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AO DOUTO JUIZO DA (...) VARA CRIMINAL DA COMARCA DE BRASÍLIA/DF.

Processo nº (...)

ALEXANDRE SILVA, já qualificado nos autos do processo em epígrafe, por


seu advogado infrafirmado (Procuração anexa – doc. nº 01), por analogia ao art.
403, § 3º do Código de Processo Penal, vem perante esse Juízo apresentar suas

ALEGAÇÕES FINAIS, expondo e requerendo o seguinte:

I- DO RELATÓRIO:

O Ministério Público, com atribuição perante esse juízo, ofereceu denúncia


contra o acusado em tela, por incurso nas sanções do artigo 121, caput do CP,
porque, segundo a denúncia, no dia 20/08/2022, aproximadamente às 21 horas, em
via pública da cidade de Brasília – DF, o acusado teria efetuado um disparo contra a
pessoa de Filipe Santos, que, em razão dos ferimentos, veio a óbito.

A denúncia foi recebida, e o acusado devidamente citado. Durante a instrução


processual, foram ouvidas testemunhas arroladas pela acusação: PAULO COSTA,
ANDRÉ GOMES e BRENO DE OLIVEIRA (testemunha comum). E pela defesa, foi
ouvida MAÍRA SILVA (esposa do acusado – mídia fl. 235), além de BRENO SILVA,
testemunha comum, que nada trouxeram que possa incriminar o acusado em tela;
ao contrário, da análise de todos os elementos de provas colhidos, inclusive, do
interrogatório do acusado, conclui-se que o mesmo não praticou o delito narrado na
denúncia, O QUE IMPÕE SUA IMPRONÚNCIA!

Não obstante o esforço do Ministério Público, a pretensão punitiva estatal


deverá ser analisada sob o crivo das questões a seguir demonstradas:
Com efeito, desde o interrogatório, o réu vem negando, veementemente,
qualquer envolvimento no delito descrito na peça exordial, e assim, declarou em
juízo, mídia fl. 235:
“ [...] que, no horário dos fatos, encontrava-se em casa com sua esposa e
dois filhos; que só saiu por volta das 22 horas para comprar refrigerante,
oportunidade em que foi preso quando adentrava no bar; que conhecia a
vítima apenas de vista; que não responde a nenhum processo”.

Por sua vez, a testemunha MAÍRA SILVA, ao ser ouvida, em juízo, mídia fl.
235, afirmou:
“Que o marido permanecera em casa a noite toda, só tendo saído para
comprar refrigerante, oportunidade em que foi preso e não mais voltou para
casa; que só tomou conhecimento da acusação na delegacia e, de imediato,
disse ao delegado que aquilo não era possível, mas este não acreditou; que
o acusado vestia calça e camiseta clara no dia dos fatos; que Alexandre é
um bom marido, trabalhador e excelente pai”.

Além disso, nenhuma das testemunhas arroladas se manifestou apta ao


reconhecimento do acusado, em virtude das condições do ambiente relatadas na
denúncia, gerando dubiez a autoria do delito pelo acusado.

Assim, a testemunha PAULO COSTA, em juízo, mídia fls. 235, afirmou que:

“Que era amigo de Filipe, que aparentemente a vítima não tinha inimigos;
que deve ter sido um assalto; que estava a aproximadamente cinquenta
metros de distância e não viu o rosto da pessoa que atirou em Filipe,
mas que certamente era alto e forte, da mesma compleição física do
acusado; que não tem condições de reconhecer com certeza o ora
acusado.” (grifo nosso)

No mesmo sentido, declara a testemunha ANDRÉ GOMES, ao ser ouvida em


juízo, mídia 235, corroborando a impossibilidade do reconhecimento do acusado:

“Que a noite estava muito escura e o local não tinha iluminação


pública; que estava próximo da vítima, mas havia bebido; que hoje não
tem condições de reconhecer o autor dos disparos, mas tem a
impressão de que o acusado tinha o mesmo porte físico do assassino.”
(grifo nosso)

Ademais, o próprio Policial Militar responsável pela apreensão do acusado,


testemunha BRENO OLIVEIRA, mídia 235, afirmou que só realizou a apreensão do
acusado, pois estava próximo ao local, e mediante semelhança às características
dadas pelas pessoas que lá estavam – as mesmas que, coincidentemente,
afirmaram impossibilidade de reconhecimento do acusado – mesmo diante da
escuridão da rua:

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“Que prendeu o acusado porque ele estava próximo ao local dos fatos
e suas características físicas correspondiam à descrição dada pelas
pessoas que teriam presenciado os fatos; que, pela descrição, o autor do
disparo era alto, forte, moreno claro, vestia calça jeans e camiseta branca;
que o céu estava encoberto, o que deixava a rua muito escura,
principalmente porque não havia iluminação pública; que, na delegacia, o
acusado permaneceu em silêncio; que a arma do crime não foi encontrada”.
(grifo nosso)

Finda a instrução processual, e aberta vista ao Órgão Ministerial, este


requereu a pronúncia do acusado nos termos da denúncia. Entrementes, não
merece prosperar a pretensão do Parquet, a par dos seguintes argumentos:

II- DO DIREITO

DA INEXISTÊNCIA DE INDÍCIOS MÍNIMOS DE AUTORIA NECESSÁRIOS PARA


A PRONÚNCIA:

Conforme se extrai do contexto probatório, na hipótese dos autos, não há que


se falar em existência de indícios de autoria que autorize a pronuncia do acusado.

Isso porque, o indício é todo e qualquer fato, ou circunstância, certo e


provado, que tenha conexão com o fato, mais ou menos incerto, que se procura
provar. Para tanto, é necessária a realização de um raciocínio lógico indutivo dos
fatos que permita a relação entre circunstância e resultado.

No presente caso, embora haja prova de materialidade delitiva, inexistem


indícios de autoria. Isto porque, em momento algum as testemunhas apontaram o
ora acusado como o autor dos disparos, havendo, quando muito, uma impressão de
que o autor dos disparos teria a mesma compleição física do acusado, como afirma
a testemunha André Gomes.

Neste sentido, o Supremo Tribunal Federal, no ARE n.º 1.067.392, em


26/03/2019, decidiu pela preponderância do princípio do in dubio pro reo no âmbito
do Tribunal do Júri, agasalhando a opção da doutrina moderna e mais abalizada no
sentido de que, na fase da pronúncia, a manifestação judicial pelo princípio do in
dubio pro societate constitui-se num equivoco que não pode mais ser permitido,
como critério de decisão para o juízo de pronúncia no Júri. Isto porque, além de não

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encontrar qualquer amparo constitucional ou legal, acarreta o completo
desvirtuamento das premissas racionais de valoração da prova, esvaziando a função
da decisão de pronúncia.

Assim, afirma o Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, acerca da


ausência de indícios suficientes de autoria:

EMENTA: APELAÇÃO CRIMINAL - HOMICÍDIO QUALIFICADO -


IMPRONÚNCIA DECRETADA NA ORIGEM - INCONFORMISMO
MINISTERIAL - AUSÊNCIA DE INDÍCIOS DE AUTORIA DE CRIME
CONTRA A VIDA - DECISÃO MANTIDA - RECURSO NÃO PROVIDO. 1.
Ausentes indícios suficientes de que o réu tenha atirado contra as vítimas,
ou mesmo de que tenha agindo com animus necandi, correta a decisão de
impronúncia proferida na origem. 2. Recurso não provido. (TJMG -
Apelação Criminal 1.0000.23.068923-4/001, Relator(a): Des.(a) Eduardo
Brum , 4ª CÂMARA CRIMINAL, julgamento em 30/08/2023, publicação da
súmula em 01/09/2023).

EMENTA: EMBARGOS INFRINGENTES - TENTATIVA DE FEMINICÍDIO E


DUPLA TENTATIVA DE HOMICÍDIO SIMPLES - IMPRONÚNCIA - NÃO
CABIMENTO - EXISTÊNCIA DE INDÍCIOS DE AUTORIA E
MATERIALIDADE - EMBARGOS REJEITADOS. 1. A materialidade do fato
e a existência de indícios suficientes de autoria indicam a necessidade de
julgamento perante o Tribunal do Júri. 2. Havendo declarações e outros
elementos de prova conflitantes com a retratação da vítima, há viabilidade
da acusação e elementos que autorizam a pronúncia. 3. Dúvida razoável
sobre a autoria do crime, mas que tem indícios fortes de materialidade do
delito, justifica seu exame pelo Conselho de Sentença. V.V.: Ausentes
indícios mínimos de que o réu seria autor dos fatos imputados na denúncia,
forçosa a sua despronúncia, nos termos do art. 414 do CPP. (TJMG - Emb
Infring e de Nulidade 1.0000.22.144475-5/002, Relator(a): Des.(a) Daniela
Villani Bonaccorsi Rodrigues , 9ª Câmara Criminal Especializa, julgamento
em 31/05/2023, publicação da súmula em 31/05/2023)

Dessa maneira, diante da ausência de indício minimamente razoável que


possibilite a interligação entre resultado e autoria, não há o que se falar em indícios
suficientes de autoria, tal como preconizado pelo art. 413 do CPP.

III- DO PEDIDO:

Ante o exposto, diante da inexistência de elementos indiciários aptos para a


caracterização da autoria delitiva e submissão do acusado ao julgamento pelo
Tribunal do Júri, REQUER-SE A IMPRONÚNCIA DO ACUSADO, nos termos do art.
414 do Código de Processo Penal.

Termos em que,
Pede deferimento.

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Cachoeiro de Itapemirim/ES, 25 de agosto de 2023.

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ADVOGADO – OAB nº ...

ESTAGIARIOS: ANNA LUISA TORRES; DIONNY TIBURCIO MEDEIROS; LAILA


OLIVEIRA RUBIM e MYLENA LOCATELLI.

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