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Apresentação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
Como realizar este curso . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
Materiais de apoio. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
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S umário
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S umário
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APRESENTAÇÃO
O PROBLEMA
A pedagogia brasileira das últimas décadas deixou de fornecer aos alunos aquilo que sempre foi
considerado o alicerce mesmo da boa educação: o domínio da linguagem. E por isso a inteligência
nacional tem se afundado nas brumas de uma espécie de era das trevas.
Um estudo de 2015, intitulado Um século de ganhos no QI global: uma meta-análise do Efeito
Flynn (1909-2013)1, conduzido por Jakob Pietschnig e Martin Voracek da Universidade de Viena,
nos revelou um dado assombroso: dos 31 países investigados, com representantes de todos os
continentes, somente no Brasil se constatou, nos últimos cem anos, uma queda no QI médio
da população.
E não se trata de problema socioeconômico. O Efeito Flynn, fenômeno identificado pelo
psicólogo americano James R. Flynn, da Universidade de Chicago, indica que há um aumento
progressivo no QI da população mundial na medida em que se vai melhorando as condições
nutricionais e de acesso à renda.
Entre 1901 e 2000, o PIB per capita no Brasil cresceu 12 vezes — de R$ 516 para R$ 6.056. So-
mos, portanto, o único país do mundo que ficou mais próspero e menos inteligente.
Os alunos brasileiros têm ocupado repetidamente as últimas posições nos testes internacio-
nais, inclusive em matéria de linguagem. Nas avaliações internas, temos taxas apavorantes de
analfabetismo funcional, que é a incapacidade de ler, com plenitude de compreensão, textos
simples escritos na língua materna — e isso depois de longos e longos anos de estudos formais.
Consequência disso, nossa produção acadêmica tem baixíssima relevância; nossa política,
nossas leis e nossa justiça são feitas quase sempre por semiletrados; nossa literatura há tempos
não nos dá gênios como os que, há menos de meio século, eram lidos e apreciados.
Há alguns anos, em um de nossos cursos, temos ensinado redação a alunos provenientes de
escolas públicas da capital de São Paulo, estado mais rico da federação. Salvo raríssimos casos,
os vestibulandos não logram construir uma única frase coerente, quanto menos um parágrafo,
o que dirá um texto inteiro. Há defeitos elementares. Pecam na ortografia, na pontuação, na
sintaxe fundamental, na semântica. Receberam, por alto, um modelo apostilar de dissertação; e
só, é tudo, é a bagatela de conhecimento com que terão de se virar na faculdade, no trabalho,
no curso de suas vidas.
Tudo isso porque a pedagogia contemporânea, feita por um punhado de especialistas fecha-
dos em convicções sectárias, arredios ao debate, ciosos de seu exclusivismo que já vai beirando
o totalitário, sonegou-lhes a base, o alicerce: o domínio da língua.
E essa interpretação do problema não é nenhuma novidade. Entre as décadas de 40 e 80 do
século passado, o grande filólogo Gladstone Chaves de Mello, dos últimos cultores do idioma,
1
PIETSCHNIG, Jakob e VORACEK, Martin. One Century of Global IQ Gains: A Formal Meta-Analysis of the Flynn Effect
(1909–2013). In: Perspectives on Psychological Science, 2015, Vol. 10(3) 282–306.
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A P R E S E N TA Ç Ã O
militava obstinadamente por melhoras nos métodos escolares de ensino da linguagem. Escreveu
livros neste sentido; falou na imprensa; fez o que lhe estava ao alcance.
Advogava, o mestre, por um ensino da língua que escapasse dos macetes e regrinhas exigidos
nos concursos públicos e vestibulares, e das garras de revolucionários que, em cátedras cada vez
mais numerosas, iam convencendo estudantes, incluindo futuros professores, de que não se pre-
cisava absorver o legado da língua, que não carecia mostrar respeito e admiração aos escritores
clássicos, que as normas eram apenas imposições tirânicas, e não produto de longa tradição, feita
e refletida por literatos e gramáticos comprometidos com a construção e preservação do idioma.
Como alternativa a esse duplo erro, ele falava de um ensino da leitura e da escrita que tivesse
como centro textos de alto valor literário, textos que deveriam ser frequentemente lidos, decla-
mados, copiados e memorizados; textos dos nossos gênios que serviriam como matéria-prima
para os estudos gramaticais, semânticos e estilísticos.
Quer dizer, assistindo à nossa lenta e melancólica marcha ao precipício da ignorância, puxada
por artífices de uma educação postiça, politiqueira e completamente desviada de suas finalidades
originais, o professor Gladstone, não sabemos com que grau de consciência, sugeria que voltás-
semos ao método clássico de ensino da língua.
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CARPEAUX, Otto Maria. História da Literatura Ocidental, vol 1: A Antiguidade Greco-Latina. São Paulo: Leya, 2012.
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3
JAEGER, Werner. Paideia: a formação do Homem Grego. São Paulo: Martins Fontes, 2013.
4
MARROU, Henri-Irénée. A História da Educação na Antiguidade Clássica. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1973.
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A P R E S E N TA Ç Ã O
E continua a explicar o caráter menos cavaleiresco e político do que erudito, ou, mal dizendo,
mais intelectual e enciclopédico da perspectiva de ensino que se vai cristalizando:
[...] No decorrer dos séculos seguintes, a educação clássica acabará de perder muito do
que podia restar do seu caráter nobre [...]; o papel da cultura física continua a apagar-se
progressivamente (não, aqui e acolá, sem atrasos e resistências) em proveito dos ele-
mentos propriamente espirituais, e, no interior deles, o aspecto artístico e notadamente
musical cede definitivamente passo aos elementos literários: a educação, embora per-
manecendo acima de tudo moral, torna-se mais livresca e, por consequência natural,
mais escolar [...]” 5.
Com esse enfoque literário, cujo fim era fazer do jovem amplo conhecedor de seu idioma
e da cultura na qual estava inserido, essa educação das cidades helenísticas, espalhadas pelo
Oriente Médio, Egito e Grécia, tinha as duas primeiras fases iniciais especialmente voltadas para
o domínio da linguagem.
ENSINO PRIMÁRIO
Por volta dos sete anos a criança era iniciada nas letras. Decorava o alfabeto, as sílabas, memori-
zava nomes de heróis, de sábios, de lugares. Depois, por meio de trechos separados em pequenas
antologias, fazia os primeiros contatos com os escritores. E copiava os textos, os decorava, trazia
uma porção deles na cabeça, desde cedo modelando suas formas de expressão com base nos
melhores exemplos. Também precisava recitar de cabeça, com boa prosódia, as passagens estu-
dadas. Ainda nessa etapa aprendia os rudimentos de escrita.
ENSINO SECUNDÁRIO
Toda essa fase inicial servia de preparo aos estudos secundários. Aí o adolescente ficava aos
cuidados do gramático, mestre que se incumbia de iniciar os pupilos, de modo mais definitivo,
nas letras e na alta cultura. Era tempo de ler, com atenção: Homero, Esopo, Ésquilo, Sófocles,
Eurípedes, Menandro, Aristófanes, Heródoto e uma porção de outros.
Procedia-se a leitura minuciosamente comentada desses autores célebres. O professor esmiu-
çava os pormenores do texto, iluminava o que numa primeira lançada de olhos parecia obscuro,
destrinchava o emaranhado sintático, explicava as figuras de linguagem, dava, no ato mesmo, os
fundamentos da gramática, da semântica, e algo da estilística. Mais do que isso: era momento
de o mestre introduzir os jovens no que havia de mais elevado naquela civilização, coisa que se
fazia pela explicação de mitos, narração de biografias, alargamento do horizonte de referências
históricas, geográficas, filosóficas e religiosas.
Na desembocadura do método, tinha-se a interpretação moral, onde se esclarecia as virtudes
de tal personagem, a beleza de tal ação, o sentido alegórico de tal passagem, as lições que os
poetas, ainda que de modo simbólico, haviam ali deixado.
Após alguns anos assimilando as formas mais sofisticadas da língua e os elementos fundamen-
tais da cultura — ficando o jovem, portanto, habilitado a ler e a imitar os clássicos —, depois disso,
5
Ibidem.
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CO M O U S A R E S TA A P O S T I L A
Abaixo, tratamos de dois temas que podem interessar os responsáveis: a justificação da escolha
dos textos e uma brevíssima exposição da estrutura pedagógica deste curso.
2. Forma
Fábulas e mitos são narrativas simples e diretas, que apresentam um número limitado de perso-
nagens e situações. Essas características estruturais facilitam à criança a assimilação do enredo
como um todo e, por consequência, a compreensão da história.
3. Conteúdo
Como um baú rústico a esconder luminoso tesouro, esses enredos ao mesmo tempo que são
simples na forma, carregam enorme riqueza no conteúdo.
Ao ler o texto, o responsável acha oportunidades para ampliar a imaginação geográfica e
histórica, e a cultural geral dos alunos, já que as narrativas mencionam lugares diferentes, épocas
longínquas, e personalidades, reais ou fictícias, de grande importância à nossa civilização.
Além disso, as fábulas e os mitos abrem espaço para que o responsável discuta com os alunos
o valor dessa ou daquela ação, a conveniência de se repetir ou não certa atitude, as qualidades e
os defeitos de um e outro personagem, e mais tantos outros assuntos que, se bem conduzidos,
só fazem apurar o senso prático e moral da criança.
4. Beleza
Os cinco primeiros textos são fábulas narradas em versos. Todos eles são traduzidos ou adaptados
por grandes poetas da língua portuguesa, como Manuel Maria du Bocage.
Há muitas vantagens de se usar textos em versos para a educação da linguagem. Aliás, a
educação clássica era feita amplamente com base em textos assim. E não sem motivo. Por sua
natureza musical, o texto versificado facilita a percepção do ritmo e da melodia do idioma,
ao mesmo tempo que favorece e facilita à memorização. Além disso, via de regra textos assim
apresentam construções frasais sofisticadas, o que exige uma atenção maior para compreensão
e, consequentemente, para assimilação do sentido.
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AULA 1
A Cigarra e a Formiga
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LIÇÃO 1
APRESENTAÇÃO E LEITURA
O responsável deve ler a apresentação para o aluno. Se necessário, pode esclarecer o sentido
de termos ou expressões desconhecidos.
APRESENTAÇÃO
Nesta aula você lerá a fábula A Cigarra e a Formiga, conhecerá as unidades do discurso — frases,
orações e períodos — e aprenderá as primeiras noções necessárias para ler adequadamente
textos em versos
O que é a fábula?
As fábulas são narrativas alegóricas de curta extensão. Narrativas porque contam uma história,
uma sequência de ações com começo, meio e fim; alegóricas porque os autores se utilizam dessa
narrativa explícita para, na verdade, contar alguma outra coisa, cujo sentido é mais ou menos
velado, escondido.
Com relação a esse caráter alegórico, é muito comum que os fabulistas se utilizem de ani-
mais para representar situações tipicamente humanas; para, por meio dos bichos, cada um dos
quais com caráter muito simples de se perceber, deixar mais explícitos certos vícios e virtudes
dos homens.
Quanto ao sentido velado, ele é o que se chama: lição de moral ou lição prática. Quer dizer, a
narrativa da fábula tem como fim ensinar, de maneira viva e simples, o que é bom e o que é mal
nas condutas dos homens, aquilo que é desejável imitar e aquilo que é urgente evitar. Também dá
ensejo para instruir como se deve agir em situações práticas: como se deve agir no presente para
não padecer no futuro; como se comportar diante dos objetivos que não se consegue alcançar;
como causa vergonha e humilhação tentarmos ser aquilo que não somos, e assim por diante.
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Tratamos aqui dos principais fabulistas do Ocidente, não nos esquecendo de que a fábula é um gênero universalmente
difundido cuja origem, no tempo e no espaço, é desconhecida. Na própria Grécia tudo leva a crer que antes de Esopo já
houvesse longa tradição de quem contasse esse tipo de histórias com finalidades formativas. Veja-se que Hesíodo, que é
anterior a Esopo, em Os Trabalhos e os Dias lança mão da fábula O Falcão e o Rouxinol, a fim de exemplificar o tipo de tra-
tamento que um juiz de sua terra dispensava aos concidadãos indefesos. Fora do Ocidente, vale registrar o Panchatantra
hindu, conjunto de cinco livros em sânscrito, atribuídos a Vishnu Sharma, que contém uma série de historietas — dentro de
narrativas maiores — que se podem encaixar facilmente no gênero das fábulas. Aliás, sabe-se que, dos grandes, pelo menos
La Fontaine teria lido esses apólogos indianos. Vale também citar as realizações de brasileiros como Olavo Bilac e Monteiro
Lobato, que também se aventuraram no gênero obtendo belos resultados.
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LIÇÃO 1
FEDRO
Tão celebrada eram as fábulas de Esopo, que um outro escravo,
dessa vez um Trácio, levado a Roma, no século primeiro depois de
Cristo, para servir ao Imperador Augusto, lutou toda a vida para
se tornar entre os latinos o que seu mestre foi entre os gregos.
Assim como Virgílio deu a Roma um épico à altura de Homero, Fedro
Fedro levou à Cidade Eterna fábulas dignas de Esopo.
Em boa medida, Fedro imitou Esopo. Cerca de 120 de suas
fábulas são adaptações de narrativas do grego. E isso não o desme-
rece de forma alguma. É ambição moderna a novidade, o exclusi-
vismo. Os antigos não se envergonhavam em atingir a excelência
em suas artes apoiados nas realizações de seus mestres. Veja como
o Camões se tornou o maior poeta da língua imitando, por exem-
plo, o italiano Petrarca e o próprio Virgílio.
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LIÇÃO 1
LA FONTAINE
As fábulas de Esopo e Fedro continuaram sendo lidas pelos eu-
ropeus medievais e modernos. Sobreviveram ao tempo.
Já no século XVIII, Jean de La Fontaine, dos maiores gênios da
língua francesa, tanto deu novas versões às historietas antigas,
quanto criou, com máxima felicidade, as suas próprias.
Dedicadas ao Delfim da França, filho do Rei Sol, o Luís XIV, num
período de grande fausto das artes francesas — eram contem-
porâneos Molière, Racine e Boileau —, as fábulas de La Fontaine
são consideradas o grande modelo do gênero na modernidade.
E é desse fabulista a versão de A Cigarra e a Formiga que você
lerá nesta primeira aula, em tradução do poeta português Manuel La Fontaine
Maria Barbosa du Bocage, um dos maiorais da nossa língua.
Diga-se, antes de passar ao texto, que Esopo já havia contado a história da Cigarra desleixada
que vai se socorrer da Formiga trabalhadeira. Tem-se aí uma tradição de mais ou menos 2.700 anos.
RESUMO DA FÁBULA
A fábula conta de uma Cigarra que passou o ano inteiro a cantar e cantar, não se ocupando em
reunir víveres para sobreviver à dura e inclemente estação do inverno que se aproximava, a exem-
plo de sua vizinha Formiga.
Chega o inverno e os alimentos começam a faltar. Miserável e faminta, a Cigarra bate à porta
da outra suplicando alimento, no que a Formiga, fazendo piada e ironia, se nega a ajudar.
LEITURA
O responsável deve realizar a primeira leitura, em voz alta, conforme o modelo de recitação
disponível na plataforma do curso. Depois, deve pedir para que o aluno também realize a leitura
em voz alta. Nesse momento é preciso se atentar às eventuais dificuldades de pronúncia, ritmo,
tom, volume que o aluno apresente. Na medida de suas capacidades, o responsável pode ir
fazendo pequenas correções.
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LIÇÃO 1
A CIGARRA E A FORMIGA
Tendo a Cigarra em cantigas
Folgado todo o verão,
Achou-se em penúria extrema
Na tormentosa estação.
Não lhe restando migalha
Que trincasse, a tagarela
Foi valer-se da Formiga,
Que morava perto dela.
Rogou-lhe que lhe emprestasse,
Pois tinha riqueza e brio,
Algum grão com que manter-se
Té voltar o aceso estio.
“Amiga”, diz a Cigarra,
“Prometo, à fé d’animal,
Pagar-vos antes d’Agosto
Os juros e o principal.”
A Formiga nunca empresta,
Nunca dá por isso junta.
“No verão em que lidavas?”
À pedinte ela pergunta.
Responde a outra: “Eu cantava
Noite e dia, a toda a hora”.
— “Oh! bravo! — torna a Formiga —
Cantavas? Pois dança agora!”
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LIÇÃO 62
COMENTÁRIOS
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LIÇÃO 63
EXERCÍCIOS PRÁTICOS
1) Conjugue os verbos a seguir em todos os modos, tempos, pessoas e números:
a) Viver;
b) Olhar;
c) Abrir.
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LIÇÃO 64
EXERCÍCIOS PRÁTICOS
2) Conjugue os seguintes verbos nas formas indicadas:
Exemplo:
Crepitar: indicativo, futuro do presente, terceira pessoa, singular: crepitará.
Permear: subjuntivo, pretérito, segunda pessoa, plural: permeásseis.
Encontrar: indicativo, presente, primeira pessoa, singular: encontro.
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