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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MATO GROSSO DO SUL

UNIDADE UNIVERSITÁRIA DE AQUIDAUANA


PÓS-GRADUAÇÃO EM AGRONOMIA

APOSTILA: NITROGÊNIO NO SOLO

Neder Henrique Martinez Blanco

AQUIDAUANA – MS
ABRIL – 2019
SUMÁRIO

Introdução................................................................................................ 1

O Ciclo do Nitrogênio.............................................................................. 2

Mineralização e Imobilização do Nitrogênio no Solo.......................... 3

Nitrificação e Desnitrificação................................................................. 4

Fixação de Nitrogênio............................................................................. 5

Funções do Nitrogênio........................................................................... 5

Deficiência de Nitrogênio....................................................................... 6

Fontes de Nitrogênio.............................................................................. 6

Estudo de Caso....................................................................................... 9

Referências Bibliográficas..................................................................... 10

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INTRODUÇÃO

A agricultura brasileira passou por grandes avanços nas últimas décadas,


obtendo aumentos significativos na produtividade das culturas. O
desenvolvimento do setor se deve às inovações nas técnicas e tecnologias
aplicadas para a produção vegetal.
Um dos principais componentes para se obter a máxima produção e a
qualidade ótima dos produtos agrícolas é o status nutricional da planta. Essa
condição é satisfeita de forma ideal pelo manejo apropriado do solo e o
suprimento adequado de corretivos e fertilizantes.
A agricultura que visa altas produtividades pressupõe a utilização racional
de fertilizantes, buscando suprir a demanda nutricional das plantas e obter boa
qualidade dos produtos, aumentando-se a rentabilidade. Neste sentido, é
indispensável conhecer os elementos essenciais para o desenvolvimento das
plantas.
É importante lembrar que há dezessete elementos químicos considerados
essenciais para o desenvolvimento da planta. Eles são divididos em dois grupos
principais: os não minerais e os minerais.
Os nutrientes não minerais são o carbono (C), o hidrogênio (H) e o
oxigênio (O), que são encontrados na atmosfera e na água, participando da
fotossíntese das plantas.
Os nutrientes minerais que são fornecidos pelo solo estão divididos em
três grupos: macronutrientes primários e secundários e micronurientes. Esses
nutrientes são:

Macronutrientes primários Micronutrientes

Nitrogênio (N) Boro (B)

Fósforo (P) Cloro (Cl)

Potássio (K) Cobre (Cu)

Ferro (Fe)

Macronutrientes secundários Manganês (Mn)

Cálcio (Ca) Molibdênio (Mo)

Magnésio (Mg) Níquel (Ni)


Zinco (Zn)
Enxofre (S)
Além dos nutrientes citados, há quatro nutrientes adicionais que podem
ser considerados como essenciais para algumas plantas, sendo eles: sódio (Na),
cobalto (Co), vanádio (V) e silício (Si).
Embora todos os nutrientes sejam indispensáveis para o desenvolvimento
vegetal, esta apostila abordará o nitrogênio no contexto da fertilidade dos solos.

O CICLO DO NITROGÊNIO

O nitrogênio é um elemento fundamental na composição das plantas,


estando envolvido com a coordenação e controle de atividades metabólicas.
Contudo, mesmo que grande parte da atmosfera seja composta por nitrogênio
em sua forma gasosa (N2), a maior parte dos organismos é incapaz de absorvê-
lo nessas condições. A quantidade de nitrogênio presente nos minerais que
formam os solos é muito pequena. O N pode ocorrer no solo em três formas
principais:

 N-orgânico, como parte da matéria orgânica do solo, não estando


disponível para a planta em crescimento;
 N amoniacal, fixado pelos minerais argilosos, que é disponibilizado
lentamente disponível para as plantas;
 N inorgânico, que é o N que as plantas usam, principalmente como íons
de amônio e nitrato ou compostos solúveis.

A transição do nitrogênio do ar para o solo é realizada através da atividade


de organismos capazes de realizar a assimilação do N atmosférico (Figura 1).
Em seguida, uma série de processos ocorrem, passando pela conversão do N
em formas assimiláveis pelas plantas, até seu retorno para a atmosfera. O ciclo
do nitrogênio pode ser dividido em algumas etapas:

 Fixação: A transformação do nitrogênio gasoso em amônia e nitrato. Os


organismos fixadores são bactérias, que retiram o nitrogênio do ar fazendo com
que este reaja com o hidrogênio para formar amônia;
 Amonificação: Formação de amônia é proveniente do processo de
decomposição das proteínas e outros resíduos nitrogenados, contidos na

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matéria orgânica morta e nas excretas. Decomposição ou amonificação é
realizada por bactérias e fungos;
 Nitrificação: Processo de conversão da amônia em nitratos;
 Desnitrificação: As bactérias desnitrificantes, são capazes de converter
os nitratos em nitrogênios molecular, que volta à atmosfera fechando o ciclo.

Figura 1. O ciclo do nitrogênio.

MINERALIZAÇÃO E IMOBILIZAÇÃO DO NITROGÊNIO NO SOLO

No solo, há uma maior proporção de nitrogênio não disponível (orgânico)


e uma menor proporção de nitrogênio disponível (inorgânico), como ilustrado na
Figura2. Nesse sentido, o processo de conversão de nitrogênio orgânico em
formas disponíveis é importante para o desenvolvimento das plantas. Este
processo é chamado de mineralização.

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Figura 2. A maior parte do N do solo está no depósito orgânico e não está
prontamente disponível para o uso pelas plantas.

A mineralização do N é compreendida como a conversão do N-


orgânico em sua forma inorgânica. Esse processo ocorre à medida que os
microrganismos decompõem material de origem orgânica. O primeiro produto
dessa transformação no solo é o amônio (NH4+), contudo, o NH4+ é oxidado até
NO3- pelos microrganismos nitrificantes. Assim, a mineralização do N é avaliada
por meio das medidas de NH4+ e NO3- no solo.
O processo reverso, de nitrogênio inorgânico a orgânico, também
pode acontecer, sendo chamado de imobilização. A imobilização acontece
quando há incorporação no solo de resíduos vegetais com alto teor de carbono
e baixo teor de nitrogênio. A presença desses resíduos faz com que os
microrganismos do solo utilizem o nitrogênio inorgânico do solo ao longo do
processo de decomposição dos resíduos.
Os processos de imobilização e mineralização ocorrem simultaneamente
nos solos. As mudanças em direção ao depósito orgânico ou inorgânico é
dependente da relação Carbono/Nitrogênio (C/N), que favorece a imobilização
quando alta e a mineralização quando baixa. A proporção da relação C/N é
definida pela origem do resíduo utilizado.

NITRIFICAÇÃO E DESNITRIFICAÇÃO

O processo de mineralização do nitrogênio tem o amônio (NH4+) como


produto inicial. No entanto, grande parte do N amoniacal do solo será
convertido em N nítrico por bactérias nitrificadoras, sob condições
favoráveis, em um processo chamado de nitrificação.

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A nitrificação é importante para a produção vegetal, pois o nitrato é
prontamente disponível para as culturas. Contudo, o nitrato é extremamente
móvel no solo, movimentando-se com a água livre, o que facilita sua lixiviação.
Além disso, os nitratos podem ser reduzidos a óxido nitroso (N2O) ou N
elementar (N2) e perdidos para a atmosfera, em um processo chamado de
desnitrificação.
A desnitrificação acontece em solos com alto teor de matéria orgânica e
baixa disponibilidade de oxigênio. Em situações como essa, os microrganismos
utilizam nitrato e nitrito como aceptores de elétrons na oxidação da matéria
orgânica, ocorrendo a remoção do nitrogênio do solo na forma de gás.

FIXAÇÃO DE NITROGÊNIO

O processo de fixação ocorre quando o nitrogênio atmosférico se


combina com o hidrogênio, sendo incorporado em compostos orgânicos
nitrogenados do solo.
A fixação biológica do nitrogênio pode ocorrer de forma simbiótica ou não
simbiótica. A fixação simbiótica é realizada por bactérias que vivem em
associação com a planta hospedeira, em uma situação de mutualismo. As
bactérias do gênero Rhizobium são as principais representantes do grupo. Por
outro lado, a fixação não simbiótica é realizada por bactérias de vida livre
no solo, em proporções menores do que a fixação simbiótica.

FUNÇÕES DO NITROGÊNIO

O nitrogênio (N) é essencial para o desenvolvimento vegetal, pois é parte


de cada célula viva. As plantas exigem grandes quantidades deste nutriente,
que pode ser encontrado em altas concentrações na matéria seca dos vegetais.
De maneira geral, é observado em maiores concentrações nos tecidos das
leguminosas.
As plantas geralmente absorvem (e transportam) a maior parte de suas
exigências em nitrogênio nas formas de nitrato (NO3-) ou amônio (NH4+).

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Uma vez absorvido, o nitrogênio é reduzido e incorporado em compostos
orgânicos.
O nitrogênio é abundantemente encontrado nas plantas como um
peptídeo ligado as proteínas, uma ligação muito estável, pois sua configuração
eletrônica permite fortes ligações covalentes com dois átomos adjacentes de C.
Dessa forma, o N é constituinte de aminoácidos, nucleotídeos, coenzimas,
vitaminas, clorofila, alcalóides e outros.
A ausência desse elemento afetará principalmente a síntese protéica, com
consequências no crescimento e na fotossíntese. A inibição da síntese de
clorofila impedirá a utilização da luz solar como fonte de energia pela planta.
Plantas com níveis adequados de N apresentam folhas de coloração verde
escura, com folhagem suculenta.

DEFICIÊNCIA DE NITROGÊNIO

A baixa disponibilidade de nitrogênio para a planta afetará principalmente


a síntese proteica. Nesse sentido, os sintomas de deficiência serão notados
na forma de clorose das folhas mais velhas, levando-se em consideração a
alta mobilidade do nitrogênio na planta.
A deficiência de nitrogênio pode ocorrer em plantas em áreas pobres em
matéria orgânica. Solos com elevada acidez, que proporcionam menores taxas
de mineralização, podem reduzir a disponibilidade de N. Além disso, a
precipitação é um fator chave na disponibilidade do nutriente no solo, uma vez
que alta precipitação pode ocasionar a lixiviação do nitrogênio, enquanto secas
prolongadas podem afetar sua absorção por fluxo de massa.

FONTES DE NITROGÊNIO

O aporte de nitrogênio nos sistemas agrícolas pode ser obtido


através de da deposição atmosférica, a fixação biológica do N2 atmosférico,
a mineralização do N-orgânico do solo e fertilização nitrogenada.
A decomposição da matéria orgânica fornece a maior parte do nitrogênio
do solo, todavia, a maioria dos solos contém pouca matéria orgânica. O sistema

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de plantio direto tem o objetivo de proporcionar o aumento da matéria orgânica
do solo, com alterações nas condições físicas, químicas e biológicas do solo.
No entanto, a disponibilização adequada de N para as plantas depende
do entendimento das técnicas utilizadas, da dinâmica do nutriente nos solos e
nos sistemas agrícolas e também da fonte de nitrogênio utilizada.
Os fertilizantes nitrogenados utilizados hoje são, em sua maioria,
provenientes da fixação sintética (industrial) do nitrogênio atmosférico em formas
amoniacais, que podem ser posteriormente processados em outros compostos,
como vistos a seguir:
 Amônia anidra – esta fonte contém a maior proporção de nitrogênio entre
os fertilizantes encontrado no mercado (82%). A amônia anidra é armazenada
sob pressão, como um líquido, e é aplicada ao solo normalmente por mistura na
água de irrigação, em sistemas de inundação ou sulcos

 Aqua amônia e soluções de nitrogênio – obtida através da dissolução


de gás amônia em água. As soluções de nitrogênio contendo ureia e nitrato de
amônio (URAN) têm maiores concentrações de nitrogênio do que as soluções
de cada um desses produtos isolados.

 Nitrato de amônio - contém 32% de nitrogênio, metade na forma


amoniacal (NH4+) e metade na forma nítrica (NO3-). Este fertilizante é adequado
para misturas de produtos e recomendado para culturas que requerem
aplicações em cobertura.

 Fosfato de amônio - O fosfato de monoamônio (NH4H2PO4) e o fosfato


de diamônio [ (NH4)2HPO4) ] são comumente considerados como fontes mais
importantes de fósforo do que de nitrogênio.

 Ureia – esta fonte nitrogenada contém 44% de N na forma amídica, mas


não contém amônio em sua forma comercial. O processo de rápida hidrólise da
ureia no solo pode provocar perdas de nitrogênio por volatilização

 Sulfato de amônio - contendo 20% de nitrogênio e 22-24% de enxofre, o


sulfato de amônio tem sido mais utilizado com o aumento na frequência das
deficiências de enxofre.

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 Sulfonitrato de amônio - obtido pela mistura de soluções de nitrato e
sulfato de amônio, contendo 25% de N total, sendo 5% na forma nítrica e 20%
na forma amoniacal. Além disso, contém cerca de 15% de S.

 Nitrocálcio – esta fonte é o resultado da mistura de nitrato de amônio com


calcário finamente moído. Apresenta 20% de N total, sendo metade na forma
nítrica e metade na forma amoniacal, não tendo características acidificantes. A
mistura com o calcário fornece ainda 2 a 8% de Ca e 1 a 5% de Mg.

 Nitrato de sódio - o nitrato de sódio apresenta 15% de N na forma nítrica


e provém da extração e purificação de depósitos naturais de caliche no Chile.

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ESTUDO DE CASO

Caso 1:
Um produtor determina para o cultivo de trigo uma área caracterizada por
um Latossolo Vermelho distroférrico típico, com um perfil profundo, bem
drenado, coloração vermelho escuro, com altos teores de argila e predominância
de argilominerais 1:1 e oxi-hidróxidos de ferro e alumínio.
A área está localizada em uma região de altitude próxima a 400 metros e
clima subtropical úmido, com ocorrência de verões quentes e sem de estiagens
prolongadas. Além de invernos frios e úmidos, com ocorrência frequente de
geadas. A pluviosidade anual é registrada com valores próximos a 1600 mm
anuais, tendo as maiores precipitações no inverno.
A característica mais marcante da área é a ocorrência de um sistema de
semeadura direta consolidado, com dez anos de implantação. No período do
verão, a área é dividida em dois ambientes, ocupados com soja e com milho.
Foi selecionado o cultivar BRS – Guamirim, com característica super
precoce. Realizou-se adubação nitrogenada de base conforme o precedente
cultural estabelecido, sendo de 40 Kg.ha-1 e 60 Kg.ha-1 para a soja e o milho,
respectivamente.
Ao fim do cultivo, o rendimento de grãos para o trigo produzido na área de
soja foi de 2370 Kg.ha-1, enquanto os grãos produzidos em sucessão ao milho
tiveram rendimento de 2080 Kg.ha-1. O que ocasionou o menor rendimento em
sucessão ao milho, mesmo com maior adubação nitrogenada?

Resolução:
O cultivo de soja promove o aumento da disponibilidade de nitrogênio no
solo, devido à fixação biológica do elemento, além de deixar um resíduo vegetal
de fácil decomposição, devido à sua baixa relação C/N. Assim, o cultivo do trigo
em sucessão à soja proporciona uma boa produtividade, mesmo com menor
resposta ao nitrogênio aplicado. Por outro lado, o milho tem uma alta relação
C/N, o que torna seu resíduo de difícil decomposição e aumenta a demanda por
nitrogênio das culturas que o sucedem.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BUENO, R.F. Nitrificação e desnitrificação simultânea em reator com


biomassa em suspensão de fluxo de esgoto. 2011. Dissertação (Mestrado) –
Programa de Pós-Graduação em Saúde Pública, Universidade de São Paulo,
São Paulo. 143f.

CAIRES, E.F.; MILLA, R. Adubação nitrogenada em cobertura para o cultivo de


milho com alto potencial produtivo em sistema de plantio direto de longa duração.
Bragantia, Campinas v. 75, n. 1, p.87-95, 2016.

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semeadura do trigo no Paraná. Boletim de Pesquisa e Desenvolvimento, n. 8,
EMBRAPA Soja, Londrina, 2014.

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Tradução e adaptação de Alfredo Scheid Lopes. 2 ed., rev. e ampl. Piracicaba:
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KURTZ, C.; MENEZES JÚNIOR, F.O.G.; HIGASHIKAWA, F.S. Fertilidade do


solo, adubação e nutrição da cultura da cebola. Florianópolis. Epagri, 2018.
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LOPES, A.S.; GUILHERME, L.R.G. Fertilidade do Solo e Produtividade Agrícola.


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NETO, M.S.; PICCOLO, M.C.; VENZKE FILHO, S.P; FEIGL, B.J.; CERRI, C.C.
mineralização e desnitrificação do nitrogênio no solo sob sistema plantio direto.
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TORTORA, G.J.; FUNKE, B.R.; CASE, C.L. Microbiologia. – 10. ed. Porto
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