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Avaliação terceiro ano

Questão 1

             amar é um elo

entre o azul

            e o amarelo

LEMINSKI, P. La vie en close. 5. ed. São Paulo: Brasiliense, 1994. p.126.

Com base na leitura do poema acima, assinale a afirmativa que NÃO se aplica à
poesia de Paulo Leminski contida em La vie en close.

A) Observa-se o emprego do haicai, tomado à tradição literária japonesa,


evidenciando o gosto pelo poema breve.

B) Nota-se a predominância do eixo sintagmático sobre o paradigmático,


conferindo ao poema um caráter mais discursivo.

C) Destaca-se a preferência pelo trocadilho e pelo jogo de palavras, marcados


por efeitos de surpresa e condensação.

D) Ressalta-se, em relação ao signo verbal, a exploração dos significantes,


vistos em relativa autonomia quanto aos significados.

Gabarito:

Resolução:

O poema não possui caráter discursivo, uma vez o que o eixo sintagmático,
sintático, não predomina sobre o paradigmático (isto é, sobre a forma poética,
que prioriza o rítmico e o metafórico). Isso se evidencia no fato de que os signos
verbais (as palavras) são explorados em seu significante (isto é, em sua forma
sonora, em si), e eles são relativamente autônomos em relação ao significado
(sentido que são atribuídos a eles) - pois a definição de amor é o menos
relevante no poema.
Questão 2

"[...] de um lado, a preocupação com os problemas sociais; de outro, com os


problemas individuais, ambos referidos ao problema decisivo da expressão, que
efetua a sua síntese. O bloco central da obra de Drummond é, pois, regido por
inquietudes poéticas que proveem uma das outras, cruzam-se e, parecendo
derivar de um egotismo profundo tem como consequência uma espécie de
exposição mitológica da personalidade."

(CANDIDO, Antonio. Inquietudes na poesia de Drummond. Vários escritos. São


Paulo: Duas Cidades, 1977, p. 96.) 

Sobre as considerações acerca da poética de Drummond realizadas por Antonio


Candido na citação, analise as estrofes a seguir: 

I. “Perdi o bonde e a esperança.


Volto pálido para casa.
A rua é inútil e nenhum auto
passaria sobre o meu corpo.” 

II. “Casas entre bananeiras


mulheres entre laranjeiras
pomar amor cantar.” 

III. “O jardim tornou-se fantástico.


As flores são placas cinzentas.
E a areia, sob pés extintos,
é um oceano de névoa.” 

IV. “E agora, José?


A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora José?
e agora, você?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?” 

V. “Tenho apenas duas mãos


e o sentimento do mundo,
mas estou cheio de escravos,
minhas lembranças escorrem
e o corpo transige
na confluência do amor.” 

As estrofes que NÃO contemplam as considerações de Antonio Candido são: 

A) I e IV.
B) III e V.
C) II e III.
D) II e IV.
E) I e III.

Gabarito:

Resolução:

As considerações de Antonio Candido ressaltam um caráter forte de


subjetividade em Drummond, seja no olhar para si mesmo, seja no olhar para o
mundo. Dessa forma, as opções II e III não se enquadram nessa explicação,
pois demonstram uma faceta do poeta mais voltada à descrição objetiva.

Questão 3

Vila Rica
 
O ouro fulvo* do ocaso as velhas casas cobre;
Sangram, em laivos* de ouro, as minas, que ambição
Na torturada entranha abriu da terra nobre:
E cada cicatriz brilha como um brasão.

O ângelus plange ao longe em doloroso dobre,


O último ouro de sol morre na cerração.
E, austero, amortalhando a urbe gloriosa e pobre,
O crepúsculo cai como uma extrema-unção.

Agora, para além do cerro, o céu parece


Feito de um ouro ancião, que o tempo enegreceu...
A neblina, roçando o chão, cicia, em prece,

Como uma procissão espectral que se move...


Dobra o sino... Soluça um verso de Dirceu...
Sobre a triste Ouro Preto o ouro dos astros chove.
Olavo Bilac
 
*Glossário:
“fulvo”: de cor alaranjada.
“laivos”: marcas; manchas; desenhos estreitos e coloridos nas pedras; restos ou
vestígios.
 
Dentre os diversos recursos expressivos presentes no texto, pode-se apontar o
emprego concomitante de um verbo onomatopaico e de aliteração no verso
 
A) dois.
B) onze.
C) oito.
D) catorze.
E) quatro.

Gabarito:

Resolução:

No verso onze, "A neblina, roçando o chão, cicia, em prece," temos um verbo
onomatopaico, "cicia" (que reproduz o som fraco e sibilante de folhas (ou algo
leve) que roçam entre si ou uma superfície) e uma aliteração do som /s/:
"roçando o chão cicia em prece".

Questão 4

A mulher e a casa

Tua sedução é menos


de mulher do que de casa:
pois vem de como é por dentro
ou por detrás da fachada.

Mesmo quando ela possui


tua plácida elegância,
esse teu reboco claro,
riso franco de varandas,

uma casa não é nunca


só para ser contemplada;
melhor: somente por dentro
é possível contemplá-la.

Seduz pelo que é dentro,


ou será, quando se abra;
pelo que pode ser dentro
de suas paredes fechadas;

pelo que dentro fizeram


com seus vazios, com o nada;
pelos espaços de dentro,
não pelo que dentro guarda;

pelos espaços de dentro:


seus recintos, suas áreas,
organizando-se dentro
em corredores e salas,

os quais sugerindo ao homem


estâncias aconchegadas,
paredes bem revestidas
ou recessos bons de cavas,

exercem sobre esse homem


efeito igual ao que causas:
a vontade de corrê-la
por dentro, de visitá-la.

MELO NETO, João Cabral de. A mulher e a casa. In: Os melhores poemas de
João Cabral de Melo Neto. Seleção de Antônio Carlos Secchini. 6. ed. São
Paulo: Global, 1998, p.142.

Com relação aos recursos estilísticos trabalhados no poema, identifique as


afirmativas corretas:

I. O poema classifica-se como soneto, apresentando estrofes formadas por


quartetos.

II. A relação mulher / casa remete para uma imagem inusitada da figura
feminina, distanciada do lirismo romântico.

III. Os versos “Seduz pelo que é dentro/ou será, quando se abra;” constituem
exemplo de antítese.
IV. Os versos, em sua maioria, são brancos, traduzindo a sua natureza
moderna.

V. O poema à luz da proposta do autor apresenta expressões de valor


conotativo.

Gabarito:

II - IV - V

Resolução:

O poema não é um soneto, forma fixa formada por dois quartetos e dois
tercetos. Em "Seduz pelo que é dentro / ou será, quando se abra", não há
palavras ou ideias opostas, que se configurem em antítese. Portanto, as
afirmativas I e III estão incorretas.

Questão 5

O maiúsculo e o minúsculo

(1) É lastimável quando alguém simplifica em demasia as realidades complexas:


perde a proporção dos fatos e se põe a fazer afirmações desprovidas de
qualquer fundamento. Enquanto essas simplificações permanecem nos limites
estritos do idiossincrático, parece não haver maiores problemas, afinal cada um
acredita naquilo que bem lhe apraz. Contudo, quando essas simplificações
ultrapassam tais limites e começam a sustentar ações com repercussão para
além do idiossincrático, a situação se torna, no mínimo, preocupante.
(2) É o que tem ocorrido ultimamente com certa discussão em torno da língua.
Nessa área, há, sem dúvida, questões maiúsculas a serem enfrentadas. O Brasil
precisa desencadear um amplo debate com vista à elaboração de uma nova
política linguística para si, superando os efeitos deletérios de uma situação ainda
muito mal resolvida entre nós.
(3) Essa nova política deverá, entre outros aspectos, reconhecer o caráter
multilíngue do país (o fato de o português ser hegemônico não deve nos cegar
para as muitas línguas indígenas, europeias e asiáticas que aqui se falam,
multiplicidade que constitui parte significativa do patrimônio cultural brasileiro).
Ao mesmo tempo, deverá reconhecer a grande e rica diversidade do português
falado aqui, vencendo, de vez, o mito da língua única e homogênea.
(4) Será preciso incluir, nessa nova política, um combate sistemático a todos os
preconceitos linguísticos que afetam nossas relações sociais e que constituem
pesado fator de exclusão social. E incluir, ainda, um incentivo permanente à
pesquisa científica da complexa realidade linguística nacional e à ampla
divulgação de seus resultados,estimulando com isso, por exemplo, um registro
mais adequado, em gramáticas e dicionários, da norma-padrão real, bem como
das demais variedades do português, viabilizando uma comparação sistemática
de todas elas, como forma de subsidiar o acesso escolar (hoje tão precarizado)
ao padrão oral e escrito.
(5) Apesar de termos essas tarefas maiúsculas à frente, foi uma questão
minúscula que, a partir de uma grosseira simplificação dos fatos, acabou por
tomar corpo em prejuízo de todo o resto: a presença de palavras da língua
inglesa em nosso cotidiano.
(6) Uma observação cuidadosa e honesta dos fatos nos mostra que,
proporcionalmente ao tamanho do nosso léxico (composto por cerca de 500 mil
palavras), esses estrangeirismos não passam de uma insignificante gota d’água
(algumas poucas dezenas) num imenso oceano.
(7) Mostra-nos ainda mais (e aqui um dado fundamental): muitos deles, pelas
próprias ações dos falantes, estão já em pleno refluxo (a maioria terá, como em
qualquer outra época da história da língua, vida efêmera).

(Carlos Alberto Faraco. Folha de S. Paulo. 13/05/2001.)

Um poema também se constrói com palavras e também se submete às regras


da gramática, embora os fins estéticos a que se presta autorizam uma ou outra
transgressão. No caso do poema de Bandeira, merece destacar:

I. a proximidade semântica entre palavras, como "sórdido", "suja, "lama",


"nódoa".

II. a analogia criada entre "poema" e "nódoa no brim". A conjunção "como"


sinaliza esse caráter analógico.

III. a referência com o uso de um pronome reflexivo feito em: “Fazer o leitor
satisfeito de si dar o desespero.”

IV. a concentração do poema na primeira pessoa do discurso: o "eu" tem clara


predominância.

V. a enumeração de itens semanticamente coerentes com a qual o poeta finaliza


o poema.

A afirmativa é VERDADEIRA apenas nos itens:

A) I, II e V. 
B) I, II, III e V. 
C) I, II e III. 
D) II e IV. 
E) IV e V.
Gabarito:

Resolução:

Não há predominância do "eu" no poema, ao contrário: encontra-se apenas um


verbo em primeira pessoa, no primeiro verso. Ao longo do poema, o poeta
recorre a trechos narrativos e descritivos de uma situação objetiva, e não num
discurso subjetivo.

Questão 6

A borboleta
Cada vez que o poeta cria uma borboleta, o leitor
exclama: “Olha uma borboleta!” O crítico ajusta os
nasóculos e, ante aquele pedaço esvoaçante de vida,
murmura: – Ah!, sim, um lepidóptero...

Mário Quintana, Caderno H.

nasóculos = óculos sem hastes, ajustáveis ao nariz.

Depreende-se desse fragmento que, para Mário Quintana,

a) a crítica de poesia é meticulosa e exata quando acolhe e valoriza uma


imagem poética.

b) uma imagem poética logo se converte, na visão de um crítico, em um


referente prosaico.

c) o leitor e o poeta relacionam-se de maneira antagônica com o fenômeno


poético.

d) o poeta e o crítico sabem reconhecer a poesia de uma expressão como


“pedaço esvoaçante de vida”.

e) palavras como “borboleta” ou “lepidóptero” mostram que há convergência


entre as linguagens da ciência e da poesia.

Gabarito:

B
Resolução:

O texto de Mário Quintana nos sugere que o leitor e o crítico relacionam-se de


maneiras opostas em relação à imagem poética: enquanto o leitor sabe admirá-
la, o crítico não a acolhe como poesia, e sim, quase desdenhosamente, como
algo prosaico (isto é, comum, sem surpresa ou encanto). O uso da palavra
"lepdóptero", em lugar de borboleta, também ressalta a divergência entre o
ponto de vista poético e científico – no qual se insere o crítico.

Questão 7

Em geral, a lírica é vista como o gênero que se caracteriza por expressar


sentimentos e ideias íntimas de um sujeito poético. A poesia lírica seria, então,
marcada sobretudo pela subjetividade, privilegiando o mundo interior em face ao
mundo exterior.
 
Assinale a alternativa em que o fragmento do poema NÃO apresenta um eu
lírico correspondente ao que foi descrito.
 
A) “Mundo mundo vasto mundo, / se eu me chamasse Raimundo / seria uma
rima, não seria uma solução. / Mundo mundo vasto mundo, / mais vasto é meu
coração”. (ANDRADE, Carlos Drummond de. Alguma poesia).
 
B) “É mineral o papel / onde escrever / o verso; [...] É mineral, por fim, / qualquer
livro: / que é mineral a palavra escrita, a fria natureza // da palavra escrita.”
(MELO NETO, João Cabral de. Psicologia da composição).
 
C) “Em que lugar ficou / o que agora / me faz falta / o que não sei / nem mais o
nome / o que antes foi tão querido / [...] cercado por minha pele / feito eu
mesmo?" (FREITAS FILHO, Armando. Longa vida).
 
D) “Ninguém sonha duas vezes o mesmo sonho / [...] Nem ama duas vezes a
mesma mulher. [...] Ainda não estamos habituados com o mundo / Nascer é
muito comprido.” (MENDES, Murilo. In: Os quatro elementos).

Gabarito:

Resolução:

No fragmento de João Cabral de Melo Neto não encontramos um eu lírico que


se manifesta subjetivamente, e sim versos metalinguísticos, que ressaltam a
materialidade da palavra escrita e seu suporte (o papel). Nas demais
alternativas, os sentimentos do eu lírico (isto é, seu mundo interior) estão em
evidência.

Questão 8

Quem se habilite a escrever um grande poema para exaltar as façanhas da


corrida espacial valer-se-á, de algum modo, de recursos de estilo que são
próprios do gênero

(A) lírico, como o explorado por Álvares de Azevedo na primeira parte da Lira
dos vinte anos.
(B) dramático, tal como se desenvolve nas falas de Morte e vida severina, de
João Cabral de Melo Neto.
(C) satírico, da forma como o notabilizou Tomás Antônio Gonzaga nas Cartas
Chilenas.
(D) épico, como o frequentado por Basílio da Gama e Santa Rita Durão em suas
manifestações indianistas.
(E) realista, como o notabilizou Machado de Assis em seus romances e contos
da maturidade.

Gabarito:

Resolução:

O gênero literário tradicionalmente utilizado para exaltar façanhas de heróis ou


de uma nação é o épico, utilizado por Camões em Os Lusíadas, por Santa Rita
Durão em Caramuru e por Basílio da Gama em O Uraguai. Estas últimas,
epopeias classificadas como árcades ou neoclássicas, apresentam temática
indianista, retomada posteriormente pelo romantismo brasileiro.

Questão 9

Senhor Grileiro de Terra,


É chegada a vossa vez,
A voz que ouvis e que berra
É a voz do camponês
Clamando do seu calvário
Contra a vossa mesquinhez.
O café vos deu o ouro,
Com que encheis vosso tesouro,
A cana vos deu a prata
Que reluz em vosso armário,
O cacau vos deu o cobre
Que atirais no chão do pobre,
O algodão vos deu o chumbo
Com que matais o operário:
É chegada a vossa vez,
Senhor latifundiário!
 
(Vinícius de Moraes. Poemas esparsos. S. Paulo: Companhia das Letras, 2008.
p. 58.)
 
Entre os recursos estilísticos utilizados pelo poeta nesses versos, está 
 
(A) a antítese, como ocorre entre as expressões encheis vosso tesouro e vos
deu o ouro.
(B) a alusão, como ocorre, na expressão Clamando do seu calvário.
(C) o paradoxo, como se dá na frase A cana vos deu a prata Que reluz em
vosso armário.
(D) a metáfora, como se verifica na construção Contra a vossa mesquinhez.
(E) a personificação, tal como ocorre em É chegada a vossa vez.

Gabarito:

Resolução:

No  verso citado na alternativa B, de fato utiliza-se o recurso da alusão, já que o


poeta faz referência a um fato histórico (a morte de Jesus no Calvário) para que
o leitor associe a imagem do sofrimento de Cristo ao sofrimento daqueles que,
ao longo da história, foram explorados pelos proprietários de terra. 

Questão 10

MADAME CLESSI – Deixa o homem! Como foi que você soube do meu nome?
ALAÍDE – Me lembrei agora! (noutro tom) Ele está-me olhando. (noutro tom,
ainda) Foi uma conversa que eu ouvi quando a gente se mudou. No dia mesmo,
entre papai e mamãe. Deixe eu me recordar como foi... Já sei! Papai estava
dizendo: "O negócio acabava..."

(Escurece o plano da alucinação. Luz no plano da memória. Aparecem pai e


mãe de Alaíde.)

PAI (continuando a frase) – "...numa orgia louca." 


MÃE – E tudo isso aqui? 
PAI – Aqui, então?!
MÃE – Alaíde e Lúcia morando em casa de Madame Clessi. Com certeza, é no
quarto de Alaíde que ela dormia. O melhor da casa!
PAI – Deixa a mulher! Já morreu!
MÃE – Assassinada. O jornal não deu?
PAI – Deu. Eu ainda não sonhava conhecer você. Foi um crime muito falado.
Saiu fotografia. 
MÃE – No sótão tem retratos dela, uma mala cheia de roupas. Vou mandar
botar fogo em tudo. 
PAI – Manda.

(RODRIGUES, N. Vestido de noiva. In: Teatro completo, vol.1. Rio de Janeiro:


Nova Fronteira, 1981. p.115-116.)
 
Com base no texto e nos conhecimentos sobre a peça Vestido de noiva, de
Nelson Rodrigues, considere as afirmativas a seguir.

I. A opinião emitida pelos pais de Alaíde reflete tanto o fascínio quanto a repulsa
da sociedade da época pelo submundo da prostituição.

II. O uso inovador da iluminação possibilita a transição do plano da alucinação


para o plano da memória, traço de modernidade da peça.

III. O diálogo dos pais é um recurso teatral para externar o inconsciente de


Alaíde.

IV. As indicações cênicas ora revelam o estado de perturbação das


personagens, ora indicam seus gestos e pensamentos.

Assinale a alternativa correta.

a) Somente as afirmativas I e II são corretas.

b) Somente as afirmativas I e IV são corretas.

c) Somente as afirmativas III e IV são corretas.

d) Somente as afirmativas I, II e III são corretas.


e) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas.

Gabarito:

Resolução:

O recurso teatral para externar o inconsciente de Alaíde é a divisão do cenário


em planos (e não o diálogo entre seus pais, como se afirma em III), incluindo, ao
lado do plano da realidade, o plano da memória e da alucinação da personagem.
Além disso, as indicações de cena revelam o estado de perturbação das
personagens quando indicam o tom de suas falas, mas não revelam seus gestos
e pensamentos no trecho citado – portanto, a afirmação IV é incorreta.

Questão 11

Autorretrato falado

  Venho de um Cuiabá garimpo e de ruelas entortadas.


  Meu pai teve uma venda de bananas no Beco da
  Marinha, onde nasci.
  Me criei no Pantanal de Corumbá, entre bichos do
05 chão, pessoas humildes, aves, árvores e rios.
  Aprecio viver em lugares decadentes por gosto de
  estar entre pedras e lagartos.
  Fazer o desprezível ser prezado é coisa que me apraz.
  Já publiquei 10 livros de poesia; ao publicá-los me
10 sinto como que desonrado e fujo para o
  Pantanal onde sou abençoado a garças.
  Me procurei a vida inteira e não me achei – pelo
  que fui salvo.
  Descobri que todos os caminhos levam à ignorância.
15 Não fui para a sarjeta porque herdei uma fazenda de
  gado. Os bois me recriam.
  Agora eu sou tão ocaso!
  Estou na categoria de sofrer do moral, porque só
  faço coisas inúteis.
  No meu morrer tem uma dor de árvore.
 
MANOEL DE BARROS
Poesia completa. São Paulo: Leya, 2010.

Uma obra literária pode combinar diferentes gêneros, embora, de modo geral,
um deles se mostre dominante.
O poema de Manoel de Barros, predominantemente lírico, apresenta
características de um outro gênero.
Identifique esse gênero e cite duas de suas características presentes no poema.

Gabarito:

(Resolução oficial)

Narrativo. 
Apresenta os fatos numa sequência temporal / conta uma história.
Não apresenta ritmo marcado nem rimas, aproximando-se da fala.

Questão 12

Senhora Dona Bahia,


nobre e opulenta cidade,
madrasta dos naturais,
e dos estrangeiros madre:

5 Dizei-me por vida vossa


em que fundais o ditame
de exaltar os que aqui vêm,
e abater os que aqui nascem?

Se o fazeis pelo interesse


10 de que os estranhos vos gabem,
isso os paisanos fariam
com conhecidas vantagens.

E suposto que os louvores


em boca própria não valem,
15 se tem força esta sentença,
mor força terá a verdade.

O certo é, pátria minha,


que fostes terra de alarves,
e inda os ressábios vos duram
20 desse tempo e dessa idade.

Haverá duzentos anos,


nem tantos podem contar-se,
que éreis uma aldeia pobre
e hoje sois rica cidade.

25 Então vos pisavam índios,


e vos habitavam cafres,
hoje chispais fidalguias,
arrojando personagens.
 
Nota: entenda-se “Bahia” como cidade.

Gregório de Matos

Vocabulário
alarves - que ou quem é rústico, abrutado, grosseiro, ignorante; que ou o que é
tolo, parvo, estúpido.
ressábios - sabor; gosto que se tem depois.
cafres - indivíduo de raça negra.

Todas as afirmativas sobre a construção estética ou a produção textual do


poema de Gregório de Matos (Texto) estão adequadas, EXCETO uma. Assinale-
a.

(A) Existem antíteses, características de textos no período barroco.


(B) Há uma personificação, pois a Bahia, ser inanimado, é tratada como ser vivo.
(C) A ausência de métrica aproxima o poema do Modernismo.
(D) O eu lírico usa o vocativo, transformando a Bahia em sua interlocutora.
(E) Há diferença de tratamento para os habitantes locais e os estrangeiros.

Gabarito:

Resolução:

A única afirmação incorreta é a que está presente em C, pois não se pode


afirmar que não haja métrica no poema. Pelo contrário, o poema evidencia
grande preocupação formal, com versos de sete sílabas métricas (redondilha
maior), o que garante seu ritmo.
Questão 13

Leia o poema a seguir, de José Paulo Paes, e faça o que se pede.

“A casa

Vendam logo esta casa, ela está cheia de fantasmas.

Na livraria, há um avô que faz cartões de boas-festas com corações de


purpurina.
Na tipografia, um tio que imprime avisos fúnebres e programas de circo.
Na sala de visitas, um pai que lê romances policiais até o fim dos tempos.
No quarto, uma mãe que está sempre parindo a última filha.
Na sala de jantar, uma tia que lustra cuidadosamente o seu próprio caixão.
Na copa, uma prima que passa a ferro todas as mortalhas da família.
Na cozinha, uma avó que conta noite e dia histórias do outro mundo.
No quintal, um preto velho que morreu na Guerra do Paraguai rachando lenha.
E no telhado um menino medroso que espia todos eles; só que está vivo: trouxe-
o até ali o pássaro dos sonhos.
Deixem o menino dormir, mas vendam a casa, vendam-na depressa.

Antes que ele acorde e se descubra também morto.”

José Paulo Paes. Prosas seguidas de odes mínimas.

Assinale a alternativa INCORRETA.

A) A atitude fundamental da lírica é a recordação, o que pode resultar numa


sobreposição temporal. Desta forma, o tempo se embaralha e presente e
passado se fundem. No poema, são os fatos e não os verbos que determinam
essa fusão temporal.

B) O texto é uma fusão de características da épica e da lírica. No que diz


respeito à lírica, sobressaem a repetição, a concisão, a fusão entre sujeito e
mundo evocado. E, sobre a épica, destacam-se a presença de personagens,
uma história que se conta.

C) A atmosfera onírica que percorre o texto confere um caráter sobrenatural aos


acontecimentos, permitindo que coisas impossíveis se realizem, tais como
“lustra cuidadosamente seu próprio caixão” e “No quintal, um preto velho que
morreu na Guerra do Paraguai rachando lenha”.

D) Este poema em prosa narra em primeira pessoa a história de um menino


assombrado pela presença dos mortos de sua família. Tendo em vista o clima
onírico em que os acontecimentos se desenrolam, não é possível saber quem é
esse “menino medroso que espia todos eles”.
Gabarito:

Resolução:

O poema em prosa em questão não apresenta uma narrativa em primeira


pessoa, e sim em terceira pessoa.

Questão 14

Leia o poema transcrito a seguir.


 
À GARRAFA
 
Contigo adquiro a astúcia
de conter e de conter-me.
Teu estreito gargalo
é uma lição de angústia.
 
Por translúcida pões
o dentro fora e o fora dentro
para que a forma se cumpra
e o espaço ressoe.
 
Até que, farta da constante
prisão da forma, saltes
da mão para o chão
e te estilhaces, suicida,
 
numa explosão
de diamantes.
 
PAES, José Paulo. Prosas seguidas de odes mínimas.
 
Em relação ao poema, assinale a alternativa INCORRETA.
 
A) A ode é um subgênero poético de intenção laudatória, enaltecedora, como se
nota no poema o qual promove um elogio da garrafa.
 
B) A despreocupação com as normas clássicas é intencional e reflete-se na
forma do poema, a qual não observa rimas, métrica, nem simetria estrófica.
 
C) Em vez de fazer louvores a heróis, governantes ou nações, o poeta dedica
suas odes a objetos simples, estimulando-nos a lançar um novo olhar sobre
eles.
 
D) No poema, a garrafa deixa de ser um objeto corriqueiro para ganhar nobreza
poética, sendo capaz de trazer ensinamentos preciosos ao observador.

Gabarito:

Resolução:

Embora não possamos afirmar que o poema tenha preocupação com as normas
clássicas, é evidente que há uma preocupação formal, pois ele apresenta
simetria estrófica (as três primeiras estrofes de 4 versos e a final, conclusiva,
de 2 versos), alguma regularidade métrica (versos com 6 a 8 sílabas) e
exploração rítmica.

Questão 15

"As rubricas ou indicações cênicas são “textos que não se destinam a ser
pronunciados no palco, mas que ajudam o leitor a compreender e a imaginar a
ação e as personagens. Esses textos são igualmente úteis ao diretor e aos
atores durante os ensaios, mesmo que eles não os respeitem."

RYNGAERT, Jean-Pierre. Introdução à análise do teatro. São Paulo: Martins


Fontes, 1996. p. 44.

Entre as indicações cênicas a seguir – extraídas de O anjo negro, de Nelson


Rodrigues – assinale a que se destina à leitura e interpretação do texto e não à
sua encenação.

a) "Passaram-se dezesseis anos e nunca mais fez sol. Não há dia para Ismael e
sua família." (Primeiro quadro do terceiro ato)

b) "No andar térreo, um velório. O pequeno caixão de 'anjo' – de seda branca –


com os quatro círios, bem finos e longos acesos." (Primeiro quadro do primeiro
ato)

c) "Em cima, de costas para a plateia, Virgínia, a esposa branca, muito alva;
veste luto fechado." (Primeiro quadro do primeiro ato)
d) "Elias, meigo como nunca. A cama atual de Virgínia está revolvida, como a de
solteira; um travesseiro no chão; metade do lençol para fora." (Segundo ato)

e) "Vê-se a silhueta de Ana Maria, no frenético e inútil esforço de libertação."


(Segundo quadro do terceiro ato)

Gabarito:

Resolução:

As alternativas B, C, D e E apresentam rubricas com detalhes importantes para


a encenação (detalhes do cenário, figurino e posição dos atores). Já o trecho
transcrito em A apresenta indicações importantes apenas para a compreensão
do enredo da peça.

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