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DIREITO PENAL

Caderno de questões

Padrões de resposta
2ª FASE OAB | PENAL | 36º EXAME

Direito Penal e
Direito Processual Penal

SUMÁRIO

Questão 1 ..................................................................................................................6
Questão 2 ..................................................................................................................8
Questão 3 ................................................................................................................ 10
Questão 4 ................................................................................................................ 12
Questão 5 ................................................................................................................ 14
Questão 6 ................................................................................................................ 16
Questão 7 ................................................................................................................ 18
Questão 8 ................................................................................................................ 20
Questão 9 ................................................................................................................ 22
Questão 10 .............................................................................................................. 24
Questão 11 .............................................................................................................. 26
Questão 12 .............................................................................................................. 28
Questão 13 .............................................................................................................. 30
Questão 14 .............................................................................................................. 32
Questão 15 .............................................................................................................. 34
Questão 16 .............................................................................................................. 36
Questão 17 .............................................................................................................. 38
Questão 18 .............................................................................................................. 40
Questão 19 .............................................................................................................. 42
Questão 20 .............................................................................................................. 44
Questão 21 .............................................................................................................. 46
Questão 22 .............................................................................................................. 48
Questão 23 .............................................................................................................. 50
Questão 24 .............................................................................................................. 52
Questão 25 .............................................................................................................. 54
Questão 26 .............................................................................................................. 56
Questão 27 .............................................................................................................. 58
Questão 28 .............................................................................................................. 60
Questão 29 .............................................................................................................. 62
Questão 30 .............................................................................................................. 64
Questão 31 .............................................................................................................. 66
Questão 32 .............................................................................................................. 68
Questão 33 .............................................................................................................. 70
Questão 34 .............................................................................................................. 72
Questão 35 .............................................................................................................. 74
Questão 36 .............................................................................................................. 76
Questão 37 .............................................................................................................. 78
Questão 38 .............................................................................................................. 80
Questão 39 .............................................................................................................. 82
Questão 40 .............................................................................................................. 84
Questão 41 .............................................................................................................. 86
Questão 42 .............................................................................................................. 88
Questão 43 .............................................................................................................. 90
Questão 44 .............................................................................................................. 92
Questão 45 .............................................................................................................. 94
Questão 46 .............................................................................................................. 96
Questão 47 .............................................................................................................. 98
Questão 48 ............................................................................................................ 100
Questão 49 ............................................................................................................ 102
Questão 50 ............................................................................................................ 104
Questão 51 ............................................................................................................ 106
Questão 52 ............................................................................................................ 108
Questão 53 ............................................................................................................ 110
Questão 54 ............................................................................................................ 112
Questão 55 ............................................................................................................ 114
Questão 56 ............................................................................................................ 116
Questão 57 ............................................................................................................ 118
Questão 58 ............................................................................................................ 120
Questão 59 ............................................................................................................ 122
Questão 60 ............................................................................................................ 124
Questão 61 ............................................................................................................ 126
Questão 62 ............................................................................................................ 128
Questão 63 ............................................................................................................ 130
Questão 64 ............................................................................................................ 132
Questão 65 ............................................................................................................ 134
Questão 66 ............................................................................................................ 136
Questão 67 ............................................................................................................ 138
Questão 68 ............................................................................................................ 140
Questão 69 ............................................................................................................ 142
Questão 70 ............................................................................................................ 144
Questão 71 ............................................................................................................ 146
Questão 72 ............................................................................................................ 148
Questão 73 ............................................................................................................ 150
Questão 74 ............................................................................................................ 152
Questão 75 ............................................................................................................ 154
Questão 76 ............................................................................................................ 156
Questão 77 ............................................................................................................ 158
Questão 78 ............................................................................................................ 160
Questão 79 ............................................................................................................ 162
Questão 80 ............................................................................................................ 164
Questão 1

Larissa, revoltada com o comportamento de Renata, ex-namorada de seu companheiro, no dia 20


de julho de 2017 foi até a rua em que esta reside. Verificando que o automóvel de Renata estava
em via pública, Larissa quebra o vidro dianteiro do veículo, exatamente com a intenção de
deteriorar coisa alheia. Na manhã seguinte, Renata constatou o dano causado em seu carro, mas
não identificou, em um primeiro momento, quem seria o autor do crime. Solicitou, então, a
instauração de inquérito policial em 25 de julho de 2017. Após diligências, no dia 23 de outubro
de 2017 foi identificado que Larissa era a autora do fato e que o prejuízo seria em torno de R$
15.000,00. A informação foi imediatamente passada à vítima Renata. Diante de uma viagem
marcada, Renata somente procurou seu advogado no dia 21 de fevereiro de 2018, informando
sobre o interesse em apresentar queixa-crime em face da autora dos fatos. Assim, o advogado de
Renata apresentou queixa-crime em face de Larissa, imputando o crime do artigo 163, parágrafo
único, inciso IV, do Código Penal, no dia 28 de fevereiro de 2018, perante o Juízo competente,
tendo sido proferida decisão pelo Magistrado de rejeição da queixa, em razão da decadência, em
07 de março de 2018. A defesa técnica é intimada da decisão.

Considerando as informações narradas, na condição de advogado(a) de Renata, responda aos


itens a seguir.

a) Qual o recurso cabível da decisão de rejeição da queixa-crime a ser interposto? Indique o


fundamento legal e o prazo de interposição.

b) Qual o argumento para combater o mérito da decisão do Magistrado de rejeição da denúncia?


Justifique.
a) O recurso cabível da decisão de rejeição da queixa-crime é o Recurso em sentido
estrito, com base no artigo 581, I, do Código de Processo Penal, já que a pena
máxima cominada ao delito de dano qualificado é de 3 anos, não sendo aplicado,
portanto, o procedimento previsto na Lei 9.099/95. O prazo para interposição do
recurso em sentido estrito é de 5 dias, nos termos do artigo 586 CPP.

b) O argumento para combater a decisão do Magistrado é o de que a contagem do


prazo decadencial somente se inicia na data do conhecimento da autoria do crime e
não necessariamente na data dos fatos. Em sendo crime de ação penal privada, o
dano está sujeito ao prazo decadencial de 06 meses, previsto no artigo 38 do Código
de Processo Penal e/ou artigo 103, do Código Penal. Na situação apresentada,
Renata somente tomou conhecimento da autoria em 23 de outubro de 2017, de modo
que nesse dia o prazo se iniciou, e não em 20 de julho de 2017. Dessa forma, não
há que se falar em decadência.
Questão 2

Pedro e Marilda iniciaram uma paquera no Bar X na noite de 17 de janeiro de 2011. No dia 19 de
janeiro de 2011, o casal teve uma séria discussão, e Marilda, nitidamente enciumada, proferiu
diversos insultos contra Pedro no dia de sua festa de formatura, perante seu amigo Paulo,
afirmando ser ele “covarde”, “corno” e “frouxo”. A requerimento de Pedro, os fatos foram
registrados perante a Delegacia de Polícia, onde a testemunha foi ouvida. Pedro comparece ao
seu escritório e contrata seus serviços profissionais, a fim de serem tomadas as medidas legais
cabíveis. Você, como profissional diligente, ajuíza queixa-crime ao juízo competente no dia 18 de
julho de 2011, imputando a Marilda a prática do crime de injúria, previsto no artigo 140 do Código
Penal. O Magistrado ao qual foi distribuída a peça processual profere decisão rejeitando-a,
afirmando tratar-se de clara Decadência. A decisão foi publicada dia 25 de julho de 2011. Com
base somente nas informações acima, responda:

a) Qual é o recurso cabível contra essa decisão e qual o prazo para sua interposição?

b) Qual o argumento a ser adotado para combater a decisão que rejeitou a queixa-crime?
a) O recurso cabível contra a decisão que rejeitou a queixa-crime é o de Apelação,
com fundamento no artigo 82 da Lei nº 9.099/95, tendo em vista que o crime de
injúria é de menor potencial ofensivo, nos termos do artigo 61 da referida lei. O prazo
para a interposição do recurso de Apelação é de 10 dias, com fulcro no artigo 82, §
1º, da Lei nº 9.099/95.

b) A tese defensiva a ser abordada é a não ocorrência da decadência, uma vez que
não transcorreu o prazo de 6 (seis) meses previsto no artigo 38 do Código de
Processo Penal e/ou artigo 103, do Código Penal. Neste caso, considerando se tratar
de um prazo penal, nos termos do artigo 10 do Código Penal, o prazo fatal para
ajuizamento da queixa-crime é o dia 18 de julho de 2011.
Questão 3

Félix Solano nutria inimizade com Bruno Salvador, por conta de disputa de uma área de terras.
No dia 25 de março de 2016, Félix Solano percebeu a camioneta de Bruno estacionada num local
distante da movimentação urbana, e, não satisfeito, pegou um prego e passou sobre a lataria do
veículo. A ação foi visualizada por Lutero Fontoura, conhecido de Bruno, que, por acaso, passava
pelo local no momento em que Félix danificou o referido veículo. Dois dias depois (27 de março
de 2016), Lutero contou a Bruno que Félix foi o autor do dano provocado no seu veículo. Diante
disso, Bruno contrata um advogado, que ajuíza, no dia 26 de setembro de 2016, perante o Juizado
Especial Criminal, queixa-crime contra Félix pela prática do delito de dano, previsto no artigo 163,
“caput”, do Código Penal. O magistrado, no momento processual oportuno, profere decisão
rejeitando a queixa-crime, afirmando se tratar de clara hipótese de decadência. Você na condição
de advogado(a) de Félix, foi intimado da decisão no dia 04 de outubro de 2016 (terça-feira). Com
base somente nas informações acima, responda aos itens a seguir.

a) Qual é o recurso cabível contra a decisão que rejeitou a queixa-crime e qual o último dia do
prazo?

b) Agiu corretamente o Magistrado ao rejeitar a queixa-crime?


a) Como o crime de dano simples, previsto no artigo 163, “caput”, do Código Penal,
trata-se de infração de menor potencial ofensivo, o recurso cabível será de apelação,
com base no artigo 82 da Lei nº 9099/95. Último dia do prazo será o dia 14/10/2016.

b) O Magistrado não agiu corretamente, uma vez que o prazo decadencial começa
a contar da ciência da autoria do fato, nos termos do artigo 38 do Código de Processo
Penal e/ ou artigo 103, do Código Penal. No caso, o prazo decadencial de 06 meses
começou a correr no dia 27 de março de 2016, sendo, portanto, o último dia do prazo
para o ajuizamento da queixa-crime o dia 26 de setembro de 2016.
Questão 4

Luísa, insatisfeita com o fim do relacionamento amoroso com Bruno, vai até a casa deste na
companhia da amiga Vanessa e ambas começam a quebrar todos os porta-retratos da residência
nos quais estavam expostas fotos da nova namorada de Bruno. Quando descobre os fatos, Bruno
procura um advogado, que esclarece a natureza privada da ação criminal pela prática do crime de
dano. Diante disso, Bruno opta por propor queixa-crime em face de Luísa pela prática do crime de
dano (Art. 163, caput, do Código Penal), já que nunca mantiveram boa relação e ele tinha
conhecimento de que ela era reincidente, mas, quanto a Vanessa, liga para ela e diz que nada
fará, pedindo, apenas, que o fato não se repita. Apesar da decisão de Bruno, Vanessa fica
preocupada quanto à possibilidade de ele mudar de opinião, razão pela qual contrata um
advogado junto com Luísa para consultoria jurídica. Considerando apenas as informações
narradas, responda:

a) Qual o prazo para o ajuizamento da queixa-crime?

b) Qual argumento poderá ser formulado pelo advogado de Luísa, para evitar a sua punição?
a) O prazo é de 6 (seis) meses, a contar da ciência da autoria do fato, nos termos do
artigo 38 do Código de Processo Penal e 103 do Código Penal.

b) O argumento a ser formulado pela defesa é o de que ocorreu a renúncia ao direito


de queixa em relação à Vanessa. E, nos termos do artigo 49 do Código de Processo
Penal e artigo 104 do Código Penal, a renúncia ao exercício do direito de queixa em
relação a um dos autores do crime, a todos se estenderá. Logo, deverá ser declarada
extinta a punibilidade de Luísa e Vanessa, nos termos do artigo 107, V, do Código
Penal.
Questão 5

Em uma discussão de futebol, Rubens e Enrico, em comunhão de ações e desígnios, chamaram


Eduardo de “ladrão” e “estelionatário”, razão pela qual Eduardo formulou uma queixa-crime em
face de ambos. No curso da ação penal, Rubens procurou Eduardo para pedir desculpas pelos
seus atos, razão pela qual Eduardo expressamente concedeu perdão do ofendido em seu favor,
sendo esse prontamente aceito e, consequentemente, extinta a punibilidade de Rubens. Eduardo,
contudo, se recusou a conceder o perdão para Enrico, pois disse que não era a primeira vez que
o querelado tinha esse tipo de atitude. Considerando apenas as informações narradas, responda
aos itens a seguir.

a) Qual o crime praticado, em tese, por Rubens e Enrico?

b) Que argumento poderá ser formulado pelo advogado de Enrico para evitar sua punição?
a) O crime praticado por Rubens e Enrico foi o de injúria, na forma do artigo 140 do
Código Penal. Apesar das ofensas serem relacionadas à pessoa que pratica crimes,
já que Eduardo foi chamado de “ladrão” e “estelionatário”, não há que se falar em
crime de calúnia. A calúnia exige, para sua configuração, que seja atribuída ao
ofendido a prática de determinado fato que configure crime. No caso, não foram
atribuídos fatos, mas sim qualidades pejorativas.

b) O argumento a ser formulado pela defesa é o de que o perdão do ofendido


oferecido a um dos querelados irá aproveitar para todos, conforme artigo 51 do
Código de Processo Penal, gerando a extinção da punibilidade de todos os
coautores, caso seja aceito (artigo 107, inciso V, do Código Penal). Ao conceder o
perdão para Rubens, necessariamente esse perdão deve ser estendido para Enrico,
de modo que, com sua aceitação, haverá extinção da sua punibilidade.
Questão 6

Em 10 de janeiro de 2007, Eliete, primária, foi denunciada pelo Ministério Público pela prática do
crime de furto qualificado por abuso de confiança, já que, na qualidade de empregada doméstica,
teria subtraído a quantia de R$ 50,00 (cinquenta reais) de seu patrão Cláudio. Após a instrução
criminal, o Magistrado proferiu sentença condenando Eliete à pena final de 2 (dois) anos de
reclusão, em razão da prática do crime previsto no artigo 155, § 4º, inciso II, do Código Penal.
Após a interposição de recurso de apelação exclusivo da defesa, o Tribunal de Justiça entendeu
por bem anular toda a instrução criminal, ante a ocorrência de cerceamento de defesa em razão
do indeferimento injustificado de uma pergunta formulada a uma testemunha. Novamente
realizada a instrução criminal e apresentação de novos memoriais pelas partes, em 9 de fevereiro
de 2011, foi proferida nova sentença penal condenando Eliete à pena final de 2 (dois) anos e 6
(seis) meses de reclusão. Em suas razões de decidir, assentou que a ré possuía circunstâncias
judiciais desfavoráveis, uma vez que se reveste de enorme gravidade a prática de crimes em que
se abusa da confiança depositada no agente, motivo pelo qual a pena deveria ser distanciada do
mínimo. Com base nas informações expostas, responda, como advogado(a) contratado por Eliete,
aos itens a seguir.

a) Qual o argumento de direito processual pode ser invocado para anular a segunda sentença
condenatória?

b) Qual o argumento de direito material a ser apresentado em busca da absolvição de Eliete?


a) O Magistrado que proferiu a segunda sentença não agiu de forma correta, uma
vez que diante do princípio da vedação a reformatio in pejus indireta a segunda
sentença, em se tratando de recurso exclusivo da defesa, não poderia ter aplicado
tratamento mais severo à ré, fixando pena superior a da prevista na primeira
sentença. Desta feita, haveria violação indireta ao disposto no artigo 617 do Código
de Processo Penal.

b) Eliete foi denunciada pelo Ministério Público pela prática do crime de furto
qualificado por abuso de confiança, já que, na qualidade de empregada doméstica,
teria subtraído a quantia de R$ 50,00 (cinquenta reais) de seu patrão Cláudio.
Todavia, incide, no caso, o princípio da insignificância, diante da mínima ofensividade
da conduta da agente, nenhuma periculosidade social da ação, reduzido grau de
reprovabilidade da conduta, bem como a inexpressividade da lesão jurídica
provocada. A ré é primária e o valor subtraído não se revela expressivo. Logo,
embora formalmente típico, o fato é materialmente atípico, devendo a ré ser
absolvida, com base no artigo 386, inciso III, do Código de Processo Penal.
Questão 7

Pedro praticou na cidade de Santa Maria/RS, um crime de furto contra uma agência da Caixa
Econômica Federal e, em conexão, um roubo contra a agência, da mesma localidade, do Banco
do Brasil. Investigado em Inquérito Policial pela Polícia Federal e pela Polícia Civil, aquela
investigando o furto praticado na Caixa Econômica Federal e essa o roubo contra o Banco do
Brasil. Pedro restou denunciado pelos delitos de furto na Justiça Federal e roubo junto a Justiça
Estadual de Santa Maria. O juiz estadual suscitou conflito de competência afirmando que ele
deveria julgar os dois crimes, pois o delito de roubo é mais grave e que, segundo o Código de
Processo Penal, esse é o critério a ser adotado. Diante da situação acima narrada, pergunta-se:

a) A quem deve ser dirigido o conflito de competência e qual a fundamentação legal?

b) Estava correto o posicionamento do juiz estadual afirmando ser ele o competente para
julgamento, pois o crime sob sua análise é mais grave?
a) A competência para julgar o conflito existente é do Superior Tribunal de Justiça,
pois o mencionado conflito ocorre entre justiças vinculadas a tribunais diferentes,
conforme artigo 105, inciso I, alínea “d”, da Constituição Federal/88.

b) O posicionamento do juiz estadual não está correto. Ainda que o artigo 78, inciso
II, alínea "a”, do Código de Processo Penal, afirme que nos casos de conexão ou
continência a unificação deva levar em consideração o delito mais grave, o que na
espécie, realmente, é o roubo, a súmula 122 do Superior Tribunal de Justiça afasta
sua aplicação quando os crimes forem de competência da justiça federal e estadual.
Neste caso, aduz a mencionada súmula, que a competência da justiça federal deverá
prevalecer.
Questão 8

Sabendo que Vanessa, uma vizinha com quem nunca tinha conversado, praticava diversos furtos
no bairro em que morava, João resolve convidá-la para juntos subtraírem R$ 1.000,00 de um
cartório do Tribunal de Justiça, não contando para ela, contudo, que ele era funcionário público e
nem que exercia suas funções nesse cartório. Praticam, então, o delito, e Vanessa fica surpresa
com a facilidade que tiveram para chegar ao cofre do cartório. Descoberto o fato pelas câmeras
de segurança, os dois são denunciados, em 10 de março de 2015, pela prática do crime de
peculato. João foi notificado e citado pessoalmente, enquanto Vanessa foi notificada e citada por
edital, pois não foi localizada em sua residência. A família de Vanessa constituiu advogado e o
processo prosseguiu, mas dele a ré não tomou conhecimento. Foi decretada a revelia de Vanessa,
que não compareceu aos atos processuais. Ao final, os acusados foram condenados pela prática
do crime previsto no artigo 312 do Código Penal à pena de 02 anos de reclusão. Ocorre que, na
verdade, Vanessa estava presa naquela mesma Comarca, desde o dia 05 de março de 2015, em
razão de prisão preventiva decretada em outros dois processos. Ao ser intimada da sentença, ela
procura você na condição de advogado(a). Considerando a hipótese narrada, responda aos itens
a seguir.

a) Qual argumento de direito processual poderia ser apresentado em favor de Vanessa em sede
de apelação? Justifique.

b) No mérito, Vanessa foi corretamente condenada pela prática do crime de peculato? Justifique.
a) Em relação à Vanessa, o processo é nulo desde a citação. Quando Vanessa foi
citada por edital, ela estava presa em estabelecimento na mesma unidade da
Federação do juízo processante, logo sua citação foi nula, conforme Enunciado 351
da Súmula de Jurisprudência do Supremo Tribunal Federal. Como ela não tomou
conhecimento da ação e nem mesmo foi interrogada, pois teve sua revelia decretada,
o prejuízo é claro. Assim, em sede de apelação, antes de enfrentar o mérito da
apelação, deveria o advogado buscar a anulação de todos os atos após sua citação,
inclusive da sentença. Poderia, ainda, justificar a nulidade na exigência trazida pelo
artigo 360 do Código de Processo Penal, que prevê que o réu preso deve ser citado
pessoalmente.

b) Vanessa não foi corretamente condenada pela prática do crime de peculato. Em


que pese o artigo 30 do Código Penal prever que as “circunstâncias” de caráter
pessoal se comunicam quando elementares do crime, não é possível, no caso
concreto, a aplicação desse dispositivo, porque o enunciado deixa claro que Vanessa
não tinha conhecimento da condição de funcionário público de João, não sendo
possível responsabilizá-la por peculato.
Questão 9

Andy, jovem de 25 anos, possui uma condenação definitiva pela prática de contravenção penal.
Em momento posterior, resolve praticar um crime de estelionato e, para tanto, decide que irá até
o portão da residência de Josefa e solicitará a entrega de um computador, afirmando que tal
requerimento era fruto de um pedido do próprio filho de Josefa, pois tinha conhecimento que este
trabalhava no setor de informática de determinada sociedade. Ao chegar ao portão da casa, afirma
para Josefa que fora à sua residência buscar o computador da casa a pedido do filho dela, com
quem trabalhava. Josefa pede para o marido entregar o computador a Andy, que ficara
aguardando no portão. Quando o marido de Josefa aparece com o aparelho, Andy se surpreende,
pois ele lembrava seu falecido pai. Em razão disso, apesar de já ter empregado a fraude, vai
embora sem levar o bem. O Ministério Público ofereceu denúncia pela prática de tentativa de
estelionato, sendo Andy condenada nos termos da denúncia.

Como advogado(a) de Andy, com base apenas nas informações narradas, responda aos itens a
seguir.

a) Qual a tese jurídica de direito material deve ser alegada, em sede de Recurso de Apelação,
para evitar a punição de Andy? Justifique.

b) Há vedação legal expressa à concessão do benefício da suspensão condicional do processo a


Andy? Justifique.
) A tese de direito material a ser alegada pelo advogado de Andy é que, no caso,
ela não poderia ter sido punida pela tentativa, tendo em vista que houve desistência
voluntária. Prevê o artigo 15 do Código Penal que o agente que voluntariamente
desiste de prosseguir na execução responde apenas pelos atos já praticados e não
pela tentativa do crime inicialmente pretendido. Isso porque, o agente opta por não
prosseguir quando pode, ao contrário da tentativa, quando o agente não pode
prosseguir por razões alheias à sua vontade. No caso, a execução já tinha sido
iniciada, quando Andy empregou fraude. O benefício, porém, não foi obtido, sendo
certo que o crime não se consumou pela vontade do próprio agente. Assim, sua
conduta se torna atípica e deveria ser absolvida.

b) Não há vedação legal, podendo Andy fazer jus ao benefício da suspensão


condicional do processo. O crime de estelionato possui pena mínima de 01 ano, o
que está de acordo com as exigências do artigo 89 da Lei nº 9.099/95. Ademais,
prevê o dispositivo que não caberá suspensão se o agente já tiver sido condenado
ou se responder a outro processo pela prática de crime. Todavia, no caso, Andy
havia sido condenado pela prática de contravenção penal, logo não há vedação à
concessão do benefício.
Questão 10

Wilson, holandês que reside no Brasil há dois meses, inicia em seu quintal uma plantação de
maconha, com a intenção de utilizar aquele material para fins medicinais, já que sua doença
respiratória melhora com o uso da droga. Ao tomar conhecimento de que seu vizinho, Pedro,
possui a mesma doença, decide transportar o material até a residência do vizinho, mas vem a ser
abordado por policiais civis. Após oferecimento denúncia pela prática do crime de tráfico de
drogas, durante seu interrogatório, Wilson esclarece que acreditava na licitude de sua conduta
diante da intenção de utilizar o material para fins medicinais, esclarecendo, ainda, que essa
conduta seria válida em seu país de origem. Com base na hipótese apresentada, responda, na
condição de advogado(a) de Wilson, fundamentadamente, aos itens a seguir.

a) Qual tese de direito material pode ser adotada para buscar a absolvição de Wilson? Justifique.

b) Em caso de não ser acolhida a tese absolutória, qual argumento de direito material pode ser
apresentado para buscar a pena mais branda para Wilson, na terceira fase de fixação da pena?
Justifique.
a) A tese de direito material para buscar a absolvição seria a aplicação do erro de
proibição inevitável. Wilson foi acusado pela prática do crime de tráfico de drogas.
Todavia, somente transportou a maconha, porque considerou ser lícita a conduta
diante da intenção de utilizá-la para fins medicinais. Errou, portanto, sobre a ilicitude
do fato. Trata-se de erro de proibição inevitável, causa de exclusão de culpabilidade,
nos termos do artigo 21, 1ª parte, do Código Penal.

b) Em não sendo reconhecida a tese do erro de proibição inevitável, possível


considerar a incidência do erro de proibição evitável, já que Wilson considerou ser
lícito o transporte de maconha para fins medicinais. Assim, no caso de eventual
condenação, o juiz deverá considerar a causa de redução de pena de um sexto a
um terço, nos termos do artigo 21, 2ª parte, do Código Penal.
Questão 11

No dia 15 de janeiro de 2013, por volta das 09 horas, funcionários de determinada agência
bancária perceberam um desfalque de, aproximadamente, R$ 100.000,00 na conta do banco X.
De imediato, acionaram a polícia civil. Chegando ao local, após as primeiras diligências, os
policiais passaram a investigar as pessoas com acesso irrestrito às senhas das contas da agência
bancária. As suspeitas passaram a recair sobre Januário da Silva, gerente da referida agência
bancária. Após ser formalmente acusado, Januário apresentou à autoridade policial gravações
telefônicas, contendo um diálogo estabelecido com pessoa desconhecida, nas quais era
comunicado que o seu filho havia sido sequestrado, o que efetivamente ocorreu, sendo a liberação
condicionada à imediata transferência de R$ 100.000,00 da conta da agência bancária para uma
conta corrente indicada pelos agentes criminosos; caso contrário, o filho seria assassinado. Ao
ser ouvido no Inquérito Policial, Januário afirmou ter ficado desesperado com o sequestro do filho
e como não tinha outro meio de levantar o dinheiro exigido, resolveu fazer o que os agentes
criminosos determinaram. Após conclusão do inquérito policial, o Ministério Público ofereceu
denúncia, imputando a Januário a prática do delito do artigo 155, § 4º, inciso II (abuso de
confiança), do Código Penal. Januário foi citado em 12 de novembro de 2014 (quarta-feira), sendo
o mandado juntado aos autos no dia 18 de novembro de 2014 (terça-feira).

Analise o caso narrado e, com base apenas nas informações dadas, responda,
fundamentadamente, aos itens a seguir.

a) Qual o meio de impugnação a defesa de Januário deverá utilizar e qual o último dia do prazo
para apresentá-lo?

b) Qual tese de direito material pode ser invocada em busca da absolvição sumária de Januário e
o pedido correspondente?
a) O meio de impugnação deverá ser a apresentação de Resposta à Acusação, com
fundamento nos artigos 396 e 396-A, ambos do Código de Processo Penal. Último
dia do prazo será o dia 24 de novembro de 2014, com fundamento no artigo 396,
artigo 396-A e artigo 798, todos do Código de Processo Penal.

b) A tese defensiva a ser invocada é a exclusão da culpabilidade, tendo em vista se


tratar de hipótese de inexigibilidade de conduta diversa, nos termos do artigo 22 do
Código Penal, em razão da coação moral irresistível. O pedido a ser elaborado em
sede de Resposta à Acusação é o de absolvição sumária, com fulcro no artigo 397,
inciso II, do Código de Processo Penal.
Questão 12

Wilson, desesperado com a gravidade do estado de saúde de Mariazinha, que acabara de sofrer
um infarto, resolve levar a enferma até o hospital com o seu veículo. Diante da urgência da
situação, Wilson desenvolve no seu veículo velocidade excessiva e incompatível com o local,
vindo, em razão disso, a perder o controle do veículo e atropelar uma pessoa que atravessava, de
forma inesperada, a via de rolamento, causando-lhe a morte. Diante disso, o Ministério Público
ofereceu denúncia contra Wilson, imputando-lhe a prática do delito previsto no artigo 302 da Lei
nº 9.503/97 (CTB). O Magistrado recebeu a denúncia, sendo Wilson citado no dia 15 de agosto
de 2014 (sexta-feira) e o mandado juntado aos autos no dia 20 de agosto de 2014.

Analise o caso narrado e, com base apenas nas informações dadas, responda,
fundamentadamente, aos itens a seguir.

a) Qual o meio de impugnação a defesa de Wilson deverá utilizar e qual o último dia do prazo para
apresentá-lo?

b) Qual tese de direito material pode ser adotada para absolvição de Wilson e o pedido
correspondente?
a) A defesa de Wilson deverá apresentar Resposta à Acusação, com fundamento
nos artigos 396 e 396-A, ambos do Código de Processo Penal, no prazo de 10 dias.
Considerando a data em quem Wilson foi citado, o último dia do prazo será o dia 27
de agosto de 2014.

b) A tese defensiva a ser invocada é a ocorrência de estado de necessidade de


terceiro, uma vez que Wilson, movido por uma situação de perigo inevitável, a qual
não deu causa, foi obrigado a conduzir o seu veículo em excesso de velocidade.
Desta feita, há que se falar em exclusão de ilicitude da conduta, nos termos do artigo
23, inciso I e artigo 24, ambos do Código Penal. O pedido a ser elaborado em sede
de Resposta à Acusação é o de absolvição sumária, com fulcro no artigo 397, inciso
I, do Código de Processo Penal.
Questão 13

Filomeno foi arrolado como testemunha de um crime de estupro. Ao ser inquirido em juízo,
Filomeno faz afirmação falsa, relatando ao Magistrado que no dia e horário dos fatos ele e o
acusado estavam num bar confraternizando. Descoberta a mentira, Filomeno, antes da sentença
se retrata dizendo a verdade. Não obstante isso, o Ministério Público oferece denúncia imputando
a Filomeno a prática do delito previsto no artigo 342 do Código Penal, sendo o réu citado no dia
07 de março de 2016 (segunda-feira). Diante do fato hipotético, responda os seguintes itens.

a) Qual peça cabível no caso e o último dia do prazo legal para oferecê-la?

b) O fato de ter se retratado antes da sentença favorece Filomeno? Explique.


a) A peça cabível é a apresentação de Resposta à Acusação no prazo de 10 dias,
com fundamento nos artigos 396 e 396-A, ambos do Código de Processo Penal e o
último dia do prazo seria o dia 17 de março de 2016.

b) O fato de ter se retratado antes da sentença favorece Filomeno, na medida em


que o artigo 342, §2º, do Código Penal estipula uma causa extintiva de punibilidade
para o réu que se retrata ou declara a verdade no processo em que ocorreu o ilícito.
O pedido a ser elaborado em sede de Resposta à Acusação é o de absolvição
sumária, com fundamento no artigo 397, inciso IV, do Código de Processo Penal.
Questão 14

Considere que um Delegado de Polícia Civil tenha ordenado a Wilson, recém-empossado policial
civil, que se deslocasse até a residência de Bráulio para fins de cumprimento de mandado de
busca e apreensão relacionado a um inquérito policial que apurava crime de roubo. Wilson indagou
ao delegado se haveria mandado judicial para tal finalidade, obtendo como resposta que o juiz já
teria autorizado a diligência em questão, porém não estava com o mandado em mãos uma vez
que o Cartório Judicial ainda não tinha confeccionado a referida peça. Tendo em vista o relatado
pelo Delegado e confiando na informação repassada, bem como se baseando na ordem de serviço
emanada pela autoridade policial, a equipe de policiais civis se dirigiu ao endereço de Bráulio,
ingressando em sua residência para fins de cumprimento da diligência. Entretanto,
posteriormente, restou confirmado que não havia mandado judicial nenhum e que Bráulio, na
verdade, se tratava de inimigo do Delegado de Polícia. Diante disso, Wilson foi denunciado pela
prática do crime de abuso de autoridade, previsto no artigo 22 da Lei nº 13.869/2019, sendo a
denúncia recebida, e o réu citado. Com base nas informações expostas, responda, como
advogado(a) contratado por Wilson, aos itens a seguir.

a) Qual peça deve ser apresentada pela defesa de Wilson e qual o prazo?

b) Qual o argumento de direito material poderia ser invocado em busca da absolvição de Wilson?
a) A peça cabível seria Resposta à Acusação, com base nos artigos 396 e 396-A,
ambos do Código de Processo Penal. O prazo é de 10 dias, nos termos do artigo
396 do Código de Processo Penal.

b) A tese defensiva que pode ser invocada pela equipe de policiais civis é a de que
agiram sob o manto da obediência hierárquica, nos termos do artigo 22, 2° parte, do
Código Penal, uma vez que a ordem emanada da autoridade policial não era
manifestamente ilegal, devendo ser excluída a culpabilidade dos agentes policiais
em virtude de inexigibilidade de conduta diversa. Assim, Wilson deveria ser absolvido
sumariamente, com base no artigo 397, inciso II, do Código de Processo Penal.
Questão 15

Murilo transportava, no interior de um ônibus, maconha de Santiago/RS para Santa Maria/RS. Ao


desembarcar no seu destino, foi preso em flagrante por tráfico de drogas, tendo os policiais
consignado no auto de prisão em flagrante, que, por sua experiência, tratava-se de cocaína,
substância entorpecente que causa dependência química. O réu foi posto em liberdade. Concluído
o inquérito policial, Murilo foi denunciado pelo crime previsto no artigo 33, “caput”, da Lei nº
11.343/06, sendo, na sequência, notificado. Com base nas informações expostas, responda, como
advogado(a) contratado por Murilo, aos itens a seguir.

a) Qual deve ser a peça processual utilizada após a notificação do acusado?

b) Qual tese pode ser invocada pela defesa de Murilo, para evitar o recebimento da denúncia?
a) A peça processual a ser apresentada após a efetiva notificação é a Defesa
Prévia/Preliminar, na forma do artigo 55 da Lei nº 11.343/06.

b) O argumento é a falta de materialidade delitiva, pois não foi nem sequer realizado
laudo de constatação da substância, conforme prevê o artigo 50, § 1º, da Lei
11.343/06, não sendo suficiente a experiência dos policiais para atestar a
materialidade do fato. Logo, a denúncia deverá ser rejeitada, com base no artigo 395,
III, do Código de Processo Penal.
Questão 16

Cross Fox foi denunciado pelo crime de estelionato, artigo 171, “caput”, do Código Penal, sendo
que, excetuando uma condenação definitiva pela prática de contravenção de perturbação de
sossego, jamais foi condenado criminalmente. Com base nas informações expostas, responda,
como advogado(a) contratado por Cross Fox, aos itens a seguir.

a) Cross Fox poderá ser beneficiado por alguma medida despenalizadora, para evitar o
prosseguimento do processo penal?

b) Na hipótese de prosseguimento do processo até final sentença, o juiz, na fixação da pena,


poderá reconhecer a agravante da reincidência?
a) Cross Fox poderá ser beneficiado com a suspensão condicional do processo,
visto que preenche os requisitos do artigo 89 da Lei nº 9.099/95. Ressalta-se que o
fato de Cross Fox já ter sido condenado por uma contravenção não impede que
usufrua da suspensão condicional do processo, pois o artigo 89 da Lei nº 9.099/95
inviabiliza o benefício para aquelas pessoas que já foram condenadas ou estejam
sendo processadas somente por crime.

b) O Magistrado não poderá reconhecer a agravante da reincidência, uma vez que


a condenação anterior por contravenção penal não enseja agravante da
reincidência, por absoluta ausência de previsão legal, visto que não se enquadra
na hipótese do artigo 63 do Código Penal e artigo 7º do Dec. Lei 3688/41, que
preveem condenação definitiva anterior pela prática de crime, e não por
contravenção penal.
Questão 17
No dia 15 de janeiro de 2012, por volta das 21 horas, Ziah Mansur subtraiu, para si, coisa alheia
móvel, consistente numa TV de plasma, avaliada em R$ 2.000,00 (dois mil reais), ingressando na
residência, prevalecendo-se da porta aberta deixada de forma descuidada pela vítima. A
autoridade policial instaurou inquérito policial, indiciando Ziah Mansur como incurso no crime do
art. 155, “caput”, do Código Penal. O Ministério Público, por sua vez, ofereceu denúncia contra
Ziah, atribuindo-lhe a prática do delito do artigo 155, § 1º (furto durante o repouso noturno), do
Código Penal. Após regular instrução, o Magistrado proferiu sentença, julgando procedente a
denúncia, para condenar Ziah nas penas do artigo 155, § 1º, do CP. Na primeira fase da aplicação
da pena, o juiz considerou todas as circunstâncias judiciais favoráveis, fixando a pena-base no
mínimo legal, qual seja, 01 ano. Na segunda fase, agravou a pena em 06 meses, em razão da
reincidência. Na terceira fase, aumentou a pena em 1/3 por força da majorante do repouso
noturno, tornando a pena definitiva em 02 anos de reclusão. Após, o juiz fixou o regime inicial de
cumprimento de pena como sendo o fechado, em razão da reincidência. Diante disso, pergunta-
se:

a) Considerando entendimento adotado na Jurisprudência, agiu corretamente o Magistrado ao


fixar o regime inicial de cumprimento de pena como sendo o fechado? Justifique.

b) Se a reincidência tivesse decorrido da condenação anterior pela prática do crime de estelionato,


haveria possibilidade de Ziah obter a substituição da pena privativa de liberdade em restritiva de
direitos? Justifique.
a) O Magistrado não agiu de forma correta, porque, nos termos da Súmula 269 do
Superior Tribunal de Justiça, é admissível a adoção do regime prisional semiaberto
aos reincidentes condenado à pena igual ou inferior a 04 anos, se favoráveis as
circunstâncias judiciais. Como a pena aplicada foi de 02 anos, e o juiz considerou as
circunstâncias judiciais favoráveis, deveria fixar o regime inicial semiaberto.

b) Ziah tem direito à substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de


direitos, pois preenche os requisitos previstos no artigo 44 do Código Penal, e, ainda,
a reincidência não é pela prática do mesmo crime, já que o crime anterior foi de
estelionato, sendo, ainda, socialmente recomendável a substituição, tanto que o juiz
considerou todas as circunstâncias judiciais favoráveis, nos termos do artigo 44, §
3º, do Código Penal.
Questão 18
Bruna, em uma loja de departamento, apresentou roupas no valor de R$ 1.200 (mil e duzentos
reais) ao caixa, buscando efetuar o pagamento por meio de um cheque de terceira pessoa,
inclusive assinando como se fosse a titular da conta. Na ocasião, não foi exigido qualquer
documento de identidade. Todavia, o caixa da loja desconfiou do seu nervosismo no
preenchimento do cheque, apesar da assinatura perfeita, e consultou o banco sacado,
constatando que aquele documento constava como furtado. Assim, Bruna foi presa em flagrante
naquele momento e, posteriormente, denunciada pelos crimes de tentativa de estelionato e
falsificação de documento público, em concurso material. Após regular instrução, a sua defesa
constituída foi intimada para apresentar os memoriais defensivos, tendo a sua advogada
renunciado. O Magistrado, de imediato, determinou o encaminhamento dos autos à Defensoria
Pública para apresentar a defesa cabível. Após a devolução dos autos pela Defensoria Pública, o
Magistrado em questão condenou Bruna a uma pena de 2 anos de reclusão em regime aberto.

Diante do caso em questão, você na condição de advogado(a) de Bruna, responda.

a) Qual argumento de direito processual deverá ser buscado em Apelação para desconstituir a
sentença condenatória?

b) Qual argumento de direito material deverá ser arguido pela defesa técnica para fins de diminuir
a responsabilização penal de Bruna?
a) O argumento de direito processual para desconstituir a sentença condenatória é
o de que o Magistrado, diante da renúncia da advogada constituída, não poderia
encaminhar diretamente os autos para a Defensoria Pública, sob pena de violação
ao princípio da ampla defesa previsto no artigo 5°, inciso LV, da Constituição
Federal/88, bem como de violação ao artigo 263 do Código Processo Penal, o qual
elenca o direito de ser defendido por alguém de sua confiança. Assim sendo, deve
ser reconhecida a nulidade da sentença proferida pelo Magistrado, uma vez que
diante da condenação o prejuízo restou evidente, devendo o processo ser
encaminhado novamente para a primeira instância a fim de que a acusada constitua
defensor de sua confiança.

b) O argumento de direito material é que o delito de falsificação de documento


público, nos termos da Súmula 17 do Superior Tribunal de Justiça, deve ser
absorvido pelo delito de estelionato, uma vez que se trata de mero ato preparatório
ou ato normal de execução do estelionato, não havendo que se falar em concurso
de crimes e sim em crime único de estelionato, com fundamento no princípio da
consunção. Ademais, deve ser elencado que o crime de estelionato é de natureza
material, ou seja, exige a obtenção da vantagem patrimonial ilícita para fins de
consumação, o que não houve no caso em questão, devendo ser reconhecida
apenas a tentativa de estelionato.
Questão 19
Considere que Arnaldo, dirigindo veículo automotor, que acabara de sair da revisão programada
da concessionária HONDA (10 mil km), em velocidade compatível com determinada via pública,
atropela Guilherme que atravessava a rua fora da faixa de pedestre e de maneira descuidada, eis
que em tal momento estava com sua atenção totalmente direcionada ao seu celular, no qual
estava interagindo em suas redes sociais com os alunos de um famoso curso preparatório para o
exame de ordem, e não observou que o sinal estava verde. Considere ainda que Arnaldo tentou
frear o seu veículo, mas, mesmo assim, não conseguiu evitar a colisão e que, em virtude da batida,
Guilherme veio a falecer no mesmo dia. Arnaldo foi denunciado pelo crime de homicídio culposo,
previsto no artigo 121, §3° do Código Penal.

Nesse sentido, tendo como base apenas as informações contidas no enunciado, responda
justificadamente às questões a seguir.

a) A tipificação efetuada pelo Ministério Público ao oferecer a denúncia está correta? Fundamente.

b) Qual a tese de direito material para fins de afastar a responsabilidade penal de Arnaldo?
a) A tipificação efetuada pelo Ministério Público não está correta, uma vez que a
morte de Guilherme foi causada em virtude de um acidente na direção de veículo
automotor, fazendo incidir, em virtude do Princípio da Especialidade, a norma
prevista no artigo 302 do Código de Trânsito Brasileiro, a qual deve prevalecer em
relação ao artigo 121, §3º, do Código Penal que se trata de uma norma geral.

b) A tese de direito material para afastar a responsabilidade penal de Arnaldo é a de


que não houve um crime culposo, uma vez que o agente não violou o dever de
cuidado objetivo, tomando todas as precauções necessárias e sendo diligente, não
incorrendo em imprudência, imperícia ou negligência, nos termos do artigo 18, inciso
II, do Código Penal. Desta feita, tendo em vista que o agente não agiu com dolo nem
com culpa, não há crime, sob pena de incorrermos na responsabilização penal
objetiva, a qual é vedada pelo Direito Penal em virtude do Princípio da Culpabilidade
ou Princípio da Responsabilização Penal Objetiva.
Questão 20
Tício frequentemente mantinha relações sexuais reiteradas com Mévia, adolescente de 13 anos
de idade. Joaquina, companheira de Tício e genitora de Mévia tomou conhecimento da relação do
companheiro com sua filha e nada fez para impedir a continuidade das práticas sexuais, uma vez
que nunca denunciou tal fato reprovável ao Conselho Tutelar, Polícia ou ao Ministério Público.
Com base nas informações expostas, responda aos itens a seguir.

a) Diante da sua postura omissiva, seria possível responsabilizar criminalmente Joaquina em face
das relações sexuais entre seu companheiro e sua filha?

b) Se os atos sexuais fossem consentidos por Mévia, ainda assim seria possível responsabilizar
criminalmente Tício?
a) Joaquina pode ser responsabilizada criminalmente pelo delito de estupro de
vulnerável previsto no artigo 217-A do Código Penal, uma vez que, nos termos do
artigo 13, § 2°, alínea “a”, do Código Penal possui a obrigação legal de evitar o
resultado, ostentando a posição de garantidora, incorrendo em uma conduta
omissiva imprópria.

b) Sim, Tício poderia ser responsabilizado pelo crime de estupro de vulnerável,


previsto no artigo 217-A do Código Penal, ainda que os atos sexuais fossem
consentidos, nos termos do artigo 217-A, § 5º, do Código Penal e Súmula 593 do
Superior Tribunal de Justiça.
Questão 21
Wilson, que nunca se envolveu em atividade criminosa, precisando de dinheiro para pagar
algumas dívidas, concorda em transportar, uma única vez, 50g de maconha e 30g de cocaína
para uma Comunidade localizada no Rio de Janeiro. Enquanto estava no interior de uma van com
a mala contendo todo aquele material entorpecente, vem a ser abordado por policiais militares,
que identificam a droga. Em sede policial, observadas as formalidades legais, Wilson confessa o
transporte do material, diz que é a primeira vez que adotava aquele tipo de comportamento. O
Ministério Público ofereceu denúncia contra Wilson, imputando-lhe a prática do crime de tráfico de
drogas, em concurso formal (art. 33, “caput”, da Lei nº 11.343/2006 c/c art. 70 do Código Penal),
considerando que se tratava de duas substâncias entorpecentes distintas. Após a instrução, em
que os fatos foram confirmados, as partes apresentaram alegações finais, e o Magistrado proferiu
sentença condenatória pela prática de dois crimes de tráfico de drogas, nos termos da denúncia.
Na primeira fase, fixou a pena-base em 05 anos, não reconhecendo, a seguir, qualquer atenuante
ou causa de diminuição da pena. Ao final, sobre a pena intermediária, acrescentou 1/6 em
decorrência do concurso formal de crimes, tornando a pena definitiva em 05 anos e 10 meses.
Intimada a defesa técnica da sentença condenatória, responda, na condição de advogado(a) de
Wilson, aos itens a seguir.

a) Qual o argumento de direito material a ser apresentado para questionar a aplicação do concurso
formal de crimes? Justifique.

b) Qual o argumento de direito material a ser apresentado em busca da redução da pena e, assim,
descaracterizar o delito como sendo equiparado a hediondo? Justifique.
a) O argumento de direito material consiste em afastar o concurso formal de crimes,
pois se trata de crime único de tráfico de drogas. Wilson foi denunciado pela prática
do crime de tráfico de drogas, em concurso formal de crimes, sendo, ao final,
condenado à pena de 05 anos e 10 meses. Todavia, a conduta descrita na denúncia
constitui crime único, e não dois crimes autônomos, uma vez que as drogas, ainda
que de natureza distintas, estavam sendo transportadas no mesmo contexto fático.

b) O argumento de direito material em busca da redução da pena seria o


reconhecimento da causa de diminuição da pena do tráfico privilegiado, previsto no
artigo 33, § 4º, da Lei nº 11.343/2006. Wilson nunca se envolveu em atividade
criminosa. Logo, é primário, com bons antecedentes, não integra qualquer
organização criminosa, bem como não se dedica a atividade criminosa, preenchendo
os requisitos que autorizam a diminuição da pena de um sexto a dois terços, conforme
prevê o artigo 33, § 4º, da Lei nº 11.343/2006. Além disso, conforme entendimento
adotado pelos Tribunais Superiores, o tráfico privilegiado não é considerado delito
equiparado a hediondo.
Questão 22
No dia 11 de fevereiro de 2013, por volta das 04h da madrugada, em pleno carnaval, policiais
militares, em patrulhamento de rotina, perceberam um veículo estacionado no final de uma rua
escura. Ao chegarem próximo ao veículo, constataram que Osnar Abreu e Lucinda Maia
mantinham relação sexual. Os policiais determinaram que o casal se recompusesse e saísse do
veículo. Ao solicitarem os respectivos documentos, verificaram que Lucinda possuía 13 anos de
idade. Em razão disso, prenderam em flagrante Osnar Abreu pela prática de estupro de vulnerável,
previsto no Art. 217-A do CP. Ao ser interrogado pela autoridade policial, Osnar relatou ter
conhecido Lucinda no baile de carnaval, cujo acesso era vedado a menores de 18 anos. Disse,
ainda, que Lucinda estava acompanhada de amigas todas maiores de idade. Acrescentou que
não tinha condições de perceber a idade da menina, pois, além de ter ingerido bebida alcoólica, a
compleição física de Lucinda indicava que ela tinha mais idade. A autoridade concluiu o inquérito
policial e encaminhou ao Ministério Público, que ofereceu denúncia contra Osnar Abreu,
imputando-lhe a prática do crime previsto no Art. 217-A do CP. Após regular andamento do
processo e instrução, o Ministério Público pugnou pela condenação do réu nos termos da
denúncia. A defesa foi intimada no dia 02 de maio de 2017 (terça-feira). Atento ao caso
apresentado, responda aos itens a seguir, empregando os argumentos jurídicos apropriados e a
fundamentação legal pertinente ao caso.

a) Qual o meio de impugnação cabível à defesa de Osnar Abreu e qual o último dia do prazo para
ser apresentado?

b) Qual a tese de direito material poderá ser invocada em busca da absolvição de Osnar e qual
pedido deve ser formulado?
a) A peça cabível é memoriais ou alegações finais por memoriais, com base no
artigo 403, § 3º, do Código de Processo Penal. Último dia do prazo: 08/05/2017.

b) A tese de direito material seria a incidência do erro de tipo essencial invencível,


previsto no artigo 20, “caput”, do Código Penal, uma vez que, no caso, restou
verificada a impossibilidade de conhecimento da idade da vítima. Isso porque o réu
conheceu a vítima num baile de carnaval, onde era vedado acesso a menores de 18
anos. Além disso, as amigas da vítima eram todas maiores de 18 anos de idade.
Logo, naquelas circunstâncias, qualquer pessoa incidiria no erro essencial
invencível. Diante disso, há a exclusão do dolo e da culpa, e o fato é atípico. O pedido
será de absolvição com base no artigo 386, incisos III ou VI, do Código de Processo
Penal.
Questão 23
Após ríspida discussão de bar, Rodrigo feriu Bento com uma faca, causando-lhe sérias lesões no
ombro direito. O Promotor de Justiça ofereceu denúncia contra Rodrigo, imputando-lhe a prática
do crime de lesão corporal grave contra Bento, arrolando uma testemunha que presenciou o fato.
A defesa de Rodrigo também arrolou uma testemunha. Durante a audiência de instrução, a
testemunha da acusação disse que estava bêbado no momento dos fatos e não lembra quem deu
início à briga. A testemunha arrolada pela defesa disse que Bento também estava armado com
uma faca e partiu para atacar o réu, que se esquivou do golpe e reagiu atingindo a vítima no braço,
saindo, após, do local. Encerrada a instrução, o Ministério Público pediu a condenação do réu,
nos termos da denúncia. A defesa de Rodrigo foi intimada no dia 13 de maio de 2016, sexta-feira.
Considerando as informações narradas, responda aos itens a seguir.

a) Qual a medida processual, diferente de habeas corpus, a ser adotada pela defesa técnica de
Rodrigo e qual o último dia do prazo para ser apresentada?

b) Qual tese de direito material pode ser invocada em busca da absolvição de Rodrigo?
a) A medida processual a ser adotada seria memoriais ou alegações finais por
memoriais, com base no artigo 403, § 3º, do Código de Processo Penal. Último dia
do prazo seria o dia 20/05/2016.

b) A tese de direito material seria a incidência da legítima defesa, causa excludente


da ilicitude prevista no artigo 23, inciso II e artigo 25, ambos do Código Penal, já que
Rodrigo reagiu à injusta agressão praticada por Bento, que tentou lhe agredir com
uma faca, usando moderadamente dos meios que tinha à sua disposição para reagir
à injusta agressão praticada por Bento. Pedido seria de absolvição, com base no
artigo 386, inciso VI, do Código de Processo Penal.
Questão 24
Mauro, respeitável advogado de Santa Maria/RS, querendo fazer um churrasco em comemoração
ao empate de 2 a 2 de seu time contra o Flamengo pelo campeonato brasileiro, resolve fazer o
download do aplicativo da Caixa referente ao auxílio emergencial do Governo Federal e solicita o
auxílio emergencial no valor de R$ 1.200,00 (Hum mil e duzentos), com o intuito de usar o referido
valor na festinha, já que, apesar de extremamente feliz com o resultado de seu time, não queria
ter gastos adicionais. Ao preencher os seus dados no sistema da Caixa, Mauro sabia que não se
encontrava nos parâmetros para fazer jus ao referido benefício, uma vez que inseriu no sistema a
informação falsa de que sua renda familiar era inferior a 2 salários-mínimos quando, na realidade,
era de 100 (cem) salários-mínimos. Após o cruzamento de dados entre a Caixa Econômica
Federal e a Receita Federal, foi descoberta a fraude, tendo sido Mauro denunciado perante a
Justiça Federal pelos crimes de falsidade ideológica (Art. 299 do CP) e estelionato majorado (Art.
171, § 3º, do CP), em concurso material de crimes. Após regular instrução processual, o Ministério
Público se manifestou pela condenação de Mauro, nos exatos termos da denúncia. A defesa foi
intimada no dia 04 de novembro de 2020 (quarta-feira) para apresentar a peça processual cabível.
Com base nas informações acima narradas, responda aos itens a seguir.

a) Qual a peça processual cabível a ser apresentada pela defesa técnica e a sua fundamentação
legal? Indique também o último dia do prazo.

b) Qual a tese de direito material para fins de diminuir a responsabilidade penal de Mauro?
Fundamente a sua resposta.
a) Deve a defesa apresentar memoriais escritos, com fundamento no artigo 403,
parágrafo 3°, do Código de Processo Penal, devendo a referida peça ser protocolada
no dia 09 de novembro de 2020 (último dia do prazo).

b) A tese de direito material para fins de diminuição da responsabilidade penal de


Mauro é o afastamento do concurso de crimes e reconhecimento do crime único,
tendo em vista a aplicação do princípio da consunção. Desta feita, nos termos da
Súmula 17 do Superior Tribunal de Justiça, deve o crime de falsidade ideológica
previsto no artigo 299 do Código Penal ser absorvido pelo crime de estelionato
previsto no artigo 171 do Código Penal, tendo em vista que a falsidade é mero ato
preparatório/ato executório para a obtenção da vantagem indevida em detrimento da
União.
Questão 25
Wilson, recém havia completado 20 (vinte) anos de idade, e, além do aniversário, comemorava
também sua aprovação no vestibular para ingressar no curso de Engenharia Elétrica. No dia 04
de março de 2015, primeiro dia de aula, como era de tradição, os veteranos prepararam a
recepção aos calouros do curso de Engenharia Elétrica. As brincadeiras dos acadêmicos
transcorriam normalmente até que um grupo de veteranos passou a obrigar os calouros a
ingerirem bebida alcoólica. Wilson, que não estava acostumado a ingerir bebida alcoólica, negou-
se a participar da “brincadeira”. Não obstante sua negativa, foi forçado a ingerir quase uma garrafa
de cachaça pura, ficando completamente embriagado. Por conta do seu estado etílico, Wilson
pegou uma barra de ferro e desferiu um violento golpe contra Fabinho, um dos veteranos do Curso
de Engenharia, mas que não participava do grupo que obrigou os calouros a ingerirem bebida
alcoólica, causando-lhe lesões corporais graves, já que ficou incapacitado para as ocupações
habituais por mais de trinta dias. Diante disso, o Ministério Público ofereceu denúncia contra
Wilson, imputando-lhe a prática do delito do Art. 129, § 1º, I, do CP, sendo a denúncia recebida e
o réu citado. Ao final da instrução, o Ministério Público pugnou pela condenação. A defesa foi
intimada em 12 de agosto de 2016 (sexta-feira). Analise o caso narrado e, com base apenas nas
informações dadas, responda, fundamentadamente, aos itens a seguir.

a) Qual o meio de impugnação, diverso de habeas corpus, a defesa de Wilson deverá utilizar e
qual o último dia do prazo para sua interposição?

b) Qual a tese de direito material pode ser invocada em favor de Wilson e qual o pedido
correspondente?
a) A peça cabível seria memoriais ou alegações finais por memoriais, com base no
artigo 403, § 3º, do Código de Processo Penal. O último dia do prazo será o dia
19/08/2016.

b) A tese de direito material seria a incidência da inimputabilidade pela embriaguez


completa e acidental. Isso porque Wilson ingeriu bebida alcóolica por força maior,
porque foi obrigado pelos veteranos a beber cachaça, restando, em razão disso,
inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito da sua conduta e determinar-se de
acordo com esse entendimento. Logo, incidiu a causa excludente de culpabilidade,
prevista no artigo 28, § 1º, do Código Penal, sendo o réu inimputável pela embriaguez
completa e acidental. Pedido será de absolvição, com base no artigo 386, VI, do
Código de Processo Penal.
Questão 26
Considere que, no dia 30 de outubro de 2017, Caio, após uma minuciosa investigação efetuada
pela Delegacia de Repressão ao Crime Organizado de Santa Cruz do Sul/RS foi preso em
flagrante pela Polícia Civil, uma vez que mantinha em um depósito cinco armas de fogo de uso de
uso restrito desde janeiro de 2017. Após o indiciamento formal de responsabilidade da autoridade
policial, o Ministério Público local ofereceu denúncia pelo crime previsto no artigo 16 da Lei nº
10.826/03, cinco vezes, na forma do artigo 69 do Código Penal, tendo o juiz da 1° Vara Criminal
de Santa Cruz do Sul/RS recebido a denúncia. Após regular processamento, foi declarada
encerrada a instrução, tendo o Ministério Público pugnado pela condenação nos termos da
denúncia. A defesa é intimada no dia 07 de novembro de 2019 (quinta-feira). Nesse sentido, tendo
como base apenas as informações contidas no enunciado, responda justificadamente às questões
a seguir.

a) Qual a peça processual, diferente de habeas corpus, a ser apresentada pela defesa técnica, a
sua fundamentação legal e o último dia do prazo?

b) Qual a tese de direito material cabível para fins de diminuir a responsabilidade penal de Caio?
a) A peça processual a ser apresentada pela defesa técnica é Memoriais escritos,
conforme o artigo 403, § 3º, do Código de Processo Penal. O último dia do prazo é
o dia 12 de novembro de 2019.

b) A tese de direito material para diminuir a responsabilidade penal do réu é a de que


não houve concurso material de crimes, tendo em vista a não existência do requisito
básico, qual seja, a pluralidade de crimes. Ademais, vale destacar que as 5 armas
de fogo de uso restrito foram apreendidas no mesmo contexto fático, ensejando o
reconhecimento de crime único e não de 5 crimes, previsto no artigo 16 da Lei nº
10.826/03, na forma do artigo 69 do Código Penal.
Questão 27
No dia 10 de outubro de 2011, por volta de 09h20min, Érica Lima, grávida de 06 meses, deu
entrada no pronto atendimento do Hospital de São Luiz Gonzaga, apresentado forte hemorragia
interna. Percebendo que Érica corria risco de vida, o Médico plantonista procedeu à intervenção
cirúrgica que acarretou na interrupção da gravidez com a morte do feto, único recurso para salvar
a vida da gestante. Indignado com a interrupção da gravidez, Theo, marido de Érica, registra
ocorrência na Delegacia de Polícia mais próxima. Após conclusão do Inquérito Policial, os autos
foram para o Ministério Público, que ofereceu denúncia contra o médico, imputando-lhe a prática
do delito de aborto sem o consentimento da gestante, previsto no artigo 125 do Código Penal.

Diante do fato hipotético, responda, fundamentadamente, aos itens a seguir.

a) Existe argumento de direito material em busca da absolvição sumária do médico? Justifique

b) Se a interrupção da gravidez de Érica tivesse sido praticada por uma enfermeira, incidiria o
crime de aborto, previsto no artigo 125 do Código Penal?
a) O Ministério Público, ao denunciar o médico pelo crime previsto no artigo 125 do
Código Penal, não agiu corretamente, na medida em que a referida hipótese
configura caso de aborto necessário, nos termos do artigo 128, inciso I, do Código
Penal, havendo a exclusão da ilicitude da referida conduta, uma vez que não havia
outro meio para salvar a vida da gestante.

b) Se a interrupção da gravidez no presente tivesse sido provocada por uma


enfermeira também não incidiria o crime previsto no artigo 125 do Código Penal, na
medida em que a ilicitude da conduta seria excluída em razão da existência de
estado de necessidade de terceiro devido à situação de perigo atual e demais
requisitos previstos no artigo 24 do Código Penal.
Questão 28
Desempregado, Adriano se deslocou até uma agência de emprego, levando o seu currículo na
mão. Ao chegar em frente ao local, foi abordado por Wilson, que se apresentou como funcionário
da agência de emprego, e, ao analisar rapidamente o currículo de Adriano, afirmou que teria um
emprego a oferecer para ele. Para isso, Adriano precisaria inicialmente apresentar seus
documentos. Posteriormente, Wilson solicitou que Adriano lhe entregasse seu aparelho de
telefonia celular, afirmando que iria ao interior da agência de empregos para cadastrar o aparelho.
Adriano, então, entregou a Wilson seu celular, combinando de aguardá-lo em via pública. Uma
hora depois, considerando que Wilson estava demorando, Adriano o procurou na agência,
descobrindo que, na verdade, ele nunca trabalhara no local e que deixara a localidade na posse
do seu telefone assim que o recebeu. Indignado, Adriano registrou ocorrência na Delegacia de
Polícia. Após conclusão do inquérito policial, o Ministério Público ofereceu denúncia contra Wilson
pela prática do crime de furto qualificado pelo emprego de fraude (art. 155, § 4º, inciso II, do Código
Penal). Diante do fato hipotético, responda, na condição de advogado(a) de Wilson,
fundamentadamente, aos itens a seguir.

a) Em sede de memoriais, qual argumento de direito material pode ser usado para questionar a
capitulação atribuída pelo Ministério Público na denúncia? Justifique

b) Em sendo acolhida a tese defensiva quanto à capitulação do delito, o juiz poderá, de imediato,
proferir sentença condenatória?
a) A tese de direito material seria que a capitulação atribuída pelo Ministério Público
está equivocada, uma vez que se trata de crime de estelionato, previsto no artigo
171, “caput”, do Código Penal. Wilson foi acusado de ter praticado o crime de furto
qualificado pela fraude. Todavia, eventual fraude não foi empregada para diminuir a
vigilância da vítima sobre o celular, a fim de que pudesse se apossar do aparelho.
No caso, a vítima, induzida em erro, supondo que se tratava do funcionário da
agência de empregos, entregou o celular para ser cadastrado. Logo, deve ser dada
definição jurídica diversa à atribuída pelo Ministério Público na denúncia,
classificando o fato imputado a Wilson como sendo o crime de estelionato, previsto
no artigo 171, “caput”, do Código Penal.

b) O juiz não poderá, de imediato, proferir sentença condenatória. Wilson foi


denunciado por ter praticado o crime de furto qualificado mediante fraude, cuja pena
cominada é de 02 a 08 anos, de reclusão. Todavia, com a definição jurídica diversa,
já que o fato narrado na denúncia consiste, na verdade, no crime de estelionato,
previsto no artigo 171, “caput”, do Código Penal, a pena mínima do delito é de 01
ano. Logo, nos termos do artigo 383, § 1º, do Código de Processo Penal e Súmula
337 Superior Tribunal de Justiça, o Magistrado não poderá proferir sentença
condenatória, devendo proceder conforme a lei, concedendo vista dos autos ao
Ministério Público para fins de proposta de suspensão condicional do processo,
conforme o artigo 89 da Lei 9.099/95.
Questão 29
No dia 03 de janeiro de 2017, Ramón, com o auxílio de outras duas pessoas não identificadas,
constrangeu Lívia à prática de conjunção carnal forçada, vindo a ser indiciado nas sanções do
artigo 213 do Código Penal. Posteriormente, Ramón foi denunciado pelo crime em questão
perante a 1º Vara Criminal de Santa Cruz do Sul. Após regular instrução processual, foi condenado
pelo crime do artigo 213 do Código Penal, tendo a juíza fixado a pena-base no mínimo legal (6
anos), pois não houve nenhuma agravante a ser reconhecida. Entretanto, a douta Magistrada
reconheceu a causa de aumento pena referente ao estupro coletivo (Art. 226, inciso IV, alínea “a”,
do CP), aumentando a pena em 2/3, restando a pena definitiva em 10 anos de reclusão a ser
cumprida em regime inicialmente fechado. Considere que Ramón é primário e possui bons
antecedentes. A defesa foi intimada da sentença condenatória no dia 29 de outubro de 2020
(quinta-feira). Com base nas informações acima narradas, responda aos itens a seguir.

a) Qual a peça processual cabível, a fundamentação legal e o último dia do prazo?

b) Qual a tese de direito material para fins de diminuir a responsabilidade penal de Ramón e,
consequentemente, abrandar o regime inicial de cumprimento de pena?
a) A peça processual cabível é a interposição de Recurso de Apelação, com
fundamento no artigo 593, inciso I, do Código de Processo Penal, devendo ser
protocolada no dia 03 de novembro de 2020 (último dia do prazo).

b) Em relação ao direito material a tese cabível é a não aplicação da lei mais gravosa
(Lei nº 13.718/18), uma vez que, segundo os artigos 5º, inciso XL, da Constituição e
artigo 1º do Código Penal a lei penal somente pode retroagir para beneficiar o
acusado, razão pela qual a lex gravior (Lei nº 13.718/18) não pode ser aplicada no
caso concreto, sob pena de ofensa ao princípio da legalidade (Art. 5º, inciso XXXIX,
da CRFB/88 e Art. 1º do CP). Ademais, para fins de abrandar o regime inicialmente
fechado previsto no artigo 2°, § 1°, da Lei nº 8.072/90, deve a defesa técnica postular
a inconstitucionalidade de tal dispositivo legal, uma vez que consoante amplamente
reconhecido pelo STF (HC 111.840/ES – INF. 670) há violação ao princípio da
individualização da pena previsto no artigo 5º, inciso XLVI, da Constituição
Federal/88. Desta feita, com o reconhecimento da causa de aumento em ¼ a pena
definitiva restaria inferior a 8 anos e considerando que o réu é primário e ostenta
bons antecedentes, poderia a defesa pleitear o reconhecimento do regime inicial
semiaberto, nos termos do artigo 33, § 2°, alínea “b”, do Código Penal.
Questão 30
No dia 15 de março de 2016, Licurgo Moicano constrangeu, mediante restrição da liberdade da
vítima, Leonildo Santos a seguir com ele até o caixa eletrônico localizado na agência bancária
onde a vítima tinha conta. Chegando ao local, Licurgo Moicano obrigou a vítima, mediante grave
ameaça, a sacar a quantia de R$ 50.000,00 e lhe entregar. Após a conclusão do inquérito policial,
o Ministério Público ofereceu denúncia, imputando a Licurgo Moicano a prática do crime de
extorsão qualificado, previsto no artigo 158, § 3º, do Código Penal, sendo o réu, ao final da regular
instrução, condenado. Na dosimetria da pena, o Magistrado fixou a pena-base no mínimo legal,
qual seja, 06 anos, tornando-a definitiva, já que não havia circunstâncias agravantes e atenuantes,
bem como causas de aumento ou diminuição da pena. Após estabelecer a quantidade de pena, o
Magistrado fixou o regime inicial fechado ao condenado, por considerar o crime de extorsão
qualificado pela privação de liberdade da vítima grave. A defesa foi intimada da decisão no dia 18
de junho de 2020, quinta-feira. Considerando o fato hipotético, responda, na qualidade de
advogado(a) de Licurgo Moicano, aos itens a seguir.

a) Qual peça processual, diferente de habeas corpus, deve ser adotada pela defesa de Licurgo e
qual o último dia do prazo para sua interposição? Justifique.

b) No mérito, qual argumento de direito material poderia ser formulado para garantir regime de
cumprimento da pena mais brando do que o fixado na sentença? Justifique.
a) O recurso cabível será Apelação, com base no artigo 593, inciso I, do Código de
Processo Penal. Último dia do prazo: 23/06/2020.

b) O Magistrado condenou Licurgo pela prática do crime de extorsão qualificada,


previsto no artigo 158, § 3º, do Código Penal, aplicando a pena de 06 anos e fixando
o regime inicial fechado, fundamentando que o crime era grave. Todavia, a opinião
do Magistrado acerca da gravidade em abstrato do delito não constitui motivação
idônea para fixar regime inicial de cumprimento de pena mais severa do que a
quantidade da pena aplicada prevê, conforme se extrai das Súmulas 718 e 719 do
Supremo Tribunal Federal. Além disso, o juiz aplicou a pena-base no mínimo legal,
não sendo possível fixar regime inicial de cumprimento mais severo, sob o
fundamento da gravidade em abstrato do delito, nos termos da Súmula 440 do
Superior Tribunal de Justiça. Logo, deveria o Magistrado fixar o regime inicial
semiaberto, nos termos do artigo 33, § 2º, alínea “b”, do Código Penal.
Questão 31
Wilson recebeu do seu irmão, Félix Solano, um embrulho em papel opaco e, sem qualquer razão
para desconfiar dele, atende seu pedido para levar o pacote, que considerava conter
medicamento, até a cidade de Niterói/RJ, para onde se dirigia, com o fito de entregá-lo no local
indicado por Félix. Durante o trajeto, Wilson é abordado por policiais rodoviários federais, que,
valendo-se de cães farejadores, procederam a uma revista no automóvel. Diante da agitação dos
cães, ao se aproximarem do pacote, os agentes policiais resolveram verificar o conteúdo,
constatando que se tratava de cocaína, substância entorpecente. Diante disso, Wilson foi preso
em flagrante e, após conclusão do respectivo inquérito policial, denunciado pela prática do crime
previsto no artigo 33, “caput”, da Lei nº 11.343/2006. Após regular instrução, o Magistrado julgou
procedente a ação, condenando Wilson como incurso nas sanções do artigo 33, “caput”, da Lei nº
11.343/2006. A defesa foi intimada no dia 19 de agosto de 2014 (terça-feira). Analise o caso
narrado e, com base apenas nas informações dadas, responda, fundamentadamente, aos itens a
seguir.

a) Qual o meio de impugnação a defesa de Wilson deverá fazer, datando a peça no último dia do
prazo fatal?

b) Qual tese de direito material pode ser adotada para a absolvição de Wilson?
a) A defesa de Wilson deverá interpor o Recurso de Apelação da sentença
condenatória, com fundamento no artigo 593, inciso I, do Código de Processo Penal,
no prazo de 5 dias, o qual terminaria no dia 25 de agosto de 2014.

b) A tese defensiva a ser aplicada é a ocorrência de erro de tipo invencível, inevitável


ou escusável, uma vez que Wilson não poderia imaginar que a substância
transportada por ele se trava de droga, nos termos do artigo 20 do Código Penal.
Neste caso, haveria a exclusão do dolo e da culpa, não persistindo a
responsabilização criminal do agente. Mister ressaltar que ainda que se tratasse de
erro de tipo vencível, evitável ou inescusável não haveria punição, pois o crime de
tráfico de drogas previsto no artigo 33 da Lei nº 11.343/06 não permite a punição da
modalidade culposa. O pedido correspondente seria o de absolvição com
fundamento no artigo 386, incisos III OU VI, do Código de Processo Penal. Também
considera-se o erro determinado por terceiro, previsto no artigo 20, § 2º do Código
Penal.
OBS: Como, no XIV Exame da OAB, cuja tese principal dos memoriais era erro de
tipo, a FGV considerou para pontuação tanto o artigo 386, inciso III (causa
excludente de tipicidade), como o artigo 386, inciso VI, conclui-se que temos
precedente para formular pedido de absolvição, no caso de erro de tipo, tanto pelo
inciso III, como pelo inciso VI, do artigo 386 do CPP.
Questão 32
No dia 15 de dezembro de 2011, por volta das 18 horas, na Rua Boa Sorte, nº 254, São Luiz
Gonzaga/RS, Tadeu Lombardi, por meio de golpes de barra de ferro, ofendeu a integridade física
de Jacinto Dor, sendo acusado de praticar lesão corporal grave, consistente na impossibilidade
de exercer ocupações habituais por mais de 30 dias. Todavia, não foram acostados aos autos
boletim de atendimento médico e exame de corpo de delito da vítima, não sendo, ainda, ouvidas
testemunhas acerca do fato. No seu interrogatório, o réu confessou ter praticado a agressão. O
Magistrado proferiu sentença, condenando Tadeu Lombardi, que é réu primário, como incurso nas
sanções do artigo 129, § 1º, inciso I, do Código Penal, fixando-lhe a pena de 01 ano e 08 meses
de reclusão. Como o crime foi praticado com violência, o Magistrado não substituiu a pena privativa
de liberdade em restritiva de direitos.

a) Em sede de recurso de apelação, qual argumento poderá ser apresentado em busca da


absolvição de Tadeu Lombardi? Justifique.

b) Ainda em sede de apelação, existe algum benefício legal a ser requerido pela defesa de Tadeu
para evitar a execução da pena, caso sejam mantidas a condenação e a sanção penal imposta?
Justifique.
a) Deveria o advogado de Tadeu buscar sua absolvição em razão da ausência de
prova da materialidade do delito, tendo em vista que não foi acostado nos autos o
boletim de atendimento médico ou exame de corpo de delito, direto ou indireto.
Também não foram ouvidas testemunhas, não podendo a confissão suprir a
necessidade de exame de corpo de delito, nos termos do artigo 158 do Código de
Processo Penal, que exige tal exame nos crimes que deixam vestígios. O pedido
seria de absolvição, com base no artigo 386, inciso II, do Código de Processo Penal.
OBS.: Não obstante o enunciado ter exigido tese absolutória, numa eventual peça
poderia ser arguida a nulidade do processo, pela falta de auto de exame de corpo de
delito, nos termos do artigo 564, inciso III, alínea “b”, do Código de Processo Penal.

b) Sim, existe o benefício da suspensão condicional da execução da pena, ou seja,


“sursis”, já que se trata de pena privativa de liberdade não superior a 02 anos, o réu
é primário e não é cabível a pena restritiva de direitos, já que o crime foi praticado
mediante violência, preenchendo, portanto, os requisitos do artigo 77 do Código
Penal.
Questão 33
No dia 07 de março de 2015, Caio, 40 anos, insatisfeito e com ciúmes da beleza de sua esposa,
Sílvia, 18 anos, efetua cinco disparos de arma de fogo contra ela, com a intenção de matar.
Arrependido, após acertar dois disparos no peito da esposa, Caio a leva para o hospital, onde ela
ficou em coma por uma semana. No dia 14 de março de 2015, porém, Silvia veio a falecer, em
razão das lesões causadas pelos disparos da arma de fogo. Ao tomar conhecimento dos fatos, o
Ministério Público ofereceu denúncia em face de Caio, imputando-lhe a prática do crime previsto
no artigo 121, §2º, inciso VI do Código Penal, uma vez que, em 09 de março de 2015, foi publicada
a Lei nº 13.104, que previu a qualificadora antes mencionada, pelo fato de o crime ter sido
praticado contra a mulher por razão de ser ela do gênero feminino. Durante a instrução da primeira
fase do procedimento do Tribunal do Júri, antes da pronúncia, todos os fatos são confirmados,
pugnando o Ministério Público pela pronúncia nos termos da denúncia. Em seguida, os autos são
encaminhados ao advogado de Caio para manifestação.

Considerando apenas as informações narradas, responda aos itens a seguir.

a) Qual a peça defensiva deverá ser apresentada e a sua fundamentação legal?

b) Qual o argumento de direito material para questionar a capitulação delitiva constante da exordial
acusatória?
a) A peça defensiva que deverá ser apresentada se trata de Memoriais, com
fundamento legal no artigo 403, §3°, do Código de Processo Penal combinado com
o artigo 394, §5°, do Código de Processo Penal.

b) O argumento de direito material para questionar a capitulação delitiva constante


da exordial acusatória é o de que a Lei nº 13.104/2015 se trata de uma "novatio legis
in pejus", a qual, nos termos do artigo 5°, inciso XL, da Constituição Federal/88, não
pode retroagir em prejuízo do acusado. A lei foi publicada em 09 de março de 2015
e a conduta do agente se deu em 07 de março de 2015, considerando a teoria da
atividade, nos termos do artigo 4° do Código Penal a lei não poderá retroagir, razão
pela qual deve a defesa postular o afastamento da qualificadora do feminicídio
constante no inciso VI, do artigo 121, §2º, do Código Penal.
Questão 34
Wilson, pretendendo matar Lucas, de 59 anos, realiza disparos de arma de fogo contra um homem
que estava na varanda da residência da vítima, causando a morte deste. Wilson, então, deixa o
local satisfeito, por acreditar ter concluído seu intento delitivo, mas vem a descobrir que matara
um amigo de Lucas, de 70 anos, que, de costas, era com ele parecido. Após conclusão do
inquérito policial, o Ministério Público ofereceu denúncia contra Wilson, imputando-lhe a prática
do crime de homicídio doloso, com a causa de aumento de pena em razão da idade vítima atingida
(art. 121, § 4º, do Código Penal). Após regular instrução, o Ministério Público pugnou pela
pronúncia nos termos da denúncia. A defesa foi intimada no dia 11 de novembro de 2020, que
caiu numa quarta-feira, para se manifestar. Com base na hipótese apresentada, responda, na
condição de advogado(a) de Wilson, fundamentadamente, aos itens a seguir.

a) Qual peça deverá ser apresentada pela defesa de Wilson e qual o último dia do prazo?
Justifique.

b) Existe argumento de direito material a ser apresentado em favor de Wilson em busca de uma
decisão mais branda do que a postulado pelo Ministério Público? Justifique.
a) A peça cabível seria memoriais, com base no artigo 403, § 3º, do Código de
Processo Penal. O último dia do prazo seria dia 16.11.2020.

b) A tese de direito material seria a incidência do erro sobre a pessoa, previsto no


artigo 20, §3º, do Código Penal, uma vez que Wilson pretendia matar Lucas, mas,
por erro na identificação, acabou matando um amigo de Lucas, que contava com 70
(setenta) anos de idade. Logo, deve-se considerar as condições e qualidades da
vítima pretendida, qual seja, Lucas, que contava com 59 (cinquenta e nove) anos de
idade. Assim, deve ser afastada a causa de amento de pena, prevista no art. 121,
§4º, do Código Penal, já que a vítima pretendida contava com idade inferior a 60
(sessenta) anos.
Questão 35
Caio, policial federal, após desmantelar uma perigosa organização criminosa responsável por
inúmeros crimes contra a administração pública, passou a receber inúmeras ameaças. Uma
semana depois da operação policial que culminou na prisão do líder do grupo criminoso em
questão, seu filho adotivo Tício foi assassinado por Mévio (número 2 na hierarquia do grupo
criminoso), tendo a investigação chegado à conclusão de que o motivo do homicídio foi o fato de
Tício ser filho de Caio, havendo um nexo funcional entre a morte de Tìcio e a profissão de policial
federal exercida por seu pai. Posteriormente, Mévio foi denunciado pelo crime de homicídio
qualificado, previsto no artigo 121, § 2º, inciso VII, do Código Penal, tendo sido o réu citado e
respondido à acusação. Encerrada a instrução processual, o Ministério Público se manifestou pela
pronúncia de Mévio, nos exatos termos da denúncia. No dia 07 de outubro de 2020, a defesa é
intimada para se manifestar. Com base nas informações acima narradas e, considerando que dia
12 de outubro é Feriado Nacional, responda aos seguintes questionamentos.

a) Qual a peça processual cabível, a fundamentação legal e o último dia do prazo?

b) Qual a tese de direito material poderá ser alegada para fins de diminuição da responsabilidade
penal de Mévio?
a) A peça processual cabível é o oferecimento de Memoriais Escritos, nos termos do
artigo 403, §3º, do Código de Processo Penal c/c artigo 394, §5º, do Código de
Processo Penal, sendo o último dia do prazo o dia 13 de outubro de 2020.

b) A tese de direito material aplicável para fins de diminuição da responsabilidade


penal de Mévio é o afastamento da qualificadora prevista no artigo 121, §2º, inciso
VII, do Código Penal, uma vez que no Direito Penal, em razão do Princípio da
Legalidade, previsto no artigo 5º, inciso XXXIX, da Constituição Federal/88 e no
artigo 1º do Código Penal, é vedada a analogia in mallan partem, tendo em vista que
a qualificadora em questão somente é aplicável ao parentesco consanguíneo, não
abrangendo a filiação adotiva.
Questão 36
Mariquinha, apavorada com o fato de ter engravidado de seu namorado, Félix Solano, de vinte e
oito anos de idade, resolveu interromper a gravidez, provocando a morte do feto. Diante disso,
após ingerir medicamento contendo substância abortiva, começou a passar mal, sendo levada ao
hospital, oportunidade em que revelou ao médico a substância ingerida, recebendo a notícia de
que o feto estava bem e em desenvolvimento. Observando o seu dever de ofício, o médico
comunicou o fato à autoridade policial, que, de imediato, deslocou-se até o hospital. No curso do
inquérito policial, uma amostra da referida substância foi recolhida para análise e enviada ao
Instituto de Criminalística, ficando comprovado que, pelas condições de armazenamento e
quantidade ingerida, não seria hábil para produzir os efeitos a que estava destinada, qual seja,
causar o aborto. A autoridade policial concluiu o inquérito policial e encaminhou ao Ministério
Público, que, após constatar que Mariquinha respondia a outro processo criminal, ofereceu
denúncia, imputando a ela a prática do delito aborto tentado, previsto no artigo 124 c/c o artigo 14,
inciso II, ambos do Código Penal. Durante a instrução, Mariquinha exerceu o seu direito de
permanecer em silêncio. Encerrada a instrução, após apresentação das alegações derradeiras
pelas partes, o Magistrado proferiu decisão de pronúncia, encaminhando a ré a Júri pela prática
do crime do artigo 124 c/c o artigo 14, inciso II, ambos do Código Penal. A defesa foi intimada para
apresentar a peça correspondente no dia 20 de novembro de 2017 (segunda-feira). Em face dessa
situação hipotética, analise o caso narrado e, com base apenas nas informações dadas, responda,
fundamentadamente, aos itens a seguir.

a) Qual a peça de defesa que Mariquinha deverá apresentar e qual o último dia do prazo para sua
interposição?

b) Qual a tese de direito material pode ser adotada em favor de Mariquinha e o pedido
correspondente?
a) A defesa de Mariquinha deverá apresentar Recurso em Sentido Estrito, com base
no artigo 581, IV, do Código de Processo Penal. O prazo para apresentação do
recurso é de 5 dias, logo, considerando que a intimação se deu no dia 20/11/2017,
segunda-feira, o prazo final será o dia 27/11/2017 (segunda), pois o último dia seria
25/11/2017, sábado, sendo prorrogado para o próximo dia útil. Nos termos do artigo
798, §1º e 3º, do Código de Processo Penal.

b) A tese defensiva a ser sustentada é a incidência do crime impossível, previsto no


artigo 17 do Código Penal, visto que o meio utilizado era absolutamente ineficaz para
produzir o resultado pretendido. O pedido a ser postulado é a absolvição sumária,
nos moldes do artigo 415, inciso III, do Código de Processo Penal, em face da
atipicidade da conduta.
Questão 37
Ao sair do trabalho, Wilson costumava passar a pé por uma estrada onde comumente aconteciam
assaltos, razão pela qual, por cautela, sempre andava armado, já que detinha porte legal de arma.
Certo dia, ao atingir o local mais ermo da estrada, Wilson nota que uma pessoa se encaminha
rapidamente em sua direção, colocando uma das mãos no bolso, ao mesmo tempo em que
gesticulava de forma veemente para Wilson com a outra mão. Quando a pessoa se aproximou
ainda mais, com a mão no bolso e ainda gesticulando, Wilson sacou da sua arma e atirou contra
o indivíduo, que caiu ao solo, mas acabou sobrevivendo. Ao se aproximar do indivíduo, Wilson
verifica que ele pretendia pegar um cigarro. Diante disso, Wilson foi denunciado e pronunciado
pela prática do delito de tentativa de homicídio, previsto no artigo 121, "caput", c/c artigo 14, inciso
II, ambos do Código Penal.

Analise o caso narrado e, com base apenas nas informações dadas, responda,
fundamentadamente, aos itens a seguir.

a) Qual o meio de impugnação a defesa de Wilson deverá utilizar e qual o último dia do prazo para
apresentá-lo, considerando a intimação no dia 24 de novembro de 2014 (quarta-feira)?

b) Qual tese de direito material pode ser adotada em busca da absolvição sumária de Wilson?
a) A defesa de Wilson deverá interpor recurso em sentido estrito, com fundamento
no artigo 581, inciso IV, do Código de Processo Penal. O prazo para a interposição
em questão, nos termos do artigo 586 do Código de Processo Penal, é de 5 dias.
Ademais, considerando que a defesa de Wilson foi intimada em 24 de novembro de
2014 o último dia do prazo seria o dia 29 de novembro de 2014.

b) O candidato deverá abordar a tese da legítima defesa putativa, nos termos do


artigo 20, § 1º, do Código Penal, uma vez que a agressão era imaginária. Pedido de
absolvição sumária, com base no artigo 415, inciso III, do Código de Processo Penal.
Admite-se o artigo 415, inciso IV, do Código de Processo Penal.

Pela teoria limitada da culpabilidade, quando a descriminante putativa incidir sobre


pressupostos de uma situação de fato (exemplo: o agente imaginar que está diante
de uma injusta agressão, mas que era imaginária. Supor que o desafeto iria sacar
uma arma, quando, na verdade, era um celular), o efeito em relação à conduta do
agente é o mesmo do erro de tipo (artigo 20 do Código Penal): Se o erro foi
invencível, exclui o dolo e a culpa; se vencível, exclui o dolo, mas o agente responde
pelo delito culposo, se previsto em lei. Em síntese: As descriminantes putativas por
situação de fato têm o mesmo efeito do erro de tipo, podendo levar à exclusão do
crime (exclusão da tipicidade). Como, no XIV Exame da OAB, cuja tese principal dos
memoriais era erro de tipo, a FGV considerou para pontuação tanto o artigo 386,
inciso III (causa excludente de tipicidade), como o artigo 386, inciso VI (excludente
de culpabilidade. OBS: Alguns doutrinadores defendem que as descriminantes
putativas deveriam ser tratadas como causas excludentes de culpabilidade), conclui-
se que temos precedente para formular pedido de absolvição sumária tanto pelo
inciso III, como pelo inciso IV, do artigo 415 do Código de Processo Penal.
Questão 38
Considere que, no dia 01 de janeiro de 2018, Nidal tenha adquirido uma arma de fogo de uso
permitido com o único e exclusivo objetivo de matar seu inimigo Mauro. Após a aquisição da
referida arma, imediatamente entra na casa de Mauro, posto que este era doente e nunca saia de
casa. Em seguida, Nidal efetua três disparos contra Mauro, o qual vem a falecer imediatamente.
Ato contínuo, o meliante em questão foge, sendo, todavia, preso em flagrante delito poucos
minutos depois pela Delegacia de Homicídios da cidade de Santa Cruz do Sul/RS. Considere
ainda que Nidal tenha sido regularmente denunciado e processado pelos crimes previstos nos
artigos 121 e 150, ambos do Código Penal e artigo 14 da Lei nº 10.826/03, na forma do artigo 69
do Código Penal. Posteriormente, no dia 10 de dezembro de 2018 (segunda-feira), a defesa é
intimada da decisão de pronúncia, nos exatos termos da denúncia.

Nesse sentido, tendo como base apenas as informações contidas no enunciado, responda
justificadamente às questões a seguir.

a) Qual a peça processual, diferente de "Habeas corpus", a ser apresentada pela defesa técnica,
sua fundamentação legal e o último dia do prazo?

b) Qual a tese de direito material para fins de diminuir a responsabilidade penal de Nidal?
) A peça a ser apresentada pela defesa técnica é o Recurso em Sentido Estrito, nos
termos do artigo 581, inciso IV, do Código de Processo Penal. O último dia do prazo
é 17 de dezembro de 2018 (segunda-feira), nos termos dos artigos 586, 798, §3º,
ambos do Código de Processo Penal e Súmulas 310 e 710 do Supremo Tribunal
Federal.

b) A tese de direito material para fins de diminuir a responsabilidade penal de Nidal é


o reconhecimento de crime único devendo ser afastado o concurso material de crimes,
tendo em vista que o porte ilegal de arma de fogo e a violação de domicílio configuram
mera fase de preparação ou execução do crime principal, qual seja, o de homicídio,
devendo ser absorvido com fundamento no Princípio da Consunção.
Questão 39
Carleto foi denunciado pela prática do injusto de homicídio simples porque teria desferido disparos,
com sua arma regular, contra seu vizinho Mário durante uma discussão, causando-lhe as lesões
que foram a causa da morte da vítima. Logo que recebida a denúncia, Carleto foi submetido à
exame de insanidade mental, tendo o laudo concluído que ele se encontrava nas condições do
artigo 26, "caput", do Código Penal. Finda a primeira etapa probatória do procedimento dos crimes
dolosos contra a vida, no momento das alegações finais, a defesa técnica de Carleto, escorada
no exame de insanidade mental e na confissão de Carleto, a fim de evitar o julgamento popular
requereu a absolvição sumária, em razão da inimputabilidade. O juiz, ao final da primeira fase do
procedimento, pronunciou o acusado pela prática do delito de homicídio, sustentando que a lei
não permite acolher o pleito da defesa, pois não é dado ao magistrado, neste momento,
reconhecer a inimputabilidade do acusado, com base no artigo 26, "caput", do Código Penal e
evitar o julgamento popular. A família de Carleto, insatisfeita com a decisão do juiz que resultará
em um julgamento perante os jurados no Tribunal do Júri, procura você, como advogado(a), para
a adoção das medidas cabíveis.

Considerando o caso narrado, responda, na condição de advogado(a) de Carleto, aos itens a


seguir.

a) Qual o recurso cabível para a defesa combater aquela decisão? Justifique.

b) Qual a tese jurídica de direito processual que a defesa de Carleto poderá alegar para combater
a decisão respectiva? Justifique.
) O recurso cabível será o Recurso em Sentido Estrito, nos termos do artigo 581,
inciso IV, do Código de Processo Penal.

b) O Magistrado está equivocado, pois o artigo 415, parágrafo único, do Código de


Processo Penal permite, quando a única tese de defesa for a inimputabilidade, a
absolvição sumária e, consequentemente, será evitada a segunda fase do júri.
Questão 40
Wilson, irado e nervoso, entra em sua casa, após séria e acirrada discussão com Tobias, seu
vizinho, com quem tem profunda desavença. Desesperado, apanha a primeira arma que visualiza.
Na sequência, sai ao encalço do vizinho e, tomado por violenta emoção, aponta-lhe a arma,
acionando o gatilho várias vezes. Porém, nenhum disparo é detonado, sendo Wilson detido por
populares, que chamaram a polícia. Instaurado inquérito policial, a arma foi apreendida e
encaminhada a perícia, que constatou que a arma não deflagraria qualquer tiro, porque
apresentava defeito. O Ministério Público ofereceu denúncia contra Wilson, pela prática do delito
de tentativa de homicídio. Após regular instrução, o Magistrado pronunciou Wilson como incurso
no delito do artigo 121, "caput", c/c o artigo 14, inciso II, ambos do Código Penal.

Analise o caso narrado e, com base apenas nas informações dadas, responda,
fundamentadamente, aos itens a seguir

a) Qual a peça cabível contra a decisão proferida pelo Magistrado e a quem deve ser endereçado?

b) Qual tese de direito material pode ser invocada para absolvição de Wilson e o pedido
correspondente?
a) A peça cabível é a interposição de Recurso em Sentido Estrito, com fundamento
no artigo 581, inciso IV, do Código de Processo Penal. Além disso, mister ressaltar
que a peça de interposição deverá ser dirigida ao Juiz da Vara do Júri e as razões
ao Tribunal de Justiça.

b) A tese defensiva é a ocorrência de crime impossível, nos termos do artigo 17 do


Código Penal, uma vez que, conforme perícia realizada na arma de fogo, não haveria
possibilidade de disparo, restando comprovada a tentativa inidônea em razão da
ineficácia absoluta do meio. O pedido a ser elaborado em sede de Recurso em
Sentido Estrito é o de absolvição sumária, com fundamento no artigo 415, inciso III,
do Código de Processo Penal.
Questão 41
Tício foi denunciado pela prática de homicídio qualificado pelo motivo torpe (Art. 121, § 2º, inciso
I, do CP). A denúncia foi recebida e, no decorrer da instrução processual, a defesa requereu
exame de insanidade mental do acusado (Art. 149 e seguintes do CPP). Ao final do referido
incidente, restou devidamente comprovado que Tício, ao tempo da ação, em razão de doença
mental, era inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de
acordo com esse entendimento. Nos debates, a defesa alegou que Tício teria agido em legítima
defesa. O Magistrado, com base no exame de insanidade mental, proferiu decisão absolvendo
sumariamente o réu, com aplicação de medida de segurança, consistente na internação. Com
base nas informações expostas, responda, como advogado(a) contratado por Tício, aos itens a
seguir.

a) Qual peça deve ser apresentada pela defesa de Tício?

b) Qual o argumento de direito material poderia ser invocado contra a decisão proferida pelo
Magistrado?
a) O recurso cabível é o de Apelação, com base no artigo 416 do Código de Processo
Penal.

b) O Juiz absolveu sumariamente o réu em razão da inimputabilidade. Todavia, nos


termos do artigo 415, parágrafo único, do Código de Processo Penal, o juiz não
poderia ter absolvido sumariamente em razão da inimputabilidade porque essa não
era a única tese defensiva. No caso, o Magistrado somente poderia absolver
sumariamente com reconhecimento da legítima defesa e sem aplicação de medida
de segurança, ou submeter o réu a julgamento perante o Tribunal do Júri para análise
da excludente de ilicitude.
Questão 42
Andriotti, líder local do Movimento dos Sem Terras, foi pronunciado pela prática de homicídio
qualificado tendo como vítima um Fazendeiro chamado João Netto, o qual era muito conhecido
na comunidade por suas benfeitorias à região. O fato ocorreu no município João Gabriel, local
conhecido por constantes conflitos envolvendo terras. Sabe-se que as pessoas da Comarca
repercutem o assunto, sempre se posicionando a respeito do caso, havendo fundadas suspeitas
sobre a imparcialidade do Júri. Desta forma, na condição de advogado de Andriotti, responda de
forma fundamentada:

a) Qual seria a medida adequada para assegurar da melhor maneira os interesses de seu cliente,
considerando que o julgamento foi designado para ocorrer daqui três meses?

b) A quem deverá ser endereçada?


a) A medida adequada é o Pedido de Desaforamento, nos termos do artigo 427 do
Código de Processo Penal, em razão das fundadas suspeitas da imparcialidade dos
Jurados.

b) A medida deverá ser endereçada ao Tribunal de Justiça, conforme o "caput" do


artigo 427 do Código de Processo Penal. Trata-se de uma medida excepcional que
desloca a competência de julgamento.
Questão 43
No dia 25 de setembro de 2011, após uma discussão no trabalho quando todos comemoravam os
20 anos de Júlio, este desfere uma facada no braço de Ricardo, que fica revoltado e liga para a
Polícia, sendo Júlio preso em flagrante pela prática do injusto de homicídio tentado, obtendo
liberdade provisória logo em seguida. O laudo de exame de delito constatou a existência de lesão
corporal grave. O Ministério Público, com base no inquérito policial, ofereceu denúncia pela prática
do crime de homicídio tentado, recebida pelo juiz em 28 de setembro de 2012. Após regular
processamento do feito, o juiz da vara criminal do Tribunal do Júri proferiu decisão de
desclassificação, pois considerou que não havia intenção de matar, sendo os autos remetidos
para o Juízo competente. O juízo da vara criminal competente, ao término da instrução, sentenciou
o feito, condenando Júlio a uma pena de 01 ano e 02 meses pelo delito de lesão corporal grave,
sendo a decisão publicada no dia 05 de outubro de 2014. O Ministério Público não interpôs
recurso.

A defesa de Júlio foi intimada da decisão. Na ocasião, você, como advogado(a) de Júlio, responda
aos itens a seguir.

a) Qual a tese defensiva a ser alegada, de modo a impedir que Júlio cumpra a pena que lhe foi
aplicada?

b) Quais as consequências jurídicas do acolhimento dessa tese? Aquela condenação poderá ser
considerada para efeito de reincidência futuramente?
a) Nesse caso, ocorreu a prescrição da pretensão punitiva retroativa. Considerando
a pena aplicada de 01 ano e 02 meses, bem como o trânsito em julgado para a
acusação, o prazo de prescrição seria de 04 anos, nos termos do artigo 109, inciso
V, do Código Penal. Todavia, como o réu era menor de 21 anos à época do fato, o
prazo prescricional é reduzido pela metade, nos termos do artigo 115 do Código
Penal, ficando, portanto, em 02 anos. Assim, considerando que a denúncia foi
recebida em 28/09/2012 e a sentença penal condenatória foi publicada no dia
05/10/2014, concluiu-se que incidiu no caso a prescrição da pretensão punitiva
retroativa, já que entre a data do recebimento da denúncia e da publicação da
sentença condenatória passaram mais de 02 anos.

b) A consequência seria o reconhecimento da extinção da punibilidade de Júlio, com


base no artigo 107, inciso IV, do Código Penal. A condenação não poderá ser usada
para fins de reincidência, uma vez que, com a incidência da prescrição, não há
trânsito em julgado da sentença penal condenatória.
Questão 44
No dia 18 de outubro de 2005, Eratóstenes praticou um crime de corrupção ativa em transação
comercial internacional (artigo 337-B do Código Penal), cuja pena é de 1 a 8 anos e multa.
Devidamente investigado, Eratóstenes foi denunciado e, em 20 de janeiro de 2006, a inicial
acusatória foi recebida. O processo teve regular seguimento e, ao final, o Magistrado sentenciou
Eratóstenes, condenando-o à pena de 1 ano de reclusão e ao pagamento de dez dias-multa. A
sentença foi publicada em 7 de abril de 2007. O Ministério Público não interpôs recurso, tendo, tal
sentença, transitado em julgado para a acusação. A defesa de Eratóstenes, por sua vez, que
objetivava sua absolvição, interpôs sucessivos recursos. Até o dia 15 de maio de 2011, o processo
ainda não havia sido definitivamente julgado.

Nesse sentido, considerando apenas os dados narrados no enunciado, responda aos itens a
seguir.

a) No caso apresentado, é possível extrair alguma tese de direito material para fins de evitar a
responsabilização penal de Eratóstenes?

b) Se Erastótenes fosse reincidente, incidiria no caso o acréscimo de 1/3 do prazo prescricional


previsto na parte final do artigo 110, "caput", do Código Penal?
a) A tese favorável à defesa é a ocorrência de causa extintiva de punibilidade em
razão da prescrição da pretensão punitiva, nos termos do artigo 107, inciso IV, artigo
109, inciso V e artigo 110, §1º, todos do Código Penal, uma vez que entre a
publicação da sentença condenatória com trânsito em julgado para o Ministério
Público e a data de 15 de maio de 2011 transcorreu o prazo de 4 anos.

b) Se Erástones fosse reincidente não se aplicaria o acréscimo de 1/3 do prazo


prescricional previsto na parte final do artigo 110, "caput", do Código Penal, uma vez
que tal situação somente é aplicável à prescrição da pretensão executória, nos
termos da Súmula 220 do STJ, não se aplicando a prescrição da pretensão punitiva,
nos termos do artigo 110, §1º, do Código Penal.
Questão 45
No dia 02 de agosto de 2016, Nilo Abreu, nascido em 05 de janeiro de 1996, furtou vários relógios
de ouro e outros objetos de uma Joalheria, localizada na Praça da Matriz na Cidade de São Luiz
Gonzaga. Após investigação para apurar os fatos, a autoridade policial concluiu o Inquérito Policial
em 02 de setembro de 2020. No dia 10 de setembro de 2020, o representante do Ministério Público
ofereceu denúncia, atribuindo a Nilo Abreu a prática do crime previsto no artigo 155, “caput”, do
Código Penal. A denúncia foi recebida no dia 11 de setembro de 2020 (sexta-feira), sendo o réu
citado no dia 05 de outubro de 2020 (segunda-feira). Com base nas informações expostas,
responda, como advogado(a) contratado por Nilo Abreu, aos itens a seguir.

a) Qual a peça cabível e qual o último dia do prazo para apresentá-la?

b) Qual o argumento a ser apresentado em favor de Nilo Abreu para evitar sua punição?
a) A peça cabível seria resposta à acusação, com base nos artigos 396 e 396-A,
ambos do Código de Processo Penal. O último dia do prazo seria 15 de outubro de
2020 (quinta-feira).

b) O crime em questão se encontra prescrito pela pena em abstrato, nos termos dos
artigos 107, inciso IV, 109, inciso IV e 115, todos do Código Penal. A pena máxima
cominada ao crime de furto simples é de 04 anos. Nos termos do artigo 109, inciso
IV, do Código Penal, o prazo prescricional seria de 08 anos. Todavia, considerando
que o réu era menor de 21 anos à época do fato, o prazo prescricional será reduzido
pela metade, nos termos do artigo 115 do Código Penal, sendo, portanto, de 04 anos.
Assim, como entre a data da consumação até o recebimento da denúncia já
decorreram 04 anos, incidiu, no caso, a prescrição da pretensão punitiva em
abstrato, incidindo extinção da punibilidade, com base no artigo 107, inciso IV, do
Código Penal. Como se trata de resposta à acusação, o pedido seria de absolvição
sumária, com base no artigo 397, inciso IV, do Código de Processo Penal.
Questão 46
No dia 02 de janeiro de 2004, Nilo Abreu, que contava com 19 anos de idade na época do fato,
furta vários relógios de ouro de uma Joalheria, localizada na Praça da Matriz na Cidade de São
Luiz Gonzaga. Após longa instrução para apurar os fatos, a autoridade policial conclui o Inquérito
Policial em 02 de junho de 2008. Após receber vista do procedimento policial, no dia 08 de junho
de 2008, o representante do Ministério Público ofereceu denúncia, atribuindo a NILO ABREU a
prática do crime previsto no Art. 155, “caput”, do CP. O Magistrado recebeu a denúncia e
determinou a citação de Nilo Abreu, sendo o mandado de citação devidamente cumprido.
Considerando as informações narradas, responda aos itens a seguir.

a) Qual a peça processual, diversa de habeas corpus, a ser adotada pela defesa técnica de Nilo
Abreu?

b) Qual argumento de direito material deverá ser apresentado em favor de Nilo Abreu e qual o
pedido a ser formulado?
a) A peça processual cabível será Resposta à Acusação, com base nos artigos 396
e 396-A, ambos do Código de Processo Penal.

b) O argumento de direito material a ser apresentado é que ocorreu a prescrição da


pretensão punitiva em abstrato, pois entre a data do fato até a data do recebimento
da denúncia, decorreu o prazo de 4 anos, com fulcro no artigo 109, inciso IV, do
Código Penal. Nota-se que, neste caso, conforme dispõe o artigo 115 do Código
Penal, o prazo prescricional do delito de furto simples será reduzido pela metade,
pois o autor era menor de 21 anos na data do fato, devendo, portanto, ser
considerado como prazo prescricional a metade de 8 anos, ou seja, 4 anos. Logo,
incidiu, no caso de prescrição da pretensão punitiva, causa de extinção da
punibilidade, conforme o artigo 107, IV, Código Penal. Como se trata de resposta a
acusação o pedido a ser formulado é a absolvição sumária, com base no artigo 397,
inciso IV, do Código de Processo Penal.
Questão 47
No dia 05 de novembro de 2006, Félix Salvador, nascido em 07 de junho de 1986, após manobra
imprudente, atropelou Cidinha Coitada, causando-lhe a morte. Diante disso, a autoridade policial
instaurou o respectivo inquérito policial pela prática do crime de homicídio culposo na condução
de veículo automotor, previsto no Art. 302, “caput” do Código de Trânsito Brasileiro. No dia 05 de
abril de 2009, a autoridade policial encaminhou o inquérito policial ao Poder Judiciário. Os autos
foram remetidos ao Ministério Público, que ofereceu denúncia contra Félix Salvador, imputando-
lhe a prática do crime previsto no Art. 302, “caput”, do Código de Trânsito Brasileiro. A denúncia
foi recebida em 10 de abril de 2009. Após várias intercorrências na elaboração da prova pericial,
aliada à dificuldade de localizar uma testemunha da defesa, foi realizada audiência de instrução
no dia 24 de junho de 2013, sendo ouvidas as testemunhas da acusação, a testemunha da defesa,
com final interrogatório do réu. Declarada encerrada a instrução, o Ministério Público pugnou pela
condenação nos termos da denúncia. Você, na condição de advogado(a) de Félix, foi intimado(a).
Considerando as informações narradas, responda aos itens a seguir:

a) Qual a peça processual, diversa de habeas corpus, a ser adotada pela defesa técnica de Félix?

b) Qual argumento de direito material, diverso da absolvição, para evitar que Félix seja punido
pelo delito que lhe foi imputado?
a) A peça processual cabível será Alegações Finais por Memoriais OU Memoriais
Escritos, com base no artigo 403, § 3º, do Código de Processo Penal.

b) O argumento de direito material a ser apresentado é que ocorreu a prescrição da


pretensão punitiva em abstrato, pois entre a data do recebimento da denúncia
(10/04/2009) até a data da audiência de instrução (24/06/2013), decorreu o prazo de
4 anos. Nota-se que, neste caso, conforme dispõe o artigo 115 do Código Penal, o
prazo prescricional do delito de homicídio culposo na condução de veículo
automotor, previsto no artigo 302, “caput”, do Código de Trânsito Brasileiro será
reduzido pela metade, pois o autor era menor de 21 anos na data do fato. Logo, o
prazo prescricional que seria de 08 anos, nos termos do artigo 109, IV, do Código
Penal, será reduzido pela metade, sendo, portanto, de 04 anos.
Questão 48
Wilson foi preso em flagrante pela suposta prática dos crimes conexos de lesão corporal seguida
de morte (Art. 129, § 3º, do CP), ocultação de cadáver (Art. 211 do CP) e dois delitos de furto
qualificado em razão do rompimento de obstáculo (Art. 155, § 4º, inciso I, c/c Art. 71, ambos do
CP). De acordo com as informações obtidas, na cidade de Niterói/RJ, Wilson, mediante
rompimento de obstáculo, subtraiu bens de duas residências, sem emprego de violência ou grave
ameaça à pessoa. Já quando estava com os bens dentro de um caminhão, na cidade de São
Gonçalo/RJ, veio a ser encontrado por uma das vítimas, iniciando-se uma discussão. Durante a
discussão, Wilson desferiu um golpe na cabeça da vítima, com intenção de lesioná-la, mas acabou
por causar o resultado morte de maneira culposa. Temendo pelas consequências de seus atos,
Wilson enterrou o corpo da vítima em Itaboraí/RJ, evadindo-se, em seguida, para se esconder em
sua residência, localizada em Silva Jardim/RJ. Ocorre que o autor do fato foi localizado e preso
em flagrante por policiais, na cidade do Rio de Janeiro, antes de chegar em sua casa. Após
conclusão do inquérito policial, a denúncia foi oferecida perante o juízo criminal da Comarca de
Niterói/RJ. A denúncia foi recebida, sendo Wilson devidamente citado, mas não apresentou a
resposta à acusação e nem constituiu defensor para apresentá-la. Diante da inércia de Wilson, o
Magistrado decretou sua revelia e designou audiência de instrução e julgamento. Encerrada a
instrução, o Ministério Público pugnou pela condenação do réu nos termos da denúncia.
Considerando as informações narradas, responda, na condição de advogado(a) nomeado para
acompanhar Wilson a partir da audiência de instrução, na ocasião da apresentação dos memoriais
escritos.

a) Qual argumento de direito processual poderia ser alegado em busca da anulação do processo
a partir da citação de Wilson? Justifique

b) A denúncia foi oferecida perante o juízo competente? Justifique.


a) O argumento de direito processual é no sentido de que houve nulidade do
processo a partir da citação em razão da ausência de nomeação de defensor para
apresentar a resposta à acusação. Nos termos do artigo 396-A, §2º do código de
Processo Penal, se o réu, devidamente citado, não apresentar resposta à acusação
ou não constituir defensor, deverá o juiz nomear defensor para oferecê-la no prazo
de 10 (dez) dias.
Logo, ao decretar a revelia do réu, o Magistrado se equivocou ensejando evidente
cerceamento ao exercício do direito de defesa, violando, assim, o disposto nos
artigos 396-A, §2º, 261 e 564, inciso III, alínea ‘c’, todos do Código de Processo
Penal, e o artigo 5º, inciso LV da Constituição Federal/88. Esse, ainda, é o
entendimento que se extrai da Súmula 523 do Supremo Tribunal Federal, segundo
a qual a falta de defesa, no processo penal, constitui nulidade absoluta.

b) Não, a denúncia não foi oferecida no juízo competente. O crime de lesão corporal
seguida de morte prevê pena de 04 a 12 anos, conforme artigo 129, §3º do código
Penal. O crime de ocultação de cadáver prevê pena de 01 a 03 anos, nos termos do
artigo 211 do Código Penal. O crime de furto qualificado prevê pena de 02 a 08 anos,
conforme artigo 155, §4º do Código Penal. Como há conexão entre os crimes, a
competência é determinada pelo lugar da infração, à qual for cominada a pena mais
grave, nos termos do artigo 78, II, ‘a’ do Código de Processo Penal. No caso, o crime
que prevê pena mais grave é o de lesão corporal seguida de morte, praticado na
cidade de São Gonçalo/RJ. Logo, o juízo competente para processar e julgar os
crimes conexos é o de São Gonçalo/RJ.
Questão 49
Leonardo efetuou golpe de barra de ferro contra Leandro, sem a intenção de causar sua morte,
sendo que somente conseguiu atingir o braço de seu inimigo, o qual necessitou de atendimento
médico em virtude da lesão grave produzida. Durante o deslocamento ao pronto socorro municipal
para tratamento do edema em questão, houve um acidente de trânsito, no qual um caminhão
atravessou a pista colidindo com a ambulância na qual Leandro se encontrava, causando a morte
de todos os ocupantes do referido veículo. Descobertos os fatos, considerando que Leandro
somente estava na ambulância em razão do comportamento de Leonardo, o Ministério Público
oferece denúncia em face do autor dos disparos pela prática do crime de homicídio consumado,
previsto no artigo 121, “caput”, do Código Penal. Após regular prosseguimento do feito, na
audiência de instrução e julgamento da primeira fase do procedimento do Tribunal do Júri, quando
da oitiva das testemunhas, o Magistrado em atuação optou por iniciar a oitiva das testemunhas
formulando diretamente suas perguntas, sem permitir às partes complementação. Após alegações
finais orais das partes, o Magistrado proferiu decisão de pronúncia. Apesar da impugnação da
defesa quanto à formulação das perguntas pelo Juiz, o Magistrado esclareceu que não importaria
quem fez a pergunta, pois as respostas seriam as mesmas. Com base apenas nas informações
narradas, na condição de advogado(a) de Leonardo, responda aos itens a seguir.

a) Qual o recurso cabível da decisão proferida pelo Magistrado e qual argumento de direito
processual pode ser apresentado em busca da desconstituição de tal decisão? Justifique.

b) Existe argumento de direito material a ser apresentado, em momento oportuno, para questionar
a capitulação jurídica apresentada pelo Ministério Público e qual pedido deverá ser formulado?
Justifique.
a) O recurso cabível da decisão de pronúncia é o Recurso em Sentido Estrito, nos
termos do artigo 581, inciso IV, do Código de Processo Penal. Em relação ao
argumento de direito processual, deveria o candidato alegar que houve nulidade
durante a instrução probatória, tendo em vista que o Magistrado formulou
diretamente perguntas às testemunhas, sendo que o Código de Processo Penal
prevê o sistema de cross examination para oitiva das testemunhas, cabendo às
partes formularem as perguntas diretamente para as testemunhas, podendo ser
complementados pelo Magistrado, na forma do artigo 411 e artigo 212, ambos do
Código de Processo Penal. No caso, o Magistrado formulou diretamente as
perguntas, não oportunizou às partes a complementação e houve devida
impugnação em momento adequado. A conduta do juiz configura cerceamento de
defesa, de modo que devem ser anulados todos os atos desde a instrução.

b) Em relação ao argumento de direito material, deveria a defesa de Leonardo


questionar a capitulação jurídica realizada pelo Ministério Público, uma vez que nos
termos do artigo 13, parágrafo 1°, do Código Penal, o acidente de ambulância
configura uma concausa superveniente relativamente independente que por si só
produziu o resultado morte de Leandro, devendo haver a exclusão do resultado
morte. Assim, Leonardo deve responder pelos atos praticados até aquele momento
de acordo com a sua finalidade, qual seja, o delito de lesão corporal grave. Deve ser
formulado o pedido de desclassificação e remessa ao juízo competente, nos termos
do artigo 419 do CPP.
Questão 50
Wilson foi denunciado pela prática de um crime de homicídio simples. No dia anterior ao
julgamento em plenário, o Ministério Público juntou ao processo a Folha de Antecedentes
Criminais (FAC) do acusado, conforme requerido quando da manifestação em diligências, em que
constavam anotações referentes a processos pela prática de tráfico de drogas. Na data do
julgamento, mas antes de iniciar a Sessão Plenário do Júri, a defesa de Wilson vem a tomar
conhecimento da juntada da FAC. No dia do julgamento, durante o debate em plenário, o Ministério
Público faz expressa referência à folha de antecedentes criminais do réu, destacando o seu
envolvimento em crimes anteriores. Ao final, ao serem indagados, os jurados consideraram o réu
responsável pelo delito de homicídio, sendo, pois, condenado. O Magistrado, ao fixar a pena,
tornou a reprimenda definitiva em 06 (seis) anos de reclusão, em regime semiaberto. A defesa de
Wilson é intimada no dia 17 de julho de 2015, sexta-feira. Em face dessa situação hipotética,
analise o caso narrado e, com base apenas nas informações dadas, responda,
fundamentadamente, aos itens a seguir.

a) Qual o recurso que a defesa de Wilson deverá interpor e qual o último dia do prazo para
apresentá-la?

b) Qual argumento de direito processual pode ser apresentado em busca da desconstituição do


julgamento perante o plenário do júri? Justifique
a) O examinando deveria indicar que o recurso a ser interposto é o recurso de
Apelação, com base no artigo 593, inciso III, alínea “a”, do Código de Processo
Penal. Considerando que a defesa foi intimada no dia 17.07.2015, sexta-feira, o
prazo começa a correr no 1º dia útil, qual seja, dia 20.07.2015, segunda-feira, sendo
o último dia do prazo o dia 24.07.2015.

b) O examinando deveria expor que o argumento de direito processual seria a


incidência da nulidade posterior à pronúncia, conforme artigo 593, inciso III, alínea
“a”, do Código de Processo Penal. Isso porque, nos termos do artigo 479 do Código
de Processo Penal, durante o julgamento no plenário do júri não será permitida a
leitura de documento ou a exibição de objeto que não tiver sido juntado aos autos
com a antecedência mínima de 3 (três) dias úteis, dando-se ciência à outra parte. No
caso, segundo o enunciado, a defesa somente veio a tomar ciência da folha de
antecedentes criminais do réu, mencionada expressamente pelo Ministério Público
durante os debates, E/OU porque violou o princípio do contraditório e a ampla
defesa, previsto no artigo 5º, inciso LV, CF/88, já que não foi conferido tempo hábil
para a defesa ter acesso aos documentos juntados. Logo, incidiu a nulidade posterior
à pronúncia.
Questão 51
Wilson, a pedido dos filhos Flávio e Gilson, que contavam com 05 e 07 anos, respectivamente,
levou-os até ao clube aquático da cidade em que residia. Em certo momento, enquanto Flávio
brincava na piscina infantil do clube, Wilson foi chamado para acudir Gilson que havia caído do
balanço do parque, lesionando a perna. Diante disso, Wilson pediu para Jussara, senhora que se
encontrava próximo à piscina infantil, para que cuidasse do filho menor, enquanto ia prestar
atendimento ao filho maior que estava no parque do outro lado do clube. Flávio brincava
calmamente na piscina, fazendo com que Jussara se distraísse conversando com uma amiga que
acabara de chegar no local. Alguns minutos depois, Flávio, sem que ninguém percebesse, foi para
área mais funda da piscina não mais conseguindo retornar, sendo encoberto pela água por tempo
suficiente para causar seu afogamento e morte da criança. Diante disso, após conclusão do
respectivo inquérito policial, o Ministério Público ofereceu denúncia contra Wilson, relatando que,
por ser pai da vítima, tinha o dever de agir para evitar o resultado, imputando-lhe a prática do
crime de homicídio culposo, previsto no artigo 121, § 3º, c/c artigo 13, § 2º, alínea “a”, ambos do
Código Penal, sem, no entanto, oferecer qualquer benefício ao réu, apesar de nunca ter
respondido a qualquer procedimento criminal. A denúncia foi recebida e o réu citado.
Considerando as informações narradas, responda, na condição de advogado(a) de Wilson,
responda aos itens abaixo:

a) Qual argumento de direito processual poderia ser alegado em busca da anulação do processo
a partir da denúncia? Justifique.

b) Qual argumento de direito material deverá ser apresentado em busca da absolvição de Wilson?
Justifique.
a) Deverá o examinando destacar que existia nulidade a ser reconhecida, tendo em
vista que o crime imputado ao acusado possui pena prevista de 01 a 03 anos, logo
possível a proposta de suspensão condicional do processo. De acordo com o Art. 89
da Lei nº 9.099/95, independentemente de o crime ser ou não de menor potencial
ofensivo, em sendo a pena mínima prevista de até 01 ano, preenchidos os demais
requisitos legais, cabível a proposta de suspensão condicional do processo. No caso,
Wilson era primário e não respondia a qualquer outra ação penal, não havendo
motivação razoável para que não fosse oferecida a proposta do instituto
despenalizador.

b) O argumento de direito material em busca da absolvição seria o de que a omissão


de Wilson não foi relevante para a produção do resultado, já que, nas circunstâncias,
não podia agir para evitar o resultado. Conforme o artigo 13, § 2º, alínea “a”, do
Código Penal, a omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e podia
agir para evitar o resultado. No caso, Wilson não poderia agir, porque estava
prestando assistência ao outro filho, que havia se machucado no parque localizado
no outro lado do clube aquático. Logo, como não houve omissão penalmente
relevante para a produção do resultado, não há conduta punível, sendo, pois, o fato
atípico em relação a Wilson.
OBS.: Convém ressaltar que, no caso, não se aceitará para fins de pontuação a
alegação de perdão judicial, pois o enunciado exigiu tese de direito material voltada
à absolvição do réu, sendo que a decisão que concede o perdão judicial tem natureza
declaratória, conforme a Súmula 18 do STJ.
Questão 52
Após intenso debate sobre futebol repleto de ofensas, Wilson, 40 anos, e Pedro, 30 anos, iniciam
uma longa discussão. Wilson, revoltado com o comportamento agressivo de Pedro e pelo fato dele
ser gremista, efetua dois disparos de arma de fogo em direção a este com a intenção de causar
sua morte, mas os projeteis acabam atingindo Maria, criança de 11 anos de idade, que passava
pela localidade, causando-lhe a morte. O Ministério Público oferece denúncia contra Wilson,
imputando-lhe a prática do crime de homicídio, com a causa de aumento de pena em face da
vítima ser menor de 14 (quatorze) anos de idade (art. 121, § 4º, parte final, do Código Penal). Após
o encerramento da instrução e dos debates orais, o magistrado proferiu decisão de pronúncia nos
exatos termos da denúncia, sendo a defesa intimada da decisão no dia 12 de março de 2021, que
caiu numa sexta-feira. Considerando as informações narradas, na condição de advogado(a) de
Wilson, responda aos itens a seguir:
a) Qual recurso cabível contra a decisão proferida pelo Magistrado e qual o último dia do prazo
para sua interposição?

b) Qual argumento de direito material pode ser usado para questionar a capitulação atribuída pelo
Ministério Público na denúncia? Justifique
a) O recurso cabível seria o recurso em sentido estrito, com base no artigo 581, IV,
do Código de Processo Penal, sendo o último dia do prazo para interposição o dia
19 de março de 2021.

b) O argumento de direito material para questionar a capitulação atribuída pelo


Ministério Público na denúncia seria no sentido de afastar a causa de aumento de
pena pelo fato de a vítima ser menor de 14 (quatorze) anos. Wilson pretendia atingir
Pedro, mas, por erro no uso dos meios de execução, ou erro na pontaria, acabou
atingindo Maria, criança de 11 anos de idade. Nesse caso, trata-se de erro na
execução (aberratio ictus), razão pela qual devem ser consideradas as condições e
qualidades pessoais da pessoa que Wilson pretendia atingir, e não da pessoa
efetivamente atingida, nos termos do artigo 73 c/c 20, §3º, do Código Penal. Logo,
deve ser afastada a causa de aumento de pena por ter sido praticado crime contra
menor de 14 (quatorze) anos, já que devem ser consideradas as condições e
qualidades da vítima pretendida, qual seja, Pedro.
Questão 53
Terêncio, imbuído de perniciosa lascívia em face de sua colega de trabalho, Grizelda, resolve
estuprá-la após o fim do expediente. Para tanto, fica escondido no corredor de saída do escritório
e, quando a vítima surge diante de si, desfere-lhe um violento soco no rosto, que a leva ao chão.
Aproveitando-se da debilidade da moça, Terêncio deita-se sobre ela, já se preparando para despi-
la, porém, antes da prática de qualquer ato libidinoso, repentinamente, imbuído de súbito remorso
por ver uma enorme quantidade de sangue jorrando do nariz de sua colega, faz cessar sua
intenção, deixando o local, resultando na vítima lesão corporal grave. Indignada, Grizelda registra
a ocorrência perante a autoridade policial. Após conclusão do inquérito policial, o Ministério
Público oferece denúncia contra Terêncio, imputando-lhe a prática do crime de tentativa de
estupro qualificado, nos termos do artigo 213, § 1º c/c 14, II, do Código Penal. Durante a instrução,
apesar da irresignação manifestada pela defesa, o Magistrado, de imediato, procede ao
interrogatório do réu, tomando, na sequência, as declarações da vítima. Encerrada a instrução, o
Ministério Público pugnou pela condenação do réu, sendo, após, a defesa intimada para
apresentar seus respectivos memoriais. Em face dessa situação hipotética, analise o caso narrado
e, com base apenas nas informações dadas, responda, fundamentadamente, aos itens a seguir.

a) Qual o argumento de direito processual pode ser apresentado em preliminar dos memoriais da
defesa?

b) Qual argumento de direito material pode ser apresentado para questionar a capitulação jurídica
do crime atribuído a Terêncio?
a) O argumento de direito processual seria no sentido de buscar o reconhecimento
da nulidade do processo a partir da audiência de instrução. Isso porque, de acordo
com o Art. 400 do CPP, na audiência, primeiro deve ser ouvido o ofendido e somente
ao final se proceder ao interrogatório do réu. Somente após a produção de provas
pela acusação poderia ser procedido ao interrogatório do réu. Assim, havendo
violação da ordem da oitiva, tendo a defesa se insurgido contra tal inversão, deverá
ser reconhecida a nulidade do processo a partir da audiência de instrução, nos
termos do artigo 564, IV, do Código de Processo Penal.

b) O argumento de direito material seria no sentido de que incidiu o instituto da


desistência voluntária, previsto no artigo 15 do Código Penal. Terêncio deu início à
execução do crime de estupro, mas sensibilizado com a quantidade de sangue
jorrando do nariz da vítima, desistiu de prosseguir na empreitada delitiva e deixou o
local dos fatos, estando ciente de que os atos praticados seriam insuficientes para a
consumação do delito inicialmente pretendido. Na tentativa, o crime não se consuma
por circunstâncias alheias à vontade do agente, o que não ocorreu na hipótese.
Aplica-se o Art. 15 do Código Penal, no sentido de que o agente, que voluntariamente
desiste de prosseguir na empreitada delitiva, responde apenas pelos atos já
praticados. No caso, foi praticado crime de lesão corporal grave, de modo que
apenas essa infração penal pode ser imputada ao agente.
Questão 54
No dia 15 de março de 2016, Licurgo Moicano constrangeu, mediante restrição da liberdade da
vítima, Leonildo Santos a seguir com ele até o caixa eletrônico localizado na agência bancária
onde a vítima tinha conta. Chegando ao local, Licurgo Moicano obrigou a vítima, mediante grave
ameaça, a sacar a quantia de R$ 50.000,00 e lhe entregar. Após a conclusão do inquérito policial,
o Ministério Público ofereceu denúncia, imputando a Licurgo Moicano a prática do crime de
extorsão qualificado, previsto no artigo 158, § 3º, do Código Penal, sendo o réu, ao final da regular
instrução, condenado. Na dosimetria da pena, o Magistrado fixou a pena-base no mínimo legal,
qual seja, 06 anos, tornando-a definitiva, já que não havia circunstâncias agravantes e atenuantes,
bem como causas de aumento ou diminuição da pena. Após estabelecer a quantidade de pena, o
Magistrado fixou o regime inicial fechado ao condenado, por considerar o crime de extorsão
qualificado pela privação de liberdade da vítima grave. A defesa foi intimada da decisão no dia 18
de junho de 2020, quinta-feira. Considerando o fato hipotético, responda, na qualidade de
advogado(a) de Licurgo Moicano, aos itens a seguir.

a) Qual peça processual, diferente de habeas corpus, deve ser adotada pela defesa de Licurgo e
qual o último dia do prazo para sua interposição? Justifique.

b) No mérito, qual argumento de direito material poderia ser formulado para garantir regime de
cumprimento da pena mais brando do que o fixado na sentença? Justifique.
a) O recurso cabível será Apelação, com base no artigo 593, inciso I, do Código de
Processo Penal. Último dia do prazo: 23/06/2020.

b) O Magistrado condenou Licurgo pela prática do crime de extorsão qualificada,


previsto no artigo 158, § 3º, do Código Penal, aplicando a pena de 06 anos e fixando
o regime inicial fechado, fundamentando que o crime era grave. Todavia, a opinião
do Magistrado acerca da gravidade em abstrato do delito não constitui motivação
idônea para fixar regime inicial de cumprimento de pena mais severa do que a
quantidade da pena aplicada prevê, conforme se extrai das Súmulas 718 e 719 do
Supremo Tribunal Federal. Além disso, o juiz aplicou a pena-base no mínimo legal,
não sendo possível fixar regime inicial de cumprimento mais severo, sob o
fundamento da gravidade em abstrato do delito, nos termos da Súmula 440 do
Superior Tribunal de Justiça. Logo, deveria o Magistrado fixar o regime inicial
semiaberto, nos termos do artigo 33, § 2º, alínea “b”, do Código Penal.
Questão 55
Aroldo, Bernardo, Caio e David se conheceram em razão de todos exercerem a função de pintores
de residências. Durante diversas quartas-feiras do ano de 2015 encontravam-se na garagem da
residência do primeiro para organizarem a prática de crimes de receptação simples. Com o
objetivo de receber vantagem financeira, nos encontros, muito bem organizados e que ocorreram
por mais de 06 meses, era definido como os crimes seriam realizados, havendo plena divisão de
funções e tarefas entre os membros do grupo. Um morador da região que tinha conhecimento dos
encontros, apresenta notícia criminis à autoridade policial, mas informa que acredita que o grupo
pretendia realizar a prática de roubos. Diante disso, instaurado o inquérito para apurar o crime de
organização criminosa, o delegado de polícia determina diretamente, sem intervenção judicial, a
infiltração de agentes de polícia no grupo, de maneira velada, para obtenção de provas. Ao mesmo
tempo, realiza outros atos investigatórios e obtém, de forma autônoma, outras provas, que, de
fato, confirmam a atividade do grupo. Contudo, resta constatado que, verdadeiramente, a
pretensão do grupo era apenas a prática de crimes de receptação simples. Após a obtenção das
provas necessárias, Aroldo, Bernardo, Caio e David são denunciados pela prática do crime
previsto no artigo 2º da Lei nº 12.850/13.

Na condição de advogado dos denunciados, considerando apenas as informações narradas,


responda aos questionamentos a seguir.

a) A infiltração de agentes determinada pela autoridade policial foi válida? Justifique.

b) Qual o argumento de direito material pode ser apresentado para questionar a capitulação
atribuída pelo Ministério Público na denúncia? Justifique.
a) A infiltração de agentes determinada pela autoridade policial não foi válida, pois
não houve autorização judicial e porque havia outros meios de investigação para
obtenção de provas, como o próprio enunciado demonstra. O artigo 3º da Lei nº
12.850/13 prevê como meio de obtenção de prova a infiltração, por policial, em
atividade de investigação, na forma do artigo 11 do mesmo diploma legal. Ocorre
que os artigos 10 e 11 da Lei nº 12.850/13 trazem uma série de requisitos para a
validade desse meio de obtenção de prova. A infiltração de agentes deverá ser
precedida de circunstanciada, motivada e sigilosa autorização judicial, autorização
essa que não ocorreu no caso apresentado. Ademais, além dos indícios da prática
do crime de organização criminosa, necessário que as provas não possam ser
obtidas por outros meios. Na hipótese apresentada, as provas poderiam ser obtidas
de outra forma, tanto que assim efetivamente o foram. Diante disso, a infiltração de
agentes não foi válida.

b) A defesa deveria buscar a não condenação dos denunciados pelo fato de o crime
imputado não ter sido praticado, já que não estão presentes todas as elementares
do tipo. Isso porque o artigo 2º da Lei nº 12.850/13 estabelece que é crime promover,
constituir, financiar ou integrar organização criminosa. Já o artigo 1º, §1º do mesmo
diploma traz o conceito de organização criminosa, definindo que seria a associação
de 4 ou mais pessoas (requisito atendido), estruturalmente organizada e com divisão
de tarefas, ainda que informal (requisito atendido), com objetivo de obter vantagem
de qualquer natureza (requisito atendido), mediante a prática de infrações penais
cujas penas máximas sejam superiores a 4 anos ou que sejam de caráter
internacional (requisito não atendido). O grupo de denunciados se organizou para
prática de crimes de receptação simples, cuja pena máxima não ultrapassa 4 anos.
Assim, a conduta praticada não se adequa ao tipo imputado, podendo ser
enquadrado no tipo penal que define o crime de associação criminosa, previsto no
artigo 288 do Código Penal.
Questão 56
Eron Fragoso, residente no município de São Paulo, é convidado por seu pai, senhor de 55 anos
de idade, Nico Lamas, morador da cidade de Belo Horizonte, para passar o feriadão de Páscoa
em sua residência. Eron aceita o convite e comunica que levará sua namorada, Amarilys, junto.
Após jantar de confraternização, Nico Lamas se recolhe ao seu quarto, pegando, logo em seguida,
no sono. Valendo-se da situação, Eron e Amarilys subtraem uma joia preciosa pertencente a Nico,
saindo do local. Após dar falta da joia, Nico se encaminha até a Delegacia de Polícia e registra
ocorrência, manifestando sua desconfiança em relação ao próprio filho. Após o encerramento do
Inquérito Policial, o Delegado indiciou Eron e Amarilys como incursos nas sanções do crime do
Art. 155, § 4º, inciso IV (concurso de pessoas), do Código Penal, sendo ambos denunciados por
tais delitos. Analise o caso narrado e, com base apenas nas informações dadas, responda,
fundamentadamente, aos itens a seguir.

a) Se ocorrer o recebimento da denúncia pelo Magistrado, qual a tese pode ser invocada a favor
de Eron em busca da rejeição da peça acusatória?

b) A tese adotada em favor de Eron também favorecerá Amarilys?


a) Trata-se de hipótese de incidência da escusa absolutória em favor de Eron,
prevista no artigo 181, inciso II, do Código Penal, segundo o qual se o crime foi
praticado contra ascendente, o agente será isento de pena. No caso, Eron era filho
da vítima, que contava com 55 anos de idade, ressaltando que o crime foi praticado
sem violência ou grave ameaça. Logo, não incide nenhuma das hipóteses do artigo
183 do Código Penal, devendo a denúncia ser rejeitada, com base no artigo 395, II,
do Código de Processo Penal.

b) Amarilys responde pelo delito, uma vez que não terá direito à isenção de pena, já
que a escusa absolutória não lhe alcança, nos termos do artigo 183, inciso II, do
Código Penal.
Questão 57
Wilson, que contava com 25 anos de idade à época dos fatos, no dia 03 de março de 2020,
resolveu se dirigir a um restaurante conhecido da cidade e, fingindo ser manobrista, recebe do
proprietário a respectiva chave e, em seguida, desaparece com o carro sendo o fato registrado
pelo lesado na delegacia da área. No dia seguinte,
o fato é descoberto e o carro recuperado, não sofrendo a vítima qualquer prejuízo patrimonial,
razão pela qual afirmou não ter mais interesse em relação a qualquer procedimento criminal. Não
obstante, a autoridade policial concluiu o inquérito policial. O Ministério Público, após analisar os
elementos informativos que constam no inquérito policial, ofereceu denúncia contra Wilson,
imputando-lhe a prática do crime de estelionato, previsto no Art. 171, “caput”, do CP. Recebida a
denúncia, Wilson foi citado no dia 21 de setembro de 2020. Apavorado, Wilson procurou você
para, na condição de advogado(a), assumir a causa. Considerando apenas as informações
narradas, responda, na condição de advogado(a) de Wilson, aos itens a seguir.

a) Qual peça a ser apresentada em favor de Wilson, e qual o último do prazo? Justifique.

b) Existe argumento de direito material a ser apresentado em favor de Wilson? Justifique.


a) O candidato deveria afirmar que a peça cabível seria Resposta à Acusação, com
base nos Arts. 396 e 396-A, ambos do CPP. E o último dia para apresentar a
Resposta à Acusação seria o dia 01/10/2020, (embora, por um lapso, não tenha
constado o dia da semana, o prazo começaria a correr a partir do primeiro dia útil,
que seria 22/09/2020, já que dia 21/09/2020 caiu numa segunda-feira).

b) O candidato deveria afirmar que existe tese de direito material a ser apresentada
em favor de Wilson. A partir da Lei 13.964/2019, que introduziu o § 5º no Art.171 do
CP, o crime de estelionato passou a ser, via de regra, crime de ação penal pública
condicionada à representação. Ou seja, para oferecimento da denúncia seria
necessária a representação do ofendido, dentro do prazo de 06 meses a contar da
ciência da autoria do fato. Como, no caso, a vítima manifestou desinteresse em
relação a qualquer procedimento criminal, bem como ter escoado o prazo de 06
meses para representar, operou-se a decadência do direito de representação,
devendo ser extinta a punibilidade do réu, nos termos do Art. 107, inciso IV, do CP.
Logo, deverá o réu ser absolvido sumariamente, com base no Art. 397, inciso IV, do
CPP.
Questão 58
Wilson foi condenado por homicídio simples, previsto no artigo 121, “caput”, do Código Penal,
devendo cumprir pena de seis anos de reclusão, tendo a sentença transitado em julgado para a
acusação no dia 05 de outubro de 2004. A defesa interpôs recurso, que, ao final, restou improvido,
transitando em julgado a sentença penal condenatória em 07 de junho de 2006. Ao tomar
conhecimento da sentença definitiva, Wilson foge para o interior do Estado, onde residia, ficando
isolado num sítio. Após a fuga, as autoridades públicas nunca conseguiram capturá-lo. No dia 10
de novembro de 2016, Wilson foi recapturado. A esposa de Wilson procura você como
advogado(a) para tomar ciência da sua situação. Diante do fato hipotético, responda aos itens a
seguir:

a) Qual o argumento pode ser alegado, de modo a impedir que Wilson cumpra a pena que lhe foi
aplicada? Fundamente a resposta?

b) Quais as consequências do acolhimento da tese defensiva?


a) A questão exige do candidato conhecimento do tema da prescrição. Foi narrada,
na hipótese, a condenação de Wilson pela prática do crime de homicídio, sendo
aplicada pena de 06 anos de reclusão, com sentença condenatória transitada em
julgado. Assim, considerando o trânsito em julgado da sentença penal condenatória,
a prescrição executória será regulada pela pena aplicada de 06 anos. Logo, o prazo
prescricional será de 12 anos, nos termos do artigo 109, inciso III, do CP.
Considerando que o termo inicial da prescrição executória é o trânsito em julgado
para a acusação, ocorrido no dia 05/10/2004, conforme o artigo 112, inciso I, do CP,
verifica-se a incidência da prescrição da pretensão executória, já que decorridos
mais de 12 anos sem que Wilson tivesse dado início ao cumprimento da pena.

b) A consequência jurídica do acolhimento da tese é o reconhecimento da extinção


da punibilidade de Wilson, na forma do artigo 107, inciso IV, do Código Penal.
Questão 59
Cross Fox está cumprindo pena desde o ano de 2018, pela prática do delito de extorsão. Diante
do preenchimento dos requisitos postulou a liberdade condicional, o magistrado da Vara de
Execução Penal, ouvindo o Ministério Público, deferiu a liberdade mediante condições,
estipulando entre as condições a monitoração eletrônica do apenado. Você, na condição de
defensor de Cross Fox foi intimado da decisão no dia 12/04/2021, responda de forma
fundamentada:

a) Qual recurso cabível contra a decisão proferida pelo Magistrado?

b) Qual o argumento poderia ser invocado contra a decisão proferida pelo Magistrado?
a) A peça cabível seria o recurso de Agravo em Execução, com base no artigo 197 da
Lei nº 7.210/84.

b) O juiz não poderá no caso concreto estipular a monitoração eletrônica, pois não há
previsão legal no artigo 146-B, da Lei de Execução Penal para utilizá-la neste caso, o
que viola o princípio da legalidade.
Questão 60
Carlitos usufrui de livramento condicional desde o dia 19/09/2018 (quarta-feira), faltando a partir
desta data exatos dois anos para o término do período de provas, consequentemente, para o
término de sua pena. Trata-se de apenado primário, condenado pela prática do delito de roubo,
previsto no artigo 157, § 2º, inciso II, do Código Penal. Ocorre que no dia 10/04/2020 (sexta-feira),
foi comunicado no processo de execução penal que Carlitos estava respondendo a outro processo
criminal, pela prática de um delito de extorsão, praticado em janeiro de 2020. Entretanto, até o
momento não houve qualquer manifestação do Ministério Público ou do Juiz da Vara de Execução
Penal sobre a questão. Carlitos sempre cumpriu corretamente todas as condições estipuladas nos
moldes do artigo 132 da Lei nº 7.210/84. Diante dos fatos narrados, a defesa de Carlitos formulou,
no dia 19/10/2020 (segunda-feira), perante o Juiz da Vara de Execução Penal, a extinção da
punibilidade, tendo o Magistrado, após ouvir o Ministério Público, decidido pela suspensão do
livramento condicional em razão da prática de novo crime durante o período de provas. Na
condição de advogado(a) de Carlitos, você foi intimado(a) da decisão. Responda aos itens a
seguir.

a) A decisão do Magistrado da Vara de Execução Penal está em consonância com a jurisprudência


dos tribunais superiores? Justifique.

b) Há algum recurso cabível para atacar a decisão? Indique a base legal.


a) Não. A decisão contraria a Súmula 617 do Superior Tribunal de Justiça. Não há
revogação ou suspensão do livramento condicional de forma automática. Se o juiz
não fez no momento correto, deverá reconhecer a extinção da punibilidade, nos
termos do artigo 90 do Código Penal e da Súmula 617 do Superior Tribunal de
Justiça.

b) O recurso cabível será o Agravo em Execução, nos termos do artigo 197 da Lei
de Execução Penal.
Questão 61
No dia 15 de novembro de 2017, dez presos que ocupavam diferentes celas, durante o
deslocamento para o Fórum dentro de uma viatura quebraram a proteção das lâmpadas do
corredor do veículo. Questionados sobre o responsável pelo dano ao patrimônio público, todos os
presos permaneceram em silêncio. Instaurado o Procedimento Administrativo, diante do silêncio
dos apenados, a administração optou por aplicar uma sanção coletiva aos apenados, consistente
na suspensão do direito à visita por 10 (dez) dias, em razão da prática de falta grave. Em juízo,
no momento da audiência de justificativa, os apenados novamente silenciaram quanto ao fato,
dois se limitaram a alegar que ao ingressarem na viatura a iluminação já estava prejudicada. Após
a manifestação da defesa e do Ministério Público, o magistrado da Vara de Execução Penal
reconheceu a prática de falta grave, homologando o Procedimento Administrativo. Considerando
que a decisão foi dada em audiência realizada no dia 09 de janeiro de 2018 (terça-feira), na
condição de advogado(a) de Cleiton, um dos apenados envolvidos, responda:

a) A decisão judicial é passível de impugnação por qual instrumento?

b) Qual argumento pode ser invocado para combater a decisão proferida pelo Magistrado?
a) A decisão judicial é passível de impugnação pela via recursal, através da utilização
do recurso de Agravo em Execução, nos termos do artigo 197 da Lei de Execução
Penal (Lei nº 7.210/84).

b) Conforme o artigo 45, § 3º, da Lei nº 7.210/84 (Lei de Execução Penal) é vedada
qualquer espécie de sanção coletiva. Aliás, pelo princípio constitucional da
individualização da pena (Art. 5º, inciso XLVI, da CF/88), qualquer espécie de
responsabilização deverá ser pautada pela individualização da conduta praticada, o
que se fundamenta na necessidade de identificar a contribuição de cada suspeito.
Também poderá ser indicado como fundamento em defesa do apenado, a vedação
de responsabilidade objetiva, eis que somente podemos responsabilizar alguém pela
prática de delitos, no caso em tela, caracteriza-se como o crime de dano contra o
patrimônio público, quando houver identificação de dolo ou culpa, o que no caso em
tela não é possível identificar.
Questão 62
No dia 10 de fevereiro de 2016, por volta das 03h, na Rua Fina Estampa, nº 24, na Cidade de
Niterói/RJ, o denunciado Tício Mévio, agente reincidente em face de condenação definitiva pela
prática do crime de furto, constrangeu uma criança de 12 anos de idade a com ele praticar ato
libidinoso, consistente em sexo oral, cometendo, assim, o crime previsto no artigo 217-A do Código
Penal, considerado hediondo, nos termos do artigo 1º, inciso VI, da Lei nº 8.072/90. Após
implementar 2/3 da pena imposta pelo crime de estupro de vulnerável, Tício formulou pedido de
livramento condicional, sendo indeferido pelo Juízo da Execução Penal, sob o fundamento de que,
na condição de reincidente, não teria direito ao benefício pleiteado. Com base nas informações
expostas, responda, como advogado(a) contratado por Tício, aos itens a seguir.

a) Qual o meio de impugnação seria cabível contra a decisão proferida e qual o prazo para
interposição?

b) Qual o argumento a ser apresentado para questionar a decisão que indeferiu o pedido de
livramento condicional?
a) O meio de impugnação cabível é a interposição do recurso de agravo em
execução, com fundamento no artigo 197 da Lei nº 7.210/84. Considerando o
disposto na Súmula 700 do Supremo Tribunal Federal, o prazo para a interposição
do recurso de agravo em execução é de cinco dias.

b) Após implementar 2/3 da pena imposta pelo crime de estupro de vulnerável, Tício
formulou pedido de livramento condicional, sendo indeferido pelo Juízo da Execução
Penal, sob o fundamento de que, na condição de reincidente, não teria direito ao
benefício pleiteado. Todavia, nos termos do artigo 83, inciso V, do Código Penal, a
vedação do livramento condicional ocorre na hipótese de o agente ser reincidente
específico em crimes de natureza hedionda. No caso, o réu registra sentença
condenatória definitiva pela prática do crime de furto. Logo, Tício não é reincidente
específico pela prática de crime de natureza hedionda, razão pela qual tem direito
ao livramento condicional.
Questão 63
Cross Fox estava cumprindo pena pelo delito de tráfico de drogas, praticado em 28 de maio de
2014. Trata-se de condenação à pena de 9 anos de reclusão em regime inicial fechado, até o
momento o apenado já cumpriu mais de 7 anos, encontrando-se em regime aberto. O apenado já
cumpriu pena anteriormente por tráfico privilegiado de drogas (Art. 33, § 4º, da Lei nº 11.343/06),
motivo pelo qual foi reconhecida a condição de reincidente. Por intermédio de seu defensor
constituído, pleiteou liberdade condicional, a qual restou indeferida pelo Juiz da Vara de Execução
Penal, após a devida oitiva do representante do Ministério Público, em razão da reincidência
específica em delito de tráfico de drogas. Diante dos dados narrados, responda:

a) Está correta a decisão do Juiz? Justifique.

b) Há previsão legal de recurso neste caso? Indique o fundamento e o prazo legal.


a) A decisão judicial merece reparo, pois no presente caso não há reincidência
específica nos delitos descritos no artigo 44, parágrafo único, da Lei nº 11.343/06,
tampouco naqueles do artigo 83, inciso V, do Código Penal. Ao contrário, muito
embora Cross Fox possua duas condenações por tráfico, uma delas refere-se ao
tráfico privilegiado, que não é equiparado a delito hediondo. Logo, faz jus ao
livramento condicional, preenchendo, inclusive, o requisito temporal para tanto.

b) Sim, das decisões do juiz da Vara de Execução Criminal caberá Agravo em


Execução, com base no artigo 197 da Lei nº 7.210/84. O prazo para o recurso é de
5 dias, nos termos da súmula 700 do Supremo Tribunal Federal.
Questão 64
No dia 20 de fevereiro de 2020, Alexandre Maia, primário, foi preso em flagrante pela prática do
crime de roubo majorado pelo emprego de faca. Após oferecimento da denúncia e regular
andamento do processo, o Magistrado proferiu sentença condenatória, aplicando a pena de 5
(cinco) anos e 4 (quatro) meses de reclusão, em regime semiaberto, iniciando a cumprir em julho
de 2020. Após cumprir 25% da pena, considerando o período de remição, Alexandre Maia postulou
a progressão de regime, sendo indeferido pelo Magistrado, sob o fundamento de que teria de
cumprir 40% da pena, já que o crime de roubo com emprego de arma é considerado hediondo.
Com base nas informações expostas, responda, como advogado(a) contratado por Alexandre, aos
itens a seguir.

a) Qual o meio de impugnação seria cabível contra a decisão proferida, e qual o prazo para
interposição?

b) Qual o argumento a ser apresentado para questionar a decisão que indeferiu o pedido de
progressão de regime?
a) O meio de impugnação cabível é a interposição do recurso de agravo em
execução, com fundamento no artigo 197 da Lei nº 7.210/84. Considerando o
disposto na Súmula 700 do Supremo Tribunal Federal, o prazo para a interposição
do recurso de agravo em execução é de cinco dias.

b) Após cumprir 25% da pena, considerando o período de remição, Alexandre Maia


postulou a progressão de regime, sendo indeferido pelo Magistrado, sob o
fundamento de que teria de cumprir 40% da pena, já que o crime de roubo com
emprego de arma é considerado hediondo. Todavia, nos termos do artigo 1º, inciso
II, alínea “a”, da Lei nº 8.072/90, apenas o crime de roubo majorado com emprego
de arma de fogo passou a ser considerado hediondo. Logo, o crime de roubo
majorado pelo emprego de faca não é considerado hediondo, razão pela qual
Alexandre tem direito à progressão de regime, já que implementou o requisito
objetivo para obtenção do benefício, qual seja, 25% da pena, nos termos do artigo
112, inciso III, da Lei nº 7.210/84.
Questão 65
No dia 02 de janeiro de 2014, Francisco, que contava com 19 anos de idade na época do fato,
furta um celular. No dia 02 de junho de 2016, o Ministério Público oferece denúncia imputando a
Francisco a prática do crime previsto no Art. 155, “caput”, do Código Penal, sendo recebida no dia
04 de junho de 2016. Após regular andamento do processo, verificando que se arrastava por longo
tempo, no dia 10 de julho de 2020 a defesa de Francisco formula pedido de extinção da
punibilidade, que foi indeferido pelo Magistrado, sob o fundamento de que não incidiu nenhuma
causa apontada pela defesa. Considerando as informações narradas, responda aos itens a seguir.

a) Qual a peça processual, diversa de habeas corpus, a ser adotada pela defesa técnica de
Francisco?

b) Qual argumento de direito material deverá ser apresentado em favor de Francisco para que
seja deferido o seu pedido?
a) A peça cabível seria o recurso em sentido estrito, com base no artigo 581, IX, do
CPP.
b) A tese de direito material cabível seria a incidência da prescrição da pretensão
punitiva em abstrato. Isso porque o crime de furto prevê pena máxima de 4 anos,
sendo o prazo prescricional de 8 anos, nos termos do artigo 109, IV, do CP. Como
o réu era menor de 21 anos à época do fato, esse prazo deve ser reduzido pela
metade, ficando, portanto, em 4 anos. Como entre a data do recebimento da
denúncia (04/06/2016) e a data em que ainda não foi publicada eventual sentença
condenatória (10/07/2020), passaram-se mais de quatro anos, incidiu a prescrição
da pretensão punitiva, razão pela qual deve ser declarada extinta a punibilidade,
com base no artigo 107, IV, do CP.
Questão 66
No dia 16.03.2019, por volta das 16h, em Santa Cruz do Sul, ocorreu a prática do delito de roubo
majorado, com emprego de arma de fogo, previsto no Art. 157, § 2º-A, inciso I, do CP. A vítima
descreveu as características físicas do autor do delito, já que não visualizou seu rosto porque
encoberto com uma touca ninja. No dia seguinte, a polícia encontrou WILSON DA ROSA, apenado
que cumpre pena no regime semiaberto, mas que tinha autorização para exercer serviço externo.
Após procederem à revista pessoal, nada encontrando em seu poder, levaram-no para que a
vítima pudesse reconhecê-lo. A vítima disse que Wilson tinha as mesmas características físicas
do autor do roubo, acrescentando que se tratava da mesma pessoa que assaltara seu
estabelecimento comercial há um ano. Diante da narrativa da vítima, os policiais militares deram
voz de prisão em flagrante a Wilson e o conduziram até a Delegacia local, onde a autoridade
policial determinou a lavratura do auto de prisão em flagrante. Considerando a narrativa
apresentada, responda, na condição de advogado de Wilson os seguintes itens.

a) Qual requerimento deverá ser formulado buscando a soltura de Wilson?

b) Qual fundamento deverá ser invocado para a soltura de Wilson?


a) O requerimento a ser formulado é o de relaxamento de prisão em flagrante, com
base no artigo 310, inciso I, do Código de Processo Penal, e artigo 5º, inciso LXV,
Constituição Federal/88.

b) O fundamento a ser invocado é o de que a prisão é ilegal, uma vez que não estão
presentes nenhuma das hipóteses do artigo 302 do Código de Processo Penal. O
requerente não foi preso cometendo o delito, nem quando acabou, em tese, de
cometer. Também não ocorreu perseguição, logo após, à prática do suposto crime,
nem tampouco foi encontrado, logo depois, com instrumentos, armas, objetos ou
papéis que indicassem que seria autor do crime. Logo, porque ausentes as hipóteses
do artigo 302, incisos I, II, III e IV, do Código de Processo Penal, a prisão ilegal
deverá ser relaxada.
Questão 67
Durante investigação para apurar a prática de roubos a agências bancárias ocorridos em Volta
Redonda/RJ, agentes da polícia civil, embora desconfiados que Pedro Rocha esteja envolvido nos
crimes, não conseguiram reunir provas suficientes para apontá-lo como um dos assaltantes de
banco. Diante disso, deliberaram que um dos policiais iria se aproximar do investigado Pedro
Rocha para com ele estabelecer relação de confiança. Ao manter reiterados contatos com Pedro
Rocha, o agente policial se passa por assaltante e convence o investigado a praticar um roubo em
determinada agência bancária. Assim, no dia 15 de outubro de 2012, previamente engendrados,
o policial disfarçado e o investigado dirigem-se ao banco e, no instante que ingressaram na
agência bancária e anunciaram o assalto, diversos policiais, que monitoravam toda a ação,
prenderam Pedro Rocha em flagrante, sob a acusação da prática do crime de roubo majorado
tentado. Com base somente nas informações de que dispõe e nas que podem ser inferidas pelo
caso concreto acima, na qualidade de advogado de Pedro Rocha, responda os itens a seguir:

a) Qual requerimento deve ser formulado em busca da liberdade de Pedro Rocha?

b) Qual o fundamento pode ser invocado para buscar a soltura de Pedro Rocha?
a) O requerimento a ser formulado é o relaxamento da prisão em flagrante, com base
no artigo 5º, inciso LXV, da Constituição Federal/88 e artigo 310, inciso I, do Código
de Processo Penal.

b) O fundamento a ser invocado é no sentido de que o auto de prisão em flagrante é


ilegal, porque se trata de flagrante provocado, já que Pedro Rocha somente deu
início à execução do delito, porque foi convencido por um policial, sendo adotadas
providências para tornar impossível a consumação do delito, tratando-se, portanto,
de hipótese de crime impossível, nos termos da Súmula nº 145 do Supremo Tribunal
Federal e artigo 17 do Código Penal.
Questão 68
Chivitos, uruguaio, primário, cumprindo pena no Brasil, recolhido desde o dia 20 de janeiro de
2016, pela prática do delito de homicídio, artigo 121, “caput”, do Código Penal (duas vezes), foi
condenado à pena de 12 anos de reclusão, regime inicial fechado. Sabe-se que Chivitos possui
bom comportamento carcerário, não registra falta grave durante a execução, atualmente está em
regime semiaberto. A situação de Chivitos é irregular no Brasil. Considerando as informações
acima, a defesa postulou o livramento condicional, em março de 2020. Após a oitiva do Ministério
Público, o magistrado da Vara de Execução Penal indeferiu o pedido com base nos seguintes
argumentos: “Trata-se de apenado reincidente específico em delito hediondo. Logo, não é possível
a obtenção de livramento condicional. Além disso, a situação irregular no Brasil é fator impeditivo
para obtenção do instituto”.

Diante da decisão acima, aos itens a seguir.

a) Qual o recurso cabível para atacar a decisão?

b) Quais os fundamentos que poderão ser utilizados em favor de Chivitos? Fundamente.


a) O recurso cabível é o Agravo em Execução, nos termos do artigo 197 da LEP.

b) Em relação aos argumentos que fundamentaram o indeferimento do pedido,


primeiramente o acusado não foi condenado por delito hediondo, visto que se trata
de condenação por homicídio simples e sendo primário o lapso temporal exigido para
o livramento condicional, conforme o artigo 83, inciso I, do CP, é o cumprimento de
mais de 1/3 de pena, o que está plenamente satisfeito. No tocante à situação
irregular, não há no artigo 83 do Código Penal qualquer menção neste sentido, ou
seja, não há qualquer óbice, sendo ilegal a exigência de tal condição. Desta forma,
Chivitos faz jus ao livramento condicional.
Questão 69
Cross Fox, primário, está cumprindo pena em regime semiaberto, desde o dia 20 de agosto de
2020, pois foi condenado à pena de 5 anos, pelo delito descrito no artigo 35 da Lei nº 11.343/06,
associação ao tráfico de drogas praticado em novembro de 2019. A Defensoria Pública requereu
progressão de regime, em fevereiro de 2022, tendo o Juiz da Vara de Execução Penal, após ouvir
o Ministério Público, indeferido o pedido, apesar do preenchimento das condições subjetivas,
justificou com base na ausência de preenchimento do lapso temporal exigido por lei de 40% de
pena cumprida, ou seja, de 2/5 da pena.

Você foi contratado pela família de Cross Fox para acompanhar a execução penal, tendo sido
intimado(a) da decisão judicial, responda de forma fundamentada aos itens a seguir.

a) O que deverá ser alegado na defesa de Cross Fox em prol da progressão de regime?
Fundamente.

b) Caso Cross Fox pretenda pleitear o livramento condicional, qual o requisito objetivo que deverá
preencher para obter o direito? Fundamente.
a) Deverá ser alegado o preenchimento do lapso temporal de 16% da pena, uma vez
que o delito de associação ao tráfico não é delito equiparado a crime hediondo, pois
não há previsão no rol do artigo 1° da Lei nº 8.072/90, tampouco no artigo 2º da
referida Lei. Logo, dar um tratamento mais gravoso afrontaria a legalidade. Assim,
Cross Fox preenche o requisito temporal necessário, fazendo jus à progressão de
regime.

b) Caso Cross Fox pretenda pleitear o livramento condicional, deve demonstrar o


preenchimento de mais de 2/3 de pena cumprida, nos termos do artigo 44, parágrafo
único, da Lei nº 11.343/06, muito embora não se trate de delito equiparado
legalmente a crime hediondo.
Questão 70
Sílvio foi condenado pela prática de crime de roubo, ocorrido em 10 de janeiro de 2017, por
decisão transitada em julgado, em 05 de março de 2018, à pena base de 4 anos de reclusão,
majorada em 1/3 em razão do emprego de arma branca, totalizando 5 anos e 4 meses de pena
privativa de liberdade, além de multa. Após ter sido iniciado o cumprimento definitivo da pena por
Sílvio, foi editada, em 23 de abril de 2018, a Lei nº 13.654/18, que excluiu a causa de aumento
pelo emprego de arma branca no crime de roubo. Ao tomar conhecimento da edição da nova lei,
a família de Sílvio procura você, como advogado(a), neste contexto responda:

a) O que poderá ser pleiteado em favor de Silvio? Justifique.

b) Caso seja indeferido o pedido, poderá ser impugnada a decisão por intermédio de algum
recurso? Indique a base legal.
a) Poderá ser pleiteado ao Juiz da Vara de Execução o afastamento da majorante
aplicada a Silvio, com a aplicação da nova lei mais benéfica, Lei nº 13.654/18, com
base no artigo 66, inciso I, da Lei de Execução Penal, combinado com a Súmula 611
do Superior Tribunal Federal e artigos 2º, parágrafo único, do Código Penal e 5º,
inciso XL, da Constituição Federal/88.

b) Caso seja indeferido, caberá recurso de Agravo em Execução, com base no artigo
197 da Lei de Execução Penal.
Questão 71
Carmelindo cumpre pena de 12 anos de reclusão, em regime inicial fechado, por homicídio
qualificado, praticado em 12 de março de 2015. Iniciou o cumprimento da pena em 20 de setembro
de 2015. O comportamento de Carmelindo é plenamente satisfatório, tendo trabalhado durante
todo o período de recolhimento. Atualmente, está em regime semiaberto. O advogado contratado
por sua família, pleiteou o direito à saída temporária tendo sido indeferida pelo magistrado, que
acompanhou o parecer do Ministério Público, considerando a nova redação do artigo 122, § 2º,
da Lei de Execução Penal. Na condição de advogado(a) de Carmelindo, responda de forma
fundamentada aos itens a seguir.

a) A decisão judicial é passível de impugnação por qual instrumento?

b) Caso positivo, quais os fundamentos jurídicos que poderão ser utilizados?


a) A decisão judicial é passível de impugnação pela via recursal, através da utilização
do recurso de Agravo em Execução, nos termos do artigo 197 da Lei de Execução
Penal (Lei nº 7.210/84).

b) A nova redação do artigo 122, §2º, da Lei de Execução Penal, dada pela Lei nº
13.964/2019, não poderá retroagir a fatos praticados antes da sua vigência, nos
termos do artigo 5ª, inciso XL, da Constituição Federal/88. A norma produz efeitos
sobre a liberdade do apenado, restringindo direitos, logo não poderá incidir em casos
praticados antes do dia 23 de janeiro de 2020.
Questão 72
Manuela, sócia de um grande escritório de advocacia, especializado na área criminal, recebeu, no
dia 02 de outubro de 2017, duas intimações de decisões referentes a dois clientes diferentes. A
primeira intimação tratava de decisão proferida pela 1ª Câmara Criminal de determinado Tribunal
de Justiça denegando a ordem de habeas corpus que havia sido apresentada perante o órgão em
favor de Gérson (após negativa em primeira instância), que responde preso a ação pela suposta
prática de crime de roubo. A segunda intimação foi de decisão proferida pelo Juiz de Direito da 1ª
Vara Criminal de Fortaleza, também denegando ordem de habeas corpus, mas, dessa vez, a
medida havia sido apresentada em favor de Rodolfo, que figura como indiciado em inquérito que
investiga a suposta prática do crime de tráfico de drogas. Insatisfeita com as decisões proferidas,
responda aos itens a seguir.

a) Qual recurso Manuela deverá interpor contra a decisão proferida em face de Gérson?

b) E para atacar a decisão proferida contra Rodolfo?


a) Em relação à Gerson o recurso cabível contra a decisão que denegou o Habeas
Corpus, será o recurso ordinário constitucional, com base no artigo 105, inciso II,
alínea “a” da Constituição Federal/88.

b) Em relação ao Rodolfo, o recurso cabível contra a decisão que denegou o Habeas


Corpus, será o Recurso em Sentido estrito, com base no artigo 581, inciso X, do
Código de Processo Penal.
Questão 73
Carlos, 50 anos, foi condenado, de maneira definitiva, pela prática de crime de tentativa de roubo
simples, ao cumprimento de pena de 02 anos de reclusão, em regime inicial semiaberto em razão
das peculiaridades do caso. Após o cumprimento de 02 meses da pena aplicada, Carlos veio a
praticar, no dia 10 de março de 2015, falta grave, consistente na fuga do estabelecimento
carcerário. Após processo administrativo disciplinar, inclusive com participação da defesa técnica
de Carlos, foi reconhecida a prática de falta grave. O juiz da execução penal, em procedimento
regular, ainda no ano de 2015, confirmou o reconhecimento da prática de falta grave e determinou
o reinício do prazo para obtenção do livramento condicional. No dia 14 de março de 2019, em um
patrulhamento de rotina, a autoridade policial abordou Carlos e percebeu que havia mandado de
prisão expedido contra ele. Preocupados, familiares de Carlos procuram você, para na condição
de advogado(a), adotar as medidas cabíveis. Considerando apenas as informações narradas, na
condição de advogado de Carlos, responda aos itens a seguir.

a) Em sede de Agravo à Execução, qual argumento deverá ser apresentado para combater a
decisão do Magistrado que determinou o reinício da contagem do prazo para livramento
condicional? Justifique.

b) Por meio de habeas corpus, qual argumento de direito material poderá ser apresentado para
evitar a execução do restante da pena de Carlos? Justifique.
a) O argumento a ser apresentado pela defesa técnica de Carlos é no sentido de que
a prática de falta grave não gera o reinício do prazo de contagem do livramento
condicional. De acordo com o artigo 118, inciso I, da Lei nº 7.210/84 (LEP), a prática
de falta grave enseja à regressão de regime. Todavia, a Lei de Execução Penal não
prevê como consequência da prática de falta grave o reinício do prazo para obtenção
do livramento condicional, sendo certo que a execução penal também está sujeita
ao princípio da legalidade. Dessa forma, equivocada a decisão do Magistrado ao
determinar a interrupção do prazo para obtenção de livramento condicional, nos
termos da Súmula 441 do Superior Tribunal de Justiça.

b) O argumento de direito material para evitar a execução do restante da pena


privativa de liberdade é o reconhecimento da prescrição da pretensão executória.
Isso porque o prazo da prescrição da pretensão executória, quando há início do
cumprimento da pena, inicia-se quando da interrupção deste cumprimento, conforme
artigo 112, inciso II, do Código Penal, que ocorreu em 10/03/2015. Ademais, o prazo
prescricional deverá ser contado considerando a pena que resta a ser cumprida e
não a aplicada, nos termos do artigo 113 do Código Penal. No caso, restavam menos
de 02 anos de pena a ser cumprida, de modo que, na forma do artigo 109, inciso V,
do Código Penal, o prazo prescricional da pretensão executória seria de 04 anos.
Assim, considerando que entre a data da fuga (10.03.2015) e a data em que foi
recapturado (14.03.2019) passaram-se mais de quatro anos, conclui-se que incidiu
a prescrição da pretensão executória, devendo ser declarada a extinta a punibilidade
de Carlos, com base no artigo 107, IV, do Código Penal.
Questão 74
Wilson foi denunciado pelo crime de estupro. Durante a instrução, negou a autoria do crime,
afirmando estar, na época dos fatos, no município Cipó dos Vales, localizado no Estado “X”,
distante dois quilômetros do local dos fatos. Como a afirmativa não foi corroborada por outros
elementos de convicção, o Juiz entendeu que a palavra da vítima deveria ser considerada, razão
pela qual proferiu sentença condenando Wilson como incurso no crime de estupro, previsto no
artigo 213 do Código Penal. A defesa interpôs recurso, sendo a sentença condenatória mantida
pelo Tribunal de Justiça, transitando definitivamente em julgado desfavoravelmente ao réu.
Inconformados com a possibilidade de Wilson ter de cumprir a pena imposta, familiares dirigiram-
se, por sua conta, até o Município de Cipó dos Vales em busca de provas que pudessem apontar
a sua inocência, e, depois de muito procurar, conseguiram as filmagens de um estabelecimento
comercial, que estavam esquecidas em um galpão velho. Nas filmagens, Wilson aparece comendo
um lanche em uma padaria exatamente na data e horário que teria ocorrido o suposto delito de
estupro. Considerando apenas as informações apresentadas, responda aos itens a seguir.

a) Qual medida processual deverá ser apresentada pelo(a) advogado(a) de Wilson, diferente do
"Habeas corpus", para questionar a sentença condenatória transitada em julgado?

b) Qual fundamento deverá ser apresentado pelo(a) advogado(a) de Wilson para combater a
sentença condenatória e qual o pedido?
a) A medida processual que deverá ser apresentada pelo advogado de Wilson para
questionar a sentença condenatória transitada em julgado é o oferecimento de
Revisão Criminal, com fundamento no artigo 621, inciso III, do Código de Processo
Penal.

b) O fundamento que deverá ser apresentado pela defesa, com fundamento no artigo
621, inciso III, do Código de Processo Penal é o de que, após a condenação definitiva
do acusado, surgiram novas provas, as quais não foram apreciadas no processo
original, em especial a gravação de um vídeo comprovando a tese defensiva de
negativa de autoria. O pedido a ser elencado em sede de Revisão Criminal é o de
absolvição do acusado, com base no artigo 626 e artigo 386, inciso IV, do Código de
Processo Penal.
Questão 75
Wilson foi denunciado pela prática do crime de roubo majorado pelo emprego de arma branca,
sendo, ao final condenado à pena de 05 anos e 04 meses de reclusão, em regime fechado. Para
tanto, o Magistrado fixou a pena-base em 04 anos, e, na ausência de circunstâncias agravantes
e atenuantes, elevou a pena em 1/3, por conta da presença da majorante, resultando na pena
definitiva de 05 anos e 04 meses. Após, sob o fundamento de que o crime de roubo com emprego
de arma branca é grave, fixou o regime inicial fechado, decretando a prisão preventiva do acusado,
para fins de dar início imediato ao cumprimento da pena imposta. Diante do fato hipotético, você,
na condição de advogado(a) de Wilson, responda aos itens a seguir:

a) Em sede de apelação, qual argumento de direito material a ser apresentado em favor de Wilson
para impugnar a decisão que fixou o regime inicial fechado?

b) Qual o argumento pode ser apresentado para impugnar a decisão na parte que decretou a
prisão preventiva de Wilson? Indique a base legal.
a) Em sede de apelação, o candidato deveria arguir que a gravidade em abstrato do
delito, por si só, não constitui fundamento idôneo para imposição de regime mais
severo do que a quantidade da pena prevê. Além disso, a opinião do julgador sobre
a gravidade em abstrato do delito também não constitui motivação suficientemente
idônea para a imposição de regime mais severo do que o permitido conforme a pena
aplicada, nos termos das Súmulas 718 e 719, ambas do Supremo Tribunal Federal
e Súmula 440 do Superior Tribunal de Justiça. Logo, deveria o Magistrado fixar o
regime inicial semiaberto, nos termos do Art. 33, § 2º, alínea “b”, do Código Penal.

b) O argumento para impugnar a decisão que decretou a prisão preventiva deveria


ser no sentido de que não é possível a decretação da prisão com a finalidade de
antecipação de cumprimento de pena, nos termos do Art. 313, § 2º, do Código de
Processo Penal.
Questão 76
No dia 25 de janeiro de 2019, Mariana, gestante de 06 meses, foi flagrada guardando, em sua
residência, 50g de cocaína. Durante a lavratura da prisão em flagrante, constatou-se que Mariana
guardava a droga a pedido do seu companheiro. Verificou-se, ainda, que Mariana não integrava
nenhuma organização criminosa e nunca havia se envolvido em prática ilícita anteriormente,
sendo, portanto, primária. Não obstante isso, a autoridade policial lavrou auto de prisão em
flagrante e representou pela conversão em preventiva, sob o argumento de que a lei impõe que
agente preso em flagrante pela prática do delito de tráfico de drogas, previsto no artigo 33, “caput”,
da Lei 11.343/2006, deve responder ao processo preso. Autoridade policial comunicou
imediatamente à família do preso, bem como o Magistrado e o Ministério Público, sendo todas as
demais formalidades da prisão em flagrante observadas.

Considerando apenas as informações narradas, na condição de advogado(a) de Mariana,


responda aos itens a seguir.

a) A representação da autoridade policial, considerando o argumento invocado, foi elaborada de


modo adequado? Justifique.

b) Considerando a hipótese de o Magistrado converter a prisão em flagrante em prisão preventiva,


seria possível, no caso, postular a substituição dessa medida por outra? Justifique.
a) Desenvolvimento fundamentado acerca da inconstitucionalidade do artigo 44 da
Lei 11.343/2006 da parte que veda a concessão da liberdade provisória por ofensa
ao princípio da presunção da inocência, previsto no artigo 5º, inciso LVII, da CF/88,
OU do devido processo legal, previsto, no artigo 5º, inciso LIV, da CF/88, OU da
dignidade da pessoa humana, previsto no artigo 1º, inciso III, da Constituição
Federal/88, bem como porque ausentes os pressupostos do artigo 312 do CPP que
autorizam a prisão preventiva, já que Mariana guardava a droga a pedido do
companheiro, nunca havia se envolvido em prática ilícita e nem integrava
organização criminosa.

b) Sim, seria possível substituir a prisão preventiva por prisão domiciliar, uma vez
que Mariana é gestante, não praticou crime com violência ou grave ameaça à
pessoa, nem contra seu filho ou dependente. Logo, cabe a substituição da prisão
preventiva por prisão domiciliar, nos termos do artigo 318, inciso IV e/ou artigo 318-
A, ambos do Código de Processo Penal.
Questão 77
No dia 12 de janeiro de 2019, Carlitos, primário, foi preso em flagrante pela prática do delito de
roubo, artigo 157, §2º, inciso II, c/c artigo 69, ambos do Código Penal, logo em seguida foi
decretada a prisão preventiva que permaneceu durante todo o processo criminal. Em fevereiro de
2020, o Juiz da 2ª Vara Criminal da Comarca de Porto Alegre/RS, após o devido processo legal,
condenou o acusado à pena privativa de liberdade de 8 anos e 1 mês, a ser iniciada em regime
fechado, apesar das circunstâncias judiciais serem favoráveis. Sabe-se que o Magistrado não
apreciou tese defensiva relacionada ao período em que Carlitos ficou preso cautelarmente. Na
condição de advogado(a) de Carlitos, você foi intimado(a) da sentença penal condenatória no dia
02 de março de 2020 (segunda-feira) e de imediato se ateve somente a questão da fixação do
regime de cumprimento de pena, responda os itens a seguir.

a) Diante dos dados informados, era possível o Juiz fixar regime prisional diverso para Carlitos?
Justifique.

b) Qual a medida processual poderá ser utilizada para que o juiz aprecie a tese envolvendo o
período da prisão cautelar? Indique a base legal e o último dia do prazo.
a) Deverá o examinando destacar que seria possível o Juiz fixar o regime semiaberto
a Carlitos, com base no artigo 33, §2º, alínea “b”, Código Penal, bem como indicar
que poderia ser aplicado a detração, nos termos do artigo 387, §2º, do Código de
Processo Penal.

b) A medida cabível a ser utilizada é Embargos Declaratórios, com base no artigo


382 do Código de Processo Penal. Último dia do prazo será em 04 de março de
2020.
Questão 78
Wilson, funcionário público de determinado Município, estava sendo investigado, em inquérito
policial, pela suposta prática dos crimes de associação criminosa e corrupção passiva. Decorrido
o prazo das investigações, a autoridade policial encaminhou os autos ao Poder Judiciário
solicitando novo prazo para prosseguimento dos atos investigatórios. O Ministério Público apenas
concordou com o requerimento de prorrogação do prazo, não apresentando qualquer outro
requerimento. O Magistrado, por sua vez, ao receber os autos, concedeu mais 15 (quinze) dias
para investigações e, na mesma decisão, decretou a prisão temporária de Wilson pelo prazo de
05 (cinco) dias, argumentando que a cautelar seria imprescindível para as investigações do
inquérito policial. Wilson foi preso temporariamente e mantido separado dos demais detentos da
unidade penitenciária. Ao final do 4º dia de prisão, a autoridade judicial prorrogou por mais 10
(dez) dias a prisão temporária, esclarecendo que os motivos que justificaram a decisão
permaneciam inalterados, ainda sendo necessária a medida drástica para as investigações.
Considerando as informações narradas, na condição de advogado(a) de Wilson, que deverá se
manifestar antes da decisão do Magistrado quanto ao requerimento do Ministério Público,
responda aos itens a seguir.

a) Qual requerimento deverá ser formulado pela defesa de Wilson acerca da prisão temporária
decretada pelo Magistrado? Justifique.

b) A prisão temporária poderia ter sido prorrogada tal como decidiu o Magistrado? Justifique.
a) O requerimento que deve ser formulado é do Relaxamento da Prisão Temporária,
com base no Art. 5º, inciso LXV, da CFRB/88. A prisão é ilegal, uma vez que a prisão
temporária não pode ser decretada ex officio pelo juiz. Nos termos do Art. 2º da Lei
nº 7.960/89, a prisão temporária somente poderá ser decretada pelo Juiz, em face
da representação da autoridade policial ou de requerimento do Ministério Público.

b) Não, a prisão temporária não poderia ter sido prorrogada da forma como decidiu
o Magistrado. Os crimes imputados ao acusado não são de natureza hedionda. Logo,
nos termos do Art. 2º, da Lei nº 7.960/89, a prisão temporária terá o prazo de 5 (cinco)
dias, prorrogável por igual período em caso de extrema e comprovada necessidade.
Questão 79
Zé Bueno foi denunciado pela prática do delito de tráfico ilícito de entorpecentes, previsto no artigo
33 da Lei 11.343/2006. Ao oferecer a denúncia, o Ministério Público representou pela prisão
preventiva do réu, sob o fundamento de que estaria ameaçando as testemunhas arroladas na
peça acusatória. O juiz decretou a prisão para assegurar a conveniência da instrução criminal.
Durante a audiência de instrução, as testemunhas de acusação foram inquiridas, sendo designada
nova audiência para ser ouvida uma testemunha da defesa faltante. Diante disso, a defesa de Zé
Bueno postulou a revogação da prisão preventiva, o que foi indeferido pelo Magistrado. A defesa,
então, impetrou habeas corpus, que foi denegado pelo Tribunal de Justiça. Considerando a
situação hipotética, responda aos itens a seguir, empregando os argumentos jurídicos apropriados
e a fundamentação legal pertinente ao caso.

a) Qual o meio de impugnação privativo de advogado contra a decisão que denegou a ordem de
habeas corpus, o prazo e a quem devem ser endereçadas as razões?

b) Qual argumento jurídico poderia ser usado em defesa de Zé Bueno em busca da sua soltura?
a) O meio de impugnação cabível seria o Recurso Ordinário Constitucional, com
prazo de 05 dias, nos termos do artigo 30 da Lei 8.038/90, devendo as razões serem
endereçadas para o Superior Tribunal de Justiça, conforme artigo 105, inciso II,
alínea “a”, da CF/88.

b) Desenvolvimento fundamentado acerca da cessação dos motivos do decreto da


prisão preventiva, previstos no artigo 312 do CPP, já que as testemunhas teriam sido
inquiridas, devendo ser concedida a ordem para cessar a coação ilegal e revogar a
prisão preventiva, com a expedição do respectivo alvará de soltura.
Questão 80
Wilson, primário e de bons antecedentes, foi denunciado pela prática do crime de tráfico de drogas.
Após a instrução, inclusive com realização do interrogatório, ocasião em que o acusado confessou
os fatos, Wilson foi condenado, na forma do Artigo 33 da Lei nº 11.343/06, à pena de 05 anos de
reclusão, a ser cumprido em regime inicial fechado, sob o fundamento de que o tráfico de drogas
é crime assemelhado a hediondo. O advogado de Wilson interpôs o recurso cabível da sentença
condenatória. Em julgamento pela Câmara Criminal do Tribunal de Justiça, a sentença
condenatória foi integralmente mantida. O Desembargador revisor, por sua vez, votou no sentido
de manter a pena de 05 anos de reclusão, mas foi favorável à tese da fixação do regime carcerário
semiaberto, no que restou vencido, já que os demais desembargadores mantiveram o regime
fechado. O advogado de Wilson é intimado do acórdão. Considerando a situação narrada,
responda aos itens a seguir.

a) Em relação ao regime carcerário, qual medida processual, diferente de habeas corpus, cabível
para combater a decisão da Câmara Criminal do Tribunal de Justiça?

b) Qual fundamento de direito material deverá ser apresentado para fazer prevalecer o voto
vencido?
a) A medida processual a ser adotada pelo advogado de Wilson é a interposição de
Recurso de Embargos Infringentes, na forma do artigo 609, parágrafo único, do CPP,
considerando que a decisão proferida em sede de Apelação não foi unânime, em
relação à fixação do regime carcerário.

b) Para fazer prevalecer o voto vencido, deverá o examinando demonstrar a


possibilidade de ser fixado o regime semiaberto, tendo em vista que o STF também
reconheceu a inconstitucionalidade da exigência da aplicação do regime inicial
fechado para os crimes hediondos ou equiparados trazida pelo artigo 2º, § 1º, da Lei
nº 8072/90 por violação do princípio da individualização da pena, previsto no artigo
5º, inciso XLVI, CF/88, de modo que, no caso, seria possível a fixação do regime
inicial semiaberto de cumprimento da reprimenda penal.
Além disso, eventual opinião do julgador acerca da gravidade do delito não constitui
motivação idônea para impor regime carcerário mais severo do que previsto em lei,
conforme as Súmulas 718 e 719 do STF e Súmula 440 do STJ. Logo, como se trata
de réu primário e com bons antecedentes, bem como a pena aplicada é de 05 anos,
o regime deveria ser o semiaberto, nos termos do artigo 33, § 2º, alínea “b”, do
Código Penal.

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