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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS

ESCOLA DE AGRONOMIA E ENGENHARIA DE ALIMENTOS


PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM AGRONOMIA

CULTURA DO ABACAXI

(Ananas comosus (L.) Merril)

Apostila elaborada sob coordenação do


professor Dr. Ronaldo Veloso Naves,
como exigência da Disciplina
Fruticultura, do Programa de Pós-
graduação em Agronomia, da Escola de
Agronomia e Engenharia de Alimentos
da Universidade Federal de Goiás.
ii

GOIÂNIA, GO
Janeiro/2004
SUMÁRIO

1. APRESENTAÇÃO 06
2. ASPECTOS ECONÔMICOS 07
2.1. REFERÊNCIAS 11
3. MELHORAMENTO 12
3.1. REFERÊNCIAS 14
4. VARIEDADES 16
4.1. REFERÊNCIAS 17
5. CONDIÇÕES EDAFOCLIMÁTICAS 19
5.1. CONDIÇÕES EDÁFICAS 19
5.1.1. Textura do solo 19
5.1.2. Características químicas 20
5.1.3. Drenagem do solo 20
5.1.4. Topografia 20
5.2. CONDIÇÕES CLIMÁTICAS 20
5.2.1. Temperatura 21
5.2.2. Precipitação pluviométrica 21
5.2.3. Umidade relativa 22
5.2.4. Luminosidade 22
5.2.5. Fotoperiodismo 22
5.2.6. Vento 23
5.2.7. Altitude 23
5.3. REFERÊNCIAS 23
6. PROPAGAÇÃO 24
6.1. VIVEIRO DE MUDAS 24
6.2. PROPAGAÇÃO TRADICIONAL 24
6.3. MICROPROPAGAÇÃO 25
6.4. CONSIDERAÇÕES GERAIS 25
6.4.1. Mudas 26
6.4.2. Propagação via talo 27
6.4.3. Outros métodos de propagação do abacaxizeiro 27
6.5. REFERÊNCIAS 28
7. NUTRICÃO E ADUBAÇÃO 30
7.1. NUTRIENTES 30
7.1.1. Nitrogênio 30
7.1.2. Fósforo 30
7.1.3. Potássio 31
7.1.4. Cálcio 31
7.1.5. Magnésio 31
7.1.6. Enxofre 32
7.2. MICRONUTRIENTES 32
7.2.1. Boro 32
7.2.2. Cobre 32
7.2.3. Ferro 32
7.2.4. Molibdênio 33
7.2.5. Zinco 33
iii

7.3. CALAGEM E ADUBAÇÃO 33


7.3.1. Calagem 33
7.3.2. Adubação 33
7.3.2.1. Macronutrientes 33
7.3.2.2. Micronutrientes 35
7.4. REFERÊNCIAS 36
8. PLANTIO E TRATOS CULTURAIS 37
8.1. PLANTIO 37
8.1.1. Escolha da área 37
8.1.2. Sistema de plantio 37
8.1.3. Época de plantio 38
8.2. TRATOS CULTURAIS 39
8.2.1. Indução Floral 39
8.2.2. Irrigação 39
8.2.3. Controle de plantas invasoras 40
8.2.3.1. Controle manual 44
8.2.3.2. Controle mecânico 45
8.2.3.3. Controle químico 45
8.2.3.4. Controle cultural 46
8.2.4. Culturas Intercalares 46
8.2.5. Proteção Dos Frutos 48
8.3. REFERÊNCIAS 48
9. PRAGAS 50
9.1. BROCA DO FRUTO (Thecla basalides) 50
9.2. COCHONILA DO ABACAXI (Dysmicoccus brevipes) 51
9.3. ÁCARO ALARANJADO (Dolichotetranychus floridanus) 53
9.4. BROCA DO TALO (Castnia icarus) 53
9.5. OUTRAS PRAGAS 54
9.5.1. Broca-do-colo-do-abacaxi (Paradiophorus crecatus) 54
9.5.2. Tripés (Thrips tabaci; Thrips frankliniella) 55
9.5.3. Lagarta das folhas (Monodes agrotina) 55
9.6. REFERÊNCIAS 55
10. DOENÇAS 57
10.1. DOENÇAS FÚNGICAS 57
10.1.1. Fusariose do abacaxi (Fusarium subglutinans; Giberella fujikuroi) 57
10.1.1.1. Sintomas 58
10.1.1.2. Controle 58
10.1.2. Mancha negra do fruto (Penicillum funiculosum; Fusarium moniliforme) 59
10.1.2.1. Sintomas 59
10.1.2.2. Controle 60
10.1.3. Podridão do olho (Phytophora nicotiana var. parasitica) 60
10.1.3.1. Sintomas 60
10.1.3.2. Controle 61
10.1.4. Podridão das raízes (Phytophthora cinnamomi) 61
10.1.5. Podridão da base da muda [Chalara (Thielaviopsis) paradoxa] 62
10.2. VIROSES 63
10.2.1. Murcha do abacaxizeiro (Ananás comusus L.) 63
10.2.2. Mancha-amarela (yellow spot) 64
10.3. DOENÇAS BACTERIANAS 64
iv

10.3.1. Podridão-aqüosa-das-frutas (Erwinia ananas ) 64


10.3.2. Morbling Disease 64
10.4. NEMATÓIDES 65
10.5. REFERÊNCIAS 65
11. COLHEITA E PÓS-COLHEITA 68
11.1. COLHEITA 68
11.1.1. Ponto de colheita 69
11.1.2. Colheita 70
11.1.3. Transporte 70
11.2. PÓS-COLHEITA 70
11.2.1. Seleção e classificação 70
11.2.2. Desinfecção 72
11.2.3. Embalagem 72
11.2.4. Armazenamento 73
11.3. REFERÊNCIAS 74
12. PROCESSAMENTO 76
12.1. CARACTERÍSTICAS DESEJÁVEIS PARA INDUSTRIALIZAÇÃO 77
12.1.1. Cultivares 78
12.1.2. Características físicas dos frutos 78
12.1.2.1. Tamanho 78
12.1.2.2. Forma 78
12.1.2.3. Coloração da polpa 79
12.1.3. Características químicas dos frutos 79
12.2. ABACAXI EM CALDA 80
12.3. SUCO 82
12.4. SUBPRODUTOS 83
12.4.1. Calda 83
12.4.2. Enzimas proteolíticas 83
12.4.3. Ácidos orgânicos 84
12.4.4. Ração 84
12.4.5. Álcool etílico 84
12.5. REFERÊNCIAS 85
1. APRESENTAÇÃO

O abacaxizeiro [Ananas comosus (L.) Merril] é uma planta tropical


originária do Brasil, sendo uma das frutas mais apreciadas no mundo. Ocupa o 5º lugar
entre as frutas mais consumidas e comercializadas no mundo e o 3º lugar no Brasil,
gerando divisas e uma grande ocupação de mão-de-obra, sendo, portanto, muito
importante sob o ponto de vista social.
Sob o aspecto nutricional, tem-se que, o abacaxizeiro possui um fruto com
alta qualidade organoléptica e composição mineral. Rico em açúcares e ácidos, seu
sabor confere ao fruto o “status” de “rei das frutas”, e em relação a sua composição
mineral destaca-se o teor de potássio, cálcio e fósforo, elementos essenciais à nutrição
humana. Aliada às características nutricionais, o abacaxi também merece destaque
quanto a sua utilização na indústria, especialmente na confecção de sucos, compotas,
etc., além de seus subprodutos também serem aproveitados (ornamental, alimentação
animal, dentre outras).
Em seu processo produtivo são muitos os cuidados que deve se ter com a
cultura do abacaxi, principalmente porque produções comerciais envolvem gasto de
tempo e dinheiro. Tomando-se os devidos cuidados, é considerada uma cultura rentável,
todavia, é comum o relato de produtores que se aventuraram na produção comercial de
abacaxi e tiveram insucesso na empreitada, principalmente por desconhecerem aspectos
técnicos da cultura e por não disporem de mão-de-obra especializada.
Visando levantar informações técnicas que possam auxiliar técnicos,
estudantes e produtores a implantarem e conduzirem com sucesso esta cultura, foi
realizado um trabalho pelos alunos da disciplina Fruticultura nos Cerrados do programa
de Pós-Graduação em Agronomia da Escola de Agronomia e Engenharia de Alimentos
da Universidade Federal de Goiás, que em conjunto elaboraram um relatório técnico
contendo informações gerais sobre os principais aspectos relacionados a esta cultura.
6

2. ASPECTOS ECONOMICOS

Rogério de Araújo Almeida


Tatiana Vieira Ramos

O abacaxi é consumido na maioria dos países e produzido principalmente


nos países de clima tropical e sub-tropical. Dentre os principais países produtores
(Tabela 2.1), destacam-se a Tailândia, o Brasil e as Filipinas, onde a cultura encontra
condições edafoclimáticas satisfatórias, com mão de obra relativamente menos onerosa,
refletindo em custos de produção que possibilitem vantagem comparativa no comércio
internacional (TAMAKI & CARDOSO, 1982). Estes três países desenvolveram suas
capacidades de produção, com o objetivo principal de atender à demanda interna de
frutos frescos. Ao mesmo tempo participam ativamente no desenvolvimento do
mercado mundial de produtos transformados (LOEILLET,1998)

Tabela 2.1 Produções absoluta e relativa dos principais produtores mundiais de


abacaxi, no ano de 2001.
Produção Produção
País % País %
(1000 frutos) (1000 frutos)
MUNDO 13.738.735 100 -- -- --
Tailândia 2.353.037 17 China (Taiwan) 365.000 3
Brasil 1.717.904 11 Colômbia 360.000 3
Filipinas 1.495.300 10 Vietnã 312.500 2
Índia 1.100.000 8 Indonésia 300.000 2
China (continental) 941.057 7 Venezuela 300.000 2
Nigéria 881.000 6 Quênia 280.000 2
México 535.000 4 Costa do Marfim 225.675 2
Costa Rica 475.000 3 -- -- --

Fonte: FAO (2002)

O Brasil destaca-se como um dos maiores produtores mundiais de abacaxi


(TAMAKI & CARDOSO, 1982), passando da terceira colocação do rancking mundial
da produção de abacaxi no ano de 2001 para a segunda colocação na safra 2002/2003
(FAO, 2002), sendo o maior produtor das Américas. Segundo o IBGE (2002), a área
cultivada no país passou de 36.460 hectares no ano de 1991, quando foram produzidos
793.539 mil frutos, para 57.004 hectares no ano de 2000, quando foram produzidos
1.292.797 mil frutos (Tabela 2.2) e espera-se para 2003/2004 uma área plantada em
torno de 60.000 hectares com uma produção de aproximadamente 3.000.000 de
toneladas de frutos . Em uma outra publicação, o IBGE afirma que em 2000 no Brasil
7

foram colhidos 60.406 hectares de abacaxi, que produziram 1.335.792 mil frutos, numa
produtividade média de 22.113 frutos por hectare (IBGE, 2000). No ano de 2001 a
produção brasileira foi de 1.442.300 mil frutos (FAO, 2002) e atingiu 1.457.818 mil
frutos em 2002, segundo o previsto pelo IBGE (IBGE, 2002). Pelos dados, percebe-se
que a produção brasileira tem tido um comportamento crescente ao longo dos anos.
O Brasil diferencia-se totalmente dos grandes produtores e consumidores
mundiais de abacaxi, pois quase toda a sua produção é consumida na forma fresca,
sendo a quantidade industrializada insignificante (MORETTI & MARQUES, 1978). A
maior parte da produção brasileira destina-se ao mercado interno (TAMAKI &
CARDOSO, 1982 & CHALFOUN, 1998). Segundo PAIVA & RESENDE (1998), as
exportações brasileiras constituem-se de frutos in natura, principalmente para a
Argentina (92%), e de suco, principalmente para a Holanda (96%).

Tabela 2.2 Área plantada e produção de abacaxi no Brasil, no decênio 1991-2000.


safra 1991 safra 1992 safra 1993 safra 1994 safra 1995
Área (ha) 36 460 39 132 41 157 45 991 47 967
Produção (1000 frutos) 793 539 825 994 834 582 989 551 950 907

safra 1996 safra 1997 safra 1998 safra 1999 safra 2000
Área (ha) 47 498 55 029 56 632 59 455 57 004
Produção (1000 frutos) 763 987 1 073 263 1 113 219 1 247 157 1 292 797*

Fonte: IBGE (2002)


* 1.335.792 mil frutos segundo IBGE (2000)

A cultura do abacaxizeiro é explorada em todas as unidades da Federação


(Tabela 2.3) e tem relativa importância na fruticultura nacional (TAMAKI &
CARDOSO, 1982). Entre os principais produtores brasileiros estão Paraíba e Tocantins
que vem se destacando no cenário nacional da produção do abacaxi estes Estados além
de possuir melhores condições climáticas ainda contam com facilidades na obtenção de
credito para a cultura, em contra partida o Estado de Minas Gerais que até então foi o
grande produtor deste fruto encontra-se com sua produção em declínio provocado por
um processo de desorganização na cadeia produtiva. No ano de 2000, Goiás ocupou a
sexta posição nacional produzindo 54.495 mil frutos (IBGE, 2000). A produção goiana,
embora crescente, não tem acompanhado o crescimento da produção nacional. Em
1972, Goiás produzia 5,50% do abacaxi brasileiro (MORETTI & MARQUES, 1978)
passando a produzir 3,75% em 2001 (IBGE, 2002).
8

Tabela 2.3 Produção de abacaxi pelas unidades da federação brasileira no ano de


2000
Estado Produção Participação Estado Produção Participação
(1000 frutos) (%) (1000 frutos) (%)
BRASIL 1.335.792 100,00 -- -- --
MG 322.964 24,18 AM 11.876 0,89
PB 268.080 20,07 PR 9.115 0,68
PA 233.758 17,50 SE 8.831 0,66
BA 98.538 7,38 RO 4.850 0,36
RN 70.119 5,25 RS 3.913 0,29
GO 54.495 4,08 MS 3.333 0,25
MA 44.394 3,32 AC 1.906 0,14
ES 39.910 2,99 SC 1.528 0,11
SP 37.260 2,79 AP 1.410 0,11
TO 37.152 2,78 DF 515 0,04
RJ 22.880 1,71 RR 500 0,04
PE 19.763 1,48 PI 324 0,02
MT 19.699 1,47 CE 45 0,00
AL 18.634 1,39 -- -- --
Fonte: IBGE (2000)

A comercialização de abacaxi em Goiás concentra-se na CEASA-GO, que é


o grande mercado terminal do Estado, que centraliza a produção dos mais diversos
produtos agrícolas e, posteriormente, a distribui para a grande Goiânia, para os
municípios do interior e, também, para outros estados. A CEASA constitui-se no
principal canal de concentração e distribuição para a extensa rede varejista constituída
por supermercados, feiras-livres, frutarias e ambulantes, do Estado.

Os frutos são adquiridos em Goiás ou principalmente dos Estados do


Tocantins, Minas Gerais, Bahia e Distrito Federal, dependendo da demanda e da oferta
de produto. Caso sejam adquiridos em Goiás, ou nos Estados vizinhos, podem ser
colhidos e conduzidos a CEASA em um dia e repassado aos varejistas nos dois dias
seguintes. Assim, é possível que o consumidor final encontre abacaxi nas prateleiras dos
estabelecimentos comerciais que foram colhidos na tarde do dia anterior.

Analisando-se os Boletins Mensais de Procedência de Mercadorias e


Produtos da CEASA-GO, do período de outubro de 2001 a setembro de 2002, percebe-
se que foram comercializados naquele entreposto apenas frutos das cultivares Pérola e
Smooth Cayenne. A cultivar Pérola respondeu pela quase totalidade do volume
comercializado (97,7%), atingindo o montante de 19.188,07 toneladas contra 442,38
toneladas de frutos da cultivar Cayenne. Foram comercializadas uma média de 1.635,87
9

toneladas mensais, com um pico de comercialização no mês de outubro de 2001,


quando foram negociadas 6.038,10 toneladas.

O preço do abacaxi Pérola permaneceu estável (R$ 500,00 por tonelada) ao


longo do período, independente das quantidades comercializadas. De outro lado, a
cultivar Cayenne sempre apresentou melhores cotações, exceto no mês de outubro de
2001, quando empatou com a Pérola. O valor médio observado para a cultivar Cayenne
foi de R$ 670,00 a tonelada, com pico nos meses de janeiro e fevereiro de 2002, quando
atingiu R$ 750,00 a tonelada.

Este comportamento sugere a possibilidade dos agricultores conseguirem


bons resultados financeiros caso consigam ofertar frutos da cultivar Cayenne de boa
qualidade, preferencialmente, fora do período de grande oferta de frutos da cultivar
Pérola, o que ocorreu apenas no mês de outubro de 2001.

Quanto à procedência do abacaxi comercializado no período, verifica-se que


cerca de 65% dos frutos originaram-se do próprio Estado de Goiás. Cerca de 20%
vieram do Estado do Tocantins, 8% de Minas Gerais e o restante dos Estados da Bahia,
São Paulo, Santa Catarina, Maranhão, Pernambuco e Rio Grande do Sul. Verifica-se
que o Estado do Tocantins foi responsável por 30% dos frutos comercializados no
período de janeiro de 2001 a junho de 2002, constituindo-se no principal exportador de
abacaxi para Goiás.

PASSOS et al. (1997) afirmam que os produtores de citros devem explorar


as vantagens relativas (não ocorrência de determinadas doenças, menores custos de
produção, valores da mão-de-obra e da terra, época de produção, proximidade do
comércio), para ganhar competitividade. Tal afirmativa também é válida para a cultura
do abacaxi e os produtores têm procurado meios de maximizar seus lucros. Alguns
tentam eliminar elos da cadeia produtiva, vendendo seus frutos diretamente aos
varejistas ou mesmo aos consumidores finais. De outro lado, alguns comerciantes
também ingressam na produção. É importante salientar que este comportamento
representa um risco à cadeia produtiva do abacaxi. Tanto a produção quanto a
comercialização constituem-se em atividades extremamente exigentes em
profissionalismo e dedicação e, dificilmente, consegue-se ter a qualidade necessária em
ambas.
10

Embora o comércio varejista (alimentado pela CEASA) seja o grande


mercado terminal de frutos de abacaxi, uma outra modalidade de venda é bastante
comum no Estado de Goiás. Trata-se da comercialização em barracas e caminhões, às
margens de rodovias nas regiões produtoras, em entradas e praças das grandes cidades e
próximo às feiras livres. Não se tem informação sobre a quantidade de frutos
comercializados nesta modalidade, todavia, acredita-se que seja expressiva.
11

2.1 REFERÊNCIAS

CHALFOUN, S. M. A abacaxicultura brasileira e o mercado globalizado. Informe


Agropecuário, Belo Horizonte, v.19, n.195, p.5-6, 1998.

FAO. FAOSTAT Agriculture data. Agricultural production. Crops primary. Disponível em:
<http://apps.fao.org/page/collections> Acesso em: 25 de outubro de 2002

IBGE. Produção agrícola municipal: culturas temporárias e permanentes. Rio de Janeiro:


IBGE. Vol.27. 2000. p.15-6.

IBGE. Levantamento sistemático da produção agrícola: pesquisa mensal de previsão e


acompanhamento das safras agrícolas no ano civil. Rio de Janeiro:IBGE. Setembro de 2001
a Agosto de 2002. Disponível em: <http://www2.ibge.gov.br/pub/Producao_Agricola/>. Acesso
em: 08 de outubro de 2003.

LOEILLET,M. O mercado internacional do abacaxi fresco e transformado. Informe


Agropecuário, Belo Horizonte, v.19, n.195, p.86, 1998.

MORETTI, V. A. & MARQUES, J. F. Aspectos econômicos na produção e mercado. In:


Abacaxi: da cultura ao processamento e comercialização. São Paulo: ITAL. Série Frutas
Tropicais – 2. p.135-99. 1978.

PAIVA, B. M. de & RESENDE, L. M. de A. Aspectos econômicos da produção e


comercialização do abacaxi. Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.19, n.195, p.7-11,
1998.

PASSOS, O. S.; CARVALHO, J. E. B. de; SOUZA, J. da S.; ALMEIDA, C. O. de &


SHIBATA, R. Citricultura do litoral norte da Bahia: vantagens comparativas. Laranja,
Cordeirópolis: IAC, v.18, n.1, p.55-78, 1997.

TAMAKI, T. & CARDOSO, J. L. Aspectos comerciais e econômicos da cultura do


abacaxizeiro no Brasil. in: Simpósio Brasileiro sobre Abacaxicultura, 1º. Anais. Jaboticabal:
UNESP/FCAVJ, 1982. p.25-44.
12

3. MELHORAMENTO
13

Saulo Araújo de Oliveira

O abacaxizeiro cultivado é propagado vegetativamente. Esta característica


proporciona maior produtividade à cultura, já que a uniformidade entre clones é
praticamente completa, apenas dependendo de outros fatores como tipo, tamanho e peso
das mudas. Este método de propagação também favorece pragas, doenças e viroses,
assim, a busca de variedades mais produtivas e resistentes à pragas e doenças é
imprescindível para a evolução dessa frutífera.
No Brasil por ser área de ocorrência natural do abacaxi seu cultivo apresenta
algumas peculiaridades. É vantajoso por se beneficiar das características
edafoclimáticas pelas quais este foi adaptado a milhões de anos. Por outro lado, as
pragas e doenças também se especializaram, tornando-se deste modo, problemas para o
cultivo comercial desta bromeliacea.
Por conseguinte, programas de melhoramento voltados para a obtenção de
cultivares mais produtivos, adaptados às condições climáticas locais, que produzam
frutos de boa qualidade e resistentes à pragas e doenças, principalmente fusariose e
gomose vêm sendo desenvolvidos. Para Annanas comosus foram selecionados tamanho
e número de frutilhos, frutos com menor acidez e adaptados a solos de baixa fertilidade.
Para Annanas lucidus folhas longas e cultivares sem espinhos.
Segundo BRUCKNER (2002), atualmente os programas de melhoramento
objetivam cultivares produtivos, adaptados às condições climáticas locais, resistentes à
pragas e doenças. E, sobretudo, que apresentem frutos de boa qualidade, com maior
período de prateleira, que possuam pedúnculos varando de curto a médio, e plantas com
folhas curtas, largas e sem espinhos.
No melhoramento os objetivos são bem distintos quanto ao destino do
produto final. Caso seja para a industrialização objetiva-se frutilhos grandes e planos,
cavidade floral pouco profunda, polpa translúcida e eixo pequeno, para facilitar no
processamento. Quando o destino final for o consumo in natura preconiza-se frutos com
casca amarelo-alaranjada e coroa variando de média a pequena.
14

Apesar dos esforços não se tem conseguido cultivares para a


industrialização que superem o Smooth Cayenne, o que têm levado os melhoristas de
abacaxi a repensarem os objetivos clássicos dos programas de melhoramento e com
isso, passarem a adotar novas estratégias (BRUCKNER, 2002). No Brasil pesquisas
vêm sendo desenvolvidas para avaliar o potencial de produção e germinação de
sementes (SPIRONELLO et al., 1994, Luz et al., 1999) e para a obtenção de híbridos
resistentes à fusariose (CABRAL et al., 1991, 1993, 1997 e CABRAL & MATOS 1995
Citado por BRUCKNER, 2002).
O IAC conta com um banco de germoplasma constituído por 50 variedades
comestíveis de Ananas comosus (L.) Merrill, além de espécies selvagens de Ananas. Em
1991 iniciou-se, no IAC, um programa de melhoramento genético visando à resistência
do abacaxizeiro à fusariose (SPIRONELLO et al., 1997).
O elevado nível de heterozigose dos parentais utilizados em hibridações é a
principal causa da baixa eficiência dos programas de melhoramento genético do
abacaxizeiro em gerar novas cultivares. Já os efeitos da autofecundação são pouco
conhecidos em abacaxi, mas esta estratégia pode proporcionar avanços significativos no
melhoramento desta planta (CABRAL et al., 2003).
O cultivo de meristemas, além de ser o explante mais indicado na
multiplicação clonal in vitro, permite a obtenção de clones sadios a partir de plantas
infectadas. A percentagem de regeneração de plantas a partir de meristemas ou ápices
caulinares é baixa para algumas espécies vegetais. E vários fatores são apontados como
responsáveis, destacando-se a composição do meio nutritivo e a concentração e
combinação de reguladores de crescimento. Outros fatores como intensidade de O2 e
CO2, luminosidade, temperatura, também podem interferir na regeneração de plantas
(ALBUQUERQUE et al., 2000).
A Embrapa Mandioca e Fruticultura, ao longo de sua existência, tem gerado
diversas tecnologias, a exemplo de altas densidades, controle integrado da pragas,
doenças e plantas invasoras, adubação, controle da floração, irrigação, etc. Essas
tecnologias têm contribuído para elevar a produtividade da cultura do abacaxi no Brasil,
que cresceu mais de 120%, em duas décadas. O Programa de Melhoramento Genético
de abacaxi, vêm recomendando e lançando cultivares resistentes à fusariose e ainda
dispõe de híbridos com essa mesma característica e com folhas sem espinhos, que se
encontram em fase final de avaliação de campo. Mais recentemente, vários trabalhos
com agriculturas orgânica, familiar e natural estão em andamento.
15

Os programas de melhoramento lançam mão da introdução de recursos


genéticos, da seleção clonal e massal, de hibridações, da cultura de tecidos, da
mutagênese, da utilização de indivíduos poliplóides e da transformação genética para a
obtenção de cultivares melhorados (BARBOSA & CALDAS, 2001). Para melhor
utilização das técnicas de transformação genética são necessários o mapeamento
genético, estudos de locos controladores e da associação destas técnicas.
Diversos marcadores moleculares têm sido utilizados no melhoramento
genético de plantas, permitindo análises mais completas e consistentes de sua genética.
Os marcadores moleculares têm sido utilizados como ferramentas em programas de
melhoramento por hibridação sexual, permitindo a caracterização genética de grande
número de genótipos. Os marcadores moleculares RAPD são os mais utilizados pois as
técnicas empregadas são simples e de baixo custo (RICCI et al., 2002 e OLIVEIRA et
al., 2001).
Com os programas de melhoramento no abacaxi visando o desenvolvimento
de cultivares resistentes a fusariose possibilitará o incremento de 30 a 40 % da
produtividade da cultura no Brasil, visto que não ocorrerão perdas por este fator. Além
disso, a renda líquida do produtor será aumentada pela redução dos custos de produção,
pois serão eliminadas as aplicações de fungicidas necessárias ao controle da doença
(EMBRAPA, 2003).
16

3.1. REFERÊNCIAS

ALBUQUERQUE; C. C., CAMARA, T. R., MENEZES, M., WILLADINO; L., MEUNIER;


I.; ULISSES; C. Cultivo in vitro de ápices caulinares de abacaxizeiro para limpeza clonal em
relação à fusariose. Sci. agric., Piracicaba, v.57, n.2, p.363-366, 2000.

BARBOZA, S. B. S.; CALDAS, L. S. Estiolamento e regeneração na multiplicação in vitro do


abacaxizeiro híbrido PE x SC-52. Pesq. agropec. bras., Brasília, v.36, n.3, p.417-423, 2001.

BRUCKNER, C. H. Melhoramento de fruteiras tropicais. Universidade Federal de Viçosa.


2002, 422p.

CABRAL, J. R. S.; MATOS, A. P. de. Pineapple breeding for resistance to fusariosis. Revista
de la Faculdad de Agronomia. Maracay. V.21, n3/4, p.137-145. 1995. Citado por BRUCKNER,
C. H. Melhoramento de fruteiras tropicais. Universidade Federal de Viçosa. 2002, 422p.

CABRAL, J. R. S.; MATOS, A. P. de; CUNHA, G. A. P. Seleção preliminar a genótipos de


abacaxi resistentes à fusariose. Rev. Bras. Frutic., Cruz das Almas, v.13, n.3, p.97-102. 1991.
CABRAL, J. R. S.; MATOS, A. P. de; CUNHA, G. A. P. Selection of pineapple cultivars
resistant to fusariose. Acta horticulturae, Wageningen, n.334, p.53-58. 1993.

CABRAL, J. R. S.; MATOS, A. P. de; COPPENS D’EECKENBRUGGE,G. Segregation for


resistance to fusariose, leaf margin type, and colour from the Embrapa pineapple hybrudization.
Acta horticulturae, Wageningen, n. 254, p.137-144. 1997.

CABRAL, J. R. S.; SOUZA, A. da S.; MATOS, A. P. de; CALDAS, R. C. Efeito da


autofecundação em cultivares de abacaxi. Rev. Bras. Frutic., v.25, n.1, p.184-185, 2003.

EMBRAPA. SOARES FILHO, W. dos S.; LIMA, A. de A.; CUNHA SOBRINHO, A.P. da;
SOUZA, A. da S.; OLIVEIRA, J.R.P.; DANTAS, J.L.L.; CABRAL, J.R.S.; SOUZA JR., M.T.;
C UNHA, M.A.P. da; FONSECA, N.; PASSOS, O.S.; SILVA, S. de O. E. Programa de
melhoramento genético de fruticultura no Cnpmf/Embrapa. DOCUMENTOS Embrapa , v.44,
p.1-21, 2003.

LUZ, S. M. B. P.; MATOS, A. P. de; CABRAL, J. R. S.; COSTA, J. A. Tratamentos para


acelerar e uniformizar a germinação de sementes de abacaxizeiro. Rev. Bras. Frutic.,
Jaboticabal, v.21, n.1, p.36-39,1999.

OLIVEIRA, R. P. de; CRISTOFANI, M.; MACHADO, M. A. Marcadores rapd para


mapeamento genético e seleção de híbridos de citros. Rev. Bras. Frutic., v.23, n.3, p.477-481,
2001.

RICCI, A. P,; MOURAO FILHO, F. de A. A.; MENDES, B. M. J. Embriogênese somática em


Citrus sinensis, C. reticulata e C. nobilis x C. deliciosa. Sci. agric. Piracicaba, v.59, n.1, p.41-
46, 2002.

SPIRONELLO, A.; USBERTI FILHO, J. A.; SIQUEIRA, W. J.; TEOFILO SOBRINHO, J.;
HARRIS, M.; BADAN, A. C. C. Potencial de produção de sementes de cultivares e clones de
abacaxi visando ao melhoramento genético. Bragantia, Campinas, v.53, n.2, p.177-184, 1994.
17

SPIRONELLO, A.; NAGAI, V.; TEOFILO SOBRINHO, J.; TEIXEIRA, A. J.; SIGRIST, J. M.
M. Avaliação Agrotecnológica de Variedades de Abacaxizeiro, conforme os tipos de muda em
Cordeirópolis, SP. Bragantia, Campinas, v.56, n.2, p.333-342, 1997.
18

4. VARIEDADES

Rosângela Vera

As variedades de abacaxi cultivadas para consumo humano pertencem à


espécie Ananas comosus (L.) Merril. Alguns clones Ananas lucidus, Ananas
ananassoides e Ananas bracteatus estão sendo cultivadas para a produção de fibra ou
com fins ornamentais (CABRAL, 2000).
De acordo com as suas características morfológicas as cultivares de abacaxi
mais conhecidas estão classificadas em 5 grupos: Cayenne, Spanish, Queen,
Pernambuco, e Mordilona Perolera (CUNHA et al., 1997). Na Tabela 4.1 encontram-se
os grupos e os países onde são cultivados.
Estima-se que 70% da produção mundial corresponde ao Smooth cayenne.
No Brasil, a maior produção é de Pérola (MANICA, 1999).
Na Tabela 4.2 encontram-se as principais características das variedades
mais cultivadas no Mundo.

Tabela 4.1 Países onde são cultivados os grupos de cultivares de abacaxi.

GRUPO 1 GRUPO 2 GRUPO 3 GRUPO 4 GRUPO 5


Cayenne Spanish Queen Pernambuco Perolera
Havaí Porto Rico África do Sul Brasil Equador
África do Sul México Austrália África Ocidental Colômbia
Guiné Cuba Malásia América Central Peru
África Ocidental Venezuela Reino Unido Flórida Venezuela
Antilhas Malásia Venezuela Brasil
Austrália El Salvador América Central
Cuba
Índia
Fonte: CUNHA et al., 1991 - adaptado

Recentemente foi divulgado por pesquisadores do Instituto Agronômico de


Campinas (IAC) um novo cultivar de abacaxi, o “IAC Gomo-de-mel”. Este nome, deve-
se ao fato dos frutilhos ("olhos") serem soldados menos fortemente entre si, ao contrário
do que ocorre em outros cultivares, podendo ser destacáveis do fruto maduro. Apresenta
resistência a nematóides em comparação com os cultivares comerciais, Havaí e Pérola.
19

O novo abacaxi é especialmente recomendado para mesa e as técnicas de plantio,


manutenção e colheita de frutos são idênticas às utilizadas para os demais cultivares
disponíveis (ABACAXI DE GOMO, 2002).
20

4.1. REFERÊNCIAS

ABACAXI DE GOMO. Disponível em <http://www.iac.br/Not%C3%Adcias/Mat


%C3%A9rias/NovoAbacaxi.htm> Acesso em 23-out-2002.

BOTREL, N.; CARVALHO, V. D. de; OLIVEIRA,E. F. Efeito da mancha-chocolate nas


características físico-químicas de frutos de abacaxizeiro Pérola. Revista Brasileira de
Fruticultura. Jaboticabal. v .24, n .1. p .77-81, abr. 2002.

CABRAL, J.R.S. Variedades. In: REINHARDT, et al. Abacaxi: produção. Brasília:


EMBRAPA, 2000. 77 p.

GIACOMELLI, E. J.; PY, C. O abacaxi no Brasil. São Paulo: Fundação Cargil, 1997. 101 p.

CUNHA, G.A .P.; CABRAL, J. R. S.; SOUZA, L. F. da S. O Abacaxizeiro: cultivo,


agroindústria e economia. Cruz das Almas: EMBRAPA,1991. 480 p.

MANICA, I. Fruticultura Tropical 5: Abacaxi. Porto Alegre: Cinco Continentes, 1999. 501 p.

MEDINA, J. C. Cultura. In: ITAL. Série Frutas Tropicais n 2:Abacaxi. ITAL, 1987. 285 p.
21

Tabela .4.2 Principais cultivares de abacaxi e suas características.


Altura Folhas Pedúnculo Fruto Fruto (peso Polpa(o Brix, Filhotes Resistência à pragas e Observações
planta (forma e e cor) acidez e cor) doenças
(cm) dimensões)
Smooth 1 m comp. Curto Cilíndrico 1,5-2,5 Kg 13-19 o B Poucos ou Susceptibilidade à murcha Cultivar mais plantada no
cayenne 6,5 cm largura Grande amarelo- amarela nenhum abacaxizeiro, à fusariose e Mundo
sem espinhos alaranjado à broca Ideal para indústria e
base verde pálido exportação
Singapor 35-70 35-70 cm comp. + longo que o Quase 1,5-2,5 Kg 14-16 o B Variável Sensibilidade às doenças Bom para a indústria
e Spanish Estreitas Cayenne cilíndrico laranja- amarelo- que ocorrem no período Longo tempo de vida pós-
sem espinhos avermelhado dourada de formação, colheita
verde escuro amadurecimento e pós
colheita
Queen 60-80 Pequenas 7-12cm Pequeno a 0,8-1,5 Kg 14-15 o B 1-4 Menos sensível que o Melhor cultivar para clima
Espinhos densos médio amarelo- amarelo-ouro grupo Cayenne sub-tropical e temperado
Prateadas dourado
Española Tamanh 120 cm comp. 20-25cm Globoso 1,2-2,0 Kg 11,7-12,1 o B Poucos Tolerante à murcha Casca grossa e rígida
Roja o médio Estreita recurvada 12 cm comp. roxo- 10,6-11 meq abacaxizeiro
Com espinhos 13 cm larg. alaranjado amarelo-
Verde escura com pálida ou
faixa vermelha branca
Perolera 100-115 65 cm comp. 30 cm  cilíndrico 1,5-3,5 Kg 13,1 o B 3-9 Resistente a fusariose Alto teor de vit. C
Embricadas 17 cm comp. amarelo- 10 meq
Sem espinhos 14 cm larg. alaranjado amarela
Verde escuro com
faixa prateada
Pérola 52 60-65 cm comp. 30 cm Cônico 0,75-2,15 Kg 14-16 o B 10-15 Resistente à murcha Muitos espinhos
Com espinhos amarelo- 10 meq abacaxizeiro Formato dificulta
Verde escura com esverdeado amarela Susceptibilidade. à transporte
rajas vermelhas fusariose Cultivada no Brasil
Mancha-chocolate

Fonte: Compilado de CUNHA, et al.,(1991); MANICA, (1999); MEDINA, (1987); BOTREL (2002); GIACOMELI(1997).
23

5. CONDIÇÕES EDAFOCLIMÁTICAS

Patrícia Pinheiro da Cunha


Tarciso Albuquerque de Farias

Não parece possível determinar com certeza a origem do abacaxi e sua


domesticação. Presume-se que seja numa área limitada por 15º a 30º de latitude sul e
40º a 60º de longitude oeste (ANDRADE, 1982). O abacaxizeiro é um planta herbácea
perene, que produz uma inflorescência, em posição terminal, a qual originará um fruto.
Segundo CUNHA (1999), o abacaxizeiro é uma planta rústica e resistente às
condições adversas e, apesar de ser originário de regiões de clima quente e distribuição
pluvial bastante irregular, existem faixas ótimas dos fatores ambientais onde a cultura se
desenvolve melhor, com boa produção, tornando sua exploração economicamente
viável.

5.1. CONDIÇÕES EDÁFICAS


Por apresentar um sistema radicular superficial (15 a 20 cm de
profundidade) a cultura do abacaxi desenvolve-se melhor em solos onde as
características físicas e químicas sejam adequadas. A escolha de solos com bom
potencial de produção é fundamental para o sucesso da cultura.

5.1.1. Textura do solo


Segundo REINHARDT et al. (2000), solos de textura média (15 a 35% de
argila e mais de 15% de areia), sem impedimentos a uma livre drenagem do excesso de
água, são mais indicados para essa cultura. Os solos de textura arenosa (até 15% de
argila e mais de 70% de areia), que geralmente não apresentam problemas de
encharcamento, são também recomendados para a abaxicultura.
Solos com textura argilosa que apresentem boas condições de drenagem,
neste caso, a maioria dos latossolos argilosos, podem perfeitamente ser indicados para a
abacaxicultura. A cultura do abacaxi pode também desenvolver-se bem em solos
argilosos (mais de 35% de argila), desde que apresentem boa aeração e drenagem
(REINHARDT et al., 2000).
5.1.2. Características químicas
24

A reação do solo é uma das características químicas que deve merecer


melhor atenção. Apesar da faixa de pH recomendada para o cultivo do abacaxi estar
entre 4,5 a 5,5, esses valores poderão sofrer pequenas variações em função da variedade
considerada. Em trabalho experimental com a variedade Smooth Cayenne observa-se
que esta, apresenta boa adaptabilidade a uma faixa de pH entre 4,2 e 7,1, além de ter
sido tolerante ao alumínio trocável presente no solo. A grande maioria dos solos
utilizados para o cultivo do abacaxi não possui os nutrientes necessários ao bom
desenvolvimento e produção da cultura. Desta forma, o suprimento de nutrientes através
da adubação é prática quase obrigatória nas explorações comerciais

5.1.3. Drenagem do solo


A boa drenagem do solo é a característica mais importante para a cultura. O
encharcamento exerce efeitos negativos no crescimento das raízes, afetando no
crescimento da parte aérea da planta, cujas folhas se tornam estreitas e com coloração
amarelo avermelhada. Aos distúrbios morfológicos e fisiológicos sofridos pelo
abacaxizeiro, sob condições de má drenagem, deve ser acrescentado o favorecimento ao
apodrecimento de raízes e à morte de plantas, principalmente por fungos do gênero
Phytophtora (SOUZA, 1999).

5.1.4. Topografia
A topografia da área deve ser considerada. Terrenos planos ou de pouca
declividade (até 5% de declive) devem ser preferidos, pois facilitam o trato mecanizado
da cultura e são menos susceptíveis ao processo erosivo. Devido à cultura do abacaxi
apresentar um sistema radicular pouco desenvolvido associado ao fato de que solos
cultivados com a cultura são mantidos limpos ou com pouca cobertura vegetal, há
aumento da exposição do solo aos agentes erosivos (CUNHA, 1999).
A utilização de solos mais declivosos requer a adoção de práticas
conservacionistas (REINHARDT et al., 2000).

5.2. CONDIÇÕES CLIMÁTICAS


O abacaxizeiro, por ser originário de regiões que apresentam clima quente e
distribuição pluvial bastante irregular, é considerado uma planta rústica e resistente às
condições adversas nas áreas onde é encontrado. Apesar dessa adaptabilidade, existem
25

as faixas ótimas dos fatores ambientais para que o abacaxizeiro se desenvolva e produza
melhor, viabilizando economicamente o seu cultivo (CUNHA, 1999).

5.2.1. Temperatura
Em zonas quentes, o crescimento da planta é rápido, as folhas apresentam-se
desenvolvidas, numerosas e relativamente pouco rijas. Os rebentões nascem
principalmente no ápice do talo e os filhotes ou mudas no pedúnculo do fruto os quais
são geralmente escassos, notadamente na variedade Cayene. O fruto apresenta-se
normalmente grande, com coroa também grande a normal, olhos achatados e casca
pouco amarela, apesar da plena maturação da polpa, que é pouco ácida, rica em
açúcares, translúcida e frágil (GIACOMELLI, 1982).
Segundo GIACOMELLI (1982), apesar de se tratar de espécie vegetal de
clima tropical e subtropical, as temperaturas elevadas também costumam ser prejudicial,
principalmente pela queimadura dos frutos pelo sol, mas também pela paralisação ou
redução do desenvolvimento vegetativo e queimadura da folhagem.
Na época da maturação dos frutos, a existência de uma amplitude térmica
diária de 12 a 14ºC melhora consideravelmente a qualidade da polpa, mormente para
fins de processamento industrial (GIACOMELLI, 1982).

5.2.2. Precipitação pluviométrica


A cultura do abacaxi apresenta resistência à seca. Segundo GIACOMELLI
(1982), precipitações pluviais mensais da ordem de 60 mm bem distribuídas são
suficientes para culturas não irrigadas. No entanto, os excessos de chuvas podem
prejudicar o desenvolvimento vegetativo da cultura (no caso de estagnação de água no
solo, que pode provocar asfixia das raízes e intensificação do ataque por nematóides e
fungos patogênicos), bem como aos frutos, tornando a polpa de textura mais frágil e
mais vulnerável ao ataque por doenças, inclusive fusariose.
Em condições de seca, ocorre um amarelecimento da planta e uma redução
na emissão de folhas, as quais perdem a turgescência, tornam-se estreitas e eretas,
adquirindo uma cor arroxeada e os bordos do limbo enrolam-se para baixo (CUNHA,
1999).

5.2.3. Umidade relativa do ar


26

Mudanças bruscas na umidade relativa podem causar problemas de


fendilhamento na inflorescência e no fruto, depreciando comercialmente sua qualidade.
As áreas de baixa pluviosidade e com alta umidade relativa promovem um crescimento
da planta, em virtude da captação da água condensada pelas folhas (CUNHA, 1999).
Apesar desse favorecimento, altos níveis de umidade podem contribuir para aumentar a
incidência de doenças fúngicas e bacterianas (CUNHA, 1994).
Valores de umidade relativa média de 70% ou superior são desejáveis, mas
a planta suporta bem variações moderadas. Portanto, períodos de umidade muito baixa
(menos de 50%), podem causar fendilhamento e rachaduras em frutos durante a sua fase
de maturação (REINHARDT et al., 2000).

5.2.4. Luminosidade
A diferenciação floral espontânea do abacaxizeiro está associada com a
diminuição da luminosidade, ocorrendo principalmente quando os dias são mais curtos,
mas também em pleno verão, em dias de forte nebulosidade (GIACOMELLI, 1982).
A luminosidade tem influencia tanto no crescimento vegetativo do
abaxizeiro, como na composição química e coloração do fruto. Sua ação está
intimamente relacionada com a temperatura ambiente e o fotoperíodo, sendo difícil
isolar seus efeitos, principalmente em regiões de altitude elevada (CUNHA, 1994).
Segundo CUNHA (1994), luminosidade intensa pode causar queimadura
interna e externa do fruto, tornando-o inviável para comercialização. A insolação
mínima necessária ao desenvolvimento e produção do abacaxizeiro é de 1.200 a 1.500
horas/ano, sendo a faixa ótima de 2.500 a 3.000 horas/ano.

5.2.5. Fotoperiodismo
A duração dos períodos de luz e de escuro está geralmente relacionada com
o ciclo das culturas, influenciando diretamente na floração, ou seja, provocando-a
(CUNHA, 1999).
De acordo com CUNHA (1994), o abacaxizeiro é tido como uma planta de
dias curtos, sendo que a interrupção do período escuro suprime o efeito indutor do
encurtamento dos dias (período de luz) sobre o florescimento. De forma geral, observa-
se que abacaxizeiro que atinge crescimento ou porte adequado inicia a floração quando
os dias encurtam e que a emissão da inflorescência é tanto mais rápida quanto mais
curtos são os períodos de luz (oito horas ou menos).
27

5.2.6. Vento
De acordo com SIMÃO (1998), o vento exerce efeito na qualidade e
produção dos frutos, ferimentos favorecem a penetração do fungo Thielaviopsis
paradoxa, responsável pela podridão dos frutos.
Ventos fortes podem causar danos ao abacaxi como ressecamento da ponta e
o ferimento dos bordos das folhas, propiciando penetração de fungos. Podem ainda
provocar não só o tombamento da planta como também dificultar e diminuir a eficiência
dos tratamentos fitossanitários (CUNHA, 1994).

5.2.7. Altitude
À medida que a altitude se eleva, aumenta também o ciclo vegetativo da
cultura. Em altitudes elevadas, a planta, as folhas e os frutos são menores do que a
mesma variedade em terrenos baixos. Os frutos são mais cilíndricos, com polpa
descolorida e ácida (SIMÃO, 1998).
28

5.3. REFERÊNCIAS

ANDRADE, V. M. DE M. Morfologia e taxonomia do abacaxizeiro. In: RUGGIERO, C. 1º


SIMPÓSIO BRASILEIRO DE ABAXICULTURA,1, 1982, Jaboticabal. Anais...Jaboticabal:
FCAV, 1982. p. 359.

CUNHA, G. A. P. da. Influência dos fatores edafoclimáticos sobre o abacaxizeiro. In: Abacaxi
para exportação: aspectos técnicos da produção. Ministério da Agricultura, Abastecimento e
da Reforma Agrária, SDR. Brasília,DF. 1994. p.13-15.

CUNHA, G. A. P. da. Aspectos agroclimáticos. In: CUNHA, G. A. P. da; CABRAL, J. R. S.;


SILVA SOUZA, L.F.O. O abacaxizeiro – Cultivo, Agroindústria e economia. EMBRAPA –
ECTT. Brasília, DF. 1999. p.53-71.

GIACOMELLI, E. J. Clima. In: RUGGIERO, C. 1º SIMPÓSIO BRASILEIRO DE


ABAXICULTURA, 1, 1982,jABOTICABAL. Anais.... Jaboticabal: FCAV, 1982. p.359.

REINHARDT, D. H.; SOUZA, L. F. S.; GETÚLIO, A. P., Exigências edafoclimáticas. In:


Abacaxi. Produção: aspectos técnicos. Embrapa Mandioca e Fruticultura. Cruz das Almas, BA.
Brasília: Embrapa Comunicação para Transferência de Tecnologia, 2000. p.11-12.

SIMÃO, S. Tratado de fruticultura. Piracicaba: FEALQ. p.4


29

6. PROPAGAÇÃO

Tadeu Cavalcante
Luciene Teixeira Mazon

O abacaxizeiro é uma planta de reprodução predominantemente vegetativa,


através de mudas, sendo possível a propagação sexuada, por sementes, embora estas
sejam de ocorrência rara nas variedades cultivadas, que são auto-estéreis
(REINHARDT, 2000).

6.1. VIVEIRO DE MUDAS


A multiplicação do abacaxizeiro também pode ser feita pelo enviveiramento
de secções do talo da planta. Uma planta adulta possui de 30 a 40 folhas e uma
quantidade igual de gemas axilares. Este método é fundamental para a produção de
mudas sadias, livres, sobretudo da fusariose (MATOS, 2000), pois ao seccionar os talos
é possível, com um exame visual, o descarte de todo material afetado por esta doença.

6.2. PROPAGAÇÃO TRADICIONAL


Em plantios comerciais o abacaxizeiro é propagado, predominantemente,
utilizando-se diversos tipos de mudas, formadas através de brotações naturais em
diferentes partes da planta denominadas coroa (brotação sobre o fruto), filhote (brotação
do pedúnculo, abaixo do fruto), filhote-rebentão (brotação da inserção do pedúnculo no
talo) e rebentão (brotação do talo) (RUGGIERO et al., 1994).
As mudas mais utilizadas são as do tipo coroa, filhote e rebentão e, segundo
REINHARDT (1998), algumas características devem ser consideradas:
- Ciclo da cultura, do plantio a colheita, é mais longo para a muda do tipo coroa;
de duração intermediária para o tipo filhote e mais curto para a muda do tipo rebentão;
- Na muda do tipo rebentão, a maior quantidade de reservas nutritivas permite
maior velocidade de crescimento e conseqüentemente um menor ciclo da cultura. No
entanto, a produção de rebentões na cultivar Pérola é pequena e tardia, ficando em torno
de um rebentão por planta, e apresentando maior desuniformidade em tamanho/peso e
vigor. É o material mais usado na cultivar Smooth Cayenne, que produz poucas mudas
do tipo filhote;
- A muda do tipo filhote é mais utilizada em plantios de cultivar Pérola devido a
sua maior disponibilidade;
30

- Geralmente os frutos são comercializados com a coroa e portanto, esse tipo de


muda nem sempre está disponível para o produtor.
Em todas as fases de produção de mudas, deve-se fazer seleções dos talhões
onde serão obtidas as mudas, seleção das plantas dentro dos talhões, e depois seleção
das mudas que serão plantadas.

6.3. MICROPROPAGAÇÃO
Entre outras técnicas de propagação vegetativa, a micropropagação é a que
mais tem se difundido e encontrado aplicações práticas. As principais etapas envolvidas
na micropropagação são a seleção de explantes adequados, a desinfestação e inoculação
em meio de cultura nutritivo, a proliferação de brotos em meios de multiplicação e, a
transferência dos brotos para um meio de enraizamento ou manutenção e
posteriormente, plantio em algum substrato ou solo adequado (RENHARDT, 2000).
Este método serve para aumentar e acelerar a taxa de multiplicação e evitar a
disseminação de pragas e patógenos. Neste processo, deve-se considerar o custo elevado
para a produção da muda, que é quase o valor da venda do fruto para o produtor, e o
surgimento de variações somaclonais, sendo a mais freqüente a presença de espinhos
nas extremidades das folhas de variedades inertes (CUNHA et al., 1994).

6.4. CONSIDERAÇÕES GERAIS


De acordo com RENHARDT (1998), o tipo de propagação que prevalece na
cultura do abacaxizeiro é a vegetativa. Apesar disso, há possibilidade de que ocorra a
formação de sementes, porém isso ocorrerá se houver polinização cruzada. Entretanto a
obtenção de sementes do abacaxizeiro é mais comumente utilizado na pesquisa para fins
de obter variedades a partir de cruzamentos que forem de interesse do pesquisador.
As mudas do abacaxizeiro são classificadas em mudas do tipo coroa, que se
refere ao conjunto de folhas localizadas no ápice do fruto. Esta muda por sua vez
raramente é utilizada dado que o fruto é comercializado com a coroa, portanto não volta
para o produtor. Uma outra muda é a do tipo filhote, que localiza-se logo abaixo do
fruto, ligada ao ápice do pedúnculo. Já a muda do tipo filhote-rebentão localiza-se na
inserção do pedúnculo no talo e o rebentão na base do talo, como descrito por SILVA
(1997).
31

6.4.1. Mudas
É prudente que antes de adquirir as mudas, seja feito uma visita a área onde
se pretende obtê-las. Isso se faz necessário dado a doença fusariose — um dos
principais problemas para cultura do abacaxizeiro —, a qual tem ocasionado perdas
significativas ao abacaxicultor a nível de Brasil. Dado isso é aconselhável que um
profissional Engenheiro Agrônomo devidamente habilitado, seja consultado. Isso
poderá evitar alguns transtornos ao empreendedor rural.
Um outro aspecto a ser considerado é o preparo das mudas. As mudas
devem passar pelo processo de ceva o qual consiste em deixar as mudas ligadas a planta
após realizar a colheita do fruto. Esse procedimento durará cerca de três a quatro meses
até que as mudas alcancem um tamanho aproximado de 25cm. Também é preciso
atentar para a legislação a qual, segundo SILVA (1997), exige que mudas da variedade
Pérola tenha peso entre 150 e 250g e mudas da variedade Smooth Cayenne, peso entre
200 e 350g.
Ao observar que boa parte das mudas atingiram o padrão de 25 a 40cm de
acordo com SILVA (1997), deve-se proceder a colheita das mudas. No que se refere a
tamanho de muda, RENHARDT (1998) menciona um mínimo de 30cm. É possível
inferir que a importância do tamanho da muda esteja relacionada a capacidade que a
muda terá de resistir as condições de campo, pois a lógica é que uma muda maior tenha
mais reservas e conseqüentemente resistirá melhor as condições de campo.
Após a cura, procede-se a uma segunda seleção, onde então se separa as
mudas que expressaram sintomas da fusariose. Essa prática ajudará a diminuir o
problema, mas cabe lembrar que não é suficiente.
Dado que o problema da uniformidade é um fator crucial no manejo da
cultura do abacaxi, deve ser feita uma classificação das mudas anteriormente coletadas,
de forma a separá-las em mudas de tamanho pequeno, médio e grande. Isso favorecerá a
uma uniformização da lavoura facilitando assim os tratos culturais e colheita.
No que se refere ao tratamento de mudas, há dúvidas quanto a sua eficácia.
Apesar disso encontra-se na literatura algumas recomendações de tratamentos, porém
com ressalvas, como é o caso de SILVA (1997) que recomenda mergulhar as mudas em
solução contendo fungicidas como Benomyl, Triadmefon associado a inseticidas como
Ethion e Monocotrofos, mas alerta para o fato de que o tratamento não tem efeito
curativo para fusariose.
32

6.4..2. Propagação via talo


A propagação a partir do talo é uma outra opção, embora requeira maior
trabalho e cuidado na manipulação de ferramentas, pois ao usar uma mesma ferramenta
para seccionar vários talos, é preciso higienizar sempre que a utilizar em plantas
afetadas pela fusariose.

6.4.3. Outros métodos de propagação do abacaxizeiro


Pulverizações da inflorescência com fitorreguladores, supressão da
dominância apical, uso de folhas como propágulo e cultura de tecidos são outras opções
existente, entretanto a que mais tem sido mencionada na literatura especializada é a
cultura de tecidos. Portanto, os comentários finais serão focados neste método.
No que se refere ao método de cultura de tecidos, menção a trabalhos
publicados em revista especializadas pode dar idéia dos rumos que a propagação do
abacaxi está tomando, e dessa forma analisar melhor as opções técnica e econômica a
cada caso.
Trabalhos como o de OLIVEIRA et al. (1999), tem como justificativa o
aspecto fitossanitário. Segundo revisão deste autor, a fusariose, causada pelo fungo
Fusarium moniliforme var. subglutinans, chega a promover perdas ao redor de 30 a
40% em frutos, podendo atingir até 80% de perda. Em função disso, o autor acredita
que a propagação in vitro possa proporcionar plantas uniformes e isentas de doenças,
além de uma propagação rápida, produção continuada e programável durante o ano.
Fato que desperta a atenção no trabalho de OLIVEIRA et al.(1999), foi que
em meio sólido a percentagem foi zero, mas que mesmo assim não houve significância
estatística nas características estudadas. O autor também afirma que embora não se
tenha verificado qualquer enraizamento no meio sólido, neste meio poderia ocorrer
geotropismo negativo. Apesar disso OLIVEIRA et al.(1999) concluíram que o cultivo
in vitro da cv. Pérola pode ser realizado tanto em meio sólido quanto em meio líquido.
Conclusões como esta precisem ser melhor explicadas, em função dos dados
apresentados.
Dado que em nada contribuiu para o enraizamento, tratando-se de meio
sólido, talvez novas simulações ajudassem a ter um maior grau de certeza quanto a
hipótese de que o meio líquido e sólido não diferem para variável enraizamento.
Um outro motivo que pode levar a partir para cultura de tecidos é o de poder
obter grande número de mudas de acordo com AMIRATO et al. citado por PAIVA et al.
33

(1999). De acordo com os autores é preciso otimizar os reguladores de crescimento e


testar novas substâncias com efeito de citocininas — TDZ (Thidiazuron) e Sulfato de
Adenina — que estimulam a proliferação de brotos. Com isso, o objetivo do trabalho de
Paiva et al. (1999), foi avaliar o efeito de BAP, TDZ e sulfato de adenina na
proliferação in vitro de brotos de abacaxi. Neste trabalho os autores concluíram que
TDZ e BAP (reguladores de crescimento), formou 4,36 e 4,40 brotos/explante,
respectivamente no cv. Skay. Também concluíram que sulfato de adenina não foi
eficiente na proliferação.
Como há várias técnicas de micropropagação, alguns pesquisadores tem
dedicado a testar a eficiência de alguns destes métodos como foi o caso de FEUSER et
al. (2001). Neste trabalho os autores tiveram como objetivo comparar a eficiência das
técnicas de micropopagação do abacaxizeiro cv. Amarelinho baseadas nos sistemas de
imersão temporária e cultura líquida estacionária, visando à propagação clonal massal
de plantas matrizes isentas de fusariose. Estes autores concluíram que o sistema de
imersão temporária aumenta acentuadamente a taxa de multiplicação in vitro do
abacaxizeiro cv. Amarelinho em comparação com o sistema de cultura estacionária.
Além disso verificaram que o ácido giberélico (AG 3) adicionado ao meio de cultura
promove o alongamento dos brotos.
Apesar dos resultados proporcionados pela cultura de tecidos, resta associar
os bons resultados ao fator econômico, sem o qual a aplicabilidade dos resultados ficará
restrita ao campo da pesquisa sem atingir o principal interessado, o abacaxicultor.
É possível perceber que a pesquisa em propagação do abacaxizeiro tem
buscado apoio na biotecnologia para superar alguns dos principais problemas da cultura
do abacaxizeiro, como é o caso da fusariose e do baixo número de mudas proporcionado
pelos cultivares comumente consumidos.
34

6.4. REFERÊNCIAS

CUNHA, G.A.P.; MATOS, A.P. de; CABRAL, J.R.S.; SOUZA, L.F.S. da;
SANCHES,N.F.;REINHARDT,D.H. Abacaxi para exportação: aspectos técnicos da
produção. Brasília: EMBRAPA-SPI, 1994. 41 p. (Série de publicações técnicas FRUPEX, 11).

FEUSER, S.; NODARI, R.O.; GUERRA, M.P. Eficiência comparativa dos sistemas de cultura
estacionária e imersão temporária para a micropropagação do abacaxizeiro. Rev. Bras. Frutic.,
Jaboticabal - SP, v.23, n.1, p.006-010, abril 2001.

MATOS, A.P. (Org.). Abacaxi, Fitossanidade. Embrapa mandioca e Fruticultura, Cruz das
Almas. Brasília: Embrapa/MA, 2000. 77 p. (Frutas do Brasil, 9).

OLIVEIRA, A.M.; OLIVEIRA, Â.K.D. de; OLIVEIRA, O.F. de Meio de cultivo, ventilação e
altura inicial de explantes na propagação in vitro do abacaxi cv. Pérola. Rev. Expressão,
Mossoró, 30(1-2);,p.145-152, jan.-dez. 1999.

PAIVA, P.D. de O.; MAYER, M.D.B; KAWAMURA, M.I.; PASQUAL, M.; PAIVA, R.
Efeito de BAP, Thidiazuron e Sulfato de Adenina na propagação in vitro de abacaxi. Rev.
Ceres, cidade,46(265): 231-237, 1999.

REINHARDT, D.H.R.C. Manejo e produção de mudas de abacaxi. Informe Agropecuário,


Belo Horizonte, v.19, n.195, p.13 - 19, 1998.

REINHARDT, D.H. (Org.). Abacaxi: produção aspectos técnicos. Embrapa Mandioca e


Fruticultura. Brasília, 2000, 77 p.

RUGGIERO, C.; NOGUEIRA FILHO, G.C.; GOTTARDI, M.V.C. Considerações gerais


sobre a cultura do abacaxizeiro no Brasil. In: Controle integrado da fusariose do
abacaxizeiro. Jaboticabal: FUNEP, 1994, 81 p.

SILVA, C. R. de R Fruticultura tropical. Lavras: UFLA/FAEPE, 1997. 378p.


35

7. NUTRIÇÃO E ADUBAÇÃO DO ABACAXIZEIRO

Reider Benevides Ferreira

Mundialmente o Brasil destaca-se como um dos três maiores países


produtores individuais de abacaxi, sendo o país maior produtor na América do Sul.
Entre os principais estados produtores estão Minas Gerais, Pará e Paraíba
(CHALFOUN, 1998).
Ao se implantar um pomar comercial de abacaxi, primeiramente deve-se ter
em mente as exigências nutricionais da cultura. Para se obter sucesso com a
comercialização do abacaxi e ajudar o país a expandir suas fronteiras comerciais, um
cuidado efetivo deve ser dado a este princípio.

7.1. NUTRIENTES

7.1.1. Nitrogênio
O nitrogênio é um dos principais componentes das proteínas, participa da
composição de ácidos nucléicos e é o nutriente que mais promove um crescimento em
função de seu fornecimento (BRADY, 1989).
Os principais sintomas de deficiência são notados em folhas mais velhas que
ficam amareladas. A planta diminui sua taxa de crescimento, e em casos de deficiência
severa deste nutriente provoca a ausência de frutos, mudas, filhotes e rebentões, ou a
existência de frutos muito pequenos (PAULA et al., 1998).

7.1.2. Fósforo
Este elemento participa das reações de síntese e desdobramento de
carboidratos, óleos e gorduras. É indispensável na ocasião da diferenciação floral e no
desenvolvimento do fruto. O P melhora a qualidade dos frutos, aumentando-lhes o teor
de vitamina C, a firmeza da polpa e o tamanho do fruto (PAULA et al., 1998).
Em razão da fácil redistribuição deste elemento na planta, e mesmo havendo
carência dele, as folhas mais velhas apresentam sintomas como cor verde-azulada;
murcha a partir da extremidade, começando pelas folhas mais velhas, que ficam com
pontas secas de cor marrom-alaranjada e estrias transversais marrons e, redução do
crescimento. A deficiência de P acarreta a formação de frutos pequenos, com coloração
36

avermelhada ou arroxeada. Ocorre também a ausência de frutos, brotos e filhotes


(PAULA et al., 1998).
Em solos tropicais, altamente intemperizados, boa parte do fósforo
empregado na adubação é fixado tornando-se indisponível às plantas. Logo, nestas
regiões, um cuidado especial deve ser dado no momento da adubação (PRIMAVESI,
1984).

7.1.3. Potássio
O K é tido como um dos elementos que mais aumenta a resistência das
plantas contra doenças, por aumentar a respiração e, com isso, a absorção de outros
nutrientes, contribuindo para uma maior viscosidade do plasma celular (PRIMAVESI,
1984). É um importante ativador de enzimas, sendo também responsável pela abertura e
fechamento dos estômatos e transporte dos carboidratos. O K aumenta o teor de sólidos
solúveis totais e acidez, melhora a coloração e a firmeza da casca e da polpa e aumenta
o peso médio e diâmetro do fruto. Tem ação como inibidor da atividade
polifenoxidásica, responsável pelo escurecimento interno da polpa (PAULA et al,
1998).
A escassez de K causa inicialmente o aparecimento de pontuações pardas
que crescem e podem juntar-se sobre as bordas do limbo. Há ressecamento a partir do
ápice das folhas para a base, aparecendo este sintoma primeiramente nas folhas velhas.
O pedúnculo frutífero apresenta pequeno diâmetro; o fruto fica pequeno e sem acidez; a
maturação fica tardia e desigual. O excesso provoca formação de frutos muito ácidos,
maturação tardia e desigual (PAULA et al., 1998).

7.1.4. Cálcio
É importante na diferenciação da inflorescência e no desenvolvimento dos
frutos. O cálcio favorece a transpiração com perda de turgescência. As doses elevadas
podem provocar diminuição do K nas folhas, o que ocasiona a clorose calcária e plantas
menores. Confere resistência à parede celular, o que acarreta mais resistência a alguns
patógenos como o Penicillium funiculosum (PAULA et al., 1998).

7.1.5 . Magnésio
Por ser um elemento constituinte da clorofila, sua função está diretamente
ligada a fotossíntese. Tem função de ativação de enzimas transferidoras de fosfato. Tem
37

grande importância na coloração do fruto (PAULA et al., 1998).

7.1.6. Enxofre
É o constituinte de alguns aminoácidos e das proteínas. Participa da síntese
da clorofila e da absorção do CO2. É responsável pelo equilíbrio entre acidez e açúcares
dos frutos, conferindo-lhes sabor (PAULA et al., 1998).
A deficiência deste elemento caracteriza-se por folhagem amarelo-pálida,
tons avermelhados nas folhas, sobretudo em folhas velhas; necrose começando em áreas
cloróticas e, fruto muito pequeno (PAULA et al., 1998).

7.2. MICRONUTRIENTES

7.2.1. Boro
Exerce influência no metabolismo dos carboidratos, na síntese de pectinas e
no movimento dos açúcares. É essencial na formação da parede celular, na divisão e no
aumento do tamanho das células. Os sintomas de deficiência de B são folhas mais
espessas, duras, sendo as do centro retorcidas; separação acentuada entre os frutíolos,
com formações suberosas e, frutos menores com rachamento (PAULA et al., 1998).

7.2.2. Cobre
É um dos constituintes das enzimas de oxidação e redução e, juntamente
com o Zn, forma um par de catalisadores. Em toxidez de Cu a planta apresenta folhas
longas, verde-claras, manchas avermelhadas e frutos pequenos. Em carência as folhas se
tornam mais finas, curtas e estreitas, de coloração verde-clara, bordas onduladas e ponta
necrosada (PAULA et al., 1998).

7.2.3. Ferro
Importante na síntese de clorofila, oxidação de carboidratos e na redução de
sulfatos e nitratos. Em deficiência, o abacaxizeiro apresenta folhas de coloração
amarelada e clorose, semelhante a da deficiência de nitrogênio. O excesso pode causar
translucidez da polpa (PAULA et al., 1998).
38

7.2.4. Molibdênio
A deficiência deste elemento não foi assinalada e nem obtida em condições
hidropônicas, mas é provável em solos com pH abaixo de 4, em associação com toxidez
de alumínio (PAULA et al., 1998).

7.2.5. Zinco
Importante na síntese do triptofano, produto intermediário na formação do
ácido indolacético (AIA). Sua deficiência acarreta diminuição do teor de auxina, com
deformação da planta, que sofre torção inicial das folhas jovens do centro (PAULA et
al., 1998).
Segundo MALAVOLTA (1981) citado por PAULA et al. (1998), as
deficiências combinadas provocam desordens nutricionais como as seguintes:
a) marrom interno: coloração marrom na parte interna do fruto do abacaxi,
depois do armazenamento em baixas temperaturas.
b) pescoço torto: deficiência combinada de cobre e zinco, as folhas centrais
ficam tortas, juntas e inclinadas para a horizontal.
c) rachadura: deficiência de B associada à aplicação tardia de N.

7.3. CALAGEM E ADUBAÇÃO

7.3.1. Calagem
De acordo com a Comissão de Fertilidade do Solo do Estado de Minas
Gerais (1989), a quantidade de calcário a ser fornecida ao solo deve ser calculada pelo
método do Al+3 e Ca+2 e Mg+2- trocáveis, levando-se em consideração o valor de X = 2,0.
A Comissão de Fertilidade de solos de Goiás (1988) também recomenda a utilização
deste método.
De acordo com MALAVOLTA (1974), citado por PAULA et al. (1998), o
pH mais adequado ao abacaxizeiro é de 5,0.

7.3.2. Adubação

7.3.2.1. Macronutrientes
As grandes exigências nutricionais do abacaxizeiro fazem com que a
adubação seja uma constante nos plantios orientados para a exploração comercial. Além
39

das exigências minerais da planta, a decisão sobre a quantidade de fertilizantes a ser


aplicada na cultura do abacaxi deve levar em conta fatores tais como, a capacidade de
suprimento de nutrientes do solo, o nível tecnológico adotado, o destino da produção e a
rentabilidade da cultura (ROCHA, 2000).
Segundo SOUZA (2000), as dosagens de adubo a serem aplicadas na cultura
do abacaxizeiro são baseadas na amostragem do solo, amostragem foliar e diagnose
visual. Na Tabela 7.1 é dada a recomendação de adubação para o abacaxizeiro.
Muitos produtores têm utilizado fórmulas já encontradas no comércio como
16-8-24, 8-16-24, 10-5-20, 20-5-20, o que pode levar à obtenção de menores
rendimentos e/ou frutos de menor qualidade. Para uma exploração racional de forma
econômica, as plantas devem receber os nutrientes de forma controlada (PAULA et al.,
1998).

Tabela 7.1 Recomendação da adubação para o abacaxizeiro, com base em resultados


analíticos do solo.

Em cobertura - após o plantio


Nutriente
1º ao 2º mês 5º ao 6º mês 8º ao 9º mês

N(kg/ha)
Nitrogênio 80 110 130

Fósforo (Mehlich)
mg P/dm3 P2O5 (kg/ha)
até 5 80
6 a 10 60
11 a 15 40

Potássio (Mehlich)
mg K/dm3 K2O (kg/ha)
até 30 120 160 200
31 a 60 80 110 130
61 a 90 60 80 100

Fonte: SOUZA (2000).


Uma alta relação N/K provoca excessivo desenvolvimento das folhas,
acamamento das plantas e má qualidade dos frutos. Excesso de N atrasa florescimento e
provoca alongamento do pedúnculo, o que acarreta no tombamento do fruto (PAULA et
40

al.,1998). Segundo SOUZA (2000), a relação adequada entre N e K deve variar de 1/2 a
1/3.

7.3.2.2. Micronutrientes
Não é comum a ocorrência de deficiências de micronutrientes em solos,
onde se cultiva o abacaxi no Brasil. Quando se faz a calagem, deve-se observar, também
na nutrição das plantas, o fornecimento adequado de micronutrientes.
A deficiência de Zn pode ser corrigida pela aplicação de uma solução a 1%
de sulfato de zinco no fim da estação chuvosa. Para se corrigir a deficiência de Ferro,
recomenda-se a pulverização de sulfato de ferro (3-4 kg em 400ml de água), oito meses
após o plantio. Não se recomenda pulverizar o abacaxizeiro após o florecismento
PAULA et al., (1998).
Conclui-se, portanto, que as adubações podem ser feitas tanto por meio
sólido como por meio líquido. Sob forma sólida, os fertilizantes podem ser aplicados
nas covas ou nos sulcos de plantio (opção mais utilizada para os adubos orgânicos e
adubos fosfatados), ou em cobertura junto das plantas ou nas axilas das folhas basais,
opção preferida para os adubos nitrogenados e potássicos, podendo ser utilizada esta
forma para os fertilizantes fosfatados solúveis em água (SOUZA, 2000).
A adubação do abacaxizeiro deve ser realizada na fase vegetativa do ciclo
da planta (do plantio à indução ao florescimento), período em que há um
aproveitamento mais eficiente dos nutrientes aplicados (SOUZA, 2000).
O excesso de calagem pode provocar deficiência de K. É importante
assegurar uma relação K:Mg:Ca no solo que melhor atenda a nutrição mineral do
abacaxizeiro. MARTIN-PRÉVEL (1961), citado por PAULA et al. (1998) indica para a
região da Guiné, uma distribuição percentual na CTC, como, K – 30 a 60%; Mg – 30 a
65%; Ca – 0 a 17%.
Caso pretenda-se aproveitar a produção da soca, deve-se repetir a adubação
recomendada, aplicando o adubo na axila das folhas velhas (PAULA et al., 1998).

7.4. REFERÊNCIAS
41

BRADY, N. C. Natureza e propriedades dos solos (Traduzido por Antônio B. Neiva


Figueiredo Fº.) 7 ed. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1989. 898 p.

CHALFOUN, S. M. A abacaxicultura brasileira e o mercado globalizado. Informe


Agropecuário, Belo Horizonte, v.19, n.195, p.5-6, 1998.

COMISSÃO DE FERTILIDADE DE SOLOS DE GOIÁS. Recomendações de corretivos e


fertilizantes para Goiás – 5º aproximação. Goiânia, GO. UFG/EMGOPA, 1988. 101 p.
Informativo técnico 1.

PAULA, M. B. de; MESQUITA, H. A. de; NOGUEIRA, F. D. Nutrição e adubação do


abacaxizeiro. Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.19, n.195, p. 33-39, 1998.

ROCHA, I. F. da. Cultura do abacaxi. 2000. UFG. Monografia (mestrado em produção


vegetal).

SOUZA, L. F. S. Adubação. In: REINHARDT et al. Abacaxi: produção- aspectos técnicos.


Embrapa Mandioca e Fruticultura (Cruz das Almas - BA). – Brasília: Embrapa comunicação
para transferência de tecnologia. p. 30-34. 2000.

8. PLANTIO E TRATOS CULTURAIS


Gustavo Gondim Dantas
42

Ricardo Pereira da Silva


Sandra Máscimo da C. e Silva
8.1. PLANTIO

8.1.1. Escolha da área

A escolha da área de plantio do abacaxi deve obedecer a certas premissas


que cabem a qualquer outra cultura, tais como disponibilidade de mão de obra, as vias
de acesso à área e de escoamento da produção, a existência de fontes de água e
proximidade de centros consumidores, dentre outros fatores.

Como o abacaxi apresenta um sistema radicular relativamente frágil, o solo


para o plantio deve ser bem preparado com arações e gradagem e eliminação de restos
vegetais por incorporação ao solo. As covas podem ser abertas com enxada ou
sulcadores. A profundidade de plantio deve corresponder, aproximadamente, à terça
parte do comprimento da muda, tomando-se o cuidado de evitar que caia terra na parte
central da muda.

O plantio, segundo CUNHA & REINHARDT (2000) deve ser efetuado em


talhões, separados de acordo com o tipo e o tamanho das mudas, para facilitar os tratos
culturais. No plantio em terrenos de declividade acentuado, deve-se usar curvas de nível
e outras práticas de conservação do solo.

8.1.2. Sistema de plantio

Os plantios podem ser estabelecidos em sistemas de filas simples, duplas e


triplas. O plantio em filas simples pode facilitar os tratos culturais. O de filas duplas
permite maior número de abacaxizeiros por unidade de área e melhor sustentação das
plantas.

Para permitir a obtenção de boas produtividades, fundamental para alcançar


renda adequada, deve-se usar densidades de plantio elevadas, com um número mínimo
de 37.000 plantas por hectare. Recomenda-se que o plantio em filas duplas seja
alternado (plantas descasadas), isto é, as plantas de uma fila são colocadas na direção
dos espaços vazios da outra fila.
43

Para filas simples é recomendado: 0,90 m x 0,30 m e 0,80 m x 0,30 m, que


corresponde a 37.030 e 41.600 plantas/ha, respectivamente. E para filas duplas é
recomendado: 0,90 m x 0,40 m x 0,40 m ou 0,90 m x 0,40 m x 0,30 m, que corresponde
a 38.460 e 51.280 plantas/ha. De maneira geral, os plantios mais adensados tendem a
proporcionar maiores produções por área, ainda que individualmente os frutos alcancem
pesos médios menores (CUNHA & REINHARDT, 2000).

8.1.3. Época de plantio

A época de plantio, o tipo e o peso da muda são os três recursos


fundamentais que o produtor dispõem para o domínio das épocas de produção. A época
de plantio mais adequada é aquela relativa ao período de final da estação seca e início
da estação chuvosa. Contudo, é preciso evitar períodos intensos de chuva, em virtude da
dificuldade para trabalhar o solo, quanto aos problemas de doenças, que aumentam
consideravelmente nesta época. Onde as condições climáticas são uniformes, a época de
plantio torna-se menos crítica.

É importante salientar que a época de plantio vai depender da oferta de


mudas e que se possível o ciclo de produção deve ser programado de tal maneira que a
colheita seja realizada em períodos de preços mais favoráveis.

GIACOMELLI et al. (1979), estudando épocas de plantio no Planalto


Paulista, observaram que o período das chuvas era o mais adequado, por permitir a
obtenção de maiores produtividades e formação de frutos mais pesados, com
características químicas desejáveis para o processo industrial.

Segundo CHOAIRY (1994), de um modo geral, as épocas mais favoráveis à


produção de frutos correspondem aos plantios nos meses de abril e julho, resultando
também em ciclos mais longos. O mesmo autor observou que o plantio em outubro é o
menos favorável, em todos os aspectos qualitativos, por coincidir o início de
desenvolvimento das plantas, com menores índices de chuva.

8.2. TRATOS CULTURAIS


44

Os tratos culturais são operações de manejo ou condução do pomar após o


plantio visando dar às plantas condições ótimas para o desenvolvimento e
produtividade. As operações estão relacionadas às operações de limpeza do solo,
proteção do solo e do fruto (SIMÃO, 1998).

8.2.1. Indução floral


Para que o produtor obtenha sucesso na exploração na cultura do abacaxi, é
de grande importância primar pela homogeneidade do pomar. Para tanto, se faz
necessário adotar um conjunto de práticas culturais como por exemplo a indução floral.
A indução floral é uma técnica que contribui para a homogeneidade do pomar,
uniformizando a frutificação e reduzindo os efeitos negativos da floração natural.
A floração natural (não induzida artificialmente) do abacaxizeiro ocorre,
sobretudo, em períodos de dias mais curtos e com temperaturas noturnas mais baixas,
portanto, no centro sul do Brasil, principalmente nos meses de junho a agosto. Segundo
CUNHA & REINHARDT (2000) a floração natural ocorre primeiro em plantas mais
desenvolvidas. Plantas da cultivar Pérola tendem a florescer mais precocemente que as
da Smooth Cayenne.
Florações naturais são indesejáveis, pois ocorrem, em geral, de maneira
bastante desuniforme nas plantações comerciais, dificultando o manejo da cultura e a
colheita, o que encarece o custo de produção.
O produtor pode recorrer a alguns cuidados na manejo da cultura, para
diminuir a possibilidade de incidência de florações naturais precoces nas suas
plantações de abacaxi, tais como, evitar que as plantas atinjam porte elevado ou idade
avançada até a época mais crítica para a ocorrência da floração natural (junho a julho);
evitar a utilização de mudas velhas para os plantios; permitir que, dentro do possível, as
plantas tenham um crescimento contínuo; evitar que produtos à base de etefon (Ethrel,
Arvest ou similar) , usados na fase de pré-colheita, atinjam as mudas do tipo filhote em
fase de desenvolvimento nas plantas.
A época de florescimento à colheita do abacaxizeiro pode ser antecipada e
homogeneizada por meio da aplicação de certas substâncias químicas (fitorreguladores)
na roseta foliar (olho da planta) ou da sua pulverização sobre a planta. Esta técnica
chamada de tratamento de indução floral (TIF) é uma prática cultural essencial para o
bom manejo e o sucesso econômico no cultivo do abacaxi.
45

Segundo CHOAIRY (1994), a indução floral é normalmente feita em função


do desenvolvimento das plantas, sendo, em muitos casos, repetida, com o inconveniente
de mais de uma colheita e maiores despesas no controle da broca-do-fruto. Este mesmo
autor afirma que existem diferentes respostas das plantas à idade em que foram
induzidas ao florescimento. Nos meses com menor índice de chuvas, a indução aos doze
meses resulta em frutos mais pesados, com maior teor de brix e menos acidez.
O período de tempo entre o tratamento de indução floral e a colheita dos
frutos na maioria das regiões produtoras brasileiras é de cinco a cinco e meio meses,
quando a maturação do fruto coincide com período mais quente (CUNHA &
REINHARDT, 2000).
Várias substâncias podem ser usadas para induzir a floração do abacaxi. As
mais comuns são o carbureto de cálcio e produtos a base de etefon (ácido 2-cloroetil-
fosfônico). O carbureto de cálcio é mais barato, sendo muito usado por pequenos e
médios produtores, este deve ser colocado no centro da roseta foliar, a qual deve conter
água para permitir a dissolução do produto.
As substâncias diferem-se quanto ao modo de aplicação e eficiência. Assim,
o carbureto de cálcio e o acetileno são aplicados no interior da roseta foliar (olho da
planta); o etileno, em pulverizações sobre a planta; e o etefon, na roseta foliar ou em
pulverização total da planta. A eficiência dos produtos varia, também, em função da
época do ano (CUNHA, 1998).
Os indutores florais devem ser aplicados à noite (entre as 20 horas e às 5
horas do dia seguinte) ou nas horas mais frescas do dia.

8.2.2. Irrigação

A suplementação hídrica, através da irrigação, pode ser considerada uma


técnica que pode aumentar a produtividade do abacaxizeiro em virtude da possibilidade
de ganhos tanto em peso de fruto, tamanho e redução do ciclo.

Devido a características botânicas intrínsecas a planta de abacaxi esta


apresenta relativamente reduzidas necessidades hídricas se comparadas com outras
plantas. Suas exigências de água variam muito com o estádio de desenvolvimento em
que a planta se encontra e de condições exteriores tais como temperatura e umidade
relativa. Segundo ALMEIDA (2000) um cultivo comercial de abacaxi exige em geral
uma quantidade de água equivalente a uma precipitação mensal de 60 mm a 150 mm, e
46

a faixa de precipitação anual para uma exploração comercial gira em torno de 1000 a
1500 mm bem distribuídos ao longo do ciclo da cultura.

O abacaxizeiro apresenta estádios de desenvolvimento bem distintos com


diferentes coeficientes de cultivos (Kc), para regiões distintas, de acordo com a Tabela
8.1 As fases de maior demanda hídrica, segundo CARVALHO (1998) citado por
SILVA (2002), são as seguintes:
a) do plantio ao segundo mês: é necessária umidade elevada e constante, a fim
de permitir o desenvolvimento das raízes e uma boa pega das mudas. Nessa
fase a planta não tolera variação de umidade, uma vez que as raízes estão
muito próximas à superfície do solo e morrem rapidamente com a seca;
b) do terceiro ao quinto mês: as necessidades hídricas da planta são crescentes,
por causa da emissão e desenvolvimento das raízes e das folhas. No entanto
pelo fato do solo não estar todo coberto, ocorre alta evaporação,
necessitando de irrigações crescentes com laminas mais elevadas;
c) do sexto mês ao término da diferenciação floral (aproximadamente 50 dias
após a indução): quando o desenvolvimento foliar é máximo e as
necessidades hídricas das plantas são altas. Não é recomendado nesse
período nem o racionamento, nem o excesso de água, uma vez que o
crescimento ativo nesse estádio torna a planta com maior probabilidade de
altos rendimentos e frutos de melhor qualidade;
d) da floração a colheita: nesta fase os frutos crescem e ganham forma em
função do potencial inicial do clima. A planta é tão sensível à falta quanto ao
excesso de umidade, ocorrendo o pique de sensibilidade um mês antes da
colheita e,
e) durante a fase propagativa (produção de mudas) ou da segundo safra: seguir
as indicações da letra “b”, logo após a colheita dos frutos até 60 dias após a
indução floral, e letra “d” do inicio da floração até a colheita dos frutos.
Os períodos de diferenciação floral são e de enchimento dos frutos são
consideradas as épocas mais críticas durante o ciclo da planta, em relação aos efeitos
negativos de estresse hídrico sobre o rendimento das culturas.
O crescimento, desenvolvimento e produção do abacaxizeiro são
significativamente reduzidos nas estações secas do ano em muitas áreas aonde vem
sendo cultivada. Os sintomas de estresse desenvolvem-se lentamente, os principais
47

sinais são: redução e murchamento das folhas mais velhas, a cor das folhas muda de
verde escuro para pálido e posteriormente para amarelo e finalmente vermelho. Se o
estresse ocorrer durante o desenvolvimento dos frutos o pedúnculo pode tornar se seco e
os frutos poderão romper-se. Os sintomas de deficiência de água podem ocorrer mais
rapidamente quando a capacidade de armazenamento de água no solo é baixa e se a
profundidade do sistema radicular é limitada ou se o sistema radicular esta sendo
atacado por pragas e doenças.

Tabela 8.1 Coeficientes de Cultivo (Kc) em função dos estádios de desenvolvimento do


abacaxizeiro.
Estádio de Caracterização de Estádio Coeficiente de Cultura (Kc)
desenvolvimento
Inicial Da pega até cobrir 10% do solo 0,4 a 0,6 Média (0,5)
Desenvolvimento Do final do 1º estádio até Varia linearmente entre os
vegetativo cobrir 70 a 80% de seu valores do 1º a 3º estádios
desenvolvimento
Intermediário ou de Do final do 2º estádio até o 1,0 a 1,2
produção início da maturação
Final ou de maturação Do início da maturação até a Varia linearmente entre o 3º
colheita ou fim da maturação estádio e 0,4 a 0,6

Fonte: ALMEIDA (2000).

O excesso de água pode acarretar diminuição da eficiência do sistema


radicular por falta de aeração e conseqüentemente perda de produtividade, além de
perdas na qualidade dos frutos.
Produtores de Frutal, MG, com a utilização da irrigação reduziram de 18
para 12 meses a colheita do fruto (HIGA, 1999).
Não há informações sobre restrições de métodos de irrigação para a cultura
do abacaxizeiro. Entretanto, a escolha criteriosa de um sistema de irrigação para uma
determinada área envolve uma adequada caracterização dos recursos hídricos, solos,
topografia, capital disponível clima e do próprio elemento humano. Todos estes fatores
associados determinam as condições que deverão ser atendidas pelo sistema de irrigação
permitindo estabelecer as alternativas que melhor se adaptem a cada realidade.
A cultura do abacaxi por apresentar um caráter nômade dificulta a instalação
de sistemas fixos (localizados). O sistema de irrigação localizada em função da alta
densidade de plantio apresenta um custo de instalação mais elevado. Contudo apresenta
maior eficiência no uso da água e menores custos com mão de obra.
48

Um projeto de irrigação deve ser elaborado de acordo com a capacidade de


retenção de água do solo, da evapotranspiração da cultura e da eficiência do método de
irrigação a quantidade de água a ser aplicada em cada irrigação e o intervalo ou
freqüência das aplicações, são geralmente fixados de acordo com o estádio de maior
exigência hídrica da cultura.
Quanto aos métodos de irrigação a serem utilizados na cultura do
abacaxizeiro, não existem restrições, desde que haja uma escolha criteriosa levando-se
em consideração os recursos hídricos, solos, área a ser irrigada, dentre outros fatores.
Normalmente a aplicação de água é realizada pelos métodos de irrigação por
subsuperfície, superfície, localizada e por aspersão (ALMEIDA, 2000; CARVALHO,
1998).
A irrigação por superfície e subsuperfície não devem ser recomendadas, pois
no primeiro caso a drenagem do solo pode ser comprometida e, prejudicar o sistema
radicular que nesta cultura apresenta-se em torno de 70 % até os 20 cm de
profundidade. No segundo caso por subsuperfície devido à necessidade de elevar o
lençol freático e atingir o sistema radicular bem próximo a superfície, correndo-se o
risco também da salinização nos solos do semi-árido (CARVALHO, 1998). Segundo
FOLEGATTI et al. (1998) a utilização do sistema de irrigação pivô central no Brasil é
voltada principalmente para irrigação de cereais, com perspectivas de crescimento na
fruticultura e pastagens.
Na irrigação localizada pode-se usar a microaspersão, gotejamento, tubo
gotejador, microdifusão, dentre outros (CARVALHO, 1998).
Já na irrigação por aspersão, encontra-se o pivô central, autopropelido,
lateral portátil ou convencional, fixo com tubos enterrados e outros (CARVALHO,
1998).
Devido à arquitetura da planta de abacaxi e ao espaçamento empregados
nesta cultura o sistema de irrigação por aspersão se adapta muito bem, sendo mais
indica para solos arenosos. Não existem restrições à utilização de nenhum dos sistemas
de irrigação por aspersão, desde que sejam dimensionados corretamente, evitando-se
com isso que por meio dos respingos as partículas do solo atinjam a roseta foliar (olho
da planta), o que poderá resultar na inibição do desenvolvimento e até morte da planta.
Quando utilizam sistemas de pivô central, alguns produtores costumam rebaixar as
bengalas dos aspersores.
49

Segundo ALMEIDA (2000), a irrigação bem manejada pode contribuir para


a cultura do abacaxi aumentando a produtividade, reduzindo o ciclo, permitindo a
programação do cultivo de modo que possibilite a obtenção de frutos na entressafra,
menor risco no investimento e proporcionando o uso mais eficiente de fertilizantes.
Utilizando-se o sistema de irrigação por aspersão convencional, foram
aplicadas lâminas de água (608, 568, 525, 468 e 334 mm/ano) sobre o abacaxizeiro-
Pérola. As lâminas crescentes de irrigação foram benéficas para a diferenciação floral
natural da planta e anteciparam o período de colheita do fruto. Houve o encurtamento
do ciclo da planta, sem prejuízo a massa média do fruto nas parcelas com lâminas
maiores. Onde houve uma antecipação de 22 dias em relação ao final da colheita para
mais de 70 % dos frutos colhidos. Estas maiores lâminas proporcionaram igualmente
uma distribuição mais eqüitativa da colheita (ALMEIDA, 2002).

8.2.3. Controle de plantas invasoras

O combate às plantas invasoras em áreas produtoras de abacaxi pode ser


realizado por diversos métodos que atinjam direta ou indiretamente a flora daninha, sem
prejudicar o desenvolvimento da cultura. Em geral, os melhores resultados
agroeconômicos são alcançados quando se aplicam, racionalmente, vários métodos que
tenham efeitos complementares entre si e se enquadrem harmoniosamente na estratégia
de produção integrada da cultura.

De acordo com REINHARDT & CUNHA (1984), sem o controle das ervas
daninhas, não há produção de fruto de valor comercial na cultura do abacaxi. A
concorrência da flora daninha reflete-se negativamente na produção quando ocorre
durante o período compreendido entre o plantio e a diferenciação floral e, mais
intensamente quando coincide com os primeiros cinco meses do ciclo da cultura.

8.2.3.1. Controle manual


A capina manual, com o uso da enxada, continua sendo o método de
controle de plantas daninhas mais empregado em abacaxizais brasileiros, principalmente
em propriedades de pequeno e médio porte.

Para REINHARDT & DA CUNHA (1999), até mesmo em grandes


plantações dessa fruteira, a enxada é ferramenta indispensável, tanto para complementar
50

a ação dos herbicidas quanto para realizar a operação da amontoa (“chegamento” de


terra ao abacaxizeiro). Entretanto, esse método é moroso, demanda muita mão-de-obra e
pode afetar o sistema radicular superficial das plantas, além de combater as plantas
invasoras depois que elas se desenvolveram, e, portanto, quando já retiraram nutrientes
do solo.
Em regiões com grande disponibilidade de mão-de-obra, a capina pode
contribuir para aumentar a oferta de emprego. Durante o ciclo da cultura (16 a 18
meses), são necessárias, geralmente, de 10 a 16 capinas manuais, ocupando de 10 a 15
homens/dia/ha por capina.

8.2.3.2. Controle mecânico

O cultivo mecânico é o método de controle de plantas daninhas mais


utilizado no mundo agrícola. No caso da cultura do abacaxi, sua aplicação está restrita
aos primeiros meses após a instalação da lavoura.

Segundo ALCÂNTARA (1981), citado por REINHARDT & CUNHA


(1999), quando a densidade de plantio é muito elevada (espaçamentos de 0,70 m x 0,30
m com mais de 47.000 plantas/ha) a passagem dos cultivadores (grade de disco e
enxadas rotativas) torna-se praticamente impossível. Portanto, é pequeno o uso de
carpideiras, principalmente à tração animal, na cultura do abacaxi, excetuando-se a zona
produtora do Triângulo Mineiro, onde é prática consagrada.

8.2.3.3. Controle químico

O controle químico de plantas invasoras do abacaxi apresenta algumas


vantagens em relação aos outros métodos, tais como: eficiência (se racionalmente
efetuado), execução rápida e possibilidade de destruir as plantas, mesmo quando
localizadas próximo ao colo do abacaxizeiro, sem danificar seu sistema radicular.

O controle de plantas daninhas com herbicidas é uma boa alternativa,


especialmente em plantio grandes e em períodos chuvosos, quando o mato cresce
rapidamente, além de exigir menos mão-de-obra. Entretanto, a aplicação tem que ser
feita com cuidado para evitar que o abacaxizeiro sofra os eventuais efeitos dos produtos
químicos (CUNHA et al., 1994).
51

Segundo REIINHARDT (2000) é também importante ressaltar que os


herbicidas indicados para a cultura do abacaxi são fitotóxicos para outras culturas, a
exemplo do feijão, o que possibilitou o seu uso em plantios consorciados. Dentre os
herbicidas mais usados na cultura do abacaxi, temos Diuron, Ametryn e Simazine.

8.2.3.4. Controle cultural

Pode-se utilizar cobertura morta como palha seca residual de arroz, milho e
capins, a qual, uma vez distribuída em camadas mais ou menos espessa entre as ruas do
abacaxizal, impede o crescimento das plantas daninhas. O seu uso é, entretanto, limitado
por exigir muito material e mão-de-obra, além de inicialmente exercer um efeito de
concorrência nutritiva com as plantas de abacaxi, sobretudo em nitrogênio, devido à
utilização deste nutriente pelos agentes microbianos da decomposição da matéria
orgânica (MEDINA, 1987).

Outro material muito usado em países que aplicam tecnologia avançada


nessa cultura, como Havaí e Costa do Marfim, é o filme de plástico de polietileno
negro, geralmente apresentando largura de 0,80 a 0,90 m e espessura de 0,03 a 004 mm.
Porém apresentam um custo muito alto em comparação com outros métodos de controle
de ervas invasoras na cultura do abacaxi. No entanto, o uso de plástico como alternativa,
tem as mesmas vantagens da cobertura morta, sem, contudo, apresentar os
inconvenientes desta, em relação à deficiência temporária de nitrogênio e maior volume
de mão-de-obra. Tem ainda a vantagem de manter a umidade no solo, o que é muito
importante em regiões com escassez de chuvas (MEDINA, 1987).

8.2.4. Culturas intercalares

Como cultura principal o abacaxizeiro é consorciado com feijão, feijão


macassar, mandioca, milho, amendoim.

Segundo CHOAIRY et al. (1986), o consórcio com Caupí, Feijão


(Phaseolus) e amendoim não afetaram a produção de frutos de abacaxi, qualitativa ou
quantitativamente; tendo maior rendimento com o feijão e todos os sistemas de cultivos
testados foram economicamente viáveis.
52

Além da consorciação com as culturas alimentares mencionadas, na qual o


abacaxi é a cultura principal, esse tipo de exploração é também viável, com outras
plantas, arbustivas e arbóreas, de ciclo longo ou perenes, quando o abacaxi passa, então
a ser a cultura secundária, servindo assim para minimizar o custo da implantação da
cultura principal. Como exemplo das culturas que podem ser utilizadas nesse consórcio,
citam-se: abacate, citros, manga, coco, guaraná, café e outras. Na Bahia, o cultivo de
abacaxi com mandioca provocou diminuição marcante do crescimento vegetativo, da
produtividade, do peso e tamanho do fruto e do número de mudas do tipo filhote/planta
do abacaxi (CUNHA, 1983).

Outro aspecto cultural que está a merecer uma maior atenção, inclusive de
pesquisa, é a rotação de culturas, visando melhorar ou recuperar os solos cultivados com
abacaxi, em geral de modo intensivo, principalmente aquelas nas quais se aplicam
herbicidas com freqüência. No Brasil, não tem sido dada muita importância a essa
prática, o que vem causando alguns problemas edáficos/nutritivos em algumas regiões
produtoras Após vários anos de cultivo intensivo com abacaxi, recomenda-se nesses
casos, a incorporação dos restos de cultura, a fim de melhorar as características físicas
dos solos (CUNHA, 1983).

RAJASEKHARAN (1989); citado por MAY et al., (1999) realizou um


estudo sobre a viabilidade da consorciação entre abacaxi (Ananas comosus L. Merril) e
seringueira durante os três primeiros anos da implantação do seringal. O autor utilizou
uma população de plantas de 4.565 plantas/ha, conseguindo um rendimento de 31
toneladas de frutos no primeiro ano de exploração. O custo de fertilização do sistema
representou apenas 16,36 % do custo total e o custo de capinas e desbrotas representou
14,04%. Observou-se um melhor crescimento das plantas de abacaxi consorciadas
quando comparado com o plantio convencional. Poucos são os agricultores que
cultivam a espécie por mais de três anos após a implantação do seringal, pois a partir
dessa época o dossel começa sombrear as entrelinhas.

8.2.5. Proteção dos frutos

Esta prática é recomendada para áreas onde a produção de abacaxi é voltada


para a obtenção de frutos de qualidade. Como a queima-solar pode causar perdas
elevadas na produção de frutos em épocas quentes e muito ensolaradas, essa anomalia
53

deve ser controlada mediante a implementação de medidas de proteção mecânicas dos


frutos, a partir da semana seguinte ao fechamento das últimas folhas. Materiais como
palha de plantas invasoras, papel, papelão, ou pedaços de polietileno podem ser
colocados sobre os frutos, afim de protegê-los contra a ação dos raios solares (MATOS,
2000). Segundo SIMÃO (1998), pode-se amarrar as folhas do próprio abacaxizeiro
sobre o fruto para protegê-lo da incidência do sol.
54

8.3. REFERÊNCIAS

ALMEIDA, O. A. Irrigação. In: REINHARDT, D. H. org. Abacaxi: Produção Aspectos


Técnicos; Embrapa Mandioca e Fruticultura (Cruz das Almas, BA). – Brasília. 2000. 77 p.

ALMEIDA, F. T.; BERNARDO, S.; MARINHO, C. S.; MARIN, S. L. D.; SOUSA, E. F.


Teores de nutrientes do mamoeiro “Improved Sunrise Solo 72/12” sob diferentes lâminas de
irrigação, no Norte Fluminense. Revista Brasileira de Fruticultura, Jaboticabal-SP, v 24, n. 2.
200 2. p. 547-551.

CARVALHO, A. M. Irrigação no abacaxizeiro. Informe Agropecuário, v. 19, n. 195.1998, p.


58-61.

CHOAIRY, S. A.; OLIVEIRA, E. F. de.; SANTOS E. S. dos.; FENANDES, P. D. Estudos de


consórcio na cultura do abacaxi. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, 21 (8): p. 873-
878, ago. 1986.

CUNHA, G. A. P. da.; MATOS, A. P. de.; CABRAL, J. R. S.; SOUZA, L. F. S. da.;


SANCHES, N. F.; REINHARDT, D. H. Abacaxi para exportação: aspectos técnicos da
produção. Ministério da Agricultura, do Abastecimento e da Reforma Agrária, Secretaria e
Desenvolvimento Rural, Programa de Apoio à Produção e Exportação de Frutas e Hortaliças,
Flores e Plantas Ornamentais. Brasília: EMBRAPA-SPI, 1994. 41 p. (Série de publicações
Técnicas FRUPEX; 11).

CUNHA, G. A. P.& REINHARDT, D. H. Abacaxi: Produção Aspectos Técnicos; Embrapa


Mandioca e Fruticultura (Cruz das Almas, BA). Brasília. 2000. 77 p.

FOLEGATTI, M. V.; PESSOA, P. C. S.; PAZ, V. P. S. Avaliação do desempenho de um pivô


central de grande porte e baixa pressão. Scientia Agricola, v. 55, n. 1, p. 119-127, jan./abr.
1998.

HIGA, A. Abacaxi irrigado produz com 6 meses de antecedência. Marketplace


ESTADÃO.1999.Disponível:<http://www.estado.estadao.com.br/jornal/suplem/agri/99/01/06/a
gri018.html>. Acesso em 22 de Outubro de 2002.
MATOS, A. P. de., Doenças e seu controle. In: Abacaxi. Produção: Aspectos Técnicos.
REINHARDT, D. H.; SOUZA, L. F. SILVA da.; CABRAL, J. R. S.; Embrapa Mandioca e
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Tecnologia, 2000 p. 45-50 il.; (Frutas do Brasil, 7).

MAY. A.; GONÇALVES P. S. de.; BRIOSCHI A. P. Informações Técnicas. O Agronômico,


51(1), 1999.

MEDINA, J. C.; Cultura. In: MEDINA, J.C.; BLEINROTH, E.W.; SIGRIST, J.M.M.; DE
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ed., série frutas tropicais, nº 02 1987, p. 1-132.

REINHARDT, D. H. Controle de Plantas Daninhas. In: Abacaxi. Produção: Aspectos


Técnicos. REINHARDT, D. H.; SOUZA, L. F. SILVA da.; CABRAL, J. R. S.; Embrapa
Mandioca e fruticultura (Cruz das Almas, BA). Brasília: Embrapa Comunicação para
Transferência de Tecnologia, 2000 p. 28-29 il.; (Frutas do Brasil, 7).
55

REINHARDT, D. H.; CUNHA, G. A. P. da,. Determinação do período crítico de competição de


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(4): p. 461-467, abr. 1984.

REINHARDT, D. H.; CUNHA, G. A. P. da,. Plantas Daninhas e seu Controle In: O


abacaxizeiro. cultivo, agroindústria e economia/ Embrapa Mandioca e fruticultura; CUNHA, G.
A. P. da; CABRAL, J. R. S.; SOUZA, L. F. SILVA da. Brasília: Embrapa Comunicação para
Transferência de Tecnologia, 1999. p. 253–268.

SILVA, C. R. Irrigação na cultura do Abacaxizeiro (Ananas comosus Merril. Departamento


de Fitossanidade, Engenharia Rural e Solos. Faculdade de Engenharia de Ilha Solteira –
UNESP. Disponível em:<http://.www.agr.feis.unesp.br/abacaxi.htm>. Acessado em: 22 outubro
2002.

SIMÃO, S. Tratado de fruticultura. Piracicaba, SP. FEALQ. 1998.760 p.


56

9. PRAGAS
Rosana Gonçalves Barros
Aline Cavalcante R. de Oliveira
Osvaldo Antunes de Souza

A cultura do abacaxizeiro pode ser atacada por diversas pragas, como


cochonilhas, presentes no sistema radicular e foliar,, coleobrocas, tripes e ácaros no
sistema foliar. São ainda encontradas pelo menos três espécies de ácaros nos frutos do
abacaxizeiro.
Segundo MATOS (2000), no Brasil 29 espécies de artrópodos, pertencentes
as ordens Homóptera, Coleóptera, Hymenóptera, Lepidóptera, Isóptera, Hemíptera e
Thysanóptera, já foram detectados na cultura. Dentre essas pragas, a cochonilha , a
broca-do-fruto, broca do talo e ácaro alaranjado são limitantes para a cultura, uma vez
que comprometem seriamente a sua produção.
Os danos diretos e indiretos decorrentes da alimentação destas pragas não
somente provocam uma depauperação de toda a planta, mas também favorecem a
incidência de doenças, dentre as quais, a murcha-do-abacaxizeiro, a fusariose e a
podridão-negra (SANTA CECÍLIA & CHALFOUN, 1998).

9.1. BROCA DO FRUTO (Thecla basalides)


A broca do fruto é uma borboleta que voa sobre as plantações em todas as
horas do dia, passando de flor em flor. As fêmeas depositam os ovos nas escamas das
inflorescências e coroas, dando origem a uma lagarta de coloração amarelada, tornando-
se depois avermelhada (PIZA JUNIOR, 1969).
A lagarta ataca as inflorescências e os frutos novos, atingindo seu interior,
rompendo seus tecidos e provocando deformações geralmente acompanhadas por
exsudação de resina entre os frutilhos, que inicialmente é incolor e pouco consistente.
Em contato com o ar, esta resina toma uma coloração marrom escura. O frutilho atacado
fica coberto de bolhas de resina, a qual transmite ao fruto sabor e odor desagradáveis,
tornando-o impróprio para o consumo (BORTOLI, 1982). A maior incidência desta
praga ocorre nos períodos de baixa pluviosidade.
A broca-do-fruto ocorre em todo continente americano, desde o México até
a Argentina, atacando além do abacaxizeiro, espécies nativas de bromélias. No Brasil é
encontrada, praticamente, em todas as regiões produtoras (MATOS, 2000).
57

Segundo esta mesma fonte o inseto pode também atacar as gemas de mudas
na base da inflorescência, mudinhas em viveiros e, mais raramente, assumir hábito de
minador de folhas, na maioria das vezes o ataque ocorre durante a fase de florescimento
e formação de frutos. Os danos causados pela broca variam consideravelmente, podendo
chegar a mais de 90%.
O monitoramento da praga como medida auxiliar no controle, desde o
surgimento da inflorescência no centro da roseta foliar, até o fechamento das últimas
flores para observar a ocorrência da postura dessa borboleta, se faz necessário. Em
casos de baixa incidência, o controle será desnecessário, evitando gastos (MATOS ,
2000).
Para o controle químico, as aplicações de inseticidas devem ser feitas desde
o aparecimento da inflorescência (avermelhamento) até o fechamento das últimas flores,
totalizando 3 a 4 aplicações quinzenais se o plantio for uniforme. Podem ser usados o
carbaryl a 7,5% ou parathion metílico a 1,5%. No preparo da calda de inseticida,
recomenda-se o uso de uma substância surfactante para melhor aderência do agrotóxico
à planta, bem como, pode se usar eventualmente a distribuição diretamente na planta do
inseticida na forma de pó.
LORENZATO et al. (1997) trabalharam com alguns produtos para o
controle da broca do fruto. Testaram: bacillus thurigiensis, carbaril, acefate, triclorfon e
azinfos e concluíram que o azinfos e o carbaril tiveram os melhores desempenhos no
controle da broca do fruto.

9.2. COCHONILHA DO ABACAXI (Dysmicoccus brevipes)


Esta cochonilha é um pequeno inseto cujas fêmeas adultas apresentam
coloração rósea e são cobertas por uma espécie de farinha branca de cera. Ao sugar a
seiva, o inseto enfraquece a planta e, além disso, transmite uma doença denominada
murcha-do-abacaxi. A cochonilha ocorre em colônias e localiza-se nas raízes, nas axilas
das folhas e no fruto, vivendo em simbiose com as formigas, especialmente com a lava-
pé (SANTA CECÍLIA & CHALFOUN, 1998).

A planta afetada apresenta descoloração das folhas, que de verdes passam a


amareladas e depois a amarelo-avermelhadas. Posteriormente, adquirem coloração
pardo-escura e, à medida que vão mudando sua coloração, perdem a rigidez até se
58

dobrarem para baixo ou os ápices ficarem secos e retorcidos. A murcha-do-abacaxi


impede a frutificação normal e provoca a morte das plantas (BORTOLI, 1982).
A murcha associada à cochonilha é considerada um dos maiores problemas
mundiais da cultura do abacaxi desde a sua identificação em 1910, no Havaí. A
associação desta praga à murcha é um problema que ocorre em todas as regiões
produtoras de abacaxi do Brasil e do mundo. Apesar de conhecida há longo tempo, a
murcha é ainda um problema de etiologia não totalmente esclarecida. A constatação de
partículas virais em plantas atacadas, entretanto, tem indicado a possibilidade do
envolvimento desse agente na etiologia da murcha (MATOS, 2000).
Estes mesmos autores constatam que a planta atacada pela a murcha de
cochonilha produz frutos pequenos e de baixo, ou nenhum, valor comercial. Os
prejuízos causados por essa doença podem algumas vezes, ultrapassar a 70%. A cultivar
Smooth Cayenne é altamente suscetível `a murcha, sendo a Pérola um pouco mais
tolerante.
O controle químico das plantas no campo, deve ser realizado quando os
sintomas começarem a aparecer, principalmente sob a forma de reboleiras. As
pulverizações podem ser feitas usando-se produtos fosforados, de acordo com as
recomendações dos fabricantes, que podem variar de 0,05 a 0,3% i.a.
Caso as mudas estejam altamente infestadas pela cochonilha, elas devem ser
tratadas por imersão numa suspensão contendo diazinon ou outro inseticida, e um
espalhante adesivo, por três a cinco minutos. Após o tratamento, deve-se deixar
escorrer o líquido excedente. Tratamento alternativo consiste em utilizar o tratamento
por fumigação, cobrindo as mudas com uma lona de plástico e aplicando-se uma grama
de fosfina/metro cúbico, durante 72 horas. Outra opção, menos onerosa por exigir
menos mão de obra, é a pulverização de uma suspensão de inseticida associada a um
espalhante adesivo sobre as mudas ainda aderidas à planta-mãe, após a colheita do fruto,
durante a fase crescimento (ceva) (MATOS, 2000).
Levando-se em conta a capacidade das formigas doceira em disseminar as
cochonilhas, um bom preparo de solo com o objetivo de destruição dos ninhos,
constitui-se uma prática de controle do inseto (MATOS , 2000).
Segundo CECÍLIA & ROSSI (1991), os inseticidas methidathion e o
diazinon foram eficazes para o controle da cochonilha, sendo que o tratamento dos
cortes para a colheita resultou em controle da praga por 10 meses.
59

9.3. ÁCARO ALARANJADO (Dolichotetranychus floridanus)


O ácaro alaranjado está presente em quase todas as regiões produtoras de
abacaxi do Brasil e do mundo com ocorrência variável. Em períodos secos e quentes,
durante o ciclo da cultura, a praga se apresenta em níveis populacionais mais elevados,
em comparação com épocas mais frias e chuvosas (MATOS, 2000).
O ácaro alaranjado é um aracnídeo muito pequeno que se aloja nas axilas
das folhas da base, provocando lesões localizadas e secamento da ponta das folhas
afetadas, que podem se apresentar retorcidas (OLIVEIRA, 1982).
Os maiores danos causados por este ácaro ocorrem nos tecidos tenros como
os de mudas novas de abacaxi, provenientes de campos de produção de mudas por
seccionamento do talo ( MATOS, 2000).
Para o controle desta praga pode-se utilizar os mesmos produtos contra a
cochonilha do abacaxi (OLIVEIRA, 1982).
FERREIRA & VEIGA (2000), testaram acefate, vamidothion, metamidofós
e monocrotofós para o controle do ácaro alaranjado do abacaxizeiro. O inseticida
acaricida vamidothion foi o mais eficiente no controle da praga, sendo que a
produtividade não foi afetada. O acefate foi ineficiente para o controle do ácaro.
A destruição dos restos culturais, assim como das invasoras, é uma forma de
evitar novas fontes de infestação. O inseto, pode também ser controlada através do uso
de fosforados aplicados para o controle da cochonilha Dysmicocus brevipes, no
tratamento de mudas ou durante o ciclo vegetativo (MATOS, 2000).

9.4. BROCA DO TALO (Castnia icarus)


A broca do talo, também conhecida como broca-do-olho, broca-do-caule,
broca-gigante e lepidobroca, além de atacar o abacaxi, pode também ser encontrada em
pseudocaule de bananeira e outras musáceas no Amazonas e no Pará .Na fase adulta, a
praga é uma mariposa com cerca de 34 mm de comprimento por 87 mm a 105 mm de
envergadura. As asas apresentam uma forte coloração marron com reflexo verde nas
anteriores, e vermelho, nas posteriores. A ocorrência dessa praga está restrita ao Norte
Nordeste do Brasil onde já foi relatada em regiões produtoras de abacaxi dos estados do
Amazonas, da Bahia, do Rio Grande do Norte, da Paraíba, de Pernambuco, de Alagoas
e de Sergipe (MATOS, 2000).
Uma vez no interior da planta, a lagarta alimenta-se dos tecidos, abrindo
galeria no talo e promovendo o definhamento e a morte da planta afetada. Os sintomas
60

de seu ataque são as folhas seccionadas na região basal, o “olho morto”, a presença de
resina misturada com dejetos, na base das folhas e a emissão de rebentão. Apenas uma
lagarta é o suficiente para destruir uma planta. Em áreas infestadas, já foram
constatados danos variando de 0,6 a 80% (SANTA CECÍLIA & CHALFOUN, 1998).
Como a broca-do-talo pode ocorrer praticamente durante todo o ciclo da
cultura, o controle químico torna-se demasiado caro, fazendo com que o controle
mecânico seja, ainda, a opção mais econômica. Durante o monitoramento dessa praga, o
agricultor deve arrancar as plantas atacadas e, com o auxílio de um facão, cortar o caule
até localizar a lagarta e destruí-la. Esta prática, ao ser adotada por todos os produtores
da região, fará com que o nível populacional da praga decresça gradativamente, a cada
ciclo da cultura (MATOS, 2000).
SILVA & VEIGA (2000), verificaram que o controle da larva da broca do
talo foi obtido com a utilização de fungos Metarhizium anisopliae e Beauveria
basssiana. Os autores concluíram que a utilização de Beauveria basssiana causava 54%
de mortalidade no segundo ínstar da broca do talo e o Metarhizium anisopliae causava
68% de mortalidade, portanto o fungo Metarhizium anisopliae, mostrou-se mais
eficiente para o controle da praga.

9.5. OUTRAS PRAGAS


As espécies descritas a seguir são de ocorrência esporádica na cultura do
abacaxizeiro sem grande importância econômica:

9.5.1. Broca-do-colo-do-abacaxi (Paradiophorus crenatus)


É um inseto de ocorrência esporádica também conhecido como moleque-do-
abacaxi. As plantas atacadas pelo inseto apresentam sintomas de enfraquecimento e,
posteriormente, as extremidades das folhas começam a secar, até adquirir um
amarelecimento geral. Essas plantas podem ser arrancadas facilmente do solo, em razão
do seccionamento causado pelo ataque da praga (SANTA CECÍLIA & CHALFOUN,
1998).
9.5.2. Tripes (Thrips tabaci; Thrips Frankliniella)
Esses insetos raspam os tecidos foliares alimentando-se da seiva das plantas.
Podem atacar a cultura no estádio da floração ou da frutificação, ocasionando
deformações e necrose. São importantes vetores de viroses, causando significativas
perdas nas colheitas (SANTA CECÍLIA & CHALFOUN, 1998).
61

9.5.3. Lagarta das folhas (Monodes agrotina)


São mariposas com asas marrons escuras e uma faixa marrom claro
acompanhando a borda anterior. Suas lagartas são de coloração preta e destroem o
limbo foliar do abacaxizeiro. Recortam as folhas a partir dos bordos, deixando-as com o
limbo todo irregular. O controle é feito com inseticidas registrados para essa cultura,
podendo-se utilizar também Bacillus thuringiensis para o controle da praga.
62

9.6. REFERÊNCIAS

BORTOLI, S.A. Broca do Fruto e Cochonilha do Abacaxi. In: SIMPÓSIO BRASILEIRO


SOBRE ABACAXICULTURA,1982, Jaboticabal.. Anais...Jaboticabal: FCAV, 1982. p.157-
167.

CECÍLIA, L. V. C. S. ; ROSSI, M. M. Eficiência comparativa de alguns inseticidas e métodos


de aplicação no controle da cochonilha do abacaxi. Pesquisa Agropecuária Brasileira,
Brasília, v. 26, n. 6, p. 843-848, 1991.

FERREIRA, P. F.; VEIGA, A. F. S. L. Eficiência no controle químico do ácaro alaranjado do


abacaxizeiro, Dolichotetranychus floridanus (Banks, 1900) (Acari: Tenuipalpidae) em
Pernambuco. Revista de Agricultura, Piracicaba. v. 75. n. 2, p. 153-162, 2000.

LORENZATO, D.; CHOUENE, E. C.; MEDEIROS, J.; RODRIGUES, A. E. C.;


PEDERZOLLI, R. C. D. Ocorrência e controle da broca do fruto do abacaxi Thecla basalides
(Geyer, 1837). Pesquisa Agropecuária Gaúcha, v. 3, n. 1, p. 15-19, 1997.

MATOS, A.P. Pragas do abacaxi. In: Abacaxi: Fitossanidade. Embrapa Mandioca e


Fruticultura – Cruz das Almas, BA. Brasília: Embrapa Comunidade para Transferência de
Tecnologia, p. 17 - 26, 2000.

OLIVEIRA, C. A L. Ácaros do Abacaxizeiro. In: SIMPÓSIO BRASILEIRO SOBRE


ABACAXICULTUURA, 1982, Jaboticabal.. Anais...Jaboticabal: FCAV, 1982. p.169-175.

PIZA JÚNIOR, C.T. Cultura do abacaxi. 1969. Campinas: CATI. 25 p.

SANTA CECÍLIA, L.V.C. & CHALFOUN, S.M. Pragas e doenças que afetam o
abacaxizeiro. In: Abacaxi: Tecnologia de Produção e Comercialização. Informe Agropecuário,
Belo Horizonte, v.19, n.195, p. 40-57, 1998.

SILVA, R. B. Q.; VEIGA, A. F. S. L. Patogenicidade de Beauvearia bassiana (Bals.) e


Metarhizium anisopliae (Mersch.) sobre Castnia icarus (Cramer, 1775). Revista de
Agricultura, Piracicaba, v. 73, n. 2, p. 119-128, 2000.
63

10.DOENÇAS

Cecília do Nascimento Peixoto


Iron Daniel da Silva
Jair Inácio de Oliveira Júnior

Embora existam poucas informações sobre a importância e o efeito de


alguns agentes patogênicos sobre o rendimento desta cultura, considera-se que, no
Brasil, a fusariose é a doença mais destrutiva do abacaxizeiro, enquanto, em outras
regiões produtoras do mundo, a mancha negra constitui a doença mais grave. Também
são consideradas graves as podridões do olho e de raízes que, dependendo das
condições ambientais, podem provocar grandes perdas na produção, nas principais
regiões produtoras do mundo, inclusive no Brasil (MATOS, 2000).

Doenças bacterianas, como a “pink disease” provavelmente causada por


Acetobacter aceti, A. liquefasciens e Glauconobacter axydans, “fruit collapse” causada
por Erwinia chrysanthemi, que constitui a principal doença da cultura na Malásia
(GOES, 1997) e “marbling disease” causada por Acetobacter sp. (MATOS, 1999),
afetam os frutos frescos prejudicando sua industrialização e não se encontram no Brasil.

Segundo MATOS (1999), diversas anomalias podem ocorrer na cultura do


abacaxi, tais como queima solar, murcha, fasciação, fruto macho, brunimento interno e
“jaune ou green ripe”.

Em pós-colheita, a podridão negra (Ceratocystis paradoxa; Thielaviopsis


paradoxa) é considerada a mais grave doença, principalmente quando os frutos são
destinados ao consumo “in natura” (MATOS, 2000).

10.1. DOENÇAS FÚNGICAS

10.1.1. Fusariose do abacaxi (Fusarium subglutinans; Giberella fujikuroi)


Relatada pela primeira vez no Brasil em 1964, no Estado de São Paulo, é a
doença mais grave do abacaxizeiro, sendo o principal problema fitossanitário
(JUNGHANS et al., 2002). Está presente também na Bolívia desde 1992, na região de
Santa Cruz de la Sierra e El Chapare (MATOS, 2000).

O agente patogênico apresenta sinonímias, sendo mais comuns: Fusarium


moniliforme var. subglutinans, Fusarium sacchari var. subglutinans e Fusarium
64

moniliforme. VENTURA et al. (1993) propuseram uma nova denominação para este
patógeno (Fusarium subglutinans f. sp. ananas), com base nos resultados de
patogenicidade e análise de DNA.

10.1.1.1. Sintomas
O patógeno é capaz de infectar todas as partes da plantas (GOES, 1997;
SANTA-CECÍLIA & CHALFOUN, 1998). As lesões, geralmente localizadas na região
inferior do caule e na parte basal aclorofilada das folhas inseridas nessa região,
apresentam exsudação de goma. Outros sintomas podem também ser observados, como
clorose, curvatura do caule, geralmente para o lado da infecção, encurtamento do caule
e modificação da fitotaxia, redução do comprimento da folha e do desenvolvimento
geral e morte da planta. Nos frutos, os sintomas caracterizam-se pela exsudação de
goma através da cavidade floral. A polpa, na região infectada, apresenta-se apodrecida
com os lóculos do ovário cheios de goma. Externamente, os frutilhos evidenciam
descoloração amarronzada e depressão em relação aos sadios. Os prejuízos são
decorrentes da infecção e morte de mudas e de plantas durante o desenvolvimento
vegetativo, além da podridão dos frutos, que perdem seu valor comercial (GOES, 1997;
SANTA-CECÍLIA & CHALFOUN, 1998; MATOS, 2000).

A movimentação de material infectado é a principal fonte de disseminação


da doença. Uma vez introduzido em uma região, o patógeno é levado pelo vento, chuva
e insetos que visitam a inflorescência (SANTA-CECÍLIA & CHALFOUN, 1998;
MATOS, 2000).

10.1.1.2. Controle
Nenhuma medida isolada tem dado resultado satisfatório no controle da
fusariose (GOES, 1997). É conveniente aliar práticas culturais ao controle químico e
genético. Devem ser utilizadas mudas sadias na formação de novos plantios, feitas
inspeções periódicas para erradicação de plantas com sintomas, e eliminação de restos
culturais bem como plantios abandonados. No controle químico, as rosetas devem ser
pulverizadas, com produtos adequados e de forma preventiva, 45 dias após o tratamento
para indução floral. O tratamento deve ser mantido durante o período que a flor
encontrar-se aberta e deve ser suspenso após o fechamento das flores (MATOS, 2000).
65

FURTADO & JULIATTI (1998), comprovaram a ineficácia de fungicidas sistêmicos


utilizados no controle curativo da doença, presumindo que o tratamento para a fusariose
tenha que ser preventivo, antes da abertura das flores.

O uso de variedade resistente é o método mais eficiente e econômico de


controle da doença, com o plantio de híbridos resistentes e com boas características
agronômicas (GOES, 1997; MATOS, 2000). A pesquisa tem trabalhado para elucidar o
modelo de herança da resistência a fusariose no abacaxizeiro, para obtenção de
indivíduos resistentes e com características comerciais desejáveis, passíveis de serem
lançados como novas variedades (SANTOS et al., 1996; JUNGHANS et al., 2002;
TÁPIAS et al. 2002)

10.1.2. Mancha negra do fruto (Penicillium funiculosum e Fusarium


moniliforme)

A mancha-negra-do-fruto é uma doença atribuída à infecção das


inflorescências por Penicillium funiculosum e/ou Fusarium moniliforme, sendo uma das
mais graves do abacaxi em todo o mundo, especialmente da cultivar Smooth Cayenne,
cujos frutos afetados não expressam sintomas externos, dificultando o descarte durante
o processamento em pós-colheita. A doença é encontrada praticamente em todas as
regiões produtoras do mundo, variando em severidade, dentro de uma mesma região, de
acordo com a época de colheita. No Brasil encontra-se disseminada, ocorrendo em
maior intensidade em regiões quentes e de baixa umidade relativa (MATOS, 2000).

10.1.2.1. Sintomas

A expressão externa dos sintomas depende da cultivar. Frutos da cultivar “


Smooth Cayenne” não evidenciam estes sintomas, enquanto que cultivares do grupo
Queen e Perolera apresentam coloração amarelo-alaranjada nos frutilhos infectados.
Internamente a mancha-negra caracteriza-se por uma podridão no frutilho atacado, de
coloração marrom clara, que, com o progresso da doença, evolui a marrom escura,
apresentando-se de maneira geral sob a forma de podridão mole, porém, não raro,
manifestando-se como podridão dura. O agente causal infecta a inflorescência em
desenvolvimento através das flores abertas e a sua ocorrência depende da presença de
66

ácaros na inflorescência, especialmente o Steneotarsonemus ananas, vetor do patógeno


causal da doença. (MATOS, 2000).

10.1.2.2. Controle

O controle dessa doença inicia no momento da colheita que deve ser


procedida cortando-se o pedúnculo, a aproximadamente, 2 cm da base do fruto. Outras
medidas incluem: evitar ferimentos na superfície do fruto durante a colheita e em pós-
colheita; eliminar os restos culturais nas proximidades da área onde os frutos são
armazenados; reduzir ao mínimo o período entre a colheita e o processamento dos
frutos; armazenar e transportar os frutos sob refrigeração; e tratar o corte da colheita e
os ferimentos resultantes da remoção dos filhotes, com fungicidas benzimidazóis
(MATOS, 2000).

10.1.3. Podridão do olho (Phytophthora nicotiana var. parasitica)

Essa doença, que primeiramente foi descrita no Havaí, na década de vinte,


vem adquirindo importância econômica, especialmente em plantios conduzidos sob
condições irrigadas. É disseminada em todas as regiões produtoras de abacaxi do Brasil
e do mundo, apesar de ocorrência esporádica, tem sido considerada uma ameaça para a
cultura (MATOS, 2000).

10.1.3.1. Sintomas

O fungo agente causal (Phytophthora nicotiana var. parasitica), um


habitante do solo, pode infectar a planta do abacaxizeiro em qualquer estádio de
desenvolvimento, porém tem preferência pelos períodos logo após o plantio e na
indução floral. A disposição das folhas da planta facilita a deposição de propágulos do
patógeno, seja por salpicos de água ou de terra úmida resultante de chuvas fortes, seja
pela água que escorre na superfície da folha em direção à parte basal da planta. Os
zoósporos do fungo, atraídos por tactismo, encistam nos tricomas, germinam, penetram
e crescem intercelularmente, atingindo o mesófilo (MATOS, 2000).

A planta infectada apresenta, inicialmente, alterações nas folhas mais novas


que a D, que passam da coloração verde normal ao amarelo-fosco e cinza, enquanto as
mais velhas não sofrem alteração na cor. Com o desenvolvimento da doença, observam-
67

se na parte basal (aclorofilada) das folhas atacadas, lesões translúcidas que se expandem
rapidamente, sendo bloqueadas na parte verde intensa da folha. A partir da base da folha
o patógeno atinge o caule, provocando o apodrecimento e morte do olho da planta, que
pode ser removido por inteiro, evidenciando uma podridão mole, com odor
desagradável devido à invasão por microrganismos secundários. A coroa apresenta
maior suscetibilidade ao patógeno do que os outros tipos de mudas (MATOS, 2000).

10.1.3.2. Controle
O controle deve ser atividade rotineira, tendo como alvo os períodos críticos
da cultura, favoráveis ao desenvolvimento da doença, sendo necessária a implementação
de práticas culturais e controle químico. Dentre as práticas culturais, destacam-se: a)
escolha da área de plantio, evitando-se solos mal drenados; b) realização de calagem de
forma cuidadosa, pois o patógeno torna-se mais eficiente em solos com pH próximo a
neutralidade; c) plantio em camalhões; d) não utilização de mudas tipo coroa; e) não
colocação de plantas daninhas sobre plantas do abacaxi. Em regiões onde a podridão do
olho é problema, o controle deve iniciar duas semanas antes da colheita das mudas,
mediante aplicação de fungicidas sistêmicos. Proceder também ao tratamento pré-
plantio mediante imersão das mudas em calda fungicida, com o produto recomendado e
registrado para esse fim. O controle se completa com a aplicação de fungicidas entre a
3ª e 4ª semana após o plantio. Uma semana após o tratamento de indução floral, deve-se
aplicar um fungicida sistêmico, dirigido para a roseta foliar, a fim de proteger a
inflorescência em desenvolvimento, em especial quando o carbureto de cálcio for
utilizado como indutor (MATOS, 2000).

10.1.4. Podridão das raízes (Phytophthora cinnamomi)


O sistema radicular do abacaxizeiro é bastante sensível a fungos do solo,
dentre esses destaca-se Phytophthora cinnamomi, fungo de solo amplamente difundido
nas regiões tropicais e subtropicais do mundo. Eventualmente, outros fungos dos
gêneros Phytophthora e Pythium também podem provocar a podridão de raízes em
abacaxizeiro. Apesar de estar presente praticamente em todas as regiões produtoras do
mundo, constitui-se maior problema em regiões de altas precipitações pluviométricas,
baixas temperaturas, sobre solos com drenagem deficiente e reação alcalina (MATOS,
2000).
68

Segundo MATOS (2000), a planta atacada apresenta alterações na coloração


das folhas que passa a amarelada, seguida de perda da turgescência com enrolamento
dos bordos e encurvamento para baixo. A planta pode ser removida do solo com
facilidade, evidenciando o sistema radicular completamente apodrecido.
O controle é efetuado selecionando-se a área para plantio, plantando em
camalhões e em solos infectados plantar em época desfavorável ao patógeno. Da mesma
forma, as plantas devem ser pulverizadas com fungicida sistêmico antes da remoção da
muda da planta-mãe e os cuidados devem continuar após o plantio, com aplicação de
produtos de comprovada eficiência contra o patógeno (MATOS, 2000).

10.1.5. Podridão da base da muda (Chalara (Thielaviopsis) paradoxa)

É caracterizada pelo apodrecimento da parte basal da muda do abacaxizeiro


e está presente em todas as regiões produtoras do Brasil e do mundo. O agente causal é
um fungo polífago [Chalara (Thielaviopsis) paradoxa] que ataca inúmeras culturas em
todas as regiões tropicais (MATOS, 2000). Esse fungo também causa a podridão negra
do fruto, doença de pós-colheita de significativa importância, pelas perdas causadas em
plantios comerciais (REINHARDT et al., 2000).

A muda infectada apresenta em sua base uma podridão mole, de coloração


inicialmente amarela intensa que, com o progresso da doença, torna-se enegrecida em
conseqüência da esporulação do patógeno. Posteriormente os tecidos desintegram-se
restando apenas fibras na parte interna do caule, causando a morte da muda. Para
controlar essa doença, deve-se evitar o amontoamento das mudas após a colheita e
promover a cura das mesmas com as bases voltadas para cima, para a rápida
cicatrização dos ferimentos mediante a ação dos raios solares. Em períodos quentes e
chuvosos, favoráveis ao desenvolvimento da doença, deve-se efetuar o tratamento pré-
plantio mediante imersão em calda fungicida, com o produto recomendado (MATOS,
2000).

10.2. VIROSES

10.2.1. A murcha do abacaxizeiro (Anonas comosus L.)


69

A cochonilha Dysmicoccus brevipes (Cockerell,1893) é uma praga de


grande importância para a cultura do abacaxizeiro (Ananas comosus L.), pelos danos
diretos decorrentes de sua alimentação, ocasionando o enfraquecimento das plantas,
além dos danos indiretos resultantes de sua participação na transmissão da murcha-do-
abacaxizeiro (CARTER, 1933). No local de alimentação das cochonilhas, ocorre o
aparecimento de manchas circulares verdes de tonalidade mais pronunciada do que a cor
normal da folha, correspondendo aos pontos de alimentação (PY, LACOEVILHE &
TEISSON, 1984), sendo mais facilmente perceptíveis nas folhas situadas no "coração"
da planta.
Esse complexo cochonilha e murcha-do-abacaxizeiro tem se constituído em
um dos maiores entraves para o aumento da produtividade da cultura no Estado de
Minas Gerais, ocasionando perdas na produção da ordem de até 70% e ainda
promovendo o abandono de muitas áreas cultivadas (SANTA-CECÍLIA &
CHALFOUN, 1998). Essa doença tem sido considerada de origem virótica, conforme
trabalhos de GUNASINGHE & GERMAN (1989) e ULLMAN et al. (1989), que
isolaram partículas do vírus de plantas com sintomas e com base na sua morfologia,
peso molecular da capa protéica e tamanho aproximado do genoma do RNA, e
observaram que se tratava de um vírus do grupo II dos closterovírus, e que seria
possivelmente o agente causal da murcha-do-abacaxizeiro.
Os sintomas dessa doença são manifestados pela descoloração das folhas,
que de verde passam a vermelho-bronzeadas, atingindo posteriormente o rosa-vivo e
depois o amarelo. À medida que as folhas vão mudando de coloração, perdem a
turgescência, dobrando-se para baixo, os ápices ficam secos e retorcidos e o sistema
radicular apresenta-se anormal. A manifestação desses sintomas é função de um grande
número de fatores, principalmente daqueles intrínsecos à fisiologia da planta. Esta
possui mecanismos bioquímicos de defesa ao patógeno caracterizados pela presença de
células com altas concentrações de substâncias tóxicas ou inibidoras, como os
compostos fenólicos, e que se constitui em fortes barreiras microbianas (RODRIGUES
JR., 1980).
O controle mais eficiente é a resistência varietal, pois os outros não são
possíveis, devido a virulência atingir toda a planta. No entanto já está sendo testado um
novo híbrido Pérola que nos testes preliminares, mostrou grande eficiência no controle
da virose do abacaxi.
10.2.2. Mancha-amarela (yellow spot)
70

Esta doença, embora ainda não exista relatos de prejuízos aqui no Brasil, já
atinge países como a África do Sul, Havaí e outros, com prejuízos consideráveis na
cultura do abacaxi, além de se estender a outras culturas como o fumo, o tomate,
berinjela, batata, entre outras. Esta infecção é transmitida pelo vírus denominado tomato
spotted wilt virus (COLLINS, 1960), tendo como vetor várias espécies de Thrips como
Thrips tabaci, Frankliniella schultzei e outras (Linford, 1932, citado por COLLINS,
1960).
Os primeiros sintomas dessa virose são o surgimento de manchas pequenas,
arredondadas e de coloração amarelada na clorofila da folha, e sempre na folha mais
nova, que coalesse. Nos frutos, a infecção inicia-se com necrose na flor e,
posteriormente atinge também os frutíolos, onde se espalha por todo o fruto composto.
A melhor forma de efetuar o controle é evitar plantio de mudas vindas da coroa e dos
rebentões (COLLINS, 1960).

10.3. DOENÇAS BACTERIANAS

10.3.1. Podridão-aquosa-dos-frutos (Erwinia ananas)


Esta doença foi detectada em plantios de abacaxizeiro, localizados no
nordeste do Brasil, sendo causada por Erwinia ananas, que incita uma podridão mole na
polpa do fruto que, em estágio mais avançado de desenvolvimento da patogenicidade,
perde sua consistência normal, liquefazendo-se, e o suco é forçado para fora através de
aberturas naturais, ferimentos ou rachaduras na superfície do fruto(MATOS,1999).

10.3.2. Marbling Disease


Esta doença é causada por uma bactéria do gênero Acetobacter, que infecta a
inflorescência durante a antese, passando através dos canais estilares e nectários e por
fim atingindo os tecidos internos.
Os frutos infectados por este patógeno não expressam sintomas externos,
porém internamente os tecidos mostram-se endurecidos e marcados por pequenas
manchas que variam do amarelo-avermelhado ao marrom-escuro, sendo observados em
toda polpa do fruto. Sua incidência varia de acordo com a época de produção e
aparentemente está relacionada com a acidez do fruto, sendo mais elevada em frutos
mais ácidos. Seu controle pode ser melhor efetuado mediante o estabelecimento de um
programa de indução floral que possibilite o desenvolvimento da inflorescência em
71

épocas desfavoráveis a incidência da doença, associada a práticas culturais capazes de


elevar a acidez dos frutos (MATOS,1999).

10.4. NEMATÓIDES
Em diversos países, os nematóides são um dos principais fatores limitantes
ao cultivo do abacaxi e muitas vezes, isso não é levado em conta no cômputo geral das
perdas nessa cultura. Existem vários gêneros que prejudicam o abacaxi, porém
destacam-se na abacaxicultura, os nematóides das galhas Meloidogyne spp, M. javanica,
o das lesões radiculares Pratylenchus, os reniformes Rotylenchulus reniformis, os
Helicotylenchus e outros (COSTA & RITZINGER, 2000).
A maioria desses vermiformes são endoparasitas e completam seus ciclos
nas raízes do abacaxizeiro e de outras frutíferas. O nematóide M. javanica e outras
espécies injetam toxinas que induzem o crescimento anormal dos tecidos e as células se
deformam e se alimentam do nematóide.
Os sintomas visuais no campo devido infecção por nematóides são
amarelecimento e redução do crescimento da planta; reboleira de plantas mortas e frutos
de tamanho desigual. No sistema radicular ocorre o escurecimento das raízes causado
por P. brachyurus; surgimento de galhas causadas por M. javanica; massa gelatinosa de
ovos das fêmeas de R. reniformes e outros (COSTA & RITZINGER, 2000).
Nos levantamentos realizados nas áreas plantadas com o abacaxi no Brasil,
verificou-se um grande prejuízo causado pelos nematóides, tanto direto como
indiretamente, com grande redução da eficiência das adubações que vai refletir no
tamanho e peso dos frutos.
Algumas medidas de controle podem ser utilizadas para a convivência com
os nematóides, como o revolvimento do solo antes do plantio, o repouso da área, a
rotação de culturas, a adubação orgânica incorporada, o uso de variedades resistentes e
por último, o controle com nematicidas.
72

10.5. REFERÊNCIAS

CARTER, W. The pineapple mealybug Pseudococcus brevipes and wilt of pineapples.


Phytopathology. Washington, v.23, n.3. p. 207-242. Mar. 1933.

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COSTA, D. da C. & RITZINGER, C. H. S. P. Abacaxi produção: aspectos técnicos. Frutas do


Brasil-EMBRAPA. 2000. p. 51-55.

FURTADO, D.; JULIATTI, F.C. Ineficácia de fungicidas sistêmicos utilizados no controle


curativo de Fusarium subglutinas f. sp. ananás. Fitopatologia Brasileira, v. 23, (suplemento),
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GUNASINGHE, V.B.; GERMAN, T.L. Purification and partial characterization of a virus from
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agosto, p. 280, 1993. (Resumo)
74

11. COLHEITA E PÓS-COLHEITA


Ana Flávia Costa Lima Felipe
Arcângela C. da C. Pedreira Pereira

11.1. COLHEITA
O consumo do abacaxi in natura predomina no mercado interno brasileiro,
verifica-se também que a maior parte da exportação se dá na forma de fruta fresca,
exigindo cuidados especiais. Um dos fatores que prejudicam a exportação brasileira é a
qualidade do abacaxi, fundamental para a sua efetiva participação no comércio
internacional, principalmente no aspecto de manutenção da qualidade na pós-colheita.
(ABREU et al., 1998).
GONÇALVES et al. (2000) acredita que a qualidade final do fruto depende
em grande parte da tecnologia utilizada na pré-colheita, colheita e pós-colheita. Os
principais fatores pré-colheita que podem exercer influência na qualidade do abacaxi
são:
- Nutrição mineral - SOARES et al (2002), analisando a qualidade e o potencial de
armazenamento de abacaxi cultivados com diferentes concentrações e formas de
aplicação de potássio, concluiu que o nível de potássio utilizado na adubação exerce
clara influência na qualidade do abacaxi propiciando maiores teores de acidez(ácidos
orgânicos), maior firmeza da casca e menor índice de escurecimento interno da polpa.
VELOSO et al.(2001) em seus estudos chegou a mesma conclusão, e afirma ainda que a
adição de potássio, na forma de cloreto de potássio, aumentou a produção.
- Densidade de plantio - Aumentando-se a densidade de plantio, aumenta o
número de frutos produzidos por área cultivada, mas o tamanho do fruto diminui a partir
de um certo limite, chegando a perda de 70 g a 140 g por cada aumento de 10.000
plantas/há na caso da cultivar Smooth Cayenne. É preciso, portanto, adequar a
densidade de plantio à finalidade da cultura.
- Condições climáticas - frutos que iniciam seu desenvolvimento no final do
verão, ou seja, quando a temperatura é elevada, tendem a ser de tamanho grande, porém
com teores de sólidos solúveis baixos, uma vez que o amadurecimento ocorre durante o
inverno. Ao contrário, quando o desenvolvimento dos frutos inicia-se no inverno, eles
tendem a ser menores e com maior concentração de sólidos solúveis totais.
75

- Irrigação - mesmo sendo o abacaxizeiro uma planta de baixa taxa de


transpiração, se a água for fator limitante, há queda da produção, baixa qualidade e
desuniformidade dos frutos.
- Resíduos de agrotóxicos - os frutos devem estar livres de qualquer substância
química natural ou contaminante, que pode comprometer a saúde do consumidor.

11.1.1. Ponto de colheita


A definição do ponto de colheita está em função da comercialização. Se o
fruto for comercializado para consumo imediato ou para fabricação de conservas, o
produtor poderá deixá-lo amadurecer um pouco mais, para que atinja as qualidades
organolépticas desejáveis. No entanto, se o produto for comercializado a longas
distâncias, a colheita deverá ser realizada no início da maturação, ou seja, no estágio “de
vez”, coma casca metade verde e metade amarela. Neste último caso é importante não
colher frutos demasiadamente verdes, pois os frutos de abacaxi não são climatéricos,
isto é, possuem pouca reserva amilácea e consequentemente não amadurecem depois de
colhidos (BLEINROTH,1992).
A época de colheita do abacaxi está na pendência das condições ambientais,
da época de plantio, do tipo de muda, das variedades e dos tratos culturais. Em plantas
oriundas de mudas de coroa, os frutos são colhidos aos 24 meses após o plantio, as de
rebentão de 15 a 18 meses e as de filhote de 20 a 22 meses após o plantio (ciclo
natural). O período de colheita estende-se por 60 dias ou mais quando não é feita a
indução do florescimento, e é de aproximadamente 15 dias quando essa prática é
adotada (CARVALHO, 1999).
Na prática, o ponto de colheita é avaliado pela coloração da casca, que passa
de verde para amarelada, devido a uma queda acentuada nos teores de clorofila. Muitas
vezes a avaliação do grau de maturação, fica dificultada pela interferência de diversos
fatores que influenciam diretamente a coloração da casca, como tamanho do fruto,
variedade, época de maturação e adubações. No entanto quando aproxima a maturação,
além da alteração na cor da casca, os olhos mudam da forma pontiaguda para a
achatada, os espaços entre os olhos se estendem e adquirem uma cor clara
(CARVALHO, 1999).
Na variedade Pérola, a coloração não é tão intensa como na Smooth
Cayenne, devendo-se observar com muita atenção os frutilhos, que, com a maturação,
ficam menos salientes, começando a aparecer no centro pontos amarelos.
76

11.1.2. Colheita
No Brasil, a colheita é manual, pois devido a desuniformidade de maturação
dos frutos, a colheita por meios mecânicos, se torna dificultada (BOTREL & ABREU,
1994). Todavia, no Havaí, e em outras regiões onde a cultura do abacaxi é feita com alto
nível técnico, a colheita é facilitada graças à utilização de uma esteira rolante, na qual os
frutos são colocados e transportados para fora dos talhões (REINHARDT, 2000).
A colheita é feita com facão, tendo o colhedor as mãos protegidas com luvas
de lona grossa. Os frutos da cultivar Smooth Cayenne destinados à exportação são
obrigatoriamente colhidos com 5 a 6 cm de pedúnculo, que depois é reduzido à metade
na embalagem. Na cultivar Pérola, o corte do pedúnculo é feito abaixo da região de
inserção dos filhotes, visando à melhor proteção para os frutos (BLEINROTH, 1992).

11.1.3. Transporte
Depois de colhidos os frutos são transportados em cestos, balaios, caixas ou
carros de mão, até o caminhão ou carreta. Essas carretas devem ter o assoalho e as
paredes laterais revestidos de palha, geralmente de arroz ou de fitilho de madeira, tendo
a função de proteger os frutos de danos mecânicos, durante o seu transporte até o
barracão (REINHARDT, 2000).
O transporte para o mercado interno é feito em caminhões não refrigerados,
a granel, sendo os filhotes utilizados como material de acolchoamento, no caso da
cultivar pérola. Quando a finalidade é a industrialização, usa-se algumas vezes, o
acondicionamento dos frutos em caixas de plástico, com capacidade para dez frutos.
Para exportação, geralmente é transportado em navios, que devem ter como
características: renovação de ar (uma ou duas vezes por semana), umidade relativa (85%
a 90%) e temperatura (8º C).

11.2. PÓS-COLHEITA
Para garantir uma boa comercialização, principalmente no mercado exterior,
os produtores devem procurar manter um bom padrão de qualidade dos frutos.

11.2.1. Seleção e classificação


Para o mercado interno, geralmente, os frutos são colhidos, acondicionados
em caminhões e transportados diretamente para os locais de intermediação ou
comercialização. Em face ao crescimento da exigência por qualidade, também nos
77

mercados domésticos, cuidados adicionais são necessários, assemelhando-se com os


frutos para exportação (REINHARDT, 2000).
Os frutos destinados à exportação, geralmente, tem uma calibração
diferente, havendo intervalos entre o grande, médio e pequeno. A seleção e a
classificação dos frutos devem considerar alguns fatores importantes:
a) Tamanho:
- Frutos grandes – 2,0 a 2,5 kg ou mais
- Frutos médios – 1,5 a 2,0 kg
- Frutos pequenos – 1,0 a 1,5 kg
b) Maturação:
- 1/3 maduros – só a parte basal apresenta a coloração amarela
- 1/2 maduros – quando metade da fruta está amarela
- Totalmente maduros – frutos amarelos
A norma de classificação do Programa Brasileiro Para a Melhoria dos
Padrões Comerciais e Embalagens de Hortigranjeiros, estabelece os atributos
quantitativos e qualitativos. A classificação do abacaxi obedece os seguintes requisitos:
- GRUPOS: de acordo com a coloração da polpa.
- SUBGRUPO: de acordo com a coloração da casca
- CLASSE: de acordo com o peso da infrutescências (Tabela 11.1 e 11.2).
- CATEGORIA: de acordo com o limite de defeitos permitidos.
Os defeitos podem ser defeitos graves e leves. Considerando defeitos graves
aqueles que inviabilizam o consumo ou a comercialização do produto como: lesão,
podridão, fruto sem coroa, queimado do sol, amassado, imaturo, passado, mole,
exsudado, mancha de chocolate, fasciação e injúria por frio. Defeitos leves são danos e
defeitos superficiais que não inviabilizam o consumo e/ou a comercialização, mas
prejudicam a aparência e a qualidade do fruto como: coroa múltipla, coroa danificada,
coroa torta e deformação.
Para exportação, devem ser eliminados: frutos muito pequenos ou muito
grandes (<700 g e >2.300 g); frutos com machucados e manchas de queima solar; frutos
com coroas múltiplas ou de dimensões não regulamentares; frutos com coroas
danificadas; frutos com deformações; frutos com pedúnculos quebrados (REINHARDT,
2000).
78

Tabela 11.1 Grupo polpa amarela


CLASSE PESO DO FRUTO (KG)
1 maior que 0,900 até 1,200
2 maior que 1,200 até 1,500
3 maior que 1,500 até 1,800
4 maior que 1,800 até 2,100
5 maior que 2,100 até 2,400
6 maior que 2,400
Fonte: CEAGESP (2003)

TABELA 11.2 Grupo polpa branca.


CLASSE PESO DO FRUTO (KG)
1 maior que 0,900 até 1,200
2 maior que 1,200 até 1,500
3 maior que 1,500 até 1,800
4 maior que 1,800
Fonte: CEAGESP (2003)

Frutos destinados à indústria, além da uniformidade no tamanho, devem


possuir a forma cilíndrica, proporcionado menores perdas no descascamento e maior
uniformidade de diâmetro das fatias do que a cônica. O fruto da cultivar Smooth
Cayenne, formato cilíndrico, é mais adequado à industrialização do que o da Pérola de
formato cônico (CARVALHO, 1999).
O balanço entre doçura e acidez dos frutos, caracterizado pela relação entre
valores de sólidos solúveis ou ºBrix/acidez, tem sido comumente utilizado para avaliar o
sabor dos frutos, para exportação e para indústria.

11.2.2. Desinfecção
Após a seleção, os frutos destinados à exportação, que são obrigatoriamente
colhidos com cerca de 5 cm de pedúnculo, que no barracão é seccionado a 2 cm ou a 3
cm da base do fruto e, em seguida, a superfície de corte deve ser desinfetada com
solução fungistática. Visando proteger contra a podridão-negra [Ceratocystis paradoxa /
Chalara (Thielaviopsis) paradoxa], utilizam-se fungicidas sistêmicos, como os
benzimidazóis, ácido benzóico dissolvido em álcool a 2%, salicilamida de sódio a 1%
ou ortofenilfenato de sódio (CARVALHO,1999).
79

11.2.3. Embalagem
Após o tratamento contra as podridões, os frutos a serem exportados são
embalados em caixas de madeira ou papelão, na posição vertical, repousando sobre o
pedúnculo. Outra disposição das frutas possível é na posição horizontal, alternado os
fruto e coroa. Com este método se obtém uma maior densidade do produto, porém o
risco de danos mecânicos é maior(GARCIA et al., 1996).

11.2.4. Armazenamento
A utilização de baixas temperaturas, tanto no transporte a grandes distâncias
(caminhões frigoríficos e câmaras frias de navios) quanto nas câmaras de
armazenamento, tem por finalidade retardar o aumento da taxa respiratória e,
consequentemente, as diversas mudanças metabólicas que conduzem o fruto ao
amadurecimento e à senescência precoces.
O abacaxi é sensível a altas temperaturas que aceleram a taxa de
amadurecimento e favorecem o desenvolvimento de fungos reduzindo, a vida útil do
fruto. Entretanto, é susceptível a danos pela ação do frio, sendo desaconselhável a
estocagem abaixo de 7ºC. (GARCIA et al., 1996).
Nas temperaturas de 7ºC a 12ºC e em umidades relativas de 85% a 95%, o
período máximo de conservação dos frutos é de 4 semanas. Após 2 ou no máximo, 3
semanas de armazenamento, devem se feitas inspeções nas câmaras, a fim de verificar
se existem frutos com podridões externas. Além dessas podridrões, ocorre, por conta
dos danos causados pelo frio, o escurecimento interno da polpa (BOTREL &
ABREU,1994). Segundo SELVARAJAH et al. (2001), o escurecimento interno é a
desordem fisiológica mais importante de abacaxis que são armazenados debaixo de
13ºC, limitando o armazenamento e a exportação desta fruta.
Em seus trabalhos THÉ et al. (2001), concluiu que o efeito da refrigeração
sobre a composição química do abacaxi está relacionado ao estádio de maturação dos
frutos. BOTREL & CARVALHO (1993), em seus estudos verificaram que:
- O peso do fruto exerce influência na suscetibilidade da abacaxi ao escurecimento
interno, sendo que os frutos com pesos de 1500 a 1799g(categoria2), foram os mais
suscetíveis.
- Os frutos mais sensíveis ao escurecimento interno caracterizaram-se
principalmente por apresentar uma maior atividade de polifenoloxidade.
80

- O teor de compostos fenólicos extraíveis em metanol e a atividade peroxidástica


foram maiores nos frutos mais resistentes ao escurecimento interno.
- Os frutos refrigerados apresentaram maior atividade de polifenoloxidase e
peroxidase e menores teores de compostos fenólicos, comparados aos frutos não
refrigerados.
THÉ et al. (2001), analisando modificações enzimática em abacaxi 'Smooth
Cayenne', concluiu que a refrigeração intensifica a atividade enzimática quando os
frutos atingiram estágios de maturação mais avançados.
Diversos mecanismos têm sido propostos para prevenir ou retardar o
escurecimento de tecidos vegetais causado pela ação das polifenoloxidases. O
tratamento dos frutos com CaCl, reduz o escurecimento interno; este efeito aumenta
quando associado ao tratamento hidrotérmico (BOTREL et al., 2000).
Um outro problema surgido na cultura do abacaxi, citado por BOTREL et
al. (2002), é a mancha de-chocolate, cuja causa ainda é desconhecida. Tem-se detectado
este problema em abacaxis produzidos nos Estados do Tocantins, Maranhão e Pará, e no
inicio do período chuvoso. A incidência da mancha-chocolate se intensifica à medida
que o fruto vai amadurecendo.
81

11.3. REFERÊNCIAS

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Fruticultura, 2002. CD-Rom.

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VELOSO, C. A. C.; OEIRAS, A. H. L.; CARVALHO, E. J. M.; SOUZA, F. R. S. de. Resposta


do abacaxizeiro à adição de nitrogênio, potássio e calcário em latossolo amarelo do Nordeste
Paraense. Revista Brasileira de Fruticultura, Jaboticabal - SP, v. 23, n. 2, p. 396-402, 2001.
83

12. PROCESSAMENTO
Nilson Gomes Jaime
Simone Silva Machado

Embora no Brasil prevaleça o consumo in natura, o abacaxi é um dos frutos


de maior aproveitamento industrial no mundo. CARVALHO & CLEMENTE (1981),
constataram que as compotas de abacaxi ocupavam a segunda posição, no mercado
mundial, após a compota de pêssego, situação que perdura ainda hoje.
De acordo com DE MARTIN et al (1978), os principais produtos da
industrialização do abacaxi, tanto no Brasil quanto no exterior, são a fruta em calda e
sucos pasteurizados, seguida pelas geléias. Muitos outros produtos podem ser obtidos a
partir do abacaxi, como etanol de uso farmacêutico, vinhos, ácido cítrico, vinagre,
amido comercial, bromelina e rações (CARVALHO et al., 1981).
Os restos culturais do abacaxi podem ser aproveitados industrialmente.
FREIMAN & SABAA SRUR (1999) relatam que um hectare de abacaxizeiro smooth
cayenne produz cerca de 15,4 toneladas de soqueira seca. Seu aproveitamento industrial
possui potencial relevante, já que o resíduo tem uma composição química rica,
destacando-se os altos teores de amido, proteína e enzimas proteolíticas, como as
bromelinas.
A produção atual de abacaxi é quase toda destinada ao mercado interno, no
qual predomina o consumo in natura com 65% do total, os 35% restantes são
industrializados em forma de compota, sucos, xarope, geléia, doces diversos, vinagre,
vinho e licor. O volume de exportação não passa de 2%, sendo 0,22% em forma
processada, o que confere ao Brasil a 6ª posição no mercado mundial de exportação. Ao
contrário do que ocorre no Brasil, 2/3 da produção mundial de abacaxi são
industrializados, principalmente em forma de compota (CARVALHO & CUNHA,
1999).
O abacaxi é muito apreciado pelas suas qualidades organolépticas, sendo um
refrigerante de reconhecidas qualidades digestivas, devido à atividade proteolítica da
bromelina. De acordo com SALES (1980), seu valor nutritivo resume-se praticamente
ao seu valor energético, já que possui altos teores de açúcares em sua base seca, sendo
66% de sacarose e 34% de glicose e frutose.
Segundo BLEINROTH (1978), o abacaxi possui composição química muito
variável, já que a fruta é formada por 100 a 200 bagas ou frutilhos, que apresentam
84

maturação desuniforme. Os teores de vitaminas A, B e C são baixos em relação a outras


fontes. Possui teores razoáveis de minerais, como potássio, cálcio, fósforo e magnésio
mas baixos teores de proteínas e lipídeos.(CARVALHO & CUNHA, 1999).
A qualidade dos frutos é atribuída às suas características físicas,
responsáveis pela aparência externa, coloração da casca, tamanho e forma do fruto que
determinam a sua aceitabilidade. A qualidade interna dos frutos e suas características
físicas são relevantes, sendo conferidas por um conjunto de constituintes físico-
químicos da polpa responsáveis pelo sabor e aroma característicos dos frutos. A
ausência de injúrias de natureza fisiológica ou ainda infecção por microrganismos e
ataque de pragas terão função importante na aceitação do fruto para a industrialização
(CARVALHO & BOTREL, 1996).
Para a indústria, os frutos devem ter de 1,6 a 1,8 kg, devendo-se observar
também suas dimensões, principalmente o diâmetro e a forma (CARVALHO &
CUNHA, 1999). A acidez é um dos aspectos primordiais na qualidade quanto ao sabor
do fruto, sendo bastante influenciada tanto pelas condições ambientais, quanto pela
própria planta -variedade, fase de maturação, manejo da cultura e adubação. A acidez é
representada principalmente pelos ácidos cítrico (87% da acidez total) e málico (13%).
Além desses, ainda são encontrados o ascórbico e o oxálico, porém em concentrações
bem mais baixas (CARVALHO & CUNHA, 1999).
No desenvolvimento da cultura, numerosos fatores, tanto genéticos como
agronômicos afetam o tamanho, o peso e a forma do fruto, o tamanho e o peso da coroa,
a cor externa do fruto, o grau e a velocidade de maturação, que por sua vez afeta de
forma marcante a cor e a quantidade de suco, assim como os teores de ácidos e açúcares
da polpa (MORETTI & HINOJOSA, 1982). Todos os fatores mencionados são de
natureza complexa e interdependentes, por esta razão, do ponto de vista tecnológico, é
muito interessante comentar os efeitos de alguns destes fatores na produção de
compotas e suco de abacaxi

12.1. CARACTERÍSTICAS DESEJÁVEIS PARA INDUSTRIALIZAÇÃO

As características desejáveis para a industrialização levam em conta a


produção integrada de vários produtos, sendo o abacaxi em compota o “mais nobre”. O
padrão de abacaxi em compota baseia-se no Codex alimentarius, sendo o padrão para a
produção e a comercialização de abacaxi no mercado mundial.
85

12.1.1. Cultivares
Das cultivares mais plantadas no Brasil, a pérola é destinada
prioritariamente ao consumo in natura, enquanto a Smooth Cayenne, ou havaí, é mais
adequada à industrialização (CARVALHO & CUNHA, 1999). Em indústrias voltadas
para a produção de abacaxi em conserva, a variedade é muito importante, tanto pelo
padrão de identidade do produto ideal para o mercado, com cor mais amarela e maior
ratio brix-acidez, quanto pelo formato do fruto do abacaxi havaí, mais cilíndrico.
Esta exigência do mercado não desqualifica as demais variedades,
principalmente a pérola, muito cultivada no Brasil, de aproveitamento para indústria.
Por seu alto teor de sólidos solúveis e acidez mediana, além de alto teor de suco, a
pérola pode ser utilizada na fabricação de geléias, polpa de fruta, sucos, abacaxi-passa e
doces em massa e cristalizados.

12.1.2. Características físicas dos frutos

12.1.2.1. Tamanho
Segundo BLEINROTH (1978), o tamanho e a uniformidade é importante
para a indústria, pois tamanhos e diâmetros diferentes afetam a regulagem das
máquinas, principalmente a ginaca, utilizada para o descascamento e o corte dos frutos
para conservas.
De acordo com (CARVALHO & CUNHA, 1999), os frutos são
classificados quanto ao diâmetro em grandes, com diâmetros superiores a 12,7 cm;
médios, com diâmetros de 7,6 a 12,7 cm e; pequenos, quando seus diâmetros são
menores que 7,6 cm. Dos frutos maiores serão obtidas fatias de maior diâmetro, ou seja,
frutos classificados como de melhor qualidade.

12.1.2.2. Forma
A preferência industrial é dada aos frutos de forma cilíndrica, como o
Smooth Cayenne. Esse formato propicia menores perdas no processamento, graças ao
maior aproveitamento das extremidades dos frutos e à maior uniformidade de diâmetro
de fatias (BLEINROTH, 1978).

12.1.2.3. Coloração da polpa


A coloração do abacaxi varia de acordo com a cultivar e outros fatores que
86

exercem influência na sua maturação. Enquanto que a coloração da casca está


relacionada com a maturação e condições climáticas e de sanidade da fruta
(GONÇALVES & CARVALHO, 2000), a coloração da polpa é uma característica
inerente à cultivar.
A coloração dos frutos de polpa amarela são os preferidos para qualquer
forma de industrialização, embora polpa branca não desqualifique os frutos para a
fabricação de certos produtos, como as polpas congeladas.

12.1.3. Características químicas dos frutos


É de grande importância para a indústria que a polpa tenha uma relação
adequada entre açúcares e ácidos, o que resultará em melhor sabor. Para tanto, o teor de
sólidos solúveis não deve ser inferior a 10,5º Brix e o teor de acidez não superior a
1,35%, expresso em ácido cítrico, além da relação sólidos solúveis/acidez não inferior a
12% (CARVALHO & CLEMENTE, 1981).
A cultivar utilizada e o grau de maturação dos frutos no momento do
processamento são fatores que exercem influência acentuada na composição química do
fruto e, conseqüentemente, na qualidade do produto processado. O grau de maturação
dos frutos, no momento do processamento, depende do estádio de maturação em que foi
feita a colheita (CARVALHO & CLEMENTE, 1981).
Segundo CARVALHO & CLEMENTE (1981), em função do tempo
transcorrido entre a colheita e a industrialização, que depende da distância e do
transporte usado, o abacaxi pode ser colhido em um dos seguintes estádios de
maturação:
a) desenvolvidos “de vez”, quando o aproveitamento industrial não for
imediato; ou
b) desenvolvidos maduros, quando os frutos estiverem plenamente
amadurecidos, porém com textura firme e forem industrializados de
imediato.

Sendo o abacaxi um fruto composto, possui uma variação significativa nas


características organolépticas de um mesmo fruto, apresentando, portanto, uma
heterogeneidade natural nas rodelas obtidas no processamento de compotas. É de
essencial importância, portanto, os cuidados dispensados durante a colheita, transporte e
seleção que permitem às indústrias receberem frutos da melhor qualidade possível, ou
87

seja, sem machucaduras, em bom estado sanitário e, especialmente, com grau uniforme
de maturação (MORETTI & HINOJOSA, 1982).
Na produção de suco, a heterogeneidade natural do abacaxi não tem a
mesma importância que na fabricação de conservas. Durante o processo de elaboração
de suco, se produz um alimento “fluido” que pode ser facilmente submetido a
armazenamento e homogeneização em tanques, bem como, a operações de ajuste dos
teores de açúcares e ácidos (MORETTI & HINOJOSA, 1982).
Na fabricação deste produto, o estágio de maturação e o peso do fruto são
muito importantes, pela influência que estes fatores têm na qualidade de suco disponível
e no teor de sólidos solúveis do mesmo. Estes fatores são de grande significado
econômico, especialmente se a indústria processa suco concentrado, pois podem afetar
diretamente os rendimentos e os custos operacionais (MORETTI & HINOJOSA, 1982).
É evidente, portanto, a importância que tem para a indústria o fato da
colheita ser efetuada no período ótimo de maturação da matéria-prima, período em que
os açúcares, os ácidos orgânicos, os carotenóides e o peso do fruto atingem seu
equilíbrio e o teor máximo. Após este período estes mesmos componentes decrescem e
se deterioram rapidamente (MORETTI & HINOJOSA, 1982).
Nas grandes indústrias, o abacaxi é processado de forma integrada, ou seja,
não há indústria que trabalhe com apenas um ou dois produtos. O objetivo é tirar o
máximo rendimento do fruto. Se o produto principal é o fruto em calda, têm
importância secundária, numa fábrica, os sucos simples e concentrados e, finalmente, os
subprodutos, como o suco da casca e demais resíduos e as rações (CARVALHO &
CUNHA, 1999).

12.2. ABACAXI EM CALDA


Compota de abacaxi ou abacaxi em calda é o produto obtido de frutas em
pedaços ou inteiras, submetidas a cozimento incipiente, enlatadas ou envidradas,
praticamente cruas e cobertas com calda de açúcar. Depois de fechado em recipientes, o
produto é submetido a tratamento térmico adequado (CAMPOS, 1980).
A fabricação de compota de abacaxi segue os passos citados no fluxograma
da figura 1.
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Colheita

Transporte

Recepção

Classificação

Lavagem e sanificação

Descascamento

Seleção

Corte

Seleção

Acondicionamento

Exaustão

Fechamento

Pasteurização

Resfriamento

Fonte: JAIME, 2002 (adaptado de DE MARTIN et al., 1978).


Figura 1. Fluxograma de fabricação de compota de abacaxi.

O Codex Alimentarius da FAO (1970), corroborado por CAMPOS (1980), e


CARVALHO & CLEMENTE (1981), faz a seguinte classificação dos estilos do
abacaxi em calda:
a) inteiros: unidades inteiras, cilíndricas, sem a porção central;
b) fatias (slices): fatias circulares, cortadas uniformemente ao eixo central
do cilindro, sem o talo central;
c) meias fatias (halves): metades das fatias;
89

d) quarto de fatias: porção de ¼ das fatias uniformemente cortadas;


e) fatias quebradas: porções em forma de arco;
f) taliscas (spears): pedaços longos cortados radialmente e paralelos ao
cilindro da fruta;
g) pedacinhos (tidbits): pedaços em forma de cunha, variando de 8 a 13mm;
h) bocados (chuncks): pedaços grossos, cortados de fatias espessas, com
12mm de espessura e largura e menos de 38mm
i) cubos (dice): pedaços em forma de cubos, com 14mm ou menos;
j) polpa (crushed): unidades cortadas, raladas ou fragmentadas a partir da
polpa aderida às cascas ou do cilindro central.

12.3. SUCO
De acordo com CAMPOS (1980), suco de abacaxi é o líquido límpido ou
turvo, extraído do abacaxi através de processo tecnológico adequado, não fermentado,
de cor, aroma e sabor característicos, submetido a tratamento que assegure a sua
apresentação e conservação até o momento do consumo.
A produção de suco simples pasteurizado e suco concentrado é realizada
através de uma seqüência de operações, nas quais se utilizam equipamentos específicos.
A maioria das operações preliminares são semelhantes às utilizadas na fabricação de
abacaxi em conservas. Algumas operações são descritas a seguir.
De acordo com MORETTI & HINOJOSA (1982), para a obtenção de um
suco de boa qualidade, a extração deve ser feita apenas da parte comestível, e por esta
razão a matéria prima após a lavagem é submetida a um processo de preparação onde
são realizados o descascamento do fruto e a recuperação da polpa da casca
A trituração possibilita a extração do suco, ao desintegrar a estrutura celular
do material. A seguir, o material é armazenado num tanque, na parte inferior do
triturador (MORETTI & HINOJOSA, 1982).
O tratamento térmico ou branqueamento, consiste num pré-aquecimento
contínuo da polpa, sendo que o material previamente triturado é bombeado através de
um pré-aquecedor tubular onde atinge 62º- 65ºC. Esse tratamento térmico possui as
seguintes funções, de acordo com MORETTI & HINOJOSA (1982):
a) inativação microbiana e enzimática, evitando reações bioquímicas
indesejáveis que alteram as características do suco;
90

b) eliminação parcial do ar naturalmente presente ou incorporado no


material triturado, evitando oxidações desnecessárias e preservando a
vitamina C e os carotenóides;
c) preparar a estrutura fibrosa do material para uma extração mais eficiente
do suco, melhorando com isto os rendimentos da extração.
A separação da polpa e refinação do suco é realizada num equipamento
chamado despolpadeira-refinadeira, que corresponde tecnicamente a um grupo de
extração de dois estágios. No primeiro são removidas as partes mais grosseiras da polpa
e no segundo estágio remove-se o teor de polpa necessário para a obtenção do tipo de
suco desejado (MORETTI & HINOJOSA, 1982).
PELEGRINE et al. (2000) verificaram que a polpa de abacaxi integral
apresenta tendência de sedimentação devido à razão quase que constante de viscosidade
aparente em relação à sua fração centrifugada, fato que pode causar problemas de
qualidade ao longo da vida de prateleira do suco.
Durante a prensagem a polpa é submetida a uma segunda extração. O suco
recuperado nesta etapa é retornado ao grupo de extração, para acabamento final. No
caso de suco simples, se faz o ajuste da relação °Brix/acidez para 18 a 20 do líquido
extraído, que é em seguida pasteurizado e engarrafado por enchimento a quente
(MORETTI & HINOJOSA, 1982).
Para obtenção do suco concentrado, há uma concentração do suco, onde a
maior parte da água é removida por evaporação, concentrando os sólidos solúveis de 10
a 15°Brix iniciais para 65°Brix finais (MORETTI & HINOJOSA, 1982). O processo é
finalizado com a pasteurização do suco, seguido de resfriamento.

12.4. SUBPRODUTOS
12.4.1. Calda
Obtida da prensagem da casca e das extremidades do fruto, usada no
preparo de xarope e geléias (CARVALHO & CUNHA, 1999).

12.4.2. Enzimas proteolíticas


As folhas, caules e raízes do abacaxizeiro têm sido utilizados para a
obtenção de bromelina, que é largamente utilizada na indústria alimentar (amaciamento
de carnes, cervejarias, etc.), na indústria farmacêutica (CARVALHO & CLEMENTE,
91

1981) e como agente depilante na preparação do couro (CARVALHO & CUNHA,


1999).
Pode ainda ser utilizada na produção de pães e biscoitos a partir de farinhas
de trigo de alto teor protéico, na produção de ovos desidratados, na preparação de leite
de soja e isolados protéicos; na medicina é utilizada na digestão de vermes, na suturação
de feridas, nas queimaduras, para solubilizar mucos e melhorar a eficiência de raios-X
no útero, como antiinflamatório de origem vegetal em cirurgias e, por último, tem sido
estudado sua eficiência na inibição do desenvolvimento de células cancerígenas
(FREIMAN & SABAA SRUR, 1999).
FREIMAN & SABAA SRUR (1999) determinaram do escore de
aminoácidos de bromelinas extraídas das várias partes do abacaxizeiro, casca, folha,
caule, coroa e polpa, onde mostraram que o maior teor de proteínas é na bromelina
extraída da coroa.

12.4.3. Ácidos orgânicos


Podem ser obtidos do fruto e da planta. Por ordem de importância e
facilidade de extração, os principais ácidos obtidos do abacaxi são o cítrico, málico e
ascórbico (CARVALHO & CUNHA, 1999).

12.4.4. Ração
É obtida através da prensagem e secagem do resíduo integral do suco e da
parte sólida resultante da prensagem para produção da calda. Há o aproveitamento dos
açúcares, sais minerais, fibra e outros componentes nutricionais (MORETTI &
HINOJOSA, 1982). Pode também ser obtida a partir das folhas, das coroas e do caule
(CARVALHO & CUNHA, 1999).

12.4.5. Álcool etílico


O abacaxi, como toda planta rica em carboidratos, como açúcares e amido, é
fonte potencial de substrato para fabricação de álcool etílico. A viabilidade econômica,
no entanto, quando comparada com outras matérias primas, mostra que esta é uma fonte
apenas alternativa, podendo ser utilizada para aproveitamento de resíduos ou em
situações extremas de falta de outras fontes de carboidratos.
O valor percentual de açúcares totais do resíduo industrial de 6,57% e do
resíduo agrícola (talo + folhas), de 4,33%, são inferiores ao valor médio de 13%
92

apresentado pelo sorgo e ao de 16% da cana-de-açúcar. Porém, quando comparada à


composição em carboidratos por hectare, a situação se inverte e o abacaxizeiro passa a
sobressair como promissora matéria-prima para a produção de álcool etílico
(CARVALHO & CLEMENTE, 1981), principalmente por se tratar de cultura altamente
rentável e adaptável às áreas de baixa fertilidade e limitada capacidade de suprimento de
água (CARVALHO & CUNHA, 1999).
93

12.5. REFERÊNCIAS

BLEINROTH, E.W. Matéria-prima. In: MEDINA, J.C.; BLEINROTH, E.W.; DE MARTIN,


SOUZA JR, A. J.; LARA, J. C. C.; HASHIZUME, T.; MORETTI, V. A..; MARQUES, J. F.
Abacaxi: da cultura ao processamento e comercialização. Campinas: ITAL, 1978. p.69-94.
(Série frutas tropicais, nº 2)

CAMPOS, S.D.S. de. Controle de qualidade: padrões para produtos de frutas tropicais. In:
MEDINA, J. C. (coord.). Alguns aspectos tecnológicos das frutas tropicais e seus produtos.
Campinas: ITAL, 1980. p. 145-198. (Série frutos tropicais Nº 10).

CARVALHO, V. D. de; CLEMENTE, P. R. Qualidade, colheita, industrialização e consumo de


abacaxi. Informe Agropecuário, Belo Horizonte, fev. 1981, p. 37-42.

CARVALHO, V. D.; BOTREL, N. Características da fruta de exportação. In: NETTO, A. G.;


DE CARVALHO, V.D.; BOTREL, N.; BLEINROTH, E.W.; MATALLO, M.; GARCIA, A. E.;
ARDITO, E. F. G.; GARCIA, E. E. C.; BORDIN, M. R. Abacaxi para exportação:
procedimento de colheita e pós-colheita. Brasília, Embrapa-SPI, FRUPEX, 1996, p. 7-15.

CARVALHO, V. D.; CUNHA, G. A. P. da. Produtos e usos. In: CUNHA, G. A. P. da;


CABRAL, J. R.; SOUZA, L. F. S. O abacaxizeiro: cultivo, agroindústria e economia. Brasília:
Embrapa, Mandioca e Fruticultura, 1999. p. 389-402.

DE MARTIN, Z. J.; SOUZA JR., A. J.; DE LARA, J. C. C.; HASHIZUME, T. Processamento:


produtos e subprodutos, características e utilização. In: MEDINA, J.C.; BLEINROTH, E.W.;
DE MARTIN, SOUZA JR, A. J.; DE LARA, J. C. C.; HASHIZUME, T.; MORETTI, V. A..;
MARQUES, J. F. Abacaxi: da cultura ao processamento e comercialização. Campinas: ITAL,
1978. p. 95-134. (série frutas tropicais, nº 2)

FAO/WHO Codex alimentarius: methods of analysis for processed fruits and vegetables,
CAC/RM-36, 1970. Determination of drained weight - method I.

FREIMAN, L.O.; SABAA SRUR, A.U.O. Determinação de proteína total e escore de


aminoácidos de bromelinas extraídas dos resíduos do abacaxizeiro (Ananas comosus, (L.)
Merril). Ciência e Tecnologia de Alimentos, Campinas, v.19, n.2, maio/ago, 1999.

GONÇALVES, N.B.; CARVALHO, V. D. Características da fruta. In: GONÇALVES, N. B.


(organ.) Abacaxi: pós-colheita. 1a. ed. Brasília: EMBRAPA, 2000. p.13-27. (frutas do Brasil).

MORETTI, R. H.; HINOJOSA, R. Industrialização do abacaxi. In: SIMPÓSIO BRASILEIRO


SOBRE ABACAXICULTURA, 1°, Jaboticabal, FCVA, dezembro, 1982, p. 301-319.

PELEGRINE, D.H.; VIDAL, J.R.M.B.; GASPARETTO, A. Estudo da viscosidade aparente das


polpas de manga e abacaxi. Ciência e Tecnologia de Alimentos, Campinas, v.20 n.1, abril,
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SALES, A.M. Considerações sobre o valor nutritivo das frutas tropicais. In: MEDINA, J. C.
(coord.). Alguns aspectos tecnológicos das frutas tropicais e seus produtos. Campinas:
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