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AO JUÍZO DE DIREITO CIVEL DA COMARCA DE SÃO PAULO/SP

AURORA ROSA, brasileira, casada, jornalista, portadora do RG n. xxxx e


inscrita no CPF sob o n. xxxx, residente e domiciliada à (endereço completo),
por seu advogado que esta subscreve (procuração anexa), inscrita na OAB/SP
sob o n. xxxx, com escritório profissional situado à (endereço do escritório),
onde recebe intimações, vem, respeitosamente, perante Vossa Excelência,
com fundamento nos artigos 300 e 319 e seguintes do Código de Processo
Civil, propor

AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E MATERIAIS E


OBRIGAÇÃO DE FAZER C/C PEDIDO DE TUTELA ANTECIPADA DE
URGÊNCIA.

contra WEB BRASIL INTERNET LTDA, pessoa jurídica de direito privado,


inscrita no CNPJ sob o n. (xxxx), com sede à (endereço completo), pelos
motivos de fato e de direito a seguir expostos:

I - Dos Fatos

A autora, por algumas vezes compartilhou alguns conteúdos,


incluindo fotos e vídeos íntimos de cunho pessoal, entre seu marido por meio
de plataformas digitais, os quais são armazenados em seus dispositivos
pessoais.
Ocorre que, em decorrência do furto de seu celular, com o devido
registro boletim de ocorrência em anexo, e o demais contato com a operadora
do serviço móvel do aparelho, dois dias após o ocorrido, a requerente solicitou
o bloqueio do aparelho, providência que foi prontamente atendida.
Apesar de acreditar que o problema estava resolvido após o
bloqueio do celular, a requerente foi surpreendida com mensagens de amigos
informando que vídeos e fotos íntimos suas estavam disponíveis em sites
eróticos, acessíveis por meio de simples pesquisa na Web. Estes sites eram
hospedados pela empresa Web Brasil Internet Ltda., sediada em São Paulo.
Diante dessa situação, a requerente notificou judicialmente a Web
Brasil, detalhando o ocorrido, identificando o material ilícito e fornecendo os
URLs das páginas onde o conteúdo estava disponível, solicitando a
indisponibilização do material infringente pelo provedor. Entretanto, mesmo
após a notificação judicial, a Web Brasil não tomou qualquer providência para a
retirada do conteúdo ilícito.
A recusa injustificada da Web Brasil em atender à notificação
judicial resultou em prejuízos materiais para a requerente, que teve um contrato
de assessoria de imprensa no valor de R$ 85.000,00 cancelado. Além disso,
considerando a velocidade de circulação das informações no ambiente digital,
a requerente teme que essa situação possa afetar ainda mais sua atividade
profissional e sua dignidade.
A requerente, já tendo adotado medidas judiciais anteriormente,
não demonstra interesse em participar de audiência de conciliação e através
desta busca os direitos que lhe regem.

II- Do Direito

A presente ação tem por fundamento o Marco Civil da Internet


brasileira, Lei n. 12.965/2014, que estabelece os parâmetros legais para a
utilização da rede no país. Especificamente, o artigo 21, que estipula;

Art. 21° - O provedor de aplicações de internet que


disponibilize conteúdo gerado por terceiros será
responsabilizado subsidiariamente pela violação da
intimidade decorrente da divulgação, sem autorização de
seus participantes, de imagens, de vídeos ou de outros
materiais contendo cenas de nudez ou de atos sexuais de
caráter privado quando, após o recebimento de
notificação pelo participante ou seu representante legal,
deixar de promover, de forma diligente, no âmbito e nos
limites técnicos do seu serviço, a indisponibilização desse
conteúdo.

Conforme esse dispositivo legal, após receber a notificação da


autora afetada, a empresa em regra deveria prontamente remover o conteúdo
que viole a intimidade da requerente, caso o conteúdo não fosse removido fica
a empresa fica sujeito à responsabilidade subsidiária.
No presente caso, a autora agiu de forma apropriada ao notificar
judicialmente a ré, Web Brasil Internet Ltda, fornecendo detalhes claros do
ocorrido, incluindo a identificação específica do material e as URLs onde
estavam hospedadas conforme expõe o Parágrafo único do art. 21;

Artigo 21° - (...)

Parágrafo único - A notificação prevista no caput deverá


conter, sob pena de nulidade, elementos que permitam a
identificação específica do material apontado como
violador da intimidade do participante e a verificação da
legitimidade para apresentação do pedido.

No entanto, o réu, em flagrante desrespeito à legislação em vigor,


não removeu o conteúdo, mantendo online materiais que violam diretamente a
intimidade e a privacidade da autora.
A exposição não autorizada de imagens íntimas constitui uma
séria violação dos direitos da personalidade, ensejando a obrigação de
indenizar. Como exemplo, podemos citar a ementa de um caso emblemático
que reforça essa interpretação.
Ementa Oficial

CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL.


AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER E DE INDENIZAÇÃO
DE DANOS MORAIS. RETIRADA DE CONTEÚDO
ILEGAL. EXPOSIÇÃO PORNOGRÁFICA NÃO
CONSENTIDA. PORNOGRAFIA DE VINGANÇA.
DIREITOS DE PERSONALIDADE. INTIMIDADE.
PRIVACIDADE. GRAVE LESÃO.
1. Ação ajuizada em 17/07/2014, recurso especial
interposto em 19/04/2017 e atribuído a este gabinete em
07/03/2018.
2. O propósito recursal consiste em determinar os limites
da responsabilidade de provedores de aplicação de busca
na Internet, com relação à divulgação não consentida de
material íntimo, divulgado antes da entrada em vigor do
Marco Civil da Internet.
3. A regra a ser utilizada para a resolução de
controvérsias deve levar em consideração o momento de
ocorrência do ato lesivo ou, em outras palavras, quando
foram publicados os conteúdos infringentes: (i) para fatos
ocorridos antes da entrada em vigor do Marco Civil da
Internet, deve ser obedecida a jurisprudência desta corte;
(ii) após a entrada em vigor da Lei 12.965/2014, devem
ser observadas suas disposições nos arts. 19 e 21.
Precedentes.
4. A "exposição pornográfica não consentida", da qual a
"pornografia de vingança" é uma espécie, constituiu uma
grave lesão aos direitos de personalidade da pessoa
exposta indevidamente, além de configurar uma grave
forma de violência de gênero que deve ser combatida de
forma contundente pelos meios jurídicos disponíveis.
5. Não há como descaracterizar um material pornográfica
apenas pela ausência de nudez total. Na hipótese, a
recorrente encontra-se sumariamente vestida, em
posições com forte apelo sexual.
6. O fato de o rosto da vítima não estar evidenciado nas
fotos de maneira flagrante é irrelevante para a
configuração dos danos morais na hipótese, uma vez que
a mulher vítima da pornografia de vingança sabe que sua
intimidade foi indevidamente desrespeitada e, igualmente,
sua exposição não autorizada lhe é humilhante e viola
flagrantemente seus direitos de personalidade.
7. O art. 21 do Marco Civil da Internet não abarca
somente a nudez total e completa da vítima, tampouco os
"atos sexuais" devem ser interpretados como somente
aqueles que envolvam conjunção carnal.
Isso porque o combate à exposição pornográfica não
consentida - que é a finalidade deste dispositivo legal -
pode envolver situações distintas e não tão óbvias, mas
que geral igualmente dano à personalidade da vítima.
8. Recurso conhecido e provido.
(REsp 1735712/SP, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI,
TERCEIRA TURMA, julgado em 19/05/2020, DJe
27/05/2020)

No caso do réu esta responsabilidade deve ser agravada quando


o benefício do conteúdo é disponibilizado mesmo após a notificação. Assim, é
urgente a responsabilidade de compensar os danos morais e materiais
causados a autora.

III - Tutela Antecipada De Urgência

Indiscutivelmente, é necessário solicitar tutela de urgência


antecipada para a remoção do conteúdo. De acordo com o artigo 300 do
Código de Processo Civil, tal proteção deve ser concedida nos casos em que
existam elementos que demonstrem a probabilidade do direito alegado e o
perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo.
Neste caso, a probabilidade do direito é evidente com base no
disposto na Lei nº 12.965/2014, que a ré claramente violou, mesmo após
notificação judicial, o que indica um flagrante violação da legislação em vigor
Quanto ao risco de danos, ele é igualmente patenteável.
O conteúdo íntimo da autora é mantido disponível online,
prejudicando sua imagem e honra, o que pode levar a consequências
irreversíveis tanto pessoais quanto profissionais.
Portanto, dada a clara probabilidade do direito, conforme
estabelecido no artigo 300 do CPC, e o risco óbvio de dano a autora, conforme
reforçado pela legislação pertinente, a prestação de proteção legal imediata e
urgente para a remoção imediata do conteúdo não é apenas justificada, mas
também essencial para garantir que os direitos da requerente sejam
protegidos.

IV - Da Obrigação De Fazer

Conforme anteriormente mencionado, a autora tentou obter o


cumprimento da obrigação por parte do réu, porém sem sucesso, tornando-se
necessária a intervenção estatal para garantir a imediata remoção do conteúdo,
sob pena de multa diária e perdas e danos, conforme previsto no artigo 247 do
Código Civil.

É crucial destacar que, devido à negligência em relação a essa


obrigação, o valor de R$ 85.000,00 (oitenta e cinco mil reais), proveniente de
um contrato de assessoria de imprensa firmado com a requerente, foi
cancelado como resultado direto dessa situação.

Além disso, considerando a rápida disseminação de informações


no ambiente digital, o risco de agravamento desta situação e seu impacto
adverso na atividade profissional consolidada da requerente ao longo dos anos
é significativo. Já está causando prejuízos à sua reputação e dignidade.

Portanto, é absolutamente necessário que haja a intervenção


estatal para garantir a remoção imediata do conteúdo, proporcionando assim
um alívio efetivo à autora.

V - Do Dano Moral

Conforme demonstrado pelos fatos e provas em anexo, o dano


moral fica perfeitamente caracterizado pelo dano sofrido pela autora ao indicar
fatos que conferem o dano moral expondo o Autora ao um constrangimento
ilegítimo, gerando o dever de indenizar, conforme preconiza o Código Civil em
seu Art. 186.
Trata-se de proteção constitucional, nos termos que dispõe a
Carta Magna de 1988 que, em seu artigo 5°;

Art. 5º - (...) X - são invioláveis a intimidade, _(...) a honra,


assegurado o direito a indenização pelo dano material ou
moral decorrente de sua violação;

Nesse sentido, a indenização por dano moral deve representar


para a vítima uma satisfação capaz de amenizar de alguma forma o abalo
sofrido e de infligir ao causador sanção e alerta para que não volte a repetir o
ato, uma vez que fica evidenciado completo descaso aos transtornos
causados.
Portanto, considerando que o Réu, ao não retirar as imagens da
requerente conforme notificação judicial, afetou seriamente a dignidade da
autora, cabendo assim a devida indenização.

A narrativa demonstra claramente o grave abalo moral sofrido


pela Autora em manifesto constrangimento ilegítimo. A doutrina ao lecionar
sobre a matéria destaca:

"O interesse jurídico que a lei protege na espécie refere-


se ao bem imaterial da honra, entendida esta quer como o
sentimento da nossa dignidade própria (honra interna,
honra subjetiva), quer como o apreço e respeito de que
somos objeto ou nos tornamos mercadores perante os
nossos concidadãos (honra externa, honra objetiva,
reputação, boa fama). Assim como o homem tem direito à
integridade de seu corpo e de seu patrimônio econômico,
tem-no igualmente à indenidade do seu amor-próprio
(consciência do próprio valor moral e social, ou da própria
dignidade ou decoro) e do seu patrimônio moral."
(CAHALI, Yussef Said. Dano Moral. 2ª ed. SãoPaulo:
Revista dos Tribunais, 1998, p. 288).
Assim, diante da evidência dos danos morais em que a autora
fora acometido, resta inequívoco o direito à indenização. E nesse sentido, a
indenização por dano moral deve representar para a vítima uma satisfação
capaz de amenizar de alguma forma o abalo sofrido e de infligir ao causador
sanção e alerta para que não volte a repetir o ato, uma vez que fica
evidenciado o completo descaso do réu em não remover o conteúdo ilícito da
internet.

VI - Dos Danos Materiais

A indenização pode ser reclamada nos termos do artigo 186º do


Código Civil, que trata da responsabilidade civil por atos ilícitos. Neste caso, a
Web Brasil Internet Ltda. violou sua responsabilidade ao não excluir conteúdo
ilegal após notificação legal, resultando em dano material à autora.

Em virtude dessa recusa injustificada a acarretou o cancelamento


de um contrato de assessoria de imprensa no valor de R$ 85.000,00 (oitenta e
cinco mil reais), diante disso, o réu deve indenizar a autora pelo mesmo valor
do prejuízo sofrido.

VII - Do Pedido:

Diante o exposto, requer a V. Exa.:

a) A CITAÇÃO do requerido mediante carta de citação com aviso


de recebimento para, querendo, apresentar contestação sob pena de revelia,
nos termos dos arts. 335 e 344, ambos do CPC;
b) A CONCESSÃO DA TUTELA ANTECIPADA DE URGÊNCIA
pleiteada, nos termos do caput do art. 300 do CPC c/c § 4 do art. 19 do MCI,
em prol da Requerente, no sentido de que seja imediatamente realizada a
indisponibilidade dos vídeos e fotos disponíveis em sites eróticos, com a
respectiva menção as URLs.;

b) A INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA, nos termos do § 1 do art.


373 do CPC e inciso VIII do art. 6 do CDC, sem prejuízo de todas as provas em
direito admitidas;

c) A CONDENAÇÃO do requerido em R$ 285.000,00 (duzentos e


oitenta e cinco mil reais) a título de danos morais e matérias, acrescidos de
juros e correção monetária, a contar da data de citação válida;

d) A CONDENAÇÃO em custas e honorários advocatícios, nos


termos do art. 85 do CPC;

e) Que ao final seja a presente demanda julgada TOTALMENTE


PROCEDENTE, tornando-o definitiva a tutela antecipada pleiteada,
consequentemente DETERMINANDO que a requerida realize a
indisponibilidade do conteúdo apontado, sob pena de aplicação de multa diária
de R$ 1.000,00 (um mil reais);

f) O desinteresse pela audiência de conciliação e mediação, nos


termos do inciso VII do art. 319 do CPC.

g) seja a ré condenada a pagar as despesas, custas processuais


e honorários advocatícios na base de 20% (vinte por cento) sobre o valor da
causa no caso de recurso, tudo devidamente atualizado até a data do efetivo
pagamento;
VIII- Das Provas

Requer a produção de todos os meios de prova em direito


admitidas em especial a documental suplementar, bem como depoimento
pessoal do réu.

IX- Do Valor Da Causa

Dá-se a causa o valor de R$85.000,00 (oitenta e cinco mil reais).

Nestes Termos

Pede Deferimento.

São Paulo, dia 11 de abril de 2024

ADVOGADA

OAB/SP

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