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Resumo contos “A legião estrangeira”.

1. Os desastres de Sofia: aluna e professor, desobediência, provocação. Ponto de


virada a atividade sobre o tesouro e o baú, transformação de Sofia, processo de
amadurecimento.
2. Macacos: macaco entra na casa na noite de ano novo, crianças do morro vem
buscar ele. Segundo momento, em Copacabana a mulher vê um vendedor de
macaquinhos e compra um para os filhos: se torna mãe da macaca, Lisette,
macaca fica doente e morre. Se reconhece no animal: “Você parece tanto com a
Lisette!” “Eu também gosto de você”, respondi.
3. O ovo e a galinha: narradora vê o ovo na mesa de manhã e começa a refletir
sobre o ovo, a imagem do ovo, que o ovo é um reflexo, algo que não é
individual, sempre memória: “e já se teria visto um ovo há três milênios”.
Galinha o disfarce do ovo “mãe é para isso”, o ovo é o grande sacrifício da
galinha. Conto enigmático, confuso, mas que se revela ao próprio leitor “O meu
mistério é que eu ser apenas um meio, e não um fim, tem-me dado a mais
maliciosa das liberdades: não sou boba e aproveito”.
4. Viagem a Petrópolis: idosa sozinha, mora na casa de uma família, decidem levá-
la para outro lugar (Petrópolis). Não é aceita e morre ao final do conto.
Progresso de níveis de consciência, ela se lembra do esposo, dos filhos, do que
aconteceu, de como vivia, começa a ter fome novamente, a sentir desconforto.
Percurso de humanização.
5. A quinta história: história de como reclamou das baratas e sugeriram um veneno
caseiro para se livrar dos insetos. Vai evoluindo e cada história tem um título: a
primeira histórica -> queixa, veneno, morte. Segunda história: história -> queixa
-> receita -> receio (ao misturar o veneno as baratas se tornam dela) -> morte
das baratas.
Terceira história: se chama “estátuas”. Queixa das baratas -> pulo para a
madrugada em que ela vai a cozinha e encontra milhares de estátuas de baratas
(mortas com o cal e açúcar). Testemunha de pompeia, há um processo de
psicologização das baratas nessa história: reconhecimento e olhar para si
mesmo.
Quarta história: nova era do lar. Queixa baratas -> monumentos de gesso,
baratas mortas -> o depois: renovação da população de baratas, consciencia e
reflexão sobre repetir o mesmo gesto todos os dias (açúcar e cal) -> detetização.
Quinta história: em aberto, começa apenas com a queixa, não se sabe o que
aconteceu.
6. A legião estrangeira: Ofélia, filha dos vizinhos, vai sempre conversar com a
narradora, mulher adulta datilográfa com filhos. Conto dividido em duas partes,
primeira apresentação do rigor da menina. Segundo, apresentação de seus pais e
a inveja do pintinho. Termina com a morte do pintinho e resistituição da infância
para a menina.
“Uma tentativa de renovação”, Antonio Candido. In: Brigada ligeira. Rio de Janeiro:
Ouro sobre azul, 2017.
Ensaio de Antonio Candido sobre as inovações na prosa brasileira realizadas por
Clarice Lispector, que rompe com os formalismos estilísticos nacionais e ousa em
outras formas para o romance, aprofundando essa expressão literária. Para o crítico
literário, esse foi um movimento de “pensar efetivamente a matéria verbal” (p. 88),
transformando a ficção em um “instrumento real do espírito” (p. 89).

Clarice Lispector teria rompido com o tom mais ou menos naturalista da


literatura brasileira, apresentando um romance raro, abordando seriamente o problema
do estilo e da expressão, com densidade afetiva e intelectual. Assim, a autora teria
conseguido criar novas imagens e associações, em uma descoberta inédita do cotidiano,
a partir de sua sensibilidade e emoções.

Depois, afirma que os romances psicológicos eram chamados de romances de


análise, as famosas “paixões” da literatura clássica, entretanto, pela universalidade e
ausencia de fronteiras a definição seria imprecisa e defende que os livros da Clarice são
antes “romances de aproximação” (p. 91), com uma tentativa de esclarecimento pela
identificação do escritor com o problema. O ritmo da escrita de Clarice seria da procura,
penetração e a tensão psicológica, com um tempo cronológico que perde a razão.

“O vertiginoso romance”, Gilda de Melo e Souza. In: Exercícios de leitura. São Paulo:
Ed. 34 – Duas Cidades, 2009.

Ensaio de Gilda de Melo e Souza sobre “A maçã no escuro”, mas que aponta
para algumas das tensões centrais na prosa de Clarice Lispector. O texto começa com a
colocação da escrita da autora dentro da posição social da mulher, destacando os
motivos sócio-históricos para as mulheres se apegarem a minúcia, detalhe, ao sensível
para elaborar o real.

Depois disso, mostra como esse apego e uso do detalhe mudam também a
relação com o tempo nessa prosa, voltado ao passado, da memória, bem como o espaço:
privado, individual, doméstico, afinal, o universo feminino seria o da lembrança: aquilo
que se retem de uma ação que já passou:

Os episódios insignificantes que a compõem , de certo modo só ganham


sentido no passado, quando a memória, selecionando o que o presente
agrupou sem escolha, fixa dois ou três momentos que se destacam em
primeiro plano. Assim, o universo femininoé um universo de lembrança ou
de espera. (p. 97)

Da mesma maneira, Clarice usaria sua miopia para deslocar a apreensão do real
para a apreensão das essências e do tempo, usando o que há de secreto, nas emoções,
relações e seres, e o tempo é fragmentado como gomos de uma fruta em pequenas
durações. De onde derivaria, para Gilda, a obsessão de Clarice Lispector com a questão
do “instante”, marcado pelo uso de advérbios e locuções adverbiais: “o que a romancista
visa é apreender o instante exemplar, aquela ínfima parcela de duração capaz de
iluminar com o seu sentido revelador toda uma sequencia de atos” (p. 98).

Esse instante exemplar explicaria de forma condensada os atos e sua sequencia


de ações, isso é a duração breve passa a ser significante, transmitindo a sensação de
presentificação ao leitor. Gilda define Clarice como “romancista do instante” (p.99)
porque seria esse o elemento escasso que tece toda a narrativa, unindo o ser e o nada. Os
instantes, muitas vezes, são momentos que não se narram, isso é, aquilo que se deixa
escapar, que não seria significativo.

A crítica literária também reflete sobre a tensão presente nesse desejo de captar o
instante: como fazer isso se a nossa própria percepção de mundo está sempre atrasada?
“se o próprio ato de apreensão destrói magicamente o objeto percebido” (p. 101). A
resposta para essa pergunta vai estar presente na própria tensão narrativa de Clarice
Lispector, a tensão entre uma aspiração e a impossibilidade de realizá-la, representada
pelas imagens que vão se multiplicando ininterruptamente, em uma astúcia verbal.

Gilda aponta também que para Clarice Lispector há uma complexidade atrás de
toda aparência e por isso é preciso virar a aparência pelo avesso e buscar a costura da
trama, que poderia denunciar o jogo dos fios (p. 102). Essa sua suspeita em relação as
aparências também é o que leva a autora a realizar ousados jogos de linguagem, criando
novas combinações entre as palavras (não era ódio – era amor ao contrário). Esses jogos
e montagens com a linguagem denunciariam a “procura insaciável de ajustamento entre
a expressão e o conteúdo” (p. 102).

Os desarranjos entre expressão e conteúdo também estão marcados pela


dificuldade de comunicação entre as personagens: não se comunicam, não se entendem.
Principalmente na dinâmica homem e mulher, mas esse mesmo traço pode ser visto
entre os personagens todos.
“Olhares de inveja em dois contos de Clarice Lispector”, Yudith Rosenbaum.In:
Metamorfoses do mal: uma leitra de Clarice Lispector.

Ensaio de Yudith Rosenbaum observando a inveja em dois contos de Clarice


Lispector: “A legião estrangeira” e “Felicidade clandestina”. O texto começa afirmando
que a qualidade de certos autores é a de levar o leitor a “certos lugares psíquicos” (p.
49) que antes não eram evidentes, estavam opacos, ainda eram desconhecidos. A
literatura, assim, passa a descortinar a mente, mas também a que esses elementos
desconhecidos se tornem figuras transfiguradoras.

Depois, ao analisar diretamente “A legião estrangeira”, começa por indicar que o


conto apresenta uma dimensão metalinguística, que chama atenção para a própria fatura
narrativa, isso é que as tensões subjetivas e objetivas são armadas ficcionalmente. O que
segue um breve resumo da narrativa e da relação de Ofélia, menina de 8 anos, e a
narradora, datilógrafa, indicando a repetição da tensão do mal e a necessidade da
aprendizagem do bem, que seria o “delicado abismo” (p.51) de Ofélia.

Yudith Rosenbaum aponta, também, para o fato de que o conto se divide em


duas partes: a primeira com os diálogos entre a criança e a mulher adulta, e a segunda
após a apresentação dos pais de Ofélia pela narradora-personagem. A apresentação dos
pais de Ofélia seria “um quadro cujas pesadas tintas preparam para a brutalidade da
cena final de Ofélia” (p. 51) no conto, assim como a descrição dos cachos e da roupa de
Ofélia uma denúncia da psicologia da personagem: os cachos duros, o vestido
engomado se juntam aos conselhos, ordens e opiniões dirigidos à narradora-
personagem: “(...) em Ofélia não há espaço para incertezas, falhas, dúvidas.” (p. 52).

O ensaio também mostra como a narradora-personagem mostra seu gozo em


relação ao erro de Ofélia, chamando-o de estrabismo de pensamento, indicando como
essa imagem antecipa a questão do olhar, que seria o clímax do conto, como se pode ver
no trecho de “A legião estrangeira”: “não fosse a força excepcional daquela criança,
que, sem uma palavra, apenas com a extrema autoridade do olhar, me obrigasse a ouvir
o que ela própria ouvia.”. A visão é o meio pelo qual Ofélia exerce seu poder.

A inflexibilidade de Ofélia também desmoronaria pela força de seu olhar,


irrompido pela inveja: “eu também quero”, desse instante a escuridão se adensara no
fundo dos olhos num desejo retrátil que, se tocassem, mais se fecharia como folha de
dormideira”. Essa inveja é descrita no conto pelas mudanças corporais que a criança
sofre, visto que a natureza do desejo em Ofélia possui uma voracidade constitutiva
devoradora.

Essas deformações que sobre Ofélia escancara como ela estava longe das
pulsões, fantasias e desejos infantis. Yudith também discorre da aproximação entre a
Ofélia de Shakespeare e a de Clarice.

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