Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Ala Alanina
AS Sintetase da asparagina
Asn Asparagina
Asp Aspartato
CA Carbonic anhydrase
CA Capacidade de aeração
CAT Catalase
CDU Crotonilidendiureia
CE Condutividade elétrica
CO Carbono orgânico
DCD Dicianodiamida
ER Eficiência relativa
F Constante de Faraday
FB Fosfato bicálcico
Fd Ferredoxina
FL Fração de lixiviação
FMA Fungo micorrízico arbuscular
FT Fosfato tricálcico
Gln Glutamina
HA Hidroxiapatita
IA Índice de atividade
IBDU Isobutilendiureia
Kd Constante de dissolução
Lb Leg-hemoglobina
LS Lignossulfonatos
ma Massa de água
MP Metal pesado
mp Massa das partículas base seca
NC Nível crítico
NR Nitrato redutase
OAS O-acilserina
oct Octaedro
Pi P-inorgânico
RA Reserva de água
SP Solubilização de fosfatos
T Temperatura absoluta
TAD Total de água disponível
tet Tetraedro
VAM Endomicorrizas
Parte I - Fundamentos
Parte II - Aplicações
3. Fase sólida
Atmosfera do solo
A fase gasosa é a atmosfera do solo. Ela apresenta composição variável e
semelhante à uma atmosfera livre em solos bem aerados. A ação de
microrganismos e o alagamento promovem o aumento de dióxido de carbono
(CO2) e a diminuição de oxigênio (O2). A composição atual do solo é
importante nas reações, uma vez que o CO2 é um ácido e o O2, o oxidante mais
relevante em ambientes naturais. Com isso, a tensão de O2 pode alterar as
reações de oxidação e redução (reações redox) de elementos químicos no solo
ee por consequênciae a disponibilidade de nutrientes.
O O2 é necessário para a respiração das raízes e dos microrganismos. A
disponibilidade de O2 vai depender do volume total dos poros, da fração de
poros ocupado pela atmosfera do solo, da percentagem de O2 e a difusão de O2
através da matriz do solo. A textura (proporções entre os teores de argila, areia
e silte) é um fator importante que afeta diretamente o tamanho dos poros e,
portanto, a difusão dos gases. Os solos argilosos apresentam poros de menor
volume, com maior retenção de água e com consequente redução do espaço
disponível para os gases. Entretanto, solos de textura arenosa apresentam
maior macroporosidade, permitindo maior difusão do O2.
A compactação e o adensamento do solo também atuam diretamente no
volume dos poros e, por consequência, na fase gasosa, com a redução acentuada
do fluxo de O2. Nas áreas agrícolas a compactação normalmente é proveniente
do tráfego intenso de máquinas, implementos agrícolas e de animais que
promovem a aproximação das partículas do solo ou pulverização de agregados
em solos secos. O adensamento pode ocorrer devido à dispersão das argilas
ocasionada pela desestabilização de agregados dos solos por ação biológica ou
em consequência da calagem. A compactação, o adensamento e ainda o interior
dos agregados e torrões do solo podem apresentar microssítios anaeróbios,
acarretando potenciais de oxirredução menores, assim como ocorre nos solos
alagados. As reações redox serão discutidas posteriormente neste capítulo.
A matéria orgânica é a principal fonte de elétrons para as reduções
microbianas. A aeração determina se a decomposição da matéria orgânica será
realizada por atividade microbiana aeróbica (condição óxica), facultativa
(condição hipóxica) ou anaeróbica (condição anóxica).
O potencial redox pode dar um indicativo da aeração do solo e a
tendência do substrato em doar ou receber elétrons, medida quantitativa da
energia livre envolvida na transferência de elétrons (MARSCHNER; RENGEL,
2012). O potencial de oxirredução (EH) indica o estado de oxidação ou redução
do solo, ou seja, o estado de equilíbrio, determinando a direção desses sistemas
quando fora do equilíbrio (BINI et al., 2016). O aceptor (oxidante) mais comum
é o O2, no entanto, na deficiência ou falta dele, os microrganismos facultativos
e anaeróbicos se proliferam e utilizam NO3–, MnO2, Fe(OH)3, SO42– (que se
encontram na forma oxidada) como aceitadores dos elétrons, sendo
transformados em formas reduzidas no solo (SPOSITO, 2008). De acordo com
Bini et al. (2016), em solo com potencial redox (expresso pelo EH) variando de
+100 a +300 mV ocorre a redução do NO3–, que passa para NO2–, NO, N2O e
N2. Em solos com potencial redox variando de +100 a –100 mV ocorre a
redução MnO2 para Mn2+ e FeO3 para Fe2+. Nesses solos os microrganismos
com respiração anaeróbia facultativa são estimulados. Em solos com potencial
redox variando de –100 a –200 mV, a ocorrência é dos microrganismos com
respiração anaeróbia obrigatória. Em solos com potencial redox menores que –
100 mV ocorre a redução de SO42– a S2–.
Na fertilidade do solo, o potencial redox é muito importante uma vez que
afeta diretamente a dinâmica dos nutrientes no solo – sua disponibilidade,
indisponibilidade e perdas. Por exemplo, em valores de EH próximo a zero, o
O2 e NO3– são pouco presentes no ambiente (BINI et al., 2016), o que indica
que o processo de denitrificação pode ter ocorrido propiciando as perdas do N
no solo na forma de N2. Nesse potencial redox, o Fe e o Mn podem ser
reduzidos, ficando em forma altamente disponível e podendo causar fitotoxidez
às plantas. Em solos mais aerados e com potencial redox mais alto (EH > 400), o
equilíbrio tende para a formação do NO3–, podendo este ser absorvido pelas
plantas; contudo, mantém também o Fe e o Mn na forma oxidada, que não é
uma forma prontamente disponível para a absorção pelas plantas. Assim,
manejos que propiciam a manutenção da estrutura dos solos, que é uma
característica física, são importantes porque estão associados às suas condições
químicas.
Fase líquida
A fase líquida é chamada de solução do solo. O status de água e de
nutrientes dissolvidos (e outros compostos) é importante para o crescimento
da planta. A solução do solo é o repositório imediato dos nutrientes para as
plantas. É o complexo sortivo do solo, no entanto, que abastece a solução do
solo tamponando os teores dos nutrientes. Assim, existe um equilíbrio
dinâmico entre a fase líquida e o complexo sortivo do solo, sendo a solução do
solo o ponto central na dinâmica de nutrientes, como será discutido nas seções
“Equilíbrios dinâmicos nos solos”, “Fenômenos de sorção – troca iônica”,
“Equilíbrios químicos nos solos que controlam a disponibilidade de nutrientes”
e “Ciclo do fósforo e seus processos no solo”, neste capítulo.
Fase sólida
Os componentes sólidos consistem em uma série de fases orgânicas e
inorgânicas. Enquanto os componentes inorgânicos originam inicialmente da
rocha matriz, os componentes orgânicos são consequência da decomposição
dos tecidos de organismos vivos.
Minerais da argila
Entre os componentes inorgânicos, os aluminossilicatos são, em média,
os minerais mais abundantes. Eles podem ocorrer em minerais primários
(provenientes da rocha original), principalmente nas frações cascalho, areia e
silte, ou em minerais secundários, sobretudo na fração argila (PRASAD;
POWER, 1997). Os aluminossilicatos secundários são chamados de minerais de
argila e a maioria deles pertence ao tipo dos filossilicatos (silicatos dispostos em
folhas ou lâminas).
A unidade básica para os filossilicatos está representada na Figura 1.2.
Unidades simples de tetraedro de SiO4 partilham oxigênios basais para formar
uma estrutura tetraédrica laminar. Similarmente, unidades simples de
octaedros (principalmente unidades AlO6) podem compartilhar oxigênios para
formar uma lâmina de unidade octaédrica. Lâminas tetraédricas e octaédricas
podem se unir e partilhar os oxigênios apicais da lâmina, formando a camada
1:1; já a camada 2:1 é formada quando duas lâminas tetraédricas e uma
octaédrica compartilham oxigênios. Cada oxigênio pertencente apenas à lâmina
octaédrica deve ter também ligação com um átomo de hidrogênio. Isto significa
que, na camada 1:1, um dos lados está cheio de grupos-OH capazes de
desenvolver pontes de hidrogênio com os oxigênios apicais dos outros
componentes da mesma camada, para formar o mineral 1:1. O mineral mais
comum desse tipo é a caulinita. Nesse mineral não há nada no espaço
intercamadas. Nas camadas 2:1, apenas os oxigênios estão presentes em ambos
os lados, de modo que as camadas podem ser ligadas somente por forças de
atração de Van der Waals (por exemplo, pirofilita). No entanto, podem ocorrer
substituições isomórficas (substituição de um átomo por outro semelhante em
tamanho), ocorrendo a formação dos minerais secundários. As substituições
mais comuns são de Al3+ por Si4+ nas unidades tetraédricas e Mg2+, Fe2+, Fe3+
(e também de Ni2+, Cu2+ ou Zn2+) por Al3+ nas unidades octaédricas. Em
ambos os casos, uma carga negativa líquida se desenvolve na camada, de modo
que, quando as camadas estão empilhadas, outros cátions podem ocupar o
espaço intercamadas a fim de neutralizar a carga negativa. Dependendo da
quantidade e tipo dos cátions nas substituições, e dos cátions que enchem o
espaço intercamadas, diferentes minerais de argila 2:1 podem se formar (ver
Tabela 1.2). Quando cátions hidratados ocupam as posições intercamadas, as
argilas podem ter propriedades de contração e expansão (por exemplo, as
esmectitas) (PRASAD; POWER, 1997).
Substituições isomórficas proporcionam cargas negativas permanentes
para as argilas. As cargas negativas variáveis (dependente do pH), por sua vez,
podem ser formadas como um resultado da desprotonação de grupos do silanol
(SiOH) e de aluminol (AlOH) presentes na extremidade das argilas (reações 1 e
2). Quanto maior for o pH, mais carregadas negativamente serão as bordas das
argilas. Os grupos aluminol são anfotéricos de maneira que a pH baixo eles
podem se ligar a um próton ou perder um grupo hidroxila para tornarem-se
positivos (reação 3):
argila ≡ Si - OH ↔ argila ≡ Si - O- + H+ (1)
UNIDADES BÁSICAS:
Carga da
camada
Tipos de argila e
Folhas por
exemplos de Substituição
ou metade das Intercamadas
fórmulas das isomórfica
camadas unidades
camadas
das
fórmulas
Caolinita (1:1) - ~0 -
Si(tet)2 Al(oct)2 O5 (tet-oct)
(OH)4
llita
Si(tet)3,4 Al(tet)0,6
(2:1) Tet: Si → Al
Al(oct)1,53 Fe30,22 Principalmente
(tet-oct- Oct: Al → ~ 0,8
K+
Fe20,03 Mg0,28 O10 tet) Mg, Fe
(OH)20,73–
Vermiculita (p.
ex., dioctaedrica)
Si(tet)3,56
(2:1) Tet: Si → Al Principalmente
Al(tet)0,44 (tet-oct- Oct: Al → 0,6–0,9 Mg2+
Al(oct)1,4 Fe30,3 tet) Mg, Fe hidratado
Mg0,3 O10
(OH)20,74–
Pirofilita (2:1)
Si(tet)8 Al(oct)4 (tet-oct- - ~0 -
O20 (OH)4 tet)
Óxidos
Alguns óxidos podem ocorrer como minerais primários, tais como de
rutilo (TiO2) ou de quartzo (SiO2), mas a maioria dos óxidos, hidróxidos e
oxihidróxidos são formados durante o intemperismo do solo. Como o silício é
“lavado” para fora dos perfis dos solos, o Al, Fe e Mn podem formar óxidos
mais insolúveis em solos mais intemperizados. Normalmente eles são menos
abundantes do que as argilas em solos agrícolas, e estão associados a outros
minerais presentes no solo ou associados à matéria orgânica. Em decorrência
da elevada superfície específica e reatividade, os óxidos são muito importantes
em processos químicos do solo (TAN, 2011).
O óxido de alumínio mais importante e estável é a gibbsita (γ-Al (OH)3),
que ocorre em solos altamente intemperizados, como Oxisolos em áreas
tropicais e Ultisolos. A presença de gibbsita e pH baixos são as causas da baixa
fertilidade desses solos. Alguns problemas são encontrados, como a toxicidade
de Al3+ e de fixação de P.
Vários óxidos de ferro (III) podem estar presentes nos solos. O mais
estável é a goetita (α-FeOOH), de cor marrom, ocorrendo em solos
intemperizados, e a hematita (α-Fe (OH)3), de cor vermelha. A maghemita (γ-
Fe2O3) e a lepidocrocita (γ-FeOOH) são de estabilidade intermediária,
enquanto a ferrihidrita (Fe10O15.9H2O ou HFe5O8·4H2O) é o menos estável.
Comparando-se os óxidos de ferro, quanto maior estabilidade e maior
cristalinidade, mais lenta é a cinética de formação e dissolução, e menor a
solubilidade. Em condições redutoras, pode ser formada no solo a magnetita
(Fe3O4), com proporção de 2:1 entre o Fe (III) e Fe (II). Substituições
isomórficas nos óxidos de Fe por Cu, Zn e metais pesados podem controlar a
disponibilidade desses nutrientes e elementos tóxicos para as plantas.
Óxidos de Mn também estão presentes nos solos dependendo das
condições redox: pirolusita (β-MnO2), birnessita (δ-MnO2) e manganita
(MnOOH). Os óxidos amorfos também são importantes.
Uma característica importante dos óxidos é a carga de superfície.
Similarmente ao grupo aluminol em argilas, os grupos reativos na superfície
dos óxidos podem libertar prótons em pH elevado ou adquirir uma carga
positiva em pH baixo. Por exemplo, os óxidos de ferro:
óxido = Fe — OH ↔ óxido = Fe — O- + H+ (4)
Outros minerais
Carbonatos de cálcio (calcita e aragonita, CaCO3) são comuns em solos de
pH elevado, normalmente em regiões áridas e semiáridas, onde outros
carbonatos como dolomita (MgCa(CO3)2) também podem estar presentes.
Esses carbonatos proporcionam um elevado poder tampão de pH. Solos em
condições altamente redutoras (solos de várzea) também podem apresentar
siderita (FeCO3) e rodocrosita (MnCO3).
O principal mineral de sulfato é o gesso (CaSO4·2H2O). Os sulfatos são
muito solúveis, de forma que apenas podem estar presentes em regiões áridas,
proporcionando uma alta condutividade na solução do solo.
Fosfatos de alumínio e de ferro nos solos ácidos, assim como fosfatos de
cálcio em solos neutros e básicos, também são amplamente encontrados, porém
em pequenas quantidades.
(7)
Devido à predominância de grupos ácidos, os ácidos húmicos são coloides
negativos com carga dependente do pH (não permanente).
Além dos prótons, O e N podem ligar-se a metais para formar complexos
e quelatos (ver a seguir as reações na solução de solo). Eles podem ser
complexos solúveis com ácidos fúlvicos ou complexos de superfície em
substâncias húmicas insolúveis. De acordo com a afinidade com os prótons ou
metais, a complexação compete com a protonação, por isso as substâncias
húmicas são mais capazes de complexar metais quando o pH sobe. Em pH
ligeiramente ácido e pH neutro, os metais de transição podem formar
complexos; entretanto, em pH elevado os metais tendem a precipitar-se na
forma de óxidos, assim predominantemente os metais mais solúveis (por
exemplo, Ca2+) formam complexos orgânicos.
As substâncias húmicas atuam como agentes de quelação e complexação
no solo, aumentando a agregação das partículas. Esses efeitos melhoram as
propriedades físicas do solo, a exemplo da aeração, retenção de umidade e
permeabilidade. Entre os efeitos sobre as propriedades químicas tem-se o
aumento da CTC e os reservatórios de nutrientes – principalmente N, P e S –
para as plantas e microrganismos.
Microrganismos do solo
A fase biológica corresponde à fração viva dos microrganismos do solo,
também chamada de biomassa microbiana do solo. Os microrganismos são
componentes do solo responsáveis por inúmeras reações bioquímicas
relacionadas não só com a transformação da matéria orgânica, mas também
com o intemperismo das rochas, ciclagem dos nutrientes, formação de húmus,
agregação das partículas do solo, estabilização dos agregados e formação do
perfil do solo. Esses organismos também podem promover associações
simbióticas ou assimbióticas com diferentes espécies vegetais, promovendo o
aumento na aquisição de nutrientes, e atuar no controle biológico de pragas e
doenças. Com isso, de diferentes formas, os microrganismos agem direta ou
indiretamente na fertilidade do solo e nutrição das plantas.
Os microrganismos do solo são encontrados em cinco grandes grupos:
bactérias, fungos, actinomicetos, algas e protozoários. O grupo das bactérias é o
que apresenta maior diversidade. A população microbiana no solo não é
estática: ela varia em quantidade e qualidade (considerando os diferentes
grupos e espécies de microrganismos) dependendo das variações climáticas e
das diferentes etapas do intemperismo do solo, ou do fracionamento do
componente orgânico ou inorgânico adicionado ao solo. Ainda neste capítulo
será discutido como os microrganismos afetam a disponibilidade de nutrientes
no solo e, por consequência, a nutrição das plantas.
Disponibilidade de nutrientes no solo
Disponibilidade de nutrientes
A quantidade total de um nutriente no solo não indica a quantidade que
pode estar disponível para as plantas. Um elemento pode estar presente no solo
em diferentes formas inorgânicas ou orgânicas; parte delas são mais facilmente
solúveis do que outras, e algumas dificilmente serão disponibilizadas às plantas.
Para a maioria dos nutrientes essenciais para elas, a fração solúvel representa
uma parte muito pequena quando comparada à trocável, que por sua vez é
menor que a não trocável, como indicado na Figura 1.3.
Fração solúvel: as raízes absorvem nutrientes solúveis na solução do
solo. Para o nutriente ser absorvido é preciso que ele se encontre na solução do
solo, na zona rizosférica. A rizosfera é a região do solo que é influenciada pela
raiz da planta. As raízes exsudam (rizodeposição) moléculas de alto e baixo peso
molecular; assim, atraem e aumentam o crescimento de microrganismos,
resultando em alta biomassa microbiana (ROMAGNOLI; ANDREOTE, 2016).
Esses microrganismos catabolizam o carbono desses exsudatos para a obtenção
de energia para o seu crescimento, mineralizando o material orgânico e
disponibilizando os nutrientes para a solução do solo. Também participam de
reações de oxirredução no solo que alteram a forma dos elementos no solo,
como ocorre com o nitrogênio. Promovem ainda a liberação de substâncias que
são reguladoras de crescimento das plantas. Esses microrganismos da rizosfera
também podem absorver esses os nutrientes, utilizando-os no seu metabolismo
(imobilizando) e tornando-os indisponíves temporariamente para as plantas.
Isso é um fator negativo quando se trata de nutrientes essenciais para plantas,
mas pode ser positivo quando se trata de elementos presentes na rizosfera em
quantidades potencialmente tóxicas para elas. No sistema solo-planta existe
uma interação estreita entre as raízes, o solo e os microrganismos rizosférios.
Figura 1.3 - Representação esquemática das diferentes frações de um elemento
no solo em relação à sua disponibilidade para as plantas.
Em que:
D1 = coeficiente de difusão do íon em água pura para cada elemento em
solução (em cm2 s–1);
θ = conteúdo volumétrico de água no solo (em cm3 cm–3);
ƒ = fator de impedância, ou fator de continuidade (em cm cm–1);
I = concentração do nutriente na solução do solo – fator intensidade;
Q = concentração do nutriente adsorvido no solo, mas em equilíbrio com
a solução (componente da fração lábil do solo) – fator quantidade.
Figura 1.5 - Esquema da retenção de íons nas cargas negativas e positivas dos
coloides do solo, resultando na adsorção iônica.
Substâncias não polares podem ser retidas por forças de van der Waals
(por exemplo, pesticidas nas substâncias húmicas), enquanto as substâncias
polares podem ser retidas por atração física (interações eletrostáticas que
formam complexos na esfera externa) ou por ligação química (interações de
curto alcance, incluindo a troca de ligantes, ligação covalente e pontes de
hidrogênio) (SPARKS, 1995).
São exemplos:
A CTC pode ser influenciada por diferentes condições do solo, como
concentração do íon na solução, natureza da fase sólida, pH, características dos
cátions trocáveis (valência e raio iônico hidratado).
As cargas da fase sólida do solo se manifestam nas partículas coloidais,
por isso a área superficial dessas partículas tem correlação com os fenômenos
de troca. Na Tabela 1.3 são apresentados a CTC e a superfície específica
(superfície interna e externa) de alguns componentes do solo. Solos com alta
CTC (por exemplo, os argilosos e os com alto teor de matéria orgânica) podem
reter elevada quantidade de cátions disponíveis para as plantas, enquanto que
naqueles com baixa CTC (por exemplo, solos arenosos) a disponibilidade de
cátions solúveis pode ser severamente reduzida. A matéria orgânica,
normalmente, apresenta a maior contribuição para CTC nos solos tropicais.
Cátions trocáveis podem ser classificados como cátions básicos (Ca2+, Mg2+, K+
e Na+) e cátions ácidos (H+, Al3+, Al(OH)2+ etc.). Os cátions ácidos são
inadequados para a fertilidade do solo. A saturação de base é definida como a
percentagem de cátions básicos no que diz respeito à CTC total. Quanto maior
a saturação por bases, maior a fertilidade do solo.
Mg2+ +
↔ Mg(OH)+ + H+, em que Mg2+ é o ácido e Mg(OH)+, a base.
H2O
E em que Cu2+ é o ácido que recebe dois pares de elétrons oferecidos por
um grupo carboxílico e fenólico de uma substância húmica.
De modo semelhante às reações ácido-base de Brönsted-Lowry, a
constante de equilíbrio permite conhecer a relação entre as espécies de um
componente (SPOSITO, 2008). Normalmente podem existir várias espécies de
um componente no solo [por exemplo, Al3+, Al(SO4)+, Al(OH)2+, Al(OH)2+,
Al(OH)30 Al(OH)4–, Al(PO4)0, Al(HPO4)+, AlF2+, Al(HCO3)2+ etc.], e o cálculo
da distribuição dos componentes entre as suas espécies torna-se mais difícil. A
utilização de programas de cálculo de concentração de cada espécie iônica, tais
como MINTEQA2, Windows© versão Visual Minteq e Geochem, ajuda a
resolver o problema.
A complexação e quelação com substâncias húmicas é uma situação mais
complexa. Os humatos podem ter diferentes sítios para complexar metais, com
os quais cada humato tem uma diferente afinidade (TAN, 2011). Quando a
relação substância húmica/metal é elevada, os metais ocuparão os sítios mais
estáveis, de modo que uma medição macroscópica da estabilidade do complexo
gerará uma alta constante de equilíbrio. No entanto, quando a relação
substância húmica/metal é baixa, a constante de equilíbrio não pode explicar o
processo corretamente porque todos os sítios de alta afinidade ficam ocupados
pelo metal, e novas ligações terão baixa estabilidade. Nesse caso a distribuição
de Gauss permite uma melhor descrição do processo de complexação para a
maioria dos modelos.
A complexação de metal por substâncias húmicas pode gerar complexos
solúveis (por exemplo, com ácidos fúlvicos), mas também pode gerar a
complexação na superfície dos coloides (ver fenômenos de adsorção) e até
mesmo a precipitação dos materiais orgânicos. De fato, os sais de Al3+ e Fe3+
são comumente usados para separar a matéria orgânica em estação de
tratamento de água.
Se a pressão parcial de CO2 for conhecida, então o H2CO3 pode ser facilmente
calculado.
Transformações minerais
As transformações dos minerais no solo não são reações de equilíbrio,
uma vez que elas ocorrem somente em uma direção, de uma situação menos
estável para uma mais estável na fase sólida (LINDSAY, 1979). Por exemplo:
Reação de dissolução-precipitação
Os processos de dissolução são regulados pela constante de solubilidade
do produto.
CaSO4.2H2O (gesso) ⇄ Ca2+ + SO2-4 + 2H2O KSP = (Ca2+)(SO2-4)
Quando o equilíbrio é atingido, se a concentração de um íon for
conhecida, a concentração do outro pode ser facilmente calculada.
Reações secundárias podem ocorrer com a formação de outros sólidos.
Por exemplo, a solubilidade de Ca, a partir da cal, é dependente da pressão
parcial de CO2 e pH; P é, em geral, menos abundante que Ca nos solos, dessa
forma o fosfato de cálcio pode se formar usando praticamente todo o P, mas
não Ca. A solubilidade de P será então controlada pela solubilidade de Ca, que é
controlada por CO2 e pH. Zn é menos abundante que P na maioria dos solos,
por isso, se ocorrer a formação de fosfato de zinco [Zn3(PO4)2 4H2O, hopeita],
a solubilidade de Zn2+ será controlada pela atividade do fosfato, que por sua vez
é controlada por Ca2+, que é, em última análise, controlado por CO2 e pH. Em
geral, os componentes do solo mais abundantes podem controlar a solubilidade
daqueles menos abundantes.
Reações redox
Reações redox (oxidação-redução) podem ocorrer entre as espécies em
solução e também com participação de sólidos ou gases. Em reações redox, um
ou mais elétrons são transferidos de um doador de elétrons (espécie que se
encontra reduzida) para um receptor de elétrons (que é a espécie que se
encontra oxidada). Diferentemente das reações estudadas, nas reações redox a
partícula transferida (o elétron) não pode ser encontrada livre no meio, de
modo que a reação que libera o elétron deve ocorrer ao mesmo tempo que a
reação que aceita o elétron (LINDSAY, 1979). Essas reações são conhecidas
como semirreações. Por exemplo, o Mn2+ pode ser oxidado no solo para formar
pirolusita (MnO2), e ao mesmo tempo um elemento oxidante (por exemplo,
O2) deve receber os elétrons:
Espécies de nitrogênio
O N é um elemento não metal que tem estrutura eletrônica 1s22s2p3. A
quantidade intermediária de elétrons permite perder, ganhar ou compartilhar
elétrons com outros átomos, possibilitando um excepcional número de estados
de oxidação.
A forma inorgânica mais oxidada é o íon nitrato (número de oxidação
+5). Devido ao deslocamento de elétrons ele é pouco reativo. O nitrato isolado,
sem participar de complexação ácido-base ou de reações de precipitação, é uma
espécie importante de N para a nutrição das plantas.
O amônio (NH4+) é a forma mais reduzida do N no solo (número de
oxidação –3). Ele é um ácido fraco (NH4 + 2H2O ⇄ NH4 OH + H+ , pKa = 9,2),
de modo que a principal espécie em solução é NH4+, enquanto o hidróxido de
amônio é importante apenas em solos básicos. O NH4+ pode ser retido nas
superfícies do solo e nos espaços intercamadas das argilas. Em solos bem
aerados, o NH4+ é oxidado a nitrato pelo processo de nitrificação (Figura 1.7).
O N, como grupo amina (-NH2), é uma base de Lewis capaz de complexar
metais. O N-orgânico pode também estar na forma de amida, nas ligações
peptídicas, heterociclos e assim por diante.
O nitrito (NO2–) é tóxico para os organismos vivos e sua presença é
bastante baixa nos solos. Ele existe como um intermediário do processo de
oxidação de amônio.
O N2 molecular (número de oxidação 0) e os óxidos gasosos também
podem ser formados nos solos. Como espécies gasosas eles podem se difundir
livremente para a atmosfera.
Figura 1.7 - Dinâmica do N no solo.
2NO2- + O2 ⇄ 2NO3- + E
P-Solução (1)
Refere-se ao P-inorgânico (Pi) que se encontra na solução do solo e que
está disponível para as plantas e microrganismos. As formas solúveis de P
predominantes e a sua concentração na solução do solo estão diretamente
ligadas ao pH do solo.
H3PO4 ocorre em solo com pH < 2;
H2PO4– ocorre em solos com pH > 2 e < 7;
HPO42– ocorre em solos com pH > 7 e < 12;
PO43– ocorre em solos com pH > 12 e < 14.
Micorrizas (7)
Micorrizas é o termo utilizado para definir a associação simbiótica entre
determinadas espécies de fungos que vivem no solo e as raízes da maioria das
espécies vegetais. O crescimento do micélio do fungo no solo (rede de hifas)
amplia o volume de solo explorado, aumentando a zona de depleção da raiz
para além da rizosfera. Isto é importante principalmente para aqueles
elementos que apresentam baixa mobilidade no solo, como é o caso do P, Cu e
Zn. Além disso, o pequeno diâmetro das hifas permite a sua entrada em locais
em que as raízes de maior diâmetro não conseguem penetrar (poros de menor
diâmetro), ampliando a área de contato com o solo e, por consequência, a
superfície de absorção desses nutrientes (BERBARA et al., 2006).
As micorrizas também produzem as polifosfatases, que proporcionam a
liberação de P de moléculas orgânicas para uma forma iônica que pode ser
absorvida pela planta e principalmente pelas próprias hifas do fungo
micorrízico (ARAÚJO; MACHADO, 2006). A liberação de ácido orgânico pelo
fungo também promove a diminuição do pH e aumenta a solubilização de
algumas formas de fosfato no solo (MARSCHNER; RENGEL, 2012).
A manutenção de Pi para a planta hospedeira ocorre pela remobilização
do P de moléculas polifosfatadas, por hidrólise, seguida da transferência do
elemento para as células das raízes da planta hospedeira (BERBARA et al.,
2006; MOREIRA; SIQUEIRA, 2006). Esse mecanismo é de fundamental
importância em casos de baixo suprimento de P ou de deficiência hídrica –
situações em que o transporte do nutriente no solo fica ainda mais limitado,
dificultando o acesso desse elemento pelas raízes.
A maior aquisição de P em plantas micorrizadas também aumenta a taxa
de fixação biológica do nitrogênio atmosférico – FBN em plantas associadas a
bactérias diazotróficas conhecidas como fixadoras de N. A FBN resulta em alta
demanda de P, que pode ser compensada pela ação dos fungos micorrízicos
sobre a absorção desse elemento.
As hifas dos fungos micorrízicos também podem interconectar plantas de
uma mesma espécie ou de diferentes espécies, idades ou estádios fisiológicos,
possibilitando a transferência de nutrientes entre elas. A interconexão, mediada
pelas hifas micorrízicas, pode ocorrer entre espécies de plantas associativas a
bactérias diazotróficas com outra espécie não associativa a essas bactérias. Essa
interconexão permite a transferência de N proveniente da FBN para a espécie
vegetal não associativa à bactéria diazotrófica. Rodrigues et al. (2003)
observaram não somente o aumento na aquisição de N em plantas de eucalipto
intermediada pelas hifas conectadas a plantas de Sesbânica virgata Cav.
associadas a bactérias fixadoras de N. Foi observado também incremento na
aquisição de P aliado a alteração das frações internas desse elemento nas folhas
(aumento no PST e Po) em comparação a plantas de eucalipto micorrizadas,
mas não interconectadas à Sesbânia virgata, indicando alterações no
metabolismo da planta.
Um estudo mais aprofundado da associação das plantas com fungos
micorrízicos é realizado no Capítulo 10.
Transformações do S no solo
As transformações desse elemento no solo são controladas por processos
bióticos e abióticos.
Processos bióticos: estão relacionados à mineralização, imobilização,
oxirredução e assimilação de S pela planta.
Processos abióticos: ocorrem em razão da adsorção, dessorção,
precipitação e dissolução do S-inorgânico.
O S da biomassa microbiana e o de resíduos orgânicos correspondem de
85 a 90% do total do elemento no solo (LOPES et al., 2016), sendo uma fração
importante para a nutrição das plantas. A mineralização e imobilização regulam
o ciclo no solo e controlam a disponibilidade de S às plantas.
A imobilização corresponde a incorporação do elemento na biomassa
microbiana. Ocorre a assimilação de SO42– pelos microrganismos –
convertendo-o em aminoácidos e outras moléculas – e, em seguida, a formação
de proteínas. O S da biomassa microbiana pode ser mineralizado, constituindo
também uma reserva desse elemento no solo.
A mineralização corresponde à transformação do S-orgânico (da
biomassa microbiana ou de frações vegetais e animais) para a forma inorgânica
(SO42–) pela atuação de microrganismos heterotróficos.
A mineralização ocorre em condições aeróbicas e anaeróbicas. Enzimas
específicas atuam sobre aminoácidos que contêm S, como a cisteína e ésteres de
sulfato. Na primeira etapa da mineralização os compostos orgânicos com S
(proteínas, peptídeos etc.) são despolimeralizados a aminoácidos, tiossufatos e
tioureia, e chegam a H2S (LOPES et al., 2016), que é tóxico para plantas.
Uma parte do H2S é perdida por volatilização. Outra parte entra em
outros processos que dependem da situação de aerobiose ou anaerobiose.
a) Sob aerobiose (presença de O2) o H2S é transformado em SO42– mediado por
bactérias quimioautotróficas, finalizando o processo de mineralização.
b) Sob anaerobiose (solos inundados) o H2S é o produto final da mineralização
do S-orgânico. Ocorre em condições redox próximas a –150 mV. O H2S
pode precipitar com o Fe2+, formando a pirita (FeS2). Isso reduz as formas
tóxicas de Fe2+ e do H2S no solo (ALVAREZ V. et al., 2007).
A relação carbono:enxofre (C:S) é um dos fatores que regula a taxa de
mineralização e de imobilização do S. A relação C:S da matéria orgânica varia
de 100 a 200:1 (LOPES et al., 2016). Na relação C:S menor que 200:1
predomina a mineralização; maior que 400:1 predomina a imobilização e de
200 a 400:1 ocorre o equilíbrio entre a mineralização e a imobilização do S
(Figura 1.6) (BRADANI; SANTOS, 2016).
Adubação com S
O sulfato, por apresentar maior disponibilidade no solo que o fosfato, não
requer maiores preocupações em relação à adubação. No entanto, para culturas
que promovam grandes exportações do nutriente é indicada a recomendação da
adubação com S para a reposição no solo e para o suprimento das necessidades
dessas culturas.
A adubação é indicada também para os solos que apresentam baixo teor
de matéria orgânica. Manejos que preservam ou incrementam o teor de
matéria orgânica são importantes para manter e aumentar os níveis de S no
solo, constituindo uma reserva do elemento. Adubo verde e espécies usadas na
rotação de cultura com raízes profundas auxiliam na extração de S de camadas
mais profundas, repondo-o na camada arável.
As principais fontes de fertilizantes que contêm S são: sulfato de amônio,
superfosfato simples, e micronutrientes como sulfato de zinco. Nesses
fertilizantes, o S entra como nutriente secundário. O gesso como já estudado
neste capítulo, é a forma mais utilizada de reposição de S no solo.
Referências
ALVAREZ V., V. H.; ROSCOE, R.; KURIHARA, C. H.; PEREIRA, N. F. Enxofre. In: NOVAIS,
R. F.; ALVAREZ V., V. H.; BARROS, N. F.; FONTES, R. L. F.; CANTARUTTI, R. B.;
NEVES, J. C. L. (ed.). Fertilidade do solo. Viçosa, MG: Sociedade Brasileira de Ciência do
Solo, 2007. p. 596-635.
ANGHINONI, I. Fertilidade do solo e seu manejo em sistema de plantio direto. In: NOVAIS, R.
F.; ALVAREZ V., V. H.; BARROS, N. F.; FONTES, R. L. F.; CANTARUTTI, R. B.; NEVES, J.
C. L. (ed.). Fertilidade do solo. Viçosa, MG: Sociedade Brasileira de Ciência do Solo, 2007. p.
873-928.
ARAÚJO, A. P.; MACHADO, C. T. T. Fósforo. In: FERNANDES, M. S. (ed.). Nutrição
Mineral de Plantas. Viçosa, MG: Sociedade Brasileira de Ciência do Solo, 2006. p. 253-280.
BERBARA, R. L. L; SOUZA, F. A; FONSECA, H. M. A. C. Fungos micorrízicos arbusculares:
muito além da nutrição. In: FERNANDES, M. S. (ed.). Nutrição Mineral de Plantas. Viçosa,
MG: Sociedade Brasileira de Ciência do Solo, 2006. p. 53-87.
BINI, D.; LOPES, M. V. Transformações microbianas do fósforo. In: CARDOSO, E. J. B. N;
ANDREOTE, F. F. Microbiologia do solo. 2. ed. Piracicaba: ESALQ, 2016. p. 149-166.
Disponível em: http://www.livrosabertos.sibi.usp.br/portaldelivrosUSP/catalog/
view/109/92/461-1. Acesso em: 30 mar. 2017.
BINI, D.; LOPES, M. V.; CARDOSO, E. J. B. N. Metabolismo microbiano. In: CARDOSO, E. J.
B. N.; ANDREOTE, F. F. Microbiologia do solo. 2. ed. Piracicaba: ESALQ, 2016. p. 61-80.
Disponível em: http://www.livrosabertos.sibi.usp.br/portaldelivrosUSP/catalog/
view/109/92/461-1. Acesso em: 30 mar. 2017.
BRANDANI, C. B.; SANTOS, D. G. Transformações do carbono no solo. In: CARDOSO, E. J.
B. N.; ANDREOTE, F. F. Microbiologia do solo. 2. ed. Piracicaba: ESALQ, 2016. p. 81-98.
Disponível em: http://www.livrosabertos.sibi.usp.br/portaldelivrosUSP/
catalog/view/109/92/461-1. Acesso em: 30 mar. 2017.
CANTARELLA, I. Nitrogênio. In: NOVAIS, R. F.; ALVAREZ V., V. H., BARROS, N. F.;
FONTES, R. L. F.; CANTARUTTI, R. B.; NEVES, J. C. L. (ed.). Fertilidade do solo. Viçosa,
MG: Sociedade Brasileira de Ciência do Solo, 2007. p. 375-471.
DICK, D. P.; NOVOTNY, E. H.; DIECKOW, J.; BAYER, C. Química da matéria orgânica do
solo. In: MELO, V. F.; ALLEONI, L. R. F. Química e mineralogia do solo: aplicações. Parte
II. Viçosa, MG: Sociedade Brasileira de Ciência do Solo, 2009. p. 1-68.
ERNANI, P. R.; ALMEIDA, J. A.; SANTOS, F. C. Potássio. In: NOVAIS, R. F.; ALVAREZ V.,
V. H.; BARROS, N. F.; FONTES, R. L. F.; CANTARUTTI, R. B.; NEVES, J. C. L. (ed.).
Fertilidade do solo. Viçosa, MG: Sociedade Brasileira de Ciência do Solo, 2007. p. 552-590.
FAGERIA, N. K.; ARAÚJO, P. A.; STONE, L. F. Mudanças químicas na rizosfera. In: MELO,
V. F.; ALLEONI, L. R. F. Química e mineralogia do solo: aplicações. Parte II. Viçosa:
Sociedade Brasileira de Ciência do Solo, 2009. p. 161-183.
GOERDET, W. J; OLIVEIRA, S. A. Fertilidade do solo e sustentabilidade da atividade agrícola.
In: NOVAIS, R. F.; ALVAREZ V., V. H.; BARROS, N. F.; FONTES, R. L. F.; CANTARUTTI,
R. B.; NEVES, J. C. L. (ed.). Fertilidade do solo. Viçosa, MG: Sociedade Brasileira de Ciência
do Solo, 2007. p. 992-1015.
LINDSAY, W. L. Chemical equilibria in soils. Nova York: John Willey & Sons, 1979. 449 p.
PRASAD, R.; POWER, J. F. Soil fertility management for sustainable agriculture. Boca
Raton: CRC Lewis Publishers, 1997. 356 p.
RODRIGUES, L. A.; MARTINS, M. A.; SALOMÃO, M. S. B. Uso de micorrizas e rizóbio em
cultivo consorciado de eucalipto e sesbânia. II - absorção e eficiência de utilização de fósforo e
frações fosfatadas. Rev. Bras. de Ci. do solo. Viçosa, MG, v. 27 p. 593-599, 2003.
ROMAGNOLI, E. M; ANDREOTE, F. D. Rizosfera. In: CARDOSO, E. J. B. N.; ANDREOTE,
F. F. Microbiologia do solo. Piracicaba: ESALQ, 2016. p. 47-60. Disponível em
http://www.livrosabertos.sibi.usp.br/portaldelivrosUSP/catalog/view/109/92/461-1. Acesso
em: 30 mar. 2017.
SILVA, I. R.; MENDONÇA, E. S. Matéria orgânica do solo. In: NOVAIS, R. F.; ALVAREZ V.,
V. H.; BARROS, N. F.; FONTES, R. L. F.; CANTARUTTI, R. B.; NEVES, J. C. L. (ed.).
Fertilidade do solo. Viçosa, MG: Sociedade Brasileira de Ciência do Solo, 2007. p. 275-374.
SOUZA, D. M. G.; MIRANDA, L. N.; OLIVEIRA, S. A. Acidez do solo e sua correção. In:
NOVAIS, R. F.; ALVAREZ V., V. H.; BARROS, N. F.; FONTES, R. L. F.; CANTARUTTI, R.
B.; NEVES, J. C. L. (ed.). Fertilidade do solo. Viçosa, MG: Sociedade Brasileira de Ciência do
Solo, 2007. p. 206-269.
SOUZA, R. O; VAHL, L. C; OTERO, X. L. Química dos solos alagados. In: MELO, V. F.;
ALLEONI, L. R. F. Química e mineralogia do solo: aplicações. Parte II. Viçosa, MG:
Sociedade Brasileira de Ciência do Solo, 2009. p. 161-183.
SPARKS, D. L. Environmental soil chemistry. San Diego: Academic Press, 1995. 267 p.
SPOSITO, G. The chemistry of soils. Oxford: Oxford University Press, 2008. 329 p.
TAN, K. H. Principles of soil chemistry. 4th. ed. Boca Raton: CRC Press, 2011. 560 p.
Fe, Mn, Zn, Cu, B, Mo, Cl, + Exceto o B para fungos e algas, salvo
+
Ni diatomáceas
Tabela 2.2 - Elementos essenciais para a maioria das espécies vegetais, formas absorvidas e
intervalo de concentrações considerado adequado. As formas que são preferencialmente
absorvidas estão assinaladas em negrito
μmol g– mg %
1 kg–1
Macronutrientes
H2PO4–,
Fósforo – P 30,98 60 - 0,2 60
HPO42–
Magnésio –
Mg2+ 24,32 80 - 0,2 80
Mg
Potássio –
K+ 39,10 250 - 1,0 250
K
Nitrogênio NO3–,
14,01 1 - 1,5 1.000.000
–N NH4+
Micronutrientes
Cobalto –
Co3+, Co2+ 58,94 0,002 0,1 2
Co
Manganês –
Mn5+ 54,94 1,0 50 - 1
Mn
Além disso, o elevado grau de pureza que se consegue hoje em dia na síntese de sais
inorgânicos, com concentrações muito baixas de impurezas, torna possível ter um controle elevado
na composição mineral das soluções nutritivas. Há um século, essas impurezas eram suficientes
para suprir as necessidades das plantas em micronutrientes, cujo metabolismo vegetal era mais
complicado de se estudar. As soluções nutritivas propostas por Hoagland e Arnon (1950) e por
Hewitt (1966) definiram um marco na investigação nesse campo (Tabela 2.4).
O método hidropônico mais comum atualmente consiste em colocar as plantas para
crescerem em meio inerte, tal como areia de quartzo, vermiculita ou perlite, que não fornecem
nutrientes para elas e apenas servem de suporte físico. Outro método consiste no cultivo puro, em
que não há substrato e as plantas crescem diretamente na solução nutritiva; nesse caso, as plantas
são suportadas por uma espuma ou numa superfície plástica perfurada, e as raízes estão imersas na
solução nutritiva – elas crescem muito mais no sistema de cultivo puro do que num substrato
sólido. No sistema puro é necessário um dispositivo de arejamento, como pequenas bombas de
aquário, de forma a evitar a anoxia radicular.
Macronutrientes
S 1.000 32
Mg 1.000 24
Micronutrientes
H2MoO4(85%
161,97 0,25 0,040 Mo 0,5 0,05
MoO3)
NaFeDTPA 468,20 64 30,0 0,3–1,0 Fe 16,1–53,7 1,00–3,00
(10% Fe)
Opcional
Um outro grupo de métodos é o chamado de nutrient ilm technique – NFT. Nele o sistema
radicular é umedecido por um filme delgado de solução nutritiva que recircula continuamente. Não
há problemas de anoxia porque o oxigênio dissolvido é substituído sempre que a solução é
bombeada outra vez para o topo do sistema (Figura 2.1).
Figura 2.1 - Aspecto geral de uma estufa de Solar Oásis em Tucson, Arizona, Estados Unidos.
Alfaces crescem numa solução nutritiva pura sem substrato inerte.
Foto: ILDEFONSO BONILLA.
Elementos essenciais
Macronutrientes
Tradicionalmente os elementos essenciais dividem-se em duas categorias: macronutrientes e
micronutrientes. Os elementos dessas duas categorias são igualmente essenciais, mas encontram-se
em concentrações muito diferentes nos tecidos vegetais, dado que as quantidades necessárias no
meio de cultivo também diferem muito. Os macronutrientes incluem os seis elementos estudados
mais à frente – N, P, K, S, Ca e Mg), juntamente com C, O e H. Os macronutrientes estão de forma
majoritária, mas não exclusivamente, envolvidos na estrutura de biomoléculas, e são necessários em
quantidades elevadas. Eles estão sempre presentes nos tecidos vegetais em concentrações superiores
a 0,1% do peso total de matéria seca (Tabelas 2.2 e 2.5).
Nitrogênio
5–6
(g/kg)
Manganês
10–600
(mg/kg)
Molibdênio
0,1–10
(mg/kg)
Fonte: BOULD et al., 1983; MENGEL; KIRKBY, 1987; EPSTEIN; BLOOM, 2005.
Macronutrientes
Clorose generalizada, em
especial das folhas velhas; em
casos severos, as folhas ficam
Componente de aminoácidos, proteínas,
Nitrogênio completamente amarelas,
nucleotídeos, ácidos nucleicos, clorofilas e
–N morrendo em seguida; algumas
coenzimas.
espécies ficam com a coloração
púrpura devido à acumulação de
antocianinas.
Os sintomas típicos de
Destacam-se seus papéis na estabilização de
deficiência de Ca são a
paredes celulares, extensão e divisão celular,
Cálcio – Ca desintegração das paredes
estabilização de membranas e modulação de
celulares e o colapso dos tecidos
enzimas.
jovens.
Macrinutrientes
Nitrogênio
Seguindo-se à água, o N é o nutriente mais importante para o crescimento das plantas porque
é constituinte da maioria das biomoléculas da matéria viva. O N também é um elemento-chave na
nutrição mineral, tal como P e K, porque na maioria das vezes os solos são mais deficientes nesses
elementos do que noutros quaisquer. As formas de N preferencialmente absorvidas pelas raízes são
os íons nitrato (NO3–) e amônio (NH4+). As leguminosas e algumas plantas de outras famílias
conseguem adquirir o N2 atmosférico através da simbiose com microrganismos, como Rhizobium e
Frankia (ver Capítulo 4). O amoníaco (gás) também pode ser absorvido pelos estomas. Não é fácil
determinar a reserva dos solos, no que diz respeito ao N, pois existem diversos fatores que
determinam a quantidade de amônio e nitrato disponível. Por exemplo, no caso do nitrato, a
desnitrificação para formas gasosas, a imobilização microbiana e a lixiviação são fatores
determinantes, enquanto, no caso do amônio, a volatilização na forma de amônia, a adsorção pela
fração coloidal argilo-húmica e a nitrificação são cruciais.
A maior parte do N nos solos está na fração orgânica que não pode ser assimilada pelas
plantas. Uma vez que o processo de mineralização do N é habitualmente controlado por
microrganismos, é difícil prever a disponibilidade potencial de N no solo, o que é dificultado se
considerarmos os processos acima mencionados: a desnitrificação e a lixiviação. As práticas
agrícolas comuns, por exemplo, a fertilização com nitrato, têm em geral um enorme impacto
ambiental devido à lixiviação de N e à poluição dos aquíferos.
Na planta, o N existe em três grupos de compostos: mais de 50% estão presentes em
compostos de elevado peso molecular (proteínas e ácidos nucleicos), enquanto os restantes 50%
ocorrem na forma de N-orgânico solúvel (aminoácidos, amidas, aminas etc.) e N-inorgânico
(principalmente os íons amônio e nitrato). O teor total de N varia entre 15 e 50 g/kg do peso total
de matéria seca.
Os sintomas da deficiência de N são característicos de um elemento muito móvel. Eles
incluem cloroses nas folhas velhas, que frequentemente caem antes de desenvolverem necroses. As
folhas de algumas plantas, como tomateiros e algumas variedades de milho, também apresentam
coloração púrpura causada pela acumulação de antocianinas. Na Figura 2.2A pode-se observar um
exemplo de deficiência de N em cafeeiros estabelecidos em campo.
Em excesso, o N resulta no desenvolvimento de folhagem excessiva, com baixa performance,
em espécies tão diversas como citrinos e tomateiros. De modo geral, o crescimento ocorre de
preferência na parte aérea, causando um aumento na razão parte aérea/raiz, exatamente o oposto
do que ocorre numa situação de deficiência de N. O excesso desse macronutriente origina ainda um
atraso na floração e na formação de sementes de algumas espécies.
Figura 2.2 - Sintomas foliares causados por deficiência de macronutrientes em cafeeiros (Co fea
arabica L.): (A) nitrogênio e (B) fósforo.
Fotos: HERMINIA E. PRIETO MARTINEZ.
Fósforo
O P está disponível nos solos na forma de íons fosfato. É absorvido pelas plantas
preferencialmente na forma H2PO4– em solos com pH inferior a 7, e como ânion divalente HPO42–
nos solos básicos, com pH superior a 7. Ao contrário do N, o P não está nas plantas na forma
reduzida porque permanece na forma livre ou em compostos inorgânicos, principalmente ésteres
fosfóricos com grupos hidroxilos, ou formando ligações anidras ricas em energia, como no ATP ou
ADP. O fósforo tem um papel fundamental na fotossíntese, na respiração e em todo o metabolismo
da energia.
O P também tem um papel estrutural importante em muitas moléculas e estruturas celulares,
como no caso das ligações diéster dos ácidos nucleicos nos fosfolipídeos, as quais são essenciais na
estrutura das membranas. No entanto, uma porção significativa dos fosfatos vegetais ocorrem na
forma iônica livre: 75% nos vacúolos e os restantes 25%, na matriz e nos organelos citoplásmicos,
em equilíbrio dentro dos ciclos metabólicos.
O fosfato é facilmente redistribuído entre órgãos na maioria das plantas, e acumula-se nas
folhas jovens, nas flores e nas sementes em desenvolvimento. Os sintomas de deficiência de P, no
entanto, ocorrem primeiramente nas folhas velhas. As plantas deficientes são ananicantes, e as
folhas têm coloração verde-escura, contrariamente ao que acontece com o N. Nessas plantas, a
maturidade é atrasada em comparação com as plantas do controle. No entanto, em muitas espécies
é a razão P/N que regula o processo de maturação: um excesso de N atrasa o processo, enquanto P
em abundância o acelera. Na Figura 2.2B é possível observar um exemplo de árvores com
deficiência em P. Quando em excesso, o P em geral promove o desenvolvimento radicular em
comparação com a parte aérea e, contrariamente ao N, causa um decréscimo na razão parte
aérea/raiz.
Um dos fatores muito importantes na absorção do P em condições naturais é a presença de
micorrizas, que são associações simbióticas entre fungos do solo e as raízes das plantas (para
detalhes ver Capítulo 10).
Potássio
Juntamente com P e N, o K é um dos principais constituintes dos fertilizantes comerciais
devido à importância destes três elementos. O comportamento do K, apesar da sua natureza
catiônica, é muito similar ao apresentado pelo P e N, uma vez que a sua redistribuição dos órgãos
maduros para os órgãos em desenvolvimento é muito fácil em virtude da elevada solubilidade e
baixa afinidade do K em relação aos compostos orgânicos. O K é o cátion mais abundante no
vacúolo e no citoplasma, em que pode atingir concentrações de 150 mmol/L, e no xilema (por
exemplo, de beterraba sacarina), no qual as concentrações podem ser superiores a 2000–5000 mg L–
1
. Esse macronutriente tem um papel-chave tanto na regulação do processo osmótico que ocorre
durante o mecanismo de abertura e fechamento dos estômatos como nos movimentos násticos.
Além disso, o K catalisa imensos sistemas enzimáticos, incluindo oxidorredutases,
desidrogenases, transferases e quinases. Em alguns casos, o K pode potencialmente ser substituído
por outros cátions, porque apenas é necessário para alteração da conformação de apoenzimas, mas é
difícil que in vivo haja outros cátions em concentrações suficientes.
A deficiência de K nas culturas resulta numa elevada suscetibilidade a ataques por agentes
patogênicos radiculares e a caules fracos, o que torna as plantas particularmente sensíveis ao vento,
chuva etc., em especial as monocotiledôneas. Nas dicotiledôneas, os sintomas iniciais de clorose
surgem primeiro nas folhas adultas, que mais tarde se tornam necróticas; ocorre atraso no
crescimento, perda de turgência e morte fulminante, especialmente quando há déficit de água
(Figura 2.3A, B).
Figura 2.3 - Sintomas foliares causados pela deficiência de K em cafeeiro (Co fea arabica L).
Fotos: HERMINIA E. PRIETO MARTINEZ.
Em condições de excesso, a concentração de K aumenta nas plantas, mas não nas sementes, e
o respectivo consumo de luxo pode interferir na absorção e na disponibilidade fisiológica de outros
elementos, como Ca e Mg.
Enxofre
As plantas absorvem o S na forma de ânion sulfato (SO42–), que também é transportado no
xilema nessas formas químicas. O S também pode ser absorvido pelos estômatos foliares como
dióxido de enxofre (SO2), um poluente atmosférico produto da combustão do carvão, da madeira e
do óleo. O óxido de enxofre reage com água dentro das células e forma bissulfito (HSO3–), o qual
pode remover o Mg da molécula de clorofila, resultando num decréscimo na fotossíntese. O S
ocorre como sulfato nos sulfolipídeos e heteropolissacarídeos, e na forma reduzida (a redução
ocorre preferencialmente nos cloroplastos) em aminoácidos, a exemplo da metionina e cisteína. Do
mesmo modo, está presente em diferentes coenzimas como a tiamina, biotina e coenzima A, um
elemento-chave na ativação dos ácidos orgânicos, nos processos de síntese e degradação dos ácidos
graxos e na respiração celular. Os grupos –SH são cruciais para diversas reações enzimáticas, pois a
atividade é controlada pelo estado de oxidação desse grupos, na forma reduzida ou oxidada.
Recentemente, descobriu-se a capacidade das fitoquelatinas – uma família de proteínas de baixo
peso molecular que contêm diversos aminoácidos com S (principalmente cisteína) – de
complexarem metais pesados (Cd, Cu, Pb etc.), constituindo, assim, relativamente, um dos
principais mecanismos de defesa das plantas contra esses elementos tóxicos.
As deficiências de S são frequentes em solos tropicais e noutros de pH ácido; pelo contrário,
não são muito comuns em solos de pH neutro ou básico porque os sulfatos existem, habitualmente,
em quantidades suficientes no solo. Quando as plantas crescem em condições de baixa
disponibilidade de S, surgem cloroses nas folhas e nos vasos condutores. Os sintomas dessa
deficiência surgem inicialmente nas folhas mais jovens porque, em muitas espécies, a redistribuição
do S dos tecidos maduros não é tão boa como a de P e K. As plantas deficientes de S apresentam um
decréscimo no crescimento e ficam hirtas e quebradiças, com os cloroplastos mais afetados em nível
celular. A concentração adequada de S, em muitas culturas, é de aproximadamente 1/15 da
concentração de N.
Cálcio
O Ca é absorvido como íon divalente Ca2+. Ele é abundante em grande parte dos solos, porém
constitui-se um fator limitante em solos tropicais ácidos a que sais de Ca, principalmente
carbonatos, precisam ser adicionados para aumentar o pH. Como o Ca é muito mais móvel no
apoplasto do que no simplasto, pode ser limitante nos órgãos vegetais que recebem água
prioritariamente por essa via. Em hidroponia, a deficiência de Ca é caracterizada pelo pobre
desenvolvimento radicular. Nas plantas, os sintomas da deficiência de Ca são sempre mais
evidentes nas partes jovens e nos tecidos meristemáticos das raízes, caules e folhas. Há duas razões
que justificam esse fato: primeiro, a divisão celular é afetada pela deficiência de Ca e o índice
mitótico desses tecidos é elevado; segundo, a lamela média que se forma entre duas células filhas é
afetada porque tem pectato de cálcio como um dos componentes principais.
A concentração intracelular de Ca é muito baixa, cerca de 1 µmol/L, apesar de ele ser
absorvido em elevadas quantidades e da sua concentração ser usualmente equivalente à do P, S ou
Mg, chegando por vezes a ser superior a 1% do peso de matéria seca – MS. A maioria do Ca
encontra-se nas membranas e também no exterior da parede celular, como ácido péctico na lamela
intermediária. No interior das células, o Ca existe nos vacúolos, nos quais, devido ao baixo pH,
pode se precipitar a partir de diferentes ânions, como oxalatos, fosfatos, carbonatos, sulfatos etc.,
dependendo das espécies vegetais. No entanto, a concentração do Ca no citosol permanece muito
baixa. Apesar de o Ca ativar enzimas, muitas outras são inibidas em concentrações desse
macronutriente acima de 1 µmol/L. As baixas concentrações de Ca são mantidas pela baixa
permeabilidade das membranas a esse íon e também pela existência de transportadores nas
membranas (principalmente Ca2+/H+-ATPases), bombas de Ca do citosol para o apoplasto, ou para
os compartimentos intracelulares, como os vacúolos, retículo endoplasmático e cloroplastos. Para
concentrações elevadas de Ca, é mínimo o fluxo (macronutriente) citoplásmico pelo qual ocorrem
sais insolúveis com o ATP e outros fosfatos orgânicos.
O Ca também é necessário para a integridade e a funcionalidade das membranas. Ele foi
recentemente identificado como mensageiro secundário, envolvido no funcionamento de
determinados hormônios e em respostas ambientais. Como mensageiro secundário, o Ca participa
na regulação da atividade de enzimas envolvidas nos processos de fosforilação. O Ca tem papel
importante na conformação de diferentes enzimas pela sua capacidade de se ligar reversivelmente,
no citosol, a uma proteína pequena, a calmodulina, a qual tem uma função-chave na sinalização e
no desenvolvimento de células vegetais, tal como já foi demonstrado para as células animais.
Nas últimas décadas, a investigação em Ca aumentou exponencialmente. Com o recurso a
tecnologias capazes de identificar e quantificar alterações mínimas na concentração intracelular de
Ca ([Ca2+]i), tem sido possível confirmar o envolvimento desse nutriente como mensageiro
secundário nas respostas de transdução, em cascata, que ocorrem nas plantas, em reação a uma
diversidade de sinais extracelulares. Nesse contexto surgiu o conceito da “assinatura- Ca2+”: as
pequenas variações na [Ca2+]i podem ser responsáveis, pelo menos em parte, pelos mecanismos de
resposta e adaptação a alterações de pH, luz e temperatura no ambiente.
Magnésio
Excetuando-se solos ácidos ou arenosos, a escassez de Mg não costuma comprometer o
crescimento das plantas. Ele é absorvido como íon divalente Mg2+ e comporta-se como um
elemento muito móvel tanto na planta como na célula.
Em situação de deficiência de Mg, os sintomas surgem nas folhas adultas, já que esse
macronutriente é remobilizado para as folhas mais jovens. Os sintomas são muito típicos e
caracterizam-se por uma clorose internervuras, já que, por alguma razão, a clorofila permanece por
mais tempo nas células do mesofilo em volta das nervuras. Aproximadamente 20% do total de Mg
das folhas encontra-se nos cloroplastos, enquanto só entre 10 e 20% desse elemento está nas
moléculas de clorofila. No escuro, o restante de Mg, existente no espaço intratilacoidal do
cloroplasto, está na forma iônica e solúvel no escuro. Quando se inicia a iluminação, o Mg é
transportado para o estroma do cloroplasto, no qual capta enzimas importantes, como a Rubisco, a
fosfoenolpiruvato carboxilase e a glutamato sintase.
A alocação fotossintética do C e do N depende em larga extensão da concentração de Mg2+ no
cloroplasto. O Mg também está envolvido no metabolismo energético da planta através dos
complexos que forma com o ATP, pois as ATPases usam o complexo Mg-ATP como substrato. O
processo de fosforilação do ADP em ATP também requer Mg2+.
O papel do Mg em processos-chave do metabolismo vegetal deve-se à sua capacidade de
estabelecer dois tipos de ligação: iônica e covalente (como no caso da clorofila). Por exemplo, o Mg
é crucial na conformação e estabilização das subunidades dos ribossomas, processo necessário para
que ocorra a biossíntese proteica, e também na ativação da RNA-polimerase, enzima necessária à
transcrição da informação genética. Por esse motivo, o aumento da proporção do N não proteico
solúvel pode ser usado como parâmetro de diagnóstico da deficiência de Mg.
Micronutrientes
Os restantes oito elementos essenciais – Fe, Mn, Zn, Cu, B, Mo, Cl e Ni – classificam-se como
micronutrientes. Eles são tão essenciais como qualquer macronutriente e têm, portanto, a mesma
importância. O nome do grupo refere-se à baixa concentração desses elementos nos tecidos
vegetais, que habitualmente estão abaixo de 0,01% – menos do que 3 µmol g–1 ou 0,1–100 µg g–1 do
peso de matéria seca (Tabela 2.2).
Contrariamente ao sucedido com os macronutrientes e com a exceção do Fe, a essencialidade
dos micronutrientes só foi estabelecida durante o século XX. Esse fato deveu-se às baixas
concentrações necessárias para as plantas atingirem o seu desenvolvimento normal. As impurezas
existentes nos sais usados com frequência na preparação das soluções nutritivas eram suficientes
para satisfazerem as necessidades em micronutrientes das plantas e de outros organismos
fotossintéticos. A lista de micronutrientes pode ainda estar inclusa, pois o desenvolvimento de
novas técnicas analíticas (o grau de sensibilidade para a detecção de elementos aumentou várias
ordens de magnitude) e a pureza extrema com que, atualmente, se obtêm os sais usados na
preparação de soluções nutritivas podem ajudar a descobrir, no futuro próximo, mais
micronutrientes essenciais. O último elemento aceito como micronutriente foi o Ni, em 1987.
No entanto, hoje em dia, os tópicos mais estudados vão além da procura de novos
micronutrientes e relacionam-se com a manutenção da homeostase dos micronutrientes nas
plantas. A homeostase é definida como a tendência para um equilíbrio relativamente estável entre
elementos interdependentes, em especial mantidos por processos fisiológicos. Os micronutrientes
são essenciais para as plantas, mas quando se acumulam em excesso – o que pode ocorrer muito
facilmente – podem ser fitotóxicos. De um ponto de vista fisiológico, a homeostase requer a
coordenação de pelo menos quatro processos fundamentais: mobilização dos micronutrientes na
rizosfera e absorção pelas raízes; translocação e transporte no xilema; aquisição, uso e
armazenamento na folha; e, finalmente, remobilização via floema. A maioria do conhecimento
atual sobre micronutrientes na planta relaciona-se com a sua aquisição pelas raízes e a localização e
mecanismos de armazenamento nas células e órgãos vegetais, e pouco se sabe sobre o transporte a
longa distância, tanto no xilema como no floema. De fato, a diferente tolerância que as espécies
vegetais apresentam a elevadas concentrações desses elementos pode estar relacionada com a
expressão diferencial de proteínas de transporte que poderão potenciar uma melhor alocação e
compartimentação do elemento.
A concentração de micronutrientes nas plantas tem um impacto elevado na produção e na
qualidade dos produtos agrícolas. Em consequência, nas últimas décadas o uso de fertilizantes com
micronutrientes aumentou, em especial nas culturas agronomicamente relevantes (Tabelas 2.5 e
2.6).
Ferro
O Fe é exigido em maiores quantidades pelas plantas e até foi considerado um macronutriente
em algumas espécies vegetais. O Fe pode ser absorvido pelas plantas como íon férrico [Fe(III) ou
Fe3+] e mais facilmente, devido à sua elevada solubilidade, como íon ferroso [Fe(II) ou Fe2+].
A deficiência de Fe em solos calcários é muito frequente em virtude da baixa solubilidade das
diferentes formas de Fe em pH básico. Na verdade, o Fe foi um dos primeiros elementos
estabelecidos como essenciais, não só pela observação frequente de deficiências, como também pela
especificidade dos sintomas de deficiência. As plantas, quando deficientes em Fe, apresentam
clorose internervuras das folhas jovens seguida, por vezes, de uma clorose foliar homogênea. Em
casos de deficiência extrema, a folha pode ficar quase branca, como acontece nos citrinos e em
outras árvores frutíferas.
O Fe acumula-se nas folhas velhas e, pensa-se, é relativamente imóvel no floema devido à
formação de óxidos e fosfatos férricos, assunto que ainda não está esclarecido o suficiente. Nos
cloroplastos acumula-se uma reserva abundante e estável; aproximadamente 80% do Fe foliar
localiza-se nesses organelos, como constituinte dos muitos compostos com atividade redox
existentes na membrana do tilacoide, e também armazenado na proteína fitoferritina. A deficiência
de Fe altera a estrutura do cloroplasto, induzindo a tão conhecida clorose férrica. Culturas como os
citrinos e outras fruteiras são particularmente sensíveis à deficiência de Fe porque é comum serem
cultivadas em solos com pH alto. Nessas culturas, a fertilização anual com quelatos de Fe
(complexos orgânicos com Fe, ver Capítulo 11) muitas vezes é a única maneira de controlar a
clorose (Figura 2.4A, B, C e D).
A importância do Fe nas plantas, assim como nos animais, reside principalmente em duas
funções:
• É constituinte do grupo catalítico heme, tipo-(ferro-porfirina) de muitas enzimas redox; inclui
citocromos (tanto mitocondrial como cloroplástico), catalases, peroxidases etc.;
• Está associado aos grupos tiol (cisteína). Essas proteínas são chave na fotossíntese (ferredoxina,
nitrito redutase e sulfito redutase), na fixação do N (nitrogenase) e na respiração. O Fe
desempenha um papel de transportador de elétrons nessas proteínas devido aos seus dois
estados redox (Fe3+/Fe2+).
Figura 2.4 - Clorose foliar motivada pela deficiência do micronutriente Fe em: (A)
pessegueiro (Prunus persica L.); (B) macieira (Malus domestica Borkh.); (C) oliveira (Olea europaea L.);
e em plantas de (D) soja (Glycine max L.). O pessegueiro, a macieira e a oliveira cresceram em
campo; as plantas de soja, em solução nutritiva.
Fotos: JAVIER ABADÍA.
Manganês
O Mn tem vários estados de oxidação. No solo, ele está habitualmente na forma de vários
óxidos muito insolúveis. O Mn é principalmente absorvido como cátion divalente Mn2+ após
redução dos óxidos desse elemento próximo da superfície radicular.
A deficiência de Mn também origina cloroses, no entanto surgem com mais frequência nas
folhas desenvolvidas, e não nas mais jovens (esse aspecto pode ajudar a diferenciar o diagnóstico
entre a deficiência de Mn e a de Fe, já que esta ocorre em geral nas folhas mais jovens). Um
exemplo de deficiência de Mn em pessegueiro pode ser observado na Figura 2.6A. A clorose
também é internervuras e pode estar associada ao aparecimento de pequenas manchas necróticas. A
deficiência de Mn pode ser um fator limitante em solos muito ácidos com pH inferior a 6, em solos
com elevado teor de matéria orgânica e em solos calcários fertilizados com Fe.
Por meio da microscopia eletrônica foi possível observar que a deficiência de Mn induz uma
ruptura específica da membrana do tilacoide e efeitos menos pronunciados na membrana do núcleo
e da mitocôndria.
Apesar de ativar diversas enzimas, a presença do Mn só foi demonstrada em dois casos:
primeiro, numa proteína que quebra a molécula da água no fotossistema II e requer pelo menos
quatro átomos de Mn por local de reação. Como não há fotossistema II nos heterocistos – células
especializadas na fixação do N de algumas cianobactérias filamentosas – estes não têm Mn.
Segundo, como constituinte da Mn superóxido dismutase – Mn-SOD, uma das isoenzimas SOD
presentes na mitocôndria e nos peroxissomas, e, em algumas espécies (por exemplo, no tabaco, mas
não na ervilha), também nos cloroplastos. Essas enzimas, juntamente com outras formas de SOD
que contêm Cu e Zn, constituem um conjunto de enzimas envolvidas na defesa dos radicais livres
de superóxido )O2–) originados em diferentes reações enzimáticas.
O Mn também está envolvido como cofator de diversas enzimas do ciclo de Krebs
(descarboxilases e desidrogenases), apesar de poder ser substituído por outros cátions divalentes,
especialmente pelo Mg2+, tal como no caso da isocitrato desidrogenase. O Mn também está
envolvido na ativação da arginase, uma enzima-chave no ciclo da ureia que converte a arginina em
ornitina e ureia, e da enzima málica que é dependente da NAD- das plantas C4.
As deficiências de Mn não são tão frequentes, pois, salvo as exceções acima mencionadas, o
Mn pode ser substituído pelo Mg. No entanto, um excesso de Mn pode causar deficiência de Fe
porque ambos os elementos partilham passos comuns na absorção e, possivelmente, no processo de
transporte nas plantas.
Cobre
A deficiência de Cu é menos comum nas plantas, pois ele é necessário em quantidades bem
pequenas e está muito disponível em solos de pH neutros ou básicos. A deficiência, porém, pode
ocorrer em solos ácidos. Os efeitos da deficiência de Cu são frequentemente estudados através de
experiências conduzidas com soluções nutritivas em ambiente controlado.
As plantas absorvem o Cu como cátion divalente ou cúprico (Cu2+) em solos arejados, e como
íon cuproso (Cu+) em solos pobres em oxigênio ou com elevado teor em água, como ocorre nos
solos alagados dos manguezais. A forma divalente é a mais facilmente quelatada por diversos
componentes orgânicos do solo, o que também pode acontecer em soluções nutritivas em que o
nível de Cu tem de ser monitorado para evitar a fitotoxicidade.
A essencialidade do Cu pode ser explicada pela sua presença em várias proteínas e enzimas
envolvidas em processos de oxidação/redução. Dois sistemas-chave nessas funções são a
plastocianina, proteína envolvida na cadeia transportadora de elétrons da fotossíntese, e a enzima
citocromo c oxidase, que catalisa o transporte de elétrons para o oxigênio nas cristas da membrana
interna da mitocôndria na respiração. O Cu é inclusive um componente da enzima fenolase, que
oxida os fenóis e está relacionada com a biossíntese da lignina, uma vez que participa da síntese de
alguns dos seus precursores. De fato, um dos primeiros sinais da deficiência de Cu é um decréscimo
da lignificação e uma acumulação de fenóis, o que também se observa na deficiência de B.
Zinco
O Zn é absorvido como cátion divalente (Zn2+) pelo menos nos casos em que está quelatado
com ligandos orgânicos. A disponibilidade de Zn pode ser baixa tanto em solos básicos como em
solos ácidos, sempre que o material originário for pobre nesse elemento. A deficiência de Zn induz
uma clorose internervuras, que se observa frequentemente em milho, feijão, sorgo e árvores
frutíferas, e se associa ao papel do Zn na estabilização da molécula de clorofila. Na Figura 2.6B é
possível observar os sintomas de deficiência de Zn em cafeeiro estabelecido em campo. Os sintomas
mais típicos dessa deficiência são a diminuição do crescimento foliar e a diminuição do
comprimento dos entrenós, em especial nas espécies lenhosas. A redução do crescimento do caule
tem sido associada à produção do ácido indolacético – AIA, uma das auxinas mais comuns. Há uma
relação direta entre os níveis de Zn e a concentração de auxinas, a qual decresce imediatamente
antes de os sintomas se tornarem visíveis. Existem evidências do papel do Zn na síntese do
triptofano, um aminoácido precursor desse hormônio.
O Zn é necessário para a atividade de pelo menos 80 sistemas enzimáticos e integra a
estrutura enzimática sem alteração do estado de oxidação. Alguns exemplos são a NADH-
desidrogenase, a álcool desidrogenase (que catalisa a passagem do etanol a acetaldeído na
fermentação alcoólica) e as cinco anidrases carbônicas já descritas, as quais aceleram a hidratação
reversível do dióxido de carbono a bicarbonato nos tecidos fotossintéticos. Todas as formas
conhecidas de anidrases carbônicas têm Zn como um componente estrutural. Juntamente com o
Cu, o Zn está presente em alguns tipos de superóxidos dismutase – SOD, enzimas que existem no
citoplasma e em diferentes organelos da célula e que estão envolvidas nos mecanismos de defesa
celulares contra os radicais superóxidos.
Finalmente, deve ser salientada a participação do Zn na estabilidade do ribossoma e a sua
presença na enzima RNA polimerase, tornando-o possível regulador da expressão genética.
Molibdênio
O Mo existe no solo principalmente na forma de molibdenite (MoS2) e de sais de molibdato
(MoO42– ou HMoO4–). A solubilidade do Mo aumenta com o pH. Na forma de molibdato, o Mo
tem valência de 6+, enquanto nos sais com S ocorre como Mo4+. O papel do Mo nas plantas está
relacionado sobretudo com as reações redox, como constituinte de sistemas enzimáticos essenciais
para as plantas superiores, algas e cianobactérias.
Devido à baixa demanda por Mo, o modo como é absorvido e transportado para as células
vegetais é pouco conhecido. De qualquer modo, o Mo é indubitavelmente essencial, apesar dos
valores muito baixos requeridos pelas plantas. A deficiência em Mo é pouco comum, destacando-se
em algumas áreas no leste do Brasil, no sul dos Estados Unidos e na Austrália, em culturas como a
da couve-flor e brócolis. O Mo é constituinte da nitrato redutase, enzima-chave na assimilação do
N e responsável pela redução do nitrato a nitrito. O Mo também é um cofator da enzima
nitrogenase, fundamental na fixação biológica do N atmosférico, e está presente em todos os
microrganismos capazes de efetuarem esse processo, livre ou simbioticamente (ver Capítulo 4). O
Mo também está envolvido na degradação – catabolismo – de purinas, como a adenina e guanina,
pois é constituinte da enzima xantina desidrogenase. Finalmente, parece estar envolvido na síntese
do ácido abscísico – ABA, como parte estrutural da enzima que origina esse ácido.
Boro
O B foi identificado como elemento essencial há mais de 80 anos, mas é o micronutriente cujo
papel fisiológico e bioquímico nas plantas é o menos compreendido. O B tem, possivelmente, com
exceção do C, a química mais interessante e diversa de todos os elementos. O B também parece ser
essencial nas plantas vasculares, diatomáceas e cianobactérias filamentosas fixadoras de N, mas a
necessidade para o B não é generalizada a todas as bactérias, algas verdes, fungos e animais, apesar
do aumento das evidências do papel desse elemento no desenvolvimento animal. Esses fatores
fazem com que o estudo do B como micronutriente seja extremamente interessante.
Nos últimos anos, o transporte de B na planta tem sido estudado sob um ponto de vista
molecular. Até agora considerava-se que o ácido bórico era a forma habitual de absorção e
transporte pela planta, pois, de acordo com as suas propriedades, podia atravessar a membrana
lipídica sem recorrer a canais nem a transportadores. Contudo, têm sido descobertas diferentes
formas de transporte, específicas para B, designadamente o transportador BOR1 para o
carregamento no xilema, e o canal N5P;1 para a captação desse micronutriente da rizosfera;
posteriormente foi também identificado o gene NIP;6-1, envolvido na distribuição preferencial do B
pelas partes jovens da planta. Por último, foi encontrado o gene BOX 4, responsável pela exclusão
de B quando em condições de toxicidade.
Atualmente foi verificado que a deficiência de B afeta a diferenciação celular nas regiões
próximas do ápice radicular, diminuindo o alongamento celular e induzindo o fenótipo “peludo”
associado à inibição da divisão celular e ao desaparecimento do centro quiescente – tudo na raiz de
Arabidopsis. Paralelamente a essas alterações meristemáticas, há acumulação de calose, lignina e
glicoproteínas em plantas deficientes em B, sem que esse micronutriente afete a síntese de tais
compostos. Deduz-se que tal acumulação se deve a uma alteração de endomembranas, fato
evidenciado pelo aumento significativo de vesículas intracelulares. Os mecanismos de glicosilação,
contudo, que também poderiam ser a causa dessa acumulação, não são alterados. As N-
glicoproteínas apresentam uma interação in vivo com o B e podem ter um papel-chave como sinais
de crescimento ou de diferenciação celular, não só em plantas como também em animais.
Uma vez que aproximadamente 95% do B está na parede celular, a função desse elemento nas
plantas parece ser, sobretudo, estrutural. As monocotiledôneas têm menores necessidades de B, e a
fração da pectina também é menor do que nas dicotiledôneas, sugerindo que o B está
preferencialmente afeto à sua importante função nas paredes celulares. A afinidade do B para
estabelecer ligações com os grupos éster cis-dióis pode explicar o papel desse micronutriente na
estabilidade da parede celular.
Julgava-se que o B não estaria diretamente envolvido em funções enzimáticas porque ele não
tem alterações de estado redox nem faz parte de nenhum cofator estrutural ou sistema enzimático.
No entanto, tem sido demonstrado que a deficiência de B induz uma inibição da glicose-6-fosfato
desidrogenase – G6PD, pois em déficit verifica-se um decréscimo na concentração dos complexos
formados entre o B e o 6-P-gluconato. Esse fato faz com que o metabolismo da glucose seja
conduzido de preferência por via da pentose em vez da glicólise, o que resulta na acumulação de
compostos fenólicos, os quais são muito tóxicos, na raiz e na parte aérea, mesmo a concentrações
inferiores a 1 µmol L–1, explicando o estresse verificado em plantas deficientes. Ademais, a
deficiência de B é acompanhada por um aumento nos níveis de auxinas AIA, pois a inibição da
enzima ácido indolacético oxidase é originada pela acumulação de fenóis, como dos ácidos cafeico e
clorogênico.
Para além disso, o B tem sido relacionado com os principais processos fisiológicos na planta:
divisão celular e crescimento, germinação, regulação hormonal etc. Em consequência, as plantas
deficientes em B apresentam um conjunto amplo de sintomas que dependem da idade e do tipo de
planta. Um dos primeiros sinais dessa deficiência é a inibição de crescimento e desenvolvimento
das raízes primárias e secundárias. A divisão celular para nos caules e nas folhas jovens, seguida
pelo aparecimento de necroses e pela morte de todo o meristema, possivelmente relacionado com o
papel do B na síntese do uracilo. Considerando que o B também estimula o alongamento do tubo
polínico, consegue-se perceber o porquê de os sintomas da deficiência em B serem tão espetaculares
(Figura 2.7A). Por exemplo, a tão conhecida “podridão do coração da raiz” em beterraba sacarina,
que corresponde à produção de raízes ocas que impedem a acumulação de sacarose. Atualmente
pensa-se que a razão B/Ca pode ter um papel importante não apenas na estrutura, mas também na
transdução de sinal.
Recentemente foi evidenciado que o B é essencial não só para as plantas e bactérias, mas
também animais, incluindo humanos. Tais ensaios mostraram que o B é um elemento muito
dinâmico que afeta um espectro muito amplo de funções biológicas, sugerindo um efeito
pleiotrópico.
Cloro
O Cl ocorre principalmente como íon cloreto (Cl–). Ele é ubíquo na natureza e tem alta
solubilidade. Essencial para as plantas como micronutriente, a sua presença está ligada a mais de
130 compostos orgânicos cujas concentrações atingem valores típicos de macronutrientes. A
maioria das plantas absorve de 10 a 100 vezes mais Cl– do que o necessário. A solubilidade do Cl– é
elevada, e o Cl é transportado nessa forma, quer no xilema, quer no floema. A elevada mobilidade
do Cl torna-o crucial para as plantas por duas razões principais:
1) Manutenção do gradiente de pH entre o citosol e o vacúolo, pela ativação de Mg, Mn-
ATPase.
2) Papel de soluto osmoticamente ativo. Por exemplo, pela função que tem, juntamente com o
K, no mecanismo de abertura e fechamento dos estômatos, e também noutros processos násticos.
No entanto, o papel principal do Cl– tem a ver com o seu envolvimento na fotólise da água e
na libertação de oxigênio no fotossistema II. Esse fato foi demonstrado por Warburg em 1944, mas
o mecanismo exato ainda não é totalmente conhecido. De qualquer modo, o Cl é imprescindível
para a estabilidade dos cloroplastos, provavelmente por ter um papel de proteção na oxidação dos
componentes lipoproteicos da membrana do tilacoide.
A deficiência de Cl não é comum na natureza porque a sua disponibilidade nos solos é
elevada; apenas pode ser observada quando induzida em ensaios, controlados, estabelecidos em
solução nutritiva. Quando surge, a deficiência está associada com elevadas diminuições no
comprimento radicular, apesar de as áreas subapicais se apresentarem engrossadas. As folhas
sofrem redução no crescimento, com manchas cloróticas e necróticas, e ficam muitas vezes
acastanhadas.
Figura 2.7 - A) Feijão (Phaseolus vulgaris L.) desenvolvido em condições de fixação de nitrogênio:
em (I) plantas controle e submetidas a 0,1 mg/L de B e deficientes com 28 dias de
crescimento; destaque para as raízes noduladas do controle (II) e das plantas
deficientes (III). B) Beterraba sacarina (Beta vulgaris L.) cultivada em solução nutritiva
com condições tóxicas (I) e adequadas do micronutriente (II).
Fotos: IDELFONSO BONILLA.
Níquel
O Ni foi recentemente incluído na lista dos elementos essenciais para as plantas. Ele é um
metal abundante na natureza e está sempre presente nos tecidos vegetais apesar das concentrações
muito baixas (0,05 a 5 mg kg–1 na matéria seca). Uma das dificuldades em definir o seu papel
essencial é a baixa quantidade necessária desse nutriente para planta – estima-se que
aproximadamente 200 µg de Ni são suficientes para ela completar o ciclo de vida; essa quantidade
de outros elementos pode ser encontrada, por exemplo, numa só semente. As quantidades
requeridas são tão mínimas que as impurezas existentes nos sais são suficientes para suprir as
necessidades das plantas, sendo desnecessário adicionar Ni aos meios de cultivo.
Os dados que demonstram a essencialidade do Ni provêm de estudos com cereais, pecaneiras
e leguminosas, principalmente das espécies com capacidade de desenvolver nódulos, como o feijão
e a soja. Nessas leguminosas, o NH4+ fixado pelas raízes é transportado via xilema para a parte aérea
e via floema das folhas velhas para as folhas em desenvolvimento e sementes, na forma de ureídeos,
principalmente de ácido alantoico e de citrulina. O metabolismo desses ureídeos envolve a
formação de ureia, que só poderá ser hidrolisada na presença de urease, uma enzima que contem
Ni. Se o Ni não estiver em quantidades suficientes, a concentração de ureia aumenta e acumula-se
em níveis tóxicos, originando necroses nos ápices foliares. Uma vez que a degradação das purinas
(adenina, guanina) ocorre em todas as plantas via ureídeos, o Ni será essencial para todas as
espécies vegetais, e não só para as leguminosas. A essencialidade do Ni foi demonstrada em ensaios
com cevada que cresceu num meio sem Ni: ao fim de três gerações, as sementes perderam a
capacidade de germinar e apresentaram anormalidades estruturais.
Em algumas microalgas azuis (cianobactérias), como as Oscillatoria, o crescimento ótimo só é
obtido quando há 0,05 µmol L–1 de Ni no meio de cultura. Várias bactérias têm uma dependência
nítida da presença de Ni, mas o caso mais bem conhecido é o das espécies de Rhizobium, nas quais o
Ni é constituinte da enzima hidrogenase que catalisa a oxidação reversível do H no processo de
fixação do N (ver Capítulo 4).
Elementos benéficos
Adicionalmente aos 17 elementos descritos, muitas plantas têm necessidades especiais. Como
esses elementos não são necessários a todas as espécies vegetais, não podem ser considerados
essenciais – são definidos, portanto, como elementos bené icos. Eles devem preencher, pelo menos
em parte, a falta de um elemento essencial ou aumentar a tolerância à absorção excessiva de outros
elementos. Por exemplo, o Si pode proteger as elevadas concentrações de Mn e Fe observadas em
solos ácidos e, desse modo, reduzir bastante os sintomas de toxicidade.
Sódio
O Na está habitualmente presente na forma de cátion monovalente. Algumas plantas, como as
halófitas, têm Na em concentrações típicas de um macronutriente. No entanto, esse fato deve-se a
um mecanismo adaptativo presente no controle osmótico, apesar de a maioria das plantas tender a
absorver de forma seletiva mais K do que Na. Nas plantas do gênero Atriplex e noutras C4, há
evidências da essencialidade do Na em teores equivalentes aos dos micronutrientes. Nessas plantas,
o Na parece estar acoplado ao transporte do ácido pirúvico entre as células do mesofilo e da bainha.
Nas plantas que apresentam metabolismo ácido das crassuláceas – CAM ocorre algo similar, mas o
Na não parece ser essencial para as espécies vegetais que, quanto à fotossíntese, são do tipo C3. Nas
cianobactérias (microalgas azuis) há uma necessidade específica de Na, o qual participa em
processos-chave, como a fotossíntese, o transporte de HCO3– e CO2, a absorção e assimilação de
nitratos e fosfato, e também a fixação do N nas espécies filamentosas com heterocistos.
Silício
O Si é o segundo elemento mais abundante na crosta terreste. Por essa razão, não é de se
surpreender que muitas plantas o absorvem em quantidades elevadas.
O Si contribui com 1–2% de matéria seca no milho, e até com quantidades superiores a 16%
em espécies como a Equisetum arvense. É muito difícil de efetuar ensaios de deficiência de Si porque
esse metal existe em todos os locais, incluindo nos vidros do laboratório, nos quais o silicato de
boro é comumente usado. Diversos estudos mostram a essencialidade do Si nas gramíneas, em cujas
paredes celulares se acumula na forma de óxido hidratado (SiO2·nH2O). Desse modo, a
impermeabilidade das paredes celulares e a resistência aos ataques fúngicos aumentam, não só por
constituir uma barreira física, mas também pelos compostos orgânicos com Si serem muito estáveis
para as enzimas dos patógenos. O aumento da resistência mecânica dos tecidos previne o
acamamento nos cereais. As algas diatomáceas também necessitam de Si para formarem a frústula
ou camada externa, que é dura e porosa.
Cobalto
Apesar de o Co ser essencial para os animais devido à sua presença na cianocobalina ou
vitamina B12, ele não parece ser essencial para as plantas, com exceção das leguminosas na fixação
simbiótica de N. Na verdade, são os microrganismos que recebem esse elemento, e não as plantas.
Nas algas Euglena, o Co também é essencial, pois, quando em deficiência, a síntese de RNA e de
DNA é afetada em razão de alterações na síntese da timina e da ribose. No passado, considerou-se
que era essencial para os organismos fixadores de N (ver Capítulo 4), particularmente
cianobactérias, mas hoje em dia não é tido como tal.
Alumínio
O Al é muito abundante na crosta terreste, mas a pH neutros ou básicos as formas solúveis
existem em concentrações muito baixas. No entanto, quando o pH do solo é inferior a 5, o Al é
bastante solúvel e pode afetar negativamente diversas espécies vegetais. Essa condição é frequente
em grandes extensões de solos tropicais dos quais as bases foram lixiviadas pela intensa
precipitação. Pode também ocorrer como consequência das chuvas ácidas, como em áreas da
Europa Central. No entanto, o Al pode ser benéfico em doses pequenas porque, tal como o Si, pode
reduzir a toxicidade causada pelo excesso de outros elementos, a exemplo de Ca, Mg ou P.
Selênio
O Se é absorvido na forma de ânion selenato (SeO42–), sendo depois transportado do xilema
para a parte aérea. Apesar de o Se, em geral, ser tóxico para a maioria das espécies vegetais, há um
grupo de plantas denominadas seleníferas – cujo gênero mais representativo é o Astragalus, que
pode acumular selenato nas células, por transporte ativo, contra um gradiente eletroquímico
potencial. No entanto, não está ainda estabelecido definitivamente que o Se seja essencial nessas
espécies. Esse gênero contempla centenas de espécies e têm sido registradas diferenças na
acumulação de Se entre elas. Espécies como a A. racemosus são capazes de acumular mais Se (acima
de 0,5% do peso de matéria seca) do que o existente e ser tóxicas para os animais herbívoros. O Se
substitui o S e leva ao aparecimento de aminoácidos com Se, como a selenometionina e a
selenocisteína. A selenometionina, na forma reduzida, é a principal forma de acumulação de Se nas
plantas. A presença de proteínas com Se nas bactérias foi observada nos processos de oxirredução e
é essencial tal como ocorre nos animais.
Titânio
O Ti não cumpre nenhum dos requisitos estabelecidos por Arnon e Stout (1939) para
elemento essencial. Entretanto, em algumas espécies como o pimentão (Capsicum annuum L.), o Ti,
na forma de Ti (IV), pode aumentar a absorção de nutrientes e consequentemente a produção de
biomassa. Ele também pode ter um efeito ativador dos pigmentos fotossintéticos. O efeito benéfico
pode estar associado ao estresse oxidativo moderado do Ti, que, por sua vez, induz diferentes
respostas nas plantas e as torna mais tolerantes a outros estresses.
Referências
ABADÍA, J.; VÁZQUEZ, S.; RELLÁN-ÁLVAREZ, R.; EL-JENDOUBI, H.; ABADÍA, A.; ÁLVAREZ-FERNÁNDEZ,
A.; LÓPEZ-MILLÁN, A. F. Towards a knowledge-based correction of iron chlorosis. Plant Physiology and
Biochemistry, v. 49, p. 471-482, 2011.
ARNON, D. I.; STOUT, P. R. The essentiality of certain elements in minute quantity for plants with special reference
to copper. Plant Physiology, v. 14, n. 2, p. 371-375, 1939.
BOULD, C.; HEWITT, E. J.; NEEDHAM, P. Diagnosis of mineral disorders in plants: principles. Londres: Her
Majesty’s Stationery Office, 1983. v. 1. 174 p.
CLARKSON, D. T. Factors affecting mineral nutrient acquisition by plants. Annual Review of Plant Physiology, v.
36, 77-115, 1985.
DELHAIZE, E.; SCHACHTMAN, D.; KOCHIAN, L.; RYAN, P. R. Mineral nutrient acquisition, transport, and
utilization. In: BUCHANAN, B. B.; GRUISSEM, W.; JONES, R. L. Biochemistry and molecular biology of plants.
2nd. ed. Nova York: John Wiley & Sons, 2015. p. 1531-1574.
EPSTEIN, E. Mineral nutrition of plants: principles and perspectives. Nova York: John Wiley and Sons, 1972. 412
p.
EPSTEIN, E.; BLOOM, A. J. Mineral nutrition of plants: principles and perspectives. 2nd. ed. Sunderland: Sinauer
Associates, 2005. 380 p.
HEWITT, E. J. Sand and water culture methods used in the study of plant nutrition. Farnham Royal:
Commonwealth Agricultural Bureaux, 1966. (Technical communication, 22).
HOAGLAND, D. R.; ARNON, D. I. The water-culture method for growing plants without soil. California
Agricultural Experiment Station Circular, v. 347, p. 1-32, 1950.
MARSCHNER, P. (ed.) Mineral nutrition of higher plants. 3rd. ed. Londres: Academic Press, 2012.
MENGEL, K.; KIRKBY, E. A. Principles of plant nutrition. Dordrecht: Kluwer Academic Press, 1987. 849 p.
SALISBURY, F. B.; ROSS, C. W. Plant physiology: mineral nutrition. Belmont: Wadsworth Publishing Company,
1992. p. 96-113.
TAIZ, L.; ZEIGER, E. Plant physiology. 5th. ed. Sunderland: Sinauer Associates, 2012. 778 p.
4 Departamento de Biología, Facultad de Biología, Universidad Autónoma de Madrid – UAM, Madrid, Espanha. E-
mail: ildefonso.bonilla@uam.es
5 Departamento de Nutrición Vegetal, Estación Experimental Aula Dei – EEAD-CSIC, Zaragoza, Espanha. E-mail:
jabadia@eead.csic.es
6 Departamento de Biología, Facultad de Ciencias, UAM, Madrid, Espanha. E-mail: luis.bolarios@uam.es
7 Departamento de Ciências Biológicas e Bioengenharia, Faculdade de Ciências e Tecnologia, Universidade do Algarve
– UAlg, Faro, Portugal. E-mail: fpestana@ualg.pt
Capítulo
3
Metabolismo do Nitrogênio e do
Enxofre em Organismos
Fotossintetizantes
Vitor L. Nascimento8,; Carla G. S. Quinhones9; Marcelo Gomes Marçal Vieira Vaz10; Adriano Nunes-
Nesi11 e Wagner L. Araújo12
Introdução
O conhecimento dos processos biológicos que regulam as
transformações e fluxos de nutrientes é de suma importância não somente
pelas complexas interações biológicas associadas, mas também pelos inúmeros
benefícios ambientais e agronômicos. Tais benefícios podem ser alcançados a
partir de um correto manejo das diferentes culturas, haja vista a participação
de entes bióticos e abióticos nos mais diversos ciclos minerais.
No sistema solo-planta-atmosfera, processos bióticos e abióticos podem
interferir na disponibilidade de diferentes nutrientes. Nesse contexto, os
microrganismos estão diretamente associados, uma vez que podem
metabolizar nutrientes diversos, utilizando-os como constituintes da sua
biomassa ou simplesmente como doadores/aceptores de elétrons e poder
redutor. Essas reações metabólicas junto com processos abióticos definirão,
em última instância, a disponibilidade e potencial de assimilação de uma gama
de nutrientes pelas plantas.
A assimilação de nutrientes pode ser definida como a incorporação de
elementos minerais (compostos inorgânicos) em substâncias orgânicas (por
exemplo, pigmentos, lipídeos, ácidos nucleicos e aminoácidos). O N e o S são
absorvidos pelas plantas por meio de interações das raízes com o solo, ao passo
que a assimilação desses macronutrientes essenciais demanda mecanismos
morfológicos, fisiológicos e bioquímicos altamente desenvolvidos, foco
principal deste capítulo. De maneira particular, ambos os elementos são
encontrados no solo principalmente em suas formas oxidadas, nitrato (NO3–)
e sulfato (SO42–), sendo, portanto, necessária a redução (com alto custo
energético) a formas nas quais as plantas possam incorporá-los em
aminoácidos.
Assim, este capítulo apresentará, de forma sucinta e isolada, o ciclo do N
e do S, com foco particular nos fatores bióticos capazes de afetar a
disponibilidade desses nutrientes. Em seguida, atenção particular será dada à
absorção e transporte desses nutrientes pelas plantas e, por fim, seu
consequente metabolismo assimilativo e como essas vias podem ser reguladas.
Nitrogênio
O N é um macronutriente essencial para todos os organismos,
disponível para assimilação e/ou mobilizado nas suas formas orgânica e
inorgânica. Plantas e fungos são eucariotos capazes de assimilar o N-
inorgânico que, em solos florestais e agricultáveis, está disponível
principalmente nas formas nítrica e amoniacal (KRAPP, 2015). Cabe ressaltar
que o N é encontrado em diversas macromoléculas, como proteínas, ácidos
nucleicos e componentes da parede celular, bem como em muitos compostos
secundários e metabólitos de sinalização (hormônios e vitaminas, por
exemplo).
O ciclo do N envolve diferentes organismos, procariotos e eucariotos, e
permite a existência das formas oxidadas e reduzidas desse elemento. Assim,
diferentes organismos assimilam e metabolizam formas específicas de N, como
nitrato (NO3–), nitrito (NO2–), amônia (NH3 ou íon amônio NH4+) e N-
orgânico. A participação de agentes biológicos, em especial microrganismos
procariotos, é de fundamental importância para a ciclagem desse elemento, de
modo a torná-lo disponível para outros seres vivos. A fixação biológica do N
atmosférico (N2), por exemplo, só pode ser realizada por alguns grupos
procariotos. É importante mencionar que, por meio desse processo, o N2 é
reduzido a NH3, podendo ser então utilizado como fonte de N por plantas,
fungos e outros procariotos.
A assimilação do NO3– e de NH3 ou NH4+ e sua introdução em moléculas
orgânicas permitem que o N seja assimilado e assim metabolizado por outros
organismos, como os animais, que são incapazes de absorver esse nutriente em
suas formas inorgânicas. Adicionalmente, o N-orgânico pode ser
mineralizado, retornando ao sistema; desse modo, ele é novamente passível de
transformações bióticas e abióticas.
A demanda por N, principalmente pela agricultura intensiva, tem levado
a vários estudos que buscam a otimização não somente dos processos de
fixação biológica do nitrogênio – FBN, mas também da introdução de fontes
de N no sistema via fertilizantes (KANT et al., 2010; MASCLAUX-
DAUBRESSE et al., 2010). Apesar desses intensos esforços, a demanda por
fontes de N é ainda um grande limitante para a sustentabilidade da agricultura
com a capacidade de atender a demanda por esse elemento, visto que a adição
de adubação nitrogenada representa um alto custo em culturas agrícolas
(GILES, 2005; BI et al., 2007). Registre-se que por ano, são adicionados ao solo
cerca de 85–90 milhões de toneladas de fertilizantes nitrogenados, o que,
logicamente, gera despesas vultosas para a produção agrícola (GOOD et al.,
2004). No entanto, o aumento da fertilização e input de N não está,
necessariamente, associado a um aumento de produtividade (HIREL et al.,
2007). Ademais, estima-se que por volta de 50–70% do N adicionado ao solo
seja perdido em decorrência de processos de lixiviação do NO3–, perdas por
desnitrificação, entre outros (HODGE et al., 2000).
Observa-se, portanto, que um correto entendimento do ciclo do N e dos
fatores bióticos e abióticos envolvidos na mobilização e perda desse nutriente
é de fundamental importância para o seu correto uso. Além disso, o
conhecimento do ciclo e dos fatores que o afetam contribuirá de modo
significativo para a escolha adequada de práticas agrícolas mais sustentáveis e
que permitam um melhor aproveitamento desse elemento, principalmente
pelas plantas.
Mineralização/imobilização
No solo, a maior parte do N presente encontra-se na forma orgânica
como proteínas, peptídeos e outros componentes celulares. A mineralização
desse N associado à matéria orgânica envolve, numa primeira etapa, a ação de
enzimas extracelulares (por exemplo, as peptidases), que são responsáveis por
degradar proteínas, liberando, assim, peptídeos e aminoácidos. Esses
compostos orgânicos nitrogenados de menor massa molecular são
transportados ao interior celular e, a posteriori, metabolizados, levando à
produção de NH3 e outros compostos orgânicos intermediários, como ácidos
orgânicos e seus derivados. Dessa forma, o processo de mineralização nada
mais é do que a produção de NH3, ou amonificação, ou a conversão de N-
orgânico em NH3, mediante reações de desaminação. Por fim, a NH3,
produzida após essa etapa de mineralização e liberada na solução do solo, se
equilibra com a água presente, formando NH4+, que pode então ser absorvido
ou nitrificado. No ambiente ou em pH próximo à neutralidade, NH3 encontra-
se na forma de NH4+, e a maior parte da NH3 liberada nos processos derivados
do metabolismo aeróbico é rapidamente reciclada, assimilada e convertida em
aminoácidos nas plantas e microrganismos (MASSON-BOIVIN et al., 2009;
REMIGI et al., 2016).
O processo contrário à mineralização – a assimilação do N em
compostos orgânicos (cadeias carbônicas) – ocorre por duas vias metabólicas
principais que envolvem o 2-oxoglutarato e o aspartato/glutamato. O 2-
oxoglutarato transforma-se em glutamato que, por ação da glutamina sintetase
– GS, dá origem à glutamina (transaminação). Esses dois processos são os
responsáveis pela incorporação (imobilização biológica) do N nas moléculas
orgânicas, as quais são sequencialmente utilizadas na biossíntese de outras
substâncias nitrogenadas. Com o passar do tempo e a morte de células, tais
componentes celulares são liberados no solo, sendo alguns condensados ou
complexados a substâncias húmicas, nas quais o N se estabiliza quimicamente
e não é mais suscetível à mineralização (ZAHRAN, 1999; MASSON-BOIVIN
et al., 2009; REMIGI et al., 2016).
Nitrificação
Dando sequência ao ciclo do N, o produto da mineralização, NH3, é
convertido em NO3–, em um processo denominado nitri icação, em condições
aeróbicas. Esse processo de oxidação de NH3 a NO3– ocorre sem dificuldade
em solos bem drenados, com pH próximo à neutralidade, e é realizado por
bactérias nitrificantes. Logo, na nitrificação há produção de NO3–; o contrário
é a desnitri icação, na qual há o consumo de NO3–. Embora o NO3– seja
rapidamente assimilado pelas plantas, ele é ainda bem solúvel em água, sendo
lixiviado de modo rápido, portanto, ou desnitrificado em solos submetidos à
elevada precipitação ou irrigação. Por consequência, a nitrificação pode, em
última instância, não ser benéfica às práticas agrícolas (OGLE et al., 2015). De
forma distinta do NO3–, a NH3, por possuir carga positiva, é adsorvida pelos
solos ricos em argilas, negativamente carregados. A NH3 anidra é bastante
utilizada como fertilizante nitrogenado, ao qual produtos químicos são
adicionados com frequência para inibir o processo de nitrificação (ZAHRAN,
1999; CAMPO et al., 2009; FRANCHE et al., 2009; KOX; JETTEN, 2015;
NELSON et al., 2016). Em resumo, o processo de nitrificação ocorre com as
seguintes etapas:
Desnitrificação
O NO3– pode ser utilizado, como aceptor alternativo de elétrons, por
muitos microrganismos em condições de respiração anaeróbica. Na maioria
das condições, o produto final da redução do NO3– é o N2, NO ou N2O. Essa
redução do NO3– a compostos de N gasoso, denominada denitri icação ou
desnitri icação, é a principal maneira pela qual o N2 gasoso é formado por via
biológica. A desnitrificação é o processo mais conhecido de redução de formas
oxidadas de N, consistindo, bioquimicamente, na redução de formas oxidadas
a formas gasosas (N2 e N2O). Ademais, é constituída por quatro fases
redutivas, catalisadas por diferentes enzimas presentes no periplasma,
membrana e citoplasma de diferentes microrganismos, a saber:
2NO3– → 2NO2– → 2 NO → N2O → N2
Absorção e transporte
A disponibilidade de N no solo é normalmente baixa. Porém, essa
disponibilidade pode ainda variar tanto temporal quanto espacialmente
conforme condições edafoclimáticas. Em adição, as formas preferenciais de
absorção desse elemento estão associadas ao tipo de planta e à sua adaptação às
condições químicas e físicas do solo (MAATHUIS, 2009). Em solos aeróbicos,
a principal forma de N-inorgânico encontrada é o NO3–, enquanto em solos
ácidos é a NH3.
Na rizosfera, a raiz pode liberar O2 e exsudados que possuem grande
influência local no potencial redox, na densidade e na atividade de populações
microbianas, que por sua vez podem fazer a interconversão entre as diferentes
formas de N do solo, incluindo aquelas derivadas da fertilização. Por exemplo,
raízes de arroz em solos de várzea liberam grandes quantidades de O2 via
aerênquima e geram uma rápida nitrificação na sua superfície, absorvendo N
na forma nítrica numa taxa comparável com a de absorção de NH3 (KIRK;
KRONZUCKER, 2005; LI et al., 2006).
Além da arquitetura radicular, uma série de fatores pode afetar a
aquisição de N pelas raízes, uma vez que a atividade dos transportadores de
NH4+ e de NO3– é regulada pela forma e concentração nas quais o N se
encontra no solo, pelas flutuações diurnas ligadas à sua concentração e com a
influência da temperatura do solo (GLASS et al., 1992; GLASS, 2003;
GARNETT et al., 2009).
Várias proteínas de membrana têm função na absorção,
compartimentalização, translocação e remobilização de NO3–, conforme a
Figura 3.2 (DECHORGNAT et al., 2011). Em geral, essas proteínas são
transportadores de NO3– – denominados Nitrate/Peptide Transporter Family –
NPF, ou família de transportadores de nitrato e peptídeos; e Nitrate Transporter
Family – NRT, ou família de transportadores de nitrato – ou são
transportadores de NH4+, denominados Ammonium Transporter Family – AMT,
ou família de transportadores de amônio (LÉRAN et al., 2014). Cabe ressaltar
que os transportadores de nitrato e amônio estão envolvidos em diferentes
etapas de absorção de N do solo e de seu transporte por toda parte da planta
(YUAN et al., 2007, 2013; WANG et al., 2013).
Nitrato
Entre as diversas formas de obtenção de N pelos organismos, o NO3– é a
principal fonte disponível no solo. Vale destacar que, além de ser um
importante componente nutricional, o NO3– funciona também como molécula
sinalizadora, tendo efeitos pronunciados no metabolismo e no crescimento
dos diversos organismos (KROUK et al., 2010).
A absorção de NO3– inicia-se pelo transporte através da membrana
plasmática, em que é geralmente absorvido da solução do solo pelas células da
epiderme, córtex e endoderme das raízes. Não obstante, pode também ocorrer
absorção foliar durante a fertilização ou em plantas epífitas (BOWMAN;
PAUL, 1992; INSELSBACHER et al., 2007; PEYVAST et al., 2009).
Frente à grande heterogeneidade e variações dinâmicas nas
concentrações de NH4+ e de NO3– no solo, em uma faixa abaixo de 100 μmol
L–1 até maiores que 10 mmol L–1 (MILLER et al., 2007), as raízes das plantas
têm sistemas de transporte que diferem pela sua afinidade à molécula
transportada: Low-A inity Transport System – LATS, ou sistema de transporte
de baixa afinidade, e High-A inity Transport System – HATS, ou sistema de
transporte de alta afinidade. Esses transportadores estão distribuídos em toda
a planta e atuam em conjunto, transportando NO3– para os mais diversos
tecidos das plantas (DANIEL-VEDELE et al., 1998; TSAY et al., 2007).
Uma vez absorvido pelas células radiculares, o NO3– pode ser
metabolizado diretamente nas raízes, estocado no vacúolo em diversos órgãos
(raízes, caule ou folhas, por exemplo) em altas concentrações (20–70 mmolL–
1
), ou pode ainda ser carregado no xilema para transporte a grandes distâncias
para a parte aérea. Em muitas espécies, a assimilação do NO3– é realizada
somente na parte aérea e, nesse caso, o NO3– é carregado para o interior dos
vasos do xilema nas raízes (ANDREWS, 1986). Embora a subsequente
distribuição na parte aérea dependa diretamente do processo de transpiração,
ela pode, no entanto, ser modificada pela interação entre xilema e floema
(KRAPP et al., 2014). Cumpre mencionar também que a maneira como esse
NO3– será alocado ou estocado é determinada por fatores genéticos,
fisiológicos e ambientais. A homeostase do NO3– citosólico é determinada pelo
balanço entre a absorção, efluxo e atividade da NR, bem como pela
remobilização e estocagem no vacúolo.
O transporte de NO3– a longas distâncias para diferentes partes da planta
é finamente regulado. Como exemplo, AtNRT1.5 e AtNRT1.8, dois
transportadores de NO3– de baixa afinidade (NRT1s) intimamente
relacionados em Arabidopsis thaliana (Arabidopsis), estão envolvidos no
carregamento e no descarregamento dentro das raízes ou do sistema vascular
da parte aérea (LIN et al., 2008; LI et al., 2010). Já o AtNRT1.9, presente em
células companheiras da raiz, facilita o carregamento de NO3– para o floema
da raiz e aumenta o transporte ascendente de NO3– nas raízes (WANG;
TSAY, 2011).
Em geral, transportadores da família gênica NRT1 são
constitutivamente expressos e responsáveis pelo transporte via LATS, com
exceção de AtNRT1.1. Este último, além de sensor dos níveis de NO3–, pode
funcionar tanto como transportador de baixa quanto de alta afinidade
dependendo de uma modificação pós-traducional mediada por uma proteína
cinase, CIPK23, responsável pela fosforilação desse transportador em
condições de baixa concentração de NO3– (WANG et al., 1998; LIU et al.,
1999; HO et al., 2009). Em contrapartida, genes da família NRT2 são expressos
em condição de baixa concentração de NO3– no solo e fazem parte do grupo
dos HATS. A expressão de NRTs é regulada por NO3–, metabólitos de N,
privação de N, sacarose e pH (DE ANGELI et al., 2006; HO et al., 2009).
Pelo menos quatro membros dos sete da família AtNRT2 agem como
HATS em raízes e permitem uma eficiente absorção quando NO3– encontra-se
em baixas concentrações no solo. Alguns NRT2s requerem uma proteína que
aja em conjunto para que o NO3– seja absorvido mesmo em condições de
baixas concentrações (FENG et al., 2011). Em tais condições, o transporte é
feito principalmente por AtNRT2.1, enquanto AtNRT2.2 participa
minoritariamente (LI et al., 2007). AtNRT2.4 e AtNRT2.5 são fortemente
induzidos na epiderme da raiz em condições de baixa quantidade de N no solo
(KIBA et al., 2011; LEZHNEVA et al., 2014; KOTUR; GLASS, 2015). Assim,
mutantes com perda de função para AtNRT2.1 tem seu crescimento reduzido
em baixas concentrações externas de NO3–, ao passo que o crescimento não é
afetado quando se analisa mutantes com perda de função para AtNRT2.2, 2.4 e
2.5.
Embora a “grande família NPF” compreenda 53 proteínas envolvidas no
transporte de aminoácidos, peptídeos, glucosinolatos, auxina e ácido abscísico,
somente dois deles estão envolvidos com a absorção de NO3– do solo (LÉRAN
et al., 2014). Em altas concentrações externas de NO3–, o transporte é mediado
principalmente por dois transportadores NPF: AtNPF6.2 é um transportador
de baixa afinidade, ao passo que AtNPF6.3 é de afinidade dupla, cuja afinidade
pelo NO3– é modificada via fosforilação proteica dependente da
disponibilidade desse íon no solo. Além de funcionar como receptor e sensor
de NO3–, o AtNPF6.3 pode também funcionar como transportador de auxina
(PARKER; NEWSTEAD, 2014; SUN et al., 2014).
Em adição aos transportadores da família NPF e NRT, evidências
recentes têm demonstrado que o NO3– pode também ser transportado por
proteínas Chloride Channel – CLC, e ainda via Slow Anion Channel-Associated
Homologues – SLAC/SLAH, ou canais aniônicos lentos/canais homólogos
associados lentos, capazes de facilitar o transporte de NO3– nas células (WEGE
et al., 2010; MAIERHOFER et al., 2014). Cumpre mencionar que, entre os
membros de CLC, CLCa é responsável por mediar o acúmulo de NO3– nos
vacúolos (DE ANGELI et al., 2006). Além disso, o NO2– é transportado para o
interior dos plastídeos pelo transportador His-Pro-Pro Motif Protein – HPP, que
é uma família proteica conservada entre cianobactérias e cloroplastos
(MAEDA et al., 2014).
Durante o estádio vegetativo, as folhas são dreno para N e, mais tarde,
durante a senescência foliar, esse N precisa ser remobilizado para então ser
prontamente reutilizado nas sementes em desenvolvimento, principalmente
na forma de aminoácidos (OKUMOTO; PILOT, 2011). Cerca de 95% das
proteínas existentes nas sementes são derivadas de aminoácidos exportados
para as sementes após a degradação de proteínas existentes nas folhas
(TAYLOR et al., 2010). Durante a senescência, aumentos nas concentrações
de asparagina e glutamina na seiva do floema sugerem um papel fundamental
desses aminoácidos na disponibilização de N a partir de folhas senescentes,
garantindo, assim, a completa remobilização do nutriente (MASCLAUX-
DAUBRESSE et al., 2010).
O efluxo de NH4+ e de NO3– para o meio externo também pode ocorrer
nas raízes das plantas (GLASS, 2003). Para o NO3–, um transportador para o
efluxo já foi identificado. Esse transportador pertence à família NRT1, o
NAXT1, que é eletricamente acoplado à atividade da bomba de próton (H+)
dependente de ATP (H+/ATPase) e possui um transporte passivo de baixa
afinidade (SEGONZAC et al., 2007). Salienta-se também que esse
transportador tem sua expressão positivamente regulada em nível pós-
transcricional (SEGONZAC et al., 2007). Por um lado, pouco se sabe ainda
acerca do papel fisiológico de tais transportadores; por outro, acredita-se que o
efluxo de NH4+ nas raízes ocorre até mesmo quando NO3– for a única fonte de
absorção de N (FENG et al., 1994).
O transporte de NO3– entre a raiz e a parte aérea ocorre via xilema, e,
durante o seu carregamento, NO3– é transportado das células do parênquima
para as células do xilema. Para tal, dois transportadores do tipo NTR1
(NAXT1 e AtNRT1.5) fazem a exportação de NO3–, sendo NRT1.5, altamente
expresso em células do periciclo próximo ao xilema da raiz, responsável pelo
carregamento do xilema.
Amônio
Embora os níveis de NH4+ nos solos não sejam tão altos como são os de
NO3–, o NH4+ é também uma forma de obtenção do N e, para algumas plantas,
pode até mesmo se tornar a principal fonte desse nutriente (MEYER; STITT,
2001). Apesar de o excesso de NH4+ ser reconhecidamente tóxico, vários
organismos desenvolveram mecanismos para regular sua absorção e expelir o
NH4+ ativamente em processos dependentes de energia (BRITTO;
KRONZUCKER, 2002; KUMAGAI et al., 2011). Por exemplo, as plantas usam
dois sistemas para a absorção de NH4+ dos solos: um não saturante ou LATS; e
um saturante ou HATS, descritos, em detalhes, abaixo.
A absorção de NH4+ pelas raízes é realizada por transportadores
localizados na membrana plasmática e envolve o sistema de alta afinidade de
absorção, mediado por transportadores AMT (KHADEMI et al., 2004), e a
utilização de potencial de membrana. Em Arabidopsis, AMT1.1, 1.2 e 1.3 são
HATS envolvidos na absorção de NH4+ pelas raízes, sendo AMT1.1 expresso
na rizoderme e no córtex da raiz, enquanto AMT1.2 é expresso nas células
endoteliais da raiz (GAZZARRINI et al., 1999; LOQUÉ et al., 2006;
NEUHAUSER et al., 2007). Já AMT1.3 tem uma função regulatória na
indução de raízes laterais induzidas por NH4+ (LIMA et al., 2010). Enquanto
AMT1.3 e AMT1.5 são expressos só em raízes, AMT1.1 é expresso de forma
mais ampla, incluindo raízes, folhas e sépalas – em contraste com AMT1.4,
que não é encontrado em raízes, mas especificamente em grãos de pólen
(VON WITTGENSTEIN et al., 2014).
É importante mencionar também que incertezas ainda existem acerca
das espécies químicas exatas que são transportadas pelos AMTs, as quais
podem estar na forma hidrofóbica NH3 ou NH4+ carregado (ORTIZ-
RAMIREZ et al., 2011). Por exemplo, em feijão (Phaseolus vulgaris L.) o
PvAMT1.1 atua como transportador simporte de H+/NH4+ mediando o
transporte saturante eletrogênico HATS de NH4+ (VON WITTGENSTEIN et
al., 2014). Os transportadores AMT são regulados tanto em nível
transcricional como pós-traducional. Nesse contexto, níveis de transcritos
para AMT1.1, AMT1.2, AMT1.3 e AMT1.5 são regulados positivamente
durante condições de deficiência em N, sendo AMT1.1 e AMT1.2 regulados
pós-traducionalmente. Através de um controle dependente de fosforilação e
em resposta a altas concentrações externas de NH4+, resíduos de treonina na
porção C-terminal de AtAMT1.1 e AtAMT1.2 são fosforilados, provocando
um rápido mecanismo de desativação que previne o acúmulo tóxico de NH4+ (
LOQUÉ et al., 2007; NEUHAUSER et al., 2007).
Moléculas de NH4+podem ser, pelo menos temporariamente,
acumuladas nos vacúolos (Figura 3.2) cujo transporte, através do tonoplasto, é
mediado por proteínas TIP. Essas aquaporinas parecem estar envolvidas no
carregamento de NH3 para o interior do vacúolo, no qual é então convertido
novamente à sua forma NH4+ (LOQUÉ et al., 2005). Logo, a acidificação
vacuolar seria o principal fator que justificaria acúmulos de NH4+ no vacúolo.
De maneira interessante uma organização espacial das proteínas AMT1
foi previamente reconhecida. Assim, as proteínas associadas a um transporte
de alta afinidade, AMT1.3 e AMT1.5, estão localizadas em células externas da
raiz ou em pelos radiculares em que são capazes de absorver NH4+ da solução
do solo. Já entre os transportadores de baixa afinidade, AMT1.1 localiza-se na
endoderme ao longo da região que contém pelos radiculares, sugerindo uma
função na recuperação do NH4+ que é liberado pelo córtex ou que entra na raiz
via rota apoplástica (YUAN et al., 2007).
Assimilação e regulação
Uma vez absorvido do solo para as células vegetais, principalmente nas
raízes, o N é transportado até a parte aérea, conforme explicado
anteriormente, e a completa assimilação desse macronutriente está quase
concluída. Duas importantes etapas ainda ocorrem, não exclusivamente, em
folhas: (i) a redução do NO3–; e (ii) a assimilação em aminoácidos. Esses dois
processos bem como os fatores que regulam essas vias serão discutidos a
seguir.
Redução
A redução do NO3– pode ocorrer tanto em raízes quanto na parte aérea,
sendo, no entanto, separada em nível celular, uma vez que a redução de NO3–
a NO2– ocorre no citoplasma e a redução de NO2– a NH4+, em plastídeos
(Figura 3.2). A enzima NR catalisa a redução de NO3– a NO2–. A NR é um
homodímero, em que cada monômero está associado a três grupos prostéticos:
flavina-adenina dinucleotídeo – FAD, um grupo heme e um cofator
molibdênio – MoCo. Através da caracterização de mutantes em Arabidopsis
demonstrou-se que duas classes de genes codificam a NR: genes Nia,
responsáveis pela apoenzima, e genes Cnx, que codificam o cofator MoCo
(MASCLAUX-DAUBRESSE et al., 2010).
Depois da ação da NR, o NO2– é transportado para o plastídeo no qual é
reduzido a NH4+ pela enzima nitrito redutase – NiR. Os genes Nii, que
codificam NiR, já foram analisados em diversas espécies, e foi demonstrado
que o número de genes varia entre uma ou duas cópias (MEYER; STITT,
2001).
Assimilação em aminoácidos
O NH4+, originado não apenas da redução do NO3–, mas também de
outros processos, como a fotorrespiração, a reciclagem de
aminoácidos/proteínas, ou mesmo da absorção direta do solo, é
principalmente assimilado em plastídeos (Figura 3.2) pela ação sequencial das
enzimas GS e glutamina 2-oxoglutarato aminotransferase, ou glutamato
sintase – GOGAT. A GS fixa o NH4+ em uma molécula de glutamato,
formando uma molécula de glutamina. Essa glutamina formada reage em
seguida com 2-oxoglutarato para regenerar duas moléculas de glutamato em
uma reação catalisada pela GOGAT.
Pelo menos duas outras enzimas participam da assimilação do NH4+ em
adição ao ciclo GS/GOGAT. Nesse contexto, o metabolismo do glutamato
envolve também a interconversão entre glutamato e 2-oxoglutarato pela
desidrogenase do glutamato – GDH, enzima esta que atua principalmente em
condições de deficiência de C (como condições de escuro), apresentando papel
central no fornecimento de intermediários do ciclo do ácido cítrico. Ademais,
a sintetase da asparagina – AS citosólica catalisa a transferência dependente de
ATP do grupamento amina da glutamina para um aspartato, gerando, dessa
meneira, glutamato e asparagina. Importante mencionar que AS pode também
utilizar NH3 como substrato. A asparagina é o principal doador de N para a
biossíntese de aminoácidos em tecidos fotossintéticos (MASCLAUX-
DAUBRESSE et al., 2010; KRAPP, 2015).
Em plantas terrestres, a isoforma cloroplastídica da enzima GS é
essencial para a regeneração de N em condições fotorrespiratórias. Já as
isoformas citosólicas são codificadas por vários genes, com distintos padrões
de expressão e afinidade por NH4+ e glutamato. Ademais, dois tipos de
GOGAT estão presentes em plantas, incluindo a forma dependente de
ferredoxina – Fd, Fd-GOGAT, mais relacionada com condições
fotorrespiratórias em folhas, e a forma dependente de NADH, NADH-
GOGAT, que atua na assimilação de NH4+ (KRAPP, 2015).
Regulação
Cada uma das enzimas NR, NiR e GOGAT requer poder redutor, seja na
forma de NADH, seja na de Fd, ao passo que GS e AS precisam de ATP.
Registre-se também que esqueletos de C, principalmente ácidos orgânicos, são
essenciais para a assimilação de N-orgânico em aminoácidos, e sua produção é
mediada pelas enzimas descritas acima. Além disso, a disponibilidade de
esqueletos de C para a condensação de NH4+ e o fornecimento de ATP, Fd e
NADH, como produtos do metabolismo energético (fotossíntese, respiração e
fotorrespiração), são essenciais para a assimilação de N (MASCLAUX-
DAUBRESSE et al., 2010).
A regulação das enzimas responsáveis pela assimilação do N ocorre em
níveis transcricionais, traducionais e pós-traducionais. A NR é regulada por
vários estímulos ambientais e fatores internos, como níveis de substrato e
produto. Um dos principais fatores ambientais responsáveis por essa regulação
é a luz, tanto em nível de transcrição quanto de tradução (LILLO;
APPENROTH, 2001). Com respeito à expressão gênica de NR, a regulação
pode ocorrer mediada por fitocromos, por produtos da fotossíntese ou pela
própria enzima, mas não em plantas superiores, sendo esse processo descrito
apenas em Chlorella saccharophila e em Neurospora crassa, em que NR atua como
um fotorreceptor localizado na membrana plasmática (LILLO; APPENROTH,
2001). Já em relação ao nível de tradução, a atividade de NR pode ser regulada
a partir da sua fosforilação por cinases específicas, principalmente as
dependentes de Ca, bem como por produtos da fotossíntese e pelo nível de
nutrientes da planta (LILLO; APPENROTH, 2001). Em condições de escuro
com suplementação de carboidratos, há acúmulo de NR, demonstrando uma
regulação independente da luz (VINCENTZ et al., 1993). A NiR, por sua vez, é
regulada transcricionalmente em coordenação com a regulação de NR
(HEATH-PAGLIUSO et al., 1984; VINCENTZ et al., 1993). Como o NO2– é
tóxico, as células vegetais precisam manter o conteúdo de NiR elevado para
reduzir todo o NO2– (MASCLAUX-DAUBRESSE et al., 2010). Os genes
responsáveis pelo ciclo GS/GOGAT são expressos com variação espaço-
temporal, e as enzimas apresentam diferentes propriedades cinéticas e
expressão em resposta ao conteúdo de N – sugerindo, pois, funções não
redundantes (DRAGICEVIC et al., 2016). Os principais reguladores da
expressão dos genes para GS/GOGAT são a luz, conteúdo de NO3– e NH4+,
aminoácidos e açúcares (ISHIYAMA et al., 2004).
A absorção e a assimilação de N também envolvem adaptações no
desenvolvimento de raízes. Nesse contexto, a absorção é dependente de
características relacionadas à morfologia e à organização das raízes, uma vez
que as plantas ajustam não somente seu metabolismo e expressão gênica, mas
também sua estrutura morfológica para otimizar o acesso e captação de
recursos. As principais alterações induzidas por variações no nível de N são o
crescimento primário, a iniciação e a elongação de raízes laterais. A iniciação
de raízes laterais é reprimida por altas razões C:N, e esse processo é
dependente do transportador NRT2 em Arabidopsis (VIDAL; GUTIÉRREZ,
2008). Altas concentrações de NO3– ocasionam uma inibição sistêmica no
desenvolvimento/elongação de raízes laterais, provavelmente causada por
intermédio dos conteúdos de auxina nas raízes (WANG et al., 2004; VIDAL;
GUTIÉRREZ, 2008, 2012). O NO3– e o glutamato se relacionam com o
crescimento de maneiras opostas, em que o primeiro estimula o crescimento
radicular ao mesmo tempo que o segundo, por sua vez, o inibe. O efeito do
glutamato parece envolver vias de sinalização de auxina enquanto NO3–
antagoniza o efeito do glutamato utilizando a ação dos transportadores NRT1
(CANALES et al., 2014).
O NO3– por si só atua como um forte regulador do metabolismo
assimilativo de N em plantas. Nelas, tanto os eventos associados com o
transporte, redução e assimilação de N quanto o metabolismo energético de
aminoácidos e assimilação de outros nutrientes também são regulados pelo
NO3– (WANG et al., 2004).
Enxofre
É um macronutriente essencial para todos os organismos e encontra-se
disponível na natureza nas formas orgânica e inorgânica. O sulfato (SO42–),
forma oxidada do S, é utilizado pelas plantas para sintetizar compostos
orgânicos e está presente como um ânion bivalente em solução aquosa do solo
(LEUSTEK; SAITO, 1999; SAITO, 2000, 2004). Embora as formas reduzidas
inorgânicas e S-orgânico – nas formas sulfatadas ou de compostos sulfonados
– existam no ambiente, em geral elas não são utilizadas pelas plantas. Dentro
do ciclo do S na natureza, os microrganismos geralmente realizam a
degradação hidrolítica de compostos sulfatados e a decomposição de
compostos sulfonados, gerando o SO42–. O sulfato pode ser então incorporado
e utilizado, mantendo, portanto, o balanço entre funções assimilativas e
catabólicas tanto em plantas quanto em microrganismos (LEUSTEK; SAITO,
1999; SAITO, 2000, 2004).
A assimilação do SO42– ocorre em plantas, fungos e bactérias; importante
mencionar que metazoários e parasitas celulares perderam a habilidade de
assimilá-lo SO42– e são, portanto, dependentes de aminoácidos que contêm S
através da sua dieta ou pelo hospedeiro. Nesse contexto, reações assimilativas
são as principais diferenças entre o metabolismo do S em plantas e animais. O
SO42– é para as plantas uma fonte de S que pode ser utilizado nas vias
assimilativas, depois de ter sido absorvido pelas raízes e distribuído para vários
órgãos, nos quais efetivamente ocorre a redução do SO42– (SAITO, 2000).
A essencialidade do S pode ser evidenciada por sua presença nos
principais componentes celulares e pela diversidade das atividades biológicas
com metabólitos que contêm S (LEUSTEK; SAITO, 1999; SAITO, 2000,
2004). O resíduo de tiol, formador das pontes dissulfeto nos aminoácidos
cisteína e metionina, tem papel importante na estrutura proteica. De modo
semelhante, resíduos tióis encontrados nas moléculas de glutationa,
ferredoxina e tiorredoxina funcionam como centro ativo em muitas reações
enzimáticas e no controle de reações de redução-oxidação nas células
(BUCHANAN; BALMER, 2005). Cumpre mencionar também que o S é
encontrado não apenas como constituinte de aminoácidos, proteínas e
enzimas, mas também nos sulfolipídeos – essenciais para manutenção das
membranas cloroplastídicas –, em vitaminas e em cofatores de várias enzimas.
Além do mais, esse macronutriente é parte estrutural de vários metabólitos
secundários.
Nesse contexto, serão descritas, a seguir, as diversas formas encontradas
na natureza, as funções dos transportadores de S, a regulação transcricional e
pós-transcricional dos sistemas transportadores de SO42–, bem como o
envolvimento de enzimas nas etapas assimilativas, demonstrando, assim,
como essas vias regulatórias são altamente organizadas para a manutenção da
absorção e estocagem do conteúdo de S em plantas.
Ciclo biogeoquímico
As transformações sofridas pelo S ao longo de seu ciclo são ainda mais
complexas do que aquelas associadas ao ciclo do N em razão da variedade de
estados de oxidação e pelo fato de várias transformações ocorrerem
abioticamente (Figura 3.1). O S existe em várias formas e estados de oxidação,
mas apenas três caracterizam-se por serem significativos na natureza: –2
(sulfidril = R-SH, e sulfeto = HS- ou S2–), 0 (enxofre elementar = S0) e +6
(sulfato = SO42–). Outras formas importantes são: sulfito (SO32–), tiossulfato
(S2O32– ou S-SO3–) e tetrationato (S4O62–) (ERIKSEN et al., 1998).
Embora a maior parte do S na Terra se encontre em sedimentos e rochas
– na forma de minerais de SO42–, sobretudo gesso (CaSO4) e minerais de
sulfeto (pirita, FeS2) –, os oceanos são o reservatório mais significativo de S na
biosfera, em particular na forma de SO42–. Esta última, por sinal, é a principal
forma inorgânica de S, encontrada em vários minerais e em altas
concentrações nos oceanos. O SO42– caracteriza-se ainda como fonte primária
de S nas plantas, entrando via raízes em um processo de assimilação ativo
(ERIKSEN et al., 1998).
Mineralização e imobilização
Grande parte do S presente nos solos, em especial na camada arável,
encontra-se na forma orgânica, diretamente ligado ao C (C-S), como nos
aminoácidos, ou na forma de éster (C-O-S). Essas duas formas podem ser
mineralizadas com a consequente produção de SO42–. Ao ser assimilado na
matéria orgânica, o S associa-se diretamente à molécula de C ou O2 e N,
formando ésteres (fenol-sulfatos), glicosinolatos (açúcares sulfonados que
ocorrem em concentrações elevadas nas crucíferas), além de ser também parte
constituinte de aminoácidos, proteínas sulfonadas, antibióticos e vitaminas. É
importante considerar que os aminoácidos representam a principal forma de
ligação do S ao C-orgânico, respondendo por aproximadamente um terço do
S-orgânico encontrado no solo (TANG et al., 2009).
A atividade microbiana é de fundamental importância na regulação dos
fluxos entre as formas oxidadas e reduzidas de S, basicamente representadas
pelo SO42– inorgânico, S-orgânico lábil e S-orgânico não lábil. De modo geral,
em solos com boa aeração o ciclo do S compreende a
decomposição/mineralização de S-orgânico, com produção e imediata
imobilização do SO42– inorgânico (ERIKSEN et al., 1998; KOPACEK et al.,
2013).
A decomposição dessa matéria orgânica é realizada por microrganismos
heterotróficos que utilizam diversas rotas metabólicas, aeróbias e anaeróbias.
Essas reações envolvem enzimas do grupo das sulfatases presentes na parede
celular de fungos e bactérias (ERIKSEN et al., 1998). Uma vez mineralizado,
levando à formação de SO42–, o S-orgânico pode ser absorvido por plantas e
microrganismos em um processo denominado imobilização. As razões pelas
quais a mineralização e a imobilização ocorrem são dependentes de vários
fatores abióticos e, principalmente, do suprimento de substratos orgânicos. No
sistema solo-planta, a mineralização de S ocorre de forma mais intensa do que
em um sistema sem plantas, tendo em vista um maior crescimento de
microrganismos aptos a metabolizar substratos fosfatados na presença delas
(ERIKSEN et al., 1998; KOPACEK et al., 2013).
Absorção e transporte
Absorção
O S não é, em geral, um nutriente limitante, uma vez que (1) encontra-
se em relativa abundância no ambiente, e (2) sua absorção e assimilação são
rigidamente reguladas para manter a coordenação entre fornecimento de
SO42–, requerimentos para o crescimento de cada organismo e assimilação de
N.
As plantas adquirem o S principalmente via absorção radicular na forma
de SO42–. Como se trata de um íon negativamente carregado, essa absorção
ocorre contra um gradiente eletroquímico na membrana plasmática e é, assim,
realizado por um cotransporte ativo de H+ gerado pela H+/ATPase (LASS;
ULLRICH-EBERIUS, 1984; HAWKESFORD et al., 1993). O SO42– é
transportado para dentro do citosol pelo transporte do tipo simporte, que
exporta três H+ para cada SO42– que é importado ao citosol. Cabe mencionar
também que bactérias e cloroplastos de algas verdes não utilizam o transporte
simporte com H+ consumindo ATP na aquisição de SO42– (SIRKO et al., 1990;
LAUDENBACH; GROSSMAN, 1991), o que sugere a diversificação evolutiva
na aquisição de SO42– em organismos fotossintetizantes.
Múltiplos transportadores com distintas afinidades por SO42– estão
presentes em raízes, os chamados Sulfate Transporter – SULTR, ou
transportador de sulfato. Dos 14 genes que codificam transportadores de
SO42–, dois – SULTR1.1 e SULTR1.2, transportadores HATS que participam
da absorção de SO42– pelas células da epiderme do córtex radicular – têm
acúmulo de transcritos em resposta à limitação de S (TAKAHASHI et al.,
2000; VIDMAR et al., 2000; SHIBAGAKI et al., 2002; YOSHIMOTO et al.,
2002). Embora SULTR1.1 e SULTR1.2 tenham, aparentemente, função
redundante na absorção de SO42– nas raízes, algumas diferenças são
observadas. Em condições normais, maior expressão de SULTR1.2 é
observada, e a inibição da sua expressão reduz em 70% a absorção de SO42–
(MARUYAMA-NAKASHITA et al., 2003; YOSHIMOTO et al., 2007;
BARBERON et al., 2008). Em adição, duplos mutantes SULTR1.1/SULTR1.2
são capazes de sobreviver em meio suplementado com SO42–, sugerindo,
assim, a existência de uma outra via no sistema de absorção e transporte de
SO42– (YOSHIMOTO et al., 2007; BARBERON et al., 2008). Coletivamente,
esses resultados indicam que os HATS atuam em conjunto com outros
transportadores para garantir a absorção e transporte de SO42–.
Entre os LATS para SO42–, quatro – SULTR1.3, SULTR2.1, SULTR3.5
e SULTR2.2 – são expressos nas células do sistema vascular, ao passo que
SULTR4.1 e SULTR4.2 estão presentes em células do tonoplasto, facilitando o
transporte via efluxo de SO42– do vacúolo. Em contraste com a membrana
plasmática, o gradiente eletroquímico do tonoplasto favorece a difusão do
SO42– para dentro do vacúolo através de canais específicos. Cabe mencionar
que SULTR2.1 é capaz de restaurar o crescimento em mutantes para
transporte de SO42– em leveduras, bem como o influxo de SO42–
(TAKAHASHI et al., 1997, 2000). Esse transportador localiza-se
particularmente no periciclo e em células do parênquima do xilema nas raízes,
assim como em células do parênquima do xilema e floema da parte aérea
(TAKAHASHI et al., 1997, 2000).
Essa expressão espacial diferente sugere um processo de facilitação da
distribuição do SO42– nos diferentes tecidos em condições de limitação desse
nutriente. A indução na expressão de SULTR2.1 no cilindro central da raiz
previne a perda de SO42– das células do parênquima e contribui para a
manutenção do transporte simplástico de SO42– para o xilema nas raízes. No
entanto, a repressão de SULTR2.1 na parte aérea previne a recuperação do
SO42– das células do parênquima dos tecidos vasculares, permitindo também
que o SO42– seja distribuído de forma mais eficiente para as células do mesofilo
localizadas distante das células vasculares.
O SULTR3.5, um LATS, é expresso no periciclo e nas células do
parênquima do xilema da raiz (KATAOKA et al., 2004b). A sua expressão
sobrepõe-se com o acúmulo de transcritos para o gene SULTR2.1 em
condições de limitação de SO42– (TAKAHASHI et al., 1997, 2000). Não
obstante, os níveis dos transcritos para o gene SULTR3.5 não parecem ser
modulados pela concentração de SO42– (KATAOKA et al., 2004b), e,
consequentemente, a falta de SO42– pode limitar, até certo ponto, o transporte
desse íon da raiz para a parte aérea em condições de limitação de S.
Durante condições de limitada disponibilidade de S, o estoque vacuolar
de SO42– pode ser utilizado. Nessas circunstâncias, transportadores que
exportam SO42– dos vacúolos apresentam contribuição fundamental no
processo de remobilização. Em Arabidopsis, SULTR4.1 e SULTR4.2,
transportadores localizados na membrana vacuolar, o tonoplasto, são
expressos na parte radicular e na parte aérea, predominantemente
encontrados nos vasos (Figura 3.2). Nesses tecidos, em particular, a expressão
de SULTR4.2 é menos abundante e é fortemente induzida em condições de
limitada disponibilidade de S (KATAOKA et al., 2004a). O SO42– que se
encontra no citoplasma é transportado para dentro dos plastídeos pelas
proteínas Triose-Phosphate Transporter – TPT, ou transportador de triose-
fosfato (HAMPP; ZIEGLER, 1977).
Transporte
Xilema
O transporte de SO42– da raiz para a parte aérea inicia-se com a sua
absorção a partir dos pelos e epiderme radiculares, sendo transferido
horizontalmente através dos plasmodesmos para os vasos do xilema. Nas
células do córtex, SULTR1.1 e SULTR1.2 apresentam papel importante na
recuperação do SO42– presente no apoplasto para a via simplástica
(TAKAHASHI et al., 2000; SHIBAGAKI et al., 2002; YOSHIMOTO et al.,
2002). Uma vez que o SO42– tenha sido transferido para o cilindro central, a
distribuição para o periciclo e para as células do parênquima pode ocorrer
pelas conexões simplásticas com o xilema desempenhadas, provavelmente,
pelos transportadores SULTR2.1 e SULTR3.5 (KATAOKA et al., 2004b).
Assim como outros macronutrientes aniônicos, o SO42– é ativamente
acumulado pelas células da raiz. Embora a redução e a assimilação possam ser
realizadas nos plastídeos das raízes, a maior parte do processamento e da
demanda por S ocorre na parte aérea, em que os cloroplastos são os locais da
assimilação de SO42– em cisteína, glutationa e outros metabólitos. De forma
semelhante a outros minerais, o SO42– é transportado das raízes para o xilema,
e do xilema para as folhas, nas quais entra nas células mesofílicas, e é
transportado através do envelope cloroplastídico. Tanto nas raízes como na
parte aérea, o SO42– pode ser transportado através do tonoplasto e estocado
nos vacúolos (Figura 3.2). Nos tonoplastos, H+/ATPases e H+/pirofosfatases
bombeiam H+ de modo contínuo do citoplasma para o lúmem vacuolar,
fornecendo internamente um potencial elétrico positivo (MARTINOIA et al.,
2000, 2007). Em algumas condições, o SO42– pode ser transportado para o
interior dos vacúolos pelo tonoplasto por meio de canais iônicos ou
carreadores. Assim, estudos com vacúolos isolados dos mesofilos indicam uma
cinética bifásica para o influxo de SO42– para os vacúolos, sugerindo a
existência de componentes saturantes (KAISER et al., 1989). No caso do
efluxo de SO42– dos vacúolos, podem ser usadas H+/ATPases e
H+/pirofosforilases. De forma alternativa, um sistema de troca aniônica parece
facilitar o influxo e o efluxo de SO42– através da membrana do tonoplasto.
Além dos papéis na mobilização intracelular do pool de SO42– vacuolar,
SULTR4.1 e SULTR4.2 também controlam a quantidade de SO42– transferido
das células do periciclo e do parênquima para o xilema (KATAOKA et al.,
2004a). Tomadas em conjunto, essas informações sugerem que o transporte de
S no xilema seja governado por diferentes componentes cuja resposta
diferencial à deficiência de S mostra-se importante para o fluxo adequado de S
nas plantas e para a tolerância à limitada disponibilidade desse elemento.
Floema
Embora o S seja um elemento pouco móvel, no que diz respeito à sua
translocação no sentido fonte-dreno, certo aumento de sua mobilidade nos
elementos crivados do floema é comumente observado. A S-metilmetionina e
a glutationa são consideradas as formas de S transportadas via floema
(BOURGIS et al., 1999; HERSCHBACH et al., 2000; KUZUHARA et al.,
2000). O SO42– é encontrado na seiva do floema, pois SULTR2.1 está
localizado nas células do parênquima que envolvem os elementos crivados e as
células companheiras (TAKAHASHI et al., 2000). SULTR2.1 é expresso tanto
em células do xilema quanto em células do floema na parte aérea, e o nível dos
seus transcritos diminui na parte aérea em condições de limitação de S
(TAKAHASHI et al., 2000), sugerindo que a quantidade de SO42– entregue ao
floema possa diminuir quando o S é limitante. Quando as quantidades de
SO42– são favoráveis, seu transporte a partir das folhas mais velhas para as
novas ocorre, provavelmente, de modo ativo através de elementos crivados.
Entretanto, quando o SO42– é limitante, a distribuição local de SO42– dentro
das folhas parece ser mais importante que entregar fontes de S a longa
distância para outras folhas ou órgãos-dreno (YOSHIMOTO et al., 2002).
SULTR1.3 é expresso em células companheiras do floema, e a sua deleção
restringe a transferência de S a partir das folhas cotiledonares para o
meristema da parte aérea e da raiz (YOSHIMOTO et al., 2002). Em condições
limitantes de S sua expressão aumenta, sugerindo a importância na absorção
de SO42– e, assim, a manutenção do metabolismo de SO42– nas células
companheiras do floema em conjunto com a expressão de SULTR2.2.
Assimilação e regulação
A partir do momento em que o S é absorvido e transportado pela planta,
como anteriormente discutido, esse nutriente encontra-se disponível para, de
fato, ser incorporado em moléculas orgânicas. As principais etapas que
ocorrem nesse processo assimilativo serão discutidas a seguir.
Assimilação
A assimilação do S ocorre tanto em tecidos autotróficos quanto em
heterotróficos, havendo variação apenas na fonte de energia para tal processo,
com poder redutor derivado da fotossíntese ou da respiração,
respectivamente. Ocorrem duas grandes vias de assimilação do S em plantas:
uma em que o SO42– é reduzido a S2– e é então incorporado em cisteína, e
outra em que o SO42– é ativado na forma de 3’-fosfoadenosina 5’-fosfosulfato –
PAPS e adicionado em moléculas orgânicas (sulfonação). Tais vias podem
ocorrer tanto no citosol quanto em plastídeos (LEUSTEK; SAITO, 1999;
SAITO, 2004), e ambas compartilham o primeiro passo, a ativação do SO42–.
A assimilação por incorporação do S em cisteínas pode ser dividida em
três etapas: (1) ativação do SO42–, etapa compartilhada com a assimilação via
PAPS; (2) redução do SO42– a S2–; e (3) incorporação do S2– em cisteína. O
único compartimento celular em que podem ocorrer todas as três etapas são os
plastídeos; assim, a ativação pode ocorrer no citosol ou nos plastídeos e a
incorporação de S em cisteínas, em qualquer compartimento em que ocorra
síntese proteica (LEUSTEK, 2002; DROUX, 2004; TAKAHASHI et al., 2011).
O SO42– é quimicamente inerte e precisa ser ativado. Em plantas, a
redução do SO42– ocorre em apenas um passo de ativação, diferentemente do
descrito para microrganismos, em que são necessários dois passos de ativação.
A enzima ATP sulfurilase – ATPS hidrolisa a ligação entre os fosfatos alfa e
beta do ATP e adiciona o SO42– no fosfato alfa, produzindo a adenosina 5’-
fosfosulfato – APS (DROUX, 2004; TAKAHASHI, 2010; TAKAHASHI et al.,
2011).
Depois da produção de APS, dois caminhos são possíveis: a produção de
PAPS pela enzima APS cinase ou a continuação da redução a SO32– pela
enzima APS redutase – APR, que utiliza a glutationa como doador de elétrons.
A redução do SO42– ativado (na forma de APS) ocorre numa reação de duas
etapas em que há um ganho de oito equivalentes redutores (ou oito elétrons)
para produzir um átomo reduzido de S, na forma de S2–, e em seguida esse
SO32– é então reduzido a S2– pela SiR (DROUX, 2004; SAITO, 2004).
A etapa final da assimilação do SO42– é a incorporação do S no primeiro
aminoácido que contém o radical tiol, a cisteína. Duas enzimas estão
envolvidas nessa etapa: a serina acetiltransferase – SAT e a o-aciltransferase
tiol liase – OASTL, e os substratos são o S2– e o-acilserina – OAS. A enzima
SAT catalisa a síntese do precursor OAS a partir de acetil-CoA e serina; já a
enzima OASTL catalisa de fato a síntese de cisteína (LEUSTEK; SAITO, 1999;
DROUX, 2004; SAITO, 2004).
Regulação
Toda a via assimilativa do S em plantas pode ser regulada por flutuações
na concentração extracelular de SO42–. Desse modo, em condições com baixa
disponibilidade de SO42–, as plantas parecem se adaptar e modular a atividade
dos transportadores desse íon (TAKAHASHI et al., 1997).
A SiR é uma enzima dependente de ferredoxina – Fd e muito similar à
NiR quanto à estrutura, podendo até reduzir NO2–, mas numa magnitude
muito baixa; é possível que tenham se originado a partir de uma duplicação
gênica (IMAMURA et al., 2010). Diferentemente da ATPS e da APR, os níveis
de expressão de SiR não são afetados pela variação nutricional de S. O S2– é
um ânion tóxico que em excesso pode danificar as células. Por isso, a SiR é
mantida sempre em demasia, e uma redução significativa de seu conteúdo
resulta numa redução substancial do crescimento de plantas (KOPRIVA et al.,
2007, 2015).
A reação catalisada pela SAT se apresenta como uma conexão entre os
metabolismos do S e do N, e essa enzima tem função regulatória na
assimilação de S. A Arabidopsis possui cinco isoformas de SAT; dessas, três
atuam principalmente em condições normais de crescimento e são inibidas
alostericamente pela cisteína produzida ao fim da assimilação de S. As outras
duas isoformas são induzidas em condições de estresse (por exemplo,
deficiência nutricional e excesso de metais pesados) e parecem estar
relacionadas a respostas adaptativas a tais circunstâncias (SAITO, 2004).
Além disso, a formação de cisteína é controlada por um circuito
regulatório múltiplo que envolve SAT e OASTL. Ambas formam um
complexo enzimático e são as únicas enzimas da via assimilativa do S que se
encontram no citoplasma, em plastídeos e em mitocôndrias. A concentração
de OASTL é muito maior que a de SAT, o que sugere que apenas uma parte da
OASTL forma esse complexo. A quantidade de S2– e OAS controlam a
estabilidade do complexo de maneira inversa. A deficiência em S leva ao
aumento de OAS e a consequente dissociação do complexo. A SAT de forma
livre apresenta atividade muito reduzida e limitada; logo, há acúmulo de S2–, o
que induz a formação do complexo SAT/OASTL (SAITO, 2004).
Conclusões e perspectivas
Nas últimas décadas, foram obtidos progressos expressivos na
compreensão dos mecanismos básicos relativos à assimilação, absorção,
transporte e incorporação em compostos orgânicos em relação aos
macronutrientes N e S. Muitos avanços foram possíveis graças ao uso de
ferramentas moleculares e à utilização de plantas modelos, como a Arabidopsis
e seus mais variados mutantes. Ademais, tanto para o N quanto para o S, as
principais proteínas e genes responsáveis pela metabolização em plantas foram
previamente identificados. Tomadas em conjunto, essas informações,
associadas às interações ambientais e à compreensão dos ciclos
biogeoquímicos desses macronutrientes, fornecem o aporte básico necessário
para o desenvolvimento de cultivares e melhoramento genético de culturas de
interesse, no que tange ao aumento ou manutenção de produtividade. Além
disso, tem-se atualmente todas as ferramentas requeridas para aplicações
biotecnológicas com interesse nutra- e farmacêutico, e quanto à
sustentabilidade e eficiência no uso de N e S.
Não obstante, sabe-se que deficiências nos níveis de N e S geram
alterações no crescimento e no metabolismo vegetal. Limitações em ambos os
nutrientes não somente limitam a capacidade de sintetizar cisteína, mas
também reduzem a síntese de proteínas e, por consequência, a taxa com que
todos os aminoácidos são incorporados em proteínas (LEUSTEK, 2002).
Nesse contexto, o maior desafio atual reside na capacidade de melhorar a
eficiência de uso desses nutrientes, incluindo otimização no suprimento e
demanda, maximização nas taxas de absorção e assimilação, com perdas
mínimas, que culminem em maiores produtividades. Como discutido ao longo
deste capítulo, grandes oportunidades para investigar em profundidade tais
desafios por meio de técnicas agronômicas, melhoramento clássico e
molecular são evidentes. Embora muito do nosso conhecimento tenha sido
obtido em condições de laboratório com plantas modelo – como a Arabidopsis
thaliana –, existe ainda enorme necessidade de validação em condições de
campo sob diferentes ambientes, o que se espera que aconteça em um futuro
próximo. Assim, todos os avanços discutidos aqui, colocados em um contexto
de planta inteira e condições ambientais distintas, possibilitarão a identificação
de características de interesse cujas relações genótipo-ambiente-fenótipo serão
otimizadas, em larga escala, para produção sustentável.
Referências
ANDREWS, M. The partitioning of nitrate assimilation between root and shoot of higher
plants. Plant, Cell and Environment, Nova York, v. 9, n. 7, p. 511-519, 1986.
BARBERON, M.; BERTHOMIEU, P.; Clairotte, M.; SHIBAGAKI, N.; DAVIDIAN, J. C.;
GOSTI, F. Unequal functional redundancy between the two Arabidopsis thaliana high-
affinity sulphate transporters SULTR1;1 and SULTR1;2. New Phytologist, Oxford, v. 180,
n. 3 p. 608-619, 2008.
BEUVE, N.; RISPAIL, N.; LAINE, P.; CLIQUET, J. B.; OURRY, A.; LE DEUNFF, E. Putative
role of gamma -aminobutyric acid (GABA) as a long-distance signal in up-regulation of
nitrate uptake in Brassica napus L. Plant, Cell and Environment, Nova York, v. 27, n. 8, p.
1035-1046, 2004.
BI, Y. M.; WANG, R. L.; ZHU, T.; ROTHSTEIN, S. J. Global transcription profiling reveals
differential responses to chronic nitrogen stress and putative nitrogen regulatory components
in Arabidopsis. BMC Genomics, Londres, v. 8, n. 281, p. 1-17, 2007.
BOURGIS, F.; ROJE, S.; NUCCIO, M. L.; FISHER, D. B.; MITCHELL, C.; TARCZYNSKI,
M. C.; LI, C.; HERSCHBACH, C.; RENNENBERG, H.; PIMENTA, M. J.; SHEN, T. L.;
GAGE, D. A.; HANSON, A. D. S-methylmethionine plays a major role in phloem sulfur
transport and is synthesized by a novel type of methyltransferase. The Plant Cell, Maryland,
v. 11, n. 8, p. 1485-1498, 1999.
BOWMAN, D. C; PAUL, J. L. Foliar absorption of urea, ammonium, and nitrate by perennial
ryegrass turf. Journal of the American Society for Horticultural Science, Virginia, v.
117, n. 1, p. 75-79, 1992.
BRITTO, D. T.; KRONZUCKER, H. J. NH4+ toxicity in higher plants: a critical review.
Journal of Plant Physiology, Jena, v. 159, n. 6, p. 567-584, 2002.
BUCHANAN, B. B.; BALMER, Y. Redox regulation: a broadening horizon. Annual Review
of Plant Biology, California, v. 56, p. 187-220, 2005.
CAMPO, R. J.; ARAUJO, R. S.; HUNGRIA, M. Nitrogen fixation with the soybean crop in
Brazil: compatibility between seed treatment with fungicides and bradyrhizobial inoculants.
Symbiosis, Pensilvânia, v. 48, n. 1, p.154-163, 2009.
CANALES, J.; MOYANO, T. C.; VILLARROEL, E.; GUTIÉRREZ, R. A. Systems analysis of
transcriptome data provides new hypotheses about Arabidopsis root response to nitrate
treatments. Frontiers in Plant Science, Lausanne, v. 5, p. 1-14, 2014.
DANIEL-VEDELE, F.; FILLEUR, S.; CABOCHE, M. Nitrate transport: a key step in nitrate
assimilation. Current Opinion in Plant Biology, Londres, v. 1, n. 3, p. 235-239, 1998.
DROUX, M. Sulfur assimilation and the role of sulfur in plant metabolism: a survey.
Photosynthesis Research, Haia, v. 79, n. 3, p. 331-348, 2004.
ERIKSEN, J.; MURPHY, M.; SCHNUG, E. The soil sulphur cycle. Sulphur in
agroecosystems, Amsterdã, v. 2, p. 39-73, 1998.
ESTEVES-FERREIRA, A. A.; CAVALCANTI, J. H. F.; ALVARENGA, L. V.; VAZ, M. G. M.
V.; NUNES-NESI, A.; ARAÚJO, W. L. Cyanobacterial nitrogenases: phylogenetic diversity,
regulation and functional predictions. Genetics and Molecular Biology, Ribeirão Preto, v.
40, n. 1, p. 261-275, 2017.
FENG, H.; YAN, M.; FAN, X.; LI, B.; SHEN, Q.; MILLER, A. J.; XU, G. Spatial expression
and regulation of rice high-affinity nitrate transporters by nitrogen and carbon status.
Journal of Experimental Botany, Oxford, v. 62, n. 7, p. 2319-2332, 2011.
FENG, J.; VOLK, R. J.; JACKSON, W. A. Inward and outward transport of ammonium in
roots of maize and sorghum: contrasting effects of methionine sulphoximine. Journal of
Experimental Botany, Oxford, v. 45, n. 4, p. 429-439, 1994.
FRANCHE, C.; LINDSTRÖM, K.; ELMERICH, C. Nitrogen-fixing bacteria associated with
leguminous and non-leguminous plants. Plant and Soil, Haia, v. 321, n. 1, p. 35-59, 2009.
GARNETT, T.; CONN, V.; KAISER, B. N. Root based approaches to improving nitrogen use
efficiency in plants. Plant, Cell and Environment, Nova York, v. 32, n. 9, p. 1272-1283,
2009.
GAZZARRINI, S.; LEJAY, L.; GOJON, A.; NINNEMANN, O.; FROMMER, W. B.; VON
WIRÉN, N. Three functional transporters for constitutive, diurnally regulated, and
starvation-induced uptake of ammonium into Arabidopsis roots. The Plant Cell, Maryland,
v. 11, n. 5, p. 937-948, 1999.
GILES, J. Nitrogen study fertilizes fears of pollution. Nature, Londres, v. 433, n. 7028, p. 791,
2005.
GLASS, A. D. M. Nitrogen use efficiency of crop plants: physiological constraints upon
nitrogen absorption. Critical Reviews in Plant Sciences, v. 22, n. 5, p.453-470, 2003.
GLASS, A. D. M.; SHAFF, J. E.; KOCHIAN, L. V. Studies of the uptake of nitrate in barley:
IV. Electrophysiology. Plant Physiology, Pensilvânia, v. 99, n. 2, p.456-463, 1992.
GOOD, A. G.; SHRAWAT, A. K.; MUENCH, D. G. Can less yield more? Is reducing nutrient
input into the environment compatible with maintaining crop production? Trends in Plant
Science, Oxford, v. 9, n. 12, p. 597-605, 2004.
GUIMARÃES, A. A.; JARAMILLO, P. M. D.; NÓBREGA, R. S. A.; FLORENTINO, L. A.;
SILVA, K. B.; DE SOUZA, M. F. M. Genetic and symbiotic diversity of nitrogen-fixing
bacteria isolated from agricultural soils in the western amazon by using cowpea as the trap
plant. Applied and Environmental Microbiology, Washington, DC, v. 78, n. 18, p. 6726-
6733, 2012.
GUTIÉRREZ, R. A. Systems biology for enhanced plant nitrogen nutrition. Science, Nova
York, v. 336, n. 6089, p.1673-1675, 2012.
HAMPP, R.; ZIEGLER, I. Sulfate and sulfite translocation via the phosphate translocator of
the inner envelope membrane of chloroplasts. Planta, Berlim, v. 137, n.3, p. 309-312, 1977.
HAWKESFORD, M.; DAVIDIAN, J-C.; GRIGNON, C. Sulphate/proton cotransport in
plasma-membrane vesicles isolated from roots of Brassica napus L.: increased transport in
membranes isolated from sulphur-starved plants. Planta, Berlim, v. 190, n. 3, p. 297-304,
1993.
HEATH-PAGLIUSO, S.; HUFFAKER, R. C.; ALLARD, R. W. Inheritance of nitrite
reductase and regulation of nitrate reductase, nitrite reductase, and glutamine synthetase
isozymes. Plant Physiology, Pensilvânia, v. 76, n. 2, p. 353-358, 1984.
HERSCHBACH, C.; VAN DER ZALM, E.; SCHNEIDER, A.; JOUANIN, L.; KOK, L. J. DE;
RENNENBERG, H. Regulation of sulfur nutrition in wild-type and transgenic poplar over-
expressing gamma -glutamylcysteine synthetase in the cytosol as affected by atmospheric H2S.
Plant Physiology, Pensilvânia, USA, v. 124, n. 1, p. 461-474, 2000.
ISHIYAMA, K.; INOUE, E.; WATANABE-TAKAHASHI, A.; OBARA, M.; YAMAYA, T.;
TAKAHASHI, H. Kinetic properties and ammonium-dependent regulation of cytosolic
isoenzymes of glutamine synthetase in Arabidopsis. Journal of Biological Chemistry,
Maryland, v. 279, n. 16, p. 16598-16605, 2004.
JIANG, N.; LIU, W.; LI, Y.; WU, H.; ZHANG, Z.; ALEXANDRE, G.; ELMERICH, C.; XIE, Z.
A chemotaxis receptor modulates nodulation during the Azorhizobium caulinodans-Sesbania
rostrata symbiosis. Applied and Environmental microbiology, Washington, DC, v. 82, n.
11, p. 3174-3184, 2016.
KAISER, G.; MARTINOIA, E.; SCHRÖPPEL-MEIER, G.; HEBER, U. Active Transport of
sulfate into the vacuole of plant cells provides halotolerance and can detoxify SO2. Journal of
Plant Physiology, Jena, v. 133, n. 6, p. 756-763, 1989.
KANT, S.; BI, Y. M.; ROTHSTEIN, S. J. Understanding plant response to nitrogen limitation
for the improvement of crop nitrogen use efficiency. Journal of Experimental Botany,
Oxford, v. 62, n. 4, p. 1499-1509, 2010.
KATAOKA, T.; HAYASHI, N.; YAMAYA, T.; TAKAHASHI, H. Root-to-shoot transport of
sulfate in Arabidopsis: evidence for the role of SULTR3;5 as a component of low-affinity
sulfate transport system in the root vasculature. Plant Physiology, Pensilvânia, v. 136, n. 4,
p. 4198-4204, 2004a.
KATAOKA, T.; WATANABE-TAKAHASHI, A.; HAYASHI, N.; OHNISHI, M.; MIMURA,
T.; BUCHNER, P.; HAWKESFORD, M. J.; YAMAYA, T.; TAKAHASHI, H. Vacuolar sulfate
transporters are essential determinants controlling internal distribution of sulfate in
Arabidopsis. The Plant Cell, Maryland, v. 16, n. 10, p. 2693-2704, 2004b.
KHADEMI, S.; O’CONNELL. J.; REMIS, J.; ROBLES-COLMENARES, Y.; MIERCKE, L. J.
W.; STROUD, R. M. Mechanism of ammonia transport by Amt/MEP/Rh: structure of AmtB
at 1.35 A. Science, Nova York, v. 305, n. 5690, p. 1587-1594, 2004.
KIBA, T.; KUDO, T.; KOJIMA, M.; SAKAKIBARA, H. Hormonal control of nitrogen
acquisition: roles of auxin, abscisic acid, and cytokinin. Journal of Experimental Botany,
Oxford, v. 62, n. 4, p. 1399-1409, 2011.
KIRK, G. J. D.; KRONZUCKER, H. J. The potential for nitrification and nitrate uptake in the
rhizosphere of wetland plants: a modelling study. Annals of Botany, Oxford, v. 96, n. 4, p.
639-646, 2005.
KOBILER, D.; COHEN-SHARON, A.; TEL-OR, E. Recognition between the N2-fixing
Anabaena and the water fern Azolla. FEBS Letters, Amsterdã, v. 133, n. 1, p. 157-160, 1981.
KOJIMA, S.; BOHNER, A.; GASSERT, B.; YUAN, L.; VON WIRÉN, N. AtDUR3 represents
the major transporter for high-affinity urea transport across the plasma membrane of
nitrogen-deficient Arabidopsis roots. The Plant Journal, Oxford, v. 52, n. 1, p. 30-40, 2007.
KOPACEK, J.; COSBY, B. J.; EVANS, C. D.; HRUSKA, J.; MOLDAN, F.; OULEHLE, F.;
SANTRUCKOVA, H.; TAHOVSKA, K.; WRIGHT, R. F. Nitrogen, organic carbon and
sulphur cycling in terrestrial ecosystems: linking nitrogen saturation to carbon limitation of
soil microbial processes. Biogeochemistry, Haia, v. 115, n. 1, p. 33-51, 2013.
KOPRIVA, S.; CALDERWOOD, A.; WECKOPP, S. C.; KOPRIVOVA, A. Plant sulfur and
Big Data. Plant Science, Shannon, v. 241, p. 1-10, 2015.
KOPRIVA, S.; WIEDEMANN, G.; RESKI, R. Sulfate assimilation in basal land plants: what
does genomic sequencing tell us? Plant Biology, Stuttgart, v. 9, n. 5, p. 556-564, 2007.
KOTUR, Z.; GLASS, A. D. M. A 150 kDa plasma membrane complex of AtNRT2.5 and
AtNAR2.1 is the major contributor to constitutive high-affinity nitrate influx in Arabidopsis
thaliana. Plant, Cell and Environment, Nova York, v. 38, n. 8, p. 1490-1502, 2015.
KOX, M. A. R.; JETTEN, M. S. M. The nitrogen cycle. In: LUGTENBERG, B. (ed.).
Principles of plant-microbe interactions. Berlim: Springer, 2015. p. 205-214.
KRAPP, A. Plant nitrogen assimilation and its regulation: a complex puzzle with missing
pieces. Current Opinion in Plant Biology, Londres, v. 25, p. 115-122, 2015.
KRAPP, A.; DAVID, L. C.; CHARDIN, C.; GIRIN, T.; MARMAGNE, A.; LEPRINCE, A. S.,
CHAILLOU, S.; FERRARIO-MERY, S.; MEYER, C.; DANIEL-VEDELE, F. Nitrate transport
and signalling in Arabidopsis. Journal of Experimental Botany, Oxford, v. 65, n. 3, p. 789-
798, 2014.
KROUK, G.; CRAWFORD, N. M.; CORUZZI, G. M.; TSAY, Y. F. Nitrate signaling:
adaptation to fluctuating environments. Current Opinion in Plant Biology, Londres, v. 13,
n. 3, p. 265-272, 2010.
KUMAGAI, E.; ARAKI, T.; UENO, O. Ammonia emission from leaves of different rice
(Oryza sativa L.) cultivars. Plant Production Science, Quioto, v. 14, n. 3, p. 249-253, 2011.
LEE, Y. H.; FOSTER, J.; CHEN, J.; VOLL, L. M.; WEBER, A. P. M.; TEGEDER, M. AAP1
transports uncharged amino acids into roots of Arabidopsis. The Plant Journal, Oxford, v.
50, n. 2, p. 305-319, 2007.
LÉRAN, S.; VARALA, K.; BOYER, J. C,; CHIURAZZI, M.; CRAWFORD, N.; DANIEL-
VEDELE, F.; DAVID, L.; DICKSTEIN, R.; FERNANDEZ, E.; FORDE, B.; GASSMANN, W.;
GEIGER, D.; GOJON, A.; GONG, J. M.; HALKIER, B. A.; HARRIS, J. M.; HEDRICH, R.;
LIMAMIM, A. M.; RENTSCH, D.; SEO, M.; TSAY, F.; ZHANG, M.; CORUZZI, G.;
LACOMBE, B. A unified nomenclature of NITRATE TRANSPORTER 1/PEPTIDE
TRANSPORTER family members in plants. Trends in Plant Science, Oxford, v. 19, n. 1, p.
5-9, 2014.
LEUSTEK, T. Sulfate metabolism. The Arabidopsis book, Washington, DC, v. 2002, n. 1,
2002.
LEUSTEK, T; SAITO, K. Sulfate transport and assimilation in plants. Plant Physiology,
Pensilvânia, v. 120, n. 3, p.637-644, 1999.
LEZHNEVA, L.; KIBA, T.; FERIA-BOURRELLIER, A. B.; LAFOUGE, F.; BOUTET-
MERCEY, S.; ZOUFAN, P.; SAKAKIBARA, H.; DANIEL-VEDELE, F.; KRAPP, A. The
Arabidopsis nitrate transporter NRT2.5 plays a role in nitrate acquisition and remobilization
in nitrogen-starved plants. The Plant Journal, Oxford, v. 80, n. 2, p. 230-241, 2014.
LI, J. Y.; FU, Y. L; PIKE, S. M.; BAO, J.; TIAN, W.; ZHANG, Y.; CHEN, C. Z.; ZHANG, Y.;
LI, H. M.; HUANG, J.; SCHROEDER, J .I.; GASSMANN, W.; GONG, J. M. The Arabidopsis
nitrate transporter NRT1.8 functions in nitrate removal from the xylem sap and mediates
cadmium tolerance. The Plant Cell, Maryland, v. 22, n. 5, p. 1633-1646, 2010.
LI, W.; WANG, Y.; OKAMOTO, M.; CRAWFORD, N. M.; SIDDIQI, M. Y.; GLASS, A. D.
M. Dissection of the AtNRT2.1:AtNRT2.2 Inducible high-affinity nitrate transporter gene
cluster. Plant Physiology, Pensilvânia, v. 143, n. 1, p. 425-433, 2006.
LI, Y. L.; FAN, X. R.; SHEN, Q. R. The relationship between rhizosphere nitrification and
nitrogen-use efficiency in rice plants. Plant, Cell and Environment, Nova York, v. 31, n. 1,
p. 73-85, 2018.
LILLO, C.; APPENROTH, K. J. Light regulation of nitrate reductase in higher plants: which
photoreceptors are involved? Plant Biology, Stuttgart, v. 3, n. 5, p. 455-465, 2001.
LIMA, J. E.; KOJIMA, S.; TAKAHASHI, H.; VON WIRÉN, N. ammonium triggers lateral
root branching in Arabidopsis in an AMMONIUM TRANSPORTER1;3-dependent manner.
The Plant Cell, Maryland, v. 22, n. 11, p. 3621-3633, 2010
LIN, S. H.; KUO, H. F.; CANIVENC, G.; LIN, C. S.; LEPETIT, M.; HSU, P. K.; TILLARD, P.;
LIN, H. L.; WANG, Y. Y.; TSAI, C. B.; GOJON, A.; TSAY, Y. F. Mutation of the Arabidopsis
NRT1.5 nitrate transporter causes defective root-to-shoot nitrate transport. The Plant Cell,
Maryland, v. 20, n. 9, p. 2514-2528, 2008.
LIU, K. H.; HUANG, C. Y.; TSAY, Y. F. CHL1 is a dual-affinity nitrate transporter of
Arabidopsis involved in multiple phases of nitrate uptake. The Plant Cell, Maryland, v. 11,
n. 5, p. 865-874, 1999.
LIU, L. H.; LUDEWIG, U.; GASSERT, B.; FROMMER, W. B.; VON WIRÉN, N. Urea
transport by nitrogen-regulated tonoplast intrinsic proteins in Arabidopsis. Plant
Physiology, Pensilvânia, v. 133, n. 3, p. 1220-1228, 2003.
LOQUÉ, D.; LALONDE, S.; LOOGER, L. L.; VON WIRÉN, N.; FROMMER, W. B. A
cytosolic trans-activation domain essential for ammonium uptake. Nature, Londres, v. 446,
n. 7132, p. 195-198, 2007.
LOQUÉ, D.; LUDEWIG, U.; YUAN, L.; VON WIRÉN, N. Tonoplast intrinsic proteins
AtTIP2;1 and AtTIP2;3 facilitate NH3 transport into the vacuole. Plant Physiology,
Pensilvânia, v. 137, n. 2, p. 671-680, 2005.
LOQUÉ, D.; YUAN, L.; KOJIMA, S.; GOJON, A.; WIRTH, J.; GAZZARRINI, S.;
ISHIYAMA, K.; TAKAHASHI, H.; VON WIRÉN, N. Additive contribution of AMT1;1 and
AMT1;3 to high-affinity ammonium uptake across the plasma membrane of nitrogen-
deficient Arabidopsis roots. The Plant Journal, Oxford, v. 48, n. 4, p. 522-534, 2006.
MAATHUIS, F. J. Physiological functions of mineral macronutrients. Current Opinion in
Plant Biology, Londres, v. 12, n. 3, p. 250-258, 2009.
MAEDA, S. I.; KONISHI, M.; YANAGISAWA, S.; OMATA, T. Nitrite transport activity of a
novel HPP family protein conserved in cyanobacteria and chloroplasts. Plant and Cell
Physiology, Quioto, v. 55, n. 7, p. 1311-1324, 2014.
MAIERHOFER, T.; LIND, C.; HUTTL, S.; SCHERZER, S.; PAPENFUSS, M.; SIMON, J.;
AL-RASHEID, K. A. S.; ACHE, P.; RENNENBERG, H.; HEDRICH, R; MULLER, T. D.;
GEIGER, D. A single-pore residue renders the Arabidopsis root anion channel SLAH2 highly
nitrate selective. The Plant Cell, Maryland, v. 26, n. 6, p. 2554-2567, 2014.
MALAGOLI, P.; LAINÉ, P.; DEUNFF, E. L. E.; ROSSATO, L.; NEY, B.; OURRY, A.
Modeling nitrogen uptake in oilseed rape cv Capitol during a growth cycle using influx
kinetics of root nitrate transport systems and field experimental data. Plant Physiology,
Pensilvânia, v. 134, n. 1, p. 388-400, 2004.
MARSCHNER, H.; RIMMINGTON, G. Mineral nutrition of higher plants. Londres:
Academic Press, 1986.
MARTINOIA, E.; MAESHIMA, M.; NEUHAUS, H. E. Vacuolar transporters and their
essential role in plant metabolism. Journal of Experimental Botany, Oxford, v. 58, n. 1, p.
83-102, 2007.
MARTINOIA, E.; MASSONNEAU, A.; FRANGNE, N. Transport processes of solutes across
the vacuolar membrane of higher plants. Plant and Cell Physiology, Quioto, v. 41, n. 11, p.
1175-1186, 2000.
MARTINS, C. M.; BORGES, W. L.; COSTA JÚNIOR, J. D. S.; RUMJANEK, N. G. Rhizobial
diversity from stem and root nodules of Discolobium and Aeschynomene. Acta
Scientiarum. Agronomy, Maringá, PR, v. 37, n. 2, p. 163-170, 2015.
MARUYAMA-NAKASHITA, A.; INOUE, E.; WATANABE-TAKAHASHI, A.; YAMAYA,
T.; TAKAHASHI, H. Transcriptome profiling of sulfur-responsive genes in Arabidopsis
reveals global effects of sulfur nutrition on multiple metabolic pathways. Plant Physiology,
Pensilvânia, v. 132, n. 2, p. 597-605, 2003.
MASCLAUX-DAUBRESSE, C.; DANIEL-VEDELE, F.; DECHORGNAT, J.; CHARDON, F.;
GAUFICHON, L.; SUZUKI, A. Nitrogen uptake, assimilation and remobilization in plants:
challenges for sustainable and productive agriculture. Annals of Botany, Oxford, v. 105, n. 7,
p. 1141-1157, 2010.
MASSON-BOIVIN, C.; GIRAUD, E.; PERRET, X.; BATUT J. Establishing nitrogen-fixing
symbiosis with legumes: how many rhizobium recipes? Trends in Microbiology,
Cambridge, v. 17, n. 10, p. 458-466, 2009.
MERIGOUT, P.; LELANDAIS, M.; BITTON, F.; RENOU, J. P.; BRIAND, X.; MEYER, C.;
DANIEL-VEDELE, F. Physiological and transcriptomic aspects of urea uptake and
assimilation in Arabidopsis plants. Plant Physiology, Pensilvânia, v. 147, n. 3, p. 1225-1238,
2008.
MEYER, C.; STITT, M. Nitrate reduction and signalling. In: LEA P. J.; MOROT-GAUDRY,
J. F. (ed.). Plant Nitrogen. Berlim: Springer, 2001. p. 37-59.
MILLER, A. J.; FAN, X.; ORSEL, M.; SMITH, S. J.; WELLS, D. M. Nitrate transport and
signalling. Journal of Experimental Botany, Oxford, v. 58, n. 9, p. 2297-2306, 2007.
MOLOUBA, F.; LORQUIN, J.; WILLEMS, A.; HOSTE, B.; GIRAUD, E.; DREYFUS, B.;
GILLIS, M.; DE LAJUDIE, P.; MASSON-BOIVIN, C. Photosynthetic bradyrhizobia from
Aeschynomene spp. are specific to stem-nodulated species and form a separate 16S ribosomal
DNA restriction fragment length polymorphism group. Applied and Environmental
Microbiology, Washington, DC, v. 65, n. 7, p. 3084-3094, 1999.
NÄSHOLM, T.; KIELLAND, K.; GANETEG, U. Uptake of organic nitrogen by plants. New
Phytologist, Oxford, v. 182, n. 1, p. 31-48, 2009.
NELSON, M. B.; MARTINY, A. C.; MARTINY, J. B. H. Global biogeography of microbial
nitrogen-cycling traits in soil. Proceedings of the National Academy of Sciences of the
United States of America, Washington, DC, v. 113, n. 29, p. 8033-8040, 2016.
PARKER, J. L.; NEWSTEAD, S. Molecular basis of nitrate uptake by the plant nitrate
transporter NRT1.1. Nature, Londres, v. 507, n. 7490, p. 68-72, 2014.
PETERS, G. A.; MEEKS, J. C. The Azolla-Anabaena symbiosis: basic biology. Annual
Review of Plant Physiology and Plant Molecular Biology, Palo Alto, v. 40, n. 1, p. 193-
210, 1989.
PEYVAST, G.; OLFATI, J. A.; RAMEZANI-KHARAZI, P.; KAMARI-SHAHMALEKI, S.
Uptake of calcium nitrate and potassium phosphate from foliar fertilization by tomato.
Journal of Horticulture and Forestry, Nairóbi, v. 1, n. 1, p. 7-13, 2009.
POLACCO, J. C.; MAZZAFERA, P.; TEZOTTO, T. Opinion – Nickel and urease in plants:
still many knowledge gaps. Plant Science, Shannon, v. 199, n. 200, p. 79-90, 2013.
RABUS, R.; HANSEN, T. A.; WIDDEL, F. Dissimilatory sulfate- and sulfur-reducing
prokaryotes. In: ROSENBERG, E.; DELONG, E. F.; LORY, S.; STACKEBRANDT, E.;
THOMPSON, F. (ed.). The Prokaryotes. Berlim: Springer, 2013. p. 659-768.
REMIGI, P.; ZHU, J.; YOUNG, J. P. W.; MASSON-BOIVIN, C. Symbiosis within Symbiosis:
evolving nitrogen-fixing legume symbionts. Trends in Microbiology, Cambridge, v. 24, n.
1, p. 63-75, 2016.
SAITO, K. Regulation of sulfate transport and synthesis of sulfur-containing amino acids.
Current Opinion in Plant Biology, Londres, v. 3, n. 3, p. 188-195, 2000.
SAITO, K. Sulfur assimilatory metabolism. The long and smelling road. Plant Physiology,
Pensilvânia, v. 136, n. 1, p. 2443-2450, 2004.
SANTI, C.; BOGUSZ, D.; FRANCHE, C. Biological nitrogen fixation in non-legume plants.
Annals of Botany, Oxford, v. 111, n. 5, p. 743-767, 2013.
SEGONZAC, C.; BOYER, J. C.; IPOTESI, E.; SZPONARSKI, W.; TILLARD, P.;
TOURAINE, B.; SOMMERER, N.; ROSSIGNOL, M.; GIBRAT, R. Nitrate efflux at the root
plasma membrane: identification of an Arabidopsis excretion transporter. The Plant Cell,
Maryland, v. 19, n. 11, p. 3760-3777, 2007.
SHIBAGAKI, N.; ROSE, A.; MCDERMOTT, J. P.; FUJIWARA, T.; HAYASHI, H.;
YONEYAMA, T.; DAVIES, J. P. Selenate-resistant mutants of Arabidopsis thaliana identify
Sultr1;2, a sulfate transporter required for efficient transport of sulfate into roots. The Plant
Journal, Oxford, v. 29, n. 4, p. 475-486, 2002.
SILVA, J. S.; SOARES DE CARVALHO, T.; VALENTIM DOS SANTOS, J.; DE ALMEIDA
RIBEIRO, P. R.; DE SOUZA MOREIRA, F . M. Formononetin stimulates mycorrhizal fungi
colonization on the surface of active root nodules in soybean. Symbiosis, Pensilvânia, v. 71,
n. 1, p. 1-8, 2016.
SIRKO, A.; HRYNIEWICZ, M.; HULANICKA, D.; BÖCK, A. Sulfate and thiosulfate
transport in Escherichia coli K-12: nucleotide sequence and expression of the cysTWAM
gene cluster. Journal of Bacteriology, Washington, DC, v. 172, n. 6, p. 3351-3357, 1990.
SUN, J.; BANKSTON, J. R.; PAYANDEH, J.; HINDS, T. R.; ZAGOTTA, W. N.; ZHENG, N.
Crystal structure of the plant dual-affinity nitrate transporter NRT1.1. Nature, Londres, v.
507, n. 7490, p. 73-77, 2014.
SVENNERSTAM, H.; GANETEG, U.; BELLINI, C.; NASHOLM, T. Comprehensive
screening of Arabidopsis mutants suggests the lysine histidine transporter 1 to be involved in
plant uptake of amino acids. Plant Physiology, Pensilvânia, v. 143, n. 4, p.1853-1860, 2007.
TAKAHASHI, H. Regulation of sulfate transport and assimilation in plants. International
Review of Cell and Molecular Biology, Amsterdã, v. 281, p. 129-159, 2010.
TAKAHASHI, H.; KOPRIVA, S.; GIORDANO, M.; SAITO, K.; HELL, R. Sulfur assimilation
in photosynthetic organisms: molecular functions and regulations of transporters and
assimilatory enzymes. Annual Review of Plant Biology, Palo Alto, v. 62, n. 1, p. 157-184,
2011.
TAKAHASHI, H.; WATANABE-TAKAHASHI, A.; SMITH, F. W.; BLAKE-KALFF, M.;
HAWKESFORD, M. J.; SAITO, K. The roles of three functional sulphate transporters
involved in uptake and translocation of sulphate in Arabidopsis thaliana. The Plant Journal,
Oxford, v. 23, n. 2, p. 171-182, 2000.
TAKAHASHI, H.; YAMAZAKI, M.; SASAKURA, N.; WATANABE, A.; LEUSTEK, T.;
ENGLER, J. A.; ENGLER, G.; VAN MONTAGU, M.; SAITO, K. Regulation of sulfur
assimilation in higher plants: a sulfate transporter induced in sulfate-starved roots plays a
central role in Arabidopsis thaliana. Proceedings of the National Academy of Sciences of
the United States of America, Washington, DC, v. 94, n. 20, p. 11102-11107, 1997.
TANG, K.; BASKARAN, V.; NEMATI, M. Bacteria of the sulphur cycle: an overview of
microbiology, biokinetics and their role in petroleum and mining industries. Biochemical
Engineering Journal, Amsterdã, v. 44, n. 1, p. 73-94, 2009.
TAYLOR, L.; NUNES-NESI, A.; PARSLEY, K.; LEISS, A.; LEACH, G.; COATES, S.;
WINGLER, A.; FERNIE, A. R.; HIBBERD, J. M. Cytosolic pyruvate, orthophosphate dikinase
functions in nitrogen remobilization during leaf senescence and limits individual seed growth
and nitrogen content. The Plant Journal, Oxford, v. 62, n. 4, p. 641-652, 2010.
TSAY, Y. F.; CHIU, C. C.; TSAI, C. B.; HO, C. H.; HSU, P. K. Nitrate transporters and
peptide transporters. FEBS Letters, Amsterdã, v. 581, n. 12, p. 2290-2300, 2007.
VIDAL, E. A.; GUTIÉRREZ, R. A. A systems view of nitrogen nutrient and metabolite
responses in Arabidopsis. Current Opinion in Plant Biology, Londres, v. 11, n. 5, p. 521-
529, 2008.
VIDMAR, J. J; TAGMOUNT, A.; CATHALA, N.; TOURAINE, B.; DAVIDIAN, J. E. Cloning
and characterization of a root specific high-affinity sulfate transporter from Arabidopsis
thaliana. FEBS Letters, Amsterdã, v. 475, n. 1, p. 65-69, 2000.
VINCENTZ, M.; MOUREAUX, T.; LEYDECKER, M. T.; VAUCHERET, H.; CABOCHE, M.
Regulation of nitrate and nitrite reductase expression in nicotiana plumbaginifolia leaves by
nitrogen and carbon metabolites. The Plant Journal, Oxford, v. 3, n. 2, p. 315-324, 1993.
VON WITTGENSTEIN, N. J.; LE, C. H.; HAWKINS, B. J.; EHLTING, J. Evolutionary
classification of ammonium, nitrate, and peptide transporters in land plants. BMC
Evolutionary Biology, Londres, v. 14, n. 11, p. 1-17, 2014.
WANG, Q.; ZHAO, Y.; LUO, W.; LI, R.; HE, Q.; FANG, X.; MICHELE, R. D.; AST, C.; VON
WIREN, N.; LIN, J. Single-particle analysis reveals shutoff control of the Arabidopsis
ammonium transporter AMT1;3 by clustering and internalization. Proceedings of the
National Academy of Sciences of the United States of America, Washington, DC, v.
110, n. 32, p. 13204-13209, 2013.
WANG, R.; LIU, D.; CRAWFORD, N. M. The Arabidopsis CHL1 protein plays a major role
in high-affinity nitrate uptake. Proceedings of the National Academy of Sciences of the
United States of America, Washington, DC, v. 95, n. 25, p. 15134-15139, 1998.
WANG, R.; TISCHNER, R.; GUTIÉRREZ, R. A.; HOFFMAN, M.; XING, X.; CHEN, M.;
CORUZZI, G.; CRAWFORD, N. M. Genomic analysis of the nitrate response using a nitrate
reductase-null mutant of Arabidopsis. Plant Physiology, Pensilvânia, v. 136, n. 1, p. 2512-
2522, 2004.
WANG, Y. Y.; TSAY, Y. F. Arabidopsis nitrate transporter NRT1.9 is important in phloem
nitrate transport. The Plant Cell, Maryland, v. 23, n. 5, p. 1945-1957, 2011.
YOSHIMOTO, N.; TAKAHASHI, H.; SMITH, F. W.; YAMAYA, T.; SAITO, K. Two distinct
high-affinity sulfate transporters with different inducibilities mediate uptake of sulfate in
Arabidopsis roots. The Plant Journal, Oxford, v. 29, n. 4, p. 465-473, 2002.
YUAN, L.; GU, R.; XUAN, Y.; SMITH-VALLE, E.; LOQUÉ, D.; FROMMER, W. B.; VON
WIREN, N. Allosteric regulation of transport activity by heterotrimerization of Arabidopsis
ammonium transporter complexes in vivo. The Plant Cell, Maryland, v. 25, n. 3, p. 974-984,
2013.
YUAN, L.; LOQUÉ, D.; KOJIMA, S.; RAUCH, S.; ISHIYAMA, K.; INOUE, E.; TAKAHASHI,
H.; VON WIRÉN, N. The organization of high-affinity ammonium uptake in Arabidopsis
roots depends on the spatial arrangement and biochemical properties of AMT1-type
transporters. The Plant Cell, Maryland, v. 19, n. 8, p. 2636-2652, 2007.
A reação da nitrogenase
A FBN é catalisada por um complexo enzimático conhecido como
nitrogenase, presente apenas em organismos procariotos. Esses organismos são
chamados fixadores de N2, mas também diazotróficos ou diazotrofos. A reação
é altamente endergônica – cerca de 960 kJ mol–1 fixado de N2. Em condições
fisiológicas, os elétrons são usados para reduzir o N2 a NH4+ e, em menor
grau, o H+ a H2, de acordo com a seguinte estequiometria:
Cianobactérias diazotróficas
A FBN em cianobactérias é muito interessante, visto que vários
mecanismos de evolução foram exigidos para que esses organismos fossem
capazes de realizar fotossíntese aeróbica de uma forma semelhante à das
plantas e, portanto, disponibilizar O2. Consequentemente, é necessário não só
proteger a nitrogenase do O2 externo, mas também do O2 produzido pelo
próprio organismo. Entre cianobactérias diazotróficas, algumas são fixadoras
de N2 em condições aeróbias, enquanto outras realizam a FBN em condições
microaeróbicas.
Aquelas cianobactérias que realizam a FBN sob condições aeróbicas são
filamentosas e contêm, em adição às células vegetativas, um tipo particular de
célula denominado heterocisto, no qual está o complexo da nitrogenase.
Heterocistos têm uma parede celular mais espessa, com polissacarídeos
abundantes e glicolipídeos, que restringem a difusão de O2. Os heterocistos
também expressam a hidrogenase, mas não possuem o fotossistema II. Essas
duas características permitem manter a concentração de O2 intracelular em
um nível mínimo. Os heterocistos recebem dissacarídeos de células vegetativas
e, em troca, exportam o N fixado na forma de glutamina – Gln.
As cianobactérias que não possuem heterocistos só são capazes de fixar
N2 sob condições microaeróbicas (Plectonema, Phormidium), ou condições
aeróbicas, mas somente quando existe uma separação temporal entre a
fotossíntese e a FBN (Gloeothece, Oscillatoria). Assim, a fotossíntese ocorre
durante o dia – incluindo a fotólise da água e, consequentemente, a evolução
de O2 e a geração de ATP, enquanto a nitrogenase permanece inativa. Durante
a noite, a respiração mantém uma baixa concentração de O2, evitando danos à
nitrogenase pelo O2, de modo que a FBN é capaz de utilizar a energia
acumulada durante o período de luz.
Embora as cianobactérias sejam capazes de fixar N2 como organismos de
vida livre, algumas também realizam a FBN em simbiose com diversos
organismos: diatomáceas; endossimbiontes fúngicos com Geosiphon;
associações com fungos para formar líquens; fetos aquáticos, como Azolla;
cicadáceas; e a angiosperma Gunnera (Figura 4.2B).
A combinação de FBN e fotossíntese em cianobactérias foi crucial para o
desenvolvimento da vida tal como ela existe hoje na Terra. Heterocistos já
estavam presentes nos primeiros fósseis de organismos vivos, conhecidos
como estromatólitos. Estima-se que a fixação biológica do nitrogênio realizada
por cianobactérias possa representar mais de um terço da contribuição global
da FBN.
Plantas actinorrízicas
Frankia é uma actinobactéria (ou actinomiceto) capaz de formar
associações simbióticas com mais de 200 espécies pertencentes a oito famílias
de angiospermas não leguminosas. Essas plantas têm alguns tumores ou
nódulos nas raízes após a infecção com Frankia e são, assim, denominadas
plantas actinorrízicas (Figura 4.2A, B). Em geral, são arbustos ou árvores
pioneiras em solos pobres em N, ou em climas adversos; são, portanto, de
grande importância ecológica e florestal. Além disso, essas e outras espécies
actinorrízicas podem ser intercaladas ou utilizadas em rotações de culturas
intercalares com outras árvores a fim de enriquecer o solo em N. Plantas
actinorrízicas também têm sido usadas como espécies ornamentais (Eleagnus)
para produzir frutos para consumo humano (Hippophae) e como colonizadoras
de áreas de mineração ou de dunas costeiras (Casuarina).
O processo de infecção e desenvolvimento de nódulos nas raízes de
plantas actinorrízicas é pouco conhecido em comparação com o das
leguminosas. Em Alnus, a infecção dos pelos radiculares é precedida por uma
modificação estrutural das raízes e, em vez de encurvamento (ver próxima
seção), ocorre uma divisão desses pelos. Após a invasão por Frankia, as plantas
produzem abundante material de parede celular secundário que é colonizado
pelas hifas de Frankia, as quais progridem em direção à base, tanto em nível
inter como intracelular. Em Eleagnus, as hifas progridem entre as células da
epiderme, nos espaços intercelulares; em seguida, material vegetal é secretado
abundantemente em torno das hifas. Ao contrário das leguminosas, o endófito
(Frankia) está localizado no córtex nodular. Na maioria das plantas
actinorrízicas – sendo uma exceção aquelas pertencentes à Casuarinaceae –,
são desenvolvidas vesículas nas extremidades das hifas. Essas vesículas são, de
certo modo, equivalentes, do ponto de vista funcional, aos heterocistos das
cianobactérias, uma vez que contêm o complexo da nitrogenase, bem como
paredes de lipídeos em multicamadas, que limitam a difusão de O2. Além
disso, as paredes celulares também passam por mudanças pela deposição de
lignina e substâncias semelhantes à suberina, que tornam essas estruturas à
prova de água, e hemoglobinas actinorrízicas são sintetizadas nos nódulos
dessas plantas.
Os parceiros simbióticos
A simbiose rizóbio-leguminosa não só representa a forma mais
difundida de FBN, como também a contribuição mais importante em termos
econômicos. As simbioses ocorrem entre as raízes de leguminosas, com
algumas exceções, e bactérias de diferentes gêneros, coletivamente
denominados rizóbios (Figura 4.3). Essas bactérias foram a princípio descritas
como Bacillus radicicola em 1888 por Beijerinck, tendo sido isoladas e
cultivadas a partir de nódulos de leguminosas. Mais tarde foram reclassificadas
como Rhizobium. Nos dias atuais, a taxonomia das bactérias capazes de formar
nódulos em leguminosas é constantemente revisada, mas o nome comum –
rizóbios – ainda permanece para indicá-las. Excepcionalmente, essas bactérias
também podem formar nódulos em simbiose com a não leguminosa
Parasponia, pertencente à família Ulmaceae. Além disso, embora na grande
maioria dos casos os nódulos sejam formados nas raízes, algumas espécies são
capazes de formá-los no caule (Sesbania, Aeschynomene), com cloroplastos. A
capacidade de nodulação foi verificada em cerca de 3.400 espécies, que
representam cerca de 57% dos gêneros de leguminosas. Contudo, há variação
entre as subfamílias de leguminosas: 25% em Caesalpinioideae, 90% em
Mimosoideae e 97% em Papilionoideae.
Figura 4.3 - Dendrograma das relações filogenéticas entre rizóbios e espécies
relacionadas (baseado na análise de 16S rDNA).
Figura 4.5 - Visão geral das relações fisiológicas entre a parte aérea e os
nódulos em leguminosa nodulada.
A formação do nódulo
A adesão das bactérias às raízes parece ser mediada por pelo menos dois
tipos de moléculas: lectinas, que são glicoproteínas (sem atividade enzimática)
produzidas pela planta, e polissacarídeos da parede da célula bacteriana. Uma
vez que o rizóbio esteja associado a um pelo radicular, ocorre uma mudança na
direção do crescimento apical do pelo radicular, conhecido como
encurvamento. Outros modos de invasão de rizóbios também foram descritos,
tais como entrada por feridas (fendas) – bactérias invadem os tecidos da planta
hospedeira por meio da área de emergência de raízes laterais, como em Arachis
e Stylosanthes, padrão esse relativamente comum na família Aeschynomeneae
– e infecções que ocorrem através do tecido epidérmico intacto, bastante
comuns em espécies arbóreas. Esses dois últimos processos parecem ser menos
evoluídos do que o encurvamento do pelo radicular. Com a crescente
diversidade de espécies de rizóbios que vem sendo descrita, resta verificar se
essa característica depende mais do macro ou microssimbionte.
O processo de nodulação mais comum e estudado até o presente
momento é o que ocorre pelo encurvamento dos pelos radiculares. No
contexto molecular, diversos estudos são conduzidos principalmente com o
uso da leguminosa modelo Medicago truncatula17 e Lotus japonicus18. Ao longo
dos últimos anos, ocorreram vários avanços na identi icação de genes e de proteínas
envolvidas na percepção e na transdução de sinais desencadeados por fatores Nod que,
em última instância, conduzem à entrada de Ca2+ e K+ e à saída Cl–, provocando a
despolarização da membrana dos pelos radiculares. As oscilações de Ca2+ ativam uma
proteína quinase dependente desse íon e de calmodulina, iniciando a cascata de
fosforilação da proteína e a indução de genes envolvidos na iniciação do nódulo, que
representa o crescimento do meristema dos tecidos vegetais.
Quando as células vegetais começam a desenvolver um primórdio nodular,
bactérias penetram na parede celular dos pelos radiculares por meio da secreção de
celulases. As bactérias são envoltas em uma estrutura tubular, conhecida como cordão
de infecção, que progride em direção à base do pelo radicular. Esse cordão de
infecção contém uma matriz de origem bacteriana e glicoproteínas de origem
vegetal. O cordão atinge o tecido vegetal com atividade meristemática, e a
diferenciação do nódulo começa.
O desenvolvimento de nódulos segue dois padrões básicos, de acordo
com a planta hospedeira. Em espécies que têm nódulos de crescimento
indeterminado (Figura 4.2 D, E), o cordão de infecção atinge as células
próximas do cilindro vascular e o processo de infecção pode continuar durante
toda a existência do nódulo, com meristemas persistentes. Em espécies com
nódulos de crescimento determinado (Figura 4.2 F), apenas algumas células
são infectadas, e tanto as células da planta como as da bactéria sofrem divisão
ativa até o desenvolvimento de um nódulo funcional, sem meristemas
persistentes.
Em ambos os tipos de nódulos, as células vegetais que contêm
bacteroides – bactérias diferenciadas capazes de fixar N2 – são denominadas
células infectadas, enquanto que aquelas que não contêm bacteroides são
chamadas de células intersticiais ou parênquima. Nódulos maduros possuem um
tecido central rodeado pelo córtex; esse tecido contém as células infectadas e
intersticiais. Nódulos de crescimento determinado normalmente têm uma
forma esférica, enquanto os de crescimento indeterminado tendem a ser
cilíndricos (Figura 4.6A).
Figura 4.6 - Esquema com (A) um nódulo de crescimento indeterminado e (B)
um nódulo de crescimento determinado, com terminações
vasculares fechadas.
Em algumas simbioses primitivas, cordões de infecção não são
devidamente formados ou, em caso afirmativo, bacteroides não são liberados.
Nos nódulos mais evoluídos, incluindo aqueles de plantas de importância
agronômica, a liberação dos bacteroides do cordão de infecção é um pré-
requisito para a FBN. Essa liberação do bacteroide para o citoplasma das
células infectadas da planta hospedeira é produzida por endocitose, e o
bacteroide permanece em uma vesícula denominada simbiossomo.
A membrana do simbiossomo (ou membrana peribacteroidal) contém
material de três fontes: do cordão de infecção, do retículo endoplasmático e da
membrana sintetizada de novo pelo aparelho de Golgi. A ocorrência da
membrana do simbiossomo foi ignorada até bem recentemente, embora seja
da maior importância, tanto em termos funcionais – uma vez que apresenta
alta seletividade para determinados compostos –, como em termos evolutivos.
Neste último caso, o desenvolvimento de uma membrana do simbiossomo
representa um ponto crucial na evolução de uma relação que, inicialmente,
poderia ser de patogenicidade, para uma simbiose mutualística, dado que as
membranas representam uma barreira altamente eficiente para conter as
bactérias.
Depois de sua liberação para os simbiossomos, as bactérias se
diferenciam de bacteroides, que apresentam diferenças morfológicas – de
bacilos para formas em Y e X – e alterações funcionais: bacteroides expressam
atividade da nitrogenase e certos citocromos que não estão presentes em
bactérias de vida livre. Além disso, podem acumular poli-β-hidroxibutirato,
que parece atuar como um reservatório de C.
Quando os primeiros nódulos são iniciados, a formação de nódulos
subsequentes é inibida, na sequência de um processo típico de autorregulação.
Essas respostas são de natureza sistêmica e controladas pela parte aérea, o que
foi confirmado em várias experiências de enxerto da parte aérea de uma planta
na raiz de outra. A remoção dos primeiros nódulos permite a formação de
novos. Em geral, a possibilidade de iniciar novos nódulos é limitada às regiões
em que os pelos radiculares estão presentes e cada segmento de raiz é
suscetível à formação de nódulos por apenas algumas horas. Esse processo
autorregulatório é muito dependente das espécies de leguminosas, e não das
bactérias.
Funcionamento do nódulo
Como já mencionado, a atividade da nitrogenase exige um substrato
energético, balanço adequado de O2 e manutenção de um status de N
satisfatório. O cenário que organismos diazotróficos de vida livre enfrentam é
bastante distinto daquele encontrado nos nódulos, pois, nessas estruturas,
bactérias que são incapazes de fixar N2 como células livres podem passar a
fixar N2 na forma de bacteroides. Foi estimado, experimentalmente, que em
nódulos de leguminosas uma média de 6 a 7 g de C são necessários por grama
de N reduzido, valor consideravelmente mais elevado do que o custo teórico
derivado da reação da nitrogenase (cerca de 1,5 vezes). As principais
características de funcionamento dos nódulos estão descritas abaixo.
Suprimento de carbono
A energia necessária para a FBN é fornecida a partir da fotossíntese pela
planta hospedeira. Fotoassimilados são transportados da parte aérea da planta
para os nódulos, pelo floema, em grande parte sob a forma de sacarose (Figura
4.5). Nos nódulos, a sacarose é potencialmente quebrada para entrar na via
glicolítica por duas enzimas diferentes: invertase alcalina, que produz glicose e
frutose, e sacarose sintase, que catalisa a reação reversível UDP + sacarose +
H+ ⇔ UDP-glucose + frutose, mas acredita-se que a enzima funciona, em
especial, na direção de quebra da sacarose em tecidos de plantas considerados
drenos, com amplo substrato de sacarose e demanda elevada de C nas vias
biossintéticas e respiratórias (Figura 4.7).
A invertase ácida, amplamente distribuída, não teve sua atividade
descrita como relevante em nódulos. Até recentemente, pensava-se que a
atividade de invertase alcalina era predominante, mas vários resultados
indicam que a sacarose é hidrolisada principalmente pela sacarose sintase. Esta
é conhecida por ser reversivelmente fosforilada, mas o significado fisiológico
disso ainda está em debate. Foi demonstrado, recentemente, que a sacarose
sintase pode ser regulada tanto em nível de transcrição como de pós-tradução,
pelo estado redox celular. Isso torna a atividade da sacarose sintase crucial na
regulação dos fluxos metabólicos em nódulos e tem sido sugerido que, dessa
forma, a planta pode exercer um controle rigoroso sobre a economia de C do
nódulo sob condições de limitações ambientais. Em condições nas quais as
plantas enfrentam a escolha entre a sobrevivência e a maximização do
crescimento, evitar que os nódulos se tornem uma carga excessiva frente aos
carboidratos reduzidos da planta pode representar um mecanismo que
resultou de seleção evolucionária, favorecendo a sobrevivência.
Os produtos da quebra da sacarose podem entrar na via glicolítica, cuja
atividade enzimática é altamente expressa nos nódulos. Como resultado, é
formado fosfoenolpiruvato. Em vez de ser quebrado para piruvato, como
ocorre na descrição clássica da glicólise, fosfoenolpiruvato é irreversivelmente
carboxilado a oxaloacetato pela fosfoenolpiruvato carboxilase (phosphoenol
pyruvate carboxylase – PEPC), uma reação que é relevante no sistema de
fotossíntese C4, embora seja uma enzima ubíqua que desempenha também
funções fisiológicas relevantes em plantas C3. A fosfoenolpiruvato carboxilase
requer HCO3–, que é disponibilizado via anidrase carbônica (carbonic anhydrase
– CA) muito ativa. Estima-se que a atividade CA-PEPC possa proporcionar
cerca de 30% do C total requerido para a FBN. O oxaloacetato é prontamente
reduzido a malato pela malato desidrogenase, que apresenta atividade muito
elevada, não limitativa, a fim de fornecer suprimento adequado de malato aos
bacteroides. Isso é importante porque o malato atua como fonte de C, tanto
para a produção de energia nos bacteroides como também para fornecer o
esqueleto de C para a síntese de novos compostos nitrogenados. A evidência
para a relevância do papel fundamental desempenhado pelo malato foi obtida
a partir de experimentos que demostraram que a membrana do simbiossomo é
altamente permeável ao malato e succinato, mas não a outros compostos, tais
como α-cetoglutarato, glutamato, piruvato, arabinose e, em particular,
sacarose e outras hexoses. Isso ocorre pela presença de um sistema de
transporte de dicarboxilato na membrana do simbiossomo com elevada
afinidade para malato (Km = 2 mmol L–1) e succinato (Km = 15 mmol L–1).
Bacteroides têm o seu próprio sistema de transporte de dicarboxilato,
chamado Dct, cuja deficiência abole a FBN (Figura 4.7).
Figura 4.7 - Metabolismo de C e N em células infectadas.
Balanço de oxigênio
Bacteroides requerem O2 para sintetizar o ATP necessário para os
processos metabólicos e, em particular, para fixar N2. No entanto, conforme já
comentado, o O2 inibe a síntese de nitrogenase e inativa irreversivelmente o
complexo da nitrogenase. Por causa do microambiente fornecido pela
estrutura dos nódulos, porém, a FBN pode ocorrer em solos aerados. O
balanço de O2 para mantê-lo a uma concentração baixa ou livre – enquanto se
permite um alto fluxo desse elemento – é conseguido pela combinação de três
mecanismos diferentes.
A leg-hemoglobina – Lb, uma proteína monomérica de 16 kDa, está
localizada exclusivamente no citoplasma de células infectadas, com um grupo
prostético de tipo IX protohemo que se liga de modo reversível ao O2. Em
condições fisiológicas, o Fe presente no grupo hemo está em seu estado
reduzido (forma ferrosa). A Lb tem elevada afinidade por O2 (Km = 48–60
nmol L–1), podendo-se calcular que a concentração de O2 ligado à Lb é cerca
de 50 mil vezes maior do que a concentração de O2 livre. Sob essas condições,
a Lb permite uma liberação elevada de O2 a partir da membrana plasmática
das células infectadas, adjacentes aos espaços intercelulares, para as
membranas dos simbiossomos. Em seguida, o O2 livre difunde-se através do
espaço peribacteroidal, que não tem Lb, para alcançar as oxidases terminais de
alta afinidade dos bacteroides. A difusão do O2 fornecida pela Lb e as elevadas
taxas de respiração do bacteroide asseguram que a concentração de O2 no
ambiente da nitrogenase pode ser mantida em torno de 20–100 nmol L–1,
evitando qualquer dano ao complexo.
No entanto, em baixa concentração de O2, a respiração do bacteroide
pode ser prejudicada. Na verdade, rizóbios de vida livre expressam citocromos
aeróbicos típicos aa3 e o, mas bacteroides são capazes de sintetizar o citocromo
cbb3, um produto dos genes ixNOPQ, cujo Km de O2 é tão baixo quanto 7
nmol L–1. Dessa forma, a respiração e a atividade da nitrogenase do bacteroide
podem ocorrer simultaneamente.
Além desses dois mecanismos, uma barreira variável de difusão do O2 foi
descrita em nódulos, em trabalhos pioneiros com microeletrodos, juntamente
com estudos fisiológicos que envolveram medições simultâneas de FBN e de
troca de O2 –como a produção de CO2 – e cálculos de resistência do O2 à
difusão com o uso9 de modelos matemáticos baseados na primeira lei de
difusão de Fick. Foi sugerido que alterações no conteúdo de água dos espaços
intercelulares podem alterar o caminho de O2 do solo para as células
infectadas, uma vez que a resistência à difusão de O2 é cerca de 10 mil vezes
mais elevada na água do que no ar. Essas alterações podem ser relacionadas
com alterações na conformação de glicoproteínas localizadas nos espaços
intercelulares que alteram sua afinidade por água, ou por alterações no
conteúdo de sacarose que, por sua vez, determina os fluxos de água a partir das
células adjacentes. No entanto, os mecanismos celulares e moleculares exatos
através dos quais o controle à barreira de difusão do O2 – BDO – opera ainda
não foram esclarecidos.
Avaliação da fixação de nitrogênio
Medições precisas de um determinado processo representam um
requisito para adequadamente quantificar, comparar e gerenciar o processo. A
FBN pode ser avaliada utilizando diferentes métodos:
a) A atividade da nitrogenase pode ser mensurada in vitro utilizando ATP,
Mg2+ e ditionito de sódio como um doador de elétrons não fisiológico. O O2
deve ser evitado no processo de extração a fim de impedir a inativação da
nitrogenase. Esse método é muito conveniente para estudos de cinética
enzimática; no entanto, é de valor muito limitado para a fisiologia da planta
e abordagens agronômicas.
b) A capacidade da nitrogenase de reduzir vários outros substratos além do N2,
tal como a redução de acetileno (C2H2) a etileno (C2H4), tem sido
amplamente utilizada desde o final dos anos 1960 e, certamente, contribuiu
para o sucesso da pesquisa sobre a FBN. Ambos os gases podem ser
prontamente detectados e quantificados por meio de cromatógrafo de gás,
um equipamento de baixo custo. Como consequência, o ensaio conhecido
como atividade de redução do acetileno – ARA representa uma medida
sensível da atividade da nitrogenase em um dado momento, o que pode ser
muito útil, por exemplo, para a detecção da FBN em culturas bacterianas, ou
em resíduos de plantas que podem ser portadores de bactérias fixadoras de
N2. No entanto, perturbações físicas do nódulo são quase inevitáveis e, além
disso, a substituição parcial de N2 por C2H2 é suficiente para provocar uma
diminuição da atividade. A obtenção de valores pontuais de redução de
C2H2 para fornecer um melhor panorama espacial ou temporal é difícil, e
não se recomenda a técnica em sistemas fechados. Existem, contudo,
sistemas abertos de fluxo contínuo em que a perturbação dos nódulos é
minimizada e várias dezenas de avaliações podem ser obtidas.
c) O hidrogênio é um produto obrigatório de FBN, e a sua medição também
pode ser utilizada para avalia-la. O método é altamente confiável e é
fortemente recomendado para estudos de fisiologia vegetal se a estirpe
bacteriana utilizada não possuir a enzima hidrogenase, sendo, portanto,
Hup– e incapaz de reciclar o H2. Para uma medição exata da FBN, a
atividade de nódulos de plantas não perturbadas deve ser mensurada no ar
por um sistema de fluxo para se obter a atividade da nitrogenase aparente –
ANA e, em seguida, medida sob Ar: O2 (79:21) para se obter a atividade da
nitrogenase total – ANT. A partir desses resultados, as taxas de FBN podem
ser calculadas como (ANT–ANA)/3 e a ER, 1– (ANA/ANT). No entanto, o
método não tem sido aplicado em ensaios rotineiros de campo devido a
dificuldades práticas.
d) O método dos ureídos explora o fato de que algumas das leguminosas
agronomicamente importantes de origem tropical exportam esses
compostos como produtos da FBN. Nessas leguminosas, a proporção de
ureídos em relação ao N total na seiva do xilema está bastante
correlacionada com a percentagem de N derivada da FBN. Os
procedimentos analíticos são simples e exigem equipamentos de baixo
custo, mas o método não é aplicável a todas as leguminosas.
e) O método de balanço de N total baseia-se no princípio de que o sistema
solo-planta o acumula ao longo do tempo se houver uma entrada de N da
FBN. Entretanto, as avaliações da FBN podem ser falhas por causa de perdas
ou adições externas desse elemento.
f) Uma variação simples do método de balanço de N para quantificar a FBN
consiste no método denominado diferença no N. Nele, o N total acumulado
pelas plantas fixadoras de N2 é comparado com o N de plantas vizinhas não
fixadoras. Em solos com fornecimento limitado desse nutriente, tal método
pode ser usado com sucesso considerável.
g) Protocolos experimentais com 15N fornecem estimativas precisas da FBN.
Esses procedimentos envolvem: (i) marcação do N2 na atmosfera que rodeia
15
as plantas fixadoras de N2, seguida de medição de N nas plantas; (ii)
crescimento das plantas em solo ou outro meio de crescimento enriquecido
com 15N (diluição isotópica de 15N) e cálculo da extensão da diluição de 15N
nas plantas pelo 14N atmosférico (fixo); (iii) uso do 15N natural enriquecido
de solos (abundância natural de 15N). Esses protocolos exigem a utilização
de isótopos estáveis e um espectrômetro de massa, o que torna essa
abordagem bastante cara.
h) Finalmente, para as condições em que o N do solo é negligenciável, ou que
a assimilação de N possa ser quantificada, a avaliação da FBN pode ser
conseguida pelo monitoramento do teor de N em um dado tecido e
biomassa da planta, normalizando esses resultados para a biomassa de
nódulos. Embora isso exija várias amostragens para minimizar o desvio
estatístico, bem como limitações para detectar mudanças em um período
muito curto, esse velho método fornece informações valiosas.
Em resumo, nenhum método é apropriado para todas as circunstâncias e
modelos experimentais. Contudo, as quantificações realizadas por variados
métodos permitem estimar a contribuição da FBN em diferentes leguminosas,
fornecendo dados importantes para o balanço de N nos diversos
agroecossistemas.
Fixação do nitrogênio frente às limitações
ambientais
A FBN é dramaticamente afetada por limitações ambientais, sendo mais
sensível do que a assimilação de carbono fotossintético e do que a assimilação
de nitrogênio mineral. Provavelmente o exemplo mais emblemático seja o da
seca, uma vez que as culturas são muito dependentes de um suprimento
adequado de água e, frente às mudanças climáticas globais, períodos
prolongados de estresse hídrico são cada vez mais frequentes. Mas as culturas
também são afetadas por outros fatores ambientais, como salinidade, altas
temperaturas e acidez.
A explicação clássica de inibição da FBN por limitações ambientais é
atribuída à falta de fotoassimilados, pela diminuição das taxas fotossintéticas.
Embora, em longo prazo, seja evidente que a falta de fotoassimilados contribui
para uma diminuição na FBN, é muito improvável que ela possa se recuperar
após reidratação sem que ocorra normalização da fotossíntese.
É importante considerar que o efeito negativo da seca sobre a FBN
representa a soma de quatro respostas diferentes: sobrevivência rizobiana nos
solos, infecção de leguminosas pelos rizóbios, crescimento e desenvolvimento
do nódulo e, finalmente, efeitos diretos sobre o seu funcionamento. Por sua
vez, limitações ao funcionamento do nódulo resultam de uma série de efeitos
sobre vários aspectos básicos da regulação:
a) O fechamento da barreira de difusão do oxigênio redunda em um
decréscimo na disponibilidade de O2 para os bacteroides e, por conseguinte,
em limitação energética para sustentar a FBN. Em fases posteriores, a
degradação da Lb altera o balanço de O2.
b) A deficiência hídrica prejudica o transporte de longa distância, inibindo a
exportação de compostos nitrogenados dos nódulos. O acúmulo desses
compostos conduz ao mecanismo de inibição por autorregulação da FBN.
c) A atividade da sacarose sintase em nódulos é infrarregulada – downregulated
–, levando ao colapso do fluxo glicolítico e a uma diminuição na
concentração de malato, que então não consegue sustentar o bacteroide.
d) Estresses oxidativos podem afetar várias funções dos nódulos,
particularmente a atividade da nitrogenase.
Algumas dessas respostas aos estresses abióticos são compartilhadas com
a senescência natural dos nódulos.
Pouco se sabe sobre os sinais envolvidos na inibição da FBN sob estresse
hídrico. Espécies reativas de O2 parecem desempenhar um papel crucial na
sinalização oxidativa em fases precoces de seca, diminuindo o fornecimento de
C. Em uma fase posterior, o ácido abscísico pode afetar a regulação de difusão
Lb/O2 da FBN. A Lb pode ser também alvo de danos oxidativos.
Embora represente uma das principais limitações à FBN, poucos
progressos foram atingidos para mitigar os efeitos de estresses hídricos na
simbiose. Os estudos conduzidos até o presente momento indicam que a
principal limitação reside na planta hospedeira, de modo que o caminho deve
residir no melhoramento visando à maior tolerância à seca. Em soja, por
exemplo, há resultados promissores de seleção de linhagens com essa
tolerância justamente por conseguirem manter a FBN nessas condições.
Fixação do nitrogênio, agricultura e
sustentabilidade
Leguminosas
Cereais e leguminosas representam as culturas mais importantes do
mundo em termos de distribuição e impacto na nutrição humana. Rotações de
culturas de cereais e leguminosas são utilizadas desde os primórdios da
agricultura, favorecendo a descontinuidade de pragas e doenças. O alto teor de
proteína das leguminosas é de importância fundamental para a alimentação
humana e animal: soja, feijão, ervilha, lentilha, amendoim e grão-de-bico
representam fontes alimentares básicas que fornecem 25–35% da ingestão de
proteínas em todo o mundo. As leguminosas também são essenciais para
melhorar a fertilidade do solo e a qualidade das terras agrícolas, assim como
para recuperar áreas degradadas ou estéreis. A FBN simbiótica contribui
diretamente para a produção de leguminosas destinadas à produção de grãos,
forragens, adubos verdes e árvores, podendo também resultar no
enriquecimento do solo em N. Na Tabela 4.1 podem ser visualizadas
estimativas da contribuição da FBN para algumas leguminosas de importância
econômica.
A adubação nitrogenada em cereais foi um importante aspecto da
Revolução Verde, contudo ainda não foi possível maximizar o rendimento de
várias leguminosas com base exclusivamente na FBN. Em geral, é aceito que
uma planta em simbiose bem adaptada pode ser tão eficiente quanto uma
leguminosa que recebe fertilizante nitrogenado. No entanto, nas primeiras
fases de desenvolvimento das leguminosas, antes do estabelecimento dos
nódulos, a planta tem como N disponível somente o N do solo e dos
cotilédones, e a fotossíntese pode ser limitada pelo N, por sua vez diminuindo
a disponibilidade de C para o desenvolvimento de nódulos. É comum que essa
situação conduza à prática agrícola de adubação no início da cultura, ou “dose
de arranque”. Sabe-se, porém, que a presença de N-inorgânico acarreta a
inibição da formação, desenvolvimento e funcionamento dos nódulos. Muitas
vezes, as leguminosas também são adubadas com N durante a floração, uma
vez que a competição por carboidratos entre as estruturas reprodutivas –
flores e vagens – e os nódulos pode privá-los de carboidratos, levando as
plantas à limitação de N. Vale reforçar que a oferta de fertilizantes
nitrogenados, contudo, conduz à senescência precoce dos nódulos.
BOTHE, H.; FERGUSON, S. J.; NEWTON, W. E. Biology of the nitrogen cycle. In:
PROSSER, J. I. The ecology of nitrifying bacteria. Amsterdã: Elsevier, 2007. p. 223-243.
GONZÁLEZ-ANDRÉS, F.; JAMES, E. Biological nitrogen fixation and beneficial plant-
microbe interactions. Basel: Springer, 2016. 249 p.
GONZÁLEZ-FONTES, A.; GÁRATE, A.; BONILLA, I. Agricultural sciences: topics in
modern agriculture. Houston: Studium Press, 2010. 545 p.
HANSEN, A. P. Symbiotic N2 fixation of crop legumes: achievements and perspectives.
Weikersheim: Margraf, 1994. 248 p.
HERRIDGE, D. F. Inoculation technology for legumes. In: DILWORTH, M. J.; JAMES, E. K.;
SPRENT, J. I.; NEWTON W. E. (ed.). Nitrogen-fixing leguminous symbioses.
Dordrecht: Springer, 2008. p. 75-115.
HIRSCH, A. M. Developmental biology of legume nodulation. New Phytologist, Lancaster,
v. 122, p. 211-237, 1992.
KLIPP, W.; MASEPOHL, B.; GALLON, J. R.; NEWTON, W. E. Genetics and regulation
of nitrogen fixation in free-living bacteria. Dordrecht: Springer, 2005. 300 p.
LUGTENBERG, B. Principles of plant-microbe interactions. In: DE BRUIJN, F. J. (ed.).
Biological nitrogen fixation. Heidelberg: Springer, 2015. p. 215-224.
ORMEÑO-ORRILLO, E.; HUNGRIA, M.; MARTÍNEZ-ROMERO, E. Dinitrogen-fixing
prokaryotes. In: ROSEMBERG, E.; DE LONG, E. F.; LORY, S.; STACKEBRANDT, E.;
THOMPSON, F. (ed.). The Prokaryotes: prokaryotic physiology and biochemistry.
Heidelberg: Springer, 2013. p. 427-451.
PALACIOS, R.; NEWTON, W. E. Genomes and genomics of nitrogen-fixing
organisms. Dordrecht: Springer, 2005. p. 83-98.
Alumínio
Em solos com pH próximo de 4 predomina a espécie iônica Al3+, a qual
limita drasticamente o crescimento radicular. Em valores de pH superiores a 4,
a concentração de Al3+ reduz-se de forma considerável e torna-se negligível
em pH ao redor de 5,5.
Além dos efeitos diretos da toxidez de Al3+, em pH menor que 5,2 o Al
desloca outros cátions polivalentes como Ca2+ e Mg2+ dos sítios de troca dos
argilo-minerais, ocupando grande porção do complexo sortivo. Ao mesmo
tempo o fosfato é fortemente adsorvido, e formam-se complexos poliméricos
solúveis de Al e fosfato (ver Capítulo 1).
Como representado na Figura 5.1, à medida que o pH se eleva acima de
4, a concentração de Al3+ se reduz, e formam-se outras espécies iônicas de
hidroxialumínio, como Al(OH)2+ e Al(OH)2+. Concomitantemente, a carga
livre se reduz até a formação de Al(OH)3 insolúvel, o qual, em pH elevado, se
dissolve parcialmente como ânion Al(OH)4– (KINRAIDE, 1991). Existem,
ainda, dependendo da concentração de Al e pH, evidências da formação de
íons poliméricos, como Al2(OH)24+ e Al7(OH)174+, cuja máxima formação se
dá em pH 5.
A diversidade e complexidade dessas interações muitas vezes dificultam a
elucidação dos efeitos do Al no crescimento radicular, embora haja certo
consenso de que o Al3+ seja a espécie iônica mais tóxica.
A solubilidade do Al e a severidade da toxidez para as plantas são
afetados por vários fatores, tais como pH, tipo de argila predominante,
concentração de outros íons e conteúdo de matéria orgânica. Este último
merece destaque, pois adsorve íons hidrogênio produzidos na hidrólise do Al e
complexa também Al, reduzindo sua atividade em solução.
Manganês
A toxidez de Mn ocorre em solos ácidos em proporções bem menores
que a de Al, e se deve ao aumento de sua solubilidade em pH menor que 5 nos
locais em que o material de origem é rico desse elemento. Ela pode ocorrer
também em solos de pH mais elevado se houver condições redutoras, tais
como alagamento, compactação ou acúmulo de matéria orgânica (FOY et al.,
1978). Nessas condições, as plantas absorvem e transportam Mn em
quantidades excessivas, resultando em acúmulo nas folhas.
A solubilidade do Mn é determinada pelo pH e potencial redox do solo
segundo a equação abaixo:
MnO2 + 4 H+ + 2e– ⇆ Mn2+ + 2 H2O
Assim sendo, solos ácidos com altas concentrações de Mn2+ rapidamente
reduzível – em combinação com alto teor de matéria orgânica, alta atividade
microbiana e anaerobiose temporária ou permanente – podem apresentar
limitações ao crescimento das plantas por toxidez de Mn.
Mecanismos de exclusão
Quando atuam mecanismos de exclusão, o apoplasto das células
radiculares previne a entrada do Al no simplasto. Desse modo, o elemento não
alcança os sítios metabólicos sensíveis. Uma hipótese é que genótipos
tolerantes têm menor taxa de transporte de Al3+ através da membrana do que
os genótipos sensíveis.
O mecanismo mais efetivo para excluir o Al do simplasto é a liberação na
rizosfera de quelatos – ácidos orgânicos e fenóis – que formam complexos
estáveis com esse cátion, reduzindo a atividade das espécies tóxicas e
prevenindo sua absorção. O ácido cítrico, [Al3(OH)4citrato2]–, é
particularmente eficaz nessa complexação. A exsudação de ácidos orgânicos
em resposta a um estresse mineral tem sido relatada em várias espécies de
plantas (MA, 2000; MA et al., 2001). Adições de ácido cítrico, oxálico, málico e
tartárico na solução nutritiva atenuaram o efeito inibitório do Al sobre o
comprimento radicular de plantas de algodão (HUE et al., 1986). O citrato não
só reduz o Al livre nas células radiculares como também permite maior
transporte de P e Ca para a parte aérea das plantas. Cultivares mais tolerantes
ao Al exsudam mais citrato no meio de crescimento que cultivares sensíveis.
Cabe destacar que a matéria orgânica do solo contém complexantes tão
eficientes quanto o citrato, podendo mitigar o efeito de altas concentrações de
Al no ambiente radicular.
A excreção desses ácidos para o apoplasma se dá por canais aniônicos na
plasmalema, que são codificados por genes da família ALMT (malato) ou
MATE (citrato). Dois padrões de comportamento são observados nesses casos:
excreção imediatamente após a exposição ao Al – 15 a 30 minutos –, ou seja,
por um mecanismo constitutivamente expresso; ou após várias horas – mais
de quatro horas –, sugerindo dependência de expressão gênica e nova síntese
de proteínas (BIAN et al., 2013). O mecanismo de excreção ainda não está
esclarecido, mas sabe-se que o canal iônico que regula a secreção de ácidos
orgânicos das raízes é ativado pela presença de Al3+ (GEORGE et al., 2012).
Também a secreção de mucilagem pelas zonas apicais das raízes pode reduzir a
penetração de Al nos meristemas, sendo que há diferenças genotípicas na
quantidade de mucilagem secretada.
Outro fator de tolerância ou sensibilidade relaciona-se à quantidade de
sítios de ligação de Al presentes no apoplasto gerados pela densidade de cargas
negativas da membrana plasmática e da parede celular. Membranas muito
eletronegativas poderiam resultar em maior ligação com espécies carregadas
positivamente, como o Al, que nesse caso promoveria maior dano à sua
estrutura e funções dessas membranas. Em arroz, maior tolerância foi
associada à menor proporção de fosfolipídeos 5 Δ esterol, que promove a
menor eletronegatividade e permeabilidade (KHAN et al., 2009). Já a
eletronegatividade das paredes depende da concentração e do grau de
metilação das pectinas que as compõem. Plantas sensíveis apresentam menor
grau de metilação das pectinas das paredes celulares, acumulam mais Al e
consequentemente têm maior grau de injúria radicular que as tolerantes
(GEORGE et al., 2012).
Como a fitotoxidez de Al é altamente dependente do pH, as plantas
tolerantes podem apresentar mecanismos para criar barreiras de pH na
interface solo/raiz, ou diferenças de pH no apoplasto da ponta da raiz,
limitando sua entrada no simplasto. Pequenos aumentos do pH acima de 4
reduzem drasticamente a solubilidade de Al3+ e permitem a formação de
espécies poliméricas na superfície das raízes ou nos espaços intercelulares,
facilitando a absorção de fósforo. Uma das bases fisiológicas para essa resposta
pode ser a preferência relativa por NH4+ ou NO3–, que afetam o pH da
rizosfera e, por consequência, a solubilidade e expressão da tolerância ao Al
(KELTJENS, 1997).
Entre os mecanismos de tolerância devem ser considerados, ainda, o
efluxo ativo de fosfato pelas raízes que resulta na formação de fosfato de Al ou
outros complexos insolúveis com o elemento, atenuando efeitos tóxicos na
superfície da membrana e a presença, nela, de uma bomba de efluxo de Al.
Plantas tolerantes seriam capazes de manter baixa concentração de Al no
citosol pela ativação dessas bombas.
Mecanismos de tolerância ao Mn
Enxertias recíprocas entre genótipos tolerantes e sensíveis indicam que
os mecanismos de tolerância ao Mn localizam-se na parte aérea (HEENAN et
al., 1981). É o “cavaleiro”, e não o “cavalo”, quem confere a tolerância. Em
alguns casos a tolerância se manifesta por acúmulo do Mn em folhas velhas, o
que impede que altas concentrações do elemento sejam prejudiciais ao
crescimento nos meristemas. A tolerância pode estar relacionada também à
formação de oxalatos de Mn de grande estabilidade. A concentração foliar
crítica é variável, no entanto, observa-se que nas folhas maduras de cultivares
tolerantes o Mn se distribui uniformemente, enquanto que nas não tolerantes
há pontos de acúmulo do elemento, coincidentes com clorose ou necrose. O Si
parece promover melhor distribuição do Mn no tecido foliar, amenizando
seus efeitos deletérios (HORST, 1988).
A toxidez de Mn, bem como a tolerância ao excesso desse metal, varia
amplamente entre espécies de plantas e entre variedades da mesma espécie
(FOY et al., 1988). Diferenças genotípicas na absorção e transporte de Mn – e
também de Mg e Ca –, além da tolerância dos tecidos da parte aérea ao excesso
desse elemento, podem ser usadas para selecionar genótipos mais adaptados a
essa condição (HORST, 1988).
Correção da acidez
A melhor forma de corrigir a acidez do solo é a aplicação de corretivos
calcários. No Brasil o mais empregado é o calcário agrícola que pode ser
caracterizado como calcítico (40–45% CaO; 1–5% MgO), magnesiano (31–39%
CaO > 5–12% MgO) e dolomítico (25–30% CaO > 12–20% MgO). O produto
deve apresentar granulometria inferior a 2,4 mm. Em geral é aplicado na
superfície do solo, seguido ou não de incorporação (MALAVOLTA, 1981).
Os efeitos positivos da calagem incluem substituição do Al3+ e H+ por
Ca2+ e Mg2+ no complexo sortivo do solo; aumento da disponibilidade de Ca2+
e Mg2+; aumento do pH, que propicia melhor ação e desenvolvimento dos
microrganismos do solo; melhoria na disponibilidade de macro e
micronutrientes; melhoria na disponibilidade de P; melhoria na estruturação
de solos argilosos; melhoria no grau de contato raiz/solo devido ao maior
crescimento radicular (ver também Capítulo 1). A calagem excessiva, por sua
vez, promove a imobilização de micronutrientes como Fe, Cu, Zn, Mn e B.
Há várias maneiras de se quantificar a necessidade de calagem para
determinado solo e cultivo. As mais comuns baseiam-se na elevação do pH a
um valor considerado adequado para o cultivo em questão, na neutralização
do Al3+ trocável que exceda a tolerância do cultivo ou no aumento do grau de
saturação do solo por bases. Há autores que recomendam considerar a
neutralização do Al3+ trocável excedente ao tolerado pelo cultivo em conjunto
com a elevação dos teores de Ca2+ e Mg2+ trocáveis para valores adequados
preestabelecidos.
Convém destacar que, mesmo quando a superfície do solo tenha
recebido corretivos, sua baixa mobilidade no perfil resulta no confinamento
das raízes numa estreita camada corrigida, limitando o acesso aos nutrientes
das camadas mais profundas e aumentando a suscetibilidade a déficit hídrico
durante os “veranicos”, períodos secos que ocorrem com frequência durante a
estação chuvosa.
A correção da camada subsuperficial, quando indicada, deve ser realizada
com gesso agrícola, CaSO4·2H2O, subproduto da fabricação de fosfatos
solúveis. Da hidrólise do gesso resultam Ca2+ e SO42–. O Ca2+ participa de
reações de troca catiônica, podendo deslocar cátions como Al3+, Mg2+ e K+
adsorvidos aos coloides do solo. Os cátions em solução formam pares iônicos
neutros com o sulfato, o que lhes permite mover-se em profundidade,
enriquecendo de bases as camadas subsuperficiais e formando íons Al-sulfato,
como AlSO4+, de baixa toxicidade às raízes das plantas. A precipitação do Al
na forma de AlOHSO4·5H2O (jurbanita), KAl3(OH)6(SO4)2 (alunita) e
Al(OH)10SO4·5H2O (basalunita) também contribui para a redução da
saturação por Al e o aumento da participação do Ca na CTC do solo. Como
consequência, o sistema radicular alcança maiores profundidades, o que
melhora a tolerância das plantas a períodos secos (VITTI, 1987).
Devido ao fato de o gesso propiciar a mobilidade de cátions básicos para
camadas inferiores, não se recomenda seu uso quando a camada superficial
não tiver sido corrigida com calcário. Para avaliar a necessidade de gesso
devem ser consideradas as características da camada subsuperficial do solo
(20–40 ou 30–60 cm). Quando o teor de Ca for inferior a 0,4 cmolcdm–3 e/ou
teor de Al3+ superior a 0,5 cmolcdm–3 e/ou saturação por Al3+ superior a 30%,
a gessagem deve ser indicada. As doses de gesso – o qual não substitui o
calcário – podem ser calculadas considerando-se o teor de argila do solo ou o P
remanescente da agitação do solo com uma solução com 60 mg L–1 de P
(ALVAREZ V. et al., 1999; SOUSA et al., 2007). Doses de gesso acima do
recomendado poderão propiciar a lixiviação das bases para fora do alcance das
raízes e empobrecer o solo.
Salinidade
A salinidade é um problema da agricultura mundial que ameaça o
desenvolvimento socioeconômico dos países. A FAO estima que em todo o
mundo 34 Mha – 11% da área irrigada – são afetados em algum grau por ela;
Paquistão, China, Estados Unidos e Índia representam mais que 60% do total,
21 Mha. Adicionalmente, uma área de 60 a 80 Mha é afetada em algum nível
por alagamento e salinidade (FAO, 2011). Até 2050 prevê-se que a salinidade
causará sérios problemas em mais de 50% de todas as terras agriculturáveis.
A salinidade é um fenômeno natural característico de zonas áridas e
semiáridas, onde a evaporação excede a precipitação, e a escassez de chuvas faz
com que o uso da irrigação seja necessário para uma produção otimizada. Esse
problema, que está longe de ser resolvido, vem piorando, já que a urbanização
e a industrialização com uma busca mais enfática por água de melhor
qualidade e a exacerbada exploração de aquíferos subterrâneos aumentam a
intrusão da água do mar em poços. Mesmo a água de boa qualidade pode
conter entre 100 e 1.000 gramas de sal por m–3. Com uma aplicação anual de
10.000 m3 por ha–1, algo entre 1 e 10 t de sais são adicionados ao solo. Como
resultado da transpiração e evaporação de água, sais solúveis se acumulam
ainda mais no solo e devem ser removidos periodicamente por lixiviação e
drenagem. Entretanto, mesmo quando a tecnologia de sondagem é aplicada a
esses solos para a determinação precisa dos conteúdos de sal, eles contêm
concentrações que, muitas vezes, são limitantes ao crescimento das culturas
com baixa tolerância ao sal.
Figura 5.7 - Classificação das plantas de acordo com sua resposta à salinidade.
Fonte: GREENWAY; MUNNS, 1980.
Figura 5.8 - Parâmetros de tolerância a sais. Valor limiar (a) e inclinação (b),
derivados da relação entre salinidade do solo e produção relativa.
Citrus paradisi
Grapefruit 1.8 16
Macfad
Lycopersicon
Tomate 2.5 9.9
esculentum Mill.
Phoenix dactylifera
Tamareira 4 3.6
L.
Asparagus o icinalis
Aspargo 4.1 2
L.
Beterraba de
Beta vulgaris L. 7 5.9
açúcar
FOY, C. D.; SCOTT, B. J.; FISHER, J. A. Genetic differences in plant tolerance to manganese
toxicity. In: GRAHAM, R. D.; HANNAM, R. J.; UREN, N. C. (ed.). Manganese insoil and
plants: BHP-UTAH minerals international. Dordrecht: Kluwer Academic, 1988. p. 293-307.
FREIRE, M. B. G. S; FREIRE, F. J. Fertilidade do solo e seu manejo em solos afetados por sais.
In: NOVAIS, R. F.; ALVAREZ V., V. H.; BARROS, N. F.; FONTES, R. L. F.; CANTARUTTI,
R. B.; NEVES, J. C. L. (ed.). Fertilidade do solo. Viçosa, MG: Sociedade Brasileira de Ciência
do Solo, 2007. p. 929-954.
GEORGE, E.; HORST, W. J.; NEUMANN, E. Adaptation of plants to adverse chemical soil
conditions. In: MARSCHNER, P. (ed.). Mineral nutrition of higher plants. 3. ed. Londres:
Academic Press, 2012. p. 409-472.
GLENN, A. R.; TIWARI, R. P.; REEVE, W. G.; DILWORTH, M. J. The response of root
nodule bacteria to acid stress. In: MONIZ, A. C.; FURLANI, A. M. C.; SCHAFFERT, R. E.;
FAGERA, N. K.; ROSOLEM, C. A.; CANTARELLA, H. (ed.). Plant soil interactions at
low pH: sustainable agriculture and forestry production. Campinas: Sociedade Brasileira de
Ciência do Solo, 1997. p. 123-138.
GOEDERT, W. J.; LOBATO, E.; LOURENÇO, S. Nutrient efficiency in Brazilian acid soils:
nutrient management and plant efficiency. In: MONIZ, A. C.; FURLANI, A. M. C.;
SCHAFFERT, R. E.; FAGERA, N. K.; ROSOLEM, C. A.; CANTARELLA, H. (ed.). Plant soil
interactions at low pH: sustainable agriculture and forestry production. Campinas:
Sociedade Brasileira de Ciência do Solo, 1997. p. 97-104.
GREENWAY, H.; MUNNS, R. Mechanisms of salt tolerance in nonhalofites. Annual
review of plant physiology, v. 31, p. 149-190, 1980.
KELTJENS, W. G. Plant adaptation and tolerance to acid soils: its possible Al avoidance – a
review. In: MONIZ, A. C.; FURLANI, A. M. C.; SCHAFFERT, R. E.; FAGERA, N. K.;
ROSOLEM, C. A.; CANTARELLA, H. (ed.). Plant soil interactions at low pH: sustainable
agriculture and forestry production. Campinas: Sociedade Brasileira de Ciência do Solo, 1997.
p. 159-164.
KHAN, M. S.; TAWARAYA, K.; SEKIMOTO, H.; KOYAMA, H.; KOBAYASHI, Y.;
MURAYAMA, T.; CHUBA, M.; KAMBAYASHI, M.; SHIONO, Y.; UEMURA, M.;
ISHIKAWA, S.; WAGATSUMA, T. Relative abundance of Delta(5)-sterols in plasma
membrane lipids of root-tip cells correlates with aluminum tolerance of rice. Physiologia
Plantarum, Lund, v. 135, n. 1, p. 73-83, 2009.
KINRAIDE, T. B. Identity of the rhizotoxic aluminium species. Plant and Soil, v. 134, n. 1,
p. 167-178, 1991.
KOCHIAN, L. V. Cellular mechanisms of aluminum toxicity and resistance in plants. Annual
Review of Plant Physiology and Plant Molecular Biology, Palo alto, v. 46, p. 237-260,
1995.
KOCHIAN, L. V.; HOEKENGA, A. O.; PIÑEROS, M. A. How do plants tolerate acid soils?
Mechanisms of aluminum tolerance and phosphorous efficiency. Annual Review Plant
Biology, Palo Alto, v. 55, p. 459-493. 2004.
KOCHIAN, L. V.; PIÑEROS, M. A.; LIU, J.; MAGALHÃES, J. V. Plant adaptation to acid
soils: the molecular basis for crop aluminum resistance. Annual Review of Plant Biology,
Palo Alto, v. 66, p. 571-598. 2015.
MA, J. F. Role of organic acids in detoxification of aluminumin higher plants. Plant and Cell
Physiology, Quioto, v. 41, n. 4, p. 383-390, 2000.
MA, J. F.; HIRADATE, S.; MATSUMOTO, H. High aluminum resistance in buckwheat: II.
Oxalic acid detoxifies aluminum internally. Plant Physiology, Lancaster, v. 117, n. 3, p. 753-
759, 1998.
MA, J. F.; RYAN, P. R.; DELHAIZE, E. Aluminium tolerance in plants and the complexing
role of organic acids. Trends in Plant Science, Kidlington, v. 6, n. 6, p. 273-278, 2001.
MAAS, E. V.; HOFFMAN, G. J. Crop salt tolerance - current assessment. Journal of
Irrigation and Drainage Division, v. 103, p. 115-134, 1977.
Para que a diagnose foliar seja utilizada com sucesso, é necessário que se
cumpram adequadamente três etapas: a primeira delas refere-se à obtenção de
padrões de referência; a segunda, à normatização da amostragem, preparo das
amostras e análise química do tecido; e a terceira, à interpretação dos
resultados analíticos (JONES, 1981; MILLS; JONES JR., 1996).
Fatores exógenos
Temperatura, água, luz, ataque de pragas e incidência de doenças são
fatores que limitam o crescimento e a produção das plantas. Embora sejam,
muitas vezes, desconsiderados, eles afetam as curvas de resposta de
crescimento ou de produção em resposta ao teor de nutrientes.
As condições meteorológicas variam não só de uma área para outra, mas
em qualquer área de um ano para outro, de uma semana para outra e até
mesmo de um dia para outro. O clima e as variáveis acometidas por ele, como
a umidade do solo, afetam a composição química das plantas e como tal a
capacidade preditiva do diagnóstico do estado nutricional de duas maneiras.
Ele pode afetar a concentração de nutrientes no momento da coleta das
amostras e a resposta aos nutrientes aplicados. Nesse sentido, a análise da
planta é mais vulnerável do que a análise do solo, uma vez que a maioria das
análises de solo não é sensivelmente afetada pelas condições ambientais
durante a amostragem ou antes dela. O efeito das condições ambientais sobre
o teor de nutrientes numa determinada área é a principal causa da variação na
concentração de nutrientes em plantas uniformemente fertilizadas de um ano
para outro. Os efeitos das mudanças da umidade do solo nas concentrações de
nutrientes em tecidos vegetais são complexos. Efeitos óbvios de umidade
excessiva são a perda de nutrientes, por lixiviação e erosão, e a diminuição na
disponibilidade de certos elementos devido à baixa aeração. Alguns nutrientes
podem tornar-se mais disponíveis em razão do processo de redução no solo
em ambiente anóxico – por exemplo, o Fe e o Mn. A absorção de nutrientes,
particularmente de ânions, também pode ser reduzida pela falta de oxigênio
em solos saturados. Alterações no arejamento podem afetar a morfologia das
raízes. Em geral, todos esses fatores influenciam a concentração de nutrientes
de um tecido vegetal, dependendo da intensidade com que afetam a absorção e
a utilização de nutrientes, bem como o crescimento da planta.
Os efeitos da baixa umidade do solo em relação à concentração de
nutrientes na planta são conflitantes. Acredita-se que, para um determinado
nível de fertilidade, a diminuição da umidade do solo aumenta a concentração
de N no tecido da planta, diminui a concentração de K e cria uma tendência
variável de P, Ca e Mg (WADLEIGH; RICHARDS, 1951). Em contrapartida,
um grande número de pesquisadores verificou que a concentração de N em
tecidos de plantas aumenta com a elevação do teor de umidade. Já a
concentração de Ca em folhas de tabaco cai pela metade quando a umidade
passa de 45% para 95% (McMURTREY et al., 1947). No que diz respeito ao
oxigênio e à aeração do solo, respectivamente, sabe-se que a aeração do solo é
frequentemente uma função da umidade do solo e pode ter um forte impacto
sobre a absorção de nutrientes e as suas concentrações nas folhas.
Recomenda-se que amostras sejam coletadas das plantas quando a
umidade do solo e seu arejamento sejam apropriados. Essa recomendação, no
entanto, significaria não coletar amostras em anos de seca. A amostragem
durante seca prolongada provavelmente não fornecerá informações úteis para
previsões de necessidades em um ano com precipitação normal, uma vez que a
falta de umidade limita as necessidades de nutrientes por depressão de
crescimento. Isto poderia ser um problema grave no uso das análises das
plantas em áreas de umidade deficiente.
As taxas de crescimento da planta dependem de fatores ambientais, tais
como temperatura, luz e fornecimento de água. Quando estão presentes em
níveis subótimos, qualquer um deles se torna limitante e, portanto, causa uma
alteração na exigência de nutrientes pela planta. Como resultado, a
concentração de nutrientes na MS tende a aumentar. Em trevo subterrâneo,
cultivado com três temperaturas – dia/noite, 15/10 ºC, 21/16 ºC e 27/22 ºC –
e dois níveis de P, a resposta de crescimento ao elemento foi menor nas
temperaturas mais baixas. A concentração de P em toda a planta – folhas,
pecíolos, raízes – foi maior nas temperaturas mais baixas e caiu quando as
temperaturas subiram (MILLIKAN, 1953, 1957). Essa resposta depende da
intensidade relativa com que o crescimento e a absorção de nutrientes são
reduzidos quando a temperatura diminui. Foi verificado que as concentrações
de N, P e K de plantas de tomate a 12 ºC foram menores do que as das
cultivadas a 20 ºC. A 50 dias da colheita, houve uma diferença de quatro vezes
em relação ao peso da MS. Nesse caso, à temperatura de 12 ° C, a absorção de
nutrientes reduziu-se mais que a taxa de crescimento, resultando numa
concentração de nutrientes inferior (GOSSELIN; TRUDEL, 1983, 1984).
Em experimento com tremoço branco cultivado com duas concentrações
de P – suficiente 50 µmol L–1 e insuficiente 1 µmol L–1 P – e com intensidade
de luz de 200 e 600 µmol m–2 s–1, verificou-se que as concentrações de P na
parte aérea foram maiores com a menor intensidade luminosa tanto nas
plantas que receberam P suficiente como nas que receberam P insuficiente. No
entanto, a diferença nas concentrações entre os dois regimes de iluminação foi
maior para as plantas bem supridas com P. Essas respostas deveram-se à
grande redução no crescimento das plantas bem supridas quando cultivadas
com 200 µmol m–2 s–1 de intensidade luminosa (CHENG et al., 2014).
Escolha do tecido
A utilização da análise química da planta como método de diagnóstico
não é um procedimento novo. Foi usado pela primeira vez pelo químico
alemão Liebig há mais de 150 anos. Desde então, a análise química tem sido
amplamente utilizada para avaliar o estado nutricional de plantas. Cientistas
mais antigos usavam a planta inteira para tais análises, mas hoje preferem-se
determinadas partes da planta para a obtenção de informações a partir de sua
atividade metabólica. Folhas, pecíolos, cascas, raízes, frutos e gemas são usados
como amostras em certas fases de crescimento a fim de estabelecer escalas ou
níveis de atividade e concentração de íons nessas partes.
A escolha de um órgão ou tecido como padrão deve considerar dois
aspectos principais: (i) sensibilidade da resposta às variações no estado
nutricional da planta nesse órgão ou tecido e (ii) estabilidade da composição
desse órgão ou tecido em face de outros fatores não nutricionais.
Análise de folhas
Observa-se que em meio homogêneo, e sob as mesmas condições
externas, folhas fisiologicamente uniformes, de mesma idade, dão os mesmos
resultados analíticos. Entretanto, folhas de plantas de mesma espécie,
cultivadas em meios desiguais ou sujeitas a diferentes fatores externos, em
geral, têm diferentes concentrações foliares de nutrientes.
De modo geral, as folhas recém-maduras são consideradas os órgãos da
planta que mais bem refletem seu estado nutricional, ou seja, apresentam
maior variação no teor com a alteração do suprimento de nutrientes que
outros órgãos. Esse fato se justifica, pois, além de ser o local da produção de
carboidratos pela fotossíntese, as folhas desempenham importantes funções no
metabolismo de muitos constituintes e são também o principal local para onde
são transportados os nutrientes absorvidos pelas raízes (BOUMA, 1983;
REUTER; ROBINSON, 1988; WALWORTH; SUMNER, 1988; MILLS;
JONES JR., 1996).
Análise do pecíolo
Embora frequentemente a folha inteira seja utilizada, por vezes os
pecíolos são melhores indicadores do estado nutricional da planta. Isto, no
entanto, pode ser verdade para alguns elementos, mas não para outros. Em
geral, os pecíolos fornecem melhor índice do estado nutricional de K do que a
lâmina.
Convém salientar que a concentração de nutrientes na MS do pecíolo
pode diferir acentuadamente daquela da lâmina foliar. Portanto, é preciso ter
cuidado quando são amostradas folhas com pecíolos. A inclusão de pecíolos de
comprimentos diferentes pode gerar resultados discrepantes.
Análise de flores
A análise de flores tem sido aplicada com sucesso no diagnóstico de
desordens nutricionais em frutíferas cujas folhas se desenvolvem após a
floração (MONTAÑÉS et al., 1997). A avaliação precoce do estado nutricional
por meio da análise de flores pode ser de grande valia, pois possibilita iniciar o
ajuste do programa de adubação exatamente no início de crescimento, antes
que ocorram perdas irreversíveis em produtividade e qualidade. Além disso,
sendo órgãos de curta duração, em que não ocorrem reações metabólicas tão
complexas quanto nas folhas, as flores não apresentam diferenças acentuadas
entre o teor total do nutriente e a fração fisiologicamente ativa (SANZ;
MONTAÑÉS, 1995; SANZ; MACHÍN, 1999). Os resultados obtidos com
pereira (SANZ et al., 1993), macieira (SANZ; MACHÍN, 1999), pessegueiro
(SANZ; MONTAÑÉS, 1995; IGARTUA et al., 2000), cafeeiro (MARTINEZ et
al., 2003) e laranjeira (PESTANA et al., 2004) parecem promissores, embora
mais pesquisas sejam necessárias.
Análise de frutos
As alterações causadas pela deficiência de B e/ou Ca em frutas são
confirmadas de forma satisfatória pela análise dos frutos afetados. As manchas
da maçã, bitter pit, anomalia típica de falta de Ca, são caracterizadas por
depressões na casca associadas a áreas necrosadas sob a camada da cortical. Em
algumas variedades de maçãs, as áreas necrosadas podem ser encontradas a
uma grande profundidade; assim, os sintomas podem ser confundidos com
suberificação interna, anomalia causada por deficiência de B. A análise do
fruto ou da casca é utilizada para diferenciar esses dois transtornos
nutricionais.
Manchas em frutos maduros de maçã ocorreram quando eles continham
menos que 5 mg de Ca por 100 g de peso de matéria fresca, embora o limiar
tenha variado de acordo com o tamanho do fruto e com as concentrações de
Ca e Mg (BEN, 1995). A distribuição de Ca na maçã foi desigual, com um
máximo perto da casca e do pecíolo, e o mínimo na polpa e no cálice
(PERRING; PEARSON, 1986). Embora muitos pesquisadores utilizem
porções da fruta para a análise, foi demonstrado que a composição química da
casca da maçã está mais intimamente relacionada com a incidência da
formação de manchas do que a composição do núcleo e da polpa (KADIR,
2005). A podridão estilar, ou fundo preto, em tomate (Figura 6.4) é causada
por deficiência de Ca quando os frutos estão se desenvolvendo, embora possa
haver concentrações elevadas de Ca nas lâminas. A determinação de Ca nos
frutos afetados pode ser utilizada para confirmar a causa do distúrbio.
A deficiência de B em maçãs provoca suberificação do exterior e interior,
e graves distorções na fruta. Esses distúrbios estão associados com
concentrações de B no fruto entre 5 a 10 mg/kg de MS produzida, enquanto o
teor normal situa-se acima de 10 mg/kg na MS. A deficiência de B em peras
causa depressões na superfície da fruta que se estendem abaixo da polpa com
um enrijecimento deste tecido, causando ainda rachaduras (MEHERIUK et al.,
1994). Tais sintomas podem ser interpretados incorretamente, já que há um
vírus que causa efeitos semelhantes (KIENHOLZ, 1953). Entretanto, isso pode
ser confirmado por análise dos frutos e dosagem da concentração desse
nutriente.
Fertigramas
Fertigramas nada mais são que uma representação gráfica dos NC. São
gráficos construídos com círculos concêntricos, com tantas divisões radiais
quantos forem os nutrientes. Na interseção entre o círculo mediano e os
segmentos radiais, são alocados os valores dos NC determinados previamente
para a cultura em questão (MALAVOLTA et al., 1997).
As concentrações obtidas das análises foliares de determinada lavoura
são então plotadas no fertigrama no raio correspondente a cada nutriente.
Após a ligação dos pontos, origina-se um polígono pelo qual se interpreta o
estado nutricional da cultura. Picos a partir do círculo de NC indicam
excessos, e reentrâncias significam deficiência.
A utilização de fertigramas permite a análise visual da adequação das
concentrações de cada nutriente em particular e a análise do estado nutricional
da lavoura como um todo, tomando-se por base os NC preestabelecidos. A
visualização por meio de diagramas é útil principalmente onde ocorrem
problemas nutricionais agudos, tanto por deficiências quanto por excessos.
Nesse caso, é possível inferir de imediato a respeito da principal ou principais
limitações nutricionais de determinada lavoura. Nos demais, há as mesmas
vantagens e limitações do nível ou faixas críticas. Como exemplo, a Figura 6.5
apresenta os fertigramas construídos para três lavouras cafeeiras com
produtividades diferentes da região de Viçosa, MG. A relação entre estado
nutricional e produtividade é evidente.
a) Xi > X b) Xi < X
I = (P – 100) CV/100 I = (100 – P) CV/100
B=P–I B=P+I
Em que: Xi = teor do nutriente na amostra; X = teor padrão, norma; P =
Xi em percentagem de X; CV = coeficiente de variação do teor na norma; I =
influência da variação; B = índice balanceado de Kenworthy, em percentagem.
Nutriente Metabólito
Macronutrientes
As enzimas de plantas podem ser divididas em dois grupos: aquelas em
que o íon específico é um componente integral e aquelas para as quais um ou
mais íons servem como ativadores.
Plantas jovens de toranja (grapefruit) foram cultivadas em solo com cinco
doses diferentes de sulfato de amônio, e verificou-se que a atividade de
redução do nitrato em folhas recém-destacadas incubadas por duas horas com
NO3– (atividade inicial) aumentou 4,5 vezes da dose mais baixa à mais alta de
N. A atividade enzimática foi também medida em amostras de folhas
incubadas com NO3– por 24 horas, antes do ensaio enzimático (atividade
induzível). Esse tratamento provocou um aumento considerável na atividade
da nitrato redutase de folhas deficientes, mas não na das folhas com N
suficiente. Como resultado, a diferença entre a atividade inicial e a induzível
apresentou valores que aumentaram de quase 0, para as folhas da dose mais
alta, até muito alta, para as folhas da dose mais baixa de N. O procedimento,
portanto, foi sugerido como ferramenta útil para avaliar o estado de N em
citros (BAR-AKIVA; STERBAUM, 1965). Também em plantas de joio, que
pode acumular quantidades consideráveis de NO3–, verificou-se que a
atividade da nitrato redutase pode ser induzida posteriormente, mesmo em
tecidos com concentrações normais de NO3–, e que a resposta foi
negativamente correlacionada com as aplicações de N na planta. A relação
entre a indução e a atividade endógena de valor 1,5, ou maior, indicou
deficiência de N. Esse resultado foi semelhante ao valor encontrado em frutas
cítricas e em Urtica dioica. No entanto, essa relação foi considerada
insatisfatória para plantas de couve-flor e poinsétia (WITT; JUNGK, 1974).
Outra abordagem foi feita com base no fato de que a atividade adicional
de redução de nitrato pode ser induzida através da incubação de tecidos
foliares com NO3– em presença de luz, comparando-se os resultados com o
mesmo processo no escuro. Sugeriu-se que essa relação forneceria uma boa
indicação do estado de N na planta. A atividade de redução de nitrato em
plantas jovens de trigo foi utilizada para prever as necessidades de N dessa
cultura. Encontrou-se uma boa correlação (r = + 0,90) entre a atividade dessa
enzima na folha superior completamente expandida e o desempenho final da
cultura (WITT; JUNGK, 1974). Trabalhos semelhantes foram realizados com
pepino holandês, tomate e melão.
Nos tecidos de muitas espécies de plantas, a atividade da fosfatase ácida
aumenta consideravelmente em deficiência de P. A enzima catalisa a hidrólise
dos ésteres de fosfato. Os diagnósticos baseiam-se na hidrólise do p-nitrofenil
fosfato pelos extratos de tecido, sendo a cor amarela do produto da reação do
p-nitrofenol proporcional à atividade enzimática. Tem sido demonstrado que,
em tomates, o aumento na atividade enzimática foi específico para a
deficiência de P. Em outras sete espécies, os ensaios enzimáticos deram um
índice rápido e sensível do estado de P nas plantas (BESFORD, 1979).
Em outro estudo, o mesmo autor verificou que a piruvato quinase e a
fosfatase, em folhas de tomate, poderiam ser utilizadas como indicadores do
estado nutricional de K e Mg, respectivamente. Quando as duas enzimas
foram ensaiadas de forma simultânea, o diagnóstico de K e Mg pôde ser
concluído no prazo de duas horas após o recebimento das amostras foliares
(BESFORD, 1978).
A análise de piruvato quinase permite o diagnóstico de concentrações
subótimas de K antes do aparecimento dos sintomas de deficiência visuais do
macronutriente. A fosfatase indica somente a concentração solúvel de Mg e
não quantifica o Mg ligado a estruturas orgânicas. Em experimentos com K e
Mg em plantas de tomate, a atividade de piruvato quinase foi medida no
extrato de limbo e na presença de concentrações ótimas desses nutrientes. Os
valores ótimos da atividade dessa enzima foram comparados com os valores
obtidos sob deficiência de ambos os íons. O ensaio distinguiu claramente as
plantas que receberam os suprimentos adequados ou inadequados de um
nutriente ou outro. O teste também detectou as concentrações subótimas na
folha antes que os sintomas de deficiência aparecessem. A conclusão final foi
de que a atividade de piruvato quinase reflete o estado nutricional de Mg em
tomateiros (BESFORD, 1978).
Micronutrientes
Os micronutrientes Fe, Zn, Cu e Mo foram claramente estabelecidos
como componentes específicos e integrais para determinados sistemas
enzimáticos, enquanto Mg e Mn com frequência são envolvidos como
ativadores. A utilização de atividade enzimática para determinar o nível de
nutrientes em plantas avança a hipótese de que, se um elemento é limitante
em nível iônico numa planta, a deficiência será evidente com uma alteração na
atividade de uma enzima que necessite desse elemento para o seu
funcionamento. Essa hipótese foi testada em plantas cultivadas com
quantidades variáveis de Fe e Cu, e medições de catalase, peroxidase e oxidase
de ácido ascórbico. Esta última enzima teve sua atividade limitada por
deficiência de Cu; a catalase teve atividade reduzida quando o fornecimento de
Fe foi limitado; e a atividade da peroxidase permaneceu constante. A
conclusão foi que a atividade enzimática pareceu oferecer uma maior
probabilidade de sucesso do que outros métodos no diagnóstico do estado
nutricional. Ademais, os sintomas de deficiências de Fe e Mn, por vezes, são
difíceis de diferenciar.
O Fe é um constituinte de várias metaloenzimas, oxidases e peroxidases,
nas quais forma um quelato com o grupo porfirínico. A atividade da
peroxidase foi medida em extratos de folha pela oxidação de pirogalol na
presença de peróxido de hidrogênio (BAR-AKIVA; LAVON, 1968). O
método é simples e mostrou estreitas relações entre a atividade enzimática e o
status de Fe de espécies tão diversas, como citros, aveia e tomate. A estimativa
da atividade da peroxidase e da catalase foi proposta também como um meio
para distinguir entre a deficiência de Fe e Mn (BAR-AKIVA, 1964), conforme
a Tabela 6.1. Em uma grande variedade de culturas – tomate, aveia, espinafre,
vagem, frutas cítricas, trigo, mostarda e milho – há uma estreita relação entre
a concentração de Zn no tecido foliar e a atividade de anidrase carbônica – AC
(DWEVIDI; RANDHAVA, 1974). Nas folhas de citrinos deficientes em Zn, as
atividades de AC diminuem para valores de apenas 25 a 30% em relação às de
folhas não deficientes (BAR-AKIVA et al., 1969).
Embora as deficiências de outros micronutrientes também causem
reduções nas atividades de AC, estas são relativamente pequenas. Vários
índices de AC, referidos como testes rápidos, foram comparados com um
procedimento de extração padrão para AC, e as correlações encontradas foram
superiores a 0,9. Tais testes envolveram a estimativa do CO2 liberado pelo
tecido foliar incubado na presença de NaHCO3. Apesar de os valores da
atividade de AC determinados por esses testes rápidos tenham sido menores
do que aqueles obtidos com a extração da enzima, a relação entre os valores foi
próxima o suficiente para permitir a utilização de testes rápidos para detectar a
deficiência de Zn antes do surgimento de sintomas visuais e antes da detecção
de concentrações inferiores do nutriente no tecido foliar.
A atividade de ascorbato oxidase – AAO é utilizada como um indicador
de Cu disponível em folhas de macieira (WANG; FAUST, 1992). O Cu é um
constituinte da ascorbato oxidase, a qual catalisa a oxidação do ácido ascórbico.
Muitas espécies agrícolas foram comparadas e verificou-se que AAO foi um
bom indicador do Cu disponível na maioria das plantas, havendo, ou não,
sintomas visuais de deficiência desse nutriente. Em limões, a relação entre o
crescimento e a concentração de Cu nas folhas foi ruim, mas entre o
crescimento e a atividade AAO o relacionamento foi muito bom (BAR-
AKIVA et al., 1969). Tal abordagem ultrapassa muitas das dificuldades da
análise da folha no diagnóstico da deficiência de Cu.
Não há indicações claras de que B seja um componente enzimático e há
pouca evidência de que a atividade de algumas enzimas seja estimulada ou
inibida por ele.
Concentrações elevadas de ácido indolacético foram encontradas em
plantas com baixas concentrações de B, além de acúmulo de certos fenóis, tal
como o ácido cafeico, o qual é um inibidor eficaz de oxidase de ácido
indolacético. Por conseguinte, parece mais provável que a acumulação de
fenóis em tecidos deficientes de B seja responsável pelas alterações metabólicas
e lesões celulares em tecidos de plantas. Clemente (2014) encontrou boa
correlação entre teor foliar de B e atividade polifenoloxidase em folhas-índice
de cafeeiro, concluindo que a atividade dessa enzima poderia ser usada como
indicador do estado nutricional do nutriente em Co fea arabica.
A atividade de redução de nitrato é baixa em folhas deficientes de Mo,
mas pode ser facilmente induzida em poucas horas por infiltração dos
segmentos foliares com o nutriente. Sabe-se que existe uma ligação estreita
entre o fornecimento de Mo, a atividade de redução de nitrato e o
desempenho final. Em pecíolos incubados durante duas horas com Mo, houve
aumento na atividade enzimática do tecido da planta deficiente desse metal.
Por conseguinte, a atividade induzida da enzima pode ser utilizada como um
teste para o estado nutricional de Mo.
Pigmentos
Clorofila e pigmentos acessórios são necessários para captar a energia
radiante no processo da fotossíntese, mas a clorofila é geralmente considerada
não limitante, a menos que as plantas estejam com alterações nutricionais
graves. As diferenças na síntese de clorofila são um sintoma comum de
fornecimento inadequado ou desequilíbrio nutricional, mas existem outros
fatores ambientais – como seca e baixas temperaturas – que podem também
diminuir a síntese de clorofila. Há também diferenças genotípicas na síntese de
clorofila e de outros pigmentos de folhas. A descoloração das folhas de
algumas coníferas no inverno, por exemplo, pode ser de origem genética;
logo, não há possibilidade de ser corrigida pelo uso de fertilizantes.
Existe uma relação direta entre o teor de clorofila e a concentração de
vários nutrientes inorgânicos, por exemplo, a relação entre o teor de N e a
clorofila em Pseudotsuga menziesii e Populus euroamericana (RIPULLONE et al.,
2003). As concentrações de outros íons – como P em Trifolium subterraneum
(BOUMA; DOWLING, 1982) e Mg em Zea mays (JEZEK et al., 2015) –
também podem estar diretamente correlacionadas com as concentrações de
clorofila. Uma estreita relação foi demonstrada entre clorofila e concentração
foliar de Fe em três clones de Populus euroamericana quando a concentração de
Fe estava entre 20 e 800 mg/kg (KELLER; KOCH, 1964). Quando a
concentração de Mn estava entre 2 e 20 mg/kg, essa relação com a clorofila foi
encontrada em Picea abies (LANGHEINRICH et al., 1992), e com Cu em Beta
vulgaris L. subsp. vulgaris (DROPPA et al., 1984) e Pinus radiata (LÓPEZ
GORGÉ et al., 1985).
Verifica-se que a clorofila é, apesar da forte correlação com a
concentração de nutrientes, um indicador não específico para o estado
nutricional. Portanto, é preciso ter cuidado ao utilizar a cor da folha como um
indicador do estado nutricional de uma planta. De qualquer forma, as ideias e
sugestões permanecem válidas, em princípio, entretanto requerem uma
investigação em cada caso; como exemplo, a concentração foliar de N, que é
condicionada pelo teor total de clorofila em berinjela, mas não em melão.
Indicadores histológicos
Distúrbios nutricionais são geralmente relacionados com alterações
típicas na estrutura fina dos tecidos, bem como nas suas células e organelas.
Estudos microscópicos demonstraram alterações anatômicas e morfológicas
nos tecidos do caule e da folha devido a deficiências de Cu, B e Mo, e tais
abordagens podem ser utilizadas para o diagnóstico.
Uma combinação de métodos histológicos e histoquímicos é útil no
diagnóstico de deficiência de Cu. Tais métodos para o Cu são bem conhecidos,
já que a deterioração da lignina nas paredes celulares é a mudança anatômica
mais comum induzida por deficiência de Cu em plantas superiores. Isto dá
origem à distorção característica de folhas jovens ou à dobra e torção de caules
e ramos, bem como ao aumento da suscetibilidade ao ataque de parasitas em
cereais, particularmente em combinação com o grande suprimento de N.
Como já foi demonstrado, o Cu exerce um efeito marcante sobre a formação e
composição química de paredes celulares. Em folhas deficientes, a relação
entre a massa de matéria fresca total e a massa de matéria seca diminui ao
mesmo tempo que a proporção de celulose aumenta e o teor de lignina
permanece próximo à metade do encontrado em folhas com Cu adequado.
Esse efeito de lignificação é ainda mais evidente nas células de esclerênquima
do tecido do caule. Em plantas com deficiências graves de Cu, os vasos do
xilema são também insuficientemente lignificados.
A lenhificação, ou lignificação, ocorre mesmo com uma deficiência leve
e serve, assim, como um índice do estado nutricional de Cu. Como a
lenhificação responde de forma rápida ao fornecimento de Cu, os períodos de
transição de deficiência desse nutriente durante o período de crescimento
podem ser facilmente identificados por variações no grau de lenhificação nas
seções do caule.
A princípio, esses métodos devem ser válidos se o teor total ou fração de
um nutriente forem pouco correlacionados com a sua disponibilidade
fisiológica. Nesse aspecto, se métodos enzimáticos podem ou não substituir a
análise foliar como a base para recomendar determinado fertilizante, ou a dose
a ser aplicada, dependeria da sua seletividade, precisão e, sobretudo, se o
processo é suficientemente simples para fazer uma avaliação direta ou não.
No caso de Fe com peroxidase, Cu com ascorbato-oxidase e peroxidase e
N com nitrato redutase, os métodos enzimáticos parecem cumprir esses
requisitos. No entanto, o estabelecimento de tais métodos continua a ser um
problema quando uma concentração iônica adequada não está disponível e
quando não há sintomas visíveis de deficiência. De qualquer maneira, ainda é
uma questão em aberto saber se métodos enzimáticos, especialmente para
micronutrientes em geral, se tornarão métodos complementares para avaliar o
estado nutricional das plantas, como é o teste rápido do NO3– para a
recomendação de fertilizantes nitrogenados.
Evidentemente, a análise foliar não é totalmente adequada como um
método de diagnóstico, mas é necessária. Ela deve, sempre que preciso, ser
acompanhada pela análise de nutrientes solúveis, frações iônicas e análise
enzimática.
Avaliação da fertilidade do solo
A fertilidade do solo tem sido conceituada como a capacidade que um
solo possui de ceder nutrientes para as plantas. De forma simplificada, pode-se
dizer que a fertilidade do solo se relaciona à quantidade de nutrientes que a
planta pode absorver durante o seu ciclo de vida, ou seja, à disponibilidade
deles no solo (ALVAREZ V., 1996). A quantidade disponível para a absorção
é, entretanto, uma fração das formas químicas dos nutrientes que alcançam,
via mecanismo de transporte, os sítios de absorção do sistema radicular.
A avaliação da fertilidade quantifica a capacidade dos solos de suprirem
nutrientes para o ótimo crescimento e desenvolvimento das plantas, e também
outros fatores químicos que limitam a produtividade, tais como acidez,
salinidade e elementos fitotóxicos.
Além de ser importante na produção agrícola, a avaliação da fertilidade é
indispensável à recuperação de áreas perturbadas pela atividade antrópica, por
exemplo, áreas afetadas pela mineração, construção de estradas e grandes
obras. Nesses últimos casos, o foco é a estabilidade da cobertura vegetal, o
aumento da atividade microbiana para a degradação de contaminantes
orgânicos e a fitorremediação para mitigação de contaminantes inorgânicos e
metais pesados (CANTARUTTI et al., 2007).
Embora não permita a avaliação do estado nutricional das plantas, a
avaliação da fertilidade do solo possibilita prognosticar a ocorrência de
carências nutricionais durante o cultivo. A vantagem da análise química do
solo é a possibilidade de predição da disponibilidade de nutrientes –
deficiência ou toxidez – antes do cultivo, de forma que ambos, análise do solo
e de tecidos, são necessários e complementares para o adequado manejo
nutricional dos cultivos.
Em geral, a avaliação da fertilidade usa a análise de solo como técnica de
diagnóstico e fundamenta-se na identificação da classe de fertilidade em que o
solo se enquadra, a qual serve de base para recomendar fertilizantes. A
avaliação da fertilidade envolve processos de amostragem, métodos de análise,
técnicas de diagnóstico dos resultados e modelos de interpretação e de
recomendação de corretivos e fertilizantes.
Amostragem
A avaliação por meio de análise química depende muito de uma
criteriosa amostragem, pois a partir de uma amostra não representativa nunca
se obterá uma adequada caracterização da fertilidade do solo. Em geral, a
variabilidade dos resultados advinda dos procedimentos laboratoriais é
pequena frente àquela resultante de amostragens inadequadas e não
representativas.
O solo é complexo e heterogêneo, variando em pequenas distâncias
horizontais e verticais. Essa variabilidade decorre de vários fatores, tais como
mineralogia, vegetação e topografia, e é intensamente afetada pela atividade
antrópica. Por isso, uma área a ser amostrada deve ser dividida em glebas ou
talhões homogêneos. Essa divisão deve-se basear em macrovariações do solo
facilmente perceptíveis, a exemplo da topografia, cobertura vegetal natural,
uso agrícola, textura, cor, condições de drenagem, histórico de manejo e de
produtividade agrícola. Tais características e suas combinações têm mais
importância que o tamanho da gleba ou talhão, embora não se recomende a
divisão em unidades superiores a 10 ha.
Devem ser coletadas de 10 a 20 amostras simples por gleba. Esse número
não deve ser inferior a 10 mesmo em glebas pequenas. Todas as amostras
simples devem ter o mesmo volume de solo e devem ser coletadas na mesma
profundidade, o que se consegue facilmente pelo emprego de trados ou sondas
específicas para amostragem de solo.
A profundidade de amostragem deve ser definida de acordo com a
cultura que é ou será cultivada na gleba. Deve-se amostrar a camada de solo
que será explorada pelo maior volume do sistema radicular da planta. Para
plantio de culturas anuais ou de pastagens, amostra-se a camada de 0–20 cm;
para pastagens já estabelecidas, a amostragem pode ser de 0–10 cm e, para
culturas perenes, a amostragem deve ser feita por camadas de 0–20, de 20–40 e
de 40–60 cm, segundo a necessidade (CANTARUTTI et al., 2007).
Recomenda-se que os pontos de coleta das amostras simples sejam
aleatoriamente distribuídos em toda a gleba, o que se obtém percorrendo-a em
zigue-zague. É importante evitar formigueiros, cupinzeiros e locais de
queimada e de deposição de fezes em pastagens. Ainda, os resíduos vegetais
sobre o solo devem ser removidos no ponto de coleta da amostra simples.
Em sistemas de plantio direto ou quando se faz fertilização localizada, a
variação da característica analisada pode não obedecer a uma distribuição
espacial aleatória, e os resultados da análise de uma amostra composta podem
não representar a fertilidade média da gleba. Nesses casos, recomenda-se usar
técnicas de geoestatística para definir a distância mínima entre amostras
simples para que elas sejam consideradas independentes.
As amostras simples devem ser misturadas e homogeneizadas, obtendo-
se uma amostra composta por gleba. Uma subamostra de cerca de 300 cm3
deverá ser encaminhada ao laboratório, no qual, após secagem, será tamisada
em peneira com malha de 2 mm.
Análise química
A análise química de solo fundamenta-se no uso de extratores químicos.
Extratores são soluções ou substâncias que removem do solo – por
complexação, desorção, solubilização, troca iônica ou hidrólise – formas
químicas dos nutrientes consideradas disponíveis para a planta, ou elementos
químicos promotores de salinização do solo ou potencialmente tóxicos às
plantas. Uma fração das quantidades extraídas encontra-se na solução do solo
– fração ativa ou fator intensidade. A maior fração, no entanto, encontra-se
integrada à fase sólida, em equilíbrio com a fração ativa, responsável pela
reposição do elemento na solução do solo quando sua concentração se reduz –
fração lábil ou fator quantidade.
O método de análise química do solo inclui, além do extrator, os demais
procedimentos que o caracterizam, como a relação entre a massa ou volume de
solo e o da solução extratora, a forma e o tempo de agitação – tempo de reação
ou de equilíbrio –, filtração ou decantação da suspensão solo-extrator e o
método de dosagem analítica do nutriente ou do elemento químico de
interesse.
O teor do nutriente extraído pelo método de análise química, ou seja, o
nutriente recuperado será indicador da disponibilidade se apresentar
correlação significativa com algum indicador da performance da planta. A
análise de correlação determina se as variações na produção ou no conteúdo
do nutriente na planta são proporcionais aos teores extraídos pelo método de
análise.
É desejável que os métodos de análise química do solo sejam aplicáveis a
solos com ampla variação em suas propriedades. Para isso, no processo de
seleção de métodos de análise, devem ser empregados solos com ampla
variação quanto à classe taxonômica, mineralogia, classe textural, teor de
matéria orgânica e, certamente, disponibilidade do nutriente em estudo.
A sensibilidade do método, que demonstra sua capacidade de recuperar o
nutriente diante do aumento de sua disponibilidade, é outra característica
importante. O aumento da disponibilidade é conseguido com a adição de doses
do nutriente em questão. A regressão estabelecida entre os teores do nutriente
extraído pelo método de análise e as doses do nutriente aplicadas possibilita
estimar a capacidade de recuperação do método.
Um método universal de extração foi proposto por Soltanpour e Schwab
(1977) para solos neutros e básicos. Ele consiste na extração durante 15
minutos (método cinético) com AB-DTPA (bicarbonato de amônio e agente
quelante DTPA) a pH 7,6 num sistema aberto. O íon amônio deslocará o K+,
Ca2+ e Mg2+ dos sítios de troca. O bicarbonato pode trocar com o fosfato dos
minerais lábeis do solo e nas superfícies de sorção. DTPA é um agente
quelante forte capaz de dissolver as formas lábeis de Fe, Mn, Cu e Zn, e
também metais pesados. O nitrato e B-solúvel em água também são extraídos.
No Brasil, os métodos de análise química de solo podem ser
categorizados em dois grupos: um fundamentado no uso do extrator ácido
Mehlich-1 e da solução salina de KCl; outro, no uso das resinas de troca iônica
e do extrator quelatante DTPA.
Uma vez extraídos e medidos os elementos, a concentração obtida deve
apresentar bom índice de sua disponibilidade para as plantas e ser comparada
com valores de referência tabelados, auxiliando nas tomadas de decisão quanto
às recomendações de adubação das culturas. A Tabela 6.2 resume os diferentes
extratores/métodos para análises de solo de rotina empregados no Brasil.
Além das análises descritas na Tabela 6.2, no resultado da análise de solo
também deve constar os valores estimados para a soma de bases – SB, a CTC
total (a pH 7), CTC efetiva, a percentagem de saturação por bases – V, a
percentagem de saturação por Al. A textura (distribuição do tamanho das
partículas do solo) determinada pelo estudo da sedimentação é uma análise
física comumente realizada, uma vez que é exigida em alguns manuais de
recomendação de adubação para a recomendação de nutrientes como o P.
Fe, Mn, Cu e Zn
Mehlich-1(1) DTPA(4)
disponíveis
(1)
Duplo ácido: 0,0125 molL–1 de H2SO4 + 0,050 molL–1 de HCl. (2) Resina
mista catiônica e aniônica. (3) Solução mista de cloreto de cálcio, cromato de
potássio, acetato de cálcio e trietanolamina, com pH tamponado em 7,5. (4)
Ácido dietilenotriaminopentacético.
Fonte: VAN RAIJ et al., 2001; DONAGEMA et al., 2011.
Calibração do método de análise química do
solo
A calibração tem por objetivo definir níveis críticos, classes de fertilidade
ou de disponibilidade do nutriente e doses dos nutrientes para serem
aplicadas, quando necessárias. Com a calibração, busca-se o relacionamento
matemático do teor do nutriente extraído pelo método e a resposta da planta à
adição do nutriente (SIMS, 1993).
O NC é conceituado como o teor do nutriente no solo, extraído pelo
método de análise, que discrimina solos com baixa e alta probabilidade de
resposta à adubação, ou que determina 80 a 90% da produção máxima. Para
obter o NC a partir de curvas de respostas da produção, estima-se o teor do
nutriente no solo que proporciona 80 a 90% da produção máxima. O problema
do NC é que ele define apenas duas faixas ou classes de interpretação: baixa e
alta disponibilidade. No entanto, a produção relativa pode ser usada para
definir outras classes de fertilidade. Atribui-se classe de disponibilidade baixa
àquela que resulta em produções < 50% da máxima. A faixa de disponibilidade
média é aquela correspondente a produções entre 50 e 70% da máxima.
Produções entre 70 e 90% e entre 90 e 100% da máxima permitem definir,
respectivamente, as classes de disponibilidade média e alta.
Recomendação de adubação
O diagnóstico da fertilidade do solo se complementa com a definição das
doses dos nutrientes que serão recomendadas de acordo com a classe de
fertilidade. O foco é alcançar o NC de disponibilidade de nutrientes no solo e
restituir as quantidades de nutrientes exportadas pelas colheitas.
Os critérios de diagnóstico da fertilidade com base na análise química do
solo, assim como as orientações para fertilização das culturas, geralmente são
organizados em manuais em que as recomendações de fertilizantes para as
diferentes culturas são sistematizadas em tabelas de acordo com as classes de
disponibilidade dos nutrientes no solo e a produtividade esperada.
Referências
ALVAREZ V., V. H.; LEITE, R. A. Fundamentos estatísticos das fórmulas usadas para cálculo
dos índices DRIS. Boletim Informativo da Sociedade Brasileira de Ciência do Solo, n.
24, v.1, p. 20-25. 1999.
ALVAREZ V., V. H. Correlação e calibração de métodos de análises de solo. In: ALVAREZ V.,
V. H.; FONTES, L. E. F.; FONTES, M. P. F. (ed.). O solo nos grandes domínios
morfoclimáticos do Brasil e o desenvolvimento sustentado. Viçosa, MG: Sociedade
Brasileira de Ciência do Solo, 1996. p. 615-646.
BAR-AKIVA, A. Visible symptoms and chemical analysis versus biochemical indicators as a
mean of diagnosing iron and manganese deficiencies in Citrus plants. In: BOULD, C.;
PRÉVOT, P.; MAGNESS, J. R. (ed.). Plant analysis and fertilizer problems. East
Lanching: American Society for Horticultural Science, 1964. v. 4. 430 p.
BAR-AKIVA, A.; LAVON R. Peroxidase activity as an indicator of the iron requeriment of
Citrus plants. The Israel Journal of Agricultural Research, v. 18, p. 145-153, 1968.
BAR-AKIVA, A.; LAVON R.; SAGIV J. Ascorbic acid oxidase activity as a measure of the
copper nutrition requirement of Citrus trees. Agrochimica, v. 14, p. 47-54, 1969.
BOUMA, D. Diagnosis of mineral deficiencies using plant tests. In: LAUCHLI, A.; BIELESKI,
R. L. (ed.). Encyclopedia of plant physiology. Nova York: Springer, 1983. p. 120-146.
BOUMA, D.; DOWLING, E. J. The Relationship between the phosphorus status of
subterranean clover plants and losses in chlorophyll from detached leaves: a basis for the
visual diagnosis of phosphorus deficiency. Annals of Botany, v. 49, n. 5, p. 637-648, 1982.
BRUMAGEN, D. M.; HIATT, A. J. The relationship of oxalic acid to the translocation and
utilization of calcium in Nicotiana tabacum. Plant and Soil, v. 24, p. 239-249, 1966.
KADIR S. A. Fruit quality at harvest of “Jonathan” apple treated with foliarly-applied calcium
chloride. Journal of Plant Nutrition, v. 27, n. 11, p. 1991-2006, 2005.
KELLER, T.; KOCH, W. The effect of iron chelate fertilization of poplar upon CQ-uptake,
leaf size, and content of leaf pigments and iron. Plant and Soil, n. 20, n. 1, p. 116-126, 1964.
KENWORTHY, A. L. Interpreting the balance of nutrient-elements in leaves of fruit trees.
In: REUTHER, W. Plant analysis and fertilizers problems. Washington, DC: American
Institute of Biological Science, 1961. p. 28-43.
KIENHOLZ, J. R. Stony pit of pears. In: STEFFERUD, A. (ed.). Plant diseases: year book
agriculture 1953. Washington, DC: United States Department of Agriculture, 1953. p. 670-
673.
KOO, R. C.; REESE, R. L. A comparison of potash sources and rates for citrus. Proceedings
of the Florida State Horticultural Society, v. 85, p. 1-5, 1972.
KOSEOGLU, A. T.; ERYUCE, N.; ÇOLAKOGLU, H. The effects of N, P, K fertilizers on fruit
yield and quality of satsuma mandarins (Citrus unshiu MARC.). Acta Horticulturae, n. 379,
p. 89-96, 1995.
LANGHEINRICH, U.; TISCHNER, R.; GODBOLD D. L. Influence of a high Mn supply on
Norway spruce (Picea abies (L.) Karst.) seedlings in relation to the nitrogen source. Tree
Physiology, v. 10, p. 259-271, 1992.
LEECE, D. R.; ENDE, B. Diagnostic leaf analysis for stone fruit. Australian Journal of
Experimental Agriculture and Animal Husbandry, v. 15, n. 72, p. 123-128, 1975.
LÓPEZ GORGÉ, J.; LASTRA, O.; CHUECA, A.; LACHICA, M. Use of photosynthetic
parameters for the diagnosis of copper deficiency in Pinus radiata seedlings. Physiologia
Plantarum. v. 65, p. 508-512, 1985.
LUCENA, J. J. Methods of diagnosis of mineral nutrition of plants: a critical review. Acta
Horticulturae, v. 448, p. 179-192, 1997.
MOORBY, R.; BESFORD, R. T. Mineral nutrition and growth. In: LAUCHLI, A.; BIELESKI,
R. L. Encyclopedia of plant physiology: inorganic plant nutrition, part B. Nova York:
Springer, 1983. p. 481-527.
PARENT, L. E.; DAFIR, M. A theoretical concept of compositional nutrient diagnosis.
Journal of the American Society for Horticultural Science, v. 119, p. 239-242, 2001.
PERRING, M. A.; PEARSON, K. Incidence of bitter pit in relation to the calcium content of
apples: calcium distribution in the fruit. Journal of the Science and Food Agriculture v.
37, n. 8, p. 709-718, 1986.
PESTANA, M.; VERENNES, A.; GOSS, M. J.; ABADÍA, J.; FARIA, E. A. Floral analysis as a
tool to diagnose iron chlorosis in orange trees. Plant and Soil, v. 259, n. 1/2, p. 287-295,
2004.
REUTER, D. J.; ROBINSON, J. B. Plant analysis: an interpretation manual. Melbourne:
Inkata Press, 1988. 218 p.
RIPULLONE, F.; GRASSI, G.; LAUTERI, M.; BORGHETTI, M. Photosynthesis-nitrogen
relationships: interpretation of different patterns between Pseudotsuga menziesii and Populus ×
euroamericana in a mini-stand experiment. Tree Physiology, v. 23, p. 137-144, 2003.
SANZ, A.; MONERRI, C.; GONZALEZ-FERRER, J.; GUARDIOLA, J. L. Changes in
carbohydrates and mineral elements in citrus leaves during flowering and fruit set.
Physiologia Plantarum, v. 69, p. 93-98, 1987.
SANZ, M.; CARRERA, M.; MONTAÑÉS, L. El estado nutricional del peral. Possibilidad del
diagnóstico floral. Hortofruticultura, v. 10, p. 60-62, 1993.
SANZ, M.; MACHÍN, J. Aplicación del análisis floral al prognóstico y diagnóstico del bitter-
pit. Información Técnica Económica Agraria, v. 95, n. 2, p. 118-124, 1999.
SANZ, M.; MONTAÑÉS, L. Flowers analysis as a new approach to diagnosing the nutritional
status of peach tree. Journal of Plant Nutrition, v. 18, n. 8, p. 1667-1675, 1995.
SIMS, J. T. Environmental soil testing for phosphorus. Journal of Production
Agriculture, v. 6, n. 4, p. 501-507, 1993.
SMITH, T. A.; RICHARDS, F. J. The biosynthesis of putrescine in higher plants and its
relation to potassium nutrition. Biochemistry Journal, v. 82, p. 292-294, 1962.
SOLTANPOUR, P. N.; SCHWAB, A. P. A new soil test for simultaneous extraction of macro
and micronutrients in alkaline soils. Commun. Soil Sci. Plan, v. 8, p. 195-207, 1977.
SRIVASTAVA, A. K.; SINGH, S. Biochemical markers and nutriente constraints diagnosis in
citrus. Journal of Plant Nutrition, v. 29, n. 5, p. 827-855, 2005.
TAIZ, L.; ZEIGER, E. Fisiologia vegetal. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2004. 719 p.
VAN RAIJ, B.; ANDRADE, J. C.; CANTARELLA, H.; QUAGGIO, J. A. (ed.). Análise
química para avaliação da fertilidade de solos tropicais. Campinas: Instituto
Agronômico de Campinas, 2001. 285 p.
VARGAS, L.; LORENTE, F. A.; SÁNCHEZ, A.; VALENZUELA, J. L.; ROMERO, L.
Phosphorus, calcium, pectin and carbohydrate fractions in varieties of watermelon. Acta
Horticulturae, n. 287, p. 469-476. 1991.
WADLEIGH, C. H.; RICHARDS, L. A. Soil moisture and the mineral nutrition of plants. In:
TRUOG, E. Mineral nutrition of plants. Wisconsin: University of Wisconsin, p. 411-450,
1951.
WALWORTH, J. L.; SUMNER, M. E. Foliar diagnosis: a review. In: TINKER, B.; LAUCHLI,
A. Advances in plant nutrition. Nova York: Praeger, 1988. p. 193-241.
WANG, S. Y.; FAUST, M. Ascorbic acid oxidase activity in apple buds: relation to
Thidiazuron-induced lateral budbreak. Hort Science, v. 27, p. 1102-1105, 1992.
WITT, H. H.; JUNGK, A. The nitrate inducible nitrate reductase activity in relation to
nitrogen nutritional status of plants. In: WEHRMANN, J. (ed.). Proceedings of the 7th
International Colloquium on Plant Analysis and Fertility Problems. Hanôver: German
Society for Plant Nutrition, 1974. p. 519-527.
ZABINI, A. Diagnóstico nutricional do cafeeiro por meio da análise de flores, folhas e
extrato foliar. 2010. 78 f. Tese (Doutorado em Fitotecnia) – Universidade Federal de Viçosa,
Viçosa, MG, 2010.
Propriedades físicas
As propriedades físicas são de primordial importância para a escolha de
um substrato. Durante o crescimento das plantas, os atributos do substrato são
muitas vezes modificados pela degradação física de seus componentes e pela
ocupação do espaço poroso pelas raízes. Conhecer as exigências das plantas e o
sistema de manejo a ser adotado é fundamental para definir, previamente,
quais propriedades físicas o substrato a ser utilizado deve apresentar. Além
disso, o conhecimento das propriedades físicas permite a melhor padronização
do substrato, auxilia os produtores na decisão da sua aquisição e uso, força as
indústrias a manter ou melhorar a qualidade e possibilita ao poder público
fiscalizar a veracidade das informações impressas nas embalagens (ZORZETO
et al., 2014).
Densidade do substrato, densidade das partículas e
porosidade
A densidade do substrato – ds é a proporção entre a massa das partículas
secas e o volume ocupado pelo substrato (incluindo o espaço poroso), em geral
dada em kg/m3. A densidade dos substratos para cultivo de plantas
normalmente é muito baixa porque eles são preparados a partir de materiais
“leves”, o que facilita seu manuseio. Nos casos em que é requerida maior
estabilidade do substrato, para que, por exemplo, as plantas possam enfrentar
correntes de vento sem sofrer tombamento, são selecionados materiais de
densidade média, ou um pouco mais “pesados”.
As espumas fenólicas, fibra de coco, lãs minerais, vermiculita e serragem
têm densidade muito baixa; argila expandida, pumita e cascas, densidade
mediana; já areia e cascalho, alta. Para produção de mudas, recomendam-se
substratos com densidade entre 100 e 300 kg/m3; para vasos com altura menor
que 20 cm, substratos com densidade entre 200 e 400 kg/m3. Vasos com
diâmetro entre 20 e 30 cm requerem substratos com densidade entre 300 e 500
kg/m3, e para vasos com maiores dimensões recomendam-se substratos com
densidade entre 500 e 800 kg/m3.
A densidade das partículas ou dos sólidos – dp é a relação entre a massa
das partículas e o seu volume (excluído o espaço poroso, inclusive aquele do
interior das partículas). O espaço poroso total (porosidade) do substrato – pt
pode ser obtido a partir da densidade de partículas e da densidade aparente, por
meio da equação pt = 1 – ds/dp. O volume dos poros é ocupado por quantidades
complementares de ar e de água, o que, em condições de cultivo, será regulado
pela quantidade de água adicionada pela chuva e/ou irrigação. Quanto maior o
tamanho das partículas, ou seja, quanto menos decomposto for o substrato,
menor será sua densidade.
O espaço poroso ocupado por ar é relevante porque dele dependem a
respiração do sistema radicular e da biomassa microbiana. A interconexão
entre os poros e a sua tortuosidade afeta o movimento de água no substrato e,
consequentemente, também afeta o desenvolvimento do sistema radicular.
Além disso, ao longo do tempo, com a reorganização das partículas no
recipiente, os poros maiores poderão ser preenchidos por pequenas partículas,
condicionando novas condições de aeração e de fluxo de água. Tal fato
demonstra que a distribuição das partículas quanto ao tamanho (ou
granulometria) precisa ser considerada como de grande importância para a
qualidade do substrato.
Fase gasosa
A fase gasosa, volumetricamente considerável em um substrato, é
essencial, pois permite tanto o fornecimento de oxigênio ao sistema radicular
quanto a remoção do dióxido de carbono produzido pela respiração de raízes e
microrganismos e pela degradação de compostos orgânicos. O sistema
radicular é sempre mais desenvolvido em locais de mais fácil circulação de ar.
A umidade relativa do ar nos poros de um substrato é próxima a 100%.
Como consequência da respiração, a concentração de CO2 é mais elevada e a de
O2, mais baixa que na atmosfera livre; se este ar não for renovado, reações de
redução podem ocorrer, formando gases como metano e etileno.
O movimento de gases em meios porosos é regido por dois processos
principais: a difusão e a advecção, tanto na fase gasosa quanto na fase líquida do
substrato. A difusão trata do deslocamento de um determinado componente –
no caso, gás – em relação à fase do sistema, líquida ou gasosa, em que está
inserido. A difusão ocorre de acordo com a Lei de Fick, em resposta ao
gradiente de concentração desse gás no meio em questão. Em se tratando da
fase gasosa, o mais comum é que o gradiente do gás de interesse – O2, CO2 etc.
– seja estabelecido não em termos de sua concentração, mas em termos de sua
pressão parcial.
A advecção, por sua vez, trata do deslocamento conjunto de todos os
componentes de uma determinada fase, líquida ou gasosa, do sistema – ou seja,
é o chamado luxo de massa. Esse processo de transporte ocorre de acordo com
a Lei de Darcy, em resposta ao gradiente de potencial total, para a fase líquida,
ou ao gradiente de pressão do ar, para a fase gasosa. Para este último (e mais
relevante) caso, o resultado é que o transporte de ar se dá no sentido de reduzir
eventuais desequilíbrios entre a pressão no espaço poroso do substrato e a
pressão atmosférica local. Esses desequilíbrios de pressão podem ter como
origem duas fontes principais: (i) a expansão térmica dos gases e (ii) as
variações de umidade do substrato.
O desequilíbrio de pressão relacionado à expansão térmica da fase gasosa
decorre das variações na disponibilidade e dinâmica de energia térmica ao
longo do tempo (dia e noite) e do espaço (superfície e interior do substrato),
que levam à contração e expansão térmica dos gases. A criação de gradientes de
temperatura no interior do substrato, e deste em relação ao ar atmosférico,
decorrentes do ganho e posterior perda de energia térmica do substrato,
determina sua expulsão ou sucção. Durante o aquecimento, por expansão,
parte do ar é expulsa do espaço poroso do substrato. Já durante o resfriamento,
o ar atmosférico é succionado para o interior dos poros em decorrência da
contração do ar ali presente previamente.
Desequilíbrios de pressão no ar podem decorrer de variações na umidade
do substrato. Quando água é adicionada ao substrato pela chuva ou irrigação, o
ar ali presente experimenta uma elevação de pressão e parte dele é expulso, ou
seja, é deslocado para fora substrato, similarmente ao que ocorre durante o
aquecimento. Em compensação, a redução da umidade por drenagem,
evaporação ou absorção pelas plantas tem efeito similar ao descrito no
resfriamento do substrato, com ar atmosférico sendo succionado para o
interior do substrato em virtude da redução da pressão de ar ali presente, uma
vez que este, com a saída de água, passa a ocupar um maior volume de poros.
Para pequenas dimensões, como em geral é o caso da zona radicular das
culturas, particularmente no cultivo em vasos, a contribuição da difusão
suplanta a da advecção. Enquanto a difusão é um processo contínuo, que
permite tanto o CO2 produzido pela respiração deixar o ar do solo quanto O2
consumido nesse processo ser reposto a partir da atmosfera, a advecção é um
processo eventual, dependente de fatores externos, a exemplo da oscilação da
temperatura e do conteúdo de água. Para o cultivo em vasos, em que variações
espaciais e temporais de temperatura e umidade no substrato podem ser muito
expressivas, a convecção pode ter um papel de maior destaque na renovação do
ar do espaço poroso.
Quanto menor o tamanho das partículas do substrato, maior a retenção
de água; porém, se as partículas forem extremamente pequenas, pode ocorrer
asfixia radicular. Substratos com predominância de partículas com diâmetro
menor que 1 mm tendem a apresentar problemas de aeração e compactação, e
substratos com predominância de partículas com diâmetro maior que 5 mm
tendem a ser excessivamente drenados e apresentar baixa disponibilidade de
água. De modo geral, recomenda-se que os substratos apresentem de 35 a 50%
v:v de capacidade de retenção de água, e de 25 a 40% v:v de espaço de aeração,
após drenagem.
Propriedades químicas
Semelhantemente ao solo, as propriedades químicas dos substratos
dependem das interações das fases sólida, líquida e gasosa.
As raízes absorvem os nutrientes da fase líquida do substrato, em que os
elementos podem, de forma mais ou menos intensa, estar interagindo com as
cargas livres da fase sólida do substrato. As cargas negativas estão relacionadas
à CTC (ver Capítulo 1). Com a adição de cátions – Ca, Mg, K – ao substrato
por meio de adubação, eles podem ficar retidos nas cargas negativas. Após a
redução de sua concentração na solução devido à absorção pelas plantas ou à
lixiviação, esses cátions se deslocam da fase sólida para a solução. Os elementos
aniônicos, adicionados pela fertilização, podem, por sua vez, ser adsorvidos às
cargas positivas do substrato. De modo similar ao que ocorre com os cátions,
os ânions podem ser liberados para a solução por ocasião do decréscimo na
concentração na solução depois de serem absorvidos. Na solução ocorrem
também reações de precipitação e complexação dos elementos, e ainda reações
de redução e oxidação, em que fatores como pH e difusão de O2 exercerão
influência direta ou indireta.
De acordo com a reatividade, química os substratos podem ser
classificados em dois grupos, representando condições extremas:
Substratos quimicamente inertes: são aqueles que não apresentam
degradação química ou bioquímica, não são capazes de liberar nutrientes e não
afetam a nutrição das culturas. Eles atuam apenas como suporte físico da
planta.
Substratos reativos ou não inertes: são aqueles que reagem liberando
nutrientes para a solução devido à degradação, dissolução, troca ou outras
reações.
Relação C/N
A relação C/N do material de constituição do substrato é importante
porque influencia na taxa de decomposição desse material. Os materiais
orgânicos são fonte de carbono orgânico para os microrganismos
heterotróficos obterem energia. Nesse processo, denominado mineralização, os
elementos minerais constituintes da matéria orgânica passam para o meio em
formas disponíveis. A utilização desses nutrientes pelos microrganismos,
tornando-os novamente orgânicos e indisponíveis para as plantas, é chamada
de imobilização.
Um dos fatores que regula a taxa de mineralização da matéria orgânica,
no caso o substrato, é a relação C/N, como já discutido no Capítulo 1.
Materiais com baixa relação C/N (menor que 25) apresentam alta taxa de
mineralização, o que acelera o processo de decomposição do substrato. Relação
C/N acima de 50 promove a imobilização do N na biomassa microbiana. Nesse
caso, a atividade microbiana diminui devido à limitação no teor de N
disponível, e a taxa de decomposição do substrato também é reduzida. Assim, a
direção para onde os processos de mineralização-imobilização tendem depende
da relação C/N (CANTARELLA, 2007). Substratos com constituintes
orgânicos que têm baixa relação C/N tendem a sofrer decomposição,
acompanhada por redução de volume; logo, devem ser evitados. Materiais
orgânicos com alta relação C/N e aqueles com alta relação lignina/N são mais
estáveis, podendo ser utilizados na composição de substratos porque têm
menor alteração de volume durante o cultivo.
pH
O pH tem grande importância em substratos orgânicos, pois interfere em
sua CTC, disponibilidade de nutrientes e atividade biológica. O pH do
substrato deve ser adequado para o crescimento da planta, variando entre 5,5 e
6,5. As turfas normalmente são ácidas – pH próximo de 3 –, enquanto a perlita
ou vermiculita apresentam pH elevado – cerca de 8.
Conforme discutido no Capítulo 1, o pH altera a disponibilidade de
macro e micronutrientes. Em valores de pH mais alcalinos, acima de 7, o P
pode precipitar-se com Ca formando compostos de menor solubilidade como
Ca10(PO4)6(OH)2.
Além do pH original do material sólido que compõe o substrato, a
absorção diferencial de cátions e ânions pelas plantas também altera o pH da
solução do substrato. A maior absorção de cátions pelas raízes promove a
diminuição do pH, enquanto a maior absorção de ânions torna o meio mais
alcalino. O N pode ser fornecido, via fertilização, tanto na forma catiônica
(NH4+) como aniônica (NO3–). É um elemento requerido pelas plantas em
quantidades relativamente altas quando comparado aos outros elementos
essenciais. Quando fornecido como ânion (NO3–), aumenta o pH; como cátion
(NH4+), o reduz. Por isso deve-se ter o cuidado ao selecionar a fonte de N, ou
fazer uso das duas fontes com vistas a evitar alterações abruptas do pH; é
necessário, ainda, monitorar o pH do substrato.
Condutividade elétrica
A condutividade elétrica – CE em um extrato aquoso do substrato
permite inferir sobre a concentração de íons nesse substrato. Quanto maior a
CE, maior a concentração de íons, nutrientes ou não. CE elevada indica
acúmulo de sais. Em substratos a condutividade elétrica deve estar abaixo de 1
dS m–1. Quando há suspeita de presença de elementos potencialmente tóxicos,
por exemplo, o Na, é importante que além da medida da CE se determine a
concentração desses elementos.
O acúmulo de sais na superfície dos substratos ocorre principalmente
devido ao excesso de adubação, pela falta de lixiviação associada à alta
transpiração das plantas e à evaporação dentro da casa de vegetação. A redução
da salinidade nos substratos pode ser obtida com duas ou três irrigações
abundantes antes do plantio. Nesse caso, o conteúdo de nutrientes extraído
pela água deve ser descontado quando forem adicionadas soluções nutritivas
durante o cultivo. Outra técnica é a aplicação de gesso agrícola, que promove a
lixiviação de elementos químicos para camadas mais profundas ou para fora do
substrato junto com a água percolada.
Propriedades biológicas
É de consenso geral que a estabilidade biológica dos substratos é definida
como a resistência à biodegradação dos seus componentes orgânicos. A
biodegradação pode aumentar quando se usa composto proveniente de
subprodutos orgânicos de maturação incompleta.
A baixa estabilidade biológica do substrato pode acarretar a compactação
física devido à diminuição no tamanho dos materiais com perda de volume e
redução da porosidade total do substrato durante o cultivo. Também pode
ocorrer alteração nas propriedades químicas pelo aumento do pH e da
salinidade em razão da mineralização dos nutrientes. Por isso é importante
conhecer e medir a bioestabilidade dos materiais utilizados.
A relação C/N tem sido usada como um índice de bioestabilidade, mas já
foi demonstrado que nem sempre é suficiente; conhecer a composição do
material orgânico e as suas alterações torna-se, então, necessário.
Novos índices devem ser criados para se determinar as taxas de
maturidade e estabilidade do composto para a avaliação dos substratos.
Normalmente a temperatura do material compostado é estável, abaixo de
35 oC, o volume dele é reduzido a cerca de 1/3 do seu volume inicial e os
constituintes encontram-se degradados fisicamente, ou seja, não são facilmente
identificáveis. O material atinge a forma recalcitrante.
Durante o cultivo, alterações no aspecto físico e no volume do substrato
devem ser monitoradas tendo em vista a possibilidade de aumento da taxa de
crescimento de microrganismos em consequência da adição de N via
fertilização, que pode acelerar o processo de decomposição de alguns materiais
orgânicos que compõem o substrato (como visto neste capítulo e no Capítulo
1). Isso pode ocorrer em materiais que não alcançaram devidamente o ponto de
maturação. A alta taxa de crescimento dos microrganismos pode levar à
imobilização dos nutrientes disponíveis e alterar o pH do substrato, o que
prejudica o crescimento das plantas e, em casos extremos, causa a sua morte.
O composto tem a vantagem de controlar o crescimento de certos
microrganismos patogênicos, impedindo, assim, o desenvolvimento de
doenças em até 70%. Entre outros, pode ser destacado o efeito de casca de
pinus, resíduos de jardinagem e de bagaço de uva no controle de patógenos
como a Rhizoctonia, Pythium e Phytophthora.
Na agricultura também tem sido estudada e já utilizada a compostagem
do lixo urbano, lodo de esgoto e resíduos de podas agrícolas. A aplicação do
composto proporciona a redução significativa nas doenças de plantas, tais
como a diminuição do impacto da Phytophthora em pimenta e do Fusarium sp.
em melão e tomate. A alta temperatura durante o processo de compostagem
mata a maioria dos patógenos.
Caracterização do substrato
As características dos substratos devem atender às necessidades das
plantas, ao objetivo da cultura (produção de flores, frutos, sementes etc.), à
disponibilidade de equipamentos de controle (ambiental, de irrigação e das
exigências nutricionais) e a outros fatores (climáticos, por exemplo). Devido à
grande variabilidade na composição do substrato, na obtenção de matéria-
prima padronizada para a sua produção, e ainda na variação que ele pode
apresentar durante o cultivo, é necessário caracterizar adequadamente esses
substratos para as tomadas de decisão sobre seu uso.
3. Determinação da densidade.
3.1. Para substratos em geral e condicionadores de solos: pelo método
da autocompactação em proveta plástica de 500 mL (270 mm de
altura × 50 mm de diâmetro).
3.2. Para espuma fenólica é determinada com base na relação entre a
massa seca e o volume da amostra.
4. Determinação da capacidade de retenção de água a 10 cm (CRA10) pelo
método da mesa de tensão.
4.1. Para substratos em geral e condicionadores de solos.
4.2. Para bloco padrão de espuma fenólica. O volume de água retida à
tensão de 10 cm de água é determinado gravimetricamente.
5. Determinação do pH.
5.1. Para substratos utiliza-se o método da extração em água a 1+5 v/v.
5.2. Na espuma fenólica a avaliação do pH é determinada na água
escoada livremente no bloco padrão (o mesmo utilizado para
determinação da densidade).
Areia
É um substrato de alta densidade que tem a vantagem de não sofrer
alterações em sua conformação ao longo do tempo, dado que as partículas
apresentam grande resistência mecânica. É um substrato de boa
disponibilidade, devendo-se preferir a areia de rio lavada à areia de praia, a qual
exige dessalinização antes do uso (MARTINEZ; BARBOSA, 1999).
A areia com frequência tem como inconveniente a presença de partículas
de argila, limo e carbonato de cálcio. As primeiras podem ser arrastadas para o
fundo de vasos e comprometer a drenagem; já as partículas de carbonato, além
do comprometimento da drenagem, elevam o pH (ABAD; NOGUERA, 1998).
Quando usada pura, a granulometria mais recomendada está entre 0,5 e 2
mm. Grande proporção de partículas com diâmetro inferior a 0,5 mm pode
resultar em alta capacidade de retenção de água e baixa aeração.
As desvantagens desse substrato são a alta densidade das partículas, as
dificuldades de desinfecção e o acúmulo de sais. A alta densidade das partículas
torna-o pesado e de difícil manuseio; a desinfecção adequada exige o uso de
vapor ou fumigação com produtos químicos; e o acúmulo de sais obriga a
lavagens periódicas (MORGAN, 1998; RESH, 2013).
As principais propriedades da areia estão resumidas na Tabela 7.4.
Vermiculita
Encontrada em depósitos de ocorrência natural em várias partes do
mundo, constitui-se de um argilo mineral do tipo 2:1, com lâminas justapostas
de tetraedros de sílica e octaedros de Al, Fe e Mg, de estrutura variável. Entre
as lâminas existe água ligada aos cátions trocáveis, e água que não os circunda,
denominada água livre. Quando aquecida a 350–650 ºC, perde a água
interlaminar na forma de vapor, e o espaço entre as camadas aumenta
consideravelmente. Formam-se partículas pequenas, com formato de
sementes, porosas como esponjas, muito leves – de 96 a 160 kg/m3 – e que
retêm grande quantidade de água – 0,40 a 0,53 L/dm3 (CHOUDHURY;
FARIA, 1982).
A vermiculita apresenta reação neutra ou levemente alcalina, e tem bom
poder tampão. Sua CTC, que pode alcançar 10 cmolc/kg, confere-lhe
capacidade de reter nutrientes e cedê-los às plantas posteriormente. Seus
conteúdos em Mg e K, ainda que baixos, são facilmente disponíveis para as
plantas (CHOUDHURY; FARIA, 1982; WILSON; HITCHIN, 1984; RESH,
2013).
No Brasil, a vermiculita é classificada em: superfina, com grânulos de 0,5
a 1 mm de diâmetro e densidade de 90 a 110 kg/m3; fina, com grânulos com
diâmetro entre 1 e 2 mm e densidade de 80 a 90 kg/m3; e média, com grânulos
de 2 a 4 mm e densidade de 70 a 80 kg/m3. Suas principais propriedades estão
resumidas na Tabela 7.4.
Espumas sintéticas
São derivadas de ureia-formaldeído, poliuretano, poliestireno ou resina
fenólica e prestam-se para inúmeras aplicações (germinação de sementes,
enraizamento, propagação), especialmente em floricultura. São leves, estéreis e
de fácil manuseio, o que facilita seu uso em procedimentos automatizados.
Além da leveza, alta retenção de umidade e boa drenagem, as espumas
sintéticas têm baixa condutividade elétrica. Podem ser fabricadas com diversas
densidades, espessuras e tamanho de células (BOODLEY, 1984a, b; RESH,
2013).
No Brasil, a espuma fenólica é bastante difundida na produção de mudas
de diversas hortaliças para hidroponia, sobretudo alface e tomate. Por
apresentar resíduos de fenóis fitotóxicos, deve ser submetida a diversos
enxágues em água corrente, antes do uso.
São encontradas no mercado em caixas que contêm um número variável
de placas compostas por células de diferentes tamanhos. Células de 2 × 2 × 2 cm
e 2 × 2 × 3,8 cm são apresentadas em placas com 345 células; células de
2,5 × 2,5 × 3 cm e 2,5 × 2,5 × 3,8 cm, em placas com 216 células; e células de
5 × 5 × 3,8 cm, com 54 células (MARTINEZ, 2016). Suas principais
propriedades estão resumidas abaixo, na Tabela 7.4.
Tabela 7.4 - Propriedades dos substratos inorgânicos areia, vermiculita e
espumas sintéticas
Espumas sintéticas
Areia Vermiculita
Poliuretano Fenólica
Diâmetro
0,2–2 0,75–8 - -
(mm)
Densidade Alta Baixa Baixa Baixa
(kg/m3) 1.500 96–160 55 10–25
Perda de água
por Moderada Alta - -
evaporação
Perda da
Baixa Moderada Nenhuma Alta
estrutura
Possibilidade
Boa Boa Nenhuma Nenhuma
de reutilização
Conc. de Na Variável
- - -
(mg/dm3) 0–50
Turfa
A turfa consiste em vegetação aquática, pantanosa, parcialmente
decomposta devido ao excesso de água e à falta de oxigênio. A composição dos
diferentes depósitos de turfa varia amplamente, dependendo da vegetação
original, estado de decomposição, conteúdo mineral e grau de acidificação
(ABAD; NOGUERA, 1998).
A turfa de Sphagnum é formada pela desidratação de resíduos recentes,
inclusive partes vivas de S. papillosum, S. capillacium e S. palustre. É relativamente
estéril e leve, decompõe de forma mais lenta que outros tipos de turfa e
apresenta qualidade superior. A turfa castanha, de musgos como Sphagnum,
Eriophorum e outros, tem menor grau de decomposição e melhor qualidade que
a turfa negra. Apresenta pH entre 3,8 e 4,5 e elevada capacidade de retenção de
água, que chega a dez vezes o seu peso. Contém cerca de 1% de N e quase nada
de P e K. Sua limitação, como a de outros tipos de turfa, está na aeração
deficiente e baixa proporção de água prontamente disponível para as plantas,
ou seja, entre 24 e 29% do volume total de poros, de acordo com o seu grau de
moagem.
A turfa negra resulta de material altamente decomposto e tem
propriedades físicas ruins. Apresenta pH entre 4,1 e 5,3, 70 a 85% de matéria
orgânica, aeração deficiente e perda irreversível de água. A maior parte de seu
espaço poroso constitui-se de microporos, de modo que apenas 13% do volume
total de poros é ocupado por água prontamente disponível para as plantas
(VERDURE, 1981).
A turfa é muito usada em misturas com areia, cascas, vermiculita e
outros, na formulação de substratos com diferentes propriedades físicas
(WILSON; HITCHIN, 1984). De acordo com Resh (2013), as misturas mais
usadas são: turfa:perlita:areia (2:2:1); turfa:perlita (1:1); turfa:areia (1:1), (1:3),
(3:1); turfa:vermiculita (1:1); turfa:pumita:areia (2:2:1).
As principais propriedades da turfa estão descritas abaixo, na Tabela 7.5.
Porosidade
Alta Moderada Alta Alta
de aeração Moderada
41–55 32 46–48 57
(%)
Diâmetro
- Médio1 - 0,50–2 0,25–1
(mm)
Perda de
água por - Alta - - -
evaporação
Perda da
Nenhuma Moderada Alta Baixa -
estrutura
Possibilidade
de Nenhuma Não usual Nenhuma Não usual Ruim
reutilização
Conc. de K
- - - Alta -
(mg/dm3)
VPT = Volume de poros totais; CRA = Capacidade de retenção de água; CTC = Capacidade de
troca catiônica. 1Varia com o grau de moagem.
Cascas
Podem ser usadas na forma pura ou em misturas com outros substratos.
Em geral, sofrem compostagem antes do uso como substrato hortícola. O
material é particularmente atraente onde a indústria madeireira é bem
desenvolvida e as cascas são um subproduto de baixo custo (WILSON, 1981;
WILSON; HITCHIN, 1984).
A compostagem, normalmente realizada, visa degradar compostos
fitotóxicos como terpenos, fenóis e taninos, que impedem o bom
desenvolvimento das plantas; reduzir a alta relação C/N; e eliminar
microrganismos patogênicos e insetos. De modo geral, o processo envolve a
moagem, peneiragem em malha de cerca de 2 cm, empilhamento e controle da
umidade. É comum acrescentar-se 1 kg/m3 de N antes da compostagem, que é
feita com aproximadamente 50% de umidade e duração variável de 8–9
semanas a 3–4 meses. O material pode ser compostado puro ou misturado a
outros, como lixo urbano, esterco de galinha ou de porco (KULL, 1981;
WILSON, 1981; VERDONCK et al., 1983; MAREE, 1984; WILSON;
HITCHIN, 1984).
Os teores de Mn nas cascas podem ser elevados, sobretudo em espécies
que cresceram em solos ácidos. Toxidez de Mn, ou deficiência de Fe induzida,
pode ocorrer nessas condições. O fornecimento de quelato de Fe p.a., a 5%,
normalmente corrige o problema. Substratos à base de cascas de Pinus frescas
podem apresentar ainda problemas com os micronutrientes e com Mg, Ca e N,
porém, assim como as de outras madeiras moles, contêm menor concentração
de substâncias fitotóxicas (WILSON, 1981; HARRIS; MAREE, 1984;
WILSON; HITCHIN, 1984).
Substratos à base de cascas com frequência apresentam baixo teor de água
disponível para as plantas, mas essa característica é melhorada por meio da
mistura com esterco animal ou outros dejetos (WILSON, 1981; VERDONCK
et al., 1983). Suas principais propriedades estão resumidas na Tabela 7.5.
Serragem
É um subproduto da indústria florestal, abundante e barato em
determinadas regiões. É um material leve e com boa aeração, porém com alta
relação C/N e baixa capacidade de retenção de água. Tais características
podem, contudo, ser melhoradas pela compostagem. Um dos seus problemas é
a veiculação de doenças causadas por Pythium e Phytophthora, especialmente
quando usada em dois cultivos subsequentes, sendo recomendada sua
esterilização com vapor ou produtos químicos antes do uso. Tem sido usada
em misturas com areia e/ou turfa (KULL, 1981; RESH, 2013).
Entre as desvantagens do uso de serragem podem ser citadas as seguintes:
sua estrutura quebra-se com o uso, dando origem a partículas muito finas, o
que compromete a aeração; o meio favorece o acúmulo de sais; certas espécies
podem conter substâncias fitotóxicas; em determinados sistemas é necessário o
uso de filtros, os quais devem ser limpos com frequência; e a existência de
grande perda de material em cada ciclo de cultivo, quer por decomposição,
quer por aderência às raízes (MORGAN, 1998; RESH, 2013). Suas principais
propriedades também estão resumidas na Tabela 7.5.
Fibra de coco
É um material obtido da casca de coco-verde depois da extração das fibras
longas. Está em crescente expansão, dado o consumo de água de coco in natura.
Cerca de 83% da massa do fruto verde é resíduo (CARRIJO et al., 2002), no
entanto é utilizado para produção de vários outros produtos.
A fibra de coco apresenta estrutura física uniforme, é leve e de fácil
manuseio. Ela tem elevada capacidade de retenção de água e boa aeração. É
comercializada em fardos de 107 L que, após abertos, devem ser destorroados e
receber de 20 a 25 L de água para reconstituir 200 L de substrato. Possui
elevadas concentrações de cloreto de potássio, cloreto de sódio e tanino, que
podem ser eliminados por imersão em água por uma noite, seguida por boa
drenagem. O produto é apresentado em diversas formas que lhe conferem
diferentes texturas. Na forma granulada tem textura fina; na forma fibrosa,
textura grosseira; na forma mista, textura intermediária; e na forma de chips,
textura extremamente grosseira. Suas propriedades físico-químicas variam
bastante, dependendo da matéria-prima empregada e do processamento que
lhe é dado (CARRIJO et al., 2002; KRATS et al., 2013; RESH, 2013).
Uma vantagem da fibra é que a variabilidade na textura do material
comercializado permite que ela seja utilizada em misturas de diferentes texturas
ou, ainda, em mistura com outros compostos com o objetivo de ajustar a
porosidade ou a retenção de água do substrato para a condição desejada.
Zorzeto et al. (2014) avaliaram a mistura de fibra de coco granulada com casca
de arroz estabilizada (50:50 v/v) e observaram que a mistura não alterou a
densidade volumétrica e a porosidade, no entanto reduziu a retenção de água
quando comparada ao uso da fibra de coco granulada sem misturas. A fibra de
coco pode ser também pasteurizada, o que elimina as possibilidades de
contaminantes biológicos. A Tabela7.5 apresenta valores médios para as suas
principais propriedades.
Casca de arroz carbonizada
Resulta da combustão lenta e incompleta da casca de arroz sob alta
temperatura e baixa concentração de O2. No processo de queima, o material
desenvolve pequenos poros e tem sua capacidade de retenção de água e ação
capilar aumentada. É um substrato muito leve e fino, de pH próximo a 8, cuja
decomposição é lenta – 3 a 5 anos –, que não retém nem fornece nutrientes às
plantas. A casca de arroz carbonizada é muito usada em misturas com outros
substratos: dá bons resultados misturada com fibra de coco numa proporção de
20% (KRATZ et al., 2013; RESH, 2013). Suas principais propriedades são
apresentadas na Tabela 7.5.
MAREE, P. C. J. Growing seedless english cucumbers in fresh pine sawdust and bark. In:
INTERNATIONAL CONGRESS ON SOILLESS CULTURE, 6., 1984, Lunteren. Proceedings
[…]. Lunteren: International Society for Soilless Culture, 1984. p. 355-363.
MARTINEZ, H. E. P. Manual prático de hidroponia. 3. ed. Viçosa, MG: Aprenda Fácil,
2016. 286 p.
MARTINEZ, H. E. P.; BARBOSA, J. G. O uso de substratos em cultivos hidropônicos.
Viçosa, MG: Editora UFV, 1999. 49 p. (Cadernos didáticos, 42).
MINAMI, K.; SALVADOR, E. D. Substrato para plantas. Piracicaba: Degaspari, 2010. 226 p.
MORGAN, L. Hydroponic substrates: practical hydroponics and greenhouses. Narrabeen:
Casp, 1998. p. 20-31.
RESH, H. M. Hydroponic food production. 7. ed. Boca Raton: CRC Press, 2013. 524 p.
Demanda de nitrogênio
O N é um nutriente exigido em grande quantidade pelas culturas. Apesar
de ser o elemento mais abundante na atmosfera (3,9 × 1018 g), a contribuição
natural do solo não é suficiente para suprir o requerimento das culturas para
altos rendimentos. A maior parte do N do solo está presente na forma de N-
orgânico, o qual necessita ser mineralizado para que as plantas possam
aproveitá-lo. O N-inorgânico disponível para as plantas representa apenas
uma pequena fração do N-orgânico; portanto, a análise química do solo para
estimar a disponibilidade de nitrato é confiável apenas para regiões áridas ou
semiáridas, onde a baixa precipitação pluviométrica é insuficiente para lixiviar
nitrato do solo, e o teor de matéria orgânica é baixo devido à alta taxa de
mineralização. Em solos com teores mais elevados de matéria orgânica,
estima-se que o N disponível corresponda a aproximadamente 3% do N-
orgânico.
Com objetivo de estimar as doses de fertilizantes, em vez de utilizar o
teor de N disponível, é preferível considerar o balanço total de N (entradas e
saídas). Fertilizantes orgânicos e inorgânicos, estercos, fixação biológica,
deposição (ver Capítulo 3) e N das sementes são as principais formas de aporte
do nutriente para o solo, enquanto as principais formas de perdas são o N
removido pelas culturas, a volatilização de amônia e óxidos de N formados
pelo processo de desnitrificação. Segundo dados do International Plant
Nutrition Institute – IPNI (2014), o ingresso anual médio de N fertilizante na
agricultura brasileira no período de 2009 a 2012 foi de 3,05 milhões de
toneladas, e o índice médio de aproveitamento desse nutriente foi de 65%.
Fontes de N para fertilizantes
O suprimento futuro de N está garantido em virtude da abundância do
elemento na atmosfera. Na realidade, todas as fontes de N-inorgânico são
derivadas do ar atmosférico, seja por oxidação (depositadas no passado em
áreas vulcânicas, ou industrialmente), seja por redução para formar amônia
(fixação) – processo mais comum.
Deposição
Nitrato de sódio (NaNO3): pequenas quantidades de nitrato de sódio são
encontradas em regiões nas quais uma intensa atividade vulcânica favoreceu a
deposição de nitrato sobre lagos salgados que secaram posteriormente. O mais
conhecido é o nitrato do Chile, no deserto do Atacama. Devido à intensa
atividade vulcânica e energia, o N2 e o O2 atmosféricos reagiram formando
óxidos de N e, ao final, ácido nítrico:
N2 (g) + O2 (g) → 2NO (g) (1)
Síntese industrial
O principal processo industrial usado na produção de N para uso em
fertilizantes é a síntese de Haber-Bosch. A reação é a seguinte:
N2 + 3H2 ⇆ 2NH3 (4)
Indica que em solos bem aerados (pe + pH > 12–14) nitrato é a forma
predominante.
A oxidação provoca redução de pH em maior proporção que o
incremento de pH devido a dissolução de amônia.
• A absorção de NH4+ pelas plantas é acompanhada da liberação de prótons
e redução do pH da rizosfera.
A eficiência de aproveitamento do N oriundo da amônia gasosa está
diretamente relacionada à umidade e porosidade do solo, e à profundidade de
aplicação. Aplicações com solo seco ou umidade insuficiente, bem como solos
com alta porosidade e aplicações em pequenas profundidades, favorecem as
perdas por volatilização de NH3.
Apesar da alcalinização inicial devido à dissolução da amônia, o que pode
ser benéfico em solos ácidos, sua aplicação resulta em decréscimo de pH,
viabilizando seu uso em solos alcalinos. Nas regiões em que é utilizada, a
amônia deve ser aplicada preferentemente em pré-plantio para evitar danos
decorrentes do contato direto da amônia líquida com as plantas e das variações
de pH que ocorrem por efeito de sua reação no solo.
Produtos amídicos
20 520
30 625
60 715
80 800
100 880
Oxamida (30% N)
A oxamida (Figura 8.1) também é um pó branco de baixa solubilidade e
reatividade. Praticamente não é utilizada como fertilizante, embora possa
substituir parte da ureia, e não está incluída na Legislação Europeia de
Fertilizantes.
Compostos inorgânicos
O fosfato de amônio e magnésio MgNH4PO4 (8% N) é de baixa
solubilidade e é usado preferencialmente em jardinagem.
Fertilizantes revestidos
Fertilizantes revestidos são normalmente solúveis, mas encontram-se
em um grânulo recoberto por materiais que controlam a difusão dos
elementos através dele (Figura 8.3). Esse tipo de fertilizante pode ser
recoberto por polímeros orgânicos, inorgânicos ou resinas sintéticas. Tais
substâncias são, em sua maioria, derivadas de ureia – como poliamidas –, de S
elementar ou, ainda, de polímeros das mais diversas naturezas. A espessura e a
natureza química da resina de recobrimento, a quantidade de microfissuras em
sua superfície e o tamanho do grânulo do fertilizante determinam a taxa de
liberação de nutrientes ao longo do tempo.
Figura 8.3 - Fertilizantes nitrogenados revestidos. Difusão de água e
compostos nitrogenados.
Diciandiamida – DCD
Produzido a partir de cianamida cálcica, água e CO2, o DCD é um sólido
solúvel, não volátil, comumente usado na Europa e nos Estados Unidos,
adicionado a fertilizantes amoniacais sólidos (Figura 8.4). A atividade do DCD
é reduzida por altas temperaturas, porém é pouco afetada pelo teor de matéria
orgânica e pH do solo. O DCD interfere no transporte de elétrons no
citocromono oxidase em Nitrossomonas, retardando a formação de nitrato por
seis a oito semanas. Em relação à nitrapirina, o DCD apresenta algumas
vantagens, tais como a facilidade de mistura a fertilizantes sólidos, baixa
toxicidade para seres vivos e degradação mais rápida no solo. Sua eficácia
como inibidor de Nitrossomonas, porém, é menor em comparação à da
nitrapirina, exigindo aplicações de doses mais elevadas.
Fontes de fósforo
A principal matéria-prima para a produção de fertilizantes fosfatados são
as rochas fosfáticas. Em geral existem dois tipos: rochas fosfáticas ígneas e
sedimentares. As rochas fosfáticas ígneas contêm P na forma de apatitas, são
pouco reativas e, portanto, necessitam ser processadas industrialmente e
moídas finamente para aplicação no solo. O conteúdo de P2O5 nas rochas
ígneas, embora pobres em apatitas, após processamento industrial pode chegar
a 36–40%. As rochas fosfáticas sedimentares representam cerca de 80% da
matéria-prima de fertilizantes fosfatados no mundo, e sua composição físico-
química é bastante variável. Elas são, contudo, notadamente mais reativas que
as apatitas (IPNI, 2014).
Os maiores depósitos de P estão localizados no norte da África
(Marrocos e Saara Ocidental) e na China, mas também Estados Unidos,
Rússia, África do Sul e países do Oriente Médio possuem depósitos de
qualidade diferenciada. Somados, Marrocos, Saara Ocidental e China possuem
aproximadamente 66% das reservas mundiais de rochas fosfáticas. Estima-se
que a reserva mundial de P seja suficiente para cerca de 300 anos, e a partir de
então o P poderá ser um elemento limitante para a agricultura no futuro.
As escórias de Thomas são escórias básicas resultantes da indústria do
aço e são uma fonte considerável de P. Nesse processo, o P é obtido como
impureza após sua retirada do aço por meio da adição de calcário:
P (impureza do aço) + O2 + CaCO3 + calor → fosfato de cálcio
Granulação do fertilizante
O aumento do tamanho dos grânulos do fertilizante pode proporcionar
liberação lenta do P, uma estratégia importante em solos ácidos. Para os
fertilizantes solúveis em água e os solúveis em citrato, respectivamente, os
grânulos maiores e os menores tendem a ser mais eficientes. Entretanto, em
solos neutros ou alcalinos diferenças expressivas não têm sido notadas em
relação ao tamanho de grânulos para a eficiência do fertilizante.
Micorrizas
As micorrizas são um importante fator de incremento da eficiência da
adubação fosfatada, pois as plantas infectadas por fungos micorrízicos
ampliam enormemente o volume de solo explorado pelas raízes (ver Capítulo
10). Estima-se que a eficiência do P aplicado em plantas colonizadas por
micorrizas seja incrementada em até quatro vezes.
Fertilizantes potássicos
O K é um macronutriente requerido em grandes quantidades pela
maioria das plantas cultivadas. No solo, ele pode formar parte da estrutura de
minerais – nesse caso, encontra-se indisponível para as plantas –, bem como
estar presente como cátion entre camadas de argilominerais e ser liberado
lentamente para a solução do solo. Também pode estar ligado
eletrostaticamente à fração coloidal do solo ou estar livre em solução e
prontamente disponível para plantas.
O balanço de K no solo deve considerar as entradas ou inputs, como o K
liberado pela decomposição da matéria orgânica, o K liberado pela
transformação de minerais e os fertilizantes potássicos. Já as perdas de K ou
outputs incluem a utilização e imobilização temporária de K em plantas e
microrganismos, fixação de K em argilas e lixiviação. Assim, a fertilização com
esse nutriente deve considerar os aspectos do balanço dele no solo, e não
apenas o requerimento nutricional da planta.
Fontes de potássio
O K pode ocorrer em depósitos como consequência da evaporação de
água marinha em bacias fechadas, ao longo de milhares de anos. Devido ao
cloreto de potássio (KCl) ser mais solúvel que o cloreto de sódio (NaCl),
durante o processo de evaporação precipita-se primeiramente o NaCl, e
depósitos de KCl se formam sobre as camadas de NaCl. Estima-se que as
reservas mundiais de K alcancem cerca de 12 bilhões de toneladas – somente a
Rússia e o Canadá detêm 49 e 37% delas, respectivamente. O Mar Morto
(Israel e Jordânia) e o Salt Lake (Estados Unidos) da mesma forma são reservas
importantes. Sais de Mg também se precipitam nesse processo e os minerais
obtidos podem conter quantidades variáveis desse metal, fato que se torna
igualmente interessante sob o ponto de vista agronômico.
Cainita
É um mineral secundário, originado a partir de águas oceânicas, que
contêm pequena quantidade de K (> 10% K2O, > 5% MgO) a qual pode ser
misturada com KCl para aumentar a concentração de K (> 18% K2O). A
cainita contém grande quantidade de cloretos e Na, e seu uso deve ser evitado
em culturas sensíveis ao Cl, bem como em solos com risco de salinidade.
Adubação potássica
As doses de K devem ser calculadas em função da demanda da planta,
mas considerando as condições de solo. Por exemplo, solos arenosos podem
perder quantidades consideráveis de K por lixiviação. Para minimizar essas
perdas, aconselha-se empregar como estratégias a adição de matéria orgânica,
o fracionamento da adubação por meio de fertirrigação ou mesmo
fracionamento de adubos sólidos que são aplicados em sulco ou a lanço em
superfície. Por sua vez, solos argilosos podem reter K em quantidades
variáveis em função do tipo de argila predominante. Argilas que contêm K
interlaminar, como ilita e montmorilonita, podem reduzir a disponibilidade de
K para as plantas e, nesses casos, as adubações requerem maior quantidade do
nutriente. Outros tipos de argila, entretanto, como clorita e caulinita, esta
típica de solos tropicais intemperizados, não retêm muito K.
A participação relativa do K no complexo de troca iônica do solo – CTC
deve ser considerada no planejamento da adubação. O conteúdo de água no
solo, o regime hídrico e a concentração de Ca são fatores importantes no
manejo da adubação potássica, pois afetam as reações de troca iônica e a
lixiviação de K.
Fertilizantes inorgânicos compostos
Fertilizantes inorgânicos compostos podem ser NP, NK, KP e NPK. São
obtidos através da mistura química ou simplesmente a mistura física de
fertilizantes simples. Outros compostos como KNO3, NH4H2PO4, KH2PO4 e
ureia fosfato também podem ser usados. Além da concentração de N-P2O5-
K2O, é importante considerar os mesmos fatores que afetam a reação química
e a eficiência dos fertilizantes simples: forma de N – nítrica, amoniacal ou
amídica –, solubilidade do fosfato, concentração de Cl e S, e se algum método
de liberação lenta ou controlada é utilizado. Entre os fertilizantes compostos,
as formulações sólidas são mais comumente encontradas, entretanto as
formulações líquidas também podem ser utilizadas, em especial nos casos de
fertirrigação (CADAHÍA, 2005). Devido a isso, geralmente as fábricas de
fertilizantes líquidos se instalam próximo a regiões agrícolas que demandam
esse tipo de produtos e fornecem as formulações concentradas requeridas
pelos agricultores.
Fertilizantes à base de macronutrientes
secundários
Ca, Mg e S, embora reconhecidamente essenciais para a nutrição das
plantas e obtenção de altas produtividades, em geral são fornecidos por meio
de corretivos (calcário), condicionadores (gesso agrícola) e, em casos
específicos, fertilizantes, tais como a fertilização em cultivos protegidos,
fertilizantes para hidroponia ou para adubação foliar. Tal fato está relacionado
sobretudo ao custo desses nutrientes, sendo mais econômicos quando
veiculados através de calcários, no caso do Ca e Mg, e de custo mais elevado se
fornecidos através de fertilizantes específicos. Da mesma forma, o gesso
agrícola é a fonte mais barata de S comparativamente aos fertilizantes
específicos para esse nutriente.
Cálcio
Produto da reação do 3% Ca
Nitrossulfocálcio sulfato de cálcio com 24% N
nitrato de amônio. 3% S
Usado principalmente
como fonte de S, resulta
Tiossulfato de cálcio da reação entre hidróxido 6% Ca
(CaS2O3) de cálcio [Ca(OH)2], 10% S
anidrido sulfuroso (SO2),
S elementar e água.
Carbonato de
cálcio e Moagem e tamisação da rocha 18% Ca
magnésio calcária dolomítica. 3% Mg
[CaMg(CO3)2]
Hidróxido de
cálcio e Calcinação total, hidratação,
moagem e tamisação do mineral 24% Ca
magnésio
[Ca(OH)2 + dolomita ou da mistura de calcita e 4% Mg
magnesita.
Mg(OH)2]
18% P2O5
Reação seguida de granulação
do termofosfato magnesiano, 10% Ca
Termo-superfosfato com superfosfato simples 1% Mg
e/ou superfosfato triplo e 2% S
ácido sulfúrico. 1% Si
Magnésio
Beneficiamento de hartsalz
Kieserita composto de silvinita 15% Mg
(MgSO4·H2O) (KCl), halita (NaCl) e 20% S
kieserita.
Sulfato de potássio, 3% Mg
cálcio e magnésio Extração e beneficiamento 14% K2O
(K2SO4·MgSO4·2CaSO4 do mineral natural polialita. 12% Ca
·2H2O) 19% S
Carbonato de
cálcio e Moagem e tamisação da rocha 3% Mg
magnésio calcária dolomítica. 18% Ca
[CaMg(CO3)2]
Hidróxido de
Precipitação de sal solúvel de Mg
magnésio 35% Mg
com hidróxido de amônio.
(Mg(OH)2)
Óxido de
Calcinação total, moagem e
magnésio 45% Mg
tamisação da magnesita.
(MgO)
Enxofre
O S é frequentemente fornecido através de fertilizantes que contêm
macronutrientes primários, como o sulfato de amônio, sulfato de potássio ou
superfosfato simples, ou então via fertilizantes que contêm S elementar.
Quando aplicado na forma elementar, o S é oxidado no solo e produz ácido
sulfúrico:
S + 3/2 O2 + H2O → SO42– + 2H+ (41)
Neutralização do ácido
sulfúrico pela amônia 22% S
Sulfato de amônio
anidra ou reação do
[(NH4)2SO4] 20% N
carbonato de amônio com o
gesso.
Superfosfato simples 6% S
amoniado Reação de superfosfato 14% P2O5
[Ca(H2PO4)·2H2O + simples em pó com amônia
14% Ca
e ácido sulfúrico.
CaSO4+NH4H2PO4] 1% N
6% S
Reação de rocha fosfática 18% P2O5
Multifosfato
moída com ácido sulfúrico
magnesiano 8% Ca
e óxido de magnésio.
3% Mg
Extração de depósitos
naturais de S ou a partir da
pirita, subproduto de gás
S elementar
natural, gases de refinaria e 95% S
(So)
fundições do carvão. Pode
ser obtido também do
sulfato de cálcio ou anidrita.
Beneficiamento de hartsalz
Kieserita composto de silvinita 15% S
(MgSO4·H2O) (KCl), halita (NaCl) e 20% Mg
kieserita.
Boro (B)
Bórax Na2B4O7·10H2O 11 20
Tetraborato de
Na2B4O7·5H2O 14 226
sódio
Octoborato de
Na2B8O13·4H2O 20 95
sódio
Cobre (Cu)
Manganês
(Mn)
Sulfato
MnSO4·3H2O 27 742
manganoso
Óxido
MnO 41–68 1NS
manganoso
Molibdênio
(Mo)
Molibdato de
Na2MoO4·2H2O 34 840
sódio
Molibdato de
(NH4)6Mo7O24·4H2O 54 430
amônio
Trióxido de
MoO3 66 1
molibdênio
Zinco (Zn)
Sulfato de
CoSO4·7H2O 22 600
cobalto
Fonte: Adaptado de VOLKWEISS, 1991.
Referências
BASTEN, M.; BRYNILDSEN, P.; BELZEN, R. Stabilized urea for enhanced nitrogen use
efficiency. In: INTERNATIONAL FERTILIZER INDUSTRY ASSOCIATION
INTERNATIONAL WORKSHOP ON ENHANCED-EFFICIENCY FERTILIZERS,
Frankfurt, 2005. Proceedings […]. Paris: International Fertilizer Industry Association, 2005.
BRASIL. Instrução Normativa nº 46, de 22 de novembro de 2016. Ministério da Agricultura,
Pecuária e Abastecimento (MAPA). Estabelece regras sobre definições, exigências,
especificações, garantias e outras providências relativas aos fertilizantes minerais destinados à
agricultura. Diário Oficial da República Federativa do Brasil: seção 1, Brasília, DF, 7 dez.
2016.
CADAHÍA, C. Fertirrigación: cultivos hortícolas, frutales y ornamentales. Madri: Editorial
Mundiprensa, 2005. 681 p.
CANTARELLA, H.; QUAGGIO, J. A.; GALLO, P. B.; BOLONHEZI, D.; ROSSETTO, R.;
MARTINS, A. L. M.; PAULINO, V. T.; ALCÂNTARA, P. B. Ammonia losses of NBPT-
treated urea under Brazilian soil conditions. In: INTERNATIONAL FERTILIZER
INDUSTRY ASSOCIATION INTERNATIONAL WORKSHOP ON ENHANCED-
EFFICIENCY FERTILIZERS, Frankfurt, 2005. Proceedings […]. Paris: International
Fertilizer Industry Association, 2005.
FIXEN, P. E. Reservas mundiais dos nutrientes dos fertilizantes. Informações
Agronômicas, Piracicaba, n. 126, p. 8-14, 2009.
HEFFER, P.; PRUD’HOMME, M. Global nitrogen fertiliser demand and supply: trend,
current level and outlook. In: INTERNATIONAL NITROGEN INITIATIVE CONFERENCE,
7., 2016, Melbourne. Proceedings […]. Melbourne: INI, 2016. Disponível em:
https://www.fertilizer.org//images/Library_Downloads/2016%20Global%20nitrogen%20fert
iliser%20demand%20and%20supply.pdf. Acesso em: dez. 2019.
INTERNATIONAL FERTILIZER ASSOCIATION – IFA. Task force on reactive
nitrogen: sustainable management of the nitrogen cycle in agriculture and mitigation of
reactive nitrogen side effects. Paris: IFA, 2007. 53 p.
INTERNATIONAL PLANT NUTRITION INSTITUTE – IPNI. Balanço de nutrientes na
agricultura brasileira 2009 a 2012. Informações Agronômicas, Piracicaba, n. 145, p. 1-13,
2014.
NOVAIS, R. F.; SMYTH, T. J. Fósforo em solo e planta em condições tropicais. Viçosa,
MG: UFV, 1999. 399 p.
ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A ALIMENTAÇÃO E A AGRICULTURA
– FAO. World fertilizer trends and outlook to 2022, 2019. Disponível em:
http://www.fao.org/3/ca6746en/CA6746EN.pdf. Acesso em: dez. 2019.
PRASAD, R.; POWER, J. F.; ELLIS, B. G. Soil fertility management for sustainable
agriculture. Boca Raton: CRC Press, 1997. 356 p.
SANDERS, J. L.; MURPHY, L. S.; NOBLE, A.; MELGAR, R. J.; PERKINS, J. Improving
phosphorus use efficiency with polymer technology. Procedia Engineering, v. 46, p. 178-
184, 2012.
TRENKEL, M. A. Slow- and controlled-release and stabilized fertilizers: an option for
enhancing nutrient efficiency in agriculture. Paris: IFA, 2010. 163 p.
Achromobacter piechaudii
Tolerância à ACC,
Azospirillum lipoferum
salinidade SP e AIA
Klebsiella oxytoca
Enterobacter cloacae
Competição por
Pseudomonas putida Sideróforos
nutrientes
Serratia plymuthica
Rhizobium sp.
Direto FBN
Bradyrhizobium sp.
Disponibilidade
Rhizobium
de nutrientes
Pseudomonas
SP
Bacillus
Mycorrhiza fungi
Síntese de
Azospirillum sp. AIA, outros
fitormônios
Bacillus sp.
Antibiose Streptomyces sp.
Antibióticos
(biocontrole) Pseudomonas sp.
Indireto Trichoderma sp.
ACC = atividade deaminase; SP = solubilização de fosfatos; AIA = produção de ácido indolacético; FBN
= fixação biológica do nitrogênio; SRI = resistência sistêmica induzida.
Figura 9.1 - (A) Micrografia por contraste de fase de células de Nostoc, uma
cianobactéria heterocística filamentosa; e (B) plantas de arroz cultivadas
com cobertura de Azolla.
Fotos: Elvira Perona e Fernández Valiente.
Interação leguminosa-Rhizobium: uma simbiose
fixadora de N clássica
Sabe-se desde os tempos mais remotos que práticas de rotação de cultura,
alternando uma não leguminosa com uma leguminosa, possuem mais vantagens do
que o cultivo contínuo de não leguminosas. No momento presente, a FAO promove
agricultura sustentável ao aumentar o uso de leguminosas em rotação de cultura e ao
utilizá-las como cultura de cobertura para enriquecimento em N.
Sabe-se também que raízes de leguminosas contêm nódulos que apresentam
estruturas definidas (Figura 9.2). Esses dois fatos, entretanto, não eram relacionados
até o século XIX, quando os alemães Hellriegel e Wilfarth publicaram uma série de
artigos nos quais constava que plantas leguminosas são capazes de reduzir (fixar) N
atmosférico em íons de amônia e que somente plantas que possuem nódulos
radiculares eram capazes de realizar esse processo. Pouco tempo depois, foi
demonstrado que esses nódulos são o resultado de uma infecção bacteriana. Eles
podem ser considerados um novo órgão da planta, na qual uma forma diferenciada de
bactéria que habita a raiz existe dentro de células da leguminosa hospedeira. As
bactérias dentro dos nódulos sofrem uma série de mudanças fisiológicas e estruturais,
resultando na formação do chamado bacteroide, a forma bacteriana simbiótica
responsável pelo processo simbiótico de FBN, já que a redução de N atmosférico é
realizada pela bactéria, e não pela planta. A FBN é considerada uma característica
microbiana que pode ser encontrada apenas em alguns membros de Bacteria e Archaea.
Fungos micorrízicos
As raízes de quase todas as plantas superiores são conhecidas por formar
simbiose mutualística com fungos. Essas associações são chamadas micorrizas (“raízes
de fungos”, do grego mikes = cogumelos ou fungos e rhiza = raiz). Em 1991, micorriza
foi definida como “uma simbiose mutualística entre planta e fungos localizada na
estrutura radicular ou tipo radicular na qual a energia se move principalmente da
planta para o fungo e recursos inorgânicos se movem do fungo para a planta”
(ANTONIOLLI; KAMINSKI, 1991). Micorrizas são associações altamente
desenvolvidas entre fungos do solo e raízes de plantas e estão presentes na maioria dos
solos (Figura 9.3). Os padrões nessa associação são membros do reino Fungi
(Basidiomicetos, Ascomicetos e Zigomicetos) e da maioria das plantas vasculares. Em
simbiose micorrízica, a planta hospedeira recebe nutrientes minerais enquanto o
fungo obtém compostos orgânicos derivados da fotossíntese, conforme explicado no
Capítulo 10.
Figura 9.3 - Estruturas vesiculares de fungos micorrízicos vesículo-arbusculares em
raízes de oliveiras.
Foto: Manuel Camacho.
Gênero Frankia
Simbioses fixadoras de N que envolvem microrganismos além dos rizóbios
ocorrem em uma variedade de plantas não leguminosas. Por exemplo, muitos
arbustos e árvores de florestas temperadas, como amieiro (Alnus glutinosa
(L.) Gaertn.), formam nódulos fixadores de N que contêm organismos filamentosos
tipo estreptomicetos denominados Frankia. O sistema enzimático da nitrogenase está
localizado dentro de dilatações terminais especiais nas células chamadas vesículas. Esses
nódulos radiculares, também chamados nódulos radiculares actinorrízicos, constituem
uma significativa fonte de N em muitas partes do mundo. Frankia pode entrar nas
raízes por duas vias diferentes: infecção do pelo radicular ou penetração intercelular.
A arquitetura de nódulos radiculares actinorrízicos maduros mostra diferenças claras
daquela das leguminosas. Por exemplo, os feixes vasculares estão centralmente
localizados nos nódulos actinorrízicos, mas estão também presentes no córtex exterior
dos nódulos das leguminosas.
Devido a essa simbiose fixadora de N, plantas actinorrízicas são capazes de
colonizar solos que contêm níveis baixos de N mineral. As plantas actinorrízicas
compreendem um amplo grupo de espécies lenhosas encontradas em todos os
continentes, exceto a Antártica. Elas são classificadas em 4 subclasses, 8 famílias e 25
gêneros que compreendem mais de 220 espécies. A Tabela 9.4 mostra um resumo da
distribuição geográfica e classificação taxonômica de plantas actinorrízicas. A
importância econômica e ecológica de algumas delas é significativa porque elas podem
ser usadas como fonte de biomassa para geração de energia, para remediação de solos
contaminados ou para prevenir erosão do solo.
Myrica
Myricaceae Myrica Myrica Myrica
Comptonia
Allocasuarina
Elaeagnaceae Hippophae
Shepherdia
Ceanothus
Colletia
Discaria Discaria
Rhamnaceae Kentrothamnus
Retanilla
Talguenea
Trevoa
Rosaceae Cercocarpus
Chamaebatia
Cowania
Purshia PurshiaA
Dryas Dryas
PSB + T + FR
38,4* 30,7* 1079* 89*
+R
FR = fosfato de rocha; R = Rhizobium; T = Trichoderma harzianum TH10; PSB = Bacillus megaterium.
Valores são médias de três repetições. Valores seguidos de * são significativamente diferentes (P < 0.05)
do controle.
Fonte: Adaptado de RUDRESH et al., 2005.
Tabela 9.6 - Nodulação, produtividade e acúmulo de N nos grãos de soja cv. Kure
inoculado com Bradyrhizobium japonicum linhagem USDA110 e
Sinorhizobium fredii linhagens HH103 e SMH12
Extrato de composto
Considerando a riqueza em nutrientes e organismos presentes no composto
orgânico, preparados líquidos a partir desse material têm a capacidade de melhorar o
desenvolvimento de plantas, especialmente quando há necessidade de reposição de
nutrientes durante o ciclo da cultura. A diluição mais empregada em cultivo orgânico
de hortaliças é de uma parte de composto para duas a cinco partes de água, em
volume, de cada componente.
Na aplicação do extrato é necessário utilizar um regador sem crivo por causa da
presença de muitas partículas sólidas na solução. Para hortaliças cultivadas em
canteiros ou em sulcos, realiza-se a irrigação manual nas entrelinhas dos cultivos,
distribuindo-se um filete contínuo ao lado das plantas. Para aquelas plantadas em
covas, aplica-se o extrato ao redor das plantas a fim de melhorar o aproveitamento da
adubação.
Caso o objetivo seja proteção fitossanitária, pode-se optar pela alternativa de
aplicação foliar, para a formação de um biofilme de microrganismos antagonistas
sobre as folhas. Nesses casos é necessário coar o material de forma cuidadosa, em
peneiras bem finas ou em sacos de pano, sobretudo para evitar o entupimento dos
bicos dos pulverizadores na hora da aplicação.
Urina de vaca
A urina de vaca leiteira é um recurso alternativo para nutrição de plantas,
ativação metabólica e controle de pragas e doenças, muito utilizado em vários países.
Segundo Oliveira et al. (2003), a produtividade do pimentão aumenta linearmente
com a elevação das concentrações de urina de vaca na presença e na ausência de
adubação mineral (Figura 9.7). Na presença de adubação mineral, verificou-se
incremento na produtividade de pimentão na ordem de 1,36 t/ha a cada percentual de
urina acrescido à solução; na sua ausência, esse incremento foi de 0,58 t/ha. As
produtividades máximas foram de 24,6 e de 10,7 t/ha obtidas na concentração máxima
de urina, na presença e na ausência de adubação mineral, respectivamente. Embora a
urina de vaca apresente quantidades elevadas de N e K, ela não foi capaz de atender
sozinha à grande necessidade desses nutrientes exigida pelo pimentão.
ROCHA, M. C.; CARMO, M. G. F.; FERNANDES, M. C. A.; COSTA, E. S. P.; MANERA, T. C.;
GEDDA, A. E. C.; COELHO, A. A. Características químicas de frutos de pimentão de três cultivares
pulverizadas com biofertilizante Agrobio e oxicloreto de cobre. Horticultura brasileira, Brasília, DF,
v. 22, n. 2, 2004. Suplemento 2. CD-ROM.
RODRÍGUEZ-NAVARRO, D. N.; BELLOGÍN, R.; CAMACHO, M.; DAZA, A.; MEDINA, C.;
OLLERO, F. J.; SANTAMARÍA, C.; RUÍZ-SÁINZ, J. E.; VINARDELL, J. M.; TEMPRANO, F. J. Field
assessment and genetic stability of Sinorhizobium fredii strain SMH12 for commercial soybean
inoculants. European Journal of Agronomy, v. 19, n. 2, p. 299-309, 2003.
RUDRESH, D. L.; SHIVAPRAKASH, M. K.; PRASAD, R. D. Effect of combined application of
Rhizobium, phosphate solubilizing bacterium and Trichoderma spp. on growth, nutrient uptake and yield
of chickpea (Cicer aritenium L.). Applied Soil Ecology, v. 28, n. 2, p. 139-146, 2005.
Aumento na disponibilidade
Bactérias fixadoras de N2
de N
Aumento na disponibilidade
Solubilidade de fosfato
de P
Enraizamento e
Produtores de hormônios vegetais
estabelecimento de plantas
Biorremediação de solos
Algumas rizobactérias “específicas”
contaminados
BAREA, J. M.; POZO, M. J.; LÓPEZ-RÁEZ, J. A.; AROCA, R.; RUÍZ-LOZANO, J. M.;
FERROL, N.; AZCÓN, R.; AZCÓN-AGUILAR, C. Arbuscular Mycorrhizas and their
significance in promoting soil-plant systems sustainability against environmental stresses. In:
RODELAS, B.; GONZÁLEZ-LÓPEZ J. (ed.). Beneficial plant-microbial interactions:
ecology and applications. Boca Raton: CRC Press, 2013b. p. 353-387.
BAREA, J. M.; RICHARDSON, A. E. Phosphate mobilisation by soil microorganisms. In:
LUGTENBERG, B. (ed.). Principles of plant-microbe interactions. Nova York: Springer,
2015. p. 225-234.
COURTY, P. E.; SMITH, P.; KOEGEL, S.; REDECKER, D.; WIPF, D. Inorganic nitrogen
uptake and transport in beneficial plant root-microbe interactions. Critical Review Plant
Science, v. 34, p. 4-16, 2015.
1
Para os quelatos FeHopEDDHA e FeOHDCHA, as principais espécies ocorrem a pH inferior
a 5,92 e superior a 7,5, respectivamente; por esse motivo, para fins comparativos, a expressão
da constante condicional é também incluída.
Tipos de quelatos
Os quelatos e os complexos podem ser divididos em naturais e sintéticos.
Os quelatos naturais são muito abundantes; por exemplo, o Mg nas clorofilas e
o Fe na hemoglobina e na mioglobina, os citocromos e as oxidases. O ATP é
um ligando tetradentado importante que se liga a íons metálicos divalentes,
tais como Mg2+, Mn2+ ou Co2+, através de quatro das seis posições de
coordenação disponíveis; a quinta e a sexta posição de coordenação são
ocupadas por moléculas de água. Em geral, a forma biológica ativa do ATP é o
complexo Mg(II)-ATP.
Os quelatos de Fe sintéticos têm recebido muita atenção. Na próxima
seção, as suas estruturas serão analisadas.
Estruturas dos quelatos: produtos comerciais e
métodos analíticos
Figura 11.7 - Cromatograma típico obtido pelo método HPLC para produtos
comerciais à base de Fe-o,o-EDDHA. O Fe-o,o-EDDHA é a soma
de isômeros geométricos dl-racêmico (I) e meso (II). Outros picos
indicam a presença de produtos de degradação Fe-o,p-EDDHA
(IV), da síntese de p,p-EDDHA e outros produtos relacionados
(III).
Aplicação de quelatos na agricultura: eficácia
Quando do fornecimento de micronutrientes na forma de complexos ou
quelatos na agricultura, o Fe é o nutriente mais importante. A aplicação de
quelatos de Fe sintéticos no solo é uma estratégia essencial para corrigir a
clorose férrica nas culturas. Uma vez que o preço desses produtos é
relativamente elevado, a sua utilização é limitada às culturas de elevado valor
agregado que podem suportar tais custos, como é o caso da vinha e pomares
de pessegueiros e pereiras. Os micronutrientes quelatados também são
adicionados a soluções nutritivas e à fertirrigação, diretamente nas folhas por
pulverização foliar ou mesmo injetados nos troncos das árvores.
A eficácia dos quelatos pode ser testada em vários níveis. A modelagem
teórica e a especiação são ferramentas úteis para prever o comportamento de
inúmeros quelatos numa grande variedade de condições. O estudo da reação
dos quelatos e do agente quelante nos solos permite a obtenção de
informações sobre a reatividade real, tendo em conta reações de superfície e
processos cineticamente controlados. É ainda necessário validar a eficácia dos
quelatos em experiências biológicas, as quais podem ser desenvolvidas em
diferentes escalas: interação quelatos-raízes, hidroponia e experiências em
vaso em condições controladas e experiências de campo (ÁLVAREZ-
FERNANDEZ et al., 2005).
a) Lignossulfonatos – LS
São produtos obtidos a partir da indústria do papel em que a madeira é
tratada com hidrogenossulfito de sódio para promover a separação entre a
lignina e as fibras celulósicas. Esse processo conduz à sulfonação das moléculas
de lignina, formação de ácidos lignosulfônicos mais hidrofílicos e novos
grupos fenólicos. Os LS são usados, entre outras finalidades, em fertilizantes
como agentes de complexação de micronutrientes.
Um dos problemas com esses produtos relacionam-se com a sua origem
natural, uma vez que o termo lignossulfonato engloba grande número de
compostos com diferentes tamanhos e características estruturais. A sua
composição depende do tipo de árvore de onde são originários e das condições
de extração. A capacidade de complexação dos compostos LS assenta-se
basicamente em grupos fenólicos, carboxílicos e, em menor extensão,
amínicos, sulfônicos e outros. As moléculas apresentam diferentes locais de
complexação com diferentes forças de ligação; em razão desse fato, não é
possível a obtenção de uma constante de estabilidade única para cada
complexo LS-metal. Consequentemente, a especiação também é difícil. Além
disso, na presença de elevada quantidade de metal, o complexo pode coagular,
diminuindo a quantidade de elemento solúvel.
O objetivo da utilização do LS é manter o metal complexado na forma
solúvel. Como os complexos são geralmente menos estáveis nos solos do que
os quelatos, eles podem ser fornecidos em solução nutriente ou por aplicação
foliar. A sua eficácia depende não só da capacidade de complexação dos metais,
mas também de outros fatores, como a capacidade de penetração foliar. No
entanto, complexos de Zn-LS misturados com NPK nos fertilizantes em
formas não solúveis podem aliviar deficiências de Zn das culturas.
b) Humatos
Os humatos – sais de ácidos húmicos ou substâncias húmicas – resultam
de transformações biológicas e químicas de decomposição de plantas, animais
e microrganismos realizados por outros microrganismos presentes no solo.
Desse fato origina a formação de macromoléculas com estrutura e composição
variáveis a partir de resíduos orgânicos no solo, incluindo uma gama alargada
de materiais fertilizantes de estrutura semelhante, como a turfa, derivados de
leonardita – lignina parcialmente oxidada após afloramento à superfície – e
outros derivados dos sistemas aquáticos. Para a sua caracterização (ver
Capítulo 1), os humatos podem ser separados em (i) ácidos húmicos, solúveis
em condições alcalinas e insolúveis a pH inferior a 2; (ii) ácidos fúlvicos,
solúveis em água ao longo de toda a gama de pH; e (iii) huminas, insolúveis
em qualquer gama de pH (AIKEN, 1985).
Uma fração substancial da massa de ácidos húmicos é constituída por
ácidos carboxílicos, responsáveis pela quelatação (reter em alguns meios,
dissolver noutros) dos íons multivalentes de carga positiva – Mg2+, Ca2+, Fe2+,
Fe3+, a maioria dos outros oligoelementos de valor para as plantas, bem como
outros íons sem função biológica positiva, tais como Cd2+ e Pb2+ – por essas
moléculas. A quelatação de íons é provavelmente o papel mais importante dos
ácidos húmicos em relação aos sistemas vivos. Através dela, os ácidos húmicos
facilitam a absorção desses íons por vários mecanismos, um dos quais consiste
em evitar a sua precipitação, ou por uma influência direta e positiva sobre a
sua biodisponibilidade.
A reatividade dos humatos de micronutrientes em solos calcários pode
ser muito elevada porque o Ca compete com os locais de retenção sob
condições em que esses micronutrientes tendem a se precipitar (PÉREZ-
SANZ et al., 2002, 2006).
De forma similar aos lignossulfonatos, os complexos solúveis de
humatos devem ser utilizados em soluções de nutrientes ou por meio de
aplicação foliar. Grandes quantidades de formas insolúveis podem também
aumentar o elemento disponível quando aplicadas nas culturas.
c) Ácidos orgânicos
O citrato, gluconato e heptogluconato (Figura 11.14), embora sejam
considerados produtos naturais, correspondem a moléculas com estrutura
definida. Esses compostos formam complexos de baixa estabilidade
comparativamente aos quelatos sintéticos. No entanto, alguns deles
permanecem em solução em solo ácido e até mesmo a pH neutro. Eles são
recomendados principalmente para aplicações foliares ou em hidroponia, em
que a sua eficácia pode ser suficiente para fornecer os micronutrientes a um
custo mais reduzido em comparação aos quelatos sintéticos. Essa situação é
verdadeira para Zn. No entanto, a aplicação de complexos de Fe é menos
eficaz.
d) Aminoácidos
Foram usados extensivamente como fertilizantes especiais com o
objetivo de proporcionar um melhor ambiente ao desenvolvimento das raízes,
para aumentar a absorção de nutrientes por elas ou em aplicações foliares. No
entanto, os aminoácidos também foram reivindicados como agentes
complexantes de metais. Entre os vários complexos metálicos atualmente
comercializados, os aminoácidos não causam qualquer preocupação ambiental,
uma vez que são de origem natural e são biodegradáveis. Eles são subprodutos
de processos industriais, gerados em grandes quantidades, o que reduz o seu
custo. Algumas moléculas naturais e sintéticas, com elevada capacidade de
complexação, são derivadas de aminoácidos, como sideróforos e
fitosideróforos, e agentes quelantes, como o EDTA, EDDHA e análogos.
A capacidade de complexação dos aminoácidos é potenciada pela
presença de grupos funcionais, a exemplo dos grupos amino, ácido
carboxílico, fenol e, em alguns casos, tiol, dispostos numa orientação espacial
apropriada para o isolamento do metal a partir do ambiente (ver complexo
Zn-cisteína 1:2, na Figura 11.14). Dependendo da técnica de degradação de
proteínas utilizada, os extratos de aminoácidos de origem animal ou vegetal
podem conter um teor elevado de aminoácidos livres ou pequenos peptídeos.
No estado sólido, os aminoácidos naturais são bons agentes quelantes,
mas, com algumas exceções, não são capazes de manter metais como o Fe
solúveis a pH neutro ou alcalino. Polipeptídeos curtos têm a desvantagem de,
quando da formação das ligações peptídicas, ambos os grupos amino e
carboxilato serem utilizados na formação da ligação péptidica, o que diminui o
número de grupos doadores disponíveis. Pelo contrário, polipeptídeos curtos
que contêm outros grupos doadores podem sofrer um melhor rearranjo
espacial em torno do metal.