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LETRAMENTO E ALFABETIZAÇÃO
BELO HORIZONTE / MG
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LETRAMENTO E ALFABETIZAÇÃO
SUMÁRIO
1 DESCREVENDO SOBRE “ALFABETIZAÇÃO” E “LETRAMENTO” .................................... 4
2 O QUE É LETRAMENTO? ................................................................................................... 6
2.1 Sociedade letrada/sujeito letrado ...................................................................................... 6
3 ALFABETIZAR LETRANDO ........................................................................................... 7
3.1 O papel do educador no letramento .................................................................................. 8
4 POR QUE SURGIU A PALAVRA LETRAMENTO? ...................................................... 10
4.1 Como diferenciar o apenas alfabetizado do letrado? ...................................................... 11
5 O FOCO NAS CAPACIDADES LINGUÍSTICAS DA ALFABETIZAÇÃO ..................... 12
5.1 Uma questão terminológica ............................................................................................ 13
5.2 Os eixos .......................................................................................................................... 14
Desenvolvimento da oralidade .............................................................................................. 14
6 LÍNGUA E ENSINO DE LÍNGUA .................................................................................. 15
7 ALFABETIZAÇÃO ............................................................................................................. 16
8 CONHECER COMO SE APRENDE PARA SABER COMO ENSINAR .............................. 17
8.1 Nível pré-silábico ............................................................................................................. 17
8.2 Nível silábico ................................................................................................................... 18
8.3 Nível alfabético ................................................................................................................ 18
8.4 Uma concepção social da escrita na alfabetização ......................................................... 21
8.5 Um novo conceito: letramento ......................................................................................... 23
8.6 Alfabetização: reflexão/avaliação/informação ................................................................. 23
8.7 A relação social no processo de aprendizagem .............................................................. 25
9 COMO SE APRENDE A LER E ESCREVER OU, PRONTIDÃO, UM PROBLEMA MAL
COLOCADO ......................................................................................................................................... 28
9.1 A criança e seu processo de alfabetização ..................................................................... 28
9.2 A hipótese silábica .......................................................................................................... 30
9.3 A caminho da hipótese alfabética.................................................................................... 33
10 ALFABETIZAÇÃO: AS SONDAGENS DE HIPÓTESE DE ESCRITA .............................. 37
10.1 Para que serve a sondagem de hipótese de escrita? ................................................... 37
10.2 Como se faz? ................................................................................................................ 37
11 ESCREVER QUANDO NÃO SE SABE ............................................................................ 38
12 CONCEPÇÃO DE ALFABETIZAÇÃO .............................................................................. 39
12.1 O Alfabeto ..................................................................................................................... 41
12.2 Situações de leitura e escrita de nomes próprios ......................................................... 42
12.3 O que os alunos aprendem nas situações de leitura e escrita de nomes ..................... 43
12.4 Condições didáticas para as situações de leitura e escrita de nomes dos colegas da
classe ................................................................................................................................................... 44
13 APRENDER A LINGUAGEM QUE SE ESCREVE ................................................... 45
13.1 O papel da leitura no desenvolvimento da capacidade de produzir textos .................... 45
13.2 Os recontos e as reescritas ........................................................................................... 46
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LETRAMENTO E ALFABETIZAÇÃO
Fonte: hayzblog.files.wordpress.com
Fonte: atividadesparaeja.online.com.br
Para Wagner (1990), quando uma minoria linguística se vê em contato com uma língua
majoritária, dominante em determinado local, existem duas formas de manifestação do
“analfabetismo”: o “analfabetismo de opressão” ou o “analfabetismo de resistência”. Este é
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uma reação de um grupo de pessoas, que recusa o processo de assimilação, ou, ainda, de
aculturação proposto. Pontuamos que esta “recusa” pode se dar do mais consciente até o
inconsciente, com o objetivo de salvaguardar a cultura de origem da parte “mais fraca” da
sociedade em questão. Nesta direção, quando ocorre esta modalidade de “alfabetização”, a
pessoa, ou o grupo, pode reivindicar o direito de aprender à escrita e a leitura de sua própria
língua, quando esta possui versão escrita; e caso esta língua não possua escrita, o grupo, ou
pessoa, torna-se “duplamente analfabeto”, pois não pode aprender a língua que gostaria e
não aprende a língua majoritária.
Por outro lado, o “analfabetismo de opressão” tende a se desenvolver quando a
minoria em questão é obrigada a aprender a língua do grupo dominante, seja pelo sistema
público de ensino, seja pela necessidade de inserção no mercado de trabalho. Para Wagner
(1990), neste caso, ao longo do tempo, a cultura da minoria, em processo de alfabetização na
língua do outro, desaparece. Temos as minorias que frequentam escolas públicas, onde são
“obrigadas” a aprender a língua do grupo social dominante.
Tal situação de “obrigação” provoca, para o estudioso canadense, todos os tipos de
efeitos pedagógicos.
Dentre eles, destacamos: “o aluno pertinente à minoria fica defasado”; “o aluno perde
sua língua de origem e aprende mal a língua dominante por meio da qual ele deve pensar,
agir, trabalhar”, e, ainda, “um sujeito mal equipado do ponto de vista linguístico”. O outro
conceito de Serge Wagner (1990) que destacamos é o de “alfabetização de afirmação
nacional”, que significa o aceitamento do aprendizado de uma língua, que não é a sua língua
materna, sabendo que este processo deve ocorrer para determinados fins de afirmação do
seu país, e de si mesmo, porém, tal aprendizado não significa romper com suas raízes. Ou
seja, é uma alfabetização que significa o “aprender mais uma língua”, que nada se relaciona
com o abandono da sua própria. Wagner ressalta termos decorrentes desta situação social:
“alfabetização de afirmação comunitária” e “alfabetização de afirmação individual”.
Finalmente, não obstante está “aceitação”, caso estas minorias venham a manter sua língua
materna, sempre em paralelo com a do grupo dominante, por meio de instâncias
institucionalizadas, com o passar dos anos, uma situação de separatismo político-
administrativo pode ocorrer.
No artigo, O ser e as Letras: da voz à letra, um caminho que construímos todos,
Biarnés (1998) afirma que cada um de nós constrói uma relação com o mundo das letras e,
por meio desta relação, constrói-se a si mesmo. Ou seja, ninguém está fora deste mundo e,
mais do que isto, ele atribui e reatribui sentidos para esta relação ao longo da vida. Vejamos
abaixo diferentes passagens deste artigo, que juntas nos dão clareza acerca da relação entre
Homem e letra:
A letra me permite encontrar o outro, encontrar a alteridade e, sobretudo,
construir ‘meu outro’ em mim. A letra, objeto do outro se a leio, objeto para o
outro se a escrevo, é um espelho mágico que me permite reconhecer-me,
descobrindome outro. O problema do acesso à leitura, como o da iniciação à
escrita, está aí. Para que, pela letra, eu possa conhecer-me outro, é
necessário que eu possa antes reconhecer-me nela [...] Construir uma
relação de funcionalidade com a letra é ser em vir-a-ser. Mas ser em vir-a-ser
implica um duplo movimento: abandonar o presente e construir o futuro, ‘fazer
não ser o meu ser e ser um nãoser’ [...] A funcionalidade da letra não é saber
preencher o formulário da Previdência, ou saber responder ao questionário
da assistente social, ou da apostila do professor. Propor esse tipo de
exercício em um estágio de formação, ou na escola, é um non-sens? se o
exercício não servir de estímulo à leitura do livro. A funcionalidade da letra é
ser capaz de descobrir o segredo contido no livro! Só se aprende ou se
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reaprende a ler nos livros! Foi isso, exatamente, que nos mostrou aquela
pessoa que tinha "falado de literatura" com sua professora. Só a letra do livro
pode deslocar o sujeito de sua aderência ao espaço-tempo de seu meio,
daquela "imagem do mesmo", e abrir, então, o espaço do jogo onde a letra
tem sentido.
2 O QUE É LETRAMENTO?
Letramento é o estado em que vive o indivíduo que não só sabe ler e escrever, mas
exerce as práticas sociais de leitura e escrita que circulam na sociedade em que vive.
(SOARES, 2000). O termo letramento passou a ter veiculação no setor educacional há pouco
menos de vinte anos, primeiramente entre os linguistas e estudiosos da língua portuguesa.
No Brasil, o termo foi usado pela primeira vez por Mary Kato, em 1986, na obra "No
mundo da escrita: uma perspectiva psicolinguística". Dois anos depois, passou a representar
um referencial no discurso da educação, ao ser definido por Tfouni em "Adultos não
alfabetizados: o avesso dos avessos".
Segundo Soares (2003), foram feitas buscas em dicionários da língua portuguesa
quanto ao significado da palavra e nada foi encontrado nem mesmo nas edições mais
recentes dos anos de 1998 e 1999. Na realidade, o termo originou-se de uma versão feita da
palavra da língua inglesa "literacy", com a representação etimológica de estado, condição ou
qualidade de ser literate, e literate é definido como educado, especialmente, para ler e
escrever.
Assim como as sociedades no mundo inteiro, tornam-se cada vez mais centradas na
escrita, e com o Brasil não poderia ser diferente. E como ser alfabetizado, ou seja, saber ler
e escrever, é insuficiente para vivenciar plenamente a cultura escrita e responder às
demandas da sociedade atual, é preciso letrar-se, ou seja tornar-se um indivíduo que não só
saiba ler e escrever, mas exercer as práticas sociais de leitura e escrita que circulam na
sociedade em que vive (Soares, 2000).
2.1 Sociedade letrada/sujeito letrado
"Letrado" poderia ser, então, o sujeito - criança ou adulto - que,
independentemente de (já) ter ido à escola e de ter aprendido a ler e escrever (ter sido
alfabetizado), usasse ou compreendesse certas estratégias próprias de uma cultura letrada.
(KLEIMAN, 1995, p. 19, apud MELLO; RIBEIRO, 2004, p. 26).
Para um sujeito ser considerado letrado não é necessário que tenha frequentado a
escola ou que saiba ler e escrever, basta que o mesmo exercite a leitura de mundo no seu
cotidiano, sendo um cidadão partícipe de sua comunidade, atuando em associações, clubes,
instituições, igreja, entre outros. Quem é letrado
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Fonte: alototal.com.br
Fonte: adrigomes.com
3 ALFABETIZAR LETRANDO
Porque alfabetização e letramento são conceitos frequentemente confundidos ou
sobrepostos, é importante distingui-los, ao mesmo tempo que é importante também aproximá-
los: a distinção se faz necessária porque a introdução, no campo da educação, do conceito
de letramento tem ameaçado perigosamente a especificidade do processo de alfabetização;
por outro lado, a aproximação é necessária porque não só o processo de alfabetização,
embora distinto e específico, altera-se e reconfigura-se no quadro do conceito de letramento,
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como também este é dependente daquele. (SOARES, 2003, p. 90 apud COLELLO, 2004)
O processo de letramento inicia-se quando a criança nasce em uma sociedade grafo
Centrica, começando a letrar-se a partir do momento em que convive com pessoas que fazem
uso da língua escrita, e que vive em ambiente rodeado de material escrito. Assim ela vai
conhecendo e reconhecendo práticas da leitura e da escrita. Já o processo da alfabetização
inicia-se quando a criança chega à escola. Cabe à educação formal orientar esse processo
metodicamente, mas, segundo Peixoto (et al, 2004), não basta apenas o saber ler e escrever,
necessário é saber fazer uso do ler e do escrever, saber responder às exigências de leitura e
de escrita que a sociedade faz, pois: enquanto a alfabetização se ocupa da aquisição da
escrita por um indivíduo, ou grupo de indivíduos, o letramento focaliza os aspectos sócio
históricos da aquisição de uma sociedade. (TFOUNI, 1995, p. 20 apud COLELLO, 2004).
Depois que se iniciaram os estudos do letramento, o conceito de alfabetização foi
reduzido à mera decodificação, ao simples ensinar a ler e escrever. Não devemos desmerecer
a árdua tarefa, a importância de ensinar a ler e a escrever, pois a aquisição do sistema
alfabético se faz necessária para o indivíduo entrar no mundo da leitura e da escrita.
Fonte: encrypted-tbn1.gstatic.com
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Fonte: revide.com.br
Os estudos realizados por Peixoto (et al, 2004) sobre o papel do "professorletrador, ao
analisar a prática do letramento pelo professor, destacou alguns passos para o desempenho
desse papel que considero relevante citar:
• Investigar as práticas sociais que fazem parte do cotidiano do aluno, adequando-as
à sala de aula e aos conteúdos a serem trabalhados;
• Planejar suas ações visando ensinar para que serve a linguagem escrita e como o
aluno poderá utilizá-la;
• Desenvolver no aluno, através da leitura, interpretação e produção de diferentes
gêneros de textos, habilidades de leitura e escrita que funcionem dentro da
sociedade;
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Fonte: meussonhosdevida.blogspot.com.br
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Fonte: wreducacional.com.br
Fonte: arquidiocesano.com.br
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suas trajetórias ao longo dos três primeiros anos. Vê-se, aqui, mais uma vez, a importância
que se atribui à sensibilidade e ao saber do professor no sentido de adequar a proposta à real
situação de seus alunos. Espera-se que o docente – em conjunto com toda a escola - alie
acuidade e disposição positiva para implementar esta proposta, atentando para as efetivas
circunstâncias em que deverá desenvolver seu trabalho.
institutosingularidades.edu.br
5.2 Os eixos
As capacidades selecionadas estão organizadas em torno dos eixos mais relevantes
para a apropriação da língua escrita:
• Compreensão e valorização da cultura escrita;
• Apropriação do sistema de escrita;
• Leitura;
• Produção de textos escritos;
Desenvolvimento da oralidade
As capacidades associadas a tais eixos ou campos serão objeto de sistematização.
Todas elas serão abordadas da mesma maneira. Inicialmente, apresentam-se, num quadro,
as capacidades mais gerais a serem desenvolvidas, distribuídas de acordo com os três
primeiros anos da Educação Fundamental. Veja o exemplo no quadro.
Fonte: images.slideplayer.com.br
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• A gradação dos tons de cinza: O tom mais claro significa que a capacidade deve
ser introduzida, para possibilitar a familiarização dos alunos com os conhecimentos
em foco, ou retomada, se já tiver sido objeto de ensino-aprendizagem em
momentos anteriores. O médio significa que a capacidade deve ser trabalhada de
maneira sistemática, com vista ao domínio pelos alunos. O tom mais escuro
significa que a capacidade, tendo sido trabalhada sistematicamente, deve ser
enfatizada de modo a assegurar sua consolidação.
• As letras inseridas nas quadrículas: A letra I significa introduzir; a letra R, retomar;
seu uso no quadro indica que a capacidade deve merecer ênfase menor, sendo ou
introduzida ou retomada, conforme o caso (introduzir a novidade; retomar
eventualmente o que já tiver sido contemplado). A letra T significa trabalhar
sistematicamente. A letra C, consolidar.
6 LÍNGUA E ENSINO DE LÍNGUA
A língua é um sistema discursivo, isto é, um sistema que tem origem na interlocução
e se organiza para funcionar na interlocução (inter+locução = ação linguística entre sujeitos).
Esse sistema inclui regras vinculadas às relações das formas linguísticas entre si e às
relações dessas formas com o contexto em que são usadas. Seu centro é, pois, a interação
verbal, que se faz através de textos ou discursos, falados ou escritos.
Partindo dessa concepção, uma proposta de ensino de língua deve valorizar o uso da
língua nas diferentes situações sociais, com sua diversidade de funções e sua variedade de
estilos e modos de falar. Para estar de acordo com essa concepção, é importante que o
trabalho em sala de aula se organize em torno do uso e que privilegie a reflexão dos alunos
sobre as diferentes possibilidades de emprego da língua. Isso implica, certamente, a rejeição
de uma tradição de ensino apenas transmissiva, isto é, preocupada em oferecer ao aluno
conceitos e regras prontos, que ele só tem que memorizar, e de uma perspectiva de
aprendizagem centrada em automatismos e reproduções mecânicas. Por isso é que uma
adequada proposta para o ensino de língua deve prever não só o desenvolvimento de
capacidades necessárias às práticas de leitura e escrita, mas também de fala e escuta
compreensiva em situações públicas (a própria aula é uma situação de uso público da língua).
Fonte: cariocaped.blogspot.com.br
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7 ALFABETIZAÇÃO
Historicamente, o conceito de alfabetização se identificou como ensinoaprendizado da
"tecnologia da escrita", quer dizer, do sistema alfabético de escrita, o que, em linhas gerais,
significa, na leitura, a capacidade de decodificar os sinais gráficos, transformando-os em
"sons", e, na escrita, a capacidade de codificar os sons da fala, transformando-os em sinais
gráficos. A partir dos anos 1980, o conceito de alfabetização foi ampliado com as contribuições
dos estudos sobre a psicogênese da língua escrita, particularmente com os trabalhos de
Emília Ferreiro e Ana Teberosky.
De acordo com esses estudos, o aprendizado do sistema de escrita não se reduziria
ao domínio de correspondências entre grafemas e fonemas (a decodificação e a codificação),
mas se caracterizaria como um processo ativo por meio do qual a criança, desde seus
primeiros contatos com a escrita, construiria e reconstruiria hipóteses sobre a natureza e o
funcionamento da língua escrita, compreendida como um sistema de representação.
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Fonte: dtoday.com.br
Fonte: pedagogiaaopedaletra.com.br
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alfabetização deve ser iniciada com palavras de significado para a criança, como seu próprio
nome, e não com palavras pequenas (pá, pé, nó) ou com sílabas repetidas (babá, Lili).
Dicas: o tempo necessário para avançar de um nível para outro varia muito. A evolução
pode ser facilitada pela atuação significativa do professor, sempre atento às necessidades
observadas no desempenho de cada aluno, organizando atividades adequadas e colocando,
oportunamente, os conflitos que conduzirão ao nível seguinte. O uso da metodologia
contrastiva, permitindo que a criança confronte sua hipótese de escrita com a forma padrão
(nos diversos materiais de leitura já conhecidos) é um importante recurso para a estabilização
da escrita ortográfica.
A sistematização do processo de alfabetização se dará ao longo dos anos
subsequentes. Na medida em que o aluno adquire segurança no contato prazeroso,
contextualizado e significativo com a língua escrita, sua leitura torna-se mais fluente e
compreensiva. Por meio da leitura, o aluno assimila, aos poucos, as convenções ortográficas
e gramaticais, adquirindo competência escritora compatível com as exigências da escrita
socialmente escrita. Desenvolve-se, assim, o gosto e o interesse pela leitura e a habilidade
de inferir, interpretar e extrapolar as ideias do autor, formandose o leitor crítico.
A alfabetização plena, com qualidade, pressupõe e exige da escola:
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formal com testes, provas e notas que inibem e discriminam os alunos mais
carentes, frustrando-os e rotulando-os como fracos.
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processo de escrever uma carta de reclamação, por exemplo, será facilitado pelo
fornecimento de modelos de carta de reclamação pelo professor para que a turma possa
encontrar os meios linguísticos e textuais necessários à transposição, para a escrita, dos
conteúdos trazidos pelo reclamante. Como se pode depreender desses exemplos, quando se
enfatiza a dimensão social da escrita, a atenção recai nas práticas de utilização da leitura e
da escrita de textos em diferentes situações comunicativas.
A mudança na concepção da escrita acarreta também mudança nos critérios para
avaliação de dificuldades de ensino e aprendizagem e, consequentemente, nos critérios para
a progressão didática.
No ensino da leitura, o conceito de dificuldade passa a ser relativo não só a
correspondência letra-som, mas, sobretudo, à familiaridade do aluno com um determinado
tipo de texto. Em contextos urbanos, por exemplo, é comum o alfabetizando saber reconhecer
um jornal e uma notícia de jornal, bem como conhecer suas funções, mesmo sem saber
decifrar o texto.
É possível, pois, escolher a notícia de jornal como ponto de partida e suporte do
trabalho pedagógico. As letras, as sílabas e as palavras são ensinadas a partir da manchete
do jornal ou do título da notícia, através da observação e da identificação dos elementos que
compõem a frase e as palavras. Segundo essa lógica, as chamadas “dificuldades
ortográficas”, que sempre são deixadas para depois, por serem consideradas como
problemáticas, podem aparecer em qualquer etapa do processo, desde que sejam
apreendidas globalmente em um contexto significativo para o aluno.
A título de ilustração, o dígrafo, o ditongo e o encontro consonantal existentes em uma
manchete como O salário mínimo no Brasil é uma vergonha não impedirão sua escolha para
o trabalho de sala de aula, se esse for um assunto de interesse dos alunos e em discussão
na sociedade naquele momento. O trabalho pedagógico pode chegar à observação e à
decomposição de elementos do título (palavras, sílabas) como um dos meios de
sistematização e memorização do código.
Não se pode esquecer que a memorização de qualquer um desses elementos é
facilitada pelo fato de ocorrer em contextos significativos. Os textos podem vir, nesse caso,
de redes mnemônicas. Entretanto, como já apontado, o ensino e a sistematização do código
decorrem de uma prática de leitura coletiva e colaborativa que visa à ação independente,
individual, de um aluno que já conhece a função e o uso dos textos lidos.
Na produção escrita, um critério importante para a avaliação de dificuldades de ensino
e aprendizagem é a familiaridade do aluno com o texto e com sua função na sociedade. Assim,
mesmo em um contexto não-urbano, é possível escolher o bilhete ou a carta como ponto de
partida e suporte do trabalho pedagógico antes de o aluno saber escrever sequer uma frase.
A dificuldade individual é reduzida, na medida em que o texto é construído coletivamente sob
a orientação do professor.
O trabalho individual do aluno consistirá em tentativas de transcrição e composição do
texto que está sendo construído. Uma outra alternativa é a escolha do relato pessoal como
ponto de partida para favorecer a expressão subjetiva (opiniões, desejos, reflexões) em uma
estrutura textual que se aproxima das estruturas orais mais familiares.
Pode-se objetar que, se o aluno analfabeto não tem, por definição, familiaridade com
o código, qualquer tipo de texto é ilegível para ele. Em primeiro lugar, deve-se considerar que,
hoje em dia, são raras as comunidades suficientemente isoladas para não terem nenhum
contato com a escrita, mesmo que pela mídia audiovisual (rádio e televisão). Desse modo,
embora o aluno nunca tenha visto um poema, uma trova ou uma rima escritos, por exemplo,
ele pode tê-los ouvido e até memorizado e, portanto, ter familiaridade com esse tipo de texto.
Em segundo lugar, a literatura especializada já mostrou que a leitura não se faz letra
a letra ou sílaba a sílaba, mas por blocos maiores. Em vez de o aluno ter que juntar as letras
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Q, U e E para poder ler a palavra QUE, por exemplo, ele deveria ser capaz de reconhecer de
uma só vez a palavra pela sua forma global, sua posição e sua função relacional no bloco. O
que tornaria o texto ilegível, justamente, seria a leitura de unidades tão pequenas como a letra
e a sílaba.
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Fonte: mochilaecia.com.br
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Edinilda avançou mais que Reginaldo. Ela supõe que "escreve-se com letras”, mas
ainda não descobriu que as letras representam sons. Sua hipótese – é preciso uma hipótese
para produzir qualquer escrita– poderia ser descrita assim: Para escrever (qualquer coisa) é
preciso de sete a nove letras (o nome dela tem oito letras). Mas não podem ser sempre as
mesmas letras, nem na mesma posição. Por isso ela varia o máximo que pode dentro do seu
limitado repertório, o que, às vezes, exige que ela invente algumas. Edinilda já percebeu que
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a palavras diferentes correspondem escritas diferentes, mas não sabe a que atribuir essas
diferenças, pois não descobriu ainda o que é que as letras representam.
Enquanto não encontra respostas satisfatórias para as duas perguntas fundamentais:
“o que a escrita representa?" e "qual a estrutura do modo de representação da escrita?”, a
criança continua pensando e tentando adequar suas hipóteses às informações que recebe do
mundo. A descoberta de que a escrita representa a fala leva a criança a formular uma hipótese
ao mesmo tempo falsa e necessária: a hipótese silábica.
9.2 A hipótese silábica
A hipótese silábica é um salto qualitativo, uma daquelas "grandes reestruturações
globais" de que nos fala Piaget. Um salto qualitativo tornado possível pelo acirramento das
contradições entre as hipóteses anteriores da criança e as informações que a realidade lhe
oferece. O que caracteriza a hipótese silábica é a crença de que cada letra representa uma
sílaba– a menor unidade de emissão sonora.
Veja, a seguir, três amostras de escrita silábica.
A hipótese com a qual essa menina trabalha é a de que cada letra representa uma
emissão sonora, isto é, uma sílaba oral. É o tipo de escrita que Emília Ferreiro chama silábica
estrita. Cleonilda demonstra um razoável conhecimento do valor sonoro convencional das
letras que, no entanto, ela adapta às necessidades de sua hipótese conceitual. A vogal “O”,
por exemplo, vale"TO" em gato,"BOR" e "BO" em borboleta,"LO" em cavalo e novamente "BO"
em boi.
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A escrita desse menino também é silábica .Mas, no caso dele, essa hipótese entra em
conflito com outra: a hipótese da quantidade mínima de caracteres para que um conjunto de
letras possa ser considerado uma palavra (no início do processo de alfabetização, as crianças
supõem que uma única letra "não serve para ler”; o que varia de uma para outra é o número
de letras tido como mínimo, em geral entre duas e quatro).O Lourivaldo exige três letras no
mínimo, o que cria um problema na escrita dos monossílabos e dissílabos. A solução que ele
encontrou foi agregar letras sem valor sonoro às palavras com menos de três sílabas, o que
acabou criando, em "gato" e "boi”, uma discrepância entre a intenção da escrita e a
interpretação da leitura: na escrita a letra muda era a terceira, mas na hora de ler preferiu
considerar como muda a letra do meio. Há também preocupação com o valor sonoro
convencional.
Esta é uma escrita silábica bem mais difícil de reconhecer que as anteriores. Mas
nesse caso é o conhecimento que a professora construiu observando a criança que possibilita
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a interpretação. Daniel estava vivendo um momento de conflito cognitivo. Vinha testando sua
hipótese silábica em todas as palavras a que tinha acesso, isto é, todas as que alguém lia
para ele, e ficava visivelmente aflito com as letras que sobravam. A forma que encontrou de
acomodar a situação foi agregar letras mudas no final, mas esse arranjo não era, de modo
algum, satisfatório. Seu desconforto durante a atividade era visível: recusou-se a ler
"borboleta" e "boi" e foi preciso insistir muito para que lesse
"cavalo “e "gato".
Dissemos que a hipótese silábica é falsa e necessária. Vamos analisar as duas partes
dessa afirmação. Em primeiro lugar, a questão da falsidade. Supor que cada letra representa
uma sílaba é falso com relação à concepção adulta da escrita, à convenção social, que é
alfabética. Mas não resta dúvida de que é muito mais verdadeira que as hipóteses anteriores.
Ela dá uma resposta verdadeira à primeira questão: “O que a escrita representa?”. O salto
qualitativo é a descoberta de que a escrita representa os sons da fala. Junto com a
compreensão da natureza do objeto representado emerge a necessidade de estabelecer um
critério de correspondência. Não é mais possível à criança atribuir globalmente a palavra
falada à sua escrita. Impõe-se a necessidade de partir tanto a fala quanto a escrita, e fazer
corresponder as duas séries de fragmentos. Nesse esforço, a criança comete um erro: supõe
que a menor unidade da língua é a sílaba. Um "erro" aliás muito lógico, se pensarmos na
impossibilidade de emitir o fonema isolado. A hipótese silábica é, então, parcialmente falsa,
mas necessária. Necessária como são necessários "erros construtivos" no caminho em
direção ao conhecimento objetivo.
As pesquisas de Emília Ferreiro, em 1982, com novecentas crianças que cursavam
pela primeira vez a 1ªsérie da escola pública em várias cidades do México, mostram que mais
ou menos 85% das crianças estudadas que aprenderam a ler utilizavam a hipótese silábica,
em pelo menos uma das quatro entrevistas realizadas durante o ano. Isto é, a maioria das
crianças precisou desse "erro construtivo" para chegar ao sistema alfabético. Como o intervalo
entre as entrevistas era de 60 a 80 dias, fica difícil saber se os 15% restantes passaram ou
não por esse erro construtivo. Mas uma coisa é certa: é impossível chegar à compreensão do
sistema alfabético da escrita sem descobrir, em algum momento, que o que a escrita
representa é a fala.
Mas, no processo de alfabetização, a hipótese silábica é, ao mesmo tempo, um grande
avanço conceitual e uma enorme fonte de conflito cognitivo. "No entanto, a hipótese silábica
cria suas próprias condições de contradição: contradição entre o controle silábico e a
quantidade mínima de letras que uma escrita deve possuir para ser interpretável (por exemplo,
o monossílabo deveria se escrever com uma única letra, mas quando se coloca uma letra só,
o escrito 'não pode ser lido’, ou seja, não é interpretável);além disso, há contradição entre a
interpretação silábica e as escritas produzidas pelos adultos (que têm sempre mais letras do
que as que a hipótese silábica permite antecipar). No mesmo período– embora não
necessariamente ao mesmo tempo – as letras podem começar a adquirir valores sonoros
(silábicos) relativamente estáveis, o que leva a uma correspondência com o eixo qualitativo:
as partes sonoras semelhantes entre as palavras começam a se exprimir por letras
semelhantes. E isto também gera suas formas particulares de conflito." (Emília Ferreiro).
Imaginem como fica conflitante para a criança defrontar-se com o fato de que, por exemplo,
sua escrita para "pato" (AO) ficou igual à que ela produziu para "gato”. Vocês devem estar se
perguntando por que isso não foi percebido até então, não se tornou observável antes. A
resposta é que não podíamos "ver" a escrita silábica por razões semelhantes à de que a
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LETRAMENTO E ALFABETIZAÇÃO
humanidade não pôde rever a ideia de uma Terra plana enquanto não admitiu que esta é que
girava em torno do Sol, e não o contrário. Foi necessária uma concepção dialética do processo
de aprendizagem, uma concepção que permitisse ver a ação do aprendiz construindo o seu
conhecimento, onde o professor aparece não mais como o que controla a aprendizagem do
aluno, e sim como um mediador entre aquele que aprende e o conteúdo a ser aprendido. Só
a partir desse novo referencial é possível imaginar que a criança aprenda algo que não foi
ensinado pelo professor.
9.3 A caminho da hipótese alfabética
Vamos recapitular para não perder o fio. Vimos emergir das pesquisas uma criança
que se esforça para compreender a escrita. Que começa diferenciando o sistema de
representação da escrita do sistema de representação do desenho. Que tenta várias
abordagens globais, numa busca consistente da lógica do sistema, até descobrir – o que
implica uma mudança violenta de critérios– que a escrita não representa o objeto a que se
refere, e sim o desenho sonoro do seu nome. Que nesse momento costuma aparecer uma
hipótese conceitual que atribui a cada letra escrita uma sílaba oral. Que essa hipótese gera
inúmeros conflitos cognitivos, tanto com as informações que recebe do mundo como com as
hipóteses de quantidade e variedade mínima de caracteres construídas pela própria criança.
Veja a seguir as amostras de escrita da Cleonilda, do Lourivaldo e do Daniel, de 22/8/84, nas
quais isso aparece com clareza.
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Fonte: pt.slideshare.net
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outras atividades. Senão, as crianças terão a escrita de memória e, assim, a sondagem nos
dará resultados errados.
O ditado dos termos deve seguir uma ordem, de acordo com seu número de sílabas:
polissílaba, trissílaba, dissílaba e monossílaba. Ao final, também se dita uma frase em que
uma das palavras (trissílaba ou dissílaba) esteja presente. Existe uma lógica para isso. As
crianças que se encontram em conflito com relação ao número de letras podem não querer
escrever palavras menores e desistem logo no começo da sondagem.
Após a escrita de cada palavra, a criança também deve lê-la em voz alta. A leitura
ajuda o professor a verificar como ela está pensando a respeito do sistema de escrita e se
estabelece relação com o que escreveu e o que falou.
Fonte: csantosanjos.com.br
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Fonte: br.depositphotos.com.br
12 CONCEPÇÃO DE ALFABETIZAÇÃO
O objetivo maior – possibilitar que todos os nossos alunos se tornem leitores e
escritores competentes – compromete-nos com a construção de uma escola inclusiva, que
promova a aprendizagem de todos os alunos.
Sabemos que a escrita não é vista como um código que deve ser decifrado.
Entendemos a escrita como sistema de representação que se efetiva por meio da linguagem,
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LETRAMENTO E ALFABETIZAÇÃO
nas diferentes situações em que ela se realiza. Nesse sentido, a escola deve propor atividades
significativas organizadas nas diferentes práticas de linguagem para que as crianças vejam
sentido em aprender.
A escola pode organizar um espaço que seja propício ao uso das práticas sociais da
leitura e da escrita, tanto do ponto de vista físico (textos e tabelas colados nas paredes) quanto
do ponto de vista do uso dessas práticas (leitura em voz alta pelo professor de variados
gêneros, manuseio de materiais impressos como livros, revistas e outros, as rodas de
apreciação e indicação de leituras, produção de textos, entre outras), de modo que os alunos
possam interagir intensamente com a utilização de textos dos mais variados gêneros,
identificar e refletir sobre seus diferentes usos sociais, produzir textos e, assim, construir as
capacidades que lhes permitam participar das situações sociais pautadas pela cultura escrita.
Ao eleger o que e como ensinar, é fundamental levar em consideração esses fatos,
não mais para justificar fracassos, mas para criar as condições necessárias para garantir a
conquista e a consolidação da aprendizagem da leitura e da escrita de todos os nossos
alunos. Assim, este documento parte do pressuposto de que a alfabetização é a
aprendizagem do sistema de escrita e da linguagem escrita em seus diversos usos sociais,
porque consideramos imprescindível a aprendizagem simultânea dessas duas dimensões. A
língua é um sistema discursivo que se organiza no uso e para o uso, escrito e falado, sempre
de maneira contextualizada. No entanto, uma condição básica para ler e escrever com
autonomia é a apropriação do sistema de escrita, que envolve, da parte dos alunos,
aprendizagens muito específicas. Entre elas o conhecimento do alfabeto, a forma gráfica das
letras, seus nomes e seu valor sonoro.
Tanto os saberes sobre o sistema de escrita como aqueles sobre a linguagem escrita
devem ser ensinados e sistematizados na escola. Não basta colocar os alunos diante dos
textos para que conheçam o sistema de escrita alfabético e seu funcionamento ou para que
aprendam a linguagem escrita. É preciso planejar uma diversidade de situações em que
possam, em diferentes momentos, centrar seus esforços ora na aprendizagem do sistema,
ora na aprendizagem da linguagem que se usa para escrever. O senso comum repete desde
sempre que a criança aprende brincando, o que tem gerado inúmeras atividades equivocadas,
infantilizando conteúdos que se quer ensinar.
O brincar é sim atividade importantíssima na infância, na qual as crianças criam por
conta própria enredos e ensaiam papéis sociais, o que certamente envolve muita
aprendizagem relativa à sociedade em que vivem. Ao jogar com regras, elas também
aprendem a interagir, a raciocinar. Mas a aprendizagem de conteúdos envolve muito
pensamento, trabalho investigativo e esforço, portanto é necessário um trabalho pedagógico
intencional e competente. As propostas pedagógicas devem reconhecer as crianças como
seres íntegros, que aprendem a ser e conviver consigo, com os demais e com o ambiente de
maneira articulada e gradual. Devem organizar atividades intencionais que possibilitem a
interação entre as diversas áreas de conhecimento e os diferentes aspectos da vida cidadã
em momentos de ações ora estruturadas, ora espontâneas e livres, contribuindo assim com
o provimento de conteúdos básicos para constituição de novos conhecimentos e valores.
O desenvolvimento das capacidades de ler e escrever não é processo que se encerra
quando o aluno domina o sistema de escrita. Ele se prolonga por toda a vida, com a crescente
possibilidade de participação nas práticas que envolvem a língua escrita, o que se traduz na
sua competência de ler e produzir textos dos mais variados gêneros. Quanto mais acesso à
cultura escrita, mais possibilidades de construção de conhecimentos sobre a língua.
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LETRAMENTO E ALFABETIZAÇÃO
Fonte: professoresherois.com.br
12.1 O Alfabeto
Conhecer os nomes das letras é fundamental para os alunos que estão se
alfabetizando, pois em alguns casos eles fornecem pistas sobre um dos sons que elas podem
representar na escrita. Além disso, os alunos têm de conhecer a forma gráfica das letras e a
ordem alfabética. Essa aprendizagem, porém, pode ocorrer de forma lúdica e divertida por
meio de jogos, parlendas e adivinhas.
O alfabeto passa a ter 26 letras, dispostas da seguinte forma: A B C D E F G H I J K L
M N O P Q R S T U V W X Y Z, como comumente víamos.
Foram reintroduzidas as letras k, w e y que fizeram parte do nosso alfabeto até 1943,
quando foram retiradas, conservando-se apenas em palavras estrangeiras e em algumas
abreviaturas.
Essas letras viviam na língua como as pessoas moram no exterior como imigrantes
ilegais. Então, quer dizer que elas podem circular livremente como “letras-nativas”?
Não. Aceitam-nas porque era inevitável não o fazer, pois permaneceram no nosso
alfabeto e no ensino, mesmo quando não eram oficializadas. Assim, há certas restrições no
uso dessas letrinhas que se infiltraram em nosso idioma, mas que agora damos as boas
vindas sem preconceitos.
Fonte: mundoeducacao.bol.uol.com.br
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LETRAMENTO E ALFABETIZAÇÃO
Então, como vimos acima, essas letras não estão liberadas para formação de novas
palavras, então, antes de começarmos a trocar o “i” pelo “y” ou o “u” pelo “w”, lembremo-nos
dessas conformidades que devem ser seguidas.
Fonte: youtube.com
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o tempo previsto para essa ação é maior, 2 ou 3 vezes na semana. Para o 2° semestre, de
acordo com os avanços observados em relação à aprendizagem dos alunos, a periodicidade
tende a diminuir. O foco do trabalho também muda de um período para o outro: no 1° semestre
o trabalho centra-se tanto na leitura e escrita do próprio nome como na dos nomes de colegas;
após a metade do ano espera-se que todos os alunos já tenham aprendido a escrever e a
identificar seu próprio nome com facilidade, intensificando, assim, o trabalho com os nomes
dos colegas.
Fonte: riancapequenina.com.br
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LETRAMENTO E ALFABETIZAÇÃO
nomes (por exemplo, se há poucas letras é mais provável que seja o nome do Pedro
do que de Ronaldo), a quantidade de palavras (Maria Luísa tem duas partes e
mariana só uma), a diferença entre as letras (para diferenciar Fernando de
Fernanda, por exemplo, é preciso observar a letra final).
Além de fonte de conflito, esse conjunto de palavras conhecidas funciona como um
importante “material de consulta”: ao escrever determinada palavra, as crianças aprendem a
buscar na lista de nomes dos colegas informações que lhes permitam escrever de maneira
mais próxima da convencional outras palavras cuja escrita não dominam. Por exemplo, ao
escrever uma lista de frutas, o nome de MANUEL poderá ser consultado para a escrita da
palavra MAÇÃ, uma vez que as crianças observam que ambas as palavras se iniciam pelo
mesmo som e, portanto, devem ter a(s) mesma(s) letra(s) inicial(is).
12.4 Condições didáticas para as situações de leitura e escrita de nomes dos colegas
da classe
Em todas as situações em que a proposta é ler ou escrever seu próprio nome ou de
colegas da classe, os alunos precisam contar com materiais em que tais palavras estejam
escritas convencionalmente.
A lista de crianças da classe deve estar afixada em um local acessível e organizada
de maneira bastante legível. Para isso, algumas considerações são importantes:
É interessante também que a lista seja feita com a participação dos alunos, garantindo
a oportunidade de reflexão sobre o sistema de escrita. Para isso converse com as crianças
sobre:
Além da lista, fazer cartões de nomes, em que os mesmos cuidados assinalados acima
sejam observados, também é interessante, pois esse material pode, mais facilmente, ser
levado à mesa do aluno para servir de modelo nas situações de escrita, além de ser um
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LETRAMENTO E ALFABETIZAÇÃO
Fonte: cantinhodatialua.com.br
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LETRAMENTO E ALFABETIZAÇÃO
A leitura compartilhada tem sido uma das estratégias mais eficientes para aproximar
os alunos do mundo letrado, mesmo quando ainda não sabem ler. E a experiência tem
mostrado que essa prática – muito importante para o desenvolvimento da capacidade de
produzir textos – pode ser facilmente incorporada à rotina diária do professor, qualquer que
seja a idade e a condição social dos alunos.
Quando os alunos ainda não sabem ler, é o professor quem realiza as leituras,
emprestando sua voz ao texto. Enquanto escutam leituras de contos, histórias, poemas, etc.,
os alunos se iniciam como “leitores” de textos literários. Mas é preciso nunca esquecer que
ler é diferente de contar. Ao ler uma história o professor deve fazê-lo sem simplificá-la, sem
substituir termos que considera difíceis. Não é porque a linguagem é mais elaborada que o
texto se torna incompreensível. É justamente o contato com a linguagem escrita como ela é
que vai fazendo com que ela se torne mais acessível.
Ao escolher o livro, é importante que o professor considere a faixa etária de seu grupo
e avalie a qualidade literária da obra – ou seja, se apresenta uma história envolvente, provida
de nó dramático, de vocabulário complexo, de dilemas, conflitos, de encantamento, humor,
surpresas, enfim, provida dos elementos que há milhares de anos prendem a atenção dos
ouvintes ou leitores. Da mesma forma, é interessante evitar os livros que apresentam histórias
moralizantes, com tramas insípidas, com vocabulário simplificado, reduzido. Esses livros não
ajudam os alunos a estabelecer uma relação mais profunda com a literatura, não permitem
que eles apreciem uma narrativa complexa e vivenciem as surpresas da linguagem
metafórica, enfim, eles não convocam, não apaixonam.
Fonte: revistacrescer.globo.com.br
enredo, junto vem também a forma, a linguagem que se usa para escrever, diferente da que
se usa para falar. A reescrita é a produção de mais uma versão e, não, a reprodução idêntica.
Não é condição para uma atividade de reescrita – nem é desejável – que o aluno memorize o
texto. Para reescrever não é necessário decorar: o que queremos desenvolver não é a
memória, mas a capacidade de produzir um texto em linguagem escrita. O conto tradicional
funciona como uma espécie de matriz para a escrita de narrativas. Ao realizar um reconto, os
alunos recuperam os acontecimentos da narrativa, utilizando, frequentemente, elementos da
linguagem que se usa para escrever. O mesmo acontece com as reescritas, pois ao
reescrever uma história, um conto, os alunos precisam coordenar uma série de tarefas: eles
precisam recuperar os acontecimentos, utilizar a linguagem que se escreve, organizar junto
com os colegas o que querem escrever, controlar o que já foi escrito e o que falta escrever.
Ao realizar essas tarefas os alunos estarão aprendendo sobre o processo de composição de
um texto escrito.
13.3 Os gêneros
O conhecimento da linguagem que se escreve não se constitui só de narrativas. Os
textos que existem no mundo têm diferentes formas, pertencem a diferentes gêneros que se
constituem a partir do uso e, também, é por meio do uso que são aprendidos.
Muito antes de saber ler e escrever convencionalmente, as crianças são capazes de
reconhecer diferentes organizações discursivas: por exemplo, jamais confundiriam um conto
com uma carta. Mas, para isso, é necessária a experiência com a utilização de textos escritos.
O que só é possível se alguém ler para elas. É a partir dessas leituras que os alunos vão se
familiarizando com os diferentes gêneros, mesmo sem saber descrevê-los ou defini-los. Não
há dificuldade em diferenciar um conto de fadas de uma carta, um bilhete ou uma receita. Isso
é simples, tanto para os alunos que já aprenderam a ler como para os alunos que ainda não
compreenderam o funcionamento do sistema de escrita. Para ditar uma carta, ou um conto, o
conhecimento necessário é sobre as características formais desse gênero,
independentemente de aquele que dita estar ou não alfabetizado.
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LETRAMENTO E ALFABETIZAÇÃO
Fonte: br.pinterest.com.br
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LETRAMENTO E ALFABETIZAÇÃO
Eixo quantitativo: A criança, de um modo geral, exige um mínimo de três letras para
ser uma palavra. As palavras como pé, sol, rua, lar etc., segundo ela, não poderão ser lidas
porque têm “poucas letras”. São rejeitadas, em função do critério interno de quantidade.
Eixo qualitativo: Para que se possa ler ou escrever uma palavra, torna-se necessário,
também, uma variedade de caracteres gráficos. As palavras que possuem letras iguais são
também rejeitadas.
Outro ponto a ressaltar é que numa determinada fase, a criança não separa letras de
números. Costuma, às vezes, escrever colocando numerais junto às letras, já que ambos os
caracteres envolvem linhas retas e curvas.
Outra característica observada é que a criança acredita que os nomes de pessoas
(realismo nominal), animais e coisas têm relação com o seu tamanho, peso ou idade. As
pessoas, animais ou objetos grandes devem ter nomes grandes. Por conseguinte, as coisas
pequenas terão nomes pequenos.
O maior desafio desse nível é auxiliar os educandos a perceber que a escrita
representa os sons da fala.
Quando a criança é convidada a ler a sua escrita, ela passa o dedo direto pela palavra,
demonstrando não representar a pauta sonora das palavras.
Ex.: Rato – T C R C U S
NÍVEL SILÁBICO: Essa escrita constitui um grande avanço, e se traduz num dos mais
importantes esquemas construídos pela criança, durante o seu desenvolvimento. Pela
primeira vez, ela trabalha com a hipótese de que a escrita representa partes sonoras da fala,
porém, com uma particularidade: cada letra vale por uma sílaba. Assim, utiliza tantas letras
quantas forem as sílabas da palavra.
Jacaré – F R A (silábico restrito) – a escrita da criança está restrita a letras de sua
experiência no momento da escrita. Jacaré – J K R, J C E, A K E ou A A E (silábico evoluído)
– a escrita da criança contém a correspondência sonora das vogais ou consoantes. Alguns
conflitos são vivenciados nesta fase, como:
Hipótese da quantidade mínima: elas acreditam que existe uma quantidade mínima de
três letras para escrever. Desta forma, palavras monossílabas e dissílabas precisam ser
escritas com um mínimo de três ou quatro letras.
Ex.: Ao escrever P A T O, representa A O T B (ela representa AO, como acha pouco,
ela acrescenta mais duas letras aleatórias).
Hipótese da variedade de letras: a criança acredita que uma mesma palavra não pode
ser escrita com letras repetidas de forma sequenciada.
Ex.: Ao escrever B A R A T A, ela escreveria A A A, mas por achar essa escrita
impossível, representa: A T C.
No nível silábico, quando a criança é convidada a ler sua escrita, ela mostra para cada
pauta sonora uma letra representada. Ex.: Jacaré – T C N
NÍVEL SILÁBICO-ALFABÉTICO:
Esta fase apresenta-se como uma transição entre o nível silábico e o nível alfabético.
Diante dos conflitos da hipótese silábica, a criança descobre que o esquema de uma
letra para cada sílaba não funciona e, assim, procura acrescentar letras à escrita da fase
anterior.
Emília Ferreiro nos lembra que um adulto mal informado poderá, nessa fase, achar
que a criança está omitindo letras, o que não é verdade. A criança está é acrescentando letras
à sua escrita da fase anterior. Trata-se de um progresso, e não de um retrocesso.
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LETRAMENTO E ALFABETIZAÇÃO
Fonte: educacaopublica.cederj.edu.br
Emília Ferreiro e Ana Teberosky partiram do pressuposto da teoria piagetiana – de que
todo conhecimento possui uma origem – e, pelo método clínico de Piaget, observaram 108
crianças e seu funcionamento do sistema de escrita. Elas queriam entender como as crianças
se apropriam da cultura escrita, criando a obra intitulada de Psicogênese da Língua Escrita,
introduzida no Brasil por volta dos anos 1980 (Picolli; Camini, 2013).
O fato de questionarem e considerarem o que as crianças sabem antes da
alfabetização (da entrada na escola) modificou toda a forma de pensar da época, e ainda hoje
tais ideias embasam muitos profissionais. Diversas práticas construtivistas foram lançadas no
dia a dia da sala de aula por influência da Psicogênese da Língua Escrita (Picolli; Camini,
2013).
Nessa obra, as autoras criticam os métodos utilizados para alfabetização e afirmam
que há uma “verdadeira escrita inibida pelos métodos tradicionais”, visto que estes utilizam a
cópia como ferramenta fundamental. “A verdadeira escrita (…) seria a escrita espontânea:
aquela que proporcionaria à criança pensar sobre as regras que constituem o sistema de
escrita” (Picolli; Camini, 2013).
Ferreiro e Teberosky sustentam que a grande maioria das crianças com seis anos de
idade sabe distinguir textos de desenhos. Aquelas crianças que ainda “leem” desenhos e não
letras são crianças que não têm contato com a escrita em seus diversos materiais
(Multieducação).
É preciso que haja certo número de letras. Uma letra sozinha não representa nada
50
LETRAMENTO E ALFABETIZAÇÃO
escrito. As crianças rejeitam letras repetidas, pois só podem ser lidas palavras com letras
diferentes. Mais tarde, pode haver dificuldade para perceber que uma oração pode ser
fragmentada em pedaços e que cada pedaço é uma palavra a ser lida.
15 LER QUANDO NÃO SE SABE
Todos os anos chegam à escola pública umas poucas crianças que já sabem ler, mas
a maioria ainda vai aprender. E muitas pessoas se perguntam: Como será que algumas
crianças se tornam leitoras antes de estudar as lições da cartilha? Será que são mais
inteligentes?
Por outro lado, muitos também refletem: Por que algumas crianças levam dois, três,
quatro anos, ou até uma vida (no caso dos adultos analfabetos) para aprender a ler? Com
certeza, na maioria dos casos não se trata de um distúrbio, pois um dia eles aprendem –
sabemos disso.
Conversando com os pais, e até mesmo com essas crianças leitoras, descobrimos
coisas interessantes. Eles dizem, por exemplo:
a) Aqui em casa lemos a Bíblia todos os dias; meu filho sempre pergunta onde está
escrito o que escuta a gente ler.
b) Gosto de ler histórias para ele e apontar onde estou lendo.
c) Acho bom as crianças saberem o que está escrito nas embalagens e, por isso, leio
sempre para minha filha, que me enche de perguntas.
d) Ganho gibis velhos da minha patroa e dou para a minha filha brincar de ler.
É fascinante ouvir os pais contarem essas histórias e tantas outras, observar o
interesse das crianças pela palavra escrita e, mais bonito ainda, ver como esses pais, sem
perceber, estão o tempo todo ensinando aos filhos a respeito da leitura.
Nessas situações, os adultos são verdadeiros parceiros, são informantes; usam textos
reais, tratam os pequenos como leitores, acreditam que é lendo que se aprende a ler – ainda
que nem sempre tenham consciência disso. Para eles, compreender e decifrar o texto são
coisas que caminham juntas.
Poderíamos dizer que essa é uma situação privilegiada: pais que dão a seus filhos
informações a respeito da escrita. E o que acontece quando os pais são analfabetos? As
crianças não aprendem só com adultos, mas também com outras crianças que já sabem ler.
Quantas vezes não ouvimos os pais dizerem: O mais velho estava estudando e ele ficava
observando; aprendeu praticamente sozinho. Há também o caso das classes multisseriadas1,
em que alunos com nível de conhecimento bem diferenciado aprendem muito uns com os
outros.
Hoje sabemos que, para adquirir conhecimentos, não basta ouvir. Na verdade, as
crianças interpretam o que ouvem, pensam e refletem a partir do que já conhecem. Desde
muito pequenas, elas podem e devem conhecer os diferentes materiais de leitura, saber para
que servem e tentar descobrir o que está escrito.
É por isso que o trabalho com a linguagem escrita é de extrema importância na
Educação Infantil. Não se trata de preparar as crianças para a 1ª série, mas sim de oferecer-
lhes a leitura e a escrita. As crianças pequenas sempre podem e querem aprender muito.
Mas, o que fazer quando não há adultos informantes, nem irmãos que possam ajudar,
nem classes multisseriadas? Nesses casos, o papel de ensinar a ler e escrever cabe somente
1
As classes multisseriadas são salas com alunos de diferentes idades e níveis educacionais nas quais estão cerca
de 60% dos estudantes do campo
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LETRAMENTO E ALFABETIZAÇÃO
memória. Experimente, por exemplo, ensaiar uma música que todos vão cantar
juntos, acompanhando com a leitura no texto impresso – ou um poema, ou uma
adivinhação, que se vá gravar em fita cassete. Essas atividades tornam possível
acompanhar no texto o que vai sendo dito e ajudam a pensar na correspondência
entre ‘o que se diz’ e ‘o que está escrito’.
2. Quando se trata de textos desconhecidos, lançar mão de diferentes situações que
requerem uma leitura exploratória, destinada a localizar determinadas informações
(em vez de propor a leitura exaustiva de tudo que está escrito):
• localizar onde está dito – por exemplo, achar no jornal em qual emissora de tevê e
em que horário é transmitido determinado programa de interesse;
• determinar se o texto diz ou não diz algo – por exemplo, ver se no cardápio do dia
consta ou não consta determinada comida;
• identificar qual é a correta, entre várias possibilidades antecipáveis: qual das fichas
da biblioteca corresponde ao conto de Branca de Neve, qual ao da Gata
Borralheira…
3. Criar contextos que permitam aprofundar o trabalho sobre o texto, como por
exemplo:
• Ler um trecho e pedir para os alunos formularem suposições sobre seu significado
e, depois, confrontarem com os indicadores que o texto oferece;
• propor várias alternativas possíveis de interpretação, para que os alunos decidam
qual delas aparece efetivamente no texto.
As crianças podem aprender muito sobre a escrita, tanto dentro quanto fora da escola,
mas, para isso, a condição é acreditar que todas podem aprender e valorizar o que já sabem
– em vez de enfatizar, o tempo todo, aquilo que ainda não aprenderam. O desafio pedagógico,
como sempre, está na articulação entre o difícil e o possível de ser realizado pelos alunos.
Fonte: am.jornalopiniao.com.br
53
LETRAMENTO E ALFABETIZAÇÃO
a sua compreensão, (Duffy & Cols., 1987; Brown, 1994; Pellegrini, 1996; Kopke, 2001).
Duke e Pearson (2002) identificaram seis tipos de estratégias de leitura que as
pesquisas realizadas têm sugerido como auxiliares no processo de compreensão. Nessa
abordagem veremos apenas as mais aplicáveis à aquisição da leitura:
cuidado nosso processo de leitura, como estamos fazendo ao longo desse texto. Ler não é
um ato mecânico, e sim um processo ativo. A mente filtra as informações recebidas, interpreta
essas informações e seleciona aquelas que são consideradas relevantes. O que se fixa em
nossa mente é o significado geral do texto.
16.1 Os processos de leitura
Para KLEIMAN (2002), o processo de leitura torna-se cada vez mais simples quando
o leitor passa a ler continuamente, pois, assim ele passará a conhecer o léxico e a semântica
do texto. Já para Jouve (2002), “na leitura alguns processos são ativados tais como: processo
neurofisiológico, processo cognitivo, afetivo, argumentativo e simbólico”.
16.2 Processo neurofisiológico
A leitura é um ato concreto que recorre a faculdades definidas do ser humano.
Nenhuma leitura é possível sem um funcionamento do aparelho visual e das diversas
funcionalidades que o cérebro possui.
Ler é antes de qualquer coisa uma percepção de identificação e de memorização dos
signos.
Diferentes estudos de Richaudeau (1969) “tentaram descrever com detalhes essas
atividades. Mostraram que os olhos não apreendem os signos individualmente e sim por
pacotes, dessa maneira, é normal pular certas palavras”.
A visão possui uma sequência periférica, ou seja, a visão gravaria seis a sete signos
mesmo que pulando alguns não perderiam o sentido da frase.
O leitor decifra os signos quando no texto apresenta palavras breves, antigas, simples
e polissêmicas. Por outro lado, a memória imediata oscila entre oito e dezesseis palavras. As
frases mais adaptadas são as curtas e as estruturadas.
Segundo Richaudeau (1969), “quando um autor não respeita esses grandes princípios
de legibilidade, todos os deslizes semânticos tornam-se possíveis, assim, o texto lido ‟já não
é mais o texto “escrito”.
O ato de ler é subjetivo, ou seja, o leitor ler para si. Quando Richaudeau diz que o texto
escrito já não é mais o texto lido significa que o cérebro e a memória imediata armazenaram
um número significativo de signos. O texto que estava escrito passou a ser outro texto depois
de lido devido ao número de armazenamentos das palavras.
16.3 Processo Cognitivo
A compreensão de um texto é o processo de conhecimento que o leitor adquire durante
toda sua vida.
Esse conhecimento ocorre mediante a interação com vários níveis de conhecimento
como o conhecimento linguístico, textual e conhecimento de mundo. Esse conhecimento
abarca o conhecimento que vamos acumulando em nossa memória ao longo de nossa vida e
que é explorado no entendimento dos textos lidos.
Segundo Kleiman (2002), “o conjunto de noções e conceitos sobre o texto que
55
LETRAMENTO E ALFABETIZAÇÃO
Todos esses processos podem ser bem trabalhados nas séries iniciais. Além disso, o
conhecimento prévio também é importante para a compreensão textual.
Conhecimento prévio é fazer inferências sobre o que você já sabe com o que está
lendo.
Sentido sensorial
A leitura sensorial começa cedo e acompanha durante toda a vida do leitor. Não
importando o tipo de leitura se é minuciosa ou simultânea.
A leitura sensorial está ligada a visão, o tato, a audição, o olfato, podem também
estarem ligados aos aspectos lúdicos como: o jogo de cores, imagens sons, cheiros e dos
gostos incita o prazer, a busca que pode agradar ou trazer rejeições aos sentidos.
A leitura sensorial vai mostrando ao leitor o que lhe agrada ou não, mesmo sem as
justificativas.
Sentido emocional
O sentido emocional, lida com o subjetivismo e, o leitor passa a ser envolvido pelo seu
inconsciente.
Na leitura emocional emerge a empatia, ou seja, se colocar do outro lado e não pensar
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LETRAMENTO E ALFABETIZAÇÃO
uma porta, ele somente as reconhece devido às operações mentais. Essas reações aos
termos gráficos são determinadas pelas experiências que teve com os fatos ocorridos que o
símbolo representa.
Monroe descreve em seu livro Preparando para a Leitura que são quatro componentes
que agem no processo interpretativo da leitura: percepção, compreensão, reação e
integração.
A percepção
Sensação e percepção são processos que se completam na transformação de
estímulos. A sensação pode ser definida como catação de um estímulo enquanto a percepção
consiste na interpretação do estímulo captado.
A compreensão
O reconhecimento da palavra deve acompanhar a compreensão de seu significado. A
palavra ganha sentido, sentido este que não se encontra no papel, mas sim, na mente do
leitor que ao reconhecê-la atribui significado de acordo com a sua experiência.
A reação
Além de ser intelectual pode ser também emocional. Ler é reagir, não basta que se
compreenda o sentido do trecho é necessário que o interprete, que o julgue, que o avalie.
A integração
A integração ocorre de duas formas: a integração total na experiência do leitor e das
partes lidas de um trecho.
Se a primeira vez que você se encontra com o tema, formará opinião sobre o que leu,
daí por diante parte de suas vivências, fenômeno de integração.
Esses quatro componentes do processo mental precedidos do processo sensorial
representam um só ato – a leitura.
A leitura é mais que reconhecimento de símbolos gráficos, mas também o fato de
interpretação e compreensão tudo isso deve ser um processo interativo.
58
LETRAMENTO E ALFABETIZAÇÃO
a) Explicite sempre os motivos pelos quais deseja compartilhar a leitura com eles:
porque o texto trata de uma questão interessante, porque conta uma linda história,
porque é atual, porque está relacionado com um tema que se está trabalhando,
porque está bem escrito, porque é original, divertido, surpreendente, porque ajudará
a classe a resolver um problema ou uma questão com a qual esteja envolvida.
b) Demonstre que a qualidade do texto é o que motivou a sua escolha como algo que
vale a pena ser lido: porque é interessante, instigante, intrigante ou emocionante...
c) Em se tratando de textos literários, evite escolher aqueles em que o “didático” – a
intenção de transmitir um ensinamento moral, por exemplo – supere a qualidade
literária, em que o texto é utilizado principalmente como pretexto para ensinar algum
conteúdo escolar
d) Em se tratando de gêneros informativos, evite escolher textos com informações
banalizadas, incompletas, distorcidas, simplificadas; supostamente escritos para
um público infantil.
e) Compartilhe com os educandos seu próprio comportamento de leitor experiente,
mostrando-se interessado, surpreso, emocionado ou entusiasmado com o texto
escolhido – relendo certos trechos, sempre que valha a pena, ou seja, sempre que
necessário, como a passagem mais surpreendente da história, a parte mais
complexa do texto, a questão central da notícia, entre outras possibilidades.
Opine sobre o que leu, coloque seus pontos de vista aos educandos e convideos
sempre a fazer o mesmo – quer dizer, aja como qualquer leitor “de verdade”.
Ajude os educandos a descobrirem o significado do texto a partir do contexto, em
vez de ficar explicando a toda hora as palavras que considera difícil. Ofereça
elementos contextuais que conferem sentido à leitura e favorecem a antecipação
do que o texto diz. Isso se dá quando, por exemplo:
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Fonte: secretariamunicipalmarilia.com.br
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linguagem escrita tem início antes de ela frequentar a escola. Segundo Ana Teberosky,
professora da Universidade de Barcelona, na Espanha, a escrita ultrapassa os limites da sala
de aula. Está presente em todas as etapas da vida e atinge o ser humano desde que surge o
interesse pela representação gráfica.
A criança não tarda em reconhecer e distinguir palavras de figuras ao abrir um gibi ou
um livro. Diferentemente dos desenhos, que comunicam referentes com facilidade, o sentido
da escrita alfabética é adquirido com o tempo: as palavras se dispõem quase sempre em linha
reta e descontínua e possuem uma quantidade de letras, que se alternam e se combinam
para formar um significante.
O segredo para ensinar a ler é dar condições para o aluno resolver problemas que lhe
permitam avançar como leitor e escritor, confrontando-se com textos desde o início da
alfabetização
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entrego uma cópia para cada um colar no caderno para levar para casa e ler com os pais",
diz Ana Rosa. "Então cantamos a música, acompanhando a letra, apontando e fazendo o
ajuste do falado ao escrito conforme ela vai sendo cantada. Depois, peço que encontrem
palavras da música."
Ana Rosa descreve as intervenções realizadas com um de seus alunos durante o
trabalho com uma das cantigas. Os versos em questão eram: "Havia uma barata/ Na careca
do vovô/ Assim que ela me viu/ Bateu asas e voou". Ana perguntou:
- Lucas, encontre para mim na cantiga a palavra "vovô".
- Ele apontou a palavra "voou".
- Lucas, diga com que letra começa a palavra "vovô"?
- Com "v", de Vanessa.
- Muito bem, mas...
- Mas está também começa com "v" - disse Lucas, se antecipando à docente e
apontando para a palavra "vovô".
- Então, com que letra termina a palavra "vovô"?
A intervenção nesse caso levou o garoto a analisar mais que a primeira letra da palavra
para conseguir lê-la e encontrá-la. "Lucas observou que 'voou' não tinha a letra 'o' no fim,
percebeu que aquela não era a palavra correta e recorreu novamente à música para encontrar
o que havia sido pedido", explica Ana Rosa.
17.2 Leitura pelo aluno de títulos de livros
Neste trabalho, o professor:
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Utilizar essas tarjetas que apresentam apenas o título das histórias, em vez de exibir
as imagens na capa dos livros, permite o foco exclusivamente no contexto escrito - objetivo
da alfabetização.
Fonte: colegioecologia.com.br
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Fonte: educacaoetransformacao.com.br
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atividade de leitura exemplificada acima, você pede a outro aluno que mostre no texto onde
está determinada informação, selecionada por ele. Nesse caso, coloca uma dificuldade a mais
(a de justificar sua resposta), tornando o desafio mais adequado para um aluno que tem
facilidade para realizar a atividade proposta. Para informar. É comum os alunos recorrerem
ao professor para obter informações, e, em certos momentos, convém você incentivá-los a
pesquisar em fontes selecionadas. Mas em determinadas circunstâncias as informações que
eles solicitam são importantes para continuarem a realizar a tarefa – por exemplo, quando
têm uma dúvida ortográfica ao produzir um texto. Nesse momento, é fundamental que se
concentrem na elaboração do texto, e uma eventual consulta ao dicionário pode desviar sua
atenção do que é mais importante. Nesse caso, é recomendável você solucionar a dúvida.
Fonte: centraldeinteligenciaacademica.com.br
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Conhecimento prévio:
Orientações didáticas:
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Há uma valorização maior no uso das cartilhas e uma preocupação com a quantidade,
esquecendo assim da qualidade. O professor fala o aluno ouve e aprende. Não deixa o aluno
ser participativo na construção de sua própria aprendizagem. Muitas vezes não leva em
consideração o que a criança aprende fora da escola, seus esforços espontâneos, a
construção coletiva, e o que é pior, muitas vezes, ignora o meio social o conhecimento de
mundo que o aluno trás de fora para dentro da escola.
Neste método tradicional a cartilha muitas vezes é o único material de trabalho, os
textos para leitura são curtos com frases simples desvinculados da linguagem oral, buscam o
uso das sílabas já estudadas. Raramente usam materiais extras, como revistas, jornais, livros
de história e músicas.
Este método sobrecarrega o aluno com informações, que muitas vezes não
conseguem entendê-los tornando o processo de aquisição do conhecimento, muitas vezes
burocrático, e sem significação. Mantendo uma postura conservadora.
O seu processo de alfabetização, apoia-se nas técnicas de codificar e decodificar da
escrita. A escrita da criança em fase de alfabetização não é levada em conta, sendo a cartilha
sequencialmente seguida, formando assim a base do processo de alfabetização.
O método tradicional de alfabetização procura desenvolver as habilidades básicas que
a criança deve ter para tornar-se um leitor habilidoso. Porém, somente a presença dessas
habilidades não garantem sua utilização em tarefas mais complexas, como a leitura de um
livro, a escrita de um poema, ou mesmo a execução correta de receitas culinárias. O contexto
social que incentiva o interesse em aprender, independentemente da educação formal é a
chave para a utilização dessas habilidades em qualquer atividade humana, especialmente as
que envolvem a leitura e a escrita.
21.3 Método sintético
O método sintético estrutura-se dentro da teoria do behaviorismo, e é considerado um
dos mais rápidos, simples e antigo método de alfabetização, podendo ser aplicado a qualquer
tipo de criança.
Insiste fundamentalmente numa correspondência entre o oral e o escrito, entre o som
e a grafia.
O seu ensino, inicia-se de um grau de dificuldade mais simples percorrendo até chegar
a um mais complexo, ou seja, o sistema de ensino parte das partes para um todo. A criança
para iniciar nesse método de alfabetização, primeiro domina o alfabeto (letra por letra), depois
as sílabas, as palavras, frases e finalmente os textos. E este método não permite que a criança
prossiga para uma nova fase se não dominar a que está.
O método sintético, foca seu ensino em lê letra por letra, ou sílaba por sílaba, e palavra
por palavra, acarretando em pausas durante a leitura, motivando o cansaço e prejudicando o
ritmo e a compreensão da leitura.
Baseando-se no ponto de vista mental, o indivíduo é capaz de perceber os símbolos
gráficos de uma forma geral, ou melhor, como um todo, dando-lhes significados, para
posteriormente ser capaz de analisar suas partes. O método sintético leva o aluno a perceber
partes isoladas, sem significação, impedindo sua compreensão e percepção da leitura.
A aprendizagem pelo método sintético, é feita através da memorização e repetição, de
uma certa forma acaba prejudicando o aluno, pois impede que ele consiga pensar e agir por
si próprio, ou melhor, de produzir seus textos e seus conhecimentos através de sua
imaginação, pois ele é alfabetizado por regras que devem ser seguidas passo-a-passo, traz
um conhecimento pronto faltando apenas pôr em prática. Com isso, o aluno tem dificuldades
de compreender e criar textos, o prazer pela leitura dura pouco, porque logo o aluno consegue
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dominar a leitura e a escrita deixando de ser algo novo em sua vida, oferece um vocabulário
pobre e restrito, o método sintético considera a língua escrita um objeto de conhecimento
externo ao aprendiz.
Ainda nesse método, podemos encontrar alguns conceitos positivos, como os de
alunos adquirem a ortografia perfeita por ser um ensino de regras e repetições, ele consegue
com o tempo fazer sua tarefa sozinho, e por fim, permitir a compreensão da língua.
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22 BIBLIOGRAFIA BÁSICA
______ . Programa de formação de professores alfabetizadores. Documento de
apresentação. Secretaria de Educação Fundamental. 2001a.
ALVES, R. Entre a ciência e a sapiência – O dilema da Educação. São Paulo: Ed. Loyola,
1996.
CAGLIARI, Luiz Carlos. Alfabetizando sem o bá-bé-bi-bó-bu. São Paulo: Scipione, 1998.
WEISZ. T. Como se aprende a ler e escrever ou, prontidão, um problema mal colocado.
Disponível em:<http://www.colegiojohnkennedy.com.br/downloads/2015/AnaLucia-
2504/TEXTO%20TELMA%20WEISZ.pdf>
BREDA. T. Leitura feita pelo aluno, antes de saber ler convencionalmente. Disponível
em: < https://novaescola.org.br/conteudo/2486/leitura-feita-pelo-aluno-antesde-saber-ler-
convencionalmente>
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