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A cultura

“A cultura não é um mero suplemento de que usufruem as sociedades humanas por contraste
com as sociedades animais. É ela que institui as regras-normas que organizam a sociedade e
governam os comportamentos dos indivíduos; constitui o capital coletivo dos conhecimentos
adquiridos, dos saberes práticos aprendidos, das experiências vividas, da memória histórico-
mítica, da própria identidade de uma sociedade.”
Edgar Morin

IQRA FIAZ

12 ANO LH2

PSICOLOGIA
O que é a cultura?
A cultura é a totalidade dos conhecimentos, das crenças, das artes, dos valores, das leis, dos
costumes e de todas as outras capacidades e hábitos adquiridos pelo Homem enquanto membro
da sociedade. Assim, as crenças englobam as diferentes religiões, as ideologias políticas e as
ideias acerca da natureza humana. Os valores englobam a atribuição a certos comportamentos,
qualidades e objetos. Enquanto, as leis e normas regulam a vida em comum, as artes exprimem
os modos de uma determinada sociedade. Por fim, os costumes são modos de interação social, de
comportamentos, de apresentação á sociedade e englobam os rituais de saudação, os modos de
preparar alimentos e de os consumir, as celebrações e os modos de vestir. Todos estes elementos
encontram-se organizados no todo cultural, isto é, mudam e influenciam-se mutualmente. Assim,
os elementos simbólicos, como as crenças, os valores e as normas materializam-se nas múltiplas
produções culturais, nomeadamente em peças e roupa, em instrumentos e em matérias-primas
utilizadas.
A cultura, ao longo da vida, traduz-se em múltiplas consequências na forma como cada um
pensa, sente e se comporta. Mas nem tudo o que somos resulta da influência da cultura, pois,
para além de sermos produtos da cultura, também somo produtores de cultura. Somos produtores
de cultura, uma vez que cada geração dá a uma cultura o seu contributo, ao encontrar novas
normas e valores, ao inventar novas formas de relacionamento ou de realização. Assim, cada
geração herda a cultura, trabalha-a acrescentando, desta forma, as suas contribuições.
A cultura varia no tempo e no espaço, varia com as épocas e momentos históricos, assim como
varia de lugar para lugar, pelo que não há única cultura, mas múltiplas culturas. As diferentes
culturas refletem as diferentes maneiras como as diversas comunidades organizam e integraram
os acontecimentos da sua História, as suas necessidades de sobrevivência e as exigências do
meio onde vivem. Os fatores que contribuem para o aparecimento de diversas culturas são, o
espaço geográfico, isto é, o habitat, as criações que se vão desenvolvendo, o que acontece ao
longo do tempo e o contacto que se vai estabelecendo com as outras culturas.
A cultura está presente em todas as sociedades e desempenha um papel decisivo no duplo caráter
da espécie humana: a sua unidade e sua diversidade. A cultura constitui o ser humano dos outros
animais. Não basta conhecer a nossa evolução biológica para compreender o que somos. Os
hominídeos sofreram uma série de mudanças até se atingir o ser humano: posição erecta,
libertação das mãos e desenvolvimento cerebral. Mas o factor humanizador decisivo foi o
surgimento da cultura. A cultura- como conjunto de informação e de conhecimentos adquiridos
por aprendizagem na interação social- é o produto mais característico e diferenciador da nossa
evolução.

A transmissão cultural como fator humanizador: não basta nascer


homem porque temos de nos tornar humanos
“Será preciso admitir que os homens não são homens fora do ambiente social, visto que aquilo
que consideramos ser próprio deles, como o risco ou o sorriso, jamais ilumina o rosto das
crianças isoladas.”
Lucien Malson »Livro As Crianças Selvagens»
Esta citação chama a atenção para a ligação entre a participação em contextos sociais e culturais
particulares e modos como nos tornamos humanos. Tornamo-nos humanos através da
aprendizagem de formas partilhadas e reconhecíveis de ser e de nos comportarmos.
A capacidade humana de, continuamente, transformar o meio em que vive, adaptando-o a si, de
aprender formas de lidar com o ambiente e de inventar novas maneiras de o fazer, aumentou, ao
longo do tempo, as hipóteses de sobrevivência dos seres humanos. A prática destas capacidades
criou necessidades de coordenação e de cooperação entre seres humanos, bem como o
desenvolvimento de novas capacidades para o fazer. Disto são exemplos as capacidades de
comunicar utilizando linguagens complexas, a escrita, a ornamentação do corpo, etc. O exercício
destas capacidades conduziu ainda á criação de modos particulares de ser e de viver em conjunto.
É a cultura que confere ao indivíduo características humanas.
“A partir do primeiro momento do nascimento, um bebé começa a sentir o impacto da cultura: na
maneira como vem ao mundo; na maneira como o cordão umbilical é cortado e amarrado; na
forma como é levado e segurado e na maneira como é enfaixada ou vestido.”
Titiev, M., Introdução á Antropologia Cultural, 1985, p.13
O caso das crianças selvagens permite que percebas melhor o papel da cultura na definição do
que é ser humano. O termo “crianças selvagens” é utilizado para referir as crianças que
cresceram privados de todo o contacto humano, ou cujo contacto com outros seres humanos foi
mínimo. Abandonadas, perdidas ou vítimas de situações de abuso, estas crianças sobreviveram
em isolamento ou na companhia de animais até terem sido encontradas ou recolhidas por outros
seres humanos.
Em termo das suas características mais gerais, as crianças selvagens, no momento em que são
encontradas, possuem uma linguagem sobretudo mímica, em alguns casos imitativa dos sons e
gestos dos animais com que conviveram. A sua linguagem verbal é quase sempre nula ou muito
reduzida e varia de caso para caso, conforme o tipo de isolamento e a idade a partir da qual este
aconteceu.

O seu comportamento social não é, em geral, orientado para outros seres humanos, nem segue
os mesmos padrões, podendo aproximar-se, em alguns casos, do dos animais com que
interagiam. As crianças selvagens não choram nem riem, manifestam dificuldades no controlo
emocional e têm de aprender e exprimir as suas emoções e a reconhecer emoções no rosto das
pessoas com quem interagem.
Nem sempre é fácil reconhecer a humanidade destas crianças. Os modos como se relacionam
como os outros e com o mundo provocam em nós ema estranheza fundamental. Elas são
humanas, mas é-nos difícil, a muitos níveis, relacionar a nossa experiência com a delas,
compreender a forma como sentem, pensam e agem. Não nos reconhecemos nelas, elas não se
reconhecem em nós. As suas capacidades, as características dos seus corpos, as suas frequentes
cicatrizes e marcas, quer físicas, quer mentais, mostram-nos como dependemos de outros, do
contacto físico e sociocultural com eles, para nos tornarmos os seres humanos que somos.
Cultura é a forma como o ser humano se adapta ao meio, o modo como o transforma e o
transmite ás gerações seguintes. A cultura distingue o ser humano dos outros animais. Alguns
casos ficaram célebres: Victor de Aveyron, Amala e Kamala, e Gennie estão entre os mais
conhecidos; em Portugal temos o caso de Isabel. O estudo destes casos tem vindo a contribuir
para a compreensão do papel das interações sociais no desenvolvimento do ser humano.
A história do menino selvagem e de outras crianças que perderam o contacto como o mundo
social humano ou que nunca o tiveram torna evidente uma verdade dificilmente discutível: sem o
conjunto de interações sociais do qual tem de participar toda e qualquer criança, não há
humanidade. Já Aristóteles dizia que «um ser humano isolado ou é um deus ou um animal, mas
não é verdadeiramente um ser humano». Poderíamos dizer, embora não haja comprovação
científica, que, se nascemos programados para aprender, nascemos também programados
geneticamente para nos relacionarmos com os outros. Sem um meio cultural humano a que
pertençamos desde o início da vida, não desenvolveremos as capacidades e características que
fazem de nós membros do género humano. A transmissão cultural que começa mal sai do útero
materno para o «útero social» visa antes de mais tornar-nos humanos. Não nascemos humanos.
Tornamo-nos humanos. Isso significa que temos de aprender a ser humanos.
Portanto, podemos dizer que o contacto social nos primeiros anos de vida é decisivo para a
aprendizagem das diferentes competências humanas, uma vez que as estruturas genéticas passam
por um processo de maturação sujeito a prazos. Isto é, como se diz popularmente “há uma idade
para tudo”: se uma criança não aprende a falar nos primeiros anos, posteriormente terá graves
dificuldades em comunicar verbalmente.
Estando presente em todas as sociedades, a cultura pode ser abstratamente pensada como sendo
universal. No entanto, a enorme diversidade de culturas que existem num mundo obriga-nos a
falar de modelos específicos ou de padrões culturais, que incluem as regras sobre o que é
aceitável. Os padrões culturais dizem respeito a maneiras próprias e tipificadas de pensar, sentir e
agir específicas de uma determinada cultura.
Os padrões culturais são, o conjunto de comportamentos, práticas, crenças e valores comuns aos
membros de uma determinada cultura, por exemplo, vestimo-nos, cumprimentamo-nos de
maneira diferente, consideramos adequado ou desadequado exprimirmos certas emoções em
determinados lugares ou situações, etc. Assim, os padrões culturais, ao influenciarem as
atividades, os modos de relação entre as pessoas e os significados que lhes estão associados,
ajudam a determinar, para um dado grupo cultural, quais são as experiências comuns e o que
estas experiências podem significar. A nossa cultura exerce uma forte influência na forma como
pensamos e sentimos, naquilo que consideramos bonito ou feio, bom ou mau, aceitável ou
inaceitável, a roupa que usamos, o que comemos, o modo como nos relacionamos e o que é
normal ou anormal. Concluindo, cada padrão cultural muda permanentemente através da ação
criadora de cada um dos seus membros e através do contacto com outras culturas.
A aculturação é o processo que decorre do contacto entre elementos culturais, isto é, o conjunto
de fenómenos resultantes do contacto contínua entre grupos de indivíduos pertencentes a
diferentes culturas, assim como às mudanças nos padrões culturais de ambos os grupos que
decorrem desse contacto. Assim, muitas vezes dá-se o aparecimento de criações culturais novas,
mas também o desaparecimento e a destruição de elementos culturais.

A transmissão cultural realiza-se numa determinada sociedade: o


processo de socialização
A cultura e padrões culturais não nascem connosco. É necessário que cada indivíduo aprenda,
interiorize, partilhe e valorize as orientações dos meios sociais e culturais em que se
desenvolverá a sua vida. O processo pelo qual o indivíduo interioriza o padrão cultural e o
modelo coletivo de agir, pensar e sentir característicos dos grupos de pertença designa-se
socialização e dele resulta a identidade social e cada um de nós e o sentimento de pertença.
A socialização é o processo através do qual cada um de nós aprende e interioriza os padrões de
comportamento, as normas, as práticas e os valores da comunidade em que se insere. Desta
forma, permite não apenas a integração de cada pessoa no grupo, mas também a reprodução
deste mesmo grupo e das suas formas de organização. Assim, a socialização refere-se, por um
lado, às formas como cada pessoa interioriza e prende os elementos socioculturais que estão à
sua volta e, por outro lado, acontece enquanto essa pessoa participa, age e se comporta, em
diversas relações, práticas e instituições.
Deve notar-se que socializar não é «programar socialmente» um indivíduo, como se fôssemos
totalmente determinados pelo que nos transmitem. Também somos agentes da nossa própria
socialização, ou seja, indivíduos socialmente ativos. Não nos limitamos a guardar o que nos é
transmitido. Reagimos, protestamos, propomos mudanças, inovamos.

Socialização primária e secundária


Já o sabemos. Precisamos de aprender quase tudo. E aprendemos toda a vida. O nosso
comportamento é socializado- adaptado ao meio a que pertencemos e em que vivemos – durante
toda a vida. Contudo, é muito mais intenso durante os primeiros anos de vida (sobretudo durante
a infância).
Os psicólogos e sociólogos distinguem dois tipos de socialização: a socialização primária e a
socialização secundária.
A socialização primária ocorre durante os períodos de crescimento nos grupos primários de
socialização (família, vizinhança, jardins-de-infância e escola) e é responsável pelas
aprendizagens mais básicas da vida em comum, ou seja, traduz-se na aprendizagem dos
comportamentos considerados adequados e reconhecidos como formas de pensar, sentir, fazer e
exprimir próprias de um determinado grupo social.
A socialização secundária ocorre sempre que a pessoa tem de se adaptar e integrar em situações
sociais especificas, novas para o individuo (mudança de escola, primeiro emprego, reforma,
casamento, divorcio e nascimento de um filho) nos grupos secundários de socialização (empresas
e associações) e é responsável pela criação de oportunidades e desafios que vão implicar
aprendizagens novas e uma adaptação dos indivíduos a novas realidades sociais e ao
desempenho de novos papéis.

Socialização e individuação: a identidade pessoal


Cada um tem uma história pessoal que nos individualiza. Desde o nascimento cada pessoa
acumula um conjunto de experiências vividas com os outros, que marcam cada um de nós,
tornando-nos únicos e distintos de todos os outros, pois essas experiências deixam-nos marcas na
nossa forma única de ser que nos distingue dos outros e que fazem parte integrante da nossa
história pessoal.
As experiências vividas, como os encontros amorosos, a ausência de familiares e amigos, a
mudança de terra e as doenças, constituem um elemento fundamental da nossa vida. A ligação
que cada um estabelece com estas experiências faz-se através dos significados que cada um lhes
atribui. Por exemplo, duas pessoas gostam de ir á escola, mas isso pode ter dois significados
distintos para essas das pessoas, isto é, uma delas pode gostar porque a escola é o local onde
estão os seus amigos e a outra pode gostar porque gosta de aprender. Ao construir os significados
para as suas experiências, cada ser humano integra a sua forma pessoas de ver, sentir e agir sobre
o mundo, ou seja, cada ser humano atribui significados pessoais às experiências que vive.
Através da ação dos processos de auto-organização sobre seu fluxo de experiências, os seres
humanos constroem-se agindo no mundo, organizando-se no seu desenvolvimento com o mundo.
A capacidade que temos de integrar as experiências na nossa história pessoal, de as organizar e
de lhes atribuir um significado, permite-nos construir permanentemente a continuidade e a
coerência de um sentido de nós próprias e do mundo. Cada um de nós age no seu ambiente de
forma a manter a continuidade do seu sentido de si e a compreensibilidade da nossa experiência
faz com que seja possível reconhecer que continuamos a ser a mesma pessoa e que o nosso
mundo é ainda o nosso mundo. Assim, os seres humanos não só criam a sua história pessoal
como também transformam o seu ambiente físico e sociocultural. Por isso, os seres humanos são
seres capazes de autonomia, ou seja, são seres capazes de participar nos processos de
transformação e determinação de si e dos seus ambientes socioculturais.
A adaptação é frequentemente entendida como uma característica das respostas dos organismos
ao seu contexto. O processo de adaptação dos seres humanos processa-se na interação entre o ser
vivo e o seu meio, ou seja, não só o ambiente desafia e age sobre os seres humanos como
também estes desafiam e agem sobre o ambiente, transformando-o.

A riqueza da diversidade humana


Todos os seres humanos partilham características comuns que os tornam distintos de qualquer
outra espécie, mas, ao mesmo tempo, todos são diferentes, pois há uma grande diversidade
biológica. A hereditariedade específica é o conjunto de características de uma espécie, enquanto
a hereditariedade envolve uma progressiva diferenciação nos seres humanos, pois o programa
genético é um conjunto de instruções que favorecem a variação individual e, para além disso, o
processo de desenvolvimento que ocorre em contexto social vai aprofundar as diferenças que a
hereditariedade já se encarregara de assegurar. Outro fator que poe a nossa diversidade mais
visível é a diversidade cultural, pois a cultura em que estamos inseridos irá tornar distintas
maneiras de pensar, estar, ser e de nos comportamos. A nossa diversidade individual é
assegurada pela construção da história pessoal, pois implica encontrar um significado para o que
se vai sucedendo, para a maneira como acontece, para as suas acções e as dos outros, para aquilo
que pensa e sente relativamente a tudo isto. Ao fazê-lo, cada pessoa torna parte de si, utiliza e
recria não só o seu corpo e o seu cérebro, mas também o seu património cultural e as suas
aprendizagens e vivências sociais. A especificidade de cada grupo ou pessoas deve ser
valorizada, pois é na diversidade humana, na diferença de cada um realizar e organizar as várias
dimensões, que reside a riqueza do ser humano.
Portanto, os contextos culturais condicionam a forma como pensamos e nos comportamentos.
Um bom exemplo disso são os resultados dos estudos sobre perceção visual com base em
imagens pictóricas. Povos de culturas diferentes divergem na atribuição de significados. Os seres
humanos que habitam o planeta são biológicos e culturalmente muito distintos entre si. As
diferenças (tal como as semelhanças) entre indivíduos, grupos e comunidades têm origem na
biologia (diversidade biológica), na cultura (diversidade cultural) e na história e experiência
pessoal (diversidade de percursos). Assim, a diversidade cultural constitui uma riqueza, e não
uma desvantagem, para a humanidade.

Exemplos de diversidade cultural: religião


“Se oferecêssemos aos homens a escolha de todos os costumes do mundo, aqueles que lhes
parecessem melhor eles examinariam a totalidade e acabariam preferindo os seus próprios
costumes, tão convencidos estão de que estes são melhores do que todos os outros”.
Heródoto (historiador grego- séc. V a.C.)
Assim, a carne da vaca é proibida aos hindus, da mesma forma que a de porco é interditada aos
muçulmanos. Como o nudismo é uma prática tolerada em certas praias europeias, enquanto nos
países islâmicos, de orientação xiita, as mulheres mal podem mostrar o rosto em público.

Islamismo
Islão ou islamismo é uma religião articulada pelo Alcorão, um texto considerado pelos seus
seguidores como a palavra literal de Deus (Alá), e pelos ensinamentos e exemplos normativos de
Maomé considerado pelos fiéis como o último profeta de Deus. Um adepto do islão é chamado
muçulmano. Os muçulmanos acreditam que Deus é único e incomparável e o propósito da
existência é adorá-lo. Eles também acreditam que o islão é a versão completa e universal de uma
fé primordial que foi revelada em muitas épocas e lugares anteriores, incluindo por meio de
Abraão, Moisés e Jesus, que eles consideram profetas. Os seguidores do islão afirmam que as
mensagens e revelações anteriores foram parcialmente alteradas ou corrompidas ao longo do
tempo, mas consideram o Alcorão como uma versão alterada da revelação final de Deus. Os
conceitos e as práticas religiosas incluem os cincos pilares do islão, que são conceitos e atos
básicos e obrigatórios de culto, e a prática da lei islâmica, que atinge praticamente todos os
aspectos da vida e da sociedade, fornecendo orientação sobre temas variados, como sistema
bancário e bem-estar, á guerra e ao meio ambiente.
Comparação entre Judaísmo Cristianismo e Islamismo
Apesar do cristianismo defender uma origem judaica, o judaísmo considera o Cristianismo uma
religião pagã. Apesar de existência de judeus convertidos ao cristianismo e outras religiões, não
existe nenhuma forma de judaísmo rabínico que aceite as doutrinas do Cristianismo como a
divindade de Jesus ou a crença em seu caráter messiânico. Há movimentos, como judaísmo
messiânico que tentam conciliar a crença em jesus como messias e a identidade judia. Algumas
ramificações tentaram ver jesus como profeta, mas hoje esta visão também é descartada pela
maioria dos judeus. O islamismo toma diversas de suas doutrinas do judaísmo, sendo que as duas
religiões mantêm seu intercâmbio religiosos desde a época de Maomé, com períodos de
tolerância e intolerância de ambas as partes. O recente conflito palestino-israelense, o que
envolve entre parte da população muçulmana e dos judeus devido á questão do controle de
Jerusalém e outros pontes políticas, históricos e culturais fomentou ainda mais a divergência
entre judaísmo e islã. A islã reconhece os judeus como um dos povos do Livro, apesar de
acreditarem que os judeus sigam uma Torá corrompida. Já os cristãos acreditam que os judeus
estão seguindo o caminho errado negando a Jesus como o único messias e salvador, e que foram
previamente avisados sobre isso pelos profetas e pelo próprio Jesus quando esteve entre eles.
Condenam o islamismo da mesma forma por descrer em Jesus como messias, e não consideram
Maomé como um profeta escolhido por Deus, já que o último profeta revelado no segundo
testamento seria João Batista. Embora ambas religiões tenham nascido na mesma região e
partindo da mesma crença mitológica a cultura dos povos acabou por levá-las a caminhos
diferentes e situações de conflitos intensos que desviam ou até abordam o preceito de ambas
religiões.

Os fundamentos religiosos
O poeta hindu Rbindranath Tagore afirmou numa ocasião que «Deus criou o homem, e homem,
para lhe agradecer, criou Deus», exprimindo assim a perplexidade do ser humano perante o facto
da sua própria existência e a do universo. A partir desta perplexidade fundaram-se todas as
religiões, entendidas como sistemas que, através de normas morais e fórmulas rituais
estabelecem um vínculo espiritual entre um Criador original e o ser humano e ao mesmo tempo
regulam, individual e coletivamente, os eus interesses e destinos.
Estes sistemas constituem os portentosos suportes sobre os quais assentaram e assentam os
edifícios culturais das civilizações e, consequentemente, intervieram de modo decisivo no
desenvolvimento da natureza moral dos seres humanos. Por esta razão, convém sublinhar
resumidamente o papel que a religião teve na configuração dos sistemas de valores que regem as
sociedades contemporâneas.
Sem desprezo por outros grandes religiões ou filosofias, como a hebraica ou a budista,
destacaremos o cristianismo e o Islão, por serem dois dos principais eixos religiosos do mundo
atual- duas forças milenárias nascidas de um tronco dogmático comum, embora de diferentes
formulações organizativas e atitudes perante as transformações do mundo; duas forças espirituais
que, no seu propósito de revitalizar os valores religiosos que as inspiram, revelam o seu
desconcerto e uma certa impotência perante uma realidade dominada por um pensamento
utilitarista.

“Os processos psicológicos influenciam a cultura. A cultura influencia os processos psicológicos.


Os pensamentos e as ações dos indivíduos influenciam as normas e as práticas culturais na forma
como estas evoluem ao longo do tempo, e estas normas e práticas influenciam os pensamentos e
as ações dos indivíduos”.
“Psychology and culture”
Não é simples ser humano. Sem a cultura, sem as possibilidades de desenvolvimento que nos
proporciona crescermos num contexto cultural particular, seríamos seres incompletos,
inacabados. Nascemos, crescemos e vivemos em contexto socioculturais muito variados. É
nestes que se desenvolve, em interação uns com os outros e com os diferentes ambientes e
situações de aprender, a capacidade de criar e de transformar subjacente ao processo de
adaptação.
Quando olhamos para a forma como nos tornamos seres humanos através da participação em
relações com outros seres humanos, percebemos que somos, mesmo biologicamente, seres
sociais e culturais. Tornamo-nos humanos num meio que já possui em si estrutura e conteúdo,
que possui outras pessoas organizadas em sociedades e que possui formas culturais de ser e de
viver. Por isso se torna tão importante considerar o processo de socialização. O processo de
integração numa sociedade e cultura particular, indispensável para todos nós, faz com que a
diversidade cultural, dos contextos socioculturais onde nos inscrevemos, se traduza em formas
distintas de estar, de pensar, de ser e de nos comportarmos. Podemos observá-las á nossa volta
ou procurando informações sobre lugares distantes. Devemos tê-las em atenção não só quando
olhamos para os outros e os procuramos conhecer, mas também quando nos tentamos
compreender e nós próprios e á forma como somos.
Todos nós somos seres humanos diferentes e semelhantes. Ás vezes parecemos mais iguais, ás
vezes mais diferentes. Não só diferem os nossos corpos como o que neles se inscreve á medida
que crescemos num determinado lugar, numa determinada comunidade com as suas culturas
específicas. É mais fácil percebermos semelhanças relativamente àqueles que partilham
connosco a sua vivência cultural. Os outros são diferentes: no que fazem, no que usam, na forma
como pensam e sentam, na forma como vêem no mundo e vivem nele. As culturas comunicam
como os seus membros e com outras culturas, transformando-se mutuamente.
A cultura tem um impacto muito poderoso naquilo que somos. Compreender a forma como
nascer, crescer e participar em diferentes culturas nos torna pessoas com certas características,
compreender e diversidade cultural, tê-la em conta, é fundamental para que possamos perceber e
refletir sobre a realidade, sobre o que são os outros e o que somos nós, sobre a forma como cada
um pensa, sente e age.

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