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Cap.

IV – O Modelo Garantista de Limitação do Poder Punitivo


4.1. A pena nas sociedades modernas: introdução
 Normas de conduta possuem coercitividade
 A sanção é o que diferencia o direito de outras instituições
 Relação entre constituição do poder político e a violência seriam,
portanto, estreitas
 Max Weber e o monopólio do uso da força – Estado como única fonte do
direito à violência
 Por ser um ato de violência, a sanção deve estar sempre centralizada
em organismos determinados e limitada por regras
 Kelsen: “qual a diferença entre o Estado e um ‘bando de saqueadores’,
ao utilizar-se da violência para privar outros de seus bens? => legitimidade do
poder político
 Garantismo (heteropoiética) => essa legitimidade dá-se pelo vínculo
aos DDHH, pois é centralizada a sua estrutura em torno da pessoa humana
 Legalismo (autopoiética) => validade das normas e das práticas
estatais fundamentam-se exclusivamente no ordenamento jurídico
 Ferrajoli: o problema da legitimidade política e moral do DP como
técnica de controle é a própria legitimidade do Estado como monopólio
organizado da força

4.2. Esboço dos Modelos Justificacionistas da Ilustração


 Estado Moderno => dominação racional legal, instrumentos de
contenção do poder
 Impossível reunir todos os contratualistas penas sobre a interpretação
do pacto social (a pena é a indenização pela ruptura obrigacional do contrato
social)

4.2.1. Justificações retributivistas


 Modelo mais primitivo => talião, mal retribuído com o mal
 Inspira-se, depois, no modelo indenizatório do inadimplemento
contratual – o tempo surge como a sanção característica da modernidade,
uma vez que o modelo inquisitorial fora ultrapassado
 Para Kant, a pena é um imperativo categórico que deve ser
respeitado – a pena “ha de imponerse sólo porque há delinqüido”; “para que
cada qual reciba lo que merecen SUS actos y El homicídio no recaiga sobre El
pueblo que no há exigido este castigo”
 Kant: age segundo uma máxima tal que possas querer ao mesmo
tempo que se torne ela universal + nunca alguém deve tratar a si mesmo e
nem aos demais como simples meio, mas como fim em si mesmo => por isso,
usar a pena para melhorar ou corrigir o homem é ilegítimo (imoral) => a
pena tem por fim a imposição de um mal decorrente da violação de
um dever jurídico, encontrando-se neste mal a sua devida proporção
 Modelo primitivo de vingança privada, encoberto por pressupostos
de civilidade e legalidade
 Retributivismo Hegeliano se opõe: pena justificada pela necessidade
de recompor o direito com uma violência correspondente àquela perpetrada
contra o ordenamento jurídico
 Crime considerado como violação da ordem
 Ferrajoli critica: modelos que retomam expiação religiosa – direito
penal se individualiza pela irreparabilidade do dano

4.2.2. O modelo intimidatório


 O modelo penalógico que mais simbolizará a ilustração penal é o de
Beccaria => as penas são os meios poderosos estabelecidos para manter o
homem afastado do estado de natureza do qual abriu mão pelo pacto social
 Pena como pré-condição de vida em sociedade, preço a se pagar
para impedir danos maiores
 Como o pacto funda-se na liberdade, só essa pode ser executada
pela pena (ir, vir e permanecer) – Estado tem limites que não pode
ultrapassar na esfera do indivíduo
 “Máximo de felicidade ao número máximo de pessoas” – o fim da
pena não é atormentar ou infligir um ser sensível, nem desfazer um
crime que já foi cometidos – fim intimidatório
 O exemplo aplicado ao infrator é necessário para constranger o
corpo social a não praticar o mesmo ato – é mister escolher, pois, os meios
que causem no espírito público a impressão mais eficaz e duradoura e, ao
mesmo tempo, menos lesiva ao corpo do culpado
 Preocupava-se também, com a desigualdade e injustiças sociais
como outros meios de gerar crimes
 Feuerbach => Estado não pode melhorar o indivíduo, porque tem
como fim a tutela da liberdade
 Fundamento principal da pena seria a intimidação dos outros
para que não cometam as condutas incriminadas
 Instituições jurídicas e políticas servem para proteger bens, antes ou
depois de sua lesão – coerção física substituída pela psicológica
 Sua execução deveria ser certa perante os infrator e sociedade, sob
pena de perder o seu caráter essencial – simbolismo
 Rompe com a tradição kantiana de que o homem não pode ser
usado de instrumento aos fins do Estado
 Carrara => esse modelo de pena vai levar ao seu aumento
constante para continuar intimidando
 Radbruch => ideia de terrorismo penal

4.2.3. A Perspectiva política de prevenção social


 Marat => relação simétrica entre Estado e cidadão – direito de
punir do Estado e direito de resistência do cidadão
 Violência rompe igualdade social
 A sanção só é justa quando o Estado age com o intuito de reduzir
as diferenças e restabelecer as igualdades – o Estado tem uma co-
responsabilidade pelo delito
 Meio correto a ser utilizado para correta observância das leis seria
a distribuição equânime de riqueza e a educação das massas

4.3. A justificativa etiológica de prevenção especial: fundamentos e


programa político criminal
 Maioria sadia versus minoria desviante no pensamento etiológico
 Perspectiva etiológica é centrada no indivíduo, pois, se o novo
objeto de investigação e intervenção da ciência criminal é o delinquente, o
instrumento de resposta ao desvio punível deve nele ser operado – pena com
perfil profilático, focada no tratamento do enfermo
 Pena com função redentora e despersonalizadora; medida de
higienização social
 Tipologias delinqüenciais => maior ou menor propensão ao delito,
características físicas e psíquicas e o tipo de crime cometido – avaliar o grau
de periculosidade e facilitar o acerto no tratamento
 Pena tem que defender o agrupamento social e o próprio indivíduo
como partícipe da sociedade
 Deveria ser discricionário o tempo de duração da sanção
terapêutica – juiz só declarava a culpabilidade do acusado, pena
indeterminada
 Definição da personalidade do agente fundamenta os
prognósticos sobre a reincidência e os juízos de periculosidade que
atuarão na dosimetria e na execução da sanção
 A periculosidade é um conceito aberto e sem sentido objetivo,
resíduo etiológico, que está encoberto na aplicação judicial pelos termos
personalidade e conduta social, representando um juízo futuro e incerto sobre
condutas de impossível determinação probabilística => extremo oposto do
princípio da presunção de inocência
 Avaliações da personalidade do réu na dosimetria são
oriundos da noção profilática

4.4. A crítica garantista ao modelo periculosista e à subjetivação


processual
 Ferrajoli: existem 2 modelos antigarantistas – sem culpabilidade
(taliônico) e substancialistas (voltados à repressão de condutas e/ou meros
estados particulares)
 Etiológico se enquadra no substancialista, embora ambos os tipos
prescindam da lesão de bens jurídicos, pois, ou reprimem antecipadamente a
simples possibilidade de perigo, ou penalizam puramente o desvalor social e
político da ação
 Para ele, isso feriria a legalidade, pois torna arbitrários os critérios
de avaliação de anormalidade e periculosidade
 Advoga que a interioridade de um homem não deve servir para o
direito penal, senão para avaliar o grau de culpabilidade das suas ações
criminosas
 Periculosidade, capacidade criminal, reincidência, tendência a
delinquir, imoralidade e semelhantes – não encontrariam abrigo no modelo
garantista essas tipologias subjetivas
 São decisões arbitrárias desvinculadas de qualquer parâmetro
processual válido, inclusive atentando contra o princípio da presunção de
inocência, ao conferir poder de polícia à acusação pública
 Impossibilidade empírica de experimentação das tipologias
subjetivas
 Conceitos abertos que ferem a taxatividade do DP – formam um
“second code”, ou seja, mecanismos extra-oficiais que passam a interferir na
decisão dos aplicadores do direito
 Pune-se a pessoa pelo que ela é, e não pelo que ela fez
 Projeto político-social antidemocrático, visando à profilaxia social –
quem comete delito é delinquente, uma anomalia social
 Conceito de ressocialização é tão indeterminado quanto as
tipologias subjetivas
 Ideia de que o indivíduo pode ser “curado” através da pena, por
ser o crime uma patologia social, pressupõe aproximação entre direito e
natureza (moral) – isso se aproxima dos modelos mais antiliberais e
antigarantistas já concebidos
 Carrara: “a aparente filantropia degenera em um inócuo
despotismo” quando se utiliza de meios violentos [a pena] para melhorar os
indivíduos

4.5. O garantismo e a negação da legitimidade jurídica da pena


4.5.1. Da necessidade de uma teoria da pena
 Zaffaroni: indaga se 1) é possível o juiz tomar decisões sem ter
uma justificação da pena; 2) é possível o professor ensinar o DP sem uma
‘teoria da pena’ que a justifique racionalmente
 1) seria mais simples, pois o juiz pode aplicar a pena de maneira
intuitiva, tendo em vista os princípios penais liberais e constitucionais
republicanos; 2) seria mais complexo
 Para o autor, reduzir dor e sofrimento seria o único motivo de
justificação da pena nas atuais condições em que é exercida, principalmente
nos países periféricos
 Desnecessária uma teoria da pena – retomar princípios liberais
para salvar vidas, diminuir desigualdades, evitar sofrimento...
 Se o sistema penal é um mero fato de poder, a pena não pode
pretender nenhuma racionalidade, ou seja, não pode ser explicada a não ser
como manifestação de poder – “pena é manifestação fática, em essência
política, isenta de qualquer fundamentação jurídica racional”
 Ferrajoli responde a isso: todas as teorias da pena seriam
antiliberais devido à sua finalidade de Defesa Social – máxima utilidade aos
não desviantes e ignorados os desviantes
 Os discursos de justificação das penas servem como mecanismo
deslegitimador das normas, institutos e práticas penais e processuais penais,
principalmente na América Latina, onde o respeito à legalidade sempre foi
inexistente
 Uma nova compreensão da pena como fenômeno de poder seria
possível pela minimização do sofrimento + negação da violência privada
emotiva e desproporcional ilegítima – deslocamento do problema da esfera
jurídica para a política, direito limita esta
 A pena é um conceito político, exercício de poder
 Atualizando essas ideias, propõe-se uma forma jurídica de pena,
entendida como técnica institucional de minimização da reação violenta ao
desvio socialmente não tolerado, e da garantia do indiciado contra os arbítrios,
os excessos e os erros comuns em sistemas a-jurídicos de controle social

4.5.2. A proposta garantista de limitação do poder punitivo


 Tobias Barreto: como a pena é um conceito político, o direito deve
estabelecer freios a essa sanção – critérios de limitação do poder penal
 Ferrajoli propõe o “utilitarismo reformado” => “máxima felicidade
possível para a maioria não desviante e mínimo sofrimento necessário para a
minoria desviante.”
 Em segundo lugar, ele se indaga ‘por que castigar?’
 As teorias tradicionais atribuem a isso a função reparadora,
retributiva e de prevenção geral e especial – o autor afirma, então, que deve
haver uma rígida separação entre moral e direito + relação simétrica entre
meios e fins penais
 Fundamenta o seu plano de pena mínima necessária
concebendo-a não só como prevenção aos injustos delitos, mas,
também, como esquema normativo de prevenção à reação informal,
arbitrária e selvagem que existiria se não houvesse penas – pena
como guardiã do direito de o infrator ser punido apenas pelo Estado e
de maneira razoável; direito e processo penal voltados não à tutela
social, mas à proteção do indivíduo face à violência arbitrária operada
pela vítima ou pelas forças solidárias a ela
 Garantias penas e processuais visam à menor violência contra o
delinquente - reduzir ao máximo a previsão de crimes, o arbítrio dos juízes e o
tormento das penas
 Negação da guerra e proteção do mais fraco
 Afirma que isso alia-se à democracia, no sentido de que nega a
vontade ilimitada da maioria e protege o mais fraco
 Garantismo, portanto, significa a “a tutela dos valores ou
direitos fundamentais cuja satisfação, ainda contra os interesses da
maioria, é o fim justificante do direito penal: a imunidade dos
cidadãos contra a arbitrariedade das proibições e das punições, a
defesa dos fracos mediante regras do jogo iguais para todos, a
dignidade da pessoa do imputado e, portanto, a garantia da sua
liberdade através do respeito pela sua verdade.”
 Pena, portanto, é instrumento político de negação da
vingança, um limite ao poder punitivo; o mal menor face às
possibilidades de reação se ela inexistisse
 Modelo penal que nega qualquer instrumento de guerra
(amigo/inimigo) e que estrutura-se na tolerância – vê a pessoa como fim em
si mesma, que deve ser respeitada apesar de e justamente por ser diversa
 Seria um avanço na busca de padrões mais civilizados pela
sociedade, que tem de buscar estabelecer limites para os instintos agressivos
do homem

Cap. V – Os sistemas de execução e o Garantismo Penal


5.1. Valores e Princípios penalógico-constitucionais
5.1.1. O condenado e o status ‘apátrida’
 Beccaria afirmava que o desviante deveria ser excluído da
sociedade (exílio local); que poderia ter todos os seus bens confiscados por ter
rompidos os seus laços com a sociedade; seria a morte política
 Percorre os caminhos de Rousseau – rompeu o tratado social, não
sendo mais, portanto, membro do Estado
 Celso Lafer questiona como desvincular os direitos fundamentais
do status de cidadão
 Ele chama os desviantes de ‘apátridas’, pois eles seriam vistos
como tendo perdido a conexão com a ordem jurídica interna do Estado – isso
seria a sua ‘morte civil’ – esses sujeitos tornariam-se descartáveis
 Não existem mais leis para eles, pois não são mais contemplados
por uma comunidade política que os veja como sujeitos de direito com direitos
e deveres, perde o direito à jurisdição

5.1.2. As instituições totais e a Constituição de 1988


 Autores da literatura afirmam que as penitenciárias são modelos
totalitários (como democratizar o que é totalitário por natureza?), como
sociedades à parte com controle total dos seus indivíduos
 Local de incapacidade de concretização de direito à legalidade
 Catão e Sussekind afirmam que a prisão não pode constituir
território no qual as normas constitucionais não tenham validade
 Indagam sobre o respeito à validade e a eficácia das normas
constitucionais + efetividade do processo de execução penal como garante de
direitos do apenado
 A sentença é uma declaração de não-cidadania, pois o apenado
ingressa num local desprovido de garantias – de competência da
administração, que é inquisitiva
 Contra isso, surgiu uma corrente que pregava a atuação
jurisdicional também na execução penal, que gerou a reforma da Lei de
Execução penal de 1984
 Somente com a CF/88 isso adquiriu feição constitucional –
introduziu direitos dos presos, rompendo com a lógica belicista que tornava o
sujeito condenado mero objeto nas mãos da administração pública
 Fundamental avaliar a capacidade de a LEP efetivar direitos
fundamentais contra os poderes irracionais – as críticas quanto ao seu
descumprimento dirigem-se falaciosamente contra a administração
 Apesar das falhas da LEP, ela possui instrumentos a serem
utilizados pelo aplicador do direito para garantir a dignidade humana do preso
– para tanto, deve ser vista a CF/88 como rígido instrumento de legitimação
ou deslegitimação das normas ordinárias

5.1.3. Valores constitucionais informadores


 CF/88 => prevalência dos direitos humanos, cidadania e dignidade
da pessoa humana como pilar
 DDHH como fonte externa de legitimação do DP, hoje em dia
 Estatutos constitucionais positivaram grande parte dos valores
humanitários que são pilares no processo de construção do modelo jurídico de
garantias
 DPH – sujeito deve ter reconhecida sua personalidade em qualquer
lugar que se encontre, alcançando status de sujeito de direitos (Cairoli
Martinez)
 A dignidade nasce com a pessoa e é patrimônio indisponível e
intransferível – valor diluído nas normas concretas
 A concretização da DPH representa a função primordial do Estado,
e sua lesão legitima, inclusive, a resistência

5.1.4. Princípios constitucionais informadores


 Valores humanistas são concretizados nos princípios
constitucionais, que, por sua vez, condicionam a legislação
 Principio da secularização – rompimento do direito com a
moral, garantia metejurídica (Zaffaroni)
 Salo de Carvalho afirma, porém, que esse princípio está
incorporado, na CF, em incisos do art. 5º (inviolabilidade da intimidade,
respeito à vida privada, liberdade de crença e religião, livre manifestação) –
pedra angular da democracia, requisito de validade do sistema – tutelar a livre
determinação do indivíduo, assegurar a diversidade, a tolerância e o
pluralismo
 Isso exige que o juiz não verse sobre moralidade, caráter ou
aspectos substancias da personalidade + DP impede apenas condutas
danosas a bens jurídicos => DP sem fins morais (cidadão tem direito de ser
interiormente perverso, pois tem o dever jurídico de não cometer delitos

5.1.5. Princípios penalógico-constitucionais


 CF/88 estabeleceu vínculos referentes à pena e ao seu modo de
execução
 Limitou a espécie de sanção, o sujeito a ser sancionado, restringiu
tipos de pena, limitou destinatários, taxou possibilidades de sanção, limitou
formas de cumprimento da pena, diferenciações de gênero nos
estabelecimentos
 Direitos inalienáveis e indisponíveis dos presos
 Direitos políticos suspensos somente enquanto durar a sanção
penal
 Dificuldade de adaptar o ‘bom direito’ à realidade jurisprudencial
 “Se é verdade que o sistema jurídico por si só não pode garantir
nada, não se pode afirmar que o jurista nada possa fazer para otimizar o
modelo de garantias – juiz deve dar eficácia às normas, gerando práticas de
defesa dos DDFF”

5.1.6. A constituição penal e a restrição de DDFF do preso


 Constitucionalização do direito penal e processual penal
estabeleceu limites ao poder repressivo
 Há também clausulas de anseios punitivos
 Racismo, crimes hediondos, ação de grupos armados, terrorismo –
natureza retributiva
Disposição sobre perda de direitos políticos é autoritária – torna-se apátrida,
tira-lhe a cidadania (indaga qual a relação entre uma coisa e outra, propõe
rever tal dispositivo constitucional)

5.2. Sistemas de Execução Penal


5.2.1. Sistemas de execução penal: escorço histórico
 Função adm =/= função jurisdicional (age esponteamente x age
quando provocado)
 Autor entende a execução da pena como função adm., pois atua o
Estado com poder soberano
 Incidentes de execução alteram a sentença – adm. monitora as
massas carcerárias e POJUD concede benesses

5.2.2. O sistema de execução instituído pela LEP


 Execução penal tem ampla discricionariedade – determinar as
regras disciplinares do condenado na vida da prisão
 Os princípios norteadores disciplina e ordem têm gerado alta
arbitrariedade
 LEP tentativa de barrar a violação de direitos pela ADM – dar
eficácia ao princípio da legalidade e aos DDFF dos reclusos
5.2.3. Princípios relativos aos sistemas processuais e o diagnóstico do
processo de execução penal brasileiro
 Modelo inquisitorial é aquele no qual o juiz é ator na gestão da
produção probatória; enquanto que, no modelo acusatório, juiz é espectador,
pois cabe as partes essa função
 Autor afirma que o Brasil escolheu a opção inquisitorial para a
execução, grande causa do fracasso da LEP – juiz que toma e mantém a
iniciativa da execução da pena
 Defende que o juiz passe a ser mero espectador, privilegiando o
devido processo penal

5.3. Direitos VS Disciplina: o controle do indivíduo e da massa


carcerária
 Pena aplicada no limite da sentença e com função ressocializadora
 Preso tem direitos enquanto cidadão, ainda; porém, na prática, a
disciplina se sobrepõe aos direitos

5.3.1. Fundamentos ideológicos da LEP e suas conseqüências


normativas
 A pedagogia ressocializadora tem concepção meritocrática
 Avaliação subjetiva sobre a personalidade do delinqüente, com a
ideia de prevenir reincidência do crime – crítica => sem critérios objetivos
 Sistema de classificação e observação dos condenados, sistema de
sanções e recompensas disciplinares, progressão e regressão de regime, etc

5.3.2. A retórica disciplinar


 Disciplina como forma geral de dominação (Foucalt), intuito de
adestramento
 Vigilância hierárquica, sanção normalizadora, exame técnico
 A crítica é de que os modelos de ressocialização impõem
parâmetros de conduta que pertencem a outras classes sociais, que gera a
perda de identidade do apenado => antigarantista
5.3.3. O controle da identidade do preso: discurso oficial
 Comissão Técnica de Classificação (CTC) => avalia cotidiano dos
presos, propõe regressão ou progressão de regime
 Centro de Observação Criminológica (COC) => realiza exames
periciais com intuito de auxiliar; prognósticos de não delinqüência para
condicional (aspecto subjetivo)

5.3.4. Controle de identidade do preso: laudos e perícias, funções reais


 Inquisitoriais, subjetivos e arbitrários, não há contraditório
 É impessoal e possui grande poder sobre o juiz
 Viola o princípio da liberdade do liberalismo e o direito penal do
ato, e não do autor

5.3.5. O controle da massa carcerária: regime meritocrático


 Faltas leves, médias e graves, natureza administrativa
 Só fica o POJUD sabendo quando elas interferem em incidentes de
execução
 Crítica – ocorre uma aculturação desses presos, que são
padronizados de acordo com valores morais que não são os mesmo da origem
daqueles presos => segurança e disciplina extrapolam direitos

5.4. Garantismo e execução penal: proposições


 As incompatibilidades funcionais da execução penal são históricas
=> interesses do Príncipe em punir x interesse processual de limitar o poder
do Príncipe
 Tensão direito penitenciário x direito processual
 Ferrajoli afirma que a violência das penas superou a própria
violência dos delitos (violência lógica e programada friamente x violência
impulsiva e ocasional)
 A função do garantismo é instrumentalizar medidas que satisfaçam
DDFF, para reduzir essa dor das classes punidas, por meio da
constitucionalização do DP
5.4.1. A volatilidade da pena
 Sistema progressivo solidifica-se – permite alteração do tempo e
do modo de execução da pena
 Carnelutti => pena como recuperadora do espírito do homem
 Reformas de 1980 => a pena cumprida não é, necessariamente, a
pena estabelecida na sentença – dependência exclusiva da conduta e das
condições do condenado
 Intenção do sistema é reeducar
 A alteração da coisa julgada na esfera executiva é intrínseca ao
projeto corrrecionalista – a sentença só se mantém se as coisas estiverem no
mesmo pé – influência de fatos que não existiam quando da condenação e de
fatos futuros imprevisíveis (comportamento carcerário e previsão de
reincidência) – tradição ETIOLÓGICA, INQUISITÓRIA
 Este poder ilimitado do Estado, mediante laudos e perícias, avaliar
o “estado perigoso”, o arrependimento e a boa ou má conduta do preso reduz
a pessoa a uma coisa, ofendendo a sua dignidade
 Essa flexibilidade da pena significa também a flexibilização dos
seus pressupostos – dissolução das garantias processuais
 O autor acredita na coisa julgada como DDFF, sustentando um
modelo de execução da pena com teto quantitativo e qualitativo (tempo de
pena e forma de regime) individualizado
 Defende a impossibilidade de regressão de regime e a ilegitimidade
dos discursos disciplinar e criminológica, pois são subjetivos
 Propõe o fim do modelo meritocrático, que admite a porosidade da
coisa julgada penal, defendendo que as sanções disciplinares não penalizem
mais ainda os réus

5.4.2. As relações entre os discursos disciplinar e jurídico: processo


penal e procedimentos executivos
 Defende que os PAD’s seguem um rito inquisitório, sem garantias
processuais como ampla defesa e contraditório – sustenta a necessidade de
jurisdicionalização das faltas graves, no mínimo, para que existisse controle
judicial constante de tais atos
 As sanções disciplinares irradiam efeitos na esfera jurídica –
regressão, revoga saídas temporárias, anula tempo de remição, etc
 O mesmo fato estaria gerando efeitos em 2 esferas (adm e penal)
– ne bis in idem
 Punições adm. desrespeitam o princípio da legalidade com
conceitos abertos – abuso de poder

5.4.3. A função dos técnicos (criminólogos)


 Enquanto no plano processual, a valoração é dos fatos, o aspecto
criminológico valoriza a interioridade da pessoa (muito conteúdo moral e
pouca cientificidade)
 Consolidação de estereótipos que destroem as garantias dos presos
 Deveriam ter como função a redução de danos, e não a sua
estigmatização
 Inconcebível obrigar o sujeito ao tratamento, violação da DPH
 O tratamento é sempre um direito do indivíduo, e não um dever

5.4.4. O controle do tempo das decisões judiciais: resolução ficta


 POJUD muito moroso para atender pedidos dos presos
 Chega a ser causa de motins e rebeliões
 Descumpre o Pacto de San José
 Dá exemplo da legislação paraguaia, que define que, se o POJUD
não julga o recurso no tempo adequado, considera-se concedida a liberdade
 Propõe, portanto, a reforma da legislação penal nesse sentido

5.4.5. Da necessidade de recodificação


 Ruptura entre estruturas do processo penal de conhecimento e de
execução gera déficit na tutela de DDFF
 A descodificação do sistema executivo gerou desarmonia e
incoerência
 Execução de pena desvinculada das garantias processuais,
irracional, primitiva
 Total desregulamentação da matéria – direitos dos presos
submetidos aos laudos técnicos e procedimentos disciplinares

5.4.6. A cominação penal em abstrato


 Muitos países com pena máxima de reclusão inferior (20, 15, 10
anos)
 Afirma ser perversa a pena longa, pois a sociedade que havia
reivindicado essa pena já não é a mesma, nem o homem condenado,
totalmente modificado pelo enclausuramento, o é
 Minimização das penas em sede legislativa seria redução de custo
sociais e de danos
 Defende a inexistência de piso mínimo

5.4.7. A responsabilização dos agentes públicos pela violação dos


DDFF dos apenados
 Afirma que a eficácia do modelo garantista só ocorrerá quando o
POJUD exigir comissivamente atos do POEXE para que respeita a dignidade
dos presos
 Zaffaroni sugere a responsabilização funcional e penal dos juízes
por negligencia na vigilância dos estabelecimentos
 Lenio Streck afirma ser o POJUD o meio de concretizar direitos
ignorados pelo POEXE e POLEG

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