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Nas sociedades etnográficas, a narrativa não é assumida por uma pessoa (detentor do
sentido), mas por um recitante, um mediador, cuja performance é admirada, não o gênio [em
culturas orais, é difícil estabelecer um autor único, fixo]. A figura do autor como o
conhecemos, é uma personagem moderna, herança do racionalismo e do empirismo (indivíduo
como centro, pós-Idade Média).
Mallarmé: contrapõe-se ao autor como eixo explicativo, para ele, é a linguagem que fala, o
autor se torna figura impessoal prévia! Ele constrói de uma maneira que "só a linguagem
performa", a ossatura textual já comunica sem precisar de complementos exteriores.
Proust: na obra há um outro eu, não o eu biográfico do autor. Pelas escolhas linguísticas, o
trabalho de produção, esse eu tem vida textual, na escritura, não na sociedade.
"O escritor nasce ao mesmo tempo que o texto". Importa o que ele faz para a composição
do texto. Ele assume esse papel no momento da escrita, logo, fora dela, a biografia do homem
não interessa enquanto instrumento explicativo.
Já que escrever é um performativo: ela realiza o que diz, no momento em que diz. "Eu
conto", já é o contar!
O texto não produz um sentido único, dado pelo "Autor-deus" (p. 62), mas sua escritura
suscita múltiplas compreensões: "o texto é um tecido de citações, oriundas de mil focos de
cultura" (p. 62). As interpretações podem ser acrescentadas ou contestadas. O escritor é
apenas o articulador dos elementos de linguagem.
Dar ao texto um Autor, enquanto eixo explicativo daquele, é reduzir suas possibilidades de
leitura. Interpretar não é "decifrar" (encontrar um significado último, um segredo), mas
construir tantas chaves de leitura quanto a estrutura verbal permita! Olha para o leitor:
enquanto ser que vê, busca compreender o sentido do texto por sua organização linguística,
sua estrutura, que reconhece o "tecido de citações" e não que projeta vida, opiniões e
sentimentos na leitura do escrito!