Você está na página 1de 5

EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) DOUTOR(A) JUIZ(A) DE DIREITO DA 2ª

VARA DO TRIBUNAL DO JÚRI DA COMARCA DE CAMPO GRANDE, MS.

JULIO SERQUEIRA, já qualificado nos autos da ação penal nº 001234-


56.2020.8.12.0001 que lhe move o Ministério Público, vem, por seu advogado, a
presença de Vossa Excelência, apresentar MEMORIAIS, nos termos do art. 403, § 3º, do
Código de Processo Penal, aplicados subsidiariamente, pelas razões a seguir expostas:

I - DOS FATOS

O réu está sendo acusado da prática do crime capitulado no artigo 121, § 2°, incisos IV e
V, c/c artigo 14, inciso II, ambos do Código Penal, e artigo 15 da Lei n° 10.826/2003.
Entretanto, a defesa sustenta que tal acusação não pode prosperar, uma vez que a
denúncia encontra-se desconexa e contrária às provas produzidas nos autos.

A denúncia relata que o acusado, no dia 01 de junho de 2020, por volta das 20h30min,
na Rua José Pimenta de Freitas, número 34, no Bairro Dom Antônio Barbosa, nesta
Comarca, teria supostamente atentado contra a vida do Sr. Thiago Fortes. Alega ainda
que o crime teria sido cometido para assegurar a execução e com emprego de recursos
que dificultaram a defesa da vítima.

II- DA FUNÇÃO DA DECISÃO DE PRONÚNCIA


A importância da pronúncia, com devida reverência, não deve ser subestimada na
sentença que Vossa Excelência proferirá ao término desta primeira etapa do
procedimento referente aos crimes dolosos contra a vida (judicium accusationis). Essa
decisão desempenha um papel crucial na salvaguarda da liberdade, evitando que alguém
seja condenado injustamente.

A principal função da pronúncia é evitar que um inocente seja submetido ao risco de um


julgamento social irrestrito e irreversível, uma vez que o veredicto do júri, dada a sua
qualificação pela soberania dos jurados, é inalterável em certas circunstâncias e, por
vezes, carece de fundamentação adequada.

O Tribunal do Júri é, inquestionavelmente, o foro natural para julgar os crimes dolosos


contra a vida. Entretanto, nos casos em que a condenação pelo Júri possa resultar em
grave injustiça, o Juiz togado, na fase inicial, por meio da triagem obrigatória, deve
assegurar a inocência do acusado.

Além disso, a pronúncia não se limita a um mero trâmite processual, sendo vital lembrar
a razão por trás desse ato de tamanha importância, uma vez que a preservação da
liberdade do indivíduo também repousa na decisão de pronúncia.

III – PRELIMINARMENTE: DA NULIDADE

Preliminarmente, o acusado alega a nulidade do processo devido à ausência dos


memoriais, que são peças fundamentais para a validade do procedimento. A falta dos
mesmos por parte do órgão acusatório gera a nulidade, o que é suficiente para ensejar a
invalidação do processo. Além disso, o julgador está restrito às alegações finais,
devendo o Magistrado restringir-se aos fatos descritos na denúncia e nas alegações, a
fim de formalizar a pretensão ministerial. Há, portanto, prejuízo.
Avançando na análise da situação narrada pelo órgão ministerial, surgem dúvidas
insuperáveis acerca dos fatos contidos na peça inicial, o que torna inviável sustentar um
decreto condenatório, em conformidade com o princípio do "in dubio pro reo".

IV – DO MÉRITO

IV-a DESCLASSIFICAÇÃO PARA O CRIME DE HOMICÍDIO SIMPLES

Não obstante a carga de trabalho enfrentada pela Polícia Civil deste Estado, constata-se
que o presente inquérito foi conduzido e relatado de maneira coerente. Diferentemente
da peça de denúncia, que foi apresentada de forma genérica, sem sequer narrar detalhes
colhidos durante a instrução processual.

Após análise do conjunto probatório, percebe-se que os fatos ocorreram de maneira


distinta daquela narrada na peça acusatória. Não há fundamento para a acusação de
homicídio qualificado, conforme alegado pelo Ministério Público, além do princípio da
absorção dos crimes, que impede a imputação simultânea de homicídio simples e
homicídio qualificado pelo mesmo fato, situação que também se repete em relação ao
crime de disparo de arma de fogo.

Ademais, o denunciado, em momento algum, tentou dolosamente contra a vida da


vítima, e a acusação, embora enfática, carece de robustez probatória suficiente para
sustentar uma denúncia tão grave. Basear uma acusação de homicídio consumado e
tentativa de homicídio qualificado em conjecturas e suposições desprovidas de provas
materiais é, no mínimo, imprudente.
IV-b DA AUTORIA

Até o momento, a materialidade do crime não foi devidamente comprovada nos autos. A
única evidência apresentada é a palavra de uma única testemunha, que alegadamente
teria reconhecido Julio Serqueira como o autor dos disparos. No entanto, é importante
destacar que a testemunha em questão estava sob um nível extremo de estresse e medo
no momento dos eventos, circunstância que, inevitavelmente, pode ter afetado sua
capacidade de identificação precisa.

A defesa requer que seja realizada uma avaliação cuidadosa da credibilidade dessa
testemunha, considerando-se fatores como seu estado emocional e a falta de qualquer
confirmação independente de sua versão dos fatos. Nesse contexto, Julio Serqueira
insiste na presunção de sua inocência, um princípio fundamental no direito penal, que
deve ser respeitado escrupulosamente.

Após análise dos elementos de prova até aqui produzidos, não há qualquer indício de
autoria quanto aos delitos.

V - DOS ANTECEDENTES

A defesa reitera enfaticamente que Julio Serqueira não possui qualquer antecedente
criminal, o que demonstra sua conduta ilibada e sua completa ausência de envolvimento
com atividades delituosas.

VI – DA CONCLUSÃO

Diante do exposto e por entendermos predominantes as considerações que justificam o


pedido de nulidade processual e, subsidiariamente, de impronúncia, a defesa requer:
I. A nulidade do processo.

II. Caso não seja concedida a nulidade do processo, que seja proferida a impronúncia do
denunciado, por falta de conjunto probatório mínimo em relação à autoria.

III. Por fim, se nem a nulidade processual, nem a impronúncia forem concedidas, que
seja realizada a desclassificação do tipo penal de tentativa de homicídio, homicídio
simples, homicídio qualificado e disparo de arma de fogo para homicídio simples,
fundamentada no princípio da consumação dos crimes.

Termos em que, pede deferimento.

Local, 20 de outubrro de 2023.

ADVOGADO

OAB/MS XX.XXX

Você também pode gostar