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13/10/2021 21:03 Personalidade Criminosa - GJBallone

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Personalidade Criminosa
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Forense, Violência | 



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Cogitar sobre a existência de uma personalidade propensa


ao crime e ao delito sempre foi preocupação da sociedade
em geral, especialmente da sociologia, psiquiatria e DESTAQUES
antropologia. Alguns identificam nas pessoas naturalmente
más algum diagnóstico como o Transtorno Antissocial da
Transgênero e
Personalidade, Sociopatia ou Psicopatia e coisas assim.
Disforia de
Rodeando esse suposto diagnóstico surge a dúvida sempre Gênero
presente: será o criminoso responsável pelos seus atos ou
vítima de um estado doentio?
Normose –
A sociedade em geral e em particular a justiça carecem de patologia do
noções mais precisas corroborando ou contestando, da normal
forma mais clara possível, a ideia de Traços Sociopáticos de
Personalidade ou de uma Personalidade Criminosa que TDAH –
determinaria comportamentos delinquentes. Caso sirva de Hiperatividade
consolo; essa também é a grande dúvida da psiquiatria. em adultos

Especular sobre o grau de noção ou de juízo crítico que o


Curso e
criminoso tem de seu ato, até que ponto ele seria senhor de
evolução da
suas ações ou servo submisso de sua natureza biológica, Esquizofrenia
social ou vivencial sempre foi preocupação da ciência,
incluindo aqui a medicina, psicologia, filosofia e outras. Isso
se aplica aos inúmeros casos de assassinos seriais, Dano Psíquico
estupradores contumazes, gangues de delinquentes, e Dano Moral
traficantes, estelionatários, etc.

Personalidade
Dois pontos se destacam na literatura mundial; primeiro, é e Dependência
que parece aceito unanimemente a existência de
determinada personalidade marcantemente criminosa ou,
ao menos, inclinada significativamente para o crime. Personalidade
Segundo, que a diferença principal entre as várias Introvertida

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tendências doutrinárias diz respeito à flexibilidade ou


inflexibilidade dessa personalidade criminosa, atribuindo
ora uma predominância de fatores genéticos, ora de MAPA DO
fatores emocionais e afetivos e, ora ainda, fatores sociais e SITE
vivenciais.
Dicionário

Geraldo
Ballone

Sumário

A discussão que sempre existiu sobre a conduta humana


se dá entre dois argumentos causais: de um lado o Livre
Arbítrio da pessoa, o qual implica na consequência e
eventual punibilidade dos atos de todas as pessoas e, por
outro lado, na Constituição Biológica, como uma fatalidade
orgânica que empurra a pessoa a agir dessa ou daquela
forma (maniqueísmo).

O reconhecimento da existência de uma personalidade


potencialmente perigosa (periculosidade), fez com que a
sociedade não se preocupasse mais exclusivamente com a
gravidade do ato criminoso mas, sobretudo, com a
incômoda e problemática natureza do criminoso.

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Sobre o Livre Arbítrio do criminoso

Do século XIX até atualmente, acreditava-se que elementos ou


fatores, internos ou externos, determinavam inexoravelmente uma
espécie de Homem Criminoso.

Recentemente surgiu uma nova corrente fenomenológica de De


Greeff. Trata-se de uma tendência que procura compreender as
vivências interiores do delinquente e o processo do ato criminoso,
partindo de um pressuposto de que o delinquente não é um ser
diferente, por natureza ou qualidade, das outras pessoas.

Em natureza e qualidade, o hipotético Homem Criminoso seria igual


ao indivíduo dito normal, diferindo deste apenas em relação a um
certo número de características, as quais facilitam nele a execução
do ato criminoso.

Com De Greeff o constitucional ou degenerado comprometedor da


espécie humana foram deixados de lado e passou-se a considerar a
pessoa com sua história pessoal, o conjunto de processos
psicológicos, afetivos, morais, sociais, etc., eventualmente capazes de
conduzir à criminalidade.

Esse “certo número de características, as quais facilitam nele a


execução do ato criminoso“, parece tratar-se de algo relacionado à
escala de valores, ou seja, um atributo muito mais arbitrário e eletivo
das pessoas do que os determinismos estigmatizantes até então
considerados.

As ideias de De Greeff despertaram a necessidade de encarar o


delinquente como qualquer outra pessoa, dono de uma história
particular e opções pessoais realizadas em função desta história.

Essa fenomenologia valorizava sim a conduta geral da pessoa, seu


caráter, seus motivos, instintos, afetos e antecedentes
pessoais. Deixar de lado o Transtorno Dissocial da Personalidade,

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bem como traços Sociopáticos da personalidade não é tão simples


assim como pretendia De Greeff. Veja nos outros textos desta página.

A ocasião faz o ladrão ou existe o Livre Arbítrio?

Monomania Homicida, um termo curioso, foi proposto por


Esquirol em 1838 para designar certas formas de loucura,
cujo único sintoma evidente seria uma desordem ética e
moral, propensa à prática de crimes. Talvez se tratasse de
uma exigência mais social que médica, numa tentativa da
sociedade segregar as duas figuras mais temidas do desvio
da conduta humana; o louco alienado e o criminoso cruel.
Esta posição nosográfica foi reforçada por Prichard, alguns
anos depois de Esquirol, com seus trabalhos sobre uma
tal Loucura Moral.

Hoje, séculos e nomenclaturas depois, existem na CID.10


critérios de diagnóstico para a Personalidade Dissocial,
caracterizada por um desprezo das obrigações sociais, falta
de empatia para com os outros e por um desvio
considerável entre o comportamento e as normas sociais.

Neste tipo de personalidade há uma baixa tolerância à


frustração e baixo limiar de descarga da agressividade,
inclusive da violência. Existe também uma tendência a
culpar os outros ou a fornecer racionalizações duvidosas
para explicar um comportamento de conflito com a
sociedade. Seriam sinônimo da Personalidade Dissocial:

Personalidade Amoral,

Personalidade Antissocial,

Personalidade Associal,

Personalidade Psicopática e a

Personalidade Sociopática.

Na classificação do Manual Diagnóstico e Estatístico dos


Transtornos Mentais, 5a. edição (DSM-5), a característica
essencial do transtorno da Personalidade Antissocial é um
padrão de desrespeito e violação dos direitos dos outros,
padrão este também conhecido como Psicopatia,
Sociopatia ou Transtorno da Personalidade Dissocial. O
engodo e a manipulação maquiavélica das outras pessoas
são aspectos centrais neste Transtorno da Personalidade,
no qual ocorre também violação de normas ou regras
sociais importantes. Os comportamentos criminosos ou
delinquenciais característicos desse transtorno de
personalidade englobam a agressão a pessoas e animais,
destruição de propriedade, defraudação ou furto e séria
violação de regras.

As pessoas com transtorno da Personalidade


Antissocial não se adequam às normas legais,
desrespeitam os direitos ou sentimentos alheios, enganam
ou manipulam os outros a fim de obter vantagens pessoais,

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mentem repetidamente, ludibriam e fingem. Esses


indivíduos costumam ainda ser irritáveis ou agressivos.

A dúvida que costuma acometer a maioria dos psiquiatras


diz respeito à existência ou não de verdadeiro componente
psicopatológico atrelado a Sociopatia. Michel Foucault, por
exemplo, contestava essa entidade estranha e paradoxal
inventada pela psiquiatria do Século XIX, que era a
Monomania Homicida ou a Loucura Moral, e que
caracterizava crimes que não eram senão uma forma de
loucura ou, mais grave ainda, uma loucura que não se
revela senão através do crime.

Periculosidade

A noção de Periculosidade, então, nasceu da conceituação


de alguma patologia incrustada na personalidade do
criminoso, tal como a antiga Monomania Homicida,
atenuando a responsabilidade plena dos atos cometidos e,
ao mesmo tempo, prevenindo a sociedade da presença
incômoda desses mutilados éticos através da segregação
manicomial.

Apesar de hoje em dia não ser mais aceita a noção


simplória da Monomania Homicida, antes de ser
abandonada essa ideia estimulou a esdrúxula Teoria da
Degenerescência, desenvolvida por Morel em 1857 e
embasada por outros autores de grande expressão. Na
realidade, foi a partir da Degenerescência da espécie
humana, de Morel, através de seus simpatizantes ou
contestadores, que se desenvolveram as mais variadas
teorias biológicas, psicológicas, sociológicas e
antropológicas sobre o crime, criminalidade e criminoso
que hoje conhecemos.

Inicialmente tivemos as conhecidas ideias de Lombroso,


fruto de estudos morfológicos e anatômicos na tentativa de
conhecer mais profundamente a natureza do ser humano
criminoso. Ele pressupunha um conjunto de estigmas
biológicos e anatômicos que caracterizariam o criminoso e
revelariam nele a reminiscência de um nível inferior da
escala do desenvolvimento humano. Era uma espécie de
determinismo biológico que marcava profundamente essas
pessoas tidas como sub-humanas.

Nessa época distinguia-se apenas dois tipos de criminosos;


o criminoso ocasional, representado por uma pessoa
normal e fortuitamente criminosa sob influência de diversas
circunstâncias e o criminoso nato, de natureza diferente da
do homem normal, instintivo e cuja inclinação para o crime
resultava de uma organização própria de sua biologia. Esse
conceito em nada difere o Louco Moral do atual Sociopata.

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Em seguida, Lombroso passou a classificar os criminosos


em 5 tipos:

1. O Criminoso Nato, segundo ele representado pela


maioria dos casos era, como o próprio nome indica,
portador de um patrimônio genético causador de sua
criminalidade. Ele seria o resquício do Homem Selvagem,
uma espécie de subtipo humano degenerado.

2. O Criminoso Louco ou Alienado, no qual existia uma


perturbação mental associada ao comportamento
delinquente, considerado como um Louco Moral ou um
Perverso Constitucional.

3. O Criminoso Profissional, que não possui os estigmas


biológicos inatos, como os anteriores, mas que se
tornava criminoso por forças e pressões do seu meio.
Este criminoso começa por um crime ocasional e pode
reincidir.

4. O Criminoso Primário, que cometerá um ou outro delito


por força de um conjunto de fatores circunstanciais do
meio, mas não tenderia para a reincidência. De acordo
com Lombroso, estes eram ainda predispostos
biologicamente para o crime, mas não possuíam uma
tendência genética para ele. Esse tipo embasa o ditado
“a ocasião não faz o ladrão, o ladrão já está pronto e
aguardando a melhor ocasião para roubar”.
5. O Criminoso por Paixão, vítima de um humor exaltado,
de uma sensibilidade exagerada, “nervoso”, explosivo e
inconsequente, a quem a contrariedade dos sentimentos
leva por vezes a cometer atos criminosos, impulsivos e
violentos, como solução para as suas crises emocionais.

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O que é determinismo criminoso ?

Apesar dos estudos de Lombroso terem se limitado às


relações entre anatomia e crime, entendendo-se este como
uma espécie de anomalia morfológica, sua contribuição foi
fundamental para o enriquecimento do conceito holístico
do ser humano.

Garofalo, na mesma linha das concepções genéticas e


constitucionais, atribuía maior importância aos aspectos
morais e psicológicos do que aos elementos anatômicos.
Ele passou a defender o ponto de vista segundo o qual os
criminosos possuiriam uma anomalia moral e psíquica,
uma espécie de lesão ética, responsável pela prática da
delinquência.

A predeterminação da personalidade ao crime caminhou,


então, da anatomia defeituosa à lesão ética. De qualquer
forma, não se falava em livre arbítrio do criminoso.

Foi nesta ocasião que Colajanni, defendendo também a


predisposição psíquica do delinquente, sugeriu à
criminologia o conceito de periculosidade; uma
perversidade constitucional e ativa no delinquente, bem
como uma certa quantidade de maldades que se podia
esperar dele, quase automaticamente.

Nesta mesma época, partindo ainda das concepções


biológicas de Lombroso, Enrico Ferri, elaborou um dos
primeiros modelos integrativo do direito com a psiquiatria e
com a sociologia, valorizando como um importante fator na
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determinação do crime, além da predisposição psíquica,


também o meio social onde se inseria o criminoso.

Ainda assim, não se falava em juízo crítico e arbítrio do


contraventor; ora era a biologia a responsável pelo delito,
ora a tal Lesão Ética, ora a psicologia claudicante do
criminoso e, finalmente, poderia ser também o meio social
propício ao crime.

Se Lombroso despertou uma série de conceitos posteriores


baseados na importância da constituição biológica, não lhe
faltaram opositores. Os autores mais modernos achavam
demasiadamente retrógrada a ideia do determinismo
biológico de Lombroso, e alguns preferiam o “determinismo
social”. Trocaram de determinismo.

Embora a nova migração das influências criminais do


biológico para o social dava a impressão de avanço
intelectual chique, continuava sendo determinista do
mesmo jeito. O criminoso continuava objeto de forças
emancipadas de seu arbítrio e determinação.

O determinismo social, concebido por autores da moda,


não era menos radical que o determinismo biológico de
Lombroso. Alguns até defendiam que “cada sociedade tem
os criminosos que merece”, e que os fatores sociais e
geográficos, por si só, já seriam suficientes para explicar a
criminalidade. Dessa forma, a intenção, motivo ou
personalidade do delinquente, ficavam em segundo plano.

Apesar de toda movimentação doutrinária a figura do


Criminoso Nato e Constitucional dominou os estudos de
criminologia no séc. XIX e início do séc. XX,
progressivamente substituindo a predominância da
constituição biológica em favor de uma natureza
psicológica, moral e até social.

Com base nestas várias teorias, considera-se a


possibilidade de haver alguma alteração psíquica
relacionada com a criminalidade. Inicialmente tem-se em
mente a figura do Perverso Constitucional e,
posteriormente, a figura do Sociopata e do Psicopata.
Atualmente, fala-se na Personalidade Antissocial dos
manuais de diagnóstico DSM-5 e CID.10.

Na realidade, ao longo de mais de um século houve apenas


um deslocamento das teorias deterministas; inicialmente
falava-se no determinismo biológico, onde as constituições
genéticas e hereditárias eram determinantes absolutas.
Posteriormente foi a vez do determinismo moral, onde o
indivíduo podia já nascer degenerado ou normal.

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Em seguida, foi a vez do determinismo psicológico, onde as


maneiras da pessoa reagir psicologicamente à vida eram
inatas, absolutas e invariáveis e, finalmente, veio o
determinismo social, reconhecendo circunstâncias sociais
que empurravam invariavelmente a pessoa para o crime.

Com tantos determinismos o delinquente acabava sempre


sendo vítima de alguma circunstância, interna ou externa, a
qual o eximia da responsabilidade plena por seu ato. O
criminoso, por sua constituição, fosse ela biológica, moral
ou psicológica, ou ainda pelas adversidades sociais e
culturais ou, simplesmente pelo modismo, não tinha outra
opção senão o crime.

Livrar-se da ideia de Personalidade Criminosa não é tão


simples assim.

O conceito de periculosidade, tal como referia Debuyst,


incluía três elementos: a personalidade criminosa, a
situação perigosa e a importância sociocultural do ato
cometido. Segundo este autor, através da periculosidade
seria possível fazer um diagnóstico dos traços de
personalidade e definir adequadas medidas de
intervenção. Assim sendo, com o conceito
de periculosidade volta à tona a ideia de personalidade
criminosa, como dissemos, difícil de se livrar.

O conceito de periculosidade se mantém indissociável do


conceito de personalidade (criminosa) e ambos seriam
conceitos fundamentais para o desenvolvimento da
criminologia clínica. Através desta, acredita-se poder
concentrar esforços na procura de índices capazes de
identificar características de risco e fatores
desencadeantes. Aqui ficam patentes a avaliação da
periculosidade do sujeito e a eventual arguição de seu
potencial de socialização.

Determinismos à parte, não se pode esquecer o fato de ser


problemático, por si só, o próprio conceito de
personalidade. As principais teorias psicológicas da
criminalidade que hoje em dia dominam a investigação
nesta área poderão ser agrupadas em duas grandes linhas
gerais. Uma delas, centrada na pesquisa das diferenças
que caracterizam a dita Personalidade Criminosa,
específica do criminoso e determinadora do ato
delinquente (Pinatel, Le Blanc), e uma outra linha, a de
investigação, mais ligada à análise do vivido do criminoso e
de seu percurso na criminalidade, partindo de uma
abordagem fenomenológica do autor da ação delituosa
(Debuyst).

Pinatel, defende a criminologia clínica como o meio de se


estudar os fatores que conduzem ao ato delinquente e a
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identificar dos traços psicológicos subjacentes a este.


Defende o ponto de vista segundo o qual, não haveria, nos
criminosos em geral, tipos psicopatológicos classificáveis
dentro das categorias psiquiátricas tradicionais mas, no
máximo, conjugações de traços de personalidade,
agrupados de uma forma específica. Esses traços é que
definiriam a tal Personalidade Criminosa e, esta sim, seria
determinadora do comportamento delinquente. Poderemos
sintetizar essa posição nos seguintes pontos:

(a) o criminoso é um homem como outro qualquer, só se


diferenciando por uma maior aptidão para ato criminoso;

(b) a personalidade criminosa seria descrita através de


traços psicológicos agrupados numa determinada
característica;

(c) essa característica englobaria os traços de


agressividade, egocentrismo, labilidade e indiferença
afetiva, sendo estes os elementos responsáveis pelo ato
delituoso, enquanto as variáveis, tais como o
temperamento, as aptidões físicas, intelectuais e
profissionais, as razões aparentes, e as necessidades
seriam responsáveis pelas diferentes modalidades desse
ato;

(d) a personalidade criminosa, considerada na sua


globalidade, seria dinâmica em relação aos seus diferentes
traços constitutivos e adaptabilidade social.

Partindo da noção de Personalidade Criminosa, específica


de cada criminoso e composta por um conjunto de traços
em atuação dinâmica, diferentes investigadores chegarão
a resultados diversos e, por vezes, contraditórios. Assim, por
exemplo, LeBlanc e Fréchette, estudando a personalidade
delinquente ao longo da infância e adolescência, concluem
pela existência de uma Síndrome da Personalidade
Delinquente.

Esta síndrome comportaria uma estrutura específica com


os seguintes sintomas: inclinação criminosa, anti-
sociabilidade e egocentrismo, cada um deles sofrendo
desenvolvimentos diversos ao longo do tempo. De acordo
com esses autores, os traços psicológicos específicos do
delinquente seriam responsáveis pela maneira de valorizar
o impacto que as circunstâncias sociais causarão.

Numa perspectiva pouco diferente, Eysenck defende que o


comportamento criminoso é o resultado da interação entre
fatores ambientais e características hereditárias, o que todo
mundo já sabe há tempos. Porém, ele atribui uma
importância fundamental às características hereditárias e
desenvolve uma teoria bio-psicológica da personalidade.

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De qualquer forma, também Eysenck acaba defendendo a


existência de uma Personalidade Criminosa, composta por
um conjunto variável de traços psicológicos característicos
do delinquente e responsáveis pelos seus atos
transgressivos.

Entretanto, Debuyst, apesar de contestar o conceito da


Personalidade Criminosa, tal como era definido, e apesar
também de alegar que este conceito é uma visão ingênua
da realidade por ser estática e determinista, não consegue
se desvencilhar da ideia de uma personalidade inclinada à
contravenção, como todos os outros. Ele recomenda
analisarmos a delinquência a partir de três aspectos
fundamentais; a posição que o sujeito delinquente ocupa
na sociedade, os processos que resultam de suas múltiplas
interações sociais e, finalmente, as características de sua
personalidade.

A diferença é que ele aceita, com mais facilidade, um


aspecto dinâmico da personalidade, consequentemente,
acaba considerando que a criminalidade não é um
fenômeno estático e nem obrigatório. Acha que seria
ingênuo acreditar que um conjunto fixo de elementos,
sejam esses elementos os traços, estilos ou qualquer outro
conceito determinista, estivesse na base de todo o
comportamento transgressivo indistintamente.

Finalmente, dando um passo além do aspecto dinâmico da


personalidade proposto por Debuyst, tal como um devir não
totalmente determinado por circunstâncias várias, surge F.
Digneffe defendendo a ideia de que o indivíduo é sim
responsável, dependendo dele a construção do seu próprio
mundo e projetos. Digneffe dedica-se ao estudo das
maneiras como o sujeito faz a gestão da sua vida, como
elabora seus aspectos relativos à ética, aos valores e ao
desenvolvimento moral, acabando por adquirir uma
característica pessoal de acordo com a adoção de seu
próprio modelo existencial. A autora se detém, sobretudo,
nos casos onde a delinquência é uma forma de gestão de
vida escolhida pelo indivíduo.

Personalidade Psicopática

O prof. Eunofre Marques adotava a denominação


de Personalidade Psicopática Amoral (ou, simplesmente,
PP). Diz ele: “O PP amoral é um indivíduo incapaz de
incorporar valores. Ele funciona sempre na relação prazer-
desprazer imediato.

São indivíduos incapazes de se integrar a qualquer grupo,


devido ao seu egoísmo absoluto e a não aceitarem
qualquer tipo de regras. Só o que eles querem é o que
interessa. No início, eles até fazem amizades com facilidade

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mas, diante dos primeiros conflitos, a sua amoralidade


aparece em todo o seu potencial.

Terminam por ser rejeitados pelos grupos em pouco


tempo. São, por isso, em geral indivíduos solitários, que
migram de grupo em grupo até que não restem mais
grupos para os aceitarem” (o site do prof. Eunofre Marques
saiu do ar).

Esse transtorno pode aparecer precocemente, em tenra


idade e, conforme diz ainda o prof. Eunofre Marques: “Ainda
crianças já aparece o seu componente amoral, por não
aceitarem regras jamais, não respeitarem qualquer limite e
terem um comportamento absolutamente inadequado na
escola, de onde são frequentemente expulsos.

Já na adolescência tendem francamente para a


marginalidade e tentam integrar-se aos grupos marginais
mas mesmo esses, com a sua ética marginal rígida, logo o
rejeitam.

Quando pressionado pelo ambiente, especialmente em


ambientes fechados, como numa penitenciária, eles atual
de modo primoroso, como que absorvendo os valores
rígidos do meio. No entanto, é só surgir uma pequena
brecha nas regras para que a sua amoralidade venha
plenamente à tona.

Boa parte deles não chega à idade adulta porque,


misturados com os marginais, acabam sendo mortos por
estes. Mesmo assim, chegando à idade adulta, terminam
por serem recolhidos a alguma penitenciária, onde eles são
encontrados com freqüência. Mesmo dentro da
penitenciária a sua existência está sendo constantemente
ameaçada, porque não se integram a nenhum dos grupos
que lá se formam.

Aqueles que têm um nível de inteligência superior


conseguem parcialmente, utilizando-se dos recursos
cognitivos, manterem-se relativamente integrados no meio
até a idade adulta mas, mesmo estes, acabam por serem
expulsos do seu meio e também vão parar nos presídios. O
PP amoral é o exemplo do fracasso do ser humano”.

Conforme diz Nelson Hungria, ex-Ministro do supremo


tribunal federal:

“… Mais prudente ou ponderado deve ser ainda o


prognóstico quando se trate dos desconcertantes
“anormais psíquicos” ou “portadores de personalidade
psicopática”, cuja periculosidade (também
aprioristicamente presumida pela lei) é manifestação de
uma personalidade constitucionalmente defeituosa e não
oportunamente corrigida; ou quando se trate de indivíduos

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que não se apartam sensivelmente do tipo do “homo


medius”, mas cuja personalidade se formou
inadequadamente, por deficiência de aquisições éticas ou
ineducação dos instintos, ou veio a deformar-se pela
adoção de hábitos contrários à dominante moral jurídico-
social“.

Perfil do Criminoso Psicopata

Apesar da aparência dos psicopatas não mostrar nenhuma


característica específica, a grande diferença está nas
atitudes. Com raciocino rápido e enorme capacidade de
manipulação essas pessoas são capazes de qualquer
manobra para satisfazer seus desejos e prazeres.

Na realidade, não são todos os sociopatas criminosos.


Porém quando são, distinguem-se dos outros delinquentes
pelo perfil de caráter. São afetivamente frios, impulsivos,
violentos, cruéis, amorais e consideram os outros como
objetos de suas manobras.

Conhecer os perfis criminosos pode ser um instrumento útil


na investigação de crimes violentos. No histórico dessas
pessoas podem ser identificados, ainda na infância,
características suspeitas de algum transtorno, porém, só
podemos falar em psicopatia a partir dos 18 (dezoito) anos.
Por convenção, antes dessa idade o mesmo quadro é
chamado de Transtorno de Conduta.

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Uma das características mais contundente do caráter


sociopático é a ausência de empatia, utilização de mentiras
seguidamente, habilidade para manipular pessoas
desconsideração pelos sentimentos alheios, egoísmo
exacerbado, ausência de culpa e compaixão,
responsabilização de terceiros por seus atos, ausência de
medo de ser pego, impulsividade e a incapacidade para
aprender com a experiência.

As demonstrações de amizade, consideração, carinho e


solidariedade por parte do sociopata, quando presentes, é
sempre com intenção de conquistar apoio e simpatia para
satisfazer seus planos danosos no futuro. Através de
atitudes assim, cordiais e simpáticas, os sociopatas
conquistam com facilidade o carisma e a simpatia das
pessoas, preparando terreno para a mentira e a sedução,
para atrair e manipular suas vítimas. Não se importam com
o que é amoral ou moral, pois são incapazes de fazer
diferenciação.

Na Classificação Internacional de Doenças, a psicopatia


está inserida no grupo da Personalidade Dissocial (Código
F60.2), que é a perturbação da personalidade que se
caracteriza pelo desprezo social e total ausência de
empatia para com terceiros.

Os psicopatas não devem ser considerados alienados,


loucos, sem noção do que fazem. Eles têm perfeita noção
do caráter de seus atos, sabem distinguir o certo do errado.
A deficiência está na área afetiva e ética.

A Personalidade Dissocial é um transtorno da


personalidade, ou seja, é uma variação dos traços de
caráter para além da faixa encontrada na maioria das
pessoas, apresenta alterações dos traços de impulso, dos
instintos e alterações do comportamento social e da
conduta.

para referir:

Ballone GJ – Personalidade Criminosa, in. PsiqWeb, internet,


disponível em www.psiqweb.net, revisto em 2019.

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Este artigo é inspirado no trabalho de Celina Manita; “Personalidade Criminal e


perigosidade: da perigosidade do sujeito criminoso ao(s) perigo(s) de se tornar
objecto duma personalidade criminal.”

Celina Manita é Assistente da Faculdade de Psicologia e de Ciências de Educação


da Universidade do Porto e Membro do Centro de Ciências do Comportamento
Desviante

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