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Notas Iniciais

Nota da autora isthisselfcare

Esta é uma história que eu queria ler, mas que ainda não parecia existir,
então eu tinha que ser a mudança que eu queria ver no mundo.

O enredo foi escolhido sem remorso pelos bons pedaços - chame-a de


divergente de cânone. Tonalmente, estamos olhando para um humor de
baixo risco com ocasionais momentos sérios. Minha escrita é inspirada (e
parece incrivelmente jejuna ao lado) das obras de Jerome K. Jerome, PG
Wodehouse, Saki, Dickens, Thackeray e, claro, a inimitável Jane Austen.

Não haverá conteúdo de preenchimento do elenco de HP – meu foco é


colocar H e D em situações estranhas e ver quem mata quem primeiro.

Nota da tradutora

Olá, meus bens preciosos!

Venho com mais uma tradução para vocês! Como sabem, toda tradução
que faço é autorizada pela autora da obra original. Também sabem que fic
gringa boa, é fic traduzida por Silver Shades! Essa história tem 36
capítulos, a título de curiosidade para as ansiosas como eu.

Quando comecei a ler, me senti transportada para o enredo, como se


estivesse assistindo a interação do nosso casal. Tem uma boa dose cômica,
mistério, uma tensão maravilhosa entre eles e detalhes que me encantaram
desde o primeiro capítulo! Como farmacêutica, vibrei em cada cena que
trouxe informações sobre temas de saúde.
Há muitas siglas e jogos de palavras americanas/britânicas, mas a
tradução muda seu sentido na maior parte. Sempre que acontecer isso, vou
traduzir normalmente e sinalizar no parágrafo como comentário para
entenderem o que a autora quis dizer, a título de curiosidade mesmo.

Também há muitas ilustrações/fanarts/imagens em alguns capítulos para


ilustrar as cenas. Ponderei muito e decidi que o melhor vai ser fazer o
download delas em seus respectivos capítulos, uma vez que há artes feitas
especificamente para essa história e as artistas não desejam que repostem
o trabalho em outro lugar.

Terceiro: irei fazer diferente com essa fic. Estou nos trâmites de admissão
do meu estágio (aleluia, senhor), e para conseguir me organizar, decidi que
irei postar dois capítulos por semana, ambos às quintas-feiras, então
engajem bastante comigo! Pretendo atualizar 'Atenciosamente, Caelum' às
terças e sábados no futuro, então tudo fica bem distribuído durante os dias.
Qualquer mudança ou exceção, avisarei antes - ou em cima da hora (risos).

Quarto e último item: essa fic tem alguns gatilhos sobre violência e
descrição gráficas de combates e etc. Nada exagerado, ao meu ver, mas
será sinalizado assim como a autora fez na obra original. Como sempre,
final feliz e deliciosamente doce para o nosso casal, não se preocupem;
mas uma boa dose de drama sempre é necessária para o crescimento dos
personagens.

Já coloquem na biblioteca! E no mais, espero que gostem dela tanto quanto


eu!

Uma boa leitura <3


1. Um Ataque Antidesportivo

Bem vindos a mais uma tradução!

Sem delongas porque já disse o que precisava nas notas iniciais (volte lá se
não leu!).

Tenham uma boa leitura!

──── ◉ ────

Como um homem privilegiado, Draco Malfoy poderia ter escolhido uma


vida de lazer, intromissão política e chantagem casual, como seu pai.
Entretanto, sua absolvição pelo Wizengamot foi acompanhada por fortes
recomendações de que o jovem Sr. Malfoy deveria se esforçar por tais
atividades louváveis como o Bem Comum, Altruísmo e Redenção aos
Olhos Públicos.

E então, depois de alguns anos de promiscuidade (e muitas maldições) no


continente, Draco retornou para Londres, onde fez um curto trabalho no
programa de treinamento de aurores – três anos em um ano e meio, é claro
– e se juntou ao nobre escritório. Draco fora estratégico em sua escolha de
carreira, logicamente: ser um Auror oferecia heroísmo suficiente para uma
cobertura positiva nas notícias e assassinatos sancionados pelo Ministério o
suficiente para mantê-lo interessado no trabalho.

Draco era um excelente Auror – algo sobre como quase se tornar um bruxo
das trevas lhe deu insights bastante úteis sobre as mentes de bruxos e bruxas
travessos. O problema com a competência, contudo, era que ela era
frequentemente recompensada com casos cada vez mais complexos pela
Chefe do Gabinete dos Aurores, uma certa madame chamada Ninfadora
Tonks.
Com isso, nossa cena de abertura: uma manhã de segunda-feira, em algum
dia de janeiro. No meio dos cubículos cinzas do gabinete, Tonks estava
distribuindo os trabalhos classe A do mês para seus melhores Aurores como
um papai noel vingativo.

━ Montjoy, você vai para Hethpool. Três crianças trouxas foram


encontradas mortas com seus fígados removidos. Aquele clã de bruxas de
Stow deve ter se reagrupado. ━ Um papel contendo o material do caso foi
jogado sobre a mesa dele.

━ Buckley, suspeita de necromancia e outros crimes, Ilha de Man. ━ Ele


aceitou o arquivo oferecido com um aceno. ━ Vai levar Humphreys com
você. Seja um bom mentor e não a traumatize demais.

Tonks contornou a esquina até os próximos cubículos.

━ Potter, Weasley, vocês vão continuar com os vampiros em Dales, mas se


não fizerem nenhum progresso, vou pessoalmente me envolver. Metade de
Yorkshire vai ser sugada daqui a pouco. Goggin, algum idiota está
experimentando Tortura de Transmogrifo em prostitutas trouxas em
Glenluce. Não vou me importar se trazê-lo com algumas partes faltando.

Tonks, então, parou em frente à mesa de Draco.

━ Malfoy, desde que agiu tão bem com o lunático Lanark na semana
passada, vou deixar você escolher seu veneno.

Draco encarou Tonks cautelosamente – era improvável que veneno fosse


um exagero.

━ Quais são minhas opções?

Tonks jogou dois arquivos na mesa dele.

━ Opção um: bruxo acusado de atos inapropriados com trolls, um


verdadeiro deleite para os sentidos. Ou, opção dois: um pedido do Ministro
para a proteção Auror de um alvo de alto nível.
━ Atos inapropriados? ━ Draco repetiu, posicionando os papéis para si
mesmo.

━ Não sei sobre seu nível de tolerância, mas eu quase perdi meu apetite. ━
Tonks inclinou seu queixo para o papel à sua direita. ━ Essas são as fotos
para sua edificação.

Draco cometeu o erro de abrir o arquivo do troll. Ele fechou novamente


com um som estrangulado de desgosto.

━ Vou pegar a tarefa de proteção.

━ Certo ━ Tonks disse, pegando o arquivo com conteúdo hediondo da mesa


de Draco. ━ O troll-sodomita vai para o Fernsby. Fernsby! Venha aqui.

Fernsby emergiu de um cubículo distante. Tonks espalmou o arquivo em


seu peito.

━ Você vai para Morpeth. Eu ouvi dizer que o Mar do Norte é adorável
nessa época do ano.

Se Fernsby tinha objeções sobre a beleza da estadia no Mar do Norte em


janeiro, manteve para si. Dificilmente valeria a pena discutir com Tonks.

━ Relatórios de progresso em minha mesa na segunda-feira de manhã ━


Tonks falou para todo o escritório. Um grunhido de entendimento dos
Aurores seguiu o pedido.

Tonks deu a Draco um olhar afiado.

━ Ansiosa pelo seu, Malfoy. Tenho uma pitada de curiosidade sobre esse. O
alvo está trabalhando em algum projeto super secreto. Sequer me contaram
sobre o que é.

Tonks fez o caminho de volta ao seu escritório, conseguindo pisar no pé de


um colega desavisado vez ou outra.
Draco, agora bastante curioso, pegou o arquivo. O pedido de proteção veio
diretamente do escritório do ministro e Shacklebolt solicitara uma auditoria
de segurança, proteção defensiva, qualquer medida de confidencialidade
conhecida magicamente, escolta, obviamente, e vigilância protetota – em
suma, o maldito trabalho.

Draco já estava irritado – soava muito como esforço.

E quem, Merlin, merecia esse tratamento extravagante?

Ele virou algumas páginas de demandas ministeriais para achar, finalmente,


o Superior.

E era Maldita. Hermione. Granger.

A foto dela estava no topo com uma breve nota bibliográfica – como se
alguém vivo atualmente não conhecesse ela ou seu cabelo. Ela olhou
seriamente para Draco, piscou uma vez e então deixou a moldura.

Ele pegou a pasta e se dirigiu para o escritório de Tonks. Raramente valia a


pena discutir com ela, mas esse caso merecia uma tentativa especial.

━ Tonks, não posso pegar esse. Terá que dá-lo para outra pessoa.

Tonks levantou os olhos do pergaminho que estava atacando com uma pena.
Seu cabelo se tornou em uma cor malva curiosa.

━ Por que não?

━ É Granger. Ela é a Superiora. Você não viu?

━ E?

━ Nós não nos damos bem, exatamente ━ Draco disse em um grande


eufemismo.

━ Está me dizendo que alguma coisa desagradável do tempo de escola,


quinze anos atrás, vai interferir em sua habilidade de lidar com essa tarefa?
━ Tonks perguntou.

No Espelho-de-Inimigos atrás dela, silhuetas sombrias se aglomeravam,


como se quisessem escutar o drama.

━ Nós temos uma história bastante infeliz ━ Draco disse.

━ Pior que você e Potter?

Draco considerou por um momento. Finalmente, respondeu:

━ De certa forma.

━ Ok ━ Tonks fungou. ━ Troque com Fernsby. Tenho certeza que ele ficará
feliz em abrir mão do trabalho do viciado em trolls por uma proteção.

━ ...Não tem nada mais que eu possa fazer?

Tonks deu a ele um olhar repressor, enfatizado por seus olhos se tornando
um amarelo perigoso.

━ Eu acabei de assinar as missões do mês, Malfoy, e não vou ter seu


complexo sobre Granger no caminho disso tudo.

━ Eu não tenho um complexo sobre Granger.

━ Que bom. Então vai se sair bem. Pode ir.

Tonks acenou com a mão e a porta de seu escritório fechou lentamente,


expulsando Draco.

Ele trotou de volta para sua mesa, meio intencionado a perguntar ao


Fernsby pela troca. De qualquer forma, o murmúrio de horror emanado do
cubículo dele foi suficiente para fazê-lo mudar de ideia.

Certo. Ele faria a coisa da Granger. Pelo menos não era pornografia de troll.

──── ◉ ────
Draco enviou a Granger uma nota fria e profissional afirmando que ficaria
feliz em encontrá-la o mais rápido possível para discutir sobre o pedido de
proteção do ministro.

Granger respondeu uma nota tão fria quanto, indicando que o pedido do
ministro era uma reação exagerada e que ela estaria lidando com isso em
breve, e que por favor, desconsidere isso.

Draco não respondeu, mas aproveitou a tarde de folga em vez de informar


Tonks sobre seu desenvolvimento fortúnio de imediato.

Então Granger arruinou tudo escrevendo novamente, indicando que, para


seu desapontamento, o ministro não mudara de opinião e estava levando
esse plano de ação (desproporcional e ilógico, na opinião dela) a frente.
Draco estaria disponível para se encontrar na quinta-feira, às nove horas?
No Laboratório Granger, Universidade Trinity, Cambridge.

Enquanto ele lançava a missiva no fogo, Draco pensou; Cambridge, é


óbvio. Como ele poderia esperar menos de Hermione Granger?

──── ◉ ────

Na quinta, Draco chegou na Universidade Trinity na bestial nove horas. O


porteiro no portão principal não olhou duas vezes para suas roupas – muitos
dos trouxas que estavam vagando usavam longos vestidos pretos – mas deu
a Draco um olhar afiado quando disse que estava ali para ver Granger.

━ Doutora Granger ━ o porteiro falou. ━ Você tem um encontro marcado,


senhor?

━ Sim.

━ Nome?

━ Malfoy ━ Draco disse.

O porteiro consultou uma lista. Ele achou o que quer que estivesse
procurando, aparentemente, porque Draco foi indicado a entrar no pátio
verdejante da Universidade Trinity. ("Não é um quadriciclo, nós os
chamamos de quadras em Cambridge" o porteiro disse para alguns turistas,
mas Draco não lhe deu atenção. Ele sabia o que era um quadriciclo quando
via.)

A nota de Granger incluiu algumas instruções sobre como chegar na parte


mágica da universidade, o que o levou à uma porta magicamente escondida
no extremo sul do pátio. Uma placa mágica indicava que o Salão do Rei foi
inaugurado aqui, mas fora destruído no século XVI. Draco bateu na placa
de bronze com sua varinha, como instruído por Granger, e o ostensivamente
destruído Salão do Rei apareceu. Draco decidiu que Granger ganhou 2/10
em sua avaliação inicial de segurança – pelo menos, trouxas desonestos não
seriam capazes de achá-la imediatamente. E, com esse pensamento
generoso, entrou na Cambridge Mágica.

Às nove horas de um dia útil, o Salão do Rei era uma agitação turbulenta de
bruxos e bruxas estudantes, em busca do conhecimento mágico avançado.
Draco passou anos na Universidade de Paris para conseguir seu
bacharelado em Alquimia e sua maestria em Magias Marciais (duelos), mas
nunca pisou em uma instituição de ensino superior no Reino Unido. O
Salão do Rei manteve seu ambiente do século XVI – escuro, excesso de
madeira esculpida e luz de velas – e oscilou em algum lugar entre puro
Gótico e início do Renascimento na decoração.

Enquanto observava a multidão em sua frente (uma variedade de nerds ou


de aparência excêntrica), Draco se perguntou quanto do poder cerebral
mágico britânico estava entre esses corredores. De qualquer forma, pelo
menos havia um grande cérebro no local. Meio perdido entre as cinco
escadas do primeiro andar, ele decidiu pedir a direção até aquele cérebro.

━ Você aí ━ Draco falou, apontando o queixo para um jovem com sardas. O


homem parecia ter vinte e dois anos e agarrou seu texto de Teoria Avançada
da Aritmancia contra o peito.

━ Sim? ━ O manchado perguntou.

━ Estou procurando Granger ━ Draco disse.


O menino franziu a testa.

━ Professora Granger. O escritório dela é no terceiro andar, junto aos outros


bolsistas.

━ Valeu ━ Draco falou, se perguntando quantas vezes mais seria corrigido


em relação ao precioso título de Granger.

Ele subiu as escadas e passou os corredores quando se deparou com uma


variedade de coisas interessantes:

Salas de aula, salões, salas de leitura, escritórios, um boticário, um café e o


que parecia ser um pequeno zoológico. Finalmente, chegou em uma porta
com um simples dizer: "GRANGER. Aperte para ser atendido."

Viu? Ali. Sem títulos extravagantes.

Draco apertou para ser atendido.

Então ele espiou pela janela estreita que flanqueava a porta e quase se virou
para ir embora, porque o laboratório praticamente parecia ser trouxa e ele
deveria ter errado algo, além de apenas dizer "GRANGER" bem ali.

O chamado foi atendido por Alguém em um jaleco branco e uma cobertura


de rosto translúcida.

━ Posso te ajudar? ━ O Alguém perguntou.

━ Estou procurando por Granger ━ Draco respondeu.

━ A Curandeira Granger não aceita visitas ━ o Alguém disse, muito rígido.


━ Ela está te esperando?

━ Sim ━ Draco disse, adicionando esse novo título à cada vez mais
crescente lista de títulos.

━ Tudo bem ━ o Alguém disse, com o que parecia ser um olhar suspeito,
mas Draco não poderia dizer por trás dos óculos de proteção. ━ O escritório
dela fica à direita.

O Alguém deixou o caminho livre. Pela voz, Draco estava relativamente


certo de que era uma fêmea, mas os acessórios dificultavam. De qualquer
forma, ele estava dentro. Sua avaliação inicial para a segurança de Granger
desabou para um forte 1/10.

Era agradável dar a Granger uma marca horrível muito merecida; não era
agradável pensar no trabalho que envolveria deixar esse local em ordem.

Ele bateu na porta do escritório.

━ Entre ━ a voz de Granger disse. Uma explosão do passado – nítida,


certinha, impaciente.

Draco entrou. Granger estava sentada atrás de uma escrivaninha arrumada,


embora empilhada.

Eles se encararam em um momento decididamente estranho, algo que


Draco, agora um Auror completo, qualificado e muito perigoso, não era
mais acostumado – e talvez, julgando pela expressão infeliz da boca dela,
nem Granger.

O tempo cura todas as feridas, mas entre ele e Granger, havia muito mais a
ser curado, e bem agora, quinze anos parecia pouco tempo desde que eram
crianças, enfrentando um ao outro em lados opostos de uma guerra. Draco
não conseguia lembrar da última vez que falou com ela diretamente e
certamente sabia que nunca ficaram sozinhos em uma sala.

Granger se levantou para cumprimentá-lo com a seguinte demonstração de


eloquência:

━ Malfoy.

━ Granger ━ Draco disse com igual eloquência.

Ele gesticulou para uma cadeira do outro lado da mesa. Ao dar um passo em
direção a ela, se encontrou sendo avaliado por ela. Seu olhar vagou do
cabelo ao rosto, à insígnia de Auror no peito e desceu para suas vestes
pretas e botas.

Vendo que estavam dispensando as formalidades, Draco a avaliou de volta,


descaradamente: o cabelo (uma pilha cacheada no alto da cabeça), o rosto
(mais magro, muito mais do que ele se lembrava), o mesmo jaleco branco
estranho igual ao do Alguém, jeans preto (tão trouxa), os tênis casuais.

Draco abriu sua boca para fazer algumas observações vagas – conversa
sobre Cambridge, ou Potter e Weasley, ou outras bobagens – mas Granger
foi direto ao ponto.

━ Isso é um desperdício absoluto de recursos dos aurores.

A falta de finesse era muito típica para Granger. Algumas coisas não
mudaram.

Draco se sentou na cadeira.

━ Me dê um pouco mais para continuar e eu posso argumentar com


Shacklebolt para retirar o pedido. Não desejo ficar aqui mais do que você.

Granger franziu os lábios para ele. Draco se perguntou quando McGonagall


aparatou na cadeira dela e para onde Granger fora.

━ Tudo bem ━ Granger disse finalmente. ━ Quinze dias atrás, atualizei


Shacklebolt sobre o progresso de um certo projeto de pesquisa. Um que não
está sob a alçada do Ministério e nem financiado por ele. Eu estava
compartilhando o que pensei que fossem boas notícias com um amigo de
longa data e mentor – quem acabou se tornando Ministro da Magia.
Aparentemente, as notícias eram boas demais. Shacklebolt teme as
repercussões, uma vez que o projeto terá implicações sobre um certo
segmento da população.

━ Quais implicações? ━ Draco perguntou. ━ Qual segmento?

━ Prefiro não dizer, pois espero que você não esteja envolvido em nada
além desse encontro. Shacklebolt está exagerando. Eu deveria conversar
com ele novamente nesta semana e convencê-lo que me colocar sobre a
vigilância de um Auror é totalmente desnecessário.

━ Proteção de Auror ━ Draco corrigiu. Aurores de seu calibre não eram


designados para trabalhos de vigilância, por favor.

━ Chame como quiser ━ Granger disse.

━ Shacklebolt tem seus defeitos, mas propensão ao exagero não é um deles


━ Draco disse. (Não havia muito amor entre ele e o ministro, mas havia
certo respeito).

━ Não, não é uma de suas propensões. Por isso fiquei bastante surpresa,
consternada, na verdade, pela decisão de envolver seu escritório.

━ Há uma possibilidade dele não estar exagerando?

O olhar de Granger se nivelou ao dele e era decididamente não-amigável.

━ Não.

━ Você não pensa que seu, seja avanço ou descoberta, esteja te colocando
em algum tipo de risco?

━ Não no momento. Primeiro, ninguém sabe sobre esse desenvolvimento


além de Shacklebolt e, em vários níveis, minha equipe, a qual eu confio
implicitamente. E, segundo, acho que estou fazendo um avanço, ainda não
resolvi o problema. Isso levará pelo menos mais um ano. Não estarei na
primeira página do Profeta pedindo para ser assassinada amanhã.

A sobrancelha de Draco se ergueu.

━ Shacklebolt acha que você vai ser assassinada?

━ Ele acha, provavelmente com razão, que algumas pessoas não vão ficar
satisfeitas com o meu avanço.
Draco decidiu que precisava falar com Shacklebolt. Talvez fosse menos
cauteloso que Granger e revelasse algo útil para o Auror designado para ela.
Ele se encontrava realmente curioso agora sobre a natureza dessa boa
descoberta.

Sua próxima pergunta foi cuidadosamente formulada. Ele não queria


caluniar a herança de Granger (deuses o livrem; ele já estava sobre gelo fino
em todos os lugares), mas havia algumas coisas que talvez ela não
soubesse, como uma nascida-trouxa.

━ Talvez Shacklebolt esteja atento sobre certas predileções ou preconceitos


bruxos que você não está, e isso seria a causa de preocupação?

Granger respirou, como se estivesse reunindo a paciência restante.

━ Se eu te dissesse que curaria a fome do mundo ou algo igualmente


maravilhoso, você faria uma pausa para se preocupar com a ação de alguns
adversários?

━ Um adversário seria suficiente para despachar um pesquisador bem-


sucedido, especialmente uma que mantém seu laboratório seguro com um
feitiço de tranca de terceira categoria e algum tipo de arame.

Um dos joelhos de Granger começou a balançar. Isso trouxe à mente um


gato contraindo o rabo em aborrecimento.

━ Você vai fazer? ━ Draco perguntou.

━ Fazer o quê?

━ Curar a fome mundial.

━ Nada tão grandioso. Isso foi um exemplo.

━ Onde você mantém suas anotações? ━ Draco questionou.

Agora era a vez de Granger erguer uma sobrancelha, que foi a sua resposta.
Draco gesticulou para o escritório ao seu redor e o laboratório do outro lado
da porta.

━ Já identifiquei uma dúzia de vulnerabilidades, apenas durante os cinco


minutos que estive aqui. Se eu quisesse resolver isso, acho que poderia.

━ Poderia?

━ Sim.

Ver o sorriso malicioso de Granger foi... alguma coisa. De qualquer forma,


desapareceu rapidamente.

━ Se estamos falando sobre segurança física, não tive razão para aumentá-la
além das que já existem. Posso assegurá-lo de que sou capaz de proteger
meu laboratório além de um feitiço de bloqueio. E manter meus dados
seguros.

━ Perfeito ━ Draco falou. ━ Continue assim. Voltarei em alguns dias para


fazer uma invasão-teste. Se for satisfatório, além de implementar toda
medida adicional que eu recomendar, talvez sejamos capazes de convencer
Shacklebolt que você e sua pesquisa estão a salvo e poderemos seguir em
frente.

Esse desafio foi embelezado com – bastante louvável, Draco pensou – um


pouco de arrogância de sua parte.

Os olhos de Granger se arregalaram: o desafio foi reconhecido e aceito.

━ Feito. E quando essa invasão-teste será feita?

━ Não estou te dando um aviso ━ Draco disse, se levantando. ━ Acha que


uma ameaça faria isso no mundo real?

━ Brilhante ━ Granger falou, se levantando também. O sarcasmo endureceu


suas palavras. ━ Eu amo surpresas.

Eles não apertaram as mãos e ela não o viu sair.


──── ◉ ────

Draco planejou uma visita ao Ministro da Magia no fim da semana. Ele


passou pela assistente de cara azeda no dia designado, pensando quem tinha
mijado em seu cereal Pixie Puff.

Shacklebolt era tão reticente com os detalhes como Granger fora, mas
impressionou Draco sobre a importância de mantê-la a salvo para finalizar o
projeto, para o benefício de qualquer ser mágico. Era tudo muito grandioso
e extremamente vago.

A única coisa positiva foi o prazer evidente de Shacklebolt sobre Draco ter
ficado com essa tarefa.

━ Eu sei que você não hesitará em ser desagradável, Malfoy, caso qualquer
indivíduo malicioso tente um movimento contra ela.

Draco aceitou o elogio indireto com uma inclinação da cabeça.

━ Você está aquecendo meu coração, ministro.

Shacklebolt devolveu o aceno. Então ficou sombrio.

━ Ela poderia mudar a vida de centenas, milhares, para melhor.

━ E ainda sim, nem ela ou você irão me contar o que o projeto envolve. Ela
te fez aceitar um maldito Voto Perpétuo antes de revelar qualquer coisa?

Shacklebolt levantou as mãos, não respondendo de forma alguma, já dando


sua resposta.

━ Ela deveria ter previsto ━ Draco disse, jogando um punhado de pó de flu


na lareira de Shacklebolt. ━ Cambridge.

Era isso. Ele deu a ela muito tempo para se preparar.

──── ◉ ────
Era tarde da noite na segunda-feira. O Salão do Rei estava silencioso. Draco
supôs que Granger estava fora, jantando ou intimidando graduandos
inocentes. Ele parou na porta de seu laboratório, batendo a varinha em seu
queixo pensativamente. Entretanto, antes de lançar qualquer tipo de feitiço
ou começar a bisbilhotar, Granger virou a esquina.

━ Malfoy ━ ela disse, parecendo um pouco desgrenhada e sem fôlego.


Draco arquivou seu tempo de chegada para análise futura. Ela era
inteligente demais para ser uma coincidência – além disso, ele não tinha
lançado nenhum feitiço que pudesse anunciar sua presença.

Granger abandonara sua roupa trouxa para vestes verdes de curandeiro. Ela
parecia tanto irritada quanto impaciente, e rapidamente confirmou essas
duas condições ao perguntar:

━ Quanto tempo seu teste vai demorar?

Draco não apreciou sem tom, o que sugeria que isso deveria durar várias
horas.

━ Depende da sua guarda. Estou pensando em vinte e cinco minutos na


parte superior.

A sobrancelha de Granger se ergueu com a arrogância da resposta.

━ Bom. Apenas terminei um plantão na emergência e estou completamente


exausta.

Ela acenou a varinha para si mesma e com um feitiço de Transfiguração


muito impressionante (não que Draco tenha dado qualquer sinal de que
estava impressionado), e transformou um de seus grampos de cabelo em
uma cadeira de madeira acetinada, na qual se empoleirou para observá-lo.

Draco não se importava com o público, especialmente quando estava


desmantelando sistematicamente as tentativas do público de mantê-lo fora e
ensiná-la alguma humildade.

Ele voltou sua atenção para a porta.


━ Emergência? Pensei que você fosse uma pesquisadora.

━ O serviço nacional de saúde mágica está cronicamente sem pessoal. Eu


pego plantões no St. Mungos para ajudar. Mantém minhas habilidades de
cura afiadas.

━ Bom para você.

━ Mm.

Depois de alguns feitiços de revelação, Draco tinha que admitir; ela fizera o
dever de casa. Não uma surpresa, realmente. Os encantamentos que agora
protegiam a porta do laboratório dela eram muitos, bem complexos e
devidamente lançados.

Draco voltou para o trabalho, mas não sem ironizar um pouco.

━ Feitiço Miadura? Insultante.

━ Eu aprendi a trabalhar do menor denominador comum para cima. ━ Foi a


resposta seca.

Os feitiços básicos de invasão que o seguiram foram anulados com alguns


movimentos de varinha. O Salvio Hexia foi um bom aquecimento. Então
Draco chegou nas boas coisas: Foribus Ignis, Custos Portae, um Confundus
diretamente apontado para sua cabeça, revelado apenas quando desarmou
os outros dois, uma Maldição Cegante sorrateira que parecia malvada, um
feitiço de calvíce que foi decididamente antidesportivo e um Confringo
escondido na maçaneta da porta para qualquer um estúpido o suficiente para
tocá-la.

Draco desarmou o último – um único toque e pronto, e sendo sincero, ele


suou – dizendo a si mesmo que pelo menos se sua cara fosse explodida,
havia uma curandeira próxima capaz de ajudá-lo.

A porta destrancou. Levou quatro minutos ao total. E até então, Granger não
parecia impressionada.
Draco abriu a porta para revelar uma parede de pedra.

━ Engraçado ━ disse.

Seu rosto não mostrou sua inquietação, mas ele desperdiçou seu tempo com
uma isca absolutamente impecável. Movimentou sua varinha um metro
mais abaixo da parede e a porta real do laboratório apareceu.

Granger encolheu os ombros.

━ Preciso que minha equipe consiga entrar. Eles não são os melhores em
desarmar proteções, mas conseguem lidar com um Finite Incantatem.

Draco entrou no laboratório para continuar sua tarefa com o pescoço


bastante rígido. Sua audiência transformou de volta a cadeira em um
grampo e seguiu.

━ Normalmente, eu insistiria em que usássemos os EPI's apropriados, de


acordo com os protocolos dos laboratórios de experimento da Trinity ━
Granger disse. ━ Mas nós arrumamos para o dia. Não acho que você possa
se machucar ou algo do tipo.

Novamente, Draco não deu atenção ao seu tom, que agora sugeriu que ele
poderia se matar por acidente.

Ele ignorou as superfícies brancas de aço estéreis que compunham a maior


parte do espaço e foi até as prateleiras e armários na extremidade do
laboratório, que parecia um local apropriado para guardar os dados. Porém
os conteúdos bem organizados eram inúteis; a maioria era literatura
científica trouxa, incluindo algumas das publicações de Granger. Palavras
sem sentido apareciam: citocinas, anticorpos monoclonais, receptores de
antígenos quiméricos, células-T...

━ Eu acho que o propósito desse teste é ver quão longe você vai e quanto
consegue descobrir sobre minha pesquisa, mas vamos colocar as coisas de
forma ordenada. ━ Veio a voz de Granger, irritação abraçando as palavras.
Draco, de costas para ela, permitiu-se um saudável revirar de olhos; um
periódico estava quase um centímetro fora do lugar. Ele o devolveu. Acenou
sua varinha para a coleção total a fim de revelar transfigurações ou feitiços
de encobrimento, mas não havia nenhum. Então, fez o mesmo com o resto
do laboratório, sistematicamente, procurando qualquer esconderijo, ou
buracos escondidos, ou – conforme foi ficando irritado – qualquer traço
mágico. Não havia nada, exceto o conteúdo de vários frascos e tubos de
ensaio agrupados organizadamente ao longo das bancadas.

━ Se eu roubasse um desses e analisasse, o que eu iria descobrir? ━


Perguntou.

O brilho de seu feitiço iluminou os pontos de interesse. Granger se


aproximou e pontuou.

━ Células-T gama-delta, antígenos MART-1, tirosinase, GP100, survivina.


Todos de proveniência mágica, por isso seu feitiço está revelando-os, mas
nada digno de nota.

━ Entendi ━ Draco disse, mas não entendeu nada.

━ Não sei por quem sua análise hipotética seria conduzida, mas em caso de
um desses ser roubado para descobrir no que estou trabalhando, posso lhe
dizer que pouquíssimas pessoas no Reino Unido seriam capazes de tirar
conclusões disso.

Draco sentiu a falsa modéstia nas palavras; por pouquíssimas, ela quis
dizer: estou rodeada de idiotas e sou a única que pode entender qualquer
um desses nomes terrivelmente nomeados.

━ E aqueles? ━ Ele perguntou, apontando para o frasco maior e mais


familiar na última fileira.

━ Sua análise hipotética descobriria uma Sanitatem perfeitamente produzida


━ Granger disse. ━ É uma poção de cura ━ adicionou desnecessariamente.

━ Um achado de importância crítica, em um laboratório de uma curandeira


━ Draco disse, seu aborrecimento se tornando sarcasmo.
Houve uma pequena estranheza no canto da boca de Granger; divertimento,
rapidamente sufocado.

Draco estava sufocando, mas no caso dele, era por exasperação. Ela
desperdiçou o tempo dele naquela caçada louca por proteções de porta,
sabendo que não havia nada realmente útil no laboratório, ao menos que
alguém tivesse, no mínimo, doze doutorados para juntar as peças.

Mas ela tinha que ter registrado os dados; era metódica e meticulosa demais
para não ter.

Agora Draco cruzou a esquina do laboratório que ele ignorou naturalmente.


Era a área mais trouxa de todo o local; uma escrivaninha de canto cheia de
caixas brilhantes. Granger poderia muito bem ter lançado um feitiço não-
me-note. Ela tinha? Não, os feitiços de detecção dele não mostraram nada.
Essa era uma característica de seus próprios hábitos construídos; seus olhos
quase sempre desviavam do não-mágico, Mundo Mundano, do
Terrivelmente Trouxa. Ele tinha que prestar atenção nisso – claramente,
uma fraqueza.

Se aproximou da mesa. E, pela primeira vez que Draco entrara no


laboratório, Granger realmente se animou e estava olhando, interessada, nos
procedimentos. Agora ele estava chegando em algum lugar.

━ Computadores ━ Draco disse, puxando alguma memória distante dos


Estudos dos Trouxas.

━ Muito bem ━ Granger falou, com o tom que alguém usaria para elogiar
uma criança lenta que identificou corretamente um animal de fazenda.

Draco a favoreceu com um olhar sombrio. O rosto dela estava impassível,


mas seus olhos a traíram; ela estava curiosa sobre seu próximo passo.

E, é claro, ele não tinha a menor ideia de onde ir agora, além de azarar os
computadores à submissão – mas pelo o que ele se lembrava, esses
dispositivos não eram sencientes. Parou diante das caixas brilhantes, sobre
as quais as linhas estavam se movendo em padrões aleatórios.
━ ... eu precisaria trazer um nascido-trouxa ━ Draco disse no final.

━ Oh, sim, isso seria um começo ━ Granger respondeu. Ela olhou para suas
unhas. ━ Você poderia encontrar alguém que fosse um hacker decente
também. Não tenho certeza se existem muitos entre os bruxos, mas talvez
um ou dois no Reino Unido.

━ Um hacker.

━ Sim ━ Granger disse, não oferecendo nenhuma explicação maior sobre o


termo violento.

━ Se, como eu suspeito, seus achados estão nessas coisas, o que me impede,
um vilão, de destruir isso e interromper sua pesquisa? ━ Draco perguntou.

Granger encolheu os ombros.

━ Não importaria. Está tudo na nuvem.

━ A nuvem.

━ Sim. Custaria apenas o equipamento.

━ Então seu malvado bruxo das trevas do pântano não teria muito a
descobrir aqui.

━ Acho que não ━ Granger disse.

━ As proteções na porta formam um quebra-cabeça irritante. Obrigada por


desperdiçar meu tempo.

━ Eu gostaria de ver se você é tão bom como dizem.

Draco deu a ela um olhar rápido, querendo saber quem eles eram, porque
ele gostava de ouvir quão bom era.

Granger não o satisfez.


━ Eu tenho outras ideias para outras maldições e coisas ━ ela disse,
gesticulando para a porta. ━ Mas não tive tempo.

━ Então, nenhuma evidência de ocultação, nenhuma evidência escrita,


computadores, nuvens... ━ Draco olhou para ela. ━ Se sou um vilão que
precisa de informação, o que eu faria a seguir?

Granger olhou para ele curiosamente.

━ O que você faria?

━ Vou atrás de você ━ Draco disse.

Ele ergueu sua varinha e, em uma fração de segundo, seu feitiço a atingiu
no peito.

──── ◉ ────

Nos vemos no próximo!


2. Draco Malfoy, Inventor Genial

Boa leitura!

──── ◉ ────

O Lumos se dissipou inofensivamente nas vestes de Granger, mas seu


choque nunca foi tão evidente.

━ Isso foi desnecessário ━ ela engasgou, uma mão no peito.

Draco fez seu caminho em direção ao escritório de Granger como se


estivesse passeando.

━ Prometo que outros feitiços não serão tão amigáveis.

━ Ninguém está lançando feitiços desagradáveis em mim sem nenhuma


razão ━ Granger disse, seguindo ele.

━ Eles não têm uma razão agora, mas se sua Grande Descoberta é tão
significante como Shacklebolt pensa, e se, quando, vier a público, então... ━
Ele se virou para ela novamente, sua varinha erguida.

Ela estava mais preparada dessa vez e cuspiu um Protego.

━ Melhor ━ Draco falou. ━ Como está sua resistência à Maldição Imperius?

Granger ficou imóvel, sua mão agarrando a varinha.

━ Se você lançar isso em mim, em meu próprio laboratório, vou te afogar


em Sanitatem e aproveitar a ironia.
Draco olhou para cima dele. Cada frasco de Sanitatem foi levitado das
prateleiras e pairavam sobre sua cabeça. Em uma situação real, ele
desapareceria com o lote e jogaria Granger contra duas paredes. Mas,
apesar disso, foi uma magia não-verbal impressionante.

━ Vou admitir que sua pesquisa é mais ou menos segura da maioria dos
intrusos mágicos ━ Draco disse. Os frascos voltaram aos seus lugares. ━
Mas isso tudo vive em sua cabeça e, portanto, pode ser lido, ou torturado,
de você ou qualquer um de sua equipe.

━ Sou a pesquisadora principal do projeto em questão. Minha equipe


consiste em cinco estudantes e oito pós-graduandos que juntos conhecem o
trabalho em aproximadamente quinze porcento, distribuídos através de treze
mentes. Eles não são tão vulneráveis.

Draco deu a ela um olhar pesado.

━ Então você é a vulnerabilidade.

Ela, previsivelmente, pareceu ofendida.

━ Como está sua Oclumência? ━ Ele perguntou. A questão foi


acompanhada, é claro, de um pouco de Legilimência amigável.

Draco teve uma visão clara da percepção de Granger daquele momento


preciso: homem alto, arrogante e pretensioso com cabelo bonito. E então
ele foi mentalmente jogado para fora da cabeça dela.

Ele pressionou um dedo no centro de sua testa; aquela bruxa estava fazendo
seu cérebro arder. Enquanto isso, Granger parecia querer dobrá-lo e
esbofeteá-lo no mundo material para uma boa medida – e isso não seria
uma adorável retrospectiva dos dias de escola deles?

━ Achei que estivéssemos acessando meu laboratório, não eu ━ Granger


disse, seus olhos brilhando.

━ Estamos acessando as exposições ao risco ━ Draco falou. ━ E está ficando


bem óbvio que você é um deles. Sua casa está protegida?
━ Moderadamente. Posso melhorar isso.

━ Eu vou melhorar isso ━ ele respondeu. ━ Como você viaja?

━ Flu, aparatação...

━ Esses são rastreáveis, você sabe disso. Vassoura?

━ Odeio voar ━ Granger disse.

Draco fez um grande esforço para não torcer o lábio. Que posição difícil de
tomar. Que coisa difícil de odiar. Que evasão triste de uma das melhores
alegrias de ser Mágico. Granger caiu em sua estima irremediavelmente.

━ Desde quando aparatar é rastreável, além do Traço? ━ Granger perguntou.

━ Segredo de estado ━ Draco disse, agora no escritório dela. Ele vasculhou


as várias pilhas de papéis e livros, encontrando, novamente, nada além de
um jargão trouxa altamente especializado e totalmente incompreensível,
sem sinal de desenvolvimentos recentes, tomada de notas, gravações ou
nada de natureza útil que pudesse apontar para ele os achados preciosos de
Granger.

Havia outro computador na sala, o qual Draco olhou com um tipo de


irritação resignada. Quão estúpido era ficar perplexo por um dispositivo que
qualquer trouxa na rua provavelmente poderia usar. Talvez ele devesse
sequestrar o porteiro na entrada e trazê-lo para ajudar – apesar do Estatuto
do Sigilo.

Ele olhou para o computador de forma intimidadora, esperando-o confessar


seus crimes, mas ele meramente ofereceu linhas vacilantes.

Enquanto Draco bisbilhotava, escaneava e procurava por sinais mágicos no


resto do laboratório, Granger tirou suas vestes de curandeira e caiu na
cadeira que Draco ocupara na primeira visita. Ela soltou um suspiro de
fadiga inalterada.
Ele olhou para ela. Roupas trouxas novamente, por baixo. Hoje era uma
blusa de manga comprida e algum tipo de calça que não merecia um nome,
mais como meia-calça preta apertada, realmente. Era isso que era o padrão
trouxa decente? Chocante. Ele podia ver o contorno preciso de sua
panturrilha e o formato exato de seu joelho.

Ele não passou muito tempo refletindo sobre as fraquezas da moda trouxa, e
de qualquer forma, a própria bruxa era um pouco preocupante. Podia ver
agora como ela era magra, como suas clavículas eram aparentes, como seu
pescoço parecia muito delicado para segurar a massa de cabelo empilhada
na cabeça. Como era pálida, apagada e geralmente parecia esgotada.

━ Como é seu horário, Granger? ━ Draco perguntou, como se continuasse


sua indagação sobre seus padrões de viagem, mas realmente queria ter uma
noção do que exatamente essa mulher fazia por si mesma, dia após dia.

Tipicamente, Granger tinha um cronograma pronto – codificado por cores e


planejado por hora. Ela acenou a varinha em direção à mesa e o calendário
flutuou até Draco, caindo em suas mãos. Usando a varinha como uma pena
improvisada, ele desenhou círculos ao redor dos momentos de exposição,
quando ela se movia entre os locais e estava mais vulnerável ao ataque.

E havia muitos; Granger estava em todo lugar e fazia tudo. Ela dedicava
horas ao laboratório, horas de clínica, horas de aula, voluntária em uma
quantidade horrível de boas causas, sessões de tutoria, sessões de
orientação, curandeira no St. Mungos e o que parecia ser um local trouxa de
cirurgia, uma (1) noite de pub a cada duas semanas com Potter e amigos,
jantares com colegas, algo chamado "ioga" em horas profanas pela manhã,
algo chamado "veterinário do Bichento" que acontecia a cada três meses e
dias ocasionais, aqui ou ali, marcado com um asterisco.

━ O que são esses? ━ Draco perguntou, apontando para um dos blocos com
um asterisco.

━ ...Feriados ━ Granger disse.

━ Sua Oclumência pode ser aceitável, mas você está mentindo.


━ São dias de folga. ━ Granger ficou mal-humorada. E eu não irei divulgar
mais detalhes da minha vida pessoal, além do que já fiz, obrigada.

Draco largou o assunto – e o cronograma, de volta à mesa dela. Esgotada


sequer era a palavra certa para Granger; exausta ou exaurida, talvez. Draco
se lembrou de um vago rumor que uma jovem Granger garantiu um vira-
tempo durante os anos em Hogwarts, para acomodar mais disciplinas nos
dias de aula. Potter e Weasley rapidamente descartaram aquela conversa de
auror na hora do almoço.

Olhando para a bruxa excessivamente zelosa, superdotada e cansada em sua


frente, Draco se encontrou propenso a acreditar na história.

Ele continuou sua busca, embora duvidasse que havia algo mais para achar.
A parede dos fundos do escritório estava coberta de várias molduras de
inúmeros tamanhos, certificados, diplomas, prêmios...

━ Mosaico legal ━ falou.

Granger olhou para ele. Bom, ele se achou engraçado, mesmo que ela não.

O mosaico informou que Granger não tinha doze doutorados, mas a


combinação de diplomas trouxas e mágicos provavelmente se aproximavam
do número. Novamente, os trouxas eram um mistério, premiados por
universidades trouxas que ele nunca ouvira falar: bacharelado em ciências
biomédicas, Mestrado em microbiologia e imunologia, graduação e pós
conjunta em oncologia, alguns certificados menores em genética. Ele
reconheceu o selo de curandeira, pelo menos (Cambridge, especialista em
doenças mágicas).

Seus outros certificados mágicos envolviam uma maestria em


Transfiguração (Edimburgo; um ano depois após a Guerra, provavelmente)
e um estudo especializado em cura (Mágicas do sangue) da Sorbonne.

Mais certificados e qualificações completaram a educação de Granger. Uma


caixa em uma baixa prateleira revelou algumas molduras empoeiradas.
Coisas que ele sabia dela de seus dias brilhantes em Hogwarts: o recorde
atingindo nos N.O.M.s, a quantidade absurda de N.I.E.M.s – não mereciam
um lugar na parede de suas conquistas adultas. Ele localizou uma Ordem de
Merlin, Primeira Classe. Potter tinha uma semelhante, orgulhosamente
pendurada na parede de seu cubículo, mas Granger não tinha um espaço,
aparentemente.

Ela pediu licença para fazer chá, e em uma demonstração de educação que
foi moderadamente difícil de verbalizar, perguntou se ele gostaria de uma
xícara. Draco disse não. Granger pareceu aliviada.

Depois que saiu, Draco, sendo uma pessoa pragmática e sorrateira, tirou
vantagem do momento para lançar alguns feitiços discretos de rastreamento
sobre alguns de seus itens pessoais: os tênis debaixo da mesa, grampos de
cabelo (os benditos estavam em todo lugar), uma xícara não-terminada de
chá. Ele fuçou os papéis na mesa dela e não achou nada interessante
(convites de conferências, resultados de pedidos de bolsas trouxas, notas de
alunos. Tudo inútil).

O computador fez um som que parecia um pequeno ping. Draco se virou


para ele. Sua superfície escura e linhas ondulantes o desafiaram a tocar e
morrer de choques elécticos.

Então Draco tossiu e disse:

━ Espera aí!

━ O quê? ━ Granger respondeu quando voltou para o local.

━ Esse lugar todo é muito trouxa que eu sequer pensei em perguntar, mas,
como esses computadores funcionam? Estamos em uma construção mágica.

━ Oh, isso ━ Granger falou. Ela fez Draco presumir que a intenção era ser
algo casual (não foi muito casual). ━ Encontrei maneiras de contornar esse
problema.

━ Como?

━ Maneiras ━ ela disse.


━ Que maneiras? ━ Ele perguntou.

Ela o encarou como se avaliasse sua importância por seu conhecimento.


Diante de seu contato visual aberto, Draco estava muito tentado em usar a
Legilimência novamente. Enquanto esse pensamento passava em sua
cabeça, os olhos dela perderam um pouco do brilho. Ela estava ocluindo.

━ Encontrei uma solução ━ Granger disse com outro gesto vago. ━ Não
seria possível trabalhar com penas e pergaminho; são completamente
arcaicos. Sem mencionar as centenas de milhares de cálculos e projeções
que preciso fazer... De qualquer forma, não precisa se preocupar com isso.
Posso assegurar que não é nada perigoso.

Draco se aproximou do computador, observando vários anexos conectados


em sua periferia com longas fibras. Apenas algumas coisas não estavam
conectadas ao órgão principal (como ele chamou a caixa brilhante),
incluindo três pequenos discos metálicos colocados ao redor da coisa.

Aparentemente, como pode-se configurar o perímetro, na verdade. Para


manter as coisas dentro ou fora.

Ele caminhou até a coleção de computadores no laboratório propriamente


dito, Granger seguindo-o com uma espécie de curiosidade educada.

Havia, também, os discos metálicos. Seis deles, dessa vez, criando um


círculo irregular.

━ Eu teria cuidado ao pegá-los ━ Granger disse.

Draco, cuja mão estava pairando sobre um, se afastou.

━ Não são perigosos, mas você não vai gostar da sensação. ━ Ela ficou ao
lado dele e levantou um. ━ Eu o chamo como uma barreira anti-magia, pela
falta de um termo melhor. Bastante desafiador para criar, mas serve aos
meus propósitos.

Draco a encarou. Bloquear magia era algo bem difícil – uma coisa
principalmente relegada às discussões teóricas. O punhado de artefatos
inibidores de magia que ele ouvira falar eram de lendas distantes, perdidos
no tempo. E ainda...

━ Tirei a ideia dos pontos de satélites de wifi em cafés e aeroportos, só que


claro, o contrário ━ Granger disse. Então, vendo no rosto dele que não
explicou nada, ela continuou: ━ Não importa.

━ Não tenho certeza se são permitidos pela lei ━ Draco falou, olhando para
os discos.

━ Então melhor me reportar para Shacklebolt ━ ela respondeu.

Os olhos dela encontraram os deles, hostilmente, sem medo. Draco decidiu


que Granger tinha coragem, possivelmente rivalizando com a de Tonks.

O início do Plano estava germinando na cabeça dele.

━ Preciso de uma cópia do seu cronograma ━ ele disse, liderando o caminho


de volta para o escritório de Granger.

Um rápido Duplicatus resolveu isso, unido ao feitiço de metamorfose para


garantir que as mudanças na versão dela seriam refletidas no dele.

━ Certo. Devo preparar um pequeno relatório com algumas recomendações


para garantir que a curandeira Granger continue sã e salva ━ Draco disse,
rabiscando algumas notas. ━ Também vou ver se consigo convencer
Shacklebolt que você não será assassinada amanhã e que não preciso ser
seu acompanhante diariamente.

━ Um alívio para ambas as partes ━ ela falou.

━ Espere por minha coruja em alguns dias. Outra coisa, por favor pare de
dar torta de melado a ele, o deixa indisciplinado.

━ Entendido ━ Granger disse, parecendo um pouco envergonhada apenas. ━


O teste acabou, então?

━ Sim.
━ Finalmente ━ Granger respondeu. Então, porque ela era um indivíduo
normal e de bom senso, sentou em sua mesa para trabalhar mais.

Draco viu que ele tinha, para todas as intenções e propósitos, deixado de
existir e decidiu ir embora sem cerimônia.

━ Cuidado com o azulejo na frente da porta. Maldição da areia movediça ━


Granger disse distraidamente. ━ É para pegar os vilões na saída.

━ Eu vi, Granger.

━ É claro que viu.

──── ◉ ────

Seguiram-se algumas conversas com Shacklebolt, durante o que Draco


denominou como Plano e convenceu o ministro de que era a abordagem
correta, e que, além disso, nenhuma outra iria funcionar porque a Superiora
não seria muito cooperativa.

Draco estudou o cronograma de Granger em momentos de silêncio,


indagando o que eram os "feriados" com asteriscos. Seu primeiro
pensamento fora que os dias indicavam algo pessoal e privado. Eram muito
espalhados para ser um lembrete para sua menstruação. O padrão também
não era lunar; bom saber que Hermione não era um lobisomem em segredo.

Datas para alguns encontros românticos, talvez? Era por isso que ela não
havia marcado mais detalhes?

Ele estava olhando para o calendário sexual de Granger? Ela realmente


selecionava dias inteiros? Draco imaginou que deveria apertar a mão do
homem responsável.

Também verificou sorrateiramente os pedidos de dias de folga do livro do


escritório dos Aurores, e nem os próximos feriados da Doninha e do
Cicatriz coincidiam. O mistério continuou.
Draco gastou alguns dias ajustando o elemento chave de seu Plano. E pelo o
que "ajustar" significava, é claro, mexer com magias antigas que era melhor
deixar intocadas.

──── ◉ ────

━ Recomendações ━ Draco disse, jogando um rolo de pergaminho sobre a


mesa de Granger. ━ Coisas padrão para vulnerabilidades óbvias. Repassei-
as com Shacklebolt. Ele concordou em retirar o pedido de proteção se
cumprir com eles.

Granger desenrolou o pergaminho e descobriu que atingia o chão. Ela


forneceu-lhe uma piscada lenta.

━ Algo em particular que você queira direcionar minha atenção, na intenção


de poupar tempo?

━ Sim ━ Draco falou. ━ Item cinquenta e seis.

Granger percorreu a lista até a linha em questão.

━ A Superiora deve concordar em usar o Anel a todo momento, até a


finalização do projeto.

━ É isso ━ Draco disse.

━ Qual anel? ━ Ela perguntou.

━ Esse ━ Draco disse, jogando um anel para ela. A pequena banda prateada
pousou no pergaminho, girou uma vez e parou. ━ Não me importo de
treiná-la sobre Imperius ou a resistência de Veritaserum, ou proteções
mágicas pessoais, ou oclumência avançada, ou autodefesa física. Merlin
proteja; parece que seu soco é capaz de causar uma concussão em um
mosquito, na melhor das hipóteses. E nem eu acho que você quer suportar
essas coisas.

━ Correto ━ ela falou, seu olhar suspeito indo do anel para Draco.
━ Não quero ser um sentinela na sua porta como algum guarda-costas
glorificado, esperando pelo o que quer que Shacklebolt espera que
aconteça, acontecer.

━ Sim ━ Granger disse com entusiasmo. ━ Continue.

━ Então apresentei a ele essa opção, que me permite, em essência, ser


alertado caso alguma coisa aconteça e aparatar até você imediatamente.
Posso encontrar um melhor uso para meu tempo e você pode continuar com
sua agenda, angustiadamente cheia, a propósito, desimpedida.

Draco esperou para ser elogiado pela elegância de sua brilhante solução.
Em vez disso, Granger cutucou o anel com sua varinha.

━ Isso não vai te matar ━ ele disse.

Granger encontrou seus olhos seriamente.

━ Meu conjunto de memórias é, reconhecidamente, bastante pequeno, mas


vi as consequências da última jóia que Draco Malfoy distribuira e foi
alarmante. Terá que me perdoar se eu não colocá-lo imediatamente.
Gostaria de analisar.

Ah, sim. O incidente com Kátia Bell. Se Draco tivesse algum sentimento,
provavelmente teria ficado um pouco machucado pela demonstração de
desconfiança devido às ações de um jovem idiota manipulado pelo pior
bruxo das trevas do século, uma década e meia atrás. Mas ele não tinha,
então o ponto era discutível.

━ Estou feliz em ver que você tem alguns instintos de autopreservação ━


Draco disse. Ele moveu a mão em direção ao anel. ━ Analise-o.

Granger lançou alguns feitiços de revelação, que incendiaram o anel com


feitiços de rotação lenta e translúcidos.

━ Então... o que é tudo isso?


━ Dizer a você tiraria a graça, não é? Você me diz ━ Draco falou. E com
isso, ele se acomodou na cadeira em uma posição relaxada. Agora era a vez
dele de assisti-la resolvendo um quebra-cabeça.

Ela passou pelos feitiços com alguma habilidade, rapidamente escolhendo


os mais difíceis.

Draco supôs que o diagnóstico mágico seria mais fácil para ela por ser uma
curandeira.

Ela listou seus achados.

━ Um feitiço de localização, uma miscelânia de runas de proteção


(inteligente, obrigada), sinal de socorro, monitoramento cardíaco... ━ Agora
os lábios dela se curvaram.

━ Qual a graça? ━ Draco perguntou.

━ Você inventou um FitBit mágico.

━ Como é que é?

A menos que ele não tivesse entendido, Granger estava sugerindo que sua
criação excepcional era uma imitação de algo trouxa? O quê?

━ Não importa. O que é essa bagunça inacabada aqui? ━ Ela perguntou,


segurando sua varinha apontada para um nó verde fantasmagórico de
cálculos aritmânticos.

Draco sentiu suas narinas franzirem: aquela bagunça inacabada era o


resultado de muitas horas frustrantes de trabalho.

━ Não terminei isso ainda.

━ O que era para ser?

━ Chave de portal. Para momentos nos quais você não pode aparatar ou
estiver presa em uma barreira anti-aparatação. Não terminei os cálculos.
Granger parecia levemente impressionada. Draco supôs que ela estava
rodeada pela nação dos melhores cérebros da atualidade e que ele deveria
estar lisonjeado por tê-la meio impressionada pela mera criação
insignificante de um Auror.

━ Uma chave de portal sob demanda pode ser algo ━ ela disse.

━ Portus é um encantamento pé no saco ━ Draco disse, tentando soar


resignado em vez de mal-humorado.

━ Já pensou em fabricar mais desses anéis? Poderia monetizá-los facilmente


━ Granger falou, segurando-o no alto.

━ Pareço precisar de dinheiro? ━ Draco perguntou.

Granger nivelou seu olhar nele. Suas costas ficaram rígidas. Eles estavam
perigosamente próximos de uma conversa civilizada e parecia ter esquecido
com quem estava falando. Ela fungou em vez de responder.

━ De qualquer forma, não posso produzir o anel em grande quantidade.

━ Certo. ━ Granger estava pesando o anel na palma da mão. ━ Porque isso


não é apenas uma bugiganga na qual coloca alguns encantamentos.

━ Não.

━ Isso é um artefato.

━ Correto.

━ Uma herança de família, se eu arriscasse um palpite.

━ Sim.

É claro que ela havia visto o feitiço de ocultação que fazia o anel parecer
uma simples aliança de prata. Agora havia tocado com sua varinha para
revelar a verdadeira sua aparência; um ouroboros prateado ornamentado,
comendo sua própria cauda. No interior, o lema da família: Sanctimonia
Vincet Semper. A pureza sempre vencerá.

━ Tem certeza que esse anel não vai tentar amputar meu dedo quando
colocá-lo? Não sou pura, afinal.

Draco sentiu a temperatura do escritório de Granger cair muito rápido.

━ Você viu algum sinal de magia das trevas? ━ Ele perguntou. Rápido
demais; pareceu na defensiva. Explosivo.

━ Se havia alguma, não existe mais ━ Granger falou. Ela tocou no anel
novamente, revertendo-o na aliança prata. Parecia pensativa.

━ Vou precisar de algum tempo para passar por essa lista extremamente
compreensiva de recomendações ━ disse no final.

━ Tire o tempo que precisar ━ Draco disse. ━ Mas saiba que a alternativa é
Shacklebolt montar um acampamento para eu passar a noite no seu
laboratório.

Ela olhou para ele e pareceu decidir que poderia estar brincando.

━ Vou precisar pensar sobre o item cinquenta e seis em particular. Você quer
o anel de volta durante esse tempo?

━ Fique com ele ━ Draco falou. ━ Dê para seus amigos analisarem. Não
existe um irmão Weasley supostamente bom nessas coisas? E quando sanar
suas dúvidas, me mande uma coruja e poderemos seguir em frente com
nossas vidas.

Granger se animou, como se continuar com sua vida sem uma craca em
forma de Draco presa a ela fosse a esperança mais gentil que ele poderia
oferecer.

━ Eu vou ━ disse.
Dois de seus estudantes, vestidos em suas estranhas capas brancas e óculos
de proteção, bateram na porta, animados para compartilhar algum novo
desenvolvimento com a querida professora Granger.

Draco se levantou para sair enquanto ela vestia seu próprio jaleco branco
para se juntar aos alunos no laboratório.

Havia um olhar estranho, conflitante, no rosto dela.

Draco, nunca fazendo as coisas do jeito fácil, meramente ergueu uma


sobrancelha para ela.

━ Eu suponho que devo te agradecer. Por trabalhar nisso como está fazendo.
Não tenho me esforçado, exatamente, tentando achar uma solução para o
pedido de Shacklebolt. O anel é uma boa ideia.

━ Acho que você está mais do que se esforçando em outro lugar ━ Draco
falou.

Ele foi embora. Ela murmurou algo que parecia ser um adeus.

──── ◉ ────

Ora, ora, ora. Temos um enredo sendo formado. Comentem suas primeiras
impressões!

Acho que a pergunta principal é: no que Hermione está trabalhando?


Apostas?

Um Draco debochado, eu amo! Tem taaaanto pela frente ainda, esperem


por bombas, mistério, tiros, brigas, mistério, ironias e mistério.

Nos vemos semana que vem, 26/05.


3. Chamada Domiciliar por
Inventor Genial

Espero que tenham tido uma ótima semana!

Boa leitura. Comentem e favoritem muito!

──── ◉ ────

A coruja de Draco recebeu um treino decente nos dias seguintes enquanto


ele e Granger negociavam várias das recomendações feitas. Ela sugeriu que
as medidas eram completamente draconianas (trocadilho proposital, me
perdoe) e tentou evitá-las, com um foco especial na visita domiciliar para
proteção personalizada.

Eventualmente, Draco puxou sua pena mais intensa e escreveu o seguinte:

Granger, as ordens de Shacklebolt para as proteções em sua casa estão


fora de negociação. Me informe quando seria mais conveniente nesta
semana. Se não, vou aparecer em uma hora inconveniente de propósito. - D
(de Draconiano).

Malfoy, não tenho certeza se ouviu meu suspiro exasperado de Londres,


então estou registrando a ocorrência para sua informação. Sou mais do
que capaz de aumentar as proteções em minha própria casa ou contratar
uma empresa para tal. Mas se Shacklebolt está insistindo na sua
inteligência em particular, que seja. Olhe meu cronograma para opções,
acabei de atualizá-lo. PS: Terça-feira parece a mais promissora, entretanto,
serei a médica (curandeira trouxa) de plantão na cirurgia e talvez tenha
que sair no meio. - H.
Granger, eu sei o que médica significa. - D.

──── ◉ ────

Então, como a casa de uma estudante nacionalmente famosa/heroína de


guerra/curandeira/campeã das causas-justas/pesquisadora em perigo
parecia?

Uma espécie de chalé em Cambridgeshire, aparentemente. Três quartos, na


melhor hipótese de Draco. Granger estava parada no portão. Enquanto ele
se aproximava partindo do ponto de aparatação, ela acenou sua varinha para
permitir que ele passasse por qualquer proteção preliminar que ela havia
lançado.

━ O que aconteceu com seu rosto? ━ Granger perguntou quando Draco se


aproximou.

Ela sempre ia direto ao ponto.

━ Balaço ━ Draco respondeu.

━ Oh. Parece ruim.

(Provavelmente sim; Zabini tinha um giro do mal).

Conforme se aproximava, viu Granger examinando seu ferimento com um


olhar experiente. Ela vacilou por um momento, e então, aparentemente
incapaz de resistir à boa ação, deixou escapar:

━ Quer que eu dê uma olhada?

━ Não. Já coloquei uma pomada ━ Draco disse, esfregando os dedos


lentamente na mandíbula machucada.

━ Vai deixar um hematoma adorável.

━ Estou bem. Vim para proteger sua casa, não para uma consulta.

Os lábios de Granger formaram uma linha fina.


━ Vai me convidar para entrar? ━ Draco perguntou, irritado por ela estar ali,
o avaliando com algo que parecia preocupação. Agora ele se sentia como
uma espécie de vampiro esperando por um convite.

━ Entre, então ━ Granger falou, um pouco incomodada, abrindo o portão.

Draco viu que ela estava vestindo uma outra versão do jaleco branco, dessa
vez, adornado com uma engenhoca pendurada no pescoço.

━ Esqueceu seu objeto de auto-asfixia ━ disse, apontando.

━ É um estetoscópio ━ Granger respondeu com um seu cretino não-dito


anexado no final da frase.

━ Certo ━ ele falou, não se dignando a pedir esclarecimentos. ━ Nos dê um


tour e vamos continuar.

Ela o trouxe para a entrada do chalé, a qual parecia uma sala, exceto que era
uma explosão de livros.

━ Você me repreendeu por colocar um livro um centímetro fora do lugar.


Olhe para esse desastre ━ Draco disse, irritado pela injustiça.

━ Isso é meu projeto digitalizado ━ ela contou. ━ É um desastre temporário.


━ Gesticulou para a máquina trouxa no centro de tudo, conectada a uma
versão chata de um computador.

━ Digitalizado?

━ Sim. Preservando o conhecimento mágico através de métodos trouxas,


pois estou ficando cansada de carregar livros enormes sobre o assunto,
encontrar material irreparavelmente danificado por algum idiota que
derrubou chá em uma página vinte anos atrás e de ter que procurar em
cartões de registro antigos como se fosse 1855. É um projeto de estimação
para meus livros mais raros. Infelizmente, não tenho muito tempo para me
dedicar como eu queria...
Ela levou Draco para a cozinha, mais parecida com um lugar trouxa,
desconsiderando a variedade de plantas mágicas que tomaram conta
explosivamente das janelas e várias poções aqui e ali. Havia algo mágico
cozinhando lentamente em um caldeirão em frente a lareira, mas ela levou
para longe.

━ Conservatório? ━ Draco perguntou quando foram para o próximo local.

Granger olhou para ele como se tivesse acabado de confirmar quão elegante
era.

━ Um conservatório? Isso não é a Casa de Ascott. O agente imobiliário


chamou de solário.

Isso parecia uma denominação otimista para Draco, que assistiu o granizo
de janeiro começar a chuviscar pelo vidro com ceticismo.

Então uma criatura laranja estranha com cara de amassado apareceu e fez
seu caminho para os tornozelos de Granger.

Em outro momento de otimismo, Granger o denominou como seu gato.

━ O que há de errado com seu gato? ━ Draco perguntou, curvando-se para


examinar a criatura com preocupação.

━ Não tem nada errado com ele ━ ela respondeu. Tanto Granger quanto a
criatura olharam para ele, ofendidos. ━ Ele é um Meio-Amasso e muito
inteligente. Não é, meu amor? Meu docinho? Meu anjo?

Conforme suas orelhas eram massageadas por Granger, o gato olhava para
Draco com uma expressão de puro desdém. Então decidiu que tivera o
suficiente da atenção dela e se virou para sair, seu rabo absurdamente
erguido para dar a ele uma ampla visão de seu orifício.

━ Encantador ━ Draco falou.

O tour continuou para o espaço apertado no andar de cima. Três pequenos


quartos, como Draco imaginara, com pontos de entrada previsíveis que ele
teria que proteger.

O primeiro parecia ser usado para estudo. Draco notou um tipo de pedestal
no meio do espaço. Nele havia um grimório, muito antigo e surrado,
rodeado pelo brilho de um feitiço de estase.

Granger viu o que chamou a atenção dele.

━ Uma tragédia. Não me pergunte ou posso chorar.

Draco não desejava lidar com lamentações literárias e não continuou o


assunto, mas fez uma nota mental do objeto para análise futura.

O segundo quarto estava bem vazio, exceto por um tapete comprido no


chão, velas e orquídeas. Qual ritual Granger estava se preparando para fazer
aqui? Ele tentou encontrar um sentido para a disposição das velas, mas não
combinou com nenhuma geometria ou algo que reconhecesse.

Finalmente, chegaram no quarto de Granger, no qual ela permitiu que ele


olhasse com evidente desconforto. Draco não conseguia achar um jeito
civilizado de dizer: pare de se mexer, eu só preciso ver como os vilões
podem tentar te sequestrar; não estou aqui para fuçar suas calcinhas.

Então ele não disse nada.

Um barulho desagradável começou a tocar em algum lugar perto de


Granger. Ela tirou uma coisa trouxa do tamanho de uma palma da mão do
bolso e falou nele. Pelo o que Draco entendeu, ela estava sendo chamada
para uma cirurgia por meio desse dispositivo.

Ela confirmou pela corrida através de Draco pelas escadas.

━ Tenho que ir. Acredito que viu o suficiente para se orientar. Por favor,
deixe as proteções permitirem que Bichento entre e saia. Ele gosta de
passear. Estarei de volta em algumas horas.

━ Bichento? ━ Draco perguntou enquanto Granger descia.


━ O gato! ━ Ela respondeu.

Ela desapareceu lá fora, mas em vez do crack da aparatação, Draco escutou


o som de um motor. Granger estava dirigindo. Um carro trouxa.

Esquisitice absoluta.

Ou talvez não, ele refletiu enquanto voltava para o jardim. Se ela estava
indo para uma cirurgia trouxa, teria que aparecer por meio trouxa; uma
aparição instantânea na porta iria levantar suspeitas.

Conforme ponderava sobre a vida dupla que Granger levava, Draco


começou o trabalho de proteção.

──── ◉ ────

Depois de quase duas horas de trabalho, Draco se deu por satisfeito. As


proteções precisariam ser atualizadas toda semana, porém ninguém seria
capaz de entrar sem a permissão de Granger. Pontos de entrada e saída
foram todos reforçados com o kit padrão de auror e algumas invenções de
Draco; as abordagens subterrâneas seriam frustradas por um robusto
Depellens Penetrationem e ataques aéreos seriam repelidos por um Caeli
Praesidium. A variedade usual de alarmes de invasão estava espalhada.

Francamente, para uma bruxa com a relativa fama de Granger, cujo os dois
amigos mais próximos agora eram aurores, suas medidas de proteções eram
insignificantes. Mas então, agora era tempo de paz e ela era estudante – não
uma criança perseguindo objetos das trevas para assassinar um bruxo do
mal sete vezes.

O Meio-Amasso olhou para ele através do granizo maliciosamente. Draco


adicionou a assinatura mágica da criatura nas proteções e disse isso ao
animal. A criatura piscou. Draco estava nervoso.

Assim que a chuva começou a diminuir, um carro entrou na rua atrás do


chalé. Granger virou a esquina um momento depois.

━ Ainda está aqui?


━ Acabei de terminar ━ Draco ofegou. Proteger era uma tarefa exaustiva.

O Meio-Amasso recebeu vários beijos em sua cabeça feia enquanto Draco


estava parado, tentando não parecer molhado e suado. E onde estava o
agradecimento dele, por favor?

━ Eu devo proteger seu carro ━ falou. ━ Já que o usa para se locomover


muito. E o local da cirurgia trouxa, se está lá regularmente.

Granger franziu a testa.

━ Meu carro é novo. Não pode protegê-lo; vai estragar alguma coisa.

Diante da ofensa confusa no rosto de Draco, ela adicionou:

━ Carros têm componentes elétricos agora. Talvez não tivessem quando


você fez Estudos dos Trouxas.

Isso foi dito como se Draco tivesse aproximadamente 120 anos e sua última
aula fora quando os carros eram chamados de carruagens.

━ Vou colocar um Bisbilhoscópio no porta-luvas ━ Granger falou.

Para alguém tão inteligente, ela certamente era idiota.

━ Excelente ━ Draco disse. ━ Definitivamente vai segurar um Bombarda


Maxima a vinte metros de distância. Poderei dizer a Shacklebolt que
tomamos todas as medidas necessárias para te proteger quando retirarmos
seus restos carbonizados dos destroços.

A imagem violenta foi um sucesso. Granger cedeu.

━ Ok. Você pode protegê-lo. Mas tente ficar longe do painel central com
todos os botões. Perto do volante.

O momento de triunfo de Draco foi arruinado por um longo e barulhento


rugido de fome, inconfundivelmente vindo de seu estômago (infelizmente;
ele estava preparado para culpar o gato).
Houve uma pausa. Os olhos de Granger voaram para a barriga de Draco.
Ela parecia estar lutando contra seus sentimentos naturais por ele e boas
maneiras. Então, finalmente:

━ Você deve estar faminto. Quer entrar? Tenho alguns biscoitos. Podemos
falar sobre as recomendações e o anel.

Ora, sim, Draco estava faminto. Duas horas de proteção realmente


esgotavam um homem. Porém, havia um menu de cinco pratos esperando
por ele na Mansão. Entretanto (bis), ele queria finalizar esse caso e ter sua
próxima conversa com Granger para a devolução do anel meses depois.

━ Tudo bem ━ Draco disse.

Ele entrou no banheiro para se refrescar, o que resumiu em lançar um


Scourgify em suas axilas (o ápice da classe, mamãe ficaria orgulhosa),
feitiços de secagem em suas roupas e jogar água no rosto. Seu cabelo
parecia uma causa perdida esta noite. Não que tivesse alguém para
surpreender aqui. Além disso, nesse chalé, com Granger, a Anêmona
Humana, e sua toalha de banheiro laranja como animal de estimação, seu
cabelo ainda era o melhor do show.

Seu visual completo foi complementado pelo magnífico hematoma


crescendo na mandíbula. Ele colocou mais pomada ali, preocupado que
Granger estivesse certa sobre quão ruim ficaria.

Caminhou até a cozinha, onde ela tinha o rolo de recomendações e o anel


sobre a mesa. A mulher removeu seu jaleco branco e o jogou dentro de uma
máquina trouxa no final do balcão (julgado pela quantidade de pilhas ao
redor, um aparelho de lavagem). Outra blusa de manga comprida por baixo
– quem diria que ela tinha uma aversão em expor seus cotovelos?

A mesa da cozinha estava em um canto. Draco então se sentou ao lado dela.


Dessa posição – muito mais perto do que estivera até então – notou que ela
tinha peitos decentes.

Entretanto, Granger escolheu esse momento para abrir o pergaminho –


agora liberadamente rabiscado com questionamentos e contra-propostas – e
Draco estava incapaz de se sentir atraído porque estava sendo sufocado por
ondas de vasto saber.

━ Algumas de minhas maiores preocupações ━ Granger disse, acenando a


mandíbula em direção ao pergaminho, que prometia uma longa e árdua
noite de discussão. ━ Mas primeiro, vamos comer algo.

Ela vasculhou um armário praticamente vazio e colocou algumas opções


sobre a mesa.

No que dizia respeito a Draco, o principal ponto da dieta era pêlo de gato.
Ele puxou alguns fios alaranjados de sua boca enquanto o gato (criatura
infernal) serpenteava pelos pés da cadeira dele, olhando-o
presunçosamente.

Granger fez a cortesia de parecer envergonhada quando percebeu.

━ Me desculpe! ━ Ela acenou a varinha na direção de Draco, fazendo com


que a maior parte desaparecesse. ━ Está em todo lugar. Às vezes acho que
ele realmente quer que apareça em lugares indescritíveis.

Draco, ainda puxando os fios, disse um "Ptht" como resposta, mas o que
realmente queria dizer era: se eu achar pêlos em minhas bolas esta noite,
vou esfolar o animal com minhas próprias mãos.

Granger rasgou o pacote de alguma coisa e passou para ele.

━ O que é isso? ━ Draco perguntou, segurando um deles no alto.

━ Cheetos de queijo.

O que explicou tudo, obviamente.

Já ela, comeu atum diretamente do pote.

━ Cruzes, Granger ━ ele falou.


━ É proteína ━ Granger falou. Olhou para o olhar medíocre que Draco
estava dando e entrou na defensiva. ━ Não tive tempo de ir às compras.

━ Por que não manda um elfo domést...

Assim que as palavras saíram de sua boca, ele se interrompeu, mas era tarde
demais. Granger estava olhando para como se tivesse confirmado, pela
segunda vez na noite, que ele era um imbecil muito privilegiado.

Ela se levantou, mandíbula cerrada, para fazer chá. Pareceu uma desculpa
para se afastar imediatamente dele.

Mas, de qualquer forma, Draco não estava aqui para fazer amigos.

Granger batia com a chaleira. Parecia estar segurando uma certa quantidade
de insultos destinados a ele. Draco discretamente verificou seus bolsos.
Tinha um bezoar, caso seu chá tivesse algum aditivo especial, cortesia da
Defensora dos Elfos Domésticos.

Granger colocou suas canecas na mesa com mais firmeza do que o


necessário. Não havia evidência imediata de veneno. Ela havia encontrado
um pacote de biscoitos para acompanhar o chá. Draco comeu dois terços
como uma coisa faminta, e se eles estivessem envenenados, foda-se.

Então Granger endireitou o pergaminho, pareceu – com esforço –


compartimentar seus sentimentos sobre Draco, o Vagabundo, e se tornou
uma negociadora.

Ela o questionou sobre as recomendações como se ele fosse um auror


aprendiz que tivesse submetido-as para revisão e deveria estar grato pela
opinião. Então eles discutiram ao longo da lista: no item 14, se ele
adicionaria proteções às enfermarias do laboratório (ele concedeu); no item
26, se ela realmente precisava avisar quando saísse da cidade (sim) e caso
positivo, com quanto tempo de antecedência (24 horas); no item 33, o que
significava "evento público" (mais de quarenta pessoas); no item 34, por
que tinha que avisá-lo sobre sua presença com trouxas (porque sim); se ele
podia não fazê-la deixar sua casa invisível porque tinha amigos trouxas que
poderiam querer visitar (não); e uma coisa aqui e ali até chegarem no item
56.

Granger colocou mais chá e pegou outro pacote de biscoitos, já que Draco
engoliu o outro inteiramente.

━ Então. O anel ━ Granger falou.

━ O anel ━ ele repetiu. O ponto crucial da coisa; o objeto que significava


que ele poderia continuar sua vida relativamente feliz, liberto de Granger e
ainda satisfazendo o Ministro e Tonks.

━ Tive isso analisado por alguns especialistas. Parece bem seguro. Na


verdade, eles ficaram muito impressionados.

Draco queria dizer: naturalmente; eu sou um gênio. Onde está seu FitZit
agora?

Ele tomou um gole de chá generoso em vez disso.

━ Também falei com Tonks sobre ━ Granger continuou. ━ Ela


provavelmente te falou o quanto gostou da ideia. Significa que você será
capaz de trabalhar em outras coisas enquanto me monitora a distância.
Então, dito isso, com várias opiniões sobre e pouquíssimos contras, estou
disposta a prosseguir. Mas tenho uma pergunta para você antes.

━ Sim? ━ Draco disse, mesmo tendo uma noção do que seria. Na verdade,
ele estava surpreso por ela não ter perguntado antes.

━ Como a informação rastreada pelo anel chega até você?

Draco levantou a mão e acenou a varinha nela, cancelando o feitiço Não-


me-Note ali.

━ Ah ━ Granger falou quando o anel prata no dedo de Draco apareceu.

O olhar dela foi do anel dele para o que estava na mesa. Então, depois de
algumas deliberações pessoais em seu cérebro grande disse, muito
sabiamente, na opinião de Draco:

━ Não devo fazer mais perguntas sobre o uso original disso. Sinto que mais
detalhes irão me afastar da coisa toda.

━ Uma boa decisão ━ Draco falou.

Porque sim, esses anéis antigos foram usados por casais na família Malfoy.
Sua mãe havia tirado o dela alguns anos atrás, depois da morte de Lúcio
Malfoy em Azkaban – o silêncio do anel era um lembrete constante da
perda e ela não aguentava mais usá-lo.

Draco os modificou para que apenas tivessem uma comunicação de via


única entre o anel dela e o dele. Granger certamente não precisava ser
alertada cada vez que o coração dele acelerava quando estivesse batendo
uma punheta matinal, obrigado.

Vivendo feliz na ignorância desses pensamentos, Granger perguntou:

━ Tem algo especial que devo fazer ou apenas... apenas colocá-lo?

━ Eu faço isso ━ Draco disse. ━ Precisa ser feito pela pessoa usando o
anel... er, o parceiro.

Ele tentou parecer rude e profissional sobre, mas havia muitas coisas no
mundo tão pouco profissionais como um homem colocando um anel na mão
de uma mulher, e foi estranho apesar de suas melhores tentativas. Se
perguntou se Granger achou tão estranho quanto ele. Ela estava estudando o
papel de parede da cozinha, um tom de rosa em suas bochechas.

A mão dela era pequena na dele e delicada. O anel deslizou sem esforço.
Ele sentiu um tipo de reflexo em seu próprio – tinha alguém para conversar
agora.

━ O sinal de socorro é ativado girando o anel três vezes ━ Draco falou para
quebrar o silêncio. ━ Faça isso e irei aparatar até você imediatamente.

Granger espantou a fascinação pelo papel de parede.


━ Tudo bem.

━ Use-o apenas em situações de emergência, Granger. Não porque você


achou um livro com chá derrubado nele.

━ Estou torcendo muito para nunca ter que usá-lo na verdade. ━ Ela olhou
para o anel brilhando em sua mão. ━ Pelo menos essa coisa não tentou me
matar imediatamente.

━ Não fique muito confortável. Isso pode durar muito tempo.

Draco bateu no pergaminho que eles discutiram sobre repetidamente,


integrando os resultados rabiscados de sua discussão em uma versão oficial.
Então ele criou uma duplicata para ela.

━ Agora que finalizamos, você deve ficar com isso. Estabelecemos um


dever de cuidado e eu prefiro não ser arrastado em frente ao Wizengamot
por negligência profissional que resultou na morte da grande Hermione
Granger.

━ Entendi. ━ Veio a séria resposta da grande Hermione Granger.

━ Bom. Agora, antes de eu ir, uma última coisa. ━ Draco colocou a mão no
bolso. ━ Minha coruja perdeu metade do peso desde que começamos a nos
comunicar, então eu...

━ Dê a ele mais torta de melado ━ Granger interveio. O gato dela estava em


seu colo, terminando a lata de atum.

━ ...Eu decidi ceder à moda e comprar essas coisas ━ Draco terminou. Ele
colocou um par de Blocos-Falantes Weasley. ━ Você provavelmente ouviu
sobre eles; febre entre os mais jovens. Corujas não são mais as certas. Não
rápidas o suficiente.

Na opinião de Draco, um triste fim para uma longa tradição bruxa. Não se
pode escrever uma carta com palavras intensas em um Bloco-Falante –
simplesmente não pode.
━ Eu conheço isso ━ Granger falou. Ela estava explicitamente segurando
um sorriso malicioso. Draco pesou os prós e contras de perguntá-la a razão
do sorriso. Ele decidiu contra: entre ela e o gato, os níveis de presunção no
local logo lhe causariam uma asfixia.

━ Então você sabe como eles funcionam? ━ Draco perguntou, devolvendo o


pequeno bloco de notas mágico.

━ Sim ━ ela respondeu, aceitando o objeto. ━ Obrigada. Sinto muito por sua
coruja.

━ Ele vai se recuperar e logo engordar pela falta de exercício.

Com o trabalho feito, Draco levantou com um murmúrio geral de


agradecimento pelo chá. Granger respondeu com algumas palavras
inaudíveis sobre a gratidão pela proteção.

O gato tentou fazê-lo tropeçar e quebrar o pescoço na saída da cozinha.

Draco decidiu que aquilo foi um fim aceitável para uma noite desagradável.

──── ◉ ────

Aproveitem o próximo!
4. Imbolc

Boa leitura!

──── ◉ ────

Em seus anos trabalhando com Potter e Weasley, Draco desenvolveu um


relacionamento profissional legal com eles, o qual Weasley demonstrou na
manhã seguinte, falando:

━ Ei! Idiota! ━ Pairando sobre a parede do cubículo de Draco como um


fantoche ruivo desarticulado.

━ O que você quer, Weasley?

━ Ouvimos falar que Hermione recebeu a proteção de auror. E que o cara é


um babaca ━ ele falou.

━ Essa foi a descrição dela ou a sua?

Potter, com cabelo desastroso e olhos verdes vívidos, surgiu na parede do


cubículo e disse:

━ A nossa. Ela disse que você foi muito profissional. Sabemos a verdade.

━ Sortudo ━ Weasley falou. ━ Como Tonks nos dá vampiros e você cuida de


Hermione? Sequer gosta dela.

━ Eu entendo que isso é uma questão de competência ━ Draco disse. ━


Tonks disse que precisava designar o melhor auror para proteger a maior
mente do Reino Unido...

Weasley tossiu; Potter riu.


━ E aurores incômodos para lidar com vampiros incômodos ━ Draco
terminou.

━ Eu não falei nada disso. ━ Tonks disse, gingando na forma de um homem


gordo e baixinho. ━ Não deveriam todos estarem trabalhando, seus
fanfarrões? Todos vocês são aurores incômodos, na minha opinião.

Potter e Weasley gargalharam. Draco estava ofendido.

━ De qualquer forma, no que Hermione está trabalhando que deixou o velho


Shack tão nervoso? ━ Weasley perguntou. ━ Ela não vai nos dizer.

━ Essa informação é sigilosa ━ Draco respondeu, batendo no nariz.

Ele também não tinha ideia, mas provocar a Dupla Incômoda era sempre
prazeroso. Os dois pareciam irritados por Draco aparentemente saber de
algo que eles não tinham conhecimento.

━ Trabalho! ━ Tonks gritou do escritório.

━ Sim, chefe ━ Weasley respondeu.

━ Palavras sábias, Malfoy ━ Potter disse enquanto saía ━ não insulte o gato
de Hermione.

━ Tarde demais ━ Draco falou.

──── ◉ ────

Duas semanas se passaram e Granger ficara muito quieta durante elas. O


anel foi calibrado para alertar Draco sobre mudanças fisiológicas ou
emocionais extremas que podiam indicar perigo imediato: picos
significativos de medo, pânico, dor ou um nível anormal de frequência
cardíaca.

No geral, Granger parecia milagrosamente equilibrada. Houve um dia


quando o anel de Draco brilhou pela manhã, sinalizando que o pulso dela
estava elevado em vários pontos, mas não tanto a ponto de significar
pânico.

Ele tirou isso da cabeça e se juntou a Goggin e alguns aurores juniores para
uma sessão de duelos de combate. Tonks insistiu que os seus funcionários
não apenas mantivessem o nível através de uma prática rigorosa, mas
também as habilidades como lutadores físicos. Muitos reclamaram por ter
que aprender a lutar como trouxas. Tonks os manteve na linha. Um auror
desarmado com treinamento de luta ainda poderia manobrar, desarmar ou
mutilar um oponente, se mantivesse o juízo sobre ele. Um auror desarmado
sem essas coisas era um auror muito morto.

O pulso elevado de Granger – a quarta vez naquela manhã – interrompeu o


treino de Draco. Sua distração momentânea rendeu-lhe um gancho firme de
Goggin.

Ele pediu uma pausa, cerrando a mandíbula e usando o Bloco para enviar a
Granger uma mensagem irritada, consistindo apenas na pontuação: ???

Ela respondeu com uma nota rápida: Perdi um paciente.

Draco não respondeu, mais por não saber o que dizer, mas também porque
Goggin decidiu que aquela pausa estava acabada e agora tentava lhe causar
uma concussão.

Um tempo depois, ele recebeu uma nota de Granger: A propósito, estou


saindo da cidade amanhã de manhã, apenas por um dia. Sei que nosso
acordo diz 24h para saídas, mas isso é mais que 12h. Me desculpe, está
sendo infernal hoje.

Onde? Foi a resposta de Draco.

Somerset. Foi a de Granger.

Por que?

Feriado?

Um daqueles com asterisco?


Granger não respondeu. Então, sim.

Naquela noite, enquanto Draco estava jantando, seu anel sinalizava dor.
Mas não era dor física. Era a dor do luto, de algum lugar em
Cambridgeshire. A pungência do sentimento o surpreendeu. A sinceridade.
Granger realmente era uma benfeitora para o efeito. Ele supôs que ela
chegara em casa e estava cedendo à perda do paciente.

━ Draco? Está tudo bem?

Ele se encontrou sendo observado pelos olhos azuis pensativos de Narcisa


Malfoy. Percebeu que parara de comer quando o luto fantasma inundou
seus sentidos.

━ Estou bem ━ ele disse. ━ Apenas pensando no trabalho.

Draco não contara para sua mãe que pegou os anéis Malfoy. Ele tinha
certeza que ela não concordaria com seu redirecionamento e nem com a
escolha do parceiro.

Ele procurou um assunto seguro para conversar e parou no arranjo melhor


do que usual no centro da mesa. A floricultura era um dos hobbies de sua
mãe.

━ Você gostou? ━ Sua mãe perguntou, inclinando-se para tocar algumas das
pétalas delicadas. Ela parecia estar pensativa. ━ Amanhã é Imbolc.

━ Imbolc? ━ A palavra era vagamente familiar para Draco. Algum festival


pagão ou algo do tipo.

Narcisa puxou uma rosa já perfeitamente colocada e a recolocou ainda mais


perfeitamente no buquê.

━ Sim. Marca o final do inverno. Sua avó costumava acompanhar essas


tradições antigas quando eu era pequena. A casa seria decorada com flocos
de neve e narcisos em cada superfície, nós teríamos uma festa e nos
sentiríamos esperançosos, sabendo que a primavera finalmente estava
chegando.
Draco respondeu algo educado. Sua mãe o assistiu comer, as próprias mãos
sobre o colo.

Ela tinha algo mais a dizer.

━ O que foi? ━ Ele perguntou.

━ Você vai estar em casa amanhã? Terei algumas amigas vindo para o chá.

Draco fez alguns cálculos rápidos. Essas algumas amigas certamente teriam
filhas adoráveis e amorosas, que sem dúvida viriam também. Sua mãe tinha
ficado bem menos sutil em relação ao casamento desde que ele fizera trinta
anos.

Infelizmente, para Narcisa (e as jovens elegíveis), o próprio interesse de


Draco em algo mais longo do que escapadas nos finais de semana em Paris
era nulo. Ele tivera um longo namoro com Astoria por um ano – dois - e foi
suficiente para confirmar que não importava quão puro-sangue e bem criada
a bruxa era, ele não estava pronto para o casamento.

A nota de Granger mais cedo ofereceu uma saída conveniente. Draco sorriu
e disse:

━ Estarei trabalhando. Negócios em Somerset amanhã.

A própria Granger não sabia que teria companhia, uma pena para ela. Ele
chamaria de verificação. A segurança dela contra ameaças – reais ou
imaginadas por Shacklebolt – era sua maior prioridade, no final das contas.

Narcisa não parecia surpresa pela desculpa pronta.

━ Uma pena. Na próxima vez, então.

Jantar finalizado. Draco se retirou para seus aposentos, onde tomou um


longo banho e cuidou de seus ferimentos do treinamento.

Seu Bloco vibrou. Ele o convocou para achar uma nota de Granger, uma
resposta atrasada para a pergunta dele. Sim, um dos feriados com asterisco.
Um ponto turístico. Vou girar o anel se precisar de você.

A última frase foi algo como: Eu não preciso de você, não venha, você não
está convidado.

Com certeza ela ficaria irada quando ele aparecesse. O pensamento


provocou um inesperado arrepio de diversão.

Então algo que ficou marinando no subconsciente de Draco desde o jantar


entrou no lugar. Ele saiu da banheira, se secou com alguns acenos de
varinha e convocou o cronograma de Granger.

Amanhã era... o que sua mãe disse? Imbolc?

E aquilo coincidiu com um dos asteriscos de Granger.

Existiam outras coincidências tão interessantes? Ele foi para as outras datas.
O próximo asterisco era no último final de semana de Março. Então outro
no começo de Maio. Então Junho. Depois, início de Agosto.

Empolgado com o triunfo antecipado, Draco desceu para a biblioteca da


Mansão, onde pegou alguns volumes das Tradições Pagãs Celtas e
Germânicas.

Ele estava certo. As datas de Granger combinavam com os calendários


antigos. Draco rolou as palavras velhas em sua língua. Imbolc. Ostara.
Beltane. Litha. Lughnasadh. Mabon. Samhain.

O que Granger estava aprontando?

Draco estava oficialmente intrigado.

──── ◉ ────

Draco deu a Hermione a manhã para partir em sua aventura em Somerset


antes de se juntar a ela. Aquilo o permitiu um descanso requintado, um voo
revigorante sobre o vento de Fevereiro e a oportunidade de um brunch
luxuoso. Ele beijou a bochecha de sua mãe com desculpas não-sinceras
sobre perder o chá.
Somerset estava longe o suficiente de Wiltshire que Draco teve que ir de flu
até um pub bruxo em Cannington antes de aparatar para a localização do
anel de Granger.

A aparatação tomou mais tempo que o normal, com um tipo de estiramento


estranho no final, como se estivesse tentando acompanhar o destino.
Quando chegou, Draco entendeu o porquê.

Granger estava se movendo bastante rápido, dado que estava descendo uma
estrada rural em seu carro.

Ela gritou quando Draco se materializou no assento ao lado dela. A cabeça


estava na área dos pés do passageiro e suas botas, pela sensação, estavam
no rosto de Granger. Não foi sua chegada mais graciosa.

Granger freou e parou o carro de uma vez. Draco se arrumou do jeito certo
com dificuldade quando uma enxurrada de perguntas chegou, incluindo: o
que diabos ele pensava que estava fazendo, quem pensava que era, como
ousava e se ele era insano ou não.

A voz de Granger podia ser bem estridente. Penetrante, na verdade.

━ Você acabou de aparatar em um alvo em movimento. Você perdeu


completamente a noção? Poderia ter se estrunchado em centenas de
pedaços, espalhados pela A37!

━ Eu não esperava que estivesse em movimento ━ Draco disse, se sentindo


desgrenhado e um pouco enjoado. ━ Por que você está dirigindo?

━ Porque você me disse que a aparatação e flu eram rastreáveis.

━ Quem se importa se são rastreáveis? Você tem permissão para aproveitar


um feriado. Manhã legal para isso, a propósito ━ ele adicionou, enquanto a
chuva castigava o carro. ━ A menos que seu feriado tenha algo a ver com
seu projeto?

Granger olhou para ele.


━ Aha ━ Draco falou.

Vendo que o pior da briga havia passado, Draco, tendo visto um espelho
logo acima da cabeça de Granger, o virou para si mesmo. Era a altura
perfeita para checar seu cabelo. Trouxas eram bons, realmente – eles tinham
as prioridades definidas.

Granger gaguejou.

━ Você acabou de pegar meu espelho retrovisor para consertar seu cabelo?

━ Você o terá de volta em um momento ━ Draco disse.

Granger estava encarando ele com uma expressão de desgosto grande o


suficiente para enervar um homem menor.

Ela girou o espelho de volta para si mesma.

━ Preciso disso. E tire seu pé enorme do meu painel.

━ Não é minha culpa que seu carro é tão apertado ━ Draco falou, tentando
puxar suas pernas para si.

━ E não é minha culpa que você é uma marionete desengonçada que decidiu
aparatar dentro do meu Mini Cooper.

Antes que Draco tivesse tempo para registrar sua ofensa para essa
comparação injusta, ela chegou no cerne da questão:

━ E por que você está aqui?

━ Estou conduzindo uma verificação local ━ Draco respondeu.

━ Uma verificação local ━ Granger repetiu, parecendo completamente não


convencida.

━ Sim.

━ E? Você estabeleceu que estou sã física e mentalmente?


Draco a examinou criticamente. Ela parecia sã, fisicamente falando, pelo o
que poderia ver sobre o chapéu, jaqueta corta-vento, cachecol e botas
trouxas. A sanidade mental era mais difícil de avaliar; havia o brilho de algo
perigoso nos olhos dela.

━ E então? ━ Ela pressionou. ━ Estou bem, como pode ver. Pode ir embora
agora.

Draco decidiu pegar a estrada e tentar alguma honestidade.

━ Também estou usando isso como pretexto.

━ Um pretexto para o quê?

━ Evitar alguns desagrados em casa.

━ Que tipo de desagrado?

Um tipo implacável de bruxa.

━ Minha mãe trazendo damas para o chá.

O que quer que Granger estava esperando, não era isso. Uma expressão
estranha brilhou em seu rosto, como se estivesse segurando uma risada.

━ Damas para o chá? ━ Ela repetiu.

━ Sim. O que é tão engraçado?

━ Pensei que seria algo mais assustador. ━ O riso contido desapareceu. ━ De


qualquer forma, eu não quero sofrer porque você está com medo de
algumas moças. Não preciso e não quero você me seguindo hoje. Tenho
coisas a fazer.

━ É Imbolc hoje ━ Draco disse em tom de conversa. ━ Você sabia?

Granger não disse nada, mas parecia irritada.


━ Por que está em Somerset durante o Imbolc? ━ Draco perguntou. ━ Eu
não sabia que você mantinha os velhos costumes. Não parece ser o tipo que
gosta de flores e dançar ao redor de postes.

Quando Granger não o respondeu novamente, Draco sorriu, malicioso, e se


acomodou no assento.

━ Avaliei a situação e, como obviamente tem a ver com seu projeto


perigoso, estarei te monitorando hoje, para sua própria segurança. Item 11
das minhas recomendações. Não discuta.

━ Eu vou te expulsar deste carro ━ Granger falou.

━ Você não pode fazer isso.

━ Eu posso. Esse botão, aqui ━ ela falou, apontando para uma coisa redonda
no painel. ━ É um recurso de segurança que os trouxas inventaram.

Um apito começou a soar pelo carro. Granger pulou.

━ O que é isso?

━ Oh, isso ━ Draco disse. ━ Um recurso de segurança que os bruxos


inventaram. Eu coloquei um Bisbilhoscópio em seu porta-luvas, como você
sugeriu. Você mentiu para mim sobre esse botão de expulsão e estou
magoado.

Granger se aproximou dele e abriu o porta-luvas ("Ow, meus joelhos"), para


ver que realmente havia um Bisbilhoscópio ali. Apitou e brilhou por mais
alguns momentos e então, dado que não havia mais mentiras, parou.

Houve um longo silêncio. Granger voltou ao seu assento, inclinou a cabeça


no volante e aparentemente parecia estar se recompondo.

━ Tá bom ━ ela disse no final. ━ Você pode ficar enquanto esse chá
angustiante de sua mãe dura. Apenas não fique em meu caminho.

Ela virou a chave na ignição do carro e o ligou.


━ Coloque seu cinto de segurança. Ou não. Suponho que eu não ligo se
você morrer horrivelmente.

O Bisbilhoscópio gemeu novamente. Granger xingou de forma bastante


colorida.

━ O que esse botão realmente faz? ━ Draco perguntou quando o barulho


cessou.

A pergunta inocente pareceu deixar Granger ativa de novo.

━ Costumava ser o rádio, até a proteção de alguém estragar tudo. Agora só


toca músicas tradicionais austríacas.

Draco pressionou o botão. Músicas austríacas tradicionais começaram a


tocar.

As mãos de Granger estavam firmes no volante enquanto voltava para a


estrada.

Estava claro que, na opinião dela, Draco era o verdadeiro Auror Incômodo.

──── ◉ ────

A sinalização trouxa era excelente. Enquanto seguiam o caminho mais


adentro da estrada, Draco foi capaz de deduzir seu destino final com um
grau de certeza.

━ Glastonbury ━ disse. ━ Interessante.

Granger não falou nada. Seu desagrado com sua presença continuou e ela
não estava escondendo. Pouco importava para Draco – um passeio chuvoso
através da estrada de terra inglesa com uma Granger irritada era uma
mudança refrescante em relação aos usuais lanches minúsculos e coquetéis
com caçadoras de dinheiro indecentes.

Honestamente, a estrada com ventos, a música austríaca, a bruxa fumegante


– era um absurdo, era legal, era divertido.
Draco se aproximou para pressionar outro botão no centro do painel, por
pura curiosidade. Granger bateu em sua mão para afastá-lo.

Ela tinha reflexos decentes, Draco refletiu enquanto chupava sua junta
dolorida.

Em vez de ficar na estrada que levava direto para a cidade de Glastonbury,


Granger fez um desvio para um estacionamento nos limites da floresta.

Ali serpenteava uma trilha para a floresta, muito encharcada e com


aparência congelada nessa época do ano.

━ O que é isso? ━ Draco perguntou.

━ A Estrada Mendip ━ Granger respondeu, da forma que fazia sem


realmente dar sentido à resposta. Ela saiu do carro. ━ Estou indo caminhar.
Você deveria esperar aqui.

Ele deveria? Tão generosa. Draco – depois de uma breve luta com a
maçaneta – saiu do veículo. Segurou os gemidos enquanto trazia um pouco
de sensação de volta para as pernas.

Granger observou sua emergência com o Mini com as mãos na cintura. Ele
a sentiu observando sua escolha de roupas (as vestes de auror sobre o traje
perene) e calçados (botas perfeitamente funcionais de couro de dragão). Ela
devia ter concluído que isso serviria – ou não, não serviria e o colocaria em
perigo, e aquilo estava perfeito.

De qualquer forma, ela virou e começou a andar em direção à floresta.

Draco a viu lançando alguns feitiços repelentes de chuva e encantamentos


de aquecimento sobre si. Ele a imitou; parecia uma boa ideia.

Quando entraram na Estrada Mendip, Draco lançou alguns feitiços de


detecção, procurando por outras pessoas, mágica ou trouxa. Entretanto,
parecia que apenas ele e Granger eram loucos o suficiente para dar uma
volta em um dia como esse. Além de alguns veados em uma clareira
próxima, eles estavam sozinhos.
Satisfeito que nenhum louco estava prestes a aparecer e atacar Granger,
Draco a alcançou em algumas passadas longas.

Rapidamente, ficou óbvio que não era uma caminhada em prol da saúde
dela. Ela estava procurando por algo. Ou vários algos. Olhou para a
vegetação rasteira, tocou os troncos de árvores, gentilmente pegou as folhas
das samambaias na palma da mão e as estudou. Ela não pegou nada, no
entanto, e assim anulou qualquer teoria sobre coleta de ingredientes que
Draco estivera suspeitando.

Eles progrediram dessa forma por mais de meia hora, marcada por uma
pausa para renovar os desbotados feitiços Impervius.

Finalmente, Granger parou e puxou uma lista.

Draco, sem nenhuma vergonha, espiou pelo ombro dela.

Singing Sedge - Rouxinol

Greater Bladderwort - Bexiga Aquática

Royal Fern - Feto Real

Ophioglossun vulgatum - Samambaia Língua de Víbora

Wood-sorrel - Oxalis

Mellifluous Honewort

Helianthemum apenninum

Helianthemum nummularium

Spiny Restharrow - Ononis spinosa

Tassel Moss

Granger usou sua varinha para riscar a maioria dos itens. Restou apenas o
Tassel Moss.
━ O que é Tassel Moss? ━ Draco perguntou.

Granger se afastou dele. Aparentemente, ela tinha tanto em sua própria


cabeça que nem se lembrava que ele estava ali, muito menos notado que
estava espiando sobre o ombro dela.

Sua mão voou para seu coração acelerado (Draco sentiu as batidas através
do anel). Ele esperava ser repreendido. Entretanto, o mau humor dela
parecia ter sido substituído pela dúvida animada relacionada à lista.

━ Um dos musgos mais raros dessa parte da Inglaterra ━ respondeu.

━ Por que está procurando isso?

Granger começou a andar novamente, sua atenção focada, desta vez, em


troncos mortos, tocos velhos e outros habitats como esse.

━ Porque vai confirmar que estou no lugar certo.

━ Lugar certo para quê?

Granger espantou a pergunta.

━ Estou confirmando uma teoria, apenas.

━ Qual teoria?

(Draco podia ser implacável também.)

━ Uma coisa relacionada com meu projeto ━ Granger respondeu com


ambiguidade irritante.

━ O que musgo tem a ver com suas Células-Quimera ou algo do tipo?

━ Nada. Pelo menos, não diretamente. ━ Ela se virou para olhar para ele
através da chuva, como se quisesse avaliar se valia a pena dizer. ━ Estou
refazendo os passos de uma bruxa velha e esquisita, cujo trabalho incluía,
entre tantas coisas, as descrições de certos locais sagrados nas Ilhas
Britânicas.

━ Então, o Vale de Avalon?

━ Especificamente, poços de Glastonbury. Ou pelo menos é minha aposta.


Quase nada de seu trabalho existe hoje. Tudo o que temos são fragmentos.
Ela tendia a encenar liricamente sobre a flora, o que me ajuda a diminuir as
possíveis localizações por referência cruzada das plantas raras. É claro, ela
estava escrevendo há mil anos atrás, então as coisas devem ter mudado.
Mas alguns lugares na ilha suportariam tanto o Rouxinol como o Mellifuous
Honewart. Eles normalmente prosperam em ecossistemas radicalmente
diferentes, como você deve saber...

Não, Draco não sabia – na verdade, ele nunca ouvira falar sobre essas
plantas – mas acenou em vez de admitir isso.

Quando olhou para cima, em um momento de parar o coração, Granger


desapareceu – ele agarrou a varinha – então viu seu traseiro cutucando a
beira do caminho. Ela estava de joelhos, apoiada com as mãos no chão,
examinando um buraco bastante molhado.

O que quer que tenha chamado sua atenção, não era o que ela estava
procurando. Ela se levantou. Não parecia desapontada, ao contrário, parecia
determinada. E suja.

━ Tassel Moss parece como você imagina ━ Granger disse. ━ Pequenos


pendões sobre o topo. É o esporângio, incomumente grande no gênero. Eles
ficam rosa no verão. É claro, estamos um pouco adiantados para isso.

Essa mulher era uma gênia da Herbologia além de tudo? Draco se


perguntou quanto do limitado sucesso acadêmico de Potter e Weasley teve a
ver com absorver o conhecimento dela por osmose intelectual.

Ela era, francamente, esmagadora.

Granger continuou pelo caminho, agachando-se ocasionalmente para


observar as coisas. Foi um passeio bastante pacífico, com os feitiços
mantendo-o seco, o som da chuva e o ocasional canto de um pássaro, e as
verbalizações de Granger dizendo a vários musgos porquê eles não eram o
certo.

Pela primeira vez desde que ele pegara o caso de Granger das mãos de
Tonks, Draco se sentiu feliz pela decisão. Isso era com certeza mais
prazeroso do que a maior parte do trabalho como auror – menos maldições
e eviscerações vindo em sua direção, para começo de conversa.

E, bônus, o livrou do chá com as moças e prometeu ainda mais


oportunidades para tal. Aquele cenário seria a zombaria de Granger sobre
seu conjunto de chá – chapéu torto, seu rosto sujo de terra, escavando valas
em vez de buscar um marido rico. Mas na verdade, ela estava fazendo algo
bom para o mundo bruxo, e o que, por favor, eles conseguiram?

━ Acho que encontrei! ━ Granger chamou.

Draco empurrou alguns arbustos para ser, mais uma vez, presenteado com a
vista da bunda de Granger. A familiaridade gerava conforto – ele estava
desenvolvendo muita apreço por isso.

Por razões conhecidas apenas por ela, Granger quase pressionou o rosto em
um pedaço de musgo e estava cheirando-o fortemente.

━ Granger, o quê...

━ É suposto que tenha o cheiro de algodão-doce. E tem! ━ Disse,


levantando em um salto.

Havia sujeira no topo do nariz dela. Nas sombras dos grandes carvalhos ao
redor deles, os olhos escuros dela brilhavam com algum tipo de excitação.
Um cacho úmido grupo na boca dela. Suas bochechas estavam rosadas pelo
vento de Fevereiro. Um sorriso brilhou para ele, algo breve e raro.

Draco percebeu, com um choque, que Granger era bonita.

Ela bateu as mãos juntas e gritou para o pedaço de musgo, como se fosse
um tesouro que valia milhares e milhares de Galeões.
Antes que Draco pudesse processar sua percepção, um grito rouco ecoou de
algum canto distante na floresta. Para seu aborrecimento, Granger deslizou
para o lado dele imediatamente, a varinha levantada.

O barulho estranho continuou. Quando ela viu que ele não reagiu e não
parecia alarmado, perguntou:

━ O que é esse barulho horrível?

━ É uma raposa ━ Draco disse.

━ Oh.

━ Alguma raposa no cio pedindo para ser pega por trás.

━ Entendi ━ Granger disse.

Outro grito. Draco queria rir – a expressão de Granger ficou rapidamente


afetada.

Ela puxou a lista de plantas e riscou a última linha que sobrou.

━ Isso é um desenvolvimento excelente. O musgo, quero dizer, não a raposa


safada. Vamos voltar para o carro.

━ É isso? ━ Draco perguntou. Pareceu muito fácil.

━ Oh, não ━ Granger respondeu. ━ Apenas um. Eu tenho outras três mil
coisas para fazer antes de terminar.

Conhecendo ela, provavelmente não era um exagero. Eles voltaram para o


carro. Sem os saltos constantes de Granger na vegetação, a caminhada foi
muito mais rápida.

━ Por que tinha que fazer isso no Imbolc? ━ Ele perguntou. Em sua opinião,
teria sido melhor planejado em Beltane, em um clima mais agradável.

Ela ignorou a pergunta ao fazer sua própria.


━ Você acha que os convidados de sua mãe foram embora?

Draco conjurou um relógio de bolso.

━ Não ━ ele mentiu.

━ Tem certeza? Chá bem longo, não é?

━ Os chás da sociedade são assuntos para várias horas. As favoritas de


minha mãe provavelmente vão ficar para jantar e beber.

O momento de sorriso de Granger entre os carvalhos estava desaparecendo


e sendo substituído por o que parecia uma condição crônica na presença de
Draco.

━ Por que não vai para outro lugar? Ela não vai saber que você não está
estritamente trabalhando.

━ Não estou saindo ━ Draco falou. ━ Se você for atacada enquanto estiver
trabalhando, Shacklebolt vai ter minha cabeça.

━ Do que você está me protegendo? ━ Granger perguntou com um gesto


mostrando o nada ao redor deles. ━ Raposas no cio?

━ Se você me dissesse no que está trabalhando, eu seria mais capaz de


estabelecer as prováveis ameaças.

━ Se tem algo que aprendi com o enorme erro em contar para Shacklebolt, é
não compartilhar uma palavra sobre meu trabalho. ━ Granger cruzou os
braços. Sua postura foi bastante prejudicada pela única folha presa em seu
chapéu, voando.

━ Brilhante. Devo continuar balançando minha varinha, esperando pelos


vilões sem nome?

━ Não. Você pode aparatar no pub mais próximo, ter uma bebida
aconchegante e ir para casa quando estiver a salvo das moças.
━ Eu não sou aquele que precisa ficar seguro ━ Draco disse.

Granger fez um som frustrado.

━ Você não pode vir. Vai complicar as coisas.

━ Complicar as coisas como? Eu posso ficar fora do seu caminho. Não


fiquei fora dele?

━ Vou visitar o Jardim Chalice Well. Isso envolve fingir que é um trouxa. O
que você não consegue.

━ Eu posso fingir que sou um trouxa muito bem ━ Draco disse, indignado.
━ O programa de auror inclui uma unidade substancial de disfarce, e eu
passei por ele com honra, obrigado.

Ele estava pensando que Granger tomou uma boa decisão? Por que ela
deveria brigar com ele sobre tudo?

Granger esfregou suas têmporas.

━ Estamos perdendo tempo. O qual eu não tenho.

━ Então vamos ━ Draco falou.

━ Me mostre sua melhor tentativa de disfarce trouxa ━ ela disse. Havia um


tipo de esperança desesperada em seus olhos, como se soubesse que seria
horrível, mas queria ver apenas por curiosidade.

Draco encolheu suas vestes de auror em um lenço, o qual guardou no bolso.


Então modificou seu terno para se encaixar na moda trouxa, um pouco mais
relaxado no modelo. Suas botas foram transformadas em sapatos
masculinos lustrosos. Sua varinha estava escondida em um coldre na
cintura. Ele não tocou em seu cabelo: era o ápice da perfeição, bruxo ou
trouxa.

━ E? ━ Ele perguntou, girando lentamente sobre o olhar crítico de Granger.


━ Seria ideal se fôssemos jantar no Dorchester ━ falou. Ela suspirou. ━ Mas,
vai servir. Talvez podemos fazer com que você pareça um professor jovem
elegante, mais do que um banqueiro que se perdeu no caminho...

Ela se aproximou e fez suas próprias modificações, removendo a gravata e


transfigurando os sapatos em tênis trouxas. Então estendeu a mão e
desabotoou o primeiro botão da camisa. (Sensação estranha, ter Granger
fazendo aquilo. Draco arquivou para uma análise completa mais tarde).

━ Isso vai ter que servir ━ Granger disse, embora parecesse cínica.

━ Se estamos criticando a aparência do outro, você precisa de um Scourgify


━ Draco falou.

Granger transfigurou a janela do carro em um espelho para descobrir, com


um "oh, meu Deus" quão suja de lama ela estava. Fez um rápido trabalho na
sujeira e deu a Draco um olhar estranho.

━ O quê? ━ Ele perguntou.

━ Nada ━ Granger respondeu.

━ Me diga ━ Draco disse.

━ Não.

━ Sim.

━ Eu apenas... apenas esperava alguma brincadeira sobre a lama, vindo de


você ━ Granger disse.

Draco congelou.

━ Aqueles dias estão no passado.

Granger arrumou seu chapéu e encolheu os ombros.


Draco franziu a testa. Não era hora para essa conversa, mas um dia ela
deveria saber como ele vira, em primeira mão, os horrores daquelas atitudes
horrendas e como ainda viviam em sua cabeça durante a noite e como
desejava poder voltar atrás.

━ Não sou mais aquela pessoa ━ Draco disse.

Vendo que ele estava sendo tão solene, Granger ficou séria também.

━ Tudo bem. Eu não deveria ter trazido isso à tona.

━ Eu não deveria ter insistido ━ Draco concedeu.

━ Isso também. ━ Granger acenou com a varinha e seu outrora espelho se


transformou em uma janela de carro novamente. Ela ficou brusca em seus
movimentos.

━ Devemos?

━ Vamos ━ Draco falou.

Então ele arruinou o sério momento ao precisar de ajuda para abrir a porta
do carro. Granger deu a volta para ajudá-lo com santa paciência.

Ela não tinha, para seu crédito, lançado nenhuma calúnia sobre a habilidade
dele de se portar como um trouxa.

──── ◉ ────

Eu não sei vocês, mas esse Draco que só perturba a Hermione tem meu
coração completamente. Ainda teremos muitas intrigas e visitas
indesejáveis nesses feriados da Hermione.

E mudando de assunto, eu fico muito feliz com a minha evolução na


tradução. Esses dias estava vendo alguns capítulos de Permaneça Sem
Nome e é explícito como consegui refinar a escrita, mas mantendo o
sentido inicial do enredo que a autora escreveu. Evolução, babys, a autora
agradece.
Continuem comentando e favoritando, por favor! Toda e qualquer opinião é
muito bem-vinda, e como Att. Caelum, essa fic não possui um beta então
todos os erros são meus.

Nos vemos dia 02/06!


5. As Guardiãs

Olá, mores! Como estão?

Mais uma dupla de capítulos para vocês. Esse é o primeiro que tem
imagens no texto, então me digam como fica para ler com elas inclusas
aqui (se bagunça o texto, se é desconfortável, se gostaram assim, etc).

Boa leitura!

──── ◉ ────

Eles permaneceram em silêncio por um tempo. Granger parecia


preocupada. Seu polegar batia no volante e estava mordendo o lábio.

━ Vai estar cheio esta tarde ━ ela disse, finalmente. ━ Nos Jardins, quero
dizer. Vamos tentar ser discretos. Temos que ir até a loja de presentes para
comprar os ingressos, mas depois seremos capazes de entrar nos jardins
sozinhos e evitar a maior parte da multidão.

━ Eu consigo ser discreto ━ Draco falou.

Granger deu a ele um olhar de soslaio em resposta.

━ A água tem propriedades mágicas? ━ Ele perguntou. ━ Por que os trouxas


sabem sobre isso?

Ela se endireitou e respirou fundo e Draco percebeu que ativou o modo


sabe-tudo.

━ As fontes nessa área têm sido usadas tanto por trouxas quanto bruxos há
milênios ━ respondeu. ━ Começou a ficar difícil apagar a coisa toda de
tantas mentes após o Estatuto do Sigilo, acredito. Mas, para responder sua
pergunta, os trouxas só conhecem duas fontes em Glastonbury: uma é
chamada de Fonte Branca e outra é chamada de Poço Vermelho. Nenhuma
propriedade mágica em ambas, apesar dos trouxas terem descrito seu
próprio significado espiritual e mitológico. Eles têm histórias relacionando-
as com o Santo Graal e o Rei Arthur. É suposto que ele tenha sido enterrado
no mosteiro de Glastonbury, além de outras lendas.

Agora eles estavam se aproximando dos limites da cidade. Granger virou


em uma placa apontando para os Jardins Chalice.

━ Mas ━ ela continuou ━, há um terceiro poço, um que não irá encontrar


nos folhetos trouxas. É chamado de Poço Verde. Esse tem propriedades
mágicas genuínas. Eu preciso... ━ Hesitou, mas pareceu decidir que Draco
acompanharia de qualquer maneira. ━ Preciso de uma amostra.

━ Para o seu projeto.

━ Sim.

━ E por que em Imbolc, especificamente?

━ Você está sendo muito curioso ━ Granger falou. Draco sentiu que ela
queria dizer intrometido, mas escolheu a opção educada.

━ Acho que o poço atinge sua potência mágica mais alta durante o Imbolc ━
Draco falou. Granger não respondeu. ━ Estou certo, não é?

Ele a viu olhar para o porta-luvas, onde o Bisbilhoscópio estava,


prometendo revelar mentiras descaradas.

━ Pare de ser tão curioso ━ Granger disse.

━ Isso é um pouco rico, vindo de você.

Ela tossiu.

━ Ser curiosa é literalmente o meu trabalho. Sou uma pesquisadora. O seu


trabalho é me proteger de forças desconhecidas, não me interrogar sobre um
projeto altamente confidencial.

Granger parou o carro em um estacionamento, o desligou e esperou por sua


réplica.

Essa bruxa era – alguma coisa. Draco nunca havia suportado tantos pontos e
contrapontos tão implacáveis. Ele sentiu que, se estivesse acompanhando o
placar, seria o perdedor.

━ Não sou um segurança. Não fui designado para andar sem rumo atrás de
você ━ falou.

━ Não. Você é um Auror altamente treinado e isso é uma total perda de


tempo. ━ Granger respirou fundo, visivelmente suprimindo a irritação sobre
a situação toda.

O elogio inicial provocou uma pequena faísca de prazer, rapidamente


enterrada. Draco não ligava pelo o que Granger pensava dele.

Um grupo de trouxas passou de carro, distraindo os dois. Decidindo


mutuamente sobre uma trégua silenciosa – muito temporária, Draco tinha
certeza – eles saíram do carro.

O estacionamento estava lotado. Trouxas em família, trouxas empurrando


carrinhos de bebê, trouxas com roupas excepcionalmente estranhas, mesmo
para trouxas.

━ Vou te avisar agora, há muitos da Geração Z aqui ━ Granger disse quando


se juntaram à multidão seguindo para a entrada.

━ Geração Z?

━ Hippies. Wiccanos. Pagãos. Paranormais. ━ Granger parecia estar lutando


para achar uma definição. ━ Trouxas que são muito espirituais e acreditam
em magia, ou poderes superiores, pelo menos, até certo ponto. Alguns deles
até mesmo se denominam bruxos. Eles não percebem que realmente
existem bruxos reais, é claro, e magia real. Eles colecionam cristais e essas
coisas, e performam rituais os quais leem em livros antigos.
━ Ah ━ Draco disse, apesar de não ter entendido realmente. ━ Pensei que os
trouxas deveriam ser implacavelmente lógicos.

━ Alguns são ━ Granger respondeu. ━ Alguns são... menos do que lógicos.


Ou talvez parte deles se lembrem da magia. Ou sabem, inconscientemente,
que existe. Ou talvez apenas querem acreditar em algo...

Eles entraram na loja de presentes lotada com um cheiro enjoativo.

Granger viu Draco torcer o nariz e disse:

━ São óleos essenciais. A Geração Z adora isso.

Draco examinou algumas velas perfumadas ofensivas, destinadas para


"relaxamento".

━ Por que alguém não diz a eles que sintetizaram demais essas coisas a
ponto de perder qualquer propriedade mágica?

Draco se viu agora sendo guiado por Granger e colocado em um canto da


loja, como se fosse um Mini-Cooper.

━ Fique aqui ━ ela disse. ━ Vou pegar nossos ingressos. Não quebre nada.

Graças a Merlin pela dica; ele poderia começar a pulverizar as coisas por
excesso de espírito, caso contrário. Enfiando as mãos no bolso, Draco ficou
no canto e assistiu Granger ir embora. A multidão ao redor dela não olhou
duas vezes. Ela realmente se misturava. Já ele, foi alvo de mais do que
alguns olhares – sua altura, o cabelo loiro platinado, seu terno elegante.

Granger agora havia se juntado à fila lenta de ingressos. Ter sua Superiora
longe dele em um local movimentado não era algo que gostasse, de um
ponto de vista puramente profissional. Ele executou alguma Legilimência
clandestina em uma amostragem aleatória das pessoas na loja. A multidão
era composta principalmente por trouxas. Havia um casal de bruxos, mas
não tinham más intenções – nem qualquer ideia de que Granger estava aqui.
Eles a reconheceriam se a vissem? Talvez – mas Draco não podia mergulhar
em suas mentes tão precisamente desta distância.
As instruções dela sobre ser discreto era mais do que hipócrita,
considerando que simplesmente entrou em uma conversa com os trouxas
que estavam atrás dela. Draco, irritado, lançou uma Legilimência de
superfície para checar as intenções sinistras da família. Nada de interessante
– apenas eram turistas amigáveis.

Ele notou uma presença à espreita, espiando em uma prateleira. Ele fingiu
estar interessado nas velas fedorentas.

Eventualmente, ela se fez presente. Era uma vendedora, fortemente envolta


em lenços translúcidos, observando Draco com olhos bulbosos. Um crachá
estava preso em seu suéter: Eunice.

━ Olá ━ ela disse a Draco. ━ Posso te ajudar?

Ele pegou seu olhar e leu seus pensamentos imediatamente. Nada


ameaçador, salvo o fato de que ela o achava incrivelmente bonito.

━ Não, obrigado ━ respondeu, se virando para ver Granger entre as velas.


Ela estava, finalmente, quase sendo atendida.

Em vez de aceitar isso como uma firme dispensa, Eunice se aproximou,


seus olhos fixos em seu rosto.

━ Sua aura está... perturbada ━ falou.

Draco sentiu que estava sendo analisado por uma encarnação trouxa da
Trelawney cruzada com uma mariposa gigante.

━ Não acho que essas velas vão te fazer bem ━ Eunice continuou.

━ Concordo com você ━ Draco disse.

Ela não entendeu o sarcasmo. Balançou a cabeça para si mesma e apalpou o


ar ao redor de Draco, como se estivesse pegando algo.

━ Eu sugeriria algo mais forte, como um de nossos incensos de limpeza ━


Eunice falou, indo até outra prateleira.
Draco assistiu Granger pegar um atalho para o café-bar. Será que ela
gentilmente andaria mais rápido e o salvaria da mariposa?

Eunice agora estava com as mãos entrelaçadas próximas dele e com os


olhos fechados. Ela balançou a cabeça fortemente.

━ Seu chakra cardíaco está funcionando lentamente.

━ Está?

━ O Incenso Vênus, acredito ━ ela falou. Agarrou um pacote e colocou a


coisa estranha sobre o nariz de Draco. ━ Embora, com sua necessidade de
aterramento, talvez o Saturno...

Ela vasculhou a prateleira e disse coisas sobre transmutar energia e


ascender ao plano celestial. Draco viu o chapéu de Granger vindo em sua
direção.

━ Eu tenho que ir ━ disse, planejando sua escapada.

━ Oh, você tem? ━ Eunice parecia desconcertada. Ela deslizou algo na mão
de Draco. ━ Meu cartão. Eu faço realinhamento de chakras. Pegue-o.
Nossas energias são bastante compatíveis...

Eunice flutuou para longe ao mesmo tempo que Granger chegou, trazendo
cafés.

━ Quem era aquela? ━ Granger perguntou, observando o esvoaçar de lenços


se afastando.

━ Eunice ━ Draco respondeu. ━ Ela me deu isso. Você precisa realinhar seus
chakras?

Granger trocou um dos cafés pelo cartão oferecido. Algo estava rabiscado
apressadamente nele.

━ Ooh, ela te deu o número dela.


━ O que isso significa?

━ Que Eunice gosta de você ━ Granger disse, parecendo divertida.

━ A maioria das mulheres gosta.

Granger bufou, como se isso fosse uma brincadeira perversamente


engraçada em vez de uma verdade universal. Ela se controlou e olhou para
ele com um novo pensamento.

━ Você é engraçado, Malfoy.

━ Eu vivo para servir ━ Draco disse para cobrir seu aborrecimento.

Granger devolveu-lhe o cartão.

━ Uma pena que você nem sabe o que um celular é. Pobre Eunice, estava
latindo para a árvore errada.

━ Ela me achou incrivelmente bonito.

━ Ela também achou que seus chakras precisavam ser realinhados. Não
vamos nos envolver demais com o senso dos pensamentos de Eunice ━
Granger falou rispidamente.

Se souber de algum homem que precisa checar o próprio ego, uma simples
conversa com Granger o colocaria no lugar.

Draco bebeu o café que ela trouxera. Era, notavelmente, não-terrível.

━ Como sabia que gosto de espresso duplo?

Granger encolheu os ombros.

━ Parecia seu estilo.

━ Arrojado? Amargo?

━ Muito caro.
Draco escondeu sua zombaria no copo.

Granger os colocou em um caminho em direção aos jardins. A chuva


começou a diminuir e abrir caminho para a luz do sol provisória. Os jardins
eram inesperadamente lindos, mesmo que os trouxas responsáveis ​não
tivessem acesso aos encantos de aquecimento e aditivos mágicos que
tornavam os jardins mágicos um espetáculo durante o inverno. Draco
pensou que sua mãe poderia até apreciar o lugar. Embora fosse fevereiro,
havia cor, graças à cuidadosa seleção de plantas. Os gorgolejos musicais da
água de fontes em todos os lugares aumentavam o interesse auditivo e a
coisa toda era suavemente iluminada por centenas e centenas de velas
escondidas em recessos pedregosos.

Placas aqui e ali pediam aos visitantes que mantivessem silêncio, por
respeito aos que meditavam. Granger lançou um feitiço silenciador ao redor
dos dois para que pudessem conversar.

O Poço Vermelho em Glastonbury. (Photo: britainexpress.com)


Eles chegaram ao Poço Vermelho – apropriadamente denominado, com sua
água de cor terrosa. Draco leu a placa com interesse passageiro. Assim
como Granger notara mais cedo, os trouxas tinham inventado alguma
mitologia cristã, sugerindo que o Santo Graal havia sido enterrado aqui.
Também havia algumas referências à lenda Arturiana.

━ Os trouxas sabem sobre Morgana le Fay? ━ Draco perguntou, uma


sobrancelha erguida para a placa trouxa com o nome da bruxa tão famosa.

━ Sim. Mas ela é uma figura mitológica ━ Granger respondeu. ━ A maioria


deles não acha que ela realmente existiu.

Draco contestou. É claro que não.

Em seguida, passearam pela casa que havia o Poço Branco – um lugar


escuro, com cheiro úmido, onde os trouxas decoraram a pedra pesada com
velas e pequenos santuários para divindades reais e imaginárias: Santa
Brígida, a Senhora de Avalon, o Rei das Fadas...

━ Aqui estamos ━ Granger falou enquanto desciam por um caminho mais


silencioso e menos usado nos fundos da casa. ━ Deve haver um tipo de
plataforma que nos levará até o Poço Verde. Vamos usar nossas varinhas
para entrar e lançar um feitiço de desilusão caso algum trouxa passe por
aqui.

Granger era agora um pedaço de jardim na frente de Draco, brilhando sob a


luz fraca do sol de Fevereiro.

Eles pararam (bom, Granger parou e Draco tropeçou nela) no que parecia
ser uma tampa de bueiro, escondida no meio de um arbusto. Através de uma
superfície de ferro e molhada, haviam dois círculos grandes, cruzando-se
sobre folhas e musgo.
Entrada do Poço Verde. (Photo: londontoolkit.com)

━ Isso simboliza a interação entre os mundos físico e espiritual ━ Granger


informou. Draco podia ver sua varinha fantasmagórica gesticulando para o
local. ━ Você deve reconhecer o formato. O Poço Vermelho foi construído
da mesma forma. Vamos entrar. É na plataforma de baixo.

Eles pararam juntos na tampa do bueiro, meio esmagados.

━ Encantamento? ━ Draco perguntou, enchendo a boca com o cabelo


invisível de Granger.

━ Vesica piscis ━ Granger falou, imitando o símbolo circular com um aceno


da varinha.

A tampa do bueiro estremeceu. Granger se aproximou dele. Ela cheirava a


uma combinação maravilhosa de chuva, floresta molhada, cappuccino e
sabonete.
Então, sem aviso, a plataforma caiu abaixo deles.

A bruxa cheirosa se agarrou a Draco e perfurou seus tímpanos com o grito.

Graças aos céus por esses feitiços de silenciamento, ele pensou conforme
caíam.

Um feitiço de amortecimento espesso encontrou ambos no fim da queda. O


que foi excelente, já que Draco não tinha a intenção de quebrar os dois
tornozelos hoje.

Ele e Granger pousaram, dolorosamente batendo um no outro – tinha quase


certeza que deu uma cotovelada em seu peito; ela evitou por pouco ajoelhar
sua virilha – e desabaram, de braços abertos, em um leito grosso de fungos
brilhantes.

━ Uau. Uma viagem de primeira classe ━ Draco falou arrastado no escuro.

━ Gah ━ Granger respondeu com algo menos comum do que sua


perspicácia.

Draco levantou-se. Ela estava em algum lugar à sua esquerda. Não parecia
estar se recuperando tão bem como ele – estava mais chocada.

━ Eles não poderiam lançar um feitiço de levitação? ━ Ela perguntou


fracamente. ━ Eu pensei que essa coisa fosse um elevador. Não imaginava a
q-queda angustiante para minha morte.

Draco tateou a penumbra para ver que seu café era uma causa perdida. Que
pena.

Eles anularam os feitiços de desilusão e, quando Granger conseguiu se


levantar, começou a descer a passagem iluminada por grandes cogumelos
bioluminescentes. O som da água escorrendo ecoou por toda parte. Draco
viu que até as paredes estavam molhadas com um fluxo constante de
umidade.
Quando entraram em uma espécie de caverna longa, Draco viu que haviam
outros bruxos por perto. Em um canto que parecia tipo uma livraria, a qual
Granger olhou saudosamente. Havia também um balcão que servia de
boticário. O lugar todo estava iluminado apenas pelo brilho dos cogumelos,
que estavam por toda parte – o chão, paredes, pendurados no teto.

━ Omphalotus luxaeterna ━ Granger disse. ━ Lindo, de um jeito meio


viscoso.

Se ela tivesse adicionado "como você", Draco iria enfeitiçá-la – seu ego já
tinha sofrido bastante hoje.

Ela não tinha. (Foi quase decepcionante que tenha deixado o momento
passar).

Finalmente chegaram ao Poço Verde – uma fonte borbulhante iluminada por


verde, flanqueada por duas estátuas na penumbra. Pelo menos, Draco
pensara que eram estátuas – até que se moveram.

━ As Guardiãs do Poço ━ Granger falou, não surpresa pela visão. ━ Certo.


Você fica aqui. Eu preciso ter uma conversa. Elas devem ser tratadas com
respeito e educação.

Ignorando a insinuação de que ele não conseguia ser respeitoso ou educado,


Draco disse:

━ Acho que prefiro ir também.

Seus olhos se esforçaram para ter uma noção do que, exatamente, espreitava
na escuridão manchada de cogumelos.

A irritação de Granger aumentou imediatamente.

━ Você disse que não ficaria no meu caminho. Sequer deveria estar aqui.
Isso é delicado. E criticamente importante.

━ Tá bom ━ Draco sussurrou. ━ Vou ficar aqui.


Ele estava dentro do alcance do feitiço, de qualquer forma.

Granger avançou. Draco espiou as duas formas corcundas, envoltas em


preto. Elas eram bruxas? Era difícil dizer no escuro. Se fossem bruxas, com
certeza tinham Sangue de Feiticeira em algum lugar da árvore genealógica.
Assim como outras coisas, sem dúvida.
Arte por paandreablack

Seus olhares pálidos gêmeos, tão luminescentes quanto os cogumelos ao


redor delas, desconcertaram Draco. Ele se encontrou agarrando a varinha
conforme Granger se aproximava das Guardiãs.

Seu primeiro pensamento foi, enquanto processava a situação, que Granger


era ou estupidamente corajosa ou imprudente para caralho. Segundo, ele
não gostava nada disso. Esses seres pareciam das Trevas. Antigas.
Perigosas.

Sim, Tonks, ela foi morta por uma Feiticeira. Sim, eu estava bem ali. Sim,
eu permiti que ela fosse até elas. Sim, ela foi desmembrada bem em minha
frente. Ela queria pegar alguma água chique desse poço, você sabe; nada a
faria parar.

━ Está aqui para uma coleta, querida? ━ A Guardiã resmungou para


Granger. A voz rouca e seca ecoou de modo assustador.

━ Sim, se eu puder. Eu tenho uma oferta ━ Granger disse. Sua figura era
uma silhueta leve, iluminada por trás pela luminescência do Poço Verde.

━ Me mostre ━ a Guardiã pediu.

A criatura se inclinou em direção a Granger. Havia algo faminto em seus


movimentos. A mão da varinha de Draco torceu. Se a coisa se aproximasse
mais dela, ele teria uma maldição de decapitação pronta para ser lançada.

Granger, como sempre, estava bem preparada. De algum lugar em seu


casaco de pele (onde?!), ela tirou três grandes sacos, os quais foram para as
garras da criatura.

━ Grão, miúdos, ouro.

A segunda Guardiã se arrastou, enfiou os dedos em forma de garra dentro


da bolsa e puxou uma grande quantidade de galeões. (E onde Granger
conseguiu um saco de galeões, a propósito?).

A origem do ouro não parecia preocupar a segunda Guardiã em nenhum


nível. Ela cantarolou sua satisfação:

━ Muito bom. Amável. Deixe a boa garota seguir.


A primeira Guardiã gesticulou para Hermione se aproximar.

━ Você não tem um refil, criança?

Granger produziu um frasco largo, com tampa dourada que brilhava na luz
baixa.

━ Sim. Isso vai servir?

A coisa acenou em seu assento. Com o gesto da Guardiã, Granger afundou


o frasco dentro do Poço Verde.

A segunda Guardiã olhou para Draco, como se estivesse ciente da varinha


firmemente agarrada e as maldições bem praticadas esperando em sua
língua. Ela fungou o ar em sua direção.

━ Abaixe a varinha, jovem. Essa garota não vai encontrar sua morte aqui.

A primeira Guardiã olhou para cima onde parou atrás de Granger.

━ O bruxo está preocupado, não é?

━ Sim.

O olhar branco da primeira se fixou no de Draco. Havia magia antiga nele.


Ele não ousou usar a Legilimência nessa mente velha.

Ela gargalhou como se ele tivesse falado em voz alta.

━ Está certo, você não vai. Garoto estúpido. Eu faria seu cérebro derreter e
bebê-lo enquanto ainda estivesse quente, não é?

━ Mas veja os olhos dele ━ a outra Guardiã sussurrou. ━ Olhos como


tempestades no céu...

O pavor frio correu pela espinha de Draco, apesar da criatura não ter lhe
ameaçado diretamente. Ele se perguntou se suas maldições imperdoáveis
seriam úteis contra essas coisas – apesar de dever estar pensando em luz.
━ Não comece com a poesia ━ a primeira Guardiã disse para sua irmã. ━
Não queremos mexer com os miolos dele.

━ Er... eu terminei ━ Granger falou, agora segurando seu frasco cheio.

Foi uma interrupção abençoada. Draco estava começando a se sentir


genuinamente feliz e assustado.

━ Boa garota ━ disse a primeira Guardiã. ━ Espero que o use sabiamente.

━ Eu vou ━ Granger respondeu, se afastando delas. ━ O-obrigada.

━ Amor e luz, minha garota. ━ A primeira se despediu.

Ela e sua irmã gargalharam, como se fosse a coisa mais turbulenta que já
haviam escutado.

Granger deu a elas uma espécie de reverência e voltou para o lado de


Draco. Ele manteve seu aperto na varinha até que saíssem da linha de visão
das Guardiãs. Mesmo assim, ele sentiu os olhos brancos tocando a parte de
trás de sua cabeça.

━ Não ━ disse, segurando Granger para si quando ela disparou para a


livraria subterrânea.

━ Mas eu queria...

━ Não ━ Draco falou, seu aperto no cotovelo dela era inflexível. ━ Vamos.

Granger pareceu sentir a raiva ansiosa de Draco e não argumentou mais.


Eles voltaram para a passagem que levava à plataforma, Granger dando
dois passos para cada um dele.

Quando finalmente saíram da caverna, Draco a virou para ficar um de frente


para o outro.

━ Que porra foi aquela? Você deveria ter me dito que iria barganhar com
duas criaturas das trevas!
O rosto de Granger estava pálido na fosforescência.

━ Eu não sabia que seria tão... tão...

━ Assustador? Cadavérico? Letal? A forma como a primeira estava olhando


para você, parecia que queria arrancar seu maldito fígado! E você foi direto
para ela! Sem varinha!

━ Pare de brigar comigo ━ Granger disse, afastando as mãos dele. ━ Ela não
iria arrancar meu fígado. Elas foram legais. E certamente não eram
feiticeiras.

━ Não eram feiticeiras? Draco cuspiu. ━ Você as presentou com miúdos.

━ É um presente tradicional. É o que se deve trazer para as Guardiãs do


Poço.

━ Que pareciam como feiticeiras, e cheiravam como tal, e comiam como


feiticeiras ━ Draco enumerou, com muita irritação.

━ Elas não comem como feiticeiras!

━ Você acabou de dar a elas os ingredientes de um cuscuz de miúdos! Se


não eram feiticeiras, então que merda eram?

━ Eu não sei! Elas... ou as sucessivas reencarnações delas, de qualquer


forma, foram citadas nos textos sobre o Poço Verde há séculos. Geralmente
são descritas como figuras de velhas. Não são más. São antigas.

━ Elas eram a merda de Dementadores mulheres e você nunca vai lidar com
esse tipo de criatura de novo sem me contar primeiro. Eu preciso que você
entenda que se qualquer coisa acontecer com você, Shacklebolt vai ter
minha cabeça, Tonks terá minhas bolas e Potter e Weasley vão limpar o
resto. Minha mãe vai me enterrar em um pote de Marmite. Você entendeu?

━ Tá bom. Mas você está exagerando. ━ Granger agitou o frasco de água


para ele. ━ Eu consegui o que queria. Eu estava preparada. Eu disse as
coisas certas e trouxe os presentes certos. ━ Agora ela acertou o passo e
partiu para o ataque. ━ Você quase arruinou tudo, ficando tão fodidamente
hostil que elas começaram a zombar de você. Elas poderiam ter dito coisas
que te atormentariam por anos...

━ Que coisas? O que você quer dizer? ━ Draco interrompeu, agora


perturbado.

━ Nada ━ Granger disse. Vendo quão intensamente ele estava olhando para
ela, deu um passo para trás. ━ É estupidez.

━ Que coisas, Granger? ━ Draco repetiu, pairando sobre ela agora.

Ela hesitou, mas diante da agitação dele, cedeu.

━ É apenas parte... parte da lenda que cerca as Guardiãs que diz que... é
estúpido e obviamente mentira, mas sugere que elas são Videntes.

━ Videntes ━ Draco repetiu.

━ Uma delas sabe quando você morre e a outra sabe como você morre.

Draco estremeceu.

Granger colocou um cacho atrás da orelha e começou a balbuciar:

━ É tudo especulação, é claro. Ficção. É um conceito comum nos textos


antigos. Eles amam dar poderes místicos para os guardiões. Não dou muito
valor em histórias envolvendo premonição, claro...

Draco interrompeu sua divagação.

━ Como você pode ser tão arrogante sobre esse tipo de lenda? Você
literalmente é a melhor amiga do mais premonitório, profetizado,
prognosticado Menino Irritante Que Sobreviveu!

Granger se endireitou e parecia pronta para afundar seus dentes no novo


argumento.
━ Essa foi uma ocorrência extremamente incomum.

Draco parou no lugar, passando a mão pelo cabelo.

━ Eu acho que uma dessas feiticeiras estava prestes a dizer algo. Ela
começou a falar em rimas. Porra. Eu me pergunto se ela sabia o como ou
quando...

━ Os contos são completamente insustentáveis ━ Granger cortou como a


Chefe Sabe-tudo que era. ━ Elas não sabem nada. Não comece a pensar
nisso.

━ Tarde demais. Estou pensando nisso. O que rima com céus? ━ Draco
perguntou? ━ Véus?

De alguma forma, Granger estava espremendo seu frasco de água no bolso


do casaco. A impossibilidade disso distraiu Draco de suas suposições
mórbidas.

━ Que porr...?! O que é isso, o casaco de mil bolsos? Como isso cabe aí?
Você sequer o encolheu.

━ Eu sou especialista em Feitiços de Extensão ━ Granger disse, levemente.


━ Podemos...

━ Então é assim que você carregou aquelas oferendas infernais para as


Gêmeas Vudus ━ Draco falou. Finalmente, um mistério-Granger resolvido.
━ Você sabe que esses feitiços são rigorosamente controlados pelo
Ministério, certo?

━ Estou ciente, obrigada ━ Granger falou, ríspida. ━ Se eu for denunciada


por alguém, espero que não seja a pessoa presente, se ele sabe o que é o
melhor para ele, estou preparada para pagar as multas em troca da
conveniência.

━ Oh, entendi. É por isso que você carrega sacos enormes de galeões? Por
conveniência?
━ Não. Eu os carrego como precaução.

Granger remexeu em seu bolso e, por um momento selvagem, Draco


pensou que ela estava prestes a puxar um saco de galeões e atirá-lo em sua
cabeça. Mas não. Ela meramente pegou sua varinha e acenou para mostrar o
tempo.

━ Ugh! Estou atrasada! Eu tinha outra coisa para fazer, mas você me
atrasou demais...

Draco ergueu os olhos para o teto de cogumelo. É claro que era culpa dele.

━ Que coisa?

Ele e Granger abriram caminho em direção à tampa do bueiro aninhada


entre os fungos.

━ Um momento de pura auto-indulgência ━ ela falou. ━ Eu queria ir há


muito tempo e agora estava na área, mas...

━ Mas o quê?

━ Você está aqui ━ Granger disse. ━ E eu não queria que estivesse.

━ Que pena ━ Draco falou. ━ Qualquer confiança que eu possa ter em seu
julgamento acabou de ser obliterada por sua decisão de pechinchar com
bruxas, sem um único plano de contingência se elas ficassem com fome.

Granger fez um som que parecia mais um rosnado do que outra coisa.

━ De qualquer forma, qual auto-indulgência? Qual é seu vício, Granger?

━ Nada que seja da sua maldita conta.

━ Prometo que já vi piores, não importa o que seja.

Granger o ignorou, desiludindo os dois enquanto Draco adivinhava seu


pecado secreto. Um bordel? Obter detenção? Cuscuz de miúdos?
Eles subiram na plataforma. Draco ouviu a Granger invisível respirar fundo
e se estabilizar.

Serviu-lhe bem para o longo grito que acompanhou sua expulsão à


superfície.

E assim, eles estavam de volta ao Jardins dos Poços de Chalice, piscando ao


sol. Draco não pôde sair imediatamente da plataforma – Granger estava
segurando-o como uma criatura se afogando agarrada a uma tábua de
salvação. Um eco de seu batimento cardíaco e medo trovejou através de seu
anel. Seu aperto tremeu. Ela estava apavorada.

Ela fez menção de se afastar, mas seus joelhos fraquejaram, e ela girou de
volta para Draco.

━ Maldito... porra... maldito... gah! ━ Granger exclamou no peito de Draco.

━ Observação brilhante ━ ele falou.

Sua voz pareceu trazê-la de volta a si mesma. Ela o segurou por mais um
momento, então respirou trêmula e se afastou com um pedido de desculpas
murmurado. Draco olhou em volta procurando trouxas e, não vendo
nenhum, cancelou sua desilusão.

De volta ao reino do visível, Granger parecia pálida.

━ Isso foi horrível ━ ela falou.

━ Acho que foi mais do que engraçado.

━ Sim, bem... você também é um daqueles lunáticos diversificados que


gostam de Quadribol.

━ Sim.

Eles seguiram o caminho sinuoso de volta à entrada dos Jardins. Draco


podia ver que as mãos de Granger – bem, as pontas dos dedos onde
espiavam para fora de seu casaco – ainda estavam tremendo.
Ela passou as mãos nos braços algumas vezes.

━ Certo. Você não precisa se preocupar comigo voltando para barganhar


com as Gêmeas Vudus. Eu nunca vou usar aquela armadilha mortal
novamente. Se eu precisar de outra amostra, vou te mandar.

━ Eu? ━ Draco perguntou. ━ De forma alguma, uma delas queria puxar meu
cérebro do crânio, ou você não ouviu aquela parte?

━ Ela precisaria de um canudo bem grosso ━ Granger refletiu.

━ Engraçado.

━ Você pode pousar de cabeça na próxima vez, fazer um pouco de


milkshake para ela...

Draco olhou para Granger. Talvez fosse o humor de curandeira, mas ela
podia ser horrível quando estava sem adrenalina. Talvez fosse bom não
jogar Quadribol. Então, novamente, Draco ponderou, ela poderia ser uma
batedora excepcional. Sem balaços necessários, Granger Perigosa poderia
desmoronar psiques com algumas sílabas.

Eles passaram pela loja de presentes (Eunice deu a Draco um olhar


apaixonado) e pelo estacionamento de volta ao Mini Cooper dela.

━ Há alguma coisa que posso dizer que te fará ir embora? ━ Granger


perguntou.

━ Não ━ Draco respondeu.

━ E se eu pedir gentilmente?

━ Não.

━ Não vou interagir com nada sombrio, ou ninguém, a propósito. Não tem
nada a ver com meu projeto.
Draco a estudou. Ela parecia genuinamente desanimada por ele arruinar sua
terceira atividade da lista. Decidiu ser caridoso.

━ Me diga o que é e eu irei opinar se é perigoso ou não. Talvez eu espere no


carro.

Granger checou seu dispositivo trouxa do bolso. Aparentemente, além de


fazer outras coisas, dizia as horas.

━ Merda. Eles vão fechar em uma hora. Entre. Eu digo no caminho.

Eles entraram sem contratempos. Draco tinha desenvolvido uma facilidade


em abrir portas de carros trouxas.

━ Uma coisa antes de irmos, senhorita especialista em Feitiços de Extensão


━ Draco falou. ━ Aumente esse espaço antes que eu enfie minha cabeça
entre meus joelhos.

──── ◉ ────

Aquele momento de pura auto-indulgência de Granger? Sua terrível


indiscrição? Seu vício?

Visitar uma biblioteca.

━ Uma biblioteca? ━ ele repetiu.

━ Sim. Em Tynstesfield.

Draco queria gargalhar alto, mas sentiu que seria antiprofissional. Ele se
contentou em ofegar:

━ A decadência.

━ Eu desejo que você vá embora ━ Granger disse com uma sinceridade


cortante.

━ O absoluto pecado de tudo isso ━ ele falou.


━ Por favor, aparate em casa, para sua mãe...

━ Uma livraria. Devo reportar isso.

━ Como pode ver, estou muito segura aqui; as únicas coisas ruins são suas
tentativas de ser engraçado.

━ Quais outros hábitos selvagens você tem? Ir à igreja? Cozinhar?

━ É uma biblioteca extraordinária.

━ É claro. Deve ser.

━ E eu não sabia quando voltaria para Somerset.

━ Sim.

━ É uma das maiores bibliotecas do Fundo Nacional.

━ Mm.

━ A propriedade também tem um belo laranjal, um exemplo raro


sobrevivente do Período Vitoriano.

━ Uma emoção, é claro.

━ Todas as coisas que eu desejaria aproveitar sem você.

Draco avistou a mandíbula cerrada que sinalizava que Granger estava


chegando ao ponto de ruptura – ou uma azaração ou um comentário
dolorosamente incisivo estava por vir. Ele recuou.

━ Certo. Você pode visitar seu abençoado Titsfield...

━ Tynstesfield.

━ E eu devo esperar no carro. Posso dizer sinceramente que não tenho o


mínimo desejo de me juntar à você...
O resto da frase foi interrompido por um apito repentino. Draco jurou. O
maldito Bisbilhoscópio.

Granger tirou os olhos da estrada para dar a ele um olhar de pura surpresa.

━ Não está funcionando corretamente ━ Draco falou.

━ Claramente ━ Granger repetiu sombriamente.

Draco deu ao porta-luvas um olhar angustiante.

━ Içado com seu próprio petardo ━ Granger disse.

Todo seu aborrecimento anterior se dissipou. Ela estava, definitivamente,


segurando um sorriso.

O lamento desapareceu.

━ Vou jogar essa maldita coisa pela janela ━ Draco falou.

━ Não vai. Eu me afeiçoei bastante a isso.

Graças a alguma direção rápida de Granger ("Limites de velocidade? Uma


sugestão, realmente" enquanto o Bisbilhoscópio apitava) eles foram para
Tynstesfield faltando meia hora para fechar.

Ela foi capaz de conhecer a biblioteca e o laranjal, e Draco aproveitou um


bolo de sementes de papoula no café, e eles assistiram ao pôr do sol juntos,
e apenas discutiram quatro vezes.
6. Encontrando Serenidade

Notas: A autora escreveu muitas sentenças e situações em Francês na


primeira parte do capítulo, e eu, como uma belíssima não-entendedora do
idioma, traduzi tudo pelo Google Tradutor. Tentei manter tudo fidedigno
com a história original, mas se alguém aqui falar francês e detectar algum
erro, sinta-se à vontade para me corrigir. Assim como a autora, vou colocar
itálico nas frases onde eles estão falando assim.

Uma boa leitura!

──── ◉ ────

Depois do passeio deles no Imbolc, Granger praticamente desapareceu da


vida de Draco. Ele visitou o laboratório e a casa dela uma vez na semana
para renovar as proteções, mas seus horários raramente coincidiram e ele
viu o gato mais vezes do que a viu.

Ocasionalmente, seu Bloco-Falante vibraria e o informaria que Granger


estava comparecendo em um evento público X na localização Y. Como seu
Auror designado, ela deixava o comparecimento dele a seu critério, apesar
de ter deixado claro que a presença dele seria desnecessária, na melhor das
hipóteses, e incômoda na pior.

A maioria dos eventos eram em locais mágicos seguros – painéis em St.


Mungos ou Huntercombe, simpósios em universidades mágicas – então
Draco raramente via a necessidade de se ocupar e ir até lá. No caso
improvável de um evento de pesquisa se tornar um problema, eles tinham
os anéis.

Tonks, vendo que os relatórios dele ficaram bastante mecânicos e que o


trabalho com Granger estava tomando bem pouco de seu tempo, empilhou-
lhe missões extras alegremente. A recompensa cruel pela competência foi
mais trabalho, e Draco se perguntou se Potter, Weasel e sua trapalhada geral
não eram um plano melhor, depois de tudo.

E assim, Draco se encontrou de tocaia com Buckley em um hotel sujo em


Manchester, onde estavam coletando informações de um grupo
contrabandista de artefatos das trevas.

Buckley era dos bons. Um Auror novo, afiado e ansioso para se provar, o
que significava que Draco poderia exigir um pouco mais – bom, ele
chamaria de gerenciar – e iria delegar a maior parte de seus plantões de
vigilância para o rapaz. Isso iria, como Draco explicou nobremente para
Buckley, permiti-lo que ganhasse mais experiência. Buckley acenou com
entusiasmo e fez Draco se lembrar de um cachorrinho.

Ele empurrou o relógio alegando três da manhã para seu jovem colega
zeloso e foi para a cama.

Draco sentiu seu anel o despertar quando estava quase caindo no sono: dor
e uma frequência cardíaca elevada, reverberando de Cambridgeshire.

Era quatro e meia. Nada bom acontecia às quatro e meia da madrugada.


Draco pulou da cama e colocou seu casaco por cima do pijama.

Ele estava muito longe do país para uma aparatação direta. Explodiu um
fogo na lareira do hotel e usou o flu até um bar em Cambridge, e de lá
aparatou para a localização do anel.

Draco se materializou no quarto de hóspedes de Granger, aquele que


chamou de quarto do ritual.

Granger estava contorcida em uma posição terrível e suada no chão. Ele


lançou uma enxurrada de Homenum Revelium e Finite Encantatem,
procurando por qualquer assaltante invisível que claramente estava atirando
um Crucio nela.

━ Malfoy? ━ Veio a voz estrangulada de Granger no chão.


Os feitiços de revelação de Draco mostraram absolutamente nada.

━ Que porra você está fazendo? ━ Ele perguntou.

Granger saiu do horrível emaranhado e ficou de joelhos.

━ Ioga. Que porra você está fazendo?

Draco vira o termo misterioso no cronograma dela.

━ Isso é ioga? Que tipo de martírio auto-infligido...?

Agora que podia verificar que não havia ameaça imediata, Draco podia
entender a cena. Havia velas acesas em um canto e uma música suave
tocava. Granger estava com aquelas roupas trouxas ridiculamente justas,
verde-caqui dessa vez. Seu cabelo estava preso em uma trança francesa,
grossa como o pulso dele.

Granger estava olhando como se ele fosse um idiota absoluto.

━ Eu estava tentando a Taraksvasana...

━ O que?

━ A posição do escorpião. Estive trabalhando há semanas nisso e quase


consegui, até você vir como um raio do céu e me assustar!

Draco estava se sentindo muito estúpido. Ele apertou o casaco para cobrir
seu pijama. Havia pouco que pudesse fazer por seus pés descalços.

━ Qual é, em nome de Merlin, o objetivo da ioga?

━ Flexibilidade. Força. Equilíbrio. Encontrar a serenidade.

Draco com um pouco de cinismo.

━ Você encontrou?
━ Não ━ Granger disse. Ela ficou de pé com irritação evidente. ━ Recalibre
seu anel, para que apareça apenas em crises reais.

Ela acendeu as luzes elécticas. Suas bochechas estavam vermelhas. Um fio


de suor escorria por seu pescoço. Seu peito ainda arfava pelo esforço. Draco
podia sentir o cheiro de sal, suor feminino e o pavio queimado de uma vela.

Seu cérebro idiota captou a imagem e imediatamente criou vários caminhos


neurais que nunca existiram antes, conectando a ideia de Granger com o
conceito sexy.

Era um desenvolvimento bastante indesejável e Draco se perguntou se


deveria fazer uma lobotomia em si mesmo.

Um miado grave interrompeu seus pensamentos. O gato de pernas tortas


havia entrado. Trotou até Granger e então, notando Draco, o favoreceu com
um silvo.

Draco não sibilou de volta, mas foi quase.

━ Vou apenas sair, certo? ━ Disse.

━ Vá ━ Granger respondeu. ━ Tchau.

Draco desaparatou.

──── ◉ ────

Draco não esperava (desejava) nada além do silêncio aborrecido de Granger


após ele ter invadido a casa dela como um maníaco desequilibrado.
Entretanto, foi surpreendido por receber uma mensagem dela no dia
seguinte – e não apenas uma mensagem, um pedido de desculpas genuíno.

Malfoy. Me desculpe pelo meu comportamento ontem. Eu deveria ser mais


agradecida por você ter vindo tão rápido quando pensou que algo estava
errado. Vou te avisar na próxima vez que eu tentar a Taraksvasana. -
Hermione
Desculpas não faziam parte do dicionário natural de Draco. Sua educação,
tanto em casa como na escola, não encorajava essa prática. Pedir desculpa
era admitir que agiu errado, um sinal de culpa, uma fraqueza óbvia.

Havia algo bom em receber uma. Aquecia a alma, na verdade. Ele não tinha
certeza de qual parte gostou mais: Granger refletindo sobre isso por um dia
e então se desculpando, ela admitindo que estava errada, ou agradecendo a
ele.

Em vez de descartar a mensagem dela no Bloco-Falante, Draco a salvou nas


últimas páginas. Ele teria que perguntar a Potter quão raro era esse pedido
de desculpas e se deveria emoldurá-lo.

━ Draco, querido, você está distraído.

A voz de sua mãe, com um tom baixo de reprovação, o chamou de volta


para a realidade.

A realidade era um local infeliz – chá no salão mais abafado da Mansão


com sua mãe, a amiga dela, Madame Delphine Delacroix, e a filha da
Madame Delacroix.

A debutante de hoje era Rosalie Delacroix. Aluna de Beauxbatons, sangue-


puro, objetivamente bonita.

Draco guardou seu Bloco-Falante.

━ Perdoem-me, senhoras. O que estava dizendo?

━ Você tem um Bloco-Falante! ━ Rosalie exclamou. ━ Esses acabaram de


atravessar o Canal até nós, na França. Não temos o suficiente deles. Até
mesmo minha mãe, que é muito tradicional, adora o dela.

━ De fato. ━ Madame Delacroix assentiu. ━ Não conseguia fazer meu


marido responder uma coruja, nem por amor ou dinheiro, mas com esses é
tão fácil. Uma inovação, realmente. A Inglaterra deveria estar orgulhosa
desses... Weasleys, certo? Aqueles irmãos Weasel?
Quando a conversa se afastou dele, Draco enviou uma resposta para
Granger: Avise sobre as futuras posições escorpião. P.S. Um pedido de
desculpa vindo de você virou minha nova droga de escolha. - D.

Ele levantou o olhar, um vago sorriso no rosto, para ver Rosalie tagarelando
sobre o próximo baile que seu pai iria hospedar. Draco perdeu o início da
conversa. Para apoiar os órfãos, ou algo do tipo, provavelmente.

━ Ficaremos encantadas ao ver vocês dois ━ Rosalie disse, suas mãos


unidas em uma súplica. ━ É uma causa tão boa. Eles ajudaram o papai, você
sabe.

Os órfãos ajudaram Augustin Delacroix? Draco não ligou muito para uma
explicação. Seu Bloco-Falante vibrou. Ele checou por baixo da mesa para
ver uma mensagem de Granger:

Você percebe que eu teria que fazer coisas ruins que justificam um pedido
de desculpas.

Você tem um apreço por coisas ruins. Eu compilei uma lista razoável de
suas atividades ilícitas, Draco respondeu.

━ O que acha, Draco? Serve para você?

Draco ergueu a cabeça. Madame Delacroix perguntou algo que ele ouviu
parcialmente, sobre seu cronograma em Março. Ele respondeu
afirmativamente – é claro, sim, ele ficaria feliz em liberar seu horário para
uma causa tão nobre. Sua mãe sorriu com a aceitação fácil e indicou que
ela, também, ficaria encantada em comparecer.

Granger respondeu: Só se feitiços de extensão ilegais forem meus piores


pecados.

Não, Draco respondeu, eu conheço a real extensão de sua depravação.

Ela o antecipou. Vejo que a visita à biblioteca vai me assombrar.


Draco sorriu em sua xícara de chá. Sua mãe viu o sorriso e, encorajada pelo
o que parecia um bom humor, perguntou se as madames gostariam de ver os
jardins. Rosalie recusou, alegando ter pego um resfriado. Madame
Delacroix e Narcisa saíram.

Draco ficou sóbrio quando se encontrou em um téte-a-téte forçado com


Rosalie.

A bruxa bonita falou elegantemente sobre qualquer coisa que achasse que
poderia chamar a atenção dele – Quadribol, seu trabalho, o tempo. Draco
ouviu apenas com um ouvido, porque não era sobre bruxas querendo seu
cérebro em um canudinho e, portanto, era bastante chato.

Ele se encontrou desejando continuar a conversa com outra bruxa, uma que
tinha sua mensagem vibrando no bolso dele.

A conversa virou para amigos em comum, jantares futuros e outras


frivolidades. Rosalie concordava, entusiasmada, com cada ponto que Draco
fez, não importando quão fútil era, em vez de argumentar. Ela riu de suas
piadas mais leves em vez de responder com algo mau-humorado. Ela se
agarrou a cada palavra dele – sem opinião, ansiosa – em vez de desafiá-lo.
Ela o elogiava em excesso.

Isso tornou a conversa muito fraca.

Quando percebeu que, inconscientemente, havia se frustrado com Rosalie,


ele ficou surpreso. Desde quando Granger se tornou o padrão pelo qual ele
avaliava as companhias femininas?

A conversa – tal como foi – durou vinte minutos. Eventualmente, Rosalie


convenceu Draco a adicionar uma página em seu Bloco-Falante para ela,
sob o pretexto de enviar mais informações sobre o baile. Draco deu de
ombros em um acordo distraído. (Foi um momento descuidado que ele se
arrependeu mais tarde, já que Rosalie era uma proficiente no item e
escreveu incansavelmente depois disso).

As senhoras voltaram do tour. Sorrisos foram dados, adeus foram ditos e


Draco suspirou em alívio quando Henriette, a elfa doméstica, escoltou os
visitantes para a sala de Flu.

Mais tarde naquela noite, Narcisa apareceu no escritório de Draco para


investigar.

━ Rosalie é uma doce garota, não é? Pareciam que vocês estavam se


entendendo.

Havia um pouco de otimismo na voz dela e Draco se perguntou se seria


melhor mentir. Mas isso daria esperança à sua mãe e derrubá-las depois
seria ainda mais cruel.

━ Suponho que nos demos bem o suficiente ━ ele disse.

Ela detectou a falta de entusiasmo imediatamente.

━ Mas?

━ Um tipo de garota muito superficial.

As mãos pequenas de Narcisa se apertaram diante da decepção.

━ Oh.

Discutir com sua pálida e triste mãe nunca esteve no topo da lista de
afazeres dele. Tentou ser gentil enquanto a advertia.

━ Nós já tivemos essa conversa antes. Eu não preciso, e nem quero, que
você arranje bruxas para mim.

━ Eu apenas quero te ajudar. ━ Os dedos finos de Narcisa se apertaram. ━


Quero que encontre alguém educado, amável, que seja uma companhia
devotada e te dê filhos e encha essa casa vazia de felicidade novamente.
Rosalie seria tudo isso. Qualquer bruxa que te apresentei seria. ━ Ela fez
uma pausa, então adicionou: ━ Eu quero que você seja feliz, Draco.

━ Eu estou feliz.
Outro suspiro de Narcisa.

━ Em sua idade, seu pai estava casado, você sabe, e tinha você, com quatro
ou cinco anos...

━ Eu não sou meu pai.

Narcisa, vendo que não faria nenhum avanço, caminhou em direção à porta.

━ Eu não acho que ela exista ━ ela disse sobre o ombro enquanto saía.

━ Quem?

━ A bruxa perfeita que você aparentemente está esperando.

──── ◉ ────

Granger escreveu para Draco uma semana antes, avisando-o que estaria
palestrando em uma conferência na quinta-feira.

Onde? Ele perguntou.

Faculdade Magdalen, Oxford, Granger disse. Quinta-feira, 14h às 17h. Vou


apenas às 14h30. Duvido que serei assassinada, mas deixarei seu
comparecimento para seu julgamento avançado.

Sim, Granger, obrigada pela ousadia. Ele usaria seu julgamento avançado.

Público? Ele perguntou.

Médicos trouxas, Granger respondeu.

Quantos? Draco perguntou.

150, Granger disse.

As sobrancelhas dele se ergueram. Às vezes esquecia quão pequeno o


mundo bruxo era. Havia provavelmente menos de cem curandeiros em todo
Reino Unido. Talvez trezentos ou quatrocentos se incluísse Medibruxos e
outras especialidades.

Vou aparecer, Draco escreveu.

Vá arrumado, por favor, Granger disse. Não me envergonhe.

Draco não se dignou a respondê-la.

O dia da conferência chegou. Draco aparatou a uma curta distância da


Universidade Magdalen e caminhou até o auditório que Granger
especificou, no tempo que especificou, usando as roupas que ela
especificou.

Granger era um tipo de bruxa mandona.

O voluntário na mesa de registro foi gentilmente confundido por um feitiço


para achar que Draco era um participante confirmado e ele entrou com um
crachá nomeado e uma programação. Fez um balanço do edifício, lançando
feitiços de revelação discretamente quando os trouxas não estavam olhando.
A entrada, vestiário e banheiros estavam livres de maldades, assim como as
salas dos fundos. A quantidade de pessoas que ele havia lançado
Legilimência estavam onde deveriam estar – trouxas inteligentes, aqui para
se tornarem ainda mais inteligentes.

Draco achou uma alcova escura perto da frente do auditório onde pesquisou
o local. Ele estava a vinte metros do palco, uma vantagem para poder ver
Granger sentada em uma longa mesa, junto de outros três de seus bolsistas
de pesquisa. Eles estavam conversando enquanto a multidão preenchia o
lugar.

Do ponto de vista da avaliação de risco, Granger não poderia estar mais


exposta, considerando que estava sentada lateralmente a um holofote. Draco
bisbilhotou a mente das pessoas na primeira fileira e não achou nada além
da ânsia para começarem e altos níveis de admiração direcionados para os
doutores no palco. Então fez o mesmo através das mentes das pessoas que
não se sentaram, em marcha lenta nos degraus do topo do auditório, como
ele estava, e apenas encontrou voluntários, estudantes se esgueirando e um
cavalheiro barbudo usando pontos na orelha, cujo papel principal parecia
gerenciar caixas piscando com fios saindo delas. Não havia um único bruxo
ou bruxa presente, pelo o que podia dizer.

Satisfeito por não ter ameaças imediatas, Draco lançou proteções ao longo
da frente do palco por precaução e se sentou na alcova. Quando a
conferência começou, ele folheou a programação. Aquilo o informou que o
painel de hoje apresentaria líderes internacionais em engenharia de células
imunes e imunoterapia.

Isso disse muito pouco a Draco, é claro. Câncer era, decididamente, um mal
trouxa. Os seres mágicos raramente eram atingidos por isso,e quando eram,
rapidamente seria resolvido. Entretanto, não parecia ser o caso dos trouxas,
a qual parecia ser uma condição séria e incurável de diversas formas.

Granger entrou e sua corte de cérebros pesquisadores. As palestras de hoje


incluíam algumas questões emocionantes: Linfoma Folicular e Leucemia
Linfóide Crônica - Um novo Paradigma de Tratamento e Linfoma de
Hodgkin - Atenuando a Toxicidade enquanto Preserva a Cura.

Draco decidiu que seria bastante seguro deixar Granger com sua Leucemia
Linfoide Crônica. A única ameaça nesse local era a morte por um acrônimo
obscuro. Bem quando estava prestes a sair – ele estava imaginando muito
um cochilo – o mediador anunciou que a Dra. Granger iria palestrar em
seguida.

Draco acompanhou o andar dela através do palco e decidiu ficar.

Ela era uma figura pequena no palco, de longe a mais baixa entre os
palestrantes. Granger sorriu para a audiência enquanto se aproximava de um
amplificador de voz trouxa no pódio. Seus movimentos eram confiantes e
equilibrados. Não tinha anotações, mas a tela grande atrás dela projetava
diagramas e tópicos.

Fez alguns comentários iniciais que incluíram uma piada que passou
completamente batido para Draco, mas o auditório se encheu de risadas.
Sua apresentação focou nos avanços em algo chamado Terapia com
linfócitos-T do antígeno quimérico em linfócitos-B malignos. Ela fez
contato visual com todos, respondeu perguntas, foi desafiada, contra-
argumentou o desafio e defendeu sua posição sem perder o ritmo.

Ela era confiante, esperta, e nesse local, era importante.

Granger em seu elemento era algo muito impressionante.

Depois de terminar sua palestra, ela voltou para a mesa e seus colegas
discutiram o assunto. Em algum ponto, Draco sequer tinha certeza se ela e
os outros estavam falando sua língua, enquanto se interrogavam sobre Vírus
Epstein-Barr e Linfomas de células-TNK, e os desafios nos diagnósticos e a
arquitetura da pesquisa do líquido da biópsia. Granger fez um trocadilho
sobre degradação da MALT-1, o qual foi, aparentemente, muito engraçado.

Draco se divertiu lançando Legilimência nos presentes no painel. Nem


mesmo um único pensamento de que Granger era uma sabe-tudo
insuperável. Ele apenas encontrou respeito, admiração e um crush surpreso
no médico ao lado dela.

Ele aprendeu algo chamado Análise Quantitativa Radiônica. Seus valores


preditivos foram discutidos longamente. Esses médicos trouxas eram uma
coisa, trabalhando brilhantemente no impossível, dedicando suas vidas
inteiras nisso. Como ele pudera pensar que eram básicos e ignorantes?
Draco balançou a cabeça.

Granger deve ter pego o movimento de sua cabeça branca nas sombras.
Quando viu que era Draco, deu a ele um breve sorriso em reconhecimento –
sentimento bizarro – e continuou com a discussão, suas mãos fazendo
grandes arcos enquanto explicava algo.

No final, conclusões foram feitas, comentários de fechamento e a


conferência finalizou com muitos aplausos. Os participantes circulavam,
com Granger no meio da multidão.

Draco, se sentindo muito mole depois de todas as palavras novas e a


Legilimência que fizera (talvez a Guardiã não precisava de um canudo tão
grosso, afinal), decidiu que não era mais necessário aqui.
Ele foi para a saída, mas Granger o agarrou enquanto passava pelo palco.

Como sempre, a conversa fiada foi dispensada. Em vez disso, ele encontrou
seu disfarce trouxa sendo avaliado por ela, o olhar acentuado por uma
sobrancelha levantada.

━ Aceitável. ━ Foi o pronunciamento sobre a vestimenta dele.

━ Por que a sobrancelha? ━ Ele perguntou.

Granger apontou para o crachá nomeado que o voluntário confuso fixou na


lapela de Draco.

━ Olá, Professor Takahashi.

━ Ah ━ Draco falou. ━ Sim. Sou eu.

━ E como está Tóquio nesta época do ano?

━ Muito boa ━ ele respondeu.

━ O Professor Takahashi é de Kyoto ━ Granger disse. Seus braços estavam


cruzados, mas havia divertimento em seus olhos. ━ Muita ousadia posar
como um dos oncologistas clínicos mais renomados do Japão.

━ Não sou nada além de ousado ━ Draco disse, sacudindo o cabelo. ━ Você
sabia que o bom Dr. Driessen está interessado em você?

Agora a outra sobrancelha de Granger se uniu à outra levantada, na linha do


cabelo.

━ O que?

━ Ele vai te chamar para uns drinks esta noite.

━ Não.
━ Sim. Ele também gostou da saia ━ Draco falou, gesticulando para o item
apertado de cintura-alta em questão. (Ele também gostou bastante, aliás; a
moda trouxa e sua ênfase nos glúteos estava crescendo nele).

━ Ugh... quero dizer, ele é bem legal, mas... espere... como você sabe disso?
━ A mão de Granger voou para sua boca. ━ Você não usou Legilimência em
trouxas inocentes.

━ Parte do meu protocolo de avaliação de risco.

━ É permitido? Um pouco de violação à privacidade, não é?

━ Aurores têm privilégios ━ Draco disse. ━ De qualquer forma, Shacklebolt


me deu passe livre para usar qualquer meio necessário para te manter
segura. Exceto assassinato. Eu tenho que pedir permissão para isso. Há um
formulário e tudo mais.

Granger parecia ter 90% de certeza que ele estava brincando, mas mesmo
assim olhava para ele como se fosse o Auror mais irresponsável e
depravado produzido pelo Ministério, e foi apenas sorte que os uniram.

Dr. Driessen apareceu e, para o desânimo evidente de Granger, perguntou se


ela gostaria de sair com ele para beber essa noite. Draco apreciou a
coragem, assim como a sutileza na abordagem.

Algumas coisas aconteceram muito rápido. Granger foi para o lado de


Draco, sua mão encontrando seu peito em um gesto de afeto,
convenientemente escondendo o crachá ridículo, e anunciou que,
infelizmente, ela já tinha um encontro naquela noite, e quem sabe outra
hora.

Dr. Driessen olhou para Draco, para seu cabelo (perfeito), sua mandíbula
(também perfeita), seus olhos (perfeitos, congelantes e perfeitos) e decidiu
que estava em desvantagem.

Homem esperto.
━ É claro ━ ele disse, se afastando e parecendo frustrado. ━ Me desculpe, eu
não percebi. Onde vocês estão indo?

━ Er... ━ Granger começou.

━ A Taverna Turf ━ Draco respondeu.

━ Clássico! ━ Dr. Driessen falou, e então com um aceno de suas


sobrancelhas para Draco, continuou: ━ Do outro lado do Bodleian. Vai ter
que manter os olhos em Hermione.

━ Oh, sim ━ Draco falou, enrolando o braço ao redor da cintura de


Hermione. ━ Eu sempre mantenho.

Ele sentiu a mão de Granger torcer em seu peito.

━ Bom... foi bom ver você, como sempre, Hermione ━ Dr. Driessen disse.

━ Tchau, Johann ━ Granger falou com um sorriso bem fixo.

Ela estava tensa conforme o homem ia embora. Seu corpo parecia enrolado
e pronto para se afastar de Draco.

━ Não pule como se eu tivesse te queimado ━ Draco murmurou. ━ Ele está


assistindo. Aja naturalmente.

Granger limpou a garganta e deixou a mão no peito dele cair, levando o


crachá junto. Ela deu um passo para longe, lentamente, e tentou parecer
natural (não foi).

O próprio Draco vacilou entre o divertimento com o desconforto dela e o


alarme com o quão bom a curva do quadril dela parecia contra ele e quão
bom ela cheirava (de novo).

Granger tirou o nome japonês da mão. Ela parecia desconcertada, o que


refletia bem os pensamentos de Draco.
━ Desculpe ━ disse. ━ Precisei inventar algo e você estava
convenientemente aqui.

━ Use-me como desculpa quando quiser ━ ele falou, escaneando a multidão


em vez de olhar para ela.

Granger foi abordada por outros colegas, que ouviram que ela está indo
para o Turf, e que estavam indo também, então iriam vê-la à noite, e que
sua primeira Gin Tônica foi lá, pipipi popopó, etc! Ela sorriu levemente e
acenou para eles.

━ Talvez isso seja um erro. ━ Foi sua conclusão sombria. ━ Você pode ir.
Vou dar uma desculpa.

Foi uma sugestão leve, exceto por um pequeno problema: após reflexão
meticulosa por oito segundos, Draco decidira que ele preferia ir.

━ Mas eu quero uma Gin Tônica ━ ele falou.

Granger ainda estava murmurando para si mesma, não escutando.

━ Vou dizer que você se sentiu mal ou algo do tipo.

━ Mal? Eu sou o exemplo da saúde.

━ Vou dizer que comeu algo estragado.

━ Acho que não. Há centenas de médicos trouxas aqui. Se disser que estou
doente, todos irão até mim e tentar me curar. Não quero ninguém enfiando
um estetoscópio na minha bunda.

━ Ninguém enfia estetoscópios em bundas ━ Granger disse em alta


exasperação.

Dois participantes da conferência que estavam passando deram a Granger


um olhar chocado. Ela os assistiu sair, horrorizada.

━ Oops ━ Draco falou.


O queixo de Granger estava cerrado.

━ Você é com certeza o pior.

Ela se virou e se afastou rapidamente.

Draco se encontrou sorrindo.

E, falando sobre bundas, que fique claro que ele absolutamente não checou
a dela, também não achou a vista prazerosa e também não diminuiu o passo
para acompanhá-la.

Separadamente, sem nenhuma conexão com a bunda de Granger, Draco


concluiu que as vestes eram superestimadas.

A Taverna Turf era um local estupidamente cheio, especialmente quando a


conferência despejou centenas de participantes nas ruas de Oxford. Draco
achou uma mesa enquanto Granger pegava as bebidas para eles (várias Gin
Tônicas), e eles se viram amontoados em um banco entre uma dúzia dos
melhores imunologistas e oncologistas do mundo, progressivamente
bêbados.

Draco foi questionado sobre o que trabalhava. Granger ficou um pouco


preocupada com a pergunta (tch, ela não confiava nele?), mas ele tinha uma
história de disfarce pronta. Tonks insistiu que cada auror desenvolvesse
algumas biografias trouxas e algumas bruxas, por precaução, e ela os
questionava sobre elas para mantê-los afiados.

Draco compartilhou sua favorita. Nesta noite, ele era um piloto. Poucos
trouxas sabiam o suficiente obre as técnicas sobre voar, então, a menos que
ele encontre um real piloto – improvável, rodeado de médicos bêbados – ele
estava seguro. E, é claro, tinha uma paixão genuína sobre voar
magicamente, o que dava uma certa veracidade aos seus contos heróicos no
avião.

━ Voar não é tão difícil, sabe ━ ele disse para a mesa. ━ Mantenha o lado
azul para cima.
Risadas. O médico ao lado dele indicou que princípios tão simples também
eram aplicados à medicina: mantenha tudo dentro. Mais risadas.

Draco pegou um olhar contemplativo de Granger, uma mistura de surpresa


agradável com quem diabos é você. Ele ergueu uma sobrancelha. Ela
desviou o olhar, perplexa.

Quando perguntaram quando ele chegou em Oxford, respondeu "essa


manhã". Quando perguntado o que ele estava fazendo em Oxford, disse
"Doutora Granger".

Granger engasgou com a bebida. Mais risada. Quando Draco olhou para ela
em seguida, parecia que ia atraí-lo para um beco solitário e, na escuridão,
iria estrangular ele.

Quem iria saber que zombar da sabe-tudo do século poderia ser uma
atividade tão divertida.

Mais alguém se sentou na mesa com gritos estridentes de boas-vindas – o


real Professor Takahashi. Granger se arrastou mais perto de Draco para
liberar um espaço.

Draco se inclinou e sussurrou:

━ Pergunte se ele teve algum problema com o registro.

Granger o chutou.

Ela conversou educadamente com o professor – Draco escutou pedaços da


conversa sobre Kyoto – mas seu foco continuou desviando para a sensação
do ombro de Granger pressionando seu braço e a perna dela tocando a dele
debaixo da mesa.

Um garçom chegou trazendo mais comida e bebida. Alguém pedira uma


enorme travessa com torradas de queijo – gordurosas, salgadas e servidas
com molho de cebola. Narcisa Malfoy teria um ataque cardíaco apenas ao
ver essas coisas escorrendo com três tipos de queijo.
Granger passou a travessa para Draco de uma forma ambivalente, como se
esperasse que ele torcesse o nariz para a comida do bar trouxa.

Draco pegou uma. Foi a melhor coisa que já comera.

Alguém, em algum lugar, tocou um instrumento triangular e chamou por


aqueles que queriam se juntar em times para o quiz do bar.

Um dos médicos na mesa pegou aquilo como um sinal de sair. Outros


pareciam animados e ansiosos para começar.

━ Eu amo quiz de bar ━ disse a mulher com cabelo cinza à direita de Draco.
━ Metade da diversão é aprender que você é um idiota colossal.

━ Apostos que seremos derrotados por alguns novatos da St. John ━ disse o
médico de frente para ele.

━ De jeito nenhum ━ disse um terceiro. ━ Com Hermione aqui, vai ser de


lavada. Você vai ficar, certo?

Granger olhou para Draco.

━ O que você acha? Se estiver cansado, pode voltar para... para nosso hotel.

Draco apreciou a tentativa de dá-lo uma saída, mas ele não aceitou. Ele
tinha um excelente momento acontecendo, havia o calor da mulher ao lado
dele e isso era mais que bom.

━ Jamais! É claro que vou ficar.

Houve coros de "brilhante!" e houve uma confusão geral quando todos


pareciam procurar por papéis e canetas.

Draco era absolutamente inútil para a primeira leva de questões, as quais


focavam em política trouxa e esportes. Entretanto, ele sabia quantas caudas
um piano tinha (88), quando Cessna foi fundado (1927), qual hino nacional
tinha 158 versos (Grécia; todos os versos foram cantados na última Copa
Mundial de Quadribol)
Houve algumas perguntas sobre biologia e ciência, as quais foram
respondidas pelos médicos do grupo com um nível desnecessário de
detalhes. Draco aprendeu que Picolax era usado para algo chamado
"preparo para colonoscopia"; um dos médicos assentiu com a cabeça e disse
"noite de milhares de cachoeiras" e Draco estava tão assustado que não
pediu uma explicação. Então eles discutiram com o apresentador sobre a
definição de "subcutâneo" e praticamente intimidaram o pobre rapaz até lhe
darem o ponto.

As perguntas sobre história e arte teriam atingido toda a equipe, exceto por
Granger, que ajudou todos. Então – com um gemido coletivo – eles foram
atingidos por exercícios de matemática e o time de jovens atrás deles zuniu
na pista e deixou os médicos comendo poeira.

━ Engenheiros ━ um dos médicos disse. ━ Nunca tivemos chance.

Granger, ainda presa em um problema, parecia aborrecida.

Depois, geografia, música, zoologia, a qual Granger foi solidamente capaz


de lidar com uma ocasional ajuda de seus colegas. Draco sequer tentou
ajudar; ele estava na quarta bebida, e descobrir o que significava
monotremado era uma filosofia muito profunda para o momento.

No final, o time deles ganhou – em grande parte, graças à Granger.

━ Vamos registrar Hermione como Patrimônio Inglês no tesouro nacional ━


um dos médicos disse, dando um tapinha no ombro dela.

Granger sorriu, mas seu olhar voltou rapidamente para o problema de


matemática que a fez tropeçar, rabiscado em um guardanapo.

O time vencedor foi recebido com algum tipo de valor monetário. Os


médicos entregaram os deles para os jovens que ficaram em segundo,
dizendo que foi uma luta justa, já que os anos somados na faculdade eram
maiores do que os anos de vida dos pobres engenheiros.

A noite caiu. O lugar ficou mais quieto conforme as pessoas saíram após o
quiz, exceto por Draco, que estava aproveitando as bebidas, e Granger, que
ainda estava trabalhando na coisa matemática.

Eventualmente, ela cutucou uns dos jovens e pediu uma explicação.

━ É o Paradoxo de Borel ━ o menino disse.

━ Oh! ━ Granger respondeu. ━ É claro...

O mistério foi resolvido e ela rabiscou a resposta. Então largou a caneta


com determinação e se levantou.

━ Vamos ━ chamou.

Draco se levantou com cuidado, esperando para ver o quanto as bebidas o


atingiram. Não era tão ruim. As torradas de queijo viraram um bom
absorvente.

━ Tenham uma boa noite, vocês dois ━ o cara do bar disse com uma
piscadela para Granger.

Ela deu a ele um sorriso meio doentio e correu para a porta.

Do lado de fora, nenhum deles estava andando com seu nível usual de
confiança, apesar de Granger estar certamente melhor do que Draco. Em
certo ponto, ela o puxou, no momento em que ele estava quase dando de
cara com o poste.

━ Era para você cuidar de mim ━ ela falou. ━ Não o contrário.

━ O poste veio do nada ━ Draco disse no cabelo dela.

Ela se afastou dele até que estava firme.

━ Como você vai para casa? E não diga aparatando. Vou te atordoar se
tentar.

Draco tinha certeza que, mesmo em seu estado risonho, ele seria mais
rápido do que ela.
━ Flu, eu suponho.

━ Há um conectado no meu hotel. Por aqui.

Draco seguiu o passo dela através das ruas de Oxford. A bebida estava
sumindo e a filosofia começou a fluir. Ele se sentiu generoso e à vontade
com o mundo.

━ Esses trouxas de hoje em dia... eles são muito inteligentes.

━ Sim ━ Granger disse.

━ Você é muito inteligente. Com todos os... diagramas, maltes, carrinhos e


essas coisas ━ Draco falou. Parecia importante que ela soubesse disso.

Ela deu a ele um olhar de soslaio no escuro.

━ Obrigada. E por favor, pare, você me assusta quando é legal.

━ Eu sou assustador?

━ Volte a fazer piadas sobre meu cabelo.

━ Ok. É horrível. Você deveria raspá-lo.

━ Melhor ━ Granger disse.

━ Não realmente ━ Draco respondeu.

━ Tem certeza?

━ Sim.

━ Chegamos ━ Granger anunciou. Ela abriu a porta de um pequeno hotel


mágico. A mesa da recepção estava vazia e a lareira da entrada estava baixa.

Ela acenou a varinha para as brasas e as trouxe de volta à vida quando


lançou um Incendio.
━ Você é uma expert em lançar fogo assim como feitiços de extensão? ━
Draco perguntou diante da demonstração.

━ Um pouco ━ Granger respondeu, com uma falsa modéstia.

━ Eu ouvi falar que você jogou fogo em Snape no primeiro ano ━ Draco
disse. ━ Mas eu não acredito nisso.

━ Bom, isso é pura besteira ━ ela respondeu, não encontrando o olhar dele.

━ Você é uma péssima mentirosa.

━ Saia ━ Granger disse, evitando o comentário e gesticulando a lareira para


ele. ━ Estou exausta e preciso da minha cama.

━ Mas eu quero a história sobre atear fogo no Snape ━ ele disse.

━ Vá para casa, Malfoy.

Vendo que não iria conseguir, Draco jogou pó de flu na lareira.

━ Você não é nem um pouco engraçada. Mansão Malfoy.

As chamas ficaram verdes. Sua última visão, enquanto olhava para trás, era
de Granger, braços cruzados, o quadril inclinado para o lado. Seus olhos
escuros o observavam como se fosse um novo problema de matemática para
ser resolvido.

Por um lado, amaciava seu ego ao intrigar o Grande Cérebro. Pelo outro,
considerando a propensão dela em resolver as coisas, o assustou bastante.
Ele não queria ser consertado.

━ Boa noite, Malfoy.

Draco entrou na lareira.

──── ◉ ────
Eu amo esse capítulo! A descrição de Draco sobre querer conversar com a
Hermione durante o chá me lembra os momentos da adolescência que eu só
queria continuar conversando por sms do Meu Vivo com os crushs. Rindo
que nem boba, borboletas no estômago...

Ai ai, gente... se o homem tá assim só trocando mensagem, vocês mal


podem esperar no futuro. O tombo vai ser grande.

Me contem o que estão achando da história! Os próximos são incríveis


também e mal posso esperar para postar. Teremos mais um evento da
Granger, Ostara, e o baile citado nesse capítulo.

Próximos capítulos: 09/06


7. Ostara; Contrariedade de
Granger

Oi oi, amores! Tudo bem?

Esse capítulo e o próximo... coração chega a errar as batidas.

Quero agradecer pelo 1K de leituras até agora! Continuem votando e


comentando.

Boa leitura!

──── ◉ ────

A próxima visita de Draco para proteger a casa de Granger foi estragada,


em retrospecto, por um leve lapso de julgamento. Conforme as semanas
passaram e ele fez certo avanço na descoberta da natureza do projeto dela,
sua mente se virou para um certo objeto de interesse do estudo: o grimório
esfarrapado na pilastra. Aquele que ela ameaçou chorar sobre.

E então, em uma manhã no início de Março, quando Draco estava se


preparando para sua visita perene ao chalé de Granger, enviou uma
mensagem para ela indicando que iria para sua casa e se estava tudo bem,
porque ele não tinha protegido as janelas e isso estava o incomodando.

Granger respondeu com um seco: se você achar necessário.

Sim, ele achava.

Draco cronometrou a visita para coincidir com uma das aulas de Granger na
Trinity, para garantir que não iria perturbar enquanto vagava pelo lugar.
Quando chegou, o gato dela – talvez sentindo que algo nefasto pousou –
tomou uma posição de poder no telhado e encarou Draco enquanto lançava
as proteções externas.

━ Estou apenas fazendo meu trabalho, gato ━ ele falou, dando uma grande
demonstração.

O gato respondeu com cinismo.

Ele entrou no chalé e protegeu as janelas do primeiro andar com


entusiasmo, então fez o mesmo com as outras. O quarto de Granger foi
primeiro, com um olhar mínimo, porque o gato estava na porta assistindo.
Então a sala de ioga. E finalmente, foi para a sala de estudo.

O grimório ainda estava sobre o pilar, aberto no meio, ainda rodeado pelo
brilho verde do feitiço de estase. Draco protegeu a janela sobre o olhar
atento do gato e caminhou até o tomo.

O olhar fixo do gato ficou ainda mais penetrante.

Draco espiou as páginas. Através do feitiço, as palavras estavam borradas e


pareciam dançar. A escrita era forçada e pesada. Não era o idioma deles –
na verdade, parecia francês – Anglo-Normando, talvez? Nesse caso, isso era
um livro antigo – cinco séculos, pelo menos.

Pelo pouco que conseguiu entender, estava olhando uma descrição


elaborada sobre uma paisagem: uma colina verde sobre jacintos dançantes,
penugem de cardo reluzente sobre teia Fali.

Era tudo que Draco conseguia entender, o resto estava muito danificado. Ele
se lembrou do momento de volubilidade de Granger na estrada Mendip,
algo sobre descrições da flora dando dicas para sua busca misteriosa.
Nenhuma planta da lista dela foi mencionada aqui, entretanto. Deve ser algo
diferente.

Ele queria muito ver a capa do livro.

Olhou para o gato. O animal não fez nada a não ser balançar a cabeça.
━ Apenas um olhar rápido ━ Draco falou. ━ Eu posso ser capaz de ajudá-la,
sabia.

O gato sacudiu o rabo em desaprovação.

Draco fez de qualquer forma. Usando sua varinha como alavanca, para que
não tocasse no livro, levantou a capa o suficiente para espiar.

Estava intitulado Revelações.

O gato miou irado.

Draco deixou a capa voltar para seu lugar e saiu do chalé bem rápido.

──── ◉ ────

Draco não sabia como, mas Granger suspeitava de algo. Primeiro, o Bloco-
Falante vibrou com uma série de mensagens, questionando se ele havia
tocado o livro. Ele negou, negou mais, então silenciou o Bloco para que
parasse de vibrar.

Então, Granger, de alguma forma, pegou Boethius, a própria coruja de


Draco, para mandar perguntas cada vez mais acaloradas. Ele mandou a ave
com uma carta para um amigo na Itália, que poderia mantê-la fora das mãos
de Granger por pelo menos uma semana.

E então, um berrador pousou em seu colo no meio de uma reunião com


Tonks. Só conseguiu proferir "MALFOY, VOCÊ..." antes que Draco o
incinerasse.

As sobrancelhas de Tonks ergueram.

━ Isso era Hermione?

━ Sim ━ Draco respondeu.

━ Isso explica então. ━ Ela gesticulou para o Espelho-dos-Inimigos atrás


dela. Uma das sombras tinha a forma bastante familiar: uma mulher alta,
uma pilha de cachos na cabeça, as mãos na cintura, silhueta contra o cinza.
━ Suponho que ela esteja tendo pensamentos violentos sobre mim pela
proximidade com você ━ Tonks disse. ━ O que fez?

━ Nada ━ Draco falou, o que era essencialmente verdade.

Tonks o encarou por um bom tempo com os dedos batendo na mesa.

━ Vou assumir que o que quer que tenha feito foi pela capacidade
profissional como um Auror, para garantir a proteção contínua dela.

━ Esse sempre foi meu principal objetivo ━ Draco concordou.

Tonks deu a ele outro olhar, então voltou para o relatório sobre os
contrabandistas dos artefatos das trevas.

━ Tome cuidado, Malfoy.

Assim dispensado, Draco retornou para seu cubículo.

Ele mal havia se sentado quando uma lontra prateada mergulhou sobre ele
do nada. Chamou-o de idiota e mentiroso de merda, e aconselhou a pular da
ponte.

Draco mandou seu próprio patrono com um pedido para que Granger
gentilmente mantivesse suas lontras barulhentas para si mesma; ele estava
trabalhando.

Por um curto tempo, foi isso.

Draco ficou de olho na agenda dela para checar os intervalos durante os


quais poderia vir e vê-lo pessoalmente. Ela não fez, possivelmente porque
estava salvando vidas ou outras bobagens.

Foi quando percebeu outro feriado com asterisco que estava chegando em
breve – no final de semana, na verdade.

Então... Ostara está chegando. Ele escreveu no Bloco casualmente durante


a noite.
A resposta dela foi instantânea, embora fora do assunto. Aquele livro NÃO
era seu para tocar.

Para onde você vai no Ostara? Draco perguntou.

Você NÃO está convidado, Granger respondeu.

Não preciso de um convite, ele falou.

Eu não preciso de supervisão de imbecis intrometidos, Granger escreveu.

Te vejo em breve, Draco respondeu.

Ela não escreveu mais.

Granger era um pouco carrancuda, às vezes.

──── ◉ ────

O Imbecil-Não-Convidado teve um descanso adorável no sábado, antes de


se preparar para aparatar até Granger.

Francamente, depois das travessuras com as Guardiãs do Inferno, ela


perdeu todo privilégio que poderia ter para reclamar sobre a necessidade da
supervisão de um Auror. Draco não confiava que Granger era incapaz de se
jogar em uma cova de vampiros para colocar as mãos em algum recipiente
obscuro.

Além dessas razões virtuosas, o tempo nas escapadas de Granger aos finais
de semana continuaram a servir os propósitos dele. Hoje, a brincadeira,
qualquer que seja, coincidiu com um dos almoços de sua mãe. Draco estava
feliz pela desculpa para estar longe, mesmo que sua mãe prometera que não
tinha motivos ocultos e que a presença de qualquer bruxa elegível seria
coincidência.

Draco usou o flu para o Mitre, o bar de Cambridge, e de lá, aparatou para a
localização do anel de Granger, o qual o levou para a cozinha dela.

E ali estava o anel, mas não a Granger.


━ Você está brincando ━ ele disse para o item sobre a mesa da cozinha.

Apenas o gato respondeu – um miado lamentável pela ausência de sua


dona.

━ Sua bruxa é um pé no saco, sabia?

O gato se enrolou em uma bola triste laranja no pé de Draco.

Ele guardou o anel de Granger com um resmungo. Depois, tirou a varinha e


lançou seu feitiço de rastreamento. Que bom que ele fizera planos de
contingência.

Um mapa brilhou na frente dele e havia pontos de luz mais fortes do que
outros.

Os tênis de corrida de Granger ficaram, ao que parece, no laboratório da


Universidade Trinity. A caneca de chá estava em algum lugar nesse chalé.
Os vários grampos de cabelo que Draco enfeitiçou estavam bem espalhados
– alguns no laboratório, alguns no St. Mungos.

Um único grampo continuava saltando através de Uffington, por razões


desconhecidas.

Razões as quais Draco estava muito ansioso para descobrir.

Ele aparatou na localização do grampo.

━ Surpresa! ━ Disse quando se materializou atrás de Granger.

Ela pulou um metro, o que foi satisfatório, e então xingou ele, o que foi
ainda mais satisfatório.

Draco olhou ao redor para se encontrar no topo de uma colina verde,


exposta ao vento. Era uma formação estranha: alta, mas plana no topo. O
musgo debaixo de seu pé era espesso, verde e deliciosamente elástico,
exceto que fora interrompido por grandes manchas de calcário branco. Tudo
ao redor dele era uma vista linda de pastos, meandros sebes e caminhos
com folhas.
Colina do Dragão, onde as lendas contam sobre São Jorge matando um
dragão, cujo sangue queimou a relva até ficar branco como osso. (Foto:
nationaltrust.org.uk).

Agora Draco virou sua atenção para a própria Granger, que estava toda
vestida em sua roupa trouxa. O cabelo dela era um rabo de cavalo alto, o
que lhe dava um ar esportivo sobre seu coque escolar usual. Seu nariz
estava vermelho pelo vento de Março.

Sua testa, é claro, estava franzida.

━ Como diabos você está aqui? ━ Granger perguntou.

━ Onde estamos? ━ Draco replicou.

━ Como me achou?

━ O que tem no seu casaco? ━ Draco perguntou, porque parecia


suspeitosamente cheio.

Granger abriu o bolso do casaco um pouco apertado. Os olhos dela ficaram


opacos com a súbita oclumência.

━ Nada. Eu respondi uma de suas perguntas, agora você responde a minha.


━ Foi uma mentira, no entanto.

━ Bom, é tudo o que vai ter de mim ━ Granger disse. Ela começou a descer
a colina para longe de Draco. ━ Não quero falar com você.

━ Não quer? Você explodiu meu Bloco-Falante de mensagens, recrutou


minha própria coruja, me mandou um berrador e uma lontra raivosa. Ei,
onde está indo?

━ Para longe de você ━ Granger falou.

Draco estava irritado – ele havia perdido o que quer que ela tenha vindo
fazer? A coisa em Ostara?

Ele deve ter. Ela estava saltitando para longe dele, parecendo muito feliz.
Ele não deveria ter dormido tanto.

━ Granger! Volte aqui. Não terminamos ━ Draco falou, saltitando atrás dela
pela colina.

━ Eu terminei ━ Granger disse com uma exagerada leveza de espírito. ━ Já


você, não sei.

━ Você precisa usar o maldito anel ━ Draco falou para o rabo de cavalo
balançando.

Ela subiu, ignorando-o. Então, sem um pingo de aviso, se inclinou. Draco


evitou por pouco bater nela com o que seria um contato pélvico completo.

Sim, Tonks. Ela quebrou o pescoço caindo de uma colina. Eu confiei demais
nela. Sim, foi um acidente. Sim, ela está morta. Por favor, devolva meu
corpo para minha mãe no menor número de pedaços possível.

Granger pulou de novo, segurando o ramo de algo.

━ O que é isso? ━ Perguntou.

Draco encarou a coisa.


━ Uma planta.

━ Especificamente, teia. Você sabe qual tipo?

━ F... ━ Draco começou, se lembrando do tomo antigo. Ele tomou cuidado.


━ Francamente, não tenho ideia.

━ Fali. É Teia de Fali.

━ Bom para Fali.

━ Mas você sabia disso, porque leu o livro. ━ A fachada de Granger estava
quebrando. Ela parecia levemente maníaca.

Draco espantou a planta.

━ Tirar o anel não era nosso acordo. Você tem que mantê-lo a todo
momento. É o ponto principal.

Granger, que se virou para continuar sua descida, deu a volta. Seu rabo de
cavalo bateu no rosto dele, um ferimento grave pelo qual ela sequer se
desculpou.

━ Sabe o que mais não estava em nosso acordo? Você quebrando minha
confiança e tocando em minhas coisas!

Ah, ali estava: os gritos.

━ Eu não fiz nada em seu livro.

━ Você nem deveria tocá-lo em primeiro lugar! Aquele livro é muito


valioso!

Se virando novamente (e batendo no rosto dele com o cabelo novamente),


Granger desceu a colina.

━ Coloque a porcaria do anel de volta, Granger ━ Draco falou.


━ Não. Estou farta do seu dispositivo de vigilância.

━ Tá bom ━ Draco disse de volta. ━ Vou dizer a Shacklebolt que terminei e


ele terá que colocar você sob vigilância. Com Aurores que irão literalmente
te seguir. Cada movimento, cada frasco de merda que está no seu
laboratório e cada palavra que está nos seus computadores!

Granger parou e fez um barulho sufocado.

Draco tomou aquilo como concordância.

Ele pisou em direção a ela.

━ Mão ━ pediu.

Granger estendeu-a.

Draco a agarrou rudemente. Ele queria colocar o anel tão rude quanto, para
mostrar quão irritado estava, mas não o fez, com medo de quebrar o dedo
dela. Houve um momento abençoado sem gritos enquanto deslizava o anel
de volta.

━ Oh! ━ Veio uma voz.

Alguns trouxas que caminhavam pararam na encosta da colina.

Coros de felicidade seguiram: "Um noivado!", "Que casal adorável!",


"Parabéns!" e "Que lugar lindo para isso!".

De qualquer forma, Draco não sabia que Avada Kedavra podia ser lançado
usando apenas os olhos, mas Granger estava fazendo isso com bastante
competência.

Então ela se virou para os trouxas e fez alguns sons de concordância e falsa
felicidade para afastá-los. Draco não se juntou porque ele estava morto.

Os caminhantes eventualmente saíram, tendo desejado felicidades na vida


de casados e dando conselhos insanos para Draco.
Granger estava segurando sua planta destrutivamente. Assim que os trouxas
foram embora, ela a jogou no chão e perguntou por que sua vida era
aquela?

Draco presumiu que a pergunta era retórica e não respondeu. Ele guardou
sua varinha e andou para onde os trouxas foram.

━ O que você está fazendo? ━ Ela perguntou.

━ Vou obliviar todos eles ━ Draco informou.

━ Não ━ Granger disse com veemência inesperada. ━ Feitiços de memória


não são usados levianamente.

━ Mas...

Agora Granger estava ao lado dele. Ela agarrou a varinha dele e abaixou.

━ Não. Isso não importa. Prometo que aqueles trouxas não vão acabar com
sua reputação ou falar com o Profeta sobre esse... suposto desenvolvimento.

━ Eu não ligo ━ Draco falou, porque não ligava mesmo. ━ Eu pensei que
você sim. Você acabou de me estrangular com seus olhos.

━ Você não liga? ━ Granger parecia, pela primeira vez na vida, perplexa. ━
Pensei que sim.

━ Por que eu ligaria? Eles são trouxas.

━ Eu não sei. Não importa. Terminamos?

━ Você terminou?

━ Sim ━ Granger respondeu.

━ Então eu também ━ Draco disse.

Granger correu para um portão de estacionamento.


Draco demorou-se o suficiente para vê-la manobrar o carro para fora da
grama e entrar na estrada de terra. Ela partiu sem olhar para trás.

Sua placa traseira dizia BCHNT.

Draco aparatou com um crack irritado.

──── ◉ ────

Alguns dias depois, Draco se preparou para a noite de quadribol na quarta-


feira, a qual ele hospedava no campo bem cuidado da Mansão.

Uniformizado e pronto para ir, ele voou em direção ao campo, onde os


malandros de sempre estavam esperando: Zabini, Davies, Flint, Doyle e
alguns outros colegas de escola e um punhado de jogadores que se reuniram
para a noite.

━ Ei ━ Flint acenou.

━ O chefão chegou ━ Doyle anunciou.

━ De olho no pescoço, Doyle, ou eu farei isso por você ━ Draco disse,


angulando a vassoura para a altitude deles.

Doyle ergueu seu bastão de Batedor para ele em simulação de ameaça.

━ Estou mais equipado para bater cabeças.

━ Cinco a cinco? ━ Davies perguntou, colocando sua vassoura entre eles,


obviamente ansioso para começar.

━ Vamos fazer isso.

Eles jogaram. Já passava das oito quando começaram, mas o campo foi
magicamente iluminado e permitiu um longo jogo cheio de interpretações
de regras questionáveis ​e feitos de quase morte. O pomo era uma coisa
indescritível naquela noite: nem Draco nem o apanhador adversário tiveram
muita sorte e ambos estavam sujeitos a insultos de suas equipes como
resultado.

A meia-noite chegou e Davies disse: merda, a patroa ia ter a cabeça dele


por ficar fora até tão tarde. Eles concordaram em chamar isso de empate,
dada a inutilidade de seus apanhadores e a pontuação equilibrada, e
continuar na próxima semana e comemorar o eventual vencedor com muita
bebida.

Pops e cracks reverberaram através do campo conforme os jogadores


desaparataram, deixando Draco com a coisa toda para si.

Agora ele poderia ter alguma diversão.

Ele voou preguiçosamente para cima em longas voltas, cada vez mais alto,
até que o campo era um retângulo verde lá embaixo e a Mansão era uma
casa de bonecas, brilhando suavemente na noite.

Então ele inclinou sua vassoura para baixo e mergulhou em uma Finta de
Wronski. Parou no último minuto, mal segurando o grito de alegria que
queria explodir em seus lábios, e girou sua vassoura de volta para o céu
escuro.

Mais uma vez, o campo era um pequeno retângulo verde abaixo, mas Draco
voou ainda mais alto, até que imaginou que poderia haver nuvens entre ele
e a terra.

Ele caiu novamente, saboreando o vento em seu rosto, a sensação


paralisante do prumo, a adrenalina explodindo em suas veias. Foi glorioso.
Era liberdade. Saiu do mergulho no último momento possível, seu coração
cantando em seus ouvidos, os dedos dos pés cortando a grama.

O suave, mas distinto pop de uma aparatação ecoou pelo campo de


quadribol. Ele procurou quem era, pronto para provocar Davies por fugir de
sua esposa.

Mas não era Davies.


Era Granger.

Ela veio para gritar com ele sobre o maldito livro? Draco voou para baixo e
parou sua vassoura na frente dela.

━ Que merda está fazendo aqui?

Mas Granger não parecia brava. Parecia confusa. A varinha dela estava
erguida, faíscas verdes de cura cintilando.

Na verdade, ela parecia como se tivesse caído da cama. O cabelo dela


estava em uma trança longa com cachos escapando. Estava vestindo um
shorts trouxa e uma blusa larga da Universidade de Edimburgo. Suas pernas
e pés estavam à mostra.

━ Eu... eu senti você... ━ ela gaguejou, olhando para o novo ambiente com
perplexidade. ━ Sua frequência cardíaca estava no teto, adrenalina alta e foi
horrível, eu...

━ Não, foi selvagem ━ Draco corrigiu, ainda normalizando sua respiração.

━ Achei que estivesse morrendo!

━ Espera... como você sentiu isso? Como diabos conseguiu chegar aqui?

━ O maldito anel! ━ Granger falou, acenando a mão com o item em questão


no rosto dele.

━ Impossível ━ Draco zombou. ━ É uma via única.

━ Então como estou aqui, seu idiota?!

Era um ponto justo e Draco foi forçado a considerar que ele teria que
revisar os feitiços. Sua raiva surgiu, entretanto, porque o mal-
funcionamento com certeza era culpa dela.

━ A única idiota aqui é aquela que tirou o anel quando não deveria ter feito
e estragou algo. O feitiço é delicado.
Granger ergueu as mãos, como se não pudesse acreditar na virada absurda
do rumo da conversa.

━ Eu não vim aqui para discutir quem é o mais idiota!

━ É você ━ Draco falou. ━ Desde que você chegou aqui, de pijama, para
confirmar meu bem estar, e eu posso confirmar que estou bem. Tenho
certeza que tem coisa melhor para fazer.

O fato foi, aparentemente, a coisa errada a dizer. Os gritos de Granger


aumentaram.

━ Coisa melhor? Eu? Oh, não. Minha vida é adoravelmente vazia!

━ Granger...

━ Eu amo aparatar no campo de Quadribol no meio da noite! Em Março!


Descalça! Para lançar insultos ao maldito Draco Malfoy! Amo demais!
Tenho tão pouco a fazer, eu deveria estar jogando boliche! Garrafas em
navios!

Ela se interrompeu, tendo sido misericordiosamente interrompida por algo


tocando seu pescoço. Ela guinchou.

━ O que...

Na nuca dela, brilhando bastante provocativo para Draco, estava o pomo.

Draco deslizou para mais perto.

━ Estive procurando por esse vagabundo a noite toda.

━ Maravilhoso. E-estou feliz por ajudar ━ Granger disse.

Os dentes dela estavam rangendo – mas não era de raiva, Draco percebeu
tardiamente – era pelo frio.

Ela tomou uma respiração e aparentou reunir o que sobrou de sua


dignidade.
━ Assim que puder, pode me levar ao flu mais próximo?

Por que diabos ela precisava que ele a levasse a algum lugar? Draco pousou
ao lado dela, percebendo por último que Granger não parecia bem. Ela tinha
os lábios brancos, estava pálida e tremendo.

━ Você aparatou da maldita Cambridgeshire? ━ Draco perguntou com


compreensão crescente.

━ Levei algumas p-paradas ━ Granger disse, apesar dos dentes se chocando.


━ Eu f-fiz um turno duplo no St. Mungos essa manhã... então entre isso e a
aparatação a longa distância, estou praticamente drenada.

Draco lançou um feitiço de aquecimento sobre ela, sua irritação agora


dando espaço para raiva. Ela foi longe demais, perdendo magia por causa
dele, a idiota completa.

━ Qual era, exatamente, o plano quando chegou aqui para salvar minha vida
com quase nenhuma reserva mágica?

━ Eu iria colocar um gesso na ferida ━ Granger disse, mas o sarcasmo


estava atenuado pelo tremor violento de seus ombros. ━ Dispense o sermão,
não estava pensando. Eu estava dormindo e a próxima coisa era que o
maldito anel gritava que você estava prestes a morrer.

Draco sentiu que ela deveria ser tocada, apesar do desconforto após a
imprudência dela praticamente camuflar isso.

━ Certo. Então eu estaria no meio de um duelo com um grupo de bruxos das


trevas e você decidiu se juntar, descalça, sem magia e de pijama.
Fodidamente brilhante.

━ Foi uma reação! ━ Granger gritou. ━ Me desculpe se não parei para


avaliar minhas opções quando pensei que você estava no meio da morte! Eu
sou uma curandeira; sorte que eu era capaz de fazer algo sobre seu... seu...

━ Meu ferimento mortal não-existente. Claro. ━ Draco pulou de volta na


vassoura, próximo a ela. ━ Suba. Vou te levar até a Mansão. Você pode usar
o flu de lá.

━ Não ━ Granger falou, se afastando.

Draco presumiu, com nenhum nível de exasperação, que a objeção dela era
voar.

━ Tá bom. ━ Ele saiu da vassoura e segurou o cotovelo dela. ━ Vou nos


aparatar para lá. Vamos. Você está prestes a desmaiar.

Granger se afastou novamente. Ela parecia ainda mais pálida.

━ Não... a Mansão não. Por favor. Me aparate até O Cisne. Vou de lá.

━ O que tem de errado com meu flu? ━ Draco perguntou, perto de perder a
paciência e agarrar o braço dela para forçar uma aparatação. ━ Minha mãe
está na França essa semana, se é por isso que...

━ Não. Não é sua mãe. É que... não quero voltar lá. Tudo bem?

Ela cruzou os braços ao redor de si mesma. Nesse momento, a formidável


Hermione Granger parecia pequena, pálida e com medo.

Draco percebeu, horrivelmente tarde, de que era sobre sua casa que ela
tinha uma objeção. De que a Mansão ainda carregava os horrores da guerra.

Ele era um idiota.

Ofereceu seu cotovelo novamente.

━ No Cisne, então.

Ela o pegou. Sua mão era leve no braço dele e contra seu uniforme de
quadribol molhado, parecia gelada.

Eles aparataram dentro de uma ala d'O Cisne, o bar bruxo turbulento que
servia de meio de caminho para a viagem de flu até Wiltshire. As vozes no
bar soaram animadas através das paredes. Draco lançou um feitiço Não-me-
note em si mesmo e em Granger, que serviu para evitar olhares conforme
saiam do lugar e andavam até a lareira.

Draco notou que Granger ainda estava segurando seu cotovelo – na


verdade, ela começou a se apoiar nele.

Ele lançou um pouco de pó de flu no fogo e Granger deu o nome do bar


perto do chalé dela, o Mitre.

━ Você não tem força o suficiente para aparatar de lá ━ Draco falou.

━ Meu chalé não está na rede de flu. Eu vou andando... é apenas alguns
minutos ━ Granger disse.

Draco fez um som de descrença.

━ Você está provando que é idiota hoje, mas vejo que está piorando. Vou
com você.

Era evidente o real nível de fadiga de Granger, já que ela não discutiu.
Entraram juntos na lareira e foram cuspidos ao longo de doze paradas até
chegarem no Mitre.

Draco foi mais rápido para se equilibrar do que a bruxa idiota exausta, que
fez uma tentativa corajosa de se manter de pé, que foi mais como um
colapso contra ele. Ele serpenteou um braço na cintura dela e aparatou em
sua cozinha.

Um borrão laranja deslizou na sala na hora em que o barulho da aparatação


de Draco ecoou. Houve um miado de preocupação imediato quando o gato
notou a forma flácida de sua dona contra o lado dele.

━ Ainda está conosco? ━ Draco perguntou, dando a Granger um empurrão.


━ Devo chamar alguém? Devo te levar ao St. Mungos? Diga algo ou
mandarei meu patrono para Potter e trazer um pânico enorme.

━ Não. ━ O aperto no braço dele aumentou. ━ É apenas... apenas exaustão


mágica. Eu passei o dia todo curando. As aparatações lado-a-lado foram...
estúpidas. Me dê uma poção de reabastecimento... o frasco vermelho no
balcão, ali.

Draco apoiou Granger em uma cadeira, onde ela se sentou com um suspiro.
Ele convocou o frasco em direção a eles e quebrou sua rolha encerada.

━ Eu sou a mais idiota ━ Granger disse depois de beber a coisa toda.

Draco sentiu que deveria ter isso por escrito.

O gato estava zanzando até o pé de Granger com miados nervosos.

━ Concordo ━ ele respondeu. ━ Ela precisa descansar.

━ Você não o entende ━ Granger disse, deixando o frasco cair na mesa com
um gesto débil. ━ Pare de fingir.

━ Ele disse que tem um sofá sobre uma bagunça de livros na sala de estar
onde você deveria deitar.

━ Não toque naqueles livros ━ Granger disse, brigando mesmo após a


exaustão.

O gato soltou um gemido prolongado.

━ Cama, então. Eu concordo ━ Draco disse.

Draco não deu a Granger a chance de objetar. Ele deslizou uma mão na
dobra de seu cotovelo e aparatou os dois no andar de cima, onde a
depositou em sua cama.

Era óbvio, enquanto ele olhava ao redor da sala escura, que Granger
realmente partiu com tanta pressa quanto alegou. A cama estava em
desordem, como se ela tivesse esquecido que tinha um cobertor sobre si
quando se levantou em um pulo. O abajur de cabeceira estava torto como se
tivesse batido nele. Seu celular trouxa estava jogado no chão.
Draco reorganizou essas coisas com alguns acenos de varinha. O gato, que
havia subido as escadas atrás deles, pulou na cama e se juntou a Granger
com um som de reprovação. Ele se acomodou na axila de Granger como
uma garrafa de água peluda. Granger puxou a coberta sobre si mesma com
uma mão fraca e acariciou a cabeça do gato com a outra.

Draco, que estava esperando para ver se a poção de reposição estava tendo
o efeito desejado – e que Granger não iria morrer por causa dele – de
repente sentiu como se estivesse se intrometendo.

Ele parou próximo a porta.

━ Certo. Estou indo agora. Espero que não faça isso de novo.

━ Me desculpe ━ ela disse. ━ Por ser... complicada. Sobre sua casa.

━ Eu não ligo ━ Draco respondeu. ━ Isso não importa.

━ Eu sei que as coisas horríveis que aconteceram lá são passado.

━ Não preciso que você continue se desculpando. Vá dormir ━ Draco falou,


dando um longo passo até a porta.

━ Eu sei que não é racional ━ Granger falou, fazendo um gesto irresoluto


para o teto. ━ Mas...

━ Pare de pensar, Granger ━ ele disse, mesmo depois de achar que era um
pedido paradoxal. Saiu do quarto. ━ Tchau.

━ Era apenas para usar o flu ━ ela falou baixo, mais para si mesma agora. ━
Um pouco patético, realmente.

Draco deu um longo passo de volta para o quarto. De alguma forma, não
podia deixar aquilo passar.

━ Não é patético não querer visitar o lugar onde você foi torturada.
Ele queria adicionar: sua idiota, mas sentiu que poderia não abusar demais
hoje.

Granger disse Mm de uma forma ausente.

━ De qualquer forma ━ Draco disse. ━ A maior parte da Mansão foi


destruída no fim da guerra. Metade se foi. Aquela sala se foi.

━ Se foi? ━ Granger perguntou para o teto.

━ Sim. São os jardins agora. Estufas. Flores, ervas medicinais...

━ Quais ervas? ━ Ela perguntou.

Por que ela tinha que saber tudo em detalhes excruciantes?

Granger era exaustiva.

━ Eu não sei ━ Draco respondeu. ━ Minha mãe doa para os boticários. Vá


dormir.

━ Isso é bom. ━ A voz dela ficou ainda mais baixa, mais ausente. A poção
de reabastecimento estava começando a funcionar.

━ Sim.

━ Estou feliz que algo bom poderia vir de um...

━ Um lugar muito ruim? ━ Draco completou.

━ Sim.

Ela não disse nada mais por alguns instantes. A luz da lua através da janela
deixou seu rosto iluminado: delicado, olhos abertos, ainda pálida. Seu
cabelo era uma pilha escura sobre o travesseiro, se desenrolando
lentamente.

Draco sentiu como se estivesse vendo duplo. Com sua camiseta enorme,
escondida na cama, com as mãos sobre o cobertor, ela parecia como a
garota que ele se lembrava da escola. Mas a visão desapareceu para deixá-lo
com o retrato de uma bruxa linda e cansada, que se levou ao mínimo de
magia para chegar até ele, porque achou que estava em perigo.

Ela se acabou por causa dele.

Foi uma sensação peculiar.

As pálpebras de Granger começaram a cair. Draco foi até a porta, na


intenção de sair do chalé andando antes de aparatar no lado de fora o mais
silenciosamente. Ela estava dormindo agora, certamente – estava quieta por
muito tempo.

━ Malfoy?

Draco murmurou uma maldição.

━ Você devia estar dormindo.

Agora, as palavras dela estavam borradas. Ela estava indo direto para a
inconsciência, mas ainda lutando contra.

━ Seu patrono é fofo ━ Granger disse. Seus olhos estavam fechados.

━ Er... Obrigado.

━ O que é?

━ Vá dormir, Granger.

━ Mas o que é?

━ Durma.

━ É um tipo de cachorro?

━ Sim. Vá dormir.

━ Que raça?
━ Um Borzoi.
Contemple o Borzoi: o feroz, raro e aristocrático Lébrel Irlandês dos reis
russos. Distante, alto e abençoado com um grande cabelo. (Foto: Paul
Croes).

━ Oh. Os Tsars costumavam tê-los.

━ Sim. Vá dormir. Isso não é um quiz de bar.

━ Ele é uma coisa rude, apesar de bonito.

━ Estou indo agora ━ Draco disse.

━ O pêlo dele parece tão macio...

Finalmente, o silêncio caiu.

Agora só o gato estava acordado, encarando Draco.

Ele notou que o olhar amarelo não era cheio de ódio como sempre. Parecia
aprovação, de certa forma.
8. A Festa; Os Órfãos ou Algo
Assim

Olá meus amores! Tudo bem?

Espero que estejam gostando. Nesse capítulo, coloquei uma arte que
encontrei no tumblr da autora e ela é perfeita. Não está, oficialmente, na fic
original, mas eu quis trazê-la aqui para ilustrar.

Boa leitura!

──── ◉ ────

Março chegou com frio, úmido e pesado, e com ele, veio o dia do baile
Delacroix. Draco foi lembrado da ocasião quando seu cochilo da tarde foi
interrompido pela elfa doméstica Henriette.

Enquanto ele bocejava com delicioso langor, Henriette começou a


questioná-lo sobre seu traje para a noite.

━ Esse roxo cairia tão bem no senhor ━ Henriette disse, segurando um robe
rico para a inspeção de Draco. ━ Como um Imperador Romano, não é?

━ As vestes pretas, por favor ━ ele pediu.

━ O prateado, talvez? Com seus olhos, ficaria tão atraente...

━ O preto, Henriette.

Implacável, a elfa trouxe as vestes pretas, mas também um conjunto com


brilhos de constelação.
━ Talvez? ━ Ela perguntou, segurando o azul mais alto.

━ Minha mãe te colocou nisso? ━ Draco perguntou, olhando para a elfa


insistente.

As grandes orelhas de Henriette foram para trás.

━ A Senhora sugeriu que pudesse tentar outra coisa. A Senhora gostaria que
o senhor não parecesse como se estivesse indo a um funeral.

━ Eu prefiro parecer um agente funerário. O preto. Deixe-o na cama.

━ Como desejar, senhor. ━ Henriette suspirou, deixando as vestes sobre a


cama.

Ela fez uma reverência e desaparatou.

Henriette era uma elfa francesa muito bem treinada e educada, mas também
muito insistente e julgava os elfos ingleses com os quais Draco crescera na
infância. Entretanto, sua mãe a amava, e Draco tinha que admitir que sua
culinária era muito melhor do que a comida enfadonha preparada por seus
irmãos do Reino Unido.

Draco tomou banho, deixou seu cabelo perfeito e vestiu as vestes pretas,
aperfeiçoou o cabelo novamente e se observou no espelho para confirmar se
estava devastadoramente bem-vestido.

Ele estava.

O que era excelente, porque nesta noite, Draco iria para o ataque. Fazia
muito tempo desde sua última transa (alguma bruxa na última festa de
aniversário de Pansy, em sua melhor lembrança) e ele tinha sentido falta da
ação nas últimas semanas.

Era tempo de corrigir a situação. A festa Delacroix seria uma ótima


oportunidade. Haveria bruxas em abundância – talvez a própria senhorita
Rosalie Delacroix, se estiver interessada, Draco pensou enquanto aplicava
seu perfume.
Satisfeito consigo mesmo, desceu para a sala de flu.

━ Henriette, minha mãe já foi? ━ Ele chamou enquanto jogava o pó de flu


na lareira.

━ Sim, ela já partiu ━ Henriette respondeu eu francês. ━ Ela saiu há duas


horas, senhor. Acredito que ela pensara que o senhor iria mais tarde.

Ops, Draco pensou.

━ O Seneca ━ falou alto e entrou nas chamas.

──── ◉ ────

Draco se lançou para fora da lareira d'O Seneca, acompanhado por um


jovem pretensioso e bem vestido que carregava um espanador de penas
encantado.

Um momento depois, se encontrou sendo abordado por Theodore Nott.

━ Está elegantemente tarde e aqui está você ━ Theo disse. ━ Beirando a


grosseria, eu acho. É oito e meia e você perdeu os discursos.

━ Um descuido meu ━ Draco respondeu, arrumando suas vestes. ━ Resuma.

━ Palavras muito bonitas sobre a gratidão verdadeira à magia e também por


favor, dê dinheiro.

━ Não posso acreditar que perdi um momento tão importante.

Uma fungada os interrompeu.

━ Ah. Os canalhas de sempre.

Zabini encontrou Draco e Theo enquanto seguiam para a multidão no Salão


Rosa, onde canapés estavam sendo servidos ao longo do belo espaço lotado.

━ Não sabia que deixavam a ralé como vocês entrar ━ Zabini disse. Suas
vestes estavam impecavelmente sob medida, possivelmente ainda mais do
que as de Draco.

Ele e Draco se encararam duramente, até a feição de Zabini virar um sorriso


malicioso.

━ Bom ver vocês dois; os raros, os corajosos, que não estão casados e estão
distribuindo ramos.

━ Estou aqui para te acompanhar nas libertinagens da noite ━ Theo disse em


uma reverência elegante. ━ Quais são seus planos, cavalheiro? Caos e
bagunça?

━ Bebidas, danças e encontrar uma moça amável para abraçar ━ Zabini


disse, lançando seu olhar para o local cheio.

━ O que ele terá, porém mais foda e menos carinho ━ Draco disse, também
observando a multidão.

━ Oh ━ Zabini falou. ━ Deixe as morenas para mim.

━ Certo ━ Draco disse, pensando vagamente em Rosalie e sua laia. ━ Eu


prefiro uma loira, de qualquer forma.

━ Ruivas para mim, então. ━ Theo tirou três martinis de um garçom e


distribuiu. ━ Bebam. Vão fornecer alguma força. O barman é generoso com
a vodka.

Eles beberam, brincaram, foram aqui e ali entre grupos de amigos e


inimigos do passado. Draco aprendeu no evento da noite que era em apoio à
nova ala do St. Mungos – algo sobre a vida do Delacroix mais velho ser
salva ter tornado sua mente mercenária em intuitos mais filantrópicos.
Então, sem órfãos.

As luzes diminuíram e, no centro do salão, o espaço foi liberado para a pista


de dança. Draco encontrou Rosalie e tentou conversar, mas ela estava rindo
e parecia estar bastante apegada no braço de algum puro-sangue francês, o
qual Draco não sabia o nome. Ele decidiu que era uma causa perdida e
continuou seu passeio.
Duas ou três outras bruxas de quem Draco estava próximo se aproximaram
dele. Elas eram charmosas, olhos brilhantes piscando e obviamente
dispostas, mas ele não sentiu nada (ou, menos romanticamente, uma
ereção).

Ele se abriu com cada uma delas, registrando distantemente que eram
atraentes e dispostas e achava-as pegajosas e incômodas, mais do que
qualquer coisa. Senhorita Luella Claiborne era particularmente tenaz; Draco
teve que mentir que sua mãe estava o chamando para poder escapar.

O que tinha de errado com ele? Luella estaria disposta a fornecer um rápido
trabalho atrás da cortina, provavelmente, mas não era isso que ele queria.
Também não queria levá-la para casa com ele. Também não queria fodê-la
em um dos quartos luxuosos d'O Seneca. Então o que ele queria,
exatamente? Não ela, entretanto. Nenhuma delas.

Para garantir sua mentira, Draco se juntou à sua mãe dentro do círculo dos
diretores do St. Mungos. Narcisa olhou incisivamente para a companhia
francesa de Rosalie e apertou os lábios em vez de dizer "Viu? Todas as boas
estão sendo pegas, e você, meu filho, morrerá sozinho.

Draco estava feliz em morrer sozinho. Nesse momento preciso, ele


simplesmente queria uma bruxa que despertasse algo nele, ir para a cama
uma ou duas vezes e tirar um pouco da luxúria de seu sistema.

Uma coisa esbelta em um vestido de costas abertas atraiu seu olhar


enquanto ele andava pelo salão. Ela estava conversando com uma multidão
mista de ex-lufanos e funcionários de alto escalão do Ministério, mas sua
figura continuava desaparecendo conforme os presentes se movimentavam.
As luzes estavam tão baixas que ele só conseguia ver realmente a curva de
suas costas, o movimento gracioso de uma mão segurando uma taça e um
pedaço de tornozelo em uma sandália de salto.

━ Ei ━ Zabini disse, se materializando ao lado de Draco. ━ Eu disse para


deixar as morenas para mim.

━ Minha primeira escolha encontrou algum francês merreca ━ Draco disse.


━ Você fala como se não fosse o francês merreca do lugar.

Draco deu a Zabini um olhar sombrio.

━ De qualquer forma, cuidar é compartilhar.

━ Tá bom. Pode amaciar ela para mim. Devo parecer completamente


delicioso depois de você se apressar em uma apresentação.

Draco drenou o conteúdo de sua taça e entregou para Zabini.

━ Observe.

Ele passeou pelo grupo, dando alguns cumprimentos aos conhecidos


enquanto andava, incluindo um rápido aceno para Potter. (E por que, em
nome de Merlin, Potter estava aqui? Algo sobre órfãos, provavelmente).

Ernie Macmillan, que Merlin o abençoe, acenou e gesticulou para Draco se


aproximar em sua forma ostentosa. O garoto gorducho dos dias de
Hogwarts havia se tornado um homem corpulento, ombros largos, que
agora chefiava o Departamento de Cooperação Internacional em Magia.

━ Macmillan ━ Draco cumprimentou, apertando sua mão. ━ Como está? Me


apresente sua...

A bela mulher se virou para Draco quando ele falou.

Era a Maldita. Hermione. Granger.


(Excerto da imagem: Era a maldita. Hermione. Granger. Arte por
Avanesco)

O choque de Draco foi tão grande que ele quase vomitou seu martini.

Mas era ela. Seu cabelo rebelde estava preso em um coque elegante na base
da nuca. Seu traje habitual foi substituído por um vestido longo verde,
provavelmente de origem trouxa, mas ainda lindamente cortado. Seu olhar
intenso estava ainda mais intenso devido as manchas escuras de algum
cosmético ao redor de seus olhos.

━ O que você está fazendo aqui? ━ Draco perguntou, muito perturbado,


porque ele havia imaginado as costas e a bunda dessa mulher em ângulos
interessantes, meia hora atrás, e era a maldita Granger.

Literalmente. Maldita. Granger.

Sua pergunta foi feita rudemente. Macmillan se aproximou dela (o que, de


algum jeito, irritou Draco ainda mais) e disse:

━ Hermione foi pessoalmente convidada pelo Senhor Delacroix, junto com


todos os curandeiros que o ajudaram. Você não ouviu o discurso?

━ Ah ━ Draco disse, se sentindo estúpido.

Granger ergueu uma sobrancelha em questionamento.

━ Eu não esperaria você aqui também. Não achei que a saúde se alinhava
com seus interesses.

Macmillan, quam aparentou ser o mediador entre eles, se aproximou de


Draco agora.

━ Eu acredito que os Malfoys estão fazendo uma doação muito substancial


para a nova ala. ━ Ele bateu no ombro de Draco. ━ São dos bons, esses
Malfoys, não é?

Granger deu a Macmillan um de seus sorrisos forçados.


Enquanto isso, Draco estava acenando como se estivesse perfeitamente
ciente da grande contribuição, a qual, pensando bem, sua mãe deve ter
mencionado uma ou duas vezes, se ele estivesse prestando atenção.

━ É claro ━ Macmillan continuou ━ não descobrimos a identidade do


Contribuidor Anônimo, que vai igualar os lucros da noite galeão por galeão.
Aposto que o dinheiro está no bolso de um dos franceses da comitiva de
Delacroix. Lemaitre possui metade dos vinhedos da Borgonha...

Macmillan se interrompeu com o suspiro de um bruxo alto passando pelo


grupo.

━ Ah... localizei Finbok. Por favor, me deem licença. Eu devo assediá-lo


por alguma legislação nova que ele está barrando... talvez se eu levar mais
bebida...

Isso deixou Draco e Granger sozinhos, na borda do círculo maior. Ela ainda
observava ele com uma sobrancelha erguida, a qual o fez perceber que ele
estava agindo como um cretino.

Entretanto, não havia como dizer desculpe, é apenas porque eu estava


fantasiando em te pegar por trás há meia hora, sem parecer um cretino
absoluto.

Para esconder sua irritação, Draco disse, direto:

━ Você deveria me informar quando for comparecer a eventos públicos.


Agora não posso aproveitar. Tenho que me preocupar com você

Era a vez de Granger ficar irritada.

━ Se preocupar comigo? Quem vai me atacar? Meus colegas? A família do


homem que eu ajudei a sair da morte? Delacroix trouxe a melhor segurança
que o dinheiro pode pagar, ou você não notou os outros Aurores? Você fez
algo além de olhar bundas desde que chegou aqui? E eu te informei que
estava vindo, duas semanas atrás!
Havia muitas acusações sendo lançadas nele nessa frase. Draco selecionou
algumas para se dirigir.

━ Eu vim para olhar bundas... é a única razão pela qual estou aqui. E a
seleção de bundas aqui é insignificante, apenas para você saber, salvo
uma... er... não importa, foi uma perda de tempo monumental. E você
certamente não me falou que vinha. Eu teria me lembrado porque ficaria
irritado, já que se preocupar com você interfere com minha atenção às
bundas.

Granger cruzou os braços.

━ Eu com certeza te disse. Cheque seu Bloco.

Draco puxou seu Bloco-Falante sobre o olhar fulminante dela, uma semente
de dúvida em sua mente. Foi um pouco lento ao fazê-lo. Granger fez um
som impaciente e se aproximou para virar as páginas. (Draco notou que ela
cheirava bem, novamente; leves tons de algo doce e fresco essa noite.)

Eles passaram por algumas páginas de conversa com Granger, até...

━ Ah ━ Draco disse.

Por acaso, Granger realmente contara, duas semanas atrás... pouco depois
dele ter silenciado o Bloco.

O Bloco fechou com um estalo.

Granger parecia indignada, como se estivesse tentando manter sua


linguagem corporal neutra para não causar uma cena.

━ Viu? Como ousa me repreender como uma criança rebelde? ━ Ela


retrucou em um suspiro pesado. ━ Eu deveria estar aqui. Sou uma
convidada de honra!

Algum anjo veio resgatar Draco após chamar Granger para conhecer uma
corte de curandeiros franceses. Ela saiu, mas não sem dar um olhar
atravessado para ele, prometendo que não havia acabado ainda.
Draco fez uma retirada estratégica até Zabini e Theo com algo menos do
que sua arrogância habitual em sua caminhada.

Zabini mastigou delicadamente um espeto de codorna.

━ Parece que correu muito bem.

━ Vai se foder ━ Draco falou.

━ O pobre precisa de mais bebida ━ Theo disse, gesticulando para um dos


garçons encher suas taças. ━ Pegue isso, Draco, e pare de encarar Granger
como um idiota de queixo caído. Prefiro não ter Potter vindo aqui para
defender a honra dela.

━ Não percebi que era a maldita Granger ━ ele disse, se sentindo muito
desorientado com a coisa toda.

━ Nem eu ━ Zabini falou. ━ Ela ficou bem bonita, não é?

━ Eu trabalho com ela ━ Draco respondeu. Ele tomou um gole fortificante


de alguma substância que Theo providenciou que queimou sua garganta.

━ Sério? ━ Theo parecia intrigado. ━ O que os Aurores têm a ver com


Curandeiros?

━ Segredo de estado, então você pode se fuder também ━ Draco falou.

━ Interessante ━ Zabini disse, estudando Draco muito próximo para seu


conforto. ━ Ele voltou sua atenção para Granger, que agora estava em uma
conversa profunda com os curandeiros franceses. ━ Por que ela não está se
esquivando? Não estava noiva do Weasel mais novo?

━ Acho que sim ━ Theo respondeu. ━ Mas lembremos que Granger estava
pegando jogadores internacionais de quadribol quando tinha quatorze anos.
Os homens podem ter atingido-a mais cedo.

━ Ladeira abaixo após Krum e sua vassoura ━ Zabini zombou.


━ O resto de nós, meros mortais, não temos uma chance fodida.

━ Eu gosto do desafio ━ Zabini falou. ━ E gosto de morenas. Morenas com


cérebro são outra coisa, realmente.

Draco ficou quieto durante a conversa. O assunto o irritava profundamente,


apesar dele não saber porquê. Ele ouvira – e participara – milhares de
versões dessa brincadeira, antigamente, mas hoje...

Narcisa chamou Draco para apresentá-lo a algum amigo particular da


família Delacroix. Um amigo mais velho, sua esposa elegante e suas duas
adoráveis filhas, de vinte e seis e vinte e oito, respectivamente. Draco
estava atento, conforme falava com as mulheres, de que ele poderia deleitar
sua mãe ao apresentar interesse em uma delas, e também deleitar a si
mesmo cumprindo o objetivo de encontrar uma bruxa para levar à cama.

Entretanto, ele se encontrou desinteressado pela conversa e distraído pela


multidão ao redor, onde ocasionalmente viu um pedaço de tecido verde
escuro. Disse a si mesmo que, agora que Granger estava aqui, via
novamente como sua Superiora e manteria o olhar nela.

Draco foi perguntado se queria dançar e disse sim, absolutamente, e se


encontrou dançando com a mais nova das irmãs, ainda distraído.

Granger estava dançando com Potter.

━ Não sabia que você era um tipo tão silencioso. ━ A mulher dançou nos
braços de Draco. Qual era o nome dela mesmo? Amandine? Ele ficaria com
Amandine.

━ Mm ━ ele disse, ainda assistindo Granger e Potter.

━ Aquele é Harry Potter? ━ Amandine perguntou, seguindo sua linha de


visão. ━ Acredito ter ouvido um pouco sobre ele.

━ Só um pouco? ━ Draco perguntou. (Abençoe a França e seu desinteresse


nas relações inglesas).
━ Acho que ele estava envolvido na última guerra, certo? Um herói.

━ Sim. Algo assim.

━ E aquela mulher com ele também?

━ Sim ━ Draco respondeu.

━ Eles são lindos juntos ━ Amandine disse, assistindo a risada de Potter


após algo que Granger falou. ━ Você pode ver a conexão...

━ Ele é casado. ━ Draco cortou. ━ Eles não estão juntos.

━ Ah. Bom, amizade é uma ligação tão forte quanto.

Draco deixou Amandine vomitar suas opiniões sobre as ligações de amor e


amizade. A música tocando estava chegando ao fim. Se ele ia avaliar seu
interesse em qualquer atividade noturna, a hora era agora. Poderia deslizar a
mão pelas costas dela, afundar o rosto em sua nuca e perguntar quais os
planos dela depois da festa.

Os passos eram claros e a bruxa, pelo jeito que estava se pressionando nele,
estava interessada. Entretanto, Draco descobriu que não tinha interesse em
continuar.

A música terminou e uma mais lenta começou. Draco soltou seu aperto na
cintura de Amandine. Ele a acompanhou de volta para seus pais com algum
comentário educado sobre a noite e quão adorável foi conhecê-los.

Ele caminhou até o bar onde Theo e alguns sonserinos e corvinais formados
estavam.

━ Zabini saiu ━ Theo disse quando Draco se aproximou. ━ Levou a irmã


mais velha com ele. Disse que deixaria a menos experiente para você. Mas
não parece que não rolou também. Perdendo as habilidades, parceiro?

━ Sem faísca ━ Draco disse com um encolher de ombros.


━ Sempre há Granger ━ Theo falou. ━ Ela parece como se quisesse atear
fogo em você... muitas faíscas.

Draco lançou um olhar em direção onde Granger estava com outros


curandeiros. Era verdade que o olhar dela era ardente.

━ Mas suponho que não queira morrer essa noite ━ Theo falou. Ele abriu
espaço para Draco no bar.

━ Ela está fora dos limites de diversas maneiras, mesmo que eu tivesse uma
inclinação para o masoquismo.

━ Como ela se dá com sua mãe? ━ Theo perguntou. ━ Sem razão.

Os olhos de Draco arregalaram. Ele olhou sobre o ombro. Theo riu. Eles
assistiram enquanto o pequeno grupo de Narcisa Malfoy se dirigia para os
curandeiros franceses com quem Granger estava falando.

Draco não tinha certeza se sua mãe e Granger já haviam conversado


pessoalmente desde os julgamentos, quinze anos atrás. Aquilo foi um
encontro tenso, mas o testemunho de Granger foi uma ajuda tremenda em
limpar o nome de Narcisa. Granger fpra terrivelmente honesta ao contar seu
momento na Mansão, mas deixou claro que Narcisa Malfoy fora uma
espectadora relutante e impotente, e que suas ações posteriores salvaram a
vida de Harry Potter.

Granger, no entanto, foi menos generosa em seu testemunho a favor de


Lúcio Malfoy e seu tempo de guerra, e seus depoimentos aumentaram a
pilha substancial de evidências que resultou na sentença em Azkaban do
Malfoy mais velho.

Draco não tinha certeza onde Granger estava na lista de pessoas para culpar
após o declínio e morte de Lúcio em Azkaban. Também não sabia como
isso pesava na própria liberdade de Narcisa, assim como a de Draco, a qual
Granger teve um papel.

Ele estava muito longe para saber o que foi conversado entre os dois
grupos. Viu as costas de Granger se endireitaram com a aproximação de
Narcisa, mas sua expressão continuou neutra. Da mesma forma, os ombros
de sua mãe estavam firmes, mas seu sorriso educado estava fixo no rosto.
Elas apertaram as mãos uma da outra e rapidamente voltaram a conversar
com outras pessoas.

━ Psh. ━ Theo girou os cubos de gelo em sua taça. ━ Estava esperando por
algo mais interessante.

━ Você não tem uma ruiva para perseguir? ━ Draco perguntou, fazendo um
movimento de enxotar.

━ Eu tenho ━ ele respondeu. ━ Mas primeiro, coragem líquida. Ela é uma da


delegação francesa. Certamente boa demais para mim.

Ele inclinou sua mandíbula em direção ao grupo de Granger. Narcisa saiu e


uma ruiva linda estava ao lado dela.

━ Não tenho certeza se ela fala nossa língua ━ Theo disse.

━ Tente você quer dormir comigo ━ Draco disse em francês.

Theo repetiu a frase com sinceridade, apesar do sotaque evidente.

━ Um pouco avançado, eu acho. Mas talvez eu fale. Vou te culpar quando


tudo for água abaixo. Vou dizer que você me disse que significava que ela
tinha um cabelo bonito.

━ Não fale meu nome na frente de Granger. Prefiro que ela esqueça que eu
existo.

━ Tarde demais ━ Theo disse, puxando-o longe do bar. ━ Gosto desse plano.
Me faz parecer que sou um doce inocente e você é um cuzão...

Draco estendeu a mão para detê-lo, mas a manga de Theo escorregou em


seus dedos.

━ Que é o estado natural das coisas, de qualquer forma ━ Theo disse com
um sorriso malicioso sobre o ombro.
Draco debateu a ética de uma rápida azaração da língua torcida atrás de
Theo conforme se aproximavam do alvo ruivo.

O problema com a moral é que ela fazia perder tempo. Theo estava ao lado
da bruxa ruiva agora, tendo de alguma forma conseguido duas taças de
vinho, e ofereceu uma para ela e a outra para Granger, que recusou, já que
ainda estava com seu champanhe.

Theo disse algo que fez dois curandeiros rirem. Ele parecia teatralmente
angustiado. Então se virou e apontou Draco com um gesto exagerado. A
ruiva balançou a cabeça para ele; Granger não parecia impressionada.

Draco sentiu que deveria defender sua honra. Ele pegou sua própria bebida
e se aproximou.

━ Não acredite em uma palavra que saia da boca desse homem ━ ele disse
quando se aproximou delas.

━ Draco garantiu que isso queria dizer que eu estava admirando seu lindo
cabelo ━ Theo disse, a mão no peito. ━ Nunca diria algo tão pouco
cavalheiresco, senhorita.

A bruxa ruiva parecia divertida. Enquanto isso, Granger estava avaliando


Theo com uma dose saudável de ceticismo. Pelo menos ela poderia ver
através de sua farsa.

━ Como eu digo 'você gostaria de dançar'? ━ Theo perguntou.

━ Voulez-vous danser avec moi ━ Draco e Granger disseram juntos.

━ O que eles disseram ━ Theo falou.

A bruxa ruiva encarou Theo por um bom tempo. Finalmente, ela concordou.

Theo ofereceu o braço elegantemente, dizendo algo estranho sobre bonitos


em uma terra estranha e deslizou sua nova companhia para a pista de dança.

━ Um suave foda-se ━ Draco murmurou.


━ Untuoso, melhor dizendo. ━ Granger fungou. ━ Não acredito que aquilo
comprou Solange.

━ Talvez Solange queira um pouco de carne inglesa, para variar ━ Draco


respondeu.

━ Devo perguntar pela avaliação dela da carne inglesa amanhã ━ Granger


falou com um olhar cínico para as costas de Theo.

━ Você deve me dizer se for medíocre

━ Por que?

━ Munição.

━ Vocês são amigos terríveis um para o outro. ━ Granger estudou Draco


pelo vidro. Então pareceu se recompor. ━ Ainda estou brava com você. Vá
embora.

━ Ok ━ Draco respondeu. Havia uma dúzia de bruxas que aproveitariam sua


companhia; ele não via porquê gastar tempo com uma que o desprezava.

Entretanto, antes dele se meter na multidão, Granger perguntou, em francês:

━ Desde quando fala francês?

A questão foi feita de um jeito irritado, como se ele lhe devesse alguma
explicação.

━ Desde quando você fala francês? Draco retrucou, também em francês,


porque se alguém devia uma explicação era ela.

━ Tenho família em Haute-Savoie ━ Granger respondeu.

━ Os Malfoys são da região de Loire.

━ Hm. ━ Granger bebeu o champanhe, olhando-o estreitamente.


━ O que? ━ Draco perguntou.

━ Isso explica muito ━ Granger disse, voltando para a língua mãe.

━ Muito o que?

━ Apenas... ━ Aqui Granger fez um gesto para o geral de Draco. ━ Tudo.

Draco não tinha certeza do que ela quis dizer, mas sentiu que não era um
elogio.

━ Haute-Savoie explica muito sobre você. ━ Foi a resposta dele.

━ O que isso deveria significar? ━ Granger perguntou, imediatamente


eriçada.

Draco gesticulou para Granger, como se fosse composta totalmente de


queijo raclette e muito vermute.

Granger colocou a mão na cintura.

━ Você tem um castelo próprio?

━ Sim ━ ele respondeu.

━ Aí está ━ Granger disse, triunfantemente, porque era óbvio, aquilo


explicava tudo.

━ Psh... você provavelmente faz aquela coisa trouxa... aquilo com remos
longos.

Granger olhou para Draco com uma expressão artificial de vazio.

━ Pare de ser estúpida. Não combina com você.

━ Mas eu não tenho a mínima ideia do que você está falando ━ ela
respondeu.

━ Você sabe exatamente do que estou falando. Squi? Qui?


Granger fez seu melhor para parecer incompreensível. (Não era uma
expressão que ela usava – fez isso terrivelmente).

━ Esqui! ━ Draco falou, apontando rudemente para o rosto dela.

Ela se ocupou com sua bebida.

━ Sabia ━ Draco falou. Ele abriu a boca para lançar insultos sobre sua
pessoa na forma de perguntas sobre sua casa nos Alpes e se afogar em
génepi, mas uma mão frouxa acariciou seu braço, chamando a atenção.

Era uma das bruxas puro-sangue de cílios esvoaçantes de antes: Luella.

━ Draco, você mal dançou hoje.

Isso era bem mais do que um convite, e como um bruxo bem criado, ele
respondeu se poderia tirar Luella para dançar. Entretanto, a sensação da
mão lânguida na manga dele era agravante, assim como o olhar avoado em
seu rosto.

Ele simplesmente não queria.

A demora para Draco responder foi notada por Luella, que olhou em volta
para ver Granger. Ela estudou Luella com um de seus olhares analíticos.

━ Oh ━ Luella disse com um suspiro educado ao ver Granger. ━ A menos


que já estivesse...

━ Não ━ Granger disse ao mesmo tempo que Draco disse: ━ Sim... Nós
íamos agora.

━ Não, não. ━ Granger se afastou. ━ Vocês dois. Por favor, aproveitem.

━ Oh, mas eu não poderia tirar seu par de você ━ Luella disse com um
sorriso amarelo. ━ Desculpe-me por interromper... Tão rude de minhas
parte, eu não te vi...

━ Mas...
Luella interrompeu os protestos de Granger com um aceno e caminhou em
direção ao bar.

━ O que você está fazendo? ━ Granger sibilou quando Draco pegou seu
braço e colocou sobre o dele. Pegou sua taça de champanhe não-terminada
e a jogou em uma bandeja flutuante.

━ Você me deve ━ Draco falou. ━ Ou se esqueceu de quando eu te salvei do


Dr. Whatsit.

━ Se eu soubesse que deveria pagar, teria tomado a bebida com o Dr.


Whatsit.

Draco guiou Granger para a pista de dança.

━ Uma dança para me manter longe de suas guerras.

━ Sua mãe está aqui ━ Granger disse, olhando em volta com óbvia
inquietação.

━ E? Estou destinado a fazer coisas de boa vontade. Caridade e essas coisas.

━ Mas... nós nem estamos nos falando normalmente... ela sabe que você
está trabalhando comigo?

━ Não. E você está trabalhando comigo ━ Draco corrigiu.

━ Você foi designado a mim.

━ Exatamente.

Granger fez um som de irritação, como se Draco fosse a criatura mais


frustrante do mundo todo. Ela estava errada, entretanto. O título pertencia a
ela.

━ Harry está aqui. ━ Foi sua próxima objeção quando a pista de dança se
tornou visível.
━ Brilhante. Vou dizer a Potter que eu queria manter o olho próximo de
você. Alguém estava agindo suspeitosamente.

━ Quem? ━ Granger perguntou, porque evidentemente ela tinha que


interrogá-lo em cada aspecto de seu plano pensado.

━ Theo ━ ele respondeu sem hesitar.

Theo estava beijando a bruxa ruiva a poucos metros de distância. Granger


observou esse fato, então se perguntou o que exatamente Nott estava
fazendo de tão suspeito

━ Essa é uma tática de diversão ━ Draco disse. ━ Não o subestime.

━ A única coisa que subestimei foi o carinho de Solange por linguiça


Lincolnshire ━ Granger respondeu, vendo Solange tatear a virilha de Theo.

━ Você vai parar de ficar boquiaberta e dançar? ━ Ele perguntou. Deslizou


as mãos para a cintura dela e deu-lhe um aperto, o que serviu para lembrá-la
de que suas mãos deveriam estar em seus ombros. Com evidente relutância,
ela as colocou ali.

━ Coloque um pouco de sinceridade nisso, Granger ━ Draco rosnou


baixinho. ━ Eu fingi ser um piloto para você por seis horas naquele pub.
Esta é só uma maldita dança.

━ Você gostou de fingir ser um piloto! ━ Granger sussurrou. Não estou


gostando de fingir ser o que estou fingindo ser, para sua amiga e qualquer
jogo que esteja jogando com ela.

Para seu crédito, ela tentou diminuir a tensão óbvia em sua postura, mas
Draco podia sentir a rigidez persistente em seus quadris.

━ Você não pode relaxar?

━ Não. Estou dançando com Draco Malfoy ━ ela rosnou. ━ Não há nada
relaxante sobre isso.
Draco se permitiu um grande e dramático suspiro.

━ Além disso, não é um jogo. Faça com que pareça real. Se minha mãe
suspeitar que eu recusei uma dança com uma Bruxa Muito Elegível por
uma dança falsa com você, não vou ouvir o fim disso.

Granger o manobrou em direção à parede no fundo da pista de dança,


usando outros casais para escondê-los da vista.

— Por que você a recusou? ━ Ela perguntou. ━ Parecia o seu tipo.

Bem, isso foi presunçoso.

━ Qual é o meu tipo, Granger?

━ Rica (suponho), puro-sangue (suponho também), loira, belíssima...


provavelmente também possui alguns castelos no vale do Loire...

Irritou Draco que esta lista estivesse mais ou menos correta. Ela havia
negligenciado alguns outros atributos femininos que ele ficava de olho, mas
ela raramente era vulgar.

Vendo que Draco não havia respondido a ela, Granger deu a ele um olhar
inquisitivo.

━ Estou errada? Você não vai me dizer que estou fazendo suposições
terríveis?

━ Não.

━ Então por que?

━ Não é da sua conta ━ Draco respondeu, porque não lhe devia nenhuma
explicação. E também porque ele mesmo não conseguia colocar em
palavras.

━ Hm ━ Granger falou.
Mais uma vez, ele se viu sendo objeto de um de seus olhares de avaliação, o
mesmo olhar que ela dava a problemas particularmente intrigantes.

━ Pare de olhar para mim como se eu fosse um teorema de matemática.

Para a surpresa dele, isso lhe rendeu um sorriso de Granger. Ele iluminou
seus olhos e fez covinhas em sua bochecha esquerda. Desapareceu tão
rápido quanto apareceu. Draco piscou – parecia um raio de sol.

━ O Paradoxo de Malfoy ━ Granger disse, mais para si mesma do que para


ele.

━ O que?

━ Nada.

A bruxa em seus braços ficou quieta e pensativa. Embora ela estivesse lá – a


seda em sua cintura estava quente sob suas mãos, seus pulsos eram uma
pequena pressão em seus ombros – ela também não estava lá. Seus olhos
ficaram distantes.

Granger estava pensando. Sobre ele. Isso foi alarmante.

Houve pelo menos um efeito colateral feliz, que foi que, com a mente dela
ocupada em outro lugar, o corpo de Granger relaxou um pouco mais nele e
ele sentiu menos como se estivesse segurando uma prancha e mais como se
estivesse dançando com uma mulher.

O que era alarmante à sua maneira, já que essa bruxa era mais agradável
sob suas mãos do que qualquer outra bruxa naquela noite, e as ocasionais
pitadas de seu perfume que flutuavam em seu caminho quando eles se
moviam eram mais deliciosas do que a potente perfumaria que acompanhou
Luella e sua laia. O que era muito bom, mas esta era Granger, pelo amor de
Merlin.

Draco esticou os braços para que ela ficasse literalmente à distância de um


braço. Ela se recompôs com uma carranca, como se estivesse lidando com
algum pensamento perturbador.
━ Oi. ━ A voz de Potter falou, fazendo Draco e Granger pularem. Um
momento depois, a cabeça desgrenhada de Potter estava entre os dois. ━
Desculpe-me, mas o que diabos está acontecendo aqui?

Draco não deu tempo a Granger para responder.

━ Vai se foder e deixe-me fazer o meu trabalho, Potter.

Não sendo o que vai se foder, Potter insistiu.

━Por que está mantendo ela tão perto? Você viu alguma coisa?

━ Não... ━ Granger começou.

━ Exatamente. É Nott ━ Draco falou, apontando o queixo para Theo. ━


Agindo de forma suspeita, fungando por aí.

Potter se virou para observar o bruxo em questão, cujo rosto estava em


algum lugar no pescoço da bruxa ruiva. Ele franziu a testa.

━ Vou cuidar dele.

━ Harry, não é... ━ Granger falou com nova frustração.

━ É Nott, sim ━ Draco interrompeu com benevolência.

━ Cuido disso, Hermione ━ Potter falou, recuando para assumir o que ele,
sem dúvida, considerava uma posição discreta perto de Theo.

O aperto de Granger nos ombros de Draco agora mudou para seu pescoço e
sugeriu pensamentos de estrangulamento.

━ Você é o pior ━ disse em um sussurro exasperado.

━ Fique quieta... eu quero assistir isso ━ Draco disse, inclinando-os para que
ambos pudessem ver Potter.

━ Por que não? ━ Granger perguntou


━ Exatamente. Por que não?

━ Eu vou te matar.

━ Tudo bem ━ Draco falou. ━ Mas primeiro, deixe-me aproveitar minha


vingança.

Nos próximos cinco minutos, Draco foi presenteado com a visão altamente
agradável de Potter olhando para Theo, acidentalmente esbarrando nele e
derramando sua bebida, e geralmente sendo uma presença hostil a menos de
meio metro do homem, não importa onde ele estivesse. Potter podia ser
uma figura bastante intimidante quando queria, reforçado pelas lendas de
seus feitos como herói de guerra e como auror, e Theo logo começou a
notar seu observador e suar por isso.

Eventualmente, Theo abandonou Solange e deu uma desculpa para ela.


Então, cambaleou bêbado em direção a Draco e pediu que ele fosse
honesto, já que havia bebido muito, mas queria saber se realmente estava
beijando uma ruiva francesa ou era a esposa de Potter, a garota Weasley,
que ele estava saindo. E se Potter era do tipo que amaldiçoa um homem
quando está de costas ou ele seria capaz de sair ileso da festa.

Draco magnanimamente apontou a saída para Theo e disse que o protegeria


do irado Potter, não se preocupe, meu velho.

━ Você é terrível. ━ Foi o comentário de Granger, quando tudo foi feito, e


Theo foi embora, sem bruxa e amamentando bolas azuis.

Draco falou trabalho bem feito para Potter, que deu um sinal de positivo
para ele e desapareceu na multidão.

━ Eu amo Potter. ━ Draco suspirou. ━ Você o irrita e o aponta em uma


direção e...

━ Eu espero que você me ache menos fácil de manipular ━ Granger falou.

Draco preferiu não responder a essa pergunta precisa. Ele moveu seus
quadris em uma direção e depois na outra.
━ Nada mal ━ disse. ━ Um pouco rígida; talvez precisemos colocar outro
champanhe em você.

━ Eu quis dizer metaforicamente, como você sabe muito bem ━ Granger


retrucou, ficando ainda mais rígida sob as mãos de Draco.

━ Eu não acho que você seja tão entusiasmada quanto Potter. ━ Draco disse.
(Foi uma pena).

━ Mas ainda com excesso de zelo.

━ Extremamente tensa ━ ele sugeriu.

━ Eu não sou tensa ━ Granger disse com uma voz tensa. Depois de uma
pausa, ela emendou a declaração. ━ Você me deixa nervosa. Você está me
enfurecendo.

━ Um monte de bobagem ━ Draco falou. ━ Sou charmoso e afável.


Magnético. Não consigo nem atravessar uma sala sem que as bruxas caiam
no meu colo.

━ Tss.

━ É verdade. Dê uma olhada.

Granger olhou ao redor e descobriu que era realmente verdade, pois


Amandine, Rosalie, Luella e algumas das outras bruxas da noite que
estavam dançando nas proximidades estavam lançando longos olhares para
Draco.

━ Elas querem seu nome, seu dinheiro ou o prazer inexpressivo de sua


companhia? ━ Granger perguntou.

━ Tudo isso. Sou um combo triplo.

━ Com certeza é ━ Granger disse. Antes que Draco pudesse se lisonjear, ela
levantou três dedos. ━ Dores de cabeça tensionais, palpitação cardíaca e
caos.
Draco zombou.

━ Se você não andasse com miúdos em seus bolsos para lidar com bruxas,
eu não teria que ser uma imposição. Você me dá dores de cabeça tensionais.
Por que sua bunda não pode levá-la a pequenos chás seguros e reuniões
sobre órfãos?

Agora foi a vez de Granger zombar.

━ Cházinhos seguros? Você fugiu do último chá de sua mãe, ou se


esqueceu?

━ Não. ━ Draco fez uma careta. ━ De um clã de bruxas diretamente para


outro.

Granger parecia pensativa.

━ No entanto... se minha próxima brincadeira envolver chá e damas, isso


garantiria sua ausência, e eu posso evitá-lo completamente.

━ Quando é?

━ Beltane ━ Granger disse.

━ Onde?

━ Mansão Malfoy. Salão de chá.

━ Não há um salão de chá na Mansão.

━ Não?

━ Não.

Granger acenou com a mão.

━ Onde quer que as senhoras ricas se juntem em favor dos órfãos. Você
acha que eu deveria patentear isso?
━ Patentear o que?

━ Minha receita para o Repelente Malfoy. Acho que poderia ser um bom
negócio.

━ Esse negócio beneficiaria apenas você. Acho que há uma grande demanda
para a Atração Malfoy, mas boa sorte para identificar a fórmula.

Granger lançou olhares furtivos para a miscelânia de bruxas olhando


fixamente para ele.

━ Você pode estar certo.

━ Eu sempre estou.

━ Bundas ━ Granger falou.

━ O que?

━ Para a fórmula da Atração.

━ ... Sim ━ Draco disse.

━ Bundas e não-convites. Dois componentes chaves para garantir que você


apareça. E a remoção de dispositivos de localização. E dizer para você ir
embora. Você é um contradizente, na melhor definição. Ainda quero saber
como me localizou em Uffington sem o anel, a propósito.

━ Varetas de radiestesia.

Divertiu Draco o fato de que Granger não dispensou a possibilidade de


imediato. Entretanto, depois de um momento de reflexão, ela disse:

━ Mentiroso.

━ Me fale sobre Beltane ━ Draco pediu.


━ Você está muito, extremamente, intensivamente, convidado. Vai significar
o mundo se vier. Nada me deixará mais feliz ━ Granger falou, exercendo
sua nova teoria da psicologia reversa.

━ Excelente ━ ele falou.

━ Irei remover o anel para garantir sua presença.

Draco parou, mas os olhos de Granger brilharam em alegria.

━ Você se acha engraçada ━ disse. ━ Se quebrar o feitiço de via única


novamente, ele vai se confundir e eu não vou conseguir consertar.

Granger deu a ele um olhar questionador.

━ Você diz isso como se fosse algo horrível.

━ É.

━ Como?

━ Você realmente quer sentir cada batida do meu coração através do anel? ━
Draco perguntou.

━ Você o calibrou para apenas sentir extremos perigosos, eu acho.

━ Você sabe como arrumar, no final das contas?

━ Não.

━ Exatamente. Você não quer sentir cada coisa e se perguntar que merda
estou fazendo, ou com quem.

━ Eurgh ━ ela disse, se encolhendo. ━ Anotado.

A música que eles mais ou menos dançaram, acabou. A voz magicamente


amplificada de Augustin Delacroix ecoou de algum lugar no meio do salão,
agradecendo a todos pela presença.
━ Do que você curou o homem, a propósito? ━ Draco perguntou.

━ Confidencialidade curandeiro-paciente ━ Granger retrucou. ━ Não posso


contar.

Draco, que tinha perguntado apenas por curiosidade, estava intrigado por
ver o brilho dos olhos de Granger sumir. Ela estava ocluindo de novo.

Delacroix continuou seu discurso. Ele indicou, com aplausos pesados, que
entre sua contribuição própria e a dos outros, eles duplicaram o objetivo
inicial. A Ala Delacroix estava se tornando realidade.

Centenas de taças com champanhe se materializaram e os convidados


ergueram-as com coros de 'Saúde!'

Já que Granger estava ao lado dele, convenientemente, Draco tilintou sua


taça com a dela.

Um grupo de curandeiros deslizou entre eles e havia muitas palmas,


parabéns e tilintar de taças. Granger exclamou com os curandeiros
animados do St. Mungos quão maravilhosa a nova ala seria, quantas vidas
mudariam para melhor e isso e aquilo.

Draco se distanciou silenciosamente, deixando Granger e seus colegas


celebrando.

Seu último olhar para ela foi quando estava sorrindo enquanto dava as mãos
com outro curandeiro. Granger estava com os olhos brilhando, feliz e linda
sobre as luzes suaves.

──── ◉ ────

Eu amo esse capítulo. Para mim, foi o ponto de virada do Draco, apesar
dele não saber disso ainda. Convenhamos, não tem como fugir da nossa
garota de ouro. Me contem o que acharam!

E confesso, quase que eu não posto esse. Foram longas 5000 palavras no
anterior e quase 7000 nesse, em uma semana que eu estava completamente
atarefada. Infelizmente, como estou próxima do início do meu estágio,
capítulos longos assim serão postados unicamente, se não eu não darei
conta de lidar com a tradução e Att. Caelum ao mesmo tempo. Mas eu
avisarei com antecedência.

Outra coisa. Vocês estão lendo os comentários que eu faço em certas frases
para esclarecer algo que foi traduzido? Está fazendo diferença para vocês
no entendimento?

Capítulos 9 e 10 no dia 16/06. Até lá <3


9. Beltane

Oi amores!

Resolvi postar hoje por causa do feriado de amanhã. Eu estarei ocupada


fazendo minha mudança.

Coincidentemente, Granger também tem um feriado nesses dois capítulos.


Eles são um seguido do outro na história, então espero que gostem. Tenham
uma boa leitura e comentem bastante para mim.

──── ◉ ────

━ Eu vi você dançando com a garota Granger. ━ Foi o cumprimento inicial


de Narcisa no café da manhã.

Bom – para Draco, era café da manhã. Falando mais tecnicamente, era o
almoço, considerando que era meio-dia. (Theo acabou com ele: quaisquer
que foram as bebidas que serviu, resultaram em uma tremenda ressaca).

━ Eu dancei ━ Draco disse.

━ Por que? ━ Narcisa perguntou. Seu tom era baixo. Ela passou manteiga
em sua torrada enquanto não se importava com a resposta, o que significava
que ela se importava muito.

━ Eu estava a salvando de uma dança com alguém que ela não queria
dançar ━ ele respondeu. (Era uma versão distorcida da verdade, mas tudo
bem – sua mãe não era uma Legilimens).

━ Ah ━ Narcisa disse. ━ A coisa cavalheiresca a se fazer.

━ Sim.
━ Acho que foi uma boa ideia ━ ela contou.

Draco encontrou seus olhos, surpreso.

Narcisa acenou para si mesma.

━ A percepção pública é muito importante. Draco Malfoy dançando com


Hermione Granger envia a mensagem certa. Nós somos progressistas e
evoluímos em relação aos preconceitos antigos. Somos relevantes; não
somos os de antes.

Draco fez um som abafado de entendimento com a boca cheia de omelete.

Narcisa tomou o chá.

━ A senhorita Granger está fazendo seu nome desde seus feitos na Guerra.
Você ouviu o Sr. Delacroix falando sobre ela na noite passada... realmente,
uma bruxa memorável.

━ Mff ━ Draco falou através do omelete, porque ele não ouviu.

Narcisa lhe deu um olhar afiado (ela era totalmente contra a falar com a
boca cheia).

━ De qualquer forma, você me deu abertura para convidá-la para um de


meus encontros, se ela te deve pelo salvamento. Tenho alguns mestiços em
minha lista, mas praticamente nenhum nascido-trouxa.

Narcisa continuou a conversa até ser interrompida por um barulho na


janela. Boethius, a coruja de Draco, estava pedindo para entrar, carregando
uma carta.

━ Excelente ━ Draco disse quando abriu o envelope.

━ O que é? ━ Narcisa perguntou.

━ Trabalho ━ ele respondeu. Conjurou uma pena e rabiscou uma resposta.

──── ◉ ────
Abril chegou e foi embora em uma garoa nebulosa. Draco quase não viu
Granger. Seu calendário parecia ainda mais impossivelmente abarrotado do
que antes.

Ele forçou uma interação – uma checagem pelo bem estar, realmente – em
uma sexta-feira à noite onde ela, por incrível que pareça, não tinha nada
marcado. Parecia um horário conveniente para aparecer e relançar as
proteções do chalé.

Estava chovendo e isso não deixaria Draco fazer seu trabalho na parte
externa. Lançou o feitiço repelente de chuva mais forte que tinha em seu
arsenal e foi para lá.

As luzes estavam acesas – Granger estava em casa. Ele podia ver sua
silhueta no chalé aquecido, curvada no sofá com um livro. Eventualmente, a
forma do gato apareceu na janela da frente para observar Draco. Ele deve
ter feito um barulho, porque a figura dela o seguiu logo depois.

Granger apareceu do lado de fora e deu a Draco um pequeno aceno, então


parou na soleira da porta, embrulhada em um moletom trouxa muito largo.
Os trouxas ainda adoravam o deus greco da vitória, aparentemente; o nome
Nike em letras grandes estava no peito dela. Suas pernas estavam sob
aquelas calças trouxas apertadas. Seu pé estava descalço.

━ E aí, Malfoy ━ Granger chamou através da chuva.

Draco supôs que estavam em termos decentes – eles deviam, considerando


que suas palavras não foram: vai embora.

Ele ergueu a varinha para o algo e lançou um feitiço com luz prateada sobre
o chalé dela.

━ Qual o nome desse? ━ Granger perguntou enquanto os filamentos


geométricos se espalhavam. ━ É lindo.

Draco, focado no lançamento, não respondeu até que a proteção estivesse


pronta.
━ Caeli Praesidium ━ falou ao final. ━ É para deter entradas aéreas.

━ Nunca ouvi falar ━ Granger falou, assistindo o prata se dissipar no céu


chuvoso.

━ É um dos meus ━ Draco respondeu. ━ Há um ponto fraco no ápice na


maioria dos feitiços parabólicos. Esse é tipo uma armadura, baseada em
poliedro geodésico. Forte, mas um problema para lançar.

Isso era um eufemismo – a coisa era exausta nesse tamanho, uma residência
completa, mas Draco, sendo um tipo de bruxo orgulhoso, não iria admitir.

Ele limpou a mistura de suor e chuva que escorria por sua testa e olhou para
ela. Estava satisfeito por ela estar viva e que se lembrou de comer na
semana passada. Poderia até fazer um relatório bom para Tonks com a
consciência limpa.

━ Certo... estou indo ━ ele falou, segurando a varinha para desaparatar.

━ Espere ━ Granger pediu.

Draco esperou.

━ Você parece cansado ━ ela disse. Houve um momento de hesitação, então


perguntou: ━ Posso te oferecer uma xícara de chá?

Draco a encarou.

━ Agora terei que checar se você está sob Imperius. Onde nós noivamos?

Os punhos dela encontraram seu quadril em algum lugar debaixo da barra


larga do moletom da Nike.

━ Uffington, e não noivamos. Esqueça o que eu disse. Convite retirado.

Com isso, Granger pisou firme de volta para dentro e bateu a porta atrás
dela. Draco refletiu, enquanto ia até ela, de que estava certa sobre ele entrar
quando explicitamente não foi convidado, como um vampiro do contra.
━ Alguém em casa? ━ Ele chamou enquanto entrava.

━ Vá embora ━ ela falou de algum lugar. ━ Não serei mais gentil com você.

━ Que bom... isso me desestabiliza.

Draco seguiu a voz de Granger até a cozinha, a qual parecia completamente


desastrosa.

━ Se comentar sobre o estado da minha cozinha...

━ Um tumulto absoluto, Granger.

Ela tinha uma luva de cozinha em sua mão e parecia, brevemente,


considerar bater nele com aquilo. Entretanto, respirou fundo e se virou para
tirar algo do fogão.

Draco enfiou as mãos no bolso e passeou. Gotas de creme estavam


espalhadas por toda a parede da pia. Parecia que uma pequena leiteria havia
explodido.

━ Queria saber o que você fez com esse lugar ━ Draco disse.

━ Feitiço de mistura muito forte, se me entende. Não estou me importando


em limpar até terminar.

Granger lançou um feitiço de resfriamento no conteúdo da frigideira – a


crosta de alguma coisa – e começou a espalhar porções generosas de leite
condensado, caramelo e creme.

Draco estava intrigado. E faminto.

Granger acenou a varinha em direção a várias bananas, as quais se


descascaram bagunçadamente. Ela as cortou com outro movimento – mais
como fatias desiguais, mas as flutuou mesmo assim em direção à mistura.

━ Não é a coisa mais linda do mundo, mas... é algo ━ Granger disse,


olhando com dúvida para sua criação assimétrica.
━ O que é isso?

━ Torta banoffee. Queria um pouco mas a padaria da vila fechou mais cedo
hoje. E bom, eu tinha bananas.

━ Excelente ━ Draco falou. Apontou a varinha para o gabinete perto de


Granger. ━ Accio colher.

Uma gaveta se abriu em um estrondo e uma grande colher voou para Draco.
Estava enfeitada com orelhas de gato

━ Sério ━ ele falou quando a colher pousou em sua mão.

━ Foi um presente ━ Granger respondeu, tentando tirar a colher dele.

Draco manteve-a longe com um braço e puxou a torta com o outro.

━ Não está pronta ainda ━ ela protestou. ━ Tem que esfriar.

━ Está tudo bem ━ Draco disse. ━ Estou com muita fome.

Granger parou de perseguir a colher.

━ Ugh. Não me culpe se estiver pegajosa. Não pode cortar e colocar em um


prato? Certamente pode ser mais civilizado do que isso.

━ Não. Eu sou sempre civilizado. Vamos ser bárbaros.

Granger empurrou um prato em suas mãos vazias. Ele riu quando ela tentou
servir uma "fatia" para ele, a qual colapsou em uma bola de creme e
caramelo.

Apesar de feia, a torta estava deliciosa. Draco dispensou o prato e comeu


direto da vasilha, e logo Granger seguiu seus modos, e eles dividiram uma
bagunça pesada de crosta de biscoito amanteigado, leite condensado,
chantilly e ocasionais fatias de banana instáveis. Draco comeu três (3) pêlos
de gato.
Ele tinha feito muitas coisas pecaminosas em sua vida, mas demolir uma
torta banoffee com Granger, com seus ombros se encostando e os dedos
pegajosos de caramelo, parecia deliciosamente selvagem e deu a ele um
arrepio.

O gato ajudou ao lamber as bancadas nos intervalos dos Scourgifys dela.

Enquanto Granger acendia a chaleira, Draco foi lembrado de que deveria


dar-lhe dicas sobre os planos de Narcisa.

━ Escuta ━ disse, casual. ━ Você deve esperar um convite de minha mãe.


Ela te quer para o chá.

━ O que? ━ Granger ficou alerta imediatamente. ━ Chá? Eu? Por que? O


que fiz?

━ Ela nos viu dançando e disse que era uma boa visão cultivar um
relacionamento com uma bruxa nascida-trouxa muito amada.

━ Quão estratégico da parte dela ━ Granger falou, buscando canecas com


agitação evidente.

━ Não é uma punição.

━ Sim, é. Não gosto de coisas da sociedade.

━ Psh, você estava na maior coisa da sociedade da temporada e se saiu


muito bem ━ ele falou.

Isso foi um elogio, a propósito, mas Granger não captou.

━ O evento Delacroix foi diferente... foi para curandeiros. Eu estava


praticamente no meu meio. Não com puros-sangues elegantes que vão rir de
cada erro meu.

━ Você não precisa ir se não quiser ━ Draco disse. ━ Obviamente.


━ Vou ter conflitos no cronograma até o ano que vem; diga isso à sua mãe,
sim?

Draco deu a Granger seu olhar mais não-impressionado.

━ O quê? Você tem visto meu calendário... não é verdade?

━ Você encontra tempo para fornecer barracas de informação sobre Meio-


Amassos. Certamente pode encontrar tempo para uma xícara de chá.

━ Eu não forneço barracas de informação sobre Meio-Amassos.

━ Prometo que as senhoras não são tão assustadoras.

━ Devo te lembrar que quase se estrunchou para fugir delas?

━ Você quase se estrunchou também, se estiver ameaçada pelas ligações do


maldito matrimônio com qualquer torrão de açucar.

Granger ficou séria.

━ Eu iria, nesse ponto.

━ Prometo que minha mãe não vai tentar te comprometer ao casamento com
a filha de Delacroix.

Granger colocou uma caneca de chá na frente dele.

━ É isso que ela está tentando fazer com você? Rosalie é uma boa garota.
Eu a conheci quando estava tratando o pai dela.

Draco acenou com a mão; essa conversa não era para ser sobre ele.

━ De qualquer forma, espere uma coruja de minha mãe. Considere aparecer,


pelo menos.

Granger não era distraída tão facilmente.

━ Rosalie é doce. Eu gosto dela.


━ Então se case com ela ━ Draco falou.

━ Talvez eu case ━ Granger respondeu.

━ Ela estava nos braços de um dos franceses mais ricos na última vez que a
vi, então talvez você tenha perdido sua chance.

━ Merda.

Eles beberam seus chás. Granger começou a olhar para o relógio. Draco
sentiu que qualquer intervalo que ela alocou para o descanso e socializar
estava acabando. Ele praticamente podia vê-la considerando quão rude seria
deixá-lo sozinho com o chá versus quanto ela queria voltar a ler versus quão
pouco ela o queria sem supervisão em sua casa.

Draco nunca seria aquele a tornar a vida dela mais fácil – de verdade,
atormentá-la estava se tornando sua diversão preferida e um hobby – e ele
bebeu seu chá em goles agonizantemente lentos.

O pé de Granger começou a balançar embaixo da mesa. A caneca dela


estava vazia há um tempo.

━ Está muito quente? ━ Ela soltou, finalmente. ━ Feitiço de resfriamento?

━ Não, estou aproveitando-o ━ Draco disse moralmente enquanto estava


sendo mais virtuoso do que incômodo. ━ Você tem bolachas?

Granger acenou com a varinha para convocar bolachas e colocou os pacotes


bem forçadamente na frente dele.

Ele abriu com um cuidado insuperável e delicadeza.

Granger suspeitou de algo. Seu olhar avaliou Draco com dúvida, o qual se
tornou desconfiança quando viu o sorriso malicioso dele.

━ Você está fazendo de propósito. Eu sabia. ━ Ela ruborizou, todo o


fingimento de educação indo embora. ━ Tenho coisas a fazer muito mais
produtivas do que assistir você fingindo beber chá. Não toque em nada.
Pode se cuidar sozinho.

O show continuou, Draco pegou sua caneca meio terminada e uma bolacha
e seguiu Granger até a sala. Ele, também, tinha coisas melhores para fazer
além de fingir beber chá – era uma noite de sexta e seus amigos estavam
todos ficando loucos e esperando-o para se juntar a eles – mas, verdade seja
dita, Granger podia ser uma fonte de entretenimento ainda mais
estimulante.

Na sala, ela tinha retomado seu lugar no sofá. Havia um livro grande em
seu joelho e um tipo de computador dobrado ao lado dela. O fogo estalava
na lareira. O gato estava esticado sobre um tapete felpudo, tão plano que
não era visível, de imediato, onde o tapete terminava e onde o gato
começava.

Era uma cena muito tranquila. Granger parecia ter encontrado sua paz
novamente.

Ela suspirou.

━ Ler em frente ao fogo quando está chovendo é a coisa mais próxima que
temos da cura para o ser humano.

Draco mordeu sua bolacha de modo bem barulhento.

Essa não era a resposta correta. Granger olhou para ele. Então voltou para o
livro.

Draco sugou seu chá.

Granger manteve o olhar na página obstinadamente.

Draco perambulou por ali e se juntou a ela no sofá, praticamente não-


convidado. Os olhos de Granger se estreitaram pela impertinência.

━ O que estamos lendo? ━ Draco perguntou. ━ É O livro?

Granger se afastou um pouco dele.


━ Não, não é O livro. Eu nunca seguraria aquele tão casualmente.

━ O que são as Ilhas Orkney? ━ Ele perguntou.

━ O que? ━ Granger disse, levantando o olhar.

Draco apontou para o computador dobrado, onde um parágrafo sobre ilhas


escocesas distantes brilhavam na cena. Granger o alcançou e o fechou.

━ Não é da sua conta.

━ É relacionado com Beltane, então ━ ele falou. ━ Que bom. Eu estava me


perguntando para onde iríamos.

━ Não, não é ━ Granger falou, claramente mentindo. ━ Eu estava vendo


apenas... apenas por curiosidade.

Draco estava se sentindo generoso.

━ Tente de novo, mas dessa vez, com mais contato visual.

Ela realmente tentou. Seus olhos encontraram os dele e ela segurou o olhar,
então abriu a boca para mentir novamente, mas tudo que saiu foi Ugh.

Draco sorriu. Granger parecia aborrecida.

━ Eu nunca estive nas Ilhas Orkney ━ ele disse. Tentou abrir a coisa
computador novamente, mas ela afastou sua mão. ━ Estou ansioso para
isso.

━ Não há nada para ficar ansioso... você não está indo.

━ Tem a ver com seu projeto?

━ Não ━ Granger mentiu, fazendo um contato visual mais forte com a


sobrancelha esquerda erguida de Draco. ━ É para um feriado.

━ Olhos, Granger, os olhos. Você tem que convencer minha alma.


Ela encontrou seus olhos novamente, mas apenas uma verdade exasperada
apareceu.

━ Sim, tem a ver com meu projeto.

━ Então estou indo com você.

━ Não. Você pode ir para Orkney quando quiser. Não precisa vir comigo.
Isso vai ser completamente seguro, uma viagem sem perigo. Sem oferenda.
Sem feiticeiras.

━ Não estou te deixando ir sozinha para o cu de mundo da Escócia para seu


projeto. Com minha sorte, você vai ser eviscerada por um kelpie e eu serei
um mártir entre os mágicos.

━ Não seja ridículo... Não estarei próxima de nenhuma criatura aquática.

━ Você está indo para as Ilhas Orkney ━ Draco falou, enunciando a palavra
lentamente.

━ Eu sei disso, obviamente. Mas meu interesse ali é fogo, não água.

━ Certo... Beltane é um dos festivais de fogo ━ Draco falou.

━ É... Na verdade, é...

Granger se interrompeu, parecendo perceber tarde demais que quanto mais


falasse, mais revelaria.

━ Terminou seu chá? ━ Ela perguntou em uma tentativa evidente de mudar


o assunto e também chutá-lo de sua casa.

Draco checou sua caneca, a qual estava vazia.

━ Quase.

Granger, sua desconfiança explícita, se aproximou e apertou seus dedos ao


redor do pulso dele e colocou a coisa na direção dela.
━ Eu queria poder mentir com a fração da sua ousadia ━ disse,
contemplando a caneca vazia.

Ela liberou seu pulso. A ponta de seus dedos eram quentes contra a pele
dele.

━ Vem com a prática ━ Draco falou.

Granger riu e se arrumou um pouco, o que era um sinal claro de que a visita
de Draco estava ultrapassando o limite.

━ Como vai para Orkney? ━ Draco perguntou.

━ O Expresso de Hogwarts ━ Granger respondeu com uma pitada de


rosnado.

━ Há um bar bruxo em Thurso ━ ele disse. ━ Eu peguei um traficante lá


alguns anos atrás. Pare de rosnar para mim. Estou ajudando.

━ Achei que a viagem de flu era rastreável.

━ Pensei que fosse um feriado.

━ E é.

━ Então faça parecer um. Use o flu.

━ Tá bom.

━ O bar é chamado A Protuberância Polida.

━ Você está brincando.

━ Não ━ Draco riu. ━ Obrigada pelo chá. Te vejo na Protuberância.

──── ◉ ────

Granger estava atrasada.


Draco andou para lá e para cá ao redor do mezanino da Protuberância por
dez minutos antes de ceder à oferta amigável do barman sobre o vinho de
amora.

━ Est confeando ━ o barman disse. Draco acenou, assumindo que essa frase
incompreensível era um comentário sobre o tempo congelador de bolas.

━ É primeiro de Maio ━ ele disse, bebendo o vinho quente. ━ Por que


parece que é maldito Janeiro?

━ Peo menos está apenas fio e não evando ━ o barman falou. ━ Quem você
est eperando?

━ Uma bruxa ━ Draco respondeu.

━ Obviamente, ou você já eria ido ebora. Vou engarrafar um pouco de


vinho para sua muer.

━ Uma colega ━ Draco especificou. ━ Mas obrigado.

Ele pegou seu Bloco-Falante e enviou uma série impaciente de ??????????


para Granger.

Não recebeu resposta. Através do anel, sentiu os ecos da batida cardíaca


dela, sem pânico, mas com certeza elevada. Seu calendário dizia que ela
estava na Urgência/Emergência do St. Mungos – ou pelo menos, era onde
devia estar até às quatro e meia, e então usar o flu para a Protuberância às
quinze para as cinco horas, e mesmo assim ela não estava aqui e já era
cinco e vinte.

Mais dez minutos se passaram, durante os quais Draco passou sentado perto
de uma janela e assistiu a chuva cair do céu cinza misericordiosamente.
Qualquer que fosse a ilha entre o arquipélago Orkney que Granger
precisava ir estava protegida contra a aparatação, então eles estavam
pegando uma balsa.

Considerando que a hora do jantar estava chegando e ela ainda estava


desaparecida, Draco aceitou a oferta do barman da carne curada com queijo.
Se não estiver aqui em quinze minutos, vou assumir que você foi capturada
e vou aparatar até você, foi a próxima missiva de Draco para ela. Mais
como uma ameaça, realmente.

Depois de contemplar seu prato vazio, ele pediu para o barman preparar
uma segunda porção para a viagem. Não era de seu feitio ser tão atencioso,
mas bem, Granger claramente não teria tempo para comer e ele não queria
gastar um momento da viagem para procurar comida.

A última balsa para o Holm de Eynhallow estava agendada para as seis.


Faltavam cinco minutos.

Draco pagou o barman pelo pedido, escreveu para Granger que estaria nas
docas e foi até lá.

5 minutos, veio a resposta dela.

Draco chegou nas docas bem a tempo de assistir a última balsa desaparecer
no mar enevoado.

O rapaz na doca foi interrogado com vigor do porquê a balsa saiu faltando
dois minutos para as seis e não seis em ponto, como indicava o cronograma.
Ele balançou os ombros e disse que seu pai saía quando queria e que não
havia mais nenhum passageiro. O elegante deveria ter aparecido mais cedo.
Volte amanhã.

━ Estou aqui. ━ Veio um guincho sem fôlego.

Draco se virou. Granger estava correndo para ele na doca. Suas vestes de
curandeira estavam enfiadas em algo que parecia seis galões de sangue.

━ Tetas de Merlin ━ ele falou. ━ Parece que você acabou de matar alguém.

━ Merlin ━ o homem da doca disse, ficando pálido. ━ Isso é sangue?

━ Artéria carótida rompida... parece pior do que é, ele está vivo ━ Granger
ofegou. Ela acenou a varinha para si em um Evanesco. ━ Onde está o
barco?
━ Se foi, senhora ━ o rapaz falou. Draco notou que ele estava dirigindo mais
cortesia para Granger, como se um assassino inspirasse respeito. ━ Vocês
terão que voltar amanhã.

━ Voltar amanhã? ━ Granger repetiu. Ela estava à beira de um grito, mas


tentando se recompor. ━ Não posso voltar amanhã. Tem que ser hoje. É
Beltane.

O homem da doca gesticulou, de mãos atadas, para a doca vazia.

━ Por favor, não me mate, senhora, não foi de propósito. Nós temos
vassouras, se não se importar de voar. A chuva foi embora, pelo menos, né?

Draco ficou interessado na conversa.

━ Me mostre as vassouras.

━ Vassouras? ━ Granger repetiu, agora definitivamente na beira do grito.

━ Não deixe-a me matar ━ o homem disse enquanto direcionava Draco para


um depósito. ━ Dois nuques para alugar uma, mas pedimos um sicle para
depósito.

As vassouras eram tudo que Draco pediu para esse local remoto:
encharcadas, velhas e de durabilidade questionável.

━ Alguma com dois lugares?

O rapaz desapareceu em um canto escuro e puxou um modelo antigo.

━ Velha Glória. Parece cansada, mas vale a pena, senhor... meu papai me
ensinou a voar com ela.

━ Um endosso formidável, para ser sincero. Ela tem sistema de navegação?

━ Rudimentar, senhor. Mas ela conhece o Holm. ━ O homem deu uma


tapinha na vassoura e disse: Holm do Eynhallow. ━ A vassoura se agitou em
uma posição de partida e apontou firmemente para o norte.
━ Feito ━ Draco disse, segurando um sicle que valia por quinze dessas
vassouras.

O homem guardou a moeda e, aparentemente não ousando olhar para


Granger novamente, fugiu dali.

Draco voltou para ela com a vassoura.

━ Não ━ respondeu.

Draco apoiou o item contra o chão e se inclinou com generosidade.

━ Ok. Vou esperar sua solução.

━ Estou pensando ━ Granger falou ━ Me dê um momento.

Ela pensando aparentemente envolvia se despir. Draco desviou o olhar.


Apesar de estar vestindo roupas trouxas sob as vestes de curandeiro, parecia
muito íntimo assistir. Puxou um casaco, botas e cachecol de um bolso
minúsculo de seu jeans. O conjunto foi finalizado com luvas de lã.

━ Vamos conduzir uma análise SWOT ━ ela respondeu.

━ Qualquer conversa com você é uma análise sabe-tudo ━ Draco disse.

━ S.W.O.T. ━ Granger falou.

━ Eu sei como se soletra.

━ Não. S.W.O.T. É um acrônimo.

━ Jeito engraçado de soletrar, Granger.

Granger respirou fundo e disse a si mesma, em alto e bom som, que a


ambição principal de Draco Malfoy era ser um incômodo perfeito e que ela
deveria parar de encorajá-lo.

Draco disse que não era necessário um encorajamento – era seu estado
natural.
Granger acenou a varinha e um quadro brilhante surgiu com as seguintes
abas: Forças, Fraquezas, Oportunidades e Ameaças.

Sobre ele brilhava: Viagem de Vassoura pelo Mar.

Granger preencheu o quadro com uma rapidez que sugeria familiaridade


com a técnica. Fraquezas e Ameaças foram colocadas facilmente, com
coisas como "ataques marítimos", "hipotermia" e "provável morte".

Nas Forças, ela colocou "não adiar a pesquisa por mais um ano". Parecia
importar – ela circulou de vermelho.

Draco estava satisfeito por vê-la também colocar "Malfoy" nas Forças.

━ Porque ━ ela explicou ━ você pode voar. Entretanto, também colocou


"Malfoy" sobre Ameaças. ━ Porque você é um maníaco que provavelmente
fará loops e essas coisas e vai nos matar.

Nas Oportunidades, Draco tomou a liberdade de adicionar "fazer Granger


gritar".

Granger riscou aquilo e colocou "obter cinzas".

━ Do fogo de Beltane? ━ Draco perguntou (disfarçadamente adicionando


"Granger gritar" novamente).

━ Sim. Você iria descobrir eventualmente.

━ Já fiz ━ ele tossiu. ━ Mas, bom... não haverá nada além de cinzas na hora
que chegarmos lá.

━ Certo, bom, eu não tinha contado que um bruxo idiota tentaria vestir uma
cobra Lebengo como gravata hoje.

Granger voltou e estudou o quadro brilhante por alguns minutos. Então


olhou para o Planador Glorioso de 1965 na mão de Draco. Então olhou para
o céu chuvoso.

"Não adiar a pesquisa por mais um ano" brilhou em vermelho.


━ Porra ━ Granger observou judiciosamente.

Draco abriu um sorriso.

━ Vamos fazer isso. ━ Saiu muito corajosamente. Porém, o rosto de Granger


estava pálido. ━ Você não precisa parecer tão feliz ━ ela adicionou.

Draco sorriu ainda mais.

━ Na frente ou atrás? ━ Perguntou, segurando a vassoura na horizontal. ━


Eu vou dirigir, independente.

━ O que é menos pior? ━ Ela perguntou enquanto a vassoura balançada


atrás dela.

━ Se estiver atrás, você é completamente responsável por segurar ━ ele


respondeu. ━ Mas estará a salvo do vento e não poderá ver nada, se isso
ajudar. Se estiver na frente, não há nada entre você e o vento. Mas pode
segurar o cabo e eu posso te segurar.

(Havia ao menos dezesseis piadas que Draco poderia fazer sobre cabos
nesse momento, mas ele estava sensível o suficiente para não fazer. Pensou
que deveria ser agradecido pela discrição).

━ Não tenho certeza se confio em mim mesma para não desmaiar e cair ━
ela disse. ━ Você me seguraria se eu fosse na frente?

━ Sim.

Não estava claro se isso era uma coisa boa ou não. Granger torceu as mãos.

━ Eles não tem vestes de proteção ou capacetes ou algo do tipo? Eu deveria


ter trazido um paraquedas.

━ O que?

━ Não importa. Vou sentar na frente. Me segure. Se eu morrer... eu só...


tenho muitas coisas que quero fazer antes de morrer. Por favor, não me
deixe morrer.

Ela parecia tanto mortalmente séria como prestes a chorar.

━ Você não vai morrer, Granger.

━ Eu odeio voar.

━ Eu sei. Suba.

━ Talvez você deva me atordoar e me acordar quando chegarmos lá.

━ Não consigo segurar seu peso morto nesse vento, Granger.

━ Eu consigo... vou tomar uma Poção Calmante ━ ela disse, buscando


através da jaqueta. ━ Apenas meia dose, talvez, para me manter avoada.
Não quero exagerar e desmaiar...

A Poção Calmante foi bebida e, finalmente, Granger subiu. Seu assento na


vassoura foi tenso e difícil. Seu aperto era sufocante através das luvas. Seus
olhos estavam fechados. A Poção claramente demorou mais do que alguns
segundos para fazer efeito.

━ Você está pronta? ━ Draco perguntou, montando atrás dela.

━ Apenas voe ━ Granger cuspiu apesar dos dentes batendo.

Draco voou. Ele fez alguns círculos ao redor do barracão para se acostumar
com a Velha Glória. A vassoura era uma megera dura, mas valente o
suficiente para fazer o caminho pelo vento do norte, muito mais do que os
modelos de Draco, as quais dariam para trás em um toque. Para uma
viagem através do Mar do Norte, a Velha Glória sairia bem. Devagar e
firme.

Draco informou a Granger desse fato em uma tentativa de tranquilizá-la.


Um murmúrio foi sua única resposta.
Considerando que as mãos de Granger estavam ocupadas estrangulando a
vassoura, Draco lançou feitiços repelentes de vento sobre eles, então
poderiam ouvir um ao outro. Também lançou feitiços de aquecimento, o
qual fez Granger estremecer, agradecida, contra ele, o que foi interessante.

O ajuste final de Draco foi ter um passageiro, o que era uma ocorrência rara
para ele. O balanço parecia diferente e a direção tendia para baixo.

As poucas vezes que ele montou em vassouras dessa forma foram para
encontros e esses voos foram sucedidos por pousos em um local isolado e
um bom amasso. Draco duvidava que haveria movimentos sensuais de
bunda contra sua virilha neste vôo: Granger se agarrou à vassoura como
uma morte cruel, imóvel, como se tivesse sido petrificada nela. Apenas o
cabelo dela iludiu a rigidez – os poucos fios que escaparam de seu coque
tocaram suavemente o rosto dele. Ela cheirava a xampu e antisséptico.

Draco inclinou-se para a frente e colocou as mãos na vassoura na frente de


Granger, pronto para ir. Ela parecia pequena e encolhida entre os braços
dele.

━ Acolhedor ━ disse.

━ Urk ━ Granger disse em uma verbalização eloquente de seu medo.

Draco os virou para o norte e começou a tomar velocidade. Granger, olhos


fechados e tudo, sentiu a mudança e expressou violentamente seu desejo
sobre o destino dele nesse mundo e no próximo, o que teria feito um
homem mais delicado chorar.

Ele meramente disse fique firme, Granger e os levantou bem devagar.

━ Para o Holm do Eynhallow, velho pássaro ━ Draco falou, dando à


vassoura um tapinha.

Próxima parada: o mar.


10. As Ilhas Orkney

Draco aproveitou muitos voos em sua vida jovem, mas essa viagem através
do Mar do Norte estava em primeiro como a experiência mais selvagemente
bonita que já tivera. Ele estava quase em êxtase pela vassoura velha –
forçou um nível de cuidado com o voo e atenção ao vento que as suas
jamais fizeram. O voo era praticamente técnico. Os ventos cortantes eram
demais, o tempo inconstante, então Draco escolheu voar baixo, mais ou
menos dez metros acima do nível do mar.

O ar estava salgado e frio e atravessava seus rostos com beijos de sereias


fantasmas. Assim que chegaram em alto-mar, um moleiro-grande se juntou
ao voo. Observou Draco com um olhar lustroso, sua asa a quase meio metro
de distância de seu rosto. Então desceu para a superfície do mar, limpou as
asas escuras e voltou ao céu novamente.

Conforme voavam em direção ao norte, o céu ficou limpo para revelar


estrelas dispersas. Abaixo delas, constelações refletiram e perfuravam as
ondas. A vista era sublime. Fez Draco se sentir pequeno e inconsequente.

A Poção Calmante deve ter batido, porque Granger parecia menos tensa
entre seus braços, apesar das luvas ainda segurarem muito firme a vassoura.
Pelo o que Draco poderia dizer, os olhos dela ainda estavam fechados e ela
estava perdendo essa vista de tirar o fôlego. Mas, ele supôs, faça o que quer
que seja necessário para conseguir.

Algo grande quebrou a água embaixo deles.

━ Granger... olhe! É um cavalo-marinho! Não, tem dois deles. Cavalos-


marinhos? Cavalos-marinhes?

━ Oh! ━ Granger ofegou, finalmente abrindo os olhos.


Ela olhou para baixo, onde as enormes criaturas com cabeça lisa e parecidas
com cavalos estavam nas ondas. Um desapareceu novamente, mas o outro
se levantou, sua crina enorme arqueando logo abaixo deles, então sumindo
sem alarde entre as ondas.

Draco diminuiu, querendo voltar e observá-los, mas o primeiro apareceu


novamente, seguido de perto por seu companheiro. Ele se preparou para
acelerar. As criaturas ganharam velocidade e Draco acompanhou,
deslizando as ondas bem na altura de suas crinas.

Eles correram.

Draco pediu mais da vassoura. As criaturas majestosas se moveram abaixo


e atrás deles sem nenhum sinal de esforço, salvo a névoa perolada que
queimava de suas narinas.

Um, levemente menor, era verde-água cristalino, sua crina tão branca
quanto a espuma ao redor dela. O outro era maior, azul como a superfície
do mar, e tão rápido se juntou ao seu parceiro.

Água salgada os encharcou. Draco pressionou e ele era a onda e os cavalos-


marinhos eram ondas, e eles flutuaram, caíram, espumaram e surgiram, e
agora eram o oceano e depois a brisa do mar antes da tempestade.

Os surfistas se viraram para o oeste, em direção ao oceano aberto. Seus


olhos pálidos encararam Granger e Draco e o macho jogou sua cabeça
estonteante para trás, como se desafiasse-os a seguir em ondas
desconhecidas. Draco sabia que não podia.

O par desapareceu como espíritos em uma jorrada rápida, uma visão


desvanecida contra o mar.
Arte maravilhosa por NikitaJobson

Então havia apenas Draco, sem fôlego, Granger, estremecendo, e espuma


das ondas.

Nenhum deles falou.

A vassoura retornou seu trajeto.

Agora, à direita e à esquerda, apareceu a escuridão das massas de terra. Eles


entraram nas Ilhas Orkney.

O vento era menos cortante e o mar menos caótico.

A frente, uma ilha pequena brilhava como uma jóia entre as águas escuras,
acesa com os fogos de Beltane. A vassoura, sentindo que o destino estava
próximo, acelerou.
Draco avistou um rochedo achatado à luz das estrelas e se aproximou para
aterrissar. Granger deve ter fechado os olhos de novo, porque quando seus
dedos tocaram o chão, ela chiou e teria caído da vassoura se não fosse o
braço de Draco em volta de sua cintura.

Ele desmontou. O movimento de Granger seria mais precisamente descrito


como uma queda flácida no musgo.

━ Aquilo foi brilhante! ━ Draco falou sob as estrelas, com os braços para
cima. ━ Emocionante. Fodidamente mágico.

Granger não disse nada. Draco lançou um Lumos sobre ela. Parecia estar
abraçando a terra.

━ Você está bem?

━ Apenas um momento ━ ela ofegou.

Draco a deixou se recompor. Ele lançou alguns feitiços, os quais


informaram que haviam mais ou menos cem bruxos na ilha e quase a
mesma quantidade de fogueiras, grandes e pequenas.

Granger se recuperou. Ele, vendo quão drenada ainda parecia, ofereceu o


braço em um ato cavalheiresco automático. Ela pegou, o seu próprio
tremendo.

Eles avançaram em direção ao centro da ilha com os fogos de Beltane e o


som de comemoração os guiando. Enquanto caminhavam, Draco começou a
notar formas imensas em ambos os lados, apenas perceptíveis porque eram
escuras, permitindo que nenhuma luz das estrelas passasse por elas.

━ Pedras Eretas ━ Granger disse.

━ Há henges tão longe aqui no norte? ━ Draco perguntou.

Ele na verdade não ligava se existiam ou não henges no norte, mas


perguntas como essa garantiam a esperteza de Granger e a distraía de seu
nervosismo.
Ele estava certo. Granger começou em uma voz fraca que começou a
ganhar força e entusiasmo conforme continuava.

━ Sim... é um dos círculos de pedra mais antigos do Reino Unido. Os


megálitos são datados em 3200 A.C. Têm mais ou menos três metros de
altura, absolutamente de tirar o fôlego à luz do dia, eu posso imaginar. O
henge é chamado de Anel de Eynhallow.

(As Pedras Eretas em Callanish; inspiração para o Anel de Eynhallow).


Foto: Steve Walton.

━ Acho que perdemos a maior parte da festa ━ ela disse conforme


chegavam mais perto para ouvir as vozes. ━ Que pena. Estava torcendo para
ver algum ritual pessoalmente...

━ Quais rituais?

━ Oh, proteções de magias antigas. Casamentos. Oferendas para o Aos Sí.


Muitos pulos ao redor do fogo e outras estupidezes também. Não sei porque
os bruxos acham que isso irá impressionar uma bruxa, mas então, mágicos
fazem muitas coisas que eu não entendo. Tipo um colar de cobra.
Agora Granger ficou em silêncio, remoendo aquela idiotice.

━ Mas, bom... pelo menos vou conseguir o que precisava.

Eles estavam no centro do anel agora, andando entre muitos fogos de turfa e
bruxos farreando. Granger estava encarando as fogueiras com felicidade
contida. Seu aperto no braço de Draco aumentou.

Como a atenção dela estava em outro lugar, Draco apontou sua varinha para
alguns transeuntes e lançou Legilimência não verbal. Estava satisfeito por
essa ser uma situação de baixo risco – a maioria estava festejando e se
embriagando, e não ligavam para quem eram.

O ápice da celebração tinha acabado e as coisas estavam caminhando para o


fim. Tendas sendo levantadas aqui e ali na periferia das fogueiras enquanto
outros estavam se acomodando para mais filosofia regada a whisky.

Draco e Granger foram abordados por ritualistas amigáveis e foram


convidados para se juntar à fogueira deles. Ela educadamente recusou e os
dirigiu para um canto silencioso no henge, onde uma fogueira pequena se
apagava.

━ Vamos esperar por essa ━ ela disse.

━ Suponho que tenha que ser naturalmente? ━ Draco perguntou. ━ Sem


feitiços para apagar?

━ Sem feitiços para apagar. A cinza de Beltane tem que ser a mais pura.

Granger transfigurou dois tocos em pufes confortáveis, os quais ela e Draco


colocaram próximos do fogo.

Depois do voo cruelmente frio, o calor era completamente magnífico.


Draco sentou perto, mas Granger estava praticamente assando os joelhos e
colocando o cabelo no fogo. Ela tirou suas luvas e segurou as mãos
próximo das chamas.
━ De milhares e milhares das fogueiras Beltane hoje, por que essas,
especificamente? Na esquina mais isolada do Reino Unido? ━ Draco
perguntou enquanto seu rosto começava a descongelar.

Granger tinha uma resposta pronta, é claro – e parecia maravilhada por ele
ter perguntado.

━ Por que o fogo aqui é específico, aquele que Cerridwen usou em seu
caldeirão. Não sei se você lembra da lenda dela...

━ Apenas o que quer que estava no cartão do sapo de chocolate ━ Draco


respondeu, vagamente se lembrando de uma bruxa com uma massa de
cabelo escuro. ━ Bem parecida com você, pelo o que me recordo.
Cerridwen

━ Psh ━ Granger bufou. ━ Posso apenas sonhar em ser uma fração do que
ela foi. Era uma mestre da transfiguração, além de outras coisas. Ela
conseguia transformar qualquer criatura. Podia fazer os animagos de hoje
parecerem insignificantes. De qualquer forma, eu vou poupá-lo da
dissertação, deve ter notado que essas chamas parecem mais vermelhas do
que o normal?

Draco acenou; as chamas realmente eram mais vermelhas.

━ Eu suponho que seja a turfa.

━ Não. Eles mantiveram sua chama lendária acesa, geração após geração,
nessas ilhas. Não é incrível? ━ Os olhos de Granger brilharam. ━ Uma coisa
para testemunhar. Para sentir em minhas próprias mãos. É surreal. É
extraordinário.

━ Para que você precisa das cinzas? ━ Draco perguntou, considerando que
ela estava tão volúvel.

Granger calou a boca.

Draco encolheu os ombros. Valia a pena tentar.

Ele cavou nos bolsos do casaco para pegar os itens de Thurso. Passou a
carne curada e o queijo para Granger e abriu o frasco de vinho de amora
contra o fogo para aquecê-lo novamente.

Granger parecia surpresa, fosse pela prevenção ou pela gentileza


inesperada, ele não tinha certeza. Ela pegou o pacote.

━ Na verdade, estou faminta. Obrigada. Foi tão atencioso de sua parte, eu...

Draco a cortou de sua lenga-lenga muito fofa.

━ Não trouxe nenhuma torta banoffee nesse casaco?

━ Não ━ ela respondeu. Enfiou a mão em um bolso. ━ Tenho algumas


barras de proteína, entretanto. Elas devem estar um pouco amassadas.

Draco não sabia o que era uma barra de proteína, mas tinha gosto de
chocolate barato, o que foi glorioso em sua língua depois de todo o sal do
mar.
Eles comeram. Granger estava cortês, pegando pequenas mordidas entre
algum comentário sobre Cerridwen. Draco se perguntou, pela primeira vez,
como a família dela era e se eram bons trouxas. Ela tinha um senso de
decoro e um tipo de dignidade inata que significava uma boa educação.

━ Cavalo-marinho é falado no plural como cavalos-marinhos, eu acho ━ ela


disse. ━ Acho que cavalo-marinhe seria uma tentativa incorreta do Latim, já
que é uma palavra grega. Tecnicamente, você poderia dizer cavalos-
marinhos, certo? Cavalo marinho é uma palavra nossa, então, realmente,
está correto.

━ Vou seguir sua palavra ━ Draco disse, buscando pelo vinho de amora
aquecido.

━ Eu não sou uma especialista da língua, então você não deveria.

Draco entregou o frasco para ela.

━ Vou fazer alguns cálices para nós ━ ela declarou, colocando as


embalagens das barrinhas no colo de Draco.

━ Tão apropriado ━ ele respondeu. Sua mãe realmente poderia gostar de


Granger.

━ Esse vinho foi aquecido pela chama de Cerridwen. Não estamos bebendo-
o de um frasco como se tivéssemos dezesseis anos atrás do Cabeça de
Javali.

Granger transfigurou as embalagens em lindos cálices dourados.

Draco teria informado que ela era quase uma mestre da transfiguração, mas
ele não queria que ela tivesse um ego inflado. Mesmo assim, pegou o jeito
que ele testava o peso dos cálices. Ela sorriu no cachecol.

━ O brilho é bem legal ━ ele admitiu.

━ Uma ilusão bonita ━ Granger respondeu, parecendo divertida. ━ Mas


obrigada. ━ Parou e hesitou antes de adicionar: ━ Eu ouvi que você tem
interesse em Alquimia, então sua aprovação significa mais do que a média
dos bruxos.

━ Minha aprovação deveria significar mais do que a média em todas as


coisas ━ ele disse, estudando o cálice na luz do fogo.

Granger ergueu os olhos para o céu noturno.

Draco encheu os cálices com o vinho de amora.

━ Enquanto estamos falando sobre Alquimia... você me diria se seu projeto


envolvesse a criação de uma Panacéia, certo?

━ Não vamos nos apressar ━ ela respondeu, apesar de sorrir.

Draco estava cheio de excitação repentina, porque se alguém conseguisse,


partindo do que aprendera sobre ela nos últimos cinco meses, era ela
mesmo.

━ Você está criando uma Panacéia? ━ Perguntou, inclinando-se em direção a


ela. ━ É por isso que Shacklebolt está tão preocupado?

Ela encontrou seus olhos sem hesitar.

━ Não. Não seja ridículo.

━ Hm.

━ Estou com medo de que você esteja desenvolvendo uma opinião muito
forte sobre mim. Eu sou meramente uma curandeira, usando meus métodos
trouxas e conhecimento mágico insignificante.

━ Insignificante ━ Draco repetiu com um bufo.

━ Mais queijo? Esse é muito forte para mim...

Draco pegou o queijo e bebeu o vinho. Apesar de não ter certeza de que ela
estava trabalhando em uma Panacéia, sentia que o escopo era similar. Tinha
um plano para sugar a informação dela, entretanto. Ele simplesmente tinha
que ser paciente.

O fogo estalou, consumindo a turfa remanescente. Eles assistiram e a noite


caiu, encontrando-os praticamente hipnotizados pela dança das chamas. O
som do violino se tornou triste e grave.

O fogo, a turfa queimando, a terra – tinha cheiro de história, como novo se


tornando velho e o velho ficando novo.

Talvez fosse o vinho, talvez fosse a hora tardia, talvez fosse a potência
persistente da noite Beltane, mas o momento tomou uma qualidade
sonhadora para Draco. Granger virou uma visão pintada de uma bruxa em
cor escura, seu cabelo ao vento mesclando com as sombras atrás dela, seus
olhos captando a luz vermelha do fogo. Suas mãos estavam juntas perto da
fogueira e parecia, para ele, que as chamas eram atraídas por ela e que
poderia acariciá-las se quisesse.

Granger bocejou e o feitiço foi quebrado.

O sono dela não era uma surpresa. Estava quase na hora usual de Draco
dormir, o que significava que a de Granger passou fazia tempo.

Ela colocou as luvas de volta e lançou um feitiço de aquecimento sobre


eles. O fogo estava baixo, mas ainda queimando.

Fogo de turfa, Draco percebeu, demorava um bom tempo para apagar.

Granger dormiu no ombro dele.

Draco, que também estava ficando cansado, subitamente se encontrou alerta


e constrangido. Era um cenário novo de completa vulnerabilidade que ele
não estava preparado para lidar. A respiração dela era devagar e firme, suas
luvas sobre seu colo.

As habilidades de transfiguração dele eram decentes, mas não boas o


suficiente para transfigurar o resto de carne curada em uma tenda. Ele se
contentou em alongar o pufe de Granger em uma espécie de espreguiçadeira
torta. Ela deslizou para a nova configuração sem acordar.

Então, porque ela parecia pequena e ainda mais vulnerável deitada sob o
céu aberto, ele jogou sua capa sobre ela. Completou isso com outro feitiço
de aquecimento sobre os dois, já que o calor do fogo moribundo estava
decididamente dando lugar ao frio da noite.

Lançou algumas proteções, caso sua própria fadiga o desligasse e ele caísse
duro. Era uma prevenção certamente exagerada, considerando que os outros
celebrantes entraram em suas tendas, mas Draco não havia sobrevivido
descuidado.

Ele sentou com as costas contra a espreguiçadeira de Granger e assistiu às


últimas chamas se tornando brasa.

Depois de mais uma hora, o topo da turfa começou a ficar cinza. Aquilo se
mexeu na brisa silenciosa e então assentou, branco sobre branco.

──── ◉ ────

Amanheceu fresco e brilhante, derramando ouro sobre as Ilhas Orkney sob


os gritos de aves marinhas rodopiantes.

Draco acordou com um torcicolo no pescoço e um nariz dormente de frio.

Quanto a Granger, ela parecia perfeitamente confortável, enfiada em sua


capa. Draco se perguntou quando ele se tornou um mártir tão virtuoso,
sacrificando seu próprio conforto pela maldita Granger, de todas as
pessoas?

Ele pisou com os pés congelados para mijar.

Quando voltou, Granger estava de pé e examinando sua obra de


Transfiguração. A espreguiçadeira aguentou a noite toda, o que foi uma
agradável surpresa para Draco, de qualquer forma.

Granger o viu chegando e ficou nervosa.


━ Você devia ter me acordado! Você não se prontificou para ser meu servo,
além de tudo. Me fez uma espreguiçadeira? É amável. Obrigada. Tive um
sonho maravilhoso, o que é terrivelmente estranho, considerando tudo. Oh...
e seu casaco. Aqui. Obrigada por me emprestá-lo. De que é feito? É tão
quente. Você está se movendo estranho. É sua nuca? Posso dar uma olhada?

Draco pegou sua capa, afastou as mãos de Granger de seu pescoço e


expressou um desejo breve de um café quente e uma partida imediata.

Granger puxou as mãos de volta para o peito.

━ Eu vi alguém desenrolando uma casa completa, algumas tendas abaixo.


Você devia convencê-lo a dividir um pouco. Vou coletar minha amostra.

Draco foi em busca dessa salvação, deixando Granger ajoelhada ao lado da


fogueira, colocando cinzas em tubos de ensaio.

Como visto, o bruxo que desdobrou a cozinha estava disposto a dar duas
xícaras e croissants um pouco medianos em troca da foice que Draco lhe
ofereceu sem palavras.

O café quente valeu o prêmio. Após o primeiro gole, Draco se sentiu um


pouco menos inclinado a matar todo mundo.

Granger o irritou novamente por não estar onde ele a deixou. Depois de
uma breve busca, a encontrou algumas fogueiras adiante, conversando com
um casal desmontando sua barraca.

Ela antecipou sua palestra com notícias: a balsa de volta para Thurso estaria
aqui em quinze minutos. Para Draco, isso era apenas uma boa notícia, já
que ele não queria outro voo em seu estado de privação de sono. Para
Granger, era uma excelente notícia. Ela até pediu para levar a Velha Glória
para o cais, querendo devolver a vassoura ao mestre da balsa e se livrar dela
para sempre.

Eles vagaram pelas pedras erguidas pelo tempo até as docas vestigiais.
Granger estava animada e saltitante e deu a Draco uma história inesperada
dos povos neolíticos de Orkney, usando a vassoura para apontar áreas de
interesse nos monólitos.

Vendo que Draco não correspondia ao entusiasmo dela, lhe deu seu próprio
café para animá-lo ainda mais e a maior parte de seu croissant.

A brisa do mar aumentou à medida que se aproximavam da costa, uma bela


mistura de sal, areia e grama nova.

Embarcaram na balsa. Velha Glória se reuniu com seu mestre. Draco disse
para manter o depósito. Ele e Granger tiveram uma disputa sobre se ela
devia ou não dinheiro a ele, enquanto tentava pagá-lo. Ele a cortou,
ameaçando comprar a vassoura e sequestrando-a para outros voos se não
parasse.

Então, quando a balsa chegou ao mar aberto, ele se sentou em um banco


para um merecido cochilo.

Granger silenciosamente transfigurou o tampo de madeira do banco em


veludo macio quando pensou que ele tinha adormecido.

──── ◉ ────

━ Quem diria que a Protuberância ofereceria um café da manhã excelente?


Granger exclamou, empilhando ovos mexidos em uma fatia de torrada.

Draco engasgou com o café e pediu que ela o avisasse quando fosse dizer
coisas assim.

Granger parecia afetada e disse que não era culpa dela que ele interpretasse
comentários inocentes da maneira mais grosseira possível. Mas ela
conhecia um feitiço útil para expulsões traqueicas, para que pudesse
continuar a rir sobre pênis como quisesse – ela o salvaria de engasgar.

Granger terminou de comer muito antes dele, o que significava que ela teve
tempo suficiente para vê-lo não se mover direito, por causa de seu pescoço.
Ela começou uma palestra espontânea sobre espasmos musculares cervicais,
ponderou sobre a saúde de seu nervo espinhal acessório, descreveu em
detalhes o que faria com seu esternocleidomastóideo, se ele permitisse, e
geralmente o atormentava até que ele não estivesse mais desfrutando de
seus ovos.

━ Tá bom ━ Draco rosnou, tirando seu casaco e afastando as vestes para


expor seu pescoço.

Você teria pensado que ele deu a ela um grande presente, permitindo que o
ajudasse. Ela se arrastou mais perto dele ao longo do banco, os olhos
acesos.

━ Finalmente. Não se mexa. Não vai demorar.

A ponta de sua varinha encontrou a junção onde seu pescoço encontrava seu
ombro. Essa não era uma sensação que Draco gostou; na verdade, foi uma
manifestação real de sua confiança nascente nela que ele permitiu isso. A
próxima sensação foi muito melhor: um alívio instantâneo e refrescante,
enquanto Granger falava um feitiço de cura.

━ Está melhor, não é? Sei que é um tratamento trouxa e você não irá segui-
lo, mas eu recomendaria compressas quentes se parecer tenso amanhã.
Ajuda com a circulação sanguínea.

Draco rolou os ombros. O pescoço parecia maravilhosamente livre.

━ Você teve uma noite horrível por minha causa e peço desculpas ━ Granger
disse.

━ Deixe-me comer.

Granger insistiu em pagar o café da manhã e eles foram até a lareira da


Protuberância para usar o flu até suas respectivas casas.

Granger pegou o pote de pó de flu no exato momento em que Draco o fez,


resultando em um deslizamento de mãos e retração imediata de ambas as
partes. Então eles fizeram a coisa idiota onde insistiam que o outro fosse
primeiro por um longo e irritante minuto.
Draco, sua paciência escassa, acenou sua varinha para o pote e levitou-o
firmemente no peito de Granger.

━ Vá.

━ Ugh ━ Granger disse, abraçando o pote para si mesma antes de baixá-lo.

Ela abriu a tampa e parecia pronta para jogar o pó no fogo e sair bufando.
No entanto, parou e se virou para Draco.

Sua expressão mudou para algo incerto e estranho.

━ Malfoy, eu... eu não teria sido capaz de coletar minha amostra sem você.
Eu teria que adiar meu projeto até o próximo festival Beltane, se não
estivesse lá. Não conseguiria voar sozinha.

Draco nunca foi de se esquivar de receber o elogio que lhe era devido – na
verdade, ele tendia a se deleitar com isso – mas algo na sinceridade e
gratidão sincera de Granger tornava isso assustadoramente estranho.

Além disso, era Granger. O fato de ela ser legal deu a ele arrepios.

━ Vá para casa, Granger ━ ele disse.

Granger jogou um pouco de pó nas chamas.

━ Okay. Estou feliz que você veio. Estouindoagoraobrigadaetchau. O


Mitre.

Ela não olhou nos olhos dele e se virou para as chamas.

Alguns minutos depois, Draco estava tirando fuligem de sua capa, em sua
própria sala. Ele estava muito ansioso para um banho e cama. Henriette, que
havia se materializado em sua chegada, foi enviada para preparar o banho o
mais quente que podia.

Enquanto Draco caminhava para seus aposentos, ele se perguntou se o


banho contaria como terapia de calor – não que se importasse com os
tratamentos trouxas de Granger, entretanto.
Ele deveria enviar-lhe um bilhete perguntando sobre isso?

Ela provavelmente responderia com uma explicação de doze páginas e


sugestões para leitura adicional.

Sua capa ainda cheirava a Granger e fumaça de turfa.

Ele lhe enviou o bilhete.

──── ◉ ────

Eu confesso que essas estranhezas entre eles trazem aquele friozinho na


barriga. Draco com certeza já tá rendido. Gostaram?

Essas artes ilustram perfeitamente o capítulo. Gosto muito delas e há ainda


mais nos próximos.

Próxima atualização: 23/06. Será, definitivamente, a semana do início do


meu estágio, então eu não tenho certeza se consigo postar dois capítulos ou
apenas um. Avisarei nos 45' do segundo tempo <3

Beijos e boa semana. Até sábado para quem está lendo Att. Caelum.
11. Draco Malfoy, Idiota Desatento

Boa noite, mores!

Apenas reforçando o que eu disse ontem no Instagram, as atualizações


dessa tradução agora serão à noite devido o horário da integração do
estágio. Quando começar no meu horário correto, as atualizações voltam
pela manhã. Eu aviso vocês.

O capítulo 12 vem logo em seguida, mas um pouco mais tarde porque estou
terminando a tradução dele.

Boa leitura!

──── ◉ ────

Apesar da dissertação sobre terapia de calor, Draco tivera pouco contato


com Granger durante o mês de Maio. Ele e seus aurores subordinados
estiveram ocupados devido aos comportamentos criminais pelo país (um
bruxo que lançou Imperius em uma vila inteira e vivia como seu rei;
lobisomens caçando crianças; um ladrão em Gringotes; alguns sequestros
para variar).

No meio de Maio, Draco estava limpando a bagunça de um caso - um


potioneiro em Sheffield, posando como algo chamado vidente do amor,
vendendo poções para os trouxas. Draco estava no meio da apreensão de
um lote e obliviando um trouxa quando sua varinha o alertou. Aquele vibrar
em específico sinalizou que alguém estava tentando abaixar as proteções de
Granger. E não em seu laboratório ou escritório. Sua casa.

Draco terminou com o trouxa rapidamente e aparatou para o flu mais


próximo. Aquilo o levou para o Mitre, seguido de uma aparatação para o
chalé dela, varinha à postos e sob um feitiço de desilusão.
Entre o alarme e sua chegada, ele estimou que três minutos se passaram.
Mas eram três minutos atrasados; quem estivera bisbilhotando, havia saído.
Os feitiços de revelação indicavam que nenhuma presença humana estava
próxima, salvo pela trouxa da casa vizinha cochilando.

Draco lançou um feitiço de detecção delicado. Sua proteção ao redor da


propriedade brilhava sobre ele, mas ignorou a favor de examinar o chão.
Segurou sua varinha firme até achar o que estava procurando: um traço
fracamente visível no ar, deixando por alguém que usara magia ali minutos
mais cedo.

A trilha do brilho fantasma terminava subitamente no meio da calçada atrás


do chalé de Granger. Aparatação ou chave de portal, talvez.

Draco não gostava daquilo. Podia ter sido apenas um bruxo curioso, ou até
mesmo um ladrão - seria o melhor cenário. Também poderia ter sido o
primeiro indicador de que alguém estava de olho em Granger e que a
paranoia de Shacklebolt não era brincadeira.

Draco mandou uma nota rápida para ela: Precisamos conversar. Alguém
invadiu suas proteções.

Quando ela não respondeu imediatamente, ele checou seu calendário. Ela
estava ensinando na Cambridge trouxa.

Draco decidiu encontrá-la - essencialmente, estava a uma porta de distância.

Estou indo até você, escreveu.

Ainda sob o feitiço de desilusão, ele aparatou na Universidade Trinity.

──── ◉ ────

A aula de Granger estava terminando. Draco teve que esperar apenas por
dez minutos fora da pequena sala. Meia dúzia de estudantes saíram
enquanto ele ainda estava invisível aos olhos trouxas e deslizou entre eles
em direção ao interior do local.
A lousa indicava que o tópico do dia foi "Anticorpos Monoclonais
Conjugados". Draco estava feliz por esses anticorpos pelo menos saberem a
conjugação verbal.

Granger, não sabendo de sua presença, estava guardando papéis (sem


varinha) dentro de uma pasta. Ela vestia uma camisa listrada, presa em uma
calça de cintura alta - peças as quais Draco não pensaria de imediato que se
complementavam, mas novamente, em Granger, o conjunto era bem
lisonjeiro.

Quando o último estudante saiu, ela tirou o Bloco-Falante do bolso. Isso


deu a Draco um prazer estranho ao vê-la abrindo e ficando interessada
quando viu a mensagem dele.

Ela leu e fez uma carranca. Começou a escrever uma resposta. Draco supôs
que deveria se revelar, já que a vibração pela resposta em seu próprio
Bloco-Falante faria isso.

Ele foi em direção a ela, ficando de frente, e desfez o feitiço.

Granger gritou, assustada, pulou para trás e tropeçou na cadeira.

Draco a pegou pela cintura, evitando uma queda. Granger pousou


estranhamente sobre o assento. Ele se posicionou do outro lado da mesa e
disse, em tom de conversa:

━ Sabe, eu prefiro que você pegue a varinha e cuspa uma maldição em vez
de gritar. Viu minha mensagem?

Granger não estava pronta para falar. O anel dele dizia que seu coração
estava acelerado.

━ Você quase me matou de susto! Há quanto tempo está aqui? Me avise da


próxima vez!

━ Eu avisei que estava vindo ━ ele respondeu.

O que era verdade, mas Granger ainda parecia irritada.


━ Eu li a mensagem um milissegundo antes de você aparecer como o
maldito Barão Sangrento!

━ Não é minha culpa que você estava ocupada demais conjugando


anticorpos.

A expressão de Granger mudou para a confusão.

━ Eu... o quê?

Draco inclinou o queixo em direção à lousa.

Granger observou o quadro, processou o comentário, ergueu o dedo


indicador e disse:

━ Não é isso o que isso significa...

Draco a interrompeu porque, francamente, não estava interessado.

━ Estou aqui para falar sobre quem estava bisbilhotando seu chalé. E
porquê.

Sua interrupção lhe rendeu um olhar mordaz. Entretanto, Granger respirou


fundo e parecia conter qualquer temperamento que ele gerou.

Ela colocou as mãos sobre a mesa em um ato de serenidade.

━ Sente. E me diga o que aconteceu.

Draco lançou um Colloportus em direção à porta da sala. Depois, levitou


uma cadeira para ele e sentou em frente à Granger. Algo sobre essa
dinâmica entre eles clicou. Draco estava do lado estudante da mesa, se
sentindo como um aluno prestes a ser examinado.

Ela cruzou os braços e esperou, seus olhos fixos no rosto dele. O peso de
toda a atenção do grande cérebro Granger o pressionou, pronto para
adquirir informação e fazer algo com aquilo.
━ Uma das proteções acionou um alarme na parte de trás do chalé ━ ele
disse. ━ Alguém estava testando a proteção ou tentando desarmá-la.
Cheguei lá em três minutos, mas já tinham ido. Ninguém apareceu com o
Homenium Revelium, exceto sua vizinha trouxa, mas eu achei um traço
mágico...

━ Como? ━ Granger interrompeu.

━ Um feitiço mágico de detecção ━ ele respondeu. ━ Um dos meus.

Granger parecia intrigada, mas aparentou deixar suas perguntas para mais
tarde.

━ Considerando o tamanho, tenho quase certeza que era um bruxo adulto.


Eu segui a trilha atrás da sua casa. O indivíduo desaparatou ou usou chave
de portal; o traço terminava muito de repente para ser uma viagem com
vassoura.

Granger se levantou em um impulso, a varinha na mão.

━ O traço ainda está lá? Quero ver...

━ Não. Eles desaparecem rapidamente. Só vi porque cheguei lá bem rápido


e conheço o feitiço.

Granger se sentou de volta com um murmúrio.

━ E eles definitivamente interagiram com as proteções? Não foi apenas o


correio?

━ Obviamente não foi apenas o correio. Eu sou alertado apenas por


interações mágicas, se não eu sentiria alarmes até quando um pássaro
pousasse no seu quintal.

━ A vizinha pode ter visto algo?

━ Ela estava dormindo e do outro lado do chalé. E se esse intruso vale algo,
pelo menos estava sob desilusão para um passeio na Cambridgeshire trouxa.
Os dedos de Granger batiam na mesa.

━ Você disse que a aparatação podia ser rastreada. Poderíamos rastrear


essa?

Draco estava ficando fatigado por ser interrogado como um rebelde sem
formação, mas ele supôs que deveria esperar isso dela.

━ O rumor, o qual você não ouviu de mim, é que o Ministério rastreia as


aparatações de alguns indivíduos de interesse. Vou dar uma olhada, mas se
essa pessoa não for particularmente perigosa ou de interesse, não haverá
nada nos livros.

━ Queria ter instalado câmeras de segurança em casa ━ Granger disse,


parecendo irritada consigo mesma. ━ Tenho algumas no laboratório. Estou
ratificando isso imediatamente. Você viu algo mais? Pegadas? Um pouco de
tecido?

Draco ergueu uma sobrancelha sarcástica para ela.

━ Não. Isso não é filme trouxa onde os suspeitos deixam pistas


convenientes. Agora, se já terminou de me questionar, Professora, eu tenho
algumas perguntas. Ou devo esperar por outro momento?

Granger endureceu visivelmente pelo uso do título.

━ Eurgh. Não faça isso.

━ Fazer o quê, Professora?

━ Isso é profundamente perturbador ━ Granger declarou.

━ Eu acho que gosto. ━ Draco sorriu, malicioso.

A Professora deu a ele um olhar mortal.

━ Você parece zangada. Vai me dar uma detenção? ━ Ele perguntou, seu
sorriso aumentando.
━ Isso é a faculdade. Nós não damos detenções. Pode ir para as perguntas?

Draco tomou uma nota especial sobre o desconforto de Granger para a


próxima vez que desejar perturbar a mulher. Talvez ele devesse enviar sua
próxima mensagem na forma de uma tarefa para ela assinar.

━ Por agora, negócios. Melhor cenário, foi uma visita aleatória de um bruxo
que queria fazer um dinheiro rápido e foi assustado por sua proteção. Mas
nós vamos seguir como se fosse o primeiro contato de uma parte hostil.
Você deu alguma dica a alguém, recentemente, sobre sua descoberta?

━ Não ━ Granger respondeu, endurecendo os ombros e parecendo


defensiva. ━ Desde a reação desproporcional de Shacklebolt, eu não disse
nada. O projeto está inteiramente autofinanciado e sempre estivera debaixo
dos panos... espere, você não entende o que isso significa. Quis dizer que
sempre estivera em segredo. Não mencionei nada para amigos ou colegas.
Tenho muitas pesquisas no caminho, mais do que suficiente para gastar meu
tempo.

━ Então por que agora? Hoje?

━ Eu não sei ━ ela respondeu. ━ Não é seu trabalho descobrir isso?

━ É o que estou no processo, Professora. ━ Com esse comentário, Draco foi


presenteado com uma carranca. ━ O incidente ocorreu há vinte minutos,
então você devia me dar um momento, melhor do que interromper...

Granger se irritou.

━ Você é aquele falando sobre interrupção.

━ Quem é Larsen?

━ ...Gunnar? Como você...?

Draco trouxe o calendário de Granger para ela.


━ Desenvolvi um nível infeliz de familiaridade com seu cronograma e ele é
o único elemento novo nos últimos quinze dias.

━ Eu o encontrei... terça-feira passada? Ele é o chefe de uma companhia


farmacêutica dinamarquesa. Eles estão desenvolvendo uma nova droga com
sistema de lançamento. Nanopartículas. As potenciais aplicações clínicas
são extremamente interessantes para meu ramo.

━ Então ele é um trouxa?

━ Sim.

As pontas dos dedos de Draco rapidamente bateram na mesma. Aquilo não


era útil.

━ E você tem sido o modelo da discrição, por outro lado.

━ Sim. O Auror me protegendo nem mesmo sabe de algo.

━ Sim, estou ciente disso, assim como as frustrações dele sobre. ━ Os dedos
dele bateram mais forte na mesa. ━ Isso deixa meu trabalho muito mais
difícil para saber de que merda eu estou te protegendo.

━ De nada. Ninguém sabe.

━ E mesmo assim alguém estava no seu chalé hoje.

━ Sim. Mas você mesmo disse que deve ter sido um invasor na redondeza.
━ Mesmo ela repetindo essa suposição, Granger parecia cética.

━ Mas por que seu chalé, especificamente?

━ Eu não sei.

━ Eu não acredito em coincidência, não quando você está envolvida.

━ Nem eu. ━ Granger parecia tão perturbada quanto Draco se sentia sobre a
coisa toda. Ela estava balançando o pé debaixo da mesa como costumava
fazer quando estava irritada. Novamente, Draco foi lembrado do balançar
irritado do rabo de um gato.

━ Se alguém vazar alguma coisa e há pessoas fuçando, essa situação não é a


mesma de Janeiro quando estávamos falando sobre medidas de precaução.
Iremos chamar essa de aleatória, mas se houver outro incidente como esse,
Granger, terei que saber o que você está fazendo. Pode me ligar a um Voto
Perpétuo se quiser.

━ Eu entendo. E espero que não haja outro incidente. Prefiro que ninguém
saiba até eu estiver pronta para ir à público. Você provavelmente irá me
forçar a me esconder ou algo igualmente excessivo.

Draco a considerou seriamente.

━ Se você acha que eu a forçaria a se esconder, então a coisa deve ser


Grande.

━ É Grande. Mas também é Bom. Porém vai irritar algumas pessoas.

A vontade de usar Legilimência era forte. A coisa Boa e Grande estava no


ápice da mente de Granger nesse momento. Ela não estava ocluindo, porque
em algum ponto nos últimos meses, começou a confiar nele.

Na verdade, bem agora, Granger estava completamente em estado


vulnerável, seu olhar completamente aberto encontrando o dele. Ela
esperava sua resposta ou próxima pergunta. Ele poderia entrar na mente
dela antes que pudesse ocluir e então ele saberia. Ela ficaria furiosa e nunca
confiaria nele novamente, mas ele saberia.

Draco, agarrando sua varinha no bolso, descobriu que não conseguiria.


Disse a si mesmo que era porque não queria aumentar a fúria que com
certeza seguiria. E aquilo não tinha nada a ver com o peso da nova
confiança e a preciosidade por trás dela.

Granger passou as mãos para cima e para baixo em seus braços como se
estivesse com frio.
━ Essa coisa toda é inquietante. Não gosto disso. Eu realmente espero que
tenha sido um ladrão estúpido.

━ Se não foi um ladrão estúpido... bem, os malvados sabem agora que você
está bem protegida.

━ Isso é bom ou ruim?

Draco encolheu os ombros.

━ Ambos. Eu vou dizê-los que você, ou o Ministério, está ciente dos riscos
e tomou precauções. Que você está sendo vigiada. Talvez os assuste. Ou vai
incentivá-los à manobras piores.

━ Estava pensando mais na última ━ ela disse, as sobrancelhas juntas em


preocupação. ━ Entretanto, eu tenho o anel e tenho você. É alguma coisa.

A seriedade não pedida ali fez Draco querer fugir. Por que ela tinha que
infligir tanta sinceridade sobre ele? Ele queria se contorcer.

━ E eu não sou exatamente uma imbecil que não sabe se defender ━ ela
continuou. ━ Gritando e caindo sobre as cadeiras, apesar de você. E eu
tenho a melhor proteção disponível para casas. Bom, a maioria delas.
Suponho que Mansões e Castelos no Vale Loire são de um patamar
diferenciado.

━ Há vantagens em moradias antigas ━ Draco respondeu. Ele não estava


tentando soar presunçoso; era verdade.

A enumeração de Granger sobre as medidas protetivas pareciam ter


acalmado-a, pelo menos, até ela lembrar de algo e perguntar:

━ Você viu meu gato?

━ Não ━ Draco respondeu. ━ Mas eu não procurei. Tenho certeza que a


coisa está bem.
━ Não vou dizer a ele que o chamou disso ━ Granger falou. ━ Ele acabou de
parar de rosnar quando falo sobre você.

━ Você fala sobre mim para seu gato? ━ Ele perguntou, incerto se era um
comportamento perturbado ou normal para ela.

━ Ele gosta de ser informado. Ajuda-o a decidir quantos pelos você vai
comer.

━ Diga a ele que eu acho que é um bom animal.

━ Eu irei.

━ A espécie de Meio-Amasso mais incrível que já vi.

A boca de Granger se torceu em um sorriso pela primeira vez durante essa


conversa. Ela riu e voltou a empilhar os papéis dos alunos em uma pasta.

━ Eu devo ir.

Draco parou também e flutuou a cadeira de volta ao lugar antigo.

━ O que é uma vidente do amor?

Assisti-la processando as coisas estava se tornando um sub-hobby divertido,


debaixo do leque "Perturbar Granger".

Ela o encarou como se não tivesse o escutado corretamente.

━ Você acabou de dizer vidente do amor?

━ Sim?

━ Onde diabos você ouviu sobre isso?

━ Um potioneiro travesso está fingindo ser um. O que são?

━ Eles afirmam ser capazes de ajudar pessoas solitárias a encontrar o amor


através da habitual besteira: leitura da mente, cartas de Tarô, folhas de chá.
Eles são fraudes enganando os vulneráveis por dinheiro.

━ Bom, esse está conseguindo resultados. Magicamente assistido, inclusive.

━ Não. Poções do amor?

━ Sim.

━ Para trouxas?

━ Sim.

━ Isso é horrível ━ Granger disse. ━ Você vai querer ficar de olho nisso.
Poções têm um efeito vastamente diferente na população não mágica.

━ Eu sei. As vítimas serão examinadas por médicos pelos próximos quinze


dias.

━ Que bom. Poções do que?

━ Não tenho ideia ━ Draco disse, sacudindo a mochila a qual ele


apressadamente pegou do esconderijo confiscado. ━ Não fiz um inventário
ainda.

━ Ooh, você as tem aqui?

Draco abriu a bolsa. Granger espiou.

━ Contrabando! Que emoção.

Ele pegou alguns dos frascos escuros e sem rótulos.

━ Acho que as maiores são Poções do Cupido. A menor... Amortentia? ━ Ele


abriu a rolha de um dos frascos e entregou para Granger. ━ Parece perolada
para você?

━ Difícil dizer ━ ela respondeu, espiando dentro do frasco escuro. Ela a


cheirou. ━ Não tem cheiro de Amortentia. Cheira perfume caro.
━ O que? Me-dê ━ Draco pediu e cheirou também. Sequer cheirava perfume
para ele; tinha um cheiro doce, com notas de café e caramelo, e depois, algo
defumado.

━ E? ━ Ela perguntou, a mão na cintura. ━ Tem certeza que não invadiu


uma perfumaria?

━ Cheira café para mim ━ ele respondeu. ━ É Amortentia.

Granger cheirou o frasco novamente.

━ Mas Amortentia cheira grama recém-cortada para mim... isso é perfume


masculino. Vamos ver o brilho.

Ela transfigurou um dos papéis sobre a mesa em um prato plano, sobre o


qual derrubou um pouco da poção. O líquido emergiu do frasco escuro com
um brilho perolado. Um vapor espiral saiu dela quando fez contato com o
ar, confirmando que a evidência era Amortentia realmente.

Granger encarou por um bom momento, os braços cruzados.

━ Bem ━ ela disse finalmente. ━ É Amortentia.

━ Quando foi a última vez que cheirou uma Amortentia? ━ Draco


perguntou.

━ Er... Aquela vez na aula do Slughorn.

A própria memória de Draco dessa experiência era vaga: ele se lembrava de


cheirar algo cítrico, talvez. Essa nova versão era melhor. Outro sopro
flutuou em direção a ele: desta vez, cheirava como o céu vasto, sal do mar e
um fantasma de algo de limpeza.

━ Amortentia deve ter o cheiro de algo que você acha atraente ou


interessante ━ Granger murmurou. ━ Então por que...

━ Por que, o que?


━ O que aconteceu com meu pergaminho novo e grama recém-cortada? ━
Ela perguntou. Parecia acusatória, como se Draco fosse responsável pela
mudança.

━ Seu gosto por homens evoluiu. ━ Ele deu de ombros. ━ Você pode fazer
melhor do que ser assistente de jardineiro, com certeza...

Granger parecia irritada.

━ Não seja ridículo. A sua mudou?

Draco a observou por um momento, julgando se valia a pena ou não dar


essa informação privada.

━ Talvez.

━ O que era antes?

━ Eu não me lembro. Docinhos de limão ou algo do tipo.

━ E agora é café?

━ Sim ━ Draco disse. ━ E caramelo.

━ Você já parou de pensar em comida?

━ Não.

━ O romance está morto.

━ Pregando para a conversão, Granger. ━ Draco limpou a amostra de


Amortentia que Granger despejou, então devolveu os frascos na mochila. ━
Estou indo procurar um café e, acidentalmente, minha alma-gêmea.

━ O café no andar de baixo tem uma panacota de café e caramelo. Talvez


sua alma-gêmea seja um doce.

━ Me mostre.
Eles deixaram a sala juntos e desceram alguns andares até o térreo. Granger
acenou com a varinha para o peito de Draco para esconder a insígnia de
Auror; suas vestes pretas não provocariam olhares mais demorados na
Cambridge trouxa.

Ela o levou até o pequeno café. Havia uma única panacota sobrando.

━ É um sinal ━ Granger disse.

Ela comprou para ele (ele não tinha dinheiro trouxa) e um cappuccino para
si mesma.

━ Obrigada por me deixar compartilhar esse dia especial com vocês dois ━
ela disse, colocando a sobremesa nas mãos de Draco com muita reverência.
━ Um brinde a uma vida feliz e com amor.

Então ela o entregou uma pequena colher de plástico.

━ Meu presente de noivado para o casal feliz.

Granger era um pouco sarcástica às vezes.

Eles saíram do prédio para o sol quente de Maio. Draco, comendo sua alma-
gêmea com a colher, viu sua vingança em forma de um jovem rapaz robusto
cortando a grama.

━ Olhe, Granger, seu jardineiro está aparando a quadra. Quer que eu fale
com ele por você?

━ São jardins, não quadras. E não...

━ Oi ━ Draco disse para o rapaz robusto. ━ Você tem um celular?

━ Er... sim? ━ O jardineiro disse.

Draco agarrou Granger pelos ombros e parou atrás dela.

━ Ela é um pouco tímida, mas essa Professora aqui quer seus números?
━ Meu o que?

━ Você entendeu ━ Draco disse, fazendo mímica sobre Granger usando seu
dispositivo trouxa.

━ Oh! ━ O jardineiro falou. ━ Meu número.

Granger tirou as mãos dele.

━ Ignore-o ━ disse para o homem. ━ Ele é um imbecil.

O jardineiro parecia confuso, e ainda - para a diversão completa de Draco -


esperançoso. Ele olhou Granger de cima a baixo.

━ Você quer meu número então?

━ Não. Me desculpe por perturbá-lo. Por favor, continue.

O rosto do jardineiro caiu.

━ Tudo bem. Você sabe onde me encontrar se mudar de ideia, Professora...

━ Granger ━ Draco falou, sendo útil.

━ Não será necessário. Como eu disse, esse homem é imbecil.

Granger, com um aperto no cotovelo de Draco que era mais uma beliscada,
os afastou do jardineiro, que parecia desapontado.

Draco, sentindo como se tivesse doze anos, estava rindo para si mesmo.

━ O pobre homem parecia terrivelmente triste, sabia.

Granger estava, aparentemente, muito irritada para responder.

━ Eviscerado, Granger.

━ Oh, silêncio.
━ Onde estamos indo?

━ Para um lugar onde eu possa aparatar e ficar longe de você.

Havia uma alcova escura atrás de alguns arbustos que parecia servir.
Granger puxou a varinha e, com um último olhar irritado para Draco,
aparatou para casa.

Draco, ainda gargalhando, enfiou a colher na coisa caramelada.

Foi quando ele descobriu que ela transfigurou aquilo em muco de minhoca.

━ A bruxa maldita ━ Draco falou.

──── ◉ ────
12. A Festa do Chá

O Bloco-Falante de Draco entrou em um silêncio taciturno nos dias


seguintes. Ele assumiu que Granger estava fazendo birra e que não iria
ouvir sobre ela novamente até que a cutucasse sobre o próximo feriado com
asterisco.

Ele estava, portanto, surpreso ao receber uma mensagem dela antes que a
semana terminasse.

Recebi um convite de sua mãe para o chá. Neste domingo.

Você será legal e irá comparecer? Draco perguntou.

Não tenho certeza se você merece, Granger respondeu.

Não puna minha mãe por minha causa, Draco disse. Além disso, eu comi
muco de minhoca... não sofri o suficiente?

Você realmente comeu? Granger perguntou.

Sim, Draco respondeu.

Mentiroso, ela mandou.

Ele não respondeu, porque ela estava certa.

Seu Bloco-Falante vibrou novamente.

Só irei se você estiver lá. Não vou sofrer sozinha.

Não posso. Eu já tenho um conflito de horário, Draco disse.


Que pena, Granger escreveu. Desmarque.

Mas isso é complicado, Draco disse. Ele esperava que ela pudesse escutar o
choramingo através do texto.

Assim como um evento na Mansão Malfoy.

Draco se endireitou em seu assento. Então ela estava jogando aquela carta.
Ele supôs que não tinha escolha, então.

Entendido. Eu estarei lá.

Ela não respondeu.

──── ◉ ────

O domingo chegou e com ele, a habitual enxurrada de preparativos que


antecederam as festividades de Narcisa. Draco permaneceu em seus
aposentos até que o turbilhão de Henriette e seus companheiros elfos
diminuísse e os primeiros convidados chegassem.

Narcisa gerenciava sua lista de convidados com uma estratégia e


refinamento desenvolvidos ao longo de décadas servindo como a anfitriã
perfeita. Os convidados de hoje eram uma mistura de funcionários e
acadêmicos de nível superior do Ministério. Para Granger, o grupo
permitiria uma convivência confortável com uma multidão familiar. Para
Draco, foi uma benção, já que as categorias de debutantes pegajosas e
funcionários de alto nível do Ministério eram normalmente mutuamente
exclusivas.

Ele pegou Henriette e pediu a ela, baixinho, para avisá-lo quando Granger
chegasse.

Então ele entrou no salão, o qual Narcisa havia aberto para o terraço oeste
naquela linda tarde de Maio. Mesas de prata delicadamente forjadas,
empilhadas com sanduíches e bolos, espalhavam-se pelo terraço. Os
convidados estavam protegidos do sol por guarda-sóis de renda flutuantes
sobre eles.
Draco reconheceu alguns antigos colegas de escola e foi conversar com
Terry Boot (Departamento de Acidentes e Catástrofes Mágicas), Davies
(Transporte Mágico) e Padma Patil (Universidade de Edimburgo). A
conversa passou de provocações mútuas sobre envelhecer, para a recente
apresentação dos Falmouth Falcons para crianças, momento em que Draco
perdeu o interesse e começou a considerar manobras evasivas.

O resgate veio na forma de Henriette, que puxou a manga de Draco para


informar que a Curandeira Granger tinha acabado de chegar.

Draco encontrou Granger se limpando na sala de Flu. Ele meio que


esperava que ela chegasse vestida de trouxa para fazer uma questão. No
entanto, ela se esforçou para usar roupas para a ocasião. Eles eram de um
azul-acinzentado claro no estilo francês, acentuando a clavícula e o pescoço
esguio, e tinham um corte alto na cintura.

Granger parecia pálida, mas parecia sobrenaturalmente calma quando viu


Draco e perguntou:

━ De novo, por que estou aqui?

Draco enumerou possibilidades em seus dedos:

━ Um súbito interesse em construir pontes. Para agradecer aos Malfoys por


tornarem possível a ala Delacroix. Porque você foi pessoalmente convidada
por Narcisa Malfoy e ninguém diz não a ela. Porque eu te coagi. Faça sua
escolha.

━ Não se iluda... você não poderia me coagir a nada.

━ Não me desafie, ou posso decidir provar que você está errada.

Ele e Granger trocaram olhares mutuamente obstinados. No entanto, Draco


estava mais interessado na distinta falta de mãos trêmulas ou outros
tremores que normalmente marcavam os estados ansiosos de Granger - que
o evento de hoje deveria ter desencadeado, dada a localização.

━ Você tomou uma Poção Calmante ━ disse.


━ O que quer que me faça passar por isso ━ Granger respondeu. ━ Não
preciso lembrá-lo de como foi minha última estada sob este teto.

━ Dificilmente é o mesmo ━ ele disse, olhando para o grande arco branco


acima deles.

━ O que você quer dizer? Oh... você disse que tinha reconstruído.

Granger também olhou para o grande teto. Ela ficou quieta por um
momento e então falou:

━ Um experimento mental: ainda é a mesma Mansão se seus componentes


originais foram todos substituídos?

━ O Navio de Teseu ━ Draco respondeu. ━ Bem... Mansão de Teseu,


suponho.

Granger voltou sua atenção do teto para ele. Sua expressão passou de
surpresa para impressionada, depois voltou para neutra.

━ Precisamente.

━ Diga-me quando tiver resolvido. ━ Draco indicou a porta com seu braço.
━ Devemos?

━ Não ━ Granger respondeu, um braço em volta de sua cintura. ━ Prefiro


ficar aqui e discutir a metafísica da identidade.

━ Metade dos convidados aqui hoje são cérebros. Você pode discutir
metafísica para o conteúdo do seu pequeno coração. A gêmea Patil que
ensina em Edimburgo está aqui.

━ Ooh, Padma está aqui?

Esta notícia estimulou Granger a seguir Draco até a porta que levava ao hall
de entrada. Ela parou na soleira e respirou fundo, fortalecendo. Então
entrou na Mansão propriamente dita. Draco, olhando para trás, notou que
ela mantinha a cabeça baixa e não olhava em volta. O que era uma pena,
porque mudanças substanciais haviam sido feitas desde sua última e infeliz
visita.

━ Queríamos nos livrar de todos os lembretes dos... momentos mais


sombrios de nossas vidas. Da estadia de Voldemort aqui. ━ O comentário
dele chamou a atenção de Granger para algo além de seus próprios pés. ━
Mudou um pouco.

Com esforço, Granger forçou seu olhar para cima.

━ Oh... é muito... muito mais iluminado do que eu me lembro.

Encorajado por este sucesso, Draco decidiu tagarelar sobre as mudanças - o


que quer que tenha mantido o queixo de Granger erguido. Não seria bom
para ela entrar no salão parecendo aterrorizada.

━ Nós colocamos algumas novas janelas. Bem, aquela clarabóia era um


enorme buraco sangrento de alguma explosão. Mas gostaríamos que o sol
entrasse no saguão, então o colocamos com vidro em vez de telhado.

Eles pararam em outra grande janela de formato estranho que dava para o
leste.

━ Aqui houve um Bombarda lançado em grupo por um bando de Aurores.


Não parecia valer a pena voltar a construir, não quando deixava o nascer do
sol entrar tão bem.

Granger inclinou a cabeça, estudando a característica arquitetônica


decididamente não tradicional.

━ Sabe... eu gosto bastante.

━ Os danos às serpentes e outros grotescos levaram a uma descoberta


bastante interessante ━ Draco falou, gesticulando para as molduras dos
arcos acima deles. ━ Descobrimos que foram construídos sobre a
iconografia dos anjos. Achei que fazia o lugar parecer uma catedral, mas
minha mãe gostava deles. Ela manteve os mais intactos.
Granger examinou a meia dúzia de anjos variadamente empoleirados e
voando, perto do topo do teto.

━ Oh. Eu teria pensado que eles sempre foram serpentes.

━ Nós também. Parece que algum ancestral Malfoy no século XVIII ficou
um pouco empolgado com os laços da família com Salazar Sonserina e
decidiu adotar as imagens serpentinas de todo o coração.

Enquanto desciam o corredor para o salão, as pranchas de madeira lustrosas


abaixo de seus pés de repente deram lugar ao vidro.

━ Agora, isso é interessante ━ ele disse. ━ As masmorras foram totalmente


destruídas na última batalha e abaixo delas...

━ Oh... ruínas!

━ Tivemos arqueólogos. Eles acham que era um assentamento monástico.


Século VI.

━ Céltico?

━ Sim. Eles escreveram um relatório... er... está em algum lugar...

Granger parecia prestes a cair de joelhos e pressionar o rosto no chão de


vidro, sob o qual as ruínas magicamente iluminadas brilhavam.

━ Você deve me enviar uma cópia. Que fascinante.

Draco prometeu que iria. Ele ia se parabenizar por sua habilidade em


controlar o humor de Granger, quando a próxima dificuldade se apresentou
na forma de Henriette.

━ Sanduíche de ovo e agrião? ━ Uma voz disparou em algum lugar na linha


de sua cintura. ━ Bolinhos com creme de leite?

Granger observou o elfo doméstico. Henriette estava impecavelmente


vestida com uma fronha bordada, sorridente e atenciosa. Quando Granger
não respondeu imediatamente, Henriette ofereceu outra bandeja.

━ Ou talvez bolos de caramelo para a senhorita?

A luta interna de Granger era evidente, mas ela a dominava.

━ Sim, eu quero um bolo de caramelo. Muito obrigada.

━ Disponha, senhorita ━ Henriette respondeu com uma reverência antes de


desaparecer.

Granger pegou Draco observando-a enquanto o elfo doméstico desaparecia.

━ O que? ━ Ela perguntou.

━ Aguardo seu manifesto ━ ele disse.

Granger fungou.

━ Eu cheguei em um acordo com o fato de que existem algumas partes da


sociedade bruxa que eu nunca vou entender.

- Mas você os aceita?

━ Não ━ ela respondeu. ━ Eu os tolero.

━ Hum.

━ Não se preocupe, não vou começar uma revolução de elfos domésticos


dentro de seus salões.

━ Que pena ━ Draco disse. ━ Henriette é francesa, você sabe. Radical por
natureza.

Finalmente, chegaram ao salão. Ouviu uma pequena inspiração ao seu lado.


Granger ofegou. Ele próprio estava insensível às decorações de sua mãe,
mas supunha que a cena era bastante bonita - a luz do sol, o terraço, os
guarda-sóis...
━ As flores ━ Granger disse.

━ Estou muito feliz que elas tenham sua aprovação. ━ Veio a voz de
Narcisa. ━ Bem-vinda, Curandeira Granger. Estou tão feliz que você pôde
vir.

Draco notou o uso do título de Granger por sua mãe e se perguntou o


quanto ela iria repreendê-lo se o ouvisse se referir a Granger como, bem,
Granger.

Narcisa, anfitriã soberba que era, conduziu Granger à sala através de um


tour pelos mais extravagantes arranjos de flores. Havia uma rigidez entre as
duas, moderada pela melhor tentativa de cada bruxa de civilidade neutra.

Narcisa varreu Granger em direção a uma multidão mais velha do


Ministério. Draco observou enquanto Granger era apresentada com muita
atenção às suas muitas realizações. Nesses círculos, ela dificilmente
precisava de apresentação, mas sua presença na Mansão Malfoy era - como
Narcisa esperava - notada em sussurros.

Confiante agora que Granger não estava prestes a desmaiar de terror ou


fugir do local, Draco continuou com sua mistura. A reconstrução do nome
Malfoy e do prestígio levou uma década e meia de trabalho para ele e sua
mãe. Eles estavam vendo os frutos disso agora: a sala estava cheia de
pessoas com poder, os quais estavam felizes por serem vistos em um evento
Malfoy, e desfrutando completamente da hospitalidade de Narcisa. Draco
notou quem precisava de dinheiro e quem precisava de influência.

O chá foi servido. Granger havia se juntado à multidão de Hogwarts e


estava conversando com Patil e Boot. Draco ficou satisfeito ao notar que ela
mexeu o chá corretamente, para frente e para trás, sem bater a colher contra
a porcelana. Ele tinha certeza de que sua mãe também teria notado.

Sim - Narcisa tinha acabado de olhar para Granger e seus olhos voaram
para a agitação. Seu olhar então deslizou para aqueles com quem Granger
estava falando, observando a natureza de suas interações.
Alguns dias antes, Narcisa havia confessado a Draco sua surpresa por "a
garota Granger" ter aceitado o convite para o chá. Ela andou de um lado
para o outro no estúdio de Draco e enumerou detalhadamente os benefícios:
uma nascida trouxa, uma amiga íntima de Potter, uma curandeira com uma
excelente reputação - e, claro, uma bruxa que esteve do Outro Lado da
guerra, que agora condescendeu em juntar-se a eles na Mansão. Ela deveria
ter pensado nisso antes, realmente - mas a Srta. Granger sempre foi tão fria
e insociável. Que golpe de sorte Draco ter dançado com ela.

Narcissa considerou a presença de Granger como um golpe. Agora ela a


observava se desenrolar com evidente prazer. Granger estava sendo cordial,
ao invés de distante como poderia ter sido, e estava se comportando de uma
maneira perfeitamente feminina e mágica. Ela ria das piadas fracas de
figuras importantes do Ministério e falava com autoridade sobre muitos
assuntos. Foi efusiva em seus elogios à comida, aos quartos, aos anfitriões.
Ao todo, o hóspede ideal.

Quando todos estavam devidamente recheados com salmão defumado,


bolos e geleia, houve um êxodo descendo os degraus do terraço e entrando
nos jardins. Os convidados, cerca de quarenta na contagem de Draco,
vagaram pelas sebes e canteiros de flores da primavera quando o sol
começou a se pôr.

Aqueles com um interesse especial em botânica seguiram Narcisa para as


estufas, onde ela conduziu um tour por seus espécimes mais raros e
delicados. Granger, é claro, se juntou a esse grupo. Draco foi atrás,
pensando vagamente que esta reunião contava como um evento público e
que ele deveria estar presente, caso um convidado perdesse a cabeça e
atacasse Granger na presença de um dos mais notórios Aurores do
Ministério.

Granger teve um interesse especial na origem do jacinto beija-flor de


Narcisa, que sua mãe informou a ela que tinha sido importado de um bruxo
na Provença, muitos anos atrás.

Narcisa passou para a próxima fileira, junto ao resto do grupo. Granger se


levantou e estudou o jacinto, cujos cachos de flores abriam e fechavam suas
pétalas em estremecimentos, como seus beija-flores homônimos.
(Foto: thegardensatmillfleurs.com)

━ Você está admirando ou está tramando alguma coisa? ━ Draco perguntou,


saindo de trás de uma samambaia gigante.

Granger saltou. Então ela pareceu irritada.

━ Não interessa.

━ O último, então.

━ Só estou pensando ━ respondeu.

Draco veio ficar ao lado dela.

━ Se você precisar da flor para alguma coisa, tenho certeza que minha mãe
não se importaria. Ela provavelmente ficaria muito feliz em contribuir para
qualquer que seja o seu esforço.

━ Não. ━ A voz de Granger era vaga e seus olhos estavam desfocados. ━


Não, ela já ajudou.

━ Como?

━ Nada. Não importa ━ Granger disse, voltando ao presente. O que era


mentira, mas Draco decidiu não pressionar.
Ela olhou para ver onde o grupo tinha chegado. No entanto, algo a fez parar.
Draco seguiu a linha de visão dela até o telhado da Mansão, através do
vidro da estufa.

A realização ocorreu-lhe.

━ Malfoy, aqui... é aqui que a sala de estar costumava ser?

━ Sim.

Uma espécie de calafrio percorreu Granger. Então veio o desafio: um


endireitamento das costas, um ajuste da mandíbula. Em seguida, um
estranho reflexo segurando uma de suas mangas.

Agora seu rosto parecia tenso e sua respiração estava ficando superficial. A
Poção Calmante acabou em um momento tão infeliz?

━ Vamos sair daqui ━ Draco falou. Ele não lhe deu a opção de discutir,
enfiando o braço no dela e conduzindo-a para fora da estufa. Para qualquer
espectador, estava sendo um cavalheiro escoltando uma dama por poças de
lama, mas seu aperto era de ferro.

Ele disse a si mesmo que essa solicitude era porque iria devastar sua mãe se
Granger desmaiasse e fizesse uma cena durante um de seus chás. Não era
porque ele se importava particularmente com a bruxa que segurava seu
braço, que de alguma forma vacilava entre poderosa e totalmente frágil em
um piscar de olhos.

━ Malfoy, eu estou bem ━ ela disse com os dentes cerrados, tentando puxar
o braço para longe.

━ Mentirosa ━ Draco disse, sem abrir mão de seu aperto.

━ Tudo bem. Eu vou ficar bem em um momento. Não esperava ser tão...

━ Se disser fraca, eu ficarei bravo ━ respondeu.

━ Superar, então. ━ Granger enxugou a testa. ━ Ugh, suores frios.


━ Devo buscar alguma coisa? Poção da Paz? ━ Draco perguntou. No
entanto, assim que Granger abriu a boca, ele se lembrou: ━ Não,
contraindicado dentro de 24 horas após uma Poção Calmante. Eu quase
esqueci. Sente.

Granger sentou-se no banco de pedra para onde Draco a conduziu.

E lá, finalmente, estavam as mãos trêmulas. Ela tentou escondê-las entre as


dobras de suas vestes.

━ Estou bem, sério ━ ela falou.

━ Sua bravura é irritante ao mais alto grau ━ Draco disse.

Ele chamou um elfo doméstico para buscar chocolate, que foi


imediatamente apresentado em uma bandeja de prata, na forma de uma
enorme placa e dois bolinhos de chocolate.

Granger quebrou um pedaço e deixou derreter em sua boca.

━ Melhor? ━ Ele perguntou.

━ Mm, endorfinas ━ ela falou. A tentativa de leviandade foi desmentida por


seu rosto pálido.

━ Se minha mãe perguntar o que aconteceu, diremos que fizemos um desvio


porque você queria ver a fonte.

━ Que fonte? ━ Perguntou.

━ Aquela fonte ━ ele respondeu.

Granger avaliou os arredores pela primeira vez e se viu olhando para a


fonte.
A Fonte das Quatro Partes do Mundo, Paris: a inspiração para a fonte.
(Foto: eutouring.com)

━ Cavalos-marinhes! Granger ofegou. ━ Er... cavalos-marinhos!

Draco acenou sua varinha para a fonte, ativando o borbulhar de sprays que
realmente a fez ganhar vida.

━ Agora que os vi pessoalmente, isso parece apenas uma imitação pobre.

━ Não seja bobo. É lindo. De quem é?

━ Fremiet ━ Draco respondeu.

━ É claro.

Ele considerou a estátua criticamente.


━ A escala está certa, as proporções são perfeitas, o movimento é lindo ... ━
mas é difícil capturar a magnitude.

━ O que realmente precisamos é de um vento gelado do Mar do Norte para


congelar nossos corpos para completar a experiência ━ Granger respondeu.

━ Vou pedir ao jardineiro que adicione granizos.

━ Vocês têm uma vassoura velha e desajeitada para voar?

━ Provavelmente ━ Draco disse. ━ Devo buscá-la?

━ Não.

━ Mas imagine o que minha mãe diria.

━ Exatamente.

Draco recostou-se nas palmas das mãos com um sorriso malicioso.

━ Agora eu gosto de vinho quente.

Eles observaram o movimento da água sobre os cavalos-marinhos em


formação em silêncio, quebrado apenas pelo borbulhar dos jatos. Granger
comeu outro pedaço de chocolate. Draco tinha um dos bolos.

Deixando de lado o bate-papo leve sobre a fonte, ele estava lutando com
alguns sentimentos desconfortáveis. Tinha convencido Granger a vir para
agradar sua mãe, mas não tinha sido apenas um passeio à tarde na casa de
um ex-inimigo para ela. Ver a reação dela ao ficar onde aquela maldita sala
de estar estava ajudou Draco a entender que isso tinha sido algo maior e
muito mais difícil.

Para ele, a casa não era nem a mesma casa e a sala de estar nem existia
mais, mas para Granger, isso tinha sido uma visita à uma cena de
sofrimento. Seus gritos ecoaram por todo esse terreno por muitas horas sob
a varinha de Belatrix. Durante suas noites mais agitadas, ele se lembrava
deles.
Não foi bravura - foi uma verdadeira coragem vir aqui.

━ Eu não deveria ter feito você vir ━ Draco disse sem olhar para Granger,
porque admitir falhas não era fácil para ele. ━ Quer ir para casa? Vou levá-la
de volta ao salão de Flu. Podemos dizer que foi chamada para um de seus
pacientes.

Granger olhou para ele com uma espécie de surpresa muda. Então olhou
para suas mãos, que pararam de tremer.

━ Acho que estou bem agora.

A cor voltou ao seu rosto e sua respiração voltou ao normal. No entanto, ela
não voltou ao nível de calma incomum que marcou sua chegada aqui; a
poção realmente havia passado.

Granger estava olhando para a estufa que ficava no lugar onde havia sido
torturada.

━ Acho bom voltar. Possivelmente. É o encerramento, não é? Isso marca o


fim de um capítulo terrível.

A água dançou. À medida que o sol se punha, a iluminação mágica do


jardim começou a tomar conta. A fonte estava banhada de luz; os cavalos-
marinhos pareciam respirar. A estufa brilhava dourada.

━ Coisas boas crescem lá, agora ━ continuou. ━ Até sua casa é... é diferente.
E não me refiro apenas ao edifício. É tocada pela Luz.

Draco não disse nada. Eles se desviaram para um novo território estranho,
além de brigas e brincadeiras, e ele não tinha uma base sólida.

━ Às vezes eu acho que quinze anos é muito tempo. Metade de nossas


vidas, realmente. Uma era. E então eu tenho momentos como... como o que
eu acabei de ter, onde parece que foi ontem. E tudo é cru e dói.

━ Eu sei ━ Draco disse. Ele sabia exatamente.


Houve um longo silêncio. A água dançava e cantava.

Por fim, Granger falou novamente:

━ Pelo menos você mudou o suficiente para que eu não veja mais o idiota
valentão dos meus dias de escola.

━ Mudei?

━ Sim. ━ Granger deu um pequeno sorriso. ━ Você é apenas um idiota,


agora.

Enquanto ela sorria, Draco sentiu a tensão diminuir. Eles voltaram para um
terreno familiar.

━ Uau ━ disse.

━ Você melhorou no queixo também ━ Granger completou.

━ Obrigado.

━ E seus pés... mais ou menos.

━ Continue. Essa catalogação é emocionante.

━ Qual o próximo?

━ Você ainda não insultou minhas mãos ━ Draco disse.

━ Mostre-me. ━ Ela pegou a mão dele em sua pequena e passou com um


olhar crítico. ━ Exagerada. Talvez você tenha outro surto de crescimento.

━ Pode ser.

━ Melhor não, entretanto ━ Granger falou, soltando sua mão. ━ Você já é


alto. Não quer ser desajeitado.

Draco se permitiu um sorriso malicioso, porque ele podia ouvir a mentira na


voz dela.
━ Mais alguma coisa que você gostaria de criticar sobre minhas
proporções?

━ Acho que fiz um inventário dos piores infratores.

━ Tch. Eu sou a proporção áurea personificada.

Granger deu-lhe um olhar severo.

━ Fibonacci deve ter sido absolutamente marinado em Chianti.

Uma risada inesperada explodiu de Draco. Então ele se recompôs.

━ Já lhe ocorreu que sua métrica de linha de base está arcaica?

━ O que você quer dizer?

━ Você é geralmente minúscula ━ Draco respondeu, gesticulando para ela. ━


Essa base de comparação faz com que o resto de nós pareça enorme.

Granger parecia provocada.

━ Eu não sou minúscula. ━ Sentou-se muito reta no banco. ━ Eu sou


mediana, obrigada. Ou um fio de cabelo abaixo.

━ Vários fios, eu acho. Você pode ter alguma herança Pixie. Isso explicaria
a estridência.

━ Eu não sou estridente ━ ela disse, ficando cada vez mais estridente.

Draco ergueu o indicador e o polegar e olhou para Granger pela abertura.

━ Vinte centímetros de altura, tenho quase certeza. Pequenininha.

━ Quase certeza?

━ Microscópica, realmente. Você é a nanopartícula. Deveria falar com


aquele cara dinamarquês e perguntar sobre suas aplicações clínicas.
Granger abriu a boca. Ofensa e diversão guerrearam brevemente em suas
feições, então ela caiu na gargalhada.

Enquanto o som brilhante ecoava pelo pátio, Draco decidiu que fazer
Granger rir também poderia ser um hobby digno de ser perseguido.

A alegria de Granger diminuiu. Ela respirou fundo e enxugou


delicadamente uma lágrima debaixo do olho.

━ Maravilhoso. Suores frios e agora lágrimas. Existem outras emoções que


você gostaria de arrancar de mim em sua guerra contra minha maquiagem?

━ Por qual emoção você não passou hoje?

━ Vamos ver. Eu estive estressada, irritada, assustada, perdoando (suas


falhas), alegre, er...

━ Amor, então ━ Draco sugeriu.

━ Eu senti isso.

━ Sentiu?

━ Sim. Há algo entre mim e este chocolate. Eu gostaria de ficar sozinha


com isso, se não se importa.

━ Desculpe, você entrou em um ménage à trois por padrão quando aceitou


chocolate em minha casa ━ ele respondeu, quebrando um pedaço para si
mesmo.

━ Este chocolate não é monogâmico?

━ Não.

━ Tudo bem. ━ Granger suspirou. ━ Suponho que há o suficiente para


compartilhar.
Ela puxou sua varinha e derreteu um pouco do chocolate. Em seguida, ela
partiu um pedaço do bolo de chocolate restante e mergulhou no chocolate
derretido.

━ Pura decadência, Granger, mas eu gosto do seu estilo.

Eles terminaram o doce.

━ Estou realmente me sentindo melhor ━ Granger falou depois. ━ Não é


melhor nos juntarmos aos outros?

━ Eu suponho ━ Draco respondeu.

Entretanto, ele não queria. Preferia sentar aqui e assistir o pôr do sol tingir o
céu de rosa suave e ouvir a fonte, e aproveitar o zumbido de bem-estar que
apenas o chocolate mágico poderia dar. Talvez puxar uma discussão ou duas
para Granger, apenas por esporte.

Que assunto mais a provocaria? Adivinhação? Oxford superando


Cambridge? O gato dela? Questionando-a sobre seu projeto? Sugerindo um
passeio de vassoura em grupo pela propriedade? Insultar Potter? Elfos
domésticos?

Granger tinha muitos botões.

No entanto, antes que Draco tivesse o luxo de lançar seu próximo míssil,
um grupo de foliões se juntou a eles no pátio e arruinou a atmosfera com
exclamações sobre a beleza da fonte.

Draco notou que Granger se afastou dele no banco. Isso o divertiu - o que
ela achava, que as pessoas iriam vê-los juntos em um banco e chegar a
algum tipo de conclusão? Ele era Draco Malfoy e ela era Hermione
Granger. Isso era totalmente risível.

(O distanciamento dela, no entanto, o fez sentir-se mal-humorado. Ele


também se afastou dela).
Isso abriu espaço suficiente para um idiota recém-chegado se convidar a
sentar entre eles.

━ Zabini ━ cumprimentou. ━ Eu não sabia que você tinha sido convidado.

━ Draco ━ Zabini disse. ━ Grang... é... Curandeira Granger? Professora


Granger?

━ Hermione está bem ━ Granger falou, agora totalmente protegida da visão


de Draco por Zabini.

━ Eu discordo ━ ele falou. ━ Não se relacione com Zabini pelo primeiro


nome.

━ Tarde demais ━ Zabini respondeu. Eu tenho a permissão da senhora.

━ Use-a com sabedoria ━ ela falou.

━ Hermione ━ Zabini continuou, pronunciando a palavra lentamente, e


irritando Draco pra caralho. ━ Shakespeare, não é?

━ É ━ respondeu. Ela parecia surpresa.

Draco estava ainda mais irritado por isso. E como diabos Zabini sabia
disso? O filho da puta.

Zabini então deu as costas para Draco e começou a bater um papo afável
com Granger. Ele perguntou sobre seu(s) emprego(s), sobre sua pesquisa e
sobre por que ela estava perdendo seu tempo com um grande idiota como
Draco. Ela deveria vir e sentar-se com ele sob as cerejeiras. Narcisa pegaria
o champanhe.

━ Estou bem aqui ━ Draco disse.

━ Ah ━ Zabini falou. ━ Eu esqueci.

━ Malfoy não é um grande idiota ━ Granger falou.


Zabini sorriu.

━ De que tamanho ele é idiota, então?

━ Pequeno e apenas quando está irritado.

━ Você não o conhece, claramente ━ Zabini falou.

━ Eu desenvolvi uma familiaridade ━ Granger respondeu.

Zabini olhou para Draco, maravilhado.

━ Uma familiaridade, você diz?

━ Trabalho ━ ela falou.

━ Oh? E em que capacidade você e Draco estão trabalhando juntos?

━ Um assunto chato do Ministério, com o qual não vou aborrecê-lo. ━


Granger se levantou, ajeitou suas vestes e partiu para o grupo de convidados
perto da fonte. ━ Com licença... preciso dar uma palavra com Padma.

Draco, que estava olhando para a bunda de Granger quando ela saiu, ficou
irritado ao descobrir que Zabini estava fazendo o mesmo.

━ Hum ━ Zabini murmurou.

━ O que fez você agir como um enorme cuzão? ━ Draco perguntou.

━ Nada ━ Zabini respondeu. ━ Vi uma coisa bonita e queria sentar ao lado


dela. Assim como você fez, não é?

━ Eu não estava sentado ao lado dela porque ela é uma coisa bonita ━ Draco
disse. Ele não queria explicar os comos e porquês disso, no entanto. ━
Apenas... aconteceu.

━ Então eu não estava interrompendo nada?


━ Claro que não. Ela é Granger. Quanta bebida você bebeu?

━ Nenhuma. Mas... isso é bom. Por um momento pensei que você estava
ficando um pouco possessivo, meu velho.

Draco zombou.

━ Possessivo? É Granger.

━ Nós estabelecemos isso, sim ━ Zabini falou. ━ E ela passou de uma


criança precoce para um tipo de bruxa bastante impetuosa. Autoritária.
Competente. Isso faz coisas para mim. Mas se você prefere viver no
passado, continue. Felizmente encontrarei minha diversão no presente.

Zabini levantou-se para se juntar a Granger e Patil, deixando Draco


pensando nisso.

Uma coisa era certa: se Zabini achava que Granger seria uma mera
diversão, ele teria um choque no sistema. As bruxas puro-sangue que
participavam de seus flertes habituais eram diametralmente opostas de
Granger em cem níveis. Uma diversão? Zabini não tinha ideia de onde
estava se metendo.

Draco pegou uma taça de champanhe de uma bandeja que passava.

E a sugestão de que ele estava agindo possessivo? Ridículo. Na pior das


hipóteses, Draco disse a si mesmo enquanto observava Granger sobre seu
copo, ele estava atento a ela. E isso foi só porque ele estava, você sabe, em
missão para protegê-la. O que Zabini também não sabia.

Draco concluiu que Zabini não sabia de nada e que ele era um idiota.

──── ◉ ────

Aham, Draco. Aham. A gente super acredita em você.

O que estão achando? Gostaram da dupla de capítulos?


Obrigada pela paciência e pelo entendimento (sempre) com minhas
mudanças bruscas de horário e afins. Vocês não sabem a falta que eu sinto
de escrever como estava nas férias, mas infelizmente, o trabalho é quem
paga as contas e eu preciso focar nele.

Semana que vem, a atualização é única. Temos belíssimas 9000 palavras


pela frente e eu não consigo prometer dois capítulos (dependendo da
rotina, quem dirá esse próximo....)

Para quem acompanha Att. Caelum, amanhã pós expediente irei postar o
capítulo porque estarei indo embora, como avisei no Insta também. Um
super beijo e tenham um ótimo final de semana <3
13. Solstício

Olá, meus amores!

Bem, gostaria de me desculpar por não ter atualizado na semana passada.


O capítulo realmente me deu trabalho.

Aproveitem a leitura! Hoje, apenas um capítulo, como explicado antes. Por


favor, me corrijam se algo estiver errado porque não revisei esse capítulo
além do que faço durante a tradução dele.

──── ◉ ────

Draco não viu Granger novamente até meados de Junho. Ela entrou em seu
laboratório na Trinity no momento em que ele estava reformulando suas
proteções.

Ela parecia tão suada quanto ele, e um pouco mais atormentada.

━ Você está mancando. ━ Observou enquanto andava ao redor dele, suas


vestes de Curandeira esvoaçando atrás dela.

━ Perceptiva.

━ Balaço?

━ Mantícora.

Isso a fez parar. Ela se virou.

━ Já deu uma olhada?

━ Obviamente.
━ Quem?

━ Curandeiro Parnell.

━ Ah, ele é maravilhoso. Excelente. Tchau.

Com isso, Granger se trancou em seu escritório.

Draco pode ter se ofendido com esse tratamento cavalheiresco de seu eu


estimado, exceto que ele reconheceu o olhar distante nos olhos de Granger
– o olhar distante, pensando em algo, provavelmente resolvendo a fome do
mundo.

Sob o pretexto de checar a proteção interna duas vezes, Draco entrou no


laboratório propriamente dito. Como sempre, estava impecável. Parecia-lhe
que havia mais frascos de Sanitatem do que antes e também algumas outras
poções de cura de potências variadas, agrupadas. Novamente, nenhuma
nota escrita em qualquer lugar ou qualquer indicação real sobre o que
Granger estava trabalhando.

Ele estava curvado sobre um grupo de frascos minúsculos, tentando


determinar se algum deles continha a amostra do Poço Verde, ou a Cinza de
Beltane, ou a substância misteriosa que ela havia colhido em Ostara, mas
foi interrompido por Granger enfiando a cabeça para fora do escritório dela.

━ Você não vai encontrar nada interessante aí ━ disse quando o viu


bisbilhotando.

━ Eu preciso aprender a mexer no computador ━ Draco comentou, uma mão


no queixo.

━ Isto ajudaria.

━ Ensine-me ━ ele pediu.

Preferia esperar que Granger se esquivasse imediatamente. No entanto, ela


disse:
━ Não.

━ Não?

━ Prefiro mantê-lo inútil, por razões estratégicas.

━ Indelicado de sua parte.

━ Eu sei ━ Granger disse. — A propósito, tenho um favor para pedir.

━ A resposta é não ━ Draco respondeu.

━ Brilhante ━ ela falou. ━ Isso está resolvido, então.

Ela puxou a cabeça de volta para seu escritório e fechou a porta novamente.

━ O que é? ━ Draco perguntou para a porta fechada.

━ Nada ━ Granger disse, de dentro do escritório.

━ Diga-me.

━ Não.

━ Tem a ver com a chegada do Solstício? Litha?

━ Vá embora. Você disse que não queria ajudar.

━ Estou abrindo esta porta ━ Draco disse.

━ Não. Eu não estou vestida.

━ Mentirosa.

━ É verdade. Estou me despindo. ━ Veio a voz de Granger. Ficou um pouco


abafado.

Draco fez uma pausa.


━ Um pouco conveniente, não é?

━ Apenas me dê a merda de um minuto.

Draco deu a ela a merda de um minuto.

Granger abriu a porta novamente. Ela foi acompanhada pela corrente fria de
amuletos refrescantes e um cheiro (surpreendentemente sedutor) de
antisséptico e suor. Seu cabelo era um coque bagunçado na cabeça. Ela
havia tirado suas vestes de curandeira e as substituído por roupas trouxas.

━ Você ainda não está decente ━ ele disse, observando seu short e o top
decotado (ainda de manga comprida, no entanto).

━ Me poupe. Este é um traje normal quando está escaldante. Todos os


bruxos são freiras secretamente, ou só você?

Draco considerou isso um ataque ao seu machismo, e pensou seriamente em


se oferecer para mostrar a Granger o quanto ele não era uma freira, exceto
que ele não conseguia pensar em como expressar isso de uma maneira
obscena e viril.

━ Você mudou de ideia sobre o favor? ━ Granger perguntou, saindo de seu


caminho para que ele pudesse entrar.

Draco ocupou sua cadeira habitual na frente da mesa dela e assumiu uma
pose magnânima.

━ Decidi, pelo menos, ouvi-lo.

━ Obrigado por me esbanjar com sua caridade.

Draco gesticulou para que ela continuasse de uma maneira régia. Além
disso, ele não estava tendo nenhuma dificuldade em se concentrar em seu
rosto e seu decote baixo não o estava distraindo.

━ Só estou perguntando isso porque sei que você é moralmente corrupto e


não tem padrões éticos ━ Granger começou. ━ Eu não perguntaria a nenhum
outro Auror o que estou prestes a te perguntar.

━ Prefácio forte ━ Draco falou. ━ Estou lisonjeado. Continue.

━ "Como você se sente sobre roubar?

━ A favor ━ ele respondeu.

━ Você nem sabe o que estamos roubando.

━ O que seria?

━ E se fosse – teoricamente, é claro – uma preciosa relíquia de significado


religioso crítico?

━ Quando iremos?

━ Você tem algum plano para o Solstício? ━ Granger perguntou.

━ O roubo de um artefato religioso com uma curandeira


surpreendentemente travesso ━ Draco disse. ━ E você?

Um olhar satisfeito passou pelo rosto de Granger, então desapareceu.

━ Tenho planos com um Auror moralmente falido.

━ Ele soa como uma pegadinha.

━ Estou começando a pensar que sim ━ Granger disse. Sua risada contida
fez seus olhos brilharem.

━ Me conte.

━ Promete que não vai me denunciar às autoridades?

━ Eu sou as autoridades, Granger.

━ Tudo bem. ━ Ela apertou as mãos na frente dela em um nó nervoso. ━


Vou roubar parte de um crânio.
━ Uma caveira.

━ Sim.

━ Humana?

━ Sim.

Granger observou Draco ansiosamente por sua reação. Ele a fez sofrer
olhando para ela sem expressão por vinte segundos.

Ela estava prendendo a respiração.

━ Diabólico, Granger.

Granger soltou o ar.

━ A pessoa está viva ou morta? ━ Draco perguntou.

Granger parecia escandalizada.

━ Morta, é claro.

━ Eu não faço suposições. Crânio de quem?

━ De Maria Madalena.

Granger estava prendendo a respiração novamente.

━ O que?

━ Eu disse que era de significado religioso ━ respondeu.

━ Ela não é muito importante para os trouxas? Os cristãos? Onde o crânio


dela está guardado? Vamos invadir o Vaticano?

━ Bem, essa é a boa notícia, eu acho. Seu crânio está em um relicário, em


uma cripta. E essa cripta fica em um pequeno mosteiro tranquilo no sul da
França.
━ Então, qual é a má notícia?

━ Bem, falando de freiras, o mosteiro é dirigido pelas Irmãs Beneditinas do


Sagrado Coração.

━ E?

━ São bruxas.

━ Ah ━ Draco disse.

━ Elas estão disfarçadas como uma ordem religiosa há séculos, para escapar
da perseguição. Protegeram Madalena quando ela fugiu da Terra Santa.
Roubar deles será um pouco mais complicado do que aparatar e roubar sua
relíquia mais preciosa.

━ Eu suponho que você tenha um plano ━ ele comentou.

Granger parecia ofendida por ele ter perguntado.

━ Obviamente. Estou escolhendo uma abordagem simples com o menor


número possível de partes móveis. Sua contribuição como auror seria
apreciada, aliás.

━ Diga-me.

━ O mosteiro está aberto para visitantes; é uma caminhada popular para os


trouxas na área. Seremos recém-casados ​trouxas desajeitados.

━ Devemos estar disfarçados? Vou achar difícil permanecer no personagem.

━ Sim, devemos. Nossa caminhada coincidirá, infelizmente, tolos, somos


tão desajeitados, com as celebrações de verão das Irmãs Beneditinas.

━ Devemos ser recém-casados? Nós nos detestamos.

━ Eu sei, mas sim. Se as freiras tentarem barrar a entrada, por causa das
comemorações do solstício de verão, provavelmente não o farão, mas por
precaução, diremos que esta visita foi o ponto alto de nossa lua de mel, e
que a peregrinação foi uma promessa de voto de casamento, e que tudo o
que queremos fazer é rezar para Madalena, e eles não vão, por favor,
considerar abrir uma exceção? Vou chorar. Você também pode chorar.
Espero que eles deixem os idiotas chorões entrarem com supervisão
mínima.

━ E se não o fizerem? ━ Draco perguntou.

━ Isso significa que elas são miseráveis ​sem coração e eu não vou me sentir
mal por atordoá-las para entrar.

━ Veja, esse é o problema com a moral. Eu teria simplesmente pulado para


isso.

━ Sim, bem, eu tenho um senso de ética um pouco mais desenvolvido do


que você, então eu gostaria que merecessem isso de alguma forma. Apenas
um pouco, inclusive. Não posso dizer que sou nobre demais, já que
pretendo danificar um artefato de valor inestimável. No entanto, é por uma
causa muito boa. Isso se equilibra? De qualquer forma, no meio da manhã,
a maioria das Irmãs estará na aldeia. Há uma basílica lá onde os habitantes
da cidade se reúnem com elas. Haverá apenas uma equipe de esqueletos no
mosteiro e, é claro, quaisquer que sejam as proteções que essas bruxas
tenham colocado para proteger o crânio e suas outras relíquias.

━ As relíquias inestimáveis ​que eles vêm protegendo há séculos. Alguns


feitiços velhos contra intrusos, tenho certeza. Isso vai ser uma bagunça.

━ É por isso que eu ficaria bastante satisfeita se você viesse comigo


Granger disse. ━ Eu tenho algum conhecimento de proteções, mas a sua
eclipsa a minha. Agora, no caso de as coisas ficarem difíceis, preparei
algumas... er... distrações que estarei plantando enquanto fazemos nossa
inocente turnê.

━ Que tipo de distrações?

Granger acenou com a varinha e uma runa brilhante ganhou vida entre eles.
Ela agitou sua varinha e mostrou mais duas ou três. Cada um deles continha
o radical Kenaz: fogo.

━ Dispositivos incendiários? Em um mosteiro?

Ela mordeu o lábio.

━ Sim.

━ Você é uma ameaça, Granger.

━ Mas eu os modifiquei... eles parecerão muito piores do que realmente são.


Mas vão dar muito trabalho para as Irmãs extinguirem. Eu integrei metais
combustíveis.

O alquimista em Draco ficou intrigado.

━ Que metais?

━ Magnésio, lítio, potássio.

━ Aguamenti vai resolver ━ ele respondeu. ━ Precisarão encontrar um


agente extintor seco.

━ Sim. Quando elas resolverem isso, já estaremos longe. Eu coloquei um


limite periférico em cada explosão; os incêndios parecerão enormes, mas o
dano real deve ser limitado a um metro quadrado.

━ E disfarces? ━ Draco perguntou.

Aqui, Granger parecia ambivalente.

━ Vou deixar o seu para você. Eu ia fazer alguns simples. Estudei na França
por dois anos e só fui reconhecido uma vez, por um colega inglês. Eu não
acho que as freiras do mosteiro mais remoto do país estarão atualizadas no
visual mais recente de Hermione Granger.

━ Justo.
━ Nós vamos cambalear pelo mosteiro, atordoando e obliviando conforme
necessário, e espero que não, e eu pegarei um fragmento do crânio tão
pequeno que eles nem saberão que ele se foi.

━ E depois? Nós desaparatamos?

━ Toda a área está protegida ━ Granger fez uma careta. ━ É por isso que
estamos sendo caminhantes trouxas. Teremos que trotar até a beira da ala
para desaparatar.

━ Chave de portal?

━ Muito rastreável, a menos que você tenha consertado o que tentou no


anel?

━ Não ━ Draco respondeu. ━ Aquele encantamento é uma droga. Há uma


razão pela qual existe um Departamento inteiro dedicado aos especialistas
da Portus.

━ Caramba.

━ Vassouras?

Granger respondeu a esta sugestão inteligente com toda a gratidão e


entusiasmo que se poderia esperar, ou seja, nenhuma.

━ Por que é sempre vassouras, com você? ━ Ela perguntou em uma espécie
de rosnado.

━ Porque elas são muito úteis e muito mais rápidas do que descer a trilha a
pé até que possamos desaparatar. A menos que você seja secretamente um
Animago de cabra da montanha?

━ Mas como poderíamos envolver vassouras? Escondê-las na trilha com


antecedência?

━ Você pode espremer uma vassoura em seus bolsos estendidos?


━ Provavelmente ━ disse, franzindo a testa. ━ Provavelmente apenas uma,
dada a forma estranha.

━ Isso está resolvido, então. Desilusão e um rápido passeio de vassoura. Eu


usei centenas de vezes para sair de situações complicadas. Assim que você
atinge o céu, não podem mais te ver, e você está a quilômetros de distância
antes que possam convocar suas próprias.

Granger suspirou.

━ Certo. Vassoura até passarmos pela Ala Anti-Aparatação. Então nós


desaparatamos. Somente no infeliz evento de acionarmos uma proteção ou
nos pegarem com as mãos no crânio e nos perseguirem. Caso contrário,
sairemos do jeito que viemos.

━ Eu vou escolher uma das minhas ━ Draco disse, ficando bastante animado
com a perspectiva. ━ Posso colocar um segundo assento.

De sua parte, Granger parecia irritada.

━ Um assento. Maravilhoso.

━ O importante é ser rápido. Vamos fazer uma análise SWOT?

━ Não. Eu sei que é uma boa ideia ━ ela respondeu. Parecia carrancuda. ━
Eu não tenho que gostar disso.

━ Bom. Quando devo levar minha vassoura para você espremer no bolso?
Teremos que ver se o eixo se encaixa em qualquer fenda minúscula que
você esteja oferecendo, amuletos de extensão ou não.

Granger corajosamente tentou manter uma cara séria.

━ O que? ━ Draco perguntou, seu próprio rosto impassível.

Ela caiu em uma risadinha contida.

━ P-por que você teve que falar assim?


A cara de tacho de Draco era impecável.

━ Assim como?

━ Como um eufemismo horrível para... ugh... não importa.

━ Para quê, Granger?

━ Eu disse, não importa.

Draco parou e sorriu.

━ Quem está rindo de pênis agora?

Granger, percebendo que ele estava zoando, deu a ele um olhar de alerta.

━ Pelo menos eu não estou engasgando com uma omelete enquanto faço
isso.

━ Asfixiar enquanto engole a Protuberância é um rito de passagem.

Granger não pôde evitar o bufo que escapou dela.

━ Pare.

━ Agora, se pudermos parar de falar sobre pênis por um momento...

━ Eu não estou falando de pênis. Você está.

━ Estou falando de vassouras e pubs. Eu sou inocente.

━ Não, você está enlouquecendo. ━ Granger pressionou as pontas dos dedos


nas têmporas. ━ Certo. Vamos focar. Eu tenho lugares para estar.

━ Onde você tem que estar?

━ Lugares ━ ela respondeu. ━ Quanto a nós, partiremos na próxima sexta-


feira. Vou anotar os detalhes para você, mas, resumindo, vamos por Flu para
Aix-en-Provence. Vou nos levar até a cidade de Saint-Maximin para
chegarmos como trouxas.

━ Certo.

━ E guarde essa aventura para você ━ Granger acrescentou.

━ Não ━ Draco disse em um jorro de sarcasmo irritado. ━ Eu estava


pensando em colocar um anúncio no Profeta.

━ Eu só não quero que as pessoas façam perguntas...

Draco ergueu as mãos para emoldurar uma manchete imaginária: "Auror


atraente concorda em ir para a França com Curandeira Mandona".

━ Mandona? ━ Granger repetiu de uma forma meio áspera.

━ Ou Harpia, você prefere isso? Eu gostaria de manter a aliteração.

As narinas de Granger se dilataram.

━ Eu preferiria que encerrássemos essa conversa.

━ Curandeira mal-humorada ━ Draco disse generosamente.

A mandíbula de Granger se apertou.

Dado que ele não queria ter seus testículos azarados, Draco se levantou para
sair.

━ Pesquisadora Furiosa? ━ Ele chamou por cima do ombro. ━ Professora


Irritada?

Havia algo deliciosamente assassino no jeito que ela cuspiu "Malfoy!" em


suas costas, recuando.

Quando Draco desceu as escadas do Salão do Rei, bem longe do alcance do


feitiço, ele pegou sua cópia da agenda de Granger e investigou os "lugares"
que ela deveria estar.
Era um restaurante italiano em uma hora. Participante(s) não
especificado(s).

Draco enfiou a agenda dela de volta no bolso.

Ele tinha uma certa suspeita de que Granger tinha um encontro.

E ele não se importava nem um pouco, e isso certamente não o irritava sem
motivo.

Ele enviou uma mensagem para Zabini, com uma abundância de – bem, ele
chamaria isso de cautela – perguntas sobre se ele tinha algum plano para
aquela noite. Zabini disse que não, mas ficaria feliz em ter planos; eles
deveriam se encontrar no Macassar?

Draco devolveu sua resposta. Theo também foi convidado, que sugeriu que
convidassem Pansy, que trouxe para ela o marido vagabundo Longbottom,
que convidou MacMillan, que chegou com três colegas do Ministério, e eles
acabaram fazendo uma noite e tanto.

Um dos calouros de MacMillan era uma bruxa com quem Draco dormiu
algumas vezes ao longo dos anos. Ela deu a ele suas atenções amorosas a
noite toda e ele as aceitou com uma espécie de indiferença – os toques em
sua coxa, o aperto de seu braço. No entanto, quando ela o seguiu até o
corredor escuro que levava ao banheiro, ele descobriu que não tinha
vontade de prosseguir com ela. Quando voltou, muito tranquilo, e com uma
bruxa olhando ofendida atrás dele, Zabini e Ernie olharam para ele com
uma sobrancelha erguida.

Que se foda. Enquanto tomava seu Whisky de Fogo, Draco refletiu que pelo
menos poderia ficar tranquilo que não era com o maldito Zabini que
Granger estava se aconchegando esta noite.

──── ◉ ────

A viagem de Londres para a França correu tão bem quanto se poderia


desejar. Draco encontrou Granger em uma das paradas de flu internacional
em Londres. Depois que ela se declarou satisfeita com as roupas trouxas de
Draco ("Muito inteligente, realmente – você parece ter um barco."), eles
entraram no fogo.

Então, depois de um longo giro de três minutos no flu que deixou Granger
verde, eles se encontraram no coração do Tournesol em Aix-en-Provence.

A partir daí, Granger assumiu, conduzindo-os até uma locadora de carros e


depois dirigindo os quarenta quilômetros até a charmosa cidade litorânea de
Saint-Maximin-la-Sainte-Baume. As malas estavam no porta-malas, os
lanches no banco de trás e o som do carro tocava algo que não era música
folclórica austríaca. Draco achou que era um passeio agradável através das
olivas, vinhedos e colinas pontilhadas de ruínas medievais. Talvez houvesse
algo a ser considerado sobre as rotas cênicas dos trouxas, em vez do
imediatismo da aparatação.

Mosteiros de Santa Maria: uma típica cena provençal. (Foto: AP).

Granger estava cheia de um tipo de energia nervosa que se manifestava em


um fluxo de balbucios informativos combinados com uma condução
animada. Draco suportou o primeiro e gostou bastante do último. O Peugeot
contratado parecia, para os olhos inexperientes de Draco, um tipo de carro
pesado, mas ela havia despertado um zelo pela vida na coisa.

Eles passaram zunindo pelo sinuoso tráfego provençal sem problemas até
que Granger encontrou um desafiante: um Citroën preto cuja principal
alegria era correr para alcançá-los e ultrapassá-los, e depois desacelerar
novamente de um jeito meio irritado.

━ Idiota ━ Draco disse, na terceira vez que isso aconteceu.

━ Um parisiense, é claro ━ Granger comentou, observando a placa de


matrícula.

━ Estou quase pensando em acertá-lo com um furo ━ ele disse, girando sua
varinha entre os dedos.

━ Isso não seria esportivo ━ Granger falou. A estrada se endireitou o


suficiente para ela tentar passar. Ela mudou de marcha. ━ Se segura.

O motor do Peugeot gemeu em protesto assustado quando Granger pisou no


acelerador. O carro respondeu com uma explosão surpreendente de
velocidade. A cabeça e o corpo de Draco pareciam estar sendo pressionados
contra o assento pela força gravitacional – uma sensação deliciosa que o fez
querer gritar.

Os pneus chiaram e seu pequeno carro avançou à frente do Citroën.

━ Saúde, idiota ━ Draco falou, fazendo o sinal de V para o outro motorista


enquanto eles passavam.

O homem no carro fez um gesto igualmente amigável de volta.

Enquanto eles zuniam pela estrada, Draco comentou:

━ Eu não achei que este carro tivesse esse tipo de entusiasmo. O que você
colocou nela como gasolina, poção de pimenta? Oh, você estava com sua
varinha!
Granger estava enfiando algo no bolso. Ela começou:

━ O que? Não.

— E você me chamou de antidesportivo?

━ Eu só dei um pequeno impulso ━ disse com um olhar triunfante para o


outro carro pelo espelho retrovisor.

Draco a observou.

━ Paradoxo de Granger.

━ Perdão?

━ Você é um demônio da velocidade, e ainda assim odeia voar.

━ Eu não sou um demônio da velocidade ━ ela zombou. ━ Só estou um


pouco impaciente.

━ Você esquia também. Esquiar não é um esporte radical? Você se lança


pelos Alpes em alta velocidade?

━ Só se você colocar dessa forma...

━ Do topo de uma montanha ━ Draco disse. ━ Milhares de metros no ar. As


vassouras a levarão duzentos metros acima, no máximo.

━ É diferente quando não há nada abaixo de você.

Seguiu-se uma longa discussão. Enquanto isso, o país ao redor deles


cresceu arborizado. Eles pegaram uma estrada secundária para uma estrada
rural, serpenteando por desfiladeiros e depois voltando novamente.
Passaram por vilarejos medievais e depois por uma sinuosa estrada rural,
que acabou levando-os a vastas planícies listradas de campos de lavanda e,
finalmente, ao mar.
(Foto: Keeboon Tan)

━ Oh, que lindo. ━ Granger suspirou em um momento de suavidade


incomum.

━ Um bálsamo para a alma ━ Draco disse, com um tom bastante para


sugerir cinismo para encobrir o fato de que ele falava sério.

A pitoresca cidade de Saint-Maximin surgiu sob o sol da tarde.

━ Ficaremos no hotel esta noite ━ Granger falou. ━ E faremos a caminhada


até a... a outra atividade. Amanhã de manhã.

Draco a sentiu dar-lhe um olhar de soslaio, para o qual ele arqueou uma
sobrancelha.

━ O que?

━ Os hotéis mais bonitos estavam todos lotados, então não se preocupe com
a qualidade do lugar. É... mais velho. O restaurante é aparentemente
adorável, no entanto.

━ O hotel é administrado por ogros?

━ Claro que não. Esta é uma cidade trouxa.

━ Então vai ficar tudo bem.

━ Você ficou em um lugar administrado por ogros?

━ Sim ━ Draco respondeu. ━ Uma emboscada em Budle. Aprendi um feitiço


de extermínio de percevejos como resultado, então teremos sorte se você
sentir algo correndo pelas suas pernas esta noite.

━ Eurgh. ━ Granger estremeceu.

O celular dela, que estava servindo como uma espécie de mapa ao vivo
durante a viagem, de repente anunciou que o Hotel Plaisance estava
chegando à sua direita.

O hotel era velho e cansado, mas muito bem situado.

Hotel Plaisance. (Foto: lechateausormiou.fr)

O pequeno vestíbulo estava lotado de outros recém-chegados, todos


servidos por uma velha solteirona, com deficiência auditiva, que se movia
com toda a agilidade de um molusco. Eventualmente, foi a vez deles, e a
mulher deu-lhes a chave do quarto e anotou seus nomes para uma reserva
de jantar.

O minúsculo quarto tinha uma cama de integridade estrutural questionável,


uma lâmpada, um sofá desmoronado e uma ideia contestável de um
banheiro.

Havia um cheiro vago e bolorento no quarto, como se a tia-avó de alguém


tivesse borrifado perfume e depois morrido ali em circunstâncias tristes.

━ Todos os confortos modernos, Granger ━ Draco disse enquanto eles


faziam um balanço.

━ Vista para o mar, pelo menos? ━ ela falou, abrindo as venezianas para
arejar as coisas.

A cama rangeu quando Draco se sentou nela e então afundou quase no


chão, com insinuações de que estava planejando desmoronar
completamente sob seu peso assim que ele dormisse.

Granger observou Draco onde ele estava sentado, seus joelhos quase no
queixo.

━ A cama é sua ━ disse com o que sem dúvida pretendia soar como
generosidade. Soou bastante estratégico aos ouvidos de Draco. Ela estava
de olho no sofá. ━ Vou transfigurar isso em algo útil para mim.

━ Algo útil ━ Draco repetiu enquanto Granger realizava um complexo


exercício de transfiguração de dez minutos, transformando o sofá em uma
cama adorável e confortável, na cor vinho regio.

Granger perdeu a ironia.

━ Isso deve bastar ━ disse, ligeiramente sem fôlego pelo esforço mágico. ━
Agora. Eu gostaria de um banho. Quais são os seus planos para a noite? O
jantar é às oito.
━ Meu trabalho ━ Draco falou, já protegendo a janela. ━ Vou dar uma volta.
Te encontro de volta aqui faltando quinze minutos.

━ Tudo bem ━ ela respondeu. Havia puxado uma lista.

━ O que é isso?

━ Meu itinerário para a noite ━ Granger falou.

━ ...Você só tem três horas ━ Draco disse. Mesmo do outro lado da sala, a
lista parecia longa.

━ Eu sei. É melhor eu escolher. Há tantos pequenos museus e livrarias


adoráveis, e, claro, a basílica.

Granger agarrou sua bagagem, tirou uma muda de roupa e entrou no


banheiro.

Draco a deixou e espreitou pelos corredores sujos do hotel, protegendo-se


enquanto caminhava. Ele não encontrou nenhum bandido. Havia apenas
trouxas presentes. O plano de Granger, pelo menos para o primeiro dia,
estava se desenrolando sem problemas.

Amanhã seria uma história totalmente diferente, é claro. Draco voltou para
o quarto deles para ler o tomo sobre as proteções que ele trouxe com ele.

Granger já tinha saído – tanto melhor para ele se espremer em mais um


pouco de estudo. Ele tirou os sapatos e se esticou na cama de Granger, o
livro flutuando acima dele enquanto folheava as páginas.

Draco estava focando seu estudo em técnicas de proteção no continente,


mais especialmente no trabalho de ordens religiosas mágicas. Esperava que
suas leituras sobre os sistemas de proteção dos monges cistercienses e
dominicanos lhe dessem, pelo menos, uma pista amanhã, quando
descobrisse o que quer que as irmãs beneditinas tivessem lançado em torno
de suas amadas relíquias.
Como prometido, Granger voltou faltando quinze minutos para as oito. Ela
o viu lendo e imediatamente foi direto para ele.

━ Ooh, o que você tem aí?

━ Estudando para amanhã ━ ele respondeu. ━ Dê-me um minuto, eu


encontrei algo interessante.

Granger se aproximou da cama para ler o título de seu livro. Com o canto
do olho, Draco viu que ela havia mudado para um vestido de verão branco e
arejado. Seu cabelo estava preso em uma trança, embora estivesse se
desfazendo lentamente. Ela cheirava a sol na pele e algo doce. Ele respirou
mais fundo. Amêndoas?

Ela estava mastigando alguma coisa.

Draco estendeu a mão, seu foco ainda no livro.

━ Não sobrou nenhum ━ Granger disse.

Draco fez o livro flutuar mais para baixo para poder olhar nos olhos dela.

━ Mentirosa.

Granger suspirou e puxou uma bolsa enrugada.

━ Tâmara recheada com pasta de amêndoa ━ falou em francês.

Draco pegou a tâmara recheada oferecida.

Era requintada.

━ Mm ━ murmurou. ━ Abençoe os franceses.

Ele retomou sua leitura, mas apenas por um momento, porque Granger
estava pairando sobre o livro de uma forma ciumenta.

Ele flutuou o livro para baixo novamente.


━ Sim?

━ Posso dar uma olhada? ━ Ela perguntou.

━ Você pode comê-lo depois do jantar ━ Draco disse, flutuando o livro de


volta.

Granger empoleirou uma coxa ao lado da cama.

━ Posso ajudar? ━ Ele perguntou, observando esta atividade.

━ Mova-se ━ Granger pediu. ━ Nós dois podemos ler.

━ Não, não podemos. Espaço pessoal, Granger ━ Draco disse, fazendo um


movimento de enxotar com a mão.

━ Esta é a minha cama ━ Granger observou, com toda a razão.

Draco se mexeu com um resmungo (não havia muito espaço para se mexer).

━ Estamos prestes a ir jantar.

━ Mas você encontrou uma Coisa Interessante ━ ela disse. Seus olhos
brilhavam de curiosidade.

Ela se espremeu na cama ao lado dele. O livro flutuava acima deles.

━ Isso é... ━ Draco começou.

━ Silêncio ━ Granger pediu. ━ Eu estou lendo.

Draco caiu em um silêncio irritado.

A propósito, Granger não leu – ela devorou. Sua velocidade de leitura


ultrapassou a de Draco em cinquenta por cento em seu melhor palpite, e ele
era um leitor rápido. No entanto, não virou as páginas para acompanhar o
ritmo dela; deu a ela uma palestra moral sobre a importância de absorver a
informação e saborear o texto.
Ela respondeu com um suspiro longo e dramático. Draco sentiu a expansão
do peito dela contra seu lado. Isso o fez perceber que Granger estava ali de
uma maneira diferente de sua presença impaciente. Isso o deixou alerta e
nervoso, porque ele estava deitado em uma cama com uma mulher, e essa
mulher era Hermione Granger. Se ele alguma vez tivesse sido louco o
suficiente para imaginar tal cena, teria imaginado um momento de recuo, de
desgosto, provavelmente, neste nível de proximidade com seu inimigo de
infância.

Em vez disso, ela era quente, cheirava a sol e amêndoas, seu cabelo estava
tocando o pescoço dele e era íntimo e estranho. Ele sentiu uma espécie de
paralisia prazerosa, de não querer respirar, de não ousar se mexer e
acidentalmente tocá-la demais, ou pior, fazer com que ela se afastasse.

Virou a página, sem saber o que acabara de ler.

Seus olhos não paravam de desviar do livro acima deles para as pernas dela,
que estavam dobradas no joelho, com uma perna cruzada sobre a outra. Seu
vestido estava dobrado nas coxas, cobrindo qualquer coisa de interesse –
não havia nada de indecente nisso, na verdade – e ainda assim parecia
ilícito e emocionante, ver as pernas de Granger daqui. Ela havia tirado as
sandálias para se juntar a ele na cama. Ele podia ver o arco delicado de seu
pé descalço, as linhas de bronzeado onde o sol a beijou e depois trabalhou
em torno das tiras, os dedos pintados de rosa.

O pé delicado começou a saltar.

━ Você está fazendo isso de propósito para me irritar, sendo tão lento ━ ela
falou.

Draco voltou os olhos para a página.

━ Não, estou sendo atencioso.

Granger acenou com a varinha para ver as horas – eram oito em ponto.

━ Droga. Temos que ir.


Ela se levantou e calçou as sandálias.

━ A técnica de proteção Caleruega parece terrivelmente sensível. Você acha


que as Irmãs podem estar usando isso?

━ Podem estar ━ Draco respondeu. Ele descobriu que seu cérebro estava
trabalhando em uma espécie de câmera lenta; ainda estava processando as
coxas dela e o vestido amarrotado, e ainda não havia se juntado a ele no
presente.

━ Teremos que ser muito cuidadosos amanhã, se essas coisas são tão
excitantes quanto este texto sugere.

Granger estava refazendo sua trança. Draco sentiu o cheiro do xampu dela.
Isso trouxe seu cérebro de volta ao presente, porque gostou.

Ela ainda estava falando sobre o capítulo que eles tinham acabado de ler, e
se Draco achava que precisava de mais preparação, e se eles deveriam
revisitar o plano, e se sim, quais partes eles deveriam modificar. Talvez ela
devesse fingir doença no mosteiro para distrair as Irmãs enquanto Draco
entrava na cripta, para ganhar mais tempo? Mas não, ele não estudou os
mapas como ela; levara semanas para memorizar os caminhos labirínticos,
etc e etc.

O que foi excelente, pois deu a Draco tempo para se controlar. O que diabos
havia de errado com ele? Foi ao banheiro jogar um pouco de água fria no
rosto e, esperava, algum sentido em seu cérebro

Eles desceram para jantar.

──── ◉ ────

O restaurante estava todo agitado. Era uma linda instalação ao ar livre em


um longo tipo de cais que se estendia para o mar, abarrotado de tantas
mesas quanto possível. Draco e Granger abriram caminho entre os outros
clientes até uma mesa para dois no final do cais.
Em pleno verão, o sol ainda pairava no horizonte àquela hora tardia,
tingindo o mar de ouro e laranja. Era uma noite de junho absolutamente
linda; a brisa brincava preguiçosamente com seus cabelos, o mar batia na
beira do cais em pequenas ondas musicais, as aves marinhas teciam suas
rodas acima.

Como se viu, a velhinha meio surda que aceitou a reserva deles interpretou
criativamente seus nomes.

A placa de ardósia indicava que a mesa estava reservada para Hormone e


Crotch.

Um garçom solene apareceu para acender as velas na mesa. Os lábios de


Granger estavam pressionados firmemente juntos. Draco sentiu um
incômodo borbulhar de hilaridade.

━ Senhor, a carta de vinhos ━ o garçom disse, entregando-a para Draco.

━ Obrigado ━ Draco respondeu.

O garçom recomendou o tinto; Draco aceitou, porque todo o seu poder


cerebral estava focado em não explodir em uma gargalhada.

Os olhos de Granger voltaram para o cartaz. Ela soltou um gorgolejo que se


transformou em uma espécie de tosse.

O garçom enumerou o cardápio da noite. Granger acenou com a cabeça em


aprovação ao linguado amanteigado enquanto Draco resmungou um sim
para o filé mignon.

Granger estava mordendo um de seus dedos. Draco a ouviu fazendo um


exercício de respiração profunda.

Finalmente, o garçom saiu.

Granger desabou sobre a mesa.

━ Crotch ━ engasgou, tentando respirar.


━ Hormone? ━ Draco sussurrou.

Granger era uma massa desossada de riso contido. Seus ombros tremeram.
Draco caiu para trás em sua cadeira e realmente se sentiu se desintegrar em
alegria.

━ Meu Deus. ━ Granger respirou. ━ Oh, meu Deus... por que... por que...

Draco tentou ficar sóbrio, mas então ele olhou para o cartaz novamente, e
Crotch olhou de volta para ele em uma bela caligrafia fluida, e ele levou o
guardanapo à boca para se abafar.

Granger respirou fundo.

━ Que vinho você pediu, para nós, C-Crotch...

Sua voz ficou alta e ela não conseguiu terminar a frase por causa de sua
risadinha estridente. Algumas cabeças das mesas ao redor se viraram para
ela. Ela escondeu o rosto nas mãos.

━ Eles vão pensar que já estamos bêbados e vão e nos expulsar ━ Draco
disse, valentemente se endireitando e tentando recuperar o controle.

━ Certo. ━ O rosto dela ainda escondido em suas mãos, Granger respirou. ━


Esconda o cartaz. Eu não posso vê-lo novamente. Eu vou morrer.

Draco virou a lousa para que ficasse virada para baixo.

━ Feito, H...

━ Não diga isso ━ Granger sibilou.

O garçom voltou trazendo pão, manteiga e vinho.

━ Obrigada ━ ela agradeceu, enxugando uma lágrima.

Quanto a Draco, ele mal podia sentir suas bochechas. Ele gesticulou para o
garçom deixar a garrafa de vinho.
Depois de respirar um pouco mais, ambos recuperaram seu autocontrole –
bem, principalmente. Granger estava evitando olhar para qualquer lugar
perto da lousa.

O mar acariciava as bordas rochosas do cais abaixo deles. Os fregueses


tagarelavam, assim como as gaivotas. O sol se inclinou mais baixo. O pão
foi partido e untado com manteiga e Draco serviu o vinho.

━ Saúde ━ Granger disse.

━ Para o sucesso amanhã ━ Draco falou, inclinando seu copo no dela.

O traço final de diversão desapareceu do rosto de Granger. Ela ficou séria.

Draco a olhou. Ele lançou um feitiço silenciador ao redor deles.

━ Você está nervosa.

━ Sim ━ ela respondeu. A ansiedade apertou os cantos de sua boca. ━ Muita


coisa pode dar errado e, para ser honesta, isso me assusta. Não faço nada
assim há mais de uma década. Eu sou uma cidadã cumpridora da lei agora,
você sabe.

━ Majoritariamente. ━ Draco podia pensar em pelo menos vinte leis que


Granger tinha quebrado desde que ele foi designado para ela em janeiro.

━ Principalmente ━ ela concedeu.

━ Amanhã será de acordo com o planejado. E se isso não acontecer, você


vai incendiar o lugar e podemos roubar um crânio melhor.

Um bufo divertido escapou de Granger diante dessa atitude cavalheiresca.

━ Você não está nem um pouco preocupado, está?

━ Eu prometo que enfrentei missões muito mais estressantes do que um


bando de freiras ━ ele respondeu.
━ Você?

━ Obviamente.

━ Diga-me.

Então Draco disse a ela. Ele compartilhou duas ou três de suas histórias
favoritas, que destacavam seu próprio heroísmo e inteligência. No entanto,
Granger não era o público cativo e agitado com quem ele costumava
compartilhar essas histórias. Ela era analítica e curiosa e fez algumas
perguntas bastante penetrantes. Por que ele não silenciou as sereias
primeiro? A luta de facas foi emocionante, mas como ele se deixou
desarmar em primeiro lugar? Por que seu kit de emergência não incluía
poções de reposição de sangue? Todos os Aurores não deveriam ter um
conhecimento básico das propriedades do Acônito? Por que ele não usou
um agente nervoso no troll?

Por que de fato? Draco aparou, rebateu, justificou e defendeu, até que
Granger estivesse satisfeita.

Serviu-se de uma segunda taça de vinho, sentindo-se bastante torcido e com


sede após o interrogatório. Suas histórias eram geralmente seguidas de
elogios, parabenizações e suspiros de olhos estrelados sobre sua bravura e
sagacidade. Com Granger? Sem chance.

━ Pelo menos um de nós estará se sentindo confiante, o que é melhor do


que nenhum. ━ Foi sua observação final.

Ela esvaziou a taça de vinho. Draco se ofereceu para enchê-lo novamente e


ela concordou, dizendo que precisava de apoio emocional.

O garçom chegou com seus pedidos. Já era hora; Draco estava faminto. Os
lanches no carro e a tâmara recheada pareciam muito distantes.

Granger disse Bom apetite em francês e Draco respondeu na mesma moeda.

Ele saboreou o filé mignon com gosto. Quanto a Granger, cutucou


distraidamente seu prato, seu olhar pensativo na costa se desviando deles.
Depois de cinco minutos disso, Draco perdeu a paciência com a distração
dela. Ele bateu no prato dela com a faca.

━ Comida primeiro, pensar depois.

Granger piscou. Então ela apontou para algum lugar atrás dele.

━ Acho que posso ver o mosteiro.

Draco se virou em sua cadeira para olhar para a saliência cinza-areia que se
projetava de um penhasco distante, acima da linha das árvores.

━ Merlin. Isso é bem alto, não é?

(Foto: religiana.com)

━ É quase uma subida de duas horas.

━ Então coma. Se você se sentir fraca, será um passeio de vassoura.

A ameaça foi suficiente. Granger comeu.

O Bloco-Falante de Draco zumbiu em seu bolso.


━ Minha mãe ━ enquanto compunha uma resposta. ━ Ela quer saber se
cheguei em segurança.

— Ela sabe que você está aqui comigo? ━ Granger perguntou.

━ Não ━ Draco respondeu. ━ Só que é para o trabalho.

━ Bom. ━ Granger tomou um gole de seu vinho.

Draco devolveu sua resposta, assegurando a sua mãe que tudo estava bem e
que ele não tinha sido assaltado por bandidos franceses.

Granger estava terminando sua comida. Ela estava lutando para manter uma
expressão neutra; um olhar de diversão continuou lavando em suas feições.

━ O que? ━ Draco questionou.

━ Oh, nada. ━ Granger encontrou um novo foco em uma cenoura, que ela
empurrou com o garfo. ━ Eu não sabia que sua mãe usava os Blocos.

━ Ela não usava. Eu a convenci a comprar um na semana passada, já que as


corujas para a França demoram muito.

Granger olhou para cima com um interesse vívido que ela estava tentando, e
falhando, manter escondida.

━ Sério? Ela gosta do dela?

━ Ela gosta. O que te deixou tão intrigada?

━ Nada ━ Granger respondeu, fazendo contato visual íntimo com o queixo


de Draco.

━ Essa foi realmente a sua melhor tentativa? ━ Ele perguntou diante desse
fracasso miserável.

Granger ofereceu-lhe mais vinho em uma tentativa transparente de distraí-


lo, o que só o fixou mais em sua linha de investigação. Ele aceitou o vinho,
no entanto.

━ Granger.

━ Sim?

━ Diga-me.

━ Devemos rever nossos planos para amanhã ━ disse em outra tentativa de


dar um passo para o lado.

━ Nós os revisamos exaustivamente. O que há com os Blocos-Falantes?

Granger se ocupou em empurrar a cenoura de novo.

Draco estendeu a mão e bloqueou o garfo dela com a faca.

━ Pare de brincar com a maldita leguminosa e me responda.

━ Cenouras não são leguminosas ━ ela falou. Diante do olhar de Draco, no


entanto, acrescentou: ━ Não é absolutamente nada. Eu pensei que sua mãe
era bastante tradicional, então fiquei surpresa que ela tenha tentado um
Bloco-Falante. Isso é tudo.

━ Mas isso não é tudo ━ Draco falou.

Granger bateu na faca dele com o garfo em um pedido tácito para removê-la
do prato.

Ele não fez.

Granger suspirou.

━ Você é totalmente implacável. Sabia?

━ Sim. Agora me diga.

━ ...Você acabou de roubar minha cenoura?


Draco mastigou.

━ Sim.

━ Uau.

━ Você não estava comendo, estava empurrando em um carrossel de garfos.


Agora me diga.

Granger se mexeu para trás em seu assento com um suspiro resignado.

━ Eu pensei que você já teria descoberto.

━ Descoberto o que?

Granger fez uma pausa como se quisesse se recompor. Então perguntou:

━ Você sabe quem inventou o Bloco-Falante?

━ ...Não foram os gêmeos Weasley?

━ Não. Eles apenas ajudaram o inventor a produzi-los e comercializá-los em


massa.

Um lento despertar de compreensão se arrastou sobre Draco. A bruxa em


frente a ele agora estava segurando um sorriso.

━ Você é a inventora dos malditos Blocos?

━ Sim ━ Granger disse.

━ Não.

━ Sim.

━ Não.

━ Sim. ━ Granger parecia terrivelmente divertida.


━ Explique ━ Draco pediu.

Ela se acomodou em uma pose na qual ele só poderia descrever como


acadêmica. Cruzou as pernas e ergueu o garfo, pronta para apontar para
uma lousa invisível.

━ Os sistemas de comunicação instantânea realmente decolaram no mundo


trouxa cerca de 10 anos atrás. Eles já tinham uma vantagem sobre os magos
com o telefone durante todo o século XX, mas quando o e-mail se tornou
comum, e as mensagens de texto e, mais tarde, as mensagens instantâneas,
os métodos de comunicação dos bruxos passaram de antiquados a
totalmente arcaicos. Eu já havia experimentado métodos rudimentares de
comunicação mágica quando criança, como aqueles galeões, durante a
guerra, mas sabia que tinha que haver algo mais elegante, que retivesse
aquela sensação tátil de pergaminho ou caderno e que seria muito mais
imediato do que coruja.

Aqui Granger foi interrompida pelo garçom removendo seus pratos vazios.
Ela aceitou o menu de sobremesas e continuou:

━ Eu amo corujas; eu as acho tão pitorescas e queridas, mas tão lentas. Não
fique zangado, elas são lentas, você mesmo disse isso há pouco. E o flu só é
conveniente se estiver perto de uma lareira conectada. Criei os Blocos para
complementar esses meios de comunicação, não para substituí-los. Adoro
escrever uma boa carta. Nunca esperei que fossem tão populares como são.
Os gêmeos me ajudaram a trazê-los para o mercado e eles obtêm uma
porcentagem dos lucros.

Draco manteve suas feições educadas em algo neutro. A outra opção era um
olhar de olhos esbugalhados. Essa mulher não era apenas assustadoramente
inteligente, mas também absolutamente perfeita. Todo mundo tinha um
Bloco. Sua própria mãe tinha um Bloco e estava, a julgar pelo zumbido em
seu bolso, rapidamente ganhando proficiência. Granger devia estar rolando
em Galeões. Não é de admirar que ela tenha entregado um saco cheio a uma
bruxa sem pensar duas vezes.

━ Então é assim que você está financiando seu maldito projeto ━ ele disse,
por fim.
━ Entre outras coisas, sim. Passei tempo suficiente sob a tirania das
agências de concessão para desfrutar da independência.

━ Mas... todo mundo acha que os irmãos Weasley inventaram os Blocos.


Por que você não está reivindicando crédito? Eles são revolucionários.

━ Eles realmente não são ━ Granger falou. ━ Os equivalentes trouxas estão


cada vez mais avançados; podem enviar fotos, mídias e dados de todos os
tipos uns aos outros. Eles podem ter chamadas ao vivo com centenas de
participantes. Os Blocos são rudimentares. Uma melhoria, mas rudimentar.
━ Aqui, ela deu de ombros. ━ A barra estava bastante baixa. E quanto ao
crédito, eu tive meu tempo no centro das atenções. Não estou nisso para a
glória. Eu vi um problema que estava em minha capacidade de consertar.

━ É disso que trata o seu projeto também? ━ Draco perguntou. ━ Um


problema que está dentro de sua capacidade de corrigir?

━ Exatamente. ━ Granger o considerou seriamente, agora. ━ Não preciso lhe


dizer que prefiro que a verdade sobre os Blocos permaneça entre nós. Eu só
te contei porque você estava sendo tão terrivelmente insistente.

Draco a olhou.

━ Você é positivamente rica. Uma magnata.

Granger riu, mas foi amargo.

━ Não. Desenvolver novas terapias é terrivelmente caro.

━ É?

━ Sim. ━ Granger começou a enumerar os custos em seus dedos, até ficar


sem dedos. ━ Materiais, espaço, equipe de laboratório, indicações médicas,
equipe jurídica, redatores de protocolos, cientistas de dados, estatísticos...
testes de segurança e eficácia também são caros, é claro. Estudos
farmacocinéticos, testes toxicológicos pré-clínicos, testes bioanalíticos e os
próprios ensaios clínicos. E o desembolso financeiro para atender a todos os
requisitos das Boas Práticas Clínicas, Boas Práticas de Fabricação e Boas
Práticas de Laboratório, Agência Reguladora de Medicamentos e Produtos
para a Saúde e Agência Europeia de Medicamentos é de chorar.

Draco, cujos olhos estavam em grande parte vidrados, disse:

━ Oh.

Granger se mexeu na cadeira de um jeito descontente.

━ Meu projeto envolve produtos biológicos complexos que são


comercialmente pouco atraentes e quase incompreensíveis para os bruxos
monumentalmente idiotas que detêm os cordões da bolsa nacional para
pesquisa mágica. Então eu estou muito sozinha. Por conta própria e,
francamente, em um estágio bastante embrionário. Ainda estou fazendo
pesquisas in vitro, tentando confirmar que meu alvo pode realmente ser
afetado por um composto exógeno em primeiro lugar. O dinheiro não
resolve todos os problemas, infelizmente.

O garçom voltou para anotar os pedidos de sobremesa. Granger vacilou


com um pedido de desculpas, tendo esquecido até mesmo de olhar para o
menu, e fez uma seleção aleatória de creme de caramelo.

Enquanto isso, Draco lutava para entender o fenômeno paradoxal que era
Granger. Ela poderia ter sido rica – extravagantemente. E, no entanto, optou
por financiar sua pesquisa em vez de desfrutar de uma vida de lazer. Ela
trabalhava em cerca de doze empregos. Poderia ter sua própria casa de
campo, mas morava em um chalé apertado nos arredores de Cambridge.
Poderia ter uma equipe completa de elfos domésticos, mas só tinha um gato
e uma lata de atum em seus armários.

Não fazia sentido. E ainda assim, enquanto Draco considerava o que ele
sabia sobre a bruxa na frente dele, meio que aconteceu. Ela era muito
motivada para uma vida de lazer. Muito fundamentada para a extravagância
de grandes casas e elfos domésticos. Muito boa para fazer qualquer coisa
além do bom com esse dinheiro. Era tudo terrivelmente louvável. Incrível,
realmente.
Granger limpou a garganta. Draco percebeu que ele estava olhando para ela
e que o garçom estava olhando para ele.

━ A seleção de sobremesas do senhor?

━ O que ela pediu ━ Draco disse.

━ Um creme de caramelo para o senhor Crotch ━ o garçom disse, anotando


cuidadosamente esta preciosa informação em seu bloco de notas.

Granger tocou os olhos de Draco. Ela levou a mão à boca.

O garçom foi embora.

Granger soltou uma risadinha, lutou para controlá-la, respirou fundo e ficou
imóvel.

━ Hormone ━ Draco falou.

Granger caiu em um ataque de risadinhas incontroláveis.

━ Eu disse para você não fazer isso ━ ela engasgou, voltando para respirar.

━ Há algo gratificante em fazer você se perder completamente.

Granger cheirou e enxugou seus cílios com um guardanapo.

━ É uma visão rara, espero que você esteja apreciando.

━ Eu estou ━ Draco disse.

E ele estava. Os olhos escuros de Granger estavam brilhantes de felicidade.


Suas bochechas estavam coradas, seus lábios estavam avermelhados pelo
vinho. Seu cabelo em sua trança solta serpenteava até a cintura, uma linha
escura contra seu vestido de verão branco. Suas pernas estavam curvadas
sob ela; ela parecia delicada e frágil, e pequena o suficiente para caber
perfeitamente no colo de um homem, se um homem estivesse pensando
nessas coisas. Draco certamente não estava.
E a luz das velas a amava. Ela beijou em sua testa e cintilou toques quentes
em sua clavícula. Ela dançou em seus olhos.

O efeito foi encantador.

Draco afundou, inconsciente, em um estado de suave fascinação.

Um acordeonista começou a tocar, em algum lugar perto do hotel, enchendo


o ar de romance.

━ Senhor, seu creme de caramelo. A volta à realidade foi chocante.

━ Obrigado ━ Draco disse, em vez de comer a porra do creme de caramelo.

Granger estava comendo sua sobremesa, felizmente inconsciente do


devaneio de Draco, graças aos deuses. Ele decidiu culpar o vinho por torná-
lo um cretino com olhos de lua esta noite. Isso e muito poucas transas
recentes, claramente, se ele iria se distrair e sonhar acordado com Granger,
com todas as bruxas em sua vida.

Ajudaria se ela não parecesse uma adorável dríade grega esta noite, prestes
a se juntar à comitiva de Artemis.

Desde quando Granger era bonita?

Que desenvolvimento agravante.

━ Você está bem? ━ Ela perguntou.

━ Por que? ━ Draco perguntou, injetando alguma irritação na sílaba, para


soar absolutamente normal.

━ Você mal tocou na sua sobremesa ━ Granger disse, gesticulando para o


creme de caramelo de Draco com sua colher. ━ Bastante atípico.

Havia outras coisas acontecendo que eram bastante atípicas, mas se essa era
a única que o cérebro estava pegando, Draco estava bem.

━ Estou saboreando ━ ele falou. Deu uma mordida lenta para demonstrar.
A sobrancelha de Granger se contraiu.

━ Pare com isso.

━ Parar o que? ━ Draco perguntou.

━ Ser indecente com a colher.

━ Estou usando a colher. Qualquer outra coisa é fruto da sua imaginação.

Granger estreitou os olhos para ele. Draco deu outra mordida lenta,
mantendo um nível desagradável de contato visual. Ela desviou o olhar.

━ Agora você não está comendo o seu. ━ Ele apontou.

━ Eu perdi meu apetite vendo você beijar os talheres ━ Granger fungou.

━ Você não vai terminar?

━ Não. Você quer?

━ Eu prefiro que você engula isso e tenha força para o mosteiro. Se as


freiras ficarem bambas, amanhã pode ser bastante extenuante, magicamente
falando.

Granger terminou seu creme caramelo obstinadamente, se não com


entusiasmo.

Draco se viu observando-a agora com um olhar crítico. Quando a


conhecera, em janeiro de muito tempo atrás, ficara impressionado com a
magreza exausta que tornara seu rosto severo e macilento. Parecia-lhe que
ela tinha uma aparência ligeiramente mais saudável, agora – mas apenas
ligeiramente. Ela era um pouco menos ossuda, um pouco mais rosada nas
bochechas.

Granger gesticulou para o garçom para pegar a conta.

━ A conta, por favor.


Seu braço levantado fez Draco perceber que seu vestido tinha deixado seus
braços nus, algo que a escolha de traje de Granger normalmente tendia
contra. E agora, precisamente porque estava tentando não chamar a atenção
dele, o antebraço esquerdo dela chamou sua atenção – havia um feitiço
Não-Me-Note ali.

Ele deliberadamente olhou para a mesa ao lado, permitindo que Granger e


seu braço deslizassem em sua visão periférica. Ali, um borrão na pele de
seu braço.

Ele percebeu o que o glamour estava cobrindo com uma sensação nauseante
em seu estômago. Uma memória vívida voltou, da obra de Belatriz, dura
contra a pele de Granger. De Granger, flácida e exausta, deitada como uma
coisa morta no chão da sala de visitas. Do sangue escorrendo das letras
recém-esculpidas.

Draco nunca mais usou a palavra sangue-ruim depois disso.

Agora havia algo terrivelmente triste no hábito de Granger de usar mangas


compridas. No feitiço discreto que ela lançara para poder usar um vestido
bonito. Draco escondeu sua própria vergonha do braço interior do mundo,
mas ele teria pensado que ela, de todas as pessoas, seria capaz de curar a
dela. Claramente, ainda carregava a marca da faca de Belatriz.

━ Malfoy?

Draco piscou.

━ Hum?

━ Você ficou quieto.

Granger pagou a conta com dinheiro trouxa. Ela estava se levantando da


cadeira.

Draco se levantou com ela.

━ Só pensando no amanhã.
Mas, na verdade, ele estava pensando em um ontem distante, quando essa
bruxa foi mutilada nos corredores de sua casa. E ela ainda carregava a
cicatriz e a escondia, dele e de todos, mas ainda estava lá. Um lembrete
diário para ela, de crueldade e ódio doentio. De quão perto esteve da morte.
De quão perto seu mundo tinha chegado a um ponto sem retorno.

Ele queria dizer alguma coisa a ela – palavras de pesar ou de desculpas –


mas tais palavras não lhe vinham facilmente, e ele não conseguia ver uma
conversa como aquela ir a lugar algum, a não ser a lugares difíceis e
embaraçosos.

Enquanto eles ziguezagueavam pelas mesas no cais, Draco concluiu que


não era bem o momento. Mas, observando o borrão do glamour roçar suas
saias enquanto ela caminhava, ele determinou que haveria um momento e
encontraria as palavras. Não esta noite, mas alguma noite.

O sol estava finalmente se pondo, languidamente, preguiçosamente, nesta


linda noite, solstício de verão a menos de um dia.

Granger estava olhando melancolicamente ao longo da praia rochosa.

━ Deve haver um marco ali, onde Madalena teria pisado pela primeira vez
na França.

━ Suponho que isso estava no seu itinerário?

━ Foi, mas fiquei sem tempo.

━ Vamos ━ ele disse.

Granger olhou para ele com surpresa.

━ Você viria?

Draco deu a ela seu encolher de ombros mais indiferente.

━ Gosto de uma caminhada.

A surpresa de Granger se transformou em um tipo prudente de prazer.


━ Tudo bem, é uma caminhada de quinze minutos, dessa forma. Foi o que o
guia disse, na verdade.

Eles escalaram e deslizaram por grandes pedregulhos até a praia rochosa,


onde encontraram uma espécie de caminho costeiro. Granger levou Draco
junto, apontando características de interesse geológico ou histórico à
medida que avançavam. As vistas tornaram-se progressivamente mais
dramáticas à medida que eles deixavam a baía rasa em que o hotel estava
aninhado e percorriam o promontório.

A maré começou a subir. Draco arregaçou as calças e as mangas da camisa


(garantindo, neste último ponto, que seu próprio feitiço estava no lugar),
então amarrou os sapatos e os pendurou no ombro. Granger carregava suas
sandálias enganchadas entre os dedos. Eles mergulharam em piscinas de
rochas salgadas, tão quentes quanto a água do banho. O som do acordeão no
cais desapareceu; agora era apenas o pulsar do coração das ondas.

Eles serpentearam em um bando de centenas de aves marinhas, que


decolaram ao redor deles e se desdobraram nos céus em um zumbido de
batidas de asas e gritos do mar. Foi um momento surpreendente de
sublimidade que levou um pouco de suas almas com ele. Granger observou
o desaparecimento dos pássaros no azul com um suspiro suave, as pontas
dos dedos na clavícula, os lábios entreabertos.

Granger disse "Lindo," e Draco disse "Sim," mas eles não estavam falando
sobre a mesma coisa.

Eles continuaram. O marco do ponto de chegada de Madalena era uma


modesta pedra, meio enterrada na areia, na ponta do promontório. Algumas
flores cortadas estavam espalhadas, assim como velas lutando
corajosamente para permanecer acesas na brisa.

Granger forneceu a Draco muitos detalhes sobre a lenda da expulsão de


Madalena da Terra Santa, quais discípulos estavam com ela e quando
chegou a esta costa. Ele pouco se importava com os detalhes, mas estava
feliz com a desculpa para manter sua atenção nela, no jeito que o vento
balançava sua trança aqui e ali, em suas pernas nuas gotejando água do mar.
A certa altura, ela quase perdeu o equilíbrio nas pedras molhadas e seus
dedos tocaram o braço dele. Eles foram rapidamente retirados.

Draco disse que achava que havia lugares piores para pousar do que
Provença. Granger disse que também pensava assim. Draco perguntou se
Madalena teria comido tâmaras recheadas com pasta de amêndoas quando
estava aqui. Granger imaginou que foi ela quem trouxe a receita da Terra
Santa, em primeiro lugar. Draco disse que roubar o crédito por uma criação
culinária tão sublime era uma coisa classicamente francesa de se fazer.
Granger concordou.

Então eles caíram em silêncio e ficaram onde a terra encontrava o mar,


respiraram o ar doce e sentiram cócegas pela brisa salgada. Pequenas ondas
se esforçavam para passar dos joelhos antes de se pulverizarem em
salmoura.

Draco encontrou uma estrela do mar. Granger ficou encantada com a


descoberta, se agachou para olhar para ela e interrogou Draco sobre qual
espécie era, mas ele disse que não tinha a menor idéia.

Eles se viraram para caminhar de volta ao hotel, chapinhando pelas piscinas


de maré morna, ondas grudadas espumosas em seus tornozelos. Suas mãos
se tocaram uma ou duas vezes, e eles pediram desculpas e se afastaram um
do outro, continuaram andando, e então seus cotovelos se tocaram, por
acidente, porque eles se juntaram novamente.

As grandes pedras perto do cais representavam mais dificuldade para


Granger na subida do que na descida; ela se levantou, indecisa, segurando a
varinha no bolso, mas havia trouxas por perto, e seus planos de transfigurar
uma escada foram interrompidos.

Draco veio por trás dela e a levantou em um movimento suave, recebendo


um grito indignado e um rosto cheio de pontilhados cor de areia por seus
problemas. A cintura dela parecia estreita e esticada entre as palmas das
mãos dele e quente.

Ele não precisou de sua ajuda para subir atrás dela, mas mesmo assim
aceitou a pequena mão que ela estendeu para ele e se divertiu com o esforço
sério que ela colocou em seu puxão.

Eles serpentearam de volta para o hotel.

O sol derramou ouro no horizonte. Com o brilho atrás dela, Granger parecia
estar vestindo nada além de luz.

──── ◉ ────

Éeee, Draco, talvez tenhamos um problema de coração aí, hein?

Ele está considerando Hermione com outros olhos agora, e por aqui eu
gosto de dizer que o "romance" começa. Acho que irão gostar do
desenvolvimento nos próximos capítulos.

Gostaram? Sei que minha demora acaba fazendo com que a fluidez dos
capítulos se perca, mas esse foi difícil de traduzir, fora o meu tempo
escasso. Eu queria ter postado ele no sábado, mas voltar para minha
cidade também complicou tudo.

Bom, apenas para reforçar, as passagens "simples" em itálico são em


francês na história original, por isso mantenho-as assim.

Os próximos capítulos são beeeem mais curtos, então se tudo der certo,
atualização dupla dia 14/07.

Um beijo!
14. Vá Para um Convento

Oi, bebês!

É, eu sei... eu sei... eu sou uma pessoa indecisa kkkkk. Bom, felizmente tem
capítulo hoje! Acordei inspirada e com vontade de traduzir, já que o dia
hoje no trabalho foi mais tranquilo. Porém, reforço que isso não será
padrão. O que falei no perfil se mantém; meus horários são malucos e não
tem uma constância de atualizações.

Esse capítulo tinha algumas fotos originais que eu, sinceramente, achei que
foi "encheção de linguiça". Nada que realmente ilustre o capítulo ou traga
mais sentido visual à escrita, então coloquei as essenciais. Aviso também
que a tradução foi cansativa, então qualquer erro, já sabem.

Boa leitura e até logo!

──── ◉ ────

De volta ao hotel, Granger observou Draco enquanto ele tentava


transfigurar sua cama em algo mais resistente do que a oferta atual. A
transfiguração tornou-se exponencialmente mais difícil em escala, no
entanto, e tudo o que ele conseguiu fazer foi torná-la atarracada e
desequilibrada.

━ Uma tentativa muito justa ━ Granger disse, dando-lhe um tapinha na


cabeça. (Ele estava surpreso demais para ficar indignado.)

━ Estou esperando que você tenha pena de mim ━ Draco ofegou.

Ela assentiu com uma espécie de benevolência exagerada. Passou dez


minutos jogando o estrado em uma cama confortável, explicando o que
estava fazendo enquanto caminhava, e quais Princípios e Leis Draco não
estava aplicando corretamente para uma Transfiguração tão grande.

━ Por que você não ficou em Transfiguração? ━ Draco perguntou,


interrompendo a palestra. ━ Por que a cura?

Granger olhou para cima de onde ela estava transformando a colcha gasta
em um cobertor de pelúcia.

━ As aplicações práticas da Transfiguração atingem o nível de Maestria; os


estudos de doutorado se tornam obscuros e teóricos. A cura era um ramo da
magia que oferecia mais escopo para ajudar as pessoas no mundo real. E a
cura se harmonizava mais facilmente com meus estudos em medicina
trouxa, é claro.

Os travesseiros tristes e grisalhos foram transformados em almofadas


brancas e fofas. Granger deu a Draco um rápido olhar.

━ Você completou mais estudos depois de Hogwarts?

A pergunta foi feita com uma espécie de curiosidade autoconsciente. Draco


pensou que esta poderia ter sido a primeira vez que ela lhe perguntou algo
pessoal.

━ Bacharelado em Alquimia e Mestre em Duelos ━ ele respondeu.

━ Oh! Muito bem. Eu sempre disse a Harry e Rony que eles deveriam
considerar algo como Duelo. Mas, bem... ━ Aqui, diante da sobrancelha
cinicamente levantada de Draco, Granger terminou, fracamente: ━ Eles
nunca amaram a academia.

━ Aqueles dois cabeças-duras nem têm seus NIEMs. Não teriam


sobrevivido um dia ━ disse Draco, irritado que ela ousasse considerá-los de
seu calibre.

━ Eles não são idiotas ━ ela disse, um punho no quadril.


━ A totalidade do ano de fundação do programa foi teoria e filosofia da
magia marcial. Quando foi a última vez que o Cicatriz e Weasel leram um
livro?

━ Esta é uma pergunta retórica? ━ Granger perguntou.

━ Não. Responda-me.

━ Nossa. ━ Granger ficou em silêncio enquanto pensava, um dedo no lábio.


Por fim, sem se lembrar de nenhuma memória recente, ela disse: ━ Só
porque eles não mencionaram a leitura de um livro para mim, não significa
que não tenham lido um.

Draco descartou isso com uma zombaria.

━ Revistas de Quadribol contam? ━ Ela perguntou em desespero moderado.

━ Não.

━ Anos ━ Granger concedeu com um suspiro relutante.

━ Você teria feito melhor do que aquele par de babacas ━ Draco disse. ━
Exceto pelos práticos. Gritos demais, xingamentos insuficientes. Maître
Toussaint teria comido você viva.

━ Você fez isso na França?

━ Universidade de Paris.

━ Mm. Veja bem, meus mestres franceses quase me comeram viva. Seus
métodos pedagógicos consistiam principalmente na intimidação. Fiz uma
concentração na Sorbonne. Eu chorava todos os dias.

━ Melhor do que sangrar todos os dias ━ ele disse, com um tipo heróico de
indiferença. (Foi, em sua defesa, apenas um exagero.)

Granger mordeu o lábio.


— Vou parar de reclamar então, certo?

Draco quase se ofereceu para mostrar a ela suas cicatrizes mais arrojadas,
mas lembrou, bem a tempo, que Granger tinha as suas próprias, e que não
seria bom embarcar em uma competição nessa frente.

Agora era hora de se preparar para dormir. Um constrangimento fez com


que a sala parecesse próxima e quente. Ambos continuaram como se não
sentissem isso.

Granger trocou de roupa para dormir no banheiro. Ela aparentemente havia


escolhido o pijama de algodão mais horrivelmente modesto de seu guarda-
roupa para esta escapada de fim de semana.

━ O que? ━ Perguntou, sob o olhar de Draco.

━ Isso me fez lembrar de McGonagall ━ ele disse. ━ Você vai beliscar


minha orelha e me chamar de travesso?

━ Você acha os shorts trouxas indecentes, lembra? ━ Ela falou. ━ Minha


outra opção era uma negligee, o que certamente teria ofendido sua
sensibilidade.

Draco achou que preferia ter gostado de ver esse negligee. Em voz alta, ele
disse:

━ Mais do que este tapete de piquenique que você está usando? Impossível.

━ Ah, sim. ━ Granger subiu em sua cama. Draco notou que ela havia se
apropriado de seu tomo em proteções. Ela acenou com a mão para ele. ━
Bem, vá em frente... vá se trocar, e vamos dar uma olhada em seus pijamas
de alta costura.

Draco escovou os dentes e vestiu seu habitual pijama de seda preta. Era
uma sensação estranha, esperar o julgamento de Granger sobre sua escolha
de traje de dormir. Não que ele desse a mínima para o que ela pensava, ou
qualquer coisa.
Ele caminhou de volta para fora do banheiro.

━ Cuidado, Granger. Sou incrivelmente atraente de preto.

Granger o observou por cima do livro.

━ Irresistível ━ ela disse secamente. ━ Estou arruinada.

O sarcasmo foi empolgante.

Draco sacudiu a poeira inexistente de seu ombro.

━ Não é, no mínimo, uma capa de assento do Expresso de Hogwarts.

━ Mm, bastante lúgubre, no entanto.

━ Perdão?

━ Fúnebre, realmente ━ Granger fungou. ━ Quem morreu?

━ Sua inteligência, cerca de um minuto atrás.

━ Eu era espirituosa antes?

━ Em grau limitado.

Um sorriso estava puxando as bordas da boca de Granger. Ela ergueu o


livro para escondê-lo.

━ Mais do que posso dizer sobre você.

━ Cuidado com a sua boca, ou vou revogar seus privilégios de leitura.

Granger ergueu as mãos.

━ Paz. Cessar-fogo?

━ Eu aceito.
──── ◉ ────

Draco tinha nutrido uma suspeita de que Granger era uma daquelas odiosas
pessoas matinais. Ela provou isso assim que pôde no dia seguinte,
lançando-se para fora da cama na profana hora das cinco e meia.

O sol nasceu com ela nesta manhã de Solstício e parecia igualmente


obcecado em negar a Draco sua preferência, boa e saudável, deitada até às
onze da manhã.

Para agravar ainda mais sua irritação, Draco acordou duro. Ele permaneceu
imóvel, de bruços na cama, enquanto Granger brincava com sua mala,
reclamou de ter dormido mal e finalmente entrou no chuveiro.

Ele acenou para longe de sua indecência com sua varinha, tentando se
lembrar de quando tinha acordado pela última vez com tanta raiva. Puta que
pariu, ele precisava de uma transa.

Granger foi rápida no chuveiro. Então, cheirando a sabonete e pele quente,


ela parou ao lado da cama de Draco e limpou a garganta.

━ O que? ━ Draco disse irascivelmente no travesseiro.

━ Você está acordado?

Draco achou que deveria se nomear para a santidade, tendo em vista as


piadas que ele não fez.

━ Vá embora ━ ele disse.

━ Devemos sair logo ━ Granger falou.

━ Você disse oito ━ Draco disse.

━ São quase oito ━ ela retrucou.

Draco abriu um olho para observar o relógio ao lado da cama.

━ Isso é besteira. São seis. Por favor, vá se foder.


Granger, claramente cheia de energias ansiosas, soltou um suspiro.

━ Tudo bem. Ok. Eu vou encontrar um café da manhã para nós.

━ Não volte antes das oito ━ Draco rosnou em advertência.

A ameaça fez com que o Granger recuasse.

━ Ou o que?

Vou arrancar sua cabeça.

Você é um lobisomem? ━ Ela perguntou.

━ Eu poderia me tornar um para o propósito ━ ele respondeu.

━ Certo. O que você quer?

━ Que você vá embora. Evidentemente.

━ Para comer, quero dizer.

━ Não se importe. Deixe-me dormir.

━ Certo.

Granger saiu um pouco ofendida.

Draco tentou continuar dormindo. Em vez disso, ele foi visitado por uma
segunda ereção, que ele cuidou irritado no minúsculo chuveiro. Foi
insatisfatório e ele bateu o cotovelo contra a parede fazendo isso, mas foi
um alívio.

Granger voltou às oito em ponto – abençoe-a por ocasionalmente seguir


instruções – trazendo o café da manhã. Consistia em manteiga, geléia e uma
baguete e, para beber, dois cafés.

━ Ambos são para você ━ disse, pressionando os dois copos nas mãos de
Draco. ━ Espero que você seja menos idiota pelo resto da manhã.
Draco, ainda irritado, pegou as oferendas sem palavras, e saiu para a
pequena sacada para apreciá-las em paz.

Quando ele voltou para o quarto (sentindo-se substancialmente menos


inclinado a arrancar a cabeça de Granger), ela vestiu seu kit de caminhada.

━ Vamos colocar nossos disfarces?

━ Vamos.

Granger virou para o outro lado enquanto Draco vestia seu desajeitado traje
de caminhante trouxa recém-casado. Ele enfeitiçou seu cabelo para parecer
menos Malfoy. Granger fez o mesmo, para parecer menos Granger.

━ Preparado? ━ Ela perguntou.

━ Pronto ━ ele disse.

Eles se viraram e olharam um para o outro.

━ Engraçado ━ ela falou.

━ Hilário.

Granger havia escolhido deixar seu cabelo louro-branco e liso e mudar seus
olhos para um cinza frio. Draco havia escolhido uma mecha de cachos
escuros e olhos castanhos.

━ Você parece aterrorizante ━ Draco disse.

━ Você parece ridículo ━ Granger disse.

━ Você parece o cadáver de uma Veela.

━ Seu cabelo parece uma peruca púbica.

Essa troca de gentilezas concluída, Granger perguntou:

━ Vamos piorar tudo?


Draco assentiu e colocou os óculos escuros que havia comprado para a
ocasião. Eles eram em forma de coração e rosa e maravilhosamente
exagerados. Granger olhou para eles por um longo momento, então
declarou que ela queria um também e conjurou um par combinando.

Arte por catmintandthyme


Assim equipados, iniciaram a subida em direção ao mosteiro; um
preâmbulo agradável e suado para uma violação sacrílega de uma relíquia
inestimável.

A subida foi, como prometida por Granger, um pouco trabalhosa. Era cedo
o suficiente para que o calor do dia não os derretesse completamente. À
medida que subiam, eram protegidos do pior do sol por uma catedral de
árvores que filtrava a luz em verdes frescos. Jacintos brancos pontilhavam a
vegetação rasteira. Cheirava a terra e cogumelos.

Entre ofegos para respirar, Granger forneceu a Draco as histórias dos vários
peregrinos que percorreram esse caminho, e os supostos milagres que se
seguiram.

Draco disse que, por mais fascinantes que essas histórias fossem, ele a
aconselharia a economizar fôlego para a escalada e se concentrar. Ela não
ouviu o conselho dele. Mais ou menos na metade de uma subida íngreme,
sua palestra a distraiu demais e ela tropeçou para fora do caminho e caiu em
uma vala cheia de lama. Sua varinha, que ela estava usando para remover o
crescimento espinhoso, permaneceu no caminho com Draco.

Draco, vendo que Granger estava ilesa no fundo da vala, assumiu uma
posição contemplativa, encostando o ombro em uma árvore.

━ O que você fez lá, Granger, foi uma merda.

━ Obrigado por essa observação instrutiva. ━ Granger estava rabugenta, por


algum motivo.

Draco então generosamente explicou a ela quais princípios e leis da física


ela não estava aplicando corretamente.

Ela tentou escalar para fora, o que só a afundou ainda mais nos arbustos.

Draco observou com grande interesse.

━ Loiras realmente se divertem mais.


Granger desistiu da escalada, distraída pelo estado rasgado de suas roupas,
cortesia dos arbustos.

━ Ah. Estas eram novas.

━ Parece que você perdeu um gol quadrado com um Jack Russell ━ Draco
disse.

Granger parecia irritada.

— Você vai me ajudar a levantar?

━ Você tem uma vassoura ━ ele falou.

━ Não ━ Granger disse. ━ Passe-me minha varinha.

━ Mas a vassoura está bem ali. Contigo. No seu bolso.

━ Não. Você está bravo? É a sua vassoura mais rápida. Vou me dar uma
lesão cerebral traumática.

Draco zombou.

━ Você não é tão terrível em voar. É?

Granger o encarou, ambas as mãos nos quadris. Então ela mudou de rumo.

━ Como está sua perna?

━ Tudo bem...

━ Mentiroso. Você esteve escondendo isso nos últimos quinze minutos.

O que era verdade, mas Draco esperava que ela não tivesse notado.

━ Você quer que eu dê uma olhada? ━ Granger perguntou.

━ Não ━ ele respondeu.


━ As mordidas de mantícora são desagradáveis ━ ela disse. ━ Você tem
acompanhado os exercícios que Parnell lhe deu?

━ Não é da sua conta ━ Draco retrucou, porque a resposta era não, porque
ele era um procrastinador, e então se esqueceu.

━ É o seu ligamento posterior, não é? Eu posso dizer pelo seu andar.

━ Você está querendo me subornar com uma cura para evitar usar a
vassoura, não é?

━ Sim. Está funcionando?

Draco considerou a bruxa enlameada no fundo do poço. Então, considerou a


hilaridade de ver Granger tentar montar sua vassoura. Então, considerou a
dor em seu joelho.

A dor venceu. Ele precisava ser ágil, para o que quer que o mosteiro jogasse
neles. Infelizmente.

Draco jogou a varinha de Granger para ela.

Ela fez um trabalho rápido de sua fuga, depois disso. A terra diante dela se
dividiu em uma plataforma que, impulsionada por raízes grossas, a levou de
volta ao caminho.

Granger com a varinha de volta na mão parecia bem mais perigosa do que a
sem varinha na vala. Ela estava olhando para Draco com algo menos do que
bondade por sua risada às custas dela. O calor disso prometia vingança.

No entanto, um acordo era um acordo (que Deus a abençoe, você sempre


pode contar com ela para isso) e a varinha de Granger logo foi apontada
para o joelho de Draco e o alívio da cura se espalhou por ele.

━ Você precisa fazer os exercícios ━ falou, tirando a poeira. ━ A cura só


pode ajudar até certo ponto. Não seja preguiçoso. Você só tem dois joelhos.
━ Sim, sim, você está certa, é claro. Vamos continuar. Já perdemos tempo
suficiente com sua vagabundagem em valas.

Agora, ao som do corpo, Draco caminhou pelo caminho, com Granger


correndo atrás dele para acompanhá-lo, murmurando coisas rudes em suas
costas.

Finalmente, eles chegaram ao mosteiro. Granger havia explicado que havia


sido construído na entrada da gruta onde a Madalena se refugiara pela
primeira vez, que agora servia de capela.

Draco e Granger levaram um momento para camuflar suas varinhas sobre


suas pessoas e reorganizar sua linguagem corporal mutuamente hostil para a
de Recém-casados ​Trouxas Desajeitados. Eles andaram um ao lado do
outro, o braço de Granger enganchado no de Draco.

O primeiro obstáculo foi a Irmã na porta do mosteiro – uma mulher mais


velha, observando sua aproximação com uma expressão severa.

━ Ah não, não, não. Sem visitas hoje; o mosteiro está fechado ━ a irmã
disse.

Granger, enxugando o suor da testa, fingiu choque, e perguntou por que.

A Irmã explicou que era o Solstício do Verão; todos estavam na Basílica


abaixo. Eles eram bem-vindos para participar das celebrações lá. Não
haveria cultos na capela do mosteiro hoje.

Granger fez uma boa aproximação da angústia. Draco entrou com uma
explicação para a freira que a peregrinação ao mosteiro era de significado
espiritual para ambos, e que eles passaram a lua de mel aqui especialmente
para visitar. Ela não consideraria fazer uma exceção?

Granger fungou que tudo o que ela queria fazer era acender uma vela e
fazer uma oração para Madalena, porque ela era uma pecadora arrependida
e precisava de sua bênção sagrada.
Draco fez um grande show para confortar sua esposa soluçando. (Foi
interessante embalar Granger e sentir a respiração dela em seu peito através
de sua camisa. Foi surpreendentemente... bom. Ele iria com bom.)

Ele acariciou seu bumbum teatralmente; ela enrijeceu e seu aperto em seu
braço aumentou.

A freira franziu os lábios enquanto observava o espetáculo.

Draco passou pela frente da mente da freira com um leve toque de


Legilimência para determinar se ele precisava começar atordoar. Ele
descobriu que os óculos escuros empoleirados em suas cabeças eram o fator
decisivo: a freira concluiu que eles eram idiotas sem graça, e que uma breve
visita não faria mal, apesar das instruções da prioresa.

A freira os conduziu pelo pequeno mosteiro até a gruta de Madalena.

━ Quinze minutos ━ disse com um movimento severo do dedo.

Quinze minutos certamente não eram suficientes para seus planos nefastos,
mas Draco e Granger expressaram alguma gratidão.

━ Velhota rabugenta ━ Draco disse quando a freira saiu.

━ Shh ━ Granger sibilou. ━ Ela vai nos expulsar.

━ Nos chutar, você pode dizer.

Granger fez uma careta.

━ Talvez não.

Draco concluiu que estava bêbado com ela.

━ Você fez um bom trabalho mentindo, pelo menos ━ ele falou.

━ Eu posso mentir ━ ela contou. ━ Uma vez eu blefei ao passar pelos


goblins de Gringotes, sabe. Eu me saio bem quando não estou sendo
paralisada por aquelas – aquelas lanças que você chama de olhos.
━ Hipnotizada, você diz.

━ Perfurada. Empalada, até. Desvie o olhar antes de me cortar em pedaços.

Draco desviou o olhar, divertido. Ele não disse a ela que seus olhos tinham
um efeito contrário – de atrair, de puxar. Às vezes, se ele não estivesse
cauteloso, travar os olhos com ela parecia cair, como cair de cabeça.

Mas chega de bobagem sobre os olhos.

Eles fizeram um balanço da gruta.

A capela. (Foto: M. Disdero)

Era muito maior do que Draco havia imaginado – bem mais uma caverna –
contendo uma capela inteira. As paredes estavam pontilhadas com velas
votivas. Fissuras na caverna haviam sido bloqueadas por vitrais, que
banhavam o lugar em vermelhos e azuis profundos.

Não havia ninguém por perto. Em um canto escuro da caverna, Granger


transfigurou duas estátuas em réplicas ajoelhadas de si mesma e de Draco, e
colocou um conjunto de velas na frente delas. Se a freira da guarda os
verificasse, suas silhuetas estariam curvadas em contemplação silenciosa na
extremidade da gruta.

Granger também colocou a primeira de suas runas incendiárias na base da


estátua de Madalena. "Mas não muito perto", ela sussurrou enquanto
acendia o símbolo. "Eu não quero realmente danificá-lo..."

Enquanto isso, Draco estava lançando seus feitiços de detecção, que lhe
diziam que havia cerca de cinco freiras no local.

━ Pode haver mais. Esta rocha torna difícil dizer. Então são cinco bruxas e
uma quantidade incalculável de proteções.

━ Muito melhor do que as cinquenta bruxas usuais, de qualquer maneira ━


Granger falou.

Satisfeita com a disposição de seus sósias de pedra, Granger rastejou pela


borda da gruta e enfiou a cabeça na passagem que levava da gruta à cripta.

Passos ressoaram naquela mesma direção um momento depois. Uma freira


mais jovem apareceu e perguntou, surpresa e aborrecida, o que Granger
achava que ela estava fazendo. Ela respondeu:

━ Desculpe, estou procurando o banheiro.

A freira levantou um dedo para apontar para a placa dolorosamente clara


acima da porta que dizia ACESSO INTERDITADO e perguntou se Granger
podia ver através daqueles óculos bobos. Então perguntou por que eles
estavam aqui, e quem os havia deixado entrar; o mosteiro foi fechado. E (de
repente notando os sósias de pedra), o que era aquilo.
A freira estava ficando muito nervosa para brincar com a atrapalhada.
Draco interrompeu sua missão de apuração de fatos, atordoando-a sem
alarde.

━ Merda ━ Granger falou. ━ Mas, infelizmente, necessário.

Ela insistiu que ficasse encarregada de quaisquer obliviações. Removeu os


últimos cinco minutos da mente da freira com, reconhecidamente, muito
mais cuidado do que Draco teria.

━ Seu atordoamento vai durar pelo menos mais vinte minutos? ━ Perguntou.

━ Meia hora, a menos que ela tenha sangue de Troll.

━ Bom. ━ Granger transfigurou a freira em um banco e a fez flutuar contra a


parede. ━ Vamos continuar.

Ela lançou um feitiço de silenciamento ao redor dos dois enquanto Draco os


desiludiu, seguido por feitiços de não-me-note para garantir. Eles
continuaram pela passagem que levava da gruta à cripta.

Como planejado, Draco assumiu a liderança, fazendo um pequeno


reconhecimento em cada esquina antes de deixar Granger seguir. Ela
derrubou mais duas runas enquanto eles iam.

Eles encontraram as primeiras alas de alarme na escada que descia para a


cripta. Draco os dispensou sem problemas, mas prosseguiu mais devagar
depois – agora eles estavam se aproximando de onde as coisas poderiam se
tornar interessantes.

Eles encontraram duas escadas ilusórias que levavam a cativeiros. Draco


desarmou algumas armadilhas desagradáveis ​acionadas por pressão.
Granger cuidou de um sacrilégio ardente voltado para seus corações.

━ As Irmãs não são muito legais ━ ela disse. Draco podia ouvir a carranca
em sua voz.
Na parte inferior da escada de pedra, o ar ficou viciado e mofado. Eles
chegaram ao portão da cripta e, com ele, seu primeiro verdadeiro desafio:
um Bloqueio de Sangue.

━ Isso é magia das trevas ━ ele disse. ━ Essas freiras não estão brincando.

━ Precisamos daquela freira atordoada ━ Granger falou. ━ Nós deveríamos


voltar...

━ Não temos tempo. Accio ━ Draco disse, acenando com sua varinha em
direção à freira Transfigurada, que estava deitada como um gato
esparramado em algum lugar acima deles.

━ Mas ela não é muito pesada para uma invocação...?

Granger claramente não tinha ideia das capacidades de Draco. Ele não
respondeu, concentrando sua vontade no voo do banco volumoso,
atualmente zunindo pela passagem acima deles. Se alguma freira tivesse a
infelicidade de estar em seu caminho, ela seria sumariamente pulverizada.

Houve algumas batidas quando o banco desceu a escada em direção a eles.

━ Uau ━ Granger disse ao ver essa exibição absurda, mas impressionante.

━ Você só tinha que transfigurá-la no maldito peso de um banco de verdade


━ Draco ofegou quando o banco cambaleou à vista.

Granger desfez a transfiguração na freira atordoada com resmungos sobre a


importância da precisão. Então, Draco observou a forma desiludida de
Granger pairar indecisa sobre o corpo flácido.

Vendo que ela não tinha culhão para fazer a parte suja, puxou sua faca.

━ Um corte leve ━ pediu. Havia apreensão em sua voz. Danos corporais a


outros tinham sido um Plano F distante e no pior cenário.

Draco pegou a mão da freira e cortou a palma dela. Ele a pressionou na


superfície lisa de obsidiana do Bloqueio de Sangue.
━ É melhor esperar que ela tenha permissão para abrir isso, ou vamos caçar
a Prioresa.

━ Espero que não... ela provavelmente está de volta à vila.

Por um longo momento, nada aconteceu.

Então o Bloqueio de Sangue brilhou dourado e se abriu.

Granger suspirou de alívio. Enquanto Draco verificava se havia mais


proteções além do portão, ela curou a mão da freira atordoada, então a
transfigurou novamente – desta vez, em uma arandela para combinar com
as outras ao longo da parede.

━ Não poderia ter feito isso em primeiro lugar? ━ Draco perguntou.

━ Não havia tochas lá em cima! ━ Granger rosnou. ━ Ela precisava ser


camuflada!

Eles se mudaram para a cripta – de paredes molhadas, mofadas e fedendo a


séculos de morte. Granger, enfiada atrás de Draco, murmurou instruções
para ele enquanto seguiam. Ela havia guardado a totalidade da área
labiríntica na memória, com base em quaisquer textos antigos que ela tinha
em suas mãos. Se o progresso deles por uma passagem fosse bloqueado, ela
teria três alternativas prontas.

Draco desarmou uma série de proteções cada vez mais maliciosas –


proteções que dificilmente mereciam o nome, na verdade; eram maldições.
Ele os desacelerou para um rastreamento.

━ Porra, um Glifo Eviscerado? ━ Ele murmurou enquanto pegava a próxima


proteção. ━ Essas freiras são assassinas.

Ele sentiu Granger espiar em seu ombro e observar sua varinha translúcida
desarmar a coisa.

━ Estes são mais sombrios do que eu esperava ━ ela falou.


━ Como estamos fazendo com o tempo?

━ Cinco minutos até o velhota da entrada vir nos atormentar. Talvez dez, se
ela recuar ao ver nossas cabeças piedosas.

━ Isso está indo muito mais devagar do que eu gostaria ━ Draco disse,
acelerando o passo, sua varinha erguida para detectar mais ameaças.

━ Eu sei ━ Granger falou, a preocupação apertando sua voz.

Eles continuaram em passagens progressivamente mais estreitas, passando


por vários séculos de ossos empilhados e corpos mumificados pela
passagem do tempo. A varinha de Draco sendo usada de outra forma,
Granger conjurou um círculo de chamas azuis ao redor deles para iluminar
o caminho, junto com seu Lumos.

Por um tempo suspeitosamente longo, não houve outras interrupções.

Então eles chegaram a um crânio de bode sorridente, flutuando no meio da


passagem. Parecia inofensivo e inerte, simplesmente suspenso no lugar.
Esculpido no chão empoeirado abaixo havia um pentagrama.

Draco cerrou os dentes: este, ele tinha lido no texto sobre os monges
dominicanos.

━ O que é isso? ━ Granger perguntou às costas de Draco.

━ Barreira de Belzebu ━ respondeu. ━ Eu esperava que não encontrássemos


isso."

━ Por que? O que acontece se acionarmos?

━ Um caso bastante sério de possessão demoníaca. A propósito, nenhum de


nós é devoto o suficiente para lidar com isso.

━ Eca. Como podemos desarmá-lo?

━ Sacrifício humano.
━ O que?

━ Devo chamar a freira?

━ Não. Encontraremos outro jeito. Espere. Deixe-me pensar em um desvio.


Esta foi a rota mais direta, claro...

Depois de alguns momentos pensando – durante os quais Granger desenhou


seus mapas mentais nas costas de Draco e lhe deu um arrepio – ela os guiou
por outra passagem. Ambos estavam cientes do tempo passando.

Granger soletrou outra de suas runas incendiárias, então disse:

━ Já passamos da marca de quinze minutos.

━ Podemos esperar hostilidade no caminho de volta ━ Draco disse. Espero


que apenas quatro freiras.

━ As runas devem proporcionar uma distração ━ Granger disse, mas havia


uma irritação ansiosa em sua voz; isso não estava indo de acordo com o
planejado.

O novo caminho levava a uma Nuvem de Contágio e a um Carcerem bem


lançado, ambos desarmados por Draco.

Enquanto trabalhava, Granger, preocupada com o tempo, deu um passo à


frente dele para espiar ao virar da esquina.

Em defesa dela, Draco também não esperava outra proteção tão cedo depois
desses dois – mas lá estava. Ela tropeçou nele e uma rajada de Flechas do
Arcanista vooaram para eles de todas as direções.

Apenas os reflexos de Draco os salvaram da morte por empalamento;


enquanto as flechas de fogo zumbiam, ele empurrou Granger contra a
parede e lançou Obice circum. Em vez disso, as flechas se cravaram no
brilho de seu escudo.
━ Sua idiota! ━ Draco exclamou, seu rosto no cabelo invisível de Granger.
━ Você foi muito descuidada sobre isso. Deveria ficar atrás de mim o tempo
todo!

━ Eles colocaram três sentinelas dentro de dois metros quadrados? ━


Granger engasgou de algum lugar em seu peito.

━ Evidentemente. E agora estamos em apuros ━ Draco falou enquanto as


flechas explodiam contra o escudo.

━ Apuros?! É assim que você está chamando essa paisagem infernal?

━ Faça algo sobre o maldito fogo antes que derrube meu escudo!

Granger, estimulada a entrar em ação, deslizou sua varinha sob o braço de


Draco e acenou um comando complexo em rúnico.

As flechas de fogo fracassaram.

━ Você vai ter que me ensinar essa ━ ele pediu, afastando-se dela.

━ Outra hora ━ Granger disse, Havia um tremor em sua voz, mas se era
nervosismo ou fadiga, Draco não tinha certeza. Cada runa incendiária e
feitiço que ela usava era um dreno em sua magia, assim como cada
maldição que ele estava quebrando era um dreno na dele. Nenhum deles
esperava estar tão tenso. Na contagem de Draco, eles quebraram mais de
vinte maldições no espaço de quinze minutos

━ Estamos chegando perto, este é o último corredor ━ ela disse conforme se


aproximavam.

O teto baixava à medida que avançavam.

━ Você tem certeza de que não estamos entrando em uma câmara funerária
━ Draco murmurou enquanto se agachava para continuar avançando.

━ Sim. Este é o caminho certo. Tenho certeza de que eles apertaram de


propósito...
Draco parou abruptamente. Granger entrou em sua bunda, xingou, então
removeu suas desilusões para que eles pudessem se ver.

Draco se mexeu para que Granger pudesse observar o brilho avermelhado


quase invisível no chão de pedra, sob o brilho de sua varinha.

━ Essas freiras de merda ━ Draco resmungou.

━ O que é isso?

━ Um dos tormentos inventados pelos Cartuxos. Eles a chamavam de


Santificação Espiritual. Insetos satíricos.

━ O que ele faz?

━ Uma área de efeito Crucio. Mais fácil do que lançar continuamente.


Ótimo para pisos de masmorras.

━ Um tapete de Crucio?

━ Essencialmente.

━ Horrível. ━ Granger estremeceu.

━ Alguma rota alternativa?"

━ O Belzebu bloqueou a passagem principal. Precisamos enfrentá-lo, ou


atravessar isso...

Enquanto ela falava, uma faísca roxa brilhou na visão periférica de Draco.
Ele afastou Granger do caminho assim que a faísca explodiu em um chicote
de luz violeta viciosa. A maldição sibilou contra a parede onde a cabeça de
Granger esteve.

━ O que foi isso? ━ A boca de Granger estava aberta enquanto ela observava
o lodo roxo corrosivo roer a parede de pedra.
━ Esfolador de Mentes ━ Draco respondeu, recuperando seus pés. ━
Começo atrasado. Desagradável.

━ Esfolador de mentes? ━ Granger repetiu, ficando de pé também. ━ Essas


malditas freiras...

━ Vassoura ━ Draco disse, sua atenção de volta ao Tormento. ━ Não


devemos tocar o chão. E não sugira Wingardium Leviosa.

━ Eu não ia ━ Granger retrucou, puxando a vassoura de seu bolso estendido.


Não confiaria em mim mesmo nestas alas próximas, não com um corpo
grande e maldito como o seu para carregar...

Eles montaram na vassoura, ambos mantendo as pernas estranhamente


apertadas. O teto era tão baixo aqui que mesmo assim, com suas cabeças
roçando a pedra acima, os joelhos de Draco estavam a centímetros do
Tormento.

━ Essas freiras de merda ━ murmurou enquanto as conduzia com extrema


delicadeza sobre o pedaço de sofrimento de cinco metros de comprimento.

Granger estava focada em estrangular a vassoura com as mãos e as pernas.

Eles passaram pelo remendo avermelhado. Draco os abaixou para


desmontar. Algo dourado brilhava no final da passagem: parecia o relicário
que Granger havia descrito para ele. Porra, finalmente.

━ Espere! ━ Granger sibilou. ━ Olha!

Acima deles, e visível apenas graças ao círculo de chamas azuis de Granger,


uma runa foi esculpida no teto.

Draco puxou a vassoura de volta para pairar.

━ O que é isso?

━ Étos? ━ Granger inclinou a cabeça, falando sozinha. ━ Raidhu? Mas por


que é...? Oh! Mas eu não sabia que você poderia fazer isso? O que?! Este
uso não está em nenhum dos Silabários...

━ Que diabos é isso? ━ Draco perguntou novamente.

━ Eu acho, com base em uma análise extremamente preliminar, é... suponho


que você poderia chamá-la de Runa da Ética Invertida?

━ Invertida... Ética? ━ Draco repetiu. Ele esperava algo bem mais letal.
Entranhas invertidas, talvez.

━ Isso reverteria qualquer que seja o seu ponto de vista moral normal ━
Granger continuou. ━ Eu imagino. Isso mudaria suas intenções.

━ Então você sairia do Tapete da Tortura odiando as freiras, querendo matar


todas elas e destruir todo o lugar, e então você seria atingido por isso e...

━ Amaria-as, iria quer ajudá-las e não fazer as coisas maliciosas que se


propôs a fazer. Sim ━ Granger disse. ━ Ideia brilhante para colocar por
último. Deixe-me cuidar deste. Você pode nos levar para mais perto?

Draco moveu a vassoura para cima e a segurou o mais firme possível


enquanto Granger desenhava as contra runas. Este exercício levou o que
pareceu uma eternidade. Ele continuou lançando feitiços de detecção atrás
deles, ciente, agora, que quase certamente haveria uma busca pelos trouxas
trapalhões.

Imaginava ouvir vozes.

O teto estalou e a runa se desintegrou em pó.

━ Terminei ━ ela falou.

━ Finalmente.

Eles desmontaram da vassoura. Draco assumiu a liderança de novo, tão


irritado com os atrasos que estava quase pensando em reativar todas as
proteções e arrastar as freiras pelo labirinto maldito para provar seu próprio
remédio.
Por fim, encontraram o relicário de Madalena.

Aqui jaz o corpo de Maria Madalena. (Foto: magdalenepublishing.org)

A coisa toda parecia ser feita de ouro puro. Ele brilhava na escuridão,
exceto pelo crânio de Madalena, que se projetava preto. Em ambos os lados
havia mais ouro – crucifixos, taças, estatuetas e cofres transbordando de
moedas.

Draco não detectou mais feitiços maliciosos, então eles se aproximaram.

Uma inscrição brilhava abaixo do relicário.

━ Noli me tangere ━ Draco leu. ━ Não me toque. Bem, isso é excelente.


━ Nós só vamos mexer com ela um pouco ━ Granger falou, mordendo o
lábio.

━ O que é aquele frasco ao lado dela?

━ A ampola Santa. Alegada conter terra, embebida no sangue de Cristo,


recolhida por Madalena debaixo da cruz.

Draco soltou um assobio quando eles se aproximaram do relicário.

━ Este lote deve valer algum dinheiro.

Uma voz rouca falou em francês:

━ Algum? Pequenino insolente.

Draco e Granger saltaram para fora de suas peles enquanto Homenium


Revelium ricochetearam contra as paredes conforme as lançavam, sem
absolutamente nenhum sucesso. Draco jogou um Protego em volta de
Granger.

A voz falou novamente:

━ Meus únicos visitantes em séculos, então, é claro, eles são


irremediavelmente estúpidos.

━ Oh meu Deus ━ Granger ofegou. ━ É o crânio.

Draco olhou para ele.

━ Olá ━ a caveira falou para ele. ━ Você é bonito.

━ Puta que pariu ━ Draco falou.

━ Eu gosto de você. ━ A caveira sorriu em sua direção. ━ Me-dê um beijo.


15. Não Me Toque

Oláaaaaa!

Vamos começar o capítulo diferente, com essa arte maravilhosa


da alinadoesartsometimes. Confesso que amei a troca de aparências deles.
Como sempre, amo as reações de vocês. Continuem comentando,
favoritando e conversando comigo. Quem vê, até parece que eu precisava
avisar que não ia traduzir por um tempo, mas meus horários estão
favorecendo. Como sempre digo, eu sumo, mas volto.

Boa leitura!

──── ◉ ────

Draco tinha experimentado muitas coisas estranhas e maravilhosas em sua


vida, mas conversar com um crânio de uma santa morta há muito tempo,
certamente estava entre as mais bizarras.

━ Me-dê uma boa razão para não gritar para as boas Irmãs sobre intrusos
━ o crânio disse.

━ Te destruo em pedaços se tentar ━ Draco respondeu.

━ Promessas, promessas.

━ Por favor... você é a Madalena? ━ Granger perguntou, seu choque agora


abrindo caminho para a curiosidade de olhos arregalados.

━ Um eco daquela que já foi conhecida por esse nome ━ a caveira


respondeu.

━ Um fantasma? Espírito?

━ Existem muitos Estados de Ser.

Draco deu uma cotovelada em Granger.

━ Não é a hora.

━ Certo, vamos discutir o que um rapaz bonito como você está fazendo em
um lugar como este.

━ Eu não estou tramando nada de bom ━ ele respondeu. ━ Obviamente.

━ Oh, la, la. Um bad boy ━ a caveira disse.


Granger foi fixada em um estado de transe total no crânio. Draco deu uma
cotovelada nela novamente.

━ Faça o que você veio fazer aqui. Precisamos sair.

Granger pareceu voltar a si.

━ Certo... eu tenho que... mas...

Ouviram-se vozes descendo pelo corredor.

━ Temos companhia ━ Draco interrompeu. ━ Faça isso.

Granger ergueu a varinha e murmurou palavras duras de runa antiga. Draco


sentiu arrepios em seus braços enquanto a magia dela a lavava. Cinco
faíscas brilhantes saíram de sua varinha e zuniram pela passagem para
detonar suas contrapartes.

Houve um momento de puro e perfeito silêncio.

Então a cripta, as passagens e a gruta foram abaladas por explosões. Gritos


ecoaram, distantes. Uma fina camada de pedra revestiu Draco, Granger e o
relicário de Madalena.

Da passagem, não vieram mais sons.

Granger estava com as mãos nos joelhos, sem fôlego pelo esforço mágico.

━ O que você fez? — O crânio perguntou.

━ Comprei tempo ━ Granger falou.

━ Faça ━ Draco disse, montando guarda na passagem. ━ Rápido!

Granger estava agitada.

━ Mas é senciente! Não era para ser senciente!

━ Senciente é um termo bastante otimista ━ o crânio comentou.


━ Mas você pode perceber! ━ Ela falou. ━ Eu não posso apenas... apenas...

━ Exatamente o que, precisamente?

━ Eu preciso de um pedacinho de você ━ Granger falou.

━ Tch. Você e o resto do mundo. Pedaços de mim foram roubados ao longo


de séculos e séculos, você sabe.

━ Faça a merda de alguma coisa! ━ Draco exclamou.

Granger tirou do bolso um osteótomo de aparência bastante perversa.

━ Sim. Minha mandíbula viveu em Roma por 700 anos; acabamos de nos
reencontrar.

━ Sério?

━ Em 1295. Graças ao Papa Bonifácio VIII, abençoe sua cabeça pontuda.

Granger estava agora se aproximando do crânio.

━ Eu, er...vejo que seu osso occipital está rachado. Você se importa se eu
arrumar um pouco?

Draco revirou os olhos para o céu. Granger estava tentando obter o


consentimento da porra do crânio,

━ Não me toque ━ a caveira disse.

Granger, com o osteótomo em uma mão e a varinha na outra, disse:

━ Sinto muito por isso. ━ Ela desapareceu do vidro do relicário. ━


Desculpe... mas é por uma boa causa, eu prometo...

━ Não me toque ━ o crânio repetiu enquanto a mão de Granger se


aproximava. ━ Você vai se arrepender.

Algo no tom da caveira fez Draco se virar.


Ele estendeu a mão e agarrou o braço de Granger, bem a tempo de se juntar
a ela enquanto o crânio – uma maldita chave do portal – os transportava
para fora.

──── ◉ ────

Eles se materializaram em uma masmorra, dez metros acima do chão, e


começaram a despencar. Como se estivessem em câmera lenta, ambos se
viraram para ver um brilho avermelhado no chão de pedra abaixo:
Santificação Espiritual.

A graça salvadora deles, quando caíram, foi que ambos estavam com as
varinhas na mão. Granger arremessou um Wingardium Leviosa em Draco
assim que ele lançou o mesmo nela, e então eles pairaram, totalmente à
mercê da força de vontade do outro, centímetros acima do Tormento.

Granger estava fazendo um trabalho decente segurando seu "maldito corpo"


no ar, mas havia algo febril em sua magia; ela não seria capaz de segurá-lo
por muito tempo. O próprio Draco estava começando a se sentir tonto; a
produção mágica do dia o estava alcançando, e até mesmo manter a figura
ágil de Granger flutuando era cansativo.

━ Vassoura!

Granger jogou o crânio para Draco, que o pegou como uma goles ossuda.
Ela puxou a vassoura. Em um feito de acrobacias desajeitadas e flutuantes,
ela conseguiu uma perna por cima. Então, sob suas mãos inexperientes, ela
se moveu em direção a Draco em puxões incertos e incertos. Quando
Granger chegou perto o suficiente, ele puxou o cabo para si e desabou sobre
ele atrás dela.

━ Porra! ━ Granger bufou, totalmente sem fôlego.

Draco estava fumegando.

━ Essas freiras malditas de merda!


━ Oh, meu Deus ━ a caveira disse enquanto a passava de volta para
Granger. ━ Isso não acontecia desde a Idade das Trevas. Que emoção!

Draco flutuou a vassoura para cima e para baixo no calabouço estreito, sua
varinha erguida, procurando uma saída.

━ Esta pedra deve ter metros e metros de espessura ━ Granger comentou,


lançando rajadas de feitiços de Transfiguração na parede enquanto Draco
passava por eles. ━ Não posso fazer nada além da camada interna.

━ Nós poderíamos tentar força bruta com alguns Bombardas ━ Draco disse.
Mas isso drenaria nós dois, e vá saber o que está do outro lado.

━ Oh, cerca de cinquenta Irmãs enfurecidas ━ a caveira respondeu. ━ Já


devem ter soado o alarme e todos voaram de volta do Solstício. Oooh,
espero que você não conheça a Prioresa, minha querida, ela deixaria seu
lindo rosto irreconhecível.

━ Tem que haver uma entrada... de que outra forma eles trazem os
prisioneiros? ━ Draco redobrou sua busca. ━ Precisamos encontrá-lo; esse
será o ponto fraco.

━ Eu aposto que não há um. Eles provavelmente levantam a Ala Anti-


Aparição e aparecem para pegar os cadáveres torturados do Tapete Crucio ━
Granger ponderou sombriamente.

━ Coisa inteligente ━ a caveira disse.

━ Silêncio, você... é sua culpa por estarmos aqui.

━ Eu tentei avisá-la ━ a caveira falou... ━ Você não fala latim?

Granger agora estava agarrando sua pessoa.

━ Tenho um milhão de coisas no bolso... mas o que faço com elas?


Colocamos armadilhas? Fazemos explosivos? Eles podem nos deixar
apodrecer aqui por anos antes de virem nos buscar. Eu tenho comida
suficiente para... er... meses, talvez? Como vamos dormir sobre o
Tormento? Eu poderia fazer redes para nós?

No decorrer de sua tagarelice, Granger inadvertidamente apresentou uma


solução. Draco a agarrou pelo pulso. Na luz da varinha compartilhada, o
anel dela brilhou.

Granger seguiu sua linha de visão.

━ Mas...você disse que não terminou a chave do portal.

━ Não terminei.

━ Então... então o que você está pensando?

Draco bateu seus dedos contra o pulso de Granger.

━ Não sei. Uma possibilidade. Não consegui fixar o destino final em um


local desejado. A Aritmancia está toda correta, há apenas um cálculo
estúpido no final que eu não resolvi.

Granger agora estava ficando excitado. Ela se virou para ele na vassoura.

━ Então, você está dizendo que funciona, mas não temos ideia de onde
vamos acabar?

━ Sim.

Granger estendeu a mão para ele.

━ Ative-a.

━ Você não entende. Eu não tenho nenhuma maldita pista de onde vamos
acabar ━ Draco repetiu. ━ Pode ser nas entranhas da terra. Pode ser o
interior de um vulcão ou as profundezas da Atlântida. Podemos morrer no
momento em que chegarmos; esmagados, queimados ou asfixiados.

Granger procurou seus olhos, parecendo tão confuso quanto se sentia.


━ Cinquenta freiras iradas descendo sobre nós em ira santa ou asfixia?

Draco passou a mão pelo rosto.

━ Porra. Como diabos chegamos aqui?

━ Ooh, chave do portal, chave do portal! — O crânio disse. ━ Quero


conhecer o mundo!

━ Você escolhe ━ Draco disse para Granger, ignorando a caveira.

Granger se afastou dele na vassoura e pensou.

━ Você está fazendo uma análise SWOT ━ ele falou, observando a


contração de seus dedos.

━ Shh.

━ O que é uma análise SWOT? — O crânio perguntou.

━ O que ela faz de melhor ━ Draco respondeu. (Era uma coisa boa que
Granger não estava ouvindo; carinho não solicitado havia entrado na
declaração. Eurgh.)

Granger saiu de seu processo parecendo determinada. Ela se virou para


Draco na vassoura.

━ Chave do portal. Varinhas para fora, prontas para desaparatar no


momento em que nos materializamos em outro lugar. Mesmo no ambiente
mais hostil, qualquer dano que sofrermos nessa fração de segundo deve ser
curável.

━ Até lava? Estamos correndo um grande e fodido risco.

━ Nós temos o crânio. E tenho vidas para mudar para melhor. Vamos
verificar a coisa estúpida para rastrear feitiços; não precisamos da
Irmandade nos seguindo para onde quer que acabemos.
O crânio foi submetido a feitiços de diagnóstico de Granger e Draco.
Nenhum dos dois foi gentil com isso, mas o crânio parecia ter pouca
sensibilidade.

━ Isso faz cócegas ━ o crânio falou enquanto estava suspenso entre os dois,
sendo pulverizado por feitiços.

━ Está limpo ━ Draco disse, finalmente. ━ Apenas ecos do Portus.

━ O que foi uma ideia brilhante. Um único feitiço não malicioso no final.
Direto para uma masmorra. Malditas freiras.

━ Tudo bem ━ Draco falou. ━ Vamos lá. Mas antes quero deixar alguns
agradecimentos às Irmãs Beneditinas das Merdas Sagradas.

━ Ooh, impertinente ━ caveira disse enquanto Draco colocava algumas


maldições, feitiços e outras azarações na pedra.

Foda-se seu cansaço. Ele precisava de vingança.

━ Preparada? ━ Perguntou, a ponta de sua varinha no anel de Granger,


preparado para ativar a chave do portal.

Granger encontrou seus olhos e assentiu. Ela estava no limite, mas não
estava com medo.

Bruxa valente.

━ Portus ━ Draco entonou.

──── ◉ ────

A chave do portal os sugou através da ala anti-aparatação em uma longa e


repugnante tragada. Draco não tinha certeza do que estava segurando com
mais força: sua varinha, a cintura de Granger ou a vassoura entre suas
pernas.
Eles se materializaram cerca de sessenta metros acima do solo – graças aos
deuses pela vassoura – sobre uma cena estranha e surreal. Eles estavam
voando sobre um grupo de barcos, agrupados como se estivessem atracados
em uma marina – mas não havia água. Até onde os olhos de Draco podiam
ver, as dunas ondulavam no horizonte.

(Foto: theworldgeography.com)

A cabeça de Granger girou também, observando o lugar, sua curiosidade


superando seu medo de voar. Um fio de fumaça emanava de seu anel – o
último dos imperfeitos Portus desaparecendo.

O vento quente soprou areia em seus olhos e rachou seus lábios.


━ É claro que nós não acabaríamos, sei lá, em Kent ━ Draco falou.

━ Isso seria muito conveniente ━ Granger comentou.━ Pelo menos não foi
para um centro de um vulcão e não fomos estrunchados por Aritmancia mal
executada. Muito bem.

Draco voou mais baixo, lançando feitiços de detecção em direção ao


cemitério de navios. Não havia nenhum ser vivo dentro.

━ Eu vou nos derrubar. Nós precisamos descansar, estamos no limite.

━ Concordo.

Eles pousaram entre os cascos enferrujados e encontraram um local à


sombra de um navio menor.

Granger caiu da vassoura daquele jeito desajeitado dela, ficou de quatro no


chão por um longo momento, e então ficou de pé.

Ela tateou em seu bolso até encontrar seu dispositivo trouxa, que puxou em
triunfo. No entanto, o triunfo durou pouco. Granger andou de um lado para
o outro, segurou o celular bem alto, baixou, apertou alguns botões – mas o
que quer que fosse feito, não estava funcionando.

━ Sem serviço ━ Suspirou. ━ Estamos fora do alcance das telecomunicações


trouxas. Eu gostaria de saber onde estamos.

━ Um grande deserto fodido como este? Em algum lugar na África seria


meu palpite.

━ Isso era meu também ━ ela disse. ━ Há um lugar chamado Costa do


Esqueleto na Namíbia, famoso pelos naufrágios entre as dunas. Mas essa
teoria é prejudicada pela ausência bastante conspícua do mar. Talvez os
barcos nos dêem uma pista.

Ela caminhou, especulativa, em direção à proa do navio em que eles


estavam se abrigando. Caracteres desbotados estavam espalhados por aí que
teriam soletrado o nome do navio.
As mãos de Granger encontraram seus quadris.

━ Cirílico?

━ Você está sugerindo que estamos na Rússia?

━ Eu não tenho ideia ━ ela disse, soando, pela primeira vez em sua vida,
totalmente confusa.

Eles deixaram de lado os mistérios de suas circunstâncias atuais para


reabastecer suas forças. Draco estava ansioso por um descanso – ele tinha
uma preocupação incômoda de que as freiras de alguma forma os
encontrariam e estava magicamente cansado demais para enfrentar
cinquenta delas em um tiroteio.

━ Onde está o crânio? ━ Ele perguntou, de repente, já que os últimos dez


minutos estavam livres de seus comentários roucos.

━ No meu bolso ━ Granger respondeu. ━ Com um Muffliato em torno de


seus ossos temporais. Estou cansada dos comentários dela.

━ Bem feito. Você tem alguma coisa para comer nesse bolso?

━ Obviamente.

Pedaços do barco enferrujado foram minimamente transfigurados em uma


mesa baixa e bancos improvisados. Draco notou que nenhum dos floreios
usuais de Granger – ou preocupação com precisão – estava em exibição. As
banquetas descascavam velhas tintas marinhas no fundo; a mesa ameaçou o
jantar com um pouco de tétano. Granger estava cansada.

E, no entanto, ela ainda conseguiu surpreendê-lo. Tirando coisas de seu


bolso estendido, colocou os ingredientes de uma refeição de verdade sobre
a mesa. Uma baguete, patê e vários queijos foram dispostos. Depois veio
uma variedade de charcutaria, alguns embutidos e azeitonas. Seguiu-se um
recipiente de salada de berinjela temperada.

Ela examinou a mesa.


━ O que está faltando? Oh! As bebidas.

Água engarrafada ("Muito caro") e uma garrafa de vinho branco ("Não faço
ideia se é bom; a garrafa era bonita").

Granger passou o vinho para Draco.

━ Você relaxaria isso? Podemos muito bem fazer a coisa corretamente.

Draco passou vários feitiços de resfriamento sobre a garrafa.

━ Certo. Eu posso pelo menos sentir como se tivesse contribuído com algo
para este repasto.

Não foi nada além de um comentário descartável, mas Granger levou a


sério. Ela franziu a testa para ele.

━ Contribuiu com alguma coisa? Malfoy, hoje teria sido impossível sem
você. Eu teria errado o caminho na primeira escada alucinatória e
terminaria em uma masmorra para sempre. E se não tivesse, estaria
possuída por demônios, ou muito morta. Você sabia o contra-feitiço para
cada maldita coisa que encontramos. Você amaldiçoou seu caminho através
de um labirinto que não foi penetrado desde a Idade das Trevas. Você
acertou um Portus neste local e funcionou, e estamos aqui, e vivos, por sua
causa. Você foi...

Aqui ela fez uma pausa, procurou por palavras e pareceu ficar
autoconsciente.

━ Você foi extraordinário ━ ela terminou, calmamente. Limpou a garganta,


evitou o olhar dele e se ocupou com a varinha. ━ Vou conjurar algumas
taças, posso?

Quanto a Draco, ele não disse nada, porque ele estava lutando com uma
onda de prazer com essa série de elogios e se divertindo com o desconforto
de Granger, com o que parecia ser o calor de um rubor em suas bochechas,
só que ele não corou, porque ele era o Draco Malfoy, então provavelmente
era uma queimadura de sol desse maldito deserto.
━ Uma última coisa antes de comermos, se você não se importa ━ disse,
optando por mudar de assunto violentamente.

Granger olhou para cima.

━ O que?

━ Finite Incantatem ━ Draco recitou, apontando sua varinha para ela.

Seu cabelo, em um rabo de cavalo loiro e liso, voltou a seus cachos


castanhos cheios. Os olhos dela, ficando escuros e quentes à medida que o
feitiço desvaneceu, relampejou sua diversão para ele.

━ Devo fazer em você?

━ Faça.

━ Excelente. Estou cansado da barba púbica. Finite Incantatem.

Draco sentiu o tremor da magia dela em seu cabelo e a carícia dela em seus
olhos. Parecia, talvez, ainda mais íntimo do que um toque teria sido.

Ele passou a mão pelo cabelo.

━ Menos cabeleira púbica?

━ Eh... ━ Granger deu de ombro, mas estava segurando um sorriso.

━ Você pode apenas dizer que meu cabelo é magnífico, sabia ━ Draco disse.

━ É adequado, para um bruxo que acabou de invadir uma cripta e fugiu das
freiras. Vamos comer?

Eles comeram, beberam, descansaram e começaram a reabastecer suas


energias mágicas esgotadas. Draco compartilhou seu choque, dado que
Granger foi capaz de preparar uma refeição não composta de atum e
salgadinhos de queijo. Ela disse que tinha um pacote disso no bolso, só para
ele, já que permaneciam tão poderosamente em sua psique. Draco
perguntou se ela tinha alguns pelos de gato também, para completar a
experiência. Granger disse "é claro", tirou dois do bolso e os jogou na
direção dele. Draco disse obrigado, ele se sentia em casa agora, e também,
haveria torta Banoffee para a sobremesa?

Ele meio que esperava que Granger produzisse uma, mas ela se opôs.

━ As lojas da vila não tinham isso.

Suas ofertas de sobremesa eram mais aquelas tâmaras recheadas com


amêndoas, figos secos e damascos.

━ Sabe ━ Draco disse enquanto mastigava uma tâmara. ━ Nós poderíamos


perguntar a Madalena se ela trouxe esta receita, afinal.

━ Oh! ━ Granger ofegou.. E então, após meio momento de reflexão: ━


Vamos!

O crânio foi retirado do bolso de Granger e o Muffliato foi dispensado.

━ Olá, o que é isso? — A caveira perguntou, seus olhos escuros olhando


para o casco do navio. ━ Estamos no mar?

━ Não ━ Granger respondeu. ━ Mas você estabeleceria uma linha de


investigação para nós? Você trouxe a receita de tâmaras recheadas com
amêndoas para a França da Terra Santa?

Uma data foi realizada na frente do crânio, para fins ilustrativos.

━ O que é isso? Um molusco?

━ Bem, então está resolvido ━ ela disse, comendo a tâmara.

━ Você restaurou a honra de uma nação inteira ━ Draco falou para a caveira.

A atenção do crânio se voltou para ele.

━ Oh, é você. Sabe, eu estava pensando que você ficaria melhor loiro.
━ Obrigado ━ ele disse.

Ele e Granger trocaram um olhar de compreensão – o crânio agora os tinha


visto sem disfarce.

━ Os crânios podem ser obliviados? ━ Draco perguntou. ━ Eles não têm


cérebro.

━ Teremos que tentar, agora que ela nos viu ━ Granger respondeu,
parecendo séria. ━ Ela tem uma mente, de qualquer maneira.

O crânio, que estava completando uma avaliação de Granger, disse:

━ Quanto a você, você está bem menos cadavérico do que antes.

━ Pouco rico, vindo de você.

━ Eu era muito bonita ━ a caveira disse.

━ Você ainda tem maçãs do rosto lindas ━ Draco comentou.

O crânio deu uma risadinha – um som levemente desconcertante.

Draco notou que Granger havia puxado seu osteótomo de volta – ela
finalmente conseguiria aquela amostra. Inclinou o crânio na direção de
Draco. Ele a distraiu sacudindo o cabelo e olhando sedutoramente.

Granger pressionou a borda chanfrada de seu instrumento ao longo de uma


parte já irregular do crânio. Houve um estalo maçante quando um pedaço se
partiu, que ela transferiu para um tubo de ensaio.

━ O que foi isso? — O crânio perguntou. ━ Você ouviu alguma coisa?

━ Não ━ Draco respondeu.

Granger pegou um saco, que ela jogou sobre o crânio para que ele não os
visse mais. Então ela apontou a varinha para a protuberância na bolsa.

━ Obliviate.
A voz abafada e confusa do crânio veio através do saco.

━ Irmã Sofia? É você? Por que está tão escuro?

Granger jogou Muffliato e Silencio no saco e o enfiou de volta no bolso. Ela


parecia arrependida.

━ Os historiadores religiosos dariam seus dentes para conversar com ela.


Você pode imaginar...

━ Não ━ Draco disse.

━ Eu sei, eu sei ━ Granger falou, embora a dor da falta de conhecimento a


fizesse apertar o peito. — Vou mandá-la de volta ao mosteiro assim que
chegarmos à civilização. Espero que seu retorno seguro mantenha as freiras
longe de nossas costas.

━ Eu preferia um duelo com a Prioresa. Ela parecia uma fúria.

Terminada a refeição, se arrastaram para fora dos banquinhos


desconfortáveis ​e se espreguiçaram. Granger pegou um cobertor grande e
fofo e colocou sobre a areia. Ela se deitou e Draco se convidou a se deitar
ao lado dela.

━ Ela soava como uma fúria ━ Granger comentou. ━ Aurores idiotas e a


Ordem... Deveríamos ter enviado freiras francesas atrás de Voldemort.

━ Você viu aquele labirinto? As Boas Irmãs o teriam derrubado em cinco


minutos. Estaríamos vivendo em uma nova ordem mundial de freiras.

━ Todo mundo usaria vestes religiosas ━ Granger disse, uma risada em sua
voz. ━ Você teria prosperado positivamente.

━ Eu apenas expressei surpresa com a exibição de pele trouxa ━ Draco disse


raivosamente. ━ Não objeções.

━ Desânimo, melhor dizendo.


━ Espanto. É um choque cultural.

━ Os roupões não interferem na verificação das bundas? ━ Granger


perguntou.

━ Eles são uma praga em todo o esporte.

━ Então?

━ Eu realmente não pensava nas alternativas, até... até recentemente.

━ Você não sabia o que estava perdendo. ━ Granger assentiu sabiamente.

━ Exatamente. Estou desenvolvendo uma nova estima pela moda trouxa,


eles sabem como mostrar o bumbum.

Ela riu. Draco levantou sua varinha preguiçosamente e flutuou a garrafa de


vinho até eles.

━ Sabe, o sol está se pondo aqui. ━ Sua voz estava pensativa. ━ Era o meio
da manhã no mosteiro. Isso significa que saltamos oito ou dez fusos
horários à frente, dependendo da nossa proximidade com o equador.

━ Onde isso nos colocaria? China Ocidental?

Granger se virou de bruços e foi para o lado do cobertor. Ela estava


rabiscando um mapa na areia.

━ Er... possivelmente. Qualquer número de lugares, dependendo de quantas


zonas pulamos. Irã... Omã... qualquer um dos "Stão"...

Draco flutuou sobre os figos secos e os mastigou enquanto Granger fazia


suas especulações.

━ Oh! ━ Ela exclamou.

━ O que?
Ela passou-lhe algo para sua inspeção: uma concha esbranquiçada e
alongada.

━ Isso costumava ser o fundo do mar ━ falou enquanto olhava para a areia.
━ Que curioso.

Agora ela estava passando os dedos pela areia, desenterrando mais pedaços
de vida marinha. Seus olhos brilhavam de curiosidade. Todos os problemas
do dia – as maldições, as experiências de quase morte – pareciam ter
desaparecido à luz desse novo mistério. Com seu cabelo coberto de poeira
de cripta, uma linha arroxeada de resíduo de Devorador de Mentes em sua
bochecha e seu kit de caminhada rasgado, ela parecia um arqueólogo de
olhos arregalados, buscando respostas entre as areias infinitas.

O efeito era bastante atraente. Se alguém tivesse dito a Draco, meses atrás,
que teria encontrado uma bruxa maltratada e suja de terra cavando na areia,
ele teria zombado. Mas lá estava.

━ Isso é um Scaphopoda ━ Granger falou, em referência à concha nas mãos


de Draco. ━ Mas eu não sei qual espécie, então isso não nos ajudará a
restringir nossa localização.

Draco examinou a concha, concluiu que era, de fato, uma concha, e a


devolveu para ela.

Seus dedos se tocaram. Os dela eram quentes, os dele eram frios.

━ Ouriço-do-mar ━ disse, erguendo outra coisa esbranquiçada, mas


redonda.

━ Fascinante.

Granger voltou a estudar seu antigo mapa, agora cheio de pedaços de


conchas.

━ Não sei o suficiente sobre mares antigos para fazer qualquer tipo de
suposição inteligente, com base nessas criaturas. Será perigoso para nós
aparatar em qualquer lugar, já que não temos a menor ideia de onde estamos
no planeta. Acho que nosso próximo plano de ação deve ser um voo de
reconhecimento para ver se podemos encontrar a civilização e,
esperançosamente, um flu conectado internacionalmente.

Draco se apoiou nos cotovelos.

━ Desculpe, você acabou de dizer voo?

━ Sim.

━ Como tipo... usar a vassoura?

━ Sim.

━ Você? De boa vontade? Quer usar uma vassoura?

Granger parecia uma combinação de irritada e assediada.

━ Sim, tudo bem? Acabou sendo extremamente útil. Não seja presunçoso
sobre isso.

━ Tarde demais.

━ Eu posso ver isso.

Draco sorriu largamente. Ah sim, ele era presunçoso. Granger, com suas
opiniões firmemente estabelecidas sobre tudo, mudou de ideia sobre voar,
de todas as coisas. Ele queria muito esfregar isso, mas o autocontrole
prevaleceu.

━ O sol está se pondo. Vamos esperar até que esteja sob o horizonte, e então
fazer um pequeno reconhecimento do alto. Se houver assentamentos, serão
iluminados e poderemos vê-los a quilômetros de distância.

Assim que Granger estava concordando com a cabeça, um tipo estranho de


gemido ecoou pelas dunas em direção a eles.

━ Você acabou de ouvir uma vaca? ━ Granger perguntou.


━ Uma vaca? Isso soou como Weasel no banheiro.

━ Eurgh... não fique... oh! Olhe!

Uma manada de – alguma coisa – apareceu sobre as dunas.


(Foto: saiga-conservation.com)

Pareciam gazelas que haviam sido semi-transfiguradas em antas.


━ Oh, eu li sobre isso... são antílopes Saiga! ━ Granger disse, levantando-se
de um salto.

Os animais pararam com o movimento súbito. Eles olharam para ela como
se fosse a esquisitice meio transfigurada, e não eles. Então, com um
estranho passo a galope, continuaram.

━ Coisas estranhas ━ Draco falou. ━ Mágicos?

━ Mundanos. ━ Granger estava na ponta dos pés, observando o rebanho


passar. ━ Extremamente raro, no entanto.

O animal líder gemeu seu peculiar mugido e o rebanho desapareceu atrás de


uma duna.

Granger voltou para o cobertor e se ajoelhou em seu mapa de areia.

━ Isso vai nos ajudar a situar. Esses antílopes têm um alcance estreito.
Estamos em algum lugar na Ásia Central. ━ Ela mordeu o lábio. ━ Os
centros populacionais são poucos e distantes entre si.

━ Vamos voar para o sul ou oeste, então ━ Draco propôs. ━ Definitivamente


não é o norte.

━ Concordo. Nada além das estepes da Rússia nessa direção.

━ Eu daria mais uma hora ━ ele falou, olhando para o sol que se punha atrás
das dunas. ━ Então podemos voar.

Granger se deitou de costas ao lado dele e colocou as mãos atrás da cabeça.


Havia um sorriso em sua voz quando ela falou novamente.

━ Não acredito que vi um antílope Saiga.

━ Eu não posso acreditar que tivemos um bate-papo com o crânio de Maria


Madalena.

━ E quase fomos enganados por freiras.


━ Aquelas freiras eram pássaros velhos e selvagens. Minha próxima
proteção será inspirada. Devo lançar a Barreira de Belzebu em seu
laboratório?

━ Poderia fazer. Um ponto de possessão demoníaca injetaria algum vigor


nos salões da Trinity.

Logo, o sol não passava de uma lembrança dourada refletida no solo. Não
havia canto de pássaros no deserto; tudo estava quieto, exceto pelo assobio
lamentoso do vento entre os cascos enferrujados.

O vento se aquietou enquanto o mundo escurecia. A lua surgiu e pintou as


dunas de um branco prateado. Então, na quietude escura acima deles,
constelações e mais constelações de estrelas brilharam, e galáxias e
nebulosas inumeráveis.

Draco nunca tinha visto um céu como este, tão iluminado com seu próprio
brilho, brilhando com poderosos mistérios de mundos distantes.

Juntos, em silêncio respeitoso, Draco e Granger observaram o brilho


rodopiante acima. Seus corações pareciam estranhamente cheios, e seus
problemas pequenos e distantes, sob um céu tão vivo.

──── ◉ ────

Nem Draco ou Granger tinham planejado tirar uma soneca, mas a exaustão
mágica cobrou seu preço e os nocauteou por duas horas.

Pelo lado positivo, ele acordou sentindo-se positivamente rejuvenescido e


pronto para enfrentar uma centena de freiras, caso as circunstâncias
exigissem. Granger, enquanto se desenrolava, também parecia revigorada.

Algumas ondas animadas de varinha embalaram ou apagaram todos os


vestígios de sua passagem.

E então, chegou a hora de voar.


Deve ter havido ansiedade no rosto de Draco, porque Granger segurou a
vassoura dele e disse:

━ Só porque eu acho que é uma boa ideia não significa que eu vou gostar.
Fazer-me gritar de terror não é o objetivo deste exercício.

━ Nunca ━ Draco disse, fingindo-se ofendido enquanto deixava de lado


planos nefastos para fazer exatamente isso.

Granger, com um olhar de profunda desconfiança, passou-lhe a vassoura.


Draco montou e então virou em direção a ela para que subisse. Ela torceu as
mãos, respirou fundo, murmurou sobre as malditas vassouras e, finalmente,
subiu.

━ Você se sai melhor quando não tem tempo para pensar sobre isso ━ ele
comentou enquanto Granger se enfiava entre suas pernas. ━ Como na cripta.

━ A morte iminente afasta a morte um pouco menos iminente da minha


mente ━ Granger disse com a mandíbula apertada.

Draco lançou a variedade usual de proteções e feitiços de aquecimento.

━ Preparada?

━ Não. ━ Veio a resposta estrangulada. ━ Apenas vá.

Draco não esperou para ser informado duas vezes. Ele começou com
vontade, ansioso para se perder nesses céus com suas milhões e milhões de
estrelas.

A cena pós-apocalíptica da frota corroída de barcos ficou cada vez menor,


até que os cascos se tornaram meros pontos abaixo.

Quando eles alcançaram a altitude de voo, Draco se divertiu com as vistas.


Não havia mar aqui, mas um oceano de dunas prateadas, ondulando sem
fim ao redor deles. Acima, longas faixas de estrelas riscadas – portões para
estranhas eternidades. Era incrível no verdadeiro sentido da palavra e
encheu Draco de profunda admiração.
Para sua surpresa, Granger estava com os olhos abertos. Ela respirou um
único, estupefato "Uau", e então ficou em silêncio.

Draco atingiu um curso sudeste. Sua vassoura zumbia embaixo dele,


querendo receber a cabeça enquanto voavam. Mas esta vassoura, o mais
novo modelo Étincelle , era a mais rápida da coleção de Draco e ele não
ousava ir mais rápido do que já era. Apesar dos encantos de quebra-vento, o
rabo de cavalo de Granger estava meio desfeito e estava se divertindo com
seu rosto. E, claro, a própria bruxa o mataria ao pousar.

Depois de um tempo, Granger perguntou:

━ Por que a vassoura está zumbindo na nossa direção? ━ Sua pergunta foi
atada ao medo tácito de um mau funcionamento.

━ Ela quer ir rápido ━ Draco respondeu.

Houve uma pausa. Então, timidamente, Granger perguntou:

━ Quão rápido?

Draco pensou por um momento em sua resposta, que tomou a forma de uma
pergunta:

━ Qual velocidade o seu carro anda?

━ Duzentos quilômetros por hora; na Alemanha, lembra?

(Draco não entendeu por que a Alemanha era relevante para esta
declaração.)

━ Nós podemos fazer duzentos na vassoura ━ ele disse. ━ Se você estiver


afim.

Draco conhecia a linguagem corporal de Granger agora o suficiente para


ver que ela estava dilacerada, mesmo sem ver seu rosto.

━ Este é um grande deserto ━ ela falou depois de algumas reflexões.


━ Sim.

━ Estamos voando há vinte minutos e não vimos um único sinal de


habitação humana.

━ Correto.

━ Cobriríamos muito mais terreno com essa velocidade.

━ Tipo isso.

Granger se endireitou entre os braços de Draco.

━ Vamos fazer isso. Lance mais alguns corta-ventos... vou fazer algo com
meu cabelo.

O que era excelente, porque entre Granger e seu gato, Draco havia ingerido
cabelo suficiente para durar uma semana. Ele diminuiu a velocidade deles
para lançar seus feitiços enquanto ela enrolava seu rabo de cavalo em uma
trança e o colocava em seu top.

A voz de Granger estava tensa pelos nervos.

━ Não acelere muito rápido ou eu vou cair.

━ Você não vai cair. Estou te segurando.

━ Eu sei.

━ Vai ser como se estivéssemos no seu carro ━ Draco disse, acelerando a


vassoura.

━ Meu carro tem cintos de segurança e está firme na terra o tempo todo...

A declaração de Granger deu lugar a um grito agudo enquanto a vassoura


avançava. Draco se perguntou se deveria desacelerar – e então percebeu que
o grito havia se transformado em uma risada encantada e cheia de
adrenalina.
A velocidade fez Granger meio se divertindo, meio assustada por
pensamentos coerentes.

━ Agora estamos chegando a algum lugar ━ Draco falou quando as dunas se


transformavam em um borrão prateado abaixo deles.

━ Oh, meu deus...

━ Você está de olho nas luzes, não é?

━ Ughfrlp.

"Bom.

Eles cruzaram o deserto, meteóricos. Draco desejou uma estrela cadente,


para que eles pudessem correr com ela. Já que Granger estava indo tão bem,
ele deu a vassoura o comando e ela saiu voando ainda mais rápido, e agora
as dunas eram um brilho prateado abaixo e as estrelas eram um redemoinho
deslumbrante.

Ele segurou Granger com força, em parte para mantê-la segura, em parte
porque ele queria, porque a sensação era agradável – segurar essa bruxa um
pouco louca e brilhante, que passava seus fins de semana brincando sobre
criptas, e que o provocava a cada momento.

Ela estava quente entre seus braços e cheirava a poeira de viagem, aventura
e alegria.

A coisa toda era uma loucura – segurar Granger como se ele quisesse, voar
sobre essas selvas instáveis, não ter nenhuma pista real de onde na Terra
eles estavam, o Portus ilegal e inacabado, o crânio falante, tudo isso.
Absolutamente insano.

Ele tinha amado cada minuto.

━ Lá! ━ Granger disse, de repente.


Ela cometeu o erro de estender o braço para apontar. Nessa velocidade, foi
chicoteado para trás e acertou Draco na têmpora.

━ Desculpe! ━ Ela pediu. ━ Mas olhe!

Ao sul deles brilhava o brilho amarelo das luzes trouxas. No início, eles
pontilhavam as areias, aqui e ali, e então começaram a formar pistas longas
e paralelas. Estradas.

━ Uma cidade!

Draco os voou mais baixo e mais devagar. Enquanto diminuíam a


velocidade, Granger lançou desilusões nos dois, para que um trouxa não
ficasse olhando as estrelas em uma noite como essa.

Eles vasculharam os telhados agora, procurando mais pistas sobre sua


localização. As placas nas fachadas das lojas estavam em cirílico e,
estranhamente, em árabe, com o que parecia ser Hangul coreano para
confundir ao máximo qualquer bruxo perdido.

Granger pediu a Draco que diminuísse mais a velocidade para que ela
pudesse consultar seu celular, agora que haviam chegado à civilização.

━ Tashkent ━ ela falou.

━ Deus te abençoe ━ Draco respondeu.

━ Não, é onde estamos. Estamos no Uzbequistão.

━ Nunca ouvi falar.

━ Isto é excelente. Há uma embaixada britânica aqui. Haverá um consulado


mágico escondido lá com eles. Seremos capazes de usar o Flu para casa.

Com isso, o celular de Granger começou a enviar direções para Draco, o


que os levou ao telhado da embaixada britânica, que estava fechada durante
a noite. Draco invadiu e farejou os aposentos do Cônsul (o dele era o único
vestígio de magia em todo o prédio), e eles acordaram o pobre bruxo.
Draco intimidou o Cônsul a acender a chaminé do flu internacional, apesar
da falta de qualquer tipo de documentação. Granger o obliviou, Draco
lançou um feitiço do sono nele, e então eles foram levados de volta a
Londres pelas chamas azuis.

Draco refletiu que ele e Granger formavam um time bastante decente.

Eles foram cuspidos em solo britânico vinte minutos depois, após a mais
longa e vertiginosa jornada de Flu que qualquer um deles já havia
experimentado. Draco saiu dele; Granger se sentou sem ossos.

Então, no chão frio do armazém de Londres que servia como plataforma de


desembarque, Granger se deitou e não se mexeu.

Draco, que geralmente se saía melhor do que ela em todas as coisas


giratórias, deu uma olhada. Seu joelho estava ardendo para ele, descontente
com a forma como ele caiu no concreto.

━ Eles colocaram uma linha de lareiras domésticas de flu ━ ele disse,


retornando ao corpo inerte de Granger. ━ Cada um de nós pode usar o flu
direto para casa."

━ Não vou ━ ela respondeu.

Draco parou ao lado dela e contemplou sua aparência esverdeada.

━ Você parece pronta para vomitar.

━ Eu sinto isso.

━ É mais uma pequena volta no flu.

━ Vá embora e me deixe morrer. ━ Veio a voz fraca de Granger.

Draco, que gostava de um banho quente e uma soneca, estava


moderadamente tentado, mas deixar sua Superiora enjoada e totalmente de
bruços no chão era, infelizmente, contrário ao protocolo.
━ Você não tem alguma poção para náusea?

━ Se eu cheirar uma poção, vou decorar este chão com berinjela e...

━ Shh.

Passos soavam pelo armazém.

Draco se ajoelhou ao lado de Granger.

━ Há um agente vindo e não temos uma explicação de como acabamos de


ser cuspidos de Tashkent sem papéis, nem um carimbo do cônsul. Temos de
ir.

━ Merda ━ Granger disse, levantando a cabeça fracamente do chão. ━ Eles


vão encontrar meus amuletos de extensão, se nos revistarem.

━ E ainda temos a merda do crânio. Isso é um artefato roubado, para não


mencionar precioso o suficiente para desencadear um incidente
internacional.

━ Eu ouvi uma chegada, estou falando. ━ Veio a voz de um homem.

━ Impossível. ━ Outro. ━ Não há nada programado até Istambul.

Granger estendeu o braço e sussurrou:

━ Desaparate-nos.

━ Onde?

━ Qualquer lugar de merda!

Draco agarrou o braço dela e desaparatou o mais silenciosamente que pôde.

──── ◉ ────

Eu acho esse capítulo uma farofa! O crânio da Maria Madalena é bizarro!


O que acharam? Estão gostando dessas aventuras surreais da nossa dupla?

No próximo capítulo teremos alguns flertes inocentes (ou nada inocentes) e


uma arte maravilhosa desse homem maravilhoso. Considerando tudo, o
capítulo deve sair essa semana mesmo. Eu mereço um prêmio!!!

Boa noite, meus amores. <3


16. O Seneca

Eu avisei que viria novamente essa semana. Mereço um prêmio, realmente.

Boa leitura, meus amores!

──── ◉ ────

O banho e a soneca que estavam na vanguarda da mente de Draco


inspiraram sua escolha de destino. Ele e Granger se materializaram no
saguão do Seneca, o melhor hotel bruxo de Londres.

Draco levantou Granger até seus pés. Os funcionários do Seneca eram o


epítome da discrição, incluindo a bruxa que saiu de trás da recepção, que
não notou suas roupas imundas e perguntou graciosamente se eles estavam
procurando um quarto ou jantar no hotel.

A menção de jantar fez Granger ficar perigosamente verde.

Draco a colocou em um banco e fez arranjos para um quarto com a bruxa da


recepção. A mulher, percebendo que eles queriam um quarto mais do que
bate-papo sobre as comodidades do hotel, chamou uma chave ornamentada,
levou-os aos elevadores e perguntou se tinham alguma bagagem. (Não,
nada, e certamente nenhuma caveira ilegal, obrigado.)

E assim Draco chegou ao fim deste dia bizarro, em uma das famosas suítes
do Seneca, com vista para os jardins do Palácio de Kensington, com uma
Granger caída decorativamente jogada sobre uma cadeira alongada.

Na mesa baixa ao lado dela, uma jarra de água magicamente se


materializou, assim como um balde. Tipo intuitiva, aquela bruxa da
recepção.
Decidindo que Granger estava suficientemente provida, Draco saiu para
tomar banho. Essa foi uma experiência deliciosa, muito mais agradável do
que o pequeno armário fornecido pelo Hotel Plaisance. Ele ligou todos os
jatos disponíveis, divertiu-se com a seleção de sabonetes e não bateu os
cotovelos na parede uma vez (o que foi bom, porque ele tinha um belo
hematoma na esquerda das atividades daquela manhã).

Completamente limpo, agora, Draco decidiu que estava com um pouco de


fome e fez um pedido para um jantar leve com o espelho. Então, dado que
não tinha nenhuma roupa além da pilha fedorenta que havia se despido,
vestiu um roupão branco fofo e chinelos combinando.

Enquanto amarrava o roupão, se certificou de que o V na abertura expunha


adequadamente o melhor de seu peito (porque ele gostava de se exibir em
geral, e não por causa de Granger em particular). Gotas de água brilhavam
artisticamente em seus peitorais e desciam até onde a parte superior de seu
abdômen espreitava.
Arte estonteante pela incomparável nikitajobson.
Então, ele arrumou o cabelo para que ficasse apropriadamente bagunçado e
sexy para um visual delicioso pós-banho.

O espelho comentou que ele parecia bastante divino.

━ Eu sei ━ Draco respondeu.

Ele saiu do chuveiro em uma névoa de bem-estar, sensualidade e sabonete.

E não precisava ter se incomodado com nada disso, na verdade. Granger


nem olhou para cima quando ele saiu do banheiro em sua glória fumegante.
Ela estava absorta em seu celular.

A água tinha sido bebida e o balde parecia sem uso – pelo menos ela estava
se sentindo melhor.

━ O Mar de Aral! ━ Ela exclamou, os olhos fixos no celular. ━ Era onde


estávamos. Foi quase completamente desidratado nos anos 60 por causa dos
projetos de irrigação soviéticos...

Seguiu-se um relato detalhado do desaparecimento do Mar, com muitos


comentários indignados de Granger sobre o desastre ecológico que era.
Enquanto isso, as sensuais gotas de água secaram nos peitorais de Draco,
inutilmente invisíveis para qualquer público. Foda-se o Mar de Aral; onde
estava a preocupação de Granger com o peito ressecado de Draco?

━ Super interessante ━ ele respondeu.

Granger, percebendo a falta de entusiasmo dele pelo depósito de


informações dela, baixou o celular.

Ela o olhou de cima a baixo, das pontas de seu cabelo artisticamente


arremessado até seus pés calçados com chinelos. Seu único comentário:

━ Você não tem roupas?

━ Não, eu não tenho, já que minha bagagem está atualmente desfrutando de


uma estada na costa da Provença, junto com a sua.
━ Uh. ━ Granger inclinou a cabeça para trás contra a espreguiçadeira em
aborrecimento, exausta. ━ Vou providenciar para que sejam enviadas de
volta. E o carro! Vamos receber cerca de doze multas de estacionamento,
para não mencionar uma boa confusão para ter a coisa devolvida. Por que
nada pode ser simples? Ok... eu preciso de um banho em seguida, se você já
terminou. Estou fedendo a cripta e agora estou constrangida com isso
porque você cheira a... você cheira a sabão.

Com isso, Granger se levantou e começou a monopolizar o chuveiro por


uma hora inteira.

O serviço de quarto de Draco brilhou na mesa baixa.

━ Granger ━ ele chamou na porta do banheiro. ━ Tem comida... você quer


alguma coisa ou devo comer tudo?

━ Coma tudo. ━ Veio a voz dela entre o som do chuveiro. ━ Só quero chá.

━ Peça ao espelho ━ Draco disse.

━ O espelho?

━ Sim, para o chá.

Draco ouviu o espelho dizer que o chá chegaria em instantes. Ela


agradeceu.

Sensação interessante, estar conversando com Granger enquanto ela estava


nua.

Draco foi até a sobremesa (bombons de chocolate) antes dela sair do


banheiro. Granger também estava usando um roupão – ridiculamente
grande demais para ela. Notou que ela não havia estrategicamente deixado
um V aberto na frente – em vez disso, havia cruzado os dois lados um no
outro tão alto que o roupão a cobria até o queixo. Também não tinha
bagunçado seu cabelo sensualmente, que era uma pilha molhada em cima
de sua cabeça, mantida no lugar por sua varinha.
Ela se arrastou em chinelos muito grandes.

━ O que? ━ Ela perguntou ao notar a observação de Draco. Então, olhou


para si mesma. ━ Um pouco como um gnomo em um roupão, não é? Eu
gostaria de saber para quais pés semelhantes a barcos esses chinelos foram
projetados.

Um bule de chá fumegante surgiu na mesa baixa quando Granger se


aproximou. Ela puxou alguns travesseiros da cama e fez um ninho
aconchegante para si mesma no chão ao lado.

━ O que você está fazendo com suas roupas? ━ Ela perguntou, com um
gesto para a pilha rasgada e manchada que havia deixado no banheiro ao
lado dele. ━ Abri meu bolso extensível. Não consigo decidir se vale a pena
enviá-los para a lavanderia? Doamos para órfãos?

━ Queime-os ━ Draco respondeu.

━ Mas e os órfãos?

━ Os órfãos podem queimá-los para aquecer seus casebres. Pare de falar


sobre as roupas fedorentas. Você está acabando com meus bombons de
chocolate.

Granger suspirou para ele, como se quisesse dizer que ele era terrível, mas
não valia a pena o esforço, porque ele já sabia disso. Então ela notou um
bilhete sobre a mesa.

━ O que é isso?

━ Uma nota de boas-vindas do hotel ━ ele respondeu.

Granger pegou o bilhete, que era endereçado a...

━ Senhorita Hormone e Sr. Crotch ━ leu.

Ela o colocou para baixo. Lentamente, suas mãos subiram para cobrir o
rosto. Então, por um longo minuto, seus ombros tremeram e ela fez
pequenos sons, abafados por suas mãos.

━ Er... você está rindo ou chorando? ━ Draco perguntou, devagar, porque se


fosse a segunda opção, ele deveria fazer algo?

━ Ambos ━ Granger soluçou. Ela fungou, então se levantou para pegar um


lenço de papel.

Quando voltou, seus olhos estavam brilhantes e um pouco vermelhos nas


bordas, e seu nariz estava rosa. Ela voltou a sentar-se à mesa baixa e serviu-
se de chá.

━ Eu não posso acreditar que você fez isso comigo de novo.

━ Eles queriam nomes lá embaixo. ━ Draco deu de ombros. ━ Embora eu


suspeite que a bruxa sabia quem somos.

━ Você acha? Entramos parecendo um par de foliões trouxas, um dos quais


estava verde e o outro mancando como Olho-Tonto.

━ Eu não estava mancando como o Olho-Tonto.

━ Ah, sim, você estava. Ainda está, embora o calor do chuveiro o tenha
ajudado. Você quer que eu o cure de novo?

Draco ponderou sobre isso, então engoliu seu orgulho e deslizou para o
chão ao lado dela. Ele abriu o roupão para expor o joelho.

━ Eu não sabia que você me observava tão de perto ━ disse. Porque ela
certamente não observou as coisas que ele queria que ela observasse, a
criatura irritante.

A varinha de Granger fez cócegas no pêlo de sua perna enquanto ela


passava sobre seu joelho.

━ Não se gabe; vem com o meu trabalho. Mais ou menos como você avalia
todos como se fossem assassinos secretos.
Draco zombou.

━ É verdade ━ Granger falou. ━ Você olha para todos como se estivesse


decidindo a melhor forma de quebrar seus pescoços. Para não falar de seus
usos tortuosos de Legilimência. ━ Murmurou um feitiço de Cura, então
acrescentou: ━ Não é uma reclamação, veja bem. Parece mais seguro ter
alguém do seu calibre por perto. Especialmente hoje... hoje teria sido uma
catástrofe absoluta, se eu tivesse tentado por conta própria.

Draco supôs que ele poderia informá-la que ela se apresentou de forma
bastante competente no campo e que ficou devidamente impressionado com
algumas de suas acrobacias, mas Granger completou o feitiço de cura e o
momento passou.

Ela deu um tapinha no joelho dele, como se fosse um menino travesso que
tinha caído de uma árvore, e não um Auror que tinha sido atacado por uma
Mantícora enfurecida.

━ Bem. Agora não há mais drama por uma semana. Parnell não será tão
legal quanto eu.

Então ela puxou a ponta do roupão de Draco e o enfiou com força sob sua
coxa.

━ Eu prometo que nenhum pedaço vai escapar sem permissão ━ Draco


disse, observando esta atividade.

━ Eu não estou arriscando, especialmente com um homem chamado Crotch.

Draco soltou um bufo inesperado de diversão, tão forte que machucou seu
nariz.

Granger parecia afetada.

━ Hoje foi uma comédia de erros.

━ Certo. Não vamos tentar as destinos ━ ele falou.


O que era uma grande mentira, porque Draco tinha uma ideia vaga, não
muito bem formada, de desafiar os destinos, parecendo loucamente sedutor
por absolutamente nenhuma razão e vendo onde isso ia (não tinha ido a
lugar nenhum). Havia um tipo interessante de potencial em chuveiros
quentes, uma luxuosa suíte de hotel e estar completamente nu com uma
bruxa.

Mas isso era tudo o que era – potencial; existindo na possibilidade, mas não
na realidade. Com qualquer outra bruxa, sim. Com essa bruxa? Não. Esta
era Granger, e Granger era, bem – Granger.

Agora, ela tinha tirado os chinelos enormes e foi até a janela. Desfez o
cabelo de sua pilha molhada e desembaraçou com os dedos. As cortinas se
abriram magicamente quando aproximou, desejando mostrar a vista
exclusiva dos jardins do Palácio de Kensington. Enquanto penteava o
cabelo, Granger admirava a vista e presenteou Draco com pedaços de
história trouxa e mágica no lugar.

O sol estava se pondo nas Ilhas Britânicas, como havia se posto horas atrás
no cemitério de navios no deserto.

━ Dois pores do sol em um dia ━ disse com um suspiro. ━ Bastante mágico,


não é?

E ela ficou na luz vermelha, bastante mágica, como se fosse tocada pelo
fogo. E o crepúsculo caiu sobre a grande cidade de Londres, o céu ficou
roxo, e então, finalmente, veio a noite. Draco teve um vislumbre de uma
feiticeira com uma cascata de cabelo caindo pelas costas – e então ela o
torceu e era Granger novamente.

Draco se juntou a ela na janela.

━ Muito menos estrelas do que com navios.

━ Em vez disso ━ ela falou, olhando para cima. ━ Se alguém procurar nosso
conselho sobre onde construir o próximo grande observatório bruxo,
teremos uma resposta.
━ Isso acontece com você com frequência? Sendo perguntado sobre onde
construir observatórios?

━ Ah, diariamente. De hora em hora, realmente. Não acontece com você?

━ É claro. Faço perguntas incessantes enquanto cuido dos órfãos.

━ Bom para você.

━ A nobreza obriga.

Granger olhou para ele com um olhar que lhe dizia que ele era um
espertinho absoluto. A menos que estivesse enganado, havia uma espécie de
carinho latente nisso, embora fosse muito, muito profundo.

Ela puxou o roupão mais apertado em torno de si.

━ Você acha que aquele espelho enviaria algumas roupas para nós? Não
gosto da ideia de ir ao flu com essa elegância.

━ Você está pronto para enfrentar o flu novamente tão cedo? ━ Draco
perguntou.

Ele estava gostando bastante desse interlúdio de paz e decadência luxuosa e


– bem, boa companhia. Era a distensão depois de uma aventura. Se
dependesse estritamente dele, ele teria planejado incontáveis ​horas de
ociosidade em camas fofas, várias outras refeições deliciosas, visitas ao spa
e talvez uma massagem. Ele certamente teria continuado até a próxima
segunda-feira, com uma explicação para Tonks que ele e Granger estavam
se recuperando de uma provação.

Granger, no entanto, não parecia ter sequer considerado esse delicioso


potencial para preguiçar. Ela não era esse tipo de mulher; era do tipo que te
arrasta para uma aventura violenta, reduz seu cérebro a purê, fervido por
horas de quebra de maldições, impõe momentos transcendentais exaustivos
sob as estrelas, faz você voar com ela por um deserto e depois, tomando
chá, espera para formar algum tipo de opinião inteligente sobre os projetos
de irrigação soviéticos. Bestial.
━ Estou pronta? Não. Mas devo continuar. Tenho muito o que fazer, agora
que tenho o fragmento. E Bichento estará esperando, você sabe.

Draco caminhou até o espelho para cobrir sua leve decepção.

━ Muito bem. Vamos providenciar as roupas.

O pedido de vestes foi feito, para um bruxo alto e uma bruxa da altura
aproximada de um duende. (Granger enfiou a cabeça no banheiro e corrigiu
esse erro).

Demorou cerca de vinte minutos para que as roupas fossem enviadas –


Draco supôs que o pedido incomum deveria ter feito os elfos domésticos do
hotel ficarem nervosos. Eventualmente, as coisas do jantar desapareceram
da mesa e dois pacotes arrumados vieram à tona.

O polido estabelecimento enviara trajes igualmente calmos. As roupas eram


no estilo tradicional, com muitos botões para Draco e muitos laços para
Granger.

━ Bem ━ ela disse, olhando para suas vestes azul-escuras. ━ De qualquer


forma, vai servir para me levar ao flu.

━ Olhe... roupas íntimas ━ Draco falou, segurando uma cueca


espetacularmente nada sexy. ━ Você pode se parecer com minha tia-avó
Auriga.

━ Ugh... não.

Draco adicionou aquilo à pilha de órfãos em chamas.

Granger entrou no banheiro para se trocar enquanto Draco fazia um


trabalho relativamente rápido em seu novo traje, exceto pelos botões, que
eram muito delicados para ele apertar com sua varinha. Fechou-os até a
metade de sua garganta, então decidiu que não se importava o suficiente
para fechá-los ainda mais. Afinal de contas, eles estavam apenas se
arrumando para uma caminhada pelo vestíbulo até o flu.
Granger saiu do banheiro com um problema semelhante, embora o dela
consistisse em fitas e rendas.

━ Vejo que essas vestes vêm com a suposição de que o usuário terá uma
dama de companhia. Você poderia me ajudar?

Draco, não tendo ideia de como dar os nós adequados para um manto
feminino, optou por pegar um punhado de fitas e enfiá-las na parte de trás
do vestido. E ele não passou um momento pensando em como Granger não
estava usando roupas íntimas, obrigado.

━ Isso não parece muito certo ━ ela disse enquanto as fitas eram colocadas.

━ Não. É totalmente caótico.

━ As partes impertinentes estão cobertas, isso é o que importa.

Eles pararam na frente do espelho para dar uma olhada antes de descerem
para a lareira.

Draco disse que Granger parecia terrivelmente com uma esposa puro-
sangue, saindo para deixar os filhos na estação King Cross, em 1961.

Granger disse que Draco parecia ter acabado de sair do quartel general em
1825.

O espelho entrou na conversa para registrar sua opinião de que eles eram
"um casal extremamente bonito".

Granger estremeceu; Draco fugiu.

O saguão do Seneca estava irritantemente cheio. Draco, fazendo aritmética


mental envolvendo dois pores do sol, percebeu que era apenas sábado à
noite em Londres. As multidões faziam mais sentido, então; as salas de
jantar do Seneca eram o lugar certo para uma certa fatia do cenário bruxo
de Londres.
A lareira do flu estava do outro lado, estalando alegremente para eles
enquanto saíam do elevador.

O passo de Granger se alongou.

━ Podemos, finalmente, colocar esse dia surreal no passado...

Então ela parou, agarrou o braço dele em um grito estridente e o puxou para
si.

━ O que...?

━ Merda ━ Granger disse, se jogando contra a parede e movimentando


Draco para ficar na frente dela. ━ Fique aqui.

━ O que estamos...

━ Fique alto. Por que você é sempre assim, exceto quando precisa? ━ Ela
perguntou em um sussurro irritado. ━ Me proteja.

━ De quem? ━ Ele perguntou, desejando muito se virar e avaliar o assassino


secreto e talvez matá-lo a sangue frio.

━ Cormac.

━ McLaggen?

━ Quantos outros malditos Cormacs você conhece? ━ Granger perguntou.


Ela ergueu as mãos para as vestes de Draco e puxou o colarinho dele, como
se as abas lhe proporcionassem mais privacidade.

━ O que ele fez?

━ Oh, ele só está apaixonado por mim há anos. Tipo de homem tenaz.
Pegajoso. Viscoso, realmente. Fique aí, o grupo dele está prestes a entrar
nas salas de jantar. Não... espere... eles ainda estão conversando. Vou lançar
um Não-Me-Note. Oh não... Derrick acabou de ver você, eu acho. É o seu
cabelo estúpido. Como um farol através dos malditos Peninos. Não. Eles
estão vindo para cá. Eu nunca estive aqui. Adeus.

Com isso, Granger deslizou sob o braço de Draco e tentou correr de volta
para o elevador, mas ele se abriu e uma verdadeira enxurrada de senhoras e
senhores prontos para o jantar saiu e a atirou para o lado como um pedaço
de destroços.

Granger se desiludiu e perguntou por que o elevador era um maldito carro


de palhaço.

Draco, tendo percebido que seu papel agora era distrair e desviar, virou-se e
cumprimentou Derrick que se aproximava com um aperto de mão
("Peregrine, minha costeleta de cordeiro, como você está?") e McLaggen
com um aperto de mão duplo muito longo: "Olá. Eu não acredito que nos
conhecemos, Draco Malfoy". Sim, eu sei que não preciso de apresentações.
Você está aqui para jantar com esse canalha? Acho que me lembro de você
de Hogwarts. Você ainda joga Quadribol? Deve se juntar a nós no campo.
Peregrine vem de vez em quando, ainda um bom batedor, embora o golpe
seja menos poderoso do que costumava ser... um toque de artrite no ombro,
imagino, pobre coitado. Junte-se a nós. Noites de quarta-feira na Mansão.
Só tivemos uma morte em cinco anos. É tudo uma boa diversão,
realmente...

McLaggen se tornou um sujeito alto, tão alto quanto Draco, e bastante


bonito, então ele decidiu imediatamente que não gostava do sujeito.

O homem parecia terrivelmente confuso com a saudação efusiva de Draco,


que provavelmente contrariava sua reputação geral como um babaca. No
momento em que McLaggen recuperou a posse de sua mão, no entanto,
Granger havia desaparecido.

━ Certo ━ Draco disse. ━ Devo ir.

━ Você não está jantando, Malfoy? ━ Peregrine perguntou. Um sorriso


tocou em sua boca. — Ou você tinha outros negócios com os quais estava
se metendo?
━ Outros negócios? ━ Ele repetiu com uma piscadela inocente.

━ Eu poderia jurar que tinha visto Hermione com você ━ McLaggen falou,
desviando de Draco para olhar para os elevadores. ━ Eu conheceria aquela
bruxa em qualquer lugar.

━ Hermione? Hermione Granger? Comigo? ━ Draco falou, suas


sobrancelhas na linha do cabelo.

McLaggen, ainda olhando ansiosamente além do ombro de Draco, deu uma


espécie de olhar duas vezes para ele.

━ Oh... er... bem, eu acho que eu poderia estar vendo coisas.

Peregrine zombou.

━ Eles preferem matar um ao outro do que conversar, eu aposto.

O olhar de McLaggen deslizou para as vestes meio desabotoadas de Draco,


e então para seu colarinho torto, que parecia que uma dama o havia
agarrado nos últimos cinco minutos.

━ Eu suponho ━ disse, mas havia dúvida em sua voz.

Draco decidiu que um ponto de Legilimência estava em ordem, para


quantificar aquela dúvida. E além disso, Granger se sentiu insegura e fugiu
deste homem, e dado que sua Superiora se sentiu ameaçada, ele estava
dentro de seu direito de investigar.

Com esse raciocínio completo, Draco tocou na mente de McLaggen para


ver se esse idiota tinha o menor treinamento em Oclumência.

Ele não tinha.

Draco fez algumas observações sobre a recente vitória dos Kestrels sobre os
Cannons. Quando os dois interlocutores estavam ocupados com o assunto,
ele deu uma olhada nos cérebros de McLaggen, tal como eram.
Ele manteve seu exame no nível da superfície, folheando os pensamentos
mais recentes do homem. Ele se viu como McLaggen o vira do outro lado
do saguão, pressionado contra a figura de uma mulher de túnica azul-
marinho, com cabelos escuros empilhados na cabeça. Então ele viu as
costas da mulher enquanto ela deslizava em direção ao elevador, fitas
desfeitas fluindo atrás dela. McLaggen tinha certeza de que Draco estava
beijando alguém e quase certeza de que tinha sido Granger. Apenas as
vestes formais o desanimaram; isso e o fato de que ela esteve com Draco
Malfoy, de todas as pessoas. A dissonância cognitiva deste último ponto
tomou conta de toda a memória.

Então Draco encontrou memórias associadas: Granger falando no


Ministério um ou dois anos atrás e depois fugindo das atenções amorosas de
McLaggen; Granger dando desculpas confusas a McLaggen para evitar um
jantar enquanto ele segurava a mão dela; Granger em um pub com seus
amigos, encurralada por McLaggen perto do banheiro e afastando seu beijo
bêbado, algo como medo em seus olhos. Cada memória estava tingida pela
frustração crescente de McLaggen, saudade e uma obsessão contínua e
arrepiante por Granger.

Draco lutou contra um desejo muito real de quebrar o belo maxilar do


homem.

Qualquer investigação adicional nas memórias do mago acarretaria o risco


de descoberta. Draco se afastou de sua mente e voltou à conversa com um
comentário sarcástico sobre o desempenho dos artilheiros dos Falcons.
Enquanto isso, ele adicionou o nome de McLaggen à sua lista negra.

Eles se despediram. Draco sorriu enquanto apertava a mão de McLaggen.

━ Aproveite seu jantar. Vejo você em campo, espero muito.

Derrick e McLaggen saíram.

Draco saiu em busca de Granger.

━ Aqui. ━ Um sussurro familiar surgiu enquanto ele passava pelos


elevadores. A voz de Granger levou a uma espécie de sala de conferências,
logo depois do corredor. Estava escuro.

━ Ele se foi? ━ Ela perguntou.

━ Logo ━ Draco respondeu. ━ A reserva deles é daqui trinta minutos. Onde


você está?

━ Aqui. ━ Granger desfez sua desilusão. ━ Por que você parece tão
assassino?

━ O que? Esta é a minha cara habitual.

━ Não. Seus olhos estão piscando.

━ Tivemos uma discussão sobre Quadribol.

O olhar escuro de Granger estudou Draco na penumbra. Ela estava com a


mão no quadril.

━ Quadribol.

Sim.

O estudo dela era tão focado que Draco ocluiu instintivamente, mesmo que
Granger não fosse uma Legilimens. Ela viu a mudança e seu foco ficou
ainda mais aguçado.

━ Você está mentindo.

━ Vamos para o flu.

Granger se recusou a se distrair.

━ O que aconteceu?

━ Por quanto tempo você vai deixar McLaggen aterrorizar você antes de
amaldiçoar as bolas dele?
━ Eu sabia ━ ela disse em uma mistura estridente de triunfo e
aborrecimento. ━ Você usou Legilimência nele. Você não pode fazer isso.

━ Eu posso e eu fiz.

━ São assuntos particulares. Eles não têm nada a ver com você.

━ Ele é um perigo para você.

━ O que exatamente você viu?

━ O suficiente para decidir que ele é uma ameaça.

━ Uma ameaça? ━ Ela repetiu. ━ Ele é apenas um idiota. Posso, e sempre


pude, lidar com ele, da maneira que considero mais apropriada. Se eu
achasse que enfeitiçar suas bolas era a abordagem correta, garanto a você
que teria feito isso.

— Por que você não fez?

━ Porque há coisas maiores em jogo.

━ Quais? ━ Draco perguntou. ━ E não diga o pênis dele.

━ Repugnante. Não. Ele está no Serviço Nacional de Saúde Mágica e no


Conselho de Administração do St. Mungos. Denunciá-lo teria repercussões
que preciso equilibrar cuidadosamente... muito menos um ataque direto à
sua genitália.

━ Ele está a um whisky de fogo de encurralá-la em um banheiro e te


atordoar ━ Draco respondeu.

Granger fez um gesto de despedida.

━ Ele nunca cruzaria essa linha. Não é tão estúpido. Ele toca... isso é tudo.
Pare de parecer assim, como se estivesse prestes a duelar com ele no
saguão.
Draco zombou.

━ Ele não é digno de um duelo; eu ficaria feliz em amaldiçoá-lo pelas


costas.

━ Sem xingamentos. Não, nada. Nada disso tem a ver com você. Você não
deveria ter visto nada disso.

━ Nada a ver comigo?! ━ Draco repetiu com novo ressentimento. ━ Fui


designado para mantê-la segura. É literalmente por isso que estou aqui,
agora, vestido como um advogado vitoriano, depois de um dia brincando
com labirintos!

━ Para me manter segura no âmbito das minhas atividades como


pesquisadora, não na minha vida pessoal!

━ Isso pode chocá-la, mas se você estiver ferida ou incapacitada em sua


vida pessoal, haverá um impacto definitivo em sua capacidade de pesquisar.
Ou você discorda?

Granger ergueu os olhos para o teto escuro.

━ Você está agindo como se McLaggen fosse me rasgar membro por


membro.

━ Você estava na cabeça dele?

━ Não.

━ Então eu vou decidir o que ele provavelmente vai fazer ━ Draco disse,
batendo em seu próprio peito com força desnecessária.

Granger o estudou. Então, cautelosamente, perguntou:

━ Você viu que ele queria me rasgar membro por membro?

━ Não ━ ele respondeu. — Mas você o enlouqueceu por anos.


━ Eu sei.

A briga estava explodindo. As mãos de Granger estavam agora enganchadas


nas costas de uma cadeira, ao invés de enroladas em seus quadris, e Draco
parou de olhar assassino na direção do saguão.

━ Existem outros pretendentes lascivos que eu preciso saber? ━ Perguntou


depois de um minuto.

Granger colocou a ponta do dedo em seu lábio e pensou. Por fim, ela disse:

━ Não na medida de McLaggen.

━ Isso não inspira confiança.

Granger sacudiu a cabeça.

━ O que posso dizer? Sou magnética. Eu não posso nem atravessar uma sala
sem bruxos caindo no meu colo.

Draco reconheceu um eco de algumas de suas próprias afirmações durante a


dança na festa de Delacroix – neste mesmo hotel, na verdade. Foi o sotaque
exagerado que o atingiu.

━ Eu não pareço tão elegante, Granger.

━ Ah, sim, você parece. Parece que você está prestes a ir à ópera depois de
um dia fotografando animais selvagens inocentes. Perdizes, provavelmente.

━ Eu pensei que você ia dizer órfãos.

━ Você é terrível, mas não tão terrível. Agora, me prometa que não vai fazer
algo estúpido sobre McLaggen.

━ Eu prometo que não farei nada estúpido sobre McLaggen ━ Draco disse,
com sinceridade.
Os olhos de Granger se estreitaram no local escuro e ela reformulou,
sabiamente, seu pedido.

━ Prometa que não fará nada em relação ao McLaggen, ponto final.

━ Não ━ Draco disse.

━ Por favor.

━ Não.

━ Malfoy.

━ Tá bom. Eu prometo.

━ Queria acreditar em você.

━ Eu queria que você acreditasse também.

Granger massageou suas têmporas.

━ Tudo bem. Vou aceitar sua palavra. Não tenho escolha.

Draco não se preocupou em pontuar a severidade desse erro.

Agora, Granger parou na porta da sala de conferência e enfiou a cabeça


para fora.

━ Acho que a barra está limpa.

Draco se juntou a ela na porta para garantir o mesmo.

━ Certo. Não-me-Note, desta vez, e um ritmo acelerado.

Assim equipados, atravessaram o saguão cheio e fizeram o caminho até a


lareira sem mais interrupções.

━ O Mitre ━ Granger disse, jogando pó de flu.


As chamas ficaram verdes e esperaram a aproximação dela. Ela olhou por
cima do ombro em direção a Draco, uma nova hesitação em sua expressão.

━ Pobre querida. Seja corajosa ━ ele disse em encorajamento.

Granger se endireitou.

━ Eu ia dizer obrigada por hoje, mas esqueça.

━ Apenas fazendo meu trabalho ━ Draco respondeu com toda a


despreocupação que podia, como se não houvesse sido uma provação
perigosamente perversa.

━ Certo. Mas talvez um pouco exagerado.

━ Sem sentido.

Granger suspirou.

━ Tá bom. Então, tchau.

━ Granger.

━ O que?

━ Diga ao seu gato que eu disse pspsps.

O sorriso dela era brilhante. Ela se virou e desapareceu nas chamas.

Então, rapidamente, parecia que havia menos gravidade no local.

──── ◉ ────

Essa arte... ESSA ARTE... MEU DEUS! Hermione, como eu queria uma
narrativa sua nesse momento!

Primeira DR digna de um casal, hein... Veremos mais de McLaggen no


futuro.
Adendo para o "Granger, diga ao seu gato que eu disse pspsps". Sério, eu
não tenho condições.

Amando cada vez mais o rumo dessa fic. Há muito para acontecer ainda,
mas as coisas interessantes (ainda mais) estão chegando.

Dito isso, o próximo capítulo tem quase 9000 palavras, então obviamente
eu tomarei mais tempo para traduzi-lo, além, é claro, de me dedicar a Att.
Caelum também. Sem data decidida, mas eu posto assim que conseguir,
vocês sabem.

Um beijo e até logo!


17. O Jantar; Draco Malfoy Quase
Causa a Próxima Sensação de
Assassinato

Boa tarde, meus amores!

Bom, demorei, mas cheguei. Eu sabia que esse capítulo iria tomar bastante
tempo.

Espero que gostem dele. Eu AMO! Boa leitura.

──── ◉ ────

Para o prazer tortuoso de Draco, McLaggen aceitou o convite para aparecer


no campo algumas semanas depois.

Uma sequência infeliz de eventos ocorreu, às quais não tiveram


absolutamente nada a ver com Draco – tempo molhado, balaços
terrivelmente agressivos, vassouras temperamentais – que resultaram em
McLaggen caindo de sua vassoura a 30 metros de altura.

━ Estou dizendo ━ Davies comentou, vendo McLaggen ser carregado para


fora do campo por curandeiras. ━ Aquele balaço estava com raiva do cara.

━ Eu nem bati com tanta força ━ Zabini disse.

━ Pobre homem ━ Draco falou. ━ Primeira vez de volta à vassoura em um


tempo, pelo que entendi.

━ Talvez balaços possam sentir o cheiro do medo ━ Zabini sugeriu.


━ Espero que isso não o tire do esporte ━ Davies disse. ━ Precisamos de um
goleiro decente. Bickford está se mudando para a Espanha.

O clima geral foi um pouco moderado após o acidente. Os jogadores


decidiram encerrar a noite, se despediram e desaparataram para tomar
banho.

Todos, exceto Draco, que descobriu, ao contrário, que o acidente teve um


efeito estimulante em sua moral. Ele saiu do campo bastante revigorado.

──── ◉ ────

Granger tinha uma questão pairando. Este desenvolvimento foi anunciado


por sua lontra prateada, que encontrou Draco na noite seguinte. O momento
era horrível; ele estava em uma tocaia sensível em Fowlmere, prestes a
prender o notório Thomas Talfryn.

━ Você! Você prometeu que não faria nada! ━ A lontra de Granger gritou na
cara de Draco. ━ Você é o pior!

O som estridente da voz dela ecoou pelo beco onde ele estava escondido.

Talfryn, que estava fumando em uma porta, fora do alcance de um


atordoamento, se assustou e desaparatou.

━ Puta merda! ━ Draco sibilou.

A lontra, tendo transmitido sua mensagem, desapareceu.

Com um grunhido, Draco puxou a agenda de Granger. Ela estava em casa.


O que era perfeito, porque ele ia matá-la.

Ele aparatou em sua cabana com um humor extremamente desagradável.


Varreu suas proteções e invadiu o caminho para a porta da frente, que ele
começou a martelar.

Granger abriu a porta com uma veemência que sugeria que ela também
estava em pé de guerra.
━ Você é uma idiota ━ ele disse como forma de saudação.

━ Eu? ━ Granger retrucou. Ela estava selvagem sobre os olhos. ━ Eu?! Você
é o idiota! Você não deveria tocar em McLaggen!

━ Você acabou de arruinar minha melhor chance de pegar o maldito Talfryn


com sua lontra estúpida!

━ Você enviou McLaggen para a Urgência!

━ Eu tenho perseguido Talfryn por três malditos meses ! ━ Draco rosnou.

━ Adivinha quem estava de plantão ontem à noite?! ━ Granger gritou.

━ Talfryn tem acusações contra ele mais longas que meu braço! Armadilha
para besta! Falsificação! Esportes sanguinários! Extorsão! Crueldade com
Criaturas Mágicas! Extorsão!

━ Eu tive que cuidar daquele troglodita por quatro malditas horas! Você
quebrou todos os membros dele!

━ ...Fraude! Assalto! Contrabando! E você acertou em cheio! Agora ele se


foi de novo !

━ McLaggen viveu todas as suas fantasias de enfermeira gostosa ontem à


noite, graças a você! ━ Granger disse, espetando o dedo no peito de Draco.

Draco pegou a mão dela e a puxou para baixo.

━ Se você pudesse manter suas malditas emoções sob controle, eu teria meu
homem acorrentado! Mas não! Você teve que enviar sua lontra raivosa!

━ Minhas emoções?! ━ Ela explodiu. ━ Você é o único que trabalhou até os


limites sobre McLaggen!

━ Você é a única que espetacularmente enganou minha tocaia com seus


gritos!
━ Se você tivesse mantido sua palavra, nada disso teria acontecido!

━ Eu nem fiz nada! O homem caiu da vassoura como o cretino de cabeça


oca que ele é!

━ Eu não acredito em você por um instante!

━ Acredite no que quiser!

━ Eu vou... você é um monstro oportunista!

━ Você é uma megera maldita e briguenta!

━ Eu não suporto você!

━ Eu não suporto você!

Então eles se levantaram, os ânimos em chamas, os lábios entreabertos, a


respiração acelerada, e esperaram que o outro cuspisse uma réplica, para
que pudessem continuar arrancando a cabeça um do outro. De alguma
forma, no processo de gritar e bater os dedos, eles ficaram próximos um do
outro. Granger estava no batente da porta, então, pela primeira vez, sua
altura quase igualava a de Draco. Ele sentiu a respiração dela vibrar contra
seu queixo.

Sua raiva a fez brilhar; seu olhar estava em chamas com o calor de sua
convicção; suas bochechas estavam coradas. Ela queria estrangulá-lo tanto
quanto ele queria estrangulá-la. E houve um momento de loucura, onde o
limite entre a raiva e a paixão oscilou e se inclinou, e ele poderia tê-la
estrangulado, ou poderia ter esmagado sua boca contra a dela, com força,
para fazer algo com a intensidade do sentimento; para calá-la; para provar
um ponto.

A louca possibilidade era contagiosa – seus olhos voaram para a boca dele.
Então ela piscou e, como uma coisa despertando de um transe, parecia
distantemente chocada.
Percebendo que ele ainda estava segurando a mão dela, Draco a soltou e
deu um grande passo para trás. Granger também deu um grande passo para
longe e parecia que ela preferia voltar para a cripta e se jogar no tapete
Crucio do que estar lá. Seu rubor subiu de suas bochechas até a ponte de
seu nariz.

Draco, sentindo-se totalmente desequilibrado pelo momento, limpou a


garganta, procurou algo para dizer (nada estava por vir), e então disse que
era melhor ir embora, já que estava escurecendo.

Granger olhou para qualquer lugar menos para ele e disse:

━ Certo.

Mutuamente satisfeitos com essa conclusão madura e robusta de sua briga,


eles se afastaram ainda mais, e Granger fez menção de fechar a porta.

Houve um miado longo e sustentado de algum lugar no jardim. Nas


sombras, uma mancha alaranjada avançou em direção a eles.

O gato parou aos pés de Draco, e então, como se estivesse lhe dando um
grande presente, enrolou-se em suas botas e cobriu suas calças de laranja.

Draco estava quase tão desorientado por isso quanto pelo momento com
Granger. Ele mal sabia o que fazer consigo mesmo. No entanto, quando ele
se abaixou para acariciar o gato, a criatura assobiou para ele e fugiu de volta
para o jardim escuro.

━ É nos termos dele, e apenas nos termos dele ━ Granger disse.

━ Criatura impertinente.

━ Ele é.

Granger estudou um pouco de tinta descascada no batente da porta.

Draco olhou para as glicínias.

Granger mordeu o lábio.


━ Eu realmente arruinei sua vigilância?

━ Sim. McLaggen realmente acabou com você ontem à noite?

━ Sim.

Eles murmuraram algo que pode ter sido, para o ouvinte com ouvidos
incrivelmente aguçados, um pedido de desculpas, em uma linguagem que
consistia principalmente em murmúrios e pigarros. A fúria fervilhante deles
deu lugar agora a um certo grau de vergonha, que Draco era mais hábil em
esconder do que Granger.

━ Ele realmente teve todos os membros quebrados? ━ Draco perguntou.

━ Tudo. E uma concussão, para ajudar.

━ Ah. Pobre menino.

━ Esportes sanguinários, então? ━ Granger perguntou com um pouco de


ansiedade curandeira rastejando em sua voz.

━ Armadilha para Nundu. ━ Draco assentiu. ━ Talfryn fez uma fortuna


maldita com isso também.

━ Nundu?! Como ele está mantendo um cativo?

━ Não temos certeza... um coquetel tranquilizante, sem dúvida. Dos fortes.

━ Merda ━ Granger falou, parecendo culpada.

━ De fato.

A conversa esmoreceu. As longas folhas das glicínias esvoaçavam na brisa,


então Draco olhou para elas novamente, por pura curiosidade intelectual.
Granger se interessou fortemente por uma rachadura na soleira.

Ele estava prestes a dizer que tinha que sair – de novo – mas a postura de
Granger mudou. Ela não estava mais posicionada para atacar a garganta
dele – estava meio virada para dentro da casa, hesitando sobre alguma
coisa.

Normalmente, Draco a teria provocado, rudemente, mas hoje, sentiu que


tinha usado sua cota de grosseria.

Granger limpou a garganta e falou com uma voz pequena.

━ Eu tinha algo que queria mostrar a você.

━ O que é?

Granger desapareceu no chalé e voltou com um recorte de jornal. Ela


passou para Draco. Era da sétima página do Profeta e intitulado: Saqueando
na Provença!

O artigo descrevia o roubo de uma relíquia de um mosteiro que Draco


certamente nunca tinha ouvido falar em sua vida. Os ladrões foram
descritos como indivíduos excepcionalmente poderosos com propensão a
incêndios criminosos, que derrotaram medidas de segurança quase
impenetráveis, ininterruptas desde 1008.

Nossos leitores ficarão tão pasmos quanto os investigadores quando


souberem que a preciosa relíquia – a caveira de um santo – foi devolvida
ao mosteiro anonimamente alguns dias após o arrombamento. Os
investigadores suspeitam que os ladrões podem ter sido caçadores de
emoções à procura de um desafio. Algumas das Irmãs sofreram ferimentos
sem risco de vida após a intrusão. Quando perguntadas se a investigação
continuaria, as autoridades francesas disseram: ━ Que pergunta idiota, a
relíquia está de volta, não é? ━ Que seu correspondente interpreta como
"não".

━ Recebi minha manchete poética ━ Draco comentou.

━ Você recebeu. ━ Granger torceu as mãos. ━ Consegui o que


absolutamente não queria, que era publicidade.
━ Você será a principal suspeita, certamente ━ ele falou. ━ Todo mundo sabe
que a amada Curandeira Hermione Granger é secretamente uma caçadora
de emoções e uma incendiária.

Granger deu a ele um olhar de reprovação.

━ Seja sério.

━ Eu sou. Você é um tipo perigoso de bruxa.

Granger arrancou o artigo da mão de Draco, puxou sua varinha e queimou o


recorte.

━ Viu? Mais fogo posto ━ ele disse. ━ E podemos adicionar evidências


destruídas à sua lista de crimes.

━ Você vai ter que me prender, se eu continuar por esse caminho


conturbado.

━ Já estou pensando nisso. O crânio acabou sendo útil? Por favor, me diga
que valeu a pena.

━ Foi ━ ela respondeu. ━ Imensamente. Fiz avanços significativos.

━ Bom.

Granger se inclinou contra o batente da porta, uma pequena quantidade de


sua tensão desajeitada se foi.

━ Minha próxima brincadeira será devastadoramente chata em comparação.

━ Vou acreditar nisso quando vir.

━ É verdade. Eu só vou para Hogwarts.

━ Para quê?

━ Um texto medieval. Um dos de Snape.


━ Ah ━ Draco falou. Snape legou a totalidade de sua biblioteca para
Hogwarts, e assim, de uma só vez, fez a coleção de livros raros da escola
quase tão extensa quanto a da maioria das universidades.

━ Isso não será até o final do verão, em Lughnasadh. Não porque quaisquer
potências mágicas estejam em jogo, lembre-se. É só meu próximo fim de
semana de folga antes...

Um som estridente a interrompeu. O primeiro pensamento de Draco foi um


alarme de guarda. Ele se virou, brandindo sua varinha, com toda a intenção
de mutilar.

Granger engasgou.

━ Eu deixei o fogão ligado!

Draco sentiu o cheiro de algo queimando, pensando bem, mas ele pensou
que era o pedaço de jornal.

Ela mergulhou na casa. Draco seguiu para testemunhar qualquer


entretenimento que estava por vir.

Granger tirou algo do fogão – algo bem preto. Draco abriu uma janela e
conjurou uma brisa forte para arejar o lugar.

━ Bem ━ ela resmungou, parecendo triste. ━ Isso foi o jantar.

━ Mmm ━ Draco fez um som, observando o carvão.

Ele ingenuamente pensou que sua fonte de fúria havia sido drenada. Estava
errado. Granger sempre tinha um suprimento adicional de ira.

━ Isso é culpa sua ━ retrucou, virando-se para ele com uma mão no quadril.
━ Você me distraiu.

━ O que era isso? ━ Draco perguntou, para verificar se ele deveria se sentir
mal.
Granger apontou para a lixeira. Uma caixa estava saindo dela, o que
indicava que era a Torta de Peixe Congelada da Srta. Mabel.

━ Eu não tenho o menor arrependimento ━ ele disse.

Granger raspou a pilha preta na lixeira junto com a caixa, que era, na
opinião de Draco, onde ela pertencia em primeiro lugar.

Agora, Granger estava mexendo em seus armários, cujo conteúdo eram


duas latas de atum, feijão e um pacote de biscoitos.

━ É para retirada. Eu costumo ir às lojas no fim de semana. Pare de parecer


tão julgador.

Draco, sentindo-se realmente muito julgador sobre os feijões secos, teve


uma ideia impetuosa, louca e selvagem.

━ Granger.

━ O que.

━ Venha comigo para jantar.

Granger, que havia desaparecido a meio caminho de Nárnia para recuperar


uma caixa velha de biscoitos, saiu do armário.

━ O que?

Draco se repetiu devagar, com gestos interpretativos, para que ela


entendesse.

━ Você. Eu. Jantar.

Ele poderia muito bem ter sugerido atear fogo a um hospital infantil, por
todo o choque que sua sugestão gerou.

━ Você quer jantar comigo? Esta noite? Intencionalmente?


━ Não ━ Draco disse com uma espessa camada de sarcasmo espalhada por
cima. ━ Por acidente. Vamos tropeçar até a mesa com a boca aberta e
amassar alguns petiscos.

Granger ainda estava olhando para ele de soslaio.

Draco levantou os olhos para o teto. Ela estava fazendo uma coisa dessas.

━ Eu prometo que se eu fosse envenenar você, teria sido na minha chegada,


não agora. Há uma quantidade bastante grande de comida esperando por
mim na Mansão. E isso encantaria os elfos. E ━ apressou-se a acrescentar ━
minha mãe está em Florença.

Ela ainda estava olhando para ele em um tipo suspeito de confusão, seus
braços cruzados na típica postura de defesa de Granger.

━ Por que?

━ É minha culpa que você queimou sua torta de papelão.

A sobrancelha erguida de Granger sugeria que muitas coisas eram culpa


dele, pelas quais ele nunca tentou fazer as pazes anteriormente, então teria
que perdoar suas dúvidas.

━ Devemos ir? ━ Perguntou, ignorando esses escrúpulos.

Granger ficou imóvel, estudando-o com ceticismo, como se estivesse


tentando descobrir seu motivo oculto. Era um contraste gritante e agravante
com a reação típica de uma bruxa a um convite para jantar de Draco
Malfoy, que geralmente era um sim sem fôlego e muitas risadinhas.

Não que ele a estivesse convidando para esse tipo de jantar.

Ele estava simplesmente observando a distinção.

O cheiro de torta de peixe queimada flutuou da lixeira e se estabeleceu ao


redor deles em uma aura gentil e trágica.
Isso estimulou Granger à ação. Ela apertou a tampa da lixeira com força,
virou-se e foi para as escadas.

As mulheres não fugiam de Draco, como regra geral – muito pelo contrário.
Era uma sensação desconhecida e desagradável.

━ Ei ━ ele chamou, irritado.

━ Eu vou me trocar ━ ela informou. ━ Eu não vou para a Mansão assim.


Além disso, estou fedendo a queimado.

Draco, enquanto observava ela e seu bumbum subirem as escadas em seu


short trouxa, vagamente queria dizer que não se opunha às roupas de casa e
que era só ela e ele no jantar, então não importava, e além disso, ela muitas
vezes cheirava um pouco a fumaça de vela, e isso não o incomodava nem
um pouco.

No entanto, Granger estava lá em cima, então Draco guardou esses


sentimentos piegas para si mesmo.

Ele esperou que ela se trocasse, o que levou aproximadamente dois dias
úteis. Então ela desceu as escadas rolando, usando um vestido vermelho de
verão. ━ Pronto, agora estarei apresentável.

━ Apresentável para quem?

━ Eu não sei ━ Granger falou, puxando seu cabelo em um coque baixo que
era, de alguma forma, elegante e bagunçado. ━ Estar com você atrai o caos;
eu meio que espero que Shacklebolt decida aparecer para um bate-papo.

Draco sentiu que o atrator do caos era ela, mas mesmo assim.

━ Eu prefiro esperar que ele faça. Ele pode dizer a Tonks que estou
construindo um relacionamento com minha Superiora e não sendo um
valentão assustador.

━ Você não é um valentão. Você é apenas insistente ━ Granger respondeu,


deslizando em sandálias de tiras.
━ Eu sou insistente?

━ Um pouco mandão, na verdade.

━ Ah, isso é rico.

Eles aparataram para a Mitre, e de lá para o Cisne, e de lá para a Mansão.


Foi a mesma trajetória que fizeram naquela noite fatídica quando Granger
apareceu no campo de Quadribol da Mansão, só que ao contrário – e em
circunstâncias menos frenéticas.

Esse pensamento também parecia ter passado pela mente de Granger,


quando eles se materializaram na Mansão.

Assim que Draco estava lançando um olhar para ela, Granger encontrou
seus olhos. Então ela levantou a mão.

Estava tremendo apenas um pouco.

━ Progresso ━ Granger falou.

━ Muito bem ━ Draco respondeu com sinceridade silenciosa.

As grandes portas da frente da Mansão se abriram quando eles se


aproximaram. Um dos elfos domésticos mais jovens correu pelo corredor de
entrada com uma palavra de boas-vindas estridente – e então ele viu
Granger.

Ele gritou de surpresa, desaparatou, e então sua voz aguda ecoou da


cozinha:

━ O mestre está em casa! E ele trouxe uma senhora! Faça chantilly!

Então o elfo aparatou diante deles novamente, como se ele não tivesse ido a
lugar nenhum em primeiro lugar.

━ Bem-vindos, senhor e senhorita.


━ Obrigado, Tupey. Você poderia dizer às cozinhas que minha colega,
Curandeira Granger, se juntará a mim para o jantar?

Draco poderia ter partido o coração do elfo doméstico com esse


esclarecimento.

━ Claro, senhor ━ ele respondeu, seus grandes olhos cheios de devastação


repentina.

━ E queremos jantar no terraço sul ━ Draco acrescentou.

Tupey curvou-se e desaparatou. Distante, sua voz estridente ecoou com um


pedido para cancelar o chantilly.

Granger parecia confusa.

━ Chantilly?

━ Esqueça isso ━ Draco pediu. ━ Vamos tomar um aperitivo para começar.


Acho que acabamos de lançar um pânico nas cozinhas.

Granger não estava tão fixada em seus pés como esteve durante sua última
visita. Ela olhou ao redor, observando as paredes brancas, os cachos
encantados de velas flutuando a cada poucos passos, os fogos acesos nas
muitas lareiras. A nova Mansão era bem menos monótona que a antiga.

Draco a conduziu até um dos salões, que estava bem abastecido com todos
os tipos de lanches. Eles tiveram vinte segundos para escolher um lugar e
colher azeitonas antes que Tupey se materializasse novamente, desejando
saber o que eles gostariam de beber.

━ Um conhaque para mim ━ Draco pediu.

━ E para a colega Curandeira Granger? ━ Tupey perguntou.

━ Vinho tinto, por favor.

━ Cabernet Sauvignon? Merlot? Pinot Noir? Malbec? ━ Tupey perguntou.


Granger parecia paralisado pelo ataque de escolhas.

━ Er... vou tentar o Malbec. Obrigada.━

Tupey curvou-se e desaparatou.

Em seguida veio Henriette, que era um pouco melhor em esconder sua


excitação (apenas seus ouvidos trêmulos a denunciavam).

━ Senhorita Granger ━ ela disse com uma reverência, antes de oferecer


uma bandeja. ━ Rocambole de abobrinha, nozes temperadas com
malagueta, blinis de salmão e queijo de cabra com pesto.

A bandeja de aperitivos foi colocada ao lado dela. Henriette desaparatou.

Granger abriu a boca para dizer alguma coisa, mas houve outro estalo e
Tupey aparatou com as bebidas. Draco recebeu o dele com a quantidade
usual de polidez, mas o de Granger foi colocado em sua mão com o maior
cuidado. Tupey desaparatou.

Draco abriu a boca para falar, mas um terceiro elfo aparatou da cozinha
para perguntar se a Colega Curandeira Granger tinha alguma alergia ou
preferência que as cozinhas deveriam saber? Ela não tinha. O elfo da
cozinha desaparatou.

Granger tentou fazer um comentário, mas Henriette surgiu com


guardanapos e garfos minúsculos e desaparatou novamente.

Draco e Granger se entreolharam cautelosamente enquanto o silêncio descia


sobre o salão, meio que esperando que outro estalo alto interrompesse sua
próxima tentativa de conversa.

━ Eles são um pouco... um pouco intensos, não são? ━ Granger disse.

━ Eles estão positivamente ansiosos pelos convidados ━ Draco disse. ━


Quando minha mãe está fora, não há funções para hospedar, e só há eu para
alimentar.
━ Esta bandeja inteira é suficiente para o jantar ━ ela disse, escolhendo um
blini de salmão.

━ Er, não. Poupe o apetite.

Eles serpentearam em direção ao terraço sul. Era uma deliciosa noite de


verão, quente, mas abençoada com uma brisa doce e brincalhona. A brisa
brincou com as mechas escapadas do cabelo de Granger e puxou a bainha
de seu vestido. Não que Draco estivesse olhando para ela.

Os jardins eram iluminados à noite por velas e lanternas encantadas ao pé


de cada árvore e ao longo de todas as trilhas. De certa forma, o efeito era
ainda mais magnífico do que durante o dia – as fontes de água brilhavam e
as flores eram luminosas, como se brilhassem por dentro.

Draco deixou Granger para admirar a vista dos jardins enquanto caminhava
à frente para ver se a mesa estava pronta. Ele estava satisfeito com o que os
elfos domésticos haviam montado em tão pouco tempo: uma mesa de prata
e duas cadeiras, um excesso de flores de verão emprestando seu perfume ao
ar noturno e uma verdadeira extravagância de lanternas e luzes de fadas.

Foi, no entanto, terrivelmente romântico. Henriette estava apostando


bastante, já que Draco havia especificado uma colega. Ele teve inúmeros
jantares e bebidas com colegas e colaboradores ao ar livre durante o verão e
Henriette nunca achou adequado decorar com rosas. Rosas vermelhas.

━ Henriette? ━ Ele chamou.

━ Sim? ━ Henriette respondeu, surgindo ao seu lado.

━ Você é uma vagabunda.

━ Não conheço essa palavra ━ Henriette disse, encolhendo os ombros por


sua falta de compreensão.

━ As rosas, Henriette.

— O que tem elas, senhor?


━ Elas são demais.

━ Demais o quê, senhor?

━ Tudo demais, Henriette.

━ Você tem que se deixar enfeitiçar, senhor.

O que era exatamente o que Draco estava pedindo, na verdade – misticismo


não solicitado sobre se permitir ser enfeitiçado.

━ Leve-as, Henriette.

━ Eles estão no auge de sua floração, senhor. Parece uma pena desperdiçá-
las.

━ No entanto, eu gostaria...

━ Oh! ━ Veio a voz de Granger. ━ As rosas!

Henriette deu a Draco um longo olhar que sugeria que, como sempre, ela
sabia melhor, e se ele parasse de duvidar dela, ele também pararia de se
fazer de bobo, o garoto tolo.

Granger estava apertando as mãos, de pé diante da mesa.

━ Que bonito! Eu nunca vi essa variedade... é de flor dupla? E a coloração,


é tão profunda!

━ É o Apolline ━ Henriette disse. ━ O jardim de rosas está bastante


resplandecente com eles, senhorita. Você deveria dar um passeio depois do
jantar. Tenho certeza de que o senhor ficaria feliz em acompanhá-lo, na
ausência da Madame Malfoy.

O senhor em questão dirigiu a Henriette um olhar repressor diante dessa


nova impertinência. Granger, no entanto, encontrou um grande prazer na
ideia, e disse que ela iria adorar, perguntou de onde o Apolline tinha vindo e
há quanto tempo eles a tinham, blá blá blá.
━ Comida primeiro, êxtase feminino sobre o jardim de rosas depois ━ Draco
disse.

Granger e Henriette olharam para ele friamente e fizeram Draco sentir o


peso de sua baixa opinião sobre ele.

Henriette indicou que iria buscar o primeiro prato.

Granger pegou sua cadeira com uma fungada.

━ Eu não gostaria que meus êxtases femininos atrapalhassem seus apetites


masculinos, é claro.

Draco escondeu um sorriso malicioso em seu conhaque.

━ E o que você sabe sobre meus apetites masculinos?

━ Só que eles são implacáveis.

━ Exato.

━ E prejudicam seu julgamento.

━ Às vezes.

━ Só podemos esperar que eles fiquem satisfeitos com a entrada de


Henriette, então talvez possamos ter uma conversa civilizada sobre rosas,
ininterrupta.

━ Parcialmente satisfeitos, provavelmente.

Granger olhou para ele com os olhos semicerrados, como se ela estivesse
detectando o duplo sentido, mas não tinha certeza se ele estava falando
sério. Draco decidiu deixá-la cozinhar na incerteza.

━ Caranguejo marrom fresco, descascado por nós ━ Henriette anunciou


quando ela e Tupey chegaram com caranguejo e manteiga de ervas.
Eles comeram. Granger era delicada sobre isso, como ela costumava ser, e
facilmente distraída por longos olhares para além do terraço e para os
jardins iluminados por velas. Agora, tinha o queixo apoiado nas costas da
mão e olhava para a beleza evanescente de uma fileira de choupos, cujas
folhas jovens tremiam na brisa como medalhões prateados.

Draco meio que queria interrompê-la e trazê-la de volta para as coisas


importantes (ele mesmo), mas também era muito bom sentar em um
silêncio sociável e bebericar suas bebidas. Jantares na Mansão eram
normalmente assuntos de agenda, com o convidado ou Draco tendo algo a
ganhar ou algo a perder. Este era o único que não tinha nenhuma dessas
pressões; Draco não tinha manobras para fazer e sabia que não estava sendo
manipulado. Eles estavam apenas comendo juntos enquanto ele fazia
pequenas reparações por uma torta de peixe queimada. Granger não tinha
planos para sua fortuna ou sua pessoa.

Às vezes, estar com ela era fácil.

━ Risoto basílico ━ Henriette apresentou, varrendo o caranguejo e


depositando um monte gordo de risoto na frente deles. Manjericão flutuou
deliciosamente fora dele.

━ Como você sabe tanto sobre rosas, afinal? ━ Draco perguntou.

━ Minha mãe costumava cultivá-los ━ Granger respondeu com uma espécie


de despreocupação laboriosa.

━ Costumava? Ela desistiu do hobby?

━ Não sei. Não vejo meus pais há alguns anos.

━ Oh.

Dado que ela estava tentando não parecer afetada, Draco não a questionou
mais sobre o assunto, que ele achou que mostrava grande delicadeza.

No entanto, Granger continuou:


━ Eu eliminei os dois durante a guerra. Enviei-os para a Austrália para
mantê-los seguros. Quando os encontrei novamente, era tarde demais para
reverter o feitiço sem arriscar danificar suas mentes. Eles estão vivendo
muito felizes em Adelaide e não têm ideia de que já tiveram uma filha.

Ah, sim, exatamente o que Draco esperava. Algumas reminiscências alegres


sobre tragédias de guerra.

Ele não se preocupou com palavras de simpatia porque realmente não fazia
isso, e ela não acreditaria que ele estava sendo sincero, de qualquer
maneira.

━ Isso explica o quão cuidadoso você é com Obliviate ━ Draco comentou.

━ Oh sim. Foi uma lição difícil de aprender. Mentes – memórias – não


devem ser manipuladas levianamente. E desmantelei sistematicamente o
valor de dezoito anos. Isso repercutiu.

━ Isso manteve seus pais vivos ━ Draco disse.

━ Foi. A um custo. ━ Granger terminou seu vinho. ━ De qualquer forma... é


uma noite muito bonita para ser sentimental. Vamos falar de outras coisas.

Ele terminou seu conhaque para que o copo vazio dela não se sentisse
solitário. Ele era sensível assim.

Olhou para Granger.

━ Você prefere parecer que tem um assunto em mente.

━ Promessas quebradas ━ ela respondeu. Acusação permaneceu no


comunicado.

Draco ergueu uma sobrancelha, sentindo-se bastante visado.

━ Eu quebrei uma promessa?

━ Sim.
━ Sim? Me relembre.

Assim que Granger estava prestes a falar, Tupey surgiu para sugerir um
Sauvignon Blanc para o próximo prato, já que era peixe. Draco e Granger
concordaram. Tupey serviu o vinho e desaparatou.

━ O relatório dos arqueólogos sobre as ruínas celtas ━ ela disse. ━ Aqueles


que você encontrou sob as masmorras. Você nunca me enviou.

Draco recostou-se em choque teatral.

━ Você tem razão. Eu nunca fiz. Apanhado em delito flagrante.

━ Eu sei ━ Granger respondeu em francês, séria. ━ Uma terrível quebra de


confiança.

━ Você nunca vai me perdoar?

━ Não. Eu gosto bastante de guardar um rancor temível sobre isso. Talvez


lançando uma disputa em grande escala.

━ Você diz isso como se as casas de Granger e Malfoy já não estivessem


brigando ━ Draco disse.

━ Verdade ━ Granger respondeu.

Enquanto ela refletia sobre essa nova complexidade, Draco acenou para
Henriette na direção deles e a mandou buscar o relatório dos arqueólogos.
Henriette voltou com um rolo grosso de pergaminho nas mãos e um olhar
interrogativo no rosto.

Ela então se ofereceu para buscar outros materiais de leitura mais


adequados para uma noite de verão, como alguns livros de poesia francesa.

━ Não, obrigado, Henriette. Isso é tudo ━ Draco disse. ━ A senhorita tem


gostos literários peculiares e prefere ler sobre monges mortos.

Henriette desaparatou com um aceno de cabeça.


Granger aceitou o pergaminho com um sorriso nos lábios.

━ Quando você coloca dessa forma, eu certamente pareço peculiar.

Draco deu de ombros.

━ Peculiar é, no mínimo, não chato.

━ Aceito sua desculpa mal dada e indireta para um elogio ━ Granger falou,
desenrolando o pergaminho.

━ Eu não gostaria que você se tornasse vaidosa, você sabe.

━ Não. Você está infalivelmente vigilante nessa frente.

Granger afundou no relatório, deixando seu risoto esfriar em seu prato. Ela
ocasionalmente se lembrava da presença de Draco, que era sinalizada por
um "Oh" e, em seguida, um compartilhamento de algum fragmento
fascinante ou outro.

Henriette aparatou com o próximo prato e deu a Granger um olhar de


reprovação quando ela fez um balanço da situação.

━ Senhorita! Atrevo-me a lembrá-la que você está na mesa.

Granger pulou e deixou escapar um pedido de desculpas, e guardou o


pergaminho. Ela pareceu envergonhada quando Henriette tirou o risoto
(agora um caroço congelado) e o substituiu pelo peixe.

━ Pregado frito, alcachofras poivre e limão cristalizado. ━ Henriette


depositou o peixe e as alcachofras de Granger com uma firmeza particular,
com insinuações de que se ela não consumisse tudo, haveria palavras a
serem ditas.

O efeito da ameaça ameaçadora de Henriette foi um pouco diminuído pelo


fato de que seu nariz mal chegava acima da mesa. No entanto, Granger, de
olhos arregalados, disse que o pregado parecia absolutamente delicioso, e
enfiou algumas garfadas na boca sob o olhar atento de Henriette.
Satisfeita, Henriette desaparatou.

Granger engoliu o peixe com a ajuda de um pouco de vinho.

Draco estava segurando o riso.

━ Você parece devidamente aterrorizada.

━ Ela é assustadora. ━ Granger lançou um olhar furtivo por cima do ombro


e então olhou para ele. ━ E eu sinto muito... isso foi terrivelmente rude da
minha parte. Fiquei absorta e eu... não percebi.

━ Eu gostaria de dar uma olhada em um bicho-papão ━ Draco meditou entre


suas próprias mordidas. ━ Talvez em um dos quartos vagos.

Granger piscou.

━ Um bicho-papão? Para quê?

━ Tenho a sensação de que o seu agora tomará a forma de um elfo


doméstico francês de oitenta anos e gostaria de confirmar a teoria.

Granger mordeu o lábio para não sorrir.

━ Você se acha muito engraçado.

━ Eu sou ━ ele disse.

━ E que forma tomaria a sua?

Draco recostou-se e juntou os dedos.

━ Agora, isso é uma pergunta. Eu não encontrei um desde a guerra. Gostaria


de pensar que não seria mais Voldemort pulando para mim como um
cadáver enervado.

━ Bem, o que te assustou recentemente?

━ Você gostaria que eu fosse honesto com você?


━ Eu preferiria, mas não espero isso ━ Granger fungou.

━ Houve um momento hoje, na sua porta, quando você parecia estar prestes
a me transfigurar em um inseto e pisar em mim.

Ela parecia estar fazendo uma anotação especial dessa nova ideia.

━ Que tipo de inseto?

━ Eu não sei... eu assumiria uma barata nojenta.

━ Quase impossível de matar ━ Granger disse, balançando a cabeça. ━ Má


escolha. Eu iria com algo mais mole. Embora, se eu fosse te matar, gostaria
que você soubesse que eu não usaria Transfiguração.

━ Ah, bom. Isso não seria esportivo. Como você faria isso, então?

━ Talvez amarre você e deixe Bichento tentar. Então eu seria apenas uma
cúmplice de assassinato.

━ A primeira parte dessa frase foi promissora, até você trazer o gato.

Granger não prestou atenção a essa abertura suave de flerte. Ela estava
relembrando.

━ Ele quase sufocou Rony uma vez. Deitou-se sobre o rosto enquanto
dormia. Tenho um medo particular de que tenha sido de propósito.

━ Bem, está resolvido, então: meu novo bicho-papão é seu gato.

Granger não deu a ele a honra de uma risada, mas escondeu um sorriso atrás
de um gole de vinho.

Henriette voltou para inspecionar o progresso de Granger. Granger disse


que estava tudo delicioso, e que as alcachofras em particular eram as mais
perfeitamente preparadas que ela já teve o prazer de comer.

Ela disse:
— Perfeito. Eles têm muitos benefícios para a saúde, você sabe,
alcachofras.

━ Têm?

━ Sim, sim, tantos nutrientes e vitaminas. Também são afrodisíacos.

Henriette desaparatou depois de transmitir esta informação vital.

Granger contemplou seu prato vazio com uma espécie de consternação.


Draco queria muito rir.

━ Eu saberei o que culpar, se você ficar incapaz ━ Ele falou.

Granger voltou o olhar para o prato igualmente vazio e disse:

━ Da mesma forma.

Tupey e Henriette desapareceram os pratos vazios e serviram a sobremesa.

━ Mil-folhas de baunilha e Boubon ━ Henriette disse, apresentando o prato


final com um floreio.

Tupey propôs um vinho doce Sauternes para acompanhar, que Draco e


Granger aceitaram.

Granger pressionou o garfo no macio mil-folhas.

━ Henriette, Tupey, preciso agradecer. Esta refeição foi muito melhor do


que a que eu ia ter esta noite.

Henriette e Tupey fizeram uma reverência.

━ Tenho certeza de que a senhorita Mabel faz uma torta de peixe crocante ━
Draco disse.

━ Perdão? Quem é a senhorita Mabel? ━ Henriette perguntou. ━ É a sua elfa


doméstica, senhorita?
━ Não ━ Granger respondeu. ━ Ela é, er... ela faz tortas de peixe que você
pode comprar nas lojas. Bem, eu não tenho certeza se ela é uma entidade
real; é tudo marketing, provavelmente...

━ Tortas de peixe congeladas ━ Draco disse para Henriette. ━ Tortas


congeladas que a senhorita mantém congeladas e depois coloca na panela
quando ela tem meio momento para pensar em se alimentar.

Henriette engasgou com esta revelação. As mãos de Tupey voaram para sua
boca.

━ E quando isso falha, a senhorita tem duas latas de atum e algumas


lentilhas secas. Esse é todo o conteúdo de seus armários. ━ Draco ficou
sério. ━ Vi muitas coisas perturbadoras na minha vida, Henriette, mas os
armários dela são outra coisa completamente diferente.

As mãos de Henriette estavam sobre seu coração; seus olhos estavam


arregalados.

━ Não!

━ Oh, sim. Eu vi com meus próprios olhos.

━ Senhor está exagerando um pouco ━ Granger disse, seu aperto no garfo


sugerindo que ela poderia cutucar Draco com ele, se ele não parasse de
escandalizar os elfos.

━ Você está certa ━ Draco disse. ━ Havia também uma caixa de biscoitos,
com apenas alguns anos. Um pouco empoeirado, mas ainda bom.

Henriette e Tupey olharam para Granger e pareciam prestes a chorar.

━ Eu ainda não tinha ido às lojas esta semana ━ Granger se defendeu, numa
tentativa de tranquilizá-la. ━ É por isso que meus armários estavam tão
vazios. Eu estava um pouco ocupada.

━ Ah, sim ━ Draco disse. ━ Porque eles geralmente estão cheios até
estourar, não estão?
Ele estava esperando pelo chute debaixo da mesa de Granger, e ele veio. Ele
agarrou seu tornozelo em sua mão e resmungou.

Granger tentou recuperar a posse de seu pé, mas Draco a informou que ser
esperta significava que ela havia perdido os privilégios dos pés.

Henriette estava alheia à troca, muito ocupada se perturbando porque


ninguém estava ajudando a senhorita e seus armários vazios. Tupey parecia
à beira da hiperventilação.

━ Eu tenho uma proposta modesta ━ Draco informou.

A perna de Granger se contraiu. O aperto dele se manteve firme. E isso era


tudo que era, um aperto. Seu tornozelo estava nu e macio sob a palma de
sua mão e seus dedos estavam curiosos sobre a forma delicada de seus
ossos e como seria rastreá-los, mas ele não tentou. Permaneceu um aperto.
Porque esta era Granger. E ele não tinha nenhum interesse em acariciar seu
tornozelo.

E se ele tivesse algum interesse em fazê-lo – o que não tinha – seria culpa
das alcachofras.

Granger não parecia ousar exigir seu pé para trás em voz alta na frente de
Henriette, porque isso levaria a perguntas desconfortáveis ​sobre por que ela
tentou chutar o senhor na mesa de jantar, o que era uma gafe muito maior
do que ler.

━ Que proposta? ━ Granger perguntou em uma espécie de grunhido, como


de um gato pego pela nuca.

━ Os elfos domésticos estão entediados sem minha mãe e suas festas... Por
que você não lhes dá permissão para aparecer uma ou duas vezes por
semana e encher seus armários? Pelo menos até minha mãe voltar?

━ Absolutamente n...

Draco deu um aperto no tornozelo de Granger antes que ela pudesse


devastar os elfos.
Henriette e Tupey se viraram para ela enquanto falava, com o coração nos
olhos ao pensar em sua despensa vazia apenas esperando por atenção. As
mãos de Henriette estavam pressionadas contra seu peito; as de Tupey
foram dobradas em uma espécie de súplica. Seus olhos nadantes brilharam
positivamente.

A voz de Granger morreu.

━ Absolutamente necessário, acho que a senhorita ia dizer ━ Draco disse


para os elfos.

Granger deu a ele um olhar sugestivo de um segundo chute, se ao menos ela


não estivesse com medo de perder a posse do outro pé também. Ela deu aos
elfos sua melhor tentativa de sorrir.

━ Talvez senhor e eu possamos discutir os detalhes em particular?

━ Então é um sim, senhorita? ━ Tupey perguntou, sem fôlego.

━ Claro que é um sim ━ Henriette disse com os olhos estrelados. —


Senhorita nunca seria tão rude a ponto de recusar a oferta do senhor. Ela é
muito educada.

O sorriso de Granger estava bem fixo.

Os elfos se curvaram e fizeram mesuras meia dúzia de vezes, então


desaparataram para as cozinhas para compartilhar as boas notícias.

━ Você testaria a paciência de um santo ━ Granger falou com a mandíbula


cerrada. ━ Devolva meu pé antes que eu transforme você naquela barata.

Draco abandonou a posse de seu pé, provavelmente um pouco mais devagar


do que o necessário, as pontas de seus dedos roçando em seu tornozelo
enquanto ele a soltava.

Ela percebeu. Havia um rubor rosa em suas maçãs do rosto. Possivelmente


o vinho. Possivelmente outras coisas.
━ Eu só falei com uma santa e ela gostou bastante de mim ━ Draco disse,
passando a mão pelo cabelo.

Granger, apesar do rubor, estava exasperada.

━ Ela só passou cinco minutos em sua preciosa companhia, não o suficiente


para descobrir o quão irritante você é. Como impor elfos domésticos em
mim, de todas as pessoas. Qual foi o processo de pensamento, se houver,
por trás dessa decisão?

━ Eu vi um problema que estava em minha capacidade de consertar ━


Draco disse. ━ É uma filosofia de vida que aprendi com uma bruxa bastante
inteligente.

Granger o encarou. O golpe duplo de suas próprias palavras e o elogio


genuíno a deixaram totalmente desequilibrada. Ela se recostou, lutando para
permanecer zangada.

━ Você é... você é simplesmente...

━ Indescritível, eu sei ━ Draco falou.

━ Você deve sempre ter a última palavra?

━ Só nas raras ocasiões em que você permite.

Granger estava lutando com seu aborrecimento e diversão. Seus olhos


brilharam com isso. Ele fazia uma imagem bastante adorável.

━ Quando sua mãe volta para a Inglaterra?

━ Não por mais quinze dias ━ Draco respondeu. ━ Então você estará livre
dos elfos. Mas, enquanto isso, você lhes devolverá a alegria de viver.

Granger estava olhando na direção das cozinhas.

━ Muito bem. Mas só porque não quero que Henriette me considere mal
educada por rejeitar sua oferta. Acho que ela se ofenderia pessoalmente.
━ Se Henriette se preocupasse com sua educação, ela o teria esnobado
desde o início. Ela é uma elfa bastante opinativa. Agora coma seu mil-
folhas ou ela vai te repreender de novo.

Granger voltou sua atenção para seu prato. Draco tomou um gole do vinho
doce.

━ Para que servia o chantilly? ━ Granger perguntou.

━ Isso é um assunto privado e seria melhor que você esquecesse.

━ Hm ━ Granger disse, estudando-o por cima do copo.

Eles terminaram suas sobremesas.

Henriette se materializou e gentilmente lembrou ao senhor que ele deveria


levar a senhorita pelo jardim de rosas. Então ela se levantou, suas pequenas
mãos enroladas em seus quadris ossudos, e olhou intimidante para ele até
que se levantou e ofereceu seu braço para Granger.

O toque dela em seu braço foi leve, no início, mas depois de alguns passos,
seu aperto aumentou.

━ Merda. O chão está um pouco instável ou estou completamente


machucada?

━ Nós dois estamos mergulhados até as amígdalas em vinho ━ Draco disse.

━ As atenções de Tupey eram... implacáveis.

Foi um milagre nenhum deles ter dito algo embriagado e estúpido ainda –
mas a noite era uma criança, e o caminho para os jardins acenava, e as
possibilidades de estupidez brilhavam como as velas que ladeavam o
caminho.

Eles vagaram por uma fileira dupla de lilases carregados de flores. À direita
deles estava a estufa, seu brilho quente manchado pela profusão de flores de
malva. A brisa fazia as flores estremecerem como uma borboleta; a luz
brilhou no caminho.

Nas sombras misturadas, Granger ergueu a mão para que ficasse em


silhueta contra a luz da estufa.

Foi estável.

Foi a mão esquerda que ela levantou. Seu braço estava nu e contra a pele de
seu braço estava aquele borrão.

Granger se virou, pretendendo continuar pelo caminho, mas Draco


interrompeu, cometendo a primeira das estupidezes da noite. Mais tarde, ele
culparia o vinho.

Ele pegou o pulso dela – gentilmente, mas ela se encolheu mesmo assim – e
o puxou em direção a ele.

Granger ficou chocada.

━ O que você está...?

━ Eu não sabia que você ainda tinha isso ━ Draco comentou.

Ele virou o pulso dela para que o borrão do feitiço refletisse a luz vacilante.

━ Bem... eu tenho. ━ Sua voz era incerta. Ela olhou para ele com uma
cautela de olhos arregalados, uma coisa selvagem prestes a se afastar e
correr. Ela cheirava à doçura dos Sauternes.

Duas palavras pesadas que Draco vinha carregando desde Provença saíram
com dificuldade.

━ Eu sinto muito.

━ Foi sua tia louca, não você.

━ Eu não fiz nada para impedi-la.


Para isso, Granger não deu resposta.

━ Suponho que se houvesse uma maneira de curá-la, você a teria


encontrado ━ ele disse.

━ Eu teria. Eu tentei muitas coisas, mas...

━ Algumas coisas não curam.

━ Não. Não curam. ━ Granger ficou quieta por um momento. Então, ela
acenou com o feitiço para revelar a palavra. ━ Coisa feia.

A velha ferida estava clara em sua pele, tão crua quanto no dia em que foi
esculpida. Ainda brilhava. A boca de Draco estava como algodão e seca. Por
um momento, ela tinha 17 anos, deitada como morta no chão da sala de
estar, a poucos metros de onde eles estavam. Então ela era Granger
novamente, uma inteligência ardente, uma transformadora do mundo, mas
ainda assim, marcada. O aperto de Draco em seu pulso ficou um pouco
mais apertado – vergonha e tristeza.

━ Ainda dói? ━ Draco perguntou, porque parecia muito cru para não fazê-lo.

━ Às vezes. Já estou acostumada. Ou simplesmente esqueço.

Draco nunca teve nenhuma intenção de mostrar a ela sua própria vergonha
– ainda mais vergonhosa porque foi adquirida de boa vontade.

E, no entanto, ele se viu desabotoando os punhos e arregaçando a manga.

O que restava em seu braço era uma Marca distorcida e meio desbotada.
Era uma mistura grotesca de carne preta e tecido cicatricial elevado, agora,
de tentativas fracassadas de removê-lo.

━ Oh ━ Granger ofegou.

━ A minha é mais feia. Em todos os sentidos, Granger. Eu queria isso.


O suspiro foi mais de choque do que de horror. Ela estava observando a
carne retorcida com o olho de uma curandeira, uma que já tinha visto coisas
piores.

Granger ficou em silêncio por um longo tempo. Por fim, ela disse:

━ Mas você não quer mais.

━ Não.

━ É isso que importa.

━ Isso não apaga o passado ━ Draco disse. O braço maculado que mantinha
entre eles era um atestado eloquente disso.

━ Não. Mas as escolhas que você fez desde então definem você mais do que
aquelas que você fez na época.

━ Sim?

━ Você tinha dezesseis anos. Você era... todos nós éramos... crianças-
soldados lançados em uma guerra, tentando fazer o que nos ensinaram que
era certo. Tentando proteger nossos entes queridos.

━ Você deve ser tão terrivelmente indulgente?

━ Faz quinze anos ━ Granger disse. Ela baixou o próprio braço. Ela parecia
cansada. ━ Posso assegurar-lhe que ruminei longamente sobre o assunto. Eu
perdoei aqueles que merecem.

━ Isso interfere com o meu chafurdar na autocensura.

━ Chafurdar não é produtivo.

Agora foi a vez de Granger pegar seu pulso. Ela o puxou para um triângulo
de luz entre as sombras e se inclinou para observar a Marca mais de perto.
Draco queria se afastar, mas ela tinha sido corajosa o suficiente para deixá-
lo olhar para ela, então ele não deveria ser um covarde agora.
Seu dedo roçou sulcos cheios de cicatrizes e carne meio derretida que nunca
havia sentido o toque da mão de outra pessoa.

Ela parecia triste.

━ Você tentou amaldiçoá-lo?

━ Sim ━ Draco respondeu. Entre outras coisas. ━ Anos atrás, agora.

Seu braço se contraiu sob seu escrutínio. Ele queria guardar a Marca de
novo: era tão feia, tão deformada, tão cheia de memórias horríveis e
vergonha.

━ Eu não acho que há muito que eu possa fazer com este também ━ Granger
disse. ━ Em termos de cura, quero dizer. ━ O pensamento pareceu deixá-la
triste.

━ A minha é uma lembrança de algumas decisões terríveis. É bem


merecido. A sua... a sua é uma tragédia miserável.

━ É ━ ela disse. Então acrescentou: ━ Bem, ambas são tragédias de


maneiras diferentes.

Perdão mais justo. Isso fez Draco querer fugir.

Eles ficaram em silêncio. E agora ela conhecia algumas de suas dores e ele
conhecia algumas das dela. Havia uma intimidade nisso. Ser visto. Era
estranho, sensível ao toque, enervante.

Eles ficaram em silêncio e ainda assim não era silêncio, era espesso e denso
e rodopiante. Pesava em seus tímpanos e peitos como uma pressão.

━ Eu gostaria de uma conclusão concisa, ou palavras de sabedoria ━ Draco


disse para encerrar.

━ Sim, por favor ━ Granger respondeu. Ela parecia aliviada.

━ Eu quis dizer de você.


Granger juntou as mãos à sua frente e olhou para as estrelas, como se
pudesse encontrar a firmeza ali.

━ O cadáver enervado de um homem que nos deu essas cicatrizes está


morto.

━ E estamos vivos.

━ Acho que isso é bom o suficiente.

Draco abaixou a manga e abotoou as abotoaduras. Granger encantou sua


cicatriz de volta ao discreto borrão.

━ É uma noite muito bonita para ser sentimental ━ ele disse.

━ Eu não pareço tão esnobe ━ ela falou.

━ Você não. Vamos dar uma olhada nas rosas? Tenha seus êxtases femininos
prontos.

Eles vagaram pelo caminho que serpenteava pela luz das velas até
chegarem ao jardim de rosas. A seus pés, Violetas da Meia-Noite espiavam,
aqui e ali, atraídas pela lua crescente.

Seus passos eram lentos e bêbados e deliciosamente sem rumo. Foi perfeito;
Draco sabia muito pouco sobre rosas para fazer um tour de verdade e
Granger se contentava em vagar de uma em outra sem plano ou propósito,
tocando suas pétalas frouxas. Bonitos nomes saíram de seus lábios quando
ela reconheceu alguns: anabelas, flores silvestres, Apolline, duquesa, flor
beijos, Claire, pétala escarlate.

Luzes de fadas brilhavam entre as roseiras. Pétalas flutuaram no caminho.


Um rouxinol cantava e as fontes borbulhavam. Granger, com uma espécie
de embriaguez de olhos sonhadores, disse que era como estar em uma
clareira encantada.

Draco queria tentar com ela por ser sentimental, mas ele também se
encontrou em um tipo de humor suave e brando. O tipo de humor em que
ele poderia dizer a uma bruxa que sim, as rosas eram doces, mas ela era a
coisa mais doce no jardim, só para vê-la corar.

Ele não o fez, porque ele era feito de material mais forte.

Fragrâncias, delicadas e indescritíveis, brincavam em seus narizes. Granger


tentou nomear os aromas e estendeu as rosas para Draco, para que ele
pudesse tentar, e ele ficou ao lado dela, mais perto do que o necessário, e
eles fizeram suposições ociosas juntos – maçã, baunilha, cravo, mirra, mel –
entre os damascos.

Sua mente encharcada de vinho coletava impressões. Proximidade


deliciosa. Estar perto o suficiente para senti-la emanando calor. A rosa que
ela segurou em seu rosto, tão perto que seus lábios roçaram suas pétalas. O
luar em sua pele. Os cachos de cabelo escapados em sua nuca. O canto de
sua boca. A mordida de seu lábio. Cílios contra uma bochecha.

Eles se mudaram para a próxima rosa. Esta, Granger estava convencida,


cheirava a damascos. Draco parou atrás dela e se inclinou sobre seu ombro.
Para ele, era tangerina. Granger sentiu o cheiro novamente, e disse que não,
damascos, com certeza. E Draco se aproximou e disse não – tangerina, não
seja boba. Granger teorizou que eles poderiam ter encontrado uma rosa
Amortentia; isso explicaria a discrepância. Draco disse que com certeza
registraria essa descoberta.

Passaram para a seguinte, uma esplêndida rosa branca. Granger segurou sua
cabeça pesada e a puxou para fora. Draco veio atrás dela novamente e os
dois sentiram o cheiro ao mesmo tempo, e a bochecha dela roçou o queixo
dele.

Ele se conteve, bem a tempo, quando estava prestes a colocar a mão na


cintura dela.

Desse jeito, jazia a loucura.

A curva de suas saias roçou a frente de suas calças. O cabelo dela fez
cócegas na lateral do rosto dele.
Granger disse que era coco e o desafiou a discordar. Draco discordou
naturalmente – era kiwi.

"Kiwi?!" Granger repetiu. Draco confirmou. Granger disse que o mandaria


a um otorrinolaringologista, se ele não parasse com essa bobagem. Draco
disse que a única bobagem aqui era a palavra otorrinolaringologista.

A doce paralisia estava vindo sobre ele novamente, de não querer se mexer,
de leveza em suas veias, de membros parecendo sem peso e pálpebras
pesadas. Ele queria colocar o queixo onde o pescoço dela encontrava o
ombro e ficar ali. Queria dizer coisas em seu ouvido e senti-la estremecer
contra ele. Queria ficar aqui, sendo estúpido sobre kiwi, por uma vida ou
duas. Ele queria flutuar.

Era o vinho, certamente. E as alcachofras.

Eles se mudaram para as rosas próximas, pequenas coisas selvagens que


cresciam em cachos e cheiravam a vetiver. Granger perguntou se ela
poderia escolher um. Draco fez isso por ela; parecia pouco cavalheiresco
não. E ele deu a ela, seu braço em volta dela por trás, e suas pontas dos
dedos se tocaram, e isso foi o mais perto que eles puderam chegar – tocar as
pontas dos dedos sobre uma rosa.

Ela olhou por cima do ombro para ele para agradecer, e seus olhos se
encontraram, e os dela eram escuros e curiosos e os dele eram leves e
afiados, e eram universos colidindo. Era todas aquelas contraposições de
luz e trevas, nascidos-trouxas e sangue-puro, Ordem e Comensal da Morte e
uma terrível incompatibilidade atrás de uma terrível incompatibilidade. As
polaridades violentas que os tornaram quem eles eram.

Eles caíram um no outro um pouco, naquele momento de colisão, um pouco


bêbados, um pouco emaranhados de alma.

Ela deslizou a rosa em seu cabelo e se virou.

Chegaram ao final do jardim de rosas, onde as sebes cresciam mais espessas


e as estupidezes podiam ser ditas com mais liberdade. Onde as terríveis
incompatibilidades deixaram de significar tanto, porque aqui entre os ramos
verdes e a brisa farfalhante, eles eram apenas um homem e uma mulher,
serpenteando por um jardim, sendo idiotas com rosas.

Eles encontraram um assento em um banco de pedra perto de uma fonte


adornada com cupidos rechonchudos. Granger enrolou as pernas debaixo de
si mesma. A rosa em seu cabelo estava torta, então Draco estendeu a mão
para ajustá-la, esperando fazê-lo suavemente, mas descobrindo que estava
paralisado por uma sensação de nervosismo requintado, como ele não sentia
desde que era adolescente. Granger respirou um agradecimento. Suas
bochechas estavam rosadas.

Falavam de coisas triviais e não, de rosas e armários, cicatrizes e guerra e


alcachofras e torta de peixe. Eles olharam para as estrelas fumegantes, e os
pássaros noturnos gorjearam suas cadências sobrenaturais, e as rosas
soltaram suas pétalas em bela melancolia. Uma hora se passou, e depois
duas, e depois três – embora parecesse que eles tinham acabado de se sentar
um ao lado do outro neste banco úmido entre as rosas para passar a noite.

A memória daquela noite permaneceria com Draco por muito tempo depois,
beijada pela lua e doce. A luz em seus olhos, o sabor do vinho, o brilho das
estrelas na fonte, a lenta sedução das rosas.

Você tem que se deixar enfeitiçar.


Arte por makiblue_art

──── ◉ ────

Esse capítulo é lindo! A Provação Mortificante vai começar.

Bom, esse foi gigante, então podem me avisar se tiver erros grotescos ou
coisas fora do lugar, por favor. Prometo caprichar mais no próximo. Ele
tem em torno de 3500 palavras e vai sair muito mais rápido que esse.

Um beijo grande.
18. Compensação

Boa tarde, amores! Como estão?

Capítulo fresquinho para vocês. Espero que gostem! <3

──── ◉ ────

Eu tenho algo para você. Veio uma mensagem no Bloco-Falante de


Granger, uma semana depois. Acho que podemos chamar de pista para a
isca de Nundu.

Então???? Draco respondeu.

Sai para ensinar. Você pode me encontrar às 6? Granger escreveu.

Onde?

O café na Trinity. Eu tenho outra reunião lá antes. Se eu me atrasar, não


entre gritando sobre vassouras. É com um trouxa.

Draco ficou grato pelas instruções, já que normalmente chegava cedo e


entrava nos cafés gritando sobre vassouras. Ele jogou o Bloco de lado para
verificar a agenda de Granger. O trouxa em questão era Gunnar Larsen, o
chefe da Skjern Farmacêutica.

Às 17h55, um Draco desiludido caminhou até o café trouxa na


Universidade Trinity, curioso sobre a pista ostensiva de Granger sobre
Talfryn.

Ele a viu pela janela do café, ainda conversando com um homem. Draco
tinha formado uma imagem mental confortável desse sujeito Larsen: um
tipo de cientista pequeno e magro, provavelmente careca e de óculos.
Em vez disso, sentado do outro lado da mesa de Granger estava um homem
de 1,80m e muitos quilos. Seu cabelo era louro-avermelhado, assim como
sua impressionante barba, e seus olhos eram de um azul penetrante.

Ele era um viking em um terno de três peças. Provavelmente havia mais


pelos encaracolados no peito espreitando por cima de sua gola do que
Draco tinha desde a puberdade.

Draco decidiu que não gostava dele.

Ainda desiludido, entrou no café atrás de um cliente que saía e encostou-se


na parede para escutar. Granger e o viking estavam conversando,
principalmente (o idioma dele com um leve sotaque). Granger estava
explicando, daquele jeito apaixonado dela, sobre sistemas imunológicos
adaptativos e microambientes. Larsen respondeu algo sobre a terapia com
inibidores de entrada, ao que Granger respondeu com grande entusiasmo.

Os olhos do viking estavam fixos em Granger de uma forma que Draco não
gostou. Havia algo predatório nisso – algo faminto. E Granger estava
gesticulando e ocupada demais estando empolgada com os nanobiológicos
para notar. As suspeitas começaram a se infiltrar: esse trouxa carnudo
tentaria roubar suas ideias? Ganhar dinheiro com ela? Literalmente comê-
la?

Só havia uma maneira de descobrir.

O mergulho de Draco na mente do homem acabou assim que começou. Ele


se viu lutando contra barreiras mentais extremamente sofisticadas, do tipo
que apenas um oclumen altamente treinado teria no lugar.

Então Granger estava errada. O homem não era um trouxa.

O viking, sentindo a tentativa de intrusão, virou-se para onde Draco estava


desiludido. Seus olhos penetrantes percorreram as mesas lotadas, tentando
identificar seu agressor.

Granger perguntou a ele:


━ Está tudo bem?

Larsen voltou-se para ela.

━ Sim... minhas desculpas, professora. Achei que tinha ouvido alguma


coisa.

Eles continuaram a conversa, embora as respostas de Larsen fossem


reduzidas a monossílabas distraídas.

A primeira reação de Draco – empurrar o homem através de uma mesa e


perguntar o que ele estava fazendo – foi dificultada pela multidão. (Para não
falar do fato de que ele não estava realmente certo de que poderia derrubá-
lo.)

Seu segundo pensamento foi atordoar Larsen e rasgar sua mente para
descobrir quais eram seus projetos, mas, novamente, havia as multidões e,
além disso, o homem era um oclumen. Ele precisaria amolecê-lo primeiro,
então transformar seu cérebro em purê.

Granger verificou a hora e apressou a reunião para o fim. Larsen apertou a


mão dela (seu braço inteiro, na verdade) e passou pelas mesas. Draco o viu
observar sistematicamente cada cliente no café enquanto caminhava até a
porta. Isso era apenas para lembrar rostos ou ele era um Legilimens
também?

Draco seguiu Larsen para a rua com pensamentos vagos de um


atordoamento nos fundos e uma aparição lado-a-lado até uma cela de Auror
para uma conversa amigável. No entanto, assim que Larsen encontrou uma
porta fora da vista do público trouxa, ele desaparatou.

Draco não gostou nada disso.

Ele estava em uma mistura de perplexidade e irritabilidade ao se juntar a


Granger no café, sua desilusão removida. De sua parte, ela não tinha ideia
do que tinha acabado de acontecer e recebeu sua aproximação com um
aceno alegre. Ela havia comprado para ele um café e uma daquelas
panacotas de caramelo, mas simplesmente não era a hora.
━ Vamos para o seu laboratório ━ Draco disse em vez de uma saudação. ━
Precisamos conversar em particular.

A alegria de Granger desapareceu.

━ Ah... mas eu...

━ Em particular ━ ele repetiu.

Granger pegou o café e a panacota enquanto Draco a arrastava para fora do


lugar.

Quando eles chegaram ao escritório de Granger, ela se sentou em sua mesa


e Draco começou a ir de um lado para o outro da pequena sala.

━ Você vai me dizer o que está errado? ━ Ela perguntou.

Draco fez uma pausa em seu ritmo, suas vestes de Auror chicoteando
dramaticamente em suas botas.

━ Larsen. Ele não é um trouxa.

As sobrancelhas de Granger subiram até a linha do cabelo.

━ ...O que?

Draco retomou seu ritmo.

━ Ele estava ocluindo enquanto falava com você no café. O que quer que
ele tenha dito que ele é, é mentira.

Granger olhou para ele.

━ Vou deixar de lado a questão de por que você estava espionando meu
convidado em uma reunião que não tinha nada a ver com você...

━ Bom, essa não é a parte importante.


━ ...Mas eu olhei para Larsen. Faço verificações de antecedentes de todos
que considero para colaborações. Ele é tudo o que disse que era. ━ Aqui,
Granger se levantou e vasculhou um arquivo, tirando algumas folhas de
papel. ━ Doutorado pela Universidade de Munique, a Comissão Europeia
confirmou todas as suas patentes, sua empresa abriu seu capital no ano
passado e existe muito... ele me convidou para visitar, na verdade...

━ Convidou você para visitar? Eu posso te dizer agora que você não está
indo. Por que ele está fingindo ser um trouxa?

━ Não sei. Talvez ele não saiba que eu sou uma bruxa? Eu o conheci em
uma conferência trouxa; não me apresento como Doutora Granger, a Bruxa,
nesses eventos. Ele pode fazer o mesmo.

Granger estava olhando para Draco como se ele estivesse fazendo muito
barulho por nada. Draco discordou.

━ E a oclusão? ━ Ele incitou.

━ Eu não tenho ideia ━ Granger admitiu, pressionando um dedo em seu


lábio enquanto pensava.

━ Ele sabe que você é uma bruxa ━ Draco disse. ━ Ele deve saber. O mundo
mágico é muito pequeno para ele nunca ter ouvido falar de Hermione
Granger, a menos que tenha nano-orelhas em cima de seus nanocérebros.

━ Nanocérebros? Ele é um cientista brilhante.

━ E também um brilhante oclumen. Quem estava se certificando disso, se


por acaso você desse uma olhada na mente dele...

━ O que eu nunca faria... eu nem sou uma Legilimens...

━ Se você fizesse, não veria nada. Ele está escondendo alguma coisa. ━
Draco quase colidiu com a parede e girou para avançar novamente.

━ Pare de pular como uma bola de pingue-pongue.


━ Eu gostaria de interrogá-lo ━ ele declarou.

━ Interrogá-lo?

━ Amigavelmente.

━ Por favor, me diga o que compreende um interrogatório amigável de


Draco Malfoy; eu adoraria uma risada.

━ Nós usamos você para atraí-lo para o bar. Dê algumas cervejas. Mais do
que algumas, dada a massa do sujeito. Uma gota de Veritaserum, só porque
ele sabe ocluir. Leve-o pelos fundos, amarre-o, abra os olhos dele e voilà.
Respostas. Ele acorda com um pouco de dor de cabeça e segue seu caminho
alegremente.

━ E você? Uma bela multa e a perda do seu emprego por violar cerca de
trinta leis?

Draco afastou essas preocupações menores e vexatórias.

━ Posso sugerir que na minha próxima reunião, eu simplesmente pergunte a


ele? ━ Granger perguntou.

Draco parou seu passo para considerar isso.

━ E você acha que ele vai ser honesto com você?

━ Não sei. Mas é um começo... e uma abordagem bem menos drástica do


que a sua.

━ Quando você vai encontrá-lo?

━ Vamos continuar as negociações em quinze dias.

━ Tudo bem. Mas eu vou estar lá.

Granger abriu a boca para falar.


━ Não ━ Draco interrompeu. ━ Este é o mesmo homem que você conheceu
na semana em que alguém testou suas proteções. Que mentiu para você
sobre ser trouxa. E quem estava ocluindo com tanta força que machuquei
meu cérebro tentando entrar. Não discuta comigo.

━ ...Eu só ia perguntar se você poderia estar desiludido, se você estiver na


mesma sala. Então ele não suspeitaria imediatamente que eu teria uma
escolta.

━ Oh. Sim. ━ Draco foi para o outro lado do escritório. ━ Mas estarei perto.
Eu não gostei de como ele olhou para você.

━ Como ele olhou para mim?

━ Pesado. Demais.

Uma das sobrancelhas de Granger se arqueou para ele.

━ Seus olhos não são tão penetrantes quanto os de outras pessoas, posso
garantir.

━ Ele não cheirava bem ━ Draco disse, balançando suas vestes ao redor dele
para girar novamente.

━ Afinal, o que isso quer dizer?

━ Não sei. Instintos, Granger. Eu gostaria que você estivesse mais em


contato com os seus.

━ Eu prefiro fatos concretos, como regra. ━ Granger fungou. ━ Podemos


deixar de lado o mistério de Larsen por um momento, para falar sobre seu
condenado? E você vai se sentar, antes que seu giro me deixe doente?

Draco sentou-se.

━ Ele não é um condenado até ser julgado e sentenciado. Mas sim. Lars, o
burro, pode esperar. Diga-me o que você tem feito... sem permissão, é claro.
Gostaria de registrar minha reprovação, aliás.
O olhar que Granger lançou para ele não foi nada impressionado.

━ Ah, porque você pede minha permissão para entrar na minha vida o
tempo todo.

━ Isso é um assunto totalmente diferente.

━ Discordo veementemente. Mas não vamos nos desviar ou nunca


chegaremos ao ponto.

Draco gesticulou para que ela continuasse. Ela deu-lhe um olhar duro que o
informou que não precisava de sua permissão nessa frente.

━ Eu pensei sobre o que você disse, sobre como seu homem estava
mantendo o Nundu para baixo. Eles são feitos para serem quase impossíveis
de manter em cativeiro.

━ Correto.

Granger tirou alguns documentos de um envelope.

━ Eu assumi que você já teria checado todos os fornecedores ou fabricantes


de tranquilizantes no Reino Unido, mágicos ou trouxas, para ver se você
poderia encontrar algo interessante.

━ Naturalmente.

━ Meu pensamento é que ele está encontrando um suprimento de agentes


incapacitantes no exterior, mercado negro, caso contrário, as grandes
quantidades que ele está pedindo certamente levantariam as sobrancelhas. E
presumi que você também teria examinado todos os sistemas remotos de
distribuição de drogas que pudesse imaginar, para ver se isso levaria a
algum lugar.

━ Obviamente. ━ Draco rolou a mão em um gesto impaciente. ━ Passe para


as descobertas, por favor.
Granger deu-lhe um longo olhar informando-o de que ela chegaria às
descobertas quando chegasse lá, e se algum imbecil impaciente tivesse
objeções, eles poderiam se foder.

As mãos de Draco ocuparam-se com a panacota em vez disso.

Granger recomeçou.

━ Dado que o seu homem é um bruxo, pensei que seria improvável que ele
fosse para um projetor de dardos, não saberia como usar uma arma. Nem
poderia instalar um sistema de vaporizador sofisticado para o composto
imobilizador que está usando, não se estiver saltitando pelo país com essa
pobre fera. Os ingeríveis seriam muito difíceis de dosar, especialmente se os
Nundu se recusassem a comer.

━ Todas as deduções excelentes.

━ O sistema mais portátil e à prova de falhas seria algo mágico que ele
poderia modificar para usar uma seringa balística, cheia de seu
tranquilizante de escolha, onde quer que ele esteja adquirindo isso. E, como
se vê, há muito poucos fabricantes de seringas balísticas em todo o mundo.
Você sabia disso?

━ Não ━ Draco respondeu.

━ Nem eu. Foi uma descoberta conveniente. Reduziu bastante a busca. ━


Granger empurrou seu documento para Draco. ━ Esta faz mais negócios
com o Reino Unido, uma empresa alemã. Não temos uma demanda enorme
para as coisas, principalmente um punhado de zoológicos trouxas. Mas há
um comprador privado que vem fazendo compras repetidas e grandes nos
últimos três meses. O fabricante terá um endereço de entrega em arquivo.
Como você decide obter essa informação, deixo para você.

Draco pegou o documento, sem saber o que o impressionou mais – o


trabalho de Granger, ou o fato de que ela de alguma forma havia espremido
o tempo para fazer isso entre sua quantidade obscena de compromissos
existentes.
━ Obrigado ━ ele disse, examinando o documento.

━ Uma tentativa de fazer as pazes ━ Granger respondeu. ━ Além disso, me


sinto péssima pelo Nundu.

Isso fez Draco suspirar por entre os dentes.

━ Se isso levar a algum lugar, precisarei fazer as pazes por McLaggen.

━ Não tenho certeza se isso é possível ━ ela falou, franzindo o nariz. ━ Eu


vi coisas. Eu ouvi coisas.

━ Eu te ofereceria um Obliviate, mas...

Houve uma batida na porta. Um dos alunos de Granger trouxe um pacote,


assobiando com um agente de resfriamento levemente vazado, que
precisava ser assinado.

━ Outro projeto de estimação ━ ela comentou em resposta ao olhar


interrogativo de Draco. ━ Um dos... bem, muitos.

━ Vou deixar você continuar com isso, então ━ Draco falou, levantando-se.

Enquanto ele se dirigia para a porta, Granger chamou:

━ Malfoy?

━ O que?

━ Tenha cuidado, ok?

Ele acenou por cima do ombro e saiu.

──── ◉ ────

A liderança de Granger acabou sendo bastante sólida. Como poderia ser


outra coisa? Era Granger. O endereço de entrega levou Draco a um
importador indescritível, que estava entregando as mercadorias a um
conhecido malandro, que as estava transferindo para um depósito, que
estava sendo acessado em horas indecentes por um punhado de outros
delinquentes conhecidos, que estavam entregando em um forte em ruínas
em Norfolk. O forte era suspeitosamente bem guardado para um lugar
abandonado. E trouxas nas proximidades haviam apresentado recentemente
reclamações de barulho – aparentemente, algo ocasionalmente rugia às duas
da manhã.

Draco informou Tonks e eles começaram a montar uma equipe mista de


Aurores e Magizoologistas, preparando-se para um ataque em grande escala
em três dias.

E Draco ficou pensando no que faria para se redimir. Agora, ele devia a
Granger. Sujeito e explosão.

Mantenha a véspera de amanhã livre, ele anotou para ela. Tenho algo para
te dar.

Se for a cabeça de McLaggen em uma bandeja, pode ficar com ela, Granger
escreveu de volta.

Eu nunca seria tão grosseiro, Draco respondeu.

Não?

Seria algo um pouco mais elegante. Usá-lo como adubo nos jardins e
depois enviar-lhe um buquê.

Uma combinação encantadora de cavalheirismo e psicopatia, foi a resposta


seca. Estarei em casa depois das 8.

Draco devidamente aparatou na casa de Granger depois das oito,


carregando uma coisa preciosa que não era a cabeça decepada de
McLaggen.

Ela parecia estranhamente cansada. Draco sabia por sua agenda que ela
estava trabalhando longas horas em seu laboratório naquela semana, mas
ver as sombras sob seus olhos o fez refletir sobre o quão tarde.
No entanto, ele ficou satisfeito ao encontrá-la à mesa com os restos de uma
refeição real – um ensopado de algum tipo, pão e uma tigela de iogurte. Ele
não fez nenhum comentário; ela não precisava de um eu-te-disse para saber
que a ideia dele tinha sido boa.

Granger olhou para ele e seu pacote retangular com cautela.

━ Bem, suponho que seja a forma errada para a cabeça de McLaggen.

━ Talvez eu tenha colocado em uma caixa, só para enganar você.

━ Em vez de uma caixa grande.

━ Talvez seja um braço em vez disso.

━ Eurg. ━ As mãos de Granger estavam entrelaçadas na frente dela, mas


nervosamente – como se soubesse, logicamente, que não seria uma parte do
corpo, mas também conhecesse Draco o suficiente para não ter tanta certeza
sobre isso.

Ele colocou o pacote na mesa com cuidado.

━ Primeiro, eu quero que saiba que isso foi uma dor de cabeça absoluta para
encontrar.

━ Oh?

━ Em segundo lugar, quero que você saiba que eu originalmente usaria isso
como alavanca para chantageá-la.

Essa observação fez com que Granger cruzasse os braços.

━ Você ia me chantagear?

━ Bem... suborno, talvez com mais precisão.

Agora os braços de Granger estavam cruzados e seu quadril inclinado. A


desaprovação e a diversão lutavam pela primazia.
— Você ia me subornar?

━ Sim.

━ Em troca de quê?!

━ Para você me dizer sobre o que é seu projeto ━ Draco respondeu, soltando
o cetim grosso que envolvia o objeto.

━ Você é totalmente sem vergonha.

━ Mas eu não fiz, não é?

━ Não. Suponho que isso mostrou uma verdadeira força de caráter ━


Granger disse.

Draco deu um passo para o lado e fez sinal para ela avançar. Granger se
aproximou da mesa, curiosidade e preocupação misturadas em seus olhos.
Os embrulhos de cetim caíram para revelar uma caixa ornamentada e
esculpida.

Granger olhou para ele.

━ Se isso for uma cabeça, eu vou gritar.

━ Abra. ━ Draco se viu segurando um sorriso.

Granger arrancou a tampa da caixa.

Dentro dele, dentro de dobras da mais fina seda, havia um livro aninhado.
Seu título brilhava em letras douradas desgastadas: Revelações.

Granger engasgou e deu um passo para trás, suas mãos em sua clavícula.

Então ela disse, em uma espécie de grito ofegante:

━ Como?!

━ Um amigo de um amigo.
━ Mas... mas a última cópia intacta foi destruída quando Glyndwr
incendiou...

━ É mesmo? ━ Draco se inclinou contra a mesa para absorver melhor a


vertigem. ━ Tem certeza?

Granger se aproximou da caixa novamente e espiou por cima, como se o


tomo pudesse desaparecer se parecesse muito cheio.

Então, sem uma palavra de advertência, ela se lançou em cima de Draco,


agarrou seu rosto e deu um beijo em cada uma de suas bochechas. Antes
que ele pudesse responder, ela o soltou novamente.

Agora ela estava de volta à caixa, com as mãos na boca.

━ Isso não pode ser! Estou sonhando.

Enquanto isso, Draco estava se recuperando do alegre ataque contra sua


pessoa e pensando que Granger ficava bem pressionada contra ele, e
cheirava bem, e seus lábios eram macios. Ela se afastou muito rápido para
ele fazer qualquer tipo de avaliação adicional. O que, francamente, parecia
uma pena.

Mas era de Granger que ele estava com saudades, então ele também devia
estar sonhando.

Agora ela estava andando em um círculo apertado, murmurando sobre uma


abadia em chamas.

━ Eu não posso ficar com isso ━ ela disse, finalmente. ━ É muito precioso.
Quando eu o tiver estudado... ah, espero que as partes que estou perdendo
ainda existam neste... terei que entregá-lo a uma das bibliotecas. Não
consigo guardar para mim.

━ Faz o que quiser com isso. É seu ━ Draco disse com um encolher de
ombros indiferente. O encolher de ombros indiferente foi para mostrar que
ele era frio e não afetado, em vez de se sentir estupidamente satisfeito por
ela estar tão feliz.
━ Meu Deus ━ Granger ofegou, suas mãos em suas bochechas, que estavam
bastante rosadas. ━ Acho que se você tivesse tentado me subornar com isso,
teria funcionado.

━ Teria? Arrume tudo. ━ Draco colocou um braço entre Granger e a caixa. ━


Eu pego de volta. Você não pode tê-lo.

Ela lançou-lhe um olhar de extrema reprovação, o que, é claro, não causou


nenhuma impressão.

━ Você não faria isso comigo ━ ela disse.

━ Eu não faria?

━ Não. Acabamos de estabelecer que você tem uma verdadeira força de


caráter.

━ Eu menti. Eu sou um covarde traidor.

━ Eu poderia ter acreditado nisso se você não tivesse fornecido provas em


contrário nos últimos anos.

━ Que provas? Eu nego tudo.

━ Você é o favorito de Tonks, e não é porque você foge dos bandidos.

━ Eu sou o favorito dela? Tss. Ela te contou isso?

━ Lupib.

━ Bobagem ━ Draco respondeu, embora estivesse bastante satisfeito.

Granger pressionou um único dedo em sua mão e, daquele poderoso fulcro,


abaixou seu braço.

━ Suponho que este presente indescritivelmente precioso deve significar


que minha pista sobre Talfryn te levou a algum lugar?
━ Sim. Sabemos onde ele está.

━ Dê a ele meus cumprimentos quando você o trouxer. O que vai acontecer


com o Nundu?

━ Alguns magizoologistas estão se juntando a nós no ataque. Eles vão


avaliar a fera e decidir o que fazer com ela.

Granger assentiu. Então sua atenção voltou-se para o tomo na caixa


entalhada. Draco viu a impaciência educada e contida em sua postura, na
forma como ela estava enrolando a ponta de sua trança.

━ Vou deixar vocês dois sozinhos, posso? ━ Draco se ofereceu.

Granger deu-lhe um olhar, mas sorriu.

━ Escreva da próxima vez que você se encontrar com Larsen ━ Draco


pediu. ━ Eu não terminei com ele.

━ Entendido.

━ E se ele aparecer de imprevisto, qualquer tipo de encontro inesperado,


casual, ative o sinal de socorro. Três voltas no anel.

Granger desviou sua atenção do livro para encará-lo com surpresa.

━ Sério?

━ Sim.

━ Mesmo se eu me deparar com ele quando eu sair para pegar leite?

Draco ergueu a mão para impedi-la ali.

━ Primeiro de tudo, você consegue sair para pegar leite uma vez por ano...

━ Ei.
━ Em segundo lugar, sim, especialmente esse tipo de reunião improvisada.
Eu não confio nele. Nenhum bruxo oclui uma conversa inteira, a menos que
esteja escondendo algo significativo.

━ Tudo bem, tudo bem ━ Granger disse. ━ Tendo você aparatando em Tesco
em seu kit de auror completo seria terrivelmente divertido de testemunhar,
de qualquer maneira...

Ela o acompanhou até a porta e se encostou no batente enquanto Draco


preparava sua varinha para sua desaparatação. Um olhar de despedida para
ela se tornou um olhar duplo, porque Granger – seus braços frouxamente
cruzados, seus olhos calorosos, a memória de um sorriso em seus lábios –
quase parecia que ela poderia realmente gostar dele.

━ Obrigada novamente ━ ela disse. ━ Pelo livro.

━ Compensação. ━ Draco deu de ombros.

━ Uma reparação justa pelos danos causados.

━ Vou ficar com a cabeça para a próxima vez.

Granger riu.

━ Faça o buquê, em vez disso.

━ Certo.

━ Tchau, Malfoy.

Uma leveza geral de estar sempre acompanhada da desaparatação existe,


não é?
19. O Nundu; Tempos de Tentação

Oie, amores!

A todo mundo que me deu um retorno, seja no Instagram ou nas notas aqui
do Wattpad, meu muito obrigada. Realmente, essa pausa foi muito
necessária e me sinto muito melhor. Como dito anteriormente, esse retorno
será gradual, conforme eu vou entendendo minha rotina e onde consigo
encaixar as fics.

Dito isso, a primeira parte desse retorno vai ser a finalização dessa
tradução. Uma leitora querida @lebruu chegou a traduzir os capítulos
restantes para um grupo de amigas e me deu permissão para utilizar a
tradução. Apesar de eu sempre passar meu pente fino e mudar coisinha
aqui ou ali, o crédito é dela pela parte mais difícil do trabalho.

No mais, meu muitíssimo obrigada por serem tão pacientes. Fiquei


imensamente feliz e incentivada a me dedicar à escrita novamente, hobby
que trouxe tanta alegria para o caos da minha mente criativa - quando
quer ser.

Uma boa leitura!

──── ◉ ────

Draco estava se sentindo bem. Ele e outros quatro Aurores montaram uma
ala anti-aparatação em torno de um quilômetro ao redor do forte, com uma
runa antiga no centro. O time foi aconselhado por Magizoologistas que os
acompanhariam pelos perigos do Nundu – seu veneno letal sem antídoto
conhecido, sua agressividade, sua agilidade mortal.
O Nundu. (Imagem: thetimes.co.uk)

Os Aurores lidariam com os bruxos travessos e os Magizoologistas com a


fera.

Ao sinal de Draco, eles começaram seu assalto furtivo ao forte. Os


Magizoologistas eram um grupo bem treinado que se mantinha bem atrás
dos Aurores desiludidos, de acordo com suas instruções.

Dois vigias meio adormecidos foram atordoados, silenciados e imobilizados


com algemas. Então, os Aurores se mudaram para o forte propriamente dito,
depois que Draco livrou a porta das proteções e Buckley cuidou do
complexo mecanismo de travamento mágico.

━ Feito na Alemanha ━ ele murmurou como se estivesse se desculpando por


ter demorado tanto.
Agora, eles avançavam por corredores mal iluminados repletos de proteções
mal projetadas. Draco cuidou do último enquanto Buckley levantava sua
varinha em um feitiço de detecção. Ele sinalizou mais dois guardas à frente,
dos quais Goggin e o jovem Humphreys avançaram para cuidar.

Eles se depararam com uma sala de guarda, que era uma bagunça de móveis
decrépitos e novos sacos de dormir, comida velha e milhares de seringas
balísticas que se mostraram tão críticas para rastrear Talfryn.

Dois Aurores ficaram de sentinela enquanto Draco e os outros buscavam os


Magizoologistas para inspecionar as seringas e seu conteúdo. Eles
concluíram que era cloridrato de etorfina – um opióide trouxa.

━ Muito potente ━ a mais velha dos Magizoologistas disse, uma bruxa


chamada Ridgewell. ━ Os trouxas o usam para derrubar rinocerontes. Um
jato disso vai parar um coração humano em meio minuto.

━ Caramba, eles têm o suficiente aqui para duas dúzias de rinocerontes ━


seu parceiro mais jovem falou.

━ Ou um Nundu muito grande.

Eles descobriram um estoque de pequenas bestas em um canto escuro. Após


uma breve conferência, dois magizoologistas se equiparam com eles: ━
Temos nossos próprios sedativos ━ Ridgewell falou ━ mas sabemos que
eles funcionarão, se os nossos não funcionarem.

━ Espere aqui ━ Draco pediu enquanto abria a porta para a próxima


passagem. ━ Vamos em frente e limpar o caminho. E que maldito cheiro é
esse? É...?

Ridgewell farejou o ar, parecendo um setter inglês prestes a apontar. Havia


um cheiro fétido e pungente penetrando no quarto.

━ Esse é o Nundu ━ Ridgewell disse. ━ Masculino, a julgar pela potência.


Se você perceber, não faça contato visual, mova-se devagar e volte para
nós. Não tenho certeza se desilusão funciona em felinos mágicos.
Draco, que estava mais interessado em Talfryn do que no Nundu, deslizou
para o corredor, ladeado por Buckley e Humphreys, com Goggin na
retaguarda. Fernsby foi deixado para proteger os Magizoologistas.

À medida que avançavam, seus feitiços de detecção sugeriam mais três


presenças humanas próximas no forte – bem como quem mais pudesse estar
atrás dos metros de rocha à frente deles. E embaixo deles...

━ Alguma coisa grande ━ Humphreys falou, segurando sua varinha no


ouvido enquanto ela se ajoelhava no chão. ━ Está rosnando também... eu
me pergunto se é hora do jantar.━

━ Feliz por deixar os Magis lidarem com aquele desgraçado ━ Buckley


comentou com um estremecimento.

Houve um grito de frustração à frente. Os Aurores se aproximaram o


suficiente para ouvir alguém xingar.

━ Eu não posso desaparatar. ━ Veio uma voz áspera. ━ Você tenta.

━ Idiota. ━ Veio um sotaque. Houve um momento de silêncio, e então: ━ Eu


também não posso.

━ Porra! ━ Veio uma terceira voz, a de Talfryn. ━ Ala anti-aparatação. Soe o


maldito alarme, seu idiota! Accio vassoura!

Os Aurores desiludidos entraram em uma espécie de pátio interno. Goggin


acertou um atordoante no bruxo assim que ele levantou sua varinha para dar
o alarme. Uma vassoura zuniu por Draco no escuro. Ele acertou com um
Incendio; era uma vara fumegante quando alcançou a mão de Talfryn.

━ Eles estão aqui! ━ Talfryn gritou, recuando para um canto atrás de um


pilar meio desmoronado. ━ Finite Incantatem! Finite Incantatem!
Homenium Revelio!

Ele estava lançando os feitiços na direção geral da passagem de onde os


Aurores emergiram, esperando acertar alguém e quebrar sua desilusão. Seu
grupo restante se juntou a ele atrás do pilar e fez o mesmo, forçando os
Aurores a tomar posições defensivas atrás de pilhas de escombros.

Talfryn levantou sua varinha no ar para disparar um alarme de intrusão. De


uma sala atrás deles vieram passos, e então, de repente, o pátio estava cheio
de duas dúzias de bruxos.

━ Merda ━ Humphreys sussurrou.

As coisas tinham acabado de se tornar interessantes.

━ Vou virar à esquerda com Goggin ━ Draco murmurou para Humphreys e


Buckley. ━ Vocês dois ficam aqui e distraem... lembrem-se de continuar se
movendo para que eles não prendam vocês.

Agora que eles estavam em grande desvantagem numérica, não haveria luta
agradável. O que foi excelente, pois Draco preferia lutar sujo – desiludido e
com uso liberal de Legilimência. Goggin era um excelente parceiro; o
irlandês era um brigão de coração e adorava uma oportunidade de ficar
malvado.

A forma desiludida de Goggin balançou atrás dele enquanto Draco


serpenteava para a linha irregular de homens que se formava ao redor de
Talfryn. Ele foi em frente, suavizando as fileiras com atordoantes enquanto
Goggin limpava depois.

Quando se cansou das variedades de jardim atordoado e Petrificus Totalus,


Draco adicionou um pouco de tempero. Tendo identificado os melhores
lutadores através da observação ou Legilimência, ele lançou algumas das
azarações dos vira-casacas mais magicamente exigentes – e brevemente,
esses oponentes lutaram pelos Aurores, até que seus colegas amaldiçoaram
algum sentido neles.

Buckley e Humphreys golpearam a linha de Talfryn com feitiços explosivos


e mantiveram a atenção de seus inimigos na frente do pátio. Aguamenti
estava sendo pulverizado onde as coisas (ou pessoas) pegaram fogo e
adicionaram um vapor pesado à atmosfera. Isso era ideal para Draco e
Goggin, que eram ainda mais difíceis de identificar.
Eles continuaram seu avanço em direção a Talfryn. Goggin veio atrás de
Draco para atordoar qualquer um que ainda estivesse se contorcendo após
sua morte. Ele as prendeu com o clique satisfatório das algemas.

A Legilimência de Draco lhe mostrou a intenção de um homem de derrubar


um pilar no canto onde Buckley e Humphreys se esconderam. Cansado por
seus atordoamentos repetidos, Draco o trocou – um movimento de sua
varinha derrubou o bruxo pelos joelhos. Então ele o cegou. Então, cortou
seus tendões de aquiles. Todas as medidas não letais, é claro; Draco jogou
pelas regras. Majoritariamente.

Gradualmente, seus adversários perceberam uma crescente quietude em seu


flanco esquerdo enquanto Draco e Goggin avançavam, enquanto Buckley e
Humphreys os golpeavam com uma enxurrada hostil de feitiços.

Um azarado Finite Incantatem atingiu Goggin e o revelou. Goggin se


desiludiu imediatamente enquanto Draco levitava o grande homem para um
ponto a quinze metros de distância, pouco antes de uma Bombarda explodir
onde ele estava.

━ Saúde. ━ Veio o sussurro gutural de Goggin.

Eles continuaram seu avanço. Atordoar, amaldiçoar, Legilimens, esquivar,


Finite, atordoar, maldição vira-casaca, Impedimenta, esquivar, feitiço para
cegar, Legilimens, atordoar.

Seus números diminuíram de forma alarmante, os homens restantes de


Talfryn estavam agora se desiludindo também, gritando Protego e
espalhando-se pelo pátio. Foi a vez dos Aurores dispararem Finite
Incantatem à vontade.

A ala anti-aparatação era uma faca de dois gumes. Draco desejou muito
poder aparatar ao lado de Talfryn e levá-lo, mas ele estava apenas a dois
terços do caminho até lá.

Na contagem de dele, restavam apenas quatro oponentes, além de Talfryn.


Buckley foi atingido por um Finite emanando de algum lugar perto de
Draco. De repente, no reino do visível, ele foi forçado a se esquivar atrás de
pilhas de pedregulhos antes que uma desilusão amigável do lado leste do
pátio o removesse de vista novamente: Humphreys.

Draco sistematicamente presenteou o chão perto dele com Petrificus


Totalus até que ele pegou o mago desiludido que atingiu Buckley. Três
sobraram.

━ O seu homem vai pegar aquela corrente ━ Goggin ofegou.

Draco virou-se para ver Talfryn se lançando em uma corrente pendurada


conectada a uma polia antiga. A polia estava conectada a uma grande grade
colocada em um buraco no chão.

━ Merda! ━ Draco disse.

Ambos os Aurores miraram atordoantes desesperados de longo alcance em


Talfryn. Por algum milagre, Goggin atingiu a perna do homem e Draco seu
ombro, mas Talfryn já havia colocado seus braços ao redor da corrente e seu
corpo atordoado o puxou para baixo.

Ouviu-se um rangido quando a grade foi deslocada para fora do lugar.


Então, um grunhido retumbante sacudiu as próprias pedras sob seus pés.

O Nundu saltou de sua prisão subterrânea e agora estava solto no pátio. Um


odor fétido o acompanhava, suficiente para fazer os homens de estômago
mais fraco vomitarem.

Os Aurores gritaram para saírem; eles não estavam equipados para lidar
com esta besta. Draco ouviu a corrida sem fôlego de Goggin ao seu lado
enquanto eles corriam para a passagem.

O Nundu virou-se para eles.

Como previsto, a desilusão não funcionava com felinos mágicos. Draco fez
uma nota para contar a Ridgewell, caso sobrevivesse o suficiente para falar
com ela novamente. A besta estava rastreando o movimento deles, assim
como o de um punhado de outras figuras invisíveis para eles no pátio.

Quando os olhos do Nundu deslizaram sobre ele, Draco sentiu, pela


primeira vez em sua vida, o que era ser uma presa – o olhar amarelo tinha
um efeito paralisante. Os movimentos da criatura eram tão fáceis e sinuosos
que eram hipnóticos. Sua pele cicatrizada, repelente de magia, eriçada de
espinhos venenosos, ondulava enquanto caminhava. A varinha de Draco
parecia tão inútil quanto um galho em sua mão.

Ele e Goggin pararam e olharam para o chão, como haviam sido ensinados
por Ridgewell. Foi uma das coisas mais difíceis que Draco já fez. Todos os
seus instintos gritavam para ele fugir ou disparar uma Bombarda no rosto
da criatura.

Ele podia ouvir Goggin xingando baixinho um fluxo constante de foda-se.

Houve uma briga na passagem que levava à saída. Dois dos homens de
Talfryn lutavam para passar antes do outro. O Nundu saltou, atravessando o
pátio em dois graciosos saltos. A desilusão dos homens se dissipou
enquanto eles morriam, um esmagado pelo peso da criatura, o outro
casualmente decapitado pelo movimento de uma pata. Sua cabeça rolou
para os pés de Draco como uma maldita goles.

A passagem era pequena demais para o Nundu entrar. Ele voltou sua
atenção para o pátio, suas narinas dilatadas, veneno pingando de seu
focinho. Estava farejando alguma coisa.

Outro dos homens desiludidos de Talfryn fugiu. Ele foi sumariamente


morto, cortado em duas metades sangrentas por uma mordida.

Essa foi, na melhor contagem de Draco, a última da tripulação de Talfryn.


Agora havia apenas Aurores de pé.

O Nundu virou o nariz para o vento. Encontrou o que estava farejando: o


corpo atordoado de Talfryn.
Talfryn foi agarrado e jogado no ar como um brinquedo de criança. Ele
bateu na parede com um estrondo musical. Então a criatura o eviscerou com
um golpe fácil e começou a comer.

Lentamente, entre os sons molhados das entranhas de Talfryn sendo


sorvidas, Draco e Goggin se moveram em direção à passagem. Draco
esperava que os desiludidos Buckley e Humphreys estivessem fazendo o
mesmo – nenhum movimento brusco, nenhum contato visual, apenas um
desvio desinteressante em direção à segurança.

O Nundu levantou a cabeça. Parecia para o leste do pátio.

Humphreys.

A criatura caminhou em direção ao canto leste com uma espécie de


antecipação preguiçosa.

Draco não podia culpar a jovem Auror pela explosão de feitiços que ela
lançou contra a fera; ele teria feito o mesmo, se estivesse encurralado. Ela
enviou algo cortando seu rosto; ele deu de ombros com um espirro que
espalhou veneno em um raio de dois metros.

Draco levantou sua varinha; o braço desiludido de Goggin ao seu lado fez o
mesmo.

━ Confrigo, o mais forte que puder ━ disse.

Eles cortaram suas varinhas para baixo ao mesmo tempo, fazendo com que
seus feitiços se juntassem e fossem arremessados ​como uma bola de fogo
em direção ao flanco da fera. O feitiço explodiu com o impacto, deixando
seus ouvidos zumbindo. Humphreys foi atingida pela força percussiva da
explosão; ela bateu em uma parede e perdeu sua desilusão. Draco podia vê-
la rastejando pela fumaça.

E o Nundu? Ele havia sido derrubado de lado pela explosão, mas agora
recuperou os pés e balançou a crina, como se isso tivesse sido um empurrão
brincalhão e não um feitiço mortal.
Ele voltou o peso considerável de sua atenção para Draco e Goggin.

━ Merda ━ Goggin disse.

Eles ergueram suas varinhas. A fera saltou. Goggin acertou-o com uma
Bombarda na boca aberta, o que lhes deu um momento de trégua quando
aterrissou, a poucos metros deles, e soltou uma tosse molhada de veneno. O
feitiço cegante de Draco foi o próximo, apontado para os olhos, quase à
queima-roupa.

Não fez nada além de fechar um olho – e irritar a coisa.

Draco e Goggin recuaram enquanto o zumbido pneumático enchia o ar.

Os Magizoologistas tinham vindo. Eles espiaram pela passagem e


apimentaram a fera com as seringas balísticas e seus próprios
tranquilizantes. A essa distância, metade das seringas ricocheteava na pele
do Nundu.

Buckley, mancando muito, arrastava Humphreys para a segurança da


passagem. Fernsby ficou de guarda na frente do Magis e engrossou o ar
com Protegos antes de sair correndo para ajudar Buckley.

Ridgewell conjurou uma manada de pequenas coisas saltitantes, que


dançaram ao redor da fera e a distraíram por um momento, até que vomitou
seu veneno e todas elas se dissolveram. Deu tempo suficiente para Draco e
Goggin se puxarem para trás de uma pedra.

A atenção do Nundu voltou-se para Humphreys e Buckley.

Uma dúzia de seringas foram embutidas em seu ombro e pescoço – para,


até agora, efeito menor. Os Magizoologistas levitaram meia corça morta,
recheada de tranquilizantes, em direção à criatura. Ele afastou a corça,
tendo aprendido durante seu cativeiro a não confiar em nenhuma carne,
exceto na que ela mesma havia matado.

Os Magizoologistas lançaram projéteis cheios de sedativos inalantes que


explodiram aos pés da fera. Este tinha sido seu último plano, já que o
inalante seria tão perigoso para os Aurores quanto seria para a fera. Draco e
Goggin lançaram feitiços de cabeça-de-bolha um no outro e cambalearam
para mais longe.

O Nundu atravessou a nuvem púrpura com um silvo e, finalmente, mostrou


sinais de desaceleração – um olho fechado com azar, sangue escorrendo de
sua boca, sedativos em sua corrente sanguínea e pulmões. Seu olho restante
estava fixo nos cambaleantes Humphreys e Buckley, que agora estavam
sendo arrastados por Fernsby.

Draco viu o movimento da cauda e o abaixamento dos quartos traseiros que


sinalizavam um ataque iminente. Ele golpeou sua varinha em direção à
corrente e polia e a chicoteou ao redor da perna traseira do Nundu assim
que saltou. Goggin se juntou a ele, sua varinha estalando com esforço
enquanto eles puxavam a corrente para trás por pura força de magia. O
Nundu foi forçado a recuar, suas garras cavando buracos profundos no solo
rochoso.

O trio de Aurores feridos caíram na relativa segurança da passagem,


deixando Draco e Goggin para enfrentar a fera. Os Magizoologistas
estavam lutando para distrair a criatura, conjurando uma fêmea Nundu
(ignorada), mais carne (abatida de lado), presas (ignoradas), uma gaiola em
volta dela (despedaçada) e, finalmente, lançando agentes imobilizadores
suficientes para sedar doze rinocerontes.

Draco acreditava nas histórias, agora, de um único Nundu destruindo


aldeias inteiras na África Oriental.

O Nundu estava meio desmoronado – os sedativos finalmente estavam


funcionando. Seu olho restante estava turvo, sua boca aberta, suas pernas
ficaram desossadas. Ele mostrou suas presas para Draco e Goggin e uma
corrente quente de veneno espirrou neles. Eles se esquivaram e foram
separados por um fluxo preto-púrpura sibilante.

Draco estava do lado de seu olho bom restante. Ele apontou outro feitiço
cegante assim que a besta virou sua cabeça pesada para ele e mostrou suas
presas novamente.
Ele acertou a fera no olho e ela o presenteou na garganta com um veneno
abrasador.

A dor disso chocou seu sistema. Seu feitiço cabeça-de-bolha desapareceu.


Ele engasgou para respirar e tomou uma lufada de ar cheio de sedativos.

Quando o Nundu finalmente desmoronou, o mesmo aconteceu com Draco.

──── ◉ ────

Draco acordou com um teto branco passando por ele, como se ele ou o teto
estivessem se movendo em alta velocidade. Havia vozes erguidas e palavras
indistintas e sons de caos geral. Pés correndo, equipamento tilintando, o
zumbido das rodas.

Então houve uma voz de comando nítida. A voz era reconfortante, de


alguma forma. Era a voz da Competência e da Ordem, e era bom.

Seu corpo não era mais seu corpo; era uma coisa composta principalmente
de dor. Ele não podia gritar.

Seus ouvidos captaram as palavras e as comunicaram ao seu cérebro


entorpecido. Envenenado. Depressão respiratória. Paralisia do diafragma.
Dose letal.

E então, distante, ele pôde ouvir um grito. Mas não era dele – era de sua
mãe.

━ Tire-a daqui ━ a Voz da Competência disse. ━ Falarei com ela quando


salvar a vida dele.

──── ◉ ────

Draco acordou com outro teto branco. Desta vez, não estava zunindo
incrivelmente rápido. Ele considerou esse desenvolvimento como uma boa
notícia.

Outra boa notícia: ele não sentia dor. Na verdade, ele se sentia excelente.
Ele nunca se sentiu tão maravilhoso em sua vida. Cheio de vitalidade.
Cheio de alegria.

━ Cheio de analgésicos. ━ Veio uma voz gentil. ━ Você está cheio até as
guelras com eles, criança. Não tente se levantar. Vou buscar seu Curandeiro.

A voz gentil pertencia a uma espécie de bruxa matrona com as vestes verde-
claras do St. Mungus. Uma enfermeira. Draco a observou sair, rindo com o
estranho efeito olho de peixe ocorrendo em sua visão, o que fez o bumbum
dela hilariamente grande. Então ele piscou e as paredes começaram a se
espremer para dentro. Se fechasse os olhos, via caleidoscópios. Um gato
laranja e um Nundu, girando um para o outro, lutando entre si em espirais
concêntricas, sem parar.

Ele abriu os olhos novamente. Ele estava no St. Mungus. Ele estava vivo.
Ele não deveria estar morto?

━ Você deveria ━ Veio a voz cortante da Ordem.

━ Estou dizendo tudo o que estou pensando? ━ Draco perguntou do teto,


com uma profunda curiosidade filosófica.

━ Sim, e você vai por mais algumas horas, pelo menos. Você está tomando
um coquetel que afeta a neurotransmissão. Era a única maneira de controlar
sua dor durante o procedimento. Você provavelmente terá alucinações... se
ainda não tiver, é claro.

O sabe-tudo era forte.

Em uma espécie de câmera lenta, Draco virou a cabeça para observar o


Curandeiro. Suas vestes de um verde profundo nadaram à vista. Sua boca
estava em uma linha reta, mas seus olhos escuros estavam aquecidos pela
preocupação. Ela era bonita. A luz atrás dela brilhou em um halo ofuscante.
Ele pensou ter ouvido o som de hinos.

━ Como você está se sentindo? ━ Ela perguntou.

━ Positivamente bem ━ Draco disse. ━ Você é um anjo?


O Anjo-Curador fez o máximo para não rir – o que era um tipo de coisa
angelical de se fazer, e só provou ainda mais sua identidade secreta.

━ Você pode confiar em mim ━ Draco falou. Ele tentou bater no nariz, mas
em vez disso, cutucou-se no olho. ━ Vou guardar seu segredo.

O Anjo-Curador não respondeu; ela estava lendo um gráfico.

━ Eu fiz uma operação? ━ Ele perguntou.

━ Falaremos sobre isso mais tarde. Quando você tiver dormido um pouco.

Algo sobre sua autoridade era terrivelmente familiar.

━ Eu sei quem você é ━ Draco ofegou.

━ Isso é bom.

━ Você é Hermione Granger.

━ Correto. ━ Ela se levantou. Suas vestes dançavam ao seu redor em faixas


de cor verde. ━ Sua mãe está louca para entrar. Ela voltou da Itália por flu
assim que mandamos uma mensagem. Mas quero que você durma primeiro.
Eu prefiro que você tenha sua boca sob controle antes de vê-la. Tudo bem?

━ Tudo bem ━ Draco respondeu.

━ Excelente. Tire uma soneca. Voltaremos a conversar quando você acordar.

Draco, com esforço, deu um tapinha na cama.

━ Junte-se a mim ━ disse.

━ Não.

━ Por que não? ━ Ele perguntou em um longo tipo de lamúria.


━ Porque você não sabe o que está dizendo ━ Granger disse. Havia diversão
contida em sua voz. ━ Espero que você não se lembre disso, para o seu
bem.

Draco, com um arrepio distante de horror, ouviu-se dizer:

━ Eu quero te beijar.

━ Não, você não quer.

━ Venha e sente-se no meu colo.

━ Vá dormir, Malfoy.

Granger era uma figura distante agora, fundindo-se dentro e fora das
sombras do corredor. Ela fechou a porta atrás dela.

Draco fechou os olhos. O Nundu e o gato continuaram sua batalha


rodopiante, sem parar, até que ele adormeceu.

──── ◉ ────

Draco acordou novamente. Algo sobre o sol entrando pela janela lhe disse
que era o dia seguinte.

Infelizmente, ele se lembrava de cada palavra de sua conversa com Granger.

Onde estava o Nundu? Poderia vir e terminar o trabalho de matá-lo?

A enfermeira gentil estava de volta. Ela mexeu um pouco nos lençóis de


Draco e então aplicou uma pasta que cheirava fortemente a pinho em seu
pescoço.

━ Ditano?

━ Vahlia. Deve ajudar com as cicatrizes.

A enfermeira lançou-lhe alguns feitiços de diagnóstico e pareceu satisfeita


com os resultados.
━ Você está indo muito bem, Sr. Malfoy, considerando todas as coisas. Sua
mãe está aqui. Você sente vontade de vê-la? Não precisa se não quiser.

Draco assentiu.

Alguns minutos depois, sua mãe entrou correndo e o abraçou com seus
braços finos. Ela parecia terrivelmente abalada, pálida e cansada. Ela se
empoleirou ao lado da cama e o acariciou longamente, perguntando como
ele se sentia, como estava seu pescoço, se ele conseguia respirar, se
conseguia engolir, como ele havia dormido, e assim por diante, até que a
boca de Draco ficou seca e ele teve que pedir água.

Ele descobriu que sua equipe havia conseguido sair do forte com uma
mistura de ferimentos, embora nenhum tão terrível quanto o dele. Este era o
seu terceiro dia no St. Mungus.

Os Nundu sobreviveram e foram transportados de volta para as selvas da


Tanzânia. E os bandidos? A besta havia se vingado de Talfryn e companhia
encharcada de sangue. Muitos estavam mortos. Aqueles que sobreviveram
ao massacre do pátio aguardavam julgamento.

Narcisa apertou a mão de Draco. Havia lágrimas em seus olhos.

━ Chega sobre eles. Estou tão... tão feliz em vê-lo bem. Eu quase perdi
você. Não sei o que teria feito.

Narcisa parou e respirou fundo para conter um soluço. Ela não gostava de
chorar.

━ Eu vou ficar bem, mãe ━ Draco disse.

Ela se endireitou e enxugou os olhos.

━ Não seja arrogante sobre isso. Você não estava bem. Você quase morreu.
A garota Granger... Curandeira Granger... ela foi instrumental. Ninguém
sabia o que fazer. Esse veneno não tem um antídoto conhecido. A maioria
dos curandeiros nem sabia o que era um Nundu. Nem eu, veja bem... o que
o levou a perseguir tal criatura, eu nunca vou entender. Você estava
praticamente morto. Mas ela sabia das coisas. Coisas trouxas, eu acho. Ela
levou você para longe por quatro horas... eu compus um elogio inteiro na
minha cabeça... e quando ela voltou, ela disse que você ia viver.

Draco apertou a mão de sua mãe. Ele tentou o humor.

━ Você vai escrever uma dedicatória para mim? Eu gostaria muito de lê-lo.

Narcisa fungou. Ela se levantou e caminhou até a janela de costas para


Draco. Seus ombros finos tremeram.

━ Você não pode aceitar um trabalho de mesa? ━ Ela perguntou, ofegante. ━


Saia desse terrível negócio de Auror?

Houve uma batida na porta.

Narcisa enxugou as lágrimas. Com as costas retas e a expressão severa de


sempre de volta no lugar, ela foi responder.

Era Granger. Ela não estava usando suas vestes de Curandeira, hoje – era
seu traje de professora trouxa. Outra daquelas saias de cintura alta e blusas
de seda.

━ Oh... er, me desculpe por interromper ━ ela disse. ━ Posso voltar mais
tarde.

Draco não podia realmente ver o que aconteceu em seguida – sua mãe se
lançou para o corredor com os braços abertos, e tudo que ele ouviu foi um
oof de Granger enquanto ela, presumivelmente, estava sendo abraçada com
força.

Houve o som de choro. Algumas palavras desajeitadas de conforto. Então


os saltos de sua mãe estalaram pelo corredor. Sua voz, mais grossa que o
normal, perguntou onde ficava o banheiro.

━ Er... à sua esquerda. ━ Veio a voz de Granger. ━ Não, sua outra esquerda.

Uma porta bateu. Então, silêncio.


Granger enfiou a cabeça no quarto de Draco.

━ E como estamos?

━ Uma visão melhor do que ela ━ ela disse.

━ Ela teve alguns dias bastante angustiantes. Estava convencida de que


você ia morrer.

━ Então eu vivi.

━ Um dos meus atendentes teve que atordoá-la.

━ Você surpreendeu minha mãe?

━ Sim. Ela ficou muito louca quando viu você na maca. Era um perigo para
si mesma e para a equipe do hospital.

━ Lamento muito que você tenha que testemunhar isso.

A expressão de Granger ficou bastante melancólica.

━ Isso significa que ela te ama muito. Você tem sorte de ter isso.

━ Certo...

Granger estava um pouco distante, pairando na porta.

━ Você não vai entrar? ━ Draco perguntou.

━ Oh, eu não estou de serviço hoje. Só estava dando uma olhada para ver
como você estava indo. Tenho que estar em Trinity em vinte minutos.

━ Aula?

━ Avaliar. Um doutorado.

━ Você vai ser legal?


━ Em proporção direta à força da tese do candidato. ━ Granger voltou para
o corredor e olhou para baixo. ━ Devo enviar alguém para verificar sua
mãe?

━ Não. Deixe que se recomponha. Ela detesta chorar e detesta


demonstrações públicas de afeto, e acabou de fazer as duas coisas com
você.

━ Talvez eu devesse sair, antes que ela volte ━ Granger refletiu. ━ Ela não
terá que reviver o julgamento do abraço tão cedo.

Draco concordou; no entanto, havia uma coisa que ele queria abordar, em
particular, antes de Granger partir... sua idiotice alimentada pela anestesia.

━ Posso emprestar sua varinha? ━ Ele perguntou.

━ Para quê?

━ Eu... infelizmente... me lembro das coisas que disse ontem.

━ Ah.

━ Eu prefiro me Obliviar.

━ Sem auto-obliviações. Você pode usar whisky de fogo, assim como todo
mundo.

Granger era um pouco atrevida, às vezes.

━ Certo ━ Draco disse. ━ Então eu vou para o pub o mais rápido possível.
Quando posso sair?

Granger finalmente abandonou seu posto na porta para entrar na sala. Ela
examinou a documentação variadamente presa ou flutuando acima da cama
de Draco. Então, lançou uma série de feitiços de diagnóstico que brilhavam
em esquemas verdes escuros acima do peito dele.
━ Francamente, eu poderia te dar alta amanhã de manhã ━ ela respondeu. ━
Mas sem álcool por pelo menos quinze dias, eu temo. Você acabou de
sobreviver a uma toxina letal, gentilmente permita que seu corpo se
recupere antes de começar a beber outra.

━ Nem mesmo uma cerveja amanteigada?

━ Não.

━ Mas tenho coisas que preciso esquecer.

━ Eu também. ━ A boca de Granger se curvou.

━ Puta merda ━ ela disse, passando a mão pelo rosto.

━ Isso acontece o tempo todo ━ Granger comentou.

━ O tempo todo?

━ Sim.

━ Você é chamada de anjo o tempo todo?

━ Verdadeiramente.

━ E convidada para uma soneca?

━ Sim.

━ E sentar no colo?

━ Tão frequente que parei de prestar atenção.

━ Porra ━ Draco sibilou, revivendo a memória novamente.

━ Eu vou agora ━ Granger disse. Havia um gorjeio em sua voz, do tipo que
indicava que ela estava à beira do riso.
Ela se foi. Draco não – repito, não – olhou para a bunda dela enquanto ela
se afastava. Por tudo que ele sabia, algum vestígio persistente do coquetel o
faria deixar escapar algo estúpido.

Tudo bem, então ele roubou um olhar quando ela já estava bem fora da sala.

Narcisa voltou, nariz empoado, olhos encantados para serem brilhantes em


vez de vermelhos.

━ Uma garota brilhante ━ disse sobre Granger. ━ Muito brilhante. Mas o


que diabos ela estava vestindo hoje?

Draco não a informou que ele gostou. Narcisa já havia sofrido muitos
choques.

Finalmente convencida de que seu único filho, seu tesouro, o menino de


seus olhos, não estava prestes a estourar seus tamancos, Narcisa se retirou
para a Mansão.

Draco se juntou a ela no dia seguinte e foi quase sufocado pelas atenções
conjuntas de sua mãe e dos preocupados elfos domésticos. Durante a
semana seguinte, cada passo seu – entre um fluxo constante de amigos e
simpatizantes – foi assombrado por um elfo ou Narcisa carregando pomada
Vahlia, sopas restauradoras ou compressas quentes. Ele definhou em
deliciosa auto-indulgência sob seus cuidados nos primeiros dias, e depois se
cansou disso e passou a se esconder em lugares distantes dos terrenos da
Mansão pelo resto de sua recuperação.

Uma manhã, quando Draco estava se sentindo sociável o suficiente para se


juntar a sua mãe no café da manhã na sala de jantar, ele a encontrou
trabalhando duro em um arranjo floral de tirar o fôlego. Estava vivo com o
movimento – jacintos de beija-flores esvoaçando, o brilho de papoulas de
rubi, a dança de videiras de halla.

━ Você se superou, mãe ━ ele disse.

━ Você gosta disso? Bom. Espero que ela também goste.


━ Ela? ━ Draco repetiu.

Narcisa poupou-lhe um olhar por cima do ombro, como se quisesse


verificar se era, de fato, seu filho atrás dela, e não um idiota estúpido que
havia entrado sem avisar.

━ Sim, ela. Curandeira Granger. Quem mais?

━ Ela vai adorar, tenho certeza.

━ Deve ser entregue ainda hoje.

━ Um dos elfos? Eu sugiro Henriette, ela...

Narcisa interrompeu com severidade.

━ Um elfo doméstico? Sério? Aquela bruxa salvou sua vida. Você vai levar
para ela, com o máximo de agradecimentos efusivos que puder transmitir.

Ela deslizou um envelope grosso sob uma fita na base do arranjo.

━ Minhas palavras de agradecimento, eu escrevi. Duvido que seria capaz de


falá-los sem mais histeria. Já me envergonhei o suficiente nessa frente.

Agora Narcisa limpou as mãos e se afastou das flores, observando-as com


um olhar crítico. Ela chamou Tupey para trazer mais fita.

━ E sua outra tarefa, Draco, será descobrir qualquer causa próxima e


querida ao coração da Curandeira Granger, e garantir que nosso nome e
Galeões sejam imediatamente alinhados em apoio a essa causa.

━ Eu estava pensando o mesmo ━ ele respondeu.

━ A menos que seja mais aquela baboseira sobre elfos domésticos.

━ Certo.

━ Ou coisas trouxas. Nada de coisas trouxas. Bem... talvez sim para coisas
trouxas. Eles têm órfãos? Cuide para que você descubra.
━ É claro.

Houve uma pausa na conversa. Narcisa limpou a garganta e, com


despreocupação casual, disse:

━ Falando em elfos... eles mencionaram que você teve muitos convidados


para jantar na minha ausência. Estou feliz que você tenha conseguido
mantê-los ocupados.

━ Feliz por isso ━ Draco disse com uma medida igual de despreocupação. ━
Eles se saíram muito bem.

━ Eles mencionaram, de passagem, que a Curandeira Granger estava por


perto ━ ela comentou.

Draco sentiu que eles tinham acabado de chegar ao ponto crucial da


conversa.

━ Ela veio, sim.

━ Posso perguntar sobre o assunto da discussão?

Então sua mãe ia ser intrometida sobre isso. Não é uma surpresa.

━ Eu tive que fazer as pazes... eu a fiz queimar uma torta ━ Draco


respondeu.

━ Você a fez queimar uma torta.

━ Sim. Estávamos brigando por causa da lontra dela.

━ Sua lontra.

━ Sim. Ela estava parcialmente certa, veja bem; eu dei uma concussão em
McLaggen.

━ Você deu uma concussão em McLaggen?


━ Entre outras coisas. Ele não tinha muito cérebro de qualquer maneira.
Acabamos com o questionário?

━ Devo confessar que fiquei com mais perguntas do que respostas ━


Narcisa respondeu. ━ Henriette também me disse que eles reabasteceram a
despensa da Curandeira Granger?

━ Oh aquilo. Sim... fiquei bastante consternado ao descobrir que a bruxa


que salvaria minha vida estava se alimentando de produtos secos e atum
enlatado. E deu aos elfos algo para fazer.

Narcisa parecia eminentemente confusa, mas disse:

━ Claro.

Draco aumentou a despreocupação.

━ Foi um jantar com uma colega, nada mais.

━ Uma colega?

━ Negócios do Ministério; terrivelmente maçante e também ultra-secreto.


Não posso discutir isso.

━ Entendo ━ Narcisa disse. ━ Eu não vou me intrometer mais, então.━

━ Esse seria o melhor curso de ação.

O olhar especulativo dela foi interrompido por um estalo.

Henriette surgiu e fez uma reverência.

— Desculpe-me pela intrusão, Madame e senhor. Senhor Draco, Madame


Tonks está no flu, esperando por você.

Draco deixou sua mãe com sua insatisfação confusa.

A cabeça de Tonks estava saindo da lareira na sala de flu.


Ela disse algo que pode ter sido "cuidado" mas também pode ter sido um
espirro.

━ Você quer passar? ━ Draco perguntou.

━ Não, não tenho tempo. Eu só queria observá-lo com meu olho redondo...
━ Enquanto ela dizia isso, seu olho ficou bem redondo. ━ E garantir que
você sobreviveu ao veneno Nundu. Os rumores são verdadeiros. Mostre-me
a lesão; deve ser dramática.

Draco puxou seu colarinho, que estava pegajoso com pomada de Vahlia.

━ Oh, meu Deus! Eles estão dizendo que vai curar?

━ Provavelmente ━ Draco disse, fazendo uma careta enquanto recolocava a


coleira em seu pescoço ainda em carne viva.

━ Melhor que não... a cicatriz seria bem arrojada.

━ Como estão os outros?

━ Oh, você sabe, um pouco pior para o desgaste, um pouco mole, um pouco
machucado. Goggin e Buckley ainda estão tossindo inalante; teremos que
inventar melhor do que os feitiços cabeça-de-bolha, da próxima vez.

━ E Humphreys?

━ Ela desenvolveu uma fobia de gatos, coitada. ━ Agora o braço de Tonks


estava saindo da lareira. Ela sacudiu um pergaminho. ━ Mas veja só: vocês
algemaram vinte bruxos travessos, ao todo... além dos mortos, quero dizer.
Eles devem estar planejando um show naquela noite, é por isso que havia
tantos deles lá.

Draco se agachou para examinar a lista.

━ Merda... nós temos Hawkes? Kerr estava lá? Eu não o reconheci.


━ E Royston. Linda colheita. Um dos nossos melhores, em anos. Eu lhe
ofereceria um aumento de salário, mas, você sabe. Tonks apontou para o
ambiente grandioso de Draco. ━ Parece um tipo insignificante de bônus,
considerando. Pensei em lhe oferecer outra coisa como recompensa.

━ Oh? ━ Ele perguntou, curioso sobre como se recompensa o homem que


tem tudo.

━ Liberdade absoluta em sua próxima missão... você escolhe na minha


caixa de surpresas.

━ Bom.

━ E eu vou tirar você do emprego de proteção Granger, porque esse é o tipo


de prima agradecida e de coração terno que eu sou. Eu sei que você nunca
gostou disso.

Draco sentiu-se inexplicavelmente tenso.

━ O que?

Tonks, com a impressão de que estava fazendo um gesto grandioso e


generoso, balançou as sobrancelhas para ele.

━ Eu sei. Eu estava pensando em Humphreys. Elas se dariam bem, não


iriam? Melhor do que vocês dois, de qualquer maneira.

━ Humphreys não poderia... Granger tem um gato ━ ele disse. Para seus
ouvidos, a fraqueza da desculpa ressoou embaraçosamente pela sala de flu.

Tonks zombou.

━ Humphie irá contornar isso. Não seja bobo. Ou talvez eu passe o trabalho
para Goggin para manter seu nariz intacto por um tempo; o homem se
envolve em cada missão...

Agora Tonks retirou a cabeça das chamas. Draco a ouviu gritar: ━ Alguém
mate essa maldita coisa! ━ Sua cabeça apareceu de volta. ━ Desculpe.
Weasley está tendo uma crise: há uma aranha.

O intervalo deu a Draco tempo para arranjar uma desculpa.

━ Não Goggin, para Granger ━ disse, mantendo sua voz desinteressada e


neutra. ━ Nenhum deles, realmente. Meus anéis de família são um
componente bastante importante do jogo. Acho que será melhor que eu
fique com isso.

Tonks arqueou uma sobrancelha.

━ Sério? Tem certeza?

━ Sim. Encontramos um... um equilíbrio ━ Draco disse.

━ Um equilíbrio ━ Tonks repetiu com elegância desnecessária. Ela estava


olhando-o firme, astuta, por trás da zombaria. ━ Tudo bem. A oferta
permanece, caso você mude de ideia. Vejo você na próxima semana?

━ Antes, sem dúvida. Estou sendo sufocado.

Tonks retrucou.

━ Pobre querido. Aproveite o restante de sua convalescença. Meus


cumprimentos a Narcisa.

A cabeça de Tonks desapareceu da lareira com um estalo.

Quando as chamas da lareira retomaram sua cor normal, Draco ficou


ruminando sobre a reação inesperada ao pensar em perder a missão de
Granger. Sua resposta foi quase física, quase ciumenta. Ele esperava,
sinceramente, que Tonks não tivesse notado.

Ele também ponderou sobre a incômoda questão de por que não deixou o
trabalho de Granger. Algumas razões imediatamente óbvias vieram à mente.
Bem, não exatamente motivos – memórias, sim, de momentos específicos:
uma noite dourada na praia; a maneira como ela mordia o lábio quando não
queria rir; rosas e seus efeitos fascinantes; a sensação de seus beijos alegres.
Mas essas não eram razões e, portanto, foram facilmente descartadas como
sentimentos sem sentido.

Depois de algumas tentativas de argumentos mais sólidos, o que levou


muito tempo, Draco concluiu que era porque ele era um Auror orgulhoso,
que queria que o trabalho fosse bem feito e queria ver a coisa até o fim.

Ali. Isso era melhor. Tudo fazia sentido. E se uma parte minúscula dele
apreciava as "férias" ridículas de Granger, ou se deleitava com sua
companhia, ou começava a ansiar por vê-la, ou qualquer coisa desse tipo,
era vastamente dominada por esse raciocínio robusto.

Sua mãe o chamou para a sala de jantar para avisá-lo de que o arranjo de
flores estava pronto e que ele poderia entregá-lo a Granger o quanto antes.

Draco enviou uma nota para ela, perguntando sobre sua disponibilidade
naquela noite.

Ela estaria no pub com Potter e amigos, mas chegaria em casa às nove. Isso
serviria?

Draco respondeu que sim.

Em casa às nove. Granger era uma selvagem.

Naquela noite, Draco se retirou para seus aposentos para tomar banho e
fazer a barba. Enquanto passava uma gota de colônia em seus pulsos, ele
sentiu estranhamente como se estivesse se preparando para um encontro. O
que era idiota, porque tudo o que estava fazendo era ser um garoto de
recados para sua mãe, na verdade.

Quando se vestiu, ele se certificou de que seu colarinho permanecesse


entreaberto para mostrar o ferimento arrojado. Mas só porque era tão
arrojado, e não porque queria solicitar qualquer tipo de confusão ou atenção
de Granger, ou qualquer coisa assim.
20. Vida e Tempos de Draco
Malfoy, o Menino de Recados

Draco não precisava se preocupar com a agitação de Granger. Esse era o


problema com os curandeiros; eles tinham visto demais e um problema
menor como um envenenamento letal era de pouco interesse, na verdade,
quando estava se recuperando.

Granger abriu a porta, observou o pescoço dele de uma distância educada,


declarou-se satisfeita por estar cicatrizando tão bem, e então perguntou o
que ele queria.

Não havia romance com Granger. Nada de atraí-la para adivinhações


tímidas ou suposições de cílios esvoaçantes. Ela era terrivelmente
pragmática.

━ E então? ━ Ela perguntou. ━ Aconteceu algo?

Draco produziu as flores.

━ Oh! ━ Granger ofegou com aquela expressão de surpresa e deleite que


Draco estava começando a achar bastante viciante.

━ E não... eles não brotaram do cadáver de McLaggen.

━ Claro que não ━ ela disse, aceitando o buquê. ━ Elas são lindas demais.

Draco deu a ela uma pequena reverência.

━ Com os elogios da minha mãe. Ela anexou uma carta para você. Devo
também transmitir-lhe os meus exuberantes agradecimentos por ter salvado
a minha vida. Por favor, diga a ela que eu fiz isso, se ela perguntar.
━ Sua efervescência me tirou do sério.

━ Perfeito.

━ Eu coloco elas na água? ━ Granger perguntou, segurando o buquê


suavemente esvoaçante em seu rosto.

━ Acredito que minha mãe os encantou para durar... mas suponho que não
poderia ser ruim.

Granger desapareceu no chalé.

━ Você pode entrar, se quiser ━ ela chamou. ━ Se você não tiver outros
planos?

━ Meus únicos outros planos envolvem ser sufocado pelos elfos.

━ Pobre querido ━ Granger retrucou.

Foi a segunda vez que uma mulher provocou Draco por suas dificuldades
hoje e ele se sentiu um pouco sobrecarregado.

━ Vou lhe oferecer uma xícara de chá padrão ━ ela disse. ━ Isso será
revigorante, depois de todos os mimos que você suportou?

━ Bastante. Tornará abaixo da média, mesmo.

━ Vou esquecer de ferver a água.

━ Excelente ━ Draco falou, sentando-se em uma cadeira da cozinha.

Granger transfigurou um vaso de vidro. O buquê esvoaçante e brilhante foi


colocado em lugar de destaque na bancada da cozinha. Seu gato pulou ao
lado dele e tocou as pétalas em movimento com uma pata curiosa.

━ Encantador! ━ Granger disse. ━ Vou ter que descobrir como enfeitiçá-lo


para me seguir, dependendo do quarto em que estou, para que eu possa
olhar para ele o tempo todo.
━ Vou informar minha mãe. Isso a lisonjeará.

Granger descobriu o envelope.

━ Devo ler a carta dela agora ou mais tarde?

━ Mais tarde, por favor ━ ele pediu. ━ Já ouvi o suficiente sobre seu alívio
por seu filho ainda estar vivo.

Granger colocou a carta de lado.

━ Ela quer que você saia do negócio de Auror, sabe. Está bastante
desgostosa com isso.

━ Eu sei. Ela nunca amou isso para começar. O incidente de Nundu é o mais
perto que cheguei de morrer no trabalho. Um choque para ela.

Granger, que estava tocando ociosamente os jacintos do beija-flor, virou-se


para ele com uma careta de culpa.

━ Eu me sinto terrível sobre isso.

━ Você? Por quê? Você me salvou.

━ Sim, mas se eu não tivesse frustrado sua primeira tentativa de pegar


Talfryn, nada disso teria acontecido.

━ Verdade ━ Draco concedeu. Então acrescentou: ━ Eu gostaria de um


pedido de desculpas de sua lontra.

O olhar de Granger era uma mistura de incerteza e diversão. Ele sustentou o


olhar dela com uma sobrancelha erguida.

Granger suspirou, então pegou sua varinha e lançou o Expecto Patronum.

Sua lontra flutuou para Draco e parecia tão arrependida quanto uma lontra
poderia.

━ Sinto muito ━ disse.


━ Você está perdoada ━ Draco falou com grande benevolência.

A lontra revirou os olhos, me poupe, e depois desapareceu.

━ Criatura de merda ━ Draco disse. Ele se virou para Granger. ━ Lembre-se,


se você não tivesse estragado minha primeira tentativa, eu só teria pego
Talfryn. Acabamos algemando vinte bandidos. Talvez isso se equilibre.

━ Vinte? Tonks deve estar muito satisfeita.

━ Ela está. Até se ofereceu para me dar a escolha da ninhada para minha
próxima missão, como recompensa... e para me tirar dessa missão de
proteção.

A última parte que Draco acrescentou em conversa, por uma espécie de


curiosidade, para ver se Granger reagiria de alguma forma interessante às
notícias.

Granger, que estava ocupada com as coisas do chá, acalmou-se.

━ Sério?

━ Sim.

Ela ligou a chaleira; estava de costas para Draco, mas havia uma tensão em
seus ombros.

━ E? O que você disse?

━ Eu disse não.

Seus ombros se soltaram.

━ Ah, é mesmo? ━ ela disse com indiferença estudada.

━ Sim. Você está satisfeita? Eu não posso dizer.

Granger se virou. Seu rosto estava cuidadosamente neutro.


━ Eu acho que é uma boa notícia ━ respondeu, dirigindo-se a um espaço em
algum lugar acima da cabeça de Draco. ━ Eu não vou ter que me acostumar
com outra pessoa aparecendo em todas as horas, você sabe. E, além disso,
você é... você é muito bom. No que você faz. Não que eu ache que seus
colegas não poderiam fazer um trabalho tão bom.

Eles foram interrompidos pelo gato pulando da bancada para o colo de


Draco.

━ Er... ━ Draco disse.

Granger parecia confusa.

━ Bichento, o que você está fazendo, seu tolo? Você vai deixar o pêlo todo
em cima dele.

Como se tivesse sido lembrado desse imperativo central em sua vida, o gato
deu alguns passos em direção ao peito de Draco e esfregou-se contra suas
finas vestes pretas. Sua cauda passou por baixo do queixo.

━ Isso é... isso é ronronar? ━ Draco perguntou, sentindo um poderoso


estrondo emanando do gato.

━ Oh sim. É mensurável na escala Richter, quando ele faz isso.

━ Posso acariciá-lo ou ele vai morder minha mão?

━ Você pode tentar ━ ela respondeu, embora houvesse dúvida em sua voz.

O gato permitiu um breve arranhão sob o queixo. Então subiu no peito de


Draco, em seu ombro e em sua cabeça, que serviu como ponto de partida
para uma prateleira acima. Ele se instalou, como um pão, entre um pote de
farinha e algumas ervas secas, e o observou com seus olhos amarelos.

Draco arrumou seu cabelo, que nunca tinha sido usado de forma tão
vergonhosa.
━ Esqueci de esquecer de ferver a água ━ Granger falou, servindo o chá em
duas canecas fumegantes. ━ E você... você está satisfeito? Eu sei que a
tarefa de proteção não era o resultado preferido para nenhum de nós. Estou
bastante surpresa que você decidiu mantê-lo.

Draco mexeu leite em seu chá, o que lhe deu tempo para pensar em uma
resposta agradável e neutra.

━ Eu não passaria meu anel de família para outro Auror... que é a única
maneira de manter a proteção minimamente intrusiva para você.

━ Oh sim. Isso é muito apreciado.

━ E... acho que gostaria de ver a coisa até o fim ━ Draco disse. ━ Agora que
cheguei até aqui.

━ Um finalizador.

━ Ocasionalmente.

━ O fim pode estar muito longe. ━ Granger o observava enquanto tomava o


chá com uma espécie de ansiedade velada. ━ Mais seis meses, se tudo
correr bem.

Draco deu de ombros.

━ É julho. O que são mais seis?

━ Já se passou meio ano?

━ Sim. Eu aceitei a missão em janeiro.

Granger apoiou o queixo na mão. Ela parecia pensativa.

━ Seis meses inteiros. Para onde foi o tempo? E só tentamos nos matar duas
ou três vezes. Estamos indo bem.
━ Sua última tentativa foi a mais bem sucedida até agora ━ Draco disse com
um gesto em seu pescoço.

━ Se isso tivesse sido de propósito, você estaria morto, eu lhe garanto ━


Granger respondeu.

━ Como você curou isso? Mamãe disse que você fez coisas trouxas.

Granger olhou para ele como se estivesse decidindo quanto emburrecimento


seria necessário em sua explicação.

━ Então. Assim que você mencionou que havia um Nundu em solo inglês,
pensei que seria útil fazer um pouco de pesquisa.

━ Claro que você pensou.

━ Nenhum hospital mágico no Reino Unido, nem em toda a Europa, está


equipado para lidar com o veneno de Nundu... muito menos o velho St.
Mungus. Eu não achava que algo iria dar errado, necessariamente, mas eu
sabia como estaríamos terrivelmente despreparados, se algo desse errado.
Então eu tinha uma amostra de veneno importada.

Draco estreitou os olhos.

━ Essa amostra chegou quando eu estava em seu escritório?

━ Sim.

━ Projeto de estimação a minha bunda.

━ Foi um projeto de estimação. Por tudo que eu sabia, não estava indo a
lugar nenhum. Afinal, não há antídoto conhecido.

Granger, que estava sentada à mesa, se afastou dela, acenou com a varinha e
começou a se aquecer para a palestra. Diagramas, frascos e moléculas
ganharam vida ao seu redor.
Arte de tirar o fôlego por nikitajobson
━ O veneno de Nundu é uma potente neurotoxina conhecida como
Alorectina, esta roxa. Quando eu estava lendo sobre seus efeitos, eles
pareciam quase idênticos a uma biotoxina não mágica chamada Fenitoxina,
aquela laranja. É um veneno predatório. Fiz um trabalho de laboratório para
confirmar a sinonímia.

━ Uma mancha de trabalho de laboratório?

━ Meu laboratório está extraordinariamente bem equipado para investigar


essas coisas. E eu estava curiosa. Foi notavelmente próximo... são quase
indistinguíveis. Essas toxinas operam, para simplificar terrivelmente,
bloqueando os canais de sódio nos nervos motores. Eles podem causar
paralisia motora quase completa e parada respiratória em poucos minutos
de uma dose.

━ Um dos magizoologistas nos disse que um único miligrama de veneno


Nundu pode matar um adulto em poucas horas.

━ Correto. Você tem sorte que sua equipe o levou ao St. Mungus tão rápido
quanto eles. De qualquer forma, existem protocolos experimentais de
tratamento trouxa estabelecidos para Fenitoxina e, bem, dado que era isso
ou sua morte iminente, eu os administrei. Neostigmina, inibidores da
colinesterase, agonistas alfa-adrenérgicos.

Granger conjurou mais diagramas para a edificação de Draco. Então, uma


pequena figura que o representava surgiu, completa com cabelos louro-
brancos.

━ Não é um antídoto, tecnicamente, mas seu corpo pode antagonizar


repetidos desafios de Alorectin até que o veneno se decomponha e seja
excretado do seu sistema.

Agora o pequeno Draco estava suando e...

━ Ele está fazendo xixi? ━ Draco perguntou.

━ Sim ━ Granger respondeu.


Uma pequena enfermeira passou e deu um tapinha na cabeça do pequeno
Draco. Ele se levantou e fez uma pequena dança de alegria. Então ambos
desapareceram da existência.

Uma molécula de Alorectin girando lentamente ainda brilhava em violeta


ao lado de Granger. Seu dedo estava em seu lábio enquanto ela o estudava.

━ Mais uma fascinante interseccionalidade entre as abordagens terapêuticas


Trouxas e Mágicas. Esses intermediários são lamentavelmente
inexplorados. Mas, bem, há apenas um eu. Ainda... você pode imaginar um
antígeno artificial para combater o veneno de Nundu? Um soro antitóxico?
Serviria a ambos os mundos...

Ela adormeceu em pensamentos. Então ela piscou, parecendo lembrar que


Draco estava na sala, e voltou para sua cadeira.

━ Deixei notas para um protocolo de tratamento no St. Mungus. Eles vão


compartilhar com nossos colegas na Tanzânia. No entanto, minha esperança
é que o envenenamento de Nundu em solo inglês continue sendo uma
ocorrência rara.

━ Você realmente é outra coisa ━ Draco disse, observando-a com o queixo


apoiado nos nós dos dedos.

Granger ergueu os olhos de sua caneca e pegou seu olhar.

━ Pare de me olhar assim.

━ Como o quê? ━ ele perguntou, suavizando ainda mais os olhos e


permitindo que um vago sorriso surgisse em suas feições.

━ Como se você estivesse todo... todo deslumbrado.

━ Por que?

━ Isso me desestabiliza.

━ Não está todo mundo deslumbrado por você?


━ Sim, mas com você, é perturbador.

━ Mas estou deslumbrado. Hipnotizado, até...

Granger deu a ele um olhar irritado.

━ Professora.

Com um som de irritação, Granger se levantou e foi encher sua caneca.

Draco pensou que ela parecia nervosa. O que era interessante.

━ De qualquer forma, você vai entrar para a história como o Auror que
lutou contra um Nundu e sobreviveu ━ Granger falou sobre o som da água
caindo.

━ Sinto que devo receber um troféu. Ou uma placa. ━ Draco pausou, então
acrescentou: ━ Não... se alguém está recebendo placas, deveria ser você. Eu
realmente não fiz nada além de entrar em um fluxo de veneno fresco da
fonte.

━ Tenho tantas placas que não faço ideia do que fazer com elas. Um
espertinho uma vez chamou minha coleção de mosaico, você sabe.

━ Que observação inteligente e divertida ━ ele falou.

━ Ele também achou.

Tendo aparentemente decidido que o olhar enervante de Draco havia


diminuído o suficiente, Granger voltou para a mesa.

━ Devo perguntar se você tem órfãos ou outras causas nobres para apoiar.
Minha mãe e eu desejamos adicionar nossa considerável influência a
qualquer questão que esteja próxima e querida ao seu coração.

━ Isso é totalmente desnecessário ━ Granger disse com uma determinação


que teria ofendido Narcisa. ━ Eu estava apenas fazendo o meu trabalho.
━ Resposta errada. Pense em algo.

━ Organize um estande de informações Meio-Amasso.

━ Seja séria.

Granger olhou para ele, viu que ele estava falando sério, e suspirou.

━ Reitero que estava apenas fazendo meu trabalho.

━ Certo. Mas talvez "um pouco acima e além" ━ Draco disse, ecoando os
sentimentos de Granger em um vestíbulo distante.

━ Pss.

━ Não? De jeito nenhum? Com aquele pouco de pesquisa extracurricular ao


lado?

━ Talvez um pouco ━ Granger falou, segurando um sorriso. ━ Vejo que


tenho que vigiar minha língua com você, para que minhas próprias palavras
não sejam usadas contra mim.━

━ Da mesma forma ━ Draco falou, porque era verdade. ━ Então, o que vai
ser? Teremos o maior prazer em contribuir para o seu fundo de pesquisa.
Disseram-me que é muito caro administrar um laboratório.

━ Faça uma contribuição para o St. Mungus, melhor dizendo. Se você


quiser.

━ Não para sua própria pesquisa?━

━ Não. Faria um bem mais imediato no St. Mungus, eu acho.

━ Alguma ala em particular?

Granger parou para pensar.

━ Que tipo de quantia os generosos Malfoys têm em mente?


━ Grande ━ Malfoy falou. ━ Você salvou minha vida.

━ Quantifique "grande".

━ Você descobrirá.

Granger estreitou os olhos para ele.

━ Então, por favor, encaminhe para a ala Janus Thickey para os residentes
de longa data do hospital. Está terrivelmente velha e suja.

━ Feito.

━ Como comentário geral, seria bom se houvesse mais janelas.

━ Tudo bem.

━ Mais suítes privadas também. Um estúdio para se exercitar. Um piano.


Uma pequena biblioteca. Uma piscina?

O item final foi proposto com uma espécie de hesitação questionadora.

Draco levantou uma sobrancelha para ela.

Granger ergueu as mãos.

━ O que? Você disse grande e não definiu.

━ Prometo que minha definição de grande não vai decepcionar.

━ Vou reter o julgamento até ver algo concreto ━ Granger disse.

━ Eu sei... você prefere provas concretas.

━ Exatamente.

Eles se olharam.

Então Draco perguntou:


━ Ainda estamos falando sobre dinheiro?

━ Obviamente ━ Granger respondeu, parecendo afetada. Por um momento,


ele pensou ter visto o fantasma de um sorriso, mas se estivesse lá, ela o
dominou rapidamente.

━ Eu anotei todos os seus pedidos ━ Malfoy disse. ━ Exceto a maldita


piscina; acho que eles não têm o local. Para que diabos você quer uma
piscina? Quer um mergulho entre os pacientes?

━ Não para mim ━ Granger falou. ━ A hidroterapia é maravilhosa para


muitas doenças... dores crônicas, exercícios pós-operatórios, tratamento de
danos nos nervos ou lesões na coluna. E para os residentes de longo prazo
com descondicionamento significativo, é uma maneira brilhante de trazê-los
de volta à atividade física, mas com cuidado. Eu sei que estou sonhando.
Mas você disse grande.

Agora Granger caiu em um devaneio, seus pensamentos distantes, em


algum não realizado na Ala Janus Thickey, onde pacientes alegres
dançavam em um estúdio de exercícios, tocavam piano e faziam mergulhos
de cisne em piscinas. Ela estava com os olhos estrelados, as mãos cruzadas
sob o queixo, um sorriso nos lábios.

Ela nem mesmo aceitou a oferta de financiar sua própria pesquisa. Ela tinha
que ser tão boa? Tão caridosa? Tão pura?

Em um momento tão epifânico quanto surpreendente, Draco percebeu que


não era ele, ou qualquer outro puro-sangue, que era puro. Granger era mais
pura do que eles em todos os aspectos que importavam. Do coração e da
mente. Em propósito. Nenhuma árvore genealógica ou casamentos
complicados ou tapeçarias, apenas pureza de intenção.

Ele olhou em volta, meio que esperando que uma manada de unicórnios
descesse sobre sua cabana para ser acariciada por ela.

━ Embora, francamente, neste momento, até mesmo uma nova camada de


tinta e um Feitiço de Torcida na curandeira Crutchley seria uma grande
melhoria ━ ela disse, voltando ao presente. ━ Eu deveria emboscá-la e fazer
isso sozinha.

Ela notou o olhar silencioso de Draco.

━ O que?

━ Esperando os unicórnios chegarem ━ ele respondeu.

━ Os unicórnios?

━ Nada ━ disse. ━ Deixa para lá.

Granger se levantou para levar as canecas vazias para a pia, olhando-o por
cima do ombro com suspeita. Draco também se levantou, para trazer as
colheres, mesmo que pudesse levitar com a mesma facilidade. Mas ela
estava fazendo à mão, e ele estava em sua casa, então ele fez o que ela fez,
e isso não era uma desculpa para ficar perto dela.

Concluído este belo raciocínio, Draco procurou um novo tópico de


conversa.

━ O livro acabou sendo útil?

Foi uma escolha extremamente bem sucedida.

━ Sim! ━ Granger bateu palmas. ━ Foi!

━ Bem, estou contente...

Ele havia destrancado uma comporta de entusiasmo. Granger o arrastou


para a sala da frente antes que ele pudesse terminar sua frase. A nova cópia
de Revelações estava em um pedestal, coberta por feitiços de estase e um
pequeno estoque de proteções de alarme.

Agora Granger falava com entusiasmo rápido.

━ Você viu como minha própria cópia estava danificada (não minta, eu sei
que você viu)... eu tinha talvez trinta por cento do texto em sua forma
integral. Consegui fazer certas inferências educadas, mas logo chegaria a
um beco sem saída.

Ela acenou para longe dos feitiços, lançou algum tipo de protetor em sua
mão e abriu o livro.

━ Nesta cópia, a segunda metade está quase completamente intacta. Olhe.


Olhe! Espetacular. Nunca sonhei que existisse outra cópia, ou que estivesse
tão bem preservada. Ter tudo à minha disposição foi um presente. Um
presente! Eu não posso agradecer o suficiente! Eu poderia apenas... eu
poderia espremer a vida fora de você. ━ Ela terminou, torcendo as mãos em
vez disso.

As palavras saíram da boca de Draco antes que ele pudesse detê-las.

━ Você pode, sabia.

━ Eu posso o quê?

━ Espremer a vida fora de mim.

Ele não esperava a força de seu lançamento. Ela pulou para alcançar seu
pescoço, trancou os braços ao redor dele e o apertou em um abraço de
sincera gratidão. Ele passou um único braço educado ao redor dela – para
manter o equilíbrio, ou algo assim. Ela cheirava a chá e açúcar e se sentia
deliciosa contra ele.

━ Um dia ━ ela começou, em algum lugar em seu pescoço ━ eu vou te


explicar porque isso importa tanto.

Draco esperou que sua língua lhe fornecesse uma resposta espirituosa, mas
se viu experimentando um vazio lexical absoluto. Nada espirituoso estava
por vir. Nada imprudente, também. Ele estava tão bom quanto atordoado.

Ele cometeu um erro tático ao olhar para baixo, e então viu seus olhos
calorosos, e seu sorriso, e oh não. Agora ele queria envolver seus braços ao
redor dela – realmente, não essa coisa meio bunda que ele tinha – e levantá-
la. Fazer um abraço de verdade, uma coisa de corpo inteiro, contato frontal
completo, era isso que ele queria. E talvez a depositar no encosto do sofá;
parecia o tipo certo de altura. E então, outras coisas.

Ele não fez essas coisas. Porque ele não era um idiota. E ela fugiria
gritando. E provavelmente daria um tapa nele. Era Granger.

Granger, satisfeita com o aperto dela, o soltou e voltou para o livro,


totalmente imperturbável, enquanto Draco permanecia sem palavras como
um cretino de língua presa.

Ela voltou para sua entusiasmada visita guiada ao tomo, apontando para
algumas marcas ao longo das bordas das páginas.

━ Mesmo a margem está intacta... são algumas centenas de anos de


comentários, você sabe. Camadas e camadas dele. Fascinante. Olhe. Olhe.
Malfoy, você não está olhando.

━ Estou olhando ━ ele disse.

Ele era um mentiroso; ele estava flutuando em algum lugar nos confins do
universo em um torpor feliz.

Granger continuou sua demonstração.

━ As iluminações nesta página são realmente suntuosas. Você acha que é


folha de prata de verdade?

━ Er... pode ser.

Sua corrente sanguínea estava repleta de hormônios do bem-estar. Ele tinha


treze anos e uma menina o abraçou. Havia um vira tempo em andamento.
Era disso que se tratava. Não havia outra explicação para estar tão
estupidamente tonta com um único abraço estúpido.

━ Linda! ━ Granger disse, apontando para outra iluminação, um dragão


verde. ━ Isso é da lenda de São Jorge. E há a cruz dele... a parte vermelha e
branca.
━ Certo.

Granger parecia sentir que ela havia perdido a atenção do público. Com um
pequeno suspiro feliz, ela fechou o livro.

━ Eu quase terminei de digitalizar a coisa toda. Então mandarei esta cópia


para a biblioteca do Corredor King. A bibliotecária chefe cairá da cadeira.
Eu ia oferecê-lo em seu nome.

━ Faça um presente conjunto, sim ━ ele falou.

━ Feito ━ ela falou. Acenou com o feitiço de estase ao redor do tomo de


volta à vida. ━ Vamos dar à bibliotecária-chefe outra razão para cair da
cadeira.

━ Como assim?

━ Nossos nomes? Juntos? Em um presente?

━ Ela vai pensar que um de nós perdeu uma aposta.

━ Deixe ela. Melhor do que a verdade lúgubre sobre chantagem e


reparações pelas fantasias de enfermeira de McLaggen.

Draco fez uma careta.

━ Pelo menos Malfoy-Granger tem um tom decente para isso.

━ Perdão? Seria Granger-Malfoy, se fosse alguma coisa. Alfabética...

A frase de Granger sumiu quando ela tentou abafar um grande bocejo.

Draco entendeu a dica.

━ Eu deveria ir.

━ Desculpe ━ ela disse, bocejando novamente. O acompanhou até a porta. ━


Completamente cansada.
━ Você parece.

━ Encantador. Obrigada.

Draco poderia ter falado uma verdade secreta sobre como a fadiga de
alguma forma se tornou ela. Como as manchas sob seus olhos falavam do
trabalho incansável de uma mente brilhante. Como sua trança casual parecia
encantadoramente ingênua e convidava o jogo de dedos entre gavinhas
escapadas.

Ele poderia. Ele não disse. Ele não era estúpido.

Granger abriu a porta da frente. Draco passou por ela para sair com um
roçar fugaz de seu braço contra seu ombro. Ele entrou na noite banhada
pela lua de julho, doce com o aroma pleno do verão.

━ Alguém já lhe disse que você pode estar se esforçando demais? ━ Draco
perguntou.

━ Já. Nem uma hora atrás, no bar.

━ Bom.

━ Harry e Rony colocaram você para reforçar a mensagem deles? Ou


Neville? Gina?

Draco zombou.

━ Eu não serviria como mensageiro deles. Estou feliz que eles notaram e
não são amigos completamente inúteis.

━ Ah, porque você e seus amigos são a quintessência do amor e apoio


altruístas ━ Granger disse, levantando uma sobrancelha para ele.

━ Paradoxos absolutos, Granger.

━ Tss.
Ela estava emoldurada pelo brilho dourado do chalé atrás dela, luzes suaves
e um fogo na lareira. Sua sombra cintilou na varanda. A sombra de Draco
era mais escura, projetada por trás, uma sombra da lua cruzando
delicadamente com a dela.

Ele observou o fio e o desenrolar de suas sombras enquanto Granger se


inclinava.

E foi uma coisa estranha, porque ela estava cansada, e ele estava saindo, e
ainda assim, parecia que ambos estavam demorando.

Ele queria ficar. Era gostoso ficar. Ficar sob as glicínias desbotadas,
observando suas sombras se misturando e brigando por coisas sem
importância. Havia algo terrivelmente precioso nisso. Talvez porque fosse
desnecessário. Foi por prazer. Foi apenas isso.

Ele a observou por um tempo, por um sinal de impaciência, mas não havia
nenhum. Apenas um quadril contra o batente da porta, um braço preso
frouxamente em sua cintura. Ela estava falando sobre sua mãe agora,
pedindo-lhe para dizer a ela que ela adorava as flores. Ele disse algo em
troca, algo que ela pudesse responder, para continuar a prolongar o
momento.

Ela riu de alguma coisa. Seus olhos se encontraram. Draco se sentiu


confuso e vago. Era a anestesia de novo, a sensação do mundo em fluxo,
um giro lento. Granger estava colhendo preguiçosamente alguns fios de
glicínia. Ele perguntou se essa era a extensão de seu arranjo de flores. Ela
disse que sim, ele ficou impressionado? E passou-lhe o buquê caído.

Ele disse que era a coisa mais linda que ele já tinha visto. Ele estendeu a
mão para pegá-lo. Ele puxou os dedos contra os dela.

Em suas veias, não sangue, mas leveza.

Seu toque provavelmente demorou muito. Ele se perguntou como chamar


essa coisa, esse roubo de olhares, toques e momentos. A vertigem
impetuosa impelida pelo mais platônico dos abraços. O querer estar perto.
Ele não era tolo o suficiente para chamar isso de amor, e era muito delicado
para a luxúria, mas também não era nada. Era algo.

Sim. A menos que ele estivesse muito enganado, havia algo entre ele e
Granger.

E isso não seria apenas uma catástrofe primorosa.


21. A Mortificante Provação
Começa

Boa tarde, amores!

Sumi por um tempinho beeeem menor dessa vez. Como eu disse, estou
voltando bem aos poucos enquanto me arranjo na nova rotina.

Vou postar esse por agora enquanto estou arrumando o próximo que tem
belíssimas dez mil palavras. Se conseguir, posto hoje.

Beijinhos e continuem engajando, comentando e favoritando os capítulos.

──── ◉ ────

Draco passou alguns dias agradáveis em um estado de prazer flutuante.


Nada poderia irritá-lo. Ele estava à deriva em pequenas nuvens felizes. Ele
não discutiu com sua mãe sobre quaisquer eventos que ela o forçou a
participar. Ele abraçou Zabini de todo coração quando o viu novamente. Ele
enfeitiçou um goblin de Gringotes, numa pequena violação de política. No
trabalho, ele cumprimentou Potter e Weasley tão agradavelmente que eles o
derrubaram no chão, convencidos de que ele estava sob a maldição
Imperius.

Foi então – com o rosto na axila de Potter – que Draco começou a perceber
que algo perigoso estava acontecendo. Algo impróprio para o Maldito
Draco Malfoy.

Então o bem-estar começou a diminuir e a razão começou a fluir. Draco,


com o rosto removido da axila perturbadoramente úmida de Potter, dedicou
uma quantidade considerável de tempo imaginando o que diabos havia de
errado com ele. Para ser honesto consigo mesmo – sensação desagradável –
foi o Algo com Granger. Era uma coisa que ele estava cultivando há
algumas semanas. Talvez alguns meses.

Quando começou? Ele não tinha certeza. Houveram, agora que ele estava
olhando para trás e abordando objetivamente, certos momentos cruciais.
Talvez quando eles dançaram. Talvez em Provença. Talvez quando ela
tocou em sua Marca, cheia de cicatrizes. Talvez quando ela se colocou em
um esgotamento mágico para resgatá-lo de uma ameaça inexistente no
campo de Quadribol. Ou quando ela o chamou de força em sua análise
SWOT. Pode ter sido quando ela ficou loucamente entusiasmada com o
musgo. Ele não sabia. Tinha sido gradual e lento e facilmente ignorado.

No entanto, o Algo de qualquer tipo entre ele e Granger era perigoso e


inaceitável. À parte as questões óbvias – medonhas, intransponíveis – de
sua história e bagagem e antagonismo geral, ela era sua protegida, e Algo
era estritamente proibido entre aurores e seus protegidos. Atração era uma
coisa, mas sentimentos (se ele fosse dar um nome ao Algo) eram uma
violação do Código de Conduta – e do bom senso. Draco quebrou muitas
regras, mas esta não era uma que ele estava disposto a desrespeitar. Os
sentimentos nublariam o julgamento e colocariam em perigo tanto o auror
quanto o protegido. Era desleixado. Era negligente.

E, além disso – além disso! – Draco detestava sentimentos. Eles eram uma
irritação e uma distração na melhor das hipóteses e uma vulnerabilidade
hedionda na pior. Ele havia se esquivado com sucesso de sentimentos em
todos os seus envolvimentos com o sexo frágil, incluindo no seu noivado
com Astoria. Era um bom hábito a ser cultivado. Mantinha as coisas limpas
e arrumadas. Mantinha ele invicto e livre.

E agora ele os tinha. Permanecer na porta de Granger e se perder em seus


olhos entre as glicínias abriu uma monstruosa caixa de Pandora deles.
Sentimentos. Leves, mas ainda assim. Pensamentos. Devaneios. Eles se
aproximaram dele quando ele menos esperava, quando ele estava tomando
café da manhã, ou prendendo um bruxo das trevas, ou se esquivando de um
balaço. Eles não tinham absolutamente nada que estar em sua cabeça, e
ainda assim estavam.
Ele suspirava melancolicamente aproximadamente duzentas vezes por dia.
Ele relembrou as memórias de velhas conversas com Granger, aquelas idas
e vindas que às vezes eram brincadeiras fáceis e às vezes o cruzamento de
espadas. O cheiro de rosas deixava ele com o olhar apaixonado e estúpido.
Ele sonhava acordado com os beijos em suas bochechas e a delícia do
abraço. Quando ele acordou duro, ele pensou em Granger fazendo outras
coisas ━ imagens vívidas das quais ele não se orgulhava, depois, mas, foda-
se, elas eram fáceis de ter.

Ele checava seu Bloco por mensagens perdidas de Granger diariamente.


Patético. Ele procurou razões estúpidas para contatá-la. Também patético.
Ele prestou mais atenção ao anel do que de costume. Ainda mais patético.
Ele resistiu ao desejo de verificar sua agenda e aparecer onde ela estava,
mas o fato de que ele teve vontade, em primeiro lugar, já era terrivelmente
patético.

O pateticismo abundava desde a noite sob as glicínias. Isso precisava de


imediata retificação.

Draco convocou uma reunião de emergência com Theo.

Eles se encontraram na propriedade de Nott, alguns dias após a enrolação


na porta de entrada entre Draco e Granger. Draco fez uma figura dramática
enquanto andava pelo salão, vestes pretas flutuando atrás dele. Ele tinha,
neste ponto, virado uma pilha de nervos.

Enquanto isso, Theo, sendo um sujeito ocioso (diferente de Draco, que era
um campeão de diligência) estava reclinado em uma cadeira, com um copo
na mão. Sendo inútil, como sempre.

━ Se você me dissesse quem ela é, talvez eu pudesse aconselhá-lo melhor ━


disse Theo.

━ Eu não quero o seu conselho.

━ Então o que você está me pedindo?

━ Eu quero... eu preciso... eu não sei... um balde de água fria no rosto.


Theo agitou sua varinha. Um balde, cheio de água gelada, foi conjurado.
Draco o interrompeu.

━ Não literalmente, seu idiota absoluto.

Theo parecia sobrecarregado.

━ Você está me dando mensagens terrivelmente confusas. Eu só quero


ajudar.

━ Eu preciso de uma poção anti-amor. ━ Draco parou abruptamente. ━ Isso


existe? Uma poção de ódio.

━ Quem queremos odiar? ━ Theo perguntou. ━ Nós não odiamos todo


mundo, de qualquer maneira?

━ Nós odiamos. Exceto ela. Mas eu preciso odiá-la. Bem... talvez não ódio.
Desgostar. Ou... ou melhor, continuar a me incomodar com ela. Não gostar
dela, em todo caso.

Theo tomou um gole de seu vinho.

━ Por que?

━ Porque eu sou o Maldito Draco Malfoy e eu não tenho malditos doces


emaranhados emocionais com... com a maldita...

━ Quem?

━ Ela.

━ Talvez você devesse. Você pode achá-los mais espiritualmente


enriquecedores do que sua foda rápida usual.

━ Não preciso de enriquecimento espiritual.

━ Mmm. Discordo.

Draco zombou, andou um pouco mais, então passou a mão pelo cabelo.
━ Isso é ruim.

━ Quão ruim? ━ Theo perguntou.

━ Ruim. Sonhando acordado. Sonhando acordado. Eu!

━ Ooh ━ disse Theo com uma contorção de prazer. ━ Conte-me sobre os


sonhos.

━ Não.

━ O tipo de sonho "Eles estão se beijando ao luar"? Ou fantasias safadas


dela na cama? Ou – suspiro! – casamentos e filhos?

━ Cale-se.

━ Todas as opções acima, então ━ disse Theo. Ele comeu uma uva e parecia
satisfeito.

━ Nenhuma delas. Vai se foder. ━ Draco foi para um canto da sala, ficou
parado por um momento, e então caminhou de volta para Theo. ━ Há cem –
mil – razões pelas quais eu não deveria ter nenhum desses sentimentos.

━ Enumere as razões.

━ Não.

━ Mas eu quero saber se elas são válidas.

━ Você adivinharia quem ela é em um momento. Não.

━ Já adivinhei ━ disse Theo. ━ Agora é só uma questão de confirmar minha


teoria.

━ Qual é a sua teoria? Na verdade, não quero saber. Não responda.

━ Você está ocluindo? ━ Theo perguntou.


━ Sim.

━ Para com isso. Eu não sou um Legilimens.

━ Fica mais fácil pensar sobre essas idiotices sem – eurgh – sentimentos.

━ Ela te faria feliz?

━ Não. Mal podemos suportar a visão um do outro. Somos


fundamentalmente incompatíveis.

Theo pressionou as mãos no peito.

━ Ah, isso é delicioso. Muito mais interessante do que seus contos sórdidos
habituais. Os top três, pelo menos.

━ Desculpe, não percebi que ranqueamos meus casos.

━ Nós ranqueamos. ━ Theo comeu outra uva. ━ Por pura curiosidade


intelectual, ela faria sua mãe feliz?

Draco parou e pensou por um momento. Por fim, respondeu:

━ Eu não tenho a menor ideia.

━ Hum ━ disse Theo. ━ Isso enfraquece minha teoria.

━ Bom.

Draco retomou sua caminhada agitada pelo salão. Suas vestes rodopiantes
acertaram a garrafa de vinho de Theo e ela se estilhaçou contra uma parede.

Theo assobiou.

━ Você tem sorte de eu ter bebido a maior parte disso. Está envelhecendo
desde que eu era uma espécie de zigoto. E agora olhe para isso –
encontrando seu fim porque Draco Malfoy tem uma queda por alguém.

Draco sumiu com os cacos de vidro.


━ Não é uma queda.

━ Então, o que é?

━ Está bem. Bem. É uma maldita queda.

━ Quando você a verá novamente?

━ Não sei. Eu não quero. Acho melhor não vê-la. Deixar isso passar.

━ A ausência faz o coração ficar mais afeiçoado ━ disse Theo.

━ Então o que você sugere? Não quero vê-la novamente. Eu serei apenas
um tolo de olhos apaixonados tentando encontrar desculpas para colocar
flores no cabelo dela.

━ Eu diria para encontrar outra pessoa para distraí-lo, mas tenho a sensação
de que essa foi sua primeira linha de ataque e um fracasso miserável.

Irritou profundamente Draco que Theo estivesse certo.

━ E como você sabe disso?

━ As palavras correm. Você dispensou um grande número de bruxas nos


últimos meses, sabia. Sentimentos foram feridos.

━ Ah.

━ Aparentemente, você se tornou exigente. Alguns estão culpando Narcissa


por controlar você. Alguns estão especulando que você começou a procurar
uma esposa. Luella sugere impotência de início súbito.

━ Bruxa encantadora, aquela.

━ O que devo dizer, da próxima vez que ouvir seu bom nome sendo
manchado?

━ Minha mãe de fato dará uma desculpa conveniente.


━ Feito. ━ Theo conjurou outra garrafa de vinho e a colocou longe de
Draco. ━ Você não vai tomar nada? Ou o ritmo dramático é sua opção de
escolha hoje à noite?

━ Eu não posso, disse Draco. ━ G... minha Curandeira disse que eu tinha
que ficar sem bebida por quinze dias. Eu tenho que esperar até terça-feira.

━ Pobrezinho. Eu tomo uma por você, então. E me conte sobre sua


Curandeira. Era Granger, não era? Aparentemente, foi um golpe bastante
científico, o que ela fez, salvando sua pele.

━ Era. ━ Draco se esforçou para parecer indiferente. ━ Ela tentou explicar,


mas não posso fingir que entendi uma palavra. Métodos trouxas, você sabe.
Meus olhos ficaram vidrados.

━ Você deve ser grato a ela.

Draco olhou para Theo, mas Theo parecia estar seguindo essa linha de
investigação inocentemente.

━ É claro. Estarei fazendo uma contribuição para o St. Mungus em


agradecimento.

━ Vocês ainda estão trabalhando juntos?

━ Sim ━ disse Draco. ━ Aonde você quer chegar com isso?

━ Em nenhum lugar ━ disse Theo. ━ Só ouvi dizer que ela é extraordinária.

━ Certo.

━ Eu deveria convidá-la para minha próxima festa ━ Theo refletiu. ━


Apresentar a todos a bruxa que salvou a vida do nosso Draco.

Draco, bastante certo de que estava sendo iscado, agora, apenas farejou.

━ Se você acha que uma Curandeira arrogante seria uma adição empolgante
ao grupo de sempre.
━ Eu acho que ela pode ser. E apenas pense: nós poderíamos ter dança e
chocar Luella com a visão de Granger se aconchegando em você...

Draco estava surdo para o resto da frase; suas funções cognitivas estavam
inteiramente ocupadas pela adorável noção de segurar Granger em seus
braços. Vestido aberto nas costas novamente, certamente. Verde estava bom.
Ou preto? Ela provavelmente seria uma visão em preto. E saltos que a
levariam à altura certa para...

Não. Porra.

━ Certo ━ disse Draco, rispidamente, para esconder sua imbecilidade de


fantasia. ━ Estou indo. Você provou ser bastante inútil.

━ Eu poderia ajudá-lo a obter alguma versão de uma poção de ódio. Mas


você sabe que seus efeitos seriam apenas temporários.

━ Como eu disse: inútil.

━ Eu acho que ela é uma bruxa de sorte, pessoalmente ━ disse Theo,


recostando-se em sua espreguiçadeira. ━ Quem quer que ela seja. Eu nunca
vi você desenvolver algo mais romântico por uma bruxa do que o desejo de
mamar em seus seios.

━ E você?

━ Eu amei e perdi ━ disse Theo com um suspiro trágico.

━ E mamou.

━ Oh, sim.

Draco pressionou os dedos nas sobrancelhas.

━ Preciso pular para a parte perdida e seguir com minha vida.

━ Se vocês dois estão em desacordo tanto quanto dizem, tenho certeza de


que ela logo o insultará de uma maneira imperdoável e apagará qualquer
chama que arde em seu peito. Nesta fase inicial, os sentimentos são
delicados.

━ Ela me chamou de monstro oportunista e eu quase a beijei.

━ Minha nossa.

━ Seus olhos estavam em chamas; ela estava a momentos de me estrangular.


Foi surpreendentemente excitante.

━ Oh, meu Deus... ━ Theo respirou. ━ Você está ficando lírico sobre os
olhos. Isso é perigoso.

━ É mesmo?

━ Terrivelmente. Você tentará sonetos a seguir. Então não será mais uma
paixão, será amor.

Draco estremeceu.

━ Puta merda, não.

Theo pousou o copo com grande firmeza.

━ Eu não vou ler seus poemas, se isso acontecer. Estou lhe dizendo agora,
eu me recuso. Eles serão horríveis para a alma.

━ Não haverá porra de poemas ━ disse Draco. ━ Talvez eu tenha que forçar
o meu caminho através disso. Quando surgirem pensamentos, simplesmente
anulá-los.

━ Anulá-los.

━ Sim.

━ Isso não me parece saudável, meu velho ━ disse Theo, descascando uma
uva. ━ Mas o que eu sei.
━ Nada, como esta conversa deixou bem claro. Estou indo. Não preciso
pedir que guarde isso para você.

━ Obviamente.

━ Eu deveria obliviar você, apenas por garantia.

━ Mas eu não vou me lembrar de como defendê-lo contra as calúnias de


Luella.

━ Bah ━ disse Draco, saindo do salão.

━ Dê meus cumprimentos a Hermione ━ disse Theo.

━ Vai se foder.

──── ◉ ────

Nas semanas seguintes, Draco ficou satisfeito consigo mesmo – o


anulamento funcionou. Sempre que sua mente se desviava para Granger, ele
redirecionava seus pensamentos violentamente para outras coisas.
Trabalhar. Investimentos. Jantares da sociedade. Veneno Nundu. Voldemort.
Tonks. Ele desenvolveu um verdadeiro arsenal de assuntos para lançar em
pensamentos suspeitos, incluindo memórias de olhos escuros, o roçar dos
dedos ou conversas fáceis na mesa.

Ele e Granger falavam pouco, com apenas um ocasional Bloco dela para
avisá-lo sobre sua participação em eventos públicos ou movimentos fora da
cidade. De Larsen não ouviu mais nada. Granger disse que o homem havia
se tornado distante e não parecia mais interessado em se encontrar com ela.
Draco tomou isso como uma boa notícia, embora o viking e seu interesse
em Granger ainda pesassem sobre ele. Ele casualmente adicionou a
descrição de Larsen à lista de Pessoas de Interesse dos Aurores, com uma
nota para contatá-lo diretamente, caso esse indivíduo fosse visto em solo
inglês.

Draco ficou confiante de que o Algo não era nada, afinal – um lapso
momentâneo de julgamento, uma paixão de verão esquecível.
Ele estava tão confiante – ou, talvez, ansioso para provar isso para si
mesmo – que quando Granger o avisou sobre seu próximo passeio de
asterisco, ele decidiu acompanhá-la.

Sério? Ela escreveu. É Hogwarts.

É assunto do projeto, Draco respondeu.

Tudo bem. Mas não me culpe se você morrer de tédio. Segunda-feira, 1 de


agosto, 16h, Hogsmeade.

Draco disse a si mesmo que sua expectativa para o encontro se devia apenas
ao fato de ser um final agradável e fácil para a programação de segunda-
feira, que consistia em uma visita ao St. Mungus, seguido por um local de
caça Necromante.

Assim, os dias finais de julho passaram e era o primeiro de agosto:


Lughnasadh.

Era uma segunda-feira tipicamente ofensiva. Era segunda-feira, mas não


precisava ser tão odiosa. De qualquer forma, Draco estava no St. Mungus,
preparando-se para visitar a ala Janus Thickey na hora repugnante das nove
horas.

Ele estava acompanhado por uma horda de administradores e membros do


Conselho do St. Mungus, todos os quais tinham ouvido notícias da visita do
Sr. Draco Malfoy ao local em preparação para uma Doação Substancial. A
multidão agitou-se e tagarelou arrogantemente sobre a emoção de visitar a
enfermaria enquanto subiam as escadas para o quarto andar do hospital.

Draco havia sido apresentado aos membros mais importantes da horda,


incluindo Hipócrates Smethwyck (um Curandeiro de boas maneiras e
recentemente nomeado chefe do St. Mungus) e alguns membros do
Conselho.

A excrescência conhecida como McLaggen até achou por bem agraciá-los


com sua presença. Draco apertou sua mão e perguntou como o velho estava
indo – concussões eram coisa séria, sabe. McLaggen era um pouco legal, e
ficou ainda mais legal quando soube, através da conversa geral, que a
doação de Draco resultou do trabalho extraordinário da Curandeira Granger.

━ Sim ━ disse Smethwyck. ━ Ela não é tradicional em algumas de suas


abordagens – e graças a Deus por isso, hein, Sr. Malfoy? A curandeira
Granger não foi nada além de um trunfo para o nosso hospital.

━ Não tradicional como? ━ Um membro do conselho questionou. Draco


pensou que seu nome poderia ser Penlington.

━ Ela é médica, além de curandeira ━ disse Smethwyck.

━ Você quer dizer um daqueles tipos trouxas charlatões? ━ Penlington


perguntou, seu bigode eriçado em alarme.

━ Sim ━ disse Smethwyck. ━ Mas ela também é uma Curandeira totalmente


qualificada, é claro. Suas notas no exame final superaram até as de
Gummidge...

━ Uma médica, você disse? Permitimos que eles pratiquem no St. Mungus?
Eu não fazia ideia, disse outro membro do conselho.

━ Os pacientes que ela atende sabem disso? ━ Outra pessoa perguntou. ━


Eles não deveriam ser informados?

Houve um farfalhar desconcertado geral entre a multidão. Draco sentiu que


alguns comentários depreciativos estavam fervendo – mas sutis, você sabe.
Os que sugeririam choque; mas, é claro, se a Curandeira Granger foi
autorizada a continuar aqui, deve estar tudo bem. É claro. Não era sobre ela
ser nascida-trouxa, nem nada, era apenas uma expressão de preocupação e
surpresa sobre a estranheza mágica de ter uma médica trouxa na equipe.
Que ela era uma curandeira bruxa totalmente qualificada era uma nota de
rodapé.

Draco conhecia as sutilezas. Ele costumava ser um grande mestre deles, em


círculos onde tais coisas não eram ditas, mas discretamente implícitas.
━ Estou vivo hoje graças às abordagens não tradicionais da Curandeira
Granger ━ disse Draco, sua voz cortando os murmúrios. ━ Se ela tivesse
mantido nossos métodos de cura, como os três curandeiros que me viram
antes de ela chegar, o tratamento consistiria em gritar que não havia
antídoto. E eu estaria morto.

━ Muito bem, muito bem ━ Smethwyck assentiu.

Draco virou-se para os membros do Conselho.

━ Foi a Curandeira Granger que me pediu para direcionar minha doação


para St. Mungus. Eu não tinha intenção de fazê-lo; eu ia aumentar os fundos
para seu empreendimento de pesquisa em Cambridge. Certamente espero
que vocês agradeçam a ela na próxima vez que a virem.

Houve um murmúrio de assentimento e muitos acenos. Alguns membros do


Conselho pareciam envergonhados, outros pareciam totalmente confusos
com essa defesa categórica de uma Curandeira com laços trouxas por Draco
Malfoy, de todas as pessoas.

McLaggen estava observando Draco, pensativo.

Uma perseguição perigosa.

Quaisquer outros murmúrios foram silenciados. Os membros do Conselho


eram todos empresários ou políticos; eles podiam sentir o cheiro do
dinheiro de Draco e se comportavam de acordo.

Por fim, chegaram ao quarto andar. Granger não havia exagerado o quão
suja era a enfermaria de cuidados de longo prazo. Enquanto caminhava pela
porta, Draco notou que o J e o T estavam faltando na placa, que proclamava
empoeirada:

anus hickey Ward

Draco o encarou gravemente.

Os membros do Conselho pareciam perturbados.


Smethwyck os acompanhou pela enfermaria, intercalando seu avanço com
detalhes sobre o número de leitos, de Curandeiros por paciente, o tempo
médio de permanência e outros fatos que teriam encantado Granger,
provavelmente (não que Draco estivesse pensando nela, porque ele estava
anulando).

Havia trinta camas de arame, todas separadas por divisórias de pano


encardido. Havia dois banheiros usados, mas limpos, equipados com vaso
sanitário e chuveiro. O chão era de ladrilhos gastos, por onde passavam
depressões rasas onde as pessoas mais passavam. Havia apenas uma janela
para mencionar, na extremidade da enfermaria, sob a qual algumas plantas
fibrosas lutavam bravamente.

O andar inteiro tinha um cheiro de esquecimento; algo como uma área de


armazenamento para coisas que não tinham mais uso, mas que não podiam
ser jogadas fora.

Os pacientes eram um grupo misto – alguns muito velhos, alguns jovens.


Cerca de metade foram vítimas da guerra, lutando com doenças residuais
que não podiam ser curadas. Até mesmo Draco foi movido por alguns
pensamentos de altruísmo ao ver os últimos: ele viu o menino Creevey
(agora um homem pequeno e apático), Lilá Brown (devastada quase além
do reconhecimento), Michael Corner (lutando contra as correias), Mitchell
alguma... coisa da Lufa-Lufa (falando para uma parede em voz baixa), e
outros que ele não conseguia nomear.

Outras camas tinham cortinas fechadas ao redor delas. Uma voz flutuou
atrás de um deles, suave, triste e familiar, mas Draco não conseguia
identificá-la. Uma criança respondeu.

Uma curandeira de rosto sombrio e seus ajudantes passaram de uma cama


para outra. Alguns dos pacientes tinham visitas. Eles olharam surpresos
para Draco e para a multidão incomumente grande e barulhenta ao redor
dele. Ele entendeu por quê; ele tinha a sensação de que aquela enfermaria
geralmente era um lugar quieto e abandonado.

Granger queria um piano.


O grupo terminou seu passeio e se reuniu na janela, que era facilmente o
local menos sombrio.

Smethwyck estava olhando para Draco com uma espécie de pavor,


esperando seu julgamento. No entanto, não era Smethwyck quem
controlava o dinheiro – era o Conselho. Foi essa coleção de homens
bigodudos que recebeu o peso da censura de Draco.

Ele manteve a voz baixa, mas suas perguntas foram afiadas: havia uma
razão pela qual o Conselho não considerava adequado injetar fundos nesta
ala desde, ao que parece, 1903? Por que os fundos para manutenção e
conservação não foram direcionados para cá? Eles foram desviados para
outro lugar? Muitos almoços e jantares da diretoria no Seneca, talvez? A
Diretoria não realizou visitas regulares ao hospital? Eles consideraram esta
ala aceitável? Por que esta parece ser a primeira vez deles aqui? Por que só
havia dinheiro suficiente para um curandeiro nesta ala, enquanto o café no
andar de cima oferecia chocolate quente Porcelana? Por que os valentes
sobreviventes da grande guerra tinham uma única janela e nenhuma
banheira? Por que, pelo amor de Merlin, eles não poderiam substituir o
maldito 'J' na porta da frente?

O grupo agora estava em poses variadamente humildes e culpadas.

━ Certo ━ disse Draco. ━ Podemos fazer melhor.

Ele se virou para Smethwyck.

━ Vou dar-lhe uma infusão substancial de dinheiro. Você entendeu?

━ Sim ━ disse Smethwyck.

━ Será o primeiro presente do hospital dessa magnitude.

━ T...tudo bem.

━ Será transformador.

━ Sim, Sr. Malfoy, obrigado...


━ Haverá cláusulas.

━ Cláusulas?

━ Cláusulas. Condições. Na contratação. Na reforma. Nas operações. E


haverá ━ Draco olhou para os membros do Conselho sombriamente ━
garantias para protegê-lo de ser reduzido.

━ Sim, Sr. Malfoy, claro...

━ Aqui ━ disse Draco, colocando um envelope grosso nas mãos de


Smethwyck. ━ Os detalhes e as condições. Você deve retornar para mim
com um plano.

━ Oh, excelente... maravilhoso... Sr. Malfoy, eu... como podemos agradecê-


lo...

━ Você não me agradece. Você agradece a Granger. É para ela.

Draco saiu a passos largos.

Olhares atônitos o seguiram até a porta.

Ele ouviu Smethwyck abrir o envelope.

Houve um suspiro seguido pelo que poderia ter sido o som de Smethwyck
caindo em um desmaio.
22. Lughnasadh; O Topo do Mundo

A tarde de segunda-feira consistiu principalmente em perseguir cadáveres


cambaleantes levantados por um Necromante em Slough. Draco
ocasionalmente tinha problemas para distinguir os cadáveres dos bons
cidadãos de Slough, mas isso é uma história para outro dia.

Ele chegou a Hogsmeade para encontrar Granger às quatro horas em ponto.


Ele achou a aldeia extremamente silenciosa. A maioria dos lojistas estava de
férias e os aldeões restantes haviam se retirado para dentro de casa para
evitar o calor.

Draco rapidamente arrumou a frente de suas vestes para que elas caíssem
sobre seu peito, sugerindo peitorais robustos. Ele passou a mão pelo cabelo
para se certificar de que parecia rudemente despenteado, como convinha a
um Auror que fazia coisas rudes e viris.

Então ele se reclinou contra um poste de luz para esperar por Granger, com
a intenção de projetar uma vibe legal, casual e desinteressada.

Foi arruinado por Granger quase aparatando nele.

Eles caíram e se desembaraçaram um do outro com suspiros.

━ Você teve que escolher essa polegada quadrada precisa para aparatar? ━
Draco perguntou irritado, tirando a poeira de suas vestes.

━ Você não conseguiu encontrar outro lugar para relaxar além da via
principal?! Sério? ━ Granger se levantou. ━ Acho que meu pé estava no seu
baço.

━ Eu senti.
Eles se levantaram e se olharam em uma espécie de avaliação mútua. Fazia
quase um mês desde a última vez que se viram. Granger estava com aquele
olhar sobrecarregado de novo ━ as manchas profundas sob seus olhos, a
boca repuxada.

Ela usava um vestido de verão amarelo, como se a alegria detestável dele


pudesse ofuscar a fadiga dela.

Não ofuscou.

━ Você parece arrasada ━ disse Draco.

━ Obrigada. Posso perguntar sobre o globo ocular que você tem sobre o
ombro?

Draco olhou para baixo. Qualquer que seja o cadáver com o qual ele tenha
lidado mais recentemente, deixou um olho e um longo nervo óptico
enrolado na parte de trás do braço, arruinando bastante sua vibe fria e
casual.

━ Certo ━ disse ele, se limpando. ━ Lembrança da missão desta manhã.

━ Seu dono não vai sentir falta?

━ Ele estava morto, então, não.

Os olhos de Granger percorreram o resto dele, mas não havia mais partes de
corpos desonestos para serem encontrados. Ela gesticulou para a estrada.

━ Devemos? Irma concordou em me encontrar às 16h15.

━ Irma?

━ Madame Pince.

━ Ela ainda está conosco? Merlin, eu tinha me esquecido daquele velho


pássaro...
Eles andaram. Draco checou a si mesmo e ficou satisfeito por não estar
sentindo nada daquela merda fofa que tanto o aterrorizava. Ele apenas
apreciou a visão das pernas de Granger, o que era bastante normal. Meio.
Ela tinha pernas bonitas.

Draco notou que não havia nenhum fluxo de informação dirigido a ele,
nenhum 'Olha, Malfoy, nenhum insulto pela vegetação' para apontar para
uma folha. Talvez Granger estivesse cansada ━ este era, na melhor das
hipóteses, seu primeiro dia de folga desde o solstício de verão. E aquele
feriado dificilmente tinha sido um momento relaxante: muitas freiras
assassinas.

Mas havia mais do que cansaço ━ havia também uma espécie de reserva
vindo dela. Ela estava mantendo distância. Ele se perguntou,
descontroladamente, se ela também havia notado o Algo, e se isso a havia
assustado tanto quanto a ele.

Talvez ela também estivesse anulando coisas.

A ideia era estúpida e baseada em nada além de especulação, mas havia


algo de reconfortante nela, no entanto.

Eles chegaram aos portões de Hogwarts, que se abriram quando eles se


aproximaram. Os velhos portões e javalis alados pareciam muito menos
imponentes do que Draco se lembrava.

━ Você voltou aqui desde nossos N.I.E.M.s? ━ Perguntou Granger,


observando-o com o canto do olho.

━ Não ━ disse Draco. ━ Você?

━ Algumas vezes... principalmente para cumprimentar professores ou para


usar a biblioteca.

A caminhada de Hogsmeade até a escola parecia ridiculamente breve.

━ Nós realmente pegávamos carruagens para cobrir esse tanto de terreno?


Não foram nem dez minutos.
━ Acho que é longe para as pernas pequeninas de uma criança de doze anos
━ disse Granger.

━ Tudo parece pequeno.

━ Eu sei.

Quando o próprio castelo apareceu em uma curva, Draco ficou satisfeito ao


descobrir que ele mantinha sua aura de magia e mistério, mesmo que
também parecesse menor do que ele se lembrava.

━ O cheiro é o mesmo ━ ele disse enquanto entravam no Hall de Entrada. ━


Madeira, pedra velha, escola.

━ Melhor ser ━ disse Granger, respirando fundo ━ e não de hordas de


crianças sujas durante o verão. Quando estive aqui no inverno passado,
havia um cheiro claro de garotos adolescentes no ar.

Agora eles estavam no castelo propriamente dito. Draco não era


particularmente propenso a reminiscências nostálgicas, mas ele passou
muitos anos felizes aqui (e dois horríveis) e ele gostava de passear pelos
corredores antigos. Eles também pareciam mais estreitos do que em sua
juventude. Ele se lembrou das armaduras que se elevavam sobre ele; agora
ele olhava para baixo para vê-las.

Eles espiaram no Salão Principal, onde estavam as quatro mesas das Casas,
gastas e vazias, esperando primeiro de setembro. O salão sempre pareceu
tão grande, as mesas quase intermináveis. Agora Draco não tinha certeza se
conseguiria se espremer em um dos bancos da Sonserina sem se machucar.

O teto encantado era do azul profundo do alto verão.

Eles continuaram passando por salas de aula vazias que cheiravam a giz e
anos de tinta derramada. A luz do sol entrava pelas janelas empoeiradas.

Granger ficou visivelmente animada enquanto se aproximavam da


biblioteca, embora ela estivesse fazendo o possível para parecer contida.
Quando ela alcançou as portas pesadas, ela parou para esfregar a palma da
mão contra a maçaneta gasta.

Ela abriu a porta e o cheiro da biblioteca os encontrou: livros velhos,


pergaminho, couro gasto e poeira.

Era potente. Draco se sentiu com quatorze anos novamente.

━ Sinto como se eu tivesse uma redação de Poções para entregar ━ ele


disse.

Um sorriso surgiu no rosto de Granger.

━ A minha seria de Transfiguração.

Madame Pince observou a aproximação deles de sua mesa. Draco estava


bastante convencido de que ela ainda usava o mesmo chapéu e sapatos
pontudos que ela usava quando eram estudantes. Ele meio que esperava
uma bronca dela por falar.

Ela também parecia pequena.

Granger foi recebida por Madame Pince com algo que se aproximava do
calor ━ uma pitada, um tipo reticente de calor. Draco foi observado com
surpresa, duas vezes, porque estava com Granger.

━ Estranho tipo de companheiros ━ fungou Madame Pince.

━ Trabalho ━ disse Granger.

Pince passou um cartão de registro para Granger.

━ O Manuscrito de Ypres. Eu sei que você pode lidar com livros raros, Srta.
Granger, mas tenha um cuidado especial com este. Eu tirei as proteções
para você.

Granger agradeceu e liderou o caminho para a Seção Restrita, que abrigava


a maior parte da coleção de Snape.
O ar ficou mais abafado e pressionado em seus ouvidos à medida que
avançavam cada vez mais fundo na biblioteca. Qualquer ventilação
rudimentar que esfriasse o castelo não chegava ao interior da biblioteca.
Estava quente. E os corredores de prateleiras sempre foram tão estreitos?

━ Prateleiras de primeiros amassos, estas ━ disse Draco no silêncio. ━ Pince


não podia ouvir.

━ Eu me lembro ━ disse Granger.

━ Você?

Granger deu-lhe um olhar.

━ Você não precisa parecer tão surpreso.

━ Curioso, sim ━ disse Draco. ━ Ele deve ter sido um rapaz corajoso. A
menos que fosse Weasley. Ele não conta. Não pode, principalmente.

━ Não seja malvado ━ disse Granger. ━ Mas, não... Rony não foi meu
primeiro beijo. Viktor teve essa honra.

━ Viktor?

━ Krum.

Draco deu um assobio baixo.

━ Bom pro Viktor.

Granger parou em um lugar sombrio entre as pilhas.

━ Bem aqui, se não me engano. Aquelas prateleiras serviam como apoios


decentes para as mãos.

━ As histórias que essas prateleiras poderiam contar.

Granger deu a ele um olhar meio irônico.


━ Tenho certeza de que eles teriam histórias igualmente obscenas sobre
você.

Draco sorriu para ela em vez de responder.

Ela desviou o olhar.

Ela estava certa, é claro. Muita exploração adolescente aconteceu entre


essas prateleiras. Seu primeiro boquete, ele pensou, a menos que tivesse
sido na sala comunal? Ele não conseguia se lembrar. Mas ele se lembrava
de muitas travessuras com garotas de saias curtas por aqui, empurrando-as
contra os livros, línguas e dedos se atrapalhando.

E agora ele estava aqui de novo, mas a única saia para perseguir era a de
Granger. Seu olhar vagou para seu traseiro e pernas enquanto ela andava à
frente, até que ele se pegou imaginando como ela ficaria empurrada contra
os livros, e então ele deu a si mesmo um peteleco mental na orelha. Não.
Ele não estava fazendo isso. Ele estava anulando.

Ele estava ficando suado. Ele lançou um feitiço refrescante em si mesmo, e


depois em Granger, por trás. Ela guinchou de surpresa quando arrepios
ondularam em seus braços.

━ De nada ━ disse Draco, em resposta ao olhar sombrio dela.

A Seção Restrita havia sido ampliada para exibir a coleção de Snape, mas
fora isso parecia a mesma de sempre. Draco acenou com a varinha por
curiosidade, sorrindo enquanto iluminava as várias proteções e azarações
desagradáveis ​espalhadas pelas prateleiras.

━ Pince tem um talento para isso aqui, eu assumo ━ disse Draco. ━ Talvez
ela tenha perdido seu chamado como freira.

━ Você deveria sugerir isso a ela. Seria engraçado.

━ Engraçado? Ela me chutaria nas bolas com seu sapato pontudo.

━ Eu não especifiquei quem estaria rindo.


Granger se agachou para procurar seu livro. Quando o encontrou, colocou o
grande manuscrito em uma mesa de leitura.

Ela fez uma pausa para empurrar uma mecha de cabelo úmido de sua testa.
Em vez de se sentar para ler, como Draco esperava, ela simplesmente pegou
seu celular e começou a ━ se ele estava entendendo direito ━ tirar fotos das
páginas de seu interesse.

O problema com Granger era que ela sempre vinha com novas intrigas. Ela
nunca o entediava. Por que ela não podia entediá-lo? Seria mais fácil para
todas as partes se ele não estivesse perpetuamente estimulado por ela.
(Intelectualmente, obviamente.)

━ Como, céus, isso está funcionando na droga de Hogwarts? ━ Perguntou


Draco.

━ Hum? Oh ━ disse Granger, virando o celular.

Anexado às suas costas estava um de seus discos anti-magia.

━ Eu tinha esquecido dessas coisas.

━ Terrivelmente úteis. Eu não posso viver sem meu celular.

Granger se inclinou sobre a mesa de leitura para tirar as fotos. Draco não
olhou para ela. Na verdade, ele se afastou dela, conjurou um espelho e
tentou salvar seu cabelo.

━ Seria muito mais conveniente para mim revisar este manuscrito em casa ━
disse Granger ━ mas Madame Pince nunca me deixaria removê-lo da
biblioteca. Então estou fazendo a próxima melhor coisa: fotos digitais. Não
conte a ela. Ela vai pensar que estou roubando a alma do livro ou algo
assim.

━ Certo. Estou bastante feliz por você não estar se preparando para uma
leitura. Estou suando aqui ━ disse Draco, tirando suas vestes e abrindo o
colarinho.
Granger dirigiu outro feitiço refrescante para ele, e depois para si mesma.
Ela puxou seu cabelo em uma mecha acima de sua coroa e empurrou sua
varinha através dele.

Draco, tendo feito o seu melhor com seu próprio penteado, veio ao lado
dela para observar o manuscrito. Continha diagramas de procedimentos
médicos e pacientes medievais em vários estados de angústia.

Ele notou que Granger estava ficando bem longe dele, embora ela estivesse
sendo casual sobre isso. Se ele se aproximasse, ela encontrava uma razão
para passar para o outro lado da mesa. Se ele se juntasse a ela lá, ela dava a
volta novamente para tirar suas fotos de um ângulo diferente.

Ele deveria se ofender? Ele deveria estar feliz? Ele não sabia. Ele se sentiu
ofendido, mas isso era porque as bruxas geralmente não fugiam de sua
proximidade.

━ Eu cheiro como um cadáver? ━ Draco perguntou.

━ O que?

━ Eu. Cadáver em decomposição, estou com esse cheiro. Sim ou não?

━ Não ━ disse Granger com um rápido olhar para ele. Ela voltou para suas
fotografias.

━ Bom ━ disse Draco.

Quando ele se aproximou dela novamente ━ ostensivamente para examinar


uma ilustração ━ ela não se afastou. Então ele fez o seu ponto. Com que
propósito, ele não tinha certeza.

Granger tirou mais algumas fotos, levou um momento para examiná-las em


seu dispositivo, então se declarou satisfeita. Ela fechou o manuscrito com
muito cuidado e saiu cambaleando para recolocá-lo.

━ É isso? ━ Ele perguntou.


━ Sim. Eu avisei que seria chato ━ disse Granger, liderando o caminho para
fora das estantes. ━ Você não deveria ter se incomodado em vir.

Draco deu de ombros.

━ É uma boa mudança, você sabe, a companhia dos vivos. Você tem um
pouco mais de vitalidade do que um cadáver cambaleante.

━ Você tem tanto jeito com as palavras ━ veio sua resposta seca. ━ Isso me
desfaz completamente.

Draco foi incapaz de seguir essa interessante reviravolta na conversa porque


Pince saiu de trás de uma prateleira.

━ Acabou? Já?!

━ Sim ━ disse Granger. ━ Acabei de guardá-lo; está pronto para suas


proteções. Obrigada novamente por ter vindo durante as suas férias, só para
mim. Estou terrivelmente agradecida.

━ Sempre um prazer ━ disse Pince, mas seu olhar era profundamente


suspeito. ━ Eu pensei que você ficaria aqui por algumas horas, pelo menos.

━ Sim, bem... eu tinha um capítulo específico para revisar, nada mais.

━ Você parece... bastante suada.

━ Sim, está quente lá atrás.

━ Entendi. Você fez um trabalho muito rápido com isso. O manuscrito,


quero dizer.

━ Sim. Como eu disse, minha abordagem foi bastante focada.

━ Hm ━ disse Pince, estreitando os olhos, e se tornando, se possível, ainda


mais aborrecida. Seu olhar negro se moveu para o brilho de suor que cobria
os dois até o estado de relativa nudez de Draco, com o colarinho
desabotoado e as vestes penduradas no braço. ━ A biblioteca é para ler, você
sabe.

━ De fato ━ disse Granger, piscando para ela.

━ Leitura e pesquisa. Não outras atividades.

Granger parecia suspeitar que Pince tinha ficado um pouco maluca.

━ Muito certo. Er... suponho que é melhor irmos.

━ Eu suponho que você deveria ━ disse Pince. Seu olhar agora viajou para o
rosto de Draco e seu cabelo, e sua gola, e então sua braguilha.

Eles deixaram a biblioteca sob o peso de seu olhar.

━ O que diabos foi isso? ━ Perguntou Granger, quando as portas se


fecharam com segurança atrás deles.

━ Ela ficou um pouco maluca? ━ Draco devolveu. ━ Ela acabou de olhar


minha protuberância?

━ Ela olhou.

━ Estou perturbado.

━ Eu também. Eu imagino o que...

Em um momento de compreensão compartilhada, Granger se virou para


Draco assim que ele se virou para ela.

━ Ela estava insinuando que estávamos fazendo coisas? ━ ela engasgou,


horrorizada.

Draco olhou para as portas da biblioteca.

━ Eu acho que ela acha que nós aparecemos para uma porra de uma
rapidinha.
Granger girou tão rapidamente que suas saias balançaram em um círculo ao
redor de suas coxas.

━ Vou voltar lá para acertar as coisas com ela.

━ E se estivermos errados?

Granger fez uma pausa.

━ Estamos errados?

━ Não sei? Talvez ela só quisesse olhar para minha protuberância?

Granger ergueu a mão.

━ Chega de sua protuberância. Temos coisas maiores para lidar.

━ Desculpe.

━ E se estivermos certos, e ela... ela contar a alguém? ━ Perguntou Granger


com um suspiro horrorizado.

━ Isso seria engraçado.

━ Engraçado? Não. Imagine se ela contasse para McGonagall.

━ Eu não especifiquei quem estaria rindo.

━ Se você vai me imitar, gentilmente abaixe uma oitava; isso foi penetrante.
━ Granger voltou para a biblioteca. ━ E por que ela não estava suada? ━ ela
chamou por cima do ombro.

Divertindo-se com essa reviravolta, Draco esperou que Granger


'endireitasse as coisas'. Ele se apoiou perto de uma armadura relaxada,
pressionando suas costas na pedra fria. Alguns feitiços de secagem se
livraram do pior da umidade em suas axilas. Talvez ele não tivesse fedido
como um cadáver, talvez tivesse sido apenas suor.
Granger estava de volta. Havia tempestade em seus passos enquanto ela
marchava pelo corredor. A armadura ao lado de Draco se endireitou e
saudou.

━ Então? ━ perguntou Draco.

━ Ela se foi ━ disse Granger. ━ Não foi possível encontrá-la. Ela deve ter
saído pela entrada leste.

━ Escreva uma carta para ela. ━ Draco deu de ombros.

Granger se virou para ele.

━ Uma carta?! Sério? Você quer que eu coloque esse absurdo por escrito?
Querida Madame Pince, você olhou para a protuberância de Malfoy, então
não tínhamos certeza se você tirou conclusões precipitadas, mas por favor,
esteja ciente de que eu não fiquei com ele na biblioteca? Atenciosamente,
Hermione?

Draco foi incapaz de conter uma risada. Ele caminhou à frente dela,
sentindo que poderia ser mais seguro estar longe de um golpe.

━ Estou muito feliz que um de nós está se divertindo ━ disse Granger,


caminhando atrás dele com fogo em seus olhos.

Draco parou de repente. Granger esbarrou nele.

━ Ai... o que...

━ Meu salão comunal ━ disse Draco, gesticulando para um lance de escadas


de pedra à direita. ━ Por aqui. Vamos lá.

━ Não. Eu vim aqui com permissão explícita para usar a biblioteca, não
para levar Draco Malfoy em um nostálgico passeio panorâmico pelo
castelo. E se Filch nos pegar?

━ E se Filch nos pegar? ━ repetiu Draco, descendo as escadas. ━ Oh, ele vai
nos mandar direto para a detenção, eu espero.
Ele olhou para cima para ver que Granger tinha uma mão em seu quadril.
Agora ela tinha quatorze anos novamente. Ela parecia estar esperando que
um monitor aparecesse, para que ela pudesse denunciá-lo e ter os pontos da
casa marcados.

Draco continuou descendo as escadas. Ele a ouviu gemer de irritação, e


então, finalmente, os passos dela ressoando atrás dele.

Estava visivelmente mais frio nos níveis mais baixos do castelo. Os


habitantes de retratos familiares sobressaltaram-se enquanto passavam,
depois acenavam ou ofegavam um comentário.

━ Hermione Granger e Draco Malfoy! Adultos decentes agora! ━ Gritou


uma bruxa medieval que os seguiu através de várias pinturas. ━ Olhe para
eles!

━ Alguém disse Draco? ━ disse uma espécie de voz sarcástica. Um homem


de cabelos pretos e cavanhaque colocou a cabeça sobre a borda de uma
moldura.

━ Olá, Phineas ━ disse Draco.

━ Por que você está aqui com ela? ━ Perguntou Phineas, apontando com a
cabeça para Granger.

━ Trabalho ━ disse Draco.

Agora, um cavaleiro galopava à vista ao longo de uma ampla paisagem


marítima.

━ Ah! Hermione Granger! Bem vinda, minha senhora! Bem vinda!

Granger, que ficava olhando por cima do ombro dela como se McGonagall
pudesse se materializar e dar uma bronca nela, sorriu ao ver o cavaleiro.

━ Senhor Cadogan!
━ Você está com esse patife, mesmo? ━ disse o cavaleiro, apontando para
Draco com sua espada. ━ Você está aqui sob coação?

Granger olhou para Draco, como se estivesse se perguntando se deveria


dizer sim e fazê-lo sofrer a fúria de uma pintura a óleo de 11 polegadas.

━ Não, estou aqui de bom grado. Acontece que ele é tranquilo.

━ Ele é? ━ perguntou Sir Cadogan, abrindo o visor e observando Draco. ━


Um coração valente?

━ Ele é um auror, seu idiota ━ disse Phineas. ━ Claro que ele tem um
coração valente. Arriscando o pescoço por imbecis diariamente, aposto.

━ Eu? Um idiota? Como você ousa? Você, senhor, é um velho rabugento e


eu vou remover sua língua. ━ Sir Cadogan baixou a viseira e se dirigiu a
Phineas, que saiu do quadro rapidamente.

━ Adeus, minha senhora! ━ Ecoou a voz de Sir Cadogan enquanto ele


também desaparecia.

Eles foram para a sala de Poções. A porta estava entreaberta. Draco entrou.
Tudo parecia igual, só que menor; as bancadas bem esfregadas, a fileira de
pias velhas, os caldeirões empilhados ao longo da parede dos fundos.

Draco foi até o que tinha sido sua mesa de trabalho por sete anos. Granger
ficou indecisa na porta, então o seguiu para dentro.

━ Eu me pergunto quem é o novo professor de Poções ━ ela disse,


observando uma estante perto da porta. ━ Ele é bastante moderno, de
qualquer maneira; ele tem as obras de Buxton e as de Keynes. Snape
preferia os mestres do século 19. Um pouco tradicionalista. ━ Ela se virou
para olhar para Draco e descobriu que ele havia desaparecido. ━ Er... o que
você está fazendo?

Draco se agachou embaixo de uma velha mesa de trabalho e mandou um


Lumos embaixo dela.
━ Ah! ━ Ele disse.

Os joelhos de Granger iluminaram, e então seu rosto enquanto ela se


agachava ao lado dele.

Draco apontou para o pau e as bolas toscas, esculpidos sob a mesa.

━ Uau ━ disse Granger.

━ Deixei minha marca ━ ele respondeu.

━ Um legado duradouro, com certeza ━ disse Granger. Ela se arrastou


debaixo da mesa de joelhos, examinando o resto da obra de Draco, que
consistia principalmente em suas próprias iniciais.

━ O que é isso? ━ Ela perguntou, apontando para uma espécie de bolha


oblonga. ━ Um ouriço?

Draco se aproximou para estudar o misterioso hieróglifo.

━ Uma casca de castanha-da-índia? ━ Perguntou Granger.

Draco balançou a cabeça e disse, gravemente:

━ Eu acredito que isso é o que eu de 12 anos achava que eram as partes


femininas.

Granger caiu na gargalhada.

━ Um ouriço ━ repetiu Draco com ofensa exagerada.

━ Tem um olho ━ disse Granger, apontando para uma partícula.

━ A caça às castanhas agora terá um novo e excitante significado ━ refletiu


Draco.

━ Espero que seu conhecimento de anatomia feminina tenha melhorado um


pouco.
━ Eu corrigi as lacunas em meu conhecimento desde então.

━ Tenho alguns textos de anatomia que posso lhe emprestar, se precisar de


ajuda. Então você saberá onde cutucar os ouriços.

━ Desnecessário, mas obrigado por sua generosidade de espírito.

Granger estava olhando para o 'ouriço' e pressionava as mãos na boca para


não rir novamente.

O momento parecia surreal. Draco estava nas masmorras de Hogwarts,


agachado sob uma mesa de Poções com Hermione Granger. Ele passou sete
anos nesta masmorra, olhando para a parte de trás de sua cabeça, odiando━
a. E agora, de alguma forma, quase duas décadas depois, eles estavam de
volta, um respeitado auror e uma estimada Curandeira, de joelhos, rindo
sobre castanha yoni.

Ele teve um estranho momento de arrependimento por ter demorado tanto...


que eles passaram tanto tempo se odiando.

E então ele teve um momento igualmente estranho de esperança de que não


fosse tarde demais.

(Tarde demais para quê? Ele não sabia exatamente.)

Seus joelhos se tocaram.

Granger se afastou. Ela se levantou e limpou a poeira rapidamente.

━ Certo. Chega de suas vulvas conceituais. Vamos para a sua sala comunal.

Draco saiu de debaixo da mesa e se juntou a ela.

Granger tentou liderar o caminho, mas logo ficou claro que ela não tinha
mais do que uma noção geral de onde ficava a sala comunal da Sonserina.

━ Aqui ━ Draco chamou enquanto ela tomava o caminho errado. ━ Você


nunca veio?
Granger se virou e o alcançou.

━ Eu não tinha muitos amigos sonserinos... então, não.

Eles pararam em uma parede indefinida.

Granger olhou em volta com curiosidade.

━ Aqui?

━ Sim. A próxima pergunta será a senha, claro ━ disse Draco.

━ Você quer que a gente fique aqui e adivinhe?

━ Vamos tentar. Por cinco minutos, Granger. Eu não estou pedindo para
você adivinhar coisas da Sonserina até a próxima semana.

Granger parecia em dúvida.

━ Que tipo de coisas da Sonserina devemos tentar?

━ Famosos bruxos Sonserinos. Ingredientes. Feitiços eticamente


questionáveis. Qualquer coisa que você possa pensar.

Eles deram palpites: plantas e poções e maldições e criaturas. Raflésia.


Vermículo. Alma penada. Imperata cilíndrica. Lesma carnívora. Dragão
Negro das Hébridas. Cuscata. Troll da Montanha. Locomotor Wibbly.
Beladona. Nargles. Barão Sangrento. Testrálio. Basilisco.

Nem mesmo um tremor da pedra. Granger pareceu levar para o lado pessoal
e começou a se aquecer para o exercício.

━ Tacca chantirieri ━ ela disse, uma mão em seu quadril. ━ Entomorfis!

━ Melofors ━ tentou Draco. ━ Erkling? Língua de cobra. As bolas de


Salazar.

Granger mudou de estratégia e começou a listar coisas chiques.


━ Caça à raposa. Tweed. Sabre.

Draco tentou um pouco de latim para variar.

━ Oderint dum metuant. Non ducor, duco. Carpe noctem.

━ Coletes ━ disse Granger. ━ Regatas! Pimms. Calça mostarda. Órgãos do


mercado negro.

━ Puffskein? Bicho-papão sugador de sangue!

━ Bola de melão! ━ gritou Granger.

━ Godric Gryffindor é um fantoche absoluto ━ disse Draco com grande


autoridade.

Um estremecimento percorreu a parede.

Granger ofegou.

━ Godric é um campeão. Um beberrão!

━ Godric não poderia organizar uma mijada em um pub. Godric é um idiota


inútil.

━ Godric é um idiota certo.

━ Um estúpido!

━ Um estúpido infantil.

━ Godric tem bolas flácidas.

━ Godric é um babaca babão.

━ Godric é um próprio idiota.

━ Um grosso!
━ Godric, o burro.

━ Bastante.

Um tipo de risada nasal emanava atrás deles. Phineas havia deslizado para
dentro de uma pintura de uma paisagem montanhosa.

━ Isso é muito divertido.

Granger saltou no ar e parecia culpada. Suas bochechas estavam coradas


quando ela se dirigiu ao ex-diretor.

━ Er... olá novamente. Você ainda tem língua?

━ Obviamente ━ disse Phineas.

━ Ah, bom. Nós estávamos apenas, er...

━ Invadindo a sala comunal ━ disse Draco.

━ Para que fim, céus ? ━ Perguntou Phineas.

Draco deu de ombros.

━ Para relembrar os dias passados.

━ Você? Quer relembrar? Com Hermione Granger?

Granger levantou o dedo.

━ Na verdade eu...

━ Ah, sim ━ interrompeu Draco. ━ Estamos revivendo nossas terrivelmente


boas lembranças um do outro.

━ Eu estava sob a impressão de que vocês se odiassem ━ disse Phineas.

━ Nos odiamos ━ Draco e Granger disseram ao mesmo tempo.


Draco sentiu que a afirmação teria sido mais crível se Phineas não os
tivesse pego rindo na parede, gritando sobre as bolas de Godric.

Phineas olhou para Granger, que estava corando furiosamente, e então para
Draco, que o encarou com um sorriso.

━ Vocês fazem ainda menos sentido do que faziam como pubescentes


fedorentos. Parabéns.

━ Obrigado ━ disse Draco.

━ A senha é Gurdyroot ━ disse Phineas, desaparecendo de vista. ━ Só


porque você conseguiu me fazer rir. Não deixem fluidos corporais no
estofamento.

Enquanto Granger gaguejava com o descaramento, Draco virou-se para a


parede.

━ Gurdyroot.

A parede se abriu para revelar a porta escura e polida que levava ao salão
comunal da Sonserina. Draco a abriu.

Parecia que a escola tinha feito alguns esforços para iluminar o lugar. As
lâmpadas esverdeadas e bulbosas dos dias de Draco foram substituídas por
lâmpadas a gás que davam um brilho quente ao quarto. A mobília parecia a
mesma da juventude de Draco ━ sofás de couro e cadeiras de espaldar alto,
mesas e armários esculpidos com ornamentos. Espelhos dourados
brilhavam nas sombras.

A lareira de pedra elaboradamente esculpida estava apagada. Nas paredes


ao redor, retratos de sonserinos famosos foram exibidos. Merlin estava
lendo algo e poupou a Draco uma sobrancelha erguida. A cadeira de Salazar
estava vazia. Phineas não reapareceu. Havia duas novas adições entre os
retratos: Slughorn e Snape. Slughorn estava cochilando com uma garrafa de
Ogden's Old segura em seus braços. A silhueta vestida de preto de Snape
espreitava na parte de trás de seu retrato, preparando alguma poção.
Draco passou a mão pelas costas de um sofá. Durante sete anos, ele
conspirou e esquematizou aqui. Ele havia presidido como um pequeno lorde
a um grupo de amigos, muitos dos quais já estavam mortos. Ele se sentiu
terrivelmente importante aqui, terrivelmente experiente, sábio e adulto.

E agora parecia uma sala de jogos infantil. As mesas para a lição de casa.
As regras da Casa fixadas no quadro de avisos. As faixas desbotadas
comemorando as vitórias passadas na Copa das Casas. As estantes com seus
livros gastos. Era tudo tão pequeno.

Granger fungou.

━ Eles deveriam substituir os tapetes. Tem cheiro de pés.

Sempre se podia contar com Granger para acabar com o sentimentalismo de


qualquer coisa.

Ela vagou até a extremidade da masmorra, que se estendia parcialmente sob


o lago.

━ Agora isso é interessante ━ disse ela, chegando às janelas que davam para
a água.

━ Há uma visão melhor dos dormitórios ━ disse Draco. ━ Vamos.

Ela o seguiu por um corredor e entrou no dormitório masculino que havia


sido dele por sete anos. Uma janela para o lago ocupava toda a parede
ocidental.

━ Fascinante! ━ Disse Granger, se aproximando.

━ A Lula Gigante passa de vez em quando. Tritões também.

Draco a deixou com sua observação. Ele entrou no círculo de cinco camas
com dossel verde que ocupavam o resto do quarto. Goyle, Crabbe, Zabini,
Nott. Morto, morto, vivo, vivo.
Finalmente, ele chegou a que tinha sido sua cama. Certamente, certamente
não tinha sido tão pequena. Sempre pareceu tão grande.

Ele se esticou sobre ela e gargalhou. Seus pés estavam pendurados na


borda.

Granger se aproximou, tendo ouvido sua risada.

━ Nada de Lula Gigante, mas vejo que um Malfoy Gigante tomou posse de
uma das camas.

━ Eu mal posso acreditar que esta é a mesma cama.

━ Você esculpiu alguma genitália nela, para que possamos autenticá-la?

Draco se virou para examinar a cabeceira da cama.

━ Sabe, acho que nunca esculpi.

Granger se empoleirou na beirada da cama de Nott. Ela passou as mãos


sobre os braços nus.

━ Você não achava triste aqui? Eu não posso imaginar o quão frio seria no
inverno.

━ Não era muito diferente da Mansão ━ Draco deu de ombros. ━ Tínhamos


o fogo aceso, feitiços de aquecimento, chocolate quente e Firewhisky.

Um grupo de Grindylows estava vagando pela janela. Granger se virou para


assistir.

Mais uma vez, Draco ficou impressionado com a incongruência do


momento. Hermione Granger, em um vestido de verão brilhante, com ele
em seu dormitório de infância. Ele se perguntou o que o jovem Draco teria
pensado de tudo isso. O que ele teria dito se o Draco do presente lhe
dissesse que Granger cresceria bonita, espirituosa e terrivelmente
inteligente? Que ela mandaria nele um pouco e que ele às vezes gostava
disso? Que ele a faria rir de propósito só para ver?
Ele diria a ele que ele era um idiota do caralho.

Difícil discordar.

━ Você relembrou até sua satisfação? ━ perguntou Granger.

━ Sim ━ disse Draco.

Melhor seguir em frente do que continuar a ter pensamentos idiotas.

Granger se levantou. Ele observou suas saias passarem pela cama. Uma
lufada de seu sabonete a seguiu.

Ele anulou uma ideia não muito formada envolvendo Granger e esta velha
cama antes que ela pudesse atingir uma forma e então ━ o horror ━ viver em
sua mente.

Eles refizeram seus passos para fora do dormitório e pela sala comunal.

Draco deu uma última olhada ao redor. Ele poderia não estar de volta aqui
por mais uma década. Seria ainda menor, então? À medida que a vida
avançava implacavelmente e suas memórias de infância diminuíam e
diminuíam em um ponto de luz cada vez menor atrás dele?

Granger estava sorrindo para ele.

━ O que? ━ perguntou Draco.

━ Você realmente veio para relembrar ━ disse Granger. ━ Você ficou todo...
todo melancólico.

Draco deu de ombros.

━ Eu acho que é muito doce ━ disse Granger, parecendo melancólica.

Ela parecia ter se controlado, então, ficou séria e se afastou.

━ Você quer ir para sua sala comunal? ━ perguntou Draco.


Ela balançou a cabeça.

━ Eu venho aqui com mais frequência do que você. Outra hora.

Granger foi para o corredor que eles desceram, da sala de Poções. Draco a
pegou pelo cotovelo e lhe mostrou uma saída mais rápida, subindo uma
escada estreita que levava direto ao Hall de Entrada.

Por que ele a pegou pelo cotovelo? Ele não tinha motivos para pegá-la pelo
cotovelo. Ele poderia ter dito alguma coisa. Isso foi estúpido, e um fracasso
de Anulamento.

Ele a deixou subir a escada estreita primeiro e, porque o traseiro dela estava
bem ali, ele olhou para os pés por todo o caminho.

Granger olhou para o Salão Principal novamente na saída, esperando


encontrar Pince. Ela não estava lá. Granger murmurou algumas palavras de
irritação.

Eles saíram do castelo e desceram os degraus até o caminho de cascalho


que levava de volta a Hogsmeade. O ar cheirava a grama doce e a
fragrância delicada dos salgueiros que margeavam o lago.

Era bom estar do lado de fora de novo.

Assim que chegaram a Hogsmeade, Granger foi em direção ao Três


Vassouras.

━ Estou devidamente faminta. Você comeu?

━ Não ━ disse Draco. ━ Nada de almoço também; os cadáveres me


desencorajaram.

Granger torceu o nariz.

━ Bem ━ você é bem-vindo para se juntar a mim, mas não será tão
rebuscado quanto na Mansão.
Ela tentou a porta do Três Vassouras, apenas para encontrar um aviso
indicando que eles estavam fechados até setembro.

Eles caminharam até o Madame Puddifoot, que estava igualmente fechado.

Finalmente, eles chegaram ao Cabeça de Javali.

Granger pairou indecisa na porta.

━ Não tenho certeza se estou tão desesperada. Ouvi dizer que decaiu
bastante desde que Aberforth se aposentou.

━ O que? Não pode ser tão ruim para uma cerveja e um pouco de comida de
pub, pode?

Poderia.

Draco e Granger foram recebidos (se um termo tão alegre pudesse ser
usado) por um homem que parecia mais um Skrewt do que a maioria dos
Skrewts. Ele parecia irritado que eles se atreveram a dar-lhe trabalho. Essa
foi a bandeira vermelha número um de que esta seria uma experiência
excepcionalmente terrível.

Eles pediram uma cerveja; eles foram informados de que não havia cerveja
no local. Essa foi a bandeira vermelha número dois. A essa altura, um par
mais sábio teria levantado e saído, mas uma espécie de curiosidade se
acendeu neles, para ver o quão ruim isso poderia realmente ficar.

━ Vamos querer o que você tiver então, companheiro ━ disse Draco. ━ E um


pouco do que tiver na cozinha.

Eles se sentaram em uma mesa suja perto do que provavelmente tinha sido
uma janela, exceto que agora estava coberta de sujeira.

O Skrewt deixou cair dois copos borrados na mesa e derramou algo claro
neles antes de ir para a cozinha.

Um forte odor de terebintina inundou a mesa.


Granger cheirou seu copo e seus olhos lacrimejaram.

━ Oh meu... vai ser um limpador de sinusite adequado.

━ Não pode ser pior do que Absinto de Affpuddle, pode? ━ perguntou


Draco. ━ Saúde.

Granger ergueu seu copo para Draco com um olhar preocupado. Ela tomou
um gole generoso do seu; ele virou metade do seu. Ambos gaguejaram e
tossiram.

━ Queima ━ engasgou Granger.

━ I...isso é um néctar de primeira classe ━ cortou Draco.

━ Eu nunca me senti tão viva ━ fungou Granger.

Eles beberam novamente para confirmar que tinha sido tão ruim. Tinha.
Granger era uma mistura chorosa de riso e tosse. Draco perdeu a maior
parte de sua voz.

━ Que diabos é essa coisa? ━ perguntou Draco com a voz rouca.

━ Foi destilado em um banheiro? ━ perguntou Granger.

O Skrewt havia colocado a garrafa em uma prateleira atrás do bar. Draco a


levitou até eles.

Era vodka Troll.

O rótulo incluía um aviso de que não deveria ser consumida pura e para
tomar a bebida com responsabilidade.

O que foi a bandeira vermelha número três, mas ora; um níquel para entrar,
um Galeão para sair.

━ 88% de teor alcoólico ━ ofegou Granger. ━ Brilhante. Eu queria mesmo


começar a semana com uma pequena intoxicação por álcool.
━ Está tudo bem ━ disse Draco em sua voz quebrada. ━ Teremos comida em
breve.

Em retrospecto, havia uma positividade tão bonita nesse pensamento.

O Skrewt saiu da cozinha com pratos.

━ Bife ━ ele grunhiu enquanto batia um prato na frente de Draco. ━ Salada


━ ele disse, deixando cair na frente de Granger. ━ Salsichas e purê ━ ele
concluiu, jogando o último prato entre os dois, antes de vazar.

Draco e Granger observaram essas oferendas.

━ Este bife foi cozido em um radiador? ━ perguntou Draco.

Granger examinou o pedaço cinza.

━ Precisava de pelo menos mais cinco minutos embaixo do secador de


cabelo.

Eles voltaram sua atenção para a salada de Granger. Consistia em metade de


uma cebola crua.

━ Chocante ━ disse Draco.

Granger manteve seu sangue-frio. Ela puxou as salsichas e purê para eles
com uma espécie de otimismo sombrio.

━ Mas por que a salsicha está tão... encolhida? ━ perguntou Draco.

━ Talvez esteja com frio ━ sugeriu Granger gentilmente.

━ Ou nervosa ━ assentiu Draco.

Granger mordeu o lábio.

━ Parece um prolapso.

Draco riu. Doeu na garganta.


━ E o que é isso? ━ perguntou Granger, cutucando um pedaço indistinto de
gordura carnuda.

━ Lard Voldemort.

━ Meu Deus.

━ O purê parece... okay?

━ Tem cheiro de gato quente doente ━ disse Granger, derrubando o garfo de


Draco. ━ Não tente. Nada resultará disso, exceto diarreia cataclísmica.

Draco, que não queria um bumbum escorrendo, deixou o garfo de lado.

Eles olharam um para o outro.

━ Eu acho que isso pode ser um pedido de ajuda ━ disse Granger, sombria.
━ Devemos perguntar a ele se ele está bem?

Draco estava menos inclinado à simpatia.

━ Acho que acabamos de descobrir uma frente descaradamente óbvia.

━ Isso também ━ disse Granger. ━ Você vai investigar?

━ Vou penhorar para um dos novatos.

Granger estava começando a parecer um pouco vacilante em seu assento.


Ela olhou para o copo quase vazio.

━ Suposições sobre o nosso teor de álcool no sangue?

━ Dois... duzentos por cento, aproximadamente ━ disse Draco, não


gaguejando, mas perto. A bebida estava começando a atingi-lo também.

━ Vamos cambalear para encontrar algo realmente comestível ━ disse


Granger, levantando-se. Ela balançou em seus pés. ━ Oh, maldito inferno.
Eu não posso aparatar.
━ Me ofende ter que pagar por isso ━ disse Draco com um gesto para a
refeição intocada. Ele, no entanto, deixou cair um sicle sobre a mesa.

━ Eu posso ━ disse Granger, agarrando um bolso.

━ Não ━ disse Draco. ━ Eu insisti em tentar este lugar. Você paga o


próximo.

━ Tudo bem.

━ Você estava certa, afinal. Não era tão rebuscada quanto a comida da
Mansão.

Eles cambalearam para fora do pub e desceram a rua, esbarrando um no


outro e em vários objetos enquanto andavam. Ao virar a esquina havia uma
pequena mercearia, prestes a fechar para a noite. Eles levaram o último
cesto de pão e compraram uma pequena roda de queijo para acompanhar.
Granger encontrou algumas cerejas. Draco descobriu uma enorme torta de
amora levemente amassada. Granger perguntou se eles deveriam comprar
uma fatia? Draco disse que queria duas, pessoalmente. Eles olharam para a
torta e então, sua inteligência e força de vontade afogadas por cinco
centímetros de vodka, compraram a coisa toda. Uma garrafa fresca de cidra
completou, e isso foi o jantar.

Eles serpentearam um pequeno caminho para fora da aldeia, procurando um


lugar para se sentar. Granger disse que gostaria de ver a vila; Draco disse
que queria ver o castelo. Eles encontraram um meio-termo adequado por
um pequeno caminho que levava a um tipo de promontório gramado, de
onde podiam olhar para Hogsmeade e Hogwarts.

Granger pediu a Draco um lenço, que ela transfigurou em um cobertor e


estendeu na grama. O cobertor era mais triangular do que quadrado, mas,
novamente, Granger estava mais molhada do que sóbria.

Membros soltos e vacilantes, Granger decantou━ se sobre o cobertor. Draco


desabou ao lado dela. O pão, ligeiramente mastigável, foi dividido primeiro,
na esperança de absorver tardiamente um pouco da vodca Troll.
Granger disse:

━ Estou completamente bêbada... com a boca cheia. Havia uma espécie de


serenidade nela, um tipo calmo de aceitação de que ela estava
completamente arrasada, e era assim que ia ser.

Ela teve muita dificuldade em colocar um pedaço de queijo no pão. Draco


tentou ajudar, mas o pedaço de pão dela continuou se multiplicando em
dois, depois em quatro, até que ele piscou, e era um novamente, balançando
suavemente.

━ Fique parada ━ disse Draco, agarrando o pulso dela.

━ Eu estou ━ disse Granger. ━ Você que está vacilante.

Draco, com atenção meticulosa, conseguiu colocar um pedaço de queijo no


pão.

Granger soluçou. O queijo caiu, ricocheteou em seu joelho e rolou na


grama. Ela o observou ir com uma espécie de tristeza gentil.

Draco desistiu dela e se concentrou em seu próprio pão e queijo, que ele
preparou moderadamente bem. Sua única dificuldade era encontrar sua
própria boca.

━ Faschi... Fassi... Fascinante ━ disse Granger, observando-o esmagá-lo em


seu queixo. ━ Você geralmente é tão elegante.

━ Eu sou?

━ Sim ━ disse Granger. ━ Você faz tudo parecer sem esforço, sabe?

━ Você está bêbada o suficiente para me elogiar. Isso é amocionante.


Emocionante.

Granger mastigou.
━ Foi uma constatação. Você pode ficar atrevido quando puder colocar um
sanduíche na boca, não antes.

Draco conseguiu fazer isso, então inalou para dizer algo, então engasgou
com uma migalha.

Enquanto ele tossia, Granger veio em socorro flutuando a garrafa de cidra


em sua direção. Isso foi feito com menos sutileza e controle de varinha do
que o habitual. Ela, presumivelmente, estava mirando na mão dele, mas a
garrafa pressionou em sua virilha.

━ Firme ━ disse Draco.

━ D...desculpe ━ disse Granger, jogando a garrafa por cima do ombro e


cortando sua têmpora com ela antes de deixá-la cair no cobertor ao lado
dele.

━ Uau ━ disse Draco.

Granger colocou a varinha de lado como se fosse uma coisa perigosa. Então
ela pressionou os dedos na boca e parecia que ela estava segurando uma
gargalhada.

━ Sinto muito... sinto muito... não é o que eu queria fazer.

━ Es...tá bem ━ disse Draco. ━ Um pouco de estimulação com uma garrafa


de cidra...nova experiência...

Depois da vodka Troll, a cidra foi espetacular ━ fresca, azeda, borbulhante


na língua e mel no final. Draco bebeu e passou a garrafa para Granger. Ele
pretendia fazer uma observação eloquente sobre seu aroma e notas, mas o
que saiu foi uma observação arrastada de que beber não fazia mal.

Que era todo o endosso que Granger precisava, de qualquer maneira. Ela
bebeu, também, e passou de volta.

Não havia nada de interessante em compartilhar uma garrafa com Granger.


Sobre provar onde seus lábios estiveram um momento antes. Nada, e ele
não pensaria nisso. E ele também não olharia para a boca dela.

━ Pare de olhar para mim ━ disse Granger, segurando uma mão na frente da
boca dela, o que fez Draco perceber que ele estava olhando para a boca
dela. ━ Eu não posso nem comer um pedaço de queijo.

━ Eu não estou olhando para você ━ disse Draco, como o mentiroso que ele
era. ━ Estou olhando para a vista.

━ A vista está atrás de você ━ disse Granger.

━ Oh ━ disse Draco, virando-se. ━ Certo.

━ Você não estava brincando sobre os duzentos por cento de teor alcoólico
no sangue ━ disse Granger, aproximando-se dele no cobertor para olhar a
vista também.

As pitorescas ruas de Hogsmeade se curvavam para o crepúsculo crescente


abaixo deles. Mais longe, o Castelo de Hogwarts era uma silhueta, suas
janelas refletindo o último pôr do sol vermelho.

━ Você deveria desenhá-lo ━ declarou Granger.

━ O que? Eu não desenho.

━ Mentiroso. Eu sei que você tem uma veia artística; eu vi seu magnífico
testículo.

Draco tentou resistir, mas uma risadinha escapou dele.

Granger olhou para ele com os olhos arregalados.

━ Não consigo decidir se isso foi adorável ou aterrorizante.

━ Ambos. Apenas como eu.

━ Você não é nenhum dos dois ━ fungou Granger. ━ Acalme-se.


━ Mas eu sou elegante.

━ Se você tomar as divagações de uma idiota bêbada como um fato ━ disse


Granger. Ela estava tentando parecer formal.

━ A mente bêbada fala o coração sóbrio ━ disse Draco. Ele tentou mexer as
sobrancelhas, mas não tinha certeza do que conseguiu fazer; Granger
apenas parecia perplexa.

━ Vamos comer uma torta? ━ ela perguntou.

━ Mudança nada sutil de assunto, mas sim ━ disse Draco, acenando com a
varinha para a torta, que flutuou em direção a eles. ━ Você gostaria de um
pouco de estimulação também?

Granger cruzou as pernas.

━ Isso foi um acidente.

━ É claro. Faça-nos alguns talheres, sim?

━ Dificilmente confio em mim.

Ela arrancou algumas folhas de dente-de-leão para o efeito. Ela os


transfigurou em duas colheres muito credíveis, embora fossem ligeiramente
verdes. Os garfos eram uma questão diferente; uma criação formidável,
não━ euclidiana, sobrenatural. Doía-lhes a cabeça olhar para eles. Draco e
Granger ficaram assustados e os jogaram do penhasco.

De qualquer forma, eles tinham as colheres. Draco colocou a torta para


flutuar entre eles e eles comeram e ficaram com migalhas por todos eles.

A vodka Troll estava passando. Agora eles estavam simplesmente bêbados,


não totalmente alcoolizados.

Granger, olhando para o Castelo de Hogwarts, mergulhou na introspecção.

━ Sabe, hoje foi mais interessante do que eu pensei que seria.


━ Mm?

━ Eu nunca imaginei que veria a sala comunal da Sonserina... muito menos


seu dormitório.

━ Foi muito estranho ver você lá dentro.

━ Contra a ordem natural das coisas?

Draco pensou sobre isso.

━ Podemos realmente chamar isso de ordem natural?

━ O que você quer dizer?

━ São divisões bastante artificiais, não são? O negócio da Sonserina e da


Grifinória.

━ Meu Deus ━ disse Granger, puxando os joelhos até o queixo. ━ Estamos


ficando filosóficos?

━ Sim ━ disse Draco. ━ Eu estou bêbado. Conceda-me.

━ Claro ━ não devemos deixar a oportunidade ser desperdiçada. E você está


certo. Totalmente artificiais. Mas as escolas têm que dividir e conquistar as
massas de crianças de alguma forma.

━ Acho que isso os mantém administráveis.

━ Pode haver uma maneira melhor de fazer isso do que um


empreendimento pseudo-horoscópico envolvendo traços de caráter
subdesenvolvidos e um chapéu falante ━ refletiu Granger. ━ Minha escola
primária atribuía nossas casas aleatoriamente... mas então, era trouxa, e eles
não tinham um chapéu falante.

Draco terminou o último pedaço da torta e jogou pedaços de crosta em


alguns pardais.
Granger, aparentemente não confiando em si mesma com sua varinha,
levantou━ se para pegar as cerejas.

━ Se vamos criticar o sistema... Depois de hoje, acho que pode ter havido
um lado ruim em todo o sigilo entre as Casas.

━ O que você quer dizer?

━ As salas comuns escondidas, o isolamento entre as casas. É... é


terrivelmente humanizador, ver alguém em uma cama.

━ Você está dizendo que poderia não ter me considerado uma criatura tão
terrível, se você tivesse visto o travesseiro em que babei à noite?

━ Exatamente ━ riu Granger. ━ Mas realmente. Quero dizer. Você era uma
entidade que surgia do nada, dizia coisas horríveis e depois desaparecia até
a próxima discussão.

━ Eu tive que adotar táticas de guerrilha para evitar os tapas ━ disse Draco.

━ Isso foi uma vez ━ disse Granger. Ela comeu uma cereja. ━ O segredo
promoveu fraturas acima e além daquelas criadas pelas divisões das Casas.
Essa é a minha posição. Do que você está rindo?

━ Só pensando que muitas bruxas formaram muitas ideias depois de me ver


na cama, mas um tratado sobre o sistema das Casas é totalmente novo.

━ Você é terrivelmente cheio de si, sabia ━ disse Granger, desviando o olhar


para esconder sua diversão.

━ Claro que sou. Você já me viu?

━ Não, não vi. Seus pés estão sempre no caminho.

Draco, já perto da borda rochosa do promontório, virou━ se e balançou as


pernas para o lado.

━ Aqui.
Granger jogou junto. Ela se moveu para se sentar ao lado dele,
ostensivamente para observá-lo. Draco notou que a reserva dela do início
do dia havia desaparecido. Foi a bebida? A conversa? Ele?

O que o fez perceber que ele mesmo não estava anulando. E agora que ela
estava ao lado dele, as coisas estavam começando a acontecer novamente ━
o início daquela doçura em suas veias, o zumbido de seu pulso.

Ele deveria se afastar. Ele deve Ocluir e separar seu eu racional de


pensamentos e sentimentos confusos.

Ele deveria.

━ Certo. Vamos dar uma olhada, agora que posso ver você direito ━ disse
Granger.

Ela correu seu olhar analítico pelo rosto dele.

━ Eu me sinto como um livro didático ━ disse Draco.

━ Talvez eu leia você como um, agora que minha visão não está obstruída.

━ Você não lê, você devora. Estou com medo.

━ Como deveria estar.

━ Eu tenho alguma margem ?

A diversão puxou a boca de Granger.

━ Você me ouve às vezes. Qual é o equivalente humano da margem? Talvez


isso? ━ ela perguntou, passando as costas de um dedo ao longo de sua barba
de fim de dia.

Foi o mais leve e casual roçar de um dedo ao longo de sua mandíbula.

A resposta palpitante de seu coração foi totalmente desproporcional.


━ Nesse caso, sim ━ continuou Granger. ━ Mas apenas um dia de margem,
no meu melhor palpite. Não é tão fascinante quanto Revelações, você sabe.

Draco estava de alguma forma simultaneamente enraizado no local e


flutuando. Ele estava sem nervos. Ele era todo nervos. Seu pulso estava
alto. Isso era ruim. Ele deveria se ocluir e se afastar dela e também pular do
penhasco.

Em vez disso, como o cretino de vontade fraca que era, continuou.

━ E iluminuras? ━ ele perguntou. ━ Eu tenho alguma?

Se sua voz estava rouca, era por causa da vodka.

━ Ah, essa é uma pergunta interessante ━ disse Granger. Ela ficou pensativa
ao estudar o rosto dele.

Ela cheirava como as notas de mel da cidra.

━ Eu diria seus olhos ━ ela disse finalmente. ━ Isso é terrivelmente banal?

━ É ━ disse Draco. ━ Eu perdôo você; você não tem uma alma poética. São
iluminuras suntuosas?

━ Ah, sim. Esplêndidas. Elas brilham como folha de prata e tudo.

━ Eu deveria me dar à bibliotecária━ chefe como um presente.

━ Ela faria bom uso de você.

━ Embora... talvez eu prefira permanecer na coleção particular da Granger.

Granger deu um pequeno suspiro teatral.

━ Audacioso. Ela a seleciona ferozmente. Eu não teria tanta certeza de que


você faria parte da cota.

━ Minhas iluminuras, no entanto.


━ Mm. Elas são tentadoras.

Seus olhos se encontraram. E lá estava novamente a atração de seu olhar


escuro ━ a atração, o aceno, o convite para cair. Inspirou uma espécie de
desejo suave nele. Um desejo de alcançar e um desejo de cair. Uma estranha
e suave vertigem.

Ele sabia que ela não estava fazendo isso de propósito. Ele sabia que ela
não tinha planejado fazer isso. Não havia cálculo nela. Ela nem sabia o que
estava fazendo com ele.

E, no entanto, aqui estava ele, caindo, caindo...

Ela piscou e desviou o olhar.

Ele estava encarando.

━ Então ━ qual é a sua conclusão, Professora? ━ ele perguntou, usando um


irritador em Granger para garantir que ele soasse normal. ━ Você completou
sua avaliação?

Se havia alguma irritação da parte dela, foi diluída pela diversão.

━ Você tem família em Hogsmeade? ━ ela perguntou de uma maneira


casual.

Draco a viu formulando.

━ Se você está prestes a sugerir que eu pareço nosso barman de antes...

━ Mm. Uma verruga, ansiando por auto-expressão.

━ Oi.

━ Obrigado por tirar seus pés do quadro. Isso me trouxe uma clareza real. ━
Então, vendo seu aborrecimento, ela olhou para o céu. ━ Pare de pescar
elogios. Você sabe que é terrivelmente bonito.
━ Não me canso de ouvir.

━ Você deixou de ser um furão gorduroso. Aí: um elogio. Você está feliz?

━ Sim. Eu quero outro, por favor.

━ Não. Você é insuportável.

━ Fale do meu cabelo em seguida.

━ Não.

━ Sim.

Ela estreitou os olhos criticamente. Então os dedos dela correram pelas


pontas do cabelo dele, apenas por um momento.

Draco não permitia tocarem em seu cabelo. Aqueles que foram tolos o
suficiente para tentar foram enfeitiçados em uma pilha trêmula de carne
moída. Mas Granger...

Seu breve toque foi muito mais inebriante do que qualquer bebida que ele
tomou hoje.

Lá se foi seu pulso novamente, disparando para cima em outro ataque


desproporcional de excitação.

━ Mediano ━ disse Granger.

Draco fungou como se estivesse deixando o comentário passar com sublime


equanimidade.

Realmente, ele estava flutuante demais para dar a mínima.

Granger apertou os lábios e passou os dedos pelo cabelo dele novamente,


mudando sua parte para o outro lado.

━ Adequado, você sabe. Decente. Um dia, você encontrará alguém que pode
olhar para além disso.
Ela estava segurando um sorriso.

Suas pálpebras estavam pesadas; seu corpo parecia leve.

Ele queria retribuir algum tipo de elogio provocador, mas... ele não deveria.
Ele queria dizer a ela que ela era como a vodka ━ intoxicante mesmo nas
menores medidas e levando a erros de julgamento. Ele queria provocá-la
sobre como ela comia cerejas ━ quem mordia cerejas ao meio? Deve ser por
causa de sua boca pequena. Ele queria dizer a ela que se ele tivesse
superado sua fase de furão gorduroso, ela havia superado seus dias de
esquilo assustado. Ele queria fazer suposições sobre por que a varinha dela
estava empurrando coisas em sua virilha.

Mas isso borraria ainda mais a linha já indistinta entre provocar e flertar, e
ele não deveria estar flertando. Ele deveria estar anulando. Ele deveria
permanecer friamente neutro, não afetado, distante. Profissional. Ela era sua
protegida.

Ele deu uma olhada nela. Ela se virou para retomar sua batalha perene com
seu cabelo. Ela o afrouxou ━ ele sentiu cheiro de xampu ━ e então o
prendeu em um rabo de cavalo. E ele não estava olhando para sua nuca,
onde pequenos cachos escapavam e a pele era mais sensível e beijável. Ele
não estava olhando para a borda recortada de seu vestido, onde ele
mergulhava entre as omoplatas. Ele não estava olhando para o zíper.

Certo, mas e se ele apenas ━ apenas se movesse atrás dela e puxasse uma
parte de seu vestido de seu ombro e pressionasse sua boca naquele local?

Draco cruzou as mãos no colo. Ele não podia confiar nelas.

Ela era sua protegida.

Ele ficou vagamente consciente de que estava caminhando para o desastre.

Granger, alegremente inconsciente do tumulto causado por sua nuca,


empurrou um último grampo de cabelo no lugar.
(arte pela inigualável nikitajobson)

Então ela colocou a cestinha de cerejas entre ela e Draco se sentou ao lado
dele na beirada do promontório, de modo que suas pernas balançassem ao
lado das dele.

Eles falaram. Ele tentou não olhar para sua boca avermelhada. Tentou não
pensar na borda molhada da garrafa de cidra que eles passavam de um lado
para o outro. Seus ombros se tocavam de vez em quando. Ele sentiu o toque
ocasional de seus cachos quando o vento os provocava em seu caminho. A
brisa trouxe sugestões dela para ele, cidra e xampu e o sal da pele no calor
do verão.

Seria realmente tão terrível, não anular, apenas por enquanto? Ele havia
anulado por semanas, afinal. Ele sabia que poderia fazer isso de novo. Ele
poderia simplesmente desfrutar agora e voltar a anular depois, não poderia?
Seria bom, não é? Ele tinha tudo sob controle.

Eles jogaram caroços de cereja nos arbustos abaixo do promontório.


Granger disse que eles fariam um lindo bosque de cerejeiras, um dia. Draco
seguiu os caroços com feitiços de Herbivicus. Sua intenção era verdadeira;
aqui e ali abaixo deles, os caroços se dividiam e brotavam folhas pequenas
e tenras. Granger, encantada, lançou alguns Aguamenti.

A luz do entardecer tornou-se delicada e indescritível.

Granger se apoiou nas mãos e suspirou. Havia contentamento nisso.


Felicidade, mesmo.

Draco sentiu o olhar dela nele.

━ O que? ━ Ele perguntou.

━ Nada ━ disse Granger.

━ Diga-me.

━ É sentimentalismo piegas, alimentado por vodka.

━ Melhor ainda.

Ela escolheu as palavras com cuidado, mas, finalmente, falou.

━ Estou feliz que você continuou na tarefa de proteção.

Agora ela não estava brincando... agora ela estava sendo sincera.

Draco sentiu um sorriso, espontâneo, surgir em seu rosto. Uma alegria nova
e desconhecida cresceu em seu peito.
━ Você sabe... eu também ━ disse Draco.

Ela deu-lhe um olhar de soslaio. Havia um rubor em suas bochechas, ou


poderia ter sido o último do pôr do sol vermelho.

━ Sentimental.

━ Assustadoramente.

Algo dançava nas batidas de seu coração.

Ambos foram pegar uma cereja ao mesmo tempo. Houve um emaranhado


de dedos.

O toque foi fugaz, apressado. Qualquer outra coisa seria muito doce.

O ar da noite era de verão capturado por uma brisa ━ grama esmagada e


trevos. Um maçarico cantou.

E foi lindo, sentado ao lado de Granger, com o braço dele roçando o dela,
aqui no topo do promontório, que, nesse momento, parecia o topo do
mundo.
23. Draco Malfoy, Notório Auror

Bom dia, meu povo! Estou de volta.

Consegui adiantar mais capítulos para vocês, então aqui vamos, sem
delongas.

Reforçando, eu posto assim que eles estão prontos, então não tem
quantidade certa ou dia certo, mas estou fazendo meu melhor para
terminar essa história o quanto antes. Obrigada por todo o apoio e
incentivo.

Boa leitura! <3

──── ◉ ────

O brilho pós-Granger de Draco durou a noite toda. Quando ele voltou para
a Mansão, ele vagou, suspirando e olhando para fora das janelas. Ele sorriu
vagamente para nada. Pensou na nuca dela e onde mais gostaria de colocar
a boca. Ele leu algumas de suas mensagens antigas no Bloco. Ele se
entregou a um delicioso devaneio com ela na biblioteca, encostada nas
estantes.

Quando ele se viu flutuando em direção ao jardim de rosas para um passeio


à meia-noite – uma atividade sem precedentes para ele – Draco percebeu
que estava agindo como um imbecil apaixonado. De novo.

Seu cérebro, que estava à deriva entre aquelas estúpidas nuvens fofas,
voltou a cair para a terra, onde voltou a residir em seu crânio, mas mal-
humorado, como se ele o tivesse interrompido em algo importante. Como se
houvesse algo remotamente importante sobre cerejas e vestidos de verão e
estou feliz que você continuou na tarefa de proteção.
Na entrada do jardim de rosas, Draco girou nos calcanhares e voltou para a
Mansão. Ele se trancou em seu escritório, onde andava a passos largos,
recém-perturbado.

O que diabos havia de errado com ele? Vê-la tinha sido uma má ideia. Ele
tinha se saído muito bem durante o mês de julho, tirando Granger da
cabeça. A paixão tinha praticamente sido anulada. Mas então, na presença
dela, sua anulação durou uma hora. Uma hora!

Isso era preocupante. Agravante. Foda-se Theo e seu absurdo sobre a


ausência fazer o coração ficar mais afeiçoado; ele se saía muito melhor
quando estava longe dela. Quando ele não podia vê-la, provocá-la e ser
provocado por ela, cheirá-la, roubar olhares em sua nuca...

Draco meio que mergulhou em outro devaneio antes de se pegar fazendo


isso novamente.

Certo. Isso era corrigível. O próximo feriado de asterisco de Granger não


seria até Mabon – seria no final de setembro. Isso era tempo suficiente para
deixar essa coisa se desgastar e desaparecer.

Draco se inclinou contra a lareira apagada e bateu seus dedos contra ela. Ela
era sua maldita protegida. E – ainda mais importante – ele era Draco
Malfoy. Altamente elegível, perpetuamente desvinculado. Ele não fazia o
tipo imbecil apaixonado.

Seu Bloco zumbiu. Draco esperou dez minutos inteiros antes de verificá-lo,
durante o qual ele andou agitado enquanto dizia a si mesmo que estava
agindo com calma.

Não era Granger que estava chamando ele, de qualquer maneira. E ele não
ficou nem um pouco desapontado. Era Goggin, agendando uma sessão de
treinamento para a manhã seguinte. O que seria uma excelente saída para
essas energias loucas e frustradas com as quais ele estava lutando.

Draco respondeu, Sem varinhas, para garantir que Goggin lhe socasse um
pouco de juízo.
──── ◉ ────

No dia seguinte, Draco e Goggin socaram tanto sentido um no outro que


ambos se tornaram filósofos bastante veneráveis. Isso foi prejudicado por
um pequeno soluço: ninguém conseguia entendê-los através de seus lábios
gordos. O mundo passou sem sua sabedoria inexprimível.

Alguns dias se passaram, durante os quais Draco se saiu maravilhosamente,


de uma perspectiva de anulação. Granger tornou-se uma mera reflexão
tardia entre várias emergências, missões e sessões de treinamento brutais.

Draco ficou satisfeito consigo mesmo mais uma vez. Tudo ia ficar bem.

Seu primeiro contato com Granger foi iniciado por ela, e começou com um
insulto, o que era promissor.

Você está louco, foi a abertura de Granger.

Draco, que estava Agindo com Calma, esperou duas horas antes de
responder com: ?

Acabei de falar com Hipócrates, disse Granger.

Draco respondeu, Quem?

Hipócrates Smethwyck. O chefe do St. Mungus. Ele me mostrou sua carta.


Você queria colocar tantos zeros?

Draco achou desafiador agir com calma quando havia um sorriso em seu
rosto. Minha definição de grande atendeu às suas expectativas?

E para Excede. Estou devidamente chocada.

Você queria uma piscina, disse Draco. Isso leva outro zero.

Isso foi um devaneio ocioso! respondeu Granger. Draco podia ouvir a voz
dela ficando estridente. Você não me respondeu, re: loucura.
Ele não respondeu, porque seu primeiro impulso foi dizer a verdade, que
lhe dava um verdadeiro prazer em realizar seus devaneios ociosos, mas isso
era – isso era tão – eurgh. A verdade era uma bagunça açucarada.

O Bloco zumbiu novamente.

Estou sentada no trabalho tentando não chorar.

Mantenha-se firme, disse Draco.

Obrigada por fazer isso, disse Granger. Vai mudar muitas vidas para
melhor.

Isso pareceu uma forte observação conclusiva para Draco, que decidiu não
responder mais. Ele olhou para a conversa e ficou satisfeito consigo
mesmo: tinha sido esmagadoramente neutro. Bem, exceto, talvez, pela coisa
de 'definição de grande', mas isso era apenas – apenas flerte por esporte. Ele
nem fez a piada gritantemente óbvia quando ela disse que ficou chocada
com isso.

Viu? Isso estava indo bem. Tudo estava sob controle. Não tinha crush aqui.

Mais tarde naquela noite, Granger enviou outra nota, desta vez,
convidando-o para jantar em agradecimento; ela conhecia um bom lugar
francês, ele gostaria de ir? Draco leu o convite com um grau estúpido de
desejo. No entanto, um agradecimento pessoal representaria desafios para a
anulação e também, sem dúvida, garantiria outro de seus abraços. Quanto
menos desses ele conseguisse, menos cretino ele ficaria.

Ele disse, eu tenho outros planos. Você não precisa me agradecer, o


presente foi meu agradecimento a você.

Granger respondeu depois de alguns minutos: Tudo bem. Diga-me se mudar


de ideia.

Não. Ele não ia mudar de ideia sobre jantar com ela.

Ele só ia sonhar acordado com isso a noite toda, obrigado.


Dias se passaram. Smethwyck enviou planos para Draco para uma reforma
em grande escala da Ala Janus Thickey, de acordo com suas instruções. Os
planos eram notavelmente detalhados e completos. Arquitetos e engenheiros
consultores foram pré-selecionados, aguardando sua aprovação, para
reimaginar a Ala e criar um retiro de última geração para pacientes de
cuidados prolongados. Processos de consulta foram delineados, bem como
planos para treinamento de especialistas Curandeiros e enfermeiros. Foi
proposta uma nova estrutura para colaborações interdisciplinares e
pesquisas com foco em doenças de longo prazo.

O cheiro geral de competência que flutuou da página era, Draco sabia,


atípico da administração de St. Mungo. Cheirava a Granger.

Ocorreu-lhe que poderia perguntar a ela, mas não – era mais seguro manter
as comunicações no mínimo. Ele aprovou os planos e fez arranjos para a
transferência dos fundos.

Ele recusou um convite para participar de um anúncio-barra-festa no St.


Mungus em homenagem à doação; ela estaria lá. Ele, portanto, indicou que
desejava manter um perfil discreto e que a nova Ala era o foco, não ele. Por
favor, beba champanhe em sua homenagem.

Granger enviou-lhe um Bloco, após o evento, dizendo que esperava vê-lo


lá, por que ele não foi? Draco disse que estava ocupado – feiticeiro canibal
em Castle Combe comendo turistas, você sabe. Granger disse que, claro, ela
entendia.

Quando chegou a hora de reformular as proteções de Granger, Draco


deliberadamente escolheu momentos em que ela estava profundamente
focada nos intestinos de alguém na Emergência.

Nas semanas que se seguiram, Draco, cada vez mais desesperado, chegou a
ir em encontros. Eles foram bons, até onde foram – o que não era muito
longe. As bruxas não acionaram qualquer porção primitiva de seu cérebro
que costumavam acionar. Isso resultou em Draco agindo como um perfeito
cavalheiro, porque ele não fez nenhum movimento para foder, ou mesmo
beijar, ninguém, mas ele fez uma grande quantidade de puxar cadeiras e
abrir portas (para que elas pudessem sair).
Nenhum peito foi espalmado.

Theo o aconselhou que seu comportamento virtuoso foi lido como um


amadurecimento por seus conhecidos e que todos estavam agora
convencidos de que Draco Malfoy havia começado seriamente sua busca
por uma esposa.

O que era melhor do que a coisa da impotência, Draco supôs. Ele se


resignou a uma existência de monge (com punheta) porque, aparentemente,
nenhuma bruxa no mundo era boa o suficiente para seu pau, exceto uma,
talvez, mas ele não estava pensando nela. Ela não existia exceto como
Protegida sob proteção remota, cujo coração ocasionalmente o chamava
através do anel.

Mas estava tudo sob controle. Tudo estava bem.

Se Granger notou uma retirada da parte dele, ela não fez nenhum
comentário. Suas comunicações espelhavam as dele – breves e diretas.

Então agosto se transformou em setembro em longos dias sem Granger.

O outono chegou de repente depois de uma noite particularmente fria,


transformando os jardins frondosos da Mansão em um glorioso concurso de
cores.

O Escritório de Aurores estava ocupado. Uma bruxa convocou uma


abominação sobrenatural em Northamptonshire. Durante as três noites da
lua cheia de setembro, houve uma onda de ataques de lobisomens cujo
único objetivo parecia ser aumentar as infecções entre a população bruxa.
Tonks formou uma Força-Tarefa Lobisomem (a WTF). Potter, que liderou a
Força-Tarefa, disse a Draco que o nome era apropriado, já que suas reuniões
consistiam principalmente em dizer "Que porra é essa" quando as notícias
de novos ataques chegavam.

Em resumo, eram negócios como de costume.

Com o passar do mês, Draco começou a ficar de olho em seu Bloco. Com o
fim de setembro veio Mabon, o equinócio de outono.
Granger foi pontual. Alguns dias antes de Mabon, o Bloco de Draco
disparou. Quando ele viu que era dela, ele ficou extremamente controlado –
até mesmo entediado – e seu batimento cardíaco não acelerou nem um
pouco.

Com uma espécie de tédio, ele leu a missiva:

Não fiz nenhum trabalho de campo que eu deveria fazer antes de Mabon. O
dia consistirá em passear pelo Reino Unido, olhando cogumelos. Deixo seu
comparecimento a seu critério.

Chances de hags ou freiras? perguntou Draco.

De baixo a inexistente, disse Granger. Visitar túmulos megalíticos – apenas


exteriores – para examinar fungos.

Dada a sua propensão para atrair o perigo, espero um dilúvio de criaturas


sombrias.

O único dilúvio será uma mancha de chuva dificilmente digna desse nome,
disse Granger.

Tudo bem, disse Draco. Não irei, mas envie o itinerário quando estiver
pronto.

E, por pouco tempo, foi isso.

Até que o inferno rompeu, é claro, e Granger perdeu todos os seus


privilégios de ir sozinha antes que ela pudesse começar a gaguejar.

──── ◉ ────

O inferno começou em uma noite de quarta-feira. Draco estava no campo


de Quadribol da Mansão, perseguindo o pomo na chuva, quando sua
varinha apitou o alarme para o laboratório de Granger.

No mesmo momento, seu Bloco zumbiu com uma nota de Granger:

Alguém está aqui.


O que informava a Draco que não só havia alguém bisbilhotando nas alas
do laboratório de Granger, mas também que Granger estava no maldito
laboratório. À meia-noite. Sozinha.

O anel em seu dedo ecoava medo. Draco não se preocupou com explicações
para seus confusos companheiros de equipe, que o questionavam rudemente
sobre por que diabos ele estava checando seu maldito Bloco em vez de
pegar o pomo?

Assim que Draco puxou sua varinha para desaparatar, seu anel queimou.
Granger havia ativado o sinal de socorro.

Granger nunca havia ativado o sinal de socorro.

Caralho.

Um choque de adrenalina e pavor percorreu Draco, combinando com o que


ele sentiu através do anel. Ele desaparatou do campo para a Mansão e foi de
Flu para Cambridge. O Salão do Rei estava protegido contra aparatação,
então ele aparatou novamente do lado de fora de suas portas, onde bateu na
placa de bronze com sua varinha até que o prédio magicamente escondido
apareceu.

O anel queimava com urgência crescente. O coração de Granger estava


acelerado.

A vassoura de Draco ainda estava em sua mão e fornecia um meio


conveniente de subir os três andares do laboratório de Granger. Ao dobrar a
curva final a uma velocidade vertiginosa, pavor em suas veias, ele lançou
uma desilusão e uma enxurrada de feitiços de proteção em si mesmo.

Primeiro ele pensou que tinha perdido o intruso novamente. A placa


impessoal na porta – GRANGER. Toque para chamar – apareceu grande em
sua visão. Então ele ficou ciente de sons e movimentos do lado de fora da
porta. Draco acalmou a vassoura e sua respiração e lançou feitiços de
revelação não-verbal.
Três figuras desilusionadas apareceram. Dois estavam agachados e
trabalhando nas proteções – que estavam resistindo ao ataque sem
problemas – e um estava de sentinela. O sentinela não detectou a
aproximação silenciosa e invisível de Draco na vassoura.

Granger estava segura lá dentro – isso era o principal. Agora o pavor de


Draco deu lugar ao alívio e ao desejo de desmembrar sistematicamente cada
um desses homens.

O Salão do Rei não permitia Aparição ou Desaparição dentro de suas


paredes. O que era, neste momento particular, ideal. Draco atirou um
silencioso Caeli Praesidium por cima do ombro, que se expandiu em uma
ala geodésica, semelhante a uma gaiola, fechando o corredor atrás dele.
Esses homens não sairiam daqui por conta própria.

Três bandidos contra um Draco. Você tinha que sentir um pouco de pena
deles.

Ele deu um Estupefaça no que estava bancando sentinela, então lançou um


Finite para livrar os outros de sua Desilusão, e então o jogo começou a
sério. A julgar pela erupção de feitiços apontados em sua direção, dos dois
bruxos restantes, o alto era o duelista mais experiente e o careca era um
canhão solto em pânico e nervoso.

Draco, ainda desilusionado, encostou-se a uma parede e mandou mais dois


Estupefaças, desviados pelo mais alto. Ele conseguiu contato visual
suficiente com o careca para um ponto de Legilimência, que o informou que
uma maldição da morte estava vindo em sua direção. Ele rolou a vassoura e
voou até o teto enquanto a maldição piscava em verde onde ele estava um
momento antes.

Uma maldição de morte tão cedo no jogo era incomum – e também


terrivelmente antidesportiva.

Isso elevou as apostas. Chega de jogar bonito. Sem mais Estupefaças.

Draco cortou o braço da varinha do careca por sua insolência. Entre os


gritos e jorros de sangue, ele avaliou o bruxo alto. Sua tentativa de
Legilimência foi bloqueada por Oclusão de nível iniciante - apenas o
suficiente para impedi-lo de obter o próximo movimento do bruxo a essa
distância.

O alto mandou um Confrigo pelo corredor, grande demais para se esquivar,


forçando Draco a lançar um Protego e revelar sua localização aproximada.

— Aí está você, seu bastardo — sibilou o alto, e ele enviou outro.

Ela explodiu contra a proteção de Draco no final do corredor.

— Ele está nos trancando — engasgou o alto com essa visão.

O bruxo careca embalou seu cotoco sangrento no peito, pegou sua varinha
com a outra mão e ficou de pé. Um olhar em sua mente informou Draco de
outro iminente Avada Kedavra.

A segunda maldição cortante de Draco deixou o careca com uma amputação


dupla.

Quando os gritos recomeçaram, Draco disse:

— Eu lançaria um feitiço refrescante nos membros decepados, se eu fosse


você, sabe... para que eles possam ser recolocados.

O alto ficou em pânico, mas teve a presença de espírito de se desilusionar


novamente. Entre os gritos de careca, ele e Draco trocaram feitiços de
maldade e legalidade variadas, cada um procurando uma fraqueza nos
escudos do outro.

O bruxo alto era habilidoso em feitiços defensivos e desvios. Draco se


aproximou dele, esperando conseguir um feitiço de perto.

Draco conseguiu outro Finite, livrando seu oponente de sua Desilusão


enquanto se concedia contato visual suficiente para outra tentativa de
Legilimência. A esta distância mais próxima e com um empurrão mais
poderoso, ele vislumbrou uma Bombarda iminente.
Ele levitou o corpo estuporado da sentinela na sua frente para pegar o peso
dele. Duelistas nobres eram duelistas mortos – e Draco não pretendia ser
nenhuma dessas coisas.

O bruxo alto praguejou ao se ver cremando seu colega. Enquanto isso, os


gritos de dor do careca ecoavam pelo corredor e, francamente, distraíam.

— Shh — disse Draco, de pé atrás dele e mandando um feitiço silenciador à


queima-roupa em sua laringe.

O careca desmoronou, agarrando sua garganta convulsionada.

Draco foi atingido por um Finite. O que estava tudo bem – ele não se
importava que eles soubessem quem estava prestes a acabar com eles.

O alto fez uma corrida passando por Draco até a saída. Ele foi repelido pela
proteção e arremessado de volta para Draco.

Agora em pânico o suficiente para se voltar para maldições Imperdoáveis,


ele ergueu sua varinha, uma maldição mortal em seus olhos. Draco cuspiu
um Immobulus, congelando o braço da varinha do homem em sua trajetória
ascendente. A maldição da morte brilhou verde contra o teto.

Ele engasgou

— Seu f... — mas a maldição de asfixia de Draco o atingiu no pescoço. Ele


caiu de joelhos, agarrando a garganta.

Draco ajeitou suas vestes. As proteções estavam intactas e Granger estava


segura, e isso agora parecia uma oportunidade há muito aguardada para
obter algumas fodidas respostas.

Draco normalmente aderia, mais ou menos, aos protocolos padrões de


interrogatório de Aurores, mas esta noite, ele não tinha tempo para eles. Ele
puxou a cabeça do bruxo engasgado para trás pelos cabelos, forçou a abrir
os olhos e mergulhou em sua mente.

A Oclumência do homem oferecia pouca resistência em seu estado


semiconsciente. Draco empurrou através de suas memórias, seguindo o
fluxo de pensamentos que o levaram à porta de Granger esta noite. Este
homem, quem quer que fosse, era um peão – ele havia recebido uma ordem
de uma figura sombria em um quarto escuro e não sabia nada além de suas
instruções. Ele deveria invadir o laboratório de Granger e "confirmar o que
a garota estava fazendo". Draco passou um longo momento naquela
memória, tentando localizar a voz rouca.

O careca havia recebido suas instruções do alto, e por isso era ainda mais
inútil.

O sentinela era o mais inútil de todos, estando bem morto e exalando


cheiros de carne de porco queimada.

Maldito inútil. Draco estuporou os dois sobreviventes com vigor


desnecessário, diretamente no peito. Os membros decepados do careca
foram colocados sob um feitiço de estase.

Draco enviou um Patrono para Goggin, Tonks e o Serviço de Medibruxas.


Três Borzoi aristocráticos, altos e prateados, saíram de sua varinha e
correram para longe.

Ele se virou para a porta do laboratório e cortou as proteções. Alguns passos


o levaram até a porta do escritório de Granger, que ele esmurrou.

– Você está aí? Responda, ou vou derrubar a porta.

A voz trêmula de Granger veio:

— Que tipo de bolo você comeu em Tyntesfield?

Havia conforto em ela estar bem o suficiente para verificar se Draco era
realmente Draco.

— Semente de papoula.

Granger abriu a porta, varinha na mão, o brilho branco de um Protego


esperando brilhando em sua ponta. Ela parecia pálida, mas fora isso ilesa.
Seus olhos estavam enormes e escurecidos pelo estresse.
Draco lutou contra um desejo súbito e selvagem de levantá-la e apertá-la.

Adrenalina, obviamente.

— Houve — começou Draco.

— Eu sei — disse Granger. Ela ergueu o celular. — Eu assisti a coisa toda.

O interrogatório de Draco foi desviado do curso.

— O que?

— Tenho uma câmera na campainha — disse Granger. A tela do celular dela


piscou para ele. Mostrava o corredor agora silencioso, um arco de sangue
espalhado pela parede. O cadáver queimado era visível, caído contra os
rodapés.

Granger estava olhando para Draco com os olhos arregalados.

— Ah — disse Draco.

— Eles estão — eles estão todos mortos?

– Apenas um. Pego por uma Bombarda.

— O que eles queriam de mim? — A voz de Granger era baixa.

Ela estava abalada. Ela parecia frágil na frente de sua mesa sobrecarregada,
seus braços em volta de sua cintura, seus lábios pálidos.

Draco queria abraçá-la novamente.

— Eles tinham instruções para confirmar o que você está fazendo — disse
Draco.

Granger encontrou seus olhos. No dela – alarme, choque, preocupação. O


olhar dele provavelmente combinava.

— Merda — ela respirou.


— Sim — disse Draco. — O que quer que Shacklebolt estivesse
preocupado... finalmente está acontecendo. Vamos lá.

— Mas como?! — Granger estava juntando algumas coisas em seus bolsos,


incluindo pedaços de computadores. — E para onde vamos?

— Fora daqui. Os feitiços seguraram. Mas você nunca mais estará aqui
sozinha. Nós precisamos conversar.

— Minha casa?

— Tudo bem... por esta noite. Mas eles sabem onde você mora.

Goggin, Tonks e as medibruxas chegaram a momentos um do outro. Seus


passos ecoaram pelos três lances de escada até o laboratório de Granger e
eles irromperam no corredor.

— Olá, olá, olá — disse Tonks, observando a carnificina. — Um duelo à


meia-noite depois do Quadribol, não é? — Ela perguntou, quando viu o
conjunto de Draco.

— É por isso que cheirei bacon — disse Goggin, cutucando o corpo do


sentinela com sua bota.

A principal medibruxa fez uma careta e disse que não havia muito que ela
pudesse fazer por aquele, mas que o levaria para uma autópsia. Os outros
dois flutuaram em macas, às quais Goggin acrescentou correias bastante
desagradáveis, caso acordassem. Ele os seguiu.

Tonks avistou Granger e voou até ela, agarrou-a pelos ombros e perguntou
se ela estava bem.

— Sim – estou bem – Malfoy chegou em um minuto - disse Granger


enquanto seu rosto e suas mãos eram alternadamente agarradas e apertadas
por Tonks.

— Você tem certeza? Você não foi atingida? Ninguém entrou?


— Não... as proteções seguraram lindamente... eu estou bem, realmente,
Tonks...

— Bom. Brilhante. Excelente. — Tonks deu um tapinha nas bochechas de


Granger uma última vez e se virou para Draco. — Você teve a chance de
dar uma espiada?

Estritamente falando, os Aurores não deveriam conduzir interrogatórios sem


seguir procedimentos específicos nos suspeitos sob custódia. No entanto, os
praticantes de Legilimência eram autorizados a usá-la durante um
confronto. Se eles conseguissem algo útil durante, isso era um bônus de
sorte.

— Só um vislumbre — disse Draco. — Eles foram instruídos a confirmar


no que Granger está trabalhando. Vale a pena fazer um mergulho mais
profundo. O mais alto conversou com alguém... havia algo em sua voz... era
tão familiar, mas não consigo identificar...

— Vou interrogá-los pessoalmente — disse Tonks, seu cabelo se


transformando em um sinistro moicano vermelho-sangue. — Eu direi a
vocês dois no momento em que eu tiver alguma coisa. Hermione... meu
deus, você parece prestes a cair.

— Malfoy estava prestes a me levar para casa — disse Granger.

— Casa? — Tonks torceu o nariz. — Eu não gosto de casa. Suspeitamos


que eles já estiveram bisbilhotando por lá, não é?

— Vou ficar com ela durante a noite — disse Draco. — Então podemos
fazer outros arranjos.

— Outros arranjos? — Perguntou Granger enquanto ele e Tonks a


arrastavam escada abaixo.

— Um esconderijo, estou pensando, até entendermos o que está


acontecendo e prendermos os responsáveis — disse Tonks.

— Mas eu tenho...
— Vamos nos esforçar para o mínimo de interrupção no trabalho e na vida
— interrompeu Tonks. Seu tom, embora amigável, não admitia discussão.

Granger parecia resignada. Era difícil levantar uma objeção quando a


evidência de bandidos tentando machucá-la estava espalhada com sangue
pela parede.

Tonks virou-se para Draco.

— Agora que eles fizeram um movimento, eu quero proteção de Auror 24


horas por dia com ela, pessoalmente. Quando você não estiver disponível,
faça arranjos. Eu posso dispensar Weasley quando necessário. Goggin e
Humphreys também.

— Entendido.

Eles saíram do Salão do Rei. O quadrilátero de Trinity brilhava com orvalho


sob a lua minguante de setembro.

— Eles finalmente começaram a mostrar suas cartas — disse Tonks,


batendo no lábio. — Vamos ver o que posso descobrir com o sem-mãos e o
amigo esta noite. Hermione... uma xícara de chá ou algo mais forte, por
favor. Bem, suponho que você seja a Curandeira, você sabe como tratar
choque.

Com isso, Tonks levantou sua varinha, girou nos calcanhares e desaparatou.

Draco estendeu o cotovelo para Granger.

— Vamos lá.

Seus olhos ainda estavam arregalados. Ela hesitou por um momento, então
pegou seu braço. Eles se acotovelaram quando ele girou para a
Desaparatação. Ele imaginou que a sentiu estremecer.

Eles se materializaram na cozinha escura de Granger. Ela jogou um


Incendio na lareira e acendeu algumas luzes trouxas.
Então eles ficaram no meio da cozinha e olharam um para o outro. Havia
algo tenso nisso.

Draco tinha um monte de coisas borbulhando, querendo ser comunicadas –


que tinha sido um maldito alívio vê-la ilesa, que ela nunca iria trabalhar
sozinha novamente, que se o interrogatório de Tonks não rendesse nada, ele
iria pessoalmente espremer as mentes dos homens sobreviventes para obter
qualquer nova gota de informação...

Granger estava com uma mão na outra, um sinal claro de que ela também
tinha coisas a dizer.

— Obrigada — começou Granger, assim que Draco disse: — Eu...

Ambos ficaram em silêncio e esperaram que o outro falasse.

Granger disse: — Você — e Draco disse: — Você...

Mais uma vez eles se interromperam em silêncio. Granger torceu as mãos


novamente, mas havia exasperação nelas.

— Pelo amor de Deus. Fale!

— Qual é o seu protocolo de tratamento para choque?

— Er... bem, existem vários tipos de choque, é claro, então...

— Psicológico.

— Mágico ou trouxa?

— Mágico.

Granger recitou uma lista, contando nos dedos:

— No imediato: remoção do estímulo que causou o choque. Uma bebida de


opimum tranquillitas, excelente para sofrimento emocional, agitação
psicomotora, transtornos de pânico. E, claro, tranquilização.
— Certo — disse Draco. — Vamos começar com isso, então podemos
conversar. Você tem algum opimum tranquillitas aqui dentro?

— Para mim?

— Sim — disse Draco, cutucando as plantas crescidas no parapeito da


janela.

— É o de folhas largas. Mas eu estou bem.

— Não, você não está. Você se tornou um cadáver de Veela novamente,


menos o cabelo.

Granger olhou para o lado de um vaso brilhante e soltou um suspiro ao ver


seu reflexo.

— Oh meu Deus. Eu vou... eu vou colocar a chaleira, posso?

Suas mãos tremiam.

— E você? — perguntou Granger enquanto a água fervia. Seu olhar correu


pelo rosto dele. — Você está totalmente imperturbável, eu suponho... esses
tipos de episódios devem sair de você.

Draco, tirando suas luvas de Quadribol, deu de ombros com indiferença


fingida. Ele não tinha interesse em informá-la de que, na verdade, sua
corrida louca para o lado dela havia sido marcada por um pavor profundo e
algo próximo ao pânico.

— Eles não conseguiram me acertar, exceto um Finite. Já vi piores.

— Devo lhe oferecer uma xícara? — perguntou Granger.

— Vá em frente — disse Draco, enquanto o cheiro flutuou até ele.

Granger serviu a tisana em duas canecas e eles se sentaram à mesa da


cozinha.

Ela ainda estava olhando para ele com aquele olhar de olhos arregalados.
De todas as coisas que Draco queria deixar escapar, questioná-la sobre isso
parecia a menos arriscada.

— Por que você está me dando um olhar nauseado de lado?

Granger não parecia saber para onde olhar.

— Eu... er... acho que estou um pouco desconcertada, tendo visto você em
ação contra aqueles homens. Você foi... ela procurou por uma palavra por
um momento – bastante implacável.

— Quando alguém usa uma maldição de morte não bloqueável de início,


você não mexe com Estupefaças.

— Ah, sim — disse Granger, endireitando-se e assentindo. Ela começou um


tipo nervoso de balbucio explicativo. — Acho que quero dizer que... que eu
nunca vi você assim. Eu conheço você principalmente como... como um
espinho no meu lado que aparece quando não é desejado e faz comentários.
Eu sabia, conceitualmente, que você era um excelente duelista, mas é outra
coisa ver isso. Sabe? Isso... isso ficou claro. Foi impressionante. Você foi
aterrorizante. Mas eu sou... muito grata. Eu girei o anel e não tinha ideia se
você viria. E então você estava lá. E havia sangue por toda parte. E eu
estava segura. Então... obrigada. Vou parar de falar agora. Você gostaria de
mais ópio? Acho que precisamos de mais opimum. Vou fazer outro chá para
nós, posso?

Granger não esperou por sua resposta e se levantou para se mexer com a
planta e a chaleira. Ela estava perturbada e descomposta. Ela derrubou o
coador.

O passo final no protocolo de Granger tinha sido tranquilização. Draco


supôs que poderia tentar.

Ele levantou para ficar ao lado dela na bancada e acalmou suas mãos com
as suas próprias. Granger se encolheu com o toque e olhou para ele em
confusão.

— Agora vou tentar tranquilização — declarou Draco.


Era a coisa certa a dizer. Granger deu uma risada pequena e inesperada.

Terrivelmente banal como ele tinha sentido falta desse som.

A tensão desajeitada, as persianas do distanciamento, afrouxaram.

— Vá em frente, então — disse Granger, um sorriso confuso brincando no


canto de sua boca.

— As mentes dos bandidos que pegamos esta noite vão ser torcidas por
cada pingo de informação que elas contêm consciente ou
inconscientemente.

Granger assentiu.

— E então vamos descobrir quem os enviou e vamos pegá-los. E você


poderá continuar sua pesquisa sem impedimentos.

— Obrigada.

— As proteções foram mantidas e você está segura.

Ela assentiu novamente.

Ele poderia ter terminado ali. Mas ele tinha algo mais a dizer. Seu aperto se
contorceu em torno de suas mãos.

— E... eu preciso que você saiba uma coisa.

— Sim?

— Eu sempre virei até você quando você girar esse anel.

Sua voz o traiu; ela ficou um pouco rouca.

Granger não esperava a sinceridade - na verdade, ela parecia devastada por


isso. O sorriso se foi. Agora parecia que ela queria chorar.

Ela quebrou seu aperto e pressionou as costas de sua mão em sua boca.
— Desculpe, eu... apenas...

Houve silêncio. Em seguida, uma grande fungada. Granger olhou para o


teto.

Então ela se virou para ele e se derreteu em seus braços.

Oh, ele queria isso. Uma parte distante de seu cérebro disse, porra,
finalmente. Não houve constrangimento desta vez; seus braços sabiam
exatamente o que fazer. Ele a pegou e a apertou e a segurou contra seu
peito. Ele ouviu e sentiu sua respiração estremecendo enquanto ela lutava
contra as lágrimas. Ele murmurou algumas coisas – que não havia problema
em chorar, que o laboratório dela havia sofrido uma intrusão violenta e isso
era angustiante e terrível, que choque e medo eram reações totalmente
normais.

Ela podia ouvir seu coração batendo em seu peito? Ele ainda estava com
seu uniforme de Quadribol. Ele provavelmente fedia. Por que ela estava tão
frágil? Sua respiração estava quente. Seus braços eram uma pressão doce
em torno de suas costelas. A sensação de sua cabeça pressionada contra ele
era indescritivelmente preciosa. A sensação de seu peito, expandindo e
contraindo contra os braços enquanto ela respirava era algo raro e para ser
estimado.

Era prazer e miséria, segurando Granger naquele abraço. Isso rompeu com
quaisquer fortificações que ele criou no último mês com um estilhaço
cristalino. Isso o fez querer dizer coisas, deixar escapar coisas, dizer a ela
que ele sentia falta dela e que ele queria – estar mais com ela, o que quer
que isso significasse. Que ele estava anulando as coisas porque não queria
fazer parte dessas coisas, mas elas ainda existiam, uma bagunça fervilhante,
turbulenta e indescritível. Que essas coisas o atormentavam nas primeiras
horas da noite, quando o mundo estava quieto e ele estava sozinho com seus
pensamentos. Que ele não iria falar nada disso, porque ele estava com
muito medo de arriscar a coisa que eles tinham agora – esta dança na ponta
de um fulcro, este equilíbrio.

Ele não podia contar a ela. Este não era o momento. E além disso – ele não
arriscaria. Isso mudaria as coisas. E ele amava o que quer que fosse, agora,
mais do que odiava a sensação de que não era suficiente.

Prazer e miséria. Prazer e miséria. As batidas dele alternavam com seu


pulso, uma de alegria, duas de tristeza, uma de alegria, duas de tristeza.

A respiração de Granger desacelerou. A tensão nela se dissipou. Ela


suspirou contra ele e seus braços se soltaram ao redor de suas costelas e
suas mãos foram enfiadas no peito dele, e ele sofreu, e ele queria voar.

Draco ficaria feliz ali por uma eternidade, abraçando-a. Foi Granger, que
Deus a abençoe e amaldiçoe, quem acabou com isso.

Ela não chorou. No entanto, ela disse, com a voz tensa e sem olhar para ele:

— Preciso de um momento. — E saiu da cozinha.

Draco ouviu uma torneira correndo.

Ele andou a passos largos para limpar a cabeça, passando as mãos


perturbadas pelo cabelo.

Ele bebeu a tisana agora morna, desejando que fosse fortificada por alguns
goles de uísque. Espalhou uma agradável sensação de entorpecimento pela
garganta e pelos membros. Perto o suficiente.

Ele estava composto. Isso era bom.

Granger voltou. Algumas gotas de água permaneciam em seu rosto de sua


visita ao banheiro. Seu coque tinha sido refeito, mais alto e mais apertado.

— Certo — disse Granger, retomando seu assento com uma vivacidade


renovada.

Ela parecia ter esgotado sua cota de emoções para o dia e não tinha mais
nada para dar e, além disso, as coisas precisavam ser discutidas.

Ela bebeu metade de sua tisana, abaixou a caneca e perguntou:


— Como aqueles homens sabiam sobre mim? Por que meu laboratório? Eu
não disse nada. Não publiquei nada. Eu sou, para todos os observadores,
uma acadêmica terrivelmente desinteressante no meu próprio ramo em
pesquisas obscuras. Então, como?

— Eu não tenho uma resposta — disse Draco. — O que eu quero saber é


quem. Quem é a população com a qual Shacklebolt estava tão preocupado?
Porque era absolutamente ela, na porta.

— Não deveria importar — disse Granger. Ela parecia irritada, um


excelente indicador de que estava se sentindo mais ela mesma. — Eles não
deveriam saber. Como eles sabem?

— Não importa como. Eles sabem. Passe-me sua mão.

— Eu prometo a você que não preciso de mais tranquilização — disse


Granger, mantendo a mão afastada.

— Voto de Sigilo — disse Draco.

— Mas...

— Eu lhe disse que se houvesse outro incidente, eu precisaria saber. E isso


foi mais do que um incidente... foi um arrombamento descarado e
sangrento. Isso não é mais uma reação exagerada de Shacklebolt. É real.

O olhar de Granger era uma mistura turbulenta de preocupação, raiva,


impotência e frustração.

Draco estendeu a mão novamente.

Ela suspirou.

— Tudo bem. Tudo bem. Mas... mas você deve prometer fazer o que Tonks
disse. Sobre interrupções mínimas. Eu não vou ser trancada e mantida longe
do meu trabalho. É importante demais.

— Eu prometo.
— Eu sei que você vai ficar todo... todo...

— Todo o quê? — perguntou Draco, quando ela permaneceu presa no final


da frase.

— Não sei. — Granger parecia ansiosa. — Arrebatado. Zeloso.

— Absurdo. Eu sou a definição de comedido. Me dê sua mão.

— ...Você acabou de queimar um homem vivo.

— Eu não o queimei.

Granger soltou um som frustrado.

— Mão — disse Draco.

Com apreensão, Granger estendeu a mão para ele. Era aquela com o anel.
Ele agarrou-a na sua. Era delicada e quente.

Draco apontou sua varinha para suas mãos unidas e murmurou o


encantamento para o Voto.

Fios de ouro emanavam de sua varinha e envolviam suas mãos em espirais


hipnóticas. Ele sentiu a magia tomando conta, uma espécie de pressão na
garganta e nas palmas das mãos, prometendo supressão mágica se ele
tentasse transmitir o segredo ao mundo.

Ele travou os olhos com Granger: estava na hora.

Ela respirou fundo. E, para surpresa de Draco, em meio à preocupação no


olhar dela, ele viu uma confiança tranquila e firme.

— Você está pronto? — perguntou Granger.

— Sim.

Granger respirou fundo.


— Eu vou curar a licantropia.

──── ◉ ────

Confesso que tremi na base quando li esse capítulo pela primeira vez. Que
os jogos comecem agora!
24. Draco Malfoy, Punheteiro

Granger tinha, como sempre, enunciado perfeitamente claro. E ainda assim,


Draco se viu processando a frase dela com dificuldade.

E ela não tinha terminado.

— A licantropia para começar, é aí que os resultados têm sido os mais


promissores. Mas, eventualmente, o vampirismo também. E talvez eu
consiga reverter o Beijo do Dementador, em vítimas recentes.

Draco sentiu sua boca aberta. Ele fechou.

Granger o olhava apreensivamente.

— Então... então não é bem uma Panaceia.

— Puta merda, Granger.

— Muito — disse Granger.

— Explique.

Granger parecia muito cansada para assumir seu habitual ar professoral. Ela
respirou fundo e parecia estar organizando seus pensamentos.

— Essas doenças têm sido a ovelha negra dos curandeiros por séculos e
séculos. Incurável. Muitas vezes mortal. A medicina trouxa fez avanços
incríveis em terapias direcionadas para suas próprias doenças "incuráveis"
nas últimas décadas. Eles desenvolveram algo chamado imunoterapia,
usando o próprio sistema imunológico do paciente para combater condições
específicas. Eu apresentei em Oxford, você se lembra? Bem, para
simplificar demais, estou aplicando esse conceito a doenças mágicas. Meu
tratamento imitará a ação de anticorpos, visando doenças mágicas
específicas.

Granger olhou para os fios de ouro ainda emanando da varinha de Draco,


verificando se ainda era seguro revelar detalhes.

— Essencialmente, ajudarei o sistema imunológico do paciente a montar


sua própria resposta às células infectadas. Será um longo curso de
tratamento — dois ou três anos de infusões, quinzenalmente — mas,
eventualmente, o corpo do paciente aprenderá a combater a doença. E
espero erradicá-la completamente. Um dia, haverá pacientes de licantropia
em remissão. Sem mais Poção de Acônito. Sem mais transformações.

Draco recostou-se e tentou manter os olhos na cabeça. Granger estava


curando uma condição que atormentava o mundo bruxo por séculos e
séculos. Ela era brilhante. Ela era excelente. Ela era uma lenda absoluta. Ela
estava no nível de Merlin, Cerridwen e Circe. Ela deveria estar em
figurinhas dos sapos de chocolate.

— Você deveria estar em uma figurinha de sapo de chocolate - disse Draco,


já que isso era o menos ridiculamente efusivo de seus pensamentos.

— Já sou uma figurinha dos sapos de chocolate — disse Granger.

— Certo. — Draco a encarou. — Então, para que foi toda essa andança?

Granger o estudou como se decidisse até que ponto ela precisava simplificar
demais.

— O tratamento tem como alvo as células doentes e interrompe suas


funções para que elas morram de fome ou morram. Mas precisa de um tipo
de soro para entregá-lo às células e ligá-las. Sanitatem era uma base perfeita
para esse soro. Também ajudaria a proteger os pacientes de alguns efeitos
colaterais difíceis — o tratamento é particularmente difícil para os sistemas
endócrinos e também pode desencadear tempestades de citocinas. Mas o
Santitatem padrão não era poderoso o suficiente por si só. Há uma espécie
de — uma espécie de proto-Sanitatem que tenho lutado para recriar desde o
ano passado. As mesmas classes de ingredientes, apenas mil vezes mais
potentes magicamente. A água do Poço Verde em Imbolc em vez de água
benta. O sangue de um Dragão Ancião colhido em Ostara, em vez de
sangue de dragão normal. Uma relíquia sagrada ossificada tirada no
Solstício, em vez de mero osso humano...

Granger moveu suas mãos ainda unidas para que descansassem na mesa;
seu braço devia estar cansado. O que significava que agora estavam de
mãos dadas sobre uma mesa. O que era bom e não significava nada.

Draco voltou sua concentração para o Voto magicamente exigente e as


palavras intelectualmente exigentes de Granger.

— O texto original com a fórmula proto-Sanitatem foi perdido ao longo dos


tempos, mas existem referências a ele aqui e ali. Revelações continha a
maioria dos fragmentos. Mas eles eram horrivelmente vagos — foi escrito
por uma Herbologista-filósofa que estava gravando o que parece ser uma
versão de terceira mão de algum lugar, e seu foco está infalivelmente na
flora e nos fungos dos locais sagrados, com poucas outras descrições para
me ajudar a identificá-los. Daí minhas andanças de ganso selvagem por
todo o país. Minhas férias em Mabon consistirão em visitar dólmenes que
registraram colônias de Agaricus aureum e Agaricus silvaticus, porque isso
é o que mais a intrigava, Deus a abençoe.

Granger terminou sua tisana agora fria.

— A luz está no fim do túnel, restando apenas Mabon e Samhain. Quando


eu tiver sintetizado as primeiras doses do tratamento, estarei pronta para
passar para a fabricação. É aí que Larsen e seu laboratório entrariam. Ele
produz drogas imunoterápicas e tem uma excelente compreensão dos
biomecanismos das doenças, e tem as instalações para produção em massa.
Mas ele saiu completamente do mapa. Eu teria que procurar outro
colaborador com — você sabe — o enorme tempo livre que tenho. Acredito
que poderia tentar sínteses em menor escala em meu próprio laboratório —
talvez o suficiente para ensaios clínicos...

Granger parou, observando o redemoinho dos fios dourados do Voto entre


suas mãos.
— Eu acho — eu acho que isso é a maior parte — ela disse, sua mão se
contorcendo contra a de Draco.

— Certo — disse Draco. Ele olhou para Granger em uma espécie de torpor
por um momento, então disse: — Secretum finitur.

Uma fita final de luz dourada emanava de sua varinha, envolvia suas mãos,
então viajou pelo braço de Draco e pelos lábios antes de desaparecer. Sua
língua estava pesada e havia uma nova sensação de restrição em suas mãos.
Desapareceria em algumas horas, mas era um lembrete físico de que agora
ele estava ligado por feitiço.

Ele soltou um suspiro pesado e abaixou sua varinha.

— Você deve estar devidamente exausto — disse Granger, olhando para ele.
— Esse feitiço é difícil de sustentar por muito tempo.

— Um verdadeiro malandro.

— Poção de reabastecimento?

— Tudo bem — disse Draco, deixando a bravata de lado. Parecia mais


sensato não estar magicamente fatigado quando Granger tinha sido um alvo
ativo hoje.

Ela flutuou um frasco em suas mãos de um repositório de garrafas presas


contra o painel antirrespingo. Draco bebeu a mistura amarga em um único
gole.

Agora que o primeiro choque de descobrir a verdadeira natureza do


empreendimento de pesquisa de Granger estava passando, ele poderia se
voltar para preocupações mais urgentes.

Ele entendia, agora, um pouco da mistura de prazer e pânico de Shacklebolt


— e, na época, não havia sequer um ressurgimento de lobisomem em
andamento.

De repente, Draco encaixou a voz rouca que tinha ouvido na memória do


intruso.
Ele não a ouvia há 15 anos.

— Merda — disse ele, sentando-se e passando a mão pelo cabelo. — Eu sei


quem deu a esses homens suas instruções. Foi a porra do Fenrir.

Granger empalideceu.

— Greyback?!

— Sim.

— Não! Não... não pode ter sido. Ele está morto há uma década.

— Presumidamente morto. Houve relatos ocasionais de avistamentos...


Argentina, Bolívia, Peru... Tudo sem fundamento. Mas é absolutamente
quem era, hoje, na memória daquele bruxo. Merda. E há mais merda...
houve um aumento nos ataques de lobisomens em todo o Reino Unido. O
DMLE nos fez ficar quieto enquanto investigamos.

— Houve o quê?! — disse Granger, pulando para frente em seu assento tão
de repente que seus joelhos bateram. — Há quanto tempo isso vem
acontecendo?

— Quando foi a lua cheia? Uma semana atrás? E então houve aquela
erupção de infecções em bebês no Lake District alguns meses atrás, mas
pegamos o indivíduo responsável. Pelo menos, pensávamos que tínhamos.

As mãos de Granger estavam pressionadas ansiosamente em sua boca.

— Você está pensando que Greyback voltou, e de alguma forma ouviu falar
do meu projeto, e está deliberadamente infectando mais pessoas como —
como uma espécie de contramedida? Vingança? Aviso?

Draco se levantou e começou a andar.

— Ele sempre teve um prazer doentio em espalhar sua doença para tantos
inocentes quanto possível. Se aquele lobisomem idiota suspeitar que você
está trabalhando em uma cura genuína para a licantropia, e ele está de volta
em solo inglês, temos motivos reais para preocupação.
Com isso ele quis dizer que estava genuinamente preocupado com o bem-
estar contínuo de Granger.

Granger estava pálida.

— Shacklebolt sabe sobre os ataques?

— É o arquivo de Potter, mas acho que não. Robards — ele lidera o DMLE
— queria ver se era outro caso único, como o mordedor de bebês no Lake
District. Shack vai dar uma cambalhota.

Granger gemeu e pressionou os dedos na testa.

— Ele vai. Ele já estava muito preocupado com a minha segurança quando
o tratamento era hipotético e os lobisomens eram uma ameaça
desorganizada e inexistente, que não faziam ideia do que eu estava fazendo.
Agora eles sabem, e Greyback está de volta? Shacklebolt ficará frenético.
Ele vai querer medidas de proteção ridículas — ele vai querer me trancar.

Sua voz estava tensa e ansiosa. Seu próximo olhar para Draco falou de um
medo de longa data de que ele também pressionaria para trancá-la. Ele
entendia, agora, sua reticência em lhe dizer qualquer coisa. Porque os
impulsos surgiram desse novo conhecimento do que ela estava fazendo —
impulsos para forçá-la a se esconder e, sim, para prendê-la. Sequestrá-la
para longe, a quilômetros daqui, continentes daqui, e garantir que Greyback
nunca tivesse a oportunidade de machucá-la.

Mantê-la segura sempre foi o objetivo, mas a importância vital disso agora
o pressionava como uma dor, como um medo. Era adoecedor.

Os três homens em seu laboratório tinham sido uma mera prévia do que
estava por vir. E mesmo assim, foi uma coisa próxima — e se eles tivessem
conseguido quebrar as proteções, pensando que o laboratório estaria vazio à
meia-noite, e encontrassem Granger lá? Com aquele idiota usando a
maldição da morte à vontade, e ela, encaixotada naquele pequeno escritório,
sem ter para onde ir? Ela estaria morta em um momento.

Sim. Draco também queria trancá-la.


Ela deve ter visto um brilho nos olhos dele, porque ela se sentou, e a
ansiedade foi substituída por um fogo repentino.

— Trancar-me não é uma opção. Devo terminar meu trabalho. Você


prometeu interrupções mínimas.

— Eu sei o que eu disse. Mas sua segurança vem em primeiro lugar. Eu não
sabia que era a porra do Greyback.

— Se o objetivo de Greyback é combater minha cura com infecções,


precisamos combater isso com o tratamento. Devo continuar
ininterruptamente. Recuso-me a priorizar minha segurança em detrimento
de potencialmente milhares de inocentes. Eu me recuso.

— Se você morrer, eles estarão fodidos de qualquer maneira.

Até mesmo Granger teve que admitir esse ponto, o que ela fez com um
suspiro, deixando cair a cabeça entre as mãos.

— Quanto tempo levará para terminar de desenvolver seu tratamento? —


perguntou Draco.

— Se tudo correr de acordo com meus modelos preditivos, devo estar


pronta para iniciar os ensaios clínicos até dezembro.

— São mais três malditas luas cheias — disse Draco.

Granger parecia sombria.

— São três meses de organização, para Greyback. Você vê por que não
posso adiar as coisas - não posso parar e me esconder até que ele seja pego.
Ele pode causar tanto dano...

— Eu entendo — disse Draco.

Agora ele também queria suspirar e deixar cair a cabeça entre as mãos,
porque teria sido muito mais simples levar Granger embora até que Fenrir e
seus acólitos fossem presos. Mas Granger estava certa; adiar seu projeto até
que Greyback fosse pego poderia significar potencialmente dezenas de luas
cheias. O homem havia escapado da captura por 15 anos.

— Nós vamos ter que contar ao Potter — disse Draco. — E Tonks.

— Concordo — disse Granger, ficando ainda mais séria. — Eu me


preocupo um pouco com Tonks. Isso vai chegar bem perto de casa, para ela.

— Por causa de Lupin?

— Sim. Os licantropos têm um risco desproporcional de mortalidade


prematura e ele tem estado — doente. Mas não quero dar a ela falsas
esperanças de que posso ajudar seu marido. Os ensaios clínicos são ensaios
por uma razão, você sabe. O fracasso é par para o curso. Meus dados
sugerem sucesso, mas esta é uma nova terapia — ninguém jamais
combinou imunoterapia com métodos mágicos ou a usou para tratar uma
doença mágica. Este é um território totalmente inexplorado, clinicamente
falando.

— Se alguém pode fazer isso, é você. Não houve uma bruxa ou bruxo vivo
com sua combinação de conhecimento mágico e trouxa. Você é... você é...
— Draco se interrompeu e se virou para olhar pela janela escura. — Puta
merda. Eu não posso acreditar que vou viver para ver a licantropia curada
em minha vida.

Se ele já não estivesse cultivando o Algo por Granger, Draco teria


começado uma paixão intelectual por ela naquele momento.

Mas voltando a assuntos mais urgentes.

— Quando os homens de Greyback não voltarem esta noite, ele saberá que
foram pegos — disse Draco. — Uma invasão de laboratório não deveria ter
resultado na apreensão de todos os três — a menos que o laboratório
estivesse excepcionalmente bem protegido. E por que estaria
excepcionalmente bem protegido, senão para esconder algo excepcional?
Greyback provavelmente vai ler isso como uma confirmação de que você
está fazendo o que ele pensa que você está fazendo. As coisas vão ficar
perigosas. Seu objetivo principal será matar você.
Granger apertou os lábios em uma linha infeliz.

— Acho que realmente não posso ficar aqui?

— Esta noite tudo bem. Eu não acho que eles vão tentar outra coisa. Depois
disso? Não. Alguém já farejou suas proteções aqui uma vez. Provavelmente
eram eles. Eles devem ter decidido que seu laboratório era um alvo mais
valioso. Não que eles encontrem alguma coisa lá, graças às suas nuvens e
coisas. A única coisa real de valor em qualquer ponto é — você. Esta noite
foi a sua última noite sozinha lá. E você vai ter que restringir seus
movimentos em público.

— Mas eu tenho tantas coisas para fazer — disse Granger, pressionando os


dedos nas bochechas em uma espécie de desespero. — E quanto a Mabon?

— Eu vou contigo.

— E ensinar? E a urgência e emergência? E todo o resto?

Draco tentou ser tão comedido quanto ele prometeu que era e não
categoricamente dizer a ela que ela nunca ficaria sozinha novamente.

— Até pegarmos Greyback e quem estiver trabalhando com ele, você pode
esperar um Auror com você em todos os lugares. Eu concordo que seu
trabalho tem que continuar — Granger parecia aliviada enquanto Draco
falava essas palavras — mas Greyback é implacável. Ele terá uma rede
inteira de seu antigo bando aqui e os levará ao frenesi. Ele prefere morrer a
ver você curar a licantropia. Ele provavelmente se cagou quando descobriu
no que a grande Granger estava trabalhando — deuses, eu adoraria ter visto
a reação dele...

— Como ele descobriu — é isso que eu quero saber. Você não acha —
Shacklebolt?

Draco balançou a cabeça.

— Não. Por que ele insistiria na proteção dos Aurores tão cedo? E você o
ligou com um Voto Perpétuo também.
— A menos que um dos meus alunos? Mas eles estão trabalhando em
pedaços de cerca de doze projetos para mim. Eles não conhecem o quadro
maior. Não pode ter sido.

— Os vazamentos acontecem. Tentaremos descobrir como e onde — mas


minha preocupação imediata é como mantemos você segura e capaz de
continuar trabalhando.

— Devo me preocupar com os vampiros? - perguntou Granger.

— Inferno — disse Draco passando a mão pelo rosto. — Não sei. Eles
nunca foram tão expansionistas quanto os lobisomens. Mais interessado em
alimentação do que em transformação. Mas e se souberem de uma cura?
Não sei como eles reagiriam. E você disse — Dementadores?!

Granger mordeu o lábio.

— Sim. Pode ser. Se a vítima for trazida com rapidez suficiente.

— Corta essa.

— Estou falando sério.

— Como, céus, a 'imunoterapia' significa restaurar uma alma?

Granger acenou com a mão em um gesto arrogante de dispensa.

— Não há sugadores de alma. Esse é o embelezamento típico dos bruxos. É


morte cerebral. O Beijo do Dementador transfere uma bactéria necrosante
agressiva para a vítima. Ele ataca o cérebro, bem como o corpo. Altamente
virulento.

— ...Sério?

— Sim — disse Granger. — Você deveria ler Rasmussen e Vestergaard.

Diante do olhar vazio de Draco, ela acrescentou:


— Os necrologistas dinamarqueses? Não? Suponho que você não
acompanhe as revistas médicas. Eles fizeram incursões impressionantes no
estudo dos dementadores na última década. A condição é uma doença
mágica, como licantropia e vampirismo. Causa putrefação em minutos e
perda irreversível da função cerebral em horas. De qualquer forma...
começamos a triagem de pequenas moléculas de alto rendimento no
laboratório e vimos bons resultados preliminares. É potencialmente curável,
se a vítima for trazida rapidamente.

Draco a encarou.

Granger se mexeu em seu assento.

— Mas — novamente, esta é a medicina mais experimental. Estamos nas


margens do mapa — bem aqui no território de monstros, você sabe.

Essa bruxa estava explodindo a porra da mente de Draco.

— O que você está fazendo... se tiver sucesso... será... será um tour de force
absoluto. Totalmente revolucionário.

— Mm. Vou aceitar esse termo para isso, mais do que para os Blocos.

— Certo. Você já terminou com essas revelações? Não tenho certeza se


posso aceitar outra.

— Eu te choquei tão terrivelmente? — Perguntou Granger com um meio


sorriso.

— Fui reduzido a um cretino idiota de olhos arregalados, e não finja que


não percebeu.

— Nada além do idiota habitual, não.

— Como você pode ser tão cruel comigo em meu estado frágil?

O meio sorriso de Granger cresceu para um sorriso completo.

— Vou fazer-nos outra dose de opimum.


— Merlin — murmurou Draco, voltando ao seu lugar. Ele fez mais olhos
arregalados olhando para as costas de Granger.

Essa bruxa era outra coisa.

Draco geralmente se achava melhor do que aqueles ao seu redor — não que
houvesse algo de errado com eles, mas ele era apenas melhor, sabe — mais
inteligente, mais rápido, mais bonito, mais afiado, mais rico. Com Granger,
ele sempre sentiu que estava na presença de um intelecto muito maior que o
seu. Mas agora — agora ele se sentia na presença de alguém melhor do que
ele em muitos níveis — bom demais para ele, realmente.

Ele se sentou e sentiu a agitação de uma coisa desconhecida e estranha, uma


coisa sufocante. Tão estranha era que ele levou um momento para localizá-
lo.

Foi humildade.

Ele não se sentia tão humilde desde — ele voltou às suas memórias —
desde o verão de 1992, quando os resultados dos exames do primeiro ano
saíram e ele descobriu que uma nascida trouxa tinha sido a primeira da
classe, acima dele, em todas as matérias em Hogwarts.

Bem, ela estava nisso de novo. Só que agora ela se tornou alguém
importante pra caralho.

E ele era seu Auror. O peso da responsabilidade o pressionava de uma


maneira que ele ainda não havia experimentado. Ela passou de um tipo de
tarefa chata para — para isso; para mudar o mundo.

A responsabilidade pesava tanto sobre ele que mal conseguia levantar a mão
para aceitar a caneca fresca de ópio que Granger lhe passou.

— Aí está — disse Granger. — Uma cura para a idiotice.

— Gostaria de levar algumas doses comigo. Há idiotas a quem eu gostaria


de administrar isso.

— Quem?
Draco deu um aceno vago.

— Amigos, família, colegas.

— Você está tão cercado de idiotas?

— Com exceção da presente companhia.

Granger mordeu o lábio.

— Você não deve fazer isso, você sabe.

— Fazer o que?

— Me elogiar. Você deve ser infalivelmente vigilante sobre o meu ego.

— Esta noite, você ganhou. Você me deixou no chão. Retomarei minha


vigilância amanhã.

Granger parecia satisfeita. E ela parecia melhor em geral — suas bochechas


tinham recuperado a cor e suas mãos não estavam tremendo enquanto ela se
movia para a despensa.

— Eu não comi nada desde o café da manhã — suponho que deveria


colocar algo no meu sistema além de duas doses de opimum. Está com
fome?

— Sim — disse Draco, que geralmente achava Quadribol e duelos mortais


excelentes estimulantes de apetite.

Ele ficou satisfeito ao notar que os armários estavam abarrotados de


alimentos — embora se fosse pelos próprios esforços de Granger ou pelos
efeitos prolongados do excesso de zelo dos elfos, ele não tinha certeza.

— Que tal uma salada de cebola atrevida? — perguntou Granger enquanto


vasculhava.

— Só se vier com um prolapso como o Skrewt nos serviu.


— Isso pode ser arranjado.

Granger colocou queijo, bolachas e homus, e um saco marrom enrugado de


rolinhos de salsicha, que era a coisa mais próxima de um prolapso que ela
tinha em mãos (elas estavam deliciosas).

Ela se absteve de recriar a salada de cebola do Skrewt, o que era o melhor,


já que Draco já estava exalando cheiro de axila no ambiente e não gostaria
de competição.

Eles terminaram com uma deliciosa invenção trouxa chamada Maltesers.

Momentos de tranquilidade com Granger eram poucos e distantes entre si, e


quando ela terminou de comer, ela se levantou, acenou com a varinha para a
maioria das coisas e começou a se movimentar.

— Você vai passar a noite, então?

— Sim. Eu não vou dormir muito — mas se eu dormir, eu posso dar um


cochilo no seu sofá.

— Certo. Deixe-me limpá-lo.

Granger foi para a sala da frente, onde ela se cercou com um vórtice de
livros e papéis, que se formaram em pilhas organizadas.

Claro que ela não iria questionar sua sugestão do sofá. Claro que ela não ia
fazer uma contraproposta, você sabe, dividir sua cama. Que era
absolutamente grande o suficiente para dois.

Não que Draco teria aceitado de qualquer maneira. Ele era um profissional.

Tinha sido apenas um pensamento. Ele estaria muito mais perto dela, caso
algo acontecesse.

Deixando de lado essas reflexões improdutivas, Draco começou a tirar seu


uniforme de Quadribol, o que o lembrou de que ele fedia.

— Posso usar o seu chuveiro?


— Er — claro. É lá em cima.

Granger o observou lutar com as amarras de couro que seguravam seu


peitoral no lugar.

— Você estava no meio de um jogo?

— Sim. A centímetros do pomo, é claro.

— Eu sinto muito.

Draco deu de ombros como o herói despreocupado que era.

— Pegar bandidos é um pouco mais emocionante.

Ele continuou a lutar com a gravata desajeitada sob a axila, que resistiu
diabolicamente. Claro, a única vez que ele tinha uma audiência era a única
vez que ele deixou a coisa encharcada e depois a deixou secar, o que
resultou em um nó rígido e medonho. Claro, ele nunca teve problemas em
se desfazer de seu uniforme de Quadribol em sua vida inteira, até este
momento, quando Granger estava lá para testemunhar sua incompetência.

— Você precisa de ajuda? — perguntou Granger.

— Eu consigo.

Granger o observou enquanto ele continuava muito não conseguindo.

Ela se sentou, com as mãos cruzadas sobre os joelhos, para observar seus
esforços.

— Tudo bem — cuspiu Draco um momento depois, toda despreocupação se


foi. — Ajude-me. Não corte; é couro de wyvern.

— Tudo bem — disse Granger. Seu rosto estava grave, mas seus lábios
estavam pressionados de uma forma que sugeria a supressão do riso.

Em defesa de Draco, ela também lutou e acabou atacando com sua varinha
e repetidos feitiços para desembaraçar.
Então ela o ajudou a tirar o peito e as placas traseiras, muito parecido com
uma bela donzela ajudando seu cavaleiro depois de uma batalha, se belas
donzelas fossem pesquisadores incomparáveis ​e cavaleiros fossem cretinos
inúteis.

Granger o levou até o chuveiro e lhe entregou toalhas.

— O espelho não fala — disse Granger enquanto Draco observava seu


reflexo desgrenhado.

— Bom — disse Draco. — Não quero a opinião dele neste exato momento.

Granger saiu do banheiro, fechou parcialmente a porta e enfiou o braço pela


abertura.

— Passe-me suas roupas. Vou jogá-las na lavagem.

Ficar nu, com a mão de Granger bem ali, era uma sensação interessante.
Havia outras coisas que ele gostaria de colocar na mão dela, mas essas
coisas estavam fedorentas e sujas e também, pelo amor de Deus, ela tinha
acabado de passar por algo traumático. O que havia de errado com ele?

Ao lado da pia, ele descobriu o ninho dos grampos de cabelo de Granger na


forma de uma jarra cheia das coisas. Ele lançou um feitiço de rastreamento
no lote.

Ao entrar no chuveiro, Draco colocou sua varinha ao alcance do braço. Ele


estava bem preparado para sair correndo e atacar lobisomens nu, caso uma
das proteções do chalé fosse derrubada.

O chuveiro era tudo o que cheirava bem em Granger, destilado em potes.


Demorou um momento para Draco identificar o sabonete e xampu entre os
muitos produtos femininos misteriosos ali — óleos e máscaras capilares e
sabonetes líquidos e coisas do tipo.

Parecia — interessante — sedutor — erótico — usar seu sabonete e xampu.

Então chegou a hora de anular antes que seu pênis decidisse despertar. Ele
não se masturbaria no chuveiro de Granger. Ele simplesmente não faria
isso.

Tudo bem, ele faria, mas era rápido e sujo e carregado de adrenalina pós-
luta. Era apenas para fazer o trabalho e tirar o tesão de seu sistema.

Saber que ela estava em algum lugar do outro lado da porta enquanto ele se
acariciava era inexplicavelmente excitante. Ele se inclinou, uma mão
espalmada contra o azulejo e uma mão se mexendo, e o vapor e os cheiros
de Granger o levaram a uma fantasia favorita envolvendo Granger e sua
boca, e mãos delicadas acariciando para cima e para baixo, e chupando...

Sua mão fez um punho contra a parede quando ele gozou com um suspiro
agudo.

Ele descansou a cabeça em seu antebraço, respirando pesadamente,


atordoado, observando a evidência escorrer pelo ralo.

Puta merda.

Mas, tudo bem. Foi feito. Estava fora de seu sistema.

Tudo estava sob controle.

Ele mudou a água para fria em um esforço para esfriar o rubor em seu rosto
e peito. O encanamento trouxa não brincava — era glacial. Pensamentos
malucos foram substituídos por estremecimentos enquanto Draco
recuperava o fôlego.

Certo. Ele estava bem.

Granger bateu na porta e o assustou.

— O que? — ele perguntou, irritado.

— Você já terminou? — (Sim, ele tinha terminado, obrigado.) — Você


levou uma era.

— Eu estava positivamente imundo. (Também muito verdadeiro.)


— Certo. Eu tenho suas roupas.

Draco saiu do chuveiro e abriu a porta o suficiente para Granger colocar


suas roupas recém-limpas. Pena que ela era tão eficiente; ele ficaria muito
feliz em sair enrolado em uma toalha, para fins de ostentação.

— Muito mais rápido do que eu esperava — disse Draco.

— A lavagem rápida leva apenas um quarto de hora na minha máquina. E


feitiços de secagem para o resto. Eu gostei das suas cuecas.

Draco não se lembrava de qual cueca ele havia colocado. Ele


apreensivamente os puxou para fora da pilha. Ela tinha pequenos dragões
nela.

— Deuses — disse Draco.

— Está tudo bem — disse Granger. Ela fechou a porta. Ele podia ouvir o
gorjeio do riso contido através dela. — Eu tenho umas com gatinhos nelas.

— Mostre-me.

— Eu prefiro morrer.

Draco riu enquanto vestia suas calças. Depois vieram as calças pretas soltas
e a blusa de manga comprida que ele usava sob seu uniforme de Quadribol.
Eles também cheiravam a Granger, agora — seja lá qual sabão que sua
máquina usasse.

Ele ajeitou o cabelo no espelho, excepcionalmente feliz por ele não poder
falar e informar Granger do que havia testemunhado.

Ele se viu incapaz de olhá-la nos olhos quando saiu do banheiro, mas fingiu
que era porque estava olhando pelas janelas, para Importantes Propósitos de
Segurança dos Aurores. Ela não precisava saber o que ele acabara de
imaginá-la fazendo.

Ele não olharia para a boca dela.


Porra, isso tinha sido quente.

Certo.

No andar de baixo, Draco foi presenteado com sua cama improvisada, que
era o sofá, transfigurado em uma espécie de cama diurna. Ao lado havia um
copo de água e um pacote de biscoitos.

Granger estava ficando cansada — e com razão, já que agora estavam


chegando às duas horas da manhã. Ela bocejou enquanto chamava
travesseiros e um cobertor e os jogava na cama.

Ela até achou por bem fornecer a ele material de leitura para passar as
horas: uma cópia do mais novo artigo de Rasmussen e Vestergaard. Um
olhar para o horrendo jargão científico decassílabo fez seus olhos brilharem.

— Você tem algo mais estimulante? — ele perguntou, antes que os


dinamarqueses pudessem colocá-lo para dormir.

— Mais estimulante? — repetiu Granger, parecendo ofendida, como se ela


já tivesse dado a ele o trabalho mais estimulante escrito em toda a história
humana e ele estivesse sendo exigente sobre isso.

— Sim. Revistas pornô, ou algo assim? perguntou Draco com um aceno


geral de mão. — Algumas edições anteriores de Fantásticas Tetas e Onde
Habitam?

Não que ele precisasse de revistas pornográficas para se aliviar — não


quando ele tinha vinte cenários envolvendo ela, cuidadosamente anulados
na parte de trás de seu cérebro. Foi, no entanto, divertido ver Granger olhar
pensativamente para as pilhas de livros ao redor da sala.

— Hum. Eu tenho o último Revista de Saúde Sexual e Reprodutiva. — Ela


pegou um volume de uma das pilhas e folheou até encontrar um diagrama.
— Ooh, aqui tem uma imagem.

Draco olhou para ela e leu a descrição.

— FIG. 11: Calibre luminal da parede ovidutal anormal.


— Isso serve para você?

— Não. Isso coagula meu gozo.

Granger pegou a revista de volta e virou para outra página.

— Tente isso.

— FIG. 23 — leu Draco. — Trompa de Falópio - Corte transversal do


lúmen tubário. Observe o estroma endometrial subepitelial.

— Estimulante?

— Oh sim. Os estromases endometriais subepiteliais são um fetiche


particular meu.

— Estromas é o plural.

Draco deu a ela um olhar longo e paciente.

— Certo.

— Esse é o seu entretenimento, resolvido, então. — Granger colocou o


volume em suas mãos. — Estou indo para a cama... tenho a sensação de que
amanhã será um longo dia.

Granger desligou a iluminação trouxa, deixando apenas o fogo na lareira


para iluminar o quarto.

Ela parou ao pé da escada e se virou para Draco.

— Obrigado por tudo que você fez hoje.

Draco acenou para ela. Era estranho ser o alvo de gratidão inocente quando
ele tinha acabado de ser terrível no banheiro dela.

— Apenas fazendo o meu trabalho.


— Certo — disse Granger. — Bem — você faz isso bem, e eu sou grata.
Você provavelmente salvou minha vida.

— Vá dormir — disse Draco.

Granger parecia aborrecida com essa dispensa arrogante, mas pareceu


decidir que era Draco sendo Draco.

— Ótimo. Boa noite.

──── ◉ ────

Draco caiu em um cochilo em algum momento da noite. Ele foi acordado


por um som leve, tão baixo que ele poderia ter sonhado.

Agarrando sua varinha, uma maldição pronta, ele virou a cabeça para ver
que era o gato. Ele o viu no sofá no mesmo momento.

Draco meio que esperava que silvasse para ele por ousar estar na casa de
Granger depois do expediente. Em vez disso, o gato trotou em sua direção
com o rabo erguido e, com o instinto infalível de um gato para encontrar
lugares quentes, pulou sobre ele e pousou em seu peito.

Draco moveu uma mão para tentar acariciar sua cabeça, mas uma grande
pata encontrou seus dedos e manteve sua mão abaixada. As garras estavam
embainhadas, mas a mensagem era clara: Draco era uma fonte de calor e
não deveria ser presunçoso e achar que era algo melhor.

— Noli me tangere, não é? — murmurou Draco. — Eu entendo. Eu também


não gosto que as pessoas toquem no meu cabelo. Exceto ela, mas aposto
que você sabe disso.

O gato piscou seus olhos amarelos para ele.

— Ela me avisou sobre sua asfixia, então nem tente — disse Draco.

O olhar do gato informou a Draco sem reservas que, se o quisesse morto,


ele estaria morto.
— Tudo bem — disse Draco.

O gato abaixou a cabeça e fechou os olhos. Houve uma cócega de bigodes


contra o queixo de Draco e então um estrondo profundo.

Enquanto ele estava deitado no escuro, sob o calor do gato ronronando, seu
coração ainda estremeceu com os tremores do medo que sentiu quando
Granger ativou o sinal de socorro. Ele não precisava de um bicho-papão
para lhe dizer o que temia ver.

Draco procurou os fragmentos de seu autocontrole, que havia se quebrado


tão espetacularmente naquela noite. Ele ocluiu e juntou sua disciplina, seu
profissionalismo e seu orgulho, e construiu a Grande Muralha de Anulação
mais uma vez.

Foi um exercício útil, em teoria.

Na prática, a coisa toda foi ofuscada por um medo particular de que toda a
estrutura frágil desmoronasse novamente, da próxima vez que Granger
sorrisse para ele.
25. Perigos da Proximidade de
Granger

Draco acordou, grogue e de olhos pequenos, ao som de um engasgo.

Granger estava na escada, as pontas dos dedos na balaustrada, um pé


congelado no ar acima de um degrau.

Ela estava olhando para ele e seu novo acessório – o gato adormecido,
enrolado no pescoço como um lenço peludo.

– Er – bom dia - disse Granger, quando viu que estava sendo observada.

O gato se mexeu ao som de sua voz. Ele saltou de cima de Draco, usando
seu rosto como ponto de lançamento, e caminhou em direção a sua dona.

Granger perguntou a Draco o que ele gostaria de tomar café da manhã. Ele
pediu uma xícara de café para tirar o sabor pungente de pé de gato.

Granger fez uma xícara de café muito decente.

A manhã passou em uma enxurrada de reuniões. A primeira foi com Tonks,


que eles encontraram no Quartel-General dos Aurores, para ouvir o que ela
havia descoberto durante seus interrogatórios.

– Você ficará encantado ao saber que as mãos do Sem-Mãos foram


recolocadas com sucesso - disse Tonks quando chegaram.

– Que pena - disse Draco.

– Foi o que eu disse. - Tonks fechou a porta de seu escritório e se sentou em


sua mesa. – Bastardozinho assassino. Certo. Sentem-se. Robards liberou o
uso de Veritaserum em nossos amigos ontem à noite, então tivemos uma
conversinha. Nenhum dos dois conhece a identidade da pessoa que lhes deu
as instruções. No entanto – eu descobri algo bastante interessante. Ambos
os homens são lobisomens e ambos participaram dos ataques da lua cheia.

Tonks colocou um pedaço de pergaminho sobre a mesa.

– A autópsia da medibruxa confirma que o outro também era um


lobisomem.

Tonks olhou de Granger para Draco e vice-versa.

– Pensamentos? Reações dos dois cérebros diante de mim?

Os cérebros se entreolharam.

Granger se mexeu.

– Acho que está na hora de dizer no que estou trabalhando. Malfoy, você
faria as honras pelo Voto Perpétuo ?

O Voto foi lançado. Granger resumiu seu trabalho e descobertas para Tonks,
e Draco acrescentou a descoberta igualmente interessante (e angustiante) de
que Fenrir Greyback havia retornado e parecia ter remontado algo de sua
antiga matilha. Eles foram provavelmente os responsáveis ​pelos ataques à
lua cheia, além de atacar Granger.

– Lunáticos - Tonks ofegou. – Todo o grupo alegre deles.

Granger concluiu com a mesma linguagem de advertência que ela havia


usado com Draco na noite anterior, sobre águas desconhecidas e o resultado
incerto dos testes clínicos.

Tonks recebeu a notícia da cura da licantropia de Granger com louvável


neutralidade, dada a condição de Lupin. Apenas seu moicano a traiu,
ficando alguns tons mais pálidos do que seu vermelho sangue.

Ela deu a Granger um olhar longo e cheio de adoração, sussurrou,


"Incrível," e então ela ficou enérgica.
– Coloque Potter e Weasley atualizados sob o Voto. Também teremos que
informar Robards e Shacklebolt. Essa seria a extensão disso no momento,
eu acho. Envolveremos outras pessoas conforme necessário. Pegue a sala de
conferências. Eu me juntarei a vocês em um momento.

Tonks os enxotou para fora de seu escritório.

Quando eles saíram, Draco deu uma olhada para trás para ela. Tonks estava
sentada em sua mesa, com as mãos cruzadas à sua frente, os nós dos dedos
pressionados contra a boca.

Seus olhos estavam extraordinariamente brilhantes.

Na sala de conferência, Potter e Weasley foram informados da situação sob


o Voto. Suas reações eram previsíveis, mas havia algo reconfortante em
seus abraços de Granger, em suas declarações entusiasmadas para mantê-la
segura, e em suas promessas de encontrar Greyback mesmo que fosse a
última coisa que eles fizessem. Como líder da WTF, Potter parecia ter
encontrado uma nova determinação para pegar os lobisomens. Havia uma
perigosa luz verde em seu olho.

Weasley estava tão de olhos arregalados quanto Draco na noite anterior


sobre o potencial de uma cura para a licantropia. Suas reações consistiram
principalmente em repetições de "Caramba!" e "Maldito inferno!" e "Você é
brilhante, Hermione!"

Granger deu-lhe um sorriso rápido. Ela e Draco foram interrogados sobre a


tentativa de invasão.

– Eu tenho uma gravação disso - disse Granger, e ela pegou seu celular.

Parecia que ela conseguira preservar a filmagem da câmera em uma espécie


de minifilme. Curioso a despeito de si mesmo, Draco levantou-se para se
juntar a Potter e Weasley na aglomeração ao redor de Granger para assistir a
pequena tela.

Ele reprimiu um lampejo de ciúmes com a maneira fácil com que Potter
apoiou um cotovelo no braço de Granger e se aproximou dela, e como
Weasley se jogou casualmente no encosto da cadeira dela – tudo isso
enquanto Draco estava a uma distância de um braço decoroso e rígido.

Granger passou o vídeo. Draco, tendo ficado desilusionado durante a maior


parte do conflito, ficou praticamente invisível até o final, seu paradeiro
apenas indicado por rajadas de feitiços e seus efeitos sobre seus oponentes –
os braços decepados, a sentinela consumida pela Bombarda. A luta durou
uma eternidade na cabeça de Draco, mas levou menos de um minuto em
tempo real.

Weasley deu-lhe um tapinha no ombro.

– Você deu a eles o inferno. Bem feito, mate.

Potter apertou sua mão.

– Lembre-me de nunca duelar com você.

– Passe de novo - disse Weasley.

A repetição foi acompanhada por muitos comentários de Potter e Weasley.

– A maldição da morte logo de cara – aquele idiota do caralho – você pode


imaginar se eles tivessem entrado? Hermione não teria a menor chance. Oh!
Olha o sangue! Ah! Jato majestoso, aquele! Desarmar deveria ser coisa de
Harry, mas você deu uma nova reviravolta nisso, Malfoy. Desmembrar. Ha
ha! A cara daquele cara quando ele percebeu que estava preso! Belo
equipamento de Quadribol, eles terão fobia de apanhadores pelo resto da
vida... esse é a mais nova Étincelle?

Draco os deixou para suas várias repetições, retomando seu assento do


outro lado da mesa.

Ele olhou para Granger e descobriu que ela não estava olhando para o
celular, mas sim para ele. A expressão dela levou um momento para ele
interpretar – era algo sério, algo estudioso, algo pensativo.

Ela estava resolvendo quebra-cabeças.


Boom.

Ela se virou quando ele pegou seu olhar. Draco estava determinado a
continuar pegando-a quando ela o observasse, a interromper seu processo
de pensamento e manter-se seguro sem solução.

Tonks chegou, precedida pelo som de suas botas de combate batendo no


corredor. Ela parecia tão imperturbável como sempre e entrou na sala a todo
vapor. Seu cotovelo colidiu vigorosamente com a nuca de Potter.

– Desculpe - disse Tonks. – Não soou oco – isso é um elogio, Potter. Todos
nós fomos atualizados?

Granger guardou o celular.

– Sim, chefe - disseram os Aurores.

Tonks sentou-se à cabeceira da mesa.

– Temos muito o que discutir, mas vamos começar com a parte mais
importante: a segurança de Hermione.

Potter e Weasley se inclinaram para frente, como se estivessem prontos para


pegar Granger e levá-la para uma torre distante, para nunca mais ser vista.

– Certo. - disse Weasley. – Temos que tirá-la daqui. O que você gostaria,
Hermione? Madagáscar? Groenlândia? Tibete?

Draco não podia culpar o homem pela reação – ele teve exatamente o
mesmo reflexo.

Granger estava apertando a mandíbula.

– Eu positivamente não vou a lugar nenhum.

Seguiu-se uma discussão explosiva, é claro. Potter e Weasley pressionaram


pela evacuação imediata de Granger, quanto mais remoto o local, melhor.
Eles eram motivados por preocupação genuína e as mesmas ansiedades que
Draco sofreu ao ouvir o odiado nome de Greyback. Draco, já tendo tentado
essa linha de argumentação sem sucesso, agora ficou do lado de Granger.
Havia muita coisa em jogo em sua pesquisa – se Greyback continuasse
sendo tão astuto quanto eles sabiam que ele era, eles estavam olhando para
potencialmente centenas, senão milhares de novas infecções ao longo de
incontáveis ​luas cheias, enquanto o trabalho na cura de Granger estaria
parado.

Tonks, com um olhar de santa paciência em seu rosto, permitiu que a


discussão se agitasse por quatro minutos. Então ela bateu palmas.

– Obrigado, rapazes, por compartilharem seus pensamentos. Felizmente,


nenhuma de suas opiniões importa.

Draco, Potter e Weasley experimentaram a morte do ego.

Tonks continuou enquanto eles agarravam os restos destroçados de suas


psiques.

– O Escritório de Aurores não tem autoridade para dizer à eminente


Professora Granger o que ela pode e não pode fazer. Nosso trabalho é
mantê-la protegida enquanto ela realiza seu projeto, conforme solicitado
pelo Ministro. Então. Primeira ordem do dia: escalas e alojamento.

Os cadáveres de Potter e Weasley provocaram alguns argumentos, mas os


lábios de Tonks estavam ficando mais franzidos a cada minuto, e eles
sabiamente desistiram. Juntos, os cinco elaboraram um cronograma
preliminar para garantir que, onde quer que Granger fosse, haveria alguém
com ela – Draco ou outro Auror.

Granger concordou em reduzir suas aparições públicas. Ela também


concordou, taciturnamente, em suspender seus deveres no mundo trouxa –
os turnos na cirurgia trouxa e o ensino em Cambridge trouxa – até que
Greyback fosse pego. Locais não mágicos eram muito difíceis de proteger.

Locais mágicos eram muito mais seguros por natureza, mas um Auror dali
em diante a acompanharia em seu laboratório e na urgência e emergência do
St. Mungo.
A discussão voltou-se para a habitação. Granger concordou em se mudar
para um esconderijo, desde que estivesse a uma distância de Flu de seu
laboratório. Discutiram-se as doze casas seguras administradas pelo DMLE,
cada uma das quais oferecia prós e contras (localização, facilidade de
deslocamento, defensabilidade). Tonks e Draco compartilhavam uma certa
ansiedade sobre o fato de que os esconderijos eram necessariamente
conhecidos por muitos Aurores e funcionários do DMLE.

Outras opções foram discutidas. Criar um novo esconderijo? Complexo e


demorado, mas uma opção.

Potter e Weasley sugeriram que Granger ficasse em uma de suas casas.


Draco apontou que mover Granger para a residência de qualquer um de
seus melhores amigos era um próximo passo descaradamente óbvio. De
qualquer forma, Granger rejeitou a opção à queima-roupa: ela não colocaria
suas famílias em perigo. Ela fez a mesma objeção à sugestão de Potter de
Hogwarts – crianças não eram aceitáveis ​como possíveis danos colaterais.

– Enfie-a na maldita Mansão do Malfoy - disse Weasley, apontando o


polegar para Draco. – Ninguém vai procurá-la lá.

Granger disse:

– Hah!

Potter riu e então ficou pensativo.

Tonks aceitou a sugestão com um surpreendente grau de seriedade. Ela


pressionou um dedo no queixo e disse:

– Weasley tem um ponto.

Granger piscou.

Draco sentiu uma onda de antecipação confusa.

– Nós poderíamos colocar Hermiones como isca nos esconderijos e no


chalé dela. - Tonks meditou.
– Armadilhas. - disse Draco.

– Eu gosto de armadilhas - assentiu Potter. – E emboscadas.

– Eu sou brilhante - disse Weasley.

Tonks assentiu.

– Engenhoso, realmente.

– Não - disse Granger, balançando a cabeça. – Tenho a mesma objeção de


Harry e Ron – não vou colocar a casa de Malfoy em perigo. Se a Mansão
fosse atacada e algo acontecesse com sua mãe, ou com os elfos
domésticos...

– A Mansão é quase impenetrável - disse Tonks. – Assim como a maioria


dessas propriedades antigas. Foram necessários vinte feitiços-destruidores
em três dias para entrar, durante aquela última investida na Guerra. É dez
vezes mais segura do que nosso esconderijo mais seguro.

– Verdade - disse Draco. Ele tentou não parecer particularmente ansioso. –


Além disso, minha mãe está passando a estação no continente. Ela não está
na Mansão.

Granger, de olhos arregalados, virou-se para ele.

– Você concorda com essa ideia?

Draco produziu o dar de ombros mais descuidado do mundo.

– Acho que é uma opção que vale a pena considerar.

O que era um eufemismo. Ele adorou isso pra caralho. Era perfeito. Ela
estaria protegida por magias centenárias, eles teriam elfos domésticos como
vigilância secundária, e ele estaria lá todas as noites. Ele ficou
positivamente encantado com isso.

Weasley, que estava olhando presunçosamente, subiu uma polegada inteira


na estima de Draco.
Enquanto isso, Potter estava de olho em Granger.

– A Mansão não é exatamente o local de memórias felizes, é? Você ficaria


bem com isso, Hermione?

Granger ainda estava olhando para Draco em confusão.

– Hum? Oh – não, estaria tudo bem. Eu voltei desde então. Um dos eventos
de Narcissa Malfoy. - (Draco notou que ela não mencionou o jantar.) – Foi
– tudo bem. Objetivamente falando, não é uma sugestão irracional, como
uma medida temporária. Eu só hesito porque parece uma verdadeira
imposição.

– Uma imposição? Pish tosh – há cerca de cinquenta quartos na Mansão -


disse Tonks, acenando para qualquer reserva real ou imaginária na casa de
seu primo. – Malfoy nem vai saber que você está lá.

O olhar de Granger passou para Draco. Tonks também o encarou com um


olhar curioso.

– Vamos fazer isso - disse Draco, procurando neutralidade em sua


expressão. – É uma solução fácil de curto prazo. Podemos sempre revisar –
ou podemos criar um esconderijo adequado enquanto isso, na surdina.

Tonks esfregou as mãos.

– Brilhante. Weasley está absolutamente correto – a Mansão Malfoy é o


último lugar na terra que alguém esperaria encontrar Hermione Granger.

O restante da reunião passou em um emaranhado de debates sobre logística,


horários e emboscadas.

Tonks fazia questão de atualizar Robards e – com um suspiro – Shacklebolt.

– Ele não ficará feliz por mantermos os ataques da lua cheia em segredo.
Ele terá que resolver isso com Robards. Mas pelo menos temos um plano
para manter Hermione segura e bem.
Draco escoltou Granger de volta para sua casa para fazer as malas para o
que Granger chamou de uma estadia "espero que extremamente breve" na
Mansão.

A coisa excelente sobre mover a Srta. Perita em Feitiços de Extensão era


que foi um processo quase indolor. Draco mal teve tempo de mandar uma
mensagem aos elfos para preparar uma das suítes de hóspedes para a colega
Curandeira Granger quando ela anunciou que estava pronta.

Quaisquer pertences que ela considerasse indispensáveis ​(incluindo as duas


cópias de Revelações) estavam em uma maleta trouxa, magicamente
expandida.

Seu gato foi enfiado, sibilando e arranhando, em uma caixa de transporte.

– Estou instruindo os elfos a manterem sua estadia totalmente em segredo. -


disse Draco enquanto eles se dirigiam para a porta da frente do chalé. –
Minha mãe nem vai saber sobre isso até decidirmos que é seguro dizer
alguma coisa.

Granger parecia desconfortável.

– Quando ela vai voltar?

– Março, acredito. Ela decidiu pular o inverno inglês completamente.

O desconforto de Granger persistiu.

– Certo. Bom. Os próprios elfos, no entanto – se alguém tentasse me pegar


na Mansão e um dos elfos se machucasse? Ou morresse? O pensamento me
deixa doente.

– Você não ouviu Tonks? Pare de se preocupar. Ninguém em sã consciência


procuraria por você lá. E, se o fizesse, precisaria de duas dúzias de feitiços-
destruidores lançados por dias – o que eu posso garantir que notaria. Esta
foi uma das ideias mais brilhantes de Weasley.

Granger ficou em silêncio, mas a carranca que juntou suas sobrancelhas


disse a Draco que ela certamente não tinha parado de se preocupar.
Na Mansão, Henriette os recebeu nas grandes portas e levou Granger para
uma suíte de hóspedes com vista para os jardins.

O gato de Granger foi solto na suíte, onde indicou sua desaprovação da


situação correndo para debaixo da cama e assobiando para quem se
aproximasse.

Draco seguiu à distância enquanto Henriette dava a Granger um passeio


pela Mansão. A velha elfa doméstica havia entendido a gravidade da
situação. Não houve olhares tímidos na direção de Draco, nem qualquer
brincadeira com rosas. Henriette era só negócios. A colega Curandeira
Granger deveria estar confortável e segura.

Draco observou as duas caminharem à sua frente – a pequena forma de


Henriette e a figura esguia de Granger, inclinada atentamente para a elfa
enquanto ela falava. Henriette apontou para o escritório de Monsieur à sua
esquerda e indicou em um sussurro que Monsieur deveria ficar sozinho
quando estivesse lá, já que muitas vezes ficava mal-humorado com níveis
pestilentos de incompetência e outras coisas dessa natureza. Granger
assentiu gravemente, então lançou um olhar divertido para Draco quando
Henriette prosseguiu novamente.

As portas da biblioteca foram indicadas, então Henriette foi para o


conservatório. Granger permaneceu nas portas fechadas da biblioteca por
um momento antes de se apressar para alcançá-la, e foi a vez de Draco se
divertir.

A onda de carinho que o acompanhava foi anulada antes que pudesse fazê-
lo sorrir.

Quando Granger estava acomodada e orientada, e Draco e os elfos


revisitaram as extensas proteções da Mansão para sua própria paz de
espírito, já era início da noite.

Se Draco tinha esperanças de um jantar tranquilo para dois naquela noite,


elas foram obliteradas por Granger. Ela tinha um turno na A&E que ela
positivamente se recusou a perder, já que ela era a única Curandeira de
plantão e seu reserva estava sofrendo de Sarapintose.
Hoje pareceu um longo dia, mas, enquanto Draco esperava por Granger ao
pé da grande escadaria, também parecia que estava apenas começando. Ele
supôs que deveria se acostumar com dias longos e sangrentos. Esta, afinal,
era Granger.

Ela trotou escada abaixo, suas vestes de Curandeira recém-vestidas


esvoaçando atrás dela.

– Estou pronta. Acho que não preciso perguntar se você desmaia ao ver
sangue. Você está bem com eviscerações?

– Sim. - disse Draco.

– Bom. A gente nunca sabe o que vai encontrar no St. Mungus.

Draco lançou seu mais poderoso não-me-note e desilusão em si mesmo para


evitar perguntas sobre por que um Auror estava seguindo a Curandeira
Granger.

Eles usaram Flu para o St. Mungus para o que seria o primeiro de muitos
turnos ao lado de Granger na A&E.

Draco executou Legilimência em todas as mentes na sala de espera para se


certificar de que ninguém tinha planos diabólicos, além de sangrar até a
morte.

Quando isso foi feito, ele se acomodou em um canto do lado de fora da sala
de operações e começou a ficar moderadamente perturbado com o
entretenimento da noite, que incluía doenças impronunciáveis, um bruxo
que se apresentou com um cone de trânsito trouxa saindo direto de seu peito
e uma quantidade inspiradora de pacientes que haviam 'caído' em objetos
vagamente fálicos, que agora estavam presos em vários orifícios.

Draco lançou feitiços silenciadores para abafar seus suspiros alternados de


horror e riso. Nada abalou Granger, no entanto. Ela lidava com seus
compatriotas idiotas com um profissionalismo implacável que ele não podia
deixar de admirar.
──── ◉ ────

Se Draco tinha nutrido pensamentos de um café da manhã longo e tranquilo


com Granger no dia seguinte, eles também estavam condenados desde o
início. Quando ele desceu às nove horas (muito respeitável, ele pensou),
Granger havia feito sua ioga, tomado banho, se vestido e comido.

Ele chegou bem a tempo de se despedir dela na sala de Flu. Ela deveria
passar o dia no laboratório, onde Weasley estava de serviço com Granger.
Draco estava escalado para arrancar as mentes de Sem-Mãos (agora
simplesmente Mãos) e seu amigo.

Draco ouviu um zumbido abafado emanar do lado de Granger. Era seu


Bloco.

Ela ignorou em favor de torcer as mãos naquele gesto ansioso dela.

– Duvido que Greyback seja estúpido o suficiente para mandar alguém para
o laboratório novamente tão cedo - ela disse, soando como se estivesse se
tranqüilizando mais do que falando com Draco. – As proteções seguraram
lindamente da última vez. Eu não preciso me preocupar.

Houve outro zumbido abafado de seu Bloco.

– Vai ficar tudo bem - disse Draco. – Eles nunca seriam estúpidos o
suficiente para tentar algo em plena luz do dia. E Weasley estará com você.
E você tem o anel. Nem espere para ter certeza de que há uma ameaça para
usá-lo – apenas use-o.

– Certo.

– Sem hesitações. Prefiro aparecer pronto para lutar contra o carteiro do que
ser tarde demais.

– Sim. É claro. Obrigada.

Mais uma vez, o Bloco de Granger zumbiu.

Irritado, Draco perguntou:


– Quem está te chamando a esta hora?

Granger hesitou antes de pegar o Bloco para dar uma olhada.

– Er - todo mundo.

– Por que?

– Nada importante. - disse Granger, que claramente nunca aprendia que


quanto mais ela descartava uma coisa, mais Draco queria saber sobre a
coisa.

– Diga-me.

Granger parecia uma mistura interessante de irritação e vergonha.

– É meu aniversário.

– Ah. - disse Draco.

Houve um longo silêncio.

– Er - feliz aniversário, eu suponho. - disse Draco.

Sério? Isso era o melhor que ele conseguia? Por que sua suavidade
desocupava totalmente seu corpo quando era mais necessária? O que havia
com Granger? Ela era uma assassina de suavidade.

– Obrigada. - disse Granger. – Mas temos coisas maiores com que nos
preocupar do que aniversários, não é?

– Bastante.

Granger jogou pó de Flu no fogo.

– Vou girar o anel à menor provocação, prometo. Cambridge.

E então ela se foi, e Draco foi deixado para refletir sobre o brilho atemporal
de Er – feliz aniversário, eu suponho, e sofrer sozinho.
Antes de entrar no escritório por Flu, Draco pediu a Henriette para ajudá-lo
a encenar um esforço de recuperação naquela noite, se Granger estivesse de
volta ao local em uma hora decente.

Ela teria um maldito bolo de aniversário estúpido, mesmo que estivesse


presa na Mansão com um tolo desajeitado.

Draco passou o dia conduzindo Legilimência nos dois bruxos presos, tendo
recebido permissão especial para fazê-lo dos poderes constituídos. A única
lembrança de algum valor real era a que ele havia encontrado na noite do
arrombamento. Ele passou longas horas no cérebro do Amigo em particular,
vasculhando semanas e meses de memórias. Greyback tinha sido cuidadoso.
Algumas informações sobre possíveis locais de encontro dos lobisomens de
Greyback foram tudo o que Draco conseguiu. Ele as passou para Potter.

Naquela noite, seu cérebro parecendo mais uma mistura enjoada e


borbulhante de mingau do que um cérebro real, Draco foi para casa.

Draco e Granger pareciam estar desenvolvendo uma especialidade para


colisões ao usar meios de transporte mágicos. Granger voltou para a
Mansão de Cambridge quase ao mesmo tempo que ele voltou de Londres.
Seu único aviso foi um borrão em forma de bruxa vindo em sua direção
entre as lareiras pelas quais ele estava passando, e o borrão foi chicoteado
para ele (com um grito que confirmou que era Granger), e ambos foram
cuspidos nas lajes cinzentas da sala de Flu da Mansão.

Havia um emaranhado de roupas verdes entre roupas pretas e muita tosse de


fuligem.

Uma risadinha estridente ecoou pela sala de Flu. Quando a cabeça de Draco
escapou das saias de Granger, Tupey havia desaparecido e o pequeno
voyeur não pôde ser repreendido imediatamente.

Draco caiu de volta com um gemido. O início de uma colossal dor de


cabeça por Legilimência formigou na parte de trás de seu crânio.

Granger parecia ter aceitado filosoficamente a questão recorrente de suas


colisões e não dirigiu nenhum veneno para Draco.
Em vez disso, ela disse, "Certo", e tentou se levantar.

Ela pisou em seu roupão e caiu novamente.

– Você corretamente Tonkiou aquele - disse Draco.

Granger fez um som exasperado e deitou no chão ao lado de Draco, que já


havia desistido.

Eles olharam um para o outro. Granger suspirou. Draco sentiu o gosto de


fumaça.

Ela parecia exausta. Ele nem teve um momento para perguntar a ela como
ela dormiu durante sua primeira noite na Mansão – culpa dela por acordar
tão cedo.

– Alguma coisa da Legilimência? - perguntou Granger.

– Apenas pequenas descobertas. Possíveis pontos de encontro. Dei para


Potter.

– Droga.

– Nenhum problema no laboratório?

– Não. E apenas uma briga com Ron.

– Sobre o que?

– Ele queria fazer xixi em uma garrafa em vez de me deixar sozinha por
cinco minutos enquanto ia ao banheiro.

Draco bufou.

– Um tipo dedicado.

– Ele sempre foi muito comprometido.

– Eu posso admirar isso.


– Devemos nos levantar?

– Não. - disse Draco, pressionando a parte de trás de sua cabeça na pedra


fria. – Até gosto de ficar aqui deitado até que a morte me leve.

Granger reagiu mais casualmente do que ele gostaria diante desse


pronunciamento dramático.

– Mm? Qual é o problema?

– Dor de cabeça.

– Foi muito duro com a Legilimência, não é?

– Eu queria respostas.

– Eu posso te ajudar com a dor de cabeça. Banho primeiro – tive um dia


meio suado.

– Henriette pode nos aparatar para nossos aposentos.

– Nossos aposentos. - repetiu Granger em um sotaque exagerado. Pareceu


dar-lhe a coragem de que precisava para se levantar. – Eu irei até os meus
sob meu próprio poder.

– Vá em frente e conquiste. - disse Draco.

E ela foi.

O jantar foi tranquilo. Começou na mesa de jantar formal, então Granger


perguntou a Henriette se ela se importaria muito se eles jantassem em um
dos salões, que oferecia mais espaço para esticar suas carcaças cansadas em
sofás.

Henriette ficou encantada em acomodá-los. Ela logo os colocou


confortavelmente no menor salão nos fundos da casa, em torno de uma
mesa baixa empilhada com alimentos. (Draco notou a adição de uma única
rosa vermelha em um pequeno vaso, mas como havia apenas uma, ele
decidiu que era puramente decorativa.)
Granger arrastou uma pilha mista de livros trouxas e bruxos de algum lugar
e aproveitou o momento para informar Draco sobre seus planos de
equinócio de outono, já que Mabon estava a apenas duas noites de
distância. Ela havia reduzido sua busca a doze locais sagrados em potencial.
Seu objetivo era identificar os dólmens descritos em Revelações.

– Nós estamos chegando tão perto de completar isso. - disse Granger, que
parecia ter um novo vigor com o pensamento. – Muito emocionante,
realmente.

– Nós? Piffle. É tudo você.

Granger olhou para cima.

– Sim, nós. Você esteve comigo nisso desde o início. Não seja modesto –
não combina com você.

– Tudo bem. Eu aceitarei qualquer glória refletida em meu caminho. - disse


Draco com um lânguido aceno de sua mão.

Ele deslizou em seu sofá até que ele estava deitado e colocou o braço sobre
os olhos para bloquear a luz que fazia sua cabeça doer. Ele queria ir para a
cama, mas eram apenas oito horas. Os horários de Granger estavam
transferindo para ele e ela só estava lá há um dia.

Granger o observou.

– Certo. Sua dor de cabeça. Vamos dar uma olhada. Por que você não disse
alguma coisa, em vez de me deixar enfiar mais em seu cérebro por meia
hora?

Quando Draco não respondeu (virilidade parecia uma resposta fraca),


Granger puxou sua varinha e se moveu do seu sofá para o dele. Ele se
mexeu o suficiente para dar a ela espaço para se empoleirar ao lado dele.
Ela lançou um feitiço de diagnóstico, estudou o resultado pictórico e
resmungou.
– Isso vai se transformar em uma grande e sangrenta enxaqueca. - disse ela.
– Vou tentar Solamentum. É delicado. Fique quieto.

Draco fechou os olhos. Ele sentiu a ponta da varinha dela contra sua
têmpora. A sensação normalmente iniciaria uma resposta ao estresse. Ele
não tinha certeza de quando ele começou a confiar em Granger tão
implicitamente, mas ele nem abriu um olho.

Ela sussurrou um encantamento e um suave calmante começou a derramar


em seu cérebro sobrecarregado.

– Glorioso. - murmurou Draco.

– Shh. Tenho que me concentrar.

– Mm.

– Silêncio.

– Mmm.

– Você pode parar de gemer por um maldito minuto?

– Não quando isso é tão bom – mff.

O calor da ponta do dedo de Granger pressionou seus lábios.

Seus olhos se abriram de surpresa. Acima dele, Granger estava franzindo a


testa em concentração, e ela lançou-lhe um olhar de advertência. Ele fechou
os olhos novamente.

Agora seus outros sentidos ficaram mais sensíveis. Contra seu lado, ele
podia sentir o empurrão da coxa de Granger e a curva de seu traseiro. Sobre
sua têmpora, a frieza do feitiço. Ela cheirava a algo anti-séptico, o que não
deveria ser tão atraente como era, mas ele queria enterrar o rosto nela e
inalar.

Ele se perguntou o que aconteceria se ele batesse a língua contra o dedo que
estava pressionado em seus lábios.
Talvez algo tenha traído seu pensamento. Granger tirou o dedo dos lábios
dele e o pressionou sob o queixo dele, inclinando a cabeça na direção dela.

Ela moveu a varinha para a outra têmpora dele e ele ouviu o sussurro do
encantamento novamente, "Solamentum".

O feitiço de cura aliviou o peso da cãibra.

– Como está? - perguntou Granger.

Draco fez aquela coisa que ele gostava de fazer, de dar a ela respostas que
na verdade se referiam a ela.

– Lindo. - disse Draco.

– Não é?

– Celestial.

– Bom.

– Sublime.

– Agora você está apenas tentando me provocar.

– Não. É verdade.

Granger olhou para o teto em um gesto de leve exasperação e se levantou.


Ela voltou a se sentar no sofá em frente a Draco, o que o deixou com uma
sensação distinta de falta ao seu lado.

Ele ficaria perfeitamente feliz se ela continuasse ao lado dele e sussurrasse


feitiços complexos de cura, em vez de palavras doces, em seu ouvido.

Certo. A paixão que ele deveria estar anulando.

Ele amarrou e amordaçou seu coração e o empurrou em algum profundo


abismo psíquico.
Henriette se materializou com o prato pièce de résistance – um pequeno
bolo de mousse de chocolate, coberto com uma única vela.

– Oh, merci! C'est trop gentil! - exclamou Granger, uma mão pressionada
em sua clavícula.

Draco tinha a sensação de que Granger teria absolutamente detestado Feliz


Aniversário sendo cantado para ela por ele e pelos elfos (por mais
ritualístico que fosse), então ele instruiu Henriette a desistir de cantar.

Henriette apenas disse:

– Joyeux anniversaire, mademoiselle! - e fez uma reverência com um


estalo.

– Você realmente não precisava fazer nada. - disse Granger para Draco,
parecendo genuinamente tocada.

– Um aniversário podre, no entanto, presa na Mansão comigo, com uma


horda de lobisomens se escondendo e tentando matá-la.

Granger puxou a vela do bolo e a apagou. ("É mais higiênico," ela disse
diante da sobrancelha levantada de Draco.)

– O que você desejou?

– Não posso dizer.

Draco passou a mão pelo cabelo.

– Nada, eu aposto. Você já me tem. O que mais você poderia pedir?

Ela riu, como esperado (sensação miserável), e puxou o bolo para si.

– Você quer um pouco?

Ao seu aceno, Granger cortou para cada um uma fatia pegajosa do bolo de
mousse.
– Ron disse que ia checar meu chalé em busca de pacotes para mim, a
caminho de casa. Ele deve me entregá-los amanhã.

– Bom da parte dele.

– Mm.

Houve silêncio enquanto o bolo era saboreado.

– O que aconteceu entre você e Weasley, afinal? - perguntou Draco.

Como regra geral, ele e Granger não faziam perguntas pessoais – um hábito
saudável a ser cultivado entre o Auror e o Protegido. Ela havia deixado
escapar uma em Provence, sobre os estudos dele – e agora ele se permitiu
uma, por curiosidade não tão ociosa.

Talvez fosse uma pergunta que Granger respondia regularmente. Ela apenas
deu de ombros.

– Queríamos coisas diferentes. Éramos jovens quando ficamos noivos –


recém-saídos da guerra. Eu tinha muitos planos que não envolviam
construir a Toca II e lançar a próxima dinastia Weasley. Mas nos separamos
amigavelmente, no final. Estou tenho sorte. Ron continua sendo meu
querido amigo. Ele e Luna estão juntos há um tempo, agora – eles são uma
combinação muito mais feliz.

Draco murmurou uma resposta evasiva em torno de uma colher de bolo.

– E você? - perguntou Granger. Havia curiosidade contida em seu olhar. –


Ouvi dizer que você e a mais nova das irmãs Greengrass estavam noivos.

Foi a vez de Draco dar de ombros.

– Igual a você, suponho. Planos diferentes. Ela queria ser a próxima Sra.
Malfoy e fazer as coisas direito, você sabe – a coisa da sociedade, as festas,
os jantares, quatro crianças e duas babás aos 25 anos. Eu queria duelos
regulares com professores franceses - (Granger concordou e disse "Como
qualquer um quer") – e fins de semana sujos em Barcelona.
– Sua mãe deve ter ficado chateada.

– Devastada. Éramos perfeitos no papel.

– Tantas coisas são.

Eles ficaram em silêncio por um tempo. Nenhum olhou para o outro.

– Obrigada novamente, pelo bolo. - disse Granger. – Foi – um gesto


inesperado.

– Agradeça Henriette. - disse Draco.

Ele viu que Granger tinha acabado com o bolo e enfiou o garfo na direção
dele para outra mordida, sem se preocupar em cortar um pedaço.

– Você vai arruinar a integridade estrutural. - ofegou Granger. – Não se


atreva!

– Ou o que? - perguntou Draco, apontando para o centro de mousse macio.

Granger derrubou o garfo dele com o dela.

– Vou realizar a prisão de um cidadão.

– Hah. Você sabe, eu adoraria ver você t-

Um movimento da varinha de Granger transfigurou as abotoaduras


prateadas de Draco em algemas estreitas, bem presas no meio. A
transfiguração foi incrivelmente rápida – chocantemente.

Draco observou esse novo estado de coisas. Ele separou as mãos. As


algemas bateram umas nas outras e ficaram firmes.

Ele assobiou.

– Metais de transição perto de suas mãos não podem ser a decisão mais
sábia para um Auror. - disse Granger.
– A maioria dos bandidos não tem mestrado em Transfiguração.

– E suponho que você também não se distraia com mousse de chocolate.

– Correto.

– Ainda assim. - disse Granger. Havia alegria em seus olhos. – Isso não foi
tão difícil.

– Eu digo novamente, você teria sido uma boa Auror, sem os gritos.

– Meu cérebro é melhor usado em outro lugar. - disse Granger.

Certamente, também.

– Você vai me deixar ir, ou vamos ver quanto tempo leva para eu
desenvolver um novo fetiche? - perguntou Draco.

– Acho que é melhor. Não queremos que você fique muito excitado no
trabalho.

Granger acenou com a varinha e as algemas voltaram a ser abotoaduras.

Mas era tarde demais – as algemas agora eram uma coisa que iria residir na
cabeça de Draco. Havia uma alegria que veio por ser tão rapidamente
dominado. Sua varinha também estava fora de alcance. Ela poderia ter feito
todo tipo de coisas interessantes – e descobriria que ele era um participante
disposto.

Mas não. Não haveria amassos com seu Auror algemado em um sofá. Ela
era Granger. Ela nunca cruzaria a linha. Ela era controlada e profissional.
Ética. Correta.

Maldita seja.

Draco se serviu de uma generosa taça de vinho e terminou.

Ele deve seguir o exemplo e ser igualmente correto. Mas era bastante difícil
quando ela estava pressionando seu traseiro nele e colocando os dedos em
sua boca e algemando-o. E isso tinha sido apenas uma noite de atividades. E
haveria muitos mais juntos.

No fundo, em seu coração amarrado e amordaçado, Draco sentiu sinais de


alarme.
26. Mabon; Ser Irritante é uma
Linguagem do Amor

Como prometido, no dia seguinte, Weasley foi por Flu até a Mansão para
deixar os presentes de aniversário que foram enviados para o chalé de
Granger. Granger já tinha ido para seu laboratório, então foi Draco quem
teve o privilégio duvidoso de recebê-lo.

Weasley não era muito bom em Feitiços de Extensão, o que ele demonstrou
ao chegar com um volumoso saco de estopa cheio de embrulhos,
prontamente jogado nos braços de Draco.

Weasley ofegou.

– Levei dez minutos para empacotar tudo isso.

– Bruxa popular. - disse Draco, agarrando a coisa pesada.

– Sim. - Weasley enxugou as mãos suadas nas calças e olhou em volta. –


Hermione parece estar lidando bem com isso, ficando aqui. Engraçado que
este acabou sendo o lugar mais seguro para ela, depois de todos esses anos.

– Eu suponho.

– Obrigado por fazer isso por ela. Você é realmente um cara decente –
apenas um pouco idiota, afinal.

Draco tinha acabado de abrir a boca para dizer ao Weasley obrigado e cai
fora, quando Weasley acrescentou:

– Ela gosta de você, você sabe.


– ...Gosta de mim?

– Genuinamente. - disse Weasley. – Acha que você é extremamente


competente – eminentemente respeitável – geralmente maravilhoso. - ele
assumiu uma voz alta, Grangeriana – Bem brilhante, você sabe, Ron, você
não deve provocá-lo. Não posso nem me referir a você como 'o furão' sem
ser corrigido.

Isso teve um imenso efeito animador em Draco, mas ele manteve seu rosto
neutro.

– Ela gosta de pegar causas infelizes.

– Sim. Ela vai formar uma Sociedade para a Proteção do Eminentemente


Respeitável Malfoy em breve, eu acho. SPERMA. Combina com você.

O humor de Draco estava tão animado que essa insolência dificilmente o


irritou. Ele chamou Weasley de filho da puta sardento, mas sem rancor.

– Ela já lançou uma rebelião de elfos domésticos? - perguntou Weasley.

– Não, mas espero que ela comece a agitação em breve. Foram apenas duas
noites.

– Sim. Ela tem muito tempo para causar danos. - Weasley balançou as
sobrancelhas enquanto procurava por elfos. – É melhor eu ir embora. Você
estará no laboratório mais tarde?

– É Humphreys esta manhã e Goggin à tarde. Estou com Potter nos


esconderijos.

Weasley jogou pó de Flu na lareira.

– Certo – as armadilhas. Faça elas diabólicas e beirando a ilegalidade, tá


certo?

– Obviamente.

– Tchau.
– Vai se ferrar.

Weasley sumiu.

A bolsa nos braços de Draco estava pesada com as expressões de amor dos
amigos e admiradores de Granger. Ele sentiu os cantos de livros e a maciez
de roupas. Algo com canela flutuou através da sarapilheira.

Ele lançou alguns feitiços de detecção para garantir que não houvesse itens
amaldiçoados ou envenenados e chamou Tupey para levar a coisa para a
suíte de Granger.

Ele não gastou um único momento pensando em um presente para Granger


para ofuscar todas essas oferendas.

O dia passou em uma série de visitas a esconderijos, onde Draco e Potter


esperavam atrair qualquer bisbilhoteiro com falsos indicadores da presença
de Granger. Eles criaram iscas Grangers, encantadas para se mover entre
várias salas, e programaram as luzes para acender e apagar à noite. Eles
esconderam uma variedade de proteções e armadilhas ao redor das
propriedades.

E sim, as de Draco eram mais cruéis que as de Potter. Potter tinha toda a
imaginação de um Tolete.

Quando eles tinham colocado iscas em cinco esconderijos, incluindo o


chalé de Granger, eles voltaram ao escritório para se encontrar com Tonks,
que havia falado com Shacklebolt.

– Ele teve um acesso de raiva completo? - perguntou Potter.

Tonks balançou a cabeça.

– Não – você conhece Kingsley. Foi uma decepção silenciosa. Ele não
ameaçou me demitir ou a Robards, então isso foi positivo.

– Pare com isso. - disse Draco. – Ele nunca te demitiria por isso.
– O ressurgimento de Greyback foi um pouco chocante. - Tonks fez uma
careta. – Ele não estava feliz. Robards pegou o pior da bronca; ele não
deveria ter tentado manter as coisas em segredo depois do infector de
crianças. De qualquer forma – eu assegurei a ele que Hermione está segura
e continuará seu trabalho. Ele pediu para ser informado sobre os planos da
WTF para a próxima lua cheia – eu gostaria de participar da próxima
reunião, Potter, se você não se importa...

Um zumbido em seu bolso fez com que a atenção de Draco se desviasse.


Ele olhou por baixo da mesa para ver uma mensagem de Granger.

Humphreys é muito tagarela, disse Granger.

Ela é, um pouco, disse Draco.

Pior que você.

Todo mundo é pior do que eu. Eu sou o melhor.

Fui informada das doenças de toda a sua família extensa, disse Granger.

E Goggin?

Um homem muito bom.

Ótimo, disse Draco, que não ficou nem um pouco ciumento.

Respira alto, disse Granger.

O homem quebrou o nariz algumas vezes.

Bastante assobiado na expiração, não é?

Peça para ele tocar uma música para você.

Ele já está.

Qual musica?
Houve um atraso quando Granger, presumivelmente, parou para ouvir
Goggin.

Auld Lang Syne, eu acho.

Festivo, disse Draco.

Mais três horas disso – posso enlouquecer. Sinto sua falta terrivelmente.
Nunca mais serei má com você.

O coração de Draco parou de bater com a visão de Sinto sua falta


terrivelmente.

Em seguida, recomeçou com vigor perturbador.

– Malfoy? Você gentilmente se juntaria a nós no presente? - veio a voz de


Tonks.

Draco olhou para cima para encontrar Tonks e Potter olhando para ele. Ele
percebeu um sorriso vago em seu rosto e o substituiu por uma carranca.

Tonks abriu a boca para lançar uma pergunta afiada sobre o que estava
prendendo sua atenção tão agradavelmente, mas Draco foi poupado de mais
explicações por uma batida na porta.

– O Malfoy está aqui? - veio a voz de Brimble, uma das aurores novatas.

– O que foi? - perguntou Draco.

– Eu tenho algo para lhe mostrar, se você tiver um momento?

Tonks enxotou Draco com um gesto animado, como se estivesse feliz por
ter uma desculpa para se livrar do idiota de olhos sonhadores.

Sinto sua falta terrivelmente.

Por que isso lhe dava uma sensação tão agradável e agitada?

Parecia bom demais para anular.


Certo. Brimble.

Brimble era uma jovem bruxa nascida trouxa que geralmente considerava
Draco com uma espécie de temor. Sua especialidade era vigilância e
espionagem. Quando Draco se juntou a ela em sua mesa, ela remexeu
nervosamente em uma pilha de papel e deixou cair a pena.

– D-desculpe interromper. - disse ela. – Achei que poderia ser importante.


Tenho monitorado os avisos da INTERPOL e uma de suas Pessoas de
Interesse acabou de aparecer.

– Qual delas?

– Gunar Larsen. A INTERPOL acaba de ligá-lo a uma série de ataques –


seu homem está em algum tipo de fúria internacional contra pesquisadores.
Eles finalmente o pegaram na câmera.

Ela colocou uma pilha de fotos de trouxas imóveis nas mãos de Draco.

– Aqui. Estas foram tiradas em um laboratório na Holanda. Larsen


estrangulou o cientista principal.

Draco examinou a sequência de fotografias, que estavam borradas, em preto


e branco, e tiradas de um ângulo alto que tornava difícil discernir o que
estava acontecendo. Nas primeiras fotos, a grande forma de Larsen pairava
sobre o corpo revestido de branco, então ele segurou a cabeça do cientista
entre as mãos por vários outros quadros – conduzindo Legilimência, sem
dúvida. O cientista pareceu levantar um braço para se defender e então as
mãos de Larsen estavam em sua garganta.

– O cientista está vivo?

Brimble folheou mais documentos.

– Vivo, mas em estado crítico. Hospitalizado em Roterdã.

– Quem é ele?
– Ele é, er – espere, eu tenho isso em algum lugar – um oncologista. Esse é
um tipo de curandeiro trouxa que...

– Eu sei o que é um oncologista.

Brimble olhou para ele com surpresa.

– Certo. Bem, o nome dele é Dr. Johann Driessen.

Porra. Esse tinha sido um dos palestrantes de Granger naquele evento em


Oxford.

– O Corpo de Polícia Nacional Holandês está investigando, assim como os


aurores holandeses. Eles foram informados de que também temos interesse
em Larsen. Entrei em contato com colegas no Japão e na América sobre os
outros ataques – pelos relatórios que vi, parece que ele está realizando
Legilimência neles e os deixando para morrer.

Draco pegou o arquivo de Brimble.

– Bom trabalho. Diga-me imediatamente se houver mais alguma coisa. E eu


quero saber se ele vem ao país – de olho em chaves de portal e flus
internacionais.

Brimble assentiu enquanto Draco se afastava.

Naquela noite, Granger foi recebida na mesa de jantar pela pilha de


fotografias e uma releitura das descobertas de Brimble.

Ela empalideceu ao saber da série de ataques e engasgou de horror com as


fotografias do Dr. Driessen.

Draco não queria dizer eu malditamente te avisei mas algo do pensamento


estava claramente em sua expressão, porque Granger fez uma rara
admissão:

– Você estava certo sobre Larsen.

Não deu prazer a Draco. Bem, talvez um pouco de prazer.


– Eu estou sempre certo.

Era um fardo monumental, sempre estar certo, mas ele o carregava com sua
graça habitual.

– Que diabos Larsen está fazendo? - perguntou Granger. – O que há errado


com ele?!

– Eu também gostaria de saber. O que o idiota está procurando?

As sobrancelhas de Granger estavam contraídas em uma linha preocupada.

– Se ele está mirando em pesquisadores no meu campo – a maioria deles


são trouxas. Eles serão totalmente incapazes de se defender.

– Dê-me uma lista de alvos prováveis. Vou informar seus respectivos QGs
de Aurores.

– Tudo bem.

Granger olhou para uma das fotos de Driessen sendo estrangulado. Ela
parecia doente.

Draco a arrancou e colocou de volta no arquivo.

– Não é sua culpa.

Eles sentaram-se em silêncio.

Tupey se materializou para servir a sobremesa (uma tarte tatin), que tirou os
dois de seus estupores melancólicos.

Granger respirou fundo, como se estivesse tentando passar para outros


assuntos, mas com dificuldade.

– Certo. - ela suspirou. – Precisamos falar sobre Mabon. É amanhã e temos


tantos lugares para visitar, precisamos estar assustadoramente organizados
para isso.
Como se Granger soubesse ser qualquer outra coisa além de organizada.
Agora era a vez dela jogar uma pilha de papéis na frente de Draco. Ela
aproximou a cadeira e seu joelho tocou a coxa dele, o que foi bom, e ela
percorreu o itinerário com ele.

Os nomes selvagens e antigos dos dólmenes que eles visitariam soavam em


sua língua: Bodowyr, Henblas, Ty Mawr, Pentre Ifan, Pedra do Inferno,
Goward, Annadorn...

Draco suprimiu um arrepio. Havia magia nesses nomes.

Eram doze ao todo. O itinerário de Granger incluía pontos de Flu e pontos


de aparatação, muitas vezes um pouco longe dos próprios locais, pois eram
construídos em grandes linhas de ley magicamente potentes demais para
aparatar diretamente.

Granger sugeriu que eles usassem a Aparição Lateral quando não


estivessem usando Flu, a fim de ficarem juntos e evitar o esgotamento
mágico por meio de tantas aparições repetidas em todo o Reino Unido.

Eles brigaram sobre quem aparataria quem – Granger queria que Draco
preservasse sua magia para detectar e duelar se necessário; Draco queria
que ela salvasse a dela para se defender, e talvez recolocar seus membros no
caso de um confronto.

Eles decidiram se comprometer a alternar, o que deixou nenhum deles


satisfeito e ambos olhando para o outro como se nunca tivessem lidado com
um tolo de mente tão maldita em suas vidas.

Agora Granger mordeu o lábio.

– Precisamos sair cedo amanhã. Eu sei que você vai ficar animado.

– Estou positivamente efervescente de alegria.

– Brilhante.

– Espumando com isso.


Granger propôs a péssima hora das sete horas.

– O que? Puta merda.

O revirar de olhos de Granger foi magnífico.

– Pobre querida. Não é tão horrível.

– Vil, é o que é. - Draco deu um suspiro dramático e sentou-se frouxamente


em sua cadeira. – Eu deveria ter aceitado o pornô troll.

– O quê? - perguntou Granger.

– Nada. Deixa para lá. Coma a sua torta.

– Coma a sua torta.

– Eu não gostaria de mais nada.

– Bom.

Draco comeu a torta na frente dele, mas ele preferia estar comendo a do
lado dele.

Mais uma ironia cansativa na vida difícil de Draco Malfoy.

~~~~~~

Draco acordou na hora monumentalmente horrível das seis horas do dia


seguinte para se preparar. Ele suportou as dificuldades com grande
coragem, que ele achava que deveria ser elogiado.

Ele prestou atenção especial à sua toalete naquela manhã, desejando


conseguir um certo visual para a andaça do dia: arrojado, mas elegante;
aventureiro, mas bien mis; intrépido, mas suave.

Seu cabelo ele arrumou para parecer malicioso e jovial. Ele usava suas
botas favoritas, que ele imaginava que lhe davam um ar de fanfarrão.
Enquanto ajeitava o cabelo no espelho, Draco refletiu que a perspectiva de
passar um dia inteiro com Granger, olhando cogumelos, deveria ter
provocado aborrecimento e verdadeiro tédio. E ainda – apesar da hora
horrível – Draco se viu bastante ansioso pela excursão.

Às 6h55, satisfeito com seu visual, Draco foi até o hall de entrada para
encontrar Granger.

Ela estava ao pé da escada, o cabelo preso em um rabo de cavalo alto, as


botas de caminhada bem amarradas, os olhos brilhantes.

Vê-la esperando por ele, toda vestida com suas coisas de passeio, foi – bom.
Isso deu a Draco uma agradável sensação de antecipação por aventura e
discussão. Para caminhadas por florestas, confrontos acidentais e freiras
loucas em fuga, tudo em boa companhia.

Ele tinha sentido falta disso.

Draco engoliu dois cafés e quatro ovos, e eles estavam prontos para se
mandar.

Granger liderou o caminho para a sala de Flu. Ela também parecia estar
antecipando esta mais nova andança com prazer. Seu sorriso era caloroso.

– Vamos carpe este diem?

– Vamos.

Granger jogou pó de Flu nas chamas e falou o nome do primeiro ponto de


referência. Ela entrou, seguida de perto por Draco, e eles foram embora.

Eles caíram em um ritmo agradável à medida que progrediam no itinerário


de Granger. Em cada parada, os feitiços de detecção de Draco confirmaram
que eles estavam sozinhos (exceto por vacas ou ovelhas) e então Granger
começou a trabalhar, procurando os cogumelos específicos e outras
matérias vegetais que sua Herbologista-filósofa decidiu tratar, em vez de
algo útil, como as malditas coordenadas.
Os dólmens eram estruturas grandes, ainda impressionantes, apesar de seus
ocasionais estados de colapso. Granger forneceu seu comentário histórico
habitual, explicando que os monumentos normalmente abrigavam câmaras
funerárias e teriam sido cobertos inteiramente por um monte de terra,
milhares de anos atrás.

(Pentre Ifan, Pembrokeshire, Wales. Foto: megalithic.co.uk)

Eles experimentaram todas as estações imagináveis à medida que


progrediam na lista de Granger. Chuva forte em Bodowyr, glorioso sol de
setembro em Ty Mawr, neblina espessa em Henblas.

As paisagens eram de tirar o fôlego. De manhã, descobriram antigos


bosques de árvores retorcidas, cheirando a tomilho selvagem, amplas
charnecas cobertas de milhões de flores roxas e quilômetros de grama verde
ondulante desaparecendo em um céu nebuloso.

À tarde, eram colinas intermináveis cobertas de samambaias, pastagens


domesticadas e falésias mergulhando no mar do fim do mundo.

A parte favorita de Draco eram as Desaparatações – os momentos em que


Granger enlaçava seu braço no dele e se agarrava a ele, e ele sentia a magia
dela sobre ele, ou a envolvia na dele, e o giro da Desaparatação os batia um
no outro e os pressionava juntos.
Ele não conseguia ler se ela sentia o mesmo – ela pulava alegremente para o
lado dele todas as vezes, mas ela estava alegremente em seu elemento, hoje,
e fazendo tudo alegremente. Suas bochechas estavam bastante rosadas, mas,
também, o vento soprava sobre a Ilha de Anglesey e o ar estava gelado no
Condado de Down.

Mas uma coisa era certa: Granger estava feliz. Draco sentiu que nunca
poderia haver um caçador de fungos mais feliz pulando sobre esses locais
antigos. Havia nela um júbilo e uma esperança, alimentados pelo
conhecimento de que este era o penúltimo passo de seu projeto. O fim
estava à vista e a mudança do mundo logo começaria.

Entre o tojo e o ar doce do outono, o bando de lobisomens letais e o


assassino Larsen devem ter parecido distantes para ela – problemas para a
Granger de amanhã, não para a de hoje.

Dava-lhe um prazer inexplicável vê-la tão feliz.

Agora Granger se aproximou dele, balançando a cabeça.

– Aqui não. Goward em seguida. Aparatação direta – minha vez. Pronto?

– Vamos lá.

O giro, o aperto, o calor dela. Draco esperava um pouso estranho e


escorregadio em algum lugar, para que ela pudesse convenientemente cair
em cima dele, mas infelizmente, os locais de pouso foram selecionados por
Granger e, portanto, eram necessariamente tão nivelados quanto se poderia
pedir.

O próximo dólmen estava no campo enevoado de um fazendeiro,


recentemente arado.

Os feitiços de detecção de Draco não mostraram nada além de um pequeno


rebanho de cervos onde o campo se transformava em floresta. Granger
partiu, afundada na lama, em direção ao enorme dólmen.
Draco mirou uma série de feitiços de secagem em um pedaço de lama de
um metro quadrado e pisou nele para manter a sujeira longe de suas botas.
Então ele alternava entre ficar de olho em Granger e no horizonte.

A manada de cervos que Draco havia detectado flutuou pelas árvores em


direção a eles. Seus passos eram silenciosos. Conforme eles se
aproximavam, Draco viu que suas peles eram do branco-dourado do cervo
Oisín – os primos mágicos do cervo vermelho. Criaturas raras que só
existiam nesta parte da Irlanda. Draco nunca tinha visto um ao vivo.

Draco lançou alguns feitiços de detecção para se certificar de que esses


cervos não eram bandidos que desenvolveram Animagos dolorosamente
específicos com o objetivo de atacar Granger.

Eles não eram.

Ele não era paranoico, ele era apenas – cuidadoso.

(Talvez um pouco paranoico.)

Draco olhou para Granger para ver que ela também havia notado a
companhia deles. Ela ficou imóvel, um pedaço de pergaminho em uma mão
e sua varinha na outra.

A luz do sol começou a atravessar a neblina, transformando o campo


lamacento em uma extensão reluzente de orvalho adornado com restolho de
trigo dourado e as peles brilhantes dos cervos.

A névoa que recuava significava que os cervos haviam perdido a cobertura.


Eles voltaram para a segurança das árvores e, como fantasmas,
desapareceram na floresta.

Um deles, uma cerva pequena e mais jovem, seguia o rebanho, mancando


muito.

– Oh! - veio a voz de Granger, que disse a Draco que ela também tinha visto
a criatura. – Qual é o problema com ela?
Sua voz assustou o rebanho em fuga. A cerva ferida foi deixada para seguir,
mancando o mais rápido que podia.

– Acho que ela está machucada. - disse Draco.

– Precisamos ajudá-la.

– Ajudá-la? É um animal selvagem. Deixe a natureza seguir seu curso.

Granger, sem surpresa, não estava disposta a seguir esse curso lógico de
ação.

– Não vi sangue. A maneira como ela estava balançando a perna – acho que
é apenas um deslocamento.

– Então ela vai ficar bem.

– Não. Ela não será capaz de colocá-la de volta sozinha. Ela terá uma morte
lenta e cheia de medo ou será morta por algo horrível.

Para a enorme irritação de Draco, Granger começou a correr em direção às


árvores.

– Granger. - chamou Draco, em uma voz de grande autoridade e ameaça.

Ela não prestou atenção, obviamente.

– Vamos apenas estuporá-la para que eu possa dar uma olhada. Eles são
terrivelmente raros – quase caçados até a extinção por causa de suas peles.
Não podemos simplesmente deixá-la morrer.

– Nós absolutamente podemos. - disse Draco. – Você esqueceu o itinerário


bestial que você montou?

– Claro que não. Criei um tempo extra para contingências.

– E isso é uma contingência, não é?

– Sim.
– É um maldito cervo.

– Dos quais restam menos de trezentos espécimes vivos! Ela vai morrer se
não fizermos alguma coisa.

Hermione Granger, a bruxa mais irritante de sua idade, continuou a entrar


na floresta.

Draco xingou e chutou um cogumelo inocente que levou uma vida inocente
e não merecia.

– Eu não aprovo. - disse Draco, pisando na floresta molhada atrás de


Granger.

Granger estava começando a soar mal-humorada.

– Lembro-me com vívida nitidez de não ter solicitado sua aprovação. Você
não tem empatia?

– Já esgotei. Você poderia parar de ser uma maldita caridosa, por um dia em
sua vida?

– Você poderia encontrar um único grama de compaixão nesse mingau


fermentado que você chama de alma?

– Tenho muita compaixão. Pelas minhas botas.

– Suas botas?! - veio a resposta. – Isso é um ato de bondade!

– É um incômodo monstruoso!

E onde estava a compaixão de Granger por seus cabelos e vestes, por favor?
Por que eles estavam vadeando em um pântano?

Nas árvores à frente, a cerva dourada brilhava. A pobre criatura estava


fazendo o possível para fugir, mas sua corrida de três pernas a havia
esgotado, e Draco e Granger logo ganharam terreno.

Os Estupefaças de Granger estavam voando em perseguição.


– Estupefaça! Estupefaça!

– Você seria tão fácil de atrair para uma armadilha. - ofegou Draco,
alcançando. – Os bandidos só precisam encontrar um coelho com um pé
machucado-

– Se você me ajudasse, isso acabaria mais rápido!

– Ótimo. Estupefaça!

O Estupefaça de Draco atingiu a cerva nas costas – sem nenhum efeito.

– Certo. - disse Draco. – Peles absorventes de magia.

– Droga. - disse Granger. – Eu não pensei que elas seriam tão potentes.

Granger mudou de tática e transformou o terreno lamacento em alguns


metros de pântano literal, que quase engoliu a cerva, até que ela ficou presa.

Quando estavam a cerca de três metros de distância, Draco e Granger


dispararam um Immobulus e um feitiço para dormir, respectivamente,
nenhum dos quais surtiu efeito, mesmo de perto.

– Incrível. - disse Granger, como se isso fosse um fenômeno científico


intrigante e não uma sentença de morte catastrófica para o visual de Draco.

Com a força suportada pelo pânico, a cerva saiu da lama e mergulhou entre
os dois, esperando escapar entre os humanos desajeitados.

Em uma demonstração magistral de atletismo e idiotice, Draco saltou em


direção a ela. Ele conseguiu agarrar um casco fino – então ela escorregou
de seu alcance. Ele mergulhou no pântano de joelhos.

Estava em seu cabelo.

No seu. Cabelo.

Ele ia matar os dois. Ele teria carne de cervo para o jantar e torta para a
sobremesa e a vida seria simples novamente.
Granger conjurou uma corda que serpenteou atrás da cerva, mas foi
magicamente repelida no momento em que tocou sua pele.

– Só queremos te ajudar! - chamado Granger.

– Fique parado, seu quadrúpede estúpido! - gritou Draco, menos


gentilmente.

A criatura, a julgar por sua explosão extra de velocidade, não falava inglês.

Granger acenou sua varinha e falou um encantamento, e uma parede de


terra cercou os três.

– Pronto. - disse Granger. – Chega de correr.

A cerva olhou seu novo ambiente. Ela estava em uma panela circular de
terra. Draco pulou nela novamente, esperando tirar suas pernas de debaixo
dela e deitá-la para ser examinada. A cerva se esquivou. Granger disparou
para ela com os braços abertos. A cerva saltou para o lado.

Neste ponto, a criatura parecia concluir que eles eram amadores absolutos.
Ela parecia estar brincando com a perseguição deles, com a perna
pendurada e tudo. Ela esperou até que Draco ou Granger chegassem perto
dela e então saiu correndo novamente, jogando sujeira em seus rostos.

– Eu vou esfolá-la eu mesmo e fazer dela uma maldita capa. - rosnou Draco
através da lama.

Um aceno da varinha de Granger trouxe as paredes de terra ainda mais para


dentro. Logo, havia apenas dois ou três metros quadrados de espaço para
pisar – tudo em pântano.

Eles a pegaram. Draco colocou a criatura no chão e segurou suas três pernas
boas em um aperto de punho duplo, enquanto todas as tentativas de conjurar
cordas ou correntes escorregavam. Sua perna ferida se projetava em um
ângulo não natural atrás dela.

A cerva soltou gritos de medo de partir o coração e tremeu, como se


antecipasse algum fim horrível em suas mãos.
– Está tudo bem, está tudo bem. - silenciou Granger. De alguma forma,
enlameada e desgrenhada, ela conseguiu parecer perfeitamente angelical. –
Nós não vamos te machucar. O homem mau estava brincando. Eu preferiria
fazer uma capa dele.

Draco não tinha uma resposta coerente para oferecer, pois estava cuspindo
lama.

Granger apalpou o traseiro da cerva, resmungando sobre fêmures.

A cerva chutou uma perna livre e cobriu o cabelo de Granger em uma bola
generosa de lama.

Granger fechou os olhos e respirou.

– O que você está fazendo? - perguntou Draco. – Se arrependendo? Espero


que sim.

– Está tudo bem. - disse Granger, jogando o cabelo encharcado por cima do
ombro. – Ela está com medo. Não é culpa dela.

A criatura parecia patética. A consciência de Draco, que estava em grande


parte ausente de sua vida, pinicou com a visão de seus olhos negros cheios
de medo. Ele caiu em um lapso de bondade imprudente e acariciou a cabeça
delicada da cerva.

Granger deu a ele um rápido olhar de surpresa antes de lançar um feitiço de


diagnóstico.

– É um deslocamento. Brilhante. Precisamos colocá-la para dormir – ela


precisa estar completamente relaxada – e então faremos um pouco de cabo
de guerra.

Ao ver a varinha de Granger, a criatura suspirou, um olhar de absoluto


pathos em seu rosto enquanto se preparava para a morte.

Eles vasculharam a cerva até encontrarem um pedaço de pele descoberto


por sua pele mágica – um ponto suave e aveludado logo abaixo do queixo.
Granger a estuporou. Ela consultou o esquema de diagnóstico e então, sob
suas instruções, eles começaram o cabo de guerra. Draco foi instruído a
travar seus braços ao redor da pélvis da criatura e segurá-la o mais firme
possível. Granger lutou com a perna, tentando encontrar o ângulo mágico
onde a cabeça do fêmur deslizaria para trás sobre a borda do acetábulo.

Por um longo minuto, Granger puxou a perna, dobrou, torceu, puxou – e


então, finalmente, houve um clique suave.

– Sim. - disse Granger.

– Você conseguiu?

– Eu penso que sim. - Granger flexionou a perna da cerva, que se dobrou


suavemente, agora, e não estava mais naquele ângulo não natural.

Granger lançou outro feitiço de diagnóstico.

– Perfeito.

Granger Enervou a cerva, que encontrou seus pés, tremendo. Ela se afastou
deles, colocando seu peso uniformemente em todas as quatro pernas.

Ela estava sã novamente.

Eles baixaram as paredes de terra.

A criatura galopou sem olhar para trás, jogando um último respingo de


sujeira neles em vez de uma despedida.

Foi para a boca de Draco e para o nariz de Granger.

– Há alguma maldita - porra - gratidão. - disse Draco, cuspindo com cada


palavra.

Granger espirrou.

Eles se entreolharam, de olhos arregalados, raiados de lama, fedendo


abominavelmente.
– Seu rosto.

– S-seu cabelo! Eu-

Eles caíram em histeria e riram até não conseguirem respirar.

~~~~~~

Granger ainda estava tremendo de rir enquanto eles aparataram para o


próximo local, o Devil's Den.

E seu alto astral perdurou, porque ali, entre a grama alta sob um suave céu
azul, ela encontrou a combinação mágica de fungos e flora que tanto
procurava.

The Devil's Den – Nome celta infelizmente perdido no tempo. Acredita-se


que os campos ao redor deste dólmen sejam a pedreira das pedras sarsen
em Stonehenge.(Photo: megalithic.co.uk)

– Finalmente! - disse Granger. – Sim!

Ela beijou um cogumelo (cogumelos conseguiam mais ação do que Draco;


tudo bem), e se lançou em uma onda de atividade. Ela tirou uma
parafernália misteriosa do bolso e começou a colocar algo entre as grandes
pedras do dólmen.
Quanto a Draco, bem. Uma vez perdida, a dignidade de alguém é difícil de
encontrar novamente, mas Draco fez o possível para recuperá-la.

Ele teve que admitir que seu visual estava arruinado. Ele lançou Scourgify e
Aguamenti até que ele não fosse mais um cocô ambulante.

Então ele jogou alguns Aguamenti em Granger enquanto ela se


movimentava, apenas por esporte, e também porque ela beijou um
cogumelo em vez dele.

Ele parou depois que os gritos dela ficaram estridentes e ela rosnou,
"Malfoy!", porque ele não queria que ela o transformasse em um cocô de
verdade.

– O que estamos coletando aqui? - perguntou Draco, caminhando em


direção aos instrumentos que Granger estava colocando.

– Luz. - disse Granger, segurando uma espécie de sextante para o céu.

– Luz?

– Sim. O Sanitatem padrão requer exposição à luz solar em um cemitério.


Para o proto-Sanitatem, precisamos da luz do equinócio outonal coletada
em uma tumba muito mais antiga, capturada assim que o sol passa pelo
equador celestial.

Uma tigela rasa e espelhada brilhava entre os instrumentos. Runas foram


esculpidas em seus lados. Granger brincou com o sextante e uma bússola de
bronze e inclinou ainda mais a tigela, de modo que ela apontasse para cima,
mas para o oeste.

Em sua mão havia um tubo de clique.

– Qual é a coisa do tubo de click?

– Um Desiluminador. - disse Granger. – Ron me emprestou, Deus o


abençoe.
Granger deitou-se no chão ao lado da tigela de prata e usou o sextante
novamente, fazendo pequenos ajustes na direção da tigela.

Então ela se levantou e subiu em uma das pedras maciças do dólmen, e se


empoleirou lá.

– E agora o que? - perguntou Draco.

– Agora vamos esperar. - disse Granger. – Este ano, o equinócio de outono


acontece às 18h20.

– Oh. Temos muito tempo.

– Nós temos. Tivemos sorte, realmente, encontrando na sexta tentativa.

Eles fizeram um piquenique na rocha – sanduíches grossos de ovo e agrião


preparados por Henriette.

– A Cova do Diabo. - disse Draco, olhando para cima para a pedra maciça
acima deles. – O que há de tão diabólico nisso?

– A tradição local diz que um demônio pode ser convocado aqui


derramando água nelas. - Granger apontou para reentrâncias em forma de
prato na rocha. – Apareceria à meia-noite para tomar uma bebida.

– Só água? Um bom tipo de demônio. Eu teria esperado sangue de crianças,


no mínimo.

– Talvez possamos deixar um pouco para ele. Água, quero dizer. Não
sangue infantil – eu não tenho nenhum.

Quando terminaram o piquenique, Granger esfregou o rosto. Apesar dos


esforços esporádicos de Draco, ela ainda estava cheia de sujeira. A sujeira
riscava suas bochechas como pintura de guerra.

– Acho que prefiro a medicina humana. - disse ela com um pouco de


afetação enquanto apontava Scourgify e Evanesco para si mesma. – Há
menos perseguição de pacientes. Mas foi divertido.
– Divertido. Ah, sim. Eu definitivamente adoro cair de pernas pro ar em
pântanos.

Granger fez uma careta, então se inclinou para consertar o colarinho dele.

– Um pouco de sujeira faz você parecer audacioso.

Draco estava perplexo.

A diversão chegou ao rosto de Granger e era – afetuosa.

Draco não sabia o que fazer com isso.

– Mas seu cabelo – uma causa perdida absoluta, hoje. - disse Granger.

– Fale por você mesma.

Eles passaram o resto da tarde conversando. Eles se insultaram algumas


vezes, e rosnaram um para o outro algumas vezes, mas estava tudo bem,
porque os insultos dele a faziam rir, e o calor em seus olhos suavizava os
dela, e eles estavam discutindo ou estavam flertando, sério?

À medida que o equinócio se aproximava, Granger começou a ficar


inquieta. Ela pulou da pedra, verificou a posição de sua tigela prateada
novamente, tirou o Desiluminador, colocou o Desiluminador de volta,
calibrou a tigela novamente e começou a andar de um lado para o outro.

– Desculpe. - ela disse, quando percebeu que Draco a observava. – Eu


pratiquei isso tantas vezes, você sabe, mas essa é de verdade, e se eu
estragar isso, o projeto inteiro será atrasado em um ano – mas eu não vou
estragar isso – mas se eu estragar–

– Você não vai. - disse Draco.

– Eu não vou.

Ela lançou um feitiço para dizer as horas.

18h15.
Granger se ajoelhou ao lado da tigela de prata. A brisa dançava entre a
grama alta. Um encanto de pintassilgos levantou voo.

18h18.

O cheiro do outono pairava deliciosamente ao redor do dólmen, pesado com


feno recém-cortado.

18h19.

O ar ficou espesso com magia.

18h20.

Bateu o equinócio.

Os raios do sol atingiram a tigela espelhada, refletindo sobre si mesmos


milhares e milhares de vezes luminosas, e formaram uma esfera de pura luz.

Granger, ajoelhada ao lado da tigela, clicou no Desiluminador. A bola de luz


foi sugada para dentro do instrumento.

O sol se pôs.

E bem assim, estava feito.

Granger cuidadosamente deslizou o Desiluminador em seu bolso.

Então ela se levantou, inclinou a cabeça para cima, abriu os braços e disse:

– Sim!

Ela girou em um círculo, uma pequena figura sob um grande céu, rindo de
sua felicidade para os céus.

Seu giro a jogou em Draco, e ela transformou a colisão em um abraço no


qual, na ponta dos pés, ela pressionou toda a sua alegria e alívio.
Ele se entregou. Ele a segurou com a mesma força, essa velha inimiga
favorita, essa benfeitora brilhante, essa paixão estúpida.

Ela olhou para cima assim como ele olhou para baixo.

Suas bochechas se encontraram em uma pressão molhada e lamacenta.

E então, seus lábios também.

Foi o beijo mais inocente e ingênuo no qual Draco já tropeçou.

Isso despejou um litro inteiro de endorfinas em seu sistema.

Eles se separaram e arfaram desculpas um ao outro, porque, obviamente,


tinha sido um acidente.

Continuaram como se nada tivesse acontecido. Porque ele era seu Auror e
ela sua Protegida e ambos eram profissionais consumados.

Mas algo havia acontecido.

E Granger não tinha pulado gritando, sabe. Ela não limpou a boca, não
cuspiu. Ela tinha apenas sentido calor, e respirado uma vez, e agora ela
corou e se ocupou em empacotar.

O cérebro de Draco deleitou-se com a obtenção de uma nova memória, de


lábios rachados pelo vento e o gosto de sal e terra.

Granger montou seus instrumentos.

– Isso é Mabon resolvido. - disse ela, alívio em sua voz. – Mal posso
acreditar.

– Um triunfo. - disse Draco, e ele quis dizer isso.

– Um pequeno triunfo.

– Você está caminhando em direção a um grande pra caralho.


– Sim.

Os últimos raios do sol Mabon acariciavam as copas das árvores distantes,


exultantes em uma chama escarlate e dourada. Muito acima da grama
trêmula e das colinas, a lua se ergueu.

Granger terminou de empacotar e sentou de bunda entre as pedras colossais


do dólmen.

Ela ficou sentada lá por um longo tempo, com as mãos na terra atrás dela, o
rosto para o céu, respirando aliviada.

Então ela pegou o olhar dele e sorriu para ele.

A Grande Muralha de Anulação foi obliterada.

Algo vasto e sem nome inchou em seu coração.

Essa bruxa era – essa bruxa era – ele não tinha as palavras para isso, mas
ficou impressionado com isso. Isso queria engoli-lo.

A esfera de luz ainda brilhava. Mas não estava no Desiluminador.

Estava nele.
27. A Festa de Theo

Então. A anulação. Ela não estava, objetivamente, indo bem.

Como Draco preferia culpar qualquer pessoa além de si mesmo por seus
problemas, ele colocou a culpa diretamente em Granger, que não tinha nada
que sorrir para ele. Francamente, como ela se atrevia. Comportamento
desagradável. Impensado. Rude, realmente.

Granger continuou na alegre ignorância de sua culpa. Com o passar dos


dias, ela se estabeleceu na vida na Mansão com uma facilidade
surpreendente – talvez porque raramente estivesse lá. Ela chegava a tempo
de engolir um jantar tardio, na maioria das noites, e acordava cedo
novamente no dia seguinte, arrastando um Draco de olhos turvos atrás dela
enquanto ela gracejava para salvar o mundo.

Potter e Weasley visitavam Granger frequentemente. Os três


compartilhavam longas conversas tarde da noite, amontoados um sobre o
outro em algum salão ou outro. Draco se juntava apenas quando
especificamente convidado por Granger – ele passava bastante tempo com
aqueles dois idiotas no escritório e não apreciaria mais da companhia deles.
Ele também os achava muito vigilantes – Potter em particular. Não que
houvesse algo para ver aqui.

Mesmo em seus lapsos mais loucos de honestidade, Draco nunca admitiria


o quanto ele gostava da companhia – reconhecidamente esporádica – de
Granger na Mansão. A forma como sua presença enchia os grandes
aposentos com calor. O prazer da conversa na hora do jantar. Andar por um
corredor e saber que ela tinha acabado de passar por ali, por causa do cheiro
persistente de sabonete.
Até o gato dela era uma adição decente à casa. Tarde em uma noite, um
"Mraa?" ao pé da cama de Draco o informou que a criatura havia de alguma
forma entrado em seus aposentos e estava chamando lamentosamente por
ele. Então ele o olhou com uma espécie de autopiedade e Draco percebeu
que ele estava perdido. Ele o levou para a suíte de Granger, bateu e disse a
ela: "Acredito que isso é seu", enquanto o gato saltava em território
familiar. Granger estava fazendo yoga, e estava usando aquelas roupas, e
estava suada e ofegante e brilhando, e cheirava a sal e fumaça de vela. Ela
ofegou "Oh! Bichento, meu querido, você não deve ir muito longe," e um
fio de suor escorreu entre seus seios, que Draco não olhou.

De qualquer forma, o gato estava bem.

Draco nunca admitiu explicitamente para si mesmo, mas por trás da


anulação, em uma parte secreta, estúpida e sentimental de sua alma, ele
desejava que eles pudessem compartilhar mais momentos tranquilos juntos,
ininterruptos por gritos de dor na A&E ou estudantes de pós-graduação
nerds no laboratório dela. Mas talvez fosse melhor assim – talvez qualquer
outra coisa fosse demais.

Muitas vezes ele já tinha se perguntado o que levou tantos de seus amigos
ao casamento e à pequenez da felicidade doméstica. Mas às vezes, quando
Granger chegava em casa, sorria um olá e sentava ao lado dele na mesa, às
vezes, por um breve momento, ele entendia. Esses momentos foram um
vislumbre de algo que ele não sabia que poderia querer, mas foram fugazes,
e o sentimento desaparecia quando ela ia para a cama, deixando-o com uma
sensação de perda de algo que ele nunca teve em primeiro lugar.

Ele teve um desses momentos em um dia chuvoso de outubro. Era um


domingo e, milagre dos milagres, tanto ele quanto Granger estavam de
folga. Quando Draco chegou à sala de jantar, Granger estava almoçando,
mas ela gentilmente chamou de brunch enquanto acenava para ele se sentar.

Draco pediu mingau (não fermentado) da cozinha. Granger estava sentada


de pernas cruzadas em sua cadeira, uma mão ocupada com seu garfo, a
outra com seu computador dobrável, cercado por discos de prata.
Draco tinha acabado de se acomodar para curtir o silêncio e a companhia
quando o momento foi interrompido pela coruja de Theo, que jogou dois
envelopes idênticos sobre a mesa – um no colo de Granger e outro
diretamente no mingau de Draco.

Granger abriu o dela para descobrir um convite de Theo. Ela mostrou para
Draco, que viu que Theo havia se esforçado muito com isso: a escrita era
linda, o pergaminho era do mais alto grau, a tinta brilhava luxuosamente.

Cara Curandeira/Professora/Doutora Granger,

Eu entendo que você deve ser agradecida/culpada (?) pela contínua


presença de nosso querido Draco nesta terra. Alguns amigos de Draco e eu
adoraríamos a oportunidade de celebrar sua tour de force médica
pessoalmente. (Sei que pode ser uma surpresa, mas ele tem alguns amigos.
Dito isso, será necessariamente um encontro íntimo, pois ele só tem seis.)

Se você puder se juntar a nós, gostaríamos de pedir o prazer de sua


companhia na Casa Nott, neste sábado, às sete horas.

No canto inferior do convite havia um bilhete: Vestido - Black tie.

O envelope encharcado de Draco incluía uma nota que fazia um contraste


bastante nítido, rabiscado na letra ilegível de Theo e escrito em caneta Biro.

Querido fodido,

Perdi meu Bloco, portanto, missiva por meios antigos. Bebidas e delícias
na minha casa, neste sábado, 7. Convidei a Granger.

Venha ou eu vou te matar.

Beijos,

Theo

P.S. Lista de convites incl. para sua edificação


Um guardanapo amassado havia sido enfiado no envelope, com as seguintes
informações:

Granger
Pansy + Longbott
Blaise
Davies + esposa
Luella (no exterior)
Flint.
Draco. Eu suponho.

Draco jogou o bilhete e o guardanapo para Granger, que leu a missiva


ilegível de Theo com as sobrancelhas levantadas.

– Minha nossa. Quase teríamos que enviar isso para Bletchley Park para
decifrá-lo. Sua correspondência com seus amigos geralmente envolve
ameaças de morte?

– Sim, e tentamos assassinatos uma ou duas vezes por ano; é uma espécie
de tradição.

Granger assentiu como se isso não fosse surpreendente e se virou para


examinar a lista de convidados.

– Alguma história desonesta aqui?

– Só o último.

– Mm. Eu sei tudo sobre ele. E lobisomens secretos, tem algum desses?

– Eu malditamente espero que não. Eu iria primeiro e daria uma cutucada


na cabeça deles, se você decidisse ir.

– Você me deixaria ir? - perguntou Granger.

– Eu não sou seu carcereiro. - disse Draco. – A Casa Nott é tão bem
protegida quanto a Mansão. E eu estaria com você o tempo todo.

E também, Theo havia prometido danças e amassos.


E lá estava: um exemplo clássico de por que Algo entre aurores e protegidos
era proibido. Toda a sua análise de segurança tinha sido baseada no
potencial de malditos amassos.

Draco abriu a boca para dizer que, pensando bem, Granger provavelmente
não deveria ir, mas Granger agora estava batendo em seu lábio.

– Black tie. Vou pensar em um vestido.

Draco fechou a boca.

──── ◉ ────

Draco e Granger combinaram de usar Flu para a Casa Nott separadamente,


para manter a pretensão de que eles estavam cada um em suas próprias
casas. Draco deveria ir primeiro examinar o local e confirmar que não havia
lobisomens desonestos no local. Isso acabou sendo uma boa ideia, pois
Henriette ficou sabendo da festa e se enclausurou com Granger durante toda
a tarde e noite.

Quando Draco estava pronto para sair, nem a bruxa nem a elfa haviam saído
da suíte de hóspedes. Só havia Tupey para despedir Draco em todo o seu
esplendor de black-tie.

Draco usou o Flu para a Casa Nott às sete e meia. Enquanto sacudia a
fuligem, Theo apareceu para cumprimentar seu estimado convidado.

– Obrigado por gozar desta noite, Draco. Eu sei que não é algo que você
tem feito muito.

Draco e Theo entraram no salão, onde o pequeno grupo de convidados já


estava absorto na conversa. Draco fez um gesto discreto de Legilimência
enquanto os cumprimentava. Ninguém tinha intenções maliciosas, exceto
Longbottom e Pansy, que pretendiam encontrar um banheiro isolado para
uma transa rápida.

– Deuses. - murmurou Draco, em vez de "Olá".


– Desculpe? - disse Longbottom.

Pansy ergueu uma sobrancelha.

– Nada. Como vocês estão?

Após uma breve conversa, Draco mudou-se para Davies e sua esposa,
Audrielle. Davies estava pensando onde esconder sua vassoura mais nova
de sua esposa; sua esposa estava sentindo falta do bebê que eles deixaram
vinte minutos atrás e imaginando quão cedo eles poderiam escapar
educadamente para casa.

Zabini, em excelente estado de espírito, estava pensando em uma morena


inteligente. No entanto, antes que Draco pudesse estripar o homem onde
estava sentado, ele notou a acompanhante de Zabini: Padma Patil, radiante
em um vestido turquesa.

Zabini deu a Draco um de seus sorrisos insuportavelmente presunçosos.

Os pensamentos superficiais de Patil eram sobre Zabini – principalmente


que ele era um pouco idiota, mas ela iria suportá-lo porque ele também era
engraçado e decente na cama.

– Você é boa demais para Zabini. - disse Draco para Patil.

– Oh, eu sei - disse Patil com um sorriso largo.

Zabini riu.

Flint estava no bar. Seus pensamentos estavam concentrados em persuadir


os elfos domésticos a trazer as garrafas mais valiosas de Theo.

Isso completou a pesquisa de Draco sobre os convidados. Ele estava


convencido de que Granger poderia participar da reunião com segurança e
enviou-lhe um Bloco para esse efeito.

A resposta de Granger veio um momento depois: Aí em 10. Henriette é uma


valentona.
Draco começou a se ver agitado pela expectativa, meio nervoso (por quê?!),
meio agradável.

Flint acenou para Draco em direção a ele.

– O que você vai beber?

– Uma gin tônica, e faça-a forte.

A elfa doméstica atrás do bar guinchou:

– Sim, senhor!

– Dê a ele as melhores de Theo. - disse Flint, batendo no ombro de Draco. –


Estamos comemorando a sobrevivência de Draco esta noite.

Theo se aproximou e tentou empurrar Flint para fora do caminho, com


sucesso limitado.

– Pipsy, não deixe este homem repreender, persuadir ou de outra forma


impelir você a abrir o cofre.

– Claro que não, senhor. - disse a elfa, com um olhar desconfiado para Flint.

– Ele tomou liberdades abomináveis ​com minha coleção, da última vez. -


disse Theo para Draco. – Homem horrível.

Flint, descarado, pegou sua bebida e mandou um beijo para Theo antes de
se juntar a Davies.

Pipsy, a elfa doméstica, presenteou Draco com sua G&T – muito forte. Ele
aprovou.

– Alguma ideia de quando podemos esperar sua anjo da guarda? - perguntou


Theo, olhando para a alcova do lado de fora do salão, onde a lareira de Flu
tremeluzia. – Ela disse que viria.

– Eu não tenho a menor ideia. - Draco deu de ombros.


Eles se juntaram aos outros nos sofás. Draco manteve um fluxo razoável de
conversa, mas sua atenção continuava se desviando para o Flu.

Finalmente, as chamas ficaram verdes, e a forma de Granger passou a


existir nelas, e ela foi depositada nas pedras da lareira.

– Ah! - disse Theo, que aparentemente estava observando o fogo com a


mesma atenção. – Nossa convidada de honra!

Ele ficou de pé para conduzir Granger ao salão. Ela foi assediada por
Longbottom (abraços), Padma (mais abraços), Pansy (beijo na bochecha) e
Zabini (aperto de mão firme).

Draco, sendo do tipo frio e controlado, cujo batimento cardíaco certamente


não havia acelerado, apenas ergueu o copo para ela do sofá. Ela lhe deu um
pequeno sorriso.

Draco voltou seu olhar para Flint sem ouvir nada do que o homem estava
dizendo, porque oh não, Granger estava usando um vestido preto, e era
aberto nas costas, e havia uma fenda nele até a coxa, e seu cabelo foi
torcido para o lado e exibia aquela parte de seu pescoço que parecia mais
deliciosa, e Flint tinha acabado de lhe fazer uma pergunta e ele não tinha
ideia do que estava acontecendo.

Ela tinha uma rosa no cabelo.

– O que? - disse Draco. – Desculpe, não pude ouvi-lo com o som do... gelo.
No meu copo.

– Bobagens. - disse Flint. Ele inclinou a cabeça para Granger. – Você está
distraído.

Draco apontou um V para ele e tomou um gole de sua bebida.

– Não fique chateado comigo. - disse Flint. – Não fui eu que ficou todo
idiota e com os olhos úmidos no meio de uma conversa.

– Eu? De olhos úmidos? Podridão absoluta. Estou apenas... preocupado.


– Pense de novo e dê a ela um bom olá, então, Sr. Preocupado.

– Foda-se. - Draco se levantou e caminhou até o bar. – Eu preciso de um


refil.

Depois dos cumprimentos iniciais e bate papo, Granger, Longbottom e Patil


formaram um pequeno grupo e começaram a conversar sobre – plantas.
Uma emoção. Pansy se empoleirou no braço da cadeira de Longbottom e
olhou com uma espécie de tédio afetuoso, enrolando um dedo no cabelo do
marido.

Draco queria que alguém enrolasse seu cabelo, mas as mãos dela estavam
ocupadas com uma descrição animada de algum tipo de fungo.

Ele escutou com um ouvido quando Davies perguntou à sua audiência


imediata se eles tinham visto os Cannons serem espancados pelo
Puddlemere na quinta-feira?

– Sem conversa de Quadribol. - chamou Pansy do outro lado da sala. – Isso


me sufoca.

Granger parecia divertida.

– Você continua tocando seu marido - retrucou Flint com um aceno brusco.
– Falaremos disso em um sussurro.

Sempre o auge da classe, era Flint.

Pipsy, a elfa doméstica, serviu hors d'oeuvres e reabasteceu as bebidas de


todos. Flint e Zabini começaram uma queda de braço por causa de alguma
coisa (Flint venceu). Davies compartilhou alguns escândalos do Ministério,
incluindo um novo sobre o que realmente aconteceu na Sala do Amor do
Departamento de Mistérios. Theo flertou escandalosamente com qualquer
pessoa solteira, incluindo Granger, Patil, Flint e Zabini. (Ele havia
determinado há muito tempo que Draco era uma causa perdida, mas mesmo
assim fez uma ocasional abertura esportiva.)

Quando houve uma pausa na conversa, Theo se levantou e bateu no copo.


– Eu gostaria de propor um brinde. - ele disse, pegando o olhar de Draco
com um sorriso maroto.

Houve um rebuliço enquanto todos se levantavam, levantavam suas saias ou


bebidas, e vinham para perto de Theo e Draco em um círculo. Granger foi
empurrada para a frente por Longbottom de um lado e Patil do outro.

Aliás, o cabelo de Longbottom agora estava um desastre, e Draco quase


reconsiderou seus desejos pelo enrolar de dedos femininos.

– Como vocês sabem. - disse Theo, parecendo solene, – nosso Draco é


afligido por uma forma crônica de estupidez-

Houve murmúrios graves de "Trágico", "Desolador" e "Pobre desgraçado".

-Uma forma crônica de estupidez para a qual não há cura conhecida. Sua
recaída mais recente envolveu um combate mano a mano com um Nundu,
seguido por um passeio casual direto para um jato de seu veneno.

Todos balançaram a cabeça com a história comovente. Draco contemplou o


assassinato de Theo.

– Entra Hermione Granger. - disse Theo, segurando seu copo na direção da


bruxa em questão, que parecia uma bela combinação de confusão e
satisfação. – Salvadora de idiotas e campeã de idiotas desde, acredito, os
onze anos (foi quando você conheceu Potter, certo?). Graças ao seu
raciocínio rápido e conhecimento e, er – coisas científicas trouxas bastante
complicadas que eu não vou tentar explicar, não porque eu não as entenda,
mas porque vocês não vão – Draco ainda está conosco, livre para continuar
sendo imprudentemente estúpido pelo resto de sua vida (por mais curta que
seja; não muito curta, esperamos). E então proponho um brinde – ao triunfo
da medicina moderna, aos velhos inimigos e novos amigos, a Draco Malfoy
por estar vivo e a Hermione Granger por salvar sua vida.

Houve um retumbante, cheio de risadas:

– Cheers!
Draco se viu sendo empurrado e esbofeteado no ombro e socado nas
costelas, e algum imbecil dos círculos mais profundos da cretinidade
despenteou seu cabelo. Enquanto isso, Granger estava cercada por uma
delicada multidão de pessoas batendo suavemente seus copos nos dela.

– E quando você descobrir uma cura para a estupidez, avise-nos. - disse


Pansy.

– Eu vou. - sorriu Granger.

– Diga-nos, o que você acha de Draco, agora que você o conhece um


pouco? - perguntou Theo. – Ele foi um bom paciente?

– Ele cresce em você. - disse Granger, com uma espécie de afeição latente,
como se Draco fosse uma espécie de parasita que tinha se instalado em sua
pessoa e começado a se tornar querido por ela.

– Mostre-nos a cicatriz, companheiro. - disse Flint.

Draco, herói que era, condescendeu em fazê-lo. Ele desfez a gravata


borboleta e abriu o colarinho, e houve um coro gratificante de "Oooh!" à
vista.

– A boa professora poderia explicar o que estamos vendo? - perguntou


Zabini, observando o pescoço de Draco.

Granger, que estava meio observando por cima do ombro, endireitou-se e se


tornou professoral. Ela parou ao lado de Draco (seus saltos colocaram seu
rosto a uma distância muito interessante do dele, por sinal) e começou.

– É claro. Isso está se tornando um belo exemplo de contratura cicatricial.


Você vê aqui ao longo dos lados, a junção dos tecidos? Essa é uma
apresentação típica – as bordas da ferida se contraem ao redor da pele
danificada e atrai os tecidos próximos para dentro. Malfoy tem sorte – este
é pequeno e não afetará sua mobilidade, os maiores vêm com esses tipos de
desafios...
O resto foi perdido por Draco, que atualmente estava desfrutando de uma
viagem interestelar porque os dedos de Granger continuavam roçando seu
pescoço.

Theo balançou a cabeça para Draco.

– Seu maníaco absoluto. Você tem sorte de estar vivo, mais ainda vadiando
por aí, bebendo todas as minhas melhores bebidas.

Longbottom questionou Granger sobre as características do veneno, Patil


sobre o tratamento, Zabini sobre onde se poderia obter o veneno Nundu,
para propósitos que ele não poderia revelar.

A palestra de Granger terminou e houve uma mistura geral e


reabastecimento de bebida e alimentação.

Draco não se incomodou refazer sua gravata. Uma gravata-borboleta


desamarrada, uma cicatriz e um colarinho aberto davam um ar
despreocupado que ele achava que combinava com ele.

Uma reunião estava começando a se formar na extremidade da sala. Draco


se aproximou, uísque na mão (Flint intimidou ou seduziu Theo a abrir uma
garrafa de Laphroaig 25), para ver o que estava acontecendo.

Havia uma moldura dourada ornamentada na parede. E dentro do quadro?

A mancha de vinho do desabafo fútil de Draco há um mês.

Theo havia acrescentado uma pequena inscrição ao lado da moldura:

"A Turbulência da Alma"


século 21
Mídia mista
Artista desconhecido

Theo olhou para ela com carinho.

– Vocês gostam dela?


– Há uma elegância nela. - disse Patil, inclinando a cabeça para o lado.

– Muito moderno, - disse Pansy. – Portanto, não entendo.

– O que você acha disso, Hermione? - perguntou Theo.

Granger considerou a obra.

– É muito – er – expressionista.

– Kandinsky, mas bêbado? - propôs Patil.

– Você pode sentir a paixão contida? - Theo agarrou seu peito. – A


confusão? A frustração?

– Há algo que eu gosto nisso. - disse Granger. – Uma espécie de –


incômodo.

– Uma espécie de abnegação, eu acho. - disse Theo, com os dedos no


queixo. – E você, Draco? Pensamentos sobre minha mais nova aquisição?

Draco olhou para Theo, o imbecil mais atrevido que já tinha nascido.

– Eu não sabia que você era um patrono das artes.

– Gosto de encorajar gênios quando vejo. Muitos desses jovens artistas não
conhecem seu próprio potencial.

Theo se divertiu por mais alguns minutos, sondando as senhoras sobre suas
interpretações da obra e suas opiniões sobre a escolha de materiais do
artista (ele deu a entender que a tinta era bastante cara e envelhecida 30
anos antes da aplicação).

Um Draco irritado recuou para a segurança de Davies, Flint e Quadribol.

– Por que você está parecendo que alguém cagou na sua chaleira? -
perguntou Flint.

– Ajude-me com isso. - disse Draco, passando-lhe uma garrafa.


– Com prazer.

Com a ajuda de Flint e Davies, Draco esvaziou a querida garrafa de


Laphroaig 25 de Theo, em vingança.

Quando Theo esgotou sua fonte de diversão com as damas, ele chamou a
sala em geral:

– Vamos dançar?

Houve palmas e um coro de sims. Varinhas foram levantadas para limpar


um espaço, e a música encheu a sala, e Zabini encantou o lustre acima para
girar enquanto Theo diminuía as luzes.

A dança não saiu como planejado na cabeça de Draco.

Para começar, por alguma reviravolta do destino – ou acordo mútuo não


dito, ele não sabia – ele e Granger dançaram com todos, exceto um com o
outro.

Patil, Audrielle e Pansy deram giros com Draco. Enquanto isso, ver Granger
nos braços de Flint fez Draco desejar garrotear o homem com sua própria
gravata-borboleta. Vê-la nas garras de Zabini trouxe pensamentos de
sufocamento com uma das almofadas do sofá. E Theo – Draco estava meio
que pensando em quebrar seu copo em uma faca e esfaqueá-lo.

Com Longbottom estava tudo bem, no entanto.

Houve giros, houve mergulho, houve algum levantamento imprudente de


mulheres por homens meio bêbados, e uma vez de um homem (Theo) por
uma mulher muito bêbada (Pansy), houve risos.

Então Theo, que parecia muito mais sóbrio do que estava deixando
transparecer, chamou a atenção para o fato de que Draco não tinha tido uma
dança apropriada com sua salvadora, o que era inaceitável. Para
aborrecimento de Draco, ele e Granger foram empurrados juntos, e todos se
reuniram e dançaram com eles e ao redor deles, e não era de todo a visão
íntima que Draco tinha sonhado em excesso.
Ele e Granger se abraçaram rigidamente. Granger parecia irritada sob o
sorriso dela. Ele pisou no pé dela e ela pisou no dele. Eles rosnaram um
para o outro. Draco disse que os pés dela eram tão pequenos que se ele
estava pisando neles, devia ser porque ela estava prendendo os dela sob os
dele de propósito. Granger disse que se ela estava pisando no dele, era
porque não se podia deixar de pisar nos pés de Draco se estivesse na mesma
sala que ele, dada a sua área de superfície.

– E por que sua gravata não está arrumada? - perguntou Granger em um


sussurro irritado.

– Porque você estava me usando como um espécime para sua


demonstração. - murmurou Draco.

– Conserte-a.

Draco tomou essa insinuação de que Granger não aprovava seu visual
despreocupado como uma afronta pessoal.

– Conserta-a você. - disse Draco, igualmente irritado.

– Eu não sei fazer gravata borboleta.

– Eu vou te mostrar quando formos libertados dessa tirania. Talvez você


possa aprender alguma coisa, ao menos uma vez.

– Eu? Aprender alguma coisa? Ao menos uma vez?

O resto de sua dança continuou tão harmoniosamente.

Depois de duas ou três músicas, eles foram liberados do círculo, e foram


capazes de ficar um pouco afastados do grupo e tomar drinques e fingir que
não se incomodavam com – bem, tudo.

Granger mordeu uma samosa como se ela a tivesse ofendido pessoalmente.


Draco teve uma batalha animada com um coquetel de camarão.

– Certo. - disse Draco, pegando sua gravata. – Já que você se importa tanto.
Granger o observou enquanto ele demonstrava o nó, com uma espécie de
foco irritado.

– Pegou? - perguntou Draco.

– Sim.

Draco o desfez novamente.

– Mostre-me.

Granger cuspiu em seu copo.

– O que? Você não me disse que haveria um teste.

– Valendo dez.

– Um teste? - Um desastre específico chamado Theo apareceu ao lado de


Draco. – Ah. Vamos ver como você se sai, Hermione.

– Mas eu não estava vendo – quero dizer, eu estava vendo, mas não – de
qualquer forma, tudo bem, vou tentar.

Granger se aproximou e fez uma tentativa. Draco não aproveitou nem um


pouco, porque mais dois idiotas apareceram na forma de Zabini e
Longbottom.

– O que está acontecendo aqui? - perguntou Zabini.

– Ela está atando o nó. - disse Theo.

– Com quem?

– Draco.

– Ooh.

– O que está acontecendo? - perguntou Pansy.


– Eles estão se atando. - disse Zabini.

Paty chegou.

– O que estamos fazendo?

– Draco e Hermione estão se atando. - disse Theo.

– Estou dando um nó, Nott. - disse Granger.

Patil parecia confusa.

– Um nó-Nott?*

– Uma gravata borboleta. - disse Granger com muita paciência. – Esse tipo
de nó. Não Nott.

Flint chegou.

– Quem está se atando?

– Hermione. Com Draco.**

– Eu não estou. - disse Granger.***

– Não, eu sou Nott - disse Theo.

Draco os informou que odiava todos eles.

Granger deu um passo para trás e olhou cinicamente para sua obra.

– Não tenho certeza se isso é um aprovado.

Draco examinou a gravata borboleta em um espelho próximo.

– Seis em dez.

– Como você pode ser tão cruel com Hermione? - perguntou Theo. – Ela
tentou tanto.
Granger fez uma contribuição positiva substancial para o humor de Draco
dizendo:

– Acho que vou ter que praticar mais nele.

Draco amarrou sua gravata-borboleta de acordo com seus padrões usuais e


fez uma nota para garantir que Granger tivesse oportunidades de auto-
aperfeiçoamento.

Houve uma migração da pista de dança para o bar para mais bebidas. Todos
ficaram agradavelmente bêbados com sua bebida preferida. O uísque caro
nas veias de Draco o deixou relaxado e lânguido. Pansy e Longbottom
desapareceram por um longo tempo e voltaram parecendo apenas um pouco
desgrenhados. Davies e sua esposa saíram pelo Flu.

No bar, Theo começou a mexer com coquetéis. Ele estava girando sua
varinha sobre uma tigela de algo branco e espumoso.

– Certo. Qual de vocês quer experimentar minha mais nova criação?

Pipsy, a elfa doméstica, serviu taças de champanhe de cristal, parecendo


animada. Ela derramou uma generosa medida de champanhe rosé em cada
um.

– Que tipo de coquetel? - perguntou Pansy, observando os procedimentos.

– Eu chamo de champanhe di amore. - disse Theo. – Não há nada de


italiano nisso – eu apenas achei que soava sexy.

Pansy apoiou os cotovelos no bar para assistir e foi acompanhada por Patil.

Granger parecia uma combinação de curiosa e cínica, e manteve distância.

Theo tirou um pequeno frasco e o ergueu.

– O ingrediente secreto. Vamos ver o quão bem vocês se lembram de suas


poções.
Ele derramou o frasco na tigela de mousse branca. O vapor subia em
graciosas espirais.

– Isso é Amortentia! - suspirou Patil.

– Brincando com substâncias controladas, estamos? - perguntou Draco.

– Você é uma coisinha atrevida, Theo. - disse Flint.

– Mm. Amortentia dá um certo... - A boca de Theo se apertou na ruga de um


britânico prestes a falar francês. – Je ne sais quoi. Bem abaixo do limite
para uma dose real de Amortentia, é claro – apenas o suficiente para ter um
sabor positivamente delicioso.

– Estamos fazendo microdosagem com Amortentia? - perguntou Granger


com uma sobrancelha levantada.

– Só se você quiser. - disse Theo. Ele acrescentou um bocado da espuma


branca a cada taça de champanhe. – Não se preocupe, doutora - nessas
concentrações minúsculas, você não vai se apaixonar por mim. É apenas um
intensificador de sabor.

– É tolice da sua parte assumir que ainda não estamos apaixonados por
você. - disse Zabini.

Theo soprou-lhe um beijo.

A fileira de taças de champanhe brilhava em rosa e branco. Theo, com a


língua para fora entre os dentes enquanto se concentrava, acrescentou um
cacho de algum tipo de enfeite cítrico em cada uma.

– Voilà!

– Ooh. - disse Pansy, pegando a dela e passando a outra para Longbottom.

Zabini mexeu as sobrancelhas e ele e Patil pegaram as deles. Eles


brindaram.

Flint bebeu o dele em um único gole.


– Mmm. Vamos ter outra.

– Elas são feitas para serem saboreadas, seu grande idiota. - disse Theo.

– O que? Estamos racionando champanhe? - perguntou Flint.

– Por que estamos racionando champanhe? - engasgou Pansy. – Vai ter uma
guerra?

Flint se inclinou sobre o bar e disse, em um sussurro alto:

– Faça-me outra e eu lhe direi qual era o gosto da minha.

Theo ficou confuso. Pipsy distribuiu as taças restantes de champanhe.

O langor induzido pelo uísque de Draco deu lugar à apreensão misturada


com um fatalismo paralisante. Apreensão pelo que estava por vir e
fatalismo porque ele sabia, no fundo de seu coração anulado, o que estava
por vir.

Pipsy deu a Draco sua taça de champanhe di amore. Ele se afastou do bar e
se escondeu atrás da conveniente massa de terra que era Flint.

Ele olhou para a mistura suavemente borbulhante. Ridiculamente, seu


coração estava acelerado.

Ele não precisava cheirá-lo para descobrir o que iria cumprimentá-lo. O


fatalismo tornou-se pesado; a inevitabilidade disso era um horror lento.

Ele segurou a delicada taça contra o rosto, sentindo a espuma do


champanhe na ponta do nariz.

Ele respirou fundo. E lá estava: café, ar cheio de salmoura, antisséptico. E


agora havia subcorrentes mais complexas – de shampoo, poeira de
aventura, Sauternes. O cheiro de vela recém queimada.

Granger em uma taça.

Porra.
Draco limpou a garganta, olhou em volta e tentou parecer despreocupado.

Granger estava agora dando um passo à frente para pegar a dela da elfa
doméstica. Em seu rosto havia um olhar de nobre pavor, como o de uma
rainha caminhando para a guilhotina.

Depois de pegar a taça, ela a segurou na altura da cintura, bem longe do


rosto, e virou-se para conversar com Patil.

Patil se distraiu com uma briga entre Flint e Theo. Granger visivelmente se
endureceu.

Draco observou enquanto ela levava o copo ao rosto.

Ela respirou fundo e parecia aflita – como se alguma coisa medonha tivesse
acabado de ser confirmada.

Ela mal teve tempo de se recompor quando Pansy se virou para ela.

– Você já experimentou o seu?

Granger, apertando o maxilar, deu a Pansy um tipo de sorriso restrito e


tomou um gole.

– E? - perguntou Theo.

– Delicioso. - disse Granger com a voz estrangulada.

Quando o foco do grupo mudou para outro lugar, Granger olhou para a taça
como se estivesse pensando em derramar seu conteúdo no chão.

Ela não olhou para Draco.

Longbottom segurou o champanhe debaixo do nariz e suspirou.

– Minha esposa depois do banho.

Zabini cheirou o dele.


– Estou sentindo – mm. Gengibre.

– Estabilidade emocional. - disse Patil, inalando o dela com uma risada. – E


bergamota.

– Grama úmida. - disse Pansy.

– Uma fogueira no final do inverno. - refletiu Theo.

– Couro. - disse Flint.

– Oooh. - disseram todos.

– Sloe gin. - disse Granger, mas ela estava mentindo.

– Lavanda recém-colhida.

– Hortelã. E – manjericão esmagado.

– Casca de laranja. - mentiu Draco.

– Masala chai.

– Nougat.

Theo os abasteceu com mais champanhe e a multidão se dispersou. As


senhoras demoraram-se no bar. Pipsy estalou os dedos e acendeu o fogo na
lareira do salão, ao redor da qual os homens se reuniram. Eles puxaram
algumas cadeiras para perto para um filosofar aconchegante.

Draco se jogou em uma cadeira em uma atitude sugestiva de elegância


descuidada e atletismo viril, no caso de Granger olhar em sua direção.

Eles falaram de viagens.

Draco tomou um gole de sua bebida.

– Draco está fazendo certo. - disse Theo com um olhar de aprovação.


– Fazendo o que certo? - perguntou Draco.

– Saboreando.

Era verdade; ele estava. O champanhe era felicidade em um copo. A


Amortentia foi dosada tão levemente que parecia memórias em sua língua,
ao invés de gostos. Isso atraiu os sentimentos por trás da anulação e o fez
querer deleitar-se com eles.

Havia uma espécie de infelicidade vagarosa acompanhando a bem-


aventurança. Isso o fez perceber que ele queria coisas. Não apenas coisas
óbvias de Granger – mas coisas mais profundas.

A conversa voltou aos planos de viagem e Draco foi deixado para saborear.

Ele olhou para Longbottom e se viu, pela primeira vez na vida, com inveja
do homem. Ele queria o que esse idiota tinha. Ele queria ser desejado. Não
por seu nome, dinheiro ou aparência, mas por ser um homem decente,
ocasionalmente estúpido. Ele queria alguém para enrolar seu cabelo e
amarrar suas gravatas. Ele queria que alguém segurasse sua mão e o
puxasse para as pistas de dança, e para os banheiros para rapidinhas, e ao
longo do caminho da vida.

Era um desejo, tão delicioso quanto doloroso.

Ele se ocluiu antes que pudesse cair muito no desespero enlouquecido e


autocomissivo. (Ele não precisava dos Cartuxos e seus tormentos tortuosos;
armado com uma taça de champanhe Amortentia, ele poderia se torturar
amplamente.)

A conversa agora se voltou para os planos de Theo para um vinhedo.

– Draco não nos deu seu cinismo habitual. - disse Zabini. – Eu acho que vai
ser um fracasso total.

– Draco está preocupado esta noite. - disse Flint.

– Estou saboreando. - disse Draco.


– Deixe-o saborear. - disse Theo, jogando um braço protetor no peito de
Draco.

Os locais ideais para o vinhedo de Theo foram alvo de discussão; alguns


preferiam a França, alguns, a Itália, alguns defendiam locais exóticos como
a distante Califórnia. Draco liberou sua barreira de Oclusão enquanto sua
turbulência emocional diminuía.

As três bruxas vagaram em direção ao fogo em um meandro meticuloso, os


braços enganchados um no outro.

Patil estava passando um dedo pelos cachos de Granger.

– Posso formar uma relação parassocial com seu cabelo? Está tão grande.

– Só se eu puder com o seu. - disse Granger, enrolando a trança de Patil na


palma da mão. – Eu positivamente o amo.

– Senhoras, juntem-se a nós. - disse Zabini.

– Shh. - disse Flint, inclinando-se para frente com interesse. – Não


interrompa. Eu quero ver onde isso vai dar.

Mas era tarde demais. Granger e Patil se desvencilharam e para onde isso
estava indo continua sendo um mistério trágico.

Pansy observou os bruxos reunidos com os braços cruzados e o quadril


inclinado.

– Juntar-nos à vocês? Vocês puxaram cadeiras exatamente o suficiente para


suas cinco bundas bem torneadas.

– Eu vou conjurar - começou Longbottom.

– Não. - disse Theo. Ele gesticulou em direção ao colo dos vários


cavalheiros ao redor do fogo. – Há muito espaço.

Pansy caminhou em direção a Longbottom com um balanço exagerado em


seus quadris, e desabou sobre ele com uma facilidade que falava de anos de
familiaridade.

A pequena e ciumenta farpa picou o coração de Draco.

Patil deslizou para o colo de Zabini.

E Granger? Granger estava pegando sua varinha e estava a um momento de


conjurar uma cadeira, quando Theo questionou sua coragem dizendo:

– Você não deve ter medo de Draco, você sabe. Ele é bastante domesticado.
Tenho certeza que ele não vai morder.

O olhar que Granger dirigiu a Theo era de natureza incendiária.

– Medo? Dele?

E então, bêbada e explodindo de bravura, ela caminhou em direção a Draco,


se jogou em seu colo, e o fez segurar seu champanhe enquanto ela arrumava
suas saias.

Granger estava em seu colo. Granger estava em seu colo.

Draco queria morrer.

Além disso, ele resolveu matar Theo pela terceira vez naquela noite. Ele
pediria a Zabini o veneno de Nundu, quando o adquirisse.

Granger sentou-se sobre as pernas dele, o bumbum nas coxas dele, os pés
cruzados nos tornozelos para o lado. Isso ofereceu a Draco uma excelente
visão do perfil dela, incluindo a lateral de um seio, vestido com tecido preto
colante, precisamente na altura dos olhos. Draco desviou os olhos para
encontrar algo mais seguro para olhar. Seu olhar pousou mais abaixo, onde
a fenda de seu vestido expôs sua coxa, bem ali, perto da virilha dele.

Perigoso. Em vez disso, ele olhou para os sapatos de Longbottom.

Granger era – calorosa. Quente, até.

– Você morde? - perguntou Granger.


– A pedido. - disse Draco, com um sorriso lento.

Nada de errado com um pouco de flerte recreativo. Seus amigos achariam


estranho se ele não o fizesse, na verdade.

Isso a chocou. Draco arquivou isso como um novo método de Incomodar


Granger, embora sua exploração parecesse repleta de perigos tanto para o
incomodador quanto para o incomodado.

Granger pegou sua bebida da mão de Draco. Theo, satisfeito com os


arranjos, se virou para continuar sendo um incômodo em outros lugares.

– Theo sabe sobre seus delírios induzidos pela anestesia, ou isso foi
coincidência? - perguntou Granger.

– Pura coincidência – posso garantir que não compartilhei esses


pensamentos com a classe.

– Sonhos de fato se tornam realidade.

– Das formas mais inesperadas. - disse Draco, antes de se retirar para um


território mais seguro. – A Henriette foi uma valentona terrível?

– Sim. Muito insistente no preto.

Ela teria sido, a patife intrometida.

Draco podia sentir o cheiro do shampoo de Granger, mas não sabia se


estava vindo dela, ou das taças de champanhe Amortentia borbulhando em
suas mãos.

Estava tudo bem.

Ele não ia ficar duro só porque uma mulher estava em seu colo.

Ele era um adulto.

Theo agora estava insultando o gosto de Zabini por vinho. Patil juntou-se
com alegria; aparentemente, isso tinha sido uma fonte de discussão anterior,
e ela tinha um arsenal de piadas prontas.

Granger estava estudando Theo com um brilho perigoso em seus olhos.

– Transforme-o em uma barata. - sugeriu Draco.

– Eu posso.

– O que tem isso de bananas? - perguntou Flint.

– Baratas. - disse Draco.

– Quem está falando sobre bananas? - perguntou Pansy.

– Draco. - disse Flint.

– Típico. - disse Pansy.

– Granger vai transformar Theo em uma barata. - disse Draco.

– Você pode fazer isso? - perguntou Zabini.

– Obviamente. - disse Granger.

Theo ergueu o copo com um olhar cauteloso para Granger.

– Cheers – exatamente o que eu queria: uma nova fobia.

– Muito kafkiano. - disse Patil. – Você terá que escrever um livro sobre sua
experiência.

– Esses filisteus não vão entender essa referência. - fungou Theo. – Com
licença. Eu tenho que voltar a encher minha bebida e, por acaso, fugir de
perto de Hermione.

– Ela pode fazer isso à distância. - chamou Draco para as costas de Theo.

Ele sentiu o tremor da risada contida de Granger enquanto os passos de


Theo aceleravam.
A conversa voltou-se para o vinho. Zabini montou uma defesa bastante
sólida de Vermentino.

Granger estava em seu colo.

Draco tentou não pensar nisso.

Ele deu uma opinião sobre taninos.

Ele sentiu calor sob o colarinho. Ele afrouxou a gravata borboleta.

Do bar do outro lado da sala, Theo gritou:

– Certo! A prática!

O que não era o que Draco queria, mas tudo bem.

Granger começou.

– Oh! Acho que já esqueci tudo.

Ela se aproximou de Draco com uma espécie de foco embriagado. Ela tinha
feito uma coisa esfumaçada ao redor de seus olhos que os deixou ainda
mais outonais. Draco, portanto, não olhou para ela. Ele admirou o teto. Ele
sentiu um leve puxão aqui e ali em seu pescoço enquanto Granger mexia
com sua gravata borboleta.

Os dedos de Granger eram cuidadosos ao redor de sua cicatriz enquanto ela


desfazia o que tinha acabado de fazer. Draco se entregou a um breve
devaneio em que ela continuou a desfazer as coisas, começando com o resto
de seus botões, e então, ele.

Seu pênis começou a se interessar pelos procedimentos e se contraiu nele.

Brilhante.

Granger olhou para o emaranhado de gravata borboleta e suspirou.

– Droga. Não faço ideia de onde estou.


Draco também não, então tudo bem.

Granger soluçou, se moveu mais fundo no colo dele e recomeçou. Ele


esperou que seu cérebro sugerisse um comentário engraçado, mas tudo o
que ele propunha era: glurkk.

Draco ficou muito agradecido.

Se ela se aproximasse e se contorcesse muito mais, ele logo estaria


fornecendo a Granger a Prova Dura que ela tanto desejava.

Distante, ele registrou palavras de encorajamento de Longbottom para


Granger.

– Feito! - disse Granger.

Longbottom a inspecionou e disse que era uma gravata borboleta adequada,


desta vez.

Granger conjurou um espelho para Draco dar seu julgamento.

Tudo o que ele realmente percebeu foi seu próprio reflexo, olhos escuros,
com um rubor rosado no topo de suas maçãs do rosto. Além disso, ele tinha
um cabelo fora do lugar.

– Oito de dez. - disse Draco. – Segure isso aí para mim, querida, eu tenho
que consertar isso.

Granger não era uma querida. Ela deu a ele um olhar que estava cortando.
Ele arrumou o cabelo bem na hora; ela transformou o espelho em uma
monstruosidade côncava que o fez parecer o Skrewt.

Zabini saiu para encontrar Theo, seguido por Patil.

– Acho que melhorei, pelo menos. - disse Granger, mas ficou claro que
irritou em sua alma nerd que ela não tinha alcançado as melhores notas.

– É muito divertido te ensinar alguma coisa, para variar.


– Há muito que eu gostaria que você me ensinasse.

– Oh?

– Aquele feitiço de detecção mágica. - disse Granger em voz baixa. –


Aquele que você usou na minha casa.

Draco disse, em uma voz igualmente baixa

– Só se você me ensinar aquele comando rúnico - aquele que você usou nas
flechas.

Granger pensou sobre isso, um dedo em seu lábio. Então ela se aproximou,
com um cheiro delicioso, e sussurrou:

– Tudo bem. Mas você tem que me ensinar o feitiço de proteção geodésica,
em troca.

Não havia nada excitante no feitiço de proteção geodésica, e ainda assim,


Draco se viu apertando a mandíbula para suprimir um arrepio enquanto as
palavras corriam por seu ouvido e iam direto para sua virilha. Ele estava
meio duro.

Draco tinha um pedido final, tão privado que ele gesticulou para Granger se
aproximar ainda mais. Um de seus cachos roçou em sua boca quando ela se
inclinou.

– Então você tem que me ensinar O Computador. - disse Draco.

Granger ofegou.

– Seu extorsionário.

– Eu sei.

– Você terá que produzir uma moeda de troca melhor; Os segredos do


Computador são poderosos demais.

– Oh? Vou pensar em outra coisa para oferecer.


Granger passou a mão pelo braço dela. Ela tinha arrepiado.

O que era perversamente satisfatório, mas também, potencialmente, um


problema.

Negociados e acertados esses assuntos pedagógicos, cada um tomou um


gole de seu champanhe.

Draco olhou em volta e ficou satisfeito ao descobrir que ninguém estava


prestando atenção neles. Flint estava explicando a Longbottom que ele foi
banido do Fortescue. Draco não tinha entendido o resto da história, o que
normalmente poderia interessá-lo, mas não eram tempos comuns. Pansy
estava cochilando no ombro de Longbottom.

Flint murmurou que estava desesperado por uma mijada e se levantou.

Longbottom carregou Pansy para um dos sofás.

Granger girou o restante de seu champanhe e observou o líquido rosa


borbulhar.

– Casca de laranja. - ela disse, parecendo pensativa.

– O que tem isso? - perguntou Draco.

– O que aconteceu com o seu caramelo e café?

– O que aconteceu com sua colônia cara?

– Você estava mentindo.

– Você também estava.

– Por que?

– Porque você estava?

– Suponho que seja – bastante particular.


– Sim.

Granger, balançando um pouco no colo de Draco, bebeu o resto de seu


champanhe. Ela engoliu. Uma gota permaneceu em seu lábio, que ela
limpou com a ponta de um dedo.

Glurkk.

Draco desviou o olhar até estar seguro, e então olhou de volta.

Agora o rosto dela estava perto do dele. Seu olhar era suave, embriagado,
sonhador.

– Eu odeio que isso tenha um gosto tão bom. - disse Granger. Ela parecia
devastada por isso. Sexymente devastada. Ela pressionou a ponta do dedo
entre os lábios.

Draco terminou seu próprio champanhe para se distrair. O olhar de Granger


voou para sua boca e pra cima novamente.

– Eu definitivamente detesto o meu. Se isso é – algum conforto. - disse


Draco.

– Estranhamente, é.

Draco se mexeu sob o pretexto de ficar mais confortável, ou algo assim.


Granger deslizou para mais perto como resultado.

Ele podia sentir o inchaço do peito dela contra seu peito. A massa de seu
cabelo estava presa entre eles e fazia cócegas em seu pescoço.

E havia a força gravitacional de Granger – a queda, a retração. A boca dela


estava a dois centímetros da dele. Seus olhos estavam quentes. Ele poderia
deslizar a mão atrás do pescoço dela e – deuses, pelo jeito que ela estava
inclinada, ele nem teria que puxá-la, ela simplesmente cairia nele, e seria –
seria –

Granger piscou e respirou fundo e recuou.


Seria uma má ideia. Sim.

– Eu bebi demais e não estou pensando com clareza. - disse Granger, mas
parecia que ela estava declarando isso para si mesma, e não para Draco.

– Eu nunca pensei com menos clareza na minha vida. - disse Draco.

Granger se endireitou. O calor em seus olhos se extinguiu. Ela estava


ocluindo.

Draco seguiu o exemplo. Provavelmente era a coisa certa a fazer. Mais


certo do que um amasso completo no meio da festa de Theo, de qualquer
maneira.

Eles olharam para descobrir que estavam sozinhos. Todas as cadeiras


estavam vazias. Granger tinha sentado em seu colo sob o mais fraco dos
pretextos, mas agora, não havia absolutamente nenhuma razão para isso.

Havia vozes da lareira de Flu do lado de fora do salão. As pessoas estavam


se preparando para ir embora.

Com um súbito vigor de pânico, Granger saltou do colo de Draco. Ela


caminhou até o bar, onde pediu a Pipsy uma água gelada, que ela
prontamente bebeu. Então ela largou o copo no bar e, com as costas rígidas,
olhou para o nada. Pipsy perguntou se estava tudo bem, senhorita? Granger,
com a voz tensa, disse que estava tudo bem.

Draco esperou o tempo suficiente para garantir a dissipação de qualquer


evidência concreta e então caminhou até o grupo no Flu. A Oclusão ajudou
com o ar geral de despreocupação que ele desejava transmitir ao se juntar às
despedidas.

Granger se juntou a eles, parecendo relativamente composta, e também


agradeceu e se despediu. Longbottom, carregando Pansy, desapareceu no
Flu, seguido por Zabini e Patil, depois Flint.

Draco atraiu Theo de volta ao salão sob algum pretexto, para que Granger
pudesse usar o Flu para a Mansão sem ser ouvido.
– Você foi menos miserável do que o normal esta noite. - disse Theo.

– Você é um imbecil intrometido. - disse Draco.

– Estou feliz que você tenha se divertido.

– Eu odiei cada momento.

Theo sorriu.

– Vá se foder para casa, Draco.

Draco acenou para ele e caminhou até o Flu.

Ele esperava que Granger não tivesse ido direto para a cama durante sua
conversa com Theo. Eles tinham negócios inacabados.

Ele ia conseguir sua maldita dança.

──── ◉ ────

Draco saiu do Flu para encontrar Henriette ajudando Granger com uma
delicada limpeza de seu vestido.

Henriette limpou Draco também, então deu boa noite a ambos, um tipo de
brilho irritante em seus olhos.

– Certo. - disse Draco, ajeitando sua gravata borboleta. – Que bom que você
ainda está aqui.

Granger parecia cautelosa.

– Por que...?

Draco pegou o braço dela e saiu da sala de Flu.

– Onde estamos... - ofegou Granger.

– O salão de baile.
– Mas o que-

– Quero uma dança decente.

– Mas nós-

– Não. Aquilo foi um lixo.

Granger não fez mais objeções, mas permitiu que seu eu bêbada fosse
puxada, parecendo educadamente confusa.

Draco empurrou as enormes portas duplas do salão de baile. Os elfos


mantinham todos os cômodos da Mansão prontos para uso a qualquer
momento e o salão de baile real não era exceção. Na penumbra, o piso de
mármore branco brilhava e a multidão de espelhos que cobriam as paredes
luzia. No extremo sul, janelas do chão ao teto se estendiam para cima até
desaparecerem na sombra.

Draco acenou sua varinha para os tetos abobadados. Oito enormes


candelabros de cristal ganharam vida, baixaram e começaram a girar
lentamente pelo teto. Suas luzes refletiam brilhantemente no mármore
brilhante e nos espelhos.

Outro aceno de varinha e os sons de uma orquestra ressoaram pelo salão de


baile.

Granger engasgou daquele jeito deleitoso, ofegante, de lábios entreabertos


do jeito dela, que dava tanto prazer a Draco.

Ele sentiu um sorriso abrir caminho em seu rosto.

– É muito esplêndido, não é?

– É sim!

Draco pegou uma das mãos de Granger nas suas, colocou a outra na cintura
dela e começou a guiá-la por uma valsa antes que ela pudesse ficar
Grangeriana e fazer muitas perguntas, como se ele tinha enlouquecido.
Eles dançaram alguns passos cautelosos. Ele olhou para ela para ver se ela
estava planejando fugir do lunático – mas ela estava seguindo seu exemplo,
parecendo cautelosa, mas curiosa. Ela tinha olhado para ele assim uma vez
antes, quando ele encantou um grupo inteiro de médicos trouxas naquele
pub de Oxford. Era de uma surpresa agradável e quem diabos é você, tudo
em um.

Como em Provence, a cintura dela estava quente sob a palma da mão dele.
A mão dela na dele era gentil. Ela era leve enquanto eles se moviam e, desta
vez, não havia pisar nos pés um do outro.

Draco observou a dança deles nos espelhos – como a figura dela se


aconchegava tão confortavelmente contra a dele, como o vestido dela
balançava no ritmo dos movimentos deles, roçando as pernas dele quando
elas se giravam. Ele se entregou impenitente a este caleidoscópio de
ângulos através dos quais se deleitava com ela. Se ele olhasse para frente,
era o mergulho entre as omoplatas nuas no espelho ali, à esquerda, era a
curva de seu traseiro, se ele olhasse para baixo, eram cílios escuros,
bochechas coradas e lábios rosados.

Ela se aproximou quando eles se giraram, e se pressionou contra ele, e foi


incrível. Ele não a deixou se afastar novamente; sua mão deslizou para a
parte inferior de suas costas e a manteve lá. Ela olhou para ele com
admiração sombria, então olhou para baixo, o lábio entre os dentes.

A música aumentou. Ao redor deles, o salão de baile girava, as estrelas nas


janelas brilhavam, os candelabros dançavam sua própria dança tilintante e
espalhavam esplendor pelo salão.

Foi um momento de encantamento, de harmonia, de reluzente devaneio.


Seus olhos estavam cheios de luzes e seus ouvidos com o crescendo de
violinos e seus corações um com o outro.

Isso – isso era o que ele queria.

Ele levantou o braço e ela girou para longe dele, e eles estavam unidos
apenas pelos dedos, e então ela girou de volta para ele, tão perto que ele a
sentiu respirar novamente.
A luz estava em suas veias novamente – o sol de Mabon, incandescente,
glorioso, inchando em torno de seu coração e espremendo até o ar dele.

Novamente ela se virou, e desta vez veio de costas para ele, pressionada
contra seu peito, seu traseiro contra sua virilha. Seus olhos travaram em um
dos espelhos, mas era muito intenso para sustentar e eles desviaram o olhar
novamente.

Agora era sua vez de participar de um levantamento imprudente, o que ele


fez, com as mãos em volta da cintura dela, levantando-a para cima e no ar.
Ele a girou enquanto ela estava no ar, tendo prazer em seu suspiro, em seu
aperto em seus ombros. Ela voou acima dele com uma gargalhada de
surpresa.

Quando ele a trouxe para baixo, ela se agarrou a ele, rindo, o brilho da
verdadeira alegria em seus olhos. Ele sentiu uma alegria igual, como nunca
havia sentido antes. A leveza nele era sublime.

Os braços dela estavam em volta do pescoço dele. Ela estava tão perto dele
que ele queria explodir.

A sensação era rara – preciosa – de partir o coração. Ela estava radiante. Ela
tirou o fôlego dele. Ela era tudo o que ele queria.

As luzes diminuíram. A música acalmou.

Eles pararam de se mover e ficaram nesse abraço de amantes, respirando,


olhos escuros, um no outro, esperando.

– Granger, eu-

Ela olhou para cima.

Ele não disse mais nada. Ele estava caindo.

Ele não precisava do anel para lhe dizer que o coração dela estava
acelerado. Ele podia sentir a pulsação dele contra seu peito. O dele bateu
uma batida combinando, muito rápido, tão rápido que doeu.
Ele estava bêbado de endorfinas e muita bebida boa e muito pouco bom
senso. Seus lábios se separaram. Ela estava olhando para ele como se
pudesse beijá-lo. Era impossível. Isso não poderia acontecer.

Agora os dedos dela estavam em sua mandíbula.

Ele se inclinou para ela; a atração era muito doce.

O beijo dela era uma pergunta suave.

Sua resposta foi apertá-la para cima e para ele. Ela ofegou contra seus
lábios quando ele a beijou de volta.

Finalmente. Porra, finalmente.

Suas bocas se encontraram com a pressão do desejo, de muito champanhe,


de odeio que isso tenha um gosto tão bom.

Só que agora não foi Amortentia que ele provou; não eram aqueles cheiros
perfumados e fabricados – era ela. Era real. E o champanhe era uma
imitação pobre, agora que ele tinha a coisa real contra ele, respirando em
staccato contra sua boca, enrolando os dedos em sua camisa. A Amortentia
não falava da suavidade de seus lábios, de tremores, de dedos enganchados
em seu colarinho, de uma bruxa deliciosa, de bochechas coradas, vacilante,
pressionando sua boca sorridente na dele.

Ela tremeu um pouco, assim como ele, com uma confusão eufórica de
adrenalina, nervos e contenção.

Ela se afastou e pressionou o rosto em seu pescoço. A intimidade disso


enviou seu coração a um novo frenesi. Seus braços a envolveram. Ela tinha
ossos finos, era delicada e tremia deliciosamente.

– Eu ainda não estou pensando com clareza. - disse ela, sua voz baixa e
sombria, suas palavras roçando em sua cicatriz.

– Devemos - devemos dizer que é a bebida? - perguntou Draco em um meio


sussurro.
– Sim. - respirou Granger com alívio. – Vamos. Tomamos – muito.

– E isso certamente é o culpado por qualquer – qualquer comportamento


imprudente.

Houve o som dourado da risada dela.

– Obviamente.

Eles olharam um para o outro.

Ele pensou que poderia morrer feliz se os lábios dela molhassem os seus
novamente.

E então eles fizeram.

──── ◉ ────

*No original: "I am tying a knot, Nott," - disse Granger. // Patil parecia
confusa. "A Nott Nott?"

**Tying the knot: uma expressão que significa "se casar". Há um jogo de
palavras entre "atar o nó" da gravata e "eles estão atando o nó" (se
casando). Também há a questão da fonética, porque a pronúncia é a mesma
nas palavras knot, Nott e not neste capítulo.

***No original: "I am not" - disse Hermione. // "No, I'm Nott". - disse
Theo.
28. O Viking, Condutas
Vergonhosas, Cura, Prazeres

A dança, as luzes, a música, a mulher em seus braços – foi um momento de


alegria cintilante que se tornaria uma das melhores lembranças de Draco e
produziria patronos incrivelmente poderosos nos próximos anos.

Eles se separaram com um arrependimento sussurrante e grudento. Granger


se afastou primeiro, então Draco a beijou novamente; ele sentiu o sino
iminente da realidade e queria apenas mais um.

Então ele tentou se afastar, mas ela ficou na ponta dos pés e pressionou a
boca na borda de sua mandíbula. A mão dele deslizou para a nuca dela,
pétalas de rosa roçaram seus dedos, ela suspirou contra sua bochecha.

O sonho do momento começou a desaparecer. Draco correu os dedos pelo


lado dela para memorizar a sensação dela e a beijou uma última vez para
selar a memória de sua boca doce.

Eles olharam um para o outro, lábios molhados, confusos, suas faculdades


bêbadas finalmente alcançando o que eles tinham feito.

A realidade era fria e inflexível e bateu forte. O cérebro de Draco, que


estava, ao que tudo indica, ausente a noite toda, retornou. Ele perguntou,
com violência, o que diabos ele pensava que estava fazendo? Um Auror não
beijava sua protegida.

Granger parecia igualmente confusa. Ela deu um passo para trás. Havia
autocensura, arrependimento e pavor no movimento.
Eles se entreolharam com crescente alarme e desespero por afirmar que não
tinha sido nada.

Granger, ferida, encontrou sua língua primeiro.

– Nós não deveríamos ter feito isso.

– Não - não deveríamos. - disse Draco, odiando o quão sem fôlego ele
soava.

Granger olhou para o chão, para os espelhos, para qualquer lugar menos
para ele.

– Eu sei que não somos – erm – eu sei disso – obviamente, você sabe –

– Sim, obviamente-

– E também – nós não somos –

– Sim.

– Temos uma relação de trabalho. - disse Granger. – E existem regras


rígidas sobre esse tipo de coisa. Por razões muito boas.

– Há. Sim. Regras. E um Código de Conduta que é inequívoco em – em


coisas desta natureza.

– Certo. É claro.

– Foi um lapso de julgamento. - disse Draco.

– Sim. Nós dois estávamos – ambos sob a influência. Não vai acontecer
novamente. Eu não gostaria de contrariar nada e prejudicar – isso. Você
como meu Auror e – e tudo.

– Certo.

– Certo. - repetiu Granger.


Draco tentou encontrar sua despreocupação.

– Foram as bebidas. Só as bebidas.

– Obviamente sim. Nada mais.

– Nada mais. - repetiu Draco.

– Bom. - disse Granger.

– Vamos - vamos para a cama? - perguntou Draco.

– Sim.

– Quero dizer separadamente, é claro. Ir para – camas. Plural. Quero dizer,


podemos sair juntos, mas vamos para camas separadas.

– Certo. - disse Granger, balançando a cabeça vigorosamente diante desse


esclarecimento crítico. – Sim.

– Porque nós nunca iríamos para a mesma cama, obviamente-

– Claro que não.

– Isso seria loucura.

– Sim.

– Nós não somos loucos.

– Não. Estamos – perfeitamente sãos.

Tendo estabelecido sua vexante sanidade mental, eles se voltaram para a


porta.

As coisas que os haviam aproximado ainda estavam ali; eles roçaram os


cotovelos, depois saltaram para longe um do outro como se estivessem
queimados, com mais desculpas.
Sair do salão de baile foi uma dança desajeitada de quem abriria a porta e
quem iria primeiro, sem tocar no outro.

Draco acompanhou Granger até a grande escadaria, mas não a seguiu.

– Você não..? - perguntou Granger.

– Não. - disse Draco. – Após refletir, decidi me jogar no lago.

À Granger parecia que este era realmente um excelente próximo passo.

– Eu vou gritar em um travesseiro.

– Bom. Brilhante. Er – aproveite.

– Obrigada.

Granger subiu correndo as escadas sem olhar para trás.

Draco esperou até ouvir a porta dela fechar.

Então ele disse, baixinho, mas com toda a turbulência em sua alma:

– Caralho.

──── ◉ ────

A lua cheia era iminente.

O Ministério da Magia, tentando equilibrar a segurança pública com a


histeria pública, publicou um aviso pedindo à comunidade bruxa que ficasse
em casa durante as três noites da lua do caçador, devido à atividade de
lobisomem suspeita.

Potter, a WTF e todos os Aurores disponíveis passaram a lua do caçador na


caça e pegaram trinta lobisomens que se posicionaram para se transformar
onde pudessem infectar a maior quantidade de pessoas. Sete lobisomens
não foram capturados a tempo, quinze pessoas foram infectadas, cinco
sucumbiram aos ferimentos.
O trabalho de Granger assumiu uma nova urgência. A Legilimência de
Draco nunca foi tão requisitada.

Mas Fenrir Greyback foi cuidadoso. Não havia nada de útil nas mentes dos
cativos.

As armadilhas nos esconderijos e na cabana de Granger renderam quatro


capturas: uma bruxa, três magos, todos trabalhando sob as ordens de
Greyback e todos irritantemente inconscientes de seu paradeiro.

A segurança no Salão do Rei foi reforçada. Acadêmicos e estudantes


confusos se viram obrigados a apresentar credenciais na entrada, agora
guardada por agentes do DMLE. O acesso ao terceiro andar, que abrigava o
laboratório de Granger, foi bloqueado. Os demais bolsistas foram
transferidos para outro lugar. Granger informou aos membros de sua equipe
de laboratório sobre a ameaça e deu a eles a opção de interromper seu
trabalho, com pagamento, até que a situação fosse resolvida. Nenhum deles
aceitou.

Os dias se passaram em um borrão tenso e ansioso. Quando ele não estava


com Granger, a atenção de Draco estava obsessivamente no anel, esperando
para sentir o pânico em seu coração ou o chamado estridente de seu sinal de
socorro.

Então, é claro, no próximo incidente, ele não sentiu nenhum dos dois.

Foi o corpulento Patrono de Goggin que o alertou de que havia um


problema.

Draco estava interrogando um lobisomem pego na cabana de Granger


quando o carneiro prateado saltou para dentro da cela.

– Salão do Rei. - grunhiu na voz de Goggin. – Rápido!

Draco aparatou em Cambridge para encontrar bruxos e trouxas em pânico


correndo pelo pátio de Trinity. Ele lutou para chegar à entrada do Salão do
Rei, onde Goggin jazia, cortado do esterno para baixo, sangrando.
Ao lado dele estavam as figuras inertes dos agentes do DMLE que estavam
de guarda e os corpos de cinco bruxos desconhecidos. Mais adiante, uma
pilha de livros espalhados. Nenhum sinal de Granger.

Sentindo uma sensação horrível e invertida de déjà-vu, Draco enviou três


Borzoi para o Escritório de Aurores e o Serviço de Medibruxas.

Ele se desilusionou e aparatou para o anel. Por que diabos ela não ativou o
sinal de socorro? O que eles fizeram com ela?

Ele surgiu quase na escuridão, na sala de uma casa fechada com tábuas. As
silhuetas de meia dúzia de homens saltaram de surpresa quando o estalo de
sua aparatação denunciou sua chegada.

Ele não podia ver Granger e, portanto, não se atreveu a atravessá-los com
algo explosivo. Ele conseguiu petrificar três deles enquanto se orientava,
desviou duas maldições - então ele estava no fogo cruzado de muitos
feitiços para desviar e foi atingido por um Finite Incantatem, algo
concussivo em seu joelho e um Estupefaça.

O Estupefaça foi um golpe de raspão, atingindo-o no ombro. Sua varinha


caiu de sua mão inerte.

Draco, vendo sua varinha cair aos pés de seus oponentes, fingiu um
colapso, como se o Estupefaça o tivesse acertado.

Restavam quatro homens. De onde ele agora estava deitado no chão, Draco
podia ver Granger, caída contra uma parede rachada. Ela também parecia
estuporada. Sem sangramento evidente. Era um pequeno alívio.

A varinha de Draco foi pega pela maior figura entre os homens, que agora
segurava três – a de Draco, a de Granger e a dele.

– Isso é um maldito Auror? Como diabos é esse idiota aqui? - perguntou um


dos homens. Ele brilhou um Lumos na insígnia na capa de Draco.

– Esta aqui deve ter um rastreador nela. - disse outro em um resmungo


nasal, chutando Granger. Ele lançou um feitiço de revelação básico, muito
rudimentar para revelar o anel. – Vamos despi-la.

Ele puxou Granger do chão com violência desnecessária, jogando sua


cabeça pendurada para trás. Ele começou a rasgar a frente de seu suéter e
enfiou uma mão por baixo para desabotoar seu jeans.

Ele ia morrer hoje.

– Vou revistá-la. - disse a figura maior.

Aquele ronco levemente acentuado. O brilho ruivo da barba.

Era Larsen.

– Você sempre faz as partes divertidas. - disse o nasalado, sua mão tateando
na braguilha de Granger. – Eu quero-

Larsen agarrou o homem pela nuca.

– Moore. Eu disse que eu vou fazer isso.

– Tire suas mãos de cima de mim. - disse Moore, soltando Granger para se
contorcer contra o aperto de Larsen.

Eles tiveram uma briga. Draco observou e esperou por um momento


quando um dos homens tropeçaria muito perto dele e ele poderia roubar
uma varinha.

Um dos outros sequestradores tentou manter a paz, abrindo caminho entre


os dois.

– Oi oi oi. Vocês dois poderiam parar de putaria? Quem sabe quantos outros
Aurores estão a caminho?

– Sim. - disse o quarto homem esguio. – Vamos pegar o que precisamos


dela e ir embora.

Moore aproveitou a distração para acertar um golpe no rosto de Larsen.


– Me solte, seu merda-

Larsen não reagiu bem ao golpe. Ele estapeou Moore contra a parede.
Moore empurrou-se para fora e se lançou em Larsen com um grito furioso.
Os outros dois tentaram intervir, com as varinhas levantadas, ameaçando
estuporar os dois combatentes.

Draco esperou por sua abertura – ele só teria uma. Eles estavam mais perto
de Granger do que dele, agora, e muito longe para ele pegar uma das
varinhas do punho de Larsen.

O efeito do Estupefaça fracassado estava passando no braço de Draco. Ele


deslizou a mão para o coldre da coxa, onde sua faca favorita estava
amarrada.

Um punhado de batimentos cardíacos elevados atravessou o anel – e então


uma vibração de medo.

Granger estava acordando.

Enquanto seus sequestradores lutavam entre si, uma de suas mãos se moveu
em direção ao bolso. Ela manteve a cabeça baixa como se ainda estivesse
inconsciente.

Agora, entre as botas dos homens discutindo, Draco podia ver algo
brilhando na palma da mão dela. Era uma pilha de seus discos anti-mágica.

Oh. Oh.

Granger estava prestes a equilibrar o jogo.

Draco esperou.

Com estalos de seu pulso, Granger enviou discos derrapando nos cantos da
sala, sob móveis apodrecidos e em recantos escuros.

Um dos homens notou o movimento.

– Que porra ela acabou de fazer?


– O que você quer dizer?

– Acabei de vê-la – não sei – se contorcer – acho que ela jogou alguma
coisa.

Eles se aglomeraram ao redor de Granger.

Larsen agarrou-a pelo queixo e pressionou a varinha em sua têmpora.

– Legilimens!

Mas era tarde demais. Draco sentiu a mudança no momento em que o


perímetro foi completado – havia uma espécie de extinção, bem no seu
interior. Uma falta repentina.

Não haveria Legilimência nesta sala.

– Que porra está acontecendo? - perguntou Moore.

O esguio pressionou a mão contra o peito, como se a respiração tivesse sido


roubada dele.

– O que-?

Draco não lhes deu tempo para resolver isso.

Levantou-se de um salto, deu três passos em direção ao grupo e enfiou a


faca na lateral do primeiro pescoço disponível.

Então, felizmente livre de um senso de honra, ele esfaqueou o próximo


homem pelas costas.

O magricela e o pacificador caíram.

Larsen e Moore se viraram e se encostaram na parede, as varinhas


levantadas.

– Expulsis visceribus! - cuspiu Larsen, cortando sua varinha na direção de


Draco.
– Confrigo! - gritou Moore, apontando o dele para ele também. – Crúcio!

Nada aconteceu

Parecendo confuso, Larsen mudou para a varinha de Draco.

– Decapio! - depois para Granger – Estupefaça! - sem efeito.

– O que diabos está errado - disse Moore, apontando sua varinha inútil para
Draco.

Draco arrancou a varinha da mão de Moore, pois ele estava


convenientemente oferecendo a ele.

Ele a mergulhou no olho de Moore até o fim.

Houve algum jorro de gel vítreo. Moore lançou-se para a frente com um
grito estrangulado. Draco pisou na parte de trás de sua cabeça e não
removeu seu peso até sentir a ponta da varinha perfurar o crânio do homem
e pressionar contra o fundo de sua bota.

Isso foi por Granger.

Ele passou por cima dele e se virou para Larsen.

Ele e o viking se avaliaram.

O maior homem com quem Draco já lutou foi Goggin. Este homem fazia
Goggin parecer um menino púbere. Draco era sábio o suficiente para saber
que estava fisicamente em desvantagem. Em qualquer outra situação, ele
teria recuado. O movimento certo aqui era fugir, mesmo que apenas por
tempo suficiente para chamar reforços. O movimento lógico. O movimento
óbvio.

Mas ele não fugiria. Ele deixaria Granger sozinha com este homem
literalmente por cima de seu cadáver.

Esse era o problema com algo entre Aurores e seus protegidos.


Draco tinha uma faca. Larsen tinha todas as vantagens de altura e peso
superiores.

Isso ia ser interessante.

Larsen piscou para Draco na penumbra.

– O piloto...?

Certo. As memórias de Driessen.

– Não lute comigo. - disse Larsen, levantando as mãos. – Eu vou te deixar


ir. Eu só preciso dela. Ela não vale o que vou fazer com você.

– Ela definitivamente vale o que eu vou fazer com você.

Larsen largou as varinhas inúteis e se apressou. Eles começaram uma dança


perigosa, com Draco fazendo o seu melhor para evitar ser agarrado,
enquanto Larsen não queria nada além de trazê-lo para perto e derrotá-lo
com massa superior.

Draco se posicionou entre Larsen e Granger, que estava encolhida em um


canto, seu coração disparado pelo anel.

Larsen chegou muito perto. Draco cortou uma linha bonita em seu rosto.
Um soco destinado à garganta de Draco o atingiu no peito. Ele sentiu algo
quebrar.

Ele atacou com a faca. Larsen se esquivou no último momento e perdeu


uma orelha em vez de sua vida.

Eles se separaram. Draco achou difícil recuperar o fôlego – algo não estava
encaixado corretamente em suas costelas. Larsen tocou o lado de sua
cabeça e olhou para sua mão ensanguentada com admiração. A aba de carne
que tinha sido sua orelha estava no chão.

Eles se encararam. Draco sentia muita falta de sua Legilimência


Larsen rosnou e se lançou em Draco novamente. Draco acertou um chute
em seu plexo solar que deveria tê-lo colocado de joelhos.

Não aconteceu. Isso o atrasou por um momento, então ele mudou de tática,
concentrando-se em pegar a faca da mão de Draco. Draco viu uma abertura
para um gancho limpo e a agarrou, seu punho acertando o olho do homem.
Ele sentiu o contorno preciso da órbita ocular de Larsen contra os nós dos
dedos, sentiu uma espécie de ranger.

Aquele soco teria jogado qualquer outro homem em sua bunda, mas não o
Viking. Ele se sacudiu e se lançou novamente para a faca. Draco recebeu
sua mão tateante com a ponta da faca e a empurrou pela palma.

Larsen afastou sua mão e atacou com um gancho com a outra, apenas
parcialmente desviado por Draco.

Acertou Draco na mandíbula. Ele viu estrelas.

Se Larsen acertasse um único soco sólido, essa luta acabava. O viking era
uma fera.

Eles se separaram. Larsen segurou a palma perfurada para o lado. Draco


balançou a cabeça para colocar seu cérebro de volta no lugar. Manchas
pretas nadavam em sua visão.

O combate corpo a corpo era exaustivo. Depois desses longos sessenta


segundos de luta, Larsen deveria estar como Draco, ofegante, tremendo de
esforço. Ele mal estava sem fôlego.

Eles se juntaram novamente. Draco deu um soco na boca de Larsen. O


Viking foi desviado do curso e girou.

Agora ele estava com raiva. Ele cuspiu dentes. Ele atacou –
escandalosamente rápido, para um homem tão grande – e conseguiu chutar
a faca da mão de Draco.

Ambos mergulharam para ela.


Draco percebeu, enquanto Larsen o jogava no chão, que o homem não
queria a faca. Ele queria Draco ao alcance de seu corpo monstruoso.

Draco estava preso. Larsen estava sobre ele, uma mão em seu pescoço,
pressionando cada quilo de seu peso hediondo nele.

A visão de Draco começou a nadar.

Larsen ergueu o punho.

Draco estava morto.

Em uma espécie de câmera lenta, ele viu uma pequena mão aparecer ao
lado da coxa de Larsen.

Na pequena mão brilhava um bisturi.

O punho de Larsen começou sua trajetória descendente. O tempo diminuiu


para um rastejar. Com amorosa precisão, o bisturi foi pressionado
profundamente na parte superior da coxa de Larsen e arrastou ao longo de
sua artéria femoral.

O punho descendente parou. As calças de Larsen abriram ao longo do corte.

Houve um lindo jorro de sangue.

O tempo acelerou novamente. Larsen se virou com um grunhido e derrubou


Granger no chão. Ela despencou.

O estrago estava feito. Larsen ficou de pé cambaleando – um erro. A longa


ferida vomitou o que parecia ser um litro de sangue.

A visão de Draco clareou. Granger estava de joelhos, duas das varinhas


agarradas ao peito. Ela estava alcançando a terceira.

Larsen a chutou para longe e pegou a varinha restante. Então ele a pegou
pelo braço e a ergueu. O coração de Draco parou – ela parecia tão frágil, tão
frágil enquanto balançava antes de se levantar.
O viking cambaleou até a porta, sangrando profusamente, arrastando
Granger, evidentemente planejando fugir.

Draco discordou do plano de Larsen, que ele indicou se jogando em sua


direção, faca na mão, e cortando seus tendões de Aquiles estupidamente
grossos, primeiro o esquerdo, depois o direito.

Granger puxou o braço dela do aperto de Larsen quando o homem caiu de


joelhos.

O viking olhou por cima do ombro, para a faca e o bisturi, e para a longa
mancha de seu próprio sangue, vermelho-escuro no chão sujo.

Ele meio rastejou, meio caiu pela porta. Ele não sabia, mas se colocou fora
do perímetro de Granger.

Draco, ainda de quatro, jogou a faca.

Agarrando sua varinha com a mão ensanguentada, Larsen abriu a boca para
desaparatar.

A faca o atingiu no ombro. Ele grunhiu, ergueu a varinha novamente


fracamente – e então sua mandíbula ficou frouxa. Ele – finalmente – caiu
inconsciente, em uma poça de seu sangue.

Draco e Granger ficaram de pé e se juntaram a ele fora do perímetro. Draco


puxou a varinha de Larsen de sua mão; Granger passou-lhe a dele.

– Ele não deve morrer. - gritou Granger, ajoelhando-se ao lado de Larsen,


feitiços de cura brilhando na ponta de sua varinha. – Preciso saber por quê.

Draco atirou algemas no homem e as apertou sem piedade.

Eles enviaram uma pequena coleção de Patronus, convocando medibruxas,


Potter e Weasley, quem quer que estivesse no QG dos Aurores, e Tonks.

Enquanto Granger estabilizava o homem, Draco o agarrou pela barba e


jogou sua cabeça para trás, passou a varinha para ele abrir os olhos e cuspiu
– Legilimens.

Em seu estado meio morto, a Oclumência do Viking suavizou. Draco


engasgou suas descobertas para Granger enquanto entrava.

– Certo – o que esse idiota quer de você – duas coisas – primeiro ele queria
vasculhar seu cérebro em busca de informações sobre qualquer outra pessoa
que pudesse estar trabalhando em imunoterapia mágica, ou mesmo trouxas
que pudessem ajudar pesquisadores mágicos. E em segundo lugar-

Draco encontrou uma barreira Oclusiva mais densa. Ele lutou contra isso,
então decidiu pegar um atalho apertando a garganta de Larsen até que ela
desaparecesse.

– Em segundo lugar, quando ele soube que você estava desenvolvendo um


tratamento para a licantropia, ele – primeiro ele não acreditou – era
impossível – e então ele quis entender como você isolou o vírus para atingi-
lo em primeiro lugar – ele não foi capaz de isolá-lo, ele mesmo...

– Como ele soube disso? - perguntou Granger. – E por que ele está tentando
isolá-lo?

– Dê-nos um minuto. - disse Draco, trabalhando em fios desconexos de


memórias para encontrar respostas. – Ele queria ganhar o suficiente de sua
confiança para encontrá-la em algum lugar sozinha para ler você e entender
como você fez isso. Você foi muito cuidadosa – muito cautelosa, então ele –
se ofereceu para trabalhar com você para que ele pudesse entrar nos
bastidores. Ele sentiu que eu o li no café – não queria um confronto –
decidiu eliminar outros pesquisadores antes de voltar para você. Descobriu
que suas medidas de proteção foram aumentadas – está observando o Salão
do Rei há semanas – reuniu o grupo de hoje para sequestrá-la – usaria
Legilimência para aprender como você isolou o vírus ou torturá-la-ia de
você – e então – idiota do caralho – então te mataria.

– Mas por que?

– Estou chegando lá. - Draco mergulhou mais fundo na mente de Larsen,


onde a oclusão involuntária permanecia mais densa, apesar da quase
inconsciência do homem. – Ele quer matar qualquer um que trabalhe neste
campo porque ele não quer uma cura. Para a licantropia.

Ele quebrou outra barreira, na parte mais profunda do cérebro de Larsen,


onde todos os seus segredos mais preciosos estavam guardados.

– Caramba, ele é um – ele é um maldito lobisomem. Porra! Ele está


trabalhando com Greyback – Greyback contou a ele sobre você.

– O que?!

– Ele precisa entender como você atacou o vírus porque – eles estão
tentando desenvolver – algum tipo de contramedida contra você – o
laboratório de Larsen está tentando produzir uma cepa de licantropia que
pode ser usada para infectar outras pessoas a qualquer momento, não
apenas em a lua cheia. É por isso que ele precisava entender como você fez
isso. Eles estão – eles estão tentando usar isso como uma arma.

Draco saiu da mente de Larsen.

Ele e Granger se encararam.

Os cracks das aparatações ressoaram ao redor deles.

– Acho que não. - veio a voz de Tonks.

Um dos homens petrificados, ainda meio paralisado, estava se arrastando


para fora da casa, uma das mãos segurando a varinha. A bota de combate de
Tonks esmagou seu punho no chão.

– Tire ela daqui. - disse Tonks.

Granger insistiu em coletar seus discos. Então, de braços dados, eles


aparataram para a Mansão.

──── ◉ ────

Na Mansão, Draco e Granger limparam o sangue de seus rostos e fizeram


uma reunião de cúpula com Tonks, Shacklebolt, Potter e Weasley. Houve
muitos abraços em Granger e palmas nos ombros de Draco (ele se esquivou
dos abraços).

Após a esperada discussão e agitação, os seis se acomodaram em torno de


um pote de opimum para relatar sobre o incidente.

Os planos de Larsen e Greyback foram um choque para todos. Havia a


forma usual de loucura vingativa de Greyback, e havia isso – um esforço
conjunto para espalhar uma doença cruel em grande escala e matar qualquer
um dos pesquisadores remotamente capazes de descobrir uma cura. Estava
muito além do alcance do que qualquer um deles pensava que ele era capaz.

– Compre-me tempo até dezembro. - disse Granger, pálida.

Draco descobriu que Granger foi estuporada imediatamente ao sair do Salão


do Rei, o que explicava por que ele não tinha o menor sinal do anel sobre a
situação dela. Goggin e os agentes do DMLE derrubaram cinco homens
antes de serem esmagados pelos números de seus oponentes. Goggin estava
no St. Mungus, se recuperando da mesma maldição desagradável de
evisceração que Larsen havia tentado em Draco.

Ao atacar Granger quando ela saiu do Salão do Rei, seus sequestradores


fizeram uso de sua única vulnerabilidade real – o único momento em que
ela não estava cercada por proteções, saindo do Salão para desaparatar.
Shacklebolt disse que teria uma palavra com o Transporte Mágico para
instalar uma lareira de Flu no laboratório de Granger, para que ela nunca
mais precisasse deixar as paredes protetoras do Salão do Rei novamente.

Greyback estava jogando um jogo inteiramente novo, agora. Sob o peso dos
olhares arregalados de Shacklebolt e Tonks, Granger concordou, com dor
óbvia, em largar seus turnos na emergência do St. Mungo. Se Larsen tivesse
sido ousado o suficiente para um sequestro diurno em Trinity, agora havia
uma possibilidade real de que Greyback fosse ousado o suficiente para
encenar algo na A&E.

Tonks disse que avisaria o Escritório de Aurores Dinamarquês sobre o


ataque, o laboratório e os planos repugnantes de Larsen. Ela, Potter e
Weasley saíram para encher Larsen de Veritaserum e extrair qualquer
informação que ele pudesse ter sobre a localização mais recente de
Greyback.

Draco se levantou para se juntar a eles, mas Tonks o proibiu


categoricamente, gritou para ele se sentar e disse para ele não ser um mártir
– ele já tinha malditamente feito o suficiente por um dia.

– Se você for a algum lugar, será St. Mungus. - disse ela, olhando os vários
ferimentos de Draco.

– Eu vou cuidar dele. - disse Granger.

A reunião de cúpula foi dissolvida.

~~~~~~

Draco e Granger tomaram banho e se reuniram em um dos salões menores,


ambos um pouco pior pelo desgaste. Draco estava mancando ("Aquele filho
da puta colossal era tão pesado, acho que rompi um testículo").

Henriette e Tupey pairavam ansiosas, oferecendo chá, mais opimum e


chocolate, até que foram gentilmente expulsos.

Granger e Draco fizeram um balanço de seus ferimentos. Principalmente


contusões para Granger, onde ela foi jogada, agarrada e chutada. Pulsos,
braços, mandíbula.

A visão das marcas fez Draco vacilar à beira de uma súbita queda em raiva.

Algo disso deve ter mostrado em seu rosto. Granger deu a ele um olhar
meio desconcertado e se curou com alguns movimentos rápidos de sua
varinha.

As contusões desapareceram. A raiva permaneceu. Draco a amarrou


firmemente e a guardou.

Agora ele se viu cercado pelo brilho verde dos feitiços de diagnóstico
quando Granger começou a examiná-lo.
Ele olhou para os pictogramas repletos de significados enigmáticos.

– Você é uma bruxa útil para se ter por perto. - disse Draco.

– Você também é um tipo de bruxo decente. - disse Granger. – Obrigada.


Por hoje. Novamente.

– Movimento absolutamente brilhante, puxando esses seus discos para fora.

– Excepcionalmente feliz por você ter uma faca. Ia jogar o bisturi para
você.

Granger ficou quieta um pouco enquanto estudava o diagnóstico. Então ela


disse:

– Eu não gosto muito de ser uma donzela em perigo.

– Você também não é muito boa nisso. Nunca vi alguém abrir uma artéria
femoral com uma exatidão tão sublime.

– Ele estava lindamente posicionado para isso.

Houve um silêncio. Suas mãos estavam firmes enquanto ela passava por
mais alguns feitiços de diagnóstico.

– Você está se sentindo bem? - perguntou Draco.

– Sobre o que? Abrir um homem?

– Sim. E tudo.

– No momento, estou mais irritada do que qualquer outra coisa. O opimum


está mascarando o resto. Você?

– Bem. Ansioso por vingança. Traçando a morte acidental de Larsen quando


eu o interrogar. Fantasiando sobre o assassinato violento de Greyback em
minhas mãos. Você sabe. Bem.

Granger deu a ele um olhar de soslaio.


– Fantasiar sobre assassinato não enfraquece a fibra moral de alguém?

– Não tenho uma única fibra moral para falar.

– Você não tem?

– Não. Doei todas aos órfãos.

Granger fez uma pausa. Ela se virou, riu em suas mãos, então respirou e o
encarou novamente.

– Deixe de ser bobo. Temos trabalho a fazer.

Não. Ele não pararia de ser bobo. Ele gostava de vê-la rir. Dava-lhe uma
sensação de tremor. Além disso, aquela agitação pós-adrenalina estava
despertando, e a sensação de vibração induzida por Granger continuava
querendo descer até sua virilha.

Calma, meu velho.

Granger, felizmente inconsciente de Draco e sua virilha esvoaçante,


descartou alguns dos esquemas e fez um inventário de suas doenças.

Estes consistiam em um olho roxo, duas costelas quebradas, um joelho


torcido (o ruim – é claro) e uma mandíbula fraturada.

Ela teve o prazer de informar a Draco que ele não havia rompido um
testículo.

Ela foi lavar as mãos. Então ela voltou e ficou curandeira – séria e focada,
com uma certa autoridade em seu porte.

– Certo. Vamos consertá-lo corretamente. Vamos começar com essas


costelas. Tire sua camisa.

Draco tentou não parecer muito feliz com a oportunidade.

Ele foi instruído a se deitar no sofá, o que ele fez, feliz. Ele colocou as mãos
atrás da cabeça (porque era confortável, mas também porque fazia seus
peitorais saltarem, como um bônus para Granger). (Além disso, ele tinha
seis gomos definidos. Ela estava livre para notar isso também.)

Granger estava menos interessada em deleitar-se com a perfeição apolínea


diante dela do que em murmurar sobre Lars, o Asno, entre os
encantamentos. Draco sentiu a pressão da varinha dela ao seu lado e suas
costelas quebradas ficaram inteiras novamente, uma após a outra, com um
estalo abafado.

Granger passou-lhe a camisa.

Seu profissionalismo e eficiência eram, francamente, abomináveis.

Draco colocou sua camisa de volta porque Granger, balançando-a entre dois
dedos, agora a balançava impacientemente para ele.

Em seguida foi o joelho machucado. Draco se ofereceu para tirar suas


calças. Não, disse Granger, ele poderia apenas arregaçar a perna da calça.

Bestial.

Draco arregaçou a perna da calça. Ela curou o joelho dele.

Em seguida foi seu olho roxo, que levou um momento.

Draco cogitou. Talvez ele devesse ter se permitido ser espancado para dar a
Granger mais problemas e mais motivos para despi-lo.

Em mais uma incursão na loucura, ele pensou que talvez devesse ter
rompido um testículo.

Finalmente, Granger chegou ao maxilar fraturado.

Uma versão brilhante do crânio de Draco flutuou no ar entre eles. Era muito
bonito e bem feito, com maçãs do rosto tão bonitas quanto as de Madalena.

Ao longo da mandíbula, uma rachadura brilhava em vermelho.

Granger tomou um pequeno fôlego.


– É maior do que eu pensava. - disse Granger.

– Serei gentil. - disse Draco.

Granger riu, então recuperou o controle de si mesma e deu a ele um olhar


profundamente não impressionado.

Depois de estudar o esquema de vários ângulos, ela disse que queria ser
particularmente cuidadosa ao curar este, para garantir que fosse realinhado
corretamente e não afetasse sua mordida.

Bom. Finalmente. Seja cuidado. Seja lento. Esteja perto.

Granger tirou uma das mesas laterais para Draco se sentar.

– Linda. - ela comentou enquanto tirava uma ampulheta ornamentada do


caminho.

– Você achou? É meu trisavô Snodsbury.

– Perdão?

Draco virou a ampulheta para demonstrar.

– Ele queria ser cremado e ainda ser útil.

– ...Encantador.

Draco sentou-se na mesa lateral. Granger ficou entre os joelhos dele e


segurou seu rosto entre as mãos.

Isso era bom, pensou Draco enquanto olhava para ela. Muito bom.

Granger disse que ela sabia que seria terrivelmente difícil, mas ela
precisava que Draco mantivesse sua boca fechada por seis minutos inteiros.

Isso era bom para Draco. Ele iria luxuriar, em vez disso.
Granger ampliou a imagem diagnóstica e passou a trabalhar com
movimentos de varinha lentos e precisos. Ambos os dedos dela e sua
varinha estavam quentes em sua mandíbula. Draco fechou os olhos e
suspirou, como se estivesse apenas suspirando e não, você sabe, inalando
Granger recém-saída do chuveiro. Sabonete, pele completamente limpa.
Que pena que ele não pudesse se inclinar para frente e pressionar o rosto
entre os seios dela e inalar.

A consciência de Draco cintilou irritantemente à existência para apontar que


Granger tinha acabado de sofrer um sequestro traumático e agora o estava
curando, e tudo o que ele conseguia pensar era nos peitos dela? Ele era
bestial. Ele era uma vergonha.

Draco pesou as seduções de Granger contra o peso do bom comportamento.

Ele decidiu que ele era realmente bestial, e uma desgraça, e foda-se o bom
comportamento, ele pensaria em peitos o quanto quisesse.

Granger mudou seu peso de um pé para o outro. Ele sentiu um roçar de


movimento na parte interna de seu joelho.

Um prazer lento fluiu através dele.

Ela passou a ponta da varinha ao longo de sua mandíbula em linhas


deliberadas, murmurando um encantamento que fez as coisas parecerem
mais apertadas em toda a sua mandíbula.

Além disso, as coisas estavam mais apertadas em suas calças.

Ele provavelmente deveria fazer algo sobre isso. Pense em matemática, ou


algo assim.

Granger lançou outro feitiço de imagem.

– Desculpe, é tão lento. Estou me esforçando muito para evitar qualquer


desalinhamento dentário.

Draco fez um "Mm" de compreensão no fundo de sua garganta.


Ele também estava indo muito longe.

Um Auror não transava com sua protegida. Ele estava sendo terrivelmente
inadequado. Ele precisava se acalmar.

Ouvir Granger murmurar encantamentos perto de seu ouvido foi –


comovente. Sua boca pressionada em um moue concentrado, bem ali, era
terrivelmente atraente. O empurrão de sua varinha sob sua mandíbula
desencadeou uma combinação hormonal fantasticamente excitante de
ameaça e sensualidade. Seu olhar focado e sério deu a ele uma emoção até
suas bolas.

Tudo era sexy. Estes foram seis dos minutos mais sensuais da vida de
Draco. Ele queria pegá-la e...

– Pare de sorrir. - retrucou Granger.

Ops.

– Se isso curar torto, metade dos seus dentes só mastigarão o ar vazio. -


repreendeu Granger. – Eu não acho que você gostaria de uma dieta líquida.

Draco teria sugerido que ele poderia dar a ela alguns jatos de uma dieta
líquida, se ela fosse receptiva, mas, infelizmente, ele não podia falar.

– Quase terminando. - disse Granger, com muito menos irritabilidade em


sua voz agora que ele estava se comportando (no que dizia respeito a ela,
pelo menos).

Ela acenou com um diagnóstico final e passou as pontas dos dedos ao longo
de sua bochecha enquanto o estudava, inclinando a cabeça para a esquerda,
depois para a direita.

– Perfeito. - disse ela, com evidente satisfação. – Tão bom como novo. Você
pode voltar a falar.

Ela deu-lhe uma espécie de tapinha gentil ao longo da mandíbula.

Foi o toque mais gentil que ele sentiu em anos.


Ele estava completamente duro.

Ele era uma vergonha absoluta.

Granger saiu cambaleando para lavar as mãos.

Ao contrário de Madame Pince, ela não tinha o hábito de observar sua


protuberância. O que era excelente, porque agora, estava... bastante
volumoso.

Draco olhou para baixo para descobrir que sua camisa fora da calça
camuflava o pior de tudo. Ele se desinchou com um aceno de varinha e
continuou sentado ali, na mesa lateral, sentindo-se o homem mais
repreensível do mundo.

O que normalmente não o incomodaria.

Mas Granger era tão fodidamente – de alma pura – e – e, apenas, foda-se.

Granger voltou ao salão com uma determinação enérgica em seu passo.

– Certo. - ela disse. – Já que uma variedade de criminosos está obcecado em


interromper meu trabalho, é melhor eu começar os preparativos para o
Samhain, afiada, antes que eu seja emboscada novamente. Você tem um
momento para olhar algo comigo?

Draco seguiu Granger escada acima (sim, ele olhou para a bunda dela) e
entrou na suíte de hóspedes. A sala da frente da suíte havia sido tomada,
assim como a da casa dela, por livros. Seu computador dobrável brilhava
em uma mesa.

Draco seguiu Granger escada acima (sim, ele olhou para a bunda dela) e
entrou na suíte de hóspedes. A sala da frente da suíte havia sido tomada,
assim como a de sua casa, por livros. Seu computador dobrável brilhava em
uma mesa.

Seu gato havia encontrado um poleiro favorito em uma prateleira alta, de


onde observava Draco com uma espécie de benevolência imperiosa, como
um grão-vizir permitindo que um camponês entrasse no santuário interno
para uma audiência com a rainha.

Revelações estava de volta ao seu pedestal. Flutuando em torno dele havia


pilhas de dicionários anglo-normandos e textos de referência, eriçados de
quadrados amarelos de papel sobre os quais Granger havia rabiscado notas.

Granger abriu o tomo antigo com seu grau habitual de cuidado e virou para
uma das últimas partes.

– Certo. - disse Granger, franzindo a testa para a página. – Tenho uma


pergunta sobre aquele amigo de um amigo que o ajudou a encontrar esta
cópia do Revelações.

– Lady Saira. O que tem ela?

– Você acha que ela estaria au fait com detalhes sobre outros itens ou
artefatos raros, supostamente desaparecidos para sempre?

– Er – possivelmente. - disse Draco. – Ela é excepcionalmente bem


conectada.

Granger virou-se para ele. Suas mãos estavam entrelaçadas na frente dela.
Ela tinha aquele olhar ansioso sobre ela, aquele que ela usou quando pediu
a ele para se juntar a ela para roubar o crânio de Maria Madalena.

– Quero dizer – eu poderia fazer sem isso. Eu poderia. Mas se eu quiser


fazer a coisa direito...

– O que é ? - perguntou Draco.

– Você pode perguntar sobre quaisquer rumores em torno da localização de


outro item raro, destinado a ser perdido ao longo dos tempos, se é que
existiu?

– Que item?

Granger mordeu o lábio.


– Diga-me. - disse Draco.

– Você vai pensar que eu enlouqueci.

Draco zombou.

– Já estabelecemos sua agravante sã consciência. Diga-me.

Granger respirou fundo.

– Estamos procurando a caixa de Pandora.


29. Encontro Noturno; Granger é
sensata

As primeiras horas da manhã encontraram Draco em seu escritório. Ele


enviou uma missiva para Lady Saira, perguntando – enquanto se sentia um
pouco como um lunático – sobre quaisquer rumores que ela pudesse ter
ouvido sobre a caixa de Pandora.

Cumprida essa tarefa, ele trouxe alguma aparência de ordem para sua mesa
e flutuou uma garrafa de Macpherson's Rare Oak em sua direção, junto com
um copo.

Então ele se apoiou na lareira em camisa de mangas e suspensórios,


Firewhisky na mão, e olhou para as chamas dançantes.

O choque dos acontecimentos do dia o estava alcançando, agora que o


opimum não estava mais em seu sistema para embotá-lo.

Granger estava a salvo. Foi perto, mas ela estava segura.

Ele não sentiu nenhum dos sentimentos que normalmente seguiam quase
fatalidades com os Protegidos. Às vezes era arrogância por ter
corajosamente tirado alguém de uma situação impossível. Às vezes, se a
quase fatalidade pudesse ser evitada, era uma culpa para fazer melhor da
próxima vez. Majoritariamente, era simplesmente alívio.

Nada disso, esta noite. As imagens se repetiam em sua mente e tudo o que
ele sentia era náusea. A forma dela caída contra a parede. Moore agarrando-
a. Seu rosto, apertado pela mão enorme de Larsen. Seu balançar indefeso no
braço de Larsen, quando ele a puxou para a porta.
Nenhum alívio. Apenas isso – esse tipo de tristeza.

Por quê?

Draco encarou o fogo e se recusou, por um longo tempo, a colocar o porquê


em palavras. Quando o fez, foi com pavor.

Era porque, deuses o ajudem, essa protegida era preciosa para ele. E ia além
das atrações de Amortentia. Ela importava para ele. Ele se importava com
ela.

Todas as coisas que um Auror não deveria sentir. Pior, eram todas as
vulnerabilidades que Draco odiava, em um pacote organizado.

Ele disse a si mesmo que não era amor – isso era um conforto. O amor foi
feito para ser uma coisa boa. Borboletas e bobeiras com poemas e esse tipo
de podridão. Essa coisa? Essa coisa segurando-o pela garganta? Era uma
coisa horrível. Isso doía nele.

Ela não deveria ser preciosa para ele. Ela deveria ser apenas – uma
protegida. Eles não deveriam ser nada. Eles deveriam ser colegas na melhor
das hipóteses.

Ele tinha fodido magnificamente nessa frente. Maravilhosamente. Um


estrago para eras.

Ela não deveria ser preciosa para ele. E, no entanto, ela era. Estar com ela
era divino. Isso o espantava. Ele estava miserável. Ele estava obcecado. Ele
estava mortificado. Enlouquecido. Repelido. Viciado.

Ele odiava isso. Ele não queria nenhuma parte disso. Ele não tinha pedido
por isso. Exceto em momentos de fraqueza induzida por Granger ou
Amortentia, ele sabia o que queria. Ele queria permanecer desapegado,
invicto e livre. Seu próprio homem.

(A propósito, era uma espécie de covardia. Era ter muito medo de perder
alguma coisa e, portanto, não tentar em primeiro lugar. Era orgulho. Era
uma aversão a se abrir e ser magoado. Dar a ela uma parte dele que ela
poderia quebrar. Muito melhor ficar sozinho e chamar isso de liberdade.)

Havia uma saída. Ele conhecia os protocolos. Ele deveria falar com Tonks e
renunciar a esta missão. Deixar isso desaparecer ou explodir.

Talvez houvesse paz do outro lado.

Mesmo enquanto pensava nisso, ele sabia que não faria isso.
Operacionalmente, o momento para tal renúncia seria simplesmente
terrível. Mas além disso – foda-se os protocolos. Foda-se qualquer coisa
que pudesse colocá-la ainda mais longe dele. Ele não queria perder essa
coisa. Ele era muito egoísta. Ele estava viciado demais. Ele queria continuar
essa dança contínua, infinitamente cuidadosa e distante. Flerte que fingia
não ser. Lapsos que eram rapidamente atribuídos ao álcool e varridos para
debaixo do tapete.

Um equilíbrio, ele disse a Tonks.

Era verdade. Um status quo tenso. Era isso que ele queria manter. Era uma
aproximação da felicidade.

Mas não era o suficiente, não é?

Draco se afastou da lareira com nova frustração. Ele apagou o fogo com um
golpe de sua varinha e deixou seu escritório sem nenhum propósito real
para dirigir seus passos inquietos.

Os imponentes corredores da Mansão estavam escuros. Um vento frio de


outubro batia nas janelas e sacudia os galhos contra a casa.

Draco viu movimento nas sombras, vindo em sua direção.

Uma silhueta branca estava no final do corredor. Seu Lumos iluminavam o


chão à sua frente enquanto ela andava.

Havia um borrão laranja de cauda levantada em seus tornozelos. Granger


estava deixando seu gato sair.
Ela estava usando um daqueles negligées que ela mencionou em Provence.

Draco congelou onde estava. Parte dele desejava girar e fugir e não se
sujeitar ao que certamente seria outro encontro torturante. Duas horas de
reflexão não fizeram seu pênis esquecer os trabalhos daquela tarde. Nesse
ritmo, ela provavelmente poderia apenas passar a ponta do dedo em sua
bochecha e ele ficaria duro.

Parte dele queria muito inspecionar esse negligée pessoalmente e prosseguir


com sua jornada de educação e apreciação da moda trouxa.

Olhe para ele. Ele tinha acabado de passar horas se intimidando, e aqui
estava ele, vacilando, em vez de fazer a coisa certa óbvia.

Ele era um miserável sem esperança.

Granger pulou, uma mão em seu peito, quando ela o notou.

– Ah é você. Eu te atrapalhei? - ela perguntou em um sussurro. – Desculpe -


Crooks precisa fazer xixi.

– Eu estava terminando. - disse Draco em uma voz igualmente baixa. Se


eles acordassem os elfos, haveria um alvoroço e ofertas de lanches à meia-
noite e outros aborrecimentos.

– Como a pestilência da incompetência está tratando você? - perguntou


Granger.

– Abismalmente. Onde você deixa o gato sair?

– Por aqui. - disse Granger.

Ela bocejou nas costas da mão, parecendo meio adormecida enquanto o


levava para um dos salões. Ele seguiu em seu rastro. Suas pernas eram um
clarão pálido na escuridão. Seu cabelo era uma bagunça de trança
parcialmente desenrolada, pendurada sobre um ombro.

A lingerie de seda grudava em seus quadris, seu bumbum, seus seios. Ela
estava descalça.
Era – lindo. Tentador. Tudo.

Um Auror não transava com sua protegida.

Mas diabos, ele admiraria por trás.

Ele observou o balanço de seus quadris, o balanço combinando do tecido, a


forma de suas panturrilhas. A delicadeza de seus tornozelos, sentida sob
seus dedos há tanto tempo, agora – e ainda assim ele ainda se lembrava da
sensação, o detalhe de cada borda e curva.

Ele cheirou a antisséptico e fósforo riscado.

Ele deveria ter girado e fugido.

Granger alcançou uma das portas do terraço, levantou as cortinas e abriu a


vidraça. O gato saiu trotando.

– Vou colocar uma aba de gato aqui. - disse Draco. – Se ele souber desse
jeito.

– Ah, isso não é realmente necessário.

– Prefiro não ter você perambulando à noite, sozinha.

– Tsk. A Mansão é perfeitamente segura, ou assim me disseram. Você é a


maior ameaça que encontrei em todas as minhas andanças noturnas.

– Eu sou?

– Sim. Você parecia terrivelmente irascível, agora a pouco.

– Você me pegou em uma noite ruim.

– Oh? Você geralmente fica bem alegre às três e meia da manhã?

– Incansavelmente.

– Mm. - disse Granger, diversão sonolenta em seus lábios.


Ela bocejou em suas mãos novamente, então abriu a porta para ver onde o
gato tinha chegado.

Havia uma magia nas árvores, despidas de suas folhas, estendendo os


braços nus para o céu negro.

O vento soprou as cortinas em uma dança fantasmagórica. Com ele veio o


cheiro melancólico do outono à noite – úmido, pesado com algo estranho.

Samhain estava próximo. O véu entre os mundos estava ficando fino.

Granger estremeceu e fechou a porta.

Draco não olhou para baixo. Ele estava cem por cento certo de que haveria
mamilos visíveis através da seda fina do negligée e ele não queria saber
uma única maldita coisa sobre os seios de Granger, além das informações
que ele já havia coletado aqui e ali.

Ele não queria saber. De forma alguma. Sem mais detalhes, obrigado.

Draco ficou parado, preso em um limbo, dividido entre desejar boa noite a
ela – essa seria a coisa mais segura, a coisa sábia, a coisa certa – e querer
ficar. Isso seria masoquista, imprudente e estúpido.

O último venceu, é claro. Flagelante como era, Draco permaneceu.

Ele precisava manter o equilíbrio – isso era tudo.

Ele procurou algo para dizer. Nenhuma ideia surgiu, exceto comentários
sobre seus seios. Brilhante.

Draco sacudiu seu cérebro até que algo utilizável caiu e, finalmente, ele
disse:

– O negligée é superior ao tapete do piquenique.

Ele ouviu a respiração divertida de Granger.


– O tapete de piquenique está sendo lavado. - Ela olhou para o negligée. –
Estou feliz que você aprove - é terrivelmente trouxa.

Draco fez contato visual com ela - uma quantidade normal de contato
visual, sem olhar para baixo - e então desviou o olhar novamente.

– Comecei a apreciar a moda trouxa.

– Um momento de desenvolvimento pessoal genuíno. - disse Granger com


solene aprovação.

– Não se deve ficar ocioso, você sabe – é preciso continuar a crescer.

– Avante e para cima.

– Expansão.

– Transformação.

Agora Draco estava se concentrando tanto na proporção apropriada de


desviar o olhar e contato visual (sem peitos) que estava achando a conversa
difícil de acompanhar.

Ele também sentiu que eles poderiam estar falando sobre pênis. De novo.

Havia um sorriso brincando no canto da boca de Granger.

Apesar das tentativas de sequestro, seu tempo com ele na Mansão estava
servindo bem a ela. Ela estava mais cheia no rosto, mais rosada nas
bochechas. Sua covinha estava de volta.

– O tapete de piquenique seria uma excelente doação para os órfãos. - disse


Draco.

– Você sempre tem os melhores interesses dos órfãos no coração, não é?

– Que coração? - perguntou Draco.

– Você tem um - pode ser uma coisinha preta e enrugada, mas está lá.
– Eu suponho. E sim - eu sou altruísta desse jeito.

– Draco Malfoy, o sal da terra.

(O nome dele nos lábios dela lhe deu um pouco de frisson. Ele queria fazê-
la dizer isso, de novo e de novo e de novo, suspirar, gemer, beijá-lo em sua
boca.)

Draco olhou para a escuridão.

– Quanto tempo leva para um gato fazer xixi?

– Ele vai voltar em breve. Ele está ficando velho – às vezes demora um
pouco.

– Quantos anos tem ele?

– Não tenho certeza. Ele provavelmente tinha alguns anos quando o peguei
no terceiro ano.

– Terceiro ano? Minha nossa. Você tem o patife há muito tempo.

– Tenho. Kneazles podem viver até cinquenta anos em cativeiro e ele é


metade um – eu gostaria de acreditar que ele tem alguns bons anos
restantes.

Granger foi até uma janela que dava para o outro lado do terraço e olhou
para fora.

– Oh – ele está caçando. Bem, tentando. Meu pobre querido.

Granger apoiou os cotovelos no parapeito da janela para observar.

E Draco, Campeão Idiota Mundial, decidiu se juntar atrás dela para olhar
também.

Porque, obviamente, essa era uma excelente ideia. Chegar perto dela nunca
levou a complicações.
A forma de pernas tortas do gato estava baixa na grama do lado de fora,
fazendo ataques repetidos e fracassados ​em uma criatura ou outra.

– Um rato, você acha? - perguntou Granger.

– Ou um musaranho, ou um gnomo. Você deveria me cobrar pelos serviços


de controle de pragas, se ele pegar alguma coisa.

– Só se você me cobrar pela minha estadia aqui.

– Certamente não.

– Serviços ocasionais de salvamento de vidas e alojamento e alimentação. -


Granger suspirou. Sua respiração fez uma névoa no vidro frio da janela. –
Sou uma imposição nauseante.

Na verdade, ela era uma presença querida que acrescentava um grande


prazer à vida na Mansão.

Desagradavelmente meloso, isso.

– Essas coisas estão sob o título de manter Granger segura. - disse Draco. –
O que é o meu trabalho, enquanto você trabalha para curar o incurável.

– Certo. Mas eu não gosto de me sentir em dívida com você– - Granger se


interrompeu para ofegar - –Oh! Acho que ele pegou – olhe!

Draco poderia ter olhado pela janela ao lado dela. Mas não – seu cérebro
idiota desejava olhar para fora daquela. Aquela em que ela estava.
Obviamente.

Doentio, quão pouca resistência ele tinha quando estava perto dela.

Ele afastou a cortina e se inclinou sobre o ombro dela para olhar para fora.
Ele sentiu o roçar de seu cabelo contra seu queixo.

O gato tinha algo em sua boca.

– ...Isso é uma folha. - disse Draco.


Granger riu. O gato caminhou orgulhosamente pelo gramado com seu
prêmio erguido. Então foi distraído por outra folha, e deixou cair a primeira,
e se agachou em uma ronda.

– Oh – ele está tentando de novo. Você não precisa ficar – isso pode
demorar um pouco.

– Eu não me importo. Isso é divertido.

Granger olhou por cima do ombro para ele.

– Sério? Tudo bem.

O vento chicoteava ao redor da casa em gemidos espasmódicos. A lua


crescente brilhava acima da linha negra das árvores, um fino crescente
prateado.

O ombro suave de Granger estava – tão perto. Draco se viu olhando para
ela, para a fina alça que segurava sua camisola, para as sombras sopradas
pelo vento que brincavam em sua pele.

– Você não está em dívida comigo de forma alguma. - disse Draco, para
voltar ao assunto.

– É gentil da sua parte dizer isso, embora não seja verdade. - disse Granger.

– Você gostaria que fizéssemos uma lista para registrar as coisas?

– Você acha que eu já não realizei esse exercício?

– Claro que realizou.

– Eu sei - eu sou exasperante. - disse Granger.

– Obrigado, sim, você é. Qual foi o resultado?

– Até hoje, próximos, mas a seu favor; Só me dei meio ponto pela vantagem
de Talfryn. Mas você avançou significativamente com o salvamento de
vidas de hoje.
– Avancei? Excelente. Eu gosto de ganhar.

– Mm. Você se importaria de sair e fazer algo com risco moderado de vida?
- perguntou Granger com um vago aceno de mão. – Engasgar com um
queijo Wotsit, ou algo assim?

Draco riu. Sua próxima respiração trouxe o cheiro de seu xampu ao nariz.

Ele se aproximou, para olhar para o gato (obviamente), que estava


assassinando a folha com extrema violência felina.

– Quando eu estava no St. Mungus e tendo aquelas alucinações, eu o vi


lutando contra o Nundu. - disse Draco.

Ele estava perto o suficiente para sentir o calor saindo dela, agora, através
daquela seda fina, através de sua camisa e contra seu peito.

Granger tinha ficado bastante imóvel.

– Você teve?

– Sim. De novo e de novo, em círculos. Ele era feroz. Ele ganhou, no final.

O gato correu ao virar da esquina.

Granger pressionou sua varinha no vidro e enviou um Lumos, iluminando o


gramado.

Ambos se inclinaram para frente para observar a próxima caçada. Agora ele
podia sentir a seda de seu negligée deslizando contra o tecido de sua
camisa. Agora ele podia sentir o roçar do traseiro dela contra a frente de
suas calças. O botão em sua braguilha prendeu na parte inferior das costas
dela.

Manter o equilíbrio. Manter o maldito equilíbrio.

Ele colocou a mão no parapeito da janela.


A respiração de Granger estava um pouco mais rápida – as manchas fracas
que se espalhavam contra a janela a denunciavam.

A sensação dela era tão – prazerosa – tentadora – ambrosial.

O que havia com essa bruxa?

Por que as coisas proibidas eram as mais doces?

– Aquele - começou Draco, então ele limpou a garganta, porque sua voz
estava rouca. – Aquele coquetel de neurotransmissão que você me deu, no
St. Mungus.

– O que tem ele? - perguntou Granger, uma espécie de sopro em sua voz.

– Abaixa as inibições?

– Sim.

– Então – as pessoas falam a verdade, quando tomam isso?

– De certa forma. Afeta certos interneurônios inibitórios no córtex cerebral.


- Essa voz de professora ofegante era nova - Draco gostou. – Remove os
filtros usuais. A maioria das pessoas entra em um estado de desinibição para
se sentir bem.

– Então, quando eu disse que queria te beijar, você sabia que era verdade.
Não era apenas – delírio.

Granger olhou por cima do ombro para ele. Os olhos dela estavam escuros.

Desde quando um olhar entre eles era tão pesado?

Ela assentiu.

– É um efeito semelhante ao álcool, suponho. - disse Draco.

– Um mecanismo diferente, mas sim.


– Já tomei três Firewhiskies. - disse Draco.

Ele não tinha a menor ideia de onde estava indo com isso.

Ela tinha.

– E - disse Granger, – você ainda quer me beijar?

O mundo parou de girar.

Ele levou um momento para responder – como se houvesse qualquer outra


resposta além de uma afirmativa cheia de desejo.

Ele escovou a ponta do dedo no lugar onde o ombro e o pescoço dela se


encontravam.

– Sim. Bem aqui.

– Faça.

O mundo voltou a girar. Muito rápido. Seu cérebro era um borrão.

Que equilíbrio? Ele nunca tinha ouvido falar dessa palavra em sua vida.

Ele levantou a trança dela fora do caminho. Ele se permitiu a carícia de um


dedo da lateral do pescoço até o ombro, onde a alça do negligée repousava
delicadamente sobre sua pele. A ponta de seu dedo passou pela alça, embora
o desejo real fosse deslizá-la por baixo e puxá-la do ombro dela.

A luz de seu Lumos vacilou, então se apagou.

Ele abaixou o rosto para ela, sentiu o calor da pele, respirou-a – sonolência
e o cheiro de uma vela queimada.

Ele roçou a boca no local, muito observado, muito desejado. Ele a sentiu
estremecer contra ele, viu sua respiração silenciosa e ofegante se dissipar
contra a janela fria.
Ele deu um beijo no lado de seu pescoço. Sob seus lábios, uma lembrança
da noite no jardim – a suavidade das pétalas de rosa.

Sua outra mão encontrou o parapeito da janela. Agora ela estava


deliciosamente presa entre seus braços. Agora ela não iria a lugar nenhum.

Não que ela quisesse escapar. Ela estava se pressionando contra ele, sua
cabeça contra seu ombro, seu traseiro – muitas vezes imaginado, nunca
sentido – contra sua virilha. Ele estendeu a mão contra ele e o apertou e
sentiu o salto dela de surpresa.

Ele beijou o lado de seu pescoço novamente, então se moveu – delicioso,


delicioso – até logo abaixo de sua orelha. Dali ele podia olhar para baixo e
ver a clavícula dela, e o volume dos seios – a forma exata deles, e, sim, o
empurrar dos mamilos sob a seda, e a fina linha de sombra onde seus seios
se pressionavam, e a batida de seu pulso no mergulho entre suas clavículas.
Não rápido o suficiente, ainda, para ecoar através de seu dedo anelar, mas
ali, vibrando sob a pele, e se ele a virasse para ele, ele poderia senti-lo sob
seus lábios.

Ele não sabia para onde ir a partir daqui - ele sabia exatamente para onde ir
a partir daqui - ele não sabia se deveria - ele sabia que não deveria - ele
estava encharcado de endorfinas, viciado em pele, coração acelerado, mente
oblíqua-

Ela suspirou e se encostou nele ainda mais, havia a pressão de sua bunda
contra ele, e ele estava duro, obviamente, e ele empurrou contra ela, e ela
fez um som de satisfação no fundo da garganta, mas não deveria – eles não
deveriam.

Ela estendeu a mão e deslizou os dedos sob a alça da cinta no ombro dele.
Ele deslizou um braço em volta da cintura dela e puxou-a contra ele, e
beijou beijos fortes na nuca dela, e beijos que eram mais mordidas do que
beijos no ombro dela, e seu estremecimento e suspiro eram a coisa mais
doce. Ela levantou a outra mão sobre a cabeça e enfiou os dedos no cabelo
dele, e esfregou-se contra sua ereção, e foi a vez dele segurar um suspiro.
– Estou com catorze anos de novo e vou terminar em minhas calças, se você
continuar assim. - ele murmurou em seu pescoço.

Granger soltou uma espécie de gemido ofegante e ela deslizou seu traseiro
contra seu pênis novamente.

– Eu – Deus – mas nós – nós realmente –

– Não deveríamos? - soltou Draco entre os dentes.

– Não. Não deveríamos.

– Nós não deveríamos. - repetiu Draco, odiando a si mesmo. – Eu acho que


seria – sábio.

– Não quero ser sábia. Eu quero ser estúpida.

– Você é Granger. Isso é uma – contradição em termos.

Ela tirou a mão do cabelo dele – trágico.

– Você tem razão. Eu... eu não sei o que deu em mim...

(Não Draco, de qualquer maneira, era mais uma pena.)

– Estamos no meio de um maldito ressurgimento de lobisomens. - disse


Granger.

– Sim.

– Eles estão ativamente tentando me matar.

– Sim.

– Fui literalmente sequestrada hoje.

– Sim.
– Estou trabalhando no projeto mais intelectualmente exigente em que já
trabalhei – possivelmente o mais desafiador em que trabalharei na minha
vida.

– Sim.

– Eu não tenho uma célula cerebral de sobra – não tenho nenhuma


capacidade mental adicional para me dedicar a qualquer outra coisa.

– Sim. É claro. Não devemos adicionar mais complicações a uma situação


já preocupante.

– Sim. - disse Granger. – Isso poderia tornar as coisas – muito mais difíceis.

– Sim.

– Então - nós não deveríamos.

– Não deveríamos.

Granger gemeu em suas palmas.

– O que há de errado comigo...

– Diga-me quando você resolver isso. - disse Draco. – Eu sofro da mesma –


doença.

– Idiotice desenfreada é meu diagnóstico provisório. - Granger ainda estava


sem fôlego. – Certo. Ok. Tudo bem. Foi um sonho e não aconteceu.

– Tudo bem. Eu nunca me senti mais acordado na minha vida, mas tudo
bem.

– Você está dormindo, e eu também.

– Tudo bem. Isso não aconteceu.

Houve um miado abafado.


O maldito gato finalmente achou por bem voltar para a casa. Ele estava do
lado de fora da porta do terraço, olhando para eles.

Draco se perguntou o quanto ele tinha visto.

Ele e Granger se afastaram um do outro. A nova distância parecia cruel e


fria.

O pênis de Draco estava chorando, em todos os sentidos da palavra.

Granger deixou o gato entrar. Seu rosto estava corado, seus olhos
arregalados e escuros.

Ela saiu do quarto e não olhou para trás.

Draco se virou para sair, então ele congelou. Ali, entre a habitual brisa de
vela queimada que seguia Granger, estava o cheiro inconfundível de
excitação feminina.

Draco partiu para o pecado.

──── ◉ ────

Ele fechou a porta do quarto e encostou-se nela, abriu a braguilha e libertou


seu pênis pingando. Eles estiveram mais próximos do que nunca, e as
endorfinas induzidas por Granger em seu sangue tornaram a fantasia tão
fácil, então ao alcance - ele a tinha cheirado, sabia como ela cheirava
quando estava molhada.

A fantasia foi uma continuação fácil da cena no andar de baixo - ele


imaginou virá-la para ele e levantá-la para que ela se sentasse na borda da
janela e puxar as tiras do negligée para que seus seios adoráveis ​fossem,
finalmente, expostos a ele. Sua boca estaria sobre eles, desde a parte
inferior macia até os mamilos que o provocaram através da seda, que ele
provocaria por sua vez com a língua e com pressão das pontas dos dedos. E
ela avançaria na borda da janela e seguraria as saias de seda do negligée, e
se ofereceria a ele, molhada, e ele aceitaria a oferta, com beijos, língua e
dedos em um ritmo lento no começo e depois mais rápido. Ele queria
provar o lugar de onde aquela excitação tinha vindo, ele queria tudo em seu
queixo. E então ele encontraria o ângulo que ela mais gostava, e ela
ofegaria algumas instruções - não pare, ou sim, e ele sentiria a contração e o
espasmo dela contra os dedos e contra a boca dele.

A imagem o colocou no limite. Ele engasgou e puxou seu pênis para trás
com um aperto final e seu orgasmo estava nele em um, dois, três, quatro
jatos.

Vários milhões de herdeiros Malfoy foram espalhados no chão.

Ops.

Seu coração trovejou. Ele lutou para recuperar o controle de sua respiração.

Houve um eco de um batimento cardíaco no ringue.

Era dela.

Ele não era o único pecador naquela noite.


30. Samhain

A captura de Larsen foi um golpe enorme para Greyback, mas ainda não foi
o golpe de misericórdia. Eles precisavam encontrar o próprio homem.

Apesar de sua Oclumência, Larsen havia sido tão marinado em Veritaserum


por Tonks que produziu uma excelente série de pistas. No dia seguinte, o
caçador tornou-se a caça. Potter e o WTF chegaram perto duas vezes,
encurralando Greyback em uma cabana no Lake District e novamente em
um esconderijo nas Ilhas Shetland. Ele acabou escapando de seu alcance
nas duas vezes. Potter se enfureceu. O lado positivo era que Greyback
estava ficando sem esconderijos seguros, já que Larsen havia
comprometido meia dúzia de locais. Essa positividade foi temperada por
uma preocupação entre os Aurores de que ele ficaria cada vez mais
desesperado e pioraria.

Draco recebeu permissão para vasculhar o cérebro do Viking em uma


sessão de interrogatório de um dia inteiro enquanto o WTF caçava, para ver
o que mais ele poderia encontrar.

Tonks se juntou a ele na sala de interrogatório, junto com Brimble.

Larsen, amarrado de pés e mãos a uma cadeira, lançou-lhes um olhar


maligno.

– Bom dia. - disse Tonks para Larsen com uma espécie de brilho assustador.
– Adorável conversa ontem, obrigada novamente. Você já pensou em algum
outro detalhe que gostaria de compartilhar conosco? Localizações? Planos?
Alguma maquinação contra a Curandeira Granger que devamos saber?

Larsen olhou para ela em silêncio de pedra.


– Caso contrário. - continuou Tonks, – recebemos permissão ministerial
para prosseguir com um pouco de Legilimência. Se você não tiver mais
informações para oferecer de bom grado, o Auror Malfoy irá buscá-las
diretamente na fonte.

– Pegue-as, então. - disse Larsen.

– Brimble, anote que Larsen se recusou a cooperar. - disse Tonks.

Larsen voltou seu olhar para Draco e cuspiu em seus pés.

O desafio encantou Draco: Larsen iria lutar.

– Faça isso de novo e lançarei um Dessicatus diretamente em sua garganta.


- disse Draco, puxando um banquinho para perto de Larsen.

Ele segurou sua varinha no centro da testa de Larsen e disse:

– Legilimens.

Larsen era arrogante. Legilimentes eram raros e os bons eram ainda mais
raros. Agora que ele não estava mais sangrando, suas sofisticadas barreiras
de Oclumência estavam firmemente de volta no lugar, exceto onde os
efeitos residuais do Veritaserum de ontem suavizaram as bordas.

Ele tinha boas razões para ser arrogante. Enquanto Draco penetrava em sua
mente, ele teve que admitir que as defesas de Larsen eram impressionantes
– uma parede vasta e quase impenetrável.

A resistência deu a Draco uma desculpa para ser rude e cruel, e rude e cruel
ele foi. Ele rachou. Ele rasgou. Ele quebrou. Ele tinha todas as vantagens -
o empurrão mágico de sua varinha, o persistente Veritaserum de Larsen, a
raiva reprimida alimentando seu ataque - e ele as usou.

Quanto mais Larsen resistia, mais Draco o machucava. Em pouco tempo,


Draco havia dado ao Viking contusões em sua mente para combinar com
aquelas que ele havia deixado no corpo de Granger.
No silêncio da sala de interrogatório, travava-se uma batalha de vontades.
Draco podia sentir Larsen cambaleando de surpresa com a violência do
espancamento. Ele havia subestimado a Legilimência de Draco e sua pura
força de vontade quando se tratava desse assunto em particular. Ele pagou
por isso.

O nariz de Larsen começou a sangrar. Brimble estremeceu. Tonks não disse


nada.

Larsen, sentindo suas barreiras desaparecerem, começou a oferecer imagens


de Draco – distrações, invenções. Draco não queria isso. Ele as varreu e
martelou a parede.

Ele encontrou uma fissura. Ele a abriu e a atravessou.

Larsen puxou suas memórias para recessos mais sombrios. Draco as


arrastou de volta para fora.

Draco vasculhou as memórias, parando ocasionalmente quando Larsen


lutava para colocar uma barreira, com retornos cada vez menores de seu
esforço.

Foi Larsen quem se aproximou perto demais da casa de Granger, muitos


meses atrás, para um ponto de reconhecimento.

Draco encontrou conversas entre Greyback e Larsen. Larsen considerava


Greyback um velho tolo temperamental, mas útil como mera força de
trabalho que ele e seu bando ofereciam.

Ele encontrou discussões sobre Granger. Greyback, quando soube dos


rumores sobre o tratamento dela, simplesmente quis matá-la. Larsen foi
quem planejou os planos maiores.

A ideia de criar uma variante do vírus da licantropia deixou Greyback louco


de alegria. Ele estava tão ansioso para confirmar que Granger havia
realmente isolado o vírus que ordenou a tentativa de invasão. Isso enfureceu
Larsen, que perguntou furiosamente o que Greyback achava que seus
idiotas sem cérebro descobririam em um laboratório científico administrado
pela principal pesquisadora mágica da Grã-Bretanha. Agora eles
aumentariam as medidas de segurança – agora tudo seria mais difícil. Eles
quase tiveram um desentendimento permanente, então - quase duelaram um
com o outro - mas cada um precisava do outro mais do que queria matá-lo.

Draco pressionou e procurou, mas Larsen não sabia quem havia informado
Greyback sobre o projeto de Granger. Greyback tinha sido cuidadoso o
suficiente ali. E, por design e acordo mútuo, Larsen conhecia apenas um
punhado de esconderijos de Greyback, a maioria dos quais já havia sido
descoberto por Tonks no dia anterior. Uma pena. Draco ditou algumas
localizações adicionais para Brimble conforme ele as encontrava.

Então Draco encontrou memórias de si mesmo – primeiro como o piloto do


bar, apaixonado por Granger, e então como o Auror colocando sua vida em
risco por ela, durante a luta de facas. Ele viu a selvageria em seus próprios
olhos quando disse a Larsen:

– Ela definitivamente vale o que vou fazer com você. - Viu como isso
alimentou cada golpe e facada subsequentes.

Larsen concluiu que Draco era algum tipo de amante louco de Granger.
Ligadas a esse pensamento estavam mais memórias, envoltas pelo medo de
serem descobertas, que Larsen desejava esconder de Draco em particular.
Quando Draco se aproximou delas, Larsen entrou em pânico.

– Não. - disse Larsen, levantando uma barreira final e desesperada.

Draco entrou.

Ele encontrou memórias de conversas entre Larsen e Greyback, discutindo


embriagados o que fariam com Granger quando tivessem o que precisavam
dela. Eles foram gráficos. Eles foram vis.

– Seu maldito porco. - cuspiu Draco.

Então vieram as próprias imaginações de Larsen, além das memórias das


conversas.
Draco quase perdeu o controle.

O sangue escorria dos canais lacrimais de Larsen.

Tonks colocou a mão no ombro de Draco.

O Larsen que foi escoltado para fora da sala de interrogatório não tinha a
acuidade mental daquele que havia entrado.

Ele nunca se recuperou totalmente.

Nos dias que se seguiram, o viking foi extraditado para a Dinamarca. Os


aurores dinamarqueses, sabendo dos planos de Larsen, não se importaram.
O auror-chefe deles, ele próprio um licantropo, se ofendeu profundamente
com o projeto revoltante de Larsen. O laboratório de Larsen foi invadido, as
evidências removidas, o conteúdo documentado - então os dinamarqueses
prosseguiram com um ousado projeto de renovação na forma de explodir
todo o local.

──── ◉ ────

Lady Saira relatou que, em geral, suas perguntas sobre a caixa de Pandora
eram recebidas com risos – até que, um dia no final de outubro, ela enviou
uma nota com um boato sobre um colecionador recluso, um francês que
vivia na Espanha chamado le Marquis d'Artois.

Com um pouco de desenvoltura em seus passos, Draco saiu em busca de


Granger para dar as boas novas.

Granger fazia longas caminhadas pelos terrenos da Mansão para evitar a


febre de cabine induzida pelo laboratório. Draco a encontrou perto da fonte
do Hippocampus, lançando um feitiço de aquecimento sobre si mesma para
afastar o frio.

Ela sorriu quando o viu. Ele disse glurkk para si mesmo.

Draco acompanhou o passo ao lado dela e apenas escutou parcialmente


enquanto ela falava. A outra metade de seu cérebro estava ocupada com a
forma de sua boca e o brincar do sol em seu cabelo.

Hoje, a lareira de Flu foi instalada em seu laboratório, aberta apenas para
viagens bilaterais entre a Mansão e o laboratório. O técnico do Flu não
reconheceu Granger - ele pensou que a simpática jovem era uma estudante
de pós-graduação - e ficou tão impressionado com suas perguntas incisivas
sobre o processo de criação do Flu que lhe ofereceu um emprego como
estagiária na hora.

– Eu tive que recusar. - Granger suspirou melancolicamente. – Mas foi


tentador. Eu me pergunto como seria ter um horário adequado das nove às
cinco, você sabe - um trabalho normal.

– Que pena. - disse Draco. – Você não pode deixar a salvação do mundo
pela metade. Simplesmente não seria esportivo.

Ele deu a ela o bilhete de Lady Saira.

– Temos uma pista sobre a caixa de Pandora.

Granger folheou a missiva.

– Alguns detalhes dignos de nota. - disse Draco enquanto Granger lia. – O


Marquês nunca vende nada, nunca empresta nada a museus e nunca oferece
exibições de sua coleção. Só compra coisas de vez em quando – e quando o
faz, nada menos que os mais raros artefatos mágicos o interessam.

– Ele nunca vende coisas? Claro que não. Por que isso seria simples?

– Ele é conhecido por isso – bastante odiado por isso, na verdade – nos
círculos de colecionadores. Ele tem uma das maiores coleções de objetos
arcanos do planeta e nenhum deles deixou sua posse após a aquisição. Sem
vendas, sem trocas por outras relíquias. O tipo ganancioso de patife,
segundo todos os relatos.

Granger caminhava pensativa ao longo do caminho coberto de folhas.

– Isso não nos deixa muitas opções, então, não é? Podemos mais uma vez
ter que fazer o mal, para que o bem possa seguir.
– Ooh. Acredito que você está prestes a sugerir algo perverso.

– Você parece excitado. - disse Granger, segurando um sorriso.

– Eu estou.

– Posso assumir com segurança que sua postura moral sobre roubo não
mudou desde Provença?

– Isso não fez nada além de aguçar meu apetite.

O olhar de Granger era uma mistura de alívio e reprovação.

– Você é um Auror. Você não tinha que pensar duas vezes?

– Querida, eu não penso nem uma vez. - Draco mexeu no cabelo. – Eu sou
um absoluto dissidente, você sabe. Estou pensando em largar o negócio de
Auror e me tornar um ladrão cavalheiro. Vamos roubar a caixa – isso seria
um grande orgulho para mim.

– Eu realmente não quero a caixa de Pandora, no entanto. Eu quero o que há


nela.

– O que há nela?

– Esperança.

– ... Estamos levando o mito de Hesíodo tão literalmente? - Draco


perguntou com as sobrancelhas levantadas.

Granger assentiu.

– Revelações ainda não me enganou. Você se lembra da etapa final, ao


preparar o Sanitatem?

– Não. Eu nunca preparei isso.

– É uma mexida de dez minutos, acompanhada de uma espécie de


meditação sobre o caldeirão pelo pocionista. Speramus é o encantamento -
'nós esperamos'. O mais forte Sanitatem é feito com a mais forte infusão de
esperança naquele estágio final. A caixa de Pandora a conteria em sua forma
mais pura. Como com todos os outros elementos, a mesma classe de
ingredientes, mas as potências mágicas seriam mais fortes em centenas de
ordens de magnitude.

– Certo. Então qual é o plano?

Granger ficou pensativa.

– Este Marquês d'Artois gosta de coisas extremamente raras?

– Ele gosta. Uma pena termos devolvido o crânio de Madalena – aquilo


teria tentado o homem, tenho certeza. Poderíamos ter conseguido uma
audiência, pelo menos - e uma varredura em sua hacienda.

Granger balançou a cabeça.

– Se não a tivéssemos devolvido, imagino que já estaríamos mortos.


Aquelas freiras estariam em busca de sangue. Você tem algum tipo de posse
familiar antiga que possa intrigar o marquês o suficiente para nos conceder
uma entrevista? Os anéis?

– Versões desses existem entre muitas famílias antigas. Eles são raros o
suficiente, mas não tão únicos a ponto de interessar a alguém como o
Marquês.

– Suponho que a ampulheta do seu tio Snodsbury não tenha propriedades


mágicas?

– Er - às vezes, fica flatulenta.

Granger soltou uma gargalhada e então tentou encontrar sua dignidade


novamente.

– Sério.

– É verdade.
– Certo. Bem, a menos que o Marquês tenha um interesse específico em
borborigmos, não acho que isso será de muita utilidade.

Granger ficou em silêncio e pensativa enquanto eles serpenteavam por entre


troncos de árvores e montes de folhas vermelho-douradas.

Draco repassou seu inventário mental das relíquias da família Malfoy, das
quais havia muitas – joias, armas e diversas coisinhas – mas nenhuma
estava na liga de itens que impressionariam um colecionador tão perspicaz
quanto o Marquês.

Granger interrompeu seu devaneio com uma explosão de revelação:

– Eu sei onde está a Varinha das Varinhas.

Draco tropeçou em uma árvore, tropeçou em um ancinho esquecido e caiu


em uma enorme pilha de folhas.

– O que? - ele disse, colocando a cabeça para fora das folhas, ao mesmo
tempo em que fazia uma nota para demitir o zelador.

Granger encostou-se contemplativamente a uma árvore e avaliou a situação.

– O que você fez aí, Malfoy, foi de pernas pro ar.

Então, com a presunção de quem está esperando para se vingar há meses,


ela explicou várias leis da física que ele não havia aplicado corretamente,
incluindo a importância de não enfiar os pés grandes demais sob utensílios
de jardinagem.

Ela cometeu um erro crítico, no entanto: ao contrário de Granger em um


poço em Provença, Draco tinha sua varinha.

Ele apontou para ela e a arrastou para as folhas com ele.

Seu grito indignado fez tudo o que se seguiu valer a pena - ela caindo em
cima dele e dando uma cotovelada no plexo solar (ele tinha noventa por
cento de certeza de que foi acidental), o punhado de folhas que ela enfiou
em seu rosto, a terra e os galhos em seu rosto.
Draco se defendeu das folhas dela com seus próprios punhados, que se
prenderam no cabelo dela enquanto ela lutava para se afastar dele.

– Como você ousa – eu acabei de lavar meu cabelo! - gritou Granger.

Ela tentou rolar para longe de Draco e deu uma joelhada nas bolas dele.

– Grkqp. - disse Draco, dobrando as pernas.

Ele caiu em um paroxismo-testicular silencioso.

Granger congelou com um suspiro.

– Oh meu Deus - Malfoy, me desculpe - eu não queria -

Ela esvoaçou sobre ele ansiosamente.

– 'tou bem. - disse Draco.

– Tem certeza?

– Sim.

Granger estava olhando para ele com os olhos arregalados de compaixão.

– Você pode – explicar para a minha mãe – por que ela nunca terá netos –

Talvez ele não devesse tê-los espalhado no chão com tanta liberalidade.

Ele se sentiu melhor depois de mais algumas respirações. A dor recuou. O


testículo não foi rompido. Provavelmente. Talvez ele devesse fazer Granger
verificar, para estar seguro.

Além disso, a propósito, Granger, posicionada acima dele, com as mãos


plantadas em folhas de cada lado da cabeça dele? Ela era uma ninfa,
coroada em carvalho cor de vinho. Ela era a beleza do outono, o calor de
uma lareira contra as noites frias, a indefinição do último adeus do verão,
alinhada com o sol dourado.
Encantador. O desejo - de puxá-la para cima dele, de beijá-la - era ardente.
Mas flertar com ninfas é um perigo. Draco apenas bebeu da beleza.

O desejo fraturou sua alma.

Era bom.

A ninfa quase o atingiu nas bolas novamente quando ela se levantou.

Eles encontraram seus pés.

– A maldita Varinha das Varinhas? - incitou Draco, lançando Evanesco


sobre os restos de um verme esmagado em sua bunda.

Granger arrancou folhas de seu cabelo.

– Sim. Está irremediavelmente quebrada, é claro – Harry quebrou ao meio –


mas algo assim interessaria ao Marquês?

– Uma das Relíquias da Morte? Obviamente. Quebrada ou não, isso é um


Artefato.

– Eu teria que pedir a permissão de Harry para usá-la como nossa moeda de
troca. Se ele disser que sim, não deve ser muito complicado de obter. Está
desprotegida, até onde eu sei.

– A Varinha das Varinhas? Desprotegida? Você está falando sério?

– Sim. - Granger olhou para ele. – Você gostaria de sair para invadir uma
tumba, como um - um pequeno aquecimento atrevido para um roubo maior?

– Vamos. - disse Draco, extremamente intrigado.

Na Mansão, Granger chamou Potter, que deu sua bênção para o uso dos
restos da Varinha das Varinhas, indicando que ele, francamente, não se
importava com o que eles fizessem com ela, apenas terminassem o maldito
projeto de Granger, pelo amor de Deus, antes todos eles fossem
transformados em lobisomens.
Naquela noite, Draco e Granger apareceram em Hogsmeade, de onde
vagaram pelos terrenos de Hogwarts e, Desilusionados, contemplaram a
vida e a morte piedosamente sobre o túmulo de Dumbledore.

Draco, sendo um tipo desajeitado de bruxo, acidentalmente desmontou


todas as proteções da tumba, tropeçou e empurrou a enorme laje de
mármore que cobria o túmulo. Então a Varinha das Varinhas caiu, por
acaso, nas mãos de Granger, e ela, por pura inépcia, criou uma duplicata
perfeita dela e, por acaso absoluto, jogou a duplicata na tumba, e eles
partiram com a Varinha das Varinhas em bolso sem perceber nada.

Após alguma deliberação, eles decidiram que Draco deveria solicitar uma
apresentação ao Marquês através de Lady Saira. A esperança deles era que o
nome Malfoy, junto com sua oferta dos restos da Varinha das Varinhas,
pudesse ter prestígio e credibilidade suficientes para intrigar o Marquês.

Funcionou. O Marquês escreveu uma breve missiva a Draco, entregue por


um lindo pássaro lira, convidando-o a ir a Málaga. O Marquês propôs um
hotel à beira-mar para o encontro. Draco rebateu com preocupações sobre
sua segurança pessoal, dado o valor do objeto que estaria carregando com
ele, e convidou o Marquês para a Mansão. Como eles esperavam, o
Marquês recusou a viagem para a Inglaterra, mas ofereceu sua própria villa
como ponto de encontro, se o Sr. Malfoy estivesse mais inclinado a se
encontrar lá? Seu único pedido seria que o Sr. Malfoy cumprisse suas
medidas de segurança e viesse sozinho.

Granger franziu os lábios enquanto lia a última parte, curvada sobre o


ombro de Draco.

– Responda de forma positiva. Encontraremos uma maneira de contornar


esse tipo específico de cuzisse. Você certamente não pode fazer isso
sozinho, absoluto dissidente ou não.

– Não posso?

– Não.

– Que falta de fé abominável. O que você está pensando, então?


– Tenho algumas ideias. - disse Granger.

Agora ela estava olhando para Draco especulativamente, girando a varinha


entre os dedos.

Draco não gostou da sensação.

Eles empacotaram a Varinha das Varinhas, com uma fita de seda em volta
do meio, em uma linda caixa de cetim e madeira Grenadil.

A varinha estava inerte na mão de Draco enquanto ele a aninhava no estojo.

– Graveto, realmente. Não sobrou nem uma faísca.

– Ela ainda pode ter o poder de fazer um último bem. - disse Granger.

──── ◉ ────

O Flu internacional para Málaga levou seis minutos. Granger emergiu dele
com a tenra tonalidade verde de um aspargo jovem.

Um assistente de imigração entediado a observou, então deu a Draco


formulários para preencher para ele e sua esposa, bem como uma bolsa de
enjoo.

Para sua profissão, Draco colocou "Faz-nada / Dissidente Absoluto" e para


Granger "Incendiária".

Ela estava muito biliosa para notar.

O marquês morava nos arredores de um dos Pueblos Blancos ao longo da


costa sul da Espanha. Draco e Granger alugaram um quarto em um vilarejo
a alguns quilômetros de distância para finalizar seus preparativos para o
roubo.

A hora marcada encontrou Draco e Granger subindo o caminho para a villa


d'Artois.
Bem, Granger caminhou. Draco trotou ao lado dela, um longo rabo de
penas balançando elegantemente atrás dele.

Porque sim. Draco havia sido transfigurado em um Borzoi.

E Granger era Draco.

Draco, observando Granger-Draco de sua nova altura na cintura dela, disse


a si mesmo que não havia como ele andar com tanto requebrado.

Realmente fazia seu traseiro saltar, no entanto.

Ele tinha uma bunda tão perfeita.

Chegaram ao fim do caminho. A casa do Marquês não era uma vila – a


coisa era, francamente, outra Alhambra, aninhada nas colinas da Andaluzia.

Enormes portões se abriram quando eles se aproximaram. Pares de guardas,


armados com varinhas e espadas cerimoniais, flanqueavam o caminho em
intervalos regulares e os observavam em silêncio enquanto eles passavam.

– Muito alegre. - murmurou Granger-Draco para Draco.

Eles caminharam por esplêndidos jardins ricos em amendoeiras, limoeiros,


fontes em cascata e flores deslumbrantes de todas as cores. Aves exóticas se
pavoneavam – pavões, faisões, grous-demoiselle.

Eles chegaram às portas da frente da villa. Um mordomo vestido de preto


cumprimentou Granger-Draco – um tipo de mordomo alto e bem
constituído, cujo andar e largura de ombros sugeriam algo mais de guarda-
costas do que de criado. Sua varinha estava guardada em seu antebraço e o
olhar estratégico que ele deu a Granger-Draco disse a Draco que ele sabia o
que estava fazendo.

Eles seguiram o mordomo por uma série de pátios, atravessando lagos


brilhando com carpas douradas.

Granger-Draco, segurando a caixa da Varinha das Varinhas debaixo do


braço enquanto caminhava, estava fazendo um excelente trabalho em
parecer Malfoy não impressionada com nada disso. Draco a ouviu fungar.
(Arte amável por purpl3suit)

Eles chegaram a uma antessala, no final da qual brilhava uma espécie de


parede translúcida – uma espécie de escudo mágico.

Uma pequena figura, ligeiramente distorcida pela parede, apareceu. Falou


com voz aristocrática e com sotaque:

– Sr. Malfoy, seja bem-vindo. Espero que suas viagens não o tenham
cansado. François pode fazer as verificações habituais, para minha
tranquilidade?

Granger-Draco inclinou a cabeça e respondeu em francês.

–Monsieur le Marquis. Um prazer. Por favor, prossiga. Estou ansioso para


começar nossa discussão.

O mordomo lançou uma série de feitiços de revelação de armas em


Granger-Draco, expondo sua varinha e a faca que Draco costumava amarrar
em sua coxa.

O mordomo ofereceu uma bandeja, na qual Granger-Draco colocou esses


itens.

A varinha de Draco foi sujeita a um feitiço de identificação, que confirmou


brilhantemente que o Sr. Draco Lucius Malfoy era seu dono.

O mordomo perguntou a Granger-Draco o que havia no frasco em seu


quadril.

– Apenas água. - disse Granger-Draco, oferecendo-o para inspeção.

O frasco foi submetido a cinco feitiços antes que o mordomo se


convencesse de que seu conteúdo era inócuo.

A caixa da Varinha das Varinhas foi aberta e igualmente submetida a


feitiços de detecção, sem efeito.
– Presumo que você não tenha objeções a François manter sua varinha e
faca em mãos? Apenas durante a nossa conversa, é claro. - disse o Marquês
por trás de seu escudo.

Após o gesto de concordância de Granger-Draco, François enfiou a varinha


e a faca em suas vestes.

– Eu aprecio sua paciência com minhas fraquezas. - disse o Marquês. –


Posso perguntar sobre o cachorro?

– Meu familiar. - disse Granger-Draco, acariciando a cabeça elegante de


Draco. – Ele pode esperar aqui, se for esse o seu desejo.

– Oh, não. Eu entendo o desejo de manter as coisas preciosas ao lado, você


sabe - mais do que ninguém. A criatura é bem-humorada? Farei com que
François lance alguns feitiços nele, e então podemos prosseguir.

François lançou alguns feitiços em Draco, incluindo Finite Incantatem e um


feitiço de detecção de Animago.

Nada aconteceu.

Draco abanou o rabo e deixou a língua pender para fora da boca.

– Excelente. - disse o Marquês. – O cachorro é um cachorro. Deixe-os


passar, François.

Draco deu um suspiro canino de alívio. Inspirada pela pele da corça Oisín,
Granger montou o que ela chamou de "uma espécie de gaiola de Faraday"
com seus discos anti-mágicos e alguns cabos. O equipamento agora estava
amarrado ao seu corpo, coberto por seu pelo grosso. Eles o testaram
longamente. Não desviaria maldições sérias, mas feitiços mais leves à
distância pareciam fracassar dentro do perímetro.

O mordomo abaixou a parede brilhante, revelando o Marquês. Draco trotou


ao lado de Granger-Draco e avaliou o homem. Ele era magro e usava um
terno violeta de corte elegante, embora o corte parecesse quase antigo. Um
par de olhos azuis brilhantes brilhava com inteligência em um rosto que
parecia, estranhamente, velho e jovem.

Para o nariz excessivamente zeloso de Draco, ele cheirava a charutos finos


– e ouro.

– Um Borzoi, não é? - disse o Marquês, olhando para Draco. – Nobre


animal. Raça incomum. Qual o nome dele?

Granger-Draco olhou para Draco com as sobrancelhas levantadas. – O


nome dele? É... Crotch.

– Krrotche? - repetiu o marquês com um forte sotaque francês.

– Sim. Significa inteligente, em – er, Serêiaco. Eu não o nomeei.

– Como você obteve ele?

– Amigos em São Petersburgo.

– Oh? Que amigos? Eu tenho algumas conexões lá.

– Os... Mikhailovs.

– Mm. Não tenho o prazer de conhecê-los.

Draco avançou e colocou a cabeça sob a mão do Marquês, em uma tentativa


de distrair o homem de mais intromissões.

O Marquês pareceu satisfeito e deu-lhe algumas palmadinhas.

– Um menino muito feliz, hein? Sim. Você é um bom menino.

Draco trotou à frente, farejando, imaginando se deveria mijar em algo para


aumentar a autenticidade.

Chegaram a um novo pátio, perfurado a intervalos regulares por finas


colunas de madeira. No centro de tudo estava um elegante arranjo de
móveis.
O marquês levantou a mão e François, que espreitava sem ser visto,
avançou com bebidas.

– Krotche gostaria de um biscoito? - perguntou o marquês.

– Não, está tudo bem. Ele está em uma dieta especial.

– Oh?

– Ele está... constipado.

– Ah. Pobre camarada.

Draco abanou o rabo como se nada lhe desse mais alegria do que prisão de
ventre.

Granger-Draco pegou uma taça de vinho de François e a girou com um


gesto altivo.

Draco não era tão arrogante.

– O que você achou? - perguntou o Marquês quando Draco provou.

– Eu costumo preferir meus vinhos mais... encorpados. - disse Granger-


Draco com uma fungada. – Mas isso está excelente.

Uma das sobrancelhas do marquês se contraiu com esse leve elogio.

– Entendo. - Ele examinou seu próprio copo. – Receio não poder demorar
muito. Estou bastante ocupado esta tarde.

Granger-Draco deu um excelente sorriso insincero.

– Eu ficaria encantado em dispensar mais conversa fiada. Devo mostrar-lhe


o que trouxe?

Ela se acomodou em um sofá. Draco se deitou aos pés dela.


Ela abriu a caixa brilhante da Varinha das Varinhas e a estendeu para o
Marquês.

– Quebrada ao meio por Harry Potter, em 2 de maio de 1998.

Os olhos do marquês estavam brilhantes quando ele se inclinou para olhar.

– Isso parece fortuito - você me trouxe uma Relíquia na Véspera de Todos


os Santos.

– De fato.

– Como você a obteve?

– Potter me devia um grande favor.

– Um favor?

– Não posso fornecer mais detalhes.

O marquês assentiu.

– É claro. Eu não queria me intrometer. Você se importa se eu...?

Granger-Draco acenou afirmativamente com a cabeça e estendeu a caixa


para o Marquês. Ele pegou a varinha e a inspecionou, primeiro a olho nu,
depois com uma lupa de prata e depois com uma dourada.

– Encantadora. Encantadora. Posso lançar alguns feitiços sobre ela?

Granger-Draco acenou com a mão indiferente em aquiescência.

Ela capturou os maneirismos de Draco com uma precisão quase ofensiva –


apenas um pouco afetada demais para que o próprio Draco fosse
convencido. Ele não era tão pretensioso, com certeza.

– Quinze polegadas, madeira de sabugueiro, rabo de Testrálio. - disse o


Marquês, folheando vários feitiços enquanto confirmava a autenticidade da
Varinha das Varinhas. – Fascinante. Este é um pedaço da história que você
tem aqui, Sr. Malfoy. Eu sou um verdadeiro demônio por itens mágicos
históricos e a Varinha das Varinhas é - bem, um dos santos graais, você
sabe. Uma pena que foi quebrada. Tenho certeza de que o Sr. Potter tinha
apenas os melhores interesses do mundo mágico em mente, mas...

Draco se levantou e se sacudiu, deixando uma névoa de pelo branco em


Granger-Draco, e começou a vagar pelo pátio, parecendo o mais entediado
possível.

Ele vagou, farejando aqui e ali, até encontrar o esconderijo de François. Ele
não conseguiu encontrar nenhum outro vestígio de empregados domésticos
ou guardas nas proximidades. Sua audição aprimorada captou o que parecia
ser as cozinhas, possivelmente, à direita - as vozes altas dos elfos
domésticos. Mais além, ele podia ouvir cacarejos e gritos – macacos?!

Ele voltou para Granger-Draco e se deitou, como uma esfinge, aos pés dela.
Este foi o sinal para ela fazer um movimento – para solicitar uma visão da
coleção do Marquês e, se a resposta fosse negativa, então as coisas estavam
prestes a ficar complicadas.

– Vamos prosseguir para a parte que eu mais desprezo. Quanto você está
pedindo por esta coisa sem preço? - perguntou o marquês.

– O que você pode me oferecer que eu não possa comprar para mim?

A sobrancelha do marquês se ergueu.

– Eu entendi por nossas trocas que você estava interessado em vender. Não
troco peças da minha coleção, se é isso que você está sugerindo.

Granger-Draco deu de ombros.

– Francamente, estou mais interessado em encontrar um lar digno para este


pedaço da história do que qualquer outra coisa. Vou lhe dizer o que você
pode me oferecer que eu não posso comprar: um pequeno tour por sua
lendária coleção.

O rosto do marquês se fechou.


– Absolutamente não.

Granger-Draco suspirou.

– Certo. Eu esperava um pouco de flexibilidade de sua parte. Pensei que


esta era uma oferta bastante generosa, na verdade - a Varinha das Varinhas
por alguns momentos do seu tempo. Respeito sua decisão, é claro.

Granger-Draco colocou a Varinha das Varinhas de volta em sua caixa e


fechou a tampa com um estalo.

– Obrigado, no entanto, por...

– Espere.

O Marquês olhava para a caixa com um desejo guloso.

– Você simplesmente quer um tour pela minha coleção? - ele perguntou. –


Em troca da varinha?

– Sim.

– Por que?

– Porque isso também seria algo sem preço. - disse Granger-Draco. – Eu


acredito que você nunca permitiu uma visita.

– De fato, não permiti. - disse o Marquês, parecendo sério.

Ele olhou para François, que parecia claramente infeliz. Então ele olhou
para a caixa novamente.

Ele se virou para Granger-Draco.

– Vamos fazer um tour. Um quarto de hora. Você deve seguir minhas


instruções – e, claro, não tocar em nada.

– É claro.
– E no final do tour, a Varinha das Varinhas será minha.

– Está correto.

O marquês parecia sério.

– Que reviravolta incomum nos acontecimentos.

– Monsieur le Marquis, você – você tem certeza? - perguntou François.

Os olhos do Marquês estavam cravados na caixa de madeira Grenadil.


Havia um músculo em sua bochecha enquanto ele trabalhava em uma luta
interna.

Finalmente, ele disse:

– Você está com a varinha do Sr. Malfoy, François – eu não acho que ele
seria capaz de causar muito dano. Não que eu fosse lançar tais calúnias
sobre seu caráter, Sr. Malfoy. François está simplesmente sendo cuidadoso.

– Eu entendo. Se houver mais alguma coisa que eu possa fazer para dar
mais tranquilidade, devo deixar o cachorro para trás?

– Oh, não, Sr. Krotche pode vir. - disse o Marquês, inclinando-se para
Draco e estalando a língua para ele. – Ele é um bom menino.

Draco deu alguns saltos ao redor das pernas do Marquês, para demonstrar
que bom menino ele era.

– Sim, isso mesmo, você é um bom menino. Sim você é. Sim. Ele dá
beijos?

Era difícil dar cambalhotas quando você estava paralisado por um horror
súbito. Draco não queria dar beijos.

A boca de Granger-Draco se contorceu.

– Er - não. Eu treinei isso com ele.


– Oh?

– Ele tem um hálito horrível.

Draco deu a Granger-Draco um olhar que dizia distintamente, me desculpe?

O marquês estava coçando as orelhas dele.

– Danadinho! Devemos escovar os dentes com mais frequência, não


devemos? Sim. Você é um menino esperto, parece quase que entende. Um
menino crotch, devo dizer, hein, em Serêiaco? François, mostre o caminho,
por favor.

Entraram em uma vasta sala com arcos altos e um teto ricamente esculpido.

Eles chegaram a uma porta fortemente protegida, com dois bruxos


inexpressivos montando guarda de cada lado.

O Marquês voltou a atenção de Granger-Draco para o teto deliberadamente.

– Tome um momento para admirar este artesanato: uma representação dos


sete céus islâmicos pelos quais a alma deve ascender após a morte.

– Lindo.

Enquanto isso, François dispensou camada após camada de feitiços. Draco


sentou-se um pouco afastado, como o bom menino que era, e observou
cuidadosamente. A audição do cachorro era útil: ele podia até ouvir os
encantamentos do homem.

A porta fortemente protegida foi aberta.

Agora o tour começava.

O Marquês estava bastante nervoso e com as costas rígidas, a princípio. No


entanto, Granger-Draco ofereceu a quantidade exata de suspiros e ooh-s
(provavelmente genuínos) para lisonjeá-lo, e ele se aqueceu para o tour.
François seguiu à distância, franzindo a testa, sua varinha apontada para as
costas de Granger-Draco.
Eles passaram por sala após sala de Artefatos de tirar o fôlego. O Marquês
ofereceu um comentário contínuo sobre os itens:

– Essas são penas de Huginn e Muninn – os corvos de Odin. O primeiro


bonsai – dinastia Han. O incenso oferecido ao Menino Jesus pelos magos
bíblicos. O cajado de Moctezuma – muito temperamental, só brinquei com
ele uma vez, transformou meu criado em uma tortilha. Uma mecha do
cabelo de Sansão. O lótus de Lakshmi, adquirido em Kolhapur. A harpa do
Arcanjo Sandalphon...

Passaram para outra sala e o marquês continuou.

– Ah, algumas raridades da sua parte do mundo. Essa é a pele de um dos


Cães de Annwn - não olhe muito para ela, Krotche, parece muito com a sua,
não é, pobre menino. A bela Excalibur – você a conhece, é claro. Custou-me
um bonito Knut. E aqui, o caldeirão de Cerridwen, se você conhece a lenda
dela...

– Eu ouvi... algo sobre isso. - disse Granger-Draco com a voz estrangulada.

Eles chegaram a uma porta que dava para uma sala cheia de livros, livros
em prateleiras, livros em pedestais, livros em vitrines.

O Marquês passou pela porta com um aceno.

– Não vamos entrar lá; passaríamos muito tempo e não deveríamos


demorar. Minha mais recente adição à biblioteca é o manuscrito original de
Nostradamus para Les Prophéties. Um golpe e tanto, eu fiquei tão satisfeito.
Bom homem, Nostradamus, realmente muito engraçado pessoalmente. Er...
pelo menos é o que dizem.

Granger-Draco olhou ansiosamente para a sala e fez um som sugestivo de


grande sofrimento, segurando seu coração.

– Você está bem, Sr. Malfoy?

– Er – sim. Um pouco de – indigestão. Azia.


Eles continuaram por outro corredor, que se ramificava para um pátio cheio
de gaiolas à esquerda. O Marquês tinha um zoológico. Isso explicava os
macacos.

Ele acenou com a mão naquela direção.

– Alguns espécimes interessantes do exterior. Há um aviário atrás e um


jardim de borboletas. Mas prossigamos rapidamente.

O arco se dividia em mais três direções. No final de um, Draco viu o brilho
de uma chama violeta em um quarto escuro.

O Marquês fechou a porta quando eles passaram com um aceno casual de


sua varinha, chamando a atenção de Granger-Draco para uma quimera
petrificada.

Por fim, chegaram à coleção de objetos do mundo antigo. Foi alojada em


uma sala com o estilo de um templo grego, com colunas dóricas
sustentando uma enorme cúpula central. As paredes eram de mármore e
onduladas com esculturas em movimento de cenas mitológicas.

– Deixe-me ver, agora, quais são as peças mais interessantes. - disse o


Marquês, de pé no centro de tudo, antes de levar Granger-Draco a uma
vitrine de vidro. – Esse é o Anemoi – a bússola original. E isso - o que você
acha disso?

Granger-Draco estudou o pequeno objeto sob uma cúpula de vidro.

– Er - parece uma fruta seca?

– É: os restos da romã original comidos por Perséfone.

– Incrível.

O marquês apontou para uma grande viga que chegava ao teto, amarrada
com um cordame antigo brilhando com feitiços de estase.

– O mastro do Argonauta. Estou perseguindo o Velocino de Ouro há muitos


anos, acho que eles deveriam se reunir, não é?
– Oh, sim. É claro.

– Mm. Aqui está a caixa de Pandora – bem menos uma caixa do que uma
jarra, como você vê. Um pithos seria o termo correto. E aqui, o omphalos,
do Oráculo de Delfos. A bigorna de Hefesto – absurdamente pesada, nem
sei dizer que confusão foi trazer isso...

Draco passou a se apoiar nas pernas de Granger-Draco, como faria um cão


levemente entediado que queria atenção. Eles haviam localizado a caixa –
era hora de prosseguir para a próxima etapa.

O Marquês, observando a inclinação de Draco, disse:

– Eu espero que você não se ofenda – eu sei que ele é seu familiar – mas
você deve me dizer se alguma vez consideraria se separar do cachorro. Ele
é um espécime tão bem comportado. Ele adicionaria uma boa pitada de
sofisticação imperial ao meu zoológico.

– Er – não – ele é, infelizmente, muito querido para mim. - Granger-Draco


acariciou a cabeça de Draco. – Eu realmente gosto muito dele para deixá-lo
ir.

– É claro. Vale a pena perguntar – sempre vale. Agora, isso foi um achado:
o crânio de Typhoeus...

Draco e Granger fizeram vários planos para cenários diferentes. Granger


agora coçou a orelha esquerda de Draco, sinalizando – o divertido.

François estava pairando taciturno na porta, varinha em punho, embora


estivesse apontada para o chão.

Fingindo uma brincadeira repentina, Draco saltou em direção ao homem e


colocou sua bunda no ar (deuses) e abanou o rabo.

– O que Krotche quer? - perguntou o marquês. Então, vendo a reverência de


Draco, ele engasgou. – Ah, François, ele acha que você tem um graveto!
Garoto bobo, isso é uma varinha.
Draco saltou e arrancou o 'graveto' da mão de François. Ele saiu
cambaleando – ele estava se tornando um especialista em cambalhotas – e
então disparou de volta para François, a varinha na boca.

François investiu contra ele. Draco disparou para longe, então disparou em
direção a ele novamente.

– Ele está jogando pega-pega com você, François! - riu o marquês.

Draco e Granger praticaram essa parte em particular durante muitas horas.


A chave era fazer com que parecesse não intencional e inofensivo.

Draco balançou a cabeça e uma chuva de faíscas voou da varinha, ao acaso.


Então ele jogou a varinha para si mesmo e saltou para pegá-la, momento em
que um pequeno bando de pássaros voou para fora dela.

François deu início à perseguição a sério. Draco girou a varinha e o acertou


com um Aguamenti, seu rabo girando de alegria canina.

O marquês estava rindo. François estava terrivelmente sem graça. Granger-


Draco fez tentativas inúteis de chamar Krotche.

Draco esperou que François investisse e o acertasse com um Feitiço das


Pernas Bambas – de uma forma brincalhona e meio que saltitante.

François bateu de cabeça em uma parede.

O Marquis foi atingido por um Estupefaça.

Granger-Draco entrou em ação, ajoelhando-se ao lado de François para


recuperar a varinha de Draco, removendo cuidadosamente o equipamento
de Faraday de Draco e transfigurando-o de volta em si mesmo.

– Finalmente. - Draco respirou, encantado por estar sobre duas pernas


novamente.

Granger estuporou François por precaução e lançou feitiços silenciadores ao


redor deles.
Eles correram para a caixa de Pandora (sensação estranha, correndo ao lado
de si mesmo). Draco pegou sua varinha de Granger e começou a trabalhar
na barreira protetora que cercava o pithos.

– Faltam dezessete minutos para a minha dose de Polissuco. - disse


Granger.

Draco, suando, dispensou as camadas de proteções que cercavam o jarro.

– Certo. Estes não são tão ruins – acho que os piores deles estavam naquela
primeira porta – me dê mais dois minutos...

Granger conduziu seus próprios preparativos, puxando o frasco de água e


despejando seu conteúdo onde o Aguamenti de Draco havia deixado poças.

– Pronto. - disse Draco.

A mão de Granger-Draco hesitou sobre o pithos.

– Meu Deus.

– O que? Não me diga que de repente você desenvolveu escrúpulos.

– Vamos mesmo abrir a caixa de Pandora?

– Ela já fez isso uma vez; o pior já passou, não é?

– Sim.

Eles se entreolharam.

– Vamos fazer isso. - disse Granger.

Juntos, eles levantaram a pesada tampa. Ela saiu com uma espécie de
rangido.

Ambos recuaram, meio que esperando que o restante das pragas do mundo
fosse lançado em seus rostos.
Mas, não: a jarra estava cheia de Esperança.

Em sua forma física pura, a Esperança era uma substância nebulosa e


luminosa, simultaneamente se enrolando sobre si mesma e se expandindo
em tremores de confiança, convicção e fé.

– Que lindo. - suspirou Granger-Draco.

– Pegue e vamos em frente. - incitou Draco, passando-lhe a varinha


novamente.

Granger-Draco pressionou delicadamente a varinha na substância e a


sifonou em seu frasco.

Isso deixou um buraco significativo na Esperança na caixa de Pandora -


mas apenas por um momento, e então ela se reformulou e a jarra voltou a
transbordar.

– Certo. - suspirou Granger-Draco. – A esperança não é finita. É – infinita.

Não havia tempo para filosofar sobre a natureza da esperança. Draco deu
uma cotovelada em Granger-Draco para fora do caminho, deslizou a tampa
do pithos de Pandora de volta e recolocou as proteções.

O frasco foi escondido na capa de Granger-Draco.

– Preparado? - perguntou Granger-Draco, apontando a varinha para Draco.

– Puta merda. Aqui vamos nós. Sim. Se você me chamar de constipado de


novo, eu vou te morder.

Sorrindo, Granger-Draco o transfigurou de volta em um cachorro. Ela


deslizou o equipamento de discos anti-magia de volta para ele, amarrando-
os profundamente em pelos. Ela enfiou a varinha de Draco de volta no
bolso de François.

Então ela correu para o lado do Marquês e usou sua varinha para enervar
ele e François.
– Oh! Monsieur le Marquis – você está bem? Sinto muito - Krotche bateu
em você com alguma coisa, o cachorro bobo. Apenas um Estupefaça, eu
acho. Eu o coloquei no canto. Ele está punido.

O Marquês levantou-se com um olhar de entorpecido aborrecimento.

François, no entanto, levantou-se com profunda desconfiança em seus


olhos. Ele pegou sua varinha e apontou para Draco.

Draco se sentou em um canto, parecia oprimido e abanou o rabo


pateticamente.

– Isso não é um maldito cachorro. - disse François. – Finite Incantatem!

Ele apontou o feitiço diretamente para o peito fofo de Draco.

Nada aconteceu.

– Francamente, François, você já lançou isso uma vez na pobre criatura –


agora ele está vacilando. - O Marquês estava se limpando. – Por favor, pare
de aterrorizar o animal.

– Obrigado. - disse Granger-Draco, dando a François um olhar severo. – Foi


um acidente lamentável. Vamos encerrar o tour – não devo abusar mais do
seu tempo.

François, com a boca puxada para baixo em uma careta amarga, lançou
feitiços de revelação sobre a sala. Todas as proteções estavam perfeitamente
intactas.

– Eu concordo com você nisso, Sr. Malfoy. - disse o Marquês. – Deixe-me


mostrar-lhe a saída.

Eles seguiram o Marquês. François murmurou atrás deles e olhou


sombriamente para Draco, que o olhou com uma falta de amizade ofegante
e fez uma observação em brincadeira adicional.

Finalmente, chegaram à primeira ante-sala.


– Devo deixá-lo aqui. - disse o marquês.

Ele olhou com ênfase para a caixa nas mãos de Granger-Draco.

– É um grande prazer dar-lhe isto, conforme combinado. - disse Granger-


Draco, entregando-lhe a caixa.

O Marquês pegou e abriu novamente, como se quisesse se certificar de que


a varinha não havia desaparecido por algum truque de mágica.

– Algumas coisas na vida não têm preço. - disse Granger-Draco. – O tour


desta tarde foi uma revelação. Um dos momentos mais mágicos da minha
vida, ouso dizer. Você deve se orgulhar dessa coleção chef-d'oeuvre.
Verdadeiramente insuperável.

O marquês inclinou a cabeça.

– Meu trabalho de amor, ao longo de muitos anos. Adeus, Sr. Malfoy. E


diga-me se mudar de ideia sobre se separar de Krotche.

– Eu não vou, mas eu vou te dizer se eu ouvir alguma coisa sobre o


paradeiro do Velocino de Ouro. - disse Granger-Draco.

O marquês suspirou.

– Diga.

Ele acenou com a varinha e a parede translúcida voltou a existir.

François devolveu a varinha e a faca de Draco para Granger-Draco.

Então, com um olhar de ódio absoluto em direção a Draco, ele os escoltou


de volta aos portões, através dos jardins, passando pela longa fila de
guardas de rosto impassível, e murmurou boa noite.

Os portões se fecharam atrás deles e estremeceram com uma nova série de


proteções lançadas pelo mordomo furioso.

Granger-Draco, sorrindo, colocou o braço em volta de Draco e desaparatou.


──── ◉ ────

No hotel, Draco e Granger-Draco lançaram feitiços silenciadores em seu


quarto e começaram a pular freneticamente, incapazes de acreditar no que
acabaram de fazer.

Granger-Draco estava segurando seu rosto, andando de um lado para o


outro e hiperventilando.

Draco girou e caiu na cama, rindo.

– Nós fizemos isso, porra.

– Eu não posso acreditar. - disse Granger-Draco.

– Deuses, que corrida. - disse Draco.

– Precisamos parar de roubar coisas antes que acionemos alguma


cleptomania latente em você.

– Estou realmente considerando uma mudança de carreira.

Granger-Draco parou em seu andar circular e fez uma careta.

– Certo - eu preciso desesperadamente fazer xixi.

– Então vá. - disse Draco, acenando em direção ao banheiro.

– Mas eu sou você por... mais nove minutos. - disse Granger-Draco,


consultando o relógio.

– Oh. - Draco sentiu um sorriso abrir caminho em seu rosto. – Qual é o


problema? Você não quer segurar meu testículo?

– Quer dizer...

– Posso entrar lá e segurar para você, se quiser, para você mijar de olhos
fechados?
– Absolutamente não. - disse Granger-Draco.

– Tem certeza?

– Sim. Eu vou apenas... fazer isso rápido. Sento ou fico de pé? Vou sentar -
não quero espirrar em todos os lugares...

– Não seja ridículo. Todo o objetivo de ser um homem é ficar de pé.

Granger-Draco desapareceu no banheiro com as costas bastante rígidas.

Draco experimentou a intrigante e irritante sensação de Granger tocando


seu pênis sem que ele estivesse ali para aproveitar.

A expressão em seu rosto quando ela voltou para a sala era – interessante.

– Bem. - disse Granger-Draco, saindo do banheiro. – Isso explica seus pés.

– Sobre aquela definição de gran-

Granger-Draco apontou um violento dedo indicador para ele.

– Não.

Draco cacarejou.

Quando os minutos finais da dose da Polissuco se passaram, houve uma


espécie de derretimento em Granger-Draco, e Granger apareceu,
positivamente nadando em suas roupas.

Draco se virou na cama para que ela pudesse se trocar.

– Você foi muito boa em ser eu - embora alguns de seus maneirismos


fossem um pouco exagerados.

– Você faz um Borzoi extraordinariamente convincente.

– Eu não jogo meu cabelo assim – foi sua própria invenção.


– Você viu a cara de François, no final?

– Ele suspeitou de algo, eu sei.

– Os discos funcionaram – graças a Deus ele só estava acertando você à


distância e não tentou nada pior...

Granger, agora com um lindo vestidinho de verão, juntou-se a ele na cama.


Draco notou que ela não havia colocado glamour em sua cicatriz.

– Você viu as coleções do Marquês? - perguntou Draco.

– Sim! Ultrajante. Nunca vi nada assim na minha vida - nem nunca mais
verei. Qualquer um desses itens valia todo o PIB de alguns países.

– Bastardo ganancioso, não é?

– A sala de livros. - suspirou Granger, agarrando seu peito.

– Ele tem Excalibur!

– O mastro do Argonauta!

– A maldita romã de Perséfone!

– O caldeirão de Cerridwen! Como?! Quem é ele?

– Acho que sei. - disse Draco. – E se eu estiver certo-

– Quem?

– Você viu a chama? Aquela roxa?

– Er - acho que não.

– Ele fechou a porta quando passamos por ela – um fogo violeta em um


quarto escuro. Acho... acho que era a Chama Violeta.

Granger engasgou.
– A Chama Violeta?

– Sim. Aquela. Aquela que só foi dominada por um alquimista.

– Não.

– Sim. - Draco riu em descrença.

– Não.

– Granger.

– Não - não pode ter sido.

– Sim. Deve ter sido. Acho que acabamos de conhecer um dos maiores
alquimistas que já existiu. Acho que acabamos de conhecer o conde de St.
Germain.

Granger gaguejou.

– Não! Não. Como?

– De que outra forma você explica essa coleção? Aquilo deve ter sido
montada ao longo de séculos e séculos? O dinheiro envolvido?

– Seu rosto era peculiarmente sem idade.

As palmas de Draco pressionaram suas têmporas.

– Acabamos de roubar St. Germain.

– Oh meu Deus. - disse Granger, hiperventilando novamente.

– Eu estuporei St. Germain.

– Eu insultei o vinho dele!

– St. Germain queria beijos de mim!


– Pelo menos ele acha que você é um bom menino.

– Um menino crotch...

– Com mau hálito... - Granger engasgou entre risos – ... Ele acha que você
está - constipado!

Draco não conseguia respirar.

– Você – o homem é uma lenda! E você-! Caramba, você não poderia ter
pensado em outra coisa senão constipação?

– Pare - eu vou me mijar...

Granger caiu de costas ao lado de Draco na cama e eles riram de alegria até
não poderem mais rir.

──── ◉ ────

Draco e Granger tinham feito planos vagos para retornar ao Reino Unido
naquela mesma noite, se pudessem – embora ambos tivessem trazido malas
para a noite, apenas no caso.

O 'apenas no caso' se materializou. Os Flus Internacionais encerravam às


sete horas da noite, mas, como aconteceu, eles perderam a noção do tempo,
demorando-se demasiado em tapas e vinhos encorpados.

– Suponho que uma noite na Espanha não será a maior dificuldade. - disse
Granger quando eles deixaram o bar de tapas.

Eles vagaram pela parte trouxa do vilarejo, curtindo a atmosfera andaluza –


os onipresentes gerânios em seus vasos de terracota, as ruas incrivelmente
estreitas, as casas brancas empilhadas umas sobre as outras, todas
desordenadas.

Eles chegaram a um mercado noturno, onde Draco se distraiu facilmente e


teve que ser dissuadido de comprar uma variedade de objetos trouxas,
incluindo um trombone, uma coisa chamada lâmpada de lava e um barco
inflável.
– Você não precisa de um barco. - disse Granger, puxando Draco junto e
parecendo exasperada.

– Não pareça tão exasperada; eu sei que você gosta de mim.

– Eu gosto? Tem certeza?

– Você disse isso hoje.

Granger acenou com desdém, mas ela estava reprimindo um sorriso.

– Deslize da língua.

– Eu gostaria de seus deslizes de língua.

– Você poderia gostar.

Eles subiram uma rua sinuosa de paralelepípedos até um mirante no


extremo leste da vila, um mirante de onde podiam ver o campo escuro da
Andaluzia, ondulando suavemente para longe, e a distante Málaga e, além
dela, o mar negro como tinta.

Para Draco, parecia um bom lugar para dar uma olhada e, talvez, uma
aproximação acidental ao longo da grade. No entanto, Granger decidiu
fazer um relato pouco sexy de alguns dos horrores infligidos aos hereges
durante a Inquisição espanhola, e o momento passou.

Granger liderou o caminho para o bairro mágico da vila para continuar sua
exploração. Consistia em uma única rua estreita, acessada ao tocar a varinha
em uma parede caiada que se transformava em um arco.

Os habitantes mágicos da vila estavam dando uma verdadeira festa lá


dentro. A rua estava iluminada com nabos esculpidos, abóboras e o que
pareciam ser verdadeiros crânios humanos.

– Eu não sabia que os espanhóis celebravam o Samhain. - disse Draco.

Granger olhou em volta com grande interesse.


– Não – escute-os – isso não é espanhol. É Galego. Deve haver um grupo
deles da Galiza.

Diante do olhar vazio de Draco, ela acrescentou:

– Norte da Espanha. Aquela parte da Península Ibérica já foi dominada por


tribos celtas. Eles ainda celebram o Samhain. Sim olhe! Eles têm
Queimada!

O que era Queimada? A princípio, Draco estava convencido de que era feito
do mesmo material que a lâmpada de lava. Era algum tipo de ponche
flamejante, aromatizado por cascas de frutas cítricas e grãos de café.

Enquanto caminhavam pela rua, viram versões da bebida sendo preparadas


de várias maneiras em abóboras vazias, potes ou caldeirões. Druidas
galegos vestidos de branco cantavam sobre a Queimada e ateavam fogo à
bebida, criando lindas chamas azuis. As pessoas contavam até três enquanto
viravam os copos para dentro.

Alguns dos druidas cantavam em galego, outros em espanhol. Do último,


Draco podia pegar trechos de frases – encantamentos sobre magia negra,
libertação do mal e purificação.

Uma druida amigável os avistou e acenou para os estrangeiros de aparência


confusa. Ela entregou a Draco e a Granger um pequeno copo de café
expresso para cada um, recusando a oferta de pagamento.

Ela levantou três dedos.

– Vocês devem terminar em três!

Draco e Granger tomaram o primeiro gole cada um. Era uma bebida
inebriante - conhaque quente, açúcares caramelizados, um rico sabor
residual de café.

A druida assentiu.

– O primeiro bane o mal. Beba de novo.


Eles beberam de novo.

– O segundo remove o preconceito da mente. - disse a druida, batendo no


lado de sua cabeça. – Mais um.

Eles terminaram suas xícaras.

– O último desperta a paixão na alma. - disse a druida, pressionando as


mãos no peito. Então ela disse: – Abençoado Samhain! - e se virou para
colocar fogo em seu caldeirão novamente.

A música começou a tocar e a festa ficou barulhenta.

– Suas paixões foram despertadas? - Draco perguntou sobre a música.

– Ah, sim – isso está abrindo caminho para todos os tipos de libertinagem. -
disse Granger.

Draco sorriu para ela.

Ela riu e, com as bochechas coradas, desviou o olhar.

Eles voltaram para o quarto de hotel. Draco disse que gostaria de ter pedido
a receita da bebida – a adição dos grãos de café foi brilhante. Granger
estava mais interessado nas partes do encantamento que eles ouviram, sua
proveniência e história, e se também poderia ser rastreado até os antigos
celtas?

No hotel, cada um tomou banho (Draco achou que ele ainda cheirava a
cachorro; Granger disse que ela ainda fedia ao perfume de Draco e era
insuportável; Draco se ofendeu e jogou um travesseiro nela).

À medida que a meia-noite se aproximava, e entre muitos bocejos de


Granger, eles vestiram suas roupas de dormir.

Draco foi para a cama.

Além disso, a propósito, havia apenas uma cama. Porque, obviamente.


Granger estava usando um negligée.

Ficaria tudo bem.

Granger estava ao pé da cama, varinha na mão. Ela parecia terrivelmente


concentrada, como se estivesse calculando uma divisão longa.

Então, Draco, sendo de primeira classe, grau A, 24 quilates, idiota nobre


que ele era, disse:

– Eu não me importo de dividir a cama.

Granger parecia em conflito.

– Não estou convencida de que isso seja sensato.

– É muito pequeno aqui para transfigurar outra.

– Eu poderia fazer funcionar.

– Prometo que não vou roubar os cobertores.

– Isso dificilmente é o que está me fazendo hesitar.

– O que está fazendo você hesitar, então?

Granger levou um momento para responder.

– A Queimada.

– Oh? De que libertinagem você tem medo?

Sua bravata sempre era uma aposta segura. Valeu a pena. Granger estreitou
os olhos para ele, então subiu na cama ao lado dele e deslizou entre os
lençóis brancos.

Draco não olhou para baixo, porque o negligée dela subiu quando ela subiu,
e era melhor não fazer isso.
Em vez disso, ele olhou para ela.

– O que? - perguntou Granger.

– É terrivelmente humanizador ver alguém em uma cama. - disse Draco,


seu queixo apoiado em sua mão. – Eu me convenci de que você era outra
coisa.

– Outra coisa?

– Uma ninfa, se você quer saber.

Granger parecia divertida.

– Oh?

– Uma vingativa. Uma que poderia transfigurar um homem errante em um


cogumelo, ou algo assim.

Granger zombou e acenou com a varinha para apagar as luzes.

– Eu posso almejar coisas maiores e melhores do que transformar homens


travessos, agora.

– Oh?

– Mm. Eu sei exatamente onde está o caldeirão de Cerridwen.

– Perigosa.

– Sim. Da mesma forma com você e a Chama Violeta.

– Você me diz quando estiver pronta para o próximo roubo.

– Talvez, quando tudo isso acabar, devêssemos sair à caça do Velocino.

– Estou inteiramente à sua disposição. - disse Draco.

Havia um sorriso na voz de Granger no escuro.


– Brilhante.

O silêncio caiu.

Draco era um bom menino, mesmo quando não era um cachorro. Ele ficou
bem do seu lado da cama. Ele não permitiu que sua mente nem suas mãos
se desviassem para o calor suave perto dele. Ele se comportou como o
monge perfeito que era, deitado imóvel e olhando para o teto sem pensar
em Granger.

──── ◉ ────

Tinha sido um longo dia e a excitação e o álcool deram lugar ao cansaço.


Eles dormiram uma ou duas horas, apenas para acordar com o som das
persianas abrindo e fechando. Um vento frio brincava na janela.

Um farfalhar ao lado de Draco disse a ele que Granger também estava


acordada. Ela sentou-se e virou-se para a janela, meio adormecida, com os
olhos embaçados.

O vento soprava sussurros de bruxa pelas ruas de paralelepípedos. O céu


noturno estava pesado com a pressão das nuvens. O mar além da aldeia
espumava, formando ondas altas que pairavam no ar por segundos
silenciosos em uma multidão de coisas brancas e sobrenaturais.

Era noite de Samhain. Os mortos despertaram. As almas vagavam.


Presságios brilharam.

O véu entre os mundos tornou-se fino. Os limites tornaram-se porosos.


Limiares desapareceram.

Coisas poderiam abranger lacunas. Coisas poderiam estar no meio.

Granger ficou de lado e olhou para Draco. Uma das alças de sua camisola
havia caído durante o sono. Ele estendeu a mão com um único dedo e
puxou-a de volta.

Ele deixou a ponta do dedo se arrastar em um longo toque.


Os olhos dela estavam claros. Podiam culpar a Queimada o quanto
quisessem, mas ambos estavam perfeitamente sóbrios.

A mão delicada dela foi até o rosto dele e colocou uma mecha de seu cabelo
de volta no lugar.

Era noite de Samhain. O véu entre os mundos tornou-se fino. Esta noite, as
terríveis incompatibilidades importavam menos. As polaridades violentas se
suavizaram. Os universos poderiam colidir e passar um pelo outro, as
estrelas de um demorando-se amorosamente na luz do outro.

Talvez houvesse um lugar para eles se encontrarem no meio-termo.

Ele pegou a mão dela antes que ela pudesse afastá-la. Ela o observou,
curiosa, imaginando. Ele pressionou um beijo nos nós dos dedos, depois na
palma da mão aberta, depois na parte interna do antebraço, onde uma
profanação foi cravada.

Através da pele fina ali, ele sentiu o batimento cardíaco dela, muito lento,
ainda, para que seu toque ecoasse no anel, mas o suficiente para que seus
lábios sentissem. Ele beijou coisas mudas em sua cicatriz – remorsos,
mágoas, confissões.

Os olhos dela estavam escuros e suaves. Os dedos dela encontraram a carne


áspera que delineava os restos de sua Marca. Ela empurrou sua bochecha
contra a marca com os olhos fechados. O coração dele estava cheio. Ele
sentiu a respiração dela contra a marca, então a pressão de lábios quentes.

Ela se aproximou, ou ele se aproximou, ele não sabia. Tudo o que sabia era
que a boca dela agora estava ali, a centímetros da dele. Havia a atração,
havia o desejo de cair. Ele se apoiou em um cotovelo e ergueu o queixo dela
para ele.

Ficaram ali naquele lugar de equilíbrio, entre o conhecido e o desconhecido,


entre o nunca e o ainda não.

Agora, o ar ficou rarefeito. Agora, a única respiração que valia a pena


respirar era a do outro.
Ele roçou seus lábios contra os dela. Ele teria deixado parar ali, se fosse
esse o desejo dela.

Então ela pressionou seu próprio beijo na boca dele. Eles se encontraram
novamente, juntos, desta vez, e suas respirações ficaram mais rápidas. A
mão dela deslizou até a nuca dele. Ele a puxou para ele, fisicamente, para
fechar o meio-termo.

Eles não falaram. Falar tornaria isso real e isso não era real.

Era noite de Samhain. Eles eram almas errantes entre muitas almas errantes,
buscando consolo ou um momento de bem-aventurança.

O calor da perna dela foi lançado sobre o quadril dele. A mão dele acariciou
a pele da coxa dela, incapaz de distinguir a seda da pele sob a palma da mão
da seda do negligée nos seus nós dos dedos. Ela era toda suavidade, toda
entregue. Sua mão agarrou a bunda que o havia insultado muitas vezes. Ele
cavou dedos possessivos nela.

Devagar, naquele meio-termo, devagar, naquela noite misteriosa, eles


pressionaram seu desejo nos lábios do outro.

Coisas que haviam queimado lentamente ganharam vida. Eles amontoaram


beijos sobre beijos, quentes, de boca aberta, línguas e dentes se tocando. Ele
a puxou para cima dele – sonho há muito sonhado. Ela beijou o caminho do
pescoço dele para baixo. Ele deixou o mundo completamente, então, numa
doce euforia. Quando ele voltou, seu pijama estava sendo desabotoado em
uma sequência hábil, da gola para baixo, para baixo, para baixo.

Draco sentiu o roçar da mão dela contra sua ereção, mas ele não queria isso
ainda – ele queria ela. Ele a puxou de volta para ele e afrouxou as alças nos
ombros dela. O negligée caiu sobre os quadris dela em uma poça de seda.

Ele adorou. Ele beijou a parte suave inferior de um seio, depois o outro,
então molhou os mamilos com a língua e o calor de sua boca. À medida que
ele avançava, e a respiração dela tornava-se mais rápida, ele sentiu uma
umidade correspondente onde ela se sentava contra seu estômago, e outra,
onde seu pênis se esticava em seu pijama.
Os dedos de Draco estavam sob a camisola agora. Ele puxou a calcinha
dela. Seguiu-se o negligée – e lá estava ela, a ninfa, nua e em cima dele, e
ele não precisava de mais nada além disso, exceto vê-la terminar em cima
dele.

Ele apoiou a cabeça com um travesseiro contra a parede e a aproximou de


seu rosto com as mãos insistentes contra a bunda dela. Ela subiu para frente,
uma mão contra a parede e a outra no ombro dele, e se pressionou, linda,
molhada e macia, contra a boca dele. O cheiro dela teria sido suficiente para
ele terminar em três golpes, se ele quisesse. Ele a provou, deslizou um dedo
dentro dela, sentiu-a apertar. Um segundo dedo juntou-se ao primeiro. Eles
caíram em um ritmo dele mamando e beijando e ela balançando os quadris
contra os dedos e a língua, uma mão pressionada contra a parede, a outra no
cabelo dele.

A respiração dela veio pesada – e então, ela também veio, com um gemido
ofegante e um longo estremecimento que apertou os nós dos dedos de
Draco.

O anel em sua mão ganhou vida, ecoando o tom de seu pulso acelerado.

Ela se endireitou, uma das mãos contra a parede, a outra apertando o ombro
dele, por um momento trêmulo, antes de cair em cima dele para recuperar o
fôlego. Ele deslizou a mão para dentro do pijama e se acariciou enquanto
ela se deitava sobre ele, seus dedos molhados e pegajosos e cheirando a ela.
Seus olhos estavam cheios de felicidade e escuros.

Ela puxou o pijama dele. Ele os chutou. Ela colocou um joelho em cada
lado de seus quadris. Quando ele se empurrou para cima e para dentro dela,
ela empurrou sua boca contra a dele. Ele deslizou para dentro dela até a
metade. O calor e o aperto queriam desfazê-lo. Ele tremeu - contenção,
desejo.

Ela abriu mais os joelhos. Ele assistiu a união deles, o jeito que ele a abriu,
o jeito que ela movia nele para cima e para baixo sem pressa, o jeito que ela
o deixava brilhando.
Mais uma vez eles encontraram um ritmo, um vaivém repleto de beijos
molhados e respirações ofegantes. Acima dele, a visão deslumbrante dela
arqueando para cima, seus seios, seus lábios entreabertos. Cada balanço de
seus quadris o levava para mais perto, e mais perto, e mais perto, até que ele
estava no limite, ofegante.

Ela veio, apertando-se ao redor dele, e ele veio e se esvaziou nela em jorros
espasmódicos, suas mãos agarrando as coxas dela.

Ele cambaleou para algum meio-termo por um longo momento, depois,


nem aqui nem ali, um lugar de prazer e tremores secundários e pulsações
unidas correndo através de anéis.

Ela se deitou ao lado dele, a cabeça apoiada em seu ombro. Dali, ele podia
observar a subida e descida de seus seios e o caminho até o estômago que
ele desejava seguir com a boca.

Nada daquilo tinha acontecido e não era real.

Uma mão sonolenta acariciou os cabelos dele. Ele correu os dedos ao longo
do quadril dela.

Eles caíram em um leve cochilo.

Draco acordou duro novamente, talvez uma hora depois, e a cutucou, e a


achou receptiva, e abriu caminho por aquele caminho entre os seios dela
com a boca.

Era noite de Samhain. Os mortos estavam vivos e os vivos iam, repetidas


vezes, para suas pequenas mortes.
31. Ala (J)Anus (T)hickey

A aurora levantou-se cinza na manhã seguinte. A chuva batia na janela.

Naquele silêncio úmido, Draco "Anulação" Malfoy e Hermione "Sem


Capacidade para Complicações" Granger olharam para o teto e refletiram
sobre o que haviam feito.

Era difícil negar o que havia acontecido, visto que cada um tinha os fluidos
corporais do outro em vários estágios de evaporação.

A conversa de travesseiro foi breve e direta. O que aconteceu na Espanha


ficaria na Espanha. Eles eram profissionais. Eram profissionais que
respeitavam o profissionalismo um do outro e jamais agiriam de outra
forma que não fosse profissionalmente com o profissional designado. Eles
repetiram a palavra até a saciedade semântica, ficaram confusos e voltaram
para casa.

O banco de punheta de Draco se beneficiou de algumas novas adições,


então nem tudo estava perdido.

Se Granger não tinha uma única célula cerebral de sobra antes, agora, com a
aquisição da Esperança da caixa de Pandora, todo o seu ser foi consumido
por seu projeto. Nos dias que se seguiram, ela alcançou o estágio final de
fermentação do proto-Sanitatem e passou todas as horas acordadas no
laboratório, preparando-se para sintetizar seu milagre e lançar testes
clínicos.

A lua cheia de novembro aproximou-se deles. Greyback e Granger estavam


em uma corrida armamentista, agora – infecção versus cura.

Observando o trabalho febril de Granger no laboratório, Draco sabia que as


atividades ilícitas com seu Auror – incluindo uma noite na Espanha que não
havia acontecido – eram a última coisa em sua mente. À medida que a lua
cheia se aproximava, seu desejo de completar o tratamento era quase
maníaco. Seu ritmo era frenético. Ela comia apenas quando lembrada e
muitas vezes tinha que ser intimidada para ir para casa dormir.

Havia um vazio em seus olhos quando ela olhava para Draco, às vezes, mas
não era Oclusão. Sua mente estava obsessivamente, fervorosamente, em
outro lugar.

O fogo nela era uma coisa perigosa – a tornava tão brilhante, mas também
ameaçava consumi-la.

Ele sentia muito a falta dela.

Quando não estava com Granger no Salão do Rei, Draco se juntava a Potter,
Weasley e sua equipe na busca por Greyback. A perseguição de Potter era
tão louca e frenética quanto o trabalho de laboratório de Granger. Eles
seguiram todas as pistas que Draco havia arrancado de Larsen. Essas
renderam algumas capturas, mas não o maldito Greyback.

Shacklebolt recebeu um emissário do maior clã de vampiros do Reino


Unido. O sujeito cadavérico, um Sr. Dragavei, informou ao Ministro que
vários clãs foram abordados por Greyback para se juntarem à sua causa, já
que havia rumores de que o tratamento de Granger poderia eventualmente
curar o vampirismo. Dragavei estava convencido de que, em geral, os
vampiros não tinham nenhuma briga com Granger ou seu tratamento.
Aqueles estúpidos o suficiente para querer desistir das "delícias
requintadas" do vampirismo estavam livres para fazê-lo – os clãs não
estariam realizando nenhuma ação contra Granger e desejavam permanecer
bem fora do conflito. Se Shacklebolt gentilmente não enviasse Aurores atrás
deles, "Seria muito apreciado, obrigado, Ministro."

Shacklebolt contou a história com um estremecimento. Dragavei concluiu


com uma oferta de bebidas e disse a Shacklebolt que, aliás, ele cheirava
deliciosamente.

──── ◉ ────
Com novembro veio a conclusão do projeto de renovação Janus Thickey. O
St. Mungus, reforçado pelo presente de Malfoy, não estava pra brincadeira.
Eles empregaram os melhores arquitetos e engenheiros mágicos para
acelerar o processo de demolição e construção, resultando em uma
instalação totalmente renovada em três meses.

O St. Mungus organizou uma celebração para comemorar a conclusão da


nova ala. Tanto Draco quanto Granger foram, é claro, convidados de honra.
Granger concordou em sair de seu laboratório por uma (1) hora, para
participar. Draco deu a Smethwyck uma lista de medidas de segurança
rigorosas que deveriam ser seguidas, se ele quisesse a Curandeira Granger
ali em pessoa.

A comemoração aconteceu na própria ala. Os pacientes que não quiseram


participar retiraram-se para suas suítes particulares – porque, sim, agora
eles tinham suítes particulares.

Ao chegar na ala Draco assegurou-se de que os Aurores e agentes do


DMLE de plantão estivessem em seus postos e fez uma avaliação de
Legilimência com os participantes.

Granger chegou logo após ter recebido sua mensagem de que tudo estava
limpo. Draco foi capaz de verificar que ela estava linda em um conjunto de
vestes rosa suave quando ela foi cercada por uma multidão e desapareceu
de vista.

– Senhor. Malfoy, seja bem-vindo. - disse Smethwyck, aparecendo ao lado


de Draco com uma G&T para ele. – Posso oferecer-lhe um tour?
Comecemos pelas instalações médicas. Aqui no andar principal: um
consultório, três salas de tratamento e – a minha preferida – uma sala de
cirurgia...

Draco ficou satisfeito com o que via enquanto eles andavam. A nova
instalação era impressionante, mas, mais importante, ele tinha certeza de
que Granger ficaria muito feliz.

A ala foi magicamente expandida e dividida em dois andares. Um grande


salão de entrada se abria acima em um teto encantado à la Hogwarts,
refletindo o clima do dia (hoje, um céu cinza de novembro). No andar
superior ficavam trinta suítes e um lounge. O nível inferior agora contava
com um estúdio de ginástica, uma pequena biblioteca e uma cafeteria,
servindo atualmente bebidas e petiscos aos convidados.

No outro extremo da ala, onde algumas plantas raquíticas outrora lutavam


para sobreviver, havia uma vasta parede envidraçada que dava para
Londres. Um jardim interno foi construído lá. Um pequeno grupo estava
passando por ele com sons de alegria – Longbottom e seus pais. Pansy
vinha na retaguarda, uma mão firme nas costas de Frank Longbottom.

Um corredor levava a uma piscina de hidroterapia, projetando-se do prédio


principal em uma façanha de arquitetura mágica. Era cercada por janelas
por todos os lados e cercada por plantas tropicais. Um homem andava em
um maiô perturbadoramente pequeno com uma enfermeira sofredora em
seus calcanhares. Draco reconheceu o cabelo exuberante, embora grisalho:
Lockhart.

Perto do jardim havia um piano. Uma das pacientes estava tocando algo
suave nele. Sua família se aglomerava ao seu redor com sorrisos em seus
rostos. Era Lila Brown.

Isso abalou Draco, vê-la. Isso o lembrou de que Greyback vinha vitimando
inocentes há anos e ainda estava fazendo isso. Ele se perguntou se o
tratamento de Granger poderia fazer alguma coisa sobre as cicatrizes dela.

Ele se virou para se encontrar olhando para outra vítima de Greyback –


Remus Lupin.

Lupin, parecendo frágil, estava apoiado no braço de Tonks, uma bengala na


mão. Tonks usava um terno masculino sob medida para a celebração e,
francamente, sustentava melhor do que a maioria dos homens.

Tonks era ferozmente protetora de sua vida privada. Ela nunca mencionou
que Lupin havia se tornado um paciente aqui. Era dele a voz suave que
Draco ouvira em sua primeira visita à ala.
Eles estavam falando com Granger. Todos os três estavam apontando para o
teto encantado e sorrindo.

Lupin avistou Draco e acenou para ele.

Draco tinha falado com Lupin algumas vezes ao longo dos anos – na
ocasional festa de Natal dos Aurores e outros eventos aqui e ali. Ele não
gostava de falar com Lupin. Lupin sempre olhava para ele com uma espécie
de bondade triste - a bondade de um professor que viu você fazer escolhas
erradas e quase destruir sua vida, mas ainda se lembra da criança que você
era. Isso fazia Draco se sentir enjoado, aquele carinho imerecido e não dito.

Hoje, porém, havia uma franca alegria no sorriso que dividia o rosto
macilento de Lupin.

– O homem do momento.

– Não o bajule demais. - torceu o nariz Tonks. – Ele já está incontrolável.

– Incontrolável? Draco? Eu não acredito. - disse Lupin, apertando a mão de


Draco.

Granger estava segurando um sorriso. Draco tinha certeza de que ela tinha
algumas opiniões próprias sobre a capacidade de controle dele.

As exclamações se seguiram sobre a piscina, o piano, as suítes, o jardim.


Granger estava encantada com tudo e parecia que queria agarrar Draco. Ele
se posicionou dentro de um raio apropriado, mas ela não prosseguiu.

Tonks e Lupin foram atraídos por seus filhos, que queriam tocar piano.

– Isso terminou lindamente. - disse Granger, vibrando positivamente. – Eu


espremeria você até a morte, mas - muitas testemunhas.

– Pena. Seria uma boa forma de morrer.

– Eles finalmente consertaram aquela maldita placa.


– Eles consertaram? - Draco observou o novo sinal. – Vou sentir falta da
Ala Chupão no Ânus.

– Tinha um certo prestígio.

– O que é isso sobre chupões no ânus? - veio uma voz.

Era Theo.

– Achamos que você se parece com um. - disse Draco.

Granger riu. Era bom de ver - ela ainda estava lá, em algum lugar, sob a
febre do trabalho.

– Vá se foder, Draco. Hermione, olá - você está encantadora. Theo se


curvou sobre a mão de Granger e deu um beijo nela.

O que era verdade, ela estava, mas não cabia a Theo dizer isso. Draco, de
mandíbula tensa, transmitiu isso a Theo, empalando-o com os olhos.

– Como vão os sonetos, Draco? - perguntou Theo.

Draco o encarou.

– Devo recitar um para você?

– Não.

– Covarde.

Granger parecia educadamente confusa.

– O que você está fazendo aqui, afinal? - perguntou Draco.

– Tia Maud. - Theo fez um gesto por cima do ombro, onde uma paciente em
um longo vestido estava olhando sedutoramente para um dos garçons.

– Você é parente de Maud? - perguntou Granger. – Isso explica tanta coisa.


– É mesmo?

– Ela é uma paqueradora insaciável.

– É de família. Eu queria dizer parabéns, vocês dois - este lugar está


brilhante. Você viu a piscina? Estou meio decidido a mandar fazer a mesma
coisa na Casa Nott.

Theo se serviu de um rolinho primavera do prato de Draco. Então ele


roubou um cogumelo recheado. Então ele arrancou o guardanapo de Draco
de sua mão, usou-o e o devolveu.

– Cai fora, sua maldita gaivota. - disse Draco, acenando com a mão para
ele. – Vá ver sua tia.

Theo se virou.

– Oh não - o que ela está fazendo?

Tia Maud estava comendo uma salsicha de coquetel, mas indecentemente.

– Preciso ir. - disse Theo. – Parabéns, de novo. Que bom ver você fazendo
algo de bom no mundo, Draco. Eu sempre soube que você tinha isso em
você. - Ele se virou para Granger e pressionou suas mãos nas dela. – Ele é
um bom homem, você sabe, sob toda a idiotice.

Theo saiu e fingiu não ouvir Draco informá-lo de que ele era uma glande.

Agora que estavam sozinhos de novo, Draco estava formulando um elogio


para Granger, porque ele se recusava a ser superado por Theo. No entanto,
algo puxou a perna de sua calça e interrompeu.

Uma criança estava segurando uma salsicha úmida de coquetel, de


procedência duvidosa, ao estilo Maud, para ele inspecionar.

– Olá? - chamou Draco para a sala em geral. – Há um feto não


supervisionado aqui?
– Esse é o neto do Sr. Belford. - disse Granger, olhando em volta. – Oh, a
família está no jardim.

Granger colocou as mãos nos joelhos e elogiou a salsicha. (A propósito, ela


não havia elogiado a salsicha de Draco – apenas uma nota sobre a injustiça.
Talvez ele também devesse exibi-la, levemente úmida.)

Granger pegou a criança para devolvê-la aos pais, deixando Draco com um
prato vazio, um guardanapo sujo e um elogio não dito.

Seu humor não melhorou com o próximo visitante – o absoluto pulsante


que era McLaggen.

Havia muitas salsichas malformadas nesta festa.

McLaggen estava muito bonito de terno e gravata. Draco notou que ele
havia escolhido um terno trouxa. Isso o irritou.

– Muito bem, mate. - disse McLaggen, apertando a mão de Draco. –


Doação incrível.

Draco estava em uma base de 'mate' com muito poucas pessoas e


McLaggen não era uma delas. Ele deu ao homem um sorriso que
dificilmente merecia o nome. Foi uma mera contração dos lábios – um sorr
na melhor das hipóteses.

McLaggen tagarelou um pouco sobre a ala, antes de chegar ao verdadeiro


motivo de sua visita.

– Posso te perguntar uma coisa um tanto – er – pessoal? - ele perguntou.

– O que?

– Você e Hermione estão...?

– Estamos o quê?

– Vendo um ao outro? Juntos?


Vendo um ao outro? Diariamente. Juntos? O tempo todo. Juntos juntos?
Absurdo. Eles apenas mantinham um complicado Equilíbrio por paranoia
mútua e Razões, e transavam durante feriados pagãos, e fingiam que isso
não tinha acontecido, e ele não disse nada porque ele não era de
sentimentos, mas sofria de angústia porque os tinha de qualquer maneira, e
quanto mais ele tentava anulá-la de seu coração, mais ela vivia ali, uma
coisa brilhante em lugares escuros, mas estava tudo bem e tudo sob
controle.

– Não. - disse Draco, para resumir sucintamente.

– Ah. Ela está saindo com alguém? Você sabe?

– Eu não sei e, francamente, não me importo. - disse Draco, enquanto se


importava profundamente.

– Certo. Só pensei em perguntar porque vocês dois parecem... amigáveis.

– Amigáveis.

McLaggen gesticulou para a enfermaria ao redor deles.

– Você acabou de fazer tudo isso e disse que era para ela, mate.

– E era. Ela salvou minha vida.

– Certo.

Eles tomaram um gole de suas respectivas bebidas, olhando um para o outro


com antipatia velada.

– Posso agora perguntar algo pessoal? - perguntou Draco.

– Tudo bem.

– O que faz você pensar que é bom o suficiente para ela?

McLaggen o encarou. A ofensa veio sobre ele lentamente. Ele se levantou


para encarar Draco, ombros retos, rosto ficando vermelho.
– O que você quer dizer com isso, exatamente?

– Qual palavra você não entendeu? Não importa - deixe-me reformular.


Você não é bom o suficiente para ela.

McLaggen terminou de processar o insulto e, como não tinha cérebro para


uma resolução verbal, parecia estar passando para o próximo estágio - eles
estavam prestes a trocar feitiços ou socos.

– Você não precisa ficar tão ofendido. - disse Draco com um encolher de
ombros descuidado. – Não tenho certeza se alguém é bom o suficiente para
ela.

Isso deu uma pausa a McLaggen. Seu punho, que estava fechado ao lado do
corpo, relaxou.

– Ela pode decidir quem é bom o suficiente para ela.

– Concordo.

– Mas ela gosta de se fazer de difícil. Tem se feito desde Hogwarts. Ela só
precisa de um empurrãozinho.

– Um empurrãozinho?

– Eu tenho... uma vantagem.

– Tem? - perguntou Draco. – Que tipo de vantagem?

– Assentos estratégicos em conselhos estratégicos.

– Um verdadeiro golpe de tirar calcinhas, esse.

McLaggen deu de ombros.

– As tentações usuais não funcionam com ela – dinheiro, aparência. Como


você deve ter descoberto.

– Eu não.
– Hum.

A próxima pergunta de Draco foi eminentemente casual.

– Você falou com Smethwyck hoje?

– Hipócrates? Não por que?

– Acho que ele tem uma novidade para você.

– Que novidade?

– Acho que não há mal nenhum em contar a você agora. - refletiu Draco. –
Você não é mais membro da diretoria do St. Mungus.

– O que?

Draco parecia apologético.

– Eu mandei remover você. Desculpe, mate.

McLaggen estalou.

– Você o que? Quem diabos você pensa que é? Você não decide se ou não
eu...

– Eu decido. Foi uma das minhas estipulações. Para uma doação dessa
magnitude, eles ficaram felizes em obedecer. Você aparentemente vem
sendo considerado um risco à reputação por alguns anos - algo a ver com
seu comportamento em relação às mulheres, principalmente Granger. Eles
também levaram essa preocupação para o MNHS. Eu acredito que você é
um dos diretores lá. Também não tenho certeza de quanto tempo você
manterá esse assento. Considere isso um alerta amigável - talvez você possa
renunciar e evitar ficar de cara.

No centro do salão, Smethwyck batia em um copo e chamava a atenção de


todos.
– Esse é para mim. - disse Draco. Ele colocou o prato e o guardanapo sujo
nas mãos de McLaggen. – Segure isso – aí está um bom rapaz. Eu tenho
que ir.

Smethwyck, representantes do MNHS, e Curandeira Crutchley, todos


fizeram discursos. O de Crutchley foi de longe o mais comovente; ela tinha
visto décadas de negligência revertidas em questão de meses e parecia meio
convencida de que tudo isso era um sonho. Draco e Granger foram várias
vezes puxados para a frente da multidão, obrigados a dizer algumas
palavras, puxados de volta para a multidão, empurrados para a frente
novamente, brindados, fotografados e brindados novamente.

Na confusão que se seguiu, Draco viu Granger sendo abordada por


membros do Conselho. A maioria a tratava com um respeito cauteloso.
Alguns se aproximaram apreensivos, como se ela pudesse ficar furiosa e se
lançar sobre eles com um bisturi. (Eles não precisavam ter se preocupado
com isso; ela só fez isso quando o cérebro de seu auror estava prestes a ser
espalhado no chão por um viking.)

Narcisa tinha indicado a Draco que ela iria aguentar a umidade inglesa por
algumas horas e ver a celebração. Ela chegou a tempo para os discursos,
bronzeada e ainda cheirando a qualquer terraço em Sevilha em que estava
se demorando.

Quando ela avistou Granger, Narcissa a cumprimentou com muito mais


calor do que Draco esperava – talvez o calor de Sevilha permanecesse nela
também.

Draco estava nas garras da família Belford, que se reuniu ao seu redor para
agradecê-lo e explicar as hemorróidas Bubotuber de longa data do Sr.
Belford, que haviam sido curadas, e fazer com que seu filho segurasse a
salsicha do coquetel em seu rosto.

Draco os atraiu até Granger para ouvir o que estava sendo dito entre ela e
sua mãe.

Granger estava gesticulando para a ala como um todo e expressando


gratidão daquele jeito apaixonado dela.
Narcissa parecia bastante atraída por Granger. Ela pressionou as mãos de
Granger nas dela.

– Por favor, não me fale de gratidão. Você devolveu meu filho ao mundo
dos vivos. Isso é apenas um gesto. Você deve me dizer se houver mais
alguma coisa que minha família possa fazer por você. Como estão suas
despensas?

– Erm - eles estão bem - e você fez mais do que o suficiente, realmente foi
além-

– É só dinheiro. - disse Narcissa, com um aceno de mão e despreocupação


que só os verdadeiramente ricos podem ter. Ela olhou para o teto encantado.
– Draco normalmente tem pouco tempo ou paciência para trabalhos de
caridade – sua mente está voltada para o lado dos investimentos, você sabe,
e eu gerencio as atividades filantrópicas – mas, neste caso, ele se saiu muito
bem.

– Ele se saiu.

– Você conseguiu aprimorar um novo tipo de foco nele.

– Oh, sim, um foco. - Granger deu a Narcissa um de seus sorrisos rígidos.

– Ele parece feliz. Eu realmente só quero que ele seja feliz, sabe?

– É claro.

– Eu quero que ele encontre algo – alguém – para fazê-lo feliz.

Narcissa olhou significativamente para Granger. Granger, corando, encarou


seu gin fizz como se todo o seu ser estivesse preso a ele. Draco considerou
se lançar em Narcissa e derrubá-la no chão.

– Perdoe-me por meu falatório maternal. - disse Narcissa. – De qualquer


forma, ele me impressionou. Talvez ele consiga assumir o manto, afinal.
Sempre desejei que ele se preocupasse mais com essas coisas, sabe. Você
viu o pequeno jardim? Eu não teria colocado os crisântemos tão perto do
lírio, eles ficam um pouco perdidos, mas fora isso...
A criança escapou novamente e veio mostrar a Granger a salsicha do
coquetel.

– Oh! - disse Narcisa. – É um órfão?

– Er, não... ele pertence aos Belfords. - disse Granger, levantando a criança
novamente e olhando ao redor da sala. – Ele vai ser pisado.

– Tem certeza? Ele parece um órfão. Ele está tão sujo. Talvez ele seja um
menino de rua. Por que ele está segurando uma salsicha? Ele a roubou?
Onde estão as babás?

O bando de Belfords apareceu para pegar seu filho errante. Granger foi
esbofeteada entre os membros da família em um turbilhão de
agradecimentos e parabéns e atualizações sobre hemorróidas, até que a mão
magra de Narcissa a agarrou pelo cotovelo e a tirou do vórtice para retomar
a conversa.

Draco se juntou a elas.

– Ah, Draco, aí está você. Eu estava dizendo a Curandeira Granger que


você me impressionou com sua gestão de um exercício filantrópico nesta
escala.

– Tudo o que fiz foi assinar a transferência dos fundos. O planejamento era
todo – tudo de outra pessoa no hospital.

– Oh? Bem. Alguém bastante brilhante, imagino. - disse Narcissa. – Está


muito bem pensado. Só os crisântemos.

Draco olhou para Granger. Ela balançou a cabeça o mais minuciosamente


possível. Muito bem. Ele não iria apontar que o brilhante Alguém estava
bem ali.

– Você se saiu bem em seus discursos, Draco. - continuou Narcissa. – Não


muito prolixo. Tente sorrir um pouco, da próxima vez. Não queremos
parecer arrogantes. Somos homens do povo, etc.

– É claro.
Narcissa estremeceu um pouco e puxou o xale mais para perto dos ombros
magros.

– Isso é uma corrente de ar? Eu acredito que há uma corrente de ar. Alguém
abriu uma janela? Suponho que seja só eu – estive em Sevilha, Curandeira
Granger, e voltarei para lá imediatamente. Não suporto mais a umidade
inglesa. Acho que é a idade...

Granger foi chamada para falar com os repórteres do Profeta.

Narcissa chamou Draco para mais perto com um estalo do dedo.

– Draco. - ela disse em um sussurro conspiratório.

Havia Rebujito em seu hálito – xerez e limão. Não era o calor de Sevilha
que persistia nela – a mãe dele estava bem bêbada e se divertindo muito.
Isso explicava a volubilidade.

– O que?

– Eu estive pensando. - disse Narcissa.

– Oh não.

– Sim. Sabemos se a Curandeira Granger está solteira?

– Mãe.

– Estou apenas curiosa. Eu tenho pensado - possibilidades. Não seja tão


defensivo. Você parece ter acabado de lamber uma urtiga. Você gosta dela?
Acho que você deveria gostar dela. Ela não é dócil. Você ainda não me
disse em qual função vocês estão trabalhando juntos.

– Eu literalmente não posso te dizer isso. Fiz um voto de sigilo.

– Você fez? Hum. Deve ser importante, então. Descubra se ela está solteira.
Seja proativo, Draco.

– Mãe.
– Estou apenas fazendo uma sugestão. A passividade só gera dor, querido.
Aprendi isso ao longo de uma longa vida. Não seja como eu. Oh – cuidado
atrás de você – aquele órfão está de volta – cuidado com seus bolsos – não,
criança, eu não quero a salsicha...

Narcissa saiu para continuar sua ronda e vagamente prometeu enviar a


Draco um Bloco quando ela estivesse de volta em Sevilha.

Foi a vez de Draco ser entrevistado pelo Profeta. Ele disse várias coisas
boas sobre a importância do cuidado de longo prazo e da doação, enquanto
se recuperava da nova paixão de sua mãe por Granger.

A criança desbandada continuou sua fúria. Ela puxou as calças de


Longbottom com vigor. Draco olhou precisamente no momento errado. As
calças deslizaram para baixo e abriram diante dele um magnífico panorama
do longo bumbum de Longbottom.

A curandeira Crutchley deu abraços enormes em Draco e Granger,


sufocando cada um deles em seu amplo peito.

Granger voltou a respirar parecendo levemente perturbada. Draco, mais


acostumado com peitos na cara, apenas arrumou o cabelo.

Quando eles estavam livres dos seios abundantes de Crutchley, Granger


puxou Draco para o lado.

– Smethwyck acabou de me contar sobre a vaga de McLaggen no Conselho.


Isso foi obra sua? - ela perguntou.

– Minha? Não. Eu não me intrometo em assuntos de governança hospitalar.

– Eu não acredito em você.

– Você está certa em não acreditar. Smethwyck lhe disse de quem seria o
lugar vago?

– Não...?

– Meu. - disse Draco.


As sobrancelhas de Granger se ergueram.

– Parabéns. Uma nova pestilência de incompetência espera por você.

– Não. Espera por você.

– O que?

– Eu a nomeei minha delegada para o assento. Espero que esteja tudo bem.

O sorriso, deuses, o sorriso.

– Isto é... muito bem. - disse Granger.

O brilho em seus olhos, a mordida no lábio, o olhar para baixo.

– Coloque-os em forma, Granger.

– Será um prazer absoluto.

Eles bebericaram suas bebidas. Agora ela estava dando a ele um longo e
curioso olhar.

– O que? - perguntou Draco.

– Nada. Bem – alguma coisa. Eu concordo com Ernie.

– Oh?

– Eles são bons afinal, esses Malfoys.

Draco tocou seu copo no dela com seu sorriso mais malfoyano.

A comemoração chegou ao fim. Após as despedidas, Draco acompanhou


uma Granger Desilusionada ao saguão do St. Mungus, onde uma linha de
lareiras de Flu tremeluzia.

Eles acharam o lugar estranhamente lotado. Havia uma aglomeração de


pessoas circulando e sons de confusão. Pedaços de pergaminho esvoaçavam
por toda parte, presos ao teto, fixados nas janelas, voando.

Montjoy, um dos Aurores de plantão, abriu caminho até Draco e Granger.

– Tire-a daqui. - ele murmurou quando chegou perto.

– O que está acontecendo?

Montjoy usou um baixo Depulso para empurrar as pessoas para fora do


caminho enquanto Draco puxava o eu invisível de Granger em direção a
lareira.

– Centenas - milhares deles, por todo o salão. - disse Montjoy, pegando um


pedaço de pergaminho. – Humphreys acabou de me Blocar – diz que eles
estão em todo o Ministério também.

Havia uma Maldição Gemino no pergaminho - mesmo quando Montjoy o


segurava, duplicatas surgiram e se espalharam pelo chão.

Sobre o pergaminho havia uma fotografia de Granger. E abaixo dele, as


seguintes linhas, em uma caligrafia áspera e irregular:

Me entregue Granger e os ataques param.

──── ◉ ────

Eles tinham esperado uma piora de Greyback, e lá estava.

Aconteceu não na forma de outro ataque direto a ela, mas algo muito mais
insidioso. Algo que atraiu os olhos de toda a população bruxa para ela e
ofereceu um incentivo hediondo para ajudar Greyback a alcançá-la. Locais
mágicos importantes no Reino Unido receberam o mesmo tratamento que
St. Mungus.

Em colaboração com Granger, o Ministério divulgou uma declaração sobre


a natureza de sua descoberta. Com o anúncio de que uma cura para a
licantropia estava passando por testes clínicos, a covardia egoísta de
Greyback foi exposta.
Mas, à medida que a lua cheia de novembro se aproximava, também havia
sussurros. Duas luas cheias cheias de terror se passaram e outra apareceu. A
população estava no limite. Alguns já haviam perdido. Alguns tinham medo
de perder.

O estrago estava feito. Granger não podia mais sair em público. Ela estava,
para todos os efeitos, confinada à Mansão e ao laboratório.

Ela aceitou as dificuldades tão bem quanto Draco poderia esperar. Se


Greyback pretendia isolá-la, falhou. Seu Bloco zumbia sem parar com
mensagens de apoio. Sua casa estava meio enterrada em cartas. Pedidos
para participar dos ensaios clínicos inundaram sua caixa postal em
Cambridge de todo o mundo. A primeira página do Profeta estava repleta de
indignação editorial e cartas da população expressando seu desgosto pela
tentativa de coerção de Greyback.

Narcisa enviou a Draco um Bloco alarmado para se certificar de que ele


mantivesse a curandeira Granger a salvo daquele lunático; eles deveriam
oferecer a mansão a ela? Quando Draco mostrou a ela o bilhete, Granger
sorriu o primeiro sorriso que via em dias.

Durante a lua cheia de novembro, o quartel-general dos aurores


dinamarqueses enviou um destacamento de trinta de seus próprios aurores
para ajudar na próxima rodada de ataques. Entre isso e uma população que
agora estava levando a ameaça a sério, apenas oito foram infectados,
nenhum morto.

Novembro desvaneceu-se em dezembro. Houve momentos bons com os


ruins. O fogo de Granger, longe de ser extinto por Greyback, aumentou
ainda mais impressionantemente.

Num momento de triunfo no laboratório que Draco se sentiu honrado em


presenciar, ela completou a síntese do primeiro lote de doses da cura para a
licantropia. O laboratório foi abalado por gritos, pulos e aplausos, enquanto
toda a equipe de Granger se amontoava sobre ela. Então todos se sentaram
ou deitaram no chão, e alguém abriu o champanhe e eles passaram a garrafa
porque estavam exaustos demais para conjurar taças. Granger tentou fazer
um discurso, mas sua voz falhou, e ela colocou o rosto entre as mãos e foi
sacudida por soluços silenciosos. Isso iniciou uma reação em cadeia de
choro em toda a equipe, que só cessou quando mais três ou quatro garrafas
de champanhe foram consumidas.

Muitas horas depois, Draco se viu em um laboratório silencioso à meia-


noite, com todos dormindo no chão a seus pés.

Ele carregou Granger para casa pelo Flu.

Granger terminou de passar as submissões por um labirinto hediondo de


Códigos, Autoridades, Padrões e conselhos de revisão de pesquisa e ética, e
começou seus ensaios clínicos.

Lupin estava entre o primeiro grupo de pacientes a receber uma dose. Draco
escoltou uma Granger Desilusionada ao St. Mungus para administrá-lo. A
família de Lupin estava ao seu redor. Tonks segurava uma mão, seu filho
adolescente a outra. Sua filha estava de joelhos.

Granger era toda um profissionalismo gentil enquanto administrava a


infusão. Havia um sorriso no rosto magro de Lupin e esperança em seus
olhos que combinavam com a Esperança que foi empurrada em suas veias.

Draco viu Tonks chorar pela primeira vez.

──── ◉ ────

Quando Draco e Granger voltaram para a Mansão naquela tarde, Granger,


com os olhos bem brilhantes, disse que gostaria de dar um passeio, ele
gostaria de vir?

Ele iria. É claro.

Eles lançaram feitiços de aquecimento sobre si mesmos, então trituraram ao


longo de um caminho gelado cercado por samambaias de gelo e bétulas
rangentes, prata sobre branco. A respiração deles fluía atrás deles.

Por um tempo, eles não disseram nada. Granger estava pensativa enquanto
passava por poças congeladas. Draco acompanhou seus pequenos passos, às
vezes logo atrás dela, às vezes ao lado dela.

Chegaram ao fim do caminho. Dava para um lago parado como um espelho


cujas bordas brilhavam com a geada recente.

O ar tinha um cheiro frio e claro, tão puro que era estonteante respirar
fundo.

Granger parou na margem e juntou as mãos enluvadas. Draco veio para o


lado dela.

Eles ficaram em silêncio.

Ele a cutucou com o cotovelo.

Ela olhou para ele.

– Você conseguiu. - disse Draco.

Granger pressionou as luvas contra a boca, sorrindo, incrédula.

– Eu... sim. Precisamos ver como os números voltam, após as primeiras


infusões. Mas... sim.

Ela olhou para o céu atravessado pelo vento. Era um daqueles dias de
dezembro em que o firmamento é um puro brilho azul. O sopro branco de
seu suspiro foi carregado por uma rajada e desapareceu nela.

Havia uma espécie de alegria adorável e trêmula nela - a alegria exausta e


inacreditável de alguém que conseguiu algo depois de muito esforço e está
lentamente começando a se deleitar com a alegria disso.

Havia lágrimas em seus olhos.

Ela tomou uma respiração instável.

Draco deu a ela um lenço ao invés do abraço esmagador que ele queria dar
a ela.
– Gostaria de salientar que estas são lágrimas de felicidade. - disse Granger
com uma fungada.

– Obviamente.

Granger enxugou os olhos e segurou o lenço contra o peito. Ela limpou a


garganta.

– Vou escrever um artigo sobre este projeto, agora que meu trabalho é
público. Talvez até um livro. E terei uma longa lista de dedicatórias e
agradecimentos. Este tem sido o trabalho de muitas mãos e muitas mentes.
Todos no laboratório, claro, e tantos colegas cujos trabalhos incorporei, e os
pesquisadores que vieram antes de mim, e...

– E?

– Eu gostaria de adicionar você. - disse Granger.

Uma centelha inesperada de felicidade acendeu em Draco.

– Você gostaria?

– Sim.

– Eu ficaria... honrado. - disse Draco, incapaz de impedir que um sorriso


encantado aparecesse em seu rosto.

– Ainda não decidi como formular isso. Você prefere o anonimato? Eu


poderia usar algum tipo de epíteto – gostaria de agradecer ao espinho ao
meu lado?

– O Auror Incômodo? - sugeriu Draco.

– O ghoul oportunista?

– A verdadeira pestilência da incompetência?

– Crotch?
– Então você deve assinar como Hormone.

– Isso pode ser difícil de explicar ao editor.

– Você acha que 'parceiro em crimes não especificados' constituiria uma


admissão de culpa?

– Eu não sei - você é o Auror.

– Mm. Melhor não.

– Talvez eu deva simplesmente dizer, meus sinceros agradecimentos a


Draco Malfoy...

– Eu gosto disso.

– ... cujo cabelo foi sacrificado muitas vezes pela causa.

– Isso adiciona a seriedade necessária.

– Está resolvido, então. Obrigada.

– Devemos comemorar. Você quer convidar alguém para a mansão hoje à


noite? Tenho uma garrafa de Beaujeu-Saint-Vallier 1972?

– 1972?! Minha nossa, não. Guarde para uma ocasião especial.

– Você é a ocasião especial.

Granger riu, depois ficou pensativa. Por fim, ela disse:

– Francamente, esta noite, prefiro não fazer nada.

Ela olhou para o lago tranquilo. Sob o casaco, seus ombros relaxaram. Com
as primeiras infusões concluídas, uma tremenda pressão foi retirada dela.

A mania do fogo havia diminuído. Ela estava de volta em sua própria


cabeça novamente.
Draco sentiu a mudança quando seus olhos se encontraram. Agora ele não
estava sendo repelido pelo calor febril e uma mente muito sobrecarregada
para pensar em qualquer coisa que não fosse o trabalho. Agora ele estava
novamente atraído pelo calor de sempre. A atração silenciosa. A atração.

Ele estendeu o cotovelo para ela.

– Vamos fazer nada. Não acredito que alguém já tenha merecido mais isso.

Eles realmente não se tocavam desde a Espanha.

Ela olhou para ele com um sorriso rápido. Ele sentiu o aperto dela em seu
cotovelo e a pressão de dedos quentes em sua capa.

Ela estava de volta.

O coração dele voou com o vento e foi ao encontro do céu.


32. Uma Troca Pedagógica

Na Mansão, um fogo vivo os esperava no menor salão. As cortinas haviam


sido fechadas contra o céu que escurecia. Henriette dispôs um pequeno
goûter de quadrados de queijo, tapenade e pequenas quiches lorraines.

Eles se despiram de suas roupas de inverno. Draco se instalou em uma


poltrona em camisa de manga e suspensórios. Granger se jogou em um dos
sofás, cruzou as mãos sobre o peito e sorriu para o teto.

Sua euforia era contagiante. Draco também sentiu uma alegria profunda –
pelo mundo mágico em geral, mas também por ela, por ter conseguido algo
tão significativo depois de tanto esforço. Os meses foram longos, os perigos
foram muitos, as ocasiões de desistência, inumeráveis.

E ela não desistiu. Ela havia atravessado. Ela havia saído e conquistado.

Ele transbordava de admiração.

Para comunicar essa emoção poderosa, Draco jogou um cubo de queijo


sobre o rosto de Granger.

– Posso ajudar? - disse Granger para o queijo.

– Você não comeu. Henriette ficará aborrecida.

Agora ele tentava flutuar o queijo até a boca dela. Bateu em seu nariz e
queixo. Granger afastou o queijo. Draco desejou indicar que ele era melhor
em mirar em bocas com outras coisas.

Granger sentou-se e convocou alguns biscoitos para si mesma. Era a


primeira vez que eles comiam juntos em muito tempo. Draco observou-a
comer uma das quiches lorraines em pequenas mordidas.
– O que? - perguntou Granger.

– Você come como um puff pigmeu.

Granger parecia provocada. Então ela fungou.

– Gostaria de compará-lo a uma ou outra criatura – mas devo ser justa. Más
maneiras à mesa não contam entre seus muitos defeitos.

Draco ficou simultaneamente lisonjeado e ofendido.

– Meus muitos defeitos?

Agora Granger parecia afetada.

– O que eu fiz? - perguntou Draco. – O que eu não fiz?

– Apenas outra promessa quebrada. - disse Granger, levemente, como


alguém faria, se a confiança nos homens tivesse sido obliterada, mais uma
vez, por Draco Malfoy.

– Oh, estamos fazendo isso de novo, estamos?

– Sim.

– Que promessa?

– Você nunca me ensinou Caeli Praesidium.

Draco estava atiçado.

– Você nunca me ensinou as coisas que deveria, também.

Granger estava segurando um sorriso.

– Suponho que ambos estivemos um pouco ocupados.

– Um pouco.
– Você estará ocupado hoje à noite? - perguntou Granger.

– Você deveria estar fazendo nada.

– Eu sei.

– Aprender minha proteção mais complexa não é nada.

– Permita-me esta extravagância.

– Feito. Mas você vai me ensinar o comando rúnico.

Granger ficou de pé e parecia ansiosa.

– Tudo bem.

Ela conseguiu fazer nada por dez minutos.

– Vamos para o meu escritório. - disse Draco. – Vou ter que desenhar
algumas coisas. Fica um pouco... teórico.

– Ooh. - disse Granger, seguindo-o para fora do salão. – Eu gosto de teoria.

Draco abriu a porta de seu escritório e deu um passo para o lado para deixá-
la entrar. Ela olhou em volta, observando os móveis, as pesadas cortinas, as
velas flutuando em aglomerados brilhantes. O fogo crepitava e ronronava.

Uma parede era dominada por uma pintura de alguns dos Abraxans
premiados de seu avô. As orelhas dos cavalos alados se eriçaram ao ver
Granger. Um deu a ela um pequeno relincho curioso.

Draco sentou-se atrás de sua mesa. Ele esperava que Granger ocupasse um
dos dois assentos para convidados em frente a ele. No entanto, quando ela o
viu puxando um pergaminho e um tinteiro em sua direção, ela se juntou a
ele em seu lado da mesa e se empoleirou em um dos braços largos de sua
cadeira.

Draco não se importou nem um pouco com essa invasão de espaço pessoal.
Era maravilhoso tê-la de volta.

– Então. Caeli Praesidium. Draco abasteceu sua pena e desenhou algumas


linhas. – Suponho que você saiba o que é um poliedro geodésico?

– Eu sei. Alguns vírus têm capsídeos em forma de poliedros geodésicos, na


verdade.

– Capsídeos?

– Uma espécie de casca, feita de proteína. - Granger acenou com a mão


para ele. – Continue.

– Certo. Minha intenção com esta proteção era distribuir quaisquer forças
mágicas recebidas por toda a estrutura. A maioria das proteções tradicionais
tem um ponto fraco que pode ser brutalmente forçado por meio de magias
concussivas ou compressivas – especialmente as proteções parabólicas que
normalmente vemos usadas em habitações. Nenhuma proteção é
inquebrável, é claro, mas Caeli Praesidium requer muito mais pressão
mágica por um período mais longo para quebrar.

Draco desenhou mais alguns poliedros.

– Em essência, quanto mais vértices cruzam a esfera - assim - mais forte ela
é. Depois de estabelecer a escala e a força desejadas da proteção, você
precisa de um pouco de aritmância para dividir sua face e calcular sua
potência. Então, neste dodecaedro, por exemplo - ele esboçou - eu poderia
dividir esses pentágonos em triângulos e, a partir daí, em triângulos ainda
menores. Isso nos dá muito mais vértices. Isso se chama aumento.

Ele olhou para cima para ver se já havia perdido sua audiência, mas não;
Granger, com as mãos cruzadas sobre o colo, era a própria imagem da
atenção extasiada.

Ele ainda podia sentir o cheiro do inverno em suas próprias roupas, mas ela
cheirava ao fogo do salão.
– Agora, para a aritmância. Esta fórmula - ele a escreveu - nos dá o número
de vértices que o poliedro terá e sua força mágica potencial. Claro, quanto
mais complexo for, mais exaustivo será para lançar – mas durará mais.

– Ooh. - disse Granger, olhando para a fórmula. – Isso é aritmância


multiplex. Eu não faço isso desde a universidade. Posso tentar?

Draco rabiscou um exemplo para ela trabalhar e passou a pena para ela. Ela
se apoiou em um cotovelo. Havia um deleite silencioso nela enquanto
trabalhava – na pressão da pena no pergaminho, no pensamento.

Ela resolveu em meio minuto, o que foi, francamente, fodidamente sexy.


Um pequeno arrepio de prazer percorreu Draco.

Ele produziu um exemplo mais desafiador e deu a ela a pena novamente.


Ele recostou-se para observá-la.

Ela roçou a ponta da pena contra o lábio enquanto ponderava sobre o novo
problema.

Ao longo de seus muitos anos como solteiro e libertino em geral, Draco


tinha recebido muitas táticas de sedução. O roçar desatento nos lábios de
Granger estava entre as mais tentadoras.

Depois de um pouco mais de trabalho, ela resolveu o segundo exemplo


também.

Draco estava – excitado.

Ele desejou que ela escorregasse do descanso de braço e caísse em seu colo.
Esse seria o auge do que quer que isso fosse - o sonho molhado desse
sapiófilo. Granger em seu colo, resolvendo pedaços obscuros de
exponenciação aritmântica.

Seu próximo desafio foi injusto. Granger tentou, parou confusa, então deu a
ele um olhar acusatório, antes de quebrar a aritmância ao contrário.

– Tss. Seu ponto de partida foram os pentágonos. Este tem facetas


quadradas.
– Bem observado. - Draco estendeu a mão para ela devolver a pena.

– O que acontece se o aumentarmos? - perguntou Granger, segurando a


pena.

– Nós rasgaríamos o tecido do universo, imagino.

– Vamos ver.

Ela trabalhou no cálculo.

– Oh. Uma subdivisão geodésica resultando em triângulos de ângulo reto,


não equiláteros. Não tão poderoso, suponho.

Draco olhou para a interessante criação de Granger.

– Essa seria a minha suposição também.

– Existe uma beleza nisso, não é?

– Existe. - disse Draco, não falando sobre geometria, obviamente. – Você


está dentro para mais um?

Granger parecia suspeita.

– Tudo bem.

– Sem truques, desta vez, eu prometo – apenas complexidades.

Ele apresentou um exemplo final, bastante desagradável, para garantir que


ela ficaria ocupada por mais de um momento, para que ele pudesse se
entregar a essa experiência, no empurrão do quadril dela contra o braço
dele, no roçar do calcanhar dela contra a canela dele.

– Hm. - disse Granger. – Preciso usar a lei de Köhler.

– Você conhece Köhler?

– Eu conheço.
– Minha nossa. Isso se tornou estimulante.

Granger apertou os lábios.

– Se eu posso me lembrar de tudo, no entanto ...

Ela apoiou os dois cotovelos na mesa e murmurou lembranças vagas de


Köhler.

Sim. Estimulante. Seu pênis se contraiu contra a parte interna de sua coxa.

Granger tinha tirado seu volumoso suéter e estava usando um top trouxa
fino. Draco olhou para a largura de seus quadris - muito seguráveis, sabe,
muito bem moldados para as mãos de um homem, se um homem estivesse
tendo pensamentos sujos enquanto uma mulher calculava vértices
primários.

Ele decidiu desviar os olhos antes de desenvolver uma ereção total. A janela
em frente a sua mesa fornecia uma distração inútil. Estava escuro lá fora e
tudo o que ele podia ver era um reflexo do escritório iluminado por velas.
Granger estava inclinada, proporcionando uma visão adorável do decote e
da borda superior do sutiã.

Brilhante. Ele deveria apenas bater uma punheta sobre sua protegida aqui?
Ela estava distraída e provavelmente levaria um minuto? Deuses.

Granger fez uma descoberta ou outra e começou a rabiscar.

– Terminei! - ela disse, e soltou a pena.

Draco se inclinou para estudar o pergaminho e a elegante solução dela.

Sim. Ela tinha terminado.

E era fodidamente erótico.

O tinteiro em sua mesa explodiu.

Granger deu um pulo.


– O que-?!

Um surto mágico descontrolado. Maravilhoso. Um passo acima de gozar


em suas calças.

– Desculpe. - disse Draco, limpando a evidência de sua ejaculação precoce.

– Você está bem?

– Eu estava – superestimulado.

– Superestimulado? - Granger repetiu, parecendo muito mais perplexa do


que em qualquer ponto durante sua explicação.

Draco limpou a garganta.

– Vamos continuar? Você estará fazendo esses cálculos de cabeça após as


primeiras vezes. O movimento da varinha é semelhante ao Salvio Hexia, só
que queremos que os cortes ascendentes sejam iguais a c3. O que pode
levar muito tempo, como você pode imaginar. A intenção do lançamento
não é proteção, é fortificação. Tome nota disso, as nuances são importantes.
O encantamento é Caeli Praesidium, uma vez, no início. Isso é tudo.

– Certo. - disse Granger. – Deixe-me tentar.

– Proteja a porta.

Draco aproveitou a atenção desviada dela para puxar discretamente a perna


de uma calça, de modo que a protuberância parecesse uma dobra inócua no
tecido. Mais ou menos.

Granger lançou o feitiço algumas vezes, intercalado com mais alguns


rabiscos de aritmância. Seu lançamento era lento e sua proteção era
pequena, mas estava claro que ela havia entendido a essência disso. Em sua
quinta tentativa, uma rede prateada bastante confiável se espalhou pela
porta, brilhou e desapareceu.

– Muito bem. - disse Draco, em vez de 'estou muito excitado no momento'.


– Vou ter que praticar. Que proteção interessante – nunca vi aritmância
aplicada a feitiços dessa maneira, acho que não.

– É útil. Tentei ensiná-lo a outros Aurores, mas a maioria deles não se


interessou assim que viu as notas aritmânticas.

Granger reclamou.

– A perda é deles.

Ela fez menção de se levantar, mas Draco tocou seu braço com os dedos.

– O que?

– Nosso quid pro quo, professora. O comando rúnico.

– Certo. - Granger se mexeu na cadeira para encará-lo. Uma de suas pernas


estava dobrada sob ela, onde ela se empoleirava no apoio de braço, a outra
descansava levemente entre a dele.

Muito bom.

Granger levantou sua varinha e tirou quatro runas douradas.

– Hverfðar viþ inn laguz.

As velas se apagaram e o fogo da lareira se reduziu a brasas.

– Oops. - disse Granger na escuridão repentina.

Ela acenou com a varinha e as velas se acenderam novamente.

– É uma sintaxe apotropaica. As runas são do silabário Meginrunar, mas


interpolei a prosódica do Rúnatal. Traduz - amplamente - para 'extinguir'.
Tente o encantamento primeiro - a entonação é um pouco complicada.

Draco tentou. Granger balançou a cabeça e repetiu as antigas sílabas


lentamente.
Ele tentou novamente. Granger reclamou.

– Você está tropeçando nos ejetivos palatinos.

– Os o quê?

– Pare de soar tão elegante. Você está falando rúnica antiga, não pedindo
foie gras no Seneca.

Draco tentou novamente, infundindo um pouco de aspereza nórdica em seu


discurso.

– Melhor. Se ao menos você falasse alemão em vez de francês. - Granger


suspirou e pareceu melancólica. – As fricativas deles são de morrer. Agora,
as runas.

Granger pegou a pena e a mergulhou nos restos fragmentados do pote de


tinta. Ela desenhou quatro runas no pergaminho.

Draco as copiou. O foco era bom para ele – ele era, aparentemente, incapaz
de se concentrar nas runas e manter uma ereção ao mesmo tempo.

Granger teve um prazer imenso e provocador em criticar sua caligrafia.

– Oh, não – você fez laguz muito mole. Endireite isso. Bom. Um pouco
mais de confiança no golpe descendente. Certo. Tente novamente. O que
está acontecendo aqui? O telhado desabou sobre Hverfðar? Como alguém
desenha poliedros tão perfeitos e depois faz isso com uma runa? Tem quatro
linhas. Quanto a esta exposição - é um salgadinho Wotsit? E aquele – outro
dos seus ouriços? E isto? Um ponto de geometria hiperbólica? Você vai
rasgar o tecido do universo, nesse ritmo.

Draco não rasgou o tecido do universo, mas riu demais e abriu um buraco
no pergaminho.

Granger estudou-o com um sorriso contido, mas não censurou:

– As runas foram feitas para serem esculpidas, afinal.


Depois de mais alguns treinos, Granger declarou-se satisfeita.

Eles progrediram para os movimentos da varinha. Para evitar qualquer


destruição do universo ou outro incômodo, Granger colocou a mão dela
sobre a dele enquanto ele desenhava as runas no ar.

A mão dela era gentil sobre a dele, a palma da mão suave sobre os nós dos
dedos.

As primeiras tentativas de Draco, combinadas com sua pronúncia horrível,


foram aberrações malfeitas. Então Granger falou o comando rúnico com
ele, e isso, junto com sua mão orientadora, resultou no brilho de runas
douradas, suspensas, apenas por um momento, no ar.

As velas tremeluziram.

Granger tirou a mão da dele para que ele pudesse continuar sozinho. Draco
ponderou se deveria fingir incompetência – mas também não queria parecer
estúpido na frente dela.

Um dilema para as idades. O orgulho venceu. Ele tentou novamente e as


runas brilharam por um longo momento, e metade das velas no escritório
foram apagadas.

O fogo, no entanto, crepitava alegremente. Coisa impertinente.

– Essa foi uma tentativa muito justa. - disse Granger. – Bem feito.

Ela estava olhando para ele com uma mistura de satisfação e admiração, o
que agradou muito a Draco e enviou adoráveis estremecimentos tanto para
seu ego quanto para sua virilha.

Granger – infelizmente – decidiu acabar com o seu empoleirar na cadeira


dele. Ela se levantou com um gemido e pressionou a mão em sua bunda.

– Minha bunda está dormente.

– Devo massageá-la? - perguntou Draco.


– Está tudo bem. - disse Granger com uma risada.

Ele não estava brincando, mas tudo bem.

Granger se espreguiçou, bocejou e olhou para a porta.

Draco ainda não estava pronto para deixá-la ir – ele sentia como se tivesse
acabado de recuperá-la.

– Você está indo fazer nada?

Granger o observou com uma sobrancelha levantada.

– Parece que você tem uma alternativa atraente em mente.

– Pensei em uma nova moeda de troca, para O Computador. Mas isso pode
esperar.

– Agora você me intrigou.

– Intriguei? Oh não.

– O que é?

– Venha comigo.

Eles deixaram o estudo. Granger acertou o passo ao lado de Draco, com


alguns saltos extras aqui e ali, devido à distância relativa de seus passos.

– Onde estamos indo?

– Primeiro era para ser um presente de aniversário, porque eu não sabia o


que comprar para você, porque você é uma magnata e pode comprar para si
mesma o que quiser, e eu não tinha nenhuma ideia além de pijamas
horríveis e outros menos apropriado... er... de qualquer maneira... Mabon
veio e foi e eu perdi o momento. Então eu queria usá-lo para animá-la
quando Greyback colocou seus cartazes vis por toda Londres, mas você foi
consumida por seu trabalho e mal tinha tempo para dormir.
Eles chegaram a um conjunto de portas duplas.

– Agora, como perdi todas as minhas janelas de oportunidade, decidi que


posso muito bem ser um canalha de verdade e usá-lo como alavanca para O
Computador.

Granger soltou um suave oh quando reconheceu as portas. Ela se virou para


Draco, o começo de um sorriso em seus lábios.

– Estratégico. Eu aprovo.

– Varinha. - disse Draco, estendendo a mão.

Granger a colocou na palma da mão dele. Draco apontou-a para as portas e,


com alguns acenos de sua própria varinha, adicionou Granger a uma lista
muito curta de indivíduos com permissão para entrar na biblioteca Malfoy.

Ele abriu uma das portas. Granger deu um passo animado para frente, mas
encontrou o caminho barrado por seu braço.

Ela olhou para ele.

– Sim?

– O computador?

– Eu serei sua tutora pessoal até que você aprenda tudo o que seu pequeno
coração negro deseja.

Draco sorriu. Eles apertaram as mãos. E, para sua alegria, Granger não o
soltou depois - ela o puxou para a biblioteca atrás dela e o puxou enquanto
descobria o lugar.

Era gratificante estar com ela enquanto ela explorava a biblioteca, que
ocupava uma ala inteira do Solar. Era em parte uma enorme sala de leitura,
em parte estantes tradicionais, em parte um museu pessoal. Janelas altas
davam para a floresta e o lago ao longo da borda oeste da propriedade. Um
fogo crepitava. Mesas de leitura e poltronas enormes foram colocadas em
arranjos cuidadosos aqui e ali, iluminadas por lanternas mágicas.
Os suspiros de Granger continuaram sendo uma enorme fonte de prazer. Ela
solicitou um tour. Draco forneceu. Eles vagaram pelas estantes e vitrines.
Granger questionou Draco sobre o sistema de classificação, sobre a filosofia
de aquisição dos Malfoys, sobre seu plano de descarte.

Havia uma luz suave em seus olhos.

Draco estava expondo, de maneira muito interessante e inteligente, ele


pensou, sobre os princípios que guiavam suas aquisições e descartes,
quando notou que o olhar dela estava desfocado.

– Você ainda está comigo? - perguntou Draco.

– Sim. - disse Granger, piscando.

Draco continuou.

Ela desfocou novamente.

– Olá? - disse Draco, vexado.

– Desculpe. Sim. Estou aqui.

Draco decidiu remarcar a palestra, já que claramente não era tão fascinante
quanto pensava.

Granger tinha um vago sorriso no rosto.

Passaram por livros, tomos, periódicos e uma pequena coleção de gravuras


e desenhos. Ele mostrou a ela a coleção de cartografia. Um rabiscado Aqui
há monstros foi inscrito em um mapa do século XVII. Draco apontou para
uma pequena mancha entre os monstros marinhos e disse que era Granger.

Passaram pela coleção de livros raros, expostos sob um vidro. Granger


suspirou enquanto observava os antigos grimórios e manuscritos ali.

– Quem decidiu colocar O Livro de Din Eidyn como não-ficção? - ela


engasgou, parando repentinamente ao passar por uma prateleira.
– Eu. - disse Draco.

– Tsk. - disse Granger.

– A batalha aconteceu.

– Isso está aberto à interpretação. - disse Granger, com um grande grau de


nerdice. – A própria existência daquele bardo não tem fundamento. Seria
melhor colocar isso como poesia, eu acho.

– É gentil da sua parte compartilhar sua opinião, mas nesta biblioteca,


l'État, c'est moi. - disse Draco.

Granger parecia estar fomentando pensamentos de revolução.

Eles terminaram sua tour. Granger encontrou o sofá mais próximo do fogo e
se enrolou nele, e olhou para a biblioteca como alguém poderia admirar
uma visão prospectiva de uma bela paisagem.

– Este pode ser o meu lugar favorito em toda esta propriedade.

– Pode ser? Que outros competiriam por suas afeições?

Granger enumerou em seus dedos.

– Gosto do pequeno salão perto da parte de trás da casa – aquele em que


estávamos hoje – é sempre tão aconchegante quando Henriette acende o
fogo. O terraço onde comíamos durante o verão – era simplesmente
adorável. O jardim de rosas é um sonho absoluto, claro...

Ela parou quando Draco se sentou ao lado dela.

– E um certo parapeito de janela? - perguntou Draco.

Levou um momento, mas Granger entendeu o que queria dizer e ficou com
as bochechas rosadas.

– Não tenho certeza se me lembro desse.


– Não?

– Não.

– Certo. Acho que você estava sonhando.

Um silêncio bastante tenso desceu sobre a biblioteca.

Granger foi a primeira a ceder. Ela ficou de pé.

– Devo te ensinar o computador? Vou buscá-lo.

– Mas nós começamos a fazer nada. - disse Draco.

Granger parecia ter decidido que não fazer nada era uma atividade perigosa.

– Nós também podemos, você sabe. É essencialmente nada - para mim, pelo
menos. É muito fácil.

Ela não esperou sua aquiescência e desapareceu para buscar o aparelho.

Ela voltou com o computador nos braços e uma pilha de discos.

– Você parece animado. - disse ela enquanto se sentava ao lado dele.

– Eu tenho ponderado sobre os mistérios deste item por anos.

– Você poderia ter perguntado a qualquer nascido-trouxa, sabe.

– Não. Eu queria você.

Granger deu a ele um olhar interrogativo enquanto apertava alguns dos


botões da máquina.

Foi lindo aprender O Computador, pois Granger deslizou para mais perto
dele até que suas pernas se tocassem, e equilibrou o aparelho entre eles, e
então ela colocou a mão sobre a dele para demonstrar como o 'touchpad'
funcionava. Tudo muito legal. Ela mostrou a ele as funções do computador
- escrever, pesquisar, se comunicar com outras pessoas, "navegar na
internet".

A internet era uma coisa que Draco não tinha certeza se entendia, mas
Granger podia escrever coisas como 'gato' ou 'casa' ou 'oncologia' em uma
caixa, e informações sobre as coisas apareciam, e fotos também. Parecia
extraordinariamente útil. Uma enciclopédia instantânea. Granger disse que
todo o conteúdo das bibliotecas estava nele.

Ela empurrou o computador para ele para que ele pudesse testar a internet.
A primeira coisa que ele procurou, com uma digitação muito elaborada, foi
"peitos".

Granger soltou uma risadinha enquanto observava a palavra aparecer.

– Malfoy!

Draco deu um assobio baixo enquanto observava os resultados de seu


esforço.

– Agora me diga o que é a nuvem, e Hackers. - disse Draco, passando o


computador de volta para ela, com cinco belos pares de peitos na tela.

Granger se livrou dos peitos (uma pena) e explicou a nuvem e os hackers. A


nuvem era interessante, conceitualmente. A falta de machados ou outras
armas violentas dos Hackers o desapontou. Granger confirmou que
geralmente não havia derramamento de sangue envolvido. Anticlimático, no
geral.

Quando Draco terminou de mexer no computador ("bundas" e "Draco"


completaram seu tour pela internet), ele o devolveu para Granger, que se
levantou e começou a guardar as coisas.

– Isso foi informativo. - disse Draco. – Agora eu sei todos os seus segredos.

– Mm. Posso ter exagerado na minha mão - não conheço todas os seus.

– Oh?
Granger se moveu em direção à porta.

– Mas esta foi uma noite esclarecedora, independentemente. Obrigada por


me dar acesso à biblioteca, é-

Draco se levantou também e a bloqueou antes que ela pudesse alcançar a


maçaneta da porta.

– Qual segredo meu está intrigando você?

Granger balançou a cabeça.

– É estupido. Não vou contar.

– Agora eu preciso saber.

– Você não precisa saber. - disse Granger, afastando-se dele. Havia um


sorriso abrindo caminho no rosto dela.

– Eu preciso. Você mora na minha casa. Você me viu completamente nu.


Você foi, literalmente, eu. Que mistério persiste?

Granger riu.

– Um menor. - Ela deu mais um passo para longe. – É bobo.

Ele a seguiu até as pilhas em que ela estava recuando.

– Diga-me.

– Não.

– Vou encurralá-la em um canto e enfeitiçá-la. - disse Draco.

Ele cumpriu a primeira parte da ameaça. Depois de mais alguns passos para
trás, Granger foi encurralada.

Ela engasgou em falsa indignação.


– Você não ousaria.

A pequena caçada às estantes o encheu de uma onda inesperada de


endorfinas. Sua respiração acelerou.

– Eu ousaria. - disse Draco.

Ele se aproximou.

– Eu ensinaria a você como é um testículo rompido de verdade. - disse


Granger.

– Você pode fazer o que quiser com minhas bolas.

Ele deu mais um passo em direção a ela.

– Não faça promessas que não pode cumprir. - disse Granger.

Ela estava contra as estantes, agora, e não tinha para onde ir. Ele sentia
cheiro de fogo.

Ele olhou para ela. Ela olhou para ele.

Ele sentiu que muito de sua felicidade futura estava naqueles olhos
brilhantes.

– Que segredo? - ele perguntou novamente, porque se ele não ocupasse sua
boca com perguntas, poderia fazer algo idiota, como declarar devoção
eterna a ela.

Ela olhou para o lado, como se calculasse uma rota de fuga. Draco levantou
um braço para barrar o caminho.

Ela olhou para o outro lado. Draco colocou um único dedo sob o queixo
dela e a virou para ele.

– Você é terrivelmente insistente. - disse Granger.

– Eu consigo o que quero. - disse Draco.


Granger deu a ele um revirar de olhos magnífico. Então, finalmente
cedendo, ela relaxou contra as prateleiras e o chamou para mais perto.

Ele se juntou com prazer. Um pouco de seu cabelo ficou preso em sua barba
de fim de dia quando ele se inclinou.

– O chantilly. - sussurrou Granger em seu ouvido.

– Ah. - disse Draco. Foi a vez dele de sorrir. Mais do que sorrir. Ele
encostou a testa no ombro dela e riu.

– Espero sua resposta. - disse Granger, sua respiração roçando o lado de seu
pescoço.

Draco levantou a cabeça e disse:

– Acho que exigiria uma demonstração prática.

– A demonstração é um dos métodos pedagógicos mais eficazes. - assentiu


Granger.

– Infelizmente, não seria... cavalheiresco. Ou apropriado. Ou sábio.

Granger não pareceu surpresa.

– Que pena.

– A tragédia disso dilacera meu próprio ser. - disse Draco, dificilmente


exagerando.

Granger passou a mão pelo braço dele e fez uma careta.

– Ainda usando as abotoaduras prateadas. Não aprendemos nossa lição


sobre os perigos dos metais de transição?

– Talvez estivéssemos esperando por uma reprise.

– A repetição também é um excelente método pedagógico. - assentiu


Granger.
– Eu aguardo instruções. - disse Draco, uma quantidade absurda de
esperança em sua voz.

– Oh não. Isso também exigiria uma demonstração prática.

– Oh?

– Não é coisa de dama. Inapropriado. Imprudente.

– Todas as melhores coisas são.

Granger deu a ele o sorrisinho mais adorável e perigoso.

– Talvez eu mostre quando você me mostrar o chantilly.

– Você é tortuosa e cruel.

– Obrigada. Posso perguntar sobre outro pequeno segredo, enquanto tenho


você?

– Sim. - (Ela o tinha em tantos sentidos do termo que era um pouco


ridículo.)

– Qual foi a outra coisa que você pensou em comprar para mim, além dos
pijamas horríveis? A coisa inapropriada?

Draco oscilou na ponta do fulcro.

– Isso foi... nada. - disse ele, em vez de indicar que tinha visitado uma loja
de lingerie na Londres trouxa e sonhado com isso por dias.

– Nada? Eu deveria encurralá-lo nas estantes e tiranizá-lo até uma resposta.

Sim. Ela o tinha. Seu coração, aquele órgão estúpido e inútil, estava cheio.

– Por favor, faça isso. - disse Draco.

Ela colocou um único dedo em seu peito e o apoiou. Ele não tinha muito a
recuar antes de acertar as estantes atrás dele, meio passo na melhor das
hipóteses.

Uma prateleira se enterrou em suas costas. A ponta do dedo dela empurrou


levemente em sua frente. Ela podia sentir seu coração? Provavelmente.

– Diga-me. - disse Granger.

– Mm... não.

Granger enganchou um dedo em seu colarinho e ficou na ponta dos pés.

– Diga-me. - ela sussurrou contra sua mandíbula. – Se não.

Apenas algumas palavras doces e ameaças doces e toques quase


inexistentes, e ele estava de volta ao giro da vertigem. A suave euforia
estava sobre ele.

Ele era um apaixonado, Granger-contagiado tolo.

– Não posso. - disse Draco.

Do que eles estavam falando?

Foi a vez dela de colocar os dedos no queixo dele. Ela atraiu seu rosto para
ela.

– Dê-nos a menor das dicas, então. - disse ela, esvoaçando, enquanto fazia,
a mais leve das dicas de sua respiração contra a boca dele.

– Você é terrivelmente insistente.

– Eu também consigo o que quero.

– Ainda é querer, quando a coisa que você quer está tão disposta a se dar a
você? - perguntou Draco.

– Filosofias profundas entre as estantes. - disse Granger. – Pare de tentar me


distrair.
– É você que está me distraindo. - disse Draco. Seus narizes se tocaram. –
Não faço ideia do que estamos falando.

– Presentes inapropriados.

– Certo.

– Com o que devo ameaçá-lo, para divulgar esta informação? - perguntou


Granger, procurando seus olhos, um sorriso em sua voz.

Draco encostou sua testa na dela.

– Com a retenção do que quer que você esteja me provocando no momento.

– Um dilema. - Ela passou um dedo ao longo de sua mandíbula. – Difícil de


reter, quando eu quero tanto dar.

– Mais filosofias para encantar e intrigar.

Ela respirou contra sua boca por mais um momento. Foi um excelente
exercício de autocontrole não deslizar a mão pela nuca dela e puxá-la para
ele.

Granger se afastou um ou dois centímetros.

– Estou retendo. Fale.

– Sem coração. - disse Draco.

– Satisfaça minha curiosidade e eu satisfarei estes-

– Estes o quê?

– Inquéritos filosóficos.

– Que suborno encantador.

– Será que vai dar certo? Aurores são treinados contra, não são?
–En principe. Mas minha integridade profissional desmorona diante de
você, mais uma vez.

– Oh, não. - disse Granger.

– Você não precisa parecer tão presunçosa.

– Diga-me.

– Eu simplesmente queria comprar para você... roupas de dormir menos


horríveis.

– Atencioso. Nada muito inapropriado sobre isso.

– Era uma loja de lingerie trouxa.

– ...Oh.

– Os trouxas são muito criativos com suas roupas de dormir, você sabe.
Muito mais do que nossos equivalentes bruxos. Tantas coisinhas de tiras –
ligas de renda – camisolas – lindos conjuntos combinando – pequenos
conjuntos atrevidos – tudo o que ocupou meus pensamentos por muito
tempo, depois.

Houve um rubor nas bochechas de Granger.

– Eu disse que era inapropriado. - disse Draco.

– Terrivelmente. - disse Granger. – Venha aqui para que eu possa lhe dar seu
suborno.

Draco se inclinou.

Ela pressionou um beijo em seus lábios, mas se afastou antes que ele
pudesse responder da mesma forma.

Não foi o suficiente. Nada disso foi o suficiente.


Ele queria beijá-la lentamente. Ele queria apoiá-la naquelas pilhas e
levantá-la e espremer todo o seu desejo nisso.

– Eu deveria ter negociado parâmetros para a duração e intensidade deste


suborno. - refletiu Draco.

– Provavelmente é... mais sensato, desta forma. - disse Granger.

Seu olhar voou de volta para sua boca. Então, com esforço, ela desviou o
olhar. Ela torceu preguiçosamente uma das abotoaduras dele. Dedos
delicados roçaram em seu pulso.

– Você não me perguntou onde fica meu lugar favorito na propriedade. -


disse Draco.

– Oh...? Bem... onde fica?

– Aqui.

– É uma bela biblioteca.

– Não. Aqui... com você.

Ele pegou a mão dela onde ela brincava com suas abotoaduras e entrelaçou
seus dedos com os dela.

Ela sorriu aquele sorriso que o fazia voar alto. Ela era uma luz entre as
sombras, olhos de corça, bochechas coradas, alma dourada.

Seu coração estava cheio dela. Sua mente, sua sagacidade, sua magia, sua
ambição, sua beleza, seu caos. Ele se sentiu à beira da queda.

Ele poderia amá-la. Deuses, ele poderia amá-la.

Ele correu um dedo ao longo de sua bochecha.

Ele pode já amá-la, em batidas de coração secretas e toques roubados e


olhares lentos.
Houve um rasgo e uma dissonância – uma dor prazerosa quando sua mente
se esticou para aceitar o que seu coração já sabia.

Ele já a amava.

Rasgou. Ele sofreu em silêncio. Ela, inconsciente de sua provação, virou o


rosto em sua mão. Contra a palma da mão, a suavidade de sua bochecha, a
pressão de seu sorriso. Ele estava tão cheio de desejo que doía. Ele era
miserável, miserável.

– Eu senti sua falta. - disse Draco. Sua voz pegou nas bordas.

A horrível sinceridade disso o chocou.

Ela, abençoada seja, respondeu da mesma forma.

– Também senti sua falta. - Havia uma respiração nas palavras, a


instabilidade da emoção reprimida. – Je reviens de loin. Sinto como se
estivesse de volta ao mundo dos vivos.

Ele ainda segurava a mão dela. Ele passou o polegar sobre o anel dela.

– Você deve me dizer quando tiver recuperado sua capacidade para...


complicações.

Ela olhou para ele com os lábios entreabertos e os olhos da cor da


curiosidade.

Ele sentiu o toque dela em retorno contra seus dedos.

– Depois de hoje, eu... eu posso ter um pouco de espaço de manobra.

– E se fôssemos... apenas um pouco estúpidos, então?

– ... Vamos ser um pouco estúpidos.

Ela deslizou os dedos por baixo do suspensório dele, onde eles encostavam
em seus ombros, e puxou-o para ela.
Ele a apoiou nos livros.

Ele a beijou lentamente, como queria, e a ergueu contra as estantes, como


queria, e espremeu todo o seu desejo nisso.

Os lábios dela sorriram contra os dele.

Seu beijo era doce e, deuses, parecia amor.

Eles se agarraram como adolescentes idiotas entre as estantes sombrias. Ela


estava tão bonita quanto ele imaginou que estaria, pressionada contra os
livros.

Seu cabelo ficou solto. Ele a respirou com os pulmões cheios, com o
coração. Dedos pequenos procuraram algo para segurar, escorregaram em
seu bíceps, foram até seu ombro, então encontraram seu colarinho.

Havia tanta beleza em tudo aquilo – sua boca acompanhando seus beijos
lentos, a leveza dela em seus braços, seus suspiros. Foi um arrebatamento,
uma magia. Ele queria dizer a ela que ela o tinha, que ele era dela. Ele a
queria para si.

Ele a amava. Ele beijou essa constatação em seu pescoço. Ele estava tonto
com isso, doente com isso, flutuando com isso.

O gongo do jantar tocou.

Depois das estupidezes – estupidez deslumbrante, brilhante e reluzente –


Draco descobriu que havia amor em tudo o que fazia. Estava na porta que
ele segurou aberta para ela quando saíram da biblioteca, no roçar de seu
ombro contra o dela no corredor, ao acompanhá-la até a sala de jantar.

Existia amor desesperado quando ele ficou parado para ela ajeitar seu
colarinho. Havia amor terno quando ele puxou a cadeira dela. Havia um
amor doloroso em servir-lhe uma taça de vinho. Quando ele, como um tolo,
estendeu a mão para colocar um cacho do cabelo dela atrás da orelha, foi
devastado pelo amor.
Ele a provocava por suas pequenas mordidas porque a amava. Ele ameaçou
roubar seu último profiterole porque a amava. Foi por isso que ele a seguiu
até as criptas – por que ele lutou com corças em pântanos – por que ele
beijou sua cicatriz.

E aquela atração – aquela força gravitacional – l'appel du vide – estava se


apaixonando, uma e outra vez.

Ao pé da escada, depois do jantar, havia um amor assustado no "Boa noite"


dele, fechando-se sobre si mesmo, tentando se manter em segredo.

O "Durma bem" dele soava como "Venha aqui e me beije de novo".

Enquanto ela subia as escadas, e ele a observava subir, cada passo dela para
longe dele era uma mágoa.

Ele passou a mão pelo cabelo e olhou para a escada vazia.

Ele a amava. Estava em cada abraço, em vôos sob as estrelas, no


cruzamento de espadas, em danças de salão secretas, na entrega de coisas,
nos salvamentos de vidas, na passagem de lenços, nos toques acidentais,
nas discussões sobre sobrenomes hifenizados, nos piqueniques bêbados, nas
xícaras de chá compartilhadas. Ele a amava.

Ela o fez entender a palavra.


33. Heroísmo: o seu perigo

O notório Auror Draco Malfoy estava apaixonado por sua Protegida.

Tudo não estava sob controle e tudo não estava bem.

A percepção angustiante de Draco tornou as coisas insustentáveis ​em duas


frentes. Ele, portanto, saiu da cama na manhã seguinte com dois objetivos,
os quais o encheram de diferentes tipos de pavor.

Primeiro, dado que isso não era mais Anulável, Equilibrável ou


remotamente controlável, ele precisava falar com Tonks e renunciar
formalmente à designação de Granger.

Em segundo lugar, tendo se livrado dos grilhões de seu relacionamento


profissional, ele iria até Granger e desnudaria sua alma angustiada para ela.

E, se tudo corresse bem, ele formou um vago objetivo terciário que


envolvia amassos até o limite de sua vida.

(Também transaria com ela até o limite de sua vida. Mas primeiro, os
amassos. Ele era um cavalheiro.)

Draco chegou ao escritório naquela manhã – bem, de manhã – para


encontrar Potter se preparando para fazer uma atualização do WTF. Ele
perguntou a Tonks se poderia falar com ela depois da reunião. Ela o encarou
com um olhar inquisitivo, acenou com a cabeça, então gesticulou para ele
se sentar – Potter estava prestes a começar.

Enquanto Potter enumerou alguns dos sucessos limitados da WTF naquela


semana, Draco ensaiou seu discurso para Tonks. Ele diria que estava
aceitando sua oferta anterior de largar a tarefa de Granger. Ele insistiria que
Granger mantivesse o anel, mas se retiraria da atribuição em qualquer cargo
oficial. Ele sugeriria que Granger ficasse na Mansão depois que ele
renunciasse, pois continuava sendo o lugar mais seguro para ela.

Tonks estaria certa dentro de seu direito de pressioná-lo sobre a inteligência


de se afastar neste momento bastante crítico - e se ela o fizesse, ele jogaria
com calma. Não foi nada, sério. Apenas uma questão menor, dificilmente
vale a pena mencionar. Qual problema? Oh, só que ele estava, você sabe,
apaixonado por Hermione Granger. Provavelmente já fazia alguns meses.
Atualmente se contorcendo em agonias soberbas sobre isso. Tonks tinha
uma lixeira em seu escritório? Ele podia estar doente.

Potter e Weasley agora apresentavam fotos de membros suspeitos do bando.


O joelho de Draco balançou. Se eles pudessem avançar, seria maravilhoso,
para que ele pudesse acelerar essa terrível confissão e rastejar para algum
lugar escuro e solitário para morrer como um animal.

De repente, o anel ganhou vida em seu dedo. A frequência cardíaca de


Granger atingiu um novo pico - houve uma onda de pânico ecoada - então
houve a queima do dispositivo de socorro.

Todos estavam olhando para Draco, que se levantou de um salto, varinha na


mão.

– Granger. - ele engasgou.

Agora todos se levantaram – Tonks, Potter, Weasley, Humphreys, Buckley,


Brimble.

– O que é? Onde ela está? O que aconteceu?

Mas agora, através do anel, Draco sentia apenas um vazio. Sua tentativa de
aparatar não resultou em nada – não houve resposta do anel de Granger; ele
não sabia para onde ir.

Ele olhou para sua mão com compreensão lenta.

– Eles a pegaram. Eles fizeram algo com o anel – o desativaram ou o


destruíram...
Xingando, Draco lançou seu feitiço de rastreamento. Um mapa apareceu
diante dele, no qual brilhavam os grampos de cabelo de Granger. Ele correu
pelos locais enquanto os aurores preocupados se aglomeravam ao seu redor.
St. Mungus, Trinity, o chalé, a Mansão...

– Aqui. - disse Brimble, apontando para um aglomerado de alfinetes ao


largo da Escócia. – As Hébridas Exteriores.

Draco ergueu sua varinha para desaparatar direto ao ponto, mas Tonks
puxou seu braço para baixo.

– Segure o heroísmo, Malfoy. Você vai aparatar na maldita Escócia? Não


seja estúpido. Dê-nos um segundo para traçar estratégias antes de todos nós
pularmos para nossas mortes sangrentas.

Draco não se importava com nenhuma morte sangrenta no momento, exceto


a de Granger, e em preveni-la com a sua própria vida, se necessário. Potter e
Weasley lutaram por suas varinhas, parecendo tão em pânico quanto ele.

Tonks enfiou a cabeça para fora da sala de conferências e chamou Montjoy


e Goggin.

– Se preparem e tragam suas bundas para cá.

Enquanto Montjoy e Goggin se aproximavam, ela perguntou:

– Quem estava de plantão com Hermione no laboratório?

– Fernsby – disse Weasley.

– Humphreys – com Montjoy, para o laboratório – veja o que aconteceu


com Fernsby. Brimble – chame todos os Aurores e agentes DMLE
disponíveis. Todos vocês se juntem a nós assim que puderem. Tenho a
sensação de que estamos prestes a entrar no covil dos lobisomens.

– Certo.

– O Flu mais próximo é Leverburgh. - disse Brimble, apontando para o


mapa.
Eles se amontoaram no corredor em direção à lareira de Flu do Escritório
dos Aurores. O coração de Draco trovejou em sua garganta, em sua boca.

Enquanto passavam pelo escritório de Tonks, uma figura enorme apareceu


em seu Foe Glass. Tonks acertou um V em Greyback.

– Desilusões ativas. - disse Tonks, batendo na cabeça com a varinha. Todos


seguiram o exemplo e entraram no Flu.

Um estalajadeiro confuso em Leverburgh ouviu um bando de indivíduos


desilusionados saindo de sua lareira. Antes que ele pudesse oferecer-lhes
uma cerveja, eles sacudiram seus copos com os estalos de suas
desaparatações e foram embora.

Os Aurores aparataram para a pequena ilha entre as Hébridas Exteriores que


brilhava no mapa de Draco. Eles se materializaram em um pedaço plano e
verde da costa. Não havia ninguém para ser visto. Draco não ficou surpreso
- ele sentiu sua Aparatação ser forçada a sair do curso por uma proteção
anti-aparatação.

Em sua cabeça, um coro gritante: onde ela está? Onde ela está? Onde ela
está?

Nem um sinal do anel.

Ele lançou feitiços de detecção em direção ao centro da ilha enquanto os


Aurores se cingiam com feitiços de proteção e deflexão.

As coisas tomaram um rumo infeliz.

– Parece que trezentos deles, se não mais. - disse Draco enquanto as figuras
se iluminavam além.

"Puta merda", disse Weasley, ao mesmo tempo em que Potter disse "Merda"
e Tonks disse "Porra".

Draco lançou seu feitiço de rastreamento novamente. Com essa


proximidade, o feitiço foi capaz de produzir um mapa mais detalhado, que
mostrava Granger no centro de uma espécie de depressão em forma de
tigela no terreno, delimitada na periferia por uma crista alta.

– Proteções? - perguntou Tonks.

– O de sempre. disse Draco. – Anti-aparatação e alarmes, ao longo de todo


o cume ao redor desta depressão. Tonks, ela está no meio de tudo – vamos
precisar de uma distração.

– Cuide das proteções. Buckley, Goggin – vocês são a distração. Atraia da


borda oeste.

Tonks se concentrou em uma metamorfose. Através da Desilusão, Draco viu


as feições dela ficarem menores e seus ombros largos ficarem mais
estreitos. Ele agora estava olhando para um Granger Desilusionada.

– Esse é um jogo perigoso. - disse Goggin, balançando a cabeça.

– Brilhante. - disse Potter.

– Potter, Malfoy, Weasley – comigo. - disse Tonks. – Protocolo de


infiltração de Tambling. Nós estamos indo para Hermione. Se pudermos
tirá-la juntos, nós o faremos. Se não pudermos, tomarei o lugar dela. Você
deve extraí-la antes que eles percebam a troca. Envie faíscas quando ela
estiver segura – então podemos ter um pouco de diversão.

Draco se ocupou das proteções no topo da colina. Ele desarmou uma área
grande o suficiente para os aurores passarem.

As formas Desilusionadas de Goggin e Buckley correram para a esquerda.

De sua nova posição dentro das barreiras, Draco podia ver a bagunça que os
esperava – facilmente trezentos lobisomens. Provavelmente a totalidade do
bando restante de Greyback – os fanáticos, os verdadeiros crentes. Eles
ficavam de pé ou agachados, observando algo no centro da multidão.

No meio de todos eles, amarrada a uma enorme pedra, estava Granger. Ela
ainda usava seu jaleco branco do laboratório.
Draco foi tomado por um desejo de correr e começar a xingar. Sua mão
desilusionada com a varinha estremeceu.

Tonks percebeu o movimento. Ela beliscou o braço dele logo acima do


cotovelo.

– Qual o problema com você? - ela sussurrou. – Você vai fazê-la ser morta.
Leve-me até ela.

Granger parecia quase inconsciente. Sua cabeça pendia. Weasley xingou


baixinho.

Como diabos eles chegaram a Granger? Ela estava no laboratório. Draco


queria desesperadamente dizer a ela que ele estava aqui. Algo como cinco
minutos se passaram desde que ela girou o anel.

Os quatro Aurores abriram caminho pela multidão, Desilusionados, seus


pesados ​Não-me-Note suprimindo a capacidade dos lobisomens de percebê-
los. Se alguém notava algo – uma olhada dupla, uma cheirada no ar – era
atingido por um silencioso Confundus ou Obliviate.

Ao se aproximarem do centro do grupo, eles puderam ouvir a voz rouca de


Greyback cuspindo algum discurso de regozijo para Granger. Graças aos
deuses – graças aos deuses ele foi estúpido o suficiente, arrogante o
suficiente, para se vangloriar.

– Deveria ter escolhido outra coisa para curar, não deveria? - veio o som de
sua voz, ainda mais áspera agora do que durante a guerra. – Pareço que
preciso de cura? Olhe para mim, garota. Há algo de errado comigo? Você
não vai dizer nada?

Draco não lançava uma Imperdoável desde a guerra. No momento, a


maldição da morte parecia uma opção razoável. O que importava para sua
alma, quando a mão imunda de Greyback estava sob o queixo de Granger?

Draco iria matá-lo.


Eles tinham pelo menos mais dez metros antes que ele estivesse dentro do
alcance. A multidão se adensou. Draco perdeu de vista as formas
desiludidas de Potter e Weasley. Tonks estava ao seu lado.

Por quanto tempo Greyback iria se vangloriar? Ele poderia quebrar o


pescoço dela a qualquer momento até a troca.

Greyback começou a se afastar de Granger – foi uma bênção e uma


maldição. Cada passo o levava mais longe dela, mas também fora do
alcance de Draco.

Ele andou por sua matilha, deleitando-se com sua vitória, perguntando a
seus homens se eles sentiam que precisavam ser curados. Ele tinha uma
pequena Curandeira aqui apenas para o prazer deles?

Cuidadosamente, cuidadosamente, os Aurores romperam a linha de frente e


se aproximaram da pedra onde Granger estava amarrada.

A distração veio.

Tonks não pediu sutileza. Um terremoto retumbou sob os pés de Draco,


então houve o som de uma explosão. Draco sentiu o calor dela, um vento
abrasador em seu rosto. Parecia que Goggin e Buckley haviam inventado
uma Bombarda inteiramente nova em escala de vulcão e decidido eliminar
o máximo de lobisomens que pudessem no processo.

Enquanto os lobisomens se espalhavam em confusão, os Aurores


Desilusionados flanqueavam Granger.

Greyback, sem saber da companhia, apontou para um grupo de homens.

– Vocês – vigiem a garota. - Ele correu em direção à explosão com um


rosnado. – Como diabos eles sabem onde estamos? Eu destruí aquele
maldito anel. Quantos são?

As figuras de Potter e Weasley avançaram em direção aos vigias para


afastá-los, se necessário, enquanto Draco e Tonks completavam a troca.
Draco se ajoelhou ao lado de Granger, no que parecia ser as cinzas
molhadas de um fogo extinto. Ele desarmou algumas proteções de alarme
lançadas às pressas.

Granger olhou para suas aproximadas localizações com os olhos semi-


abertos. Ela tinha um lábio partido e marcas no rosto que falavam de
golpes. Algo estava errado com uma de suas mãos – dedos quebrados ou
deslocados, Draco pensou. De alguém ter arrancado violentamente o anel.

Sua raiva era inebriante.

Ele a controlou.

Tonks sentou-se ao lado de Granger. Sua desilusão estremeceu quando ela


combinou com as roupas de Granger.

Os vigias estavam distraídos, olhando apenas ocasionalmente para sua carga


enquanto se esforçavam para ver o que estava causando as erupções do
outro lado do campo.

Draco cortou as amarras de Granger e as substituiu por sósias ilusórias


amarradas no peito de Tonks. Ele desilusionou Granger assim que Tonks
cancelou sua própria desilusão.

Granger foi puxada para longe da pedra. Tonks deslizou em seu lugar, sua
varinha dobrada contra sua perna.

Bem na hora - dois dos vigias se viraram para verificar a mulher que se
parecia com Granger.

A verdadeira Granger, invisível, estava mole nos braços de Draco. Draco


sussurrou Gravitas Penna. Ele pendurou o corpo dela quase sem peso sobre
o ombro como um saco de batatas Grangeryano para manter o braço da
varinha livre.

Dois vigias chegaram perto demais da pedra para Potter e Weasley. Draco
viu seus olhos perderem o foco quando cada um deles foi atingido por um
Confundus.
Outro vigia disse algo a eles e não obteve resposta, a não ser gorgolejar.

– Oi. - ele chamou outro. – Que porra há de errado com-?

Ele foi estuporado.

– Vá. - veio o sussurro agudo de Tonks.

Os vigias restantes gritaram em alarme.

Conforme instruído por Tonks, Potter e Weasley flanquearam Draco para


acompanhar Granger fora da briga, chamando o mínimo de atenção possível
para si mesmos. Draco sentiu Potter relançar seu feitiço Não-me-Note.

Todos eles lançaram um olhar para trás em Tonks, odiando deixá-la tão
exposta.

A troca tinha funcionado. Os vigias restantes se posicionaram ao lado de


Tonks-Granger, com as varinhas erguidas, mas nem por um momento
ponderaram se essa mulher era outra coisa senão a verdadeira Curandeira
Granger.

Outra explosão abalou o campo. Feitiços agora zuniam no céu na direção de


Goggin e Buckley.

– Temos certeza de que nenhum de nós deve ficar com Tonks? - perguntou
Weasley enquanto caminhavam, devagar, com cuidado, entre lobisomens
correndo.

– Ela ainda tem a varinha dela - ela vai lançar um Confrigo nas nossas
bundas se não fizermos o que ela diz. - disse Potter.

Draco certamente não ficaria. Ele tinha o fardo mais precioso do mundo em
seu ombro, e seu único objetivo, agora, era sair daqui sem ser detectado. A
morte repentina de Greyback poderia esperar.

Eles quase foram atropelados por um grupo de lobisomens correndo em


direção aos vigias. Potter e Weasley lançaram um Depulso, tirando-os do
caminho, então petrificaram todos eles.
Eles ouviram os vigias gritando ordens para procurar quem havia
estuporado e confundido seus colegas na pedra.

– Merda. - murmurou Potter, enviando outro Confundus por cima do ombro


em direção a uma bruxa que tentava investigar seus companheiros caídos.

– Quase lá. - disse Weasley.

Draco atirou um Flipendo em outro corredor que chegou muito perto.

Eles estavam na metade da colina. De lá, eles podiam ver Goggin e Buckley
– e, graças aos deuses, os recém-chegados Humphreys, Montjoy e Fernsby,
e uma dúzia de outros aurores e agentes do DMLE com eles, que se
juntaram ao confronto no lado oeste do vale.

No entanto, o rastro de Petrificações e Estuporações dos três Aurores foi


notado. Eles não podiam mais avançar livremente em meio ao caos. Eles
estavam sendo procurados. Explosões de Finite Incantatem e Homenum
Revelio cruzavam-se ao redor deles, que eram desviados sempre que era
impossível evitar.

Weasley foi atingido, desilusionou-se novamente e entrou em uma briga


com quatro lobisomens.

Explosão. Draco não gostou disso nem um pouco.

– Continue. - disse Potter. – Ele pode cuidar de si mesmo – nós temos que
tirá-la daqui.

No topo do cume, agora estava uma linha de homens.

Atrás deles, uma bruxa estava remendando o rasgo nas proteções que Draco
havia feito. Algo em seu rosto azedo era familiar.

A mão de Potter encontrou o ombro de Draco. Draco parou de se mover.


Potter estava certo: eles estavam em desvantagem numérica demais e Draco
carregava um fardo precioso demais para tentar um confronto direto aqui.

Outra explosão Goggin-Buckley detonou.


Draco e Potter se viraram e recuaram pela colina, esperando encontrar um
local mais adiante para abrir as proteções novamente.

Eles cometeram o erro de olhar para Tonks. Greyback estava ao lado dela,
cercado por uma dúzia de homens, e parecia estar se preparando para
arrancá-la da pedra e – só os deuses sabem o quê.

Um Finite Incantatem voou em sua direção.

Potter foi atingido.

Draco lançou um Depulso em Potter, atirando-o para fora do caminho de


uma maldição ardente. Ele desceu a colina para longe dos lobisomens que
agora estavam convergindo para Potter.

A única vantagem de serem tão seriamente superados nessa luta era que os
lobisomens não podiam se desilusionar sem correr o risco de bater uns nos
outros enquanto circulavam seu inimigo.

Potter se desilusionou de novo, sumiu de vista e ficou sério. Seu Reducto


arremessou os homens de Greyback para longe, com ou sem todos os seus
membros.

Draco decidiu que Potter também poderia cuidar de si mesmo e continuou


sua busca desesperada por um lugar tranquilo no perímetro da ala Anti-
Aparatação, onde ele pudesse colocar Granger no chão e abrir caminho.

Ele enviou um Patrono para Goggin e os reforços recém-chegados, pedindo


ajuda neste extremo do campo. O Borzoi saiu correndo em uma raia de
prata.

Granger se mexeu contra seu ombro.

– Você está bem. - disse Draco. – Peguei você... estamos quase fora.

– Varinha. - disse Granger.

Draco estava relutante em se separar da sua. Ele viu um bruxo petrificado e


murmurou:
– Accio varinha.

Uma varinha robusta voou para a mão de Draco.

– Ponha-me no chão. - disse Granger. – Eu posso andar.

– Tem certeza?

– S-sim.

Pelo que Draco podia ver sob a Desilusão, Granger estava atordoada. Ela
olhou para a pedra onde havia sido amarrada.

– Oh - eles lançaram ... Claro que sim, isso teria sido muito... muito fácil,
não é?

– Lançaram? Lançaram o quê?

Granger ficou em silêncio. Ela estava se curando. Draco viu sua mão
Desilusionada lançando feitiços em sua cabeça, sua mão, um de seus
tornozelos.

– Quantos são? - perguntou Granger com a voz fraca.

– Trezentos. Temos reforços chegando... somos muito poucos. Estou


procurando um lugar para tirá-la da ala Anti-Aparatação. Eles ficaram
espertos... eles colocaram um perímetro de homens ao longo das proteções,
agora. Teremos que lutar antes de podermos colocá-la em segurança.

– Há muitos deles. - disse Granger, olhando em volta com uma


desesperança que combinava com a do coração de Draco que ele não ousara
reconhecer.

Potter e Weasley se uniram e estavam causando uma forte turbulência entre


os lobisomens, mais abaixo no cume. Uma maldição caiu perto de Draco e
Granger. Ele lançou um Protego para desviá-la.

O Protego foi avistado. A linha de bruxos no topo da colina começou uma


caminhada lenta em direção a Draco e Granger, cruzando o chão diante
deles com feitiços.

Abaixo deles, uma batalha em grande escala acontecia, enquanto os Aurores


e os agentes do DMLE tentavam fazer incursões perto deles.

Eles estavam presos.

– Porra. - sibilou Draco.

– Preciso fazer uma fogueira. - disse Granger.

– Não. Você precisa sair daqui, não fazer malditas fogueiras...

– Sair como? Estamos cercados. A forma desilusionada de Granger estava


ajoelhada no chão. – Compre-me três minutos e farei com que se
arrependam de terem nascido.

Os bruxos que se aproximavam de cima estavam agora próximos demais e


numerosos demais para conforto.

– Puta merda. - disse Draco. – Três minutos.

Além disso, ele iria fazê-los se arrepender de terem nascido primeiro.

Ele lançou um Caeli Praesidium denso sobre Granger, cancelou sua


Desilusão para atrair o fogo inimigo para si mesmo e então começou a
trabalhar.

Sob a proteção prateada, Granger acendeu seu fogo.

Os três primeiros lobisomens que se aproximaram de Draco tiveram suas


gargantas arrancadas. Um vórtice de facas conjuradas empalou os próximos
dois, e as Flechas do Arcanista bateram no peito do próximo. Cada braço da
varinha levantado em direção a Granger era recebido com um Immobulus e,
se Draco tivesse tempo, com a explosão de uma detonação para livrar o
bruxo de seu membro causador de problemas.

Potter e Weasley estavam tentando ir até ele, mas foram cercados por uma
multidão de lobisomens.
Maldições foram lançadas em direção a Draco, aparadas e rebatidas com
estrangulamento, ruptura ou desmembramento.

A primeira Imperdoável foi lançada, uma maldição mortal bem a seus pés.

O homem responsável foi decapitado.

Draco estava começando a chamar a atenção para si mesmo. Havia muitos


oponentes e mais estavam chegando. Ele não podia usar sua legilimência -
não podia lançar longas azarações de vira-casacas - não podia criar
estratégias. Ele só tinha tempo de reagir. Uma maldição atingiu a proteção
prateada e ricocheteou inofensivamente. Nunca deveria ter atingido a
proteção. Draco deveria ter desviado.

Ele sentiu o início do pânico - não por si mesmo, mas por ela. Seus
lançamentos tornaram-se apressados, imprudentes.

Era por isso que Algo era proibido entre Aurores e seus Protegidos.

Outra maldição mortal brilhou em sua direção. Draco convocou um


lobisomem para receber o golpe em vez dele, então jogou seu atacante para
fora do cume.

Potter e Weasley conseguiram abrir caminho através de seu círculo de


inimigos com um Reducto conjunto e vieram em auxílio de Draco.

– Ela está fazendo algo com o fogo – Laceratio! Sufocato! – ela precisa de
três minutos...

– Nós vamos dar a ela três minutos. - ofegou Potter. – Depulso!

Um par de lobisomens foi enviado voando. Eles foram substituídos por


mais três.

– Sufocato! Scindo! - disse Draco, lançando uma maldição sufocante e


cortando a garganta de dois deles.

Weasley acertou o terceiro com uma bola de fogo laranja.


– O que ela vai fazer com o fogo?

– Não faço ideia – Expulsis visceribus! – Confio que será espetacular...

Uma dúzia de lobisomens se separou de uma briga abaixo e começou a


escalar o cume em direção a eles.

– Muitos deles. - disse Potter, avistando o grupo

– Diminua o número deles antes que cheguem muito perto. - ofegou


Weasley para Draco.

Weasley e Potter posicionaram-se defensivamente em ambos os lados da


proteção prateada de Granger. Draco odiou ter que confiar neles, mas, com
aquela multidão vindo em sua direção, ele não tinha escolha. Ele se
desilusionou e desceu o cume.

Ele lançou duas Bombardas para amolecer o grupo, e então, varinha em


uma mão e faca na outra, ele estava entre eles. Sua varinha encontrou
gargantas, sua faca pressionou os olhos e os pontos macios sob o queixo.
Ele era um redemoinho Desilusionado cuja passagem foi marcada apenas
por entranhas e esguichos de sangue.

Nem um único subiu o cume.

Ele escalou de volta para Potter e Weasley. O início dos tremores estava
nele devido ao esgotamento mágico iminente.

– Um minuto. - disse Potter.

Ao redor de Potter e Weasley, uma pequena barreira de corpos de


lobisomens começou a se formar enquanto Draco estava ocupado com sua
carnificina.

Abaixo deles, Tonks, ainda disfarçada de Granger, estava chamando a


atenção de Greyback e sua comitiva. Ela estava dançando, causando
estragos com explosões, lançando Depulso no chão para se afastar deles e
conduzindo-os em uma alegre perseguição pelo campo de batalha. Draco a
observou tropeçar e cair, viu, com um arrepio de medo, Greyback pairar
sobre ela - então ela plantou uma coturno em sua virilha e saiu correndo
novamente, desviando de feitiços e gargalhando, e Draco lembrou que ela
também era uma Black assim como uma Tonks.

Buckley voltou a se juntar a Tonks e estava agindo como sua retaguarda,


defendendo a suposta Granger com tudo o que ele valia.

Greyback olhou para o cume. Ele viu a proteção prateada. Ele empurrou a
varinha para a garganta e, com uma voz magicamente amplificada, ordenou
a seus homens que destruíssem "o que diabos eles estão fazendo sob aquela
coisa".

Uma nova onda de atacantes foi para cima dos três Aurores no topo da
colina.

Eles estavam em uma tempestade de feitiços, agora. A proteção foi atingida


repetidamente, mas desviou todos os feitiços com um ping metálico.
Debaixo dela, Draco podia ouvir Granger engasgando um longo
encantamento. O fogo cintilou entre os poliedros.

A nova onda de atacantes era nova e contava com cerca de duas dúzias. Os
Aurores mudaram para uma defesa desesperada, de costas para a parede,
formando um triângulo ao redor de Granger, incapaz de fazer mais do que
desviar. Eles usaram os corpos de lobisomens para absorver as maldições
mortais que surgiram em seu caminho.

Potter foi atingido por algo contundente que o jogou em um grupo de


lobisomens. Ele lançou uma Bombarda ao pousar. O ar fedeu a carne
queimada.

Draco sentiu uma maldição cortar seu pescoço. Ele caiu de joelhos ao lado
da proteção, segurando a garganta - então sentiu o corte selar tão
rapidamente quanto se abriu.

Granger.

Cinco lobisomens que se aproximavam desapareceram da existência diante


de seus olhos.
Havia cinco vermes no chão onde eles estavam.

Draco pisou neles.

Ele sentiu o tremor da exaustão mágica ameaçar sua conjuração quando


lançou um Depulso em outro lobisomem.

Uma runa grande e brilhante emergiu de dentro da ala e flutuou em direção


a uma linha de lobisomens que se aproximava de cima. Draco ouviu uma
palavra de comando. A runa se dissolveu em uma fina névoa dourada.

Os homens de Greyback piscaram uns para os outros em meio à névoa –


então correram para ajudar Potter.

Ética invertida.

Tonks-Granger estava indo muito bem contra Greyback abaixo deles. Ele
era um duelista brutal a quem poucos poderiam enfrentar - certamente não
uma Curandeira que havia visto combate ativo pela última vez quinze anos
atrás.

Greyback, aparando feitiços, seu rosto uma bagunça sangrenta, olhou para a
proteção de prata, para Draco, Potter e Weasley posicionados ao redor dela,
e finalmente percebeu que a Granger que ele estava perseguindo, e que
estava enfrentando cada uma de suas maldições com as dela própria, não
era Granger.

Ele lançou uma maldição mortal contra Tonks, que se esquivou.

– Essa não é a maldita Curandeira. Acabe com ela.

Então, com um grito cheio de raiva, ele subiu o cume na direção deles.

A proteção prateada ao redor de Granger estava começando a piscar. Draco


disse a Weasley para cobri-lo e, ofegante, preparou-se para lançar a coisa
exaustiva novamente.

Weasley foi atacado por três maldições de uma só vez. Ele desviou duas. A
terceira acertou. Ele caiu.
Havia muitos deles.

A figura desilusionada de Granger agora estava curvada sobre Weasley.


Draco ouviu um encantamento de cura. Ele se virou para gritar para ela
voltar para a segurança da proteção - mas a proteção piscou pela última vez.

Agora, onde antes estava a proteção, havia um um fogo. O que havia de


especial nesse maldito fogo? Draco não sabia dizer. Um círculo de runas
brilhava em sua base – Draco conhecia apenas runas o suficiente para ler as
magias de proteção ali – Inextinguíveis.
(Arte incrível por gingerhuneybee)

Ele precisava lançar a proteção sobre Granger novamente - era a única


razão pela qual ela ainda não havia sido atingida por um Finite e sido
descoberta.

Havia muitos deles. Ele precisava de tempo.


Potter disse: "Cuidado!" e jogou um Protego na direção de Draco. Isso
desviou uma maldição, mas outra a seguiu.

Potter foi atingido.

Havia muitos deles.

Um feitiço arremessou a varinha de Draco de sua mão.

Outra maldição voou direto para Granger, onde ela se ajoelhava sobre
Weasley.

Draco estava longe demais para tirá-la do caminho. Ele não tinha varinha.

Ele não tinha escolha – não havia escolha a fazer. Ele entrou diretamente
nela.

Ele a ouviu ofegar "Não!"

Agora ele jazia, uma maldição paralisante sobre seus membros, sangue
pingando de sua boca, em um pesadelo vivo, enquanto Greyback,
mancando e sangrando, subia o cume.

O punhado de lobisomens ainda sob a influência da runa Ética Invertida se


lançou em Greyback. Ele recuou surpreso, então lutou contra eles com a
ajuda dos homens atrás dele.

– Mantenha os que estão lá embaixo ocupados. - ele gritou, gesticulando em


direção ao campo. – Eu vou terminar isso. Onde está a maldita garota – eu
sei que ela está aqui com esses babacas...

Draco, Potter e Weasley poderiam normalmente ter merecido uma maldição


enquanto estavam caídos, mas eles não tinham nenhum interesse a
Greyback à luz de Granger. Uma explosão de Finite Incantatem agitou o
chão ao redor deles.

Granger foi revelada, segurando uma varinha com a mão tremendo.


Ela tinha acabado de lançar algo diretamente para Greyback. O deslizar de
seu braço pareceu que ela havia ativado um feitiço de rastreamento.

Ela também estava gasta. Ela caiu de joelhos. A varinha caiu de sua mão.

A quietude caiu enquanto todos esperavam que algo acontecesse.

Ia ser bom. Draco, paralisado, impotente, sabia que ia ser bom. Seria... uma
enorme explosão. Uma Transfiguração em massa. Convoque o maldito
Voldemort. Abra as portas do inferno. Qualquer coisa. Qualquer coisa.

O fogo atrás de Granger estalou alegremente, inofensivamente, como se


fosse o subproduto de um Confrigo aleatório no campo de batalha e não o
fogo mais preciosamente comprado que já tinha sido aceso.

Os lobisomens se entreolharam.

Nada aconteceu.

Um por um, os lobisomens começaram a rir.

– É... isso? - perguntou Greyback, seus longos dentes amarelos à mostra de


alegria. – Foi isso que a grande Granger fez? Tão inteligente que ela... fez
uma fogueira?

Houve mais risadas.

Greyback apontou sua varinha para o fogo para apagá-lo. Outra pessoa
lançou Aguamenti. O fogo crepitava.

Abaixo de Greyback, os sons de uma escaramuça fizeram seu caminho até a


colina. Draco ouviu a voz de Tonks, Goggin e Buckley. Mais rápido, Tonks,
pelo amor dos deuses.

Mais homens de Greyback tentaram apagar o fogo, sem sucesso. Greyback


cuspiu nele. "Deixe isso." Ele se virou para Granger.

– Quando tudo isso acabar, menina, e eu tiver cuidado dos seus amigos lá
embaixo, vou assar o que resta de você na sua fogueira e comê-la.
Mais gritos vieram de baixo.

Greyback olhou por cima do ombro e começou a circular Granger.

– Teremos menos tempo juntos do que eu queria, mas vou aproveitar cada
um dos seus gritos.

Ele apontou sua varinha para ela. Draco conhecia aquela postura. Havia um
Crucio vindo.

Granger, manchada de sangue, tremendo de seu esgotamento mágico, o


encarou. Ela não estava com medo. Seu desprezo era magnífico.

Antes que Greyback pudesse lançar qualquer coisa, houve um tremor de


magia.

O fogo atrás de Granger ficou verde. Um tipo específico de verde. Um tipo


de verde Flu.

Granger sorriu.

Agora havia um som sibilante. Os lobisomens lutaram de novo para apagar


o fogo, mas agora ele estava sendo alimentado do outro lado, e dobrou,
depois triplicou e depois quintuplicou de tamanho.

Figura após figura vestida de preto saiu do fogo e foram para cima. Dezenas
e dezenas delas em vassouras, cacarejando estridentemente.

O sorriso de Granger tornou-se perigoso, auto-satisfeito – o tipo de sorriso


que um Nundu poderia sorrir, pouco antes de dizimar uma aldeia inteira.

Gritos de riso selvagem encheram o ar.

As freiras tinham chegado.


34. Deus Ex Machina

O Caos começa!

──── ◉ ────

O céu ficou escuro com o turbilhão de vestes negras.

– Que porra é essa? - perguntou um lobisomem.

– Quem são esses? - perguntou outro.

– ...Freiras? - disse o primeiro.

– Você está brincando? - disse Greyback.

Os lobisomens olharam confusos.

Então eles começaram a rir novamente.

As freiras se moviam juntas no ar com uma fluidez colaborativa que


poderia ter sido um aviso para Greyback, se ele não estivesse tão ocupado
uivando de tanto rir.

Alguns lobisomens lançaram feitiços. Eles foram recebidos com contra-


maldições implacáveis que deixaram os lançadores desfigurados no chão,
perdendo a maioria de seus rostos.

Houve um pouco de choque, um pouco de dissonância cognitiva para lutar.


Alguns dos lobisomens começaram a gritar e se reagrupar. Greyback ainda
estava ofegando com zombaria.
As freiras se alinharam acima deles e, com as varinhas apontadas para
baixo, lançaram em grupo algum tipo de efeito de área Petrificus Totalus
que congelou todos onde estavam.

Draco sentiu seus membros endurecerem além da maldição. Granger ficou


estranhamente imóvel. A risada de Greyback congelou em seu rosto
ensanguentado.

O silêncio caiu.

Uma pequena freira de cabelos brancos, que voou acima do resto, lançou
um feitiço de detecção no campo.

Greyback estava iluminado em vermelho.

A freira resmungou no silêncio. Com um movimento de sua varinha, o


corpo rígido de Greyback flutuou para o centro do campo e caiu com um
estalo no sangue e lama perto da pedra.

– Separe os inocentes. - disse ela em francês, acenando com a mão.

Havia imperiosidade no gesto – ela estava acostumada a comandar. Ela era


a Prioresa.

Um contingente de freiras voou e levitou figuras para fora do campo de


batalha. Pela insígnia em suas capas, eram os Aurores e os agentes do
DMLE. Draco viu as formas rígidas de Tonks-Granger, Buckley e Goggin
se erguerem.

Então ele próprio levitou, batendo contra Granger, Potter e Weasley. Eles
foram depositados no topo do cume.

Quando os inocentes foram inocentados e apenas os homens de Greyback


permaneceram no campo, a Prioresa voou mais alto.

– Vamos fazer uma Invocação? - ela perguntou.

As freiras, cacarejando de novo, giraram sobre o campo de batalha em suas


vassouras. Fios de magia violeta brilharam entre eles até formarem um
pentagrama flutuante.

A prioresa ergueu a varinha, assim como suas irmãs. Elas começaram um


canto baixo em latim. Choques de magia oculta percorriam o ar – escura,
proibida, perigosa.

Uma forma ossificou onde as correntes de magia se concentravam no centro


do campo. Era o crânio sorridente de um bode, silencioso e inerte.

– Quem será o cordeiro sacrificial? - perguntou a prioresa.

Uma freira fez flutuar um bruxo com o rosto ensanguentado - um dos que
havia começado o ataque às freiras.

– Eu tenho um pecador.

O pecador foi levitado em direção ao crânio do bode.

Os gritos dele, abafados por sua língua petrificada e mandíbula cerrada,


ecoaram pelo campo silencioso.

A freira voou acima dele e o trouxe para perto, até que a testa dele
pressionasse a parte de trás do crânio.

Houve um flash de luz vermelha. O homem relaxou. Agora ele parecia


grotesco, uma marionete pendurada com uma cabeça enorme e com chifres.

A freira retomou seu lugar no pentagrama aerotransportado.

O crânio tremeu, depois estremeceu, depois balançou.

Suas órbitas oculares, que estavam envoltas em sombras, foram iluminadas


por duas chamas vermelhas.

O corpo do homem alongou e rasgou. De dentro dele, uma forma se


retorceu e se deu à luz – um ser de Fiendfyre e escuridão, rasgando o tecido
entre os mundos.

Granger tinha aberto os portões do inferno.


Enquanto abria caminho para a existência, a coisa vomitou um som do
crânio do bode que era meio riso profano, meio dor. Era sofrimento, mas
havia uma antecipação terrível nele.

Os membros tomaram forma. A coisa era alta. O crânio pendia no final de


um longo pescoço. Asas fibrosas, negras e pingando com placenta
abominável, abertas.

Dois cascos fendidos atingiram a terra e fizeram daquele lugar um terreno


profano.

Não havia luz de consciência nos olhos flamejantes da coisa. Apenas uma
terrível sede de morte.

As freiras, caindo na gargalhada, desfizeram seu feitiço de paralisia dentro


dos limites do pentagrama.

Não era para dar uma chance aos lobisomens.

Era por esporte.

A risada destruidora da alma do demônio juntou-se à das freiras. Inferno em


seus olhos, ele se lançou contra os lobisomens.

Metade deles tentou correr, metade lançou feitiços. Uma garra curvada
atingiu cinco deles e deixou cadáveres em seu rastro. O fogo líquido foi
expelido e queimou uma dúzia onde eles estavam. O golpe fulminante de
uma asa deixou um grupo de homens parados sem suas frentes – sem
rostos, sem pele, apenas tripas e ossos. Eles caíram com um som molhado.

Aqueles que tentaram correr se viram cercados pelo pentagrama, repelidos e


lançados de volta para os cascos fendidos do demônio.

Houve o barulho de crânios sendo esmagados e uma gargalhada rouca e


sobrenatural da criatura.

Dez maldições mortais brilharam em verde e atingiram o demônio ao


mesmo tempo. Elas não fizeram nada. A coisa não estava viva - era o
príncipe de algum submundo, e eles estavam apenas alimentando seu fogo.
Os conjuradores foram destruídos.

As freiras seguravam seu pentagrama. O demônio não ousava ou não podia


ir além, mas não importava – ele encontrava seu prazer dentro daqueles
limites ímpios.

Sua fúria era repugnante, hedionda, perfeita. Os gritos e suas risadas se


misturavam em um coro medonho. Os gritos diminuíram e diminuíram
enquanto o demônio abria caminho através de seu banquete. Agora havia
apenas o som de seu terrível prazer e o estilhaçar de ossos.

Ele deixou Greyback para o final.

Greyback fugiu de uma extremidade do pentagrama para a outra,


martelando-o desesperadamente com maldições. As freiras riram. Ele mirou
maldições de matar nelas. Elas se esquivaram e riram ainda mais.

O demônio avistou sua última vítima. O crânio do bode se inclinou. Uma


pluma de chamas emergiu das narinas negras.

Greyback estava em pânico, lutando. Ele abriu caminho através do


pentagrama e foi repelido para trás.

Ele caiu aos pés do demônio. Ele plantou um casco fendido no centro do
peito de Greyback.

Draco teve o imenso prazer de assistir Greyback sendo dilacerado, membro


por membro, e comido.

O massacre estava completo.

Havia duzentos homens de Greyback naquele pentagrama. Agora, nada


dentro dele se movia, exceto o demônio. O ar estava fétido com enxofre e
sangue coagulado pelo calor.

As freiras começaram outro canto em voz alta e pura – a Oração do Senhor.

Pater noster, qui es in caelis,


Sanctificetur Nomen Tuum;
Adveniat Regnum Tuum;
Fiat voluntas Tua,
Sicut in caelo, et in terra.

Enquanto a oração prosseguia, as freiras avançaram em suas vassouras. O


pentagrama encolheu.

Uma auréola celestial brilhava agora acima da cabeça de cada freira. Seus
crucifixos flutuavam de seus pescoços e brilhavam com uma luz piedosa.

O demônio sibilou e cuspiu plumas de fogo do inferno quando os limites do


pentagrama se aproximaram dele. O campo tremeu com seus gritos
discordantes e infernais enquanto era forçado para dentro, e para dentro
novamente, até que se enrolou em uma bola sombria.

... mas livrai-nos do mal.


Pois teu é o reino,
e o poder, e a glória,
Para sempre e sempre,
Amém.

Tudo o que restou do demônio foi o crânio do bode, então ele também
desapareceu em um flash de vermelho.

As auras sagradas que cercavam as freiras desapareceram. Elas quebraram o


pentagrama e começaram a sobrevoar vagarosamente o campo de batalha,
amaldiçoando qualquer membro do bando de Greypack que ainda se
contorcesse.

A Prioresa voou sobre Draco e Granger, sua varinha levantada. Ela olhou
para a insígnia de Auror e para o jaleco de Granger e seguiu em frente.

Draco, petrificado por ela tanto no sentido físico quanto metafórico, nunca
se sentiu tão feliz por ser irrelevante.

As freiras ficaram satisfeitas com sua vitória absoluta. Elas conjuraram uma
chuva torrencial – algo de água benta, algo do dilúvio de Gênesis – que
extinguiu o fogo deixado pelo demônio e limpou aquele solo profano.
Eles desfizeram sua paralisia pelo restante do campo de batalha.

Enquanto bruxas e bruxos começaram a se sentar com suspiros e gemidos,


uma das freiras jogou uma lata inteira de pó de Flu no fogo de Granger.

Ele ficou verde. As freiras voaram para as chamas e desapareceram.

──── ◉ ────

O resultado da batalha foi uma bagunça de lama, sangue e confusão. O


feitiço Anti-Aparatação caiu. Alguém convocou medibruxas, que
aparataram pelo campo e distribuíram poções e cuidados para quem mais
precisava.

Um par delas trabalhou em Draco e Granger até ficarem satisfeitas de que


estavam estáveis. Eles passaram para Potter e Weasley, ambos gemendo o
suficiente para confirmar que estavam vivos e bem.

Draco e Granger se entreolharam – imundos, cortados, machucados e


espancados. No rosto de Granger havia uma grande mancha de sangue.
Gotas decoravam suas bochechas em uma névoa fina, escorrendo em
riachos, agora, enquanto a chuva os lavava. Draco sentiu a umidade em seu
rosto e sabia que ele estava adornado da mesma forma; sangue dele, sangue
dos outros.

Eles se sentaram e pegaram as mãos, rosto, ombros um do outro, deixando


escapar uma enxurrada de perguntas - você está ferido, caramba, eles
pegaram você, você está bem, você pode ficar de pé, você tem certeza de
que está bem, eu vi você ser atingido, você pode andar, oh, graças a Deus,
você está bem, você está bem, você quase foi morto, seu estúpido, maldito
idiota–

Eles ficaram de pé. Ele segurou seu querido rosto machucado em suas mãos
e ela segurou o dele nas dela.

Ele a beijou, suavemente, sob o aguaceiro, suavemente, contra o lábio


partido, suavemente, entre lágrimas, chuva e sangue.
Ela deslizou os braços em volta do pescoço dele e ficou na ponta dos pés e
o beijou de volta. Draco conheceu a felicidade, então. A felicidade era ela,
viva, seus olhos cheios de lágrimas transbordando, seu coração batendo
contra seu peito. Era saber que sua maior ameaça estava morta e se foi, era
a beleza dos dias futuros que ele mal ousava imaginar, era a sensação de
dedos em seu cabelo, era o estremecimento dela meio chorando, meio
rindo, era o sussurro dela de seu absoluto idiota contra a boca dele.

Ela empurrou o rosto contra o peito dele e soltou soluços de alívio e alegria.

Houve movimento ao redor deles. Potter e Weasley estavam de pé. Tonks,


parecendo ela mesma novamente, mancou na direção deles, assim como
Goggin e Buckley.

Enquanto segurava Granger em seu coração, Draco, francamente, não dava


a mínima para as opiniões de seus colegas. Ele só se preocupava com ela –
com isso – esta catástrofe requintada, este belo e estúpido desastre.

Houve suspiros, depois sorrisos, então Weasley riu e disse: "Segure-se,


cara", e Potter caiu na gargalhada e disse: "Eu te disse, eu te disse."

Granger escondeu o rosto na capa de Draco, tremendo com algo que beirava
o riso histérico.

Tonks, com um olho inchado e fechado, colocou um punho no quadril e


observou-os com os lábios franzidos.

– Eu suponho que é sobre isso que a conversa seria?

– Sim. - disse Draco. – Eu... er... não sou mais capaz de ser objetivo...

– Curiosamente, eu tinha percebido isso agora, quando assisti você tomar


uma maldição por ela. - disse Tonks. – Você está fora da missão de Granger,
Malfoy.

– Brilhante. - disse Draco, um largo sorriso em seu rosto.

Tonks balançou a cabeça, mas havia um sorriso em seu rosto também.


– Desculpe interromper o ato de amor, mas alguém pode explicar a porra
das freiras? - perguntou Goggin com um gesto para o céu.

Todos os olhos agora estavam em Granger.

– Elas... erm... eles me deviam um favor. - disse Granger.

– Um favor? - disse Potter, olhando para ela maravilhado. – Você


devidamente chamou a cavalaria, Hermione.

– Estou inspirada. - disse Tonks. – Acho que aquele demônio daria um


ótimo Auror.

O grupo vagou pelo campo de batalha lamacento, procurando por colegas


ou varinhas ou – no caso de Draco – pedaços de joias de família.

A varinha de Draco estava localizada perto do fogo de Granger. A de


Granger estava em uma pilha pegajosa do que parecia suspeitamente ser
carne humana mastigada por demônio perto da pedra.

Ela arrancou-a com uma careta.

– Acredito que é tudo o que resta de Fenrir Greyback.

Draco apontou sua varinha para a pilha de carne moída carbonizada e disse:

– Accio anel Malfoy.

Uma peça de prata deformada zuniu em sua direção – não da pilha, mas de
um ponto a alguns metros de distância.

Granger estremeceu.

– Oh, não... ele arrancou de mim e quebrou em pedaços, assim que me viu
acionar...

– É consertável. - disse Draco, guardando o anel danificado no bolso. –


Tudo é.
Ela olhou para ele com um sorriso rápido.

– Tudo é.

– Vamos para casa?

– Sim, por favor... vamos.

──── ◉ ────

Na Mansão, eles tomaram banho e se encontraram no pequeno salão nos


fundos da casa.

Granger desceu em seu pijama mais terrível.

Henriette e Tupey receberam uma versão redigida dos acontecimentos do


dia, para que não ficassem histéricos. Opimum foi preparado para aliviar o
choque e suavizar o desgaste emocional do dia.

Granger explicou seu sequestro - tal como foi.

– Alguém mexeu no Flu no laboratório.

– O que?!

– Sim. Eu sei. Era para ter apenas duas conexões - o laboratório e a


Mansão. Eu entrei para vir para cá – e eu juro que disse Mansão Malfoy – e
a próxima coisa que eu sei, eu estava girando em um campo, e aquele
monstro estava na minha frente. Eles me desarmaram no momento em que
aterrissei. Greyback me viu girar o anel e arrancou-o de mim - pensei que
ele fosse arrancar meus dedos, ele foi tão bruto. Ele me bateu por tentar
pedir ajuda. Úlcera absoluta de homem. E, claro, Fernsby não tinha me
seguido até o Flu – eu estava vindo direto para cá, ele não tinha motivos
para...

Draco andou.

– Quem mexeu na porra do Flu? Eu vou – não vou nem usar minha varinha,
vou estrangulá-los com minhas próprias mãos. E as malditas freiras?
Granger, que estava enrolada em um sofá com os braços em volta das
pernas, enfiou o rosto nos joelhos e riu.

– Ainda não consigo acreditar que funcionou.

– Como?

– Depois de ter visto um pouco do que elas eram capazes no mosteiro,


quando devolvi o crânio, pensei que poderia ser útil... erm... aproveitar as
freiras para nosso benefício, se eu pudesse.

– Claro que pensou.

– Quando enviei a caveira de volta fingi ser um colecionador que a havia


comprado de uma gangue de ladrões. Eu disse às boas Irmãs que a estava
devolvendo porque era senciente e merecia estar em sua própria casa -
parecia errado ficar com ela. Eu disse que se elas quisessem se vingar da
gangue, eu poderia ajudá-las. Eu disse a elas qual feitiço de rastreamento
procurar – que eu o ativaria quando fosse o momento certo para elas
exercerem sua vingança.

Granger engoliu em seco.

– Eu não esperava que elas o exercessem tão minuciosamente... De


qualquer forma, eu vinha praticando aquele maldito feitiço do Flu por
semanas e semanas. Finalmente consegui reduzir para três minutos. É tão
difícil quanto Portus – possivelmente até pior – eu odiei e nunca mais vou
lançá-lo de novo. O especialista em Flu que veio ao meu laboratório me deu
um tutorial decente e eu estudei o resto. Eu sabia que as freiras não seriam
capazes de aparatar através do Canal, mas se eu tivesse uma conexão de Flu
aberta onde quer que eu estivesse quando ativasse o feitiço de rastreamento,
então teríamos uma chance...

Draco estava muito chocado para fazer qualquer tipo de comentário


articulado. Ele apenas disse, "Maldito inferno, Granger," e esfregou a palma
da mão na testa.

– Eu sei. - disse Granger. – Eu posso ser a ghoul mais oportunista de nós.


Ele a encarou. Ela riu em seus joelhos novamente.

– Mas – falando em rastreamento – como você me encontrou? - ela


perguntou. – Quando Greyback destruiu o anel, eu estava convencida de
que estava perdida – simplesmente não havia como você ter tido tempo de
tentar uma aparatação até mim.

– Seus grampos de cabelo. - disse Draco.

– Meus... grampos de cabelo? - piscou Granger.

Draco fez um gesto geral em direção ao cabelo dela.

– Eles estão em toda parte e você sempre os tem com você. Eu tenho feito
isso desde o nosso primeiro encontro. Eles foram úteis uma ou duas vezes.

Granger puxou um grampo de cabelo de seus cachos e lançou um feitiço de


revelação. Ele brilhou verde.

– Claro. - continuou Draco, – ao lado de Miss Flu para as Malditas Freiras,


parece um pouco sem inspiração, agora ...

– Eu acho que é brilhante. - disse Granger, sorrindo para o grampo. – As


ideias mais simples geralmente são.

– Certo.

– Isso explica Uffington.

– Sim.

– Você é astuto.

– Você também é.

Henriette surgiu.

– Pardonnez-moi, Monsieur, Mademoiselle – Madame Tonks está usando


Flu. Ela gostaria de entrar, se for um momento conveniente? Ela tem uma
Mademoiselle Brimble com ela.

– Mande-as entrar. - disse Draco.

Um momento depois, a voz de Tonks ecoou pelo corredor enquanto ela


perguntava a Henriette.

– Não estamos interrompendo, estamos? Eles não estão tramando nada? Um


pouco de tapa e cócegas?

– Euh... não, madame...

Granger estava com as bochechas rosadas.

Tonks irrompeu na sala com uma quantidade ridícula de vigor,


considerando o que eles haviam passado algumas horas atrás.

– Hermione, isso é uma roupa. - disse ela, avistando o pijama de Granger. –


Não é de admirar que Draco não conseguisse tirar as mãos de você.

Granger ficou ainda mais rosa.

– Tonks!

– O que? Não é verdade?

Brimble seguiu humildemente atrás de Tonks, segurando uma pilha de


pergaminhos.

Isso distraiu Tonks do pijama.

– Certo. Brimble tem novidades. Conte-nos o que você descobriu para que
possamos ficar devidamente indignados juntos.

Henriette voltou a existir.

– Sinto muito - Monsieurs Potter e Weasley estão no Flu e eles-


Monsieurs Potter e Weasley não esperaram para serem convidados a entrar.
Seus passos e gritos de "Hermione? Malfoy? Onde vocês estão?" ecoou
pela Mansão até que Tonks colocou a cabeça para fora do salão e acenou
para eles entrarem.

A visão de Draco de uma noite tranquila de descanso e recuperação (e


amassos com Granger) estava desaparecendo rapidamente.

Henriette serviu opimum para os recém-chegados enquanto eles se


acomodavam nos sofás.

Brimble os informou sobre suas descobertas. No final, o Gabinete dos


Aurores realmente fez tudo o que podia. Granger foi traída por dois
próximos desconhecidos que teriam sido difíceis de antecipar.

– A primeira notícia – houve uma prisão. - disse Brimble. – Um Sr. Terris


acabou de se entregar. Técnico de Flu do Departamento de Transporte
Mágico. Diz que ele é o responsável por adulterar a lareira no laboratório
do curandeiro Granger. Greyback sequestrou sua esposa e filhos ontem e
deu a ele doze horas para fazer isso, ou eles morreriam.

– Não! - ofegou Granger.

– A família está bem – eles foram encontrados amarrados e amordaçados,


mas ilesos. O Sr. Terris está cooperando... parece que ele estava bastante
arrependido, na verdade... e chorando bastante.

Granger olhou para Draco.

– Sem estrangulamento.

– Sim, estrangulamento. - disse Draco, que não achava isso uma desculpa
adequada para o que o homem havia feito.

Tonks os observou com os lábios franzidos.

– Por favor, discuta seus planos para o quarto em outro momento - Brimble
está falando.
Granger corou. Weasley deu uma gargalhada. Um dos olhos de Potter
estremeceu.

– Quanto à minha segunda notícia. - disse Brimble, tirando um longo rolo


de pergaminho. – Esta é uma lista dos mortos. Aqueles cujos restos
pudemos identificar, de qualquer maneira.

Ela ergueu a lista. Um nome foi circulado nele.

Uma senhorita Clotilde Fiddlewood.

– Quem? - disse Granger.

– O que? - disse Potter.

– Não. - disse Weasley.

– Assistente de Shacklebolt. - disse Tonks, seus lábios pressionados em uma


linha infeliz.

– Aquela velha cacarejadora? - disse Draco.

Essa era a bruxa que parecia familiar no campo - aquela que estava
remendando a proteção, impedindo a fuga deles.

Brimble assentiu.

– Não podemos interrogá-la – obviamente – mas estamos especulando que


ela pode ter ouvido partes da primeira conversa da Curandeira Granger com
o Ministro. Aquela que desencadeou em seu pedido de proteção. Avisar
Greyback levaria meses - ele estava escondido na época. Estaremos
investigando o que pudermos e talvez nunca saibamos com certeza - mas
ela era uma das poucas pessoas que poderia saber de alguma coisa. E, claro,
encontrá-la correndo com o bando de Greyback, depois, é uma evidência
bastante contundente...

Eles se sentaram em silêncio. Granger parecia chocada. Draco balançou a


cabeça.
Então, no silêncio, Potter disse:

– Greyback está morto.

Dizê-lo tornava real.

As mãos de Granger encontraram suas bochechas.

– Greyback está morto.

– Greyback está morto pra caralho. - repetiram Draco e Tonks.

– O idiota está morto! - disse Weasley.

Eles tocaram seus copos de opimum juntos.

– Certo. - disse Weasley depois de engolir o dele. Ele bateu palmas. – O que
um cara tem que fazer para conseguir uma bebida de verdade por aqui?

Eles decidiram fazer disso uma festa de verdade. Patronos e Blocos foram
enviados. Logo, o salão estava cheio de família e amigos – Lupin e as
crianças, a esposa e os filhos de Potter, Luna Lovegood vagando
sonhadoramente, os colegas de Granger e os melhores alunos, Shacklebolt
(suportando muitas tiradas sobre sua escolha de assistente), Aurores e suas
famílias, uma série de curandeiros. A notícia da vitória e da festa se
espalhou e mais pessoas começaram a chegar, muitas em pijamas por causa
da hora tardia - Longbottom e Pansy, Zabini e Patil, todo o clã Weasley (que
os deuses ajudem Draco), Macmillan e outros colegas do Ministério, e,
finalmente, Theo, em um conjunto de pijamas masculinos ridiculamente
transparentes.

Henriette, Tupey e os elfos da cozinha ficaram encantados em ajudar na


folia. Tupey assediou Weasley em particular com as bebidas mais fortes da
adega.

Em algum momento durante as festividades, Potter e Weasley emboscaram


Draco enquanto ele se dirigia para Granger. Draco se viu pressionado em
um canto por seus colegas favoritos.
Eles estavam devidamente bêbados.

– O que? - disse Draco.

– Eu sabia. Eu sabia que você estava tramando alguma coisa. - disse Potter,
inclinando-se tão perto que seu hálito embriagado subiu pelo nariz de
Draco. – Eu vi como você olhava para ela.

Draco o empurrou.

– Afaste-se, seu filho da puta especulativo.

– Quais são suas intenções com Hermione?

– Minhas intenções? Voltamos à era vitoriana? Você é o pai dela?

– Responda a p-pergunta, Malfoy. - disse Weasley, com o que


presumivelmente deveria ser um olhar ameaçador. (Acabou sendo menos do
que intimidador quando ele terminou o movimento descansando a cabeça
no ombro de Draco.)

– Eu não tenho nenhuma intenção. - disse Draco. – Saia de cima de mim.

Ele segurou Weasley à distância de um braço.

– Você cheira bem. - disse Weasley. – Ele cheira bem. - ele repetiu para
Potter.

– Ele cheira?

Potter se aproximou para cheirar.

– Afaste-se. - disse Draco, agora segurando Potter à distância também.

– Você fez alguma coisa com ela? - perguntou Weasley, um olho


semicerrado em suspeita (o outro estava fechado e tirando uma soneca). –
Deu a ela uma poção do amor?
– Claro que não - as mulheres se apaixonam por mim o tempo todo - eu sei
que é um conceito novo para você...

– E você? - perguntou Potter. – Você está apaixonado por ela?

– Eu... isso não é da sua conta... e por que você não pergunta a ela se ela me
enfeitiçou?

– Porque ela não é uma... uma canalha como você. - disse Potter.

– Uma m-malfeitora. - disse Weasley.

Draco tentou dizer "Tsk", mas estava tão bêbado que saiu como uma
framboesa.

– Vocês dois estão sob a ilusão de que ela é um anjo perfeito, mas ela é...
dez vezes mais canalha que eu sou e é por isso que eu...

– Você o que? - perguntou Potter.

– ...Gosto dela.

– Você gosta dela.

– Sim.

– Você é o Auror dela, sabia. - disse Potter, apontando um dedo vago na


direção de Draco. – Isso não é profissional. Não é permitido.

– Unpfoff... unpfoffess... não profissional. - repetiu Weasley.

– Era o auror dela. E eu nunca... não cruzamos a linha... ou, se cruzamos,


não aconteceu de verdade...

Potter piscou os olhos desfocados.

– Aconteceu ou não?
– Sonhos. Em um parapeito de janela. Fantasias. Na Espanha. Nada real.
Era Samhain, você sabe. Ficamos bêbados com fogo – genuinamente – você
tem que admirar os espanhóis, eles sabem fazer bebida – ou foram os
celtas? De qualquer forma, era tudo – fantasias – lindas fantasias...

– Pare de falar conosco sobre suas fantasias. - disse Weasley, parecendo


alarmado.

– Elas são excelentes, no entanto. Certo, a minha favorita é quando ela...

– Não. - disse Potter, pressionando a mão na boca de Draco. – Não conte.

Draco afastou sua mão.

– Por que seus dedos estão pegajosos?

Potter olhou para seus dedos com foco intenso.

– Torta de melaço. - ele declarou com um firme aceno de cabeça.

– Não tem nenhuma torta de melaço.

Weasley, esforçando-se para ajudar, derramou seu Firewhisky na mão de


Potter e nos sapatos de Draco.

– Obrigado. - disse Potter gravemente para Weasley enquanto limpava a


mão no manto. – Você é um verdadeiro amigo...

– Seu idiota. Agora meus dedos estão úmidos. - cuspiu Draco.

...ao contrário de Malfoy, que é um idiota. Escute, Malfoy, se você fizer


alguma coisa para bachucá-la...

– Bachucar ela?

– Machucá-la, nós vamos batar você. Matar você.

– M-matá-lo a sangue frio. - disse Weasley. – Colocar fogo na sua casa.


Libertar seus elfos.
– Eu nunca faria nada para bachucar ela. - disse Draco em um raro
mergulho bêbado na honestidade genuína.

– Você não faria?

– Não. Ela é... eu – certo, não é da sua conta, como eu acabei de dizer...

Weasley agarrou o colarinho de Draco e, com uma espécie de desespero


melancólico, disse:

– Você promete que nunca faria nada para machucá-la?

– Sim.

Weasley pressionou sua testa contra a de Draco e olhou em seus olhos.

– Acho que ele está falando a verdade.

– Pare com isso - saia de cima de mim - você não é um Legilimens-

– Nós o damos a nossa bênção? - Potter perguntou, franzindo a testa para o


nada.

– Eu não preciso da porra da sua benção. - disse Draco.

– Seria importante para Hermione. - disse Weasley.

– Ela também não precisa disso. - disse Draco.

– Diga a ele que vamos matá-lo se ele a machucar. - disse Potter.

– Nós já dissemos. - disse Weasley. – Eu acho.

– Certo.

– Você acha que devemos apenas - matá-lo agora? - perguntou Weasley.

– Preventivamente? - perguntou Potter.


– Sim. Acho que seria uma boa proatividade da nossa parte.

– Eu gosto disso.

Draco empurrou Weasley para longe.

– Que caralhos – pare de respirar em cima de mim, Weasley – eurgh, por


que você está tão úmido – por que tudo está úmido e pegajoso – sai fora.
Certo. Eu nunca a machucaria. Ela é genuinamente importante para mim.
Eu me importo com ela. Muito. Demais, realmente. Em um grau idiota. Eu
gostaria de não me importar. Mas – eu me importo e é – de qualquer forma,
esta não é uma conversa que eu gostaria de ter com vocês imbecis bêbados.
Você pode me matar se eu a machucar – mas eu não vou – eu nunca faria
isso – ela que me machucaria, se alguma coisa – esse é o meu medo – meu
maldito bicho-papão – certo? Terminamos aqui?

Potter e Weasley estreitaram os olhos, mas não ficou claro se eles estavam
processando a diatribe de Draco ou apenas caindo no sono.

– Acho que está tudo bem – disse Weasley.

Potter assentiu e disse:

– Estou satisfeito.

– Oh? - disse Draco. – Você está? Bom. Agora vá embora. Preciso trocar de
sapato porque você é literalmente incapaz de segurar um copo em pé –
Tupey! Sapatos e meias limpos, por favor, Weasley sofreu um acidente.

Eles voltaram para a festa, ficaram ainda mais bêbados e zoaram a noite de
bom humor.

──── ◉ ────

Draco havia adormecido em um dos sofás. Ele acordou de madrugada com


o pescoço rígido e uma dor de cabeça latejante.

Ele se levantou e passou por cima de corpos em vários estados de


consciência. Granger estava longe de ser encontrada.
Henriette estava caminhando pelo salão, colocando um croissant e uma
poção para ressaca ao lado de cada convidado que roncava.

– Onde está Mademoiselle? - perguntou Draco.

– Acredito que ela foi tomar um pouco de ar, monsieur. - disse Henriette. –
Devo chamá-la?

– Não, não - eu vou encontrá-la.

Draco engoliu uma das poções para ressaca. Então ele parou na janela e deu
um suspiro melodramático.

– Está tudo bem? - perguntou Henriette.

Draco pressionou sua testa contra a janela fria.

– Não.

Henriette se aproximou.

– Qual é o problema?

– Henriette?

– Oui?

– Je suis... je suis ensorcelé.

– Ah!

– Je l'aime de tout mon coeur, Henriette. De tout mon être.

Henriette pousou o prato de croissants e torceu as mãos.

– Não fique feliz ainda. - disse Draco.

– Não?
– Não. Eu não disse a ela. Mas eu vou contar a ela. Parto para desnudar
minha alma, Henriette.

Henriette o observou partir com lágrimas nos olhos e as mãos cruzadas


sobre o peito.

– Bon courage, monsieur. - ela disse em um sussurro.

O amanhecer de dezembro iluminou o céu oriental.

Draco encontrou Granger entre as bétulas prateadas e a névoa crescente,


caminhando lentamente por entre as árvores. Estava frio.

Ela parecia pálida e cansada enquanto caminhava ao longo do caminho. Ela


havia se enrolado em uma espécie de xale que parecia suspeitosamente com
um dos lenços de Draco, transfigurado. Seu cabelo estava apenas meio
preso e caía pelas costas.

Ela o avistou à distância. Ela fez uma pausa e observou-o vir até ela em
meio ao tojo congelado e ao pântano.

Tudo nela parecia distinto e nítido, estranhamente. A respiração embaçada


entre os lábios entreabertos. Dedos segurando o xale. Cílios escuros ao
redor de olhos brilhantes.

– Você acordou cedo. - ela disse, com uma espécie de surpresa suave.

Quando Draco continuou a encará-la como um cretino apaixonado, ela


perguntou.

– Você está bem? Há algo de errado?

Ele foi tomado por uma espécie de coragem de tolo. A coragem de um


idiota.

Era coragem verdadeira, por tudo isso. Depois disso, as coisas nunca mais
seriam as mesmas.

– Sim, algo está errado. - disse Draco.


– Oh?

– Algo está muito errado. Eu preciso – eu preciso te dizer uma coisa. É


estúpido e provavelmente uma decisão ruim, mas parece que vou me matar
se eu não fizer isso, então...

Granger estava olhando para ele com curiosidade, com algo sério – com seu
olhar de resolver quebra-cabeças. Ela puxou o xale mais para perto de si.

Bem, ele iria resolver o maldito quebra-cabeça para ela, agora mesmo.

– Eu não quero manter o equilíbrio. - disse Draco. – Não quero mais anular.

– O... equilíbrio? - repetiu Granger. – Anular?

– O... o vai e vem – o não ousar fazer mais – o não cruzar a linha. O culpar
a bebida pelos meus lapsos. O fingir que não me importo com você – que
não morreria por você – suponho que já tenha ficado claro, de qualquer
maneira. A negação – supressão – lentamente sufocando meu coração –
tudo isso.

Draco levou um momento para se recompor.

Nem um pouco composto, ele continuou.

– Você é... fodidamente brilhante e linda além... de qualquer coisa. Na


verdade, é bastante injusto que uma pessoa tenha todos esses... atributos. E
eu quero ser mais do que seu Auror, e quero que você seja mais do que
minha Protegida, ou Curandeira, ou qualquer um dos seus – muitos e
diversos – títulos. Eu... eu me apaixonei por você apesar do que tem sido,
eu juro para você, uma crítica muito sincera contra. Eu sei que foi errado –
inapropriado – violou todos os protocolos – toda aquela bobagem. Fiz tudo
o que um homem pode fazer para anular essas coisas, mas eu... falhei. Você
é muito. Eu não poderia resistir a você. Você encontrou fissuras em minhas
defesas e as rasgou em grandes rasgos sangrentos, e então veio morar em
meu coração, como uma espécie de luz em um lugar escuro. E o pior é que
sei que você não fez de propósito. Eu sei que você não pediu por isso. Eu
sei que você estava apenas sendo... você, seu eu estúpido, brilhante e
benfeitor. Mas você é - como se vê - tudo que eu quero.

Ele ousou olhar para ela. Havia lágrimas em seus olhos.

– Certo - agora eu fiz você chorar - brilhante...

– E-eu? - disse Granger com a voz trêmula. – Sou eu que encontro fissuras?
Eu não poderia resistir a você.

– O que?

Granger respirou fundo.

– Continuo tentando controlar isso, mas é... mais forte do que eu. Eu não
quero – eu não queria – não sei o que quero. Sim, eu quero... eu quero uma
maldita noite sem pensar em você. Eu quero estar na mesma sala que você
sem sentir que vou morrer se não tocar em você... se eu tocar em você.
Quero que minha cabeça volte a ser minha, e meu coração. Mas você está
em ambos, seu idiota – você está me deixando louca...

Ela enxugou uma lágrima.

– Eu só quero ter... um maldito momento de paz, sem você no meu cérebro,


mas isso é, aparentemente, pedir demais.

– E quanto a mim? Eu não posso... não posso tirar o pensamento de você da


minha mente. Você – seu sorriso – você fazendo aritmância – a maldita
Espanha...

– Você sabe como é o cheiro da minha Amortentia?

– Você sabe o quanto você assombra minhas noites?

– Eu odeio isso. - fungou Granger. – É um lixo. Eu odeio não – não estar no


controle – eu não deveria ter nenhum tipo de sentimento por você – isso é
sua culpa...

– Minha culpa?
– Por que você tem que ser tão...?

– Tão o que?

Granger jogou as mãos para o ar.

– Tão tudo! Você deveria ser um Auror arrogante e moderadamente


competente! Você não deveria ser engraçado, cativante, heróico e -
cavalheiresco quando necessário. Você não deveria – literalmente me
encantar e – pior ainda – abrir caminho até meu coração como um verme...

– Fale por você. - disse Draco, indignado. – Você é o verme aqui. Você
deveria ser uma idiota insuportável cuja presença eu não suportaria, não
alguém cuja companhia - risos - beijos - tudo - acabei desejando como um
tolo enfeitiçado e apaixonado. Você sabe quantos encontros sangrentos eu
tive para tirar você da minha cabeça?

– Eu saí com aquele jardineiro estúpido!

– O que?

– Você armou para mim.

– Deuses.

– Como posso estar apaixonado por você? Você é Draco Malfoy.

– E eu? Apaixonado por Hermione Granger? Dos pés a cabeça? Eu não


amo. Não consigo nem dizer a palavra, sinto uma sensação horrível na
minha boca.

– Eu nunca deveria ter aceitado esse acordo. - disse Granger, dirigindo-se


ao céu. – Eu deveria ter insistido em outra pessoa, no momento em que vi
seu nome estúpido naquela carta estúpida me dizendo que você havia sido
designado para mim.

– Eu tentei. - disse Draco. – Disseram-me para não ter um complexo em


Granger – bem, aqui estamos nós...
– Um complexo?

– ...E agora eu tenho um – sim, um complexo – um grande complexo


maldito em Granger, além de suas expectativas mais loucas.

– Eu não quero o seu complexo.

– Bem, você o tem – e muito mais além disso.

O silêncio caiu. Granger enxugou uma lágrima. Draco deu um passo mais
perto dela. Suas mãos alcançaram uma a outra.

– Sinto como se tivesse dado a você uma parte de mim que você poderia
quebrar. - disse Granger. – Por favor, não quebre...

– Eu não vou quebrá-la. Eu nunca faria. Potter e Weasley me informaram


que vão me matar se eu te machucar – não que suas ameaças contem para
alguma coisa. E você tem uma parte de mim. Estou farto disso – é melhor
não quebrá...

– Eu nunca faria.

– ...E por que você tem que ser tão bonita, mesmo quando está chorando?

– Como você faz a aparência de um vampiro de ressaca ser tão atraente?

– Eu vou amassar as maravilhas para fora de você.

O sorriso dela apareceu entre as lágrimas, um flash de sol.

Ela era a felicidade que corria em suas veias. Ela tinha seu pequeno coração
negro em sua totalidade.

Ele diminuiu a distância entre eles. Ele segurou o rosto dela entre as mãos.
A respiração deles se misturou no ar frio.

O sol nasceu para valer, iluminou a neve, esverdeou a grama e envolveu-os


em luz.
Ele a beijou.

E foi a coisa mais doce, mais marcante, mais maravilhosa, finalmente poder
fazê-lo, sem interrupção, sem desculpas, sem romper. Fazê-lo sabendo que
seu tormento era compartilhado e, portanto, havia se tornado outra coisa –
um alívio, uma alegria estrondosa.

Ele tinha uma parte dela e ela tinha uma parte dele e isso seria – isso seria
algo lindo. Poderia haver algo mais doce, poderia haver mais bem-
aventurança do que isso?
(Nikitajobson)
35. Troca Dinâmica de Fluidos: Um
modelo prático

A inocência do beijo se transformou em algo mais pesado quando Draco


cumpriu sua promessa de amassar as maravilhas fora de Granger.

Ela passou os dedos pelos cabelos dele. Ele a apoiou em uma árvore. Ela
tinha o colarinho dele em seus punhos e estava usando isso como alavanca
para puxá-lo para mais perto ou se levantar mais alto, com o resultado
prazeroso de língua com língua.

Draco sentiu a falta do anel - ele se acostumou com a coisa que o mantinha
informado sobre os batimentos cardíacos de Granger. Ele resolveu o
problema encontrando pontos de pulsação ao longo de sua garganta com a
boca, o que lhe deu uma explicação muito mais imediata e tátil de seus
sentimentos.

Os olhos dela estavam fechados. O cabelo dela ficou preso na casca de


bétula. O pulso dela era uma vibração delicada e atormentada contra seus
lábios. Ele poderia tê-la tomado bem aqui, contra a árvore, mas ela era
Granger, e tudo o que havia de bom e maravilhoso no mundo, e ela merecia
mais.

Agora uma de suas pernas estava ao redor dele. Ele a levantou mais alto,
uma mão em sua bunda, e pressionou-se contra ela.

– Eu acho que eu gostaria de – talvez – voltar para dentro. - ofegou Granger


com uma espécie de questionamento, como se ele fosse dizer qualquer coisa
além de sim, deuses, sim.
– Eu quero você. - Draco disse em sua boca. – Em... todos os sentidos do
termo.

– Todos eles? Bem... vamos... vamos começar com um?

– Sim. O menor denominador comum. - disse Draco. Ele empurrou seu


pênis com mais força, no caso de seu significado não ser retumbantemente
claro. – Você vai me acompanhar até meus quartos?

– Você não quer dizer seus aposentos? - perguntou Granger em um sotaque


ofegante.

Draco pegou a mão dela e começou a puxá-la para a Mansão.

– Não seja atrevida, ou vou fazer você se arrepender.

Granger sorriu para ele.

Ele parou para beijá-la com força.

Eles cambalearam de volta para a Mansão, de mãos dadas. Eles subiram


pela escada dos fundos perto das cozinhas, como adolescentes travessos,
para evitar serem vistos pela multidão de convidados.

No andar de cima, Granger olhou curiosamente os aposentos de Draco,


passando pela sala de estar, o vestiário, espiando o banheiro e, finalmente,
chegando ao quarto.

– Por que você está sorrindo? - perguntou Granger, olhando para Draco por
cima do ombro.

Ele estava sorrindo? Oh.

Draco fechou a porta do quarto atrás de si e lançou algumas proteções.

– É... delicioso finalmente ter você aqui pessoalmente.

– Já estive aqui em outros estados? - perguntou Granger, passando a mão


pela cabeceira da cama, o que não deveria ser tão provocativo quanto foi.
Draco se deitou na cama.

– Muitos. Versões de sonho de você, versões de fantasia terrivelmente


travessas de você...

– Você deve me contar sobre a última.

Draco queria seguir com algo inteligente e sexy, mas Granger escolheu
aquele momento para tirar o xale e expor seu pijama hediondo.

– Deuses. - disse Draco, em vez da coisa inteligente e sexy.

– Qual é o problema? - perguntou Granger. – Você não gosta disso? Estou...


coalhando seu leite?

– Você é uma visão. - disse Draco.

Granger passou uma mão sedutora por seu quadril forrado de xadrez.

– Não sou? Tome-me, eu sou sua.

– Você não deve dizer coisas assim, a menos que seja sincero.

– Eu estou sendo sincera.

– Bem, então. - disse Draco. – Venha aqui. Devo despojá-la dessas...


coisas... antes de prosseguirmos.

Granger subiu na cama.

– Eu achei que eles adicionaram um pouco de brio escocês...

– Os escoceses não têm brio. Não junte essas palavras...

– Eles têm muito brio.

– ...Vou comprar para você tantos negligées trouxas inapropriados que você
terá um novo para usar todas as noites.
Ele começou a desabotoar os botões dela.

– É recíproco. - disse Granger, observando seu progresso. – O pijama de


Theo me inspirou. Podemos encontrar algo ainda melhor para você. Algo
com uma – uma escotilha de pênis.

– Uma escotilha de pênis?

– Sim, para facilitar o acesso – uma pequena abertura...

– Pequena?

– Desculpe – uma abertura escancarada – um verdadeiro abismo – oh...

O solilóquio de Granger sobre escotilhas de pênis foi interrompido porque


Draco havia libertado os seios dela do pijama hediondo e agora estava com
a sua boca neles.

Ela deitou ao lado dele e passou a mão na frente dele e abriu a braguilha
dele, e qualquer esperteza que Draco estava pronto para lançar desapareceu,
exceto por me acaricie como uma cabeceira, que não parecia forte o
suficiente para compartilhar com a classe.

– Acontece que - disse Draco, – a fórmula atrativa de Malfoy é


simplesmente... você.

– Sim. - suspirou Granger. – Você se sente como se estivesse pronto para


fazer um – um teste de penetração...

Ela soltou uma risada e caiu da cama.

Draco a puxou de volta. "Sério." Ele colocou a mão dela de volta em seu
pênis. – Como você estava, Granger.

– Veja. - sussurrou Granger enquanto ela colocava a mão de volta em suas


calças. – É por isso que precisamos de uma escotilha de pênis. Vou ter uma
maldita cãibra.
– Nós dois devemos nos despojar de... tudo. - disse Draco, tirando suas
calças.

– Sim.

– Chuveiro? - perguntou Draco.

– Banheira? - rebateu Granger.

– Oh?

– Eu gosto bastante dos... jatos. - disse Granger, abrindo caminho pelos


botões de Draco.

– Oh.

Draco se arrastou para preparar o banho, tropeçou na cueca em torno de


seus tornozelos e as jogou na cabeça de Granger quando ela riu.

– Ela tem pequenas vassouras nela, desta vez. - veio a divertida observação
de Granger.

Ela se juntou a ele no banheiro quando a enorme banheira começou a


encher.

– Vamos dar uma olhada na sua. - disse Draco, puxando a calça do pijama
dela.

– Vou desapontá-lo... não estou usando calcinha.

– Isso é tudo menos decepcionante.

Ele ficou atrás dela e observou os dois no espelho enquanto ele tirava as
coisas dela. Agora ela estava nua, e ele estava nu, e tudo o que ele queria
fazer era passar as mãos sobre ela e observar suas reações, o arqueamento
enquanto ele apertava um mamilo, o suspiro enquanto beijava seu pescoço.
Deuses, a sensação de sua pele nua contra seu pênis.
Ela esfregou a bunda contra ele e sorriu para ele no espelho quando ele
respirou fundo. Ela colocou a mão atrás dela e o acariciou. Ele deslizou a
mão para a frente dela, onde as coisas estavam mais quentes e cada vez
mais úmidas, e começou a acariciá-la um pouco. Ambos começaram a
respirar mais forte.

– Banho? - ofegou Granger.

– Certo. - disse Draco.

Eles subiram na enorme banheira com uma falta de elegância distinta, visto
que ambos estavam fixados nos órgãos genitais do outro.

Eles ensaboaram um ao outro – uma excelente desculpa para continuarem a


se apalpar. Draco realmente pretendia ficar limpo e depois levá-la de volta
para a cama para as atividades subsequentes, mas ela disse uma coisa
interessante sobre os jatos, e ele foi tomado por uma curiosidade poderosa e
excitante.

– Então, os jatos. - disse Draco, ligando cada um deles. A banheira tornou-


se um redemoinho de espuma.

– Sim. - disse Granger.

– Mostre-me. - disse Draco.

– Você não prefere participar?

– Quero assistir, para começar. Posso participar... mais tarde.

Granger pressionou os lábios em um pequeno sorriso, então começou a


tatear com as mãos. Draco assistiu em uma espécie de atordoamento
excitado, porque Granger estava em sua banheira, e havia sabão pingando
de seus seios, que ele havia colocado lá, e agora ela estava procurando por
um jato com o qual se libertar, e ele não tinha certeza de que não era um
sonho erótico glorioso.

– Eu tenho opções, aqui. Ooh... este. - disse Granger, encontrando um jato


no final da banheira que jorrava horizontalmente.
Ela montou seu jato de escolha.

– O truque é se posicionar – bem assim...

– Oh?

– O ângulo importa bastante, é claro...

– É claro.

– E então deixamos o... calor e a... água fazerem o resto, você sabe...

– Certo.

– ...não demora muito...

Draco observou enquanto sua explicação se tornava menos coerente e, nos


momentos seguintes, ela ficava mais rosada nas bochechas e ao longo de
sua clavícula. Seus lábios estavam entreabertos. Os olhos dela, que estavam
em seu próprio reflexo no espelho, agora encontraram os dele, escuros e
convidativos. Sua respiração ficou mais rápida quando o calor espumante
entre suas pernas a trouxe para mais perto.

A mão de Draco estava em seu pênis – mas levemente, porque nesse ritmo,
ele poderia gozar em um minuto apenas com as imagens e sons.

Ela passou a mão pelo seio e brincou com o próprio mamilo.

– Puta merda, Granger.

Sua resposta foi um sorridente "Mm."

Ela gesticulou para Draco se posicionar atrás dela – o que ele, obviamente,
fez com entusiasmo.

Agora ele podia ver os dois no espelho. Granger se curvou e enganchou os


dedos ao longo da borda da banheira. O jato espumava na frente dela,
enquanto Draco foi presenteado com uma entrada muito molhada e
escorregadia, logo acima da linha da água.
Ele colocou as mãos nos quadris dela. (Eles faziam apoios excelentes, a
propósito.)

A entrada foi confortável. Ela se sentiu inchada. Ele observou a si mesmo


entrando nela, a maneira como sua cabeça a abria enquanto ele se
empurrava para dentro, a maneira como a umidade dela e a dele se
misturavam quando ele a puxava novamente.

O jato agitou-se contra suas bolas quando ele se empurrou de volta,


centímetro por fodidamente doce centímetro.

– Vou durar cerca de... quarenta segundos.

Sua resposta foi ofegante.

– Não importa... nós temos... toda a manhã...

Draco não tinha certeza de ter visto uma visão mais excitante do que
Granger no espelho, beirando o precipício de seu orgasmo, os seios dela se
movendo no ritmo de suas estocadas.

Ele a observou gozar, sua mão molhada agarrada ao lado da banheira, sua
boceta apertando ao redor de seu pênis em um aperto longo e convulsivo.
Ela montou com um suspiro entre os dentes, pressionando o rosto em seu
antebraço.

As terminações nervosas da cabeça de seu pênis até suas bolas foram


sobrecarregadas pela sensação dela, pelo calor da água, pelo jato
espumante. Draco, incapaz de resistir a nada disso, veio junto com ela,
empurrando seu orgasmo nela o mais fundo que podia.

Eles respiraram. Granger se afastou do jato, que agora avançava em áreas


recém sensíveis. O pênis de Draco deslizou para fora dela e pingou sêmen e
as contribuições pegajosas dela na água.

Eles afundaram na banheira, descansaram a cabeça na beirada e ofegaram


olhando para o teto.
Granger se recuperou primeiro. Ela beijou Draco em sua boca onde estava
frouxa e estúpida e então se divertiu apertando botões para descobrir
variedades de sabonetes.

– Eu, por mim, me sinto limpa e pronta para continuar. - disse Granger. –
Feitiço de secagem?

Quando o sangue começou a voltar para seu cérebro, Draco começou a


sentir que poderia estar pronto para alguma coisa. Talvez Granger fizesse
sexo como ela fazia tudo – minuciosamente.

O que seria interessante, porque ele também se orgulhava de sua


meticulosidade nesses assuntos.

Eles saíram da banheira.

– Limpa o suficiente para comer? - Draco perguntou, apontando feitiços de


secagem para ela.

– Sabe, eu tinha acabado de pensar que não tomamos café da manhã.

– Vou pedir às cozinhas que mandem algo para cá.

– Perfeito.

– Morangos e creme?

Os olhos de Granger brilharam de diversão.

– Morangos são opcionais.

– Feito.

Draco vestiu um roupão de seda para dar a ordem enquanto Granger tentava
arrumar o cabelo no espelho.

Ela saiu do banheiro enrolada em uma toalha, ainda com as bochechas


rosadas. Uma cesta de torradas esperava, e ovos moles, e morangos frescos,
e uma tigela ridiculamente grande de chantilly.
– Um balde inteiro. - disse Granger, olhando para a coisa.

– Henriette foi insistente. Vamos nadar nele?

– Eu deveria ter deixado você comprar aquele barco.

Falando em barcos, Draco comeu o café da manhã com o pênis a meio


mastro, o que divertiu Granger tremendamente quando ela percebeu.

– As partes pendentes estão escapando. - disse ela, apontando para a virilha


de Draco com um garfo.

– Eu não acho que isso conta como pendente.

– Você está certo. Mais túrgido do que qualquer outra coisa.

Draco olhou para baixo.

– Essas partes queriam escapar da última vez que estive com você de
roupão, mas você estava muito ocupada ficando escandalizada pelos
projetos de irrigação soviéticos.

Granger riu.

– Eu precisava de uma distração.

– Oh? De que?

Granger se ocupou com um morango.

– De mim fora do chuveiro? - pressionou Draco. – Foi isso? Conte-me.

– Nunca.

– Você está sendo tímida comigo depois do que acabou de fazer no


banheiro?

– Aquilo não resultou em níveis sufocantes de presunção de sua parte. -


criticou Granger.
– Então você queria brincar com minhas partes pendentes.

Granger tomou um gole de chá com uma quantidade irritante de


ambivalência.

Draco recostou-se.

– Você queria. Você estaria negando veementemente se não o quisesse.

– Mera conjectura. - Granger olhou para ele e seu sorriso. – Seu presunçoso
– ugh – vou te afogar no chantilly.

– Eu pretendo estar de cara nisso em algum momento desta manhã. - disse


Draco, seu sorriso se alargando. – Bem, não vou ser tímido – posso admitir
com alegria que teria transado com você naquele quarto de hotel,
repetidamente, por três ou quatro dias. Só que você tinha que sair e salvar o
mundo. Insuportável.

Granger sorriu para sua xícara de chá.

– Agora sua presunção é sufocante. - disse Draco.

– Bom. - disse Granger.

– Diga-me que você queria transar comigo. - disse Draco.

– Obrigue-me. - disse Granger.

– Sério?

– Sim.

– Palavra de segurança?

– Neville.

– Deuses.

– Eu sei.
– Suba na cama.

Granger jogou os braços na direção dele com um gesto preguiçoso. Em vez


disso, ele a carregou para a cama, o que foi ainda melhor. Estilo noiva.

Não que ele estivesse pensando em noivas, ou em casar com as tetas dela,
ou qualquer coisa.

Ele a depositou em sua cama entre lençóis brancos e travesseiros macios e


parou para olhá-la – sua trança em seu travesseiro, a pressão de seus seios
onde a toalha os espremia juntos, suas coxas meio escondidas que ele logo
estaria expondo e desfrutando.

– O que? - ela perguntou quando o notou parado e olhando.

– Aproveitando o momento. - disse Draco. Ele desfez a torção que prendia a


toalha. – É como desembrulhar um lindo presente.

– Não tenho certeza para quem o presente é mais. - suspirou Granger


quando Draco, incapaz de se conter, se inclinou para pressionar beijos ao
longo de sua clavícula.

– Feliz Natal antecipado para nós dois, então. - disse Draco.

Ele fez flutuar o pote de chantilly na direção deles, então conjurou uma
venda.

– Sim?

– Ooh. Sim.

– Excelente.

– As partes túrgidas definitivamente escaparam. - disse Granger, correndo a


ponta do dedo ao longo da parte inferior de seu pênis, que agora saía do
roupão.

Draco a deixou tocar, então puxou a mão dela para baixo.


– Por mais prazeroso que seja – isso é para ser sobre você e persuadir
confissões.

Granger mordeu o lábio e disse:

– Persuada, então.

Draco amarrou a venda de seda em volta da cabeça dela e roubou um beijo


antes de começar.

Bem - ele pretendia apenas roubar um beijo, mas sentiu a língua dela contra
a dele, e então se viu incapaz de se afastar, e colocou um cotovelo no
travesseiro, e foi totalmente distraído por sua boca.

Foi só quando ele se viu deslizando a mão entre as coxas dela que se
separou.

– Certo. - ele respirou. – O chantilly.

– Todo o objetivo do exercício. - disse Granger, tão ofegante quanto ele.

Uma colher de prata estava de pé na tigela de chantilly. Draco a encheu,


pingando ligeiramente com o material, e se virou para observar Granger,
nua e com os olhos vendados em sua cama, as mãos na cabeça. Seus lábios
estavam inchados e úmidos, o que trouxe à mente outras partes inchadas e
úmidas, que colocaram a cabeça de Draco de volta no jogo.

Draco mergulhou um dedo no chantilly e o segurou contra os lábios de


Granger.

– Prove. Você deve me dizer se está à altura.

Ele sentiu o movimento da língua dela contra seu dedo – um tipo de


movimento bastante inteligente, um movimento que sabia exatamente o que
estava fazendo. Quanto à sucção suave – essa sensação foi direto para seu
pênis.

– Perfeito. - disse Granger.


Draco se inclinou sobre ela e a beijou, e provou a doçura residual.

– Você tem uma língua travessa.

Um tipo de sorriso igualmente travesso foi sua resposta.

Ele tinha a intenção de colocar um pouco em cada centímetro de Granger


que desejasse beijar, mas descobriu enquanto fazia que queria beijar cada
centímetro literal dela, o que envolveria despejar todo o recipiente sobre
ela, o que, embora hilário, não seria tão sexy.

Ele, portanto, exerceu moderação e priorizou. As bolas de chantilly


formaram uma forma particular. Ele gostou de seus espasmos quando ela se
encolheu quando o creme frio tocou a pele quente.

Granger ficou em silêncio e estava definitivamente tentando aguentar,


mesmo quando ela estremecia.

– O que você está desenhando? - ela perguntou longamente. – É melhor que


não seja a letra D...

– Oh, não – muito melhor. É uma constelação.

– Oh?

– A constelação de Draco, para ser específico.

– Você é...

Draco nunca descobriu o que ele era – ela se interrompeu com um engasgo.
Ele havia colocado creme em seus mamilos em duas porções que não
tinham absolutamente nada a ver com constelações.

– Você não pode me dizer que está surpresa com isso. - disse Draco.

– É gelado.

– Vou aquecê-lo, rapidinho. - disse Draco, desenhando linhas cremosas nas


coxas dela, em direção à junção entre as pernas.
Ele deixou o creme de lado e começou. A boca dele seguiu uma trilha
descendo da doce boca dela até o pescoço, passando pelas clavículas e até
os seios. O contraste entre o creme frio e o calor de seus mamilos
endurecidos era lindo.

– Delicioso. - disse Draco.

Granger, arqueando as costas, exalou algum tipo de concordância. Suas


mãos estavam ao lado do corpo, pressionadas no colchão. Uma de suas
pernas se contraiu e roçou na ereção de Draco. Era tentador fazer um pouco
de frottage contra ela, mas ele se conteve.

Em vez disso, ele beijou e lambeu seu estômago e então, quando chegou às
partes interessantes e Granger ficou imóvel, ele parou e beijou o creme de
sua coxa esquerda.

Granger suspirou. Ele subiu pela pele macia e cremosa, até a parte mais
interna de sua coxa. Granger respirou fundo, as pontas dos dedos
empurrando o colchão.

Ele parou de novo e voltou sua atenção para a linha de creme subindo por
sua coxa direita.

O suspiro que se seguiu foi – frustrado.

– Eu posso sentir seu sorriso malicioso. - disse Granger enquanto Draco


trabalhava seu caminho de volta.

– Ops. - disse Draco.

– Insuportável – mm–

Draco tinha provado sua torta.

– Agora eu começo meu interrogatório. - disse Draco.

– Eu devo ser forte. - disse Granger.


– Fale-me sobre o Seneca. - disse Draco, provocando-a com a ponta do
dedo. Ele a achou escorregadia, uma mistura de suas atividades anteriores e
uma nova excitação.

– O-o que você quer saber?

– Por que você não olhou para mim.

Ele pressionou o dedo dentro dela, uma, duas juntas de profundidade.

Ela gemeu em aprovação e disse:

– Você já sabe.

– Eu adoro ouvir.

– Porque você estava – estupidamente atraente – ninguém tem o direito de


se exibir assim, todo – quente e pingando. Eu não queria olhar para cima
porque não queria saber – não queria aquelas imagens na minha cabeça –
olhei de qualquer maneira, é claro, droga...

Draco puxou o dedo, provou e resistiu à vontade de mergulhar e terminar


isso agora.

Ele não tinha mais certeza de quem diabos estava provocando quem.

– Então nós poderíamos ter passado três dias transando. - disse Draco,
roçando os lábios contra a umidade dela enquanto falava.

– Tínhamos uma relação profissional. - disse Granger.

– Tão correta. - disse Draco, estalando sua língua onde seu dedo estava. –
Vou lamber isso de você.

Ele fez isso.

Granger engasgou.

– Mas – para ser sincera...


– Sim?

– A... a competência na cripta foi possivelmente ainda mais de molhar


calcinha...

Draco fez uma pausa em suas ministrações.

– Acho que nós dois compartilhamos essa – predileção. Próxima pergunta:


conte-me o que aconteceu depois do nosso – encontro – no parapeito da
janela.

– S-sentiu através do anel, não é?

– Sim.

– Eu tinha... suspeitado. Eu não gozava com tanta força em meses.

– Eu acabei de mudar de ideia. - disse Draco. Ele pegou uma das mãos dela
e a trouxe para dentro. – Eu não quero que você me diga – eu quero que
você me mostre.

Granger riu.

– Hedonista.

– Mm. - disse Draco, sentando-se um pouco para trás para dar a ela espaço
para manobrar. – Assentos de primeira classe. Quero que saiba que estou
me acariciando.

– Não muito. - reclamou Granger. – Você deve me deixar algo para brincar,
depois...

– Haverá... muito com o que brincar. - disse Draco, olhando para seu pênis.

Draco conduziu uma análise swot. Ele a observou se tocar, dois dedos
pressionando pequenos círculos ao redor e ao redor - ela preferia um toque
leve, então, e não muito contato direto. Ela empurrou um dedo para baixo,
recolheu a umidade e voltou a subir para continuar seus círculos rítmicos.
Draco tirou a mão de seu pênis. Ele estava quase pronto para vir, ele
mesmo. Porra.

E ela estava chegando lá também. Ele observou um novo fio descer por
entre os dedos dela. Ele afastou a mão dela e a pressionou contra o colchão.

– Minha vez.

Granger suspirou.

Ele pôs um dedo dentro dela, depois outro, espremidos nas juntas pelo seu
aperto. Ele empurrou e tirou em uma cadência que combinava com a que
ela havia mostrado. Sua língua encontrou sal e sabor e recriou aqueles
pequenos círculos dela.

Quando ela começou a se contorcer, Draco percebeu que sentia muita falta
do anel. Mas, não importa – ele tinha outros indicadores.

Ela não era de gritar. Ela era de agarrar. Suas mãos encontraram seu cabelo.
Suas coxas apertadas em torno de suas orelhas. Ela empurrou seus quadris
para ele enquanto seus dedos empurravam para dentro e para fora e sua
língua beijava o calor rítmico contra ela.

– Exatamente – assim... - foi sua única instrução, obedientemente executada


por Draco.

O movimento de seus quadris tornou-se errático. Draco segurou a bunda


dela para mantê-la pressionada contra sua boca.

Ela convulsionou contra ele, ofegou e gozou com longas contrações contra
seus dedos, quatro, cinco, seis, enquanto ele trabalhava sua língua contra
ela. Ele se sentiu se contorcer e pingar nos lençóis. Quente. Fodidamente
quente.

Houve um estremecimento e ela ficou imóvel, ofegante, corada do pescoço


aos seios.

Draco se levantou com cuidado, evitando tocar em seu pênis, que,


francamente, parecia prestes a explodir seu próprio orgasmo à menor
provocação.

Ele tirou a venda dela. Seus olhos estavam escuros e sonhadores.

– Você é linda pra caralho. - disse Draco.

Ela flutuou em seu satisfação com um sorriso e observou-o lamber os


dedos.

Draco caiu na cama ao lado dela e apoiou a cabeça no punho.

– Alguma persuasão. - disse Granger em uma voz suave.

– Eu sinto que você vai fazer eu me arrepender.

Ela sorriu o sorriso Nundu.

– Merda. - disse Draco.

– Você parece preocupado.

– Eu estou. Mas - vale a pena para o material do banco de punheta.

Granger jogou um travesseiro nele.

– Devo pedir um recesso antes de continuarmos, já que estou a uma brisa


suave de me libertar, eu mesmo. - disse Draco, pegando o travesseiro.

Granger se curvou em direção a sua ereção, colocou sua boca a uma


polegada dela, e respirou seu hálito quente nela.

– Uma brisa suave, você diz?

– Oi. - disse Draco. – Isso é - antiesportivo.

– Você quer que eu pare? - perguntou Granger, suas palavras como toques
leves de pluma de respiração contra seu pênis.

– Sim. Não. Porra.


Granger deu a ele um tipo de aceno sensato.

– Devemos fazer esse recesso.

Ela passou por cima dele, acidentalmente de propósito roçou sua maciez
contra ele e saiu da cama.

Draco deitou na cama e olhou para o teto com o maxilar cerrado.

Granger serviu-se de um copo de água na mesa.

– Você não vem? - ela perguntou por cima do ombro.

– Tentando não. - disse Draco.

Ele olhou – não olhou – olhou de novo – para a bunda dela.

– Eu gostaria de morder isso. - declarou Draco. – Volte aqui, volte?

– Acho que você deveria fazer uma pausa enquanto pode. - disse Granger.

Ela não recuou dentro do alcance da mordida. Suprimindo um sorriso, ela


desapareceu no banheiro para limpar o pior de seus pontos pegajosos.
Draco se levantou para beber e comer uma torrada. Seu pênis aceitou o
interlúdio e começou uma trajetória descendente.

Granger saiu do banheiro, nadando em um dos roupões de seda de Draco.

– Não. - Draco gemeu quando viu a mudança de roupa. – Fique nua. Eu


estava admirando.

– Aqui. - disse Granger, abrindo um pouco a frente do vestido. – Vou bancar


o Malfoy e fazer uma exibição flagrante para você.

– Isso está longe de ser flagrante. - disse Draco, acenando com a mão para
ela. – Mais.

– Assim? - perguntou Granger, tendo aberto uma janela modesta para


mostrar seu decote.
– Não. Por favor, pare de ser freira.

Granger deu-lhe uma zombada.

– Isso é tão rico, vindo de você.

– Todo o caminho para baixo. Na verdade, deixe-o desamarrado. Ofereça-


me vislumbres.

– Melhorou?

– Sim. Devemos tê-la na próxima edição de Fantásticas Tetas e Onde


Encontrá-las.

A atenção de Granger estava na virilha de Draco. Ele não se opôs à


mudança de assunto.

– As coisas ficaram pendentes de novo? - ela perguntou. – Vamos


prosseguir?

– Examine-nos, Doutora. - disse Draco.

Ela deslizou uma mão entre as dobras do roupão dele.

– Mm. Não exatamente pendentes, mas... um bom ponto de partida.

– E o que estamos começando? - perguntou Draco.

Granger foi até a mesa de cabeceira e encontrou a varinha de Draco. Ela


deu a ele.

– Eu gostaria que você conduzisse um ponto de Legilimência em mim para


descobrir.

Bem, isso era novo e excitante.

– Oh?
Granger estava diante dele. Draco, com as sobrancelhas levantadas,
perguntou,

– Você tem certeza?

– Sim.

– Legilimens.

Parecia surpreendentemente íntimo entrar em uma mente que estava tão


disposta a tê-lo. Ele sentiu o calor dela, as correntes de inteligência, as
complexidades, o conhecimento.

Ela ofereceu um pensamento a ele. A cena era um deleite há muito sonhado.

– Ooh. - Draco disse, saindo de sua mente, suas sobrancelhas levantadas.

– Você está no jogo? - perguntou Granger.

– Obviamente.

– Palavra segura?

– Prolapso.

– Seu homem horrível.

Ela o guiou para a cama com uma mão em volta de seu pênis.

– E tire isso. - ela disse, puxando seu roupão.

Draco fez o que ela pediu. Agora era sua vez de se reclinar contra os
travesseiros, totalmente nu.

Vivendo adequadamente o sonho, ele estava.

Granger apontou a varinha para o vestiário dele e disse:

– Accio abotoaduras.
Um par de abotoaduras prateadas voou para dentro do quarto, flutuando
próximo aos pulsos de Draco, e foi rapidamente transfigurada em algemas,
acorrentadas entre as cabeceiras da cama.

Qualquer pendencia que tenha restado no pênis de Draco desapareceu.

– De olhos vendados? - perguntou Granger.

Draco, sentindo-se atordoado preventivamente, disse:

– Merda, não... eu quero assistir.

– Muito bem. - disse Granger.

Ela se acomodou ao lado dele, apoiou a cabeça na palma da mão e começou


a deslizar dedos delicados por seu corpo, ligeiramente lânguida,
ligeiramente exploratória.

– Você realmente é o ideal platônico de homem. - disse ela.

– Eu não quero ser platônico em nada com você.

Granger riu. Com um aceno de sua varinha, ela levitou o pote de chantilly
em sua direção e lançou um feitiço refrescante nele.

– Não devemos desperdiçar isso.

Draco estremeceu com um arrepio delicioso quando Granger começou a


jogar gotas de chantilly sobre ele com sua varinha.

As dela estavam muito focadas em sua ereção e colocadas com grande


precisão ao longo do pênis e na cabeça, tornando-a uma ridícula pilha
peniana gloriosa.

– Gelado? - perguntou Granger.

– Sim.
– Talvez meu plano seja induzir o encolhimento, para que então eu possa
colocar minha boca ao redor.

– Muito... inteligente. - Draco respirou quando ela começou a lamber seu


estômago. – mas eu me preocupo que sua boca em qualquer lugar perto
disso tenha o efeito contrário.

– Oh? Vou ter que testar. - disse Granger.

Agora ela enrolou o cabelo sobre a cabeça, empurrou a varinha através dele
de uma forma profissional e começou a trabalhar.

Ela beijou o creme que havia espalhado em seu peito, lambeu os pontos que
havia colocado em seus mamilos (com muitos sorrisos maliciosos quando o
sentiu contrair) e subiu em seu pescoço (felicidade) para beijá-lo na boca.

Delicioso. Uma de suas mãos se moveu para a frente para agarrar a nuca
dela e mantê-la ali, mas – as algemas.

– Oh, não. - disse Granger.

Draco enganchou uma perna ao redor dela, mas não era a mesma coisa. O
beijo dela passou de profundo e doce com a língua para uma versão leve
como pluma roçando os lábios dele.

Ele fez um som de descontentamento quando ela se afastou.

Ela se moveu cada vez mais para baixo. Ele olhou para baixo e ela estava
lá, um cotovelo apoiado no colchão entre suas coxas, observando o lento
derretimento do creme em seu pênis.

Ele havia fantasiado tanto sobre algo assim que, mais uma vez, não estava
convencido de que não era um sonho. Não poderia ser real.

A ponta de um dedo muito real coletou uma gota de chantilly derretendo na


metade de seu pênis, passou-a por seu comprimento até a ponta e foi
pressionada em uma boca.

– Porra. - suspirou Draco.


– Posso confirmar que sua definição de grande atendeu às minhas
expectativas. disse Granger.

Draco não teve uma resposta coerente para oferecer, já que ela escolheu
aquele momento para começar a beijar seu membro, enquanto dedos gentis
puxavam suas bolas.

Ela foi terrivelmente minuciosa sobre isso - terrivelmente científica - cada


saliência, protuberância e veia foi descoberta e tratada com o movimento de
uma pequena língua quente, e ela ainda nem havia chegado à cabeça, e ele
se sentia perto. Ele queria segurá-la pelos cabelos, queria agarrar um seio,
mas estava algemado e, em vez disso, sofreu deliciosamente.

– Mm. - disse Granger. – Você estava certo.

– Oh? - disse Draco com a voz estrangulada.

– O encolhimento, se existiu, não persistiu.

– Eu estou sempre certo – você deveria – aprender is...

Ele se interrompeu com um gemido. Os movimentos da língua dela se


tornaram lambidas e carícias aveludadas ao longo de seu comprimento.
Seus dedos se juntaram, seguindo sua boca em um movimento lento para
cima e para baixo.

Draco deixou sua cabeça cair para trás e olhou para suas mãos algemadas.
Agora ele sentia a palma da mão dela também, e a outra - agora ambas as
mãos estavam trabalhando nele, para cima e para baixo, enquanto a língua
dela fazia um pequeno semicírculo logo abaixo da cabeça dele.

Ele fechou os olhos. Ele teria dado – qualquer coisa – para ela levá-lo
inteiramente em sua boca, naquele momento.

Ela não levou, obviamente. Ela deixou a ponta intacta. Ela sabia que o tinha
onde queria - tudo o denunciava, seus olhos fechados, sua respiração
pesada, a tensão correndo por ele, o pré-sêmen que pingava entre o creme
em sua cabeça intocada.
– Glurkk. - ele comentou sagazmente.

– Fale-me sobre o material do banco de punheta. - disse Granger, colocando


a palma da mão em volta de suas bolas. – Tenho uma curiosidade ardente.

– Este é... um dos vários cenários. - ofegou Draco. – Sua boca em mim -
mas - a coisa real é muito melhor do que eu poderia imaginar...

Ela o recompensou com uma longa série de lambidas. Suas mãos


continuaram subindo e descendo lentamente.

– Na verdade, eu imaginei isso quando eu - não tenho certeza se deveria


estar lhe contando isso...

As mãos dela se moveram mais rápido – um encorajamento.

– ...Quando eu bati uma no seu chuveiro – a noite em que fiquei lá. Isso foi
meio que uma punheta perigosa – caso você precise de mais confirmação de
que sou um homem horrível...

As mãos dela pararam. Draco deu uma olhada para baixo para vê-la
olhando para ele com um novo rubor nas bochechas.

– Você realmente?

– Sim.

– Isso é – ridículo, e ainda assim – muito quente. Continue.

– Vestidos abertos nas costas – tomando você por trás, salto alto. Estou
querendo desde aquela festa sobre os órfãos...

Ele sentiu o calor de sua risada contra seu pênis e então a bem-vinda
umidade de sua língua.

– O que mais?

– Você algemada...
– Terei que lhe dar motivos para me prender.

– Bom. Morder – obviamente, você fez de tudo para evitar um


desalinhamento dentário...

– Mm. Devemos dar a isso um bom uso.

Draco estava achando difícil se concentrar. A língua dela era - uau.

– Fantasias de professora – não consigo decidir se você aceitaria...

A língua fez uma pausa.

– Eu poderia, com o homem certo.

A língua recomeçou, acompanhada de sucção. Ainda assim, sua cabeça não


recebeu atenção. Parecia vermelho-púrpura sob o creme.

– É melhor eu ser a porra do homem certo – vou matar todos os outros


homens para ser a porra do homem certo...

Ela riu. Ele não estava brincando.

Ele ergueu os quadris, como se pudesse encontrar uma maneira de


empurrar-se em sua boca. Ele conseguiu bater na bochecha dela. A breve
sensação de pele macia em sua cabeça faminta por toque foi linda.

– O que mais? - perguntou Granger, limpando uma mancha de creme de sua


bochecha e retomando suas atenções.

– Vou precisar que você me diga que sou um bom menino, em algum
momento...

– Oh?

– Você fazendo aritmância – no meu escritório – no meu colo – montando


em mim...

– Minha nossa. Gosto desta.


Agora a sucção se moveu para a parte inferior de seu pênis, a parte
delicadamente sensível logo abaixo da ponta. Todo o seu pênis se contraiu
para cima. Uma bola de creme caiu molhada sobre os lençóis. Seu pênis
produziu desesperadamente mais algumas gotas de pré-sêmen, misturando-
se com o creme restante.

– Ops. - disse Granger. – Deslize da língua.

– D-disse que eu gostava disso. - gaguejou Draco.

Ela riu e, finalmente, teve pena dele.

– Isso conclui meu interrogatório. - disse ela, com uma satisfação terrível.

– Porra, obrigado.

Uma coisa era imaginar a boca dela sobre ele, mas outra bem diferente era
senti-la, a língua macia, a doce pressão de seus lábios finalmente
envolvendo sua cabeça. Ele sentiu-se contorcer para fora outro drible de
pré-sêmen, rapidamente sugado.

Ele se esforçou contra as algemas. Ele queria ir devagar - ele queria


prolongar. Mas agora a língua dela desenhava círculos quentes ao redor de
sua cabeça enquanto ela se movia para cima e para baixo, e o levava tão
fundo quanto podia. Suas mãos compensavam o resto.

Ele queria ir devagar.

– Porra - eu estou quase - a menos que você...

Ela recuou. Ele teve um momento de tortura e descanso em partes iguais.


Ela olhou para ele, lábios molhados, ao lado de sua cabeça brilhante. Ela
esperou.

Bem. Ele queria ser finalizado.

– Foda-se. - ele respirou. – Termine.


A boca dela estava sobre ele novamente. Ele estava envolto em calor,
simultaneamente suave e firme. Ele sentiu o leve raspar de dentes. A
construção foi rápida e a libertação estava chegando. Ele estava ofegante.

Seus quadris se contraíram. Suas mãos apertaram. A língua dela traçou um


círculo apertado bem em sua ponta. Ela chupou mais forte. Ele gozou com
xingamentos indistintos, em longos jorros contra a língua e dentes e o
aperto.

Ele sentiu a pressão da deglutição dela contra a parte inferior de sua cabeça
e se contorceu em um impulso final, forçando as correntes.

Ele afrouxou contra as algemas.

Ele não se mexeu por dois minutos depois, sentindo como se sua força vital
tivesse acabado de ser drenada de suas bolas.

Ele foi finalizado. Muito finalizado.

Ela realmente estava lançando SPERMA.

Granger subiu na cama, deu um beijo em seus lábios - ele provou sal, ele
mesmo, chantilly, ela - e o libertou das algemas.

– Você é um bom menino. - disse Granger.

– Tarde demais.

Ela era uma mistura de preocupada e divertida.

– Você está bem? Você parece... atordoado.

Seu pênis, ainda duro de superestimulação e níveis ridículos de excitação,


pingava contra seu estômago.

– Ghlph. - foi tudo o que conseguiu pronunciar enquanto caía sobre os


travesseiros.
Granger se apressou com água para ele e lançou alguns feitiços de limpeza
nos lençóis.

– Tsk. - ela disse, inspecionando o barril de chantilly. – Dificilmente


fizemos um arranhão nele.

– Doe... órfãos. - disse Draco, reduzido a fragmentos linguísticos.

Granger parou ao lado da cama, ainda com o roupão enorme. Ela juntou as
mãos diante dela e inclinou a cabeça para o lado, contemplando-o.

Draco, seu cérebro pegajoso frouxamente mantido unido por hormônios e


um ou dois neurônios restantes, suspirou:

– O quê?

– Estou satisfeita.

– Oh?

– Tive a sensação, depois da Espanha, de que seríamos bastante compatíveis


- mas não se pode ter certeza até que se conduza alguns - er - testes, você
sabe.

– Bastante compatível. - repetiu Draco.

– Você não acha?

– Você me viu?

Granger sorriu.

– Eu exporia minhas descobertas. - disse Draco. – Mas... você acabou de


bombear toda a minha cognição para fora das minhas bolas.

Ele estendeu uma mão lânguida para ela. Ela se aproximou. Ele a deslizou
entre as dobras do roupão e a passou pelo lado dela.
– Você é malditamente – incrivelmente – eu não consigo nem juntar as
palavras no momento, mas...

Ela se deitou na cama com ele e apoiou a cabeça em seu ombro.

Um tipo de gesto comum, ao todo – só que era Granger, colocando a cabeça


em seu ombro. Seu pulso voltou a acelerar, não por excitação, mas por uma
onda de alegria.

Ele beijou o topo de sua cabeça. Ele não conseguia se lembrar de ter beijado
o topo da cabeça de alguém em sua vida, mas lá estava.

Granger parecia estar pensando nas mesmas coisas. Ela falou em seu peito
em um murmúrio sorridente.

– Isso é um absurdo. Você é Draco Malfoy.

– Nós dois enlouquecemos?

– Eu penso que sim. Um pouco.

– Você acabou de me lembrar que eu quero fazer você dizer meu nome.

– Temos tempo para corrigir o lapso.

Sim. Haveria tempo.

Graças aos deuses, porque Draco estava fazendo uma lista. Ele queria fazer
isso em uma vassoura. Ele queria um pouco de encenação professoral. Ele a
tomaria na biblioteca. Talvez até na biblioteca de Hogwarts, se eles
pudessem blefar uma forma de voltar. Na mesa de jantar. Em seu cubículo
no trabalho. Com certeza no laboratório. No Seneca, sim, claro. E ele a
colocaria naquele parapeito da janela, e em cada maldito parapeito desta
casa. E ele iria ejacular em seus seios. E definitivamente descobrir aquele
dispositivo de auto asfixia dela.

Haveria tempo.
Haveria uma vida inteira, talvez, ou seria uma loucura demais para se
pensar?

Ele pensou sobre isso de qualquer maneira.

──── ◉ ────

Tinha sido, ao todo, um começo de dia vitorioso.

Eles se acomodaram nos braços um do outro e caíram em uma soneca.

A julgar pelo ângulo do sol, eram apenas dez horas da manhã quando Draco
acordou. Ele teve um prazer incomum e grogue em se sentir quente e
pegajoso, porque era com Granger que ele se sentia quente e pegajoso.

Seu roupão se abriu e expôs uma coxa que parecia deliciosa.

Ele se levantou e a beijou.

Granger, longe em algum sonho distante e pacífico, dormia.

Draco estava prestes a se deitar quando percebeu que estava sendo


observado.

O gato de Granger estava ao pé de sua cama, olhando para ele.

– Como diabos você continua entrando aqui? - sussurrou Draco. – Eu tenho


proteções ativas.

A piscada do gato lhe disse que isso não era problema dele.

– Certo... bem... erm... como você pode ver, as coisas... progrediram.... -


disse Draco, tentando cobrir a coxa de Granger com seu roupão.

O longo olhar do gato o informou que ele realmente havia notado, e que
qualquer progresso era, de fato, feito por ele, já que Draco era basicamente
um imbecil inútil. Draco poderia oferecer o pagamento na forma de arenque
defumado no café da manhã.
– ...Você não estava realmente perdido, estava, aquela vez? E na outra noite
- você não estava realmente perseguindo uma folha.

Não, disse o gato. Claro que não. Draco era um trapalhão e em algum
momento um gato simplesmente perde a paciência. A contração do rabo do
gato informou a Draco que, a propósito, as consequências seriam terríveis
para ele, caso ele estragasse isso.

Francamente, o gato intimidava Draco muito mais do que Potter e Weasley.


O gato realmente teria a iniciativa de cumprir suas ameaças.

Draco puxou um lençol sobre si mesmo, sentindo que a velha linguiça e


feijões estavam muito expostos, com aquelas garras nesse nível de
proximidade.

– Eu não vou estragar tudo. - sussurrou Draco. – Eu não posso estragar isso.
Eu me importo demais com ela – é uma sensação horrível...

Os olhos amarelos o encararam.

– O que mais você quer que eu diga? Ela tem todo o meu estúpido coração
– certo? Não posso machucá-la – prefiro arrancar minha própria alma...

Ainda assim o olhar continuou.

– Eu amo ela.

Isso é o que ele queria ouvir.

O gato se aproximou dele na cama. Draco deslizou uma mão protetora na


frente de sua virilha, caso ele tivesse alguma ideia.

O gato observou o movimento. Seu olhar para Draco disse a ele que, se
fosse para realizar sua vingança, iria para seus olhos, primeiro, de qualquer
maneira. Então mamilos. Ele afiava suas garras para esse propósito.

Mas, por enquanto, isso era desnecessário. Eles poderiam ser amigos.

Ele bateu a cabeça em seu peito e enrolou o rabo sob seu queixo.
Draco cuspiu um único pêlo de gato, presumivelmente colocado em sua
língua para garantir que ele soubesse seu lugar.

Granger acordou para encontrar Draco coçando as orelhas de seu gato.

– Ah. - ela disse.

– Ele me aprovou. - disse Draco. – Com algumas ressalvas.

– Ressalvas?

– Estão entre ele e eu. Não posso divulgá-las.

– Tudo bem. - Granger estava sorrindo amplamente. – Você sabe, eu tive de


uma boa fonte de que você é um bom homem, apesar de toda a idiotice, mas
agora...

– É irrefutável, não é?

– Sim. As descobertas de Theo foram revisadas por pares, por assim dizer.

O gato começou a massagear a coxa de Draco, muito perto de sua virilha


para conforto – outra tática de intimidação, sem dúvida.

Granger viu os olhos arregalados de Draco e veio em socorro. Ela pegou o


gato e deu-lhe um beijo em sua cabeça feia antes de mandá-lo embora
alegremente pela porta.

– Eu ainda quero saber como ele está entrando. - disse Draco.

– Deveria ter colocado isso em suas ressalvas. - disse Granger. – Eu estou


tão feliz que vocês estão se dando bem.

– Não tenho certeza se é o mais igualitário dos relacionamentos.

– Você soa como se ele tivesse algo terrível contra você.

– Ele ameaçou ir atrás dos meus mamilos, se eu, de alguma forma,


desagradar você.
Granger riu e deu um beijo em um dos mamilos em questão.

– Eu devo mantê-lo seguro.

– Obrigado. Não consigo decidir se o gato ou a prioresa me apavora mais,


no momento.

– Novo bicho-papão, não é?

– Não exatamente. - disse Draco. Ele tinha um terror inteiramente novo ali.

Granger bocejou.

– Vamos tomar um banho e dar um sinal de vida aos outros?

– Não. - Draco disse egoisticamente.

– Acho que deveríamos, ou Harry e Rony podem aparecer em seguida.

– Uma coisa é aquele seu criptídeo entrar, mas se aqueles dois trapalhões
conseguissem atravessar minhas proteções, eu saberia que estou perdendo
meu jeito.

– Você estava um pouco distraído quando os estava lançando. - disse


Granger.

Ela então começou a distraí-lo novamente caminhando até o banheiro e


deixando o roupão escorregar enquanto ia.

Todas as outras questões perderam seu significado ao perseguir a bunda nua


de Granger.

– De novo? - engasgou Granger quando Draco correu atrás dela e empurrou


seu corpo meio duro contra ela.

– Obviamente. Ainda resta muita vida na velha bolsa.

Quando eles entraram no banheiro, Draco se viu no espelho.


Seu cabelo parecia um abacaxi.

Em um momento de verdadeiro crescimento pessoal, ele descobriu que não


se importava.

Tomaram banho, entre outras coisas safadas. Então, porque Granger


desejava, eles desceram para dar o sinal de vida necessário.

Naquela noite, quando todos – mas particularmente Potter e Weasley –


foram se foder, Draco se juntou a Granger em seus aposentos.

A essa altura, eles haviam tirado o pior do tesão de seus sistemas e podiam
ir devagar, e era algo bem mais parecido com fazer amor.

Havia tanto prazer nisso. Não o prazer carnal cru – que havia sido
encontrado várias vezes naquela manhã – mas algo íntimo, lento e doce.
Eles se despiram com cuidado e carícias. Ela tirou os suspensórios e as
abotoaduras com um leve sorriso no rosto. Ele puxou os grampos de cabelo
dela - todos, exceto um, por causa da paranóia persistente. Ela desabotoou a
camisa dele; ele tirou a blusa dela.

Quando ambos estavam nus, ele a deitou sobre os travesseiros com aquele
adorável caos de cabelos ao redor dela, sob a luz da lua crescente. Ela era a
feiticeira que ele vislumbrara há muito tempo. Ele passou os dedos pelos
cabelos dela e sentiu a impossibilidade disso, da realidade dessa visão-
sonho. Ele disse a ela que ela era linda. Ela disse a ele para beijá-la.

Seus beijos revelaram segredos. Ele contou a ela sobre sua Amortentia e ela
contou sobre a dela, e eles encontraram deliciosas surpresas nas respostas
do outro, sobre voar, e o mar, e rosas, e o cabelo dele, e as areias do deserto,
e o sabonete dela, e a colônia dele, e cidra com mel e cerejas, pedaços e
memórias e momentos que os uniram. Ele disse a ela o que pensava quando
lançava um Patrono. Ela lhe contou sobre seu quebra-cabeça, sobre os
paradoxos agora resolvidos.

Era um suave delírio de estupidez e vulnerabilidade. Eles fizeram amor


nele, sussurrando desejos, mudos há muito tempo, no ouvido do outro. Seus
corações bateram e dispararam. Suas bocas colhiam e colhiam beijos e,
quando giravam juntos sobre a borda, cada um ofegava o nome do outro.
36. Jornadas Terminam em
Encontro de Amantes

A lua cheia de dezembro veio e se foi. Não houve mais ataques de


lobisomem. O mundo bruxo suspirou de alívio – Greyback e seu bando
foram bem e verdadeiramente erradicados. E, se alguém de sua laia
voltasse, bem – havia uma cura, agora. A licantropia não era mais a
transformadora aflição que costumava ser.

Nos dias e semanas que se seguiram, a normalidade voltou à vida de Draco


e Granger. Granger voltou para seu chalé – isso apesar de Draco mencionar,
com eminente despreocupação, que não se importava se ela ficasse mais
tempo na Mansão. Com o que ele claramente quis dizer que queria passar o
resto de sua vida lá com ela, mas ela estava obtusa sobre isso.

De qualquer forma, Granger voltou para seu chalé. Ela voltou para seus
bons trabalhos na Cambridge trouxa, na sua cirurgia local e na U&E de St.
Mungo. O som de um chicote estalou sobre o Conselho de Administração
do St. Mungo.

Seus avanços na imunologia mágica surpreenderam a academia bruxa e a


levaram ao estrelato acadêmico. O que parecia ser toda instituição de
pesquisa mágica do mundo se esforçou para roubá-la de Cambridge. Oxford
foi particularmente insistente e tentou recrutá-la com promessas de chefiar
seu próprio instituto de pesquisa - e orçamentos, equipe e recursos além de
seus sonhos mais loucos. Cambridge se esforçou para fazer uma contra-
oferta para garantir que Granger ficasse. A Sorbonne enviou uma proposta
que beirava o ultraje. As universidades americanas de peso entraram na
briga com ofertas ainda mais extravagantes, que até mesmo Draco achou
bastante tentadoras quando Granger as mostrou a ele.
Granger observou a disputa de superioridade com uma sobrancelha
levantada, disse que era tudo muito lisonjeiro e decidiu permanecer em
Cambridge. Eles deram a ela todo o terceiro andar do King's Hall para
expandir seu laboratório e financiaram uma nova instalação para produção
em massa de seu tratamento.

Ela ganhou uma quantidade absurda de prêmios para agregar ao seu


mosaico. Enquanto isso, as universidades trouxas encontraram um fluxo
inexplicável de interesse em seus programas de imunologia por alunos em
potencial com estranhas e maravilhosas qualificações acadêmicas.

Quanto a Draco, bem - ele foi premiado com uma Ordem de Merlin,
Primeira Classe, por Atos de Bravura Extraordinária, por suas diversas
manifestações de idiotice no campo de batalha. Ele também recebeu uma
carta de repreensão por Conduta Imprópria de um Auror por atos
inapropriados com sua Protegida. Foi assinado por Tonks, com um post-
scriptum perguntando sobre quando seria o casamento. Ele emoldurou a
carta e a colocou em um lugar de destaque na parede de seu cubículo, ao
lado da Ordem de Merlin. A fotografia de Granger do arquivo original do
caso foi fixada ao lado dela. Ela reclamou com ele quando ele chegou
atrasado.

Draco voltou para sua variedade usual de missões. E, quando não estava
lidando com bruxas e bruxos travessos, ele mandriava com um certo anel
danificado. As palavras esculpidas nele – pureza sempre vencerá –
significavam algo diferente agora. A pureza tinha vencido, mas foi uma
pureza de outro tipo - de propósito, de coração e mente.

Quanto ao Algo entre Draco e Granger – eles se viam quando seus horários
permitiam, talvez a cada segundo ou terceiro dia. À medida que dezembro
chegava ao fim, Draco decidiu que, fosse o que fosse, não era o suficiente.
Ele não queria voltar para recados no Bloco, não quando ele poderia beijar
significados em seu pescoço. Ele não queria acordar em camas separadas.
Ele não queria agendar. Ele queria uma vida juntos.

Parecia um objetivo divino, mas um aterrorizante. Ele queria tentar essa


coisa com Granger - essa próxima aventura. Essa o assustava muito mais do
que qualquer uma das outras. Mais do que as Guardiãs, mais do que as
freiras, mais do que a mania de Greyback - mas poderia tornar as coisas
Suficientes.

Uma vida junto com Granger – seja qual for a forma que ela assumisse –
não seria perfeita, uma navegação suave em um pôr do sol perpétuo. Isso,
ele sabia. Eles brigariam com frequência. Eles iriam querer se matar por
meios novos e sensacionais. Eles provavelmente chamariam isso de erro,
alguns dias. Mas eles chegariam a entendimentos. E talvez, eventualmente,
ela concordasse em viver na Mansão com ele, e encher seus altos salões
com calor. Ou, talvez, ele se mudasse para o chalé dela e fizesse algo sobre
a bagunça de livros naquela sala. Talvez, um dia, eles tivessem filhos, e
essas crianças teriam uma infância livre de dor e guerra. Ou talvez eles
simplesmente se divertissem e fossem aonde quer que o vento – ou a
benevolência de Granger – os levasse. Ou talvez eles se tornassem ladrões
cavalheiros. Ou adotassem órfãos e incutissem neles fibra moral.

Mas ele estava se adiantando com essas especulações. Ele tinha que
perguntar a ela, primeiro.

Draco teve uma conversa com sua mãe. Ele explicou muitas coisas que até
então haviam sido mantidas em segredo - os anéis, Granger morando na
Mansão, seus sentimentos imprudentes e não permitidos. Ele esperava, no
mínimo, aborrecimento, se não raiva, por sua temeridade em todas as
frentes. Em vez disso, sua mãe começou a chorar e fez uma pergunta.

– E você está... feliz, não está? - ela fungou.

– Sim. - Draco disse com uma sinceridade incomum... e um largo, largo


sorriso.

– Então eu também.

Ela o pegou em seus braços magros e o abraçou.

– E. - disse Narcissa em seu ombro, – eu admitirei com prazer que estava


errada... ela existiu, afinal.

– Quem?
– A bruxa perfeita que você estava esperando.

~~~~~~

Alguns dias antes do Natal, Draco convidou Granger para jantar na Mansão.

Para seu aborrecimento, ele chegou tarde em casa naquela noite, ocupado
perseguindo um lich em Grimsby. Ele saiu do Flu para encontrar a Mansão
resplandecente com decorações de Natal - enfeites de prata e ouro gêmeos,
grupos de velas brancas e guirlandas com o aroma de pinho.

Tupey o espanou. Henriette, com uma pena atrás da orelha e um


pergaminho na mão, interrogou Draco sobre alguns itens do cardápio do
jantar. Draco tinha pouco interesse no assunto – ele não tinha absolutamente
nenhum apetite, visto que seus intestinos eram um nó de nervos.

– Ela já está aqui? - ele perguntou.

– Colega curandeira Granger foi dar um passeio. - disse Tupey. – Dissemos


a ela que você se atrasaria, senhor.

– Colega Curandeira Granger. - repetiu Draco.

– Senhor?

Draco agarrou seu bolso.

– Minha esperança é que - minha esperança é que ela não seja a colega
curandeira Granger por muito mais tempo.

Ambos os elfos domésticos se viraram para olhá-lo com os olhos


arregalados. O espanador de Tupey estremeceu.

– Espero que ela se torne outra coisa - se ela me aceitar. - disse Draco,
sentindo-se um tanto trêmulo.

Henriette deixou cair seu pergaminho. Suas pequenas mãos apertadas em


seu coração.
Os elfos se lançaram sobre ele. Cada um abraçou uma de suas coxas.

– Você deve se trocar, Monsieur. - disse Henriette, dando um passo para trás
e tornando-se profissional. – Você cheira como un cadavre.

– Sim, bem... os mortos-vivos em Grimsby, você sabe...

Dez minutos depois, Draco foi levado para o chuveiro e vestido com roupas
limpas. Ele então recebeu conselhos de vida de Henriette, como a
importância de ser humilde e sincero, et surtout! Surtout! não estragar isso,
Monsieur, ou ela ficaria zangada.

Apesar de suas palavras severas, seus olhos se encheram de lágrimas


enquanto o ajudava com a capa.

Tupey soluçava em seu espanador.

Draco esperava sinceramente que logo lhes desse um motivo para sorrir -
caso contrário, estaria se juntando a eles no choro.

Ele saiu e encontrou as pegadas de Granger na neve. Ele as seguiu,


sentindo-se como um homem em uma missão. Possivelmente a missão mais
significativa de sua vida. Que sentimento – que sentimento hediondo,
vulnerável e glorioso.

O ar cheirava a prestes a nevar.

Enquanto Draco caminhava, as memórias de seu ano juntos desenrolavam-


se diante dele em uma suave cronologia. O dia de fevereiro em Glastonbury,
a briga deles em Ostara, torta de banoffee devorada como bárbaros. Beltane
e seus mares e fumaça. Chocolate perto de uma fonte. Solstício e Provence
ensolarada. Cura e revelações inadvertidas no St. Mungo's. Permanecendo
muito tempo sob as glicínias.Uma gentil reminiscência de Lughnasadh.
Ataques de riso com lama em suas bocas e a magia de Mabon. Uma dança
roubada. Samhain e a noite na Espanha. Triunfos no campo de batalha entre
fogo e sangue. Um beijo sob a chuva santificada.
Ele sentiu uma doce espécie de tristeza por algo ter acabado – mas cresceu
nele, também, uma esperança de que algo novo e maravilhoso estava
prestes a começar.

Havia uma estranha beleza no céu noturno. Nuvens de neve ameaçavam,


mas o sol dançava entre elas, espalhando ouro delicado aqui e ali através do
cinza. Lavava a luz e a escuridão sobre o solo em um empasto claro e
luminoso.

As pegadas de Granger levaram às paredes cobertas de hera do jardim de


rosas.

As roseiras, enfeitiçadas para resistir ao frio, pingavam pingentes de gelo


que fixavam a luz em reflexos congelados. As próprias rosas pareciam
ainda mais opulentas do que de costume sob seus mantos de neve. Cabeças
pesadas se dobravam sob o peso delas, brilhos brilhantes de rubi, rosa ou
carmesim através do branco.

Há algo de conto de fadas sobre rosas sob a neve - nas folhas congeladas,
nos caules dobrados, nas flores intactas, tocando pétala com pétala como os
lábios dos amantes. Algo como uma história de amor, algo como um felizes
para sempre.

Draco escolheu uma rosa – uma vermelha profunda, a cor do romance, do


sangue do coração.

A comovente beleza do jardim de rosas ficava ainda mais bela pela mulher
que caminhava por ele.

Ela havia traçado um círculo de pegadas ao redor da fonte. O nariz e


bochechas dela estavam rosados pelo frio. Ela sorriu quando ele se
aproximou.

Nas mãos dela, um maço de papéis. Em suas mãos, uma rosa.

– O que você está fazendo? - ela perguntou, quando ele se aproximou dela
com ele.
– Travessuras, como sempre. - disse Draco. Ele deslizou a rosa em seu
cabelo e recuou para contemplar o efeito. – Enfeitando o lírio, na verdade –
segurando uma lanterna para o sol.

Granger olhou para ele com diversão e suspeita, mesmo quando ela corou.
Ela tocou as pontas dos dedos nas pétalas.

– Obrigada. É adoravel.

– E o que você está fazendo? - perguntou Draco.

– Cambaleando. - disse Granger. Ela acenou com os papéis para ele. –


Acabei de voltar do laboratório. Recebemos alguns resultados preliminares.

– Bom?

– Mais do que bom – fantástico. Além do que eu poderia esperar.

Ela veio para o lado dele e mostrou-lhe os resultados, as incompreensíveis


linhas de dados que a deixaram tão feliz. Ela explicou as coisas com
entusiasmo, como esses e aqueles números eram tão promissores, que esse e
aquele efeito colateral previsto haviam ocorrido apenas minimamente,
intercalados com exclamações de "Olha!" e "Você pode imaginar?"

Draco acenou com a cabeça e fingiu entender e disse que era tudo uma boa
notícia, muito bem, muito bem.

Granger sorriu. Ela apertou os resultados contra o peito, girou sobre os


calcanhares, respirou fundo e expirou em uma névoa quente.

Com nova serenidade, ela dobrou os papéis e os guardou dentro do casaco.


Agora ela olhava para Draco com um deleite suave e sorridente. Uma
grande paz desceu sobre ela – a paz que vem depois de anos de esforço e
persistência, quando esses esforços finalmente deram frutos. Ela havia
conseguido o impossível. Ela havia realizado um sonho.

Draco sentiu aquela onda de admiração e afeição que se tornou


terrivelmente familiar, quando Granger estava por perto – a pressão em seu
coração, a embriaguez. Bruxa extraordinária. Mulher incrível. Amada,
amada, amada.

O sol brilhava por trás das nuvens.

– Hoje é o solstício de inverno. - disse Granger, olhando para ele. – Yule.

– É mesmo? O que... um feriado pagão, e não temos uma aventura de


asterisco para nos divertir?

– Estranho, não é?

– Vamos dar um pulinho nas ilhas Orkney antes do jantar?

Granger riu.

– É um evento astronômico fascinante por si só. O significado literal de


Solstitium é "o sol está parado" - e ficará. Muito em breve, eu acho. E então
os dias ficarão mais longos novamente. Um tempo para novos começos, de
acordo com os velhos tempos.

– Novos começos. - repetiu Draco. – Isso é... bastante conveniente.

– Oh?

Draco se viu, novamente, dominado pela coragem de tolo - assim como


pelo aperto nos nervos.

– Eu... tenho algo para você. - disse Draco.

Sua voz beirou, de repente, a tremedeira. Sua voz nunca foi trêmula. Ele
queria que tivesse soado suave. Mas esta era Granger, portanto, nada suave.
Exploda tudo para o inferno.

Granger voltou sua atenção do céu para ele. Seu foco era curioso, gentil.

Com os dedos um pouco trêmulos, Draco tirou o anel. Sentou-se em sua


palma, uma faixa de prata simples.
– Você consertou. - ofegou Granger em deleite. – Bom trabalho!

– Eu consertei. Eu gostaria que você... ficasse com ele.

Ela olhou para ele.

– Para usá-lo novamente?

– Não. Bem, sim. Mas quero dizer... fique com ele.

– Ficar com ele? - Granger procurou seus olhos. – Mas - estes são seus
anéis de família.

Certo. Ele estava estragando tudo e teria que soletrar para ela, mesmo que
seu coração estivesse fazendo o possível para bloquear sua garganta.

– Sim... claro... você está certa. Estes são os anéis da minha família. - Ele
fez uma pausa, respirou fundo e continuou. – E eu... o que estou tentando
dizer – pessimamente – é que gostaria que você fizesse parte da minha
família. Ou... que eu fizesse parte da sua. Ou que fizéssemos uma nova,
juntos - ou qualquer iteração que você desejar. O que estou tentando
perguntar é... se você daria uma chance a isso comigo...

Sua voz falhou. Agora ela estava começando a entender. Seus lábios se
separaram. Alguns flocos de neve caíram e se prenderam em seu cabelo, na
rosa, e deixaram beijos derretidos em sua bochecha.

– Potter e Weasley me perguntaram quais eram minhas... intenções, com


você. - Draco continuou. – E eu não tinha uma resposta – não sabia se tinha
alguma. Mas eu tenho. Eu quero estar com você... em qualquer função que
você me quiser.

Agora havia lágrimas nos olhos dela.

Ele seguiu em frente - era tarde demais para voltar agora.

– Eu te amo – eu te adoro – quero que fiquemos juntos. Juntos-juntos. Eu,


francamente, gostaria de passar o resto da minha vida com você, mas
podemos ter encontros estúpidos primeiro, ou um namoro adequado, ou -
um noivado (embora eu prefira pensar que ficamos noivos em março, tanto
quanto você gostaria de negá-lo) - ou qualquer coisa que você quiser.

Ela soltou um soluço que era, de alguma forma, também um som de prazer.

– Você está me pedindo em casamento?

– Sim, eu estou. Se você quiser – obviamente – mas eu também ficaria feliz


simplesmente por estar com você – o que quer que isso signifique – o que
você gostaria que significasse. Eu não sei - eu sou um lixo nisso. Algo em
você me reduz a um tolo. Percebo que pedir pelo resto de nossas vidas
provavelmente é muito, muito cedo, então...

– Sim. - disse Granger.

– Sim? - repetiu Draco. – Você quer?

Ela se aproximou. Ela segurou a mão fria dele em suas mãos quentes e a
puxou, com anel e tudo, em direção ao coração dela. Lágrimas se
misturaram com a neve derretida em sua bochecha.

– Sim, eu quero – sim para tudo. Para o que quer que isso possa significar.
Sim para encontros idiotas, sim para ficarmos juntos-juntos, sim para... para
me casar com você, para passar o resto da minha vida com você. Sim para
cada palavra idiota.

– Você está... certa? Eu sou – o pior dos tagarelas – dos homens em geral...

Ela o interrompeu com um beijo e, com a voz embargada pela emoção,


sussurrou "eu te amo" contra os lábios dele.

A cabeça dele girava. Sua alma voou. Ele a beijou de volta, então seu
coração cheio de desejo surgiu em uma sequência ofegante contra a boca
dela.

– Quero mais tempo com você – quero que tenhamos a mesma cama. Eu
quero que você me supere diariamente. Eu quero dar a você, deuses, tantas
coisas. Eu quero rapidinhas em banheiros – danças – fotos em medalhões...
Lágrimas ou flocos de neve grudavam nos cílios dela. Ela engasgou outro
sim contra seus lábios.

– Eu sou o idiota mais sortudo que já andou nesta terra. - disse Draco,
segurando o rosto dela, pressionando sua testa contra a dela.

– Posso garantir que esse título vai para mim. - disse Granger com uma voz
trêmula.

– Você é Granger - contradição em termos.

Ela riu entre as lágrimas.

– Como você me faz - tão feliz...

– Devemos... devemos ter uma última e grande aventura juntos?

Ela não conseguiu falar mais. Ela assentiu com a cabeça e pressionou o
rosto contra o peito dele.

Ela havia dito sim. Ela tinha beijado sims em sua boca. Ele queria chorar,
ele queria esmagá-la, ele queria cair de joelhos, ele queria tudo, toda essa
coisa estúpida de amor, ele queria cheio de clichês, outro beijo, outro
momento, para todo o sempre...

Ele sentiu o calor da respiração dela através de sua capa. Ela colocou seu
pequeno e trêmulo aperto ao redor dele e fez uma tentativa séria de
espremer a vida fora dele.

E – apesar de sua longa lista – ele não queria nada além disso. Esta bruxa
em seus braços, fazendo o possível para quebrar suas costelas.

Ele tinha, finalmente, encontrado o seu suficiente.

O sol estava se pondo. As estrelas brilharam em seu adorável despertar.

Assim como estiveram neste mesmo jardim tantos meses atrás, eles eram,
mais uma vez, apenas um homem e uma mulher entre galhos verdes e uma
brisa sussurrante.
Só que, desta vez, as polaridades violentas que os separavam os
aproximaram. Afinal, o fogo ama sua escuridão. Afinal, o pecador ama seu
anjo. O outono, rindo, dança suas folhas nos altos céus de seu inverno. A
lua gira em giro após giro, perseguindo seu amado sol.

Só que, desta vez, as terríveis incompatibilidades tornaram-se irrelevantes -


desapareceram - não importavam para nada. Eram duas almas que se
aproximaram o suficiente para sentir o brilho uma da outra, mas agora,
finalmente, se encontraram, se tocaram, se enredaram.

Ele colocou o anel no dedo dela. Ele havia removido todos os limiares. Ela
sentiria tudo. Os anéis se conectaram. Ele sentiu a onda de seu coração e
ela, com um suspiro, sentiu o dele.

Ele a segurou, ergueu-a e a girou, rindo, entre nebulosas rodopiantes de


flocos de neve refletindo o sol.

Ela era dele e ele era totalmente dela.

No crepúsculo coberto de neve, sob o céu derramado e o brilho das estrelas


e um sol parado, eles se beijaram, prometeram, amaram. O que eles se
importavam com a colisão de universos? Deixe-os colidir. Deixe que seus
batimentos cardíacos unidos dividam as constelações e assustem as estrelas
eternas.

──── ◉ ────

É isso, amores! O fim de uma jornada.

Quero primeiramente agradecer a todos que leram, acompanharam cada


postagem e tiveram a paciência enquanto eu resolvia minha vida antes de
voltar aqui, meu refúgio mental. Sou grata a cada uma de vocês, cada
leitora/leitor que me incentivou a voltar e me faz sentir amada nessa
plataforma.

DMeaMPdEA me encantou desde o primeiro capítulo e eu sabia que


precisava trazê-la para vocês. Uma leitora querida que terminou os
capítulos e os disponibilizou para mim, tornou real minha volta e eu sou
extremamente grata por isso <3

Espero que tenham gostado e se divertido, chorado, entrado em combustão


com o T desses dois assim como eu.

Nos vemos em Att, Caelum (logo logo voltarei). Um beijo! <3

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