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Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária

Embrapa Solos
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

Zoneamento Agroecológico,
Produção e Manejo
para a Cultura da Palma
de Óleo na Amazônia

Editores Técnicos

PARTE I – Zoneamento Agroecológico para a Cultura da Palma de Óleo


(Dendezeiro) nas Áreas Desmatadas da Amazônia Legal
Antonio Ramalho Filho
Paulo Emílio Ferreira da Motta

PARTE II – Produção e Manejo Sustentáveis para a Cultura da Palma de Óleo


(Dendezeiro) na Amazônia
Pedro Luiz de Freitas
Wenceslau Geraldes Teixeira

Embrapa Solos
Rio de Janeiro – RJ
2010
Exemplares desta publicação podem ser adquiridos na:
Embrapa Solos
Rua Jardim Botânico, 1024
CEP 22460-000 Rio de Janeiro - RJ
Tel: (21) 2179-4500 Fax: (21) 2274-5291
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sac@cnps.embrapa.br

Supervisão gráfica: Agência 2A Comunicação

Revisão de texto: Marcia Lopes Mensor Lessa

Normalização bibliográfica: Ricardo Arcanjo de Lima

Editoração eletrônica: Agência 2A Comunicação

Foto da capa: João Batista Martiniano Pereira

Capa: Agência 2A Comunicação

1ª edição
1ª impressão (2010): tiragem 500 exemplares

Todos os direitos reservados.


A reprodução não autorizada desta publicação, no todo ou em
parte, constitui violação dos direitos autorais (Lei nº 9.610).
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Embrapa Solos

R165z Ramalho Filho, Antonio.


Zoneamento agroecológico, produção e manejo da cultura de
palma de óleo na Amazônia / editores: Antonio Ramalho Filho et al.
Rio de Janeiro: Embrapa Solos, 2010.
216 p.: il.
ISBN 978-85-85864-34-7
1. Zoneamento agroecológico. 2. Cultura da palma de óleo. 3. Produção
e Manejo Sustentáveis. I. Motta, Paulo Emílio Ferreira da. II. Freitas, Pedro Luiz
de. III. Teixeira, Wenceslau Geraldes. IV. Título. V. Série.

CDD (21.ed.) 631.47

© Embrapa 2010
Autores
Alessandra de Jesus Boari
Engenheira Agrônoma, Doutora em Fitopatologia
Pesquisadora – Embrapa Amazônia Oriental
ajboari@cpatu.embrapa.br

Alexandre Hugo Barros


Engenheiro Agrônomo, Doutor em Ciência do Solo
Pesquisador – Embrapa Solos
alex@uep.cnps.embrapa.br

Alexandre Ortega Gonçalves


Engenheiro Agrônomo, Mestre em Engenharia Agrícola
Pesquisador – Embrapa Solos
aortega@cnps.embrapa.br

Ana Paula Dias Turetta


Geógrafa, Doutora em Ciência do Solo
Pesquisadora – Embrapa Solos
anaturetta@cnps.embrapa.br

Antonio Agostinho Müller


Engenheiro Agrônomo, Mestre em Ecologia
Pesquisador aposentado – Embrapa Amazônia Oriental, a serviço da Fundação de Apoio à
Pesquisa e ao Desenvolvimento Agropecuário e Florestal da Amazônia (Diretor Técnico)
aamuller@globo.com

Antonio José de Abreu Pina


Engenheiro Agrônomo; Marborges Agroindústria S.A., Moju – PA
pina@marborges.com.br

Antonio Ramalho Filho


Engenheiro Agrônomo, Doutor em Planejamento de Uso das Terras (Ciências do Solo)
Pesquisador aposentado – Embrapa Solos (Consultor)
Coordenador 1 do Projeto Embrapa–MCT/Finep (ZAE-Dendê)
aramalhof@gmail.com

Edson Alves de Araújo


Engenheiro Agrônomo, Doutor em Solos e Nutrição de Plantas
Secretaria de Estado de Agricultura e Pecuária (SEAP),
a serviço da Secretaria de Estado de Meio Ambiente do Acre (SEMA), Rio Branco – AC
earaujo.ac@gmail.com

Edson Barcelos
Engenheiro Agrônomo, Mestre em Ecologia, Doutor em Biologia, Diversidade e Adaptação
de Plantas Cultivadas, Especialista na cultura de palma de óleo
Pesquisador – Embrapa Amazônia Ocidental
edson.barcelos@idam.am.gov.br

Emeleocípio Botelho de Andrade


Engenheiro Agrônomo, Mestre em Genética e Melhoramento de Plantas
Pesquisador aposentado – Embrapa Amazônia Oriental, a serviço da Fundação de Apoio à
Pesquisa e ao Desenvolvimento Agropecuário e Florestal da Amazônia (Presidente)
emeleocipio@gmail.com
Autores
Eufran Ferreira do Amaral
Engenheiro Agrônomo, Doutor em Solos e Nutrição de Plantas
Pesquisador – Embrapa Acre,
a serviço da Secretaria de Meio Ambiente do Estado do Acre (Secretário).
eufran@cpafac.embrapa.br

Gilvan Coimbra Martins


Engenheiro Agrônomo, Mestre em Solos e Nutrição de Plantas
Pesquisador – Embrapa Amazônia Ocidental
gilvan.martins@cpaa.embrapa.br

Jeferson Luis Vasconcelos de Macedo


Engenheiro Agrônomo, Mestre em Sistemas Agroflorestais
Pesquisador – Embrapa Amazônia Ocidental
jeferson.macedo@cpaa.embrapa.br

Jesus Fernando Mansilla Baca


Engenheiro Cartógrafo, Doutor em Geoprocessamento
Pesquisador – Embrapa Solos
jesus@cnps.embrapa.br

João Batista Martiniano Pereira


Engenheiro Agrônomo, Mestre em Solos e Nutrição de Plantas
Pesquisador – Embrapa Acre
batista@cpafac.embrapa.br

João Paulo Mastrângelo


Engenheiro Florestal, Mestre em Desenvolvimento Regional
Secretaria de Estado de Floresta (SEF), Rio Branco – AC
joaopaulo.santos@ac.gov.br

Luiz Eduardo Pizarro Borges


Engenheiro Químico, Doutor em Engenharia Química; Professor da Sessão de Engenharia
Química do Instituto Militar de Engenharia (IME), Rio de Janeiro – RJ
luiz@ime.eb.br

Margareth Simões Penello Meirelles


Engenheira, Doutora em Geografia e Geoinformática
Pesquisadora – Embrapa Solos no Labex Europa, Montpellier – França
margaret@cnps.embrapa.br

Maria do Rosário Lobato Rodrigues


Engenheira Agrônoma, Doutora em Solos e Nutrição de Plantas
Pesquisadora – Embrapa Amazônia Ocidental
rosário.lobato@cpaa.embrapa.br

Marie Elisabeth Christine Claessen


Bióloga, Mestre em Citogenética Vegetal
Pesquisadora aposentada – Embrapa Solos
bethclaessen@gmail.com

Mario Luiz Diamante Aglio


Geógrafo, Mestre em Cartografia Digital e Geoprocessamento
Assistente – Embrapa Solos
mario@cnps.embrapa.br
Autores
Mauricio Veloso Soares
Engenheiro Agrônomo – AGROSOL/Diocese do Alto Solimões; Projeto FINEP: Produção de
dendê/palma de óleo por agricultores familiares de Benjamin Constant/Atalaia do Norte – AM
mauriciovel@bol.com.br

Nilson Gomes Bardales


Engenheiro Agrônomo, Doutor em Solos e Nutrição de Plantas
Secretaria de Meio Ambiente do Acre (SEMA), Rio Branco – AC
nilsonbard@yahoo.com.br

Omar Cubas
Engenheiro Agrônomo
Bolsista – Embrapa Amazônia Ocidental
o_cubas@hotmail.com

Paulo César Teixeira


Engenheiro Agrônomo, Doutor em Fertilidade do Solo e Nutrição de Plantas
Pesquisador – Embrapa Amazônia Ocidental
paulo.teixeira@cpaa.embrapa.br

Paulo Emílio Ferreira da Motta


Engenheiro Agrônomo, Doutor em Ciência do Solo
Pesquisador – Embrapa Solos; Coordenador 2 do Projeto Embrapa–MCT/Finep (ZAE-Dendê)
motta@cnps.embrapa.br

Pedro Luiz de Freitas


Engenheiro Agrônomo, Doutor em Ciência do Solo
Pesquisador – Embrapa Solos
freitas@cnps.embrapa.br

Raimundo Nonato Carvalho da Rocha


Engenheiro Agrônomo, Doutor em Produção Vegetal
Analista – Embrapa Amazônia Ocidental
raimundo.rocha@cpaa.embrapa.br

Raimundo Nonato Vieira da Cunha


Engenheiro Agrônomo, Doutor em Genética e Melhoramento de Plantas
Pesquisador – Embrapa Amazônia Ocidental
raimundo.cunha@cpaa.embrapa.br

Ricardo Lopes
Engenheiro Agrônomo, Doutor em Genética e Melhoramento de Plantas
Pesquisador – Embrapa Amazônia Ocidental
ricardo.lopes@cpaa.embrapa.br

Rodrigo da Silva Guedes


Engenheiro Agrônomo, Mestre em Agronomia
Fiscal de Defesa Agrosilvopastoril – IDARON/Rondônia
agroguedes@hotmail.com

Ronaldo Ribeiro de Morais


Biólogo, Doutor em Ciências Biológicas
Pesquisador – Embrapa Amazônia Ocidental, Manaus – AM
ronaldo.morais@cpaa.embrapa.br
Autores
Rui Alberto Gomes Júnior
Engenheiro Agrônomo, Doutor em Genética e Melhoramento de Plantas
Pesquisador – Embrapa Amazônia Oriental
ruigomes@cpatu.embrapa.br

Tadário Kamel de Oliveira


Engenheiro Agrônomo, Doutor em Engenharia Florestal
Pesquisador – Embrapa Acre
tadario@cpafac.embrapa.br

Therezinha Xavier Bastos


Engenheira Agrônoma, Doutora em Climatologia
Pesquisadora aposentada – Embrapa Amazônia Oriental
txbastos@cpatu.embrapa.br

Uebi Jorge Naime


Engenheiro Agrônomo, Mestre em Ciência do Solo
Pesquisador aposentado – Embrapa Solos
uebijn@gmail.com

Walkymário de Paulo Lemos


Engenheiro Agrônomo, Doutor em Entomologia
Pesquisador – Embrapa Amazônia Oriental
wplemos@cpatu.embrapa.br

Wanderlei Antônio Alves de Lima


Engenheiro Agrônomo, Doutor em Produção Vegetal
Pesquisador – Embrapa Amazônia Ocidental
wanderlei.lima@cpaa.embrapa.br

Wenceslau Geraldes Teixeira


Engenheiro Agrônomo, Doutor em Ciência do Solo
Pesquisador – Embrapa Solos
wenceslau@cnps.embrapa.br

Wilma Araújo Gonzalez


Química, Doutora em Química
Professora da Seção de Engenharia Química do Instituto Militar de Engenharia (IME),
Rio de Janeiro – RJ
wilma@ime.eb.br
Pedro Antônio Arraes Pereira
Diretor-Presidente da Embrapa Apresentação

A obra Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de


Óleo na Amazônia, que ora entregamos para usufruto e benefício da sociedade brasi-
leira, é, como o título sugere, a reunião de dois livros em um.
O primeiro, ou Parte I, trata do zoneamento agroecológico das áreas desmatadas
da Amazônia segundo os requerimentos agronômicos para o cultivo da palma de óleo
(dendezeiro). Cuida de identificar, avaliar, caracterizar e delinear em mapas, em favor
de técnicos, pesquisadores, produtores e autoridades em geral, as unidades ambientais
da paisagem desmatada na Amazônia (em sua maioria, pastagens já degradadas) que
tenham aptidão para o cultivo da palma de óleo, e também aquelas que se excluem de
tal possibilidade por serem matas nativas, áreas de reserva legal ou simplesmente inap-
tas para tal cultivo. Traz ainda, como bônus, a atualização metodológica, que permite
total informatização dos procedimentos de elaboração de zoneamentos agroecológi-
cos, seja na avaliação das aptidões de solo e de clima, na organização da informação
ou na produção cartográfica.
O segundo livro, ou Parte II, reúne todo o conhecimento validado e disponível para a
implantação e o manejo eficientes e sustentáveis de lavouras de palma de óleo em áreas
com diferentes níveis de aptidão agrícola e variados aportes tecnológicos. Além disso,
descreve estratégias de ampliação da economicidade dos empreendimentos, destacan-
do: as alternativas de convivência e controle dos agentes de sua doença mais grave – o
Amarelecimento Fatal; as possibilidades de adoção da cultura pela agricultura de base
familiar; e a inserção da cultura da palma de óleo no contexto da agroenergia.
Esta obra resulta de projeto estratégico em boa hora amparado pelo Ministério da
Ciência e Tecnologia e sua Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP). Seus achados
científicos e tecnológicos apoiam o Programa de Produção Sustentável da Palma de
Óleo, que carrega vívidas esperanças de recuperação de áreas degradadas da Amazô-
nia Legal, com inegáveis impactos positivos na melhoria de renda das comunidades de
agricultura familiar e no saldo das emissões de carbono.
É fruto do esforço colaborativo de experimentados pesquisadores, oriundos de va-
riados órgãos estaduais de pesquisa e desenvolvimento agrícola e de diferentes centros
de pesquisa da Embrapa, muitos com décadas de dedicação à Amazônia, aos estudos
de zoneamento e à cultura da palma de óleo.
A qualidade deste trabalho confirma a convicção de que a evolução do conheci-
mento é ferramenta confiável para a solução dos problemas e conflitos naturais do
processo de desenvolvimento econômico e social.
Boa Leitura!
Avílio Antônio Franco
Superintendente da Área de Institutos Tecnológicos
e de Pesquisa – AITP/FINEP/MCT
Apresentação

Fazer a apresentação desta obra é, pessoalmente, muito gratificante, tanto pela


sua importância para a produção de biocombustível em áreas remotas da Amazônia,
como também pelo exemplo de sucesso de investimento público em benefício da
sociedade.
Por várias razões, a palma de óleo tem despertado o interesse de cientistas, espe-
cialistas e, mais recentemente, de planejadores e do setor privado para a produção de
biocombustíveis nas regiões tropicais. É a oleaginosa com maior produtividade de ener-
gia por área, é perene e, principalmente, pode resgatar a sustentabilidade econômica e
social da agricultura familiar. Além desses predicados, existe outro de grande relevância
que raramente é lembrado: a cultura da palma de óleo já é tradicionalmente plantada
com cobertura de solo de leguminosas fixadoras de nitrogênio sem revolvimento do
solo em cultivo mínimo, hoje paradigma da agricultura tropical quando se pensa em
sustentabilidade.
A palma de óleo mais adequada para ser cultivada na Amazônia futuramente é a
cafuza brasileira: a fusão da palma sul americana (Elaeis oleifera) com a palma africana
(Elaeis guineensis Jacq.), com o propósito de se defender do amarelecimento fatal,
além de se obter maior produtividade e um óleo de melhor qualidade.
Este livro é resultado de parte do apoio a uma ação estruturante para a Amazônia
com recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT)
com o objetivo de criar bases científicas para a produção de biocombustível nas regiões
remotas de fronteira da Amazônia. Dessa ação constava o zoneamento agroecológico
para identificar terras com potencial para o cultivo da palma em áreas desmatadas,
desenvolver métodos para a rápida propagação dos melhores híbridos da cultura e
implantar um projeto piloto de agricultura familiar em Benjamin Constant (AM), na
Amazônia, área em processo de alteração, a fim de testar a viabilidade econômica e
social da atividade. O projeto, ainda em implantação, já serve como modelo para outras
regiões.
Na primeira parte do livro, além dos resultados do zoneamento, são descritas as
metodologias e os procedimentos desenvolvidos no projeto para zoneamentos agroe-
cológicos, realizados de forma totalmente informatizada. Na segunda parte, são apre-
sentadas informações preciosas para a produção e o manejo sustentáveis da cultura.
Esse conjunto de dados é fundamental para a implantação de programas de produção
de biocombustível, o resgate social das comunidades rurais e a ocupação sustentável
das áreas remotas da Amazônia.
Parabenizo todos os participantes do projeto e os autores do livro, principalmente
dois personagens centrais desta empreitada: o Dr. Edson Barcelos, pelo seu papel fun-
damental no melhoramento e na manutenção dos mais de 400 ha do banco genético
da palma de óleo em Rio Urubu, no Amazonas, ao qual dedicou grande parte de sua
carreira científica, tendo incansavelmente demonstrado o grande potencial da cultura
quando ainda era apenas uma promessa; e o Dr. Antonio Ramalho Filho, por ter acei-
tado o desafio desta empreitada e, com sucesso, ter liderado e concluído um projeto
que foi muito além dos objetivos e metas inicialmente propostos, cujos resultados,
mesmo antes de oficialmente publicados, já estão sendo usados como base para a
implantação do programa de produção sustentável de biocombustível na Amazônia
pelo governo federal.
Editores Técnicos:
Antonio Ramalho Filho Prefácio
Paulo Emílio Ferreira da Motta
Pedro Luiz de Freitas
Wenceslau Geraldes Teixeira

Este livro é a síntese do resultado de um trabalho de longo tempo realizado no âmbito


do projeto que originalmente recebeu o título de Zoneamento Agroecológico do Dende-
zeiro para as Áreas Desmatadas da Amazônia Legal – ZAE-Dendê. Trata-se de um projeto
encomendado pelo governo federal, financiado pela FINEP e executado sob a coorde-
nação da Embrapa Solos, unidade de pesquisa e desenvolvimento da Empresa Brasileira
de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento. A execução do projeto contou com a efetiva cooperação das unidades da
Embrapa localizadas na Região Amazônica, de órgãos públicos federais e estaduais, além
de empresas privadas envolvidas na cadeia produtiva da cultura da palma de óleo.
A expansão da cultura da palma de óleo nas áreas já desflorestadas da Amazônia
Legal é reconhecida como uma excelente alternativa para a produção de óleo para fins
alimentícios e energéticos. Constitui, também, uma alternativa para a geração de em-
prego e renda no campo, tanto para grandes empreendimentos como para pequenos
estabelecimentos rurais (assentamentos e projetos governamentais de associativismo
e cooperativismo). O uso de terras antropizadas – hoje, na sua grande maioria, esgo-
tadas e ocupadas com pastos em estado avançado de degradação – com atividades
que contam com tecnologias consolidadas, como a cultura da palma de óleo, é uma
alternativa econômica viável para a redução da pressão do desmatamento no Bioma
Amazônia.
Este livro foi dividido em duas partes: na primeira, são apresentados e discutidos
os objetivos, o contexto, a metodologia e os resultados alcançados no Zoneamento
Agroecológico para a cultura da palma de óleo nas áreas desmatadas da Amazônia
Legal – ZAE – Palma de Óleo. Também são descritos os procedimentos metodológicos
utilizados para avaliar a aptidão agrícola das terras e a aptidão climática que, conjuga-
das, resultam no ZAE-Palma de Óleo para as áreas desflorestadas na Amazônia Legal,
estimadas, segundo o Projeto Prodes do INPE, em 32 milhões de hectares. Encontram-
se pormenorizados os critérios agronômicos utilizados na definição das áreas onde,
ressalvadas as salvaguardas, poderá ocorrer a expansão da área da cultura de palma de
óleo na Amazônia Legal em bases sustentáveis. Os mapas resultantes do zoneamento
são apresentados também em DVD, que segue anexo a este livro. Além de constituir
uma ferramenta básica para orientar e ordenar a implantação de palmares na região, a
execução deste trabalho propiciou o desenvolvimento de uma metodologia para ela-
boração de zoneamentos agroecológicos para culturas ou produtos utilizando procedi-
mentos inteiramente informatizados.
Na segunda parte, são abordados os aspectos relativos à produção e ao manejo
sustentáveis da cultura da palma de óleo na Amazônia, com o objetivo de orientar as
atividades de planejamento, uso e manejo a serem realizadas na instalação de pal-
mares nas áreas consideradas aptas em um dos dois níveis tecnológicos adotados no
ZAE-Palma de Óleo. Os assuntos abordados estão ordenados em uma sequência que
vai do planejamento conservacionista das áreas aptas à implantação de palmares à es-
colha do material genético para a produção sustentável da palma de óleo, em especial
dos híbridos desenvolvidos a partir do cruzamento entre a espécie de origem africana
(Elaeis guineensis L.) e a de origem amazônica, denominada localmente de caiaué
(Elaeis oleifera - H.B.K. – Cortes).
A segunda parte também apresenta desde as técnicas de formação das mudas até
as práticas sustentáveis de produção e de manejo dos palmares, incluindo a avaliação
do estado nutricional e o uso de cultivos intercalares, fundamentais para o sucesso da
implantação de palmares por agricultores familiares. O manejo de pragas e doenças e
as incertezas provocadas pela etiologia do Amarelecimento Fatal (AF), ou Amareleci-
mento Letal, são abordados por meio de revisão do atual estádio das pesquisas nesses
temas. São relatadas, ainda, várias experiências com a implantação de palmares na Re-
gião Amazônica. Esta parte finaliza com uma abordagem sobre o uso do óleo de palma
para a produção de biomassa e biocombustível de forma compatível com a realidade
do cenário nacional.
A informação sobre o desenvolvimento da cultura da palma de óleo contida neste
livro tem caráter incremental, especialmente considerando a ampla literatura existente
no Brasil e no mundo. Constitui-se, assim, em uma contribuição efetiva para apoiar o
Programa de Produção Sustentável da Cultura da Palma de Óleo, recentemente lançado
pela Presidência da República, o qual visa incentivar, ordenar e fomentar a expansão
dessa oleaginosa no Brasil, com especial referência à Amazônia.
Sumário
PARTE I
Zoneamento Agroecológico para a Cultura da Palma de Óleo
(Dendezeiro) nas Áreas Desmatadas da Amazônia Legal

Capítulos
Contexto e objetivos do Zoneamento Agroecológico para a cultura da palma de
1 óleo nas áreas desmatadas da Amazônia Legal
Antonio Ramalho Filho, Paulo Emílio Ferreira da Motta
19
Procedimento metodológico da Avaliação da Aptidão Agrícola das Terras para a
2 cultura da palma de óleo nas áreas desmatadas da Amazônia Legal
Antonio Ramalho Filho, Paulo Emílio Ferreira da Motta, Uebi Jorge Naime e
Jesus Fernando Mansilla Baca
23
Procedimento metodológico da Avaliação da Aptidão Climática para a cultura da
3 palma de óleo nas áreas desmatadas da Amazônia Legal
Alexandre Ortega Gonçalves, Therezinha Xavier Bastos, Alexandre Hugo Barros,
Antonio Ramalho Filho e Paulo Emílio Ferreira da Motta
47
Organização da informação, metodologia da integração temática, procedimentos
4 informatizados e cartografia para a elaboração do Zoneamento Agroecológico para
a cultura da palma de óleo nas áreas desmatadas da Amazônia Legal
Margareth Simões Penello Meirelles, Alexandre Ortega Gonçalves, Mario Luiz Diamante
Aglio , Jesus Fernando Mansilla Baca, Marie Elisabeth Christine Claessen, Wenceslau
Geraldes Teixeira, Paulo Emílio Ferreira da Motta e Antonio Ramalho Filho
51
Zoneamento Agroecológico para a cultura da palma de óleo nas áreas desmatadas
5 da Amazônia Legal
Antonio Ramalho Filho, Paulo Emílio Ferreira da Motta, Uebi Jorge Naime,
Alexandre Ortega Gonçalves e Wenceslau Geraldes Teixeira
57
Salvaguardas do Zoneamento Agroecológico para a palma de óleo na Amazônia
6 Legal e priorização de áreas
Ana Paula Dias Turetta e Antonio Ramalho Filho
69
Sumário

PARTE II
Produção e Manejo Sustentáveis para a Cultura da Palma de
Óleo na Amazônia

Capítulos
Planejamento conservacionista e procedimentos para a instalação de palmares na
1 Amazônia
Pedro Luiz de Freitas, Antonio Ramalho Filho, Paulo Emílio Ferreira da Motta e
Wenceslau Geraldes Teixeira
75
Aspectos gerais sobre a fenologia da cultura da palma de óleo
2 Antonio Agostinho Müller, Emeleocípio Botelho de Andrade
83
Material genético utilizado para a produção sustentável da cultura da palma de óleo
3 na Amazônia
Raimundo Nonato Vieira da Cunha, Ricardo Lopes, Rui Alberto Gomes Júnior,
Maria do Rosário Lobato Rodrigues, Paulo César Teixeira, Raimundo Nonato
Carvalho da Rocha e Wanderlei Antônio Alves de Lima
93

4 Formação de mudas para a produção sustentável da palma de óleo na Amazônia


Paulo César Teixeira, Wanderlei Antônio Alves Lima, Rui Alberto Gomes Júnior,
Raimundo Nonato Vieira da Cunha, Ricardo Lopes e
Raimundo Nonato Carvalho da Rocha
101
Práticas de manejo sustentável na manutenção do plantio da palma de óleo na
5 Amazônia
Raimundo Nonato Vieira da Cunha, Maria do Rosário Lobato Rodrigues, Jeferson
Luis Vasconcelos de Macedo, Ricardo Lopes, Raimundo Nonato Carvalho da
Rocha, Paulo César Teixeira e Wanderlei Antônio Alves de Lima
107
Sumário

6 Avaliação do estado nutricional e manejo da fertilidade do solo para a produção


sustentável da cultura da palma de óleo na Amazônia
Maria do Rosário Lobato Rodrigues, Paulo César Teixeira, Jeferson Luis
Vasconcelos de Macedo, Raimundo Nonato Vieira da Cunha, Ricardo Lopes,
Raimundo Nonato Carvalho da Rocha e Wenceslau Geraldes Teixeira
115
Manejo sustentável para a cultura da palma de óleo: cobertura do solo e cultivos
7 intercalares
Raimundo Nonato Carvalho da Rocha, Maria do Rosário Lobato Rodrigues,
Paulo César Teixeira, Ricardo Lopes, Raimundo Nonato Vieira da Cunha,
Jeferson Luis Vasconcelos de Macedo, Ronaldo Ribeiro de Morais e
Wanderlei Antônio Alves de Lima
127

8 Características físicas do solo adequadas para implantação e manutenção da


cultura de palma de óleo na Amazônia
Wenceslau Geraldes Teixeira, Gilvan Coimbra Martins, Omar Cubas, Pedro Luiz
de Freitas, Maria do Rosário Lobato Rodrigues, Antônio Ramalho Filho

137
Manejo de pragas e doenças para a cultura de palma de óleo na Amazônia
9 Walkymário de Paulo Lemos e Alessandra de Jesus Boari
145
O desafio das pesquisas com a etiologia do Amarelecimento Fatal (AF) da cultura
10 da palma de óleo
Alessandra de Jesus Boari
153
A cultura da palma de óleo como âncora do desenvolvimento da agricultura
11 familiar na Amazônia Ocidental
Edson Barcelos e Mauricio Veloso Soares
167
Combinação de cultivos florestais com a cultura da palma de óleo no Estado do
12 Acre
João Batista Martiniano Pereira, Rodrigo da Silva Guedes, Edson Alves de
Araújo, João Paulo Mastrângelo, Eufran Ferreira do Amaral, Tadário Kamel de
Oliveira e Nilson Gomes Bardales
179
Sumário

13 Experiências na produção para a cultura de palma de óleo na Amazônia: relato de


experiências da Marborges Agroindústria S.A. (Moju – Pará)
Antonio José de Abreu Pina
189
Cultura da palma de óleo no contexto da agroenergia: biomassa e biocombustível
14 Wanderlei Antônio Alves de Lima, Wilma Araújo Gonzalez, Luiz Eduardo Pizarro
Borges, Paulo César Teixeira, Ricardo Lopes, Raimundo Nonato Vieira da Cunha
e Raimundo Nonato Carvalho da Rocha
205
PARTE 1

Zoneamento Agroecológico
para a Cultura da Palma de
Óleo (dendezeiro) nas Áreas
Desmatadas da Amazônia Legal

Editores Técnicos

Antonio Ramalho Filho


Paulo Emílio Ferreira da Motta
Agradecimento

Os autores e a Embrapa Solos reconhecem a efetiva cooperação das unidades da


Embrapa localizadas na Região Amazônica, notadamente a Embrapa Amazônia Orien-
tal e a Embrapa Amazônia Ocidental, e expressam agradecimento aos pesquisadores,
técnicos e empresas que colaboraram na execução do Zoneamento Agroecológico da
Palma de Óleo (dendezeiro) para as Áreas Desmatadas da Amazônia Legal, especial-
mente Antonio Agostinho Muller, Gilvan Coimbra Martins, Paulo César Teixeira, Rodri-
go D. Ferraz, José Carlos Pereira dos Santos, Maria do Rosário Lobato Rodrigues, João
Batista Martiniano Pereira, Jonas de Souza, Sandoval O. Santana, Pedro Luiz de Freitas,
Waldir de Carvalho Filho, Eufran Amaral, Adriano Venturieri, Edson Araújo, Edson Barce-
los, Maurício Veloso Soares, Carlos Benedito Santana Soares, Marco Esteban del Pretti,
Otávio Manoel N. Lopes, Lucietta Guerreiro Martorano, Ana Gama, Marcelo Gama, Daniel
Gianluppi, Haron A. M. Xaud, Fábio Marin, Fábio Santos, além das organizações Sipam,
Femact-AC, Ceplac, SEMA-AC, Seplan-MT, Emater-RO, Diocese de Alto Solimões-AM, IDAM,
e das empresas Agropalma, Marborges, Yossan e Bio-Fuels.
PARTE 1
Capítulo 1

Contexto e objetivos do Zoneamento


Agroecológico para a cultura da
palma de óleo nas áreas desmatadas
da Amazônia Legal
Antonio Ramalho Filho e Paulo Emílio Ferreira da Motta

A expansão da área cultivada com a O zoneamento agroecológico é uma


palma de óleo (dendezeiro) nas áreas já ferramenta fundamental para a criação de
desmatadas da Amazônia é reconhecida mecanismos de orientação à implementa-
como uma excelente alternativa para a ção da cadeia de produção de palma de
produção de óleo para fins alimentares e óleo. Para a Amazônia Legal, em particu-
energéticos, constituindo suporte tanto lar, constitui base técnico-científica para
para o projeto governamental de amplia- se buscar a sustentabilidade dos pontos
ção e diversificação da matriz energética de vista social, econômico e ambiental
brasileira, quanto para a criação de empre- pela indicação das terras mais adequadas
gos e o aumento da renda da população à cultura de palma de óleo.
envolvida nessa atividade. Por outro lado,
No formato apresentado, consideran-
propicia um melhor aproveitamento das
do dois níveis tecnológicos, o zoneamen-
áreas desmatadas e, como consequência,
to agroecológico fornece elementos para
diminui a pressão sobre as áreas de flores-
a implantação e a expansão da cultura em
tas nativas.
bases sustentáveis, seja para uma agricul-
O zoneamento agroecológico de tura de grande ou de pequena escala.
uma espécie vegetal corresponde à iden-
A aptidão pedoclimática das terras
tificação, caracterização e delineamento
para uma determinada cultura é avaliada
cartográfico de unidades ambientais re-
a partir da comparação entre a necessi-
conhecíveis na paisagem natural, classi-
dade ecofisiológica da planta e a oferta
ficadas em função de sua aptidão para o
ambiental da área onde se pretende im-
cultivo sustentável de tal espécie. Dessa
plantá-la, procurando-se atender a uma
forma, deve ser confrontada a informa-
relação custo/benefício favorável. Esse
ção sobre as exigências ecofisiológicas
procedimento baseia-se no fato de que
da cultura com a oferta ambiental da
existe, para cada espécie vegetal, um
área onde se pretende cultivá-la. No caso
conjunto de características de solo, rele-
deste zoneamento, o levantamento das
vo e clima, bem como de outros fatores
necessidades da palma de óleo quanto a
ambientais, no qual ela melhor se adapta
solo e clima constituiu uma etapa espe-
e sua implantação exerce menor impacto
cífica do trabalho.
negativo sobre o ambiente.

Zoneamento Agroecológico para a Cultura da Palma de Óleo (dendezeiro) nas Áreas Desmatadas da Amazônia Legal | 19
O “Zoneamento Agroecológico para a gal, informadas pelo Instituto Nacional de
Cultura da Palma de Óleo nas Áreas Des- Pesquisas Espaciais – Projeto de Monitora-
matadas da Amazônia Legal – ZAE-Palma mento do desflorestamento da Amazônia
de Óleo” foi elaborado sob encomenda do Legal (INPE/PRODES) (INPE, 2007). O ZAE-
Governo Federal, com apoio financeiro da Palma de Óleo tem como objetivo geral
Financiadora de Estudos e Projetos – MCT/ avaliar e espacializar o potencial das terras
FINEP. A Amazônia Legal, estabelecida no para a palma de óleo como base para o
Artigo 2º da lei nº 5.173, de outubro de uso sustentável das terras em harmonia
1966, abrange os estados do Acre, Amapá, com a biodiversidade. E, como objetivos
Amazonas, Mato Grosso, Pará, Rondônia, específicos:
Roraima, Tocantins, parte do Maranhão
• oferecer subsídios para a reestruturação
e cinco municípios de Goiás, compreen-
da matriz energética brasileira através da
dendo cerca de 59% do território brasileiro
produção de biocombustível;
(IBGE, 2009).
• apresentar alternativas econômicas
Sua elaboração, liderada pela Embra-
sustentáveis aos produtores rurais da re-
pa Solos, contou com a cooperação das
gião, operando em agricultura empre-
Unidades da Embrapa na Região Norte,
sarial ou familiar;
bem como de outras instituições públicas
e privadas que atuam na região, entre as • propor uma base para o planejamento
quais: Sistema de Proteção da Amazônia do uso sustentável das terras em conso-
(SIPAM-CR/Manaus); Ministério do Meio nância com a legislação vigente;
Ambiente, através do IBAMA, da FUNAI e
• propiciar o ordenamento territorial nas
das Secretarias do Desenvolvimento Sus-
áreas desmatadas consolidadas e a
tentável e de Biodiversidade; Comissão
consolidar da Região Amazônica em
Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira
conformidade com o Zoneamento Eco-
(CEPLAC/CEPEC); Empresa de Assistência
lógico-Econômico (ZEE) dos estados da
Técnica e Extensão Rural do Estado de
região;
Rondônia (EMATER-RO); Fundação de
Meio Ambiente, Ciência e Tecnologia do • fornecer bases para o planejamento de
Estado de Roraima (FEMACT-RR); Instituto polos de desenvolvimento no espaço
de Desenvolvimento Agropecuário e Flo- rural em alinhamento com as políticas
restal Sustentável do Estado do Amazonas governamentais sobre segurança ali-
(IDAM); Secretaria de Planejamento do Es- mentar e energia.
tado de Mato Grosso (SEPLAN-MT); Dioce- O ZAE-Palma de Óleo foi realizado para
se de Tabatinga-AM; Universidade Federal dois níveis tecnológicos (níveis de manejo),
do Estado do Pará (UFPA); e as empresas sendo um com alto e outro com modesto
Agropalma, Marborges, Yossan e Biofuels. aporte de capital de tecnologia.
Este trabalho possibilitou conhecer e es-
pacializar o potencial agroecológico das Como forma de validação, os resulta-
terras para a cultura de palma de óleo dos preliminares foram discutidos em reu-
visando à produção de óleo para alimen- niões com representantes do poder públi-
tação humana e para biocombustível de co, técnicos, extensionistas e produtores
forma sustentável e com impacto reduzi- dos estados da região, além de terem sido
do sobre a biodiversidade da região. Para divulgados em eventos científicos e em
isso, o zoneamento teve como foco princi- diversos seminários sobre solos, oleagi-
pal as áreas desmatadas da Amazônia Le- nosas e agroenergia (MOTTA et al., 2009a,

20 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia


2009b; RAMALHO FILHO et al., 2009a, Legal (Figura 1) informadas pelo Projeto
2009b, 2009c, 2009d; RAMALHO FILHO et de Monitoramento do desflorestamen-
al., 2008). to da Amazônia Legal (INPE, 2007), com
exclusão das áreas de proteção integral
A área foco do projeto, inserida no bio-
(parques nacionais, estaduais e reservas
ma Amazônico (5.049.717,30 km²), corres-
indígenas) informadas pelo IBAMA e pela
ponde às áreas desmatadas da Amazônia
FUNAI.

Figura 1 – Mapa dos biomas brasileiros mostrando a abrangência do ZAE-Palma de


Óleo (Amazônia Legal), com destaque para as áreas desmatadas
(Fontes: INPE, 2007; IBGE, 2009, 2010)

Biomas Brasileiros
Amazônia = 4.196.493 Km2
Cerrado = 2.036.448 Km2
Caatinga = 644.453 Km2
Mata Atlântica = 1.110.182 Km2
Pantanal = 150.355 Km2
Pampa = 176.496 Km2
Amazônia Legal
Área Desmatada

Zoneamento Agroecológico para a Cultura da Palma de Óleo (dendezeiro) nas Áreas Desmatadas da Amazônia Legal | 21
RAMALHO FILHO, A.; MOTTA, P. E. F.; NAIME, U.
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2008. CD-ROM.

22 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia


PARTE 1
Capítulo 2

Procedimento metodológico da Avaliação


da Aptidão Agrícola das Terras para
a cultura da palma de óleo nas áreas
desmatadas da Amazônia Legal
Antonio Ramalho Filho, Paulo Emílio Ferreira da Motta,
Uebi Jorge Naime e Jesus Fernando Mansilla Baca

de 1:250.000, embora o nível categórico


Considerações gerais do mapeamento, mais generalizado, seja
compatível com uma escala estimada em
A avaliação da aptidão das terras para 1:600.000.
a palma de óleo baseou-se na interpreta-
A partir do estabelecimento de um
ção de características específicas dos so-
procedimento de busca automática ao
los, obtidas na base de dados do SIPAM
banco de dados através de sistema com-
(SIPAM, 2004), a qual agrega e compati-
putacional, a legenda do mapa de solos
biliza os resultados de todos os trabalhos
da base de solos do SIPAM foi reconstruí-
relacionados a esse tema já desenvolvidos
da em planilhas eletrônicas, nas quais fo-
na Amazônia por diversas instituições.
ram incluídos diversos atributos dos solos
Por serem os únicos com abrangência to-
relevantes para a avaliação da aptidão das
tal da região, os mapas do Radambrasil,
terras para a cultura da palma de óleo.
que correspondem a 334 folhas na esca-
la 1:250.000 que, por sua vez, compõem O procedimento geral da avaliação da
18 folhas 1:1.000.000, constituem a base aptidão agrícola das terras para a palma de
geral do trabalho. O mapeamento, publi- óleo seguiu de modo geral aqueles pre-
cado na escala 1:1.000.000 pelo Projeto conizados pelo Sistema de Avaliação da
Radambrasil, foi posteriormente retraba- Aptidão Agrícola das Terras (RAMALHO FI-
lhado pela equipe de pedologia do IBGE e LHO; BEEK, 1995), procedendo-se algumas
colaboradores, por encomenda do SIVAM, adaptações, tal como a utilização de um
gerando uma nova base de dados de so- quadro de conversão, ou conjunto de re-
los, com um nível mais alto de abstração, gras, específico para a palma de óleo.
resultado da incorporação de informação
A avaliação para cada componente das
mais recente proveniente de mapas em
unidades de mapeamento de solos foi fei-
escala maior, produzidos por várias institui-
ta, de acordo com os seus graus de limi-
ções, sobretudo a Embrapa, com base em
tação ao uso, em quatro classes: boa, re-
novo trabalho de campo e nova amostra-
gular, marginal ou restrita e inapta. Essas
gem. Essa nova base de dados do SIPAM
classes são estabelecidas de acordo com
foi disponibilizada na escala cartográfica
o grau de intensidade com que os fatores

Zoneamento Agroecológico para a Cultura da Palma de Óleo (dendezeiro) nas Áreas Desmatadas da Amazônia Legal | 23
de limitação afetam as terras para os níveis nologia e o segundo, por alto aporte de
de manejo B e C, conforme a simbologia capital e tecnologia. Foram gerados, por-
apresentada na Tabela 1. tanto, dois mapas distintos e equivalen-
tes a dois zoneamentos. Definições mais
completas dos níveis de manejo adotados
encontram-se na Tabela 2.

Níveis de manejo
Visando avaliar o potencial das terras
sob diferentes níveis de aplicação de tec- Avaliação da Aptidão
nologia agrícola e capital, tanto a aptidão
das terras quanto o zoneamento agroeco- das Terras
lógico foram executados para dois níveis
de manejo – B e C – sendo o primeiro ca- Os fatores limitantes dos solos, con-
racterizado por uma aplicação média de siderados representativos das condições
capital e modesto uso de insumos e tec- agrícolas das terras, são: deficiência de

Tabela 1 – Simbologia usada para designação das classes de aptidão das terras nos
níveis de manejo B e C. Fonte: Ramalho Filho e Beek (1995)
Nível de Manejo
Classe de aptidão
B C
Boa B C
Regular b c
Restrita (b) (c)
Inapta I I

Tabela 2 – Características dos níveis de manejo considerados no ZAE-Palma de Óleo


Fonte: Ramalho Filho e Beek (1995)

Nível de
Características
manejo
Emprega práticas agrícolas que refletem um nível tecnológico médio,
havendo modesta aplicação de capital e de tecnologias para manejo,
melhoramento e conservação das terras e das lavouras. As práticas agrícolas
B
estão condicionadas, principalmente, à tração animal. A motomecanização,
portanto, é mais intensa no preparo inicial do solo e em alguns tipos de tratos
culturais compatíveis com implementos agrícolas mais simples.
Emprega práticas agrícolas que refletem um alto nível tecnológico,
caracterizando-se pela aplicação intensiva de capital e de tecnologias
C
para manejo, melhoramento e conservação das terras e das lavouras. A
motomecanização está presente nas diversas fases da operação agrícola.

24 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia


fertilidade natural, deficiência de água, ex- de conversão, que constitui a essência do
cesso de água e riscos de inundação, sus- sistema de avaliação, foi obtido através de
cetibilidade à erosão, impedimentos ao revisão bibliográfica e de forma consensu-
desenvolvimento radicular e impedimen- al através de discussões com técnicos e
to à mecanização, os quais são analisados produtores especializados nessa cultura.
de acordo com seus respectivos graus de Nele são estipulados os graus máximos
limitação: Nulo (N), Ligeiro (L), Moderado de severidade ou de limitação para cada
(M), Forte (F) e Muito Forte (MF), confor- fator limitativo das condições de produção
me os preceitos metodológicos propostos da cultura, de forma que cada componen-
por Ramalho Filho e Beek (1995). te das unidades de mapeamento se en-
quadre nas quatro classes de aptidão das
Subsidiariamente, foram consideradas,
terras (Boa, Regular, Restrita e Inapta), sob
em separado, outras propriedades espe-
os níveis de manejo B e C. Esses graus de
cíficas do solo, tais como textura, relevo,
limitação são atribuídos às terras de acor-
drenagem interna e profundidade, que
do com o nível de problemas remanes-
interferem no volume de solo explorado
cente, previsto após a aplicação das me-
pelas raízes e, consequentemente, na dis-
didas mitigadoras compatíveis com cada
ponibilidade de nutrientes e de água para
nível de manejo, tendo como referência
as plantas. O cruzamento direto entre a
um solo com características compatíveis
textura do solo e o relevo, por exemplo,
com a classe de aptidão Boa para a palma
foi utilizado para auxiliar as avaliações de
de óleo.
suscetibilidade à erosão e de impedimen-
to à mecanização. Esse procedimento A comparação das limitações dos solos,
constitui um maior refinamento do Siste- definidas com base nas faixas indicadas na
ma de Avaliação da Aptidão Agrícola das Tabela 3, com os graus de limitação máxi-
Terras. Procedimento semelhante a esse já mos permissíveis para o enquadramento
foi usado no passado para o zoneamento das terras nas diferentes classes de aptidão,
da aptidão das terras para culturas especí- estabelecidos no conjunto de regras para a
ficas (IDE et al., 1980; RAMALHO FILHO et palma de óleo (Tabela 4), resulta na classifi-
al., 1984, 1985). cação da aptidão das terras para essa cultu-
ra. Cada solo componente da Unidade de
Um critério importante para a avaliação
Mapeamento (UM) foi avaliado individual-
da aptidão das terras foi o estabelecimen-
mente, sendo sua classe de aptidão atribuí-
to de um conjunto de regras específicas
da em analogia à Lei do Mínimo de Liebig e
para a palma de óleo que representasse
em função do fator mais limitativo. Por ou-
as exigências ecofisiológicas dessa cul-
tro lado, a classe de aptidão mais frequente
tura. Esse conjunto de regras, ou quadro
dentro da UM define sua aptidão.

Zoneamento Agroecológico para a Cultura da Palma de Óleo (dendezeiro) nas Áreas Desmatadas da Amazônia Legal | 25
Tabela 3 – Graus de Limitação atribuídos aos Solos da Amazônia Legal

26
Grau de Limitação

|
Fator Limitativo
Nulo Ligeiro Moderado Forte Muito Forte
Deficiência de Fertilidade distrófico
alumínico sódico ou salino ou tiomórfico ou
- em função da saturação de eutrófico (V < 50%) ou álico
(sat. Al >50% e carbonático ou sálico (CE>15 mS/cm a
bases, salinidade, sodicidade e de (V > 50%) (sat. Al >50% e
Al ext. > 4cmol/kg) solódico 25ºC)
carbonatos Al ext. < 4cmol/kg)
Deficiência de Água
argilosa, média ou muito argilosa ou (Ta) ou muito arenosa com granulometria
- em função da textura e da arenosa
orgânica siltosa argilosa mais grosseira
atividade da argila
Excesso de Água - em função da
bem drenado bem a mod. drenado mod. drenado imperf. drenado mal drenado
classe de drenagem interna
Suscetibilidade à Erosão moderadamente forte ondulado a
plano suave. ondulado ondulado
- em função das classes de relevo ondulado montanhoso
(0 - 3%) (3 - 8%) (13 - 20%)
(declive) (8 - 13%) (20 - 45% ou +)
Impedimento à Mecanização
- em função das classes de relevo plano suave ond. a mod. ondulado forte ondulado montanhoso e escarpado
(0 - 3 %) ond. (3 - 13 %) (13 - 20 %) (20 - 45%) (>45 a >70%)
- em função da classe de
pedregosidade* ausente lig. pedregosa mod. pedregosa pedregosa, -
rochosa
- em função dos caracteres - - petroplíntico1
petroplíntico e vértico - vértico2

- em função da classe de ausente lig. rochosa mod. rochosa rochosa -

Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia


rochosidade*
Impedimento às Raízes profundo med. profundo pouco profundo raso
-
- em função da profundidade do solo (> 80 cm) (60 a 80 cm) (50 a 60 cm) (< 50 cm)
Abreviações: sat.: saturação; extr.: extraível; mod.: moderadamente; lig.: ligeiramente; med.: medianamente; ond.: ondulado.
1 2
50% ou mais de petroplintita por volume na massa do solo. Conjunto de características morfológicas que denota predomínio de argila de atividade alta no material de solo.
Tabela 4 - Graus máximos de limitação permissíveis, por nível de manejo,
para enquadramento dos solos componentes das unidades de
mapeamento nas classes de aptidão das terras (Conjunto de Regras)

CLASSE DE APTIDÃO
PREFERENCIAL REGULAR MARGINAL INAPTA
NÍVEL DE MANEJO B C B C B C B C
Fatores Limitantes:
Deficiência de
L M M F F MF MF EF
Fertilidade
Deficiência de Água L M M F F MF MF EF
Excesso de Água L L M M F F MF MF
Suscetibilidade à Erosão
L M M F F MF MF EF
Relevo x Textura
Impedimento à
Mecanização
Pedregosidade L N M L F M MF F
Rochosidade N N L L M M F F
Relevo M L F M MF F EF MF
Impedimento às Raízes N N L L M M F F
Grau de limitação: N = Nulo; L = Ligeiro; M = Moderado; F = Forte; MF = Muito forte

as plantas. Outro procedimento não con-


Fatores limitantes vencional foi a consideração da interação
entre textura do solo e relevo na avaliação
das terras da suscetibilidade à erosão e dos impedi-
mentos à mecanização, tal como utilizado
Seguindo ainda os preceitos metodoló- por Ide et al. (1980) e Ramalho Filho et al.
gicos propostos por Ramalho Filho e Beek (1984, 1985) para culturas específicas.
(1995), foram considerados como fatores
limitativos dos solos: deficiência de fertili- Buscando dar uma maior especificidade
dade natural; deficiência de água; excesso à cultura da palma de óleo, a avaliação foi
de água e riscos de inundação; suscetibili- feita diretamente sobre cada uma das ca-
dade à erosão e impedimentos à mecani- racterísticas (atributos inferenciais) do solo
zação. Embora a verificação do efeito das e da paisagem que definem esses fatores
diversas características do solo sobre o de- limitativos. Foram empregados os graus de
senvolvimento das raízes já esteja implíci- limitação: Nulo (N), Ligeiro (L), Moderado
ta na análise dos outros fatores, achou-se (M), Forte (F) e Muito Forte (MF).
por bem neste trabalho individualizá-lo e Nas próximas páginas, estão descritos
analisá-lo separadamente, devido a sua in- os fatores limitantes e os atributos do solo
terferência no volume de solo explorado e da paisagem utilizados na avaliação, bem
pelas raízes e, consequentemente, na dis- como os graus de limitação atribuídos às
ponibilidade de nutrientes e de água para terras relativos a cada fator.

Zoneamento Agroecológico para a Cultura da Palma de Óleo (dendezeiro) nas Áreas Desmatadas da Amazônia Legal | 27
Deficiência de fertilidade em que não há presença de toxidez
por excesso de sais solúveis ou sódio
A intensidade deste fator é avaliada a trocável. As terras com essas caracterís-
partir do conhecimento da disponibilida- ticas têm capacidade de manter boas
de de macro e micronutrientes nos solos. colheitas durante vários anos (suposta-
As limitações dizem respeito tanto à baixa mente mais de 10 anos), com pequena
quantidade de nutrientes, em situação de exigência de fertilizantes para manter o
insuficiência para sustentar uma produção seu estado nutricional.
econômica da cultura, como a uma situa-
ção de excesso, que pode ser prejudicial • Moderado – típico de terras com limita-
ao desenvolvimento das plantas. Níveis da reserva de nutrientes para as plan-
tóxicos de alumínio, sódio (solos sódicos tas, referente a um ou mais elementos,
e solódicos), enxofre (solos tiomórficos) e podendo conter sais tóxicos capazes
manganês ocorrem comumente em mui- de afetar certas culturas. Durante os pri-
tos solos. Excesso de sais também consti- meiros anos de utilização agrícola, es-
tui séria limitação para o uso de solos de sas terras permitem bons rendimentos,
áreas costeiras ou de regiões semiáridas. verificando-se posteriormente (supos-
tamente depois de 5 anos) um rápido
O índice de fertilidade normalmente declínio na produtividade, o que torna
é avaliado através de saturação de bases necessária a aplicação de fertilizantes e
(V%), saturação com alumínio (100 Al/Al+S), corretivos após as primeiras safras.
soma de bases trocáveis (S), capacidade de
troca de cátions (T), relação C/N, fósforo as- • Forte – refere-se a terras com reservas
similável, saturação com sódio, condutivida- muito limitadas de um ou mais elemen-
de elétrica e pH. Esses dados são obtidos tos nutrientes, ou contendo sais tóxicos
quando da análise dos perfis do solo. em quantidades tais que permitem ape-
nas o desenvolvimento de plantas com
Na avaliação deste fator, são admitidos tolerância. Essas características se refle-
os seguintes graus de limitação: Nulo, Li- tem nos baixos rendimentos da maioria
geiro, Moderado, Forte e Muito Forte, defi- das culturas e pastagens desde o início
nidos no Sistema de Avaliação da Aptidão da exploração agrícola, devendo essa
das Terras (RAMALHO FILHO; BEEK, 1995), deficiência ser corrigida na fase inicial
como a seguir: de sua utilização.
• Nulo – característico de terras que pos- • Muito Forte – grau atribuído a terras mal
suem elevadas reservas de nutrientes providas de nutrientes, com remotas
para as plantas, sem apresentar toxidez possibilidades de serem exploradas
por sais solúveis, sódio trocável ou ou- com quaisquer tipos de utilização agrí-
tros elementos prejudiciais ao desen- cola. Pode ocorrer nessas terras grande
volvimento das plantas. Praticamente quantidade de sais solúveis, chegando
não respondem à adubação e apresen- mesmo a formar desertos salinos. Ape-
tam ótimos rendimentos durante mui- nas plantas com muita tolerância con-
tos anos (supostamente, mais de 20 seguem se adaptar a essas áreas.
anos), mesmo quando cultivadas com
culturas mais exigentes em fertilidade. A Tabela 5 mostra os graus de limita-
ção aplicados às terras em função da de-
• Ligeiro – grau atribuído a terras com boa ficiência de fertilidade, utilizando critérios
reserva de nutrientes para as plantas, específicos para a palma de óleo.

28 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia


Tabela 5 – Graus de limitação das terras quanto à deficiência de fertilidade
em função das propriedades químicas dos solos

Características Químicas Grau de Limitação


Solos eutróficos (V ≥ 50 %) Nulo
Solos distróficos (V < 50 %) ou álicos
Ligeiro
(m ≥ 50 % com Al3+ < 4 cmol.kg-1)
Solos alumínicos (m ≥ 50 % e Al3+ > 4 cmol.kg-1) Moderado
Solos sódicos (saturação com Na ≥ 15 %) ou carbonáticos Forte
Solos tiomórficos (altos teores de S e acidez excessiva)
Muito Forte
ou sálicos (CE>15 mS/cm a 25ºC)
Simbologia – V: saturação por bases; m: saturação por Al; CE: condutividade elétrica.

Deficiência de água • Nulo – grau atribuído a terras nas quais


não há falta de água para o desenvol-
É definida pela quantidade de água vimento das culturas em nenhuma
armazenada no solo possível de ser época do ano. Terras com boa drena-
aproveitada pelas plantas, a qual está na gem interna ou livres de estação seca,
dependência de condições climáticas ou ainda com lençol freático elevado,
(especialmente precipitação e evapotrans- típicas de várzeas, devem receber este
piração) e condições edáficas (capacida- grau de limitação. A vegetação natural
de de retenção e transmissão da água no é normalmente de floresta perenifólia,
solo). Por refletirem as condições hídricas campos hidrófilos e higrófilos, e cam-
das terras, informações sobre os tipos de pos subtropicais sempre úmidos.
vegetação ocorrentes na área e seus di-
ferentes graus de deciduidade, quando • Ligeiro – refere-se a terras nas quais
disponíveis, são utilizadas para suprir a ocorre uma deficiência de água pouco
carência de dados mais precisos. Obser- acentuada. Não está prevista, em áreas
vações do comportamento de plantios co- com este grau de limitação, irregulari-
merciais existentes na área e informações dade durante o período de chuvas. As
de técnicos e agricultores também consti- formações vegetais que normalmente
tuem elementos valiosos na atribuição de se relacionam a este grau são o cerrado
graus de limitação por deficiência hídrica e a floresta subcaducifólia (Im=>+0<-10),
das terras. bem como a floresta caducifólia em so-
los com alta capacidade de retenção de
A capacidade de armazenamento de água.
água, por sua vez, é decorrente de atribu-
tos do solo como textura, tipo de argila, • Moderado – típico de terras nas quais
teor de matéria orgânica, quantidade de ocorre uma acentuada deficiência de
sais e profundidade efetiva. água durante um longo período, normal-
mente de 4 a 6 meses. As precipitações
Foram admitidos os graus de limitação: anuais oscilam entre 700 e 1.000 mm,
Nulo, Ligeiro, Moderado, Forte e Muito com irregularidade em sua distribuição
Forte, conforme o Sistema de Avaliação e predomínio de altas temperaturas. A
da Aptidão das Terras (RAMALHO FILHO; vegetação típica dessas terras é normal-
BEEK, 1995):
Zoneamento Agroecológico para a Cultura da Palma de Óleo (dendezeiro) nas Áreas Desmatadas da Amazônia Legal | 29
mente de floresta caducifólia (Im=>-10<-20), caatinga hiperxerófila.
transição de floresta ou cerrado para ca-
Para a avaliação da aptidão das terras,
atinga, e caatinga hipoxerófila, ou seja,
especificamente para a palma de óleo, foi
de caráter seco menos acentuado. Ter-
enfocado o efeito dos atributos do solo
ras com estação seca menos marcante,
com ênfase na textura e na atividade da
porém com baixa disponibilidade de
argila, sendo as condições climáticas tra-
água, pertencem a este grau.
tadas com mais detalhe na avaliação da
• Forte – grau atribuído a terras com uma aptidão climática.
forte deficiência de água durante um
A Tabela 6 mostra, para o caso da palma
período seco, que oscila de 7 a 9 me-
de óleo, os graus de limitação aplicados às
ses. A precipitação anual varia entre 500
terras em função da deficiência de água.
e 700 mm, com muita irregularidade
em sua distribuição e com altas tempe-
raturas. A vegetação é tipicamente de
Excesso de água ou deficiência
caatinga hipoxerófila (Im=>-20<-30), ou
de oxigênio
de outras espécies de caráter seco mui-
to acentuado, equivalente à do sertão Este fator de limitação está relacio-
do rio São Francisco. Terras com estação nado com a classe de drenagem natural
seca menos pronunciada, mas com bai- do solo, que, por sua vez, é resultante da
xa disponibilidade de água para as cul- interação de vários fatores: precipitação,
turas, estão incluídas neste grau, bem evapotranspiração, relevo local e proprie-
como aquelas que apresentem alta con- dades do solo. Estão incluídos na análise
centração de sais solúveis capazes de desse aspecto os riscos, a frequência e a
elevar o ponto de murchamento. Nesta duração das inundações a que pode estar
categoria está implícita a eliminação de sujeita a área.
quaisquer possibilidades de desenvol- Observações sobre cor, estrutura, per-
vimento de culturas de ciclo longo não meabilidade do solo e presença e profun-
adaptadas à falta de água. didade de horizontes menos permeáveis,
tais como horizonte plíntico, pans, etc.,
• Muito Forte – grau atribuído a terras
são importantes para o reconhecimento
nas quais há uma severa deficiência
desses problemas.
de água, que pode durar mais de 9
meses, com uma precipitação normal- Pela grande ocorrência de solos muito
mente abaixo de 500 mm, baixo índice úmidos e/ou sujeitos à inundação ao lon-
hídrico (Im=>-30) e alta temperatura. A go do ano, e pela reconhecida intolerân-
vegetação relacionada a este grau é a cia da palma de óleo a essas condições,

Tabela 6 – Graus de limitação das terras quanto à deficiência de água


em função da textura e da atividade da argila

Textura e Atividade da Argila Grau de Limitação


Argilosa, média e orgânica Nulo
Muito argilosa e siltosa Ligeiro
Muito argilosa com predomínio de argila de atividade alta Moderado
Arenosa Forte

30 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia


este fator limitante torna-se extremamen- lhos de drenagem artificial que envol-
te importante para a definição das classes vem obras viáveis em nível de agricul-
de aptidão para essa cultura na Região tor. São consideradas, normalmente,
Amazônica. mal drenadas e sujeitas a inundações
frequentes, prejudiciais à maioria das
Foram admitidos os graus de limitação
culturas.
Nulo, Ligeiro, Moderado, Forte e Muito
Forte, definidos de forma geral, para as • Muito Forte – grau atribuído a terras que
mais diversas culturas, no Sistema de Ava- apresentam condições praticamente
liação da Aptidão das Terras (RAMALHO muito mal drenadas; porém, os traba-
FILHO; BEEK, 1995), como a seguir: lhos de melhoramento compreendem
grandes obras de engenharia, em nível
• Nulo – grau atribuído a terras que não
de projetos, fora do alcance do agricul-
apresentam problemas de aeração ao
tor, individualmente.
sistema radicular da maioria das cultu-
ras durante todo o ano. São constituí- No caso do ZAE-Palma de Óleo, diante
das por solos classificados como bem e da indisponibilidade de dados mais preci-
excessivamente drenados. sos no que se refere às áreas inundáveis,
utilizou-se como atributo inferencial as
• Ligeiro – grau típico de terras que apre-
classes de drenagem natural informadas
sentam certa deficiência de aeração às
nas unidades de mapeamento pedoló-
culturas sensíveis ao excesso de água
gicas ou deduzidas a partir da classe de
durante a estação chuvosa. Os solos são,
solo, com base no conhecimento das
em geral, moderadamente drenados.
condições pedoambientais que condu-
• Moderado – refere-se a terras nas quais zem à sua gênese. Sendo assim, foram,
a maioria das culturas sensíveis não se em primeira análise, considerados inaptos
desenvolve satisfatoriamente em de- os solos hidromórficos de modo geral,
corrência da deficiência de aeração du- incluindo Gleissolos, Organossolos, Espo-
rante a estação chuvosa. Os solos são dossolos e Plintossolos. Por serem solos
imperfeitamente drenados e/ou sujei- sazonalmente inundáveis, todos os Neos-
tos a riscos ocasionais de inundação. solos Flúvicos também foram considera-
dos inaptos para a palma de óleo.
• Forte – típico de terras que apresentam
sérias deficiências de aeração, só per- A Tabela 7 mostra, para o caso da palma
mitindo o desenvolvimento de culturas de óleo, os graus de limitação aplicados às
adaptadas. Demanda intensos traba- terras em função do excesso de água.

Tabela 7 – Graus de limitação das terras quanto ao excesso de água


em função da classe de drenagem do solo

Classe de drenagem Grau de Limitação


Bem drenado Nulo
Bem a moderadamente drenado Ligeiro
Moderadamente drenado Moderado
Imperfeitamente drenado Forte
Mal drenado Muito Forte

Zoneamento Agroecológico para a Cultura da Palma de Óleo (dendezeiro) nas Áreas Desmatadas da Amazônia Legal | 31
Suscetibilidade à erosão de declive podem variar para mais de
13%, quando as condições físicas forem
Este fator limitante refere-se ao po- muito favoráveis, ou para menos de 8%,
tencial de desgaste que o solo apresenta quando muito desfavoráveis, como é o
quando submetido a qualquer uso sem caso de solos com horizonte B, com
a adoção de medidas conservacionistas. mudança textural abrupta. Se utilizadas
Esse potencial depende basicamente das fora dos princípios conservacionistas,
condições climáticas (especialmente do essas terras podem apresentar sulcos
regime pluviométrico), das condições do e voçorocas, requerendo práticas de
solo (textura, estrutura, permeabilidade, controle à erosão desde o início de sua
profundidade, capacidade de retenção de utilização agrícola.
água, presença ou ausência de camada
compacta e pedregosidade), das condi- • Forte – grau atribuído a terras que apre-
ções do relevo (declividade, extensão da sentam forte suscetibilidade à erosão
pendente e microrrelevo), da cobertura por ocorrerem em relevo ondulado,
vegetal e do manejo a que é submetido. com declive entre 13 e 20%, ou em
declives mais suaves, mas com piores
O Sistema de Avaliação da Aptidão das condições físicas. Na maioria dos ca-
Terras define os graus de limitação com sos, a prevenção à erosão depende de
relação à suscetibilidade à erosão (nulo, práticas intensivas de controle.
ligeiro, moderado, forte e muito forte),
como a seguir: • Muito Forte – refere-se a terras com sus-
cetibilidade muito forte, por ocorrerem
• Nulo – grau atribuível a terras não sus- em áreas de relevo forte-ondulado, com
cetíveis à erosão, situadas em áreas de declives entre 20 e 45%, o que torna o
relevo plano ou quase plano (0 a 3% seu uso agrícola muito restrito. Na maio-
de declive) e com boa permeabilidade. ria dos casos, o controle à erosão é dis-
Quando cultivadas por 10 a 20 anos, pendioso, podendo ser antieconômico.
podem apresentar erosão ligeira, que
pode ser controlada com práticas sim- • Extremamente Forte – grau de terras que
ples de manejo. apresentam severa suscetibilidade à ero-
são. Não são recomendáveis para o uso
• Ligeiro – grau típico de terras que apre- agrícola, sob pena de serem totalmente
sentam pouca suscetibilidade à erosão erodidas em poucos anos. Trata-se de
em função das boas propriedades físi- terras ou paisagens de relevo monta-
cas e por estarem situadas em áreas de nhoso com declives superiores a 45%,
relevo suave-ondulado, com declives de nas quais deve ser estabelecida uma co-
3 a 8%. Quando utilizadas com lavouras bertura vegetal de preservação ambien-
por um período de 10 a 20 anos, essas tal permanente.
terras normalmente mostram uma per-
da de 25% ou mais do horizonte super- No caso do ZAE-Palma de Óleo, a limi-
ficial. Práticas conservacionistas simples tação das terras quanto à suscetibilidade
podem prevenir esse tipo de erosão. à erosão foi avaliada considerando-se a
interação entre classe de relevo, textura e
• Moderado – grau atribuído a terras gradiente textural ao longo dos perfis. Des-
que apresentam moderada suscetibili- se modo, partiu-se do pressuposto que,
dade à erosão, situadas normalmente dentro da mesma classe de relevo, a sus-
em relevo moderadamente ondulado, cetibilidade à erosão é sensivelmente au-
com declive de 8 a 13%. Esses níveis mentada pela maior quantidade de areia

32 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia


em relação à argila e pela maior diferença O Sistema de Avaliação da Aptidão das
entre a textura das camadas superficiais e Terras define os graus de limitação com
subsuperficiais do solo. Em resumo: relação à suscetibilidade à erosão (nulo,
ligeiro, moderado, forte e muito forte),
1 – Efeito do relevo: quanto maior a in-
como a seguir:
clinação e/ou o comprimento de
rampa do terreno, maior é a susce- • Nulo – grau atribuído às terras que per-
tibilidade à erosão. mitem, em qualquer época do ano, o
emprego de todos os tipos de máqui-
2 – Efeito da textura: dentro da mesma
nas e implementos agrícolas ordinaria-
classe de relevov a suscetibilidade à
mente utilizados. São, geralmente, de
erosão tende a ser maior em solos
topografia plana e praticamente plana,
com textura mais arenosa, e, portan-
com declividade inferior a 3%, e não
to, menos agregados. Este efeito é
oferecem impedimentos relevantes à
previsto para terras com maior incli-
mecanização. O rendimento do trator
nação, sendo pouco importante em
(número de horas de trabalho usadas
relevo mais suave.
efetivamente) é superior a 90%.
3 – Efeito do gradiente textural: dentro
• Ligeiro – refere-se a terras que per-
da mesma classe de relevo, a susce-
mitem, durante quase todo o ano, o
tibilidade à erosão tende a ser maior
emprego da maioria das máquinas
em solos com maior gradiente textu-
agrícolas. São constituídas por solos
ral, ou seja, maior diferença entre a
profundos a moderadamente profun-
textura dos horizontes superficiais e
dos, situados em áreas de relevo sua-
subsuperficiais. Este efeito é previsto
ve ondulado, com declives de 3 a 8%.
como mais intenso para solos com
Este grau pode ser atribuído a terras
horizontes superficiais mais arenosos
de topografia mais suave que apre-
e também para terras com maior incli-
sentem, porém, outras limitações (tex-
nação, sendo pouco importante em
tura muito arenosa ou muito argilosa,
relevo mais suave.
restrição de drenagem, pequena pro-
fundidade, pedregosidade, sulcos de
erosão, etc.). O rendimento do trator
Deficiência por impedimento à varia de 75 a 90%.
mecanização
• Moderado – grau atribuído a terras que
Este fator refere-se às condições apre- não permitem o emprego de máquinas
sentadas pelas terras devido ao uso de ordinariamente utilizadas durante todo
máquinas e implementos agrícolas. A ex- o ano. Essas terras apresentam relevo
tensão e a forma das pendentes, as con- moderadamente ondulado a ondu-
dições de drenagem, a profundidade, a lado, com declividade de 8 a 20%, ou
textura, o tipo de argila, a pedregosidade topografia mais suave no caso de ocor-
e a rochosidade superficial condicionam rência de outros impedimentos à me-
o uso de mecanização, sendo este fator canização (pedregosidade, rochosida-
mais relevante no nível de manejo C, ou de, profundidade exígua, textura muito
seja, o mais avançado, no qual está pre- arenosa ou muito argilosa do tipo 2:1,
visto o uso de máquinas e implementos grandes sulcos de erosão, drenagem
agrícolas nas diversas fases da operação imperfeita, etc.). O rendimento do tra-
agrícola. tor normalmente varia de 50 a 75%.

Zoneamento Agroecológico para a Cultura da Palma de Óleo (dendezeiro) nas Áreas Desmatadas da Amazônia Legal | 33
• Forte – caracteriza terras que ocorrem em sendo difícil até mesmo o uso de imple-
áreas de declives acentuados (20 a 45%), mentos de tração animal. Normalmen-
em relevo forte ondulado, o que permi- te, são de topografia montanhosa, com
te, quase em sua totalidade, apenas o declives superiores a 45% e/ou com
uso de implementos de tração animal impedimentos muito fortes devido a
ou máquinas especiais. Sulcos e voçoro- pedregosidade, rochosidade e profun-
cas podem constituir impedimentos ao didade ou a problemas de drenagem.
uso de máquinas, bem como pedrego-
No caso do ZAE-Palma de Óleo, ava-
sidade, rochosidade, pequena profundi-
liou-se inicialmente o efeito individual da
dade, má drenagem, etc. O rendimento
pedregosidade, rochosidade, classe de re-
do trator é inferior a 50%.
levo e presença de petroplintita, analisan-
• Muito Forte – grau atribuído a terras que do-se, ao final, o efeito combinado de tais
não permitem o uso de maquinaria, atributos (Tabelas 8, 9 e 10).

Tabela 8 – Graus de limitação por impedimento à mecanização


em função das classes de relevo
Classe Faixa de declive (%) Grau de Limitação
Plano 0-3 Nulo
Suave ondulado 3-8 Ligeiro
Moderadamente ondulado 8 - 13 Ligeiro
Ondulado 13 - 20 Moderado
Forte ondulado 20 - 45 Forte
Montanhoso 40 - 70 Muito Forte
Escarpado > 70 Muito Forte

Tabela 9 – Graus de limitação por impedimento à mecanização


em função das classes de pedregosidade
Classe Característica Grau
Ausência de calhaus e/ou matacões na
Não pedregosa Nulo
superfície ou na massa do solo.
Ocorrência de calhaus e/ou matacões
Ligeiramente
esparsos ocupando 0,01 a 0,1% da massa Ligeiro
pedregosa
do solo e/ou da superfície do terreno.
Ocorrência de calhaus e/ou matacões
Moderadamente
esparsos ocupando 0,1 a 3% da massa Moderado
pedregosa
do solo e/ou da superfície do terreno.
Ocorrência de calhaus e/ou matacões
Pedregosa esparsos ocupando de 3 a 15% da massa Forte
do solo e/ou da superfície do terreno.
Ocorrência de calhaus e/ou matacões
Muito pedregosa esparsos ocupando mais de 15% da Muito Forte
massa do solo e/ou da superfície do terreno.

34 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia


Tabela 10 – Graus de limitação por impedimento à mecanização
em função das classes de rochosidade
Classe Característica Grau
Total ausência de rochas, seja na
Não rochosa Nulo
superfície ou na massa do solo.
Afloramentos de rocha e/ou matacões
Ligeiramente
que se distanciam por 30 a 100 metros e Ligeiro
rochosa
ocupam de 2 a 10% da superfície do terreno.
Afloramentos de rocha e/ou matacões
Moderadamente
que se distanciam por 10 a 30 metros e Moderado
rochosa
ocupam de 10 a 25% da superfície do terreno.
Afloramentos rochosos e/ou matacões
Rochosa que se distanciam por 3 a 10 metros e Forte
ocupam de 25 a 50% da superfície do terreno.

Em relação à presença de petroplintita, Considerou-se, portanto, o efeito tanto


foi atribuído o grau de limitação modera- de impedimentos físicos, representados
do aos solos que apresentam este caráter. pela pedregosidade (incluindo a presença
de pedras, seixos e petroplintita), rochosida-
Os solos nos quais foi indicado o cará-
de e profundidade efetiva do solo, quanto
ter vértico, que denota o predomínio de
o efeito de impedimentos químicos, como
argilas de alta atividade, o que dificulta
a presença de excesso de certos elementos
sobremaneira o manejo do solo, foi atri-
químicos, principalmente sódio e enxofre. O
buído o grau muito forte.
predomínio de argila de atividade alta tam-
bém foi considerado devido ao seu efeito
Impedimento ao sobre a resistência do solo ao trabalho de
desenvolvimento radicular máquinas e ferramentas. Os graus de limi-
tação quanto ao impedimento ao desenvol-
Embora a verificação do efeito das di-
vimento radicular foram atribuídos às terras
versas características do solo sobre o de-
com base em informações extraídas a partir
senvolvimento das raízes já esteja implíci-
do conhecimento das classes taxonômicas
ta na análise dos outros fatores, achou-se
dos solos e dos caracteres complementares
por bem, neste trabalho, individualizá-lo
assinalados para cada componente das uni-
e analisá-lo separadamente devido a sua
dades de mapeamento.
interferência direta no volume de solo
explorado pelas raízes e, consequente- A Tabela 11 mostra os graus de limi-
mente, na disponibilidade de nutrientes e tação atribuídos às terras em função das
água para as plantas. classes de profundidade do solo.

Tabela 11 – Graus de limitação ao desenvolvimento radicular


em função da classe de profundidade do solo
Classe Característica Grau
Profundo > 80 cm Nulo
Medianamente profundo 60 a 80 cm Ligeiro
Pouco profundo 50 a 60 cm Moderado
Raso <50 cm Forte

Zoneamento Agroecológico para a Cultura da Palma de Óleo (dendezeiro) nas Áreas Desmatadas da Amazônia Legal | 35
As classes de profundidade foram dedu- Quanto maior a deficiência, portanto,
zidas a partir das classes taxonômicas dos mais intensivas serão as práticas, que en-
componentes das unidades de mapeamen- volvem grande conhecimento técnico e
to e/ou pela indicação de caráter litólico, disponibilidade de insumos para melhorar
raso e pouco profundo para certos solos. um solo carente até a condição de classe
de aptidão boa e regular.
Exemplos de práticas menos intensivas
recomendadas para o melhoramento de
Viabilidade de fertilidade e, portanto, mais compatíveis
com o nível de manejo B:
melhoramento das
• cobertura do solo com espécies le-
condições agrícolas guminosas ou gramíneas;
das terras • distribuição de esterco e composto
orgânico na superfície do solo;
Os graus de limitação são atribuídos • distribuição de tortas e outros resídu-
às terras de acordo com a sua capacida- os vegetais;
de presumível de suportar uma lavoura de
• correção da acidez do solo com cal-
palma de óleo após o emprego de práticas
cário;
de melhoramento compatíveis com os ní-
veis de manejo B e C, considerando-se o • adubação com NPK;
fato de que a irrigação não está incluída • consorciação de culturas.
entre tais práticas. São exemplos de práticas mais intensi-
vas, compatíveis com o nível de manejo C:
A – Melhoramento da • adubação com NPK + micronutrientes;
deficiência de fertilidade • adubação foliar;
O melhoramento da fertilidade natu- • combinação das práticas acima com
ral de solos que possuem condições físi- “mulching”, utilizando espécies legu-
cas propícias às plantas é fator decisivo minosas ou gramíneas de cobertura;
no desenvolvimento agrícola. De modo • correção da acidez do solo e forneci-
geral, embora a aplicação de fertilizantes mento de Ca e Mg através da incor-
e corretivos seja uma técnica já difundida, poração de calcário ao solo.
as quantidades aplicadas são comumen-
te insuficientes. Portanto, seu emprego A indicação de dosagens de calcário e
deve ser incentivado, bem como outras fertilizantes depende de recomendações
técnicas adequadas ao aumento da pro- técnicas, com base em análises do solo
dutividade. e metas de produtividade definidas pelo
agricultor para uma produção sustentável
Terras com alta fertilidade natural e no seu empreendimento.
boas propriedades físicas exigem, even-
tualmente, menores quantidades de ferti-
lizantes para a manutenção da produção, B – Melhoramento da deficiência
ao passo que terras com fertilidade natu- de água (sem irrigação)
ral baixa exigem quantidades maiores de Alguns fatores limitantes não são vi-
fertilizantes e corretivos, bem como alto áveis de melhoramento, como é o caso
nível de conhecimento técnico. da deficiência de água, uma vez que não

36 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia


está implícita a irrigação em nenhum dos D – Melhoramento da
níveis de manejo considerados. Basica- suscetibilidade à erosão
mente, os graus de limitação expressam
as diferenças de umidade predominantes A suscetibilidade à erosão usualmente
nas diversas situações climáticas. No en- tem sua ação controlada através de práticas
tanto, são preconizadas algumas práticas pertinentes aos níveis de manejo B e C.
de manejo que favorecem a umidade dis- Uma área pode tornar-se permanen-
ponível das terras, tais como: temente inadequada para a agricultura
• redução da perda de água da chuva, por ação da erosão em função do carre-
através da manutenção do solo com amento da camada superficial do solo e,
cobertura morta (mulching) pro- sobretudo, do dessecamento do terreno.
veniente de restos vegetais, como A conservação do solo, no sentido mais
cachos vazios e fibras da planta de amplo, é essencial para a manutenção da
processamento de óleo; plantio em fertilidade e da disponibilidade de água.
faixas ou construção de cordões e Como práticas compatíveis com o nível
terraços; práticas que asseguram sua de manejo B, simples, mas bastante efi-
máxima infiltração; cazes para o controle da erosão, podem
• incorporação dos restos vegetais ao ser citadas:
solo; • enleiramento de restos culturais em
• terraços (sem gradiente e sem saída nível no alinhamento das linhas de
de água); plantio, alternadamente;
• faixas de retenção permanente. • cordão de retenção (nos terraços);
• capinas em faixas alternadas;
C – Melhoramento do excesso • faixas de retenção permanente;
de água • cobertura morta (mulching);
Vários fatores indicam a viabilidade de • adubação verde nos primeiros anos.
minorar ou não a limitação pelo excesso Práticas mais intensivas para melhora-
de água, tais como: drenagem interna do mento da suscetibilidade à erosão e, por-
solo, condições climáticas, topografia do tanto, compatíveis com o nível de manejo
terreno e necessidade das culturas. C, são citadas a seguir:
Embora no nível de manejo C, mais • terraceamento (em nível ou com gra-
desenvolvido, estejam previstas práticas diente);
complexas de drenagem, essas requerem • terraços em patamar;
estudos mais profundos de engenharia
de solos e água, que não são aqui abor- • canais escoadouros;
dados. • banquetas individuais;
Trabalhos simples, como a construção • escarificação/subsolagem;
de valas de drenagem para remoção do • diques;
excesso de água, prejudicial ao sistema ra- • faixas de retenção permanente;
dicular, constituem práticas acessíveis que • interceptadores de água (obstáculos);
apresentam bons resultados. No entanto,
• estruturas especiais (paliçadas, buei-
devem ser bem planejadas para não cau-
ros, etc.);
sar ressecamento excessivo das terras e
evitar a erosão em áreas mais declivosas. • controle de voçorocas.

Zoneamento Agroecológico para a Cultura da Palma de Óleo (dendezeiro) nas Áreas Desmatadas da Amazônia Legal | 37
Algumas práticas importantes para o para a avaliação de aptidão das terras é
melhoramento das condições agrícolas apresentado na Tabela 12.
do solo são comuns aos níveis de manejo
Considerações sobre as características
B e C: uso da terra de acordo com a ap-
gerais e as condições agrícolas das classes
tidão agrícola, vegetação de proteção e
de solo, em primeiro nível categórico, e
adequada implantação de estradas e car-
suas consequências para o enquadramen-
readores.
to nas diferentes classes de zoneamento
para a cultura da Palma de Óleo são apre-
E – Melhoramento dos sentadas na Tabela 13.
impedimentos à mecanização
O impedimento à mecanização so-
mente é considerado relevante no nível Referências bibliográficas
de manejo C. Os graus de limitação atri-
buídos às terras, em condições naturais, EMBRAPA SOLOS. Sistema brasileiro de classifi-
cação de solos. 2. ed. Rio de Janeiro: Embrapa
têm por termo de referência o emprego
Solos, 2006. 306 p.
de máquinas motorizadas nas diversas fa-
ses da operação agrícola. IDE, B. Y.; ALTHOFF, D. A.; THOMÉ, V. M. R.; VIZZOT-
TO, V. J. Zoneamento agroclimático do Estado
A maior parte dos obstáculos à meca- de Santa Catarina, 2ª Etapa. Florianópolis: EM-
PASC, 1980. 106 p.
nização ou tem caráter permanente, ou
apresenta tão difícil remoção que torna RAMALHO FILHO, A.; BEEK, K. J. Sistema de ava-
liação da aptidão agrícola das terras. 3. ed. rev.
economicamente inviável o seu melho-
Rio de Janeiro: Embrapa-CNPS, 1995. 65 p.
ramento. No entanto, algumas práticas,
ainda que dispendiosas, poderão ser re- RAMALHO FILHO, A.; HIRANO, C.; SA, T. D. A. Ap-
tidão pedoclimática: zoneamento por produto,
alizadas em benefício do rendimento das Programa Grande Carajás. Rio de Janeiro: [SNLCS],
máquinas, como é o caso da construção 1984. Atlas com texto,1v.
de estradas, da drenagem, da remoção RAMALHO FILHO, A. HIRANO C. LIMA, M. A. Ap-
de pedras, da sistematização do terreno tidão pedoclimática por cultura do Estado da
e da direção do trabalho da máquina em Bahia. Salvador: Ministério da Agricultura;Governo
nível. do Estado da Bahia, 1985. 50 p. 1 Vol. Atlas.
SIPAM. Base pedológica da Amazônia Legal: base
Um exemplo de sequência ordena- digital em escala compatível com a escala 1:250.000.
da das características dos solos utilizadas Brasília, SIVAM; IBGE, 2004.

38 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia


Tabela 12 – Sequência utilizada para avaliação da aptidão das terras para a palma de óleo a partir da informação sobre solos e ambiente
* (EMBRAPA SOLOS, 2006)

Componentes Saturação Tipo de Textura do Textura do


UNIDADE DE Classe taxonômica* Atividade
complexo de horizonte horizonte horizonte
MAPEAMENTO Ordem Dominância (nível de subordem) da argila
troca superficial superficial subsuperficial
Latossolo Vermelho-
1 D álico Tb A moderado argilosa argilosa
Amarelo
Argissolo Vermelho-
NA19LVa15 2 S álico Tb A moderado média média
Amarelo
Espodossolo
3 S álico Tb A fraco arenosa média
Hidromórfico
1 D Nitossolo Vermelho eutrófico Tb A moderado argilosa argilosa
2 S Latossolo Amarelo álico Tb A moderado média média
SB23TRe5
3 S Neossolo Quartzarênico álico Tb A fraco arenosa arenosa
4 S Neossolo Litólico distrófico Tb A moderado média média
1 D Plintossolo Háplico álico Ta A moderado média argilosa
SC19PTa1 Argissolo Vermelho-
2 S álico Ta A moderado média argilosa
Amarelo
Argissolo Vermelho-
1 D álico Tb A moderado média média
Amarelo

Zoneamento Agroecológico para a Cultura da Palma de Óleo (dendezeiro) nas Áreas Desmatadas da Amazônia Legal
SB23PVa19
2 S Plintossolo Háplico álico Tb A moderado arenosa média

|
3 S Plintossolo Háplico álico Tb A moderado média média
Simbologia – UM: unidade de mapeamento; D: dominante; S: subdominante; Tb: argila de atividade baixa; Ta: argila de atividade alta.

39
Tabela 12 – Sequência para avaliação da aptidão das terras a partir da informação sobre solos e ambiente (continuação)

40
|
UNIDADE DE Componentes Textura combinada Caráter
Relevo Relevo
MAPEAMENTO (superficial e Relevo combinado (características
Ordem Dominância dominante subdominante
(UM) subsuperficial) especiais)
plano e
1 D argilosa plano suave ondulado sem caráter
suave ondulado
NA19LVa15 suave suave ondulado e
2 S média plano sem caráter
ondulado plano
3 S arenosa/média plano - plano sem caráter
suave suave ondulado e
1 D argilosa ondulado epipetroplíntico
ondulado ondulado
plano e
2 S média plano suave ondulado sem caráter
suave ondulado
SB23TRe5
plano e
3 S arenosa plano suave ondulado sem caráter
suave ondulado
ondulado e
4 S média ondulado forte ondulado pedregoso
forte ondulado
suave
1 D média/argilosa - suave ondulado sem caráter
ondulado
SC19PTa1
suave
2 S média/argilosa - suave ondulado sem caráter
ondulado
plano e
1 D média plano suave ondulado petroplíntico
suave ondulado

Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia


plano e
SB23PVa19 2 S arenosa/média plano suave ondulado sem caráter
suave ondulado
plano e
3 S média plano suave ondulado petroplíntico
suave ondulado
Simbologia: Dominância – D: dominante; S: subdominante
Tabela 12 – Sequência para avaliação da aptidão das terras a partir da informação sobre solos e ambiente (continuação)

Componentes Graus atribuídos aos fatores de limitação à cultura Aptidão das Terras
UNIDADE DE
Componente UM
MAPEAMENTO
(UM) Ordem % da UM ΔR ΔF ΔA ΔO ΔE ΔM ΔP ΔRo Manejo Manejo
B C B C
1 50 n l n n n n n n P P
NA19LVa15 2 30 n l n n l l n n P P P P
3 20 m l n n n l n n IN IN
1 40 l n n n m m f n M IN
2 30 n l n n l l n n P P
SB23TRe5 M IN
3 20 n f m n l l n n M R
4 10 l l n n m f f mf IN IN
1 60 m l n f l l n n IN IN
SC19PTa1 IN IN
2 40 n l n n l l n n P P
1 50 l l n n l l m n R M
SB23PVa19 2 30 m l n f l l n n IN IN R M
3 20 l l n f l l m n IN IN

Zoneamento Agroecológico para a Cultura da Palma de Óleo (dendezeiro) nas Áreas Desmatadas da Amazônia Legal
Simbologia – ΔR: impedimento ao desenvolvimento radicular das plantas; ΔF: deficiência de fertilidade; ΔA: deficiência de água; ΔO: deficiência de oxigênio (excesso de
água); ΔE: suscetibilidade à erosão; ΔM: impedimento à mecanização; ΔP: impedimento por pedregosidade; ΔRo: impedimento por rochosidade.

|
Classe de aptidão/zoneamento: P=Preferencial; R=Regular; M= Marginal; IN=Inapta
Nível de Manejo/nível tecnológico: B = Intermediário; C = Avançado

41
Tabela 13 – Considerações gerais sobre a aptidão das classes de solo em primeiro nível categórico para a cultura da Palma de Óleo

42
|
Classe de Recomendações e cuida-
Conceito geral Aptidão para a cultura da palma de óleo
Solo1 dos de uso agrícola

Solos profundos que apresentam significativo gra- De modo geral, apresentam, ao lado dos Latossolos,
Correção da fertilidade
diente textural, ou seja, aumento do teor de argila aptidão boa para o cultivo da palma de óleo. No caso de
e adoção de práticas
com a profundidade – comparando horizontes ocorrência de petroplintita em grande quantidade, como
conservacionistas mais
Argissolos superficial e subsuperficial – o que acarreta redu- foi registrada em pequenas áreas da Região Norte, há difi-
intensivas, principalmente
ção de permeabilidade em profundidade, maior culdade do trabalho de máquinas. A ocorrência de plintita
em áreas com declive
escorrimento superficial, e, consequentemente, em parte desses solos denota restrição de drenagem, o
mais acentuado.
maior suscetibilidade à erosão. que pode reduzir o desenvolvimento radicular da cultura.

Solos pouco desenvolvidos, fracamente estrutura-


dos, geralmente pouco profundos, que ocorrem Em virtude da grande diversidade de situações em que
com mais frequência em terrenos inclinados, o que ocorrem e das características que apresentam, a adequa-
Cambissolos concorre para caracterizar uma alta suscetibilidade ção desses solos ao cultivo da palma de óleo deve ser –
à erosão e impedimento à franca mecanização. De avaliada com base em informações dispostas em níveis
maneira menos frequente, podem apresentar boa mais baixos da classificação taxonômica.
fertilidade.

Têm restrições ao cultivo da palma de óleo devido à pouca


espessura (profundidade efetiva), que pode ser exígua e
Solos férteis com horizonte superficial escuro, inadequada. O predomínio de argila de atividade alta2 con-
Chernossolos ricos em matéria orgânica. Em sua constituição corre para a expressão de impedimento à mecanização, o –
predominam argilas de alta atividade. que pode ser ainda acentuado pela sua ocorrência em áre-

Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia


as declivosas, comuns em algumas áreas do zoneamento,
notadamente no estado do Acre.
1
Classes de solos em primeiro nível categórico (Ordem), conforme Embrapa Solos (2006).
2
Argila expansível torna o solo impermeável e escorregadio quando muito umedecido, e fendilhado quando muito ressecado.
Tabela 13 – (continuação)

Classe de Recomendações e cuida-


Conceito geral Aptidão para a cultura da palma de óleo
Solo dos de uso agrícola
Solos arenosos com a presença de camada compac-
ta rica em ferro e/ou carbono orgânico em profundi-
Inaptos em função da umidade excessiva, textura de areia
dade. Ocorrem com frequência na Região Norte do
Espodossolos franca solta na superfície e camada impeditiva ao desen- –
país, ocupando áreas de nascentes recobertas pela
volvimento radicular em profundidade variável.
vegetação de campinarana. São comuns também
nas regiões litorâneas.
Solos acinzentados presentes em baixadas e Inaptos em razão da umidade excessiva. Em função da sua
Gleissolos várzeas. São mal drenados e facilmente posição na paisagem, as medidas de manejo necessárias –
encharcáveis. para seu aproveitamento não são economicamente viáveis.
Solos muito profundos, bem drenados, o que é
denotado pelo predomínio de cores vivas, averme- São os solos de melhor aptidão para a cultura da palma
lhadas ou amareladas. Apresentam alta capacida- de óleo na Região Norte do país, onde ocorre a maior Correção da acidez e da
de de infiltração e rápida redistribuição interna de área climaticamente apta para a palma de óleo. A sua fertilidade, bem como
Latossolos água, mesmo quando constituídos de altos teores aptidão pode, no entanto, ser reduzida pela ocorrência adoção de práticas conser-
de argila, o que é condicionado pelo elevado grau eventual de petroplintita (canga fragmentada) em pontos vacionistas em áreas mais
de desenvolvimento de suas unidades estruturais específicos da região, o que concorre para a expressão de declivosas.
(microagregação). Normalmente apresentam impedimento à mecanização.
baixa fertilidade natural.
Adoção de práticas
Solos bem desenvolvidos e bem drenados com conservacionistas, mais
Uma vez que os solos em si não apresentam problemas
significativo gradiente textural, argila de alta intensivas nas áreas mais

Zoneamento Agroecológico para a Cultura da Palma de Óleo (dendezeiro) nas Áreas Desmatadas da Amazônia Legal
Luvissolos significativos ao cultivo da palma de óleo, sua aptidão
atividade e alta saturação por bases, que lhes declivosas, e adequação
fica na dependência do relevo em que ocorrem.

|
conferem alta fertilidade natural. do tipo de tração a ser
utilizada no seu manejo.

43
Tabela 13 – (continuação)

44
Classe de Recomendações e cuida-

|
Conceito geral Aptidão para a cultura da palma de óleo
Solo dos de uso agrícola
Mesmo quando férteis, são considerados inaptos para a
Solos pouco desenvolvidos encontrados em terre-
Neossolos cultura da palma de óleo em razão da exígua profundida-
nos muito pedregosos e rochosos. São invariavel- –
Litólicos de efetiva, da grande suscetibilidade à erosão e de sérios
mente rasos e normalmente declivosos.
impedimentos à mecanização.
Solos formados por material transportado pelos
rios e depositado às suas margens (aluviões). Ge-
Neossolos ralmente são férteis e aptos para culturas de ciclo Inaptos para a cultura de palma de óleo em razão da umi-

Flúvicos curto; porém, ocorrem em áreas consideradas de dade excessiva e do elevado risco de inundações.
preservação permanente (proteção da mata ciliar)
e são sujeitos à inundação.
Devido à sua inerente baixa retenção de água, sua utilização
para a cultura da palma de óleo é especialmente dependen-
Correção de fertilidade,
te do regime climático da região. Em áreas com pluviosidade
práticas conservacionistas
Neossolos adequada, apresentam aptidão regular se constituídos de
Solos arenosos (menos de 15% de argila) com alta que enfoquem o aumento
Quartzarê- areia fina. Em áreas com baixa precipitação pluviométrica
permeabilidade e baixa retenção de água. da retenção de água, além
nicos ou com a existência de período seco significativo (3 meses),
da prevenção dos proces-
sua aptidão é significativamente reduzida. Já o Neossolo
sos erosivos.
Quartzarênico Hidromórfico é inapto pelas mesmas razões
citadas para os Gleissolos e demais solos hidromórficos.
Solos bem estruturados e férteis, de pequena
Adoção de práticas de
ocorrência relativa na Região Norte. Assim como
Apresentam aptidão alta (preferencial) para a cultura da conservação do solo mais
Nitossolos os Argissolos, são originados pela eluviação de
palma de óleo. intensivas quanto mais

Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia


argila, embora, ao contrário daqueles, não apre-
declivoso for o terreno.
sentem gradiente textural significativo.
Solos com alto teor de matéria orgânica encontra-
dos nas partes mais úmidas das várzeas. Grande
Organossolos Inaptos para a cultura da palma de óleo. –
parte ocorre em áreas consideradas de preserva-
ção permanente (proteção da vegetação nativa).
Tabela 13 – (continuação)
Classe de Recomendações e cuidados
Conceito geral Aptidão para a cultura da palma de óleo
Solo de uso agrícola
Planossolos Solos com marcante gradiente textural entre os A avaliação da aptidão destes solos para o cultivo da
horizontes subsuperficiais e superficiais. Ocorrem palma de óleo requer o conhecimento de características
com mais frequência em áreas planas e em baixa- especificadas em níveis categóricos mais baixos, que
das. Apresentam grande variabilidade com relação permitem que sejam verificadas a profundidade efetiva e
à drenagem interna, podendo também apresentar a drenagem interna. Não são esperadas limitações com –
horizontes endurecidos em profundidade, que relação ao relevo, já que estes solos são característicos de
reduzem sua profundidade efetiva. Têm fertilidade relevo plano ou levemente ondulado.
natural variável e podem, inclusive, conter elemen-
tos em níveis tóxicos.
Plintossolos Solos hidromórficos ou não, caracterizados por Os Plintossolos hidromórficos são inaptos para a palma de
expressiva plintização, ou seja, ocorrência de óleo em razão da umidade excessiva, enquanto os Plintos-
concentrações individualizadas de óxidos de ferro solos Pétricos concrecionários, embora não apresentem
originadas por segregação em função de alter- esse problema, oferecem certa limitação com relação ao
nância de períodos de umedecimento e secagem impedimento à mecanização. Existem, no entanto, áreas
da massa do solo, principalmente em resposta de Plintossolos Pétricos concrecionários na Região Norte
à oscilação do lençol freático. Os plintossolos do país que estão sendo cultivados satisfatoriamente com –
pétricos na maioria das vezes não ocorrem em a palma de óleo, não obstante a considerável restrição à
ambientes hidromórficos. mecanização. Para Plintossolos que apresentam horizonte
litoplíntico, é necessário verificar a profundidade da ocor-
rência desse caráter e a adequação da profundidade efetiva
para o desenvolvimento radicular. Em todos os casos,
predomina a baixa fertilidade natural.

Zoneamento Agroecológico para a Cultura da Palma de Óleo (dendezeiro) nas Áreas Desmatadas da Amazônia Legal
Vertissolos Solos cuja fração coloidal mineral é constituída basi- Inaptos para o dendê em virtude de forte limitação com
camente de argila de atividade alta, o que acarreta relação aos impedimentos à mecanização e ao desenvol-

|
grande alternância de movimentação da massa do vimento radicular. –
solo por contração-expansão, em função da alter-
nância de condições de secagem e umedecimento.

45
46 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
PARTE 1
Capítulo 3

Procedimento metodológico da
Avaliação da Aptidão Climática para
a cultura da palma de óleo nas áreas
desmatadas da Amazônia Legal
Alexandre Ortega Gonçalves, Therezinha Xavier Bastos, Alexandre Hugo Barros,
Antonio Ramalho Filho e Paulo Emílio Ferreira da Motta

A avaliação da aptidão climática para tas a técnicos e produtores especializados


a palma de óleo foi realizada com base na cultura. Por outro lado, o levantamento
no conhecimento das necessidades da das condições climáticas prevalecentes na
cultura levantadas, conforme comentado área de estudo foi obtido em várias fontes
no capítulo da Aptidão Agrícola das Terras, com séries de dados meteorológicos de
através de revisão bibliográfica e de consul- períodos superiores a 10 anos.

Figura 1 – Pontos de monitoramento climático utilizados no ZAE Palma de Óleo

Zoneamento Agroecológico para a Cultura da Palma de Óleo (dendezeiro) nas Áreas Desmatadas da Amazônia Legal | 47
As classes de aptidão foram estabe- cultura caracteriza-se por uma preci-
lecidas com base na deficiência hídrica pitação média anual superior a 1800
média (DEF), determinada a partir do ba- mm, com precipitações mensais su-
lanço hídrico climatológico para um valor periores a 100 mm e distribuídas uni-
de capacidade de água disponível dos formemente ao longo do ano.
solos (CAD) de 125 mm, e no número de
• Brilho Solar – altos níveis de radiação
anos secos consecutivos, aqui considera-
solar são indispensáveis para o cres-
dos como aqueles em que a precipitação
cimento e a produção da cultura. A
média é inferior a 50 mm. As classes de
isolação necessária para a expressão
aptidão climática foram assim definidas:
máxima do potencial produtivo da
– Preferencial (P): áreas com Deficiên- palma de óleo situa-se em torno de
cia Hídrica média anual (DH) inferior 1.600 horas/ano. Locais com lumino-
a 200 mm e com até três meses se- sidade inferior a 1.500 horas/ano são
cos consecutivos; considerados limitantes.
– Regular (R): áreas com DH entre 200 • Temperatura do ar – fator climático
mm e 350 mm e com até três meses de grande importância para o cres-
secos consecutivos; cimento e a produção da palma de
óleo. Observa-se que as maiores
– Marginal (M): áreas com DH entre 350
produções são obtidas em regiões
mm e 450 mm e com até três meses
com pequenas variações de tempe-
secos consecutivos;
ratura e onde a média anual situa-
– Inapta (I): áreas com DH>450 e/ou se entre 24 e 28ºC, sem ocorrência
com mais de três meses secos con- de temperaturas mínimas abaixo de
secutivos. 16ºC por períodos prolongados.
Na elaboração do ZAE-Palma de Óleo, • Umidade relativa do ar – a umidade
foi utilizada a avaliação da aptidão climáti- relativa do ar, média mensal, deve
ca, embora também possa ser utilizado o estar entre 75 e 90%.
risco climático baseado em estudos proba-
Para a determinação da deficiência
bilísticos em séries climáticas. De acordo
hídrica, foi realizado o balanço hídrico cli-
com a literatura disponível, para que uma
matológico segundo a metodologia pro-
planta expresse todo o seu potencial de
posta por Thornthwaite e Mather (1955),
produção, ela necessita de condições cli-
utilizando-se uma CAD de 125 mm. Os
máticas favoráveis. Essas condições podem
dados de deficiência hídrica anual poste-
limitar o estabelecimento da cultura e a
riormente foram espacializados e divididos
produção de frutos em certas regiões. Na
em classes, conforme proposto por Barce-
avaliação da aptidão climática, os fatores de
los (1994). Esse autor avaliou a viabilidade
maior importância para o cultivo da palma
e a potencialidade de produção da cultura
de óleo são: precipitação, horas de brilho
da palma de óleo, relacionando dados de
solar e temperaturas máxima e mínima.
deficiência hídrica anual (mm) com o po-
• Precipitação – uma adequada dispo- tencial de produção de óleo (T de óleo/ha/
nibilidade de água no solo de forma ano), conforme mostrado na Tabela 1. Da
constante é condição extremamente mesma forma, a deficiência hídrica pode
importante para o desenvolvimento ser relacionada com a produção em tone-
e a produção da palma de óleo. O re- ladas de cachos por hectare/ano (Figura 2),
gime pluviométrico adequado a essa conforme Irho (1969) apud Hartley (1988).

48 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia


Tabela 1 – Relação entre déficit beleceram-se zonas de comportamento
hídrico potencial anual e da deficiência hídrica para a área da Ama-
produção de óleo de palma zônia Legal, com produtividades associa-
Fonte: Barcelos (1994) das variando de 3,5 a 5,2 t óleo/ha/ano. A
Potencial de avaliação do risco climático para o cultivo
Déficit Hídrico da palma de óleo foi, então, sistematizada
produção
(mm/ano) em quatro categorias e espacializada con-
(t de óleo/ha/ano)
0 - 150 > 5,2 forme segue:
150 - 250 4,4 - 5,2 – Preferencial (P): áreas com Deficiên-
250 - 350 3,5 - 4,4 cia Hídrica média anual (DH) inferior
350 - 500 3,1 - 3,5 a 200 mm e com até três meses se-
> 500 < 3,1 cos consecutivos;
– Regular (R): áreas com DH entre 200
mm e 350 mm e com até três meses
Paralelamente, foram correlacionados
secos consecutivos;
os dados de meses secos com a deficiên-
cia hídrica, já que, segundo Bastos et al. – Marginal (M): áreas com DH entre 350
(2001), a ocorrência de três meses secos mm e 450 mm e com até três meses
consecutivos prejudica o cultivo comercial secos consecutivos;
da cultura.
– Inapta (I): áreas com DH>450 e/ou
Tendo como base as correlações de com mais de três meses secos con-
deficiência hídrica e produtividade, esta- secutivos.

Figura 2 – Relação entre deficiência hídrica anual e produção de cachos de palma de óleo
(IRHO, 1969 apud HARTLEY, 1988)

600 ––
Deficiência hídrica anual (mm)

500 ––
400 ––
300 ––
200 ––
100 ––
––

––

––

––

5 10 15 20
Produção de cachos (toneladas/ha/ano)

Zoneamento Agroecológico para a Cultura da Palma de Óleo (dendezeiro) nas Áreas Desmatadas da Amazônia Legal | 49
Referências bibliográficas
BARCELOS, E. Relatório de viagem ao municí-
pio de Alto Paraíso - RO, objetivando avaliar a
viabilidade e potencialidade de produção da
cultura do dendê. Manaus: Embrapa Amazônia
Ocidental, 1994.
BASTOS, T. X.; MULLER, A. A.; PACHECO, N. A.;
SAMPAIO, M. N.; ASSAD, A. D.; MARQUES, A. F.
S. Zoneamento de riscos climáticos para a cultura
do dendezeiro no estado do Pará. Revista Brasi-
leira de Agrometeorologia, v. 9, n. 3, p.564-570,
2001.
HARTLEY, C. W. S. The oil palm. 3. ed. London: [s.
n.], 1988. 761 p. (Tropical agriculture series).
IDE, B. Y.; ALTHOFF, D. A.; THOMÉ, V .M. R.; VIZZOT-
TO, V. J. Zoneamento agroclimático do Estado
de Santa Catarina, 2ª Etapa. Florianópolis: EM-
PASC, 1980. 106 p.
THORNTHWAITE, C. W.; MATHER, J. R. The water
balance. New Jersey: Drexel Institute of Technolo-
gy, 1955. 104 p. (Publications in Climatology.).

50 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia


PARTE 1
Capítulo 4

Organização da informação, metodologia


da integração temática, procedimentos
informatizados e cartografia para a
elaboração do Zoneamento Agroecológico
para a cultura da palma de óleo nas áreas
desmatadas da Amazônia Legal

Margareth Simões Penello Meirelles, Mario Luiz Diamante Aglio,


Alexandre Ortega Gonçalves, Marie Elisabeth Christine Claessen,
Wenceslau Geraldes Teixeira, Paulo Emílio Ferreira da Motta,
Antonio Ramalho Filho e Jesus Fernando Mansilla Baca

componente das unidades de mapeamen-


Introdução to de solos e a avaliação da aptidão das
terras por unidade de mapeamento. Os
Face à grande extensão da área abran- mapas advindos desses procedimentos, e
gida pelo Zoneamento Agroecológico que constituíram os produtos intermediá-
para a Cultura da Palma de Óleo nas Áre- rios e os produtos finais do ZAE-Palma de
as Desmatadas da Amazônia Legal (ZAE- Óleo, foram elaborados segundo critérios
Palma de Óleo) envolvendo uma grande cartográficos vigentes para o Brasil e estão
quantidade de unidades de mapeamento disponíveis no Geoportal Digital da Embra-
de solos, houve a necessidade de se de- pa (http://mapoteca.cnps.embrapa.br).
senvolver um procedimento automatiza-
do de caráter inovador.
Neste capítulo, descreve-se o proce-
dimento utilizado, importante etapa da Organização da
elaboração do ZAE-Palma de Óleo que informação
permite a integração dos diversos temas
que compõem a sua base de dados. Para Para a construção da base de dados,
tanto, a sua execução engloba um con- informações de múltiplas fontes foram pes-
junto de procedimentos metodológicos quisadas e compatibilizadas. Uma pesquisa
de natureza temática e informatizada, in- nas principais instituições produtoras de
cluindo a consulta ao banco de dados do dados do nosso país se fez necessária. Em
SIPAM (Sistema de Proteção da Amazônia) seguida, foi realizada a compatibilização de
e a aquisição de dados, a avaliação da in- projeções cartográficas, escalas e formatos.
tensidade dos fatores limitantes de cada Essa etapa, apesar de muito trabalhosa, é

Zoneamento Agroecológico para a Cultura da Palma de Óleo (dendezeiro) nas Áreas Desmatadas da Amazônia Legal | 51
de extrema importância para a construção
da base de dados geográfica, e sua precisão
evita a propagação de erros na integração
Transformações
temática (MEIRELLES et al., 2007). cartográficas
Os principais fornecedores de dados fo- A integração temática utiliza os arquivos
ram: Embrapa – Empresa Brasileira de Pes- digitais provenientes das múltiplas fontes
quisa Agropecuária, Geoportal Digital (http:// descritas na Tabela 1 que foram editados
mapoteca.cnps.embrapa.br); IBGE – Instituto para, então, integrarem a avaliação temáti-
Brasileiro de Geografia e Estatística (www. ca. Assim sendo, a metodologia incluiu:
ibge.gov); SIPAM – Sistema de Proteção da
Amazônia (www.sipam.gov.br); INPE – Insti- – adoção de um sistema de coordena-
tuto de Pesquisa Espaciais; PRODES – Progra- das para o qual todas as informações
ma de Monitoramento do Desmatamento devem ser compatibilizadas; no caso
da Amazônia - INPE. (http://www.dpi.inpe. do zoneamento, é importante a es-
br/prodesdigital/prodes.php); e MMA/SIS- colha de um sistema de coordenadas
COM – Sistema Compartilhado de Informa- que permita o cálculo de áreas;
ções Ambientais (http://siscom.ibama.gov. – organização de uma pasta contendo
br/). Uma descrição dessas fontes de dados todos os arquivos digitais na forma
e suas características está sumarizada na Ta- de mapas, facilitando a documenta-
bela 1. Os cruzamentos indicados foram rea- ção e atualizações futuras;
lizados em ambiente Sistema de Informação
Geográfica (SIG), utilizando-se o software AR- – construção de uma base de dados geo-
CGIS1 (www.esri.com). gráfica compatibilizada em ambiente SIG.
Para este fim, foi utilizada a base car-
1
ARCGIS é uma coleção integrada de produtos de aplicativos tográfica fornecida pelo SIPAM na escala
de Sistemas Geográficos de Informação que fornece uma 1:250.000, na qual verificou-se uma gama
plataforma baseada em padrões para análise espacial, manu-
seio de dados e mapeamento (www.esri.com). de informações muito densa que pre-

Tabela 1 – Fonte dos dados originais utilizados no zoneamento


DADO FONTE ESCALA OBSERVAÇÃO
Dado original produzido em
Unidades de Mapeamento
SIPAM 1:250.000 SAD-69 a partir do projeto
de Solos – UM
RADAM (SIPAM, 2004)
Embrapa Dado original produzido em
Grid de Meses Secos 1:3.000.000
Solos SAD-69
Grid de Deficiência Hídrica Embrapa Dado original produzido em
1:3.000.000
– Amazônia Legal Solos SAD-69
Grid Prodes (INPE, 2007) INPE/ Dado original produzido em
1:600.000
O pixel possui 120 m PRODES SAD-69 (INPE, 2007)
Delimitação de Unidades MMA/ Dado original produzido em
1:500.000
de Conservação Siscom SAD-69 (BRASIL, 2002)
Delimitação de Reservas MMA/ Dado original produzido em
1:500.000
Indígenas Siscom SAD-69
Dado original produzido em
Limite político IBGE 1:500.000
SAD-69

52 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia


judicaria a visualização do tema. Então, dos solos, contidos no conjunto de regras
optou-se por fazer uma generalização que constituem os requisitos mínimos da
cartográfica, com o objetivo de deixar o cultura para efeito de avaliação do poten-
zoneamento mais evidente. Dessa forma, cial das terras para a cultura da palma de
essa “limpeza” foi baseada na informação óleo, com os graus de limitação que o
obtida pelo RADAM, que se encontrava solo apresenta (oferta ambiental) resulta
menos densa devido a sua escala de ori- na Aptidão Agrícola das Terras.
gem 1:1.000.000 (IBGE, 2009).
O mapa de meses secos e o da defici-
Assim, drenagens principais, drenagens ência hídrica foram reprojetados também
secundárias, rodovias e outras informa- para SAD-69. No tema deficiência hídrica,
ções foram eliminadas, restando apenas foi utilizado o mesmo processamento. A
aquelas que realmente fariam a diferença partir dos mapas resultantes da reprojeção
no entendimento do mapa final de zone- para o datum de referência SAD-69, foi re-
amento agroecológico da Amazônia Legal alizada uma intersecção para se obter a
para os dois níveis de manejo, B e C. limitação climática para a cultura da palma
de óleo. O resultado desse processo pro-
Para apresentar as cartas na escala de
duz o tema Aptidão Climática.
1:250.000, abrangendo toda a Amazônia
Legal, foram elaboradas 334 folhas com Da intersecção da Aptidão Agrícola
base no recorte sistemático do IBGE para das Terras com a Aptidão Climática tem-
a escala. Novamente, utilizando-se agora se como produto a Aptidão Pedoclimática
a base cartográfica geral já generalizada, para a cultura da palma de óleo, ainda
foi utilizado o processo de clipagem do como um resultado intermediário do zo-
ARCGIS para recortar todas as informações neamento agroecológico.
cartográficas e obter, assim, as folhas da
Esse resultado representa o potencial
base cartográfica na escala 1:250.000, que
regionalizado para o desenvolvimento da
ancorou todo os trabalhos de campo e
cultura da palma de óleo, considerando-
também permitiu o enriquecimento do
se as restrições legais e ambientais. Do
ZAE-Palma de óleo.
resultado da avaliação desse produto
Para minimizar a distorção introduzida intermediário – aptidão pedoclimática –
pela representação cartográfica, todos os subtraem-se as áreas legalmente protegi-
dados utilizados foram reprojetados para das. Através do mapa de áreas desmata-
a projeção cônica equivalente à área de das (INPE, 2007), apresentado na Figura 1,
Albers, utilizando o datum de referência e das áreas sem informação do PRODES,
SAD-69. Esses dados reprojetados foram mas historicamente reconhecidas como
utilizados para se calcular a superfície das desmatadas, obtém-se o ZAE-Palma de
diferentes classes do zoneamento. Óleo.
Como resultado dessas avaliações,
obtém-se o ZAE-Palma de óleo com a se-
guinte estrutura classificatória:
Integração temática • Preferencial-P – potencial alto;
e procedimentos • Regular-R – potencial médio a alto;
informatizados • Marginal-M – potencial baixo;
A comparação dos graus de limitação • Inapta-I – sem potencial ou inadequada;

Zoneamento Agroecológico para a Cultura da Palma de Óleo (dendezeiro) nas Áreas Desmatadas da Amazônia Legal | 53
Figura 1 – Áreas desmatadas obtidas pelo Inpe (2007), utilizado como um dos recortes
da área total do zoneamento agroecológico da região.

• Áreas bloqueadas – terras contidas IBGE, reprojetada na projeção cônica equi-


em unidades de conservação am- valente à área de Albers com datum SAD-
biental ou em terras indígenas de- 69. Essa divisão política foi utilizada para
marcadas (Fonte 1; Fonte 2); terras efetuar as seguintes partições territoriais:
contidas em áreas sem aptidão climá-
– áreas de zoneamento contido nas
tica ou com alto risco climático; terras
unidades da federação da Amazônia
em áreas cobertas por floresta nativa,
Legal;
conforme Inpe (2007).
– áreas de zoneamento contido nas
A fundamentação metodológica para
mesorregiões da Amazônia Legal.
a obtenção da aptidão pedoclimática e do
zoneamento agroecológico por cultura ou O processo de cálculo da extensão ter-
produto tratados neste capítulo é baseada ritorial produziu um erro de aferição geral
nos preceitos, critérios e procedimentos de 5,68 ha.
enunciados do método intitulado “Siste-
Face à enorme área abrangida e, por-
ma de Avaliação da Aptidão das Terras”
tanto, à grande quantidade de unidades
(RAMALHO FILHO; BEEK, 1965), preconiza-
de mapeamento de solos envolvidas, fez-
do pela Embrapa para a interpretação de
se necessário o desenvolvimento de um
levantamentos de solos no Brasil.
procedimento automatizado que incluísse
Para o cálculo da extensão territorial do consulta ao banco de dados do SIPAM,
resultado final do zoneamento, foi consi- avaliação da intensidade dos fatores limi-
derada a divisão política fornecida pelo tantes de cada componente das unidades

54 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia


de mapeamento de solos e avaliação da
aptidão das terras por unidade taxonômi-
ca que compõe as unidades de mapea- Referências bibliográficas
mento de acordo com o quadro de regras AZEVEDO, V. H. M.; MEIRELLES, M. S. P., FERRAZ,
previamente estabelecido. R. P. D.; RAMALHO FILHO, A. Interability among
heterogeneous geographic objects In: Advances
Visando automatizar o processo clas- in Geoinformatics. New York: Springer, 2007. p.
sificatório para a geração da aptidão das 193-202, 1. v.
terras para a palma de óleo, uma base de BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Secretaria
conhecimento através do uso de ontolo- de Biodiversidade e Florestas. Avaliação e iden-
gias foi desenvolvida no âmbito do zone- tificação de áreas e ações prioritárias para a
amento. Dessa forma, foi possível orga- conservação, utilização sustentável e repartição
dos benefícios da biodiversidade dos biomas
nizar o conhecimento sobre aptidão das brasileiros. Brasília: MMA, 2002. 404 p. Disponível
terras, o qual permite estruturar uma base em: <http:www.mma.gov.br>. Acesso em 10 jan.
de conhecimento do processo classifica- 2010.
tório conduzido integralmente de forma IBGE. Mapa da Amazônia Legal. Disponível em:
automatizada. Esse procedimento torna <http://www.ibge.gov.br/home/geociencias>. Acesso
possível e agiliza a reprodução do méto- em: 08 mar. 2009.
do de avaliação da aptidão das terras para INPE. Programa de Monitoramento do Desma-
outras regiões geográficas e para outras tamento da Amazônia. Projeto de Monitoramen-
to da Floresta Amazônica Brasileira por Satélite.
culturas ou produtos, contanto que haja Disponível em: <http://www.dpi.inpe.br/prodesdigital
disponibilidade de dados de levantamen- /prodes.php>. Acesso em 09 mai. 2007.
tos de solos da região e de dados sobre
MEIRELLES, M. S. P.; CAMARA, G.; ALMEIDA, C. Ge-
os requisitos ecofisiológicos da cultura a omática: modelos e aplicações ambientais. Ed.
que a avaliação se destina. Portanto, essa Brasília: Embrapa Informação Tecnológica, 2007, p.
base de conhecimento pode ser ampliada 593.
e o procedimento informatizado desen- RAMALHO FILHO, A.; BEEK, K. J. Sistema de ava-
volvido para o zoneamento agroecológico liação da aptidão agrícola das terras. 3. ed. rev.
pode ser utilizado no zoneamento de ou- Rio de Janeiro: Embrapa-CNPS, 1995. 65 p.
tras culturas ou produtos destinados à pro- SIPAM. Base pedológica da Amazônia Legal:
dução de alimentos, fibras ou geração de base digital em escala compatível com a escala
1:250.000. Brasília: SIVAM; IBGE 2004.
biocombustível. Para mais esclarecimentos,
consultar Azevedo et al. (2007) e Ramalho
Filho e Beek (1995).

Zoneamento Agroecológico para a Cultura da Palma de Óleo (dendezeiro) nas Áreas Desmatadas da Amazônia Legal | 55
56 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
PARTE 1
Capítulo 5

Zoneamento Agroecológico para a


cultura da palma de óleo nas áreas
desmatadas da Amazônia Legal
Antonio Ramalho Filho, Paulo Emílio Ferreira da Motta, Uebi Jorge Naime,
Alexandre Ortega Gonçalves e Wenceslau Geraldes Teixeira

Os procedimentos necessários à ela-


boração do zoneamento contaram com o
Considerações gerais apoio de técnicas de geoprocessamento
por meio da utilização de sistemas de in-
O Zoneamento Agroecológico da Pal- formação geográfica e de sensoriamento
ma de Óleo para as áreas desmatadas da remoto.
Amazônia Legal foi obtido basicamente
pelo cruzamento da aptidão das terras O ZAE-Palma de Óleo foi preparado
com a aptidão climática, após a exclusão em alinhamento com os preceitos do Zo-
das áreas protegidas por lei, conforme in- neamento Ecológico-Econômico (ZEE) da
dicado na Figura 1. Amazônia Legal (http://www.mma.gov.br),

Figura 1 – Organograma das fases do Zoneamento Agroecológico para a cultura da


Palma de Óleo
Revisão bibliográfica,
consultas a especialistas e
verificação a campo

Necessidades Mapas pedológicos Necessidades Mapas e parâmetros


pedológicas da da região climáticas climáticos da região
Palma de Óleo (banco de dados) da Palma de Óleo

Aptidão das terras para


a Palma de Óleo

Áreas de Aptidão climática para


proteção legal a Palma de Óleo

Zoneamento Agroecológico da Palma de Óleo para


as áreas desmatadas da Amazônia Legal

Zoneamento Agroecológico para a Cultura da Palma de Óleo (dendezeiro) nas Áreas Desmatadas da Amazônia Legal | 57
cujo escopo é mais geral quanto à desti- déficit hídrico menor que 200 mm
nação das terras da região. Portanto, este e até três meses secos consecutivos
documento, ao apresentar o potencial de (<50 mm). Esse mínimo de restrições
terras das zonas denominadas “consolida- não reduz expressivamente a pro-
das” e “a consolidar”, fornece base para dutividade ou os benefícios e não
a implantação e a expansão da palma de aumenta a necessidade de insumos
óleo e respalda uma política disciplinar ao e práticas mitigadoras acima de um
desmatamento de novas áreas. nível aceitável.
No cruzamento da Aptidão Agrícola • Regular – R (potencial médio) – in-
das Terras com a Aptidão Climática, foi clui terras com limitações moderadas
considerada também a regra pela qual a para a produção sustentada da pal-
pior aptidão (do clima ou das terras) é a ma de óleo. A classe Regular se refe-
que determina a classe final de zonea- re às áreas que apresentam déficit hí-
mento, conforme pode ser observado na drico entre 200 mm e 350 mm, com
Tabela 1. até três meses secos consecutivos
(<50 mm). As limitações reduzem a
As classes do zoneamento, estabeleci-
produtividade ou os benefícios ou
das de acordo com o grau de intensidade
elevam a necessidade de insumos e
das limitações ambientais (clima e terras)
práticas mitigadoras para aumentar o
para a cultura da palma de óleo, foram as-
rendimento da cultura.
sim definidas:
• Marginal – M (potencial baixo) – in-
• Preferencial – P (potencial alto) – in-
clui terras com limitações fortes para
clui terras sem limitações significati-
a produção sustentada da palma de
vas para a produção sustentada da
óleo. A classe Marginal se refere às
palma de óleo. A classe Preferencial
áreas que apresentam déficit hídrico
se refere às áreas que apresentam

Tabela 1 – Classes de zoneamento obtidas a partir do cruzamento das classes de apti-


dão das terras com as classes de aptidão climática
APTIDÃO CLIMÁTICA
CLASSE DE ZONEAMENTO
Preferencial (P) Regular (R) Marginal (M) Inapta/NR (I)
Boa (B) P (PB) R (RB) M (MB) I (IB)
APTIDÃO DAS Regular (R) R (PR) R (RR) M (MR) I (IR)
TERRAS Marginal (M) M (PM) M (RM) M (MM) I (IM)
Inapta (I) I (PI) I (RI) I (MI) I (II)
Observações:
1. A sequência de letras entre parênteses obedece à ordem aptidão climática–aptidão das terras;
2. Prevalece como aptidão dominante da unidade de mapeamento (polígono/zona) a pior aptidão no cruza-
mento clima x terras (entre parênteses), por exemplo: R(PR) ou R(RP) em que R representa a aptidão Regular
ou seja, inferior a Preferencial atribuída ao clima ou ao solo;
3. Na legenda de aptidão das terras, prevalece o símbolo da aptidão dominante da associação na Unidade de
Mapeamento de Solos.

58 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia


entre 350 mm e 450 mm, com até três
meses secos (<50 mm). Essas limita-
ções reduzem a produtividade ou os Resultados
benefícios ou, então, aumentam os
insumos necessários de tal maneira Os resultados do zoneamento agroe-
que os custos só seriam justificados cológico para a cultura da palma de óleo
marginalmente. A decisão de se uti- nas áreas desmatadas da Amazônia Legal
lizar essas terras para a produção da (ZAE–Palma de Óleo) são apresentados
palma de óleo, conforme a classifi- nas Figuras 2 e 3, respectivamente para
cação da aptidão das terras apresen- os níveis de manejo B e C. A distribuição
tada, deve se basear em estudos de das classes do zoneamento (Preferencial,
viabilidade econômica e do contexto Regular, Marginal e Inapta) e das áreas
socioeconômico do agricultor. excluídas, por estado e para toda a Ama-
zônia Legal, são apresentadas nas Tabelas
• Inapta – I (potencial muito baixo) – 2 e 3 (respectivamente para os níveis de
diz respeito a terras com limitações manejo B e C) e resumidas na Tabela 4.
muito fortes e clima desfavorável, que
impedem a produção econômica da
palma de óleo.

Zoneamento Agroecológico para a Cultura da Palma de Óleo (dendezeiro) nas Áreas Desmatadas da Amazônia Legal | 59
Figura 2 – Zoneamento Agroecológico da cultura da palma de óleo nas áreas desmatadas da Amazônia Legal – Nível de Manejo B

60
|
Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
Tabela 2 – Áreas das classes de zoneamento para produção de palma de óleo, sob o nível de manejo B, por estado da Amazônia Legal
ÁREA
ESTUDADA
CLASSE PREFERENCIAL (P) REGULAR (R) MARGINAL (M) INAPTA (IN) ÁREA EXCLUÍDA*
DO
ESTADO
ESTADO ha km2 % ha km2 % ha km2 % ha km2 % km2 % km2
AC 416.037 4.160 2,53 1.087.772 10.878 6,63 913,32 9 0,01 306.879 3.069 1,87 146.026 88,95 164.158
AM 1.461.375 14.614 0,94 889.466 8.895 0,57 8.337 83 0,01 415.517 4.155 0,27 1.531.447 98,22 1.559.164
AP 20.334 203 0,14 137.844 1.378 0,97 11.205 112 0,08 125.232 1.252 0,88 139.868 97,94 142.813
GO 0 0 0,00 0 0 0,00 0 0 0,00 131.224 1.312 9,19 12.952 90,73 14.276
MA 0 0 0,00 246,96 2 0,00 109.515 1.095 0,39 10.090.105 100.901 36,19 176.691 63,37 278.840
MT 203.959 2.040 0,23 6.779.357 67.794 7,51 786.999 7.870 0,87 12.806.582 128.066 14,18 697.591 77,23 903.283
PA 2.327.674 23.277 1,87 10.448.374 104.484 8,37 345.718 3.457 0,28 9.926.744 99.267 7,96 1.017.253 81,53 1.247.772
RO 2.720.638 27.206 11,5 2.755.935 27.559 11,60 550.294 5.503 2,32 1.834.577 18.346 7,72 158.976 66,91 237.591
RR 187.409 1.874 0,84 218.712 2.187 0,98 207.898 2.079 0,93 144.684 1.447 0,65 216.715 96,63 224.283
TO 0 0 0,00 0 0 0,00 0 0 0,00 2.949.021 29.490 10,63 248.133 89,41 277.537
TOTAL 7.337.426 73.374 22.317.707 223.177 2.020.879 20.209 38.730.565 387.306 4.345.652 5.049.717

% AM.L 1,45 4,42 0,40 7,67 86,06

Zoneamento Agroecológico para a Cultura da Palma de Óleo (dendezeiro) nas Áreas Desmatadas da Amazônia Legal
2
Nota: Áreas consideradas aptas para o cultivo da palma de óleo, classes P (preferencial) e R (regular), totalizam 29.655.133 ha (296.551 km ) ou 5,87% da Amazônia Legal.

|
* Área de Proteção Ambiental, Terras Indígenas e Área Não Desmatadas.
Total da área do zoneamento após os recortes: 704.066 km² = aproximadamente 13,94% da Amazônia Legal
AM.L = Amazônia Legal

61
Figura 3 – Zoneamento Agroecológico da cultura da palma de óleo nas áreas desmatadas da Amazônia Legal – Nível de Manejo C

62
|
Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
Tabela 3 – Áreas das classes de zoneamento para produção de palma de óleo, sob o nível de manejo C, por estado da Amazônia Legal
ÁREA
ESTUDADA
CLASSE PREFERENCIAL (P) REGULAR (R) MARGINAL (M) INAPTA (IN) ÁREA EXCLUÍDA*
DO
ESTADO
ESTADO ha km2 % ha km2 % ha km2 % ha km2 % km2 % km2
AC 735.677 7.357 4,48 574.630 5.746 3,50 193.511 1.935 1,18 307.785 3.078 1,87 146.026 88,95 164.158
AM 1.532.123 15.321 0,98 681.556 6.816 0,44 142.830 1.428 0,09 418.185 4.182 0,27 1.531.447 98,22 1.559.164
AP 20.334 203 0,14 123.843 1.238 0,87 23.169 232 0,16 127.271 1.273 0,89 139.868 97,94 142.813
GO 0 0 0,00 0 0 0,00 0 0 0,00 131.224 1.312 9,19 12952,07 90,73 14.276
MA 0 0 0,00 246,96 2 0,00 81.027 810 0,29 10.118.593 101.186 36,29 176.691 63,37 278.840
MT 220.920 2.209 0,24 6.700.985 67.010 7,42 486.836 4.868 0,54 13.168.156 131.682 14,58 697.591 77,23 903.283
PA 1.666.831 16.668 1,34 10.608.430 106.084 8,50 810.902 8.109 0,65 9.962.347 99.623 7,98 1.017.253 81,53 1.247.772
RO 2.930.252 29.303 12,33 2.733.292 27.333 11,50 352.365 3.524 1,48 1.845.535 18.455 7,77 158.976 66,91 237.591
RR 190.143 1.901 0,85 214.119 2.141 0,95 209.175 2.092 0,93 145.265 1.453 0,65 216.715 96,63 224.283
TO 0 0 0,00 0 0 0,00 0 0 0,00 2.949.021 29.490 10,63 248.133 89,41 277.537
TOTAL 7.296.279 72.963 21.637.101 216.371 2.299.816 22.998 39.173.381 391.734 4.345.652 5.049.717
% AM.L 1,44 4,28 0,46 7,76 86,06

Zoneamento Agroecológico para a Cultura da Palma de Óleo (dendezeiro) nas Áreas Desmatadas da Amazônia Legal
2
Nota: Áreas consideradas aptas para o cultivo da palma de óleo, classes P (preferencial) e R (regular), totalizam 28.933.380 ha (289.334 km ) ou 5,73 % da Amazônia Legal.

|
* Área de Proteção Ambiental, Terras Indígenas e Área Não Desmatadas.
Total da área do zoneamento após os recortes: 704.066 km² = aproximadamente 13,94% da Amazônia Legal.
AM.L = Amazônia Legal

63
Tabela 4 – Resumo das áreas das classes do Zoneamento Agroecológico da Palma de
Óleo nas áreas desmatadas da Amazônia Legal com adoção dos níveis de manejo B e C
NÍVEL DE MANEJO B NÍVEL DE MANEJO C
% da % da
CLASSE hectare km² CLASSE hectare km²
AM.L AM.L
Preferencial – P 7.337.426 73.374 1,45 Preferencial – P 7.296.279 72.963 1,44
Regular – R 22.317.707 223.177 4,42 Regular – R 21.637.101 216.371 4,28
Marginal – M 2.020.879 20.209 0,40 Marginal – M 2.299.816 22.998 0,46
Inapta – IN 38.730.565 387.306 7,67 Inapta – I 39.173.381 391.734 7,76
Subtotal * 70.406.577 704.066 13,94 Subtotal * 70.406.577 704.066 13,94
Área excluída ** 434.565.157 4.345.652 86,06 Área excluída ** 434.565.157 4.345.652 86,06
Total – AM.L 504.971.734 5.049.717 100 TOTAL – AM.L 504.971.734 5.049.717 100,00
Nota: Classes P e R, consideradas aptas para a palma de óleo, totalizam: no nível de manejo B: 29.655.133 ha
(296.551 km2), ou 5,87% da Amazônia Legal. No nível de manejo C, totalizam 28.933.380 ha (289.334 km2), ou
5,73% da Amazônia Legal.
* Total da área do zoneamento, após os recortes: 704.066 km², aproximadamente 13,94% da Amazônia LegaL.
** Área de Proteção Ambiental, Terras Indígenas e Área Nao Desmatadas
AM.L = Amazônia Legal

Durante a execução deste trabalho, foi real disponibilidade das terras para essa
constatada a existência de 296.551 km2 cultura, que podem estar atualmente sob
(29.655.133 ha) de terras aptas para o cul- usos distintos e com diferentes níveis de
tivo de palma de óleo com a adoção do produtividade. Estima-se que cerca de 80%
nível de manejo B, que correspondem a da área desmatada do bioma amazônico
5,87% da área desmatada da Amazônia encontram-se ocupados com pastos em
Legal até 2007, ou 4,1% da área estudada. diferentes níveis de esgotamento, degra-
As terras aptas para o cultivo da palma de dação e mesmo abandono.
óleo com a adoção do nível de manejo C
Não obstante o zoneamento esteja
perfazem 289.334 km2 (28.933.380 ha), o
confinado às áreas desmatadas da Ama-
que corresponde a 5,72% da área desma-
zônia Legal, os resultados mostrados nas
tada da Amazônia Legal, ou 4,09% da área
Tabelas 2, 3 e 4 ainda são brutos, porquan-
estudada. Essas áreas, consideradas aptas,
to podem ser reduzidos, com a aplicação
incluem as classes preferencial e regular
do Código Florestal, para cerca de 50 a
do ZAE-Palma de Óleo. A área do zonea-
60% por ocasião da implantação da palma
mento, após os recortes, totaliza 704.066
de óleo, em decorrência de restrições de
km², que corresponde a 13,94% da Ama-
ordem ambiental ditadas pela legislação
zônia Legal.
vigente.
É importante esclarecer que os mapas
A decisão de se utilizar ou não as ter-
gerados mostram as zonas das classes
ras classificadas como Marginais ou de
preferencial, regular, marginal e inapta
Aptidão Restrita, cujos benefícios e custos
para a produção da cultura da palma de
se equivalem, conforme os padrões eco-
óleo para fins diversos, seja óleo comes-
nomicamente aceitáveis pelos produtores
tível, cosméticos ou biocombustível. Por
de palma de óleo na região, deve se base-
outro lado, não informa, porém, sobre a
ar em estudos de viabilidade econômica

64 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia


e do contexto socioeconômico de cada rente à soma das classes preferencial, re-
agricultor. No presente estudo, somen- gular, marginal e inapta, é superior à área
te as classes Preferencial e Regular estão desmatada oficial das 75 cenas do PRO-
sendo consideradas aptas para a implan- DES, mesmo com as exclusões das terras
tação da cultura. indígenas e das unidades de conservação.
Isso ocorre por dois motivos básicos:
Os mapas resultantes do zoneamento
são também apresentados no DVD anexo 1 – As cenas usadas pelo INPE não re-
ao livro, da seguinte forma: cobrem toda a região e, portanto,
não informam sobre toda a área
a. Mapa do ZAE-Palma de Óleo nos ní-
efetivamente desmatada. Há áre-
veis de Manejo B e C;
as historicamente desmatadas que
b. Mapas do ZAE-Palma de Óleo, nos ní- não figuram nos cálculos por não
veis de Manejo B e C, dos estados do terem cenas trabalhadas pelo PRO-
Acre, Amapá, Amazonas, Mato Gros- DES/INPE. É o caso de grande área
so, Pará, Rondônia e Roraima. no nordeste paraense – zona Bra-
Mapas do ZAE-Palma de Óleo para gantina –, a qual foi considerada
toda a área da Amazônia Legal nos níveis no zoneamento como desmatada,
de Manejo B e C podem ser consultados apesar de não ser informada pelo
e exercitados de forma interativa em dife- PRODES.
rentes escalas e tamanhos, usando-se o 2 – A área da Amazônia Legal definida
programa Arch Reader, o qual encontra-se pelo IBGE é maior que a área consi-
também no DVD para instalação. derada como Amazônia Legal pelo
Com o uso do Sistema Geográfico de INPE.
Informação (SGI), pode-se manusear o
zoneamento chegando-se a sua visuali-
zação na escala até 1:250.000 na versão
final, embora a escala do zoneamento em
coerência com o real nível de abstração Conclusão
dos levantamentos básicos de solos esteja
estimada em 1:600.000. Ao contrário do que se poderia espe-
rar, não foi constatada, neste estudo, dife-
Os resultados do ZAE-Palma de Óleo, rença significativa entre os resultados do
na forma de texto e mapas, podem ser zoneamento para terras cultivadas sob o
consultados no GeoPortal da Embrapa So- nível de manejo B, menos tecnificado, e
los (http://mapoteca.cnps.embrapa.br). sob o nível de manejo C, mais tecnificado
Os resultados foram divulgados de e com emprego de alta tecnologia.
maneira sintética por estado da Amazônia Os fatores limitantes do solo mais
Legal em congressos e seminários temá- frequentemente responsáveis pelas dife-
ticos de solos e agroenergia (MOTTA et renças entre a aptidão das terras avaliada
al., 2009a, 2009b; RAMALHO FILHO et al., para esses dois níveis de manejo são a
2009a, 2009b, 2009c, 2009d; RAMALHO FI- deficiência de fertilidade, a suscetibilida-
LHO et al., 2008). de à erosão e os impedimentos à meca-
A análise dos resultados apresentados nização.
em mapas e tabelas permite constatar o Essa lógica normalmente ocorre na
fato de que a área total informada, refe- avaliação da aptidão das terras para lavou-

Zoneamento Agroecológico para a Cultura da Palma de Óleo (dendezeiro) nas Áreas Desmatadas da Amazônia Legal | 65
ras em geral. No entanto, no caso particu- prevenir e controlar a erosão, não tem efe-
lar da palma de óleo, a correção química tividade no caso dessa cultura.
do solo, sobretudo da acidez e da fertilida-
Os resultados do zoneamento agroe-
de, não exerce grande influência em vista
cológico para a cultura da palma de óleo
de uma menor exigência desta cultura por
nas áreas desmatadas da Amazônia Legal
nutrientes para o seu desenvolvimento.
ensejam relevantes impactos para o de-
Por outro lado, as quantidades de fertili-
senvolvimento na região de forma dife-
zantes a serem aplicadas e, consequente-
renciada, como segue:
mente, os custos financeiros, aumentam
significativamente quando a meta de pro- Impacto Ambiental
dutividade é aumentada.
Como cultura perene, a palma de óleo
A palma de óleo em produção é uma tem potencial para:
cultura altamente exportadora de mine-
– gerar renda com produção sustenta-
rais, e o que se retira do solo com a produ-
da e ecologicamente limpa;
ção deve ser reposto para a safra seguin-
te. Contudo, no caso deste zoneamento, – proteger o solo contra o efeito da
a meta anual de produtividade está sendo erosão;
considerada na faixa de 3 a 3,5 toneladas – prevenir a degradação das terras;
por hectare. Esse nível de produtividade
não demanda quantidades de adubo que – oferecer alta taxa de sequestro de
não estejam previstas nas condições do carbono;
nível de manejo B. Portanto, longe ainda – constituir opção de reflorestamento
de esgotar o potencial do nível de mane- para as áreas desmatadas ocupadas
jo C, que permite a aplicação de grandes com terras degradadas ou com grau
quantidades de fertilizantes para a cultura avançado de esgotamento.
da palma de óleo atingir a produtividade
mais alta. Impacto Econômico-Social
Da mesma forma, o impedimento à – o ZAE-Palma de Óleo oferece ao pro-
mecanização, fator de fundamental im- dutor rural uma alternativa econômi-
portância para o nível de manejo C, não ca sustentável para o gerenciamento
resulta em grande diferença em relação de seu imóvel e diminui a pressão
ao nível de manejo B, que, ao contrário, sobre a floresta;
por conceituação geral, não se baseia na – a implantação da cultura da palma de
mecanização intensa, em vista da baixa óleo propicia uma ocupação da mão
dependência de mecanização plena para de obra local de forma permanente,
a cultura da palma de óleo. hoje basicamente itinerante;
No caso da suscetibilidade à erosão, o – o zoneamento é um mecanismo de
raciocínio é similar, não havendo grande acesso ao crédito agrícola e um ins-
diferença nos resultados da classificação trumento de referência do Proagro
do nível de Manejo B para o nível de ma- (seguro agrícola);
nejo C, porque a palma de óleo, como
cultura perene que oferece grande prote- – o zoneamento agroecológico cria
ção ao solo, não concorre para o aumento cenários que incluem outras culturas
da exposição do solo à erosão e, assim, a importantes para a região de forma
vantagem comparativa do nível C, ao con- consorciada e a produção de biodie-
tar com técnicas de alta eficiência para sel a partir de culturas perenes com

66 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia


alto teor de óleo, notadamente as associações de solos diferentes com apti-
palmáceas; dão melhor ou pior do que a indicada. Por
esse fato, é recomendada como essencial
– o caráter de longo prazo da ativida-
a realização de estudos complementares
de fixa o agricultor e a sua família na
mais detalhados para separar os diferen-
área de produção e propicia investi-
tes componentes da unidade de mapea-
mentos, representando inserção so-
mento no momento do planejamento e
cial na região;
da implantação de projetos de produção.
– é uma atividade produtiva sustentável
com reais perspectivas para a agricul-
tura em grande e pequena escala,
garantindo a inserção do agricultor
em cooperativas e oferecendo ren- Referências bibliográficas
da ao longo do ano durante o ciclo
EMBRAPA SOLOS. Sistema brasileiro de classifi-
da cultura (estabilidade econômica e cação de solos. 2. ed. Rio de Janeiro: Embrapa
otimização da mão de obra); Solos, 2006. 306 p.
– pelo seu caráter multidisciplinar e parti- MOTTA, P. E. F.; RAMALHO FILHO, A. ; GONÇALVES,
cipativo, o zoneamento abre um vasto A. O.; NAIME, U. J.; BACA, J. M.; CLAESSEN, M. E. C.
Zoneamento agroecológico do dendezeiro para
campo para a geração de tecnologia. as áreas desmatadas do Estado do Mato Grosso.
In: CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIA DO SOLO,
32. Fortaleza, 2009. Anais... Fortaleza: Sociedade
Brasileira de Ciência do Solo, 2009a. CD-ROM.
MOTTA, P. E. F.; NAIME, U. J.; RAMALHO FILHO,
Considerações finais A.; GONÇALVES, A. O.; BACA, J. M. Zoneamento
agroecológico do dendezeiro para as áreas des-
matadas do Estado de Rondônia. In: CONGRESSO
Do ponto de vista metodológico, a BRASILEIRO DE CIÊNCIA DO SOLO, 32. Fortaleza,
primeira oportunidade já alcançada foi o 2009. Anais... Fortaleza: Sociedade Brasileira de
desenvolvimento de uma metodologia Ciência do Solo, 2009b. CD-ROM.
inovadora para a execução do ZAE, a qual RAMALHO FILHO, A.; BACA, J. F .M.; MOTTA, P. E.
se baseia na interpretação, com procedi- F. ; NAIME, U. J.; CLAESSEN, M. E. C. Zoneamento
agroecológico do dendê nas áreas desmatadas
mentos informatizados, da base de dados da Amazônia Legal. In: CONGRESSO BRASILEIRO
ambientais através de regras de conheci- DE PLANTAS OLEAGINOSAS, ÓLEOS, GORDURAS E
mento da cultura da palma de óleo e da BIODIESEL, 5. Lavras, 2008. Anais... Lavras: UFLA,
possibilidade da incorporação de informa- 2008. CD-ROM.
ção socioeconômica e ecológica – vulne- RAMALHO FILHO, A.; MOTTA, P. E. F.; NAIME, U.
rabilidade e riqueza de biodiversidade. J.; GONÇALVES, A. O.; BARROS, A. H. Zoneamento
agroecológico do dendezeiro para as áreas des-
O ZAE é um “guarda-chuva” para proje- matadas do Estado do Acre. In: CONGRESSO BRA-
tos complementares por abrir perspectivas SILEIRO DE CIÊNCIA DO SOLO, 32. Fortaleza, 2009.
para a execução de zoneamentos em ní- Anais... Fortaleza: Sociedade Brasileira de Ciência
do Solo, 2009a. CD-ROM.
veis mais detalhados e para a implementa-
ção de planos de ordenamento territorial. RAMALHO FILHO, A.; MOTTA, P. E. F.; NAIME, U. J.;
BASTOS, T. X.; GONÇALVES, A. O.; CLAESSEN, M. E.
Outro aspecto importante é o entendi- C.; TEIXEIRA, W. G. Zoneamento agroecológico do
dendezeiro para as áreas desmatadas do Estado
mento do nível dos estudos básicos usa-
do Pará. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIA
dos no zoneamento, cuja escala da infor- DO SOLO, 32. Fortaleza, 2009. Anais... Fortaleza:
mação subentende que um determinado Sociedade Brasileira de Ciência do Solo, 2009b.
polígono (unidade) no mapa pode incluir CD-ROM.

Zoneamento Agroecológico para a Cultura da Palma de Óleo (dendezeiro) nas Áreas Desmatadas da Amazônia Legal | 67
RAMALHO FILHO, A.; MARTINS, G. C.; MOTTA, P. RAMALHO FILHO, A.; MOTTA, P. E. F.; NAIME, U. J.;
E. F.; TEIXEIRA, W. G.; NAIME, U. J.; GONÇALVES, A. GONÇALVES, A. O.; BACA, J. M.; BARROS, A. H.; TEI-
O.; BARROS, A. H.; BACA, J. M. Zoneamento agroe- XEIRA, W. G.; BASTOS, T. X. Zoneamento agroeco-
cológico do dendezeiro para as áreas desmatadas lógico do dendê (Palma africana) na região ama-
do Estado do Amazonas. In: CONGRESSO BRASI- zônica brasileira – procedimentos metodológicos
LEIRO DE CIÊNCIA DO SOLO, 32. Fortaleza, 2009. e resultados. In: CONGRESO LATINOAMERICANO
Anais... Fortaleza: Sociedade Brasileira de Ciência DE LA CIENCIA DEL SUELO, 18. San Jose, Costa
do Solo, 2009c. CD-ROM. Rica, 2009. Anais... San Jose, Costa Rica: Sociedad
Latinoamericana de la Ciencia del Suelo, 2009d.
CD-ROM.

68 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia


PARTE 1
Capítulo 6

Salvaguardas do Zoneamento
Agroecológico para a palma de óleo na
Amazônia Legal e priorização de áreas
Ana Paula Dias Turetta e Antonio Ramalho Filho

A priorização na implantação de projetos também pode ter seu uso balizado por um
de desenvolvimento para produção de óleo recorte mais amplo do que seria o das áre-
de palma de óleo deve se basear na conju- as consolidadas e a consolidar indicadas
gação dos resultados do zoneamento agroe- para desenvolvimento pelo Zoneamento
cológico com a informação sobre o contexto Ecológico-Econômico da Amazônia Legal
socioeconômico no qual o agricultor opera e (ZEE-MMA – http://www.mma.gov.br).
os aspectos ambientais intrínsecos, sobretu- A priorização de áreas para implemen-
do quanto à riqueza da biodiversidade. tação de projetos de plantio de palma de
óleo a partir do zoneamento também po-
deria ser subsidiariamente balizada por
restrições ambientais mais específicas,
além de questões ligadas à aptidão pedo-
Aspectos ambientais climática, considerando a ocorrência de
O zoneamento considerou uma varie- áreas com extrema riqueza em biodiversi-
dade de critérios do ponto de vista am- dade com base em estudo realizado pelo
biental que se constituem em salvaguar- Ministério do Meio Ambiente (BRASIL,
das, desde a definição da área líquida do 2002). Esse estudo indica que, no bioma
projeto a ser avaliada até a implementa- amazônico, 247 áreas foram classificadas
ção de projetos de plantio da palma de como de extrema importância biológica,
óleo, ou dendezeiro. as quais podem estar situadas tanto em
áreas ocupadas por florestas nativas quan-
A área do projeto foi definida com base
em alguns recortes que consistem na sub- to em áreas já desmatadas.
tração de áreas de natureza diversa:
– reservas naturais e áreas indígenas
(MMA/IBAMA, FUNAI);
– áreas sem aptidão climática ou com alto Aspectos
risco de degradação (vulnerabilidade);
– áreas desmatadas até 2007 (PRODES-INPE);
socioeconômicos
Assim como nos aspectos ambientais, a
– áreas consolidadas e a consolidar (ZEE). priorização na implantação de projetos de
A informação do zoneamento agroe- desenvolvimento para produção de óleo
cológico (ZAE) da cultura da palma de óleo de palma deve se basear na conjugação

Zoneamento Agroecológico para a Cultura da Palma de Óleo (dendezeiro) nas Áreas Desmatadas da Amazônia Legal | 69
dos resultados do zoneamento agroecoló- nível de manejo B ou C adotados no zone-
gico com um conjunto de atributos do sis- amento agroecológico da palma de óleo.
tema integrado de produção que definem
b) Infraestrutura da área – estradas,
o contexto socioeconômico no qual o agri-
armazém, rede de esgoto, mananciais de
cultor opera. Essa definição pode ser feita
água potável.
com base em algumas ações e aspectos de
natureza socioeconômica: c) Facilidades para a formação de coo-
perativas de produtores de óleo de palma.
a) Caracterização e categorização, ba-
seadas em análise socioeconômica, dos
principais sistemas integrados de produ-
ção existentes (farming systems) na área
onde será implantada a cultura da palma Outras salvaguardas
de óleo. Essa análise socioeconômica
pressupõe o levantamento de diversas va- Recorte da área através da subtração prévia
riáveis que constituem os atributos dos sis- de tipos de solo considerados não indicados
temas integrados de produção, conforme ao cultivo da palma de óleo para produção
Ramalho-Filho, (1992): econômica devido a restrições de natureza
física ou química e ambiental, como:
• uso atual da área a ser cultivada com a
cultura da palma de óleo: sistemas de – gleissolos (solos hidromórficos indis-
cultivos – monocultura, culturas consor- criminados);
ciadas, integração de tipos de uso; – neossolos litólicos e regossólicos (rasos);
• tamanho do imóvel – pequeno, médio, – neossolos quartzarênicos (areias quart-
grande (em função do módulo local); zosas de granulação grosseira, marinhas
• tipo de tração – animal, mecânica, com- e dunas);
binada; – plintossolos;
• ocupação da terra – proprietário, arren- – planossolos halomórficos (sódicos ou
datário/posseiro, condomínio; salinos);
• insumos materiais – baixo, médio, alto; – manguezais;
– gleissolos tiomórficos (solos ácido-
• técnicas para manejo do solo – rudi-
sulfatados);
mentares, melhoradas, avançadas;
– neossolos flúvicos (solos ribeirinhos
• nível tecnológico – baixo, médio, alto;
originados de depósitos aluvionares
• orientação de mercado – subsistência, de natureza diversa);
comercial, combinada; – organossolos (turfosos);
• distância do mercado – pequena, mé- – vertissolos solódicos;
dia, grande; – afloramentos rochosos.
• intensidade de mão de obra – baixa,
Esse procedimento propicia reduzir o
média, alta;
volume de trabalho na avaliação da apti-
• intensidade de capital – baixa, média, alta; dão das terras ao descartar, em primeira
A combinação desses atributos define análise, um grupo de classes de solo e
o tipo de sistema de produção e, conse- formas de terreno considerados inaptos
quentemente, serve de base para a for- para a cultura da palma de óleo de acor-
mulação de recomendações sobre práticas do com os critérios e salvaguardas desse
de manejo da terra, se compatíveis com o zoneamento.

70 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia


Referências bibliográficas
BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Secretaria RAMALHO-FILHO, A. Evaluating land for Improved
de Biodiversidade e Florestas. Avaliação e identi- Systems of Small-Scale Farming – Special Reference
ficação de áreas e ações prioritárias para a con- for Northeast Brazil. PhD Thesis. Norwich, UK. Scho-
servação, utilização sustentável e repartição dos ol of Development Studies-University of East Anglia.
benefícios da biodiversidade dos biomas brasi- 304 p.Ilustr.
leiros. Brasília: MMA, 2002. 404 p. Disponível em:
<http:www.mma.gov.br>. Acesso em 10 jan. 2010.

Zoneamento Agroecológico para a Cultura da Palma de Óleo (dendezeiro) nas Áreas Desmatadas da Amazônia Legal | 71
72 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
PARTE 2

Produção e Manejo
Sustentáveis para a Cultura
da Palma de Óleo
na Amazônia

Editores Técnicos

Pedro Luiz de Freitas


Wenceslau Geraldes Teixeira

Produção e Manejo Sustentáveis para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia | 73


74 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
PARTE 2
Capítulo 1

Planejamento conservacionista e
procedimentos para a instalação de
palmares na Amazônia
Pedro Luiz de Freitas, Antonio Ramalho Filho, Paulo
Emílio Ferreira da Motta e Wenceslau Geraldes Teixeira

– intensidade de capital e conhecimen-


Introdução to técnico do agricultor na definição
do nível tecnológico a ser adotado e
O uso de uma área para produção das práticas inerentes ao manejo do
de alimentos, fibras ou biocombustíveis solo, buscando a sustentabilidade da
deve ser precedido do conhecimento do atividade.
contexto socioeconômico e ambiental. O O conhecimento ambiental oferece
conhecimento socioeconômico fornece indicadores baseados no risco climático e
indicativos importantes de natureza estra- na aptidão agrícola das terras, essenciais
tégica para o planejamento da cultura a na definição do tipo de uso da terra (cultu-
ser introduzida, tais como: ras anuais ou perenes, pastagem, reflores-
– infraestrutura de escoamento, arma- tamento ou preservação da fauna e da flo-
zenamento e beneficiamento da pro- ra) e do nível tecnológico a ser adotado.
dução; Esses elementos, em conformidade com a
legislação, permitem a elaboração do Zo-
– distância do mercado consumidor neamento Agroecológico (ZAE) da cultura
como elemento decisivo do tipo de a ser implantada ou do produto a ser ob-
produto a ser obtido em função de tido na área. O zoneamento é, portanto,
sua perecibilidade; uma ferramenta fundamental para o pla-
– orientação de mercado, consideran- nejamento da atividade a ser implantada
do ser comercial, de subsistência ou de forma sustentável, sendo o primeiro
a combinação de ambos; passo a ser adotado no plano conserva-
cionista de uso da terra e de manejo do
– estrutura ou distribuição fundiária
solo e da água.
e disponibilidade de mão de obra
como indicativos na implantação Na Amazônia, são encontradas condi-
de agricultura de pequena ou larga ções climáticas favoráveis para o cultivo da
escala com culturas temporárias ou palma de óleo na maior parte das áreas
perenes, pecuária ou um sistema de consideradas consolidadas ou a consolidar
produção baseado em integração la- pelo Zoneamento Ecológico-Econômico –
voura-pecuária, floresta-pecuária ou ZEE (BRASIL, 2001). O ZAE é complemen-
lavoura-pecuária-floresta; tar ao ZEE e tem como componentes bási-

Produção e Manejo Sustentáveis para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia | 75


cos a aptidão agrícola das terras, a aptidão ração de glebas para a instalação de pal-
climática e o risco climático, inferidos pelo mares e, quando for o caso, das unidades
exame das limitações ao uso agrícola dos agroindustriais (usinas de processamento
solos e das características do clima, bem de óleo de palma). Nessas glebas, além
como dos demais componentes do meio. do planejamento específico de implanta-
O uso das terras em conformidade com a ção, são realizados os relatos de oportu-
aptidão agrícola para cada cultura é pas- nidades e riscos ambientais fundamentais
so essencial no sentido da sustentabilida- para a tomada de decisão sobre o manejo
de do sistema. Os elementos, critérios e do solo e da água e a necessária diversifi-
procedimentos para avaliação da aptidão cação das atividades agrícolas, de forma a
agrícola das terras e do clima para a cultu- garantir a agrobiodiversidade.
ra de palma de óleo são encontrados na
Nos próximos capítulos, estão descri-
Parte 1 deste livro.
tas as recomendações em relação à pro-
Ao se planejar a introdução de palma- dução e ao manejo sustentáveis da cultura
res em uma determinada área, a boa prá- de palma de óleo. Neste capítulo, serão
tica consiste em averiguar a existência de descritas as diferentes fases do planeja-
um zoneamento, sua escala e suas finali- mento conservacionista de áreas aptas à
dades. Caso exista, é necessário saber se cultura de palma de óleo, assim como os
a escala ou nível de abstração do estudo procedimentos para a implantação de pal-
satisfaz os pré-requisitos do planejamento mares na Amazônia.
da cultura ou se é necessário proceder a
um detalhamento complementar.
Uma vez definida a área de abrangên-
cia ou de interesse, que pode ser imóvel
rural, microbacia hidrográfica, município, Planejamento
assentamento, território ou microrregião conservacionista
encontrados dentro das zonas considera-
das aptas para a cultura de palma de óleo O planejamento conservacionista tem
pelo ZAE, é iniciada a formulação do plano como objetivo a racionalização do uso e do
conservacionista de uso da terra e manejo manejo dos recursos naturais – solo, água
do solo e da água. Como ferramenta es- e biodiversidade –, reconhecendo sua he-
sencial para viabilizar agronômica, social, terogeneidade, fragilidade e capacidade de
econômica e ecologicamente a utilização resiliência. A base do processo é a aptidão
da área de interesse, o plano conservacio- agrícola das terras e a aptidão climática, que
nista define as glebas, separadas segun- definem o uso potencial de mínimo impac-
do critérios pré-estabelecidos, e explicita to ambiental negativo. O confronto do uso
o uso e o manejo (práticas culturais) a potencial com o uso atual define a adequa-
ser adotado em cada gleba. Consultores bilidade de uso da terra e a melhor opção
técnicos, órgãos de extensão rural e as- de manejo a ser implementada em cada
sistência técnica, públicos ou privados, e gleba de maneira integrada.
empresas especializadas têm como aten-
O plano conservacionista de uso da
der a essa demanda e fornecer a devida
terra e de manejo do solo e da água cons-
assistência técnica.
titui um documento no qual são explici-
A formulação e a implantação de um tadas as práticas mecânicas e vegetativas
plano conservacionista em toda a área de que possibilitam o uso da terra e a implan-
interesse ocorrem paralelamente à sepa- tação de culturas e pastagens com o míni-

76 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia


mo de degradação, evitando a erosão e a tras culturas consorciadas, como também
compactação do solo, além da poluição e o uso e o manejo a serem adotados nas
do assoreamento de mananciais hídricos, áreas adjacentes, determinando as glebas
e garantindo melhor retorno em cada ati- mais apropriadas para culturas anuais e
vidade proposta. perenes, pastagens, reflorestamento, pre-
servação da fauna e da flora, áreas de pro-
A formulação do plano conservacio-
teção permanente (APPs), reservas legais,
nista requer o conhecimento da realidade
estradas, construções, etc. (Figura 1)
socioeconômica e ambiental da área de
interesse, com ênfase no tipo de empre- O plano conservacionista também
endimento: agroempresarial ou agricultu- estabelece com detalhes os sistemas de
ra familiar em diferentes níveis. uso da terra e as técnicas e processos de
manejo do solo, da água e das culturas. A
Os cuidados com que o solo e a água
efetividade de sistemas conservacionistas
das diferentes glebas devem ser maneja-
de manejo do solo e da água (como o Sis-
dos são definidos no plano conservacio-
tema Plantio Direto, que tem sido adotado
nista. Dessa forma, estão incluídos não
em praticamente todas as culturas anuais
só o plano de implantação das glebas des-
e perenes), associados ao manejo agros-
tinadas à cultura de palma de óleo e ou-

Figura 1 – Adequação de atividades em uma área de agricultura familiar através do


planejamento conservacionista em Benjamin Constant, AM (Foto: Pedro Luiz de Freitas)

Produção e Manejo Sustentáveis para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia | 77


silvipastoril adequado e sustentável (siste- as, imagens de satélite e/ou radar de
mas agroflorestais, recuperação e manejo boa resolução e esquemas de campo
de pastagens, integração lavoura-pecuá- constituem a base necessária para o
ria-floresta, reflorestamento de áreas de planejamento conservacionista.
aptidão agrícola restrita, etc.), tem sido
b. Estudos pedoambientais – o reconhe-
demonstrada nas inúmeras experiências
cimento e a identificação da variabili-
ocorridas nas últimas três décadas, em es-
dade das terras relativas à gênese e
pecial nos estados do Sul do País (BASSI,
à natureza dos solos e suas relações
1998; BRAGAGNOLO et al., 1997, LANDERS
com o ambiente, assim como aquelas
et al., 2001). Essas experiências mostram
relativas ao seu comportamento sob
que a adoção de tecnologias e práticas
diferentes usos, permitem a caracte-
puramente mecânicas, visando à conten-
rização da área de interesse e a sua
ção da água não infiltrada que ocasiona o
separação em glebas. As principais
escorrimento superficial ou deflúvio, não
características dos solos a serem con-
pode ser considerada como uma etapa
sideradas são: granulometria (teor de
independente dentro do processo de pro-
argila, silte e areia), estrutura, poro-
dução agrícola (FREITAS, 2005).
sidade, capacidade de retenção de
O norteador do planejamento conser- água, cor, teor de matéria orgânica,
vacionista é o enfoque sistêmico, conside- capacidade de infiltração de água,
rando a bacia hidrográfica como unidade compactação, fertilidade natural e
de planejamento para ações que integram atual (pH, nutrientes disponíveis e
tecnologias e práticas vegetativas e mecâ- trocáveis, capacidade de troca de
nicas, sendo fundamental conhecer a lo- cátions, saturação por bases, acidez
calização da área de interesse em relação trocável, toxicidade por alumínio,
à bacia hidrográfica (AGÊNCIA NACIONAL salinidade, etc.), forma do relevo e
DAS ÁGUAS, 2010). profundidade efetiva do solo. Outras
podem ser agregadas em função do
Estão detalhados, a seguir, os princi-
uso, como o estádio de degradação,
pais componentes do planejamento con-
erosão, drenagem, etc. Característi-
servacionista.
cas do terreno devem ser considera-
das neste processo, tais como relevo
(forma, declividade, comprimento de
1. Caracterização da área de
rampa, posição, etc.), cobertura vege-
interesse
tal (natural e atual), hidrologia (cursos
O ponto de partida é a análise detalha- d’água, drenagem natural, profundi-
da dos aspectos físicos relativos à área de dade do lençol freático), rochosidade,
interesse no contexto da paisagem. Para pedregosidade e grau de erosão.
isso, é necessário o levantamento dos re-
Informação sobre os atributos morfo-
cursos, basicamente clima e solo, confor-
lógicos e a caracterização de parâme-
me descritos a seguir.
tros químicos e físicos relacionados
a. Cartografia – a existência de uma aos critérios de distinção são obtidas
base cartográfica compatível com pela observação de perfis de solo
o nível de detalhamento do plane- em pontos considerados represen-
jamento proposto é essencial. Um tativos das glebas (EMBRAPA, 1995;
levantamento planialtimétrico deta- SANTOS et al., 2005; IBGE, 2007). As
lhado, acompanhado de fotos aére- glebas identificadas podem ser de-

78 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia


signadas conforme a classe de solo, florestas plantadas, vegetação natu-
tendo como base o Sistema Brasileiro ral, mananciais hídricos, construções,
de Classificação de Solos (EMBRAPA, estradas, etc.
2006). Em seguida, são levantadas
f. Vulnerabilidade ambiental – o con-
as características da paisagem con-
fronto entre o uso atual e o uso po-
sideradas relevantes, como relevo,
tencial define a adequabilidade do
cobertura vegetal, estádio de degra-
uso das terras e, portanto, a vulne-
dação, áreas de preservação, etc. O
rabilidade ambiental de cada gleba
ZAE da cultura de palma de óleo na
identificada, permitindo planejar as
Amazônia Legal (Parte 1) contém in-
ações a serem executadas para ga-
formações que podem ser comple-
rantir o melhor aproveitamento com
mentadas por outros levantamentos
o menor risco ambiental.
existentes a partir de consultas ao
GEOPortal, disponibilizado pela Em- Outros aspectos pedoambientais a se-
brapa Solos no endereço eletrônico rem considerados são:
http://mapoteca.cnps.embrapa.br/,
• Clima – risco climático, eventos e
ou ao portal do IBGE, no endereço
distribuição sazonal de chuvas, mé-
http://www.ibge.gov.br, entre outros.
dias de temperatura e de umidade
c. Aptidão agrícola das terras (uso po- relativa, direção e intensidade dos
tencial) – a partir das características ventos predominantes e fenômenos
de cada gleba identificada e mape- climatológicos relevantes (chuvas in-
ada, é possível avaliar a aptidão das tensas, veranicos, granizo, etc.).
terras tendo como base, essencial-
• Hidrologia – recursos hídricos, dispo-
mente, cinco fatores: relevo, água
nibilidade e qualidade da água super-
(excesso ou deficiência), fertilidade
ficial e subterrânea, áreas de recarga
(disponibilidade de nutrientes ou to-
de aquíferos, etc.
xicidade), possibilidade de mecaniza-
ção e suscetibilidade à erosão. Para • Vegetação – remanescentes de ve-
isso, é preconizado o uso das regras getação natural, espacialização de
descritas no Sistema de Avaliação da espécies vegetais em conformidade
Aptidão Agrícola das Terras (RAMA- com as características pedoambien-
LHO FILHO; BEEK, 1995). Esse siste- tais, etc.
ma permite classificar as glebas com • Relevo – constitui um importante fa-
potencial para a implantação de cul- tor a ser considerado, principalmente
turas anuais ou perenes, pastagem, nas regiões com chuvas altamente
silvicultura ou preservação da biodi- erosivas, como em algumas partes
versidade. da Amazônia. Além de favorecer o
d. Áreas de preservação – identificação processo erosivo, a excessiva decli-
das glebas a serem destinadas à pre- vidade das pendentes também au-
servação como Áreas de Preservação menta os custos e reduz a eficiência
Permanente (APPs) e reservas legais, do uso de máquinas agrícolas.
considerando a legislação existente. • Infraestrutura – inventário das cons-
e. Uso atual da terra – identifica o uso truções existentes (galpões, terreiros,
atual de cada gleba como agrícola casas, escolas, etc.), do sistema de
(culturas anuais ou perenes), pecu- captação de água para uso domés-
ária (pastos naturais ou plantados), tico, das estruturas físicas e de má-

Produção e Manejo Sustentáveis para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia | 79


quinas e equipamentos disponíveis tio e curvas de nível, mulching verti-
para implantação e manutenção das cal, entre outros;
culturas propostas.
• práticas vegetativas utilizadas para a
O produto final da caracterização manutenção da cobertura viva e/ou
da área de interesse é a sua divisão em morta do solo, visando a sua prote-
glebas e a indicação do uso agronomica- ção contra as diferentes formas de
mente mais apropriado para cada gleba, erosão, incluindo florestamento e
com especial atenção àquelas onde a reflorestamento (espécies nativas e/
implantação de palmares é mais adequa- ou exóticas), plantas de cobertura
da. Em seguida, passa-se ao processo de do solo, culturas em faixas, cordões
decisão quanto ao uso a ser dado a cada de vegetação permanente, quebra-
gleba, visando à diversificação de ativi- vento, capina alternada, etc.
dades agrícolas de forma a aumentar a
A conservação do solo e da água em
agrobiodiversidade.
glebas dedicadas à cultura de palma de
óleo com declives menores que 5% re-
quer apenas a utilização de práticas ve-
2. Definição de práticas de
getativas como plantas de cobertura e a
manejo e de conservação do
deposição das folhas da poda nas entre-
solo e da água
linhas para o controle da erosão hídrica
A análise das características das glebas (QUENCEZ, 1986). Em glebas com declivi-
identificadas na área de interesse permite dade entre 5 e 10%, práticas mecânicas,
a indicação de práticas mecânicas e vege- como a construção de terraços em curva
tativas de conservação do solo e da água e de nível, são necessárias para o efetivo
o estabelecimento de sistemas de manejo controle da erosão, conservando o dispo-
visando à produção sustentável em cada sitivo de plantio em linha e a cobertura
gleba de maneira integrada. A meta final permanente do solo com leguminosas ou
é a busca de qualidade nas atividades pro- gramíneas (Figura 2). Em glebas com de-
postas (conservação ambiental, eficiência clives entre 10 e 20%, pode-se recorrer ao
de produção, impacto ambiental, qualida- preparo manual de terraços individuais de
de de vida dos colaboradores, captura ou formato circular com diâmetro de 4 me-
sequestro de carbono, adequação à legis- tros a fim de facilitar a exploração futura
lação ambiental, etc.). das palmeiras (TAILLEZ, 1975; CALIMAN;
KOCHKO, 1987).
Entre as práticas de manejo e conser-
vação do solo e da água destacam-se: Com a adoção de práticas conservacio-
nistas na implantação dos palmares, como
• práticas mecânicas utilizadas para:
a ausência de revolvimento do solo (restri-
reconstituir as condições do terreno
ta às covas) e a implantação (anterior ao
através de estruturas, visando à dimi-
plantio) de culturas de cobertura do solo,
nuição do escorrimento superficial
preferencialmente gramíneas, as práticas
ou deflúvio e, consequentemente,
mecânicas recomendadas (terraceamen-
à promoção do acúmulo de água no
to) podem ser adotadas em terrenos com
solo localmente; e racionalizar o tra-
declive acima de 10%. Terraços individuais
çado de estradas, carreadores, canais
podem ser adotados quando a declividade
escoadouros, bacias de captação de
ultrapassar 20%.
água de estradas e construções ru-
rais, terraços, cordões em nível, plan-

80 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia


Figura 2 – Palmar com cobertura permanente do solo de gramíneas (Foto: Pedro Luiz de Freitas)

3. Proposta de exploração – avaliação da fertilidade dos solos das


sustentável glebas selecionadas, com base em
caracterização analítica para uma
Define as ações a serem implemen- aplicação adequada de corretivos e
tadas em toda a área de interesse da ma- adubos;
neira mais integrada possível, com deta-
lhamento do uso (tipo de atividade) e das – revolvimento mínimo do solo, de pre-
espécies que ocuparão cada gleba. Isso ferência com mobilização apenas nas
requer a tomada de decisão, em particular, linhas de plantio ou somente com a
a respeito das glebas onde serão implanta- abertura de covas;
dos os palmares, ou da localização de usi- – plantio em nível e em quincôncio 1;
nas de extração de óleo de palma, quando
for o caso. A proposta deve incluir, notada- – aproveitamento dos resíduos dispo-
mente, o aproveitamento de terras esgota- níveis;
das, a recuperação de áreas degradadas, a – manejo integrado de pragas, doen-
manutenção de áreas de preservação da ças e plantas daninhas;
flora e da fauna e a viabilidade de sistemas
de irrigação em áreas com restrições climá- – monitoramento frequente de indica-
ticas indicadas pelo ZAE. dores econômicos e ambientais.

A implantação das tarefas relacionadas Informações complementares sobre a


no plano conservacionista acontece em implantação de palmares podem ser encon-
paralelo com o planejamento específico tradas em publicações nacionais (MÜLLER,
das áreas de implantação dos palmares, 1980; VIÉGAS e MÜLLER, 2000) e interna-
que inclui as etapas listadas a seguir, obje- cionais (HARTLEY, 1970; CORLEY e THINKER,
to dos próximos capítulos: 2003; FAIRHURST e HÄRDTER, 2003).

– seleção de variedades de palma de 1


Quincôncio: plantio na forma de triângulo equilátero, man-
óleo mais indicadas para a região e tendo a distância entre plantas de 9m e uma distância entre
produção de mudas de qualidade; linhas de 7,8m, dependendo do material genético (mais in-
formações nos capítulos seguintes).

Produção e Manejo Sustentáveis para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia | 81


FREITAS, P.L. de. Contribuição do uso da terra e do
manejo do solo para a recarga de aquíferos. Rio de
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82 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia


PARTE 2
Capítulo 2

Aspectos gerais sobre a


fenologia da cultura da
palma de óleo
Antonio Agostinho Müller e Emeleocípio Botelho de Andrade

É uma monocotiledônea da família


1. Introdução das Arecaceae. Algumas classificações
se baseiam, principalmente, na trans-
O estudo da cronologia dos eventos missão hereditária de forma, coloração e
biológicos recorrentes, considerando as composição do fruto e forma das folhas
forças bióticas e abióticas, as suas intera- (VANDERWEIEN, 1952). A mais importante
ções e as relações entre suas fases, é o que é aquela que classifica as plantas de pal-
se denomina fenologia. Permite conhecer ma de óleo de acordo com a espessura
o ciclo de crescimento das plantas e o seu do endocarpo do fruto. Podem ser de três
comportamento reprodutivo, importantes tipos: Dura, com endocarpo de espessu-
para a definição do melhor manejo para ra superior a 2 mm e fibras dispersas no
as culturas. Exige, portanto, conhecer as- mesocarpo; Tenera, com espessura do
pectos da morfologia da espécie e sua in- endocarpo menor que 2 mm e com um
teração com os fatores ambientais. anel de fibras ao seu redor (origina-se do
cruzamento entre Dura x Pisífera); Pisífe-
ra, que não possui endocarpo, tendo em
seu lugar um fino anel de fibras. É essen-
cialmente nesses três tipos de fruto que
2. Morfologia e se baseia o melhoramento genético para
a produção de óleo contido no mesocar-
crescimento da palma po (polpa) do fruto. O tipo Dura Deli ocor-
de óleo re na Sumatra (Indonésia) e se caracteriza
por elevado teor (60-65%) de polpa por
O dendezeiro (Elaeis guineensis Jacq.), fruto (VALLEJO, 1978).
atualmente conhecido como palma de
2.1. Semente
óleo, tem seu provável centro de disper-
são no golfo da Guiné, que é uma grande A semente da palma de óleo é uma
reentrância na costa ocidental africana. noz constituída de um endocarpo e uma
Seu habitat natural é à margem dos gran- amêndoa (endosperma). As sementes
des rios do oeste e do centro da África. apresentam normalmente três poros
Foi introduzido pela primeira vez no Brasil germinativos correspondentes às três
pelos escravos, formando algumas popu- partes do ovário tricarpelar. O número
lações subespontâneas no Rio de Janeiro de poros funcionais depende do núme-
e na Bahia. ro de amêndoas desenvolvidas. Ovários

Produção e Manejo Sustentáveis para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia | 83


anormais podem originar quatro ou mais da emissão da primeira folha. A radícula
amêndoas. cresce até os seis meses, alcançando 15
cm, quando começam a se desenvolver as
A amêndoa tem a forma ovoide, ocupa
verdadeiras raízes primárias.
toda a cavidade do endocarpo e é compos-
ta de um fino tegumento de cor amarelada, A primeira folha verde emerge um mês
que se torna negro quando seco. O albú- após a germinação, depois de ter produzi-
men, de onde se extrai o óleo de amêndoa do duas folhas pequenas a partir da plú-
ou de palmiste, é composto de uma cartila- mula. Nos seis meses iniciais, é emitida,
gem oleosa, em cujo centro há uma fenda. geralmente, uma folha por mês. Após três
O embrião, medindo de 4 a 5 mm de com- ou quatro meses, a base da plântula se
primento, é reto e fica embutido em uma converte em um bulbo do qual emergem
pequena cavidade do endosperma, sem ter as primeiras raízes primárias e secundá-
comunicação com a fenda. O embrião fica rias. As raízes primárias crescem em um
abaixo do poro germinativo. ângulo de 45 graus em relação à vertical
e as secundárias emergem em todas as di-
Figura 1 – Sementes de palma de óleo
reções. As primeiras folhas que se formam
germinando
(Fonte: Embrapa Amazônia Ocidental) no pré-viveiro são lanceoladas, depois se
formam as folhas bifurcadas e, posterior-
mente, as folhas penadas.
2.3. O ápice meristemático e o
crescimento do estipe
A palma de óleo tem somente um
ponto de crescimento aéreo: o meristema
apical. Este dá origem a estipe, folhas, in-
florescências e infrutescências. Esse pon-
to de crescimento está localizado na parte
central do ápice do estipe, em uma de-
2.2. Plântula pressão côncava que mede de 10 a 12 cm
Segundo Surre e Ziller (1969), quando de diâmetro e tem de 2,5 a 4,0 cm de pro-
ocorre a germinação, o embrião rompe o fundidade em palmeiras adultas. O ápice
tegumento e empurra para fora o tampão tem a forma de um cone e está embutido
de fibras que cobre o poro germinativo, na coroa da palmeira, formando um tecido
formando um botão chamado hipocótilo. suave na base das folhas jovens que estão
Deste emergem, rapidamente, tanto a ra- sobrepostas umas às outras, desenvolven-
dícula quanto a plúmula. A plântula se nu- do o que se denomina palmito. Dentro da
tre do endosperma até os quatro meses, palmeira adulta geralmente se encontram
quando o haustório absorve completa- mais de 50 folhas em formação, desde o
mente o endosperma. A partir daí, a plân- centro da depressão até o ponto mais alto,
tula é capaz de se desenvolver e absorver onde as folhas jovens ainda não sofreram
os nutrientes do solo. o processo de desenvolvimento rápido
para se tornarem a “flecha” (SURRE; ZIL-
A radícula emerge primeiro, seguida
LER, 1969).
da plúmula. As primeiras raízes adventí-
cias são emitidas de um anel no ponto de O estipe, em sua fase inicial de cresci-
união do hipocótilo com a radícula. Daí mento, se desenvolve por mais ou menos
se originam as raízes secundárias, antes três anos no sentido transversal para for-

84 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia


mar o bulbo. É sobre ele que o estipe se dias e corresponde à passagem da folha
firma e cresce verticalmente. Nessa fase de alguns centímetros para 5 ou 6 metros
inicial, ele toma a forma de um cone inver- de comprimento, até se transformar em
tido (VALLEJO, 1978). As bases das folhas “flecha”. Na fase adulta, com duração de
permanecem aderidas ao estipe por, pelo 20 meses, a folha abre os folíolos (desa-
menos, 12 anos, em função de fatores cli- brocha) e se torna funcional. A abertura
máticos. O estipe cilíndrico, com diâmetro dos folíolos é atrasada durante o período
entre 20 e 75 cm, torna-se desnudo e com seco, em que a planta mostra várias fle-
cicatrizes após a decomposição e queda chas ao mesmo tempo, reduzindo a pro-
das bases foliares (CÔTE D’IVOIRE, 1980). dução de folhas. Uma distribuição unifor-
me de chuvas ao longo do ano aliada à
Em condições normais de cultivo, o
alta densidade de luz eleva a produção de
estipe cresce, em altura, entre 25 e 50 cm
folhas (VARGAS, 1978).
por ano, dependendo do material genéti-
co utilizado. À medida que o estipe cresce Em média, uma planta de palma de
afastando os dois órgãos vitais da palma óleo com 6 ou 7 anos produz cerca de 30
de óleo – bulbo e meristema apical –, os folhas ao ano, diminuindo gradualmente
efeitos do clima sobre a produção são ate- com a idade até atingir 20 folhas ao ano.
nuados ou diluídos no tempo. Os fatores genéticos e ambientais têm
importante papel na produção de folhas.
2.4. As folhas
As palmeiras tipo Dura produzem menos
O estipe de uma palmeira adulta é co- folhas que as tipo Tenera, as quais pro-
roado por um penacho de 30 a 50 folhas, duzem menos folhas que as tipo Pisífera.
cada uma medindo de 5 a 8 metros e pe- Ambientes apresentando períodos secos
sando de 5 a 8 quilos. A folha da palma de definidos condicionam menor produção
óleo é penada e composta por três partes: de folhas do que locais com precipitação
pecíolo, ráquis e folíolos. O pecíolo fica pluviométrica mais intensa e uniforme.
aderido ao estipe, mede 1,5 m de compri- Por consequência, influenciam na maior
mento, tem a face inferior arredondada e ou menor altura do estipe. A produção de
a superior lisa, e é guarnecido por espi- folhas determina a produção potencial de
nhos nas laterais. A ráquis, medindo de 3,5 inflorescências. Os fatores que afetam a
a 6,5 m de comprimento, suporta os folí- produção de folhas afetarão a produção
olos em número de 200 a 350, dispostos de cachos, uma vez que o primórdio da in-
de ambos os lados. Os folíolos da parte florescência é produzido na axila de cada
média da ráquis são maiores e medem até folha (SURRE; ZILLER, 1969).
1,20 m de comprimento por 5 a 6 cm de
A disposição das folhas em relação ao
largura (HARTLEY, 1983).
eixo vertical da palmeira é denominado
Os estudos determinaram que desde filotaxia. Na palma de óleo, sua forma é
a formação da gema ou primórdio foliar em espiral. Duas espirais de folhas apre-
até a morte da folha decorrem cerca de sentam-se bem distintas: aquela composta
quatro anos (SURRE; ZILLER, 1969). Nesse por oito folhas em uma direção e aquela
período, a folha passa por três fases. A composta por 13 folhas em direção dife-
fase juvenil, de 24 meses, compreende do rente. As folhas são numeradas do centro
primórdio até o período que antecede o para a periferia da coroa foliar. A folha nú-
alongamento rápido. Essa fase ocorre no mero 1 corresponde àquela com os folíolos
interior da palmeira (palmito). A segunda mais recentemente abertos. Assim, a folha
fase, de alongamento rápido, dura poucos seguinte, na próxima espiral, é a folha nú-

Produção e Manejo Sustentáveis para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia | 85


mero 9 e a seguinte, a 17. O conhecimento res emitem raízes secundárias no sentido
dessa numeração é importante para amos- ascendente, as quais, quando ainda não
tragens com finalidades fitossanitárias e lignificadas, podem realizar absorção. As
nutricionais da palma de óleo. raízes secundárias emitem raízes terciárias
com cerca de 10 cm de comprimento, as
2.5. Sistema radicular
quais emitem as quaternárias com 5 a 10
As raízes são do tipo fasciculado e se mm de comprimento. As raízes da palma
desenvolvem a partir do bulbo, órgão de de óleo não possuem pelos absorventes,
80 cm de diâmetro e profundidade de 40 e as raízes terciárias e quaternárias exer-
a 50 cm, localizado na base do estipe. cem a função de absorção de água e nu-
De toda a superfície do bulbo partem ra- trientes. As raízes das palmeiras possuem
ízes primárias que, em sua maior parte, pneumatóforos, que servem para armaze-
estendem-se horizontalmente, paralelas nar e renovar o ar em seu interior.
à superfície do solo, predominando nos
A densidade de raízes diminui do bul-
primeiros 50 cm.
bo para a periferia. Tem-se encontrado
Algumas raízes primárias são lançadas maior número de raízes absorventes nas
diretamente para baixo, aprofundando-se zonas de maior concentração de matéria
no solo, servindo para fixar a planta e cap- orgânica em decomposição, principal-
tar água do lençol freático. As raízes pri- mente nos empilhamentos onde se de-
márias são pouco sinuosas, com diâmetro positam as folhas podadas das plantas de
quase constante de 4 a 9 mm, medem palma de óleo.
de menos de 1 até 20 m e quase não se
ramificam. Por serem na maioria lignifica- 2.6. Floração e frutificação
das, não possuem capacidade de absor-
A palma de óleo é uma planta mo-
ção (VALLEJO, 1978; CÔTE D’IVOIRE, 1980;
noica, ou seja, apresenta flores mascu-
JOURDAN et al., 2000).
linas e femininas na mesma planta. Na
A rápida lignificação dos tecidos radicu- axila de cada folha desenvolve-se uma
lares induz uma constante renovação do gema floral que pode transformar-se em
sistema radicular. As raízes primárias maio- inflorescência masculina, feminina ou

Figura 2 – Diagrama do sistema radicular de uma planta de palma de óleo adulta


(JOURDAN et al., 2000)

Legenda: R1 VD = raízes
primárias com crescimento
vertical voltado para baixo;
R1 H = raízes primárias com
crescimento horizontal; R2
VD = raízes secundárias com
crescimento vertical voltado
para baixo; R2 VU = raízes se-
cundárias com crescimento
vertical voltado para cima;
R2 H = raízes secundárias
geralmente com crescimen-
to horizontal; sR3 = raízes
terciárias superficiais; dR3 =
raízes terciárias profundas;
R4 = raízes quaternárias

86 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia


hermafrodita. Quando uma inflorescên- antese ocorre entre as posições de folhas
cia se desenvolve para um sexo, o outro números 17 e 20 (VALLEJO, 1978).
permanece rudimentar.
A razão sexual, isto é, a relação entre
A inflorescência é uma espádice com- o número de inflorescências femininas e
posta por um pedúnculo fibroso, uma o número total de inflorescências, é for-
ráquis central onde estão dispostas as temente influenciada por fatores ambien-
espigas em espirais. Antes da antese, as tais. Palmeiras sob sombreamento, de-
inflorescências são cobertas por espatas masiadamente podadas ou doentes que
coriáceas, uma interna e outra externa, apresentam reduzida superfície de folhas
que se rompem nessa ocasião. Algumas mostram alta proporção de inflorescências
vezes, as espatas não se abrem suficien- masculinas 24 meses após esses aconteci-
temente, ocasionando baixa produção de mentos (VARGAS, 1978).
frutos normais devido à má polinização
2.6.1. Inflorescência feminina e
(HARTLEY, 1983).
flores femininas
Em uma mesma palmeira, as inflores-
A inflorescência feminina pode alcan-
cências masculinas e femininas são pro-
çar 30 cm de comprimento antes da ante-
duzidas em ciclos alternados de duração
se. As flores femininas encontram-se dis-
variável. Quando as palmeiras são jovens
postas em espiral em torno das espigas.
e durante os períodos de transição sexual,
As espigas medianas da inflorescência
é comum o aparecimento de inflorescên-
possuem maior número de flores que as
cias hermafroditas ou mistas que apre-
espigas superiores ou inferiores. Cada flor
sentam diferentes proporções de espigas
está embutida em uma cavidade ou alvéo-
masculinas e femininas. Ocasionalmente
lo formado por uma bráctea terminada em
surgem, em plantas jovens, inflorescên-
espinho. Cada espiga também termina
cias andromorfas em cujas espigas a es-
em um espinho. Cada inflorescência pode
trutura é masculina, mas as flores que se
conter milhares de flores (CÔTE D’IVOIRE,
desenvolvem são femininas, podendo ori-
1980).
ginar pequenos frutos. O aborto de uma
inflorescência, que normalmente ocorre Em uma inflorescência feminina, um
na ocasião do crescimento rápido, por fal- alvéolo contém uma flor feminina e duas
ta de água e nutrientes, se traduz em au- flores masculinas acompanhantes que,
sência de inflorescência na axila da folha normalmente, abortam. O ovário é tricar-
no momento da antese (SURRE; ZILLER, pelar e o gineceu é rudimentar, ambos
1969). circundados por um perianto duplo com-
posto por seis segmentos sepaloides. O
O número de folhas é o mesmo das
estigma é séssil com três lóbulos pilosos.
inflorescências, uma vez que se formam
juntas. No nível meristemático, folha e in- Ambientes com períodos de secas
florescência, desde a fase de gema visível, definidas induzem a formação de inflo-
atingem o estado de flecha em dois anos. rescências masculinas. Inversamente, as
Desse ponto à antese decorrem 9 a 10 me- chuvas favorecem a formação de inflores-
ses; da iniciação floral à antese, 33 meses; cências femininas (VARGAS, 1978).
e de cinco a seis meses da antese à matu-
2.6.2. Inflorescência masculina
ração dos frutos. Os estudos indicam que,
e flores masculinas
da diferenciação sexual à antese decorrem
14 meses. A inflorescência torna-se visível A inflorescência masculina é compos-
ao atingir a posição da folha número 7. A ta por um pedúnculo mais comprido que

Produção e Manejo Sustentáveis para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia | 87


aquele da inflorescência feminina e pos- 2.6.3. Polinização
sui, pelo menos, 100 espigas. As espigas,
em forma de dedos, medem de 10 a 20 A polinização da palma de óleo é re-
cm de comprimento, abrigando uma mé- alizada principalmente por insetos. Ele-
dia de 1.000 flores masculinas. Antes da vadas taxas de frutificação nos cachos
antese, as flores estão fechadas em uma necessitam de boa disponibilidade de
bráctea triangular. Cada flor masculina pólen e significativa população de insetos
consta de um perianto de seis segmentos, polinizadores. Entre os principais insetos
um androceu tubular com seis anteras e polinizadores, os coleópteros do gênero
um gineceu rudimentar. O período da an- Elaeidobius são os mais importantes, sen-
tese é de dois a quatro dias, dependendo do a espécie mais eficaz o Elaeidobius
da chuva. Cada inflorescência masculina kamerunicus, introduzida da África pela
pode produzir de 25 a 60 gramas de pólen Embrapa (VIÉGAS; MÜLLER, 2000).
(SURRE; ZILLER, 1969). Em condições ambientais favoráveis e
com material vegetal produtivo e, principal-
Figura 3 – Inflorescência masculina (acima) mente, no período jovem, praticamente to-
e feminina (abaixo) da palma de óleo das as palmeiras entram em ciclo feminino
(Fonte: IRHO/CIRAD) simultaneamente, havendo muito poucas
inflorescências masculinas. Isso provoca
baixa população de polinizadores e pouco
pólen, se traduzindo em cachos abortivos
ou malformados (VARGAS, 1978).
2.6.4. Frutificação e cacho de
frutos
O cacho da palma de óleo tem o pe-
ríodo completo de formação entre cinco
e seis meses após a fecundação das flo-
res femininas. O cacho apresenta forma
ovoide, podendo alcançar 50 cm de com-
primento e 35 cm de largura. O peso dos
cachos pode variar de 3 a 50 quilos, com
uma média de 30 quilos, dependendo da
idade da planta e das condições ambien-
tais. A quantidade média de frutos em um
cacho é de 1.500, representando de 60 a
70% do peso do cacho.
O fruto é uma drupa séssil de forma
Reduções na intensidade de luz pro- ovoide com comprimento variando de
vocam maior formação de inflorescências 2 a 5 centímetros e pesando de 3 a 30
masculinas. Dessa forma, o sombreamen- gramas. Da superfície para o interior, o
to ou a redução da área foliar por pragas fruto é composto das seguintes cama-
ou doenças, ou, ainda, uma poda severa das: epicarpo, cutinizado, liso, brilhante
tendem a promover a formação de mais in- e fino; mesocarpo, onde se concentra
florescências masculinas (VARGAS, 1978). o óleo de palma amarelo-alaranjado,
muito oleoso, contendo fibras cujos fei-
xes se adensam nas proximidades do

88 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia


endocarpo; endocarpo, esclerificado, temperatura, umidade, vento, entre ou-
negro, muito duro e envolvido por fibras; tros). Dada sua origem tropical, na costa
e o endosperma, de forma ovoide, que africana, é nessa faixa do globo que se de-
ocupa toda a cavidade do endocarpo. O senvolvem os principais sistemas racionais
endosperma, depois de seco, é conheci- de plantio dessa palmeira. As condições
do como palmiste, onde se concentra o climáticas ideais para a palma de óleo es-
óleo de palmiste (CÔTE D’IVOIRE, 1980). tão descritas a seguir.
3.1.1. Precipitação pluviométrica
As chuvas devem ser bem distribuídas
3. Requerimentos no decorrer do ano, sem a ocorrência de
estações secas definidas, com média de
ecológicos 2.000 mm. Nos meses menos chuvosos,
a pluviometria não deve, preferencialmen-
As quase nove décadas de estudos e te, ser inferior a 100 mm e não deve su-
pesquisas sobre a palma de óleo conferi- perar três meses. Evidentemente, grande
ram ao seu sistema produtivo um status parte das regiões de cultivo não apresenta
tecnológico apreciável (BLAAK, 1965). Por todas essas condições ideais. A Figura 4
conseguinte, de elevado custo financeiro. mostra três locais de plantio de palma de
Entre as inovações tecnológicas, merece óleo com diferentes quantidades e distri-
destaque o desenvolvimento de cultiva- buições de chuva durante o ano.
res com características geneticamente
superiores (produtividade, resistência aos A quantidade de água que chega ao
agentes bióticos patogênicos, qualidade solo não é o único fator a ser observado.
do óleo, porte da planta, etc.) (BEIRNAERT; Estudos mais completos que considerem
VANDERWEYN, 1941). a evapotranspiração e a capacidade maior
ou menor do solo em estocar água devem
A expressão fenotípica dos seres vivos ser cuidadosamente realizados. Depen-
é o resultado da interação de sua carga dendo do fator climático em deficiência,
genética com as condições do ambien- as respostas se manifestam sobre o de-
te em que se desenvolve. No cultivo da sempenho produtivo das plantas.
palma de óleo, cuja vida útil se estende,
em média, por 25 anos, a expressão do Déficits hídricos acumulados acima
potencial produtivo das cultivares está na de 60 dias ocasionam redução no apa-
dependência direta da interação com as recimento de folhas novas, aumento da
condições do ambiente. Um cultivo pere- emissão de inflorescências masculinas e
ne de elevado custo de implantação (U$ diminuição do peso médio dos cachos,
3.000,00 por ha, incluindo a usina) deve com acentuado reflexo na produtividade
merecer o máximo de atenção na escolha (OLIVIN, 1966). Em Pobé (Benin, África),
da área onde será implantado. Entre os fa- dentro de certos limites, observou-se a
tores ambientais, os de maior relevância redução de produtividade de 30 para 10
para o cultivo da palma de óleo são clima t.ha-1.ano-1, quando o déficit hídrico mé-
e solo. dio anual elevou-se de 0 para 600 mm
(MAILLARD et al., 1974).
3.1. Clima
3.1.2. Insolação
O clima é o resultado da variação de
ocorrências periódicas dos fenômenos O brilho solar não deve ser inferior a
atmosféricos (precipitação pluviométrica, cinco horas diárias durante todo o ano,

Produção e Manejo Sustentáveis para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia | 89


Figura 4 – Precipitação pluviométrica mensal em três locais de plantio de palma de óleo
(adaptado de HARTLEY, 1983)

700

600
Pluviometria mensal, em mm

500

400
Belém (Brasil) - 2.981,6 mm.ano-1
300
Bajo Calima (Colômbia) - 5.093,0 mm.ano-1
Pobé (Benin) - 1.231,1 mm.ano-1
200

100

0
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
Meses

podendo atingir sete horas por dia em inibido em temperaturas abaixo de 15ºC.
alguns meses. Esse fator está relacionado Baixas temperaturas ocasionam aborto de
com a precipitação pluviométrica. Regi- cachos antes da antese (FERWERDA, 1977).
ões mais chuvosas tendem a apresentar As maiores produtividades ocorrem em
menos horas de brilho solar devido às regiões com menores diferenças entre as
nuvens. Regiões com 1.500 horas/ano temperaturas médias mensais.
de insolação podem ser limitantes para o
3.2. Solos
sucesso de um palmeiral. A relação estrei-
ta desse fator com a fotossíntese implica Sendo a base de sustentação dos cul-
em efeitos sobre a maturação dos cachos tivos, a qualidade dos solos desempenha
e na percentagem de óleo no fruto. Po- um papel fundamental para o sucesso dos
rém, de maior importância é a amplitude investimentos agrícolas. Entre as caracte-
do espectro luminoso e sua intensidade. rísticas componentes dos solos, merecem
Existem regiões com produtividades eco- destaque as descritas a seguir.
nomicamente compensadoras, cuja inso-
3.2.1. Relevo
lação é de 900 horas/ano, compensadas
que são pela disponibilidade de água e As plantações de palma de óleo, em
nutrientes. geral, ocupam largas extensões de terreno
em regiões de elevada precipitação plu-
3.1.3. Temperatura viométrica. Solos que apresentem relevo
A temperatura máxima média de 29 a de plano a suave ondulado são os mais
33°C e mínima média de 22 a 24°C são recomendados. Topografias acidentadas,
intervalos recomendáveis. A temperatura acima de 5%, favorecem a erosão e exi-
na faixa tropical não apresenta grandes gem cuidados especiais, como a constru-
variações. A diferença entre as médias dos ção onerosa de terraços. Plantios em curva
meses mais quentes e dos mais frios não de nível são indicados para solos entre 2 e
ultrapassa 3ºC. Temperaturas acima de 5% de declividade. Solos com declividades
38ºC e abaixo de 14ºC são raras. Em plan- superiores a 10% devem ser evitados.
tas jovens, o crescimento é totalmente

90 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia


Plantas de cobertura são recomen- Considerando a baixa fertilidade nativa
dadas e podem, em solos com declivi- dos solos amazônicos, onde o nível de ba-
dades abaixo de 5%, tornar os efeitos ses trocáveis é baixo, sua complementação
da erosão nulos. Espécies como a legu- é fundamental. Os baixos teores de fósforo
minosa Pueraria phaseoloides , quando devem ser superados com a adição desse
bem conduzidas, formam profusa mas- elemento, tendo em vista as pesquisas o
sa verde que, além da contribuição com indicarem como elemento limitante para o
o teor de nitrogênio, protegem o solo desenvolvimento dessa palmeira.
contra os efeitos da erosão laminar e
3.3. Vegetação
mantêm a umidade do solo nas épocas
mais secas. O revestimento florístico de uma área
pode ser um bom indicativo de suas condi-
3.2.2. Estrutura ções ambientais. Regiões com vegetação
Solos profundos, sem camadas de im- pouco adensada (caatinga) ou constituída
pedimento e de boa permeabilidade são de plantas rasteiras, como as gramíneas
os indicados para o cultivo da palma de (cerrados), revelam acentuada deficiência
óleo. A maioria dos latossolos e argissolos hídrica. Plantas raquíticas podem indicar
que ocorrem na Amazônia é adequada. solos com ausência de elementos quími-
Esses solos, devido ao seu relativamente cos essenciais para o seu desenvolvimen-
elevado teor de argila, são profundos (ge- to. Algumas plantas são indicadoras de
ralmente inferiores a 1,5 m de profundida- solos sujeitos ao encharcamento e outras
de) e sem compactação. indicam proximidade de água, como as
palmáceas. Regiões com grande densida-
A compactação impede o pleno cres-
de de massa verde, como as florestadas,
cimento do sistema radicular fasciculado
podem ser indício da ocorrência de água
das plantas de palma de óleo. Na Costa
em abundância e solos com boas proprie-
do Marfim, observou-se que a compac-
dades físicas, nem sempre as químicas.
tação do solo reduz de 20 a 30% o po-
tencial de produção das plantas e induz No Brasil, em especial na Amazônia, as
a uma menor resistência à seca e a um áreas florestadas devem ser evitadas para
fechamento precoce dos estômatos em a implantação de cultivos devido ao seu
virtude da menor retenção de água nos importante papel como reguladoras dos
horizontes superficiais do solo. Solos com ciclos hidrológicos e de movimento de
teores de argila inferiores a 20% não são massas de ar em caráter planetário. Além
recomendáveis. disso, a fantástica diversidade biológica
ainda é muito pouco conhecida cientifica-
3.2.3. Fertilidade
mente e deve contribuir de forma insus-
A palma de óleo pode ser cultivada peitada com fármacos de elevado valor
em solos originalmente de baixa fertili- para o bem da humanidade. E, principal-
dade, desde que devidamente corrigidos mente, dos quase 50 milhões de hectares
por adubação equilibrada. As plantas são já desmatados nessa região, pelo menos
tolerantes à acidez do solo e à toxidez do 20 milhões encontram-se subaproveitados
alumínio. Solos naturalmente férteis ob- ou abandonados e podem ser facilmente
viamente apresentarão melhor desempe- recuperados com as inovações tecnológi-
nho competitivo. cas hoje disponíveis.

Produção e Manejo Sustentáveis para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia | 91


OLIVIN, J. Pointe annuelle de production des palme-
4. Referências raies au Dahomey et cycle annuel de développe-
ment du palmier à huile. Oléagineux, v. 21, n. 6,
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MAILLARD, G.; DANIEL, C.; OCHS, R. Analyse des
effets de la sècheresse sur le palmier à huile. Oléagi-
neux, v. 29, n. 8/9, p.397-404, 1974.

92 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia


PARTE 2
Capítulo 3

Material genético utilizado para a


produção sustentável da cultura da
palma de óleo na Amazônia
Raimundo Nonato Vieira da Cunha, Ricardo Lopes, Rui Alberto Gomes Júnior, Maria
do Rosário Lobato Rodrigues, Paulo César Teixeira, Raimundo Nonato Carvalho da
Rocha e Wanderlei Antônio Alves de Lima

Por se tratar de uma espécie perene, (RNC) do Ministério da Agricultura, Pecuá-


com expectativa de exploração de plan- ria e Abastecimento (MAPA).
tios comerciais por pelo menos 25 anos,
Os plantios comerciais são estabeleci-
deve-se dar atenção especial ao material
dos com cultivares do tipo Tenera, classi-
genético utilizado no plantio de palma de
ficação realizada em função da espessura
óleo (dendezeiro). Após a aquisição das
do endocarpo dos frutos. A espessura do
sementes, serão dedicados de 10 a 12 me-
endocarpo é uma característica monogê-
ses para a formação de mudas e de 30 a
nica (BEINAERT; VANDERWEYEN, 1941), ou
36 meses para a manutenção no campo
seja, controlada por apenas um loco ge-
(roçagem, coroamento, adubação, poda e
nético. A partir dessa característica, foram
controle de pragas e doenças) até o início
definidos o tipo de material cultivado co-
da colheita para fins comerciais; ou seja,
mercialmente e os métodos de melhora-
serão investidos aproximadamente quatro
mento utilizados para obtê-lo.
anos e entre R$ 4.500,00 e R$ 7.000,00 por
hectare até que as plantas entrem na fase Como já foi citado no capítulo anterior,
de produção comercial. Esse investimen- distinguem-se três tipos de plantas de pal-
to pode ser comprometido se o material ma de óleo de acordo com a presença e
genético utilizado não apresentar adap- a espessura do endocarpo dos frutos que
tação às condições pedoclimáticas locais, produzem (Figura 1): Dura (sh+sh+) – plan-
garantindo níveis de produtividade que tas que produzem frutos que apresentam
ofereçam rentabilidade adequada ao in- endocarpo com espessura de 2 a 8 mm,
vestimento realizado pelo produtor. às vezes menos, e de 35 a 65% de meso-
carpo no fruto; Tenera (sh+sh-) – plantas
Deve-se adquirir sementes de cultiva-
que produzem frutos que apresentam en-
res com desempenho comprovado nas
docarpo com espessura de 0,5 a 4 mm,
condições ambientais de plantio, oriundas
com 55 a 96% de mesocarpo no fruto e,
de programas de melhoramento genético
quando cortados no sentido transversal,
e produção de sementes idôneos e regis-
verifica-se a presença de um anel de fibra
trados no Registro Nacional de Cultivares
no mesocarpo, característica ausente nos

Produção e Manejo Sustentáveis para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia | 93


Figura 1 – Frutos de palma de óleo (Elaeis guineensis Jacq.)
tipo Dura (A), Pisífera (B) e Tenera (C)

A B C

frutos do tipo Dura; Pisífera (sh-sh-) – plan- Embrapa, foi empregado o método da se-
tas que produzem frutos que não apre- leção recorrente recíproca, sendo a popu-
sentam endocarpo e que, na maioria das lação A composta de plantas tipo Dura de
vezes, produzem flores femininas estéreis origem Deli, que têm como característica
(abortivas), razão pela qual a produção de a produção de pequeno número de gran-
frutos nessas plantas é rara, com algumas des cachos, e a população B composta de
exceções de Pisíferas férteis. plantas Tenera/Pisífera de origem La Mé,
que têm como característica a produção
Nas populações naturais, as frequências
de grande número de pequenos cachos
de plantas Pisífera (<1%) e Tenera (~3%) são
(BARCELOS et al., 2000b).
baixas, predominando o tipo Dura (~97%).
Plantas Tenera apresentam maior propor- O uso de plantas Dura em plantios
ção de mesocarpo no fruto, resultando em comerciais foi abandonado ainda em me-
maior produção de óleo do que as Dura, fa- ados do século passado. Cabe ressaltar
tor determinante para o uso de plantas Te- que, no Brasil, os palmares subespontâne-
nera, obtidas do cruzamento entre plantas os existentes na Bahia (em torno de 20.000
Dura (utilizadas como genitor feminino) e ha), explorados de forma extrativista, são
Pisífera (utilizadas como genitor masculino) oriundos de sementes introduzidas pelos
nos plantios comerciais. escravos no século XVI e constituídos de
plantas Dura, que apresentam baixa pro-
Os programas de melhoramento ge-
dutividade de cachos (3 a 4 t/ha/ano) e
nético de palma de óleo têm como foco
baixa taxa de extração de óleo (8 a 9%).
o híbrido intraespecífico Tenera, indepen-
Já os plantios agroindustriais implantados
dentemente das variações nos esquemas
a partir da década de 1960, tanto na Bahia
de melhoramento genético adotados. De
como no Pará, foram estabelecidos com
maneira geral, são conduzidas populações
sementes de cultivares Tenera importadas
Dura e Tenera/Pisífera melhoradas per se
da África, da Ásia e da América Central.
e realizados testes de progênies Dura x
Tenera ou Dura x Pisífera para identificar Em hipótese nenhuma deve o produ-
as melhores combinações entre essas po- tor utilizar plantas de cultivo comercial
pulações para reprodução comercial do para propagação e estabelecimento de
híbrido Tenera (Dura x Pisífera). novos plantios. A multiplicação das plan-
tas comerciais do tipo Tenera resulta em
No programa de melhoramento gené-
segregação genética, o que levará a obter
tico que resultou no lançamento das culti-
aproximadamente 25% de plantas Pisífera
vares Tenera Deli x La Mé, produzidas pela

94 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia


(que serão improdutivas), 25% de plan- ma de óleo do tipo Tenera; apresentam
tas Dura (que terão rendimento inferior anomalias nas inflorescências masculinas,
às Tenera) e 50% de plantas Tenera que, principalmente na fase jovem; produzem
em média, produzirão também menos do menor quantidade de pólen, que oferece
que as plantas Tenera obtidas nos cruza- menor viabilidade quando comparado ao
mentos controlados a partir de genitores de palma de óleo; e as inflorescências em
Dura e Pisífera selecionados para capaci- geral apresentam menor atratividade para
dade de combinação. os insetos polinizadores do que as inflo-
rescências de palma de óleo. Por isso, os
Até o final da década de 1980, os plan-
cultivos comerciais de híbridos exigem a
tios comerciais de palma de óleo no Brasil
polinização assistida como prática de ma-
eram realizados exclusivamente com se-
nejo para expressar o potencial produtivo.
mentes importadas de empresas da Áfri-
ca, da Ásia e da América Central. A produ- As sementes de palma de óleo reque-
ção de sementes comerciais no Brasil foi rem procedimentos especiais para que
iniciada pela Embrapa Amazônia Ociden- se obtenha boa e uniforme taxa de ger-
tal em 1992, como resultado do trabalho minação. Devido à estrutura requerida
de introdução de germoplasma e melho- para a execução desses procedimentos,
ramento genético iniciado em 1982 em os produtores adquirem as sementes já
parceria com o Centre de Coopération In- pré-germinadas. É necessário programar a
ternationale en Recherche Agronomique aquisição e consultar a disponibilidade de
pour le Développement (Cirad), da França sementes do fornecedor com pelo menos
(BARCELOS et al., 2000a; BARCELOS et al., seis meses de antecedência da data em
2000b; CUNHA et al., 2007a). que se pretende recebê-las para iniciar a
formação das mudas. O período de pro-
De acordo com a legislação brasileira
gramação é necessário devido ao tempo
atual de sementes e mudas, só podem ser
demandado pelo processo de produção
comercializadas no mercado brasileiro cul-
das sementes, que é de aproximadamen-
tivares registradas no Registro Nacional de
te um ano: em torno de seis meses do
Cultivares (RNC), sendo encontradas com
isolamento da inflorescência até a colhei-
o referido registro até junho de 2010 as
ta do cacho e quatro meses para quebra
cultivares apresentadas na Tabela 1.
de dormência (método do calor seco) e
Além das cultivares de palma de óleo germinação das sementes (CUNHA et al.,
tipo Tenera, já existem no Brasil, no Esta- 2007b). Além disso, como as sementes
do do Pará, plantios comerciais com o hí- são adquiridas germinadas e se desen-
brido interespecífico F1 de palma de óleo volvem rapidamente, o produtor já deve
africana com a palma de óleo americana estar com toda a estrutura de pré-viveiro
(Elaeis oleifera), híbridos OxG. O híbrido pronta para o plantio das sementes ime-
interespecífico OxG é recomendado para diatamente após recebê-las para que não
regiões onde se verificou a ocorrência de seja ultrapassado o estágio adequado de
Amarelecimento Fatal – AF, que já dizi- desenvolvimento para o plantio, situação
mou milhares de hectares de plantações em que aumenta o percentual de perda
de palma de óleo na América Latina (ver de sementes.
capítulo específico sobre o assunto). A
No estabelecimento de plantios co-
espécie americana e o híbrido F1 com a
merciais, recomenda-se ainda, sempre
espécie africana não são afetados pelo
que possível, o uso de cultivares de dife-
AF. Contudo, esses híbridos têm produ-
rentes origens. A variabilidade genética
ção de óleo inferior às cultivares de pal-

Produção e Manejo Sustentáveis para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia | 95


Tabela 1 – Cultivares de palma de óleo registradas no Registro Nacional de Cultivares
RNC do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – MAPA até junho de 2010

Nome da Requerente do Registro / Empresa responsável


Tipo da Cultivar pelo desenvolvimento
Cultivar Mantenedor da Cultivar
Híbrido intraespecífico BIOPALMA DA
ASD CG ASD – Costa Rica
tenera (Elaeis guineensis) AMAZÔNIA S/A
Híbrido intraespecífico BIOPALMA DA
ASD CN ASD – Costa Rica
tenera (Elaeis guineensis) AMAZÔNIA S/A
Híbrido intraespecífico BIOPALMA DA
ASD DC ASD – Costa Rica
tenera (Elaeis guineensis) AMAZÔNIA S/A
Híbrido intraespecífico BIOPALMA DA
ASD DG ASD – Costa Rica
tenera (Elaeis guineensis) AMAZÔNIA S/A
Híbrido intraespecífico BIOPALMA DA
ASD DL ASD – Costa Rica
tenera (Elaeis guineensis) AMAZÔNIA S/A
Híbrido intraespecífico BIOPALMA DA
ASD DN ASD – Costa Rica
tenera (Elaeis guineensis) AMAZÔNIA S/A
Híbrido intraespecífico Empresa Brasileira de Pesquisa
BRS C2301 Embrapa – Brasil
tenera (Elaeis guineensis) Agropecuária – Embrapa
Híbrido intraespecífico Empresa Brasileira de Pesquisa
BRS C2328 Embrapa – Brasil
tenera (Elaeis guineensis) Agropecuária – Embrapa
Híbrido intraespecífico Empresa Brasileira de Pesquisa
BRS C2501 Embrapa – Brasil
tenera (Elaeis guineensis) Agropecuária – Embrapa
Híbrido intraespecífico Empresa Brasileira de Pesquisa
BRS C2528 Embrapa – Brasil
tenera (Elaeis guineensis) Agropecuária – Embrapa
Híbrido intraespecífico Empresa Brasileira de Pesquisa
BRS C3701 Embrapa – Brasil
tenera (Elaeis guineensis) Agropecuária – Embrapa
Híbrido intraespecífico Empresa Brasileira de Pesquisa
BRS C7201 Embrapa – Brasil
tenera (Elaeis guineensis) Agropecuária – Embrapa
Híbrido intraespecífico Empresa Brasileira de Pesquisa
BRSC2001 Embrapa – Brasil
tenera (Elaeis guineensis) Agropecuária – Embrapa
Compacta Híbrido intraespecífico
Agropalma S/A ASD – Costa Rica
Agropalma tenera
Híbrido intraespecífico BIOPALMA DA
Cirad DLM Cirad – França
tenera AMAZÔNIA S/A
Híbrido intraespecífico BIOPALMA DA
Cirad DLY Cirad – França
tenera AMAZÔNIA S/A
BRS Híbrido interespecífico E. Empresa Brasileira de Pesquisa
Embrapa – Brasil
Manicoré guineensis x E. oleifera Agropecuária - Embrapa
Marborges Híbrido interespecífico E.
Marborges Agroindústria S.A. La Cabaña/Colômbia
Inducoari 1 guineensis x E. oleifera

96 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia


existente entre as cultivares comerciais taxa de extração de palmiste de 2,5 a 3%,
dá maior segurança ao produtor face ao de 0,63 a 0,75 t/ha/ano. A produtividade
aparecimento de fatores bióticos (pragas de 6 t de óleo/ha/ano tem sido obtida em
e doenças) ou abióticos (condições climá- plantios no Estado do Pará. A produção se
ticas atípicas) que afetem as plantas, bem estende por todo o ano, com picos que
como permite utilizar de modo mais efi- podem chegar a 14-15% da produção anu-
ciente a capacidade instalada de proces- al em um só mês na fase alta, geralmente
samento de cachos, uma vez que existem nos meses de outubro ou novembro, e 5%
cultivares com picos de produção em di- na fase baixa, geralmente nos meses de
ferentes épocas do ano, de forma que a fevereiro ou março, dependendo da distri-
produção mensal se torna mais regular do buição das chuvas na região.
que quando se utiliza cultivares de mes-
A Embrapa também iniciou, na déca-
ma base genética.
da de 1980, a avaliação de cruzamentos
Cultivares produzidas pela interespecíficos entre a palma de óleo
Embrapa africana e a americana (caiaué). Foram re-
alizados experimentos no CERU, no Ama-
As sementes das cultivares de palma
zonas, em áreas de incidência do AF no
de óleo Tenera são produzidas pela Em-
Pará e no Equador, e em diversos plantios
brapa Amazônia Ocidental no Campo
comerciais em pequena escala por produ-
Experimental do Rio Urubu – CERU, loca-
tores na Colômbia.
lizado no município de Rio Preto da Eva
– AM. A empresa produz comercialmente Os resultados dos estudos realizados
sete cultivares de palma de óleo do tipo até o momento indicam desempenho
Tenera – BRS C2001, BRS C2301, BRS C2328, superior dos híbridos OxG obtidos entre
BRS C2501, BRS C2528, BRS C3701 e BRS a caiaué da origem Manicoré com a pal-
C7201 –, provenientes de cruzamentos en- ma de óleo africana da origem La Mé. Os
tre genitores tipo Dura (de origem Deli) e experimentos em áreas de incidência de
Pisífera (de origem La Mé), desenvolvidas AF no Brasil demonstraram que o material
em parceria com o Centre de Coopération não é afetado pela anomalia em nossas
Internationale en Recherche Agronomique condições ambientais. Já no Equador, fo-
pour le Développement (Cirad). Essas cul- ram verificados índices variáveis de mor-
tivares são recomendadas para plantio em talidade dependendo do cruzamento
região tropical úmida que apresente preci- avaliado, mas ainda com alta taxa de so-
pitação em torno de 2.000 mm/ano bem brevivência se comparado com a palma
distribuídos, déficit hídrico igual ou inferior de óleo. Não foi constatado efetivamente
a 200 mm/ano, insolação superior a 1.800 se a anomalia denominada AF que ocorre
horas/ano, temperatura média anual entre no Equador é da mesma natureza da que
24 e 28°C, com mínima mensal superior a ocorre no Brasil.
18°C e máxima entre 28 e 34°C, além de
O crescimento do estipe desses hí-
umidade relativa do ar entre 70 e 95%.
bridos situa-se entre 15 e 20 cm/ano. A
Nas condições descritas, essas cultiva- produção de cachos supera 30 t/ha/ano,
res apresentam taxa média de crescimen- mas exige a realização de polinização as-
to do tronco de 45 cm/ano; produção de sistida, enquanto a taxa de extração de
cachos de 25 a 30 t/ha/ano, dependendo óleo situa-se entre 16 e 18%. A Embrapa
do manejo adotado; taxa de extração de iniciou a produção desse híbrido em pe-
óleo do mesocarpo em torno de 22% e quena escala comercial no final da década
produção média de óleo de 4 a 6 t/ha/ano; de 1990 para avaliação experimental em

Produção e Manejo Sustentáveis para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia | 97


plantios comerciais no Pará, atendendo à Cultivares produzidas pela
demanda de produtores afetados pelo AF, PalmElit
e atualmente já existem aproximadamen-
te 2.000 ha cultivados com esses híbridos A PalmElit é uma subsidiária do Cirad
em produção. Os resultados obtidos de- (Centro de Cooperação Internacional em
monstram a viabilidade econômica do Pesquisa Agronômica para o Desenvolvi-
cultivo do híbrido, embora a produção mento), instituição francesa de reconhe-
ainda seja inferior à das cultivares Tenera, cida competência no desenvolvimento
principalmente pela menor taxa de extra- de pesquisas com palma de óleo que
ção de óleo, além de exigir a polinização mantém uma rede de ensaios que inclui
assistida como prática de manejo, sem a experimentos na África, na Ásia e na Amé-
qual a produção pode ser reduzida para 3 rica do Sul. As cultivares produzidas pela
a 6 t de cacho/ha/ano. PalmElit são bem conhecidas pelos tradi-
cionais produtores de palma de óleo na-
Esses experimentos resultaram no de- cionais.
senvolvimento da cultivar BRS Manicoré,
registrada no RNC/MAPA em 2009. A pro- O programa de melhoramento gené-
dução atual de sementes desse material tico e produção de sementes de palma
não atende à demanda existente; assim, de óleo da Embrapa originou-se de uma
os campos de produção de sementes parceria com o Cirad (então denominado
estão em multiplicação para aumentar a IRHO – Institut de Recherche pour Les Hui-
capacidade de produção. Contudo, ainda les et Oleagineux) no início da década de
serão necessários alguns anos para que a 1980, sendo as cultivares produzidas pela
produção seja suficiente para atender à Embrapa oriundas do programa iniciado
demanda. A previsão é de que sejam lan- pelo Cirad na metade do século passado,
çados novos híbridos OxG pela Embrapa portanto, com mesma base genética das
em 2016. sementes das cultivares produzidas pela
PalmElit. A maior parte dos palmares es-
Os híbridos OxG, além de não serem tabelecidos até o momento no Brasil são
afetados pelo AF e apresentarem reduzido oriundos direta ou indiretamente (através
crescimento vertical do tronco, o que reduz da Embrapa) do programa de melhora-
os custos de produção e prolonga a vida mento genético do Cirad. As cultivares
dos plantios comerciais, apresentam óleo produzidas pela PalmElit são híbridos intra-
mais insaturado, sendo considerado de específicos do tipo Tenera obtidos a partir
melhor qualidade do que o óleo de palma. de cruzamentos das origens Deli x La Mé
Apresentam, ainda, maior tolerância do que e Deli x Yangambi.
a palma de óleo a outras pragas, como la-
gartas desfolhadoras e minadoras de raiz. A PalmElit possui duas cultivares regis-
tradas no RNC/MAPA, Cirad DLM e Cirad
Informações sobre a produção de se- DLY. As cultivares Deli x La Mé têm poten-
mentes de palma de óleo na Embrapa cial de produção de 30 a 32 toneladas de
podem ser obtidas no Escritório de Ne- cachos/ha/ano em condições pedoclimá-
gócios da Amazônia: Rodovia AM 010, km ticas favoráveis, e de aproximadamente 22
29 – Manaus/AM – Caixa Postal 319, CEP toneladas de cachos/ha/ano com déficit
69.010-970. O telefone é (92) 3303-7897. hídrico de 300 mm/ano, taxa de extração
de óleo de palma de 26 a 28% e de palmis-
te de 3 a 4%, e com crescimento vertical
do tronco de 45 a 55 cm/ano. As cultivares

98 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia


Deli x Yangambi têm potencial de produ- inferior a 60 cm/ano ou entre 60 e 70 cm/
ção de 30 a 32 toneladas de cachos/ha/ ano. De acordo com as informações da
ano em condições pedoclimáticas favorá- empresa, as novas cultivares disponibiliza-
veis, e de aproximadamente 22 toneladas das pela ASD têm potencial de produção
de cachos/ha/ano com déficit hídrico de de cachos em torno de 30 t/ano e taxa de
300 mm/ano, taxa de extração de óleo de extração de óleo entre 26 e 28%.
palma de 25 a 27% e de palmiste de 3 a
Os clones de Compacta produzidos
4%, crescimento vertical do tronco de 54
pela ASD ainda não foram avaliados na
a 64 cm/ano.
fase adulta nas condições brasileiras, mas,
As cultivares Deli x La Mé e Deli x Yan- de acordo com as informações fornecidas
gambi têm picos de produção diferencia- pela empresa, têm potencial para produ-
dos dentro do ano; assim, para garantir ção de 25 a 38 t de cachos/ha/ano, taxa de
melhor distribuição intra-anual da produ- extração de óleo entre 24 e 34%, produção
ção de cachos, recomenda-se diversificar de óleo de 7 a 9 t/ha/ano e crescimento
os plantios com cultivares dessas duas do estipe de 27 a 50 cm/ano. A densidade
origens. de plantio é maior do que a utilizada para
cultivares tradicionais (143 plantas/ha), de
Informações sobre a produção e a co-
170 a 200 plantas/ha.
mercialização de sementes de palma de
óleo Cirad® da PalmElit podem ser obti- Recentemente, também foram lança-
das no site http://www.palmelit.com/. dos pela ASD dois híbridos interespecífi-
cos denominados Brunca e Amazon. Es-
Cultivares produzidas pela
ses híbridos deverão ser testados no Brasil
Agricultural Services & em breve; contudo, ainda não se dispõe
Development (ASD) de informações sobre o potencial produti-
A ASD é uma empresa sediada na vo desses materiais em nossas condições
Costa Rica com reconhecida competência e nem de registro dos mesmos no RNC.
na produção de sementes de palma de
Informações sobre a produção e a co-
óleo. Sua produção é exportada para di-
mercialização de sementes de palma de
versos países da América do Sul, da África
óleo da ASD podem ser obtidas no site
e da Ásia e tem suprido grande parte da
http://www.asd-cr.com.
demanda de sementes do mercado bra-
sileiro. As cultivares ASD têm diversificada Híbrido Interespecífico
base genética: Deli x Avros, Deli x La Mé, produzido pela La Cabaña
Deli x Yangambi, Deli x Ghana, Deli x Ni-
A La Cabaña é uma empresa colom-
géria, Tanzania x Ekona, Bamenda x Eko-
biana que, em parceria com o Cirad, vem
na, Compacta x Ekona, Compacta x Nigé-
desenvolvendo um programa de melhora-
ria, Compacta x Ghana e diversos clones
mento de híbridos OxG. O material produ-
Compacta. As cultivares Deli x Yangambi e
zido pela empresa foi registrado no RNC
Deli x Avros produzidas pela ASD já foram
no Brasil com a denominação de “Marbor-
utilizadas em muitos plantios comerciais
ges Inducoari 1”.
no Brasil nas décadas de 1980 e 1990; con-
tudo, atualmente não têm sido demanda- Trata-se de um híbrido OxG F1 obtido a
das pelos produtores por apresentarem partir do cruzamento de materiais selecio-
crescimento vertical do tronco superior a nados de caiaué da origem Coari (municí-
70 cm/ano, ao passo que as novas culti- pio do Estado do Amazonas/Brasil) e geni-
vares disponíveis apresentam crescimento tores Pisífera da origem La Mé. De acordo

Produção e Manejo Sustentáveis para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia | 99


com as informações disponibilizadas pela
empresa, o híbrido apresenta: crescimen-
to médio do tronco de 22 cm/ano; vida útil
Referências bibliográficas
de produção comercial estimada entre 30 BARCELOS, E.; CUNHA, R. N. V.; NOUY, B. Recursos
e 50 anos; resistência ao Amarelecimento genéticos de dendê (Elaeis guineensis, Jacq. e E.
oleifera (Kunth), Cortés. In: SEMINÁRIO INTER-
Fatal e à Fusariose; área foliar mais ampla NACIONAL AGRONEGÓCIO DO DENDÊ: Uma
do que a de palma de óleo; maior tolerân- alternativa social, econômica e ambiental para
cia à umidade do solo do que a palma de o desenvolvimento da Amazônia, 2000, Belém,
óleo; óleo mais estável (2 a 3 vezes mais PA. Resumos. Belém: Embrapa Amazônia Ociden-
tal. 2000a. p. 39-40. (Embrapa Amazônia Oriental,
estável), permitindo ciclos de colheita a Documentos, 60).
intervalos maiores e maior tempo de ar-
BARCELOS, E.; NUNES, C. D. M.; CUNHA, R. N. V. da.
mazenamento; elevação da acidez mais Melhoramento genético e produção de sementes
lenta; taxa de extração de óleo de 18 a comerciais de dendezeiro. In: VIEGAS, I. de J. M.;
19% e de palmiste em torno de 3,5%. Esse MÜLLER, A. A. (Ed.). A cultura do dendezeiro na
híbrido ainda não foi avaliado nas condi- Amazônia brasileira. Belém: Embrapa Amazônia
Oriental; Manaus: Embrapa Amazônia Ocidental,
ções brasileiras. 2000b. p. 145-174.
Informações sobre os híbridos produzi- BEINAERT, A.; VANDERWEYEN, R. Contribution à
dos pela La Cabaña podem ser obtidas no l’etude génétique et biométrique de variétés
site http://www.intermedianetwork.com/ dÉlaeis guineensis Jacq. Gembloux. Brussels:
l’institut national pour l’étude agronomique du
cabana/semillahibrido.php. Colgo Belge, 1941. 101 p. (Série Scientifique, 27).
Outras empresas produtoras de CUNHA, R. N. V. da; LOPES, R.; BARCELOS, E.; RO-
sementes de palma de óleo DRIGUES, M. do R. L.; TEIXEIRA, P. C.; ROCHA, R. N.
C. da. Pesquisa, desenvolvimento e inovação da
Além das empresas acima apresenta- cultura do dendezeiro no Brasil. In: WORKSHOP
das, existem outras na Ásia, na África e na LATINO-AMERICANO DE INVESTIGACIÓN EN DEN-
DE (PALMA ACEITERA), 2005, Manaus. Alternativa
América do Sul que produzem sementes para contribuir al desarrollo económico y social
comerciais de palma de óleo. Contudo, de la Amazonía: anais. Manaus, AM: Embrapa
essas empresas não têm cultivares regis- Amazônia Ocidental, 2007a. p. 44-49.
tradas no RNC/MAPA e não têm expor- CUNHA, R. N. V. da; LOPES, R.; DANTAS, J. C. R.;
tado sementes para o Brasil nos últimos ROCHA, R. N. C. da. Procedimentos para produ-
anos – em alguns casos, por priorização ção de sementes comerciais de dendezeiro na
Embrapa Amazônia Ocidental. Manaus: Embra-
de seu mercado interno, em outros, por pa Amazônia Ocidental, 2007b. 34 p. (Embrapa
falta de interesse dos produtores brasilei- Amazônia Ocidental. Documentos, 54).
ros no material produzido. De qualquer
forma, deve-se atentar para a necessidade
de realizar o registro das cultivares quan-
do houver interesse na importação de
sementes e também para as exigências
fitossanitárias que devem ser atendidas.
Novos campos de produção de sementes
estão sendo estabelecidos pelo Cirad na
Colômbia e no Equador e em breve deverá
haver oferta desse material para o Brasil.

100 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
PARTE 2
Capítulo 4

Formação de mudas para a produção


sustentável da palma de óleo na Amazônia
Paulo César Teixeira, Wanderlei Antônio Alves de Lima, Rui Alberto Gomes Junior,
Raimundo Nonato Vieira da Cunha, Ricardo Lopes e Raimundo Nonato Carvalho da Rocha

da área, e a infraestrutura deve ser simples


Introdução e temporária quando não há programação
de continuidade dos plantios ao longo
A fase de produção de mudas tem como do tempo. Também exige que o terreno
objetivo a obtenção de plantas de alta qua- seja livre de ventos fortes e inundações e
lidade e em condições para serem levadas tenha disponibilidade de água perto do
ao campo na época apropriada. Em um em- local. No que diz respeito à construção, a
preendimento, o sucesso de um plantio da estrutura deverá ser coberta por palha ou
palma de óleo (dendezeiro) muito se deve sombrites e conter sistemas de irrigação e
ao processo adotado na formação de mu- de drenagem.
das e a sua qualidade se reflete diretamen- A forma tradicional de produção de
te na precocidade e na maior produção na mudas de palma de óleo durante o pré-
fase jovem, assim como no maior potencial viveiro (até aproximadamente 3-4 meses
de produção na fase adulta (PACHECO; de idade) é a utilização de sacos plásticos
TAILLIEZ, 1985; BARCELOS et al., 2001). preenchidos com solo, de preferência ter-
riço (PACHECO e TAILLIEZ, 1985; BARCELOS
A formação de mudas de palma de óleo et al., 2001; CORLEY TINKER, 2003), que
pode ser feita em uma ou em duas fases, podem ter dimensões aproximadas de 15
sendo que normalmente é feita em duas fa- cm de largura por 20 cm de comprimento
ses, denominadas de pré-viveiro e viveiro. e de 0,05 a 0,08 mm de espessura. Mas
esse processo demanda a existência de
grandes áreas de pré-viveiro e a disponibi-
lidade de mão de obra para o manejo das
Pré-viveiro mudas, e ainda existe a possibilidade de
rompimento dos recipientes.
Corresponde ao local onde as semen-
tes pré-germinadas passam a sua primeira A tendência para várias culturas é a
fase do crescimento, permanecendo por substituição dos sacos plásticos por tu-
cerca de três a quatro meses até que as betes de plástico rígido e, recentemente,
mudas tenham de quatro a cinco folhas essa técnica tem sido estudada e usada
para a formação de mudas de palma de
lanceoladas, antes de irem para o viveiro.
óleo (CHEE et al., 1997; TEIXEIRA et al., 2006;
Nessa fase, a aplicação de defensivos po-
TEIXEIRA et al., 2009). Como vantagens da
derá ou não ser necessária, a depender da
técnica do sistema de tubetes para a for-
ocorrência de pragas e doenças.
mação de mudas, quando comparada ao
O pré-viveiro é programado em função sistema convencional de produção em sa-

Produção e Manejo Sustentáveis para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia | 101


cos plásticos, destacam-se: boa formação por lixiviação e disponibilizar, também, os
do sistema radicular, rápido crescimento nutrientes necessários para as mudas. As
inicial das mudas, menor consumo de pequenas dimensões dos tubetes e o pe-
substrato e área, maior número de mudas queno volume de substrato que suportam
por unidade de área, possibilidade de re- exigem, entretanto, aplicação de doses altas
ciclagem e facilidades operacionais, como de nutrientes solúveis devido às perdas por
peso, transporte e transplante das mudas. lixiviação, resultantes da necessidade de re-
gas frequentes (NEVES et al., 1990). Todavia,
Teixeira et al. (2009) estudaram o cresci-
doses altas de fertilizantes solúveis, sobretu-
mento de mudas de palma de óleo produ-
do na fertilização de base, elevam a concen-
zidas no pré-viveiro pelo método tradicio-
tração salina do substrato, podendo causar
nal em sacos plásticos e em tubetes de 120
falhas de germinação, distúrbios nutricionais
cm3 e verificaram que o crescimento final
e, consequentemente, retardamento do
das mudas no viveiro foi semelhante nos
crescimento inicial das mudas (GONÇALVES
dois métodos. Segundo Chee et al. (1997),
et al., 2000). Para contornar esse problema,
o crescimento no campo de mudas de pal-
foi avaliado o uso de adubos de liberação
ma de óleo produzidas em tubetes duran-
lenta e controlada, que promovem libera-
te o pré-viveiro pode ser tão bom quanto o
ção lenta e contínua de nutrientes ao longo
de mudas crescidas em sacos plásticos.
do tempo, o que elimina a necessidade de
Ilustração de detalhes da produção de frequentes adubações, sincronizando a de-
mudas em tubetes no pré-viveiro é apre- manda da planta com a disponibilidade de
sentada na Figura 1. nutrientes no substrato. Teixeira et al. (2009)
verificaram que a adição de fertilizantes ao
A adubação é um fator importante na
substrato em tubetes plásticos durante o
formação das mudas em tubetes, pois deve-
pré-viveiro foi fundamental para a formação
rá suprir a perda de nutrientes do substrato

Figura 1 – Esquema de produção de


mudas de palma de óleo no pré- A
viveiro mostrando: (a) distribuição dos
tubetes na bandeja; (b) crescimento de
mudas aos três meses de idade pelo mé-
todo tradicional (controle) e em tubetes,
com e sem adubo de liberação lenta; (c)
disposição de mudas em sacos plásticos;
(d) aspecto visual do crescimento radi-
cular de mudas produzidas em tubetes,
aos três meses de idade. Fontes: a, b –
Raimundo Rocha; c, d – Paulo Teixeira.

B C D

102 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
final de mudas de palma de óleo no viveiro, Em seguida, é aplicada água pura com rega-
e a ocupação diferenciada das bandejas pe- dor para lavar o adubo das folhas.
los tubetes em diferentes percentagens de
Os canteiros para produção de mudas
ocupação durante a fase de pré-viveiro não
em sacos podem ser confeccionados com
influenciou o crescimento em altura e diâ-
1,5 m de largura e 20 m de comprimen-
metro das mudas de palma de óleo aos 10 e
to, com espaçamento de 0,8 cm entre os
16 meses de idade.
canteiros. Nessas condições, cada canteiro
A prática de manejo incluindo pré-vivei- comportará aproximadamente 5000 sacos.
ro (viveiro de duas fases) apresenta vanta-
gens e desvantagens em relação à semea-
dura direta no viveiro (viveiro de uma fase),
conforme se descreve a seguir: Viveiro
Vantagens: A fase de viveiro é uma etapa impor-
– melhor controle das atividades na tante nas atividades comerciais em planta-
fase inicial (irrigação, adubação, ções de palma de óleo porque, além de
plantas daninhas, etc.), de modo a demandar uma série de gastos, nesse pe-
obter melhor crescimento e vigor; ríodo podem ser controlados vários fatores
– melhor critério de seleção, com base que afetam o crescimento e o desenvolvi-
nas características de desenvolvimento. mento da planta, o que é essencial para o
plantio no campo.
Desvantagens:
– aumento do custo de investimento Alguns detalhes da produção de mu-
em infraestrutura, mão de obra e das no viveiro podem ser visualizados na
materiais utilizados; Figura 2.
– risco de efeitos adversos sofridos pe- Na construção do viveiro, devem ser
las mudas ao serem transplantadas consideradas, além do espaço necessário
para o viveiro. para o número de plantas, a disponibilida-
Para mudas produzidas em sacos plásti- de de água, a topografia plana ou ligeira-
cos, se a fertilidade natural do solo utilizado mente ondulada e a facilidade de acesso
(terriço) for boa, a adubação não é neces- em todo o ano.
sária no pré-viveiro porque, durante as pri- Normalmente, para o enchimento dos
meiras seis semanas, a planta jovem obtém sacos, que possuem dimensão aproxima-
parte das suas necessidades nutricionais da de 40 x 40 cm, usa-se terriço disponível
no endosperma da semente. Em situações no local, com boa drenagem. Os sacos
de falta de vigor das mudas no pré-viveiro, são distribuídos na área dependendo do
fertilizantes foliares devem ser aplicados tempo de permanência no viveiro. Reco-
para correção de eventuais deficiências nu- menda-se complementar o preenchimen-
tricionais. Entretanto, deve-se ter o cuidado to dos sacos com material estéril (endo-
de não aplicar fertilizantes foliares em dias carpo picado, casca de arroz, fibras, etc.)
muito quentes ou secos, ou quando as mu- para reduzir a perda de umidade, regular a
das estiverem sob estresse hídrico, a fim de temperatura e minimizar o aparecimento
evitar a possibilidade de perda de nutrien- de patógenos e plantas daninhas.
tes por volatilização ou mesmo a queima
das mudas. Outra alternativa para evitar a Após uma etapa de seleção no final
queima é a mistura de adubos diluída em da fase de pré-viveiro, apenas as mu-
água que pode ser aplicada com regador. das sadias, livres de anomalias, pragas

Produção e Manejo Sustentáveis para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia | 103


Figura 2 – Detalhes da formação de mudas no viveiro mostrando: (a) enchimento
manual dos sacos; (b) distribuição das mudas em área com irrigação manual; (c) distribuição
das mudas em área com irrigação por aspersão; (d) distribuição radicular no viveiro de
mudas formadas em tubetes e em sacos plásticos (convencional) durante o pré-viveiro.
Fonte: a, b, c: Raimundo Rocha; d: Paulo Teixeira.

A B

C D

e doenças devem ir para o viveiro. A ope- misturas balanceadas de macronutrien-


ração consiste no transplantio das mudas tes (nitrogênio, fósforo, potássio, cálcio,
do pré-viveiro para sacos plásticos de 40 magnésio e enxofre) e micronutrientes
x 40 cm, espaçados no campo em triân- (em especial boro e cobre), com aplica-
gulo equilátero de acordo com o tempo ções programadas de fertilizantes. Alguns
previsto de duração do viveiro. cuidados na aplicação de fertilizantes são
descritos a seguir.
A irrigação no viveiro pode ser feita
manualmente ou com equipamentos es- – O fósforo não é móvel no solo; portan-
peciais, por gravidade, nebulização ou to, aplicações de fertilizantes na superfí-
aspersão, sendo esta última a forma mais cie são menos eficazes. Para assegurar
comumente utilizada. As ervas daninhas um fornecimento adequado de fósforo
podem ser controladas com herbicidas, ao viveiro de mudas, quando possível,
quando incidentes no solo, e manualmen- os adubos fosfatados devem ser unifor-
te, quando nos sacos. Ainda, é fundamen- memente distribuídos no solo antes da
tal um bom controle fitossanitário que evi- colocação nos sacos plásticos.
te a propagação de pragas e doenças por – A aplicação incorreta de uma quantida-
meio do uso adequado de defensivos. de excessiva de ureia pode danificar o
A adubação é feita dependendo do sistema radicular das mudas.
tipo de solo, que necessita de análise pré- – Os fertilizantes não devem entrar em con-
via com o objetivo de produzir mudas com tato direto com qualquer parte da planta.
uma oferta adequada de nutrientes para – O supervisor do viveiro deve sempre
que o crescimento seja maximizado. Nor- verificar se todas as mudas foram adu-
malmente, o solo é suplementado com badas corretamente.

104 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
– É sempre mais eficaz aplicar pequenas tarem, no máximo, 80 cm de altura. Uma
quantidades de adubos com frequên- segunda seleção será realizada quando
cia em vez de aplicar grandes quanti- do transporte das plantas para plantio
dades com menos frequência, para no local definitivo. Nessa última seleção,
evitar queima por excesso de salinida- deve-se eliminar apenas casos de plantas
de e/ou perdas por lixiviação. com anomalias marcantes, dado o estádio
– As aplicações de fertilizantes podem ser de desenvolvimento dessas plantas, já um
reduzidas se o crescimento vegetativo pouco estioladas na fase final do viveiro.
for muito vigoroso, existindo possibili- Existem alguns critérios para o descar-
dade de que as mudas estejam prontas te, no viveiro, de plantas com:
para irem ao campo antes que a área de
– crescimento bem abaixo da média;
plantio esteja preparada.
– folíolos soldados ou muito estreitos;
– folíolos muito dispersos sobre o eixo
principal das folhas;
– folhas com manchas ou bandas;
Seleção de plantas no – folhas muito eretas, formando ângulos
de 45 graus;
viveiro – excesso de manchas, consequência
A seleção das mudas no viveiro é vi- de danos causados pelo manejo ina-
sual e deve ter como referência o padrão dequado de fungos no viveiro.
adequado de desenvolvimento e forma
das mudas. Esse processo deve ser rigo-
roso para garantir que as plantas selecio-
nadas permaneçam no campo por, pelo Coeficientes técnicos
menos, 25 anos. Na Tabela 1, são apresentados os tem-
Segundo Jacquemard et al. (1995) e pos indicativos de trabalho requeridos
Barcelos et al. (2001), a seleção deve ser para a condução de um pré-viveiro com 90
realizada entre os três e oito meses de ida- mil mudas, distribuídas em 30 canteiros de
de do viveiro, antes de as plantas apresen- 1,5 m de largura e 30 m de comprimento,

Tabela 1 – Demanda em homem-dia (hd) e horas-trator (ht) para a condução de um pré-


viveiro com 90 mil plantas formadas em sacos plásticos. Fonte: Adaptado de Barcelos et al. (2001).
Demanda
Operações Coeficiente técnico
hd ht
Piqueteamento, preparo de canteiros e
- 50 10
sombreamento
Coleta, peneiramento e transporte de terriço - 100 20
Enchimento dos sacos 1000 / hd 90 -
Arrumação dos sacos nos canteiros 1000 / hd 90 -
Repicagem das sementes germinadas 2000 / hd 45 -
Tratos culturais - 100 -
Irrigação 45000 / hd 60 -
Seleção 30000 / hd 3 -
TOTAL 538 30

Produção e Manejo Sustentáveis para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia | 105


suficientes para a formação futura de um Como indicação, na Tabela 2 são apresen-
viveiro com 80 mil plantas (10% de descar- tados os coeficientes técnicos para a condu-
te na seleção do pré-viveiro), destinadas a ção de um viveiro de 80 mil mudas, dispostas
um plantio definitivo de 500 ha. no espaçamento de 0,80 m entre plantas,
ocupando área de aproximadamente 7 ha.

Tabela 2 – Demanda em homem-dia (hd) e horas-trator (ht) para instalação de um viveiro


com capacidade de 80 mil sacos. Fonte: Adaptado de Barcelos et al. (2001)
Demanda
Operações Coeficiente técnico
hd ht
Preparo mecânico da área - - 70
Capina química antes da instalação 5000 m2 / hd 16 -
Coleta de solo e peneiramento 3000 kg / hd 600 100
Enchimento dos sacos 500 sacos / hd 160 -
Balizamento e distribuição dos sacos 500 sacos / hd 160 80
Coveamento no saco 1000 sacos / hd 80 -
Transplantio 500 plantas / hd 160 -
Capina manual nos sacos (10 vezes) 3000 sacos / hd 270 -
Irrigação - 600 -
Adubação (seis vezes) 2000 sacos / hd 240 -
Aplicação de fungicidas/herbicidas (5 vezes) 5000 sacos / hd 80 -
Seleção (aos três e seis meses) 10000 sacos / hd 16 -
TOTAL 2382 250 h

NEVES, J. C. L.; GOMES, J. M.; NOVAIS, R. F. Fertiliza-


ção mineral de mudas de eucalipto. In: BARROS,
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NETO, S. P.; MANARA, M. P. Produção de mudas ência da disposição dos tubetes e da aplicação
de espécies nativas: substrato, nutrição, sombrea- de fertilizantes de liberação lenta, durante o pre-
mento e fertilização. In: GONÇALVES, J.L.M.; BENE- viveiro, no crescimento de mudas de dendezeiro
DETTI, V. (Ed.). Nutrição e fertilização florestal. (Elaeis guineensis Jacq.). Ciência Florestal, Santa
Piracicaba: IPEF, 2000. p.309-350. Maria, v. 19, n. 2, p. 157-168, abr/jun, 2009.
JACQUEMARD, J. C. et al. Le palmier à huile. Paris:
Maisonneuve et Larose, 1995. 207 p.

106 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
PARTE 2
Capítulo 5

Práticas de manejo sustentável na


manutenção do plantio da palma de
óleo na Amazônia
Raimundo Nonato Vieira da Cunha, Maria do Rosário Lobato Rodrigues, Jeferson
Luis Vasconcelos de Macedo, Ricardo Lopes, Raimundo Nonato Carvalho da Rocha,
Paulo César Teixeira e Wanderlei Antônio Alves de Lima

1. Introdução 2. Práticas de manejo


A manutenção de uma plantação de da cultura da palma
palma de óleo (dendezeiro) divide-se no
tempo em duas partes: a primeira diz res- de óleo
peito à fase jovem, durante a qual as árvo- 2.1 Coroamento das plantas
res são improdutivas e cuja duração pode
se estender até três anos em função das No primeiro ano, essa prática deve ser
condições edafoclimáticas e do material realizada com a frequência de seis a oito
genético utilizado. As plantas apresentam vezes em um raio de 1,5 m do coleto da
um crescimento vegetativo acentuado, planta, de preferência manualmente com
com a emissão de duas a três folhas por terçado ou foice. Do segundo ao quarto
mês, e produção muito variável por planta. ano, sempre que possível, recomenda-se
A fase produtiva, que vem em sequência, também o controle manual de invasoras,
pode durar de 25 a 30 anos em função tendo em vista que, ao se efetuar o contro-
principalmente do crescimento em altura le químico, é quase impossível não atingir
do material genético que se utiliza. as folhas da palmeira ainda fotossintetica-
mente ativas. Nessa idade, o comprimento
As práticas de manejo da palma de do raio vai depender do desenvolvimento
óleo são similares às de outros cultivos vegetativo, mas estendendo-se, pelo me-
perenes, destacando-se, entre outras, a nos, até o limite de projeção da copa.
fertilização, o coroamento, a roçagem, o
controle de pragas e doenças, os cultivos Na fase adulta, é de fundamental impor-
intercalados, a poda e a colheita. Algumas tância que a coroa seja mantida sempre lim-
dessas práticas, dado o seu grau de im- pa, em um raio de aproximadamente 2 m,
portância, serão abordadas em capítulos pois facilita a detecção de frutos destacados,
específicos. que indicam a existência de cachos prontos
para serem colhidos (Figuras 1, 2 e 3). Nessa

Produção e Manejo Sustentáveis para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia | 107


Figura 1 – Coroamento manual de plantas fase, a manutenção mista pode ser con-
jovens em palmares (Foto: Raimundo Rocha) veniente, alternando-se o coroamento
manual e o químico na razão de 1:2,
respectivamente. A frequência dessa
prática depende das condições climato-
lógicas. Em condições favoráveis, pode
ser necessário realizá-la até seis vezes
ao ano, no caso do coroamento ser rea-
lizado manualmente. Contudo, nas mé-
dias e grandes plantações, por questão
de economicidade, vem prevalecendo
o controle químico (Figura 4).
Figura 2 – Coroamento de planta adulta de
palma de óleo (Foto: Raimundo Rocha) 2.2 Roçagem das entrelinhas
Esta operação tem por objetivo favo-
recer a instalação das plantas utilizadas
como cobertura do solo, o desenvolvi-
mento da palmeira jovem e a movimen-
tação dos trabalhadores na plantação. A
atividade pode ser necessária de duas a
três vezes por ano.
Em cultivo jovem, recomenda-se re-
alizá-la manualmente, o que permite,
na medida do possível, uma roçagem
Figura 3 – Plantas de palma de óleo coroadas seletiva, de forma a preservar a flora
(Foto: Raimundo Rocha)
útil. Se as condições de preparo da
área permitem o uso de máquinas, po-
de-se realizá-la mecanicamente, com
uma roçadeira a uma altura capaz de
não prejudicar muito a leguminosa de
cobertura. Na fase adulta, se as condi-
ções de preparo da área permitirem, a
roçagem mecanizada é preferível.
2.3 Limpeza da bordadura do
plantio
Figura 4 – Controle químico de plantas da- A operação tem por objetivo man-
ninhas em palmares (Foto: Raimundo Rocha) ter os arbustos da bordadura afastados
do plantio para reduzir o sombreamen-
to e os ataques de pragas. Pode ser
realizada uma ou duas vezes por ano,
manual ou mecanicamente.
2.4 Fitossanidade do plantio
A fiscalização sanitária é indispen-
sável para tratar a tempo os diferentes
danos causados por insetos, pató-

108 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
genos de natureza diversa, roedores ou palmeiras doentes e as mortas pela ação
quaisquer outras desordens que possam de ventos e raios, tão logo os primeiros
ocorrer nas palmeiras jovens e adultas. sintomas sejam identificados.
Essa fiscalização deve compreender:
2.5 Polinização assistida
– Controles de rotina: realizados em
A palma de óleo é uma planta monoi-
intervalos definidos de acordo com as con-
ca, com emissões de inflorescências mas-
dições históricas de ocorrência de proble-
culinas e femininas em ciclos alternados,
mas na região, sendo geralmente mensais.
tornando-se uma planta individualmente,
Adota-se como prática uma visita quinze-
com variações entre plantas. Quando as
nal, inspecionando-se linhas alternadas
condições de clima e solo são bastante
em cada passagem. Isso significa que
favoráveis, e dependendo também do
cada árvore é inspecionada uma vez por
material genético, as palmeiras jovens
mês, enquanto a parcela como um todo é
tendem a produzir inflorescências femi-
verificada quinzenalmente. Um operário é
ninas conjuntamente, o que implica em
responsável por inspecionar 200 ha.
grande número de aborto de cachos com
Os pontos fiscalizados mais detida- má frutificação. Uma das recomendações
mente são: para solucionar esse problema consiste
em efetuar o plantio com materiais de
• a base dos pecíolos e bulbos, para veri-
procedência genética distinta. A alternati-
ficar possíveis ataques de roedores;
va seria, em pontos variados da plantação,
• a folhagem, verificando-se a ocorrên- “estressar” algumas plantas através de
cia de lagartas desfolhadoras e sinto- uma poda severa, visando à indução do
mas de doenças, tais como Amarele- ciclo masculino de inflorescências. Ressal-
cimento Fatal (AF), anel vermelho e ta-se que a polinização da palma de óleo
deficiência de boro. é entomófila, mas o inseto polinizador (E.
Qualquer outra anomalia não atribuída
kamerunicus) não sobrevive quando não
há flores masculinas.
a doenças ou pragas deve ser registrada
com precisão pelo responsável pela fisca- A polinização assistida já foi muito uti-
lização em fichas apropriadas para cada lizada no passado, mas, atualmente, em
bloco de plantio. A equipe de fitossani- virtude da adoção das medidas já men-
dade deve tratar dos problemas à medida cionadas, tem caído em desuso; contudo,
que vão surgindo, incluindo fiscalização e é uma prática obrigatória quando se trata
troca de iscas de controle de pequenos ro- de plantios de híbridos interespecíficos E.
edores e do Rhyncophorus, destruição de oleifera x E. guineensis (O x G) e, neste
formigueiros e identificação das palmeiras caso, a polinização não se restringe ape-
mortas (BERTHAUD et al., 2000). nas à fase jovem, estendendo-se durante
a fase adulta da planta, uma vez que es-
– Controles especiais: em certos casos
ses híbridos apresentam baixa fertilidade
(pragas de raízes, doenças letais), os con-
polínica. Esses materiais representam atu-
troles de rotina são muito imprecisos. Deve-
almente a única opção para fazer frente
se, então, efetuar um controle específico,
ao Amarelecimento Fatal e são, cada vez
sob a responsabilidade de especialistas, a
mais, solicitados tanto por grandes quan-
fim de que medidas de tratamento ou con-
to por pequenos produtores.
trole sejam adotadas em tempo hábil.
A colheita do pólen para a realização
– Erradicação de palmeiras doentes: de
dessa prática é efetuada em plantações
um modo geral, é necessário erradicar as

Produção e Manejo Sustentáveis para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia | 109


adultas de palma de óleo com grande pro- funcionais, de maneira a favorecer o
dução de inflorescências masculinas. As desenvolvimento da palmeira; nessa
inflorescências a serem colhidas devem idade, a poda se resume à retirada de
apresentar 3/4 das flores em antese. A folhas secas;
coleta em si consiste em ensacamento da
– de 6 a 15 anos: deixar duas folhas sob
inflorescência e corte do pedúnculo. Os
o cacho maduro ou imaturo; quando
sacos podem ser de papel ou plástico com
não houver cachos, deixar cinco folhas
dimensões de 0,7 x 0,6 m. Após a coleta,
por espiral;
deve-se deixá-las secar por algumas horas
ao ar livre ou em sala climatizada; em se- – após 15 anos: deixar apenas uma folha
guida, deve-se bater o saco com a inflores- sob o cacho maduro, dada a dificulda-
cência para liberação do pólen, peneirar e de de se detectar cachos em plantas
deixar secar na estufa durante 12 h, a 37 altas.
- 39°C. O pólen obtido é armazenado em
A frequência dessa prática está condi-
frascos hermeticamente fechados, que re-
cionada a fatores como emissão foliar e
cebem inscrição de data e peso e são le-
picos de produção, mas, geralmente, é
vados ao congelador para conservação a
realizada uma vez ao ano. O rendimento
-18ºC (BERTHAUD et al., 2000).
também é bastante variável, dependendo
Para se realizar a polinização, utiliza-se do número de folhas a serem retiradas.
uma polvilhadeira que permita a dispersão
Além do corte das folhas, o trabalho
de uma nuvem da mistura constituída de tal-
de poda deve ser complementado por ou-
co mais 0,05 g de pólen, à razão de 4:1 por
tras atividades, que consistem em: elimi-
inflorescência feminina. O rendimento diário
nar flores masculinas secas, samambaias
de um polinizador é de cerca de 5 ha, sendo
do estipe e coroa foliar; cortar o pecíolo e
aconselhável duas passagens por semana na
a raque das folhas, estas em dois ou três
mesma área (JACQUEMARD, 1995).
segmentos, e amontoar os mesmos na
2.6 Limpeza pré-colheita leira ou em montes entre as palmeiras na
linha de plantio.
Seis meses antes da entrada em co-
lheita, ou seja, aos dois anos e meio caso 2.8 Colheita
se considere a colheita regular a partir de
Para uma boa execução das operações
três anos, recomenda-se efetuar a retirada
de colheita, é necessário prever o volume
de folhas secas e cachos que já se encon-
de produção, definir critérios de maturida-
tram em decomposição.
de eficazes e transportar para a usina, no
2.7 Poda menor espaço de tempo possível, os ca-
chos colhidos e os frutos destacados.
Essa prática se refere à eliminação de
folhas que perderam a funcionalidade ou 2.8.1 Previsão de colheita
que, por sua localização, estejam dificul-
Uma previsão semestral pode ser fei-
tando a colheita de cachos maduros. Sua
ta por contagem das inflorescências fe-
realização deve coincidir com o período de
mininas e cachos, supondo-se que serão
fraca a média produção. A intensidade da
colhidos nos próximos seis meses. Essa
poda (número de folhas retiradas) é variá-
contagem deve ser complementada com
vel de acordo com a idade das palmeiras:
a avaliação do peso médio de cachos a se-
– até 4 ou 5 anos: evita-se cortar folhas rem colhidos no período, a qual deve levar

110 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
em conta resultados anteriores. Pode-se colhedores. A tendência, atualmente, é
selecionar uma amostra de 5% das árvores, aceitar como padrão mínimo de amadure-
ou seja, uma linha sobre 20, da qual todas cimento a existência de um fruto destaca-
as árvores são observadas. A linha amostra- do no cacho ou no solo quando se tratar
da não se altera de uma observação para de plantas altas, que não permitem uma
outra. O número de cachos é multiplicado visualização mais próxima.
pela estimação do peso médio. As varia-
Para garantir a boa qualidade da co-
ções sazonais de duração da maturação e
lheita, é necessário realizar de três a
a dificuldade de se estimar o peso médio
quatro turnos de colheita nos meses de
podem causar sub ou superestimação da
maior produção, e dois turnos nos me-
produção (JACQUEMARD, 1995).
ses de menor produção. É uma operação
2.8.2 Critérios de maturidade e exclusivamente manual, pois, até o mo-
frequência de colheita mento, todos os protótipos de máquinas
testados não mostraram ser eficientes. As
O teor de óleo no cacho continua in-
ferramentas utilizadas são de vários tipos
crementando até os últimos dias que ante-
e o seu uso depende da idade da planta:
cedem a colheita. Quando os primeiros se
da entrada em colheita até o quarto ano
destacam, o cacho é considerado maduro.
utiliza-se o cinzel; do quinto ao sexto ano
A maturação dos cachos não é uniforme:
utiliza-se indistintamente o ferro de cova
a progressão ocorre do alto para baixo e
ou a pá de corte. A partir do momento em
do exterior para o interior do cacho. Nu-
que os cachos não são mais facilmente
merosos fatores intervêm no processo de
alcançados com as ferramentas preceden-
maturação e na taxa de frutos destacados:
tes, utiliza-se a foice malasiana (JACQUE-
clima, idade das palmeiras, origem gené-
MARD, 1995; BERTHAUD et al., 2000).
tica e duração dos intervalos de colheita
(BERTHAUD et al., 2000). 2.8.3 Retirada dos cachos até a
Considera-se como estado ótimo de
bordadura da parcela
colheita quando o cacho colhido contém Essa operação pode ser realizada ma-
o máximo teor de óleo com o mínimo de nualmente, com carrinhos de mão, com
frutos destacados e um nível razoável de tração animal ou mecanicamente (Figura
acidez. Quanto menor a quantidade de 5). A retirada manual ocorre apenas em si-
ácidos graxos livres, melhor será a qua- tuações em que a topografia não favorece
lidade do óleo. Em um fruto maduro, o o uso de alternativas. A utilização de car-
teor de ácidos graxos livres é de 0,5% e, rinho de mão melhora o rendimento/dia
em cachos que foram colhidos e proces- de 10 a 30% em relação à retirada manual.
sados sem atraso, esse teor é cerca de 2% A capacidade diária de colheita e retirada
(COORLEY e TINKER, 2003). de cachos é de 200 a 800 kg em plantios
jovens, e de 600 a 2.200 kg em plantios
A colheita dos frutos destacados é
adultos. A utilização de animais vem
uma operação dispendiosa. Muitas vezes,
sendo muito utilizada, principalmente na
uma parte significativa do óleo é perdida
América Latina. Caso se utilize uma junta
em função dos frutos soltos que são ar-
de bois atrelada a uma carroça com ces-
remessados longe da coroa das plantas,
to basculante de 500 kg de carga útil, são
impedindo ou dificultando a colheita dos
necessários três operários (um condutor e
mesmos. Para amenizar essa perda, um
dois carregadores), e o rendimento médio
padrão de amadurecimento do cacho
por homem/dia pode chegar a 2.300 kg de
deve ser previamente definido para os
cachos (JACQUEMARD, 1995).

Produção e Manejo Sustentáveis para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia | 111


A retirada mecanizada Figura 5 – Recolhimento de cachos de palma de óleo
de cachos é viável quando com microtrator (Foto: Raimundo Rocha)
a produção da parcela for
superior a 400 kg/ha/turno
de colheita. Dois sistemas
de transporte são possí-
veis: um deles consiste na
retirada de cachos até a
bordadura da parcela, em-
pregando-se pequenos
tratores agrícolas de 30 HP
acoplados a uma carroce-
ria basculante com capaci-
dade de 3 t e uma equipe
constituída de um moto-
rista e dois carregadores.
O rendimento médio da
equipe pode alcançar 20 t
de cachos/dia. Outro sistema consiste na tar o carregamento com o uso de redes.
retirada de cachos e transporte direto até A equipe é constituída de um motorista e
a usina. Pode-se empregar tratores agríco- três carregadores. O rendimento depende
las de 60 HP equipados com uma carreta essencialmente da distância a ser percor-
agrícola de 3 a 4 t de carga útil em planta- rida e da capacidade de carga do equipa-
ções com mais de cinco anos e em áreas mento utilizado (JACQUEMARD, 1995).
bastante planas. Com uma equipe de três 2.9 Coeficientes técnicos
pessoas, é possível transportar de 12 a 18 t
Os coeficientes das várias práticas de
de cachos/dia até a usina, a uma distância
manutenção de palma de óleo são muito
de 7 a 10 km (BERTHAUD et al., 2000).
variáveis, uma vez que as condições espe-
2.8.4 Transporte dos cachos até cíficas de cada plantação têm que ser ob-
a usina servadas. Assim, eles devem ser ajustados
Quando os cachos são dispostos na aos projetos considerando a localidade, as
bordadura da parcela, devem ser trans- condições de topografia e vegetação da
portados à usina o mais rapidamente área, a capacidade gerencial e a experiên-
possível. Para que se obtenha uma boa cia na execução das atividades.
qualidade de óleo, recomenda-se que, Nas Tabelas 1, 2 e 3 são apresentados
da colheita ao início do processamento, os coeficientes técnicos para 1 hectare de
o tempo transcorrido não exceda 48 h. palma de óleo, tomando como base des-
Para pequenas distâncias, podem ser uti- crições satisfatórias desses coeficientes
lizados tratores equipados com carretas apresentadas em Berthaud et al. (2000),
com capacidade de 3 a 10 t. É necessária Corley e Tinker (2003), Rankine e Fairhurst
uma equipe constituída de um motorista (1999a), Rankine e Fairhurst (1999b) e ob-
e dois carregadores. Para distâncias mais servações realizadas em projetos de pes-
longas, é preferível utilizar caçambas com quisa e plantações comerciais conduzidos
capacidade mínima de 7 t. Estas podem nas condições amazônicas.
ser equipadas com guindaste para facili-

112 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
Tabela 1 – Coeficientes técnicos para atividades de manejo na fase jovem da cultura de
palma de óleo na Amazônia (1 hectare)
Operação Pessoal
Coroamento manual 0,6 – 0,8 h/d/ronda
Ampliação química das coroas 1,0 h/d/ronda
Roçagem manual das entrelinhas 2,5 h/d/ronda
Limpeza manual das bordaduras 500 m/h/d
Eliminação das plantas invasoras
Gramíneas - 1º tratamento manual 6 h/d
- 2º tratamento 1,0 h/d
- 3º tratamento 0,5 h/d
Controle de rotina 2,5 h/d/ronda
Plantas lenhosas 0,1 h/d
Adubação (incluídos mistura e transporte) 0,7 h/d/ronda
Polinização assistida: detecção da falta de pólen 0,001 h/d/ronda
colheita e preparo do pólen 0,02 h/d/ronda
polinização assistida 0,2 h/d/ronda
Limpeza pré-colheita 1,5 h/d
Controle fitossanitário:
controles de rotina 0,04 h/d
controles especiais, tratamentos e erradicação Prever 1 h/d
Manutenção da rede de drenagem Variável conforme a rede

Tabela 2 – Coeficientes técnicos para atividades de manutenção nas áreas em produção


de palma de óleo (1 hectare)
Operação Pessoal
Coroamento
Manual 1,0 – 1,25 h/d/ronda
Mecanizado (roçadeira portátil) 0,8 h/d/ronda
Químico (pulverizador costal) 0,3 h/d/ronda
Químico (pulverizador UBV/ULVI) 0,15 h/d/ronda
Roçagem das entrelinhas
Manual 1,5 h/d/ronda
Mecanizado (roçadeira portátil) 0,8 h/d/ronda
Limpeza manual das bordaduras 500 m/hd
Controle das plantas invasoras 0,9 h/d/ronda
Adubação (incluídos a mistura e o transporte) 0,7 h/d/ronda
Poda
árvores < 6 metros de altura 3,0 h/d/ronda
árvores > 6 metros de altura 4-5 h/d/ronda
Controle fitossanitário
controles de rotina 0,04 h/d
controles especiais, tratamentos e erradicação prever 1 h/d
Manutenção da rede de drenagem variável conforme a rede

Produção e Manejo Sustentáveis para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia | 113


Tabela 3 – Coeficientes técnicos para as atividades de colheita de cachos e coleta de
frutos de palma de óleo

Colheita dos cachos Quantidade Rendimento


Ano 3 5,5 h/d/t 0,2 t/h/d
Ano 4 1,2-2,5 h/d/t 0,4 – 0,8 t/h/d
Ano 5 1,2-2,0 h/d/t 0,5 – 0,8 t/h/d
Ano 6 a 19 0,5-1,7 h/d/t 0,6 – 2,0 t/h/d
Ano 20 a 30 2,0 h/d/t 0,5 t/h/d
Coleta dos cachos (caçamba com guindaste) 0,1 h/d/t 10 t/h/d
Controles da colheita e do transporte 0,01 h/d/ha 100 ha/h/d

JACQUEMARD, J. C. Le palmier à huile. Paris:


Maisonneuve & Larose, 1995. 207 p. Le Technicien
3. Referências d’agriculture tropicale.
RANKINE, I. R.; FAIRHURST, T. H. Field Handbook:
bibliográficas oil palm series volume 2 - immature. Singapore:
Potash & Phosphate Institute (PPI); Saskatoon:
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CUNHA, R. N. C. Implantação e exploração da cul- 154 p.
tura do dendezeiro. In: VIÉGAS, I. J. M.; MÜLLER,
A. A. (Ed.). A cultura do Dendezeiro na Amazô- RANKINE, I. R.; FAIRHURST, T. H. Field Handbook:
nia Brasileira. Belém: EMBRAPA Amazônia Orien- oil palm series volume 3– Mature. 2 ed. Singapo-
tal; Manaus: Embrapa Amazônia Ocidental, 2000. re: Potash & Phosphate Institute (PPI); Saskatoon:
p. 193-222. Potash & Phosphate Institute of Canada, 1999b.
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Londres: Blackwell Science, 2003.

114 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
PARTE 2
Capítulo 6

Avaliação do estado nutricional e


manejo da fertilidade do solo para a
produção sustentável da cultura da
palma de óleo na Amazônia
Maria do Rosário Lobato Rodrigues, Paulo César Teixeira, Jeferson Luis Vasconcelos
de Macedo, Raimundo Nonato Vieira da Cunha, Ricardo Lopes, Raimundo Nonato
Carvalho da Rocha e Wenceslau Geraldes Teixeira

pretende estabelecer os princípios gerais


de uma política de adubação na fase ini-
1. Introdução cial de implantação da cultura. Entretanto,
chama-se a atenção para o fato de que a
A definição de doses adequadas de ocorrência de nutrientes no solo em quan-
nutrientes deve ser fundamentada pri- tidades disponíveis consideradas suficien-
mordialmente no conhecimento das exi- tes não indica que a planta está utilizando
gências da cultura e na identificação da tais elementos, pois vários fatores podem
capacidade dos solos de fornecer esses afetar a absorção, como disponibilidade
nutrientes às plantas. Os métodos para de- de água, aeração, temperatura do solo,
terminação das deficiências nutricionais da interações entre os elementos, presença
palma de óleo (dendezeiro) são: diagnose de microrganismos, entre outros, além da-
visual, análise química do solo, ensaios de queles inerentes à própria planta.
adubação e diagnóstico/análise foliar. In-
dividualmente, esses métodos não podem A definição de um programa de adu-
ser aplicados para a definição de um pro- bação equilibrado que atenda às neces-
grama de adubação, devendo ser utiliza- sidades fisiológicas da planta é fator in-
dos, preferencialmente, em conjunto. dispensável para a obtenção de um bom
rendimento e para a manutenção de ní-
A observação visual das deficiências veis satisfatórios de produção. Os fatores
no palmar é frequentemente utilizada essenciais do balanço dos elementos mi-
como meio auxiliar, associando-se as nerais são, por um lado, o consumo pelas
anormalidades apresentadas pelas plan- plantas e as perdas por lixiviação, erosão e
tas às deficiências prováveis, que muitas volatilização e, por outro, o fornecimento
vezes só se manifestam com sintomas vi- pelo solo e pela adubação. Assim, o su-
síveis muito tardiamente. Por outro lado, primento inadequado de nutrientes, seja
a análise química do solo, que determina pela falta, excesso, ou mesmo desbalan-
os elementos assimiláveis pela palma de ço, pode promover distúrbios nas reações
óleo, presta um grande auxílio quando se

Produção e Manejo Sustentáveis para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia | 115


fisiológicas das plantas que, por sua vez, amostrada do terreno, torna-se necessário
podem restringir o crescimento, a produ- seguir alguns critérios, descritos por Rodri-
ção e aumentar o estresse, ocasionando gues et al. (2002), relativos à elaboração
maior predisposição e susceptibilidade a de um croqui de campo, ao tamanho das
pragas e doenças. No Estado do Amazo- glebas x número de amostras, à profun-
nas, onde os preços do transporte e dos didade e ao local de coleta das amostras,
fertilizantes elevam demasiadamente os entre outros cuidados.
custos de produção, é particularmente
importante maximizar a eficiência no uso
dos mesmos.
Neste capítulo, procura-se fornecer in- 3. Avaliação do
formações básicas sobre a avaliação do
estado nutricional da palma de óleo, com estado nutricional da
ênfase para o sistema de recomendação palma de óleo
de fertilizantes para a cultura com base no
diagnóstico foliar e nos resultados das pes- 3.1. Sintomas de deficiências
quisas desenvolvidas na região.
A diagnose visual é uma técnica sim-
ples, baseada no fato de que plantas com
deficiência acentuada ou excesso de um
dado elemento apresentam, normalmen-
2. Avaliação da te, sintomas visíveis e característicos dos
distúrbios provocados pelo elemento em
fertilidade do solo questão. Deve-se, entretanto, chamar a
atenção para dois aspectos:
Antes da implantação do palmar, é in-
dispensável realizar a análise de solo para a) antes de aparecerem sintomas de de-
se conhecer as quantidades de nutrientes ficiências visíveis e típicos de um ele-
nele disponíveis e para que os adubos se- mento, o crescimento e a produção
jam adicionados em quantidades adequa- já poderão estar comprometidos; por-
das. Nesse sentido, a análise do solo, que tanto, esta técnica não se aplica na
gera um diagnóstico das condições de fer- detecção da fome ou toxidez oculta;
tilidade, constitui uma valiosa ferramenta
b) a distinção visual das deficiências exi-
para a predição da necessidade ou não de
ge pessoal qualificado e deve ser uti-
correção e de adubação na fase inicial de
lizada, preferencialmente, como um
implantação da cultura. Essa análise pode,
meio auxiliar de avaliação do estado
ainda, indicar as mudanças nas reservas
nutricional da palma de óleo (MALA-
de nutrientes do solo durante o ciclo do
VOLTA et al., 1997). Por outro lado,
cultivo causadas pela aplicação dos ferti-
a inspeção do palmar, quando bem
lizantes e pelo manejo adotado, servindo
efetuada, permite detectar e inter-
também como complemento da avaliação
pretar os sintomas de deficiências e
nutricional da palma de óleo.
o efeito dos nutrientes aplicados. Na
Por outro lado, a correta avaliação do Tabela 1, estão sumarizados os prin-
solo dependerá, em grande parte, do mé- cipais sintomas e causas de deficiên-
todo de amostragem e dos cuidados ao cias nutricionais na palma de óleo já
realizá-la. Assim, para que as amostras observados na região.
coletadas sejam representativas da área

116 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
Tabela 1 – Sintomas e causas de deficiências nutricionais na palma de óleo na Amazônia
Fontes: Pacheco et al. (1985), Fairhurst (1998), Rodrigues (1993), Viégas e Botelho (2000) e Rodrigues et al. (2002)
Nutriente Sintomas Causas
Solos arenosos pobres em húmus ou
Descoloração dos folíolos na sequência: verde, verde-pálido, verde-amarelado e amarelado
precariamente drenados, ou, ainda,
e seco. Essa descoloração afeta primeiro as folhas mais novas, progredindo para as mais
solos mal drenados, em decorrência de
Nitrogênio velhas à medida que a deficiência se acentua. As plantas com deficiência severa de N têm
compactação ou quando a alternância das
(N) o ráquis e as nervuras centrais dos folíolos de cor amarelada e a folha tende a encurvar.
estações secas e úmidas gera um forte
Se os sintomas são agudos e persistentes, observa-se uma redução generalizada no
movimento do nível do lençol freático,
desenvolvimento vegetativo da palma de óleo.
ocasionando asfixia periódica das raízes.
Não apresenta sintomas visuais típicos, mas observa-se uma redução do crescimento e da
Baixa disponibilidade, devido às baixas
produção. Estipe em formato de pirâmide e secamento prematuro das folhas mais velhas podem
concentrações de P disponíveis no
Fósforo (P) estar associados à deficiência de fósforo. Áreas deficientes em P também podem ser identificadas
solo; fixação pelo solo e/ou aplicação
pela predominância de gramíneas sobre as leguminosas que têm dificuldade em se estabelecer
inadequada; pH baixo.
como plantas de cobertura e, em alguns casos, pela presença de uma cor púrpura nas gramíneas.
Os sintomas foliares de deficiência de potássio mais comuns são: manchas alaranjadas Concentrações muito baixas de K
confluentes e descoloração difusa verde-amarelada para amarelo pálido que aparecem nos trocável (< 0,15 cmolc kg-1); solos
folíolos das folhas baixas e intermediárias. Normalmente, quando os teores foliares em K arenosos, muito ácidos e/ou turfosos.
Potássio são inferiores a 6 g kg-1, um necrosamento marginal é desenvolvido ao longo dos folíolos, Estresse hídrico muito forte. Excesso
(K) começando pelo ápice; as manchas alaranjadas podem tornar-se necróticas e ser o sítio de cálcio proveniente da calagem e/ou
de uma invasão patogênica secundária, secando posteriormente. Ocasionalmente, plantas do adubo fosfatado, assim como um
isoladas podem ser encontradas com esses sintomas, tendo ao redor outras que não os excesso de magnésio, pode induzir ou
apresentam; nesse caso, os sintomas são mais um efeito genético que uma deficiência de K. acentuar a deficiência em K.
A deficiência se manifesta como uma clorose das folhas velhas, que exibem coloração
amarelo-laranja claro. Os primeiros sintomas aparecem como manchas de cor verde-oliva
Solos contendo baixos teores de Mg
ou ocre nas pontas dos folíolos velhos mais expostos à luz solar. À medida que se agrava a
(<0,2 cmolc kg-1); também em solos de
deficiência, a cor muda para amarelo brilhante ou amarelo profundo e, eventualmente, as
textura leve e em solos ácidos, nos quais
Magnésio folhas afetadas secam. As manchas cloróticas podem ser afetadas mais tarde por invasões

Produção e Manejo Sustentáveis para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia


a camada superficial tenha erodido. A
(Mg) de microrganismos, principalmente fungos como Pestalotiopsis grasilis. Os sintomas de
deficiência de Mg pode ser induzida

|
deficiência de Mg são sempre mais pronunciados em folíolos expostos à luz solar; nas partes
ou acentuada por uma forte adubação
protegidas não há clorose, isto é, os folíolos ou parte de sua superfície que estão na sombra
potássica.
permanecem verdes, sintoma característico da diagnose visual, conhecido como “efeito
sombra”. Muitas plantas parecem ser geneticamente predispostas à deficiência de Mg.

117
118
|
Tabela 1 – Sintomas e causas de deficiências nutricionais na palma de óleo na Amazônia (continuação)

Nutriente Sintomas Causas


Baixo teor no solo (< 0,3 a 0,5 mg kg-1
A maioria dos sintomas morfológicos de deficiência de B apresenta anormalidades no de B, extraído por água quente). As
desenvolvimento das folhas mais novas, denominadas de “folha curta”, “folha de gancho”, deficiências de B podem ser acentuadas
“folha espinha de peixe”, “folha de baioneta”, “banda branca do folíolo”. Folhas deficientes por uma aplicação de doses elevadas
em B, além de mal formadas e enrugadas, são também quebradiças e de cor verde escuro. O de NPKCa e/ou quando as condições
Boro (B)
primeiro sintoma de deficiência de B é o encurtamento das folhas jovens, dando às plantas edafoclimáticas são muito favoráveis a
um aspecto de patamar, “copa plana”. Sintomas que se assemelham à deficiência de B um desenvolvimento rápido e a uma
podem ser induzidos também por uma bactéria do gênero Erwina (bud-rot) ou mesmo por alta produção (alta precipitação). Solos
anomalias genéticas (little-leaf) com pH muito baixo (<4,5) ou muito alto
(>7,5). Inadequada aplicação de B.
Os sintomas de deficiência de Cu iniciam com o aparecimento de manchas cloróticas nas
primeiras folhas abertas e, à medida que avança a deficiência, as folhas novas começam A deficiência de Cu tem sido observada
a ficar curtas; os folíolos afetados amarelecem do ápice até o centro e, posteriormente, sobre certos tipos de solos bem
necrosam e secam. Nos viveiros e plantações jovens da Amazônia, os sintomas essenciais particulares e ricos em matéria orgânica
são: o aparecimento, nas folhas novas, de pequenas manchas cloróticas de forma retangular (turfas). Também se tem observado, em
Cobre (Cu)
que, em seguida, podem reunir-se, formando acumulações paralelas às nervuras, de experimentos de adubação no Brasil,
contorno irregular. Pode-se observar, também, o desenvolvimento de pequenas necroses a ocorrência de deficiência em Cu
nas extremidades dessas folhas, dando ao viveiro um aspecto geral bronzeado; a emissão associada às doses mais elevadas dos
foliar é mais lenta e as folhas, mais curtas; ocorre uma redução no crescimento que pode ser nutrientes NPK.
acompanhado de perdas consideráveis de produção.

Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia


3.2. Diagnóstico Foliar da – estabelecer os fatores de variação
palma de óleo dos teores foliares, os níveis críticos e
a interação entre os elementos, pos-
Em geral, a parte da planta mais utili- sibilitando, assim, o uso dessa técni-
zada para a avaliação nutricional é a folha, ca como instrumento de diagnose
pois é o órgão que contém a maior por- do estado nutricional da planta para
centagem dos nutrientes e que melhor fins de recomendação de adubação
reflete o estado nutricional da maioria dos da cultura e aumento na eficiência
elementos, principalmente aqueles que das adubações.
afetam diretamente a fotossíntese. Os
estudos sobre nutrição mineral da palma O método de diagnose foliar baseia-se
de óleo, aliados à filotaxia da planta, que no fato, demonstrado experimentalmente,
facilita a identificação correta das folhas, de que, dentro de certos limites, há uma
permitiram que o diagnóstico foliar fosse relação direta e positiva entre teor foliar,
utilizado como ferramenta básica nos pro- crescimento e produção. Portanto, é de
gramas de adubação durante a fase pro- se esperar que um aumento na concen-
dutiva da cultura. Análises foliares podem tração de um determinado elemento (ou
ser suplementadas por análises dos teci- elementos) na folha corresponda a um
dos da ráquis (armazenamento de nutrien- aumento de produção. Em uma plantação
tes) e do solo. Usando tais informações, de palma de óleo, o controle da nutrição
as frequências de aplicações e as fontes mineral se apoia na associação estreita en-
de fertilizantes podem ser objetivamente tre a experimentação de campo e a infor-
determinadas. Estudando a resposta da mação do diagnóstico foliar. A situação e o
palma de óleo à aplicação de fertilizantes, dispositivo estatístico da experiência de re-
Rodrigues (1993) verificou que a análise ferência são escolhidos de forma a serem
foliar é um instrumento bastante eficiente representativos da plantação, levando em
para avaliação e controle do estado nutri- conta o conhecimento já existente (análise
cional da palma de óleo. do solo, experiências anteriores).
3.3. Fatores envolvidos na 3.4. Fatores de variação dos
interpretação dos resultados teores foliares
Nos últimos anos, tem-se intensificado Vários fatores estão envolvidos na
o uso da análise foliar como instrumento interpretação dos resultados da análise
de diagnose do estado nutricional das foliar. Entre os fatores que influenciam
plantas e da fertilidade do solo, forne- direta e indiretamente os teores dos nu-
cendo subsídios para as recomendações trientes nas folhas da palma de óleo, po-
de adubação, principalmente de culturas de-se destacar:
perenes. Entretanto, chama-se a atenção • A origem e o potencial genético do
para as necessidades de pesquisas, visan- material vegetal – a nutrição mineral
do principalmente: da palma de óleo pode variar em fun-
– definir as reais exigências nutricionais ção da origem genética do material
da planta, levando em consideração vegetal. Nesse sentido, dados expe-
os fatores envolvidos, como material rimentais têm evidenciado um com-
genético e condições pedoclimáticas; portamento diferenciado para o po-
– conhecer a resposta da planta à apli- tássio e para o magnésio em função
cação de fertilizantes nos diferentes da categoria do material vegetal plan-
sistemas de cultivos praticados; tado (OCHS e OLIVIN, 1977). A maior

Produção e Manejo Sustentáveis para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia | 119


ou menor demanda por nutrientes das plantas. No caso do nitrogênio,
depende, portanto, das caracterís- as pesquisas têm evidenciado que
ticas genéticas do material vegetal os teores foliares desse elemento
que podem ser potencializadas pela podem variar naturalmente de 30 a
seleção x melhoramento. 23 g kg-1 em função da idade. Para
o cálcio, verificou-se um comporta-
• A posição e a idade das folhas – a
mento inverso ao do potássio e ao do
amostragem realizada sobre uma fo-
nitrogênio; isto é, houve um aumen-
lha de referência, isto é, constituída
to nos teores foliares desse elemento
de folhas coletadas em uma mesma
em função do envelhecimento das
posição em todas as plantas, minimi-
plantas. O fósforo, o magnésio e o
za as fontes de variação e aumenta
cloro não mostraram um padrão de
a representatividade da amostra, sen-
variação bem definido em função da
do que os resultados obtidos devem
idade das plantas (BACHY, 1965; KNE-
ser comparados aos níveis críticos de
CHT et al., 1977; HARTLEY, 1988).
folhas também da mesma posição e
estágio fisiológico. A concentração • As condições ambientais – as condi-
foliar de nitrogênio, fósforo e potássio ções pedoclimáticas constituem um
diminui com a idade da folha; para o dos principais fatores de variação
magnésio foliar, não há uma tendên- nos estudos da relação entre teores
cia muito definida, enquanto o cálcio de nutrientes nas folhas x crescimen-
foliar aumenta com a idade da folha to/produção. As informações sobre
(HARTLEY, 1988). Os estudos dos teo- o solo, principalmente no que se
res dos elementos minerais em fun- refere à disponibilidade de água e
ção da posição das folhas, portanto, nutrientes, são de suma importância
em função do envelhecimento do para consolidar a interpretação da
tecido vegetal, mostram gradientes análise foliar. A composição mineral
muito similares de uma situação a ou- das folhas flutua sensivelmente no
tra para os vários elementos (PREVOT decorrer do ano dependendo das
e PEYRE DE MONTBRETON, 1958). condições climáticas, sendo que
a pluviometria desempenha papel
• A idade das plantas – é indispensável
preponderante sobre essa variação
que, para constituir uma amostra, as
e, em menor grau, a insolação. Vale
plantas selecionadas sejam todas da
apenas lembrar que a água é o prin-
mesma idade. Entre as várias razões
cipal veículo de transporte dos nu-
que justificam a necessidade desse
trientes no processo de absorção e
cuidado destaca-se o fato de que as
translocação. Os teores foliares de
plantas que ainda não iniciaram sua
potássio e nitrogênio, por exemplo,
produção apresentam um comporta-
são fortemente influenciados pelo
mento diferente daquelas que já es-
regime hídrico (OLLAGNIER e OCHS,
tão produzindo, pois, nestas últimas,
1981; RODRIGUES et al., 1999).
há exportação de nutrientes para os
frutos e, consequentemente, para • Os aspectos fitossanitários – a presen-
fora da plantação. Como o potássio é ça de pragas e doenças, bem como o
um dos nutrientes mais demandados histórico da aplicação de tratamentos,
pelos frutos, observa-se uma tendên- são fatores que devem ser levados
cia de diminuição dos teores foliares em consideração na interpretação
desse mineral em função da idade dos resultados da análise foliar, pois

120 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
influenciam a composição mineral • Os aspectos nutricionais – entre os
das folhas e podem ter efeito na ab- vários fatores envolvidos na interpre-
sorção, no transporte, na redistribui- tação dos resultados da análise foliar,
ção e no metabolismo dos nutrientes. destacam-se como de primordial im-
Algumas substâncias usadas nos tra- portância o nível crítico, as interações
tamentos fitossanitários possuem em e os sintomas de deficiência, por cons-
suas composições elementos que são tituírem a base de utilização da análise
nutrientes, tais como fósforo, cobre e foliar para determinação da necessida-
cloro. Por outro lado, plantas afetadas de de adubação da palma de óleo. As-
por pragas e doenças podem exterio- sim, o conhecimento da concentração
rizar sintomatologias que se asseme- dos nutrientes nos diversos órgãos da
lham a algumas deficiências nutricio- planta em sucessivos estádios de de-
nais. Bactérias do gênero Erwinia, por senvolvimento é condição essencial
exemplo, podem induzir na palma de para ajudar no entendimento de pro-
óleo sintomas que se assemelham à blemas nutricionais e nas recomenda-
deficiência de boro. ções de adubação.
• Os tratos culturais – o estado nutri- 3.5. Nível Crítico
cional da palma de óleo pode ser
influenciado pelo manejo dado à O método de diagnose foliar baseia-
cultura. As culturas intercalares, por se no fato, demonstrado experimental-
exemplo, podem enriquecer o solo mente, de que, dentro de limites, há uma
em nutrientes ou empobrecê-lo pela relação direta e positiva entre teor foliar,
remoção deles. As leguminosas, nor- crescimento e produção. Portanto, é de
malmente utilizadas nas plantações se esperar que um aumento na concen-
de palma de óleo, quando bem ins- tração de um determinado elemento ou
taladas e manejadas, enriquecem elementos na folha corresponda a um au-
o solo em nitrogênio, contribuindo mento de produção.
para que teores foliares na palma Os vários estudos desenvolvidos sobre
de óleo atinjam valores adequados a nutrição mineral da palma de óleo per-
mesmo na ausência da aplicação do mitiram o estabelecimento dos níveis crí-
fertilizante (RODRIGUES et al., 1999). ticos, que se revelaram válidos na grande
Por outro lado, é comum observar maioria dos casos (Tabela 2). Considera-
teores de nitrogênio e fósforo signifi- se como nível crítico de um dado elemen-
cativamente inferiores nas folhas da to o valor abaixo do qual a probabilidade
palma de óleo quando na cobertu- de resposta ao uso de fertilizantes é alta.
ra do solo predominam gramíneas Entretanto, em áreas onde as condições
(GRAY e KEW, 1968). ambientais estimulam altas produções,

Tabela 2 – Níveis críticos dos macronutrientes (g.kg-1) definidos para a


folha 9 (PREVOT; OLLAGNIER, 1956) e folha 17 (BACHY, 1964)

N P K Ca Mg

Folha Nº 9 27.0 16.0 12.5 5.0 2.3

Folha Nº 17 25.0 15.0 10.0 6.0 2.4

Produção e Manejo Sustentáveis para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia | 121


pode-se facilmente encontrar níveis críti- 3.6. Interação entre os
cos mais baixos. Dentro desse contexto, nutrientes
é importante ressaltar que o emprego ri-
goroso da diagnose foliar implica na de- Em teoria, podem ocorrer interações
finição de níveis críticos, considerando as entre todos os nutrientes originários de si-
condições locais, incluindo a viabilidade nergismos ou de antagonismos de absor-
econômica do uso dos fertilizantes. ção, de equilíbrios iônicos ou estruturais,
mas, na prática, considera-se interessante
Os níveis críticos dos micronutrientes – apenas a interação dos macronutrientes
Boro (B), Cobre (Cu), Ferro (Fe), Manganês – Nitrogênio (N), Fósforo (P), Potássio (K)
(Mn), Molibdênio (Mo) e Zinco (Zn) – na e Magnésio (Mg). As interações mais fre-
palma de óleo ainda não estão bem de- quentemente encontradas são entre N e
finidos. Entretanto, na folha 17, é comum P, N e K, K e Mg, e K e B, apesar de que
encontrar as seguintes faixas de concen- outras interações podem ser muito mais
trações (mg.kg -1): B de 10 a 25, Cu de 4 a significativas sob condições específicas,
15, Fe de 60 a 350, Mn de 80 a 1000, Mo como por exemplo: em solos argilosos da
de 0,5 a 5 e Zn de 9 a 39. Amazônia deficientes em P não se tem res-
No Brasil, resultados sobre concen- posta à aplicação de N e K, a menos que
trações de nutrientes em folhas de plan- a deficiência de P seja corrigida. Em um
tas de palma de óleo têm sido obtidos plantio de palma de óleo, o excesso de
através dos experimentos de nutrição e um determinado nutriente pode conduzir
adubação. As variações nos teores alcan- a um efeito depressivo sobre a produção,
çados por Chepote et al. (1988), Viégas e um equilíbrio correto entre os nutrientes
(1993) e Rodrigues (1993) são apresenta- pode induzir interações positivas, espe-
dos na Tabela 3. Em geral, as concentra- cialmente para os solos com baixo poder
ções não apresentaram uma marcante tampão (RODRIGUES et al., 1997).
variação.

Tabela 3 – Variações nos teores foliares dos nutrientes em palmares no Brasil e faixa de
concentração considerada ótima
Fontes: 1Chepote et al. (1988); 2Viégas (1993); 3Rodrigues (1993); 4Uexlkull e Fairhurst (1991).
Local
Nutriente
Bahia 1
Pará 2
Amazonas3 Faixa Ótima4
N (g kg-1) 22,6 - 26,3 28,8 - 27,5 22,2 - 27,0 26,0 - 29,0
P (g kg-1) 1,40 - 1,90 1,20 - 1,60 1,31 - 1,76 1,60 - 1,90
K (g kg-1) 10,1 - 14,9 6,80 - 16,7 5,25 - 13,46 11,0 - 13,0
Ca (g kg-1) 11,6 - 16,4 5,20 - 11,9 7,28 - 10,8 5,0 - 7,0
Mg (g kg ) -1 2,30 - 3,20 2,10 - 2,80 2,01 - 3,69 3,0 - 4,5
S (g kg ) -1 - 1,60 - 2,10 1,65 - 2,06 2,5 - 4,0
Cl (g kg ) -1 - 3,30 - 6,50 3,43 - 7,53 5,0 - 7,0
B (mg kg ) -1 - 17,2 - 25,3 15,7 - 26,7 15,0 - 25,0
Cu (mg kg ) -1 - - 3,4 - 7,0 5,0 - 8,0
Zn (mg kg ) -1 - - 8,4 - 12,9 12,0 - 18,0

122 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
Um exemplo de interação positiva e Knecht et al. (1975), que demonstraram
(sinergismo) é a que ocorre entre o nitro- que essa soma é relativamente constante
gênio (N) e o fósforo (P). O sinergismo e em torno de 2, sendo a distribuição das
de absorção e assimilação do nitrogênio porcentagens ótimas correspondentes aos
e do fósforo na palma de óleo pode ser teores para cada elemento sobre a maté-
explicado pela relação N/P, proposta por ria seca da folha 17, de aproximadamente
Ollagnier e Ochs (1981), na qual o nível 58 % de K (11,5 g kg-1 m.s), 30 % de Ca (6,0
ótimo de fósforo varia em função do teor g kg-1 m.s) e 12 % de Mg (2,4 g kg-1 m.s).
de nitrogênio, com uma relação linear:
Diante do exposto, verifica-se que a
P(%)=0,0487 N(%) + 0,039. Considerando
interpretação dos resultados da análise fo-
o nível crítico adotado para cada um des-
liar, visando à adequação das recomenda-
ses elementos, podemos dizer que:
ções de adubação, deve ser baseada não
– a relação N/P em torno de 16 indica somente no nível absoluto dos elementos
que a nutrição em P e N está balan- (aspecto quantitativo da nutrição), mas
ceada (o equilíbrio entre os dois também na relação entre os elementos
nutrientes é bom); entretanto, cada – sinergismos e antagonismos (aspectos
aporte de adubo nitrogenado deve qualitativos da nutrição) –, pois a dose óti-
ser acompanhado de adubo fosfata- ma de um elemento sempre depende da
do para não gerar desequilíbrio; dose aplicada de outro elemento.
– se N/P > 16, existe um déficit em P
em relação ao N e, neste caso, não é
válido fazer a adubação nitrogenada
sem previamente fornecer o fósforo;
4. Adubação da
– se N/P < 16, indica que a planta está
relativamente bem nutrida em P em palma de óleo
comparação com uma nutrição em N
deficiente; daí a necessidade, neste
4.1. Resposta
caso, de um aporte de N. As curvas de resposta aos adubos,
e mesmo os níveis críticos, não têm um
Atenção especial deve ser dada às
caráter universal. Convém, portanto, inter-
mudanças do equilíbrio iônico, pois é co-
pretar os resultados das análises foliares
mum na palma de óleo a ocorrência de
tendo em conta as condições do meio,
relações antagônicas entre os cátions po-
particularmente as hídricas e as caracterís-
tássio, magnésio e cálcio. O potássio é o
ticas do solo, a idade das plantas e seu po-
nutriente exportado em maior quantidade
tencial produtivo, bem como a viabilidade
pela produção dos cachos. Por outro lado,
econômica do uso dos fertilizantes.
a aplicação de K necessária para manter
produções elevadas pode induzir a defici- Dentro desse enfoque, a Embrapa
ência de magnésio e a baixa relação Mg/K Amazônia Ocidental realizou estudos bus-
nos solos, causada por uma nutrição de- cando conhecer o comportamento e as
sequilibrada, evidenciando que as doses principais exigências nutricionais da pal-
de adubos devem ser balanceadas. Nesse ma de óleo nas condições pedoclimáticas
sentido, é interessante considerar os estu- da região. Os resultados obtidos nessas
dos sobre a variabilidade e outros aspec- pesquisas permitiram identificar respostas
tos da soma dos cátions K + Ca + Mg, de- da palma de óleo à aplicação de fertili-
senvolvidos por Prevot e Ollagnier (1954) zantes e formular as recomendações de

Produção e Manejo Sustentáveis para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia | 123


adubação para as condições da Amazô- (HARTLEY, 1988) e, juntamente com
nia Ocidental. a biomassa das plantas de cobertu-
ra, constitui uma importante fonte de
Na Amazônia, em geral, a palma de
matéria orgânica para o sistema;
óleo é cultivada predominantemente em
latossolos e argissolos de textura média a – aos mecanismos de aproveitamento
muito argilosa, geralmente distróficos e/ do nitrogênio inerentes à planta.
ou álicos, com soma de bases diminuindo
As pesquisas realizadas em função do
acentuadamente em profundidade. Devi-
desenvolvimento das plantas, do manejo
do à pobreza química do solo, tem-se ve-
no cultivo e dos mecanismos de suficiên-
rificado uma relação estreita entre o cres-
cia em nitrogênio da palma de óleo (BAL-
cimento e a produção e o conteúdo de P
DANI et al., 1997; RODRIGUES et al., 1997;
nos solos, bem como uma sensibilidade à
REIS et al., 2000; SCHROTH et al., 2000)
deficiência em K e Mg. Devido à adsorção
explicam parte das hipóteses levantadas
e à pobreza natural em P desses solos,
para que, na fase adulta, as aplicações do
durante a idade jovem da palma de óleo,
adubo nitrogenado sejam minimizadas.
uma dose elevada de fosfato é necessária
para melhorar os teores de P com relação Nos plantios de palma de óleo, a legu-
aos equilíbrios N-P. Convém, entretanto, a minosa Pueraria phaseoloides é a planta
partir da idade de seis anos, reduzi-la ao mais utilizada como cobertura do solo.
mínimo para evitar um efeito depressivo Para permitir um estabelecimento mais
exagerado sobre os teores de potássio. rápido e vigoroso da leguminosa e evi-
Os resultados das pesquisas realizadas tar possível competição com a palma de
na Amazônia indicam ser o P o nutriente óleo, recomenda-se que seja feita uma
que mais influencia o desenvolvimento e adubação fosfatada no plantio em torno
a produtividade da palma de óleo (PACHE- de 150 kg ha-1 de P2 O5 e, nos anos subse-
CO et al., 1985; RODRIGUES, 1993). quentes, nas entrelinhas da palma de óleo
de 86 kg ha-1 de P2 O5.
O nitrogênio também apresenta com-
portamento semelhante em relação ao Atenção especial deve ser dada ao
crescimento e ao desenvolvimento da equilíbrio dos cátions Ca - K - Mg a partir
palma de óleo. Entretanto, na fase adulta, do terceiro ano de plantio, quando a en-
não se tem observado resposta significati- trada das plantas em colheita e o efeito
va à adubação nitrogenada, devido, mui- depressivo causado pelo cálcio contido na
to provavelmente: fonte de fósforo acentuam a deficiência
em K, passando as plantas a exterioriza-
– ao desenvolvimento e estabeleci-
rem sintomas típicos de deficiência em K
mento do sistema radicular que, a
(Tabela 1) relacionados com níveis de K<6
partir do quinto ano, já estará ocu-
g kg-1 na matéria seca da folha 17.
pando a região das entrelinhas, ex-
plorando um volume maior de solo; Cuidados também devem ser tomados
na utilização contínua das fórmulas NPK,
– ao manejo dado à cultura: formação
pois interações negativas podem ocorrer
de leiras com o resíduo vegetal re-
e a disponibilidade de outros nutrientes
manescente do preparo de área; uti-
exigidos em menor quantidade pelas plan-
lização de uma leguminosa fixadora
tas, como é o caso de B, Cu e Zn, pode
de N como cobertura do solo; depo-
tornar-se fator limitante da produção. A
sição das folhas podadas, que pode
deficiência de boro no campo, por exem-
representar de 11 a 16 t ha-1 ano-1
plo, tem se exteriorizado quando o cres-

124 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
cimento da planta é melhorado pela apli- to, deprime os teores foliares de cobre e
cação de uma adubação mineral; existe zinco, afetando principalmente a nutrição
uma relação entre a necessidade de boro em cobre (RODRIGUES et al., 1997).
pela palma de óleo e o seu crescimento.
Quando a palma de óleo é cultivada em 4.2. Recomendação de
solos pobres em B e este não é fornecido adubação
pela adubação, observam-se, com frequ- O programa de nutrição mineral e
ência, anormalidades no desenvolvimen- adubação da palma de óleo proposto pela
to da planta, com possíveis prejuízos para Embrapa Amazônia Ocidental (Tabela 4)
a sua produção. Por sua vez, a adubação foi estabelecido levando-se em considera-
fosfatada, indispensável nas condições ção informações de ensaios de adubação
dos solos da Amazônia, que normalmente e de manejo.
contam com baixos teores desse elemen-

Tabela 4 – Recomendação de adubação1 para a palma de óleo no Estado do Amazonas


em função da idade (RODRIGUES et al., 2002)
Idade (anos2)
Nutriente
1o 2o 3o >4
--------- g/planta ---------
N 180 225 270 405 g/pl se N foliar < 25 g/kg

P 150 250 300 300 g/pl se N foliar entre 25 e 26 g/kg (a relação


foliar deve ficar em torno de 16); se N/P > 17, aplicar
50% a mais; se N/P < 15, aplicar metade da dose.
K 150 200 400 250 g/pl se K foliar > 10 g/kg; 500 g/pl se 9<K<10 g/kg;
750 g/pl se 8<K<9 g/kg ou 1000 a 2000 g/pl se K<8 g/kg
Mg 21 32 43 30 g/pl se Mg foliar >2,4 g/kg; 60 g/pl se
2 <Mg< 2,4 g/kg; 80 g/pl se 1,8 <Mg< 2,0 g/kg
ou 100 a 150 g/pl se Mg < 1,8 g/kg
B 2 4 7 8 g/pl se B > 20 mg/kg e as plantas não apresentarem
nenhuma sintomatologia de deficiência; 10 a 13 g/pl se 12
<B< 20 mg/kg e todas (ou algumas) plantas apresentarem
sintomatologia típica de deficiência; 14 a 20 g/pl se B<12
mg/kg e as plantas (ou a maioria delas) apresentarem
sintomatologia típica e acentuada de deficiência
Cu 1,5 3 6 6 a 8 g/pl se Cu = 10 mg/kg; 10 a 12 g/pl
se 5<Cu<10 mg/kg ou 15g/pl se Cu <4 mg/kg
Zn 1,5 3 6 6 g/pl se Zn = 16 mg/kg; 10 g/pl se 8<Zn<16 mg/kg
ou 12 a 15 g/pl se Zn< 8 mg/kg

1 - O fósforo deve ser aplicado na cova, sendo uma parte no fundo e uma parte misturada à terra de enchi-
mento. Os demais adubos são distribuídos ao redor das plantas, sob a projeção da copa.
2 – No primeiro ano, as doses de N devem ser parceladas em três vezes (jan/fev (plantio), maio e novembro)
e as de K em duas vezes (maio e novembro); a partir do segundo ano, deve-se, preferencialmente, manter o
parcelamento dos adubos em duas vezes (maio e novembro), principalmente N e K.

Produção e Manejo Sustentáveis para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia | 125


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126 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
PARTE 2
Capítulo 7

Manejo sustentável para a cultura da


palma de óleo: cobertura do solo e
cultivos intercalares
Raimundo Nonato Carvalho da Rocha, Maria do Rosário Lobato Rodrigues, Paulo
César Teixeira, Ricardo Lopes, Raimundo Nonato Vieira da Cunha, Jeferson Luis Vascon-
celos de Macedo, Ronaldo Ribeiro de Morais e Wanderlei Antônio Alves de Lima

sua implantação em áreas degradadas,


com as vantagens de se ter um sistema
1. Introdução altamente produtivo, intensiva e perma-
Nos últimos anos, o nível de conscien- nentemente valorizado. Smith et al. (1992)
tização quanto às relações da agricultura afirmam que a cultura da palma de óleo é
com o ambiente, os recursos naturais e recomendada para a reabilitação de áreas
a qualidade dos alimentos vem crescen- degradadas em regiões tropicais, citando
do substancialmente. Segundo Ehlers o caso de regiões da África e da Ásia (Su-
(1999), há interesse entre os agricultores matra/Indonésia), onde a palma de óleo
por sistemas alternativos de produção que está sendo cultivada com sucesso em áre-
aumentem a rentabilidade e melhorem a as abandonadas, degradadas e domina-
qualidade de vida no meio rural, além de das por Imperata cylindrica.
preservar a capacidade produtiva do solo A adoção de práticas de cultivos in-
em longo prazo. tercalares para diversas culturas tem sido
O cultivo de palma de óleo atende às uma das formas de aumento da produtivi-
premissas de que nas condições edafo- dade e do lucro por unidade de área entre
climáticas da Amazônia deve-se cultivar os pequenos e médios produtores (ALVIM
espécies perenes por oferecerem maior et al., 1989; RODRIGO et al., 2001; ALVES,
proteção do solo, causarem menor impac- 2003), pois, além de oferecerem maior es-
to ao ambiente e melhor se adaptarem a tabilidade edáfica, biológica e econômica,
sua baixa fertilidade natural. melhoram a dinâmica de utilização dos
recursos humanos, naturais e insumos.
As práticas adotadas na cultura de Culturas como a da palma de óleo apre-
palma de óleo, como a utilização de le- sentam um longo período de imaturidade
guminosas para a cobertura do solo ou a e requerem grandes espaços intercalares
associação com culturas de ciclo curto no para satisfazer as exigências de crescimen-
período pré-produtivo, aliadas ao aspecto to da planta na fase produtiva. Estudos
de cultura perene permitem uma perfeita indicam a viabilidade do aproveitamento
cobertura do solo, possibilitando, ainda, desses espaços com o plantio de culturas

Produção e Manejo Sustentáveis para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia | 127


anuais e semiperenes, que não só possi- entre plantas, em triângulo equilátero, o
bilitam ao agricultor uma fonte alternativa que corresponde a uma distância de 9 m
de renda na fase pré-produtiva da palma entre plantas na linha e de 7,80 m entre as
de óleo, como também favorecem o de- linhas de plantio. Nas grandes plantações,
senvolvimento e o crescimento da planta é comum o uso de plantas de cobertura,
(RODRIGUES et al., 1993; RODRIGUES et especialmente leguminosas, cobrindo os
al., 1997), ajudando na amortização dos amplos espaços intercalares entre as plan-
custos de implantação da cultura principal tas de palma de óleo; entretanto, para
– a palma de óleo (ROCHA, 2007). pequenos e médios produtores, é econo-
micamente interessante associar a palma
Nessa prática, os objetivos têm sido:
de óleo a outros cultivos que ajudem na
maximizar a utilização dos recursos am-
amortização dos custos de implantação
bientais e da área; ter melhor distribuição
da cultura principal e garantam rendimen-
temporal de renda; diversificar a produ-
tos nos anos iniciais.
ção; equacionar o controle de pragas,
doenças e plantas invasoras; minimizar Para que se tenha êxito na intercalação
o uso de insumos, como fertilizantes e da palma de óleo com outras culturas, é de
defensivos; proporcionar maior proteção fundamental importância o conhecimen-
contra a erosão; e promover equilíbrio to da morfologia do seu sistema radicular
ecológico (FAGERIA, 1989; OLASANTAN et e da arquitetura das plantas. A maior parte
al., 1996; HOOKS e JOHNSON, 2003; IIJIMA do sistema radicular da palma de óleo é
et al., 2004; HUMPHRIES et al., 2004). A efi- superficial, sendo que o desenvolvimen-
ciência dessa prática depende diretamen- to e a extensão do sistema radicular de-
te dos sistemas e das culturas envolvidas, pendem da textura e da estrutura do solo
havendo a necessidade da complementa- (RUER, 1968; JOURDAN, 1995; JOURDAN et
ção entre ambas para que o sistema seja al., 1995). A densidade das raízes diminui
apontado como uma prática mais vantajo- do estipe para a periferia e a extensão má-
sa do que o monocultivo. xima da parte superficial a partir do estipe
depende da idade da planta, da seguinte
forma (CÔTE D’IVOIRE, 1980): um ano – 1,0
m do estipe; dois anos – 2,5 m do estipe;
2. Manejo sustentável três anos – 3,5 m do estipe; quatro anos
– 4,5 m do estipe; cinco anos – 5,0 m do
para a cultura da estipe; e dez anos – 10,0 m do estipe.

palma de óleo: A implantação de uma rápida cobertu-


ra com uma leguminosa apresenta nume-
cobertura do solo rosas vantagens: combate às invasoras in-
desejáveis, controle da erosão, redução da
O tempo decorrido entre o plantio e o compactação do solo, controle de certas
início da produção da palma de óleo é de pragas, melhora na fertilização nitrogena-
aproximadamente três anos. Geralmen- da. Entre as plantas de cobertura, a mais
te, pequenos e médios produtores que utilizada é a Pueraria phasealoides, que
se dedicam à cultura de palma de óleo pode ser semeada sozinha ou associada
encontram dificuldades para custear os com outra leguminosa, como a Mucuna
investimentos do plantio e manter a plan- cochinchinensis, planta anual cuja insta-
tação durante o período pré-produtivo. lação, além de ser extremamente rápida,
O espaçamento normalmente utilizado prepara bem a terra para a Pueraria se-
em plantios de palma de óleo é de 9 m

128 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
meada ao mesmo tempo, dominando a do desmatamento e de culturas como a
maior parte das invasoras. A Pueraria pode da palma de óleo associada com plantas
ser semeada em sulcos, covas ou a lanço leguminosas sobre a estrutura de solos ar-
sobre toda a superfície das entrelinhas, gilosos da Amazônia, Grimaldi et al. (1993)
utilizando-se de 1 a 3 kg de sementes/ha, concluíram que o uso de espécies arbóre-
enquanto que a Mucuna é semeada ao as ou forrageiras de cobertura, com abun-
longo das leiras, empregando-se 2 kg de dante produção de liteira e de raízes, pode
sementes/ha. A densidade de semeadura acelerar o restabelecimento dos processos
das plantas de cobertura depende da rapi- biológicos de reciclagem e reestruturação
dez com que se deseja obter uma cober- do solo. A palma de óleo, quando asso-
tura vegetal e ajuda a limitar os riscos de ciada com leguminosas, se beneficia não
invasão das ervas daninhas. só da fixação de nitrogênio (AGAMUTHU
e BROUGHTON, 1985), como também do
A semeadura das plantas de cobertu-
melhoramento da estrutura do solo pelas
ra deve ser efetuada logo após o preparo
raízes e pela liteira, e da diminuição da
da área, no início da estação das chuvas.
concorrência de ervas daninhas agressi-
Cita-se, ainda, entre outras leguminosas
vas, principalmente as gramíneas.
que são igualmente utilizadas, o Calopo-
gonium caeruleum (tolerante ao sombrea- No caso específico da cultura da pal-
mento), o Desmodium ovalifolium, o Cen- ma de óleo, várias práticas de manejo
trosema pubescens e o Calopogonium têm sido propostas para limitar a erosão
mucunoides. e as perdas por escorrimento e lixiviação
(TAILLIEZ, 1975; QUENCEZ, 1986; CALIMAN
O sistema de manejo adotado pela cul-
e KOCHKO, 1987). Cita-se como exemplo
tura da palma de óleo permite um input
a grande quantidade de folhas fornecidas
significativo de matéria orgânica ao siste-
pela poda de limpeza/colheita, que varia
ma, seja pela grande quantidade de fo-
em torno de 11 a 16 t/ha/ano de resíduos
lhas fornecidas pela poda de limpeza, seja
na plantação (HARTLEY, 1988). Sua simples
pela associação com leguminosas para
deposição nas entrelinhas, além de repre-
cobertura do solo que, além de fixarem
sentar uma importante fonte de nutrien-
nitrogênio através da produção de liteira e
tes (SOLANO, 1986), constitui uma medida
raízes, podem contribuir para o restabele-
efetiva de conservação do solo, podendo
cimento dos processos biológicos de reci-
reduzir a erosão em mais de 33% (QUEN-
clagem e reestruturação do solo. Por outro
CEZ, 1986; KEE e CHEW, 1996).
lado, o sucesso da introdução da palma
de óleo em área alteradas, abandonadas Em estudo conduzido nas condições
ou degradadas dependerá principalmente da Amazônia (RODRIGUES et al., 2002),
da capacidade do seu sistema radicular instalou-se inicialmente, como cobertu-
se desenvolver em solos compactados. ra do solo, a Pueraria e o Desmodium.
Segundo Jacquemard (1995), a palma de Após doze anos de cultivo, a Pueraria foi
óleo tem um sistema radicular vigoroso e totalmente invadida pela samambaia, en-
extenso; entretanto, zonas compactas no quanto o Desmodium, mais resistente ao
solo podem reduzir o desenvolvimento sombreamento, permaneceu, com uma
do seu sistema radicular. produção de matéria seca da parte aérea
de 4,3 t/ha. A Tabela 1 mostra os teores de
Nesse sentido, tem-se observado um
carbono e de nitrogênio, determinados
efeito positivo da planta de cobertura so-
pela combustão por via seca com um au-
bre o desenvolvimento do sistema radicu-
toanalisador CHN, e a relação C/N nos di-
lar da palma de óleo. Estudando o efeito

Produção e Manejo Sustentáveis para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia | 129


ferentes componentes da palma de óleo óleo, o solo das entrelinhas poderá ser
e nas plantas de cobertura de um cultivo preparado mecanicamente para o cultivo
de palma de óleo aos doze anos de idade. das culturas intercalares, obedecendo a
Devido a sua constituição essencialmente uma distância mínima de 1,5 m do estipe
fibrosa, a bainha que se encontra forte- da muda de palma de óleo. A partir do
mente aderida ao estipe foi a que apre- segundo até o quarto ano, o revolvimen-
sentou a maior relação C/N, seguida pelo to do solo deverá ser o mínimo possível,
pecíolo, sendo a produção total de maté- dando preferência para o plantio direto
ria seca da parte aérea de 41,83 t ha-1. O manual no caso de culturas anuais ou se-
conteúdo total de carbono imobilizado miperenes.
pela parte aérea da palma de óleo foi de
A intercalação da palma de óleo com
17,12 t ha-1, sendo que 59% se acumula-
outras culturas tem sido praticada com
ram no tronco (estipe + bainhas) e 34% na
sucesso em outras regiões. Kolade (1986)
copa (folíolos + ráquis + pecíolos).
observou efeito positivo em experiências
Segundo Hartley (1988), em pequenas com a palma de óleo e outras culturas
plantações, o cultivo intercalado com cul- perenes, como o cacau. A palma de óleo
turas alimentares pode ser efetuado na pode ser favorecida pelas culturas pere-
fase pré-produtiva, ou seja, até a entrada nes, como observado por Sparnaaj (1970)
em colheita. Depois, o crescimento da pal- na África Ocidental, onde a produção de
ma de óleo prejudica a produção das cul- palma de óleo aumentou em 8% quando
turas intercalares e o manejo do solo em associada com café. De modo semelhan-
função dessas culturas coloca em risco o te, Edge e Adenikinju (1990) encontraram
sistema radicular da palma de óleo. efeito positivo na associação da palma
de óleo com a produção de cacau, indi-
De acordo com Rocha (2007), duran-
cando compatibilidade da palma de óleo
te o primeiro ano de cultivo da palma de

Tabela 1 – Teor de carbono e nitrogênio (g/kg) e relação C/N nos diferentes


componentes da palma de óleo e nas plantas de cobertura de um cultivo de
palma de óleo aos doze anos de idade – Embrapa Amazônia Ocidental, 1999

Componentes Carbono Nitrogênio Relação C/N


PALMA DE ÓLEO (DENDEZEIRO)
Folíolos da Folha 17 466,85 26,41 17,68
Folha (folíolo + ráquis) 426,43 17,80 23,95
Pecíolo 415,90 4,03 103,18
Bainha 417,89 3,77 110,74
Estipe 389,33 10,81 36,00
Cachos 466,81 12,07 38,68
Raízes de Palma de Óleo 443,93 5,64 78,73
PLANTAS DE COBERTURA
Parte aérea de Desmodium 439,77 19,43 22,64
Raízes de Desmodium 449,00 14,14 31,75
Parte aérea de Samambaia 425,93 22,48 18,95

130 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
com frutíferas que suportam certo grau de mostrou que a associação palma de óleo
sombreamento. x banana x mandioca gerou não somente
os maiores ingressos brutos, cobrindo 87%
Também foram observadas vantagens
dos custos totais de implantação já no pri-
na associação de culturas anuais com cul-
meiro ano, como também promoveu me-
tivo perene no Benin. Utilizando a cultura
lhor desenvolvimento da palma de óleo.
de palma de óleo em densidade reduzida
(DANIEL et al., 1996), pode-se obter certas
vantagens, tais como: melhoria da resis-
tência à seca, manutenção da entrelinha
da palma de óleo em virtude dos tratos 3. Cultivos intercalados
culturais da cultura intercalada, utilização
total dos insumos simultaneamente por
com palma de óleo: a
ambos os sistemas radiculares e intensifi- experiência do Estado
cação da exploração da área.
Morais et al. (2009), estudando a in-
do Amazonas
fluência da variação de temperatura foliar Neste tópico, serão apresentados al-
sobre as trocas gasosas da palma de óleo guns estudos de casos de cultivos interca-
em plantios solteiros e consorciados com lados envolvendo a cultura da palma de
banana ou mandioca em áreas degrada- óleo como cultura principal no Estado do
das da Amazônia, observaram que as cul- Amazonas. Cabe ressaltar que nem todas
turas intercalares exerceram influência so- as culturas possíveis de serem consorciadas
bre as trocas gasosas da palma de óleo em com a palma de óleo serão abordadas.
função da variação de temperatura. Com
relação às taxas de condutância estomá- No Estado do Amazonas, estudos re-
tica, observou-se para o sistema da palma alizados com a palma de óleo intercalada
de óleo sem cultura intercalar e com man- com banana, abacaxi e mandioca em áreas
dioca um declínio significativo a partir da degradadas durante três anos da fase pré-
temperatura de 38-41,9°C, enquanto para produtiva da palma de óleo apresentaram
o sistema com bananeira, esse declínio resultados altamente significativos para
significativo ocorreu a partir dos 46-49,9°C amortização do custo de implantação dos
(maior capacidade de sombreamento da sistemas consorciados. Quando a cultura
bananeira). Resultados similares foram ob- da palma de óleo foi intercalada com bana-
tidos por Dufrene e Saugier (1989, 1993) neira, a amortização do custo de implanta-
estudando as trocas gasosas da palma de ção do sistema durante três ciclos produti-
óleo sob condições de campo na Costa vos da bananeira foi de 89,7% (ROCHA et
do Marfim, onde verificaram que as taxas al., 2007a). Quando a cultura da palma de
de transpiração e condutância estomática óleo foi intercalada com abacaxi, a amorti-
aumentaram com o incremento da tem- zação do custo de implantação do sistema
peratura foliar, e que temperaturas foliares durante um ciclo produtivo do abacaxizeiro
entre 30 e 38°C não exerceram um efeito foi de 100% (ROCHA et al., 2007b). Quando
significativo sobre as taxas fotossintéticas. intercalada com mandioca, a amortização
do custo de implantação do sistema duran-
Mora et al. (1985) demonstraram a te quatro ciclos produtivos da mandioca foi
viabilidade econômica dos cultivos in- de 66,6% (ROCHA et al., 2007c). Rocha et
tercalados com palma de óleo em solos al. (2007d) encontraram efeito positivo no
da Venezuela. A análise de rentabilidade desenvolvimento vegetativo da palma de
dos diversos sistemas de cultivo adotados óleo quando intercalada com outras cul-

Produção e Manejo Sustentáveis para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia | 131


turas na fase pré-produtiva, se comparado replantadas no espaçamento de 1,5 m en-
com o sistema de monocultivo. Os autores tre plantas em fileira única centralizada nas
concluíram que a palma de óleo se bene- entrelinhas da palma de óleo (Figura 1b).
ficiou com os resíduos da adubação e a As adubações da bananeira foram realiza-
matéria orgânica deixados pelas culturas das de acordo com a análise do solo, sen-
intercalares. do que a fosfatada foi colocada em todo
o plantio, juntamente com cinco litros de
O plantio seguiu o dispositivo em tri-
esterco de galinha; as de coberturas com
ângulo equilátero de 9 m de lado (9 m na
nitrogênio, potássio e micronutrientes fo-
linha e 7,80 m entre as linhas de plantio),
ram parceladas de dois em dois meses,
perfazendo população de 143 plantas/ha.
conforme recomendado por Pereira et al.
A programação das adubações foi feita
(2002) para o Estado do Amazonas.
adaptando as recomendações sugeridas
por Rodrigues et al. (2002) para a fase jo- No sistema palma de óleo x banana,
vem de cultivo da palma de óleo no Estado foi obtido o maior comprimento da folha
do Amazonas. Duas linhas de bananeira 9 da palma de óleo (folha padrão para
cv. Thap Maeo foram plantadas nas entre- tomada de dados biométricos na fase
linhas da palma de óleo no espaçamento jovem) em relação aos demais sistemas
3 x 2 m (Figura 1a), sendo que o mane- estudados (palma de óleo x mandioca,
jo da bananeira foi feito deixando-se três palma de óleo x abacaxi, e palma de óleo
plantas por touceira (avó, mãe e filha). em monocultivo). Esse resultado ratifica o
efeito competitivo interespecífico, sobre-
Após o terceiro ano de cultivo, a análise
tudo por luz, ocorrido entre a bananeira e
dos dados detectou que o arranjo espacial
a palma de óleo no arranjo espacial a que
utilizado para a bananeira (3 x 2 m) nas
foram submetidas as plantas de banana
entrelinhas da palma de óleo estava in-
nas entrelinhas da palma de óleo. Como
fluenciando o desenvolvimento da palma
o plantio da bananeira foi feito concomi-
de óleo, promovendo estiolamento das
tantemente ao da palma de óleo, a cultu-
plantas; logo, não é recomendado. Assim,
ra sobressaiu pelo seu rápido crescimento
as plantas de bananeiras foram cortadas e

Figura 1 – Sistemas de cultivo da palma de óleo intercalado: (a) duas linhas de bananeira
e (b) uma linha de bananeira. (a) Plantio de banana feito imediatamente após o plantio da
palma de óleo e conduzido até o terceiro ano; (b) Replantio de banana feito após o terceiro
ano de cultivo da palma de óleo. (Fotos: Raimundo Rocha)

A B

132 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
inicial, proporcionando maior sombrea- de regional, foram cultivadas no espaça-
mento e estiolamento da palma de óleo, mento de 1,0 x 0,4 x 0,4 m, sendo 1,0 m
causado pela competição por luz (ROCHA, entre fileiras duplas, 0,4 m entre plantas
2007). Assim, de acordo com os resultados na fileira dupla e 0,4 m entre plantas na
obtidos por este autor, recomenda-se linha (Figura 2b). O manejo da cultura do
o cultivo, até o terceiro ano de idade da abacaxi foi realizado conforme recomen-
palma de óleo, de uma única linha de ba- dado por Silva et al. (2004) para o Estado
naneira nas entrelinhas da palma de óleo, do Amazonas. A indução floral foi reali-
normalmente no espaçamento de 1,5 m zada quando as plantas apresentaram o
entre plantas, dando-se preferência para comprimento da folha (D) superior a 70
cultivares de bananeira de porte inferior a cm, o que ocorreu dez meses após o plan-
2,70 m de altura. tio. O resíduo da adubação deixado pela
cultura do abacaxi proporcionou aumento
No sistema palma de óleo x mandio-
nos teores de nutrientes no solo, notada-
ca, cinco linhas de mandioca da varieda-
mente de fósforo, que se mostraram signi-
de “aipim manteiga” foram plantadas nas
ficativamente superiores aos dos sistemas
entrelinhas da palma de óleo, utilizando
palma de óleo x banana e palma de óleo
o espaçamento de 1,0 x 1,0 m (Figura 2a).
em monocultivo.
O manejo da cultura da mandioca foi re-
alizado conforme recomendado por Dias
et al. (2003) para o Estado do Amazonas.
As colheitas da mandioca foram realiza-
das aproximadamente oito meses após o 4. Considerações finais
plantio. O resíduo da adubação deixado
O adequado desempenho econômi-
pela cultura da mandioca proporcionou
co apresentado na fase pré-produtiva da
aumento nos teores de nutrientes no solo,
palma de óleo pelos sistemas de cultivos
principalmente de fósforo, que se mostrou
intercalados estudados no Amazonas ofe-
superior ao encontrado na palma de óleo
rece uma solução para um dos principais
em monocultivo.
obstáculos à produção de palma de óleo
No sistema palma de óleo x abacaxi, para a agricultura familiar em relação à di-
quatro fileiras duplas de abacaxi, varieda- versificação de culturas e renda. É notório

Figura 2 – Sistemas de cultivo da palma de óleo intercalado: (a) cinco linhas de macaxeira e
(b) quatro linhas duplas de abacaxizeiro. (Fotos: Raimundo Rocha)

A B

Produção e Manejo Sustentáveis para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia | 133


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136 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
PARTE 2
Capítulo 8

Características físicas do solo


adequadas para implantação e
manutenção da cultura de palma de
óleo na Amazônia
Wenceslau Geraldes Teixeira, Omar Cubas,
Gilvan Coimbra Martins, Pedro Luiz de Freitas,
Maria do Rosário Lobato Rodrigues e Antonio Ramalho Filho

com outros cultivos assume especial im-


portância nos sistema de agricultura fami-
1. Introdução liar tendo em vista o retorno econômico
A palma de óleo (dendezeiro) destaca- nos primeiros anos de plantio.
se, entre as oleaginosas perenes, como a O bom estabelecimento, o desenvol-
de maior potencial para suprir a deman- vimento e a produtividade da palma de
da de óleos vegetais no Bioma Amazô- óleo são influenciados pela suas caracte-
nia. Considerada a planta com o maior rísticas genéticas, que sofrem influências
potencial de produção de óleo no Brasil, das condições pedológicas, climáticas e
pode atingir produtividade anual de 4 a de manejo da cultura.
6 t óleo.ha-1. Uma das vantagens da cul-
tura é sua longa vida útil econômica, que As condições climáticas exercem uma
pode chegar até 30 anos, com a produção forte influência sobre a dinâmica dos flu-
distribuída durante todo o ano. O manejo xos de água e de nutrientes do solo para
do palmar (dendezal) é capaz de absorver as raízes da palma de óleo, sendo a capaci-
grande quantidade de mão de obra, crian- dade de armazenamento de água do solo
do um emprego direto a cada 5 hectares um dos principais fatores para a garantia
de plantio (BARCELOS et al., 1999). de elevadas produtividades. Para um bom
rendimento, a cultura da palma de óleo
A cultura da palma de óleo tem o po- exige precipitações regulares e ausência
tencial de aproveitar áreas já desmatadas, de estação seca prolongada. Condições
tornando-as produtivas com reduzido climáticas para o desenvolvimento ótimo
impacto ambiental devido ao caráter de da cultura de palma de óleo são apresen-
cultivo permanente e à cobertura perma- tadas por Corley e Tinker (2003), Bastos et
nente do solo nas entrelinhas, seja por al. (2001), Hartley (1970) e Müller (1980).
leguminosas, gramíneas ou mesmo por
cultivos intercalares. Nos períodos iniciais Neste capítulo, são apresentadas as
de implantação da cultura, a associação características físicas do solo que determi-
nam a dinâmica dos fluxos de água e de

Produção e Manejo Sustentáveis para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia | 137


nutrientes e a capacidade de retenção de A EVT potencial de um palmar foi es-
água no solo, a disponibilidade de água timada para condições em que não haja
para as plantas de palma de óleo e suas limitação de fornecimento de água pelo
interrelações com as condições climáticas solo, assumindo um valor médio de 3,3
(precipitação, radiação solar e evapotrans- mm.dia-1 para palmares com um a três
piração da palma de óleo e das culturas anos e valores médios de 5 a 6 mm.dia-1
de cobertura do solo), que definem a con- para palmares na fase adulta. Esse valor
servação e a necessidade de drenagem pode se elevar até 10 mm.dia-1 em condi-
do solo. ções extremas (CORLEY e TINKER, 2003).
Além das condicionantes atmosféricas,
a EVT de uma palma de óleo é condiciona-
da pela disponibilidade de água no solo.
Com a redução da umidade, a água retida
2. Condições climáticas no solo em poros de menor diâmetro equi-
e disponibilidade de valente tem aumentada sua energia poten-
cial, consequentemente diminuindo a ca-
água no solo para a pacidade de extração de água até a parada
de absorção pelas raízes da palma de óleo.
cultura de palma de óleo
A água potencialmente disponível no
Os requerimentos ideais para a boa solo para absorção pelas raízes poderá ser
produtividade da palma de óleo são pre- “perdida” por percolação abaixo da zona
cipitações anuais superiores a 2000 mm, de absorção das raízes devido à evapora-
sem meses com déficit hídrico intenso e ção direta da superfície do solo ou à EVT
com pelo menos 100 mm de precipitação das plantas de cobertura, invasoras ou
mensal (HARTLEY, 1970). A precipitação e consorciadas. A limitação e a competição
sua distribuição temporal é apenas um pela água feita pelas plantas intercalares
dos fatores a serem analisados na disponi- em um palmar é uma questão complexa e
bilidade de água. As variações interanuais dependente de condicionantes da espécie
(médias de precipitação anual) e intra- utilizada, das condições climáticas e das
anuais (média de precipitações mensais), características do solo. Teoricamente, plan-
em combinação com estimativas da Eva- tas intercalares também podem ser utiliza-
potranspiração (EVT) e do balanço hídrico, das em áreas muito úmidas para a redução
determinam a aptidão climática quanto à da umidade do solo. Entretanto, tendo em
disponibilidade de água. vista o intenso sombreamento nas entre-
Estudos de aptidão climática e de ba- linhas de um palmar adulto, observa-se
lanço hídrico para o Estado do Pará foram praticamente apenas o crescimento de
realizados por Bastos et al. (2001). Para pteridófitas (musgos e samambaias), espe-
o Brasil, foram realizados estudos pelo cialmente na Amazônia Central.
Institut de Recherche pour Les Huiles et O balanço hídrico de uma área cultiva-
Oleagineux (IRHO) e, mais recentemen- da, como um palmar, é dado pelo balanço
te, esses estudos e os déficits hídricos de massa entre as entradas (chuva e irriga-
estimados para a Amazônia Legal foram ção) e saídas de água (EVT, escorrimento
utilizados para a classificação da aptidão superficial e perda por percolação profun-
das terras para a cultura de palma de óleo da). Um dos pontos cruciais para a estima-
apresentadas neste livro. tiva do balanço hídrico se refere à capaci-
dade de armazenamento de água no solo,

138 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
considerando a profundidade na qual o sis- e são de mais difícil absorção pelas raízes
tema radicular poderá absorver água sem das plantas de palma de óleo.
reduções significativas de produtividade.
A Capacidade de Água Disponível (CAD)
A umidade que o solo atinge, após de um solo é a fração da água presente
cessar a drenagem pelos macroporos, é no solo que se encontra em condições de
conhecida como umidade na Capacidade ser absorvida pelas raízes. Em geral, é o ar-
de Campo (CC). Sua definição é controver- mazenamento possível de água, calculado
sa, mas consiste basicamente na umidade pela diferença entre a umidade na CC e a
do solo após este ter sido saturado e o flu- umidade no PMP, considerando a profun-
xo da água ter praticamente cessado pelas didade efetiva do sistema radicular.
forças gravitacionais. Essa umidade pode
O valor máximo de umidade que um
variar entre 15% e 45% para solos mais are-
solo pode atingir é conhecido como umida-
nosos e mais argilosos, respectivamente. O
de de saturação. Isso ocorre quando todo
Ponto de Murcha Permanente (PMP) pode
o espaço poroso do solo está preenchido
ser resumido como a umidade na qual as
com água. A saturação do solo acontece
plantas não conseguem mais absorver
muito raramente em condições de campo,
água do solo devido à elevada energia
sendo observada em locais que apresen-
com que esta se apresenta. Esse valor é
tam boa drenagem apenas quando ocor-
determinado com equipamentos especiais
rem precipitações muito intensas, acima da
em laboratório e varia entre 7% e 25%, en-
capacidade de infiltração do solo. Um pal-
tre solos arenosos e muito argilosos.
mar bem manejado e com solo bem dre-
A quantidade de água retida entre CC nado, mesmo após intensas precipitações,
e PMP é conhecida como Água Disponí- não ficará saturado por um longo período.
vel (AD). A quantidade de água disponível A boa drenagem do solo se dá quando há
num solo é dependente de sua estrutura, manutenção da estrutura que forma o es-
textura e mineralogia. Esse valor pode ser paço poroso, o qual regula os processos de
alterado com o manejo do solo. Na maioria aeração e drenagem do solo.
dos casos, ocorre uma redução da percen-
Após uma chuva ou irrigação, a drena-
tagem de AD pela redução da porosidade
gem é governada basicamente pela força
e da umidade na CC causada por reduções
gravitacional que atua efetivamente nos
do espaço poroso (compactação). A redu-
macroporos (poros com diâmetro equi-
ção do tamanho dos poros faz com que a
valente maior que 50 μm). Nos poros de
água seja retida no solo com maior ener-
menor diâmetro (meso e microporos), as
gia, e a habilidade das raízes da palma de
forças capilares e de adsorção é que con-
óleo em absorver a água do solo depende
trolam a velocidade do fluxo de água e a
mais do potencial da água do que de sua
sua capacidade de drenagem. Em solos
quantidade total (TINKER e NYE, 2000). Essa
com grande percentual do espaço poroso
relação entre potencial de água no solo e
com poros de pequeno diâmetro (micropo-
quantidade de água no solo é conhecida
ros) e de textura argilosa, grande parte da
como Curva de Retenção de Umidade do
água é retida por forças de adsorção que
solo (CRU). A relação (CRU) é governada,
ocorrem entre as moléculas de água e a
na maior parte, por forças capilares causa-
superfície das partículas (minerais de silte e
das pelos poros do solo no qual a água está
argila, grãos de areia e frações orgânicas).
armazenada. Solos com elevada quantida-
Essa água retida por forças de adsorção ou
de de microporos apresentam um grande
forças capilares muito intensas é pratica-
percentual de água com elevada energia
mente indisponível para a palma de óleo

Produção e Manejo Sustentáveis para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia | 139


e pode representar um grande percentual mente através da ação da cobertura do
do total de água no solo. Nos Latossolos solo pelos restos culturais, pode reduzir o
Amarelos muito argilosos da Amazônia déficit hídrico. Em casos de regiões com
Central, a água acima do PMP (praticamen- déficit hídrico severo, o cultivo da palma
te indisponível às plantas) atinge valores de de óleo só será viável com o fornecimento
cerca de 20% a 25% da água total do solo de água via irrigação. A irrigação nos pal-
(TEIXEIRA, 2001). Nos Latossolos Amarelos mares foi estudada durante doze anos na
de textura média e arenosa da região de Costa do Marfim (PRIOUX et al., 1992). Os
cultivo de palma de óleo no Estado do Pará, resultados mostraram que, nas áreas irri-
esses valores são de aproximadamente 15 gadas, foram obtidas produções médias
a 20% (VIEIRA e SANTOS, 1987). de 22 toneladas de cachos e 5 toneladas
de óleo por hectare ao ano, mostrando
A geometria poral dos solos tropicais é
um ganho maior que 20% em relação à
bastante intrincada e faz com que o pro-
testemunha não irrigada.
cesso de transferência de água dos poros
do solo para as raízes das plantas seja um No Brasil, são poucos os estudos de
processo bastante complexo, variável de produção de palma de óleo irrigada. Na
acordo com as características do solo e as região de Acará (PA), foi feito um estudo
alterações causadas na porosidade pelo no qual se verificou um aumento no nú-
manejo. A compactação do solo causa a mero de cachos nas parcelas irrigadas que
redução da porosidade total ou a redução não se refletiram em aumento significati-
do tamanho médio dos poros do solo (TEI- vo da produção (VEIGA et al., 2001). Estão
XEIRA, 2001). em andamento estudos feitos pela Embra-
pa, com resultados ainda incipientes, mas
Caliman et al. (1990a), trabalhando em
promissores, do cultivo de palma de óleo
palmares na Costa do Marfim, observaram
sob condições irrigadas nos cerrados do
que a compactação do solo reduziu entre
Brasil Central e de Roraima.
20 e 30% a produtividade devido à menor
retenção de água nos horizontes superfi- As horas de brilho solar devem ser
ciais do solo. Para o cultivo da palma de superiores a 1500 h ano-1 (HARTLEY, 1970;
óleo em áreas sujeitas a déficit hídrico MÜLLER, 1980). A baixa radiação solar
(áreas em que o total de água que entra é pode reduzir a taxa fotossintética e alte-
menor que a quantidade total de água per- rar a maturação dos cachos, reduzindo a
dida pela EVT), é recomendável o plantio percentagem de óleo no fruto (DUFRENE
em solos que apresentem maior capacida- e SAUGIER, 1993). A intensidade da radia-
de de armazenamento de água (normal- ção solar num determinado local é funda-
mente os mais argilosos), em combinação mental para altas produtividades. Corley
com o uso de práticas culturais que visem e Tinker (2003) relatam que a incidência
reduzir a competição por água nos hori- deverá ser maior que 20 MJ m-2 dia-1. Este
zontes superficiais do solo. Nessas regi- fator também está relacionado com a EVT
ões, recomenda-se evitar a competição do cultivo, cuja taxa é condicionada não
pela água, principalmente nos períodos só pela intensidade solar, como também
de déficit hídrico, pelos cultivos intercala- pelos fatores temperatura, ventos e dispo-
res. Entretanto, o uso de cultivo intercalar nibilidade de água no solo.
com espécies de ciclo curto, favorecendo
a conservação de água no solo principal-

140 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
sentam uma boa drenagem. Peralta et al.
3. Aspectos de (1985) e Calliman et al. (1990b) concluíram
que a manutenção das características físi-
diferentes classes de cas do solo num palmar pode contribuir
de modo significativo para o aumento dos
solo e da granulometria rendimentos devido à melhor eficiência
no desenvolvimento da de utilização dos adubos.
A palma de óleo apresenta melhores
palma de óleo produtividades em solos com profundidade
A palma de óleo se desenvolve bem efetiva maior que 1,0 m e não compactados
em condições edáficas muito diversas, ou densos naturalmente. O sistema radicu-
podendo se adaptar a solos distróficos (a lar fasciculado da palma de óleo é sensível
saturação por bases no complexo de troca a solos compactados (OLLAGNIER et al.,
de cátions é menor que 50%), desde que 1970; CALLIMAN et al., 1990a), apresentan-
corrigidos, adubados e manejados crite- do uma acentuada redução de crescimento
riosamente (VIÉGAS e BOTELHO, 2000). quando cultivado nessas condições.
Entretanto, solos férteis terão custos re- A presença de alguma camada de
duzidos de adubação e, potencialmente, impedimento, como ocorre em alguns
maior produtividade. Plintossolos (solos que apresentam hori-
Na Amazônia brasileira, a palma de zontes plíntico ou petroplíntico, caracteri-
óleo vem sendo cultivada principalmente zados pela presença de uma camada de
nos Latossolos Amarelos de textura mé- concreções) e Espodossolos (solos que
dia na região Bragantina e nos Latossolos apresentam horizonte espódico, muitas
Amarelos de textura argilosa na região de vezes endurecido pela cimentação de óxi-
Manaus. Ambos os solos são distróficos, dos de ferro e alumínio), pode também li-
além de deficientes em fósforo e na maio- mitar o estabelecimento e a produtividade
ria dos principais nutrientes (magnésio, da palma de óleo. A presença de grandes
potássio, cálcio e boro). Trabalhos condu- quantidades de concreções endurecidas
zidos em Belém (PACHECO et al., 1985) e (petroplintita) reduz o volume de solo
em Manaus (RODRIGUES et al., 1997) de- para exploração das raízes e também a
monstraram que o fósforo foi o elemento capacidade de armazenamento de água
mais limitante para o desenvolvimento e a no solo, dado que normalmente as petro-
produção de palma de óleo nesses locais. plintitas não possuem baixa porosidade.
Entretanto, se a quantidade de petroplin-
Os Latossolos, nas suas condições tita não for excessiva e as propriedades
originais, normalmente apresentam boas da massa de solo forem adequadas, es-
características físicas, sendo, entretanto, ses solos podem ser parcialmente aptos,
suscetíveis à compactação e à degradação como ocorre em algumas áreas no estado
da estrutura do solo. Paradoxalmente, os do Pará. Em regiões onde ocorrem os Plin-
Latossolos Amarelos da região Bragantina, tossolos, é necessário um estudo mais de-
no Pará, apesar de apresentarem o pre- talhado sobre a profundidade em que se
domínio de partículas minerais na fração encontram as camadas de impedimento e
areia, apresentam uma reduzida drena- sua influência na redução da drenagem.
gem em relação aos Latossolos Amarelos
argilosos ou muito argilosos bem estru- Regiões com predomínio de solos
turados da Amazônia Central, que apre- arenosos, como Espodossolos e Neosso-
los quartzarênicos, serão consideradas

Produção e Manejo Sustentáveis para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia | 141


inaptas ou terão aptidão marginal, tendo sequentemente, o solo poderá permane-
em vista, entre outras limitações, a baixa cer parcialmente saturado, mesmo com
retenção de umidade. Solos com profun- a presença de drenos. Nesses solos, uma
didade efetiva menor que 45 cm são con- rede densa de drenos pode ser necessária
siderados inaptos para a palma de óleo. para efetivamente drenar e permitir a ae-
Contudo, há relatos de palmares na Ásia ração do solo.
com boa produtividade em solos de baixa
profundidade efetiva (50 cm de profun-
didade) e em solos turfosos, desde que
com bom suprimento de água e nutrien- 4. Condições físico-
tes (CORLEY e TINKER, 2003).
Os solos de textura arenosa, devido à
hídricas do solo e sua
baixa retenção de água e à drenagem ex- relação com a incidência
cessiva, e os de textura muito argilosa e ar-
gilosos maciços, que apresentam reduzida
do amarelecimento fatal
drenagem, são considerados com aptidão e o estado nutricional da
marginal. A palma de óleo tolera, apenas
por um curto período, a deficiência de palma de óleo
oxigênio (hipoxia), geralmente relaciona-
O avanço da cultura de palma de óleo
da a áreas encharcadas; em áreas de baixa
no Brasil tem uma limitação causada pela
permeabilidade ou sujeitas a inundações,
incerteza do aparecimento da doença de-
é necessária a construção de sistemas de
nominada Amarelecimento Fatal – AF. Há
drenagem (LAUREZAL, 1980).
vários indícios de que essa doença seja um
A boa drenagem do solo parece ser um distúrbio fisiológico ou um ataque de pató-
fator crucial para o bom desenvolvimento genos secundários devido à predisposição
da palma de óleo. Há uma confusão entre causada por fatores abióticos (BERGAMIN
os problemas causados pelo excesso de FILHO et al., 1998; LARANJEIRA et al., 1998;
água e o suprimento de oxigênio às raízes FRANQUEVILLE, 2001; CHINCHILLA, 2008).
de plantas crescendo num solo. Solos sa-
A ocorrência do AF foi verificada em
turados, cuja água apresenta oxigênio livre
várias classes de solos na América Latina
dissolvido, poderão não apresentar proble-
(FRANQUEVILLE, 2001). Diversas pesquisas
mas quanto ao desenvolvimento da palma
já foram realizadas para tentar relacionar
de óleo, que já foi cultivada com sucesso
as características físicas e hídricas do solo
em experimentos de laboratórios em solu-
com a ocorrência do AF (RODRIGUEZ et
ções nutritivas aeradas (ASSIS et al., 1996).
al., 2000; HARTLEY, 1970) e as possíveis
Entretanto, as raízes da palma de óleo interações entre as características físicas
são pouco tolerantes a condições de hi- e químicas do solo nos palmares (BOARI,
poxia no solo (CORLEY e TINKER, 2003). 2008; CHINCHILLA, 2008). Contudo, os re-
Em regiões de alta precipitação, como em sultados não foram conclusivos, apenas
parte da região Bragantina, no Pará, mes- indicativos de que uma reduzida drena-
mo o uso de drenos poderá ser ineficiente gem pode ocasionar o AF (BERNARDES,
para garantir uma boa aeração do solo. Al- 2000; BERGAMIN FILHO et al., 1998).
gumas classes e horizontes de solos apre-
As condições de drenagem e aeração
sentam uma baixa condutividade hidráuli-
do sistema radicular do solo são proprie-
ca horizontal, fazendo com que os drenos
dades dinâmicas que se alteram continua-
funcionem com reduzida eficiência; con-

142 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
mente com as condições do ambiente. As
condições microclimáticas de um palmar
refletem na capacidade de EVT e evapora-
5. Referências
ção da água no solo (CABRAL, 2000), num bibliográficas
intricado processo dinâmico no qual as
condições de umidade do solo influirão ASSIS, R. P.; CARVALHO, J. G.; PAULA, M. B.; VIÉGAS,
I. J. M.; ASSIS, M. P. Teores de nutrientes na parte
na capacidade de infiltração e transmissão aérea do dendezeiro em função de diferentes re-
da água dentro do perfil do solo. As ca- lações entre K, Ca e Mg na solução nutritiva. In:
racterísticas da chuva que incide em deter- REUNIÃO BRASILEIRA DE FERTILIDADE DO SOLO
E NUTRIÇÃO DE PLANTAS, 22., Manaus, 1996. Re-
minada região, incluindo sua intensidade, sumos expandidos. Manaus: SBCS, 1996. p. 662-
quantidade e duração, influirão, por sua 663.
vez, no enchimento dos poros do solo,
BARCELOS, E.; RODRIGUES, F. M.; MORALES, E. A. V.
numa competição com o ar do solo. O diâ- Dendeicultura: alternativa para o desenvolvimento
metro dos poros influenciará as condições sustentável no Amazonas. Manaus: Embrapa Amazô-
de energia em que a água fica retida. Em nia Ocidental, 1999. 19 p.
algumas situações de manejo de solos tro- BASTOS, T. X.; MÜLLER, A. A.; PACHECO, N. A.;
picais, o espaço poroso total do solo não SAMPAIO, S. M. N.; ASSAD, E. D.; MARQUES, A. F. S.
se altera, mas ocorrem mudanças na distri- Zoneamento de riscos climáticos para a cultura do
dendezeiro no estado do Pará. Revista Brasileira
buição de frequência de poros por tama- de Agrometeorologia, v. 9, n.3, p. 564-570, 2001.
nho. O aumento da quantidade de poros
BERGAMIN FILHO, A.; AMORIM, L.; LARANJEIRA, F.
de pequenos diâmetros (microporos) cau- F.; BERGER, R. D.; HAU, B. Análise temporal do
sa alterações drásticas nos fluxos de água amarelecimento fatal do dendezeiro como fer-
e de ar no solo (TEIXEIRA, 2001). ramenta para elucidar sua etiologia. Fitopatologia
Brasileira, v. 23, n. 3, p. 391-396, 1998.
Atualmente, encontra-se em andamen-
BERNARDES, M. S.; VEIGA, A S. ; RAMOS, E. A do-
to um projeto que avalia a hipótese de o AF ença de raiz amarelecimento fatal do dendezeiro.
ser provocado por uma redução na poro- In: CONGRESSO BRASILEIRO DE FITOPATOLOGIA,
sidade de aeração e, consequentemente, 33., Belém, 2000. Resumos... Belém: Sociedade
na condutividade hidráulica do solo, o que Brasileira de Fitopatologia, 2000. p. 454.
causaria uma diminuição temporária do BOARI, A. Estudos realizados sobre o amarele-
potencial de oxirredução do solo. Isso acar- cimento fatal do dendezeiro (Elaeis guineensis
Jacq.). Belém: EMBRAPA-CPATU, 2008. 62 p.
retaria alterações na composição dos íons
na solução do solo, especialmente nas for- CABRAL, O. M. R. Microclima de dendezais na Ama-
zônia Ocidental. In: VIÉGAS, I. J. M.; MÜLLER, A.
mas iônicas reduzidas de ferro, manganês, A. (Ed.). A cultura do dendezeiro na Amazônia
nitrogênio e enxofre. Aparentemente, es- Brasileira. Belém: Embrapa, 2000.
sas alterações estariam produzindo distúr-
CALIMAN, J. P.; CONCARET, J.; AUBRY, M. Subsoiling
bios fisiológicos que se iniciam no sistema
in oil palm plantations: description of an adapted
radicular e ocasionam uma predisposição tool and conditions for its use. Oleagineaux, v.
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Produção e Manejo Sustentáveis para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia | 143


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144 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
PARTE 2
Capítulo 9

Manejo de pragas e doenças para a


cultura de palma de óleo na Amazônia
Walkymário de Paulo Lemos e Alessandra de Jesus Boari

das espécies de insetos-praga E. c. cyparis-


sias, R. palmarum, O. invirae e B. sophorae
1. Introdução em cultivos de palma de óleo. No Brasil,
Apesar das condições favoráveis para o a doença mais importante é o Amareleci-
desenvolvimento de palmáceas na Ama- mento Fatal, que será discutida no próximo
zônia brasileira, as condições ecológicas capítulo. Outras doenças significativas são
peculiares da região favorecem o apareci- o anel vermelho, a fusariose, o fitomonas e
mento e estabelecimento de insetos-praga doenças fúngicas do viveiro.
e doenças, especialmente em agroecos-
sistemas implantados em monocultivos.
Por esse motivo, cultivos de palma de óleo
(dendezeiro) necessitam ser monitorados 2. Principais insetos-
sistematicamente, visando à redução das
perdas provocadas por esses agentes. praga da cultura de
Insetos-praga e doenças estão entre os palma de óleo
principais problemas associados à cultura
de palma de óleo no Brasil. Na região Norte Eupalamides cyparissias
do país, que contém as maiores plantações cyparissias (Fabricius)
de palma de óleo, são encontradas diferen- (Lepidoptera: Castniidae) –
tes espécies de insetos que causam danos broca-da-coroa-foliar, broca-do-
a esse cultivo, particularmente: os broque- cacho ou broca-do-dendezeiro
adores Eupalamides cyparissias cyparissias Entre os insetos que atacam cultivos de
(Lepidoptera: Castniidae) (BERNARDINO, palma de óleo na região Norte do Brasil, a
2007) e Rhynchophorus palmarum (Cole- broca-da-coroa-foliar E. c. cyparissias, cujos
optera: Curculionidae); e os desfolhadores sinônimos juniores são Castnia dedalus,
Opsiphanes sp. e Brassolis spp. (Lepidopte- Eupalamides dedalus e Cyparissius dedalus
ra: Nymphalidae), Sibine spp. e Talima sp. (LAMAS, 1995; HOWARD, 2001), é conside-
(Lepidoptera: Limacodidae), Euprosterna rada uma das pragas mais importantes.
sp. e Automeris spp. (Lepidoptera: Satur-
niidae) (TINÔCO, 2008). Em função da im- Imaturos de E. c. cyparissias (Figura 1)
portância desse problema, serão discutidas são ameaças para a palma de óleo devido
nesta publicação as estratégias de manejo a suas características de desenvolvimento

Produção e Manejo Sustentáveis para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia | 145


biológico contínuo durante as diferentes Figura 2 – Detalhes do adulto de
épocas do ano, à natureza de dano provo- E. c. cyparissias
cado e, principalmente, à abundância de (Foto: José Malta de Souza – Grupo Agropalma)
hospedeiros potenciais na região Norte
do Brasil, entre os quais, além da palma
de óleo, estão o coqueiro, o açaizeiro (E.
oleracea), a bacabeira (Oenocarpus sp.) e
várias outras palmeiras nativas da região.

Figura 1 – Detalhes do imaturo de E. c.


cyparissias e a injúria por ele provocada
(Foto de W. P. Lemos)

– levantamento da população de ima-


turos de E. c. cyparissias em plantas
eliminadas na propriedade por dife-
rentes causas.
O comportamento do inseto, a altura
Lagartas dessa praga perfuram galerias das plantas e a falta de produtos regis-
no estipe, nas bases foliares e nos pedún- trados para a cultura são, ainda, entraves
culos dos cachos da palma de óleo, redu- para o combate de E. c. cyparissias no
zindo o fluxo normal de seiva, o cresci- campo. No entanto, tais limitações estão
mento da planta e a produção. No decurso sendo superadas através de parcerias exis-
de seu desenvolvimento, as lagartas cons- tentes entre o setor produtivo e a Embrapa
troem, no interior do estipe, galerias cada Amazônia Oriental, que, juntos, estão bus-
vez mais profundas e de maior diâmetro, cando desenvolver estratégias de manejo
podendo, inclusive, atingir o meristema integrado dessa praga, com enfoque nos
apical e ocasionar a morte da palmeira. métodos alternativos de controle.
As medidas de controle devem ser
adotadas seguindo informações obtidas
com os levantamentos mensais do inse-
Rhynchophorus palmarum L.
to no plantio. Três critérios são utilizados
(Coleoptera: Curculionidae)
para avaliação da praga:
– broca-do-olho-do-coqueiro,
broca-do-coqueiro ou bicudo
– levantamentos mensais da população
Denominado broca-do-coqueiro, ou
de adultos (Figura 2) utilizando redes
simplesmente bicudo, R. palmarum é um
entomológicas;
inseto comum em diferentes palmáceas,
– levantamento de plantas com sinto- provocando sérios danos a essas espécies.
mas do ataque do inseto, conside- Ataca as palmeiras no campo, geralmente
rando-se os aspectos: folha arriada, a partir dos dois anos de idade, quando
paralela ao estipe, e perfurações no elas estão começando a desenvolver o es-
estipe, próximo à coroa foliar; tipe. Além da palma de óleo, o R. palma-

146 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
rum ataca, também, espécies cultivadas plantas e dos tecidos danificados das pal-
e/ou nativas da Amazônia, particularmen- meiras, a captura do adulto dessa praga
te o coqueiro e o açaizeiro. pode ser efetuada utilizando vários tipos
de iscas contendo feromônio sintético de
Os danos em cultivos de palma de óleo
agregação, as quais podem ser encontra-
são provocados por imaturos e adultos de
das no mercado com diferentes nomes
R. palmarum. Danos diretos são causados
comerciais.
pelas larvas que perfuram os tecidos do
estipe na região da coroa foliar (Figura 3a), As iscas para captura de R. palmarum
construindo galerias que podem chegar até podem ser usadas em três tipos de ar-
o tecido meristemático (broto terminal ou madilhas:
palmito). Em decorrência, as folhas novas
– armadilha tipo balde, que consiste
ficam amareladas, murcham e, finalmente,
em um balde plástico de 50 a 100
se curvam e secam, indicando a morte da
litros, com tampa devidamente per-
planta. Indiretamente, o adulto de R. palma-
furada na qual são acoplados funis
rum é vetor do nematoide Bursaphelencus
equidistantes;
cocophilus (Cobb) Baujard, agente causal
da doença anel-vermelho (Figura 3b), que – armadilha tipo tanque, que consiste
poderá ser letal à palma de óleo. em um recipiente de alvenaria com
as dimensões 1,2 x 1,0 x 0,4 m;
Trata-se de uma espécie-praga com
grande número de estudos sobre as es- – armadilha tipo feixe, que consiste em
tratégias de controle, particularmente em um feixe de cana amassada, pendu-
cultivos de coqueiro. Dessa forma, reco- rado no tronco do coqueiro.
menda-se que os métodos de controle
Nos três tipos de armadilhas, são uti-
dessa broca sejam integrados, visando à
lizados cana-de-açúcar junto com o fero-
redução da população do inseto no plan-
mônio de agregação para aumentar o seu
tio e nas proximidades com a utilização
poder de atração.
de armadilhas de captura e a aplicação de
técnicas de manejo, tais como: eliminar Vários inimigos naturais são importantes
plantas mortas no campo, evitar ferimen- no equilíbrio da população de R. palmarum
tos em plantas sadias, utilizar alcatrão ve- em campo, como por exemplo: parasitoides
getal em eventuais ferimentos e monitorar de pupas como Billaea menezesi (Guima-
a presença de inimigos naturais na área. rães; anteriormente Paratheresia menezesi)
e B. rhynchophorae (Blanchard). O uso de
Uma vez que esse inseto é atraído por
iscas vegetais contaminadas com esporos
compostos voláteis resultantes da fermen-
do fungo B. bassiana é também uma alter-
tação de líquidos açucarados exalados das
nativa de controle de R. palmarum.

Figura 3 – Dano direto [galeria] (A) e indireto [anel vermelho] (B) provocado por R.
Palmarum (Foto: Ricardo Salles Tinôco – Grupo Agropalma)

A B

Produção e Manejo Sustentáveis para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia | 147


Brassolis sophorae L. Figura 5 – Desfolhamento causado por
(Lepidoptera: Nymphalidae) – imaturos de B. Sophorae (Foto: José Malta
de Souza – Grupo Agropalma)
lagarta-das-folhas-do-coqueiro
As formas jovens das espécies Brassolis
sophorae L. e Opsiphanes invirae (Hübner;
Lepidoptera: Nymphalidae) correspondem
aos principais insetos desfolhadores en-
contrados em cultivos de palma de óleo na
Amazônia brasileira, particularmente pelos
danos econômicos que podem ocasionar.
Por isso, recomenda-se o monitoramento
dessas espécies mensalmente na proprie-
dade.
Lagartas de B. sophorae são gregá-
rias (Figura 4) e vivem reunidas durante
o dia em ninhos construídos com folío-
los. À noite, alimentam-se das folhas de O ataque dessa praga pode provocar
qualquer nível. Adultos de B. sophorae redução ou suspensão da produção du-
medem entre 70 e 105 mm e possuem rante um determinado período do ano.
asas anteriores e posteriores de cor mar- Cada lagarta de B. sophorae pode consu-
rom-escura com leves reflexos violáceos, mir de 500 a 600 cm2 (entre 2,0 e 2,5 folí-
contendo uma faixa transversal de cor ala- olos), podendo desfolhar completamente
ranjada. Na fêmea, o tórax é mais largo na uma palmeira em poucos dias, quando
altura das asas superiores e toma a forma em altas infestações.
de um “y”.
O método mais eficaz e seguro
Figura 4 – Detalhes de imaturos gregários de
para controlar B. sophorae é localizar,
B. Sophorae (Foto: José Malta de Souza – Grupo retirar e destruir os ninhos encontra-
Agropalma) dos no monitoramento mensal. Em
plantas jovens, o método é eficiente;
porém, em plantas adultas, a eficiên-
cia do controle é limitada pelas dificul-
dades de localizar e retirar os ninhos.
Alguns microorganismos entomo-
patogênicos são relatados como efi-
cientes no controle das lagartas de B.
sophorae, como a bactéria B. thurin-
giensis e fungos dos gêneros Beauve-
Brassolis sophorae é uma praga capaz
ria, Nomurae, Paecylomices e Cordyceps
de provocar danos econômicos à cultura
(TINÔCO, 2008). Ninhos de B. sophorae
de palma de óleo devido ao desfolha-
parasitados por microorganismos, quando
mento parcial ou total das palmeiras (Fi-
encontrados no campo, devem ser deixa-
gura 5) causado por seus imaturos, que
dos no local e/ou transportados a labora-
são desfolhadores de diferentes espécies
tório para armazenamento em freezer a
silvestres e cultivadas de palmáceas, entre
-5ºC, a fim de serem posteriormente uti-
as quais a palma de óleo, o açaizeiro e o
lizados em pulverizações por ocasião de
coqueiro.

148 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
novas infestações da praga. Recomenda- limbo foliar a partir das bordas (Figura 7),
se utilizar 500 g de lagartas parasitadas tri- deixando apenas as nervuras centrais.
turadas para preparar 600 litros de solução
do fungo, que é uma quantidade suficien-
te para pulverizar 1 hectare. Figura 7 – Desfolhamento causado por
imaturos de O. invirae
Em plantios comerciais de palma de (Foto: José Malta de Souza – Grupo Agropalma)
óleo no Estado do Pará, também tem sido
observada a predação de lagartas desfo-
lhadoras pelo percevejo Alchaeorrynchus
grandis (Hemiptera: Pentatomidae) (LEMOS
et al., 2007). No entanto, ainda se percebe
a necessidade de mais estudos sobre esse
método de controle na Amazônia brasileira.

Opsiphanes invirae (Hübner)


(Lepidoptera: Nymphalidae) –
lagarta desfolhadora
Lagartas de O. invirae (Figura 6) geral-
mente são encontradas na face inferior
dos folíolos. Caracterizam-se por apre-
sentar cabeça rósea com dois prolonga-
Uma única lagarta de O. invirae pode
mentos espinhosos, corpo verde com lis-
consumir até 800 cm2 de folíolos. Dessa
tas amareladas e dois apêndices caudais.
forma, deve-se observar uma folha cen-
Adultos dessa espécie medem entre 60
tral de duas plantas/ha e contar o núme-
e 70 mm de comprimento e possuem
ro de lagartas, controlando-se quando
asas anteriores negras nas extremidades,
encontrar de 10 a 15 lagartas por planta.
tornando-se avermelhadas à medida que
Controles acima de 90% são alcançados
se aproximam da base. As asas anterio-
com pulverizações de B. thuringiensis (via
res possuem, na parte mediana, uma
terrestre: 1,2 L p.c./ha; via aérea: 0,5 L p.c./
longa faixa transversal de cor amarela.
ha), quando as lagartas ainda estão se ali-
São insetos diurnos e muito ágeis, com
mentando (entre o 2o e 4o ínstar).
vôo rápido.
A população de adultos dessa praga
Os danos provocados por O. invirae
pode ser manejada utilizando-se diferen-
são similares àqueles descritos para B. so-
tes tipos de armadilhas, as quais podem
phorae, ou seja, suas lagartas destroem o
ser confeccionadas com vasi-
lhas de plástico cortadas de ma-
Figura 6 – Detalhes do imaturo de O. Invirae neira a formar uma janela para
(Foto: Ricardo Salles Tinôco – Grupo Agropalma)
entrada dos adultos, ou apenas
sacos plásticos, contendo no
seu interior uma solução de me-
laço mais solução inseticida.

Produção e Manejo Sustentáveis para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia | 149


do, no Brasil, responsável pela morte de mi-
3. Principais doenças lhares de plantas de palma de óleo na Bahia
e na região Amazônica (SILVA, 1991).
fitopatogênicas da Essa doença é causada pelo nema-
palma de óleo toide Bursaphelencus cocophilus, que já
foi denominado Rhadinaphelenchus coco-
No mundo, já foram relatadas dife- philus (GOODEY, 1960). Esse nematoide
rentes doenças da palma de óleo, como: pertence ao filo Nemata, na ordem Aphe-
ferrugem (Pythium splendens, Rhizocto- lenchida e família Aphelenchoides. Os ne-
nia lamellifera), manchas das folhas (Cer- matoides adultos medem cerca de 1.370
cospora elaeidis), antracnose (Botryodi- µm de comprimento e 15,5 µm de diâme-
plodia palmarum, Melanconium elaeidis, tro. O B. cocophilus geralmente tem baixa
Glomerella cingulata), mancha de mudas sobrevivência na água ou no solo, ou seja,
(Curvularia eragrostidis), amarelecimento em menos de sete dias, a taxa de morta-
e murcha vascular (Fusarium oxysporum), lidade é de 100%. Entretanto, as formas
apodrecimento basal do tronco (Ceratocys- jovens podem permanecer viáveis no teci-
tis paradoxa, Ganoderma spp., Armillaria do do estipe por até 130 dias, localizando-
mellea) (REES et al., 2007), fungo na coroa se nas cavidades intercelulares do tecido
e apodrecimento das frutas (Marasmius parenquimatoso do estipe e dos pecíolos
palmivorus), anel-vermelho causado pelo e no córtex da raiz. Os nematoides são
nematoide Bursaphelencus cocophilus encontrados principalmente na região do
(GIBLIN DAVIS et al., 1989), apodrecimento anel. No coqueiro, em um grama do te-
dos galos (brotos) causado pela bactéria cido do anel podem ser encontrados até
Erwinia spp., três vírus (Potyvirus, Foveavi- 10.000 nematoides, sendo o ciclo de vida
rus, Nanovirus) (MORALES et al., 2002; RI- em tecido foliar de nove a dez dias.
VERA et al., 1996), o viroide cadang-cadang
(BEUTHER et al., 1992; VALDAMALAI et al., Os sintomas iniciais causados pelo ne-
2006) e fitoplasma (BRIOSO et al., 2002). matoide na palma de óleo são a redução
de crescimento das folhas centrais, segui-
No Brasil, a principal doença da palma da do seu amarelecimento, e a mudança
de óleo é o Amarelecimento Fatal (AF), na coloração do pecíolo, que se torna
que vem dizimando milhares de plantas. alaranjado. No estipe, pode-se observar,
Entretanto, sua etiologia ainda não está após a realização do corte transversal, a
elucidada. Alguns pesquisadores defen- formação de um anel escurecido (Figura
dem causa abiótica e outros, abiótica do
3B). Entretanto, a observação desse anel
AF, mas seu agente ou fator causal não foi
só é possível quando a doença se encon-
comprovado. Essa doença, bem como os
tra num estádio bastante avançado. Na
estudos já realizados por vários pesquisa-
maioria das vezes, observa-se apenas a
dores, será abordada em outro capítulo.
formação parcial do anel.
A seguir, são descritas as doenças de
Esse nematoide tem outras espécies
origem fitopatogênica de importância para
de palmeiras como hospedeiras, particu-
a cultura da palma de óleo no Brasil.
larmente o coqueiro (Cocos nucifera L.),
Anel Vermelho a tamareira (Phoenicis dactylifera) e a ma-
caúba (Acrocomia aculeata). No campo, é
Depois do Amarelecimento Fatal, é a
disseminado por um inseto-praga e vetor,
doença de maior importância. É uma das
o R. palmarum, que o transporta nas par-
principais doenças da América Latina, sen-
tes externa e interna do seu corpo.

150 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
Como manejo do Anel Vermelho, tem des nos folíolos das folhas mais velhas, que
sido utilizada a eliminação de plantas com avança para a base e provoca a seca rápida
sintomas para diminuir a fonte de inóculo da folha. Além disso, causa o abortamento
no campo. Entretanto, a principal estra- de inflorescências, bem como o apodre-
tégia tem sido o controle do inseto vetor cimento de cachos imaturos (TASCON e
por meio da captura com o uso de arma- MARTINEZ, 1977; PERTHUIS et al., 1985).
dilhas espalhadas no plantio e/ou o uso
Além da palma de óleo, o Phytomonas
de inimigos naturais, conforme descrito
pode se hospedar em coqueiros e é trans-
anteriormente.
mitido pelos insetos Hemiptera Haplaxius
Fusariose pallidus Caldwell (Cixiidae) e Linus lethifer.
Nas condições da Amazônia brasileira, o
Também conhecida como Secamento
Phytomonas parece atacar com mais fre-
Letal da palma de óleo, sua ocorrência é
quência palmares localizados ao longo da
comum em plantios nos diferentes esta-
floresta e nas proximidades de igarapés
dos brasileiros.
(TRINDADE et al., 1997).
A Fusariose é causada pelo fungo Fusa-
Como estratégia de controle, recomen-
rium oxysporum f.sp. elaeis, pertencente à
da-se o arranquio das plantas afetadas, já
classe Euascomycetes, na ordem Hipocre-
que elas não se recuperam.
ales e família Hypocreaceae. Essa formae
specialis só infecta a palma de óleo, como Mancha de Curvulária
sugere seu nome.
Essa doença aparece mais no estágio
Os sintomas causados por esse fungo de viveiros com nutrição desbalanceada.
em plantas de palma de óleo consistem A mancha é causada pelo fungo Curvula-
no aparecimento do amarelecimento nas ria sp., da classe Euascomycetes, na ordem
folhas mais velhas, às vezes nas intermedi- Pleosporales e família Pleosporaceae. O
árias, a partir do quarto ano de idade. Pos- fungo Curvularia possui conidióforos es-
teriormente, os sintomas evoluem para a curos que produzem conidiósporo simpo-
quebra da base do pecíolo das folhas mais dial. Os conidiósporos são escuros, retos
velhas, configurando o aspecto guarda- ou curvos e apresentam até cinco células.
chuva. Essas folhas secam e podem levar
Os sintomas aparecem, inicialmente,
à seca total da planta. No estipe, próximo
em forma de lesões circulares, de colora-
à base, observa-se o escurecimento, ou
ção amarelada e translúcida, visíveis em
necrose, dos tecidos condutores, também
ambas as faces da folha, e posteriormente
causado pela colonização do fungo. Em-
se tornam elípticas. A lesão pode ter de 3
bora esse fungo possa ser importante, não
a 7 mm de comprimento e pode variar de
há uma medida de controle específica.
marrom-claro a marrom-escuro com um
Marchitez Sorpressiva halo amarelado. Quando o ataque é seve-
ro, as lesões coalescem.
Apesar de ser considerada doença de
menor importância em relação às anteriores, A infecção pela Curvularia pode ser fa-
esta pode levar a planta de palma de óleo vorecida pela alta umidade do ar (acima
à morte. A Marchitez Sorpressiva é causada de 80%) e pela temperatura superior a
por um protozoário chamado Phytomonas 25oC. Esse micro-organismo pode causar
staheli, da ordem Trypanosomatida e famí- doença também em outras palmáceas,
lia Trypanosomatidae. Esse patógeno causa como a pupunha e o coqueiro.
uma coloração amarronzada nas extremida-

Produção e Manejo Sustentáveis para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia | 151


O manejo da mancha deve ser preven- PERTHUIS, B.; CHENON, R. D.; MERLAND, E. Mise en
tivo, por meio da aplicação de fungicida evidence du vecteur de la marchitez sorpressiva du
palmier à huile, la punaise Lincus lethifer (Hemiptera,
à base de mancozeb e da eliminação de Pentatonidae, Discocephalinae). Oléagineux, v. 40,
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152 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
PARTE 2
Capítulo 10

O desafio das pesquisas com a


etiologia do Amarelecimento Fatal
(AF) da cultura da palma de óleo
Alessandra de Jesus Boari

palmares. No entanto, no ano de 1984,


1. Introdução morreram 465 plantas e, em 1985, a doen-
ça exibiu um acréscimo sem precedentes,
No Brasil, a cultura da palma de óleo elevando o número de casos para 2.205
(Dendezeiro – Elaeis guineensis Jacq) tem plantas mortas. Em 1986, foram registra-
sua produção afetada por algumas doen- das 9.968 plantas e em 1987, 32.673. Entre
ças, mas o Amarelecimento Fatal (AF) tem 1974 e 1991, o total foi de mais de 100.000
se destacado como o responsável pela palmares mortos nessa plantação. Nessa
morte de milhares de plantas nos paí- área, observou-se um agravamento da do-
ses produtores. Segundo Albertazzi et al. ença entre o 15o e o 16o ano pós-plantio
(2005), essa doença da cultura da palma (VAN SLOBBE, 1988).
de óleo, que ocorre somente na Améri- Na Região Norte, o AF também foi re-
ca tropical e afeta os plantios comerciais, latado em Tefé (projeto piloto Socfinco),
recebe nomes diferentes em alguns pa- no Amazonas, e em uma plantação de
íses, como: “Pudrición del cogollo – PC” palma de óleo localizada em Porto Gran-
no Panamá, na Nicarágua, na Colômbia de – Companhia Dendê do Amapá (Code-
e no Equador; “Spear Rot” no Suriname; pa), próximo a Macapá, AP (VAN SLOBBE,
e “Amarelecimento Fatal” no Brasil (RUI- 1988).
NARD et al. 1990; MARIAU e GENTY, 1992;
SWINBURNE, 1993; FRANQUEVILLE, 2001). No Pará, a ocorrência do AF ainda está
Na tradução de PC para o inglês, essa restrita às áreas localizadas nos municí-
doença recebe o nome de “Bud Rot”. Vá- pios de Benevides, Santa Isabel do Pará,
rios pesquisadores relatam que se trata Tomé-Açu, Santa Bárbara, Santo Antônio
da mesma doença, mas há variações de do Tauá, Bujaru, Moju, Belém e Acará. O
sintomas de acordo com a região, o que AF é uma ameaça ao desenvolvimento da
levou alguns pesquisadores a discordarem produção de palma de óleo no Pará, agra-
de que seja a mesma doença (TURNER e vada pelo fato de sua causa ser de origem
LIMPUR, 1981; FRANQUEVILLE, 2001) ainda desconhecida.

No Brasil, o AF foi relatado pela primei- Vários trabalhos foram realizados com
ra vez em 1974 em uma lavoura estabele- o objetivo de determinar a causa ou o
cida em 1967 no Pará, quando sua ocor- agente causal do AF na palma de óleo.
rência era esporádica, afetando poucos Entretanto, não foi encontrada nenhuma

Produção e Manejo Sustentáveis para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia | 153


correlação com insetos, problemas fisioló- Figura 2 – Planta de palma
gicos, solo e fitopatógenos. de óleo com AF, com sinto-
mas de remissão de folhas
Este capítulo tem o objetivo de relatar Foto: Alessandra de Jesus Boari
resumidamente os diversos resultados ex-
perimentais obtidos e as observações re-
alizadas desde 1986, quando se iniciaram
os trabalhos de pesquisa para identificar a
causa do AF.

2. Sintomatologia
O AF se caracteriza, inicialmente, pelo
ligeiro amarelecimento dos folíolos basais
das folhas intermediárias (3, 4, 5 e 6) e,
mais tarde, pelo aparecimento de necro-
ses nas extremidades dos folíolos (Figura produção de cachos é insignificante. Além
1), que evoluem para a seca total dessas disso, o sistema radicular não se desen-
folhas. Um dos principais sintomas do AF volve após o aparecimento dos primeiros
é a seca da folha flecha e, eventualmente, sintomas do AF. Nos tecidos do estipe e
pode ocorrer remissão temporária da plan- do meristema das plantas com AF, não são
ta (Figura 2), seguida de declínio generali- observados apodrecimentos ou necroses
zado e morte (Figura 3). do sistema vascular. Ayala (2001) e Bernar-
Van Slobbe (1991) relata que, geral- des (2001) ressaltam que o sistema radicu-
mente, as plantas morrem 7 a 10 meses lar se apresenta necrosado logo no início
após o aparecimento dos primeiros sinto- do aparecimento do amarelecimento dos
mas, quando não ocorre a remissão. A par- folíolos das folhas intermediárias. Essa do-
tir da morte da folha flecha, não há mais a ença pode ocorrer em qualquer idade do
produção de cachos. Embora em algumas palmar.
palmas possa ocorrer remissão de folhas, a

Figura 1 – Palma de Óleo: amarelecimento


e necrose da ponta do folíolo para a base 3. Estudos realizados
Foto: Alessandra de Jesus Boari
sobre o AF
Foram desenvolvidas várias ações de
pesquisa visando obter conhecimento so-
bre a causa do AF, tanto na busca por um
agente fitopatogênico – isolamento, trans-
missão, sintomatologia, testes diagnósticos,
insetos vetores (entomologia) e medidas de
controle da doença, como na investigação
de fatores do solo, hídricos e fisiológicos.
Estudos de epidemiologia também foram
realizados para analisar a distribuição do AF

154 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
Figura 3 – Plantio de palma de óleo dizimado pelo AF. Foto: Alessandra de Jesus Boari

com a finalidade de indicar se a sua causa é pécies registradas. Nos ensaios de trans-
ou não de origem biótica. missão, 815.914 insetos foram coletados
e liberados nas gaiolas. Foram realizadas
3.1. Estudos visando a uma
liberações monoespecíficas com insetos
possível causa biótica
mais relacionados com a palma de óleo,
Chinchilla e Durán (1999) sugerem que tais como Contigucephalus sp., Patara sp.,
os fitopatógenos associados a plantas Omolicna sp. e Myndus crudus, e mistu-
doentes são oportunistas, já que não se ra de espécies com as principais famílias
provou que eles sejam a causa primária catalogadas, entre as quais Aethaelinidae,
da doença. Os autores também sugerem Cercopidae, Fulgeridae, Dephacidae, Dic-
que a suscetibilidade da planta de palma tyopharidae, Nogodinidae, Issidae, Rica-
de óleo a esses patógenos pode ser propi- nidae, Derbidae, Cixiidae, Cicadellidae,
ciada por um ou mais tipos de estresse. Flatidae e Membracidae.
Entomologia Após seis anos de pesquisa, não se
obteve resultados positivos em relação à
A iniciativa para a realização de traba-
transmissão do AF com insetos. Assim, os
lhos de pesquisa na área de entomologia
autores concluíram que se deve descartar
foi baseada na observação (de campo)
a hipótese de um homóptero transmissor
preliminar que levantou a hipótese de
que tenha estreita relação com a palma de
que a doença era propagada por insetos,
óleo (CELESTINO FILHO et al., 1993).
pelo fato de a disseminação ocorrer no
sentido dos ventos, o que coincidia com Fitoplasmas
a área de progresso do AF no campo, com
Por meio de teste molecular PCR, Brio-
distribuição aleatória (CELESTINO FILHO et
so et al. (2003, 2006) relataram a associa-
al., 1993).
ção do fitoplasma do grupo 16S rRNA I
Do total de insetos catalogados, preva- em amostras de plantas de palma de óleo
leceu a família Cicadellidae, com 266 es- com AF provenientes do Pará. Os mesmos

Produção e Manejo Sustentáveis para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia | 155


autores avaliaram, por meio de PCR, mais doentes e sadios. No entanto, nas mais
de 100 amostras de palmares com sinto- de 1.000 observações, todos os resultados
mas de AF e 100 sem AF, e verificaram a foram negativos, indicando que o AF não
presença de fitoplasma em apenas quatro era causado pelos fitoplasmas (VAN SLO-
delas, número considerado pequeno por BBE, 1991).
vários pesquisadores, já que se trata de
Fungos e bactérias
um teste altamente sensível.
Considerando a possibilidade de que
Por vários anos, amostras de tecido de
fungos e/ou bactérias sejam causadores
plantas com AF foram examinadas para
dessa doença, Silva (1989) coletou amos-
detecção de fitoplasmas. Contudo, nem
tras de plantas doentes e, a partir delas,
o IRHO (Institut de Recherche pour les
foram realizados isolamentos de organis-
Huiles et Oléagineux) nem o Dr. E. W. Kita-
mos associados aos tecidos dos pecíolos,
jima, da Universidade de Brasília, detecta-
ráquis, folíolos, flechas e raízes. Os fungos
ram esses microorganismos por microsco-
e bactérias foram inoculados em plantas
pia eletrônica de transmissão.
jovens e adultas na tentativa de reprodu-
Não se obteve sucesso com o uso dos zir os sintomas da doença (Postulado de
antibióticos oxitetraciclina e estreptomici- Koch).
na para controle de fitoplasmas, tanto na
Segundo Silva (1989), 21 isolados de
prevenção de palmares aparentemente
fungos e 6 de bactérias (Tabela 1) foram
sadios quanto na terapia da doença, indi-
obtidos, tendo-se realizado inoculações em
cando que a causa do AF não é fitoplas-
plantas sadias com 9 fungos e 1 bactéria.
ma e nem são bactérias. Fez-se também
a absorção radicular de monocrotofós bi- Entretanto, os trabalhos de isolamen-
mensal em 80 ha, na tentativa de reduzir tos mensais e inoculações quinzenais
o número de insetos sugadores e, assim, foram realizados durante um ano, sem
diminuir a disseminação, mas não se ob- lograr resultados satisfatórios.
teve resultado.
Van Slobbe (1988) realizou experi-
M. Schuilling executou o teste histo- mentos visando ao controle de um pos-
químico DAP nas amostras de palmares sível fungo causador do AF utilizando a

Tabela 1 – Relação de fungos e bactérias isolados de palmares com amarelecimento fatal


Fonte: Silva, 1989

Fungos
Lasiodiplodia theobromae Pythium sp. Chaetomium sp.
Microsphaera olivacea Fusarium solani Rhizoctonia sp.
Curvularia pallescens Fusarium oxyesporum Graphium sp.
Dacrylaria sp. Fusarium sp. Mucor racemosus
Mycelia sterilia Pestalotiopsis sp. Curvularia hamata
Phytophtora sp. Thielaviopsis sp. Phoma sp.
Colletotrichum sp. Phomopsis sp. Gloeosporium sp.
Bactérias
Aerobater aerogenes Erwinia herbicola Psedomonas aeruginosa
Bacillus polimixe P. putida P. fluorescens

156 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
injeção, por meio de pistola injetora, de verificou de duas a quatro bandas típicas
três soluções fungicidas: Benomyl, para o em plantas sadias e não em doentes. Ban-
controle de Fusarium sp.; Metalaxyl + Fol- das idênticas foram observadas em plan-
pet de Phytophthora sp. e Fessetil + Alumí- tas de palma de óleo do Rio Urubu, local
nio, para o controle de fungos da família onde o AF não ocorre.
Pythiacea. Entretanto, nenhum desses
Em novas análises para avaliar a ocor-
tratamentos teve sucesso na indicação de
rência de viroides, Beuther et al. (1992)
um possível patógeno.
realizaram testes de hibridização mole-
Na Colômbia, por meio do Postulado cular utilizando sondas contra coconut
de Koch, provou-se que o PC é causado cadang-cadang viroid (CCCVd), potato
por um complexo de fungo Thielaviopsis spindle tuber viroid (PSTVd) e citrus dwar-
paradoxa, Phytophthora sp. e Pythium sp. fing (CdVd1). Existem relatos de CCCVd
(NIETO et al., 1996). infectando palmares. Entretanto, não se
obteve sucesso na detecção de viroides
Vírus e viroides
em amostras de plantas de palma de óleo
Com os resultados negativos das ino- com AF. Outros trabalhos visando à detec-
culações de bactérias e fungos em palma- ção de viroides foram realizados, mas sem
res, levantou-se a hipótese de que vírus obter sucesso (RIESNER e BEUTHER, 1989;
ou viroides poderiam estar associados ao SINGH et al., 1988).
AF, pois são relatados em coqueiros e tam-
bém em palmáceas.
Nematoides
Segundo Silva (1989), suspeitou-se do
Os testes de transmissão foram feitos
envolvimento de fitonematoides com o
por meio de ferramentas cortantes intro-
AF em virtude de uma série de observa-
duzidas em plantas com AF e, posterior-
ções, como a ocorrência de AF em áreas
mente, em plantas sadias. Além disso,
onde foram encontradas, inicialmente,
foram feitos testes de inoculação: de ex-
plantas com sintomas de anel-vermelho
tratos de folhas com AF para plantas sa-
(AV), causado por Bursaphelenchus coco-
dias; de folhas com AF para plantas indica-
philus, e a ocorrência de nematoides não
doras de vírus; e de raízes, estipe e ráquis
identificados em tecidos de plantas com
de plantas com AF para plantas indicado-
a doença junto a áreas necrosadas das rá-
ras de vírus. Entretanto, as transmissões
quis da flecha ou das folhas mais novas,
mecânicas não tiveram sucesso aparente
centrais, amarelecidas e/ou com resseca-
(TRINDADE et al., 2005).
mento progressivo. O autor, ao final das
Kitajima (1991), por meio da micros- observações, concluiu que não foram en-
copia eletrônica, não verificou patóge- contradas formas efetivamente fitopara-
nos em tecidos ultrafinos de raízes, fo- sitas de nematoides que pudessem levar
lhas e flechas de plantas sadias e com diretamente ao AF como causa primária
AF, mas salientou que vírus isométricos (Tabela 2).
pequenos e de baixa concentração são
Analisando solos e plantações de pal-
de difícil observação.
ma de óleo, Ferraz (2001) afirma não ter
Ribeiro (1990), estudando a presença encontrado formas parasitas que pudes-
de viroides por meio de eletroforese, após sem estar causando o mal, não sendo o
várias repetições com plantas de palma de nematoide a causa primária do AF.
óleo com e sem sintomas provenientes do
Pará, observou dados inconsistentes, pois

Produção e Manejo Sustentáveis para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia | 157


Tabela 2 – Espécies de nematoides identificados em amostras de solo e raízes de palma de
óleo com sintomas de AF
Nematoides
Xiphinema yaporense Tylenchorhynchus crassicaudatus Dorylaimellus sp.
Xiphinema brasiliensis Basirotyleptus sp. Tylenchus sp.
Aorolaimus sp. Bursaphelenchus sp. Criconemella sp.
Hoplolaimus sp. Meloidogyne spp. Scutellonema sp.
Identificação realizada pelos pesquisadores Dr. I. L. Renard (IRHO) e L. C. C. B. Ferraz (ESALQ/USP)

Observações de sintoma e progresso mensal do AF foi linear entre os


histologia anos de 1985 e 1992, como acontece com
problemas abióticos de outras plantas pe-
Segundo Kastelein et al. (1990), plan- renes. Foram constatadas curvas anuais
tas com AF não têm radicelas como as com taxa mais que exponencial entre os
aparentemente sadias. Tecidos de folhas, anos de 1992 a 1997, o que não ocorre
região apical de meristemas e radicelas
com nenhuma doença biótica.
de plantas sadias e com AF foram exami-
nados pelo microscópio de luz. Fungos Entretanto, Van de Lande e Zadocks
e bactérias foram frequentemente, mas (1999), após avaliação epidemiológica
nem sempre, observados em lesões ne- espacial de palmares com sintomas seme-
cróticas nas folhas. Entretanto, não foram lhantes ao do AF no Suriname, concluíram
constatados fora das lesões ou em tecidos que a doença era causada por um fitopa-
vasculares das plantas com AF ou em te- tógeno e disseminada pelo vento.
cidos de plantas aparentemente sadias.
Replantio
Com frequência, foram verificadas tiloses
obstruindo vasos do xilema das folhas afe- Segundo Van Slobbe (1988), plantas de
tadas. Na região apical do meristema de palma de óleo com AF foram eliminadas e
raízes das plantas doentes, foram detecta- mudas sadias foram replantadas no mes-
das poucas células meristemáticas, e ne- mo local. Após cerca de oito meses, as no-
nhum sinal de necrose ou apodrecimento vas plantas manifestaram os sintomas de
pôde ser observado. AF, mostrando a inviabilidade do replantio
na área onde foi detectada a doença.
Epidemiologia
Em virtude da complexidade da doen-
ça, Bergamin Filho et al. (1998) e Laranjeira Rouguing
et al. (1998) realizaram testes epidemioló-
Segundo Van Slobbe (1991), com o
gicos.
objetivo de diminuir ou acabar com a dis-
A partir de dados fornecidos pela seminação da doença no plantio, plantas
Denpasa (Dendê do Pará S.A.), os pesqui- com AF foram eliminadas em V a partir da
sadores concluíram que o AF é de natureza planta com AF ao longo do vento na ten-
abiótica, pois verificaram que não houve tativa de conter a doença, já que o autor
um padrão definido, tanto para o apare- observou que o AF se disseminava a partir
cimento quanto para o crescimento de do foco sob influência do vento. Também
focos. Além disso, não perceberam uma não foi observado resultado efetivo da
direção preferencial de disseminação, e o medida.

158 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
Transmissibilidade pela semente Suriname; e El Castillo, na Nicarágua. Em
outros locais, a primeira cultura foi a da ba-
Van Slobbe (1991) levantou a hipótese nana, como é o caso das plantações em
de um possível agente patogênico causa- Santo Domingo, no Equador, em Sixaola,
dor do AF ser transmitido pela semente na Costa Rica e em Cukra Hill, na Colôm-
proveniente de planta doente, pois ob- bia.
servou que muitas plantas de mais de um
metro de altura, que germinaram esponta- O AF foi relatado em áreas cujos solos
neamente, apresentaram sintomas da do- eram constituídos de manchas de areia
ença. Visando estudar essa transmissão, quartzosa intercaladas com manchas de
foram coletadas milhares de sementes de concreções lateríticas no Pará; na Denpa-
32 plantas de palma de óleo portadoras sa, onde também ocorreu o AF, a área era
de AF com 6 e 20 anos de idade. Entre- de várzea alta, sujeita a inundação por
tanto, 19 meses após a germinação, não períodos prolongados de 5 a 6 meses por
foram observados sintomas de AF que evi- ano (VAN SLOBBE, 1991).
denciassem a transmissão. Avaliação foliar
3.2. Estudos visando a uma Viégas et al. (2000) realizaram um es-
possível causa abiótica tudo sobre a concentração dos nutrientes
Solo e nutrição Cu, Fe, Mn e Zn) nas folhas 1 (F1), 9 (F9) e
17 (F17) em palmares Tenera sadios e com
Van Slobbe (1988) relata que o PC e/ou AF e no híbrido resistente (Elaeis oleifera x
AF ocorre em diferentes tipos de solo nos E. guineensis) na área da Denpasa, onde
vários locais onde o problema existe: na foram selecionadas quatro plantas por tra-
área de Santo Domingo, no Equador, os tamento. Com base nos dados do ensaio,
solos são vulcânicos jovens; em Bajo Ca- os autores sugeriram que os micronutrien-
lima e La Arenosa, na Colômbia, são alu- tes Cu, Zn, Mn, e Fe sejam os responsáveis
viais e pesados; no Suriname e no Brasil, pelo aparecimento do amarelecimento
são lateríticos e arenosos. O pH desses so- fatal na palma de óleo e relataram a ne-
los varia de 4 a 7, enquanto a pluviosidade cessidade de aprofundar a pesquisa sobre
anual é de cerca de 1.600 mm na Code- a interação entre os nutrientes e o amare-
pa (Amapá, Brasil) e cerca de 6.000 mm lecimento fatal (Tabela 3).
em Bajo Calima (Colômbia). Em algumas
localidades onde ocorre o AF, a palma de
Evolução de sintomas do AF em
óleo é a primeira cultura após a derrubada adubações com omissão de macro
da floresta. Entre elas, estão a Denpasa e e micronutrientes
o projeto piloto Socfinco, no Amazonas, Silveira et al. (2000) compararam os
Brasil; o Shushufindi e o Palmoriente, no efeitos da adubação com e sem omissão
Equador; Victória, Phedra e Patamaca, no de nutrientes sobre a evolução dos sinto-

Tabela 3 – Concentração de nutrientes em diferentes folhas de plantas de palma de


óleo dos tipos Híbrido e Tenera (g kg-1) Fonte: Viégas et al. (2000)
Folha 1 Folha 9 Folha 17
Tipos
Cu Fe Mn Zn Cu Fe Mn Zn Cu Fe Mn Zn
Híbrido 9 46,6 59,6 18,6 5,7 65,3 90,3 14,0 5,2 70,0 152,3 11,0
Tenera 4,6 37,3 46,3 16,3 4,1 64,6 135,5 15,3 4,1 61,0 177,5 13,6

Produção e Manejo Sustentáveis para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia | 159


mas do AF na palma de óleo Tenera (IRHO) os autores, a deficiência de Fe pode ocor-
de 4 anos de idade, em solo caracterizado rer em solos nas seguintes condições:
como latossolo amarelo de textura média
- baixo teor de Fe total;
e em clima do tipo Af.
- altas concentrações de P, Ca, Mg, Cu,
Os autores observaram uma tendên- Mn e Zn;
cia de recuperação das plantas nos trata-
- pH elevado;
mentos com omissão de macronutrientes
semelhante ao tratamento de adubação - pH baixo – acúmulo de Mn+2 no solo
completa, com exceção de Ca e S, em inibe a absorção de Fe-;
que houve uma certa estabilidade dos - deficiência de K;
sintomas. A omissão de micronutrientes - variação genética.
evoluiu para um aumento quase generali-
zado dos sintomas do AF, exceto para zin- Altos níveis de P no substrato podem
co. Houve uma evolução pronunciada na insolubilizar o Fe no solo e precipitá-lo na
omissão de B e Cu, sendo que a de Cu se superfície das raízes, nos espaços interce-
destacou mais. No tratamento com formu- lulares e no xilema, causando o apareci-
lação completa, observou-se uma tendên- mento de sintomas de deficiência de ferro.
cia de recuperação das plantas com AF. Diante disso, os autores aplicaram solução
Foi sugerida a adubação foliar das plantas de sulfato ferroso na dosagem de 50 ml
com formulação completa, com exceção por palmeira via absorção pela raiz primá-
de N e P, para a área estudada. ria, com base na metodologia de Mariau e
Genty (1992). A raiz foi cortada perpendi-
Influência do micronutriente ferro cularmente e imersa no saco plástico com
Viégas et al. (2000) cogitaram a possibi- a solução, com diferentes. Após 120 dias,
lidade de o AF ser causado pelo desequi- observou-se que não houve nenhuma
líbrio fisiológico provocado pela falta ou redução de sintomas nas plantas tratadas
excesso de nutrientes ou pela interação com sulfato ferroso.
negativa entre os mesmos, podendo ser
ocasionado pela falta de oxigênio no solo. Influência das propriedades
O encharcamento temporário, decorrente físicas do solo
da presença de uma camada compactada Silveira et al. (2000), estudando as
que ocorre entre 20 cm e 50 cm, pode pro- propriedades físicas e químicas do solo
vocar a anoxia em períodos determinados, com relação à ocorrência do AF, verifica-
o que, provavelmente, ou transforma o Fe ram a presença de um adensamento ou
por oxidação, ou o elemento é fortemen- compactação entre as profundidades de
te adsorvido, tornando-se indisponível 30 e 60 cm, assim como a ocorrência de
para as plantas. mosqueados na transição do horizonte A
Assim, com base nos resultados obti- para o horizonte B (30 a 60 cm de profun-
dos, foram observados teores de Fe mais didade) nas parcelas B2A, B3B, 64C, 97B,
elevados nas folhas 1, 9 e 17 quando com- mostrando a saturação do solo na camada
parados com os teores da Tenera com ou superficial no período de maior precipita-
sem AF. Os autores realizaram ensaio em ção pluviométrica do ano.
um plantio de palma de óleo Tenera de 4 A saturação do solo com água, nesse
anos, no qual o solo era um latossolo ama- período, acarreta a deficiência de oxigê-
relo de textura média, com características nio na camada superficial do solo, sendo
ácidas, pobre de bases trocáveis e com prejudicial à palma de óleo por ser plan-
baixo teor de fósforo assimilável. Segundo ta com dominância do sistema radicular

160 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
distribuído horizontalmente, próximo à po. Ressaltou-se a baixíssima saturação de
superfície do solo. bases (V%) e o baixo teor de Mg em todas
as amostras. A proporção entre Ca e Mg,
A análise e a interpretação dos resulta-
com valores desejáveis na faixa de 2,8 a
dos obtidos referentes às propriedades físi-
33, também foi bastante desequilibrada,
cas de solos cultivados com palma de óleo
apresentando-se entre 3 e 12. Além disso,
nas áreas de surgimento do AF revelaram a
Bernardes (2001) também constatou uma
ocorrência de uma camada mais adensa-
tendência de as plantas mais doentes
da (compactada), principalmente nos hori-
estarem localizadas em solos com maior
zontes AB e BA, evidenciada pelos valores
saturação de alumínio, menor saturação
mais altos de densidade aparente. Isso
de bases e maior teor de manganês. O
leva a uma diminuição da macroporosida-
autor ressaltou que é pouco provável que
de, provocando a saturação das camadas
os altos teores de alumínio e ferro, encon-
superficiais do solo no período de maior
trados nas raízes e radicelas dos palmares
precipitação pluviométrica. A saturação do
da Denpasa, sejam os causadores do mal,
solo com água durante esse período pode
pois raízes de palmares plantados na Esalq
acarretar uma deficiência de oxigênio ao
em terra roxa também possuem condições
sistema radicular das plantas, ocasionan-
semelhantes.
do, como consequência, o apodrecimento
de raízes. Esse fato pode induzir o apareci- Com relação a água no solo e drena-
mento de algum tipo de sintoma aéreo, na gem, o potencial de água no solo (força
forma de amarelecimento. com que a água é retida no solo), medi-
do por tensiômetro no mês de março de
Os resultados obtidos nesse estudo,
1999, foram constatados valores de baixa
segundo o autor, não permitiram estabe-
aeração, sendo os valores entre 0 e 0,075
lecer uma relação com o AF, embora teo-
bar indicadores de baixa aeração para a
ricamente existam probabilidades de que
planta, e entre 0,075 e 0,30 bar valores
essa hipótese seja aceita. O autor sugere
mais adequados. Bernardes (2001) ressal-
a continuidade dos estudos referentes aos
ta que plantas mantidas em baixa aeração
efeitos das propriedades físicas do solo.
podem favorecer a incidência de molés-
Bernardes (2001) analisou áreas de tias de raiz e, além disso, essa é uma situa-
plantio da Denpasa quanto a fertilidade, ção que desfavorece o efeito corretivo de
nutrição foliar e compactação do solo. Na aplicações no solo com calcário e gesso.
parcela 76d, com alta incidência de AF, fo-
Quanto ao peso seco das raízes, obti-
ram constatados altos teores de nutrientes
do de bloco de solo de 40 cm x 20 cm x
na folha, principalmente fósforo, potássio,
20 cm = 16 dm3, verificou-se uma quanti-
enxofre, cálcio e magnésio, apontando
dade inferior (8,1g) àquela esperada pela
como indicador a improbabilidade da cau-
dimensão da parte aérea, comparando-se
sa do AF ter origem na deficiência ou de-
com as plantas sem AF (16g).
sequilíbrio nutricional, embora as demais
parcelas vizinhas tenham tido os mesmos Diante do quadro avaliado, Bernardes
tratos culturais. Observou-se a inexistência (2001) não chegou a nenhuma conclusão,
de gradiente claro dos sintomas, na plan- mas levantou algumas hipóteses e postu-
ta ou no terreno, gradiente este típico de lou que a causa primária do AF está na da-
deficiências nutricionais ou de toxidade. nificação do sistema radicular das plantas
Quanto ao solo, foram percebidos indícios e que os danos podem ser de origem quí-
de que o pH decresce e os teores relativos mica, física, biológica ou da combinação
de alumínio (m%) aumentam com o tem- dessas, sendo todas predisponentes ao

Produção e Manejo Sustentáveis para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia | 161


aparecimento do AF. No caso de origem
química, foi levantada a hipótese de de-
ficiência de algum elemento favorecido
4. Resistência
pela anaerobiose do solo, como o nitrito. Híbrido Interespecífico
A drenagem deficiente também poderia
reduzir a nitrificação do nitrogênio orgâ- No gênero Elaeis, existem duas espé-
nico do solo, causando deficiência de ni- cies com interesse agronômico: E. guine-
trogênio, cujo sintoma mais comum é o ensis, ou palma de óleo africana, e E. olei-
amarelecimento das folhas. fera, ou caiaué (ou, ainda, palma de óleo
americana). Segundo Barcelos et al. (1987),
Em suas análises realizadas a partir de a espécie africana é a oleaginosa de maior
tecidos das plantas (raízes e folhas), Ber- produtividade, alcançando até 7 toneladas
nardes (2001) não conseguiu demonstrar de óleo por hectare, enquanto, de acordo
associação evidente entre alguma de- com OOI et al. (1981), a segunda espécie
sordem nutricional e o AF. Além disso, o alcança somente 25 % desse valor.
pesquisador afirmou que há indícios de
Hartley (1988) salientou a importância
que o AF aparece mais intensamente no
da E. oleifera, conhecida pelo nome co-
final do período chuvoso. No momento
mum de caiaué, que apresenta resistên-
em que os sintomas aparecem pelo ama-
cia em áreas com AF, para o programa de
relecimento da folha flecha, o sistema ra-
melhoramento genético quando cruzada
dicular já está bastante prejudicado, o que com E. guineensis, originando um híbrido
inviabiliza qualquer tentativa de controle interespecífico. Então, foram iniciados os
via adubação do solo. O autor ressaltou procedimentos com o programa de me-
que a compactação da camada superficial lhoramento e, recentemente, obteve-se
dos solos da empresa Palmas aparente- um híbrido com resistência ao AF. Estu-
mente é maior que os da Denpasa, pelo dos realizados por Durand-Gasselin et al.
menos nas entrelinhas em que ocorre o (2005) também indicaram que a E. oleifera
trânsito de máquinas, e não ocorre AF na- tem fonte de resistência ao fungo Gano-
quela área. Assim, a compactação do solo, derma sp e à fusariose.
isoladamente, não poderia ser associada
ao AF. Entre os maiores problemas do híbrido
interespecífico estão a baixa fertilidade
Bernardes (2001), então, sugeriu que a do pólen, que pode ser parcialmente re-
falta de resposta das plantas às aplicações solvida pela polinização assistida, e a alta
de nutrientes via solo se deve ao fato de variabilidade da fertilidade feminina, gran-
o sistema radicular já estar bastante danifi- demente responsável pela baixa taxa de
cado no início do aparecimento do AF. extração de óleo de híbridos.
Rodrigues et al. (1999, 2000) também
relataram que camadas compactadas po-
dem ter levado ao esgotamento tempo-
rário de oxigênio durante o período de 5. Fatos conhecidos
maior precipitação pluviométrica e suge-
riram o uso de subsolagem profunda, a
a respeito do
eliminação de plantas como a puerária, AF relacionados
para permitir a evapotranspiração, e a re-
alização de uma rede de drenagem para
por diferentes
remover o excesso de água. pesquisadores

162 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
Diante os vários estudos realizados 13. Há evidências de que a matéria orgâni-
desde o aparecimento do AF, os pesquisa- ca exerce um efeito positivo na recupera-
dores levantaram fatos importantes sobre ção das plantas afetadas, dependendo do
essa doença. São eles: cruzamento.
1. A princípio, os casos de AF ocorreram 14. Há resistência genética ao AF da E.
ao acaso e, durante vários anos, verificou- oleifera e seus híbridos > IRHO > PNG.
se um crescimento linear no número de
15. Não foi possível completar o postulado
casos de AF até atingir 2 a 3% de plantas.
de Koch para o AF.
A partir daí, o crescimento de casos foi ex-
ponencial. 16. Há evidências claras de que o AF seja
fatal. As cultivares HBN e MSR são mais
2. A agregação de plantas com AF ocorreu
suscetíveis ao AF e sucumbem com maior
com o número de casos superior a 3%.
facilidade.
Crescimento mais que exponencial ocor-
reu após 15 anos. 17. Há correlação entre um menor desen-
volvimento radicular e a incidência de
3. Não há correlação com o tipo de solo.
AF. Aparentemente, o problema radicular
4. Não há uma correlação com o excesso ocorre antes da manifestação dos sinto-
de água no solo. mas de AF na parte aérea.
5. Recuperação natural ou remissão dos
sintomas é possível, mas o restabeleci-
mento é raro.
6. Considerações
6. Aparentemente, há uma correlação
positiva com a chuva, mas não foram ve-
finais
rificadas ocorrências de AF em regiões de O AF continua sem causa esclarecida,
déficit hídrico, no caso brasileiro. e existe a necessidade de continuação
7. O crescimento do problema não é di- da investigação. Diante dessa revisão de
recional, não havendo correlação com o artigos científicos e, principalmente, de
vento. Esse aspecto merece mais conside- relatórios elaborados pelos pesquisadores
rações. que investigaram o AF, foi possível elabo-
rar novas hipóteses, que estão sendo in-
8. Curvas temporais e espaciais não são vestigadas pela equipe de pesquisadores
típicas de causas bióticas. da Embrapa e de outras instituições.
9. Não há gradiente claro dos sintomas, o Esse novo projeto de pesquisa “Estudo
que seria típico de deficiências nutricio- do Amarelecimento Fatal do dendezeiro
nais ou de toxidade. Há casos de plantas (Elaeis guineensis Jacq.) e estratégia de
totalmente sadias ao lado de plantas do- manejo” é de caráter multidisciplinar e
entes. conta com pesquisadores das áreas de
10. Palmeiras de todas as idades são sus- fitopatologia, entomologia, fisiologia ve-
cetíveis ao AF. getal, genômica, biotecnologia, sensoria-
mento remoto, solos, botânica e química.
11. A incidência de AF é mais acelerada em
áreas de replantios. Segundo estudos prévios da Embrapa
Amazônia Oriental, a doença AF pode es-
12. Palmas afetadas continuam a frutificar, tar associada às condições edafoclimáti-
mas em escala mais reduzida. cas (VENTURIERI, et al. 2009).

Produção e Manejo Sustentáveis para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia | 163


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Produção e Manejo Sustentáveis para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia | 165


166 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
PARTE 2
Capítulo 11

A cultura da palma de óleo como


âncora do desenvolvimento da
agricultura familiar na Amazônia
Ocidental1
Edson Barcelos e Mauricio Veloso Soares

é uma forma de combater as atividades ilí-


1. Antecedentes citas e assegurar a presença nacional nos
mais de 10 mil km de faixa de fronteiras,
A atividade produtiva na Amazônia tem de baixa presença brasileira e de raríssi-
tradicionalmente se caracterizado pelo ex- mas atividades econômicas.
trativismo e pela agricultura itinerante. O A cultura da palma de óleo é uma das
extrativismo, dada a maior pressão sobre mais importantes atividades agroindus-
os recursos naturais advinda do aumen- triais das regiões tropicais úmidas (Malásia,
to da população, da falta de consciência Indonésia, Colômbia, etc.), podendo de-
ecológica e da ausência de compromisso sempenhar papel ainda mais significativo
com as gerações futuras, tem deixado como fonte de insumo energético (óleo
marcas profundas, características do extra- vegetal/biodiesel). Constitui excelente
tivismo madeireiro predatório e da pesca e atividade geradora de ocupação e renda
caça sem qualquer controle. A agricultura no meio rural para o caso da Amazônia,
itinerante, praticada por mais de 700 mil substituindo, assim, as atividades tradicio-
famílias de pequenos agricultores, consti- nais, comprovadamente pouco rentáveis,
tui o mecanismo silencioso dos pequenos mal implementadas e ambientalmente in-
desmatamentos, invisíveis aos instrumen- sustentáveis. O cultivo da palma de óleo é
tos de controle, porém capazes de causar capaz de absorver e neutralizar a mão de
grandes prejuízos à floresta e nenhuma obra hoje envolvida em tais atividades.
riqueza e promoção social à sociedade
amazônida. Por suas características de cultivo pere-
ne, é uma cultura com forte apelo ecoló-
Assim, o desenvolvimento de ativida- gico que apresenta baixos níveis de agres-
des produtivas, econômica, social e ecolo- são ambiental, se adapta a solos pobres,
gicamente viáveis na região de fronteiras protegendo-os contra a lixiviação e erosão,
da Amazônia é hoje uma real necessida- e imita a floresta tropical, sendo perfeita-
de e um grande desafio para a sociedade, mente adequada ao aproveitamento de
para as instituições de desenvolvimento
regional, para as instituições de pesquisa 1
Projeto apoiado com recursos financeiros do MCT/FINEP/
e, portanto, para o Governo Brasileiro, pois CT-Amazônia.

Produção e Manejo Sustentáveis para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia | 167


áreas já alteradas da Floresta Amazônica, rural, notadamente na Amazônia Ociden-
pois tem capacidade de contribuir para a tal, reduzindo os problemas de desigual-
restauração do balanço hídrico e clima- dades regionais, pobreza e êxodo rural.
tológico, atuando significativamente na
Nesse contexto, o Programa Brasi-
reciclagem e sequestro de carbono e na
leiro de Biodiesel, que visa à produção
liberação de oxigênio.
descentralizada e à incorporação desse
Adicionalmente, a palma de óleo é combustível à matriz energética brasileira,
tida como uma das poucas opções agrí- representa não só uma opção político-
colas para a Amazônia, pois conta com estratégica face à crescente instabilidade
tecnologia disponível e comprovada via- das economias do petróleo, mas também,
bilidade técnica, econômica, social e eco- além de ser uma opção renovável e sus-
lógica, além de mercado em larga escala, tentável, oferece a real e grande possibi-
o que pode tornar realidade o desenvol- lidade de geração de postos de trabalho
vimento sustentável com ganhos ambien- com remuneração decente, tão reclama-
tais indiretos, econômico e expressivo dos pela sociedade e, em especial, pela
progresso social. população rural brasileira. Essa iniciativa
complementa diversos outros estudos em
Entretanto, torna-se imprescindível a
execução, mais tecnológicos do ponto de
implantação de programas capazes de
vista de obtenção do biodiesel, ou de ou-
evidenciar tais características, pois se res-
tras formas de uso energético dos óleos
sente da falta de bons projetos, principal-
vegetais, dos quais muito se beneficiará.
mente aqueles em pequena escala, com
real capacidade de geração de ocupação
e renda, produção de insumo energético
para uso local pelas comunidades, com
garantia de sustentabilidade e, sobretudo, 2. A experiência do
de elevada rentabilidade, imprescindível Alto Solimões: o plantio
para assegurar a promoção social das fa-
mílias participantes do processo. de palma de óleo por
Hoje, em face da previsão de elevação agricultores familiares
dos preços do petróleo e da crescente de Benjamin Constant
pressão da opinião pública contra as emis-
sões de gases do efeito estufa (CO²), são – Atalaia do Norte /
indiscutíveis a necessidade e as possibi- Amazonas
lidades de utilização em larga escala de
fontes alternativas renováveis de energia, 2.1. Objetivo
menos poluentes e prejudiciais ao meio
O Projeto, de caráter de validação de
ambiente, como a energia proveniente da
tecnologias da EMBRAPA, tem como fi-
biomassa.
nalidade principal avaliar e demonstrar,
A real possibilidade técnica e econômi- em escala comercial, a viabilidade e a
ca de uso dos óleos vegetais como insu- sustentabilidade da cultura da palma de
mo energético para substituição do diesel óleo como atividade de geração de renda
representa para o Brasil, além da perspec- para a agricultura familiar voltada para a
tiva de melhorar sua matriz energética, produção de óleo vegetal como insumo
uma necessária e concreta oportunidade energético/biodiesel a ser utilizado em
de geração de ocupação e renda na zona comunidades isoladas da Amazônia.

168 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
Assim, os esforços têm por objetivo levantamento e caracterização do padrão
implantar um Projeto Demonstrativo com socioeconômico das famílias de agriculto-
a cultura da palma de óleo como ativida- res familiares, candidatos a participarem
de âncora para a viabilização da peque- do referido projeto. A proposta será efetuar
na propriedade agrícola, com a efetiva periodicamente novos levantamentos para
participação de agricultores familiares. A avaliar os impactos socioeconômicos ou
área do projeto está situada na região da os benefícios aportados pelo projeto, em
tríplice fronteira entre Brasil/Peru/Colôm- especial após seu ponto de maturação eco-
bia, com a participação de agricultores nômica, ou seja, após estabilização de sua
familiares utilizando áreas alteradas ou produção, no sétimo ano depois do plantio
de agricultura itinerante localizadas nos da cultura principal – a palma de óleo.
municípios de Benjamin Constant/AM e
O uso do óleo vegetal a ser produzi-
Atalaia do Norte/AM.
do para transformação em biodiesel está
2.2. Configuração do projeto previsto para consumo na geração local
de energia. Não obstante, não descarta
O projeto é uma iniciativa da Embra-
outras possibilidades, considerando ha-
pa Amazônia Ocidental e da Diocese do
ver tempo hábil para a tomada de de-
Alto Solimões/AGROSOL, apoiados pelo
cisão, já que a produção da plantação,
Governo do Estado do Amazonas/IDAM
em escala, iniciará somente a partir de
e pelas Prefeituras Municipais de Benja-
2011/2012.
min Constant e de Atalaia do Norte/AM.
O projeto encontra-se em implantação, Uma nova proposta está sendo elabo-
estando a 1ª e a 2ª etapas em execução, rada sob encomenda da FINEP/CT-Ama-
com recursos assegurados pelo MCT/FI- zônia para financiamento da 3ª etapa,
NEP/CT-Amazônia. assegurando, assim, a continuidade do
projeto. Para a execução da 4ª etapa, re-
O projeto está dividido em quatro etapas:
lativa à indústria de extração e processa-
1) implantação da cultura; mento de óleo/biodiesel, certamente a de
custo mais elevado, serão buscados recur-
2) manutenção do plantio e acompa-
sos no FINEP/MCT/CT-Amazônia; também
nhamento;
existe a possibilidade de contar com a
3) elaboração dos projetos técnicos e complementação de recursos do Governo
de engenharia da usina de extração do Estado do Amazonas, do Ministério da
de óleo e de licenciamento ambien- Integração Nacional, do Banco da Ama-
tal (unidade de extração de óleo e zônia, do Banco do Brasil, da Superinten-
geração de energia, licenciamento dência da Zona Franca de Manaus (SUFRA-
ambiental da unidade e licenciamen- MA), da Agência de Fomento do Estado
to ambiental das propriedades fami- do Amazonas (AFEAM), de agências de
liares, aquisição de equipamentos / desenvolvimento regional, entre outros.
infraestrutura de apoio ao projeto);
O Instituto Nacional de Colonização e
4) implantação da unidade industrial: Reforma Agrária (INCRA), o Instituto Terras
extração de óleo, beneficiamento do Amazonas (ITEAM) e as Prefeituras Mu-
(biodiesel, craqueamento ou kit mul- nicipais deverão atuar na regularização da
ticombustível). situação fundiária das áreas beneficiadas
Deu-se início à execução do projeto e na melhoria da infraestrutura dos Proje-
com a aplicação de um questionário para tos de Assentamentos de Crajari, Umarizal
e Boia.

Produção e Manejo Sustentáveis para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia | 169


O Governo do Estado do Amazonas e Os municípios de Atalaia do Norte e
as Prefeituras deverão fornecer e manter Benjamin Constant, ambos no vale do Rio
a infraestrutura social: estradas, escolas, Javari, são as duas sedes municipais na
saúde, eletrificação rural, assistência médi- área de abrangência do projeto e distam
ca e social. O Instituto de Desenvolvimen- uns 50 quilômetros de Tabatinga, principal
to Agropecuário do Estado do Amazonas polo regional do Alto Solimões.
(IDAM) deverá assegurar a assistência téc-
Conjuntamente, as duas sedes munici-
nica, em comum acordo com a Embrapa,
pais contam com 31.195 habitantes (dados
para cultivos intercalares e outras ativida-
de 2009, segundo o IBGE) e apresentam
des complementares. O Banco da Amazô-
um consumo atual de cerca de 5,5 milhões
nia, o Banco do Brasil e a AFEAM deverão
de litros anuais de biodiesel, quantidade
assegurar a alocação de crédito para tais
muito superior à que deverá ser produzida
cultivos. A Embrapa é a fornecedora de se-
pelo projeto – em torno de 2,5 milhões de
mentes e de tecnologia agronômica para
litros anuais. Ou seja, todo o biodiesel a
a cultura da palma de óleo.
ser produzido poderá ser adquirido pela
2. 3. Localização geográfica concessionária de geração e distribuição
de energia nos municípios.
A área de 500 ha de plantio de dendê
está distribuída na base de 5 hectares de 2.4. Aspectos socioeconômicos
plantio por propriedade dos agricultores da região
familiares, localizada ao longo da Rodovia
O município de Atalaia do Norte ocu-
BR 307 (no trecho entre Benjamin Cons-
pa uma área de 76.355 km2. A população
tant e Atalaia do Norte), e nos Projetos de
do município, estimada em 2007 pelo Ins-
Assentamento do INCRA de Crajari, Umari-
tituto Brasileiro de Geografia e Estatística
zal e Boia (Figura 1).
(IBGE), era de 13.682 habitantes, dos quais

Figura 1 – Localização geográfica do projeto ao longo da BR 307 (Imagem CIBERS-2B,


obtida em 06/09/2009, cedida pelo INPE)
Rio Javari

Atalaia do Norte Benjamin Constant


Assentamento do
Umarizal INCRA

Rio Solimões
Usina Biodiesel
(localização proposta)
Assentamento do
Bóia INCRA
Rodovia BR 307

Assentamento do
Crajari INCRA

170 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
cerca de 40% viviam na zona rural em 37 voltada exclusivamente para o consumo
comunidades, sendo 15 ribeirinhas e 22 in- local em ambos os municípios e é basea-
dígenas. O IDH-M está em torno de 0,559. da principalmente nos cultivos temporários
(mandioca, arroz, feijão, batata-doce, milho
Benjamin Constant ocupa uma área
e melancia) e, em menor proporção, nos
de 8.793 km2. A população estimada para
cultivos perenes e semiperenes (banana,
2007 foi de 29.268 habitantes, segundo
abacate, abacaxi, laranja, limão, cupuaçu e
dados do IBGE, com 39% vivendo na zona
pupunha (Figura 2).
rural em 59 comunidades, sendo 39 ribei-
rinhas e 20 indígenas. O IDH-M está em A horticultura é pouco desenvolvida
torno de 0,640. e explorada de forma empírica através
do cultivo de verduras e legumes (cou-
O PIB de Atalaia do Norte a preço de
ve, cheiro-verde, alface, tomate, pepino,
mercado corrente, em 2002, foi de R$
quiabo, pimentão), voltando-se apenas,
21,495 milhões. No mesmo ano, Benjamin
de modo insuficiente, para o consumo
Constant registrou um PIB de R$ 55,372
doméstico. O cultivo de frutas regionais
milhões.
(abiu, cubiú, mapati, pupunha, sapota,
A economia de ambos os municípios é fruta-pão, araçá-boi, mari, sorva, camu-
lastreada nas atividades do setor primário, camu) apresenta bom potencial, mas é
com destaque para o extrativismo e a agri- apenas incipiente no presente.
cultura. O extrativismo vegetal na região
A pecuária é muito elementar e de bai-
está baseado principalmente na extração
xíssimo rendimento, constituída apenas
da madeira e é a atividade que emprega
de bovinos e suínos, sem destaque eco-
maior quantidade da mão de obra, dis-
nômico e atendendo apenas parcialmente
pondo de boa infraestrutura para o bene-
o mercado local (Figura 3). A avicultura é
ficiamento local de madeira, com serrarias
caracterizada como atividade tipicamente
e movelarias.
doméstica (galinhas e ovos) e o abasteci-
As atividades madeireiras apresentam mento para o consumo local é feito a partir
um estado de semi-
funcionamento, devi-
do ao baixo número
de projetos legaliza-
dos de extração e ma-
nejo. Dados do IBGE
registram para o ano
de 2000 a extração
de cerca de 40.844
m3 de madeira em
tora no município de
Benjamin Constant.
Outros produtos de
extrativismo, em me-
nor importância, são
a borracha e gomas
não-elásticas.
A agricultura tem Figura 2 – Plantio de palma de óleo em área de milho na
toda a sua produção propriedade do Sr. Nazareno

Produção e Manejo Sustentáveis para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia | 171


Figura 3 – Plantio de palma de óleo em área cia do Bradesco, os quais, tendo em vista
de pastagem na propriedade do Sr. Sinei a proximidade das sedes municipais e a
(Foto: Edson Barcelos) rodovia asfaltada, atendem eficientemen-
te os dois municípios.
2.5. Fornecimento de energia
elétrica
A geração de energia elétrica nas se-
des dos municípios de Atalaia do Norte e
Benjamin Constant é de responsabilidade
da Companhia Energética do Amazonas
(CEAM), empresa federalizada ligada à
Eletrobrás, e consiste exclusivamente de
Unidades Termoelétricas (UTEs) movidas
a óleo diesel.
Nas comunidades rurais de ambos os
municípios, o suprimento de energia elé-
trica, quando existe, se dá pela utilização
de pequenos grupos geradores a diesel e,
em alguns casos, adota-se energia solar
para pequenas demandas.
Para o escopo do projeto, qual seja o
de frango congelado adquirido no merca- fornecimento de biodiesel, dar-se-á ênfa-
do de Tabatinga e oriundo do sul do País. se apenas às sedes municipais, as quais
apresentam, hoje, uma demanda muito
A pesca é a principal atividade, sen- além do volume a ser ofertado inicialmen-
do o peixe a fonte de proteína de toda te pelo projeto.
a região do Alto Solimões. Praticada ar-
tesanalmente nos municípios em ques- O parque de geração de energia de
tão, tem pouca participação na econo- Atalaia do Norte está composto por um
mia formal. Notadamente em Benjamin grupo gerador de 800 kW e 3 grupos ge-
Constant, a piscicultura foi incentivada e radores 240 kW de potência nominal cada,
hoje representa atividade rentável e pro- totalizando 1.520 kW de capacidade insta-
missora, com assistência técnica pública lada. A ponta de carga é de 600 kW. Em
e produção local de alevinos. A produção 2006, o consumo de diesel foi de 1.074
é destinada aos mercados de Tabatinga, toneladas/ano, com previsão de se consu-
Letícia e Manaus. mir 2.302 toneladas de diesel em 2014, só
na geração de energia.
Os setores secundário e terciário são
representados por indústrias simples, Em Benjamin Constant, a unidade de
como olarias e serrarias, pouco ativas de- geração de energia elétrica conta com
vido à limitação de oferta de madeira le- dois grupos geradores de 1.500 kW, um
galizada. Também há poucas padarias. O de 1.400 kW, um de 1.100 kW, um de 1.000
comércio e os serviços se resumem a um kW e um de 630 kW, totalizando 7.130 kW
razoável número de varejistas e poucos de capacidade nominal instalada. A ponta
atacadistas em geral. Nos municípios, há de carga é de 2.150 kW. O consumo de
um posto do Banco do Brasil e uma agên- combustível, em 2006, foi de 3.641 tone-

172 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
ladas de diesel/ano, devendo chegar a sel. Ou seja, o projeto poderá atender até
7.805 t de diesel/ano em 2014 só na gera- 20% da demanda de combustível no ano
ção de energia. de 2014.
No total, somando-se Benjamin Cons- Enquanto isso, ainda em 2014, só o
tant e Atalaia do Norte, a previsão é que município de Tabatinga, distante de Ben-
serão consumidas 10.107 toneladas de jamin Constant cerca de 30 km em linha
diesel só na geração de energia em 2014, reta, estará consumindo 23.340 toneladas
ano em que o projeto em implantação de combustível para atender seu parque
estará em seu pique de produção máxi- de geração de energia. Em resumo, mer-
ma, de 2.160 t de óleo de dendê/biodie- cado não será limitação para a futura pro-
dução de óleo do projeto.
Figura 4 – Aclimatação de mudas de 2.6. Estrutura do Projeto
palma de óleo em pré-viveiro instalado na
área do projeto (Foto: Edson Barcelos) 2.6.1. Agrícola
O projeto conta com cerca de 110 fa-
mílias de agricultores, sendo que cada
uma delas recebe apoio para o plantio
de cinco hectares de palma de óleo. Esse
apoio é traduzido em: fornecimento das
mudas prontas para o plantio (Figura 4);
uma soma de recursos financeiros na
base de R$ 1.000,00/hectare para o prepa-
ro da área e plantio das mudas; e adubos
para adubação das covas no momento do
plantio (Figuras 5 e 6). Toda a assistência

A B

Figura 5 – Instalação da cultura de palma de óleo na área do projeto


(a e b - Foto: Edson Barcelos; c - Foto: Pedro Freitas)

Produção e Manejo Sustentáveis para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia | 173


Figura 6 – Cultura de palma de óleo instalada
A na área do projeto
(a e b – Fotos: Edson Barcelos)

técnica para a cultura da palma de óleo de Desenvolvimento Agropecuário e Flo-


é assegurada por três profissionais com restal Sustentável do Amazonas (IDAM),
dedicação exclusiva ao projeto (um en- órgão de assistência técnica e extensão
genheiro agrônomo e dois técnicos agrí- rural oficial do estado.
colas), treinados e apoiados pela equipe
Durante a fase de desenvolvimento da
técnica da Embrapa Amazônia Ocidental/
cultura da palma de óleo, o projeto asse-
Manaus.
gurará a continuidade da assistência téc-
Durante a fase jovem e improdutiva nica, o pagamento mensal de uma ajuda
da cultura da palma de óleo, os agricul- aos agricultores de R$ 200,00/família/mês
tores são incentivados a aproveitar as e o fornecimento dos fertilizantes para a
entrelinhas com cultivos anuais (cultu- cultura do dendê. A ajuda financeira men-
ras alimentares: mandioca, arroz, milho, sal será paga mediante o cumprimento de
feijão, batata, melancia, abacaxi, etc.) e compromissos pactuados entre os agricul-
semiperenes (maracujá, banana, etc.), tores e a equipe técnica, assegurando a
como forma de obter alguma renda inicial realização dos tratos recomendados para
e auxiliar na manutenção das áreas livres a cultura da palma de óleo.
das invasoras (Figura 7). Para os cultivos
Vale ressaltar que todo o apoio admi-
intercalares, a assistência técnica e as se-
nistrativo, gerencial e político-social con-
mentes são asseguradas pelo Instituto
ta com a imprescindível participação da

174 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
Figura 7 – Consorciação de culturas perenes na fase de implantação da cultura de
palma de óleo (a e b – Foto: Edson Barcelos; c – Foto: Pedro Freitas)

A B

equipe da Diocese do Alto Solimões e da a ser criada, a partir da conclusão dos


Fundação AGROSOL, sob a liderança do plantios das áreas.
Bispo da Diocese, Dom Alcimar Caldas
A produção esperada do projeto, na
Magalhães, principal incentivador do pro-
base de 24 t de cachos/ha/ano na fase
jeto e lutador pelo desenvolvimento social
adulta, no sexto ano após o plantio, será
sustentável da região.
de 12 mil toneladas de cachos nos 500
Assim, todos os agricultores familia- hectares cultivados. Entretanto, a produ-
res participantes serão associados da co- ção e a colheita comercial iniciarão no
operativa e fornecedores de cachos de final do terceiro ano após o plantio, com
dendê para a usina de extração de óleo uma produtividade esperada de 8 t de ca-
prevista no projeto, a qual estará sob a chos/ha já em 2011.
gestão da cooperativa dos produtores

Produção e Manejo Sustentáveis para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia | 175


2.6.2. Usina de extração de óleo Considera-se que a proposta de uso
do óleo na geração de energia, ou seja,
Será instalada uma miniusina de extra- em sistemas estacionários, representa
ção de óleo com capacidade de proces- um ponto favorável na adoção de novas
samento de três toneladas de cachos por tecnologias, como o uso de kits multicom-
hora, suficiente para atender a uma área bustíveis com pré-aquecimento do óleo, e
de 500 hectares de plantios na fase adulta. assim por diante.
A usina de extração de óleo será da co-
operativa formada com todos os agricul- 2.6.4. Resultados econômicos
tores familiares participantes do projeto e previstos
terá gerenciamento profissional, com um A produção anual do projeto esperada
técnico a ser inicialmente contratado e na fase adulta da planta, ou seja, a partir
pago pelo projeto. do sétimo ano após o plantio, consideran-
Para a implantação da miniusina e da do uma produtividade média de 24 t de ca-
unidade de produção de biodiesel, certa- chos/ha/ano, será de 12 mil toneladas de
mente a parte de custos mais elevados do cachos de palma de óleo, que resultarão
projeto, tentar-se-á obter recursos não re- em: 2.160 t de óleo de palma; 240 t de óleo
embolsáveis nas agências de desenvolvi- de palmiste; e 240 t de torta, com aproxi-
mento regional. Caso necessário, conta-se madamente 15% de proteína bruta. O valor
com a possibilidade de buscar recursos de bruto da produção a ser comercializada na
financiamentos bancários, dada a rentabi- forma de óleo e torta, a preços atuais, é da
lidade da atividade. ordem de R$ 5,076 milhões/ano.
2.6.3. Uso energético do óleo / A renda líquida para remuneração da
produção do biodiesel mão de obra familiar dos agricultores parti-
cipantes do projeto, na condição de associa-
O uso energético dos óleos vegetais dos da cooperativa, considerando uma área
tem como via tecnológica mais comum a produtiva de cinco hectares de plantios de
transformação desses óleos em biodiesel palma de óleo com uma produtividade mé-
e sua posterior mistura no diesel, e até dia de 24 t de cachos/ha/ano na fase adulta,
mesmo o uso puro desse combustível está prevista para ser de aproximadamente
nos motores. Essa é a premissa, sobretu- R$ 2.000,00/mês, conforme Tabela 1.
do para o uso veicular dos óleos vegetais,
ou seja, nos motores de caminhões, ôni- A unidade de beneficiamento de ca-
bus, tratores, etc. chos terá gestão autônoma com resulta-
dos operacionais próprios e independen-
Entretanto, tecnicamente existem ou- tes, devendo gerar sobras financeiras que
tras abordagens, que vão desde a queima serão repartidas com os cooperados pro-
do óleo puro nos motores até o emprego porcionalmente ao fornecimento de ma-
de tecnologias para a transformação des- téria-prima, como preconiza a legislação
se óleo em um combustível mais apro- cooperativista. A Tabela 2 discrimina os
priado ao uso nos motores atuais, como o resultados operacionais previstos para o
craqueamento, tecnologia mais adequada funcionamento da usina, com uma sobra
às comunidades isoladas de menor por- operacional de R$ 696.000,00 no sétimo
te, por exemplo. Como existem diversas ano, na fase adulta da plantação, o que
instituições pesquisando essas diferentes representa um adicional à receita líquida
abordagens, o projeto pode contar com o familiar de mais R$ 580,00/família/mês,
avanço tecnológico nessa área e poderá elevando, assim, a previsão de renda líqui-
definir a rota a seguir posteriormente.

176 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
Tabela 1 – Receitas e despesas anuais previstas por agricultor familiar com cinco
hectares de palma de óleo em produção

DISCRIMINAÇÃO 4° ano 5° ano 6° ano 7°ano


Cachos produzidos (toneladas) 60 80 100 120
Gastos com transporte dos cacho s (R$ 25,00/t) 1.500 2.000 2.500 3.000
Gastos com beneficiamento dos cachos (R$ 50,00/t) 3.000 4.000 5.000 6.000
Despesas com adubos (3, 4 e 5 t x R$ 2.200,00/t) 6.600 8.800 11.000 11.000
Produção de óleo (toneladas) 9,6 14,4 18,0 21,6
Receita bruta do cooperado (R$ 2.000,00/t óleo) / R$ 19.200 28.800 36.000 43.200
Receita líquida do cooperado / R$ 8.100 14.000 17.500 23.200

Tabela 2 – Resultado financeiro operacional do funcionamento da miniusina de


beneficiamento da produção de palma de óleo

DISCRIMINAÇÃO 4° ano 5° ano 6° ano 7° ano...


RECEITA 678.000 905.000 1.130.000 1.356.000
Cachos beneficiados (ton.) 6.000 8.000 10.000 12.000
Receita com o beneficiamento dos cachos (R$ 50,00/t) 300.000 400.000 500.000 600.000
Venda de óleo de palmiste (R$ 3.000,00/t) 360.000 480.000 600.000 720.000
Venda de torta de palmiste (R$ 150,00/t) 18.000 25.000 30.000 36.000
DESPESA 660.000 660.000 660.000 660.000
Manutenção e reposição de peças 200.000 200.000 200.000 200.000
01 Gerente Geral / Comercial 120.000 120.000 120.000 120.000
01 Gerente Industrial / Exploração 100.000 100.000 100.000 100.000
12 Operários da Indústria 240.000 240.000 240.000 240.000
Receita Líquida da Usina 18.000 245.000 470.000 696.000

da familiar para mais de R$ 2.500,00/mês, do projeto e da população dos municípios


para cerca de 110 agricultores familiares. envolvidos é muito positiva e esperan-
çosa, assim como a visão dos dirigentes
2.7. Ameaças ao Projeto
políticos locais, apesar do pouco envolvi-
Há diversos aspectos, em sua grande mento e apoio efetivo ao projeto. Como
maioria de cunho político, identificados ameaças reais, pode-se considerar:
como ameaças ao sucesso do projeto,
– eventual ruptura de compromissos dos
uma vez que, na área técnico-agronômi-
parceiros envolvidos por motivos diver-
ca, até o momento, a cultura apresenta
sos, desde suas agendas secretas até
um comportamento acima do esperado.
interesses imediatos não atendidos;
A motivação dos agricultores participantes

Produção e Manejo Sustentáveis para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia | 177


– problemas relacionados com o aces- 2.8. Conclusões
so às áreas dos agricultores familiares
dos assentamentos do INCRA, uni- Os resultados financeiros apresenta-
camente por impraticabilidade das dos e as possibilidades de impactos socio-
estradas de acesso devido à falta de econômicos justificam todos os esforços
manutenção por quem de direito; e o empenho na viabilização do projeto.
O sucesso desse empreendimento pode
– eventual descontinuidade no fluxo de representar um modelo para a viabilização
recursos para assegurar o andamento dos inúmeros projetos de assentamentos
do projeto, o que poderá, inclusive, do Governo Federal existentes no Ama-
levar ao descrédito por parte dos agri- zonas e na Amazônia, hoje considerados
cultores familiares participantes. como problema e não como a solução
preconizada para a melhoria da qualida-
de de vida de milhares de famílias que
acalentaram o sonho da terra própria e da
promoção social de suas famílias.

178 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
PARTE 2
Capítulo 12

Combinação de cultivos florestais com


a cultura da palma de óleo no Estado
do Acre
João Batista Martiniano Pereira, Rodrigo da Silva Guedes,
Edson Alves de Araújo, João Paulo Mastrângelo, Eufran Ferreira do Amaral,
Tadário Kamel de Oliveira e Nilson Gomes Bardales

dadas e subutilizadas no Acre podem ser


1. Introdução aproveitadas para a cultura de palma de
óleo consorciada com culturas alimenta-
A Amazônia possui aproximadamen- res de ciclo curto na fase jovem da planta,
te 70 milhões de hectares considerados possibilitando uma cobertura florestal ple-
como áreas aptas para o cultivo da palma na em sua fase adulta.
de óleo (dendezeiro – Elaeis guineensis A produção de biocombustível a par-
Jacq.). Dessa extensão potencial, somente tir de oleaginosas como a palma de óleo
39 mil hectares são utilizados efetivamen- pode trazer retorno econômico e repre-
te com a cultura, sendo que quase 85% da senta inserção social na região devido ao
área cultivada está localizada no Estado do caráter de longo prazo da atividade, uma
Pará. O Amazonas é o Estado que possui vez que fixa o agricultor e a sua família na
a maior área potencial para o plantio de área de produção, oferece renda ao longo
palma de óleo – o equivalente a 50 mi- do ano durante o ciclo da cultura e é uma
lhões de hectares. Os demais estados da atividade produtiva com reais perspectivas
Amazônia Ocidental, como Acre, Amapá, para a agricultura familiar.
Rondônia e Roraima, têm, em conjunto,
nove milhões de hectares, corresponden- Os principais problemas com relação
do a 12,9% do total de área potencialmen- ao plantio de palma de óleo referem-se à
te aproveitável. O Acre possui 2,5 milhões falta de tradição no seu cultivo, à incipien-
de hectares potencialmente favoráveis ao te infraestrutura energética e de comuni-
plantio de palma de óleo. cação na região e à necessidade de pro-
cessamento do produto em, no máximo,
O Acre, com área territorial de aproxi- 24 horas após a colheita, tornando-se in-
madamente 164.220 km2, apresenta em dispensável a instalação da agroindústria
torno de 12% de sua área total desflores- próxima ao local do plantio.
tada (ACRE, 2006). Do total desmatado,
aproximadamente 81% são utilizados com O presente capítulo objetiva tratar da
pastagens. E estima-se, também, que me- cultura da palma de óleo como alternativa
tade dessas pastagens esteja em algum para a recuperação do passivo ambiental
estágio de degradação. Essas terras degra- florestal e como alternativa econômica

Produção e Manejo Sustentáveis para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia | 179


para o produtor rural acriano. A ênfase será e luminosidade acima de 1.800 horas/ano
para sua implantação em áreas antropiza- de radiação solar (BASTOS et al., 2001).
das nas regiões de influência das BR-364 e
Para o Estado do Acre, que apresenta
BR-317 e em áreas de assentamento, deno-
índices pluviométricos variando entre 1.800
minadas pelo Zoneamento Ecológico-Eco-
mm no Vale do Acre a 2.400 mm nas Re-
nômico (ZEE) do Acre (ACRE, 2006) como
gionais do Juruá e Tarauacá/Envira, as pos-
Zona 1 ou áreas destinadas à consolidação
síveis limitações para o plantio da palma de
de sistemas produtivos sustentáveis.
óleo podem surgir em virtude do pronun-
ciado período seco, que ocorre com mais
intensidade no Vale do Acre entre os me-
ses de junho a agosto. Nas demais regiões,
2. Experiências com o as chuvas são bem distribuídas durante os
meses do ano (PEREIRA, 2009).
cultivo de palma de
A palma de óleo é uma planta toleran-
óleo no Estado do Acre te à acidez e ao elevado teor de alumínio
no solo, condição predominante nos so-
A cultura de palma de óleo pode se ca-
los amazônicos. Por ser uma planta que
racterizar como uma atividade importante
exporta grande volume de biomassa por
dentro da ótica ecológica, tendo em vista
meio dos cachos produzidos, a palma
seu ciclo perene e a alta fixação de carbo-
de óleo necessita que o estoque de nu-
no. Além disso, é uma cultura de ampla
trientes do solo seja mantido em níveis
adaptação em termos de solo que tam-
adequados por meio de adubações que
bém constitui uma importante alternativa
levem em conta o equilíbrio nutricional
para a recomposição de áreas alteradas.
das plantas.
Apesar das características edafoclimá-
As características de solo ideais para o
ticas serem propícias para o plantio da
adequado desenvolvimento da cultura são
palma de óleo, poucos são os resultados
solos profundos e bem estruturados, a fim
de pesquisas disponíveis que tratam do
de proporcionar um bom desenvolvimen-
estabelecimento dessa cultura no Estado
to do sistema radicular, além de permeá-
do Acre. Assim, é essencial avaliar a via-
veis, para que possam garantir uma boa
bilidade econômica das alternativas de
aeração e também uma boa circulação e
implantação da cultura tanto em mono-
armazenamento de água.
cultivo como em sistemas agroflorestais.
Outro aspecto relevante é que a cultura de Ações de pesquisa e validação desen-
palma de óleo necessita de uma estrutura volvidas pela Embrapa Acre com o objeti-
organizada para produção e distribuição vo de estimar a adaptabilidade da palma
de forma a atingir com competitividade os de óleo às condições edafoclimáticas do
mercados potenciais. Estado, bem como o Zoneamento Agroe-
cológico para a Cultura da Palma de Óleo
As condições climáticas ideais para o
nas Áreas Desmatadas da Amazônia Le-
alto desempenho da planta, no tocante à
gal, estão sendo levadas em consideração
produção de óleo, são: pluviometria acima
para o estabelecimento de coeficientes
de 2.000 mm, sendo ideal a ocorrência de
técnicos visando ao financiamento de em-
chuvas acima de 2.500 mm, bem distribu-
preendimentos voltados para a exploração
ídas ao longo do ano; temperatura média
da palma de óleo (Figura 1). Isso reduzirá
entre 24 e 28oC, com máxima de 33oC e
os riscos para os agricultores e deverá au-
temperatura mínima não inferior a 18oC;

180 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
mentar o nível de certeza de sucesso das Guiomard, Sena Madureira, Epitaciolân-
instituições de fomento e financiamento dia, Brasileia e Cruzeiro do Sul, com idade
(PEREIRA, 2009). Atualmente, existem 24 dos plantios variando entre dois e quatro
ha de palmares plantados no Acre, distri- anos (Figura 2).
buídos em experimentos de Avaliação de
Guedes et al. (2007) avaliaram e com-
Variedades e Unidades de Observação
pararam o desenvolvimento de plantas de
nos municípios de Rio Branco, Senador
diferentes progênies de palma de óleo nas
condições edafoclimáticas
Figura 1 – Planta de palma de óleo com quatro anos de Cruzeiro do Sul (local 1)
de idade em experimento de avaliação de progênies
e Rio Branco (local 2), no Es-
implantado na Embrapa Acre, em Rio Branco/AC
(Foto: João Batista Martiniano Pereira)
tado do Acre. As progênies
implantadas foram a C-2501,
C-2528, C-2301 e C-1001. Um
ano após o plantio, foram re-
alizadas aferições de altura e
diâmetro do colo utilizando
régua e paquímetro. Diferen-
ças significativas entre os lo-
cais de plantio 1 e 2 foram ob-
servadas, sendo que o local 1
apresentou os maiores valo-
res, tanto para a altura quanto
para o diâmetro das plantas.
Verificou-se que a altura de
plantas da progênie C-2301
diferiu significativamente das
demais. Quanto ao diâmetro,
Figura 2 – Detalhe de Unidade de Observação implan- as progênies não diferiram
tada no Município de Senador Guiomard/AC no ano estatisticamente entre si. As
de 2008, onde o produtor consorciou palma de óleo consideráveis diferenças en-
com mandioca (Foto: João Batista Martiniano Pereira) contradas entre os locais 1 e
2 são devidas, possivelmente,
às exigências naturais e nutri-
cionais da cultura da palma
de óleo, visto que esta planta
expressa seu máximo desen-
volvimento em regiões com
alto regime pluviométrico,
chegando a mais de 2.000
mm a diferença de precipita-
ção anual entre os locais es-
tudados.
Esses resultados preli-
minares servem de emba-
samento para definir quais
genótipos podem ser utiliza-

Produção e Manejo Sustentáveis para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia | 181


dos em consorciação com outras culturas as sob influência direta da rodovia BR-364
na recuperação de terras degradadas e nas quais uma parte das florestas tem sido
também qual a melhor região do Estado, substituída por: uma frente de expansão
em termos de aptidão edafoclimática, é a e consolidação de atividades agropecuá-
melhor para o plantio da palma de óleo. rias (pequenas, médias e grandes proprie-
dades rurais); agricultura familiar em as-
sentamentos de reforma agrária; e polos
agroflorestais e áreas de reserva legal com
3. Perspectivas para a atividades de manejo florestal.

cultura da palma de Essas regionais apresentam baixa den-


sidade populacional, em comparação com
óleo no Acre – Plano as demais regionais do Estado, dispondo
de Desenvolvimento do de regular infraestrutura de transporte,
energia e serviços públicos e privados.
Governo do Estado
Apesar das obras de asfaltamento da
As regionais de desenvolvimento do BR-364, que têm finalização prevista para
Juruá e Tarauacá-Envira caracterizam-se o ano de 2010 e devem concluir a inter-
pela presença de grandes áreas de flores- ligação terrestre com a regional do Baixo
tas preservadas. No entanto, existem áre- Acre, os municípios das regionais Juruá

Figura 3 – Pastagem degradada no trecho da BR 364 entre os municípios de Tarauacá e


Cruzeiro do Sul em área com predomínio de Cambissolos (Foto: Edson Alves de Araújo)

182 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
e Tarauacá-Envira ainda ficam isolados Porém, grande parte das propriedades
durante o período invernoso (geralmen- dessa regional apresenta problemas de
te entre os meses de dezembro a maio) passivo ambiental, no qual foi ultrapas-
devido ao fechamento dos trechos não sada a quantidade legalmente permitida
asfaltados. Isso tem causado uma série de de área de conversão, exigindo-se sua
transtornos às populações locais e impedi- recuperação e recomposição. Além disso,
do o escoamento da produção da região. num processo ainda comum em toda a
Amazônia, algumas dessas áreas encon-
O uso da terra é tipicamente agroflo-
tram-se na forma de pastagens degrada-
restal, com áreas antropizadas dispondo
das e capoeiras abandonadas em diversos
de mosaicos produtivos que vão de pe-
estádios de regeneração (Figuras 3 e 4),
quenas, médias e grandes propriedades
não revertendo ou agregando qualquer
agrícolas, voltadas principalmente para a
ganho para a produção agropecuária e es-
produção de carne e leite, a assentamen-
timulando a conversão de novas áreas em
tos de reforma agrária e extrativismo flo-
pastos e plantações.
restal da borracha. Também é marcante,
nessa regional, a presença de terras indí- O Zoneamento Ecológico-Econômico
genas e Unidades de Conservação, que (ZEE) (ACRE, 2006), por intermédio da Po-
propiciaram a preservação do patrimônio lítica de Valorização do Ativo Ambiental e
florestal. Florestal (ACRE, 2008), vem desenvolvendo

Figura 4 – Áreas de pastagem e capoeira potenciais para implantação da cultura de palma


de óleo no trecho da BR 364 entre Tarauacá e Cruzeiro do Sul (Foto: Edson Alves de Araújo)

Produção e Manejo Sustentáveis para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia | 183


um conjunto de atividades para dar uma A diversificação da produção também
correta função social, ambiental e econô- deverá propiciar a implantação de novos
mica, regularizando e reincorporando as negócios estratégicos voltados para as ca-
áreas de propriedades que possuem pas- racterísticas intrínsecas da produção agro-
sivo ambiental florestal. Essa política tem florestal acriana, alcançando novos nichos
servido como instrumento de inclusão e de mercado e promovendo os produtos
participação social nas áreas de alta vulne- com a marca de sustentabilidade do Acre.
rabilidade ambiental.
Com o estabelecimento das florestas
O Governo do Acre busca criar a base plantadas com palma de óleo, a produção
de suprimento e promover diversificação, de óleos e outros produtos com fins indus-
modernização e industrialização da ca- triais será garantida. Dessa forma, a cadeia
deia produtiva da palma de óleo (Elaeis produtiva agroflorestal estará mais bem
guineensis) no Estado por meio de sua organizada, com excelência na gestão da
participação no mercado, gerando empre- qualidade, dispondo de melhores produtos
go e distribuição de renda tendo em vista e processos inseridos em novos mercados.
a inclusão social.
Espera-se que a exploração comercial
O estabelecimento de florestas plan- das florestas plantadas com palma de
tadas com palma de óleo nas regionais óleo atenda à demanda tanto da indústria
Juruá e Tarauacá-Envira possibilitará uma alimentícia quanto de outros derivados,
alternativa econômica viável para os pro- produzindo uma gama diversificada de
dutores através da produção de óleo e da produtos de alto valor agregado, envol-
subsequente implantação de uma agroin- vendo produtos certificados com uso de
dústria de extração, beneficiamento e en- tecnologia avançada, gerando emprego e
vasamento de óleo. O cultivo da palma de renda e diminuindo os impactos ambien-
óleo também deverá consolidar a política tais decorrentes da pressão sobre as flo-
de atração de empreendimentos de base restas nativas da região.
florestal, fortalecendo a cadeia de produ-
De acordo com as diretrizes do ZEE-AC,
tos agroflorestais e o parque tecnológico
a localização das áreas para refloresta-
do Estado através da implantação do Polo
mento com palma de óleo serão aquelas
Oleoquímico, que, por sua vez, potenciali-
localizadas no eixo de 25 km às margens
zará a produção extrativista de outros óle-
da rodovia BR-364, nas regionais Juruá e
os vegetais das florestas nativas.
Tarauacá-Envira, num raio máximo de 50
A cultura da palma de óleo deverá rein- km da agroindústria a ser instalada, con-
corporar áreas alteradas/degradadas, cola- forme se observa na Figura 5.
borando na contenção do desmatamen-
A região de interesse, onde mais de
to, pois, com a consolidação das áreas já
112 mil hectares de área estão desmata-
convertidas, os produtores não precisarão
dos no eixo de 10 km às margens da rodo-
desmatar novas áreas. Além disso, com a
via BR-364, é composta por projetos de as-
produção da palma de óleo e das outras
sentamentos, Unidades de Conservação
atividades de sua cadeia produtiva, parte
e propriedades particulares, sendo estas
dos impactos ambientais e sociais gera-
áreas estratégicas para a implantação de
dos pelas antigas políticas de ocupação
florestas com palma de óleo.
deve ser revertida, diminuindo a pressão
sobre novas áreas de florestas e gerando Os projetos de assentamento da re-
emprego e renda. gião dispõem de 56 mil hectares de áreas
desmatadas aptas para reflorestamento

184 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
Figura 5 – Mapa das áreas estratégicas para reflorestamento com palma de óleo na BR-364. Fonte: ACRE (2009)

Produção e Manejo Sustentáveis para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia


|
185
com palma de óleo, tanto do ponto de vis- Também são esperados outros efeitos
ta técnico como logístico. Em relação às menos tangíveis, mas igualmente impor-
Unidades de Conservação localizadas na tantes sob o ponto de vista do desenvolvi-
região, destaca-se o Complexo de Flores- mento sustentável. Entre eles, pode-se ci-
tas Estaduais do Rio Gregório, composto tar a redução da tensão social na região e
pelas Florestas Estaduais do Rio Liberdade, da migração para os centros urbanos por
do Mogno e do Rio Gregório. Este comple- falta de alternativa produtiva no campo.
xo possui uma área de 480 mil hectares,
sendo que mais de 11 mil hectares estão
desmatados.
Nas propriedades particulares, existem 4. Alternativas de
cerca de 10 mil hectares de área desmata-
da, localizados no eixo de 10 km às mar-
combinação de cultivos
gens da rodovia BR-364, correspondendo florestais com a cultura
a menos de 10% da área desmatada da
região. de palma de óleo
Tudo leva a crer que a instalação de Com o propósito de fazer frente ao
plantios de palma de óleo nessa região desafio de consolidar um programa vol-
vai gerar impactos positivos no meio am- tado para a cultura da palma de óleo nas
biente local, pois se propõe a recuperar e regionais do Juruá e Tarauacá-Envira, deve-
a reinserir na economia local, com efetivo se imaginar estratégias voltadas para os
plantio, 9% das áreas desmatadas da re- produtores que atuam com base em agri-
gião, sem contar a reserva legal das pro- cultura familiar de modo que eles façam
priedades incluídas no projeto que obriga- frente aos custos iniciais da implantação e
toriamente deverão ser preservadas. Isso da manutenção de um palmar com a ob-
contribuirá de forma efetiva para a redu- tenção de receitas extras.
ção do desmatamento e do uso do fogo
na lavoura, prática comum na região. Dessa forma, faz-se necessária a defi-
nição de arranjos que permitam aos pe-
Sob a ótica dos impactos sociais, a quenos produtores utilizar as entrelinhas,
partir da implantação das agroindústrias pelo menos até o terceiro ano após a
e das áreas de plantio, há uma tendência instalação da cultura. A partir do quarto
de fixação da mão de obra nas áreas ru- ano, o crescimento vegetativo da palma
rais, bem como nas cidades próximas às de óleo restringe a entrada de luz solar,
agroindústrias. Haverá, também, maior ao mesmo tempo em que há um entre-
participação de pequenos proprietários laçamento do sistema radicular das plan-
de terras e de assentados no projeto pela tas. Assim, a continuidade da exploração
formação de atividades ligadas direta ou das entrelinhas com cultivos consorciados
indiretamente aos plantios. pode prejudicar tanto o estado nutricio-
Outro importante impacto é a gera- nal das plantas de palma de óleo, que
ção de mais de 4,5 mil empregos diretos estarão entrando na fase de produção
e indiretos, resultando em um crescimen- comercial, quanto as culturas intercaladas,
to de 30% do Produto Interno Bruto (PIB) que podem ter a sua produtividade com-
das regionais Juruá e Tarauacá-Envira, sem prometida em razão da competitividade
contabilizar os indicadores dos setores in- delas com a palma de óleo na busca por
dustrial e de serviços. nutrientes do solo.

186 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
Existem estudos teóricos sobre siste- de 7,80 m entre as linhas de plantio e 9,00
mas de produção para a palma de óleo m entre plantas. Nessa condição, inúme-
na Amazônia (HOMMA et al., 2000), assim ras são as possibilidades que se tem de
como experimentações agrícolas realiza- combinar culturas nas entrelinhas da pal-
das no sentido de definir modelos de pro- ma de óleo. Com o objetivo de preservar
dução agrícola consorciada com a palma a cultura principal, propõe-se que as cul-
de óleo e culturas alimentares, como, por turas consorciadas sejam plantadas com
exemplo, feijão, milho, banana, abacaxi e um afastamento mínimo de 1,00 m das
mandioca, entre outros (MONTEIRO et al., plantas de palma de óleo.
2006; ROCHA, 2007). Os consórcios testa-
Para o consórcio palma de óleo x fei-
dos apresentaram resultados bastante sa-
jão, utilizando o espaçamento de 0,50 m
tisfatórios em termos financeiros, concor-
x 0,30 m, é possível o plantio de 13 linhas
rendo para a amortização dos custos de
em cada entrelinha da palma de óleo.
implantação e de manutenção do palmar
Com essa disposição, tem-se uma densi-
até que as plantas iniciassem a fase de
dade 47.667 plantas de feijão, o equivalen-
produção.
te a 71% do stand para o feijão se fosse
Nas regionais focadas pelo Governo plantado em monocultivo.
do Acre para implantação da cultura da
Caso a cultura explorada seja o milho,
palma de óleo, são tradicionais os cultivos
em que se adota o espaçamento de 1,00
de abacaxi, banana e mandioca, predomi-
m x 0,40 m, em áreas de menor nível tec-
nando esta última, que tem grandes áre-
nológico, podem ser plantadas sete linhas
as cultivadas para a produção de farinha
de milho, proporcionando um stand de
(ACRE, 2009).
19.250 plantas, equivalendo a 77% da po-
Não deve ser desprezada a produção pulação de milho solteiro/ha.
de feijão consorciado com a palma de
A banana deve ser plantada no espaça-
óleo. Essa cultura é plantada normalmen-
mento recomendado de 3,00 m x 2,00 m.
te em monocultivo, gerando uma renda
Como essa cultura necessita de mais espa-
considerável ao agricultor local. Em pelo
ço para o adequado desenvolvimento do
menos duas das unidades de observa-
seu rizoma, seria recomendável o plantio
ção de palma de óleo conduzidas pela
de até duas linhas de banana nas entreli-
Embrapa Acre no município de Brasileia,
nhas da palma de óleo, com um stand de
agricultores vêm adotando esse consór-
1.110 covas de banana, correspondendo a
cio, demonstrando boa adaptabilidade do
67% de plantas caso a banana fosse plan-
feijão nas entrelinhas da palma de óleo.
tada em sistema solteiro, e equivalente ao
Além disso, deve também ser destacada
mesmo stand de um hectare de banana
a contribuição do feijoeiro no tocante ao
plantado no espaçamento 3,00 m x 3,00 m.
fornecimento de nitrogênio via fixação
biológica para a nutrição da palma de O abacaxi é plantado em sistema de
óleo, o que pode significar redução nos fileiras duplas, com espaçamento de 0,60
custos da adubação. No entanto, são ne- m x 0,60 m x 1,00 m. Nessa situação, seria
cessários estudos mais precisos sobre este recomendável plantar quatro fileiras du-
aspecto nutricional. plas de abacaxi consorciado com palma
de óleo, obtendo-se um stand de 7.334
A densidade mais utilizada para a cul-
plantas, o que equivale a 70% do stand do
tura da palma de óleo é de 143 plantas/
abacaxi em monocultivo.
ha, arranjadas em triângulo equilátero de
9,00 m de lado, ou seja, um espaçamento Para a cultura da mandioca, planta-se

Produção e Manejo Sustentáveis para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia | 187


no espaçamento de 1,00 m x 1,00 m. Para GUEDES, R. S.; BERGO, C. L.; PEREIRA, J. E. S. In-
evitar a competitividade entre os sistemas trodução e avaliação do crescimento inicial de
progênies de dendezeiro (Elaeis guineensis jacq.)
radiculares da mandioca e da palma de nas condições da Amazônia Sul Ocidental. In:
óleo, aconselha-se implantar até cinco fi- CONGRESSO INTERNACIONAL DE AGROENERGIA
leiras, proporcionando um stand de 5.500 E BIOCOMBUSTÍVEIS, 2007, Teresina. [Anais...] Te-
plantas, correspondente a 55% do stand resina, PI: Embrapa Meio-Norte, 2007.
de um mandiocal solteiro. HOMMA, A. K. O.; FURLAN JÚNIOR, J.; CARVALHO,
R. A. et al. Bases para uma política de desenvol-
vimento da cultura do dendezeiro na Amazônia.
In: VIEGAS, I. de J. M.; MÜLLER, A. A. A cultura
do dendezeiro na Amazônia Brasileira. Belém:
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188 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
PARTE 2
Capítulo 13

Experiências na produção para a


cultura de palma de óleo na Amazônia:
relato de experiências da Marborges
Agroindústria S.A. (Moju – Pará)
Antonio José de Abreu Pina

de Cachos de Fruto Fresco (CFF) entre 20


1. Introdução e 22 toneladas, mais o óleo de palmiste
(amêndoa), que representa em torno de
A palma de óleo (dendezeiro) é uma 2% sobre o CFF. Em nível experimental, já
palmeira originária da costa ocidental da se conseguiu produtividade acima de 40
África, e acredita-se que foi introduzida toneladas de CFF e 9 toneladas de óleo
no Brasil por volta do século XVI pelos por hectare, sugerindo que nos próximos
escravos trazidos pelos portugueses para anos os plantios comerciais melhorarão
trabalhar na lavoura de cana-de-açúcar, substancialmente a produção por área
adaptando-se muito bem às condições plantada.
climáticas do Estado do Pará, que é res- Essa palmeira pertence à classe das
ponsável por mais de 86% da produção monocotiledôneas, na ordem palmales,
brasileira de óleo de palma. família arecaceae e gênero elaeis, termo
Para um bom desenvolvimento da cul- derivado da palavra grega elaion, que
tura, a precipitação pluviométrica anual quer dizer óleo. Ela possui duas espécies
deve ser bem distribuída e ficar acima de distintas: a E.guineensis, Jacq, conhecida
2.000 mm, com temperatura média osci- como Dendê, a partir da qual são produzi-
lando entre 24 e 28ºC, umidade relativa dos os plantios comerciais; e a E.oleifera,
do ar variando entre 75 e 90%, e insolação Cortés, o Dendê Americano ou Caiaué,
anual mínima de 2.000 horas. Os solos de baixa produtividade de óleo, mas que
devem ser profundos e bem drenados, vem ganhando importância econômica
devendo-se evitar faixas de concressioná- com seu uso no melhoramento genético
rio laterítico. de cruzamentos interespecíficos com a
palmeira africana, visto que o híbrido re-
É considerada a oleaginosa que apre- sultante apresenta resistência fitossanitária
senta a maior produtividade: aproximada- ao Amarelecimento Fatal (AF), doença de
mente 4 a 5 toneladas de óleo de palma agente etiológico desconhecido, além de
(mesocarpo do fruto) por hectare, com outras particularidades referentes a mane-
base em uma taxa média de extração osci- jo da plantação, qualidade do óleo, etc.
lando entre 20 a 22% sobre uma produção

Produção e Manejo Sustentáveis para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia | 189


tendo em vista sua alta qualidade e os ele-
2. O mercado de óleo vados teores de ácido láurico e mirístico,
encontra aplicações semelhantes às dos
de palma óleos de coco e de babaçu na fabricação
de sabonetes, detergentes, pomadas e
O Brasil é importador dos óleos de maioneses, entre outros produtos, poden-
palma e palmiste. Em 2008, o País consu- do também ser utilizado na produção de
miu 360 mil toneladas de óleo de palma e chocolate, como substituto da manteiga
130 mil toneladas de óleo palmiste; nes- do cacau.
se mesmo ano, foram importadas 153 mil
toneladas de óleo de palma e 104 mil de
óleo de palmiste.
A demanda mundial de óleo de palma 3. O Grupo Marborges
tende a aumentar devido a suas múltiplas
aplicações na agroindústria alimentícia, O Grupo Marborges é constituído pe-
notadamente na fabricação de margari- las empresas Marborges Agroindústria
nas, biscoitos, pães e sorvetes. Contudo, a S.A. e Reflorestadora Moju Acará Limitada.
versatilidade no seu aproveitamento abre Sua sede está situada na Vila Bacuriteua,
mais perspectivas de consumo. Atualmen- município de Moju, no estado do Pará, e
te, o óleo de palma (ou dendê) é utilizado fica no km 56 da Rodovia Virgílio Serrão
na fabricação de sabões, detergentes, ve- Sacramento (PA 252), que liga a cidade
las, produtos farmacêuticos, cosméticos, de Moju à cidade de Acará. Está localiza-
corantes naturais; também é usado na da a aproximadamente 100 km em linha
indústria siderúrgica, onde é empregado reta ao sul de Belém, capital do estado
na fabricação de laminados de aço e ferro do Pará, na latitude 1º59’29”S e longitude
branco. 48º36’34”W.

O biodiesel é o mais novo produto A empresa iniciou suas atividades em


que irá revolucionar a economia brasileira. julho de 1991, ao adquirir de outro empre-
Esse combustível alternativo, ecologica- endedor um palmar abandonado, no qual
mente correto e renovável, com vantagens investiu até sua recuperação. Instalou
ambientais e funcionais já comprovadas, sua indústria, inaugurada em 1993, com
também propicia benefícios socioeconô- capacidade para processamento de seus
micos resultantes das diversas atividades frutos e da produção dos pequenos agri-
que giram em torno de sua produção. E o cultores da região. Atualmente, emprega
Brasil tem tudo para se tornar um grande diretamente cerca de 850 funcionários e,
produtor de biodiesel: o clima, os diversos em 2008, sua produção superou a marca
solos produtivos e a mão de obra abun- de 15.000 toneladas de óleo de palma e
dante. Assim, é possível obter aumento 1.450 toneladas de óleo de palmiste; no
imediato nas exportações agrícolas e re- mesmo ano, a produtividade média por
duzir a compra de óleo diesel no mercado hectare dos plantios adultos foi de 22,10 t
externo, o que vai impulsionar o agrone- de cachos frescos, 4,60 t de óleo de palma
gócio brasileiro e o crescimento das áre- e 460 kg de óleo de palmiste.
as menos favorecidas do País com mais O Grupo possui 4.701 ha de área plan-
oportunidades de emprego e renda para tada, sendo 3.416 ha em produção e 1.285
os agricultores. ha em formação. Para o ano de 2010, está
Da mesma forma, o óleo de palmiste, previsto o plantio de 1.200 ha em áreas

190 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
degradadas e de pastagens, além do re- familiar sustentável; eventos de educação
plantio de 380 ha que irão substituir as pal- ambiental e recuperação da mata ciliar;
meiras com mais de 26 anos, cuja altura cursos de técnicas e práticas rurais, so-
dificulta a colheita e, com a idade, apre- ciais, medicina e segurança no trabalho,
sentam baixa produtividade. contribuindo para a qualificação profissio-
nal de jovens interessados nas atividades
Visando melhor gerenciar o resultado
da empresa; cursos de práticas domésticas
de suas atividades, a empresa segregou
salutares, como higiene, manuseio de ali-
sua plantação em módulos de aproximada-
mentos e técnicas de primeiros socorros.
mente 1.000 hectares, possuindo cada setor
A liberdade dos participantes é sempre
equipamentos e gerenciamento próprios.
respeitada para escolherem se desejam
Consciente da importância da diversi- ou não se empregar na empresa.
ficação da flora para o meio ambiente, a
A Marborges também investe na infra-
Marborges recuperou a mata de áreas de-
estrutura local, reparando estradas (com
gradadas, reflorestando-as com espécies
destaque para 26 km da PA-252), pontes,
nativas e exóticas; algumas áreas cultiva-
ramais e áreas de lazer, mantendo-as em
das com palma de óleo foram intercala-
condições de uso para atender à econo-
das com outras espécies. Assim, além de
mia local e às comunidades vizinhas.
4.701 hectares cultivados com palma de
óleo, a Marborges reflorestou 432 ha com No campo de pesquisas para melhora-
espécies variadas – 120 ha de citrus, 120 mento da cultura de palma de óleo, a Mar-
ha de açaí e fruteiras –, e mantém pecu- borges investirá cerca de R$ 6.000.000,00
ária em menor escala. Com o cultivo de até 2013, em parceria com a EMBRAPA-
fruteiras, a Marborges implantará uma uni- CPAA e o Centre de Coopération Interna-
dade de processamento de polpas, com tionale em Recherche Agronomique pour
capacidade para atender inclusive à oferta Le Développement (CIRAD), da França,
de frutos que as comunidades vizinhas te- visando à seleção da variedade de palma
nham interesse em produzir, ampliando, de óleo mais produtiva e resistente a do-
assim, as oportunidades de renda para a enças, aspectos nutricionais e de manejo
vizinhança. da cultura.
Empenhada no acesso à multiplicação
e à interiorização de trabalho e renda com
atividade econômica sustentável, respei-
tando o meio ambiente e dando melhor
4. Práticas agrícolas
aproveitamento às áreas alteradas, a Mar- utilizadas na produção
borges pretende investir no município de
Garrafão do Norte, no estado do Pará, de palma de óleo
com a implantação de uma nova unidade
As práticas agrícolas aplicadas para a
agroindustrial do mesmo porte da unida-
cultura da palma de óleo diferem em plan-
de atual, propiciando a geração de 600
tações, regiões, países, etc. Um resumo
empregos naquele município.
da experiência da Marborges Agroindús-
Também empenhada na melhoria da tria S.A. é descrito a seguir.
qualidade de vida das comunidades que
a circundam, a Marborges, ao longo de Preparação de mudas
sua atividade, oferece: assistência técnica O local para implantação de pré-viveiro
e orientação para a prática da agricultura e viveiro deve ser cuidadosamente esco-

Produção e Manejo Sustentáveis para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia | 191


lhido: apresentar ligeira declividade, para quantidade de mudas anormais.
evitar pontos de alagamentos; ter disponi-
A limpeza desse local para o plantio é
bilidade de água, para atender às neces-
realizada com trator de esteira ou pá car-
sidades hídricas da cultura; e ser próximo
regadeira, sendo retirados restos de paus,
ao plantio definitivo, para que a distância
tocos e demais entulhos. Pode-se fazer
a ser transportada não aumente o risco de
a gradagem ou simplesmente revolver a
danos às mudas.
camada mais superficial do solo com au-
Pré-viveiro xílio de máquinas pesadas para facilitar o
manuseio do substrato, que é, então, pe-
Antes da chegada das sementes, toda neirado manualmente em telas de malha
a infraestrutura do pré-viveiro deve ser pre- de 2 cm.
parada com abertura de drenos e constru-
ção dos canteiros que, em geral, medem Os canteiros devem ser identificados
30,0 m de comprimento x 1,20 m de largu- com plaquinhas contendo informação so-
ra e distam 0,80 m entre eles. Para facilitar bre data, cruzamento e número de mudas
os tratos culturais, também é feita uma es- (Figuras 1 e 2).
trutura de ripas ou varas
com mais ou menos 2,0 Figura 1 – Instalação de pré-viveiro para produção de
m de altura que servirá mudas de palma de óleo (Foto do Autor)
de suporte para cobertu-
ra dos canteiros, poden-
do ser utilizadas folhas
de palmeiras ou sombrite
50%. Nos últimos anos, a
Marborges vem utilizan-
do o sombrite, que, em
relação ao sistema tradi-
cional, apresenta como
vantagens uniformidade
da luminosidade para
todas as mudas, menor
dano causado pela chuva
e menor grau de sujeira.
Figura 2 – Pré-viveiro para produção de mudas
As sementes chegam pré-germi- de palma de óleo (Foto do Autor)
nadas e devem estar com a radícula
e o caulículo bem definidos (10 a 15
mm); elas são enterradas até aproxi-
madamente 1 cm bem no meio dos
saquinhos de polietileno de 16 x 20
x 0,01 cm, que são arrumados nos
canteiros e abastecidos com terriço,
que normalmente vem da própria
área onde o plantio será instalado
e deve, preferencialmente, ser de
textura média, pois solos muito argi-
losos (pesados) podem aumentar a

192 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
O tempo de permanência no pré-vivei- timétrico da área, locação dos canteiros,
ro gira em torno de três a quatro meses ruas de acesso, drenagem lateral e marca-
e, nesse período, algumas atividades são ção do local onde ficarão os sacos.
fundamentais para que se consiga con-
Os sacos do viveiro medem 40 x 40 x
cluir a etapa com as mudas apresentando
0,35 cm e são dispostos em quincôncio
um excelente desenvolvimento, conforme
(triângulo equilátero), ficando separados
a Tabela 1.
à distância de 1,00 m entre eles no viveiro
Nessa fase, uma rega entre 2 e 3 mm de 1 ano (Figura 3).
é suficiente para atender às necessidades
Antes do transplantio, a área (solo) en-
hídricas das mudas.
tre os sacos é tratada com uma aplicação
Aos 60 dias, são separados em um de herbicida à base de glifosato a 1% para
canteiro especial os embriões das mudas facilitar os tratos culturais e evitar a concor-
“gêmeas”, que apresentam dois ou três rência de erva invasora. Os sacos devem
embriões, os quais serão mantidos em
observação, recebendo o mesmo trata- Figura 3 – Transplantio de mudas de pal-
mento das demais; serão aproveitadas no ma de óleo do pré-viveiro para o viveiro
viveiro aquelas que, na ocasião da sele- (Foto do Autor)
ção, apresentarem características de uma
muda normal.
A cobertura de sombrite é retirada ao
término de 2,5 a 3,5 meses, mas as mudas
continuam nos canteiros durante 15 dias
para adaptação a pleno sol antes de se-
rem transferidas para o viveiro.
Uma muda considerada normal tem de
5 a 7 cm de coleto, entre 3 e 5 folhas lance-
oladas e uma altura entre 23 e 28 cm.

Viveiro
São realizados serviços topográficos
que consistem no levantamento planial-

Tabela 1 – Atividades desenvolvidas no pré-viveiro

Atividade Periodicidade Observações


Irrigação Diária Manual – regador ou mangueira Motobomba – miniaspersores

Monda Semanal Manter as mudas livres de concorrência com ervas indesejáveis


Adubação
Semanal 1ª adubação após a 4ª semana; a partir daí, semanalmente
Foliar
Pulverizações Inseticida + fungicida, alternando os produtos (contato e
Quinzenal
Preventivas sistêmico)
Aplicação de
Dependendo da necessidade
Formicida

Produção e Manejo Sustentáveis para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia | 193


Figura 4 – Viveiro para produção de mudas definitivas de palma de óleo (Foto do Autor)

ser irrigados para facilitar a abertura das pa, miniaspersão, etc. Em geral, o
covas com dragas boca de lobo, onde são equipamento deve ser dimensiona-
transplantadas as mudas do pré-viveiro; o do para suprir o correspondente a
transplantio deve ser precedido de adu- uma lâmina de água de 8 mm/dia.
bação com fertilizante à base de rocha Contudo, rotineiramente são feitas
fosfatada na proporção de 30 g por muda, aferições com pluviômetros a partir
tomando-se cuidado para não quebrar o de diversas distâncias dos aspersores
“torrão” que envolve as raízes, além de para comprovar se realmente existe
não deixar que se formem bolsões de ar. uma uniformidade na área que está
As mudas devem ficar ligeiramente enter- sendo irrigada, pois, do contrário, ha-
radas, 1 cm em relação ao coleto, pois, com verá mudas malformadas, raquíticas,
o assentamento do substrato e a irrigação, desuniformes e, em alguns casos, a
existe uma tendência de tombamento se falta de água por um período prolon-
essa medida não for adotada (Figura 4). gado pode levar à morte da planta.
Dependendo do tamanho do viveiro, – CAPINA QUÍMICA – dependendo do
as mudas do pré-viveiro são transporta- grau de infestação de ervas no solo,
das em carretas atreladas a tratores que é feita a aplicação com herbicida
fazem o desembarque próximo ao cantei- glifosato a 1%, sendo utilizado, tam-
ro, onde são embarcadas em carrinhos de bém, o herbicida oxyfluorfen, pré-
mão para distribuição ao lado dos sacos. emergente a 0,50%.
Nessa fase, as mudas ficam por 12 me- – MONDA – consiste na retirada das er-
ses, e alguns tratos descritos a seguir são vas indesejáveis da boca dos sacos.
indispensáveis para o sucesso do viveiro: Nos primeiros meses após o trans-
plantio, é feita semanalmente. Con-
– IRRIGAÇÃO – existem vários sistemas
tudo, conforme o crescimento das
para atender a essa necessidade,
mudas, o intervalo passa ser quin-
como pivô central, aspersão subco-
zenal; nos últimos meses do viveiro,

194 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
essa prática não é realizada. Figura 5 – Preparação de área nova para
implantação da cultura da palma de óleo
– ADUBAÇÃO – decorridos 15 dias do (Foto do Autor)
transplantio, é iniciada a adubação
utilizando a formulação NPK + Mg 18-
18-18 + 2,5, com a seguinte rotina de
aplicações: 10 g – do 1º ao 3º mês; 15
g – do 4º ao 6º mês; 20 g – do 7º ao
9º mês; e 25 g – do 10º ao 12º mês.
Faz-se, também, um complemento
com boro e kieserita. É necessário ter
cuidado para que a muda não entre
em contato direto nem com o fertili-
zante ou o seu recipiente, nem com as
mãos do trabalhador, pois o descuido
poderá ocasionar “queima” das folhas,
prejudicando o desenvolvimento das Figura 6 – Preparação de área com bra-
plantas. quiária (pastagem) para implantação da
cultura da palma de óleo (Foto do Autor)
- PULVERIZAÇÕES PROFILÁTICAS – são
utilizados os mesmos produtos do
pré-viveiro; todavia, as aplicações são
feitas quinzenalmente.
Decorridos os 12 meses, procede-se a
uma criteriosa seleção das mudas, sendo
descartadas aquelas raquíticas, com folío-
los não diferenciados, com folíolos inseri-
dos em ângulo agudo, etc.

Preparo da área
Implantação de áreas novas
É realizado um levantamento topográ-
fico no qual são apontadas áreas aptas
para o futuro plantio, córregos, igarapés, sendo, a primeira área a ser limpa são as
proteção de mata ciliar, etc. A partir dessas estradas, para que a equipe de topografia
informações, é gerado um mapa, que de- possa fazer a marcação dos eixos tanto
fine o tamanho de cada talhão (parcela) no sentido norte/sul quanto no leste/oes-
e as estradas. Esses dados são fundamen- te, partindo desse ponto todas as demais
tais para que todo o trabalho mecanizado quadras.
seja realizado de forma ordenada. As máquinas pesadas fazem a derru-
Por força das exigências ambientais, bada da vegetação existente, arrastando
atualmente estão sendo utilizadas somen- também restos de troncos de árvores
te áreas degradadas, pastagens e capoei- ainda remanescentes na área. Esses resí-
rinhas. duos podem ser “enleirados”, sem obe-
decer a uma distância pré-determinada,
Em geral, as linhas de plantio estão para posteriormente serem queimados
direcionadas no sentido norte/sul. Assim ou retirados das quadras, repetindo-se a

Produção e Manejo Sustentáveis para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia | 195


Figura 7 – Área com plantio jovem da palma de óleo com cobertura de braquiária
(Foto do Autor)

mesma operação caso haja necessidade; vias com tráfego intenso e 750 m³ / km
assim, a área fica completamente livre dos nas demais.
resíduos de maior volume. Outra opção
Replantio
é direcionar os restos de vegetação para
o empilhamento (intervalo entre duas li- A Marborges já iniciou a substituição
nhas de plantio), ficando limpa somente de seus plantios mais velhos em razão de
a metade da parcela que é chamada de baixa produtividade, plantas muito altas
“rua”, por onde são feitos o carreamento (>15 m) dificultando a colheita, e proble-
dos cachos, a adubação mecanizada, etc. mas fitossanitários (Amarelecimento Fatal
O primeiro sistema é chamado de Me- – AF). O replantio é feito com mudas de
canização Total da Área e o segundo, de Híbridos Interespecíficos (HIE) – cruza-
Mecanização Parcial com Empilhamento e mento de E.oleifera x E.guineensis, por
Rua (Figuras 5 e 6). serem resistentes ao AF. As palmeiras são
derrubadas com um implemento agrícola
Utilizam-se piquetes de 80 cm de altu-
que possui uma lâmina pontiaguda adap-
ra para servir de marcação do local exato
tada a uma pá carregadeira que, através
onde serão plantadas as mudas. O plantio
de golpes, perfura o estipe, facilitando a
é demarcado na forma de triângulo equi-
queda com um leve empurrão. O rendi-
látero (quinconcial) e, de acordo com o
mento médio oscila em torno de 50 plan-
material genético, são definidos os espa-
tas / hora trabalhada.
çamentos de 9,0 x 9,0 m (143 plantas/ha),
8,70 x 8,70 m (153 plantas/ha), 8,25 x 8,25 Como os HIE têm uma baixíssima taxa
m (170 plantas/ha), etc. (Figura 7). de pólen fértil, cerca de 7,5% das plantas
remanescentes sadias e com bom desen-
Normalmente, no segundo ano após
volvimento vegetativo são mantidas, de
o plantio, é feito o trabalho de terraple-
modo a auxiliarem na polinização dos
nagem e empiçarramento (colocação de
cachos; todavia, elas devem estar bem
cascalho) das estradas que servirão de
distribuídas para evitar excesso de som-
escoamento da produção. No geral, co-
breamento.
locam-se em torno de 1.500 m³ / km nas

196 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
Figura 8 – Preparação de área com cobertura de gramíneas para plantio de palma de óleo
(Foto do Autor)

Antes do replantio, é feita a capina A Marborges tem diversos plantios de


química com herbicida glifosato a 1% em palma de óleo em áreas de gramíneas,
toda a extensão das linhas de plantio. principalmente com quicuio, Brachiaria
humidicula, que, quando bem manejado,
As palmeiras derrubadas são deixadas
tem demonstrado produtividades superio-
no empilhamento e as mudas de replantio
res aos consorciados com Pueraria.
são colocadas na mesma linha, mas no in-
tervalo entre duas plantas derrubadas. As regiões onde é cultivada a palma
de óleo se caracterizam por fortes regi-
Cobertura do solo
mes pluviométricos e insolação acima de
Tradicionalmente, é recomendado o 2.000 horas. Esses dois fatores conjugados
uso da leguminosa Pueraria phaseoloides fazem com que o quicuio, por ter uma
como cobertura, alegando-se as seguin- relação C/N muito superior à da Pueraria,
tes vantagens: proteção do solo, controle permaneça por mais tempo na cobertura
de ervas daninhas e fixação ao solo de do solo.
nitrogênio atmosférico. Todavia, as se-
Os solos com gramíneas têm mais
mentes têm custo elevado e não existe
matéria orgânica, comparativamente aos
muita disponibilidade no mercado. Ou-
com leguminosas. As operações de roça-
tro fator importante é sua agressividade,
gem mecanizada e coroamento químico
pois qualquer descuido na manutenção,
com herbicida proporcionam a formação
especialmente em plantios muito jovens,
de cobertura morta (mulch), melhorando
pode comprometer seriamente as palmei-
a retenção de água; o capim triturado é
ras. No período das chuvas, a situação se
lentamente mineralizado e disponibiliza-
agrava ainda mais, pois o seu crescimento
do para as plantas, havendo, assim, uma
é muito rápido, havendo necessidade de
melhor eficiência na aplicação dos fertili-
redobrar o número de coroamentos, ele-
zantes nesse tipo de cobertura (Figura 8).
vando significativamente os custos.

Produção e Manejo Sustentáveis para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia | 197


Há necessidade de se investigar mais ta que for demasiadamente podada
profundamente esse tema para compro- apresentará, 4 meses depois, redução
var os resultados obtidos na Marborges. no peso dos cachos; 8 meses depois,
aumento dos abortos; e, entre 2 e 2,5
Plantio
anos depois, efeitos na sexualização,
No viveiro, as mudas são embarcadas com diminuição das inflorescências
em carretas atreladas a tratores e desembar- femininas (cachos) e aumento das
cadas no “Pé do Piquete”. Em plantios muito masculinas. Os principais objetivos da
distantes do viveiro, esse transporte é feito poda são: facilitar a visualização dos
em caminhões e as mudas são desembar- cachos, evitar a perda de frutos nas
cadas nas bordaduras das parcelas, sendo axilas das folhas, favorecer a poliniza-
transportadas manualmente por trabalha- ção e diminuir os riscos de acidentes.
dores (no ombro) até ao local definitivo.
Na Marborges, a primeira poda é re-
Normalmente, é feita uma adubação alizada um ano após o início da co-
de fundação na base de 300 g de rocha lheita e os cachos das plantas, depois
fosfatada. Outra equipe vem em seguida de podadas, são “roubados”, ou seja,
e abre as covas com auxílio de um “en- são retirados sem que a folha seja
xadeco”, separando a terra dos primeiros cortada. Essa prática visa garantir uma
15 cm para ser misturada ao fertilizante continuidade na produção, evitando
e colocada no fundo, fazendo-se, então, estresse devido ao corte excessivo de
o plantio propriamente dito. Os mesmos folhas. A partir da primeira poda, esta
procedimentos e cuidados adotados no operação é realizada uma vez por
viveiro valem também para esta etapa. ano, normalmente quando a coroa
de cachos está bem definida, deixan-
Tratos culturais do-se duas folhas abaixo dos cachos
• REBAIXO – corte da vegetação inde- verdes e uma abaixo dos cachos ma-
sejável com ferramentas tipo terça- duros. Este critério permite que não
do (facão), foice, etc. Em geral, nos sejam retiradas as folhas funcionais.
plantios jovens, são feitos de três a • POLINIZAÇÃO ASSISTIDA – a palma de
quatro rebaixos por ano e nos adul- óleo é uma planta monoica, ou seja,
tos, de um a dois. possui inflorescências masculinas
• COROAMENTO – retirada das ervas in- e femininas na mesma planta. Um
vasoras próximas às plantas; pode ser grande número de insetos participa
feito manualmente, com terçado, ou da polinização; porém, os mais efi-
quimicamente, utilizando herbicidas. cazes são originários da África e per-
O raio varia de acordo com a idade e tencem ao gênero Elaidobius, e entre
o manejo de cada plantação. Normal- eles se destaca o E.kamerunicus.
mente, o número de coroamentos é Nos HIE, o pólen tem baixo nível de
igual ao número de rebaixos. fertilidade e, se não for circundado por pal-
• PODA – as folhas da palma de óleo meiras E.guineensis, provavelmente terá
são produzidas em espirais de oito uma quantidade exagerada de abortos e
folhas cada uma, oscilando entre 25 cachos malformados; assim, há necessida-
a 38 folhas por ano, chegando até 40 de de realizar a polinização assistida, que
na idade jovem e diminuindo para consiste em polinizar manualmente todas
até 18 na idade adulta. Esta operação as inflorescências femininas em antese
é muito importante, pois uma plan- planta a planta no intervalo de dois em

198 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
dois dias. Apesar de a operação ser onero- ainda controvérsias se é biótico ou abióti-
sa, essa prática tem retorno econômico, já co. Até o momento, o material HIE apre-
que existe um incremento substancial na senta resistência e se constitui na única al-
produção de cachos. ternativa para replantio de áreas afetadas.

Visita fitossanitária Colheita


Concluído o plantio, uma equipe de Essa fase se inicia aos 2,5 anos após
trabalhadores treinados faz rondas men- o plantio e, nas primeiras colheitas, de-
sais, quinzenais ou semanais, dependen- pendendo da quantidade de cachos, os
do da situação, informando irregularidades ciclos podem variar de 12 a 15 dias ou
como ataques de roedores e falhas, além mesmo pode haver apenas um ciclo por
de plantas tombadas, mortas, mal planta- mês. Com a regularização do número de
das, raquíticas, atacadas por pragas e do- cachos, os ciclos passarão a ser de 8 a 12
enças, com deficiência nutricional, etc. dias, chegando, no máximo, a 15 dias.
Para facilitar a localização dos problemas O critério para que o cacho seja colhido
detectados, são informados pelos fiscais fi- é que haja o desprendimento de um a três
tossanitários, através de nomenclaturas, o frutos. O trabalhador que realizará esse ser-
nome da parcela, o número da linha e o da viço deve ser bem treinado para evitar que
planta. Outra equipe é designada para re- sejam colhidos cachos verdes, sobre madu-
solver cada situação especificamente. ros e passados. Em plantios jovens, a ferra-
menta utilizada é o sacho (parecido com
O principal problema fitossanitário exis-
um ferro de cova); quando a planta atinge
tente na Marborges diz respeito ao Ama-
mais de 4 metros, usa-se a foice malasiana,
relecimento Fatal – problema de origem
com extensão de alumínio, que varia con-
desconhecida que já dizimou diversas
forme a altura da palmeira (Figura 9).
plantações na América do Sul, existindo

Figura 9 – Cachos de frutos de palma de óleo colhidos manualmente aguardando por


carreamento (Foto do Autor)

Produção e Manejo Sustentáveis para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia | 199


Carreamento análises foliares.
Na Marborges, o carreamento, que é a Os valores são calculados de acordo
retirada dos cachos colhidos de dentro das com a idade das palmeiras e a expectativa
parcelas até os contêineres, é feito com de produção para cada plantio. Como o
animais, muares ou bubalinos, atrelados a fertilizante aplicado não é 100% aprovei-
carroças. Esse sistema vem apresentando tado pelas plantas, é atribuído um índice
rendimentos de 5,8 t / animal / dia. Um de eficiência para cada nutriente de tal
trator pode ser substituído por cinco ani- maneira que todos os elementos fiquem
mais, com um impacto bastante positivo equilibrados e balanceados.
não só em termos de investimento, mas Nos dois primeiros anos de plantio, a
também nos prejuízos ocasionados pelo adubação é feita manualmente; a partir do
não carreamento dos cachos em caso de terceiro ano, é mecanizada, com o uso de
pane no equipamento. adubadeiras atreladas a tratores. Contudo,
Coleta de frutos soltos quando houver necessidade de se colocar
baixas dosagens de fertilizantes, especial-
Quando os cachos são colhidos, des- mente micronutrientes, como a adubadei-
prende-se uma grande quantidade de ra não pode ser regulada para esse fim, a
frutos que possuem alto teor de óleo; aplicação é feita de forma manual.
porém, se não forem coletados rapida-
mente, haverá aumento da acidez (ácidos Distribuição de resíduos
graxos livres), prejudicando a qualidade industriais
do produto. Esse serviço é realizado com Os resíduos produzidos pela indústria
a coleta manual dos frutos (catação), que são: cachos vazios ou buchas, fibras, casca
são embalados e transportados em sacos de nozes, torta de palmiste e efluente. To-
de 45 a 50 kg de dentro das parcelas para dos retornam para o campo e fazem parte
sua bordadura, embarcados em caçamba do programa de adubação da plantação.
basculante atrelada ao trator e descarrega-
dos em contêineres. São realizadas análises químicas des-
ses produtos e, a partir desses dados, são
Transporte da produção utilizados os mesmos critérios de reposi-
É realizado por caminhões, que fazem ção nutricional por exportação. Depen-
o recolhimento dos contêineres e trans- dendo da quantidade de cada resíduo
portam a produção até a fábrica, onde é que for aplicada, há necessidade de se
executada a pesagem e são informados o fazer uma complementação com outros
número do contêiner e o nome da parce- fertilizantes.
la. Através desses dados, é possível ter um Parte da fibra e da casca é utilizada
controle da produção de todos os plantios como combustível da caldeira. A torta de
por quadra. palmiste também é consumida pelos ani-
mais de trabalho.
Adubação
Os cachos vazios e as fibras são distri-
O sistema de adubação utilizado pela buídos com animais (muares) atrelados a
Marborges é de reposição nutricional, to- carroças basculantes, que depositam esses
mando como base o que é extraído pela resíduos nas linhas de plantio entre uma
planta dos principais nutrientes para pro- planta e outra (Figura 10).
duzir uma tonelada de cacho e levando
também em consideração resultados de A casca normalmente é usada como

200 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
Figura 10 – Distribuição de cachos vazios e fibras nos palmares (Foto do Autor)

cobertura morta nos viveiros ou, quando Colheita e Carreamento


misturada à torta de palmiste, é aplicada
no campo com adubadeiras. • Cacho Maduro – um fruto solto a 50%
de debulha. Mínimo de 90%;
O efluente é transportado de cami-
nhão da indústria para o campo e apli- • Cacho Sobre Maduro – 51 a 75% de
cado no interior das ruas das parcelas debulha. Máximo de 4%;
com tanque a vácuo acionado por trator • Cacho Passado – debulha acima de
(Figura 11). 75%. Máximo de 1%;
Controle de qualidade • Cacho Duro – cacho com frutos com
a coloração alaranjada ou avermelha-
O principal objetivo é estabelecer crité- da; porém, sem nenhum fruto solto.
rios para que as atividades agrícolas sigam Máximo de 1%;
normas pré-estabelecidas. Esse trabalho
é feito por uma equipe treinada e inde- • Cacho Verde – cacho com polpa de
pendente que, através de amostragens coloração verde-clara, sem sinais de
de campo, aponta as falhas existentes e óleo. Máximo de 0,2%;
o grau em que estão ocorrendo para que • Cacho Enfermo – cacho com anoma-
sejam corrigidas imediatamente. lias diversas, como maduro de um
A seguir, apresenta-se um resumo por ati- lado e seco no outro, etc;
vidade e os respectivos índices aceitáveis:

Produção e Manejo Sustentáveis para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia | 201


Figura 11 – Distribuição de efluentes de indústria em palmares (Foto do Autor)

• Cacho com Maturação Desuniforme • Talo Comprido – cacho com talo aci-
– cacho com parte dos frutos madu- ma de 1 cm. Máximo de 0,5%.
ros e o restante verde;
COLETA DE FRUTO SOLTO
• Cacho Verde com Aborto – cacho ver-
• Fruto Não Coletado – frutos que ficam
de, porém soltando os frutos e com
dentro da parcela após a passagem
poucos sinais de óleo;
do catador. Máximo de 1 kg/ha;
• Cacho Andrógino – cacho contendo
• Impurezas – resíduos encontrados
espiguetas de inflorescência masculi-
junto com os frutos coletados, como
na e feminina;
pedras, folhas, pedaços de pau, etc.
• Cacho Esquecido – cacho deixado na Máximo de 3%.
planta pelo colhedor. Máximo de 1%;
REBAIXO
• Cacho Não Recuperado – cacho dei-
• Corte de Ervas Daninhas – o corte
xado na planta pelo colhedor mesmo
das ervas daninhas deverá ser na al-
após o aviso do visitador. Máximo de
tura máxima de 10 cm do solo;
0,2%;
• Limpeza de Estipe – retirada das er-
• Cacho Mal Posicionado – cachos co-
vas que estão no estipe da planta,
lhidos que não estiverem na coroa da
como samambaias, puerária, etc;
planta pelo lado da rua (carreamen-
to), mas pelo lado do empilhamento. • Limpeza de Tocos – corte de ervas
Máximo de 0,5%; que cobrem os tocos de árvores re-

202 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
manescentes das ruas de plantio; direção da rua (melhorar a eficiência
da adubação).
• Limpeza de Bordaduras – rebaixo das
bordaduras das parcelas próximas às ADUBAÇÃO
estradas e matas.
• Aplicação manual em plantios sem
COROAMENTO E REBAIXO colheita – a aplicação deve ser feita
QUÍMICO na coroa em círculo no terço final das
folhas;
• Coroamento – eliminação das ervas
daninhas do solo próximo à planta • Aplicação manual em plantios em co-
utilizando produtos químicos, com lheita – a aplicação deve ser feita na
raio previamente estabelecido pelo ponta das folhas, sobre as folhas na
setor técnico; direção do empilhamento;
• Rebaixo Químico – eliminação das • Aplicação mecanizada – as bocas de
ervas daninhas das ruas de plantio aplicação das adubadeiras devem
utilizando produtos químicos; estar sempre direcionadas para o
empilhamento, desligando a esteira
• Devolução de embalagens – todas
quando houver falhas de plantas. Ao
as embalagens vazias de agrotóxi-
terminar uma rua, as esteiras devem
cos devem ser devolvidas para o al-
ser desligadas e ligadas somente no
moxarifado. Em embalagens como
início da outra, evitando jogar adubo
garrafas e carotes, deve ser feita a
na estrada.
tríplice lavagem e perfuração no fun-
do, acompanhando tampa e rótulo. DISTRIBUIÇÃO DE RESÍDUOS
Sacos de papel ou plástico e caixas INDUSTRIAIS
de papelão devem retornar dentro de
• Fibra e Cacho Vazio – a partir da saí-
saco próprio para lixo.
da da indústria para o campo, esses
PODA resíduos não devem passar mais de
dois dias na estrada, obedecendo à
• Plantios jovens, no 3º e no 4º ano de
programação de sequência de par-
colheita – após a poda, não retirar fo-
celas e quantidade por planta pré-
lhas, apenas roubar os cachos;
estabelecida;
• Nos plantios jovens, após o 4º ano – a
• Torta e Casca de Palmiste – a torta de
planta deverá ficar com uma média de
palmiste deve ser aplicada com adu-
48 folhas, ou deixar 2 folhas abaixo do
badeira nas ruas de plantios;
cacho maduro e 3 no cacho verde;
• Efluente – verificar a uniformidade
• Nos plantios com mais de 6 anos -
da distribuição, observando também
deverão ficar com 40 folhas, ou 1 fo-
se está ocorrendo retorno do produto
lha abaixo do cacho maduro e 2 do
para as estradas e córregos.
cacho verde;
• Na época das chuvas – as folhas cor-
Consórcio com outras culturas
tadas devem ser arrumadas no em-
e atividades
pilhamento acompanhando a linha
de plantio; no período seco, o pecí- Com diversos plantios sendo atacados
olo deve ficar virado para o lado do pelo Amarelecimento Fatal (AF) e, como
empilhamento e a ponta da folha, na no passado existiam muitas incertezas a

Produção e Manejo Sustentáveis para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia | 203


respeito do replantio com HIE devido ao
seu baixo teor de óleo e pouca pesquisa,
a Marborges resolveu consorciar alguns
Referências bibliográficas
plantios com espécies florestais nativas e ALVARADO, A. Factores que afectam la sinte-
exóticas com o seguinte objetivo: quando sis de aceite y la tasa de extraccion en palma
aceitera. San José: ASD-CR, 1996. (PIPA. Boletin
os palmares viessem a ser dizimados pelo Técnico).
AF, já haveria outra atividade estabelecida,
BARCELOS, E.; CHAILLARD, H.; NUNES, C.DM.; MA-
garantindo, assim, a continuidade produ-
CEDO, J. L. V.; RODRIGUES, M. do R. L; CUNHA, R.
tiva da área e evitando possível especula- N. V de; TAVARES, A. M; DANTAS, J. C. R.; BORGES,
ção fundiária. R. de S.; SANTOS, W. C. dos. Dendê. Brasília: Em-
brapa – SPI, 1995 (Coleção Plantar).
Praticamente todas as espécies nativas
BARCELOS, E.; NUNES, C. D. M; CUNHA, R. N. V.
não tiveram um bom desempenho e, en- da. Melhoramento genético e produção de se-
tre as exóticas, a que mais se destacou foi mentes comerciais de dendezeiro. In: VIÉGAS, I.
a Tectona grandis, ou Teca, que vem apre- de J. M.; MULLER, A. A. (Ed.). A cultura de dende-
sentando um excelente desenvolvimento zeiro na Amazônia brasileira. Belém: Embrapa
Amazônia Oriental; Manaus: Embrapa Amazônia
vegetativo; contudo, rotineiramente são Ocidental, 2000.
realizadas podas para evitar que haja som-
CORLEY, R. H.V. Oil palm physiology: a review. In:
breamento nas palmeiras de palma de WASTIE, R. L.; EARP, D. A. (Ed.). Advances in oil palm
óleo. Essa experiência ainda está em fase cultivation. Kuala Lumpur: ISP, 1995. p. 37-51.
de avaliação, mas, com a perspectiva de
HARTLEY, C. W. S. La palma de aceite. Ciudad de
boas produtividades dos HIE, não se fez México: Companhia Editorial, 1986. 958 p.
mais nenhum plantio obedecendo a esse
MARBORGES. A cultura do dendê: mercados e
modelo. possibilidades. Apresentado na Escola Superior
de Agricultura “Luiz de Queiroz”, Universidade
Nas áreas onde já existiam pastagens
de São Paulo, Piracicaba. Disponível em: http://
estabelecidas e plantio de Teca, foram tes- www.pecege.esalq.usp.br/plantas/2.pdf
tadas as criações de ovinos e zebuínos.
STANLEY, J. O. S. Produtividade de óleo de palma
Esse sistema agrossilvopastoril apresentou na cultura do dendê na Amazônia Oriental: in-
resultados satisfatórios; porém, devido à fluência do clima e do material genético. 2006. 81
altura das plantas, recomenda-se colocar f. Dissertação (Magister Scientiae) – Universidade
Federal de Viçosa, Viçosa.
os ovinos um ano após o plantio e os ze-
buínos, dois anos, para evitar danos às VEIGA, A. S.; FURLAN JÚNIOR, J.; KALTNER, J. F. Situ-
folhas. ação atual e perspectivas futuras da dendeicultu-
ra nas principais regiões produtoras: a experiência
Em áreas de novos plantios, será tes- do Brasil. In: MULLER, A. A.; FURLAN JÚNIOR, J.
(Ed.). Agronegócio do dendê: uma alternativa
tado o consórcio com feijão Caupi, Vigna social, econômica e ambiental para o desen-
unguiculata. volvimento sustentável da Amazônia. Belém:
Embrapa Amazônia Ocidental, 2001.
VEIGA, A. S.; SINIMBU, S. P. E.; RAMOS, E. J. A.
Sistema de adubação do dendezeiro por re-
posição de nutrientes exportados pelo cacho.
Belém: DENPASA, 2001. 30 p.

204 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
PARTE 2
Capítulo 14

Cultura da palma de óleo no contexto da


agroenergia: biomassa e biocombustível
Wanderlei Antônio Alves de Lima, Wilma Araújo Gonzalez,
Luiz Eduardo Pizarro Borges, Paulo César Teixeira, Ricardo Lopes,
Raimundo Nonato Vieira da Cunha e Raimundo Nonato Carvalho da Rocha

Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) e


1. Introdução a Comissão Executiva do Plano da Lavoura
Cacaueira (CEPLAC) desenvolveram proje-
A biomassa vegetal é a principal fonte tos visando ao uso de óleos vegetais como
alternativa de energia renovável de pron- combustíveis, com destaque para o Den-
to acesso, e o Brasil reúne as melhores diesel. Ainda nessa década, pesquisado-
vantagens comparativas nessa área. A res do Instituto Militar de Engenharia (IME)
forte demanda atual por fontes de ener- e do CENPES/PETROBRAS desenvolveram
gia alternativas ao petróleo abriu amplas estudos sobre o craqueamento catalítico
possibilidades para o País que, graças a de óleos vegetais, enquanto pesquisa-
uma conjugação de fatores naturais, geo- dores da Universidade Federal do Ceará,
gráficos e políticos, tem potencial para se liderados pelo Professor Expedito Parente,
tornar líder mundial na produção de bio- desenvolveram estudos que viabilizaram
combustíveis. A política de mudança da um novo combustível originário de óleos
matriz energética do País determina que vegetais: o biodiesel, que gerou processo
as tecnologias para produção de energia de patente, atualmente expirado.
de biomassa devem ser pautadas pela sus- Cita-se, ainda, o programa da Comis-
tentabilidade energética, ambiental, social são Nacional de Energia denominado
e econômica. Existem diferenças regionais Programa Nacional de Óleos Vegetais
marcantes que devem ser consideradas na (PRO-ÓLEO), que foi instituído por meio
elaboração de políticas energéticas, vide a da Resolução nº. 7 de 22 de outubro de
Amazônia, onde, devido à sua dimensão e 1980. Esse programa estimulou diversos
à dispersão territorial das populações, não grupos de pesquisa a desenvolverem pro-
são factíveis modelos de geração e distri- jetos para a produção de energia a partir
buição de energia de forma centralizada de óleos vegetais e foi o ponto de partida
para grande parte da população. para o estabelecimento do ambicioso pro-
O Brasil já teve diversas experiências grama de pesquisas com o óleo de palma,
relacionadas ao tema da agroenergia: iniciado pela Embrapa em 1980. Em 1986,
na década de 20, o Instituto Nacional de com a queda do preço do barril de petró-
Tecnologia (INT) estudou e testou com- leo, esse programa foi descontinuado em
bustíveis alternativos; na década de 70, o nível nacional.

Produção e Manejo Sustentáveis para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia | 205


O que difere o momento atual dos an- Em 2003, diante do cenário que no-
teriores, nos quais o incentivo e o inves- vamente manifestava interesse pelo uso
timento na produção de biodiesel foram energético de óleos vegetais, foi iniciada
momentâneos, é que o foco era princi- uma parceria entre a Embrapa Amazônia
palmente econômico: por isso, só se dava Ocidental (CPAA) e o IME para a utiliza-
destaque a esses estudos quando o pre- ção do óleo de palma (óleo de dendê)
ço do petróleo estava em alta. Não havia como matéria-prima para a produção de
ainda consciência e apelo ambiental da biodiesel por rota etílica. Nessa parceria,
sociedade pela mudança da matriz ener- a Embrapa contribui com o conhecimento
gética em função das mudanças climáti- da cadeia produtiva do óleo de palma e o
cas globais. De qualquer forma, mesmo IME, com a tecnologia de transformação
sem políticas de incentivo, vários grupos do óleo em biodiesel.
de pesquisa deram continuidade aos es-
O óleo diesel comercializado em todo
tudos visando ao desenvolvimento de tec-
o Brasil passou a conter, obrigatoriamen-
nologias para uso de óleos vegetais com
te, 3% de biodiesel desde 1º de julho de
fins energéticos.
2008. Esse teor foi estabelecido pela Re-
O apelo ambiental para substituição solução nº. 2 do Conselho Nacional de
da matriz energética – substituição do pe- Política Energética (CNPE), publicada em
tróleo por fontes renováveis – tomou força março de 2008, que aumentou de 2% para
no início da década de 1990, quando paí- 3% o percentual obrigatório de mistura de
ses europeus começaram a utilizar o bio- biodiesel ao óleo diesel (Agência Nacio-
diesel. No Brasil, as políticas públicas para nal do Petróleo, Gás Natural e Biocom-
estimular a produção e o uso do biodiesel bustíveis – ANP, 2009). Segundo a ANP,
ressurgiram no início dos anos 2000. Em a adição de 3% de biodiesel ao diesel de
2002, o Ministério de Ciência e Tecnolo- petróleo não exige qualquer ajuste ou al-
gia criou uma rede de instituições para teração nos motores; portanto, os veículos
estudar a produção e o uso do biodiesel que utilizam o combustível têm garantia
através da reação de transesterificação de fábrica, assegurada pela Associação
do óleo de soja com etanol; em 2003, foi Nacional dos Fabricantes de Veículos Auto-
instituído um Comitê Interministerial (CI) motores (Anfavea). Em julho de 2009, esse
para estudo da viabilidade do uso do bio- teor foi aumentado para 4%, segundo a
diesel no País. ANP. Posteriormente, o marco regulatório
foi modificado e já em janeiro de 2010 foi
Como resultado do trabalho do CI, o
utilizado B5, isto é, 5% de biodiesel em
Governo Federal lançou, em 2004, o Pro-
mistura com o diesel (Figura 1).
grama Nacional de Produção e Uso do
Biodiesel (PNPB) e, em 2005, foi publicada No caso específico da Amazônia, de-
a Lei nº. 11.097, que dispõe sobre a intro- vido às condições de temperatura, luz e
dução do biodiesel na matriz energética umidade; áreas de clima tropical úmido fa-
brasileira e a criação do Plano Nacional de vorecem a produção de biomassa. Desse
Agroenergia (PNA). A Petrobras, empresa modo, acredita-se que as palmáceas ole-
estatal que controla a produção de petró- aginosas, altamente adaptadas e produti-
leo no País, criou, em julho de 2008, a Pe- vas na região, terão importante papel na
trobras Biocombustível, o que demonstra produção de bioenergia. Os cultivos pe-
que o biodiesel efetivamente deverá ter renes, principalmente de palmáceas, são
importante participação na matriz energé- os mais adequados para a produção de
tica brasileira. bioenergia nas condições agroecológicas

206 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
Figura 1 – Marco Regulatório do Programa Nacional de Produção e uso do Biodiesel (PNPB)
Julho 2008 - Julho 2009 - 2010 em
2005-2007 1º Sem.2008
Junho 2009 2010 diante
Mistura autorizada Mistura obrigatória Mistura obrigatória Mistura obrigatória Mistura obrigatória
de até 2% mínima de 2% mínima de 3% mínima de 4% mínima de 5%

da Amazônia, visto que, depois de esta- Apesar de algumas experiências reali-


belecidos, são explorados por vários anos zadas com óleo de palma para fins ener-
sem necessidade de preparo do solo. Pro- géticos, tanto para uso como combustí-
porcionam, ainda, cobertura permanente vel em veículos automotores como em
do solo, evitando que o impacto direto das motores estacionários, sua participação
intensas chuvas provoque erosão e lixiviação. na matriz energética ainda é pequena,
A cultura da palma de óleo (Elaeis gui- destacando-se a produção de biodiesel
neensis Jacq.) tem grande potencial para pela empresa Agropalma. Os fatores que
contribuir na efetivação da produção de contribuem para essa pequena participa-
biodiesel/biocombustível na Amazônia, ção, apesar do potencial que apresenta,
fato já reconhecido pelo governo federal estão mais relacionados a questões de
ao definir a palma de óleo como a espé- oportunidade de mercado (valores pagos
cie com potencial para ser usada no âm- pela indústria de alimentos são mais van-
bito do Programa Nacional de Produção tajosos) e restrições à expansão do cultivo
e Uso do Biodiesel (PNPB). Em maio de (legislação ambiental de uso de terras na
2010, o governo brasileiro lançou o Pro- Amazônia e financiamento adequado às
grama de Produção Sustentável de Palma características da cultura) do que a ques-
de Óleo no Brasil, colocando a palmácea tões técnicas do processo de produção do
como produto estratégico para o País: a biodiesel.
indústria, os agricultores e o governo fe-
deral vêem na cultura da palma de óleo
uma atividade econômica com uma série
de vantagens e oportunidades. 2. Óleo de palma
Cabe ressaltar que a palma de óleo
merece destaque na agricultura bioener-
como matéria-prima
gética por apresentar a maior produtivida- 2.1. Extração e características
de entre as oleaginosas (4 a 6 toneladas do óleo de palma
de óleo/ha/ano). É uma cultura perene
que, quando plenamente estabelecida, A extração do óleo dos cachos de
protege o solo contra erosão, apresenta palma de óleo é realizada por processos
relativamente baixo custo de produção puramente físicos, sendo basicamente:
do óleo, produz durante todo o ano e esterilização, debulhamento, digestão,
tem possibilidade de exploração por lon- extração (prensagem), decantação e co-
go prazo. Possui, ainda, grande capacida- leta do óleo. O processamento resulta na
de de fixação de carbono; alta eficiência produção do óleo de dendê, conhecido
na conversão energética, com balanço no mercado internacional como óleo de
energético altamente positivo; e gera, palma (palm oil), e do óleo da amêndoa
também, subprodutos com uso energéti- (endosperma), conhecido como óleo de
co (cascas, fibras e efluentes de usina de palmiste (palm kernel oil), além de cachos
processamento de cachos). vazios, fibras, cascas, torta de palmiste e

Produção e Manejo Sustentáveis para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia | 207


efluentes líquidos (Tabela 1). A relação en- 2.2. Acidez da matéria-prima
tre as quantidades dos tipos de óleo é de
aproximadamente nove de óleo de palma A análise da matéria-prima, neste caso
para uma de óleo de palmiste. o óleo de palma, é fundamental para se
definir o procedimento e o processo para
a produção de um biocombustível. De
Tabela 1 – Produtos e subprodutos acordo com a técnica, para que se consiga
resultantes do processamento de cachos produzir um biodiesel que atenda às es-
de palma de óleo (Fonte: KALTNER; FURLAN pecificações da ANP, deve-se utilizar como
JÚNIOR, 2000). insumo um óleo vegetal com, no máximo,
1% de acidez. Portanto, a primeira etapa
Participação no
Produtos/ para a produção de biodiesel, indepen-
peso de cachos
subprodutos dentemente do tipo de óleo vegetal, é a
processados (%)
determinação da acidez do óleo.
Óleo de palma bruto 20,0
Os óleos vegetais, especialmente os
Óleo de palmiste 1,5 produzidos a partir de oleaginosas típicas
do Norte e do Nordeste do País, possuem,
Torta de palmiste 3,5 normalmente, elevada acidez. Para o fruto
Cachos vazios 22,0 de palma, deve-se levar em consideração
a acidez natural do óleo, que é de 2 a 4%,
Fibras 12,0 e o alto teor de ácidos graxos saturados,
com ponto de névoa acima de 25ºC. Nes-
Cascas 5,0
se aspecto, o índice de acidez torna-se
Efluentes líquidos 50,0 importante, principalmente quando for
utilizado o óleo bruto de palma como
matéria-prima para a produção do bio-
O óleo de palma tem amplo uso na combustível.
indústria de alimentos, farmacêutica, quí-
O índice de acidez do óleo de palma
mica e também siderúrgica, além de ter
está diretamente relacionado ao período
grande potencial na produção de energia
entre a colheita e o processamento dos
renovável. O balanço entre ácidos graxos
cachos e, portanto, ao teor de ácidos
saturados e não saturados do óleo de pal-
graxos livres existentes. Dessa forma,
ma, associado ao seu alto conteúdo de
torna-se necessário instalar a indústria de
vitamina E, o torna um óleo relativamente
extração de óleo o mais próximo possível
estável. O insaturado é, principalmente, o
da plantação. Tal exigência é de ordem
ácido oleico monoinsaturado (40%) e os
técnica, uma vez que os frutos devem
saturados consistem em 44% de ácido pal-
ser processados em até 24 horas (ou, no
mítico e aproximadamente 5% de ácido
máximo, 48 horas) após a colheita, com
esteárico. Por meio de processos físicos,
riscos acentuados de perda da qualidade
tanto o óleo de palma como o de palmis-
do óleo após esse período por causa dos
te podem ser separados em duas partes:
processos enzimáticos de deterioração e
uma líquida, a oleína, e outra sólida, a es-
aumento da acidez.
tearina. Essa composição confere ao óleo
de palma uma consistência semissólida, o O processo de hidrólise dos triacilglice-
que lhe dá maior flexibilidade para produ- rídios (componentes básicos do óleo ve-
zir grande variedade de produtos. getal) que ocorre leva ao aumento do teor
de ácidos graxos livres, que são facilmente

208 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
separados pela reação de saponificação bustível, quer pelo uso in natura ou trans-
com uma solução quente de hidróxido formado quimicamente pelo processo de
de sódio, produzindo o correspondente transesterificação e/ou esterificação ou
sal sódico do ácido carboxílico, isto é, o por craqueamento.
sabão. Consequentemente, o índice de
Nesse caso, a opção de utilização de
acidez do óleo refletirá no rendimento/
biocombustíveis em motores diesel seria
utilização de um ou outro processo na
o emprego do biodiesel (segundo espe-
produção de biocombustível.
cificações da ANP) sem necessidade de
modificar o motor, ou modificar o motor
para o uso direto do óleo vegetal, uma vez
que esses motores são sensíveis, principal-
3. Biocombustível de mente às gomas que se formam durante a
combustão do óleo vegetal.
óleo de palma
3.1. Utilização do óleo de
No aproveitamento do óleo vegetal
palma in natura para fins
para substituição do diesel, três linhas dis-
energéticos
tintas são possíveis:
Ao contrário do biodiesel, em que o
1) utilização direta do óleo vegetal puro
óleo sofre transformações para garantir
ou em mistura com o diesel do pe-
maior eficiência, no caso dos óleos in
tróleo;
natura, é o motor que passa por algumas
2) transesterificação, transformando os modificações para se adaptar ao combus-
triglicerídeos naturais do óleo vege- tível. No entanto, alguns cuidados devem
tal em monoésteres do etanol ou do ser tomados, como o tratamento do óleo
metanol (biodiesel); antes de sua pronta utilização (remoção
de gomas, acidez e umidade).
3) transformação do óleo em uma mis-
tura de hidrocarbonetos o mais seme- Existem algumas experiências com o
lhante possível ao diesel por meio de uso energético dos óleos de palmáceas,
uma degradação térmica ou catalítica desde a utilização de óleo in natura em
dos triglicerídeos que constituem o grupo motor gerador multicombustível
óleo vegetal (craqueamento). (particularmente importante para viabili-
zar a geração de energia elétrica em pe-
A escolha do processo a ser utilizado
quenas comunidades na região Norte do
na produção do biocombustível depen-
País), até a produção de biodiesel para uso
de, entre outras coisas, da qualidade da
em motores veiculares e máquinas agríco-
matéria-prima a ser utilizada. O grande
las. Segundo LOPES et al. (2008), entre as
desafio consiste em suprir as necessida-
experiências existentes, cita-se o uso do
des energéticas da Amazônia, inclusive
óleo de palma in natura em motores es-
em localidades isoladas, definindo um
tacionários, a exemplo de dois projetos
modelo adequado que leve em conside-
desenvolvidos na Amazônia: na Vila Boa
ração a logística, as questões ambientais
Esperança, localizada no município de
e socioeconômicas, a gestão, o consumo
Moju, no Estado do Pará; e na Comunida-
e o preço local do diesel. Uma das possi-
de Boa União, no município de Presiden-
bilidades de atendimento a essas necessi-
te Figueiredo, no Amazonas.
dades, como fonte de energia renovável,
é o uso de óleos vegetais como biocom- O projeto desenvolvido na Comunida-

Produção e Manejo Sustentáveis para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia | 209


de Vila Boa Esperança iniciou em 1997 e (homogênea ou heterogênea) e/ou a es-
terminou em 2000, em função da chega- terificação dos ácidos graxos livres por ca-
da da rede de distribuição de energia da tálise ácida, conforme mostra a Figura 2a.
concessionária local. Um grupo motor ge- Portanto, a escolha do catalisador é um
rador foi utilizado, com potência de 132 fator importante para o processo, pois ele
KVA, alimentado com óleo de palma bru- serve para acelerar a velocidade de rea-
to, que gerava energia para ser distribuída ção. O catalisador pode ser ácido ou bási-
através de rede trifásica a 129 residências. co e ainda homogêneo ou heterogêneo.
O projeto também demonstrou viabilida- Na catálise homogênea, o catalisador e as
de econômica, com custo de geração de matérias-primas estão na mesma fase.
energia praticamente igual ao da tarifa
Uma usina piloto de biodiesel, desen-
paga na região para a concessionária de
volvida pelo IME, foi instalada em 2006 no
distribuição de energia. As informações
CERU (Figura 2b), sendo a primeira usina
são de que, para geração de 1 MWh, são
para produção de biodiesel que usa óleo
consumidos 290 litros de óleo de palma
de palma no Brasil, projeto inovador com
(LOPES et al., 2008).
a produção de biodiesel a partir do pro-
No projeto desenvolvido na comuni- cesso de transesterificação etílica. A usi-
dade de Boa União, foi utilizado um gru- na tem capacidade para produzir 1.000
po gerador com motor MWM D225-4 de L de biodiesel por batelada, com dura-
51 CV, que operou gerando energia elé- ção de oito horas. Essa unidade piloto é
trica por um ano (4.000 horas) sem que bem simples e pouco automatizada e,
houvesse necessidade de trocar ou modi- em condições ideais de pessoal e de in-
ficar quaisquer de seus componentes me- vestimentos, principalmente na parte de
cânicos para o funcionamento; apenas foi manutenção do campo, pode funcionar
aumentada a pressão dos bicos injetores com capacidade de até 3.000 L/dia (três
(MIRANDA e MOURA, 2000). bateladas por dia). A usina possui uma
unidade de recuperação de etanol por
3.2 Biodiesel de óleo de palma meio de peneira molecular. Além disso,
O biodiesel é um combustível pro- salienta-se que o vapor utilizado na usina
duzido a partir de óleos vegetais ou de de biodiesel é proveniente da caldeira da
gorduras animais que deve atender à es- unidade de extração de óleo de palma,
pecificação estabelecida pela Resolução minimizando os custos de instalação e
ANP n° 07/2008. Esse biocombustível pro- operação (GONZALEZ et al., 2008).
porciona elevadas reduções na emissão Atualmente, a Agropalma S/A é a única
de poluentes, quando comparado com empresa na Amazônia com produção em
diesel puro, vantagem essa associada ao escala e comercialização de biodiesel de
fato de seu uso provocar decréscimo na óleo de palma, denominado “Palmdiesel”,
emissão de gases do efeito estufa. Apre- que é produzido por esterificação, por
senta, ainda, propriedades de lubrifican- rota metílica, dos ácidos graxos retirados
tes e índice de cetano (60) superiores ao do processo de refino do óleo de palma.
diesel fóssil. Segundo a Empresa, além da vantagem
Através da determinação da qualidade de aproveitar os ácidos graxos retirados no
da matéria-prima, é possível definir o tipo refino, que são subprodutos da agroindús-
de pré-tratamento/processo de produção tria, o processo de produção empregado
do biocombustível, que poderá ser a tran- resulta em combustível mais puro, isento
sesterificação por catálise básica/ácida de glicerina, e mais barato que o biodiesel

210 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
2A Óleo bruto

Acidez

A<1% 1%<A<5% 6%<A<20% A>20%

Transesterificação Neutralização Esterificação e Esterificação e


da acidez e Transesterificação
Direta Transesterificação Transesterificação Simultâneas

Catalisador Catalisador Catalisador Catalisador


básico básico ácido e básico ácido

Figura 2 – Produção de biodie-


sel a partir do óleo de palma: 2B
(a) esquema do processo de pro-
dução de biodiesel (A= acidez);
(b) unidade piloto para produção
de biodiesel por transesterifica-
ção etílica, desenvolvida pelo
Instituto Militar de Engenharia e
instalada no Campo Experimen-
tal do Rio Urubu/Embrapa Ama-
zônia Ocidental (Foto: Wanderlei
Antônio Alves de Lima).

produzido a partir do óleo (AGROPALMA,


2009). A produção de biodiesel na empre-
sa foi iniciada em 2005, atingindo mais de
4. Prospecção de
5.000 toneladas/ano, volume comercializa- processos na cadeia
do nos leilões da ANP.
Ressalta-se ainda que, ao se propor o
produtiva da palma de
biodiesel como solução energética para óleo
a Amazônia através do uso da biomassa
para a geração de energia descentrali- Com o objetivo de otimização da ca-
zada, deve-se considerar a toxidez do deia produtiva da palma de óleo, estão
metanol usado no processo de transeste- sendo prospectados vários processos de
rificação e/ou esterificação. Assim, é ne- aproveitamento de resíduos de biomassa,
cessário ter cautela, principalmente quan- efluentes, subprodutos e/ou coprodutos
do se envolve a comunidade no processo de processos, e outros produtos que pos-
de produção. sam agregar valor à cadeia produtiva da
palma de óleo (Figura 3). Essas experiên-
cias, conduzidas pelo IME, serão descritas
a seguir, segundo Gonzalez et al. (2008).

Produção e Manejo Sustentáveis para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia | 211


Figura 3 – Visão esquemática da prospecção de processos de aproveitamento de copro-
dutos na cadeia produtiva do biodiesel de óleo de palma

4.1. Produção de biocatalisador As análises químicas desses efluentes


a partir de efluentes sólidos sólidos mostraram o alto teor de metais
alcalinos e alcalinos terrosos, responsá-
Esta pesquisa estudou a viabilidade veis pela basicidade do material, o que
de utilização das cinzas provenientes da possibilita o seu uso como catalisador na
biomassa (fibras e endocarpo) queimada reação de produção de biodiesel (SILVA,
na caldeira da usina de processamento 2005). Os resultados indicaram que a utili-
de cachos como catalisador no processo zação das cinzas permite conversões em
de produção do biodiesel. A finalidade é biodiesel superiores a 92% (Tabela 2). Isso
otimizar o processo por meio do aprovei- se deve, provavelmente, ao alto teor de
tamento do rejeito sólido da palma como álcalis presente (acima de 30% de óxido
matéria-prima para a substituição de cata- de potássio).
lisadores convencionais usados na reação
de transesterificação (Figura 4). No caso específico da unidade do
CERU, em que a planta de biodiesel está
Cinzas de fibras e de cachos vazios de ao lado da usina de extração de óleo, a
palma, obtidas no laboratório do IME, fo- aplicação desse subproduto seria impor-
ram calcinadas a 550ºC, com taxa de 5ºC/ tante devido à dificuldade de acesso aos
min durante aproximadamente 16 horas. produtos e ao alto custo do transporte na

Figura 4 – Fluxograma para obtenção das cinzas das fibras e dos cachos de palma

Fibras Cinzas das


Fibras
Laboratório 550ºC/16h
Palma
do IME
Cinzas dos
Cachos Cachos

212 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
Tabela 2 – Resultados da análise química dos efluentes sólidos da palma
Composição dos efluentes sólidos da palma
Compostos Concentração (p/p%)
SiO2 11,7 – 46
Al2O3 0,4 – 1,1
Fe2O3 1,0 – 3,4
P 2O 5 2,4 – 13,5
CaO 3,7 – 12,5
MgO 2,8 – 4,9
K 2O 12,0 – 37,0
Na2O 0,1 – 0,6

região Amazônica. Cabe ainda mencionar Com o objetivo de associar a necessi-


que o uso dessas cinzas é ecologicamen- dade de novas aplicações para o glicerol
te correto e agrega valor ao processo, pois e gerar aditivos ecologicamente corretos,
elas podem ser usadas em substituição ao foi estudada a viabilidade da formação
catalisador básico convencional de hidró- de éteres a partir de dois alcoóis em uma
xido de sódio. única etapa, a fim de produzir biodiesel
sem a necessidade da separação do co-
4.2 Transformação da glicerina produto das etapas de neutralização e de
por rota biotecnológica lavagem, que são normalmente usadas na
No processo de biotransformação produção desse biocombustível. A esteri-
da glicerina proveniente do processo de ficação foi conduzida usando um catalisa-
produção de biodiesel de óleo de pal- dor heterogêneo do tipo heteropoliânion
ma, foram utilizadas cepas fúngicas (Pa- de Keggin.
ecilomyces variotii) retiradas do próprio As reações de transesterificação e es-
óleo de palma. Segundo o IME, as cepas terificação em uma única etapa para a pro-
isoladas desse fungo são cepas inéditas, dução de biodiesel e aditivos mostraram-
encontradas pela primeira vez, nesses se promissoras, estando o processo em
substratos. Elas foram submetidas a dife- fase de otimização (SOUZA, 2009).
rentes condições: temperaturas entre 5 e
45ºC no período de 3 a 3.600 horas, com 4.4 Aproveitamento da
e sem agitação, em presença e ausência glicerina – produção de
de nutrientes. biofilmes
A biotransformação foi confirmada por O desenvolvimento de biofilmes tem
diferentes técnicas analíticas, que indica- crescido devido à possibilidade de substi-
ram a formação de polióis com grande po- tuição parcial dos materiais plásticos não
tencial de aplicação na indústria química degradáveis. Proteínas e polissacarídeos
(SANTOS, 2008). têm sido utilizados para a produção de
filmes com boas propriedades mecânicas.
4.3 Transformação da glicerina Nesse contexto, está sendo estudado o
por rota química – produção de aproveitamento da glicerina e dos sub-
aditivos produtos do processo de produção de

Produção e Manejo Sustentáveis para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia | 213


biodiesel por rota etílica para a produção e gasosos com potencial energético se-
de biofilmes. melhante ao dos combustíveis derivados
do petróleo.
O filme obtido a partir da mistura de
glicerina, gelatina e etanol apresentou-se A pirólise das fibras dos cachos vazios
flexível, com certa elasticidade, e com es- da palma de óleo gerou biocombustí-
pessura na faixa de 15 a 20 µm. Já o filme veis cujas análises foram promissoras. A
obtido em presença de solução filmogê- comparação dos resultados deste bio-
nica contendo ácido graxo, proveniente combustível com os outros combustíveis
do aproveitamento do sabão, gerado no apresentados no Diagrama de Van Kre-
processo de produção do biodiesel, gerou velen, mostra que o ideal é que a razão
um filme não flexível, heterogêneo, cuja molar de O/C seja próxima de zero e que
espessura foi de cerca de 3 µm e a tensão a razão de H/C fique entre 1,5 e 2,0, pois
de ruptura foi 45,8 MPa. corresponderia aos combustíveis de ori-
gem fóssil – gasolina, querosene e diesel.
4.5. Produção de Bioetanol a O bio-óleo usando as fibras de palma de
partir de fibras lignocelulósicas óleo de CERU possui razão de H/C de 1,77
da palma de óleo e de O/C igual a 0,15; o poder calorífico
A biomassa derivada da produção do superior foi de 34,8 MJ/Kg. Usando-se ain-
óleo de palma é composta de fibras, ca- da este diagrama, foi possível classificar o
chos vazios e cascas e costuma ser utili- carvão vegetal obtido como do tipo betu-
zada como combustível de caldeira ou minoso (SILVA, 2010).
como adubo orgânico. No entanto, esse
material lignocelulósico pode ser uma
fonte de matéria-prima nobre para pro-
dução de biocombustível de segunda 5. Considerações finais
geração, agregando valor à cadeia produ-
tiva do biodiesel. A morfologia das fibras Embora o custo de produção do óleo
da palma de óleo foi observada por mi- de palma permita a produção de biodiesel
croscopia eletrônica de varredura e, em a preços competitivos com o óleo diesel,
comparação com outras fibras vegetais, o preço pago atualmente pelo mercado
as fibras da palma de óleo são longas e de alimentos é muito mais atrativo. Além
contínuas, aparentando não formar rede; disso, o País é importador de óleo de
no entanto, apresentam certa porosidade palma, necessitando ampliar sua área de
(RADOMSKI, 2009). cultivo para atender à crescente demanda
do mercado interno. Com a expansão dos
4.6 Produção de biocombustíveis cultivos, certamente o preço do óleo será
de segunda geração por reduzido e a produção de biocombustível
processo termoquímico a partir se tornará mais atrativa. Contudo, para
de fibras lignocelulósicas da que isso efetivamente ocorra, são ne-
palma de óleo cessárias políticas de incentivo ao setor,
A biomassa residual da cadeia produti- que devem incluir linhas de crédito ade-
va do biodiesel da palma de óleo – cascas, quadas, investimento em infraestrutura
fibras, galhos e cachos vazios –, pode ser e adequações na legislação ambiental e
transformada por tecnologias termoquími- tributária.
cas em biocombustíveis de segunda gera- A produção sustentável de biodiesel na
ção, originando produtos sólidos, líquidos região Norte deverá ter enfoque, principal-

214 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
mente, na realidade regional/local, tanto KALTNER, F. J.; FURLAN JUNIOR, J. Processamen-
no sentido de produzir para o consumo to industrial de cachos de dendê para produção
de óleos de palma e de palmiste. In: VIÉGAS, I.
regional como no de utilizar na cadeia J.; MÜLLER, A. A. A cultura do dendezeiro na
produtiva a matéria-prima produzida na Amazônia brasileira. Belém: Embrapa Amazônia
região, evitando os altos custos de trans- Oriental, 2000 ; Manaus: Embrapa Amazônia Oci-
porte para as outras regiões do País. dental, 2000. p.357-374.
LOPES, R. et al. Palmáceas. In: ALBUQUERQUE,
Destaca-se a importância do desenvol- A. C. S.; SILVA, A. G. da (Ed.). Agricultura tropical:
vimento de tecnologias para a produção quatro décadas de inovações tecnológicas, ins-
regional/local de álcool anidro (matérias- titucionais e políticas. Brasília, DF: Embrapa Infor-
mação Tecnológica, 2008. p. 767-786. v. 1.
primas regionais ou culturas adaptadas
introduzidas na região) e catalisadores, as- MIRANDA, R. M.; MOURA, R. D. Óleo de den-
sim como a instalação de miniusinas para dê, alternativa ao óleo diesel como combustível
para geradores de energia em comunidades da
atender a demandas de pequena a média Amazônia. In: ENCONTRO DE ENERGIA NO MEIO
escala. Como alternativa para motores es- RURAL, 3., 2000. Campinas. Anais... [Campinas:
tacionários, tem grande potencial a utiliza- AGRENER, 2000].
ção de óleos crus em motores desenvolvi- RADOMSKI, B. M. Produção de bioetanol a partir
dos ou adaptados para essa condição. de fibra de dendê (Elaeis Guineensis). 2009. Dis-
sertação (Mestrado em Química) - Instituto Militar de
Engenharia, Rio de Janeiro.
SANTOS, C. M. C. dos. Uso de fungos na biotrans-
formação de subprodutos do biodiesel. 2008.
6. Referências Tese (Doutorado em Quimica) - Instituto Militar de
Engenharia, Rio de Janeiro.
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dendê. 2010. Dissertação (Mestrado em Química)
AGÊNCIA NACIONAL DO PETRÓLEO (Brasil). Bio-
- Instituto Militar de Engenharia, Rio de Janeiro.
diesel. Disponível em: <http://www.anp.gov.br/
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catalisador. 2005. Dissertação (Mestrado em
AGROPALMA. Palmdiesel. Disponível em: <http//
Química) - Instituto Militar de Engenharia, Rio de
www.agropalma.com.br>. Acesso em: 10 jun.
Janeiro.
2009.
SOUZA, R. O. L. de. Transformação de glicerina
GONZALEZ, W. A. et al.. Biodiesel e óleo vegetal
por eterificação utilizando catalisadores áci-
in natura: soluções energéticas para a Amazônia.
dos. 2009. Tese (Doutorado em Quimica) – Insti-
Brasília: MME, 2008. 168 p.
tuto Militar de Engenharia, Rio de Janeiro.

Produção e Manejo Sustentáveis para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia | 215


216 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia

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