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EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DE DIREITO DA VARA CRIMINAL DA

COMARCA DE CHAPECÓ/SC

Autos nº:
Autor: Ministério Público de Santa Catarina
Réu: Eduardo Portigua

EDUARDO PORTIGUA, brasileiro, solteiro, mecânico, residente e


domiciliado na Rua Osvaldo Aranha, nº 220, Centro, na Cidade de Chapecó/SC, vem,
por seus advogados in fine assinados, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência
apresentar suas ALEGAÇÕES FINAIS, o que faz através das razões de fato e de direito
que passa a expor:

I - PRELIMINARMENTE

Foram os presentes autos iniciados com o inquérito policial, a partir de portaria


firmada pelo Sr. Delegado de Polícia da Cidade de Chapecó/SC, para a apuração de uma
denuncia de roubo, ocorrido em agosto de 2012.
O digno representante do Ministério Público ofereceu denúncia de fls. 61/64.
baseado exclusivamente naquilo que tinha em mãos: um suposto roubo com posse de
revólver de brinquedo. E este, mal instruído e eivado de falhas, não permitiu naquela
oportunidade que visse a real face da verdade.
Senão vejamos:
No dia dos fatos a vítima afirmou aos policiais que atenderam a ocorrência, que
não manteve contato visual com o acusado pelo fato deste estar utilizando-se de capuz
para não haver o seu reconhecimento. Ainda afirmou que o acusado é dependente de
substâncias entorpecentes.
Entretanto é vedado ao julgador togado sentenciar sem a devida apresentação de
provas legais para a comprovação do ato ocorrido.
Neste sentido:

Levantada dúvida sobre a sanidade mental do acusado no curso


do processo, o juiz, sem dissipá-la através do incidente
respectivo, não pode sentenciar” (RT 590/405).

Portanto, torna-se impossível o julgamento do acusado sem que antes haja a


comprovação de sua dependência química no momento dos fatos ocorridos, conforme a
denuncia.
Assim, requer-se que seja sobrestado o feito, para o fim de instaurar-se o
incidente de responsabilidade penal, para apuração da capacidade de volição e cognição
do réu à época do fato.

II - DO MÉRITO

a) Atipicidade e Defectibilidade Probatória

Resta incerteza na autoria dos fatos por parte do acusado, afinal tudo se resumiu
a impressão empírica do depoimento da vítima, a qual, presumivelmente, em estado de
nervosismo, atestou, aleatoriamente, a descrição do réu, o que jamais poderá servir de
lastro à emissão de um juízo de valor adverso.
Para isso:

ROUBO. MAJORADO. EMPREGO DE ARMA E CONCURSO


DE AGENTES. INSUFICIÊNCIA PROBATÓRIA.
ABSOLVIÇÃO. A palavra da vítima depende de apoio no
demais da prova. Reconhecimento policial precário e dúbio.
PROVA INCONSISTENTE. Conjunto probatório insuficiente a
amparar a condenação dos apelantes. In dubio pro reo.
Absolvição que se impõe, com base no art. 386, IV, do Código
de Processo Penal. RECURSO PROVIDO. (Apelação Crime nº
70040421489, 5ª Câmara Criminal do TJRS, Rel. Aramis
Nassif. j. 09.02.2011, DJ 16.03.2011).

[...] a palavra da vítima não é absoluta, cedendo espaço,


quando isolada, no conjunto probatório, diante dos princípios
da presunção de inocência e do in dubio pro reo. É o caso dos
autos. [...] (Apelação nº 21154-7/2009, 1ª Câmara Criminal do
TJBA, Rel. Lourival Almeida Trindade. j. 01.09.2009).

Portanto, exige-se que as declarações prestadas sejam firmes, seguras e


coerentes, porem isso não teria ocorrido no depoimento pessoal da vítima, o que nada
mais é do que um princípio basilar do Processo Penal, qual seja, Busca da Verdade
Real.
Além do mais a prova apresentada nos autos, é completamente estéril e
infecunda para a denúncia, haja vista, que em nenhum momento conseguiu-se reunir
uma única voz, isenta e confiável, que depusesse contra o réu, no intuito de incriminá-lo
do delito que esta sendo erroneamente acusado.
Ainda, a condenação exige a certeza quanto à existência do fato e a autoria do
réu. Portando, se o conjunto probatório não é suficiente para esclarecer o fato,
remanescendo dúvida insuperável, torna-se justa a absolvição do acusado com
fundamento no artigo 386, VII, do Código de Processo Penal.
Neste sentido:

Sentença absolutória. Para a condenação do réu a prova há de


ser plena e convincente, ao passo que para a absolvição basta
a dúvida, consagrando-se o princípio do in dubio pro reo,
contido no art. 386, VI, do CPP (JUTACRIM, 72:26, Rel.
ÁLVARO CURY)

Assim sendo, todos os caminhos levam à absolvição do réu, frente a inexistência


de conjunto probatório, para operar e autorizar um juízo de censura contra o
denunciado.

b) Desclassificação: Roubo Para Furto Tentado

Para restar configurado o crime descrito no artigo 157 do Código Penal, é


necessária a comprovação da grave ameaça ou violência contra a vítima, o que
efetivamente não ocorreu.
Assim sendo, uma vez ausente o emprego de violência real contra a vítima, há a
desclassificação do delito de roubo para o de furto.
Neste sentido a jurisprudência:

Em caso de subtração de joia portada pela vítima, resultando lesão leve


no pescoço ou no braço desta, classifica-se no art. 155 se a vítima foi
atingida apenas por repercussão, pois a violência foi só contra a coisa...
(RT 608/352).

Ainda, o crime pelo qual o réu encontra-se acusado não passa de uma mera
tentativa, pois o mesmo foi encontrado a 04 (quatro) quadras do local do fato,
conduzido e preso na Delegacia de Polícia da Cidade de Chapecó/SC. Portanto, a vítima
não teve seu patrimônio abalado, uma vez que o bem subtraído pelo acusado fora-lhe
restituído.
Assim, encontra-se configurada a tentativa conforme nos traz o artigo 14, II, do
Código Penal.
III – DOS PEDIDOS

Diante do exposto, requer a vossa excelência:


a) Seja acolhida a preliminar, convertendo-se o julgamento em
diligência, instaurado-se o incidente de responsabilidade penal do réu, para apurar sua
capacidade de cognição e volição à época do fato, sobrestando-se o julgamento do feito;
b) No mérito, seja decretada a absolvição do réu, do delito a que
indevidamente fora acusado, nos termos do artigo 386, incisos III e IV, do Código de
Processo Penal;
c) Na condenação, seja desclassificado o delito trazido pela denúncia,
para o delito de furto em sua modalidade tentada, conforme o artigo 155, caput, e artigo
14, inciso II, do Código Penal, elegendo-se a fração de (2/3) dois terços a título de
minoração da reprimenda corporal e pecuniária;

Nestes Termos;
Pede Deferimento.

Chapecó/SC, 24 de Setembro de 2012.

__________________________
VERIDIANE CONCI
OAB/SC 11.111

__________________________
RODRIGO PAULO DALL AGNOL
OAB/SC 22.222

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