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II- DO DIREITO
A) DA INCONCLUSÃO DA PERÍCIA REALIZADA:
Como já devidamente relatado, durante o acompanhamento policial e empreendendo fuga,
o nacional Adrian Rafael efetuou um disparo de arma de fogo em direção ao policial militar, ora
investigado, situação em que, para se defender, o inquirido efetuou um único disparo de arma de
fogo que atingiu a vitima e veio a cair em área de lamaçal. Sucede-se que, após a solicitação de
perícia, bem como, requisição de exame residuográfico a serem feitos nas mãos do indivíduo, o
laudo atestou negativo para a presença de pólvora combusta.
É válido frisar que, a arma utilizada pelo nacional tratava-se de uma arma de cano longo e
caseira, o que por si só pode ter afetado o resultado pericial, uma vez que, dificilmente haverá
escape de gases pela parte posterior do cano, antes que a arma seja aberta, nesse caso, a
deposição nas mãos do atirador de partículas oriundas do tiro somente ocorrerá caso a arma seja
aberta imediatamente após a deflagração do disparo, o que não foi o caso.
Ademais, outro fator capaz de ter interferido no resultado do exame, é o fato de que a
vitima caiu em área de grande lamaçal, com as mãos direcionadas para o solo, o que pode ter
feito com que a pólvora tenha sido limpa com a água. Desta forma, depreende-se dos autos que,
o laudo pericial foi inconclusivo.
Nesse sentido, tem-se o seguinte entendimento jurisprudencial:
[...] EXAME RESIDUOGRÁFICO NEGATIVO – LAUDO DE ARMA DE
FOGO INCONCLUSIVO – DEPOIMENTOS DE PESSOAS LIGADAS AO
RÉU, MAS QUE SÃO COERENTES COM OUTRAS PROVAS –
TESTEMUNHAS INSUSPEITAS – RECURSO PROVIDO. Sendo a negativa
de autoria corroborada por provas testemunhais que apesar de contrárias
aos depoimentos de policiais, estão coerentes com os demais elementos
probatórios, como o exame residuográfico negativo e laudo de arma de fogo
inconclusivo e divergente de informações do auto de exibição e apreensão
de arma, existem duvidas que beneficiam o apelante, aplicando-se o
principio do in dubio pro reo. (Tribunal de Justiça do Mato Grosso do Sul TJ-
MS – APELAÇÃO CRIMINAL: ACR 2798 MS. 1ª turma criminal. Des.
Gilberto da silva Castro).
Logo, é possível compreender que, o exame pericial não pode ser tido como único e
exclusivo elemento probatório, em razão da sua inconclusividade.
Desta forma, para que haja um livre convencimento acerca do fato, deve haver provas
contundentes capazes de não restarem dúvidas acerca da conduta. No presente caso, em razão
da inconclusividade do laudo pericial, deve ser adotado o principio “in dubio pro reo”.
No que tange o referido princípio, este possui proteção constitucional, originado do
princípio da presunção de inocência, elencado no art. 5º, LVII da Constituição Federal, que aduz
que:
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:
LVII - ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença
penal condenatória;
O princípio “in dubio pro reo” determina que havendo dúvida a cerca da culpabilidade do
agente, deve-se interpretar em favor do acusado, isso porque a liberdade deve prevalecer sobre a
pretensão punitiva do Estado. Nesse sentido, dispõe o art. 439 do Código de Processo Penal
Militar:
Art. 439. O Conselho de Justiça absolverá o acusado, mencionando os
motivos na parte expositiva da sentença, desde que reconheça:
e) não existir prova suficiente para a condenação;
C) DA LEGÍTIMA DEFESA:
É cediço que o policial militar em questão, naquele dia, estava trabalhando com a sua
guarnição, conforme escala de serviço anexada aos autos e em dado momento, foram abordados
por um cidadão que informou que dois indivíduos estavam praticando assaltos na região e ao
chegarem lá, visualizaram os dois elementos fugindo. Na fuga, o nacional, ora vítima, adentrou
área de mata e efetuou um disparo em direção ao investigado que, imediatamente, como forma
de repelir a injusta agressão, disparou sentido à área de mata, sem saber que o individuo
encontrava-se naquela direção, vindo a atingir a nuca da vitima.
O art 42 do Código Penal Militar traz em seu bojo a legitima defesa ao agente publico nas
ações que lhe forem imputadas, senão vejamos:
Art. 42. Não há crime quando o agente pratica o fato:
I - em estado de necessidade;
II - em legítima defesa;
III - em estrito cumprimento do dever legal;
IV - em exercício regular de direito.
Verifica-se, portanto, que é natural do homem se auto defender quando ofendido, ademais,
no caso em tela, não era a intenção do agente público ocasionar o resultado morte na vitima e
sim, apenas cercear injusta agressão, no entanto, ao efetuar o disparo, acabou ocasionando o
resultado morte, além do mais, o investigado utilizou-se dos meios necessários para repelir a
ação do indivíduo, sendo cabível a absolvição por legitima defesa.
Termos em que,
Pede deferimento.
Ananindeua/PA, 05 de Dezembro de 2022.
DJEHINE CASTRO – OAB/PA 31.275