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São nos estudos pós-Bourdieu que a classe popular começa a ganhar voz e
representatividade. Não é porque a classe popular não tem a estética, o gosto ou o estilo
de vida parecido com o estilo de vida burguês (legítimo), que signifique que ela não
tenha estilo, significa apenas que seu modo de vida é diferente. Para Grignon e
Passeron, a classe popular não deve ser considerada como uma classe autônoma –
devido aos efeitos da dominação -, no entanto, ela também não deve ser vista como uma
classe totalmente subordinada. A cultura popular começa a ganhar o seu próprio sentido.
Grignon e Passeron começam a descobrir as ambiguidades e as complexidades
de uma perspectiva cultural. Não se devem criar discursos generalizadores e categóricos
acerca das classes sociais e culturas de uma sociedade.
Bourdieu começa a ficar ultrapassado com o tempo já que a cultura popular
começa a ganhar representatividade e força, e seus estudos não a abraçavam. Os estudos
de Bourdieu precisam abranger os produtos culturais das classes populares, as
representações de suas condições de vida...
Isso vai se refletir no nascimento dos estudos culturais, na Grã-Bretanha, com a
fundação do Centro de Estudos Culturais Contemporâneos, por Richard Hoggart.
Canclini muda o foco das diferenças e desigualdades para as conexões e
desconexões. O mundo globalizado e tecnológico agora é um mundo de
desterritorialização e de movimentos. A pós-modernidade vai destacar as flexibilidades
e as dinâmicas das relações e dos pertencimentos. Portanto, aqueles que não possuem a
capacidade ou oportunidade de mover-se, de se tornar flexível se tornará desconectado.
Para ele, a pós-modernidade trabalha em prol das relações de dominação, onde os
pequenos (desconectados) servem de alimento para o enriquecimento dos grandes. Não
se trata mais de ter posses ou de possuir bens, mas de poder conectar-se e movimentar-
se com maior facilidade e rapidez.
Durante o livro inteiro Canclini fala sobre diferenças, desigualdades e
desconexões e sobre suas respectivas disciplinas: antropologia, sociologia e
comunicação. Acabamos acreditando que o mais certo para o bem das relações
mundiais, nacionais ou até mesmo locais é escolher um projeto, seja lutar pelo
reconhecimento e respeito das diferenças, ou lutar pelo direito a igualdade (seja ela
sexual, de gênero ou étnica) ou até mesmo pelo direito de acesso a informação e de
inclusão. Mas, no final do capítulo, Canclini aponta que a medida estratégica é uma
coexistência entre os projetos, uma simultaneidade. Eles não se excluem.
Sobre como Clifford Geertz e Pierre Bourdieu chegaram ao exílio.
Canclini fala sobre o que significa antropologia para Geertz e a importância da
interculturalidade no trabalho do antropólogo. A interculturalidade está entre o local
onde fica o objeto de estudo do antropólogo e o local onde se localizam aqueles que ele
visa atingir: as pessoas do mundo acadêmico.
Para os estudos de Geertz é predominante a política das diferenças, isso se
reflete no papel do antropólogo, que só ganhar legitimidade quando é capaz de estudar o
“outro” a partir de um olhar não etnocêntrico. Para Renato Rosaldo, exibir a identidade
deveria se como participar de um bazar, e não de um shopping, reconhecendo que a
identidade, assim como os objetos de um bazar, já é algo utilizado em andamento. A
identidade possui sua própria história e, portanto, certo valor simbólico que deve ser
considerado no trabalho do antropólogo.
Logo em seguida, Canclini vai se dedicar aos estudos de Bourdieu sobre a
televisão. Durante seus estudos, Bourdieu se dedicou a criticar o papel da televisão
como propagadora de informações, mais ainda como o campo jornalístico é subordinado
a certa espetacularização e sensacionalização da informação. Para Bourdieu, o cientista
social deveria se utilizar da televisão, mas como fazer isso sem perder a autonomia de
seu ofício? Para tanto, ele vai de contra com alguns elementos utilizados nos meios de
comunicação de massa, por exemplo, ir de contra o senso comum e a espetacularização.
A interculturalidade nos estudos de Canclini e também de Geertz e Bourdieu
exerce um papel fundamental, de quase libertação. Para ele, a interculturalidade revelar,
questiona, vai de contra com etnocentrismos e disciplinarizações. Estudar cultura requer
ser especialista em intersecções.