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ILUSTRÍSSIMO SENHOR ENCARREGADO DA SINDICÂNCIA ADMINISTRATIVA Nº

018/2022 DA POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DO PARÁ

FELIPE WESLEY FERNANDES DE FREITAS RAMOS, já devidamente qualificado nos


autos em epígrafe, neste ato representado por sua advogada que esta subscreve, vem, à
presença de Vossa Excelência, nos termos do art. 103, inciso III da Lei 6.833/2006, apresentar
ALEGAÇÕES FINAIS, pelas razões fáticas e jurídicas a seguir expostas:

I- DA SÍNTESE DOS FATOS:


O investigado, em tese do IPM instaurado pela Portaria de nº044/2022 CorCPRM, foi
autuado por ter participado de intervenção na qual resultou em morte do nacional Adrian Rafael
dos Santos Melo, no dia 13 de Maio de 2022. Na data dos fatos, a guarnição intervencionista,
estava em ronda habitual pelo bairro da Guanabara, mais precisamente na Rua Ricardo Borges,
quando foram informados por um popular que havia dois indivíduos praticando roubos pela
região, ao se deslocar para o local, perceberam que os dois nacionais informados, quais
possuíam as mesmas características físicas informadas pelo popular e ao visualizarem a viatura,
empreenderam fuga, seguindo caminhos opostos.
O nacional Adrian Rafael adentrou área de mata e foi acompanhado pelo SD. Ramos, ora
investigado, momento em que, o referido individuo realizou um disparo em direção ao policial
militar, que em legitima defesa, efetuou também um único disparo que atingiu o nacional e este
caiu ao chão, em área de lamaçal. O policial militar então, se aproximou, mandando com que o
individuo colocasse as duas mãos na cabeça, seguindo a abordagem padrão, mas não obteve
resposta, sequer alguma reação, pois, o elemento encontrava-se desacordado.
Situação em que, o investigado informou a sua guarnição do ocorrido e estes levaram a
vitima ao Hospital Metropolitano, onde, somente lá soube que o nacional havia morrido. É de
suma importância destacar que, embora o laudo pericial realizado nas mãos do nacional não
detectou a presença de pólvora, o individuo caiu em área alagada, com as mãos no chão, o que
muito provavelmente fez com que o chumbo presente não fosse encontrado na perícia.
Ademais, existem imagens de circuito de segurança de uma empresa que, demonstram o
nacional empreendendo fuga em direção ao lamaçal, com a mão na cintura, o que prova que o
individuo estava portando uma arma de fogo.

II- DO DIREITO
A) DA INCONCLUSÃO DA PERÍCIA REALIZADA:
Como já devidamente relatado, durante o acompanhamento policial e empreendendo fuga,
o nacional Adrian Rafael efetuou um disparo de arma de fogo em direção ao policial militar, ora
investigado, situação em que, para se defender, o inquirido efetuou um único disparo de arma de
fogo que atingiu a vitima e veio a cair em área de lamaçal. Sucede-se que, após a solicitação de
perícia, bem como, requisição de exame residuográfico a serem feitos nas mãos do indivíduo, o
laudo atestou negativo para a presença de pólvora combusta.
É válido frisar que, a arma utilizada pelo nacional tratava-se de uma arma de cano longo e
caseira, o que por si só pode ter afetado o resultado pericial, uma vez que, dificilmente haverá
escape de gases pela parte posterior do cano, antes que a arma seja aberta, nesse caso, a
deposição nas mãos do atirador de partículas oriundas do tiro somente ocorrerá caso a arma seja
aberta imediatamente após a deflagração do disparo, o que não foi o caso.
Ademais, outro fator capaz de ter interferido no resultado do exame, é o fato de que a
vitima caiu em área de grande lamaçal, com as mãos direcionadas para o solo, o que pode ter
feito com que a pólvora tenha sido limpa com a água. Desta forma, depreende-se dos autos que,
o laudo pericial foi inconclusivo.
Nesse sentido, tem-se o seguinte entendimento jurisprudencial:
[...] EXAME RESIDUOGRÁFICO NEGATIVO – LAUDO DE ARMA DE
FOGO INCONCLUSIVO – DEPOIMENTOS DE PESSOAS LIGADAS AO
RÉU, MAS QUE SÃO COERENTES COM OUTRAS PROVAS –
TESTEMUNHAS INSUSPEITAS – RECURSO PROVIDO. Sendo a negativa
de autoria corroborada por provas testemunhais que apesar de contrárias
aos depoimentos de policiais, estão coerentes com os demais elementos
probatórios, como o exame residuográfico negativo e laudo de arma de fogo
inconclusivo e divergente de informações do auto de exibição e apreensão
de arma, existem duvidas que beneficiam o apelante, aplicando-se o
principio do in dubio pro reo. (Tribunal de Justiça do Mato Grosso do Sul TJ-
MS – APELAÇÃO CRIMINAL: ACR 2798 MS. 1ª turma criminal. Des.
Gilberto da silva Castro).
Logo, é possível compreender que, o exame pericial não pode ser tido como único e
exclusivo elemento probatório, em razão da sua inconclusividade.

B) DA ABSOLVIÇÃO POR INSUFICIÊNCIA DE PROVAS E IN DUBIO PRO REO:


À vista dos depoimentos colhidos, rechaça-se totalmente o laudo pericial realizado, o qual
se demonstrou inconclusivo. É possível verificar que os relatos dos companheiros de guarnição e
do próprio investigado possuem congruência, havendo uma incompatibilidade com a perícia, a
qual, mais uma vez não deve ser levada em consideração. Nesse sentido, tem-se o seguinte
entendimento dos Tribunais:
[...] EXAME RESIDUOGRÁFICO NEGATIVO. AUSÊNCIA DE VINCULAÇÃO.
CARÁTER INCONCLUSIVO [...] É cediço entretanto, o caráter inconclusivo dos
exames residuográficos negativos, isso porque o resultado de tal exame está
sujeito a diversas circunstâncias que podem prejudicar a detecção. (Tribunal de
Justiça do Ceará – TJCE – APELAÇÃO APL XXXXX.65.2010.8.06.0115. Data de
julgamento: 03 de junho de 2020. Rel: des. Antonio Pádua Silva.

Desta forma, para que haja um livre convencimento acerca do fato, deve haver provas
contundentes capazes de não restarem dúvidas acerca da conduta. No presente caso, em razão
da inconclusividade do laudo pericial, deve ser adotado o principio “in dubio pro reo”.
No que tange o referido princípio, este possui proteção constitucional, originado do
princípio da presunção de inocência, elencado no art. 5º, LVII da Constituição Federal, que aduz
que:
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:
LVII - ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença
penal condenatória;

O princípio “in dubio pro reo” determina que havendo dúvida a cerca da culpabilidade do
agente, deve-se interpretar em favor do acusado, isso porque a liberdade deve prevalecer sobre a
pretensão punitiva do Estado. Nesse sentido, dispõe o art. 439 do Código de Processo Penal
Militar:
Art. 439. O Conselho de Justiça absolverá o acusado, mencionando os
motivos na parte expositiva da sentença, desde que reconheça:
e) não existir prova suficiente para a condenação;

Nesse sentido, tem-se o seguinte entendimento:


[...] INSUFICIÊNCIA DE PROVAS – ABSOLVIÇÃO – IN DUBIO PRO REO –
ART 439, E, CPPM – PROVIMENTO NEGADO. – A prova para embasar um
decreto condenatório deve ser plena, robusta e estreme de dúvidas, de
forma que a condenação leva a uma certeza, não a uma simples
probabilidade. – Se o conjunto probatório não permite a comprovação da
ocorrência delituosa, necessária se faz a absolvição do acusado, por
insuficiência de provas, com base no art. 439, “e” do CPPM, e em
observância ao consagrado princípio do in dubio pro reo (Tribunal de Justiça
Militar de Minas Gerais TJMMG: XXXXX-40.2008.9.13.0001)

Diante de todos os argumentos aqui trazidos, não se vislumbram nos autos um


entendimento não diferente da absolvição. Conclui-se que pela insuficiência de provas, não há
que se falar em condenação ao acusado, devendo, pelo bom direito, ser o mesmo absolvido e o
processo arquivado.

C) DA LEGÍTIMA DEFESA:
É cediço que o policial militar em questão, naquele dia, estava trabalhando com a sua
guarnição, conforme escala de serviço anexada aos autos e em dado momento, foram abordados
por um cidadão que informou que dois indivíduos estavam praticando assaltos na região e ao
chegarem lá, visualizaram os dois elementos fugindo. Na fuga, o nacional, ora vítima, adentrou
área de mata e efetuou um disparo em direção ao investigado que, imediatamente, como forma
de repelir a injusta agressão, disparou sentido à área de mata, sem saber que o individuo
encontrava-se naquela direção, vindo a atingir a nuca da vitima.
O art 42 do Código Penal Militar traz em seu bojo a legitima defesa ao agente publico nas
ações que lhe forem imputadas, senão vejamos:
Art. 42. Não há crime quando o agente pratica o fato:
I - em estado de necessidade;
II - em legítima defesa;
III - em estrito cumprimento do dever legal;
IV - em exercício regular de direito.

A respeito da legitima defesa, já foi pacificado em nosso ordenamento jurídico que:


O direito do homem reagir, quando agredido injustamente, remonta aos
tempos mais antigos, e as civilizações mais remotas. De fato, constitui até mesmo
atributo da natureza humana, ou faz parte de seus movimentos instintivos, a reação
imediata e repentina ao gesto ameaçador ou qualquer ação que venha ferir a sua
integridade física, seu patrimônio, sua moral, sua vida ou de qualquer ente querido.
(Desembargador A.J.M Feu Rosa- Direito Penal, parte geral, pag. 352 – Ed.
Revista dos tribunais).

Verifica-se, portanto, que é natural do homem se auto defender quando ofendido, ademais,
no caso em tela, não era a intenção do agente público ocasionar o resultado morte na vitima e
sim, apenas cercear injusta agressão, no entanto, ao efetuar o disparo, acabou ocasionando o
resultado morte, além do mais, o investigado utilizou-se dos meios necessários para repelir a
ação do indivíduo, sendo cabível a absolvição por legitima defesa.

III- DOS PEDIDOS:


Ante o exposto, requer-se:
A) A desconsideração do laudo pericial, vez que, trata-se de um resultado inconclusivo;
B) A absolvição do sindicado e o posterior arquivamento do processo, em razão da
insuficiência de provas cabais, nos termos do art. 439, “e” do Código de Processo Penal
Militar;
C) Caso Vossa Senhoria não reconheça a insuficiência de provas, que seja absolvido o
sindicado por legitima defesa, nos termos do art. 439, “d” do Código de Processo Penal
Militar.

Termos em que,
Pede deferimento.
Ananindeua/PA, 05 de Dezembro de 2022.
DJEHINE CASTRO – OAB/PA 31.275

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