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Os Estudos Culturais (continuação, pois Miguel não me permitiu continuar na

Biblioteca)

Os Estudos Culturais surgiram numa escola numa escola noturna para adultos, a Workers'
Educational Association, voltada à integração dos trabalhadores, com uma forma de ensinar
que fosse mais acessível, e capaz de preparar para ação frente à problemas sociais reais!

Diante disso, os professores mudaram a linguagem, com questões mais próximas às


realidades das turmas; o currículo, e inseriram nas aulas elementos de cultura e comunicação
em massa, a fim de conectar o que os discentes conheciam aos novos saberes por construir!

Para os estudantes, os fenômenos culturais também eram uma via para compreender o
mundo que os cercava. Pensar sobre eles, conferir-lhes-ia uma habilidade capaz de prepará-los
para fazer mudanças sociais!

A Literatura inglesa foi inserida nas Universidades tardiamente (final do século XIX e início
do XX), foi bastante importante para esse processo. O crítico F. R Leavis acreditava que a
Literatura era central para a cultura, unia passado e presente, revelando-se, um patrimônio
que resguardava a riqueza cultural e os valores de um povo, portanto, estudá-la era exercê-los
em sociedade.

Para Leavis, deveria se retirar a Literatura das mãos dos leitores da aristocracia e ensiná-la
a outra minoria, que a valorizasse como patrimônio e a distinguisse da cultura das massas. Sua
missão educacional era preparar esse grupo ("privilegiado")!

Para isso, era contrário à crítica literária pautada no gosto do estudioso, propondo o close
reading, leitura “fechada” do texto, considerando as interpretações como oferecidas pela
organização e articulações internas da massa verbal..

Nesse contexto analítico, pois, é necessário descobrir o correlato objetivo, o modo como
imagens do texto são construídas, o conjunto de elementos, selecionados e combinados
artisticamente de maneira a produzir uma imagem poética, que revela algum aspecto do eu
lírico (entidade poética, não empírica), bem como gerar emoção estética no leitor, percepção
da complexidade da composição, a partir da leitura, que o faz refletir sobre a escritura e sobre
questões humanas universais, não apenas as circunscritas à emoção do autor (impossível de
apreender pelo texto). Exemplo: Em "Meio dia na Sé", a construção do texto faz com que a
experiência do beijo seja universal!

Além disso, o close reading é um convite ao abandono das falácias: da emoção, busca do
que o autor sentiu; da intenção, o que o autor quis dizer com o texto; da heresia da paráfrase,
decodificação da "mensagem" textual; da busca de ensinamentos ou transmissão de valores
morais.

Problemas:

1. o close reading vê a Literatura como um "organismo formal", um sistema a parte,


desligado da realidade, dos conflitos e contradições sociais (o espiritual não está
desvinculado do social);
2. havia um elitismo nessa busca de preparar uma minoria de leitores iluminados para
lidarem com o texto!

"Os novos tempos do pós-guerra [escancaram as desigualdades e conflitos sociais] pediam uma
visão mais democrática e inclusiva de cultura e uma torma mais integrada de ver as formas
culturais como articulações de processos sociais reais" (p. 321). A arte deveria problematizar
aspectos culturais, sociais e humanos!

Autores:

* Richard Hoggart: cultura não se restringe às artes, é todo um modo de vida, de todas as classes,
inclusive a trabalhadora. Investiga como a cultura de massa afeta o tecido de relações das
classes.

* E.P. Thompson: trabalha com a interseção entre História e Literatura, investiga como se forma
a consciência da classe trabalhadora, privilegiando as minorias, em relação à História "oficial" e
aos grupos hegemônicos.

* Raymond Williams: estuda como o conceito de cultura foi se modificando ao longo do tempo,
tornando-se algo que aponta para o abstrato, o absoluto, o intelectualizado, desvinculado do
social e da materialidade da vida, pertencente a uma minoria, detentora de conhecimento e,
como tal, julgadora da arte. O autor defende uma visão ampla de cultura: não é apenas erudição
ou grande arte, mas toda forma de criação, expressão e criatividade dentro da sociedade; é
capaz de comunicar, dizer acerca de seu tempo e espaço, ser vivenciada como experiência...

Além disso, se a cultura nasce no seio social, é algo que não pertence a um grupo, mas deve
ser de todas as pessoas! (POSICIONAMENTO POLÍTICO!)

" [Williams propõe entender a] cultura como produto social, como a produção material de um
sistema de significação através dos quais uma ordem social se comunica, se reproduz, é vivida
como experiência, e explorada como possibilidades e Limites".

Essa amplitude de análise da questão cultural gera um viés político, importante para os
Estudos Culturais: se a cultura é diversa e de todos, os meios de prodizi-la e compreendê-la
também devem alcançar a todos!!! A cultura não pode ser isolada de seu "chão social" (p.
222).

Os Estudos Culturais:

• nascem de um projeto progressista de estender o conhecimento a todas as classes


sociais, já que todas elas se uniram para vencer a Segunda Guerra e o nazi-fascismo, e
combater as desigualdades.
• são interdisciplinares (dialogam com Sociologia, História), estudam inclusive, mídias e
meios de comunicação em massa;
• examinam como as formas de cultura nascem na sociedade, impactam o social,
problematizando suas contrações, necessidades e organização.
• têm interesse por etnografia, tribos e subculturas (Sociologia).
• dão voz a grupos considerados socialmente, como minoritários: pobres, marginalizados,
mulheres, negros, gays, transexuais (História). O cânone tradicional é revisto! 😁
• têm interesse pelas expressões de oralidade e cultura popular. (História).
• procuram evidenciar, no literário, relação entre "forma social e forma estética" (p. 323),
como instâncias interdependentes! (Literatura)
Observação: Nem todo mundo consegue!

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