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performatividade
Kauan AMORA¹
RESUMO
Este artigo pretende fazer um breve panorama sobre o conceito de gênero desde
a Idade Média, passando pelo movimento feminista da década de 1970 até os estudos de
gênero modernos, articulando-o com o filme “Albert Nobbs” (2012, dirigido por
Rodrigo Garcia, filho de Gabriel Garcia Marquez). O trabalho terá como norte-teórico
os estudos da filósofa pós-estruturalista Judith Butler – grande nome da quer theory - e
mais especificamente seu conceito de “performatividade subversiva”.
Palavras-chave: Gênero; Performatividade Subversiva; Teoria Queer; Albert Nobbs.
ABSTRACT
This article intends to give a brief overview of the concept of gender since the
Middle Ages, through the feminist movement of the 1970s to modern gender studies,
linking it with the film "Albert Nobbs" (2012, directed by Rodrigo Garcia son of Gabriel
Garcia Marquez). Work will North theoretical studies of post-structuralist philosopher
Judith Butler - big name or theory - and more specifically his concept of "subversive
performativity."
Conclui assim que a mulher é um “macho falido”, um homem que não deu certo,
desta vez tendendo mais às fraquezas espirituais. Um ser “incompleto”, como a
mulher, o é em todos os sentidos: orgânicos e morais, pois, novamente
relembrando, era no corpo, em suas formas e sinais que se manifestava a alma da
pessoa (LEITE JR, 2011, p. 53).
É neste sentido que podem ser interpretadas muitas das proibições e escândalos
causados pelas trocas de vestuários entre homens e mulheres. As roupas sempre
foram em nossa cultura um importantíssimo signo de gênero e status, cuja
função era – e ainda o é, hoje em dia – o de regular e vigiar as fronteiras
culturalmente criadas entre os sexos/gêneros e grupos sociais (LEITE JR, 2011,
p. 54).
Possuir um pênis ou uma vagina era uma das características, mas não a mais
privilegiada, que formava um todo Homem/masculino ou Mulher/feminino, pois
mesmo essa diferenciação entre sexo e gênero ainda não fazia parte do universo
conceitual do período e tanto o sexo quanto o gênero formavam uma única
expressão do ser (LEITE JR, 2011, p. 57).
Hoje, o que acontece é sobreposição do sexo genital que diz como o sujeito deve
se vestir para o resto de sua vida.
Os estudos de Lynne Friedli nos mostram o caso de Mary Hamilton, uma inglesa
que passou a viver como homem no século XVIII, tendo adquirido todos os poderes e
privilégios concedidos, ainda casou-se como homem e mais tarde descobriu-se que se
tratava de uma mulher, ela foi presa por seis meses e açoitada em praça pública. Ainda
assim, existiu uma figura que marcou época, como o caso do Cavaleiro d’Eon de
Beaumont, um militar e diplomata francês que levantou um boato sobre si mesmo, de
que seria na verdade, uma mulher disfarçada de homem, tempos antes da Revolução
Francesa. O rei o obrigou a trajar-se e viver como uma mulher até o fim de seus dias.
Depois de sua morte, através dos exames, provou-se que se tratava de um homem de
verdade. Resultado, D’Eon conseguiu manter suas medalhas e título militar depois de
muito pedir ao Rei, este criou o título de “Cavaleira” somente para ele.
Era compreensível de alguma forma o desejo de algumas mulheres de se
tornarem e viverem como homens, haja vista o poder e alguns privilégios que estes
possuem, mas na época, era completamente inadmissível a possibilidade um homem
querer tornar-se mulher, e perder toda a sua força e seus privilégios perante a sociedade,
era um ator transgressor. Já dizia Marñon: A feminização do homem é um fenômeno
regressivo, poderíamos dizer negativo; enquanto que a virilização da mulher é um
fenômeno que, aparte seu caráter patológico, poderíamos chamar de progressivo; de
certo modo, positivo (1930: 125).
O gênero vem sendo problematizado ao longo dos séculos na história da
humanidade, sempre coberto por muito questionamento e até misticismo, e seguindo
essa trajetória ele vem sendo modificado e sistematizado para a maior compreensão
acerca de como o comportamento humano altera o curso da história. Sendo mais
específico, o conceito de gênero começou a ser estudado separadamente de sexo e
sexualidade desde o início do século XX, graças aos estudos de psiquiatras,
psicanalistas, médicos e sociólogos que de uma forma ou de outra colaboraram para
produção de conhecimento no que tange aqueles que possuem comportamentos
diferentes dos comportamentos que a sociedade hegemônica heterossexista exige.
Em 1955, o conceito de “gênero” foi usado pela primeira vez pelo psicólogo e
psiquiatra John Money, seus estudos serviram de precursores da ideia de que o gênero
não é inerente ao funcionamento biológico do ser humano, se tornando, portanto,
revolucionários, por outro lado Money procurava fixar e manter o que Butler chama de
Inteligibilidade de gênero, a ideia de que o homem deve ser masculino e manter
interesse afetivo-sexual por mulheres e vice e versa.
Em 1964, o psiquiatra e psicanalista americano Robert J. Stoller criou o conceito
de “identidade de gênero”, e contribuiu imensamente aos estudos sobre a
transexualidade:
Desde então, muitos são os estudos de diversas áreas do conhecimento que têm
contribuído para a maior compreensão acerca do que é gênero e de como ele (re)
estrutura a sociedade, este texto se revela mais uma pesquisa na tentativa de relacionar
esses conhecimentos com a sétima arte, o cinema, já que este por diversas vezes abre
portas para esta discussão na tentativa de provocar agenciamentos sociais.
O cinema era estudado como um produto cultural e como prática social, valioso
tanto por si mesmo como pelo que poderia nos revelar dos sistemas e processos
culturais. Ironicamente, essa inclusão do cinema na cultura – de certa forma uma
redução de sua importância como prática – resultou numa maior compreensão de
sua especificidade como meio de comunicação. (TURNER, 1997, p. 49).
Muito justamente se diz ao garoto, desde seus primeiros anos, que ‘homens não
choram’ (...) O choro tem um inegável acento feminino. Quase todas as
mulheres choram com uma facilidade inacessível aos homens. Até as piores
atrizes estão bem nas cenas em que têm que chorar (1930: 171)
LEITE JR., Jorge. Nossos Corpos também mudam: sexo, gênero e a invenção das
categorias “travesti” e “transexual” no discurso científico. Editora Annablume, 2011.
MISKOLCI, Richard. A Teoria Queer e a questão das diferenças. In: 16º Congresso de
Leitura do Brasil (COLE), 2007, Campinas. Disponível em
http://www.alb.com.br/anais16/prog_pdf/prog03_01.pdf.