IV – O Modelo Garantista de Limitação do Poder Punitivo
4.1. A pena nas sociedades modernas: introdução Normas de conduta possuem coercitividade A sanção é o que diferencia o direito de outras instituições Relação entre constituição do poder político e a violência seriam, portanto, estreitas Max Weber e o monopólio do uso da força – Estado como única fonte do direito à violência Por ser um ato de violência, a sanção deve estar sempre centralizada em organismos determinados e limitada por regras Kelsen: “qual a diferença entre o Estado e um ‘bando de saqueadores’, ao utilizar-se da violência para privar outros de seus bens? => legitimidade do poder político Garantismo (heteropoiética) => essa legitimidade dá-se pelo vínculo aos DDHH, pois é centralizada a sua estrutura em torno da pessoa humana Legalismo (autopoiética) => validade das normas e das práticas estatais fundamentam-se exclusivamente no ordenamento jurídico Ferrajoli: o problema da legitimidade política e moral do DP como técnica de controle é a própria legitimidade do Estado como monopólio organizado da força
4.2. Esboço dos Modelos Justificacionistas da Ilustração
Estado Moderno => dominação racional legal, instrumentos de contenção do poder Impossível reunir todos os contratualistas penas sobre a interpretação do pacto social (a pena é a indenização pela ruptura obrigacional do contrato social)
4.2.1. Justificações retributivistas
Modelo mais primitivo => talião, mal retribuído com o mal Inspira-se, depois, no modelo indenizatório do inadimplemento contratual – o tempo surge como a sanção característica da modernidade, uma vez que o modelo inquisitorial fora ultrapassado Para Kant, a pena é um imperativo categórico que deve ser respeitado – a pena “ha de imponerse sólo porque há delinqüido”; “para que cada qual reciba lo que merecen SUS actos y El homicídio no recaiga sobre El pueblo que no há exigido este castigo” Kant: age segundo uma máxima tal que possas querer ao mesmo tempo que se torne ela universal + nunca alguém deve tratar a si mesmo e nem aos demais como simples meio, mas como fim em si mesmo => por isso, usar a pena para melhorar ou corrigir o homem é ilegítimo (imoral) => a pena tem por fim a imposição de um mal decorrente da violação de um dever jurídico, encontrando-se neste mal a sua devida proporção Modelo primitivo de vingança privada, encoberto por pressupostos de civilidade e legalidade Retributivismo Hegeliano se opõe: pena justificada pela necessidade de recompor o direito com uma violência correspondente àquela perpetrada contra o ordenamento jurídico Crime considerado como violação da ordem Ferrajoli critica: modelos que retomam expiação religiosa – direito penal se individualiza pela irreparabilidade do dano
4.2.2. O modelo intimidatório
O modelo penalógico que mais simbolizará a ilustração penal é o de Beccaria => as penas são os meios poderosos estabelecidos para manter o homem afastado do estado de natureza do qual abriu mão pelo pacto social Pena como pré-condição de vida em sociedade, preço a se pagar para impedir danos maiores Como o pacto funda-se na liberdade, só essa pode ser executada pela pena (ir, vir e permanecer) – Estado tem limites que não pode ultrapassar na esfera do indivíduo “Máximo de felicidade ao número máximo de pessoas” – o fim da pena não é atormentar ou infligir um ser sensível, nem desfazer um crime que já foi cometidos – fim intimidatório O exemplo aplicado ao infrator é necessário para constranger o corpo social a não praticar o mesmo ato – é mister escolher, pois, os meios que causem no espírito público a impressão mais eficaz e duradoura e, ao mesmo tempo, menos lesiva ao corpo do culpado Preocupava-se também, com a desigualdade e injustiças sociais como outros meios de gerar crimes Feuerbach => Estado não pode melhorar o indivíduo, porque tem como fim a tutela da liberdade Fundamento principal da pena seria a intimidação dos outros para que não cometam as condutas incriminadas Instituições jurídicas e políticas servem para proteger bens, antes ou depois de sua lesão – coerção física substituída pela psicológica Sua execução deveria ser certa perante os infrator e sociedade, sob pena de perder o seu caráter essencial – simbolismo Rompe com a tradição kantiana de que o homem não pode ser usado de instrumento aos fins do Estado Carrara => esse modelo de pena vai levar ao seu aumento constante para continuar intimidando Radbruch => ideia de terrorismo penal
4.2.3. A Perspectiva política de prevenção social
Marat => relação simétrica entre Estado e cidadão – direito de punir do Estado e direito de resistência do cidadão Violência rompe igualdade social A sanção só é justa quando o Estado age com o intuito de reduzir as diferenças e restabelecer as igualdades – o Estado tem uma co- responsabilidade pelo delito Meio correto a ser utilizado para correta observância das leis seria a distribuição equânime de riqueza e a educação das massas
4.3. A justificativa etiológica de prevenção especial: fundamentos e
programa político criminal Maioria sadia versus minoria desviante no pensamento etiológico Perspectiva etiológica é centrada no indivíduo, pois, se o novo objeto de investigação e intervenção da ciência criminal é o delinquente, o instrumento de resposta ao desvio punível deve nele ser operado – pena com perfil profilático, focada no tratamento do enfermo Pena com função redentora e despersonalizadora; medida de higienização social Tipologias delinqüenciais => maior ou menor propensão ao delito, características físicas e psíquicas e o tipo de crime cometido – avaliar o grau de periculosidade e facilitar o acerto no tratamento Pena tem que defender o agrupamento social e o próprio indivíduo como partícipe da sociedade Deveria ser discricionário o tempo de duração da sanção terapêutica – juiz só declarava a culpabilidade do acusado, pena indeterminada Definição da personalidade do agente fundamenta os prognósticos sobre a reincidência e os juízos de periculosidade que atuarão na dosimetria e na execução da sanção A periculosidade é um conceito aberto e sem sentido objetivo, resíduo etiológico, que está encoberto na aplicação judicial pelos termos personalidade e conduta social, representando um juízo futuro e incerto sobre condutas de impossível determinação probabilística => extremo oposto do princípio da presunção de inocência Avaliações da personalidade do réu na dosimetria são oriundos da noção profilática
4.4. A crítica garantista ao modelo periculosista e à subjetivação
processual Ferrajoli: existem 2 modelos antigarantistas – sem culpabilidade (taliônico) e substancialistas (voltados à repressão de condutas e/ou meros estados particulares) Etiológico se enquadra no substancialista, embora ambos os tipos prescindam da lesão de bens jurídicos, pois, ou reprimem antecipadamente a simples possibilidade de perigo, ou penalizam puramente o desvalor social e político da ação Para ele, isso feriria a legalidade, pois torna arbitrários os critérios de avaliação de anormalidade e periculosidade Advoga que a interioridade de um homem não deve servir para o direito penal, senão para avaliar o grau de culpabilidade das suas ações criminosas Periculosidade, capacidade criminal, reincidência, tendência a delinquir, imoralidade e semelhantes – não encontrariam abrigo no modelo garantista essas tipologias subjetivas São decisões arbitrárias desvinculadas de qualquer parâmetro processual válido, inclusive atentando contra o princípio da presunção de inocência, ao conferir poder de polícia à acusação pública Impossibilidade empírica de experimentação das tipologias subjetivas Conceitos abertos que ferem a taxatividade do DP – formam um “second code”, ou seja, mecanismos extra-oficiais que passam a interferir na decisão dos aplicadores do direito Pune-se a pessoa pelo que ela é, e não pelo que ela fez Projeto político-social antidemocrático, visando à profilaxia social – quem comete delito é delinquente, uma anomalia social Conceito de ressocialização é tão indeterminado quanto as tipologias subjetivas Ideia de que o indivíduo pode ser “curado” através da pena, por ser o crime uma patologia social, pressupõe aproximação entre direito e natureza (moral) – isso se aproxima dos modelos mais antiliberais e antigarantistas já concebidos Carrara: “a aparente filantropia degenera em um inócuo despotismo” quando se utiliza de meios violentos [a pena] para melhorar os indivíduos
4.5. O garantismo e a negação da legitimidade jurídica da pena
4.5.1. Da necessidade de uma teoria da pena Zaffaroni: indaga se 1) é possível o juiz tomar decisões sem ter uma justificação da pena; 2) é possível o professor ensinar o DP sem uma ‘teoria da pena’ que a justifique racionalmente 1) seria mais simples, pois o juiz pode aplicar a pena de maneira intuitiva, tendo em vista os princípios penais liberais e constitucionais republicanos; 2) seria mais complexo Para o autor, reduzir dor e sofrimento seria o único motivo de justificação da pena nas atuais condições em que é exercida, principalmente nos países periféricos Desnecessária uma teoria da pena – retomar princípios liberais para salvar vidas, diminuir desigualdades, evitar sofrimento... Se o sistema penal é um mero fato de poder, a pena não pode pretender nenhuma racionalidade, ou seja, não pode ser explicada a não ser como manifestação de poder – “pena é manifestação fática, em essência política, isenta de qualquer fundamentação jurídica racional” Ferrajoli responde a isso: todas as teorias da pena seriam antiliberais devido à sua finalidade de Defesa Social – máxima utilidade aos não desviantes e ignorados os desviantes Os discursos de justificação das penas servem como mecanismo deslegitimador das normas, institutos e práticas penais e processuais penais, principalmente na América Latina, onde o respeito à legalidade sempre foi inexistente Uma nova compreensão da pena como fenômeno de poder seria possível pela minimização do sofrimento + negação da violência privada emotiva e desproporcional ilegítima – deslocamento do problema da esfera jurídica para a política, direito limita esta A pena é um conceito político, exercício de poder Atualizando essas ideias, propõe-se uma forma jurídica de pena, entendida como técnica institucional de minimização da reação violenta ao desvio socialmente não tolerado, e da garantia do indiciado contra os arbítrios, os excessos e os erros comuns em sistemas a-jurídicos de controle social
4.5.2. A proposta garantista de limitação do poder punitivo
Tobias Barreto: como a pena é um conceito político, o direito deve estabelecer freios a essa sanção – critérios de limitação do poder penal Ferrajoli propõe o “utilitarismo reformado” => “máxima felicidade possível para a maioria não desviante e mínimo sofrimento necessário para a minoria desviante.” Em segundo lugar, ele se indaga ‘por que castigar?’ As teorias tradicionais atribuem a isso a função reparadora, retributiva e de prevenção geral e especial – o autor afirma, então, que deve haver uma rígida separação entre moral e direito + relação simétrica entre meios e fins penais Fundamenta o seu plano de pena mínima necessária concebendo-a não só como prevenção aos injustos delitos, mas, também, como esquema normativo de prevenção à reação informal, arbitrária e selvagem que existiria se não houvesse penas – pena como guardiã do direito de o infrator ser punido apenas pelo Estado e de maneira razoável; direito e processo penal voltados não à tutela social, mas à proteção do indivíduo face à violência arbitrária operada pela vítima ou pelas forças solidárias a ela Garantias penas e processuais visam à menor violência contra o delinquente - reduzir ao máximo a previsão de crimes, o arbítrio dos juízes e o tormento das penas Negação da guerra e proteção do mais fraco Afirma que isso alia-se à democracia, no sentido de que nega a vontade ilimitada da maioria e protege o mais fraco Garantismo, portanto, significa a “a tutela dos valores ou direitos fundamentais cuja satisfação, ainda contra os interesses da maioria, é o fim justificante do direito penal: a imunidade dos cidadãos contra a arbitrariedade das proibições e das punições, a defesa dos fracos mediante regras do jogo iguais para todos, a dignidade da pessoa do imputado e, portanto, a garantia da sua liberdade através do respeito pela sua verdade.” Pena, portanto, é instrumento político de negação da vingança, um limite ao poder punitivo; o mal menor face às possibilidades de reação se ela inexistisse Modelo penal que nega qualquer instrumento de guerra (amigo/inimigo) e que estrutura-se na tolerância – vê a pessoa como fim em si mesma, que deve ser respeitada apesar de e justamente por ser diversa Seria um avanço na busca de padrões mais civilizados pela sociedade, que tem de buscar estabelecer limites para os instintos agressivos do homem
Cap. V – Os sistemas de execução e o Garantismo Penal
5.1. Valores e Princípios penalógico-constitucionais 5.1.1. O condenado e o status ‘apátrida’ Beccaria afirmava que o desviante deveria ser excluído da sociedade (exílio local); que poderia ter todos os seus bens confiscados por ter rompidos os seus laços com a sociedade; seria a morte política Percorre os caminhos de Rousseau – rompeu o tratado social, não sendo mais, portanto, membro do Estado Celso Lafer questiona como desvincular os direitos fundamentais do status de cidadão Ele chama os desviantes de ‘apátridas’, pois eles seriam vistos como tendo perdido a conexão com a ordem jurídica interna do Estado – isso seria a sua ‘morte civil’ – esses sujeitos tornariam-se descartáveis Não existem mais leis para eles, pois não são mais contemplados por uma comunidade política que os veja como sujeitos de direito com direitos e deveres, perde o direito à jurisdição
5.1.2. As instituições totais e a Constituição de 1988
Autores da literatura afirmam que as penitenciárias são modelos totalitários (como democratizar o que é totalitário por natureza?), como sociedades à parte com controle total dos seus indivíduos Local de incapacidade de concretização de direito à legalidade Catão e Sussekind afirmam que a prisão não pode constituir território no qual as normas constitucionais não tenham validade Indagam sobre o respeito à validade e a eficácia das normas constitucionais + efetividade do processo de execução penal como garante de direitos do apenado A sentença é uma declaração de não-cidadania, pois o apenado ingressa num local desprovido de garantias – de competência da administração, que é inquisitiva Contra isso, surgiu uma corrente que pregava a atuação jurisdicional também na execução penal, que gerou a reforma da Lei de Execução penal de 1984 Somente com a CF/88 isso adquiriu feição constitucional – introduziu direitos dos presos, rompendo com a lógica belicista que tornava o sujeito condenado mero objeto nas mãos da administração pública Fundamental avaliar a capacidade de a LEP efetivar direitos fundamentais contra os poderes irracionais – as críticas quanto ao seu descumprimento dirigem-se falaciosamente contra a administração Apesar das falhas da LEP, ela possui instrumentos a serem utilizados pelo aplicador do direito para garantir a dignidade humana do preso – para tanto, deve ser vista a CF/88 como rígido instrumento de legitimação ou deslegitimação das normas ordinárias
5.1.3. Valores constitucionais informadores
CF/88 => prevalência dos direitos humanos, cidadania e dignidade da pessoa humana como pilar DDHH como fonte externa de legitimação do DP, hoje em dia Estatutos constitucionais positivaram grande parte dos valores humanitários que são pilares no processo de construção do modelo jurídico de garantias DPH – sujeito deve ter reconhecida sua personalidade em qualquer lugar que se encontre, alcançando status de sujeito de direitos (Cairoli Martinez) A dignidade nasce com a pessoa e é patrimônio indisponível e intransferível – valor diluído nas normas concretas A concretização da DPH representa a função primordial do Estado, e sua lesão legitima, inclusive, a resistência
5.1.4. Princípios constitucionais informadores
Valores humanistas são concretizados nos princípios constitucionais, que, por sua vez, condicionam a legislação Principio da secularização – rompimento do direito com a moral, garantia metejurídica (Zaffaroni) Salo de Carvalho afirma, porém, que esse princípio está incorporado, na CF, em incisos do art. 5º (inviolabilidade da intimidade, respeito à vida privada, liberdade de crença e religião, livre manifestação) – pedra angular da democracia, requisito de validade do sistema – tutelar a livre determinação do indivíduo, assegurar a diversidade, a tolerância e o pluralismo Isso exige que o juiz não verse sobre moralidade, caráter ou aspectos substancias da personalidade + DP impede apenas condutas danosas a bens jurídicos => DP sem fins morais (cidadão tem direito de ser interiormente perverso, pois tem o dever jurídico de não cometer delitos
5.1.5. Princípios penalógico-constitucionais
CF/88 estabeleceu vínculos referentes à pena e ao seu modo de execução Limitou a espécie de sanção, o sujeito a ser sancionado, restringiu tipos de pena, limitou destinatários, taxou possibilidades de sanção, limitou formas de cumprimento da pena, diferenciações de gênero nos estabelecimentos Direitos inalienáveis e indisponíveis dos presos Direitos políticos suspensos somente enquanto durar a sanção penal Dificuldade de adaptar o ‘bom direito’ à realidade jurisprudencial “Se é verdade que o sistema jurídico por si só não pode garantir nada, não se pode afirmar que o jurista nada possa fazer para otimizar o modelo de garantias – juiz deve dar eficácia às normas, gerando práticas de defesa dos DDFF”
5.1.6. A constituição penal e a restrição de DDFF do preso
Constitucionalização do direito penal e processual penal estabeleceu limites ao poder repressivo Há também clausulas de anseios punitivos Racismo, crimes hediondos, ação de grupos armados, terrorismo – natureza retributiva Disposição sobre perda de direitos políticos é autoritária – torna-se apátrida, tira-lhe a cidadania (indaga qual a relação entre uma coisa e outra, propõe rever tal dispositivo constitucional)
5.2. Sistemas de Execução Penal
5.2.1. Sistemas de execução penal: escorço histórico Função adm =/= função jurisdicional (age esponteamente x age quando provocado) Autor entende a execução da pena como função adm., pois atua o Estado com poder soberano Incidentes de execução alteram a sentença – adm. monitora as massas carcerárias e POJUD concede benesses
5.2.2. O sistema de execução instituído pela LEP
Execução penal tem ampla discricionariedade – determinar as regras disciplinares do condenado na vida da prisão Os princípios norteadores disciplina e ordem têm gerado alta arbitrariedade LEP tentativa de barrar a violação de direitos pela ADM – dar eficácia ao princípio da legalidade e aos DDFF dos reclusos 5.2.3. Princípios relativos aos sistemas processuais e o diagnóstico do processo de execução penal brasileiro Modelo inquisitorial é aquele no qual o juiz é ator na gestão da produção probatória; enquanto que, no modelo acusatório, juiz é espectador, pois cabe as partes essa função Autor afirma que o Brasil escolheu a opção inquisitorial para a execução, grande causa do fracasso da LEP – juiz que toma e mantém a iniciativa da execução da pena Defende que o juiz passe a ser mero espectador, privilegiando o devido processo penal
5.3. Direitos VS Disciplina: o controle do indivíduo e da massa
carcerária Pena aplicada no limite da sentença e com função ressocializadora Preso tem direitos enquanto cidadão, ainda; porém, na prática, a disciplina se sobrepõe aos direitos
5.3.1. Fundamentos ideológicos da LEP e suas conseqüências
normativas A pedagogia ressocializadora tem concepção meritocrática Avaliação subjetiva sobre a personalidade do delinqüente, com a ideia de prevenir reincidência do crime – crítica => sem critérios objetivos Sistema de classificação e observação dos condenados, sistema de sanções e recompensas disciplinares, progressão e regressão de regime, etc
5.3.2. A retórica disciplinar
Disciplina como forma geral de dominação (Foucalt), intuito de adestramento Vigilância hierárquica, sanção normalizadora, exame técnico A crítica é de que os modelos de ressocialização impõem parâmetros de conduta que pertencem a outras classes sociais, que gera a perda de identidade do apenado => antigarantista 5.3.3. O controle da identidade do preso: discurso oficial Comissão Técnica de Classificação (CTC) => avalia cotidiano dos presos, propõe regressão ou progressão de regime Centro de Observação Criminológica (COC) => realiza exames periciais com intuito de auxiliar; prognósticos de não delinqüência para condicional (aspecto subjetivo)
5.3.4. Controle de identidade do preso: laudos e perícias, funções reais
Inquisitoriais, subjetivos e arbitrários, não há contraditório É impessoal e possui grande poder sobre o juiz Viola o princípio da liberdade do liberalismo e o direito penal do ato, e não do autor
5.3.5. O controle da massa carcerária: regime meritocrático
Faltas leves, médias e graves, natureza administrativa Só fica o POJUD sabendo quando elas interferem em incidentes de execução Crítica – ocorre uma aculturação desses presos, que são padronizados de acordo com valores morais que não são os mesmo da origem daqueles presos => segurança e disciplina extrapolam direitos
5.4. Garantismo e execução penal: proposições
As incompatibilidades funcionais da execução penal são históricas => interesses do Príncipe em punir x interesse processual de limitar o poder do Príncipe Tensão direito penitenciário x direito processual Ferrajoli afirma que a violência das penas superou a própria violência dos delitos (violência lógica e programada friamente x violência impulsiva e ocasional) A função do garantismo é instrumentalizar medidas que satisfaçam DDFF, para reduzir essa dor das classes punidas, por meio da constitucionalização do DP 5.4.1. A volatilidade da pena Sistema progressivo solidifica-se – permite alteração do tempo e do modo de execução da pena Carnelutti => pena como recuperadora do espírito do homem Reformas de 1980 => a pena cumprida não é, necessariamente, a pena estabelecida na sentença – dependência exclusiva da conduta e das condições do condenado Intenção do sistema é reeducar A alteração da coisa julgada na esfera executiva é intrínseca ao projeto corrrecionalista – a sentença só se mantém se as coisas estiverem no mesmo pé – influência de fatos que não existiam quando da condenação e de fatos futuros imprevisíveis (comportamento carcerário e previsão de reincidência) – tradição ETIOLÓGICA, INQUISITÓRIA Este poder ilimitado do Estado, mediante laudos e perícias, avaliar o “estado perigoso”, o arrependimento e a boa ou má conduta do preso reduz a pessoa a uma coisa, ofendendo a sua dignidade Essa flexibilidade da pena significa também a flexibilização dos seus pressupostos – dissolução das garantias processuais O autor acredita na coisa julgada como DDFF, sustentando um modelo de execução da pena com teto quantitativo e qualitativo (tempo de pena e forma de regime) individualizado Defende a impossibilidade de regressão de regime e a ilegitimidade dos discursos disciplinar e criminológica, pois são subjetivos Propõe o fim do modelo meritocrático, que admite a porosidade da coisa julgada penal, defendendo que as sanções disciplinares não penalizem mais ainda os réus
5.4.2. As relações entre os discursos disciplinar e jurídico: processo
penal e procedimentos executivos Defende que os PAD’s seguem um rito inquisitório, sem garantias processuais como ampla defesa e contraditório – sustenta a necessidade de jurisdicionalização das faltas graves, no mínimo, para que existisse controle judicial constante de tais atos As sanções disciplinares irradiam efeitos na esfera jurídica – regressão, revoga saídas temporárias, anula tempo de remição, etc O mesmo fato estaria gerando efeitos em 2 esferas (adm e penal) – ne bis in idem Punições adm. desrespeitam o princípio da legalidade com conceitos abertos – abuso de poder
5.4.3. A função dos técnicos (criminólogos)
Enquanto no plano processual, a valoração é dos fatos, o aspecto criminológico valoriza a interioridade da pessoa (muito conteúdo moral e pouca cientificidade) Consolidação de estereótipos que destroem as garantias dos presos Deveriam ter como função a redução de danos, e não a sua estigmatização Inconcebível obrigar o sujeito ao tratamento, violação da DPH O tratamento é sempre um direito do indivíduo, e não um dever
5.4.4. O controle do tempo das decisões judiciais: resolução ficta
POJUD muito moroso para atender pedidos dos presos Chega a ser causa de motins e rebeliões Descumpre o Pacto de San José Dá exemplo da legislação paraguaia, que define que, se o POJUD não julga o recurso no tempo adequado, considera-se concedida a liberdade Propõe, portanto, a reforma da legislação penal nesse sentido
5.4.5. Da necessidade de recodificação
Ruptura entre estruturas do processo penal de conhecimento e de execução gera déficit na tutela de DDFF A descodificação do sistema executivo gerou desarmonia e incoerência Execução de pena desvinculada das garantias processuais, irracional, primitiva Total desregulamentação da matéria – direitos dos presos submetidos aos laudos técnicos e procedimentos disciplinares
5.4.6. A cominação penal em abstrato
Muitos países com pena máxima de reclusão inferior (20, 15, 10 anos) Afirma ser perversa a pena longa, pois a sociedade que havia reivindicado essa pena já não é a mesma, nem o homem condenado, totalmente modificado pelo enclausuramento, o é Minimização das penas em sede legislativa seria redução de custo sociais e de danos Defende a inexistência de piso mínimo
5.4.7. A responsabilização dos agentes públicos pela violação dos
DDFF dos apenados Afirma que a eficácia do modelo garantista só ocorrerá quando o POJUD exigir comissivamente atos do POEXE para que respeita a dignidade dos presos Zaffaroni sugere a responsabilização funcional e penal dos juízes por negligencia na vigilância dos estabelecimentos Lenio Streck afirma ser o POJUD o meio de concretizar direitos ignorados pelo POEXE e POLEG