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Resumo
Este artigo pretende comentar os livros de contos escritos por Clarice Lispector, fornecendo uma visão
ampla da produção literária da autora a partir da teoria do conto esboçada por Júlio Cortazar.
C
larice Lispector não foi escritora de um único gênero literário. Ela
cultivou a prosa em suas várias modalidades – romance, conto, crôni-
ca – e aproveitou os recursos de cada uma dessas formas para repre-
sentar seu modo de sentir, ver, pensar, dizer. No que se refere ao conto,
Clarice serviu-se de toda a versatilidade do gênero para fazer da construção
da subjetividade e da reflexão sobre a linguagem – eixos da obra clariceana –
temas a serem explorados nas mais variadas situações.
A versatilidade do conto é constatada quando se observa sua histó-
ria. A origem desse gênero poderia ser localizada em torno do ano 4000 a.C.,
quando se verifica o nascimento das narrativas curtas. Nessa etapa inicial,
ressalta-se a oralidade do conto; em uma fase seguinte, as histórias contadas
passam a ser registradas por escrito. Posteriormente dá-se a criação do rela-
to, quando se consolida o caráter literário do conto. Assim, sob a denomina-
ção de conto, são encontradas desde “narrativas domésticas” ou “formas
simples” – as expressões são de Fábio Lucas e André Jolles, respectivamente
– como a anedota, o causo e o provérbio, até textos elaborados que acompa-
nham os rumos da ficção moderna e ocupam-se com o processo da escrita
do relato.
Entre os contos escritos por Clarice Lispector, alguns retomam as
formas simples, centradas no relato, outros são textos sofisticados, em que
esse relato praticamente se dilui diante da percepção dos procedimentos
narrativos e seus impasses. Todos, contudo, funcionam como janela ou aber-
tura que projeta o leitor para além do narrado. Essa é a noção do gênero que
se encontra em Cortazar, para quem o contista, tal qual o fotógrafo, sente
“... necessidade de escolher e limitar uma imagem ou um acontecimento que
sejam significativos, que não só valham por si mesmos, mas também sejam
capazes de atuar no espectador ou no leitor como uma espécie de abertura,
*
Professora de Literatura Brasileira da FAPA. Doutora em Literatura Brasileira pela UFRGS.
Recebido: setembro/2003
Aprovado: outubro/2003
Abstract
Taking our cue from the theory of the short story developed by Júlio Cortázar, this article aims to study
Clarice Lispector’s collections of short stories, while also providing a broad insight into this author’s
overall literary production.
Referências
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2. Teórico-críticas
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