É uma obra composta de três histórias que se entrelaçam e que são marcadas, principalmente, por duas características fundamentais da produção da autora: originalidade de estilo e profundidade psicológica no enfoque de temas aparentemente comuns.
É uma obra composta de três histórias que se entrelaçam e que são marcadas, principalmente, por duas características fundamentais da produção da autora: originalidade de estilo e profundidade psicológica no enfoque de temas aparentemente comuns.
É uma obra composta de três histórias que se entrelaçam e que são marcadas, principalmente, por duas características fundamentais da produção da autora: originalidade de estilo e profundidade psicológica no enfoque de temas aparentemente comuns.
A Hora da Estrela, de Clarice Lispector frases inconclusas e outros desvios da sintaxe
convencional, além da criação de alguns neologismos.
Gênero: Romance FOCO NARRATIVO: Quanto à linguagem, o livro a Estilo: 3ª fase do Modernismo apresenta fartamente, em todos os momentos em que o narrador discute a palavra e o fazer narrativo. Interessante AUTOR: Clarice Lispector (1925-1977) foi uma escritora e notar que, antes de iniciar a narrativa e logo após a jornalista brasileira, de origem judia, foi reconhecida como 'Dedicatória do autor', aparecem os treze títulos que teriam uma das mais importantes escritoras do século XX. sido cogitados para o livro. Fez parte do Terceiro Tempo Modernista, que com seu O recurso usado por Clarice Lispector é o romance inovador e com sua linguagem altamente poética, narrador-personagem, pois conforme nos faz conhecer a põe em cheque os modelos narrativos tradicionais. "A Hora protagonista, também nos faz conhecê-lo. Ele escreve para da Estrela" foi seu último romance, publicado em vida. se compreender. É um marginalizado conforme lemos: "Escrevo por não ter nada a fazer no mundo: sobrei e MODERNISMO DE 45: Uma prosa de denso vasculhar não há lugar pra mim na terra dos homens". Quanto à psicológico em que se mergulha em busca de profundezas sua relação com Macabéa, ele declara amá-la e do ser, uma sondagem de envergadura nunca antes vista compreendê-la, embora faça contínuas interrogações sobre em nossa literatura. Em Clarice especialmente, veremos ela e embora pareça apenas acompanhando a trajetória ainda a eclosão de uma prosa poética que reinventa os dela, sem saber exatamente o que lhe vai acontecer e limites da produção literária, em um exercício de linguagem torcendo para que não lhe aconteça o pior. riquíssimo: Macabéa, a protagonista, é uma invenção do Sim, quero a palavra última que também é tão primeira que narrador com a qual se identifica e com ela morre. A já se confunde com a parte intangível do real, ainda tenho personagem é criada de forma onisciente (tudo sabe) e medo de me afastar da lógica porque caio no instintivo e no onipresente (tudo pode). Faz da vida dela um aprendizado direto, e no futuro: a invenção do hoje é o meu único meio da morte. A morte foi a hora de estrela. de instaurar o futuro. Desde já é futuro, e qualquer hora é O enredo de A hora da Estrela não segue uma hora marcada. Que mal porém tem eu me afastar da lógica? ordem linear: há flash-backs iluminando o passado, há idas Estou lidando com a matéria-prima. Estou atrás do que fica e vindas do passado para o presente e vice-versa. atrás do pensamento. Inútil querer me classificar: eu Além da alinearidade, há pelo menos três histórias simplesmente escapulo não deixando, gênero não me pega encaixadas que se revezam diante dos nossos olhos de mais. Estou em um estado muito novo e verdadeiro, curioso leitor: de si mesmo, tão atraente e pessoal a ponto de não poder 1. A metanarrativa - Rodrigo S. M. conta a história pintá-lo ou escrevê-lo. Água Viva, Clarice Lispector de Macabéa: Esta é a narrativa central da obra: o escritor (fragmento) Rodrigo S.M. conta a história de Macabéa, uma nordestina ANÁLISE DA OBRA: A hora da estrela é também uma que ele viu, de relance, na rua. despedida de Clarice Lispector. Lançada pouco antes de 2. A identificação da história do narrador com a sua morte em 1977, a obra conta os momentos de criação da personagem - Rodrigo S.M. conta a história dele do escritor Rodrigo S. M. (a própria Clarice) narrando a mesmo: esta narrativa dá-se sob a forma do encaixe, história de Macabéa, uma alagoana órfã, virgem e solitária, paralela à história de Macabéa. Está presente por toda a criada por uma tia tirana, que a leva para o Rio de Janeiro, narrativa sob a forma de comentários e desvendamentos do onde trabalha como datilógrafa. narrador que se mostra, se oculta e se exibe diante dos É pelos olhos do narrador e através de seu domínio nossos olhos. Se por um lado, ele vê a jovem como alguém da palavra que a existência e a essência são expostas como que merece amor, piedade e até um pouco de raiva, por sua interrogações. Tal presença masculina retrata um universo patética alienação, por outro lado, ele estabelece com ela de fragmentos, onde o ser humano não é respeitado, mas um vínculo mais profundo, que é o da comum condição desacreditado nessa reconstrução de uma realidade humana. Esta identidade, que ultrapassa as questões de mutilada. classe, de gênero e de consciência de mundo, é um Em A hora da estrela Clarice escreve sabendo que elemento de grande significação no romance, Rodrigo e a morte está próxima e põe um pouco de si nas Macabéa se confundem. personagens Rodrigo e Macabéa. Ele, um escritor à espera 3. A vida de Macabéa - O narrador conta como da morte; ela, uma solitária que gosta de ouvir a Rádio tece a narrativa. Relógio e que passou a infância no Nordeste, como Clarice. Narrador e protagonista, inseridos em uma escrita A despedida de Clarice é uma obra instigante e descontínua e imprevisível, permitem ao leitor a reflexão inovadora. Como diz o personagem Rodrigo, estou sobre uma época de transição, de incoerência, como um escrevendo na hora mesma em que sou lido. É Clarice movimento em busca de uma nova estruturação da obra contando uma história e, ao mesmo tempo, revelando ao literária similar à insegurança, à ansiedade e ao sofrimento. leitor seu processo de criação e sua angústia diante da vida O tema é oferecido, socializando a possibilidade de ruptura. e da morte. O narrador revela seu amor pela personagem principal e sofre com a sua desumanização, mas, também, ESTRUTURA DA OBRA: É uma obra composta de três com a própria tendência em tornar-se insensível. histórias que se entrelaçam e que são marcadas, principalmente, por duas características fundamentais da ESPAÇO/TEMPO: O Rio de Janeiro é o espaço. Ocorre produção da autora: originalidade de estilo e profundidade que o espaço físico, externo, não importa muito nesta psicológica no enfoque de temas aparentemente história. O "lado de dentro"das criaturas é o que comuns. interessa aos intimistas. A linguagem narrativa de Clarice é, às vezes, Pelos indícios que o narrador nos oferece, o tempo intensamente lírica, apresentando muitas metáforas e é época em que Marylin Monroe já havia morrido - outras figuras de estilo. Há, por exemplo, alguns paradoxos possivelmente a década de 60 em seu fim ou a de 70 em e comparações insólitas, que realmente surpreendem o seus começos - mas faz ainda um grande sucesso como leitor. E também é peculiaridade da autora a construção de mito que povoa a cabeça e os sonhos de Macabéa. Embora a história de Macabea seja profundamente progredir, ela o perde para Glória, que possuía atrativos dramática, a narrativa é toda permeada de muito humor e materiais que ele ambicionava. ironia. O próprio nome da protagonista constitui-se numa Glória, com certo sentimento de culpa por ter grande ironia (tragicomédia). roubado o namorado da colega, sugere a Macabéa que vá a uma cartomante, sua conhecida. Para isso, empresta-lhe PERSONAGENS: dinheiro e diz-lhe que a mulher, Madame Carlota, era tão boa, que poderia até indicar-lhe o jeito de arranjar outro Macabéa: Alagoana, 19 anos e foi criada por uma tia beata namorado. Macabéa vai, então, à cartomante, que, primeiro, que batia nela (sobre a cabeça, com força); completamente lhe faz confidências sobre seu passado de prostituta; inconsciente, raramente percebe o que há à sua volta. A depois, após constatar que a nordestina era muito infeliz, principal característica de Macabéa é a sua completa prediz-lhe um futuro maravilhoso, já que ela deveria casar- alienação. Ela não sabe nada de nada. Feia, mora numa se com um belo homem loiro e rico - Hans - que lhe daria pensão em companhia de 3 moças que são balconistas nas muito luxo e amor. Lojas Americanas (Maria da Penha, Maria da Graça e Maria Macabéa sai da casa de Madame Carlota 'grávida José). Macabéa recebe o apelido de Maca e é a de futuro', encantada com a felicidade que a cartomante lhe protagonista da história. Possivelmente o nome Macabéa garantira e que ela já começava a sentir. Então, logo ao seja uma alusão aos macabeus bíblicos, sete ao todo, descer a calçada para atravessar a rua, é atropelada por um teimosos, criaturas destemidas demais no enfrentamento do luxuoso Mercedes Benz amarelo. Esta é a hora da estrela mundo; a alusão, no entanto, faz-se pelo lado do avesso, de cinema, onde ela vai ser "tão grande como um cavalo pois Macabéa é o inverso deles. morto". Olímpico: Olímpico se apresentava como Olímpico de Ao ser atropelada, Macabéa descobre a sua Jesus Moreira Chaves. Trabalhava numa metalúrgica e não essência: “Hoje, pensou ela, hoje é o primeiro dia de minha se classificava como "operário": era um "metalúrgico". vida: nasci”. Há uma situação paradoxal: ela só nasce, ou Ambicioso, orgulhoso e matara um homem antes de migrar seja, só chega a ter consciência de si mesma, na hora de da Paraíba. Queria ser muito rico, um dia; e um dia queria sua morte. Por isso antes de morrer repete sem cessar: “Eu também ser deputado. Um secreto desejo era ser toureiro, sou, eu sou, eu sou, eu sou”. gostava de ver sangue. Por ter definido a sua existência é que Macabéa Rodrigo S. M.: Narrador-personagem da história. Ele tem pronuncia uma frase que nenhum dos transeuntes entende: domínio absoluto sobre o que escreve. Inclusive sobre a “Quanto ao futuro.” (...) “Nesta hora exata Macabéa sente morte de Macabéa, no final. um fundo enjôo de estômago e quase vomitou, queria Glória: Filha de um açougueiro, nascida e criada no Rio de vomitar o que não é corpo, vomitar algo luminoso. Estrela Janeiro, Glória rouba Olímpico de Macabéa. Tem um quê de de mil pontas.” selvagem, cheia de corpo, é esperta, atenta ao mundo. Com ela morre também o narrador, identificado Madame Carlota: É a mulher de Olaria que porá as cartas com a escrita do romance que se acaba. do baralho para "ler a sorte"de Macabéa. Contará que foi TESTES: prostituta quando jovem, que depois montou uma casa de 1 - “A ação desta história terá como resultado minha mulheres e ganhou muito dinheiro com isso. Come transfiguração em outrem (…)”.Neste excerto de A hora da bombons, diz que é fã de Jesus Cristo e impressiona estrela, o narrador expressa uma de suas tendências mais Macabéa. Na verdade, Madame Carlota é uma enganadora marcantes, que ele irá reiterar ao longo de todo o livro. Entre vulgar. os trechos abaixo, o único que NãO expressa tendência Outras personagens: As três Marias que moram com correspondente é: Macabéa no mesmo quarto, o médico que a atende e A) “Vejo a nordestina se olhando ao espelho e (…) no diagnostica a gravidade da tuberculose e o chefe, seu espelho aparece o meu rosto cansado e barbudo. Tanto nós Raimundo, que reluta em mandá-la embora. nos intertrocamos”. B) “é paixão minha ser o outro. No caso a outra”. ENREDO: Macabéa (Maca) foi criada por uma tia beata, C) “Enquanto isso, Macabéa no chão parecia se tornar cada após a morte dos pais quando tinha dois anos de idade. vez mais uma Macabéa, como se chegasse a si mesma”. Acumula em seu corpo franzino a herança do sertão, ou D) “Queiram os deuses que eu nunca descreva o lázaro seja, todas as formas de repressão cultural, o que a deixa porque senão eu me cobriria de lepra”. alheia de si e da sociedade. Segundo o narrador, ela nunca E) “Eu te conheço até o osso por intermédio de uma se deu conta de que vivia numa sociedade técnica onde ela encantação que vem de mim para ti” era um parafuso dispensável. 2 - Identifique a afirmação correta sobre A hora da estrela, Ignorava até mesmo porque se deslocara de de Clarice Lispector: Alagoas até o Rio de Janeiro, onde passou a viver com mais A) A força da temática social, centrada na miséria brasileira, quatro colegas na Rua do Acre. Macabéa trabalha como afasta do livro as preocupações com a linguagem, datilógrafa numa firma de representantes de roldanas, que frequentes em outros escritores da mesma geração. fica na Rua do Lavradio. Tem por hábito ouvir a Rádio B) Se o discurso do narrador critica principalmente a própria Relógio, especializada em dizer as horas e divulgar literatura, as falas de Macabéa exprimem sobretudo as anúncios, talvez identificando com o apresentador a críticas da personagem às injustiças sociais. escassez de linguagem que a converte num ser totalmente C) O narrador retarda bastante o início da narração da inverossímil no mundo em que procura sobreviver. Tinha história de Macabéa, vinculando esse adiamento a um como alvo de admiração a atriz norte-americana Marilyn autoquestionamento radical. Monroe, o símbolo social inculcado pelas superproduções D) Os sofrimentos da migrante nordestina são realçados, no de Hollywood na década de 1950. livro, pelo contraste entre suas desventuras na cidade Macabéa recebe de seu chefe, Raimundo Silveira, grande e suas lembranças de uma infância pobre, mas por quem ela estava secretamente apaixonada, o aviso de vivida no aconchego familiar. que será despedida por incompetência. Como Macabéa E) O estilo do livro é caracterizado, principalmente, pela aceita o fato com enorme humildade, o chefe se compadece oposição de duas variedades linguísticas: linguagem culta, e resolve não despedi-la imediatamente. literária, em contraste com um grande número de Seu namorado, Olímpico de Jesus, era nordestino expressões regionais nordestinas. também. Por não ter nada que ajudasse Olímpico a 3 - Considere as seguintes comparações entre Vidas secas e A hora da estrela: I. Os narradores de ambos os livros adotam um estilo sóbrio e contido, avesso a expansões emocionais, condizente com o mundo de escassez e privação que retratam. II. Em ambos os livros, a carência de linguagem e as dificuldades de expressão, presentes, por exemplo, em Fabiano e Macabéa, manifestam aspectos da opressão social. III. A personagem sinha Vitória (Vidas secas), por viver isolada em meio rural, não possui elementos de referência que a façam aspirar por bens que não possui; já Macabéa, por viver em meio urbano, possui sonhos típicos da sociedade de consumo. Está correto apenas o que se afirma em: A) I. B) II. C) III. D) I e II. E) II e III.
4 - A respeito de A Hora da Estrela, de Clarice Lispector,
indique a alternativa que NÃO confirma as possibilidades narrativas do romance: A) Livro com muitos títulos que se resumem à história de uma inocência pisada, de uma miséria anônima. B) História do narrador Rodrigo M. S., que se faz personagem, narrando-se a si mesmo e competindo com a protagonista. C) História da própria narração, que conta a si mesma, problematizando a difícil tarefa de narrar. D) História de Macabéa, moça anônima e que não fazia falta a ninguém. E) História de Olímpico de Jesus, paraibano e metalúrgico, vivendo o mesmo drama de Macabéa e identificando-se com ela.
5 - "Será que eu enriqueceria este relato se usasse alguns
difíceis termos técnicos? Mas aí que está: esta história não tem nenhuma técnica, nem de estilo, ela é ao deus-dará. Eu que também não mancharia por nada deste mundo com palavras brilhantes e falsas uma vida parca como a da datilógrafa." (Clarice Lispector, A Hora da Estrela) Em A Hora da Estrela, o narrador questiona-se quanto ao modo e, até, à possibilidade de narrar a história. De acordo com o trecho acima, isso deriva do fato de ser ele um narrador: A) Iniciante, que não domina as técnicas necessárias ao relato literário. B) Pós-moderno, para quem as preocupações de estilo são ultrapassadas. C) Impessoal, que aspira a um grau de objetividade máxima no relato. D) Objetividade, que se preocupa apenas com a precisão técnica do relato. E) Auto-crítico que percebe a inadequação de um estilo sofisticado para narrar a vida popular.