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Difamação
Sumário:
II. Para que haja denúncia calunioza é necessário que os factos participados
sejam falsos e que essa falsidade seja conhecida do denunciante
Acórdão
Os réus tendo sido notificados da acusação, deduziram a sua defesa nos termos constantes
de fls. 142 a 164, arguindo sérias irregularidades que, no seu entender, enfermavam o
processo.
Finalmente, a pena de prisão que fora imposta a tais réus foi convertida em multa, a razão
de 20.000,00 Mt diários.
Incorformados com o assim decidido, os réus interpuseram recurso para o Tribunal
Judicial da Cidade de Maputo e cumpriram o mais de lei para que o processo pudesse ter
seguidamento e atempadamente foram produzidas as alegações e elaborada a
contraminuta.
Naquela instância colheu-se o douto parecer do Mº Pº que nada suscitou digno realce.
Colhidos os vistos legais, foi proferido o acórdão de fls. 315 que, subscrevendo os
fundamentos constantes da exposição de fls. 311 a 313, declarou nula a decisão do
tribunal “a quo”, destacando, de entre outras irregularidades que se-lhe apontam, a falta
de indicação dos factos que foram subsumidos no artº 407º do Código Penal, isto por um
lado, e por outro, a inexistência de pronunciamento que se nota na referida decisão sobre
a verificação ou não do “animus difamandi”, por parte daqueles condenados.
Colhido o parecer do Alto Representante do Ministèrio Público junto deste Supremo, este
Magistrado aderiu, na sua explanação, no que há de substância na contraminuta e termina
por entender que se deve negar provimento ao recurso.
A acção penal movida contra os réus tem por base a carta que por estes foi subscrita e
constante a fls. 20, a qual teve como destinatário o Senhor Director da Polícia de
Investigação Criminal de Maputo – Cidade.
“Em 5 de Maio de 1995, B... contactou C... e informou-o que utilizara em seu benefício
3.200,00 U$D (três mil e duzentos dólares americanos) que lhe haviam sido entregues
pelos outros quatro sócios da Empresa (...) para pagamento de renda das instalações onde
funciona a Empresa, referentes aos meses de Março e Abril de 1996.
No dia seguinte (6 de Maio) na reunião semanal dos sócios da Empresa B... voltou a
confessar perante os três signatários a utilização indevida dos fundos da empresa para o
seu benefício pessoal.
Temos fortes suspeitas que o desfalque perpetrado por B... excede os 3.200,00 U$D por
ele referidos.
E a terminar, pediam a intervenção das autoridades deste País para que dessem
seguimento legal à queixa então apresentada e que, pelo menos assegurassem que o B...
assinasse um documento, declarando o reconhecimento da sua dívida perante a empresa
de que aqueles são proprietários.
E na mesma sequência, a tal empresa publicou um anúncio no jornal “Notícias”, assinado
pelo respectivo Director-Técnico, comunicando da desvinculação do recorrente em causa
dos seus quadros de Direcção e, na ocasião, declinava responsabilidade por quaisquer
actos do mesmo, praticados em seu nome – fls. 25
Aliás, seguindo ainda na mesma senda, não deixa de ser irrecusavelmente decisiva, nesta
análise, a própria confissão do recorrente B... que, logo nas declarações iniciais, fls. 44,
reconheceu ter tirado da empresa o valor de U$D 4.000 dólares americanos, facto que
demonstra o carácter verdadeiro do conteúdo da já mencionada carta que foi presente às
autoridades. E repare-se que naquela os réus em presença até o acusaram por desfalque
de valor inferior (3.200 U$D).