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V. Santiago Consultores Associados Rua Santa Luzia, 799 - Grupo 301 - Rio de
Janeiro vanisasantiago@uol.com.br
Noções básicas A proteção oferecida pelo Direito de Autor às obras intelectuais e aos
seus titulares tem uma limitação no tempo, justificada pela doutrina como uma
contribuição dos seus criadores à cultura dos povos. Considera-se que a atribuição ao
autor de um direito exclusivo de autorizar o uso de suas obras, em troca da qual ele
pode exigir a remuneração que julgar adequada, deve ser substituída, após um
determinado período contado a partir de sua morte, pelo direito da sociedade em geral
de ter acesso à cultura. Isso significa que o autor e outros titulares de direitos autorais,
depois de beneficiados pela sociedade durante toda a vida do criador, e pelo prazo
subseqüente que a lei determinar, passarão a retribuir à sociedade em geral,
permitindo que se forme um acervo cultural de utilização livre e gratuita, constituído
pela obras cuja proteção se encontra esgotada.
Essas considerações explicam o uso da expressão "domínio público": uma vez esgotado
o prazo de proteção, as obras deixam de pertencer ao "domínio privado" de seus
titulares e passam a ser de uso de todos, da sociedade em geral, passando ao "domínio
público".
Uma vez estando em domínio público, os bens intelectuais mencionados podem ser
livremente utilizados por qualquer um, através de qualquer meio de difusão, de
comunicação, de reprodução, seja em rádio, televisão, restaurantes, discos,
audiovisuais, anúncios, etc., sem que seja necessária uma autorização. Também podem
também ser adaptados, arranjados ou modificados sem que seus herdeiros ou
sucessores tenham direitos sobre o arranjo ou adaptação produzidos a partir da obra
original. Os titulares dos arranjos ou adaptações não terão, por outro lado, quaisquer
direitos sobre os bens originais, que passaram ao domínio público sempre que forem
usados tal como foram criados.
Essa instituição a que chamamos de "domínio público remunerado" havia sido criado no
Brasil pela lei autoral anterior - a lei 5.988 de 1973, visando a constituição de um fundo
a ser administrado pelo Conselho Nacional de Direito Autoral (CNDA), mas foi revogada
em 1983, ainda na vigência da mencionada lei.
As obras audiovisuais, que contêm outras obras (literárias, musicais, etc.) como
elementos formadores de uma obra final, independente e autônoma em relação àquelas
que a compõem, têm, por sua vez, autores específicos, diferentes dos autores das
obras que a integram, definidos pelas leis nacionais dos países. Segundo a lei brasileira
9.610/98, os co-autores das obras audiovisuais são o autor do assunto ou argumento
literário, musical, lítero-musical e o diretor. Essas obras também têm um prazo de
proteção, que não se confunde com o das diversas obras nela contidas e que é
igualmente de 70 anos, mas que será contado a partir de sua divulgação.
As leis nacionais dos países que são signatários de Tratados Internacionais sobre
Direitos de Autor e sobre Direitos Conexos não são totalmente livres para fixar o prazo
de proteção: elas deverão respeitar os prazos mínimos estabelecidos, no caso do Direito
de Autor, pelo Convênio de Berna, e no caso dos Direitos Conexos pela Convenção de
Roma. O Brasil está incluído entre esses países, uma vez que ratificou o Convênio de
Berna em 1922 e a Convenção de Roma em 1965. Nos países da Europa afetados pelas
duas Guerras Mundiais, as leis nacionais, em muitos casos, excluem do cômputo do
prazo de domínio público os períodos em que essas guerras se desenrolaram.
Para facilitar o controle do decurso dos prazos de proteção a regra geral determina que
todos eles serão computados a partir de 1º de janeiro do ano seguinte ao daquele em
que um dos casos previstos na lei ocorreu: a morte do autor da obra musical, literária
ou científica; o ano da divulgação da obra audiovisual; o ano da execução da
interpretação, o ano da fixação do fonograma, o ano da emissão de radiodifusão.
Durante a vigência da Lei 5.988 de 1973 o prazo de proteção entre nós, para as obras,
era de 60 anos contados a partir de 1º de janeiro do ano subseqüente ao da morte do
autor, com as seguintes ressalvas: 1) no caso de serem os herdeiros o cônjuge, os
filhos ou os pais do autor falecido a proteção seria vitalícia; 2) somente os parentes até
o 2º grau seriam considerados para efeito de sucessão. Essas ressalvas, aparentemente
justas, tornaram a aplicação prática das regras extremamente complicada no âmbito
das sociedades de autores, porque, além do fato de que essas entidades nem sempre
dispõrem de informações corretas sobre a existência de herdeiros vitalícios, os juizes
das Varas de Órfãos e Sucessões costumavam conceder alvarás habilitando como
herdeiros de direitos autorais outros parentes de um autor falecido que não os que
eram considerados como tais pela lei de Direito de Autor.
Vale a pena reiterar que o que passa ao domínio público são as obras, as interpretações
ou execuções e os fonogramas e não os seus titulares. Assim, por exemplo, um mesmo
autor poderá ter obras protegidas e obras em domínio público, como veremos mais
adiante.
1 - As obras escritas por um único autor serão protegidas por toda sua vida e pelo
período que vai até 70 anos após a sua morte, contando-se esse prazo a partir de 1º de
janeiro do ano subseqüente ao do seu falecimento;
2 - As obras em co-autoria, indivisíveis, que são aquelas que são criadas em comum por
dois ou mais autores, terão seu prazo computado a partir da morte do último dos co-
autores sobreviventes, sendo as remunerações devidas a todos os seus titulares,
inclusive aos que já faleceram há mais de 70 anos, uma vez que é a obra que continua
protegida.
Por outro lado, quando um dos autores de uma obra indivisível vier a falecer sem deixar
herdeiros ou sucessores, sua parte será acrescida à dos demais. Somente nesses casos
os co-autores sobreviventes, ou seus herdeiros e sucessores, receberão a integralidade
dos direitos produzidos pela obra.
4 - Obras audiovisuais - as que resultam da fixação de imagens, com ou sem som, com
a finalidade de criar a impressão de movimento, independentemente dos processos de
sua captação, do suporte usado inicial ou posteriormente para fixá-lo, bem como dos
meios utilizados para sua veiculação, ou seja, filmes de curta ou longa duração,
seriados, novelas, desenhos animados, etc. Para essas obras o prazo de proteção será
de 70 anos contados a partir de sua divulgação, embora as obras e os fonogramas nela
contidos possuam seus próprios prazos de proteção, que podem não ser coincidentes.
5 -Obras anônimas e pseudônimas - as obras anônimas são aquelas cujo autor não tem
seu nome indicado por ele assim decidiu ou por ser ele desconhecido; as obras
pseudônimas são aquelas cujo autor se oculta sob nome suposto e não permite que sua
identificação seja revelada, também denominado "pseudônimo secreto".
Segundo a lei, os direitos patrimoniais dessas obras serão exercidos por quem as
publicar e o prazo de proteção será de 70 anos, contados a partir de 1º de janeiro do
ano imediatamente posterior ao de sua primeira publicação. Se o autor se fizer
conhecer antes de expirado esse prazo, passarão a vigorar as regras válidas para as
obras de autores conhecidos, respeitados os direitos adquiridos por terceiros durante o
prazo em que o autor permaneceu anônimo ou se ocultou sob um pseudônimo secreto.
Embora sejam raros os casos em que um autor, especialmente após a vigência da Lei
9.610, que não restringiu a cadeia sucessória em matéria de direitos autorais, não deixe
herdeiros ou sucessores ao falecer, esse fato pode ocorrer. Nesse caso, não tendo
parceiros, a obra desse autor passa ao domínio público de imediato, em seguida à sua
morte.
As obras de autor desconhecido, transmitidas por tradição, tal como as cantigas de roda
e outras do gênero, também são consideradas como obras em domínio público e
podem ser utilizadas livremente.
Os Direitos Conexos Antes de tudo é preciso entender que a proteção concedida pela
Convenção de Roma, à diferença da Convenção de Berna, que protege as obras em si
mesmas, é destinada a certos titulares, que a própria Convenção qualifica. Desta forma,
o prazo de proteção de cada uma das categorias de titulares por ela protegidos é
contado a partir das situações específicas de que se trate: de uma interpretação, de
uma fixação fonográfica ou de uma emissão de radiodifusão.
O inciso IX do Art. 5º da Lei 9.610/98 define como fonograma toda fixação de sons de
uma execução ou interpretação, ou de outros que não seja uma fixação incluída em
uma obra audiovisual. Não é, portanto, considerado como um fonograma a fixação que
é feita somente como trilha sonora de uma obra audiovisual. Esse tipo de fixação,
quando feita exclusiva e diretamente na banda sonora, não constitui por um
fonograma.
3 - O prazo de proteção dos fonogramas e das obras neles contidas não se confunde. O
fonograma poderá continuar protegido, embora a obra passe ao domínio público e vice-
versa. Mesmo sendo casos menos comuns, de autores precoces ou de apreciada
longevidade, as obras também poderão continuar protegidas depois dos fonogramas
haverem caído em domínio público.
1 - Uma das características mais importantes das leis de Direitos de Autor e de Direitos
Conexos é a sua territorialidade, ou seja, sua aplicação é restrita ao território nacional
do país de que se trate.
2 - Por outro lado, existem Convenções Internacionais livremente ratificadas por países
de todos os continentes, como é o caso do Convênio de Berna, que estabelecem
princípios básicos e obrigatórios em todos eles. Entre esses princípios, destacaríamos:
3 - A lei 9.610/98 assegura que suas regras serão aplicadas aos estrangeiros nacionais
ou residentes em países igualmente aderidos às convenções e tratados internacionais
vigentes no Brasil, sem nenhuma ressalva em relação ao prazo de proteção de obras ou
fonogramas provenientes de países cujas leis nacionais estabeleçam prazos menores
que os nossos. A lei fala em reciprocidade na proteção, ou seja: o Brasil assegura às
obras originárias de países que também ofereçam proteção às obras brasileiras em seus
respectivos territórios todos os direitos que assegura aos seus nacionais.
Os direitos adquiridos na vigência da lei anterior Como já foi visto, a Lei 5.988/73
estabeleceu um regime especial para a sucessão em direitos autorais, que ao mesmo
tempo em que criava uma vitaliciedade para os herdeiros de 1o grau na linha
descendente ou ascendente (filhos ou pais) e cônjuges, excluía uma série de parentes
chamados à sucessão pelo Código Civil, sistema esse que criou vários inconvenientes,
entre eles o fato de que nem todos os filhos de um autor são registrados, conhecidos
ou reconhecidos, o que cria uma grande incerteza no momento de declarar-se que uma
determinada obra está em domínio público, e o da concessão de uma série de alvarás
por Juizes de Varas de Órfãos e Sucessões, determinando o pagamento dos valores
obtidos pela exploração das obras do autor falecido a um "sucessor" não reconhecido
como tal pela Lei de Direitos Autorais. Com o advento da nova lei esses inconvenientes
desapareceram. No entanto, restam os casos dos herdeiros que adquiriram direitos
vitalícios na vigência da lei 5.988/73, que permanecerão vigentes como uma exceção de
direito à norma jurídica.