Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
AÇÃO DE JUSTIFICAÇÃO,
“MEDIDA CAUTELAR DE PRODUÇÃO DE PROVAS”
1
dias de reclusão e 43 (quarenta e três) dias-multa, à razão de 1/30 (um trigésimo)
do salário mínimo o dia-multa, com inicio de cumprimento no regime aberto.
“(...)
b) Da Autoria
No tocante à autoria do delito de receptação qualificada, esta é certa e recai
sobre o réu Anderson Casanova.
Da análise das declarações prestadas em Juízo, bem como dos elementos
informativos colhidos na fase policial, verifica-se que o denunciado Anderson
Casanova, no mês de junho de 2012, valendo de sua atividade profissional, qual
seja, empresário, adquirira de um indivíduo chamado José Vanderlei Borilho
elevada quantidade de caixas de óleo de soja, das marcas Liza e Soya, as quais
sabidamente possuíam origem espúria e, em seguida, revendera tais
mercadorias a Erivelto de Oliveira.
Neste sentido, a testemunha Clovis Helbe, Policial Civil, declarou na fase
inquisitória (mov. 1.25), que fora acionado no dia 19 de julho de 2012, para
prestar apoio aos investigadores de polícia da 1ª Delegacia DIVECAR do DEIC
de São Paulo, os quais vieram para Londrina/PR investigar o destino de cargas
adquiridas de forma ilícita.
Segundo as investigações, o destinatário das cargas seria o denunciado
Anderson Casanova.
Informou que, no início das diligências, chegaram à pessoa de Anderson
Casanova, o qual confirmou ter adquirido cargas de óleo de soja da marca Liza,
negociação realizada com a pessoa de José Vanderlei Borilho e repassado a
mercadoria ao representante comercial Erivelto de Oliveira, o qual, por seu
turno, repassou-a a dois mercados conhecidos na cidade.
Para conclusão das diligências, a equipe se deslocou até os mercados “Super
Golf” e “Tonhão”, ocasião em que os representantes dos estabelecimentos
atestaram as aquisições, através da pessoa de Erivelto de Oliveira.
2
Nesse ínterim, deve-se ter em vista que informações prestadas por policial
relator da abordagem levada a cabo é revestida de especial credibilidade,
conforme entendimento sedimentado pelos Tribunais de Justiça, nos seguintes
termos:
(...)
Insta mencionar, ainda, que não há indício ou elemento que demonstre
eventuais desavenças entre o acusado e o policial Clovis Helbe, que pudessem,
ainda que em tese, ensejar falsa atribuição de crime. Ao contrário, a testemunha
revelou-se pessoa idônea, isenta de qualquer intenção em distorcer os fatos
para eventualmente prejudicar o réu.
No que concerne às circunstâncias em que se deram as negociações
criminosas, o réu Anderson Casanova esclareceu em Juízo que, além de ser
proprietário de uma distribuidora de gás (“Casanova Gás”), é dono de uma
transportadora e que os seus caminhões fazem fretes de carga seca para
diversos estados, tais como São Paulo e Rio Grande do Sul (mov. 94.2).
Explanou que, dois meses antes dos fatos narrados na denúncia, fora abordado
por José Vanderlei Borilho em um posto de gasolina, na cidade de Cambé/PR,
que se apresentou como representante comercial do Estado de São Paulo, à
procura de um caminhão, para realização de um frete. Na ocasião, eles
conversaram e José Vanderlei lhe entregara um cartão de visitas.
Cerca de 60 (sessenta) dias após, o réu fora contatado, via telefone, por José
Vanderlei, o qual aduziu ter adquirido grande quantidade de óleo de soja e
demonstrou interesse em revendê-la nas cidades de Londrina/PR e Maringá/PR,
para adquirir espaço no mercado da região. Assim, concordara em “intermediar”
tal transação mercantil.
Todavia, a versão apresentada pelo réu, no sentido de que ele apenas teria
intermediado a negociação, não parece crível.
O acusado Anderson reconhecidamente atuava como empresário no ramo de
distribuição de gás, e não como representante comercial. Tanto é que, ao
adquirir os produtos ilícitos, de pronto, acionou Erivelto de Oliveira, pessoa que
exercia atividade de representante comercial há mais de 20 (vinte) anos no
interior do Paraná, para agenciar as propostas e pedidos e transmiti-los aos
compradores dos mercados “Super Golf” e “Tonhão”, Ronnie Aerton Salles e
Claudinei Pereira.
Sua função era, portanto, adquirir os insumos de proveniência ilícita e orquestrar
o modo eles chegariam aos atacadistas, sem levantar grandes suspeitas sobre
sua origem espúria. A intermediação negocial fora reservada à pessoa de
Erivelto de Oliveira.
A par disso, Claudinei Pereira e Ronnie Aerton Salles, em seus respectivos
interrogatórios policiais (mov. 1.25), atestaram que o responsável pela
interligação entre eles e o vendedor da mercadoria fora, exclusivamente,
Erivelto, desconhecendo a figura de Anderson.
Outro ponto que merece destaque é o valor das mercadorias negociadas. Em
sede extrajudicial (mov. 1.25), Anderson Casanova afiançou que cada caixa
contendo 20 (vinte) litros de óleo de soja, fora-lhe vendida pelo valor de R$
42,00 (quarenta e dois reais), incluindo o frete.
A testemunha Edilson José Ribas Nunes, a qual exercia a função de supervisor
de segurança patrimonial da empresa CARGILL AGRÍCOLA S/A à época dos
fatos, elucidou, na fase inquisitorial (mov. 1.27), que o valor de R$ 42,00
(quarenta e dois reais) por caixa, incluindo o frete, era flagrantemente
desproporcional ao preço de mercado, o qual era de R$ 55,00 (cinquenta e cinco
reais) sem o frete.
Infere-se, assim, que o réu possuía plenas condições de suspeitar da origem
ilídima dos bens que lhe foram ofertados, sobretudo pela sua expertise na área
do comércio, pelo modo informal como fora apresentado ao suposto revendedor,
3
José Vanderlei, e a injustificável quantidade de mercadorias de que ele dissera
ter em sua posse, mesmo não tendo vinculação com grandes empresas do
setor, além do preço do produto, muito aquém do valor de mercado.
De outro vértice, em que pese o contexto temerário e informal, Anderson
negociara vultuosa quantia em mercadorias – inclusive muito superior àquela
narrada no
fato 01 da peça exordial (mov. 1.2).
Nesse viés, o acusado, em sede de interrogatório judicial (mov. 94.2), declarou
não ter sido uma única operação, mas duas. A primeira, no montante de R$
106.680,00 (cento e seis mil e seiscentos e oitenta reais), transcorreu sem
levantar maiores suspeitas e, segundo o acusado (mov. 1.25), ocorrera semanas
antes à deflagração da operação policial que identificou a receptação das
mercadorias.
A segunda aquisição, por sua vez, dera-se no montante de R$ 166.320,00 (mil e
seiscentos e seis reais e trezentos e vinte reais) e fora orquestrada uma semana
antes da abordagem policial.
Nota-se, nesse sentido, que claramente o réu adquiriu produtos de origem ilícita,
em preço inferior ao de mercado, para posteriormente revendê-las a um valor
competitivo, obtendo, assim, lucro fácil.
Observe-se, outrossim, que, conforme declaração prestada em sede policial
(mov. 1.25), Anderson pagara a quantia de R$ 106.680,00 (cento e seis mil e
seiscentos e oitenta reais), referente à primeira aquisição, à vista e em espécie,
diretamente a José Vanderlei – o que, mais uma vez, demonstra que sua
atuação na empreitada criminosa não se limitou à intermediação negocial, mas
sim, como adquirente das mercadorias.
Ao que tudo faz crer, a segunda compra não chegou a ser adimplida pelo
denunciado Anderson, posto que, dias após, a prática delituosa veio à tona.
Ainda assim, chama a atenção os valores expressivos das transações, típicos de
empresas de grande porte do ramo alimentício, além do contexto informal nas
quais se concretizaram.
Ora, não se mostra crível que o acusado Anderson, pessoa com vasta
experiência em negociações comerciais (ainda que em ramo diverso, vale dizer,
distribuição de gás), tenha desembolsado alta quantia à pessoa de idoneidade
ignorada, como José Vanderlei Borilho, à vista e em dinheiro, sem exigir, em
contrapartida, recibo ou nota fiscal.
Como bem pontuado pela agente ministerial em sede de alegações finais (mov.
95.1), resta evidente que Anderson e José Vanderlei firmaram o negócio
verbalmente, no nítido propósito de revenderem produtos de origem criminosa
aos mercados deste município, sem levantar suspeitas dos atacadistas.
Acrescenta-se que, embora tenham sido colacionadas ao bojo dos autos cópias
de Notas Fiscais, supostamente emitidas pela empresa J.C MANCHINI &
MANCHINI LTDA., em favor dos mercados “Super Golf” e “Tonhão” (mov. 1.25),
há indícios de que elas tenham sido falsificadas, para conferir aparência de
licitude à transação.
Nesse sentido, José Vanderlei Borilho, em sede extrajudicial (mov. 1.8),
enfatizou que, para cobrir os custos inicias com a operação de frete, transporte e
entrega recebera um adiantamento de R$ 45.000,00 (quarenta e cinco mil reais),
pagos por um sujeito de alcunha “Toninho”, funcionário do réu Anderson, sendo
que dessa quantia, R$10.000,00 (dez mil reais) fora utilizado para pagar a
transportadora, R$ 7.000,00 (sete mil reais) para o custeio do aluguel de
empilhadeira e R$ 17.500,00 (dezessete mil e quinhentos reais) para o
transporte dos cinco primeiros carregamentos a Londrina/PR, além de gastos
com compras de notas fiscais falsificadas.
Embora a autenticidade de tais documentos fiscais não seja objeto de apuração
da presente Ação Penal, por certo que tais ilações enfraquecem a aduzida boa-
4
fé do réu Anderson, que se pauta, especialmente, na existência de Notas Fiscais
dos produtos.
Cabe destacar também que, conforme infere-se da certidão de antecedentes
criminais, tramitam em desfavor do denunciado Anderson outras duas Ações
Penais (autos nº 0001845-53.2012.8.16.009 e 0000367-91.2017.8.16.0168),
para apuração de crimes patrimoniais (notadamente furto, estelionato e
receptação qualificada) perpetrados em circunstâncias semelhantes à narrada
nos autos.
Em que pese tais fatos, isoladamente, não sejam capazes de infirmar a
idoneidade do réu Anderson, é evidente que deve ser sopesado, por ser outro
indicativo de que ele não agira com boa fé na aquisição dos produtos ilícitos.
Impende ressaltar, ademais, que o intermediador Erivelto de Oliveira, quando
interrogado na fase extrajudicial (mov. 1.25), afiançou ter sido alertado por
Anderson, via rádio, acerca da deflagração de operação policial para apreensão
da carga de óleo, circunstância que robustece a tese de que o réu possuía
conhecimento ou ao menos suspeitava da origem espúria dos bens adquiridos e
revendidos. Assim não fosse, não demonstraria preocupação com a
movimentação dos policiais.
Por oportuno, não assiste razão à defesa do réu Anderson, no que concerne à
desclassificação para a modalidade culposa do delito de recepção (artigo 180,
§3º, do Código Penal), ante a ausência do elemento subjetivo (dolo) deste,
consistente na ciência prévia da origem ilícita do bem receptado.
Do mesmo modo, não prospera a alegação do réu de que faz jus à benesse
prevista no § 5º, do art. 180 do Código Penal, pois esta somente será cabível
quando se tratar de receptação culposa e, se dolosa, for o objeto receptado de
pequeno valor – o que não se vislumbra no caso em exame.
Como é cediço, em se tratando de delito de receptação, em que o dolo é de
difícil comprovação, este elemento subjetivo deve “ser apurado pela
concatenação das circunstâncias que gravitam o fato, incluindo, por certo, a
própria conduta do agente imputado” (TJPR – 4ª C.Criminal – 0001835-
90.2017.8.16.0071 – Clevelândia - Rel. Desembargador Celso Jair Mainardi - J.
17.02.2020) - destaquei .
Ora, as circunstâncias da infração penal evidenciaram que o denunciado
possuía plena ciência da origem ilícita dos produtos, sobretudo por exercer
atividade comercial e deter maiores condições de averiguar tal aspecto, tendo-as
adquirido por preço muito abaixo do valor de mercado para, com a intenção de
revendê-los aos atacadistas da região, auferir fácil vantagem pecuniária.
Sendo assim, restou devidamente demonstrada a presença do dolo na prática
do delito de receptação, uma vez que, indubitavelmente, o réu sabia, ou, diante
das circunstâncias fáticas concretamente apresentadas, deveria saber da
procedência ilícita da res adquirida e revendida.
(...)
Nesse diapasão, depreende-se que a prova colhida nos autos, aliada aos
demais indícios de prova durante toda a instrução processual, é robusta e coesa
no sentido de apontar a prática do delito insculpido no artigo 180, §1º do Código
Penal, pelo réu Anderson Casanova, impondo-se, indubitavelmente, sua
condenação.
(...)
III – DISPOSITIVO
Diante do exposto, julgo PROCEDENTE a pretensão punitiva do Estado para o
fim de CONDENAR ANDERSON CASANOVA, devidamente qualificado nos
autos, como incurso nas sanções do artigo 180, §1º do Código Penal.
(...)
Não há causa de diminuição ou aumento de pena, razão pela qual fixo a pena
definitiva para este crime em 03 (três) anos, 07 (sete) meses e 15 (quinze) dias
5
de reclusão e 43 (quarenta e três) dias-multa, à razão de 1/30 (um trigésimo) do
salário mínimo o dia-multa.
(...)”
“(...) Explanou que, dois meses antes dos fatos narrados na denúncia, fora
abordado por José Vanderlei Borilho em um posto de gasolina, na cidade de
Cambé/PR, que se apresentou como representante comercial do Estado de São
Paulo, à procura de um caminhão, para realização de um frete. Na ocasião, eles
conversaram e José Vanderlei lhe entregara um cartão de visitas. Cerca de 60
6
(sessenta) dias após, o réu fora contatado, via telefone, por José Vanderlei, o
qual aduziu ter adquirido grande quantidade de óleo de soja e demonstrou
interesse em revendê-la nas cidades de Londrina/PR e Maringá/PR, para
adquirir espaço no mercado da região. Assim, concordara em “intermediar” tal
transação mercantil. Todavia, a versão apresentada pelo réu, no sentido de que
ele apenas teria intermediado a negociação, não parece crível. O acusado
Anderson reconhecidamente atuava como empresário no ramo de distribuição
de gás, e não como representante comercial. Tanto é que, ao adquirir os
produtos ilícitos, de pronto, acionou Erivelto de Oliveira, pessoa que exercia
atividade de representante comercial há mais de 20 (vinte) anos no interior do
Paraná, para agenciar as propostas e pedidos e transmiti-los aos compradores
dos mercados “Super Golf” e “Tonhão”, Ronnie Aerton Salles e Claudinei
Pereira.” (grifo nosso)
“O policial civil Clovis Helbe, em juízo (seq. 132.1), relatou que na época dos
fatos, equipes de São Paulo pediram apoio para localizar algumas pessoas, as
quais teriam comprado carga de óleo ilícita. Que localizou as pessoas e as
encaminhou à Delegacia. Que nenhuma mercadoria foi apreendida, bem como
foram apresentadas notas fiscais ao Delegado, que entendeu que os produtos
se encontravam com preço de mercado. Que, após certo tempo, houve busca
e apreensão, mas não havia mais nada em depósito. Que os réus alegaram
que compraram por preço de mercado, em uma oportunidade comercial, sendo
7
o produto vendido pouco abaixo. Que não tem informação da origem ilícita dos
produtos, visto que realizou mero apoio operacional.”
intermediado/indicado a compra dos produtos, sem saber que era origem de crime.
8
Agravo regimental ao qual se nega provimento. (STF; HC-AgR 212.183; SP;
Primeira Turma; Relª Min. Cármen Lúcia; DJE 23/03/2022; Pág. 32)”
9
‘Art. 621. […]
10
estender o campo preclusivo dos atos processuais para
além das exigências da realizaçã o do Direito. A inocência,
nesse passo, ocupa espaço de proeminência. (OLIVEIRA,
Eugênio Pacelli de. Curso de Processo Penal [livro
eletrô nico]. 20ª Ed. Sã o Paulo: Atlas, 2016. Epub. ISBN
978-85-970-0636-0)
(sublinhamos)
11
perante o juízo da condenaçã o”. (AVENA, Norberto Clá udio
Pâ ncaro. Processo Penal: esquematizado [livro eletrô nico].
8ª Ed. Sã o Paulo: Método, 2016. Epub. ISBN 978-85-309-
7092-5)
(destaques nossos)
Confira-se:
12
O Superior Tribunal de Justiça já tivera oportunidade de
decidir conflito nesse sentido:
( iv ) DA TUTELA DE URGÊNCIA
13
A audiência de justificação está prevista no artigo 300, § 2º,
do CPC, o qual assim dispõe:
“Art. 300. A tutela de urgência será concedida quando houver elementos que
evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado
útil do processo.
§ 2º A tutela de urgência pode ser concedida liminarmente ou após justificação
prévia.”
( v ) PEDIDOS e REQUERIMENTOS
14
POSTO ISSO,
como últimos requerimentos desta Ação de Justificação, o Autor requer que Vossa
Excelência se digne de tomar as seguintes providências:
15
Londrina, 17 de Junho de 2.023.
16