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Todos têm cultura e trata-se de um bem universal porque é a rede de relações que
define o desenho de uma comunidade
08/03/2012
Todo e qualquer ser humano tem cultura. Esta é uma das poucas "verdades" da
Antropologia. Apesar disso, muita gente ainda pensa que alguns seres humanos não
têm cultura. Uma minoria crê, firmemente, que sua cultura é superior à dos outros.
Outros, por se julgarem superiores, resolveram eliminar e subjugar os diferentes,
tratando-os como inferiores. E uma grande maioria acostumou-se a pensar que não
tem cultura alguma, ficando à mercê das elites ditas "cultas".
Outro equívoco que rodeia a cultura é quanto ao uso que se faz do conceito. As
definições variam do extremamente amplo ("cultura é tudo aquilo que o homem
acrescenta à natureza" ou "cultura é toda maneira de pensar, agir e sentir dos
homens") ao extremamente específico ("cultura é erudição"). Com o uso
indiscriminado ou interesseiro, a palavra cultura tornou-se expressão esvaziada. Foi o
que nos levou a construir um novo conceito, que fosse ao mesmo tempo operacional,
palpável, mensurável, observável, ético e correto.
Nossa experiência nos autoriza afirmar que onde não há oferta de formas
organizativas em quantidade (e por isso há poucas oportunidades de participação e de
protagonismo), o tempo de resposta aos problemas é muito lento. O tempo de rotinas
aumenta e o tempo de desejos e desafios decresce. A lentidão é observada na falta de
vontade e ambição das pessoas, principalmente dos jovens, na baixa estima social da
coletividade, no comodismo e atraso em relação a outras comunidades.
Isso explica por que as jovens do "sertão das gerais", aos 17 ou 18 anos, começam a
ficar "desesperadas" porque ainda não se casaram, "porque já passaram da época". É
que, na percepção delas, o tempo de juventude e de sonho já se realizou. Elas vivem
em cidades que não têm cinema, grupo de teatro, biblioteca, festas populares,
locadora de vídeos, grupos de jovens, coral ou banca de jornais. Não acontece nada
nos fins de semana e muito menos no meio da semana. O mundo externo entra
filtrado pela tela da TV ou pelas ondas do rádio. Por isso a maioria tem na própria TV
(ou rádio) o seu instrumento de formação de "capital social", ou seja, há um crescente
processo de terceirização do desejo e alienação da vontade, gerando a não-
participação e o não-protagonismo.
Com esses indicadores construímos o "nosso" modelo de Cultura: esta rede e trama de
relações que forma um padrão ou um desenho definidor da identidade da comunidade
ou grupo social. E podemos pensar em processo cultural como a interação e as
dinâmicas que afetam o padrão ou desenho. Assim, entendemos que um "projeto de
desenvolvimento" (de qualquer natureza) é uma ação-intervenção planejada no
desenho cultural (e suas relações) de uma comunidade.
Sobre o autor
Fonte: http://www.ondajovem.com.br/acervo/3/as-tramas-da-identidade