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Universidade Federal de Pernambuco - UFPE

Disciplina de Mediação Cultural


Curso: Artes Visuais - Licenciatura
Aluno: Davi Ascendino Castilho

Registro de entendimento (anotações e reflexões) dos textos: Sobre


Informação E Protagonismo Cultural, de Edmir Perrotti; Ação cultural e
protagonismo social, de Oswaldo Francisco de Almeida Júnior e Mediação
e protagonismo cultural: a Estação Memória, de Ivete Pieruccini

Sobre Informação E Protagonismo Cultural, de Edmir Perrotti:

Conceito de protagonismo:
Aquele que ocupa, de forma privilegiada, “um lugar em uma ordem”, lugar esse de
destaque, visibilidade e aparição. Ele/ela deve combater, resistir ao que vai contra o que
ele defende, ou seja, antagonismos. “É um modo de ser e estar”. Logo, no espaço
público, se todos (e suas demandas) são relevantes, todos são protagonistas, levando a
democratização dos interesses e das pessoas (em teoria).

Conceito de antagonismo:
Aquele que diverge, que se opõem, como um adversário que, por colocar certas
implicações em risco, deve ser combatido.

O protagonista “solidário”, que luta pelas causas públicas frente os interesses


privados e individuais, para a manutenção da ordem pública e social, que deve se
fortalecer na coletividade. Empatia social frente a um contexto que lhe engrandece (a
ajuda pela compaixão ou pelo reconhecimento? Ou ambos?); e o protagonista
“solitário”, que não mais acredita no poder da comunidade, pois ela está enfraquecida
(em crise), e nem tenta restaurar esse poder através da coletividade, pelo contrário, se
isola frente as suas motivações individuais e particulares, o que de fato lhe importa. A
apatia social frente a um contexto que não lhe beneficia.
Assim como no ideal grego de protagonismo, pode se comparar a mediação
cultural com um protagonista grego. Ela pode (e deve), ir além de sua dimensão
instrumental e funcional, assumindo um modo de ser, uma identidade que a define, a
particulariza, a ordena estruturalmente e a categoriza. Não como um entreposto, mas um
“posto em si”. Ela visa a comunidade, a coletividade (porque não há troca cultural sem
mediação), indo além do vazio e da falta de significado. Pelo contrário, ela induz e
produz sentidos, significados, interpretações e fortalece subjetividades. É,
intrinsecamente, coletiva.

Tipos de biblioteca:

Templum: Conserva a memória social de um determinado grupo. Logo, os objetos são


os protagonistas, não o humano. Porém, o fator humano existe (o acesso ao acervo)
porque essa memória precisa ser transmitida e acessada para continuar tendo função e
importância social. Afinal, de que vale uma memória social que não pode ser acessada
pelo coletivo? Ela, na prática, existiria de fato? Porém, se esse acervo é acessado por
poucos, eles não dariam conta da manifestação e propagação social das informações
contidas nesse acervo. A experiência do apagamento das memórias do povo negro no
Brasil por exemplo, mostra a importância não só registro dessas memórias, mas também
do acesso futuro a elas. Mas deve-se refletir: Quais memórias estão sendo conservadas?
Quais estão sendo excluídas? E quem as acessa? De qual grupo faz parte? É o grupo a
qual essas memórias se originam?

Emporium: Difunde a memória, pensando no fortalecimento das individualidades que


constroem e mantem o coletivo, a comunidade. Função social importantíssima, pois a
informação circula mais acessível e amplamente na sociedade. Ela amplia o acesso a
uma nova dimensão, visando democratizar seus conteúdos. Usa políticas que levam o
público aquele lugar, tentando populariza-lo e almejando a inclusão, ao invés de impor
uma autoridade institucional que afasta as pessoas em geral. Seria, a Emporium, um
equipamento cultural do tipo protagonista solidário? Ela também estaria, agora de forma
mais sensível, engajada e ampla, mediando seus objetos e o público que a cessa. Se a
Emporium reflete criticamente sobre sua atuação social inclusiva, ela seria um
protagonista-ativista?
Forum: Aqui, os leitores dos objetos presentes nas bibliotecas podem se comunicar,
dialogar entre si, criando processos dinâmicos e coletivos de produção, ressignificação,
e trocas de informação e conhecimento. Eles produzem saberes (refletindo
criticamente), logo, são protagonistas culturais, porque saem da passividade da
transmissão para a atividade da reflexão crítica e compartilhamento mútuo, uma
mediação em ampla rede de conhecimentos, envolvendo a biblioteca, os objetos
presentes nela e as conexões entre as pessoas. É importante que esse compartilhamento
seja horizontal, onde todos fortaleçam suas individualidades para construir uma
coletividade mais inclusiva, ou seja, todos precisam ser protagonistas culturais,
representantes de suas próprias vozes e criadores de saberes. Significar a si e
ressignificar o mundo.

Portanto, a Templum e a Emporium sugerem o acesso, que é, mesmo que


importante, apenas o impulso, a possibilidade do vir a ser, que pode ocorrer ou não.
Logo, o acesso é passivo, porque disponibiliza, mas não garante a reflexão crítica.
Quando o ser se apropria da informação, ele reflete criticamente, ele é e está sendo.
Logo, o apropriar é o ser ativo, porque a apropriação da informação gera o impulso do
criar e do recriar culturas e subjetividades. “A cultura é, dessa forma, categoria
mediadora intrínseca ao protagonismo”, porque media diferentes formas de pensar e
agir sobre ela.

Ação cultural e protagonismo social, de Oswaldo Francisco de Almeida


Júnior:

A biblioteca como reprodução de privilégios, elitismo e exclusão social. A


biblioteca deve se integrar a comunidade, visando dinâmicas e trocas culturais, e não
transmissões de saberes.
O tripé Informar-Discutir/Debater-Criar e sua relação com a abordagem
triangular Contextualizar-Ler-Produzir, nessa ordem de correlação.
Uma mediação a ser evitada: quando se transmite o saber e, ainda por cima, se
orienta o público a seguir apenas uma direção para as atividades estabelecidas,
provavelmente de forma acrítica. Não é uma troca, muito menos sugestões,
possibilidades de caminhos a serem seguidos a partir da livre e consciente escolha, é
apenas o uso abusivo do “poder” que o mediador possui num processo de mediação, em
suprimir outras visões que não sejam a sua (quando o público não questiona essa
narrativa dada).

Conceito de ação cultural:


A prática e uma política cultural que envolve um público, uma obra de cultura ou arte e
um agente cultural que media essa relação.
A ponte entre um público e uma obra de arte (instrumentalização apenas?). O erro de
achar que, apenas pelo processo de mediação (ponte), é que o público consegue
participar da cultura e da comunidade. A mediação (de um agente externo a essa
relação) não é essencial a esse processo, ela apenas potencializa o que já está em curso.
Deve-se parar de ver o público como cegos que precisam do mediador para enxergar.
Essa visão não é a única em relação ao conceito de ação cultural (há outras exatamente
opostas) mas essa foi a que mais me provocou. A partir disso, reflito: Qual a real
diferença entre mediação cultural e ação cultural? São sinônimos?

“As atividades culturais, por não serem registradas, não fazem parte dos
interesses da biblioteconomia”. Um paradigma a ser quebrado: para mim há diversas
formas de registrar atividades culturais. E, em segundo plano, há bibliotecários que se
interessam na proposição, realização e registro de atividades culturais, podendo
envolver a própria biblioteconomia. Logo, vejo como um ramo a ser explorado como
qualquer outro para o campo da biblioteconomia. O desafio de registrar o que é
efêmero, amplo e vivo.
Sobre o protagonismo: para ser protagonista, deve existir algo, um contexto onde
essa designação se configura. Logo, não há protagonismo sem que o indivíduo se
relaciona com seu contexto, sua comunidade, seus arredores. É uma relação dialógica e
compartilhada como uma rede. O protagonista influencia e é influenciado pelo seu
contexto. Ambos de interseccionam. É algo bem poético, pois a individualidade não se
constrói sem o rizoma da comunidade, algo que, quando percebido e refletido, ajuda a
minimizar os efeitos do individualismo na sociedade capitalista. Torna-se um ser plural,
livre, produtor de sentidos e subjetividades, dentro das próprias particularidades.
Mediação e protagonismo cultural: a Estação Memória, de Ivete Pieruccini:

Conceito de Estação Memória:


A valorização da experiência (que constrói protagonistas culturais) a partir de
contextos vivos, dialógicos e de contato entre as mais diversas vivências dos grupos
sociais. Acesso ás memórias sociais, a partir de catalogações e apropriações das
mesmas, enquanto diálogo com o passado e sua importância para o presente. “Cada
memória individual é um ponto de vista sobre a memória coletiva." Portanto, essas
esferas precisam estabelecer uma dinâmica discursiva entre o que é local e o que é
global, uma relação, talvez, “glocal”. É a prática do protagonismo cultural, onde é dada
importância a pessoas comuns, para que dialoguem acerca de suas vivências individuais
e como elas integraram memórias sociais. É, portanto, um processo narrativo.
Nesse método, há uma relação tríadica entre os protagonistas, as
memórias/experiência e o mediador/mediações. E também um processo a ser seguido,
que envolve os protagonistas do processo, as dinâmicas do processo de produção da
experiência e as dinâmicas do processo de troca de experiências.
No momento das produções de experiências, há um diálogo livre (entre idosos),
onde são respeitadas as subjetividades e interesses dos protagonistas que relatam suas
vivências, no formato de uma conversa, quando e como desejarem, sem imposições,
apenas se relacionando com os presentes através da fala. Também são utilizados
recursos materiais afetivos e poéticos para potencializarem os relatos, através das
subjetividades e sensibilizações dos protagonistas. Esses relatos são registrados e
editados com recursos gráficos que os deixem mais interessantes e cativantes,
expressando visualmente a essência do relato escrito.
Já nas dinâmicas de troca, há uma conversa intergeracional, um compartilhando
de experiências, saberes, subjetividades e reflexões, também potencializada pelos
recursos materiais criados na parte anterior. Esse diálogo é facilitado, ordenado e
potencializado pela mediação presente nesse método, desde a organização das conversas
até a produção e uso dos recursos de mediação, possibilitando a apropriação dessas
vivências pelos protagonistas.
Portanto, percebe-se que mediar é articular contextos glocais, é “vincular ao
mundo; é ação de construção de identidades culturais”.

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