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22) João e Mário, juntos, ingressaram, no dia 20 de janeiro de acusado, acolhendo integralmente a denúncia.

O acusado e
2007, na residência de Pedro, com a intenção de subtrair você foram intimados no dia 05 de setembro de 2007 (TERÇA-
coisas que nela encontrassem. Os dois eram empregados de FEIRA) e o réu manifestou interesse em recorrer, não havendo
Pedro e este não estava efetuando os pagamentos de seus feriados nos dias seguintes.
salários. Pretendiam, assim, com o que subtraíssem, receber o QUESTÃO: Como Advogado, apresente a peça mais
que lhes era devido. Quando estavam no interior da casa, adequada para a defesa do acusado, com os fundamentos
antes que tivessem começado a subtrair qualquer coisa, e pedidos, no último dia do prazo.
Pedro, com um revólver, desferiu disparos contra os dois, vindo
a atingi-los e causar-lhes a morte. Os dois não traziam consigo
1 - Peça cabível: RESE (art. 581, IV, CPP)
nenhuma arma. Ele próprio chamou a polícia e solicitou uma
ambulância. Chegou a ser preso, mas foi liberado. Foi 2 - Endereçamento:
acusado, por denúncia do Ministério Público, de duplo
a) Interposição: Juízo recorrido (Juiz da Vara do Júri de São
homicídio qualificado pela surpresa, recurso que impossibilitou Carlos)
a defesa das vítimas, e, por motivo torpe, vingança, porque as
vítimas queriam subtrair bens como forma de receberem seus b) Razões: TJSP

salários e, ainda, por guardar em sua residência arma não 3 - Tese(s):


registrada e sem autorização regular. Ouvido, confessou o
Principais: a) excludente de ilicitude ou erro de tipo permissivo ; b)
crime, mas disse que não sabia que as vítimas eram seus
absorção da posse ilegal de arma pelo homicídio e abolitio criminis
empregados, pois, se soubesse, não as teria atingido. Quanto à
temporária.
arma, disse que, como já havia sido vítima de três roubos
anteriormente, a havia adquirido recentemente e ainda não Subsidiária: c) afastamento das qualificadoras
tivera tempo de registrá-la. As testemunhas de acusação 4 - Pedidos(s):
ouvidas foram os policiais que atenderam a ocorrência. As
testemunhas de defesa afirmaram que as vítimas eram boas a) Absolvição sumaria em relação ao homicídio;
b) Absorção do porte ilegal de arma pelo homicídio ou
pessoas e nunca haviam cometido qualquer crime. O
absolvição sumaria por abolitio criminis temporária;
Promotor pediu a pronúncia do acusado nos termos da c) Afastamento das qualificadoras com pronúncia por
denúncia. O advogado apresentou memoriais. O Juiz da Vara homicídio simples;
do Júri de São Carlos, afirmando que, nesse momento,
5 - Prazo:
prevalece o princípio in dubio pro societate, pronunciou o
11 de setembro de 2007. Nestes Termos,

Pede deferimento.

São Carlos, 11 de setembro de 2007.

__________________________________________________

Advogado(a)

RAZÕES DE RECURSO EM SENTIDO ESTRITO


EXCELENTÍSSIMO DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA DO JÚRI
DA CIDADE E COMARCA DE SÃO CARLOS – S.P.

Recorrente: Pedro

Recorrido: Ministério Público (ou Justiça Pública)


Processo n._______
Processo n._____________

PEDRO, já qualificado nos autos do processo em epígrafe


(ou que lhe move a Justiça Pública), vem, respeitosamente, à presença de Egrégio Tribunal de Justiça de São Paulo,
Vossa Excelência, não se conformando, data venia, com a r. decisão de
pronúncia de fls., interpor o presente RECURSO EM SENTIDO ESTRITO, Colenda Câmara Criminal,
com fundamento no art. 581, IV, do Código de Processo Penal.
Excelentíssimos Doutores Desembargadores,
Requer seja recebido e processado o presente recurso, com a
intimação do Ministério Público para, querendo, oferecer contrarrazões e
Excelentíssimo Doutor Procurador de Justiça
seja realizado juízo de retratação, nos termos do art. 589 do CPP ou, caso
mantida a r. decisão, sejam os autos encaminhados ao E. Tribunal de
Justiça de São Paulo. I – DOS FATOS

Em apertadíssima síntese, o recorrente foi pronunciado


por dois delitos de homicídio qualificado e por posse ilegal de arma
porque, segundo a denúncia, no dia 20 de janeiro de 2007 ele matou agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de
a tiros as vítimas João e Mário que, juntos, ingressaram na outrem.
residência de Pedro, com a intenção de subtrair coisas que nela
encontrassem. Os dois eram empregados de Pedro e este não estava Como se vê, no presente caso estão preenchidos todos
efetuando os pagamentos de seus salários. Pretendiam, assim, com os requisitos da causa de justificação acima mencionada.
o que subtraíssem, receber o que lhes era devido. Havia uma injusta agressão ao direito de propriedade
Ao final da instrução, o magistrado da Vara do Júri de do acusado e a sua própria vida ou integridade física, já que ele não
São Carlos, afirmando que, nesse momento processual, prevalece o sabia que os invasores eram seus empregados e, portanto, supunha
princípio in dubio pro societate, pronunciou o acusado, acolhendo estrar diante de dois assaltantes, os quais não sabia se estavam
integralmente a denúncia. armados ou não.

A r. decisão de pronúncia, data maxima venia, merece A arma de fogo, diante das circunstancias acima
narradas, era o meio necessário para o acusado se defender, tendo
reforma.
em vista a superioridade numérica dos infratores, o que
impossibilitava ao acusado defender-se sem o uso do revólver.

II – DO DIREITO É importante ressaltar que a única prova relevante


produzida nos autos é o interrogatório do acusado que detalhou o
A) DA LEGÍTIMA DEFESA ocorrido e esclareceu ter agido em legítima defesa, sem reconhecer
que os invasores eram seus empregados e sem saber que eles não
É incontroverso que o acusado estava no interior de sua
estavam armados.
residência, quando as vítimas ingressaram no imóvel para
praticarem delito de furto ou de exercício arbitrário das próprias Assim sendo, não há absolutamente nenhuma prova em
razões. sentido contrário, que autorize o afastamento dessa tese defensiva.
Como o acusado não reconheceu que os infratores eram Não bastasse isso, é absolutamente pacífico na doutrina
seus empregados e como ele já havia sido assaltado três vezes e na jurisprudência modernas, que o direito fundamental à
anteriormente, supondo tratar-se de novo roubo, muniu-se de arma presunção de inocência garantido no art. 5º, LVII, da Constituição
de fogo e, em claro exercício de legítima defesa ainda que putativa, Federal, aplica-se, inclusive, nas ações penais de competência do
atirou nos infratores que haviam invadido sua residência. Júri sendo, pois, descabido, invocar o princípio in dubio pro societate
na fase da pronúncia.
Dispõe o art. 25 do Código Penal que:
Nesse sentido, coloca Fernando da Costa Tourinho
Art. 25 - Entende-se em legítima defesa quem, usando
Filho que:
moderadamente dos meios necessários, repele injusta
“.................................................................................”
No mesmo sentido é a jurisprudência do E. Superior permitindo, até o dia 31 de dezembro de 2008, o registro das armas
Tribunal de Justiça: irregulares.

“...........................................................................................” O Supremo Tribunal Federal e o Superior Tribunal de


Justiça já pacificaram que há, até o dia 31 de dezembro de 2008, a
É de se lembrar que embora os empregados não descriminalização temporária (“abolitio criminis temporária”) do
estavam armados e pretendiam apenas praticar furto, o recorrente delito de posse ilegal de arma de fogo.
não sabia da identidade dos infratores e supunha serem dois
assaltantes. Assim sendo, o uso da arma e os disparos deram-se em Nesse sentido:
razão do acusado supor estar em legítima defesa contra delito de
roubo. “..................................................” (STF)

O art. 20, § 1º, do Código Penal, trata das “..................................................” (STJ)


descriminantes putativas (excludentes de ilicitude imaginárias) nos Não bastasse isso, o delito de posse ilegal de arma
seguintes termos: serviu como meio de execução do homicídio, devendo ser por este
Art. 20 (...) absorvido, em razão do princípio da consunção (ou princípio da
absorção).
§ 1º - É isento de pena quem, por erro plenamente
justificado pelas circunstâncias, supõe situação de fato Conforme ensina Guilherme de Souza Nucci ao tratar
que, se existisse, tornaria a ação legítima. Não há do princípio da consunção:
isenção de pena quando o erro deriva de culpa e o fato “.................................................................................................
é punível como crime culposo. ....”
Assim sendo, ainda que não se reconheça legitima No caso específico da absorção da posse ilegal de arma
defesa real contra o furto que efetivamente ocorria, é imperioso o pelo homicídio, há farta jurisprudência nesse sentido. A propósito:
reconhecimento da legitima defesa putativa dadas as circunstâncias
nas quais o fato ocorreu. “..............................................................................”

“..............................................................................”

B) DA INEXISTÊNCIA DO DELITO DE POSSE


ILEGAL DE ARMA
C) DA INEXISTÊNCIA DAS QUALIFICADORAS
O art. 30 da Lei 10.826/03 – Estatuto do Desarmamento
A qualificadora da surpresa não existiu já que as vítimas
– prevê prazo para a regularização da posse de arma no pais,
invadiram a residência do recorrente e obviamente sabiam ou
podiam saber que ele estava no imóvel e que poderia reagir à Diante do exposto requer seja conhecido e provido o
invasão. presente Recurso em Sentido Estrito para que:

A qualificadora da surpresa só existe quando o autor do a) O recorrente seja absolvido sumariamente dos
crime cria situação na qual não permite à vítima saber que será delitos de homicídio, nos termos do art. 415, IV, do
atacada. No presente caso ocorreu exatamente o contrário, ou seja, a CPP, em razão da excludente de ilicitude da
casa do acusado é que foi atacada pelas vítimas, razão pela qual soa legítima defesa ou; o recorrente seja absolvido
descabida a alegação da surpresa. sumariamente dos delitos de homicídio, nos termos
do art. 415, III, do CPP, em razão da legítima defesa
Conforme ensina Cleber Masson: putativa, que exclui o dolo e, portanto, exclui o
“.............................................................................................” crime.
b) O recorrente seja absolvido sumariamente do delito
Também não houve a qualificadora do meio que de posse ilegal de arma de fogo, nos termos do art.
impossibilitou a defesa das vítimas. Essa majorante só existe quando o 415, III, do CPP, em razão da abolitio criminis
infrator cria uma situação na qual deixa a vítima impossibilitada de temporária prevista no art. 31 da Lei 10.826/03, ou
se defender do ataque. No presente caso o acusado não criou em razão do princípio da consunção.
qualquer situação com a intenção de reduzir a possibilidade de c) Opcionalmente, sejam afastadas as qualificadoras
defesa das vítimas, tão somente usou o único meio de que imputadas na denúncia e reconhecidas na decisão
dispunha para se defender, qual seja, a arma de fogo. de pronúncia, para que o recorrente seja
pronunciado por delitos de homicídios simples.
A jurisprudência é pacífica em reconhecer que o simples
fato de ser usada arma de fogo para a execução do homicídio não
autoriza, por si só, o reconhecimento da mencionada qualificadora.
Nesse sentido: Nestes Termos,

“............................................................................................” Pede deferimento.

Não há ainda que se falar nas qualificadoras do motivo


torpe e da vingança pois, conforme já demonstrado, o recorrente não São Carlos, 11 de setembro de 2007.
sabia que as vítimas eram seus empregados, razão pela qual fica
evidente a ausência de dolo quanto a essas majorantes.

III – DOS PEDIDOS __________________________________________________

Advogado(a)

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