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Embrapa Solos
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
Zoneamento Agroecológico,
Produção e Manejo
para a Cultura da Palma
de Óleo na Amazônia
Editores Técnicos
Embrapa Solos
Rio de Janeiro – RJ
2010
Exemplares desta publicação podem ser adquiridos na:
Embrapa Solos
Rua Jardim Botânico, 1024
CEP 22460-000 Rio de Janeiro - RJ
Tel: (21) 2179-4500 Fax: (21) 2274-5291
www.cnps.embrapa.br
sac@cnps.embrapa.br
1ª edição
1ª impressão (2010): tiragem 500 exemplares
© Embrapa 2010
Autores
Alessandra de Jesus Boari
Engenheira Agrônoma, Doutora em Fitopatologia
Pesquisadora – Embrapa Amazônia Oriental
ajboari@cpatu.embrapa.br
Edson Barcelos
Engenheiro Agrônomo, Mestre em Ecologia, Doutor em Biologia, Diversidade e Adaptação
de Plantas Cultivadas, Especialista na cultura de palma de óleo
Pesquisador – Embrapa Amazônia Ocidental
edson.barcelos@idam.am.gov.br
Omar Cubas
Engenheiro Agrônomo
Bolsista – Embrapa Amazônia Ocidental
o_cubas@hotmail.com
Ricardo Lopes
Engenheiro Agrônomo, Doutor em Genética e Melhoramento de Plantas
Pesquisador – Embrapa Amazônia Ocidental
ricardo.lopes@cpaa.embrapa.br
Capítulos
Contexto e objetivos do Zoneamento Agroecológico para a cultura da palma de
1 óleo nas áreas desmatadas da Amazônia Legal
Antonio Ramalho Filho, Paulo Emílio Ferreira da Motta
19
Procedimento metodológico da Avaliação da Aptidão Agrícola das Terras para a
2 cultura da palma de óleo nas áreas desmatadas da Amazônia Legal
Antonio Ramalho Filho, Paulo Emílio Ferreira da Motta, Uebi Jorge Naime e
Jesus Fernando Mansilla Baca
23
Procedimento metodológico da Avaliação da Aptidão Climática para a cultura da
3 palma de óleo nas áreas desmatadas da Amazônia Legal
Alexandre Ortega Gonçalves, Therezinha Xavier Bastos, Alexandre Hugo Barros,
Antonio Ramalho Filho e Paulo Emílio Ferreira da Motta
47
Organização da informação, metodologia da integração temática, procedimentos
4 informatizados e cartografia para a elaboração do Zoneamento Agroecológico para
a cultura da palma de óleo nas áreas desmatadas da Amazônia Legal
Margareth Simões Penello Meirelles, Alexandre Ortega Gonçalves, Mario Luiz Diamante
Aglio , Jesus Fernando Mansilla Baca, Marie Elisabeth Christine Claessen, Wenceslau
Geraldes Teixeira, Paulo Emílio Ferreira da Motta e Antonio Ramalho Filho
51
Zoneamento Agroecológico para a cultura da palma de óleo nas áreas desmatadas
5 da Amazônia Legal
Antonio Ramalho Filho, Paulo Emílio Ferreira da Motta, Uebi Jorge Naime,
Alexandre Ortega Gonçalves e Wenceslau Geraldes Teixeira
57
Salvaguardas do Zoneamento Agroecológico para a palma de óleo na Amazônia
6 Legal e priorização de áreas
Ana Paula Dias Turetta e Antonio Ramalho Filho
69
Sumário
PARTE II
Produção e Manejo Sustentáveis para a Cultura da Palma de
Óleo na Amazônia
Capítulos
Planejamento conservacionista e procedimentos para a instalação de palmares na
1 Amazônia
Pedro Luiz de Freitas, Antonio Ramalho Filho, Paulo Emílio Ferreira da Motta e
Wenceslau Geraldes Teixeira
75
Aspectos gerais sobre a fenologia da cultura da palma de óleo
2 Antonio Agostinho Müller, Emeleocípio Botelho de Andrade
83
Material genético utilizado para a produção sustentável da cultura da palma de óleo
3 na Amazônia
Raimundo Nonato Vieira da Cunha, Ricardo Lopes, Rui Alberto Gomes Júnior,
Maria do Rosário Lobato Rodrigues, Paulo César Teixeira, Raimundo Nonato
Carvalho da Rocha e Wanderlei Antônio Alves de Lima
93
137
Manejo de pragas e doenças para a cultura de palma de óleo na Amazônia
9 Walkymário de Paulo Lemos e Alessandra de Jesus Boari
145
O desafio das pesquisas com a etiologia do Amarelecimento Fatal (AF) da cultura
10 da palma de óleo
Alessandra de Jesus Boari
153
A cultura da palma de óleo como âncora do desenvolvimento da agricultura
11 familiar na Amazônia Ocidental
Edson Barcelos e Mauricio Veloso Soares
167
Combinação de cultivos florestais com a cultura da palma de óleo no Estado do
12 Acre
João Batista Martiniano Pereira, Rodrigo da Silva Guedes, Edson Alves de
Araújo, João Paulo Mastrângelo, Eufran Ferreira do Amaral, Tadário Kamel de
Oliveira e Nilson Gomes Bardales
179
Sumário
Zoneamento Agroecológico
para a Cultura da Palma de
Óleo (dendezeiro) nas Áreas
Desmatadas da Amazônia Legal
Editores Técnicos
Zoneamento Agroecológico para a Cultura da Palma de Óleo (dendezeiro) nas Áreas Desmatadas da Amazônia Legal | 19
O “Zoneamento Agroecológico para a gal, informadas pelo Instituto Nacional de
Cultura da Palma de Óleo nas Áreas Des- Pesquisas Espaciais – Projeto de Monitora-
matadas da Amazônia Legal – ZAE-Palma mento do desflorestamento da Amazônia
de Óleo” foi elaborado sob encomenda do Legal (INPE/PRODES) (INPE, 2007). O ZAE-
Governo Federal, com apoio financeiro da Palma de Óleo tem como objetivo geral
Financiadora de Estudos e Projetos – MCT/ avaliar e espacializar o potencial das terras
FINEP. A Amazônia Legal, estabelecida no para a palma de óleo como base para o
Artigo 2º da lei nº 5.173, de outubro de uso sustentável das terras em harmonia
1966, abrange os estados do Acre, Amapá, com a biodiversidade. E, como objetivos
Amazonas, Mato Grosso, Pará, Rondônia, específicos:
Roraima, Tocantins, parte do Maranhão
• oferecer subsídios para a reestruturação
e cinco municípios de Goiás, compreen-
da matriz energética brasileira através da
dendo cerca de 59% do território brasileiro
produção de biocombustível;
(IBGE, 2009).
• apresentar alternativas econômicas
Sua elaboração, liderada pela Embra-
sustentáveis aos produtores rurais da re-
pa Solos, contou com a cooperação das
gião, operando em agricultura empre-
Unidades da Embrapa na Região Norte,
sarial ou familiar;
bem como de outras instituições públicas
e privadas que atuam na região, entre as • propor uma base para o planejamento
quais: Sistema de Proteção da Amazônia do uso sustentável das terras em conso-
(SIPAM-CR/Manaus); Ministério do Meio nância com a legislação vigente;
Ambiente, através do IBAMA, da FUNAI e
• propiciar o ordenamento territorial nas
das Secretarias do Desenvolvimento Sus-
áreas desmatadas consolidadas e a
tentável e de Biodiversidade; Comissão
consolidar da Região Amazônica em
Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira
conformidade com o Zoneamento Eco-
(CEPLAC/CEPEC); Empresa de Assistência
lógico-Econômico (ZEE) dos estados da
Técnica e Extensão Rural do Estado de
região;
Rondônia (EMATER-RO); Fundação de
Meio Ambiente, Ciência e Tecnologia do • fornecer bases para o planejamento de
Estado de Roraima (FEMACT-RR); Instituto polos de desenvolvimento no espaço
de Desenvolvimento Agropecuário e Flo- rural em alinhamento com as políticas
restal Sustentável do Estado do Amazonas governamentais sobre segurança ali-
(IDAM); Secretaria de Planejamento do Es- mentar e energia.
tado de Mato Grosso (SEPLAN-MT); Dioce- O ZAE-Palma de Óleo foi realizado para
se de Tabatinga-AM; Universidade Federal dois níveis tecnológicos (níveis de manejo),
do Estado do Pará (UFPA); e as empresas sendo um com alto e outro com modesto
Agropalma, Marborges, Yossan e Biofuels. aporte de capital de tecnologia.
Este trabalho possibilitou conhecer e es-
pacializar o potencial agroecológico das Como forma de validação, os resulta-
terras para a cultura de palma de óleo dos preliminares foram discutidos em reu-
visando à produção de óleo para alimen- niões com representantes do poder públi-
tação humana e para biocombustível de co, técnicos, extensionistas e produtores
forma sustentável e com impacto reduzi- dos estados da região, além de terem sido
do sobre a biodiversidade da região. Para divulgados em eventos científicos e em
isso, o zoneamento teve como foco princi- diversos seminários sobre solos, oleagi-
pal as áreas desmatadas da Amazônia Le- nosas e agroenergia (MOTTA et al., 2009a,
Biomas Brasileiros
Amazônia = 4.196.493 Km2
Cerrado = 2.036.448 Km2
Caatinga = 644.453 Km2
Mata Atlântica = 1.110.182 Km2
Pantanal = 150.355 Km2
Pampa = 176.496 Km2
Amazônia Legal
Área Desmatada
Zoneamento Agroecológico para a Cultura da Palma de Óleo (dendezeiro) nas Áreas Desmatadas da Amazônia Legal | 21
RAMALHO FILHO, A.; MOTTA, P. E. F.; NAIME, U.
J.; GONÇALVES, A. O.; BARROS, A. H. Zoneamento
agroecológico do dendezeiro para as áreas des-
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RAMALHO FILHO, A.; MOTTA, P. E. F.; NAIME, U. J.;
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<http://www.ibge.gov.br/home/geociencias>. C.; TEIXEIRA, W. G. Zoneamento agroecológico do
Acesso em: 08 mar. 2009 dendezeiro para as áreas desmatadas do Estado
INPE. Programa de mapeamento do desmata- do Pará. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIA
mento. Disponível em: <http://www.dpi.inpe.br/ DO SOLO, 32. Fortaleza, 2009. Anais... Fortaleza:
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2007. CD-ROM.
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M. E. C. Zoneamento agroecológico do dendezei- O.; BARROS, A. H.; BACA, J. M. Zoneamento agroe-
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DO SOLO, 32. Fortaleza, 2009. Anais... Fortaleza: LEIRO DE CIÊNCIA DO SOLO, 32. Fortaleza, 2009.
Sociedade Brasileira de Ciência do Solo, 2009a. Anais... Fortaleza: Sociedade Brasileira de Ciência
CD-ROM. do Solo, 2009c. CD-ROM.
MOTTA, P. E. F.; NAIME, U. J.; RAMALHO FILHO, RAMALHO FILHO, A.; MOTTA, P. E. F.; NAIME, U.
A.; GONÇALVES, A. O.; BACA, J. M. Zoneamento J.; GONÇALVES, A. O.; BACA, J. M.; BARROS, A. H.;
agroecológico do dendezeiro para as áreas des- TEIXEIRA, W. G.; BASTOS, T. X. Zoneamento agro-
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BRASILEIRO DE CIÊNCIA DO SOLO, 32. Fortaleza, Amazônica brasileira – procedimentos metodo-
2009. Anais... Fortaleza: Sociedade Brasileira de lógicos e resultados. In: CONGRESO LATINOAME-
Ciência do Solo, 2009b. CD-ROM. RICANO DE LA CIENCIA DEL SUELO, 18. San Jose,
Costa Rica, 2009. Anais... San Jose, Costa Rica: So-
RAMALHO FILHO, A.; BACA, J. F .M.; MOTTA, P. E. ciedad Latinoamericana de la Ciencia del Suelo,
F. ; NAIME, U. J.; CLAESSEN, M. E. C. Zoneamento 2009d. CD-ROM.
agroecológico do dendê nas áreas desmatadas
da Amazônia Legal. In: CONGRESSO BRASILEIRO
DE PLANTAS OLEAGINOSAS, ÓLEOS, GORDURAS E
BIODIESEL, 5. Lavras, 2008. Anais... Lavras: UFLA,
2008. CD-ROM.
Zoneamento Agroecológico para a Cultura da Palma de Óleo (dendezeiro) nas Áreas Desmatadas da Amazônia Legal | 23
de limitação afetam as terras para os níveis nologia e o segundo, por alto aporte de
de manejo B e C, conforme a simbologia capital e tecnologia. Foram gerados, por-
apresentada na Tabela 1. tanto, dois mapas distintos e equivalen-
tes a dois zoneamentos. Definições mais
completas dos níveis de manejo adotados
encontram-se na Tabela 2.
Níveis de manejo
Visando avaliar o potencial das terras
sob diferentes níveis de aplicação de tec- Avaliação da Aptidão
nologia agrícola e capital, tanto a aptidão
das terras quanto o zoneamento agroeco- das Terras
lógico foram executados para dois níveis
de manejo – B e C – sendo o primeiro ca- Os fatores limitantes dos solos, con-
racterizado por uma aplicação média de siderados representativos das condições
capital e modesto uso de insumos e tec- agrícolas das terras, são: deficiência de
Tabela 1 – Simbologia usada para designação das classes de aptidão das terras nos
níveis de manejo B e C. Fonte: Ramalho Filho e Beek (1995)
Nível de Manejo
Classe de aptidão
B C
Boa B C
Regular b c
Restrita (b) (c)
Inapta I I
Nível de
Características
manejo
Emprega práticas agrícolas que refletem um nível tecnológico médio,
havendo modesta aplicação de capital e de tecnologias para manejo,
melhoramento e conservação das terras e das lavouras. As práticas agrícolas
B
estão condicionadas, principalmente, à tração animal. A motomecanização,
portanto, é mais intensa no preparo inicial do solo e em alguns tipos de tratos
culturais compatíveis com implementos agrícolas mais simples.
Emprega práticas agrícolas que refletem um alto nível tecnológico,
caracterizando-se pela aplicação intensiva de capital e de tecnologias
C
para manejo, melhoramento e conservação das terras e das lavouras. A
motomecanização está presente nas diversas fases da operação agrícola.
Zoneamento Agroecológico para a Cultura da Palma de Óleo (dendezeiro) nas Áreas Desmatadas da Amazônia Legal | 25
Tabela 3 – Graus de Limitação atribuídos aos Solos da Amazônia Legal
26
Grau de Limitação
|
Fator Limitativo
Nulo Ligeiro Moderado Forte Muito Forte
Deficiência de Fertilidade distrófico
alumínico sódico ou salino ou tiomórfico ou
- em função da saturação de eutrófico (V < 50%) ou álico
(sat. Al >50% e carbonático ou sálico (CE>15 mS/cm a
bases, salinidade, sodicidade e de (V > 50%) (sat. Al >50% e
Al ext. > 4cmol/kg) solódico 25ºC)
carbonatos Al ext. < 4cmol/kg)
Deficiência de Água
argilosa, média ou muito argilosa ou (Ta) ou muito arenosa com granulometria
- em função da textura e da arenosa
orgânica siltosa argilosa mais grosseira
atividade da argila
Excesso de Água - em função da
bem drenado bem a mod. drenado mod. drenado imperf. drenado mal drenado
classe de drenagem interna
Suscetibilidade à Erosão moderadamente forte ondulado a
plano suave. ondulado ondulado
- em função das classes de relevo ondulado montanhoso
(0 - 3%) (3 - 8%) (13 - 20%)
(declive) (8 - 13%) (20 - 45% ou +)
Impedimento à Mecanização
- em função das classes de relevo plano suave ond. a mod. ondulado forte ondulado montanhoso e escarpado
(0 - 3 %) ond. (3 - 13 %) (13 - 20 %) (20 - 45%) (>45 a >70%)
- em função da classe de
pedregosidade* ausente lig. pedregosa mod. pedregosa pedregosa, -
rochosa
- em função dos caracteres - - petroplíntico1
petroplíntico e vértico - vértico2
CLASSE DE APTIDÃO
PREFERENCIAL REGULAR MARGINAL INAPTA
NÍVEL DE MANEJO B C B C B C B C
Fatores Limitantes:
Deficiência de
L M M F F MF MF EF
Fertilidade
Deficiência de Água L M M F F MF MF EF
Excesso de Água L L M M F F MF MF
Suscetibilidade à Erosão
L M M F F MF MF EF
Relevo x Textura
Impedimento à
Mecanização
Pedregosidade L N M L F M MF F
Rochosidade N N L L M M F F
Relevo M L F M MF F EF MF
Impedimento às Raízes N N L L M M F F
Grau de limitação: N = Nulo; L = Ligeiro; M = Moderado; F = Forte; MF = Muito forte
Zoneamento Agroecológico para a Cultura da Palma de Óleo (dendezeiro) nas Áreas Desmatadas da Amazônia Legal | 27
Deficiência de fertilidade em que não há presença de toxidez
por excesso de sais solúveis ou sódio
A intensidade deste fator é avaliada a trocável. As terras com essas caracterís-
partir do conhecimento da disponibilida- ticas têm capacidade de manter boas
de de macro e micronutrientes nos solos. colheitas durante vários anos (suposta-
As limitações dizem respeito tanto à baixa mente mais de 10 anos), com pequena
quantidade de nutrientes, em situação de exigência de fertilizantes para manter o
insuficiência para sustentar uma produção seu estado nutricional.
econômica da cultura, como a uma situa-
ção de excesso, que pode ser prejudicial • Moderado – típico de terras com limita-
ao desenvolvimento das plantas. Níveis da reserva de nutrientes para as plan-
tóxicos de alumínio, sódio (solos sódicos tas, referente a um ou mais elementos,
e solódicos), enxofre (solos tiomórficos) e podendo conter sais tóxicos capazes
manganês ocorrem comumente em mui- de afetar certas culturas. Durante os pri-
tos solos. Excesso de sais também consti- meiros anos de utilização agrícola, es-
tui séria limitação para o uso de solos de sas terras permitem bons rendimentos,
áreas costeiras ou de regiões semiáridas. verificando-se posteriormente (supos-
tamente depois de 5 anos) um rápido
O índice de fertilidade normalmente declínio na produtividade, o que torna
é avaliado através de saturação de bases necessária a aplicação de fertilizantes e
(V%), saturação com alumínio (100 Al/Al+S), corretivos após as primeiras safras.
soma de bases trocáveis (S), capacidade de
troca de cátions (T), relação C/N, fósforo as- • Forte – refere-se a terras com reservas
similável, saturação com sódio, condutivida- muito limitadas de um ou mais elemen-
de elétrica e pH. Esses dados são obtidos tos nutrientes, ou contendo sais tóxicos
quando da análise dos perfis do solo. em quantidades tais que permitem ape-
nas o desenvolvimento de plantas com
Na avaliação deste fator, são admitidos tolerância. Essas características se refle-
os seguintes graus de limitação: Nulo, Li- tem nos baixos rendimentos da maioria
geiro, Moderado, Forte e Muito Forte, defi- das culturas e pastagens desde o início
nidos no Sistema de Avaliação da Aptidão da exploração agrícola, devendo essa
das Terras (RAMALHO FILHO; BEEK, 1995), deficiência ser corrigida na fase inicial
como a seguir: de sua utilização.
• Nulo – característico de terras que pos- • Muito Forte – grau atribuído a terras mal
suem elevadas reservas de nutrientes providas de nutrientes, com remotas
para as plantas, sem apresentar toxidez possibilidades de serem exploradas
por sais solúveis, sódio trocável ou ou- com quaisquer tipos de utilização agrí-
tros elementos prejudiciais ao desen- cola. Pode ocorrer nessas terras grande
volvimento das plantas. Praticamente quantidade de sais solúveis, chegando
não respondem à adubação e apresen- mesmo a formar desertos salinos. Ape-
tam ótimos rendimentos durante mui- nas plantas com muita tolerância con-
tos anos (supostamente, mais de 20 seguem se adaptar a essas áreas.
anos), mesmo quando cultivadas com
culturas mais exigentes em fertilidade. A Tabela 5 mostra os graus de limita-
ção aplicados às terras em função da de-
• Ligeiro – grau atribuído a terras com boa ficiência de fertilidade, utilizando critérios
reserva de nutrientes para as plantas, específicos para a palma de óleo.
Zoneamento Agroecológico para a Cultura da Palma de Óleo (dendezeiro) nas Áreas Desmatadas da Amazônia Legal | 31
Suscetibilidade à erosão de declive podem variar para mais de
13%, quando as condições físicas forem
Este fator limitante refere-se ao po- muito favoráveis, ou para menos de 8%,
tencial de desgaste que o solo apresenta quando muito desfavoráveis, como é o
quando submetido a qualquer uso sem caso de solos com horizonte B, com
a adoção de medidas conservacionistas. mudança textural abrupta. Se utilizadas
Esse potencial depende basicamente das fora dos princípios conservacionistas,
condições climáticas (especialmente do essas terras podem apresentar sulcos
regime pluviométrico), das condições do e voçorocas, requerendo práticas de
solo (textura, estrutura, permeabilidade, controle à erosão desde o início de sua
profundidade, capacidade de retenção de utilização agrícola.
água, presença ou ausência de camada
compacta e pedregosidade), das condi- • Forte – grau atribuído a terras que apre-
ções do relevo (declividade, extensão da sentam forte suscetibilidade à erosão
pendente e microrrelevo), da cobertura por ocorrerem em relevo ondulado,
vegetal e do manejo a que é submetido. com declive entre 13 e 20%, ou em
declives mais suaves, mas com piores
O Sistema de Avaliação da Aptidão das condições físicas. Na maioria dos ca-
Terras define os graus de limitação com sos, a prevenção à erosão depende de
relação à suscetibilidade à erosão (nulo, práticas intensivas de controle.
ligeiro, moderado, forte e muito forte),
como a seguir: • Muito Forte – refere-se a terras com sus-
cetibilidade muito forte, por ocorrerem
• Nulo – grau atribuível a terras não sus- em áreas de relevo forte-ondulado, com
cetíveis à erosão, situadas em áreas de declives entre 20 e 45%, o que torna o
relevo plano ou quase plano (0 a 3% seu uso agrícola muito restrito. Na maio-
de declive) e com boa permeabilidade. ria dos casos, o controle à erosão é dis-
Quando cultivadas por 10 a 20 anos, pendioso, podendo ser antieconômico.
podem apresentar erosão ligeira, que
pode ser controlada com práticas sim- • Extremamente Forte – grau de terras que
ples de manejo. apresentam severa suscetibilidade à ero-
são. Não são recomendáveis para o uso
• Ligeiro – grau típico de terras que apre- agrícola, sob pena de serem totalmente
sentam pouca suscetibilidade à erosão erodidas em poucos anos. Trata-se de
em função das boas propriedades físi- terras ou paisagens de relevo monta-
cas e por estarem situadas em áreas de nhoso com declives superiores a 45%,
relevo suave-ondulado, com declives de nas quais deve ser estabelecida uma co-
3 a 8%. Quando utilizadas com lavouras bertura vegetal de preservação ambien-
por um período de 10 a 20 anos, essas tal permanente.
terras normalmente mostram uma per-
da de 25% ou mais do horizonte super- No caso do ZAE-Palma de Óleo, a limi-
ficial. Práticas conservacionistas simples tação das terras quanto à suscetibilidade
podem prevenir esse tipo de erosão. à erosão foi avaliada considerando-se a
interação entre classe de relevo, textura e
• Moderado – grau atribuído a terras gradiente textural ao longo dos perfis. Des-
que apresentam moderada suscetibili- se modo, partiu-se do pressuposto que,
dade à erosão, situadas normalmente dentro da mesma classe de relevo, a sus-
em relevo moderadamente ondulado, cetibilidade à erosão é sensivelmente au-
com declive de 8 a 13%. Esses níveis mentada pela maior quantidade de areia
Zoneamento Agroecológico para a Cultura da Palma de Óleo (dendezeiro) nas Áreas Desmatadas da Amazônia Legal | 33
• Forte – caracteriza terras que ocorrem em sendo difícil até mesmo o uso de imple-
áreas de declives acentuados (20 a 45%), mentos de tração animal. Normalmen-
em relevo forte ondulado, o que permi- te, são de topografia montanhosa, com
te, quase em sua totalidade, apenas o declives superiores a 45% e/ou com
uso de implementos de tração animal impedimentos muito fortes devido a
ou máquinas especiais. Sulcos e voçoro- pedregosidade, rochosidade e profun-
cas podem constituir impedimentos ao didade ou a problemas de drenagem.
uso de máquinas, bem como pedrego-
No caso do ZAE-Palma de Óleo, ava-
sidade, rochosidade, pequena profundi-
liou-se inicialmente o efeito individual da
dade, má drenagem, etc. O rendimento
pedregosidade, rochosidade, classe de re-
do trator é inferior a 50%.
levo e presença de petroplintita, analisan-
• Muito Forte – grau atribuído a terras que do-se, ao final, o efeito combinado de tais
não permitem o uso de maquinaria, atributos (Tabelas 8, 9 e 10).
Zoneamento Agroecológico para a Cultura da Palma de Óleo (dendezeiro) nas Áreas Desmatadas da Amazônia Legal | 35
As classes de profundidade foram dedu- Quanto maior a deficiência, portanto,
zidas a partir das classes taxonômicas dos mais intensivas serão as práticas, que en-
componentes das unidades de mapeamen- volvem grande conhecimento técnico e
to e/ou pela indicação de caráter litólico, disponibilidade de insumos para melhorar
raso e pouco profundo para certos solos. um solo carente até a condição de classe
de aptidão boa e regular.
Exemplos de práticas menos intensivas
recomendadas para o melhoramento de
Viabilidade de fertilidade e, portanto, mais compatíveis
com o nível de manejo B:
melhoramento das
• cobertura do solo com espécies le-
condições agrícolas guminosas ou gramíneas;
das terras • distribuição de esterco e composto
orgânico na superfície do solo;
Os graus de limitação são atribuídos • distribuição de tortas e outros resídu-
às terras de acordo com a sua capacida- os vegetais;
de presumível de suportar uma lavoura de
• correção da acidez do solo com cal-
palma de óleo após o emprego de práticas
cário;
de melhoramento compatíveis com os ní-
veis de manejo B e C, considerando-se o • adubação com NPK;
fato de que a irrigação não está incluída • consorciação de culturas.
entre tais práticas. São exemplos de práticas mais intensi-
vas, compatíveis com o nível de manejo C:
A – Melhoramento da • adubação com NPK + micronutrientes;
deficiência de fertilidade • adubação foliar;
O melhoramento da fertilidade natu- • combinação das práticas acima com
ral de solos que possuem condições físi- “mulching”, utilizando espécies legu-
cas propícias às plantas é fator decisivo minosas ou gramíneas de cobertura;
no desenvolvimento agrícola. De modo • correção da acidez do solo e forneci-
geral, embora a aplicação de fertilizantes mento de Ca e Mg através da incor-
e corretivos seja uma técnica já difundida, poração de calcário ao solo.
as quantidades aplicadas são comumen-
te insuficientes. Portanto, seu emprego A indicação de dosagens de calcário e
deve ser incentivado, bem como outras fertilizantes depende de recomendações
técnicas adequadas ao aumento da pro- técnicas, com base em análises do solo
dutividade. e metas de produtividade definidas pelo
agricultor para uma produção sustentável
Terras com alta fertilidade natural e no seu empreendimento.
boas propriedades físicas exigem, even-
tualmente, menores quantidades de ferti-
lizantes para a manutenção da produção, B – Melhoramento da deficiência
ao passo que terras com fertilidade natu- de água (sem irrigação)
ral baixa exigem quantidades maiores de Alguns fatores limitantes não são vi-
fertilizantes e corretivos, bem como alto áveis de melhoramento, como é o caso
nível de conhecimento técnico. da deficiência de água, uma vez que não
Zoneamento Agroecológico para a Cultura da Palma de Óleo (dendezeiro) nas Áreas Desmatadas da Amazônia Legal | 37
Algumas práticas importantes para o para a avaliação de aptidão das terras é
melhoramento das condições agrícolas apresentado na Tabela 12.
do solo são comuns aos níveis de manejo
Considerações sobre as características
B e C: uso da terra de acordo com a ap-
gerais e as condições agrícolas das classes
tidão agrícola, vegetação de proteção e
de solo, em primeiro nível categórico, e
adequada implantação de estradas e car-
suas consequências para o enquadramen-
readores.
to nas diferentes classes de zoneamento
para a cultura da Palma de Óleo são apre-
E – Melhoramento dos sentadas na Tabela 13.
impedimentos à mecanização
O impedimento à mecanização so-
mente é considerado relevante no nível Referências bibliográficas
de manejo C. Os graus de limitação atri-
buídos às terras, em condições naturais, EMBRAPA SOLOS. Sistema brasileiro de classifi-
cação de solos. 2. ed. Rio de Janeiro: Embrapa
têm por termo de referência o emprego
Solos, 2006. 306 p.
de máquinas motorizadas nas diversas fa-
ses da operação agrícola. IDE, B. Y.; ALTHOFF, D. A.; THOMÉ, V. M. R.; VIZZOT-
TO, V. J. Zoneamento agroclimático do Estado
A maior parte dos obstáculos à meca- de Santa Catarina, 2ª Etapa. Florianópolis: EM-
PASC, 1980. 106 p.
nização ou tem caráter permanente, ou
apresenta tão difícil remoção que torna RAMALHO FILHO, A.; BEEK, K. J. Sistema de ava-
liação da aptidão agrícola das terras. 3. ed. rev.
economicamente inviável o seu melho-
Rio de Janeiro: Embrapa-CNPS, 1995. 65 p.
ramento. No entanto, algumas práticas,
ainda que dispendiosas, poderão ser re- RAMALHO FILHO, A.; HIRANO, C.; SA, T. D. A. Ap-
tidão pedoclimática: zoneamento por produto,
alizadas em benefício do rendimento das Programa Grande Carajás. Rio de Janeiro: [SNLCS],
máquinas, como é o caso da construção 1984. Atlas com texto,1v.
de estradas, da drenagem, da remoção RAMALHO FILHO, A. HIRANO C. LIMA, M. A. Ap-
de pedras, da sistematização do terreno tidão pedoclimática por cultura do Estado da
e da direção do trabalho da máquina em Bahia. Salvador: Ministério da Agricultura;Governo
nível. do Estado da Bahia, 1985. 50 p. 1 Vol. Atlas.
SIPAM. Base pedológica da Amazônia Legal: base
Um exemplo de sequência ordena- digital em escala compatível com a escala 1:250.000.
da das características dos solos utilizadas Brasília, SIVAM; IBGE, 2004.
Zoneamento Agroecológico para a Cultura da Palma de Óleo (dendezeiro) nas Áreas Desmatadas da Amazônia Legal
SB23PVa19
2 S Plintossolo Háplico álico Tb A moderado arenosa média
|
3 S Plintossolo Háplico álico Tb A moderado média média
Simbologia – UM: unidade de mapeamento; D: dominante; S: subdominante; Tb: argila de atividade baixa; Ta: argila de atividade alta.
39
Tabela 12 – Sequência para avaliação da aptidão das terras a partir da informação sobre solos e ambiente (continuação)
40
|
UNIDADE DE Componentes Textura combinada Caráter
Relevo Relevo
MAPEAMENTO (superficial e Relevo combinado (características
Ordem Dominância dominante subdominante
(UM) subsuperficial) especiais)
plano e
1 D argilosa plano suave ondulado sem caráter
suave ondulado
NA19LVa15 suave suave ondulado e
2 S média plano sem caráter
ondulado plano
3 S arenosa/média plano - plano sem caráter
suave suave ondulado e
1 D argilosa ondulado epipetroplíntico
ondulado ondulado
plano e
2 S média plano suave ondulado sem caráter
suave ondulado
SB23TRe5
plano e
3 S arenosa plano suave ondulado sem caráter
suave ondulado
ondulado e
4 S média ondulado forte ondulado pedregoso
forte ondulado
suave
1 D média/argilosa - suave ondulado sem caráter
ondulado
SC19PTa1
suave
2 S média/argilosa - suave ondulado sem caráter
ondulado
plano e
1 D média plano suave ondulado petroplíntico
suave ondulado
Componentes Graus atribuídos aos fatores de limitação à cultura Aptidão das Terras
UNIDADE DE
Componente UM
MAPEAMENTO
(UM) Ordem % da UM ΔR ΔF ΔA ΔO ΔE ΔM ΔP ΔRo Manejo Manejo
B C B C
1 50 n l n n n n n n P P
NA19LVa15 2 30 n l n n l l n n P P P P
3 20 m l n n n l n n IN IN
1 40 l n n n m m f n M IN
2 30 n l n n l l n n P P
SB23TRe5 M IN
3 20 n f m n l l n n M R
4 10 l l n n m f f mf IN IN
1 60 m l n f l l n n IN IN
SC19PTa1 IN IN
2 40 n l n n l l n n P P
1 50 l l n n l l m n R M
SB23PVa19 2 30 m l n f l l n n IN IN R M
3 20 l l n f l l m n IN IN
Zoneamento Agroecológico para a Cultura da Palma de Óleo (dendezeiro) nas Áreas Desmatadas da Amazônia Legal
Simbologia – ΔR: impedimento ao desenvolvimento radicular das plantas; ΔF: deficiência de fertilidade; ΔA: deficiência de água; ΔO: deficiência de oxigênio (excesso de
água); ΔE: suscetibilidade à erosão; ΔM: impedimento à mecanização; ΔP: impedimento por pedregosidade; ΔRo: impedimento por rochosidade.
|
Classe de aptidão/zoneamento: P=Preferencial; R=Regular; M= Marginal; IN=Inapta
Nível de Manejo/nível tecnológico: B = Intermediário; C = Avançado
41
Tabela 13 – Considerações gerais sobre a aptidão das classes de solo em primeiro nível categórico para a cultura da Palma de Óleo
42
|
Classe de Recomendações e cuida-
Conceito geral Aptidão para a cultura da palma de óleo
Solo1 dos de uso agrícola
Solos profundos que apresentam significativo gra- De modo geral, apresentam, ao lado dos Latossolos,
Correção da fertilidade
diente textural, ou seja, aumento do teor de argila aptidão boa para o cultivo da palma de óleo. No caso de
e adoção de práticas
com a profundidade – comparando horizontes ocorrência de petroplintita em grande quantidade, como
conservacionistas mais
Argissolos superficial e subsuperficial – o que acarreta redu- foi registrada em pequenas áreas da Região Norte, há difi-
intensivas, principalmente
ção de permeabilidade em profundidade, maior culdade do trabalho de máquinas. A ocorrência de plintita
em áreas com declive
escorrimento superficial, e, consequentemente, em parte desses solos denota restrição de drenagem, o
mais acentuado.
maior suscetibilidade à erosão. que pode reduzir o desenvolvimento radicular da cultura.
Zoneamento Agroecológico para a Cultura da Palma de Óleo (dendezeiro) nas Áreas Desmatadas da Amazônia Legal
Luvissolos significativos ao cultivo da palma de óleo, sua aptidão
atividade e alta saturação por bases, que lhes declivosas, e adequação
fica na dependência do relevo em que ocorrem.
|
conferem alta fertilidade natural. do tipo de tração a ser
utilizada no seu manejo.
43
Tabela 13 – (continuação)
44
Classe de Recomendações e cuida-
|
Conceito geral Aptidão para a cultura da palma de óleo
Solo dos de uso agrícola
Mesmo quando férteis, são considerados inaptos para a
Solos pouco desenvolvidos encontrados em terre-
Neossolos cultura da palma de óleo em razão da exígua profundida-
nos muito pedregosos e rochosos. São invariavel- –
Litólicos de efetiva, da grande suscetibilidade à erosão e de sérios
mente rasos e normalmente declivosos.
impedimentos à mecanização.
Solos formados por material transportado pelos
rios e depositado às suas margens (aluviões). Ge-
Neossolos ralmente são férteis e aptos para culturas de ciclo Inaptos para a cultura de palma de óleo em razão da umi-
–
Flúvicos curto; porém, ocorrem em áreas consideradas de dade excessiva e do elevado risco de inundações.
preservação permanente (proteção da mata ciliar)
e são sujeitos à inundação.
Devido à sua inerente baixa retenção de água, sua utilização
para a cultura da palma de óleo é especialmente dependen-
Correção de fertilidade,
te do regime climático da região. Em áreas com pluviosidade
práticas conservacionistas
Neossolos adequada, apresentam aptidão regular se constituídos de
Solos arenosos (menos de 15% de argila) com alta que enfoquem o aumento
Quartzarê- areia fina. Em áreas com baixa precipitação pluviométrica
permeabilidade e baixa retenção de água. da retenção de água, além
nicos ou com a existência de período seco significativo (3 meses),
da prevenção dos proces-
sua aptidão é significativamente reduzida. Já o Neossolo
sos erosivos.
Quartzarênico Hidromórfico é inapto pelas mesmas razões
citadas para os Gleissolos e demais solos hidromórficos.
Solos bem estruturados e férteis, de pequena
Adoção de práticas de
ocorrência relativa na Região Norte. Assim como
Apresentam aptidão alta (preferencial) para a cultura da conservação do solo mais
Nitossolos os Argissolos, são originados pela eluviação de
palma de óleo. intensivas quanto mais
Zoneamento Agroecológico para a Cultura da Palma de Óleo (dendezeiro) nas Áreas Desmatadas da Amazônia Legal
Vertissolos Solos cuja fração coloidal mineral é constituída basi- Inaptos para o dendê em virtude de forte limitação com
camente de argila de atividade alta, o que acarreta relação aos impedimentos à mecanização e ao desenvol-
|
grande alternância de movimentação da massa do vimento radicular. –
solo por contração-expansão, em função da alter-
nância de condições de secagem e umedecimento.
45
46 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
PARTE 1
Capítulo 3
Procedimento metodológico da
Avaliação da Aptidão Climática para
a cultura da palma de óleo nas áreas
desmatadas da Amazônia Legal
Alexandre Ortega Gonçalves, Therezinha Xavier Bastos, Alexandre Hugo Barros,
Antonio Ramalho Filho e Paulo Emílio Ferreira da Motta
Zoneamento Agroecológico para a Cultura da Palma de Óleo (dendezeiro) nas Áreas Desmatadas da Amazônia Legal | 47
As classes de aptidão foram estabe- cultura caracteriza-se por uma preci-
lecidas com base na deficiência hídrica pitação média anual superior a 1800
média (DEF), determinada a partir do ba- mm, com precipitações mensais su-
lanço hídrico climatológico para um valor periores a 100 mm e distribuídas uni-
de capacidade de água disponível dos formemente ao longo do ano.
solos (CAD) de 125 mm, e no número de
• Brilho Solar – altos níveis de radiação
anos secos consecutivos, aqui considera-
solar são indispensáveis para o cres-
dos como aqueles em que a precipitação
cimento e a produção da cultura. A
média é inferior a 50 mm. As classes de
isolação necessária para a expressão
aptidão climática foram assim definidas:
máxima do potencial produtivo da
– Preferencial (P): áreas com Deficiên- palma de óleo situa-se em torno de
cia Hídrica média anual (DH) inferior 1.600 horas/ano. Locais com lumino-
a 200 mm e com até três meses se- sidade inferior a 1.500 horas/ano são
cos consecutivos; considerados limitantes.
– Regular (R): áreas com DH entre 200 • Temperatura do ar – fator climático
mm e 350 mm e com até três meses de grande importância para o cres-
secos consecutivos; cimento e a produção da palma de
óleo. Observa-se que as maiores
– Marginal (M): áreas com DH entre 350
produções são obtidas em regiões
mm e 450 mm e com até três meses
com pequenas variações de tempe-
secos consecutivos;
ratura e onde a média anual situa-
– Inapta (I): áreas com DH>450 e/ou se entre 24 e 28ºC, sem ocorrência
com mais de três meses secos con- de temperaturas mínimas abaixo de
secutivos. 16ºC por períodos prolongados.
Na elaboração do ZAE-Palma de Óleo, • Umidade relativa do ar – a umidade
foi utilizada a avaliação da aptidão climáti- relativa do ar, média mensal, deve
ca, embora também possa ser utilizado o estar entre 75 e 90%.
risco climático baseado em estudos proba-
Para a determinação da deficiência
bilísticos em séries climáticas. De acordo
hídrica, foi realizado o balanço hídrico cli-
com a literatura disponível, para que uma
matológico segundo a metodologia pro-
planta expresse todo o seu potencial de
posta por Thornthwaite e Mather (1955),
produção, ela necessita de condições cli-
utilizando-se uma CAD de 125 mm. Os
máticas favoráveis. Essas condições podem
dados de deficiência hídrica anual poste-
limitar o estabelecimento da cultura e a
riormente foram espacializados e divididos
produção de frutos em certas regiões. Na
em classes, conforme proposto por Barce-
avaliação da aptidão climática, os fatores de
los (1994). Esse autor avaliou a viabilidade
maior importância para o cultivo da palma
e a potencialidade de produção da cultura
de óleo são: precipitação, horas de brilho
da palma de óleo, relacionando dados de
solar e temperaturas máxima e mínima.
deficiência hídrica anual (mm) com o po-
• Precipitação – uma adequada dispo- tencial de produção de óleo (T de óleo/ha/
nibilidade de água no solo de forma ano), conforme mostrado na Tabela 1. Da
constante é condição extremamente mesma forma, a deficiência hídrica pode
importante para o desenvolvimento ser relacionada com a produção em tone-
e a produção da palma de óleo. O re- ladas de cachos por hectare/ano (Figura 2),
gime pluviométrico adequado a essa conforme Irho (1969) apud Hartley (1988).
Figura 2 – Relação entre deficiência hídrica anual e produção de cachos de palma de óleo
(IRHO, 1969 apud HARTLEY, 1988)
600 ––
Deficiência hídrica anual (mm)
500 ––
400 ––
300 ––
200 ––
100 ––
––
––
––
––
5 10 15 20
Produção de cachos (toneladas/ha/ano)
Zoneamento Agroecológico para a Cultura da Palma de Óleo (dendezeiro) nas Áreas Desmatadas da Amazônia Legal | 49
Referências bibliográficas
BARCELOS, E. Relatório de viagem ao municí-
pio de Alto Paraíso - RO, objetivando avaliar a
viabilidade e potencialidade de produção da
cultura do dendê. Manaus: Embrapa Amazônia
Ocidental, 1994.
BASTOS, T. X.; MULLER, A. A.; PACHECO, N. A.;
SAMPAIO, M. N.; ASSAD, A. D.; MARQUES, A. F.
S. Zoneamento de riscos climáticos para a cultura
do dendezeiro no estado do Pará. Revista Brasi-
leira de Agrometeorologia, v. 9, n. 3, p.564-570,
2001.
HARTLEY, C. W. S. The oil palm. 3. ed. London: [s.
n.], 1988. 761 p. (Tropical agriculture series).
IDE, B. Y.; ALTHOFF, D. A.; THOMÉ, V .M. R.; VIZZOT-
TO, V. J. Zoneamento agroclimático do Estado
de Santa Catarina, 2ª Etapa. Florianópolis: EM-
PASC, 1980. 106 p.
THORNTHWAITE, C. W.; MATHER, J. R. The water
balance. New Jersey: Drexel Institute of Technolo-
gy, 1955. 104 p. (Publications in Climatology.).
Zoneamento Agroecológico para a Cultura da Palma de Óleo (dendezeiro) nas Áreas Desmatadas da Amazônia Legal | 51
de extrema importância para a construção
da base de dados geográfica, e sua precisão
evita a propagação de erros na integração
Transformações
temática (MEIRELLES et al., 2007). cartográficas
Os principais fornecedores de dados fo- A integração temática utiliza os arquivos
ram: Embrapa – Empresa Brasileira de Pes- digitais provenientes das múltiplas fontes
quisa Agropecuária, Geoportal Digital (http:// descritas na Tabela 1 que foram editados
mapoteca.cnps.embrapa.br); IBGE – Instituto para, então, integrarem a avaliação temáti-
Brasileiro de Geografia e Estatística (www. ca. Assim sendo, a metodologia incluiu:
ibge.gov); SIPAM – Sistema de Proteção da
Amazônia (www.sipam.gov.br); INPE – Insti- – adoção de um sistema de coordena-
tuto de Pesquisa Espaciais; PRODES – Progra- das para o qual todas as informações
ma de Monitoramento do Desmatamento devem ser compatibilizadas; no caso
da Amazônia - INPE. (http://www.dpi.inpe. do zoneamento, é importante a es-
br/prodesdigital/prodes.php); e MMA/SIS- colha de um sistema de coordenadas
COM – Sistema Compartilhado de Informa- que permita o cálculo de áreas;
ções Ambientais (http://siscom.ibama.gov. – organização de uma pasta contendo
br/). Uma descrição dessas fontes de dados todos os arquivos digitais na forma
e suas características está sumarizada na Ta- de mapas, facilitando a documenta-
bela 1. Os cruzamentos indicados foram rea- ção e atualizações futuras;
lizados em ambiente Sistema de Informação
Geográfica (SIG), utilizando-se o software AR- – construção de uma base de dados geo-
CGIS1 (www.esri.com). gráfica compatibilizada em ambiente SIG.
Para este fim, foi utilizada a base car-
1
ARCGIS é uma coleção integrada de produtos de aplicativos tográfica fornecida pelo SIPAM na escala
de Sistemas Geográficos de Informação que fornece uma 1:250.000, na qual verificou-se uma gama
plataforma baseada em padrões para análise espacial, manu-
seio de dados e mapeamento (www.esri.com). de informações muito densa que pre-
Zoneamento Agroecológico para a Cultura da Palma de Óleo (dendezeiro) nas Áreas Desmatadas da Amazônia Legal | 53
Figura 1 – Áreas desmatadas obtidas pelo Inpe (2007), utilizado como um dos recortes
da área total do zoneamento agroecológico da região.
Zoneamento Agroecológico para a Cultura da Palma de Óleo (dendezeiro) nas Áreas Desmatadas da Amazônia Legal | 55
56 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
PARTE 1
Capítulo 5
Zoneamento Agroecológico para a Cultura da Palma de Óleo (dendezeiro) nas Áreas Desmatadas da Amazônia Legal | 57
cujo escopo é mais geral quanto à desti- déficit hídrico menor que 200 mm
nação das terras da região. Portanto, este e até três meses secos consecutivos
documento, ao apresentar o potencial de (<50 mm). Esse mínimo de restrições
terras das zonas denominadas “consolida- não reduz expressivamente a pro-
das” e “a consolidar”, fornece base para dutividade ou os benefícios e não
a implantação e a expansão da palma de aumenta a necessidade de insumos
óleo e respalda uma política disciplinar ao e práticas mitigadoras acima de um
desmatamento de novas áreas. nível aceitável.
No cruzamento da Aptidão Agrícola • Regular – R (potencial médio) – in-
das Terras com a Aptidão Climática, foi clui terras com limitações moderadas
considerada também a regra pela qual a para a produção sustentada da pal-
pior aptidão (do clima ou das terras) é a ma de óleo. A classe Regular se refe-
que determina a classe final de zonea- re às áreas que apresentam déficit hí-
mento, conforme pode ser observado na drico entre 200 mm e 350 mm, com
Tabela 1. até três meses secos consecutivos
(<50 mm). As limitações reduzem a
As classes do zoneamento, estabeleci-
produtividade ou os benefícios ou
das de acordo com o grau de intensidade
elevam a necessidade de insumos e
das limitações ambientais (clima e terras)
práticas mitigadoras para aumentar o
para a cultura da palma de óleo, foram as-
rendimento da cultura.
sim definidas:
• Marginal – M (potencial baixo) – in-
• Preferencial – P (potencial alto) – in-
clui terras com limitações fortes para
clui terras sem limitações significati-
a produção sustentada da palma de
vas para a produção sustentada da
óleo. A classe Marginal se refere às
palma de óleo. A classe Preferencial
áreas que apresentam déficit hídrico
se refere às áreas que apresentam
Zoneamento Agroecológico para a Cultura da Palma de Óleo (dendezeiro) nas Áreas Desmatadas da Amazônia Legal | 59
Figura 2 – Zoneamento Agroecológico da cultura da palma de óleo nas áreas desmatadas da Amazônia Legal – Nível de Manejo B
60
|
Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
Tabela 2 – Áreas das classes de zoneamento para produção de palma de óleo, sob o nível de manejo B, por estado da Amazônia Legal
ÁREA
ESTUDADA
CLASSE PREFERENCIAL (P) REGULAR (R) MARGINAL (M) INAPTA (IN) ÁREA EXCLUÍDA*
DO
ESTADO
ESTADO ha km2 % ha km2 % ha km2 % ha km2 % km2 % km2
AC 416.037 4.160 2,53 1.087.772 10.878 6,63 913,32 9 0,01 306.879 3.069 1,87 146.026 88,95 164.158
AM 1.461.375 14.614 0,94 889.466 8.895 0,57 8.337 83 0,01 415.517 4.155 0,27 1.531.447 98,22 1.559.164
AP 20.334 203 0,14 137.844 1.378 0,97 11.205 112 0,08 125.232 1.252 0,88 139.868 97,94 142.813
GO 0 0 0,00 0 0 0,00 0 0 0,00 131.224 1.312 9,19 12.952 90,73 14.276
MA 0 0 0,00 246,96 2 0,00 109.515 1.095 0,39 10.090.105 100.901 36,19 176.691 63,37 278.840
MT 203.959 2.040 0,23 6.779.357 67.794 7,51 786.999 7.870 0,87 12.806.582 128.066 14,18 697.591 77,23 903.283
PA 2.327.674 23.277 1,87 10.448.374 104.484 8,37 345.718 3.457 0,28 9.926.744 99.267 7,96 1.017.253 81,53 1.247.772
RO 2.720.638 27.206 11,5 2.755.935 27.559 11,60 550.294 5.503 2,32 1.834.577 18.346 7,72 158.976 66,91 237.591
RR 187.409 1.874 0,84 218.712 2.187 0,98 207.898 2.079 0,93 144.684 1.447 0,65 216.715 96,63 224.283
TO 0 0 0,00 0 0 0,00 0 0 0,00 2.949.021 29.490 10,63 248.133 89,41 277.537
TOTAL 7.337.426 73.374 22.317.707 223.177 2.020.879 20.209 38.730.565 387.306 4.345.652 5.049.717
Zoneamento Agroecológico para a Cultura da Palma de Óleo (dendezeiro) nas Áreas Desmatadas da Amazônia Legal
2
Nota: Áreas consideradas aptas para o cultivo da palma de óleo, classes P (preferencial) e R (regular), totalizam 29.655.133 ha (296.551 km ) ou 5,87% da Amazônia Legal.
|
* Área de Proteção Ambiental, Terras Indígenas e Área Não Desmatadas.
Total da área do zoneamento após os recortes: 704.066 km² = aproximadamente 13,94% da Amazônia Legal
AM.L = Amazônia Legal
61
Figura 3 – Zoneamento Agroecológico da cultura da palma de óleo nas áreas desmatadas da Amazônia Legal – Nível de Manejo C
62
|
Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
Tabela 3 – Áreas das classes de zoneamento para produção de palma de óleo, sob o nível de manejo C, por estado da Amazônia Legal
ÁREA
ESTUDADA
CLASSE PREFERENCIAL (P) REGULAR (R) MARGINAL (M) INAPTA (IN) ÁREA EXCLUÍDA*
DO
ESTADO
ESTADO ha km2 % ha km2 % ha km2 % ha km2 % km2 % km2
AC 735.677 7.357 4,48 574.630 5.746 3,50 193.511 1.935 1,18 307.785 3.078 1,87 146.026 88,95 164.158
AM 1.532.123 15.321 0,98 681.556 6.816 0,44 142.830 1.428 0,09 418.185 4.182 0,27 1.531.447 98,22 1.559.164
AP 20.334 203 0,14 123.843 1.238 0,87 23.169 232 0,16 127.271 1.273 0,89 139.868 97,94 142.813
GO 0 0 0,00 0 0 0,00 0 0 0,00 131.224 1.312 9,19 12952,07 90,73 14.276
MA 0 0 0,00 246,96 2 0,00 81.027 810 0,29 10.118.593 101.186 36,29 176.691 63,37 278.840
MT 220.920 2.209 0,24 6.700.985 67.010 7,42 486.836 4.868 0,54 13.168.156 131.682 14,58 697.591 77,23 903.283
PA 1.666.831 16.668 1,34 10.608.430 106.084 8,50 810.902 8.109 0,65 9.962.347 99.623 7,98 1.017.253 81,53 1.247.772
RO 2.930.252 29.303 12,33 2.733.292 27.333 11,50 352.365 3.524 1,48 1.845.535 18.455 7,77 158.976 66,91 237.591
RR 190.143 1.901 0,85 214.119 2.141 0,95 209.175 2.092 0,93 145.265 1.453 0,65 216.715 96,63 224.283
TO 0 0 0,00 0 0 0,00 0 0 0,00 2.949.021 29.490 10,63 248.133 89,41 277.537
TOTAL 7.296.279 72.963 21.637.101 216.371 2.299.816 22.998 39.173.381 391.734 4.345.652 5.049.717
% AM.L 1,44 4,28 0,46 7,76 86,06
Zoneamento Agroecológico para a Cultura da Palma de Óleo (dendezeiro) nas Áreas Desmatadas da Amazônia Legal
2
Nota: Áreas consideradas aptas para o cultivo da palma de óleo, classes P (preferencial) e R (regular), totalizam 28.933.380 ha (289.334 km ) ou 5,73 % da Amazônia Legal.
|
* Área de Proteção Ambiental, Terras Indígenas e Área Não Desmatadas.
Total da área do zoneamento após os recortes: 704.066 km² = aproximadamente 13,94% da Amazônia Legal.
AM.L = Amazônia Legal
63
Tabela 4 – Resumo das áreas das classes do Zoneamento Agroecológico da Palma de
Óleo nas áreas desmatadas da Amazônia Legal com adoção dos níveis de manejo B e C
NÍVEL DE MANEJO B NÍVEL DE MANEJO C
% da % da
CLASSE hectare km² CLASSE hectare km²
AM.L AM.L
Preferencial – P 7.337.426 73.374 1,45 Preferencial – P 7.296.279 72.963 1,44
Regular – R 22.317.707 223.177 4,42 Regular – R 21.637.101 216.371 4,28
Marginal – M 2.020.879 20.209 0,40 Marginal – M 2.299.816 22.998 0,46
Inapta – IN 38.730.565 387.306 7,67 Inapta – I 39.173.381 391.734 7,76
Subtotal * 70.406.577 704.066 13,94 Subtotal * 70.406.577 704.066 13,94
Área excluída ** 434.565.157 4.345.652 86,06 Área excluída ** 434.565.157 4.345.652 86,06
Total – AM.L 504.971.734 5.049.717 100 TOTAL – AM.L 504.971.734 5.049.717 100,00
Nota: Classes P e R, consideradas aptas para a palma de óleo, totalizam: no nível de manejo B: 29.655.133 ha
(296.551 km2), ou 5,87% da Amazônia Legal. No nível de manejo C, totalizam 28.933.380 ha (289.334 km2), ou
5,73% da Amazônia Legal.
* Total da área do zoneamento, após os recortes: 704.066 km², aproximadamente 13,94% da Amazônia LegaL.
** Área de Proteção Ambiental, Terras Indígenas e Área Nao Desmatadas
AM.L = Amazônia Legal
Durante a execução deste trabalho, foi real disponibilidade das terras para essa
constatada a existência de 296.551 km2 cultura, que podem estar atualmente sob
(29.655.133 ha) de terras aptas para o cul- usos distintos e com diferentes níveis de
tivo de palma de óleo com a adoção do produtividade. Estima-se que cerca de 80%
nível de manejo B, que correspondem a da área desmatada do bioma amazônico
5,87% da área desmatada da Amazônia encontram-se ocupados com pastos em
Legal até 2007, ou 4,1% da área estudada. diferentes níveis de esgotamento, degra-
As terras aptas para o cultivo da palma de dação e mesmo abandono.
óleo com a adoção do nível de manejo C
Não obstante o zoneamento esteja
perfazem 289.334 km2 (28.933.380 ha), o
confinado às áreas desmatadas da Ama-
que corresponde a 5,72% da área desma-
zônia Legal, os resultados mostrados nas
tada da Amazônia Legal, ou 4,09% da área
Tabelas 2, 3 e 4 ainda são brutos, porquan-
estudada. Essas áreas, consideradas aptas,
to podem ser reduzidos, com a aplicação
incluem as classes preferencial e regular
do Código Florestal, para cerca de 50 a
do ZAE-Palma de Óleo. A área do zonea-
60% por ocasião da implantação da palma
mento, após os recortes, totaliza 704.066
de óleo, em decorrência de restrições de
km², que corresponde a 13,94% da Ama-
ordem ambiental ditadas pela legislação
zônia Legal.
vigente.
É importante esclarecer que os mapas
A decisão de se utilizar ou não as ter-
gerados mostram as zonas das classes
ras classificadas como Marginais ou de
preferencial, regular, marginal e inapta
Aptidão Restrita, cujos benefícios e custos
para a produção da cultura da palma de
se equivalem, conforme os padrões eco-
óleo para fins diversos, seja óleo comes-
nomicamente aceitáveis pelos produtores
tível, cosméticos ou biocombustível. Por
de palma de óleo na região, deve se base-
outro lado, não informa, porém, sobre a
ar em estudos de viabilidade econômica
Zoneamento Agroecológico para a Cultura da Palma de Óleo (dendezeiro) nas Áreas Desmatadas da Amazônia Legal | 65
ras em geral. No entanto, no caso particu- prevenir e controlar a erosão, não tem efe-
lar da palma de óleo, a correção química tividade no caso dessa cultura.
do solo, sobretudo da acidez e da fertilida-
Os resultados do zoneamento agroe-
de, não exerce grande influência em vista
cológico para a cultura da palma de óleo
de uma menor exigência desta cultura por
nas áreas desmatadas da Amazônia Legal
nutrientes para o seu desenvolvimento.
ensejam relevantes impactos para o de-
Por outro lado, as quantidades de fertili-
senvolvimento na região de forma dife-
zantes a serem aplicadas e, consequente-
renciada, como segue:
mente, os custos financeiros, aumentam
significativamente quando a meta de pro- Impacto Ambiental
dutividade é aumentada.
Como cultura perene, a palma de óleo
A palma de óleo em produção é uma tem potencial para:
cultura altamente exportadora de mine-
– gerar renda com produção sustenta-
rais, e o que se retira do solo com a produ-
da e ecologicamente limpa;
ção deve ser reposto para a safra seguin-
te. Contudo, no caso deste zoneamento, – proteger o solo contra o efeito da
a meta anual de produtividade está sendo erosão;
considerada na faixa de 3 a 3,5 toneladas – prevenir a degradação das terras;
por hectare. Esse nível de produtividade
não demanda quantidades de adubo que – oferecer alta taxa de sequestro de
não estejam previstas nas condições do carbono;
nível de manejo B. Portanto, longe ainda – constituir opção de reflorestamento
de esgotar o potencial do nível de mane- para as áreas desmatadas ocupadas
jo C, que permite a aplicação de grandes com terras degradadas ou com grau
quantidades de fertilizantes para a cultura avançado de esgotamento.
da palma de óleo atingir a produtividade
mais alta. Impacto Econômico-Social
Da mesma forma, o impedimento à – o ZAE-Palma de Óleo oferece ao pro-
mecanização, fator de fundamental im- dutor rural uma alternativa econômi-
portância para o nível de manejo C, não ca sustentável para o gerenciamento
resulta em grande diferença em relação de seu imóvel e diminui a pressão
ao nível de manejo B, que, ao contrário, sobre a floresta;
por conceituação geral, não se baseia na – a implantação da cultura da palma de
mecanização intensa, em vista da baixa óleo propicia uma ocupação da mão
dependência de mecanização plena para de obra local de forma permanente,
a cultura da palma de óleo. hoje basicamente itinerante;
No caso da suscetibilidade à erosão, o – o zoneamento é um mecanismo de
raciocínio é similar, não havendo grande acesso ao crédito agrícola e um ins-
diferença nos resultados da classificação trumento de referência do Proagro
do nível de Manejo B para o nível de ma- (seguro agrícola);
nejo C, porque a palma de óleo, como
cultura perene que oferece grande prote- – o zoneamento agroecológico cria
ção ao solo, não concorre para o aumento cenários que incluem outras culturas
da exposição do solo à erosão e, assim, a importantes para a região de forma
vantagem comparativa do nível C, ao con- consorciada e a produção de biodie-
tar com técnicas de alta eficiência para sel a partir de culturas perenes com
Zoneamento Agroecológico para a Cultura da Palma de Óleo (dendezeiro) nas Áreas Desmatadas da Amazônia Legal | 67
RAMALHO FILHO, A.; MARTINS, G. C.; MOTTA, P. RAMALHO FILHO, A.; MOTTA, P. E. F.; NAIME, U. J.;
E. F.; TEIXEIRA, W. G.; NAIME, U. J.; GONÇALVES, A. GONÇALVES, A. O.; BACA, J. M.; BARROS, A. H.; TEI-
O.; BARROS, A. H.; BACA, J. M. Zoneamento agroe- XEIRA, W. G.; BASTOS, T. X. Zoneamento agroeco-
cológico do dendezeiro para as áreas desmatadas lógico do dendê (Palma africana) na região ama-
do Estado do Amazonas. In: CONGRESSO BRASI- zônica brasileira – procedimentos metodológicos
LEIRO DE CIÊNCIA DO SOLO, 32. Fortaleza, 2009. e resultados. In: CONGRESO LATINOAMERICANO
Anais... Fortaleza: Sociedade Brasileira de Ciência DE LA CIENCIA DEL SUELO, 18. San Jose, Costa
do Solo, 2009c. CD-ROM. Rica, 2009. Anais... San Jose, Costa Rica: Sociedad
Latinoamericana de la Ciencia del Suelo, 2009d.
CD-ROM.
Salvaguardas do Zoneamento
Agroecológico para a palma de óleo na
Amazônia Legal e priorização de áreas
Ana Paula Dias Turetta e Antonio Ramalho Filho
A priorização na implantação de projetos também pode ter seu uso balizado por um
de desenvolvimento para produção de óleo recorte mais amplo do que seria o das áre-
de palma de óleo deve se basear na conju- as consolidadas e a consolidar indicadas
gação dos resultados do zoneamento agroe- para desenvolvimento pelo Zoneamento
cológico com a informação sobre o contexto Ecológico-Econômico da Amazônia Legal
socioeconômico no qual o agricultor opera e (ZEE-MMA – http://www.mma.gov.br).
os aspectos ambientais intrínsecos, sobretu- A priorização de áreas para implemen-
do quanto à riqueza da biodiversidade. tação de projetos de plantio de palma de
óleo a partir do zoneamento também po-
deria ser subsidiariamente balizada por
restrições ambientais mais específicas,
além de questões ligadas à aptidão pedo-
Aspectos ambientais climática, considerando a ocorrência de
O zoneamento considerou uma varie- áreas com extrema riqueza em biodiversi-
dade de critérios do ponto de vista am- dade com base em estudo realizado pelo
biental que se constituem em salvaguar- Ministério do Meio Ambiente (BRASIL,
das, desde a definição da área líquida do 2002). Esse estudo indica que, no bioma
projeto a ser avaliada até a implementa- amazônico, 247 áreas foram classificadas
ção de projetos de plantio da palma de como de extrema importância biológica,
óleo, ou dendezeiro. as quais podem estar situadas tanto em
áreas ocupadas por florestas nativas quan-
A área do projeto foi definida com base
em alguns recortes que consistem na sub- to em áreas já desmatadas.
tração de áreas de natureza diversa:
– reservas naturais e áreas indígenas
(MMA/IBAMA, FUNAI);
– áreas sem aptidão climática ou com alto Aspectos
risco de degradação (vulnerabilidade);
– áreas desmatadas até 2007 (PRODES-INPE);
socioeconômicos
Assim como nos aspectos ambientais, a
– áreas consolidadas e a consolidar (ZEE). priorização na implantação de projetos de
A informação do zoneamento agroe- desenvolvimento para produção de óleo
cológico (ZAE) da cultura da palma de óleo de palma deve se basear na conjugação
Zoneamento Agroecológico para a Cultura da Palma de Óleo (dendezeiro) nas Áreas Desmatadas da Amazônia Legal | 69
dos resultados do zoneamento agroecoló- nível de manejo B ou C adotados no zone-
gico com um conjunto de atributos do sis- amento agroecológico da palma de óleo.
tema integrado de produção que definem
b) Infraestrutura da área – estradas,
o contexto socioeconômico no qual o agri-
armazém, rede de esgoto, mananciais de
cultor opera. Essa definição pode ser feita
água potável.
com base em algumas ações e aspectos de
natureza socioeconômica: c) Facilidades para a formação de coo-
perativas de produtores de óleo de palma.
a) Caracterização e categorização, ba-
seadas em análise socioeconômica, dos
principais sistemas integrados de produ-
ção existentes (farming systems) na área
onde será implantada a cultura da palma Outras salvaguardas
de óleo. Essa análise socioeconômica
pressupõe o levantamento de diversas va- Recorte da área através da subtração prévia
riáveis que constituem os atributos dos sis- de tipos de solo considerados não indicados
temas integrados de produção, conforme ao cultivo da palma de óleo para produção
Ramalho-Filho, (1992): econômica devido a restrições de natureza
física ou química e ambiental, como:
• uso atual da área a ser cultivada com a
cultura da palma de óleo: sistemas de – gleissolos (solos hidromórficos indis-
cultivos – monocultura, culturas consor- criminados);
ciadas, integração de tipos de uso; – neossolos litólicos e regossólicos (rasos);
• tamanho do imóvel – pequeno, médio, – neossolos quartzarênicos (areias quart-
grande (em função do módulo local); zosas de granulação grosseira, marinhas
• tipo de tração – animal, mecânica, com- e dunas);
binada; – plintossolos;
• ocupação da terra – proprietário, arren- – planossolos halomórficos (sódicos ou
datário/posseiro, condomínio; salinos);
• insumos materiais – baixo, médio, alto; – manguezais;
– gleissolos tiomórficos (solos ácido-
• técnicas para manejo do solo – rudi-
sulfatados);
mentares, melhoradas, avançadas;
– neossolos flúvicos (solos ribeirinhos
• nível tecnológico – baixo, médio, alto;
originados de depósitos aluvionares
• orientação de mercado – subsistência, de natureza diversa);
comercial, combinada; – organossolos (turfosos);
• distância do mercado – pequena, mé- – vertissolos solódicos;
dia, grande; – afloramentos rochosos.
• intensidade de mão de obra – baixa,
Esse procedimento propicia reduzir o
média, alta;
volume de trabalho na avaliação da apti-
• intensidade de capital – baixa, média, alta; dão das terras ao descartar, em primeira
A combinação desses atributos define análise, um grupo de classes de solo e
o tipo de sistema de produção e, conse- formas de terreno considerados inaptos
quentemente, serve de base para a for- para a cultura da palma de óleo de acor-
mulação de recomendações sobre práticas do com os critérios e salvaguardas desse
de manejo da terra, se compatíveis com o zoneamento.
Zoneamento Agroecológico para a Cultura da Palma de Óleo (dendezeiro) nas Áreas Desmatadas da Amazônia Legal | 71
72 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
PARTE 2
Produção e Manejo
Sustentáveis para a Cultura
da Palma de Óleo
na Amazônia
Editores Técnicos
Planejamento conservacionista e
procedimentos para a instalação de
palmares na Amazônia
Pedro Luiz de Freitas, Antonio Ramalho Filho, Paulo
Emílio Ferreira da Motta e Wenceslau Geraldes Teixeira
BASSI, L. Impactos sociais, econômicos e am- IBGE. Manual técnico de pedologia. Rio de Ja-
bientais na microbacia hidrográfica do Lajeado neiro: IBGE. 2007. 316 p. (Manuais técnicos em
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EMBRAPA SOLOS. Sistema Brasileiro de Classifica- J. C.; ANJOS, L. H. C. Manual de descrição e co-
ção de Solos. 2. ed. Rio de Janeiro: Embrapa Solos, leta de solo no campo. 5. ed. [Viçosa]: SBCS; Rio
2006. 306 p. de Janeiro: Embrapa Solos, 2005. 92 p.
Legenda: R1 VD = raízes
primárias com crescimento
vertical voltado para baixo;
R1 H = raízes primárias com
crescimento horizontal; R2
VD = raízes secundárias com
crescimento vertical voltado
para baixo; R2 VU = raízes se-
cundárias com crescimento
vertical voltado para cima;
R2 H = raízes secundárias
geralmente com crescimen-
to horizontal; sR3 = raízes
terciárias superficiais; dR3 =
raízes terciárias profundas;
R4 = raízes quaternárias
700
600
Pluviometria mensal, em mm
500
400
Belém (Brasil) - 2.981,6 mm.ano-1
300
Bajo Calima (Colômbia) - 5.093,0 mm.ano-1
Pobé (Benin) - 1.231,1 mm.ano-1
200
100
0
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
Meses
podendo atingir sete horas por dia em inibido em temperaturas abaixo de 15ºC.
alguns meses. Esse fator está relacionado Baixas temperaturas ocasionam aborto de
com a precipitação pluviométrica. Regi- cachos antes da antese (FERWERDA, 1977).
ões mais chuvosas tendem a apresentar As maiores produtividades ocorrem em
menos horas de brilho solar devido às regiões com menores diferenças entre as
nuvens. Regiões com 1.500 horas/ano temperaturas médias mensais.
de insolação podem ser limitantes para o
3.2. Solos
sucesso de um palmeiral. A relação estrei-
ta desse fator com a fotossíntese implica Sendo a base de sustentação dos cul-
em efeitos sobre a maturação dos cachos tivos, a qualidade dos solos desempenha
e na percentagem de óleo no fruto. Po- um papel fundamental para o sucesso dos
rém, de maior importância é a amplitude investimentos agrícolas. Entre as caracte-
do espectro luminoso e sua intensidade. rísticas componentes dos solos, merecem
Existem regiões com produtividades eco- destaque as descritas a seguir.
nomicamente compensadoras, cuja inso-
3.2.1. Relevo
lação é de 900 horas/ano, compensadas
que são pela disponibilidade de água e As plantações de palma de óleo, em
nutrientes. geral, ocupam largas extensões de terreno
em regiões de elevada precipitação plu-
3.1.3. Temperatura viométrica. Solos que apresentem relevo
A temperatura máxima média de 29 a de plano a suave ondulado são os mais
33°C e mínima média de 22 a 24°C são recomendados. Topografias acidentadas,
intervalos recomendáveis. A temperatura acima de 5%, favorecem a erosão e exi-
na faixa tropical não apresenta grandes gem cuidados especiais, como a constru-
variações. A diferença entre as médias dos ção onerosa de terraços. Plantios em curva
meses mais quentes e dos mais frios não de nível são indicados para solos entre 2 e
ultrapassa 3ºC. Temperaturas acima de 5% de declividade. Solos com declividades
38ºC e abaixo de 14ºC são raras. Em plan- superiores a 10% devem ser evitados.
tas jovens, o crescimento é totalmente
A B C
frutos do tipo Dura; Pisífera (sh-sh-) – plan- Embrapa, foi empregado o método da se-
tas que produzem frutos que não apre- leção recorrente recíproca, sendo a popu-
sentam endocarpo e que, na maioria das lação A composta de plantas tipo Dura de
vezes, produzem flores femininas estéreis origem Deli, que têm como característica
(abortivas), razão pela qual a produção de a produção de pequeno número de gran-
frutos nessas plantas é rara, com algumas des cachos, e a população B composta de
exceções de Pisíferas férteis. plantas Tenera/Pisífera de origem La Mé,
que têm como característica a produção
Nas populações naturais, as frequências
de grande número de pequenos cachos
de plantas Pisífera (<1%) e Tenera (~3%) são
(BARCELOS et al., 2000b).
baixas, predominando o tipo Dura (~97%).
Plantas Tenera apresentam maior propor- O uso de plantas Dura em plantios
ção de mesocarpo no fruto, resultando em comerciais foi abandonado ainda em me-
maior produção de óleo do que as Dura, fa- ados do século passado. Cabe ressaltar
tor determinante para o uso de plantas Te- que, no Brasil, os palmares subespontâne-
nera, obtidas do cruzamento entre plantas os existentes na Bahia (em torno de 20.000
Dura (utilizadas como genitor feminino) e ha), explorados de forma extrativista, são
Pisífera (utilizadas como genitor masculino) oriundos de sementes introduzidas pelos
nos plantios comerciais. escravos no século XVI e constituídos de
plantas Dura, que apresentam baixa pro-
Os programas de melhoramento ge-
dutividade de cachos (3 a 4 t/ha/ano) e
nético de palma de óleo têm como foco
baixa taxa de extração de óleo (8 a 9%).
o híbrido intraespecífico Tenera, indepen-
Já os plantios agroindustriais implantados
dentemente das variações nos esquemas
a partir da década de 1960, tanto na Bahia
de melhoramento genético adotados. De
como no Pará, foram estabelecidos com
maneira geral, são conduzidas populações
sementes de cultivares Tenera importadas
Dura e Tenera/Pisífera melhoradas per se
da África, da Ásia e da América Central.
e realizados testes de progênies Dura x
Tenera ou Dura x Pisífera para identificar Em hipótese nenhuma deve o produ-
as melhores combinações entre essas po- tor utilizar plantas de cultivo comercial
pulações para reprodução comercial do para propagação e estabelecimento de
híbrido Tenera (Dura x Pisífera). novos plantios. A multiplicação das plan-
tas comerciais do tipo Tenera resulta em
No programa de melhoramento gené-
segregação genética, o que levará a obter
tico que resultou no lançamento das culti-
aproximadamente 25% de plantas Pisífera
vares Tenera Deli x La Mé, produzidas pela
100 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
PARTE 2
Capítulo 4
B C D
102 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
final de mudas de palma de óleo no viveiro, Em seguida, é aplicada água pura com rega-
e a ocupação diferenciada das bandejas pe- dor para lavar o adubo das folhas.
los tubetes em diferentes percentagens de
Os canteiros para produção de mudas
ocupação durante a fase de pré-viveiro não
em sacos podem ser confeccionados com
influenciou o crescimento em altura e diâ-
1,5 m de largura e 20 m de comprimen-
metro das mudas de palma de óleo aos 10 e
to, com espaçamento de 0,8 cm entre os
16 meses de idade.
canteiros. Nessas condições, cada canteiro
A prática de manejo incluindo pré-vivei- comportará aproximadamente 5000 sacos.
ro (viveiro de duas fases) apresenta vanta-
gens e desvantagens em relação à semea-
dura direta no viveiro (viveiro de uma fase),
conforme se descreve a seguir: Viveiro
Vantagens: A fase de viveiro é uma etapa impor-
– melhor controle das atividades na tante nas atividades comerciais em planta-
fase inicial (irrigação, adubação, ções de palma de óleo porque, além de
plantas daninhas, etc.), de modo a demandar uma série de gastos, nesse pe-
obter melhor crescimento e vigor; ríodo podem ser controlados vários fatores
– melhor critério de seleção, com base que afetam o crescimento e o desenvolvi-
nas características de desenvolvimento. mento da planta, o que é essencial para o
plantio no campo.
Desvantagens:
– aumento do custo de investimento Alguns detalhes da produção de mu-
em infraestrutura, mão de obra e das no viveiro podem ser visualizados na
materiais utilizados; Figura 2.
– risco de efeitos adversos sofridos pe- Na construção do viveiro, devem ser
las mudas ao serem transplantadas consideradas, além do espaço necessário
para o viveiro. para o número de plantas, a disponibilida-
Para mudas produzidas em sacos plásti- de de água, a topografia plana ou ligeira-
cos, se a fertilidade natural do solo utilizado mente ondulada e a facilidade de acesso
(terriço) for boa, a adubação não é neces- em todo o ano.
sária no pré-viveiro porque, durante as pri- Normalmente, para o enchimento dos
meiras seis semanas, a planta jovem obtém sacos, que possuem dimensão aproxima-
parte das suas necessidades nutricionais da de 40 x 40 cm, usa-se terriço disponível
no endosperma da semente. Em situações no local, com boa drenagem. Os sacos
de falta de vigor das mudas no pré-viveiro, são distribuídos na área dependendo do
fertilizantes foliares devem ser aplicados tempo de permanência no viveiro. Reco-
para correção de eventuais deficiências nu- menda-se complementar o preenchimen-
tricionais. Entretanto, deve-se ter o cuidado to dos sacos com material estéril (endo-
de não aplicar fertilizantes foliares em dias carpo picado, casca de arroz, fibras, etc.)
muito quentes ou secos, ou quando as mu- para reduzir a perda de umidade, regular a
das estiverem sob estresse hídrico, a fim de temperatura e minimizar o aparecimento
evitar a possibilidade de perda de nutrien- de patógenos e plantas daninhas.
tes por volatilização ou mesmo a queima
das mudas. Outra alternativa para evitar a Após uma etapa de seleção no final
queima é a mistura de adubos diluída em da fase de pré-viveiro, apenas as mu-
água que pode ser aplicada com regador. das sadias, livres de anomalias, pragas
A B
C D
104 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
– É sempre mais eficaz aplicar pequenas tarem, no máximo, 80 cm de altura. Uma
quantidades de adubos com frequên- segunda seleção será realizada quando
cia em vez de aplicar grandes quanti- do transporte das plantas para plantio
dades com menos frequência, para no local definitivo. Nessa última seleção,
evitar queima por excesso de salinida- deve-se eliminar apenas casos de plantas
de e/ou perdas por lixiviação. com anomalias marcantes, dado o estádio
– As aplicações de fertilizantes podem ser de desenvolvimento dessas plantas, já um
reduzidas se o crescimento vegetativo pouco estioladas na fase final do viveiro.
for muito vigoroso, existindo possibili- Existem alguns critérios para o descar-
dade de que as mudas estejam prontas te, no viveiro, de plantas com:
para irem ao campo antes que a área de
– crescimento bem abaixo da média;
plantio esteja preparada.
– folíolos soldados ou muito estreitos;
– folíolos muito dispersos sobre o eixo
principal das folhas;
– folhas com manchas ou bandas;
Seleção de plantas no – folhas muito eretas, formando ângulos
de 45 graus;
viveiro – excesso de manchas, consequência
A seleção das mudas no viveiro é vi- de danos causados pelo manejo ina-
sual e deve ter como referência o padrão dequado de fungos no viveiro.
adequado de desenvolvimento e forma
das mudas. Esse processo deve ser rigo-
roso para garantir que as plantas selecio-
nadas permaneçam no campo por, pelo Coeficientes técnicos
menos, 25 anos. Na Tabela 1, são apresentados os tem-
Segundo Jacquemard et al. (1995) e pos indicativos de trabalho requeridos
Barcelos et al. (2001), a seleção deve ser para a condução de um pré-viveiro com 90
realizada entre os três e oito meses de ida- mil mudas, distribuídas em 30 canteiros de
de do viveiro, antes de as plantas apresen- 1,5 m de largura e 30 m de comprimento,
106 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
PARTE 2
Capítulo 5
108 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
genos de natureza diversa, roedores ou palmeiras doentes e as mortas pela ação
quaisquer outras desordens que possam de ventos e raios, tão logo os primeiros
ocorrer nas palmeiras jovens e adultas. sintomas sejam identificados.
Essa fiscalização deve compreender:
2.5 Polinização assistida
– Controles de rotina: realizados em
A palma de óleo é uma planta monoi-
intervalos definidos de acordo com as con-
ca, com emissões de inflorescências mas-
dições históricas de ocorrência de proble-
culinas e femininas em ciclos alternados,
mas na região, sendo geralmente mensais.
tornando-se uma planta individualmente,
Adota-se como prática uma visita quinze-
com variações entre plantas. Quando as
nal, inspecionando-se linhas alternadas
condições de clima e solo são bastante
em cada passagem. Isso significa que
favoráveis, e dependendo também do
cada árvore é inspecionada uma vez por
material genético, as palmeiras jovens
mês, enquanto a parcela como um todo é
tendem a produzir inflorescências femi-
verificada quinzenalmente. Um operário é
ninas conjuntamente, o que implica em
responsável por inspecionar 200 ha.
grande número de aborto de cachos com
Os pontos fiscalizados mais detida- má frutificação. Uma das recomendações
mente são: para solucionar esse problema consiste
em efetuar o plantio com materiais de
• a base dos pecíolos e bulbos, para veri-
procedência genética distinta. A alternati-
ficar possíveis ataques de roedores;
va seria, em pontos variados da plantação,
• a folhagem, verificando-se a ocorrên- “estressar” algumas plantas através de
cia de lagartas desfolhadoras e sinto- uma poda severa, visando à indução do
mas de doenças, tais como Amarele- ciclo masculino de inflorescências. Ressal-
cimento Fatal (AF), anel vermelho e ta-se que a polinização da palma de óleo
deficiência de boro. é entomófila, mas o inseto polinizador (E.
Qualquer outra anomalia não atribuída
kamerunicus) não sobrevive quando não
há flores masculinas.
a doenças ou pragas deve ser registrada
com precisão pelo responsável pela fisca- A polinização assistida já foi muito uti-
lização em fichas apropriadas para cada lizada no passado, mas, atualmente, em
bloco de plantio. A equipe de fitossani- virtude da adoção das medidas já men-
dade deve tratar dos problemas à medida cionadas, tem caído em desuso; contudo,
que vão surgindo, incluindo fiscalização e é uma prática obrigatória quando se trata
troca de iscas de controle de pequenos ro- de plantios de híbridos interespecíficos E.
edores e do Rhyncophorus, destruição de oleifera x E. guineensis (O x G) e, neste
formigueiros e identificação das palmeiras caso, a polinização não se restringe ape-
mortas (BERTHAUD et al., 2000). nas à fase jovem, estendendo-se durante
a fase adulta da planta, uma vez que es-
– Controles especiais: em certos casos
ses híbridos apresentam baixa fertilidade
(pragas de raízes, doenças letais), os con-
polínica. Esses materiais representam atu-
troles de rotina são muito imprecisos. Deve-
almente a única opção para fazer frente
se, então, efetuar um controle específico,
ao Amarelecimento Fatal e são, cada vez
sob a responsabilidade de especialistas, a
mais, solicitados tanto por grandes quan-
fim de que medidas de tratamento ou con-
to por pequenos produtores.
trole sejam adotadas em tempo hábil.
A colheita do pólen para a realização
– Erradicação de palmeiras doentes: de
dessa prática é efetuada em plantações
um modo geral, é necessário erradicar as
110 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
em conta resultados anteriores. Pode-se colhedores. A tendência, atualmente, é
selecionar uma amostra de 5% das árvores, aceitar como padrão mínimo de amadure-
ou seja, uma linha sobre 20, da qual todas cimento a existência de um fruto destaca-
as árvores são observadas. A linha amostra- do no cacho ou no solo quando se tratar
da não se altera de uma observação para de plantas altas, que não permitem uma
outra. O número de cachos é multiplicado visualização mais próxima.
pela estimação do peso médio. As varia-
Para garantir a boa qualidade da co-
ções sazonais de duração da maturação e
lheita, é necessário realizar de três a
a dificuldade de se estimar o peso médio
quatro turnos de colheita nos meses de
podem causar sub ou superestimação da
maior produção, e dois turnos nos me-
produção (JACQUEMARD, 1995).
ses de menor produção. É uma operação
2.8.2 Critérios de maturidade e exclusivamente manual, pois, até o mo-
frequência de colheita mento, todos os protótipos de máquinas
testados não mostraram ser eficientes. As
O teor de óleo no cacho continua in-
ferramentas utilizadas são de vários tipos
crementando até os últimos dias que ante-
e o seu uso depende da idade da planta:
cedem a colheita. Quando os primeiros se
da entrada em colheita até o quarto ano
destacam, o cacho é considerado maduro.
utiliza-se o cinzel; do quinto ao sexto ano
A maturação dos cachos não é uniforme:
utiliza-se indistintamente o ferro de cova
a progressão ocorre do alto para baixo e
ou a pá de corte. A partir do momento em
do exterior para o interior do cacho. Nu-
que os cachos não são mais facilmente
merosos fatores intervêm no processo de
alcançados com as ferramentas preceden-
maturação e na taxa de frutos destacados:
tes, utiliza-se a foice malasiana (JACQUE-
clima, idade das palmeiras, origem gené-
MARD, 1995; BERTHAUD et al., 2000).
tica e duração dos intervalos de colheita
(BERTHAUD et al., 2000). 2.8.3 Retirada dos cachos até a
Considera-se como estado ótimo de
bordadura da parcela
colheita quando o cacho colhido contém Essa operação pode ser realizada ma-
o máximo teor de óleo com o mínimo de nualmente, com carrinhos de mão, com
frutos destacados e um nível razoável de tração animal ou mecanicamente (Figura
acidez. Quanto menor a quantidade de 5). A retirada manual ocorre apenas em si-
ácidos graxos livres, melhor será a qua- tuações em que a topografia não favorece
lidade do óleo. Em um fruto maduro, o o uso de alternativas. A utilização de car-
teor de ácidos graxos livres é de 0,5% e, rinho de mão melhora o rendimento/dia
em cachos que foram colhidos e proces- de 10 a 30% em relação à retirada manual.
sados sem atraso, esse teor é cerca de 2% A capacidade diária de colheita e retirada
(COORLEY e TINKER, 2003). de cachos é de 200 a 800 kg em plantios
jovens, e de 600 a 2.200 kg em plantios
A colheita dos frutos destacados é
adultos. A utilização de animais vem
uma operação dispendiosa. Muitas vezes,
sendo muito utilizada, principalmente na
uma parte significativa do óleo é perdida
América Latina. Caso se utilize uma junta
em função dos frutos soltos que são ar-
de bois atrelada a uma carroça com ces-
remessados longe da coroa das plantas,
to basculante de 500 kg de carga útil, são
impedindo ou dificultando a colheita dos
necessários três operários (um condutor e
mesmos. Para amenizar essa perda, um
dois carregadores), e o rendimento médio
padrão de amadurecimento do cacho
por homem/dia pode chegar a 2.300 kg de
deve ser previamente definido para os
cachos (JACQUEMARD, 1995).
112 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
Tabela 1 – Coeficientes técnicos para atividades de manejo na fase jovem da cultura de
palma de óleo na Amazônia (1 hectare)
Operação Pessoal
Coroamento manual 0,6 – 0,8 h/d/ronda
Ampliação química das coroas 1,0 h/d/ronda
Roçagem manual das entrelinhas 2,5 h/d/ronda
Limpeza manual das bordaduras 500 m/h/d
Eliminação das plantas invasoras
Gramíneas - 1º tratamento manual 6 h/d
- 2º tratamento 1,0 h/d
- 3º tratamento 0,5 h/d
Controle de rotina 2,5 h/d/ronda
Plantas lenhosas 0,1 h/d
Adubação (incluídos mistura e transporte) 0,7 h/d/ronda
Polinização assistida: detecção da falta de pólen 0,001 h/d/ronda
colheita e preparo do pólen 0,02 h/d/ronda
polinização assistida 0,2 h/d/ronda
Limpeza pré-colheita 1,5 h/d
Controle fitossanitário:
controles de rotina 0,04 h/d
controles especiais, tratamentos e erradicação Prever 1 h/d
Manutenção da rede de drenagem Variável conforme a rede
114 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
PARTE 2
Capítulo 6
116 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
Tabela 1 – Sintomas e causas de deficiências nutricionais na palma de óleo na Amazônia
Fontes: Pacheco et al. (1985), Fairhurst (1998), Rodrigues (1993), Viégas e Botelho (2000) e Rodrigues et al. (2002)
Nutriente Sintomas Causas
Solos arenosos pobres em húmus ou
Descoloração dos folíolos na sequência: verde, verde-pálido, verde-amarelado e amarelado
precariamente drenados, ou, ainda,
e seco. Essa descoloração afeta primeiro as folhas mais novas, progredindo para as mais
solos mal drenados, em decorrência de
Nitrogênio velhas à medida que a deficiência se acentua. As plantas com deficiência severa de N têm
compactação ou quando a alternância das
(N) o ráquis e as nervuras centrais dos folíolos de cor amarelada e a folha tende a encurvar.
estações secas e úmidas gera um forte
Se os sintomas são agudos e persistentes, observa-se uma redução generalizada no
movimento do nível do lençol freático,
desenvolvimento vegetativo da palma de óleo.
ocasionando asfixia periódica das raízes.
Não apresenta sintomas visuais típicos, mas observa-se uma redução do crescimento e da
Baixa disponibilidade, devido às baixas
produção. Estipe em formato de pirâmide e secamento prematuro das folhas mais velhas podem
concentrações de P disponíveis no
Fósforo (P) estar associados à deficiência de fósforo. Áreas deficientes em P também podem ser identificadas
solo; fixação pelo solo e/ou aplicação
pela predominância de gramíneas sobre as leguminosas que têm dificuldade em se estabelecer
inadequada; pH baixo.
como plantas de cobertura e, em alguns casos, pela presença de uma cor púrpura nas gramíneas.
Os sintomas foliares de deficiência de potássio mais comuns são: manchas alaranjadas Concentrações muito baixas de K
confluentes e descoloração difusa verde-amarelada para amarelo pálido que aparecem nos trocável (< 0,15 cmolc kg-1); solos
folíolos das folhas baixas e intermediárias. Normalmente, quando os teores foliares em K arenosos, muito ácidos e/ou turfosos.
Potássio são inferiores a 6 g kg-1, um necrosamento marginal é desenvolvido ao longo dos folíolos, Estresse hídrico muito forte. Excesso
(K) começando pelo ápice; as manchas alaranjadas podem tornar-se necróticas e ser o sítio de cálcio proveniente da calagem e/ou
de uma invasão patogênica secundária, secando posteriormente. Ocasionalmente, plantas do adubo fosfatado, assim como um
isoladas podem ser encontradas com esses sintomas, tendo ao redor outras que não os excesso de magnésio, pode induzir ou
apresentam; nesse caso, os sintomas são mais um efeito genético que uma deficiência de K. acentuar a deficiência em K.
A deficiência se manifesta como uma clorose das folhas velhas, que exibem coloração
amarelo-laranja claro. Os primeiros sintomas aparecem como manchas de cor verde-oliva
Solos contendo baixos teores de Mg
ou ocre nas pontas dos folíolos velhos mais expostos à luz solar. À medida que se agrava a
(<0,2 cmolc kg-1); também em solos de
deficiência, a cor muda para amarelo brilhante ou amarelo profundo e, eventualmente, as
textura leve e em solos ácidos, nos quais
Magnésio folhas afetadas secam. As manchas cloróticas podem ser afetadas mais tarde por invasões
|
deficiência de Mg são sempre mais pronunciados em folíolos expostos à luz solar; nas partes
ou acentuada por uma forte adubação
protegidas não há clorose, isto é, os folíolos ou parte de sua superfície que estão na sombra
potássica.
permanecem verdes, sintoma característico da diagnose visual, conhecido como “efeito
sombra”. Muitas plantas parecem ser geneticamente predispostas à deficiência de Mg.
117
118
|
Tabela 1 – Sintomas e causas de deficiências nutricionais na palma de óleo na Amazônia (continuação)
120 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
influenciam a composição mineral • Os aspectos nutricionais – entre os
das folhas e podem ter efeito na ab- vários fatores envolvidos na interpre-
sorção, no transporte, na redistribui- tação dos resultados da análise foliar,
ção e no metabolismo dos nutrientes. destacam-se como de primordial im-
Algumas substâncias usadas nos tra- portância o nível crítico, as interações
tamentos fitossanitários possuem em e os sintomas de deficiência, por cons-
suas composições elementos que são tituírem a base de utilização da análise
nutrientes, tais como fósforo, cobre e foliar para determinação da necessida-
cloro. Por outro lado, plantas afetadas de de adubação da palma de óleo. As-
por pragas e doenças podem exterio- sim, o conhecimento da concentração
rizar sintomatologias que se asseme- dos nutrientes nos diversos órgãos da
lham a algumas deficiências nutricio- planta em sucessivos estádios de de-
nais. Bactérias do gênero Erwinia, por senvolvimento é condição essencial
exemplo, podem induzir na palma de para ajudar no entendimento de pro-
óleo sintomas que se assemelham à blemas nutricionais e nas recomenda-
deficiência de boro. ções de adubação.
• Os tratos culturais – o estado nutri- 3.5. Nível Crítico
cional da palma de óleo pode ser
influenciado pelo manejo dado à O método de diagnose foliar baseia-
cultura. As culturas intercalares, por se no fato, demonstrado experimental-
exemplo, podem enriquecer o solo mente, de que, dentro de limites, há uma
em nutrientes ou empobrecê-lo pela relação direta e positiva entre teor foliar,
remoção deles. As leguminosas, nor- crescimento e produção. Portanto, é de
malmente utilizadas nas plantações se esperar que um aumento na concen-
de palma de óleo, quando bem ins- tração de um determinado elemento ou
taladas e manejadas, enriquecem elementos na folha corresponda a um au-
o solo em nitrogênio, contribuindo mento de produção.
para que teores foliares na palma Os vários estudos desenvolvidos sobre
de óleo atinjam valores adequados a nutrição mineral da palma de óleo per-
mesmo na ausência da aplicação do mitiram o estabelecimento dos níveis crí-
fertilizante (RODRIGUES et al., 1999). ticos, que se revelaram válidos na grande
Por outro lado, é comum observar maioria dos casos (Tabela 2). Considera-
teores de nitrogênio e fósforo signifi- se como nível crítico de um dado elemen-
cativamente inferiores nas folhas da to o valor abaixo do qual a probabilidade
palma de óleo quando na cobertu- de resposta ao uso de fertilizantes é alta.
ra do solo predominam gramíneas Entretanto, em áreas onde as condições
(GRAY e KEW, 1968). ambientais estimulam altas produções,
N P K Ca Mg
Tabela 3 – Variações nos teores foliares dos nutrientes em palmares no Brasil e faixa de
concentração considerada ótima
Fontes: 1Chepote et al. (1988); 2Viégas (1993); 3Rodrigues (1993); 4Uexlkull e Fairhurst (1991).
Local
Nutriente
Bahia 1
Pará 2
Amazonas3 Faixa Ótima4
N (g kg-1) 22,6 - 26,3 28,8 - 27,5 22,2 - 27,0 26,0 - 29,0
P (g kg-1) 1,40 - 1,90 1,20 - 1,60 1,31 - 1,76 1,60 - 1,90
K (g kg-1) 10,1 - 14,9 6,80 - 16,7 5,25 - 13,46 11,0 - 13,0
Ca (g kg-1) 11,6 - 16,4 5,20 - 11,9 7,28 - 10,8 5,0 - 7,0
Mg (g kg ) -1 2,30 - 3,20 2,10 - 2,80 2,01 - 3,69 3,0 - 4,5
S (g kg ) -1 - 1,60 - 2,10 1,65 - 2,06 2,5 - 4,0
Cl (g kg ) -1 - 3,30 - 6,50 3,43 - 7,53 5,0 - 7,0
B (mg kg ) -1 - 17,2 - 25,3 15,7 - 26,7 15,0 - 25,0
Cu (mg kg ) -1 - - 3,4 - 7,0 5,0 - 8,0
Zn (mg kg ) -1 - - 8,4 - 12,9 12,0 - 18,0
122 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
Um exemplo de interação positiva e Knecht et al. (1975), que demonstraram
(sinergismo) é a que ocorre entre o nitro- que essa soma é relativamente constante
gênio (N) e o fósforo (P). O sinergismo e em torno de 2, sendo a distribuição das
de absorção e assimilação do nitrogênio porcentagens ótimas correspondentes aos
e do fósforo na palma de óleo pode ser teores para cada elemento sobre a maté-
explicado pela relação N/P, proposta por ria seca da folha 17, de aproximadamente
Ollagnier e Ochs (1981), na qual o nível 58 % de K (11,5 g kg-1 m.s), 30 % de Ca (6,0
ótimo de fósforo varia em função do teor g kg-1 m.s) e 12 % de Mg (2,4 g kg-1 m.s).
de nitrogênio, com uma relação linear:
Diante do exposto, verifica-se que a
P(%)=0,0487 N(%) + 0,039. Considerando
interpretação dos resultados da análise fo-
o nível crítico adotado para cada um des-
liar, visando à adequação das recomenda-
ses elementos, podemos dizer que:
ções de adubação, deve ser baseada não
– a relação N/P em torno de 16 indica somente no nível absoluto dos elementos
que a nutrição em P e N está balan- (aspecto quantitativo da nutrição), mas
ceada (o equilíbrio entre os dois também na relação entre os elementos
nutrientes é bom); entretanto, cada – sinergismos e antagonismos (aspectos
aporte de adubo nitrogenado deve qualitativos da nutrição) –, pois a dose óti-
ser acompanhado de adubo fosfata- ma de um elemento sempre depende da
do para não gerar desequilíbrio; dose aplicada de outro elemento.
– se N/P > 16, existe um déficit em P
em relação ao N e, neste caso, não é
válido fazer a adubação nitrogenada
sem previamente fornecer o fósforo;
4. Adubação da
– se N/P < 16, indica que a planta está
relativamente bem nutrida em P em palma de óleo
comparação com uma nutrição em N
deficiente; daí a necessidade, neste
4.1. Resposta
caso, de um aporte de N. As curvas de resposta aos adubos,
e mesmo os níveis críticos, não têm um
Atenção especial deve ser dada às
caráter universal. Convém, portanto, inter-
mudanças do equilíbrio iônico, pois é co-
pretar os resultados das análises foliares
mum na palma de óleo a ocorrência de
tendo em conta as condições do meio,
relações antagônicas entre os cátions po-
particularmente as hídricas e as caracterís-
tássio, magnésio e cálcio. O potássio é o
ticas do solo, a idade das plantas e seu po-
nutriente exportado em maior quantidade
tencial produtivo, bem como a viabilidade
pela produção dos cachos. Por outro lado,
econômica do uso dos fertilizantes.
a aplicação de K necessária para manter
produções elevadas pode induzir a defici- Dentro desse enfoque, a Embrapa
ência de magnésio e a baixa relação Mg/K Amazônia Ocidental realizou estudos bus-
nos solos, causada por uma nutrição de- cando conhecer o comportamento e as
sequilibrada, evidenciando que as doses principais exigências nutricionais da pal-
de adubos devem ser balanceadas. Nesse ma de óleo nas condições pedoclimáticas
sentido, é interessante considerar os estu- da região. Os resultados obtidos nessas
dos sobre a variabilidade e outros aspec- pesquisas permitiram identificar respostas
tos da soma dos cátions K + Ca + Mg, de- da palma de óleo à aplicação de fertili-
senvolvidos por Prevot e Ollagnier (1954) zantes e formular as recomendações de
124 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
cimento da planta é melhorado pela apli- to, deprime os teores foliares de cobre e
cação de uma adubação mineral; existe zinco, afetando principalmente a nutrição
uma relação entre a necessidade de boro em cobre (RODRIGUES et al., 1997).
pela palma de óleo e o seu crescimento.
Quando a palma de óleo é cultivada em 4.2. Recomendação de
solos pobres em B e este não é fornecido adubação
pela adubação, observam-se, com frequ- O programa de nutrição mineral e
ência, anormalidades no desenvolvimen- adubação da palma de óleo proposto pela
to da planta, com possíveis prejuízos para Embrapa Amazônia Ocidental (Tabela 4)
a sua produção. Por sua vez, a adubação foi estabelecido levando-se em considera-
fosfatada, indispensável nas condições ção informações de ensaios de adubação
dos solos da Amazônia, que normalmente e de manejo.
contam com baixos teores desse elemen-
1 - O fósforo deve ser aplicado na cova, sendo uma parte no fundo e uma parte misturada à terra de enchi-
mento. Os demais adubos são distribuídos ao redor das plantas, sob a projeção da copa.
2 – No primeiro ano, as doses de N devem ser parceladas em três vezes (jan/fev (plantio), maio e novembro)
e as de K em duas vezes (maio e novembro); a partir do segundo ano, deve-se, preferencialmente, manter o
parcelamento dos adubos em duas vezes (maio e novembro), principalmente N e K.
MALAVOLTA, E.; VITTI, G. C.; OLIVEIRA, S. A. de. UEXKULL, H. R.; FAIRUHURST, T. H. Fertilizing for
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126 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
PARTE 2
Capítulo 7
128 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
meada ao mesmo tempo, dominando a do desmatamento e de culturas como a
maior parte das invasoras. A Pueraria pode da palma de óleo associada com plantas
ser semeada em sulcos, covas ou a lanço leguminosas sobre a estrutura de solos ar-
sobre toda a superfície das entrelinhas, gilosos da Amazônia, Grimaldi et al. (1993)
utilizando-se de 1 a 3 kg de sementes/ha, concluíram que o uso de espécies arbóre-
enquanto que a Mucuna é semeada ao as ou forrageiras de cobertura, com abun-
longo das leiras, empregando-se 2 kg de dante produção de liteira e de raízes, pode
sementes/ha. A densidade de semeadura acelerar o restabelecimento dos processos
das plantas de cobertura depende da rapi- biológicos de reciclagem e reestruturação
dez com que se deseja obter uma cober- do solo. A palma de óleo, quando asso-
tura vegetal e ajuda a limitar os riscos de ciada com leguminosas, se beneficia não
invasão das ervas daninhas. só da fixação de nitrogênio (AGAMUTHU
e BROUGHTON, 1985), como também do
A semeadura das plantas de cobertu-
melhoramento da estrutura do solo pelas
ra deve ser efetuada logo após o preparo
raízes e pela liteira, e da diminuição da
da área, no início da estação das chuvas.
concorrência de ervas daninhas agressi-
Cita-se, ainda, entre outras leguminosas
vas, principalmente as gramíneas.
que são igualmente utilizadas, o Calopo-
gonium caeruleum (tolerante ao sombrea- No caso específico da cultura da pal-
mento), o Desmodium ovalifolium, o Cen- ma de óleo, várias práticas de manejo
trosema pubescens e o Calopogonium têm sido propostas para limitar a erosão
mucunoides. e as perdas por escorrimento e lixiviação
(TAILLIEZ, 1975; QUENCEZ, 1986; CALIMAN
O sistema de manejo adotado pela cul-
e KOCHKO, 1987). Cita-se como exemplo
tura da palma de óleo permite um input
a grande quantidade de folhas fornecidas
significativo de matéria orgânica ao siste-
pela poda de limpeza/colheita, que varia
ma, seja pela grande quantidade de fo-
em torno de 11 a 16 t/ha/ano de resíduos
lhas fornecidas pela poda de limpeza, seja
na plantação (HARTLEY, 1988). Sua simples
pela associação com leguminosas para
deposição nas entrelinhas, além de repre-
cobertura do solo que, além de fixarem
sentar uma importante fonte de nutrien-
nitrogênio através da produção de liteira e
tes (SOLANO, 1986), constitui uma medida
raízes, podem contribuir para o restabele-
efetiva de conservação do solo, podendo
cimento dos processos biológicos de reci-
reduzir a erosão em mais de 33% (QUEN-
clagem e reestruturação do solo. Por outro
CEZ, 1986; KEE e CHEW, 1996).
lado, o sucesso da introdução da palma
de óleo em área alteradas, abandonadas Em estudo conduzido nas condições
ou degradadas dependerá principalmente da Amazônia (RODRIGUES et al., 2002),
da capacidade do seu sistema radicular instalou-se inicialmente, como cobertu-
se desenvolver em solos compactados. ra do solo, a Pueraria e o Desmodium.
Segundo Jacquemard (1995), a palma de Após doze anos de cultivo, a Pueraria foi
óleo tem um sistema radicular vigoroso e totalmente invadida pela samambaia, en-
extenso; entretanto, zonas compactas no quanto o Desmodium, mais resistente ao
solo podem reduzir o desenvolvimento sombreamento, permaneceu, com uma
do seu sistema radicular. produção de matéria seca da parte aérea
de 4,3 t/ha. A Tabela 1 mostra os teores de
Nesse sentido, tem-se observado um
carbono e de nitrogênio, determinados
efeito positivo da planta de cobertura so-
pela combustão por via seca com um au-
bre o desenvolvimento do sistema radicu-
toanalisador CHN, e a relação C/N nos di-
lar da palma de óleo. Estudando o efeito
130 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
com frutíferas que suportam certo grau de mostrou que a associação palma de óleo
sombreamento. x banana x mandioca gerou não somente
os maiores ingressos brutos, cobrindo 87%
Também foram observadas vantagens
dos custos totais de implantação já no pri-
na associação de culturas anuais com cul-
meiro ano, como também promoveu me-
tivo perene no Benin. Utilizando a cultura
lhor desenvolvimento da palma de óleo.
de palma de óleo em densidade reduzida
(DANIEL et al., 1996), pode-se obter certas
vantagens, tais como: melhoria da resis-
tência à seca, manutenção da entrelinha
da palma de óleo em virtude dos tratos 3. Cultivos intercalados
culturais da cultura intercalada, utilização
total dos insumos simultaneamente por
com palma de óleo: a
ambos os sistemas radiculares e intensifi- experiência do Estado
cação da exploração da área.
Morais et al. (2009), estudando a in-
do Amazonas
fluência da variação de temperatura foliar Neste tópico, serão apresentados al-
sobre as trocas gasosas da palma de óleo guns estudos de casos de cultivos interca-
em plantios solteiros e consorciados com lados envolvendo a cultura da palma de
banana ou mandioca em áreas degrada- óleo como cultura principal no Estado do
das da Amazônia, observaram que as cul- Amazonas. Cabe ressaltar que nem todas
turas intercalares exerceram influência so- as culturas possíveis de serem consorciadas
bre as trocas gasosas da palma de óleo em com a palma de óleo serão abordadas.
função da variação de temperatura. Com
relação às taxas de condutância estomá- No Estado do Amazonas, estudos re-
tica, observou-se para o sistema da palma alizados com a palma de óleo intercalada
de óleo sem cultura intercalar e com man- com banana, abacaxi e mandioca em áreas
dioca um declínio significativo a partir da degradadas durante três anos da fase pré-
temperatura de 38-41,9°C, enquanto para produtiva da palma de óleo apresentaram
o sistema com bananeira, esse declínio resultados altamente significativos para
significativo ocorreu a partir dos 46-49,9°C amortização do custo de implantação dos
(maior capacidade de sombreamento da sistemas consorciados. Quando a cultura
bananeira). Resultados similares foram ob- da palma de óleo foi intercalada com bana-
tidos por Dufrene e Saugier (1989, 1993) neira, a amortização do custo de implanta-
estudando as trocas gasosas da palma de ção do sistema durante três ciclos produti-
óleo sob condições de campo na Costa vos da bananeira foi de 89,7% (ROCHA et
do Marfim, onde verificaram que as taxas al., 2007a). Quando a cultura da palma de
de transpiração e condutância estomática óleo foi intercalada com abacaxi, a amorti-
aumentaram com o incremento da tem- zação do custo de implantação do sistema
peratura foliar, e que temperaturas foliares durante um ciclo produtivo do abacaxizeiro
entre 30 e 38°C não exerceram um efeito foi de 100% (ROCHA et al., 2007b). Quando
significativo sobre as taxas fotossintéticas. intercalada com mandioca, a amortização
do custo de implantação do sistema duran-
Mora et al. (1985) demonstraram a te quatro ciclos produtivos da mandioca foi
viabilidade econômica dos cultivos in- de 66,6% (ROCHA et al., 2007c). Rocha et
tercalados com palma de óleo em solos al. (2007d) encontraram efeito positivo no
da Venezuela. A análise de rentabilidade desenvolvimento vegetativo da palma de
dos diversos sistemas de cultivo adotados óleo quando intercalada com outras cul-
Figura 1 – Sistemas de cultivo da palma de óleo intercalado: (a) duas linhas de bananeira
e (b) uma linha de bananeira. (a) Plantio de banana feito imediatamente após o plantio da
palma de óleo e conduzido até o terceiro ano; (b) Replantio de banana feito após o terceiro
ano de cultivo da palma de óleo. (Fotos: Raimundo Rocha)
A B
132 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
inicial, proporcionando maior sombrea- de regional, foram cultivadas no espaça-
mento e estiolamento da palma de óleo, mento de 1,0 x 0,4 x 0,4 m, sendo 1,0 m
causado pela competição por luz (ROCHA, entre fileiras duplas, 0,4 m entre plantas
2007). Assim, de acordo com os resultados na fileira dupla e 0,4 m entre plantas na
obtidos por este autor, recomenda-se linha (Figura 2b). O manejo da cultura do
o cultivo, até o terceiro ano de idade da abacaxi foi realizado conforme recomen-
palma de óleo, de uma única linha de ba- dado por Silva et al. (2004) para o Estado
naneira nas entrelinhas da palma de óleo, do Amazonas. A indução floral foi reali-
normalmente no espaçamento de 1,5 m zada quando as plantas apresentaram o
entre plantas, dando-se preferência para comprimento da folha (D) superior a 70
cultivares de bananeira de porte inferior a cm, o que ocorreu dez meses após o plan-
2,70 m de altura. tio. O resíduo da adubação deixado pela
cultura do abacaxi proporcionou aumento
No sistema palma de óleo x mandio-
nos teores de nutrientes no solo, notada-
ca, cinco linhas de mandioca da varieda-
mente de fósforo, que se mostraram signi-
de “aipim manteiga” foram plantadas nas
ficativamente superiores aos dos sistemas
entrelinhas da palma de óleo, utilizando
palma de óleo x banana e palma de óleo
o espaçamento de 1,0 x 1,0 m (Figura 2a).
em monocultivo.
O manejo da cultura da mandioca foi re-
alizado conforme recomendado por Dias
et al. (2003) para o Estado do Amazonas.
As colheitas da mandioca foram realiza-
das aproximadamente oito meses após o 4. Considerações finais
plantio. O resíduo da adubação deixado
O adequado desempenho econômi-
pela cultura da mandioca proporcionou
co apresentado na fase pré-produtiva da
aumento nos teores de nutrientes no solo,
palma de óleo pelos sistemas de cultivos
principalmente de fósforo, que se mostrou
intercalados estudados no Amazonas ofe-
superior ao encontrado na palma de óleo
rece uma solução para um dos principais
em monocultivo.
obstáculos à produção de palma de óleo
No sistema palma de óleo x abacaxi, para a agricultura familiar em relação à di-
quatro fileiras duplas de abacaxi, varieda- versificação de culturas e renda. É notório
Figura 2 – Sistemas de cultivo da palma de óleo intercalado: (a) cinco linhas de macaxeira e
(b) quatro linhas duplas de abacaxizeiro. (Fotos: Raimundo Rocha)
A B
134 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
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136 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
PARTE 2
Capítulo 8
138 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
considerando a profundidade na qual o sis- e são de mais difícil absorção pelas raízes
tema radicular poderá absorver água sem das plantas de palma de óleo.
reduções significativas de produtividade.
A Capacidade de Água Disponível (CAD)
A umidade que o solo atinge, após de um solo é a fração da água presente
cessar a drenagem pelos macroporos, é no solo que se encontra em condições de
conhecida como umidade na Capacidade ser absorvida pelas raízes. Em geral, é o ar-
de Campo (CC). Sua definição é controver- mazenamento possível de água, calculado
sa, mas consiste basicamente na umidade pela diferença entre a umidade na CC e a
do solo após este ter sido saturado e o flu- umidade no PMP, considerando a profun-
xo da água ter praticamente cessado pelas didade efetiva do sistema radicular.
forças gravitacionais. Essa umidade pode
O valor máximo de umidade que um
variar entre 15% e 45% para solos mais are-
solo pode atingir é conhecido como umida-
nosos e mais argilosos, respectivamente. O
de de saturação. Isso ocorre quando todo
Ponto de Murcha Permanente (PMP) pode
o espaço poroso do solo está preenchido
ser resumido como a umidade na qual as
com água. A saturação do solo acontece
plantas não conseguem mais absorver
muito raramente em condições de campo,
água do solo devido à elevada energia
sendo observada em locais que apresen-
com que esta se apresenta. Esse valor é
tam boa drenagem apenas quando ocor-
determinado com equipamentos especiais
rem precipitações muito intensas, acima da
em laboratório e varia entre 7% e 25%, en-
capacidade de infiltração do solo. Um pal-
tre solos arenosos e muito argilosos.
mar bem manejado e com solo bem dre-
A quantidade de água retida entre CC nado, mesmo após intensas precipitações,
e PMP é conhecida como Água Disponí- não ficará saturado por um longo período.
vel (AD). A quantidade de água disponível A boa drenagem do solo se dá quando há
num solo é dependente de sua estrutura, manutenção da estrutura que forma o es-
textura e mineralogia. Esse valor pode ser paço poroso, o qual regula os processos de
alterado com o manejo do solo. Na maioria aeração e drenagem do solo.
dos casos, ocorre uma redução da percen-
Após uma chuva ou irrigação, a drena-
tagem de AD pela redução da porosidade
gem é governada basicamente pela força
e da umidade na CC causada por reduções
gravitacional que atua efetivamente nos
do espaço poroso (compactação). A redu-
macroporos (poros com diâmetro equi-
ção do tamanho dos poros faz com que a
valente maior que 50 μm). Nos poros de
água seja retida no solo com maior ener-
menor diâmetro (meso e microporos), as
gia, e a habilidade das raízes da palma de
forças capilares e de adsorção é que con-
óleo em absorver a água do solo depende
trolam a velocidade do fluxo de água e a
mais do potencial da água do que de sua
sua capacidade de drenagem. Em solos
quantidade total (TINKER e NYE, 2000). Essa
com grande percentual do espaço poroso
relação entre potencial de água no solo e
com poros de pequeno diâmetro (micropo-
quantidade de água no solo é conhecida
ros) e de textura argilosa, grande parte da
como Curva de Retenção de Umidade do
água é retida por forças de adsorção que
solo (CRU). A relação (CRU) é governada,
ocorrem entre as moléculas de água e a
na maior parte, por forças capilares causa-
superfície das partículas (minerais de silte e
das pelos poros do solo no qual a água está
argila, grãos de areia e frações orgânicas).
armazenada. Solos com elevada quantida-
Essa água retida por forças de adsorção ou
de de microporos apresentam um grande
forças capilares muito intensas é pratica-
percentual de água com elevada energia
mente indisponível para a palma de óleo
140 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
sentam uma boa drenagem. Peralta et al.
3. Aspectos de (1985) e Calliman et al. (1990b) concluíram
que a manutenção das características físi-
diferentes classes de cas do solo num palmar pode contribuir
de modo significativo para o aumento dos
solo e da granulometria rendimentos devido à melhor eficiência
no desenvolvimento da de utilização dos adubos.
A palma de óleo apresenta melhores
palma de óleo produtividades em solos com profundidade
A palma de óleo se desenvolve bem efetiva maior que 1,0 m e não compactados
em condições edáficas muito diversas, ou densos naturalmente. O sistema radicu-
podendo se adaptar a solos distróficos (a lar fasciculado da palma de óleo é sensível
saturação por bases no complexo de troca a solos compactados (OLLAGNIER et al.,
de cátions é menor que 50%), desde que 1970; CALLIMAN et al., 1990a), apresentan-
corrigidos, adubados e manejados crite- do uma acentuada redução de crescimento
riosamente (VIÉGAS e BOTELHO, 2000). quando cultivado nessas condições.
Entretanto, solos férteis terão custos re- A presença de alguma camada de
duzidos de adubação e, potencialmente, impedimento, como ocorre em alguns
maior produtividade. Plintossolos (solos que apresentam hori-
Na Amazônia brasileira, a palma de zontes plíntico ou petroplíntico, caracteri-
óleo vem sendo cultivada principalmente zados pela presença de uma camada de
nos Latossolos Amarelos de textura mé- concreções) e Espodossolos (solos que
dia na região Bragantina e nos Latossolos apresentam horizonte espódico, muitas
Amarelos de textura argilosa na região de vezes endurecido pela cimentação de óxi-
Manaus. Ambos os solos são distróficos, dos de ferro e alumínio), pode também li-
além de deficientes em fósforo e na maio- mitar o estabelecimento e a produtividade
ria dos principais nutrientes (magnésio, da palma de óleo. A presença de grandes
potássio, cálcio e boro). Trabalhos condu- quantidades de concreções endurecidas
zidos em Belém (PACHECO et al., 1985) e (petroplintita) reduz o volume de solo
em Manaus (RODRIGUES et al., 1997) de- para exploração das raízes e também a
monstraram que o fósforo foi o elemento capacidade de armazenamento de água
mais limitante para o desenvolvimento e a no solo, dado que normalmente as petro-
produção de palma de óleo nesses locais. plintitas não possuem baixa porosidade.
Entretanto, se a quantidade de petroplin-
Os Latossolos, nas suas condições tita não for excessiva e as propriedades
originais, normalmente apresentam boas da massa de solo forem adequadas, es-
características físicas, sendo, entretanto, ses solos podem ser parcialmente aptos,
suscetíveis à compactação e à degradação como ocorre em algumas áreas no estado
da estrutura do solo. Paradoxalmente, os do Pará. Em regiões onde ocorrem os Plin-
Latossolos Amarelos da região Bragantina, tossolos, é necessário um estudo mais de-
no Pará, apesar de apresentarem o pre- talhado sobre a profundidade em que se
domínio de partículas minerais na fração encontram as camadas de impedimento e
areia, apresentam uma reduzida drena- sua influência na redução da drenagem.
gem em relação aos Latossolos Amarelos
argilosos ou muito argilosos bem estru- Regiões com predomínio de solos
turados da Amazônia Central, que apre- arenosos, como Espodossolos e Neosso-
los quartzarênicos, serão consideradas
142 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
mente com as condições do ambiente. As
condições microclimáticas de um palmar
refletem na capacidade de EVT e evapora-
5. Referências
ção da água no solo (CABRAL, 2000), num bibliográficas
intricado processo dinâmico no qual as
condições de umidade do solo influirão ASSIS, R. P.; CARVALHO, J. G.; PAULA, M. B.; VIÉGAS,
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na capacidade de infiltração e transmissão aérea do dendezeiro em função de diferentes re-
da água dentro do perfil do solo. As ca- lações entre K, Ca e Mg na solução nutritiva. In:
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E NUTRIÇÃO DE PLANTAS, 22., Manaus, 1996. Re-
minada região, incluindo sua intensidade, sumos expandidos. Manaus: SBCS, 1996. p. 662-
quantidade e duração, influirão, por sua 663.
vez, no enchimento dos poros do solo,
BARCELOS, E.; RODRIGUES, F. M.; MORALES, E. A. V.
numa competição com o ar do solo. O diâ- Dendeicultura: alternativa para o desenvolvimento
metro dos poros influenciará as condições sustentável no Amazonas. Manaus: Embrapa Amazô-
de energia em que a água fica retida. Em nia Ocidental, 1999. 19 p.
algumas situações de manejo de solos tro- BASTOS, T. X.; MÜLLER, A. A.; PACHECO, N. A.;
picais, o espaço poroso total do solo não SAMPAIO, S. M. N.; ASSAD, E. D.; MARQUES, A. F. S.
se altera, mas ocorrem mudanças na distri- Zoneamento de riscos climáticos para a cultura do
dendezeiro no estado do Pará. Revista Brasileira
buição de frequência de poros por tama- de Agrometeorologia, v. 9, n.3, p. 564-570, 2001.
nho. O aumento da quantidade de poros
BERGAMIN FILHO, A.; AMORIM, L.; LARANJEIRA, F.
de pequenos diâmetros (microporos) cau- F.; BERGER, R. D.; HAU, B. Análise temporal do
sa alterações drásticas nos fluxos de água amarelecimento fatal do dendezeiro como fer-
e de ar no solo (TEIXEIRA, 2001). ramenta para elucidar sua etiologia. Fitopatologia
Brasileira, v. 23, n. 3, p. 391-396, 1998.
Atualmente, encontra-se em andamen-
BERNARDES, M. S.; VEIGA, A S. ; RAMOS, E. A do-
to um projeto que avalia a hipótese de o AF ença de raiz amarelecimento fatal do dendezeiro.
ser provocado por uma redução na poro- In: CONGRESSO BRASILEIRO DE FITOPATOLOGIA,
sidade de aeração e, consequentemente, 33., Belém, 2000. Resumos... Belém: Sociedade
na condutividade hidráulica do solo, o que Brasileira de Fitopatologia, 2000. p. 454.
causaria uma diminuição temporária do BOARI, A. Estudos realizados sobre o amarele-
potencial de oxirredução do solo. Isso acar- cimento fatal do dendezeiro (Elaeis guineensis
Jacq.). Belém: EMBRAPA-CPATU, 2008. 62 p.
retaria alterações na composição dos íons
na solução do solo, especialmente nas for- CABRAL, O. M. R. Microclima de dendezais na Ama-
zônia Ocidental. In: VIÉGAS, I. J. M.; MÜLLER, A.
mas iônicas reduzidas de ferro, manganês, A. (Ed.). A cultura do dendezeiro na Amazônia
nitrogênio e enxofre. Aparentemente, es- Brasileira. Belém: Embrapa, 2000.
sas alterações estariam produzindo distúr-
CALIMAN, J. P.; CONCARET, J.; AUBRY, M. Subsoiling
bios fisiológicos que se iniciam no sistema
in oil palm plantations: description of an adapted
radicular e ocasionam uma predisposição tool and conditions for its use. Oleagineaux, v.
da palma de óleo ao AF. 45, n.8-9, p. 391-392. 1990a
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palm in humid tropical regions. Oleagineaux, v.
45, n. 3, p. 109-110.1990b
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Oil Palm: the need for an integrated management
approach. ASD Oil Palm Papers, v. 32, p.1-25,
2008.
144 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
PARTE 2
Capítulo 9
146 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
rum ataca, também, espécies cultivadas plantas e dos tecidos danificados das pal-
e/ou nativas da Amazônia, particularmen- meiras, a captura do adulto dessa praga
te o coqueiro e o açaizeiro. pode ser efetuada utilizando vários tipos
de iscas contendo feromônio sintético de
Os danos em cultivos de palma de óleo
agregação, as quais podem ser encontra-
são provocados por imaturos e adultos de
das no mercado com diferentes nomes
R. palmarum. Danos diretos são causados
comerciais.
pelas larvas que perfuram os tecidos do
estipe na região da coroa foliar (Figura 3a), As iscas para captura de R. palmarum
construindo galerias que podem chegar até podem ser usadas em três tipos de ar-
o tecido meristemático (broto terminal ou madilhas:
palmito). Em decorrência, as folhas novas
– armadilha tipo balde, que consiste
ficam amareladas, murcham e, finalmente,
em um balde plástico de 50 a 100
se curvam e secam, indicando a morte da
litros, com tampa devidamente per-
planta. Indiretamente, o adulto de R. palma-
furada na qual são acoplados funis
rum é vetor do nematoide Bursaphelencus
equidistantes;
cocophilus (Cobb) Baujard, agente causal
da doença anel-vermelho (Figura 3b), que – armadilha tipo tanque, que consiste
poderá ser letal à palma de óleo. em um recipiente de alvenaria com
as dimensões 1,2 x 1,0 x 0,4 m;
Trata-se de uma espécie-praga com
grande número de estudos sobre as es- – armadilha tipo feixe, que consiste em
tratégias de controle, particularmente em um feixe de cana amassada, pendu-
cultivos de coqueiro. Dessa forma, reco- rado no tronco do coqueiro.
menda-se que os métodos de controle
Nos três tipos de armadilhas, são uti-
dessa broca sejam integrados, visando à
lizados cana-de-açúcar junto com o fero-
redução da população do inseto no plan-
mônio de agregação para aumentar o seu
tio e nas proximidades com a utilização
poder de atração.
de armadilhas de captura e a aplicação de
técnicas de manejo, tais como: eliminar Vários inimigos naturais são importantes
plantas mortas no campo, evitar ferimen- no equilíbrio da população de R. palmarum
tos em plantas sadias, utilizar alcatrão ve- em campo, como por exemplo: parasitoides
getal em eventuais ferimentos e monitorar de pupas como Billaea menezesi (Guima-
a presença de inimigos naturais na área. rães; anteriormente Paratheresia menezesi)
e B. rhynchophorae (Blanchard). O uso de
Uma vez que esse inseto é atraído por
iscas vegetais contaminadas com esporos
compostos voláteis resultantes da fermen-
do fungo B. bassiana é também uma alter-
tação de líquidos açucarados exalados das
nativa de controle de R. palmarum.
Figura 3 – Dano direto [galeria] (A) e indireto [anel vermelho] (B) provocado por R.
Palmarum (Foto: Ricardo Salles Tinôco – Grupo Agropalma)
A B
148 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
novas infestações da praga. Recomenda- limbo foliar a partir das bordas (Figura 7),
se utilizar 500 g de lagartas parasitadas tri- deixando apenas as nervuras centrais.
turadas para preparar 600 litros de solução
do fungo, que é uma quantidade suficien-
te para pulverizar 1 hectare. Figura 7 – Desfolhamento causado por
imaturos de O. invirae
Em plantios comerciais de palma de (Foto: José Malta de Souza – Grupo Agropalma)
óleo no Estado do Pará, também tem sido
observada a predação de lagartas desfo-
lhadoras pelo percevejo Alchaeorrynchus
grandis (Hemiptera: Pentatomidae) (LEMOS
et al., 2007). No entanto, ainda se percebe
a necessidade de mais estudos sobre esse
método de controle na Amazônia brasileira.
150 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
Como manejo do Anel Vermelho, tem des nos folíolos das folhas mais velhas, que
sido utilizada a eliminação de plantas com avança para a base e provoca a seca rápida
sintomas para diminuir a fonte de inóculo da folha. Além disso, causa o abortamento
no campo. Entretanto, a principal estra- de inflorescências, bem como o apodre-
tégia tem sido o controle do inseto vetor cimento de cachos imaturos (TASCON e
por meio da captura com o uso de arma- MARTINEZ, 1977; PERTHUIS et al., 1985).
dilhas espalhadas no plantio e/ou o uso
Além da palma de óleo, o Phytomonas
de inimigos naturais, conforme descrito
pode se hospedar em coqueiros e é trans-
anteriormente.
mitido pelos insetos Hemiptera Haplaxius
Fusariose pallidus Caldwell (Cixiidae) e Linus lethifer.
Nas condições da Amazônia brasileira, o
Também conhecida como Secamento
Phytomonas parece atacar com mais fre-
Letal da palma de óleo, sua ocorrência é
quência palmares localizados ao longo da
comum em plantios nos diferentes esta-
floresta e nas proximidades de igarapés
dos brasileiros.
(TRINDADE et al., 1997).
A Fusariose é causada pelo fungo Fusa-
Como estratégia de controle, recomen-
rium oxysporum f.sp. elaeis, pertencente à
da-se o arranquio das plantas afetadas, já
classe Euascomycetes, na ordem Hipocre-
que elas não se recuperam.
ales e família Hypocreaceae. Essa formae
specialis só infecta a palma de óleo, como Mancha de Curvulária
sugere seu nome.
Essa doença aparece mais no estágio
Os sintomas causados por esse fungo de viveiros com nutrição desbalanceada.
em plantas de palma de óleo consistem A mancha é causada pelo fungo Curvula-
no aparecimento do amarelecimento nas ria sp., da classe Euascomycetes, na ordem
folhas mais velhas, às vezes nas intermedi- Pleosporales e família Pleosporaceae. O
árias, a partir do quarto ano de idade. Pos- fungo Curvularia possui conidióforos es-
teriormente, os sintomas evoluem para a curos que produzem conidiósporo simpo-
quebra da base do pecíolo das folhas mais dial. Os conidiósporos são escuros, retos
velhas, configurando o aspecto guarda- ou curvos e apresentam até cinco células.
chuva. Essas folhas secam e podem levar
Os sintomas aparecem, inicialmente,
à seca total da planta. No estipe, próximo
em forma de lesões circulares, de colora-
à base, observa-se o escurecimento, ou
ção amarelada e translúcida, visíveis em
necrose, dos tecidos condutores, também
ambas as faces da folha, e posteriormente
causado pela colonização do fungo. Em-
se tornam elípticas. A lesão pode ter de 3
bora esse fungo possa ser importante, não
a 7 mm de comprimento e pode variar de
há uma medida de controle específica.
marrom-claro a marrom-escuro com um
Marchitez Sorpressiva halo amarelado. Quando o ataque é seve-
ro, as lesões coalescem.
Apesar de ser considerada doença de
menor importância em relação às anteriores, A infecção pela Curvularia pode ser fa-
esta pode levar a planta de palma de óleo vorecida pela alta umidade do ar (acima
à morte. A Marchitez Sorpressiva é causada de 80%) e pela temperatura superior a
por um protozoário chamado Phytomonas 25oC. Esse micro-organismo pode causar
staheli, da ordem Trypanosomatida e famí- doença também em outras palmáceas,
lia Trypanosomatidae. Esse patógeno causa como a pupunha e o coqueiro.
uma coloração amarronzada nas extremida-
152 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
PARTE 2
Capítulo 10
No Brasil, o AF foi relatado pela primei- Vários trabalhos foram realizados com
ra vez em 1974 em uma lavoura estabele- o objetivo de determinar a causa ou o
cida em 1967 no Pará, quando sua ocor- agente causal do AF na palma de óleo.
rência era esporádica, afetando poucos Entretanto, não foi encontrada nenhuma
2. Sintomatologia
O AF se caracteriza, inicialmente, pelo
ligeiro amarelecimento dos folíolos basais
das folhas intermediárias (3, 4, 5 e 6) e,
mais tarde, pelo aparecimento de necro-
ses nas extremidades dos folíolos (Figura produção de cachos é insignificante. Além
1), que evoluem para a seca total dessas disso, o sistema radicular não se desen-
folhas. Um dos principais sintomas do AF volve após o aparecimento dos primeiros
é a seca da folha flecha e, eventualmente, sintomas do AF. Nos tecidos do estipe e
pode ocorrer remissão temporária da plan- do meristema das plantas com AF, não são
ta (Figura 2), seguida de declínio generali- observados apodrecimentos ou necroses
zado e morte (Figura 3). do sistema vascular. Ayala (2001) e Bernar-
Van Slobbe (1991) relata que, geral- des (2001) ressaltam que o sistema radicu-
mente, as plantas morrem 7 a 10 meses lar se apresenta necrosado logo no início
após o aparecimento dos primeiros sinto- do aparecimento do amarelecimento dos
mas, quando não ocorre a remissão. A par- folíolos das folhas intermediárias. Essa do-
tir da morte da folha flecha, não há mais a ença pode ocorrer em qualquer idade do
produção de cachos. Embora em algumas palmar.
palmas possa ocorrer remissão de folhas, a
154 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
Figura 3 – Plantio de palma de óleo dizimado pelo AF. Foto: Alessandra de Jesus Boari
com a finalidade de indicar se a sua causa é pécies registradas. Nos ensaios de trans-
ou não de origem biótica. missão, 815.914 insetos foram coletados
e liberados nas gaiolas. Foram realizadas
3.1. Estudos visando a uma
liberações monoespecíficas com insetos
possível causa biótica
mais relacionados com a palma de óleo,
Chinchilla e Durán (1999) sugerem que tais como Contigucephalus sp., Patara sp.,
os fitopatógenos associados a plantas Omolicna sp. e Myndus crudus, e mistu-
doentes são oportunistas, já que não se ra de espécies com as principais famílias
provou que eles sejam a causa primária catalogadas, entre as quais Aethaelinidae,
da doença. Os autores também sugerem Cercopidae, Fulgeridae, Dephacidae, Dic-
que a suscetibilidade da planta de palma tyopharidae, Nogodinidae, Issidae, Rica-
de óleo a esses patógenos pode ser propi- nidae, Derbidae, Cixiidae, Cicadellidae,
ciada por um ou mais tipos de estresse. Flatidae e Membracidae.
Entomologia Após seis anos de pesquisa, não se
obteve resultados positivos em relação à
A iniciativa para a realização de traba-
transmissão do AF com insetos. Assim, os
lhos de pesquisa na área de entomologia
autores concluíram que se deve descartar
foi baseada na observação (de campo)
a hipótese de um homóptero transmissor
preliminar que levantou a hipótese de
que tenha estreita relação com a palma de
que a doença era propagada por insetos,
óleo (CELESTINO FILHO et al., 1993).
pelo fato de a disseminação ocorrer no
sentido dos ventos, o que coincidia com Fitoplasmas
a área de progresso do AF no campo, com
Por meio de teste molecular PCR, Brio-
distribuição aleatória (CELESTINO FILHO et
so et al. (2003, 2006) relataram a associa-
al., 1993).
ção do fitoplasma do grupo 16S rRNA I
Do total de insetos catalogados, preva- em amostras de plantas de palma de óleo
leceu a família Cicadellidae, com 266 es- com AF provenientes do Pará. Os mesmos
Fungos
Lasiodiplodia theobromae Pythium sp. Chaetomium sp.
Microsphaera olivacea Fusarium solani Rhizoctonia sp.
Curvularia pallescens Fusarium oxyesporum Graphium sp.
Dacrylaria sp. Fusarium sp. Mucor racemosus
Mycelia sterilia Pestalotiopsis sp. Curvularia hamata
Phytophtora sp. Thielaviopsis sp. Phoma sp.
Colletotrichum sp. Phomopsis sp. Gloeosporium sp.
Bactérias
Aerobater aerogenes Erwinia herbicola Psedomonas aeruginosa
Bacillus polimixe P. putida P. fluorescens
156 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
injeção, por meio de pistola injetora, de verificou de duas a quatro bandas típicas
três soluções fungicidas: Benomyl, para o em plantas sadias e não em doentes. Ban-
controle de Fusarium sp.; Metalaxyl + Fol- das idênticas foram observadas em plan-
pet de Phytophthora sp. e Fessetil + Alumí- tas de palma de óleo do Rio Urubu, local
nio, para o controle de fungos da família onde o AF não ocorre.
Pythiacea. Entretanto, nenhum desses
Em novas análises para avaliar a ocor-
tratamentos teve sucesso na indicação de
rência de viroides, Beuther et al. (1992)
um possível patógeno.
realizaram testes de hibridização mole-
Na Colômbia, por meio do Postulado cular utilizando sondas contra coconut
de Koch, provou-se que o PC é causado cadang-cadang viroid (CCCVd), potato
por um complexo de fungo Thielaviopsis spindle tuber viroid (PSTVd) e citrus dwar-
paradoxa, Phytophthora sp. e Pythium sp. fing (CdVd1). Existem relatos de CCCVd
(NIETO et al., 1996). infectando palmares. Entretanto, não se
obteve sucesso na detecção de viroides
Vírus e viroides
em amostras de plantas de palma de óleo
Com os resultados negativos das ino- com AF. Outros trabalhos visando à detec-
culações de bactérias e fungos em palma- ção de viroides foram realizados, mas sem
res, levantou-se a hipótese de que vírus obter sucesso (RIESNER e BEUTHER, 1989;
ou viroides poderiam estar associados ao SINGH et al., 1988).
AF, pois são relatados em coqueiros e tam-
bém em palmáceas.
Nematoides
Segundo Silva (1989), suspeitou-se do
Os testes de transmissão foram feitos
envolvimento de fitonematoides com o
por meio de ferramentas cortantes intro-
AF em virtude de uma série de observa-
duzidas em plantas com AF e, posterior-
ções, como a ocorrência de AF em áreas
mente, em plantas sadias. Além disso,
onde foram encontradas, inicialmente,
foram feitos testes de inoculação: de ex-
plantas com sintomas de anel-vermelho
tratos de folhas com AF para plantas sa-
(AV), causado por Bursaphelenchus coco-
dias; de folhas com AF para plantas indica-
philus, e a ocorrência de nematoides não
doras de vírus; e de raízes, estipe e ráquis
identificados em tecidos de plantas com
de plantas com AF para plantas indicado-
a doença junto a áreas necrosadas das rá-
ras de vírus. Entretanto, as transmissões
quis da flecha ou das folhas mais novas,
mecânicas não tiveram sucesso aparente
centrais, amarelecidas e/ou com resseca-
(TRINDADE et al., 2005).
mento progressivo. O autor, ao final das
Kitajima (1991), por meio da micros- observações, concluiu que não foram en-
copia eletrônica, não verificou patóge- contradas formas efetivamente fitopara-
nos em tecidos ultrafinos de raízes, fo- sitas de nematoides que pudessem levar
lhas e flechas de plantas sadias e com diretamente ao AF como causa primária
AF, mas salientou que vírus isométricos (Tabela 2).
pequenos e de baixa concentração são
Analisando solos e plantações de pal-
de difícil observação.
ma de óleo, Ferraz (2001) afirma não ter
Ribeiro (1990), estudando a presença encontrado formas parasitas que pudes-
de viroides por meio de eletroforese, após sem estar causando o mal, não sendo o
várias repetições com plantas de palma de nematoide a causa primária do AF.
óleo com e sem sintomas provenientes do
Pará, observou dados inconsistentes, pois
158 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
Transmissibilidade pela semente Suriname; e El Castillo, na Nicarágua. Em
outros locais, a primeira cultura foi a da ba-
Van Slobbe (1991) levantou a hipótese nana, como é o caso das plantações em
de um possível agente patogênico causa- Santo Domingo, no Equador, em Sixaola,
dor do AF ser transmitido pela semente na Costa Rica e em Cukra Hill, na Colôm-
proveniente de planta doente, pois ob- bia.
servou que muitas plantas de mais de um
metro de altura, que germinaram esponta- O AF foi relatado em áreas cujos solos
neamente, apresentaram sintomas da do- eram constituídos de manchas de areia
ença. Visando estudar essa transmissão, quartzosa intercaladas com manchas de
foram coletadas milhares de sementes de concreções lateríticas no Pará; na Denpa-
32 plantas de palma de óleo portadoras sa, onde também ocorreu o AF, a área era
de AF com 6 e 20 anos de idade. Entre- de várzea alta, sujeita a inundação por
tanto, 19 meses após a germinação, não períodos prolongados de 5 a 6 meses por
foram observados sintomas de AF que evi- ano (VAN SLOBBE, 1991).
denciassem a transmissão. Avaliação foliar
3.2. Estudos visando a uma Viégas et al. (2000) realizaram um es-
possível causa abiótica tudo sobre a concentração dos nutrientes
Solo e nutrição Cu, Fe, Mn e Zn) nas folhas 1 (F1), 9 (F9) e
17 (F17) em palmares Tenera sadios e com
Van Slobbe (1988) relata que o PC e/ou AF e no híbrido resistente (Elaeis oleifera x
AF ocorre em diferentes tipos de solo nos E. guineensis) na área da Denpasa, onde
vários locais onde o problema existe: na foram selecionadas quatro plantas por tra-
área de Santo Domingo, no Equador, os tamento. Com base nos dados do ensaio,
solos são vulcânicos jovens; em Bajo Ca- os autores sugeriram que os micronutrien-
lima e La Arenosa, na Colômbia, são alu- tes Cu, Zn, Mn, e Fe sejam os responsáveis
viais e pesados; no Suriname e no Brasil, pelo aparecimento do amarelecimento
são lateríticos e arenosos. O pH desses so- fatal na palma de óleo e relataram a ne-
los varia de 4 a 7, enquanto a pluviosidade cessidade de aprofundar a pesquisa sobre
anual é de cerca de 1.600 mm na Code- a interação entre os nutrientes e o amare-
pa (Amapá, Brasil) e cerca de 6.000 mm lecimento fatal (Tabela 3).
em Bajo Calima (Colômbia). Em algumas
localidades onde ocorre o AF, a palma de
Evolução de sintomas do AF em
óleo é a primeira cultura após a derrubada adubações com omissão de macro
da floresta. Entre elas, estão a Denpasa e e micronutrientes
o projeto piloto Socfinco, no Amazonas, Silveira et al. (2000) compararam os
Brasil; o Shushufindi e o Palmoriente, no efeitos da adubação com e sem omissão
Equador; Victória, Phedra e Patamaca, no de nutrientes sobre a evolução dos sinto-
160 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
distribuído horizontalmente, próximo à po. Ressaltou-se a baixíssima saturação de
superfície do solo. bases (V%) e o baixo teor de Mg em todas
as amostras. A proporção entre Ca e Mg,
A análise e a interpretação dos resulta-
com valores desejáveis na faixa de 2,8 a
dos obtidos referentes às propriedades físi-
33, também foi bastante desequilibrada,
cas de solos cultivados com palma de óleo
apresentando-se entre 3 e 12. Além disso,
nas áreas de surgimento do AF revelaram a
Bernardes (2001) também constatou uma
ocorrência de uma camada mais adensa-
tendência de as plantas mais doentes
da (compactada), principalmente nos hori-
estarem localizadas em solos com maior
zontes AB e BA, evidenciada pelos valores
saturação de alumínio, menor saturação
mais altos de densidade aparente. Isso
de bases e maior teor de manganês. O
leva a uma diminuição da macroporosida-
autor ressaltou que é pouco provável que
de, provocando a saturação das camadas
os altos teores de alumínio e ferro, encon-
superficiais do solo no período de maior
trados nas raízes e radicelas dos palmares
precipitação pluviométrica. A saturação do
da Denpasa, sejam os causadores do mal,
solo com água durante esse período pode
pois raízes de palmares plantados na Esalq
acarretar uma deficiência de oxigênio ao
em terra roxa também possuem condições
sistema radicular das plantas, ocasionan-
semelhantes.
do, como consequência, o apodrecimento
de raízes. Esse fato pode induzir o apareci- Com relação a água no solo e drena-
mento de algum tipo de sintoma aéreo, na gem, o potencial de água no solo (força
forma de amarelecimento. com que a água é retida no solo), medi-
do por tensiômetro no mês de março de
Os resultados obtidos nesse estudo,
1999, foram constatados valores de baixa
segundo o autor, não permitiram estabe-
aeração, sendo os valores entre 0 e 0,075
lecer uma relação com o AF, embora teo-
bar indicadores de baixa aeração para a
ricamente existam probabilidades de que
planta, e entre 0,075 e 0,30 bar valores
essa hipótese seja aceita. O autor sugere
mais adequados. Bernardes (2001) ressal-
a continuidade dos estudos referentes aos
ta que plantas mantidas em baixa aeração
efeitos das propriedades físicas do solo.
podem favorecer a incidência de molés-
Bernardes (2001) analisou áreas de tias de raiz e, além disso, essa é uma situa-
plantio da Denpasa quanto a fertilidade, ção que desfavorece o efeito corretivo de
nutrição foliar e compactação do solo. Na aplicações no solo com calcário e gesso.
parcela 76d, com alta incidência de AF, fo-
Quanto ao peso seco das raízes, obti-
ram constatados altos teores de nutrientes
do de bloco de solo de 40 cm x 20 cm x
na folha, principalmente fósforo, potássio,
20 cm = 16 dm3, verificou-se uma quanti-
enxofre, cálcio e magnésio, apontando
dade inferior (8,1g) àquela esperada pela
como indicador a improbabilidade da cau-
dimensão da parte aérea, comparando-se
sa do AF ter origem na deficiência ou de-
com as plantas sem AF (16g).
sequilíbrio nutricional, embora as demais
parcelas vizinhas tenham tido os mesmos Diante do quadro avaliado, Bernardes
tratos culturais. Observou-se a inexistência (2001) não chegou a nenhuma conclusão,
de gradiente claro dos sintomas, na plan- mas levantou algumas hipóteses e postu-
ta ou no terreno, gradiente este típico de lou que a causa primária do AF está na da-
deficiências nutricionais ou de toxidade. nificação do sistema radicular das plantas
Quanto ao solo, foram percebidos indícios e que os danos podem ser de origem quí-
de que o pH decresce e os teores relativos mica, física, biológica ou da combinação
de alumínio (m%) aumentam com o tem- dessas, sendo todas predisponentes ao
162 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
Diante os vários estudos realizados 13. Há evidências de que a matéria orgâni-
desde o aparecimento do AF, os pesquisa- ca exerce um efeito positivo na recupera-
dores levantaram fatos importantes sobre ção das plantas afetadas, dependendo do
essa doença. São eles: cruzamento.
1. A princípio, os casos de AF ocorreram 14. Há resistência genética ao AF da E.
ao acaso e, durante vários anos, verificou- oleifera e seus híbridos > IRHO > PNG.
se um crescimento linear no número de
15. Não foi possível completar o postulado
casos de AF até atingir 2 a 3% de plantas.
de Koch para o AF.
A partir daí, o crescimento de casos foi ex-
ponencial. 16. Há evidências claras de que o AF seja
fatal. As cultivares HBN e MSR são mais
2. A agregação de plantas com AF ocorreu
suscetíveis ao AF e sucumbem com maior
com o número de casos superior a 3%.
facilidade.
Crescimento mais que exponencial ocor-
reu após 15 anos. 17. Há correlação entre um menor desen-
volvimento radicular e a incidência de
3. Não há correlação com o tipo de solo.
AF. Aparentemente, o problema radicular
4. Não há uma correlação com o excesso ocorre antes da manifestação dos sinto-
de água no solo. mas de AF na parte aérea.
5. Recuperação natural ou remissão dos
sintomas é possível, mas o restabeleci-
mento é raro.
6. Considerações
6. Aparentemente, há uma correlação
positiva com a chuva, mas não foram ve-
finais
rificadas ocorrências de AF em regiões de O AF continua sem causa esclarecida,
déficit hídrico, no caso brasileiro. e existe a necessidade de continuação
7. O crescimento do problema não é di- da investigação. Diante dessa revisão de
recional, não havendo correlação com o artigos científicos e, principalmente, de
vento. Esse aspecto merece mais conside- relatórios elaborados pelos pesquisadores
rações. que investigaram o AF, foi possível elabo-
rar novas hipóteses, que estão sendo in-
8. Curvas temporais e espaciais não são vestigadas pela equipe de pesquisadores
típicas de causas bióticas. da Embrapa e de outras instituições.
9. Não há gradiente claro dos sintomas, o Esse novo projeto de pesquisa “Estudo
que seria típico de deficiências nutricio- do Amarelecimento Fatal do dendezeiro
nais ou de toxidade. Há casos de plantas (Elaeis guineensis Jacq.) e estratégia de
totalmente sadias ao lado de plantas do- manejo” é de caráter multidisciplinar e
entes. conta com pesquisadores das áreas de
10. Palmeiras de todas as idades são sus- fitopatologia, entomologia, fisiologia ve-
cetíveis ao AF. getal, genômica, biotecnologia, sensoria-
mento remoto, solos, botânica e química.
11. A incidência de AF é mais acelerada em
áreas de replantios. Segundo estudos prévios da Embrapa
Amazônia Oriental, a doença AF pode es-
12. Palmas afetadas continuam a frutificar, tar associada às condições edafoclimáti-
mas em escala mais reduzida. cas (VENTURIERI, et al. 2009).
164 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
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168 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
Assim, os esforços têm por objetivo levantamento e caracterização do padrão
implantar um Projeto Demonstrativo com socioeconômico das famílias de agriculto-
a cultura da palma de óleo como ativida- res familiares, candidatos a participarem
de âncora para a viabilização da peque- do referido projeto. A proposta será efetuar
na propriedade agrícola, com a efetiva periodicamente novos levantamentos para
participação de agricultores familiares. A avaliar os impactos socioeconômicos ou
área do projeto está situada na região da os benefícios aportados pelo projeto, em
tríplice fronteira entre Brasil/Peru/Colôm- especial após seu ponto de maturação eco-
bia, com a participação de agricultores nômica, ou seja, após estabilização de sua
familiares utilizando áreas alteradas ou produção, no sétimo ano depois do plantio
de agricultura itinerante localizadas nos da cultura principal – a palma de óleo.
municípios de Benjamin Constant/AM e
O uso do óleo vegetal a ser produzi-
Atalaia do Norte/AM.
do para transformação em biodiesel está
2.2. Configuração do projeto previsto para consumo na geração local
de energia. Não obstante, não descarta
O projeto é uma iniciativa da Embra-
outras possibilidades, considerando ha-
pa Amazônia Ocidental e da Diocese do
ver tempo hábil para a tomada de de-
Alto Solimões/AGROSOL, apoiados pelo
cisão, já que a produção da plantação,
Governo do Estado do Amazonas/IDAM
em escala, iniciará somente a partir de
e pelas Prefeituras Municipais de Benja-
2011/2012.
min Constant e de Atalaia do Norte/AM.
O projeto encontra-se em implantação, Uma nova proposta está sendo elabo-
estando a 1ª e a 2ª etapas em execução, rada sob encomenda da FINEP/CT-Ama-
com recursos assegurados pelo MCT/FI- zônia para financiamento da 3ª etapa,
NEP/CT-Amazônia. assegurando, assim, a continuidade do
projeto. Para a execução da 4ª etapa, re-
O projeto está dividido em quatro etapas:
lativa à indústria de extração e processa-
1) implantação da cultura; mento de óleo/biodiesel, certamente a de
custo mais elevado, serão buscados recur-
2) manutenção do plantio e acompa-
sos no FINEP/MCT/CT-Amazônia; também
nhamento;
existe a possibilidade de contar com a
3) elaboração dos projetos técnicos e complementação de recursos do Governo
de engenharia da usina de extração do Estado do Amazonas, do Ministério da
de óleo e de licenciamento ambien- Integração Nacional, do Banco da Ama-
tal (unidade de extração de óleo e zônia, do Banco do Brasil, da Superinten-
geração de energia, licenciamento dência da Zona Franca de Manaus (SUFRA-
ambiental da unidade e licenciamen- MA), da Agência de Fomento do Estado
to ambiental das propriedades fami- do Amazonas (AFEAM), de agências de
liares, aquisição de equipamentos / desenvolvimento regional, entre outros.
infraestrutura de apoio ao projeto);
O Instituto Nacional de Colonização e
4) implantação da unidade industrial: Reforma Agrária (INCRA), o Instituto Terras
extração de óleo, beneficiamento do Amazonas (ITEAM) e as Prefeituras Mu-
(biodiesel, craqueamento ou kit mul- nicipais deverão atuar na regularização da
ticombustível). situação fundiária das áreas beneficiadas
Deu-se início à execução do projeto e na melhoria da infraestrutura dos Proje-
com a aplicação de um questionário para tos de Assentamentos de Crajari, Umarizal
e Boia.
Rio Solimões
Usina Biodiesel
(localização proposta)
Assentamento do
Bóia INCRA
Rodovia BR 307
Assentamento do
Crajari INCRA
170 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
cerca de 40% viviam na zona rural em 37 voltada exclusivamente para o consumo
comunidades, sendo 15 ribeirinhas e 22 in- local em ambos os municípios e é basea-
dígenas. O IDH-M está em torno de 0,559. da principalmente nos cultivos temporários
(mandioca, arroz, feijão, batata-doce, milho
Benjamin Constant ocupa uma área
e melancia) e, em menor proporção, nos
de 8.793 km2. A população estimada para
cultivos perenes e semiperenes (banana,
2007 foi de 29.268 habitantes, segundo
abacate, abacaxi, laranja, limão, cupuaçu e
dados do IBGE, com 39% vivendo na zona
pupunha (Figura 2).
rural em 59 comunidades, sendo 39 ribei-
rinhas e 20 indígenas. O IDH-M está em A horticultura é pouco desenvolvida
torno de 0,640. e explorada de forma empírica através
do cultivo de verduras e legumes (cou-
O PIB de Atalaia do Norte a preço de
ve, cheiro-verde, alface, tomate, pepino,
mercado corrente, em 2002, foi de R$
quiabo, pimentão), voltando-se apenas,
21,495 milhões. No mesmo ano, Benjamin
de modo insuficiente, para o consumo
Constant registrou um PIB de R$ 55,372
doméstico. O cultivo de frutas regionais
milhões.
(abiu, cubiú, mapati, pupunha, sapota,
A economia de ambos os municípios é fruta-pão, araçá-boi, mari, sorva, camu-
lastreada nas atividades do setor primário, camu) apresenta bom potencial, mas é
com destaque para o extrativismo e a agri- apenas incipiente no presente.
cultura. O extrativismo vegetal na região
A pecuária é muito elementar e de bai-
está baseado principalmente na extração
xíssimo rendimento, constituída apenas
da madeira e é a atividade que emprega
de bovinos e suínos, sem destaque eco-
maior quantidade da mão de obra, dis-
nômico e atendendo apenas parcialmente
pondo de boa infraestrutura para o bene-
o mercado local (Figura 3). A avicultura é
ficiamento local de madeira, com serrarias
caracterizada como atividade tipicamente
e movelarias.
doméstica (galinhas e ovos) e o abasteci-
As atividades madeireiras apresentam mento para o consumo local é feito a partir
um estado de semi-
funcionamento, devi-
do ao baixo número
de projetos legaliza-
dos de extração e ma-
nejo. Dados do IBGE
registram para o ano
de 2000 a extração
de cerca de 40.844
m3 de madeira em
tora no município de
Benjamin Constant.
Outros produtos de
extrativismo, em me-
nor importância, são
a borracha e gomas
não-elásticas.
A agricultura tem Figura 2 – Plantio de palma de óleo em área de milho na
toda a sua produção propriedade do Sr. Nazareno
172 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
ladas de diesel/ano, devendo chegar a sel. Ou seja, o projeto poderá atender até
7.805 t de diesel/ano em 2014 só na gera- 20% da demanda de combustível no ano
ção de energia. de 2014.
No total, somando-se Benjamin Cons- Enquanto isso, ainda em 2014, só o
tant e Atalaia do Norte, a previsão é que município de Tabatinga, distante de Ben-
serão consumidas 10.107 toneladas de jamin Constant cerca de 30 km em linha
diesel só na geração de energia em 2014, reta, estará consumindo 23.340 toneladas
ano em que o projeto em implantação de combustível para atender seu parque
estará em seu pique de produção máxi- de geração de energia. Em resumo, mer-
ma, de 2.160 t de óleo de dendê/biodie- cado não será limitação para a futura pro-
dução de óleo do projeto.
Figura 4 – Aclimatação de mudas de 2.6. Estrutura do Projeto
palma de óleo em pré-viveiro instalado na
área do projeto (Foto: Edson Barcelos) 2.6.1. Agrícola
O projeto conta com cerca de 110 fa-
mílias de agricultores, sendo que cada
uma delas recebe apoio para o plantio
de cinco hectares de palma de óleo. Esse
apoio é traduzido em: fornecimento das
mudas prontas para o plantio (Figura 4);
uma soma de recursos financeiros na
base de R$ 1.000,00/hectare para o prepa-
ro da área e plantio das mudas; e adubos
para adubação das covas no momento do
plantio (Figuras 5 e 6). Toda a assistência
A B
174 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
Figura 7 – Consorciação de culturas perenes na fase de implantação da cultura de
palma de óleo (a e b – Foto: Edson Barcelos; c – Foto: Pedro Freitas)
A B
176 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
Tabela 1 – Receitas e despesas anuais previstas por agricultor familiar com cinco
hectares de palma de óleo em produção
178 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
PARTE 2
Capítulo 12
180 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
mentar o nível de certeza de sucesso das Guiomard, Sena Madureira, Epitaciolân-
instituições de fomento e financiamento dia, Brasileia e Cruzeiro do Sul, com idade
(PEREIRA, 2009). Atualmente, existem 24 dos plantios variando entre dois e quatro
ha de palmares plantados no Acre, distri- anos (Figura 2).
buídos em experimentos de Avaliação de
Guedes et al. (2007) avaliaram e com-
Variedades e Unidades de Observação
pararam o desenvolvimento de plantas de
nos municípios de Rio Branco, Senador
diferentes progênies de palma de óleo nas
condições edafoclimáticas
Figura 1 – Planta de palma de óleo com quatro anos de Cruzeiro do Sul (local 1)
de idade em experimento de avaliação de progênies
e Rio Branco (local 2), no Es-
implantado na Embrapa Acre, em Rio Branco/AC
(Foto: João Batista Martiniano Pereira)
tado do Acre. As progênies
implantadas foram a C-2501,
C-2528, C-2301 e C-1001. Um
ano após o plantio, foram re-
alizadas aferições de altura e
diâmetro do colo utilizando
régua e paquímetro. Diferen-
ças significativas entre os lo-
cais de plantio 1 e 2 foram ob-
servadas, sendo que o local 1
apresentou os maiores valo-
res, tanto para a altura quanto
para o diâmetro das plantas.
Verificou-se que a altura de
plantas da progênie C-2301
diferiu significativamente das
demais. Quanto ao diâmetro,
Figura 2 – Detalhe de Unidade de Observação implan- as progênies não diferiram
tada no Município de Senador Guiomard/AC no ano estatisticamente entre si. As
de 2008, onde o produtor consorciou palma de óleo consideráveis diferenças en-
com mandioca (Foto: João Batista Martiniano Pereira) contradas entre os locais 1 e
2 são devidas, possivelmente,
às exigências naturais e nutri-
cionais da cultura da palma
de óleo, visto que esta planta
expressa seu máximo desen-
volvimento em regiões com
alto regime pluviométrico,
chegando a mais de 2.000
mm a diferença de precipita-
ção anual entre os locais es-
tudados.
Esses resultados preli-
minares servem de emba-
samento para definir quais
genótipos podem ser utiliza-
182 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
e Tarauacá-Envira ainda ficam isolados Porém, grande parte das propriedades
durante o período invernoso (geralmen- dessa regional apresenta problemas de
te entre os meses de dezembro a maio) passivo ambiental, no qual foi ultrapas-
devido ao fechamento dos trechos não sada a quantidade legalmente permitida
asfaltados. Isso tem causado uma série de de área de conversão, exigindo-se sua
transtornos às populações locais e impedi- recuperação e recomposição. Além disso,
do o escoamento da produção da região. num processo ainda comum em toda a
Amazônia, algumas dessas áreas encon-
O uso da terra é tipicamente agroflo-
tram-se na forma de pastagens degrada-
restal, com áreas antropizadas dispondo
das e capoeiras abandonadas em diversos
de mosaicos produtivos que vão de pe-
estádios de regeneração (Figuras 3 e 4),
quenas, médias e grandes propriedades
não revertendo ou agregando qualquer
agrícolas, voltadas principalmente para a
ganho para a produção agropecuária e es-
produção de carne e leite, a assentamen-
timulando a conversão de novas áreas em
tos de reforma agrária e extrativismo flo-
pastos e plantações.
restal da borracha. Também é marcante,
nessa regional, a presença de terras indí- O Zoneamento Ecológico-Econômico
genas e Unidades de Conservação, que (ZEE) (ACRE, 2006), por intermédio da Po-
propiciaram a preservação do patrimônio lítica de Valorização do Ativo Ambiental e
florestal. Florestal (ACRE, 2008), vem desenvolvendo
184 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
Figura 5 – Mapa das áreas estratégicas para reflorestamento com palma de óleo na BR-364. Fonte: ACRE (2009)
186 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
Existem estudos teóricos sobre siste- de 7,80 m entre as linhas de plantio e 9,00
mas de produção para a palma de óleo m entre plantas. Nessa condição, inúme-
na Amazônia (HOMMA et al., 2000), assim ras são as possibilidades que se tem de
como experimentações agrícolas realiza- combinar culturas nas entrelinhas da pal-
das no sentido de definir modelos de pro- ma de óleo. Com o objetivo de preservar
dução agrícola consorciada com a palma a cultura principal, propõe-se que as cul-
de óleo e culturas alimentares, como, por turas consorciadas sejam plantadas com
exemplo, feijão, milho, banana, abacaxi e um afastamento mínimo de 1,00 m das
mandioca, entre outros (MONTEIRO et al., plantas de palma de óleo.
2006; ROCHA, 2007). Os consórcios testa-
Para o consórcio palma de óleo x fei-
dos apresentaram resultados bastante sa-
jão, utilizando o espaçamento de 0,50 m
tisfatórios em termos financeiros, concor-
x 0,30 m, é possível o plantio de 13 linhas
rendo para a amortização dos custos de
em cada entrelinha da palma de óleo.
implantação e de manutenção do palmar
Com essa disposição, tem-se uma densi-
até que as plantas iniciassem a fase de
dade 47.667 plantas de feijão, o equivalen-
produção.
te a 71% do stand para o feijão se fosse
Nas regionais focadas pelo Governo plantado em monocultivo.
do Acre para implantação da cultura da
Caso a cultura explorada seja o milho,
palma de óleo, são tradicionais os cultivos
em que se adota o espaçamento de 1,00
de abacaxi, banana e mandioca, predomi-
m x 0,40 m, em áreas de menor nível tec-
nando esta última, que tem grandes áre-
nológico, podem ser plantadas sete linhas
as cultivadas para a produção de farinha
de milho, proporcionando um stand de
(ACRE, 2009).
19.250 plantas, equivalendo a 77% da po-
Não deve ser desprezada a produção pulação de milho solteiro/ha.
de feijão consorciado com a palma de
A banana deve ser plantada no espaça-
óleo. Essa cultura é plantada normalmen-
mento recomendado de 3,00 m x 2,00 m.
te em monocultivo, gerando uma renda
Como essa cultura necessita de mais espa-
considerável ao agricultor local. Em pelo
ço para o adequado desenvolvimento do
menos duas das unidades de observa-
seu rizoma, seria recomendável o plantio
ção de palma de óleo conduzidas pela
de até duas linhas de banana nas entreli-
Embrapa Acre no município de Brasileia,
nhas da palma de óleo, com um stand de
agricultores vêm adotando esse consór-
1.110 covas de banana, correspondendo a
cio, demonstrando boa adaptabilidade do
67% de plantas caso a banana fosse plan-
feijão nas entrelinhas da palma de óleo.
tada em sistema solteiro, e equivalente ao
Além disso, deve também ser destacada
mesmo stand de um hectare de banana
a contribuição do feijoeiro no tocante ao
plantado no espaçamento 3,00 m x 3,00 m.
fornecimento de nitrogênio via fixação
biológica para a nutrição da palma de O abacaxi é plantado em sistema de
óleo, o que pode significar redução nos fileiras duplas, com espaçamento de 0,60
custos da adubação. No entanto, são ne- m x 0,60 m x 1,00 m. Nessa situação, seria
cessários estudos mais precisos sobre este recomendável plantar quatro fileiras du-
aspecto nutricional. plas de abacaxi consorciado com palma
de óleo, obtendo-se um stand de 7.334
A densidade mais utilizada para a cul-
plantas, o que equivale a 70% do stand do
tura da palma de óleo é de 143 plantas/
abacaxi em monocultivo.
ha, arranjadas em triângulo equilátero de
9,00 m de lado, ou seja, um espaçamento Para a cultura da mandioca, planta-se
188 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
PARTE 2
Capítulo 13
190 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
degradadas e de pastagens, além do re- familiar sustentável; eventos de educação
plantio de 380 ha que irão substituir as pal- ambiental e recuperação da mata ciliar;
meiras com mais de 26 anos, cuja altura cursos de técnicas e práticas rurais, so-
dificulta a colheita e, com a idade, apre- ciais, medicina e segurança no trabalho,
sentam baixa produtividade. contribuindo para a qualificação profissio-
nal de jovens interessados nas atividades
Visando melhor gerenciar o resultado
da empresa; cursos de práticas domésticas
de suas atividades, a empresa segregou
salutares, como higiene, manuseio de ali-
sua plantação em módulos de aproximada-
mentos e técnicas de primeiros socorros.
mente 1.000 hectares, possuindo cada setor
A liberdade dos participantes é sempre
equipamentos e gerenciamento próprios.
respeitada para escolherem se desejam
Consciente da importância da diversi- ou não se empregar na empresa.
ficação da flora para o meio ambiente, a
A Marborges também investe na infra-
Marborges recuperou a mata de áreas de-
estrutura local, reparando estradas (com
gradadas, reflorestando-as com espécies
destaque para 26 km da PA-252), pontes,
nativas e exóticas; algumas áreas cultiva-
ramais e áreas de lazer, mantendo-as em
das com palma de óleo foram intercala-
condições de uso para atender à econo-
das com outras espécies. Assim, além de
mia local e às comunidades vizinhas.
4.701 hectares cultivados com palma de
óleo, a Marborges reflorestou 432 ha com No campo de pesquisas para melhora-
espécies variadas – 120 ha de citrus, 120 mento da cultura de palma de óleo, a Mar-
ha de açaí e fruteiras –, e mantém pecu- borges investirá cerca de R$ 6.000.000,00
ária em menor escala. Com o cultivo de até 2013, em parceria com a EMBRAPA-
fruteiras, a Marborges implantará uma uni- CPAA e o Centre de Coopération Interna-
dade de processamento de polpas, com tionale em Recherche Agronomique pour
capacidade para atender inclusive à oferta Le Développement (CIRAD), da França,
de frutos que as comunidades vizinhas te- visando à seleção da variedade de palma
nham interesse em produzir, ampliando, de óleo mais produtiva e resistente a do-
assim, as oportunidades de renda para a enças, aspectos nutricionais e de manejo
vizinhança. da cultura.
Empenhada no acesso à multiplicação
e à interiorização de trabalho e renda com
atividade econômica sustentável, respei-
tando o meio ambiente e dando melhor
4. Práticas agrícolas
aproveitamento às áreas alteradas, a Mar- utilizadas na produção
borges pretende investir no município de
Garrafão do Norte, no estado do Pará, de palma de óleo
com a implantação de uma nova unidade
As práticas agrícolas aplicadas para a
agroindustrial do mesmo porte da unida-
cultura da palma de óleo diferem em plan-
de atual, propiciando a geração de 600
tações, regiões, países, etc. Um resumo
empregos naquele município.
da experiência da Marborges Agroindús-
Também empenhada na melhoria da tria S.A. é descrito a seguir.
qualidade de vida das comunidades que
a circundam, a Marborges, ao longo de Preparação de mudas
sua atividade, oferece: assistência técnica O local para implantação de pré-viveiro
e orientação para a prática da agricultura e viveiro deve ser cuidadosamente esco-
192 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
O tempo de permanência no pré-vivei- timétrico da área, locação dos canteiros,
ro gira em torno de três a quatro meses ruas de acesso, drenagem lateral e marca-
e, nesse período, algumas atividades são ção do local onde ficarão os sacos.
fundamentais para que se consiga con-
Os sacos do viveiro medem 40 x 40 x
cluir a etapa com as mudas apresentando
0,35 cm e são dispostos em quincôncio
um excelente desenvolvimento, conforme
(triângulo equilátero), ficando separados
a Tabela 1.
à distância de 1,00 m entre eles no viveiro
Nessa fase, uma rega entre 2 e 3 mm de 1 ano (Figura 3).
é suficiente para atender às necessidades
Antes do transplantio, a área (solo) en-
hídricas das mudas.
tre os sacos é tratada com uma aplicação
Aos 60 dias, são separados em um de herbicida à base de glifosato a 1% para
canteiro especial os embriões das mudas facilitar os tratos culturais e evitar a concor-
“gêmeas”, que apresentam dois ou três rência de erva invasora. Os sacos devem
embriões, os quais serão mantidos em
observação, recebendo o mesmo trata- Figura 3 – Transplantio de mudas de pal-
mento das demais; serão aproveitadas no ma de óleo do pré-viveiro para o viveiro
viveiro aquelas que, na ocasião da sele- (Foto do Autor)
ção, apresentarem características de uma
muda normal.
A cobertura de sombrite é retirada ao
término de 2,5 a 3,5 meses, mas as mudas
continuam nos canteiros durante 15 dias
para adaptação a pleno sol antes de se-
rem transferidas para o viveiro.
Uma muda considerada normal tem de
5 a 7 cm de coleto, entre 3 e 5 folhas lance-
oladas e uma altura entre 23 e 28 cm.
Viveiro
São realizados serviços topográficos
que consistem no levantamento planial-
ser irrigados para facilitar a abertura das pa, miniaspersão, etc. Em geral, o
covas com dragas boca de lobo, onde são equipamento deve ser dimensiona-
transplantadas as mudas do pré-viveiro; o do para suprir o correspondente a
transplantio deve ser precedido de adu- uma lâmina de água de 8 mm/dia.
bação com fertilizante à base de rocha Contudo, rotineiramente são feitas
fosfatada na proporção de 30 g por muda, aferições com pluviômetros a partir
tomando-se cuidado para não quebrar o de diversas distâncias dos aspersores
“torrão” que envolve as raízes, além de para comprovar se realmente existe
não deixar que se formem bolsões de ar. uma uniformidade na área que está
As mudas devem ficar ligeiramente enter- sendo irrigada, pois, do contrário, ha-
radas, 1 cm em relação ao coleto, pois, com verá mudas malformadas, raquíticas,
o assentamento do substrato e a irrigação, desuniformes e, em alguns casos, a
existe uma tendência de tombamento se falta de água por um período prolon-
essa medida não for adotada (Figura 4). gado pode levar à morte da planta.
Dependendo do tamanho do viveiro, – CAPINA QUÍMICA – dependendo do
as mudas do pré-viveiro são transporta- grau de infestação de ervas no solo,
das em carretas atreladas a tratores que é feita a aplicação com herbicida
fazem o desembarque próximo ao cantei- glifosato a 1%, sendo utilizado, tam-
ro, onde são embarcadas em carrinhos de bém, o herbicida oxyfluorfen, pré-
mão para distribuição ao lado dos sacos. emergente a 0,50%.
Nessa fase, as mudas ficam por 12 me- – MONDA – consiste na retirada das er-
ses, e alguns tratos descritos a seguir são vas indesejáveis da boca dos sacos.
indispensáveis para o sucesso do viveiro: Nos primeiros meses após o trans-
plantio, é feita semanalmente. Con-
– IRRIGAÇÃO – existem vários sistemas
tudo, conforme o crescimento das
para atender a essa necessidade,
mudas, o intervalo passa ser quin-
como pivô central, aspersão subco-
zenal; nos últimos meses do viveiro,
194 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
essa prática não é realizada. Figura 5 – Preparação de área nova para
implantação da cultura da palma de óleo
– ADUBAÇÃO – decorridos 15 dias do (Foto do Autor)
transplantio, é iniciada a adubação
utilizando a formulação NPK + Mg 18-
18-18 + 2,5, com a seguinte rotina de
aplicações: 10 g – do 1º ao 3º mês; 15
g – do 4º ao 6º mês; 20 g – do 7º ao
9º mês; e 25 g – do 10º ao 12º mês.
Faz-se, também, um complemento
com boro e kieserita. É necessário ter
cuidado para que a muda não entre
em contato direto nem com o fertili-
zante ou o seu recipiente, nem com as
mãos do trabalhador, pois o descuido
poderá ocasionar “queima” das folhas,
prejudicando o desenvolvimento das Figura 6 – Preparação de área com bra-
plantas. quiária (pastagem) para implantação da
cultura da palma de óleo (Foto do Autor)
- PULVERIZAÇÕES PROFILÁTICAS – são
utilizados os mesmos produtos do
pré-viveiro; todavia, as aplicações são
feitas quinzenalmente.
Decorridos os 12 meses, procede-se a
uma criteriosa seleção das mudas, sendo
descartadas aquelas raquíticas, com folío-
los não diferenciados, com folíolos inseri-
dos em ângulo agudo, etc.
Preparo da área
Implantação de áreas novas
É realizado um levantamento topográ-
fico no qual são apontadas áreas aptas
para o futuro plantio, córregos, igarapés, sendo, a primeira área a ser limpa são as
proteção de mata ciliar, etc. A partir dessas estradas, para que a equipe de topografia
informações, é gerado um mapa, que de- possa fazer a marcação dos eixos tanto
fine o tamanho de cada talhão (parcela) no sentido norte/sul quanto no leste/oes-
e as estradas. Esses dados são fundamen- te, partindo desse ponto todas as demais
tais para que todo o trabalho mecanizado quadras.
seja realizado de forma ordenada. As máquinas pesadas fazem a derru-
Por força das exigências ambientais, bada da vegetação existente, arrastando
atualmente estão sendo utilizadas somen- também restos de troncos de árvores
te áreas degradadas, pastagens e capoei- ainda remanescentes na área. Esses resí-
rinhas. duos podem ser “enleirados”, sem obe-
decer a uma distância pré-determinada,
Em geral, as linhas de plantio estão para posteriormente serem queimados
direcionadas no sentido norte/sul. Assim ou retirados das quadras, repetindo-se a
mesma operação caso haja necessidade; vias com tráfego intenso e 750 m³ / km
assim, a área fica completamente livre dos nas demais.
resíduos de maior volume. Outra opção
Replantio
é direcionar os restos de vegetação para
o empilhamento (intervalo entre duas li- A Marborges já iniciou a substituição
nhas de plantio), ficando limpa somente de seus plantios mais velhos em razão de
a metade da parcela que é chamada de baixa produtividade, plantas muito altas
“rua”, por onde são feitos o carreamento (>15 m) dificultando a colheita, e proble-
dos cachos, a adubação mecanizada, etc. mas fitossanitários (Amarelecimento Fatal
O primeiro sistema é chamado de Me- – AF). O replantio é feito com mudas de
canização Total da Área e o segundo, de Híbridos Interespecíficos (HIE) – cruza-
Mecanização Parcial com Empilhamento e mento de E.oleifera x E.guineensis, por
Rua (Figuras 5 e 6). serem resistentes ao AF. As palmeiras são
derrubadas com um implemento agrícola
Utilizam-se piquetes de 80 cm de altu-
que possui uma lâmina pontiaguda adap-
ra para servir de marcação do local exato
tada a uma pá carregadeira que, através
onde serão plantadas as mudas. O plantio
de golpes, perfura o estipe, facilitando a
é demarcado na forma de triângulo equi-
queda com um leve empurrão. O rendi-
látero (quinconcial) e, de acordo com o
mento médio oscila em torno de 50 plan-
material genético, são definidos os espa-
tas / hora trabalhada.
çamentos de 9,0 x 9,0 m (143 plantas/ha),
8,70 x 8,70 m (153 plantas/ha), 8,25 x 8,25 Como os HIE têm uma baixíssima taxa
m (170 plantas/ha), etc. (Figura 7). de pólen fértil, cerca de 7,5% das plantas
remanescentes sadias e com bom desen-
Normalmente, no segundo ano após
volvimento vegetativo são mantidas, de
o plantio, é feito o trabalho de terraple-
modo a auxiliarem na polinização dos
nagem e empiçarramento (colocação de
cachos; todavia, elas devem estar bem
cascalho) das estradas que servirão de
distribuídas para evitar excesso de som-
escoamento da produção. No geral, co-
breamento.
locam-se em torno de 1.500 m³ / km nas
196 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
Figura 8 – Preparação de área com cobertura de gramíneas para plantio de palma de óleo
(Foto do Autor)
198 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
dois dias. Apesar de a operação ser onero- ainda controvérsias se é biótico ou abióti-
sa, essa prática tem retorno econômico, já co. Até o momento, o material HIE apre-
que existe um incremento substancial na senta resistência e se constitui na única al-
produção de cachos. ternativa para replantio de áreas afetadas.
200 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
Figura 10 – Distribuição de cachos vazios e fibras nos palmares (Foto do Autor)
• Cacho com Maturação Desuniforme • Talo Comprido – cacho com talo aci-
– cacho com parte dos frutos madu- ma de 1 cm. Máximo de 0,5%.
ros e o restante verde;
COLETA DE FRUTO SOLTO
• Cacho Verde com Aborto – cacho ver-
• Fruto Não Coletado – frutos que ficam
de, porém soltando os frutos e com
dentro da parcela após a passagem
poucos sinais de óleo;
do catador. Máximo de 1 kg/ha;
• Cacho Andrógino – cacho contendo
• Impurezas – resíduos encontrados
espiguetas de inflorescência masculi-
junto com os frutos coletados, como
na e feminina;
pedras, folhas, pedaços de pau, etc.
• Cacho Esquecido – cacho deixado na Máximo de 3%.
planta pelo colhedor. Máximo de 1%;
REBAIXO
• Cacho Não Recuperado – cacho dei-
• Corte de Ervas Daninhas – o corte
xado na planta pelo colhedor mesmo
das ervas daninhas deverá ser na al-
após o aviso do visitador. Máximo de
tura máxima de 10 cm do solo;
0,2%;
• Limpeza de Estipe – retirada das er-
• Cacho Mal Posicionado – cachos co-
vas que estão no estipe da planta,
lhidos que não estiverem na coroa da
como samambaias, puerária, etc;
planta pelo lado da rua (carreamen-
to), mas pelo lado do empilhamento. • Limpeza de Tocos – corte de ervas
Máximo de 0,5%; que cobrem os tocos de árvores re-
202 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
manescentes das ruas de plantio; direção da rua (melhorar a eficiência
da adubação).
• Limpeza de Bordaduras – rebaixo das
bordaduras das parcelas próximas às ADUBAÇÃO
estradas e matas.
• Aplicação manual em plantios sem
COROAMENTO E REBAIXO colheita – a aplicação deve ser feita
QUÍMICO na coroa em círculo no terço final das
folhas;
• Coroamento – eliminação das ervas
daninhas do solo próximo à planta • Aplicação manual em plantios em co-
utilizando produtos químicos, com lheita – a aplicação deve ser feita na
raio previamente estabelecido pelo ponta das folhas, sobre as folhas na
setor técnico; direção do empilhamento;
• Rebaixo Químico – eliminação das • Aplicação mecanizada – as bocas de
ervas daninhas das ruas de plantio aplicação das adubadeiras devem
utilizando produtos químicos; estar sempre direcionadas para o
empilhamento, desligando a esteira
• Devolução de embalagens – todas
quando houver falhas de plantas. Ao
as embalagens vazias de agrotóxi-
terminar uma rua, as esteiras devem
cos devem ser devolvidas para o al-
ser desligadas e ligadas somente no
moxarifado. Em embalagens como
início da outra, evitando jogar adubo
garrafas e carotes, deve ser feita a
na estrada.
tríplice lavagem e perfuração no fun-
do, acompanhando tampa e rótulo. DISTRIBUIÇÃO DE RESÍDUOS
Sacos de papel ou plástico e caixas INDUSTRIAIS
de papelão devem retornar dentro de
• Fibra e Cacho Vazio – a partir da saí-
saco próprio para lixo.
da da indústria para o campo, esses
PODA resíduos não devem passar mais de
dois dias na estrada, obedecendo à
• Plantios jovens, no 3º e no 4º ano de
programação de sequência de par-
colheita – após a poda, não retirar fo-
celas e quantidade por planta pré-
lhas, apenas roubar os cachos;
estabelecida;
• Nos plantios jovens, após o 4º ano – a
• Torta e Casca de Palmiste – a torta de
planta deverá ficar com uma média de
palmiste deve ser aplicada com adu-
48 folhas, ou deixar 2 folhas abaixo do
badeira nas ruas de plantios;
cacho maduro e 3 no cacho verde;
• Efluente – verificar a uniformidade
• Nos plantios com mais de 6 anos -
da distribuição, observando também
deverão ficar com 40 folhas, ou 1 fo-
se está ocorrendo retorno do produto
lha abaixo do cacho maduro e 2 do
para as estradas e córregos.
cacho verde;
• Na época das chuvas – as folhas cor-
Consórcio com outras culturas
tadas devem ser arrumadas no em-
e atividades
pilhamento acompanhando a linha
de plantio; no período seco, o pecí- Com diversos plantios sendo atacados
olo deve ficar virado para o lado do pelo Amarelecimento Fatal (AF) e, como
empilhamento e a ponta da folha, na no passado existiam muitas incertezas a
204 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
PARTE 2
Capítulo 14
206 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
Figura 1 – Marco Regulatório do Programa Nacional de Produção e uso do Biodiesel (PNPB)
Julho 2008 - Julho 2009 - 2010 em
2005-2007 1º Sem.2008
Junho 2009 2010 diante
Mistura autorizada Mistura obrigatória Mistura obrigatória Mistura obrigatória Mistura obrigatória
de até 2% mínima de 2% mínima de 3% mínima de 4% mínima de 5%
208 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
separados pela reação de saponificação bustível, quer pelo uso in natura ou trans-
com uma solução quente de hidróxido formado quimicamente pelo processo de
de sódio, produzindo o correspondente transesterificação e/ou esterificação ou
sal sódico do ácido carboxílico, isto é, o por craqueamento.
sabão. Consequentemente, o índice de
Nesse caso, a opção de utilização de
acidez do óleo refletirá no rendimento/
biocombustíveis em motores diesel seria
utilização de um ou outro processo na
o emprego do biodiesel (segundo espe-
produção de biocombustível.
cificações da ANP) sem necessidade de
modificar o motor, ou modificar o motor
para o uso direto do óleo vegetal, uma vez
que esses motores são sensíveis, principal-
3. Biocombustível de mente às gomas que se formam durante a
combustão do óleo vegetal.
óleo de palma
3.1. Utilização do óleo de
No aproveitamento do óleo vegetal
palma in natura para fins
para substituição do diesel, três linhas dis-
energéticos
tintas são possíveis:
Ao contrário do biodiesel, em que o
1) utilização direta do óleo vegetal puro
óleo sofre transformações para garantir
ou em mistura com o diesel do pe-
maior eficiência, no caso dos óleos in
tróleo;
natura, é o motor que passa por algumas
2) transesterificação, transformando os modificações para se adaptar ao combus-
triglicerídeos naturais do óleo vege- tível. No entanto, alguns cuidados devem
tal em monoésteres do etanol ou do ser tomados, como o tratamento do óleo
metanol (biodiesel); antes de sua pronta utilização (remoção
de gomas, acidez e umidade).
3) transformação do óleo em uma mis-
tura de hidrocarbonetos o mais seme- Existem algumas experiências com o
lhante possível ao diesel por meio de uso energético dos óleos de palmáceas,
uma degradação térmica ou catalítica desde a utilização de óleo in natura em
dos triglicerídeos que constituem o grupo motor gerador multicombustível
óleo vegetal (craqueamento). (particularmente importante para viabili-
zar a geração de energia elétrica em pe-
A escolha do processo a ser utilizado
quenas comunidades na região Norte do
na produção do biocombustível depen-
País), até a produção de biodiesel para uso
de, entre outras coisas, da qualidade da
em motores veiculares e máquinas agríco-
matéria-prima a ser utilizada. O grande
las. Segundo LOPES et al. (2008), entre as
desafio consiste em suprir as necessida-
experiências existentes, cita-se o uso do
des energéticas da Amazônia, inclusive
óleo de palma in natura em motores es-
em localidades isoladas, definindo um
tacionários, a exemplo de dois projetos
modelo adequado que leve em conside-
desenvolvidos na Amazônia: na Vila Boa
ração a logística, as questões ambientais
Esperança, localizada no município de
e socioeconômicas, a gestão, o consumo
Moju, no Estado do Pará; e na Comunida-
e o preço local do diesel. Uma das possi-
de Boa União, no município de Presiden-
bilidades de atendimento a essas necessi-
te Figueiredo, no Amazonas.
dades, como fonte de energia renovável,
é o uso de óleos vegetais como biocom- O projeto desenvolvido na Comunida-
210 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
2A Óleo bruto
Acidez
Figura 4 – Fluxograma para obtenção das cinzas das fibras e dos cachos de palma
212 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
Tabela 2 – Resultados da análise química dos efluentes sólidos da palma
Composição dos efluentes sólidos da palma
Compostos Concentração (p/p%)
SiO2 11,7 – 46
Al2O3 0,4 – 1,1
Fe2O3 1,0 – 3,4
P 2O 5 2,4 – 13,5
CaO 3,7 – 12,5
MgO 2,8 – 4,9
K 2O 12,0 – 37,0
Na2O 0,1 – 0,6
214 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
mente, na realidade regional/local, tanto KALTNER, F. J.; FURLAN JUNIOR, J. Processamen-
no sentido de produzir para o consumo to industrial de cachos de dendê para produção
de óleos de palma e de palmiste. In: VIÉGAS, I.
regional como no de utilizar na cadeia J.; MÜLLER, A. A. A cultura do dendezeiro na
produtiva a matéria-prima produzida na Amazônia brasileira. Belém: Embrapa Amazônia
região, evitando os altos custos de trans- Oriental, 2000 ; Manaus: Embrapa Amazônia Oci-
porte para as outras regiões do País. dental, 2000. p.357-374.
LOPES, R. et al. Palmáceas. In: ALBUQUERQUE,
Destaca-se a importância do desenvol- A. C. S.; SILVA, A. G. da (Ed.). Agricultura tropical:
vimento de tecnologias para a produção quatro décadas de inovações tecnológicas, ins-
regional/local de álcool anidro (matérias- titucionais e políticas. Brasília, DF: Embrapa Infor-
mação Tecnológica, 2008. p. 767-786. v. 1.
primas regionais ou culturas adaptadas
introduzidas na região) e catalisadores, as- MIRANDA, R. M.; MOURA, R. D. Óleo de den-
sim como a instalação de miniusinas para dê, alternativa ao óleo diesel como combustível
para geradores de energia em comunidades da
atender a demandas de pequena a média Amazônia. In: ENCONTRO DE ENERGIA NO MEIO
escala. Como alternativa para motores es- RURAL, 3., 2000. Campinas. Anais... [Campinas:
tacionários, tem grande potencial a utiliza- AGRENER, 2000].
ção de óleos crus em motores desenvolvi- RADOMSKI, B. M. Produção de bioetanol a partir
dos ou adaptados para essa condição. de fibra de dendê (Elaeis Guineensis). 2009. Dis-
sertação (Mestrado em Química) - Instituto Militar de
Engenharia, Rio de Janeiro.
SANTOS, C. M. C. dos. Uso de fungos na biotrans-
formação de subprodutos do biodiesel. 2008.
6. Referências Tese (Doutorado em Quimica) - Instituto Militar de
Engenharia, Rio de Janeiro.
bibliográficas SILVA, E. D. da. Pirólise de biomassa residual de
dendê. 2010. Dissertação (Mestrado em Química)
AGÊNCIA NACIONAL DO PETRÓLEO (Brasil). Bio-
- Instituto Militar de Engenharia, Rio de Janeiro.
diesel. Disponível em: <http://www.anp.gov.br/
biocombustiveis/biodiesel>. Acesso em: 10 jun. SILVA, R. M. da. Avaliação das cinzas provenien-
2009. tes da queima dos cachos do dendê como
catalisador. 2005. Dissertação (Mestrado em
AGROPALMA. Palmdiesel. Disponível em: <http//
Química) - Instituto Militar de Engenharia, Rio de
www.agropalma.com.br>. Acesso em: 10 jun.
Janeiro.
2009.
SOUZA, R. O. L. de. Transformação de glicerina
GONZALEZ, W. A. et al.. Biodiesel e óleo vegetal
por eterificação utilizando catalisadores áci-
in natura: soluções energéticas para a Amazônia.
dos. 2009. Tese (Doutorado em Quimica) – Insti-
Brasília: MME, 2008. 168 p.
tuto Militar de Engenharia, Rio de Janeiro.