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MICROBIOLOGIA AMBIENTAL – PARTE 1

Os micróbios, especialmente as bactérias, vivem no habitat amplamente variado da Terra como:


- regiões congeladas da Antártica;
- fontes de água fervente;
- dentro de rochas sólidas;
- na fina atmosfera centenas de metros acima da superfície da Terra;
- sedimentos mais profundos do oceano (eterna escuridão e sujeitas a incríveis pressões);
- riachos de montanha originados do derretimento da neve;
- em águas quase saturadas de sais, tais como o Mar Morto.

A habilidade dos microrganismos viverem em tantos habitats é devido a sua diversidade metabólica;
isto é, diferentes micróbios podem usar uma variedade de fontes de energia e carbono e crescer sob
diferentes condições físicas.

Variedade de Habitats

A diversidade de populações microbianas indica que elas tiram proveito de qualquer nicho
encontrado em seu ambiente.

Os micróbios que vivem em condições extremas de temperatura, acidez, alcalinidade, ou salinidade


são denominados extremófilos. Muitos são membros do grupo Archaea.

Os microrganismos sobrevivem em um ambiente intensamente competitivo e devem explorar todas


as vantagens que puderem.

Alguns, como a bactéria do ácido láctico (lácticos) que são tão úteis na produção de laticínios, por
serem anaeróbias são capazes de fazer um nicho inóspito para organismos competidores.

Simbiose

É a interação entre organismos ou populações que coexistem.

Os líquens são um exemplo de uma associação vantajosa mútua entre um fungo e uma alga ou
cianobactéria.

Economicamente o exemplo mais importante de uma simbiose animal-micróbio é a dos ruminantes


que se alimentam de plantas ricas em celulose.

As bactérias no rúmen fermentam a celulose em compostos que são absorvidos pelo intestino do
animal.
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Os fungos do rúmen provavelmente hidrolisam outros componentes da planta como a madeira.

Protozoários do rúmen mantêm a população de bactérias sob controle alimentando-se das mesmas.

Uma contribuição muito importante para o crescimento das plantas é feita por micorrizas (mico
significa fungo; rizo significa raiz).

Existem dois tipos destes fungos: as endomicorrizas, também conhecidas como micorrizas vesicular-
arbusculares; e as ectomicorrizas.

Ambos os tipos funcionam como raízes secundárias nas plantas; ou seja, elas estendem a área de
superfície através da qual as plantas podem absorver nutrientes.

As micorrizas vesicular-arbusculares formam grandes


esporos

As hifas destes esporos penetram na raiz da planta e formam


dois tipos de estruturas: vesículas e arbúsculos.

As vesículas são corpos ovais lisos que provavelmente


funcionam como estruturas de armazenamento.

Os arbúsculos, pequenas estruturas em forma de arbustos,


são formados dentro das células das plantas.

Os nutrientes viajam do solo através das hifas fúngicas para


estes arbúsculos, que gradualmente se rompem e liberam os
nutrientes para as plantas.

Muitas gramíneas e outras plantas são surpreendentemente


dependentes destes fungos para um crescimento adequado.
As ectomicorrizas infectam principalmente árvores
como pinho e carvalho.

O fungo forma uma manta micelial sobre as raízes


menores das plantas.

As trufas, conhecidas como uma especialidade


culinária, são ectomicorrizas.

MICROBIOLOGIA DO SOLO

Bilhões de organismos, tanto microscópicos como grandes insetos e minhocas, formam uma
comunidade viva e vibrante no solo.

Diferentes quantidades de oxigênio, luz e nutrientes devem existir dentro de alguns milímetros de
solo para que haja vida.

Se uma população de organismos aeróbicos utiliza todo o oxigênio disponível, os anaeróbicos são
capazes de se desenvolver.

Se o solo é perturbado por aragem, minhocas, ou outras atividades, os microrganismos aeróbicos


terão novamente capacidade de crescer, repetindo assim esta sucessão.
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Um solo típico tem milhões de bactérias em cada grama.

Profundidade Actinomicetos
Bactérias Fungos Algas
(cm) (bactérias filamentosas)
3-8 9.750.000 2.080.000 119.000 25.000
20-25 2.179.000 245.000 50.000 5.000
35-40 570.000 49.000 14.000 500
65-75 11.000 5.000 6.000 100
135-145 1.400 --- 3.000 ---
3500-4500 m 100 --- --- ---

Populações de bactérias do solo são geralmente estimadas utilizando-se contagem em placas em


meio nutriente, mas nenhum é capaz de suprir todas as exigências desses microrganismos.

Os seres vivos que morrem tem sua matéria orgânica metabolizada pelos micróbios do solo e esses
elementos entram nos cicIos biogeoquímicos.

Nos ciclos biogeoquímicos, os elementos são oxidados e reduzidos por microrganismos para
fornecer suas necessidades metabólicas.

Ciclos Biogeoquímicos

Ciclo do Carbono

Todos os organismos, incluindo plantas, micróbios e animais, contêm grandes quantidades de


carbono na forma de compostos orgânicos tais como celulose, amidos, gorduras e proteínas.

Quando plantas e animais morrem, estes compostos orgânicos são decompostos por bactérias e
fungos. Durante a decomposição, os compostos orgânicos são oxidados, e o CO2 retorna para o
ciclo.

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Ciclo do nitrogênio

O nitrogênio é necessário para síntese de proteínas, ácidos nucléicos e outros compostos de


nitrogênio.

Para ser utilizado pelas plantas, o nitrogênio deve ser fixado (combinado) com outros elementos,
como o oxigênio e hidrogênio.

Somente algumas espécies de bactérias, incluindo as cianobactérias, são capazes de utilizar este
nitrogênio.

O processo pelo qual elas convertem o gás nitrogênio em amônia é conhecido como fixação do
nitrogênio, ou fixação biológica do nitrogênio.

A enzima nitrogenase responsável pela fixação de nitrogênio é anaeróbica.

Amonificação

Quando um organismo morre, o processo de decomposição microbiana resulta na quebra hidrolítica


de proteínas em aminoácidos.

Os grupamentos amina são removidos e convertidos em amônia (NH3) - Deaminação

Esta liberação de amônia é denominada amonificação, realizada por numerosas bactérias e fungos.
Decomposição Amonificação
microbiana microbiana
Proteínas de células mortas Amônia
e produtos residuais Aminoácidos (NH3)
Enzimas proteolíticas aa são transp. para
extracelulares dentro da célula
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Como a amônia é um gás, ela desaparece rapidamente do solo seco, porém em solo úmido toma-se
solúvel em água, e íons de amônia (NH4+) são formados:

NH3 + H2O  NH4+OH  NH4 + OH-

Íons amônia são utilizados pelas bactérias e plantas para síntese de aminoácidos.

Nitrificação

É o processo de oxidação do íon amônia a nitrato e depois a nitrito por bactérias que vivem no solo,
no qual obtêm energia através dessas oxidações.

No primeiro estágio, Nitrosomonas oxida amônia a nitrito:

Nitrossomonas
NH4+ NO2
(íon amônia) (íon nitrito)

Em um segundo estágio, organismos como o Nitrobacter oxidam nitritos a nitratos:

Nitrobacter
NO2- NO3-
(íon nitrito) (íon nitrato)

Denitrificação

Ocorre quando o nitrito é utilizado como aceptor de elétrons por algumas bactérias na ausência de
O2, liberando nitrogênio para a atmosfera.

NO3- NO2- N2O N2


(íon nitrato) (íon nitrito) Óxido Nitroso Gás nitrogênio

Pseudomonas é o grupo de bactérias mais importantes na denitrificação do solo.

A denitrificação ocorre em solos alagados onde encontramos pouco oxigênio disponível.

Na ausência de O2 como aceptor de elétrons, as bactérias denitrificadoras utilizam o nitrato dos


fertilizantes agrícolas, convertendo-o em nitrogênio gasoso. Isso representa uma perda econômica
considerável.

Bactérias fixadoras de nitrogênio de vida livre

Estas bactérias são encontradas particularmente em altas concentrações na rizosfera, região em


que o solo e as raízes entram em contato, principalmente em pastagens.

Entre as bactérias que fixam nitrogênio estão as espécies aeróbicas como Azotobacter.

Estes organismos aeróbicos aparentemente protegem a enzima nitrogenase do oxigênio através de


uma alta taxa de utilização do oxigênio que minimiza a difusão do mesmo dentro da célula, onde a
enzima está localizada.

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Bactérias fixadoras de nitrogênio simbióticas

Estas bactérias atuam de forma importante no crescimento de plantas, principalmente das


leguminosas. Milhões de toneladas de nitrogênio são fixados desta forma a cada ano.

As principais bactérias são dos gêneros Rhizobium e Bradyrhizobium

1) A bactéria se prende à raiz da leguminosa hospedeira, geralmente uma raiz secundária.

2) Em resposta à infecção, forma-se uma depressão na raiz secundária, e uma linha de infecção é
sintetizada pela planta passando da raiz secundária à raiz principal, local de chegada da bactéria.

3) Dentro das células a bactéria modifica sua morfologia para formas maiores denominadas
bacteróides, que eventualmente tomam conta da raiz da planta.

4) As células das raízes são estimuladas por esta infecção a formar nódulos semelhantes a tumores
de células carregadas de bacteróides.

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Ciclo do Enxofre

As plantas e os animais mortos são decompostos pelos microorganismos saprófitos aeróbios e


anaeróbios, destes últimos desprende-se gás sulfídrico (H2S).

Parte desse gás é reconvertida em sulfato por bactérias sulfurosas e parte é transformada em
enxofre (S) por certas bactérias que obtêm sua energia a partir dessa transformação química.

Vida Sem os Raios Solares

Surpreendentemente, é possível para toda a comunidade biológica existir sem fotossíntese


aproveitando-se da energia no H2S.

Foi descoberto que cavernas profundas nos Balcãs, totalmente isoladas dos raios solares, também
mantêm uma comunidade biológica completa de maneira similar.

Os produtores primários nestes sistemas são bactérias quimioautotróficas, ao invés de plantas ou


micróbios fotoautotróficos.

Recentemente, outro ecossistema microbiano funcionando longe da luz solar foi descoberto a mais
de 1 km de profundidade na Terra, nas rochas sólidas de basalto. Reações químicas nas rochas
produzem hidrogênio o qual pode ser utilizado como energia por bactérias denominadas endolíticas.

A matéria orgânica celular é produzida utilizando o dióxido de carbono dissolvido na água como
fonte de carbono.

Ciclo do Fósforo

A disponibilidade do fósforo deve determinar se plantas e outros organismos podem crescer em um


determinado local.

O ciclo do fósforo envolve modificações de formas solúveis para insolúveis e de fosfato orgânico
para fosfato inorgânico, muitas vezes em relação ao pH.

Bactérias do gênero Thiobacillus são capazes de solubilizar o fosfato das rochas.


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QUESTÕES PARA ESTUDO - MICROBIOLOGIA AMBIENTAL – PARTE 1

1) Devido a que os microrganismos podem viver em tantos habitats?


2) O que são micorrizas? E qual a diferença entre os dois tipos?
3) Quais fatores favorecem/limitam o crescimento dos microrganismos no solo?
4) Qual a importância do nitrogênio para os seres vivos?
5) Defina fixação de nitrogênio:
6) O que é amonificação?
7) Por que a planta utiliza íons amônia e não a própria amônia?
8) Esquematize o processo de nitrificação:
9) O que é a desnitrificação? Em que ambiente este processo ocorre com mais freqüência? Por
que?
10) A enzima nitrogenase é responsável pela fixação do nitrogênio, no entanto ela precisa funcionar
na ausência de O2. Como as bactérias aeróbias do gênereo Azotobacter conseguem fixar
nitrogênio?
11) Explique resumidamente o processo de fixação de nitrogênio realizado pelas bactérias
simbióticas que atuam principalmente nas leguminosas.
12) É possível a existência das comunidades sem o processo de aquisição da energia realizado pela
fotossíntese? Justifique.
13) Qual a diferença entre fixação de nitrogênio e amonificação?

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