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Escola Municipal Senador Alfredo Catão

Língua Portuguesa – 7º ano – Ensino Fundamental II


Prof. Rodrigo Souza

Conto
O Conto é narrativa breve escrita em prosa, sendo mais curto que o romance e a novela. Tal qual um texto
narrativo, ele envolve enredo, personagens, tempo e espaço.
Os maiores contistas brasileiros são: Machado de Assis, Monteiro Lobato, Carlos Drummond de Andrade,
Clarice Lispector, Lygia Fagundes Telles, Luiz Fernando Veríssimo e Dalton Trevisan.
Sobre o conto, afirma Eça de Queirós, um dos maiores representantes da literatura portuguesa:
“No conto tudo precisa ser apontado num risco leve e sóbrio: das figuras deve-se ver apenas a linha flagrante
e definidora que revela e fixa uma personalidade; dos sentimentos apenas o que caiba num olhar, ou numa
dessas palavras que escapa dos lábios e traz todo o ser; da paisagem somente os longes, numa cor unida.”

Estrutura do Conto
A estrutura do conto é fechada e objetiva, na medida em que esse tipo de texto é formado por apenas uma
história e um conflito.
Sua estrutura está dividida em três partes:
 Introdução: apresentação da ação que será desenvolvida. Nesse momento inicial, há uma breve
ambientação do local, tempo, personagens e do acontecimento.
 Desenvolvimento: formado em grande parte pelo diálogo das personagens, aqui se desenrola o
desenvolvimento da ação.
 Clímax: encerramento da narrativa com desfecho surpreendente.
De acordo com a estrutura básica narrativa (introdução, desenvolvimento, clímax e desfecho), o conto, por
ser uma narrativa mais breve, parte do desenvolvimento para o clímax.
Ou seja, para o momento final, de desfecho, chamado de "epílogo", onde geralmente surge o ponto mais
alto de tensão do drama (clímax).

Elementos do Conto
Os elementos que constituem o conto são:

1. Espaço
Local em que se desenvolve a narrativa, seja numa casa, rua, parque, praça, etc. Por serem narrativas
breves, o espaço no qual se desenvolve a trama, deve ser um espaço reduzido.

2. Tempo
Designa o tempo em que se passa a narrativa, sendo classificado em: tempo cronológico (exterior) e tempo
psicológico (interior).

3. Foco Narrativo
Trata-se do narrador, sendo classificados em:
 narrador observador: conhecedor da ação, mas não participante.
 narrador personagem: o narrador é um dos personagens.
 narrador onisciente: conhece a história e todos os personagens envolvidos nela.
Geralmente os contos são narrados em terceira pessoa, embora há muitos contos narrados em primeira
pessoa, nesse caso, quando surge o narrador-personagem.

4. Personagens
Indivíduos que participam da narrativa, sendo classificadas, dependendo do foco em: personagens principais
ou personagens secundárias. Por ser uma narrativa curta, o conto possui poucos personagens.

5. Diálogo
Elemento essencial do conto, os diálogos caracterizam a base expressiva desse tipo de texto. Eles
desenvolvem os conflitos da trama, sendo determinados pela fala das personagens.
Formados por uma linguagem mais objetiva e metáforas simples, os diálogos são classificados em: diálogo
direto, indireto e interior.
6. Epílogo
Corresponde ao clímax da narrativa, determinado pelo desfecho surpreendente, imprevisível ou enigmático
da ação.

Tipos de Contos
Dependendo da temática explorada, há diversos tipos de contos, do qual se destacam:
 Contos Realistas
 Contos Populares
 Contos Fantásticos
 Contos de Terror
 Contos de Humor
 Contos Infantis
 Contos Psicológicos
 e outros...

Contos Minimalistas
Os Minicontos, Microcontos ou Nanocontos são subcategorias do conto, chamados de "contos
minimalistas".
Eles são bem menores que o conto, uma vez que podem ocupar meia página, uma página, ou ser formado
por poucas linhas.
Mesmo que não compartilhem da estrutura básica dos contos, esse tipo de texto tem adquirido diversas
formas na atualidade, sobretudo após o movimento modernista.
Dessa forma, ele deixa de lado a estrutura fixa narrativa, privilegiando assim, a liberdade criativa dos
escritores.

Exemplo de Conto
Segue abaixo um trecho do conto “Missa do Galo”, do escritor brasileiro Machado de Assis (1839-1908):
“NUNCA PUDE entender a conversação que tive com uma senhora, há muitos anos, contava eu dezessete,
ela trinta. Era noite de Natal. Havendo ajustado com um vizinho irmos à missa do galo, preferi não dormir;
combinei que eu iria acordá-lo à meia-noite.
A casa em que eu estava hospedado era a do escrivão Meneses, que fora casado, em primeiras núpcias,
com uma de minhas primas A segunda mulher, Conceição, e a mãe desta acolheram-me bem quando vim
de Mangaratiba para o Rio de Janeiro, meses antes, a estudar preparatórios. Vivia tranqüilo, naquela casa
assobradada da Rua do Senado, com os meus livros, poucas relações, alguns passeios. A família era
pequena, o escrivão, a mulher, a sogra e duas escravas. Costumes velhos. Às dez horas da noite toda a
gente estava nos quartos; às dez e meia a casa dormia. Nunca tinha ido ao teatro, e mais de uma vez,
ouvindo dizer ao Meneses que ia ao teatro, pedi-lhe que me levasse consigo. Nessas ocasiões, a sogra
fazia uma careta, e as escravas riam à socapa; ele não respondia, vestia-se, saía e só tornava na manhã
seguinte. Mais tarde é que eu soube que o teatro era um eufemismo em ação. Meneses trazia amores com
uma senhora, separada do marido, e dormia fora de casa uma vez por semana. Conceição padecera, a
princípio, com a existência da comborça; mas afinal, resignara-se, acostumara-se, e acabou achando que
era muito direito.
Boa Conceição! Chamavam-lhe "a santa", e fazia jus ao título, tão facilmente suportava os esquecimentos
do marido. Em verdade, era um temperamento moderado, sem extremos, nem grandes lágrimas, nem
grandes risos. No capítulo de que trato, dava para maometana; aceitaria um harém, com as aparências
salvas. Deus me perdoe, se a julgo mal. Tudo nela era atenuado e passivo. O próprio rosto era mediano,
nem bonito nem feio. Era o que chamamos uma pessoa simpática. Não dizia mal de ninguém, perdoava
tudo. Não sabia odiar; pode ser até que não soubesse amar.
Naquela noite de Natal foi o escrivão ao teatro. Era pelos anos de 1861 ou 1862. Eu já devia estar em
Mangaratiba, em férias; mas fiquei até o Natal para ver “a missa do galo na Corte”. A família recolheu-se à
hora do costume; eu meti-me na sala da frente, vestido e pronto. Dali passaria ao corredor da entrada e
sairia sem acordar ninguém. Tinha três chaves a porta; uma estava com o escrivão, eu levaria outra, a
terceira ficava em casa.
— Mas, Sr. Nogueira, que fará você todo esse tempo? pergun-tou-me a mãe de Conceição.
— Leio, D. Inácia.
Tinha comigo um romance, Os Três Mosqueteiros, velha tradução creio do Jornal do Comércio. Sentei-me
à mesa que havia no centro da sala, e à luz de um candeeiro de querosene, enquanto a casa dormia, trepei
ainda uma vez ao cavalo magro de D'Artagnan e fui-me às aventuras. Dentro em pouco estava
completamente ébrio de Dumas. Os minutos voavam, ao contrário do que costumam fazer, quando são de
espera; ouvi bater onze horas, mas quase sem dar por elas, um acaso. Entretanto, um pequeno rumor que
ouvi dentro veio acordar-me da leitura. Eram uns passos no corredor que ia da sala de visitas à de jantar;
levantei a cabeça; logo depois vi assomar à porta da sala o vulto de Conceição.
— Ainda não foi? perguntou ela.
— Não fui, parece que ainda não é meia-noite.
— Que paciência! (...)”

Conto Fantástico
Os contos fantásticos ou contos de fantasia representam um gênero da literatura fantástica (realismo
mágico ou maravilhoso) com origens no século XVII, contudo, vigorou nos países latino-americanos a partir
do século XX, como forma de denunciar a realidade opressiva vivido pelos anos de ditadura.
No gênero fantástico, os textos são pautados numa realidade não lógica, ou seja, a narrativa se desenrola
num mundo irreal ou universo onírico, marcado pelo absurdo, a inverossimilhança e situações e ações
extraordinárias.
Segundo o filósofo e linguista búlgaro Tzvetan Todorov: “Há um fenômeno estranho que se pode explicar
de duas maneiras, por meio de causas de tipo natural e sobrenatural. A possibilidade de se hesitar entre os
dois criou o efeito fantástico.”
Os escritores brasileiros que exploraram o gênero fantástico foram:
 Aluísio de Azevedo, (1857-1913) em sua obra de contos Demônios (1895);
 Machado de Assis (1839-1908) em seu conto intitulado “O espelho”, pertencente à obra Papéis
Avulsos (1892);
 Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) em seu livro Contos de Aprendiz (1951), texto como “Flor,
telefone, moça”;
 Murilo Rubião (1916-1991) na obra O ex-mágico (1947).
Já os autores latino-americanos que se destacaram com a publicação de textos desse gênero foram os
argentinos Jorge Luis Borges (1889-1986) e Júlio Cortázar (1914-1984); o colombiano Gabriel García
Marquez (1927-2014) e o cubano Alejo Carpentier (1904-1980).
Ademais, no âmbito mundial, destacam-se o escritor austríaco Franz Kafka (1883-1924), com sua
emblemática obra A metamorfose (1912); e o alemão Ernst Theodor Amadeus Hoffmann (1776-1822) com
o conto fantástico “Homem de Areia” (1815).

Conto
Antes de mais nada, devemos atentar para o gênero conto, o gênero literário da prosa de ficção, que
possui caraterísticas singulares.
O vocábulo “conto”, do latim “computus”, significa cômputo, conta. De modo geral, os contos são textos mais
curtos que o romance e a novela, ou seja, corresponde a uma narrativa concisa, no qual o tempo, o espaço
e o número de personagens são reduzidos.
Do mesmo modo, carregam o modelo tradicional da estrutura narrativa, divididos em: apresentação,
complicação, clímax e desfecho.
O que distingue um conto fantástico dos outros, é justamente a presença da magia, a qual ultrapassa,
notoriamente, os limites humanos e a lógica.
Entretanto, no conto fantástico, como no modelo tradicional, prevalece a narrativa de curta, composta de um
único episódio singular e representativo, centrada num acontecimento com um número limitado de
personagens.

Características
Os contos fantásticos são textos que abarcam uma série de características sendo as principais:
 Narrativa concisa a partir de temas livres fantásticos, os quais aliam o fantástico e o real ou a ficção à
realidade, surgindo da oposição dentre dois planos: real e irreal.
 Presença de alegorias e de personagens que podem ser: monstros, fantasmas, seres invisíveis, mágicos,
mitológicos ou folclóricos, dentre outros.
 Realidade ilógica distante da realidade humana, composta de elementos maravilhosos, inverossímeis,
imaginários, extraordinário, bem como a presença de magias e poderes sobrenaturais.
 Enredo não linear ou ziguezagueante (mescla de presente, passado e futuro) com utilização de recursos
como o flashback (voltar ao passado) e o tempo psicológico (tempo das emoções e das recordações vividas
pelos personagens).
 Provocam sensações de “estranhamento” no leitor, por meio da ruptura realidade-ficção.

Exemplo
Como exemplo de Conto Fantástico, segue o trecho do texto “Flor, telefone, moça”, de Carlos Drummond
de Andrade:
“Não, não é conto. Sou apenas um sujeito que escuta algumas vezes, que outras não escuta, e vai passando.
Naquele dia escutei, certamente porque era a amiga quem falava. É doce ouvir os amigos, ainda quando
não falem, porque amigo tem o dom de se fazer compreender até sem sinais. Até sem olhos.
Falava-se de cemitérios? De telefones? Não me lembro. De qualquer modo, a amiga – bom, agora me
recordo que a conversa era sobre flores – ficou subitamente grave, sua voz murchou um pouquinho.
– Sei de um caso de flor que é tão triste!
E sorrindo:
– Mas você não vai acreditar, juro.
Quem sabe? Tudo depende da pessoa que conta, como do jeito de contar. Há dias em que não depende
nem disso: estamos possuídos de universal credulidade. E daí, argumento máximo, a amiga asseverou que
a história era verdadeira.
– Era uma moça que morava na Rua General Polidoro, começou ela. Perto do Cemitério São João Batista.
Você sabe, quem mora por ali, queira ou não queira, tem de tomar conhecimento da morte. Toda hora está
passando enterro, e a gente acaba por se interessar. Não é tão empolgante como navios ou casamentos,
ou carruagem de rei, mas sempre merece ser olhado. A moça, naturalmente, gostava mais de ver passar
enterro do que não ver nada. E se fosse ficar triste diante de tanto corpo desfilando, havia de estar bem
arranjada.
Se o enterro era mesmo muito importante, desses de bispo ou de general, a moça costumava ficar no portão
do cemitério, para dar uma espiada. Você já notou como coroa impressiona a gente? Demais. E há a
curiosidade de ler o que está escrito nelas. Morto que dá pena é aquele que chega desacompanhado de
flores – por disposição de família ou falta de recursos, tanto faz. As coroas não prestigiam apenas o defunto,
mas até o embalam. Às vezes ela chegava a entrar no cemitério e a acompanhar o préstimo até o lugar do
sepultamento. Deve ter sido assim que adquiriu o costume de passear lá por dentro. Meu Deus, com tanto
lugar pra passear no Rio! E no caso da moça, quando estivesse mais amolada, bastava tomar um bonde
em direção à praia, descer no Mourisco, debruçar-se na amurada. Tinha o mar à sua disposição, a cinco
minutos de casa. O mar, as viagens, as ilhas de coral, tudo grátis. Mas por preguiça pela curiosidade dos
enterros, sei lá por quê, deu para andar em São João Batista, contemplando túmulo. Coitada! (...).

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