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O problema dos fins da pena criminal é tão velho quanto a própria história do direito penal e tem sido
discutido pela filosofia, pela doutrina do Estado e pela ciência conjunto do direito penal. A razão de um tal
interesse e da sua persistência ao longo dos tempos está em que, à sombra do problema dos fins das penas,
é no fundo toda a teoria penal que se discute e, com particular incidência, as questões fulcrais da
legitimação, fundamentação e função da intervenção penal estatual.
Os fins das penas relacionam-se com a temática da legitimação, fundamentação e função da intervenção da
pena estatual – a partir dos fins das penas pode discutir-se toda a teoria da lei penal.
MARIA FERNANDA PALMA: a pena tem uma conotação mágica ou sagrada que lhe foi sempre conferida pelo
processo histórico e que ainda hoje persiste, revelando-se sempre como imposição de um mal para a pessoa
do criminoso e para a sua honra (não apenas para o seu património)
- Respeita o artigo 18º/2 CRP pois reabilita o agente na sociedade, no sentido de se tornar cidadão
cumpridor do direito
o As doutrinas da prevenção especial ou individual têm por denominador comum a ideia de que a
pena é um instrumento de atuação preventiva sobre a pessoa do delinquente com o fim de evitar
que, no futuro, ele cometa novos crimes. Neste sentido se deve falar de uma finalidade de
prevenção da reincidência. Neste corpo teórico unitário, porém, divergências profundas surgem
quando se pergunta de que forma deve a pena cumprir aquela sua finalidade.
o Para uns, a “correção” dos delinquentes seria uma utopia, pelo que a prevenção especial só
poderia dirigir-se à sua intimidação individual: a pena visaria, em definitiva, atemorizar o
delinquente até um ponto em que ele não repetiria no futuro a prática de crimes
o Enquanto para outros a prevenção especial lograria alcançar um efeito de pura defesa social
através da separação ou segregação do delinquente, assim procurando atingir-se a
neutralização da sua perigosidade social. Bem podendo então falar-se, em qualquer destas
hipóteses, de uma prevenção especial negativa ou de neutralização.
o De certo modo no outro extremo se situam aqueles que pretendem dar à prevenção
individual a finalidade de alcançar a reforma interior (moral) do delinquente, uma sua
autêntica metanoia – aquilo que bem poderia designar-se como a emenda do criminoso,
lograda através da sua adesão íntima aos valores que conformam a ordem jurídica. Bem
como aqueles outros para quem a finalidade terá de traduzir-se não na emenda moral, mas
verdadeiramente no tratamento das tendências individuais que conduzem ao crime,
exatamente no mesmo plano em que se trata um doente e, por isso, segundo um modelo
estritamente médico ou clínico.
o JORGE FIGUEIREDO DIAS Em definitivo, do que deve tratar-se no efeito de prevenção especial é,
bem mais modestamente de – com respeito pelo modo de ser do delinquente, pelas suas conceções
sobre a vida e o mundo, pela sua posição própria face aos juízos de valor do ordenamento jurídico –
criar as condições necessárias para que ele possa, no futuro, continuar a viver a sua vida sem
cometer crimes. Neste último sentido se podendo afirmar com justeza que a finalidade preventivo-
especial da pena se traduz na “prevenção da reincidência”. Todas estas doutrinas se aproximam,
todavia, no propósito de lograr a reinserção social, a ressocialização – ou talvez melhor: a inserção
social, a socialização, porque pode tratar-se de alguém que foi desde sempre um dissocializado -, do
delinquente e merecem, nesta medida, que elas se considerem como doutrinas da prevenção
especial positiva ou de socialização
o É hoje seguramente de recusar uma aceção da prevenção especial no sentido da correção ou
emenda moral do delinquente, mesmo que seja só no sentido de substituir às conceções pessoais
daquele os juízos de valor. Para tanto falece ao Estado em absoluto legitimação. De recusar será
igualmente o paradigma médico ou clínico da prevenção especial, sempre que ele se tome como
tratamento coativo das inclinações e tendências de delinquente para o crime. Ainda aqui não cabe
ao Estado uma tal tarefa, a qual se apresentaria como violadora da liberdade de autodeterminação
da pessoa do delinquente e, por conseguinte, de princípios jurídico-constitucionais imperativos como
o da preservação da eminente dignidade pessoal (art. 1º, 13º/1 e 25º/1). Só, por isso, o conteúdo
mínimo da socialização – a prevenção da reincidência – pode passar a prova de fogo de um direito
penal próprio do Estado de Direito.
o Mesmo nesta aceção, porém, o pensamento da prevenção especial não pode assumir-se como
finalidade única da pena. Fosse assim e teria então de concluir-se que a pena deveria durar por todo
o tempo em que ainda persistisse a perigosidade social do delinquente, em que a sua socialização
não tivesse sido lograda (uma pena, por conseguinte, de duração absolutamente indeterminada). O
que se, por sua vez, se ligar à ideia da “incorrigibilidade” de certos delinquentes, conduziria à solução
monstruosa de se aplicarem a pequenos delitos – para cuja prática repetida, porém, o delinquente
possui uma tendência incontrolável.
Toda a pena que responda adequadamente às exigências preventivas e não exceda a medida da culpa é uma
pena justa