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UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU Direitos Intelectuais

PROBLEMAS DE DIREITOS DE AUTOR E CONEXOS

Os alunos deverão encontrar os fundamentos legais para suas respostas.

1) Conhecida trupe teatral, o Grupo TAPA, dirigido por Eduardo Tolentino de


Araujo, pretende encenar a peça “Meno Male!”, escrita por Juca de Oliveira.
Pergunta-se: a) a encenação da peça depende de alguma autorização? b) a
representação pública da peça teatral pelo Grupo TAPA é protegida? De que
forma? c) A quem cabe exercer os direitos correspondentes à encenação?

a) Não, pois o artigo 46, VI da Lei n. 9.610/98 dispensa a autorização a


representação teatral somente se ocorrer em recinto fechado, no recesso
familiar ou para fins exclusivamente didáticos, nos locais de ensino não
havendo intuito de lucro.

b) Sim, dispõe o artigo 68 da Lei n. 9.610/98 que “sem prévia e expressa


autorização do autor ou titular, não poderão ser utilizadas obras teatrais,
composições musicais ou lítero-musicais e fonogramas, em representações e
execuções públicas.”

§ 1º Considera-se representação pública a utilização de obras teatrais no


gênero drama, tragédia, comédia, ópera, opereta, balé, pantomimas e
assemelhadas, musicadas ou não, mediante a participação de artistas,
remunerados ou não, em locais de freqüência coletiva ou pela radiodifusão,
transmissão e exibição cinematográfica.

c) Após realizado o contrato de representação autor teatral-empresário, o


autor confia ao empresário a montagem e a encenação da obra, com intuito de
exploração econômica e remuneração ajustada proporcional aos resultados
obtidos.

2) Miguel Rios é um artista de rua. Ele se instala todo sábado e domingo pela
tarde na calçada da Av. Paulista, em frente ao prédio do Center 3, e interpreta
diversas canções, sempre acompanhado pelo seu violão, que toca com grande
maestria. O repertório do artista é eclético, passando pela MPB, pop, rock e,
sobretudo, músicas consagradas dos Beatles, Elvis, Elton John, Bob Dylan etc.
Ele está sujeito ao pagamento de direitos autorais e conexos? Justifique.

Sim, pois de acordo com artigo 68, § 4º da LEI 9.610/98, é necessário o


pagamento de direitos autorais para execução pública. Os pagamentos deverão
ocorrer em um único escritório central para arrecadação. (art. 99 da Lei
9.610/98)

3) João e Maria pretendem se casar numa cerimônia íntima, contando com


poucos convidados escolhidos a dedo, entre parentes e amigos. A cerimônia,
que será ecumênica, ocorrerá num pequeno, mas charmoso espaço dentro de
um sítio, de propriedade de amigos, que o próprio casal vai decorar, e onde
será servido um coquetel, com comidinhas, bolo e espumante, tudo preparado
por familiares do casal. Os noivos, porém, querem comemorar o enlace com
muita música e dança, pois se conheceram justamente numa academia de
dança e já estão preparando um “playlist” para tocar por todo o tempo de
duração do evento. Pergunta-se: eles deverão pagar direitos de autor e
conexos ao ECAD relativamente às músicas que serão tocadas no evento?
Justifique.

Não pagarão taxa do ECAD, pois conforme artigo 46, inciso VI da Lei 9.610/98,
uma evento realizado no âmbito familiar e sem nenhuma finalidade lucrativa
não viola os direitos do autor e conexos.

4) Fernando de Morais está desenvolvendo uma pesquisa séria e aprofundada


sobre a vida da cantora Angela Maria, falecida, para escrever sua biografia e
publicá-la. Fernando de Morais será titular de direitos de autor ou direitos
conexos sobre a biografia? Justifique.

Fernando de Morais será titular de direitos de autor, uma vez que o mesmo é o
escritor da obra. A ADI 4815 declarou inexigível a autorização prévia para a
publicação de biografias. Foi interpretada conforme a Constituição da
Republica, artigo 20 e Código Civil artigo 21. A ministra Cármen Lúcia, relatora
da ADIN, disse que a constituição prevê o direito de ingressar com ações
indenizatórias nos casos de violação aos direitos de personalidade, como o
direito à honra, à imagem, à privacidade, etc., não sendo permitido qualquer
tipo de censura, seja de cunho artístico, político ou cultural.

5) Antônio Queiroz é autor do romance intitulado “A Boemia e o Operário” e foi


contatado por uma editora inglesa para publicação da obra no Reino Unido.
Autorizada a versão, a obra vertida para a língua inglesa será protegida como
obra autônoma pelos Direitos de Autor ou pelos Direitos Conexos aos de
Autor? Justifique.

Será protegida pelo Direito Patrimonial do Autor, visto que depende de


autorização prévia do autor a tradução para qualquer idioma. Assegurados
pelos artigos art. 5º, inciso XXVII, da Constituição Federal de 1988 e previstos
no art. 28  e 29, IV da Lei 9610/98.

6) A Lei de Direitos de Autor estabelece que a reprodução de obras para uso


exclusivo de deficientes visuais, feita sem fins comerciais, não ofende os
direitos de autor. Será que a reprodução de obras através de áudio-books
também poderá ser feita sem necessidade de autorização ou pagamento de
direitos de autor? Discuta essa situação.

Sim, pois de acordo com o DECRETO Nº 9.522, DE 8 DE OUTUBRO DE 2018,


Tratado de Marraqueche artigo 2º a e 22, não e necessário autorização e
pagamentos.

 DECRETO Nº 9.522, DE 8 DE OUTUBRO DE 2018

“Promulga o Tratado de Marraqueche para Facilitar o Acesso a Obras


Publicadas às Pessoas Cegas, com Deficiência Visual ou com Outras
Dificuldades para Ter Acesso ao Texto Impresso, firmado em Marraqueche, em
27 de junho”.

 TRATADO DE MARRAQUECHE

Artigo 2º a) “obras” significa as obras literárias e artísticas no sentido do Artigo


2.1 da Convenção de Berna sobre a Proteção de Obras Literárias e Artísticas,
em forma de texto, notação e/ou ilustrações conexas, que tenham sido
publicadas ou tornadas disponíveis publicamente por qualquer meio.
Artigo 22 “Declaração acordada relativa ao Artigo 2º(a): Para os efeitos do
presente Tratado, fica entendido que nesta definição se encontram
compreendidas as obras em formato áudio, como os audiolivros.”

7) Desenvolvi um método infalível para espantar e desalojar pombos de nichos


e telhados de casas e prédios. Poderei proteger esse método pelos Direitos de
Autor?

O Direito Autoral não protege as ideias e sim as formas. O artigo 8º da Lei


9.610/98 veda, de forma taxativa, a proteção como direitos autorais de ideias,
métodos, planos ou regras para realizar negócios. Conforme a ministra
Nancy Andrighi "O fato de uma ideia ser materializada não a torna
automaticamente passível de proteção autoral. Um plano, estratégia, método
de negócio, ainda que posto em prática, não é o que o direito do autor visa
proteger. Assim, não merece proteção autoral ideias/métodos/planos para
otimização de comercialização de títulos de capitalização destinados à
aquisição de motos."

8) E com relação a receitas culinárias? É possível a proteção pelos Direitos de


Autor ou qualquer outro Direito? Em caso, positivo, de que forma?

As receitas culinárias não recebem proteção pelos Direitos do Autor, pois a Lei
de Direitos Autorais (Lei 9.610/1998) exclui "as ideias, procedimentos
normativos, sistemas, métodos, projetos", assim como "os esquemas, planos
ou regras para realizar atos mentais, jogos ou negócios". Não existe lei que
preveja tutela específica para receitas culinárias. São consideradas carentes de
originalidade e como mera listagem de ingredientes e conteúdos justapostos,
sendo mais razoável atribui a proteção a um livro culinária com receitas, sendo
uma expressão literária com gravuras e forma original. Conforme julgado:

AÇÃO INDENIZATÓRIA. Direitos Autorais. Receitas culinárias publicadas em


fascículos de revista especializada. Participação da autora como “culinarista”.
Pretensão de compensação pela violação do direito de imagem e de receber
o equivalente a 5% sobre o preço de capa de cada exemplar da obra.
Sentença de improcedência. Apela a autora sustentando que a receita é
criação do espírito; que mesmo ser for considerada obra coletiva, merece
proteção pela participação individual; defende o direito autoral pela tradução
de receitas argentinas; afirma que receitas criadas pela autora foram
traduzidas e publicadas na Argentina; assevera que não autorizou o uso de
sua imagem nas revistas editadas pelas rés; argumenta que apesar da
remuneração recebida, nada percebeu pela criação de todas as receitas
formuladas. Descabimento. Receita culinária. Representação de uma fórmula,
um método de preparo de alimentos, mediante a utilização de uma lista de
ingredientes de uso comum. Inexistência de direito autoral. Inteligência do art.
8º, I, da lei 9.610/98.Apenas a sua compilação pode ser objeto de proteção
em favor do organizador, pela forma específica de montagem de um todo.
Inteligência do art. 7º, XIII, da lei 9.610/98.Ainda que assim não fosse, o
trabalho foi de natureza coletiva, porque as receitas passavam pela análise e
aprovação de nutricionistas do Incor, enquanto a coordenação culinária era
da autora e de terceira pessoa. Despropositado o pedido de direitos autorais
sobre o conjunto da obra, que cabe ao organizador. Inteligência do § 2º do
art. 17 da lei 9.610/98.Incontroverso que a apelante foi remunerada por sua
participação conforme valor ajustado entre as partes. Vinculação da imagem
da apelante às receitas culinárias não gera obrigação de indenizar. Apelante
não inovou o que já havia sido exposto nos autos e rebatido na sentença.
Motivação da sentença adotada como fundamentação do julgamento em
segundo grau. Adoção do art. 252 do RITJ. Sentença mantida. Recurso
improvido. (TJ/SP – APL 211474052005826010 SP 0211474-
05.2005.8.26.0100, Relator: James Siano, Data de Julgamento: 1/2/2012, 5ª
Câmara de Direito Privado, Data de Publicação: 1/2/2012).

Porém, há quem considere por analogia a possibilidade das receitas serem


protegidas pelo Direito Autoral, comparando-as as copias fixadas do trabalho
HÁ decisões nesse sentido :

EMENTA APELAÇÃO CÍVEL. INOCORRÊNCIA DE VIOLAÇÃO DE


DIREITOS AUTORAIS. AUSÊNCIA DE CARÁTER CRIATIVO DAS
RECEITAS GASTRONÔMICAS QUESTIONADAS. APLICAÇÃO DE
MÉTODO DE ESCOLHA E ORGANIZAÇÃO DE INGREDIENTES COMUNS.
1. A Autora propôs ação ordinária a fim de obter tutela jurídica, alegando
violação dos seus direitos autorais, tendo em vista que a Ré, supostamente,
teria copiado 3 (três) saladas do seu cardápio, quais sejam, Salada de Tilápia,
Rosbife ao Pesto e Salmão. 2. A sentença proferida pelo Juízo a quo foi de
parcial procedência, a fim de condenar a Ré-Apelante ao pagamento de
indenização a título de danos morais, além de determinar a retirada das 3
(três) saladas do cardápio da Ré, proibindo, para tanto, que estas fossem
comercializadas em seu estabelecimento. 3. A referida pretensão não merece
prosperar, pois as saladas controvertidas não podem ser consideradas obras
gastronômicas intelectuais, passíveis da tutela dos direitos do autor. 4.
Compreende-se que uma obra intelectual gastronômica é assim conceituada
por representar a exteriorização da criatividade, captável através dos
sentidos. Portanto, quando a ideia toma a sua forma, ou seja, quando
materializa-se numa receita ou prato, tem-se uma verdadeira obra
gastronômica.5. Convém observar que para que prato ou uma receita
culinária sejam conceituados como obra gastronômica, devem conseguir
exprimir as vontades e subjetividades do seu autor, revelando-se legítimas
formas de expressão cultural e humana, assim como é a pintura, fotografia,
obra dramática, audiovisual, dentre outras expressões artísticas. 6. As
saladas postas em questão representam a união de ingredientes comumente
utilizados em diversas outras receitas deste gênero que podem, inclusive, ser
encontradas em receitas de internet e livros. Representam, portanto, um
método de escolha e organização de ingredientes comuns, não podendo ser
consideradas produtos de uma expressão artística autêntica. 7. Frente à
ausência do caráter criativo das receitas questionadas compreende-se que o
direito autoral, regulamentado pela Lei nº 9.610⁄1998, não pode prestar-se a
protegê-las, pois não se revelam verdadeiras criações de espírito. 8. Recurso
conhecido e provido. ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos,
acordam os Desembargadores da Primeira Câmara Cível, por unanimidade,
CONHECER e DAR provimento ao apelo, nos termos do voto do Relator.
Vitória⁄ES, de de 2017. PRESIDENTE RELATOR. (TJ/ES - APL
00153824620118080035, Relator: Jorge Henrique Valle dos Santos, Data de
Julgamento: 18/07/2017, Primeira Câmara Cível, Data de Publicação:
24/7/2017).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9610.htm>. Acesso em: 20/03/2020

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https://claudiamaraviegas.jusbrasil.com.br/artigos/760054169/propriedade-
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BIBLIOTECA NACIONAL. O que não é protegido como direitos autorais?


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