GLOSSÁRIO
GAUDÊNCIO FIDELIS e MÁRCIO TAVARES
Arco-íris - Foi estabelecido como símbolo do orgulho LGBT na cidade de
São Francisco pelo artista norte-americano Gilbert Baker. Originalmente
utilizado na Marcha Gay da Liberdade ocorrida naquela cidade em 1978.
O objetivo foi representar a diversidade da comunidade de gays, lésbicas,
bissexuais, travestis, transexuais e transgêneros. Posteriormente, o arco-íris
e a bandeira com a representação de um arco-íris foram mundialmente
adotados como símbolos de todo o movimento LGBT.
Arte queer - Manifestação da produção artística que ganhou força nos Estados
Unidos e na Europa a partir da década de 1980 e na América Latina a partir
da década de 1990. A produção com tal inclinação aborda, de forma direta ou
indireta, questões referentes ao universo LGBT, relacionando-se com diversas
manifestações da arte erótica, da arte conceitual e com a produção de caráter
contextual. Existem manifestações artísticas que se autodesignam como queer
e inscrevem-se nessa categoria, e outras que são notadamente e/ou explici-
tamente queer, mas que não necessariamente se autodenominam como tais.
Há ainda aquelas que podemos designar como queer, embora essa atribuição
seja estabelecida a partir de uma disposição interpretativa externa, ou seja,
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independentemente da intenção artística estabelecida por quem as produz.
Andrógino(a) - Indivíduo que apresenta uma expressão de gênero que
não é claramente identificável como masculina ou feminina.
Assexual - Indivíduo que não sente atração sexual por pessoas de nenhum
gênero.
Bissexualidade e bifobia - A bissexualidade caracteriza o indivíduo que se
sente atraído fisicamente, emocionalmente e/ou psicologicamente por pessoas
do gênero masculino e feminino. A bifobia é a expressão de discriminação,
medo ou repulsa irracionais e injustificados por pessoas bissexuais.
Cisgênero - Indivíduo cuja identidade de gênero corresponde àquela que
lhe foi atribuída no nascimento.
Coming out/Sair do armário - Passagem voluntária de uma situação
de ocultação, diante da esfera pública, de uma orientação sexual e/ou
identidade de gênero para uma condição de expressão pública de sua
sexualidade. Essa disposição pode ser de iniciativa individual e voluntária,
mas pode também ser causada por forças advindas do domínio público,
sejam pressões ou forças irradiadas por outras motivações, adquirindo
por vezes uma dimensão pessoal ou política em qualquer um dos casos.
Envolve também questões de privacidade no âmbito da interferência
do Estado, na medida em que a manutenção de informações pessoais
de membros da comunidade LGBT, com a revelação de informações
privadas sensíveis e o risco de assédio e perigo físico e psicológico para
muitos, é especialmente problemático em algumas sociedades para o qual
não há solução imediata. A discussão sobre privacidade, nesses termos,
apresenta ainda aspectos controversos de ambos os lados do espectro,
visto que por vezes se encontra em colisão com o direito constitucional
e privado. O direito à privacidade, entretanto, não está relacionado ao
“armário”, mas ao desejo do indivíduo e à liberdade de expressão no
âmbito privado, já que o público deveria ser assegurado pelo Estado
com garantias de proteção.
Contrassexualidade - Conceito elaborado pela filósofa Beatriz Preciado
(Espanha, Burgos, 1970) que apresenta uma crítica à estrutura do contrato
social incorporado nas sociedades ocidentais. Ela demonstra como esse
contrato social é heterocentrado e como tais performatividades norma-
tivas são inscritas nos corpos como verdades biológicas. Essa abordagem
provém diretamente do pensamento de Judith Butler (Estados Unidos,
1956) e analisa criticamente a diferença de gênero e sexo como produto
desse contrato social. Tal abordagem sugere a troca desse contrato que
denominamos como “natureza” por um contrato “contrassexual”. Por
contrato contrassexual, devemos entender que nele os corpos não se reco-
nhecem mais como homens ou mulheres, mas como “corpos parlantes”,
que podem aceitar tantas sexualidades quantas forem possíveis. Não há
precisão de categorização e enumeração, práticas significantes que também
possibilitam a todas as posições que a história tem determinado como
masculinas, femininas ou perversas.
Crossdresser - Pessoas que, regular ou ocasionalmente, vestem-se com
roupas que socialmente são vistas como sendo usadas por pessoas do sexo
oposto. De modo geral, essas pessoas sentem-se confortáveis com o seu
sexo biológico e não querem mudá-lo.
Drag/Transformista - Personagens criados por artistas performáticos
que se travestem, fantasiando-se cômica ou exageradamente com o in-
tuito profissional artístico. O termo diz respeito à adaptação de roupas e
de papéis que tradicionalmente estão relacionados a um sexo ou gênero
diferente do seu. O objetivo desejado é o jogo, o entretenimento ou o
erotismo. Os homens que adotam elementos convencionais do universo
feminino denominam-se drag queens e as mulheres que adotam elementos
convencionais do universo masculino denominam-se drag kings. A palavra
Drag não deve ser confundida com crossdresser.
QUEERMUSEU: CARTOGRAFIAS DA DIFERENÇA NA ARTE BRASILEIRA 105
Era farmacopornográfica - Expressão igualmente proposta pela filósofa
Beatriz Preciado, referindo-se a uma característica predominante da época
histórica em que vivemos. A autora argumenta que essa transição constitui
um terceiro tipo de capitalismo, depois dos regimes escravistas e industrial,
situando-se em torno dos anos 1970 e estabelecendo um novo tipo de
“governo dos vivos” (nos termos foucaultianos), que emerge das “ruínas”
urbanas, corporais, psíquicas e ecológicas depois da Segunda Guerra Mundial.
F-M/FTM/F2M e M-F/MTF/M2F - Transição do feminino para mas-
culino. Expressão empregada para especificar o sentido da mudança no
sexo das pessoas transexuais para fazê-lo corresponder à sua identidade de
gênero. Nesse caso, também se pode referir como um “transexual masculino”
ou um “homem transexual” e masculino para feminino. É utilizada para
especificar o sentido da mudança do sexo das pessoas transexuais para que
venha a corresponder à sua identidade de gênero. Nesse caso, também se
pode referir como uma “transexual feminina” ou uma “mulher transexual”.
Gay - Termo originário da língua inglesa que inicialmente era indicativo
de pessoa alegre, feliz e extrovertida. Surgido no final do século 19, ganha
força durante o século 20 e passa a ser apropriado pela comunidade LGBT
para assumir o significado de indicativo de indivíduo que se sente atraído
por pessoas do mesmo gênero. O termo tem origens discriminatórias,
associando a forma de ser mais expansivo à homossexualidade, chegando
depois a ser transformado pela própria comunidade LGBT para abordar
sua orientação sexual e seu estilo de vida. Em português, é mais utilizado
para identificação do homossexual masculino. Na língua inglesa, engloba
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tanto o homem homossexual quanto a mulher homossexual.
Gênero - Sistema de classificação que atribui qualidades de masculinidade
e de feminilidade aos corpos do homem e da mulher. As características
de gênero são muitas vezes arbitrárias e podem mudar, seja ao longo do
tempo, seja de cultura para cultura. Em geral, confunde-se o conceito de
gênero com o conceito de sexo biológico. Separar os conceitos é necessário
para compreender os diferentes comportamentos e também os fatores que
dizem respeito ao desejo sexual e à expressão de gênero ou identidade. A
expressão de gênero diz respeito aos maneirismos, à forma de vestir e de
apresentação, ao aspecto físico, aos gostos e às atitudes de uma pessoa,
enquanto a identidade de gênero refere-se à identificação pessoal, subjetiva
e autonomamente determinada, que cada indivíduo tem relativamente ao
seu gênero. Pode ou não estar de acordo com o gênero associado ao sexo
que lhe foi atribuído ao nascimento.
Heterossexismo - Pressuposto social de que todos(as) são ou deveriam ser
heterossexuais e de que a heterossexualidade é de alguma forma superior
à homossexualidade. Heterossexismo é um termo mais abrangente que
a homofobia, já que este último remete imediatamente para a noção de
fobia. O heterossexismo está presente em frases como “ela enlouquece
qualquer homem” ou “ele é o marido dos sonhos para todas as mulheres”,
frases que partem do pressuposto de que a heterossexualidade é a única
orientação que existe ou que importa e, portanto, é a dominante.
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Homossexualidade e Homofobia - Pessoa que se sente atraída fisica-
mente, emocionalmente e/ou psicologicamente por outra do mesmo
sexo. Homofobia foi um termo usado pela primeira vez pelo psicólogo
George Weinberg em um livro seu intitulado A Sociedade e o Homosse-
xual Saudável (1972), no qual se refere à homofobia como sendo medo
irrealista ou irracional ou como uma aversão à homossexualidade e/ou
a pessoas homossexuais. A homofobia é uma doença social que se tem
prolongado devido aos estereótipos negativos e aos conceitos equivocados
geralmente associados à homossexualidade. A homofobia pode levar ao
ódio, à discriminação e à violência contra homossexuais e bissexuais.
Intersexual/intersexo - Indivíduo que tem órgãos genitais/reprodutores
(internos e/ou externos) masculinos e femininos, em simultâneo, ou cro-
mossomos que não são nem XX nem XY. De acordo com a Intersexed
Society, da América do Norte, em cada 2.000 crianças que nascem uma
é intersexo (aproximadamente).
Lésbica - Mulher que se sente atraída fisicamente, emocionalmente e/ou
psicologicamente por outra mulher.
Normatividade - Na filosofia, pertencem à normatividade os conceitos
que explicam o pensamento e a ação dos seres racionais, como o ser
humano, a partir de normas que são consideradas irredutíveis às leis
da natureza. A normatividade engloba um conjunto de regras tidas
como dominantes que têm sua aplicação transformada em leis, costu-
mes e hábitos, sendo que toda forma de comportamento considerada
“desviante” dessas normas é atribuída a uma minoria. Entretanto, esse
comportamento tido como desviante só é considerado não normativo,
justamente porque uma normatividade dominante está em curso como
regras de comportamento.
Orientação sexual - Atração física, sexual, emocional e/ou psicológica
de um indivíduo a um sexo em particular. Definida pela Associação
Psicológica Americana como um dos quatro componentes da sexualidade
e distingue-se pela atração emocional, romântica, sexual ou afetiva por
indivíduos de determinado sexo.
Queer - O sentido original desse termo na língua inglesa é “esquisito”,
“estranho”, “excêntrico”. Na década de 1920, foi introduzido na lin-
guagem cotidiana nos Estados Unidos e passou a designar os indivíduos
homossexuais. Apresenta origem discriminatória similar ao do termo
“bicha” ou “veado” no português brasileiro. Com o passar do tempo, foi
incorporado pela comunidade LGBT e passou a ser um elemento de iden-
tificação popular, ressignificando suas origens pejorativas. Atualmente,
diz respeito à forma como algumas pessoas expressam a sexualidade ou
a identidade de gênero. Algumas vezes, é utilizado como sinônimo para
comunidade LGBT. Note-se que, por trás desse termo, está geralmente
um elevado nível de ativismo político na comunidade LGBT. Está asso-
ciado a ele um corpo de teoria – teoria queer – que se desenvolveu nos
anos de 1980 no meio acadêmico nos Estados Unidos e que tem como
marco a publicação do livro Problemas de Gênero [Gender Trouble] de
Judith Butler, publicado pela primeira vez em 1990.
Performance de gênero - Conceito desenvolvido pela filósofa e escritora
Judith Butler. Segundo a autora, trata-se do processo global da cons-
tituição do gênero, da internalização das normas que se “estilizam” no
corpo e criam um efeito de substância. Essa manifestação dá origem a
uma situação do “eu” como gênero in progress, em que a performativi-
dade é uma parte desse processo de constituição de si. Nesse sentido, a
performatividade constitui um conceito que não é nem completamente
determinado, nem radicalmente elegido, estando fora desse binarismo.
Butler diz que seu ponto de vista não se constitui a partir de nenhuma
dessas dualidades: “Ou o gênero está construído e não temos a dizer como
vivemos o gênero ou o gênero é radicalmente elegido e podemos fazer o
que queremos”. Portanto, a performatividade caminha no interior dos
limites e possibilidades da construção do eu em determinado contexto.
Sexualidade - Permite fazer referência ao conjunto das condições anatô-
micas, fisiológicas e psicológicas que caracterizariam cada um dos sexos. O
termo também faz alusão ao desejo sexual (como uma propensão ao prazer
carnal) e ao conjunto dos fenômenos emocionais e comportamentais rela-
cionados ao sexo. Também diz respeito à autodefinição do comportamento
sexual. Engloba etiquetas e nomenclaturas como assexual, heterossexual,
homossexual, gay, lésbica, bissexual, pansexual, queer, indeciso, entre
outras categorias possíveis.
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Sexo biológico - Sistema de classificação que tem como base características
genotípicas ou fenotípicas de um indivíduo que podem ser classificados,
de modo geral a partir das denominações binárias como sendo do sexo
masculino ou feminino. Existem diversos fatores que contribuem para o a
classificação do sexo biológico de uma pessoa: cromossomos (XY, XX ou
outras combinações), genitais (estruturas reprodutivas externas), gônadas
(presença de testículos ou ovários), hormônios (testosterona, estrogênios),
entre outros. Atualmente, há discussões na área da biologia e da medicina
que tentam ultrapassar a divisão binária feminino/masculino do sexo
biológico, contemplando, por exemplo, os intersexos como categoria
natural na definição do sexo.
Trangênero e transfobia - Transgênero é um termo abrangente que inclui
qualquer pessoa que, por qualquer razão, não se identifique com o gênero
associado ao sexo que lhe foi atribuído por ocasião do nascimento. Tais
indivíduos podem ou não vir a fazer algum tipo de transição. Transfobia
diz respeito à discriminação, ao medo ou à repulsa irracionais e injustifi-
cados por pessoas trans.
Transexualidade - Termo da área médica, que data de 1850 (transexual),
criado para referir as pessoas que desejam que o seu sexo biológico corres-
ponda à sua identidade de gênero, demonstrando intenção de mudança de
seu corpo através de hormônios e/ou procedimentos cirúrgicos. O termo
refere-se a indivíduos que não se identificam com o gênero associado ao
sexo que lhes foi atribuído ao nascimento. Frequentemente, eles descrevem
sentir disforia de gênero e, em muitos casos, realizam algum tipo de tran-
sição com o objetivo de aliviar essa condição. Pessoas transexuais desejam
enfatizar que não são um grupo monolítico. O termo tem sido contestado
por alguns em favor do termo “transgênero”, embora se refira a pessoas com
variantes de gênero que não necessariamente desejam realizar cirurgia de
transição, enquanto o termo “transexual” refere-se a pessoas que mudam
seu sexo. Há ainda o caso do uso do termo “transexualismo”, que designa
um estado incorreto de um “ismo” e, portanto, uma doutrina ou causa. O
uso do sufixo “dade” designa mais corretamente uma qualidade ou estado.
Travesti - Indivíduo que não se identifica com o gênero biológico e que se
veste ou se comporta como pessoas de outro gênero. Pode ser um homem
que se veste como mulher, se comporta como mulher e se sente mulher
ou, ao contrário, uma mulher que se veste, se comporta e age como se
fosse homem. Ainda que ele tenha o mesmo desejo e invista em roupas
e hormônios femininos ou masculinos, tal qual o transexual, mantém o
órgão genital conforme o nascimento. Ainda não se sabe como nem por
quê, mas as travestis não têm uma única identidade, masculina ou femi-
nina. Eles apresentam as duas e se sentem homem e mulher ao mesmo
tempo. Às vezes se sentem mais femininas, ou mais masculinas, mas ambas
estão sempre presentes e elas não têm o desejo de anular nenhum dos dois
comportamentos. Em português, é um termo feminino e deve ser usado
“a travesti”, mas em casos de travestis femininos poderia ser utilizado “o
travesti”. Entretanto, é muito raro que uma mulher que se veste de homem
use o termo travesti, pois este se encontra mais relacionado ao mundo das
mulheres travestis (homens que se vestem e modificam seu corpo para
parecerem mulheres). O mais comum é que mulheres que se vestem de
homens e modificam seus corpos se autodenominem como trans homens.
Triângulo preto - O triângulo preto invertido tem origem na Alemanha
nazista, onde foi usado para identificar as prisioneiras dos campos de
concentração, além de mulheres de comportamento antissocial com ideais
feministas, que não representavam o ideal da mulher nazista. Por essa razão,
a expressão é hoje um símbolo de consciência feminista e também lésbica.
Triângulo rosa - Símbolo criado para identificar os homossexuais mas-
culinos nos campos de concentração nazista. A expressão tornou-se um
emblema do orgulho LGBT, lembrando as perseguições históricas que
essa comunidade sofreu.
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