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Linguagem e Sociedade
George Steiner
George Steiner, crítico literário e escritor faz um série de observações sobre a importância da
linguagem para o entendimento da experiência humana, pois é através dela que os homens
declaram a sua humanidade. Os tabus, as proibições, os interditos passam pela linguagem,
uma vez que não posso proibir o que não posso nomear.
É a linguagem que permite a produção do discurso, das narrativas que nos formam. É ela que
me permite delimitar quem eu sou e quem é o outro. A conversação é sempre uma proposta
de conhecimento e estranhamento mútuo.
Além disso, para Anthony Giddens, a linguagem e a memória estão integradas. A lembrança,
em sua forma individual, não pode estar separada de um quadro coletivo da memória.
Trata-se daquilo que Maurice Halbwachs, antes dele, chamava de quadros sociais da
memória.
Steiner nos lança uma ideia extremamente intrigante. Tentem pensar nas consequências dela
para o nosso entendimento do passado e da memória.
A história, no sentido humano, é uma rede de linguagem arremessada para trás
(Steiner, 1990 p. 69)
E, para finalizar, vamos trazer o trecho de uma resenha feita por Eduardo Sterz sobre Steiner
para a Folha:
Pluralidade [das línguas] esta que, frisa Steiner, não deve ser compreendida
apenas como um obstáculo à comunicação entre homens, mas, sim, como uma
espécie de bênção, na medida em que cada língua constitui uma diferente
abertura sobre o mundo.do passado e da memória.
Quatro Elementos das Representações
Howard S. Becker
O Interacionismo Simbólico
George Herbert Mead (1863 –1931), era um dos pesquisadores da primeira geração da
Universidade de Chicago (Escola de Chicago) e estava ligado, diretamente, ao chamado
pragmatismo do qual John Dewey e Charles S. Pierce também faziam parte. Vários
pesquisadores podem ser considerados membros dessa "Escola" como Robert E.
Park, William I. Thomas(1863 – 1947), Florian Znaniecki , Everett Hughes, Erving
Goffman e Charles H. Cooley (1864 – 1929), entre outros.,
Este último foi um dos primeiros a destacar a importância da comunicação na nossa
existência como seres humanos.
As pesquisas de Mead estavam voltadas à Psicologia Social, Filosofia e Educação. No
entanto, seus cursos eram frequentados por sociólogos.
Ele observou que alguns animais são capazes de desenvolver processos
comunicacionais baseados em uma conversação de gestos (sinais que coordenam
suas ações). No entanto, a comunicação de outros animais, como os seres humanos,
depende da sua capacidade de produzir uma comunicação baseada em símbolos que,
para serem efetivos, precisam ser compartilhados e interpretados.
Eles não existem previamente na natureza, mas são inventados. Eles são construções
sociais.
As três Premissas do Interacionismo
Esquemas Tipificadores
Tipos de Capitais
=
O Capital Econômico: está relacionado à renda e bens disponíveis a um indivíduo e/ou
sua família. Esse capital pode ser avaliado por meio de propriedades, bens duráveis,
rendas e salários. É interessante observar , também, a origem da renda. Um gerente
(assalariado) e um pequeno proprietário podem ter rendas iguais, mas podem se sentir
como parte de classes sociais diferentes. Um gerente é assalariado como um operário,
o que não significa que tenham interesses comuns.
Vamos analisar, agora, a posição dos agentes (indivíduos) no espaço social e a sua
relação com os estilos de vida.
Por meio de uma espécie de mapa social é possível avaliar as distâncias e as
proximidades entre esses indivíduos e as probabilidades de estudarem nas mesmas
escolas, frequentarem as mesmas festas, comprarem roupas nas mesmas lojas,
viajarem para os mesmos lugares etc.
Esse mapa é criado a partir da relação entre o capital econômico e o capital cultural
dos agentes e suas famílias.
É uma espécie de cartografia – uma topologia social.
As diferentes posições que as pessoas ocupam no espaço social, indicam diferenças
nos estilos de vida – como se fosse um sistema de desvios que marcam diferenças
sociais entre os agentes (marcas de distinção)
As diferenças em suas condições de existência acabam por sofrer uma retradução
simbólica em seus estilos de vida. O que alguns sociólogos chamam de "status".
Essa cartografia traça um quadro da distância social entre os agentes sociais: um
mapa que indica a probabilidade de encontros e desencontros entre os agentes sociais
em posições sociais muito diferentes.
A mediação entre essa posição no espaço social e as práticas e preferências dos
agentes é chamada de habitus por Bourdieu, como veremos no próximo bloco.
O habitus
O habitus é uma disposição que adquirimos a partir das nossas experiências nos
espaços sociais em que somos criados. Ele orienta o nosso gosto, as nossas formas
de percepção e apreciação do mundo. No entanto, quase nunca estamos conscientes
de sua presença nas nossas condutas.
O habitus é uma disposição em dois sentidos (ver: meme).
Ele pressupõe:
a) um padrão que ajuda a organizar a nossa ação (reconhecer determinadas situações
para poder agir)
b) indica uma certa predisposição que adquirimos ao longo do tempo. Uma tendência a
perceber o mundo, pensar e a agir de uma certa forma.
Estamos, também, diante de uma disposição corporal e não somente cognitiva. Não é
apenas ao nível do pensamento que ele atua, mas ao nível do nosso próprio corpo.
Nesse sentido (corporal), essas disposições podem ser chamadas, também, de héxis
(termo grego para habitus – que é uma palavra do latim)
Nosso próprio modo de falar é uma técnica do corpo, logo, a hexis/habitus orienta a
nossa percepção de nós mesmos, dos outros e do modo pelo qual o mundo nos afeta.
- Aula 5 - Campos sociais
Campos Sociais
A ideia dos campos sociais aparece com Kurt Lewin. Ela representa uma espécie de
campo de forças que tem um poder de atração sobre quem se submete a ele e que
funciona segundo determinada lógica.
O sentido de uma ação individual depende das relações de sentido estabelecidas entre
os agentes de um campo.Podemos falar de um campo político, literário, acadêmico,
religioso e seus sub-campos. No campo da Comunicação, temos sub-campos do
Jornalismo, Relações Públicas, Audiovisual, Publicidade etc.
Algumas propriedades dos campos
Definição: O campo é universo relativamente autônomo e objetivado no mundo social.
Quando usamos a expressão “o mundo da moda”, por exemplo, estamos falando de
um campo. O campo da moda é “objetivado” porque ele se materializa em revistas, nas
maisons, nos desfiles etc.
1. Todo campo tem uma história. Ele é o resultado de um lento (e, às vezes, tenso)
processo de depuração por meio do qual vai definindo suas regras, seus limites e as
condições necessárias para ingressar nele.
2. A formação de um campo cria uma espécie de espaço no qual encontramos as
pessoas ocupando determinadas posições ou lutando para ocupar determinadas
posições. Existem lutas no interior de um campo para mudar as próprias regras do
campo. Existem estratégias de alianças entre membros antigos e membros novos de
um campo. As pessoas sempre sofrem um processo de envelhecimento nesse espaço.
Esse envelhecimento pode levar a um esquecimento dessas pessoas ou pode
transformá-las em “clássicos”, isto é, pessoas que são sempre lembradas quando se
fala de um campo.
3. Esses espaços costumam exigir das pessoas que ingressam neles (ou que
pretendem ingressar neles) certos tipos de capitais. Para os que aceitam pagar um
certo “preço de entrada” no campo, essa experiência acaba por produzir o que
Bourdieu chama de uma Illusio, um certo encantamento pelo jogo que se joga nesse
campo específico. Mas, para jogar bem esse jogo, faz-se necessário, também, a
aquisição de um habitus profissional muito particular. É como se essas pessoas
tivessem de incorporar um certo jeito de jogar esse jogo. Interiorizar suas regras e
lógicas. Aprender a entender o que está em jogo nesse campo. (Ver: meme)
4. Os campos produzem e reconhecem certas práticas, objetos e rituais de
reconhecimento e de consagração próprios. Podemos ver isso nos Congressos,
Encontros e premiações dos mais variados tipos que visam promover o encontro e a
promoção dos principais destaques de um campo. Eles servem, além disso, para
renovar a fé e a crença na continuidade do campo.
5. Ele produz e reconhece, também, um campo discursivo próprio (ver: meme). Trata-se
de um código ou uma linguagem particular que se torna mais ou menos especializada e
que só os seus detentores parecem entender o que significam e como usá-las. O
Direito, por exemplo, é um caso extremo em que esse código, essa linguagem, tem uma
força impressionante. Dominá-la é desenvolver um tipo particular de capital.
Vamos desenvolver um pouco melhor algumas dessas ideias sobre os campos sociais.
Illusio
habitus em um campo
A doxa
Vamos refletir, agora, sobre os atos de fala, os discursos, as narrativas que são
fundamentais para a nossa existência como seres humanos. A eficácia de um discurso
está no fato de funcionar como Doxa, isto é, como uma verdade “evidente” sobre a
qual nunca pensamos.
É o que Ludwig Wittgenstein, em Investigações filosóficas, quis dizer:
Aquilo que se sabe quando ninguém nos interroga, mas que não se sabe mais quando
devemos explicar, é algo sobre o que se deve refletir. (E evidentemente algo sobre o
que, por alguma razão, dificilmente se reflete)
Competência técnica e social
Em primeiro lugar, é preciso destacar que a nossa capacidade para falar depende de
algumas competências específicas que desenvolvemos: uma Competência Técnica e
uma Competência Social.
Nossa competência técnica aparece pela nossa própria condição humana: seres
humanos podem falar, ou seja, tem em seu corpo os meios físicos (anatômicos e
neurológicos) necessários para produzir a fala.
No caso da competência social. como o próprio nome diz, ela é adquirida socialmente,
uma vez que, a fala precisa ser aprendida.
Falar não consiste apenas em emitir palavras organizadas em um certo código
linguístico, mas também é preciso saber o que falar, com quem, quando e de que
modo.
Se não falamos com qualquer um, de qualquer modo, sobre qualquer coisa, a qualquer
momento, isso significa que a nossa fala pressupõe alguns rituais sociais ou jogos de
linguagem. Esses jogos ou rituais dependem do desenvolvimento de certos tipos de
sensibilidade.
Vamos chamar essa sensibilidade de senso de oportunidade e senso de aceitabilidade.
O Senso de Oportunidade (Kairós)
Diziam os sofistas que, no aprendizado da arte de falar bem, é preciso estar atento para
a percepção do momento oportuno da fala (Kairós).
Pouco importa o que dissermos se não for dito de maneira oportuna, no momento
certo. Essa competência está relacionada como o (re) conhecimento da situação e do
momento da fala.
O Senso de Aceitabilidade
Também é importante lembrar que quando falamos, produzimos um produto muito
especial que não está sujeito apenas a interpretação, mas, também, a
avaliação.[ver:meme]
Muitas vezes, a condição necessária para que o discurso seja aceito não está no
entendimento que temos dele, mas do valor que damos a quem o pronuncia (ver:
meme).
Portanto, qualquer discurso produz signos a serem interpretados, certamente. Mas, ao
mesmo tempo, eles apresentam-se como signos de riqueza (esses discursos são
valorizados ou desvalorizados) e signos de autoridade (eles tem o poder de realizar
coisas no mundo)
O Mercado Linguístico