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CRIMES DIGITAIS_ parte 4

#Todo crime praticado contra a honra de alguém é de ação penal privada?


Não, existem exceções.
- Fins eleitorais
- Contra a honra do presidente da República (art. 26 da Lei de Segurança Nacional – Lei n. 7.170/1983)
... crimes de ação penal pública.

Lei n. 7.170/83 – Lei de Segurança Nacional

Art. 26 - Caluniar ou difamar o Presidente da República, o do Senado Federal, o


da Câmara dos Deputados ou o do Supremo Tribunal Federal, imputando-lhes
fato definido como crime ou fato ofensivo à reputação.

Código Eleitoral

Art. 324. Caluniar alguém, na propaganda eleitoral, ou visando fins de


propaganda, imputando-lhe falsamente fato definido como crime:
Pena - detenção de seis meses a dois anos, e pagamento de 10 a 40 dias-multa.
§ 1° Nas mesmas penas incorre quem, sabendo falsa a imputação, a propala ou
divulga.
§ 2º A prova da verdade do fato imputado exclui o crime, mas não é admitida:
I - se, constituindo o fato imputado crime de ação privada, o ofendido, não foi
condenado por sentença irrecorrível;
II - se o fato é imputado ao Presidente da República ou chefe de governo
estrangeiro;
III - se do crime imputado, embora de ação pública, o ofendido foi absolvido por
sentença irrecorrível.

Art. 325. Difamar alguém, na propaganda eleitoral, ou visando a fins de


propaganda, imputando-lhe fato ofensivo à sua reputação:
Pena - detenção de três meses a um ano, e pagamento de 5 a 30 dias-multa.
Parágrafo único. A exceção da verdade somente se admite se ofendido é
funcionário público e a ofensa é relativa ao exercício de suas funções.

Art. 326. Injuriar alguém, na propaganda eleitoral, ou visando a fins de


propaganda, ofendendo-lhe a dignidade ou o decôro:
Pena - detenção até seis meses, ou pagamento de 30 a 60 dias-multa.

INJÚRIA PRECONCEITUOSA/RACIAL

(Art. 140 do Código Penal)


§ 3º - Se a injúria consiste na utilização de elementos referentes a raça, cor, etnia, religião,
origem ou a condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência: (Redação dada pela Lei nº
10.741, de 2003)
Pena - reclusão de um a três anos e multa. (Incluído pela Lei nº 9.459, de 1997)

- ação penal pública condicionada à representação do ofendido.


- crime formal – uma vez que não é necessário o efetivo dano à honra subjetiva da vítima, satisfazendo o
simples ato de ofender.

Quando esses crimes contra a honra são praticados na internet, a pena é aumentada em um terço, pois você
coloca a pessoa em evidência a uma quantidade indeterminada de pessoas.

CALÚNIA DIFAMAÇÃO INJÚRIA


Imputação falsa de um fato Imputação de fato ofensivo à Qualquer ofensa à dignidade de
criminoso a alguém. Logo, deverá reputação de alguém. O que se alguém. Não se imputa fato, mas
existir alguma descrição busca é desacreditar a vítima, mas qualidade negativa, que ofende a
correspondente no texto da lei. sem atribuir a ela fato criminoso. dignidade ou o decoro.
Praticará o crime de calúnia se “A” É o caso, por exemplo, do dono de “A” diz para “B” que ele é
disser que “B” furtou o seu uma determinada loja afirmar que charlatõ.
celular, sendo que este fato não é seu funcionário foi trabalhar
verdadeiro. embriagado.

#Como ocorre a produção de provas quando a prática do crime contra a honra ocorrer na Internet?
- Ata notarial.
- Ordem judicial (O provedor de conteúdo deverá manter um banco de dados com o “fluxo de suas
comunicações pela Internet).

Não confundir: Provedor de Conexão x Provedor de Conteúdo

Provedor de Conexão
- Aquele que fornece acesso à Internet.

Provedor de Conteúdo/Aplicações
- Aquele que fornece tudo o que não for acesso à Internet.

#Provedores de Conexão e Provedores de Aplicações podem/devem guardar os registros de acesso a


aplicações de internet?

Marco Civil da Internet


Capítulo III – Da Provisão de Conexão e de Aplicações de Internet.
Subseção II - Da Guarda de Registros de Acesso a Subseção III
Aplicações de Internet na Provisão de Conexão Da Guarda de Registros de Acesso a Aplicações de
Internet na Provisão de Aplicações
Art. 14. Na provisão de conexão, onerosa ou Art. 15. O provedor de aplicações de internet
gratuita, é VEDADO guardar os registros de acesso a constituído na forma de pessoa jurídica e que exerça
aplicações de internet. essa atividade de forma organizada,
profissionalmente e com fins econômicos DEVERÁ
manter os respectivos registros de acesso a
aplicações de internet, sob sigilo, em ambiente
controlado e de segurança, pelo prazo de 6 (seis)
meses, nos termos do regulamento.

#O que são registros de acesso de aplicações de Internet?


- Registros de acesso de aplicações de Internet é o conjunto de informações referentes à data e hora de uso de
uma determinada aplicação de internet a partir de um determinado endereço de IP.
#Qual o prazo que o provedor de conteúdo deverá manter um banco de dados com o “fluxo de suas
comunicações pela internet?
- Pelo prazo de 6 (seis) meses, nos termos do art. 15 do MCI.

#Considerando a morosidade da justiça brasileira, seria possível que um provedor de conteúdo seja
obrigado a manter um banco de dados com o “fluxo de suas comunicações pela internet” por prazo superior
ao estabelecido pelo caput do art. 15 (seis meses)?
Sim, nos termos do § 2º do art. 15 - A autoridade policial ou administrativa ou o Ministério Público poderão
requerer cautelarmente a qualquer provedor de aplicações de internet que os registros de acesso a aplicações
de internet sejam guardados, inclusive por prazo superior ao previsto no caput, observado o disposto nos §§
3º e 4º do art. 13.

#É possível que a quebra do sigilo do conteúdo das comunicações ocorridas na internet por autoridades
administrativas?
- O sigilo do conteúdo das comunicações é direito individual fundamental, nos termos do inc. XII do 5º da CF,
bem como é um direito dos usuários da internet, nos termos do inc. III do art. 7º do MCI, assim, a quebra do
conteúdo das comunicações não poderá ocorrer por pedido de autoridades administrativas. Dessa forma,
somente por ordem judicial será possível a quebra do sigilo do conteúdo das comunicações.

(art. 5º - CRFB/88) XII - é inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações telegráficas, de dados e
das comunicações telefônicas (telemática), salvo, no último caso, por ordem judicial, nas hipóteses e na forma
que a lei estabelecer para fins de investigação criminal ou instrução processual penal; (Vide Lei nº 9.296, de
1996)

Marco Civil da Internet

CAPÍTULO II - DOS DIREITOS E GARANTIAS DOS USUÁRIOS

Art. 7º O acesso à internet é essencial ao exercício da cidadania, e ao usuário são assegurados os seguintes
direitos:
I - inviolabilidade da intimidade e da vida privada, sua proteção e indenização pelo dano material ou moral
decorrente de sua violação;

II - inviolabilidade e sigilo do fluxo de suas comunicações pela internet, salvo por ordem judicial, na forma da
lei;
III - inviolabilidade e sigilo de suas comunicações privadas armazenadas, salvo por ordem judicial;

#Provedores de Conexão e Provedores de Conteúdo são responsabilizados por danos decorrentes de


conteúdo gerado por terceiros?
- O provedor de conexão à internet não será responsabilizado civilmente por danos decorrentes de conteúdo
gerado por terceiros, nos termos do art. 18 do MCI.
- O provedor de conteúdo à internet não será, EM REGRA, responsabilizado civilmente por danos decorrentes
de conteúdo gerado por terceiros, nos termos da primeira parte do art. 19 do MCI, porém, de acordo com a
parte seguinte do mesmo dispositivo, “o provedor de aplicações de internet somente poderá ser
responsabilizado civilmente por danos decorrentes de conteúdo gerado por terceiros se, após ordem judicial
específica, não tomar as providências para, no âmbito e nos limites técnicos do seu serviço e dentro do prazo
assinalado, tornar indisponível o conteúdo apontado como infringente, ressalvadas as disposições legais em
contrário.
#Ocorrendo divulgação, sem autorização de seus participantes, de imagens, de vídeos ou de outros
materiais contendo cenas de nudez ou de atos sexuais de caráter privado, o referido conteúdo somente
deverá ser retirado do provedor de conteúdo mediante ordem judicial?

- O participante das referidas imagens ou seu representante legal poderá notificar o provedor de conteúdo de
aplicação para que proceda a retira do material, sob pena de ser responsabilizado subsidiariamente pela
violação da intimidade, nos termos do art. 21 do MCI.

(MCI) Art. 21. O provedor de aplicações de internet que disponibilize conteúdo gerado por terceiros
será responsabilizado subsidiariamente pela violação da intimidade decorrente da divulgação, sem
autorização de seus participantes, de imagens, de vídeos ou de outros materiais contendo cenas de
nudez ou de atos sexuais de caráter privado quando, após o recebimento de notificação pelo
participante ou seu representante legal, deixar de promover, de forma diligente, no âmbito e nos
limites técnicos do seu serviço, a indisponibilização desse conteúdo.
Parágrafo único. A notificação prevista no caput deverá conter, sob pena de nulidade, elementos que
permitam a identificação específica do material apontado como violador da intimidade do participante
e a verificação da legitimidade para apresentação do pedido.

#As causas que versem sobre ressarcimento por danos decorrentes de conteúdos disponibilizados na
internet relacionados à honra, à reputação ou a direitos de personalidade, bem como sobre a
indisponiblização desses conteúdos por provedores de aplicações de internet, poderão ser apresentadas
perante os juizados especiais?
- Sim, nos termos do § 3º do art. 19 MCI

#É direito dos usuários da internet que seus dados pessoais, inclusive registros de conexão e de acesso a
aplicações de internet não sejam disponibilizados a terceiros?
- Sim, nos termos do inc. VII do art. 7º do MCI, SALVO mediante consentimento livre, expresso e informado ou
nas hipóteses previstas em lei.

- Se você não sabe o que a aplicação que você usa registra, recomendo a leitura da política de privacidade e
do termos de uso do dispositivo.

- Na maioria das vezes o aplicativo registra muito mais do que o login, senha e Ip, especialmente quando o
produto não é cobrado.

- Devemos, assim, ter a noção de que “SE O PRODUTO NÃO É COBRADO, O PRODUTO É VOCÊ!”

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IMPORTANTE:
- Uma vez constatada a ocorrência de um crime na internet, é importante a produção de provas. Um print é
prova suficiente?
- Não, normalmente não é aceito.
- O coreto seria fazer uma ata notarial, para que o tabelião certifique que naquele dia, naquela hora, naquele
provedor de conteúdo existia aquele conteúdo.
Finalizando

“DIREITO CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO EXTRAORDINÁRIO. REPARAÇÃO POR DANOS MORAIS.
IMAGEM DIFUNDIDA NA INTERNET. MATÉRIA INFRACONSTITUCIONAL. REEXAME DE FATOS E PROVAS. 1. É
inadmissível recurso extraordinário no qual, a pretexto de ofensa a princípios constitucionais, pretende-se a
análise de legislação infraconstitucional. Hipótese de contrariedade indireta à Constituição Federal. 2. O
Tribunal de origem, a partir do exame dos fatos e das provas dos autos concluiu pela existência de dano
moral a ser reparado em razão de divulgação de imagem da parte agravada na rede mundial de
computadores sem sua autorização. Incidência, portanto, da Súmula/STF 279. 3. Inexistência de argumento
capaz de infirmar o entendimento adotado pela decisão agravada. 4. Agravo regimental improvido (RE 548048
AgR/DF – Distrito Federal, AG.REG.NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO, Relator(a): Min. ELLEN GRACIE,
Julgamento: 09/06/2009, Órgão Julgador: Segunda Turma).”

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