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O NOBRE JUÍZO DO 1º JUÍZADO ESPECIAL CÍVEL DO FORO REGIONAL DA TIJUCA -

ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Processo: 0806865-53.2023.8.19.0209
Autor: DELSON SILVA DOS SANTOS
Ré: TANIA MEIRE FRANCA ESCOBAR MORENO

TANIA MEIRE FRANCA ESCOBAR MORENO, brasileira, inscrita no CPF sob o n°


824.228.931-04, residente e domiciliada na rua Antônio Bruno, n° 918, São Benedito,
Nobres - MT, cep: 78470000, cel. (65) 99911-9698 e, por seu advogado subscrito, vêm,
respeitosamente perante Vossa Excelência, apresentar CONTESTAÇÃO, aos termos da
AÇÃO INDENIZATÓRIA POR DANOS MORAIS que lhe propôs DELSON SILVA DOS
SANTOS, perante essa R. 1ª Vara do Juizado Especial Cível, nos exatos termos em que
passa a expor:

I. PRELIMINARMENTE - DAS BENESSES DA JUSTIÇA GRATUITA

Inicialmente, cumpre salientar que, a requerido é pessoa hipossuficiente


conforme documentos anexos, outrossim, a decisão da 2ª. Câmara de Direito
Comercial do TJSC salientou que a presunção de miserabilidade é relativa e que
conforme a Resolução n. 04/06 do Conselho da Magistratura do TJSC, “permitido é aos
magistrados exigirem a comprovação do postulante acerca de seu estado de
hipossuficiente.”

Deve ser adotado, portanto, o critério da Defensoria Pública desse Estado,


que classifica como carente para efeitos de atendimento gratuito a “entidade familiar
que atenda, cumulativamente, as seguintes condições: I - aufira renda familiar mensal
não superior a três salários mínimos federais; II - não seja proprietária, titular de
aquisição, herdeira, legatária ou usufrutuária de bens móveis, imóveis ou direitos,
cujos valores ultrapassem a quantia equivalente 150 salários mínimos federais. III - não
possua recursos financeiros em aplicações ou investimentos em valor superior a 12
(doze) salários mínimos federais.” (Artigo 2º. da resolução 15/2014 do CSDPESC).

Dessa maneira, considerando que a demandada afere renda muito inferior ao


teto estabelecido, fica nítido que o requerido não possui condições de arcar com
qualquer custo do processo sem comprometer gravemente o seu sustento e de sua
família, Requer a concessão do benefício da gratuidade da justiça, com base no artigo
98 e 99, §3º do CPC.
DA INCOMPETÊNCIA TERRITORIAL

Conforme é consabido a competência fixada pelo critério territorial vem


definida separadamente na sistemática da Lei no 9.099/95. A regra geral é que a ação
no Juizado Especial Cível será proposta no foro do domicílio do réu, considerado este
como o local onde se estabelece residência com ânimo definitivo (art. 31, do Código
Civil).

Assim considerando que a ré é residente e domiciliada na rua Antônio Bruno, n°


918, São Benedito, Nobres - MT, cep: 78470000, o foro competente para julgar a
presente ação seria do Mato Grosso e não do Rio de Janeiro, assim sendo deverá ser
acolhida a preliminar arguida fins de venha reconhecida a incompetência, tanto
absoluta deste juízo, bem como extinguir o processo com fundamento no artigo 51,
inciso III (extinção do processo sem julgamento do mérito quando for reconhecida a
incompetência territorial), da Lei no 9.099/95, julgando extinto o processo também
fulcro no art. 485 inc. IV do CPC.

II. BREVE SÍNTESE FÁTICA

Alegou o autor que seria dono de obra fotográfica mormente seis fotografias de
uma cantora popularmente conhecida em uma praia do Rio de Janeiro e que a ré teria
veiculado estas fotografias em sua página na internet sem possuir qualquer tipo de
autorização ou contrato que justificasse o uso do conteúdo produzido pelo autor, em
flagrante violação ao artigo 28 e seguintes da Lei nº 9.610/1998.

Aduziu a imputação da responsabilidade da demandada resultante das normas


de regência dos registros de nomes de domínio no direito brasileiro, em particular dos
dispositivos da Resolução nº 2008/008 do Comitê Gestor da Internet no Brasil, editada
com lastro no Decreto nº 4.829/2003

Suscitou que apesar de o objeto da presente demanda ser direito autoral sobre
obra fotográfica e não direito de imagem, cumpre esclarecer que aqueles que se
expõem publicamente devem aceitar que o meio em que vivem é de interesse público.
Assim, a esfera de proteção dessas pessoas é flexibilizada, de modo que deve
prevalecer o direito da população à informação.

Alegou que o artigo 46, inciso I, ao dispor que não constitui ofensa aos direitos
autorais a reprodução “na imprensa diária ou periódica, de notícia ou de artigo
informativo, publicado em diários ou periódicos, com a menção do nome do autor, se
assinados, e da publicação de onde foram transcritos”, não autoriza a demandada, por
qualquer meio, reproduzir as fotografias objeto da ação com matérias jornalísticas ou
de caráter informativo. Ou seja, a norma permite apenas a reprodução de notícia ou
artigo informativo como informação pura, em estado bruto. A partir do momento em
que se revela, na informação, o esforço intelectual de quem a transmite, o artigo deixa
de ser meramente informativo.

Por fim, requereu a condenação da demandada no pagamento de indenização


por danos morais no valor de R$ 30.000,00 (trinta mil reais), sendo R$ 5.000,00 (cinco
mil reais) por cada foto indevidamente publicada. Bem como a condenação da
demandada na obrigação de retirar as obras fotográficas objeto da demanda do portal
https://pagina1.com.br, no prazo de 05 (cinco) dias, sob pena de multa diária no valor
de R$100,00 (cem reais)

IV - DO MÉRITO – FUNDAMENTOS DE DEFESA:

a) DA AÇÃO DE FAZER

Insta informar ao juízo que o pedido de retirada das imagens do site da ré resta
prejudicado a uma porque as fotografias ficaram pouquíssimo tempo veiculadas na
mídia dada a irresignação do autor, assim sendo não persiste nenhuma fotografia no
site da ré o que demonstra a perda do objeto do pedido, não subsistindo conteúdo
fático para manutenção do pedido.

b) DA INEXISTÊNCIA DOS DANOS MORAIS ADVINDOS DE EVENTUAL


DANO AUTORAL E DA IMPUGNAÇÃO AO QUANTUM PRETENDIDO

O autor planeja ver-se indenizado no montante de R$ 30.000,00 (trinta mil


reais) o que consistiria no valor de R$ 5.000,00 (cinco mil reais) por cada fotografia
veiculada pela autora, contudo tal direito não o assiste por completamente diferente
do que alega, inexistente o nexo causal entre a conduta da ré e o suposto dano do
autor.

Veja-se que o suposto ato ilícito alegado pelo autor não restou configurado
posto que o material publicado não tem cunho publicitário, mas jornalístico, haja vista
seu caráter meramente informativo sobre os últimos acontecimentos da vida da
cantora em questão que foi fotografada, assunto de interesse do público leitor , de
molde a configurar a hipótese excepcional do art. 46 da Lei 9.610/98, sendo indevida
qualquer indenização, além disso o próprio autor confessa nos moldes do art. 389do
CPC que incontestemente foi dado o devido crédito das fotografias postadas.

Outrossim, há que sustentar que o print acostado à inicial não possui data ou
fonte, não se prestando a fazer prova da suposta utilização da fotografia e não
corresponde quando disponibilizado atualmente na URL indicada.

Nada obstante, há que se relatar que da própria documentação acostada pelo


autor se verifica que o registro somente foi certificado em 27/12/2022 conforme se
colaciona abaixo, no entanto a matéria foi veiculada em 20/11/2022 não há qualquer
indicativo da autoria da obra, era impossivel a parte passiva obter a autorização para
veiculação da fato r pagar os direitos autorais, o autor deixou de veicular a obra a si o
que poderia ter feito e seria mesmo o recomendável a teor do que estabeelce o art.
12 da Lei do Direito Autoral, assim sem a identificação da obra , não se pode imputar a
ré qualquer ilicito na sua utilização , notadamente porque se trata de conteúdo
comum divulgado na internet, sem qualquer traço particular que pudesse indentificar
a autoria.

Veja-se inclusive que o tal certificado que o autor se valeu,


o registro da obra é um processo de certificação digital, definitivo e inalterável. Sua
função é registrar o momento da criação, da existência de uma obra, ou seja, antes
da certificação não havia prova CONTUNDENTE DE QUE O CONTEÚDO PERTENCIA AO
AUTOR, ou seja, antes de 27/12/2022 AS FOTOS ERAM DE DOMINIO PÚBLICO.

Outrossim, a publicação de fotos de pessoas objeto de matéria jornalística só


causa dano moral se denegrir a honra, a boa fama ou a respeitabilidade da pessoa
retratada, inclusive não houve qualquer deturpação da fotografia do autor não
havendo nenhum critério autorizador da pretensão aludida.

Frisa-se que tal pretensão não procede seja pelo pedido em si, seja por seu
quantum absurdo. Outrossim, sequer é informada a base de cálculo para a pretensão
do autor, que requer o enriquecimento ilícito. Todavia, não se vislumbra esta
possibilidade no caso dos autos, pois não houve danos ao Autor.

Nesse sentido, segue precedente do Tribunal de Justiça de RJ:

Com efeito, verifica-se que a responsabilidade civil, sabidamente, exige o


preenchimento de pressupostos legais bem definidos (art. 186 e 927 do Código Civil)
para sua configuração:

a) a verificação de uma conduta antijurídica / ilícita que abrange um


comportamento contrário ao direito, por ação ou omissão (= a culpa ou
dolo);

b) a prova incontroversa da existência de um dano (patrimonial ou moral),


no sentido de lesão a um bem jurídico;

c) a existência comprovada de um nexo de causalidade entre a conduta


antijurídica e o resultado lesivo, de forma a perquirir se o dano (caso
existente) decorreu da prática de ato ilícito ou não.
Outrossim, outro fator importante para a quantificação da indenização é a
gravidade do dano, prevista no art. 944 caput e parágrafo único do Código Civil,
abaixo transcritos para melhor compreensão:

Art. 944. A indenização mede-se pela extensão do dano.1


Parágrafo único. Se houver excessiva desproporção entre a gravidade da
culpa e o dano, poderá o juiz reduzir, equitativamente, a indenização.

Além disso, conforme aduz Antunes Varela, "a gravidade do dano há de


medir-se por um padrão objetivo e não à luz de fatores subjetivos, o dano deve ser de
tal modo grave que justifique a concessão de uma satisfação de ordem pecuniária ao
lesado."

No caso dos autos não há danos cometidos ou responsabilidade a ser


imputada a demandada, sendo o quantum pretendido manifestamente absurdo o que
se requer em caráter subsidiário na remota hipótese de que venha a ser reconhecida
qualquer direito do autor que seja remanejado o quantum observando-se os princípios
da razoabilidade e da proporcionalidade.

Além disso, o Juízo competente deve fixar a indenização por Danos Morais
com prudência e bom senso, senão corre-se o risco de torná-la injusta e insuportável,
comprometendo a imagem da justiça, o dano não pode ser fonte de lucro, é
exatamente isso que a Demandante pleiteia ao requerer que o Demandado tenha
responsabilidade, como meio de obtenção de um "dinheirinho fácil". 2

Diante de todo o exposto, deve ser julgado manifestamente improcedente o


pedido de indenização por Danos Morais.

c) DA LITIGANCIA DE MÁ-FÉ DO AUTOR

Além da inegável improcedência do pedido cabe requerer que seja imputado


ao autor a penalidade de litigância de má-fé prevista no art. 80 do CPC, uma vez que o
autor REQUER a condenação da ré no valor de R$5.000,00 (cinco mil reais) por
fotografia divulgada sendo 06 (seis) fotografias ao total, no entanto, acostou com a
INICIAL somente 2 (dois) certificados de obra realizados APÓS A DIVULGAÇÃO DAS
IMAGENS EM 27/12/2022.

Ocorre que o autor após o ajuizamento do feito junta as certificações restantes


causando espécie à ré que as tais certificações das demais quatro fotografias restantes
tenham ocorrido somente em 24/03/2023 MESMA DATA DO PROTOCOLO DA
PETIÇÃO, conforme se denota abaixo:

1
VARELA, João de Matos Antunes. Das obrigações em geral. Vol. 1. Décima Edição. Revista
Atualizada. Livraria Almedina: Coimbra. 1994.
2
CAVALIERI, Filho Sérgio – Programa de Responsabilidade Civil/Sergio Cavalieri Filho- 10. Ed.
São Paulo, Atlas, 2012, p.105
Ora Excelência se denota dos autos a nítida tentativa do autor de forjar um
suposto direito que não faz jus pois de fato não era o DETENTOR DO REGISTRO DE
PROPRIEDADE AUTORAL O QUE SOMENTE O FEZ APÓS O ANDAMENTO DO FEITO,
configurando sem sombras de dúvidas sua má-fé processual, requerendo-se desde já a
sua condenação ao pagamento de multa no percentual máximo de 10% ante a
falsificação da verdade para consubstanciar pretenso direito que não lhe assiste.

V- IMPUGNAÇÃO DOS DOCUMENTOS.

Fica expressamente, impugnada a base de cálculo usada pelo autor, uma vez
que conforme demonstrada ao norte não existe correlação com a realidade dos fatos,
bem como resta impugnado o quantum indenizatório e seus critérios, devendo por
cautela a correção monetária e os juros incidirem do transito em julgado, bem como
que venha reduzido o quantum pretendido pelo autor uma vez que é manifestamente
superior ao que seria minimamente razoável conforme acima já explicado. De mais a
mais, impugnam-se TODOS OS DOCUMENTOS COLACIONADOS COM A EXORDIAL.

VI- DOS HONORÁRIO SUCUMBENCIAIS

Requer a condenação da parte contrária ao pagamento, nos termos do art. 98


CPC ao pagamento de honorários sucumbenciais aos patronos da parte ré no importe
15% (quinze por cento) do valor da condenação.

VII- DOS PEDIDOS


PRELIMINARMENTE, requer venha acolhida e reconhecida a incompetência,
tanto absoluta deste juízo, bem como extinguir o processo com fundamento no artigo
51, inciso III (extinção do processo sem julgamento do mérito quando for reconhecida
a incompetência territorial), da Lei no 9.099/95, julgando extinto o processo também
fulcro no art. 485 inc. IV do CPC.
NO MÉRITO, ante todo o exposto REQUER-SE O JULGAMENTO DE TOTAL
IMPROCEDÊNCIA da Ação de Obrigação de Fazer e Indenizatória proposta, bem como
requer:

a) seja concedida a AJG a ré por ser pessoa pobre na acepção da palavra.

b) A condenação da requerente ao pagamento de honorários de


sucumbência;

c) Por fim, impugna-se todos os argumentos e documentos juntados com a


inicial, nos termos retro fundamentados.

d) Requer seja imputada a pena em nível máximo de litigância de má-fé ao


autor pela fabricação da verdade com intuito meramente de obter
vantagem indevida para si e enriquecimento ilícito.

Nestes termos, pede e espera deferimento.

Tijuca /RJ 01 de novembro de 2023.

ADVOGADO
OAB/RJ

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