Você está na página 1de 16

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 00ª VARA

CRIMINAL DA COMARCA DE LONDRINA – PARANÁ.

(CPP art. 3° c/c CPC, art. 381, § 2º)

ANDERSON CASANOVA, brasileiro, casado, empresário,

residente e domiciliado na Rua Deputado Nilson Ribas, 1125, CEP: 86062-090,


nesta cidade, portador do RG sob nº 4691368/PR e inscrito no CPF nº.
908.620.589-53, ora intermediado por seu mandatário ao final firmado –
instrumento procuratório acostado –, esse com endereço eletrônico e profissional
inserto na referida procuração, indica-o para as intimações que se fizerem
necessárias, vem, com o devido respeito a Vossa Excelência, com suporte no art.
381, § 5°, da Legislação Adjetiva Civil, aforar, para fins criminais, a presente

AÇÃO DE JUSTIFICAÇÃO,
“MEDIDA CAUTELAR DE PRODUÇÃO DE PROVAS”

em decorrência das justificativas de ordem fática e de direito, abaixo delineadas.

( i ) FATOS EM QUE RECAIRÃO AS PROVAS


(CPC, art. 382, caput, parte final)

O Autor fora condenado, perante este juízo, face ao


processo n°. 0057323-07.2017.8.16.0014 (seq. 101.1), em decorrência da prática
de delito de receptação nas penas de 03 (três) anos, 07 (sete) meses e 15 (quinze)

1
dias de reclusão e 43 (quarenta e três) dias-multa, à razão de 1/30 (um trigésimo)
do salário mínimo o dia-multa, com inicio de cumprimento no regime aberto.

Porém, o Ministério Público recorreu da decisão junto ao


Tribunal de Justiça deste Estado, para que fosse majorada a pena e modificação
do regime inicial de cumprimento para o fechado, o que foi provido, com pena total
de 04 (quatro) anos, 10 , à razão de 1/30 (um trigésimo) do salário mínimo(dez)
meses e 10 (dez) dias de reclusão, e 89 (oitenta e nove) dias-multa o dia-multa,
com regime inicial de cumprimento no fechado.

Referida decisão transitara em julgado em 03/05/20223.


Inexiste, pois, qualquer recurso a ser interposto, sendo expedido mandado de
prisão em seu desfavor na data de 30/50/2023.

Segundo se depreende da (parte) sentença penal


condenatória abaixo:

“(...)
b) Da Autoria
No tocante à autoria do delito de receptação qualificada, esta é certa e recai
sobre o réu Anderson Casanova.
Da análise das declarações prestadas em Juízo, bem como dos elementos
informativos colhidos na fase policial, verifica-se que o denunciado Anderson
Casanova, no mês de junho de 2012, valendo de sua atividade profissional, qual
seja, empresário, adquirira de um indivíduo chamado José Vanderlei Borilho
elevada quantidade de caixas de óleo de soja, das marcas Liza e Soya, as quais
sabidamente possuíam origem espúria e, em seguida, revendera tais
mercadorias a Erivelto de Oliveira.
Neste sentido, a testemunha Clovis Helbe, Policial Civil, declarou na fase
inquisitória (mov. 1.25), que fora acionado no dia 19 de julho de 2012, para
prestar apoio aos investigadores de polícia da 1ª Delegacia DIVECAR do DEIC
de São Paulo, os quais vieram para Londrina/PR investigar o destino de cargas
adquiridas de forma ilícita.
Segundo as investigações, o destinatário das cargas seria o denunciado
Anderson Casanova.
Informou que, no início das diligências, chegaram à pessoa de Anderson
Casanova, o qual confirmou ter adquirido cargas de óleo de soja da marca Liza,
negociação realizada com a pessoa de José Vanderlei Borilho e repassado a
mercadoria ao representante comercial Erivelto de Oliveira, o qual, por seu
turno, repassou-a a dois mercados conhecidos na cidade.
Para conclusão das diligências, a equipe se deslocou até os mercados “Super
Golf” e “Tonhão”, ocasião em que os representantes dos estabelecimentos
atestaram as aquisições, através da pessoa de Erivelto de Oliveira.

2
Nesse ínterim, deve-se ter em vista que informações prestadas por policial
relator da abordagem levada a cabo é revestida de especial credibilidade,
conforme entendimento sedimentado pelos Tribunais de Justiça, nos seguintes
termos:
(...)
Insta mencionar, ainda, que não há indício ou elemento que demonstre
eventuais desavenças entre o acusado e o policial Clovis Helbe, que pudessem,
ainda que em tese, ensejar falsa atribuição de crime. Ao contrário, a testemunha
revelou-se pessoa idônea, isenta de qualquer intenção em distorcer os fatos
para eventualmente prejudicar o réu.
No que concerne às circunstâncias em que se deram as negociações
criminosas, o réu Anderson Casanova esclareceu em Juízo que, além de ser
proprietário de uma distribuidora de gás (“Casanova Gás”), é dono de uma
transportadora e que os seus caminhões fazem fretes de carga seca para
diversos estados, tais como São Paulo e Rio Grande do Sul (mov. 94.2).
Explanou que, dois meses antes dos fatos narrados na denúncia, fora abordado
por José Vanderlei Borilho em um posto de gasolina, na cidade de Cambé/PR,
que se apresentou como representante comercial do Estado de São Paulo, à
procura de um caminhão, para realização de um frete. Na ocasião, eles
conversaram e José Vanderlei lhe entregara um cartão de visitas.
Cerca de 60 (sessenta) dias após, o réu fora contatado, via telefone, por José
Vanderlei, o qual aduziu ter adquirido grande quantidade de óleo de soja e
demonstrou interesse em revendê-la nas cidades de Londrina/PR e Maringá/PR,
para adquirir espaço no mercado da região. Assim, concordara em “intermediar”
tal transação mercantil.
Todavia, a versão apresentada pelo réu, no sentido de que ele apenas teria
intermediado a negociação, não parece crível.
O acusado Anderson reconhecidamente atuava como empresário no ramo de
distribuição de gás, e não como representante comercial. Tanto é que, ao
adquirir os produtos ilícitos, de pronto, acionou Erivelto de Oliveira, pessoa que
exercia atividade de representante comercial há mais de 20 (vinte) anos no
interior do Paraná, para agenciar as propostas e pedidos e transmiti-los aos
compradores dos mercados “Super Golf” e “Tonhão”, Ronnie Aerton Salles e
Claudinei Pereira.
Sua função era, portanto, adquirir os insumos de proveniência ilícita e orquestrar
o modo eles chegariam aos atacadistas, sem levantar grandes suspeitas sobre
sua origem espúria. A intermediação negocial fora reservada à pessoa de
Erivelto de Oliveira.
A par disso, Claudinei Pereira e Ronnie Aerton Salles, em seus respectivos
interrogatórios policiais (mov. 1.25), atestaram que o responsável pela
interligação entre eles e o vendedor da mercadoria fora, exclusivamente,
Erivelto, desconhecendo a figura de Anderson.
Outro ponto que merece destaque é o valor das mercadorias negociadas. Em
sede extrajudicial (mov. 1.25), Anderson Casanova afiançou que cada caixa
contendo 20 (vinte) litros de óleo de soja, fora-lhe vendida pelo valor de R$
42,00 (quarenta e dois reais), incluindo o frete.
A testemunha Edilson José Ribas Nunes, a qual exercia a função de supervisor
de segurança patrimonial da empresa CARGILL AGRÍCOLA S/A à época dos
fatos, elucidou, na fase inquisitorial (mov. 1.27), que o valor de R$ 42,00
(quarenta e dois reais) por caixa, incluindo o frete, era flagrantemente
desproporcional ao preço de mercado, o qual era de R$ 55,00 (cinquenta e cinco
reais) sem o frete.
Infere-se, assim, que o réu possuía plenas condições de suspeitar da origem
ilídima dos bens que lhe foram ofertados, sobretudo pela sua expertise na área
do comércio, pelo modo informal como fora apresentado ao suposto revendedor,

3
José Vanderlei, e a injustificável quantidade de mercadorias de que ele dissera
ter em sua posse, mesmo não tendo vinculação com grandes empresas do
setor, além do preço do produto, muito aquém do valor de mercado.
De outro vértice, em que pese o contexto temerário e informal, Anderson
negociara vultuosa quantia em mercadorias – inclusive muito superior àquela
narrada no
fato 01 da peça exordial (mov. 1.2).
Nesse viés, o acusado, em sede de interrogatório judicial (mov. 94.2), declarou
não ter sido uma única operação, mas duas. A primeira, no montante de R$
106.680,00 (cento e seis mil e seiscentos e oitenta reais), transcorreu sem
levantar maiores suspeitas e, segundo o acusado (mov. 1.25), ocorrera semanas
antes à deflagração da operação policial que identificou a receptação das
mercadorias.
A segunda aquisição, por sua vez, dera-se no montante de R$ 166.320,00 (mil e
seiscentos e seis reais e trezentos e vinte reais) e fora orquestrada uma semana
antes da abordagem policial.
Nota-se, nesse sentido, que claramente o réu adquiriu produtos de origem ilícita,
em preço inferior ao de mercado, para posteriormente revendê-las a um valor
competitivo, obtendo, assim, lucro fácil.
Observe-se, outrossim, que, conforme declaração prestada em sede policial
(mov. 1.25), Anderson pagara a quantia de R$ 106.680,00 (cento e seis mil e
seiscentos e oitenta reais), referente à primeira aquisição, à vista e em espécie,
diretamente a José Vanderlei – o que, mais uma vez, demonstra que sua
atuação na empreitada criminosa não se limitou à intermediação negocial, mas
sim, como adquirente das mercadorias.
Ao que tudo faz crer, a segunda compra não chegou a ser adimplida pelo
denunciado Anderson, posto que, dias após, a prática delituosa veio à tona.
Ainda assim, chama a atenção os valores expressivos das transações, típicos de
empresas de grande porte do ramo alimentício, além do contexto informal nas
quais se concretizaram.
Ora, não se mostra crível que o acusado Anderson, pessoa com vasta
experiência em negociações comerciais (ainda que em ramo diverso, vale dizer,
distribuição de gás), tenha desembolsado alta quantia à pessoa de idoneidade
ignorada, como José Vanderlei Borilho, à vista e em dinheiro, sem exigir, em
contrapartida, recibo ou nota fiscal.
Como bem pontuado pela agente ministerial em sede de alegações finais (mov.
95.1), resta evidente que Anderson e José Vanderlei firmaram o negócio
verbalmente, no nítido propósito de revenderem produtos de origem criminosa
aos mercados deste município, sem levantar suspeitas dos atacadistas.
Acrescenta-se que, embora tenham sido colacionadas ao bojo dos autos cópias
de Notas Fiscais, supostamente emitidas pela empresa J.C MANCHINI &
MANCHINI LTDA., em favor dos mercados “Super Golf” e “Tonhão” (mov. 1.25),
há indícios de que elas tenham sido falsificadas, para conferir aparência de
licitude à transação.
Nesse sentido, José Vanderlei Borilho, em sede extrajudicial (mov. 1.8),
enfatizou que, para cobrir os custos inicias com a operação de frete, transporte e
entrega recebera um adiantamento de R$ 45.000,00 (quarenta e cinco mil reais),
pagos por um sujeito de alcunha “Toninho”, funcionário do réu Anderson, sendo
que dessa quantia, R$10.000,00 (dez mil reais) fora utilizado para pagar a
transportadora, R$ 7.000,00 (sete mil reais) para o custeio do aluguel de
empilhadeira e R$ 17.500,00 (dezessete mil e quinhentos reais) para o
transporte dos cinco primeiros carregamentos a Londrina/PR, além de gastos
com compras de notas fiscais falsificadas.
Embora a autenticidade de tais documentos fiscais não seja objeto de apuração
da presente Ação Penal, por certo que tais ilações enfraquecem a aduzida boa-

4
fé do réu Anderson, que se pauta, especialmente, na existência de Notas Fiscais
dos produtos.
Cabe destacar também que, conforme infere-se da certidão de antecedentes
criminais, tramitam em desfavor do denunciado Anderson outras duas Ações
Penais (autos nº 0001845-53.2012.8.16.009 e 0000367-91.2017.8.16.0168),
para apuração de crimes patrimoniais (notadamente furto, estelionato e
receptação qualificada) perpetrados em circunstâncias semelhantes à narrada
nos autos.
Em que pese tais fatos, isoladamente, não sejam capazes de infirmar a
idoneidade do réu Anderson, é evidente que deve ser sopesado, por ser outro
indicativo de que ele não agira com boa fé na aquisição dos produtos ilícitos.
Impende ressaltar, ademais, que o intermediador Erivelto de Oliveira, quando
interrogado na fase extrajudicial (mov. 1.25), afiançou ter sido alertado por
Anderson, via rádio, acerca da deflagração de operação policial para apreensão
da carga de óleo, circunstância que robustece a tese de que o réu possuía
conhecimento ou ao menos suspeitava da origem espúria dos bens adquiridos e
revendidos. Assim não fosse, não demonstraria preocupação com a
movimentação dos policiais.
Por oportuno, não assiste razão à defesa do réu Anderson, no que concerne à
desclassificação para a modalidade culposa do delito de recepção (artigo 180,
§3º, do Código Penal), ante a ausência do elemento subjetivo (dolo) deste,
consistente na ciência prévia da origem ilícita do bem receptado.
Do mesmo modo, não prospera a alegação do réu de que faz jus à benesse
prevista no § 5º, do art. 180 do Código Penal, pois esta somente será cabível
quando se tratar de receptação culposa e, se dolosa, for o objeto receptado de
pequeno valor – o que não se vislumbra no caso em exame.
Como é cediço, em se tratando de delito de receptação, em que o dolo é de
difícil comprovação, este elemento subjetivo deve “ser apurado pela
concatenação das circunstâncias que gravitam o fato, incluindo, por certo, a
própria conduta do agente imputado” (TJPR – 4ª C.Criminal – 0001835-
90.2017.8.16.0071 – Clevelândia - Rel. Desembargador Celso Jair Mainardi - J.
17.02.2020) - destaquei .
Ora, as circunstâncias da infração penal evidenciaram que o denunciado
possuía plena ciência da origem ilícita dos produtos, sobretudo por exercer
atividade comercial e deter maiores condições de averiguar tal aspecto, tendo-as
adquirido por preço muito abaixo do valor de mercado para, com a intenção de
revendê-los aos atacadistas da região, auferir fácil vantagem pecuniária.
Sendo assim, restou devidamente demonstrada a presença do dolo na prática
do delito de receptação, uma vez que, indubitavelmente, o réu sabia, ou, diante
das circunstâncias fáticas concretamente apresentadas, deveria saber da
procedência ilícita da res adquirida e revendida.
(...)
Nesse diapasão, depreende-se que a prova colhida nos autos, aliada aos
demais indícios de prova durante toda a instrução processual, é robusta e coesa
no sentido de apontar a prática do delito insculpido no artigo 180, §1º do Código
Penal, pelo réu Anderson Casanova, impondo-se, indubitavelmente, sua
condenação.
(...)
III – DISPOSITIVO
Diante do exposto, julgo PROCEDENTE a pretensão punitiva do Estado para o
fim de CONDENAR ANDERSON CASANOVA, devidamente qualificado nos
autos, como incurso nas sanções do artigo 180, §1º do Código Penal.
(...)
Não há causa de diminuição ou aumento de pena, razão pela qual fixo a pena
definitiva para este crime em 03 (três) anos, 07 (sete) meses e 15 (quinze) dias

5
de reclusão e 43 (quarenta e três) dias-multa, à razão de 1/30 (um trigésimo) do
salário mínimo o dia-multa.
(...)”

Percebe-se pela fundamentação da sentença em anexo, o


autor foi condenado exclusivamente com base em inquérito policial, não se
confirmando na fase judicial, tais como, depoimentos das testemunhas.

A única testemunha ouvida em juízo, foi da acusação, ou


seja, o Sr. Edilson José Ribas Nunes, a qual exercia a função de supervisor de
segurança patrimonial da empresa CARGILL AGRÍCOLA S/A à época dos fatos e
tal testemunha não citou e também não foi indagado à ele se conhece o autor
(Anderson Casanova), vejamos a transcrição de seu depoimento na sentença
(página 08):

“A testemunha Edilson José Ribas Nunes, a qual exercia a função de supervisor


de segurança patrimonial da empresa CARGILL AGRÍCOLA S/A à época dos
fatos, elucidou, na fase inquisitorial (mov. 1.27), que o valor de R$ 42,00
(quarenta e dois reais) por caixa, incluindo o frete, era flagrantemente
desproporcional ao preço de mercado, o qual era de R$ 55,00 (cinquenta e cinco
reais) sem o frete.” (grifo nosso)

Contudo, duas testemunhas (Sr. Clóvis Helbe e Sr. Erivelto


de Oliveira), até então, ouvidas somente em fase inquisitória policial, dispuseram-
se a esclarecer o crime, tal qual, corroborar o que o autor disse em seu
interrogatório, que não adquiriu os produtos e que somente ‘intermediou/indicou’
para outra pessoa (Erivelton), que não sabia que era produto de crime, pois tinha
nota fiscal, vejamos o que a MM. Juíza transcreveu na sentença (página 07) sobre
o interrogatório do autor:

“(...) Explanou que, dois meses antes dos fatos narrados na denúncia, fora
abordado por José Vanderlei Borilho em um posto de gasolina, na cidade de
Cambé/PR, que se apresentou como representante comercial do Estado de São
Paulo, à procura de um caminhão, para realização de um frete. Na ocasião, eles
conversaram e José Vanderlei lhe entregara um cartão de visitas. Cerca de 60

6
(sessenta) dias após, o réu fora contatado, via telefone, por José Vanderlei, o
qual aduziu ter adquirido grande quantidade de óleo de soja e demonstrou
interesse em revendê-la nas cidades de Londrina/PR e Maringá/PR, para
adquirir espaço no mercado da região. Assim, concordara em “intermediar” tal
transação mercantil. Todavia, a versão apresentada pelo réu, no sentido de que
ele apenas teria intermediado a negociação, não parece crível. O acusado
Anderson reconhecidamente atuava como empresário no ramo de distribuição
de gás, e não como representante comercial. Tanto é que, ao adquirir os
produtos ilícitos, de pronto, acionou Erivelto de Oliveira, pessoa que exercia
atividade de representante comercial há mais de 20 (vinte) anos no interior do
Paraná, para agenciar as propostas e pedidos e transmiti-los aos compradores
dos mercados “Super Golf” e “Tonhão”, Ronnie Aerton Salles e Claudinei
Pereira.” (grifo nosso)

Importante destacar que o processo foi desmembrado,


sendo que o original n.° 0057323-07.2017.8.16.0014, os réus Claudinei Pereira,
Erivelto de Oliveira e Ronnie Aerton Salles foram absolvidos, porém, somente o
autor Anderson Casanova foi condenado.

Ademais, a importância de ser ouvido a testemunha e


policial civil Clóvis Helbe, é que o mesmo foi ouvido no outro processo originário
desmembrado e na ação penal que figurou o autor como réu, o Ministério Público
desistiu de sua oitiva e a defesa não arrolou testemunha, em razão da Resposta à
Acusação ter sido apresentada por Defensor Nomeado e não teve contato nenhum
contato com o autor para estratégia de defesa:

“O policial civil Clovis Helbe, em juízo (seq. 132.1), relatou que na época dos
fatos, equipes de São Paulo pediram apoio para localizar algumas pessoas, as
quais teriam comprado carga de óleo ilícita. Que localizou as pessoas e as
encaminhou à Delegacia. Que nenhuma mercadoria foi apreendida, bem como
foram apresentadas notas fiscais ao Delegado, que entendeu que os produtos
se encontravam com preço de mercado. Que, após certo tempo, houve busca
e apreensão, mas não havia mais nada em depósito. Que os réus alegaram
que compraram por preço de mercado, em uma oportunidade comercial, sendo

7
o produto vendido pouco abaixo. Que não tem informação da origem ilícita dos
produtos, visto que realizou mero apoio operacional.”

Desse modo, de toda conveniência a oitiva das testemunhas


abaixo arroladas, para, assim, poder apresentar esclarecimentos dos fatos,
principalmente no que concerne à respeito de que o autor fora apenas

intermediado/indicado a compra dos produtos, sem saber que era origem de crime.

( ii ) RAZÕES DA PRODUÇÃO DE PROVAS


(CPC, art. 382, caput)

O Autor almeja manejar a competente Ação de Revisão


Criminal. Todavia, sob os moldes de novos fatos, reclama que a prova oral seja
pré-constituída. (CPP, art. 621, inc. III)

Nesse diapasão, doutrina e jurisprudência são firmes em


definir que, para o caso, faz-se necessária a obtenção das provas perante o juízo
criminal. É dizer, máxime, impossível impetrar-se Habeas Corpus, uma vez que o
propósito revolve fatos e, mais, o processo criminal transitara em julgado.

Com esse enfoque, urge transcrever o pensamento adota


perante o Supremo Tribunal Federal:

“AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS. TRÁFICO, GUARDA DE


INSUMOS DESTINADOS À FABRICAÇÃO DE ENTORPECENTES,
ASSOCIAÇÃO PARA O TRÁFICO E POSSE ILEGAL DE ARMA DE FOGO
COM NUMERAÇÃO RASPADA. Condenação transitada em julgado. Sucedâneo
de revisão criminal: Inadmissibilidade. Pretensão de nulidade da ação penal e
absolvição por suposta ilegalidade da prova produzida: Reexame do acervo
fático-probatório. Consunção entre o caput e inc. I do § 1º do art. 33 da Lei n.
11.343/2006. Impossibilidade no caso: Condutas autônomas e contexto factual
diverso. Precedentes. Ausência de ilegalidade manifesta ou teratologia.
Ausência de impugnação dos fundamentos da decisão agravada: Inviabilidade.

8
Agravo regimental ao qual se nega provimento. (STF; HC-AgR 212.183; SP;
Primeira Turma; Relª Min. Cármen Lúcia; DJE 23/03/2022; Pág. 32)”

Por esse mesmo viés, veja-se:

“AGRAVO REGIMENTAL EM HABEAS CORPUS. TRÁFICO ILÍCITO DE


ENTORPECENTES. CONDENAÇÃO TRANSITADA EM JULGADO. REVISÃO
CRIMINAL. DOSIMETRIA DA PENA. AFASTAMENTO DO TRÁFICO
PRIVILEGIADO (§ 4º DO ART. 33 DA LEI N. 11.343/2006). PRESENÇA DE
ELEMENTOS EVIDENCIADORES DA DEDICAÇÃO A ATIVIDADE
CRIMININOSA OU DE PARTICIPAÇÃO EM ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA.
CONSTRANGIMENTO ILEGAL NÃO EVIDENCIADO. RECURSO
DESPROVIDO. 1. A impetração de habeas corpus após o trânsito em julgado da
condenação e com a finalidade de reconhecimento de eventual ilegalidade na
colheita de provas é indevida e tem feições de revisão criminal. 2. Ocorrendo o
trânsito em julgado de decisão condenatória nas instâncias de origem, não é
dado à parte optar pela impetração de writ no STJ, cuja competência prevista no
art. 105, I, e, da Constituição Federal restringe-se ao processamento e
julgamento de revisões criminais de seus próprios julgados. 3. A apreensão de
instrumentos geralmente utilizados nas atividades relacionadas ao tráfico de
entorpecentes (balança de precisão, embalagens, caderno de anotações), de
expressiva quantidade de dinheiro e de elevada quantidade e variedade de
drogas evidencia o envolvimento habitual do agente com a narcotraficância. 4.
Agravo regimental desprovido. (STJ; AgRg-HC 720.476; Proc. 2022/0023820-7;
SP; Quinta Turma; Rel. Min. João Otávio de Noronha; Julg. 22/03/2022; DJE
25/03/2022)”

Nesse ponto, Eugênio Pacelli sublinha, corretamente, ipisis


litteris:

O texto, como se observa, fala por si. Basta, entã o, a


alegaçã o da existência de documentos, exames ou
depoimentos falsos para que se viabilize o conhecimento
da açã o de revisã o criminal.

9
‘Art. 621. […]

III – quando, apó s a sentença, se descobrirem novas


provas de inocência do condenado ou de circunstâ ncia que
determine ou autorize diminuiçã o especial da pena.’

O fundamento, entã o, é eminentemente de revisã o de


provas, quando se sustentará a existência de material
probató rio nã o apreciado no processo anterior. De tais
provas poderá surgir a inocência, ou a nã o culpabilidade
do condenado, ou até a demonstraçã o de circunstâ ncia nã o
reconhecida anteriormente, cuja consequência seja a
diminuiçã o da pena.

Curiosamente, no RHC 58.442/SP (Rel. Min. Sebastiã o Reis


Jú nior, 15.09.2015) o STJ nã o considerou como prova nova
a retrataçã o da vítima registrada em escritura pú blica,
exigindo que o condenado entrasse com um Pedido de
Justificaçã o. Decisã o tecnicamente correta apesar de
rigorosa, posto que uma prova produzida unilateralmente,
sem as respectivas cautelas legais, nã o tem o condã o de
ensejar açã o revisional.

Quanto a essas circunstâ ncias cuja existência autorize a


diminuiçã o da pena, acreditamos que o fato novo poderá
incidir até mesmo sobre a operaçã o de dosimetria da pena,
e até na fixaçã o das circunstâ ncias judiciais levadas em
consideraçã o – além das demais, é claro. A ú nica exigência
é no sentido de que se trate de novas provas. Por provas
novas nã o se há de entender apenas aquelas surgidas
posteriormente, mas todas aquelas que nã o tiverem sido
objeto de apreciaçã o judicial anterior, afinal nã o se pode

10
estender o campo preclusivo dos atos processuais para
além das exigências da realizaçã o do Direito. A inocência,
nesse passo, ocupa espaço de proeminência. (OLIVEIRA,
Eugênio Pacelli de. Curso de Processo Penal [livro
eletrô nico]. 20ª Ed. Sã o Paulo: Atlas, 2016. Epub. ISBN
978-85-970-0636-0)

(sublinhamos)

Nesse mesmo prisma de intelecção é o magistério de


Norberto Avena, quando professa, verbo ad verbum:

“E quando as provas novas dependerem de produçã o


judicial, como oitiva de testemunhas, ofendidos, peritos
etc.? Neste caso, impõ e-se ao acusado, por meio de seu
advogado, requerer ao juízo de 1.º grau, a realizaçã o de
audiência de justificaçã o prévia, que consiste em espécie
de açã o cautelar de natureza preparató ria, para que sejam
realizadas tais provas, fundamentando esse pedido na
circunstâ ncia de que pretende ingressar com revisã o
criminal e embasando-o, por analogia, no art. 381, § 5.º, do
CPC/2015. Sobre o tema, refere Mirabete que, “para a
revisã o, quando se trata de apresentaçã o de provas novas,
é necessá rio que seja ela produzida judicialmente, no juízo
de 1.º grau, obedecendo-se princípio do contraditó rio, com
a exigência, portanto, da participaçã o do Ministério
Pú blico. Sendo inadmissível a produçã o de provas durante
a açã o revisional, para ser ela obtida, necessá ria se torna a
justificaçã o criminal. Tal justificaçã o criminal, verdadeira
açã o penal cautelar preparató ria, deve ser processada

11
perante o juízo da condenaçã o”. (AVENA, Norberto Clá udio
Pâ ncaro. Processo Penal: esquematizado [livro eletrô nico].
8ª Ed. Sã o Paulo: Método, 2016. Epub. ISBN 978-85-309-
7092-5)

(destaques nossos)

( iii ) QUANTO À COMPETÊNCIA


(CPC, art. 381, § 2°)

Afigura-se como incontestável que a competência, absoluta


até, nessas hipóteses, é do juízo criminal donde fora proferida a sentença penal
condenatória.

Confira-se:

“CONFLITO NEGATIVO DE JURISDIÇÃO AÇÃO DE JUSTIFICAÇÃO


CRIMINAL COMPETÊNCIA DO JUÍZO DE PROCESSAMENTO DA AÇÃO
ORIGINÁRIA PREVENÇÃO DO SUSCITADO CONFLITO PROCEDENTE. A
ação cautelar de justificação criminal, orientada a subsidiar a proposição de
Revisão Criminal, não busca apurar relação jurídica nova, mas sim reapreciar
provas quanto à condenação pré-existente, já transitada em julgado, cabendo ao
juízo que proferiu a sentença, então, o processamento e julgamento do
expediente, por prevenção, nos termos do art. 83 do CPP. Ainda que a prova
pretendida seja a oitiva de testemunha que reside em Comarca distinta, tal fato
não tem o condão de alterar a prevenção, haja vista que regras gerais de
competência existem para racionalizar a jurisdição, não sendo coerente a
pretensa desvinculação do juízo suscitado apenas em razão da mudança de
residência das pessoas a serem reinquiridas. Conflito negativo de jurisdição
julgado procedente, com o parecer, a fim declarar a competência do juízo
suscitado para a apreciação feito. (TJMS; CJ 1600171-80.2020.8.12.0000;
Segunda Câmara Criminal; Rel. Des. Ruy Celso Barbosa Florence; DJMS
03/03/2020; Pág. 175)”

12
O Superior Tribunal de Justiça já tivera oportunidade de
decidir conflito nesse sentido:

“CONFLITO DE COMPETÊNCIA. JUÍZOS ESTADUAIS VINCULADOS A


TRIBUNAIS DIVERSOS. JUSTIFICAÇÃO JUDICIAL. PRODUÇÃO DE PROVA
PARA FINS PREVIDENCIÁRIOS. COMPETÊNCIA DO FORO DO DOMICÍLIO
DO SEGURADO. 1. Vinculados os juízos conflitantes a tribunais estaduais
diversos, descortina-se a incidência do art. 105, I, d, da Constituição Federal,
pelo que deve ser conhecido o conflito. 2. "servindo para a constituição de prova
para utilização em processo futuro, a competência para a ação de justificação é
idêntica à competência para a ação em que a prova justificada servirá para
instrução" (Marinoni, Luiz Guilherme. Código de processo civil comentado artigo
por artigo. 5. ED. São Paulo: RT, 2013, p. 816). 3. Cuidando-se de justificação
judicial para produção de prova tendente a instruir potencial demanda que terá
como parte instituição de previdência social, é competente o foro do domicílio do
segurado ou beneficiário. Aplicação, por simetria, do art. 109, § 3º, da
Constituição Federal. 4. Conflito conhecido para declarar competente o juízo
estadual suscitado. (STJ; CC 138.478; Proc. 2015/0030688-3; GO; Primeira
Seção; Rel. Min. Sérgio Kukina; DJE 01/07/2015)”

( iv ) DA TUTELA DE URGÊNCIA

O autor, requer seja designada com ‘urgência’ a referida


audiência de justificativa, em razão do autor, ter contra si, expedido mandado de
prisão em seu desfavor em razão da ação penal que tramitou em seu desfavor e
será objeto de REVISÃO CRIMINAL, após entença homologatória deste r. juízo.

13
A audiência de justificação está prevista no artigo 300, § 2º,
do CPC, o qual assim dispõe:

“Art. 300. A tutela de urgência será concedida quando houver elementos que
evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado
útil do processo.
§ 2º A tutela de urgência pode ser concedida liminarmente ou após justificação
prévia.”

A urgência de designação de audiência mostra-se


necessária, visto que, após a sentença homologatória desta ação, o autor irá
pleitear junto ao Tribunal de Justiça deste Estado, a competente REVISÃO
CRIMINAL, para que o quanto antes seja finalizado para provar a inocência do
autor na ação penal transitada em julgado e assim ter a sua revogação da prisão
expedido pelo este r.juízo.

( v ) PEDIDOS e REQUERIMENTOS

14
POSTO ISSO,

como últimos requerimentos desta Ação de Justificação, o Autor requer que Vossa
Excelência se digne de tomar as seguintes providências:

( i ) deferimento da Tutela de Urgência, para designar, com urgência, data


e horário para tomada dos depoimentos das pessoas abaixo arroladas,
dando ciência às mesmas:

( a ) ERIVELTO DE OLIVEIRA, brasileiro, representante


comercial, portador do RG nº 3.956.618-4/PR, residente e
domiciliado na Avenida Duque de Caxias, n° 3.010 – Centro, F:
(43)-99916-2301, na cidade de Londrina/PR (testemunha);

( b ) CLÓVIS HELBE, brasileiro, investigador da Polícia Civil,


portador do RG nº 5.177.241-5/PR, encontrável na 10ª SDP de
Londrina, localizado na Rua São Pedro, n° 330 – Vila Siam, F:
(43)-99151-4331, na cidade de Londrina/PR (testemunha).

( ii ) pede-se, igualmente, uma vez encerrada a produção da prova em


espécie, que Vossa Excelência profira sentença constitutiva e
homologatória;

( iii ) transcorrido o prazo legal, requer seja disponibilizado os autos para o


autor. (CPC, art. 383, parágrafo único).

Protesta provar o alegado por intermédio da tomada de


depoimentos das testemunhas arroladas.

Respeitosamente, pede deferimento.

15
Londrina, 17 de Junho de 2.023.

OTÁVIO TAKAO FUJIMOTO


Advogado – OAB/PR 47.171

16

Você também pode gostar