Adubação Verde
Outubro - 2008
O que é?
A Adubação Verde é uma
prática agrícola milenar,
cujo objetivo é melhorar a
capacidade produtiva do
solo. Essa melhoria do solo
é conseguida através da adi-
ção de material orgânico não
decomposto de plantas culti-
vadas exclusivamente para
este fim, que são manejadas
antes de completarem o ci-
clo vegetativo.
A Adubação Verde pode ser
Nesta edição: realizada com diversas espé-
cies vegetais, porém a prefe-
rência pelas leguminosas
O que é? está consagrada por inúme-
ras vantagens, dentre as
quais, destaca-se a sua capa-
Benefícios da aduba-
cidade de fixar nitrogênio
ção verde e cobertu-
Recomendações
Benefícios da adubação verde e cobertura vegetal
Solo
01 - Aumento da capacida-
de de armazenamento de
Estratégia na esco- água no solo;
lha de espécies e
02 - Controle de nematói-
Adubação Verde em ro- des fitoparasitos;
tação
03 - Descompactação,
estruturação e aeração do
Adubação verde em
solo;
consórcio
04 - Diminuição de ampli-
Adubação verde em tude da variação térmica
faixas diuturna do solo;
Adubação verde em á- 05 - Fornecimento de ni-
reas de pousio temporá- trogênio fixado direto da
rio atmosfera;
Adubação verde em
sucessão Recomendações
Coquetel
A semente de boa qualidade
é o primeiro passo para ga-
rantir o êxito de qualquer
lavoura, assim como da Adu-
bação Verde. O melhor forne-
cedor será sempre um produ-
tor de sementes registrado
no Ministério da Agricultura.
direto da atmosfera por
simbiose.
De modo mais amplo,
pode-se dizer que a adu-
bação verde restaura e
intensifica um grande
número de processos de
vida, deixando o solo
mais fértil e mais saudá-
vel para a cultura se-
guinte. Sua ação é me-
nos efêmera que de uma
adubação química, po-
rem requer repetição
periódica, a fim de man-
ter alto o patamar de
fertilidade de um solo.
O girassol, por exemplo,
embora seja plantado
como cultura para co-
06 - Intensificação da ativi-
dade biológica do solo;
07 - Melhoria do aproveita-
mento e eficiência dos
adubos e corretivos;
08 - Produção de fitomas-
sa para formação da co-
bertura morta;
09 - Proteção de mudas -
plantas contra o vento e
radiação solar;
10 - Proteção do solo con-
tra os agentes da erosão e
radiação solar;
A escolha da espécie do
adubo verde, da época
do plantio, do espaça-
mento e da densidade de
semeadura dependem do
sistema de produção da
cultura e das condições
do solo e clima.
lheita de grãos e extração
de óleo comestível, pode
ser considerado um adubo
verde, pois deixará bene-
fício adicional um solo
mais fértil. O mesmo se
aplica a colza, feijão de
corda, feijões Mungo e
adzuki, soja e otras cultu-
ras consideradas agríco-
las. Ademais, a prolifera-
ção de diversas plantas
espontâneas, depois in-
corporadas, poderá trazer
benefícios à fertilidade.
11 - Rápida cobertura do
solo e grande produção de
massa verde em curto
espaço de tempo;
12 - Reciclagem de nutri-
entes lixiviados em pro-
fundidade;
13 - Recuperação de solos
de baixa fertilidade;
14 - Redução da infestação
de ervas daninhas, inci-
dência de pragas e patóge-
nos nas culturas;
15 - Suprimento de maté-
ria orgânica ao solo.
O solo corrigido é indis-
pensável para o sucesso
da Adubação Verde e a
necessidade de adubação
mineral depende da análi-
se do solo.
Volume 1, edição 1 Página 2

Solo

Os adubos verdes aportam Química do solo: tam efeitos positivos no con-

uma grande variedade de
substancias orgânicas ao
solo, tal como os exudatos
de raízes, a biomassa radi-
cular e foliar, ou seja, muita
celulose, alguma, ácidos
orgânicos e diversas subs-
tâncias elaboradas, como
aminoácidos, fitormônios.
Toda esta matéria orgânica
forma um poderoso ativador
da biologia do solo, que por
sua vez melhora as condi-
ções físicas, bem como reci-
cla e disponibiliza os nutri-
entes do solo. Um manejo
da cobertura verde/morta
conserva melhor a umidade
do solo, intensificando a
atividade biológica, ao mes-
mo tempo em que aumenta
a disponibilidade de diver-
sos nutrientes, como nitro-
gênio e o potássio,que ne-
cessitam sobremaneira de
umidade suficiente para
estarem disponíveis. Não
obstante, vale destacar os
três níveis nos quais os adu-
bos verdes contribuem a
fertilidade do solo:
trole preventivo de doenças
-adição de C resultando em
radiculares e pragas de solo;
húmus e maior CTC, menor
acidez; - Também os nematóides são
inibidos pela prática de adu-
-aumento do fósforo dispo-
bação verde, se a espécie
nível, pela ação combinada
escolhida for antagônica ao
de micorrizas e exudatos
nematóide infestante.
das raízes
- A utilização de apenas uma
- adição de N ao sistema,
espécie de adubação verde,
pela fixação biológica.
repetidamente,pode criar
Física do solo: problemas por especializar a
população.
- estruturação e agregação
do solo; - Recomenda-se uma ampla
rotação (ciclo de rotação mais
-capacidade de retenção de longo, mais espécie em rota-
água ção), variando-se os adubos
- Densidade aparente do verdes de verão e também os
solo, medida do peso cor- de inverno.
respondente a um determi- - A prática de se utilizar co-
nado volume (macro) porosi- quetéis com 5, 10 ou 15 es-
dade, reflexo do grau de pécies diferentes, permite
agregação de um solo; uma rotação mais estreita
-Capacidade de infiltração, (ciclo de rotação mais curto, Recomenda-se
função direta da porosidade menos espécie em rotação)
uma ampla
e da densidade aparente - Igualmente, o manejo da
condutividade elétrica. biomassa de ervas invasoras,
rotação
Efeitos biológicos: em rotação com adubos ver-
des, permite estreitar a rota- variando-se os
- Os adubos verdes apresen- ção de culturas
adubos verdes

Estratégia na escolha de espécies e rotação
O contínuo monitoramento
da áreas com rotação de
culturas é fundamental para
o próprio sucesso do siste-
ma. Assim, as espécies a
serem incluídas na rotação
deverão ser criteriosamente
selecionadas, de acordo
com as condições ambien-
tais e de cobertura do solo.
Por exemplo, caso esteja
definido o plantio de uma
determinada leguminosa ou
crucífera (planta de relação
C/N baixa e baixo teores de
lignina) em um determinado
talhão naquela estação,
sendo que circunstancias
como a ocorrência de seca
em anos anteriores tenham
prejudicado a produção de
massa seca de uma determi-
nada gramínea, como a avei-
a preta ou centeio, não será
indicado o cultivo de uma
espécie cuja biomassas seja
de fácil decomposição. Por-
tanto, mais do que pré-
estabelecer uma seqüência,
o bom senso e o monitora-
mento das condições do
solo, ao longo dos anos,
serão fundamentais para o
êxito de um sistema de rota-
ção de culturas.
As plantas de cobertura
poderão ser implantados
cultivo singular ou associa-
ções. Podemos fazer uso
consorcio de gramíneas +
leguminosas, ou gramíneas
+ crucíferas, ou ainda mistu-
rar 2-3 ou mais espécies,
que além de apresentarem
um importante efeito melho-
rador das características
físicas do solo (agregação,
estruturação), produzem
resíduo de relação C/N in-
termediária, que favorecerá
uma mineralização paulatina
do nitrogênio, alem de pro-
moverem ao longo dos anos
de verão e
também os de
um maior equilíbrio e cumu-
lo de carbono no perfil do inverno
solo. No caso de cultivos
singulares a decomposição
individual, por ex. das legu-
minosas, sofrerá maiores
riscos de perdas de N, quan-
do os resíduos de gramí-
neas soa mesclados com
resíduos de leguminosas
normalmente não há proble-
mas com imobilização do
nitrogênio, e também a mi-
neralização paulatina favore-
cerá a disponibilidade e
absorção pelas plantas.
Resultados de pesquisas
experiências de inúmeros
agricultores das diferentes
regiões produtoras brasilei-
ras tem mostrado a superio-
ridade de rendimento dos
cultivos quando conduzidos
em plantio direto juntamen-
te com a rotação de cultu-
ras.
 Volume 1, edição 1 Página 3

Adubação Verde em rotação

O adubo verde é plantado du- ou fortemente erodido ou - Primavera/ verão: geralmen-

rante uma estação inteira, co-
brindo o solo por um período
de 4 a 6 meses. A adubação
verde em rotação permite as
maiores produções de biomas-
sa e um forte abafamento das
ervas invasoras. Essa prática é
indicada para preparo de planti-
o de culturas perenes ou para
recuperar um solo muito degra-
dado infestado de nematóides
compactado. Freqüentemen-
te, a instalação do adubo
verde requer a correção do
solo com fósforo, calcario e/
ou pó de basalto, e no caso
do preparo convencional do
solo, uma aração e gradagem
costumam ser necessárias. A
adubação em rotação pode
ser feita em diferentes época
do ano:
te são leguminosas, desta-
cando-se as mucunas, o fei-
jão de porco, o guandu, as
crotalárias, o labe-labe e o
caupi.
- Outono/inverno: principais
espécies são a aveia-preta,
azevém, nabo forrageiro,
ervilhacas, tremoços, chicha-
ro, serradela e gorga

Adubação verde em consórcio

O plantio se faz em consócio vendo a diminuição de área cultura do milho.

com a cultura principal. Ape-
sar de se temer a competição
por água e nutrientes, obser-
va-se que a cultura principal
se beneficia com a presença
do adubo verde, seja pelo
acréscimo de algum nutriente
ao solo, como o N no caso
das leguminosas, ou pelo
abafamento de outras ervas
invasoras não benéficas no
momento e ainda pela prote-
ção do solo. Para eliminar-se
a competição por luz, o adu-
bo verde deve ser de menor
porte que a cultura principal
ou ser roçado/podado.
- Culturas anuais: o adubo
verde é semeado entrelinha
da cultura principal, não ha-
plantada. Esse sistema adap-
- Culturas perenes: assemelha-
ta-se principalmente às pe-
se à adubação verde consorcia-
quenas propriedade. A esco-
da com culturas anuais; porem
lha do adubo verde deve ser
exige alguns cuidados específi-
criteriosa, para não haver
cos , não devendo o adubo
competição com a cultura
verde ser muito agressivo. Co-
principal. Entre os exemplos
mo exemplo dessa modalidade
desse tipo de adubação verde
podemos citar pomares de ba-
destaca-se a cultura de mi-
naneiras consorciadas com
lho, que pela arquitetura
feijão-de– porco, soja perene,
foliar favorável pode ser con-
sinatro, guandu, mucunas e
sorciada com o feijão-de-
calopogônio; videiras com ervi-
porco, o caupi e a mucuna-
lha forrageira, chícharo, inigó-
anã (nesses casos a semeadu-
fera e amendoim rasteiro; maci-
ra do milho pode ser coinci- A semente de
eiras e pessegueiros com tre-
dente com a dos adubos ver-
vos, tremoço, serradela, aveia, boa qualidade é
des); com o guandu, o labe-
ervilhaca, mucuna, labe-labe e
labe e as mucunas cinzas e
crotalárias e leucenas; goiabei- o primeiro
preta, neste caso recomenda-
ras, abacateiros e caquizeiros
se a semeadura do adubos-
verdes posteriormente á da
com indigófera e mucunas. passo para

garantir o

Adubação verde em faixas
Nessa modalidade, os adubos
verdes são plantados em
faixas e o restante de área
permanece cultivado com a
cultura comercial. As faixas
devem ser translocadas anu-
almente, de modo a promo-
ver a melhoria de toda a pro-
priedade. Uma variação desse
sistema é o plantio de legu-
êxito de
qualquer
minosas perenes em faixas ressante o cultivo de milho ou
fixas, que poderão ser utiliza-feijão intercalados com faixas lavoura
das na alimentação animal ou de leucena, que atua na reten-
distribuídas na área de culti- ção da enxurradas. Outros e-
vo comercial, com o objetivo xemplos são: mandioca com
de fazer a cobertura do solo faixas de crotalária e guandu,
e economizar na adubação milho e arroz de sequeiro com
nitrogenada. faixas de leucena e guandu,
trigo com faixas de tremoço e
Em regiões declivosas, é inte-
algodão com faixas de soja.

Adubação verde em áreas de pousio temporário

Esse método pode ser viável
em área degradas ou em áreas
que não estão incorporadas
ao processo produtivo. Espé-
cies como guandu, a leucena e
a indigófera sõ aconselháveis
por apresentar um sistema
radicular bem desenvolvido e
uma elevada produção de
massa, não só recuperando
as características do solo,
como servindo para alimenta-
ção animal. Em São Paulo e na
recuperação de áreas degrada-
das, vem sendo utilizadas a
mucuna-preta.
 Título do Boletim Informativo Página 4

Adubação verde em sucessão

O adubo verde é plantado na
meia estação, logo após a
cultura comercial, podendo
favorecer o sistema de diver-
sas formas. Na agricultura
orgânica, este método atin-
ge seu objetivo quando exe-
cutado atraves de um cultivo
mínimo. Não faz sentido
O coquetel de
revolver o solo para plantar opreta após a safra do milho.
adubo verde sussecional, pois A mucuna é semeada após a
a queima de matéria orgânica, ultima capina, freqüente-
devido à aração ou gradagem, mente feita em janeiro, e
dificilmente será compensada toma conta do milharal após
pela biomassa adicionada. a colheita, cobrindo o solo e
abafando o mato de forma
O exemplo mais clássico desse eficiente até as primeiras
tipo é o plantio da mucuna geadas.

adubação verde
Coquetel
consiste na

técnica de O coquetel de adubação
verde consiste na técnica de
aplicar várias aplicar várias espécies de
plantas de adubação em
espécies de uma área, de forma aleató-
ria, a fim de aumentar a
plantas de
diversidade e utilizar, simul-
taneamente, os diversos
adubação em uma benefícios das culturas.
área Este coquetel é constituído
de 45% de gramíneas, 45%
de leguminosas e 10% de
outras grupos. Após esco-
lher as espécies, de acordo
com a disponibilidade e épo-
ca do ano, deve-se fazer um
cálculo para determinar a
quantidade de cada espécie
a ser aplicada na área. Para
entender melhor este pro-
cesso , observe a tabela
abaixo:
Por conseguinte, deve-se
misturar todas as sementes
e aplicar goma de polvilho,
para homogeneizar os dife-
rentes tamanhos das semen-
tes. Para secar este compos-
to pode-se colocar pó de
rocha, calcário e outros pro-
dutos que auxiliem na fertili-
dade do solo. Este composto
deve ficar parecido com uma
farofa e assim pode-se apli-
car na área desejada lançan-
do as sementes no campo,
visando a distribuição mais
homogenia possível. Após o
plantio, pode-se passar um
arado leve na área.
* esta proporção é calculada
dividindo a proporção total
do grupo (45% de gramíneas,
por exemplo) pelo números
de espécies do mesmo grupo
(3 espécies, no caso das
gramíneas).**este valor é
obtido através da multiplica-
ção da quantidade indicada
para monocultura e a pro-
porção.

Espécies Quantidade Proporção Quantidade

indicada para para cada Utilizada para o co-
monocultura Espécie quetel
(Kg/há) (%)* (Kg/há) **
Gramíneas (45 Arroz 30 15 14,5
%)
Milheto 18 15 2,7
Milho 20 15 3
Leguminosas Crotalária 30 11,25 3,6
(45%)
Guandu 60 11,25 6,6
Feijão de 100 11,25 11
porco
Feijão 60 11,25 6,6
Outros (10%) Girassol 10 10 1

Referencias e saiba mais:

Revista agroecológica ano II– n°14– maio/junho 2002

http://www.pirai.com.br/