com a
utilização de adubos orgânicos ou de liberação lenta ou, ainda, com a adição, no
substrato, de materiais com CTC mais elevada, por exemplo, a vermiculita, o
composto orgânico ou vermicomposto.

Propriedades biológicas
É de consenso geral que a estabilidade biológica dos substratos é definida
como a resistência à biodegradação dos seus componentes orgânicos. A
biodegradação pode aumentar quando se usa composto proveniente de
subprodutos orgânicos de maturação incompleta.
A baixa estabilidade biológica do substrato pode acarretar a compactação
física devido à diminuição no tamanho dos materiais com perda de volume e
redução da porosidade total do substrato durante o cultivo. Também pode
ocorrer alteração nas propriedades químicas pelo aumento do pH e da
salinidade em razão da mineralização dos nutrientes. Por isso é importante
conhecer e medir a bioestabilidade dos materiais utilizados.
A relação C/N tem sido usada como um índice de bioestabilidade, mas já
foi demonstrado que nem sempre é suficiente; conhecer a composição do
material orgânico e as suas alterações torna-se, então, necessário.
Novos índices devem ser criados para se determinar as taxas de
maturidade e estabilidade do composto para a avaliação dos substratos.
Normalmente a temperatura do material compostado é estável, abaixo de
35  oC, o volume dele é reduzido a cerca de 1/3 do seu volume inicial e os
constituintes encontram-se degradados fisicamente, ou seja, não são facilmente
identificáveis. O material atinge a forma recalcitrante.
Durante o cultivo, alterações no aspecto físico e no volume do substrato
devem ser monitoradas tendo em vista a possibilidade de aumento da taxa de
crescimento de microrganismos em consequência da adição de N via
fertilização, que pode acelerar o processo de decomposição de alguns materiais
orgânicos que compõem o substrato (como visto neste capítulo e no Capítulo
1). Isso pode ocorrer em materiais que não alcançaram devidamente o ponto de
maturação. A alta taxa de crescimento dos microrganismos pode levar à
imobilização dos nutrientes disponíveis e alterar o pH do substrato, o que
prejudica o crescimento das plantas e, em casos extremos, causa a sua morte.
O composto tem a vantagem de controlar o crescimento de certos
microrganismos patogênicos, impedindo, assim, o desenvolvimento de
doenças em até 70%. Entre outros, pode ser destacado o efeito de casca de
pinus, resíduos de jardinagem e de bagaço de uva no controle de patógenos
como a Rhizoctonia, Pythium e Phytophthora.
Na agricultura também tem sido estudada e já utilizada a compostagem
do lixo urbano, lodo de esgoto e resíduos de podas agrícolas. A aplicação do
composto proporciona a redução significativa nas doenças de plantas, tais
como a diminuição do impacto da Phytophthora em pimenta e do Fusarium sp.
em melão e tomate. A alta temperatura durante o processo de compostagem
mata a maioria dos patógenos.
Caracterização do substrato
As características dos substratos devem atender às necessidades das
plantas, ao objetivo da cultura (produção de flores, frutos, sementes etc.), à
disponibilidade de equipamentos de controle (ambiental, de irrigação e das
exigências nutricionais) e a outros fatores (climáticos, por exemplo). Devido à
grande variabilidade na composição do substrato, na obtenção de matéria-
prima padronizada para a sua produção, e ainda na variação que ele pode
apresentar durante o cultivo, é necessário caracterizar adequadamente esses
substratos para as tomadas de decisão sobre seu uso.

Normativas oficiais para análise química e


física de substratos
No Brasil, os métodos oficiais para análises física e química em substratos
e condicionadores de solos foram publicados na Instrução Normativa nº 17, de
21 de maio de 2007 (BRASIL, 2007), que define os métodos analíticos oficiais
para análise de substratos e condicionadores de solos. Nessa normativa são
descritos os métodos e análises necessários, indicados na Tabela 7.1.
Em 23 de outubro de 2008, a Instrução Normativa nº 17 foi alterada pela
Instrução Normativa nº 31 (BRASIL, 2008), em que foram realizadas alterações
nos métodos de avaliação de densidade e de capacidade de retenção de água.
Nos dois procedimentos houve ajustes na metodologia, mas as bases dos
métodos foram mantidas. Os métodos oficiais do Brasil não consideram
atributos como granulometria, densidade de partícula e porosidade.
Fermino (2014) sugere que as seguintes análises físicas sejam realizadas
para se conseguir uma caracterização mais completa do substrato: densidade de
volume (densidade aparente ou volumétrica), densidade de partículas,
granulometria (tamanho das partículas), porosidade total, espaço de aeração,
capacidade de recipiente (similar à capacidade de campo, embora sempre um
pouco maior), determinação da curva de disponibilidade de água e razão dos
vazios. Para a caracterização química, o autor sugere a determinação do valor
de pH, condutividade elétrica, teor total de sais solúveis e dá detalhes
metodológicos.

Tabela 7.1 - Análises física e química em substratos e condicionadores de solos


de acordo com a Instrução Normativa nº 17

1. Preparo das amostras para as análises física e química.


1.1. Preparação inicial das amostras para análises pelo método do
peneiramento.
1.2. Preparação da subamostra para análise de CTC pelo método da
secagem e peneiramento da amostra obtida no item 1.1.
1.3. Preparação da amostra de espuma fenólica: metodologia para a
amostragem e preparo do bloco padrão da espuma fenólica,
procedimentos para lavagem do bloco e metodologia da coleta da
água para análise de pH e condutividade elétrica.

2. Determinação da umidade atual: procedimentos para a coleta, preparo


das amostras de substrato para secagem em estufa e cálculos para a
determinação de umidade atual em substrato e na espuma fenólica.

3. Determinação da densidade.
3.1. Para substratos em geral e condicionadores de solos: pelo método
da autocompactação em proveta plástica de 500 mL (270 mm de
altura × 50 mm de diâmetro).
3.2. Para espuma fenólica é determinada com base na relação entre a
massa seca e o volume da amostra.
4. Determinação da capacidade de retenção de água a 10 cm (CRA10) pelo
método da mesa de tensão.
4.1. Para substratos em geral e condicionadores de solos.
4.2. Para bloco padrão de espuma fenólica. O volume de água retida à
tensão de 10 cm de água é determinado gravimetricamente.

5. Determinação do pH.
5.1. Para substratos utiliza-se o método da extração em água a 1+5 v/v.
5.2. Na espuma fenólica a avaliação do pH é determinada na água
escoada livremente no bloco padrão (o mesmo utilizado para
determinação da densidade).

6. Determinação de Condutividade Elétrica. Método da extração em água


1+5 v/v. Esse método não é aplicável a materiais com calagem ou a
lodo de esgoto e não é adequado para materiais como lã de rocha e
espuma fenólica.

7. Determinação da CTC de substratos e condicionadores de solo. O


método se baseia na saturação dos sítios de troca com solução de ácido
clorídrico, seguido do deslocamento dos íons de hidrogênio com
solução de acetato de cálcio a pH 7 e titulação com solução de hidróxido
de sódio. O método proposto é uma adaptação do método para
determinação da CTC em turfas pela Association of Official Analytical
Chemists – AOAC.
Fonte: BRASIL, 2007.

Em relação aos métodos analíticos oficiais para determinação de agentes


patogênicos a plantas presentes nos substratos, a Instrução Normativa nº 28,
de 25 de setembro de 2009 (Brasil, 2009), que é uma alteração da Instrução
Normativa no 27 de 2006, estabelece:
a) Para a determinação do agente patogênico Fusarium spp., os métodos
analíticos empregados são o de isca com maçã e o de isca com cenoura;
b) Para determinação do agente patogênico Rhizoctonia solani, o método
analítico empregado deve ser com a utilização de iscas de plântulas recém-
germinadas de rabanete (Raphanus sativus L.) ou segmentos de hastes de
feijoeiro (Phaseolus vulgaris L.);
c) Para determinação do agente patogênico Pythium aphanidermatum, o método
analítico deve ser o de isca de maçã verde;
d) Para a determinação do agente patogênico Phytophthora spp., os métodos
analíticos empregados são os de iscas de folhas e frutas e os de diluição em
placas (métodos quantitativos, que utilizam meios de cultura);
e) Para a determinação do agente patogênico Sclerotinia sclerotiorum, o método
analítico empregado é o de peneiramento do substrato ou de emprego de
isca biológica.
As normas europeias de caracterização de substratos são definidas pelo
Comitê Europeu de Normatização – CEN. Foram publicadas principalmente
em 1999 e 2002, mas muitas sofreram alterações sobretudo em 2012 e 2014
(CEN, 2018a). O CEN/TC 223 é o órgão técnico responsável pela
normatização da caracterização de condicionadores do solo e meios de cultivo.
Define a padronização de dois tipos de materiais utilizados na agricultura,
horticultura, jardinagem e paisagismo (CEN, 2018a):
Condicionador do solo: material que pode ter sido compostado ou que
passou por algum processo, e é adicionado ao solo principalmente para
melhorar sua condição física sem causar efeitos nocivos.
Meios de cultivo: materiais nos quais as plantas são cultivadas.

A Norma Europeia EN 12579 (CEN, 2018a) especifica métodos para a


amostragem de condicionadores do solo e substratos (exceto materiais que
sofreram calagem) para posterior determinação de qualidade e quantidade.
Descreve os princípios a serem levados em consideração ao tirar a amostra e
garantir uma quantidade adequada disponível para testes. O padrão aplica-se
apenas ao material em forma sólida e destina-se a ser usado por fabricantes,
compradores e agências de controle de comercialização para esses produtos.
As normas europeias de caracterização de substratos contemplam outras
análises que não são requeridas nas normas brasileiras. As referências das
normas europeias elaboradas pela comissão técnica de corretivos de solos e
suportes para cultura (CEN/TC 223) são apresentadas na Tabela 7.2, seguidas
do ano da sua publicação original e ano da última modificação, de acordo com
o CEN.

Tabela 7.2 - Normas europeias para a caracterização de substratos

EN 12579/1999, modificada e publicada em 2014 - Amostragem.


Utilizada para posterior determinação de qualidade e quantidade dos
substratos.

EN 12580/1999, modificada e publicada em 2014 - Determinação da


quantidade do substrato.
O volume é calculado a partir do conhecimento do peso e da densidade
aparente do produto. Para aqueles materiais negociados por referência à sua
massa, o teor de umidade deve ser declarado. Como alguns condicionadores
de solo e meios de cultivo são compressíveis (e alguns podem ser
apresentados em blocos ou fardos compactados), é importante que esse
aspecto seja abordado no método de determinação da densidade aparente.

EN 15238/2007 - Determinação da quantidade de materiais com tamanho


de partícula superior a 60 mm.

EN 15428/2008 - Determinação da distribuição do tamanho de partículas.

EN 13040/1999 modificada e publicada em 2008 - Preparação de amostras


para testes químicos e físicos, determinação do teor de matéria seca, teor de
umidade e densidade aparente.

EN 13041/1999, modificada e publicada em 2012 - Determinação das


propriedades físicas: densidade aparente do substrato seco, volume de ar,
volume de água, valor de contração e espaço poroso total.
A amostra é saturada em água e depois equilibrada em uma caixa de areia
com pressão de água de –50 cm (–5 kPa). A amostra é então transformada
em cilindros de amostras de anel duplo, remolhadas e equilibradas com
pressão de água de –10 cm (–1 kPa). Após o equilíbrio, as propriedades
físicas são calculadas a partir dos pesos úmidos e secos da amostra no anel
inferior. Além da aplicação de pressão de água de –10 cm (–1 kPa), também é
possível aplicar uma pressão de água de –50 cm (–5 kPa) e –100 cm (–10
kPa), respectivamente. É aplicável a materiais com partículas ≤ 25 mm e/ou
fibras flexíveis ≤ 80 mm. Não é adequado para materiais que são muito
grosseiros, materiais com calagem e materiais pré-formados como lamas de
rocha e placas de espuma.

EN 13037/1999, modificada e publicada em 2012 - Determinação do pH.


Uma amostra é extraída com água a (22 ± 3,0) °C numa razão de extração de
1 + 5 (v/v). O pH da suspensão é medido usando um medidor de pH. Esse
método não é aplicável aos materiais de calagem e materiais pré-formados
como lamas de rocha e placas de espuma.

EN 13038/1999, modificada e publicada em 2012 - Determinação da


condutividade elétrica.
A determinação é realizada para obter uma indicação do teor de eletrólitos
solúveis em água. Uma porção de teste é extraída com água a (22 ± 3,0) °C
numa razão de extração de 1 + 5 (v/v) para dissolver os eletrólitos. A
condutividade elétrica específica do extrato é medida e o resultado é ajustado
para uma temperatura de medição de 25 °C. Esse método não é aplicável aos
materiais de calagem e materiais pré-formados como lamas de rocha e placas
de espuma.

EN 13039/1999, modificada e publicada em 2012 - Determinação do


conteúdo de matéria orgânica e cinzas.
A porção de ensaio é seca a 103 °C, depois extraída a 450 °C. A cinza é
determinada como o resíduo na ignição. A matéria orgânica é considerada a
partir da perda de massa na ignição. Ambos são expressos em percentagem
em massa da amostra seca. 

EN 13650/2002 - Extração de elementos solúveis em água régia (mistura de


ácido nítrico e ácido clorídrico concentrados).

EN 13651/2002 - Extração de nutrientes solúveis em cloreto de cálcio


DTPA (CAT).

EN 13652/2002 - Extração de nutrientes e de elementos solúveis em água.

EN 13654-1/2002 - Determinação do nitrogênio - Parte 1: Método do


Kjeldahl modificado. Determina N-amoniacal, N-nitrato, N-nitrito e teor de
N-orgânico. O nitrogênio nas ligações NN, as ligações NO e alguns
heterocíclicos (especialmente a piridina) são apenas parcialmente
determinados.

EN 13654-2/2002 - Determinação do teor de nitrogênio - Parte 2: Método


de Dumas. É aplicável para a determinação de todas as formas de nitrogênio.
Fonte: Adaptado de CEN, 2018b.

Normativas oficiais para comercialização de


substratos
Em relação à comercialização, existem normas específicas para a
embalagem, rotulagem e propaganda de produtos. No Brasil, essas normas
constavam na Instrução Normativa nº 14, de 15 de dezembro de 2004, que foi
revogada; a partir de então entrou em vigor a Instrução Normativa no 5, de 10
de março 2016 (BRASIL, 2016a). Para serem comercializados ou expostos à
venda em todo o território nacional, os substratos para plantas e
remineralizadores, quando acondicionados ou embalados, ficam obrigados a
exibir rótulos nas embalagens. Quanto ao produto, deve constar no rótulo:
a) sua denominação: se é substrato para plantas ou remineralizador;
b)  a classificação dos substratos para plantas quanto às matérias-primas
componentes do produto. De acordo com o artigo 3º da IN no 5/2016, são as
Classes “A”, “B”, “C”, “D”, “E” e “F” (a normativa oferece o significado de cada
uma delas, apresentadas adiante);
c) matérias-primas utilizadas;
d) peso ou volume: em quilogramas, litros, metros cúbicos ou seus múltiplos ou
submúltiplos, no caso de substrato para plantas;
e)  a expressão: “Indústria Brasileira”, “Produto Importado” ou “Produto
importado de (nome do país) e embalado no Brasil” conforme o caso;
f)  nome empresarial do fabricante e nome do país de origem, no caso de
produto importado;
g) número de registro do produto;
h) número do lote;
i)  data de fabricação e prazo de validade, ou data de fabricação e data de
validade;
j) informações sobre armazenamento, recomendações e limitações e restrições
de uso e transporte;
k) para produtos fabricados por terceiros, a expressão: “Produzido por (seguido
do número de registro do estabelecimento produtor contratado)”;
l) informações das garantias química, física (especificação de natureza física) e
físico-química do produto; e
m) natureza física.
A presença dessas informações aliada a informações do produtor ou
importador, como nome empresarial, endereço, CNPJ e número de registro do
estabelecimento no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento –
Mapa, darão maior confiabilidade à qualidade do substrato que está sendo
comercializado.
A classificação dos substratos para plantas quanto à origem e tipo de
matérias-primas utilizadas na sua fabricação encontra-se no artigo 13 da IN nº
5/2016 (BRASIL, 2016a), estabelecendo as seguintes classes:
I - Classe “A”: produto que utiliza, em sua produção, matéria-prima de origem
vegetal, animal ou de processamentos da agroindústria isentos de despejos
sanitários, em que não sejam utilizados no processo metais pesados tóxicos,
elementos ou compostos potencialmente tóxicos, resultando em produto de
utilização segura na agricultura;
II - Classe “B”: produto que utiliza, em sua produção, matéria-prima oriunda de
processamento da atividade industrial ou da agroindústria isentos de
despejos sanitários, em que metais pesados tóxicos, elementos ou compostos
potencialmente tóxicos são utilizados no processo, resultando em produto de
utilização segura na agricultura;
III - Classe “C”: produto que utiliza, em sua produção, qualquer quantidade de
matéria-prima oriunda de lixo domiciliar isento de despejos sanitários ou
materiais potencialmente tóxicos, resultando em produto de utilização
segura na agricultura;
IV - Classe “D”: produto que utiliza, em sua produção, qualquer quantidade de
matéria-prima oriunda do tratamento de despejos sanitários e industriais,
resultando em produto de utilização segura na agricultura;
V - Classe “E”: produto que utiliza, em sua produção, exclusivamente matéria-
prima de origem mineral ou sintética, resultando em produto de utilização
segura na agricultura; e
VI - Classe “F”: produto que utiliza, em sua produção, em qualquer proporção,
a mistura de matérias-primas oriunda dos produtos das Classes “A” e “E”,
respectivamente, dos incisos I e V deste artigo.
Em relação às garantias mínimas, ainda na IN nº 5/2016, artigo 5º
(BRASIL, 2016a), os substratos para plantas devem apresentar as garantias
para: CE máxima em miliSiemens por centímetro (mS.cm–1); densidade em
kg.m–3 (em base seca); pH em água, em valor absoluto; umidade máxima em
percentual, em peso/peso; e CRA (capacidade de retenção de água) em
percentual, em peso/peso. A CTC é facultativa, mas se for adicionada a
informação no rótulo da embalagem, a unidade deve ser expressa em
mmolc.dm–3 ou mmolc.kg–1.
Em relação a contaminantes, a Instrução Normativa SDA nº 27, de 5 de
junho de 2006, foi revogada pela IN SDA nº 7, de 12 de abril de 2016 (IN SDA
no 7/2016) (BRASIL, 2016b), que instrui sobre os limites máximos de
contaminantes admitidos em substrato para plantas:
a) Para sementes ou qualquer material de propagação de ervas daninhas, o
valor máximo admitido é de 0,5 planta por litro, avaliado em teste de
germinação;
b) Deve apresentar ausência de espécies fitopatogênicas dos fungos do gênero
Fusarium, Phytophthora, Pythium, Rhizoctonia e Sclerotinia;
c) Coliformes termotolerantes, avaliados pelo número mais provável por
grama de matéria seca (NMP/g de MS), no máximo 1000,00;
d) Ovos viáveis de helmintos – número por quatro gramas de sólidos totais (nº
em 4g ST), no máximo 1,00;
e) Salmonella sp. deve ser ausente em 10 g de MS do substrato;
f) Quanto aos metais pesados o limite máximo para As é de 20 mg kg–1; Cd, 8
mg kg–1; Pb, 300 mg kg–1; Cr, 500 mg kg–1; Hg, 2,5 mg kg–1; Ni, 175 mg kg–
1
; e Se, 80 mg kg–1.
Para os contaminantes biológicos, os substratos para plantas que utilizam
em sua produção exclusivamente matéria-prima de origem mineral ou sintética
ficam dispensados de atender aos limites dos contaminantes coliformes
termotolerantes, ovos viáveis de helmintos e Salmonella sp., de acordo com a
IN DAS no 7/2016) (BRASIL, 2016b).
Os principais fatores considerados na legislação dos substratos são:
assegurar a saúde humana e animal, proteger o ambiente, estimular a
reciclagem dos resíduos e o desenvolvimento do mercado dos produtos finais.
Tipos de substratos
Como visto neste capítulo, do ponto de vista químico, existem dois tipos
de meios de cultivo: os inertes e os quimicamente ativos. No entanto, outras
classificações podem ser realizadas com base na origem do material, na sua
natureza ou em outros critérios.
Dependendo de sua origem, os diferentes materiais orgânicos são
classificados como naturais (turfas, fibras de coco, cascas, serragens), sintéticos
(poliuretano ou poliestireno expandido) e subprodutos ou resíduos orgânicos
que necessitam de tratamento especial de compostagem. Materiais inorgânicos,
todavia, também podem ser classificados como naturais (areia, cascalho e
cinzas vulcânicas), minerais de rocha tratados termicamente (perlita,
vermiculita, lã de rocha) e materiais de reaproveitamento de resíduos (resíduo
de carvoaria e de construção civil).
Na horticultura, o melhor substrato é aquele que produz com melhor
qualidade, no menor tempo possível e com menores custos de produção. É
importante, portanto, conhecer as propriedades finais das misturas utilizadas,
além das iniciais. Além disso, o substrato utilizado deve causar o menor
impacto ambiental possível. O mais tradicionalmente usado como substrato
sem solo para a produção vegetal é a turfa de Sphagnum. No entanto, por razões
ambientais e econômicas, tem-se investido muitos esforços e pesquisas à
procura de materiais alternativos à turfa, como os materiais orgânicos,
especialmente materiais nativos e com grande disponibilidade local. Nesse
contexto, os subprodutos e resíduos – incluindo aqueles da agricultura, da
pecuária, da silvicultura e da indústria, além do lixo urbano – estão sendo
usados como substratos ou como componentes de substratos. A maioria desses
materiais orgânicos deve ser compostada, amadurecida ou fermentada de modo
a adaptar-se às exigências para uso como substrato ou como componente de
substrato.
Entre os materiais atualmente utilizados na composição ou na produção
de substratos estão: turfa, serapilheira, areia, solo mineral, casca de árvores,
casca de café, casca de arroz carbonizada, casca de arroz queimada, argila
expandida, vermiculita, perlita, vermicomposto (húmus de minhoca),
poliestireno expansível (isopor), Sphagnum, xaxim, fibra de coco-verde,
compostos orgânicos produzidos a partir de podas de arborização urbana, lodo
de esgoto, maravalha, resíduos de lixo orgânico domiciliar e resíduos
agroindustriais (palhadas, gramas e resíduos de hortas; estercos; resíduos de
matadouros, principalmente sangue, farinha de ossos e chifres; cama de frango;
cama de curral; cascas e biomassas de indústria de alimentos; serragem).
Para a obtenção de sucesso no cultivo sem solo, o substrato deve atender
a uma série de recursos, sendo alguns desses listados na Tabela 7.3.

Tabela 7.3 - Características desejáveis de um substrato

Propriedades físicas Propriedades químicas Outras propriedades

Alta capacidade de Baixa ou moderada Livre de sementes de


retenção da água CTC, dependendo do plantas indesejáveis,
prontamente programa de nematoides e outros
disponível fertilização patógenos

Suficiente Níveis adequados de Reproduvidade e


suprimento de ar nutrientes disponíveis disponibilidade

Baixa densidade Fácil para misturar e


Baixa salinidade
aparente desinfetar

pH moderadamente Resistência física e


Alta porosidade total ácido e alta capacidade química a ambientes
tampão externos

Estrutura estável e Taxa mínima de  


baixa retração decomposição
Selecionando um substrato
Um bom substrato deve permitir a ancoragem das plantas; apresentar
proporções conhecidas de macro e microporos para que se possa manejar
adequadamente o fornecimento de água e oxigênio ao sistema radicular; ser
leve e com densidade adequada ao recipiente de cultivo; estar isento de
patógenos, sementes de plantas invasoras, elementos tóxicos e concentrações
excessivas de sais; ter pH adequado; possuir volume estável (baixa taxa de
encolhimento); adequar-se a misturas; apresentar homogeneidade nos seus
diferentes lotes; ser de fácil desinfecção; ser reutilizável; e apresentar boa
molhabilidade, baixo custo e fácil manuseio.
Outra questão importante para a escolha do substrato é a finalidade do
cultivo e as características da espécie vegetal. Algumas plantas, por exemplo,
apresentam maior crescimento no momento da comercialização, exigindo
substrato que dê sustentação à altura e ao peso da muda a fim de evitar o
tombamento para o lado.
A forma de fixação da planta no substrato também é importante na
definição da característica do substrato. Para enraizamento de estacas, por
exemplo, o substrato deve, além de outras características, ser capaz de suportar
o peso das estacas e ter facilidade em aderir-se a elas (MINAMI; SALVADOR,
2010). Para miniestacas provenientes de cultura de tecidos, o substrato deve,
ainda, ser maleável para permitir a sua inserção sem prejudicar as miniestacas
ou as raízes das plântulas.
Determinados critérios devem ser seguidos para a seleção de um
substrato, considerando a necessidade do uso em grande quantidade e por um
longo período de tempo.
O primeiro critério para a seleção de um meio de cultivo é encontrar um
fabricante que forneça não só as informações das propriedades dos materiais
utilizados na preparação do substrato, mas também indicadores da qualidade e
desempenho do substrato e orientações de como deve ser utilizado
adequadamente. Características específicas que são apresentadas na
embalagem, tais como densidade, percentagem de matéria orgânica,
porosidade total, capacidade de aeração, capacidade de retenção de água e
rendimento efetivo do substrato, podem não ser suficientes para indicar se o
produto se adequa às características da espécie vegetal a ser cultivada, à
possibilidade de reutilizações e ao descarte apropriado, entre outras
necessidades.
Resíduos ou subprodutos não devem ser subestimados como
componentes de substratos; no entanto, ambos necessitam de tratamentos e
recuperação adequados para garantir a valorização dos materiais e, sobretudo,
uma homogeneização na fabricação, dentro da mesma linha de produção e ao
longo do tempo.
O segundo critério é considerar as características do sistema de produção,
tipo de cultura, condições climáticas, infraestrutura, instalações disponíveis e o
tipo de recipiente utilizado. Tudo isso pode afetar química, física e
biologicamente o meio de crescimento, uma vez que eles estão relacionados de
forma múltipla.
Os dois critérios anteriores permitem chegar ao terceiro critério,
relacionado às propriedades dos substratos. O substrato é um sistema de três
frações, cada uma com uma função específica: (i) a fração sólida, que permite
assegurar a manutenção mecânica do sistema radicular e estabilidade da planta;
(ii) a fração líquida, que permite a manutenção de água e também o
fornecimento de nutrientes para a planta através das interações com a fração
sólida; e, finalmente, (iii) a fração gasosa, que assegura a transferência de O2 e
CO2 no ambiente radicular.
O último critério, que normalmente prevalece, é o econômico.
Infelizmente quase sempre são considerados os valores numéricos, sem levar
em conta os aspectos da qualidade dos materiais, os aspectos morfológicos da
planta, a produção e o rendimento ou colheita da cultura, o que pode trazer
prejuízos futuros.
O critério ambiental ainda não vem sendo efetivamente considerado
como uma condição de discriminação na seleção de substratos, mas não há
dúvida de que a consciência ambiental e as restrições ecológicas para alguns
substratos são importantes. Como exemplo, existem os problemas decorrentes
da exploração das turfeiras. O forte impacto ambiental da extração das turfas e
os custos elevados para a correta restauração ambiental têm aumentado a
procura por outras opções de substrato. Se tal fato não ocorre pela pressão
ecológica, ocorre pela necessidade de maior disponibilidade de material e pelo
custo. De qualquer forma, materiais como a areia e a vermiculita são também
extraídos do ambiente, requerendo cuidado com as questões legais e ambientais
referentes à sua extração.
Aliado a isso, atualmente há também a necessidade de uma gestão
adequada dos materiais orgânicos gerados nos setores agrícolas,
agrossilviculturais e de resíduos urbanos. Materiais orgânicos de diferentes
origens apresentam composições e propriedades variadas com potencial para
compor substratos. Esses materiais, com diferentes graus de sucesso, levaram
aos substratos alternativos chamados de ecocompatíveis. A vantagem da
utilização dos resíduos orgânicos na produção de substratos é que eles se
tornam subprodutos com valor no mercado, e a possibilidade de se tornarem
potenciais agentes de poluição ambiental se reduz.
Principais características de alguns substratos
usados em cultivo sem solo

Areia
É um substrato de alta densidade que tem a vantagem de não sofrer
alterações em sua conformação ao longo do tempo, dado que as partículas
apresentam grande resistência mecânica. É um substrato de boa
disponibilidade, devendo-se preferir a areia de rio lavada à areia de praia, a qual
exige dessalinização antes do uso (MARTINEZ; BARBOSA, 1999).
A areia com frequência tem como inconveniente a presença de partículas
de argila, limo e carbonato de cálcio. As primeiras podem ser arrastadas para o
fundo de vasos e comprometer a drenagem; já as partículas de carbonato, além
do comprometimento da drenagem, elevam o pH (ABAD; NOGUERA, 1998).
Quando usada pura, a granulometria mais recomendada está entre 0,5 e 2
mm. Grande proporção de partículas com diâmetro inferior a 0,5 mm pode
resultar em alta capacidade de retenção de água e baixa aeração.
As desvantagens desse substrato são a alta densidade das partículas, as
dificuldades de desinfecção e o acúmulo de sais. A alta densidade das partículas
torna-o pesado e de difícil manuseio; a desinfecção adequada exige o uso de
vapor ou fumigação com produtos químicos; e o acúmulo de sais obriga a
lavagens periódicas (MORGAN, 1998; RESH, 2013).
As principais propriedades da areia estão resumidas na Tabela 7.4.

Vermiculita
Encontrada em depósitos de ocorrência natural em várias partes do
mundo, constitui-se de um argilo mineral do tipo 2:1, com lâminas justapostas
de tetraedros de sílica e octaedros de Al, Fe e Mg, de estrutura variável. Entre
as lâminas existe água ligada aos cátions trocáveis, e água que não os circunda,
denominada água livre. Quando aquecida a 350–650 ºC, perde a água
interlaminar na forma de vapor, e o espaço entre as camadas aumenta
consideravelmente. Formam-se partículas pequenas, com formato de
sementes, porosas como esponjas, muito leves – de 96 a 160 kg/m3 – e que
retêm grande quantidade de água – 0,40 a 0,53 L/dm3 (CHOUDHURY;
FARIA, 1982).
A vermiculita apresenta reação neutra ou levemente alcalina, e tem bom
poder tampão. Sua CTC, que pode alcançar 10 cmolc/kg, confere-lhe
capacidade de reter nutrientes e cedê-los às plantas posteriormente. Seus
conteúdos em Mg e K, ainda que baixos, são facilmente disponíveis para as
plantas (CHOUDHURY; FARIA, 1982; WILSON; HITCHIN, 1984; RESH,
2013).
No Brasil, a vermiculita é classificada em: superfina, com grânulos de 0,5
a 1 mm de diâmetro e densidade de 90 a 110 kg/m3; fina, com grânulos com
diâmetro entre 1 e 2 mm e densidade de 80 a 90 kg/m3; e média, com grânulos
de 2 a 4 mm e densidade de 70 a 80 kg/m3. Suas principais propriedades estão
resumidas na Tabela 7.4.

Espumas sintéticas
São derivadas de ureia-formaldeído, poliuretano, poliestireno ou resina
fenólica e prestam-se para inúmeras aplicações (germinação de sementes,
enraizamento, propagação), especialmente em floricultura. São leves, estéreis e
de fácil manuseio, o que facilita seu uso em procedimentos automatizados.
Além da leveza, alta retenção de umidade e boa drenagem, as espumas
sintéticas têm baixa condutividade elétrica. Podem ser fabricadas com diversas
densidades, espessuras e tamanho de células (BOODLEY, 1984a, b; RESH,
2013).
No Brasil, a espuma fenólica é bastante difundida na produção de mudas
de diversas hortaliças para hidroponia, sobretudo alface e tomate. Por
apresentar resíduos de fenóis fitotóxicos, deve ser submetida a diversos
enxágues em água corrente, antes do uso.
São encontradas no mercado em caixas que contêm um número variável
de placas compostas por células de diferentes tamanhos. Células de 2 × 2 × 2 cm
e 2  ×  2  ×  3,8 cm são apresentadas em placas com 345 células; células de
2,5  ×  2,5  ×  3 cm e 2,5  ×  2,5  ×  3,8 cm, em placas com 216 células; e células de
5  ×  5  ×  3,8 cm, com 54 células (MARTINEZ, 2016). Suas principais
propriedades estão resumidas abaixo, na Tabela 7.4.
Tabela 7.4 - Propriedades dos substratos inorgânicos areia, vermiculita e
espumas sintéticas

Espumas sintéticas
Areia Vermiculita
Poliuretano Fenólica

VPT (%) 38–44   > 95 > 95

Moderada/Alta Alta Alta Alta


CRA (%)
27–39 40–53 45 63

Porosidade de Baixa/Moderada Alta Moderada


Moderada
aeração (%) 0,3–21 55 32

Diâmetro
0,2–2 0,75–8 - -
(mm)
Densidade Alta Baixa Baixa Baixa
(kg/m3) 1.500 96–160 55 10–25

Ação capilar Moderada Alta - -

Perda de água
por Moderada Alta - -
evaporação

Perda da
Baixa Moderada Nenhuma Alta
estrutura

Possibilidade
Boa Boa Nenhuma Nenhuma
de reutilização

pH 4–8 5,5–9 6–9 6–7,5

CTC Baixa Alta


Baixa Baixa
(cmolc/dm3) 0,3–0,5 >5

Conc. de Na Variável
- - -
(mg/dm3) 0–50

VPT = Volume de poros totais; CRA = Capacidade de retenção de água; CTC = Capacidade de


troca catiônica.

Turfa
A turfa consiste em vegetação aquática, pantanosa, parcialmente
decomposta devido ao excesso de água e à falta de oxigênio. A composição dos
diferentes depósitos de turfa varia amplamente, dependendo da vegetação
original, estado de decomposição, conteúdo mineral e grau de acidificação
(ABAD; NOGUERA, 1998).
A turfa de Sphagnum é formada pela desidratação de resíduos recentes,
inclusive partes vivas de S. papillosum, S. capillacium e S. palustre. É relativamente
estéril e leve, decompõe de forma mais lenta que outros tipos de turfa e
apresenta qualidade superior. A turfa castanha, de musgos como Sphagnum,
Eriophorum e outros, tem menor grau de decomposição e melhor qualidade que
a turfa negra. Apresenta pH entre 3,8 e 4,5 e elevada capacidade de retenção de
água, que chega a dez vezes o seu peso. Contém cerca de 1% de N e quase nada
de P e K. Sua limitação, como a de outros tipos de turfa, está na aeração
deficiente e baixa proporção de água prontamente disponível para as plantas,
ou seja, entre 24 e 29% do volume total de poros, de acordo com o seu grau de
moagem.
A turfa negra resulta de material altamente decomposto e tem
propriedades físicas ruins. Apresenta pH entre 4,1 e 5,3, 70 a 85% de matéria
orgânica, aeração deficiente e perda irreversível de água. A maior parte de seu
espaço poroso constitui-se de microporos, de modo que apenas 13% do volume
total de poros é ocupado por água prontamente disponível para as plantas
(VERDURE, 1981).
A turfa é muito usada em misturas com areia, cascas, vermiculita e
outros, na formulação de substratos com diferentes propriedades físicas
(WILSON; HITCHIN, 1984). De acordo com Resh (2013), as misturas mais
usadas são: turfa:perlita:areia (2:2:1); turfa:perlita (1:1); turfa:areia (1:1), (1:3),
(3:1); turfa:vermiculita (1:1); turfa:pumita:areia (2:2:1).
As principais propriedades da turfa estão descritas abaixo, na Tabela 7.5.

Tabela 7.5 - Propriedades dos substratos orgânicos turfa, cascas, serragem,


fibra de coco e casca de arroz carbonizada

Turfa Cascas Serragem Fibra de Casca de


coco arroz
carbonizada

VPT (%) > 95 - > 95 95–96 72

Alta Moderada Alta Moderada Baixa


CRA (%)
31–45 20 – 30 63 19–20 15

Porosidade
Alta Moderada Alta Alta
de aeração Moderada
41–55 32 46–48 57
(%)

Diâmetro
- Médio1 - 0,50–2 0,25–1
(mm)

Densidade Baixa Baixa Baixa Baixa


Moderada
(kg/m3) 70–140 10–25 56–75 101

Ação capilar - Alta - - -

Perda de
água por - Alta - - -
evaporação

Perda da
Nenhuma Moderada Alta Baixa -
estrutura

Possibilidade
de Nenhuma Não usual Nenhuma Não usual Ruim
reutilização

pH 3,8–4,5 5,5–6,8 6–7,5 4,9–5,7 ~8


CTC 9–10 - Baixa - Baixa
(cmolc/dm3)

Conc. de K
- - - Alta -
(mg/dm3)
VPT = Volume de poros totais; CRA = Capacidade de retenção de água; CTC = Capacidade de
troca catiônica. 1Varia com o grau de moagem.

Cascas
Podem ser usadas na forma pura ou em misturas com outros substratos.
Em geral, sofrem compostagem antes do uso como substrato hortícola. O
material é particularmente atraente onde a indústria madeireira é bem
desenvolvida e as cascas são um subproduto de baixo custo (WILSON, 1981;
WILSON; HITCHIN, 1984).
A compostagem, normalmente realizada, visa degradar compostos
fitotóxicos como terpenos, fenóis e taninos, que impedem o bom
desenvolvimento das plantas; reduzir a alta relação C/N; e eliminar
microrganismos patogênicos e insetos. De modo geral, o processo envolve a
moagem, peneiragem em malha de cerca de 2 cm, empilhamento e controle da
umidade. É comum acrescentar-se 1 kg/m3 de N antes da compostagem, que é
feita com aproximadamente 50% de umidade e duração variável de 8–9
semanas a 3–4 meses. O material pode ser compostado puro ou misturado a
outros, como lixo urbano, esterco de galinha ou de porco (KULL, 1981;
WILSON, 1981; VERDONCK et al., 1983; MAREE, 1984; WILSON;
HITCHIN, 1984).
Os teores de Mn nas cascas podem ser elevados, sobretudo em espécies
que cresceram em solos ácidos. Toxidez de Mn, ou deficiência de Fe induzida,
pode ocorrer nessas condições. O fornecimento de quelato de Fe p.a., a 5%,
normalmente corrige o problema. Substratos à base de cascas de Pinus frescas
podem apresentar ainda problemas com os micronutrientes e com Mg, Ca e N,
porém, assim como as de outras madeiras moles, contêm menor concentração
de substâncias fitotóxicas (WILSON, 1981; HARRIS; MAREE, 1984;
WILSON; HITCHIN, 1984).
Substratos à base de cascas com frequência apresentam baixo teor de água
disponível para as plantas, mas essa característica é melhorada por meio da
mistura com esterco animal ou outros dejetos (WILSON, 1981; VERDONCK
et al., 1983). Suas principais propriedades estão resumidas na Tabela 7.5.

Serragem
É um subproduto da indústria florestal, abundante e barato em
determinadas regiões. É um material leve e com boa aeração, porém com alta
relação C/N e baixa capacidade de retenção de água. Tais características
podem, contudo, ser melhoradas pela compostagem. Um dos seus problemas é
a veiculação de doenças causadas por Pythium e Phytophthora, especialmente
quando usada em dois cultivos subsequentes, sendo recomendada sua
esterilização com vapor ou produtos químicos antes do uso. Tem sido usada
em misturas com areia e/ou turfa (KULL, 1981; RESH, 2013).
Entre as desvantagens do uso de serragem podem ser citadas as seguintes:
sua estrutura quebra-se com o uso, dando origem a partículas muito finas, o
que compromete a aeração; o meio favorece o acúmulo de sais; certas espécies
podem conter substâncias fitotóxicas; em determinados sistemas é necessário o
uso de filtros, os quais devem ser limpos com frequência; e a existência de
grande perda de material em cada ciclo de cultivo, quer por decomposição,
quer por aderência às raízes (MORGAN, 1998; RESH, 2013). Suas principais
propriedades também estão resumidas na Tabela 7.5.
Fibra de coco
É um material obtido da casca de coco-verde depois da extração das fibras
longas. Está em crescente expansão, dado o consumo de água de coco in natura.
Cerca de 83% da massa do fruto verde é resíduo (CARRIJO et al., 2002), no
entanto é utilizado para produção de vários outros produtos.
A fibra de coco apresenta estrutura física uniforme, é leve e de fácil
manuseio. Ela tem elevada capacidade de retenção de água e boa aeração. É
comercializada em fardos de 107 L que, após abertos, devem ser destorroados e
receber de 20 a 25 L de água para reconstituir 200 L de substrato. Possui
elevadas concentrações de cloreto de potássio, cloreto de sódio e tanino, que
podem ser eliminados por imersão em água por uma noite, seguida por boa
drenagem. O produto é apresentado em diversas formas que lhe conferem
diferentes texturas. Na forma granulada tem textura fina; na forma fibrosa,
textura grosseira; na forma mista, textura intermediária; e na forma de chips,
textura extremamente grosseira. Suas propriedades físico-químicas variam
bastante, dependendo da matéria-prima empregada e do processamento que
lhe é dado (CARRIJO et al., 2002; KRATS et al., 2013; RESH, 2013).
Uma vantagem da fibra é que a variabilidade na textura do material
comercializado permite que ela seja utilizada em misturas de diferentes texturas
ou, ainda, em mistura com outros compostos com o objetivo de ajustar a
porosidade ou a retenção de água do substrato para a condição desejada.
Zorzeto et al. (2014) avaliaram a mistura de fibra de coco granulada com casca
de arroz estabilizada (50:50 v/v) e observaram que a mistura não alterou a
densidade volumétrica e a porosidade, no entanto reduziu a retenção de água
quando comparada ao uso da fibra de coco granulada sem misturas. A fibra de
coco pode ser também pasteurizada, o que elimina as possibilidades de
contaminantes biológicos. A Tabela7.5 apresenta valores médios para as suas
principais propriedades.
Casca de arroz carbonizada
Resulta da combustão lenta e incompleta da casca de arroz sob alta
temperatura e baixa concentração de O2. No processo de queima, o material
desenvolve pequenos poros e tem sua capacidade de retenção de água e ação
capilar aumentada. É um substrato muito leve e fino, de pH próximo a 8, cuja
decomposição é lenta – 3 a 5 anos –, que não retém nem fornece nutrientes às
plantas. A casca de arroz carbonizada é muito usada em misturas com outros
substratos: dá bons resultados misturada com fibra de coco numa proporção de
20% (KRATZ et al., 2013; RESH, 2013). Suas principais propriedades são
apresentadas na Tabela 7.5.

Compostos orgânicos e húmus de minhoca


Produtos da compostagem ou da vermicompostagem são largamente
utilizados na composição de substratos com vistas ao aumento no teor de
nutrientes, aumento na CTC, estabilização da matéria orgânica, entre outros
benefícios. Podem ser usados na compostagem diferentes resíduos orgânicos
agroindustriais e lixo orgânico urbano.
A compostagem é um processo biológico de decomposição aeróbica
controlada, realizada por microrganismos que, por meio de reações de
oxidação, utilizam o carbono orgânico da matéria orgânica para obtenção de
energia. Durante o processo de compostagem ocorre a mineralização de
nutrientes do material orgânico, tornando-os disponíveis para as plantas. A
decomposição do material é estabilizada com a produção de materiais de alta
recalcitrância, o húmus (ver Capítulo 1, seção “Matéria orgânica e substâncias
húmicas”).
A minhocultura ou vermicompostagem é um processo de reciclagem de
resíduos orgânicos para a formação de material orgânico estabilizado por meio
da atividade das minhocas. No trato digestivo delas, o material orgânico é
triturado e no trato intestinal, decomposto pelos microrganismos, resultando
na formação do húmus (MINAMI; SALVADOR, 2010).
O húmus de minhoca e o composto orgânico podem proporcionar ao
substrato aumento na CTC, na densidade e na retenção de água, além de
redução da aeração. São mais indicados para a melhoria das características
químicas e físicas de substratos obtidos pela mistura de diferentes materiais.
Além disso, a compostagem e a vermicompostagem reduzem o descarte dos
resíduos orgânicos em aterros e lixões, o que é importante do ponto de vista
ecológico, e o composto ou o vermicomposto ainda podem ser comercializados
gerando lucros.
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BOODLEY, J. W. Foam substrate aplications in North America. In: INTERNATIONAL
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10 de Março de 2016. Ficam estabelecidas as regras sobre definições, classificação,
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BRASIL. Secretaria de Defesa Agropecuária. Instrução Normativa nº 17, de 21 de maio de
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27 Departamento de Producción Agraria, Universidad Politécnica de Madrid – UPM, Madrid,


Espanha. E-mail: alberto.masaguer@upm.es
28 Departamento de Química Agrícola y Bromatología, Universidad Autónoma de Madrid –
UAM, Madrid, Espanha. E-mail: juanjose.lucena@uam.es
29 Laboratório de Solos, Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro – UENF,
Campos dos Goytacazes, RJ, Brasil. E-mail: lua@uenf.br
30 Laboratório de Solos, UENF, Campos dos Goytacazes, RJ, Brasil. E-mail: marciano@uenf.br
31 Departamento de Agronomia, Universidade Federal de Viçosa – UFV, Viçosa, MG, Brasil.
E-mail: herminia@ufv.br
Capítulo
8
Fertilizantes Inorgânicos
Juan José Lucena1 e André Vinicius Zabini2
Introdução
A agricultura moderna busca alcançar bons rendimentos e qualidade dos
produtos, em concordância com a sustentabilidade ambiental. A obtenção de
altas produtividades requer uma nutrição adequada das plantas. O termo
qualidade está relacionado na maioria dos casos às características do produto
ou ao que o consumidor espera dele, mas vale ressaltar que, para se obter alta
qualidade de produtos – por exemplo, qualidade nutricional –, a nutrição da
planta deve ser cuidadosamente considerada. Nesse contexto, os fertilizantes
que contêm formas disponíveis de nutrientes podem ser usados a fim de
restituir os nutrientes absorvidos pelas culturas.
Os fertilizantes melhoram a fertilidade natural do solo e incrementam
formas solúveis de elementos que, embora presentes no solo, podem não estar
prontamente disponíveis para as plantas (PRASAD et al., 1997). Um programa
racional de fertilização implica equilibrar a necessidade da cultura para alta
produtividade e os aspectos ambientais relacionados à pratica da fertilização.
Fertilizantes são diferentes dos corretivos e condicionadores de solo.
Enquanto o principal propósito dos fertilizantes é prover nutrientes para as
plantas, os corretivos – calcários, por exemplo – e condicionadores de solo –
matéria orgânica, gesso agrícola etc. – são usados para modificar as
propriedades físicas, químicas ou biológicas do solo a fim de melhorar a
fertilidade, mas não necessariamente fornecer nutrientes.
Neste capítulo serão considerados apenas os fertilizantes inorgânicos ou
minerais. Os fertilizantes tradicionais, em especial os macronutrientes, são
muito bem descritos na literatura, por essa razão será realizada aqui apenas
uma breve descrição deles. Fertilizantes à base de micronutrientes em formas
quelatadas ou complexadas serão tratados no Capítulo 11. De acordo com a
European Fertilizer Manufacturers Association – EFMA, o consumo de
fertilizantes se manteve relativamente estável nos últimos anos e, segundo
dados da FAO (2017), a demanda mundial por esses produtos crescerá 1,9% ao
ano e atingirá a casa dos 202 milhões de toneladas em 2020. Entretanto, a
distribuição do consumo de fertilizantes em nível mundial varia bastante:
enquanto seu uso, sobretudo de N, está em queda nos países desenvolvidos,
naqueles em desenvolvimento há uma alta considerável. Projeta-se um
incremento de 1,3% ao ano na demanda mundial de N, que evoluirá de 101 Tg
N em 2010 para 124–138 Tg N em 2030. Já a demanda mundial por
fertilizantes com P e K crescerá a taxas de 1,9% e 3,3% ao ano,
respectivamente, nesse mesmo período. Esperam-se mudanças significativas
na contribuição regional para a expansão da demanda mundial de fertilizantes
nitrogenados, com a China e a Índia desempenhando um papel menos
proeminente em comparação com o período 1990–2010 (HEFFER;
PRUD’HOMME, 2016).
Existem vários critérios de classificação dos fertilizantes. Dependendo da
sua origem eles podem ser naturais ou sintéticos. O fornecimento ocorre a
partir de uma fonte comercial ou diretamente da fazenda. Com respeito à
forma física, os fertilizantes são gasosos (amônia, por exemplo), líquidos
(principalmente soluções, mas também suspensões) e sólidos (granulados,
farelados ou pó). Considerando o número de nutrientes, são simples (apenas
um nutriente) ou compostos (dois ou mais nutrientes, como NP e NPK).
Quanto à demanda das plantas, são classificados como macronutrientes
primários (N, P e K), macronutrientes secundários (Ca, Mg e S) ou
micronutrientes (Fe, Mn, Cu, Zn, B e Mo). Dependendo da forma química em
que se apresentam os elementos, os fertilizantes são classificados como
orgânicos, inorgânicos (minerais) ou organominerais.
Neste capítulo serão abordados apenas os fertilizantes inorgânicos. De
acordo com a legislação europeia, Regulamento 2003/2003 (UE, 2003),
fertilizantes inorgânicos são aqueles
“em que os nutrientes declarados se encontram na forma mineral
obtidos através de extração ou processos industriais físico-
químicos. Cianamida de Cálcio, ureia e os seus produtos de
condensação e associação, assim como fertilizantes que
contenham micronutrientes quelatados ou complexados podem
ser classificados como fertilizantes inorgânicos”.
A composição dos fertilizantes é geralmente expressa por três números
correspondentes à concentração de N, P2O5 e K2O. Por exemplo, um
fertilizante de fórmula 04-30-10 contém 4% de N, 30% de P2O5 e 10% de K2O.
Fertilizantes nitrogenados simples

Demanda de nitrogênio
O N é um nutriente exigido em grande quantidade pelas culturas. Apesar
de ser o elemento mais abundante na atmosfera (3,9 × 1018 g), a contribuição
natural do solo não é suficiente para suprir o requerimento das culturas para
altos rendimentos. A maior parte do N do solo está presente na forma de N-
orgânico, o qual necessita ser mineralizado para que as plantas possam
aproveitá-lo. O N-inorgânico disponível para as plantas representa apenas
uma pequena fração do N-orgânico; portanto, a análise química do solo para
estimar a disponibilidade de nitrato é confiável apenas para regiões áridas ou
semiáridas, onde a baixa precipitação pluviométrica é insuficiente para lixiviar
nitrato do solo, e o teor de matéria orgânica é baixo devido à alta taxa de
mineralização. Em solos com teores mais elevados de matéria orgânica,
estima-se que o N disponível corresponda a aproximadamente 3% do N-
orgânico.
Com objetivo de estimar as doses de fertilizantes, em vez de utilizar o
teor de N disponível, é preferível considerar o balanço total de N (entradas e
saídas). Fertilizantes orgânicos e inorgânicos, estercos, fixação biológica,
deposição (ver Capítulo 3) e N das sementes são as principais formas de aporte
do nutriente para o solo, enquanto as principais formas de perdas são o N
removido pelas culturas, a volatilização de amônia e óxidos de N formados
pelo processo de desnitrificação. Segundo dados do International Plant
Nutrition Institute – IPNI (2014), o ingresso anual médio de N fertilizante na
agricultura brasileira no período de 2009 a 2012 foi de 3,05 milhões de
toneladas, e o índice médio de aproveitamento desse nutriente foi de 65%.
Fontes de N para fertilizantes
O suprimento futuro de N está garantido em virtude da abundância do
elemento na atmosfera. Na realidade, todas as fontes de N-inorgânico são
derivadas do ar atmosférico, seja por oxidação (depositadas no passado em
áreas vulcânicas, ou industrialmente), seja por redução para formar amônia
(fixação) – processo mais comum.

Deposição
Nitrato de sódio (NaNO3): pequenas quantidades de nitrato de sódio são
encontradas em regiões nas quais uma intensa atividade vulcânica favoreceu a
deposição de nitrato sobre lagos salgados que secaram posteriormente. O mais
conhecido é o nitrato do Chile, no deserto do Atacama. Devido à intensa
atividade vulcânica e energia, o N2 e o O2 atmosféricos reagiram formando
óxidos de N e, ao final, ácido nítrico:
N2 (g) + O2 (g) → 2NO (g)    (1)

2NO (g) + O2 → 2NO2 (g)    (2)

NO 2 (g) + H2O (l) → 2HNO3 (aq) + NO (g)    (3)

Esses óxidos foram depositados pela chuva ou adsorvidos pelas cinzas ou


outras partículas vulcânicas. O nitrato formado foi lixiviado e acumulado em
lagos salgados, os quais, após evaporação, levaram à precipitação sequencial
dos sais. O NaNO3, em razão de sua maior solubilidade, foi precipitado
próximo da superfície, onde os depósitos são encontrados. O nitrato de sódio,
porém, tem pouca utilidade atualmente por causa de seu elevado teor de Na.

Síntese industrial
O principal processo industrial usado na produção de N para uso em
fertilizantes é a síntese de Haber-Bosch. A reação é a seguinte:
N2 + 3H2 ⇆ 2NH3    (4)

A reação é exotérmica (∆Hr = –46.2 KJ/mol), mas com variação


negativa de entropia, ou seja, a reação é termodinamicamente favorecida em
baixas temperaturas, porém, devido à necessidade de elevada energia de
ativação, o processo é cineticamente favorecido em altas temperaturas, de
forma que uma temperatura intermediária é utilizada (400–600 oC). O
processo requer alta pressão (100–1.000 atm) e utiliza Fe como catalisador,
contudo a produção da reação é baixa (15%). A energia e o H utilizados
provêm do metano ou de outros hidrocarbonetos ricos em H, portanto a
produção de fertilizantes é dependente da disponibilidade de petróleo. O
primeiro passo é a desulfuração do gás e sua mistura com vapor de água e ar:
CH4 + H2O → CO + 3H2 ∆Hr = 206 KJ    (5)

CH4 + 2H2O → CO2 + 4H2 ∆Hr = 166 KJ     (6)

As reações acima são altamente endotérmicas e ocorrem a


aproximadamente 800 °C. Após eliminar o excesso de CO e CO2, a mistura de
ar-H2 é comprimida para obtenção de amônia. Outra técnica de síntese
industrial, porém pouco utilizada, é a formação de cianamida de cálcio através
do aquecimento de carbureto de cálcio (1.000–1.100 ºC) e sua reação com N2
purificado:
CaC2 + N2 → CaCn2 + C     (7)
O processo do arco voltaico baseia-se no princípio da descarga elétrica
atmosférica, no entanto é pouco utilizado devido ao alto requerimento de
energia elétrica. O processo consiste na oxidação de N2 para formar ácido
nítrico usando a energia do arco elétrico, semelhante ao que acontece em
vulcões e tempestades (ver reações de 1 a 3).

Tipos de fertilizantes nitrogenados

Fertilizantes à base de amônia

Gás de amônia anidra, NH3 (80–82% N)

Representa a fonte de N de mais alta concentração e mais baixo custo,


pois é o produto direto da síntese de Haber-Bosch. Sua aplicação, entretanto, é
restrita em virtude do requerimento de equipamentos especiais para trabalhar
com gases pressurizados. Ainda assim é um fertilizante nitrogenado bastante
utilizado nos Estados Unidos. Em regiões de solos tropicais praticamente não
é utilizado.
Quando adicionado ao solo sua reatividade deve ser considerada:
• A princípio pode ocorrer resfriamento devido à expansão do gás.
• Em solos ácidos com umidade suficiente, a aplicação de amônia anidra
gasosa inicialmente produz alcalinização do solo:
NH3 (g) + H2O (l) NH4OH(aq)    (8)

NH4OH (aq) + H+ NH4+ + (aq) + H2O log K0 = 9,25    (9)


• Em solos com pH elevado, baixa umidade e solos arenosos, tende a
ocorrer volatilização de NH3 na forma gasosa:

NH4+ + (aq) + OH– (aq) NH4OH (aq)    (10)

NH4OH (aq) NH3 (g) + H2O    (11)


• NH4+ pode ser adsorvido na superfície dos coloides do solo, especialmente
nas argilas.
• NH4+ pode oxidar-se no processo de nitrificação através da ação de
bactérias Nitrossomonas e Nitrobacter.
Em condições de equilíbrio:

NH4+ + 3H2O NO3– + 8e– + 10 H+ log K0 = –119,7     (12)

Indica que em solos bem aerados (pe  +  pH  >  12–14) nitrato é a forma
predominante.
A oxidação provoca redução de pH em maior proporção que o
incremento de pH devido a dissolução de amônia.
• A absorção de NH4+ pelas plantas é acompanhada da liberação de prótons
e redução do pH da rizosfera.
A eficiência de aproveitamento do N oriundo da amônia gasosa está
diretamente relacionada à umidade e porosidade do solo, e à profundidade de
aplicação. Aplicações com solo seco ou umidade insuficiente, bem como solos
com alta porosidade e aplicações em pequenas profundidades, favorecem as
perdas por volatilização de NH3.
Apesar da alcalinização inicial devido à dissolução da amônia, o que pode
ser benéfico em solos ácidos, sua aplicação resulta em decréscimo de pH,
viabilizando seu uso em solos alcalinos. Nas regiões em que é utilizada, a
amônia deve ser aplicada preferentemente em pré-plantio para evitar danos
decorrentes do contato direto da amônia líquida com as plantas e das variações
de pH que ocorrem por efeito de sua reação no solo.

Solução de amônia (20 ou 41% N)


Corresponde a hidróxido de amônio (NH4OH) à pressão normal,
portanto, mais facilmente manuseável que gás de amônia, porém seu preço é
mais elevado e apresenta maiores custos de transporte. A solução de hidróxido
de amônio é um forte oxidante, sendo danosa para o ser humano – irritante de
olhos, pele, mucosas e vias aéreas superiores. Seu uso como fertilizante deve
ser cuidadoso, pois pode provocar desidratação das plantas se em contato
direto com elas.

Sulfato de amônio (NH4)2SO4

A concentração de N nesse fertilizante é baixa (21% N), entretanto


contém enxofre (23,5%) que pode ser muito útil para solos deficientes desse
nutriente ou para culturas exigentes em S. Por ser um fertilizante sólido, é
mais facilmente manuseável que amônia gasosa ou solução de amônia. O
sulfato de amônio apresenta mínimas perdas por volatilização de N e baixa
taxa de nitrificação, o que lhe confere uma vantagem técnica importante em
relação a outras fontes de N. No Brasil o uso de sulfato de amônio corresponde
a aproximadamente 15% do total de fertilizantes nitrogenados.
O sulfato de amônio é sintetizado a partir de amônia e ácido sulfúrico
numa reação exotérmica:
2NH3 + H2SO4 → (NH4)2SO4    (13)
Quando aplicado no solo, o cátion amônio é hidrolisado e apresenta
comportamento ácido, pois o produto da reação gera prótons H+:

NH4+ + H2O ⇆ NH4OH + H+(aq) log K0 = –9,25    (14)

O cátion amônio NH4+ pode ser adsorvido na superfície dos coloides do


solo, em cargas negativas das argilas e matéria orgânica, e em solos aerados é
oxidado a nitrato, resultando na produção líquida de prótons. A absorção
NH4+ pela planta é acompanhada pela liberação de prótons na rizosfera e sua
consequente acidificação.

Fertilizantes à base de nitrato

Ácido nítrico HNO3 (10 – 13,3% N)

Ácido nítrico é produzido industrialmente através de oxidação catalítica


pelo processo de Ostwald. Como já mencionado (reação 12), a amônia reage
na presença de oxigênio – aceptor de elétrons – para produzir ácido nítrico. A
reação é termodinamicamente favorecida na presença de oxigênio, mas é
cineticamente lenta. No solo essa reação é catalisada por microrganismos, mas
industrialmente é usado Pt como catalisador. A reação é a seguinte:
NH3 + 2O2 → HNO3 + H2O     (15)

Essa reação, porém, ocorre em três etapas:


4NH3 + 5O2 (ar) → 4NO + 6H2O ∆Hr = –50 KJ

(T: 600 →100 °C, Pt como catalisador)    (16)


2NO + O2 → 2NO2 ∆Hr = – 6,6 KJ    (17)

3NO2 + H2O → 2H+ + 2NO3– + NO    (18)

O NO produzido na terceira etapa será reciclado na segunda etapa. O


HNO3 é um ácido muito forte e seu uso está praticamente restrito à
fertirrigação, na qual ajuda a prevenir os danos ao sistema de gotejadores
devido ao uso de águas salobras, funcionando como uma solução de limpeza,
além da provisão de N nutriente (CADAHÍA, 2005). Por ser corrosivo, seu
manuseio deve ser cuidadoso.
A maioria das plantas utiliza preferencialmente NO3– como fonte de N, e
nesse contexto o HNO3 seria vantajoso por provê-lo de forma direta. O
nitrato oriundo do HNO3, contudo, é um ânion inerte, ou seja, não é
hidrolisado e não atua como ligante, sendo fracamente retido nas poucas
cargas elétricas positivas presentes nos coloides do solo. Assim, uma vez
presente na solução do solo, o nitrato pode ser absorvido pelas plantas ou
transportado pela água, perdendo-se por lixiviação. Em situações específicas
de solos alagados ou compactados com acumulação de água, o nitrato poderá
ser reduzido a nitrito e posteriormente a óxidos de nitrogênio gasoso, e
perder-se para atmosfera pelo processo de desnitrificação.

Nitrato de cálcio Ca(NO3)2 (15–16% N)


É a fonte mais importante de nitrato, mas a concentração de N é
relativamente baixa e seu custo, alto. É um produto sólido, de fácil manuseio e
muito solúvel, preparado industrialmente pela reação do ácido nítrico oriundo
do processo de Ostwald com carbonato de cálcio derivado da indústria de
produção de fertilizantes fosfatados:
2HNO3(ac) + CaCO3(s) → Ca(NO3)2 (s) + CO2 (g) + H2O    (19)

Quando aplicado no solo produz uma reação ácida. Em solos calcários


(alcalinos):

Ca(NO3)2(s) + CO2(g) + H2O ⇄ 2H+(ac) + 2NO3–(ac) + CaCO3(s)    


(20)

E em solos ácidos e neutros não saturados ionicamente:

Ca(NO3)2(s) + 2H-super ície ⇄ 2H+(ac) + 2NO3–(ac) + Ca-


super ície    (21)
O NO3– reage como explicado no Capítulo 3 referente ao ácido nítrico.
O nitrato de cálcio também fornece Ca (19% Ca) como nutriente, sendo assim
uma boa opção de fertilizante se Ca for requerido. Por ser muito solúvel em
água e por não apresentar Na e Cl, é utilizado com alta eficiência técnica em
sistemas de fertirrigação e hidroponia (CADAHÍA, 2005). Sua mistura com
fertilizantes fosfatados deve ser evitada. Aplicações via folha ou solo também
podem ser realizadas com nitrato de cálcio.

Nitrato de magnésio Mg(NO3)2 (11% N, 9,6% Mg)


É um fertilizante obtido industrialmente pela reação de ácido nítrico
(HNO3) e óxido de magnésio (MgO), e sua concentração mínima é 10% de N e
9,6% de Mg (16% MgO). Por ser altamente solúvel em água, ele é adequado
para uso em sistemas de cultivo hidropônico ou de fertirrigação, em especial
quando o fornecimento de Mg também for desejável. Seu uso ainda é
recomendado em aplicações foliares.

Nitrato de sódio NaNO3 (16% N, 26% Na)

O nitrato de sódio é obtido industrialmente através da neutralização de


bases, tais como hidróxido de sódio (NaOH) ou carbonato de sódio (Na2CO3)
com ácido nítrico (HNO3). Na natureza é abundante em depósitos naturais, a
exemplo dos salitres dos desertos chilenos (nitrato do Chile, 16% N). É menos
utilizado que os demais fertilizantes nitrogenados devido ao risco de
acumulação de Na e de aumento da sodicidade dos solos, além do efeito
dispersante do Na sobre a argila no solo.

Nitrato de amônio e produtos relacionados


Nitrato de amônio (33,5% N) e nitrato de cálcio e amônio (20–26% N)
Ambos são fertilizantes sólidos. O nitrato de amônio, devido à sua alta
concentração de N, representa cerca de 6% do consumo mundial desse
elemento. Ele é obtido pela reação de amoníaco com o ácido nítrico ou nitrato
de cálcio:
NH3 + HNO3 → NH4NO3     (22)

Ca(NO3)2·4H2O + 2NH3 + CO2 → 2NH4NO3 + CaCO3 + 3H2O    (23)

O nitrato de amônio produz reações químicas de acidez e alcalinidade ao


mesmo tempo no solo. Enquanto amônio apresenta reação ácida, pois sua
absorção pelas raízes induz a extrusão de prótons H+ necessária ao balanço
eletroquímico, a absorção de ânions nitrato requer a entrada simultânea de
prótons e alcaliniza levemente o meio, embora o resultado líquido das reações
seja ácido. O nitrato de cálcio e amônio contêm calcário em sua composição, o
qual atua como tamponante do pH do solo e impede a acidificação.
Tanto o nitrato de amônio quanto o nitrato de cálcio e amônio são
normalmente usados em culturas em fase de crescimento. Eles representam
boa alternativa de fertilização nitrogenada, pois proporcionam uma resposta
nutricional rápida devido ao nitrato e, ao mesmo tempo, uma reserva de
amônio que pode ficar retida no solo para uso posterior pelas plantas.
O nitrato de amônio de alta pureza (>  34%), ou em presença de uma
fonte de C ou Al metálico, pode ser explosivo:
NH4NO3 → N2O + 2H2O (altamente exotérmica)    (24)

Assim, o produto deve ser controlado quanto ao seu grau de pureza,


condições e quantidade de armazenamento. Na Europa, produtos comerciais à
base de nitrato de amônio são avaliados em testes de detonação. A adição de
minerais como Ca ajuda a diminuir o risco de explosão, porém pode reduzir
sua aplicabilidade em sistemas de fertirrigação. Por ser muito higroscópico, o
nitrato de amônio deve ser armazenado em embalagens seladas e protegidas da
umidade.

Nitrossulfato de amônio (25% N com no mínimo 5% de N-nítrico de


acordo com o Regulamento 2003/2003)
Consiste na mistura de nitrato de amônio (NH4NO3) com sulfato de
amônio [(NH4)2SO4], e dessa forma se elimina o risco de explosão.
Comparativamente ao nitrato de amônio, a alta relação amônio/nitrato do
nitrossulfato de amônio proporciona melhor provisão de N para as plantas ao
longo do tempo.

Produtos amídicos

Ureia CO(NH2)2 (46% N)


A ureia (Figura 8.1) é o fertilizante de maior concentração de N entre os
fertilizantes nitrogenados sólidos. Ele é o principal do gênero usado em nível
mundial (66% do consumo mundial de N em 2018), especialmente na Ásia.
Apesar de ser um composto orgânico, a legislação europeia considera a ureia
um fertilizante inorgânico, pois sua reação produz amônia. A síntese de ureia
é feita pelo processo de Wöhler a partir da reação de dióxido de carbono
(CO2) e amônia (NH3) sob alta temperatura e pressão. A reação é a seguinte:

CO2 + 2NH3 ⇄ CO(NH2)2 + H2O    (25)

A reação se processa em duas etapas. A primeira é rápida e ocorre a 200


atm e 190 ºC.
CO2 + 2NH3 ⇄ NH2-COONH4 (carbamato) ∆Hr = –117 KJ    (26)
A segunda etapa é mais lenta (45 minutos) e tem eficiência de
aproximadamente 70%.
NH2-COONH4 ⇄ CO(NH2)2 + H2O ∆Hr = + 15,5 KJ    (27)

Durante o processo de síntese ou logo após, durante o armazenamento,


pode-se formar biureto:
2NH2-COONH4 ⇄ NH2-CO-NH-CO-NH2 + 2H2O + NH3    (28)
Biureto é uma substância tóxica para plantas e animais, e sua formação
deve ser evitada, tanto que a concentração de biureto é tomada como um
critério de qualidade para produtos à base de ureia. Essa reação indesejável
pode ser controlada ao utilizar uma quantidade extra de amônia para reverter
a reação (28).
Quando aplicada no solo, a ureia reage rapidamente formando amônia:
CO(NH2)2 + H2O ⇄ CO2 + 2NH3      (29)
Figura 8.1 - Estrutura de alguns fertilizantes nitrogenados (azul: nitrogênio;
vermelho: oxigênio).

As perdas de N por volatilização de amônia (reação 29) são a principal


causa da baixa eficiência da ureia como fertilizante se não for adequadamente
manejada. Práticas de manejo – como incorporar o fertilizante ao solo, aplicá-
lo juntamente com água de irrigação e fracionamento de doses – contribuem
para minimizar tais perdas.
De acordo com as reações (8) e (9), NH4+ será produzido com elevação
do pH do meio, no entanto CO2 é um ácido, e a oxidação da amônia (reação
12) tende a reduzir o pH do solo. Esse processo é controlado pela atividade no
solo da enzima urease. Depois de a ureia ser convertida ao cátion NH4+, todas
as reações citadas para esse cátion podem ocorrer. A atividade da urease é
bastante dependente da temperatura do solo; assim, quando a ureia é aplicada
em períodos de inverno, a liberação de amônia e, por consequência, de nitrato
pode ser retardada.
A ureia é uma base fraca e sem protonação perceptível nas faixas de pH
do solo comumente encontradas em áreas agrícolas, apresentando baixa
afinidade pela superfície dos coloides do solo. Sendo assim, a lixiviação de N
deve ser considerada quando se aplica ureia em fertilizações.
A ureia é geralmente utilizada tanto no plantio quanto nas fases de
crescimento dos cultivos. O produto em estado sólido tem aspecto cristalino e
pode também ser usado em aplicações foliares e em fertirrigação devido à sua
alta solubilidade (Tabela 8.1) e ausência de resíduos insolúveis.

Tabela 8.1 - Solubilidade da ureia em função da temperatura

Temperatura (°C) Solubilidade (g kg-1)

20 520
30 625

60 715

80 800

100 880

Cianamida de cálcio [Ca(N=C=N)] (mínimo 18% N)


Obtida através de síntese industrial (reação 7), quando aplicada no solo
reage de modo rápido, formando ureia. Consequentemente, forma também
amônia e nitrato por causa da decomposição da ureia.

CaCN2 + H2O + 2H+ → CO(NH2)2 + Ca2+     (30)


A cianamida de cálcio é um produto pouco utilizado em razão de seu
custo elevado e da necessidade de cuidados especiais no seu manuseio. Em
videira pode ser utilizada com efeito biorregulador quando aplicada em
pulverização ou pincelamento das gemas para acelerar a quebra de dormência.
Fertilizantes de liberação lenta e controlada
Fertilizantes nitrogenados, como já relatado, podem perder-se
facilmente no solo (Figura 8.2). A eficiência da adubação nitrogenada,
portanto, é baixa na maioria dos casos devido a perdas por lixiviação de
nitrato, volatilização de amônia e desnitrificação (PRASAD et al., 1997). Nesse
contexto, a indústria de fertilizantes busca desenvolver novos produtos ou
aprimorar os já existentes para aumentar a eficiência de uso do N e diminuir o
impacto ambiental decorrente das perdas desse nutriente. Quando se trata da
eficiência de fertilizantes nitrogenados, alguns conceitos importantes devem
ser mencionados (IFA, 2007):
Eficiência Agronômica de N (kg de produção comercial incrementada/kg
de N aplicado): incremento de produtividade por unidade de N aplicado.
Eficiência de Recuperação de N (N absorvido pela cultura adubada – N
absorvido pela cultura não adubada)/Dose de N): incremento na absorção de
N pela cultura por unidade de N aplicado, geralmente expresso em % ou
fração.
Eficiência de Remoção de N (N exportado/N aplicado): N removido pela
colheita ou porção comercial por unidade de N aplicado, geralmente expresso
em % ou fração.
Eficiência Fisiológica de N (kg de produção comercial incrementada/kg de
N absorvido): incremento de produtividade por unidade de N absorvido pela
cultura.
Com o objetivo de reduzir as perdas, é importante compatibilizar a
demanda espacial e temporal das plantas com a disponibilidade do nutriente.
Várias estratégias podem ser usadas, mas todas buscam a sincronização da
aplicação dos fertilizantes e a demanda da planta através dos critérios temporal
e espacial.
A primeira estratégia consiste na aplicação de pequenas quantidades de
fertilizantes solúveis com alta frequência – por exemplo, em sistemas
fertirrigados nos quais o controle na aplicação do fertilizante previne a
lixiviação de N (CADAHÍA, 2005). A recirculação da solução nutritiva
também pode ser usada como forma de aumentar a eficiência de
aproveitamento de N. Nos sistemas tradicionais de fertirrigação, nitrato e, em
menor proporção, amônio são aplicados a partir de fertilizantes com alto grau
de pureza para evitar a formação de precipitados insolúveis.
A segunda estratégia corresponde ao uso de fertilizantes capazes de
prover N para as plantas em pequenas quantidades por um longo período de
tempo. Esses produtos são chamados de fertilizantes de liberação lenta,
controlados por reações microbiológicas, e fertilizantes de liberação controlada,
cuja liberação de N é regulada através de processos físicos e químicos.

Figura 8.2 - Reações dos fertilizantes orgânicos e inorgânicos no solo,


incluindo as perdas de N.
A Association of American Plant Food Control Officials – AAPFCO,
citada por Trenkel (2010), apresenta as seguintes definições:
Fertilizantes de liberação lenta e controlada: contêm o nutriente em uma
forma na qual retarda sua disponibilidade para a planta após aplicação, ou que
estende sua disponibilidade por um tempo significativamente maior que uma
fonte solúvel, como ureia ou nitrato de amônio. Os mecanismos utilizados
para tal fim incluem principalmente revestimentos semipermeáveis, oclusão
do nutriente, materiais proteicos ou outras formas químicas que controlam a
solubilidade em água, e compostos de baixo peso molecular de hidrólise lenta.
Fertilizantes nitrogenados estabilizados: incluem fontes de N estabilizadas
através da adição de substâncias que mantêm o N estável na forma de ureia ou
amônio por um período maior de tempo no solo.
Inibidores de nitrificação: substâncias que inibem a oxidação biológica de N
amoniacal a nitrato.
Inibidores de urease: substâncias que inibem a ação hidrolítica da enzima
urease sobre a molécula de ureia no solo.
Apesar das vantagens técnicas e ambientais, esses fertilizantes
representam apenas 0,15% do consumo mundial de N. Além disso, apenas 10%
dos fertilizantes de liberação lenta e controlada são utilizados na agricultura,
enquanto a maior parte é destinada ao setor de paisagismo.

Compostos nitrogenados de baixa solubilidade


Podem ser de degradação microbiológica ou química. Entre os produtos
se destacam a Ureia-formaldeído, IBDU, CDU e Oxamida, os quais foram os
principais fertilizantes do segmento de liberação lenta no passado. Atualmente
a expansão da capacidade de produção de fertilizantes revestidos e
encapsulados tem feito com que esses produtos ocupem uma posição de
destaque no mercado em relação aos de baixa solubilidade (TRENKEL, 2010).
Ureia-formaldeído (Ureia-Form) (36–38% N)
A ureia-formaldeído é formada pela reação do formaldeído com um
excesso de ureia em condições controladas de pH, temperatura, tempo de
reação e proporção molar, resultando em uma mistura de ureias de metileno
com diferentes polímeros de cadeia longa.
CO(NH2)2 + HCHO → NH2- [-CO-NH-CH2-NH-]n -H

A Ureia-Form foi o primeiro fertilizante desenvolvido para liberação


lenta de N. A empresa Badische Anilin & Soda-Fabrik (atualmente BASF)
adquiriu a primeira patente para produção de Ureia-Form em 1924 na
Alemanha. Nos Estados Unidos a Ureia-Form foi patenteada em 1947 para
utilização como fertilizante, e sua produção comercial teve início em 1955.
(TRENKEL, 2010).
A ureia-formaldeído sofre degradação microbiana lenta no solo e o N
liberado depende, portanto, da atividade microbiana, bem como da umidade e
temperatura do solo. A velocidade de liberação de N depende do tamanho dos
polímeros, e em geral durante o processo de síntese são produzidos polímeros
de diferentes tamanhos, o que proporciona liberação de N por um longo
período de tempo. Embora a taxa de liberação de N possa ser controlada
industrialmente, variando o tamanho médio dos polímeros presentes no
fertilizante, controlar o processo industrial para garantir a proporção desejada
entre diferentes tamanhos de polímeros não é uma tarefa tão simples.
A eficiência de uso do N oriundo da ureia-formaldeído depende do
Índice de Atividade – IA, o qual é resultante da proporção entre as três frações
do fertilizante (TRENKEL, 2010):
Fração I: solúvel em água fria (25 °C), contendo ureia residual, metileno
diureia – MDU, triureia dimetileno – DMTU e outros produtos de reação
solúveis. O N de Fração I tem disponibilidade mais rápida e é dependente da
temperatura do solo.
Fração II: solúvel em água quente (100 °C), contendo ureia de metileno
com cadeias de comprimento intermediários; a disponibilidade de N é um
pouco mais lenta.
Fração  III:  insolúvel em água quente, com ureia metileno de cadeias
longas, e, portanto, N de liberação muito lenta ou insolúvel.
Assim, a liberação de N a partir dos fertilizantes de ureia-formaldeído
ocorre inicialmente a partir da Fração I, seguida por uma liberação mais lenta
da Fração II, culminando com a liberação da Fração III, a qual pode durar
meses de acordo com o tamanho das cadeias do produto. Normalmente, a
liberação é mais rápida logo após a aplicação e mais lenta com o passar do
tempo.
Quando em contato com o solo, a ureia-formaldeído produzirá amônia e
CO2. A liberação de N é dependente de fatores que afetam a atividade
microbiana, entre os quais estão:
• As propriedades do solo (tipo e teor de argila, por exemplo), pH, umidade
etc.
• Ciclos de umedecimento-secagem e temperatura (condições ideais situam-
se entre 20–30 °C).

Compostos de degradação química


Geralmente são baseados em compostos da condensação de ureia,
liberando N após degradação química, a qual é menos dependente da
temperatura e de outros fatores que afetam a biologia do solo. Dessa forma,
modificações em sua síntese ou fórmula permitem produzir diferentes
fertilizantes com distintos padrões de liberação de N. Sendo as características
químicas mais importantes que as reações do solo, esses produtos são
chamados de fertilizantes de liberação controlada.
Isobutilendiureia – IBDU (28–33% N)
O IBDU (Figura 8.1) é formado pela reação de ureia com isobutiraldeído,
gerando um oligômero de tamanho único, ao contrário da Ureia-Form cuja
produção leva à formação de polímeros com diferentes tamanhos. O processo
de fabricação do IBDU produz um pó branco insolúvel em água:
(CH3)2CHCHO + 2CO(NH2)2 → (CH3)2CHCH(NHCONH2)2     (31)

No solo a degradação do IBDU ocorre por hidrólise, e a taxa de liberação


de N na forma de amônia depende de:
• Tamanho das partículas dos grânulos do fertilizante (as menores serão
hidrolisadas mais rapidamente).
• Umidade do solo (entre 50–60% a degradação é mais rápida).
• Acidez do solo (pH) (decomposição é favorecida em baixo pH).
• Temperatura tem pouco efeito sobre a degradação de IBDU.

Crotonilidendiureia – CDU (28% N)


O processo de produção de CDU (Figura 8.1) pela reação de
condensação de ureia com acetaldeído foi patenteado em 1959 e produzido
industrialmente em 1962 no Japão pela Chisso Corporation. A empresa Basf
na Alemanha também produz CDU a partir de ureia e aldeído crotônico
(TRENKEL, 2010). O CDU é um pó fino, cristalino e incolor. A degradação
do CDU no solo depende de vários fatores:
• Tamanho das partículas dos grânulos do fertilizante (as menores se
degradam mais rapidamente).
• Umidade do solo (a degradação é favorecida por ela).
• Acidez do solo (pH) (degradação de CDU é favorecida em valores mais
altos de pH).
• Temperatura tem pouco efeito sobre a degradação de CDU.
No Japão e na Europa o CDU é usado preferencialmente em gramados e
plantas cultivadas em vasos.

Oxamida (30% N)
A oxamida (Figura 8.1) também é um pó branco de baixa solubilidade e
reatividade. Praticamente não é utilizada como fertilizante, embora possa
substituir parte da ureia, e não está incluída na Legislação Europeia de
Fertilizantes.

Compostos inorgânicos
O fosfato de amônio e magnésio MgNH4PO4 (8% N) é de baixa
solubilidade e é usado preferencialmente em jardinagem.

Fertilizantes revestidos
Fertilizantes revestidos são normalmente solúveis, mas encontram-se
em um grânulo recoberto por materiais que controlam a difusão dos
elementos através dele (Figura 8.3). Esse tipo de fertilizante pode ser
recoberto por polímeros orgânicos, inorgânicos ou resinas sintéticas. Tais
substâncias são, em sua maioria, derivadas de ureia – como poliamidas –, de S
elementar ou, ainda, de polímeros das mais diversas naturezas. A espessura e a
natureza química da resina de recobrimento, a quantidade de microfissuras em
sua superfície e o tamanho do grânulo do fertilizante determinam a taxa de
liberação de nutrientes ao longo do tempo.
Figura 8.3 - Fertilizantes nitrogenados revestidos. Difusão de água e
compostos nitrogenados.

Fertilizantes revestidos por polímeros orgânicos


Uma resina hidrofóbica do tipo alquil ou poliuretano é utilizada nesse
tipo de fertilizante. Quando em contato com o solo úmido, a água entra
lentamente através da resina devido à baixa pressão de vapor interna (Figura
8.3), dissolvendo os sais e produzindo uma elevada pressão osmótica interna.
Como consequência, a solução será lentamente descarregada através da resina
para o solo. Esses fertilizantes são de liberação controlada, no entanto o
processo de difusão é muito dependente de temperatura. O colofônio também
tem sido testado com sucesso para esse processo de controle da liberação de
nutrientes.

Ureia recoberta com enxofre – SCU


O processo de recobrimento de ureia com S foi desenvolvido pela
Tennessee Valley Authority – TVA, Alabama, Estados Unidos, em 1962.
Nesse tipo de fertilizante a liberação de nutrientes depende da velocidade de
oxidação de S. À medida que a camada de S é oxidada, a ureia solúvel é
liberada, e dessa forma a eficiência do fertilizante depende da espessura dessa
camada, do tamanho dos grânulos de fertilizante e da atividade microbiológica
no solo. Entre as principais estratégias para se controlar o período de liberação
de N do SCU estão a mistura de grânulos de diferentes tamanhos, a espessura
da camada de S que recobre o grânulo e a aplicação de resinas ou ceras que
recobrem as imperfeições e fissuras da camada citada. Os produtos finais
podem apresentar entre 30–42% de N e 6–30% de S.
Bioinibidores
Amônio (NH4+) e nitrato (NO3–) são as formas de N absorvidas pelas
plantas e predominantes nos solos agrícolas. Qualquer que seja a fonte de N
mineral adicionado ao solo – ureico, amoniacal ou nítrico –, teoricamente seu
destino final, caso não seja absorvido pelas plantas, será a produção de nitrato
(NO3–). Por exemplo, a ureia sob ação da enzima urease produzirá amônia
(NH3) (ver reação 29), a qual pode volatilizar ou, em condições normais de
umidade e temperatura do solo, produzir amônio (NH4+). O amônio pode
então ser adsorvido aos coloides do solo, absorvido pela planta ou ser oxidado
por bactérias dos gêneros Nitrossomonas e Nitrobacter para a produzir NO3–
(ver reação 12). O nitrato produzido poderá ser absorvido pela planta ou
perder-se no perfil do solo por lixiviação. Em condições de solos alagados ou
encharcados, sob anaerobiose, o nitrato pode funcionar como aceptor de
elétrons, produzindo N2 (desnitrificação), e perdas de N podem ocorrer por
volatilização. Assim, estratégias que retardem a produção de amônia tendem a
reduzir os riscos de perdas por volatilização, enquanto que, retardando-se a
produção de nitrato, a absorção de amônio pela planta será favorecida, bem
como os riscos de perdas de N-NO3– por lixiviação ou desnitrificação serão
minimizados.
Nesse contexto, os bioinibidores são produtos com objetivo de controlar
a atividade enzimática e/ou microbiana e retardar a produção de amônio e
nitrato no solo, respectivamente. Eles podem ser aplicados em área total via
pulverização, o que é menos comum, ou mais usualmente veiculados no
próprio grânulo ou solução de fertilizante nitrogenado. Inibidores da urease e
da nitrificação são utilizados com esse propósito.
Inibidores da nitrificação
Esses produtos retardam a ação de Nitrossomonas spp. no solo,
controlando a produção de nitrito a partir de amônio (NH4+ → NO2–). Graças
a esse processo as perdas de nitrato por lixiviação são reduzidas. A ação desse
tipo de inibidor é dependente da temperatura do solo, pH, teor de matéria
orgânica e CTC.

Nitrapirina (2-cloro-6-triclorometil piridina)


A nitrapirina (Figura 8.4) é altamente seletiva para Nitrossomonas spp.,
sendo o inibidor padrão de nitrificação nos Estados Unidos desde 1974. Sua
solubilidade é baixa – 40 mg/L de água – e é muito volátil. Ela é em geral
incorporada em solução de amônia anidra ou de amônia concentrada, mas não
é misturada com fertilizantes sólidos por causa de sua alta pressão de vapor. A
nitrapirina pode complexar átomos de Cu nas enzimas responsáveis pela
oxidação de amônia em Nitrossomonas spp., retardando a formação de nitrato
por seis a oito semanas – em solos mais frios esse efeito pode perdurar por até
30 semanas. O efeito inibidor da nitrapirina no solo pode ser reduzido por
altos teores de matéria orgânica (sorção) e também por temperatura elevada,
favorecendo as perdas por volatilização do ingrediente ativo.

Diciandiamida – DCD
Produzido a partir de cianamida cálcica, água e CO2, o DCD é um sólido
solúvel, não volátil, comumente usado na Europa e nos Estados Unidos,
adicionado a fertilizantes amoniacais sólidos (Figura 8.4). A atividade do DCD
é reduzida por altas temperaturas, porém é pouco afetada pelo teor de matéria
orgânica e pH do solo. O DCD interfere no transporte de elétrons no
citocromono oxidase em Nitrossomonas, retardando a formação de nitrato por
seis a oito semanas. Em relação à nitrapirina, o DCD apresenta algumas
vantagens, tais como a facilidade de mistura a fertilizantes sólidos, baixa
toxicidade para seres vivos e degradação mais rápida no solo. Sua eficácia
como inibidor de Nitrossomonas, porém, é menor em comparação à da
nitrapirina, exigindo aplicações de doses mais elevadas.

3,4 fosfato de dimetilpirazol – DMPP


O DMPP é um inibidor de nitrificação desenvolvido pela empresa Basf
em 1995 e comercializado pela empresa Compo a partir de 1999 com o nome
comercial Entec®. Tem sido usado com sucesso na Europa (Figura 8.4) e sua
eficiência tem sido relatada como superior ao DCD e à nitrapirina, uma das
razões pelas quais requer doses menores comparativamente aos dois inibidores
citados.

Figura 8.4 - Estrutura de alguns inibidores de nitrificação e urease (azul: N;


verde: Cl; amarelo: S; magenta: P).
Inibidores da urease
A hidrólise completa da ureia por ação da enzima urease pode ser muito
rápida se a temperatura do solo for alta (dois dias a 30 oC) ou mais lenta em
caso de baixas temperaturas (até dez dias a 5 oC). A etapa inicial do processo
hidrolisa a ureia, produzindo amônia numa forma instável que pode perder-se
facilmente por volatilização caso não haja umidade suficiente para a reação de
NH3 com água e para a produção de amônio (NH4+, estável). Entre as
estratégias de manejo para evitar as perdas por volatilização de amônia, inclui-
se a incorporação de ureia no solo via aplicação mecanizada, chuva ou
irrigação.
Os inibidores da urease retardam a transformação de ureia em amônia
(NH3), favorecendo a formação de amônio (NH4+) e reduzindo os riscos de
perdas por volatilização.
O N-(n-butil) tiofosfato triamida – NBPT (Figura 8.4) é o inibidor de
urease mais amplamente difundido no meio agrícola. Criado em 1996 nos
Estados Unidos, é comercializado em mais de 70 países com a marca comercial
Agrotain®. O NBPT, em relação aos inibidores de nitrificação, torna-se
vantajoso por apresentar duplo efeito, reduzindo tanto as perdas de amônia
por volatilização quanto as perdas de nitrato por lixiviação. Nos processos
industriais de tratamento de fertilizantes, o NBPT pode ser aplicado antes ou
depois da granulação da ureia sem prejudicar sua eficiência. No caso de
fertilizantes líquidos, por exemplo, Ureia-Amônio-Nitrato – UAN, o NBPT
pode ser adicionado à calda momentos antes da aplicação.
A eficiência do NBPT tem sido demonstrada em vários ensaios de campo
e em condições controladas. Na Europa, entre 2002 e 2004, experimentos com
trigo demonstraram aumento de 2% no rendimento de grãos e redução de
perdas de 7% em relação a fontes de N não tratadas com esse inibidor
(BASTEN et al., 2005). Cantarella et al. (2005) verificaram que a adição de
NBPT à ureia reduziu as perdas por volatilização de amônia entre 30 e 90%.
Fertilizantes fosfatados simples
O P é requerido pelas plantas como fosfato em quantidades menores que
o N, porém sua disponibilidade no solo é baixa. O teor total de P no solo varia
entre 200 a 3.000 mg kg–1 (NOVAIS; SMYTH, 1999); menos de 0,1% desse
total, cerca de 0,002 a 2 mg L–1, encontra-se disponível para absorção pelas
plantas na solução do solo. O P no solo está presente em diversas formas:
moléculas que liberam o elemento após mineralização, compostos inorgânicos
sólidos na forma de fosfatos de alumínio ou ferro em solos ácidos, fosfato de
cálcio em solos neutros ou básicos, ou então adsorvido na superfície dos
coloides do solo. A solubilidade do P é dependente do pH do solo, sendo
favorecida na faixa de pH 6.
Entre os vários métodos usados para estimar a concentração de P no
solo, a maioria deles baseia-se na solubilização do P por diferentes extratores
químicos. Entretanto, a ação de raízes e microrganismos é relevante, mas não
é considerada por esses métodos – por exemplo, os fungos micorrízicos que
colonizam as raízes e contribuem para aumentar a absorção de P no solo. Em
virtue da baixa solubilidade desse nutriente no solo, perdas por lixiviação são
desprezíveis, no entanto, podem ocorrer perdas significativas por erosão e
escoamento superficial de águas. Certamente as maiores perdas de P no
sistema solo são devidas à insolubilização dos fertilizantes aplicados; logo, é de
suma importância conhecer a forma de P presente no fertilizante e sua reação
no solo.

Fontes de fósforo
A principal matéria-prima para a produção de fertilizantes fosfatados são
as rochas fosfáticas. Em geral existem dois tipos: rochas fosfáticas ígneas e
sedimentares. As rochas fosfáticas ígneas contêm P na forma de apatitas, são
pouco reativas e, portanto, necessitam ser processadas industrialmente e
moídas finamente para aplicação no solo. O conteúdo de P2O5 nas rochas
ígneas, embora pobres em apatitas, após processamento industrial pode chegar
a 36–40%. As rochas fosfáticas sedimentares representam cerca de 80% da
matéria-prima de fertilizantes fosfatados no mundo, e sua composição físico-
química é bastante variável. Elas são, contudo, notadamente mais reativas que
as apatitas (IPNI, 2014).
Os maiores depósitos de P estão localizados no norte da África
(Marrocos e Saara Ocidental) e na China, mas também Estados Unidos,
Rússia, África do Sul e países do Oriente Médio possuem depósitos de
qualidade diferenciada. Somados, Marrocos, Saara Ocidental e China possuem
aproximadamente 66% das reservas mundiais de rochas fosfáticas. Estima-se
que a reserva mundial de P seja suficiente para cerca de 300 anos, e a partir de
então o P poderá ser um elemento limitante para a agricultura no futuro.
As escórias de Thomas são escórias básicas resultantes da indústria do
aço e são uma fonte considerável de P. Nesse processo, o P é obtido como
impureza após sua retirada do aço por meio da adição de calcário:
P (impureza do aço) + O2 + CaCO3 + calor → fosfato de cálcio

Solubilidade dos fertilizantes fosfatados


Devido à importância da solubilidade do P quando aplicado no solo, a
concentração desse nutriente nos fertilizantes deve ser declarada como P-
solúvel em água e em citrato neutro de amônio. A concentração de P-insolúvel
não pode ser declarada oficialmente na composição deles.

Tipos de fertilizantes fosfatados


Superfosfato Simples (16–18% P2O5)
O superfosfato simples é produto da reação entre ácido sulfúrico e rocha
fosfática moída – apatita –, resultando principalmente em fosfato monocálcico
[Ca(H2PO4)2·H2O]; sulfato de cálcio (CaSO4) e um pouco de fosfato bicálcico
di-hidratado também pode estar presente (CaHPO2·2H2O). A legislação
brasileira sobre fertilizantes exige que o superfosfato simples tenha teor
mínimo de 18% de P2O5 total; já o teor mínimo solúvel em água deve ser de
15%. O processo de síntese do superfosfato simples leva cerca de seis semanas:
Ca3(PO4)2 + 2H2SO4 + H2O → Ca (H2PO4)2·H2O + 2CaSO4     (32)

2Ca5(PO4)3F + 7H2SO4 + 3H2O → 3Ca (H2PO4)2·H2O +7CaSO4 + 2HF


    (33)

O fosfato monocálcico apresenta maior solubilidade, cerca de 150 mg/L


de P (Figura 8.5). Em contato com o solo úmido, ele reage para formar fosfato
bicálcico di-hidratado (menos de três dias) e, em seguida, fosfato bicálcico
(cerca de duas semanas) de acordo com as seguintes reações:
Ca(H2PO4)2·H2O + H2O → CaHPO4·2H2O + H2PO4– + H+     (34)

pH= 1,48; P: 3,98 mol L–1; Ca: 1,44 mol L–1


Ca(H2PO4)2·H2O + H2O → CaHPO4 + H2PO4– + H+    (35)

pH= 1,01; P: 4,49 mol L–1; Ca: 1,34 mol L–1


Figura 8.5 - Dependência do pH para a solubilidade dos principais fertilizantes
à base de fosfatos de cálcio no solo (escala logarítmica: FMC =
fosfato monocálcico; FBdi = fosfato bicálcico di-hidratado;
FB = fosfato bicálcico; FOC = fosfato octacálcico; FT = fosfato
tricálcico; HA = hidroxiapatita).

Por sua vez, o CaHPO4 se transformará lentamente em fosfatos sólidos


mais estáveis. Durante esse processo, o H2PO4– é liberado para o solo e
encontra as raízes das plantas. A reação do superfosfato simples no solo é
bastante ácida, e a presença de CaSO4 em alguns casos pode contribuir para
aumentar a salinidade do solo. Entretanto, para uma grande porção dos solos
tropicais e subtropicais a presença de Ca e S no superfosfato simples é
vantajosa sob o ponto de vista nutricional.
Não se recomenda a mistura de superfosfato simples com materiais
calcários devido ao risco de inativação do fosfato. Ele é um fertilizante
recomendado para solos levemente ácidos ou neutros, mas sua eficiência será
reduzida em solos alcalinos. A mistura de superfosfato simples com adubos
nitrogenados (nitrato de cálcio, ureia e nitrato de amônio) é recomendada
apenas se for feita imediatamente antes da aplicação.

Superfosfato triplo (38–50% P2O5)


Superfosfato triplo é também um fosfato monocálcico
[Ca(H2PO4)2·H2O], porém obtido através do tratamento da rocha fosfática
com ácido fosfórico (H3PO4):

Ca3(PO4)2 + 4H3PO4 → 3Ca(H2PO4)2·H2O    (36)

2Ca5(PO4)3F + 14H3PO4 + 10H2O → 10Ca(H2PO4)2·H2O + 2HF    


(37)

A reação do superfosfato triplo no solo é similar ao superfosfato simples,


porém sem aumento da concentração de sais no solo, pois não contém CaSO4
em sua composição. Por ser um fertilizante de elevada acidez, seu uso é
adequado em solos neutros. A legislação brasileira sobre fertilizantes exige que
o superfosfato triplo apresente teor mínimo de 41% de P2O5 total; já o teor
mínimo solúvel em água deve ser de 37%.

Ácido fosfórico (40–54% P2O5)


O ácido fosfórico é um líquido corrosivo utilizado na síntese do
superfosfato triplo, mas também pode ser usado como fertilizante. Sua síntese
é realizada através da reação do ácido sulfúrico com fosfato mineral de acordo
com as reações a seguir:
Ca3(PO4)2 + 3H2SO4 (cc) + H2O → H3PO4 + 3CaSO4
(fosfogesso)    (38)
Ca5(PO4)3F + 5H2SO4 → 3H3PO4 + 5CaSO4+ 2HF     (39)
O processo gera também fosfogesso como resíduo da reação, o qual é
considerado um problema ambiental em razão das grandes quantidades
produzidas e presença de poluentes, ainda que em pequenas quantidades,
como metais pesados (Cd, por exemplo) e elementos radioativos (Ra e U).
O ácido fosfórico é 100% solúvel em água e por esse motivo é usado
preferencialmente em fertirrigação, na qual também contribui para manter
limpos os tubos e gotejadores do sistema (CADAHÍA, 2005).

Escória de Thomas (15–20% P2O5 ), Ca3(PO4)2·(Ca2SiO4)


A escória de Thomas ou escória básica é um resíduo da indústria de ferro
e aço. Se o material de origem para produção de ferro for rico em P, o
processo de descontaminação é feito com emprego de CaO, gerando tal
escória. O P presente na escória de Thomas não é solúvel em água, mas sim
em citrato. Essa escória contém teores consideráveis de Ca, Mg e
micronutrientes; devido à sua reação básica, seu uso é vantajoso em solos
ácidos. No Brasil praticamente esse tipo de escória deixou de ser produzido em
virtude do uso de materiais pobres em P para a produção de ferro-gusa.

Outros fertilizantes fosfatados


Há vários tipos de fertilizantes fosfatados menos comuns que são usados
na agricultura, por exemplo, fosfato bicálcico anidro (CaHPO4; 38% P2O5)
obtido a partir da reação de ácido fosfórico com ossos ou rochas fosfáticas;
fosfato calcinado (CaNaPO4·Ca2SiO4; 26% P2O5) obtido a partir da calcinação
da rocha fosfática com sílica e carbonato de cálcio; fosfatos de cálcio e
alumínio; e os fosfatos tricálcicos. Cabe destacar que todos esses fertilizantes
são menos solúveis que os fosfatos monocálcicos.

Estratégias para aumentar a eficiência do P no


solo
Em geral, menos de 30% do P aplicado é utilizado pelas plantas. O
restante é insolubilizado ou fixado no solo. O P apresenta muito baixa
mobilidade no solo – menos de 2 mm –, e assim as raízes das plantas
necessitam explorar um grande volume de solo para obter o P de que
necessitam. Há alguns critérios que devem ser levados em consideração em
relação ao aumento da eficiência da adubação fosfatada, tais como a
distribuição do fertilizante em relação ao local e ao tempo, a granulação, a
proteção do fertilizante com polímeros e o efeito de microrganismos.

Localização do fertilizante no solo


A eficiência do fertilizante P pode ser consideravelmente aumentada pela
localização dele próximo das raízes – critério espacial – e pelo fornecimento do
nutriente nos momentos em que as plantas necessitam – critério temporal.
a) Critério espacial
Os fertilizantes fosfatados podem ser incorporados no solo próximo da
rizosfera, porém uma quantidade excessiva danifica as raízes devido à
acidificação causada após a reação do fertilizante com o solo. Fertilizantes
fosfatados tradicionais podem ser aplicados em diferentes formas:
• A lanço sobre o solo e incorporados, misturando-os ao solo, o que
proporciona a fertilização de uma camada de solo como um todo. Esse
método de aplicação, porém, leva a um baixo aproveitamento do P pelas
plantas, pois as reações de fixação do P são favorecidas pelo maior contato
do solo com o fertilizante.
• Em faixas próximo das plantas e incorporados ao solo. Esta forma de
aplicação é mais eficiente que a primeira para o aproveitamento de
nutriente pelas plantas e é empregada geralmente em culturas perenes,
como café e citros.
• No sulco de semeadura, sendo recomendado que o P esteja ao lado e abaixo
das sementes. É um método que proporciona alta eficiência de
aproveitamento do P pelas plantas, porém deve-se estar atento ao risco de
danos às sementes devido à acidificação do solo em casos de doses elevadas
de fertilizante. Essa forma de aplicação é a mais empregada em culturas
anuais – soja, milho, trigo, girassol etc. – através do uso de semeadoras
equipadas com mecanismos de distribuição do fertilizante em linha e
incorporado ao solo.
b) Critério espacial e temporal
Nos cultivos fertirrigados, por exemplo, aplicando o P dissolvido em
água diretamente na rizosfera – critério espacial – e de acordo com a demanda
nutricional da planta – critério temporal.

Granulação do fertilizante
O aumento do tamanho dos grânulos do fertilizante pode proporcionar
liberação lenta do P, uma estratégia importante em solos ácidos. Para os
fertilizantes solúveis em água e os solúveis em citrato, respectivamente, os
grânulos maiores e os menores tendem a ser mais eficientes. Entretanto, em
solos neutros ou alcalinos diferenças expressivas não têm sido notadas em
relação ao tamanho de grânulos para a eficiência do fertilizante.

Fertilizantes fosfatados protegidos por polímeros


Uma das tecnologias mais estudadas para a proteção e liberação
controlada de P são os copolímeros de alta densidade de cargas, desenvolvidos
pela empresa norte-americana Specialty Fertilizer Products – SFP e
patenteados com a marca Avail®. Em 2014, a empresa Verdesian Life Sciences
adquiriu a SFP e passou a ser a detentora dessa tecnologia.
Esse polímero pode ser aplicado diretamente sobre o adubo granulado
como um revestimento (coat) ou misturado em fertilizantes líquidos. O modo
de ação está baseado no sequestro de cátions metálicos na solução do solo pelo
polímero através de sua elevada densidade de carga – cerca de 1.800
mmolc/100 g de polímero. O polímero aplicado no solo dissolve-se em água e
sequestra os cátions antagonistas – Fe, Al e Ca – que reagem com P na solução
do solo do microambiente em torno do grânulo de fertilizante, evitando a
fixação e proporcionando maior disponibilidade de P-solúvel ao longo do
tempo (SANDERS et al., 2012).

Micorrizas
As micorrizas são um importante fator de incremento da eficiência da
adubação fosfatada, pois as plantas infectadas por fungos micorrízicos
ampliam enormemente o volume de solo explorado pelas raízes (ver Capítulo
10). Estima-se que a eficiência do P aplicado em plantas colonizadas por
micorrizas seja incrementada em até quatro vezes.
Fertilizantes potássicos
O K é um macronutriente requerido em grandes quantidades pela
maioria das plantas cultivadas. No solo, ele pode formar parte da estrutura de
minerais – nesse caso, encontra-se indisponível para as plantas –, bem como
estar presente como cátion entre camadas de argilominerais e ser liberado
lentamente para a solução do solo. Também pode estar ligado
eletrostaticamente à fração coloidal do solo ou estar livre em solução e
prontamente disponível para plantas.
O balanço de K no solo deve considerar as entradas ou inputs, como o K
liberado pela decomposição da matéria orgânica, o K liberado pela
transformação de minerais e os fertilizantes potássicos. Já as perdas de K ou
outputs incluem a utilização e imobilização temporária de K em plantas e
microrganismos, fixação de K em argilas e lixiviação. Assim, a fertilização com
esse nutriente deve considerar os aspectos do balanço dele no solo, e não
apenas o requerimento nutricional da planta.

Fontes de potássio
O K pode ocorrer em depósitos como consequência da evaporação de
água marinha em bacias fechadas, ao longo de milhares de anos. Devido ao
cloreto de potássio (KCl) ser mais solúvel que o cloreto de sódio (NaCl),
durante o processo de evaporação precipita-se primeiramente o NaCl, e
depósitos de KCl se formam sobre as camadas de NaCl. Estima-se que as
reservas mundiais de K alcancem cerca de 12 bilhões de toneladas – somente a
Rússia e o Canadá detêm 49 e 37% delas, respectivamente. O Mar Morto
(Israel e Jordânia) e o Salt Lake (Estados Unidos) da mesma forma são reservas
importantes. Sais de Mg também se precipitam nesse processo e os minerais
obtidos podem conter quantidades variáveis desse metal, fato que se torna
igualmente interessante sob o ponto de vista agronômico.

Tipos de fertilizantes potássicos


Os tipos de fertilizantes potássicos se diferem quanto à sua pureza.

Cainita
É um mineral secundário, originado a partir de águas oceânicas, que
contêm pequena quantidade de K (> 10% K2O, > 5% MgO) a qual pode ser
misturada com KCl para aumentar a concentração de K (> 18% K2O). A
cainita contém grande quantidade de cloretos e Na, e seu uso deve ser evitado
em culturas sensíveis ao Cl, bem como em solos com risco de salinidade.

Cloreto de potássio (muriato de potássio, KCl, > 37% K2O, geralmente


60–62% K2O)

É obtido por separação a partir dos minerais de depósitos salinos.


Contém grande quantidade de Cl, porém menos que a cainita por unidade de
K. A quantidade de Na presente no KCl é baixa e pode ainda conter
quantidades variáveis de Mg.

Sulfato de potássio, K2SO4 (> 47% K2O)


O sulfato de potássio é produzido a partir da reação entre cloreto de
potássio e ácido sulfúrico.
H2SO4 + 2KCl → K2SO4 + 2HCl    (40)
O sulfato de potássio apresenta a vantagem de não conter Cl, portanto
pode ser utilizado em diversas situações. Além do mais ele é fonte de S, cuja
aplicação é recomendada nos casos em que esse nutriente é requerido. O
sulfato de potássio pode ainda ser misturado com sulfato de magnésio
(kieserita).

Adubação potássica
As doses de K devem ser calculadas em função da demanda da planta,
mas considerando as condições de solo. Por exemplo, solos arenosos podem
perder quantidades consideráveis de K por lixiviação. Para minimizar essas
perdas, aconselha-se empregar como estratégias a adição de matéria orgânica,
o fracionamento da adubação por meio de fertirrigação ou mesmo
fracionamento de adubos sólidos que são aplicados em sulco ou a lanço em
superfície. Por sua vez, solos argilosos podem reter K em quantidades
variáveis em função do tipo de argila predominante. Argilas que contêm K
interlaminar, como ilita e montmorilonita, podem reduzir a disponibilidade de
K para as plantas e, nesses casos, as adubações requerem maior quantidade do
nutriente. Outros tipos de argila, entretanto, como clorita e caulinita, esta
típica de solos tropicais intemperizados, não retêm muito K.
A participação relativa do K no complexo de troca iônica do solo – CTC
deve ser considerada no planejamento da adubação. O conteúdo de água no
solo, o regime hídrico e a concentração de Ca são fatores importantes no
manejo da adubação potássica, pois afetam as reações de troca iônica e a
lixiviação de K.
Fertilizantes inorgânicos compostos
Fertilizantes inorgânicos compostos podem ser NP, NK, KP e NPK. São
obtidos através da mistura química ou simplesmente a mistura física de
fertilizantes simples. Outros compostos como KNO3, NH4H2PO4, KH2PO4 e
ureia fosfato também podem ser usados. Além da concentração de N-P2O5-
K2O, é importante considerar os mesmos fatores que afetam a reação química
e a eficiência dos fertilizantes simples: forma de N – nítrica, amoniacal ou
amídica –, solubilidade do fosfato, concentração de Cl e S, e se algum método
de liberação lenta ou controlada é utilizado. Entre os fertilizantes compostos,
as formulações sólidas são mais comumente encontradas, entretanto as
formulações líquidas também podem ser utilizadas, em especial nos casos de
fertirrigação (CADAHÍA, 2005). Devido a isso, geralmente as fábricas de
fertilizantes líquidos se instalam próximo a regiões agrícolas que demandam
esse tipo de produtos e fornecem as formulações concentradas requeridas
pelos agricultores.
Fertilizantes à base de macronutrientes
secundários
Ca, Mg e S, embora reconhecidamente essenciais para a nutrição das
plantas e obtenção de altas produtividades, em geral são fornecidos por meio
de corretivos (calcário), condicionadores (gesso agrícola) e, em casos
específicos, fertilizantes, tais como a fertilização em cultivos protegidos,
fertilizantes para hidroponia ou para adubação foliar. Tal fato está relacionado
sobretudo ao custo desses nutrientes, sendo mais econômicos quando
veiculados através de calcários, no caso do Ca e Mg, e de custo mais elevado se
fornecidos através de fertilizantes específicos. Da mesma forma, o gesso
agrícola é a fonte mais barata de S comparativamente aos fertilizantes
específicos para esse nutriente.

Cálcio

Fertilizantes fontes de cálcio


Entre os fertilizantes utilizados para o fornecimento de Ca se destacam
os cloretos e nitratos por sua maior solubilidade. Eles são empregados em
fertilização sólida ou diluídos em água para fertilização líquida, como nos
casos de fertirrigação e adubação foliar. A Tabela 8.2 exemplifica os principais
fertilizantes que contêm Ca com registro no Mapa.

Tabela 8.2 - Fertilizantes que contêm Ca em sua composição

Produto (fórmula Origem Composição


química) química
Cloreto de cálcio Reação do óxido de cálcio 24% Ca
(CaCl2·2H2O) com ácido clorídrico. 43% Cl

Reação de ácido nítrico 16% Ca


Nitrato de cálcio
com óxido ou carbonato
[Ca(NO3)2] 14% N
de cálcio.

Reação entre a rocha 6% Ca


fosfática moída com o 14% N
Nitrofosfato
ácido nítrico ou mistura
18% P2O5
de ácidos.

Sulfato de potássio, É obtido através da 12% Ca


cálcio e magnésio extração e beneficiamento 14% K
(K2SO4·MgSO4·2CaSO4 do mineral natural 3% Mg
·2H2O) polialita. 19% S

Pode ser resultante da


fabricação do superfosfato 16% Ca
Sulfato de cálcio
simples ou do
(CaSO4) 13% S
beneficiamento do
mineral gipsita.

Produto da reação do 3% Ca
Nitrossulfocálcio sulfato de cálcio com 24% N
nitrato de amônio. 3% S

Fosfito de cálcio Produzido pela reação do 5% Ca


[Ca3(PO3)2] ácido fosforoso com óxido 2% Na
28% P2O5
de cálcio ou hidróxido de
cálcio.

Cianamida de cálcio Ver “Produtos amídicos”, 26% Ca


(CaCN2) neste capítulo. 18% N

Acetato de cálcio Obtido através da reação


18% Ca
[Ca(C2H3O2)2·H2O] de ácido acético e calcita.

Usado principalmente
como fonte de S, resulta
Tiossulfato de cálcio da reação entre hidróxido 6% Ca
(CaS2O3) de cálcio [Ca(OH)2], 10% S
anidrido sulfuroso (SO2),
S elementar e água.

Reação do sal inorgânico


Quelato de cálcio de Ca com um agente 2% Ca
quelante.

Corretivos da acidez do solo como fonte de cálcio


Os produtos listados na Tabela 8.3, embora apresentem registro no
Mapa como fertilizantes químicos, tecnicamente são empregados como
corretivos da acidez do solo. Entre os mais comuns estão os carbonatos e os
silicatos, ambos de baixa solubilidade, menor custo e aplicados em doses mais
elevadas, e os óxidos e hidróxidos, os quais reagem em água, apresentam custo
mais elevado e são aplicados em doses inferiores aos carbonatos e silicatos.

Tabela 8.3 - Corretivos da acidez do solo que contêm Ca em sua composição


Produto Origem Composição
(fórmula química
química)

Carbonato de Obtido através da moagem e


cálcio tamisação da rocha calcária calcítica 32% Ca
(CaCO3) ou moagem de conchas marinhas.

Carbonato de
cálcio e Moagem e tamisação da rocha 18% Ca
magnésio calcária dolomítica. 3% Mg
[CaMg(CO3)2]

Hidróxido de Produzido pela calcinação total,


cálcio hidratação, moagem e tamisação do 48% Ca
[Ca(OH)2] mineral calcita.

Hidróxido de
cálcio e Calcinação total, hidratação,
moagem e tamisação do mineral 24% Ca
magnésio
[Ca(OH)2 + dolomita ou da mistura de calcita e 4% Mg
magnesita.
Mg(OH)2]

Obtido pela calcinação total,


Óxido de
moagem e tamisação do mineral 64% Ca
cálcio (CaO)
calcita.

Óxido de Obtido pela calcinação total,


cálcio e moagem e tamisação do mineral 32% Ca
magnésio dolomita ou da mistura de calcita e 6% Mg
(CaO + MgO) magnesita.
Silicato de Obtido a partir da moagem e 29% Ca
cálcio tratamento térmico (mínimo de 20% Si
(CaSiO3) 1.000 °C) do silicato de cálcio ou de
compostos silicatados com
compostos calcíticos.

Produzido a partir do tratamento


Silicato de térmico (mínimo 1.000 °C) de
cálcio e compostos silicatados com 7% Ca
magnésio compostos dolomíticos ou a partir 1% Mg
(CaSiO3 + do tratamento e moagem de escórias 10% Si
MgSiO3) silicatadas geradas no processo de
produção de ferro e de aço.

Fertilizantes fosfatados com cálcio


A maioria dos fertilizantes fosfatados tem como origem as rochas
fosfáticas (ver item “Fertilizantes fosfatados simples”), as quais apresentam Ca
em sua composição. As rochas fosfáticas tratadas com ácidos dão origem aos
superfosfatos, ou através de tratamento térmico originam os termofosfatos. A
Tabela 8.4. apresenta os principais fertilizantes fosfatados que contêm Ca em
sua composição.

Tabela 8.4 - Fertilizantes fosfatados que contêm Ca em sua composição

Produto (fórmula Composição


Origem
química) química

Superfosfato Reação da rocha fosfática 18% P2O5


simples moída com ácido sulfúrico. 16% Ca
[Ca(H2PO4)2·H2O + 10% S
CaSO4·2H2O]

Superfosfato 14% P2O5


simples amoniado Reação de superfosfato
14% Ca
[Ca(H2PO4)·2H2O + simples pó com amônia e
1% N
ácido sulfúrico.
CaSO4+NH4H2PO4] 6% S

Reação da rocha fosfática


moída com mistura de ácido 28% P2O5
sulfúrico e fosfórico, ou
Superfosfato duplo 16% Ca
tratamento de superfosfato
simples com metafosfato de 5% S
cálcio.

Superfosfato triplo Reação da rocha fosfática 41% P2O5


[Ca(H2PO4)2H2O] moída com o ácido fosfórico. 10% Ca

Reação de superfosfato triplo 38% P2O5


Superfosfato triplo
pó com amônia e ácido 8% Ca
amoniado
fosfórico. 1% N

Tratamento térmico da rocha


17% P2O5
fosfática, concentrado
Termofosfato apatítico ou outras fontes de 16% Ca
magnesiano fósforo com adição de 4% Mg
compostos calcíticos, 8% Si
m1agnesianos e silícicos.

Termofosfato Tratamento térmico (mínimo


magnesiano de 1.000 °C) da rocha fosfática 12% P2O5
potássico ou outras fontes de fósforo 16% Ca
com adição de compostos
4% K2O
magnesianos, potássicos e
silícicos. 4% Mg
8% Si

18% P2O5
Reação seguida de granulação
do termofosfato magnesiano, 10% Ca
Termo-superfosfato com superfosfato simples 1% Mg
e/ou superfosfato triplo e 2% S
ácido sulfúrico. 1% Si

Magnésio

Fertilizantes fontes de magnésio


Os principais fertilizantes solúveis utilizados para fornecimento de Mg
estão na forma de cloretos e nitratos. Eles são empregados tanto em
fertilização sólida ou líquida (fertirrigação e adubação foliar). Na Tabela 8.5 se
encontram os principais fertilizantes que contêm Mg com registro Mapa.

Tabela 8.5 - Fertilizantes que contêm Mg em sua composição

Produto (fórmula Origem Composição


química) química

Cloreto de magnésio Reação de óxido de 10% Mg


(MgCl2·6H2O) magnésio (MgO) com ácido 26% Cl
clorídrico.

Nitrato de magnésio A partir da reação de MgO 8% Mg


[Mg(NO3)2·6H2O] com ácido nítrico. 10% N

Por meio da reação do 9% Mg


Sulfato de magnésio
óxido de magnésio com
(MgSO4·H2O) 11% S
ácido sulfúrico.

Beneficiamento de hartsalz
Kieserita composto de silvinita 15% Mg
(MgSO4·H2O) (KCl), halita (NaCl) e 20% S
kieserita.

Sulfato de potássio e Reação de sais de potássio 10% Mg


magnésio mais sais de Mg com ácido 20% K2O
(K2SO4·MgSO4) sulfúrico. 20% S

Sulfato de potássio, 3% Mg
cálcio e magnésio Extração e beneficiamento 14% K2O
(K2SO4·MgSO4·2CaSO4 do mineral natural polialita. 12% Ca
·2H2O) 19% S

Neutralização da mistura de 3,5% Mg


Sulfonitrato de amônio ácido sulfúrico e nítrico
19% N
e magnésio pela amônia anidra, com
10% S
adição de composto de Mg.

Multifosfato Reação de rocha fosfática 18% P2O5


magnesiano moída com ácido sulfúrico 8% Ca
e óxido de magnésio. 3% Mg
6% S

Reação do sal inorgânico de


Quelato de magnésio Mg com um agente 2% Mg
quelante.

Reação do ácido fosforoso 3% Mg


Fosfito de magnésio
com óxido de magnésio ou 2% Na
[Mg3(PO3)2]
hidróxido de magnésio. 28% P2O5

Acetato de magnésio Reação de ácido acético


13% Mg
[Mg(C2H3O2)2] com magnesita.

Corretivos da acidez do solo como fonte de magnésio


Os principais corretivos da acidez do solo que contêm Mg –
similarmente ao que ocorre com o Ca – são carbonatos, óxidos, hidróxidos e
silicatos, variando quanto à sua solubilidade e dose aplicada. A Tabela 8.6
apresenta os principais produtos que contêm Mg com registro no Mapa como
fertilizantes químicos, embora tecnicamente sejam empregados como
corretivos da acidez do solo.

Tabela 8.6 - Corretivos da acidez do solo que contêm Mg em sua composição

Produto Origem Composição


(fórmula química
química)

Carbonato de Moagem e tamisação da magnesita. 25% Mg


magnésio
(MgCO3)

Carbonato de
cálcio e Moagem e tamisação da rocha 3% Mg
magnésio calcária dolomítica. 18% Ca
[CaMg(CO3)2]

Hidróxido de
Precipitação de sal solúvel de Mg
magnésio 35% Mg
com hidróxido de amônio.
(Mg(OH)2)

Calcinação total, hidratação,


Hidróxido de 4% Mg
moagem e tamisação do mineral
cálcio e
dolomita ou da mistura de calcita e 24% Ca
magnésio
magnesita.

Óxido de
Calcinação total, moagem e
magnésio 45% Mg
tamisação da magnesita.
(MgO)

Obtido pela calcinação total,


Óxido de 6% Mg
moagem e tamisação do mineral
cálcio e
dolomita ou da mistura de calcita e 32% Ca
magnésio
magnesita.

Silicato de Produzido a partir do tratamento 1% Mg


cálcio e térmico (mínimo de 1.000 °C) de 7% Ca
magnésio compostos silicatados com 10% Si
(CaSiO3 + compostos dolomíticos ou a partir
MgSiO3) do tratamento e moagem de escórias
silicatadas geradas no processo de
produção de ferro e de aço.

Enxofre
O S é frequentemente fornecido através de fertilizantes que contêm
macronutrientes primários, como o sulfato de amônio, sulfato de potássio ou
superfosfato simples, ou então via fertilizantes que contêm S elementar.
Quando aplicado na forma elementar, o S é oxidado no solo e produz ácido
sulfúrico:
S + 3/2 O2 + H2O → SO42– + 2H+    (41)

Essa reação é inicialmente muito lenta devido ao fato de ser controlada


por bactérias que requerem pH muito ácido para seu crescimento (por
exemplo, Thiobacillus thiooxidans). Assim, apenas depois que ocorre produção
de ácido sulfúrico a reação torna-se mais rápida em virtude das condições
favoráveis ao crescimento das bactérias. A acidificação gerada pela reação do S
elementar no solo pode ser benéfica para a solubilização de micronutrientes
metálicos em solos neutros ou alcalinos, porém essa situação não é a adequada
para o aproveitamento do nutriente pelas plantas.
O gesso (CaSO4·2H2O), de origem natural ou industrial, fornece S e Ca
para as plantas, e é classificado como condicionador de solo e adequadamente
aplicado em solos salinos.
A grande maioria dos fertilizantes que proveem S se encontra na forma
de sulfatos, como pode ser visto na Tabela 8.7. Entretanto, o superfosfato
simples (10% de S) e o sulfato de amônio (20 a 22% de S) – fertilizantes
empregados tanto isoladamente nas adubações via solo quanto na composição
de formulações PK ou NPK – são os principais provedores de S para as
plantas.
Tabela 8.7 - Fertilizantes que contêm S em sua composição

Produto (fórmula Origem Composição


química) química

Neutralização do ácido
sulfúrico pela amônia 22% S
Sulfato de amônio
anidra ou reação do
[(NH4)2SO4] 20% N
carbonato de amônio com o
gesso.

Pode ser resultante da


fabricação do superfosfato 13% S
Sulfato de cálcio
simples ou do
(CaSO4) 16% Ca
beneficiamento do mineral
gipsita.

Reação de CoCO3 com

Sulfato de cobalto ácido sulfúrico ou reação do 10% S


(CoSO4·xH2O) cobalto metálico com ácido
20% Co
sulfúrico, neutralizado com
hidróxido de amônio.

Reação do óxido de cobre


com ácido sulfúrico, ou 11% S
Sulfato de cobre
reação por oxidação do Cu
(CuSO4·H2O) 24% Cu
metálico com ácido
sulfúrico.

Sulfato de magnésio Por meio da reação do 9% Mg


(MgSO4·H2O) óxido de Mg com ácido 11% S
sulfúrico.
Sulfato de manganês Reação de óxidos de Mn 16% S
(MnSO4·H2O) com ácido sulfúrico. 26% Mn

Sulfato de potássio Reação de minerais de K 15% S


(K2SO4·H2O) com ácido sulfúrico. 48% K2O

Sulfato de potássio e Reação de sais de K mais 20% S


magnésio sais de Mg com ácido 10% Mg
(K2SO4·MgSO4) sulfúrico. 20% K2O

Sulfato de potássio, 19% S


cálcio e magnésio Extração e beneficiamento 3% Mg
(K2SO4·MgSO4·2CaSO4 do mineral natural polialita. 14% K2O
·2H2O) 12% Ca

Ação do sulfato de amônio


sobre o nitrato de amônio
fundido, ou neutralização 12% S
Sulfonitrato de amônio
da mistura de ácido nítrico 25% N
e sulfúrico pela amônia
anidra.

Neutralização da mistura de 10% S


Sulfonitrato de amônio ácido sulfúrico e nítrico
3,5% Mg
e magnésio pela amônia anidra, com
19% N
adição de composto de Mg.

Superfosfato duplo Reação da rocha fosfática 5% S


moída com mistura de 28% P2O5
ácido sulfúrico e fosfórico, 16% Ca
ou tratamento de
superfosfato simples com
metafosfato de cálcio.

Superfosfato simples 10% S


[Ca(H2PO4)2·H2O + Reação da rocha fosfática 18% P2O5
moída com ácido sulfúrico.
CaSO4·2H2O] 16% Ca

Superfosfato simples 6% S
amoniado Reação de superfosfato 14% P2O5
[Ca(H2PO4)·2H2O + simples em pó com amônia
14% Ca
e ácido sulfúrico.
CaSO4+NH4H2PO4] 1% N

6% S
Reação de rocha fosfática 18% P2O5
Multifosfato
moída com ácido sulfúrico
magnesiano 8% Ca
e óxido de magnésio.
3% Mg

Extração de depósitos
naturais de S ou a partir da
pirita, subproduto de gás
S elementar
natural, gases de refinaria e 95% S
(So)
fundições do carvão. Pode
ser obtido também do
sulfato de cálcio ou anidrita.

S granulado A partir da fusão de S com 90% S


adição de argila bentonita,
seguida de mistura,
homogeneização e
granulação do produto
final.

Beneficiamento de hartsalz
Kieserita composto de silvinita 15% S
(MgSO4·H2O) (KCl), halita (NaCl) e 20% Mg
kieserita.

Reação entre amônia anidra


Tiossulfato de amônio 25% S
(NH3), anidrido sulfuroso
[(NH4)2S2O3] 11% N
(SO2), S elementar e água.

Reação entre hidróxido de


Tiossulfato de cálcio cálcio Ca(OH)2, anidrido 10% S
(CaS2O3) sulfuroso (SO2), S 6% Ca
elementar e água.

Reação entre hidróxido de


Tiossulfato de potássio potássio (KOH), anidrido 17% S
(K2S2O3) sulfuroso (SO2), S 25% K2O
elementar e água.
Fertilizantes com micronutrientes
Óxidos, cabonatos e sais metálicos – sulfatos, cloretos e nitratos – são as
fontes inorgânicas mais comuns de micronutrientes metálicos. Os sulfatos de
Cu, Mn e Zn são muito usados via solo ou foliar. Já o FeSO4 presta-se para
pulverizações foliares. Os óxidos não são solúveis em água, porém podem ser
aplicados e misturados ao solo na forma de pó.
Os micronutrientes metálicos Fe, Mn, Cu e Zn são mais efetivos quando
aplicados na forma de quelatos ou complexos. Esses fertilizantes serão
discutidos detalhadamente no Capítulo 11. A deficiência de micronutrientes
metálicos é comum em solos cujo material de origem é pobre nesses
elementos, a exemplo dos solos da região do cerrado brasileiro, ou então
devido à baixa solubilidade desses metais em solos com pH elevado por efeito
da calagem, ou em solos calcários, pouco comuns na região tropical e
subtropical. Nesse caso a aplicação de sais via solo, especialmente sulfatos,
como fontes de micronutrientes é pouco efetiva. No entanto, os sais
apresentam custo bastante inferior aos quelatos sintéticos e podem ser usados
para aplicação foliar com eficiência razoável. O uso de Co é mais expressivo
em leguminosas, aplicando-se os mesmos princípios descritos para os
micronutrientes metálicos.
O B é um micronutriente solúvel no solo e, portanto, a aplicação de
ácido bórico ou borato de sódio via solo é adequada para suprir a deficiência
desse elemento. O complexo orgânico-borato, conhecido como boro-
trietanolamina, é muito utilizado como fertilizante, em especial para
aplicações via foliar. O limiar entre a deficiência e a toxidez de B para a
maioria das plantas é bastante estreito, portanto a adubação com esse
nutriente deve ser mediada por um criterioso processo de diagnóstico através
de análises edáfica e foliar.
O Mo pode ser aplicado na forma de sais como o heptamolibdato de
amônio. Cl e Ni, apesar de serem reconhecidos como micronutrientes, não são
considerados fertilizantes. O fornecimento de Cl para as plantas é feito através
da água da chuva ou irrigação, ou pelos fertilizantes que o contêm (KCl, CaCl2
etc.). No caso do Ni há poucas evidências sobre a efetividade de sua aplicação
para as culturas. As fontes inorgânicas mais comuns de micronutrientes
podem ser encontradas abaixo, na Tabela 8.8.

Tabela 8.8 - Fontes inorgânicas de micronutrientes

Fonte Fórmula química Nutriente Solubilidade


(%) em água
(g/L)

    Boro (B)  

Ácido bórico H3BO3 17 63

Bórax Na2B4O7·10H2O 11 20

Tetraborato de
Na2B4O7·5H2O 14 226
sódio

Octoborato de
Na2B8O13·4H2O 20 95
sódio

    Cobre (Cu)  

Óxido de cobre CuO 75 INS

Sulfato de cobre CuSO4·5H2O 25 316


    Ferro (Fe)  

Sulfato ferroso FeSO4·7H2O 19 156

Sulfato férrico Fe2 (SO4)3·9H2O 19 4400

Manganês
     
(Mn)

Sulfato
MnSO4·3H2O 27 742
manganoso

Óxido
MnO 41–68 1NS
manganoso

Molibdênio
     
(Mo)

Molibdato de
Na2MoO4·2H2O 34 840
sódio

Molibdato de
(NH4)6Mo7O24·4H2O 54 430
amônio

Trióxido de
MoO3 66 1
molibdênio

    Zinco (Zn)  

Sulfato de zinco Zn SO4·7H2O 23 965

Óxido de zinco ZnO 78 INS


Cobalto
     
(Co)

Sulfato de
CoSO4·7H2O 22 600
cobalto
Fonte: Adaptado de VOLKWEISS, 1991.
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(ed.). Micronutrientes na agricultura. Piracicaba: Potafos-CNPq, 1991. p. 391-412.

1 Departamento de Química Agrícola y Bromatología, Universidad Autónoma de Madrid –


UAM, Madrid, Espanha.
E-mail: juanjose.lucena@uam.es
2 Laboratório Agronómico, Hernandarias, Paraguai. E-mail:
andre.zabini@agronomico.com.py
Capítulo
9
Fertilização Biológica
Dulce Nombre Rodríguez Navarro3, José Enrique Ruiz Sainz4, Jacimar Luis de Souza5 e
Ricardo Henrique Silva Santos6
Introdução

Desafios e atribuições da agricultura


Nas últimas décadas, testemunhou-se o crescimento dramático da população
humana, a qual deverá atingir 8 bilhões até o ano 2025. Também ocorreu um
aumento intenso na produção de alimentos. Fertilizantes nitrogenados, junto com
sementes melhoradas e irrigação, formaram a “trindade tecnológica” responsável pelas
altas produções das lavouras durante a Revolução Verde (1970-1995). Portanto,
agricultura de alta produção constitui o alicerce para contornar uma epidemia de fome
em grande parte do mundo.
Nos países desenvolvidos, uma das maiores preocupações da agricultura é o
impacto do cultivo intensivo com a aplicação excessiva de nutrientes no meio
ambiente, compartilhando, portanto, com os países em desenvolvimento alguns dos
problemas causados pelo uso incorreto de recursos naturais e pelo manejo inadequado
dos insumos agrícolas. A FAO estimou um aumento de 57% na produção mundial de
lavouras para o período de 1995 a 2030. Com o objetivo de atingir as produções
estimadas, foi previsto que o consumo anual de fertilizantes – principalmente N, P e K
– terá que aumentar de 138 Mt produzidos em 2003 para um valor estimado entre 167
e 199 Mt até 2030.
A probabilidade dos efeitos de saturação (limites fisiológicos para as produções e
diminuição dos retornos para entradas de um único fator) e crescentes pressões
ambientais dificultam tentativas de previsão exata do consumo adicional de
fertilizantes nitrogenados. A Associação Internacional da Indústria de Fertilizantes
fornece informações detalhadas sobre produções de adubos e seus usos7.
O maior desafio da nutrição de plantas é a aplicação e o aprofundamento do
conhecimento por meio de pesquisas básicas e aplicadas para identificar práticas de
manejo de nutrientes apropriadas para assegurar sustentabilidade e aumento da
produção agrícola. A poluição ambiental resultante da grande disponibilidade de
nutrientes pode ser direta ou indireta. Diretamente, o uso incorreto, excessivo ou o
mau uso de fertilizantes pode levar à lixiviação, volatilização, acidificação e
desnitrificação. Indiretamente, a produção (uso de combustível fóssil no processo
Haber-Bosch) e o transporte (combustão de combustível fóssil) de fertilizantes podem
resultar em poluição atmosférica causada por CO2 e N, que em algum momento serão
depositados nos ecossistemas terrestres.
Dentro desse cenário, soluções originais e novas para aumentar a produção das
plantas são requeridas para facilitar a carga imposta ao meio ambiente e aos outros
recursos agrícolas. Depois do C e da água, o N é o nutriente que mais limita o
crescimento da planta e a produtividade da lavoura. A quantidade total de N no
planeta excede 1016 toneladas. Aproximadamente, 94% desse elemento está localizado
na atmosfera e 6%, na biosfera. Essa segunda percentagem equivale a 4 × 109 Mt e está
em sua maior parte – 99,96% – localizada na atmosfera como gás N2. Esses são os
números envolvidos no ciclo anual do N. Entretanto, as transformações que ocorrem
nesse ciclo (por exemplo, fixação de N2) não são exclusivamente biológicas.
A Fixação Biológica do Nitrogênio – FBN é responsável por 60% do
fornecimento de N fixado para o mundo, enquanto reações abióticas na atmosfera
associadas com descargas elétricas e fotoquímicas são responsáveis por cerca de 10%.

O papel das leguminosas na economia de N e seu


uso nos sistemas de cultivo
Um componente essencial na sustentabilidade da agricultura é o manejo eficaz
do N no meio ambiente. Isto geralmente envolve pelo menos algum uso do N
derivado do processo de FBN, uma atividade realizada de forma exclusiva por um
número limitado de microrganismos procarióticos, que são coletivamente chamados
de ixadores de nitrogênio. Eles catalisam a redução do nitrogênio atmosférico (N2) em
uma nova forma, como NH4+, que é disponibilizada para uma ampla gama de seres
vivos: micróbios, plantas e, através de novas transformações, animais. O N derivado
da FBN é menos suscetível às perdas causadas por volatilização, desnitrificação e
lixiviação, já que está diretamente incorporado às moléculas orgânicas. No cenário
agrícola, próximo de 80% do N2 biologicamente fixado é proveniente da simbiose que
inclui plantas leguminosas e espécies de Rhizobium, Bradyrhizobium e outros gêneros
relacionados. No geral, bactérias do solo que estabelecem simbiose fixadora de N com
plantas leguminosas são coletivamente chamadas rhizobia. No mundo inteiro, a
produção de leguminosas utiliza em torno de 250 milhões de hectares e fixa
aproximadamente 90 Mt de N2. As leguminosas são muito utilizadas como alimentos,
plantas forrageiras, sombra, combustível, madeira e também como culturas de
cobertura do solo e adubação verde.
Estima-se que a FBN corresponda a 65% do N atualmente utilizado na
agricultura, e espera-se que ela se torne cada vez mais importante nas produtividades
de lavouras futuras, particularmente nos sistemas sustentáveis. Como o N2
atmosférico é recurso renovável, a FBN é um recurso sustentável usado para a
incorporação de fertilizantes nitrogenados em sistemas agrícolas. Ao contrário das
grandes quantidades de energia fóssil usada para produção de fertilizantes
nitrogenados minerais por meio do processo de Haber-Bosch (cerca de 1,5 kg de
combustível fóssil para cada 1 kg de fertilizante produzido), a energia que impulsiona
a FBN é virtualmente livre e proveniente da fotossíntese. Por essas razões, a FBN, do
ponto de vista ambiental, é o modo mais correto de fornecimento de N para os
agroecossistemas.

Definição de fertilização biológica


A fertilização biológica é uma das várias maneiras de promover o
desenvolvimento da planta, que também pode ser alcançado através de tratamentos
com fertilizantes minerais.
No Brasil, o termo biofertilizante é associado a produtos líquidos de origem
biológica utilizados para nutrição e proteção de plantas. Neste capítulo, fertilizantes
biológicos são definidos como produtos que contêm microrganismos vivos, que,
quando aplicados em sementes e em superfícies de plantas ou do solo, colonizam a
rizosfera ou o interior da planta e promovem o crescimento, aumentando o
fornecimento ou disponibilidade de nutrientes para a planta hospedeira.
Paralelamente, os fertilizantes biológicos podem reduzir a incidência de doenças ou
melhorar as características do solo, resultando em maior crescimento das plantas.
As rizobactérias promotoras de crescimento de plantas são coletivamente
chamadas de RPCP. Nem todas são fertilizantes biológicos, já que muitas delas
melhoram o crescimento das plantas, reduzindo o desenvolvimento de organismos
patogênicos – com frequência referidas, portanto, como agentes de biocontrole. Além
das bactérias, outros microrganismos, tais como espécies fúngicas, também podem
atuar como fertilizantes biológicos ou agentes de biocontrole.
A fertilização biológica é concebida como uma alternativa promissora aos
produtos agroquímicos clássicos, a exemplo de fertilizantes e pesticidas. Os
biofertilizantes podem ser usados para aumentar a produção da cultura e melhorar a
saúde da planta dentro do enquadramento da agricultura sustentável.
A maioria dos estudos sobre fertilização biológica tem focado na melhoria da
produção na agricultura ou horticultura, e não na silvicultura. Isto se deve aos
seguintes fatores: (i) fertilizantes biológicos podem suplementar ou reduzir o uso de
fertilizantes minerais, especialmente em relação ao N e P; (ii) os efeitos causados pelos
biofertilizantes podem ser mais facilmente detectados e mensurados, já que as espécies
de plantas usadas na agricultura e horticultura possuem ciclos de vida curtos.
Contudo, há um crescente interesse no uso de bactérias benéficas e fungos
micorrízicos como inoculantes em viveiros de mudas de árvores devido à repetida
demonstração de estímulo ao desenvolvimento de plantas olerícolas ou agrícolas.
Outra razão se deve ao fato de a inoculação de biofertilizantes em mudas florestais
antes do plantio não ser cara, ser ambientalmente favorável e de fácil aplicação nos
tratamentos em viveiros.
As cianobactérias, um grupo de bactérias fotossintéticas primeiramente
conhecidas como algas verde-azuladas – AVA, constituem outro grupo de
biofertlizantes. Elas são encontradas em uma variedade de hábitats aquáticos ou
terrestres. Muitas possuem capacidade de fixar nitrogênio. De importância agrícola,
com ênfase especial no cultivo de arroz, tem-se a associação simbiótica, mundialmente
encontrada, entre a samambaia-aquática Azolla com cianobactérias (Anabaena azollae
Bory de Saint-Vincent ex Bornet & Flahault, 1886).
O presente capítulo abordará o conceito bastante conhecido de fertilidade e
proteção microbiana do solo e a função crucial dos microrganismos nos ciclos
biogeoquímicos de N e P, além da reciclagem dos nutrientes do solo. Os
microrganismos mais importantes usados como inoculantes nas práticas agrícolas
serão descritos. Este capítulo também fornecerá informações sobre como inoculantes
microbianos são produzidos e avaliados. As vantagens e as falhas do seu uso também
serão discutidas, assim como as recomendações práticas de biofertilizantes.
Inoculantes microbianos utilizados na agricultura

Tipos de inoculantes microbianos


Uma grande variedade de microrganismos são candidatos potenciais para uso
como inoculantes em práticas agronômicas. São exemplos de microrganismos que
podem ser usados como biofertilizantes, RPCP e/ou agentes de biocontrole:
A. Fertilizadores
A. 1. Microrganismos que aumentam a disponibilidade de N:
– Rhizobium para lavoura de leguminosas.
– Azotobacter/Azospirillum para culturas de plantas além das leguminosas,
principalmente cereais.
– Acetobacter para cana-de-açúcar.
– AVA e Azolla para campos de arroz.
A. 2. Microrganismos que aumentam a disponibilidade de P:
– Bactérias solubilizadoras de fosfato – BSF.
– Fungos micorrízicos.
B. Microrganismos que melhoram o desenvolvimento e a fitossanidade por
mecanismos diretos ou indiretos
B. 1. Rizobactérias promotoras de crescimento de plantas – RPCP.
B. 2. Agentes de biocontrole – ABC.

Alguns microrganismos rizosféricos apresentam várias atividades que


beneficiam o crescimento de plantas, tornando-se difícil decidir em qual dessas
categorias deveríam ser colocados. A Tabela 9.1 resume os mecanismos de promoção
de crescimento de plantas realizados por diferentes bactérias rizosféricas.

Tabela 9.1 - Mecanismos de promoção do crescimento de plantas por diferentes


RPCP
Mecanismo Modo de ação Espécie Tipo RPCP

Achromobacter piechaudii
Tolerância à ACC,
Azospirillum lipoferum
salinidade SP e AIA
Klebsiella oxytoca

Enterobacter cloacae
Competição por
Pseudomonas putida Sideróforos
nutrientes
Serratia plymuthica

Rhizobium sp.
Direto FBN
Bradyrhizobium sp.
Disponibilidade
Rhizobium
de nutrientes
Pseudomonas
SP
Bacillus
Mycorrhiza fungi

Síntese de
Azospirillum sp. AIA, outros
fitormônios

Bacillus sp.
Antibiose Streptomyces sp.
Antibióticos
(biocontrole) Pseudomonas sp.
Indireto Trichoderma sp.

Aumento das Muitas espécies de bactérias e Ativador de


defesas das plantas componentes da superfície delas ISR

ACC = atividade deaminase; SP = solubilização de fosfatos; AIA = produção de ácido indolacético; FBN
= fixação biológica do nitrogênio; SRI = resistência sistêmica induzida.

Fixação de N realizada por cianobactérias


As cianobactérias constituem um importante grupo de microrganismos capazes
de fixar N2 atmosférico. Elas podem ser unicelulares ou formadoras de colônias.
Dependendo da espécie e das condições ambientais, as colônias podem formar
filamentos, placas, ou até mesmo tubos ocos.
Determinadas colônias filamentosas têm a capacidade de se diferenciarem em
três tipos celulares diferentes: (i) células vegetativas, que são células fotossintéticas de
morfologia normal formadas em condições favoráveis para o crescimento; (ii) esporos
resistentes ao clima, que podem ser formados durante condições ambientais adversas;
e (iii) uma célula com parede espessa, chamada heterocisto, que contém a enzima
nitrogenase e fixa de nitrogênio.
A transição de célula vegetativa em heterocisto é um processo gradual da
transformação da célula fixadora de CO2 ou geradora de O2 em célula anaeróbica que é
capaz de fixar N. O heterocisto apresenta parede celular com múltiplas camadas
conectadas por pontes citoplasmáticas para limitar células vegetativas fotossintéticas.
Essas pontes regulam o fluxo de moléculas entre os dois tipos celulares e, portanto,
uma série de mudanças fisiológicas ou bioquímicas levam à fixação e assimilação de N.
A maioria das cianobactérias fixadoras de N pertence às ordens Nostocales e
Stigonematales, que contêm gêneros diferentes, tais como Anabaena, Anabaenopsis,
Cylindrospermum, Chlorogloea, Nostoc, Calothrix, Scytonema, Stigonema e Westiellopsis
(Figura 9.1A).
Em culturas puras, as cianobactérias fixam quantidades diferentes de N, que
variam de 5,2 a 14,5 mg/100 mL do meio, dependendo do período de incubação.
Em geral, espécies fixadoras de N são associadas com formas que possuem
heterocistos, embora existam relatos de fixação por linhagens filamentosas que não
são heterocistos.
O primeiro estudo de atividade da nitrogenase veio de culturas de Anabaena
cylindrica Lemmermann 1896; subsequentemente, a atividade da nitrogenase foi
descrita em heterocistos isolados e também em extratos de Plectonema não formadora
de heterocistos.
A enzima nitrogenase é altamente sensível ao oxigênio; como as cianobactérias o
produzem durante a fotossíntese, um mecanismo incorporado deve existir em nível
celular para protegê-la desse elemento. A enzima nitrogenase de formas filamentosas
como Plectonema é mais sensível ao oxigênio do que a da cianobactéria heterocisto,
indicando um mecanismo protetor fornecido pelo heterocisto que previne inativação
do oxigênio no sistema de fixação de N sob condições aeróbicas. A nitrogenase de
cianobactérias é muito parecida com a de outras bactérias fixadoras de N2, catalisando
a redução de prótons, cianídeos e C2H2, além de N2.

A importância das cianobactérias no cultivo de arroz


O arroz (Oryza sativa L.) é o alimento mais importante para quase metade da
população do planeta. A produtividade da cultura do arroz baseia-se em diversas
variáveis, incluindo clima, tipo de solo, umidade e nutrientes. Como em muitos
outros sistemas de cultivo, o N é o nutriente com maiores efeitos na produção de
arroz. Nos trópicos, o arroz irrigado produz de 2 a 3,5 t ha–1, utilizando N
naturalmente disponível, derivado da fixação de N realizada por diazótrofos de vida
livre e associados às plantas e à mineralização do N no solo.
A fixação do N por cianobactérias em campos de arroz é responsável por
aproximadamente 49 kg N/ha em condições normais, que pode ser dobrada se
quantidades ótimas de fosfato e Mo estiverem disponíveis no solo.
Sistemas autóctones de FBN sustentam apenas produções baixas de arroz
(menos que 4 t/ha). Entretanto, a maior produtividade desse cereal é importante para
atender à crescente demanda. Sistemas exógenos de FBN, como Azolla-Anabaena e
leguminosas noduladoras, são, portanto, geralmente introduzidos em campos de arroz
para aumentar o fornecimento de N para a cultura.
A alga Azolla, no cultivo de arroz, é geralmente inoculada e cultivada como
cultura de cobertura para incorporação no solo (Figura 9.1B). A cianobactéria
Anabaena azollae em simbiose com Azolla consegue fixar quantidades substanciais de N
e liberar o equivalente a 70% do N fixado para a cultura do arroz. Sob condições
ótimas, a quantidade de N de Azolla no ciclo de desenvolvimento (cerca de 40 dias)
varia de 20 a 146 kg N/ha e a fixação de N, de 0,4 a 3,6 kg N/ha. Mensurações de N na
camada 0–50 cm do perfil do solo após 27 ciclos de cultivo confirmou um ganho anual
médio de 76 kg N/ha no tratamento com Azolla.
Um obstáculo para a adoção mais ampla da inoculação de Azolla pelos
produtores reside na dificuldade de manutenção de inóculos de Azolla entre as épocas
de cultivo. Grandes quantidades de esporos podem ser obtidas, mas infelizmente
tecnologias específicas para atingir esse objetivo ainda não foram desenvolvidas.
Seleção de germoplasma superior, desenvolvimento de híbridos superiores de Azolla e
mais conhecimento sobre o mecanismo que induz esporulação certamente ajudariam
no desenvolvimento de Azolla como uma tecnologia manejável para propósitos
agrícolas.

Figura 9.1 - (A) Micrografia por contraste de fase de células de Nostoc, uma
cianobactéria heterocística filamentosa; e (B) plantas de arroz cultivadas
com cobertura de Azolla.
Fotos: Elvira Perona e Fernández Valiente.
Interação leguminosa-Rhizobium: uma simbiose
fixadora de N clássica
Sabe-se desde os tempos mais remotos que práticas de rotação de cultura,
alternando uma não leguminosa com uma leguminosa, possuem mais vantagens do
que o cultivo contínuo de não leguminosas. No momento presente, a FAO promove
agricultura sustentável ao aumentar o uso de leguminosas em rotação de cultura e ao
utilizá-las como cultura de cobertura para enriquecimento em N.
Sabe-se também que raízes de leguminosas contêm nódulos que apresentam
estruturas definidas (Figura 9.2). Esses dois fatos, entretanto, não eram relacionados
até o século XIX, quando os alemães Hellriegel e Wilfarth publicaram uma série de
artigos nos quais constava que plantas leguminosas são capazes de reduzir (fixar) N
atmosférico em íons de amônia e que somente plantas que possuem nódulos
radiculares eram capazes de realizar esse processo. Pouco tempo depois, foi
demonstrado que esses nódulos são o resultado de uma infecção bacteriana. Eles
podem ser considerados um novo órgão da planta, na qual uma forma diferenciada de
bactéria que habita a raiz existe dentro de células da leguminosa hospedeira. As
bactérias dentro dos nódulos sofrem uma série de mudanças fisiológicas e estruturais,
resultando na formação do chamado bacteroide, a forma bacteriana simbiótica
responsável pelo processo simbiótico de FBN, já que a redução de N atmosférico é
realizada pela bactéria, e não pela planta. A FBN é considerada uma característica
microbiana que pode ser encontrada apenas em alguns membros de Bacteria e Archaea.

Figura 9.2 - (A) Nódulos de crescimento determinado em raízes de Lotus japonicus; e


(B) nódulos de crescimento indeterminados em raízes de Medicago sativa
(alfalfa).
A formação de nódulos fixadores de nitrogênio é uma interação muito particular
entre bactérias e plantas por causa da especificidade marcada entre as espécies de
leguminosas e as linhagens de rizóbios. Como resultado dessa especificidade, uma
única linhagem rizobiana será capaz de infectar certas espécies de leguminosas, mas
não outras. Dependendo da linhagem rizobiana com que interagem, as leguminosas
podem pertencer a diferentes subgrupos. Com base nesse critério, o termo grupo de
inoculação cruzada foi designado, definindo classes de linhagens rizobianas capazes de
nodular um grupo particular de plantas hospedeiras.
Há dois grupos principais de rizóbios: os que são capazes de nodular muitas
leguminosas diferentes – linhagens de ampla abrangência de hospedeiros; e os que
nodulam apenas algumas leguminosas – linhagens de estreita abrangência de
hospedeiros.
A formação de nódulo radicular que contém uma linhagem rizobiana específica
não garante que ocorrerá FBN simbiótica. Se a interação microrganismo-planta for
ineficaz, os nódulos formados serão pequenos, branco-esverdeados e incapazes de
fixar N. Do contrário, se for eficaz, os nódulos serão grandes, avermelhados e
fixadores de N.
A eficácia da interação entre rizóbio e leguminosa depende dos genomas dos
dois parceiros simbióticos, como também de certas condições ambientais. Em outras
palavras, a quantidade de N fixado dentro dos nódulos será o resultado de interações
do genoma das duas espécies simbiontes e de certas condições ambientais. Essa
interação simbiótica rizóbio-leguminosa provavelmente tem contribuído para o
sucesso ecológico da família Leguminosae: são 18 mil espécies distribuídas pelo
mundo inteiro aproximadamente.
As espécies de rizóbios descritas até agora são bastante diversas, e a taxonomia
delas mudou consideravelmente nos últimos 20 anos. O isolamento das novas
linhagens de rizóbios de muitas leguminosas diferentes e o desenvolvimento de
técnicas de biologia molecular mais sofisticadas produziram um aumento considerável
no número de espécies de rizóbios – no momento, mais de 40 – que foram
oficialmente aprovadas e listadas. A inclusão nesses estudos de imensas áreas
geográficas novas, tais como a China, até então inexploradas quanto à presença de
populações autóctones de rizóbios, também contribuiu para aumentar a lista.
O gênero original Rhizobium, membro da α-Proteobacteria, é agora dividido em
diferentes gêneros: Rhizobium, Sinorhizobium, Mesorhizobium, Bradyrhizobium,
Allorhizobium e Azorhizobium.
Nos últimos anos, entretanto, foi descoberto que outras bactérias
filogeneticamente diferentes das tradicionais linhagens filogenéticas dos rizóbios
também são capazes de fixar N pela formação de nódulos com algumas leguminosas
específicas. Essas linhagens não rizobianas capazes de nodular leguminosas carregam
genes de nodulação (nod) e de fixação de N (nif e ix) similares àqueles encontrados
nas espécies rizobianas. É muito provável que essas bactérias tenham herdado genes
simbióticos por meio da transferência genética horizontal. Consequentemente, a
transferência bacteriana de elementos genéticos móveis, tais como genes nod, ix, e
nif, carregadores de plasmídeos, é um fenômeno geral que deveria ser levado em
consideração nos estudos taxonômicos. A Tabela 9.2 mostra exemplos de bactérias
que formam nódulos fixadores de nitrogênio em diferentes espécies de leguminosas.

Tabela 9.2 - Gêneros e espécies de bactérias noduladoras de leguminosas

Bacteria* Leguminosa nodulada

Rhizobium leguminosarum biovar viciae Pisum sativum, Vicia sativa

Rhizobium leguminosarum biovar trifolii Trifolium

Sinorhizobium meliloti Medicago sativa

Sinorhizobium fredii Glycine max e várias outras leguminosas

Rhizobium etli Phaseolus vulgaris

Rhizobium tropici Phaseolus vulgaris

Mesorhizobium loti Lotus

Bradyrhizobium japonicum Glycine max e várias outras leguminosas

Azorhizobium caulinodans Sesbania


Burkholderia tuberum Aspalathus carnosa

Ralstonia taiwanensis Mimosa


* Todas as bactérias listadas são alfaproteobactérias, exceto Burkholderia e Ralstonia, as quais pertencem
à classe betaproteobactéria.

Embora a lista de simbiontes de leguminosas possa indicar que todos os táxons


bacterianos sejam bem definidos, é bastante provável que essa classificação logo
sofrerá uma importante variação. De fato, o número de gêneros de leguminosas, cujos
simbiontes bacterianos já foram taxonicamente estudados, representa menos de 20%
de todos os gêneros de leguminosas. Portanto, espera-se que, se as leguminosas
restantes forem investigadas, mais linhagens rizobianas que mostrem características
diferentes serão isoladas. É bem provável que muitas delas merecerão ser classificadas
como um novo gênero ou espécie.
Espécies rizobianas são Gram-negativas não formadoras de esporos (0,5–1,0 ×
1,2–3,0 µm). Elas são também aeróbicas, têm motilidade e apresentam temperaturas
ótimas para crescimento, variando de 25 a 30 °C. São quimiorganotróficas, utilizando
uma ampla diversidade de carboidratos e sais orgânicos como única fonte de carbono,
sem formação de gás. O tempo de geração de linhagens Bradyrhizobium (mais de 6
horas) é nitidamente maior do que o das linhagens Rhizobium ou Sinorhizobium (1,5–5
horas). Em Rhizobium e Sinorhizobium, e em algumas estirpes Mesorhizobium, os genes
de nodulação (nod) e de fixação de nitrogênio ( ix e nif) são agrupados em plasmídeos
grandes chamados plasmídeos simbióticos – pSyms.
Os genes de simbiose de Bradyrhizobium e Azorhizobium são encontrados no
cromossoma. As sequências completas das diferentes estirpes dos gêneros Rhizobium,
Sinorhizobium, Bradyrhizobium e Mesorhizobium já se encontram disponíveis em bancos
de dados.
O processo de nodulação das leguminosas é abordado em detalhes no Capítulo 4.

Fungos micorrízicos
As raízes de quase todas as plantas superiores são conhecidas por formar
simbiose mutualística com fungos. Essas associações são chamadas micorrizas (“raízes
de fungos”, do grego mikes = cogumelos ou fungos e rhiza = raiz). Em 1991, micorriza
foi definida como “uma simbiose mutualística entre planta e fungos localizada na
estrutura radicular ou tipo radicular na qual a energia se move principalmente da
planta para o fungo e recursos inorgânicos se movem do fungo para a planta”
(ANTONIOLLI; KAMINSKI, 1991). Micorrizas são associações altamente
desenvolvidas entre fungos do solo e raízes de plantas e estão presentes na maioria dos
solos (Figura 9.3). Os padrões nessa associação são membros do reino Fungi
(Basidiomicetos, Ascomicetos e Zigomicetos) e da maioria das plantas vasculares. Em
simbiose micorrízica, a planta hospedeira recebe nutrientes minerais enquanto o
fungo obtém compostos orgânicos derivados da fotossíntese, conforme explicado no
Capítulo 10.
Figura 9.3 - Estruturas vesiculares de fungos micorrízicos vesículo-arbusculares em
raízes de oliveiras.
Foto: Manuel Camacho.

Micorrizas podem ser em grande parte classificadas em três tipos principais:


ectomicorrizas, endomicorrizas (micorrizas VAM), ectoendomicorrizas (Ericaceous
mycorrhizae).
No geral, os efeitos benéficos derivados das aplicações de fungos micorrízicos
são devidos a uma das seguintes atividades biológicas ou à combinação destas: (i)
elevação da capacidade de absorção da raiz, principalmente em virtude de um
aumento da área de absorção através do crescimento da hifa micorrízica, que eleva a
mobilização e transferência de nutrientes – P, N, S, Cu, Zn – do solo para a planta; (ii)
promoção pelas micorrizas do desenvolvimento de bactérias solubilizadoras de P ao
redor da micorrizosfera e aumento da simbiose entre leguminosas e Rhizobium; (iii)
efeito dos antibióticos secretados por micorrizas na colonização das raízes por outros
microrganismos e redução da suscetibilidade da planta a patógenos do solo; (iv)
aumento da síntese de fitormônios causado pela presença de fungos micorrízicos; e (v)
alteração nas relações hídricas entre solos e plantas, o que pode melhorar a adaptação
da planta a situações extremas, tais como seca e contaminação por metais pesados.
Inoculantes ectomicorrízicos são fáceis de serem obtidos para aplicações em
viveiros. Atualmente, entretanto, a multiplicação endomicorrízica só pode ser
realizada na presença da planta hospedeira, o que é um fator limitante para o aumento
do uso de inoculantes endomicorrízicos nas práticas agrícolas. Apesar dessas
limitações, alguns produtos comerciais já são vendidos nos Estados Unidos.
Suas aplicações mais importantes são: (a) inoculação de substratos e solos que
foram fumigados para reduzir ou eliminar patógenos, como em cultivos de olerícolas;
(b) reintrodução de plantas em locais degradados, a exemplo de áreas de mineração
com pHs extremos, toxicidade por metais e baixo conteúdo de matéria orgânica e
fertilidade; e (c) reintrodução de plantas em zonas áridas ou semiáridas. A antecipação
da aplicação de micorrizas não apenas pode contribuir para o estabelecimento da
planta como também pode aumentar a tolerância dela a condições de estresse biótico e
abiótico. Essa técnica tem sido aplicada inclusive em material vegetal micropropagado.

Azospirillum, uma bactéria modelo de RPCP


Como as raízes de plantas são uma constante fonte de energia, nutrientes e água,
áreas com alta diversidade microbiana são diretamente encontradas nelas e em suas
proximidades. Todas essas áreas são coletivamente chamadas de rizosfera. Muitas
bactérias rizosféricas são capazes de colonizar raízes, e, como resultado dessa interação
entre plantas e microrganismos, o crescimento de plantas é otimizado. No geral, essas
rizobactérias benéficas, como já tratado neste capítulo, são referidas como RPCP. Elas
melhoram crescimento de plantas por um ou mais mecanismos:
• Aumento da fixação de N derivada da associação rizóbio-leguminosa.
• Aumento da absorção de nutrientes minerais, como P, S, Fe, Ca, Mg ou Cu.
• Produção de fitormônios, como auxinas, citocininas e/ou giberelinas.
• Supressão de patógenos de plantas e/ou indução da resistência em hospedeiros de
plantas contra patógenos.
As RPCP incluem muitas espécies bacterianas e estirpes diferentes pertencentes
a gêneros como Azospirillum, Azotobacter, Bacillus, Burkholderia, Herbaspirillum ou
Pseudomonas. Bactérias de nódulos radiculares, tais como Rhizobium ou
Bradyrhizobium, também são conhecidas pela capacidade de formar interações
associativas não específicas com raízes de outras plantas não leguminosas, incluindo
monocotiledôneas, nas quais não se desenvolvem nódulos radiculares. Essa interação
rizóbio-não leguminosa pode promover aumento do crescimento da planta e
produtividade de grãos em condições de casa de vegetação e campo. Portanto, estirpes
rizobianas também podem ser consideradas bactérias do solo capazes de agir com as
RPCP.
Azospirillum brasilense Tarrand, Krieg & Döbereiner, 1978 e A. lipoferum Tarrand
et al., 1979 estão sendo estudadas intensivamente, já que foram encontradas em
relação simbiótica com raízes de uma diversidade de capins tropicais e culturas de
cereais. Azospirillum são protobactérias microaerofílicas do solo capazes de fixar N
(Figura 9.4). Nos últimos 30 anos, ficou evidente que efeitos positivos de Azospirillum
no crescimento de plantas não são devidos primariamente à FBN, mas à capacidade
bacteriana de produzir fitormônios. Essas substâncias bacterianas, que induzem
mudanças fisiológicas e morfológicas nas raízes de plantas inoculadas, levariam ao
aumento na absorção de água e minerais. Esse pressuposto é defendido pela
observação de que efeitos da inoculação são mais altos em campos moderadamente
fertilizados com N, P e K, indicando que a inoculação com Azospirillum não substitui
adubação nitrogenada, mas sim melhora sua utilização e eleva a produtividade da
cultura com níveis baixos de adubação.
Portanto, Azospirillum é uma bactéria modelo para o estudo de microrganismos
do solo que apresentam efeitos benéficos para crescimento da planta no modo RPCP.
A Tabela 9.3 resume alguns dos efeitos benéficos reportados para inoculantes A.
brasilense em condições de casa de vegetação e/ou de campo.
Figura 9.4 - Micrografia de Azospirillum brasilense.
Foto: Yaacov Okon.

Tabela 9.3 - Efeitos de inoculantes de Azospirillum brasilense sobre o crescimento de


raízes e plantas*

Efeitos nos pelos Aumento do número, comprimento e


radiculares e na densidade de pelos radiculares maduros
arquitetura de raiz
Redução do período para surgimento de pelos

Redução da distância entre o ápice da raiz e a


região de enlongamento de pelos radiculares

Redução da zona de enlongação das raízes

Expansão do diâmetro das raízes


Promoção da nodulação e fixação de N por
linhagens de rizóbios

Alargamento das células corticais das raízes

Aumento do número e comprimento de


raízes laterais

Elongação das raízes por redução da


concentração de etileno

Aumento da taxa de respiração total das raízes

Aumento da absorção de fosfatos pelas raízes

Aumento da capacidade de exsudatos


radiculares em induzir genes nod em rizóbios

Efeitos na função Aumento do teor de fitormônios em tecidos


radicular radiculares

Aumento da absorção de N, P e Fe minerais

Aumento da capacidade de absorção de água e


tolerância à seca

Aumento da tolerância ao estresse salino

Aumento da área foliar

Atraso da senescência foliar


Efeitos no crescimento
das plantas Aumento do teor de minerais e carboidratos

Aumento do crescimento vegetativo e


produção de grãos
* Feijão, milho, milheto, arroz, sorgo, soja, beterraba açucareira, tomate e trigo são culturas nas quais
um ou mais dos efeitos mencionados foram descritos.
Fonte: Adaptado de DOBBELAERE et al., 2003.

Gênero Frankia
Simbioses fixadoras de N que envolvem microrganismos além dos rizóbios
ocorrem em uma variedade de plantas não leguminosas. Por exemplo, muitos
arbustos e árvores de florestas temperadas, como amieiro (Alnus glutinosa
(L.)  Gaertn.), formam nódulos fixadores de N que contêm organismos filamentosos
tipo estreptomicetos denominados Frankia. O sistema enzimático da nitrogenase está
localizado dentro de dilatações terminais especiais nas células chamadas vesículas. Esses
nódulos radiculares, também chamados nódulos radiculares actinorrízicos, constituem
uma significativa fonte de N em muitas partes do mundo. Frankia pode entrar nas
raízes por duas vias diferentes: infecção do pelo radicular ou penetração intercelular.
A arquitetura de nódulos radiculares actinorrízicos maduros mostra diferenças claras
daquela das leguminosas. Por exemplo, os feixes vasculares estão centralmente
localizados nos nódulos actinorrízicos, mas estão também presentes no córtex exterior
dos nódulos das leguminosas.
Devido a essa simbiose fixadora de N, plantas actinorrízicas são capazes de
colonizar solos que contêm níveis baixos de N mineral. As plantas actinorrízicas
compreendem um amplo grupo de espécies lenhosas encontradas em todos os
continentes, exceto a Antártica. Elas são classificadas em 4 subclasses, 8 famílias e 25
gêneros que compreendem mais de 220 espécies. A Tabela 9.4 mostra um resumo da
distribuição geográfica e classificação taxonômica de plantas actinorrízicas. A
importância econômica e ecológica de algumas delas é significativa porque elas podem
ser usadas como fonte de biomassa para geração de energia, para remediação de solos
contaminados ou para prevenir erosão do solo.

Tabela 9.4 - Distribuição geográfica e taxonômica da classificação de plantas


actinorrízicas

Família Distribuição de gêneros actinorrízicos em diferentes continentes


Eurásia Américas África Oceania

Myrica
Myricaceae Myrica Myrica Myrica
Comptonia

Betulaceae Alnus Alnus   AlnusA

      Allocasuarina

CasuarinaA CasuarinaA CasuarinaA Casuarina


Casuarinaceae
      Ceuthostoma

GymnostomaA   GymnostomaA Gymnostoma

Elaeagnus ElaeagnusA ElaeagnusA ElaeagnusA

Elaeagnaceae Hippophae      

  Shepherdia    

  Ceanothus    

  Colletia    

  Discaria   Discaria

Rhamnaceae   Kentrothamnus    

  Retanilla    

  Talguenea    

  Trevoa    

Rosaceae   Cercocarpus    

  Chamaebatia    
  Cowania    

  Purshia   PurshiaA

Dryas Dryas    

Coriariaceae Coriaria Coriaria   Coriaria

Datiscaceae Datisca Datisca    


Nomes seguidos por “A” sobrescrito indicam que um gênero em particular não é nativo do continente,
mas introduzido.

Disponibilidade de P - bactérias solubilizadoras de


fosfato – BSF
Quando comparado a outros nutrientes importantes, o P é de longe o que
apresenta menor mobilidade e disponibilidade para as plantas na maioria das
condições de solo. Ele está presente no solo em quantidades que variam de 400 a 1.200
mg/kg. Portanto, esse elemento é frequentemente o principal ou mesmo o primeiro
fator limitante para crescimento de plantas. Estima-se que, no mundo inteiro, 5,7
bilhões de hectares contenham quantidades muito baixas de P disponível para o
sustento de uma ótima produção agrícola. O ciclo de P na biosfera pode ser descrito
como aberto ou sedimentar, porque não há troca com a atmosfera. A baixa mobilidade
do P-inorgânico no solo é devida à alta reatividade dos íons de fosfato, que podem de
fato ser adsorvidos por minerais com cargas positivas como óxidos de Fe e Al. Íons de
fosfato também podem formar uma gama de minerais em combinação com Ca, Fe e
Al. Logo, apenas uma proporção mínima do P do solo está presente na forma iônica
na solução do solo.
Embora íons P possam alcançar grandes concentrações em solos altamente
fertilizados, em muitos deles sua concentração na solução do solo é bastante baixa
quando comparada a uma concentração adequada para o ótimo crescimento das
plantas das espécies mais exigentes. Isto é particularmente preocupante para regiões
tropicais e subtropicais, cujos solos são altamente intemperizados, e para as regiões da
bacia do Mediterrâneo, que são em grande parte caracterizadas por solos calcários e
alcalinos.
Mudanças nas concentrações iônicas na solução do solo, ao redor de raízes
absorvedoras ou pelos radiculares, surgem da diferença entre a exigência da planta e o
fornecimento pela solução do solo. Uma redução aguda na concentração de íons de P,
portanto, deveria ser esperada na rizosfera, na maioria dos casos, gerando um
gradiente de concentração que é a força propulsora na difusão de íons de P em direção
à raiz. Sabe-se que as condições químicas da rizosfera diferem consideravelmente do
solo como um todo, como consequência de uma série de processos diretamente
induzidos pela atividade das raízes das plantas ou pela atividade da microflora da
rizosfera.
Além da fertilização com P e decomposição enzimática de compostos orgânicos,
a mobilização de P microbiano seria uma maneira importante de aumentar a
disponibilidade desse nutriente para as plantas. Para o ciclo do P, microrganismos do
solo estão envolvidos numa série de processos que afetam a transformação do
elemento e, assim, influenciam a subsequente biodisponibilidade do P-inorgânico do
solo (como fosfato) para as raízes das plantas.
Diversas espécies de bactérias do solo são capazes de realizar solubilização in
vitro de fosfatos, e alguns desses microrganismos podem mobilizar P para as plantas.
Elas são genericamente denominadas bactérias solubilizadoras de fosfato – BSF. Entre
as bactérias Gram-negativas que solubilizam fosfato, os grupos mais extensivamente
estudados são Rizhobia, Bacilli e Pseudomonas. A detecção visual e avaliação
semiquantitativa da capacidade de solubilização de fosfato de microrganismos têm
sido possível com o uso de métodos de análise de placa. Esses métodos mostram zonas
clareadas ao redor das colônias microbianas no meio que contêm fosfatos minerais
insolúveis (em sua maioria, fosfato tricálcico ou hidroxilapatita) como única fonte de
P. A Figura 9.5 mostra diferentes bactérias rizosféricas capazes de solubilizar íons
insolúveis de P, como (PO4)2Ca3.
Como exemplo da aplicação combinada, a Tabela 9.5 mostra o efeito de
coinoculação com Rhizobium, Bacillus megaterium – PSB e Trichoderma harzianum –
fungo para biocontrole – no crescimento de plantas de grão-de-bico (Cicer arietinum)
em condições de campo. A literatura científica descreve muitos casos nos quais a
inoculação combinada de leguminosas com Rhizobium e PSB aumenta significamente a
nodulação, o crescimento da planta, a assimilação de nutrientes e o rendimento da
cultura.

Figura 9.5 - Teste para detecção de capacidade solubilizadora de fosfato de diferentes


bactérias rizosféricas. As setas vermelhas indicam colônias de bactérias
capazes de solubilizar fosfatos.
Produção e avaliação de inoculantes microbianos
Nesta seção, será descrito o uso de inoculantes rizobianos como modelo de como
microrganismos podem ser usados nas práticas agrícolas. Essa escolha é sustentada
por duas razões principais: primeiro, inoculantes com rizóbios têm sido usados no
mundo inteiro há mais de um século em escala comercial; segundo, a produção de
outros inoculantes microbianos (baseados em espécies bacterianas diferentes) segue
passos e processos similares estabelecidos pela indústria Rhizobium-inoculante. A
Figura 9.6 mostra o procedimento geral seguido para o desenvolvimento de
inoculantes microbianos.

Tabela 9.5 - Efeito da coinoculação de grão-de-bico (Cicer arietinum) com Rhizobium,


PSB e Trichoderma na absorção de nitrogênio e fósforo e parâmetros de
produtividade sob condições de campo aos 75 dias após o plantio

Tratamento Biomassa da parte Produtividade de Absorção Absorção


aérea grãos de N de P
(g/planta–1) (g/planta–1) (mg/planta– (mg/planta–
1 1
) )

Controle 21,7 12,0 630 22

FR 16,2 11,3 361 12

Rhizobium 25,3 15,4 822* 42*

PSB + FR + R 47,6* 30,3* 968* 77*

T + FR + R 40,2* 20,6* 922* 61*

PSB + T + FR
38,4* 30,7* 1079* 89*
+R
FR = fosfato de rocha; R = Rhizobium; T = Trichoderma harzianum TH10; PSB = Bacillus megaterium.
Valores são médias de três repetições. Valores seguidos de * são significativamente diferentes (P < 0.05)
do controle.
Fonte: Adaptado de RUDRESH et al., 2005.

Inoculantes comerciais são compostos por dois elementos principais: uma


estirpe microbiana e um veiculador, sólido ou líquido. Estirpes rizobianas são
selecionadas com base no seu potencial máximo de fixação. Outros microrganismos
são selecionados pela capacidade que possuem em controlar patógenos de plantas ou
porque aumentam a disponibilidade de um nutriente para a planta (bactérias
solubilizadoras de fosfato, por exemplo). O processo de seleção da estirpe rizobiana
inclui vários estágios:
(1) Isolamento de bactérias fixadoras de N dos nódulos de plantas com
crescimento no campo ou de amostras de solos.
(2) Purificação de isolados bacterianos.
(3) Avaliação sob condições de casa de vegetação das propriedades
simbióticas daqueles isolados. Para esses estudos, mudas de leguminosas
assepticamente cultivadas são inoculadas, e respostas das plantas à
inoculação são comparadas com aquelas não inoculadas do controle.
Figura 9.6 - Procedimento geral para desenvolvimento de inoculantes microbianos.
Fonte: Adaptado de MONTESINOS, 2003.

Experimentos de campo ou testes-piloto, sob um vasto espectro de condições


ambientais e/ou patógenos-alvo, também são requeridos no processo de seleção da
estirpe de elite para elaboração de inoculantes.
Há uma variedade imensa de tipos de formulações, tanto sólidas como líquidas.
Os principais tipos usados atualmente foram classificados em produtos secos (pós,
grânulos e briquetes) e de suspensão (emulsões baseadas em óleos ou água), embora
também possam ser encontrados tipos especializados, tais como culturas desidratadas
por congelamento e microcápsulas. O tipo de inoculante globalmente usado é baseado
em veiculadores de turfa (sólidos) que podem ser formulados para sementes ou para
aplicação direta no solo.
Inoculantes líquidos, disponíveis em suspensões ou concentrados congelados,
são formulações novas. São essencialmente suspensões de microrganismos em
líquidos apropriados e também podem incluir aditivos em agentes de dispersão ou
umectantes, nutrientes e compostos que protegem contra luz ultravioleta ou choques
osmóticos, como polietilenoglicol – PEG, polivinilpirrolidona – PVP e
carboximetilcelulose – CMC.
O encapsulamento de células microbianas constitui um método alternativo.
Nesse sistema, células microbianas são misturadas com materiais formadores de
matriz – polissacarídeos gelatinizados, emulsões de materiais lipídicos, amidos,
celulose e outros tipos de polímeros – que são por último diluídos e secos por
pulverização para obtenção de partículas. Muitos produtos comerciais, especialmente
aqueles que contêm microrganismos que agem como agentes de biocontrole, são
produzidos por secagem via pulverização.
A questão da competição
A capacidade de uma dada estirpe em formar nódulos numa leguminosa
específica, na presença de outros rizóbios que também são capazes de nodular a
mesma leguminosa, é chamada de capacidade competitiva bacteriana para nodulação. Essa
capacidade de ocupar nódulos é de importância crítica para as estirpes de rizóbios
serem usadas como inoculantes em práticas agronômicas. Como a inoculação de
leguminosas é em geral realizada pela aplicação de inoculantes comerciais diretamente
na semente ou no sulco de semeadura antes do plantio, a estirpe do inoculante terá
que competir com a população rizobiana autóctone do solo para ocupação dos nódulos
a serem formados pela leguminosa.
Infelizmente, populações rizobianas nativas capazes de nodular uma leguminosa
em particular a ser cultivada são geralmente melhores competidoras para ocupação do
nódulo do que estirpes rizobianas aplicadas no inóculo. Além disso, é muito comum a
fixação de pouca quantidade de N por populações autóctones. O grau de
estabelecimento e persistência de uma estirpe de inoculante normalmente diminui
com o aumento das densidades de populações rizobianas autóctones.
De uma maneira geral, há aumentos significativos de produção, já que a
inoculação pode ser atingida se o tamanho da população nativa cair para menos de 102
bactérias por grama do solo. Altos níveis de populações autóctones rizobianas
específicas (como 104–105 bactérias por grama de solo) são barreiras importantes para
o sucesso do uso de inoculantes comerciais porque, nessas circunstâncias, a
percentagem de nódulos ocupados por estirpes microbianas será muito baixa (10% ou
menos) para produzir aumentos significativos no conteúdo de N da planta e/ou ganho
de produtividade. Portanto, é aconselhável a investigação para se determinar se uma
dada estirpe rizobiana, escolhida como estirpe inoculante em potencial por sua alta
capacidade em fixar N, seja também capaz de mostrar capacidade competitiva superior
para a nodulação.
Um ensaio típico de competição entre estirpes rizobianas envolve inoculação de
leguminosas hospedeiras sob condições controladas. Nesses experimentos, culturas
líquidas de competidores são misturadas em proporções diferentes, em geral (10:1),
(1:1) e (1:10). Um mililitro de inoculante misturado é usado para inocular uma
semente. Duas ou três semanas depois do crescimento da planta, os nódulos são
cuidadosamente excisados das raízes, e têm sua superfície esterilizada e moída. Os
isolados desses nódulos são investigados para estirpes bacterianas específicas que
permitem diferenciação de estirpes de bactérias isoladas de quaisquer nódulos que
sejam testados.
A habilidade competitiva de uma estirpe rizobiana – a estirpe inoculante –
também pode ser avaliada sob condições de campo por meio da determinação da sua
capacidade de ocupação de nódulos na competição com populações rizobianas
autóctones. Em todos os exemplos, estirpes inoculantes a serem testadas para
capacidade competitiva têm de ser inequivocamente distinguidas das estirpes que
ocorrem naturalmente.

Fatores que afetam a competição por nodulação.


Abordagens para incrementar a ocupação do
nódulo por estirpes inoculantes
É evidente que estirpes rizobianas que mostram alta capacidade fixadora de N
são candidatas ideais para serem usadas como estirpes inoculantes. Entretanto, os
benefícios gerados pelo uso desses fixadores superiores de N não serão alcançados se
eles não forem capazes de ocupar uma proporção significativa dos nódulos a serem
formados. Isto requer que a estirpe inoculante seja bem-sucedida na competição por
nodulação com populações rizobianas autóctones.
A maior parte dos solos dos Estados Unidos onde a soja é cultivada possui uma
população autóctone de Bradyrhizobium japonicum. Nas principais áreas de cultivo de
soja no Meio-Oeste, a população mais competitiva de B. japonicum é a do serogroup
123.
Se ocorrer uma melhora na capacidade de fixação de N na simbiose soja-
Bradyrhizobium, então a difícil questão da competição por parte das populações
autóctones (por exemplo, serogroup 123) terá que ser solucionada. Aumentos nas
porcentagens de nódulos de soja ocupados pelo inoculante têm sido obtidos por meio
do uso de taxas muito altas da aplicação de estirpes de Bradyrhizobium.
Outras abordagens foram propostas ou testadas como uma maneira de superar
os problemas associados com competição por nodulação nos solos. Essas estratégias
incluem: (i) seleção de estirpes rizobianas que demonstram uma capacidade
competitiva superior; (ii) desenvolvimento de veículos inoculantes e sistemas de
fornecimento melhorados; (iii) disposição específica dos inoculantes; (iv) uso de
estirpes rizobianas capazes de produzir substâncias antimicrobianas, tais como
bacteriocinas; (v) seleção de hospedeiros de soja que mostrem preferência de
nodulação por estirpes de inoculantes, mas restritivas à nodulação com populações
autóctones. Embora essas abordagens pareçam ser estratégias promissoras, até agora
nenhuma se mostrou consistente em alterar a ocupação do nódulo em campos
cultivados com soja de uma maneira culturalmente significativa.
Em outras situações, quando uma nova espécie leguminosa é introduzida ou
uma leguminosa é cultivada fora da sua área original de cultivo, a questão da
competição não existe. Essa é uma situação comum para soja em muitos países
europeus. A Tabela 9.6 mostra respostas da soja à inoculação com várias estirpes
selecionadas em ensaios de campo no sudoeste da Espanha.

Tabela 9.6 - Nodulação, produtividade e acúmulo de N nos grãos de soja cv. Kure
inoculado com Bradyrhizobium japonicum linhagem USDA110 e
Sinorhizobium fredii linhagens HH103 e SMH12

Tratamento Nodulação a Grãos (kg/ha)

Número Matéria seca (mg) Produtividade Acúmulo de N

N-fertilizado b 0,3 c 3,0 c 4101 a 213 ab

USDA110 43,3 b 185 b 3974 ab 227 ab

HH103 91,6 a 247 ab 3402 b 152 c

SMH12 94,8 a 296,3 a 4297 a 238 a


SMH12 + USDA110 79,1 a 288,4 a 3878 ab 207 b

Sem inoculação 0,4 c 3,0 c 2646 c 115 d

Diferenças significativas (P < 0.05) são indicadas por letras diferentes.


a
Valores são médias de quatro repetições (12 plantas/repetição).
b
Parcelas N-fertilizadas receberam 200 kg N/ha, na forma de nitrato de amônia, na oitava semana após
o plantio.
O experimento de campo foi conduzido na Experimental Station Las Torres (Sevilha, Espanha).
Fonte: RODRÍGUEZ-NAVARRO et al., 2003.
Biofertilizantes na agricultura orgânica
Na agricultura orgânica utilizam-se compostos orgânicos e diversos preparados
em uma propriedade rural para obter melhor nutrição e sanidade dos plantios. A
nutrição equilibrada favorece o metabolismo gradual das plantas e evita carências e
excessos que levam à falta ou ao acúmulo de açúcares ou de aminoácidos nas folhas, o
que as deixam suscetíveis ao ataque de pragas e doenças. Assim, adubações orgânicas
permitem construir a fertilidade do solo, tornando-os supressivos a muitas doenças
(SERRA-WITTLING et al., 1996).
Uma das alternativas de suplementação de nutrientes mais utilizadas na
produção orgânica é o emprego de biofertilizantes orgânicos líquidos, aplicados via
solo, via sistemas de irrigação ou em pulverização sobre as plantas. Já existem
produtos comerciais disponíveis no mercado, porém, neste capítulo, serão discutidos
apenas os insumos tradicionais que o agricultor pode preparar na sua propriedade a
custo muito baixo.
A aplicação de biofertilizantes tem sido recomendada tanto pela sua função
nutricional quanto fitoprotetora, embora existam relatos de efeitos diversos sobre a
qualidade dos produtos colhidos, como a acidez total titulável em pimentão (ROCHA
et al., 2004). Existem diferentes formulações, desde simples diluições de partes de
esterco e composto em água até formulações mais complexas, com adição de macro e
micronutrientes (FERNANDES et al., 2006).
A utilização dos biofertilizantes em sistema orgânico de produção deve ser feita
de forma criteriosa, após uma diagnose adequada que justifique economicamente seu
emprego. A aplicação de biofertilizantes pode melhorar a nutrição, mas sem provocar
efeitos sobre o rendimento e a qualidade comercial do produto colhido, tornando-se
um gasto adicional sem retorno econômico. Existem ainda a possibilidade de redução
da produtividade, conforme relatado por Souza e Pereira (2010) para a cultura do
alho. Segundo os autores, esse efeito negativo na produção do alho pode ser devido à
presença de grande parte de material em suspensão no biofertilizante empregado, que,
aderido à superfície da folha, provoca diminuição na taxa de absorção de nutrientes
(partículas grandes), obstrução dos poros e redução da área fotossinteticamente ativa
da folha.
A seguir estão descritos alguns biofertilizantes com aplicação prática na
agricultura orgânica, com múltiplos objetivos: nutricional, fitossanitário, estimulante,
indutor de resistência etc. (SOUZA; RESENDE, 2014).

Extrato de composto
Considerando a riqueza em nutrientes e organismos presentes no composto
orgânico, preparados líquidos a partir desse material têm a capacidade de melhorar o
desenvolvimento de plantas, especialmente quando há necessidade de reposição de
nutrientes durante o ciclo da cultura. A diluição mais empregada em cultivo orgânico
de hortaliças é de uma parte de composto para duas a cinco partes de água, em
volume, de cada componente.
Na aplicação do extrato é necessário utilizar um regador sem crivo por causa da
presença de muitas partículas sólidas na solução. Para hortaliças cultivadas em
canteiros ou em sulcos, realiza-se a irrigação manual nas entrelinhas dos cultivos,
distribuindo-se um filete contínuo ao lado das plantas. Para aquelas plantadas em
covas, aplica-se o extrato ao redor das plantas a fim de melhorar o aproveitamento da
adubação.
Caso o objetivo seja proteção fitossanitária, pode-se optar pela alternativa de
aplicação foliar, para a formação de um biofilme de microrganismos antagonistas
sobre as folhas. Nesses casos é necessário coar o material de forma cuidadosa, em
peneiras bem finas ou em sacos de pano, sobretudo para evitar o entupimento dos
bicos dos pulverizadores na hora da aplicação.

Biofertilizante líquido bovino


É produzido em galões, em sistema anaeróbico, lacrando-se o recipiente para a
fermentação na ausência de ar. Usa-se esterco fresco de gado, de preferência leiteiro,
diluído em água na proporção de 50% cada. Em média, a duração da fase fermentativa
deve ser de 30 dias. Em seguida, o material é coado para obtenção do líquido fino, que
deve ser usado imediatamente ou na primeira semana depois de sua produção.
Existem várias formas de uso do biofertilizante líquido. A aplicação mais
eficiente ocorre em pulverizações foliares, as quais promovem efeito mais rápido.
Nelas, o biofertilizante líquido deverá cobrir totalmente as plantas.

Urina de vaca
A urina de vaca leiteira é um recurso alternativo para nutrição de plantas,
ativação metabólica e controle de pragas e doenças, muito utilizado em vários países.
Segundo Oliveira et al. (2003), a produtividade do pimentão aumenta linearmente
com a elevação das concentrações de urina de vaca na presença e na ausência de
adubação mineral (Figura 9.7). Na presença de adubação mineral, verificou-se
incremento na produtividade de pimentão na ordem de 1,36 t/ha a cada percentual de
urina acrescido à solução; na sua ausência, esse incremento foi de 0,58 t/ha. As
produtividades máximas foram de 24,6 e de 10,7 t/ha obtidas na concentração máxima
de urina, na presença e na ausência de adubação mineral, respectivamente. Embora a
urina de vaca apresente quantidades elevadas de N e K, ela não foi capaz de atender
sozinha à grande necessidade desses nutrientes exigida pelo pimentão.

Figura 9.7 - Produtividade de pimentão em função de concentrações de urina de vaca


na presença (y1) e ausência (y2) de adubação mineral.
Fonte: OLIVEIRA et al., 2003.
Por conter nutrientes – K, N, Na, S, Mg, Ca, P e traços de outros elementos – a
urina funciona como fertilizante para as plantas, as quais se tornam mais resistentes
aos ataques de pragas e doenças.
A coleta da urina de vaca deve ser feita com balde plástico bem lavado, mas sem
resíduos de produtos químicos de qualquer natureza que possam reagir com os
componentes da urina e comprometer sua qualidade. O líquido deve ser armazenado
sob condições ambientais, por um período mínimo de três dias, para que se forme a
amônia. Após esse período haverá alteração de cor e escurecimento da solução.
Recomenda-se que o armazenamento seja feito em recipiente fechado para que não
ocorram perdas de N. Dessa forma, poderá permanecer por até um ano sem
comprometer sua eficiência.
A urina pode ser utilizada em pulverizações foliares semanais, na concentração
de 0,5% para as culturas de tomate, pimentão, pepino, feijão, vagem e couve, ou
quinzenais, na concentração de 1% para as culturas de quiabo, jiló e berinjela. A urina
fermentada serve também para tratamentos de sementes e propágulos vegetativos por
meio da imersão deles, por um período de 30 segundos a 1 minuto, na urina pura,
antes do plantio. Deve-se, então, deixá-los secar à sombra e plantá-los logo em
seguida. A medida confere proteção e desinfecção, melhor enraizamento e brotação
sadia.
A urina de vaca tem ácido indolacético, favorecendo melhor enraizamento,
indução de brotações, inflorescências, e, por vezes, precocidade na produção. Após a
realização de podas, pulverizando-se nas concentrações recomendadas para a cultura,
obtém-se melhor resistência da planta contra a penetração de fungos, bactérias e
microrganismos em geral. Acredita-se que a concentração de 1.140 mg L–1 de S,
10.600 mg  L–1 de Cl e a presença de Cathecol na urina de vaca colaborem para o
favorecimento dessa resistência.
Nos canteiros para o plantio de hortaliças, pode-se regar com urina de vaca na
concentração de 5% em água, um a dois dias antes do plantio, contribuindo para a
desinfecção do solo e adubação das hortaliças.
No entanto, ainda existe carência de pesquisas que abordem a segurança na
utilização de urina de vaca diretamente em partes comestíveis pelo risco potencial de
disseminação de organismos patogênicos.
Biofertilizante líquido enriquecido
A biofertilização em suplementação à adubação orgânica de base no plantio deve
fornecer os nutrientes de maior exigência da cultura comercial para que ocorra efeito
significativo sobre a produtividade. Uma preparação simples, enriquecida com N e K,
pode melhorar sobremaneira o desenvolvimento vegetativo e produtivo de espécies
de hortaliças mais exigentes, como o tomate, pimentão, morango, pepino e outras
(SOUZA; RESENDE, 2014).
A preparação consiste na mistura de um fertilizante orgânico que esteja curtido
e estabilizado, sem a presença de patógenos, como o composto orgânico (100 kg),
mamona triturada como fonte de N (folhas, talos, bagas e hastes tenras, 50 a 100 kg) e
cinza vegetal como fonte de K (20 kg) para 1.000 L de água. A mamona triturada pode
ser substituída por outro resíduo vegetal ou resíduos agroindustriais que sejam ricos
em N, como a torta de mamona, farelo de cacau, farelo de soja etc.
O preparo é feito em um recipiente com capacidade de 1.000 L. Acrescenta-se o
ingrediente da base orgânica (composto ou similar) e 700 L de água, formando uma
pré-mistura. Depois de homogeneizada essa solução, acrescenta-se a mamona ou
resíduo similar e a cinza vegetal, agitando até nova homogeneização. Por fim,
completa-se o recipiente com água até o volume total.
Para evitar mau cheiro advindo da fermentação anaeróbica, pode-se adotar as
seguintes estratégias: aumentar a oxigenação, instalando um minicompressor, do tipo
utilizado em aquários caseiros (Figura 9.8); aplicar de três em três dias 2 L de solução
de microrganismos nativos, conforme descrito adiante; utilizar ácido peracético a
0,05%, aplicando 250 g do produto por 500 L da solução no terceiro dia depois do
preparo (nesse caso ocorre a esterilização microbiana, e o efeito será apenas
nutricional).
Figura 9.8 - Biofertilizante líquido enriquecido, preparado em caixa d’água de 1.000 L.
O produto é eficaz para suplementar a nutrição orgânica de hortaliças.
Fonte: SOUZA; RESENDE, 2014.

Depois de sete a dez dias de fermentação, pode-se iniciar a retirada da parte


líquida, sempre depois de uma pré-agitação, coando-se em seguida o material para
aplicação via gotejamento. Diferentemente do biofertilizante bovino e Supermagro, a
aplicação desse biofertilizante enriquecido deve ser realizada via solo, na zona da raiz,
na lateral das plantas, como uma adubação líquida em cobertura. A aplicação pode ser
realizada manualmente (com regador), por bombeamento ou em redes de
fertirrigação. Neste último caso, a filtragem deve ser bem feita para evitar
entupimentos.
Avaliações preliminares indicaram elevações lineares de produtividade de frutos
comerciais de tomate (Figura 9.9) quando se aplicou até 200 mL por planta,
semanalmente, a partir dos 30 dias até a fase de frutificação (SOUZA; SANTOS,
2004). Recomendação semelhante pode ser feita para pimentão e pepino japonês. Em
canteiros de morango e alho, recomenda-se utilizar 400 mL/m², aplicados nas
entrelinhas ou via sistema de irrigação.
Figura 9.9 - Efeitos de doses de biofertilizante enriquecido com N e K (mL por planta)
sobre a produtividade de frutos comerciais boca 7, no cultivo orgânico do
tomate em estufa.
Fonte: SOUZA; SANTOS, 2004.

Solução de microrganismos nativos (E. M. Nativo)


Muitos agentes de controle biológico são fungos e bactérias residentes nos
hábitats naturais, sobretudo nos solos bioativos. A captura de microrganismos em
ambientes naturais, especialmente em solos de áreas não agrícolas, em áreas de matas,
margens de alagados e bambuzais, permite a coleta de uma grande variedade de
fungos, bactérias, actinomicetos e leveduras. Os microrganismos mais comuns
pertencem aos gêneros Bacillus, Trichoderma, Penicillium, Fusarium, entre outros.
Portanto, uma das melhores opções para o controle biológico na agricultura
orgânica é a captura desse complexo de microrganismos, denominado genericamente
de E. M. Nativo, devido à facilidade de aquisição e redução de custos operacionais. A
seguir está descrito o processo relatado por Souza e Resende (2014), baseado e
adaptado de vários relatos de técnicos e agricultores do Brasil (Figura 9.10).

1) Passo a passo para captura:


• Cozinhar o arroz por cinco a dez minutos, deixando os grãos levemente
amolecidos, mas com o interior ainda duro (“ao dente”).
• Preparar gomos de taquara, cortados ao meio longitudinalmente, formando duas
bandas no formato “telha”.
• Colocar o arroz nos gomos de taquara, enchendo uma banda com arroz e
fechando por cima com a outra banda, deixando-se uma pequena abertura para
facilitar a entrada dos microrganismos. Prender as bandas com barbante ou fio
flexível, para evitar acesso de pequenos animais e facilitar a coleta e transporte
posterior.
• Colocar esses recipientes abaixo de serapilheiras úmidas – que possuem folhas e
pequenos galhos em processo de decomposição –, perto de olhos-d’água ou
nascentes, em matas ou alagados naturais.
• Coletar esses recipientes sete a dez dias depois, dependendo do estágio de
colonização verificado.
• Levar ao galpão de serviço e retirar os bolores escuros (geralmente saprófitos),
optando-se pelos de cor branca, creme, amarela, rósea, entre outros.

2) Passo a passo para o preparo da solução matriz do E. M. Nativo:


• Preparar uma solução adocicada com melado (10%), açúcar mascavo (10%) ou
suco de frutas.
• Adicionar 50 g do arroz inoculado para cada 2 L de solução adocicada, em garrafas
PET, deixando-se fermentar em repouso no galpão por 15 dias.
• Abrir e fechar a tampa das garrafas diariamente para liberar o gás gerado pela
fermentação, obtendo-se a solução matriz de E. M. Nativo, que deverá ser coada
para uso em pulverizações.

As formas de aplicação e uso dos microrganismos nativos são muito variadas,


tais como:
• Controle de pragas e doenças: em pulverizações foliares, diluir 2 L da solução matriz
de E. M coada em 20 L de água e pulverizar semanal ou quinzenalmente.
• Em compostagem: diluir 2 L da solução matriz de E. M. bruta em 20 L de água e
regar as pilhas de composto.
• Em biofertilizantes: aplicar 2 L da solução matriz de E. M. bruta em 1.000 L de
biofertilizante, durante ou no fim do processo de fabricação.
• Como higienizador e redutor de mau cheiro: diluir 2 L da solução matriz de E. M. em
10 L de água e pulverizar o local, ou irrigar com regador o produto ou material a
ser tratado.

Composto biorremediador Bokashi


É um composto biorremediador líquido preparado a partir do Bokashi sólido.
Ele é feito de diferentes resíduos orgânicos e minerais, – farelos, farinhas, açúcares,
resíduos proteinados e sais – com processo de revolvimento diário, de forma que o
produto final seja obtido em sete a dez dias. São compostos biologicamente funcionais
que ativam a biodiversidade do sistema solo-planta, produzidos e transformados por
pasteurizações direcionadas para cada situação de cultivo e manejo.
O composto biorremediador líquido possui em sua composição uma grande
quantidade de organismos biologicamente ativos, com comportamento dinâmico.
Esses organismos funcionam como adubo foliar, como promotores de um escudo
biológico na forma de biofilmes filoendofíticos e como indutores de resistência
sistêmica às plantas, tornando-se eficientes controladores de doenças e pragas
(TOMITA, 2011).
Para o preparo do Bokashi sólido, as matérias-primas – bagaço de cana-de-
açúcar, farelo de mamona, farelo de arroz e terra de barranco – são espalhadas no
pátio de compostagem e distribuídas homogeneamente uma sobre a outra, exceto a
rapadura e a água. Com o auxílio de enxada rotativa acoplada ao trator, ou
manualmente com pá, misturam-se os ingredientes, numa sequência de três
revolvimentos, obtendo-se assim uma completa homogeneização do substrato seco.
Em seguida, irriga-se com água até atingir 45% de umidade. A rapadura é dissolvida
em água e regada sobre o material. Posteriormente, promove-se a irrigação com a
água para umedecer todo o substrato, até atingir 45 a 50% de umidade. Após essas
práticas, os substratos são montados em medas com formato triangular no período
chuvoso, ou trapezoidal no período seco, com uma altura média de 1,70 m e base de
aproximadamente 3 m.
Figura 9.10 - Sequência de coleta do E. M. Nativo: (A) arroz cozido; (B) taquara com
arroz; (C) taquara antes de ser alocada sob a serapilheira; (D) recolocação
da serapilheira sobre a taquara; (E) retirada da taquara após dez dias, com
microrganismos de cores variadas; e (F) garrafas PET com a solução de E.
M. Nativo.
Fonte: SOUZA; RESENDE, 2014.

Depois dessa montagem, deixa-se 24 horas sem revolvimento, tempo em que a


temperatura média alcança cerca de 65 °C após um dia de cura. Na sequência, são
realizados nove revolvimentos em intervalos de 24 horas, mantendo a temperatura ao
redor de 60 °C e umidade a 45%. No décimo dia o composto estará pronto; o produto,
então, deve ser espalhado sem a incorporação da água, mantendo-o numa camada de
aproximadamente 25 cm de altura, na qual a temperatura interna oscile ao redor de 30
°C por mais dois dias. Assim, o Bokashi é secado ao ar em ambiente sombreado e
posteriormente armazenado.
O biofertilizante remediador líquido é produzido por fermentação aeróbia,
promovendo a biodigestão dos resíduos orgânicos por meio de ação bacteriana e de
processos bioquímicos que fracionam compostos complexos num ambiente restrito.
Utiliza-se o Bokashi sólido colocado em tanque de fermentação com capacidade de
1.000 L. Acrescenta-se água até atingir o volume de 800 L. Com a suspensão de
resíduos prontos, são introduzidos dois tubos aeradores de aquário ao fundo do
tanque, que funcionam 24 horas por dia. A suspensão orgânica deve ser coberta com
tela sombrite e tampa, sem promover a vedação completa, para impedir a entrada de
insetos e água de chuva. O processo de transformação da suspensão de resíduos
orgânicos em meio líquido deve ser conduzido por três dias, a partir dos quais o
biofertilizante líquido estará disponível para o uso. A suspensão é utilizada numa
diluição de 1 L da suspensão para 50 L de água, com frequência de aplicação quinzenal
e volume de calda de 5.000 L por hectare.

Biofertilização com biomassa verde


A aplicação de biomassa verde incorporada ao solo para biofertilização ou como
adubo de cobertura para o cultivo de hortaliças também é uma prática eficaz.
Tratando-se de biomassa de plantas leguminosas, em que a concentração de N nos
tecidos é alta (3% ou mais), pode-se especialmente obter efeitos significativos de
melhoria no desenvolvimento vegetativo das hortaliças orgânicas.
A biomassa verde, de preferência, deve ser triturada para ser usada como
adubação de cobertura, pois assim haverá um aproveitamento mais rápido do N. A
Figura 9.11 ilustra o favorecimento do desenvolvimento vegetativo do repolho aos 40
dias, quando submetido à adubação em cobertura com 4 cm de espessura de biomassa
de leucena triturada (planta à direita), aplicada aos 15 dias após transplantio,
comparada à testemunha sem biomassa (planta à esquerda).
Figura 9.11 - Plantas de repolho aos 40 dias após transplantio: à esquerda, planta sem
adubação de cobertura; à direita, planta adubada com 4 cm de biomassa
de leucena triturada, aplicada aos 15 dias após transplantio.
Fonte: SOUZA; RESENDE, 2014.

Para a finalidade de adubação em cobertura com biomassa verde triturada, pode-


se empregar tanto plantas leguminosas quanto oleaginosas. São exemplos de espécies
potenciais para esse fim: gliricídia, mamona, mucuna, crotalária, tremoço, entre
outras.
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TOMITA, C. K. Manejo de matéria orgânica no controle de Ralstonia solanacearum em
tomateiro. 2001. Dissertação (Mestrado em Fitopatologia) – Universidade Brasília, Brasília, DF, 2001.

3 Instituto Andaluz de Investigación y Formación Agraria, Pesquera, Alimentaria y de la Producción


Ecológica – IFAPA, Sevilha, Espanha. E-mail: dulcenombre.rodriguez@juntadeandalucia.es
4 Departamento de Microbiología, Faculdad de Biología, Universidad de Sevilla – US, Sevilha,
Espanha. E-mail: rsainz@us.es
5 Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural – Incaper, Venda Nova do
Imigrante, ES, Brasil. E-mail: jacimarsouza@yahoo.com.br
6 Departamento de Agronomia, Universidade Federal de Viçosa – UFV, Viçosa, MG, Brasil. E-mail:
rsantos@ufv.br
7 Disponível em: http://www.fertilizer.org.
Capítulo
10
Associação Micorrízica e Fertilidade
Agrícola
“Nossa homenagem à memória de José Miguel Barea, cuja
excelência cientí ica, qualidade humana e alegria são
exemplos a serem seguidos por todos os que tiveram a
oportunidade de conhecê-lo e trabalhar com ele”.

José-Miguel Barea✝8 e Maria Catarina Megumi Kasuya9


Introdução
A produtividade agrícola é muito dependente da qualidade do solo e da
sustentabilidade dos recursos naturais. Na realidade, a qualidade do solo é
fundamental para a produção sustentável de culturas saudáveis e para a
redução dos impactos negativos tanto culturais quanto ambientais. Do ponto
de vista agronômico, qualidade do solo é geralmente expressa como a fertilidade
do solo, que define a capacidade de um determinado solo em prover a saúde das
plantas e a produtividade sustentável. Entretanto, a fertilidade agrícola é tanto
determinada pela interação de componentes químicos, físicos e biológicos,
como modulada pelas condições climáticas ambientais prevalecentes (Figura
10.1).

Figura 10.1 - Macrocomponentes da fertilidade agrícola.

O componente biológico da fertilidade do solo baseia-se nas atividades


das populações microbianas do solo, que são particularmente relevantes nos
microssítios da interface raiz-solo – a rizosfera –, na qual os microrganismos
interagem com as raízes das plantas e os constituintes do solo.
Apesar das diversas formas microbianas que se desenvolvem na
rizosfera, a maioria dos estudos sobre o assunto focam a sua atenção sobre
bactérias e fungos. Esses organismos podem realizar interações saprófitas,
prejudiciais (patogênicos) ou benéficas para as plantas. Neste último caso, em
associação simbiótica, muitas vezes mutualista, em que a planta e o
microrganismo vivem intimamente associados e convivem com benefício
mútuo.
Três tipos principais de microrganismos benéficos podem ser
destacados: (i) as bactérias saprofíticas rizosféricas, que são conhecidas como
microrganismos promotores de crescimento vegetal – MPCV; (ii) bactérias
fixadoras de N2; e (iii) fungos micorrízicos arbusculares – FMA. Os MPCV
estão envolvidos na promoção do crescimento, ciclagem de nutrientes e
proteção de plantas contra doenças; as bactérias fixadoras de N2 são
responsáveis por grandes entradas de N na biosfera; e os FMA se associam
com as raízes das plantas para formar as micorrizas arbusculares – MA, as
quais serão discutidas com mais detalhes a seguir.
A simbiose MA é reconhecida por melhorar o crescimento e as relações
hídricas das plantas, a aquisição de nutrientes, a qualidade do solo e a
fitossanidade (como bioprotetores contra patógenos e estresses abióticos). Na
Figura 10.2 estão apresentados os principais efeitos dos microrganismos
benéficos do solo sobre as plantas. Consequentemente, os FMA podem ser
considerados um componente-chave da fertilidade do solo, quer por si
próprios, quer por interações com outros microrganismos do solo que
recebem a denominação especial de micorrizosfera.
Figura 10.2 - Microrganismos benéficos na interface solo-planta.

De acordo com o conteúdo deste capítulo, os objetivos são rever e


integrar o conhecimento atual e o impacto dos FMA no funcionamento do
sistema agrícola, com ênfase particular sobre: (i) seu papel na aquisição de P e
de outros nutrientes pela planta, isoladamente ou em interação com os
MPCV; (ii) sua importância em auxiliar o crescimento vegetal sob condições
de estresses; e (iii) a possibilidade de usar esses fungos como ferramenta
biotecnológica para a produção agrícola sustentável e saudável.
Conceito geral da associação micorrízica
Os fungos micorrízicos colonizam o córtex da raiz da maioria das plantas
terrestres para estabelecer uma simbiose mutualista conhecida como micorriza
(do grego “fungo-raiz”). As associações micorrízicas são altamente
interdependentes e mutuamente benéficas para ambos os parceiros. Nelas, a
planta hospedeira recebe nutrientes minerais via micélio fúngico
(micotrofismo), enquanto o fungo heterotrófico obtém compostos de carbono
da fotossíntese vegetal. A planta reconhece o fungo como um “amigo”, com
uma reação de defesa muito limitada e, pela colonização das raízes, o fungo
desenvolve um micélio externo, que é uma ponte que liga a planta com os
micro-hábitats do solo ao seu redor.
Simbioses micorrízicas podem ser encontradas em todos os ecossistemas
terrestres e são conhecidas por melhorar a aptidão da planta e a qualidade do
solo por meio de processos ecológicos essenciais. Tais processos incluem a
melhoria do estabelecimento de plantas, o aumento da aquisição de nutrientes
por elas, a fitossanidade contra tensões culturais e ambientais, a melhoria da
estrutura do solo, entre outros. A universalidade dessa simbiose implica uma
grande diversidade nas características taxonômicas relativas, tanto aos fungos
como às plantas envolvidas. Pelo menos cinco tipos de micorrizas podem ser
reconhecidos, cujas características estruturais estão resumidas na Figura 10.3.
Cerca de 3% das plantas superiores, sobretudo árvores florestais das
famílias Fagaceae, Betulaceae, Pinaceae e algumas leguminosas arbóreas,
formam associações ectomicorrízicas. Os fungos nelas envolvidos são
principalmente Basidiomicetos e Ascomicetos. A falta de penetrações
intracelulares nas células das raízes é uma das características dessa associação.
Em geral, o fungo desenvolve uma bainha ou manto em torno das raízes
ativas.
Três outros tipos de micorrizas podem ser agrupados como
endomicorrizas, cujos fungos colonizam as células do córtex da raiz
intracelularmente. Um desses tipos de micorrizas é restrito a algumas espécies
da família Ericaceae (micorriza ericoide), o segundo à Orchidaceae (micorriza
orquidoide) e o terceiro às micorrizas arbusculares, que são, de longe, o tipo
de micorriza mais comum.
Existe um quinto grupo, a ectendomicorriza, estabelecido em espécies
arbóreas e também na família Ericaceae, da ordem Ericales e Monotropaceae.
Os fungos desse grupo podem apresentar manto fúngico e também
penetrações intracelulares (micorrizas arbutoide, monotropoide e
ectendomicorriza). Como já citado, a maioria das principais famílias das
plantas formam micorrizas arbusculares, o tipo mais comum.

Figura 10.3 - Tipos de micorriza.


Micorriza arbuscular: a micorriza da
agricultura
É uma simbiose mutualista universal, estabelecida em mais de 80% das
espécies de plantas. Essas micorrizas são características de quase todas as
principais culturas agrícolas, incluindo plantações de espécies hortícolas e
fruteiras. Espécies herbáceas e arbustivas de ecossistemas mediterrânicos, do
Cerrado brasileiro ou dos campos rupestres também se associam com os
Fungos Micorrícicos Arbusculares (FMA). Como esse é o tipo de micorriza
caracteristicamente formado por plantas agrícolas, o presente capítulo se
concentrará apenas na associação MA.
Os FMA são microrganismos ubíquos, cuja origem é divergente mas
datada em mais de 450 milhões de anos atrás. Na verdade, a descoberta de
plantas fósseis bem preservadas do Período Devoniano também revelou a
existência de associações micorrízicas. Estruturas fúngicas que se assemelham
aos FMA foram encontradas colonizando registros fósseis de plantas de 400
milhões de anos. Esporos fossilizados do Período Ordoviciano – cerca de 460
milhões de anos –, semelhantes aos modernos FMA, indicam que esses
microrganismos estavam presentes nos primeiros estágios de evolução das
plantas. Essas observações paleobotânicas foram posteriormente validadas por
estudos filogenéticos com base em dados da sequência do DNA de táxons
vivos.
Cianobactérias capazes de fixar C atmosférico e N estavam presentes no
solo primitivo antes da colonização da terra por plantas. Um sistema biológico
capaz de facilitar a aquisição de P para a nutrição das plantas parece ter sido
fundamental para a evolução precoce de plantas terrestres. Como já afirmado,
a associação MA, entre muitas outras, foi atividade-chave do ecossistema,
ajudando a planta a adquirir fosfato do solo, particularmente em condições de
limitação de P. Portanto, por meio da associação com FMA, raízes primitivas
desenvolveram um sistema biológico especializado na aquisição de P. As
plantas e sua associação MA coevoluíram para construir o sistema MA-raízes
de plantas vasculares, sendo a simbiose mais difundida. A escala do tempo
geológico, indicando micorriza/plano de evolução, é representada na Tabela
10.1.
A coevolução desenvolve uma interdependência, a qual é provavelmente
a razão de os FMA serem simbiontes microbianos obrigatórios, incapazes de
completar o seu ciclo de vida sem colonizar uma planta hospedeira, e de as
plantas precisarem desses fungos para otimizar o seu desenvolvimento,
especialmente sob condições de estresse.

Tabela 10.1 - Escala do tempo geológico

Os FMA foram incluídos antes na ordem Glomales, Zygomycota. Mas,


de acordo com a análise das sequências de genes do RNA ribossomal, eles
foram recentemente reclassificados para um novo filo: Glomeromycota.
Estudos de diversidade nos FMA têm sido dificultados por complicações na
identificação de um processo tradicionalmente baseado na ontogenia e nos
caracteres morfológicos dos seus grandes esporos multinucleados. No entanto,
relatórios recentes indicam que a análise da sequência de RNA ribossomal é
uma ferramenta adequada para inferir relações filogenéticas de FMA e para
analisar a diversidade de populações naturais de MA. Hoje em dia são
utilizadas técnicas de impressão digital por meio de eletroforese em gel de
fragmentos amplificados por PCR de rRNA.
Formação e funcionamento da simbiose MA
O desenvolvimento da associação MA se inicia quando as hifas fúngicas
crescem a partir de esporos ou de raízes previamente colonizadas e
reconhecem os sinais derivados de plantas hospedeiras apropriadas. Depois do
contato de uma hifa com a superfície da raiz, o fungo diferencia-se para
formar um apressório, a partir do qual se inicia a penetração da hifa no
sistema radicular. Uma vez dentro do sistema radicular, ocorre uma intensa
proliferação e crescimento intercelular e/ou intracelular do micélio fúngico
pelas células do córtex. Nas camadas internas do córtex, as hifas se ramificam
após a penetração pelas paredes das células corticais e se diferenciam dentro
das células para formar os arbúsculos. Estes são estruturas intracelulares
altamente especializadas, extremamente ramificadas, formadas por hifas muito
finas e bem adaptadas para a troca de nutrientes e sinais entre os simbiontes.
Todas as ramificações fúngicas nos arbúsculos permanecem rodeadas
por uma membrana de plantas recém-formada, a membrana periarbuscular. O
espaço entre a membrana periarbuscular e a membrana plasmática fúngica, o
apoplasto, constitui uma grande área de superfície de contato entre os
simbiontes. Assume-se que a maior parte da troca de nutrientes entre o fungo
e a planta ocorra nessa interface simbiótica.
Uma vez que o fungo penetrou no córtex da raiz e que os arbúsculos
tenham sido formados, o micélio externo se desenvolve no solo. O micélio
fúngico de MA pode se espalhar através do solo em distâncias
consideravelmente maiores, em geral vários centímetros, do que os pelos
radiculares. O micélio extrarradicular é muito ramificado e proporciona um
sistema de absorção de nutrientes muito eficiente, para além da zona
circundante, ou rizosfera. Como será explicado adiante, a capacidade das hifas
de MA em crescer para além da zona de depleção do Pi (fosfato inorgânico) e
em transferir o Pi interceptado à planta é a razão mais provável pela qual os
FMA beneficiam o crescimento de plantas em solos com baixa disponibilidade
de P.
Os FMA contribuem para aquisição e fornecimento de P às plantas,
ligando as porções geoquímica e bióticas do ecossistema solo, o que afeta assim
as taxas e padrões de ciclagem de P tanto em ecossistemas agrícolas como
naturais. No entanto, a simbiose MA não só influencia a ciclagem de
nutrientes dos sistemas solo-planta, mas também melhora a saúde da planta
pela maior proteção contra estresses ambientais – sejam bióticos (ataque de
patógenos, por exemplo), sejam abióticos (seca, salinidade, metais pesados,
poluentes orgânicos, por exemplo). Ela melhora, ainda, a estrutura do solo,
auxiliando a formação dos agregados necessários para sua boa qualidade. A
associação MA pode, portanto, ser considerada um componente integrante do
funcionamento do sistema radicular.
Contribuição da associação MA na aquisição
de P pela planta
Uma planta micorrizada possui dois caminhos para captar o Pi: por via
direta na interface planta-solo, através da epiderme da raiz e pelos radiculares,
ou por via micorrízica, através do micélio do fungo. A via micorrízica envolve
a absorção de Pi da solução do solo pelas hifas extrarradiculares dos FMA, a
translocação através das estruturas fúngicas externas da MA para o micélio
interno e a posterior transferência para a planta pelas interfaces simbióticas.
Para algumas combinações de espécies de plantas/FMA, verificou-se que os
resultados de colonização por esses fungos causam inativação completa da via
de absorção direta de Pi, e 100% do P nos tecidos das plantas são fornecidos
pelos FMA.
Muitas informações têm se acumulado para descrever a biologia
funcional de captação de fosfato por plantas MA. O assunto, entretanto, será
tratado no próximo tópico de forma resumida.

Fonte de fósforo utilizada pelas plantas MA


Supõe-se que os FMA, em geral, como as raízes das plantas, absorvem P
como Pi a partir da solução do solo. O micélio desses fungos, contudo, adquire
Pi de forma mais eficiente do que as raízes das plantas. Alguns estudos têm
mostrado que os FMA podem utilizar fontes de P que não estão diretamente
disponíveis para uma planta, no entanto, a contribuição deles na solubilização
de Pi parece ser muito baixa. Como o micélio extrarradicular dos FMA pode
excretar enzimas, tais como as fosfatases, ocorre a libertação do Pi a partir de
algumas fontes orgânicas. A contribuição dessas enzimas fúngicas para a
nutrição com P de plantas MA tem sido investigada, e a importância desse
mecanismo também parece ser limitada. A Figura 10.4 resume os principais
aspectos conceituais da absorção de P pelas associações MA.

Figura 10.4 - Fonte de P para as plantas MA.

Como o micélio de FMA explora o P do solo?


A principal razão para explicar um aumento na capacidade de aquisição
de P pelas plantas MA é a extensão do micélio extrarradicular em distâncias de
até vários centímetros da raiz, que permite maiores absorção e transferência
de P da solução do solo para a planta. Além disso, uma vez que a densidade de
hifas de FMA no solo é muito elevada, a área de absorção de P é muito maior
nas plantas MA. Um valor médio de 1 m de hifas de MA por centímetro de
raiz colonizada foi observado, o que representa uma grande área de superfície
de absorção de Pi. Ademais, em virtude do menor diâmetro das hifas (< 20
µm) em relação ao das raízes, aquelas podem explorar poros do solo
inacessíveis a estas.
Além da extensão física do sistema radicular das plantas MA, tem sido
proposta a possibilidade de os FMA absorverem Pi presentes em
concentrações muito baixas na solução do solo como mecanismo para o
aumento da eficiência de aquisição de Pi por plantas MA. A afinidade destas
pela absorção de Pi foi determinada a partir de estudos cinéticos, os quais
sugerem que os transportadores Pi nas plantas MA têm menores valores de
Km ou, em outros termos, maior afinidade para captação de Pi do que as
plantas não MA.
Como descrito a seguir, os transportadores de elevada afinidade pelo Pi
foram caracterizados nas hifas extrarradiculares de FMA. Assim, a maior
absorção de Pi por plantas micorrizadas pode ser explicada em termos de
aumento da exploração do solo pelas hifas e a capacidade competitiva delas em
absorver fontes localizadas e diluídas de Pi (Figura 10.5).

Figura 10.5 - Aspectos-chave para aquisição de P por plantas MA.

Mecanismos moleculares de adaptação das


plantas para aumentar a aquisição de P
O fosfato é absorvido pelas células da raiz contra um elevado gradiente
de concentração resultante de concentrações micromolares externas, cerca de
2 mil vezes maiores que as concentrações no interior da célula. Esse processo
de absorção é dependente de energia e é mediado pelas atividades das
proteínas especializadas presentes na membrana (H+-ATPases e H+/Pi-
cotransportadores). Além disso, as proteínas de transporte envolvidas na
captação de Pi por FMA já foram identificadas. Os genes que codificam os
transportadores de elevada afinidade por Pi, que são preferencialmente
expressos no micélio extrarradicular envolvido na aquisição de Pi da solução
do solo, também foram caracterizados.
O Pi absorvido pelo fungo é transportado como polifosfatos em todo o
micélio intrarradicular, que desempenha papel central no fornecimento de Pi
para a planta. A detecção de uma forte atividade de fosfatase alcalina nas
estruturas fúngicas extrarradiculares sugere que essas enzimas estão
envolvidas no efluxo de Pi dos arbúsculos (ver Figura 10.6). A análise da
expressão dos genes que codificam para fosfatases alcalinas nos FMA revelou
que tais enzimas foram expressas mais em hifas intrarradiculares do que em
hifas extrarradiculares.
O Pi liberado a partir do fungo é subsequentemente absorvido pelas
células corticais mais internas devido à alta afinidade pelos transportadores de
Pi da planta. Análises da expressão de genes de transportadores de Pi em
plantas e H+-ATPases nas raízes com MA têm demonstrado que o
desenvolvimento da simbiose é acompanhado por grandes rearranjos nas vias
de transporte de Pi em plantas. Verificou-se que os genes que codificam
transportadores Pi induzidos por MA são expressos em células do córtex
formado por arbúsculos, o que sugere que estes estão envolvidos na absorção
do Pi transferido pelo fungo para o apoplasto de sua interface. Da mesma
forma, a análise da expressão demonstrou acúmulo de H+-ATPases da
membrana plasmática em torno das ramificações dos arbúsculos.
Figura 10.6 - Transporte de fosfato na simbiose MA.
Fonte: Nuria Ferrol (arquivo pessoal).
Contribuição da associação MA para aquisição
de N e de outros nutrientes pela planta
A associação MA beneficia a planta pelo fornecimento de nutrientes
minerais cujas formas iônicas têm baixa mobilidade ou nutrientes presentes
em baixas concentrações na solução do solo. Isto aplica-se, principalmente,
não só para o fosfato, mas também para o amônio, nitrato (sob condições
secas), Zn e Cu. Entre esses, estudos têm sido dedicados à aquisição de amônio.
Na realidade, várias experiências demonstram que hifas de FMA são capazes
de absorver, transportar e utilizar NH4+. A aplicação ao solo de fontes de
amônio marcado com 15N e a compartimentalização das raízes em apenas uma
porção desse solo demonstram que as hifas de FMA presentes no
compartimento de solo sem raízes são, também, capazes de absorver o 15N
presente. Essas informações também foram comprovadas em estudos por
meio de técnicas baseadas em 15N realizadas em condições de campo.
Para investigar a contribuição fúngica de MA à aquisição de N no solo,
foi utilizado o isótopo 15N para medir a aparente disponibilidade de N vegetal,
isto é, o valor AN do solo para as plantas MA e não MA. O valor de AN é
calculado pela razão entre o N vegetal derivado do solo (14N) e o N vegetal
derivado de um fertilizante marcado com 15N. O valor de AN, que determina a
quantidade de N disponível para uma dada planta, é uma propriedade inerente
do solo, uma constante para qualquer conjunto de condições experimentais.
No entanto, se um determinado tratamento for capaz de induzir alterações no
padrão de absorção de N, permitindo às raízes usarem formas de N (14N)
diferentes do que aqueles sem tratamento, espera-se um aumento no valor de
AN. Diversas experiências demonstraram que esse valor para plantas
inoculadas com FMA é maior do que para os controles não inoculados.
Esses achados foram interpretados como indicação de que o micélio de
FMA usa fontes de N menos disponíveis do que as plantas não micorrizadas.
Assim, o pool de N disponível no solo é maior para as plantas MA do que para
as não MA. Transportadores de amônio têm sido descritos em FMA e foram
expressos tanto no micélio extrarradicular como no intrarradicular, sugerindo
que eles podem estar envolvidos na aquisição de N por plantas MA.
O papel dos FMA no auxílio do crescimento
vegetal em condições de estresse
Solos agrícolas geralmente são ameaçados por uma grande variedade de
fatores de estresse de origem biótica ou abiótica, conhecidos por afetar
negativamente a produtividade das culturas. A presença de microrganismos
fitopatogênicos que vivem no solo é o mais típico estresse biótico; já estresses
abióticos incluem seca/salinidade, poluentes orgânicos persistentes –
fungicidas, herbicidas, hidrocarbonetos etc. –, metais pesados e
radionuclídeos. Esses fatores abióticos são conhecidos por afetar
negativamente não só o crescimento das plantas, mas também as populações
de FMA. No entanto, esses fungos adaptados podem ser encontrados na
rizosfera das plantas que crescem em tais situações de estresse.
Aumentam as evidências de que os FMA podem contribuir para o
controle biológico de doenças do solo. De modo semelhante, estirpes de FMA
adaptadas podem aliviar os danos causados pelo estresse abiótico. As
informações sobre o impacto desses fungos no sentido de auxiliar a evolução
de plantas sob estresses culturais/ambientais serão detalhadas a seguir com
foco em: (i) ataque de patógenos; (ii) estresse salino/seca; e (iii) presença de
poluentes tóxicos.

O impacto de MA no auxílio da planta ao


ataque de fitopatógenos
O estabelecimento de FMA em raízes de plantas tem reduzido os danos
causados por agentes fitopatogênicos originados do solo. É importante
salientar que o efeito de MA não é exercido com a mesma eficiência por todos
os FMA nem é aplicável a todos os agentes patogênicos, e não é expresso em
todos os substratos ou em todas as condições ambientais. No entanto, há
exemplos que demonstram que a colonização prévia por FMA selecionados
protege plantas contra fungos patogênicos, tais como Phytophthora,
Gaeumannomyces, Fusarium, Thielaviopsis, Pythium, Rhizoctonia, Sclerotium,
Verticillium e Aphanomyces, ou nemátodos, tais como Rotylenchulus, Pratylenchus
e Meloidogyne.
Diferentes mecanismos têm sido sugeridos para a contribuição de FMA
no controle biológico de fitopatógenos. Um deles é simplesmente pela
compensação dos danos causados por agentes patogênicos pelo efeito de
promoção de crescimento típico MA. Outro mecanismo é pelas alterações da
população microbiana que ocorre com o desenvolvimento da micorrizosfera.
Hoje em dia, existe uma forte evidência de que as mudanças na população
microbiana e o equilíbrio microbiano resultante poderiam influenciar o
crescimento e a saúde das plantas no que se refere ao controle biológico de
patógenos de raiz. Um outro argumento é que a ativação de mecanismos de
defesa da planta pode induzir uma reação de resistência sistêmica. Isto diz
respeito não só aos patógenos radiculares, mas também aos patógenos e pragas
da parte aérea das plantas.
Enquanto as bases moleculares dos mecanismos envolvidos na indução
de resistência sistemática estão sendo esclarecidas, a viabilidade desse
mecanismo e seu impacto no controle biológico precisam de mais
investigação. Assim, o uso de FMA no controle biológico é uma prática
promissora, e a pesquisa atual visa auxiliar na resolução das suas reais
limitações.

O impacto de MA no auxílio à planta nas


condições de estresse salino/seca
Seca e salinidade, juntamente com temperaturas extremas, são os fatores
abióticos ambientais mais comuns de estresse vivenciados por plantas
cultivadas. Todos eles compartilham um componente comum, o estresse
osmótico, uma vez que causa desidratação dos tecidos vegetais. Estresses
osmóticos são conhecidos por terem efeito adverso significativo sobre a
sobrevivência, o desenvolvimento normal e a produtividade de plantas
cultivadas.
O papel da simbiose MA na proteção da planta contra estresses
osmóticos foi investigado por meio de abordagens de ecofisiologia. Tais
estudos demonstraram que a simbiose MA muitas vezes resulta em taxas de
alteração de movimento da água para dentro, através e para fora das plantas
hospedeiras, com consequências benéficas em relação à hidratação do tecido e
à fisiologia da planta. Consequentemente, aceita-se que a simbiose MA pode
proteger as plantas cultivadas contra os efeitos prejudiciais de déficit hídrico e
que a contribuição da MA à maior tolerância à seca resulta de uma
combinação de efeitos físicos, nutricionais e celulares.
Os estudos realizados até agora sugerem vários mecanismos pelos quais a
simbiose MA pode aliviar o estresse por seca à planta. Esses mecanismos
incluem: (i) absorção direta de água pelas hifas dos fungos, a partir de áreas de
solo inacessíveis às raízes das plantas, e subsequente transferência para a
planta hospedeira; (ii) melhor ajuste osmótico nas plantas MA que permite a
elas manter um gradiente favorável do fluxo de água do solo para as raízes;
(iii) reforço pela associação MA nas trocas gasosas da planta, o que permite
manter a abertura estomática e assimilação de CO2; (iv) melhoria das
propriedades de retenção de água no solo pela formação de agregados de solo
estáveis, o que aumenta a quantidade de água disponível para as plantas; (v)
estimulação das atividades assimilativas essenciais para o crescimento das
plantas, tais como a atividade de redutase de nitrato, que é fortemente inibida
em plantas por déficit de água; (vi) proteção da planta hospedeira contra o
dano oxidativo gerado pela seca; e (vii) ativação da expressão de aquaporina.
Na verdade, torna-se claro que a associação MA também é capaz de
alterar o padrão de expressão e a atividade da aquaporina em resposta ao
estresse osmótico. As aquaporinas são canais proteicos que facilitam o fluxo
passivo de água através das membranas, seguindo um gradiente de potencial
hídrico. Elas são responsáveis pela osmorregulação citossólica, transporte da
água, transporte de pequenas moléculas (NH4, ureia, glicerol, CO2), e
transporte de K+ (ajuste osmótico). Estudos demonstraram que a modulação
das aquaporinas particulares pela associação MA resulta em uma melhor
regulação do nível de água da planta e contribui para a resistência da planta a
várias condições de estresse, tal como evidenciado pelo melhor crescimento
vegetal e estado de água em plantas MA, sob condições de déficit hídrico.
O estudo das aquaporinas na simbiose MA é de grande interesse, uma
vez que tem sido sugerido recentemente que elas não só poderiam estar
envolvidas na regulação do estado da água da planta, mas também nos
processos de trocas simbióticas entre o fungo e a planta. O papel da MA na
regulação das relações hídricas de plantas está indicado abaixo, na Figura 10.7.
Figura 10.7 - Efeito da MA sobre a relação da água nas plantas.
Fonte: Juan Manuel Ruiz-Lozano (arquivo pessoal).

O impacto da MA na biorremediação de solos


poluídos
A simbiose MA pode aliviar o impacto negativo de outros estressores
abióticos das plantas, como metais pesados – MPs presentes no ambiente da
planta em altas concentrações (FERROL et al., 2016). Na verdade, alguns MPs
– Cu, Zn, Fe e Mn – desempenham papéis essenciais em muitos processos
biológicos, mas são tóxicos quando em excesso porque as mesmas
propriedades redox que os tornam essenciais levam à formação de EROs com
consequências prejudiciais para a célula. O controle de seu transporte e de sua
concentração, portanto, é fundamental para todos os organismos vivos (PUIG;
PEÑARRUBIA, 2009). Os FMA desempenham papel importante na
modulação da aquisição de MPs e são relevantes tanto para a melhoria das
concentrações de micronutrientes nas culturas quanto para a fitorremediação
de solos poluídos (BAREA et al., 2013b).
Em revisão recente, Ferrol et al. (2016) oferecem uma visão geral da
contribuição dos FMA para a aquisição e o comportamento de MPs em
plantas –em condições de deficiência e de toxidez – e resumem ainda o
conhecimento atual sobre os mecanismos de homeostase dos MPs induzidos
pelo sistema MA. A simbiose MA pode controlar a absorção e o transporte de
MPs para a parte aérea. Assim, sob condições de deficiência, os FMA
contribuem para a biofortificação da planta por meio do funcionamento de
transportadores de íons metálicos de alta afinidade localizados no micélio
extrarradicular, seguindo de translocação ao longo das hifas para estruturas
intracelulares a serem transferidas para a raiz na interface simbiótica. Sob
condições tóxicas, os FMA, desenvolvidos para serem adaptados aos solos
poluídos de MPs, participam da fitoextração desses metais. Contudo, a
simbiose MA contribui para a imobilização dos MPs do solo, de tal forma que,
como resultado, eles ficam estabilizados nas estruturas dos FMA. Logo, a
simbiose MA participa na fitoestabilização dos MPs.
Os mecanismos da tolerância aos MPs no fungo incluem (FERROL et
al., 2016): ligação do MP à parede celular, quelação por glomalina, diminuição
da absorção e/ou aumento do efluxo para o exterior, quelação de íons
metálicos no citosol, compartimentação dos MPs nos vacúolos – e
translocação para os esporos – e ativação de defesas antioxidantes.
Obviamente, o aumento da tolerância das plantas aos MPs pela associação com
FMA pode estar relacionado a mudanças na expressão gênica e na síntese
proteica induzida pela própria simbiose. Tanto as bactérias quanto os fungos,
de fato, os MPCV, têm sido encontrados e adaptados aos solos contaminados
com MPs. As interações entre MPs e FMA, formando uma rede
micorrizosférica, têm sido investigadas como uma estratégia de
fitorremediação de solo contaminado com Zn, Cu, Cd, Pb ou Ni (TURNAU et
al., 2006; AZCÓN et al., 2010; RUÍZ-LOZANO; AZCÓN, 2011).
Os MPCV tolerantes aos MPs conseguiram acumular grandes
quantidades de metais e, enquanto os FMA ajudam no estabelecimento dos
MPCV, estes auxiliam no desenvolvimento daqueles. A rede micorrizosférica
resulta na redução da concentração de MPs nas plantas, inferindo uma
atividade baseada em fitoestabilização; no entanto, como o conteúdo total de
MPs na parte aérea das plantas foi maior em plantas inoculadas, devido ao
efeito na acumulação de biomassa, sugere-se uma possível atividade de
fitoextração (AZCÓN et al., 2010). Os MPCV tolerantes aos MPs aumentaram
a produção de enzimas relacionadas à ciclagem de nutrientes e à produção de
fitormônios na micorrizosfera. Tal aumento indica uma aprimoração das
atividades microbianas relacionadas ao desenvolvimento da planta, o que
eleva, assim, a atividade de fitorremediação na micorrização (RUÍZ-
LOZANO; AZCÓN, 2011). De fato, esse efeito na micorrizosfera parece
auxiliar as plantas em limitar o dano oxidativo às biomoléculas em resposta ao
estresse do metal (AZCÓN et al., 2010).
Interações de FMA e rizobactérias benéficas
para o desenvolvimento agronômico
A associação MA ocupa uma posição central na rizosfera e em muitos
outros tipos de interações que envolvem FMA e grupos rizobacterianos. As
principais conclusões em matéria de interações na micorrizosfera –
relacionadas à ciclagem de nutrientes, fitoestimulação, controle biológico de
patógenos de raiz e melhoria da qualidade do solo – estão resumidas nesta
seção e na Tabela 10.2.

Tabela 10.2 - Interações da MA com os microrganismos benéficos do solo

Tipo de microrganismos Resultados da interação

Aumento na disponibilidade
Bactérias fixadoras de N2
de N

Aumento na disponibilidade
Solubilidade de fosfato
de P

Enraizamento e
Produtores de hormônios vegetais
estabelecimento de plantas

Agentes de controle biológico de doenças Antagonistas contra


vegetais patógenos radiculares

Biorremediação de solos
Algumas rizobactérias “específicas”
contaminados

Microrganismos relacionados à formação Aumento na qualidade física


de agregados estáveis do solo

Interações com bactérias do grupo rizóbio


fixadoras de N2
A presença generalizada da associação MA em leguminosas noduladas e
o papel da MA em melhorar a nodulação e a atividade dos rizóbios no interior
de nódulos são universalmente reconhecidos. Nos últimos 50 anos muitos
estudos foram realizados para entender a associação tripartite de leguminosa-
FMA-rizóbio, e tem sido demonstrado que a associação com FMA melhora a
nodulação e fixação de N2 por leguminosas em diversas condições.
O uso do isótopo 15N tornou possível determinar e quantificar a
quantidade de N que é fixada em uma situação específica, bem como a
contribuição da associação MA para os processos. Particularmente, o efeito da
inoculação de FMA na melhoria da fixação de N2 em associações leguminosa-
rizóbio foi investigado em condições de campo, utilizando o isótopo 15N. A
conclusão mais generalizada é que os FMA aumentam a produção de matéria
seca, a concentração de N e a produção total de N da leguminosa-alvo. Como
as leguminosas são conhecidas por enriquecer seu solo rizosférico com N da
fixação, as plantas que não estão associadas a essas bactérias e que crescem nas
proximidades, ou em rotação subsequente, assimilarão esse N da rizosfera das
legumimosas. Este pode ser medido utilizando 15N e expresso como N-
transferido da ixação.
A inoculação com FMA aumenta a quantidade de N em uma planta não
associada aos rizóbios pela transferência de N a partir de uma leguminosa
nodulada. A base bioquímica e fisiológica dos efeitos de associação MA no
aumento da atividade dos rizóbios é devida a uma estimulação generalizada da
nutrição do hospedeiro. Interações multimicrobianas, incluindo não só os
FMA e rizóbio, mas também as RPCP, foram testadas. Várias combinações
microbianas – FMA, rizóbio e RPCP –, com base em isolados locais, foram
eficazes em melhorar o desenvolvimento das plantas, a absorção de nutrientes,
a fixação de N2 (15N) ou a qualidade do sistema radicular. Relações de
compatibilidade funcional seletivas e específicas entre os inoculantes
microbianos têm sido constatadas, o que é importante para selecionar a
combinação microbiana adequada.

Interações com bactérias solubilizadoras de


fosfato
Entre os processos microbiológicos envolvidos na ciclagem de
nutrientes, são particularmente relevantes aqueles responsáveis pelo aumento
da disponibilidade de fosfato no solo. Dois tipos gerais de processos têm sido
descritos para o solo: os que promovem a solubilização de fontes de P não
prontamente disponíveis e os que são conhecidos por melhorar a absorção do
P-solúvel pelas plantas.
A solubilização de P é realizada por numerosas bactérias e fungos
saprófitos que atuam sobre os fosfatos moderadamente solúveis do solo,
principalmente por mecanismos mediados por quelação. A melhoria da
captação de fosfato pelas plantas é tipicamente levada a cabo pelos FMA.
Devido à importância dos processos de solubilização microbiana de P na
agricultura, a inoculação de bactérias solubilizadoras de P tem sido avaliada.
No entanto, o papel de tais bactérias inoculadas no fornecimento de P parece
limitado em razão da natureza transitória dos compostos liberados e de sua
possível refixação até o caminho para a superfície radicular. Nesse contexto,
foi proposto que os íons de fosfato solúvel seriam absorvidos pelo micélio de
FMA, e esta interação mutualista microbiana (micorrizosfera) deveria
melhorar a aquisição de P pelas plantas.
São inúmeras as pesquisas referentes às interações na micorrizosfera. Em
particular, experimentos de campo com a utilização de metodologias à base de
32
P podem auxiliar na confirmação da origem do P absorvido pelas plantas,
intermediado pelos FMA e/ou bactérias. O impacto sobre as fontes de P
adicionadas, naturais ou pouco solúveis, como fosfatos de rocha, tem sido
também objeto de estudos. Os resultados desses ensaios de campo corroboram
a hipótese de que as interações microbianas podem ter papel fundamental na
ciclagem de P, que é de importância considerável tanto para os ecossistemas
em geral como também para a eficiência agronômica de fosfatos de rocha em
particular. A explicação se deve ao fato de as bactérias solubilizadoras de
fosfato, quer inoculadas, quer naturalmente presentes, serem eficazes na
libertação de P-solúvel de fontes moderadamente solúveis, a partir dos
componentes do solo ou da rocha fosfatada adicionada. Essa liberação de íons
de P constituiria uma parte do total do conjunto de P disponível a partir do
qual o micélio do FMA assimilaria o fosfato e o transferiria para as plantas.
O interesse para a pesquisa futura deve centrar-se na capacidade de
micorrizosferas adaptadas ao uso de reserva de P presente nas diferentes
frações do solo.

Outras interações que envolvem FMA e


bactérias
As bactérias pertencentes ao gênero Azospirillum, capazes de fixar N2, são
conhecidas por promover o desenvolvimento das plantas e a produtividade
das culturas, sobretudo cereais. Há um reconhecimento generalizado de que
Azospirillum spp. melhora a fixação de N2 e a aquisição de N pela planta,
atuando principalmente sobre a morfologia, geometria e fisiologia do sistema
radicular. As mudanças nos padrões de enraizamento induzidas por
Azospirillum spp. são exercidas por meio da produção de hormônios,
principalmente auxinas.
Interações positivas entre FMA e Azospirillum, investigadas em diversos
experimentos, eram esperadas. Concluiu-se que Azospirillum aumenta a
formação de MA e de sua atividade e, em contrapartida, os FMA melhoram o
estabelecimento de Azospirillum. Os efeitos dessa atividade na micorrizosfera
sobre o crescimento e a nutrição das plantas foram estudados por meio de
métodos nos quais se utilizam 15N e 32P. Tanto Azospirillum brasiliensis e uma
cepa comercial de Azospirillum lipoferum beneficiaram a aquisição de N e P.
Houve benefício também para a produtividade de grãos de plantas de trigo e
milho quando inoculados com FMA, como consequência do efeito desses
microrganismos que favoreceu a absorção de nutrientes pelo sistema radicular
da planta.
Quando as RPCP específicas antagônicas aos patógenos radiculares
começaram a ser usadas como agentes de controle biológico, o objetivo era
explorar a capacidade profilática de FMA em associação com tais antagonistas.
Apesar de as informações serem escassas para conclusões gerais, parece ser
uma abordagem biotecnológica promissora para o controle biológico de
patógenos do sistema radicular.
Têm sido descritas interações da micorrizosfera conhecidas por auxiliar
a estabilidade da estrutura do solo, um atributo de sua qualidade. A estrutura
do solo tem sido degradada em consequência de práticas antrópicas e/ou de
influências da mudança climática. Uma das consequências é a erosão, um
processo associado à perda de agregados estáveis em água, afetando
negativamente a estrutura do solo. Na verdade, um solo com as partículas bem
agregadas garante boa estrutura, e aquele com boas relações hídricas do
sistema solo-planta, taxas de infiltração de água, aeração, penetração da raiz e
acúmulo de matéria orgânica garante sua qualidade e adequação para o cultivo.
Interações de FMA em cooperação com outros microrganismos na
formação de agregados estáveis de solo já foram evidenciadas, bem como o
envolvimento da glomalina, uma glicoproteína produzida por hifas externas
de FMA. Em virtude de sua natureza hidrofóbica, semelhante à cola, a
glomalina participa da iniciação e estabilização dos agregados.
Entre os diversos tipos de interações na micorrizosfera conhecidos por
beneficiar o crescimento e a saúde das plantas, aqueles relacionados a
processos de fitorremediação também estão sob investigação. Um ponto-
chave é a utilização de microrganismos adaptados aos MPs, já testada em
diversos estudos. Um efeito claro das interações cooperativas que ocorrem na
micorrizosfera, na fitoestabilização, foi demonstrado, assim como um efeito
significativo sobre a fitoextração.
Manejo de FMA na agricultura
Uma crescente demanda para a agricultura de baixos insumos resultou
em maior interesse na manipulação e utilização de microrganismos benéficos,
incluindo FMA, capazes de beneficiar a fertilidade do solo. Espera-se que uma
gestão adequada dos microrganismos do solo possa reduzir o uso de produtos
químicos e de energia na agricultura por meio dessa agrobiotecnologia. Assim,
garante-se uma produção mais econômica e sustentável, minimizando a
degradação ambiental. Essas estratégias são consideradas cada vez mais
atraentes, dado que o uso de produtos químicos para fumigação e controle das
doenças é progressivamente desestimulador, e fertilizantes químicos tornam-
se mais caros a cada dia.
Apesar do reconhecimento de que a produtividade das culturas é
influenciada pela associação MA, ainda há poucos exemplos que demonstram
que a inoculação ou gestão para aumentar a colonização de MA são práticas
agronômicas sustentáveis. Os principais resultados de experimentos de campo
são mostrados na Figura 10.8. Em particular, tais experimentos se baseiam em
sistemas sustentáveis – com utilização de baixos insumos – nos quais
naturalmente ocorrem as populações de FMA, que podem desempenhar
papéis importantes na nutrição das plantas.
Figura 10.8 - Inoculação em campo de Medicago sativa com Rhizobium – R e
micorriza arbuscular – MA.

A dificuldade de se cultivar FMA na ausência da planta hospedeira é um


obstáculo considerável para a produção de inoculantes desses fungos. Existem
empresas, no entanto, que estão produzindo e vendendo inóculos de FMA. Os
sistemas de produção de inoculantes vão desde multiplicação em viveiro até
cultivo monoxênico in vitro em culturas de raiz. Os materiais resultantes –
esporos, hifas, fragmentos de raízes etc. – são adicionados a diferentes
transportadores/veículos, resultando em uma ampla variedade de
formulações, incluindo encapsulação. É discutível se produtos genéricos que
contêm vários FMA e que são potencialmente adequados para uma variedade
de aplicações são mais apropriados para o mercado do que aqueles com
formulações específicas e FMA selecionados para determinados fins.
A inoculação em sistemas de produção em larga escala e altamente
desenvolvidos tem muitas limitações, sendo a gestão das populações nativas a
opção hoje mais viável. No entanto, em menor escala, na produção de mudas
em viveiros, a inoculação de FMA é viável e vantajosa. A inoculação de mudas
é um bom método para estabelecer fungos selecionados nas raízes, antes do
replantio em tubete/vasos ou no campo. A inoculação é apropriada quando o
transplantio de mudas é parte do sistema normal de produção, como é o caso
da horticultura. Os agricultores também podem produzir inóculo caseiro,
composto de raízes altamente colonizadas e de solo a serem aplicados nos
canteiros de imediato, antes do plantio. Tal medida poderia ser uma
contribuição valiosa para a produção de alimentos em sistemas com
investimento relativamente baixo.
As estratégias de manejo para a produção de inoculante incluem o uso de
rotação, pastagem e culturas, em que duas ou mais culturas são produzidas a
cada ano, ou são cultivadas de maneira simultânea. O manejo de sistemas
biodinâmicos e orgânicos apresentam como resultado maior percentagem de
colonização micorrízica de raízes de pastagens e culturas anuais do que o
tratamento convencional. Em particular, o uso de FMA na horticultura, em
associação com outros microrganismos benéficos, é uma forma eficaz para
melhorar a utilização de fertilizantes e para minimizar as perdas por doenças.
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8 Departamento de Microbiología del Suelo y Sistemas Simbióticos, Estación Experimental


del Zaidín – EEZ-CSIC, Granada, Espanha. E-mail: jmbarea@eez.csic.es
9 Instituto de Biotecnologia Aplicada à Agropecuária – Bioagro, Departamento de
Microbiologia, Universidade Federal de Viçosa – UFV, Viçosa, MG, Brasil. E-mail:
mkasuya@ufv.br
Capítulo
11
Quelatos e Complexos na Agricultura
Juan José Lucena10; Agustín Gárate11 e Helena M. V. M. Soares12
Introdução
Os agentes quelantes são utilizados em inúmeras aplicações técnicas e
industriais. Eles têm recebido enorme atenção devido à sua forte interação
com os metais, a cujos efeitos adversos sobre os ecossistemas e os sistemas
biológicos está associada. Cientistas de várias áreas disciplinares – química,
ciências ambientais, microbiologia, agroquímica, fitorremediação,
biorremediação, bem como aqueles ligados ao tratamento de águas residuais e
a várias indústrias (pasta de papel, têxtil e petroquímica) – têm estado
envolvidos no estudo e na aplicação desses compostos.
Os quelatos foram usados pela primeira vez na agricultura no início dos
anos 1950, quando cientistas americanos e ingleses adicionaram o quelato de
Fe-EDTA a diferentes culturas com o intuito de corrigir a clorose férrica. Os
agentes quelantes têm sido usados na agricultura com o objetivo de aumentar
a disponibilidade e o transporte de vários nutrientes metálicos, incluindo Fe,
Zn e Cu. No entanto, menos de 10% da produção mundial de agentes
quelantes sintéticos – mais de 200 mil toneladas, incluindo o EDTA – é usada
na agroquímica.
Nem sempre a aplicação de quelatos sintéticos em culturas rendeu
resultados consistentes. A pesquisa desenvolvida sobre esse tema ao longo dos
anos tornou possível a existência, atualmente, de um conjunto de compostos
adequados para tratar várias deficiências de micronutrientes em plantas. O
elevado custo dos quelatos sintéticos, contudo, ainda não os torna acessíveis
para aplicação em culturas extensivas, a exemplo do trigo, arroz etc. Não
obstante, o uso de quelatos (essencialmente quelatos de Fe) em agronomia é
uma prática comum em culturas de alto valor agregado, como é o caso de
árvores frutíferas e culturas em estufa.
Este capítulo aborda os conceitos básicos sobre complexos e quelatos, as
suas características e propriedades, com destaque aos aspetos relacionados à
sua estabilidade e ao desempenho agronômico. São revistos tanto a estrutura
química dos quelatos como os métodos para a sua identificação. Os quelatos de
Fe são objeto de particular atenção, sobretudo no que diz respeito ao seu
comportamento nos solos e à sua eficácia na correção da clorose férrica em
algumas culturas. O presente capítulo trata, por fim, dos agentes
complexantes, os quais recebem hoje em dia enorme atenção. Esses compostos
são preparados, em especial, a partir de resíduos urbanos, industriais ou
agrícolas e podem ser usados na agricultura para o fornecimento de
micronutrientes às culturas.
Conceitos básicos, propriedades dos quelatos e
dos complexos

Conceitos básicos: ligandos e metais


Um complexo corresponde a um composto, no qual o átomo central –
metal ou íon metálico – se encontra rodeado por um determinado número de
átomos, moléculas ou íons, designados ligandos. Como exemplo, tem-se o íon
complexo [Co(NH3)6]3+, em que o íon Co3+ se encontra rodeado por seis
ligandos NH3.
Um complexo pode também ser considerado como a interação entre um
ácido de Lewis – átomo metálico – e um determinado número de bases de
Lewis – ligandos. O átomo da base de Lewis, que cede o par de elétrons não
compartilhado ao ácido de Lewis, designa-se de átomo doador ou ligando.
Os complexos ou compostos de coordenação, termos usados com frequência
em química inorgânica, incluem compostos constituídos por um átomo ou íon
metálico e um ou mais ligandos – átomos, íons ou moléculas – doadores de
elétrons ao metal central. A designação composto de coordenação deriva da
ligação covalente coordenada, que se estabelece como consequência da doação
do par de elétrons de um átomo para o outro, vide Figuras 11.1. e 11.2. As
ligações covalentes coordenadas são idênticas às ligações covalentes que
habitualmente se estabelecem por partilha de um elétron entre cada um dos
dois átomos que estabelecem a ligação. Essa ligação pode ser considerada forte,
do tipo ligação sigma (σ).
Figura 11.1 - Formação de complexo e quelato: (A) o ligando L doa um par de
elétrons ao metal M; (B) formação de uma ligação covalente
dativa entre os dois átomos. L-M é um complexo; (C) metal
ligado a dois ligandos independentes; e (D) uma molécula com
dois átomos doadores de um par de elétrons estabelece duas
ligações com o metal, formando quelato. O anel é completado
com o metal e os dois átomos do agente quelante. A seta
representa a cedência do par de elétrons.

A história da ligação e da interpretação das reações de compostos de


coordenação foi iniciada por Alfred Werner (1866-1919). A teoria de Werner
pressupunha dois tipos de ligações nos compostos: uma primeira, na qual a
carga positiva do íon metálico central é equilibrada com os íons negativos no
composto; e uma segunda, na qual as moléculas ou íons (coletivamente
designados ligandos) estão ligados ao íon metálico. À unidade secundária de
ligação foram atribuídos diferentes nomes, tais como íon complexo ou esfera de
coordenação, em que a fórmula é escrita com essa parte entre parêntesis. A
esfera de coordenação atua como uma unidade, enquanto os íons externos aos
parêntesis equilibram a carga e são íons livres em solução. Atualmente, a
esfera de coordenação é considerada a parte mais importante do complexo.
Por sua vez, quelato é um complexo em que o átomo ou íon metálico
central se encontra ligado por vários pontos de coordenação a uma molécula
orgânica – o agente quelante (CHEN; BARAK, 1982; LUCENA, 2006). O anel
heterocíclico é formado entre o metal e o agente quelante (Figura 11.1D). O
termo quelato deriva da palavra grega kelos, que significa “garras de
caranguejo”.
Todos os quelatos são complexos, mas nem todos os complexos são
quelatos. Em geral, os quelatos são mais estáveis do que os complexos.
A maior parte dos elementos que atuam como átomos centrais nos
complexos e quelatos são metais (ácidos de Lewis). Entre eles, os metais de
transição são aqueles que apresentam maior tendência para formar complexos
por possuírem orbitais vazias, de baixa energia, disponíveis para receberem
pares de elétrons. Em agronomia, os metais da primeira série de transição –
Fe, Mn, Cu e Zn – são aqueles que se revestem de maior importância na
formação de quelatos.
Os ligandos são moléculas ou íons que têm pelo menos um átomo com
um par de elétrons não partilhado (bases de Lewis). Os átomos de N, O e S são
os mais frequentes nos ligandos associados aos sistemas agrícolas. Esses
ligandos são moléculas orgânicas ou íons, incluindo elementos não metálicos
da tabela periódica.
Na Figura 11.2 estão listados os ligandos mais comuns. Aqueles com dois
ou mais pontos de ligação com átomos metálicos designam-se agentes
quelantes; já os que contêm dois pontos de ligação, por molécula, designam-se
bidentados. A etilenodiamina (en = NH2CH2CH2NH2) é um exemplo desta
última situação: ela se liga ao íon metálico através dos dois átomos de N. É
comum usar os prefixos, tri-, tetra-, penta- e hexa- para identificar agentes
quelantes com três a seis átomos ligantes, respectivamente.
A formação de quelatos origina compostos de elevada estabilidade
quando comparada com complexos que contêm o mesmo número de ligações
coordenadas. Esse aumento da estabilidade é, habitualmente, conhecido como
efeito de quelatação. Por exemplo, quando se compara a estabilidade entre o
complexo [Fe(NH3)6]3+ e o quelato [Fe(en)3]3+, o primeiro é muito menos
estável do que o segundo apesar de ambos os compostos terem o mesmo
número de coordenação (seis), a mesma geometria (octaédrica) e seis átomos
de azoto doadores de pares de elétrons; a diferença de estabilidade observada
entre ambos deve-se ao fato de a etilenodiamina formar um quelato com o Fe.
O EDTA é um agente quelante hexadentado. O anel do quelato pode
apresentar qualquer número de átomos; no entanto, os anéis mais estáveis e
comuns contêm cinco ou seis átomos, incluindo o íon metálico. Alguns
ligandos podem formar mais do que um anel.

Figura 11.2 - Representação de ligandos mono e bidentados mais comuns. Os


pontos vermelhos correspondem aos pares de elétrons ligantes.

Número de coordenação e geometria:


isômeros
Num complexo, o número de coordenação corresponde ao número de
átomos diretamente ligados ao metal ou ao número de ligações sigma metal-
ligando; este não deve ser confundido com o número de oxidação do átomo
central, o qual se define como a carga do íon isolado. O número de oxidação é
representado por números romanos.
Conforme a natureza do metal e dos ligandos, aquele pode ter até no
máximo 16 átomos ligados a si, sendo os valores mais habituais entre quatro a
seis. Adicionalmente, quando os compostos estiverem dissolvidos em água, as
moléculas de água podem estar adicionadas à esfera de coordenação.
Embora vários fatores influenciem o número de ligandos associados ao
metal, assim como a forma, ou geometria, da molécula resultante, por vezes é
possível prever qual a estrutura mais favorável tendo em conta a distribuição
eletrônica do metal e o número de coordenação do complexo. Por exemplo,
dois tipos de geometrias possíveis para complexos com número de
coordenação quatro são as geometrias tetraédrica e quadrangular planar.
Alguns metais, como é o caso da Pt(II), formam exclusivamente complexos
com geometria quadrangular plana. Outros metais, a exemplo do Ni(II) e do
Cu(II), podem exibir-se sob ambas as estruturas, dependendo do ligando.
Diferenças sutis na estrutura eletrônica ajudam a explicar tais variações.
No caso de moléculas com número de coordenação seis, a geometria
octaédrica é a forma mais provável. Essa geometria descreve a forma dos
compostos em que seis átomos, grupos de átomos ou ligandos se encontram
arranjados em torno do átomo central, definindo os vértices de um octaedro,
tal como representado na Figura 11.3. Essa é a geometria mais comum nos
quelatos de Fe e de outros metais usados na agricultura.

Figura 11.3 - Representação espacial de um quelato formado entre um metal


(cor magenta) e o agente quelante, EDTA. As ligações sigma
permitem a rotação dos átomos em torno da ligação e, desse
modo, o EDTA pode adaptar a sua forma em torno do metal M,
formando seis ligações coordenadas (cor verde) com o metal:
duas com o N (azul) e quatro com o O (vermelho).

Isomeria nos complexos e quelatos


A existência de possíveis formas isoméricas, às quais corresponde a
mesma fórmula molecular de um complexo ou quelato, deve ser considerada.
A formação de isômeros implica a existência de duas moléculas diferentes com
a mesma massa molar. A variedade de números de coordenação nos
complexos, quando comparada com os compostos orgânicos, origina um
elevado número de isômeros. São exemplos disso os isômeros estruturais
(diferentes ligandos na esfera de coordenação) e os espaciais (estereoisômeros,
com diferentes geometrias). Os estereoisômeros podem ser diastereoisômeros
geométricos (isômeros cis-trans) e enantiômeros (isômeros em que um é a
imagem do outro num espelho plano e não são sobreponíveis, apresentando
um átomo quiral).
A título de exemplo, os isômeros cis-trans são comuns com a Pt(II), um
dos metais mais estudados. O isômero cis de [Pt(NH3)2Cl2], designado
cisplatina, é usado em medicina como agente antitumoral, enquanto o isômero
trans não apresenta atividade (Figura 11.4). Exemplos de isômeros de quelatos,
quer estruturais, quer óticos, assim como a sua importância, serão discutidos
mais à frente neste capítulo.

Figura 11.4 - Isômeros cis-trans do complexo [Pt(NH3)2Cl2] com coordenação


nº 4 e geometria plano-quadrada.
Propriedades dos quelatos e complexos.
Constantes de estabilidade. Exemplos
As propriedades dos quelatos e dos complexos são muito diversas
comparativamente às propriedades dos metais livres. A solubilidade, por
exemplo, é mais elevada nos complexos do que nos metais livres. Uma série de
complexos do mesmo metal, com diferentes ligandos, apresenta diferentes
valores de potencial redox; por exemplo, os citocromos, que realizam o
transporte de elétrons nas membranas celulares.
A química agrícola utiliza habitualmente constantes de estabilidade – ou
constantes de formação – como uma das propriedades mais importantes dos
complexos e quelatos. Essas constantes de formação dos complexos de
coordenação são, em geral, quantificadas em solução aquosa.
A constante de formação (Kf) do complexo Fe-EDTA corresponde à
constante de equilíbrio da seguinte reação:

Por uma questão de simplificação, normalmente as moléculas de água


presentes nos complexos estão omissas das constantes de equilíbrio. Elevadas
constantes de estabilidade indicam que a ligação com o ligando é mais
favorável do que com a água; no entanto, os efeitos de entropia também
devem ser considerados no equilíbrio. A Tabela 11.1 mostra que os valores de
Kf da maioria dos complexos de EDTA são elevados.
É importante fazer uma análise comparativa entre complexos
semelhantes, tal como acontece com uma série de diferentes íons metálicos
que reagem com o mesmo ligando ou uma série de diferentes ligandos que
reagem com o mesmo íon metálico (Tabela 11.1). Nesses casos, pode ser feita
uma correlação entre as propriedades termodinâmicas e a estrutura eletrônica.
O EDTA forma quelatos fortes com a maioria dos íons metálicos (na
proporção 1:1), independentemente da carga do íon. O ácido tetraprótico,
com fórmula H4Y, é neutro, enquanto o sistema EDTA hexaprótico contém
quatro prótons carboxílicos e mais dois prótons nos grupos amina. As espécies
químicas do EDTA, não combinadas com íons metálicos, são dependentes do
pH.
A Tabela 11.1 mostra os valores do logaritmo decimal de Kf – constantes
de estabilidade termodinâmicas – que expressam as constantes de formação
dos quelatos formados pelos metais Ca(II), Fe(III), Zn(II), Cu(II) e Mn(II) com
os agentes quelantes mais utilizados na agricultura. Um valor mais elevado de
pKf indica uma maior estabilidade do quelato. Se compararmos, por exemplo,
para o caso do EDTA, DTPA e orto,orto-EDDHA (o,o-EDDHA), a força dos
quelatos formados pelos vários metais segue a mesma sequência com os três
agentes quelantes. Em todos os casos, os quelatos mais estáveis correspondem
aos quelatos de Fe(III) e os mais fracos são aqueles formados com o Ca(II). Tal
como para os agentes quelantes, os quelatos de EDDHA são os mais estáveis,
seguidos pelos de DTPA e finalmente os de EDTA; exceção é o Zn(II), que
forma um quelato mais estável com o DTPA do que com o EDTA e
comparável com o EDDHA.

Fatores que afetam a estabilidade dos quelatos


Esses fatores incluem o íon metálico, o ligando ou agente quelante e as
condições do meio externo.
a) Íon metálico: a estrutura eletrônica, tamanho do íon, número de
oxidação, estereoquímica etc. dos metais afetam a estabilidade do quelato. Em
geral, no que diz respeito à estabilidade dos quelatos formados com o mesmo
agente quelante:
• Os quelatos formados com metais de transição são mais estáveis do que
aqueles formados com os metais alcalinos e alcalino-terrosos.
• Dentro do mesmo grupo de elementos da tabela periódica, a estabilidade do
quelato diminui com o aumento do tamanho do metal.
• A estabilidade do quelato normalmente aumenta com a carga do íon:
quelatos de Fe(III) são geralmente mais estáveis do que os formados com
Fe(II).

Tabela 11.1 - Constantes de estabilidade (log K°) de formação de diferentes


quelatos metálicos com relevância agrícola.

1
Para os quelatos FeHopEDDHA e FeOHDCHA, as principais espécies ocorrem a pH inferior
a 5,92 e superior a 7,5, respectivamente; por esse motivo, para fins comparativos, a expressão
da constante condicional é também incluída.

b) Agente quelante: as alterações no agente quelante são difíceis de


estudar de forma isolada. A mudança de um único átomo envolve mudanças
de tamanho, basicidade, ressonância etc. do agente quelante. Em geral, no que
diz respeito à estabilidade dos quelatos formados pelo mesmo metal:
• Ela aumenta com o número de anéis.
• Ela é influenciada pelo tamanho do anel. Quelatos com cinco ou seis anéis
são mais estáveis.
• Os quelatos são mais estáveis quando o anel apresenta duplas ligações do
que na sua ausência.
• Impedimento estérico: quando a distância entre os átomos doadores for
muito grande, pode impedir a formação da ligação covalente coordenada.

c) Condições do meio (ou externas): fatores como pH, temperatura,


potencial redox, força iônica, presença de ânions e de cátions em solução
devem ser levados em conta na análise do comportamento de um quelato
aplicado na cultura.

Tipos de quelatos
Os quelatos e os complexos podem ser divididos em naturais e sintéticos.
Os quelatos naturais são muito abundantes; por exemplo, o Mg nas clorofilas e
o Fe na hemoglobina e na mioglobina, os citocromos e as oxidases. O ATP é
um ligando tetradentado importante que se liga a íons metálicos divalentes,
tais como Mg2+, Mn2+ ou Co2+, através de quatro das seis posições de
coordenação disponíveis; a quinta e a sexta posição de coordenação são
ocupadas por moléculas de água. Em geral, a forma biológica ativa do ATP é o
complexo Mg(II)-ATP.
Os quelatos de Fe sintéticos têm recebido muita atenção. Na próxima
seção, as suas estruturas serão analisadas.
Estruturas dos quelatos: produtos comerciais e
métodos analíticos

Compostos poliaminocarboxílicos: não


fenólicos (EDTA) e fenólicos (EDDHA) -
isômeros estruturais e ópticos
Entre os agentes quelantes sintéticos, os compostos baseados nos grupos
etilenodiamino e acetato – ligandos poliaminocarboxilatos – são os mais
utilizados na agricultura. Esses compostos podem ser classificados em dois
grupos principais: análogos do EDTA (compostos não fenólicos) e os que têm
estrutura derivada do EDDHA (compostos fenólicos). Os agentes quelantes
referidos abaixo estão incluídos na legislação europeia – CE 2013/2013 e nas
adaptações correspondentes ao progresso técnico (ATPs), especialmente UE
223/2012 e 463/2013 – e são encontrados em fertilizantes comerciais
utilizados para corrigir as deficiências de micronutrientes.
Os dois grupos de agentes quelantes autorizados para uso agrícola são
constituídos pelo EDTA e moléculas relacionadas, tais como DTPA, HEEDTA
e IDHA, e o grupo dos compostos fenólicos poliaminocarboxílicos, que inclui
o,o-EDDHA, HBED, o,o-EDDHMA, EDDHCA e EDDHSA (Figura 11.5). Os
últimos podem ser considerados derivados do o,o-EDDHA por meio da
introdução de diferentes grupos no anel benzênico: CH3 para o,o-EDDHMA,
-COOH no EDDHCA e -SO3H no EDDHSA.
O EDTA é o agente quelante sintético mais utilizado no mundo, usado
em diferentes aplicações industriais – detergentes, alimentos, tratamento de
água, medicina etc. No entanto, existem outros agentes quelantes que
apresentam melhores resultados na agricultura, como é o caso do o,o-
EDDHA.
Os quelatos de ferro com EDTA, DTPA e HEEDTA apresentam uma
estabilidade inferior (Tabela 11.1) relativamente aos quelatos fenólicos; por
isso, esses compostos são utilizados sobretudo para Mn, Zn e Cu (LINDSAY;
SOMMERS, 1997). No entanto, mesmo para esses metais, a sua eficácia pode
estar diminuída para valores de pH elevado. De fato, nessas condições, esses
metais podem ser substituídos pelo Ca. Do contrário, se o pH for inferior a 6
ou 5, ou a interação dos quelatos com o solo ou com o substrato for limitada,
esses agentes quelantes podem ser usados sob a forma de quelatos de Fe – por
exemplo, o Fe-DTPA é amplamente utilizado em hidroponia a pH 5,5.
O IDHA (Figura 11.4) é um novo agente quelante, o qual estabelece
apenas cinco ligações com o metal; desse modo, as constantes de estabilidade
dos quelatos de micronutrientes são baixas (Tabela 11.1). No entanto, como os
quelatos de Ca e Mg-IDHA também têm baixas constantes de estabilidade, a
competição desses metais é fraca; por essa razão, os quelatos de
micronutrientes são fertilizantes adequados para condições agronômicas em
que a interação com o solo é escassa, como é o caso de pulverizações foliares
(com muito bons resultados), fertirrigação, hidroponia ou quando as culturas
não são muito suscetíveis a deficiências desses micronutrientes. O IDHA é um
derivado do ácido succínico; por isso é biodegradável, o que é uma clara
vantagem em termos ambientais (LUCENA et al., 2008).
Figura 11.5 - Principais agentes quelantes usados na agricultura: (I) ácidos
poliaminocarboxílicos não fenólicos (Ia) com seis átomos
doadores – EDTA, DTPA e HEDTA – e (Ib) com cinco átomos
doadores – IDHA; (II) ligandos fenólicos, derivados do o,o-
EDDHA, (IIa) com seis – o,o-EDDHMA, EDDHCA e EDDHSA –
ou (IIb) cinco átomos doadores – o,p-EDDHA –, e (IIc) sem
formas isoméricas – HBED.

Os agentes quelantes que contêm anéis fenólicos formam quelatos


férricos muito estáveis (Tabela 11.1). Uma vez que esses compostos partilham
os mesmos grupos doadores, a sua estabilidade é semelhante. No entanto, os
agentes quelantes EDDHCA e EDDHSA são mais solúveis e menos reativos
no solo devido à presença de grupos polares; em contrapartida, o agente
quelante o,o-EDDHMA é menos solúvel e mais facilmente retido pela matéria
orgânica do que os quelatos de o,o-EDDHA.
O quelato Fe-HBED é conhecido como um dos quelatos de Fe mais
estáveis (Tabela 11.1), sendo o HBED considerado agente remobilizador de Fe
em diferentes aplicações médicas. Estudos recentes mostraram que este
quelato constitui uma boa e prolongada fonte de Fe para culturas sensíveis,
permitindo um melhor armazenamento de Fe em frutos do que o quelato Fe-
o,o-EDDHA, assim como a manutenção de um bom reservatório de Fe nas
árvores para o ano seguinte. Desse modo, esse agente quelante é o produto
preferido para árvores frutíferas e de citrinos que crescem em solos calcários.
Durante o proceso de síntese do o,o-EDDHA, podem ser obtidos três
isômeros estruturais, dependendo da posição dos grupos OH no anel
benzênico. Assim, no o,o-EDDHA, o OH está na posição C2 de ambos os
benzenos, próximo da ligação com a cadeia principal; o isômero orto,para-
EDDHA possui um OH na posição C2 de um benzeno e outro OH na posição
C4 do outro anel benzênico; no caso do isômero para,para-EDDHA, os dois
grupos OH estão na posição C4 de ambos os anéis aromáticos, isto é, na
posição mais distante da cadeia principal.
Quando da formação dos quelatos de Fe, as posições espaciais dos grupos
OH no quelato [Fe(III)-o,o-EDDHA] permitem o estabelecimento de seis
ligações com o metal; o isômero orto-para permite a formação de cinco
ligações (Figura 11.6), enquanto o isômero para-para apenas permite a
formação de quatro ligações entre o Fe e o agente quelante. As constantes de
formação desses quelatos de Fe (Tabela 11.1) refletem a estabilidade desses
complexos. Na verdade, o Fe no quelato de [Fe(III)-p,p-EDDHA] não está
protegido e tende a precipitar-se sob a forma de hidróxido de Fe em condições
agronômicas normais; desse modo, a sua constante de estabilidade não pode
ser determinada (ÁLVAREZ-FERNÁNDEZ et al., 2005).
Figura 11.6 - Isômeros ópticos de Fe(III)-o,o-EDDHA: formas racêmica e
meso; e isômero posicional Fe(III)-o,p-EDDHA.

No quelato de Fe(III)-o,o-EDDHA, o Fe encontra-se ligado através de


seis ligações ao agente quelante, enquanto no quelato Fe-o,p-EDDHA, apenas
se encontra ligado por cinco ligações. Logicamente, o segundo quelato é
menos estável do que o primeiro. Quando adicionados em conjunto, como
acontece em várias formulações comerciais, o isômero orto-para pode exercer
uma ação rápida (GARCÍA-MARCO et al., 2006a) devido à sua maior
capacidade de libertação de Fe para a planta, enquanto o isômero orto-orto,
mais estável, fornece Fe à planta de forma mais gradual, durante um período
de tempo mais longo (GARCÍA-MARCO et al., 2006b). Na verdade, estudos
em hidroponia mostraram que o quelato Fe-o,p-EDDHA é cerca de 4 a 10
vezes melhor substrato da enzima ferro-redutase para plantas de pepino
ligeiramente cloróticas, quando comparado com o quelato Fe(III)-o,o-
EDDHA. Além disso, a aplicação do quelato Fe(III)-o,p-EDDHA em doses
baixas, em condições de hidroponia (pH 8), permite aliviar rapidamente a
clorose férrica de plantas de pepino e de soja.
Os agentes quelantes do tipo o,o-EDDHA podem ter átomos quirais,
assinalados com asteriscos na Figura 11.5, os quais originam isômeros ópticos
ou enantiômeros. O termo quiral é uma característica de assimetria e é usado
para descrever uma molécula que não é sobreponível com a sua imagem num
espelho plano. Os isômeros ópticos de o,o-EDDHA podem formar quelatos
diferentes quando estes se ligam ao Fe (Figura 11.6). Assim, os quelatos do
tipo o,o-EDDHA ocorrem como dois isômeros ópticos: d,l-racêmico e formas
meso. As constantes de estabilidade dos quelatos dos isômeros o,o-EDDHA
com Fe dizem respeito às formas meso, que correspondem aos quelatos mais
fracos (Tabela 11.1).

Qualidade dos quelatos comerciais e métodos


analíticos
Os quelatos comerciais de Fe são obtidos por síntese orgânica por meio
de diferentes métodos. A pureza, a presença e a quantidade de isômeros e
outros produtos de síntese podem ser muito variáveis nos quelatos comerciais.
Por conseguinte, é necessário o desenvolvimento de técnicas analíticas
fidedignas para identificar e quantificar os componentes presentes nos
produtos comerciais. O Comitê Europeu de Normalização – CEN tem
publicado diferentes normas, adotadas pelos regulamentos europeus, para a
determinação da qualidade dos quelatos. O elemento solúvel, a fração
quelatada do elemento e o elemento quelatado especificamente pelo agente
quelante correspondem às três principais determinações. Entre estas, a
determinação do quelato é a mais importante. O conhecimento do elemento
solúvel é de menor importância, já que a aplicação de um micronutriente não
quelatado não apresenta utilidade para a planta, e a fração quelatada de
micronutriente indica apenas a quantidade que é complexada ou quelatada em
solução por qualquer agente complexante, mas não garante que este
permanecerá em solução quando adicionado como fertilizante. O método
analítico preferencial para a determinação de quelatos específicos é o HPLC.
Para a avaliação de quelatos fenólicos, os métodos derivados, a partir do
proposto por Lucena et al. (1996), são os mais comuns. A combinação de um
processo separativo e a quantificação, por UV-Visível, permitem a sua
determinação inequívoca. As Figuras 11.7 e 11.8 evidenciam a separação dos
componentes no cromatograma e a sua identificação por UV-visível.
A utilização desses métodos também tem permitido melhorar a
qualidade dos produtos disponíveis no mercado. Na verdade, o conteúdo
médio de Fe quelatado por EDDHA (Fe-o,o-EDDHA), presente em amostras
de produtos comerciais vendidos na Espanha antes de 1999, que declaravam
6%, era de 2,6% antes da publicação dos métodos e aumentou para 4% entre
2003 e 2005; atualmente, a maioria dos produtos estão corretamente
rotulados.
A síntese de EDDHA comercial também produz outros subprodutos
desconhecidos capazes de complexar o Fe3+. Esses compostos, que
correspondem a compostos oligoméricos do tipo EDDHA, são formados por
polissubstituição nos anéis fenólicos. Embora tais subprodutos oligoméricos
tenham estabilidade adequada em solução, uma quantidade significativa é
perdida quando da sua interação com o solo e materiais do solo. Além disso,
esses compostos não são substratos adequados para a enzima ferrorredutase
das raízes. Adicionalmente, as plantas de soja, sensíveis à clorose, têm
potencial mais baixo para a absorção de Fe a partir desses subprodutos do que
a partir dos quelatos o,o-EDDHA/Fe3+ ou o,p-EDDHA/Fe3+.
O quelato Fe-HBED pode ser sintetizado com elevada pureza, sendo
possível obter produtos de elevada qualidade que contêm 9% de Fe quelatado.
Durante a síntese do quelato Fe-EDDSHA, é formada uma grande
quantidade de oligômeros, os quais são incluídos com o monômero, sob a
designação EDDSA; assim, o método analítico inclui oligômeros na sua
quantificação.

Figura 11.7 - Cromatograma típico obtido pelo método HPLC para produtos
comerciais à base de Fe-o,o-EDDHA. O Fe-o,o-EDDHA é a soma
de isômeros geométricos dl-racêmico (I) e meso (II). Outros picos
indicam a presença de produtos de degradação Fe-o,p-EDDHA
(IV), da síntese de p,p-EDDHA e outros produtos relacionados
(III).
Aplicação de quelatos na agricultura: eficácia
Quando do fornecimento de micronutrientes na forma de complexos ou
quelatos na agricultura, o Fe é o nutriente mais importante. A aplicação de
quelatos de Fe sintéticos no solo é uma estratégia essencial para corrigir a
clorose férrica nas culturas. Uma vez que o preço desses produtos é
relativamente elevado, a sua utilização é limitada às culturas de elevado valor
agregado que podem suportar tais custos, como é o caso da vinha e pomares
de pessegueiros e pereiras. Os micronutrientes quelatados também são
adicionados a soluções nutritivas e à fertirrigação, diretamente nas folhas por
pulverização foliar ou mesmo injetados nos troncos das árvores.
A eficácia dos quelatos pode ser testada em vários níveis. A modelagem
teórica e a especiação são ferramentas úteis para prever o comportamento de
inúmeros quelatos numa grande variedade de condições. O estudo da reação
dos quelatos e do agente quelante nos solos permite a obtenção de
informações sobre a reatividade real, tendo em conta reações de superfície e
processos cineticamente controlados. É ainda necessário validar a eficácia dos
quelatos em experiências biológicas, as quais podem ser desenvolvidas em
diferentes escalas: interação quelatos-raízes, hidroponia e experiências em
vaso em condições controladas e experiências de campo (ÁLVAREZ-
FERNANDEZ et al., 2005).

Modelagem do comportamento dos quelatos


nos solos
O comportamento dos quelatos em diferentes condições agronômicas
pode ser modelado desde que as constantes de estabilidade deles com o metal
de interesse e com os cátions competitivos sejam conhecidas. Os cálculos
podem ser feitos utilizando programas de especiação, tal como o Vminteq13,
depois da inclusão das constantes na base de dados. Os resultados permitem
obter a percentagem do quelato que permanece em solução. A título de
exemplo, a Figura 11.8 apresenta, para vários quelatos, a percentagem de
quelato de Fe, que permanece em solução no solo, em função do pH. Pela
análise da figura, conclui-se que o quelato de Fe-EDTA não é estável em
condições de solo calcário. O Cu é o principal competidor para quelatos
fenólicos, e o quelato de Fe-o,p-EDDHA é ligeiramente mais afetado pelo Cu
do que o Fe-o,o-EDDHA. Por sua vez, o quelato Fe-HBED é o mais estável, e
o Fe-HJB é menos afetado pelo Cu do que o quelato o,o-EDDHA; no entanto,
é mais afetado pelo pH (SIERRA et al., 2006).

Figura 11.8 - Agentes quelantes EDDHA, o,p-EDDHA e EDTA e condições de


solo com limitada disponibilidade de Cu. Concentração inicial:
[Fe(II)] = [HJB] = [HBED] = [o,o-EDDHA] = [o,p-EDDHA] =
[EDTA] = 1×10–4 M.

Reações dos quelatos no solo


Quando um quelato de Fe é adicionado ao solo, uma série de reações
podem afetar sua capacidade de fornecer nutrientes à planta, como
apresentado no modelo esquemático na Figura 11.9.
Depois da adição do quelato de Fe(III) – na figura, representado sob a
forma de Y/Fe (III) – ao solo, este pode ser reduzido pelas raízes, sendo o
Fe(II) em seguida absorvido (reação 1 na Figura 11.9). Esse processo é típico
da maioria das plantas, incluindo aquelas que utilizam a Estratégia I para a
aquisição de Fe do solo. O fornecimento dos elétrons é efetuado a partir da
enzima redutase férrica – FCR, presente nas células da epiderme da raiz. Em
vez de ser absorvido, o Fe(II) pode ser reoxidado por agentes quelantes fortes
ou, se forem usados análogos ao EDTA, quelatado formando um quelato de
Fe(II). Em ambos os casos, ocorre uma competição com a raiz. O agente
quelante libertado (Y) pode capturar Fe nativo do solo e formar novamente
um quelato de Fe, o que tornaria o Fe disponível para a planta (efeito shuttle,
reação 2). O agente quelante Y também pode formar quelatos com outros
metais presentes no solo, tais como Cu, Zn ou outros metais pesados (reação
3). As reações 4 e 5 correspondem à possível destruição do quelato de Fe (Fe-
Y) adicionado: para formar hidróxido de Fe(III), muito insolúvel, e para ser
adsorvido aos coloides da fase sólida do solo, principalmente argilas e matéria
orgânica. O quelato também pode ser lixiviado para as águas subterrâneas.
Figura 11.9 - Diferentes reações nas quais o Fe quelatado [Fe(III)-Y] pode
participar quando adicionado ao solo.
Fonte: LUCENA, 2006.

A decomposição de agentes quelantes no solo constitui um tema


especulativo mas de grande preocupação ambiental. Existem, nesse caso, dois
interesses conflitantes: por um lado, a necessidade de um quelato forte capaz
de manter o metal solúvel para a planta e, por outro, a introdução no meio
ambiente de uma molécula bastante estável, difícil de sofrer degradação. Como
consequência deste último aspecto, pode ocorrer a acumulação indesejável dos
agentes quelantes nos ecossistemas com possíveis efeitos adversos sobre os
sistemas biológicos.
O uso de quelatos de Fe para corrigir a clorose férrica é uma prática
recomendada em culturas de elevado valor agregado cultivadas em solos
calcários. A interação entre os quelatos de Fe e os solos pode ser estudada por
meio de ensaios sob agitação. Os ensaios permitem obter informações rápidas
da reação dos quelatos puros e comerciais. A sua estabilidade pode ser afetada
pelo pH elevado (alcalino), competição do Ca e processos de sorção. A
percentagem do quelato de Fe, que permanece em solução, após interação com
o solo calcário, depende principalmente do agente quelante. Os quelatos
fenólicos – EDDHA, EDDHSA e EDDHMA – mantêm mais de 60% do Fe
quelatado após 50 dias de interação com o solo. No entanto, quelatos, como
Fe-EDTA e Fe-DTPA, perdem cerca de 80% do seu ferro após 5 dias na
presença de um solo corrigido (Figura 11.10).

Figura 11.10 - Percentagem de Fe quelatado, que permanece em solução, após


interação de vários quelatos de Fe com um solo calcário.
Fonte: Adaptado de CANTERA et al., 2002.

Efeito dos componentes do solo na reatividade


dos quelatos
Componentes do solo – argilas, óxidos, matéria orgânica e sais
inorgânicos – podem ser utilizados individualmente em ensaios de interação
de modo a avaliar a sua contribuição para a estabilidade dos quelatos nos solos.
Os quelatos fenólicos do tipo EDDHA são mais retidos por materiais
orgânicos que os quelatos não fenólicos. Diferentes argilas – montmorilonita e
ilita –, óxidos de Fe e carbonato de cálcio tendem a reagir mais com quelatos
de EDTA do que com os de EDDHA. Esse tipo de informação pode ajudar a
escolher o quelato adequado para determinada cultura num solo específico.
Entre os quelatos fenólicos, os mais polares – por exemplo, EDDHSA – são os
menos reativos.

Aplicação dos quelatos em diferentes culturas


Os teores médios de micronutrientes no solo apresentam uma gama
muito variada: Fe 3,8%, Mn 0,06%, Zn 0,005% e Cu 0,0009%. Assim, a
quantidade total de Fe é muito abundante na maioria dos solos (LINDSAY,
1979). Não obstante, um número significativo de culturas, principalmente em
solos calcários, sofre deficiência desse nutriente, conhecida como clorose
érrica. Esse fato é consequência da baixa disponibilidade de Fe no solo e da
sensibilidade das plantas à clorose (TAGLIAVINI; ROMBOLÀ, 2001). Os
óxidos de Fe são compostos bastante insolúveis (ver Capítulo 1) e, desse
modo, controlam a baixa concentração de Fe presente em solução nos solos
calcários. Para evitar a clorose férrica, espécies eficientes ou porta-enxertos
devem ser escolhidos; no entanto, uma vez plantadas as culturas, para corrigir
a deficiência de Fe, o nutriente deve ser adicionado na forma de moléculas
estáveis e solúveis, como é o caso dos quelatos de Fe sintéticos.
Desde o início da década de 1950 vários estudos demonstraram o efeito
benéfico da aplicação de quelatos de Fe sintéticos em diversas culturas. A
partir de então está claro que os quelatos de Fe aumentam o rendimento e a
qualidade dos frutos nas culturas. Como exemplo, tem-se o trabalho de
Ferguson e Slater (2010), o qual mostra que a aplicação de um produto
comercial que continha o quelato Fe-EDDHA, em campos de soja, resultou no
aumento do rendimento até 7,5% relativamente ao controle não tratado. De
igual modo, Kaiser et al. (2011) registraram aumento de 90% no rendimento
de uma variedade suscetível de soja quando quelato de Fe foi aplicado
juntamente com as sementes. Recomendou-se o uso de 1 a 3 kg/ha de quelato
de Fe-EDDHA a 6%. Nas culturas irrigadas por gotejamento, a eficácia desses
quelatos é ainda mais importante. Numa experiência com vagens cultivadas
em lã de rocha, Lucena et al. (2008) verificaram que plantas cultivadas sem
quelato de Fe apresentaram produtividade nula, enquanto as plantas tratadas
com ele atingiram 550 g de rendimento, por planta, em sete semanas.
A avaliação da eficácia do tratamento com quelatos em árvores é mais
complicada, uma vez que normalmente o rendimento e o aumento da
qualidade são esperados apenas um ano depois da aplicação do composto
químico. No entanto, outros parâmetros, tais como os aspectos visuais, dados
biométricos e nutrição mineral, podem melhorar rapidamente após a aplicação
de quelatos. Álvarez-Fernandez et al. (2005) apresentaram resultados de
experiências efetuadas em estufa e em campo relativos a estudos comparativos
entre vários quelatos fenólicos de Fe(III) – EDDHA/Fe3+, EDDHMA/Fe3+ e o
novo EDDHSA/Fe3+.
No caso dos pessegueiros, mesmo no primeiro ano, as árvores tratadas
com quelato de Fe renderam uma média de 77,9 kg/árvore, enquanto as não
tratadas renderam apenas 63,1 kg/árvore. O diâmetro médio dos frutos
também foi bem superior para as árvores tratadas em comparação às árvores
de controle: 80,2 e 77,2 mm, respectivamente. Nas pereiras, apesar de não se
ter verificado diferenças no rendimento, o diâmetro da pera foi superior no
caso das plantas tratadas – média de 61 mm – relativamente ao controle – 59,6
mm. Nesta última experiência, as diferenças entre os tratamentos foram
evidentes no segundo ano. Na Figura 11.11, apresenta-se as diferenças nos
teores de Fe, quantificados por folha, depois dos vários tratamentos com os
quelatos de Fe utilizados.

Figura 11.11 - Conteúdo de Fe, expresso em μg/folha, em pereiras cultivadas


em solo calcário, no segundo ano do tratamento, com 1 g de Fe
na forma de quelatos de Fe-EDDHA ou Fe-EDDHMA. Após 60
dias, as árvores de controle foram severamente afetadas pela
clorose; nessa altura, foram tratadas para impedir a sua morte e
nenhum dado é apresentado depois desse momento.

Pastor et al. (2001) observaram aumento do rendimento médio de 30%


em experiências realizadas durante seis anos em oliveiras cultivadas num solo
com 50% de carbonato de cálcio, quando se utilizou 50 g de quelato (3,3% de
Fe-o,o-EDDHA).
O Fe-EDDHA é um dos quelatos mais vulgarmente utilizados. O
isômero Fe-o,o-EDDHA apresenta elevada estabilidade e eficácia em longo
prazo, enquanto o isômero Fe-o,p-EDDHA tem menor estabilidade, mas um
efeito rápido em curto prazo. Assim, é importante não só conhecer a
percentagem de Fe complexado, mas a proporção dos isômeros incluídos num
determinado quelato de EDDHA comercial.
Os compostos Fe-HBED, Fe-EDDHA e Fe-EDDCHA têm também
elevada estabilidade. Os dois últimos produtos são mais solúveis; desse modo,
podem ser usados como fertilizantes líquidos.
Os quelatos de Fe com HBED foram recentemente estudados por Nadal
et al. (2013). Numa experiência de campo com pêssegos carecas, a recuperação
da planta foi evidente quando se usou o quelato de Fe-HBED mesmo em doses
baixas – 0,45 g de Fe quelatado por árvore (Figura 11.12). Não foram
encontradas diferenças significativas entre este tratamento e o tratamento em
que se usou 0,90 g de Fe quelatado com HBED ou o,o-EDDHA por árvore. No
entanto, no terceiro ano, as flores de plantas tratadas no ano anterior com Fe-
HBED continham mais 16% de Fe do que as de controle, enquanto as que
foram tratadas com Fe-o,o-EDDHA apresentaram apenas mais 4% de Fe do
que as plantas de controle. Esses resultados evidenciam a longa duração do
efeito do quelato de Fe-HBED.

Figura 11.12 - SPAD (índice de clorofila) apresentado no segundo ano pelos


pessegueiros tratados com 0,90  g de Fe na forma de Fe-o,o-
EDDHA ou Fe-HBED, ou 0,45 g de Fe na forma de Fe-HBED,
assim como o SPAD apresentado no mesmo período pelos de
controle.

No caso de culturas menos sensíveis à clorose, em solos com valores de


pH inferiores a 7 ou em culturas irrigadas frequentemente por gotejamento
com micronutrientes, podem ser utillizados quelatos menos estáveis, como é o
caso do EDTA ou do DTPA. O quelante biodegradável IDHA tem sido
proposto como agente quelante para Fe e para outros micronutrientes, apesar
da sua fraca constante de estabilidade (LUCENA et al., 2008). Neste último
trabalho, efetuado em estufa, foi comparado o efeito da aplicação de quelatos
de IDHA em tomate e vagem, ambos cultivados em lã de rocha. Em geral, os
resultados indicam que o IDHA, um quelante biodegradável, pode ser um bom
substituto do EDTA quando aplicado em fertirrigação. Além disso, pode
proteger plantas de contraírem infecções fúngicas por vezes associadas à
aplicação de quelatos.
Na Figura 11.13, apresenta-se o rendimento de plantas de vagem.
Embora as de controle não tenham produzido qualquer vagem, o IDHA
proporcionou bons rendimentos. As plantas tratadas com EDTA sofreram
infecções fúngicas, o que reduziu drasticamente a sua produção. Os quelatos
de micronutrientes de EDTA e de IDHA têm sido também foram usados em
aplicação foliar, com bons resultados (YUNTA et al., 2013).
Figura 11.13 - Aplicação de quelatos em plantas de vagem cultivadas em lã de
rocha em fertirrigação. (A) Rendimento de vagens (g/planta)
amostradas 29, 39 e 49 dias após o início dos tratamentos. As
plantas de controle, sem aplicação de quelatos, não produziram
vagens; e (B) aspecto visual das plantas de vagem 39 dias após o
início dos tratamentos. As tratadas com EDTA sofreram infecção
fúngica, enquanto as de controle tiveram deficiências típicas de
micronutrientes.

A dose de quelato de Fe a ser utilizado depende de vários fatores: o tipo


de agente quelante, o teor de Fe quelatado, o tipo de cultura, o regime de água
e as condições da cultura. Árvores frutíferas, a exemplo dos pessegueiros ou
pereiras, e arbustos, como a videira, são bastante sensíveis à clorose férrica.
Citrinos e árvores frutíferas podem precisar de até 15 a 20 g de quelato de
elevada qualidade (9%) por árvore, ou de 25 a 30 g de quelato por árvore (5–
6% de Fe quelatado) ou 50 g de um quelato com menor conteúdo de Fe (2,5–
3% de Fe quelatado). As doses podem ser menores para árvores jovens ou para
porta-enxertos menos sensíveis. O produto é misturado com água e injetado
diretamente no sistema de irrigação ou adicionado a um furo feito em torno
da árvore – 10 cm a partir do tronco – de 20 até 30 cm de profundidade.
A época do ano para a aplicação de quelato de Fe em arbustos ou em
árvores é no início da primavera, quando os brotos começam a desenvolver-
se, embora seja mais apropriado distribuir a sua aplicação em três fases: 50%
na primavera, mais 30% nos dois meses seguintes à primeira aplicação e a
última no outono para preparar a árvore para a próxima primavera.
Uma videira pode requerer 6 g de um quelato de elevada qualidade (9%)
por planta ou 10 g para os produtos que apresentam 5–10% de Fe quelatado.
Hortaliças e plantas hortícolas, em regime de fertirrigação, necessitam
semanalmente de uma dose de 50 g de Fe quelatado a 6% por metro cúbico de
água de irrigação (3  mg de Fe por litro), enquanto um quelato de baixa
estabilidade é usado a cada duas semanas com compostos mais estáveis.
Uma outra estratégia de corrigir a clorose férrica nas árvores consiste em
injetar sulfato, citrato ou quelato de Fe diretamente no tronco da árvore. Em
geral, quando a aplicação é efetuada na primavera, com as folhas
completamente desenvolvidas, ocorre uma resposta duas a três semanas após a
aplicação.
Quando é necessário corrigir de forma rápida uma situação de clorose, a
pulverização foliar com sulfato de Fe ou, ainda melhor, com uma solução de
quelato de Fe pode ser efetuada quando a árvore estiver repleta de folhas.
Recomenda-se uma dose de 6 g/L de sulfato de Fe ou de 1 g/L de quelato de
Fe, como Fe-IDHA. O sulfato de Fe pode produzir queimadura nas folhas. Um
agente tensoativo pode ser adicionado à solução para ajudar a aderir às folhas.
É preferível pulverizar durante a noite ou durante períodos de temperaturas
baixas. Apesar de a pulverização foliar produzir resultados rápidos, a correção
é temporária porque o Fe não se move na árvore para além do tecido no qual
foi pulverizado. Assim, após o tratamento, o novo crescimento emergente
poderá ser clorótico.
Complexos e agentes complexantes
Os agentes complexantes são substâncias capazes de complexar
micronutrientes, Ca e Mg. Formam compostos menos estáveis do que os
quelatos sintéticos; no entanto, devido à sua origem natural e à sua cogeração
noutros processos industriais, esses compostos são mais baratos e
ambientalmente mais amigáveis do que os quelatos. A regulamentação
europeia exige que os complexos sejam solúveis e capazes de manter os metais
em solução. Nos Estados Unidos, por exemplo, os complexos insolúveis
também são aceites.
No entanto, uma vez que o principal problema com os micronutrientes é
a sua baixa solubilidade em solos calcários, neste capítulo será destacado o uso
de complexos solúveis ou líquidos como fertilizantes. Estes podem ser
classificados em dois grupos: o primeiro baseado em estruturas definidas, tais
como ácidos orgânicos – citratos, gluconatos etc. – e aminoácidos; o segundo,
formado por humatos e lignossulfonatos, com estrutura polimérica não
definida.

Tipos de agentes complexantes

a) Lignossulfonatos – LS
São produtos obtidos a partir da indústria do papel em que a madeira é
tratada com hidrogenossulfito de sódio para promover a separação entre a
lignina e as fibras celulósicas. Esse processo conduz à sulfonação das moléculas
de lignina, formação de ácidos lignosulfônicos mais hidrofílicos e novos
grupos fenólicos. Os LS são usados, entre outras finalidades, em fertilizantes
como agentes de complexação de micronutrientes.
Um dos problemas com esses produtos relacionam-se com a sua origem
natural, uma vez que o termo lignossulfonato engloba grande número de
compostos com diferentes tamanhos e características estruturais. A sua
composição depende do tipo de árvore de onde são originários e das condições
de extração. A capacidade de complexação dos compostos LS assenta-se
basicamente em grupos fenólicos, carboxílicos e, em menor extensão,
amínicos, sulfônicos e outros. As moléculas apresentam diferentes locais de
complexação com diferentes forças de ligação; em razão desse fato, não é
possível a obtenção de uma constante de estabilidade única para cada
complexo LS-metal. Consequentemente, a especiação também é difícil. Além
disso, na presença de elevada quantidade de metal, o complexo pode coagular,
diminuindo a quantidade de elemento solúvel.
O objetivo da utilização do LS é manter o metal complexado na forma
solúvel. Como os complexos são geralmente menos estáveis nos solos do que
os quelatos, eles podem ser fornecidos em solução nutriente ou por aplicação
foliar. A sua eficácia depende não só da capacidade de complexação dos metais,
mas também de outros fatores, como a capacidade de penetração foliar. No
entanto, complexos de Zn-LS misturados com NPK nos fertilizantes em
formas não solúveis podem aliviar deficiências de Zn das culturas.

b) Humatos
Os humatos – sais de ácidos húmicos ou substâncias húmicas – resultam
de transformações biológicas e químicas de decomposição de plantas, animais
e microrganismos realizados por outros microrganismos presentes no solo.
Desse fato origina a formação de macromoléculas com estrutura e composição
variáveis a partir de resíduos orgânicos no solo, incluindo uma gama alargada
de materiais fertilizantes de estrutura semelhante, como a turfa, derivados de
leonardita – lignina parcialmente oxidada após afloramento à superfície – e
outros derivados dos sistemas aquáticos. Para a sua caracterização (ver
Capítulo 1), os humatos podem ser separados em (i) ácidos húmicos, solúveis
em condições alcalinas e insolúveis a pH inferior a 2; (ii) ácidos fúlvicos,
solúveis em água ao longo de toda a gama de pH; e (iii) huminas, insolúveis
em qualquer gama de pH (AIKEN, 1985).
Uma fração substancial da massa de ácidos húmicos é constituída por
ácidos carboxílicos, responsáveis pela quelatação (reter em alguns meios,
dissolver noutros) dos íons multivalentes de carga positiva – Mg2+, Ca2+, Fe2+,
Fe3+, a maioria dos outros oligoelementos de valor para as plantas, bem como
outros íons sem função biológica positiva, tais como Cd2+ e Pb2+ – por essas
moléculas. A quelatação de íons é provavelmente o papel mais importante dos
ácidos húmicos em relação aos sistemas vivos. Através dela, os ácidos húmicos
facilitam a absorção desses íons por vários mecanismos, um dos quais consiste
em evitar a sua precipitação, ou por uma influência direta e positiva sobre a
sua biodisponibilidade.
A reatividade dos humatos de micronutrientes em solos calcários pode
ser muito elevada porque o Ca compete com os locais de retenção sob
condições em que esses micronutrientes tendem a se precipitar (PÉREZ-
SANZ et al., 2002, 2006).
De forma similar aos lignossulfonatos, os complexos solúveis de
humatos devem ser utilizados em soluções de nutrientes ou por meio de
aplicação foliar. Grandes quantidades de formas insolúveis podem também
aumentar o elemento disponível quando aplicadas nas culturas.

c) Ácidos orgânicos
O citrato, gluconato e heptogluconato (Figura 11.14), embora sejam
considerados produtos naturais, correspondem a moléculas com estrutura
definida. Esses compostos formam complexos de baixa estabilidade
comparativamente aos quelatos sintéticos. No entanto, alguns deles
permanecem em solução em solo ácido e até mesmo a pH neutro. Eles são
recomendados principalmente para aplicações foliares ou em hidroponia, em
que a sua eficácia pode ser suficiente para fornecer os micronutrientes a um
custo mais reduzido em comparação aos quelatos sintéticos. Essa situação é
verdadeira para Zn. No entanto, a aplicação de complexos de Fe é menos
eficaz.

Figura 11.14 - Estruturas espaciais de (A) Fe(Citrato)23–, (B) Zn(gluconato)2 e


(C) Zn(cisteína)2.

d) Aminoácidos
Foram usados extensivamente como fertilizantes especiais com o
objetivo de proporcionar um melhor ambiente ao desenvolvimento das raízes,
para aumentar a absorção de nutrientes por elas ou em aplicações foliares. No
entanto, os aminoácidos também foram reivindicados como agentes
complexantes de metais. Entre os vários complexos metálicos atualmente
comercializados, os aminoácidos não causam qualquer preocupação ambiental,
uma vez que são de origem natural e são biodegradáveis. Eles são subprodutos
de processos industriais, gerados em grandes quantidades, o que reduz o seu
custo. Algumas moléculas naturais e sintéticas, com elevada capacidade de
complexação, são derivadas de aminoácidos, como sideróforos e
fitosideróforos, e agentes quelantes, como o EDTA, EDDHA e análogos.
A capacidade de complexação dos aminoácidos é potenciada pela
presença de grupos funcionais, a exemplo dos grupos amino, ácido
carboxílico, fenol e, em alguns casos, tiol, dispostos numa orientação espacial
apropriada para o isolamento do metal a partir do ambiente (ver complexo
Zn-cisteína 1:2, na Figura 11.14). Dependendo da técnica de degradação de
proteínas utilizada, os extratos de aminoácidos de origem animal ou vegetal
podem conter um teor elevado de aminoácidos livres ou pequenos peptídeos.
No estado sólido, os aminoácidos naturais são bons agentes quelantes,
mas, com algumas exceções, não são capazes de manter metais como o Fe
solúveis a pH neutro ou alcalino. Polipeptídeos curtos têm a desvantagem de,
quando da formação das ligações peptídicas, ambos os grupos amino e
carboxilato serem utilizados na formação da ligação péptidica, o que diminui o
número de grupos doadores disponíveis. Pelo contrário, polipeptídeos curtos
que contêm outros grupos doadores podem sofrer um melhor rearranjo
espacial em torno do metal.

Qualidade dos produtos comerciais:


identificação e quantificação
À semelhança dos quelatos, a qualidade dos complexos comerciais pode
ser definida pela quantidade de elemento complexado e de agente
complexante; desse modo, métodos analíticos para quantificação do metal
complexado e identificação do agente complexante têm sido desenvolvidos
pelo CEN. No que diz respeito à quantificação do elemento complexado, foi
adotado um método baseado na precipitação do metal não complexado a pH 9
(VILLÉN et al., 2007). O método é válido apenas para micronutrientes
metálicos, à exceção de Ca e Mg, uma vez que esses cátions não se precipitam a
pH 9.
O desenvolvimento do método permitiu o estudo da relação entre a
estrutura dos agentes complexantes e a eficácia dos complexos
correspondentes. Enquanto os LS mantêm maior concentração de metais
solubilisados do que os humatos, em ambos os casos a percentagem de
elemento complexado relativamente à fração solúvel é superior a 80%.
Produtos, baseados em ácidos orgânicos, apresentam frações variáveis de
elemento complexado; no caso dos extratos de aminoácidos, à exceção do Cu,
a fração de metal complexado é baixa.
Métodos adequados para a identificação de ácidos lignossulfônicos e
heptaglucônicos em fertilizantes foram também adotados.

Reatividade e eficácia dos complexos


metálicos: comparação com os quelatos
Como já mencionado, a modelagem do comportamento de complexos de
polímeros naturais – humatos, LS e peptídeos – é bastante complexa. A
especiação de citrato e de outros ácidos orgânicos e aminoácidos revelam baixa
estabilidade a pH neutro e alcalino. Por isso é recomendável o estudo da
interação em condições agronômicas – por exemplo, solução nutritiva,
soluções foliares e solos – e da resposta das plantas em experiências biológicas.
Enquanto para o Fe apenas os LS são capazes de manter o metal solúvel até pH
9, no caso do Zn, os LS podem ser estáveis até pH 9,5; para os humatos,
gluconatos e extratos de aminoácidos, até pH 7,5. Nenhum deles consegue
manter quantidades significativas de micronutrientes em solução após a
interação com solos calcários.
Em sistemas hidropônicos, os complexos de Fe podem ser adequados
para fornecer o nutriente a plantas sensíveis a pH 8; contudo, é necessário
quantidades mais elevadas do complexo em relação ao quelato para obter boa
nutrição de Fe. Resultados semelhantes são obtidos quando complexos de Zn
são aplicados em condições de hidroponia. No entanto, no caso de aplicações
foliares, os complexos de Fe são menos eficientes do que os de Zn, sendo,
todavia, o uso de quelatos de Fe mais eficaz que o de complexos. Em qualquer
caso, a aplicação no solo de quelatos é a melhor solução para o tratamento da
clorose férrica.
Para além do seu valor nutricional, alguns agentes complexantes são
também considerados agentes promotores do crescimento de plantas. As
substâncias húmicas podem proporcionar algumas das propriedades químicas
e biológicas da matéria orgânica. A quantidade de substâncias húmicas
recomendada, porém, é muito menor do que a usada nos estrumes ou em
outros materiais orgânicos adicionados como corretores. Os humatos podem
também aumentar a disponibilidade de nutrientes nos solos, como Mn, e
podem apresentar propriedades fisiológicas quando usados pelas plantas. No
seu artigo de revisão, Nardi et al. (2002) discutem a ação do tipo hormonal da
matéria orgânica solúvel equivalente à atividade do ácido indolacético – AIA.
É defendido que os aminoácidos têm várias funções de desenvolvimento nas
plantas, tais como:
• Poupança energética, como resultado da não utilização de energia na
assimilação de nitratos devido ao fornecimento de aminoácidos
facilmente assimiláveis pelas plantas.
• Potenciação dos mecanismos de resistência das plantas face a situações
adversas.
• Promoção da absorção de micronutrientes através das raízes.
• Ação bioestimulante e/ou fitormonal (por exemplo, o triptofano é um
precursor do AIA).
Em conclusão, os complexos podem ser usados como alternativa mais
econômica do que os quelatos, mas são eficazes apenas em condições
agronômicas em que a interação com solos altamente calcários ou alcalinos
não constitui uma condição restritiva.
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10 Departamento de Química Agrícola y Bromatología, Universidad Autónoma de Madrid –


UAM, Madrid, Espanha. E-mail: juanjose.lucena@uam.es
11 Departamento de Química Agrícola y Bromatología, UAM, Madrid, Espanha. E-mail:
a.garate@uam.es
12 Laboratório Associado para a Química Verde – LAQV/REQUIMTE, Departamento de
Engenharia Química, Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto – UP, Porto,
Portugal. E-mail: hsoares@fe.up.pt
13 Disponível em: http://www.lwr.kth.se/English/OurSoftware/vminteq.

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